Você está na página 1de 16

1.

Escolhas coletivas e decisões


políticas – Processo Político (vide
programa)
1. 1 Enquadramento Geral

 1.1.1. Problemas de escolhas coletivas


 Contexto

Nem sempre as instituições políticas têm a capacidade para identificarem e superarem os


fracassos de mercado, segundo certos autores. Ou seja, a par dos fracassos de mercado,
existem também fracassos políticos.
Assim, torna-se mister uma análise positiva de tomada de decisão política, que permita uma
análise institucional comparada, quer dos fracassos de mercado quer do governo.
Daí a necessidade do estudo dos efeitos das regras e processos de decisão coletiva, do seu
alcance e das suas limitações.
1. 1 Enquadramento Geral

 1.1.1. Problemas de escolhas coletivas


 Contexto

Exige ainda que se clarifique o que se entenda por interesse público e a forma como ele é, ou
pode ser revelado. Estes são os objetivos deste tópico do programa – Processo Político (vide o
programa apresentado no 1º dia de aula).
Neste contexto, certos autores (economistas, matemáticos, cientistas políticos), ao alisarem as
propriedades das regras de decisão nos regimes democráticos, chegaram a conclusão que há
certos tipos de problemas associados às várias regras de decisão ( maioria absoluta,
qualificada e unanimidade)
1. 1 Enquadramento Geral

 1.1.2. Principais autores


Haja vista os problemas de instabilidades, ciclos e possíveis contradições inerentes à tomada
de decisão democrática, e a procura de soluções, surgiu teoria da escolhas social (social
choice).
Os principais mentores desta teoria foram:
Kenneth Arrow (1951) e Amartya Sen
Corte-Real e Perreira (2004), deram um exemplo prático desta questão, tomando o caso
português.
Os fundamentos desta teoria encontram-se na teoria de democracia de Josef Shumpeter
(1943).
1. 1 Enquadramento Geral

 1.1.2. Principais autores


Desenvolvimento pioneiro desta teoria:
Antonny Downs (1957)
James Buchanan e Goldon Tullock (1962)
Principal teórico e divulgador desta teoria (escolha social) na atualidade:
Dennis Mueller – Livro, Public Choice (Mueller 2003)
OBS: Esta investigação reforçou a ideia dos neoliberais no sentido de diminuir cada vez mais o
poder de estado (menos estado, mais mercado)
Do contrário, Pereira (1997) apresenta uma visão que defende um melhor estado em vez de
1. 1 Enquadramento Geral

 1.1.3. Tipos de regras de decisão coletiva: da maioria relativa à unanimidade


Maioria relativa – Proposta com maior nº de votos ganha mesmo que essa maioria seja relativa
em virtude de abstenção ou à existência de mais de uma proposta.
Maioria absoluta – Mais da metade dos votantes deverá obrigatoriamente aprovar a proposta
para que seja vencedora.
Maioria qualificada – uma maioria absoluta mais exigente. Ex: maioria qualificada de 2/3 ou ¾
(ou outra).
Regra da Unanimidade – Todos terão que estar de acordo para se tomar uma decisão.
1. 1 Enquadramento Geral

 1.1.3. Tipos de regras de decisão coletiva: da maioria relativa à unanimidade


A escolha das regras de decisão coletiva deve depender do tipo de proposta em análise.
Teoricamente há que distinguir dois tipos de questões que se relacionam com duas das principais funções do estado: função de
afetação e redistribuição.

No 1º tipo de problema (afetação) – Estão as decisões coletivas em Outras decisões coletivas envolvem redistribuição em que uns
termos de provisão de bens públicos, correção de externalidades, indivíduos ficam melhor, mas outros podem ficar pior.
redução de informação assimétrica e outros que envolvem melhoria
de afetação de recursos

Decisões associadas a melhoramentos de Pareto, isto é, que todos Tratam-se Decisões de soma nula ou mesmo negativa se
poderão ficar melhor – Decisões de soma positiva – “Jogos de considerarmos os custos de redistribuição.
soma positiva” “Jogos de soma nula”
1. 1 Enquadramento Geral

 1.1.4. Comparação da maioria absoluta com a unanimidade


 Comparando a maioria absoluta com a unanimidade pode-se pois concluir que :
quanto mais próximo da maioria absoluta:

Menor o peso do status quo, pois é mais fácil tomar as decisões


Maior é possibilidade de haver descontentes (derrotados)
Menos os custos de tomada de decisão (em tempo, nomeadamente)

Inversamente, quanto mais próximo da unanimidade:

Maior é o peso de status quo, pois é mais difícil gerar consensos.

Menor a probabilidade de haver descontentes (derrotados)


Maior os custos de tomadas de decisão que poderão tornar-se proibitivos no caso da unanimidade
1. 1 Enquadramento Geral

 1.1.4. Comparação da maioria absoluta com a unanimidade

O problema de determinar a regra ótima para tomar decisões coletivas foi discutido no
princípio do séc. XX por economista sueco Knut Wickssel. Isto é, Wickssel queria saber que
regras deveriam ser utilizadas pelo Parlamento com o intuito de saber que proposta deveria,
de fato, servir melhor ao interesse público. Para tanto, se propôs a regra da maioria
qualificada, considerando apenas decisões de soma positiva.
1. 1 Enquadramento Geral

 1.1.4. Escolha da maioria ótima em problemas de afetação (soma positiva)


D = Curva de custo crescente da tomada de decisão em função de nº de participantes e da
C,D maioria necessária. Quanto menor o nº de participantes, mais rápida é a decisão e quanto
mais se aproxima da unanimidade mais difícil é a tomada de decisão e mais tempo será
necessário e, por conseguinte, maior o custo. Contudo, menor a probabilidade de os
indivíduos serem prejudicados

C+D
D C = Curva de aumento de custos externos, ou seja, custos impostos aos indivíduos que
saem derrotados da tomada de decisão quando mais se aproxima da maioria absoluta

N = nº de participantes /maioria necessária à votação.


C
C+D = Curva que otimiza os dois tipos de custos (C e D). Para muitos, é uma maioria
N/2 N N qualificada.
Fonte: Buchanan, J e Tullock, G. (1962) Quanto mais se aproxima de unanimidade, maior os custos do processo. Porém menos serão
os custos impostos aos derrotados.
Quanto mais se afasta da unanimidade (mais se aproxima de maioria absoluta), maiores
são os custos de externalidades, ou seja dos derrotados
1. 1 Enquadramento Geral

 1.1.4. Regras de decisão e bem-estar de dois grupos (A e B)


Maioria absoluta = aprovação da proposta Z, caso o grupo social B esteja
Ub em ligeira maioria numérica. Defendendo apenas os seus interesses

z Maioria qualificada –
X Maioria de Pareto

Y
Representa a situação social existente, a
de desigualdade.
Statu quo

Ua OBS:
Ver o exemplo da questão das votações na U.E
1. 1 Enquadramento Geral

 Paradoxo de Condorcet

Os estudos das características e propriedade da regra da maioria se desenvolveu-se


com a revolução francesa e a independência americana.
O problema de votação, foi estudado pelo Condorcet (há mais de 2 séc.) ao descobrir o
problema inerente à regra da maioria absoluta que ficou conhecido por “ciclo de
votação”, “intransitividade da escolha coletiva” ou, ainda, paradoxo de Condorcet”
1. 1 Enquadramento Geral

 Paradoxo de Condorcet - Exemplo


Considera-se que há 3 partidos políticos – A, B e C – que tem idêntico peso numa assembleia municipal onde se aprecia a melhor utilização a
dar a um determinado terreno camarário e que deliberem internamente sobre 3 propostas: construir uma piscina (P), um jardim (J) ou uma
escola do (E).

Hierarquização das propostas de cada partido Considera-se que


não há coligações e que se
votam todas as propostas aos pares de modo
Ordem Partido A Partido B Partido C que o vencedor de Condorcet, caso exista, é a
proposta que vence todas as outras
1º Piscina Jardim Escola
2º Jardim Escola Piscina
3º Escola Piscina Jardim
Propostas: Conclusão: Há um ciclo de votação e não há um resultado inequívoco, pois Piscina
P contra J – Ganha P (2 partidos a favor, A e C e contra, B) ganha Jardim, que ganha a Escola que, por sua vez, ganha a Piscina. Há pois uma
E contra P – Ganha E ( apoio de B e C)
intransitividade nos resultados de escolha política (paradoxo) apesar de se partir de
E contra J – Ganha J.
ordenações partidárias transitivas
Teorema de Arrow

 Kenneth Arrow – Demonstrou que todas as regras tem problemas e não somente as da maioria
absoluta.

 Questão: Será que é possível determinar uma regra que permita passar de preferências
individuais para uma decisão coletiva, satisfazendo um conjunto mínimo de propriedades,
mais ou menos consensual?
Teorema de Arrow – 5 condições de satisfação

 As 5 condições que, segundo Arrow, um mecanismo de escolha coletiva deve satisfazer


são as seguintes:
 1. Postulado de Pareto – Se um individuo preferir alternativa X a Y e ninguém se opuser
a essa preferência, o mecanismo deve refletir essa preferência.
 2. Não-ditadura – o mecanismo não pode refletir sistematicamente a preferência de um
indivíduo relativamente a qualquer par de alternativas se todos os outros indivíduos se
opuserem a essa preferência.
 3. Transitividade – Se o mecanismo preferir X a Y, e Y a Z, então deverá preferir X a Z.
 4. Domínio ilimitado – Qualquer ordenação individual de alternativas é aceitável.
 Independência de alternativas irrelevantes – Se o mecanismo prefer
Teorema de Arrow – 5 condições de satisfação

 5. Independência de alternativas irrelevantes – Se o mecanismo prefere a alternativa X a


Y, a eliminação de uma terceira alternativa Z não deve modificar esta preferência.
 OBS:
 Desenvolvimentos teóricos posteriores mostraram que o abandono e ou substituição, por
outras menos restritivas, de algumas destas aparentemente razoáveis condições permite
superar o resultado de impossibilidade de Arrow.

 Para mais, ver os exercícios sobre a eficiência da decisão majoritária

Você também pode gostar