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FONOLOGIA E

FLUÊNCIA DA FALA
ALUNA: GLÉRIA FERNANDES
Hesitações em crianças com e sem alteração fonológica
Um estudo realizado por Larissa Berti & Viviane Marino analisou a ocorrência de
hesitações em crianças com e sem alteração fonológica.

A alteração fonológica apresentada relacionava-se à produção das fricativas


coronais desvozeadas do português brasileiro, ou seja, /s/ e /∫/.
Na visão estruturalista, o que essas crianças apresentam seria descrito como
“substituição de fonema”.
Na visão gerativista, seria descrito como “processo fonológico” de [+ anterior]
(caso de /∫/ para /s/) ou [-anterior] (caso de /s/ para /∫/).
Na visão da fonologia articulatória, seria descrito como “produção gradiente”
devido ao local de constrição.
ESTUDO

A fala de seis crianças foi estudada: metade com e metade sem desvio
fonológico (pareadas por sexo, idade e escolaridade).
Idade: 5 a 7 anos
Palavras-chave foram: “sapo, Cida, suco; chapa, Chica, chuva”.
 Foi utilizada a frase-veículo: “Fale [palavra-chave] de novo”.
 Foram feitas dez repetições de cada palavra-chave, inserida na frase-veículo.
O objetivo primeiro do estudo era comparar o espectro acústico de [s] e [∫] em crianças
com desvio fonológico e verificar se a produção apresentava diferenças estatísticas
significativas.

Os resultados indicaram que as crianças produziram distinção entre /s/ e /∫/, ou seja, o
espectro acústico de [s] era estatisticamente diferente do espectro de [∫].

Os resultados, portanto, não sustentaram a hipótese de que houve substituição


verdadeira de fonema, mas, sim, produção gradiente.
Durante a análise dos dados, foram percebidas diversas hesitações na fala das crianças com
desvio fonológico.

Ao todo, foram analisadas 360 frases (metade de cada grupo). A ocorrência de hesitação foi
quantitativamente diferente nos dois grupos

Este primeiro achado indicou que a fluência do grupo experimental era diferente da fluência do
grupo controle.

Mas esta diferença seria realmente devido ao retardo fonológico? Não poderia ser outro tipo de
dificuldade?
Encontraram que nada mais, nada menos que 90% das hesitações produzidas pelo grupo
experimental ocorreram imediatamente antes ou durante a produção dos fones-alvo (“Fale
[‘CVCV] de novo”) contra apenas 20% no grupo controle.

De maneira geral, os resultados indicaram que as crianças estavam tentando ajustar a produção
fônica. A tentativa de ajuste motor foi duplamente sinalizada: pela diferenciação dos espectros
acústicos (significativa na produção, mas não na percepção) e pela ocorrência das hesitações.
OUTRO ESTUDO
Este realizado por Maria Cláudia Freitas, também analisou a ocorrência de hesitações na fala
de crianças com retardo fonológico.

Duas crianças foram acompanhadas ao longo de três meses (uma gravação por mês). Uma de
5 e outra de 6 anos.

As palavras-chave foram: “sapo, sala, sebo, sela, sopa, surra; chave, xale, Chile, chip, chuva,
churros; tala, tapa, tipo, time, tubo, tule”.

 Foi utilizada a frase-veículo: “Fale [palavra-chave] de novo”. Foram feitas cinco repetições de
cada palavra-chave, inserida na frase-veículo.
O objetivo principal do estudo era a descrição acústica das supostas “substituições fônicas”.

Entretanto, a autora se deparou com a ocorrência de hesitações na terceira gravação das


crianças, mas não nas primeiras duas.

Para as duas crianças, as hesitações mais frequentes foram as pausas silenciosas e os falsos
inícios. Houve 22 pausas silenciosas (como em “Fale… chuva de novo”) e 8 falsos inícios (como
em “Fale s-Chile de novo”). Ambas hesitações consideradas comuns e não gaguejadas.
A ocorrência das hesitações pode ser interpretada como indício da dúvida vivenciada pelas
crianças durante o processo de aquisição dos contrastes fônicos esperados pela língua.

As hesitações forneceram o tempo necessário para que as crianças pudessem decidir entre
possibilidades diferentes e conflitantes de produção: entre [s], [∫] e [t] no caso da primeira
criança e entre [∫] e [s] no caso da segunda.

Assim, as hesitações foram marcas de produções articulatórias não automatizadas, nas quais
um maior grau de atenção foi necessário.
Taxa de elocução em crianças com e sem alteração fonológica

Um estudo de Haydée Wertzner & Leila Silva analisou a taxa de articulação de crianças com e sem
alteração fonológica.

Foi estudada a fala de 40 crianças: metade com e metade sem desvio fonológico (pareadas por sexo e
idade).
 As crianças tinham entre 5 e 10 anos.

Foram feitas provas de repetição de frases, tais como “O cachorro fugiu” e “A Maria tem uma bola
vermelha”.

Foi medido o tempo total de duração das frases e foram calculadas as taxas de fones e de sílabas por
segundo.
Os resultados indicaram que as crianças com alteração fonológica necessitaram de mais tempo
para repetir as frases, além de terem produzido uma quantidade menor de fones por e de sílabas
por segundo em comparação às crianças sem alteração fonológica.

Ou seja, assim como os estudos anteriores, este estudo indicou que a produção fônica das
crianças com alteração fonológica não é tão automatizada quanto a das crianças sem alteração.

Na verdade, as crianças adotaram uma estratégia inteligente: na medida em que não
conseguiram articular com tanta precisão, elas lentificaram a produção.
CONCLUSÃO

Portanto, crianças com retardo fonológico podem apresentar um padrão de fluência diferente
em relação a crianças sem retardo fonológico

 Os estudos aqui analisados indicam que pode haver aumento de hesitações e redução da taxa
de articulação a partir do momento em que a criança começa a ter dúvidas sobre como
estabelecer contrastes fonológicos de forma produtiva

As hesitações (geralmente pausas silenciosas) aparecem imediatamente antes da produção


fônica problemática, mas também pode haver redução da taxa de articulação da fala como um
todo.
Quanto mais características são compartilhadas entre dois segmentos, maior a
probabilidade de haver confusão na produção. É o caso de /s/ e /∫/: os dois
segmentos apresentam muitas características em comum, exceto o fato de /s/ ser
mais anterior do que /∫/.
REFERÊNCIAS
https://sandramerlo.com.br/fonologia-e-fluencia-da-fala/

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