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Manuel Simas Santos Abril, 2023

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CURSO DE
JUIZ DE GARANTIAS
ANGOLA
MANUEL SIMAS SANTOS – 2023
Manuel Simas Santos Abril, 2023

INSTRUÇÃO DO PROCESSO
Instrução Preparatória
Instrução Contraditória
Manuel Simas Santos Abril, 2023

3 INTRODUÇÃO

•Visto o procedimento criminal como realidade estática: os grandes quadros em que


decorre toda a actividade processual, procura-se descobrir o condicionamento de toda
essa actividade.

•Na perspectiva dinâmica: o processo em movimento, na sua marcha, com vida


própria, que vai percorrendo diversas etapas até ao esclarecimento dos factos, culminando
com uma decisão final onde se resolve a lide processual, neste momento, ocupando-nos do
caminho do processo até decidir se factos averiguados devem ou não ser submetidos a
julgamento, com dois núcleos de actividade processual:

•  A instrução preparatória;

•  A instrução contraditória.
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4 FASES PRELIMINARES

• 1. – A Instrução Preparatória;
• 1.1. – Estrutura;
• 1.2. – Desenvolvimento
• 1.3. – Decisão final;
• 1.3.1. – Arquivamento da instrução preparatória;
• 1.3.2. – Suspensão provisória do processo;
• 1.3.3. – Acusação;

• 2. – A Instrução Contraditória.
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5 INSTRUÇÃO PREPARATÓRIA
ESTRUTURA
• Os (todos) factos penalmente relevantes noticiados – não os que levam a julgamento
sumário ou acusação em processo abreviado – são objecto de averiguação: se ocorreram, em que
circunstâncias e por quem; para se decidir se devem ser levados a uma audiência pública para
sua discussão e consequente decisão.

• É a instrução preparatória: actividade para preparar a decisão do M.º P.º (levar ou não o
feito a julgamento) onde cabem várias diligências para recolher dados e elementos que indiciem,
com alguma segurança, a existência desses mesmos factos e a responsabilidade dos respectivos
autores.

• Tratando-se de crime punível com multa ou prisão não superior a 5 anos, e for de fácil
comprovação a existência do crime e a determinação do seu autor, o M.° P.°, face o auto de
notícia ou depois de investigação sumária, deduz, em 45 dias do cometimento do crime,
acusação para julgamento em processo abreviado ‒ n.º 1 art.º 445.º.
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6 INSTRUÇÃO PREPARATÓRIA
ESTRUTURA

• A instrução preparatória é o instrumento de investigação criminal, indispensável para


se poder responsabilizar alguém pela prática de um crime, cronologicamente a sua 1.ª fase,
obrigatória no processo comum, da competência do M.º P.º, para esclarecer a notícia de um
crime, investigando e recolhendo as provas sobre o crime e seus agentes para a decisão
sobre a acusação.

• “Realizam-se as diligências para se apurar se foi ou não praticada uma infracção penal e, no
caso de o ter sido, descobrir os seus agentes e a respectiva responsabilidade penal, recolhendo-se os
pertinentes elementos de prova, em ordem a formular acusação ou a arquivar o processo.” (n.º 1 do
art.º 302.º).

• A instrução contraditória não é nem deve ser propriamente uma investigação, mas um
expediente destinado a controlar se o facto deve ou não subir a juízo.
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7 INSTRUÇÃO PREPARATÓRIA
ESTRUTURA

• Da sua noção resulta a sua finalidade essencial:


• Preparar, através da prova indiciária recolhida, a decisão que o M.° P.° terá que proferir a
final – convocar, através de uma acusação, a intervenção do tribunal, ou não a convocar,
abstendo-se de acusar.
• Três momentos fundamentais, correspondendo ao seu princípio, meio e fim:
•  A abertura;

•  O desenvolvimento;

•  A conclusão.
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8 INSTRUÇÃO PREPARATÓRIA
ESTRUTURA

•Inicia-se ou abre-se a instrução preparatória – obrigatoriamente – quando houver


notícia de uma situação tida por criminosa (art.º 302.º, n.º 2), que pode acudir ao M.º P.º
(que promove e dirige a instrução preparatória – art. os 48.º, n.º 2, als. a) e b) e 309.º, n.º 1)
por apreensão directa, por transmissão dos OPC’s ou por denúncia de terceiros.

•Haverá sempre – salvo o julgamento sumário ou o processo abreviado) – abertura de


instrução preparatória para averiguação dos factos denunciados, em havendo notícia de
um crime (art.º 302.º, n.º 2), sem prejuízo da prévia existência de queixa nos crimes semi-
públicos e de queixa e constituição como assistente nos crimes particulares.

•O arquivamento liminar de queixa/denúncia? o M.° P.° deve proceder assim quando


lhe são participados factos que não constituem crime, face ao art.º 302.º, n.º 3 (notícia de
uma infracção criminal).
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9 INSTRUÇÃO PREPARATÓRIA
ESTRUTURA

•O M.º P.º instaura a instrução preparatória, mas aproveitam-se os actos anteriores à


instauração formal, com as medidas cautelares (cfr., v.g., os art. os 208.° e segts).

•O M.° P.°, titular da e responsável pela instrução preparatória, não procede, ou não
procede directamente, a todos os seus actos que o integram, porque é humanamente
impossível e tecnicamente inviável fazê-lo (o M.º P.º não é um corpo de polícia),
transferindo tais tarefas para os OPC’s, seus colaboradores (art.º 309.º); e a lei inclui a sua
realização, em alguns casos, no âmbito da competência exclusiva do juiz de garantias (cfr.
art.º 313.º).
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10 INSTRUÇÃO PREPARATÓRIA
ESTRUTURA

• Mas, o M.° P.°, tem sempre a direcção da instrução preparatória (art.º 309.º, n.º 1): os OPC
´s, chamados a dar apoio o M.° P.°, fazem-no na qualidade de coadjuvantes, actuando sob
asua directa orientação e na sua dependência funcional (art. 309.º, n.º 2).
• O M.º P.º, por iniciativa própria, pode sempre realizar diligências complementares de
prova, quando os OPC’s instruem os processos sob a sua orientação, quando o entendam
necessário ou conveniente, e avocar qualquer processo em curso nos OPC’s (n.º 3 do art.º
309.º).
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11 INSTRUÇÃO PREPARATÓRIA
ESTRUTURA

• Dependência funcional dos OPC’s em relação ao M.º P.º: mera coadjuvação que envolve a
realização das diligências de prova ou das investigações que lhes sejam cometidas, a
aceitação das orientações de procedimento processual que lhes sejam traçadas; a sujeição a
uma fiscalização do trabalho que foi sendo desenvolvido ao longo da instrução
preparatória.
• Dependência funcional não significa dependência orgânica, administrativa, disciplinar ou
técnica. Os OPC’s são livres de imprimir às diligências que realizem os princípios tácticos,
estratégicos e técnicos que entenderem e de que possam dispor, só tendo que se sujeitar
aos estatutos do corpo a que pertencem (autonomia técnica).
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12 INSTRUÇÃO PREPARATÓRIA
ESTRUTURA

• O M.º P.º (art.° 309.°): o competente para a direcção da instrução preparatória (n.° 1), mas
também realização das diligências que entenda convenientes e necessárias e para a
avocação de qualquer processo (n.° 3), é aquele que exerce funções no local em que o
crime tiver sido cometido. Se não for conhecido esse local, a competência pertence ao M.º
P.º do local em que primeiro tiver havido notícia do crime.
• Sendo o crime cometido no estrangeiro, é competente o M.º P.º que exercer funções junto
do tribunal competente para o julgamento.
• Qualquer magistrado ou agente do M.° P.° procede, em caso de urgência ou de perigo na
demora, a actos de instrução preparatória, nomeadamente de detenção, de interrogatório
e, em geral, de aquisição e conservação de meios de prova.
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13 INSTRUÇÃO PREPARATÓRIA
DESENVOLVIMENTO

•Havendo pedido de colaboração para actividade probatória aos OPC’s, o M.º P.º não
tem que estar presente (de um modo geral ...), mas, sem prejuízo da autonomia técnica,
logística e de estratégia, não está dispensado de acompanhar de perto o seu curso e
veicular, se necessário, directivas quanto a pontos que particularmente importe investigar.

•Há actos que nem sequer podem ser realizados pelos OPC’s (quando sejam
encarregados da sua prática), por a lei os reservar à competência exclusiva do juiz de
garantias.
– art.° 312.°, n.° 2:
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– a) proceder ao interrogatório preliminar do detido, aos interrogatórios
subsequentes de arguidos presos e interrogatórios de arguidos em liberdade;
14 – b) aplicar medidas de coacção, alterá-las ou revogá-las, com fiscalização do
juiz, excepto as prisão preventiva, prisão preventiva domiciliária ou
interdição de saída do país.
– c) ordenar ou autorizar as revistas e buscas se a competência não pertença
Actos que ao juiz;
competem em – d) recolher o juramento das testemunhas, peritos e interpretes;
especial ao M.° P.° – e) validar as revistas e buscaslegalmente efectuadas pelas autoridades de
polícia criminal sem a sua prévia autorização;
– f) presidir às revistas e buscas que ordenar ou autorizar;
– g) presidir às buscas autorizadas pelo juiz;
– h) praticar os actos a que se refere o art.° 135.° (regula as faltas
injustificadas dos participantes processuais);
– i) ordenar, autorizar ou validar a apreensão de objectos relacionados com a
infracção penal cometida, se não competir exclusivamente ao juiz;
– j) ordenar a detenção fora de flagrante delito, nos casos em que for
admissível a prisão preventiva, sem prejuízo do n.° 3 do art.° 254.°;
– k) praticar, ordenar ou autorizar qualquer outro acto ou diligência que a lei
determinar.
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– art.° 312.°, n.° 3:
– a) proceder ao interrogatório preliminar do detido, aos interrogatórios
15 subsequentes de arguidos presos e interrogatórios de arguidos em
liberdade;
Actos do M.° P.° – b) aplicar medidas de coacção, alterá-las ou revogá-las, com fiscalização
passíveis de do juiz, excepto as prisão preventiva, prisão preventiva domiciliária ou
delegação nos interdição de saída do país.
OPC’s – d) recolher o juramento das testemunhas, peritos e interpretes;
– f) presidir às revistas e buscas que ordenar ou autorizar;
– h) praticar os actos a que se refere o art.° 135.° (regula as faltas
injustificadas dos participantes processuais);
– k) praticar, ordenar ou autorizar qualquer outro acto ou diligência que a
lei
determinar.
- 
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- art.° 313.°, n.° 1:
– aplicar medidas de coacção pessoal e de garantia patrimonial;
16 – apreciar as reclamações dos actos do M.° P.° apliquem medidas
cautelares em instrução preparatória;
– proceder ao primeiro interrogatório judicial de arguido detido;
– ordenar buscas nos estabelecimentos referidos no n.° 2 do art.° 213.°;
Actos a – admitir como assistente no processo as pessoas que o requererem e
praticar pelo Juiz tiverem legitimidade;
de garantias – ordenar a apreensão dos objectos processualmente relevantes
encontrados nas buscas nos estabelecimentos referidos;
– praticar os actos a que se refere o art.° 135.° que regula as faltas
injustificadas dos participantes processuais;
– ordenar e proceder à prestação antecipada de depoimentos ou
declarações;
- ordenar ou praticar qualquer outro acto que a lei determinar ou que,
pela sua natureza, só possa ser ordenado ou praticado por quem for
titular de poder jurisdicional.
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17 – art.° 314.°:
– peritagens ou exames susceptíveis de ofender a integridade, a reserva
Actos a da intimidade ou o pudor das pessoas;
autorizar pelo Juiz – escutas telefónicas e actos com elas relacionados, nos termos dos art. os
de garantias 241.° e seguintes;
– qualquer outro acto, nos casos em que a lei determinar que seja o juiz
a conceder a autorização.
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18 INSTRUÇÃO PREPARATÓRIA
ESTRUTURA

•É juiz de garantias, para efeitos do CPP, o juiz nomeado ou designado para praticar
os actos previstos nesse diploma e acabamos de referir.

•Nas comarcas em que este não existir ou quando estiver impedido, aqueles actos são
praticados pelo juiz do tribunal territorialmente competente para julgar o arguido, mas
são deferidos ao juiz de garantias da comarca mais próxima da mesma província judicial:

•– a aplicação de medidas de coacção;

• – o primeiro interrogatório judicial de arguido detido;

• – ordenar buscas em escritório de advogado, consultório médico e outros


estabelecimentos de saúde, estações de correios e serviços de telecomunicações ou,
ainda, em bancos e estabelecimentos bancários:
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19 INSTRUÇÃO PREPARATÓRIA
ESTRUTURA

•Modo de convocar os participantes processuais: meios dos art.os 127.° e segs


(notificação, meio idóneo, editais, anúncios) ou mandados de comparência, com
antecedência mínima de 3 dias, salvo em casos de urgência fundamentada.

•Na convocação, deve identificar-se a pessoa convocada e a qualidade processual em


que o é chamada.

•Devem ser indicadas as sanções em que incorre a pessoa convocada, se faltar


injustificadamente: condenação numa quantia a fixar entre 204 e 1022 Unidades de
Referência Processual, podendo o juiz de garantias, sem prejuízo de multa aplicada ao
faltoso, ordenar a sua detenção pelo tempo necessário à realização da diligência se o fim
da mesma o justificar e condená-lo a pagar as despesas causadas pela não comparência.
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20 INSTRUÇÃO PREPARATÓRIA
ESTRUTURA

•O M.° P.° deve, antes de encerrada a instrução preparatória, requisitar e mandar


juntar o certificado de registo criminal do arguido e as certidões necessárias para
determinar a competência do tribunal (art.º 319.º).

•São reduzidas a auto As diligências de prova, salvo se o M.º P.º entender que não é
necessário, face à sua simplicidade, (art.º 320.º).

•O investigador é livre de trazer para o processo tudo o que se revele de interesse para
o esclarecimento dos factos, com respeito pelas regras legais da recolha de prova e dos
métodos a utilizar.
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21 INSTRUÇÃO PREPARATÓRIA
ESTRUTURA

•NB: (i) Só interessa perseguir factos relevantes e essenciais para esclarecer o ilícito,
numa tríplice vertente: (a) investigação da existência ou não do crime; (b) punibilidade ou
não do seu autor; (c) determinação da pena ou da medida de segurança aplicável (cfr. art.°
124.°); (ii) A convicção a alcançar aqui é sempre precária, assente em meros indícios,
desde que façam supor fundadamente que essa precariedade se transforme em certeza na
fase do julgamento.

•O juiz de garantias, chamado a intervir na instrução preparatória, não é um


investigador, mas apenas como juiz das liberdades, não praticando assim, e em regra,
actos de instrução preparatória, mas actos da instrução preparatória: actos praticados
nessa fase processual mas que não se destinam a recolher indícios do crime ou da
identidade dos seus autores, mas a controlar a sua legalidade.
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22 INSTRUÇÃO PREPARATÓRIA
ESTRUTURA

•A instrução preparatória distingue-se estruturalmente das outras fases processuais,


com características que são só dela: o secretismo e a oficiosidade.

•A fase investigatória é protegida pelo segredo de justiça (art.os 97.º a 101.º), cabendo
ao M.° P.°, ou a quem actue a seu mando, impulsionar as diligências adequadas e
indispensáveis ao esclarecimento dos factos (art. os 303.º e 312.º), sem prejuízo do direito
que cabe a outras entidades ou pessoas individualmente consideradas de fazerem chegar
ao processo todos os dados e elementos que tenham por relevantes para o esclarecimento
dos factos.

•Por isso se diz que a instrução preparatória, nesse sentido, tem natureza
inquisitória.
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23 INSTRUÇÃO PREPARATÓRIA
ESTRUTURA

•Mas, o legislador conferiu, ao seu processo penal, estrutura acusatória – só haverá


julgamento se o feito for levado a juízo através de uma acusação – concluindo-se que toda
a tramitação da instrução preparatória tem como finalidade essencial permitir que, a final,
seja tomada a decisão de acusar ou não acusar.

•Conforme ao que dispõe, aliás, o n.º 2 do art.º 174.º da Constituição.


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24 INSTRUÇÃO PREPARATÓRIA
ENCERRAMENTO

•Decorridos os prazos máximos, dá-se o encerramento da instrução preparatória:

• – 6 meses, se houver arguido preso;

• – 10 meses, se houver arguido preso, em crime punível com prisão superior, no


máximo, a 5 anos e o processo for de especial complexidade (n.º de arguidos e
ofendidos, crime violento ou organizado e particulares circunstancias); e

• – 24 meses, se não houver arguido preso.

•Os prazos começam a contar, quando o processo passa a correr contra pessoa
determinada ou houver constituição de arguido.
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25 INSTRUÇÃO PREPARATÓRIA
ENCERRAMENTO

•Suspendem-se os prazos, por 4 meses: (i) havendo recurso para o T. Constitucional;


(ii) suspensão do processo para julgamento de questão prejudicial; ou (iii) durante o
internamento hospitalar do arguido, se a sua presença for necessária à continuação da
investigação.

•A violação dos prazos deve ser comunicada pelo magistrado do M.° P.° ao seu
superior hierárquico e o Procurador-Geral da República deve adoptar as medidas
convenientes, nomeadamente, determinando a avocação do processo pelo M.º P.º e
fixando prazo para a realização das diligências em falta.

•Assim o dispõe o art.º 321.º


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26 INSTRUÇÃO PREPARATÓRIA
DECISÃO FINAL

•É o veículo indispensável para se poder ajuizar sobre se a notícia levada à autoridade


competente releva ou não como crime, havendo que decidir, após a realização das
diligências indispensáveis, qual o destino a dar-lhe, consubstanciado num despacho final
do M.º P.º que pode assumir 3 variantes:

•  de arquivamento;

•  de suspensão provisória do processo;

•  de introdução do feito em juízo através de uma acusação.


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27 ARQUIVAMENTO

•O arquivamento da instrução preparatória «é um acto processual e significa que o


procedimento não avança, por decisão do autor do acto, para as fases seguintes», não
implicando nunca um juízo de mérito, embora possa ser determinado por razões materiais
e não simplesmente processuais. São 3 os tipos de arquivamento:

• Arquivamento provisório: pode provir de 4 situações concretas (art.º 322.º, n.º 1); (i)
 Inexistência de crime [al. a), 1.ª parte]; (ii)  Irresponsabilidade do arguido pela sua
prática [al. a), 2.ª parte]; (iii)  Inadmissibilidade legal do procedimento, v.g. quando o
procedimento estiver prescrito, o facto tiver sido amnistiado ou descriminalizado, o
arguido for inimputável, houver renúncia ou extinção do direito de queixa, desistência
desta, etc [al. a), parte final]; (iv)  Insuficiência de indícios da existência de crime ou
de quem o cometeu [al. b)].
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28 ARQUIVAMENTO
PROVISÓRIO

• O M.º P.º profere, então, despacho fundamentado de arquivamento e são notificados arguido,
defensor ou advogado, assistente, denunciante com legitimidade para se constituir assistente,
ofendido, a parte civil e os que manifestaram vontade de deduzir pedido civil, que podem
reclamar hierarquicamente  n.º 2 do art.º 332.º.

• Em crime particular, o M.º P.º notifica o assistente para deduzir, em 8 dias, acusação, indicando se
há indícios suficientes da pratica do crime e da probabilidade de o arguido o ter cometido, mas sem
tomar posição sobre o sentido do despacho final (art.º 331.º, n.ºs 1 e 2).
• Deduzida acusação particular, o M.º P.º pode em 5 dias abster-se, acompanhá-la, acusar por factos
diferentes que não importem alteração substancial dos mesmos, sendo as acusações notificadas ao
arguido e ao seu defensor ou seu advogado (art.º 331.º, n.os 4 e 5).
• Se o assistente não acusar, o M.° P.° proferirá então despacho de arquivamento (n.º 6 do art.º 331.º).
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29 ARQUIVAMENTO
DEFINITIVO
•  Um arquivamento definitivo – ocorre após o decurso de um certo tempo a contar da
data da prolação do respectivo despacho e vencidas que sejam determinadas etapas.

•  Havendo reclamação do despacho de arquivamento – logo que (art.º 323.º) a mesma seja
conhecida pela hierarquia do M.º P.º em sentido concordante com o despacho de
arquivamento reclamado;
•  Não havendo reclamação – logo que decorram 30 dias a contar da data em que a
abertura de instrução contraditória já não puder ser requerida, sem que a hierarquia,
oficiosamente, tenha determinado a dedução de acusação ou o prosseguimento das
investigações (art.º 332.º).
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30 ARQUIVAMENTO
REABERTURA

• Nesta situação, o processo só pode ser reaberto para além dos 30 dias seguintes à data do
despacho de arquivamento e exclusivamente com base em novos elementos de prova que
ponham em causa a justeza de tal despacho (art.º 324.º, n.º 1), havendo sempre a
possibilidade de reclamar hierarquicamente do despacho que deferir ou recusar o pedido
de reabertura (art.º 324.º, n.º 2);
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31 ARQUIVAMENTO POR DISPENSA DE PENA

• Arquivamento por dispensa de pena – na prática de ilícitos de reduzida gravidade penal


(quando a lei estabelece a possibilidade da dispensa de pena), se se verifiquem os
respectivos pressupostos: (i) diminutas a ilicitude do facto e a culpa do agente; (ii)
reparação do dano e não oposição de razões de prevenção – art.º 75.º do C. Penal; e se
verificar, a solicitação do M.° P.°, a concordância do juiz de garantias.

•É indispensável que haja indiciação suficiente de que houve crime e de quem foi o seu
autor, pois, se a não houver, o arquivamento terá que fundamentar-se, v.g., em prova de que
não há crime, falta de indícios (art.° 322.°, n.° 1) e não em dispensa de pena.
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32 ARQUIVAMENTO POR DISPENSA DE PENA

•Esta decisão compete, nesta fase, compete ao M.º P.º, obtida a concordância do juiz de
garantias (art.º 325.º, n.º 2) e não é susceptível de impugnação (art.º 325.º, n.º 4).

•Se o juiz de garantias discordar do arquivamento, o M.º P.º deduz acusação ou realiza as
diligências de investigação e instrução que se mostrem necessárias (n.º 5 do art. 325.º) - n.º 2
do art.º 323.º.

•Como se verá, a situação de dispensa de pena pode também ocorrer na fase de instrução
contraditória (portanto com acusação deduzida), sendo o juiz de garantias a arquivar o
processo, depois de obtida a concordância do M.º P.º (art.º 350.º, n.º 2).
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33 SUSPENSÃO PROVISÓRIA DO PROCESSO

•O M.º P.º, oficiosamente ou a requerimento do arguido ou do assistente, pode


determinar, com a concordância do juiz de garantias, a suspensão provisória do processo,
por 2 a 5 anos, com a imposição de injunções e regras de conduta, se se verificarem certas
condições, verificando-se estes pressupostos (art.° 326.°):
• (i)  crime punível com prisão não superior a 5 anos ou com sanção diferente da prisão;
(ii)  concordância do arguido, do assistente e do ofendido que se não tiver constituído
assistente;
• (iii)  ausência de antecedentes criminais; (iv)  inaplicabilidade, no caso concreto, da
medida de segurança de internamento; (v)  ter o arguido agido com grau de culpa
pouco elevado; (vi)  previsibilidade de que o simples cumprimento das injunções e
regras de condutas impostas satisfará as exigências de prevenção que o caso revelar.
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34 SUSPENSÃO PROVISÓRIA DO PROCESSO

•Implica a imposição de injunções ou regras de conduta, que deve ter em conta a


dignidade do arguido e a sua capacidade de cumprimento, podendo o juiz de garantias e
o M.° P.°, para controlo do cumprimento das injunções e regras de conduta, recorrer ao
apoio das autoridades, da sociedade civil e dos serviços de reinserção social (art.º 326.º, n. os
4 e 5).

•Não é recorrível o despacho de suspensão provisória do processo (n.º 1 do art.º 326.º,


por exiger a concordância daqueles que teriam legitimidade para o impugnar.

•Encerrada a instrução contraditória, pode o juiz das garantias suspender


provisoriamente o processo, nos mesmos termos, depois de obtida a opinião concordante
do M.º P.º , do assistente e do próprio arguido – n.º 2 do art.º 350.º.
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35 SUSPENSÃO PROVISÓRIA DO PROCESSO


INJUNÇÕES E REGRAS DE CONDUTA

– indemnizar o lesado; – não frequentar certos meios ou lugares;

– dar ao lesado satisfação moral – não conviver com certas pessoas;


adequada;
– submeter-se a certos tratamento;
– entregar a instituições de solidariedade
– residir em determinado lugar, ou não
social uma contribuição monetária;
residir em certos lugares ou regiões;
– efectuar prestação de serviço público;
– desfazer-se de objectos capazes de
– não exercer determinadas profissões; facilitar a prática de outro crime;
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36 SUSPENSÃO PROVISÓRIA DO PROCESSO

•Cumpridas as injunções e regras de conduta impostas, o processo é arquivado pelo


M.º P.º, sem possibilidade de reabertura (art.º 327.º, n.º 2), extinguindo-se o procedimento
criminal, mas no prazo de suspensão do processo, a prescrição não corre (art.º 327.º, n.º 1).

•Não sendo cumpridas (culposamente) ou se, na suspensão do processo, o arguido


cometer crime doloso pelo qual venha a ser condenado, o processo prosseguirá os seus
termos, sem que o arguido possa pedir a restituição do que houver já satisfeito (art.º 327.º,
n.º 3)
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37 ACUSAÇÃO

•Acusação: introdução do feito em juízo, surgindo a acusação como o ponto final da


instrução preparatória e início de outra fase, que pode ser a instrução contraditória ou o
julgamento.

•É um acto formal no qual se formula o pedido para que o arguido seja julgado pelos
factos apurados durante a instrução preparatória e por ele condenado com a pena prevista
na lei ..., constituindo, portanto, um pressuposto indispensável da fase de julgamento e
por ela se define e fixa o objecto do julgamento.
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38 ACUSAÇÃO

•O M.° P.°, nos crimes públicos e semi-públicos, tem legitimidade para acusar sem
intervenção de terceiros, em 10 dias, se a instrução preparatória oferecer base de
sustentação bastante para o efeito; se tiverem sido reunidos indícios suficientes da prática
do crime noticiado e de quem foram os seus agentes (art.º 328.º, n.º 1).

•Indícios suficientes? A lei considerando-os como os que criam uma probabilidade


(grau de possibilidade de ocorrência) razoável de ao arguido vir a ser aplicada, em
julgamento, uma pena ou medida de segurança (art.º 328.º, n.º 2).
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39 ACUSAÇÃO

•Face à “probabilidade razoável de condenação” tem o M.º P.º «a obrigação de ser


ponderado, objectivo e rigoroso, valendo-se apenas de indícios sérios, concretos e
devidamente fundamentados», nunca se decidindo por «acusações arriscadas, temerárias
e sem base de sustentação bastante, na pressuposição ... de que venha a colher em
julgamento o que não logrou obter na fase investigatória».

•Se haverá sempre algum subjectivismo na valoração dos indícios, tal não põe em
causa o princípio que deve presidir a essa valoração: o da ponderação séria, rigorosa e fria
dos elementos recolhidos nos autos, não apenas na sua consideração isolada mas
sobretudo na conjugação recíproca de todos eles.
Manuel Simas Santos Abril, 2023

40 ACUSAÇÃO

• O M.º P.º, nessa análise final do material indiciário, deve “assumir-se” como um virtual
julgador, interrogando-se sobre se, com aqueles indícios, uma vez testados e confirmados
contraditoriamente em audiência, não lhe repugnaria decidir-se por uma condenação. Fora
deste rigor, sujeita-se o M.° P.° a ser confrontado com sucessivas e repetidas absolvições, o
que não é nada prestigiante para a Instituição e para a imagem da Justiça em geral.

• O padrão de aferição, como aponta a lei, será, pois e sempre, uma razoável e não uma
grande ou elevada possibilidade de condenação, sob pena de se entregar ao M.° P.° a
faculdade de controlar discricionariamente os casos em que o feito deve ou não subir a juízo.
Manuel Simas Santos Abril, 2023

41 FORMULAÇÃO DA ACUSAÇÃO

•Sob pena de nulidade (n.° 1 do art.° 329.°):


• (i) – identificação do acusador; (ii) – nome do acusado, profissão e morada (se
conhecidos), e outras indicações que permitam identificá-lo;
• (iii) – narração precisa e articulada dos factos que constituem a infracção penal e
fundamentam a aplicação ao arguido de uma pena ou medida de segurança,
incluindo, se possível, as circunstâncias de tempo e lugar em que foi praticada, a
motivação do agente, o grau de participação que teve e outras relevantes para a
determinação da culpa e da medida da pena a aplicar
• (iv) – indicação dos meios de prova que fundamentam a imputação dos factos do
crime e de outros que quiser produzir ou requerer, nomeadamente, testemunhas ou
peritos para serem ouvidos; (v) – indicação dos preceitos legais aplicáveis; (vi) – data e
assinatura do subscritor.
Manuel Simas Santos Abril, 2023

42 FORMULAÇÃO DA ACUSAÇÃO

•Em caso de conexão de processos, é deduzida uma só acusação.

•Não se deve ir na narração dos factos – mera descrição evitando-se tudo quanto seja
consideração ou apreciação pessoal sobre eles, que possa, de algum modo, reflectir
qualquer tomada de posição acerca da sua configuração jurídica ou outra.

•O M.º P.º deve mostrar-se integralmente isento, limitando-se a descrever


concisamente os factos indiciados na sua pura materialidade e usando sempre de uma
linguagem perceptível, mas de total rigor jurídico. É isto e só isto que lhe é pedido.
Manuel Simas Santos Abril, 2023

43 ACUSAÇÃO

•Uma vez deduzida, a acusação é obrigatoriamente notificada ao arguido, ao


assistente, ao denunciante com legitimidade para se constituir assistente, ao ofendido, à
parte civil e a quem, no processo, tenha manifestado o propósito de formular pedido de
indemnização cível, bem como ao respectivo defensor ou advogado, prosseguindo os
autos os seus termos ainda que se tenham revelado ineficazes as notificações pessoais ou
postais que hajam sido tentadas (art.° 329.°, n.° 3).

•As comunicações ao arguido, ao seu defensor ou advogado e ao advogado do


assistente são feitas por notificação pessoal, podendo as restantes sê-lo por qualquer dos
outros meios previstos nos art.os 127.° e segs – n.° 4 do art.° 329.°.
Manuel Simas Santos Abril, 2023

44 ACUSAÇÃO

• O M.º P.º, tem, nos crimes públicos e semi-públicos, legitimidade para acusar, mas o
assistente ou quem no acto se constitua como tal, também o pode fazer nos 8 dias seguintes à
respectiva notificação, aderindo à acusação pública, ou deduzindo uma acusação autónoma, pelos
mesmos factos, por parte deles ou por outros que não importem uma alteração substancial
daqueles, oferecendo um conteúdo igual ao da acusação do M.º P.º, só sendo indicadas provas a
produzir ou a requerer que não constem da acusação do M.º P.º (art.os 328.º, 329.º e 330.º).

• Não tem fundamento legal ou razoável, a prática por vezes utilizada pelo M.º P.º de, nos
crimes semi-públicos, notificar o titular do direito de queixa para deduzir acusação, limitando-se
depois a aderir a ela. *

• * Nulidade insanável, Ac. uniformizador de jurisprudência do STJ, português de 16.12.1999,


DR IS-A, de 06.01.2000,
Manuel Simas Santos Abril, 2023

45 ACUSAÇÃO

• Crimes particulares: o M.º P.º, concluída a instrução preparatória, notifica o assistente


para que oferecer em 8 dias sua acusação respeitando os requisitos da acusação pública (art.os
328.º, 329.º, n.os 1, 2 e 331.º), e indica, na notificação, se há indícios suficientes do crime e da
probabilidade do arguido o ter cometido.

• Nestes crimes, é o assistente que pode promover o julgamento do arguido, mas o M.º P.º
também o pode fazer (nos 5 dias seguintes à apresentação da acusação particular), acusando
pelos mesmos factos, por parte deles ou por outros que não importem alteração substancial
daqueles (art.º 331.º, n.º 4).

• Testemunhas limitadas a 10 – n.º 3 do art.º 331.º.

• Se o assistente não acusar, o M.º P.º limita-se a determinar o arquivamento dos autos
(art.º 331.º, n.º 6).
Manuel Simas Santos Abril, 2023

46 REACÇÕES DO ARGUIDO

• Tratando-se de arquivamento – ficará na expectativa, a aguardar que o assistente


requeira a abertura da instrução contraditória (art.º 332.º) ou que a hierarquia
intervenha, oficiosamente ou em resultado de reclamação (art.º 323.º).

•Baseando-se o arquivamento no art.º 322.º, o arguido nada poderá fazer, quando


muito, considerar ter havido denúncia caluniosa e participar criminalmente.

•Tratando-se de arquivamento por dispensa de pena (art.º 325.º), também não lhe
sobra espaço de actuação, pois a decisão não é susceptível de impugnação (art.º 325.º,
n.º 4);
Manuel Simas Santos Abril, 2023

47 REACÇÕES DO ARGUIDO

Tratando-se de acusação (art.º 328.º) – pode requerer a abertura da instrução


contraditória, nos 10 dias seguintes à sua notificação, obedecendo às respectivas
exigências, ou aguardar a remessa dos autos para julgamento (art. os 355.º a 357.º).

• A instrução preparatória, passando a correr contra pessoa determinada ou desde que


tenha havido constituição de arguido, até à conclusão (que coincide com o despacho de
arquivamento ou com a acusação), pode alongar-se por um período de tempo determinado
na lei, como se viu.

• Mas o excesso de prazo não impede o prosseguimento e conclusão da instrução


preparatória, mantendo-se válidos todos os actos realizados para além do respectivo limite
máximo, que podem dar lugar a responsabilidade disciplinar e à aceleração processual
Manuel Simas Santos Abril, 2023

48

INSTRUÇÃO CONTRADITÓRIA
Manuel Simas Santos Abril, 2023

49 INSTRUÇÃO CONTRADITÓRIA

•Já se viu que a investigação criminal tem na base, e em regra, a obrigatoriedade da


instrução preparatória, a cargo do M.° P.°, para apurar da existência do crime, da
determinação dos seus agentes e da sua responsabilidade na respectiva prática, com
recolha de provas que habilitem a dedução de acusação que leve o feito a juízo (art.º 302.º,
n.° 1).

•A instrução contraditória, meramente facultativa e que não tem lugar nos processos
especiais, da competência exclusiva do Juiz de Garantias, visa objectivamente comprovar,
em sede judicial, a bondade do despacho de acusação ou de arquivamento: obter decisão
só sobre os indícios e pressupostos do despacho final do M.° P.°.

•Não sobre o mérito da causa.


Manuel Simas Santos Abril, 2023

50 FINALIDADE

• “Obter uma decisão judicial que confirme ou infirme o mérito da acusação ou do despacho de arquivamento , com
vista a submeter o arguido a julgamento ou a arquivar o processo” – art.° 332.º, n.º 1 –
3 consequências:
•  só o arguido (se o M.º P.º tiver acusado) ou só o assistente (se o M.º P.º não acusar ou só o fizer
parcialmente e o assistente pretenda ver ampliada essa acusação), ou em caso de crime particular –
poderão requerer a abertura da instrução – art.º 332.º, n.º 4, als. a) e b);

•  a instrução contraditória limita-se a testar se a decisão final obtida é ou não de manter, não deve
servir nunca como repetição das diligências investigatórias feitas pelo M.º P.º na instrução preparatória;

•  os actos e diligências de prova a realizar são os que o juiz entender por bem implementar para o
fim em vista, e obrigatoriamente um debate instrutório de natureza contraditória (art.os 335.º, n.º 3 e
341.º e segts), sem prejuízo daqueles actos que o requerente haja apontado como indispensáveis à
concretização do pedido formulado (art.º 333.º, n.º 2).
Manuel Simas Santos Abril, 2023

51 REQUERIMENTO DE INSTRUÇÃO

• A apresentar em 10 dias a contar da notificação da acusação ou do despacho de arquivamento.


Sendo vários os arguidos ou assistentes, e o prazo para requerer a instrução contraditória terminar
em dias diferentes, o requerimento pode ser apresentado por todos ou por cada um deles até ao
termo do prazo que tiver começado a correr em último lugar – n.ºs 2 e 3 do art.º 333.º.

• Conteúdo (art.º 333.º, n.º 2): (i) – as razões, de facto e de direito, que fundamentam a
discordância com o despacho de acusação ou de arquivamento; (ii) – os factos ou meios de prova
que não foram levados em conta na fase de instrução preparatória; (iv) – os factos que o requerente
pretende que sejam considerados e as provas que, para esse efeito, apresenta ou cuja produção
requeira.

• Não pode ser requerida a inquirição de mais de 20 testemunhas – n.º 3 do artº 333.º.
Manuel Simas Santos Abril, 2023

52 ?CORRECÇÃO DO REQUERIMENTO?

• ?Só um requerimento total e absolutamente vazio poderá torná-la inexequível, devendo


por isso serem aproveitados mesmo os requerimentos imperfeitos, se necessário por recurso à
figura do despacho de aperfeiçoamento? Quid iuris

• Isso inequivocamente geraria desigualdade processual. Se a acusação do M.º P.º, nem a


contestação do arguido podem ser corrigidas, porque razão o poderia ser o requerimento de
abertura da instrução contraditória formulado pelo assistente, que, no fundo, funciona como
uma verdadeira acusação?

• O STJ português fixou jurisprudência (Ac. STJ de 12.05.2005 (DR IS-A de 14.07.2005), com a
seguinte expressão: «não há lugar a convite ao assistente para aperfeiçoar o requerimento de abertura da
instrução, apresentado nos termos do art.º 287.º, n.º 2, do CPP [332.º em Angola] quando for omisso
relativamente à narração sintética dos factos que fundamentam a aplicação de uma pena ao arguido».
Manuel Simas Santos Abril, 2023

53 REJEIÇÃO DA INSTRUÇÃO

•Só por falta de algum dos pressupostos indicados (art.º 333.º, n.º 5):

•  extemporaneidade: é extemporânea a instrução contraditória requerida depois do


prazo  10 dias, da notificação da acusação ou do arquivamento (art.º 333.º, n.º 1).

•  incompetência do juiz;

•  inadmissibilidade legal, no caso, da instrução contraditória, (v.g., por respeitar a


processo especial; por ter sido requerida por outrem que não o arguido ou o assistente,
por estar extinta a acção penal, etc).
Manuel Simas Santos Abril, 2023

54 PRESIDÊNCIA/DIRECÇÃO

• A instrução contraditória será presidida/dirigida pelo Juiz de Garantias (art.ºs 31.º, n.º 1 e
334.°, n.° 1), que realizará as competentes diligências, directamente ou assistido pelos
OPC’s.

• Deve tomar em consideração as indicações constantes do requerimento para a abertura da


instrução contraditória, mas não está sujeito a elas, devendo, na descoberta da verdade,
investigar os factos e proceder com autonomia e independência, podendo ordenar
oficiosamente a realização das diligências que entender necessárias – n.° 2 do art.° 334.°.
• A instrução contraditória é dominada pelos princípios da oralidade e da
contraditoriedade;
Manuel Simas Santos Abril, 2023

55

• – podem participar o M.º P.º, o arguido, o seu defensor, o assistente, o seu advogado (que
podem fazer pedidos de esclarecimento ou requerer que sejam formuladas às
testemunhas e declarantes as perguntas relevantes para a descoberta da verdade, devendo
ser notificados do dia, hora e local da sua realização), mas não as partes civis;
• – pode ter lugar, oficiosamente ou requerimento, a produção antecipada de prova
(inquirição de testemunhas e tomada de declarações – art.º 317.º, por força do art.º 339.º);
• – são permitidas todas as provas que não forem proibidas, salvo a inquirição de
testemunhas sobre o carácter e personalidade do arguido, a sua conduta anterior, a sua
situação económica e outras condições pessoais relevantes a que se refere o n.° 2 do art.°
156.°;

• – o juiz interroga o arguido sempre que este solicitar ou quando julgar necessário;
Manuel Simas Santos Abril, 2023

56 INSTRUÇÃO CONTRADITÓRIA

• É constituída:

• – pelos actos de investigação e instrução que o juiz de garantias entender necessários


para a realização da sua finalidade;

• – uma audiência com debate oral e contraditório entre as partes envolvidas no


processo; e

• – uma decisão do juiz de garantias.

• – autos de instrução: as diligências de prova realizadas na instrução contraditória


são reduzidas a auto e a este juntos os requerimentos apresentados e os documentos
com interesse para a apreciação da causa
Manuel Simas Santos Abril, 2023

57 ACTOS DE INSTRUÇÃO CONTRADITÓRIA

• No que se refere aos actos de instrução contraditória, importa distinguir:


• – actos exclusivos do juiz de garantias: este magistrado pratica todos os actos
necessários à realização do fim da instrução contraditória (n.º 1 do art.º 332.º),
pertencendo-lhe em exclusivo o interrogatório do arguido ou de inquirição de
testemunhas e os que são da sua competência exclusiva, por força da lei,
nomeadamente, os indicados no n.º 2 do art.º 313.º e no art.º 314.º;

• – actos delegáveis nos OPC’s: o juiz de garantias pode delegar nos órgãos de polícia
criminal a realização de actos de investigação e de instrução, desde que não se trate de
actos da sua competência exclusiva.
Manuel Simas Santos Abril, 2023

58 ACTOS DE INSTRUÇÃO CONTRADITÓRIA

•O juiz de garantias estabelece a ordem da realização dos actos de instrução


contraditória, conforme entender conveniente à descoberta da verdade, não sendo
permitida a repetição de actos e diligências de prova já praticadas na fase de instrução
preparatória, salvo se não tiverem sido observadas as formalidades legais ou de a
repetição se afigurar indispensável à realização do fim do processo.

•O juiz de garantias deve indeferir por despacho o requerimento relativo aos actos que
considerar irrelevantes para a instrução do processo ou que apenas sirvam para protelar o
seu andamento, pratica ou ordena apenas os que considerar úteis ao apuramento da
verdade., sendo esse despacho irrecorrível, dele cabendo somente reclamação. Art.º 337.º.
Manuel Simas Santos Abril, 2023

59 AUDIÊNCIA PRELIMINAR CONTRADITÓRIA


ART.°S 341.° A 348.°

• – (i) – é ordenada pelo juiz das garantias debate oral e contraditório entre as partes,
quando não forem requeridas ou ordenados actos de instrução contraditória,
limitando-se a discordância de quem requereu a sua abertura à apreciação dos factos
ou a outras questões de direito; (ii) – se houver lugar a actos de instrução, estes
realizam-se em 1.º lugar e só depois o juiz designa, por despacho, o dia, hora e local da
audiência preliminar, no máximo em 5 dias a partir do último acto e com precedência,
sempre que houver arguidos presos ou quando existir receio de a instrução
contraditória não se concluir no prazo (n.º 2 do art.º 334.º)

• O despacho é notificado ao M.° P.°, ao arguido e defensor, ao assistente e advogado e aos


participantes processuais convocados, com antecedência de, pelo menos, 5 dias.
Manuel Simas Santos Abril, 2023

60 AUDIÊNCIA PRELIMINAR CONTRADITÓRIA


FINALIDADE

• – Permitir que o Mº P.°, o assistente e o arguido discutam, em debate oral e


contraditório, perante o juiz de garantias, se durante o decurso das fases de instrução
preparatória e contraditória se apuraram indícios de facto que justifiquem ou não a
submissão do arguido a julgamento;

• – Se surgirem factos novos com interesse para a descoberta da verdade, depois de


marcada a audiência contraditória ou mesmo durante ela, o juiz de garantias ordena a
realização dos actos de instrução que achar necessários, que se realizarão como os
anteriores à audiência preliminar contraditória;
Manuel Simas Santos Abril, 2023

61 AUDIÊNCIA PRELIMINAR CONTRADITÓRIA


ADIAMENTO

• – Só pode ter lugar por justo impedimento de o arguido a ela comparecer ou por outra
forte razão que torne absolutamente impossível realizá-la, mas se ele renunciar ao direito
de estar presente a audiência não pode haver adiadamento com esse fundamento.
• – Em caso de adiamento, o juiz de garantias designa logo nova data, entre o 7.º e o 15.º dia
posteriores, notificando as pessoas presentes em audiência e mandando notificar as
ausentes.
• – Faltando o arguido na segunda data designada ou tendo renunciado ao direito a estar
presente, é representado pelo seu advogado, se o tiver, ou pelo defensor oficioso.
Manuel Simas Santos Abril, 2023

62 AUDIÊNCIA PRELIMINAR CONTRADITÓRIA

• – Cabe ao juiz da instrução, com os poderes correspondentes aos do juiz na audiência


de julgamento, a organização, disciplina da audiência e a direcção dos trabalhos;

• – Não há formalidades especiais, mas o juiz assegura o contraditório na produção da


prova e a possibilidade de o arguido ou o seu defensor se pronunciarem em último
lugar;

• – O juiz pode interromper a audiência sempre que, no seu decurso, entender que é
indispensável praticar actos novos de instrução que não possam realizar-se na própria
audiência;
Manuel Simas Santos Abril, 2023

63 AUDIÊNCIA PRELIMINAR CONTRADITÓRIA

• – Concluída a produção da prova suplementar apresentada, o juiz de garantias concede


mais uma vez a palavra ao M.° P.°, ao advogado do assistente e ao defensor do arguido
para, querendo, fazerem alegações, breves e sintéticas sobre o que bem entenderem sobre
a suficiência ou insuficiência dos indícios apurados e sobre as questões de direito de que
depender o sentido da decisão a tomar pelo juiz de garantias, sendo permitida a réplica por
uma vez só, salvo para o defensor que é, se pedir a palavra, o último a falar;
• – Pode resultar, da instrução ou dos debates em audiência contraditória, alteração dos
factos descritos na acusação do M.° P.° ou do assistente ou no requerimento para a
abertura de instrução.
Manuel Simas Santos Abril, 2023

64 AUDIÊNCIA PRELIMINAR CONTRADITÓRIA


ALTERAÇÃO DOS FACTOS

• Se a alteração for substancial e os factos novos indiciados pela instrução e pelos debates
forem diferentes dos alegados na acusação ou no requerimento para a abertura da
instrução e constituírem, no caso de virem a ser provados, um crime autónomo sem
ligação relevante com o imputado ao arguido, o M.° P.° determina a abertura, para eles, de
instrução preparatória.
• Neste caso, vale como denúncia a comunicação da alteração ao M.° P.°.
Manuel Simas Santos Abril, 2023

65 AUDIÊNCIA PRELIMINAR CONTRADITÓRIA


ALTERAÇÃO DOS FACTOS

• Se a alteração for substancial, e os factos novos indiciados constituírem uma


infracção em relação penalmente relevante com a que resulta dos factos alegados na
acusação ou descritos no requerimento de abertura da instrução, podem ser tomados
em consideração no despacho de pronúncia, cumprindo-se o seguinte:
• – o juiz de garantias ouve o arguido sobre os factos novos e dá-lhe prazo, não
superior a 5 dias, se a alteração não for substancial, ou a 10 dias se a alteração
for substancial, para organizar a sua defesa e indicar ou requerer novas
provas, interrompendo-se ou adiando-se, conforme o caso, a audiência;

• – se a alteração determinar a incompetência do juiz de garantias, o processo é


remetido ao juiz competente;
Manuel Simas Santos Abril, 2023

66
ALTERAÇÃO DA QUALIFICAÇÃO JURÍDICA

• Sempre que o juiz de garantias alterar a qualificação jurídica dos factos descritos na
acusação ou no requerimento para abertura de instrução contraditória, ouve o
arguido sobre os factos novos e concede-lhe prazo, não superior a 5 dias, se a
alteração não for substancial, ou a 10 dias se a alteração for substancial, para
organizar a sua defesa e indicar ou requerer novas provas, interrompendo-se ou
adiando-se, conforme o caso, a audiência.
Manuel Simas Santos Abril, 2023

67 AUDIÊNCIA PRELIMINAR CONTRADITÓRIA


ACTA

• É lavrada acta de tudo o que se passar na audiência preliminar contraditória, contendo: (i)
– a identificação das pessoas que intervieram; (ii) – as causas, se conhecidas, da ausência
das pessoas convocadas; (iii) – a descrição especificada e rigorosa do essencial que se tiver
passado, nomeadamente, da intervenção de cada um dos participantes, das declarações
prestadas, do modo como o foram e das circunstâncias em que o foram, dos documentos
apresentados e dos resultados obtidos; (iv) – a descrição de toda a ocorrência relevante
para a apreciação da prova ou da regularidade do acto, podendo as declarações orais, ser
redigida por súmula, caso em que o juiz de garantias deve procurar que a súmula
corresponda, no fundamental, ao que nele se tiver passado.
• A acta é assinada pelo juiz de garantias, M.° P.°, funcionário que a lavrou, assistente e
pelo defensor do arguido.
Manuel Simas Santos Abril, 2023

68 INSTRUÇÃO CONTRADITÓRIA
ENCERRAMENTO

•O encerramento da instrução contraditória deve ocorrer nos prazos máximos, desde


a data de entrada do requerimento para a abertura da instrução, de (art.º 349.º):

• – 2 meses, havendo arguidos presos, ou de

• – 3 meses, havendo arguidos presos, se a instrução diz respeito aos crimes puníveis
com pena de prisão superior, no máximo, a 8 anos ou de

• – 4 meses, não os havendo, ou de

• – 6 meses, não os havendo, quando a instrução disser respeito a crimes puníveis com
pena de prisão superior, no seu máximo, a 8 anos.
Manuel Simas Santos Abril, 2023

69 AUDIÊNCIA PRELIMINAR CONTRADITÓRIA


ENCERRAMENTO

•Encerrada a audiência preliminar contraditória, o juiz de garantias, estando em


condições de o fazer, pronuncia-se sobre o requerimento para abertura da instrução
contraditória, podendo a decisão ser ditada para a acta, e fundamentar a decisão
remetendo para as razões de facto e de direito da acusação ou do requerimento para
abertura da instrução, considerando-se notificados da decisão todos os presentes.

•Uma das decisões pode ser a suspensão provisória do processo (art.º 326.º), obtida a
concordância do M.º P.º, do assistente e do próprio arguido, sendo notificados da decisão
estes e o lesado que tiver manifestado o propósito de deduzir pedido cível de
indemnização, quando se tiver constituído assistente.
Manuel Simas Santos Abril, 2023

70 AUDIÊNCIA PRELIMINAR CONTRADITÓRIA


ENCERRAMENTO

• Se o juiz de garantias, encerrada a audiência, não estiver em condições de decidir, ordena


a conclusão do para tal, em 10 dias, sendo a decisão sempre tomada em relação a todos os
arguidos (desde que comparticipantes na infracção), mesmo que só um deles tenha requerido a
abertura da instrução.

• Além da suspensão provisória do processo, o juiz de garantias pode proferir despacho de


pronúncia ou despacho de não pronúncia.

• Profere despacho de pronúncia, se forem recolhidos indícios suficientes da existência dos


pressupostos de que depende a aplicação ao arguido de uma pena ou de uma medida de
segurança, por despacho fundamentado, pelos factos indiciariamente provados contra ele,
começando por decidir das nulidades e outras questões prévias ou incidentais de que deva e
possa conhecer.
Manuel Simas Santos Abril, 2023

71 DESPACHO DE PRONÚNCIA

• É aplicável ao despacho de pronúncia, com as devidas adaptações, o disposto, para a


acusação pública, no n.º 2 do art.º 328.º, e nos n.ºs 1 e 2 do art.º 329.º [(i) identificação do
arguido; (ii) narração dos factos que constituem a infracção penal e fundamentam a
aplicação ao arguido de uma pena ou medida de segurança; (iii) a indicação dos meios de
prova que fundamentam a imputação dos factos referidos, nomeadamente, testemunhas
ou peritos para serem ouvidos em julgamento; (iv) a data e a assinatura do juiz (n.º 1)].
• Em caso de conexão de processos, é deduzida um só despacho (nº 2).
Manuel Simas Santos Abril, 2023

72 DESPACHO DE NÃO PRONÚNCIA

• Se os indícios não forem suficientes, o juiz profere despacho, fundamentado, de não


pronúncia, a que é correspondentemente aplicável o disposto no n.º 1 do art.º 322.º, que
regula o arquivamento dos autos:
• [é ordenado, por despacho fundamentado, o arquivamento dos respectivos autos,
quando: (a) existir prova bastante de que não há crime, de que o arguido não o cometeu ou
de que o procedimento criminal se extinguiu ou não é legalmente admissível; (b) não se
tiver produzido prova suficiente da existência do crime ou de quem o cometeu].
Manuel Simas Santos Abril, 2023

73 NULIDADE DO DESPACHO DE PRONÚNCIA

•Ocorre. quando e se se pronunciar o arguido por factos novos que alterem


substancialmente os factos descritos na acusação do M.º P.º ou do assistente ou no
requerimento deste para abertura da instrução e possam constituir crime autónomo nos
termos do n.º 2 do art.º 346.º, mas essa nulidade (art.º 353.º), fica sanada, se não for
arguida nos 8 dias seguintes à notificação do despacho de pronúncia.

•Defendíamos perante preceitos idênticos do CPP de 1987 português «que nos crimes
particulares, acompanhando o M.º P.º a acusação do assistente, se poderá falar de “factos
constantes da acusação do M.º P.º”, indo-se assim ao encontro da intenção legislativa de
aceleração processual, num caso onde é também evidente uma maior força indiciária,
dado até o seu especial posicionamento na acção penal (interessado na prossecução e na
realização da justiça por parte do Estado)».
Manuel Simas Santos Abril, 2023

74 NULIDADE DO DESPACHO DE PRONÚNCIA

• Arguida a nulidade do despacho de pronúncia e indeferida essa arguição, a questão da


nulidade pode ser reapreciada, a requerimento do arguente:
• pelo juiz ou pelo tribunal, se for colectivo, nos termos do art.º 356.º [pelo juiz de
julgamento, quando o processo é aí recebido, ao sanear o mesmo, ao conhecer das
nulidades e de quaisquer outras questões prévias que obstem à decisão sobre o mérito da
causa e de que possa, desde logo conhecer]; e
• do art.° 386.° [quando o tribunal de julgamento, antes de se iniciar a produção da prova,
conhece das nulidades e das questões prévias ou incidentais susceptíveis de impedir o
conhecimento do mérito da causa, que não tenham até esse momento sido apreciadas e o
possam ser sem protelamento exagerado dos trabalhos e risco de interrupção da
audiência].
Manuel Simas Santos Abril, 2023

75 DESPACHO DE PRONÚNCIA
RECORRIBILIDADE

• O despacho de pronúncia é irrecorrível, mesmo na parte em que apreciar nulidades e outras


questões prévias ou incidentais, se não for agravada a medida de coação (art.º 354.º, n.º 1), mas pode ser
arguida essa nulidade e reapreciado o despacho que a aprecie, que acabamos de mencionar, dando
então a decisão lugar à remessa imediata dos autos ao tribunal competente para o julgamento, mas,
essa irrecorribilidade não prejudica a competência do tribunal de julgamento para excluir provas
proibidas.
• É recorrível o despacho de não pronúncia que o juiz profere devidamente fundamentado, se os
indícios não forem suficientes, (art. os 352.º, n.os 4 e 5, 322.º, n.º 1 e 460.º). **

• * ** Para uma síntese das dificuldades suscitadas pelo regime de recursos dos despachos de pronuncia e não
pronuncia no CPP de 1987 português, pode ver SIMAS SANTOS “Nótula para uma reforma do regime dos recursos
em processo penal” in Corrupção em Portugal, Coordenação: PAULO PINTO DE ALBUQUERQUE, RUI CARDOSO E
SÓNIA MOURA, Universidade Católica Portuguesa Editora, 2021.
Manuel Simas Santos Abril, 2023

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Estudos em homenagem ao Professor Doutor Jorge de Figueiredo Dias / organizadores MANUEL DA COSTA
ANDRADE, MARIA JOÃO ANTUNES, SUSANA AIRES DE SOUSA. Coimbra Editora, 2009-2010. - 3.v., p.
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