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DISTOCIA EM BOVINOS E

PEQUENOS RUMINANTES

Júlio Cesar da Cunha


Fisiologia do parto

• Processo pelo qual o feto é expulso do útero


• Sinais do parto em bovinos
• Menor movimentação
• Anorexia
• Animal procura ambiente seguro e limpo
Fisiologia do parto

• O amadurecimento fetal desencadeia o parto


• Fases:
• Preparatória – 24 a 48 horas
• Relaxina e estrógeno
• Tampão mucoso
• Edema de vulva
• Relaxamento dos músculos abdominais
• Aumento da glândula mamária
Fisiologia do parto

• 1ª Fase - 6 a 12 horas

• Contração uterina

• Dilatação da cérvix

• Ocitocina

• 2ª Fase - Expulsão do feto - 1 a 3 horas

• Rompimento da bolsa alantoideana e amniótica

• Contração de musculatura abdominal

• 3ª Fase - Expulsão de envoltórios - 12 horas


REFLEXO DE FERGUSON
Nervo pudendo
Receptores leva estímulos até
nervosos na medula espinhal
parede dorsal
da vagina

Contração
da
musculatura
abdominal
ÚTERO ÚTERO
QUIESCENTE ? CONTRÁTIL
Fisiologia do parto

• Hormônios:
• Ocitocina – Ovário e hipófise

• Relaxina – Corpo lúteo (CL)

• PGF – Endométrio

• Progesterona – CL e placenta

• Estrógeno – Placenta
Fisiologia do parto

• Corticóide fetal  ativação de 17-alfa-hidroxilase nos


cotilédones para conversão de progesterona em estrógeno
• Estrógeno  Prostaglandina (fosfolipase A) – lise do CL
• Estrógeno  aumenta receptores para ocitocina
FRASER, 2005.
Fisiologia do parto

ESTRÓGENO

Ativação enzimática

Fosfolipase A2

Liberação da reserva celular de


fosfolipídeos

Ácido
Araquidônico

Prostaglandina sintetase

PGF2α
Fisiologia do parto
CORTICOSTERÓIDE
FETAL

PROGESTERONA

Gap junctions
ESTRÓGENO
miométrio

RECEPTORES P/
RELAXINA PGF2α OCITOCINA

OCITOCINA
OCITOCINA
Distocia

Emergência em ruminantes?
Estática Fetal
• Apresentação – classificada pela estrutura do feto está mais
próxima a vagina

• Posição – coluna vertebral do feto em relação as estruturas


maternas

• Atitude – comportamento das extremidades fetais ( cabeça,


membros, pescoço)
Estática fetal

• Apresentação
• Anterior

• Posterior

• Abdominal transversa

• Dorsal transversa
Estática fetal

• Posição
• Superior

• Inferior

• Esquerda

• Direita
Estática fetal

• Atitude
• Cabeça e membros estendidos

• Cabeça voltada para flanco

• Cabeça voltada para o dorso

• Cabeça voltada para o ventre

• Articulação do carpo flexionada


Estática fetal

• Estática fetal normal

• Apresentação anterior

• Posição superior

• Cabeça e membros estendidos


ROBERTS, 1971.
Distocia
• Distocia - 1° e principalmente o 2º estágio do parto são
prolongados
• Mais comum em primíparas

• Causas
• Básica x Imediata
• Básicas: Durante o período de gestação
• Imediatas: No momento do parto
Distocia

• Materna x Fetal
• Materna
• Diminuição do canal do parto
• Tamanho de pelve insuficiente
• Inércia uterina ou parede abdominal
• Tumores
• Carencial e metabólica
• Fetal
• Gigantismo
• Apresentação, postura e posição anormal
Estática Fetal

• Caracteriza a disposição do feto no interior do útero durante


a gestação, bem como sua postura no momento do parto. O
conhecimento da estática fetal é fundamental para instituir
o diagnóstico, prognóstico e tratamento do parto distócico.
• Embora o conceito seja importante para as espécies caninas,
felina e suínas, assume relevância e configuração clara nos
bovinos e eqüinos, por permitir um exame obstétrico
interno específico manual por via vaginal no momento do
parto.
• A estática fetal pode ser descrita pela relação do feto com a
pelve materna ou pela definição de apresentação,posição e
atitude.
Longitudinal : pescoço flexionado lateralmente

ROBERTS, 1971.
Longitudinal : pescoço flexionado sobre o dorso
ROBERTS, 1971.
Longitudinal : apresentação dos membros posteriores e
anteriores
ROBERTS, 1971.
Posterior : Membros posteriores flexionados
caudalmente
ROBERTS, 1971.
Posterior: Membros posteriores flexionados cranialmente

ROBERTS, 1971.
Transvesal ventral: membros flexionados ROBERTS, 1971.
Quando auxiliar o parto?

• Freqüência de observação – 30 min /1 hora (por


pessoa treinada)

• 1ª fase – superior a 12 horas

• 2ª fase – superior a 3 horas


Quando auxiliar o parto?

• Sinais:
• Contração forte sem expulsão do feto

• Contração fraca por mais de 6 horas

• Secreção purulenta ou fétida com sinais de toxemia

• Estática fetal anormal (visualização ou palpação)


Quando auxiliar o parto?

• Sinais:

• Vaca tem sinais de estresse e fadiga

• Bezerro com mucosas cianótica

• Prolapso vagina com despreendimento do tampão mucoso

• Líquido aminiótico amarelado


Resolução das distocias

• Medicamentos
• Indução
• Dilatação e relaxamento do canal
• Contração uterina
• Relaxamento do útero

• Tração
• Fetotomia
• Cesariana
Casuística Hvet-UnB

• Em 82 casos de distocia (jun2002/2006)


• Resolução
• Cesariana – 35 – 43%
• Tração – 26 – 32%
• Fetotomia – 21 – 25%

• Apresentação
• Anterior – 61 – 74%
• Posterior – 18 – 22%
• Transversa – 3 – 4%
DISTRIBUIÇÃO ANUAL DE ATENDIMENTOS
OBSTÉTRICOS (2002-2006)

20
18
16
Número de casos

14
12
10
8
6
4
2
0
O O O O O
R EI
R O IL IO O O TO R RO B R R
EI RÇ R A N
H LH S B B B
N R A AB M
JU J U O E
M TU EM EM
JA VE M AG T U V EZ
F E SE O
N
O D

Fonte: Hospital Escola de Grandes Animais - UnB


RAÇAS ATENDIDAS COM DISTOCIA HVET-UnB
(2002/2006)
PARDO SUÍÇA
10%

JERSEY 5%

NELORE 7,5%

MESTIÇA 50% HOLANDESA


15%

SIMENTAL 5%
OUTRAS RAÇAS
7,5%

Fonte: Hospital Escola de Grandes Animais - UnB


Tipo de resolução das distocias atendidas no Hvet UnB 2002-
2006

40

30

20

10

0
Cesariana Tração Fetotomia

Fonte: Hospital Escola de Grandes Animais - UnB


Histórico

• Idade do animal

• Tipo de criação

• Freqüência de observação

• Medicação aplicada

• Manejo sanitário
Histórico

• Tipo de concepção – monta natural, I.A, T.E, F.I.V (valor do

animal e tamanho touro)

• É primípara?

• Data de concepção
Histórico

• Foi manipulado?

• Estava doente antes do

parto?

• Início do parto?
Exame clínico da vaca

• Exame geral
• Capacidade de se locomover e permanecer em estação
• Estado nutricional
• Abdome, pelve, vagina, vulva e glândula mamária
Exame clínico da vaca

• Exame das vias fetais


• Dilatação

• Lubrificação

• Abertura da cérvix

• Anexos fetais

• Condições do feto

• Exame retal não deve ser realizado

• Avaliar rapidamente outros sistemas


Conduta para decisão

• Avaliar condições da vaca

• Estática fetal

• Viabilidade do feto

• Tamanho do feto em relação a mãe


Conduta / decisão

• Canal do parto (dilatação de vias moles e pelvimetria)


• Casco maior que 20 cm = bezerro acima de 45 Kg

• Utilização ou não de anestesia

• Lubrificação e elasticidade
Conduta / decisão

• Decisão da resolução

• Tempo

• Valor bezerro e da mãe

• Condições e materiais disponíveis


X

Decúbito ou estação?
CORREÇÃO DA ESTÁTICA
FETAL E TRAÇÃO
Correção estática /tração

• Princípio básico: Mão – Cabeça – Mão

• Cordas com espessura média

• Amarrar dividindo a tração em ossos longos

• Utilizar somente força humana

• Tração alternada
CABEÇA

MÃO MÃO
Correção estática /tração

• Obedecer curvatura natural do canal

• Conferir antes de tracionar

• Lubrificação e higiene

• Avaliar necessidade de anestesia peridural

• Proteger útero dos cascos com a mão

• Episiotomia
Correção estática /tração

• Possibilitam correção:
• Cabeça voltada lateralmente

• Membros torácicos flexionados

• Membros posteriores estendidos cranialmente

• Abdominal transversa
Correção estática /tração

• Pelvimetria
• Medida da pelve e sua relação com o tamanho do
feto
• Diâmetros da fêmea
• Bi ilíaco superior
• Bi ilíaco inferior
• Sacro púbico (vertical)
• Diâmetros do feto
• Bi escapular
BI-S

SP
BI-I
Quem tem mais distocia, a
vaca ou a égua?
PELVE DA VACA PELVE DA ÉGUA
PRESTES, 2006.
Material utilizado

• Correntes
• Passador de corrente
• Ganchos (rombo e afiado)
• Gancho ocular (Gancho de Huynem)
• Cordas finas
• Luvas de palpação/procedimento
• Substância para lubrificar
Correção estática /tração

• Locais para fixação do gancho:


• Órbita ocular +++
• Pelve +++
• Costelas ++
• Processos transversos de vértebras ++
• Espaço medular ósseo +
• Mandíbula +
• Palato +
• Borda da escápula +
• Musculatura +
X
Força materna - 150 libras
Duas pessoas - 250 libras
Extrator - 800 libras
Trator - 10.000 libras
FETOTOMIA
BENESCH
BENESCH
UTRECHT
UTRECHT
DANISH
DANISH
Vantagens da fetotomia

• Procedimento simples
• Menor custo

• Materiais
• Medicamentos
• Mais seguro que a cesariana
• Menos traumático
Indicações da fetotomia

• Feto
• Morto
• Monstro
• Enfisematoso

• Local inapropriado para cesariana


Princípios da fetotomia
• Verificar se a fetotomia realmente possibilita a retirada do feto

• Verificar se o feto está morto

• Tração correta

• Proteção do útero pelo manipulador


Fetotomia

• Evitar cortes que possam deixar pontas

• Observar lubrificação dos canais do parto

• Observar o número de cortes necessários

• Estipular tempo limite


Fetotomia

• Verificar viabilidade fetal:


• Reflexo palpebral
• Reflexo flexor
• Reflexo anal
• Pulso umbilical
• Reação dolorosa com agulha

• Sempre associar técnicas de tração


Tipos de fetotomia

PARCIAL COMPLETA
• Mais demorada
• Mais comum
• Evisceração
• Menos cortes
• Maior risco
• Quando há espaço
• Feto enfisematoso
Fetotomia parcial anterior

• Região cervical

• Articulação escápulo-umeral

• Articulação do carpo

• Região torácica
Fetotomia parcial posterior

• Metatarso III

• Articulação coxofemoral

• Região lombar
Fetotomia completa

• Apresentação anterior

1º Região cervical

2º Um membro torácico e parte do tórax

3º Pélvis
Fetotomia completa

• Apresentação posterior

1º Membro pélvico

2º Evisceração

3º Membro torácico e pescoço


“Si mater pregnas mortua sit, fructus
quam primum caute extrahatur”
700 A.C – Roma Reinado de Numa
Pompilius
Operação cesariana

• Origem do nome
• Júlio César, segundo Plinius, teria nascido
por cesariana
• A mãe de César, Aurélia, permaneceu
viva após o nascimento de César

?
Operação cesariana

• Origem do nome
• Nero, um dos 12 Césares, teria
mandado abrir o ventre de sua mãe,
Agripina, para ver onde tinha sido
gerado
• A operação já era praticada antes de
Nero

?
Operação cesariana
• Origem do nome
• Indivíduos que nasciam por abertura do ventre após
a morte da mãe eram chamados de Caesones
(derivado de caesura, caesus) – hipótese mais aceita
• Primeiro relato humanos – 1500 castrador de porcas
• Primeiro relato animais – 1839 duas cadelas na
Inglaterra
• Brasil – 1840 – Suínos

“ qui caeso matris utero nascitur”


Cesariana

• Indicações
• Hidropsia
• Não dilatação de vias fetais
• Pelve insuficiente
• Maceração ou mumificação
• Fetos com elevado valor
• Feto vivo (preferencialmente)
• Torção uterina
• Bezerros absurdamente grandes
• Gestação prolongada
• Manobras ou fetotomias inúteis
Cesariana

• Antes de realizar a cesariana observar atentamente as


condições do animal
• O proprietário deve ser informado
• Custo da operação
• Riscos
• Pós-operatório
• Possível rejeição do bezerro
• Queda na produção
• Prognóstico quanto a vida reprodutiva
Cesariana

• Algumas raças são propensas a cesariana


• Piemontês
• Belgian Blue
• Blonde D’ aquitaine
• Limousin
• Chianina
• Charolês
• Canchin
Cesariana

• Anestesia
• Paravertebral

• Peridural

• L invertido

• Linha de incisão (normal ou “espinha de peixe”)


WeAVER ET AL, 2005
Cesariana

• Seqüência de cortes ou divulsão


• Pele
• Oblíquo externo
• Obliquo interno
• Transverso do abdome
• Peritônio

• Lavagem da serosa para evitar coágulos


X
Cesariana

Estação Decúbito
• Maior conforto • Animais arredios
• Animais debilitados
• Menor contaminação
• Cirurgia mais contaminada
• Animais mansos
• Maior participação do
• Cuidado! Começar em auxiliar
estação e terminar em
decúbito
Cesariana

Paramamária
Flanco Região púbica
• Estação ou decúbito
• Evitar se não houve • Decúbito lateral
rompimento das bolsas
• Evitar grandes vasos e prega
• Evitar se feto estiver
enfisematoso do joelho
• Não utilizar bretes sem • Dar preferência pelo lado
aberturas laterais de
segurança esquerdo
Cesariana

• Lado direito • Lado esquerdo


• Alças intestinais e omento • Auxílio do rúmen
são maior desvantagem • Evitar operar animais em
estação (flanco) com
timpanismo
Cesariana

• Cuidado com relaxantes musculares

• Retirar cordas das partes externas do bezerro

• Abrir útero o suficiente

• O que fazer quando não há possibilidade de expor o útero?

• Em um estudo de 1000 casos de cesariana em vacas a


exteriorização foi considerada 20,8% difícil – 5,8% impossível
(HOEBEN et al., 1997)
Cesariana em pequenos ruminantes
• Indicações
• Toxemia da prenhez *
• Hipotermia
• Hipoglicemia
• Prognóstico desfavorável

• Prolapso de vagina (terço final) *


• Partos sem dilatação
• Procedimento mais utilizado
Cesariana

• Síntese
• Útero
• Material
• Padrão
• Antimicrobiano?
• Peritônio
• Separado ou com musculatura
• Material
• Musculatura
• Material
• Pele
• Material
TURNER & McILWRAITH, 1989.
Cuidados pós-distocia
• Cuidados rotineiros com bezerro (possíveis fraturas e luxações)
• Observação
• Antimicrobianos e antiinflamatórios
• Evitar lavagens uterinas ou pastilhas
• Coleta de líquido peritoneal
• Palpação da parede vaginal e do útero para identificar
lacerações
Aproximar bezerro da mãe
Após retirada do bezerro sempre
palpar a vaca.
Manejo do neonato

• Medidas estimulatórias e de ressuscitação intensiva


• Extensão da cabeça e limpeza das narinas
• Vedar uma narina e soprar na outra
• Oxigênio
• Corrigir acidose BS 5%
• Observar possíveis alterações causadas durante o parto
• Gestação égua – 330 - 340 dias
• Gestação vaca – 270 - 290 dias
• Gestação ovelha – 150 dias
• Sinais de hipóxia
• Convulsões
• Apatia
• Incapacidade de se levantar
Banco de colostro
Cura do umbigo

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