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SUMÁRIO
1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS...........................................................................................................................3
2 PRINCÍPIOS APLICÁVEIS AO PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR...................................................11
3. DA SINDICÂNCIA...........................................................................................................................................14
4. DO PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR PROPRIAMENTE DITO..........................................................15
4.1 PROCESSO DISCIPLINAR ORDINÁRIO:......................................................................................................16
4.2 PROCESSO DISCIPLINAR SUMÁRIO:.........................................................................................................21
5. DA REVISÃO DO PROCESSO..........................................................................................................................22
6. JURISPRUDÊNCIA EM TESE DO STJ................................................................................................................24
7. INFORMATIVOS STJ: PRINCIPAIS JULGADOS:................................................................................................27
#DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA #AJUDAMARCINHO #DIZERODIREITO...............................................................27
8. JURISPRUDÊNCIA EM TESES- STJ...................................................................................................................31
9. DISPOSITIVOS PARA CICLOS DE LEGISLAÇÃO................................................................................................32
10. BIBLIOGRAFIA UTILIZADA...........................................................................................................................32
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ATUALIZADO EM 23/03/2022
1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS
O que se entende por “processo administrativo disciplinar”? Segundo José dos Santos Carvalho Filho, processo
administrativo disciplinar é o instrumento pelo qual a Administração Pública apura a ocorrência de infrações
praticadas por seus servidores, aplicando, se for o caso, as sanções adequadas.
Fundamento para o exercício do poder-dever de abertura de PAD: a hierarquia disciplinar é o que justifica a
abertura de procedimento visando à apuração de eventual ilegalidade ou irregularidade dentro do serviço
público.
SINDICÂNCIA
CIÊNCIA DO FATO
IRREGULAR PAD
AUTORIDADE COMPETENTE
Art. 143. A autoridade que tiver ciência de irregularidade no serviço público é obrigada a promover a sua
apuração imediata, mediante sindicância ou processo administrativo disciplinar, assegurada ao acusado ampla
defesa.
Quais servidores públicos são abrangidos pela Lei 8.112/90? Os servidores públicos federais, tal como
preconiza o art. 1º, da referida legislação. Para os servidores públicos estaduais é necessário averiguar a
respectiva lei estadual que disciplina o estatuto do servidor.
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As FUCS são constantemente atualizadas e aperfeiçoadas pela nossa equipe. Por isso, mantemos um canal aberto de
diálogo (setordematerialciclos@gmail.com) com os alunos da #famíliaciclos, onde críticas, sugestões e equívocos,
porventura identificados no material, são muito bem-vindos. Obs1. Solicitamos que o e-mail enviado contenha o título do
material e o número da página para melhor identificação do assunto tratado. Obs2. O canal não se destina a tirar dúvidas
jurídicas acerca do conteúdo abordado nos materiais, mas tão somente para que o aluno reporte à equipe quaisquer dos
eventos anteriormente citados.
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Quais são os instrumentos processuais de apuração de eventual ilegalidade na esfera administrativa?
Sindicância e/ou processo administrativo disciplinar propriamente dito.
PROCESSO ADMINISTRATIVO
DISCIPLINAR
Art. 146. Sempre que o ilícito praticado pelo servidor ensejar a imposição de penalidade de suspensão por mais
de 30 (trinta) dias, de demissão, cassação de aposentadoria ou disponibilidade, ou destituição de cargo em
comissão, será obrigatória a instauração de processo disciplinar.
#SELIGANATABELA #NÃOCONFUNDIR:
Sindicância punitiva x Sindicância preparatória x Processo Disciplinar propriamente dito:
SINDICÂNCIA PUNITIVA ou CONTRADITÓRIA ou Serve, como regra, para investigar e punir faltas
ACUSATÓRIAà serve para investigar e punir faltas disciplinares consideradas graves. Poderá ser
disciplinares consideradas como leves. instaurada em 3 (três) situações:
a) Quando da sindicância preparatória resultarem
“O processo de sindicância, desde que utilizado como indícios de autoria e participação;
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meio único para a apuração e aplicação de b) Quando na sindicância punitiva restar
penalidades disciplinares, deve, obrigatoriamente, configurada falta grave (e não leve);
observar os princípios da ampla defesa, do c) Quando se tiver, ab initio, indícios de autoria e
contraditório e do devido processo legal” (STJ, RMS materialidade pela prática de infração grave.
14.310 – PB, processo nº 2002/0003888-9, Ministra
Laurita Vaz). #SELIGANASÚMULA: No tocante ao contraditório e a
ampla defesa são essenciais, em que pese à falta de
defesa técnica, por advogado, não ofender à
SINDICÂNCIA MERAMENTE PREPARATÓRIA à serve Constituição (SV nº 5).
como investigação preliminar para colheita de
indícios de materialidade e autoria para uma possível
instauração de PAD.
A sindicância preparatória é obrigatória? Não. Consoante doutrina e jurisprudência, uma vez havendo
comprovação de autoria e materialidade, a sindicância preparatória é dispensável, podendo a autoridade
competente instaurar diretamente o PAD (INFO 457, STJ).
*(Atualizado em 26/01/2021) #DEOLHONAJURIS: O parágrafo único do art. 137 da Lei nº 8.112/90 proíbe, para
sempre, o retorno ao serviço público federal de servidor que for demitido ou destituído por prática de crime
contra a Administração Pública, improbidade administrativa, aplicação irregular de dinheiro público, lesão aos
cofres públicos e dilapidação do patrimônio nacional e corrupção. Essa previsão viola o art. 5º, XLVII, “b”, da
CF/88, que afirma que não haverá penas de caráter perpétuo. STF. Plenário. ADI 2975, Rel. Min. Gilmar Mendes,
julgado em 04/12/2020.
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É que as infrações disciplinares, assim como as infrações penais, também estão sujeitas à prescrição.
Logo, se a Administração Pública demorar muito tempo para apurar uma falta cometida pelo servidor, ela
perderá o direito de punir.
• Prazo para conclusão do PAD: 60 dias prorrogável por mais 60 dias, totalizando 120 dias (art. 152).
• Prazo para decisão: 20 dias.
• Prazo máximo para conclusão e julgamento do PAD: 120 + 20 = 140 dias.
Desse modo, o STJ construiu o seguinte raciocínio: - a instauração da sindicância de caráter punitivo ou a
instauração do processo administrativo disciplinar interrompem o prazo prescricional. Isso porque demonstram
que o Poder Público não está mais inerte e tomou as providências necessárias. - ocorre que a lei prevê prazos
para que esse procedimento seja concluído. - se esses prazos são ultrapassados, significa dizer que o Poder
Público voltou a ficar inerte e, então, neste caso, deve o prazo prescricional deve recomeçar por inteiro. Súmula
dividida em três partes:
1- Os prazos prescricionais previstos no art. 142 da Lei nº 8.112/1990 iniciam-se na data em que a autoridade
competente para a abertura do procedimento administrativo toma conhecimento do fato (...) Art. 142, § 1º (...)
2- interrompem-se com o primeiro ato de instauração válido - sindicância de caráter punitivo ou processo
disciplinar (...) Art. 142, § 3º (...)
3- e voltam a fluir por inteiro, após decorridos 140 dias desde a interrupção. Art. 142, § 4º c/c arts. 152 e 167.
*#CUIDADO: Sobre esse assunto já existiu polêmica. Alguns julgados do STJ entendem que não há necessidade
do conhecimento da autoridade competente, mas de qualquer autoridade. Vale a pena saber esse
entendimento: “No âmbito de ação disciplinar de servidor público federal, o prazo de prescrição da pretensão
punitiva estatal começa a fluir na data em que a irregularidade praticada pelo servidor tornou-se conhecida por
alguma autoridade do serviço público, e não, necessariamente, pela autoridade competente para a instauração
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do processo administrativo disciplinar. STJ. 1ª Seção. MS 20.162-DF, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, julgado em
12/2/2014 (Info 543)”.
Prescrição intercorrente: da forma em que redigido o texto legal, infere-se que a interrupção do prazo
prescricional possa se prolongar ad perpetum, já que deverá aguardar a decisão final proferida pela autoridade
competente. Ocorre que, quando o processo disciplinar é sujeito a prazos fixados na lei (tal como na lei
8.112/90), o prazo prescricional volta a correr após o período conferido à Administração para concluir o
processo. Nesse sentido, STF, RMS 23.436, julgado em 24.08.1999. Assim, a prescrição intercorrente tem como
pressuposto a inércia do ente público, que deliberadamente deixa de praticar atos necessários ao deslinde do
procedimento, retardando de modo injustificado seu lapso temporal.
Extinta a punibilidade, pela prescrição, é possível consignar nos assentos funcionais do servidor a referida
infração disciplinar cometida? Nos termos do art. 170, da lei 8.112/90, sim. Contudo, o STJ e o STF
consideraram INCONSTITUCIONAL o referido dispositivo de lei, ex vi, STF. Plenário. MS 23262, Rel. Min. Dias
Toffoli, julgado em 23/04/2014.
Como se dará a abertura de sindicância e instauração de PAD? Poderá ser feita de 2 (duas) formas:
A PEDIDO DE UM INTERESSADO
ABERTURA DE
SINDICÂNCIA
+
INSTAURAÇÃO DE PAD
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*Súmula 611-STJ: Desde que devidamente motivada e com amparo em investigação ou sindicância, é
PERMITIDA A INSTAURAÇÃO DE PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR com base em DENÚNCIA
ANÔNIMA, em face do poder-dever de autotutela imposto à Administração. Primeira Seção, aprovada em
09/05/2018, DJe 14/05/2018.
Comissão composta para Processo Disciplinar: a comissão será composta por órgão colegiado, notadamente 3
(três) servidores estáveis que deverão ser escolhidos pela autoridade competente quando da lavratura do PAD.
Presidente da Comissão: o Presidente da Comissão além de ser servidor estável deverá ser ocupante de cargo
efetivo superior ou de mesmo nível, ou ter nível de escolaridade igual ou superior ao do indiciado.
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Art. 149. O processo disciplinar será conduzido por comissão composta de três servidores estáveis designados
pela autoridade competente, observado o disposto no § 3o do art. 143, que indicará, dentre eles, o seu
presidente, que deverá ser ocupante de cargo efetivo superior ou de mesmo nível, ou ter nível de escolaridade
igual ou superior ao do indiciado.
Servidor Público que adquiriu estabilidade com o advento na Emenda Constitucional nº 19 pode integrar
Comissão de PAD? O artigo 19 da ADCT da Constituição Federal dispõe que “os servidores públicos civis da
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, da administração direta, autárquica e das fundações
públicas, em exercício na data da promulgação da Constituição, há pelo menos cinco anos continuados, e que
não tenham sido admitidos na forma regulada no art. 37, da Constituição, são considerados estáveis no serviço
público.”. Assim, sendo estáveis, tais servidores podem compor comissões disciplinares.
Quais são os impedidos de atuarem na comissão (de sindicância e de PAD)? Cônjuge, companheiro ou parente
do acusado, consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro grau (art. 149, parágrafo 2º, Lei
8.112/90).
Registre-se que os atos cometidos pelo servidor público, além de configurar eventual responsabilidade
disciplinar, também poderão caracterizar abuso de autoridade (Lei nº 4.898/65) e improbidade administrativa
(Lei nº 8.429/92).
#IMPORTANTE: Prevalece o entendimento de que a penalidade de demissão poderá ser aplicada pela
Administração com fundamento em ato de improbidade administrativa praticado pelo servidor. A penalidade de
demissão se justifica pelo fato de que o ato é considerado uma infração administrativa GRAVE. Em assim sendo,
não se torna compulsória a ação judicial. É que a lei 8.429/92 não revogou a lei 8.112/90, subsistindo os
dispositivos desta legislação (STJ, EDcl no MS 017873/DF, Rel. Ministro Mauro Campbell Marques, 1ª Seção,
Julgado em 28/08/2013,DJE 09/09/2013).
*É possível a abertura de inquérito civil pelo Ministério Público objetivando a apuração de ato ímprobo
atribuído a magistrado mesmo que já exista concomitante procedimento disciplinar na Corregedoria do Tribunal
acerca dos mesmos fatos, não havendo usurpação das atribuições da Corregedoria pelo órgão ministerial
investigante. A mera solicitação para que o juiz preste depoimento pessoal nos autos de inquérito civil
instaurado pelo Ministério Público para apuração de suposta conduta ímproba não viola o disposto no art. 33,
IV, da LC nº 35/79 (LOMAN). STJ. 1ª Turma. RMS 37.151-SP, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. para
acórdão Min. Sérgio Kukina, julgado em 7/3/2017 (Info 609).
Tal como no processo judicial, o processo administrativo também deve obediência a alguns princípios,
inclusive o processo administrativo quando voltado à apuração de infrações de cunho disciplinar (PAD), dentre
eles:
Princípio do devido processo legal (due processo of law): trata-se de uma garantia do servidor público,
prevista expressamente no art. 5º, LIV, CF: “Ninguém será privado de sua liberdade ou de seus bens sem
o devido processo legal”. Significa dizer que o Estado, quando da apuração de eventuais infrações na
esfera administrativa, deverá observar rigorosamente as regras legais que ele mesmo criou;
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#OLHAOAGANCHO #OUSESABER: O que é a chamada “verdade sabida”? Esta ainda é aceita pelo ordenamento
jurídico brasileiro? A verdade sabida era uma forma de punição do servidor público. “Ocorria quando a
autoridade competente para punir o servidor infrator tomava conhecimento pessoal da infração, por exemplo,
quando o subordinado desautoriza o superior no ato do recebimento de uma ordem ou quando em sua
presença comete falta punível por ele próprio. Em tais casos, a autoridade competente, que presenciou a
infração, aplicava a pena pela verdade sabida, de imediato, sem procedimento algum, consignando no ato
punitivo as circunstâncias em que foi cometida e presenciada a falta.” (MARINELA, Fernanda. Direito
Administrativo. Niterói: Impetus, 2013, p. 1122-1123). A punição do servidor por meio da chamada “verdade
sabida” não pode mais ser realizada considerando que viola a garantia do devido processo legal, em especial
o contraditório e a ampla defesa, sendo, portanto, incompatível com a CF/88.
Princípio da Oficialidade: trata-se de um princípio expressamente previsto no art. 2º, parágrafo único,
da Lei 9.784/99 (que trata do processo administrativo federal). Diferentemente do que ocorre no
processo judicial (cuja tutela jurisdicional, como regra, depende de iniciativa do interessado), no
processo administrativo disciplinar a iniciativa de instauração e desenvolvimento do procedimento é de
competência da própria Administração Pública, em razão do princípio da autotutela. Em assim sendo, o
impulso da marcha procedimental no PAD não demanda da vontade do interessado, podendo a
administração agir de ofício.
Princípio do contraditório e da ampla defesa: trata-se de previsão constitucional no art. 5º, LV: “aos
litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o
contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes”. Tal garantia se aplica tanto aos
processos judiciais como os processos administrativos.
No PAD, o servidor poderá atuar por si mesmo, elaborando sua própria defesa, mas também poderá se
fazer representar por um advogado (devidamente habilitado). A defesa por um advogado é mera faculdade.
#SELIGANASÚMULA: Nesse sentido, a Súmula Vinculante nº 5 findou por tornar sem efeito a Súmula 343, STJ,
defendendo que “a falta de defesa técnica por advogado no processo administrativo disciplinar não ofende a
Constituição”.
O acusado poderá participar da produção de provas, acompanhar os atos processuais, ter vista do
processo, interpor recursos, bem como intervir quando achar pertinente à defesa de seu direito. De toda sorte,
é possível à Administração Pública indeferir as atuações e pleitos de cunho procrastinatório.
Registre-se que eventual alegação da parte de cerceamento ao direito de defesa com o subsequente
pedido de nulidade do PAD deverá vir com comprovação do prejuízo experimentado, em razão do princípio do
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pas de nullité sans grief (MS 21666 / DF, Mandado de Segurança, 2015/0057177-3, Ministro Herman Benjamin,
1ª Seção, DJe 19/12/2016).
* #OLHAOGANCHO: O IBGE está legalmente impedido de fornecer a quem quer que seja as informações
individualizadas que coleta, no desempenho de suas atribuições, para que sirvam de prova em quaisquer outros
procedimentos administrativos. STJ. 1ª Turma. REsp 1.353.602-RS, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado
em 30/11/2017 (Info 617).
*#OUSESABER: Certo ou Errado? A administração Pública obedecerá, entre outros, aos princípios da
oficialidade, verdade formal, gratuidade e, quando cabível, da instrumentalidade das formas.
INCORRETA.
O processo administrativo é informado pelo princípio da VERDADE MATERIAL (e não verdade formal).
Decorrente do princípio da oficialidade, o princípio da verdade material ou da verdade real significa que a
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Administração tem o poder-dever de decidir com base nos fatos tais como se apresentam na realidade, não se
satisfazendo com a versão oferecida pelos interessados.
Disso decorrem algumas consequências: a) não existe um dos efeitos da revelia (presunção de veracidade) nos
processos administrativos (artigo 27 da Lei 9784); b) o interessado pode, a qualquer momento, antes da decisão,
juntar documentos e pareceres, requerer diligências e perícias, bem como aduzir alegações referentes à matéria
objeto do processo; c) mesmo na fase recursal é possível acrescentar novas alegações e juntar novos
documentos (artigo 60); d) nos processos sancionatórios, é cabível a revisão, a pedido ou ex officio (artigo 65);
e) a inércia do interessado, em hipóteses que envolvam o interesse público ou direitos individuais indisponíveis,
não poderá acarretar o arquivamento do processo (art. 39, parágrafo único); f) a preclusão do direito de
recorrer, pela perda do prazo ou por estar exaurida a instância administrativa, não é absoluta, tendo em vista
que a Administração ainda pode rever o ato ex officio, mesmo que não conhecendo do recurso (artigo 63, § 2º),
etc. Assim, tal princípio pode ser extraído implicitamente da lei federal. Vejamos.
#GANCHO: conforme ensina Adilson Abreu Dallari e Sérgio Ferraz, “mesmo no silêncio da lei, e até mesmo
contra alguma esdrúxula disposição nesse sentido, nem há que se falar em confissão e revelia (leia-se: efeitos da
revelia), como ocorre no Processo judicial. Nem mesmo a confissão do acusado põe fim ao processo; sempre será
necessário verificar, pelo menos, sua verossimilhança, pois o que interessa, em última análise, é a verdade, pura
e completa”
Art. 27, lei 9784. O desatendimento da intimação não importa o reconhecimento da verdade dos fatos, nem a
renúncia a direito pelo administrado.
Art. 51, § 2o A desistência ou renúncia do interessado, conforme o caso, não prejudica o prosseguimento do
processo, se a Administração considerar que o interesse público assim o exige.
3. DA SINDICÂNCIA
Como vimos, a sindicância poderá ser punitiva (para infrações de natureza leve) ou meramente
preparatória (para infrações de natureza grave que ensejarão a instauração de PAD).
Natureza jurídica da sindicância: segundo José dos Santos Carvalho Filho, trata-se de um inquérito
administrativo, no sentido de considerar o aspecto inquisitivo, própria da sindicância.
Após abertura de sindicância, a Administração Pública poderá chegar a 3 (três) conclusões (art. 145, Lei
8.112/90):
*#DEOLHONAJURIS #STJ O art. 141, I, da Lei nº 8.112/90 prevê que as penalidades disciplinares de demissão e
cassação de aposentadoria ou disponibilidade de servidores públicos ligados ao Poder Executivo federal devem
ser aplicadas pelo Presidente da República. Por meio do Decreto nº 3.035/99, o Presidente da República
delegou aos Ministros de Estado e ao Advogado-Geral da União a atribuição para aplicar tais penalidades.
Assim, o Advogado-Geral da União, com base no Decreto nº 3.035/99, possui competência para, em processo
administrativo disciplinar, aplicar pena de demissão a Procurador da Fazenda Nacional, que é membro
integrantes da carreira da AGU. Vale ressaltar, contudo, que cabe recurso hierárquico próprio ao Presidente da
República contra a aplicação dessa penalidade. STJ. 1ª Seção. MS 17.449-DF, Rel. Min. Mauro Campbell
Marques, julgado em 14/08/2019 (Info 657).
Se a autoridade competente, após sindicância, concluir que a infração configura também um ilícito penal?
Além de instaurar imediatamente PAD, deverá remeter cópia dos autos ao Ministério Público (art. 154,
parágrafo único c/c art. 171, da lei 8.112/90).
Do afastamento preventivo: como medida cautelar, é possível que a autoridade competente decida pelo
afastamento preventivo do servidor público, objetivando garantir a eficácia de eventual decisão administrativa
final sempre que seu acesso à repartição funcional puder trazer algum prejuízo à apuração, seja destruindo
provas, seja coagindo demais intervenientes na instrução probatória.
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#IMPORTANTE: Para tanto, o afastamento deverá obedecer ao prazo final de 60 (sessenta) dias, prorrogáveis
por igual período, sem prejuízo da remuneração (art. 147, “caput” e parágrafo único, lei 8.112/90).
Qual o rito adotado para a sindicância punitiva? Na ausência de específica previsão legal podemos utilizar o
mesmo rito previsto para o PAD (conforme será estudado adiante).
*#OUSESABER: A sindicância administrativa, prevista na Lei 8.112/90, não está sujeita ao rigor procedimental
a que se submete o processo disciplinar administrativo. Por esta razão é que o STF entende que não se aplica
à sindicância administrativa o direito ao amplo acesso aos elementos de provas que digam respeito ao
exercício do direito de defesa, como ocorre nos procedimentos investigatórios realizados pela polícia
judiciária. Certo ou errado? Sobre o procedimento de sindicância administrativa, segundo a melhor doutrina,
diz-se que tal instituto não se presta para a aplicação de penalidades, porquanto se trata de mera peça
informativa, onde, ou a autoria ainda é desconhecida pela Administração, ou os fatos estão carecendo de
definição. Neste caso, a sindicância se define como um procedimento de investigação simples e célere, não
sujeita ao rigor procedimental a que se submete o processo disciplinar. Pelo acima exposto, dá para se observar
que a primeira parte da questão está perfeita. A dúvida maior está na segunda parte, quando se diz que o STF
entende que não se aplica à sindicância administrativa o direito ao amplo acesso aos elementos de provas que
digam respeito ao exercício do direito de defesa, como ocorre nos procedimentos investigatórios realizados pela
polícia judiciária. O direito acima citado é extraído da redação da Súmula Vinculante n.º 14, que diz: É direito do
defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos de prova que, já documentados em
procedimento investigatório realizado por órgão com competência de polícia judiciária, digam respeito ao
exercício do direito de defesa. Questionado sobre a aplicabilidade desta Súmula aos processos de sindicância
administrativa, o STF afirmou que a citada súmula não alcança sindicância administrativa objetivando elucidar
fatos sob o ângulo do cometimento de infração administrativa (Rcl 10771 AgR/RJ). Então, conjugados todos os
entendimentos acima expostos, podemos confirmar a veracidade do item.
Trata-se de instrumento de compostura mais complexa, após conclusão dos autos de sindicância
preparatória, objetivando apurar responsabilidade de servidor por infração praticada no exercício de suas
atribuições ou que, de alguma forma, tenha relação com as atribuições do cargo que ocupe (art. 148, lei
8.112/90).
O procedimento administrativo disciplinar ordinário é o mais extenso. Será dividido em 3 (três) fases:
#OLHAOGANCHO: Percebe-se, pois, que inquérito administrativo tanto pode significar a natureza jurídica da
sindicância como também representar a 2ª fase do PAD.
A portaria inaugural de instauração de PAD já precisa conter a exposição detalhadas dos fatos imputados ao
servidor? Não. Segundo entendimento do STJ, a portaria inaugural de instauração de PAD tem como principal
objetivo dar início ao Processo Administrativo Disciplinar, conferindo publicidade à constituição da Comissão
Processante. Nela não se exige a exposição detalhada dos fatos imputados ao servidor, o que somente se faz
indispensável na fase de indiciamento, a teor do disposto nos arts. 151 e 161, da Lei n.º 8.112/1990 (MS 20953 /
DF, Mandado de Segurança, 2014/0088838-1, Ministro Benedito Gonçalves, 1ª Seção, DJe 14/02/2017).
É possível se fazer uso de prova emprestada oriunda de processo judicial (ex. produzida na esfera penal) ?
Segundo o STJ, é possível a utilização de prova emprestada no processo administrativo disciplinar,
devidamente autorizada na esfera criminal, desde que produzida com observância do contraditório e do devido
processo legal (MS 016146/DF, Rel. Ministra ELIANA CALMON, PRIMEIRA SEÇÃO, Julgado em 22/05/2013, DJE
29/08/2013).
É possível se fazer uso de prova coletada em interceptação telefônica para fins de processo disciplinar? “A
jurisprudência desta Corte admite o uso de prova emprestada em processo administrativo disciplinar, em
especial a utilização de interceptações telefônicas autorizadas judicialmente para investigação criminal” (STF,
RMS 28774 / DF, Recurso Ord. em Mandado de Segurança, Ministro Marco Aurélio, 1ª Turma, publicação em 25-
08-2016).
A constituição de advogado é obrigatória? Não, nos termos da dicção da Súmula Vinculante nº 5 (“A falta de
defesa técnica por advogado no processo administrativo disciplinar não ofende a Constituição”), o STF entende
que a presença de advogado em sede de processo disciplinar é dispensável.
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Quais os direitos do servidor durante a fase de inquérito do PAD? Consoante preconiza o art. 156, da lei
8.112/90:
Art. 156. É assegurado ao servidor o direito de acompanhar o processo pessoalmente ou por intermédio de
procurador, arrolar e reinquirir testemunhas, produzir provas e contraprovas e formular quesitos, quando se
tratar de prova pericial.
§ 1o O presidente da comissão poderá denegar pedidos considerados impertinentes, meramente protelatórios,
ou de nenhum interesse para o esclarecimento dos fatos.
§ 2o Será indeferido o pedido de prova pericial, quando a comprovação do fato independer de conhecimento
especial de perito.
O indiciado possui direito subjetivo ao deferimento de todas as provas solicitadas à comissão? Não. O
Presidente da comissão poderá denegar pedidos considerados impertinentes, meramente protelatórios, ou de
nenhum interesse para o esclarecimento dos fatos (art. 156, §1º, lei 8.112/90). Nesse sentido também é a
jurisprudência do STF (RMS 28774 / DF, Recurso Ord. em Mandado de Segurança, Ministro Marco Aurélio, 1ª
Turma, publicação em 25-08-2016).
Ademais, eventuais prejuízos sofridos haverão de ser cabalmente demonstrados, conforme princípio do
pas de nullité sans grief.
Interrogatório do acusado: após inquirição das testemunhas (de acusação e de defesa), a comissão passará à
ouvida do servidor acusado. Em havendo pluralidade de acusados, estes deverão ser interrogados
separadamente (art. 158, §1º, lei 8.112/90).
É obrigatório o comparecimento do acusado ao seu interrogatório? Não. Devemos entender que não é
obrigatório o seu comparecimento, bem como, em comparecendo, é possível utilizar do direito ao silencia
(nemu tenetur se detegere).
Após o relatório ter sido produzido pela comissão, ele deverá ser apresentado ao servidor processado para
que este possa impugná-lo? Existe previsão na Lei n.° 8.112/90 de alegações finais a serem oferecidas pelo
servidor após o relatório final ter sido concluído? NÃO. Segundo entende o STJ, NÃO é obrigatória a intimação
do interessado para apresentar alegações finais após o relatório final de processo administrativo disciplinar. Isso
porque não existe previsão legal nesse sentido. STJ. 1ª Seção. MS 18.090-DF, Rel. Min. Humberto Martins,
julgado em 8/5/2013.
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Prazo para defesa: dependerá do número de acusados (art. 161, §1º, §2º e §3º, lei 8.112/90).
Citação para defesa: o acusado deverá ser citado mediante mandado expedido pelo presidente da comissão
(art. 161, §1º, lei 8.112/90). Quando o acusado residir em local incerto e não sabido a sua citação será realizada
por edital. Nesse caso, o prazo para sua defesa será de 15 (quinze) dias a partir da última publicação do edital
(art. 163, “caput” e parágrafo único, lei 8.112/90).
Revelia:
Fase de julgamento: é a última fase do PAD. Aqui se definirá a absolvição ou condenação do servidor.
Prazo para julgamento: o prazo para julgamento será de 20 (vinte) dias, independentemente da complexidade
do processo ou do número de indiciados. Não há previsão de prorrogação desse prazo.
Julgamento realizado fora do prazo: em que pese o julgamento fora do prazo não acarretar nulidade (art. 169,
§1º, lei 8.112/90), é possível caracterizar a prescrição da pretensão punitiva disciplinar.
#DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA: Nesse sentido é o entendimento do STJ: “(...) O julgamento fora do prazo legal
não implica nulidade do processo, sendo certo que o excesso de prazo para a conclusão do processo
administrativo disciplinar só causa nulidade se houver a demonstração de prejuízo à defesa do servidor” (MS
20052 / DF, Ministro Gurgel de Farias, 1ª Seção, DJe 10/10/2016).
Poderá o Poder Judiciário fazer controle de mérito em sede de decisão proferida em PAD? Compete ao Poder
Judiciário apreciar, à luz dos princípios do contraditório, da ampla defesa e do devido processo legal, a
regularidade do procedimento administrativo disciplinar sem, contudo, reexaminar as provas para adentrar o
mérito da decisão administrativa (MS 20922 / DF, Mandado de Segurança, 2014/0075536-5, DJe 14/02/2017).
Eventuais nulidades: os vícios sanáveis poderão ser convalidados. Lado outro, aqueles insanáveis (ex. ausência
de citação) não são passíveis de convalidação. Neste caso, em havendo a anulação e subsequentemente a
prescrição da pretensão punitiva disciplinar é possível se falar em responsabilização (civil, penal e
administrativa) da autoridade competente.
* #DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA: Se o CNMP decidir avocar um PAD que está tramitando na Corregedoria local
por suspeita de parcialidade do Corregedor, ele poderá aproveitar os atos instrutórios praticados regularmente
na origem pela Comissão Processante. Não há motivo para se anular os atos instrutórios já realizados pela
Comissão Processante, sem participação do Corregedor, especialmente se o interessado não demonstra a
ocorrência de prejuízo. O princípio do pas de nullité sans grief é plenamente aplicável no âmbito do Direito
Administrativo, inclusive em processos disciplinares. STF. 2ª Turma. MS 34666 AgR/DF, rel. Min. Dias Toffoli,
julgado em 29/8/2017 (Info 875).
Em caso de nulidade de julgamento, é possível que a 2ª comissão seja formada pelos mesmos membros que
formaram a 1ª? Não há qualquer impeditivo legal de que a comissão de inquérito em processo administrativo
disciplinar seja formada pelos mesmos membros de comissão anterior que havia sido anulada (STF, RMS 28774 /
DF, Recurso Ord. em Mandado de Segurança, Ministro Marco Aurélio, 1ª Turma, publicação em 25-08-2016).
Proibição temporária de exoneração a pedido ou aposentadoria: o servidor que estiver respondendo a PAD
apenas poderá ser exonerado a pedido ou aposentado voluntariamente após conclusão do respectivo processo
disciplinar (art. 172, lei 8.112/90).
PROCEDIMENTO SUMÁRIO
Abandono de cargo
Fases do procedimento sumário: o procedimento sumário será dividido em 3 (três) fases (art. 133 e incisos, lei
8.112/90):
a) Procedimento sumário de acumulação ilegal: no Brasil não é possível a acumulação de cargos, exceto
nas hipóteses autorizadas pela Constituição Federal, previstas no art. 37, XVI e XVII (regime da não
acumulação):
Caso um servidor esteja acumulando ilegalmente, a primeira medida para a correção desse defeito,
antes da instauração do processo, é dar à parte o direito de realizar a opção, no prazo de dez dias (art. 133 da
Lei 8.112/1990).
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Feita a escolha, reconhece-se a boa-fé do servidor e ele é exonerado (e não demitido) do cargo que não
quer mais. Não tem de devolver nada e não há processo.
Todavia, se em dez dias o servidor não realizar a opção, é instaurado o processo disciplinar sumário de
acumulação ilegal. Nesse caso, o servidor tem até o prazo da defesa para realizar a escolha. Feita a escolha pelo
servidor, reconhece-se que ele estava de boa-fé e ele é exonerado do cargo que não quer mais. Trata-se da
segunda oportunidade que ele tem para sair sem consequências negativas.
Se ainda assim o servidor não fizer a opção e ficar caracterizada a ilegalidade da acumulação, ele será
demitido de todos os cargos que estiver exercendo. Neste caso, trata-se de pena/sanção.
Qual a autoridade competente nesse caso? Nos termos do artigo 143 da Lei nº 8.112/90 “autoridade que tiver
ciência de irregularidade no serviço público é obrigada a promover a sua apuração imediata, mediante
sindicância ou processo administrativo disciplinar, assegurada ao acusado ampla defesa”. Assim, o
procedimento disciplinar é, em regra, instaurado no local em que primeiro tomou conhecimento da
irregularidade.
Todavia, com base nos incisos XVI e XVII do artigo 37 da Constituição Federal, que dispõem sobre a
vedação de acumulação de cargos, empregos e funções públicas, o processo disciplinar poderá ser deflagrado
em quaisquer das esferas, uma vez que a competência é concorrente, obrigando-se apenas à comunicação da
decisão final do processo ao outro órgão para providências cabíveis.
b) Procedimento sumário de abandono de cargo: o abandono de cargo exige que o servidor fique
ausente, pelo prazo de 30 dias consecutivos, sem qualquer justificativa e com o animus de abandonar
(art. 138, lei 8.112/90).
5. DA REVISÃO DO PROCESSO
Nos termos do art. 174, lei 8.112/90: “O processo disciplinar poderá ser revisto, a qualquer tempo, a
pedido ou de ofício, quando se aduzirem fatos novos ou circunstâncias suscetíveis de justificar a inocência do
punido ou a inadequação da penalidade aplicada”.
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É possível haver agravamento da situação do servidor? Não. Da revisão não pode resultar agravamento da
sanção aplicada.
A simples alegação de injustiça da penalidade não configura requisito para seu cabimento (art. 176, lei
8.112/90).
Quem pode ajuizar pedido revisional? Nos termos do art. 174 e parágrafos, lei 8.112/90:
Natureza jurídica do pedido de revisão: trata-se de um recurso administrativo, segundo doutrina majoritária
(José dos Santos Carvalho Filho e Maria Sylvia Di Pietro).
Prazo para interposição do pedido de revisão: não já prazo predefinido. Assim, desde que surjam fatos novos
que possam justificar a inocência do servidor ou a inadequação da penalidade aplicada, é possível se falar em
revisão do processo.
De quem é o ônus da prova? Nos termos do art. 175, lei 8.112/90, “No processo revisional, o ônus da prova
cabe ao requerente”.
Julgamento do processo de revisão: o julgamento deverá ser realizado no prazo máximo de 20 (vinte) dias
contados do recebimento do processo, conforme previsão do art. 181, parágrafo púnico, lei 8.112/90.
Quem é a autoridade competente para julgar o pedido de revisão? Será a mesma autoridade que aplicou a
penalidade (art. 141, lei 8.112/90).
Efeitos da decisão: dependerá do julgamento, se procedente ou improcedente (art. 182, “caput”, lei 8.112/90):
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É possível haver o agravamento da situação do servidor peticionante? Não, uma vez que o art. 182, parágrafo
único, da lei 8.112/90 proíbe a situação de agravamento, aplicando-se o princípio da vedação da reformatio em
pejus.
É possível que a sanção aplicada em PAD seja desde logo executada mesmo que ainda esteja
pendente recurso administrativo?
É possível o cumprimento imediato da penalidade imposta ao servidor logo após o julgamento do PAD e antes
do julgamento do recurso administrativo cabível.
Em outras palavras, não há qualquer ilegalidade na imediata execução de penalidade administrativa imposta em
PAD a servidor público, ainda que a decisão não tenha transitado em julgado administrativamente.
STJ. 1ª Seção. MS 19.488-DF, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 25/3/2015 (Info 559).
Argumentos:
1º) Os atos administrativos gozam de autoexecutoriedade, possibilitando que a Administração Pública realize,
através de meios próprios, a execução dos seus efeitos materiais, independentemente de autorização judicial ou
do trânsito em julgado da decisão administrativa.
2º) A execução dos efeitos materiais de penalidade imposta ao servidor público (ex. corte da remuneração) não
depende do julgamento de recurso interposto na esfera administrativa, já que este, em regra, não possui efeito
suspensivo, conforme previsto no art. 109 da Lei n° 8.112/90).
A Administração Pública pode monitorar o conteúdo do e-mail corporativo de seus servidores? Tais e-
mails podem ser utilizados em PAD mesmo sem autorização judicial?
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As informações obtidas por monitoramento de e-mail corporativo de servidor público não configuram prova
ilícita quando relacionadas com aspectos "não pessoais" e de interesse da Administração Pública e da própria
coletividade, especialmente quando exista, nas disposições normativas acerca do seu uso, expressa menção da
sua destinação somente para assuntos e matérias afetas ao serviço, bem como advertência sobre
monitoramento e acesso ao conteúdo das comunicações dos usuários para cumprir disposições legais ou
instruir procedimento administrativo. STJ. 2ª Turma. RMS 48.665-SP, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em
15/9/2015 (Info 576).
Inexistência de impedimento de que os membros da comissão do primeiro PAD, que foi anulado,
participem da segunda comissão.
Respeitados todos os aspectos processuais relativos à suspeição e impedimento dos membros da Comissão
Processante previstos pelas Leis 8.112/90 e 9.784/99, não há qualquer impedimento ou prejuízo material na
convocação dos mesmos servidores que anteriormente tenham integrado Comissão Processante, cujo relatório
conclusivo foi posteriormente anulado (por cerceamento de defesa), para comporem a segunda Comissão de
Inquérito. Assim, não há qualquer impeditivo legal de que a comissão de inquérito em processo administrativo
disciplinar seja formada pelos mesmos membros de comissão anterior que havia sido anulada. STF. 1ª Turma.
RMS 28774/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Roberto Barroso, julgado em 9/8/2016
(Info 834). STJ. 1ª Seção. MS 16.192/DF, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 10/04/2013.
NÃO. A jurisprudência do STF é consolidada no sentido de que as atribuições do Tribunal de Contas da União são
independentes em relação ao julgamento do processo administrativo disciplinar instaurado para apurar falta
funcional do servidor público. Em outras palavras, o processo no TCU não depende nem está vinculado ao PAD.
STF. 2ª Turma. MS 27427 AgR/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 8/9/2015 (Info 798).
O servidor que realizou a sindicância pode também determinar a instauração de processo disciplinar,
designando a comissão processante, e, ao final dos trabalhos, aprovar o relatório final?
NÃO. O STJ decidiu que o servidor que participou das investigações na sindicância e concluiu que o sindicado
havia cometido a infração disciplinar, tanto que determinou a instauração do PAD, não pode, posteriormente,
ser a autoridade designada para aprovar o relatório final produzido pela comissão no processo
administrativo, uma vez que ele já formou seu convencimento no sentido da culpabilidade do acusado. STJ. 3ª
Seção. MS 15.107-DF, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 26/9/2012.
27
Depois do servidor já ter sido punido, é possível que a Administração, com base na autotutela, anule a sanção
anteriormente cominada e aplique uma nova penalidade mais gravosa?
NÃO. A decisão administrativa que põe fim ao processo administrativo, à semelhança do que ocorre no âmbito
jurisdicional, possui a característica de ser definitiva. Logo, o servidor público já punido administrativamente
não pode ser julgado novamente para que sua pena seja agravada mesmo que fique constatado que houve
vícios no processo e que ele deveria receber uma punição mais severa. Assim, a anulação parcial do processo
administrativo disciplinar para adequar a penalidade aplicada ao servidor, consoante pareceres do órgão
correspondente, ensejando aplicação de sanção mais grave ofende o devido processo legal e a proibição da
reformatio in pejus. STJ. 3ª Seção. MS 10.950-DF, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 23/5/2012.
#SELIGANASÚMULA: Tal posicionamento tem por base a Súmula 19 do STF, que dispõe: Súmula 19-STF: É
inadmissível segunda punição de servidor público, baseada no mesmo processo em que se fundou a primeira.
Imagine agora a seguinte situação: Determinado Policial Rodoviário Federal foi flagrado recebendo 40 reais
de propina de dois caminhoneiros. Após todo o processo administrativo disciplinar, tendo sido provado o
fato, o servidor foi punido com a pena de cassação de aposentadoria (art. 127, V e art. 134). O servidor
punido não concordou com a sanção recebida e impetrou mandado de segurança no STJ. Segundo alegou,
viola o princípio da proporcionalidade punir com demissão ou com cassação de aposentadoria um Policial
Rodoviário Federal, com quase trinta anos de serviço, sem notícia de qualquer infração anterior, pelo simples
fato de ter recebido uma propina de apenas 40 reais. O STJ acolheu essa tese?
NÃO. Conforme explicou o Min. Humberto Martins, na esfera administrativa, o proveito econômico auferido
pelo servidor é irrelevante para a aplicação da penalidade, não incidindo o princípio da insignificância, como
na esfera penal, razão pela qual é despiciendo falar em razoabilidade ou proporcionalidade da pena, pois o ato
de demissão é vinculado, nos termos do art. 132, XI, da Lei n. 8.112/90. Para o Min. Relator, o ato de demissão
é vinculado, ou seja, incidindo as hipóteses do art. 132 da Lei n. ° 8.112/90, ao Administrador não cabe fazer
qualquer valoração, cabendo-lhe unicamente aplicar a penalidade prescrita.
Súmula 651-STJ: Compete à autoridade administrativa aplicar a servidor público a pena de demissão em razão
da prática de improbidade administrativa, independentemente de prévia condenação, por autoridade judicial, à
perda da função pública. STJ. 1ª Seção. Aprovada em 21/10/2021.
*João é servidor efetivo (técnico judiciário) do TJDFT desde 2012. Em junho 2013, ele foi cedido para exercer,
por dois anos, um cargo em comissão no STJ. Isso significa dizer que ele continuou sendo servidor do TJDFT,
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mas foi designado para exercer uma função no STJ por esse período. Em maio de 2015, quando ainda estava
prestando serviços no STJ, João, por negligência, perdeu um processo que estava sob sua responsabilidade.
Essa sua conduta configura infração disciplinar. Em junho de 2015, terminou a cessão de João e ele retornou
ao TJDFT. Restou, no entanto, a dúvida: quem deverá ser o responsável por este PAD: o TJDFT (órgão de
origem) ou o STJ (órgão no qual o servidor estava quando praticou a infração)?
A instauração de processo disciplinar contra servidor efetivo cedido deve ocorrer, preferencialmente, no órgão
em que tenha sido praticada a suposta irregularidade. Por outro lado, o julgamento e a eventual aplicação de
sanção só podem ocorrer no órgão ao qual o servidor efetivo estiver vinculado. Ex: João é servidor efetivo
(técnico judiciário) do TJDFT e foi cedido para um cargo em comissão no STJ. Quando ainda estava prestando
serviços no STJ, João praticou uma infração disciplinar. A Instauração do PAD deverá ser feita preferencialmente
pelo STJ. Por outro lado, o julgamento do servidor e aplicação da sanção deverão ser realizados
obrigatoriamente pelo TJDFT. STJ. Corte Especial. MS 21.991-DF, Rel. Min. Humberto Martins, Rel. para acórdão
Min. João Otávio de Noronha, julgado em 16/11/2016 (Info 598).
#RESUMINDO #NÃOCONFUNDIR:
· Instauração do PAD: deverá ser feita preferencialmente pelo STJ (órgão no qual foi praticada a infração).
· Julgamento do servidor e aplicação da sanção: deverão ser realizados obrigatoriamente pelo TJDFT (órgão ao
qual o servidor está vinculado).
* João é servidor público. Ele era o responsável por emitir o DARE (Documento de Arrecadação de Receitas
Estaduais), que é um documento no qual são listados os valores que são devidos pelo contribuinte e que ele
deverá pagar. Atualmente, na maioria dos Estados o DARE é emitido de forma on line, sem a participação
direta dos servidores públicos. O contribuinte entra na página da internet e emite o DARE sozinho, gerando o
valor que ele tem que pagar segundo as informações contidas na base de dados. Voltando ao exemplo. Em
1996, João preencheu de forma errada emissão de um DARE, fazendo com que o contribuinte pagasse menos
tributos do que o devido, causando prejuízos à Administração Pública. Alguns meses depois, João, já
trabalhando em outra unidade fiscal, novamente preencheu de forma incorreta uma nova DARE de outro
contribuinte. Dois anos depois, as condutas do servidor foram descobertas. A Administração Pública
instaurou dois Processos Administrativos Disciplinares para apurar os fatos. No primeiro foi aplicada a pena
de suspensão de 90 dias. No segundo, concluído quase um ano depois, João foi punido com a pena de
demissão, tendo sido considerada como agravante a suspensão imposta no processo disciplinar anterior. Tese
do ex-servidor João ingressou com ação alegando que os fatos investigados configuram aquilo que no Direito
Penal é chamado de “continuidade delitiva” (art. 71 do CP). Logo, as condutas deveriam ter sido apuradas em
um único processo administrativo disciplinar, em vez de dois, como foi feito. Argumentou que a existência da
continuidade delitiva não foi considerada pela Administração Pública, o que acabou lhe prejudicando. Isso
porque se fosse somente um processo, ele deveria ter recebido a pena de suspensão com aumento do
quantum sancionatório previsto no art. 71, caput, do CP. Há tese de João foi acolhida pelo STJ?
29
Não. Há fatos ilícitos administrativos que, se cometidos de forma continuada pelo servidor público, não se
sujeitam à sanção com aumento do quantum sancionatório previsto no art. 71, caput, do CP. STJ. 1ª Seção. REsp
1.471.760-GO, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 22/2/2017 (Info 602). Obs: neste julgado o STJ não
afirmou expressamente se a continuidade delitiva pode ou não ser aplicada ao PAD. Isso porque, no caso
concreto, mesmo que se admitisse o instituto, os requisitos não estariam preenchidos.
* A Corregedoria do Ministério Público instaurou processo disciplinar contra João, Promotor de Justiça. O
procedimento estava sendo conduzido pelo Corregedor-Geral do Ministério Público. Como diligências, a
Comissão do PAD determinou a juntada aos autos de documentos que indicariam a conduta irregular do
Promotor. Além disso, também ouviu testemunhas que atestaram os fatos investigados. Antes que o PAD
fosse encerrado, João ingressou com procedimento de controle administrativo no Conselho Nacional do
Ministério Público (CNMP) pedindo que fosse reconhecida a suspeição do Corregedor, que seria inimigo
pessoal do investigado. Além disso, João requereu a nulidade de todos os atos realizados no PAD. O CNMP
decidiu avocar o PAD e determinou o aproveitamento dos atos instrutórios já realizados (provas documentais
e testemunhais). João não concordou com a decisão e impetrou mandado de segurança contra o CNMP
pedindo a nulidade dos atos instrutórios realizados pelo Corregedor suspeito. O STF concordou com o pedido
de João? Os atos devem ser anulados?
NÃO. Se o CNMP decidir avocar um PAD que está tramitando na Corregedoria local por suspeita de parcialidade
do Corregedor, ele poderá aproveitar os atos instrutórios praticados regularmente na origem pela Comissão
Processante. Não há motivo para se anular os atos instrutórios já realizados pela Comissão Processante, sem
participação do Corregedor, especialmente se o interessado não demonstra a ocorrência de prejuízo. O princípio
do pas de nullité sans grief é plenamente aplicável no âmbito do Direito Administrativo, inclusive em processos
disciplinares. STF. 2ª Turma. MS 34666 AgR/DF, rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 29/8/2017 (Info 875).
* Se no curso de um processo administrativo federal é praticado ato contrário aos interesses da parte, o prazo
de 120 dias para impetração de mandado de segurança somente se inicia quando a parte for intimada
diretamente, na forma do § 3º do art. 26 da Lei nº 9.784/99. O termo inicial para a formalização de mandado de
segurança pressupõe a ciência do impetrante, nos termos dos arts. 3º e 26 da Lei nº 9.784/99, quando o ato
impugnado surgir no âmbito de processo administrativo do qual seja parte. Ex: o Ministro da Justiça negou o
pedido de anistia política formulado por João; esta decisão foi publicada no Diário Oficial; o prazo para o MS não
se iniciou nesta data; isso porque, como há um processo administrativo, seria necessária a intimação do
interessado, na forma do art. 26, § 3º da Lei nº 9.784/99; somente a partir daí se inicia o prazo decadencial do
MS. STF. 1ª Turma. RMS 32487/RS, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 7/11/2017 (Info 884).
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* #IMPORTANTE #CONCURSOS FEDERAIS: É legal a instauração de procedimento disciplinar, julgamento e
sanção, nos moldes da Lei nº 8.112/90, em face de servidor público que pratica atos ilícitos na gestão de
fundação privada de apoio à instituição federal de ensino superior. STJ. 1ª Seção. MS 21.669-DF, Rel. Min.
Gurgel de Faria, julgado em 23/08/2017 (Info 613)
1) A falta de defesa técnica por advogado no processo administrativo disciplinar não ofende a Constituição
(Súmula Vinculante n. 5 do STF).
2) As instâncias administrativa e penal são independentes entre si, salvo quando reconhecida a inexistência do
fato ou a negativa de autoria na esfera criminal.
3) É possível a utilização de prova emprestada no processo administrativo disciplinar, devidamente autorizada
na esfera criminal, desde que produzida com observância do contraditório e do devido processo legal.
4) É possível a instauração de processo administrativo com base em denúncia anônima.
5) Instaurado o competente processo administrativo disciplinar, fica superado o exame de eventuais
irregularidades ocorridas durante a sindicância.
6) O excesso de prazo para conclusão do processo administrativo disciplinar não conduz à sua nulidade
automática, devendo, para tanto, ser demonstrado o prejuízo para a defesa.
7) A autoridade administrativa pode aplicar a pena de demissão quando em processo administrativo disciplinar
é apurada a prática de ato de improbidade por servidor público, tendo em vista a independência das instâncias
civil, penal e administrativa.
8) A decretação de nulidade no processo administrativo depende da demonstração do efetivo prejuízo para as
partes, à luz do princípio pas de nullité sans grief.
9) O termo inicial do prazo prescricional em processo administrativo disciplinar começa a correr da data em que
o fato se tornou conhecido pela Administração, conforme prevê o art. 142, § 1º, da Lei 8.112/90.
10) O prazo da prescrição no âmbito administrativo disciplinar, havendo sentença penal condenatória, deve ser
computado pela pena em concreto aplicada na esfera penal.
1) É possível haver discrepância entre a penalidade sugerida pela comissão disciplinar e a aplicada pela
autoridade julgadora desde que a conclusão lançada no relatório final não guarde sintonia com as provas dos
autos e a sanção imposta esteja devidamente motivada.
2) Quando o fato objeto da ação punitiva da administração também constituir crime e enquanto não houver
sentença penal condenatória transitada em julgado, a prescrição do poder disciplinar reger-se-á pelo prazo
previsto na lei penal para pena cominada em abstrato.
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3) A portaria de instauração do processo disciplinar prescinde de minuciosa descrição dos fatos imputados,
sendo certo que a exposição pormenorizada dos acontecimentos se mostra necessária somente quando do
indiciamento do servidor.
*#ATENÇÃO #SELIGANASÚMULA #STJ
Súmula 641: A portaria de instauração do processo administrativo disciplinar prescinde da exposição detalhada
dos fatos a serem apurados.
4) O prazo prescricional interrompido com a abertura do Processo Administrativo Disciplinar - PAD voltará a
correr por inteiro após 140 dias, uma vez que esse é o prazo legal para o encerramento do procedimento.
5) No PAD, a alteração da capitulação legal imputada ao acusado não enseja nulidade, uma vez que o indiciado
se defende dos fatos nele descritos e não dos enquadramentos legais.
6) Da revisão do PAD não poderá resultar agravamento da sanção aplicada, em virtude da proibição do bis in
idem e da reformatio in pejus.
1) A Lei n. 8.112/1990 pode ser aplicada de modo supletivo aos procedimentos administrativos disciplinares
estaduais, nas hipóteses em que existam lacunas nas leis locais que regem os servidores públicos.
2) É possível a substituição de membros da comissão processante, desde que respeitados, quanto aos membros
designados, os requisitos insculpidos no art. 149 da Lei n. 8.112/1990.
3) As alegações de imparcialidade e de suspeição de membro da comissão processante devem estar fundadas
em provas, não bastando meras conjecturas ou suposições desprovidas de qualquer comprovação.
4) A imparcialidade de membro de comissão não fica prejudicada tão somente por este compor mais de uma
comissão processante instituída para apuração de fatos distintos que envolvam o mesmo servidor.
5) A simples oitiva de membro da comissão processante, de autoridade julgadora ou de autoridade instauradora
como testemunha ou como informante no bojo de outro processo administrativo ou até mesmo penal que
envolva o investigado não enseja, por si só, o reconhecimento da quebra da imparcialidade.
6) Na composição de comissão de processo administrativo disciplinar, é possível a designação de servidores
lotados em órgão diverso daquele em que atua o servidor investigado, não existindo óbice nas legislações que
disciplinam a apuração das infrações funcionais.
7) Em regra, a instauração de processo administrativo disciplinar contra servidor efetivo cedido dar-se-á no
órgão em que tenha sido praticada a suposta irregularidade (cessionário), devendo o julgamento e a eventual
aplicação de sanção ocorrer no órgão ao qual o servidor efetivo estiver vinculado (cedente).
8) A participação de membro do Ministério Público em conselho da Polícia Civil torna nulo o procedimento
administrativo disciplinar instaurado para processar e para julgar servidor público estadual por prática de ato
infracional.
32
9) A convalidação de atos, determinada pelo Supremo Tribunal Federal - STF na ADPF n. 388, não alcança
aqueles produzidos no âmbito de processo administrativo disciplinar declarado nulo em razão da participação
de membro do Ministério Público em conselho da Polícia Civil estadual.
10) Compete ao Ministro de Estado da Educação a instauração de procedimento administrativo disciplinar e a
aplicação de penalidades previstas na Lei n. 8. 112/1990 contra servidor integrante do quadro de pessoal de
Universidade Pública Federal, por força do disposto nos Decretos n. 3.035/1999 e n. 3. 669/2000.
11) O superintendente regional de Polícia Federal é competente para designar os membros de comissão
permanente de disciplina, bem como para determinar a abertura de procedimento administrativo disciplinar no
âmbito da respectiva superintendência.
12) A designação de comissão temporária para promover processo administrativo disciplinar é legítima, nos
termos da Lei n. 8.112/1990, já que a existência de comissão permanente para a apuração de faltas funcionais
só é exigida para os casos determinados em lei.
13) Os policiais rodoviários federais se sujeitam às disposições da Lei n. 8. 112/1990, que nada dispõe sobre a
necessidade de ser permanente a comissão que conduz o processo administrativo disciplinar instaurado para
apurar responsabilidade de servidor por infração praticada no exercício de suas atribuições.
14) A designação de comissão temporária para promover processo administrativo disciplinar contra servidor
policial federal viola os princípios do juiz natural e da legalidade, a teor da Lei n. 4.878/1965, que exige a
condução do procedimento por comissão permanente de disciplina.
6) Em caso de inobservância de prazo razoável para a conclusão de processo administrativo disciplinar, não há
falar em ilegalidade na concessão de aposentadoria ao servidor investigado.
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7) O deferimento de provimento judicial que determine à autoridade administrativa que se abstenha de concluir
procedimento administrativo disciplinar suspende o curso do prazo prescricional da pretensão punitiva
administrativa.
8) É possível o imediato cumprimento da penalidade aplicada na conclusão de processo administrativo
disciplinar, uma vez que os recursos administrativos e os pedidos de reconsideração, em regra, não possuem
efeito suspensivo automático.
9) Reconhecida a nulidade de PAD pela existência de vício insanável, antes do seu julgamento, não há que se
falar em reformatio in pejus quando a segunda comissão processante opina por penalidade mais gravosa.
10) Meras alegações de que existe fato novo não têm o condão de abrir a via da revisão do processo
administrativo disciplinar, sendo indispensável a comprovação da existência de fatos novos, desconhecidos ao
tempo do PAD.
1) O mandado de segurança não é a via adequada para o exame da suficiência do conjunto fático-probatório
constante do Processo Administrativo Disciplinar - PAD.
2) Na via do mandado de segurança, é possível valorar a congruência entre a conduta apurada e a capitulação
da pena de demissão aplicada no processo administrativo disciplinar.
3) É cabível recurso administrativo hierárquico em face de decisão prolatada em Processo Administrativo
Disciplinar - PAD.
4) A ausência de termo de compromisso de membro de comissão processante não implica nulidade do PAD,
uma vez que tal designação decorre de lei e recai, necessariamente, sobre servidor público, cujos atos
funcionais gozam de presunção de legitimidade e de veracidade.
5) É inadmissível segunda punição de servidor público, baseada no mesmo processo em que se fundou a
primeira. (Súmula 19/STF)
6) É possível utilizar a Lei de Improbidade Administrativa (Lei n. 8.492/1992), em interpretação sistemática, para
definir o tipo previsto no art. 132, IV, da Lei n. 8.112/1990 e justificar a aplicação de pena de demissão a
servidor.
7) Na esfera administrativa, o proveito econômico auferido pelo servidor é irrelevante para a aplicação da
penalidade no processo disciplinar, pois o ato de demissão é vinculado (art. 117, c/c art. 132 da Lei 8112/1990),
razão pela qual é despiciendo falar em razoabilidade ou proporcionalidade da pena.
8) A demonstração do ânimo específico de abandonar o cargo público que ocupa (animus abandonandi) é
necessária para tipificar conduta de servidor como prática de infração administrativa de abandono de cargo.
9) O fato de o acusado estar em licença para tratamento de saúde não impede a instauração de processo
administrativo disciplinar, nem mesmo a aplicação de pena de demissão.
10) A pena de cassação de aposentadoria prevista nos art. 127, IV e art. 134 da Lei n. 8.112/1990 é
constitucional e legal, inobstante o caráter contributivo do regime previdenciário.
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1) Não caracteriza cerceamento de defesa no PAD a ausência de interrogatório para a qual contribuiu o
próprio investigado, ante a impossibilidade de favorecimento a quem deu causa à alegada nulidade.
2) É dispensada a intimação pessoal do servidor representado por advogado, sendo suficiente a publicação da
decisão proferida no PAD no Diário Oficial da União.
3) Diante do silêncio da Lei n. 8.112/1990 e demais diplomas legais sobre processo administrativo disciplinar,
deve ser observada a regra dos art. 26, § 2º, e art. 41 da Lei n. 9.784/1999 que impõe o prazo de, no mínimo,
três dias úteis entre a notificação do servidor e a realização de prova ou de diligência ordenada no PAD, sob
pena de nulidade.
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4) A não realização da oitiva de testemunha não constitui cerceamento de defesa no PAD quando há o
esgotamento das diligências para sua intimação ou ainda, quando intimada, a testemunha tenha deixado de
comparecer à audiência.
5) A falta de intimação de advogado constituído para a oitiva de testemunhas não gera nulidade se intimado o
servidor investigado.
6) A simples ausência de servidor acusado ou de seu procurador não macula a colheita de depoimento de
testemunha no PAD, desde que pelo menos um deles tenha sido intimado sobre a realização da audiência.
7) Em processo administrativo disciplinar, a falta de intimação do servidor público após a apresentação do
relatório final pela comissão processante não configura ofensa às garantias do contraditório e da ampla defesa
por ausência de previsão legal.
8) O indeferimento de produção de provas pela comissão processante, não causa nulidade do Processo
Administrativo Disciplinar - PAD, desde que motivado nos termos do art. 156, §§ 1º e 2º, da Lei n. 8.112/1990.
9) É possível o aproveitamento de prova produzida em processo administrativo disciplinar declarado nulo para a
instrução de novo PAD, desde que seja assegurado o contraditório e a ampla defesa, e que o vício que ensejou
referida nulidade não recaia sobre a prova que se pretende aproveitar.
10) A acareação entre os acusados, prevista no § 1° do art. 159 da Lei n. 8. 112/1990, não é obrigatória,
competindo à comissão processante decidir sobre a necessidade de sua realização quando os depoimentos
forem colidentes e a comissão não dispuser de outros meios para a apuração dos fatos.
11) É dispensável a transcrição integral de diálogos colhidos em interceptação telefônica no âmbito do PAD, pois
tal obrigatoriedade não encontra amparo legal.
12) O exame de sanidade mental do servidor (art. 160 da Lei n. 8.112/1990) só é imperativo na hipótese em que
haja dúvida razoável de que o investigado tivesse, ao tempo dos fatos, condições de assumir a responsabilidade
funcional pelos atos a ele atribuídos.
13) A preexistência de doença mental ao tempo do cometimento dos fatos apurados no processo administrativo
disciplinar impede a aplicação da pena disciplinar se constatada, por qualquer meio, a absoluta
inimputabilidade do agente.
14) Em matéria de demissão por enriquecimento ilícito (art. 132, IV, da Lei 8. 112/1990 c/c art. 9º, VII, da Lei
8.429/1992), compete à administração pública comprovar o incremento patrimonial significativo e
incompatível com as fontes de renda do servidor no PAD e ao servidor acusado o ônus de demonstrar a
licitude da evolução patrimonial constatada pela administração, sob pena de configuração de improbidade
administrativa.
15) O fato de o servidor ter prestado anos de serviços ao ente público, e de possuir bons antecedentes
funcionais, não é suficiente para amenizar a pena a ele imposta se praticadas infrações graves a que a lei,
expressamente, prevê a aplicação de demissão.
16) A regra do crime continuado (art. 71 do Código Penal) não incide por analogia sobre o PAD, porque a
aplicação da legislação penal ao processo administrativo restringe-se aos ilícitos que, cometidos por servidores,
possuam também tipificação criminal.
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REGIME DE RESPONSABILIDADE DOS AGENTES PÚBLICOS NAS ESFERAS CIVIL E ADMINISTRATIVA POR
MEDIDAS DE ENFRENTAMENTO DA PANDEMIA DA COVID-19
Esfera administrativa: consiste na instância que se passa dentro da própria Administração Pública, normalmente
em um processo administrativo.
Apesar de não constar expressamente na MP, entendo que, ao falar em esfera administrativa, o art. 1º abrange
também a chamada “esfera controladora” (Tribunais de Contas).
Desse modo, a responsabilização que ocorre por decisão dos Tribunais de Contas, que são órgãos de controle
externo, também deve seguir as regras da MP 966/2020.
Veja a redação do caput do art. 1º da MP:
Art. 1º Os agentes públicos somente poderão ser responsabilizados nas esferas civil e administrativa se agirem
ou se omitirem com dolo ou erro grosseiro pela prática de atos relacionados, direta ou indiretamente, com as
medidas de:
I - enfrentamento da emergência de saúde pública decorrente da pandemia da covid-19; e
II - combate aos efeitos econômicos e sociais decorrentes da pandemia da covid-19.
Dolo
Abrange tanto os casos de dolo direto como também eventual.
Vale ressaltar, no entanto, que o simples fato de ter ficado comprovado que o parecerista agiu com dolo ou erro
grosseiro não levará, automaticamente, à responsabilização do decisor (administrador que tomou a decisão com
fundamento neste parecer).
Para que o decisor seja responsabilizado, será necessário que fique demonstrado que ele:
• tinha condições de aferir que o parecerista agia com dolo ou erro grosseiro; ou
• estivesse em conluiou com o parecerista.
Essa regra – que decorre da ideia de responsabilidade pessoal e subjetiva – foi prevista no § 1º do art. 1º da MP:
Art. 1º (...)
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§ 1º A responsabilização pela opinião técnica não se estenderá de forma automática ao decisor que a houver
adotado como fundamento de decidir e somente se configurará:
I - se estiverem presentes elementos suficientes para o decisor aferir o dolo ou o erro grosseiro da opinião
técnica; ou
II - se houver conluio entre os agentes.
Essa mesma regra já constava no § 6º do art. 12 do Decreto nº 9.830/2019, que regulamentou os arts. 20 a 30
da LINDB.
Vigência
A MP 966/2020 entrou em vigor na data de sua publicação (14/05/2020).
DIPLOMA DISPOSITIVO
Lei 8112 Artigos 143 a 182
Lei 9784 Integralmente
FILHO, João Trindade de Cavalcante, Servidor Público, Coleção Leis Especiais para Concursos, Bahia, Editora
Juspodivm, 6ª edição, 2017;
FILHO, José dos Santos Carvalho, Manual de Direito Administrativo, São Paulo, Ed. Atlas, 29ª edição, 2015;
MELLO, Celso Antônio Bandeira de, Curso de Direito Administrativo, São Paulo, Malheiros Editores, 31ª edição,
2014.