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Contratos

Agrários
FacUnicamps
Disciplina: Direito Agrário
10º período
Docente: Ma. Marina Moreira
1) Aspectos gerais:
a) Conceito:
O contrato agrário é o acordo de vontades que permite o uso temporário da terra alheia por agricultores e
pecuaristas, subordinada às cláusulas obrigatórias e ao dirigismo estatal, com a prevalência das normas de ordem
pública.

b) Legislação:
• Estatuto da Terra (art. 92 ao 96);
• Regulamento nº 59.566/66;
• Lei nº 4.947/66;
• Código Civil (subsidiariamente).

c) Objeto e finalidade:
O objeto dos contratos agrários é o imóvel rural, e seu fim é o uso ou posse temporária da terra para a
implementação de atividade agrícola ou pecuária, sendo o instrumento pelo qual o homem rural dedicado à terra,
mas desprovido desta, pode cultivá-la diretamente.

d) Natureza jurídica:
Os contratos agrários são:
• Bilaterais;
• Onerosos;
• Consensuais;
• Não solenes.
e) Princípios:
• P. da autonomia da vontade;
• P. da força vinculante (pacta sund servanda);
• P. da relatividade das convenções;
• P. da proteção de quem trabalha da terra;
• P. da proteção dos recursos naturais e proteção do meio
ambiente.

f) Classificação:
- NOMINADOS: são os contratos previstos expressamente em
lei. Ex: arrendamento e parceria.
- INOMINADOS: embora não previstos taxativamente em lei,
decorrem da liberalidade de contratar. Ex: contrato de
pastoreio.
2) Contratos nominados: arrendamento e
parceria rural:
Esses contratos se distinguem apenas em função dos
encargos devidos pelo usuários da terra e dos riscos
do empreendimento.

OBS: Tais contratos podem ter natureza mista, ou seja,


arrendamento para determinada atividade
desenvolvida individualmente e parceria para outra
atividade, explorada por ambos os contratantes,
sendo admitida a transformação do contrato de
parceria para arrendamento, ou vice e versa.
2.1) Arrendamento rural:
Tal contrato se assemelha a uma locação, de modo que o arrendador cede o uso e
gozo da terra a terceiro, o arrendatário, mediante redistribuição certa, sendo a
contraprestação invariável, suportando o arrendatário, EXCLUSIVAMENTE, os riscos
do empreendimento e reunindo também com exclusividade os frutos. Está previsto
no art. 3º do regulamento.

Art 3º: Arrendamento rural é o contrato agrário pelo qual uma pessoa se obriga a ceder à
outra, por tempo determinado ou não, o uso e gozo de imóvel rural, parte ou partes do
mesmo, incluindo, ou não, outros bens, benfeitorias e ou facilidades, com o objetivo de nêle
ser exercida atividade de exploração agrícola, pecuária, agro-industrial, extrativa ou mista,
mediante, certa retribuição ou aluguel, observados os limites percentuais da Lei.
§ 1º: Subarrendamento é o contrato pelo qual o Arrendatário transfere a outrem, no todo ou
em parte, os direitos e obrigações do seu contrato de arrendamento.
§ 2º: Chama-se Arrendador o que cede o imóvel rural ou o aluga; e Arrendatário a pessoa ou
conjunto familiar, representado pelo seu chefe que o recebe ou toma por aluguel.
§ 3º: O Arrendatário outorgante de subarrendamento será, para todos os efeitos, classificado
como arrendador.
2.2) Parceria rural:
Este contrato se aproxima de um contrato de sociedade, uma vez que o parceiro-outorgante cede o
uso específico da terra e parte do gozo a terceiro, denominado parceiro outorgado, sendo a renda
pelo uso do imóvel variável, suportando ambos os contratantes os riscos do empreendimento e
dividindo entre si os frutos e lucros, conforme estipulado em contrato. Está previsto nos art. 4º e 5º
do Regulamento.

Art. 4º: Parceria rural é o contrato agrário pelo qual uma pessoa se obriga a ceder à outra,
por tempo determinado ou não, o uso especifico de imóvel rural, de parte ou partes do
mesmo, incluindo, ou não, benfeitorias, outros bens e ou facilidades, com o objetivo de nêle
ser exercida atividade de exploração agrícola, pecuária, agro-industrial, extrativa vegetal
ou mista; e ou lhe entrega animais para cria, recria, invernagem, engorda ou extração de
matérias primas de origem animal, mediante partilha de riscos do caso fortuito e da fôrça
maior do empreendimento rural, e dos frutos, produtos ou lucros havidos nas proporções
que estipularem, observados os limites percentuais da lei (artigo 96, VI do Estatuto da
Terra).
Parágrafo único. para os fins dêste Regulamento denomina-se parceiro outorgante, o
cedente, proprietário ou não, que entrega os bens; e parceiro-outorgado, a pessoa ou o
conjunto familiar, representado pelo seu chefe, que os recebe para os fins próprios das
modalidades de parcerias definidas no art. 5º.
2.3) Pontos convergentes:
Os artigos 92 ao 94 do Estatuto da Terra estabelecem as normas gerais aplicáveis aos contratos nominados, e os
artigos 95 e 96 dispõe sobre princípios a serem observados no arrendamento rural e na parceria rural,
respectivamente, destacando:

a) Os contratos podem ser expressos ou tácitos, admitindo-se a prova testemunhal.


- A ausência de contrato não pode ilidir a aplicação da legislação disciplinadora dos contratos agrários. Aplica-se à
parceria rural as normas de arrendamento, no que couber.

b) É vedado exigir do arrendatário ou do parceiro (art. 93 do E.T.):


• Prestação de serviço gratuito;
• Exclusividade da venda da colheita;
• Obrigatoriedade do beneficiamento da produção em seu estabelecimento;
• Obrigatoriedade da aquisição de gêneros e utilidades em seus armazéns;
• Aceitação do pagamento em “ordens”, “vales” ou “borós” ou outras formas regionais substitutivas da moeda.

c) Somente poderá ocorrer contrato de arrendamento ou parceria de exploração de terras públicas, quando (art.
94 do E.T.):
• Razões de segurança nacional o determinarem;
• Áreas de núcleos de colonização pioneira, na sua fase de implementação, forem organizadas para fim de
demonstração;
• Forem motivo de posse pacífica e justo título, reconhecida pelo Poder Público.
d) A denominação do contrato não é suficiente para caracterizar sua natureza.
- Devem ser analisadas as cláusulas contratuais e legislação aplicável, a fim de se
identificar corretamente a natureza do negócio jurídico celebrado.
- É bastante usual a celebração da “falsa parceria”, em que o proprietário cede a terceiro
o uso do imóvel, mediante certa retribuição em produto, ficando ao encargo deste todos
os ônus e riscos da produção. Trata-se na verdade de verdadeiro arrendamento rural e
não de parceria. O nosso ordenamento jurídico rechaça tal simulação no art. 92, §7º, do
E.T.
- De igual modo, entende-se simulado o contrato, denominado de parceria, em que o
proprietário cede a terra a outrem, que nela ingressa exclusivamente com seu trabalho,
mediante pagamento em produtos ou frutos colhidos. Trata-se de simples locação de
serviços, caracterizando efetivo contrato de trabalho, aplicando-se o art. 96, §4º, E.T.:

Art. 96, § 4º: Os contratos que prevejam o pagamento do trabalhador, parte em dinheiro e
parte em percentual na lavoura cultivada ou em gado tratado, são considerados simples
locação de serviço, regulada pela legislação trabalhista, sempre que a direção dos trabalhos
seja de inteira e exclusiva responsabilidade do proprietário, locatário do serviço a quem cabe
todo o risco, assegurando-se ao locador, pelo menos, a percepção do salário mínimo no
cômputo das 2 (duas) parcelas.

e) O direito de preferência do arrendatário deve ser observado na renovação do contrato


e na alienação do imóvel (arts. 95, IV e 92, §§ 3º e 4º, E.T.).
f) Prazos:
Os prazos dos contratos podem ser celebrados por prazo determinado ou indeterminado,
observando-se os prazos mínimos previstos em lei. Seu término deverá ocorrer sempre após
a ultimação da colheita.
- O E.T. dispõe ser presumido o prazo mínimo de 3 anos para os contratos de arrendamento,
quando celebrados por prazo indeterminado. Quanto aos contratos de parceria, também é
fixado o prazo mínimo de 3 anos, desde que não convencionado pelas partes. O
regulamento dispõe de prazos diferenciados de acordo com a atividade e o vulto do
empreendimento (art. 13, II, “a”).
- Cumprido o prazo legal mínimo do contrato, as renovações convencionais poderão ocorrer
por qualquer período, até mesmo ano a ano, dependendo da atividade que é explorada no
imóvel.

g) Do preço:
* ARRENDAMENTO: O preço no arrendamento é contratado de comum acordo entre as
partes, observando os limites legais, de modo que não pode ser superior a 15% do valor
cadastral do imóvel, incluídas as benfeitorias que compuserem o contrato, podendo chegar
a 30% em caso de arrendamento parcial de terras selecionadas. A forma de pagamento
pode ser em dinheiro ou seu equivalente em produto, sendo que neste último caso deverá
ser obedecido o preço corrente no mercado local, conforme o art. 95, XI, “a”, ET.

STJ: Dá prevalência às normas regulamentares, admitindo a estipulação do preço em valor


monetário apenas, vedado seja feito em produto.
* PARCERIA: A participação na partilha advinda da parceria será entre 10% até 75%, conforme a participação de bens do
parceiro outorgante.

Art 35, Regulamento 59.566: Na partilha dos frutos da parceria, a cota do parceiro-outorgante não poderá ser
superior a (art. 96, VI, do Estatuto da Terra).
I - 10% (dez por cento) quando concorrer apenas com a terra nua;
II - 20% (vinte por cento) quando concorrer com a terra preparada e moradia;
III - 30% (trinta por cento) caso concorra com o conjunto básico de benfeitorias, constituído especialmente de casa
de moradia, galpões, banheiro para gado, cêrcas, valas ou currais, conforme o caso;
IV - 50% (cinqüenta por cento), caso concorra com a terra preparada e o conjunto básico de benfeitorias
enumeradas no inciso III, e mais o fornecimento de máquinas e implementos agrícolas, para atender aos tratos
culturais, bem como as sementes e animais de tração e, no caso de parceria pecuária, com animais de cria em
proporção superior a 50% (cinqüenta por cento) do número total de cabeças objeto da parceria;
V - 75% (setenta e cinco por cento), nas zonas de pecuária ultra-extensiva, em que forem os animais de cria em
proporção superior a 25% (vinte e cinto por cento) do rebanho onde se adotem a meação do leite e a comissão
mínima de 5% (cinco por cento) por animal vendido.

h) Benfeitorias:
As que forem úteis e necessárias feitas pelo possuidor de boa-fé são indenizáveis e, não sendo paga a indenização, o
benfeitor poderá reter o imóvel até que seja feito o pagamento, conforme previsão do Código Civil.
No que tange aos contratos agrários:
• O arrendatário não precisa provar boa-fé, que já é presumida, uma vez que sua posse decorre de um contrato (art.
13, V, Reg.);
• A retenção do imóvel em poder do arrendatário benfeitor será para o uso e gozo das mesmas vantagens do
contrato, inclusive o direito de prorrogação do prazo para colheita.

STJ: Nos contratos agrários é nula a cláusula de renuncia à indenização pelas benfeitorias úteis e necessárias.
i) Subarrendamento:
Sem expresso consentimento do proprietário é vedado o subarrendamento.
Este é caracterizado como contrato pelo qual o arrendatário transfere a
outrem, no todo ou em parte, os direitos e obrigações do seu contrato de
arrendamento (art. 3º, §§ 1º e 3º, Reg.). Pode ser oneroso ou gratuito,
devendo o arrendatário estar devidamente autorizado, prévia e
expressamente pelo arrendador, caso haja o subarrendamento, sob pena de
caracterizar infração legal, ensejando ação de despejo, nos termos da lei.

j) Causas de extinção dos contratos agrários:


• Término do prazo ou renovação;
• Retomada por parte do arrendador para explorar o imóvel diretamente
por descendentes;
• Aquisição do imóvel pelo arrendatário;
• Rescisão, resilição bilateral ou resolução do contrato;
• Extinção do direito do arrendador, seja por motivo de força maior, por
sentença judicial irrecorrível, pela perda do imóvel ou por
desapropriação.
l) Estrangeiro e pessoa jurídica:
O estrangeiro residente no país e a pessoa jurídica autorizada
a funcionar no Brasil, só poderão arrendar imóvel rural na
forma da Lei 5.709/71. Cabe ao Congresso Nacional autorizar
a aquisição ou arrendamento além dos limites fixados na
retromencionada lei, bem como a aquisição ou arrendamento
de área superior a 100 módulos de exploração indefinida por
pessoa jurídica estrangeira.

m) Transmissão da obrigação aos herdeiros:


A jurisprudência do STJ tem admitido a transmissão da
obrigação aos herdeiros, em caso de falecimento do parceiro,
figurando aqueles no polo passivo de ação de prestação de
contas que tenha como objeto contrato de parceria rural.
3) Contratos inominados:
Os contratos inominados são aqueles que não estão expressamente previstos em
lei, mas que em razão da liberdade de contratar, são entabulados entre as partes
acordantes, observando-se as normas aplicáveis aos contratos em geral, aplicando-
se a eles as regras voltadas para os arrendamentos e parcerias.

Art. 39 do Reg. Quando o uso ou posse temporária da terra fôr exercido por qualquer
outra modalidade contratual, diversa dos contratos de Arrendamento e Parceria, serão
observadas pelo proprietário do imóvel as mesmas regras aplicáveis à arrendatários e
parceiros, e, em especial a condição estabelecida no art. 38 supra.

Um dos contratos inominados mais firmados atualmente é contrato de pastoreio,


modalidade mediante o qual o proprietário de terra recebe os animais para nela
pastorarem em troca do pagamento de uma taxa mensal, fixada por cabeça. Não
cede a posse do imóvel, sendo seu fim principal fazer pastar os animais
onerosamente. Ocorre sem situações de urgência, como seca e estiagem
prolongada, sendo contrato breve e transitório. Diante da transitoriedade, a
doutrina firmou o entendimento que essa modalidade contratual se rege pelo
direito comum e não pelo Estatuto da Terra.

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