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Aprovação das Contas

[Apreciação anual da situação da


sociedade]

Aplicação dos Resultados


[Direito aos lucros]

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Índice
• 1. Elaboração e aprovação das contas individuais
• Nas sociedades por quotas
• Nas sociedades anónimas
– As patologias
• 2. Aplicação dos Resultados
– O processo
– Reserva legal
– Dividendos
– O contencioso

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Aprovação das contas
Síntese do Processo nas SA
1- Aprovação pela administração
[65/3 e 4, até 2/28]
2- Remessa para o ROC e CF/Comissão de
Auditoria/Conselho Geral e de Supervisão
[30 dias antes da AG: 451/1]
3- Certificação legal pelo ROC(451/3)
4- Relatório e Parecer do CF..: 15 dias : 452/4 (antes da AG: 289/1]
5- Aprovação em AG anual (art. 376)
[Data:3/31, por força do art. 65/5]
6- Depósito na Conservatória RC
(CSC,70;CRC,42; Prazo:6 meses a contar da AG: CRC,15/4)
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Aprovação das Contas
Processo nas SQ
1- Aprovação pelos gerentes
2- Fiscalização
- Obrigatória apenas para SQ do art. 262.º/2
e SQ com CF (262/6)
3-Aprovação pelos sócios em AG (246/1-e;
263)
-Exceção: SQ (263.º/2)
4- Depósito na CRC (70) 4
Aprovação das contas pela
administração-Documentos
Art. 65
•Inclui:
– Relatório de gestão
– Contas de exercício (SNC)*
– Outros documentos de prestação de contas
previstos na lei
•Elaborados e assinados pelos gerentes/
administradores em funções ao tempo da
apresentação (4)
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Fiscalização das contas SA
Síntese
1. Envio dos documentos ao CF/CGS e ao
ROC (451/1)
– Prazo: 30 dias antes da AG
2. ROC: CLC ou declaração de
impossibilidade (451/3)
3. Relatório e Parecer do CF/CA/CGS (452)
Prazo: 15 dias após receber os documentos

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Fiscalização SQ
• Sociedades com CF
– Regime das SA com CF

• Sociedades do art. 262.º/2: ROC

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A. Geral
Convocatória
• Informações preparatórias da AG
– 289/1, 3 e 4.
- 58/1/c, 4/b

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Aprovação
A competência para aprovar as contas é da
assembleia geral
– S.A. [376/1/a]
– SQ[246/1-e; 263/1]
• Mas, se todos os sócios forem gerentes (263/2)

– Deliberação por maioria dos votos emitidos,


nos termos gerais (SQ: 250/3; SA: 386/1)
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Registo comercial das contas
• Depósito na Conservatória do Reg. Com.
– CSC: 70 e 70-A;
– Cód. Reg. Com., 3.º/1/n, 42.º,
• Publicação
– Obrigatória: Cód.RC:70/1/a
– Local: Cód.RC:70/2 (internet)
– Oficiosidade: Cód.RC:71
– Modalidade: Cód. RC :72.º/3/4

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As patologias
Falta de apresentação de contas: inquérito judicial (67/1/2)
Falta de deliberação sobre contas apresentadas (67/3/4/5):
balanço judicial
Recusa de aprovação (68)
Invalidade da deliberação:
-Regime especial (69)
-Regime geral das invalidades (56 e 58)

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II-Aplicação de Resultados
Sistema Legal
• Sede Legal
– Secção “Direito aos lucros”
• SQ: 217 e 218
• SA: 294 a 297
– Conteúdo
• Direito aos lucros de exercício
• Reserva legal

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Aplicação dos resultados
Processo
1. Aprovação das Contas
2. Proposta de Aplicação dos Resultados
– Dever da administração [66/5/f ]
– Os sócios têm liberdade para apresentar
propostas de aplicação, não precisando de
deliberar motivadamente quando recusem a
proposta da administração
3. Deliberação dos sócios[376/1/b; 246/1/e]
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Limites
Regras substantivas
• A Conservação do capital social
– Art. 32
– Art. 33
– Art. 34

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Aplicações Obrigatórias do Lucro de
Exercício
– Art. 33
1. Cobrir prejuízos transitados,
2. Formar ou reconstituir reservas obrigatórias
– Reserva Legal (impostas por lei: art.295.º
e 218.º)
– Reservas Estatutárias (impostas pelo
contrato )

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Reserva Legal
Espécies
• Reserva Legal Geral
– 295/1 (aplicável SQ-218)
• Reservas Legais especiais
– 324/1/b
– 345/6
– 347/7/b
– Reservas especiais do art. 295/2

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Reserva Legal Geral
Formação (295/1)
• Formada por uma parte dos lucros de
exercício
– 5% anualmente
– Até 20% do capital social
– A percentagem e o montante podem ser
elevados por cláusula contratual *

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Reserva Legal Geral
Aspetos controversos
• Formação
– Poderá ser formada com valores indicados nas
alíneas do n.º2 do art. 295?
• Afastamento do Regime supletivo
– Por deliberação dos sócios?
– Será válida cláusula contratual que atribua à
maioria o poder de afetar à reserva legal uma
percentagem maior ou elevar o montante
mínimo?
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Direito ao lucro
Conceitos
• Lucro abstrato
– Os sócios têm direito a quinhoar nos lucros
(21/1/a)
• Lucro concreto
– Deliberação social de aplicação dos resultados
• Dividendo
• Direito ao dividendo antes da deliberação
de aplicação de resultados?
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O Dividendo
Obrigatório ou facultativo?

• Qual a posição jurídica do sócio face aos


lucros de exercício distribuíveis?
– Análise do n.º1 dos artigos 217 e 294

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Direito ao Lucro
Regime (217/1-294/1)
• A lei obriga a distribuir pelos sócios metade
do lucro de exercício distribuível,
• salvo
– Diferente cláusula contratual
– Ou deliberação de uma maioria de ¾ do
capital social[SQ:217/1; S.A :294/1]

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Dividendo Obrigatório por Lei?
• Sim, se aplicável regime legal supletivo*
• Exceção:
– Deliberação por maioria de 3/4

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Dividendo Estatutário
• Cláusula contratual que estabeleça um
montante mínimo

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Dividendo Facultativo
• Amplitude da diferente cláusula contratual
permitida pelo n.1 dos arts 217 e 294
1. Montante do lucro a distribuir
• Pode diminuir a percentagem do lucro a distribuir?
• Pode permitir que não sejam distribuídos lucros?

2. Maioria necessária para afastar a regra legal


– Maioria simples?

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Cláusula contratual Frequente
• “O lucro de exercício distribuível terá a
aplicação que, sob proposta da
administração, a assembleia geral deliberar”

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Pagamento dos dividendos
• O crédito do sócio (n.2 dos arts 217 e 294)
• O dever dos administradores de não
cumprimento (31/2-4)
– Alteração superveniente no património
– Deliberação de distribuição ilícita
– Falsidade das contas
– Citação da sociedade para ação de invalidade
da deliberação social
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Restituição dos bens
indevidamente recebidos
• Art.34

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Contencioso sobre a aplicação
dos resultados
• Anulabilidade por violação da maioria
exigida (violação da lei, 58/1/a)
• O abuso de direito

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Abuso de Direito
• O abuso de direito (58/1/b)
– Dificuldade de aplicação:
• Prova do dolo (elemento subjetivo)
• Validade com base na prova de resistência
• O abuso de direito por ofensa aos bons
costumes (CCivil, 334; CSC,56/1/d)
• Necessidade da maioria justificar a retenção
com base no interesse social
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Abuso de Direito por Ofensa aos
Bons Costumes STJ7-1-1993
• Fundamento:
– A deliberação social é nula por contrariar os bons
costumes, caindo na moldura do artigo 56.º, n.º1,
alínea d) do CSC
– …choca o senso comum de justiça dos homens
sérios e honestos, que, durante cerca de vinte e
cinco anos, e em obediência a uma política de
progresso contínuo, se houvesse esquecido, e em
absoluto, o direito dos sócios a quinhoar nos lucros
de exercício
Relação de Guimarães, 29-6-
2017
• Em acórdão de que foi relatora Conceição
Bucho julgou a deliberação abusiva porque
não foi justificada a não distribuição de lucros
• Segundo esta jurisprudência, a maioria,
quando retém lucros que eram distribuíveis
segundo a lei, terá de justificar a retenção à luz
do interesse social sob pena de ver a sua
deliberação anulada como abusiva
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Rel. Porto-22-2-2021
(Carolina Cunha)
• A deliberação de não distribuição de lucros aos
sócios traduz o exercício de um direito – o direito de
os sócios destinarem, com liberdade, os ganhos da
sociedade – mas em, ostensivo, excesso aos limites
impostos pela boa-fé e pelo fim económico ou social
do direito, revelando, por ir contra um direito das
sócias minoritárias - direito ao lucro -, “ditadura das
maiorias”, sempre encontrando a liberdade destas,
como barreira, o direito e interesse daquelas, que,
podendo sofrer limites e ceder perante ele, nunca
pode ser esvaziado de conteúdo útil.
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Rel. Porto-22-2-2021
Sumário

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Efeitos da anulação
• Reconstituição da situação anterior
– Interesse da sociedade
– Interesse individual dos sócios
• Ação de condenação da sociedade*

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Condenação da Sociedade
RC-13-10-1998 [1]
• Decisão de 1.ª Instância:
– Anulou a deliberação
– «…no mais julgando o pedindo do A. improcedente»
• Decisão de 2.ª Instância
– Confirmou a 1.ª instância no fundamento da anulação
– Concedeu provimento à apelação revogando a sentença
na parte em que não condenou a sociedade Ré no
pagamento do lucro distribuível ao Autor
– Condenou a Ré a pagar ao A. a quantia de Esc. 803
010$70, correspondente a 1/3 de ½ dos lucros apurados
no exercício de 1993…
RC-13.10-1998 (2)
Fundamento da Condenação
• O Tribunal de 1.ª Instância considerou que só a
AG poderia deliberar a medida do lucro a
distribuir [pág.33] e por isso a distribuição de
lucros só poderia efectivar-se numa nova
assembleia
• Rel. Coimbra
– Os lucros são apurados com a aprovação das
contas
– Depois de aprovadas as contas, o lucro a
distribuir pode ser determinado pelo tribunal
Bibliografia
• Paulo de Tarso Domingues, O Financiamento Societário pelos Sócios, Almedina,2021,
cap. XII;
• Manuel António Pita, Direito aos lucros, Almedina, 1989
• F. Cassiano dos Santos, A posição do acionista face aos lucros de balanço. O direito do
acionista ao dividendo no código das sociedades comerciais, Coimbra editora, 1996
• António Menezes Cordeiro, Código das sociedades Comerciais Anotado, artigos 65.º a
70.º, 217.º, 263.º, 294.º, 451.º a 454.º, Almedina, 1ª ed., 2009
• Jorge M. Coutinho de Abreu, Curso de Direito Comercial, Vol. II Das Sociedades, cap.
VI, n.º 4-Lucros, Almedina
• Paulo Olavo Cunha, Sociedades Comerciais, Almedina 2012, (Direito aos lucros, p. 321)
• Luis Fernandez del Pozo, La aplicacion de resultados en las sociedades mercantiles,
Civitas, Madrid, 1997

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