Você está na página 1de 3

Isto

Fernando Pessoa
Isto
(esquema interpretativo)

Isto

Dizem que finjo ou minto


Tudo que escrevo. Não.
Eu simplesmente sinto
Com a imaginação.
Não uso o coração.

Tudo o que sonho ou passo,


O que me falha ou finda,
É como que um terraço
Sobre outra coisa ainda.
Essa coisa é que é linda.

Por isso escrevo em meio


Do que não está ao pé,
Livre do meu enleio,
Sério do que não é.
Sentir? Sinta quem lê!

Fernando Pessoa
Isto
(esquema interpretativo)

Em síntese – “Isto” é uma...


Espécie de esclarecimento das dúvidas Explicitação do fingimento –
suscitadas pela afirmação reelaboração da dor sentida,
“O poeta é um fingidor” (“Autopsicografia”) filtrada pela imaginação

Fingimento Recusa do coração (sentimento)


A dor sentida (“o que sonho ou passo”)

“É como que um terraço / Sobre outra coisa ainda”

Mundo sensível, terreno, Mundo inteligível, superior


das aparências

Sentimento e imperfeição Intelectualização e perfeição

A escrita ocorre num momento posterior ao sentir, livre do “enleio”, ou seja, do engano das
sensações ou sentimentos, reservados ao leitor. Por isso, numa espécie de desprezo pelo
imediatismo sentimental, o poeta situa-se num plano superior, porque o sentir é para o leitor.

Você também pode gostar