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- HANSENÍASE -

TESTES SOROLÓGICOS RÁPIDOS

Dra Araci Pontes


Dra Juliana Ramos
2023
Sem conflito de interesse
(resolução CFM 1595/2000)
QUAL A DIMENSÃO DO
PROBLEMA?
EPIDEMIOLOGIA

• Em 2019, o Brasil notificou cerca de 27 mil casos da doença.


• Em 2020, esse número caiu para cerca de 18 mil diagnósticos
• Em 2021, foram notificados apenas 15 mil casos, 45% a menos que
no período pré-pandêmico.

“APAGÃO DA HANSENÍASE”
EPIDEMIOLOGIA

Boletim Epidemiológico | Secretaria de Vigilância em Saúde | Ministério da Saúde Número Especial | Jan. 2022
EPIDEMIOLOGIA

Boletim Epidemiológico | Secretaria de Vigilância em Saúde | Ministério da Saúde Número Especial | Jan. 2022
EPIDEMIOLOGIA
EPIDEMIOLOGIA

Boletim Epidemiológico | Secretaria de Vigilância em Saúde | Ministério da Saúde Número Especial | Jan. 2022
EPIDEMIOLOGIA

Boletim Epidemiológico | Secretaria de Vigilância em Saúde | Ministério da Saúde Número Especial | Jan. 2022
EPIDEMIOLOGIA
EPIDEMIOLOGIA

2000 20.7 25.0


1800 18.9 18.7
17.1 17.0
1600 20.0
1400 13.2
12.4
Nº de Casos Novos

Coef. De detecção
1200 11.7 15.0
1000
800 1843 1694 1542 1694 10.0
1550 1129 1203 1072
600
400 5.0
200
0 0.0
2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022
Ano de diagnóstico

Casos Novos Detecção


Fonte: SESA/COVEP/CEVEP – SINAN. Dados atualizados em 02/01/2023, sujeitos à revisão.*

Hanseníase - casos notificados e taxa de detecção


Ceará – 2015 a 2022
RELEMBRANDO CONCEITOS
BÁSICOS
AGENTE ETIOLÓGICO
Mycobacterium leprae

• Bacilo álcool-ácido resistente (BAAR)


• Parasita intracelular obrigatório
• Tropismo para nervos periféricos = deformidades
• Glícolipídio fenólico (PGL-1) – responsável pela produção de
anticorpos (sorodiagnóstico)
TRANSMISSÃO

▸ Reservatórios – humanos
▹ doentes MB sem tratamento

▸ Transmissão – vias aéreas


superiores e mucosas

▸ 95% dos indivíduos expostos são


naturalmente resistentes à infecção –
alta infectividade e baixa patogenicidade

▸ Risco de adoecer entre os comunicantes


PB – 2 a 3 x maior que na população geral
MB – 5x maior que na população geral

Quite EEV, Butlin CR, Singh S, Alam K, Lockwood DNJ. Patients with skin smear positive leprosy in Bangladesh are the main risk factor for leprosy
development: 21-year follow-up in the household contact study (COCOA). PLoS Negl Trop Dis. 2020 Oct 30;14(10):e0008687. doi: 14
10.1371/journal.pntd.0008687. PMID: 33125403; PMCID: PMC7598483.
* Período de incubação longo: 2 a 7 anos.
FATORES DE RISCO

▸ História de convivência prolongada com pacientes de


hanseníase não tratados
▸ Baixas condições socioeconômicas
▸ Susceptibilidade genética
▸ Homens > mulheres = 1,5:1
▸ Predomínio das forma MB entre os homens (2:1) e em
maiores de 60 anos de idade (2:1)

Pescarini JM, Strina A, Nery JS, Skalinski LM, Andrade KVF, Penna MLF, Brickley EB, Rodrigues LC, Barreto ML, Penna GO. Socioeconomic risk
markers of leprosy in high-burden countries: A systematic review and meta-analysis. PLoS Negl Trop Dis. 2018 Jul 9;12(7):e0006622. doi:
10.1371/journal.pntd.0006622. PMID: 29985930; PMCID: PMC6053250. 16
ASPECTOS IMUNOLÓGICOS
DIAGNÓSTICO
CASO SUSPEITO

• Manchas hipocrômicas ou avermelhadas persistentes, com


redução da sensibilidade, da sudorese e/ou dos pelos;
• Áreas de pele com redução da sensibilidade, da sudorese e/ou
dos pelos;
• Infiltração ou nódulos na face e pavilhões auriculares;
• Obstrução e/ou sangramento nasal persistente;
• Dormência ou formigamento de mãos/pés;
• Dor ou hipersensibilidade em trajeto de nervos periféricos;
• Ferimentos ou queimaduras indolores nas mãos ou pés;
• VALORIZAR QUEIXAS NEUROLÓGICAS E
EPIDEMIOLOGIA
DEFINIÇÃO DE CASO

• SINAIS CARDINAIS DA HANSENÍASE:

1) Lesão(ões) e/ou áreas(s) da pele com alteração de


sensibilidade térmica / dolorosa / tátil;
2) Espessamento de nervo periférico, associado a alterações
sensitivas e/ou motoras e/ou autonômicas;
3) Presença do M. leprae, confirmada na baciloscopia de
esfregaço intradérmico ou na biópsia de pele.

• A presença de um ou mais desses critérios define o


diagnóstico
CLASSIFICAÇÃO OPERACIONAL

• Segundo a OMS e o MS:


PAUCIBACILAR MULTIBACILAR

Menos de 5 lesões cutâneas Mais de 5 lesões cutâneas

Um tronco neural acometido Dois ou mais troncos neurais acometidos

Baciloscopia negativa Baciloscopia positiva

BAAR negativo no histopatológico BAAR positivo no histopatológico


EXAME CLÍNICO DA PELE
• Ambiente calmo;

• Exame de toda a superfície corporal (atentar para áreas frias)

• Testar com olhos abertos e fechados;

• Alternar lesão e periferia da lesão;

• Certifique-se que o objeto utilizado seja menor que a área ou a lesão a ser
testada;

• A ausência de alteração de sensibilidade não afasta o diagnóstico de


Hanseníase

• Avaliação Neurológica Simplificada


EXAME CLÍNICO DA PELE
SENSIBILIDADE TÉRMICA
• Deve-se usar um instrumento que demonstre claramente a diferença
entre o frio e o quente (até 45°C).
SENSIBILIDADE TÉRMICA
SENSIBILIDADE TÁTIL
EXAMES COMPLEMENTARES
• Baciloscopia
• Histopatologia (biópsia de pele e/ou nervo)
• Sorologia (teste rápido)
• Ultrassonografia nervos
• Eletroneuromiografia
BACILOSCOPIA
● Permanece como o principal exame de apoio ao
diagnóstico

● Coleta em pelo menos 4 sítios (lóbulos, cotovelos e


1 ou 2 lesões) – sempre incluir lesão, se presente

● A baciloscopia negativa não exclui o diagnóstico

● O IB cai lentamente com o tratamento, e continua a


cair após o término
BACILOSCOPIA
HISTOPATOLOGIA
NOVOS EXAMES COMPLEMENTARES
• Teste rápido para detecção de anticorpos IgM anti M. leprae
• Teste para detecção molecular do M. leprae (qPCR)
• Avaliação de resistência antimicrobiana
SOROLOGIA – Elisa Anti-PGL1

● Glicolipídeo Fenólico - constituinte da parede do M.


leprae,
● Detecção do Anticorpo Anti-PGL-1 (IgM)
● 98% de Especificidade
● 80%- 90% de Sensibilidade - MB
● 30% - 60% de Sensibilidade - PB

BÜHRER-SÉKULA, SAMIRA REVISTA DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE MEDICINA TROPICAL. 2008.


SOROLOGIA – Teste Rápido
● Soropositividade:
Sensibilidade 23 a 82%
Especificidade 89 a 92%

● Entre os contatos, a sorologia positiva indica maior risco de adoecer.

● Em áreas endêmicas, não distingue contato de doente.

● Deve ser interpretada à luz do exame dermato-neurológico e, por


isso, não deve ser utilizada isoladamente para o diagnóstico de
hanseníase.

CONITEC, 2021. Relatório de recomendação Teste Rápido imunocromatográfico para determinação qualitativa de anticorpos
IgM anti-M. leprae para diagnóstico complementar de Hanseníase. Brasília-DF.
TESTE RÁPIDO (SOROLOGIA)
O USO DO TESTE RÁPIDO DA HANSENÍASE, NO
ÂMBITO DO SUS, ESTÁ APROVADO PARA USO
EXCLUSIVO NA INVESTIGAÇÃO DE CONTATOS
EXAMES DE BIOLOGIA
MOLECULAR (qPCR)
• PCR – amplificação de sequências específicas do genoma
do M. leprae e identificação de fragmento de DNA ou
RNA
• Realizado em fragmento de biópsia de lesão cutânea ou
de nervo
• Expectativa – confirmar casos iniciais, PB e neurais puros,
infecção subclínica em contatos
• Realidade – sensibilidade em torno de 74% dos PB e 99%
dos MB
O USO DO TESTE MOLECULAR PARA
DETECÇÃO DE M. LEPRAE (qPCR), NO
ÂMBITO DO SUS, ESTÁ APROVADO PARA
USO EXCLUSIVO NA INVESTIGAÇÃO DE
CONTATOS, NAS UNIDADES DE
REFERÊNCIA
PROTOCOLO CLÍNICO E DIRETRIZES
TERAPÊUTICAS DA HANSENÍASE - 2022

● O teste rápido deve ser utilizado como ferramenta de


apoio na avaliação de contatos na Atenção Básica, a fim
de indicar o grupo a ser monitorado mais de perto
quanto ao surgimento de sinais e sintomas da
hanseníase.

● O teste de biologia molecular qPCR, que utiliza material


de biópsia de pele ou de nervos, será utilizado na
avaliação de contatos, no Nível da Atenção Especializada
ALGORITMO PARA AVALIAÇÃO DOS
CONTATOS DE HANSENÍASE NA ATENÇÃO
PRIMÁRIA À SAÚDE
ATENÇÃO PRIMÁRIA

CONTACTANTE

Avaliação clínica

COM hanseníase

Tratamento conforme
classificação operacional

43
ATENÇÃO PRIMÁRIA

CONTACTANTE

Avaliação clínica

SEM hanseníase

Teste Rápido Fazer 1ª dose ou 2ª dose de BCG

Reagente Não Reagente

Acompanhamento anual Orientar para caso apareça


com avaliação clínica algum sintoma procurar a
unidade de saúde 44
ATENÇÃO PRIMÁRIA

CONTACTANTE

Avaliação clínica

Alterações dermatológicas e/ou neurológicas inconclusivas

Teste Rápido

Reagente Não Reagente

Baciloscopia

IB > 0,0 IB = 0,0

Tratamento MB Encaminhar para referência


Reavaliação clínica 45
REFERÊNCIA

CONTACTANTE

Encaminhado para referência

Avaliação clínica

COM hanseníase

Contra-referência para APS

Tratamento conforme
classificação operacional
46
REFERÊNCIA

CONTACTANTE

Encaminhado para referência

Avaliação clínica

SEM hanseníase

Contra-referência para APS

Fazer 1ª dose ou 2ª dose Orientar para caso apareça algum


de BCG sintoma procurar a unidade de saúde

47
REFERÊNCIA

CONTACTANTE

Encaminhado para referência

Avaliação clínica

Alterações dermatológicas e/ou neurológicas inconclusivas

qPCR

DETECTADO NÃO DETECTADO ZONA EQUIVOCAL

Tratamento conforme Fazer 1ª dose ou Orientar para caso


classificação operacional 2ª dose de BCG Repetir avaliação
apareça algum sintoma
clínica em 6 meses
procurar a unidade de
saúde
48
RESISTÊNCIA PRIMÁRIA
SUSPEITA DE RESISTÊNCIA APÓS
PQT-U
CONSIDERAÇÕES FINAIS

• O diagnóstico da hanseníase permanece como


eminentemente baseado na clínica e na epidemiologia

• O teste rápido para determinação qualitativa de anticorpos


IgM anti M. leprae deverá ser realizado apenas em contatos.

• É um exame complementar e não diagnóstico.

• O Brasil é o primeiro país do mundo a ofertar esse tipo de


exame complementar como auxílio para o diagnóstico de
Hanseníase.
CONSIDERAÇÕES FINAIS

• A literatura científica ainda é limitada quanto ao impacto do


teste em desfechos clínicos.

• Embora a sorologia anti-PGL1 (teste rápido


imunocromatográfico) não seja um teste diagnóstico, a sua
utilização na rotina de ações para o controle da hanseníase
pode favorecer o aumento da detecção precoce de casos
multibacilares, podendo, ainda, influenciar positivamente na
cobertura dos exames de contatos.
RESUMO GERAL
TESTES LABORATORIAIS PARA USO EM CONTATOS

CONTACTANTE

Avaliação clínica

COM hanseníase SEM hanseníase INCONCLUSIVO

Tratamento conforme TESTE RÁPIDO Fazer 1ª dose ou 2ª dose de BCG TESTE RÁPIDO
classificação operacional

REAGENTE NÃO REAGENTE


REAGENTE NÃO REAGENTE

ACOMPANHAMENTO ANUAL ORIENTAÇÃO

Baciloscopia qPCR

POSITIVO NEGATIVO DETECTADO NÃO DETECTADO ZONA EQUIVOCAL

Encaminhar para referência –


reavaliação clínica Tratamento conforme Reavaliação clínica
ORIENTAÇÃO
classificação operacional em 6 meses

Avaliação clínica

COM hanseníase SEM hanseníase Alterações suspeitas inconclusivas


(dermatológicas e/ou neurológicas)
Fazer BCG ORIENTAÇÃO
Tratamento conforme
classificação operacional Fazer BCG ORIENTAÇÃO
54
A detecção de anticorpos anti-PGL-1 não
pode ser utilizada isoladamente como um
teste diagnóstico para hanseníase, tendo em
vista que indivíduos saudáveis podem
apresentar sorologia positiva, ao passo que
casos confirmados, especialmente os
paucibacilares, podem ter sorologia negativa
Referências Bibliográficas
1) BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Doenças de
Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas
da Hanseníase / Ministério da Saúde, 2022

2) NOTA TÉCNICA Nº 4/2020-CGDE/.DCCI/SVS/MS. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância


em Saúde. Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis
Coordenação-Geral de Vigilância das Doenças em Eliminação

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