Facto: o eu poético Conheci a Beleza que não morre conhece a Beleza que não morre — perfeição E fiquei triste. Como quem da serra Mais alta que haja, olhando aos pés a terra Consequência: tristeza E o mar, vê tudo, a maior nau ou torre, Comparação: o mundo Minguar, fundir-se, sob a luz que jorre; a minguar-se na sua imperfeição Assim eu vi o mundo e o que ele encerra Perder a cor, bem como a nuvem que erra Ao pôr do Sol e sobre o mar discorre.
Pedindo à forma, em vão, a ideia pura,
A tristeza Tropeço, em sombras, na matéria dura, do sujeito poético E encontro a imperfeição de quanto existe.
Recebi o batismo dos poetas,
E assentado entre as formas incompletas Ver Para sempre fiquei pálido e triste. como um poeta Versos 1-8
Conheci a Beleza que não morre Beleza eterna Ideal
E fiquei triste. Como quem da serra Mais alta que haja, olhando aos pés a terra E o mar, vê tudo, a maior nau ou torre, Alguém que sobe à serra mais Minguar, fundir-se, sob a luz que jorre; alta e contempla o mundo Assim eu vi o mundo e o que ele encerra minguado (reduzido) Perder a cor, bem como a nuvem que erra Ao pôr do Sol e sobre o mar discorre. A experiência do eu poético: O eu poético depois de conhecer a Beleza, conhece o ideal A tristeza é vê o mundo perder a cor Tristeza explicada/descrita com uma comparação
Beleza = serra mais alta que haja
Versos 9-11
Experiência de alguém que
conheceu a ideia de Beleza perfeita
Pedindo à forma, em vão, a ideia pura, Forma/sombras/
Tropeço, em sombras, na matéria dura, imperfeição/matéria dura E encontro a imperfeição de quanto existe. ≠ Ideia pura
O eu poético tenta Conceção platónica
encontrar na forma Duas realidades: — na matéria dura — a ideia pura que • Mundo ideal — mundo das ideias, onde existem conheceu os valores e os seres numa forma ideal e pura Procura vã • Mundo sensível — mundo que conhecemos, onde («em vão») existem cópias imperfeitas das ideias e dos seres Platão e Aristóteles — pormenor de A Escola de Atenas, de Rafael (1509). Versos 12-14 ÚLTIMO TERCETO — «CHAVE DE OURO»
Recebi o batismo dos poetas,
E assentado entre as formas incompletas Os poetas veem o mundo Para sempre fiquei pálido e triste. como um conjunto de formas incompletas Definição da visão poética — Vivem num mundo da forma como os poetas de sombras e não podem veem o mundo reproduzir o ideal
Visão marcada pela
conceção platónica Mundo perfeito (das ideias puras) versus mundo imperfeito (das sombras — cópias) Louis Janmot, O ideal (1854).