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1
CURSO DE
JUIZ DE GARANTIAS
ANGOLA
MANUEL SIMAS SANTOS – 2023
Manuel Simas Santos Abril, 2023
INSTRUÇÃO DO PROCESSO
Instrução Preparatória
Instrução Contraditória
Manuel Simas Santos Abril, 2023
3 INTRODUÇÃO
• A instrução preparatória;
• A instrução contraditória.
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4 FASES PRELIMINARES
• 1. – A Instrução Preparatória;
• 1.1. – Estrutura;
• 1.2. – Desenvolvimento
• 1.3. – Decisão final;
• 1.3.1. – Arquivamento da instrução preparatória;
• 1.3.2. – Suspensão provisória do processo;
• 1.3.3. – Acusação;
• 2. – A Instrução Contraditória.
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5 INSTRUÇÃO PREPARATÓRIA
ESTRUTURA
• Os (todos) factos penalmente relevantes noticiados – não os que levam a julgamento
sumário ou acusação em processo abreviado – são objecto de averiguação: se ocorreram, em que
circunstâncias e por quem; para se decidir se devem ser levados a uma audiência pública para
sua discussão e consequente decisão.
• É a instrução preparatória: actividade para preparar a decisão do M.º P.º (levar ou não o
feito a julgamento) onde cabem várias diligências para recolher dados e elementos que indiciem,
com alguma segurança, a existência desses mesmos factos e a responsabilidade dos respectivos
autores.
• Tratando-se de crime punível com multa ou prisão não superior a 5 anos, e for de fácil
comprovação a existência do crime e a determinação do seu autor, o M.° P.°, face o auto de
notícia ou depois de investigação sumária, deduz, em 45 dias do cometimento do crime,
acusação para julgamento em processo abreviado ‒ n.º 1 art.º 445.º.
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6 INSTRUÇÃO PREPARATÓRIA
ESTRUTURA
• “Realizam-se as diligências para se apurar se foi ou não praticada uma infracção penal e, no
caso de o ter sido, descobrir os seus agentes e a respectiva responsabilidade penal, recolhendo-se os
pertinentes elementos de prova, em ordem a formular acusação ou a arquivar o processo.” (n.º 1 do
art.º 302.º).
• A instrução contraditória não é nem deve ser propriamente uma investigação, mas um
expediente destinado a controlar se o facto deve ou não subir a juízo.
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7 INSTRUÇÃO PREPARATÓRIA
ESTRUTURA
• O desenvolvimento;
• A conclusão.
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8 INSTRUÇÃO PREPARATÓRIA
ESTRUTURA
9 INSTRUÇÃO PREPARATÓRIA
ESTRUTURA
•O M.° P.°, titular da e responsável pela instrução preparatória, não procede, ou não
procede directamente, a todos os seus actos que o integram, porque é humanamente
impossível e tecnicamente inviável fazê-lo (o M.º P.º não é um corpo de polícia),
transferindo tais tarefas para os OPC’s, seus colaboradores (art.º 309.º); e a lei inclui a sua
realização, em alguns casos, no âmbito da competência exclusiva do juiz de garantias (cfr.
art.º 313.º).
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10 INSTRUÇÃO PREPARATÓRIA
ESTRUTURA
• Mas, o M.° P.°, tem sempre a direcção da instrução preparatória (art.º 309.º, n.º 1): os OPC
´s, chamados a dar apoio o M.° P.°, fazem-no na qualidade de coadjuvantes, actuando sob
asua directa orientação e na sua dependência funcional (art. 309.º, n.º 2).
• O M.º P.º, por iniciativa própria, pode sempre realizar diligências complementares de
prova, quando os OPC’s instruem os processos sob a sua orientação, quando o entendam
necessário ou conveniente, e avocar qualquer processo em curso nos OPC’s (n.º 3 do art.º
309.º).
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11 INSTRUÇÃO PREPARATÓRIA
ESTRUTURA
• Dependência funcional dos OPC’s em relação ao M.º P.º: mera coadjuvação que envolve a
realização das diligências de prova ou das investigações que lhes sejam cometidas, a
aceitação das orientações de procedimento processual que lhes sejam traçadas; a sujeição a
uma fiscalização do trabalho que foi sendo desenvolvido ao longo da instrução
preparatória.
• Dependência funcional não significa dependência orgânica, administrativa, disciplinar ou
técnica. Os OPC’s são livres de imprimir às diligências que realizem os princípios tácticos,
estratégicos e técnicos que entenderem e de que possam dispor, só tendo que se sujeitar
aos estatutos do corpo a que pertencem (autonomia técnica).
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12 INSTRUÇÃO PREPARATÓRIA
ESTRUTURA
• O M.º P.º (art.° 309.°): o competente para a direcção da instrução preparatória (n.° 1), mas
também realização das diligências que entenda convenientes e necessárias e para a
avocação de qualquer processo (n.° 3), é aquele que exerce funções no local em que o
crime tiver sido cometido. Se não for conhecido esse local, a competência pertence ao M.º
P.º do local em que primeiro tiver havido notícia do crime.
• Sendo o crime cometido no estrangeiro, é competente o M.º P.º que exercer funções junto
do tribunal competente para o julgamento.
• Qualquer magistrado ou agente do M.° P.° procede, em caso de urgência ou de perigo na
demora, a actos de instrução preparatória, nomeadamente de detenção, de interrogatório
e, em geral, de aquisição e conservação de meios de prova.
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13 INSTRUÇÃO PREPARATÓRIA
DESENVOLVIMENTO
•Havendo pedido de colaboração para actividade probatória aos OPC’s, o M.º P.º não
tem que estar presente (de um modo geral ...), mas, sem prejuízo da autonomia técnica,
logística e de estratégia, não está dispensado de acompanhar de perto o seu curso e
veicular, se necessário, directivas quanto a pontos que particularmente importe investigar.
•Há actos que nem sequer podem ser realizados pelos OPC’s (quando sejam
encarregados da sua prática), por a lei os reservar à competência exclusiva do juiz de
garantias.
– art.° 312.°, n.° 2:
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– a) proceder ao interrogatório preliminar do detido, aos interrogatórios
subsequentes de arguidos presos e interrogatórios de arguidos em liberdade;
14 – b) aplicar medidas de coacção, alterá-las ou revogá-las, com fiscalização do
juiz, excepto as prisão preventiva, prisão preventiva domiciliária ou
interdição de saída do país.
– c) ordenar ou autorizar as revistas e buscas se a competência não pertença
Actos que ao juiz;
competem em – d) recolher o juramento das testemunhas, peritos e interpretes;
especial ao M.° P.° – e) validar as revistas e buscaslegalmente efectuadas pelas autoridades de
polícia criminal sem a sua prévia autorização;
– f) presidir às revistas e buscas que ordenar ou autorizar;
– g) presidir às buscas autorizadas pelo juiz;
– h) praticar os actos a que se refere o art.° 135.° (regula as faltas
injustificadas dos participantes processuais);
– i) ordenar, autorizar ou validar a apreensão de objectos relacionados com a
infracção penal cometida, se não competir exclusivamente ao juiz;
– j) ordenar a detenção fora de flagrante delito, nos casos em que for
admissível a prisão preventiva, sem prejuízo do n.° 3 do art.° 254.°;
– k) praticar, ordenar ou autorizar qualquer outro acto ou diligência que a lei
determinar.
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– art.° 312.°, n.° 3:
– a) proceder ao interrogatório preliminar do detido, aos interrogatórios
15 subsequentes de arguidos presos e interrogatórios de arguidos em
liberdade;
Actos do M.° P.° – b) aplicar medidas de coacção, alterá-las ou revogá-las, com fiscalização
passíveis de do juiz, excepto as prisão preventiva, prisão preventiva domiciliária ou
delegação nos interdição de saída do país.
OPC’s – d) recolher o juramento das testemunhas, peritos e interpretes;
– f) presidir às revistas e buscas que ordenar ou autorizar;
– h) praticar os actos a que se refere o art.° 135.° (regula as faltas
injustificadas dos participantes processuais);
– k) praticar, ordenar ou autorizar qualquer outro acto ou diligência que a
lei
determinar.
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- art.° 313.°, n.° 1:
– aplicar medidas de coacção pessoal e de garantia patrimonial;
16 – apreciar as reclamações dos actos do M.° P.° apliquem medidas
cautelares em instrução preparatória;
– proceder ao primeiro interrogatório judicial de arguido detido;
– ordenar buscas nos estabelecimentos referidos no n.° 2 do art.° 213.°;
Actos a – admitir como assistente no processo as pessoas que o requererem e
praticar pelo Juiz tiverem legitimidade;
de garantias – ordenar a apreensão dos objectos processualmente relevantes
encontrados nas buscas nos estabelecimentos referidos;
– praticar os actos a que se refere o art.° 135.° que regula as faltas
injustificadas dos participantes processuais;
– ordenar e proceder à prestação antecipada de depoimentos ou
declarações;
- ordenar ou praticar qualquer outro acto que a lei determinar ou que,
pela sua natureza, só possa ser ordenado ou praticado por quem for
titular de poder jurisdicional.
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17 – art.° 314.°:
– peritagens ou exames susceptíveis de ofender a integridade, a reserva
Actos a da intimidade ou o pudor das pessoas;
autorizar pelo Juiz – escutas telefónicas e actos com elas relacionados, nos termos dos art. os
de garantias 241.° e seguintes;
– qualquer outro acto, nos casos em que a lei determinar que seja o juiz
a conceder a autorização.
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18 INSTRUÇÃO PREPARATÓRIA
ESTRUTURA
•É juiz de garantias, para efeitos do CPP, o juiz nomeado ou designado para praticar
os actos previstos nesse diploma e acabamos de referir.
•Nas comarcas em que este não existir ou quando estiver impedido, aqueles actos são
praticados pelo juiz do tribunal territorialmente competente para julgar o arguido, mas
são deferidos ao juiz de garantias da comarca mais próxima da mesma província judicial:
19 INSTRUÇÃO PREPARATÓRIA
ESTRUTURA
20 INSTRUÇÃO PREPARATÓRIA
ESTRUTURA
•São reduzidas a auto As diligências de prova, salvo se o M.º P.º entender que não é
necessário, face à sua simplicidade, (art.º 320.º).
•O investigador é livre de trazer para o processo tudo o que se revele de interesse para
o esclarecimento dos factos, com respeito pelas regras legais da recolha de prova e dos
métodos a utilizar.
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21 INSTRUÇÃO PREPARATÓRIA
ESTRUTURA
•NB: (i) Só interessa perseguir factos relevantes e essenciais para esclarecer o ilícito,
numa tríplice vertente: (a) investigação da existência ou não do crime; (b) punibilidade ou
não do seu autor; (c) determinação da pena ou da medida de segurança aplicável (cfr. art.°
124.°); (ii) A convicção a alcançar aqui é sempre precária, assente em meros indícios,
desde que façam supor fundadamente que essa precariedade se transforme em certeza na
fase do julgamento.
22 INSTRUÇÃO PREPARATÓRIA
ESTRUTURA
•A fase investigatória é protegida pelo segredo de justiça (art.os 97.º a 101.º), cabendo
ao M.° P.°, ou a quem actue a seu mando, impulsionar as diligências adequadas e
indispensáveis ao esclarecimento dos factos (art. os 303.º e 312.º), sem prejuízo do direito
que cabe a outras entidades ou pessoas individualmente consideradas de fazerem chegar
ao processo todos os dados e elementos que tenham por relevantes para o esclarecimento
dos factos.
•Por isso se diz que a instrução preparatória, nesse sentido, tem natureza
inquisitória.
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23 INSTRUÇÃO PREPARATÓRIA
ESTRUTURA
24 INSTRUÇÃO PREPARATÓRIA
ENCERRAMENTO
•Os prazos começam a contar, quando o processo passa a correr contra pessoa
determinada ou houver constituição de arguido.
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25 INSTRUÇÃO PREPARATÓRIA
ENCERRAMENTO
•A violação dos prazos deve ser comunicada pelo magistrado do M.° P.° ao seu
superior hierárquico e o Procurador-Geral da República deve adoptar as medidas
convenientes, nomeadamente, determinando a avocação do processo pelo M.º P.º e
fixando prazo para a realização das diligências em falta.
26 INSTRUÇÃO PREPARATÓRIA
DECISÃO FINAL
• de arquivamento;
27 ARQUIVAMENTO
• Arquivamento provisório: pode provir de 4 situações concretas (art.º 322.º, n.º 1); (i)
Inexistência de crime [al. a), 1.ª parte]; (ii) Irresponsabilidade do arguido pela sua
prática [al. a), 2.ª parte]; (iii) Inadmissibilidade legal do procedimento, v.g. quando o
procedimento estiver prescrito, o facto tiver sido amnistiado ou descriminalizado, o
arguido for inimputável, houver renúncia ou extinção do direito de queixa, desistência
desta, etc [al. a), parte final]; (iv) Insuficiência de indícios da existência de crime ou
de quem o cometeu [al. b)].
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28 ARQUIVAMENTO
PROVISÓRIO
• O M.º P.º profere, então, despacho fundamentado de arquivamento e são notificados arguido,
defensor ou advogado, assistente, denunciante com legitimidade para se constituir assistente,
ofendido, a parte civil e os que manifestaram vontade de deduzir pedido civil, que podem
reclamar hierarquicamente n.º 2 do art.º 332.º.
• Em crime particular, o M.º P.º notifica o assistente para deduzir, em 8 dias, acusação, indicando se
há indícios suficientes da pratica do crime e da probabilidade de o arguido o ter cometido, mas sem
tomar posição sobre o sentido do despacho final (art.º 331.º, n.ºs 1 e 2).
• Deduzida acusação particular, o M.º P.º pode em 5 dias abster-se, acompanhá-la, acusar por factos
diferentes que não importem alteração substancial dos mesmos, sendo as acusações notificadas ao
arguido e ao seu defensor ou seu advogado (art.º 331.º, n.os 4 e 5).
• Se o assistente não acusar, o M.° P.° proferirá então despacho de arquivamento (n.º 6 do art.º 331.º).
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29 ARQUIVAMENTO
DEFINITIVO
• Um arquivamento definitivo – ocorre após o decurso de um certo tempo a contar da
data da prolação do respectivo despacho e vencidas que sejam determinadas etapas.
• Havendo reclamação do despacho de arquivamento – logo que (art.º 323.º) a mesma seja
conhecida pela hierarquia do M.º P.º em sentido concordante com o despacho de
arquivamento reclamado;
• Não havendo reclamação – logo que decorram 30 dias a contar da data em que a
abertura de instrução contraditória já não puder ser requerida, sem que a hierarquia,
oficiosamente, tenha determinado a dedução de acusação ou o prosseguimento das
investigações (art.º 332.º).
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30 ARQUIVAMENTO
REABERTURA
• Nesta situação, o processo só pode ser reaberto para além dos 30 dias seguintes à data do
despacho de arquivamento e exclusivamente com base em novos elementos de prova que
ponham em causa a justeza de tal despacho (art.º 324.º, n.º 1), havendo sempre a
possibilidade de reclamar hierarquicamente do despacho que deferir ou recusar o pedido
de reabertura (art.º 324.º, n.º 2);
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•É indispensável que haja indiciação suficiente de que houve crime e de quem foi o seu
autor, pois, se a não houver, o arquivamento terá que fundamentar-se, v.g., em prova de que
não há crime, falta de indícios (art.° 322.°, n.° 1) e não em dispensa de pena.
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•Esta decisão compete, nesta fase, compete ao M.º P.º, obtida a concordância do juiz de
garantias (art.º 325.º, n.º 2) e não é susceptível de impugnação (art.º 325.º, n.º 4).
•Se o juiz de garantias discordar do arquivamento, o M.º P.º deduz acusação ou realiza as
diligências de investigação e instrução que se mostrem necessárias (n.º 5 do art. 325.º) - n.º 2
do art.º 323.º.
•Como se verá, a situação de dispensa de pena pode também ocorrer na fase de instrução
contraditória (portanto com acusação deduzida), sendo o juiz de garantias a arquivar o
processo, depois de obtida a concordância do M.º P.º (art.º 350.º, n.º 2).
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37 ACUSAÇÃO
•É um acto formal no qual se formula o pedido para que o arguido seja julgado pelos
factos apurados durante a instrução preparatória e por ele condenado com a pena prevista
na lei ..., constituindo, portanto, um pressuposto indispensável da fase de julgamento e
por ela se define e fixa o objecto do julgamento.
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38 ACUSAÇÃO
•O M.° P.°, nos crimes públicos e semi-públicos, tem legitimidade para acusar sem
intervenção de terceiros, em 10 dias, se a instrução preparatória oferecer base de
sustentação bastante para o efeito; se tiverem sido reunidos indícios suficientes da prática
do crime noticiado e de quem foram os seus agentes (art.º 328.º, n.º 1).
39 ACUSAÇÃO
•Se haverá sempre algum subjectivismo na valoração dos indícios, tal não põe em
causa o princípio que deve presidir a essa valoração: o da ponderação séria, rigorosa e fria
dos elementos recolhidos nos autos, não apenas na sua consideração isolada mas
sobretudo na conjugação recíproca de todos eles.
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40 ACUSAÇÃO
• O M.º P.º, nessa análise final do material indiciário, deve “assumir-se” como um virtual
julgador, interrogando-se sobre se, com aqueles indícios, uma vez testados e confirmados
contraditoriamente em audiência, não lhe repugnaria decidir-se por uma condenação. Fora
deste rigor, sujeita-se o M.° P.° a ser confrontado com sucessivas e repetidas absolvições, o
que não é nada prestigiante para a Instituição e para a imagem da Justiça em geral.
• O padrão de aferição, como aponta a lei, será, pois e sempre, uma razoável e não uma
grande ou elevada possibilidade de condenação, sob pena de se entregar ao M.° P.° a
faculdade de controlar discricionariamente os casos em que o feito deve ou não subir a juízo.
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41 FORMULAÇÃO DA ACUSAÇÃO
42 FORMULAÇÃO DA ACUSAÇÃO
•Não se deve ir na narração dos factos – mera descrição evitando-se tudo quanto seja
consideração ou apreciação pessoal sobre eles, que possa, de algum modo, reflectir
qualquer tomada de posição acerca da sua configuração jurídica ou outra.
43 ACUSAÇÃO
44 ACUSAÇÃO
• O M.º P.º, tem, nos crimes públicos e semi-públicos, legitimidade para acusar, mas o
assistente ou quem no acto se constitua como tal, também o pode fazer nos 8 dias seguintes à
respectiva notificação, aderindo à acusação pública, ou deduzindo uma acusação autónoma, pelos
mesmos factos, por parte deles ou por outros que não importem uma alteração substancial
daqueles, oferecendo um conteúdo igual ao da acusação do M.º P.º, só sendo indicadas provas a
produzir ou a requerer que não constem da acusação do M.º P.º (art.os 328.º, 329.º e 330.º).
• Não tem fundamento legal ou razoável, a prática por vezes utilizada pelo M.º P.º de, nos
crimes semi-públicos, notificar o titular do direito de queixa para deduzir acusação, limitando-se
depois a aderir a ela. *
45 ACUSAÇÃO
• Nestes crimes, é o assistente que pode promover o julgamento do arguido, mas o M.º P.º
também o pode fazer (nos 5 dias seguintes à apresentação da acusação particular), acusando
pelos mesmos factos, por parte deles ou por outros que não importem alteração substancial
daqueles (art.º 331.º, n.º 4).
• Se o assistente não acusar, o M.º P.º limita-se a determinar o arquivamento dos autos
(art.º 331.º, n.º 6).
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46 REACÇÕES DO ARGUIDO
•Tratando-se de arquivamento por dispensa de pena (art.º 325.º), também não lhe
sobra espaço de actuação, pois a decisão não é susceptível de impugnação (art.º 325.º,
n.º 4);
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47 REACÇÕES DO ARGUIDO
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INSTRUÇÃO CONTRADITÓRIA
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49 INSTRUÇÃO CONTRADITÓRIA
•A instrução contraditória, meramente facultativa e que não tem lugar nos processos
especiais, da competência exclusiva do Juiz de Garantias, visa objectivamente comprovar,
em sede judicial, a bondade do despacho de acusação ou de arquivamento: obter decisão
só sobre os indícios e pressupostos do despacho final do M.° P.°.
50 FINALIDADE
• “Obter uma decisão judicial que confirme ou infirme o mérito da acusação ou do despacho de arquivamento , com
vista a submeter o arguido a julgamento ou a arquivar o processo” – art.° 332.º, n.º 1 –
3 consequências:
• só o arguido (se o M.º P.º tiver acusado) ou só o assistente (se o M.º P.º não acusar ou só o fizer
parcialmente e o assistente pretenda ver ampliada essa acusação), ou em caso de crime particular –
poderão requerer a abertura da instrução – art.º 332.º, n.º 4, als. a) e b);
• a instrução contraditória limita-se a testar se a decisão final obtida é ou não de manter, não deve
servir nunca como repetição das diligências investigatórias feitas pelo M.º P.º na instrução preparatória;
• os actos e diligências de prova a realizar são os que o juiz entender por bem implementar para o
fim em vista, e obrigatoriamente um debate instrutório de natureza contraditória (art.os 335.º, n.º 3 e
341.º e segts), sem prejuízo daqueles actos que o requerente haja apontado como indispensáveis à
concretização do pedido formulado (art.º 333.º, n.º 2).
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51 REQUERIMENTO DE INSTRUÇÃO
• Conteúdo (art.º 333.º, n.º 2): (i) – as razões, de facto e de direito, que fundamentam a
discordância com o despacho de acusação ou de arquivamento; (ii) – os factos ou meios de prova
que não foram levados em conta na fase de instrução preparatória; (iv) – os factos que o requerente
pretende que sejam considerados e as provas que, para esse efeito, apresenta ou cuja produção
requeira.
• Não pode ser requerida a inquirição de mais de 20 testemunhas – n.º 3 do artº 333.º.
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52 ?CORRECÇÃO DO REQUERIMENTO?
• O STJ português fixou jurisprudência (Ac. STJ de 12.05.2005 (DR IS-A de 14.07.2005), com a
seguinte expressão: «não há lugar a convite ao assistente para aperfeiçoar o requerimento de abertura da
instrução, apresentado nos termos do art.º 287.º, n.º 2, do CPP [332.º em Angola] quando for omisso
relativamente à narração sintética dos factos que fundamentam a aplicação de uma pena ao arguido».
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53 REJEIÇÃO DA INSTRUÇÃO
•Só por falta de algum dos pressupostos indicados (art.º 333.º, n.º 5):
• incompetência do juiz;
54 PRESIDÊNCIA/DIRECÇÃO
• A instrução contraditória será presidida/dirigida pelo Juiz de Garantias (art.ºs 31.º, n.º 1 e
334.°, n.° 1), que realizará as competentes diligências, directamente ou assistido pelos
OPC’s.
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• – podem participar o M.º P.º, o arguido, o seu defensor, o assistente, o seu advogado (que
podem fazer pedidos de esclarecimento ou requerer que sejam formuladas às
testemunhas e declarantes as perguntas relevantes para a descoberta da verdade, devendo
ser notificados do dia, hora e local da sua realização), mas não as partes civis;
• – pode ter lugar, oficiosamente ou requerimento, a produção antecipada de prova
(inquirição de testemunhas e tomada de declarações – art.º 317.º, por força do art.º 339.º);
• – são permitidas todas as provas que não forem proibidas, salvo a inquirição de
testemunhas sobre o carácter e personalidade do arguido, a sua conduta anterior, a sua
situação económica e outras condições pessoais relevantes a que se refere o n.° 2 do art.°
156.°;
• – o juiz interroga o arguido sempre que este solicitar ou quando julgar necessário;
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56 INSTRUÇÃO CONTRADITÓRIA
• É constituída:
• – actos delegáveis nos OPC’s: o juiz de garantias pode delegar nos órgãos de polícia
criminal a realização de actos de investigação e de instrução, desde que não se trate de
actos da sua competência exclusiva.
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•O juiz de garantias deve indeferir por despacho o requerimento relativo aos actos que
considerar irrelevantes para a instrução do processo ou que apenas sirvam para protelar o
seu andamento, pratica ou ordena apenas os que considerar úteis ao apuramento da
verdade., sendo esse despacho irrecorrível, dele cabendo somente reclamação. Art.º 337.º.
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• – (i) – é ordenada pelo juiz das garantias debate oral e contraditório entre as partes,
quando não forem requeridas ou ordenados actos de instrução contraditória,
limitando-se a discordância de quem requereu a sua abertura à apreciação dos factos
ou a outras questões de direito; (ii) – se houver lugar a actos de instrução, estes
realizam-se em 1.º lugar e só depois o juiz designa, por despacho, o dia, hora e local da
audiência preliminar, no máximo em 5 dias a partir do último acto e com precedência,
sempre que houver arguidos presos ou quando existir receio de a instrução
contraditória não se concluir no prazo (n.º 2 do art.º 334.º)
• – Só pode ter lugar por justo impedimento de o arguido a ela comparecer ou por outra
forte razão que torne absolutamente impossível realizá-la, mas se ele renunciar ao direito
de estar presente a audiência não pode haver adiadamento com esse fundamento.
• – Em caso de adiamento, o juiz de garantias designa logo nova data, entre o 7.º e o 15.º dia
posteriores, notificando as pessoas presentes em audiência e mandando notificar as
ausentes.
• – Faltando o arguido na segunda data designada ou tendo renunciado ao direito a estar
presente, é representado pelo seu advogado, se o tiver, ou pelo defensor oficioso.
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• – O juiz pode interromper a audiência sempre que, no seu decurso, entender que é
indispensável praticar actos novos de instrução que não possam realizar-se na própria
audiência;
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• Se a alteração for substancial e os factos novos indiciados pela instrução e pelos debates
forem diferentes dos alegados na acusação ou no requerimento para a abertura da
instrução e constituírem, no caso de virem a ser provados, um crime autónomo sem
ligação relevante com o imputado ao arguido, o M.° P.° determina a abertura, para eles, de
instrução preparatória.
• Neste caso, vale como denúncia a comunicação da alteração ao M.° P.°.
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ALTERAÇÃO DA QUALIFICAÇÃO JURÍDICA
• Sempre que o juiz de garantias alterar a qualificação jurídica dos factos descritos na
acusação ou no requerimento para abertura de instrução contraditória, ouve o
arguido sobre os factos novos e concede-lhe prazo, não superior a 5 dias, se a
alteração não for substancial, ou a 10 dias se a alteração for substancial, para
organizar a sua defesa e indicar ou requerer novas provas, interrompendo-se ou
adiando-se, conforme o caso, a audiência.
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• É lavrada acta de tudo o que se passar na audiência preliminar contraditória, contendo: (i)
– a identificação das pessoas que intervieram; (ii) – as causas, se conhecidas, da ausência
das pessoas convocadas; (iii) – a descrição especificada e rigorosa do essencial que se tiver
passado, nomeadamente, da intervenção de cada um dos participantes, das declarações
prestadas, do modo como o foram e das circunstâncias em que o foram, dos documentos
apresentados e dos resultados obtidos; (iv) – a descrição de toda a ocorrência relevante
para a apreciação da prova ou da regularidade do acto, podendo as declarações orais, ser
redigida por súmula, caso em que o juiz de garantias deve procurar que a súmula
corresponda, no fundamental, ao que nele se tiver passado.
• A acta é assinada pelo juiz de garantias, M.° P.°, funcionário que a lavrou, assistente e
pelo defensor do arguido.
Manuel Simas Santos Abril, 2023
68 INSTRUÇÃO CONTRADITÓRIA
ENCERRAMENTO
• – 3 meses, havendo arguidos presos, se a instrução diz respeito aos crimes puníveis
com pena de prisão superior, no máximo, a 8 anos ou de
• – 6 meses, não os havendo, quando a instrução disser respeito a crimes puníveis com
pena de prisão superior, no seu máximo, a 8 anos.
Manuel Simas Santos Abril, 2023
•Uma das decisões pode ser a suspensão provisória do processo (art.º 326.º), obtida a
concordância do M.º P.º, do assistente e do próprio arguido, sendo notificados da decisão
estes e o lesado que tiver manifestado o propósito de deduzir pedido cível de
indemnização, quando se tiver constituído assistente.
Manuel Simas Santos Abril, 2023
71 DESPACHO DE PRONÚNCIA
•Defendíamos perante preceitos idênticos do CPP de 1987 português «que nos crimes
particulares, acompanhando o M.º P.º a acusação do assistente, se poderá falar de “factos
constantes da acusação do M.º P.º”, indo-se assim ao encontro da intenção legislativa de
aceleração processual, num caso onde é também evidente uma maior força indiciária,
dado até o seu especial posicionamento na acção penal (interessado na prossecução e na
realização da justiça por parte do Estado)».
Manuel Simas Santos Abril, 2023
75 DESPACHO DE PRONÚNCIA
RECORRIBILIDADE
• * ** Para uma síntese das dificuldades suscitadas pelo regime de recursos dos despachos de pronuncia e não
pronuncia no CPP de 1987 português, pode ver SIMAS SANTOS “Nótula para uma reforma do regime dos recursos
em processo penal” in Corrupção em Portugal, Coordenação: PAULO PINTO DE ALBUQUERQUE, RUI CARDOSO E
SÓNIA MOURA, Universidade Católica Portuguesa Editora, 2021.
Manuel Simas Santos Abril, 2023
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• CARLOS ADÉRITO TEIXEIRA, Suspensão provisória do processo : fundamentos para uma justiça consensual,
RMP, a. 22, n. 86 (Abr.-Jun. 2001), p. 107-114;
• FERNANDO JORGE DIAS, "Suspensão provisória do processo e não repetição do prestado", In: Estudos em
comemoração dos 100 anos do Tribunal da Relação de Coimbra, [coordenação] Manuel José Pires Capelo, José
Carlos Codeço. - 1ª ed. - Almedina, 2018. - p. 339-360;
• FERNANDO TORRÃO, A relevância político-criminal da suspensão provisória do processo, Almedina, 2000
e "Admissibilidade da suspensão provisória do processo nas situações previstas pelo artigo 16º, nº 3, do CPP
: (Fundamentos de politica criminal e caminhos técnicos–processuais a partir de uma hipótese prática)", In:
Estudos em homenagem ao Professor Doutor Jorge de Figueiredo Dias / organizadores MANUEL DA COSTA
ANDRADE, MARIA JOÃO ANTUNES, SUSANA AIRES DE SOUSA. Coimbra Editora, 2009-2010. - 3.v., p.
1205-1219 ; 24 cm. - (Stvdia ivridica. Ad honorem ; 100);
Manuel Simas Santos Abril, 2023
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• MARIA ROSA CRUCHO DE ALMEIDA, A suspensão provisória do processo penal : análise estatística do
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• ROGÉRIO OSÓRIO, A suspensão provisória do processo: aspectos prático-processuais, Chiado Editora,
2013;
• RUI DO CARMO, "A suspensão provisória do processo no Código de processo penal revisto :
alterações e clarificações", In: Jornadas sobre a revisão do Código de processo penal : estudos / [organizadas
pelo] CEJ 2008, p. 321-336. - Número 9 (especial), (1º semestre 2008) da Revista do CEJ
• SOFIA DIAS DIAS e MADALENA ALARCÃO, A suspensão provisória do processo em casos de violência conjugal :
um estudo exploratório, Ousar integrar. Revista de reinserção social e prova, Lisboa, a. 5, n. 11 (Jan2012), p. 9-21
Manuel Simas Santos Abril, 2023
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Corrupção em Portugal, Coordenação: PAULO PINTO DE ALBUQUERQUE, RUI CARDOSO E
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Manuel Simas Santos Abril, 2023
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