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Unidade IV: Princípios e elementos

norteadores para a elaboração de uma


proposta pedagógica para a Educação Infantil

4.2 - Educar e cuidar

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 Não há Educação sem Cuidado – desde a
concepção ( vida intra-uterina) à morte.

 Toda relação implica educação-cuidado.

 Cuida-se sempre – cuidamos sempre um do


outro;

 Ao cuidar ou descuidar do outro, estamos


colocando-o em certa posição, dando-lhe
certos sentidos, os quais contribuem para
constitui-lo como pessoa, num processo
educativo/ humanizador ou num processo
desumanizador.
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 Não há cuidado sem educação, sem uma
orientação, sem uma intencionalidade,
sem um princípio;

 Não há uma educação que não use a via


da atenção, do afeto, disponível e
promotor da autonomia da relação;

 Não há um conteúdo ‘educativo’ na


Educação Infantil descolado dos gestos de
cuidar.
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Se educar e cuidar são inseparáveis,
se é uma única atividade, uma única
atitude, por que esses termos
educar e cuidar são recorrentes nos
discursos e práticas da Educação
Infantil?

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 O binômio educar e cuidar surgiu no final dos
anos de 1980, a partir da expressão educare
(educate + care) presente em trabalhos da África
do Sul e de Bettye Caldwell, psicóloga americana.

 A expressão educate, por ser restrita nos países


de língua inglesa, fundiu-se com a ideia de care/
cuidar, formando o EDUCARE na busca de unir
dois aspectos de uma mesma realidade.

 A tradução ‘cega’ dessa expressão EDUCARE foi


educar e cuidar e que tem implicações históricas,
pedagógicas e econômicas na Educação Infantil
no Brasil.

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 É importante saber que em países de língua
francesa e portuguesa, o termo ‘educação’
contém indissociavelmente ações de educar
e cuidar, uma vez que a origem das palavras
educar e cuidar vem do latim educare e
cogitare.

 Ambas palavras – educare e cogitare -


correspondem a cogitar, imaginar, pensar,
dar atenção a, ter cuidado com a saúde de,
curar, de educar, de humanizar. Ou seja, para
a língua portuguesa, as duas palavras - cuidar
e educar – apresentam os mesmos
significados.

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 No entanto, o Brasil, por questões históricas e
conjunturais ( a despeito da Constituição Federal
de 1988, LDB de 1996 e das Políticas Públicas para
a Primeira Infância pós Constituição de 1988) ao
adotar o binômio educar e cuidar reflete as
contradições e os preconceitos presentes nas
funções das instituições –creche e pré-escola.

 Para campo do educar associa-se a ideia da mente,


do cognitivo, do professor, da pré-escola. E a ideia
do cuidar está relacionado ao corpo e sob a
responsabilidade do educador, ao pajem, a um
profissional leigo, conforme o Histórico da
Educação Infantil no Parecer CNE/CEB nº20/2009.
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 No final dos anos de 1990, o binômio educar e
cuidar tornou-se hegemônico na literatura
( pesquisas, artigos, teses, livros, congressos), nos
documentos normativos e também no cotidiano da
Educação Infantil, tornando-se passível de
ambiguidades, equívocos e práticas pedagógicas
dissociadas entre o ato de cuidar/educar.

 Assim, no lugar de ser um elemento desencadeador


de reflexão, de se pensar sobre a qualidade de
atendimento global e único à criança, o binômio
Educar/cuidar transformou em senso comum nos
discursos e em práticas espontaneístas, frágeis e
dicotômicas entre os diferentes profissionais que
trabalham na Educação Infantil.
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O que significam / significaram esses
os discursos e práticas dicotômicas?

 Que o binômio educar e cuidar evidenciou dilemas


complexos tais como:

1) a origem e os condicionamentos históricos e sócio-


econômicos das instituições de Educação Infantil, a
saber: educar = pré-escola; cuidar = creche. Pois, essas
duas modalidades envolveram e envolvem:
 diferentes formas de atuar;
 Diferentes profissionais no que diz respeito à
formação, ao status, à valorização e à jornada de
trabalho.

2) Importância da família X Estado: concepções, ideologias


e funções de família X projetos e modelos de Estado.

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3) Desenvolvimento infantil X preparação para
escola;

Visão e práticas espontaneistas, trazem o papel


restrito de cuidar do corpo da criança contra as
intempéries físicas, psicológicas e sociais .

Essa concepção do cuidado/ desenvolvimento


infantil está claramente associada a uma
determinada classe social e étnico-racial (filhos/as
da classe baixa e crianças pretas, pardas, excluídas) ,
e consequentemente, opera uma educação dessas/
das nossas crianças para serem submissas,
obedientes e passivas, sem iniciativa e autonomia.

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5) Controle parental X profissional;

6)Cuidar ( princípio aberto) X educar ( princípio


estrito);

7) Beneficiários dos serviços: cuidar ( família) educar


( crianças);

8) Dependência institucional: cuidar ( Secretaria da


Ação Social e da Saúde) educar ( Secretaria
da Educação);

9) Cuidar – enfoque compensatório ( suprir as


carências sociais, econômicas ou culturais das
famílias), assistencial e burocrático. Não há
dotação orçamentária ( recursos financeiros); 11
10) Educar – enfoque nas crianças ( escolarização precoce).
Há dotação orçamentária e administração educativa.
11) Caráter assistencial e disciplinador X caráter pedagógico;
12) Proteger fisicamente X ensinar;
13) Mundo irracional/ improdutivo/ paixão/ informal X
mundo racional/ produtivo e formal;
14) Espaço doméstico X espaço público;
15) Espaço feminino/ sem remuneração/ sem valor X espaço
masculino/ com remuneração;
16) Corpo/emoção X mente/ razão/ cognitivo;
17) Educadora ( profissional de apoio/ assistente) X
professora.

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RUPTURAS E RELEITURAS

Como avançar e superar essas dicotomias?

 Pensar educar e cuidar como dimensões sociais, históricas e


educacionais e que envolvem uma responsabilidade compartilhada
( Escola e família);

 Revisitar o termo Cuidar/ Cuidado

◦ Cuidado é mais que um ato singular ou uma virtude ao lado de


outras

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◦ O cuidado está na essência do humano porque
possibilita a existência humana. Se existir é
estar atento, é preocupar-se com a existência,
o cuidar assegura e caracteriza esta existência.

◦ O cuidado exige um tempo que não é o do


mercado, dos negócios.

◦ Cuidado possui uma dimensão ontológica que


entra na constituição do ser humano no
âmbito do “suporte real, da criatividade, da
liberdade e da inteligência” (BOFF, 1999,p.34).

◦ Cuidado como um fenômeno ontológico-


existencial é a base possibilitadora da
existência humana enquanto humana” (Boff,
1999:34).

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 “ O cuidado está pautado na necessidade do outro.
Isto significa que quem cuida não pode estar
voltado para si mesmo, mas receptivo, atento e
sensível para poder perceber o que o outro pode
precisar. Para cuidar é necessário um
conhecimento daquele que necessita de cuidados,
o que exige proximidade, tempo, entrega”
( Tiriba,2005, p. 14).

 Quando cuidamos de uma criança, atendendo a


suas necessidades, estamos educando-a em uma
determinada direção, seja ela da construção da
autonomia ou da manutenção da dependência, do
direito ou da caridade, do tornar-se sujeito ou da
menoridade. Isso significa que não basta afirmar a
importância do cuidar na educação infantil, é
preciso qualificar o cuidado: cuidar de que forma?
cuidar para quê?

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• Cuidar é mais que um ato; é uma atitude.
Portanto, abrange mais que um momento de
atenção. Representa uma atitude de
ocupação, preocupação, de responsabilização
e de envolvimento afetivo com o outro.
(Leonardo Boff) .

• Cuidar significa também ensinar, produzir o


humano no próprio corpo da criança e sua
relação com ele, passando pela alimentação,
pelo andar, movimentar-se, etc. Ou seja, o
professor cria na criança sua “segunda
natureza”, é parteiro do seu nascimento para
o mundo social. (ARCE, 2007, p.33)

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 Reconhecimento do direito à uma educação de
qualidade das crianças de 0 a 6 anos e suas famílias;

 Ênfase na formação dos profissionais com novas


referências teórico-filosóficas e práticas educativas;

 Ênfase no campo pessoal e cultural dos profissionais da


Educação Infantil;

 Educar significa que não há uma divisão de trabalho


entre os adultos que estão com as crianças (Professores
x outro profissional), o trabalho deve ser feito por
profissionais qualificados. Lembramos que NÃO DÁ
PARA DIVIDIRMOS a criança em cabeça (Educar) e
corpo (cuidar);

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◦ Cuidar envolve “responder às
necessidades particulares, concretas,
físicas, espirituais, intelectuais, psíquicas
e emocionais de outros”;

◦ Para cuidar é necessário um


conhecimento daquele que necessita de
cuidados, o que exige proximidade,
tempo e entrega.

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• Os atos de cuidados adquiram para o
professor a significação de produção do
humano no corpo da criança,
compreendendo que tais atos orientam,
também, a forma como cada criança se
relacionará com seu corpo.

• Portanto, educar cuidando e cuidar


educando são aspectos que compõem a
relação forma-conteúdo dos processos de
ensino em Educação Infantil, ou seja, para
não dissociar esses aspectos é necessário
assumir a tarefa de ensinar as crianças e
reconhecer que cada ação do professor,
desde a mais tenra idade das crianças com as
quais ele atua, deve estar voltada para a
promoção do desenvolvimento da criança.
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 Assim, é fundamental revisitar o conceito de
Educação e de Educação Infantil, uma vez que cuidar
e educar no latim trazem as mesmas dimensões de
imaginar, pensar, dar atenção, ou seja, as dimensões
física, intelectual e moral já estão contempladas no
conceito de educar.

 Portanto, Educar dever permear todo o projeto


pedagógico da creche, da pré-escola, da educação
básica e também do ensino superior/ universidade,
pois trata-se de certa forma, de uma filosofia de
atuação e liberdade, de relação, de constituição de
pessoas inteiras e comprometidas com em estar no
mundo de forma autônoma, justa, fraterna,
respeitosa e humanizadora.

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Quando a gente gosta
É claro que a gente cuida

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