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COMPORTAMENTO FRÁGIL DE UM AÇO COMERCIAL SAE

1045 – UM ESTUDO DE CASO


T. V. Pena, M. M. F. Lima, R. M. F. Lima, L. B. Godefroid

UFOP, Universidade Federal de Ouro Preto, Campus de Ouro Preto, MG,


Brasil

I. Introdução III. Resultados e discussões

O conhecimento de materiais que possam suportar condições severas de trabalho em uma A Figura 2 apresenta os resultados obtidos no ensaio de impacto para as amostras que
determinada temperatura, sem que os mesmos falhem por fratura frágil, é de vital importância sofreram tratamento térmico. Pode-se observar que para todos os tratamentos realizados houve
em todos os projetos de engenharia. Uma das formas de determinar esse comportamento é uma melhora no comportamento do aço comercial neste ensaio.
através do ensaio de impacto, que permite levantar curvas de temperatura versus energia Para determinar as fases presentes nas amostras, algumas micrografias, obtidas de amostras
absorvida e assim conhecer o comportamento de um material em uma determinada faixa de a temperatura ambiente, são apresentadas na Figura 3. Observa-se que as amostras com
temperatura. Da literatura, sabe-se que o aço SAE 1045 possui comportamento ora frágil, tratamento térmico à 760°C por 20h, a 650°C por 24 horas e a sem tratamento térmico, Figuras
baixas temperaturas, ora dúctil, altas temperaturas, com uma faixa de transição dúctil/frágil 3 a), c) e d) respectivamente, apresentam microestruturas parecidas, ferrita pró-eutetoide e
bem definida, típicas de materiais com estrutura CCC e baixa/média resistência mecânica¹. perlita, típicas de um material normalizado e recozido². Já a microestrutura da amostra tratada
Entretanto, nos ensaios de impacto realizados no laboratório de ensaios mecânicos do a 700°C por 20h é composta ora por cementita na forma de lamelas alternadas ora de cementita
DEMET, as amostras de um aço comercial SAE 1045 laminado e recozido apresentaram esferoidizada.
comportamento típico de materiais de alta resistência mecânica. Sendo assim, este trabalho Outra medida realizada com as micrografias, foi o cálculo porcentagem em peso de carbono
tem como objetivo investigar as possíveis causas deste comportamento do referido aço. através da analise de imagens, realizada no programa AnaliSYS. Os resultados obtidos,
apresentados na Tabela 1, mostram que todas as amostras tem composição parecidas e dentro
da permitida pela norma brasileira³.
II. Procedimento experimental Para as medidas de microdureza realizadas nos corpos de prova da Figura 1 a), observa-se
que a dureza medida longitudinalmente ao corpo de prova, Figura 4, tem seus valores muito
Para investigar o motivo para o comportamento anômalo das amostras de aço SAE 1045 próximos para quase todos os pontos. Para aquele que apresentam valores elevados, um dos
obtidos comercialmente sem tratamento térmico, inicialmente foram realizados três motivos seria a presença de inclusões próximas a região de medida. Já as medidas realizadas
tratamentos térmicos em alguns corpos de prova e depois os mesmos foram submetido ao nos corpos de prova representados na Figura 1 b), mostram uma dureza média mais elevada
ensaiado de impacto. Os tratamentos térmicos realizados foram: 760°C por 20h resfriado nas amostras sem tratamento térmico, Tabela 2, enquanto que a amostra que apresentou uma
lentamente no forno até 301°C e depois resfriado ao ar; 700°C por 20h e resfriado ao ar; e pequena esferoidização da cementita apresentou o menor valor.
650°C por 24h com resfriamento ao ar. Por fim, a Figura 5 apresenta imagens de algumas inclusões obtidas no MEV e a Tabela 3
Após isto, foram coletadas diversas amostras dos corpos de prova ensaiados com e sem apresenta os resultados químicos qualitativos obtidos pelo EDS. Ao compara os dois dados, é
tratamento térmico. Foram preparados dois tipos diferentes de amostras: uma comprida, de possível observar a presença de vários metais como Al, Ca, Cr, P, Zn e Na, além de S e O, o
seção transversal quadrada de (10x10)mm e comprimento de aproximadamente 26mm e que indica que estas inclusões podem ser ou sulfetos, ou sulfatos ou óxidos no material.
outra de seção transversal retangular quadrada 10x10 mm ou circular com pequeno
comprimento, Figura 1 a) e b) respectivamente. IV. Conclusões
O primeiro tipo de amostra foi utilizado para investigação longitudinal, já que estes eram
uma das partes do corpo de prova ensaiado, da variação da microdureza com a variação de Pode-se tirar as seguintes conclusões deste trabalho:
temperatura. Para isto, foram realizadas as etapas de lixamento e polimento para sua • Não houve grande variação na microdureza do material com a variação da temperatura no
preparação ensaio de impacto. Os valores estão próximo ao encontrado na literatura para o aço SAE
Já o segundo tipo de amostra foi utilizado para a análise de microscopia ótica, 1045².
observação da microestrutura e cálculo da quantidade de fases, de microscopia eletrônica de • Observou-se que a microestrutura do aço SAE 1045 que foi tratado a 700°C por 20h não
varredura, MEV, e ensaios de microdureza Vickers. Neste caso, realizou-se toda a preparação foi efetivo para a esferoidização da microestrutura da cementita. Já as outras
metalográfica que consiste no corte da amostra, embutimento, lixamento, polimento e ataque. microestruturas, mostravam as características de um material normalizado e recozido, o
que está de acordo com o que foi relatado pelo fornecedor.
• As análises de imagem realizadas apresentaram concentrações em peso de carbono
250
DUREZA VICKERS VS.POSIÇÃO próximos a 0,45, concentração teórica de um aço SAE 1045, e dentro do permitido pela
200
norma brasileira³.
-150°C • Devido ao fato de o comportamento do material no ensaio de impacto melhorar com o
DUREZA (HV)

150
-20°C

100
0°C aumento da temperatura, acredita-se que os efeitos anômalos devem ser causados por
Temp. Amb.

50
100°C inclusões não metálicas, analisadas por MEV/EDS, que tendem a interferir nas respostas do
400°C

0
0 5 10 15 20 25
ensaio de impacto. No entanto, foram encontrados valores elevados de dureza em alguns
a) Amostra 10x10x26. b) Amostra 10x10
POSIÇÃO (MM)
pontos das amostras, provavelmente devido a presença de inclusões.
Figura 4 - Dureza Vickers vs. posição para amostras
Figura 1 – diferentes tipos de amostra
logitudinais em diferentes temperaturas no ensaio de
impacto
V. Referências bibliográficas

ENSAIO DE IMPACTO
[1] DIETER, G. E. Metalurgia Mecânica. Rio de Janeiro: Guanabara dois, 1976.
tratamento à 760°C tratamento à 700°C tratamento à 650°C [2] SILVA, R. A. D.; NETO, A. F. Estudo da microestrutura do aço SAE 1045 para a melhoria
80

70
da usinabilidade. Uma proposta para a gestão dos processos de usinagem. UNITAU, Taubaté, 7
60

50
dezembro 2012. ISSN 978-85-62326-96-7. Disponivel em:
ENERGIA (J)

40

30
<http://www.unitau.br/unindu/artigos/pdf574.pdf>. Acesso em: 01 julho 2014.
20 [3] AZEVEDO, A. G. L. D. Aplicação da técnica da dupla camada na soldagem do aço
10

-200 -100
0
0 100 200 300 400 500 600
ABNT 1045. Departamento de Engenharia Mecânica e Produção. Fortaleza. 2002.
TEMPERATURA (°C)

Figura 2 – Curvas de energia vs. temperatura obtidas no


ensaio de impacto para diversos tratamentos térmicos do Figura 5 – Imagem com diversas inclusões encontradas
aço SAE 1045 na amostra sem tratamento térmico

Tabela 1 – %C médio calculado

Tabela 3 – Elementos químicos (porcentagem em peso)


Tipo de Tratamento %C médio calculado Erro associado encontrados em diversos pontos da figura 5
Sem Tratamento Térmico 0,46 0,05
Térmico à temperatura de 760°C 0,46 0,01
Fe Mn O S Si Cr P Al Na Zn
Térmico à temperatura de 700°C 0,41 0,02 Spectrum 13 86,5 5,9 4,0 2,7 0,8
Térmico à temperatura de 650°C 0,43 0,04 Spectrum 14 79,8 1,1 11,3 0,5 1,8 4,0 0,6 0,5 0,5
Spectrum 15 71,4 0,7 12,6 0,5 1,4 11,7 1,8
a) Ambiente: Tratamento 760°C/15h. b) Ambiente: Tratamento 700°C/20h. Tabela 2 – Dureza média das amostras
Spectrum 16 50,9 27,2 6,2 14,2 1,3 0,3
Spectrum 17 98,3 0,7 0,1 0,8 0,2
Tipo de tratamento Dureza média (HV) Erro associado
Spectrum 18 98,7 0,7 0,5
Sem Tratamento Térmico 1 179,2 4,87
Spectrum 19 96,2 0,8 1,9 1,2
Sem Tratamento Térmico 2 186,4 6,07
Spectrum 20 99,2 0,8
Térmico temperatura de 760°C por 15 h. 153,8 3,47
Spectrum 21 99,2 0,8
Térmico temperatura de 700°C por 20h. 145,4 2,93
b) Ambiente: Tratamento 650°C/24h d) Ambiente sem tratamento Térmico temperatura de 650°C por 24h. 152 11
Figura 3 – Micrografias das amostras à temperatura ambiente

Agradecimentos: Fundação Gorceix e FAPEMIG.

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