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A PRAGMÁTICA DAS

IMPLICATURAS E A LINGUAGEM
JURÍDICA

Disciplina: Tópicos em Estudos Textuais e Discursivos


Professora: Penha Lins
Aluna: Deborah Guimarães Pinto
INTRODUÇÃO
Ponto de vista teórico
◦ Pragmática, área da linguística que investiga as
propriedades de um enunciado, é adequada para abordar
significações dos aspectos implícitos, mas objetivos, do
discurso jurídico.

Na hipótese aplicada


◦ A Pragmática, demonstrará que algumas características
básicas da pragmática e da Teoria das implicaturas de
Grice (1982) permitem explicitar inúmeros fenômenos de
significação implícita no chamado caso Collor, julgado
pelo Supremo Tribunal Federal.
SOBRE A PROGRAMÁTICA

Condições-de-verdade e pragmática
 A evolução dos estudos da ciência linguística mostra uma
tendência bastante clara. A direção á a busca do
esclarecimento cada vez maior no que se refere à
significação da linguagem natural.
 Sempre foi a semântica a parte da linguística que se
preocupou com o significado.
 A semântica cumpriu um rumo formalista.
 Assim, considerou a linguagem natural como uma
imperfeição lógica que não merecia estudo.
 Podemos encontrar em Frege (1978), Russelln(1905) e
Wittgenstein – I (1961) a sustentação desse positivismo
lógico.
SEMÂNTICA DAS CONDIÇÕES-DE-VERDADE

A semântica era tão formal quanto a sintaxe, evitando


ao máximo envolver-se com os problemas surgidos
com o contexto de uso.
A linguagem natural não conseguia refletir a estrutura
do mundo de formas logicamente precisas e perfeitas.
Uma teoria do significado completa para uma
linguagem exige um procedimento de combinação
entre sentenças e um conjunto de condições que
quando aplicado a cada uma das infinitas sentenças de
uma linguagem,automaticamente, produz um
enunciado das condições necessárias e suficientes para
a verdade da sentença.
1.1CONDIÇÕES-DE-VERDADE E
PRAGMÁTICA
(1) a) Maria casou e teve um filho.
b) Maria teve
um filho e casou.
No exemplo (1a) Maria primeiro casou e depois
teve um filho.
Já no exemplo (1b) ela primeiro teve um filho
depois casou.
Para determinarmos, nesses casos, as condições-
de-verdade, é indispensável a especificação
pragmática do “e” e sua relação com o tempo.
QUADRO DE LEVINSON (1983:14)
1. Condições-de-verdade ou acarretamento
2. Implicaturas conversacionais
3. Pressuposições
4. Condições de adequação
5. Implicaturas conversacionais generalizadas
6. Implicaturas conversacionais
particularizadas
7. Inferências baseadas na estrutura
conversacional
ACENTUAÇÃO MAIOR OU MENOR
DE UMA EXPRESSÃO
 (2) O Senado julgou Collor culpado por
equívoco.
 (3) O Senado julgou Collor culpado por
equívoco.

No (2), a acentuação na palavra “Collor”


mostra o equívoco que o Senado deu em
relação à pessoa do julgamento. No
enunciado (3) não de que Collor era a
pessoa a pessoa que estava em julgamento.
DOIS ENUNCIADOS
(4) Brossard julgou contra Collor.
(5) Até Brossard julgou contra Collor.
As condições-de-verdade são as mesmas para
os dois enunciados. Contudo, (5) diz mais do
que (4). Quando se diz que “Até Brossard
julgou contra Collor” estamos a dizer que
além de Brossard, outros ministros também
julgaram contra Collor e que ele, Brossard,
não seria o mais provável a decidir como
decidiu.
1.2 CONTEXTO
A busca do significado, não de forma
abstrata, mas de forma concreta, ou seja,
dentro do uso de um contexto, por certo, é
o ponto mais relevante da pragmática.
(6) Uma pesquisa de opinião mostrou que
o povo quer que Collor, mesmo
renunciando, não perca seus direito
políticos,
1.2 CONTEXTO - continuação
(6) Mesmo que o remetente não se
identifique diretamente, o julgador não terá
dificuldade de compreender que o bilhete foi
escrito por alguém a favor da tese jurídica de
Collor.

Bar-Hillel (1982) mostrou que há sentenças


que podem ser avaliadas como verdadeiras ou
falsas,independente de informações do
contexto.
1.2 CONTEXTO - continuação

(7) O gelo flutua sobre a água.


(8) Está chovendo.
(9) Estou com fome.

Para o entendimento da sentença (7) não há necessidade que se


saiba questões pertinentes a lugar e momento da produção
dessa frase.

Já as demais apresentam problemas quanto à determinação do


estado de coisas a que se referem. Em que lugar ou momento
está chovendo? Da mesma forma, a sentença “Estou com fome”
depende do contexto, pois se produzida por duas pessoas em
duas ocorrências distintas já não tera a mesma referência.
1.2 CONTEXTO - continuação
Em suma, como diz Bar-Hillel (1982), é
possível atribuir-se valor-de-verdade a
sentenças indiciais, mas sempre levando-
se em consideração o par ordenado
sentença-ocorrência-contexto.
Costa (1984) entende que, Bar-Hillel,
deu-se o primeiro grande passo no sentido
e definir o objeto da Pragmática com, pelo
menos, duas contribuições indiscutíveis.
1.2 CONTEXTO - continuação
Ele caracterizou, de maneira clara, a
importância do contexto, sob a forma de
expressões indiciais para a interpretação
semântica. A pragmática estaria, com isso,
articulada à semântica das condições-de-
verdade.
Bar-Hillel teve o cuidado de definir o
contexto como “Descrições-de-Contexto”,
para que fosse considerado como entidade
linguística.
1.2 CONTEXTO - continuação
Montague (1974) e seus colaboradores
aceitaram a pragmática como disciplina
formal que investiga as expressões indiciais,
ou seja, aquelas cujos valores semânticos
dependem do contexto-de-uso.
Para ela a Pragmática deveria seguir a teoria
dos modelos, que trabalha com conceitos de
verdade e satisfação, tanto ao nível de
interpretação como no de contexto-de-uso.
1.2 CONTEXTO - continuação
Montage propõe um caminho semelhante em
metodologia entre semântica e pragmática.
Ele determina o conjunto de todos os
contextos tomados como índices ou pontos de
referência, tal como denomina D. Scott
(1970).
Para ele, seria necessário, ainda, determinar o
conjunto de objetos presentes com respeito a
ele, bem como o intenção de cada predicado e
constante individual da linguagem L.
1.3 CÓDIGO NA COMUNICAÇÃO
Desde Aristóteles até a semiótica
moderna, todas as teorias da comunicação
foram baseadas num único modelo: o
modelo de código.
Um código série de sinais associados a
representações internas do mecanismo.
Nesse sentido, “mensagem” é a
representação interna para os mecanismo
comunicantes.
1.3 CÓDIGO NA COMUNICAÇÃO -
continuação
Suposições subjacentes:
As línguas são códigos (representações
fonéticas, sinais);
Códigos associam pensamentos a sons
(associações semânticas).
A comunicação seria alcançada pela
codificação e decodificação da
mensagem.
1.3 CÓDIGO NA COMUNICAÇÃO -
continuação
Por causa disto criaram-se metáforas
como “as sentenças carregam os
pensamentos e os pensamentos são
empacotados e transferidos
linguísticamente.
A compreensão envolve mais do que a
decodificação de um sinal linguístico.
1.3 CÓDIGO NA COMUNICAÇÃO -
continuação
Vejamos dois exemplos:
(10) Eu julgarei Collor amanhã.
(11) Pedro é um bom juiz.
A gramática oferece apenas indicações
gerais.
Se João diz (10) em 14 de agosto, é diferente
de Ana dizer (10) em 15 de setembro. Outro
aspecto não especificado: com base em que
critério Pedro é um bom juiz?
1.3 CÓDIGO NA COMUNICAÇÃO -
continuação
Os enunciados são usados não apenas
para transmitirem proposições, mas para
expressar (atitudes pretendidas pelo
falante).
Ex.: (12) O juiz está julgando.
O falante pode estar informando o
ouvinte de uma decisão, ou fazendo uma
advinhação a ser confirmada ou negada.
1.3 CÓDIGO NA COMUNICAÇÃO -
continuação
(13) Que sujeito honesto Collor é.
O falante está sendo sincero ou irônico?
(14) Você pode me passar o processo?
Trata-se , como se vê, não de um pedido
de informação, mas de uma pedido de
ação.
1.3 CÓDIGO NA COMUNICAÇÃO -
continuação
(15) Você sabe quando tempo já dura o
julgamento?
O falante tanto pode estar sugerindo que é
hora de ir embora ou recriminando
alguém que está protelando o fim da
sessão de julgamento.
1.3 CÓDIGO NA COMUNICAÇÃO -
continuação
Por fim, um exemplo que já se tornou clássico
(Sperber e Wilson, 1986).
(A) Você quer café?
(B) Café me manteria acordada.
O falante (B) pode implicitamente estar recusando
ou aceitando um café oferecido.
Grice (1982), em “Meaning”, ofereceu uma
alternativa ao modelo de código, descrevendo a
comunicação através do cálculo das intenções do
falante, processo esse realizado pelo ouvinte, por
interferência.
1.4 LÓGICA PRAGMÁTICA
Filósofos e lógicos positivistas,
preocupados com a lógica do
conhecimento, sempre consideraram a
linguagem natural logicamente imperfeita,
por isso inadequada para um estudo
lógico.
Ao contrário, a pragmática enfrenta
injustamente o que os lógicos clássicos
consideraram imperfeições.
1.4 LÓGICA PRAGMÁTICA-
continuação
Assim, uma das características básicas da
pragmática refere-se à forma de
enfrentamento lógico dos enunciados em
linguagem natural.
Givón (1982) fez um paralelo entre os
diversos sistemas lógicos-dedutivos e a
pragmática e traz três argumentos para
demonstrar que a linguagem natural trabalha
com aspectos pragmáticos inapreensíveis
pelos sistemas dedutivos.
1.4 LÓGICA PRAGMÁTICA-
continuação

O primeiro argumento refere-se à


dependência do contexto.
Os lógicos trabalham com sistemas
fechados.
O uso da linguagem , no entanto, dá-se
em um contexto comunicativo que é
sempre aberto.
1.4 LÓGICA PRAGMÁTICA-
continuação
(17) Collor é presente; ele é presidente.
(18) Collor é presidente: ele não é presidente.
Representam uma tautologia e uma
contradição.
Pragmaticamente dentro de determinado
contexto, perfeitamente imaginável, essas
mesmas sentenças poderiam constituir
enunciados não-tautológicos nem
contraditórios.
1.4 LÓGICA PRAGMÁTICA-
continuação
O segundo argumento de Givón refere a
relação falante-ouvinte. Na linguagem em
uso existe o “eu” w o “tu”. Isso não é
nada confortável para os lógicos e seus
contextos objetivos co premissas abertas.
Por fim, a relevância tópica. Só
pragmaticamente é possível julgar a
relevância de um determinado tópico na
comunicação.
1.4 LÓGICA PRAGMÁTICA-
continuação
Costa (1984) denuncia a absoluta
impossibilidade de uma semântica das
condições-de-verdade, autônoma, para a
linguagem humana.
Em síntese, o que se observa é que
diversos autores têm se preocupado e
continuam se preocupando com
definições pragmática.
1.4 LÓGICA PRAGMÁTICA-
continuação
Levinson (1983:9) propõe uma definição
ampliada daquela sugerida por Bar–Hillel
(1982): a pragmático é o estudo daquelas
relações entre linguagem e contexto que
são gramaticalizados, ou codificados na
estrutura da linguagem.
Essa definição abre a possibilidade dos
estudo de fenômeno dêiticos,
pressuposições e atos da fala.
1.4 LÓGICA PRAGMÁTICA-
continuação
Por fim, para Davis (1991) a pragmática
pode ser vista como a parte de uma teoria
linguística da competência. Ou seja, é parte
de uma teoria psicológica que explica o que
é conhecido tacitamente pelos falantes e que
possibilita que utilizem e compreendam
sentenças de sua língua. Essa definição tem
a vantagem de definir pragmática como
componente inerente da linguística.
2. AS IMPLICATRAS E A
PRAGMÁTICA
Paul Grice foi um filósofo essencialmente
preocupado como significado e a
comunicação e, assim, exerceu grande
influência sobre filósofos e linguístas
contemporâneos.
Grice está inserido na corrente filosófica
analítica, porquanto sustenta que o
significado dos enunciados vai muito
além da proposição por eles expressa.
2. AS IMPLICATRAS E A
PRAGMÁTICA - continuação
Nas “Investigações Filosóficas” (1975:45) é
que aparece o desacordo como conceito de
“linguagem ideal”, construído pela lógica.
Os primeiros textos de Grice surgiram em
1956 e 1957. Com Meaning (1957), tornou-
se conhecida a sua teoria da comunicação.
Ali são apresentados os conceitos de
significação material e não material
(“meaning-nn”).
2. AS IMPLICATRAS E A
PRAGMÁTICA - continuação
Nessa primeira tentativa de dizer o que é
o significado, Grice deixa claro que, para
ele, deve ser possível explicar o
significado de uma expressão em termos
daquilo que os usuários da língua querem
dizer, ou significam com a expressão
numa determinada ocasião. Esses
conceitos foram decisivos para a origem
dos trabalhos de pragmática.
2.1 IMPLICATURAS,COND.-DE-
VERDADE e CONTEXTO
O objetivo de Grice, ao escrever “Logic and
Conversation”, foi o de mostrar que o
significado dos conetivos não é ambíguo
entre uma leitura de lógica e outra de
linguagem natural.
(19) O Ministro é brasileiro e trabalha no
Supremo Tribunal Federal.
Nessa sentença ‘e’ significa ‘&’, pois tem o
significado do conetivo lógico. Mas em (20).
2.1 IMPLICATURAS,COND.-DE-
VERDADE e CONTEXTO
(20) O Ministro foi chamado e começo a
votar.
O conetivo ‘e’ significa ‘e então’. Ou seja,
determina a sequência na ordem dada.
Considerando que num julgamento coletivo
como no Pleno do Supremo Tribunal
Federal, os Ministros proferem seus votos
após eram chamados pelo Ministro
Presidente, não seria”o Ministro começou a
votar e foi chamado’.
2.1 IMPLICATURAS,COND.-DE-
VERDADE e CONTEXTO
A maior contribuição dada por Grice foi a descoberta
de que aquilo que se diz ou escreve, o dito, de forma
alguma representa toda a mensagem transmitida pelo
enunciado, ele terá que levar em conta as intenções de
quem enunciou.
A distinção griceana entre “dito” o (significado
linguístico convencional ou literal) e “implicado”
(significado derivado a partir do contexto da
conversação e apreendidos pelos receptores por meio
de um raciocínio lógico e objetivo) é uma resposta à
altura aos filósofos e lógicos positivistas que sempre
consideraram a linguagem natural imperfeita.
2.2 O PRINCÍPIO DA COOPERAÇÃO E A
ORIGEM DAS IMPLICATURAS
Grice, em sua Teoria da Comunicação,
sustenta que, ao nos comunicarmos,
existem leis implícitas que governam o
ato comunicativo. As regras do ato
comunicativo talvez tenham sido
apreendidas concomitantemente à
aquisição da linguagem. Grice chama, a
esse conjunto de regras , princípio de
cooperação
2.2 O PRINCÍPIO DA COOPERAÇÃO E A
ORIGEM DAS IMPLICATURAS -
continuação
Grice chama, a esse conjunto de regras,
princípio de cooperação e apresenta
apresenta sua sistematização em quaro
categorias fundamentais articuladas em
máximas e submáximas, a saber:
1) Categoria da qualidade:
Supermáxima – Procure afirma coisas
verdadeiras.
2.2 O PRINCÍPIO DA COOPERAÇÃO E A
ORIGEM DAS IMPLICATURAS -
continuação

Submáximas: Não afirme o que você acredita


ser falso. Não afirme algo para o qual você
não possa fornecer evidência adequada.
2) Categoria da Quantidade
Máximas: Faça com que sua contribuição seja
tão informativa quanto requerido para o
propósito corrente da conversão. Não faça sua
contribuição mais informativa do que é
requerido.
2.2 O PRINCÍPIO DA COOPERAÇÃO E A
ORIGEM DAS IMPLICATURAS -
continuação
3)
Categoria da Relação
Máxima: Seja relevante.

4) Categoria de Modo ou Maneira.


Supermáxima: Seja claro.
Máximas: Evite obscuridade de
expressão. Evite ambiguidade. Seja breve.
Seja ordenado.
2.2 O PRINCÍPIO DA COOPERAÇÃO E A
ORIGEM DAS IMPLICATURAS -
continuação
Grice divide as implicaturas em dois tipos
básicos: implicaturas convencionais e
implicaturas conversacionais.
Implicaturas convencionais é aquela que
está presa no significado convencional das
palavras. São aquelas em que a
significação convencional das palavras
usadas já determinará o que é implicitado.
2.2 O PRINCÍPIO DA COOPERAÇÃO E A
ORIGEM DAS IMPLICATURAS -
continuação
(21) Ele é juiz, contudo é progressista.
Não está dito explicitamente que os juízes
costumam ser conservadores, mas parece
não restar dúvida do que está
perfeitamente implicado.

Implicaturasconversacionais é
determinada por certos princípios básicos
do ato comunicativo.
2.2 O PRINCÍPIO DA COOPERAÇÃO E A
ORIGEM DAS IMPLICATURAS -
continuação
As implicaturas conversacionais
generalizadas, por sua vez, não exigem
um contexto especial ou cenário para
surgirem.
(22) Entrei num julgamento.
Sempre que alguém disser (22), estará,
independente do contexto, implicando que
não entrou num julgamento de uma
pessoa conhecida (como Collor).
2.2 O PRINCÍPIO DA COOPERAÇÃO E A
ORIGEM DAS IMPLICATURAS -
continuação
A maior parte dos estudos griceanos prendem-se
às implicaturas conversacionais.
(23) (A) Como foi o julgamento particularizadas?
(B) Vão convocar três Ministros do Superior
Tribunal de Justiça.
Para que o ouvinte infira com precisão a
implicatura de (B), qual seja, que o julgamento
ficou empatado entre quatro a quatro , devem
estar no contexto particular da conversação as
seguintes informações:
2.2 O PRINCÍPIO DA COOPERAÇÃO E A
ORIGEM DAS IMPLICATURAS -
continuação
(24)
A – O julgamento era aquele do caso Collor, no
qual estavam participando oito Ministros do
Supremo
B – Considerando o nº par de Ministros e a
tendência natural de cada Ministro, era possível e
previsível o empate.
C – O fato de haver necessidade de convocação
de Ministros d outro Tribunal, significa que
houve empate no julgamento objeto da pergunta.
2.2 O PRINCÍPIO DA COOPERAÇÃO E A
ORIGEM DAS IMPLICATURAS -
continuação
Para explicação da hipóteses do grupo “A”, tomemos os
seguintes casos:
(25)
(A) Collor vai ser julgado por juízes indicados por
anteriores Presidentes da República.
(B) Ele vai constituir advogado.
(A) deduz por implicatura, que (B), ao se referir à
desnecessidade de Collor se defender, quer implicar que
os julgadores estão predispostos a julgar a favor de
Collor pelo fato de serem juízes nomeados por
anteriores Presidentes da República, que, de alguma
forma, tinham afinidades ideológicas com Collor.
2.2 O PRINCÍPIO DA COOPERAÇÃO E A
ORIGEM DAS IMPLICATURAS -
continuação
(26)
(A) Essa juíza é muito linda.
(B) Freud explica isso.
Não há desrespeito ao princípio de cooperação,
(B) infringiu a máxima de relevância por
mudar o tópico da conversação.
(B) Não obedeceu a máxima da quantidade por
não ter dado todas as informações necessárias
para que (A) entendesse como Freud explica
isto.
2.2 O PRINCÍPIO DA COOPERAÇÃO E A
ORIGEM DAS IMPLICATURAS -
continuação
(27)
(A) Parece que Collor vai ser condenado.
(B) Parece? Você leu a Veja?
Talvez nesse exemplo haja uma maior influência do
contexto cultural do interlocutores.]Como foi dito, no
Grupo B temos o caso de uma máxima violada, mas sua
violação se explica pela suposição de um conflito com
outra máxima.
A máxima preservada é mais importante que a
abandonada. (B) implica a impossibilidade de
responder mais precisamente preferindo respeitar a
máxima de qualidade.
2.2 O PRINCÍPIO DA COOPERAÇÃO E A
ORIGEM DAS IMPLICATURAS -
continuação
(28)
(A) O que significa impeachment?
(B) Consulte uma obra jurídica. embora ofereça
uma informação
Aqui (B) não responde à pergunta, embora
ofereça uma informação relativamente vaga, mas
que implica uma informação segura e sincera.
Ele está tentando salvar o Princípio Cooperativo.
Só não responde diretamente por não saber. Ele
então, sugere um caminho ao seu receptor.
2.2 O PRINCÍPIO DA COOPERAÇÃO E A
ORIGEM DAS IMPLICATURAS -
continuação
(29)
(A) Quanto tempo durou o processo?
(B) Anos.
Essa implicatura é bastante comum e não
parece difícil reconhecer que (B), não tendo
condições de dar a informação exata, oferece
alguma satisfação à pergunta. (A) entende
perfeitamente que (B) está dizendo que o
processo foi demorado quando implica e dizer
que não pode dar a resposta certa.
2.2 O PRINCÍPIO DA COOPERAÇÃO E A
ORIGEM DAS IMPLICATURAS -
continuação
(30)
(A) Com quem você foi ao julgamento?
(B) Eu estava em boa companhia.
A pergunta de (A) exige os nomes das pessoas
que acompanhavam (B) no memento do
julgamento. (B), porém, prefere algo que
parece estar quebrando a máxima da
relevância e da quantidade, tentando implicar
que não pode ou não quer dar uma resposta
satisfatoriamente clara à pergunta de (A).
2.2 O PRINCÍPIO DA COOPERAÇÃO E A
ORIGEM DAS IMPLICATURAS -
continuação
No grupo C, encontramos maior número
de exemplos de tipo de implicaturas. Aqui
teremos casos que envolvem o emprego
de um procedimento pelo qual o falante
abandona uma máxima com o propósito
de obter uma implicatura conversacional.
Nesse grupo é que, em geral, aparece as
figuras de linguagem.
2.2 O PRINCÍPIO DA COOPERAÇÃO E A
ORIGEM DAS IMPLICATURAS -
continuação
(31)
(A) O que você pensa dis juízes?
(B) Um juiz é um juiz.
Vemos, aqui, que a resposta, por um lado, sonegou
uma informação em quantidade plena. Preferi uma
afirmação tautológica que voluntariamente
abandona a máxima da quantidade. Contudo, tem o
objetivo de fazer uma implicatura plenamente
compreensível, pois utiliza um contexto de
particularidades ligadas à classe dos juízes.
2.2 O PRINCÍPIO DA COOPERAÇÃO E A
ORIGEM DAS IMPLICATURAS -
continuação
Assim, poderíamos dizer que a resposta não-
cooperativa em quantidade num nível mais
profundo implica:
(32) Eu penso que os juízes são
conservadores.
Da mesma forma, em vez de fata de
informação, pode haver implicaturas
utilizando-se a quebra da máxima de
quantidade por excesso, conforme os
exemplos (33) e (34).
2.2 O PRINCÍPIO DA COOPERAÇÃO E A
ORIGEM DAS IMPLICATURAS -
continuação
(33)
(A) – Qual foi o resultado do julgamento?
(B) Os Ministros Velloso, Pertence, Néri da
Silveira e Brossar julgaram contra Collor porque
depois de uma análise criteriosa do histórico do
impeachment na legislação brasileira, entenderam
um absurdo que uma interpretação que uma
interpretação isolada da Constituição pudesse
possibilitar qu o ex-presidente fugisse da pena de
perda dos direitos políticos pela simples renúncia.
2.2 O PRINCÍPIO DA COOPERAÇÃO E A
ORIGEM DAS IMPLICATURAS -
continuação
Outros quatro Ministros entenderam que a Constituição
é clara a favor de Collor.
(34)
(A) – Quanto tempo demorou o processo de Collor?
(B) – Primeiro, os advogados de Collor fizeram uma
petição de Mandado de Segurança dizendo que o
Senado não poderia ter julgado a perda dos direitos
políticos após a renúncia. Depois, foram pedidas
informações para o Presidente do Senado. Também o
Ministro Sidney Sanches prestou informações porque
ele é que presidia a sessão do Senado. Após, foi ouvido
o Representante do Ministério Público.
2.2 O PRINCÍPIO DA COOPERAÇÃO E A
ORIGEM DAS IMPLICATURAS -
continuação

Como tinham juntada de documentos,


deu-se vista dos autos aos advogados de
Collor para se manifestarem sob tais
documentos. Depois vieram as férias
forenses. Só em 16 de dezembro de 1993
é que houve o julgamento definitivo.
2.2 O PRINCÍPIO DA COOPERAÇÃO E A
ORIGEM DAS IMPLICATURAS -
continuação
Como se vê , no primeiro exemplo, (A)
apenas queria saber o resultado numérico
do julgamento. Bastava dizes “4 a 4”. Já
no segundo exemplo, o interesse de (A)
também era apenas numérico. Bastava (B)
responder um ano, por exemplo.
O objetivo dessa quebra do princípio da
quantidade pelo excesso, contudo, tem
uma explicação.
2.2 O PRINCÍPIO DA COOPERAÇÃO E A
ORIGEM DAS IMPLICATURAS -
continuação
No primeiro caso, era o desejo de
implicar sua discordância com a
interpretação restrita e o penamento
legalista dos que decidiram a favor de
Collor.
No segundo exemplo, ao não dizer o
tempo real de duração do processo, estava
implicado que o processo demorou muito
tempo até ser julgado.
2.2 O PRINCÍPIO DA COOPERAÇÃO E A
ORIGEM DAS IMPLICATURAS -
continuação
(35)
(A) O que você achados Ministros do supremo
Tribunal Federal?
(B) Ah! Esses não sabem nada de direito.
É claro que (B) sabe o grande conhecimento
dos Ministros que compõem o STF. Contudo,
ele diz uma coisa e implica outra. Ao invés de
elogiar positivamente, prefere afirmar algo
que- evidentemente – não acredita, para
implicar o contrário do que textualmente é dito.
2.2 O PRINCÍPIO DA COOPERAÇÃO E A
ORIGEM DAS IMPLICATURAS -
continuação
Aqui é o campo propício para a ironia, com
segue:
(36) Collor era muito cuidadoso com o
dinheiro público, tanto que congelou o salário
dos funcionários públicos.
O enunciado não diz expressamente, mas
deixa implicado o descompasso entre o que
Collor fazia contra o funcionalismo
(congelamento do salário) e o que Collor fazia
em seu prol (gastos pessoas exagerados).
2.2 O PRINCÍPIO DA COOPERAÇÃO E A
ORIGEM DAS IMPLICATURAS -
continuação
Também as metáforas têm campo fértil
nos casos de abandono dessa submáxima
de qualidade que busca evitar que se
afirme algo que se acredita falso.
 (37)
(A) O Poder Judiciário é moroso.
(B) É verdade. O Poder Judiciário é um
elefante branco.
2.2 O PRINCÍPIO DA COOPERAÇÃO E A
ORIGEM DAS IMPLICATURAS -
continuação
A resposta de (B) é um abandono da
máxima de qualidade utilizando-se de
uma metáfora. A resposta metafórica quer
implicar a crença sobre a incapacidade de
o Poder Judiciário solucionar os casos em
breve espaço de tempo por causa de sua
burocracia.
2.2 O PRINCÍPIO DA COOPERAÇÃO E A
ORIGEM DAS IMPLICATURAS -
continuação
Vejamos, agora, um exemplo de violação da segunda
submáxima da qualidade, ou seja, aquela que diz:
(38)
(A) Onde está Collor?
(B) Está gastando o dinheiro das “obras de
campanha” por aí.
No presente exemplo (A) sabe que (B) não teria
condições de provar o que disse, mas entende,
perfeitamente, que (B) quer implicar que não sabe
exatamente onde Collor está, mas eu, seja onde
estiver, estaria agindo ilicitamente.
2.2 O PRINCÍPIO DA COOPERAÇÃO E A
ORIGEM DAS IMPLICATURAS -
continuação
Cumpre, agora, relacionar alguns casos de
violação da máxima da relação. Como
visto, sob a categoria da Relação, existe
uma única máxima. “Seja relevante”
(39)
(A) O que você achou da decisão do
Supremo no caso Collor?
(B) Puxa! Como está quente, hoje.
2.2 O PRINCÍPIO DA COOPERAÇÃO E A
ORIGEM DAS IMPLICATURAS -
continuação
(A) Eu perguntei o que você achou da decisão do
STF?
(B) É, acho que vai chover.
Nesse contexto, poder-se-ia supor que (B) fosse
um juiz. Se atendesse a máxima da relevância (B)
diria:eu sou juiz, a lei me proíbe de dar opinião
sobre decisões de outros. Contudo, (B) preferiu
quebrar a máxima da relevância, dizendo uma
coisa para implicar outra, ou seja, não quer
enfrentar a pergunta de (A) objetivamente.
2.2 O PRINCÍPIO DA COOPERAÇÃO E A
ORIGEM DAS IMPLICATURAS -
continuação
Por fim, vamos referir os casos de violação da máxima de
modo. A máxima de modoou maneira tem no enunciado
“Seja claro” o objetivo de evitar ambiguidade, obscuridade e
oportunizar brevidade e ordem no discurso.
(40)
(A) – O que você acha dos Ministros do STF?
(B) – São bons juízes.
A resposta de (B) explora voluntariamente a ambiguidade da
expressão “bons juízes” no debate jurídico acima
referenciado. Ao mesmo tempo em que (B) diz que os
Ministros são bons juízes, acentua o objetivo de implicar o
entendimento de que leis costumam alienar-se aos aspectos
ideológicos da formação da lei.
2.2 O PRINCÍPIO DA COOPERAÇÃO E A
ORIGEM DAS IMPLICATURAS -
continuação
Para o exemplo de obscuridade, convém
retornarmos a idéia e a eventualidade de
um juiz (B) estar dando uma palestra e ter
sido questionado por (A) sobre sua
opinião pessoal a respeito de uma decisão
judicial de outro juiz.
(41)
(A) O que o senhor acha da decisão do
STF no caso Collor?
2.2 O PRINCÍPIO DA COOPERAÇÃO E A
ORIGEM DAS IMPLICATURAS -
continuação
(B) Vamos tomar um cafezinho.
(B) está implicando que tem opinião
sobre aquela decisão, mas não pode dizer
em público, pois, sendo juiz, a lei o
proíbe. (b) está sendo propositadamente
vago e obscuro para não dizer em público
aquilo que, eventualmente, em particupar
poderia ser dito.
2.2 O PRINCÍPIO DA COOPERAÇÃO E A
ORIGEM DAS IMPLICATURAS -
continuação
Para o caso de brevidade podemos partir
do seguinte exemplo:
(42)
(A) Em qual obra de Paulo Brossard
podemos encontrar a opinião dele sobre
hipótese semelhante ao Collor?
(B) No livro O impeachment: página 133,
item n. 99, segunda edição, Editora
Saraiva, São Paulo, 1992.
2.2 O PRINCÍPIO DA COOPERAÇÃO E A
ORIGEM DAS IMPLICATURAS -
continuação
Há quebra da máxima da brevidade, os
bastava que (B) dissesse o nome do livro.
Contudo, a minuciosa indicação implica o
interesse de (B) em demonstrar a
contradição entre o que é dito e o que foi
decidido pelo Ministro Brossard.
“Seja ordenado” é a submáxima de modo
que resta analisar.
2.2 O PRINCÍPIO DA COOPERAÇÃO E A
ORIGEM DAS IMPLICATURAS -
continuação
(43)
(A) Você quer brincar de juiz?
(B) Corte aberta est.
A resposta de (B) evidentemente quebra a
ordem gramatical da língua portuguesa;
Isso se fez intencionalmente para implicar
que aceitou o convite,pois invoca, de
alguma forma e implicitamente, a tradição
latina do direito.
2.3 PROPRIEDADE DAS
IMPLICATURAS (Grice)
As implicaturas convencionais se
caracterizam pelas propriedades de serem:
a) presas à força convencional do
significado das palavra;
b) reconhecidas pelo interlocutor
mediante a sua intuição linguística, não
dependendo de um trabalho de cálculo
dedutivo.
2.3 PROPRIEDADE DAS
IMPLICATURAS (Grice)
continuação
Já as implicaturas conversacionais devem ser:
a) calculáveis ou dedutíveis
b) canceláveis
c) não-separáveis (não-destacáveis)
d) indetermináveis
e) externas ao sentido do enunciado (não-
convencionais)
f) não determinadas pelo dito, mas pelo dizer
o dito.
2.3 PROPRIEDADE DAS IMPLICATURAS
(Grice)
continuação
Daremos atenção a exemplos ligados às
propriedades das implicaturas
conversacionais. A 1ª propriedade das
implicaturas diz respeito ao fato de serem
calculáveis ou dedutíveis.
Consideremos o exemplo (44) em que (A)
está respondendo a um processo criminal
e aguarda a sentença do juiz.
2.3 PROPRIEDADE DAS IMPLICATURAS
(Grice)
continuação
(44)
(A) O juiz que vai julgar o meu caso é o Dr. X
(B) Prepare o recurso.
Assim, como (A) acredita que (B) está
respeitando o princípio da cooperação e,
então, calcular: se (B) que implicar que: o juiz
X é muito condenador; que serei condenado;
que deverei recorrer para não ser preso.
2.3 PROPRIEDADE DAS IMPLICATURAS
(Grice)
continuação
A 2ª propriedade – cancelabilidade – diz
que o cancelamento pode acontecer
explicitamente, pelo acréscimo de uma
oração que afirma ou implica que o
falante a abandonou.
(45)
(A) quanto você pagou para seus
advogados?
(B) Um milhão.
2.3 PROPRIEDADE DAS IMPLICATURAS
(Grice)
continuação
Aqui, (A) entende que, e (B) está
respeitando a máxima da quantidade, ele
pagou um milhão como diz e implica que
foi só isso. Contudo, a implicatura poderia
ser cancelada pelo acréscimo de uma
oração que afirma ou implica que (B)
cancelou a1ª implicatura. A saber:
2.3 PROPRIEDADE DAS IMPLICATURAS
(Grice)
continuação
(46)
(A) Quanto você pagou para ser seu
advogado?
(B) Um milhão, se não mais.
Como se observa, o acréscimo de “senão
mais” cancela a implicatura inicial.
É possível que a implicatura seja
cancelada contextualmente, sem
acréscimos de orações.
2.3 PROPRIEDADE DAS IMPLICATURAS
(Grice)
continuação
(47)
(A) Preciso de fiança.
(B) Seu locativo soma mil reais?
(A) Sim.
Nesse caso, fica claro que a inferência
não poderia ter sido parte do conteúdo
comunicado, mesmo assim não podemos
dizer que a resposta de(A) implica que seu
aluguel some somente um mil reais.
2.3 PROPRIEDADE DAS IMPLICATURAS
(Grice)
continuação
A 3ª propriedade é a não-destacabilidade,
ou seja, as implicaturas devem ser não-
separáveis. A implicatura permanecerá
desde que se diga a mesma coisa ainda
que de outra maneira, com sinônimos, por
exemplo.
2.3 PROPRIEDADE DAS IMPLICATURAS
(Grice)
continuação
(48)
(A) A leié clara?
(B) Como a noite.
ou
(49)
(A) A norma é de fácil entendimento?
(B) Como dois mis dois são cinco.
2.3 PROPRIEDADE DAS IMPLICATURAS
(Grice)
continuação
Em 4º lugar temos que as implicaturas são
indetermináveis.
(50)
(A) O que você acha do juiz X?
(B) Uma lesma.
(B) viola, aqui, a máxima da qualidade. Ele sabe eu o
juiz X não é, efetivamente, uma lesma, mas quer
implicar que o juiz é demorado em suas decisões como
uma lesma ao caminhar. Ser uma lesma, contudo, pode
implicar que juiz costuma apreciar demorada e
profundamente os casos sob seu julgamento.
2.3 PROPRIEDADE DAS IMPLICATURAS
(Grice)
continuação
As implicaturas conversacionais não devem fazer
parte da força convencional das palavras do
enunciado. Vejamos esse exemplo:
• (51)
• (A) Você acha que a solução do caso Collor é
simples?
• (B) Tanto como a teoria da relatividade. A resposta
de (B) produz uma implicatura conversacional à
medida que (A) deduz que, tendo em vista a sua
pergunta, e o aparente abandono da máxima que o
caso Collor é muito difícil e complexo.
2.3 PROPRIEDADE DAS IMPLICATURAS
(Grice)
continuação
A última propriedade ds implicaturas
conversacionais é aquela que diz que elas
não devem ser veiculadas pelo dito. É aqui
que Grice tenta demonstrar que só as
condições-de-verdade não determinam
implicatura.
O que é dito pode ser verdadeiro e o
implicado falso. Vejamos um exemplo em
que a sentença é verdadeira, mas a
implicaura do seu enunciado é falsa.
2.3 PROPRIEDADE DAS IMPLICATURAS
(Grice)
continuação
(52)
(A) – Será que o Ministro fez uma
bobagem ao julgar a favor de Collor?
(B) Se ele fez, está feito.
O enunciado de (B) é verdadeiro, à medida
que é tautológico. O fato de ser
tautológico implica que (B) quer que (A)
entenda que a preocupação de (A) não
resolve nada.
2.3 PROPRIEDADE DAS IMPLICATURAS
(Grice)
continuação
“O Ministro está convencido e vai julgar
a favor de Collor” e é verdadeiro. “Não
adianta mais nenhuma preocupação” é o
implicado e é falso, uma vez que até o
momento do final de julgamento o
Ministro pode mudar de opinião e tomar
outra decisão.
2.4 AS IMPLICATURAS NUMA
VISÃO AMPLIADA
Grice (1982) foi o ponto de partida para a teoria da
comunicação de Sperber e Wilson (1986). O
contexto de Sperber e Wilson não é dado, é
constituído. A interpretação de um enunciado é uma
processo que envolve acesso a conceitos, entradas
enciclopédicas (formação de hipóteses) e dedução
(confirmação e rejeição de hipóteses). A
interpretação de um enunciado é o processamento de
informações novas combinadas a informações
antigas que estão na memória em forma de conceitos
aos quais se ligam informações enciclopédicas.
2.4 AS IMPLICATURAS NUMA VISÃO
AMPLIADA - continuação
Sperber e Wilson admitem que uma língua e um
código que associa representações fonéticas e
semânticas de sentenças. Contudo, o pensamento
comunicado não se reduz àquilo que os sinais
representam.
O processo de inferenciação é bem diferente do de
decodificação. Na decodificação, toma-se um sinal
como imput e produz-se, como output, uma
mensagem associada com o sinal através do código
subjacente, que deve ser mutuamente conhecida
pelos participantes do ato comunicativo.
2.4 AS IMPLICATURAS NUMA VISÃO
AMPLIADA - continuação
O raciocínio humano, na compreensão
verbal, é de natureza parcialmente
dedutiva. Não se trata de um mecanismo
cujo fim é aplicar regras, demonstrar
argumentos.
A lógica não-trivial é a lógica que não
segue os padrões formais de raciocínio , e,
de acordo com Sperber e Wilson, “os
fatos entram no raciocínio.”
2.4 AS IMPLICATURAS NUMA VISÃO
AMPLIADA - continuação
Uma das mais importantes contribuições
surgidas das críticas e defesa em relação à
Teoria das Implicaturas de Grice é a noção
de explicatura, Sperber e Wilson (1986), em
analogia às implicaturas de Grice, utilizam a
noção de explicatura. Trata-se de um nível
pragmático intermediário entre o dito (a
decodificação linguística) e o implicado
(implicação contextual que é
inferencialmente construída).
2.4 AS IMPLICATURAS NUMA VISÃO
AMPLIADA - continuação
Os exemplos que seguem servem para
facilitar a compreensão do núcleo das
teses que informaram o julgamento do
caso Collor.
(53)
(A) Como decidiram os Ministros Galvão,
Celso Mello, Moreira Alves e Gallotti?
(B) Eles disseram que Collor já não era
Presidente.
2.4 AS IMPLICATURAS NUMA VISÃO
AMPLIADA - continuação
No nível da implicatura, vê-se que está
implicado.
(54) Eles julgaram pró-Collor.
Ao perguntar, (A) apenas queria saber se os
Ministros julgaram a favor ou contra Collor.
Ao responder, (B) não foi direto, e no
contexto nem precisava, pois o Senado só
pode julgar o Presidente da República. Como
esses ministros entenderam que Collor não
era mais Presidente,
2.4 AS IMPLICATURAS NUMA VISÃO
AMPLIADA - continuação
Como esse ministros entenderam que Collor não mais
Presidente, restou implicado que “eles julgaram pró-
Collor”.
Contudo, para demonstrar o nível das explicaturas
teremos:
(55) Eles (os Ministros Galvão, Celso Mello, Moreira
Alves e Gallotti) entenderam {interpretando o art 52
da Constiuição Federal} que o Presidente {da
República submetido a um processo de impeachment}
tem que estar {efetivo} no cargo {de Presidente a
República} na ora do julgamento {impeachment pelo
Senado}.
2.4 AS IMPLICATURAS NUMA VISÃO
AMPLIADA - continuação
Os níveis de implicaturas e explicaturas
também podem ser retirados das decisões
contra Collor.
(56)
Como julgaram os Ministros Velloso,
Pertence, Brossard e Néri da Silveira?
(57)
Eles entenderam que a renúncia só surte efeito
se realizada antes do recebimento da denúncia.

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