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CAMINHOS DO ROMANTISMO

Amor de Perdição
AMOR DE PERDIÇÃO
Sugestão biográfica (Simão e o narrador)

 Camilo Castelo Branco, preso na Cadeia da


Relação e Tribunal do Porto, encontra o
registo da condenação ao degredo do tio
paterno, Simão Botelho. O autor apoia-se
num dado real, a condenação de Simão,
para, a partir dele, reconstruir os
acontecimentos que levaram ao desfecho
dramático da ação de Amor de Perdição.
 Simão Botelho e o autor/narrador
partilham o mesmo destino – ambos são
Edifício da antiga Cadeia e Tribunal
presos pelo mesmo motivo: o amor. da Relação do Porto.
AMOR DE PERDIÇÃO
Sugestão biográfica (Simão e o narrador)
Camilo Castelo Branco é preso na cadeia da
Relação e Tribunal do Porto.

Encontra o registo da condenação ao


degredo do seu tio Simão Botelho.
(encontrado na introdução)

O autor apoia-se num dado real, a condenação de Simão, para,


a partir dele, reconstruir os acontecimentos que levaram ao
desfecho dramático da ação de Amor de Perdição.

Simão Botelho e o autor/narrador partilham o mesmo destino


– ambos são presos pelo mesmo motivo: o amor.
AMOR DE PERDIÇÃO

Memórias de Família
O subtítulo da obra relaciona-se com o facto do enredo ficcional
basear se na condenação ao degredo (para a Índia) de Simão
Botelho tio de Camilo Castelo Branco daí a obra também ter um
valor “biográfico”.
AMOR DE PERDIÇÃO
Estrutura

Introdução
O narrador/autor dá início ao processo narrativo. Perante
o acesso ao registo da condenação de Simão Botelho no
cartório da cadeia propõe-se a narrar a história do jovem
Simão que sintetiza na frase Amou, perdeu-se, e morreu
amando.
AMOR DE PERDIÇÃO
Estrutura

Vinte capítulos (dois capítulos selecionados: IV e X)


AMOR DE PERDIÇÃO
Introdução I-IX
Desenvolvimento xx Conclusão
AMOU PERDEU-SE MORREU, AMANDO
Ódio entre os pais: SIMÃO TERESA ------------ SIMÃO
Domingos Botelho e • Expulso de casa;
Tadeu de Albuquerque • Mata Baltasar; Morre no Morre na
• Condenado ao degredo. convento viagem
AMOR entre Simão e Teresa TERESA
• Recusa o casamento MORTE
com Baltasar;
• Encerrada num
convento.
AMOR DE PERDIÇÃO
Estrutura

Conclusão
Desfecho da intriga
Identificação de Manuel Botelho como sendo o
pai do narrador/autor

Simão Botelho era seu tio paterno.


AMOR DE PERDIÇÃO

Os Diálogos
• Encontramos diálogos de vários tipos , preenchendo várias funções. São
diálogos de informação, de expansão sentimental, de confrontação, de
decisão.

• Desempenham muitos uma função diegética, outros uma função de


encadeamento, sendo todos eles importantes para a caracterização das
personagens, pois, através do desenvolvimento de linguagens
diferentes, consegue o narrador integrar nos diálogos diferentes visões
do mundo e diferentes sensibilidades.

• Contrasta vivamente, por exemplo, a naturalidade das falas de Mariana


e João da Cruz com a estilização de certas réplicas de Teresa e Simão.
AMOR DE PERDIÇÃO
Relações entre as personagens
Simão

or

Am
Am

or

o
did

coo
on

rre
sp

sp
Amor-Paixão
rre

on
co

did
o
Teresa Mariana

Os amantes debatem-se, não contra a diferença de classe ou de riqueza,


mas contra o ódio implacável entre duas famílias de província ciosas dos
seus pergaminhos.
AMOR DE PERDIÇÃO
Relações entre as personagens

Simão
• Amor-paixão
• Sincero, puro, excessivo , oposto às convenções
sociais e à ordem instituída.
Teresa

• Denúncia de uma sociedade repressiva que atua através de


instituições:
 Instituição familiar- Autoritarismo paterno, casamento de
conveniência, situação de inferioridade da mulher)
 Igreja- Conventos
 Justiça- Prisão
AMOR DE PERDIÇÃO

• Denúncia do conflito
Famílias de Simão e Ódio e rivalidade intergeracional e de uma
de Teresa sociedade marcada pelo ódio, pela
violência.
• Ódio e rivalidade entre famílias.
Mariana • Amor-paixão (não correspondido)
• Denúncia de autorrepressão
relacionada com a classe social
Simão (povo) e com o sexo (feminino).
AMOR DE PERDIÇÃO
A construção do herói romântico
Simão como um herói romântico tem as seguintes características:
- Virilidade física e moral;
- Impulsividade;
- Rebeldia face à sociedade e a luta contra as suas convenções;
- Instintos violentos;
- A vivência de um amor transformador, que redime os erros;
- A valorização dos sentimentos sob á razão;
- O idealismo amoroso;
- A firmeza e a dignidade face à ameaça da forca e do degredo;
- A associação da ideia do amor com a ideia da morte encarando a como salvação e
transcendência.
- Amor sofrido e proibido que leva á morte
- Destino traçado trágico
- Lealdade
- O amor que só alcança a sua plenitude na morte
AMOR DE PERDIÇÃO

Envolvência do narrador com as personagens

E não apenas a substância da novela , mas a própria maneira de narrar é,


muitas vezes, lírica: o autor, comovido, não resiste a elogiar as personagens ,
a incitá-las , invocá-las, a chamar para elas as bênçãos do Céu. As suas
palavras vibrantes sublinham o patético da história, para forçar o leitor à
compaixão: “Dezoito anos! (…) E degredo da pátria, do amor e da família!
Nunca mais o céu de Portugal, nem liberdade, nem irmãos, nem mãe, nem
reabilitação , nem dignidade, nem um amigo!… é triste.” (Introdução)
AMOR DE PERDIÇÃO
O amor-paixão

O amor é o tema principal de Amor de Perdição.


A paixão ocupa um espaço enorme e conduz as personagens à morte.
Pode desdobrar-se no:
Amor-paixão é a marca do herói romântico, um amor egocêntrico, excessivo, definitivo. Só a
morte separará os amantes que, simbolicamente nela se unem.
Este excesso exprime-se também pelas atitudes extremas de ambas as personagens: Simão
que mata Baltasar preferindo a morte à separação da ama , Teresa que prefere deixar-se
internar num convento a ceder à prepotência paterna para preservar o amor do amado.
•Amor sofrimento – só atinge a sua plenitude na morte; é, portanto, um amor impossível;
•Amor sagrado – que enfrenta a barreira do social e permite a elevação espiritual.
AMOR DE PERDIÇÃO
A concentração temporal da ação

A concentração temporal da ação resulta


•do recurso aos diálogos, que permitem criar uma
coincidência do tempo de ação com o tempo do
discursos;

•do foco narrativo na movimentação das


personagens e nos seus gestos (o narrador não se
perde em considerações);

•da utilização das cartas, pois o narrador evita,


assim, o aprofundamento psicológico dos seus
protagonistas.
AMOR DE PERDIÇÃO

• A novela inicia-se em 1779, com o casamento de Domingos Botelho, e


termina com a morte de Simão, Teresa e Mariana, em março de 1807. A
alterar este normal correr do tempo diegético, apenas encontramos o
breve recuo exigido pelo esclarecimento da biografia do corregedor, em
curto parágrafo do capítulo I.

• Situados numa regularidade cronológica, os acontecimentos sucedem-se


numa caminhada única, em direção ao desenlace, movidos por uma força
também única- a do Destino.
AMOR DE PERDIÇÃO
A concentração temporal da ação

A ação decorre entre o final do século XVIII


e o início do século XIX.
•O tempo é cronológico e contínuo.
•Os acontecimentos são datados, mas há uma
delimitação imprecisa.
AMOR DE PERDIÇÃO
A concentração temporal da ação

Capítulo I – 1779/1801
•O início da novela é datado de 1779, mas logo é sugerida
uma época anterior.
•Abrange os antecedentes da ação, mas o tempo é
delimitado imprecisamente.
•O ritmo narrativo é rápido e a noção cronológica de tempo
é nítida.
AMOR DE PERDIÇÃO
A concentração temporal da ação

A ação decorre em seis anos


•1801 – Simão tem quinze anos.
•1803 – Teresa escreve uma carta a Simão, dizendo-lhe que o
seu pai a ameaça com a ida para o convento.
•1804 – Simão é preso. Tem 18 anos.
•1805-1807 – Simão encontra-se preso (20 meses na prisão
mais seis meses antes de partir para a Índia, degredado).
•17 de março de 1807 – Simão parte para a Índia.
•28 de março de 1807 – Simão morre.
AMOR DE PERDIÇÃO
A obra como crónica da mudança social

A obra Amor de Perdição foi escrita na segunda


metade do século XIX (1861), época que evidencia,
por um lado, uma “sociedade aristocrática e
fradesca” (Óscar Lopes) com características que
definiam a aristocracia antes de 1832 e, por outro,
uma sociedade burguesa com bases no
Constitucionalismo.
AMOR DE PERDIÇÃO
A obra como crónica da mudança social

– A sociedade é repressiva.
A relação pais/filhos evidencia o conflito de mentalidades:
pais repressivos e inflexíveis que se opõem à felicidade dos
filhos (cf. autoritarismo de Tadeu de Albuquerque, por
exemplo, o casamento por conveniência, a restrição à
ação das mulheres).
– A Igreja enquanto instituição que age de acordo com a
sociedade por interesse, promove a clausura das jovens
mais rebeldes (aliás, os vícios e a corrupção dos conventos
são bem salientados ao longo da obra).
AMOR DE PERDIÇÃO
A obra como crónica da mudança social

– A Justiça e a sua arbitrariedade é desmascarada através


da parcialidade revelada nos julgamentos, em que a
classe social ou a influência de determinadas figuras
podem determinar o desfecho.

– A instituição militar, também ela movida pela influência


dos mais poderosos, é alvo de crítica.
AMOR DE PERDIÇÃO
A obra como crónica da mudança social
Camilo Castelo Branco critica a sociedade burguesa da sua época através da obra
amor de perdição na atuação das personagens. Uma sociedade repressiva que
age de acordo com as convenções sociais e condena os que afrontam essas
convenções e agem individualmente. Os conflitos geracionais acabam por
condicionar a vida dos filhos já que valorizam mais a vingança do que a felicidade
dos mesmos. Teresa e Simão destacam-se exatamente por ignorarem estas
expetativas familiares e sociais tornando-se individuais e mantendo-se fiéis a si
mesmos. Também são criticadas as instituições sociais como a Igreja que em
vários excertos Camilo descreve as freiras como pecadoras e o padre como um
sedutor que tem relacionamentos dentro do convento ou seja estes provem a
clausura das jovens rebeldes mas praticam os pecados que tanto condenam , é
criticada também a justiça já que esta mostra-se como parcial, especialmente de
acordo com as classes sociais ou a influencia do julgado o que acaba por
condicionar o desfecho deste.
AMOR DE PERDIÇÃO
O narrador

Nesta novela, sentimos constantemente a presença de


Camilo Castelo Branco.

narrador/autor
Exemplo:
Na Introdução, o narrador/autor relata a história,
assumindo ser protagonista: utiliza a primeira pessoa como
suporte da verdade que vai ser narrada.
O autor parece procurar a subversão do ficcional.
É tipicamente romântico porque
está envolvido na história que criou.
AMOR DE PERDIÇÃO
O narrador

Assim eu lhe soubesse dizer o doloroso sobressalto que


me causaram aquelas linhas, de propósito procuradas, e
lidas com amargura e respeito e, ao mesmo tempo, ódio.
Ódio, sim… A tempo verão se é perdoável o ódio, ou se
antes me não fora melhor abrir mão desde já de uma
historia que me pode acarear enojos dos frios julgadores
do coração, e das sentenças que eu aqui lavrar contra a
falsa virtude de homens, feitos bárbaros, em nome de
sua honra.
Camilo Castelo Branco. Amor de Perdição. 2015. Porto Editora, p. 3.
AMOR DE PERDIÇÃO
O narrador

Nos vinte capítulos da obra, o narrador narra a história em


que não participa como personagem: utiliza a terceira
pessoa e a veracidade dos factos é confirmada pelas datas,
antecedentes familiares e circunstâncias das personagens.

Narrador não participante – heterodiegético


AMOR DE PERDIÇÃO
O narrador

Focalização ou pontos de vista do narrador


O narrador, de forma objetiva e desapaixonada, dá-nos acesso a:
– atos e situações
– cartas
– espaços
– aspeto físico das personagens

Focalização externa
AMOR DE PERDIÇÃO
O narrador

Focalização ou pontos de vista do narrador


O narrador assume uma posição demiúrgica, não deixa de
penetrar no interior das personagens, revelando as suas
ideias e pensamentos.

Exemplo: “Simão ficou pensando na sua espinhosa situação.


Deviam de ocorrer-lhe ideias aflitivas […]” (cap. VIII).

Focalização omnisciente
AMOR DE PERDIÇÃO
O narrador

Focalização ou pontos de vista do narrador


Mesmo não participando na história, o narrador emite opiniões e faz
comentários interventivos:
• Apela à sensibilidade dos leitores;
Exemplo: “Dezoito anos!… E degredado da pátria, do amor e da
família! […] É triste!” (Introdução).
• Acentua aspetos das personagens ou omite factos e situações.
Exemplo: “Simão ficou pensando na sua espinhosa situação.
Deviam de ocorrer-lhe ideias aflitivas […]” (cap. VIII).

Focalização interventiva
AMOR DE PERDIÇÃO
Focalizações O narrador

 Focalização Externa: É um narrador-autor , omnisciente e


• Atos e situações heterodiegético (não participante, exceto na
• Cartas introdução onde participa na ação que
• Espaços narra) apesar de que a presença dos seus
• Aspetos físicos do personagens comentários interventivos é bastante forte.
 Focalização Omnisciente:
• Revela as ideias e pensamentos das personagens “Simão ficou pensando
na sua espinhosa situação…”
 Focalização interventiva:
• O narrador omite opiniões, apela à sensibilidade dos leitores e acentua
aspetos das personagens ou fala sobre os fatos e situações:
• “Simão ficou pensando na sua espinhosa situação. Deviam de ocorrer lhe
ideias aflitivas (…)”
• “Dezoito anos!... E degredo da pátria, do amor e da família! (…) É triste!”
(Introdução).

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