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Manejo nutricional de peixes

Os peixes apresentam requerimentos nutricionais semelhantes aos animais terrestres,


para o crescimento, reprodução e outras funções fisiológicas normais.

Alimentos naturais
Ração comercial
Disponíveis no viveiro

• Informações sobre a preferencia alimentar de uma determinada espécie são de grande utilidade
no estabelecimento de planos nutricionais e alimentares, incluindo o preparo de rações e o
manejo da alimentação.

• A escolha inadequada ou a má formulação da ração provocará redução no desempenho dos


animais, conduzindo a maiores custos com a alimentação e diminuindo, consequentemente, o
lucro da atividade.
• A alimentação destaca-se como uma das atividades de maior importância em uma produção
aquícola, uma vez que é determinante para o crescimento e eficiência reprodutiva animal e,
consequentemente, para a lucratividade do empreendimento.

• Constitui geralmente o item de maior custo em uma produção, podendo representar até 70% dos
custos totais em cultivos mais intensivos.
O conhecimento dos hábitos alimentares dos peixes é importante para o fornecimento de
rações, uma vez que auxilia na determinação das necessidades nutricionais de cada espécie.

Hábito alimentar Caractemticas gerais

Apresentam flora bacteriana intestinal abundante, sendo capazes de


Herbívoros
ingerir e digerir de 3 a 4% do seu peso vivo em fibras.

Consomem ração e frequentemente. aproveitam pequenos invertebrados,


Onívoros
plantas, frutos e matéria orgânica a em decomposição.

Consomem, preferencialmente, alimentos de origem animal, incluindo


Carnívoros invertebrados e outros peixes. podendo ser treinados para consumirem

ração artificial.
Classificação das rações para organismos aquáticos
Rações fareladas

Essas rações possuem alta concentração proteica e são utilizadas na larvicultura de peixes e
também na alevinagem de algumas espécies de pequeno porte.
• Os ingredientes da ração são apenas moídos e misturados;

• Perdas de nutrientes são muito grandes;

• Podem causar problemas relacionados à queda na qualidade da água


Classificação das rações para organismos aquáticos

Rações floculadas

O processo de floculação é mais utilizado para a fabricação de rações para peixes


ornamentais, embora venha sendo substituído pela extrusão;

A ração floculada é obtida com a secagem de uma pasta de ração em um rolo aquecido;

São completas, feitas a partir de ingredientes finamente moídos e de alta qualidade


Os flocos que constituem essas rações são bastante finos e quebradiços, o que prejudica a
conservação das vitaminas e da estrutura.
Classificação das rações para organismos aquáticos

Rações peletizadas

• Esse processo consiste em transformar uma mistura de ingredientes, finamente moídos, em um


aglomerado denso e livre de material particulado, o pelete.
• Apenas faz a compactação dos ingredientes;
• Apresenta alta densidade
• Afunda rapidamente na água
• Essas rações podem ser utilizadas como opção para espécies de peixes que se alimentam no
fundo (ex: Bagres), porem hoje em dia são usadas rações flutuantes para estas espécies
também.
Classificação das rações para organismos aquáticos

Rações extrusadas

• O processo de extrusão se tornou o principal meio de cozimento continuo para a produção


comercial de alimentos para organismos aquáticos;

• Custos mais elevados no processo de produção quando comparados a peletização;

• A maioria desses benefícios pode ser atribuída a um único fator: a expansão e gelatinização do
amido, que ocorrem devido as condições de alta temperatura, umidade e pressão que a
mistura de ingredientes e submetida durante o processo.
.-.dspiai* d? Jcbling *r al. [20Q1J.
Classificação das rações para organismos aquáticos

As rações para peixes podem ser classificadas quanto a sua composição nutricional em
suplementares, completas e balanceadas.

Suplementares:

• Função é de apenas suplementar o alimento natural presente no ambiente de produção


(organismos aquáticos - fitoplâncton, zooplâncton e organismos bentônicos);
• essas rações apresentam menor concentração de proteína;

• fornecido apenas em sistemas de produção onde a espécie utilizada e capaz de consumir o


alimento natural eficientemente; •

• não atende a uma formula especifica e balanceada - produzida pelo próprio produtor.
Classificação das rações para organismos aquáticos
Completas:

• As rações completas são aquelas que possuem todos os nutrientes essenciais para os peixes;

• Para qualquer sistema de produção intensivo de alta produtividade e imprescindível fornecer


rações, no mínimo, completas para os animais, mesmo no caso de tanques escavados onde possa
ocorrer a formação de alimento natural.

Balanceadas:

• As rações balanceadas são também completas, porém possuem um adequado balanço e


quantidade exigida de nutrientes pela espécie de peixe em questão;

• São realidade apenas para as espécies de peixes mais estudadas, cujas exigências nutricionais
são conhecidas.
Composição básica das rações

Alguns dos ingredientes comumente utilizados na formulação de rações comerciais são:

• Fontes de proteína: farelo de soja, farelo de algodão, farinha de peixe, farinha de carne e
ossos e farinha de sangue;
• Fontes energéticas: milho, sorgo, farelo de arroz e óleos, como fontes energéticas;
• Suplementos: minerais e vitamínicos, sal e substâncias antioxidantes.

Proteínas
• Ingredientes mais importantes em alimentos para organismos aquáticos e compreendem de 25
a 70%, ou as vezes mais, do total de ingredientes da formulação;

• Seu custo de inclusão é elevado, podendo influenciar nos custos finais de produção dentro de
uma piscicultura;

• Para uma adequada deposição de proteína muscular, em todas espécies de peixes, e necessário
o fornecimento de dietas com níveis protéicos elevados.
Existem inúmeros fatores que podem alterar o requerimento proteico dos peixes, afetando a
digestão da proteína, bem como sua absorção e utilização metabólica. Entre estes fatores
destacam-se:

- Habito alimentar;
- Tamanho corporal;
- Estado fisiológico dos animais, sendo a exigência maior para o crescimento;
- Temperatura: a exigência tende a aumentar de acordo com a elevação da temperatura da água;
- Salinidade.

TABELA 9 Exigência de proteína para peixes Menor exigência proteica


Espécies Exigências Bibliografias
Bagre americano (Ictalaturus punctatus) 35% Gaylord & Gatlin (2001)

Truta arco-iiis (Oncorhyncus mykiss) 40% Zimmermann et al. (2001)


Salmão do Atlantico (Sahno solar) 45% Zimmermann et al. (2001)
Trairão (Hoplias lacerdae) 42% Luz et al. (2001)
Caipa comum (Cyprimts carpio) 32% Ziiinnennann et al. (2001)
Piracanjuba (Btycoti orbignyamts) 28% Macedo-Viegas et al. (2000)
Matrinxa (Biycon cephalus) 28% Macedo-Viegas et al. (2000)
Piaba (Lepoi inus friderici) 32% Zimmermann et al. (2001)

Tilápia do Nilo (Oreochromis niloticus) 32% Fnniya et al. (2000)


Maior exigência proteica
Composição básica das rações
Carboidratos

• Os carboidratos constituem o grupo de nutrientes mais controverso dentro da alimentação


dos peixes, já que não aparecem deficiências e sintomas de carência, quando ausentes na dieta.

• O amido e a principal fonte de carboidrato encontrada em rações para organismos aquáticos.


• As quantidades de amido nessas rações podem variar de 5 a 60% do total de nutrientes;

A fonte de amido mais utilizada em formulações para peixes é o milho pela sua
palatabilidade e disponibilidade no mercado. Digestao e absor^ao tie carboidratos

r
Pancreas

Amilase produzida somente no


Amido

a-amylases

pâncreas e intestino. CARBOIDRATO


Glucose

Maltose, etc

Digestão rápida - ocorre no Lactose

intestino e cecos pilóricos. Maltase

Isomaltase

Amilase
pancreatic a Na
Pancreas symport
Maltase. Glucose
etc. ► Lactase
Galactose
Sac arose

Sacaiase Fructose

Luz intestinal Celulas mucosas San-rue


Composição básica das rações
Lipídeos
• Os lipídeos em rações para peixes são excelentes fontes de energia e ácidos graxos essenciais.

• Atuam como transportadores de certos nutrientes não lipídicos e também das vitaminas
lipossolúveis (A, D, E e K);
• Normalmente são utilizados em quantidades menores que 22% em rações;

• Resguardam a proteína que porventura seria utilizada como energia, permitindo que essa
proteína seja utilizada em sua função principal, que e o crescimento - "efeito de poupança da
proteína";

• Ácidos graxos desempenham também um importantíssimo papel na reprodução - ácidos graxos


altamente poli-insaturados afetam a maturação dos peixes.
Composição básica das rações
Vitaminas
• As vitaminas para os peixes são requeridas em pequenas quantidades para o seu crescimento
normal, reprodução, saúde e metabolismo;
• De forma geral, atuam como catalisadores ou reguladores metabólicos;

• Sintomas de deficiência de vitaminas tem sido descritos em cultivos de peixes intensivos de alta
densidade - adição suplementar na dieta.

VITAMINA C:

Quando mantidos em cativeiro, os peixes mostram-se altamente sensíveis a dietas deficientes em


acido ascórbico, especialmente nos estágios iniciais de crescimento;
Sua deficiência pode causar alterações morfológicas, metabólicas e reprodutivas.
Deficiência em ácido ascórbico (vitamina C) - Alterações reprodutivas

Tabela 3. Efeito ácido ascorbico monofosfato em dietas para reprodutores


de truta arco-iris na produgao de ovos.

Peso das ovas Tamanho do ovo


(g/peixe) (mg)
0 2288 ± 426a 114± 28a 49r8± 5,0a

30 3245 ±730bc 142 ± 32ab 44r2±6r3a

110 2890 ±815ab 116± 33a 40,5 ± 5,3a

220 3630 ±989bc 167 ±: 40b 46r3± 1,9a

440 3470 ± 684bC 168 ± 50b 47r5 ± 6r2a

870 3729 ±61 3c 173 ±15b 47rO± 5r7a

Valorem expressos como media ± DP. Medias dentro das colunas com mesma
letra não diferem significativamente [P< 0,05).
Fonte: adaptado de Blom & Dabrowski (1995).
TABELA 15 Exigência vitamínica para algumas espécis des de peixes (valores expressos
por Kg de MS da diets).
Composição básica das rações
Minerais
• Os minerais são elementos inorgânicos importantes para a manutenção dos processos vitais, por
participarem de diversas reações metabólicas, serem constituintes de tecidos, entre outras
funções.

• Peixes são capazes de absorver minerais da água, através de filtração no aparelho branquial. No
entanto, quando em cativeiro, necessitam de uma suplementação dietética.

• Cálcio (Ca), magnésio (Mg), sódio (Na), potássio (K), ferro (Fe), zinco (Zn), cobre (Cu) e selênio
(Se) da água geralmente atendem a grande parte das exigências dos animais. No entanto, os
fosfatos, de uma maneira geral, devem ser suplementados na dieta.
T ABE LA 16 Exigência de minerais para algumas espécies de peixes.

Fonte: Zimmerimnti et a I (2001) e Barros (2002). nd = não determinado


Gasto energético dos peixes
O fato de não dependerem de energia para manter temperatura corporal e, ainda,
gastarem pouca energia na locomoção, faz com que os peixes tenham uma necessidade de
ingestão
calórica menor quando comparada aos demais animais.
TABELA 2 Exigência de energia digestível (ED), para aves. suinos e peixes

Grupo animal Kcal ED/Kg


Aves 3100a 3250
Suinos 3200 a 3300
Peixes onivoros 2600 a 2900
Peixes camivoros 2900 a 3100
Fonte: Sperandio (2004)

Os lipídeos são a melhor fonte de energia para os peixes, seguido pela proteína e carboidratos.

NUTRIENTES EB ED estimada
(kcal/g) (kcal/g)(1)
carboidratos (nao-leguminosa) 4,10 3,00
carboidratos (leguminosa) 4,10 2,00
proteina animal 5,50 4,25
proteina vegetal 5,50 3,80
gorduras 9,10 8,00
cpf
O conhecimento da quantidade de energia da ração (concentração energética) que,
diferente da proteína, não é um nutriente, mas sim o produto da quebra de nutrientes
como a gordura, o carboidrato e da própria proteína, tem tanta ou mais importância que
o conhecimento do teor de proteína.

Os peixes regulam o consumo de ração pela ingestão energética:

• Ração com muita energia (carboidratos e lipidios ) e pouca proteina - peixe cresce menos,
produz muita gordura e pouca excreta nitrogenada;
• Ração com pouca energia (carboidratos e lipídios) e muita proteína - peixe utiliza a proteína para
gerar energia em detrimento do crescimento.
Manejo alimentar
Granulometria da ração
A escolha da ração a ser fornecida deve levar em consideração o tamanho dos peixes, sobretudo o
tamanho da boca do peixe, para que este consiga capturar a ração e ingeri-la.

TABELA 21 Forma fisica e granulometria da rafao a ser fornecida. em funcao do tamanho


dos peixes.
Tamanho do peixe (cm) Tipo de ra^ao Granulo de ra^ao (min)

pos-larva farelada fina <0.3

1.0 a 1,5 farelada 0.3 a 0.5


1.6 a 2.4 trituraday farelada 0.5 a 0.8
2.5 a 4.0 tnturada 0.8 a 1.2
4.1 a 7.0 triturada 1,2 a 1.7
7.0 a 10.0 peletizada ou extrusada 1.7 a 2.4
10.0 a 15.0 peletizada 2.4 a 4.0

mais de 15,0 peletizada >4.0


Fonte: Kubitza 1997
Manejo alimentar
Fornecimento de ração - arraçoamento
Existem duas maneiras de se fornecer a ração aos peixes: manualmente ou atraves do uso de
comedouros.
• O fornecimento manual é importante para manter um contato visual com os peixes, no tanque,
podendo observar, por exemplo, possíveis problemas de saúde dos animais, porem requer
maior mão-de-obra;
Manejo alimentar

Alimentação em comedouros pode ser através de cochos (bastante usado em sistemas


tradicionais, no fornecimento de ração farelada), ou mecanizada;

Este método permite uma alimentação rápida de grandes áreas, apesar de limitar o contato
entre o tratador e os peixes.
Manejo alimentar
A quantidade de ração fornecida aos peixes varia de acordo com a idade, a espécie, temperatura
da água, teor de oxigênio dissolvido, a fase de crescimento e com a condição de saúde dos animais.

Uma das formas utilizadas para quantificar a ração a ser fornecida aos animais baseia-se no
conceito de "biomassa", que e traduzido pelo numero estimado de peixes existentes no tanque,
multiplicado pelo seu peso médio.

TABELA 22 Taxa de fornecimento de ração para tilápias nilóticas. mantidas em


temperatura media de 2SCC4 em função do peso
Manejo alimentar

• O número de vezes que os peixes devem ser alimentados por dia varia em função da
temperatura, da espécie criada, da idade ou tamanho dos peixes e da qualidade da água do
tanque.

• Geralmente quando a temperatura cai, o consumo de ração e menor e, portanto, o seu


fornecimento deve ser menor também.

JL
Manejo alimentar
O ideal e fornecer a ração sempre nos mesmos horários, todos os dias, para que haja um
condicionamento dos peixes.

• A ração deve ser jogada nos tanques de maneira homogênea, de forma que se espalhe igualmente
pela superfície

• Ao espalhar a ração na superfície da água o piscicultor aumenta a chance de que todos os peixes
tenham acesso ao alimento de forma igual;
• Evita acumulo de rações em cantos e consequentemente a queda na qualidade da água.

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