CONT. MET.

E PRÁTICA DE ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA

AULA 11: O GÊNERO LITERÁRIO NO ENSINO DE LINGUA PORTUGUESA
 Cont. Met. E Prática de Ensino de Língua Portuguesa
Conteúdo desta aula

Sabemos que ler um texto não se limita a compreender signos gráficos. As estratégias de formação do leitor
devem conduzir o aluno à apreensão do que foi lido. Os diversos gêneros textuais são ferramentas dessas
estratégias. Todavia, a Literatura sempre foi a maior aliada do professor nesse processo, pois constitui-se como
fonte mais profícua do aprendizado de Língua Portuguesa.

VER X LER: O MUNDO DA LEITURA A LITERATURA COMO A UTILIZAÇÃO DE TEXTOS LITERÁRIOS

E O MUNDO DA IMAGEM FONTE DE CONHECIMENTOS NO ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA

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O QUE É LITERATURA? COMO ESCOLHER OS TEXTOS LITERÁRIOS OS CONTEÚDOS DE
LÍNGUA PORTUGUESA
E OS TEMAS TRANSVERSAIS

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O Gênero Literário no ensino de Língua Portuguesa

Ver x Ler: o mundo da leitura e o mundo da imagem

Desde o advento das mídias eletrônicas, tem-se discutido se
a imagem daria lugar à palavra escrita. Não se pode negar
que a profusão de imagens e os recursos utilizados para sua
emissão tornaram-se mais atraentes e mais acessíveis do
que a palavra escrita. O professor, muitas vezes, precisar
utilizar vídeos como ferramentas do ensino/aprendizado,
www.meutedio.com.br
pois há uma recusa dos alunos, velada ou claramente
manifesta, em ler textos escritos. No entanto, se
aprofundarmos a questão, perceberemos que isso não é
uma novidade. Ver parece ser mais fácil do que ler.

mundoeducacao.bol.uol.com.br

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Ver x Ler: o mundo da leitura e o mundo da imagem

Um aprofundamento nessa questão revelará que ela não
surgiu com o avanço da tecnologia. No livro As Aventuras de
Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carrol, publicado em
1865, a personagem principal pergunta: “Para que serve um
livro sem figuras nem diálogos?” E as publicações dos contos
de fadas dão mais espaço à ilustração do que ao texto escrito. produto.mercadolivre.com.br

Seguindo nessa trilha, damo-nos conta de que o cinema

apropriou-se de textos literários para produzir adaptações que,
se antes eram vistas com desconfiança, hoje são aceitas e, não
raro, utilizadas como recurso pelos alunos para adquirir
conhecimento sobre uma obra literária sem precisar ler as
páginas do livro.
Cena do filme O Guarani,
adaptação do livro de José
Alencar (1920) www.ibamendes.com

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O Gênero Literário no ensino de Língua Portuguesa

Ver x Ler: o mundo da leitura e o mundo da imagem

Nos últimos anos, surgiram blogs que oferecem resumos e análises
de obras literárias – nem sempre bem elaborados – os quais têm
sido utilizados por diversos alunos para compor seus trabalhos
acadêmicos. O que se agrava quando a pesquisa não corresponde
ao que foi solicitado pelo professor. Afinal, ler se tornou uma
atividade obsoleta? Qual o lugar da literatura no mundo pós-
moderno?

À primeira pergunta, cabe a todo professor responder

diariodelgallo.wordpress.com
negativamente – e não apenas por uma questão ideológica – mas
por saber que estamos diante de um paradoxo: quanto menos
pessoas leem, mais são valorizados os leitores e produtores de
texto competentes. À segunda pergunta, procuraremos responder
partindo de uma reflexão sobre o que é Literatura.

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O Gênero Literário no ensino de Língua Portuguesa

O que é Literatura?
A resposta a essa pergunta não é simples, mas, por isso mesmo,
propicia reflexões que devem ser levadas para a sala de aula.

Etimologicamente, o termo literatura deriva do latim litteratura,

a partir de littera, letra. Dessa forma, o conceito estaria
associado à palavra erudita impressa. Até o século XVIII, no
contexto do Iluminismo francês, a palavra “literatura” englobava
o saber, o conhecimento, as artes e as ciências em geral. Ainda
hoje, utilizamos, por exemplo, a expressão “literatura científica”. brasilescola.uol.com.br
Na mesma época, o conceito se desdobra e associa-se às “belas
artes”, adquirindo uma conotação estética. O filósofo iluminista
Voltaire limita o conceito às letras, desde que trabalhadas
esteticamente.

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O que é Literatura?
A preocupação em conceituar literatura contextualiza-se com
transformações sociais e culturais importantes. A ascensão da
burguesia fortalece a opinião pública, que não se manifestava nos
períodos monárquicos.

Assim, forma-se um público leitor, o que tem como consequência o

desenvolvimento da produção e comércio de livros. Em decorrência
disso, surgem textos impressos que, além de discutir economia e
política, apresentam críticas de arte, de literatura e de teatro (Cf.
RODRIGUES, Adriano Duarte, “O Público e o Privado”, in: Revista de
Comunicação e Linguagens. Lisboa: CECL, 1985, p. 10). E é assim que
surge o movimento literário de maior aceitação entre os burgueses: o artigodeverao.blogspot.com
Romantismo.

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O que é Literatura?
Na primeira metade do século XX, três movimentos teóricos – o
Formalismo Russo, o New Criticism americano e a Estilística –
defendem a ideia de que a literatura deve ser compreendida a partir
de uma linguagem literária, marcada pela conotação, em oposição a
uma linguagem cotidiana, delimitada pela denotação. É no século XX,
portanto, que a literatura torna-se objeto de investigação e, como
efeito, temos diversas definições, muitas vezes divergentes, porém, homoliteratus.com
sempre com a indicação de que a literatura constitui-se a partir da
linguagem literária.

Assim considerando, temos claro que a literatura oferece-nos novas

formas de uso da língua materna, permitindo, desse modo, que
tenhamos novas visões de mundo e novas compreensões da realidade
que nos cerca.
literatura-edir.blogspot.com

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O que é Literatura?
A partir desses estudos, duas outras propostas de compreensão da
literatura acrescentam valor à discussão:

1 – A de que o conceito de literatura está vinculado ao contexto social;

2 – A que procura compreender literatura a partir da relação entre o
autor, a obra e o leitor.
culturaemarxismo.wordpress.com
Em sua obra Literatura e Sociedade, cuja primeira edição é de 1965, o
professor Antonio Candido discute essas duas concepções. Em relação à
primeira proposta, argumenta que o fazer literário está intrinsecamente
ligado à estrutura social, à vida de uma comunidade; quanto à segunda
proposta, defende a ideia de que uma oba literária é dinâmica e só existe
na medida em que os leitores a decifram e a transformam, portanto, a
visão do leitor recria a obra. homoliteratus.com
A obra não é produto fixo, unívoco ante qualquer público; nem este é passivo, homogêneo, registrando uniformemente o seu efeito. São dois termos
que atuam um sobre o outro, e aos quais se junta o autor, termo inicial desse processo de circulação literária, para configurar a realidade da literatura
atuando no tempo. (Antonio Candido)

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• A Literatura como fonte de conhecimentos

Ante os argumentos apresentados, chegamos a uma
conclusão inequívoca: a literatura é uma fonte de
conhecimentos que não pode ser dispensada. Por mais
que estejamos na era da imagem e, para usar um termo
criado pelo compositor Tom Zé, da “plagiocombinação”,
é o texto literário que nos leva de volta à atitude
reflexiva e, em consequência, à capacidade de nos movimentoculturalgaia.wordpress.com
transformar e transformar a sociedade.

Entretanto, nenhuma transformação é possível sem que

o saber e o conhecimento, conceitos associados à
literatura no século XVIII, sejam adquiridos.

obviousmag.org

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• Como escolher os textos literários

O PCN para o Ensino Fundamental, ao indicar a literatura para o
ensino de língua portuguesa, é categórico ao afirmar que “ser um
usuário competente da escrita é, cada vez mais, condição para a
efetiva participação social”.(BRASIL, 1997, p. 21).

Assim, o desenvolvimento de competências e habilidades do aluno

tem a literatura como ferramenta indispensável. No entanto, o PCN
recomenda que, ao escolher os textos literários, o professor deve
abandonar os propósitos tradicionais que vinculam a literatura e a
prática pedagógica, quais sejam: orientar boas maneiras, hábitos de
higiene, deveres do cidadão, tópicos gramaticais e receitas
desgastadas sobre o “prazer do texto” (id., p. 25).

portaldoprofessor.mec.gov.br

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• Como escolher os textos literários

Assim, o PCN para o Ensino Fundamental indica que o professor,
ao escolher os textos literários, tenha como propósito promover
no aluno a valorização da leitura como fonte de informação, via
de acesso aos mundos criados pela literatura e possibilidade de
fruição estética, sendo capazes de recorrer aos materiais escritos
em função de diferentes objetivos.

Recomenda ainda o PCN que, na biblioteca escolar, estejam à

disposição textos literários dos mais diversos gêneros (romances,
contos, poemas, literatura de cordel etc.), permitindo ao
professor que sejam escolhidos livros de acordo com o objetivo
do ensino, e, ao aluno, que ele selecione o livro a ser lido em commons.wikimedia.org
consonância com sua subjetividade. A biblioteca não precisa
dispor de uma grande quantidade de livros, mas de uma
significativa variedade de gêneros literários.

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• A utilização de textos literários no ensino de Língua Portuguesa

Um dos eixos fundamentais da educação é a interdisciplinaridade. Todavia, a LDB 5.692/71
considerava Língua Portuguesa e Literatura como matérias diferentes. A escolas tinham – e algumas
ainda mantêm – um professor especialista em cada área, e os livros didáticos acompanhavam essa
dicotomia. Assim, eram separados os estudos literários, a gramática e a redação. Essa divisão
transformava os estudos de Gramática em uma memorização da nomenclatura vigente, desde as
séries iniciais até o Ensino Médio.

educador.brasilescola.uol.com.br

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• A utilização de textos literários no ensino de Língua Portuguesa

O ensino de Literatura trilhava o mesmo caminho. Conceitos eram e ainda são transmitidos aos
alunos como verdades incontestáveis, mesmo que não façam sentido em sua lógica. Afinal, se a
literatura define-se, a priori, pela linguagem literária e associa-se ao prazer de ler, por que os
alunos devem considerar que textos incompreensíveis para eles – e por isso mesmo classificados
como “chatos” – sejam literários? E por que letras de música não podem ser consideradas
literatura?

amoremleitura.blogspot.com

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• A utilização de textos literários no ensino de Língua

Portuguesa
Como resolver o problema do ensino de Língua Portuguesa e de
Literatura? O PCN para o Ensino Médio considera que ambas as
matérias tratam da comunicação, mas, contraditoriamente, a
forma como vêm sendo ministradas impede a expressão do aluno.
No entanto, a Comunicação deve ser compreendida como um
processo de construção de significados em que o sujeito interage
socialmente, utilizando a língua como instrumento.

Colocado o problema, o PCN para o Ensino Médio, seguindo

diversas orientações legais, apresenta a seguinte proposta: “O
estudo da gramática passa a ser uma estratégia para mislecturasymascositas.blogspot.com
compreensão/interpretação/produção de textos
e a literatura integra-se à área da leitura”. (BRASIL, 2000, p. 18)

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• A utilização de textos literários no ensino de Língua Portuguesa

O texto é único como enunciado, porém, múltiplo em significações. É com esse dialogismo entre o
texto e o leitor (e aqui retomamos a proposta do professor Antonio Candido) que a escola deve
sistematizar o estudo de Língua Portuguesa. O estudo deve recorrer a outros textos classificatórios,
como gramática normativa e estética, mas deve, também, permitir que haja adesões às normas e
conceitos, posições contrárias e até novas classificações. Essa proposta exige do professor a
capacidade de avaliar-se perante si mesmo e perante seus alunos.

conversadeportugues.com.br

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 Assuntos DA
CONTEÚDO da PRÓXIMA
próxima aula:
AULA

Os conteúdos de LP e os temas
transversais;

Os temas transversais segundo o

MEC;

A LP como instrumento de reflexão

e constituição de valores;

O tratamento didático;

O professor de LP na construção do
debate.