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Ambiente de trabalho como um “complexo de bens

imóveis e móveis de uma empresa e de uma sociedade,


objeto de direitos subjetivos variados, e de direitos
invioláveis da saúde e da integridade física dos
trabalhadores, que o frequentam. Esse complexo pode ser
agredido e lesado tanto por fontes poluidoras internas
como externas, provenientes de outras empresas ou
estabelecimentos civis de terceiros”. (José Afonso da
Silva)
“Limite físico do local do trabalho, onde
se deve tutelar a saúde e a segurança do
trabalhador, protegendo-se o meio
ambiente do trabalho de poluições.”
(Celso Antônio Pacheco Fiorillo e
Marcelo Abelha Rodrigues)
Segurança e Medicina do Trabalho
são os segmentos do Direito do
Trabalho que tratam das condições
de proteção da saúde do
trabalhador no local de trabalho e
da sua recuperação.
A Segurança do Trabalho tem por
objetivo principal prevenir as doenças
profissionais e os acidentes do trabalho
no local da prestação dos serviços.
(MARTINS, Sérgio Pinto.
Comentários à CLT. 6. ed. São Paulo:
Atlas, 2003, p. 188)
Meio ambiente do trabalho não é apenas um espaço físico
determinado (por exemplo, o espaço geográfico ocupado por uma
indÚstria), aquilo que denominamos de estabelecimento, mas a
conjunção do elemento espacial com a ação laboral.

EX: O meio ambiente de trabalho de um caminhoneiro será não


apenas o seu veículo, mas o trajeto percorrido e, nesse sentido,
mesmo se tratando de um caminhão em perfeitas condições, a
precária conservação das estradas significa, para esse
trabalhador, um meio ambiente de trabalho hostil.
O ato de trabalhar é característica essencial
do meio ambiente do trabalho.

Riscos ambientais são os agentes físicos,


químicos e biológicos presentes nos ambientes
de trabalho capazes de produzir dano à saúde,
quando superados os respectivos limites de
tolerância.
A Constituição Federal de 1988 adotou dois
objetos para tutelar a questão ambiental, quais
sejam: um imediato, que é a qualidade do meio
ambiente em todos os seus aspectos, e outro
mediato, que é a saúde, a segurança e o bem-
estar do cidadão, expresso nos conceitos de vida
em todas as suas formas (prescrito no artigo 3º,
inciso I, da Lei nº 6.938/81) e em qualidade de
vida (predisposto no artigo 225, caput, da CF).
A definição de meio ambiente de trabalho não se limita
apenas ao trabalhador que possui uma carteira
profissional de trabalho - CTPS - devidamente assinada
e registrada. A definição geral do meio ambiente de
trabalho deve ser ampla e irrestrita, vez que envolve
todo trabalhador que desempenha uma atividade,
remunerada ou não, e porque todos estão protegidos
constitucionalmente, sendo a todos garantido o direito a
ambiente de trabalho adequado e seguro, necessário à
digna e sadia qualidade de vida.
Lei 6.938/81, art. 3º, I – define o que é meio ambiente.
CF/88 art. 200, VIII: “Art. 200. Ao sistema único de saúde
compete, além de outras atribuições, nos termos da lei: VIII -
colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do
trabalho”.
O meio ambiente do trabalho está incluído no meio ambiente,
onde é perfeitamente compreendido na análise do art. 225 CF em
harmonia com as demais normas constitucionais que disciplinam
a saúde do trabalhador, por ex. o art. 200 inciso VIII, o qual
dispões sobre o dever do sistema único de saúde SUS em
colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do
trabalho.
CF/88 art. 7º, XXII : “Art. 7º São direitos dos trabalhadores
urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua
condição social: (...) XXII - redução dos riscos inerentes ao
trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança”;

CF/88 art. 170 – A ordem econômica fundada na


valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem
por fim assegurar a todos a existência digna, conforme os
ditames da justiça social, observados os seguintes
princípios: ...
Cabe ao empregador: cumprir e fazer cumprir
as normas de segurança e medicina do trabalho;
instruir os empregados, por meio de ordens de
serviço, quanto às precauções a tomar no sentido
de evitar acidentes do trabalho ou doenças
ocupacionais; adotar as medidas que lhes sejam
determinadas pelo órgão regional competente; e,
facilitar o exercício da fiscalização pela
autoridade competente (art. 157, CLT).
Os empregados, por sua vez, deverão: observar
as normas de segurança e medicina do trabalho
e colaborar com a empresa na aplicação de tais
normas (art. 158, CLT).

Nos termos do parágrafo único do artigo 158 da


CLT, constitui ato faltoso do empregado a recusa
injustificada à observância das instruções
expedidas pelo empregador e ao uso dos
equipamentos de proteção individual fornecidos
pela empresa.
CLT: Art. 160 - Nenhum
estabelecimento poderá iniciar suas
atividades sem prévia inspeção e
aprovação das respectivas instalações
pela autoridade regional competente
em matéria de segurança e medicina
do trabalho.
CLT: Art. 163 - Será obrigatória a
constituição de Comissão Interna de
Prevenção de Acidentes (CIPA), de
conformidade com instruções
expedidas pelo Ministério do Trabalho,
nos estabelecimentos ou locais de obra
nelas especificadas.
CLT: Art. 166 - A empresa é obrigada a fornecer aos
empregados, gratuitamente, equipamento de proteção
individual adequado ao risco e em perfeito estado de
conservação e funcionamento, sempre que as medidas
de ordem geral não ofereçam completa proteção contra
os riscos de acidentes e danos à saúde dos empregados.

ART. 168: Exame médico admissional, periódico e


demissional
CLT: “Art . 189 - Serão consideradas
atividades ou operações insalubres
aquelas que, por sua natureza, condições ou
métodos de trabalho, exponham os empregados a
agentes nocivos à saúde, acima dos limites de
tolerância fixados em razão da natureza e da
intensidade do agente e do tempo de exposição aos
seus efeitos”.
Lei 10.666/2003: “Art. 10. A alíquota de contribuição de um, dois
ou três por cento, destinada ao financiamento do benefício de
aposentadoria especial ou daqueles concedidos em razão do grau
de incidência de incapacidade laborativa decorrente dos riscos
ambientais do trabalho, poderá ser reduzida, em até cinqüenta
por cento, ou aumentada, em até cem por cento, conforme
dispuser o regulamento, em razão do desempenho da empresa
em relação à respectiva atividade econômica, apurado em
conformidade com os resultados obtidos a partir dos índices de
freqüência, gravidade e custo, calculados segundo metodologia
aprovada pelo Conselho Nacional de Previdência Social.
Norma Regulamentadora n.º 9, do MTE:
9.1.1 Esta Norma Regulamentadora - NR estabelece a
obrigatoriedade da elaboração e implementação, por parte de todos
os empregadores e instituições que admitam trabalhadores como
empregados, do Programa de Prevenção de Riscos Ambientais -
PPRA, visando à preservação da saúde e da integridade dos
trabalhadores, através da antecipação, reconhecimento, avaliação e
conseqüente controle da ocorrência de riscos ambientais existentes
ou que venham a existir no ambiente de trabalho, tendo em
consideração a proteção do meio ambiente e dos recursos naturais.
9.1.5.1 Consideram-se agentes físicos as diversas formas de energia a
que possam estar expostos os trabalhadores, tais como: ruído,
vibrações, pressões anormais, temperaturas extremas, radiações
ionizantes, radiações não ionizantes, bem como o infra-som e o ultra-
som.

9.1.5.2 Consideram-se agentes químicos as substâncias, compostos ou


produtos que possam penetrar no organismo pela via respiratória, nas
formas de poeiras, fumos, névoas, neblinas, gases ou vapores, ou que,
pela natureza da atividade de exposição, possam ter contato ou ser
absorvidos pelo organismo através da pele ou por ingestão.
Responsabilidade subjetiva do empregador por
acidente do trabalho:
A) negligência: deixar de fornecer EPIs;
B) imprudência: determinar que o empregado
continue a operar prensa que já vem
apresentando defeito;
C) imperícia: quando se determina a trabalhador
que, sem qualificação técnica, exerça atividade
arriscada;
O princípio da reparação integral dos danos ambientais
também é aplicado no que se refere aos danos ao ambiente
de trabalho, devendo o agente causador ser completamente
responsabilizado;

O dano ao meio ambiente do trabalho pode ser coletivo e/ou


individual, quando um trabalhador comprova que sofreu
prejuízo (doença, incapacidade etc.) em decorrência do
meio ambiente laboral
Nas ações (individuais e/ou coletivas) que
tenham como objeto o meio ambiente do
trabalho, podem ser pleiteadas: a) a
cessação da violação ao meio ambiente do
trabalho e b) a reparação do dano ocorrido
no passado e/ou c) a obrigação de que a
empresa tome providências, no futuro,
para adequar-se à legislação.
A responsabilidade por doenças causadas pelo dano ao meio
ambiente do trabalho é objetiva, conforme enunciados da I
Jornada de Direito e Processo do Trabalho da
ANAMATRA:
38. RESPONSABILIDADE CIVIL. DOENÇAS
OCUPACIONAIS DECORRENTES DOS DANOS AO MEIO
AMBIENTE DO TRABALHO. Nas doenças ocupacionais
decorrentes dos danos ao meio ambiente do trabalho, a
responsabilidade do empregador é objetiva. Interpretação
sistemática dos artigos 7º, XXVIII, 200, VIII, 225, §3º, da
Constituição Federal e do art. 14, §1º, da Lei 6.938/81.
39. MEIO AMBIENTE DE TRABALHO.
SAÚDE MENTAL. DEVER DO
EMPREGADOR. É dever do empregador e do
tomador dos serviços zelar por um ambiente de
trabalho saudável também do ponto de vista da
saúde mental, coibindo práticas tendentes ou aptas
a gerar danos de natureza moral ou emocional aos
seus trabalhadores, passíveis de indenização.
LEI N.º 7.347/85: Art. 13. Havendo condenação em
dinheiro, a indenização pelo dano causado reverterá a
um fundo gerido por um Conselho Federal ou por
Conselhos Estaduais de que participarão
necessariamente o Ministério Público e representantes da
comunidade, sendo seus recursos destinados à
reconstituição dos bens lesados.Parágrafo único.
Enquanto o fundo não for regulamentado, o dinheiro
ficará depositado em estabelecimento oficial de crédito,
em conta com correção monetária”.
Fundo de Amparo ao Trabalhador : As principais ações de emprego
financiadas com recursos do FAT estão estruturadas em torno de dois
programas: o Programa do Seguro-Desemprego (com as ações de
pagamento do benefício do seguro-desemprego, de qualificação e
requalificação profissional e de orientação e intermediação de mão-de-
obra) e os Programas de Geração de Emprego e Renda (com a execução
de programas de estímulo à geração de empregos e fortalecimento de
micro e pequenos empreendimentos), cujos recursos são alocados por
meio dos depósitos especiais, criados pela Lei nº 8.352 (*), de 28 de
dezembro de 1991.
Posicionamento da jurisprudência:
DANO MORAL COELTIVO. MEIO AMBIENTE DE TRABALHO.
LEUCOPENIA. DESTINAÇÃO DA IMPORTÂNCIA REFERENTE
AO DANO MORAL COLETIVO - FAT E INSTITUIÇÃO DE SAÚDE
(LEI Nº 7.347/85, ART. 13): O número de trabalhadores que adquiriu
leucopenia no desenvolvimento de suas atividades na recorrida, em
contato com benzeno é assustador. O local de trabalho envolve
diretamente manipulação de produtos químicos contendo componente
potencialmente tóxico como benzeno, que afetam precisamente a
medula óssea e as células do sangue, e, porconseguinte, desenvolvem
referida enfermidade (leucopenia), já reconhecida como doença
profissional, incapacitando para o trabalho
Para levar a questão mais adiante, é consabido também que as
empresas não aceitam mais empregados que carregam seqüelas
de doenças como a leucopenia. Na realidade, esses infaustos
acontecimentos transcendem o direito individual e atingem em
cheio uma série de interesses, cujos titulares não podemos
identificar a todos desde logo, contudo inegavelmente revela a
preocupação que temos que ter com o bem-estar coletivo, e o
dano no sentido mais abrangente que nele resulta chama
imediatamente a atenção do Estado e dos setores organizados da
sociedade de que o trabalhador tem direito a uma vida saudável e
produtiva.
Todas as irregularidades detectadas pela segura fiscalização federal do
Ministério do Trabalho apontam flagrante desrespeito às leis de
proteção ao trabalhador, colocando suas vidas e saúde em iminente
risco, prejudicando seriamente o ambiente de trabalho. Partindo desse
cuidado com a vida e a saúde dos trabalhadores, a multireferida
Constituição Federal garantiu com solidez a proteção ao meio
ambiente do trabalho, ao assegurar que (art. 200) "Ao sistema único de
saúde compete, além de outras atribuições, nos termos da lei: VII -
colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do
trabalho". Essa preocupação segue a tendência do ainda novo direito
do trabalho fundado na moderna ética de Direito de que as questões
concernentes ao seu meio ambiente ultrapassam a questão de saúde dos
próprios trabalhadores, extrapolando para toda a sociedade.
Assim, levando-se em conta a gravidade dos danos, pretéritos e
atuais, causados ao meio ambiente do trabalho em toda a sua
latitude, com suas repercussões negativas e já conhecidas à
qualidade de vida e saúde dos trabalhadores e seus familiares, é de
se reconhecer devida a indenização pleiteada pelo órgão ministerial,
no importe de R$4.000.000,00 (quatro milhões de reais), com
correção monetária e juros de mora, ambos a partir da propositura
da ação. Nem se alegue que referido valor representaria um risco ao
bom e normal funcionamento da empresa, posto que corresponde
apenas a 0,16% do lucro líquido havido em 2.006, no importe de
R$2,5 bilhões e Ebitda de R$ 4,4 bilhões, conforme informações
extraídas do site oficial da própria Cosipa na internet.
A atenção desta Justiça, indiscutivelmente, no presente caso, volta-se para
o meio ambiente de trabalho, e referido valor arbitrado ao ofensor, busca
indenizar/reparar/restaurar e assegurar o meio ambiente sadio e
equilibrado. Aliás, a Usiminas, após adquirir a Cosipa, passou por um
processo de reestruturação e, no ano passado, o Grupo "Usiminas-Cosipa"
apresentou uma produção correspondente a 28,4% da produção total de
aço bruto. Deve, por conseguinte, dada sua extrema importância no setor
siderúrgico, assumir uma postura mais digna frente ao meio ambiente,
bem como perante os trabalhadores que tornaram indigitado sucesso
possível. Com efeito, deve haver a prioridade da pessoa humana sobre o
capital, sob pena de se desestimular a promoção humana de todos os que
trabalharam e colaboraram para a eficiência do sucesso empresarial.
Considerando a condenação em dinheiro, bem como o disposto
no artigo 13 da Lei da Ação Civil Pública (7.347/85), que
dispõe que "Havendo condenação em dinheiro, a indenização
pelo dano causado reverterá a um fundo gerido por um
Conselho Federal ou por Conselhos Estaduais de que
participarão necessariamente o Ministério Público e
representantes da comunidade, sendo seus recursosdestinados
à reconstituição dos bens lesados" (grifei), torna-se necessário
estabelecer a destinação da importância, tendo presente,
primordialmente, que a finalidade social da indenização é a
reconstituição dos bens lesados
Determino o envio da importância de R$ 500.000,00 (quinhentos mil
reais), 12,5%, ao FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador),
instituído pela Lei nº 7.998/90 e destinado ao custeio do programa
de seguro-desemprego, ao pagamento do abono salarial (PIS) e ao
financiamento de programas de desenvolvimento econômico) e R$
3.500.000,00 (três milhões e quinhentos mil reais), 87,5%, à
'Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Santos',
objetivamente para a aquisição de equipamentos e/ou
medicamentos destinados ao tratamento de pessoas portadoras de
leucopenia, e, tendo presente também aqueles trabalhadores da
reclamada (Companhia Siderúrgica Paulista - Cosipa), portadores
da doença e seus familiares.

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