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Teoria de Campo de Lewin

Estrutura da personalidade
A definição da pessoa como um conceito estrutural ( Lewin
apud Hall e Lindzey, 1973) consiste em representá-la como
entidade à parte de tudo. Isso pode ser feito de duas
maneiras: pela definição do dicionário e pela representação
espacial da pessoa.

Lewin optou pela segunda, porque as representações


espaciais podem ser tratadas matematicamente, o que não é
possível com as definições verbais. Desde o princípio,
portanto, Lewin procura matematizar seus conceitos.
Estrutura da personalidade
O isolamento da pessoa do resto do universo se obtém
pelo desenho de uma figura fechada.
Os limites da figura definem os limites da entidade
conhecida como a pessoa.
Tudo o que cai dentro dos limites é P (pessoa); o que
fica fora é não-P.
Estrutura da personalidade - Pessoa
P

Não-pessoa

O único aspecto significativo da figura (pessoa) é que


ela descreve uma área completamente delimitada e que
cai dentro de uma área maior.
Lewin sustenta que a estrutura da pessoa é heterogênea,
e não homogênea, que ela é subdividida em partes
separadas, porém interdependentes e intercomunicantes:
a região perceptomotora e região intrapessoal (que se
subdivide em células periféricas e centrais).
Estrutura da personalidade- Pessoa

Percepto

Intrapessoal

Motora
Estrutura da personalidade -Pessoa
Segue-se daí que duas propriedades da pessoa são
determinadas pelo desenho de um círculo em uma
folha de papel. Essas propriedades são:
 (1) Diferenciação, separação do resto do mundo, por
meio de um limite contínuo;
(2) Relação parte-todo, inclusão em uma área maior. A
pessoa é representada como ser distinto, e como parte de
uma totalidade maior.
Estrutura da personalidade- Meio
psicológico
O passo seguinte, na representação da realidade
psicológica, é desenhar outra figura fechada, que seja
maior do que a pessoa, e que a inclua. O tamanho e a
forma dessa figura inclusiva não são importantes,
desde que ela seja maior do que a pessoa e, ao mesmo
tempo, a inclua.
Para essa representação, Lewin prefere uma figura que
seja elíptica na forma.
A nova figura não pode partilhar do limite do círculo
que representa a pessoa. Deve haver um espaço entre o
limite da pessoa e o limite da figura maior.
Estrutura da personalidade –Meio
psicológico
À parte essa restrição, o círculo pode ser colocado em qualquer
lugar dentro da elipse.
Os tamanhos das duas formas, relativas uma à outra, são
indiferentes.
Temos agora o desenho de um círculo incluído na elipse, mas não
ligado a ela.
A região entre os dois perímetros constitui o meio psicológico M.
A área total dentro da elipse, incluindo o círculo, é o espaço vital
V.
O espaço fora da elipse representa os aspectos não-psicológicos
do universo.
Estrutura da personalidade –Meio
psicológico

Meio Não-psicológico

P - Pessoa+ M - Meio-psicológico= Espaço vital


Estrutura da personalidade –Espaço
vital
O espaço vital é o universo do psicólogo, é o todo da
realidade psicológica; contém a totalidade dos fatos
possíveis, capazes de determinar o comportamento do
indivíduo; inclui tudo quanto é necessário à compreensão
do comportamento concreto de um ser humano individual
em um dado
meio psicológico e em determinado tempo.
O espaço vital consiste de um conjunto de sistemas
interconectados.
O comportamento é uma função do espaço vital: C = F
(V).
Estrutura da personalidade –Espaço
vital
O comportamento deixa de ser entendido apenas como
resultado da realidade interna da pessoa e passa a ser
analisado em função do campo que existe no momento
em que ocorre.

O espaço vital funciona como um mapa que encerra


todas as condições para se compreender como
funciona uma cidade ou uma região.
Estrutura da personalidade- Espaço
vital
Fatos existentes na região exterior e adjacentes ao
limite do espaço vital, que Lewin chama “o invólucro externo do
espaço vital” podem, materialmente, influenciar o meio
psicológico.

Isso significa que fatos não psicológicos podem, e realmente o


fazem, alterar fatos psicológicos.

 Lewin sugere que os estudos dos fatos do invólucro externo seja


chamado “ecologia psicológica”.
Estrutura da personalidade- Espaço
vital
Os fatos do meio psicológico também podem produzir
mudanças no mundo físico: há uma dupla comunicação entre os
dois domínios. Conseqüentemente, sabe-se que o limite entre o
espaço vital e o mundo exterior está dotado da propriedade de
permeabilidade.

O limite entre a pessoa e o meio é também permeável. Isso


significa que os fatos do meio podem influenciar a pessoa,
P = F (M), e que os fatos relativos à pessoa podem influenciar
o meio, M = F (P).
Estrutura da personalidade –Espaço
vital
Através da permeabilidade da região intrapessoal e a
perceptomotora, o choro, a respiração aparecem como
uma Gestalt, fruto de uma relação interna. Toda a
pessoa está envolvida no choro, ... Ela é o choro. O
cliente entender seu choro, sua respiração, sua tensão é
entender-se como um todo.

A partir do princípio da permeabilidade, ... duas


regiões estão conectadas quando os fatos de uma são
acessíveis à outra.
Estrutura da personalidade –Espaço
vital
Princípios:
Proximidade-afastamento – uma região se comunica
mais facilmente com uma que com outra;
Firmeza-fraqueza – certas regiões são mais fáceis de ser
penetradas que outras;
Fluidez-rigidez – meio fluido é aquele que responde
prontamente a qualquer influência que incida sobre ele.
Ele é flexível e influenciável. O rígido resiste à mudança.

O campo é uma noção dinâmica e não estática.


Estrutura da personalidade –Espaço
vital
As ações dentro do campo são momentâneas como
figura e fundo que se sucedem e se sobrepõem.

Quando duas regiões estão intimamente ligadas e são


acessíveis uma à outra influenciando-se mutuamente,
ocorre a locomoção. A locomoção ocorre no meio
psicológico. Ela não significa um movimento físico
através do espaço, mas uma relação dinâmica entre
dois fatos em interação.
Estrutura da personalidade –Espaço
vital
Lewin fala de 3 princípios:
Conexão – interação entre dois fatos;
Concreção – só fatos concretos no espaço vital produzem
efeitos;
Contemporaneidade – só fatos presentes podem causar o
comportamento atual.

Essa comunicação e locomoção das regiões, causadas


pelo trabalho dos fatos, podem produzir os mais
diferentes efeitos provocando uma reestruturação do
espaço vital.
Conceitos dinâmicos do campo
Energia: energia psíquica.
Tensão: o estado alterado de uma região em relação à
outra. Atrás de toda tensão existe uma necessidade.
Necessidade: surge sempre que se sente que uma
tensão ou energia se diferencia em uma determinada
região. As necessidades tendem a emergir.
Valência: valor que se dá à necessidade.Valência
positiva atrai e reduz tensão. Valência negativa repele
e produz tensão.
Força ou vetor
Conceito de força
É um conceito dinâmico e designa fatos que não
podem ser direta e individualmente observáveis, mas
que representam relações entre fatos observáveis.
Propriedade conceituais – direção, intensidade, ponto
de aplicação
A direção é dada pelo vetor representa a direção da força, a
extensão do vetor representa a energia da força e o ponto de
aplicação é aquela lugar, fora da delimitação da pessoa
atingido pela seta. Força é sempre desenhada do lado de
fora da pessoa por ser uma propriedade do meio e não da
pessoa.
Conceito de força
Está ligado ao conceito de locomoção – uma
locomoção atual pode estar relacionada apenas à
totalidade das forças que atuam numa dada região,
num determinado momento, isto é, a resultante das
forças.

A mudança se dá quando se clareiam para o cliente a


direção, a energia e o ponto de aplicação.O ato de
querer, de fato, significa que a pessoa sabe e quer ir
em alguma direção definida, sente-se com energia
para caminhar, sabe onde se encontra e par onde ir.
Conceito de força
Quando existe uma força atuando sobre alguém, ela
se movimenta naquela direção; quando existem
muitas forças, sua locomoção (seu modo de ser e
estar) será determinada pela relação dessas forças no
meio.
Tipos de forças:
 Forças impulsoras- é aquela que se locomove em direção a uma
valência positiva e afasta-se de uma negativa.
 Forças frenadoras (barreiras) - são as forças impedidas por obstáculos
físicos e sociais, influenciando o efeito da força impulsora.
 Forças induzidas - aquela força que não corresponde a sua real
necessidade, sendo uma vontade do outro.
 Forças impessoais - a força que não é necessidade do indivíduo e não é
necessidade do outro
Conceito de força
Psicoterapeuticamente falando, a ação do
psicoterapeuta só poderá surtir efeito se estes três
elementos forem de fato analisados e trabalhados, ou
seja: o trabalho tem que ter uma direção, uma energia
própria, um ponto real e concreto de ação.
A reestruturação do espaço vital supõe esse tríplice
movimento.
Resumo
Fatores básicos do meio:
A estrutura cognitiva do meio (posição das regiões)
As valências
As forças
Fatores básicos da pessoa
A estrutura da pessoa
A tensão
Resumo
O comportamento é uma função da pessoa e do seu
meio. Pessoa e meio não são independentes um do
outro, mas tanto o meio é função da pessoa, quanto a
pessoa é função do meio. A pessoa e o meio devem ser
considerados como uma constelação de fatores
interdependentes que é denominada espaço de vida. A
psicologia tem que considerar o espaço de vida como
um campo e não como um conjunto de fatores
independentes.
Introdução à teoria de campo
Por que necessitamos de uma teoria de
campo?
É o pensamento científico que melhor funciona com a
gestalt-terapia.

É muito abstrata.

Indica o processo pelo qual pensamos.


Teoria de campo de Kurt Lewin
• A representação da realidade como um campo energético passa, da
física, à psicologia, à realidade contextualizada, eu-mundo, como
um método de representar a realidade.

• A questão da relação pessoa/campo (ambiente) constitui o


pressuposto básico metodológico da teoria do campo.

• É a partir da noção de campo (pessoa/meio) que se pensa a questão


energética como força transformadora, por meio da
emoção, das relações pessoa-mundo.

• Representa um novo paradigma.


Reflexões de Parllet (1997)
Teoria de campo representa na Gestalt-terapia:
A mudança do pensamento linear causa-efeito para o
pensamento holístico.
A mudança do pensamento de independência da
existência para o pensamento de interdependência da
existência.
Vê-se o organismo no ambiente, a pessoa na situação e a
família na sociedade.
Entendendo a teoria de campo
A teoria de campo é uma abordagem e o campo é o
instrumento.

O campo é definido fenomenologicamente – a


amplitude e a natureza exatas do campo e os métodos
usados variam dependendo do investigador e do que
está sendo estudado.

Na gestalt-terapia estudamos as pessoas em seus


campos.
Características gerais do campo
Um campo é uma teia sistemática de relacionamentos.
 Cada fenômeno é estudado no contexto de uma complexa
teia de forças inter-relacionadas, que se reúnem no tempo
e no espaço, formam uma realidade unificada chamada
campo e mudam dinamicamente com o tempo.
Características gerais do campo
Os relacionamentos são onipresentes – tudo que existe
consiste de uma teia de relacionamentos.
 O organismo não tem significado separado do seu ambiente.
 A existência precede a essência.
O relacionamento é inerente, dinâmico e organizado – a
teia de qualquer fenômeno natural é uma fatalidade
organizada integrada.
 Existe diferenciação entre o que está fora e o que está dentro de
uma teia de relacionamentos. Existe uma organização dinâmica.
 Quando há problemas ou disfunções na organização do campo, as
soluções também estão presentes nas dinâmicas do campo.
Características gerais do campo
Um campo é contínuo no espaço tempo
Campo e forças têm conotação dinâmica, de movimento
e energia.

Tudo é de um campo
Objetos e organismos existem apenas como parte de uma
campo fenomenologicamente determinado e têm
significado apenas como interação num desses campos.
O indivíduo é definido num dado momento, apenas pelo
campo do qual faz parte e o campo só pode ser definido
pela experiência ou ponto de vista de alguém.
Características gerais do campo
Os fenômenos são determinados pelo campo todo.
O comportamento é uma função do campo, do qual ele
faz parte.

O campo é uma totalidade unitária: tudo no campo


afeta todo o resto.
Por seu aspecto dinâmico, o estado de qualquer parte
desse campo depende de todas as outras.
Outras características da teoria de
campo
A realidade percebida é configurada pelo
relacionamento entre o observador e o observado.
O que olhamos, como olhamos e o contexto da nossa
observação determinam o que observamos.
O princípio da contemporaneidade
Somente fatos presentes podem produzir comportamento
e experiência.
Não falar do passado , quando isto é necessário no
presente, é tão disfuncional quanto falar do passado para
evitar algum aspecto presente.
Outras características da teoria de
campo
Processo: tudo é vir a ser
Gestalt-terapia é uma terapia de processo.
Assim como o campo trata o fenômeno como uma
totalidade contínua e não partículas discretas, considera o
campo como em movimento, em vez de estático.
Tudo é ação e está no processo de vir a ser, no processo
de evoluir e transformar.
Outras características da teoria de
campo
Insight de invariáveis genotípicas
Insight é uma forma de awareness, na qual ocorre uma percepção da estrutura do
todo.
O ponto crucial da discussão da organização do campo é que este é o objetivo do
trabalho de awareness – ter awareness de como este campo é organizado.
O campo tem estrutura. O insight está integralmente ligado
ao conhecimento dessa estrutura.
O insight, em psicoterapia, não é somente awareness casual, mas uma
compreensão sentida e precisa da organização do campo que é relevante para as
temáticas interpessoais e caracterológicas do paciente.
Definição de teoria de campo
“Teoria de campo é um enfoque ou ponto de vista para examinar e
elucidar eventos, experienciações, objetos, organismos e sistemas,
que são partes significativas de uma totalidade conhecível de forças
mutuamente influenciáveis, que, em conjunto, formam uma
fatalidade unificada interativa contínua (campo), em vez de
classificá-las de acordo com a natureza inata ou analisá-las com a
finalidade de obter aspectos separáveis e fatalidades formativas e
somáveis. A identidade e a qualidade de qualquer evento, objeto ou
organismo desse tipo apenas o é, em-um-campo contemporâneo, e
somente pode ser conhecida, por meio de uma configuração,
formada por uma interação mutuamente influenciável entre
percebedor e percebido (Yontef, 1998, p.210)”
Questão
Que contribuições a Teoria de Campo
traz para a visão de homem e de mundo
do gestalt-terapeuta?
Obrigada!
Próxima aula
Leituras:
Rodrigues, H. E. (2013). Relações entre a teoria de
campo de Kurt Lewin e a gestalt-terapia. In L. M.
Frazão & K. O. Fukumitsu (Orgs.), Gestalt-terapia:
Fundamentos epistemológicos e influências filosóficas
(pp. 114-144). São Paulo: Summus.
Parlett, M. (1991). Reflections on field theory. The
British Gestalt Journal, 1(1), 69-80.

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