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Puerpério Fisiológico e Patológico em Bovinos

Gestação - Revisão
● Gestação: caracterizada por ser um período e alta concentração
de progesterona
★ Mantém o útero quiescente
★ Inibe a síntese e liberação de agentes uterotônicos (E2, PGF2-alfa,
ocitocina)
★ Reduz a expressão de receptores de substâncias contráteis no
miométrio
★ Favorece a ação de uterotônicas inibitórias: relaxina,
prostaciclina e óxido nítrico
● Mudanças na glândula mamária no final da gestação:
★ Ação sinérgica dos estrógenos e da progesterona ->
desenvolvimento dos ductos e do tecido alveolar
★ Prolactina = síntese do leite
★ Ocitocina = ejeção do leite
● Sinais da preparação da fêmea para o parto:
★ Hiperemia e edema de vulva
★ Aumento da glândula mamária
★ Afrouxamento da articulação sacroilíaca e dos ligamentos sacro
isquiáticos e pélvico: causado pelo aumento da concentração do
estradiol
★ A vaca se isola
★ Liberação do tampão mucoso, aumento do pulso e da FR

Parto
● Definição: processo fisiológico no qual ocorre o nascimento do feto
e expulsão da placenta. Precede imediatamente a lactação,
involução uterina e o retorno à ciclicidade.
● Tipos de parto:
★ Eutócico: parto espontâneo de duração normal
★ Distócico: parto complicado no qual há dificuldade de expulsão
do feto
● Indução do parto pelo feto:
★ A duração da gestação é determinada pelo feto
★ O tamanho do feto e a maturação do eixo
hipotálamo-hipófise-adrenal (H-H-A) do feto são os
desencadeadores do mecanismo fisiológico do parto
★ A limitação de espaço no útero no final da gestação promove o
estresse fetal, com consequente produção de ACTH (hormônio
adrenocorticotrófico) pela adenohipófise
★ O ACTH estimula a liberação de corticosteróides pelas glândulas
adrenais do feto
★ A elevação de corticosteróides fetais na circulação materna inicia
uma cascata de eventos que levam a diversas modificações
endócrinas com o objetivo de promover o parto
● Os eventos desencadeados pela elevação de corticosteróides
fetais consiste em:
★ Conversão da progesterona produzida pela placenta em estradiol
-> remoção do bloqueio miometrial
★ Aumento da produção de secreções no trato reprodutivo, ppte
cérvix e vaina, estimuladas pelo estradiol
★ Estímulo da síntese de PGF2-alfa pela placenta -> aumento das
contrações miometriais e lise do corpo lúteo (queda da P4)
★ O aumento das contrações do miométrio também é favorecido
pela ocitocina, liberada durante a passagem do feto pela cérvix
★ A ocitocina está agindo quando as contrações começam a
ocorrer com mais força e em um menor espaço de tempo
★ Além de promover a lise do CL, a PGF estimula a síntese de
relaxina (pela placenta e/ou corpo lúteo)
★ Relaxina:
➢ Função: relaxamento do tecido conjuntivo cervical, relaxamento
da sínfise púbica e aumento da elasticidade dos ligamentos
pélvicos, para facilitar a passagem do feto.
➢ Produzida pelo CL e pela placenta
➢ No pré-parto imediato sua síntese é estimulada pela PGF2-alfa
➢ Vacas de leite tem maior retenção de placenta (taurinas):
potencial reduzido de produzir relaxina, então ela relaxa menos o
canal do parto.
● Fases do parto:
1. Dilatação da cérvix e entrada do feto no canal cervical
★ Eventos desencadeados pela elevação de cortisol fetal:
➢ Conversão da progesterona produzida pela placenta em
estradiol = remoção do bloqueio miometrial
➢ Estradiol estimula a síntese e liberação de proteínas contráteis
➢ Estímulo da síntese de PGF2-alfa pela placenta = aumento das
contrações miometriais e lise do CL (queda da P4)
➢ Os corticosteróides fetais ativam as enzimas 17 alfa-hidroxilase,
17-20 desmolase e aromatase que farão a conversão da
progesterona em estradiol, retomando a atividade miometrial
➢ Aumento do estradiol:
- Estimula a síntese e liberação de proteínas contráteis
- Dilatação da cérvix
- Expulsão do tampão mucoso
- Estimula expressão de receptores de ocitocina no endométrio

2. Expulsão fetal
★ Início da insinuação do bezerro no canal do parto: dilatação da
cérvix e contrações uterinas de longa duração estimuladas pela
PGF2-alfa
★ Estímulo dos receptores de ocitocina no endométrio: estimulação
central da produção e liberação de ocitocina pelo hipotálamo e
hipófise
★ Feto empurrado na direção da cérvix: pico de liberação de
ocitocina
★ Rompimento das membranas fetais por pressão da cabeça e
patas do feto
★ Expulsão do feto
★ Contrações uterinas:
➢ Início
➢ Aumento de PGF2-alfa liberada pelo aumento de E2
➢ Contrações fortes fracas e irregulares (a cada 15 min)
➢ Contrações fortes, rítmicas e frequentes (perto do parto): o feto
na cérvix leva a liberação de ocitocina hipofisária e aumento da
liberação de PGF2-alfa que estimula essas contrações
3. Eliminação dos anexos fetais
★ Maturação da placenta:
➢ Nos ruminantes, a partir de 270 dias de gestação, ocorre
achatamento do epitélio das criptas carunculares, além de
diminuição do número de células binucleadas do córion
➢ Com a proximidade do parto, nota-se maior produção de
colagenases, principalmente nas regiões de interação
materno-fetais
➢ O aumento da produção coriônica de PGF2-alfa e outros fatores
quimiotáticos para células de defesa, também favorece a
liberação da placenta
➢ Verifica-se intensa migração de leucócitos, com intensa atividade
fagocitáaria, para a região caruncular pouco antes da separação
das vilosidades
★ Fases da liberação da placenta: rompimento do cordão umbilical
-> sangue fetal é drenado da placenta -> retração dos capilares
coriônicos -> separação das criptas
★ Na maioria das espécies a expulsão da placenta ocorre logo em
seguida à expulsão do feto (em bovinos ocorre em até 12 horas)
★ As vilosidades coriônicas devem de desprender das criptas
maternas para a placenta ser liberada

Puerpério
● 1. Precoce ou Imediato
★ Hipófise refratária ao GnRH: o animal passou um longo período
sendo inibido pela progesterona de forma que imediatamente
após o parto o hipotálamo não responde aos estímulos de
secreção de GnRH após tanto tempo. -> a duração vai depender
de fatores endócrinos, ambientais e nutricionais
★ Esse bloqueio de GnRH acontece nos primeiros 8 dias e então
começa novamente um recrutamento folicular (pequenos
folículos)
★ Em bovinos, pode durar até 14 dias após o parto já é possível
observar ovulação. No entanto, essa ovulação não é fértil.
★ Redução do útero, cérvix e vagina
★ Eliminação do lóquio: o lóquio é uma secreção normal drenada
pela vulva, composto pelo resto dos líquidos placentários, por
sangue digerido. Ele tem uma coloração vermelha e é inodoro. ->
quanto mais viscoso for o lóquio melhor. O lóquio é eliminado em
até 14 dias e após isso é considerado um puerpério patológico.
● 2. Intermediária (puerpério clínico)
★ Útero involuído à palpação: ele já eliminou todo o líquido, a
espessura da parede já está normal (não tem mais resposta
inflamatória), diminuição de tamanho e retomada para a
cavidade pélvica.
★ Restabelecimento do padrão pulsátil de LH
★ A duração depende da ocorrência da primeira ovulação
● 3. Completo
★ Até completar o processo de involução uterina
★ Duração de 6 a 7 semanas
● Duração do puerpério
★ Depende das condições fisiológicas e de fatores como
fotoperíodo, lactação, nutrição, raça, idade, número de partos,
complicações no periparrto, entre outros
★ Na maioria das espécies, a lactação interfere no retorno da
atividade ovariana
★ Supressão da liberação de GnRH necessária para restauração do
padrão pulsátil de LH = falhas na ovulação
● Particularidades: retorno da atividade ovariana
★ Nas vacas, a prolactina não é responsável pela supressão da
atividade ovariana, apesar de encontrar-se em alta concentração
durante a lactação
★ Peptídeos opióides endógenos (endorfinas, dinorfinas,
encefalinas): supressão direta da liberação de GnRH
★ Em vacas de corte, o desmame precoce ou a amamentação uma
vez ao dia, 30 dias antes da estação de monta, encurta o
intervalo entre o parto e a primeira ovulação
Involução Uterina
● O conhecimento das mudanças que ocorrem no ambiente uterino
durante o processo de involução normal é essencial para
diferenciar e avaliar possíveis alterações patológicas no útero
após o parto
● Avaliação da involução uterina:
★ Parâmetros adotados (palpação e US): posicionamento em
relação à pelve, simetria dos cornos, presença de conteúdo e
espessura das paredes
★ Características do lóquio (avaliação visual): constituição,
coloração, cheiro e eliminação
★ Histologia (biópsias)
● Estádios da involução uterina:
★ Lóquio: em até 10 dias após o parto o volume de lóquio deve
estar bem reduzido (grande quantidade dois dias após o parto)
★ Renovação de células da carúncula: focos de necrose nas
carúnculas dois dias após o parto (isquemia, necrose e
eliminação)
★ Posicionamento, espessura das paredes, consistência, presença
de conteúdo
● Características do endométrio dez dias após o parto:
★ Coloração
★ Carúnculas
★ Reepitelização
★ Glândulas endometriais
● A involução uterina completa é determinada pelo retorno do útero
à pelve, simetria dos cornos, ausência de conteúdo uterino e
reepitelização.
● Fatores que podem interferir na involução uterina
★ Fatores ligados ao animal: fatores genéticos.
➢ Vacas leiteiras podem ter uma involução uterina durando por
até 50 dias, enquanto nas vacas de corte essa involução é
mais rápida (20-25 dias)
➢ Ordem de parto e idade: fêmeas mais jovens tem um pós-parto
fisiológico
★ Fatores relacionados ao ambiente: boas condições de higiene,
época do ano (época de chuvas = mais alimento = puerpério
melhor)
★ Afecções puerperais: distocias, parto de gêmeos, cesarianas,
abortos
● Eventos que ocorrem no puerpério fisiológico:
★ Mudanças na genitália tubular: tempo necessário para a
ocorrência da involução; diminuição do volume uterino;
modificações histológicas no miométrio
★ Recuperação do endométrio: modificações histológicas no
endométrio, preparação para resposta ao estímulo endócrino,
preparação para receber novo embrião
★ Retorno da atividade cíclica ovariana: estímulo endócrino
hipotalâmico-hipofisário; crescimento folicular e ovulação;
sazonalidade reprodutiva (vacas não tem); vacas jovens; balanço
energético

Puerpério Patológico
● No momento do parto há uma abertura das barreiras fisiológicas
que protegem o trato reprodutivo (vulva e cérvix) e então ocorre
uma contaminação bacteriana ascendente. Se o animal tem uma
resposta imune eficiente ele tem um puerpério fisiológico, se não
ocorre um puerpério patológico.
Retenção de Placenta
● É considerada uma retenção de placenta quando ela não é
liberada acima de 12 ou 24 horas após o parto.
● Causa: não degradação dos pontos de adesão entre a
carúncula-cotilédone.
● A placenta age como porta de entrada, trazendo bactérias para o
ambiente uterino.
● Então se inicia uma cascata de desordens reprodutivas.
● O índice de retenção de placenta no rebanho deve estar entra
10-15%, mas em rebanho de leite essa retenção gira em torno de 20
a 25%
● Etiopatogenia:
★ A maior parte dos cass de retenção placentária nos bovinos
★ Fatores predisponentes para RP:
➢ Consanguinidade: quando o feto tem uma alta consanguinidade
com a mãe o organismo não reconhece ele como impróprio e
consequentemente o organismo não estimula a liberação da
ligação carúncula-cotilédone o que favorece a retenção; ocorre
alteração na expressão do MHC-I
➢ Fatores estressantes: aumento dos níveis de cortisol,
imunodepressão
➢ Deficiência de selênio, vitaminas A e E, carotenos, relação Ca/P:
alteração dos mecanismos de defesa
➢ Abortos, gestações gemelares, gestações de curta duração,
intervenção precoce no parto: interrupção dos mecanismos de
maturação, separação e/ou liberação da placenta
➢ ECC: animais magros ou obesos são mais suscetíveis
➢ Ordem de parto: fêmeas jovens apresenta sistema imunológico
mais eficiente
● Consequências da Retenção de Placenta:
★ Febre, desconforto, diminuição da ingestão de alimentos
★ Redução do escore de condição corporal
★ A putrefação e a liquefação da placenta favorecem a
multiplicação bacteriana
★ Estabelecimento secundário de processos infecciosos agudos ou
tardios, dependendo da capacidade de defesa uterina
★ Atraso no processo de involução uterina
★ Queda da eficiência reprodutiv
★ Diminuição da produção de leite: menor produtividade e descarte
de leite
★ Maior suscetibilidade a outros transtornos puerperais
★ Aumento do descarte involuntário (não pode escolher os animais
a serem descartados) de animais no pós-parto
● Tratamento
★ Recomenda-se o uso de antibioticoterapia (ATB) sistêmica,
principalmente nos casos seguidos de elevação da temperatura
retal, com o objetivo de prevenir o estabelecimento de infecções
uterinas secundárias
★ Antibióticos de eleição: oxitetraciclinas (20 mg/kg), cefalosporina,
tilosina -> função principal: atrair as células de defesa que irão
desligar a placenta na região da carúncula
★ Tratamento de suporte: fluidoterapia oral
➢ 80g NaCL, 10g KCl, 5g CaCL2 e 150ml propilenoglicol, para cada
10 litros de água
Infecções uterinas em vacas
● É um processo inflamatório uterino comum no período puerperal
● Causa: rompimento das barreiras físicas de defesa uterina
pós-parto possibilitando a invasão do útero por bactérias,
associado a falhas do sistema imunológico de combater a
infecção
● Fatores predisponentes: retenção de placenta, parto distócico,
hipocalcemia, doenças metabólicas, aborto
● Metrite puerperal aguda: ocorre nas duas primeiras semanas após
o parto.
★ Sinais clínicos: secreção sanguinopurulenta fétida, febre,
desidratação, inapetência e maior produção de leite
● Metrite clínica: ocorre até a terceira semana após o parto
★ Sinais clínicos: secreção purulenta e aumento do volume anormal
do útero
● Endometrite clínica: ocorre entre 21-26 dias (coloração tipo leite
condensado)pós-parto ou entre 27-34 dias (secreção bem
mucopurulenta) pós-parto
★ Sinais clínicos: secreção purulenta ou secreção mucopurulenta
● Endometrite subclínica: ocorre além de três semanas pós-parto
★ Sinais clínicos: não observados, detecção por meio de citologias.
★ A vaca não emprenha após o parto
● Piometra: ocorre em qualquer fase do puerpério
★ Sinais clínicos: conteúdo uterino purulento ou mucopurulento,
cérvix fechada e presença de corpo lúteo
★ Tratamento: prostaglandina
● A endometrite pode ser local ou difusa
● Consequências da infecção uterina:
★ Dependem da gravidade do quadro, do tipo de infecção, da
capacidade de resposta dos animais e do sucesso do tratamento
★ Aumento do período de serviço: atraso na involução uterina e no
RAOLC
★ Queda na produção de leite: menor produtividade e descarte do
leite contaminado com resíduos de antibióticos
★ Outros: aumento da suscetibilidade a outros transtornos
puerperais, elevados gastos com medicamentos, subfertilidade e
descarte involuntário de animais
● O que fazer para diminuir os prejuízos relacionados com a
presença de infecções uterinas?
1. Controle de infecções uterinas
★ Diminuição dos fatores predisponentes para a retenção de
placenta: intervenção precoce no trabalho de parto, seleção do
touro, etc.
★ Cuidados com a dieta pré e pós-parto
★ Conforto dos animais
★ Higiene da maternidade
★ Sanidade do rebanho
2. Monitoramento intensivo no periparto
3. Diagnóstico precoce (palpação transretal, US, vaginoscopia)
★ Avaliação da secreção cervicovaginal
★ Exames complementares: swab uterino, biópsia uterina, lavado
uterino, raspado endometrial
4. Citologia do conteúdo uterino: aumento de neutrófilos
5. Realizar o tratamento adequado
● Tratamento
★ Antes de iniciar o tratamento é importante responder as seguines
perguntas:
➢ Qual é o tipo de infecção uterina presente?
➢ Quantos dias pós-parto?
➢ O animal apresenta febre?
➢ Qual é o nível de produção?
➢ Qual é a condição ovariana?
➢ Como o animal está se comportando?
★ O sucesso do tratamento depende basicamente do diagnóstico
precoce, do estado de saúde do animal, da eliminação do
conteúdo uterino, da suscetibilidade dos patógenos aos
medicamentos utilizados e da concentração do medicamento no
ambiente uterino.
Cistos Ovarianos
● Cistos ovarianos são estruturas anovulatórias dinâmicas, com
diâmetro >= 20 mm, presentes em um ou ambos ovários, que
persistem no mínimo sete dias na ausência de um corpo lúteo.
● Sinais clínicos: anestro (73%), ciclos estrais irregulares, ninfomania,
virilismo ou masculinização e relaxamento dos ligamentos
sacrociáticos
● Consequências: redução na fertilidade das vacas, atraso no
retorno da atividade ovariana luteal cíclica, maior número de
serviços por concepção, baixa taxa de gestação e aumento do
descarte involuntário.
● Cistos foliculares: parede fina e flutuante; fluido anecóico; isolado
ou não
● Cistos luteínicos: parede mais espessa; tecido luteal; bordas
ecogênicas; produção de progesterona
● Etiopatogenia:
★ Alterações no eixo hipotálamo-hipófise-ovários, mais comuns
durante o restabelecimento da atividade ovariana após o parto
★ Fatores de risco: retenção de placenta, infecções uterinas,
condição corporal elevada, ordem de parto (pluíparas), alta
produção de leite, balanço energético negativo, estresse calórico,
distúrbios metabólicos e hereditariedade
★ A ocorrência de cistos ovarianos em rebanhos leiteiros pode
variar de 6 a 30% até 60 dias após o parto
● Tratamento:
★ Pode ter resolução espontânea
★ Cistos luteinizados: PGF2-alfa
★ Cistos foliculaers: GnRH ou hCG, PGF2-alfa
★ Dispositivo intravaginal de progesterona

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