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Unidade 1
Anatomia e Fisiologia do Aparelho Digestivo De Ruminantes
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO AO MÓDULO
Os ruminantes são membros da subordem Ruminantia, na qual se insere a família Bovidae. Se
caracterizam por terem estômago dividido em quatro compartimentos: rúmen, retículo, omaso e
abomaso.
Ruminantes atuais são animais majoritariamente
domésticos, para cada 1 selvagem existem 10
domesticados no planeta. Esses animais foram
geneticamente modificados pela domesticação
iniciada há cerca de 10.000 anos. A obtenção de
maior desempenho produtivo ocorreu em
decorrência dos programas de melhoramento
genético, e para suprir a maior demanda
metabólica ditada geneticamente, dietas distintas
das previamente consumidas na natureza se
tornaram necessárias.
Esses animais, na natureza, apresentavam baixo desempenho visando a sobrevivência própria e de sua
cria. Uma vaca produzia leite apenas para amamentar seu bezerro, garantindo a perpetuação de sua
espécie. Proporcionalmente a ruminantes selvagens, a densidade de nutrientes na dieta fornecida a
animais de alto desempenho zootécnico teve que ser aumentada simultaneamente ao incremento no
consumo total de alimentos.
Vacas leiteiras de alta produção requerem consumo
de nutrientes capaz de atender às demandas
metabólicas da gestação, do ganho de peso, da
mantença e de uma lactação muito acima daquela
necessária para manter a perpetuação da espécie.
Vacas modernas têm excreção de energia pela
glândula mamária três a quatro vezes maior que a
exigência energética de mantença. Maximizar o
consumo de dietas de alta fermentabilidade no
rúmen se tornou necessário. Ácidos graxos voláteis
(AGV), subprodutos da fermentação ruminal, são a
principal fonte de energia para os ruminantes.
Produzir e absorver a maior quantidade possível de AGV por dia passou a ser
um desafio para o sistema digestivo, que anatômica e fisiologicamente, pouco
difere daquele dos ruminantes selvagens. A ocorrência cada vez mais
frequente de acidose ruminal foi uma consequência.
Caro(a) estudante, iremos agora nos aprofundar nesses aspectos, bons estudos!
Uma frase de Van Soest (1994) define boa parte do processo digestivo nos ruminantes:
Na dentição permanente, as erupções estão sujeitas a grandes variações, mas, de maneira geral, ocorrem
nas seguintes idades:
A faringe é a porção central da cavidade bucal que conduz o alimento ao esôfago. Sua estrutura
anatômica e funcional tem papel relevante para a mastigação e deglutição do alimento. A conexão entre
a faringe e retículo-rúmen é feita por meio do esôfago. É interessante salientar que nesse segmento há o
controle voluntário, sendo utilizado em ambos os sentidos: oral-caudal e caudal-oral, face às
necessidades fisiológicas dos bovinos.
O esôfago é um tubo muscular de 90 a 105 cm, que se estende desde a faringe até a cárdia, orifício de
entrada no estômago (rúmen), que se localiza na extremidade anterior do saco dorsal. O estômago é
formado por duas estruturas concêntricas: a camada externa (muscular) possui músculo estriado em
toda sua extensão; a camada interna é formada por uma camada mucosa, não glandular.
Idade
Parâmetro 21 dias 3 meses
Concentrado (kg/dia) - 0,45 2,27
Peso Vivo (kg) 36,9 59,1 76,7
Retículo-rúmen (g) 244 1.679 2.120
Omaso (g) 54 397 410
Abomaso (g) 239 405 555
Intestino (g) 1.778 5.315 6.722
Tabela 1: Crescimento do trato digestório em decorrência da alimentação dos bezerros
Considerando que o volume do retículo-rúmen está associado ao seu papel funcional, ou seja, à
fermentação de nutrientes, o tamanho do retículo-rúmen será tanto maior quanto mais forragem for
adicionada à dieta do animal. Caso o bovino seja alimentado com dieta rica em concentrado, o tamanho
(volume) do retículo-rúmen comparado com o animal alimentado com forragem é menor.
O abomaso é o estômago verdadeiro, glandular e com grande capacidade de digestão dos nutrientes.
Durante a lactação, o abomaso é o compartimento do estômago de maior volume e, após a introdução
da dieta sólida em sua plenitude, os pré-estômagos apresentam desenvolvimento acentuado, como
anteriormente descrito.
2.2. RÚMEN
Em animais adultos, o rúmen tem um volume aproximadamente de 100 litros para bovinos e 10 litros
para ovinos, ocupando uma grande proporção da cavidade corporal (HOBSON; STEWART, 1997).
O rúmen está dividido em sacos dorsal e ventral. Esses sacos são separados por papilas que são pregas
musculares que se projetam na parede. A parte dorsal está dividida em saco cranial, saco dorsal e saco
cego caudodorsal. A parte ventral consiste no saco ventral e no saco cego caudoventral. O retículo-
rúmen ocupa todo o lado esquerdo do abdômen e, dependendo do grau de enchimento, também se
estende ventralmente ao lado direito. A mucosa do rúmen é formada por papilas cônicas (Figura 2). Silva
e Leão (1979) descrevem que estudos têm demonstrado que não ocorre alongamento das papilas se não
houver ingestão de alimentos sólidos.
O hábito alimentar dos ruminantes é que define seu número, distribuição e tamanho. Os ruminantes que
ingerem mais concentrados apresentam distribuição mais uniforme das papilas na mucosa ruminal.
Autores têm evidenciado que não existe região ruminal sem papilas, existindo diferenças quanto ao seu
número e tamanho.
As papilas podem permanecer pouco desenvolvidas enquanto o animal permanece ingerindo leite, mas
quando é incluída dieta sólida na sua alimentação, dando início à fermentação ruminal, as papilas
aumentam de tamanho rapidamente (DELLMANN; BROWN, 1982).
Lucci (1989) afirma que o plano nutricional tem influência marcante sobre a velocidade na qual ocorrerá
a inversão dos valores de medida entre os compartimentos estomacais rúmen-retículo e abomaso.
Quanto maior a quantidade de leite e maior o tempo para fornecê-lo a um bezerro, mais lenta será sua
transformação em ruminante funcional.
Deve ser salientado que, na parede dorsal do rúmen, não existem papilas,
portanto não ocorre a absorção de produtos derivados da ação microbiana.
Os ácidos graxos, que atravessam a barreira epitelial por difusão simples,
alcançam o sistema vascular, o qual desemboca no sistema porta-hepático até
o fígado.
Paiva e Lucci (1972) afirma que o desenvolvimento do rúmen em idade precoce está intimamente
associado ao consumo de alimentos sólidos. Relatam ainda que os alimentos concentrados através de
seu desdobramento em ácidos graxos voláteis no interior do rúmen vão estimular o desenvolvimento da
mucosa desse órgão, aumentando o tamanho e o número de papilas ruminais.
Quanto ao feno, proporciona maior desenvolvimento do rúmen com respeito à capacidade e aumento
do tecido muscular das paredes do órgão, bem como contribui ainda para elevar o pH no interior do
rúmen. Concentrados e fenos fornecidos na mesma dieta, desenvolvem no rúmen uma microflora mais
ampla do que se fornecidos isoladamente. A falta de forragem pode reduzir a quantidade de abrasão
física das partículas de alimentos nas papilas.
2.3. RETÍCULO
Retículo
O sulco esofágico ou reticular, também chamado de goteira esofágica (Figura 4), é uma repressão da
mucosa que se inicia na cárdia e termina no orifício retículo-omasal. As bordas do sulco são espessas e
constituem os chamados lábios do sulco do retículo.
2.4. OMASO
O omaso tem formato ovóide com curvatura
dorsolateral direcionada para o fígado, com corpo
constituído por centenas de pregas as quais são
controladas por musculatura específica aderida à
curvatura maior com suas bordas livres e em contato
com o canal omasal.
A mucosa do omaso tem capacidade absortiva,
correspondente à área de superfície a mais de 10% da
existente no rúmen.
2.5. ABOMASO
O abomaso dos ruminantes tem características
similares à dos outros mamíferos, pois possui mucosa
gástrica glandular e tecido não glandular. Os
ruminantes consumidores de alimento mais ricos em
proteínas possuem no abomaso uma porção glandular
maior para secreção de HCL. O estômago dos
ruminantes também é altamente vascularizado,
permitindo aumento do fluxo sanguíneo quando a
digestão está ocorrendo durante a absorção dos
produtos finais. O sistema vascular venoso que carrega
os produtos na fermentação ruminal, os quais são Abomaso
absorvidos nas papilas, desemboca na veia porta-
hepática.
Mastigação Inicial Rápida e sua função é conferir ao alimento tamanho que permita a deglutição
3.2. INTESTINO
Os ruminantes apresentam tamanho de intestino
proporcional ao comprimento corporal e tipo de
alimentação rica ou não em fibras. Essa característica
está associada ao fato de que há nos ruminantes uma
câmara distal de fermentação (ceco) e um cólon
espiral. Quanto maior o intestino, maior a capacidade
de digerir fibras. Tem sido verificado que, quanto
maior o tamanho do rúmen menor é o tamanho do
intestino grosso, pois há maior capacidade ruminal de
digerir as fibras.
A estrutura histológica dos segmentos, ou seja, a mucosa intestinal assemelha-se à dos não ruminantes.
As vilosidades que estão presentes na mucosa são compostas por células absortivas, células secretoras de
muco e células endócrinas.
com alta digestibilidade resultam em altas concentrações ruminais de AGV, o que estimula o
desenvolvimento das papilas. Por outro lado, animais que recebem pouco alimento ou dietas de baixa
digestibilidade possuem papilas ruminais curtas.
Propionato e butirato parecem ser mais estimuladores do crescimento papilar que o acetato (VAIR et al.,
1960). No entanto, o efeito direto do butirato sobre o epitélio ruminal parece ser inibidor de mitose e
indutor de diferenciação celular (STAIANO-COICO et al., 1990), o que é indesejável do ponto de vista da
integridade e atividade metabólica da parede ruminal. O propionato parece ser o AGV responsável pelo
crescimento de papilas metabolicamente ativas.
Entre os AGVs, butirato e lactato são os maiores indutores de alterações patológicas no epitélio ruminal.
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O acúmulo ruminal de lactato pode ocorrer por indução experimental de acidose aguda em ruminantes
(CRICHLOW; CHAPLIN, 1985; CRICHLOW; LEEK, 1986). Vacas leiteiras que receberam dietas de alto
conteúdo energético apresentaram concentrações plasmáticas de D-lactato muito abaixo das observadas
nesses experimentos (GARRET et al., 1999). O papel do lactato e de outros AGVs na etiopatogenia da
acidose em vacas leiteiras precisa ser melhor esclarecido a fim de que medidas de controle tecnicamente
fundamentadas sejam adotadas para o controle desse distúrbio metabólico.
A membrana interna do epitélio ruminal é permeável às formas livres (HAc) e aniônicas (AC-) dos AGVs
enquanto a membrana externa (corrente sanguínea) é permeável apenas à forma livre. O ácido carbônico
formado a partir do CO2, produzido pelo metabolismo celular ou absorvido do rúmen, age como doador
de H+, possibilitando a absorção dos AGVs pela corrente sanguínea (Figura 5).
Figura 5: Modelo de transporte de AGV através do epitélio ruminal. Adaptado de: Church, 1998
Figura 6: Variação no pH ruminal ao longo de 24 horas em vacas Holandesas alimentadas em sistema de dieta completa. Fonte: Pereira, 2002.
Os tipos e quantidade de AGV podem ser manipulados pelos tipos de carboidratos utilizados na ração
com possíveis efeitos no rendimento e composição do leite ou crescimento corporal. Atualmente
devemos ser capazes de predizer a disponibilidade de nutrientes metabolizáveis que o animal recebe
para estimar seu desempenho. Portanto, para estimar a disponibilidade de nutrientes metabolizáveis, a
taxa e o local de digestão dos componentes dos alimentos deve ser conhecida.
A digestão do nitrogênio no rúmen determina o quanto este nitrogênio vai alcançar o intestino delgado
como aminoácido ou NNP proveniente dos alimentos ou do micro-organismos do rúmen (HALL et
al.,1999).
Reforce seu estudo assistindo ao vídeo em inglês no link a seguir. Ele trata da
importância do rúmen. Confira!
http://tinyurl.com/gr9a6qd
A saliva é composta de 99% de água, sendo a matéria seca da saliva constituída de material inorgânico
(cloretos, fosfatos, bicarbonato de potássio e bicarbonato de sódio) e orgânico (proteína, mucina, ureia e
outros. Através da saliva, ocorre incorporação diária de 250 g de NaHPO4 e de 1-2 kg de NaHCO3.
Nesse sentido, as contrações do segmento ruminorreticular exercem importante influência sobre o fluxo
da ingesta (líquido e sólido) através do rúmen.
A motilidade gastroduodenal pode ser influenciada por vários fatores, como a fome, natureza química do
alimento, pH e o volume do conteúdo duodenal, isso porque a velocidade com que o alimento deixa o
estômago (abomaso) precisa igualar-se àquela com que possa ser digerido e absorvido no intestino.
Tendo em vista que alguns tipos de alimentos podem ser digeridos e absorvidos mais rapidamente que
outros, a velocidade com que o estômago esvazia pode ser regulada pelo conteúdo do intestino delgado.
Esse controle, reflexo do esvaziamento gástrico pelo duodeno, é chamado de reflexo enterogástrico.
Em ruminantes, o efeito inibidor do ácido e da gordura influi também na motilidade do rúmen-retículo,
consequentemente, influenciando a motilidade do abomaso.
pelo processo de fermentação podem ser divididos em três grandes grupos: as bactérias, os fungos e os
protozoários.
O rúmen apresenta um ecossistema microbiano estável e ao mesmo tempo dinâmico. O ecossistema é
estável porque o ruminante saudável não sofre a contaminação do ecossistema, apesar de entrada de
milhões de microrganismos no rúmen diariamente, através dos alimentos, água e ar. É dinâmico pela
população mudar consideravelmente por mudanças na dieta do animal. Essas características se devem à
adaptação de certos microrganismos ao ambiente ruminal, enquanto os microrganismos contaminantes
não sobrevivem a este ambiente.
Em dietas modernas, o uso de ionóforos na produção de ruminantes tem sido crescente. O mecanismo
de ação dos ionóforos sobre as bactérias ruminais está relacionado com fatores de resistência presentes
na estrutura da parede celular, e esta é responsável por regular o balanço químico entre o meio interno e
externo da célula, sendo esse equilíbrio mantido por um mecanismo chamado de “bomba iônica”. \
Os ionóforos modificam a produção de ácidos graxos voláteis (AGV) no rúmen, por meio da diminuição
da proporção molar de acetato/butirato, da produção de gás metano e do aumento na produção de
propionato. Ionóforos reduzem a produção de metano no rúmen de forma indireta, por inibirem o
crescimento de bactérias gram-positivas, que têm como produtos finais hidrogênio e formato,
intermediários na formação do metano no ambiente ruminal.
O propionato é indiscutivelmente reconhecido como a mais eficiente fonte energética para o ruminante.
Esse AVG pode ser utilizado para gliconeogênese no fígado ou ser diretamente oxidado no ciclo de
Krebs. E, como anteriormente descrito, o ionóforo aumenta a produção de propionato, disponibilizando
mais energia metabolizável do alimento (BERGEN et al., 1984). Mais de 50,0% da lactose do leite advém
do propionato, por meio da gliconeogênese. A glicose é um metabólito limitante para a produção de
leite, aumentando a produção de propionato ruminal, disponibiliza-se maior quantidade de glicose para
o animal em lactação, melhorando o balanço energético, com possibilidades de melhorias na produção
de leite e na condição corporal (HAYES et al., 1996).
No início da lactação, as vacas leiteiras de
produção elevada mobilizam gordura corporal
para suprir a demanda não atendida pela
baixa ingestão de alimentos, comum nesse
estágio. Como consequência, pode ocorrer um
acúmulo de corpos cetônicos devido à
insuficiente disponibilidade de propionato
para “girar” o ciclo de Krebs, levando, então, os
animais a um quadro de cetose, clínica ou
subclínica. Através do aumento da produção
de propionato ruminal os ionóforos disponibilizam mais ácido oxaloacético para o ciclo de Krebs na
célula hepática, o que pode resultar em menor mobilização de ácido graxo ou funcionar como
intermediário, girando o ciclo, não permitindo assim, o acúmulo de corpos cetônicos, com a vantagem de
aumentar, também a disponibilidade de ATP.
Outro efeito benéfico que pode advir do uso de ionóforos é o controle do pH ruminal. Quando
ruminantes são alimentados com forragem, o pH no rúmen permanece próximo da neutralidade, e isso é
devido ao estímulo que a fibra exerce sobre o processo da ruminação, levando, por consequência, à
produção de saliva, a qual age como uma substância tamponante do fluído ruminal. No entanto, quando
são fornecidas dietas contendo grande quantidade de grãos, a elevada taxa de fermentação pode
diminuir o pH no rúmen drasticamente, favorecendo o desenvolvimento de bactérias produtoras de
ácido láctico, havendo assim um acúmulo de lactato no fluido ruminal. O lactato é um ácido forte entre
os AGVs e geralmente promove uma imediata queda do pH, contribuindo, assim, para o surgimento de
sintomas de acidose. Os ionóforos diminuem a produção de lactato por inibir o crescimento do
Streptococcus bovis, bactéria que tem sido frequentemente descrita como a principal causadora da
acidose ruminal aguda (RUSSEL, 1989).
Para o bom entendimento dos processos de digestão e absorção intestinal é necessário relembrar a
estrutura da mucosa intestinal. Assim, para que os processos de digestão e absorção possam ocorrer com
maior eficiência, o epitélio intestinal deve apresentar grande superfície de contato. Por toda a extensão, a
superfície da mucosa é coberta por vilosidades, que são projeções epiteliais capazes de aumentar a
superfície de contato em mais de 10 vezes em relação a uma superfície de mesmo tamanho. As
vilosidades, por sua vez, apresentam em sua superfície as microvilosidades que aumentam ainda mais a
superfície de absorção.
Apesar de abordar parte do mecanismo de digestão e absorção de proteínas, carboidratos e lipídios, mais
detalhes serão apresentados na Unidade 3.
A acidose ruminal pode afetar negativamente o desempenho e a saúde animal mediante efeitos
deletérios sobre a motilidade do rúmen (LEEK; HARDING, 1975; CRICHLOW; CHAPLIN, 1985), a
fermentação da fibra (GRANT; MERTENS, 1992), o consumo de alimentos (ELLIOT et al., 1995), a produção
microbiana (HOOVER, 1986) e a morfologia da parede ruminal (AHRENS, 1967; JENSEN et al., 1954).
Compreender aspectos de morfologia e fisiologia dos pré-estômagos tem utilidade na prevenção e
mesmo cura desse distúrbio.
A passagem exagerada de AGV para o abomaso em casos de alto consumo de dietas de alta
fermentabilidade pode resultar em hipomotilidade do órgão (BOLTON et al., 1976; SVENDSEN, 1969),
possivelmente relacionando a incidência de acidose ruminal à ocorrência de deslocamento de abomaso.
Dietas acidogênicas, formuladas com baixo teor de forragem, também podem induzir baixo enchimento
ruminal (GARRET et al, 1999). Espaço vago na cavidade abdominal pode ser um fator predisponente ao
deslocamento de abomaso (SHAVER, 1997).
Uma das principais características dos carboidratos, principalmente relacionada aos de forragens, é a
efetividade em promover a atividade física motora do trato gastrointestinal. Seletivamente as vacas
retêm fibra no rúmen por um tempo adequado de digestão, ingerindo partículas grandes enquanto
comem. Essas partículas grandes formam um mat (colchão – Figura 8) flutuante no rúmen e provém o
“incentivo” de arranhão que estimula a atividade de ruminação (DAVID, 2001).
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GLOSSÁRIO
Difusão: Exemplo de fenômeno de transporte de matéria em que um soluto é transportado devido aos
movimentos das moléculas de um fluido (líquido ou gás).
Ingesta: Todos os alimentos introduzidos e trabalhados no tubo digestivo.
Multicavitário: Diz-se do sistema em que há vários partidos.
Vilos: Cada uma das pequenas rugosidades ou saliências que cobrem certas superfícies: vilosidades
intestinais.