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Direito

Internacional
Privado
Prof. Biló
HOMOLOGAÇÃO DE
SENTENÇA ESTRANGEIRA

A execução de qualquer sentença


trata-se de um ato de soberania de
um Estado e, portanto, necessita de
homologação do país no qual se
dará seu cumprimento.
Um dos grandes problemas no
direito moderno é resolver a
questão da execução da sentença
estrangeira cível em território
alheio.

Na sentença penal isso é


impossível, por isso, existe o
instituto da extradição.
Os Estados adotam posturas
legislativas diversas sobre a
homologação de uma sentença cível
estrangeira.
Vejamos as hipóteses existentes:
a) O Estado poderá adotar o
sistema de recusa de homologação
da sentença estrangeira;
b) O Estado poderá adotar o
sistema de revisão absoluta das
sentenças, como ocorre na França.
Tudo é reexaminado, inclusive, o
mérito da sentença.
A nova decisão nacional, portanto,
substituirá a sentença estrangeira.
c) No sistema de controle ilimitado
analisa-se o mérito com a finalidade
de se admitir ou não a execução da
sentença estrangeira.

d) O sistema de controle limitado


também chamado de “sistema de
delibação” é o adotado por vários
Estados.
O Brasil adota este sistema, como
os Estados da Alemanha e da Itália.
Neste caso o julgado é submetido a
um controle de determinados
pontos específicos.
Uma sentença estrangeira será
validada e homologada mediante o
cumprimento de requisitos
previstos na Constituição Federal.
Tais requisitos também poderão
estar previstos nas leis de Direito
Internacional Privado e também no
Direito Processual Civil do Estado.
A homologação de uma sentença
estrangeira foi primeiramente
prevista na Constituição Federal de
1934, a qual atribuía ao STF a
respectiva competência.
No mesmo sentido o Código de
Processo Civil de 1939 também
fazia a previsão da homologação
sem o reexame do mérito da
sentença estrangeira (sistema de
delibação).
Desta forma, a delibação irá alterar
o mérito da sentença estrangeira,
ficando adstrita ao cumprimento
dos requisitos internos e externos
exigidos pelo art. 15 da Lei de
Introdução às Normas do Direito
Brasileiro.
Requisitos Externos:

a) Formalidades extrínsecas à
execução, de acordo com a lei do
foro em que foi prolatada;
b) Tradução juramentada;
c) Autenticação consular.
Requisitos Internos:
a) Haver sido prolatada por juiz
competente;
b) Regular citação ou revelia;
c) Ter transitado em julgado –
Súmula 420 do STF (“Não se
homologa sentença proferida no
estrangeiro sem prova do trânsito
em julgado”);
d) Não contrariar a ordem pública, a
soberania nacional e os bons
costumes;
e) Ter sido homologada pelo Supremo
Tribunal Federal.
Com relação a este último tópico a
Emenda Constitucional nº 45 alterou
a competência passando agora a ser
do Superior Tribunal de Justiça.
Art. 105, I, i , da CF: “Compete ao
Superior Tribunal de Justiça
processar e julgar, originariamente,
a homologação de sentenças
estrangeiras e a concessão de
exequatur às cartas rogatórias”.
Uma vez homologada a sentença
estrangeira ela se torna um título
executivo judicial, podendo ser
executada perante a Justiça Federal,
conforme dispõe o art. 109, X, da
Constituição Federal.
DIREITO PENAL
EFICÁCIA DA SENTENÇA PENAL
ESTRANGEIRA

Art. 9º - A sentença estrangeira,


quando a aplicação da lei brasileira
produz na espécie as mesmas
consequências, pode ser
homologada no Brasil para:
I - obrigar o condenado à reparação
do dano, a restituições e a outros
efeitos civis; (Incluído pela Lei nº
7.209, de 11.7.1984)
II - sujeitá-lo a medida de
segurança.(Incluído pela Lei nº
7.209, de 11.7.1984)
Parágrafo único - A homologação
depende:
a) para os efeitos previstos no inciso
I, de pedido da parte interessada;

b) para os outros efeitos, da


existência de tratado de extradição
com o país de cuja autoridade
judiciária emanou a sentença, ou,
na falta de tratado, de requisição do
Ministro da Justiça.
A execução da pena é ato de
soberania de um país, razão pela
qual, no Brasil, somente pode ser
admitida a sentença estrangeira:

a) Quando produza, na espécie, os


mesmos efeitos da lei penal
nacional (Arts. 787 a 790 do C.P.P.);
b) Após homologação pelo Superior
Tribunal de Justiça (art. 105, I, i, da
CF), na dependência do
cumprimento dos requisitos do
parágrafo único do art. 9° do Código
Penal;
b.1.) Para obrigar o condenado à
reparação do dano, a restituições e
a outros efeitos civis;
b.2) Para sujeitar o condenado a
medida de segurança.

Assim, dependerá de pedido do


interessado na hipótese de
reparação de danos e, para outros
efeitos, da exigência de tratado de
extradição ou requisição do
Ministro da Justiça.
Nenhuma sentença de caráter
criminal emanada de jurisdição
estrangeira pode ter eficácia um
país sem o seu consentimento, uma
vez que o Direito Penal é
essencialmente territorial, devendo
ser aplicado apenas dentro dos
limites do país que à criou.
OS ARTIGOS 100 A 102 DA
LEI DE MIGRAÇÃO

Os arts. 100 a 102 da Lei de


Migração trata da transferência da
execução da pena.
Desta forma, dispõe o art. 100 da
Lei nº 13.445, de 24 de maio de
2017 que:
“nas hipóteses em que couber
solicitação de extradição executória,
a autoridade competente poderá
solicitar ou autorizar a transferência
de execução da pena, desde que
observado o princípio do non bis in
idem” (grifo nosso).
Segundo Mazuolli (2023, p. 729) a
hipótese de transferência de
execução da pena criminal é
aplicável apenas e estritamente
quando couber a extradição
executória – volta-se para dois
casos, como se pode verificar de sua
redação, permitindo que a
autoridade competente tanto (a)
solicite a transferência da pena a
um condenado que está no exterior
quanto (b) autorize a transferência
dessa pena a condenado que está
no país. A Lei de Migração se refere
apenas à extradição executória (não
à instrutória), por pressupor
condenação à pena privativa de
liberdade no exterior.
Por força do artigo 5º, LI, da C.F.:
"nenhum brasileiro será
extraditado, salvo o naturalizado,
em caso de crime comum, praticado
antes da naturalização, ou de
comprovado envolvimento em
tráfico ilícito de entorpecentes e
drogas afins, na forma da lei".
Entende-se por extradição
executória o processo segundo o
qual uma pessoa que for
condenada por um crime em um
país estrangeiro será é entregue às
autoridades deste para que haja o
respectivo cumprimento da pena
imposta, conforme vimos
anteriormente.
Como também visto, nenhum
brasileiro nato será submetido à
extradição executória em virtude de
ser um direito fundamental previsto
no art. 5º, LI, da Constituição
Federal.
A grande indagação a ser feita é a
seguinte:
Já que o brasileiro nato não pode
ser extraditado para cumprir a
uma pena aplicada no exterior,
poderá esta ser cumprida em
território nacional através do
instituto da transferência de
execução da pena criminal,
previsto nos arts. 100 a 102 da Lei
de Migração?
A Lei de Migração (Lei 13.445/17)
inovou e em seus artigos 100 a 102
introduzindo novos casos de
homologação de sentença
estrangeira, permitindo a concessão
do exequatur (autorização de
cumprimento em solo brasileiro da
condenação à pena de prisão de
sentença penal estrangeira).
A doutrina diverge em dois blocos
sobre a aplicação deste instituto ao
brasileiro nato.
O primeiro (Vladimir Aras) entende
ser possível e o segundo entende
não ser possível (Valério Mazzuoli).
A discussão gira em torno da
interpretação feita sobre o art. 100
da Lei de Migração.
A primeira corrente, em resumo,
entende que não existe regra
constitucional impeditiva da
transferência de uma sentença
penal condenatória estrangeira,
desde que respeitado o princípio do
devido processo legal (penal).
Trata-se de uma interpretação mais
literal e simplificada.
Já a segunda corrente faz uma
interpretação sistemática da Lei de
Migração e que merece uma análise
pormenorizada.

Em primeiro lugar, argumenta-se


sobre a finalidade da Lei 13.445/17
(Lei da Migração) , que está prevista
no art. 1º do referido estatuto legal:
"a lei dispõe sobre os direitos
e os deveres do migrante e do
visitante, regula sua entrada
e estada no País e estabelece
princípios e diretrizes para as
políticas públicas para o
emigrante."
O texto está suficientemente claro
ao informar que a lei será aplicada
somente ao migrante e visitante,
definindo seus direitos e deveres.
Assim, devemos concluir que não
alcançará o brasileiro nato.
Ademais, o próprio art. 100 traz em
seu bojo a possibilidade da
aplicação da transferência da
execução da pena de prisão
somente poderá ser solicitada ou
autorizada nas hipóteses de
extradição executória.
Conclui-se pela interpretação dos
dois artigos legais que:
a) A Lei não se destina aos
brasileiros natos, mas somente aos
migrantes ou visitantes;
b) A possibilidade da extradição
executória seria um dos requisitos
previstos no art. 100 e como o
brasileiro nato não poderá ser
objeto de extradição a conclusão
lógica é que somente será possível
autorizar o cumprimento de pena
de prisão imposta no estrangeiro
pessoas sujeitas à extradição;
Ademais, o art. 82, I, da Lei de
Migração reforça a disposição
constitucional ao tratar da
extradição, afirmando que:
"Não se concederá a extradição
quando:
I – o indivíduo cuja extradição é
solicitada ao Brasil for brasileiro
nato".
Outro ponto a ser destacado é que
poderão existir tratados
internacionais específicos que
disciplinam o tema de forma
contrária, portanto, permitindo que
o brasileiro nato no Brasil cumpra
aqui a pena imposta no Estado
Estrangeiro, como é o caso
existente entre Brasil e Japão.
Tudo dependerá do conteúdo
existente nos tratados bilaterais
firmados entre os Estados.
Brasil e Itália, por exemplo,
possuem um tratado de cooperação
judiciária, porém, neste está
previsto em seu art. 1º, § 3º que a
cooperação entre os dois países em
matéria penal:
“não compreenderá a
execução de medidas
restritivas da liberdade
pessoal nem a execução
de condenações.”
ARBITRAGEM INTERNACIONAL
Modernamente os Estados tendem
a buscar meios diversos para
solucionar os conflitos de
interesses.
Assim, surgiram os institutos da
mediação, da conciliação e da
arbitragem como formas
alternativas.
Na arbitragem a solução do conflito
é resolvida pela autonomia da
vontade das partes, que escolhem
um juiz privado, denominado
árbitro, o qual decidirá a
controvérsia, conforme as regras
estipuladas.
A arbitragem internacional possui a
finalidade de produzir efeitos no
exterior, em razão das partes
pertencerem a Estados diversos, ou,
porque o litígio ocorreu em
território de países diversos.
O Brasil possui a Lei n. 9.307/96,
conhecida por Lei da Arbitragem, a
qual disciplina de forma válida e
eficaz a solução dos litígios
envolvendo direitos disponíveis
dentro do território nacional.
Cabe salientar que a arbitragem no
Brasil não afasta totalmente o
Poder Judiciário, embora privilegie
a autonomia de vontade das partes,
ainda assim estará sujeita a análise
de eventuais nulidades, portanto, o
Poder Judiciário não analisará o
mérito decidido, apenas os
requisitos formais.
No Direito Privado são vários os
contratos que estão sendo
submetidos à arbitragem
internacional, como exemplo
podemos citar os de transferência
de tecnologia (know-how);
contratos de crédito com bancos
estrangeiros firmados por órgãos
estatais; dentre outros.
A arbitragem no Brasil não é um
instituto novo. De há muito a
legislação brasileira faz a sua
previsão.

Assim, desde o Brasil colônia, ela


estava prevista nas Ordenações
Filipinas do Reino, no Título XVI,
Livro II – Dos Juízes Árbitros.
A CF de 1824 também fez a previsão
da arbitragem. Art. 160:

“Nas causas cíveis e penais


civilmente intentadas, poderão as
Partes nomear Árbitros. Suas
sentenças serão executadas sem
recurso, se assim o convencionarem
as mesmas Partes”.
O Código Comercial de 1850 (Lei n.º
556, de 25 de junho de 1850)
também estabeleceu a arbitragem
obrigatória para questões
comerciais.
Para o Decreto nº 737 de 1850 a
Arbitragem era facultativa para as
demais causas.
Na fase da republicana (1891) não
há previsão constitucional sobre o
instituto, ressurgindo com a CF de
1988 (Art. 114, §§ 1º e 2º).
Cabe salientar que na Justiça do
Trabalho sempre houve a previsão
expressa da arbitragem quando as
negociações coletivas forem
frustradas.
Atualmente a Lei de Arbitragem
(LA) 9.307/96, denominada como
“Lei Marco Maciel” é a que regula o
tema.
Segundo a lei a Convenção de
Arbitragem é um gênero, que
possui duas espécies:
a) Cláusula Compromissória;
b) Compromisso Arbitral.
O art. 4º da Lei de arbitragem
define o que se deve entender por
Cláusula Compromissória:
A cláusula compromissória é a
convenção através da qual as
partes em um contrato
comprometem-se a submeter à
arbitragem os litígios que possam
vir a surgir, relativamente a tal
Desta forma, a Cláusula
Compromissória possui o condão de
afastar o Poder Judiciário.
Fala-se em Cláusula Cheia quando a
cláusula compromissória possui
todos os elementos necessários
para o seu cumprimento, sem a
necessidade do compromisso
arbitral, que veremos logo.
São elementos necessários da
cláusula compromissória:

a) Indicação de árbitros;
b) Procedimento;
c) Forma;
d) Critérios de julgamento;
e) Prazos.
Na cláusula compromissória
também poderemos encontrar a
chamada cláusula vazia (branca).

Na verdade, neste caso, existe a


falta de um dos cinco elementos
necessários, citados acima (vide
arts. 6º e 7º da LA).
O Compromisso Arbitral possui a
finalidade de preencher os
elementos necessários para a
implementação da cláusula arbitral.
Alguns requisitos devem
obrigatoriamente estar previstos na
Cláusula Arbitral. Vejamos:
a) O local para a realização da
arbitragem;
b) Qual a lei e princípios que
regerão a arbitragem;
c) Os dados pessoais das partes e
quantidade de árbitros que
participarão do processo;
d) Eventual multa a ser aplicada
como pena para a parte que sem
motivos se negar a cumprir o pacto;
e) Eleição de um foro competente
para a execução;
f) previsão da equidade;
g) Escolher uma das organizações
internacionais de arbitragem
existentes.
As mais comuns são:
Câmara de Comércio
Internacional (CCI), com sede em
Paris e criada em 1919;
American Arbitration Association
(AAA), com sede em Nova York;
London Court of Arbitration; e,
Zurich Chamber of Commerce.
CONTRATOS INTERNACIONAIS
Preliminarmente, devemos levar
em consideração um simples
conceito sobre o que se deve
entender por contrato, sendo este o
resultado de um acordo de
vontades entre duas ou mais
partes em torno de um objeto
específico e delimitado.
Desta forma, todo contrato gera
direitos e obrigações entre as
partes, pois se trata de uma relação
jurídica. Assim, cria-se uma lei entre
as partes em torno de um objeto.
Em regra, o objeto contratual induz
uma operação econômica, ou seja,
uma operação que gera circulação
de riquezas.
Fala-se em contrato internacional
em virtude da existência de um
“elemento de conexão” no acordo
de vontades (partes), ou, com
relação ao seu objeto (nacional ou
estrangeiro), ou, ambos, desde que
se tenha a aplicação de dois ou
mais ordenamentos jurídicos
distintos e soberanos.
No contrato local é aplicado o
ordenamento jurídico pátrio
independentemente da
nacionalidade das partes, pois não
ultrapassa os limites territoriais.
Já o contrato internacional é
flagrantemente extraterritorial,
ainda que as partes sejam da
mesma nacionalidade.
Temos como exemplo deste
fenômeno a venda e compra de
mercadorias importadas por um
importador oficial nacional.
Em regra, os contratos
internacionais, dadas as suas
peculiaridades, possuem
complexidade em todas as etapas
de sua formação.
É muito comum encontrarmos a
participação de terceiros nos
contratos internacionais antes de
qualquer negociação preliminar,
como ocorre com os organizadores
de feiras, eventos, exposições etc.
Estes são conhecidos como
intermediadores e geram certa
força vinculativa.
No mesmo sentido temos as
participações das câmaras de
comércio e os bancos nas relações
comerciais e industriais.
Vejam, ainda não existe sequer
negociação preliminar entre as
partes, apenas facilitadores que
poderão obter vantagens quando
do desfecho contratual.
Ocorre que a participação destes
acaba facilitando e minorando os
riscos nas operações comerciais.
As negociações preliminares são
comuns em qualquer contrato,
sejam nacionais ou internacionais, e
servem para esclarecer eventuais
dúvidas na formação e
desenvolvimento do contrato.
Em primeiro lugar, nestas
negociações preliminares devemos
deixar claro que sempre vigora o
princípio da boa-fé nas discussões,
respeitando-se a liberdade
contratual e tendo como limites a
ordem legal e a ética.
Da boa-fé também decorre a
lealdade dos negociadores, sendo
que aos mesmos cabe o dever de
comunicar eventuais óbices que
importem na não obtenção dos
efeitos desejados dos contratos, sob
pena de serem acoimados de culpa,
gerando, assim, nulidades e
responsabilidades patrimoniais.
Como é impossível prever todas as
situações adversas com relação à
parte técnica e ao conteúdo, o
texto do contrato deverá prever
métodos para solucionar eventuais
conflitos que possam ocorrer.
Ademais, as partes devem levar em
consideração que contato tem o
escopo de ser duradouro.
Está nítido que esta fase negocial
ainda não importa uma contratação
definitiva.
Somente depois de dirimidas todas
as questões duvidosas é que haverá
a decisão final de contratação.
Assim, durante a fase negocial
podemos destacar que são geradas
algumas obrigações:
a) A oferta do produto ou serviço
deverá ser mantida durante a fase
negocial ou, ao menos, por um
período convencionado pelas
partes;
b) As partes assumirão a postura da
prática de atos tendentes a
conservar e respeitar a promessa
(princípio da boa-fé);
c) Depois de realizadas as práticas
negociais e se mesmo assim houver
a existência de eventual recusa, por
quaisquer partes, da assinatura
contratual, esta poderá ser
interpretada como uma quebra de
promessa gerando, portanto, uma
responsabilidade civil à parte
causadora.
Questão tormentosa nos contratos
internacionais é a aplicação do
denominado princípio da
autonomia da vontade.
É que tal princípio geralmente não é
absoluto e poderá encontrar limites
nas ordens jurídica nacional e
internacional.
Assim, em princípio, tecnicamente,
os contratantes possuem certa
liberdade tanto na eleição da
legislação, como do foro e do juízo
arbitral, entretanto, deverão
respeitar a soberania estatal, a
ordem pública e os bons costumes
do Estado onde for firmado o
contrato.
Desta forma, devemos concluir que
o princípio da autonomia da
vontade é relativo, tendo o
ordenamento jurídico seu
verdadeiro limitador.
Esclarecidos estes pontos iniciais
verifiquemos agora as condições
necessárias para a formação dos
contratos:
a) Capacidade das Partes:

Deve-se avaliar se as partes


negociadoras possuem poderes
para tanto.

Também deve-se analisar a


capacidade civil de cada uma delas,
conforme as respectivas legislações.
b) Análise de eventuais
impedimentos legais.

Tal que requisito será analisado


conforme a legislação do país onde
será celebrado o contrato (análise
sobre as partes; o objeto do
contrato; a forma de pagamento
etc.).
Sempre é interessante obter uma
Legal Opinions, que seriam espécies
de pareceres prévios, emitidos por
jurista ou advogado especialista dos
países de origem dos contratantes
sobre as condições de aplicabilidade
do contrato, extensão, gravidade, e
responsabilidades envolvidas na
transação.
c) Análise de bitributação.
Facilmente obtido em parecer
prévio emitidos pelos especialistas.

d) Possibilidade de definir a
legislação aplicável.
Sobre o assunto é viável tecer
algumas considerações
Em geral, o Supremo Tribunal
Federal (STF) tem se posicionado
favorável à aplicação do princípio da
autonomia da vontade das partes,
principalmente, sobre a eleição de
lei que regerá o contrato e à escolha
do foro, porém, aplicando-se as
restrições exigidas pela legislação
vigente.
No Brasil, como vimos, o art. 9º da
LINDB estabelece que

“para qualificar e reger as


obrigações, aplicar-se-á a lei do país
em que se constituírem”.
e) Eleição da língua prevalente.
Preferencialmente, sempre será
aquela do foro eleito, dirimindo,
assim, eventuais dúvidas sobre
interpretação das cláusulas
contratuais, mas não há
impedimento da escolha de uma
segunda, ou, ainda, de uma outra
diversa.
f) Juízo arbitral.
Para o Brasil aplica-se a Lei n.
9.307/96, conforme vimos
anteriormente.

g) Foro de eleição.
Atenção à legislação a ser aplicada,
conforme visto.
Deve-se escolher uma cidade.
h) Cláusulas de Garantias.
Depende muito da modalidade do
contrato. Geralmente, utiliza-se
garantias bancárias, seguros,
caução etc.
i) Cláusulas de força maior.
Existindo força maior exonera as
partes do cumprimento do
contrato.
É de suma importância sua
presença, pois a inadimplência
ocorrerá por circunstâncias alheias
à vontade das mesmas, como os a
existência de fenômenos da
natureza (terremotos, tempestades,
avalanches, inundações etc.).
j) Cláusula de hardship.
Na verdade são cláusulas vinculadas
alteração contratual por fatores
políticos, econômicos, financeiros,
legais ou tecnológicos que causam
algum tipo de dano econômico aos
contratantes.
Também são muito comuns nos
contratos internacionais.
j) Cláusula Penal.
Possui a função de fixar uma
indenização prévia em virtude da
existência de um inadimplemento
contratual por uma das partes
(como no caso de atrasos em prazos
fixados ou pelo não cumprimento
de eventuais cláusulas contratuais,
dentre outras).
MODALIDADES DE CONTRATOS
INTERNACIONAIS

Não temos a intenção de esgotar o


tema, por isso, iremos elencar as
principais modalidades existentes,
com as suas respectivas
características.
a) Compra e Venda Internacional.
Possui quase que as mesmas
características de um contato de
compra e venda normal.
Acordo de duas ou mais partes
(vendedor e comprador) cujo pacto
é a transferência de propriedade
em troca de uma retribuição
(preço).
Do exposto, conclui-se pela
existência de três elementos
essenciais: coisa a ser vendida;
preço; consenso.
A diferença está na
extraterritorialidade:
a) Partes de diversos Estados; ou
b) Objeto encontra-se em noutro
Estado.
INCOTERMS
(International Commercial Terms /
Termos Internacionais de
Comércio)
São regras internacionais
uniformizadoras que possuem
importância quanto à entrega, à
tradição e ao transporte das
mercadorias objeto do negócio.
Definem os direitos e obrigações
recíprocos do exportador e do
importador. Ex. Frete Internacional.
A Câmara de Comércio
Internacional de Paris publicou em
1936 pela primeira vez regras
internacionais, posteriormente,
foram feitas inúmeras revisões. A
última deu-se no ano de 2020.
b) Factoring (Faturização).
Trata-se de um contrato pelo qual
uma das partes cede a terceiro (o
factor) os créditos totais ou parciais
resultantes da vendas mercantis,
assumindo o cessionário o risco de
não recebê-los contra o pagamento
de determinada remuneração a que
o cedente se obriga.
Na verdade a parte vendedora
contrata com outra empresa a
compra e venda de seus créditos,
mediante taxas de juros e de
serviços, das contas a receber a
prazo.
No Factoring Internacional a compra
de direitos creditórios referem-se às
operações de comércio exterior.
Assim, teremos a participação de
uma sociedade de fomento mercantil
brasileira e de uma empresa de
factoring estrangeira que atue no
país em que se origina a operação de
comércio exterior.
c) Leasing

Para Fábio Ulhoa Coelho, o


arrendamento mercantil “é a
locação caracterizada pela
faculdade conferida ao locatário
(arrendatário) de, ao término do
prazo locatício, optar pela compra
do bem locado”.
O arrendamento mercantil ou
leasing é uma modalidade de
financiamento ao arrendatário de
um bem de sua necessidade sem
ter de desembolsar inicialmente o
seu valor.

Ao final do contrato o arrendatário


terá, em regra, três opções:
a) Torna-se proprietário com o
pagamento do preço extraído do
valor residual do bem;
b) Restitui o bem;
c) Firma novo contrato sendo que o
preço será estipulado a menor em
razão do decurso do tempo e
depreciação (material e
tecnológica) do bem.
a) Torna-se proprietário com o
pagamento do preço extraído do
valor residual do bem;
b) Restitui o bem;
c) Firma novo contrato sendo que o
preço será estipulado a menor em
razão do decurso do tempo e
depreciação (material e
tecnológica) do bem.
Duas modalidades de leasing:
a) Leasing financeiro: Segundo Fran
Martins esta modalidade é aquela
que uma empresa se dedica
habitual e profissionalmente a
adquirir bens produzidos por outros
para arrendá-los, mediante uma
retribuição estabelecida, a uma
empresa que deles necessite”.
b) Leasing operacional (renting):
Nesta modalidade o produtor dos
bens é quem os concede em
locação.
Nesta modalidade o locador se
compromete com a manutenção,
seguros e outros ônus visando a
conservação do bem. Surgiu no EUA
em 1920.
As vantagens desta modalidade é
que:

 O mesmo material pode ser


alugado várias vezes;

 É dispensável a intervenção de
instituição financeira;
Facilidade por parte do local de
manter em estoque os materiais;
A opção de compra deve
corresponder ao “valor de
mercado do bem arrendado”;
O ajuste pode ser
antecipadamente resolvido,
mediante prévio aviso do
locatário.

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