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O parto

Introdução:

O parto é o processo fisiológico pelo qual o útero gestante libera o feto e seus anexos do organismo materno. Ocorre no
momento do desenvolvimento em que o feto já é capaz de viver fora do ambiente uterino e quando a gestação por
tempo maior poderia trazer riscos à saúde fetal e materna. O parto resulta da interação de fatores maternos e fetais.

Durante a gestação, o útero aumenta de tamanho, distende-se devido à presença do feto em crescimento, mantém-se
quiescente e com a cérvix fortemente contraída, isso se dá sob ação da progesterona. Entre as espécies de animais
domésticos, há diferenças quanto à origem da progesterona responsável pela manutenção da gestação. Em éguas,
primatas e ovelhas, a principal fonte de progesterona é a placenta, enquanto que em vacas, cabras, porcas, gatas e
cadelas, é o corpo lúteo. Tais diferenças são importantes na compreensão do mecanismo de desencadeamento do parto.

Para a ocorrência do parto, é essencial o desenvolvimento de contrações rítmicas, sustentáveis e coordenadas da


musculatura uterina e dilatação da cérvix, a fim de que o feto seja liberado.

Sintomas das proximidades do parto:

A maioria dos sintomas da proximidade do parto relaciona-se às modificações nos ligamentos pélvicos, aumento e edema
da vulva e atividade mamária.

Um aumento óbvio da glândula mamária ocorre em todas as espécies domésticas, as tetas apresentam-se inflamadas e
pode ocorrer a saída de secreções pelos orifícios. Na égua, 6 a 48 horas antes do parto, o colostro extravasa e forma uma
gota de material seroso (cerume) em cada orifício das tetas. Após 12 a 24 horas, o cerume pode ser substituído por gotas
ou fluidos de leite. Observa-se, também, na égua, sudorese intensa na região das axilas e flancos.

Há diminuição da temperatura corpórea, devido ao declínio na progesterona que é termogênica. Por outro lado, em
porcas, há aumento da temperatura.

Estágios do trabalho de parto:

O trabalho de parto é dividido em três estágios:

Estágio I: apresentação do feto na abertura interna da cérvix.

Este estágio é constituído pelo posicionamento do feto e dilatação da cérvix e ocorre devido ao aumento da atividade do
miométrio causado pela liberação de PGF2a, queda na progesterona e aumento nas concentrações de estrógeno.

Nesse estágio, na égua e na cadela, há rotação do feto que passa da posição dorsopubiana ou dorso-lateral para a
posição dorso-sacra. Em ovinos e bovinos, o feto já está em posição e a rotação não é necessária.

Esse estágio é mais longo em primíparas em relação a pluríparas.

Os sintomas mais freqüentes são de intranqüilidade, anorexia, elevação do ritmo respiratório e pulso maternos,
modificação na posição e postura do feto.

A duração média do estágio I do trabalho de parto é de 1 a 4 horas em égua, 2 a 6 h em vaca, búfala e ovelha, 2 a 12 h na
porca e 6 a 12 h na cadela.

Estática Fetal

O conhecimento da estática fetal é essencial para descrever com acurácia o modo de entrada do feto no canal do parto.

- Apresentação: relação entre o eixo espinhal da mãe e do feto: longitudinal ou transversal; porção do feto que está
entrando no canal do parto: anterior ou posterior (longitudinal) e dorsal ou ventral (transversal).

- Posição: relação do dorso (longitudinal) ou cabeça (transversal) do feto aos quadrantes da pelve materna: sacro, íleo
direito ou esquerdo e púbis.
O parto
- Postura: relação das extremidades (cabeça, pescoço e membros) ao corpo do feto: estendida ou fletida, retida entre, no
lado esquerdo ou direito ou embaixo.

Em uníparas, a apresentação normal é longitudinal anterior, posição dorso-sacral e postura com membros estendidos e
cabeça sobre os ossos do metacarpo. O parto, também, pode ocorrer na apresentação posterior. Por outro lado, em
multíparas, tanto a apresentação anterior quanto posterior é considerada eutócica.

Estágio II: expulsão fetal.

Após a passagem do feto pela cérvix, a liberação do feto depende das contrações do miométrio estimuladas pela
oxitocina e da pressão abdominal, ajudada pelo fechamento da epiglote e contração dos músculos abdominais maternos.
O aumento das contrações abdominais é estimulado pela passagem da cabeça, ombros e pelve do feto pela pelve
materna (Reflexo de Ferguson). Nesse estágio, há altas concentrações plasmáticas de oxitocina. As fêmeas adotam
decúbito lateral e membros estendidos.

- Sintomas: rompimento do alantocórion com saída de fluido pela vulva, aparecimento do âmnio na vulva e rompimento
do âmnio, culmina com expulsão do feto.

Estágio III: expulsão das membranas fetais.

Em fêmeas multíparas, os estágios II e III se confundem. Os pulsos de PGF2a no pósparto são importantes para a expulsão
das membranas placentárias e redução do tamanho do útero mediante contração do miométrio. As contrações uterinas
reduzem a quantidade de sangue circulante no endométrio, favorecendo a dilatação e relaxamento das criptas maternas
e determinando, assim, a separação das placentas. A lactação favorece a liberação de oxitocina e esta pode atuar no
útero promovendo aumento da contratilidade e maior rapidez na expulsão da placenta.

INÍCIO DO PARTO

Para o nascimento, é necessário que o miométrio uterino em quiescência durante a gestação, converta-se em órgão
ativamente contrátil. O parto é iniciado pelo feto e completado pela interação de fatores endócrinos, neurais e
mecânicos.

Mecânica do Parto

O sucesso do parto depende da habilidade de contração do útero e capacidade de dilatação suficiente da cérvix.

O miométrio, porção muscular externa do útero, é composto por células musculares dispostas em duas camadas: a
externa de fibras longitudinais e a interna com disposição circular das fibras. As células musculares são compostas de
actina e miosina. A atividade do miométrio está sob a influência da progesterona que assegura ambiente propício para o
feto em desenvolvimento. Durante a gestação, há contrações de baixa amplitude e freqüência que no trabalho de parto
adquirem formas expulsivas. A contração do miométrio se deve aos filamentos de actina e miosina e é dependente de
ATP, cálcio e magnésio.

A cérvix é composta de músculo liso, colágeno (matriz de glicosaminoglicanas como sulfato dermatan, sulfato de
heparina e ácido hialurônico) e elastina, além de apresentar fibroblastos. A cérvix durante a gestação, retém o concepto
em crescimento dentro do útero e é mais firme e rígida que a parede uterina devido ao maior conteúdo de colágeno. A
dilatação da cérvix se deve a modificações nas características físicas do colágeno por ação de enzimas como a colagenase
e elastase e infiltração de leucócitos, semelhante à inflamação, e não ao aumento da pressão intra-uterina. Horas antes
do início das contrações do miométrio, a cérvix amolece e dilata gradualmente, influenciada por elevados níveis de
estrógeno, relaxina (suínos) e PGF2a, no início do parto. Em ovinos, a cérvix volta ao normal 18 horas após o parto.

Durante o parto, as contrações uterinas se iniciam no ápice dos cornos uterinos: primeiro as fibras circulares depois as
longitudinais do miométrio, e forçam o feto e anexos fetais contra a cérvix relaxada. Em fêmeas uníparas, as contrações
se iniciam no ápice do corno enquanto que a porção caudal permanece dilatada. Em fêmeas multíparas, as contrações
ocorrem do feto mais cranial ao mais caudal, forçando-o através da cérvix. Isso faz com que os fetos progridam em
O parto
direção à cérvix, evitando que os fetos mais distais tenham um longo caminho a percorrer após o início do parto e
descolamento da placenta. Na maioria das vezes, há alternância entre os nascimentos de fetos de cada corno.

Importância do Feto

A maturação fetal, principalmente do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal, é o fator que controla o início do parto e está sob
controle genético do feto. Em ovinos, experimentos que por transferência de embriões estabeleceram gestação de
gêmeos de raças com tempos de gestação diferentes, a gestação durou o tempo da gestação da raça de curta duração,
pois este feto iniciou os sinais endócrinos para o parto. Em bovinos, observouse variação na duração da gestação em
fêmeas de uma raça cobertas por touro de raça diferente quando comparadas a fêmeas cobertas por touro da mesma
raça. Tais variações, devido ao genótipo do feto, foram acompanhadas por diferenças na secreção de estrógeno,
progesterona e PGF2a (diferenças na quantidade de tecido caruncular) (Browning et al., 1996).

Durante o terço final da gestação, há rápido crescimento fetal. Isso exige da placenta atividade metabólica crescente e
estimula a produção placentária de PGE2 que ativa o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal fetal promovendo aumento na
liberação de cortisol fetal.

No final da gestação, há maturação progressiva da hipófise anterior do feto a agentes como o fator liberador de
corticotrofina (CRF), a arginina vasopressina (AVP), encefalinas. Isso culmina com a secreção do hormônio
adrenocorticotrófico (ACTH). O ACTH aumenta a atividade de enzimas que promovem a conversão da progesterona e da
17 a-hidroxiprogesterona em cortisol.

A secreção de cortisol fetal é estimulada pelo ACTH e é regulada pelo GH e pelo próprio cortisol que modula suas
proteínas transportadoras plasmáticas e controla sua concentração livre e o feedback entre o hipotálamo, hipófise e
adrenal, além do número de receptores para ACTH na adrenal.

O cortisol induz a produção de enzimas placentárias: 17a-hidroxilase e C17-20 liase que realizam a biossíntese de
estrógeno a partir de progesterona, diminuindo, assim, os níveis de progesterona. O cortisol fetal estimula a síntese e a
liberação de prostaglandinas pelo útero e inibe a produção da prostaciclina - PGI2 (inibitória). Além da secreção de
cortisol, a adrenal fetal secreta esteróides, principalmente o sulfato de dehidroepiandrosterona (DHAS) e andrógenos
(androstenodiona e testosterona). O DHAS e os andrógenos são convertidos em estradiol pela placenta.

O parto em cabras, vacas e porcas se dá por aumento do cortisol, porém, em éguas tal aumento não ocorre antes do
nascimento. Em primatas, a hipofisectomia fetal não interfere na duração da gestação. Acredita-se que a adrenal humana
fetal participa do parto através da secreção de esteróides, tal como os precursores DHAS e DHEA.

Além da participação dos glicocorticóides no parto, eles são necessários para a maturação dos pulmões e outros órgãos
do feto.

Importância Materna

A contribuição materna é menos dramática que a fetal e torna-se evidente no momento do parto. A ansiedade, o
estresse ou o medo provocam liberação de epinefrinas que prolongam o parto, em várias espécies, pela diminuição das
contrações do miométrio. Por exemplo, éguas preferem parir durante o período noturno e são capazes de retardar o
parto até que elas não estejam mais sofrendo qualquer perturbação.

Observou-se, também, em ratas, porcas e mulheres durante o parto, a liberação de opióides endógenos que são potentes
analgésicos e diminuem a dor no parto. Entretanto, estes opióides prolongam o parto por inibirem a liberação de
oxitocina (Jarvis et al., 1997).

Eventos Endócrinos

Progesterona

A progesterona, talvez em associação com a relaxina, é responsável pela manutenção do miométrio quiescente e da
cérvix contraída durante a gestação. A progesterona suprime a geração espontânea e a propagação de potenciais de
O parto
ação, aumenta o potencial de repouso da membrana e diminui a quantidade de cálcio livre. Além disso, afeta a síntese de
liporcortina, substância que inibe a atividade das fosfolipases, inibindo, assim, a formação das prostaglandinas.

Um dos eventos iniciais do pré-parto é a inversão na relação entre as concentrações de progesterona e estrógeno, dias
antes do parto propriamente dito (3 a 4 semanas em vacas, 7 a 10 dias em porcas e 2 a 5 dias em ovelhas). Isto se dá sob
efeito do cortisol.

Em primatas, não há necessidade da redução dos níveis plasmáticos de progesterona para o parto, portanto, deve haver
um controle local por estrógeno que determina a queda da progesterona.

Estrógeno

O aumento do estrógeno é importante para a síntese das proteínas contráteis no miométrio e para a formação das gap
junctions ou junções íntimas entre as células miometriais, facilitando a comunicação entre as células musculares lisas.
Tais alterações promovem o desenvolvimento de contrações uterinas vigorosas e, posteriormente, permitem a
coordenação das contrações em associação ao processo de parto. Os estrógenos, também, são responsáveis pela
formação de receptores para oxitocina e PGF2a no miométrio e pela dilatação da cérvix.

Em ratos, o estrógeno diminui a contratilidade uterina por estimular a formação de relaxina.

Prostaglandinas

- Síntese:

A síntese de prostaglandinas é desencadeada pela maior disponibilidade do substrato ácido aracdônico, liberado através
da hidrólise dos fosfolipídeos da bicamada lipídica da membranas celulares pela fosfolipase A ou C associada a outras
lipases. O ácido aracdônico pode ser utilizado pelas enzimas lipooxigenases que formam leucotrienos e pelas
ciclooxigenases que formam prostaglandinas. Os estrógenos promovem desestabilização das membranas e tornam a
fosfolipase disponível.

A produção das prostaglandinas depende da presença de cálcio, devido à ligação a proteínas específicas, tal como a
proteína cinase C e a calmodulina.

- Mecanismos de Ação:

Em todas as espécies estudadas, a síntese e liberação de prostaglandinas pela placenta e miométrio iniciam o processo
final do parto. O início da onda de prostaglandina ocorre em decorrência do aumento de cortisol fetal e de estrógenos,
em algumas espécies, e de oxitocina, em outras (ex.: éguas). Em geral, a síntese e liberação de prostaglandinas ocorrem
24 a 36 horas antes da expulsão fetal.

A PGF2a diminui as ligações sarcoplasmáticas dos íons cálcio, deixando-os livres para se ligar às fibras de actina e miosina
que desencadeiam os processos contráteis. Esse aumento inicial na contratilidade do miométrio é importante para o
começo do primeiro estágio do parto. Além disso, a PGF2a torna a musculatura uterina mais sensível à oxitocina e a PGE2
está envolvida no relaxamento da cérvix através da dissolução da substância fundamental, com perda do colágeno e
aumento nas glicosaminoglicanas.

Nas espécies dependentes de corpo lúteo para a manutenção da gestação, a PGF2a inicia a luteólise, resultando em
diminuição da progesterona (12 a 24 horas antes do parto) e permitindo que o miométrio se torne mais contrátil.

Nas éguas e primatas, espécies dependentes da progesterona produzida pela placenta durante a gestação, não se pode
eliminar essa função placentária sem prejudicar outras funções tal como nutrição e trocas gasosas. Portanto, o parto se
dá mesmo em concentrações elevadas de progesterona, pois a PGF2a supera os efeitos supressores da progesterona
sobre a atividade do miométrio. Por outro lado, em ovelhas, o cortisol estimula a placenta a converter a progesterona em
estrógeno, determinando queda na concentração de progesterona.
O parto
- Relaxina:

A relaxina é produzida no ovário, pelos folículos e corpo lúteo, no útero e na placenta. A relaxina participa do parto
através de seu efeito no relaxamento da cérvix, no amolecimento dos ligamentos e músculos que circundam o canal
pélvico e na separação da sínfise púbica decorrente do afrouxamento do ligamento inter-púbico. Permite, assim, a
expansão máxima do canal pélvico durante a passagem do feto.

A liberação de relaxina no pré-parto ocorre na vaca e na porca através da ação da PGF2a no corpo lúteo (luteólise) que
provoca liberação da relaxina pré-formada. Na gata, cadela e égua, a relaxina se origina na placenta e sua produção que
se inicia no começo da gestação, mantém-se até o parto e, talvez, atue em sinergismo com a progesterona na
manutenção da gestação.

- Oxitocina:

A liberação de oxitocina pela neuro-hipófise da mãe e do feto é desencadeada pelo aumento na proporção
estrógeno:progesterona e reforçada pelo feedback positivo das contrações uterinas e dilatação da cérvix conforme o
parto progride: entrada do feto no canal pélvico (Reflexo de Ferguson). A oxitocina intensifica a contração rítmica da
musculatura uterina (em associação à PGF2a) durante o processo de expulsão fetal.

Células tronco

As chamadas células-tronco (stem cells) são células indiferenciadas, capazes de se autoduplicarem (e dar origem a novas
células-tronco) ou que podem sofrer diferenciação em diversos tipos celulares.
Tais células são necessárias em todos os locais em que ocorra uma necessidade frequente de reposição de células
diferenciadas que não conseguem se dividir.

Tipos de células-tronco:
As células-tronco podem ser embrionárias ou adultas (nesse caso obtidas, por exemplo, do cordão umbilical, cérebro,
tecido adiposo, músculo…).
Desde 2007 há também as células tronco adultas obtidas a partir de células diferenciadas – são as células tronco
induzidas (chamadas também de iPS). Tais células podem se diferenciar em praticamente todos os tipos celulares do
organismo; são, portanto, células tronco pluripotentes.
O parto
Experimentalmente, utilizando-se uma sequência adequada de proteínas sinalizadoras e fatores de crescimento, células
tronco embrionárias (ES) ou células tronco induzidas (iPS) podem ser convertidas em diferentes tipos de células adultas
especializadas.

Células tronco embrionárias (ES) obtidas a partir da massa celular interna do blastocisto também são exemplos de células
tronco pluripotentes (elas são capazes de originar todos os tipos celulares do embrião, exceto os tecidos
extraembrionários, como os que comporão a placenta).

Quando uma célula tronco é capaz de diferenciar em todos os tipos celulares, inclusive ovócitos e células espermáticas,
ela é denominada de célula tronco totipotente.  As células totipotentes só existem até quando o embrião for constituído
por apenas 16 células (fase embrionária de mórula).

As células embrionárias adultas, encontradas nos mais variados tecidos do corpo, conseguem originar apenas
determinados tipos específicos de células; são chamadas de células tronco multipotentes.

Aplicações das células tronco:


– Importantes ferramentas na medicina, para compreensão de muitas doenças e testar medicamentos;
– Aplicações na terapia celular (introdução de células saudáveis para tratamento de certas doenças degenerativas como
Parkinson; queimaduras…).
O parto
– Uso na clonagem terapêutica;
– São importantes ferramentas usadas na compreensão do processo de diferenciação celular.
Importante: Células tronco extraídas de um paciente com doenças genéticas não servem para tratá-lo, uma vez que todas
as células nucleadas são portadoras de todos os genes.

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