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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

POLÍTICAS PÚBLICAS E MOVIMENTO PELA


REFORMA SANITÁRIA BRASILEIRA:
ANALISANDO MODELOS
TECNOASSISTENCIAIS
Plano da aula
1. O que são modelos tecnoassistenciais?
2. Modelos tecnoassistenciais no Brasil
3. Reforma Sanitária, Políticas de Saúde -
SUS
O que são modelos tecnoassistenciais?
• O modelo assistencial diz respeito ao
modo como são organizadas, em uma
dada sociedade, as ações de atenção à
saúde, envolvendo os aspectos
tecnológicos e assistenciais. Ou seja, é
uma forma de organização e articulação
entre os diversos recursos físicos,
tecnológicos e humanos disponíveis para
enfrentar e resolver os problemas de
saúde de uma coletividade (Paim)
O que são modelos tecnoassistenciais?
• “Os modelos Tecno-assistenciais estão
sempre apoiados em uma dimensão
assistencial (recursos financeiros,
materiais e força de trabalho) e
tecnológica (tecnologias e modalidades
de trabalho), para expressar-se como
projeto de política, articulado a
determinadas forças e disputas sociais”
(Merhy, 1991)
Modelos tecnoassistenciais definem:
• O que é um problema de saúde?
• Como devem ser as práticas de saúde?
• Para que servem e como devem ser
organizadas tais práticas?
• Quais serão os trabalhadores
necessários?
• Para quais pessoas estão dirigidas?
• Como se hierarquizam?
Corpo e Saúde
A perspectiva dominante sobre o corpo na
sociedade ocidental moderna é a biomédica

CORPO ESSÊNCIA

Idéia de Natureza
Determina diferenças de comportamentos
Caráter universal e imutável
Críticas à perspectiva essencialista
• Não dá conta de explicar as diferenças de
comportamentos observadas nos diferentes
grupos.
• Implica a manutenção das desigualdades
visto que essas são tidas como de ordem
“natural” - opera a naturalização das
diferenças sociais.
• Não permite que a saúde seja algo sobre o
que muitos atores sociais diferentes e
setores diferentes tenham algo a dizer.
• Favorece a medicalização dos
comportamentos que não estão em
conformidade com a ordem esperada.
Necessidades Sociais Em Saúde
Críticas à perspectiva essencialista
• Rudolf Virchow (1821-1902) perguntava: “Não
é verdade que sempre acabamos descobrindo
que as doenças da população podem ser
ligadas à defeitos da sociedade?”

• Pesquisas epidemiológicas recentes


confirmam a centralidade de fatores sociais e
ambientais nas principais melhorias na saúde
da população registradas em países
industrializados a partir do início do século XIX.

Comissão sobre Determinantes Sociais da


Saúde (ONU, 2005)
Necessidades Sociais Em Saúde
Níveis de Intervenção
1. Reduzir a própria estratificação social, ou seja, por
exemplo, “reduzir as desigualdades em termos de
poder, prestígio, renda e riqueza que estejam
ligados à posição sócioeconômica ocupada”;

2. Reduzir a exposição a fatores danosos à saúde


por parte de grupos em posição menos privilegiada;
3. Procurar reduzir a vulnerabilidade de grupos
carentes às condições danosas à saúde que
enfrentam;

4. Através da atenção à saúde, reduzir as


conseqüências desiguais dos problemas de
saúde e prevenir a deterioração sócio-
econômica de indivíduos que adoecem.
Política e Saúde
A Saúde é um componente fundamental da democracia por ser
determinada por um conjunto de direitos como também por ter
potencial revolucionário e de consenso (Escorel, 1989).
O potencial revolucionário é destacado pelo fato da saúde
constituir em campo privilegiado de luta de classe (Arouca, 1982)
em que se chocam as concepções de vida das diferentes classes
sociais.
A Saúde também configura-se em valor largamente
compartilhado e, portanto, um campo propiciador de consenso,
podendo unir um conjunto de forças para empreender lutas para
sua conquista. A forma de distribuição desse direito que é motivo
de dissenso (Maria Inês Souza Bravo)
Modelos tecnoassistenciais no Brasil
• Sanitarismo Campanhista
– Início do Século XX, até meados dos anos 1950;
– Saneamento das cidades e garantia das
exportações de uma economia agrícola
(sobretudo cafeeira).
– Erradicação ou controle das doênças de massa
– Visão militarista
– Concentração de decisões
– Estilo repressivo de intervenção sobre os corpos
individual e social
Modelos tecnoassistenciais no Brasil
• Sanitarismo Campanhista

O escritor Monteiro Lobato criou um personagem


chamado Jeca Tatu. Era um caipira que não fazia
nada na vida devido à doença e à preguiça. Mas
Lobato aderiu à campanha em prol do
saneamento rural e deu a seu personagem
educação sanitária. A partir de então, Jeca Tatu
prosperou a olhos vistos, superou em
produtividade o trabalhador imigrante e tornou-
se, ele também, um educador sanitário.
Modelos tecnoassistenciais no Brasil
• “Modelo médico assistencial privatista”
– Surge na década de 1920 e se hegemoniza década
de 1960 (ditadura)
– centro da economia migra do pólo rural para o
urbano industrial; surgimento de um contingente de
assalariados; necessidade de atendimento médico
previdenciário máximo de centralização político-
administrativa
– Racionalidade técnica
– Exclusão da cidadania
– Compra de serviços do setor privado
– Manutenção da Capacidade Produtiva
“Modelo médico assistencial privatista”
ERA VARGAS:
•1941: Serviço de Combate às endemias
•1953: Ministério da Saúde
•1956: Criação do Serviço Especial de Saúde Pública
(SESP) e instalação do Depto. Nacional de Endemias
Rurais (depois SUCAM)
•Ações do Ministério da Saúde, SES e SMS: concentradas
nas campanhas sanitárias, nos programas especiais
(materno-infantil, tuberculose, endemias rurais, hanseníase,
etc) e na manutenção de centros, postos de saúde,
maternidades,hospitais específicos de psiquiatria,
tisiologia, etc para os pobres
“Modelo médico assistencial privatista”

ERA VARGAS:

•Trabalhadores urbanos/Previdência Social: organização


dos IAP por categorias: marítimos (IAPM), comerciários
(IAPC), bancários (IAPB), transportes e cargas
(IAPETEC), servidores do Estado (IPASE), etc.
•Assistência médico-hospitalar começa a fornecer as bases
para a capitalização do setor saúde
“Modelo médico assistencial privatista”
• 1964: Golpe Militar. Desenvolvimento via
internacionalização da economia assentada no tripé: capital
nacional, Estado e capital multinacional. Modelo
econômico: concentrou renda, reforçou migrações e
acelerou a urbanização sem os investimentos necessários.
• Capitalização da medicina: privilegiou o setor privado,
comprando serviços médicos, apoio aos investimentos e
empréstimos com subsídios (unificação dos IAP/ 1966 –
INPS)
• 1973: FUNRURAL (extensão da med.previdenciária aos
trabalhadores rurais)
“Modelo médico assistencial privatista”
1974: Reformulações adotadas:
• Separação área previdenciária e área do trabalho - MPAS
• Implantação do Plano de Pronta Ação (atendimento de
urgência para qualquer indivíduo)
• Instituição do Fundo de Apoio ao Desenvolvimento Social
(FAS)
• Criação do DATAPREV: controle e avaliação
• A ação combinada PPA (mercado cativo) e FAS(expansão
com recursos subsidiados) = alavancagem do setor privado/
cresc.de 465% entre 69 a 84
• Setor privado: capital fixo subsidiado, reserva de mercado,
baixíssimo risco empresarial e nenhuma competitividade.
“Modelo médico assistencial privatista”
• 1975: V Conferência Nacional de Saúde: Crise do setor
saúde:insuficiência, descoordenação, má distribuição e
ineficácia
• 1977: Lei 6.439 cria o SINPAS (garantir a expansão da
população previdenciária e a centralização administrativa)
• 1977: INAMPS (base para a hegemonia do modelo
privatista)
Tripé desse modelo:
• Estado como grande financiador via previdência
• Setor privado nacional como maior prestador
• Setor privado internacional como produtor de insumos
Modelos tecnoassistenciais no Brasil

Estado como indutor de um “mercado médico e farmacológico”

INAMPS (1970)

preventivo curativa

Coletivo Indivíduo

Ministério da Saúde Previdência Social


Modelos tecnoassistenciais no Brasil
• As doutrinas neoliberais afetaram a saúde através
de dois mecanismos: (1) das reformas executadas
no setor de saúde em muitos países de renda baixa
ou média a partir do início dos anos 80; e (2) dos
programas de ajustes econômicos estruturais
impostos a um grande número de países como
condição para a renegociação de dívidas, para o
acesso a novos empréstimos e a outras formas de
apoio internacional. A esses instrumentos de
propagação do paradigma neoliberal foi adicionado
um terceiro, que teve uma grande importância a
partir de meados nos anos 90: os acordos sobre o
comércio internacional e as regras estabelecidas
por organismos como a Organização Mundial do
Comércio (OMC), formada em 1995.
Modelos tecnoassistenciais no Brasil
• “Medicina Comunitária”
– Alma-Ata (1978) - Conferência lnternacional sobre
Atenção Primaria à Saúde: saúde como direito
humano
– Organização Pan Americana de Saúde (OPS)
– Banco Mundial
– Departamentos de Medicina Preventiva
– Foco na atenção primária e nas populações locais
– Deixa de lado contextos sociais mais amplos,
diluindo as determinações macrossociais
– Expande os núcleos de consumo de produtos
médicos
– Crise da previdência social
“Movimento Sanitário” - 1970
• O Movimento da Reforma Sanitária foi ao
mesmo tempo uma bandeira de luta específica
e parte de uma totalidade de mudanças;
• Uma perspectiva de igualdade em uma
sociedade desigual; (contra o enfoque na
eficácia)
• Discurso alternativo ao hegemônico, com
formulações e proposições (de saúde, de
democracia)
(Feuerwerker)
SUS
• VIII Conferência Nacional de Saúde, em
1986:
“Em sentido mais abrangente, a saúde é a
resultante das condições de alimentação,
habitação, educação, renda, meio ambiente,
trabalho, transporte, emprego, lazer, liberdade,
acesso à posse da terra e o acesso aos serviços
de saúde. É assim, antes de tudo, o resultado das
formas de organização social da produção, as
quais podem gerar grandes desigualdades no
nível da vida.”
SUS
• Instituído constitucionalmente na Constituição
de 1988 e regulamentado legalmente em 1990
• Saúde é um direito de cidadania e um dever
do Estado
• Princípios éticos: universalidade, eqüidade e
integralidade
• Princípios operativo-organizacionais:
descentralização, regionalização e
hierarquização da rede, e
participação/controle social.
Qual modelo tecnoassistencial?
No SUS, concebido como um Sistema Nacional e
Público de Saúde, convivem práticas que
lembram o sanitarismo campanhista e,
apesar da atenção primária e urgência serem
prestados majoritariamente pelo aparato
estatal, os serviços hospitalares e os de maior
complexidade são comprados de organizações
privadas que contam, em sua grande maioria,
com profissionais médicos organizados de
forma liberal.
(Baptista Coelho)
Qual modelo tecnoassistencial?

Mehry ressalta o comportamento circular


das diversas propostas formuladas ao
longo do tempo e que recorrentemente
buscam os conceitos e as bases
norteadoras das propostas formuladas
anteriormente e não conseguem romper
com o modelo assistencial hegemônico.
No máximo tangenciam suas bases
concretas de atuação.
A configuração propícia para as reformas no
início da década de 1980 surgiu na medida em
que, por um lado, havia profissionais de saúde
agrupados no movimento sanitário que
optaram majoritariamente pela prática
reformista no interior das instituições estatais
e, por outro, quando se instalou, em 1981, a
aguda crise financeira do setor que permitiu
questionamento do modelo em vigência.

(Monika Dowbor, Da inflexão pré-constitucional aos SUS Municipalizado,


Lua nova, n 78, 2009)
A conjunção desses fatores possibilitou a adoção de
medidas de cunho reformista implementadas
paulatinamente no país inteiro, a despeito dos interesses
contrários do setor privado de medicina. As políticas
adotadas conformaram mais do que um viés racionalizador
ou apenas uma linha de ações programáticas de alcance
limitado; constituíram quadro de uma reforma original e
contraditória em relação a sua época, que não privatizou
nem estatizou o setor, mas, antes mesmo dos grandes
consensos sobre as reformas de serviços públicos, iniciou a
descentralização e a universalização de acesso integral a
todos os serviços e manteve o prestador privado como
fornecedor de serviços públicos.
(Monika Dowbor, Da inflexão pré-constitucional aos SUS Municipalizado, Lua nova, n 78, 2009)
Mas como foram as lutas pela
reforma sanitária brasileira?
Mudanças Políticas no Brasil (Paim)
Pelo alto, pelas próprias classes dirigentes. Todas as
tentativas dos de baixo foram esmagadas pelos poderosos
ou deturpadas pela história oficial:
Zumbi dos Palmares (1678)
“Inconfidência” Mineira (1789);
“Revolta” de Búzios ou dos Alfaiates - Conjuração Baiana (1798);
“Revolta” dos Malês (1835);
Canudos (1896-1897);
“Revolta” da Chibata (1910);
Coluna Prestes (anos 20);
"Intentona” comunista de 1935;
Guerrilhas do pós-68.
Conferências Nacionais
Foram estabelecidas pela Lei n. 378, de
13/01/1937, que reorganizou o Ministério da
Educação e Saúde. Eram espaços
estritamente intergovernamentais, de que
participavam autoridades do então Ministério
da Educação e Saúde e autoridades setoriais
dos estados e do território do Acre. Estavam
previstas para serem realizadas a cada dois
anos, mas, apenas em janeiro de 1941, foram
convocadas.
1ª Conferência (1941)
• [...] ocupar-se dos diferentes problemas da saúde e
da assistência, mas de modo especial dos seguintes: a)
Organização sanitária estadual e municipal; b)
ampliação e sistematização das campanhas nacionais
contra a lepra e a tuberculose; c) determinação das
medidas para desenvolvimento dos serviços básicos de
saneamento e d) plano de desenvolvimento da obra
nacional de proteção à maternidade, à infância e à
adolescência.” Um temário nitidamente relativo à gestão
e administração dos serviços de saúde, no âmbito de um
Estado que se constituía [ ] (MINISTÉRIO DE
EDUCAÇÃO E SAÚDE, 1941).
2ª Conferência (1950)
• Temário: analisar “Pontos de vista dominantes entre os
Sanitaristas”, pretendia construir uma compreensão sobre os
problemas sanitários compartilhada entre os gestores estaduais e os
do nível federal.
• Tratou de temas como malária, segurança do trabalho, condições de
prestação de assistência médica sanitária e preventiva para
trabalhadores e gestantes. Não há relatório conhecido da 2ª
conferência.
• Em 25 de julho de 1953, foi criado o Ministério da Saúde, iniciativa
mais voltada a separar os dois setores (saúde e educação)
• Lei n. 2.312: “Normas Gerais sobre Defesa e Proteção da Saúde”.
regulamentação, em 21/01/61, instituiu o Código Nacional de
Saúde. Essa foi, talvez, a primeira tentativa de organização de um
sistema de saúde nacional.
3ª Conferência (1963)
• Primeira ampliação dos atores participantes: estabeleceu
que os dirigentes dos estados poderiam “[...] fazer-se
acompanhar de assessores técnicos em todos os trabalhos ”
• Temário expressava uma nova orientação, direcionada à
análise da situação sanitária e à reorganização do sistema de
saúde, com propostas de descentralização e de redefinição
dos papéis das esferas de governo, além de proposição de
um plano nacional de saúde. O golpe militar de 1964
inviabilizou a implementação das medidas propostas pela 3ª
conferência, mas suas deliberações alimentaram muitos dos
debates realizados por movimentos sociais a partir da
década dos setenta.
4ª Conferência (1967)
• Espaço de debate técnico, com a participação de
especialistas nos temas debatidos e das autoridades do
Ministério da Saúde, do Ministério da Previdência Social e
Assistência Social (MPAS) e dos estados e territórios.
• Debateu o tema “Recursos Humanos para as atividades de
Saúde”: formação de recursos humanos e as
responsabilidades do Ministério da Saúde e das instituições
de ensino superior da área na capacitação de profissionais e
no desenvolvimento da política de saúde.
• Painel internacional sobre a política e realizações da
Organização Pan-americana de Saúde (Opas) e as
experiências sanitárias da Venezuela e da Colômbia.
5ª Conferência (1975)
• 5 Temas: 1. Lei n. 6.229/75, criando o Sistema Nacional de
Saúde e distribuindo as atribuições entre o Ministério da
Saúde (responsável pelas ações coletivas de saúde pública)
e o sistema de assistência médica previdenciário,
(responsável por ações de assistência à saúde individual);
• 2. Estratégias e mecanismos de implementação do
programa de Saúde Materno-Infantil;
• 3. Programa de Controle de Grandes Endemias
• 4. Programa de Extensão das Ações de Saúde às Populações
Rurais;
• 5. Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica.
5ª Conferência (1975)
• Além das autoridades e técnicos setoriais, a conferência teve
a participação de membros do Conselho de
Desenvolvimento Social, composto por representantes de
todos os ministérios da área social então existentes, além
dos de Planejamento e Fazenda (Decreto n. 91.982, de
25/11/85).

• A principal contribuição da 5ª conferência foram as


propostas de organização do Sistema Nacional de Saúde.
6ª Conferência (1977)
• Temário:avaliação e análise de estratégias de
implantação de programas governamentais:
– 1. situação atual do controle das grandes endemias;
– 2. a aperacionalização de novos diplomas legais básicos
aprovados pelo governo federal em matéria de saúde;
– 3. Programa de Interiorização das Ações e dos Serviços
de Saúde (Piass).
6ª Conferência (1977)
• Reintrodução de um debate sobre a necessidade de uma
Política Nacional de Saúde, compreendida como um

“corpo de doutrina para fins operacionais que deve ter um


reconhecimento dos poderes públicos constituídos, devendo
ser legitimado pela população como um todo ou pelos seus
representantes e lideranças” (BRASIL, 1977).

Já se anunciavam, nessa formulação, algumas das demandas


sociais relacionadas à democratização de processos
decisórios.
7ª Conferência (1980)
• 402 participantes, a maioria representando órgãos públicos,
em torno do tema “A extensão das ações de saúde através
dos serviços básicos”.
• Temário: Extensão das ações de saúde através dos
serviços básicos.
• Embora o temário contemplasse temas como articulação
interssetorial, recursos humanos, financiamento,
participação comunitária e outros, o eixo dos debates foi o
Programa Nacional de Serviços Básicos de Saúde (Prev-
Saúde): reestruturação e ampliação dos serviços de saúde à
população, com a criação de uma rede básica de saúde de
cobertura universal.
7ª Conferência (1980)
• Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência
Social (Inamps): proposta de se criar um seguro-saúde, uma
contribuição previdenciária adicional destinada a financiar a
instituição.
Reconhecimento do movimento social que se fortalecia nesse
período: Discurso do Presidente Figueiredo:
Meu governo considera o direito à saúde um corolário
natural do direito à vida. O dever do Estado de prover as
populações com meios adequados à promoção da saúde e à
prevenção da doença – antes que à reabilitação do doente –
corresponde, com igual conspicuidade, àquele direito;
7ª Conferência (1980)
Reconhecimento do movimento social que se fortalecia nesse
período: Relatório da Conferência:
[...] embora, por motivos circunstanciais, não tenham sido
convocados determinados grupos sociais – como por exemplo
os usuários dos serviços de saúde os participantes
estiveram de acordo em que a população brasileira,
destinatário final das ações do programa (de extensão de
cobertura) ainda não participa de seu processo decisório,
devendo porém fazê-lo na medida em que for levada a se
incorporar à prática das ações ao mesmo inerentes, desse
modo podendo representar fator determinante para que
alcance suas finalidades.
Sujeitos e Contextos:
- Movimento Sindical
- Associações de Moradores – Anos 60
- Movimento no Campo – Anos 60
- Partidos Políticos de Esquerda
• Organização dos setores Progressistas
(Movimento Sanitário)
- CEBES, 1975/6 – ABRASCO, 1979
- Novas Associações (Médicos Residentes)
- REME (Movimento de Renovação Médica)
Movimento Sanitarista
- Organizado solidamente desde meados dos anos 70
- Participação de intelectuais, profissionais dos sistemas
de saúde, parcela da burocracia e organizações
populares e sindicais (Movimentos sociais: popular,
estudantil, acadêmico, sindical e de profissionais de
saúde).
- (1979/1985) Clímax da Crise Financeira da Previdência
Social e Mobilização da Sociedade Civil
- Governo Figueiredo / VII Conferência Nacional de
Saúde: PREV-SAÚDE (reorientação do sistema de
saúde, mediante a integração dos ministérios da saúde e
previdência)
• "O Prev-Saúde foi meio fora de época. Queimou
muitas etapas e propôs a estatização. Ganhou muita
visibilidade e foi muito apoiado dentro do
movimento sanitário, mas o 1º debate público, em
São Paulo /SP, com os ministros da Saúde, o Waldir
Arcoverde, e da Previdência, o Jair Soares, que
defendiam o projeto, e os presidentes da AMB, da
Abramge e da FBH que eram contrários, foi
publicado na íntegra, creio que na Folha de São
Paulo e, a partir daí, começou a ser modificado e
modificado, descaracterizando-se até desaparecer
totalmente. Mas, como a crise continuava, surgiu o
Conasp com as AIS - Ações Integradas de Saúde".
Abertura Política (1979/1985)
Eventos importantes promovidos pelos movimentos
sociais
-Realização das Semanas de Saúde do Trabalhador -
SEMSAT, 1979
-Movimento de Saúde da Zona Leste de São Paulo - final
dos anos 70
-I Simpósio sobre Política Nacional de Saúde - Comissão
de Saúde da Câmara dos Deputados - Brasília, 1979
-I Encontro Popular pela Saúde - Rio de Janeiro, 1980
-Campanha da Fraternidade Saúde para Todos, CNBB
1981
Abertura Política (1979/1985)
Experiências Institucionais anteriores:

-Programa de Interiorização das Ações de Saúde e


Saneamento - PIASS (1979)
-PREV-Saúde (1980)
-CONASP (1981) - Plano de Reorientação da Assistência
à Saúde no âmbito da Previdência Social
-Ações Integradas de Saúde - AIS
-Sistema Unificado e Descentralizado de Saúde - SUDS
(1987)
“os reformistas buscavam a racionalização e
integração do sistema de saúde e os
conservadores visavam à racionalização dos
gastos e à eficiência (Baptista, 1997:13).
O termo “Reforma Sanitária” foi usado pela primeira vez no país
em função da reforma sanitária italiana. A expressão foi
recuperada nos debates prévios à 8ª Conferência Nacional de
Saúde, para se referir ao conjunto de ideias que se tinha em
relação às mudanças e transformações necessárias na área da
saúde. Essas mudanças não abarcavam apenas o sistema, mas
todo o setor saúde, introduzindo uma nova ideia na qual o
resultado final era entendido como a melhoria das condições de
vida da população. No início das articulações, o movimento pela
reforma sanitária não tinha uma denominação específica. Era um
conjunto de pessoas com ideias comuns para o campo da saúde.
Em uma reunião na Organização Pan-Americana da Saúde (Opas)
em Brasília, esse grupo de pessoas, entre os quais estava Sergio
Arouca, foi chamado de forma pejorativa de “partido sanitário”.
• No Brasil, duas teses são consideradas um marco divisor
de águas que dá início à teoria social da medicina: O
dilema preventivista, de Sergio Arouca, e Medicina e
sociedade, de Cecília Donnangelo, ambas de 1975.
• O movimento estudantil teve um papel fundamental na
propagação das ideias e fez com que diversos jovens
estudantes começassem a se incorporar nessa nova
maneira de ver a saúde.
• As Semanas de Estudos sobre Saúde Comunitária,
realizadas pela primeira vez em 1974, e os Encontros
Científicos dos Estudantes de Medicina, em especial os
realizados entre 1976 e 1978, foram importantes nesse
sentido, por serem espaços praticamente ignorados pela
repressão militar, que não identificava o caráter político de
suas discussões.
8ª Conferência Nacional (1986)
• Marco do Movimento Sanitário Brasileiro
• Reuniu mais de 5.000 (4500? 1000 delegados) pessoas
na maior participação popular da história dos
movimentos sociais
• Definiu as estratégias a serem defendidas na
Constituinte de 1988 e consolidou a opção pela via
institucional
• Temário: Saúde como Direito de Cidadania;
Reformulação do Sistema Nacional de Saúde;
Financiamento Setorial;
8ª Conferência Nacional (1986)
Desdobramentos:
• Bandeira da Reforma Sanitária
• SUDS aprovado pelo presidente em 1987
(Consolidação das AIS)
Transição à Democracia
-Saúde e Processo Constituinte-
• Sub Comissão Saúde, Seguridade e Meio Ambiente
• Arena Política dois Blocos: FBH (Federação, Brasileira de Hosp.
Plenária Nacional pela Saúde
• Eficácia da Plenária:
- Capacidade Técnica
- Pressão sobre os Constituintes
- Mobilização da Sociedade
• Emenda Popular: 50 mil eleitores / 167 entidades
• Texto Aprovado com Relação à Saúde - Principais Pontos
- Direito Universal à Saúde e Dever do Estado;
- Ações e Serviços de Saúde controlados, fiscalizados, regulamentados, pelo poder
público;
- Constituição do SUDS / SUS;
- Participação do setor privado deverá ser complementar;
- Proibição de Comercialização do Sangue.
O Sistema Único de Saúde

Descentralização e
Comando Único
Participação
Popular
Universalidade
Eqüidade
Integralidade

Regionalização e
Hierarquização
O Sistema Único de Saúde
Conselhos de Saúde
(nos 3 níveis)
Participação
Popular Governo
Usuários
Trabalhadores
da saúde
Prestadores

Conferências de Saúde
(nos 3 níveis)
O Sistema Único de Saúde
• Formulação que coincidia com a experiência
social-democrata do “Estado de Bem-estar” dos
países europeus (Suécia, Noruega, Dinamarca) e
com a proposta de “democratização” das
relações sociais em uma perspectiva socialista
(consciência sanitária)
• Restringiu-se à construção de um sistema da
saúde universal, igualitário e eqüitativo:
Financiamento e gestão estatal; Prestação de
serviços constituída de um mix público-privado
O Sistema Único de Saúde
• Modelo italiano: similaridades dos
sistemas(forte participação do setor privado e
distribuição desigual por regiões do país) e
difusão ideológica promovida por lideranças
políticas.

• Implantação dos Distritos Sanitários como


estratégia organizacional e gerencial
Década de 1990
Características Centrais:
Propostas da Constituição
x
Neoliberalismo/ Estado Mínimo

Acontecimentos Significativos:
-9ª Conferência Nacional de Saúde (1992)
-Legislação
-Criação dos Conselhos de Saúde
-10ª Conferência Nacional de Saúde (1996)
• Alterações introduzidas nas formas de produção e
gestão do trabalho: Mundialização do capital; Novo estágio
de acumulação capitalista- financeirização da economia

• Mudanças radicais nas relações Estado-Sociedade


Civil : Redução dos gastos sociais; - Privatização da coisa
pública

• Processos que atingem a economia, a política e a


forma de sociabilidade: Investida contra a organização
coletiva dos trabalhadores; Destituição dos direitos sociais;
Despolitização da questão social

Cenário que descaracteriza os direitos sociais ao


associá-los ao consumo e a posse de mercadorias
Movimentos Sociais e Saúde
• Década de 1990 – Fragilização das lutas sociais
– Atitude defensiva dos movimentos sociais
• Campo propício para as tendências neocorporativas
e individualistas.
• Ações dos Movimentos Sociais:
• Movimento Sindical – vai privilegiar a empresa como
interlocutora.
• Movimento Popular – vai priorizar a luta local.
• Movimento Sanitário – fica recuado.
• Partidos de Esquerda – não conseguiram formular uma agenda em
defesa das políticas públicas. Vão priorizar a disputa eleitoral.
• Lutas realizadas pelos conselhos
Projetos em Disputa
REFORMA SANITÁRIA PRIVATISTA
Base Estado democrático de direito Estado Mínimo

Premissas Saúde: direito social e dever Parcerias e


do Estado Privatizações
Temas -Ampliação das conquistas -Crise financeira
sociais -Dicotomia entre
-Democratização do acesso universalização e
-Déficit Social focalização
-Financiamento efetivo -Diminuição dos gastos
sociais
-Déficit público

Estratégias de Descentralização com controle Re- filantropização


Ação social
"A Reforma Sanitária é uma coisa singular na história latino-
americana. Teve tudo a ver com a ditadura e a luta pela
redemocratização, com uma forte participação estratégica do
PCB. A minha base no partido pensava e trabalhava no
Cebes como projeto do partido, percebendo a importância
dessa relação de democracia e saúde no sentido bastante
amplo. Claro, a gente estava bebendo um pouco da
experiência italiana, especialmente com Giovanni
Berlinguer. Aí o Cebes publicou livros de Giovanni
Berlinguer, que veio ao Brasil no final dos anos 1970. Em
plena ditadura militar, fomos ao evento no Colégio Bennet
com ele, que era senador pelo Partido Comunista Italiano.
Tinha todo aquele clima de abertura, de mobilização, de
organização, que foi o fermento, eu diria, do que iria
acontecer poucos anos depois com a 8ª CNS." (Temporão)
9ª Conferência Nacional (1992)
• 2 anos de atraso (adiamentos pelo governo Collor).
• 3.000 delegados e participantes credenciados e mais de
1.500 observadores”
• Tema central: “Municipalização é o caminho” e como
temas específicos:
1. Sociedade, governo e saúde (com subtema: seguridade social);
2. Implementação do SUS;
3. Controle social e
4. Outras deliberações e recomendações.
9ª Conferência Nacional (1992)
As principais contribuições foram:
•a descentralização – defesa dos municípios como atores
no cenário setorial;
•a defesa das conferências estaduais e municipais como
preparatórias à nacional, fortalecendo os mecanismos de
participação social no SUS;
•mobilização nacional em torno da questão do
financiamento; e
•a proposta de extinção do Inamps – que ocorreu no ano
seguinte.
O Ministério da Saúde criou em 1994 o Programa
Saúde da Família, visando ampliar o acesso à saúde
através de uma política de inclusão social. Baseado na
experiência bem sucedida do Programa de Agentes
Comunitários de Saúde (PACS), lançado em 1991,
que já utilizava a família como unidade de ação e cujos
resultados foram significativos na redução dos índices
de mortalidade infantil, o PSF foi introduzido com a
finalidade de reafirmar os princípios básicos do SUS. A
proposta foi a reorganização das práticas convencionais
de atenção básica, antes voltadas para a doença,
substituindo-as por ações de vigilância e promoção da
saúde.
10ª Conferência Nacional (1996)
1.260 delegados, 351 convidados e 1.341 observadores

Temas:
•1) Saúde, cidadania e políticas públicas;
•2) Gestão e organização dos serviços de saúde;
•3) Controle social na saúde;
•4) Financiamento da saúde;
•5) Recursos humanos para a saúde; e
•6) Atenção integral à saúde.
11ª Conferência Nacional (2000)
2.500 delegados
Tema Central: Acesso, qualidade e humanização na atenção
à saúde com controle social
Uma multiplicidades de subtemas compõe o escopo desta
conferência, tais como: 1) Controle social; 2)
Financiamento da atenção à saúde no Brasil 3) Modelo
assistencial e de gestão para garantir acesso, qualidade e
humanização na atenção à saúde, com controle social, 4)
Recursos humanos; 5) Políticas de informação, educação e
comunicação (IEC) no SUS;
11ª Conferência Nacional (2000)
12ª Conferência Nacional (2003)
4.000 cidadãos.

Precedida por cerca de 3.100 conferências municipais e 27


estaduais;

Tema Central: “Saúde direito de todos e dever do Estado, o


SUS que temos e o SUS que queremos”

Governo Lula adianta a conferência em um ano;


12ª Conferência Nacional (2003)
13ª Conferência Nacional (2007)
4.413 conferências municipais e 27 estaduais, contou com
3.068 delegados, 302 observadores e 210 convidados
Tema Central: “Saúde e qualidade de vida: políticas de
estado e desenvolvimento”
Apoio, inclusive financeiro, da Secretaria de Gestão
Estratégica e Participativa.
Eixos temáticos: 1) Desafios para a Efetivação do Direito
Humano à Saúde no Século XXI: Estado, Sociedade e Padrões
de Desenvolvimento; 2) Políticas Públicas para a Saúde e
Qualidade de Vida: o SUS na Seguridade Social e o Pacto pela
Saúde; e 3) A Participação da Sociedade na Efetivação do
Direito Humano à Saúde.
13ª Conferência Nacional (2007)
13ª Conferência Nacional (2007)
A 13ª Conferência Nacional de Saúde foi até agora a
maior e a mais polêmica das conferências de saúde já
realizadas. Ela revelou ao mesmo tempo a
pluralidade crescente da sociedade e dos interesses nela
presentes – que, como vimos, não significa uma ameaça
aos valores universais – e o afastamento entre os
gestores e o movimento sanitário tradicional, de um
lado, e os órgãos de participação social e novos
movimentos sociais.
Principais conflitos: aborto; fundações estatais de direito
privado
Se tais números refletem, por um lado, a
complexidade crescente da sociedade e dos
interesses presentes nas conferências, eles podem
revelar, por outro, as possíveis perdas de
substância das propostas aprovadas e a
inexequibilidade de tantas resoluções. Essa
crescente pulverização das deliberações, que
abrangem praticamente todo o espectro de ações
implementadas pelo sistema, torna difícil a
identificação das diretrizes que devem orientar a
política de saúde e não permite identificar as
prioridades.
Impasses: Conferências
Um fenômeno crescente nas últimas conferências
nacionais de saúde tem sido um aparente afastamento
entre o movimento sanitário tradicional e os gestores do
SUS, de um lado, e os participantes das
conferências, de outro. Tal fenômeno já teria sido
apontado por Luz, durante a 9ª Conferência Nacional de
Saúde, como o surgimento de “verdadeiro fosso cultural
entre os ‘tecnocratas’ e a ‘grande massa de delegados
eleitos’, em função da ‘linguagem excessivamente
técnica das discussões’”
Impasses: Conferências
“Evento se destaca pelo que rejeitou, não pelo que aprovou”
e iniciam o sumário da mesma com a seguinte frase: “Num
primeiro olhar, o pouco debate e a articulação entre grupos
religiosos, indígenas e sindicais marcaram a 13ª Conferência
Nacional de Saúde. Perderam o aborto, como questão de
saúde pública, e as fundações estatais de direito privado [...]”
(Lavor et al 2008)

Afastamento entre gestores e integrantes do movimento


sanitário tradicional, de um lado, e os participantes das
conferências e os novos movimentos sociais, de outro.
Impasses: Conselhos
• A Reforma Sanitária se deu num período em que o
processo de diversificação da luta social já era
intenso. Desta forma, a participação social no SUS foi
incorporando novos atores sociais, representantes de
interesses específicos, o que se reflete hoje na própria
composição dos conselhos e conferências de saúde.
No Conselho Nacional de Saúde (CNS), por exemplo,
13 dos seus 48 conselheiros representam entidades
que podem ser classificadas entre os “novos
movimentos sociais”
Conselhos
• Mecanismo de Democratização do poder na perspectiva de
estabelecer novas bases de relação Estado-Sociedade –
introdução de novos sujeitos políticos.
• Inovação na Gestão das Políticas Sociais.
• Espaço tenso, contraditório.
• Finalidade: Estabelecer parâmetros de interesse público para
o governo (os conselhos não governam).
• Exigências: Democratização das informações e
Transparência no processo governamental .

Conselhos não substituem os movimentos sociais.


Conselhos
• Concepções Analíticas
- Espaço Contraditório
- Espaço de Consenso
- Espaço de “Cooptação” da Sociedade Civil

• Concepções Políticas
- Realista?
- Otimista (esperançosos)
- Pessimista (céticos)
Movimentos Contra-
Hegemônicos
• Atualmente foram criados mecanismos de
participação para fortalecer a luta por saúde,
considerada como melhores condições de
vida e de trabalho.
– Frente Nacional contra a Privatização da
Saúde
– Fóruns de Saúde
Frente Nacional Contra a
Privatização da Saúde
• A Frente Nacional é composta por diversas
entidades, movimentos sociais, fóruns de
saúde, centrais sindicais, sindicatos, partidos
políticos e projetos universitários e tem por
objetivo defender o Sistema Único de Saúde
(SUS) público, estatal, gratuito e para todos, e
lutar contra a privatização da saúde e pela
Reforma Sanitária formulada nos anos 1980.
Frente Nacional Contra a
Privatização da Saúde
Retoma como fonte unificadora de lutas, a mesma motivação
que deu sustentação às lutas travadas pelo Movimento Sanitário
nos anos 1980: o combate à privatização da saúde. A Frente
também se opõe à tendência da prestação de assistência à saúde
como fonte de lucro, pondo em cheque os “novos modelos de
gestão” – OSs, Organizações da Sociedade Civil de Interesse
Público (OSCIPs), Fundações Estatais de Direito Privado,
Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares S.A – que promove
a entrega de patrimônio, bens, serviços, servidores e recursos
públicos para entidades privadas.
Desafios políticos atuais
• Quais atores estão em disputa?
• Quais os sujeitos das transformações sociais
na contemporaneidade?
• Quais estratégias políticas?
• Quais pautas unificam os movimentos
sociais?
Qual modelo tecnoassistencial?

Matriz comparativa:
• Concepção da saúde e doença
• Integralidade na oferta das ações
• Regionalização e hierarquização de
serviços
• Articulação intersetorial

(Silva Jr.)
Dilemas na implantação do SUS?
• Propostas do campo público e as propostas
privatizantes
• Mecanismos e modalidades de financiamento e
de gestão
• Repasse fragmentado de recursos (programas
específicos)
• Efetividade dos mecanismos decentralizadores
(autonomia vs responsabilidade)
POLÍTICAS PÚBLICAS
• Dimensão fragmentada com que se
formulam as políticas públicas.

• Necessidade de constituirmos políticas


a partir de uma multiplicidade de vozes.

• Desafios: intersetorialidade,
Integralidade e interdisciplinaridade.
INTERSETORIALIDADE

• Permite considerar o cidadão na sua totalidade, nas


suas necessidades individuais e coletivas,
– ações resolutivas em saúde requerem
necessariamente parcerias com outros setores
como Educação, Trabalho e Emprego, Habitação,
Cultura, Segurança, Alimentar e outros.
• Remete ao conceito/idéia de rede.
• Finalmente, o contexto da intersetorialidade estimula e
requer mecanismos de envolvimento da sociedade;
participação dos movimentos sociais nos processos
decisórios sobre qualidade de vida e saúde de que
dispõem.
• Idéia de território e de dinamismo (Junqueira, 1997)
INTEGRALIDADE - DESAFIOS

• Qual o melhor caminho para se construir a


integralidade: rede hierarquizada com a
atenção básica definida como porta de
entrada a priori ou rede como arranjo variável
em que se pode entrar por qualquer ponto,
ser acolhido e incluído nas ações de
acompanhamento, a depender das
necessidades de saúde (Cecílio, 2001)?

Da Pirâmide ao Círculo
INTEGRALIDADE - DESAFIOS

• Qual a melhor maneira de assegurar a


integralidade: os mecanismos de referência e
contrarreferência (eternamente propostos e
raramente concretizados) ou a constituição
(mais flexível) de equipes de apoio matricial e
de mecanismos de educação permanente em
saúde de acordo com as necessidades dos
trabalhadores da atenção básica (Caldas &
Eller, 2003)?
INTERDISCIPLINARIDADE - DESAFIOS

• Circulação: contribuição incide na


contextualização e compreensão da
realidade, das produções vividas pelos
sujeitos destinatários das diferentes políticas.

• “A promoção da saúde, na perspectiva da


integralidade, não pressupõe uma prática
exclusiva de profissionais que atuam nas
políticas de saúde e sim produzindo saúde
nas políticas públicas” (Sílvia Giugliani).
Modelos alternativos
• A medicina comunitária
• As ações programáticas de saúde (APS)
• Os Sistemas Locais de Saúde (SILOS)

• As Cidades Saudáveis (Saúde é qualidade de


vida!) (Toronto, 1984)
• Em defesa da vida (Campinas; Betim)

• Política de Saúde da Família


SAÚDE DA FAMÍLIA
estratégia de reformulação da
atenção básica à saúde.
• Fortalecimento da Atenção Básica enquanto eixo
estruturante do modelo assistencial do SUS
• Orientada por uma concepção positiva de saúde;
• Não se restringe a assistência médica;
• Incorpora os elementos positivos dos modelos
assistenciais da saúde coletiva (Mendes,1996)
• Hierarquizado e desarticulado (atenção
básica e atenção especializada) (Feuerwerker)
Algumas questões
Usuário-centrado, democrático e em
defesa da vida?
• Quais são os limites da universalidade?
Como compor uma noção de saúde que
seja menos um terreno exclusivo das
concepções e definições médico-
científicas, mas um campo capaz de
abarcar outras vozes e olhares que não
apenas os dos profissionais de saúde?
Debates em curso
• Formação continuada (estratégia para a
integralidade, mas também para a politização
do campo da saúde)
• Educação permanente em saúde –
Quadrilátero da Formação (Análise: educação
dos profissionais da saúde; práticas de
atenção; gestão setorial; organização social)
(Ceccim)
• Os limites dos arranjos participativos
(diferencialismo e participacionismo)
Debates em curso
• Ousadia no campo da política (como na época da VIII
e da Constituinte).
• Debate político intenso e a militância por um projeto de
saúde.
• Ampliação da descentralização, o respeito à autonomia
das diferentes esferas de gestão;
• Ampliação da liberdade para a construção de novos
arranjos tecnoassistenciais (regionais e locais).
• Construção de estratégias políticas inovadoras para
ampliar o contato entre os usuários e os trabalhadores
• Novos espaços de experimentação
• Ampliação da produção de conhecimento (Feuerwerker)
POLÍTICAS PÚBLICAS

• Boaventura de Souza Santos: “só há


políticas sociais porque a política
dominante é anti-social.”
– “nós queremos políticas sociais de melhor
qualidade, mas “queremos, acima de tudo,
socializar a política, torná-la participativa,
democrática, para que não sejam
necessárias as políticas sociais.”
POLÍTICAS PÚBLICAS

O forjamento de uma rede que consiga


explorar a capacidade democrática de
encontro entre a intenção diretiva dos
macro­projetos e de seus sujeitos
governamentais e a auto­governativa
dos trabalhadores na cotidianeidade do
fazer a prática de saúde, em cada
estabelecimento, em cada ato de
encontro (Merhy)
CONDIÇÕES POLÍTICAS

Existe hoje uma oportunidade sem


precedentes de se atacar as raízes do
sofrimento e das mortes desnecessárias
que se dão nas comunidades mais
carentes e vulneráveis do mundo. As
raízes da maioria das desigualdades de
saúde e de grande parte do sofrimento
humano são sociais: os determinantes
sociais de saúde.

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