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FACULDADE DE DIREITO
Departamento de Ensino e Investigação de Direito Privado
1. Tendo em conta o valor do costume nas nossas culturas, o julgamento consuetudinário entende-se como o conjunto
de procedimentos processuais baseados neste direito (costumeiro) com vista a estabelecer um juízo de legalidade à
violação de um preceito costumeiro (legal) e, a consequente punição daquele que o infringiu.
2. Assim como sucede no direito positivo, igualmente, no direito consuetudinário são várias as práticas que se julgam
com base neste direito; todavia, vale ressaltar que não são somente as práticas de feitiçaria como muitos se atêm
ao abordarem o tema em análise do conceito de julgamento tradicional ou costumeiro, pese embora aquele ter a
sua característica peculiar, ou seja julgam-se questões de natureza Cível e Penal.
3. De acordo com a investigação feita, constatamos que sim, é possível que uma mesma infracção seja julgada à luz
do direito consuetudinário, bem como também à luz do direito positivo, mas somente em situações entendidas
como excepções, ou seja, somente em situações quando um dos tribunais profere uma decisão em que uma das
partes entende como injusta ou desfavorável da sua parte, podendo então instaurar uma nova acção num tribunal
diferente daquele que proferiu a decisão desfavorável (tribunal positivo ou tribunal tradicional).
a) Do ponto de vista da investigação ora feita, as infrações costumeiras tidas como mais graves, são punidas tendo em
conta a qualidade do sujeito e o tipo de infração; nesta senda, as penas mais gravosas que se têm aplicado de acordo o
julgamento consuetudinário são: a) - Pena de destituição; b) - Pena de expulsão e; c) - Pena de morte?!
De modo a alcançar os fins para os quais nos propomos desenvolver a
Objectivos do Trabalho presente monografia, destacamos os objectivos geral e específicos.
Tendo em conta a complexidade e a dinâmica da sociedade angolana em geral e, em particular a huambense (do
Huambo. Hoje em dia, percebe-se que o Estado não consegue colmatar todos os litígios emergentes de acções ou
omissões dos seus membros (homem), criando assim lacunas, pelo que estas são reguladas pelas autoridades
tradicionais por força do costume. Por outro lado, temos um pluralismo jurídico acentuado e a enorme pretensão
de esclarecer e incentivar a comunidade acadêmica e a sociedade civil que o costume não só tem papel
indispensável na interpretação das leis, pois, supre as lacunas deixadas pelo legislador ao criar as normas
(costume jurídico), mas também motiva a criação de regras morais ou sociais com uma relevância reconhecida
pelo Direito.
Para atingirmos os objectivos preconizados no presente trabalho, o nosso estudo centrou-se nos
seguintes métodos: método descritivo, dedutivo, hermenêutico-jurídico, pesquisa de campo,
conhecimento empírico e Pesquisa bibliográfica.
DESCRITIVO
DEDUTIVO
HERMENÊUTICO-JURÍDICO
PESQUISA DE CAMPO
PESQUISA BIBLIOGRÁFICA
CAPITULO I - NOÇÕES GERAIS SOBRE DIREITO COSTUMEIRO
Secção: I Breve historial sobre os povos BANTU
A população angolana é essencialmente constituída por povos bantu oriundos de pontos específicos do continente
africano – Região dos Grandes Lagos e África Central. Os povos bantus configuram um macro-grupo com
características linguísticas e culturais semelhantes, que há mais de dois mil anos se expandiu para o centro, sul e leste
da África. Essa expansão foi tal que, hoje, os Bantu ocupam cerca de 1/3 do continente africano. Actualmente, a
maior parte dos povos em Angola 99%, integram-se, grosso modo, na área cultural do Congo, de raiz comum bantu
(bacia do Congo) com excepção dos Indígenas 1% (Pigmeus, Hotentotes (Bosquímanos/boximanes), integrados na
área cultural Koisan/Khoi-San. Portanto, há, ainda vários subgrupos que derivam do grupo bantu, sendo que os
Ovimbundu configuram o maior grupo etnolinguístico que habita angola, numa porcentagem de 36%.
Secção II- As autoridades tradicionais em Angola
As autoridades tradicionais são entidades com papeis preponderante no seio da comunidade em que elas estão
inseridas, pois, são elas os entes competentes para mitigar os litígios que surgem no seio delas e não só.
Na doutrina, vários autores como João Pinto, Cremildo Paca, Carlos Feijó apresentam-nos conceitos relactivos a
estas entidades, mas, nós preferimos nos ater à noção que nos traz LAZARINO POULSON, que entende que as
autoridades tradicionais como sendo as pessoas jurídicas pré-estaduais, de carácter costumeiro (tradicional),
reconhecidas pelo Estado pelas funções especificas que desempenham no seio das respectivas comunidades,
definindo com independência a orientação das suas actividades, sem sujeição à hierarquia ou à superintendência
do governo. Art. 224.º, cujo reconhecimento resulta nos termos dos arts. 7.º que nos remete ao 223.º e as
atribuições , competências e organização no art. 225.º todas da CRA.
Formas de aquisição do poder tradicional em Angola - Para nos debruçarmos, sobre os aspetos atinentes à legitimidade das
autoridades tradicionais, tomemos como ponto de partida o facto de o poder tradicional ser exercido com base em princípios da
ancestralidade, éticos, mítico-religiosos e mesmo de identidade cultural. Na comunidade tradicional, só chegam à Soba aqueles
que descendem de outros Sobas, porque um indivíduo vulgar nunca poderá ocupar esse lugar de grande prestígio e
responsabilidade. Assim, existem duas formas de provimento à categoria de Soba, linhagem e por indicação ou elo político.
Por linhagem:
a) Matrelinear ou genuíno: esta é a forma originária da aquisição do pode tradicional, que na cultura africana, os filhos
pertencem mais à mãe do que ao pai, pois somente ela sabe realmente a paternidade real da criança;
b) Patrelinear ou relativo: fruto da ameaça da colonização Europeia, houve necessidades de se ver outra forma para a
aquisição deste pder, uma vez que a primeira, colocava e, risco a hegemonia deste poder, sob pena der correr o risco de ser
CAPITULO II - O JULGAMENTO À LUZ DO DIREITO
CONSUETUDINÁRIO OVIMBUNDU
No direito costumeiro Ovimbundu, a cerimonia de julgamento dá-se início com um ritual próprio imposto pelas
autoridades competentes para então se discutir os factos da lide para a emissão de uma decisão com força vinculativa
para as partes e não só.
Secção: I- O Direito Costumeiro Angolano
O direito costumeiro, prima facie é, na sua essência a resolução de conflitos nas comunidades para lá da atuação dos
órgãos do Estado moderno. Daí que, a validade do costume e o reconhecimento das autoridades tradicionais nos
termos dos artigos 2.º, 7.º 8.º, 223.º a 225.º da CRA, são verdadeiros elementos que justificam de forma material e
pertinente o valor destas no âmbito social e cultural
As Autoridades Tradicionais no Grupo Etnolinguístico Ovimbundu - Na comunidade tradicional Ovimbundu, a organização política e territorial
está feita em forma hierarquizada, sendo as maiores povoações dirigidas sempre por um Sekulo Ymbo que orienta as tarefas essenciais daquele grupo.
a) Osongo ou Olossongo ou Ofeka ou Ymbo ou Ovambo (são aldeias com aglomerado populacional);
No direto positivo, tem legitimidade de postular uma acção contra alguém , o sujeito activo(autor) ou outro qualquer interressado contra
o réu de acordo a natureza do caso. Portanto, tal realidade, não foge igualmente no direito consuetudinário na etnia ovimbundu.
Do Advogado e o Direito à Defesa - O advogado, como uma parte legítima assessória ligado a uma das partes principais, que são ligadas
directamente ao processo, grosso modo, é uma pessoa adulta (idónea), detentor de um vasto conhecimento costumeiro da região,
reconhecido e autorizado pelas autoridades tradicionais para a defesa de litígios.( direitos dos detidos arts. 63.º als.) c, d, e e f ; 65
aplicação da lei criminal.º nºs 1 e 5 e 67.º garantias do processo criminal, todos da CRA.
Das penas a aplicar no direito consuetudinário Ovimbundu - Assim, a nosso entender, são penas comuns de acordo a Etnia
Ovimbundu: a) penas económicas/multas, a) pena de admoestação, c) pena de prestação de trabalho a favor da comunidade e d) pena de
expulsão;
Em Angola há um pluralismo jurídico muito acentuado e faz com que a par das leis escritas existem as leis não
positivadas que são de Direito Costumeiro e devem ser respeitadas, pois que a Constituição da República o reconhece
nos termos previstos dos arts. 7.º, 213.º e ss.
Os tribunais tradicionais nos dão um grande exemplo de realização da justiça, essa justiça tem como objectivo a
prevenção geral, sendo que ela é realizada a olhos de toda a comunidade local em alusão ao princípio da publicidade.
Soba é a designação geral das autoridades tradicionais em Angola, sendo esta a figura máxima no seio da comunidade
onde desempenham tarefas judiciais, administrativas, entre outras. A sua legitimidade não resulta de processos eleitorais
directos e periódicos, mas sim de regras de base costumeira.
SUGESTÕES
Considerando os pontos desenvolvidos no presente trabalho sugerimos:
Sugerimos que:
1. É de todo fundamental que se eleve o nível de reflexão e estudo da cultura e sobre o pluralismo jurídico em angola;
2. Criação de uma cadeira (disciplina) autónoma de Direito Costumeiro, de formas que se estude aprofundadamente
este direito que há muito tem sido sobreposto de forma superficial em outros ramos de direito;
3. À respeito do reconhecimento das instituições do poder tradicional nos termos do art. 223.º e ss da Constituição,
importa sugerir que a mesma deve ser enquadrada e vista como componente do Estado unitário nos termos do (art. 8.º)
que respeita na sua organização os princípios da autonomia dos órgãos do poder local, da desconcentração e da
descentralização administrativas.
Cientes de que toda obra humana está sujeito a erros,
humildemente estamos prontos a aceitar as críticas
construtivas que possam engrandecer este trabalho.