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Governamentalidade, Biopolítica e Educação - 4abr14
Governamentalidade, Biopolítica e Educação - 4abr14
PPG-Educação/UFRGS – 2014-1
Programa e cronograma:
– Introdução. Contemporaneidade. Dia 7 de abril
— Para pensar de outros modos. Na oficina de Michel Foucault. Situação da Razão Política
nos Estudos Foucaultianos. Dias 7 e 8 de abril
alfredoveiganeto@gmail.com
Governamentalidade, Biopolítica e Educação
Modernidade
A Modernidade, de modo muito resumido e simplificado, pode ser
entendida menos como um período histórico e mais como uma “forma de
vida” marcada pela fé na razão/racionalidade, no progresso e no modelo
de Homem e sociedade “inventados” pelo Iluminismo europeu, no século
XVIII.
Idade Média
Modernidade
Contemporaneidade
Problemas de nomenclatura
Os nomes dados ao momento atual variam em função dos critérios usados
para caracterizar o que veio antes - a própria Modernidade
Topoi do Contemporâneo
Topoi
Vazio (existencial) e endividamento
Individualismo
Desencanto despolitização ou
repolitização
alfredoveiganeto@gmail.com
Governamentalidade, Biopolítica e Educação
Multidão
A massa é uma aparição tão enigmática quanto universal que, de repente, está lá onde
antes nada havia. Algumas pessoas podem estar reunidas, cinco, dez ou doze. Nada foi
anunciado, nada esperado. De repente, fica tudo preto de gente. (Elias Canetti. Massa e poder)
Império
Governamentalidade, Biopolítica e Educação
Celebração da diferença:
diferentes, sim; porém iguais...
Segurança
perigo risco (perigo calculável)
Governamentalidade, Biopolítica e Educação
autoempresariamento
Governamentalidade, Biopolítica e Educação
Alguns autores . . .
Michel Foucault Peter Sloterdijk
Zygmund Bauman Ulrich Beck
Alain Touraine Gianni Vattimo
Anthony Giddens Charles Lemert
Gilles Deleuze Nikolas Rose
Cornelius Castoriadis Hanna Arendt
David Harvey Paul Virilio
Richard Sennett Michel Wieviorka
Antonio Negri Michael Hardt
Gilles Lipovetsky Octavio Ianni
Jean-François Lyotard Jean Baudrillard
Giorgio Agamben Robert Castel
Gert Biesta Paolo Virno
Governamentalidade, Biopolítica e Educação
PPG-Educação/UFRGS – 2014-1
Programa e cronograma:
– Introdução. Contemporaneidade. Dia 7 de abril
— Para pensar de outros modos. Na oficina de Michel Foucault. Situação da Razão Política
nos Estudos Foucaultianos. Dias 7 e 8 de abril
alfredoveiganeto@uol.com.br
Governamentalidade, Biopolítica e Educação
Extremo 1
Governamentalidade, Biopolítica e Educação
Extremo 2
Esquecer a transcendência
Praticar a hipercrítica
Minha opinião é que nem tudo é ruim, mas tudo é perigoso, o que não significa
exatamente o mesmo que ruim. Se tudo é perigoso, então temos sempre algo a
fazer. Portanto, minha posição não conduz à apatia, mas ao hiperativismo
pessimista. (Foucault, Sobre a genealogia da ética).
Governamentalidade, Biopolítica e Educação
não ao fundacionismo
não há ganchos no céu nem âncoras na terra;
ex.: multiculturalismo radical
não ao essencialismo
não há nada não-relacional;
ex.: a pergunta “que é mesmo isso?” não faz sentido
não ao representacionismo/realismo
- a linguagem primordialmente não representa, mas cria/institui aquilo que fala
- não interessa o que estiver fora do entendimento humano
ex.: realidade = materialidade + sentido (atribuído pela linguagem)
Governamentalidade, Biopolítica e Educação
mostrar ≠ provar
rigidez ≠ rigor ≠ exatidão
noção ≠ conceito
teoria (coisa) ≠ teorização (ação)
Não há leitura isenta (desinteressada ou neutra)
dominações...
• Poder
Não como “coisa” que se possua, mas como uma ação sobre ações e tão mais
econômico (efetivo, eficaz, eficiente) quanto mais estiver sustentado em
“correias” de saber. A vontade de poder/potência está na base da vontade de
saber. O poder tem uma racionalidade interna à sua própria ação. O poder
implica consentimento com sentimento, de modo que na sua forma idealizada
não dá lugar à resistência. Ex.: no limite, a sedução.
• Violência
Também pode ser uma ação sobre ações, mas sempre é diretamente sobre um
corpo, sem se preocupar com a economia. A violência tem uma racionalidade
externa à sua própria ação; para quem sofre a sua ação, ela é irracional. A
violência implica resistência e até mesmo conta com e precisa da resistência. Ex.:
no limite, o estupro.
Governamentalidade, Biopolítica e Educação
conduções...
• Governo
Governo (gouverne, em francês) refere-se a uma instância administrativa,
hierarquizada, quase sempre centralizada e muitas vezes burocrática. Ex.: o
governo de uma nação, o lugar (físico e simbólico) ocupado pelo(s)
governante(s).
• Governamento
Governamento (gouvernement, em francês) refere-se à ação de governar, isso é,
de um/uns conduzir os outro(s). Aqui, a etimologia revela-se muito útil, na
medida em que conduzir deriva de cum + ducĕre = levar com (a aquiescência e
até cooperação do outro). Governa melhor (mais economicamente) o governante
que conta com a colaboração do(s) governado(s). Ex.: o governamento que cada
um de nós é capaz de exercer sobre os demais.
Governamentalidade, Biopolítica e Educação
kwel < colligo, colligěre < colher, acolher, cultivar, cultura, cultuar, dar
colo, colonizar, colônia, inquilino...
deuk < duco, ducěre < duque, conduzir, introduzir, produzir, traduzir,
induzir, educar...
Assim, a educação é uma forma de acolhimento e colonização...
• Escola
Como maquinaria (conjunto de máquinas) educacional de:
- sequestro e governamento
- produção e reprodução (material, simbólica, de subjetividades etc.)
Governamentalidade, Biopolítica e Educação
Na oficina de Foucault
As ideias e os conceitos não estão num armazém à nossa espera; ambos são
invenções do pensamento, para pensar. As noções são ferramentas provisórias.
Os conceitos são ferramentas permanentes. Pensar a marteladas.
A “fidelidade infiel” não religiosidade, mas “vontade de verdade”;
assim, no lugar do divino/sagrado, apenas o profano.
Ferramentas & atmosfera (éthos)
Na oficina de Foucault
A Pedagogia moderna
neoplatonismo
trad. judaico-cristãs
Governamentalidade, Biopolítica e Educação
Na oficina de Foucault
As 7 pragas da Pedagogia Moderna
transcendentalismo
finalismo
catastrofismo denuncismo
salvacionismo
prometeísmo
metodologismo
prescritivismo
reducionismo
messianismo
Governamentalidade, Biopolítica e Educação
- Os 3 domínios:
Questões a observar:
Grupo 1
Núcleo: história moderna das disciplinas, da norma e do biopoder
1970-1971 (Vontade de saber) até 1974-1975 (Os anormais)
Grupo 2
Núcleo: Política, biopolítica, governamentalidade
1975-1976 (Em defesa da sociedade) até 1979-1980 (Do governo dos vivos)
Grupo 3
Núcleo: governamento de si e dos outros, ética e subjetivação
1980-1981 (Subjetividade e verdade) até 1983-1984 (A coragem da verdade)
ano curso f e p obs.
1971
A vontade de saber x x
1972
Teorias e instituições penais
1973
A sociedade punitiva X
1974
O poder psiquiátrico X X X
1975
Os anormais X X X
Título original:
1976 É preciso defender a
Em defesa da sociedade x x x
sociedade
1977
—
1978
Segurança, território e população x x x
1979
Nascimento da biopolítica x x x
Excertos. Edição
1980 organizada por Nildo
Do governo dos vivos x x
Avelino
1981
Subjetividade e verdade x
1982
Hermenêutica do sujeito x x x
Conhecido como O go
1983 verno de si e dos
O governo de si e dos outros x x x
outros I
conhecido como O go
1984 verno de si e dos
A coragem da verdade x x x
outros II
Governamentalidade, Biopolítica e Educação
PPG-Educação/UFRGS – 2014-1
Programa e cronograma:
– Introdução. Contemporaneidade. Dia 7 de abril
— Para pensar de outros modos. Na oficina de Michel Foucault. Situação da Razão Política
nos Estudos Foucaultianos. Dias 7 e 8 de abril
alfredoveiganeto@uol.com.br
Governamentalidade, Biopolítica e Educação
Soberania e governamentalidade
A questão política central sempre é como governar os homens
Numa perspectiva histórica do Ocidente, essa questão mostra-se em 3
fases que seguem 3 “modelos” distintos:
Modelo da Soberania
Estado de Justiça (I. Média até séc. XVI), baseado num sistema de
código legal
Modelo da Disciplina
Estado Administrativo (séc. XVII e XVIII), baseado em tecn.
Disciplinares. As disciplinas regulam e têm, no seu horizonte, a autorregulação.
Modelo da Segurança
Estado de Governo (séc. XIX e XX), baseado em dispos. de segurança
O Estado de Governo requer o atingimento da autorregulação.
Governamentalidade, Biopolítica e Educação
A governamentalidade
Pastorado cristão
Na tradição oriental hebraica, o pastor não se ocupa do território, mas de suas
ovelhas, as conduzindo, alimentando e protegendo, conhecendo cada uma em
sua individualidade (omnes et singulatim), vigiando-as e salvando-as. O pastorado
hebraico é de caráter nômade. Na tradição cristã, essas tarefas se mantêm, mas
se sedentarizam e se institucionalizam (na Igreja: ekklēsia = a assembleia ou
reunião dos pastores + ovelhas).
Governamentalidade, Biopolítica e Educação
A governamentalidade
Deslocamento do pastorado e articulação com o declínio do “modelo príncipe”
No séc. XVIII, o pastorado cristão se articula com o declínio da lógica
principesca (que se tornou cada vez menos econômica frente às explosões e
dispersões populacionais) e se expande para o campo político. Nessa articulação,
a ênfase no território dá lugar à ênfase nos indivíduos. O Imperial dá lugar ao
Estatal: “Roma, enfim, desaparece” (Foucault, STP).
O grande problema político deixa de ser a legitimidade do soberano e passa a
ser o conhecimento e o desenvolvimento das forças do Estado. Isso implica a
criação de um novo ente (a população) e de um novo saber acerca desse novo
ente (a Estatística). Essas são as condições de possibilidade para a criação da
Economia Política, um tipo de saber que é capaz de sustentar as intervenções no
campo da Economia e das populações.
A governamentalidade
Não há substituições tout court, mas de uma articulação triangular:
disciplinas
população
governamento soberania
A governamentalidade
Com esse neologismo, Foucault designa 3 “coisas”:
1. Conjunto de práticas, instituições, saberes, que tem por alvo a população,
como principal saber a Economia Política e como instrumento principal os
dispositivos de segurança.
2. Uma determinada disposição política em que um novo tipo de poder (de
governamento) se sobressai acima das disciplinas e da soberania e que levou ao
desenvolvimento de uma série de aparelhos específicos de governamento e de
um conjunto de novos saberes.
3. O resultado de um processo histórico, ao longo do qual o Estado de Justiça
medieval (passando pelo Estado Administrativo dos séculos XV a XVII) foi pouco a
pouco governamentalizado.
Mais tarde, nas Conferências de Vermont:
“Governamentalidade é o encontro entre as técnicas de dominação
exercidas sobre os outros e as técnicas de si. (Foucault, Tecnologias do eu)”
Governamentalidade, Biopolítica e Educação
A governamentalidade
“Governamentalidade é o encontro entre as técnicas de dominação exercidas
sobre os outros e as técnicas de si. (Foucault, Tecnologias do eu)”
Governamentalidade, Biopolítica e Educação
PPG-Educação/UFRGS – 2014-1
Programa e cronograma:
– Introdução. Contemporaneidade. Dia 7 de abril
— Para pensar de outros modos. Na oficina de Michel Foucault. Situação da Razão Política
nos Estudos Foucaultianos. Dias 7 e 8 de abril
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Governamentalidade, Biopolítica e Educação
Biopolítica
Com essa palavra, Foucault designa os modos pelos quais se tenta, desde o séc.
XVIII, racionalizar os problemas da prática governamental, a partir dos
fenômenos que se dão nos seres vivos quando tomados em seu conjunto
populacional: saúde, natalidade, mortalidade, dinâmica espacial, higiene, etc.
Na Modernidade:
Disciplina – biopoder sobre os indivíduos (individualizante)
norma
Biopolítica – biopoder sobre a população (coletivizante)
Governamentalidade, Biopolítica e Educação
O novo vocabulário
Diferença
- O pós-moderno “descobriu” que tudo é diferença. A diferença é; tudo é
diferença.
- O que chamamos de igualdade ou mesmidade são invenções epistemológicas
que contornam ou diminuem a dispersão e possibilitam pensar. Assim,
inventamos critérios de semelhança e agrupamos os semelhantes, a fim de
fugirmos da dispersão e facilitarmos a memória.
- A escola moderna inventou o currículo como o grande artefato que coloca
ordem na diferença: seleciona, agrupa, hierarquiza, normatiza, compara e avalia.
Diversidade
- Diversidade é o nome ou atributo que se dá para uma realidade em que tudo se
mostra como diferença.
- Para a Modernidade, a diversidade é um ruído que atrapalha o ideal de pureza;
ela se manifesta como curiosidade, exotismo, carnavalização.
- Para o pós-moderno, a diversidade é a manifestação de uma materialidade que
é pura diferença.
Governamentalidade, Biopolítica e Educação
Liberalismo e neoliberalismo
Liberalismo e neoliberalismo
Se, para os liberais, o ambiente sociocultural deve ser livre e espontâneo, exterior
às ações dos governos e ao Estado (laissez-faire), para os neoliberais tal ambiente
deve ser dirigido e modelado pelos governos e pelo Estado, aos quais caberá
produzir a liberdade. Por isso, “o neoliberalismo constantemente produz e
consome liberdade. A própria liberdade transforma-se em mais um objeto de
consumo” (Veiga-Neto, GNE-FFP, p. 39)
Liberalismo e neoliberalismo
Neoliberalismo alemão
Na reconstrução da Alemanha pós-guerra (1948), a Economia não deve combater
o Estado, mas orientá-lo, dirigi-lo, a fim de evitar os erros que ele pode cometer
(e cometeu, na Alemanha nazista, por exemplo). Em termos da Filosofia Política,
a Economia coloca-se acima do Estado, para que possa subjugá-lo e, por fim,
colocá-lo a serviço dos interesses dela mesma (assumindo, dissimuladamente, a
transcendentalidade do mercado).
Neoliberalismo norte-americano/estadounidense
anarcoliberalismo
Nasce como oposição ao Estado de Bem-Estar Social, aos perigos do
socialismo/socialização, do militarismo norte-americano e ao keynesianismo. O
neoliberalismo norte-americano é mais do que uma forma de a Economia se
conduzir frente ao Estado (e vice-versa): é uma forma de vida, uma forma de a
Economia se relacionar com o Estado e seus cidadãos, que “está na alma” de
todos e de cada um em particular, tendo a liberdade como imperativo maior.
Governamentalidade, Biopolítica e Educação
X tensão
Ideal da heterogeneidade
Para a escola numa episteme que assume a radicalidade da diferença, a
mesmidade e o mesmo são o problema
X
Na escola contemporânea, as dominações são horizontalizadas,
entre grupos que querem marcar suas diferenças (tribos,
comunidades etc.). A inclusão é a garantia de um espaço de trocas
que permitam a manutenção da diversidade, sem querer
promover a fusão cultural.