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A Arte de Viver em Paz de Pierre Weil e A Educação

Holística.

1. Breve Biografia do Autor.

Pierre Weil (Estrasburgo, 16 de abril de 1924 — Brasília, 10 de outubro


de 2008), autor do livro a arte de viver em paz, é, sem dúvida, um dos maiores
pacifistas que o planeta já conheceu. Preocupa-se com o preço da paz e com o
peso das fronteiras desde a infância: devido à sua condição de
alsaciano(Território disputado por França e Alemanha historicamente), viveu em
meio aos conflitos políticos entre França e Alemanha, simultaneamente
confrontando-se com conflitos religiosos em sua própria família. Na Segunda
Guerra Mundial foi partizan, trabalhando na Cruz Vermelha como membro da
resistência aos nazistas na França. Doutor em Psicologia pela Universidade de
Paris. Foi aluno de grandes psicólogos e de grandes educadores, tais como Henri
Wallon, André Rey e Jean Piaget. Sua formação como psicoterapeuta se deu
com Igor Caruso, Jacob Moreno, Zerka Moreno e Anne Ancelin Schützenberger.
Foi um dos responsáveis pela regulamentação da profissão de psicólogo no
Brasil. Assumiu na Universidade Federal de Belo Horizonte a cátedra em
Psicologia Social, posteriormente ocupando a primeira cátedra em Psicologia
Transpessoal, disciplina na qual é um dos pioneiros. Fundador da UNIPAZ
(Universidade Holística Internacional), sediada em Brasília, sendo seu maior
propósito difundir a cultura da paz.

2. Abordagem Crítica de A Arte de viver em paz.

2.1 Prefácio.

Já no prefácio podemos ter uma breve idealização do que será o livro e


do que se trata o livro de Pierre Weil. Escrito pro Robert Müller (Chanceler da
Universidade para paz da Organização das nações unidas na Costa Rica).
Apresentando a obra como um verdadeiro tratado da paz, que depois de séculos
e milênios está finalmente surgindo na educação mundial, onde Müller destaca
(Weil, Pierre, 1990, p.9):

“Como ele sublinha em sua obra depois de séculos ou mesmo


milênios de silencio, a educação para paz enfim floresce neste planeta.”

Müller atenta para o fato de Pierre Weil preocupar-se com uma educação
holística da paz, ou seja, uma busca para que a paz seja difundida em sua
totalidade para os seres humanos.

Com a mudança gradual de modelo existencial que estamos cruzando, a


paz não é vista apenas como um fenômeno externo, mas principalmente como o
resultado de uma tendência de ações que se estendem do homem à sociedade e à
natureza.

Explica ainda Robert Müller que, um dia, a utopia de uma comunidade


mundial, de uma nação terrestre unida, também será uma realidade.

2.2 Módulo 1: Metodologia.

Pierre Weil explica que a metodologia utilizada procura associar a teoria


com recomendações que possam ser modificadas em planos de ação pedagógica,
procurando mostrar ao orientador como desenvolver o sentimento pela paz,
alternando o estudo teórico e experiências vividas. Instruindo ao professor que
associe e confronte o plano teórico exposto no manual de Weil com suas
experiências de vida, depois que retorne ao seu intelecto para aprofundar o
conteúdo teórico com o conteúdo prático.

Weil divide o material teórico e as recomendações de seu livro em três


módulos. Cada um deles contendo (Weil, Pierre, 1990, p.15):

“1.Texto fundamental, que resume os principais aspectos do assunto e


a situação atual das pesquisas.

2.Lista de métodos e técnicas pedagógicas recomendados.

3.Relação de obras essenciais de referência e consulta.”


Ele ainda propõe textos para o módulo 1 supracitado (Weil, Pierre, 1990,
p.16):

1. Preâmbulo do ato constitutivo da UNESCO.


2. Recomendação sobre a Educação para a Compreensão, a
Cooperação e a Paz Internacionais e a Educação Relativa aos
Direitos do Homem e às Liberdades Fundamentais (1974).
3. “Manifesto de Sevilha sobre a violência” (1986)
4. Declaração de Veneza sobre a Ciência em face dos limites do
Conhecimento (1987), ratificada pela declaração de Vancouver
(1989), pela Declaração de Paris (1990) e pela Declaração de
Belém (1992).
5. Encontro Preparatório à Reunião Internacional de Peritos de
Yamoussoukro sobre a Paz no Espírito dos Homens (1989).
6. Declaração de Yamoussoukro sobre a Paz no Espírito dos
Homens (1989).

Mesclando diversas culturas, Pierre Weil lista, parcialmente, atividades


pedagógicas que são discutidas na obra (Weil, Pierre, 1990, p.16):

1. Métodos de educação “ativa” provenientes da


Europa.
2. Métodos expositivos, comuns a todas as culturas.
3. Métodos dialéticos, praticados nas principais
culturas.
4. Diferentes tipos de ioga, da Índia, do Nepal e do
Tibete.
5. Tai-chi-chuan, Tal como é praticado na China.
6. Artes marciais pacíficas do Japão e da China.
7. Dança
8. Música
9. Artes plásticas
10. Teatro e encenação...

...17. Métodos de psicoterapia individual e em grupo.


O Autor de A Arte de viver em paz tenta formular um trabalho de
aproximação desses conhecimentos, no sentido de criarmos uma visão holística
da paz. Através de essa metodologia, Pierre Weil procura organizar um manual
para educadores e educandos aprenderem juntamente, seguindo este prontuário.

Em resumo, É recomendada a alternância de estudos teóricos e experiências


vividas para que a pessoa possa confrontar o conteúdo com sua prática pessoal. Este
material foi elaborado inspirado nos conhecimentos de diversas culturas com o intuito
de se ter uma visão holística em que contenha a diversidade dos diferentes
conhecimentos.

2.3 Módulo 2

Vivemos um momento histórico em que fragmentamos todos os tipos de


conhecimento, cada especialidade fala sua própria língua gerando uma enorme
dificuldade de diálogo entre tais concepções.

Uma nova concepção de vida.

Pierre Weil começa o módulo afirmando que nunca estivemos tão


próximos da paz e que, ao mesmo passo,ela jamais pareceu tão longínqua. Com
isso, ele quis dizer que nós conhecemos bem a paz, mas que, para nós, parece
difícil praticá-la no dia-a-dia.

Com a evolução que a civilização alcançou, desenvolveu-se de forma


surpreendentemente positiva, porém com seqüelas que perduram até os dias
atuais. Como o próprio cita (Weil, Pierre, 1990, p.19):

“Ao olharmos em volta, porém, damos de cara com os terríveis


subprodutos desse desenvolvimento: miséria, violência, medo. A
Humanidade atingiu o limiar de uma nova era e vive, agora, uma espécie de
dor do crescimento.”

Pierre Weil comenta ainda sobre uma real fragmentação do


conhecimento, dos povos, da paz etc. Por isso, ele afirma que o mundo
transformou-se em uma verdadeira “torre de babel” (Weil, Pierre, 1990, p.20):
“Como conseqüência, o mundo do saber tornou-se uma verdadeira
“torre de babel”, onde os especialistas falam cada qual a sua língua e
ninguém se entende”

Além disso, Pierre Weil afirma que a fragmentação só existe no ideário


humano, cuja propriedade essencial é justamente a de classificar, dividir e
fracionar, para, assim estabelecer relações entre os fragmentos.

Para ele recuperar essa fragmentação do conhecimento é reconquistar a


paz perdida, porém combatendo um inimigo interno e mais forte a nossa razão,
ou seja, temos que entender-nos primeiro para recuperar a paz.

E o caminho proposto pelo professor Weil é a visão holística, ou seja,


aquela que encontra a ciência moderna, os estudos trans pessoais e as tradições
espirituais, porém é importante que fique claro que essa mudança de visão trará
conseqüências para a educação.

Visão fragmentária da paz

O professor francês começa falando que toda ação corresponde uma


reação, ou seja, o que fazemos conseqüentemente poderá voltar-se contra nós,
esta verdade sendo freqüentemente ignorada pela cultura da fragmentação.

Explicita, ainda, o professor que nosso comportamento com a natureza,


com os próprios homens, é de agressividade. Parece que agimos como se não
houvesse conseqüências, como se nossas vítimas não pudessem jamais reagir.
Ele chama essa forma de agir de “cultura da irresponsabilidade” (Weil, Pierre,
1990, p.23):

“Essa visão fragmentária do real bem que poderia ser chamada de


“cultura da irresponsabilidade”, na medida em que reforça uma confortável,
mas perigosíssima cegueira sobre as relações entre o sujeito e o objeto.”

A Paz como Fenômeno externo ao homem

Weil afirma que um dos principais erros do ser humano é ver a paz como
uma aparência, como um corpo externo ao homem. Para ele se enxergamos a paz
apenas dessa forma, nossas preocupações s concentrarão no tratamento do
conflito e de suas causas específicas. Ele afirma logo após que:

“Mais do que ausência de conflito a paz é um estado de consciência.


Ela não deve ser procurada no mundo externo, mas principalmente no interior
de cada homem, comunidade ou nação.”

O Professor ainda afirma que existem dois meios de ver a paz como um
fenômeno externo ao homem. Primeiro: A paz vista como ausência de violência
e de guerra. Segundo: A paz vista como um estado de harmonia e fraternidade
entre os homens e as nações.

O primeiro meio afirma que o simples desarmamento de nações poderá


apenas resolver o problema parcialmente. Ele afirma também que o direito
universal de viver em paz, é apenas um meio encontrado pelas nações unidas,
predecessor da ONU, de afirmar que está em busca da paz, porém isso não é
uma verdade completa, porque o homem em geral tem a noção que só se pode
conquistar a paz através do armamento, porém isso é uma irrealidade. O
Professor Weil afirma que (Weil, Pierre, 1990, p.26):

“Na prevenção propriamente dita tem prevalecido um conceito


muito enraizado entre os povos do mundo, o de a paz armada”

Ou seja, “se queres a paz, prepara-te para a guerra”, porém o mestre Weil
ensina outro método, talvez bem mais eficaz do que o supramencionado, o de
“se queres a paz, prepara a paz”, isto é, para viver em paz com os demais,
prepara a paz interior primeiro.

Depois de adquirida a paz interior pode-se, portanto, buscar a paz e a


harmonia com as demais pessoas. É o que explica Pierre Weil no seu método
segundo (Weil, Pierre, 1990, p.27):

“2) a paz vista como um estado de harmonia e fraternidade entre os


homens e as nações parte do pressuposto de que só um trabalho direto e
construtivo sobre os grupos e as sociedades poderá por fim definitivamente
às guerras”
Pierre Weil afirma que escolas, jornais, televisão, cinema, teatro,
informática e todos os veículos mais modernos poderiam participar dessa nova
educação para paz, mudando efetivamente o plano das atividades coletivas. Para
o Doutor Weil, a paz está intrinsecamente ligada com a harmonia, não só com os
outros homens, mas sim como à natureza e ao planeta.Por isso o professor
afirma que (Weil, Pierre, 1990, p.28):

“Assim, não se pode mais pensar em paz sem relacionar esse


conceito ao de “Ecologia planetária””

A Paz no espírito do homem.

Como afirma o professor Pierre Weil, este ponto de vista corresponde ao


conteúdo do preâmbulo do Ato Constitutivo da UNESCO que afirma que (Weil,
Pierre, 1990, p.28):

“as guerras nascem no espírito dos homens, e é nele, primeiramente,


que devem ser erguidas as defesas da paz”. Poderíamos dar a esta tese o
nome de “ecologia interior ou pessoal”

Essa parte do preâmbulo explica muito bem o tema dessa parte do livro,
pois devemos antes está bem conosco mesmos, para aí sim disseminar a paz de
forma holística.

Pierre Weil fala ainda de duas variantes da idéia de que é o no espírito


dos homens que começam as guerras (Weil, Pierre, 1990, p.28):

“1) A paz como resultado da ausência ou dissolução de conflitos


intrapsíquicos.[...]

2) A paz como um estado de harmonia interior, resultado de uma


visão não fragmentada do saber.”

Seguindo esses dois preceitos, Weil afirma que um dos principais


objetivos dessa harmonia interior é integrar a ciência, que é a psicologia, com à
tradição espiritual.
Ao final, Weil critica a fragmentação da paz (Weil, Pierre, 1990, p.29-
30):

“Em resumo a visão fragmentada da paz nos põe em contato com


teses limitadas, expressão de especializações e fragmentações do
conhecimento. Todas têm suas verdades, mas nenhuma aborda o problema
completamente. Daí o porquê de a guerra ser um drama aparentemente
insolúvel.”

A visão holística da paz

O Professor Pierre Weil diz que para que termos uma verdadeira paz
precisamos ter felicidade interior, harmonia social e relação equilibrada com o
meio ambiente, para tanto é preciso ter uma visão holística em que o indivíduo
ultrapassa as fronteiras de uma visão voltada para si mesmo ou voltada para seu
meio, alcançando uma visão planetária em que todos os níveis são integrados:
pessoal, social e planetário.

Essa visão inovadora, segundo o ex-reitor da universidade da paz,


implica em (Weil, Pierre, 1990, p.30):

“1) uma teoria não fragmentada do universo [...]

2) Uma perspectiva que leve em cinta o homem a sociedade e a


natureza.”

Ou seja, uma ecologia interior. Para ele o estudo e a administração da


paz, por ser holística, implica em uma educação holística também. Isto é uma
educação interdisciplinar, mais abrangente e explicativa.

A educação fragmentária.

É a falta de inter-relação entre o que é ensinado nas escolas (transmissão


intelectual, mental, focado na razão) e o conhecimento assimilado pelo indivíduo
em sua família, em sua cultura (em que os sentimentos estão implicados). Para
Weil, educação é muito freqüentemente confundida com ensino. Pierre Weil
afirma que o ensino (Weil, Pierre, 1990, p.31):
“[...] Se dirige exclusivamente às funções intelectuais e sensoriais.
Trata-se de uma simples transmissão mental, que aumenta o volume de
conhecimentos ou forma opiniões. Esse papel está tradicionalmente ligado à
escola”

Além disso, ele ainda fala da família que existe paralelamente a


educação, pois pais e mães incorporam o papel de agentes auxiliares dos
professores. Assim, para Weil, as funções escolares, em grande, parte são
transferidas para o âmbito doméstico.

Resultando daí para o professor Weil (Weil, Pierre, 1990, p.32):

“[...] uma cisão entre pensamento, opinião e atitudes racionais


(formados pela escola) e hábitos e comportamentos (formados pela família).”

Para o Doutor Pierre Weil esse ensino, confundido com educação, é


muito deficiente, piorando, à medida que se desenvolve a fragmentação do
conhecimento em especialidades e subespecialidades, como é o caso dos ensinos
secundarista e universitário.

A visão holística da educação

O professor Weil afirma que quando a educação se confunde com ensino,


a ênfase está na racionalização das coisas. A proposta holística tende a despertar
e desenvolver tanto a razão quanto a intuição, a sensação e o sentimento.

Para o professor Weil a proposta holística busca (Weil, Pierre, 1990,


p.32-33):

“[...] é uma harmonia entre essas funções psíquicas. Isso


corresponde, no plano cerebral, a um equilíbrio entre os lados direito e
esquerdo do cérebro, e uma circulação harmoniosa de energia entre as
camadas corticais e subcorticais e em todo o sistema cérebro-espinhal.”

A visão fragmentária da paz implica em uma maneira de viver


consumista, competitiva agressiva, a busca pelo sucesso e a especialização
extremada, a aquisição e a posse de uma fortuna. De outro modo, a visão
holística persiste sobre a ingenuidade voluntária, a colaboração, os valores
humanos, a formação geral antecedendo a particularização, o dinheiro visto
como um meio a serviço de valores básicos, e não como um fim em si mesmo.

Para Weil, na perspectiva holística, ao contrário da perspectiva


fragmentária, a evolução é (Weil, Pierre, 1990, p.33):

“[...] permanente. Muito mais, pode-se operar, em qualquer idade,


uma verdadeira metamorfose.”

Ele afirma ainda que esse novo paradigma A arte de viver em paz se
baseia em três planos: “(1) O homem: refere-se à arte de viver em paz consigo
mesmo. Simultânea ou sucessivamente, corpo, coração e espírito encontrarão
seu estado de equilíbrio. 2) A sociedade: refere-se à ecologia social ou à arte
de viver em paz com os outros. Basicamente, afeta os domínios da economia,
da vida social e política e da cultura. 3) A natureza: refere-se à ecologia
planetária ou à arte de viver em paz com a natureza. Tem como objetivo a paz
com o meio ambiente”.

“[...] substitui o conceito de aluno (aquele que é ensinado), pelo de


estudante (que participa aticamente do processo, que assume e dirige a
própria transformação)”

Em resumo, a visão holística é uma proposta que busca a integração da


razão, intuição, sensação e sentimento. Ao invés de focar em um conteúdo/
conhecimento a ser assimilado pelo indivíduo que aprende, procura despertar
neste sujeito o olhar de que todas as situações e acontecimentos da existência
humana são oportunidades de aprendizado. O foco está tanto no externo como
no interno.

Por outro lado, a visão holística busca também despertar o sujeito para a
simplicidade voluntária, a cooperação, os valores humanos, a formação geral
precedendo a especialização, entre outros. Concebendo o homem como uma
potência de transformação em que a evolução é permanente.

A educação holística para a paz

Para o professor Weil (Weil, Pierre, 1990, p.39):


“[...] o antigo modelo racional ocidental leva à destruição do planeta
e à solução violentados conflitos. [...]”

Logo após ele se questiona e nos faz questionarmos (Weil, Pierre, 1990,
p.39):

“[...] Mas, se é assim, porque não abandonamos esse ponto de vista


suicida?”

Pierre Weil, portanto, defende uma educação holística visando à paz e a


define (com palavras diversas das deles) paz como um método que se infunde
nos métodos ativos, dirigindo-se à pessoa como um todo, cultivando ou
restabelecendo a concordância entre o sentimento, a razão e o discernimento.

Baseia-se nos métodos ativos, considera o sujeito agente de sua


transformação em que participa ativamente de seu processo de aprendizado.

A arte de viver em paz se baseia em três planos: “1) O homem: refere-se


à arte de viver em paz consigo mesmo. Simultânea ou sucessivamente, corpo,
coração e espírito encontrarão seu estado de equilíbrio. 2) A sociedade: refere-se
à ecologia social ou à arte de viver em paz com os outros. Basicamente, afeta os
domínios da economia, da vida social e política e da cultura. 3) A natureza:
refere-se à ecologia planetária ou à arte de viver em paz com a natureza. Tem
como objetivo a paz com o meio ambiente”.

2.4 Módulo 3.

Um bom transmissor precisa exercitar a honestidade consigo mesmo e ter


a disponibilidade de transmitir a arte de viver em paz ao mesmo tempo em que
investe no seu próprio aperfeiçoamento pessoal.

A Transmissão da Arte de viver em paz.

Pierre Weil explica que para que um professor possa transmitir a arte de
viver em paz a outras pessoas, sejam crianças, adolescentes ou adultos, é
necessário que complete uma condição essencial: ser ele mesmo um exemplo de
tudo que transmite, ou seja, ele próprio tem que se auto-afirmar um ser em paz
consigo mesmo.

O Professor afirma que (Weil, Pierre, 1990, p.43):

“Pode-se dizer que a simples presença do mestre, pela irradiação de


um conjunto de qualidades como afeição, doçura, paciência, abertura às
necessidades mais profundas do outro, capacidade de se colocar no lugar
daquele que sofre, dispensaria toda espécie de ensinamento.”

O Doutor Pierre Weil, ainda, afirma que essas pessoas existem de fato,
porém não são facilmente encontrados, e para que se dê um prosseguimento a
essa luta pela paz, é necessário que essas pessoas sejam encontradas e educadas
de maneira que elas possam dar continuidade.

O processo de destruição da paz.

A violência e a guerra nascem dentro da gente através de pensamentos e


emoções que se instalam na nossa mente e no nosso corpo. No plano mental o
indivíduo cria uma falsa idéia de que o ser humano e o universo não têm
nenhuma relação. Pierre Weil denominará tal concepção de “fantasia da
separatividade” a qual acarreta na criação de fronteiras imaginárias e limites,
visto que nos consideramos separados da natureza.

O Paraíso perdido.

Outra concepção errônea que nos faz caminhar contra a paz é achar que
ela está fora da gente, o que o autor chamará de “neurose do paraíso perdido”, é
como se ficássemos o tempo todo buscando algo externo que definitivamente
nos tornará pessoas felizes. Tal crença gera apegos a objetos e pessoas e,
conseqüentemente, um medo de que em algum momento alguém poderá roubá-
los de nós, pois uma vez que pertencem ao mundo externo podem ser tirados de
nós.

Para melhor compreender o processo de destruição da paz no ser


humano, é necessário que se explique os três planos essenciais, que
correspondem ás três formas de manifestação de energia. Nos quais fala o mestre
Weil (Weil, Pierre, 1990, p.45):

“1) O plano mental, que engloba pensamentos e conceitos.

2) O plano emocional, que diz respeito aos sentimentos.

3) O plano físico, que considera exclusivamente.”

Seguindo a ordem, o professor Weil afirma que no plano mental, forma-


se a “fantasia da separatividade”, fenômeno, este, que consiste em crer que o
sujeito e o universo não guardam nenhuma relação, ou seja, que somos parte
exterior ao universo e da mesma forma é o universo.

Para melhor exemplificar o professor aponta a seguinte questão (Weil,


Pierre, 1990, p.45):

“[...] peça a alguém que aponte o dedo se encontra a natureza, onde


fica o universo.”

Logo em seguida (Weil, Pierre, 1990, p.45):

“Você observará que a pessoa imediatamente dirigirá o dedo para


fora de si.”

Nesse momento, aponta o autor, ficará vivo que a fragmentação sujeito-


natureza é um dos conceitos mais incrustados no ideário do ser humano, isto é, o
homem se sente apartado da natureza e, por isso, pensa que não faz parte da
mesma.

Além disso, Pierre Weil informa que o problema da “fantasia da


separatividade” é que , a partir do momento em que vemos o mundo exterior
como algo apartado de nossa própria natureza, começamos a levantar muros de
separação imaginários, criando limites, dos quais nascem os conflitos.

Por a maioria pensar dessa maneira, poucos são os que sabem que esse
paraíso começa e termina fora de nós mesmos, por isso é que os homens buscam
o prazer no lugar errado e, por buscarmos no lugar errado o professor afirma que
(Weil, Pierre, 1990, p.46):

“[...] jamais encontramos a verdadeira felicidade, e acabamos nos


contentando com arremedos de prazer (uma jóia, um amante, uma boa idéia
etc.).”

E, por nos apegarmo-nos com unhas e dentes a objetos, pessoas ou idéias


que nos dão a sensação de prazer, tornamo-nos possessivos, egoístas e medrosos,
recorrendo a médicos e remédios exteriores a nós mesmos. Isso se torna um
circulo vicioso se fecha e leva à perda paz interior, interpessoal e social.

O desenvolvimento da paz interior

Há três espaços de paz interior que podemos definir como paz do corpo,
paz do coração e paz do espírito os quais são interdependentes, devendo ser
interligados, ou seja, intrinsecamente correlacionados, pois a paz não pode haver
fragmentação.

A paz do corpo.

Para que tenhamos um sistema físico equilibrado é necessário que


cuidemos da nossa energia vital com exercícios, relaxamento e alimentação
equilibrada.

Devemos, portanto, estarmos com o corpo em forte equilíbrio para


podermos concluir o processo de paz interior. É necessário que expulsemos as
emoções destrutivas, como as que decorrem da “fantasia da separatividade”, pois
como afirma o professor Weil (Weil, Pierre, 1990, p.61):

“Emoções destrutivas, como as que decorrem da “fantasia da


separatividadade”, geram em nós de tensão muscular mais ou menos
crônicos, que bloqueiam a energia. A freqüência das crises emotivas
determina a intensidade do sofrimento físico e psíquico”

Seguindo esse método, o professor Weil fala de nós de tensão que


amarram o ser humano em uma eterna e malfadada luta contra si mesmo, pois ao
lutar, mesmo que inconscientemente, contra a paz é lutar contra a natureza e, por
conseqüência consigo mesmo.

Para desfazer esses nós de tensão e abrandá-los é o que as tradições e a


bioenergética moderna tentam fazer. A partir do momento em que esses nós são
desfeitos, a energia se torna disponível e volta a circular por todo o corpo. Disso
resulta um estado de paz e tranqüilidade, que favorece o surgimento de uma
consciência mais ampla e uma situação de harmonia corpo-espírito.

Alguns métodos são elencados pelo emérito professor(Weil, Pierre, 1990,


p.61):

“Entre eles estão:a ioga, sobretudo a hatha-ioga o tai-chi-chuan, que


é uma espécie de dança lenta; as lutas marciais não-violentas, como o judô e
o ai-ki-dô japonês.”

Para o autor a ioga é o mais importante (Weil, Pierre, 1990, p.62):

“A ioga recomenda uma alimentação natural e vegetariana, com


reforço no consumo de cereais integrais. É interessante notar que a sunokes
redução do consumo de carne permitiria ampliar as superfícies agrícolas a tal
ponto que se poderia eliminar a fome nos países subdesenvolvidos”

Proposta não compartilhada por mim, pois o problema não está na


disposição de superfície e sim na má distribuição, não só de comida, mas
também de água.

A paz do coração

O aspecto afetivo e emocional é fundamental para a construção de uma


verdadeira paz na medida em que os sentimentos e emoções são fatores
determinantes. A paz de espírito é um estado de harmonia e plenitude.

O professor Weil afirma que há inúmeros estudos e pesquisas


comparativas para saber quais os medos mais eficazes, porém ele afirma(Weil,
Pierre, 1990, p.63):
“Mas há um certo consenso em torno da opinião de que a capacidade
do educador de dar o melhor de si mesmo, sua dedicação e seu amor são tão
ou mais importantes que o método propriamente dito. Pode-se também
considerar como essencial a motivação e a dedicação do aprendiz na prática
constante dos ensinamentos que obtém.”

Os métodos também são uma preocupação do mestre


Weil, pois, segundo ele, existem duas categorias de métodos (Weil, Pierre, 1990,
p.63):

“Distinguem-se duas grandes categorias de métodos: aqueles que


têm como ponto de partida as emoções destrutivas, como o ódio e a cólera, e
aqueles que tendem a despertar e desenvolver diretamente as emoções
construtivas que conduzem a paz”

Os métodos de transformação energética

Consiste em se conscientizar das emoções ou sentimentos negativos para


então transformá-los antes que se tornem uma agressão ou um sintoma físico em
seu próprio corpo. Técnicas psicoterápicas auxiliam neste processo.

Afirma ainda, o professor Weil que, segundo a tradição iogue,


particularmente a tibetana, os fatores destrutivos paz, ou “venenos”, são ao todo
cinco: Indiferença, apego, cólera, ciúme e orgulho. Todos eles formam um
conjunto de emoções destrutivas da paz. Como o próprio Pierre Weil, chama:
“veneno”. E é uma grande verdade, pois essas emoções provocam uma
individualização radical e, somente, sendo resolvida através de conflitos
violentos.

O professor Weil propõe três métodos de tentativa de transformação ou


eliminação das emoções destrutiva, mas sem reprimi-las. (Weil, Pierre, 1990,
p.65):

“1) A consciência imediata é a técnica mais simples.Pretende que


adquiramos consciência desses sentimentos destrutivos quando eles ainda
estão germinando em nosso coração. Nessa fase, é mais fácil transformá-los
em energia construtiva.[...] Pelo método da consciência imediata, fazemos
com que o sujeito perceba quando a cólera, ameaçadora, se aproxima. Essa é
a condição ideal. A experiência demonstra que, nesses casos, a agressividade
se dissolve e converte-se em sentimentos positivos.

2) O medo “ahimsa” ( não-violência, em sânscrito) foi cultivado


primeiramente por budistas e hindus. Trata-se de um respeito profundo a
todas as formas de vida do planeta, concedidas como sagradas.

Gandhi mostrou a força da “ahimsa” ao fazer a transposição


dessa filosofia milenar para política e elaborar a teoria da “resistência
pacífica”.

3) Os métodos da psicoterapia: muitas pessoas acreditam que a


família e a escola sejam poderosas fontes da perda da paz.

Vários métodos psicoterápicos foram criados com o objetivo de


ajudar as pessoas a superar traumas e neuroses gerados, principalmente, no
convívio familiar e escolar.

Freqüentemente, as reações violentas da criança não podem se


expressar e ficam bloqueadas no corpo e no espírito, até a idade adulta.”

Finalmente, o Professor Weil afirma que o educador da paz não pode


assimilar todos esses métodos, nem aplicá-los, pois é um trabalho que exige
muita dedicação e uma longa formação. Porém ele pode escolher um dos
métodos e dedicar-se ao máximo, procurando adequar às suas necessidades.

Os métodos de estímulo direto da paz

Segundo as tradições espirituais temos qualidades emocionais que são


responsáveis pela construção e manutenção da paz. São estas: alegria, amor
altruísta e compaixão.

Além disso, Pierre Weil afirma que (Weil, Pierre, 1990, p.65):

A universalidade desses três sentimentos é muito importante. Se eles


fossem realmente aplicados, haveria ainda guerras e conflitos?
A resposta, obviamente, é não. Trata-se, então, de encontrar formas para
despertar e cultivar essas qualidades na vida cotidiana, trans formando-a em uma
estrada que conduza à paz. Pode-se fazê-lo:

“1)Por meio do exemplo do educador.

2) por intermédio da definição teórica dessas qualidades, nos termos


colocados acima.

3) Com o auxílio do método de visualização e de proposto da seguinte


forma: pedindo aos estudantes que, em estado de relaxamento, imaginem
cenas nas quais possam vir a exercitar-se nas três qualidades.”

A paz de espírito

Espírito é aqui entendido como energia no seu estado primordial, sendo o


homem capaz de transformá-la em matéria, vida e psiquismo. Dentro da
abordagem holística os recursos que auxiliam a aquisição da paz de espírito são
os relaxamentos, a meditação, as danças, entre outros, os quais ajudam a
desbloquear e despertar os valores humanos e espirituais.

Além disso, Pierre Weil a firma que a palavra espírito, de modo geral,
tem dois significados diferentes (Weil, Pierre, 1990, p.69):

“1)Pode corresponder àquilo que é mental. Significa, nesse caso, o


conjunto de funções mentais, como a inteligência, o raciocínio, a percepção e
a memória.

2)Refere-se a uma forma de energia sutil, denominada por Bergson


de energia espiritual. Pode significar, também, o princípio da vida, da
consciência e do pensamento, que existem em oposição à matéria. Nesse
sentido, o termo está ligado aos valores éticos.”

Ao contraponto dessas afirmações, a visão holística excede de longe


esses sentidos. Ela conglomera e agrega as oposições e dualidades. Graças à
teoria não-fragmentada de energia, mesmo a separação entre matéria e espírito
tende a desaparecer.

Seguindo essa lógica, o professor Weil afirma(Weil, Pierre, 1990, p.69):


“Eis por que adotamos um sentido mais amplo das palavras
“espiritualidade” e “espírito”. Para nós, o homem é uma esp[ecie de
transformador de energia, que a converte em suas várias manifestações:
matéria, vida e psiquismo. Por esse raciocínio, espírito é a própria energia no
seu estado primordial (Nota de Rodapé: Brosse, Tb. La conscience Énergie.
Paris, Prêsence. 1979)”

A partir do livro a Arte de Viver em Paz, muitos recursos para atingir a


paz de espírito já foram mencionados anteriormente no livro. Porém o professor
Weil utiliza como primeiro exemplo, nesse capítulo em especial é o
relaxamento. Bom para obtenção da paz do corpo, sendo também muito positivo
para a mente e o coração.

Para Pierre Weil, o objetivo básico é dissolver a “fantasia da


separatividade”, fazendo-se desse modo (Weil, Pierre, 1990, p.70):

“[...] Faz-se isso além do pensamento, cujo propósito é justamente


analisar, classificar e dividir.

Pensamento, inteligência e raciocínio são instrumentos preciosos e


indispensáveis à existência cotidiana e à evolução mental. Mas são, também,
obstáculos para a evolução na direção para a visão holística.

O método ideal para superar a ditadura da razão, integrando


harmoniosamente o pensamento às outras formas de energia, é a meditação.”

Seguindo esse raciocínio, Weil afirma que há muitas definições de


meditação, porém ele simplifica dizendo que meditar é, na verdade, ficar sentado
sem fazer nada. Ele ainda afirma que (Weil, Pierre, 1990, p.70):

“Em outras palavras, trata-se de fazer o contrário do que nossa


civilização industrial nos condicionou a fazer: viver fora, dirigir toda a nossa
atividade para o mundo exterior e, por isso mesmo, reforçar a” fantasia da
separatividade”.”

Contrapondo esse raciocínio, Weil afirma que a meditação, ao contrário,


joga-nos para dentro. Trata-se de um retorno a si mesmo, de uma volta para
nossa casa, para o próprio corpo. Essa aparente inatividade permite-nos uma
observação cuidadosa e um espírito de abertura a tudo que se passa.
Continua Weil explicando que quando se atinge tal condição, a fronteira
entre o eu e o mundo se dissolve e, entre outros resultados, a paz interior se
estabelece.

Outro ponto para a destruição da paz interior e o empecilho para o seu


desenvolvimento é que a meditação é alienante e leva à separação do mundo da
produção.Pierre Weil afirma que é exatamente o contrário que ocorre(Weil,
Pierre, 1990, p.71):

“As pesquisas sobre esse assunto mostram que a meditação tem uma
ação direta que melhora o nível mental nas seguintes funções: atenção,
memória, equilíbrio emocional, sincronização das ondas cerebrais nos dois
hemisférios e rendimento nas tarefas. Como ela desperta nossa plena
consciência, é o antídoto da alienação.”

A meditação, no entanto, afirmam os defensores da mesma, não é


uma fórmula mágica para por um fim definitivo nos conflitos, eles
continuam, porém, podem ser resolvidos de maneira pacífica, amorosa e
sábia.”

O professor Weil ainda salienta que (Weil, Pierre, 1990, p.71):

“Aparentemente maniqueísta, nossa classificação dos valores em


comportamentos construtivos e destrutivos não é de maneira alguma uma
avaliação absoluta. [...] Em outras palavras, sabemos que há formas
destrutivas necessárias à construção da paz e dos estados de harmonia.”

A arte de viver em paz com os outros

Pierre Weil inicia o capítulo falando que(Weil, Pierre, 1990, p.74):

“O homem em desarmonia cria uma sociedade violenta, doente e


destrutiva. Em busca de culpados para a situação, questionamos: quem
começou tudo isso, o homem, ao agredir seus semelhantes, ou a sociedade,
que castiga sem piedade até mesmo os inocentes?”

Quando o homem esta em desarmonia cria uma sociedade violenta, e em


busca de um culpado cria conceitos, comportamentos e opiniões socialmente
consentidos. É o desenvolvimento da plena consciência que permitirá que os
homens não se conformem com as normas de violência, desigualdade e injustiça.
Tal parágrafo é justificado por(Weil, Pierre, 1990, p.75):

“Só o desenvolvimento da plena consciência impedirá que homens e


mulheres se adaptem a normas injustas, violentas e cruéis.”

Isso implica um esforço voltado tanto para o plano social quanto para o
espírito humano. Se possível, isso deve ser feito simultaneamente.

As três manifestações sociais da energia

A energia se manifesta na cultura através do conhecimento científico, da


filosofia, dos valores espirituais e religiosos, consistindo em um conjunto de
opiniões, valores, sentimentos, hábitos, conceitos e atitudes. Uma educação
cultural para a paz terá a tarefa de transformar estes valores e crenças. Como
afirma Pierre Weil em seu tópico primeiro deste capítulo(Weil, Pierre, 1990,
p.75-76):

“1)A cultura: corresponde, no plano social, à inteligência humana. Constitui


um conjunto de consensos, opiniões, atitudes, hábitos, sentimentos, pontos de
vista, conceitos, estereótipos, preconceitos, comportamentos e leis de uma
determinada sociedade. Expressa-se por meio da arte em todas as suas
formas, do conhecimento científico, da filosofia, dos valores espirituais e
religiosos. Transmite-se por instituições sociais, como as mencionadas
acima.”

Outra manifestação da energia é nos vínculos associativos os quais


constituem o conjunto de relações e interações entre as pessoas e os grupos
(como a família, o Estado, a igreja, etc.). Para uma educação social para a paz é
preciso não só de uma educação individual como uma ação sobre as relações
interpessoais, inter e intragrupais e internacionais. Como afirma Pierre Weil em
seu tópico segundo deste capítulo (Weil, Pierre, 1990, p.76):

“2)Os vínculos associativos correspondem, no plano social, à vida


para o ser humano. Constituem o conjunto de relações, interações e
comunicações entre pessoas, grupos e instituições. Materializam-se em
instituições sociais, como a família, a escola, o Estado, a igreja, a empresa, o
clube etc.”
A última forma de manifestação da energia se dá na economia de bens
materiais representados pela produção e distribuição de consumo, alimentação,
circulação de riqueza entre trabalhadores ou empresas. Para que haja uma
educação econômica para a paz “precisa-se de uma nova economia holística, que
integre e ultrapasse as contribuições positivas dos sistemas econômicos atuais”.
A simplicidade voluntária e o conforto essencial auxiliam para um
desenvolvimento sustentável. Como afirma Pierre Weil em seu tópico terceiro
deste capítulo (Weil, Pierre, 1990, p. 76):

“3)A economia de bens materiais: corresponde, no plano social, ao


corpo humano. Trata-se da produção, distribuição, consumo, alimentação e
circulação de riquezas, entre outros itens. Realiza-se por intermédio do
trabalhador isolado ou organizado em empresas privadas e públicas.”

O professor Weil ainda distingue três modalidades de educação social


para a paz. (Weil, Pierre, 1990, p.76):

“1)A educação cultural para a paz.

2)A educação social para paz.

3) A educação econômica para a paz.”

Logo após o mestre fala sobre cada uma das modalidades.

A educação cultural para a paz

Como demonstra Johan Galtung, trata-se de transformar valores. Não é


uma tarefa simples, porque conceitos, opiniões e sentimentos são gravados
profundamente em nossas consciências desde a primeira infância.

Ele afirma que existe duas principais ações pedagógicas em curso ou


recomendadas atualmente e depois ele explicita algumas outras (Weil, Pierre,
1990, p.77-79):

“1) O ensino e a difusão da carta internacional dos Direitos do


Homem:a Organização das Nações Unidas vem fazendo um enorme esforço
pedagógico para difundir os valores relativos aos direitos humanos em todos
os países do mundo.[...]

2)A educação pela paz na mídia: a imprensa( jornais, revistas, rádio,


TV) e a publicidade são veículos de grande força para a difusão dos valores
da paz. No entanto, os meios de comunicação vêm sendo usados de forma
totalmente diferente.[...] Numerosos estudos já foram feitos sobre o papel
educativo TV, jornais e publicidade. Todos eles partem de convencimento
extraordinário que deve ser trabalhado para fortalecer as energias positivas.
[...]

3)Outras propostas pedagógicas: - Formação e fomento de


bibliotecas dedicadas ao tema da paz e introdução do assunto nos acervos já
existentes.

- Inclusão da educação jurídica para paz nas faculdades de


Direito.(Grifo meu)

- Estudo e difusão de uma história mundial da paz, de modo a


equilibrar a tendência dos manuais escolares, que privilegiam os relatos de
batalhas, massacres, vitórias e derrotas.[...]

[...]-Educação para o desamamento, uma outra face da questão


precedente.”

A educação social para a paz

O estabelecimento de uma convivência social pacífica depende da


educação individual para a paz. É necessária, também, uma ação direta sobre as
relações humanas interpessoais, inter e intragrupais e internacionais como afirma
o mestre Weil.

Pierre Weil afirma inúmeros métodos foram elaborados a esse respeito,


principalmente, depois da 2ª grande guerra(Weil, Pierre, 1990, p.79-80):

“- A dinâmica de grupo sob suas diferentes formas. T-group.


Laboratórios intergrupais, liderança de reuniões, treinamento de liderança.
Seu principal objetivo é indentificar e tratar os obstáculos à comunicação e as
causas do conflitos.
- Psicodrama, Sociodrama, Dramatização e Sociometria: métodos
criados por J.L. Moreno cujas aplicações para educação social da paz são
apreciáveis.

- Jogos de estratégias da paz: atividades não-competitivas que


estimulam a cooperação. Baseiam-se na elaboração de estratégias
internacionais que permitem alcançar a paz e prever, em certa medida, as
reações dos adversários.

- Artes marciais, ai-ki-dô e judô do Japão: desenvolvem o espírito


pacífico e o respeito para com o adversário, assim como a sensibilidade
energética intra e interpessoal.

- Estudos interpartidários: são ações que podem desenvolver-se à


base de simpósios e reuniões. Nelas, os políticos estudariam juntos os valores
que poderiam ajudá-los a se unir, além das diferenças ideológicas.

- Reuniões, conferencias e seminários inter-religiosos: vêm


acontecendo com mais freqüência nos últimos trinta anos. Aproximam e
estimulam a compreensão entre os representantes das diversas tradições
espirituais.”

A educação econômica para a paz

Pierre Weil afirma que enquanto imperarem a miséria, a fome, a doença,


a mortalidade infantil, a superpopulação e o abandono de milhões de crianças
nas ruas, não poderá haver paz. Nem em nossas consciências, nem nas relações
nacionais e internacionais.

Para que haja uma possibilidade de educação econômica para a paz, é


necessário(Weil, Pierre, 1990, p.80-81):

“[...] elaborar uma teoria econômica para a paz, que leve em


consideração, simultaneamente, os fatores individuais sociais e ecológicos.
Em suma, precisa-se de uma nova economia holística, que integre e
ultrapasse as contribuições positivas dos sistemas econômicos atuais.

Equipes interdisciplinares deveriam reunir-se para fazer


recomendações aos diferentes países do mundo. Tais propostas seriam
baseadas nos cinco “e” preconizados por Pierre Dansereau ecologia (meio
ambiente), etologia (hábitos e costumes), economia ( produção e ampliação
da riqueza), etnologia (diversidade cultural entre os povos) e ética (busca do
bem).”

Pierre Weil detém a algumas atitudes. Tais atitudes se configuram s


continuar a criticar os aspectos violentos e cruéis dos sistemas econômicos atuais
e difundir e encorajar os movimentos e atitudes para corrigir a situação atual.
Dentre eles, o professor Weil cita a simplicidade voluntária e o conforto
essencial.

Finalmente, Pierre Weil afirma que só o futuro poderá responder se essas


medidas contribuirão para um menor consumo nos países desenvolvidos, em
benefício do aumento do conforto essencial no Terceiro Mundo.

A arte de viver em paz com a natureza

Consiste em ultrapassar a concepção da paz individual ou social e


reconhecer que somos seres indissociáveis da natureza. “Integramos a natureza
ao mesmo tempo em que ela nos integra”.

Pierre Weil afirma que isso pode parecer simples, mas não é (Weil,
Pierre, 1990, p.84):

“Isso parece muito simples. Mas não é! A “fantasia da


separatividade” separou-nos do universo e nos transformou nos principais
adversários da vida sobre o planeta.”

Por uma pedagogia ecológica

Primeiramente é necessário que os homens reconheçam que a natureza é


feita da mesma energia que os seres humanos e que se não houver uma
preservação do meio ambiente a próxima geração não suportará viver neste
planeta. É também fundamental que o educar perca a crença na “fantasia da
separatividade”, pois só assim conseguirá transmitir tais conteúdos.

Para Pierre Weil a pedagogia ecológica pretende sensibilizar o ser


humano para o fato de que não existem fronteiras reais entre sua natureza e a do
universo, sendo as duas a mesma energia, porém em formas diferentes.
Ele afirma ainda que é necessário uma conscientização da humanidade
para a preservação do meio ambiente(Weil, Pierre, 1990, p.84-85):

“Quando a humanidade se der conta desse fato, ela se empenhará na


preservação do meio ambiente. Pois perceberá que, se não o fizer, estará
matando seus próprios descendentes, meninos e meninas que não suportarão
a atmosfera poluída, os rios, lagos e oceanos mortos.”

Além disso Pierre Weil retoma as três grandes manifestações da energia


no plano da natureza: a matéria, a vida e a informação. Sabemos, porém, que
essas manifestações são indissociáveis, simples variações da mesma energia
primordial. Assim, a vida abriga-se na matéria, que serve de suporte à
informação.

Depois de uma explanação biológica acerca da vida, da matéria e da


informação, Pierre Weil afirma que(Weil, Pierre, 1990, p.86):

“A forma mais direta de atingir a paz consiste em fazer com que


cada ser humano constate a identidade existente entre suas estruturas
psíquica, vital e física, e os sistemas cibernéticos vitais e materiais do
universo.”

Seguindo o raciocínio, Pierre Weil continua (Weil, Pierre, 1990, p.86):

“Os animais, as plantas, a atmosfera, o solo e o clima se relacionam


todo o tempo. Uns crescem à custa dos outros. Uns se alimentam dos outros.
E essa troca de energia acontece dentro de parâmetros muito delicados, que
garantem a preservação e a manutenção de todos os componentes originais.”

Ou seja, afirma que este ecossistema está constantemente conectado e


não pode ser alterado como ele afirma logo depois (Weil, Pierre, 1990, p.87):

“Como se percebe, a mudança de uma peça no xadrez ecológico


causa um sem-número de alterações, e a manutenção das condições do
equilíbrio ambiental depende da preservação das relações energéticas entre as
várias partes do ecossistema.”

Pierre Weil afirma ainda que é necessário uma pedagogia para o


entendimento do estudante que a “fantasia da separatividade” é algo que está
destruindo o nosso ecossistema e, conseqüentemente, o planeta(Weil, Pierre,
1990, p.88):

“A “fantasia da separatividade”, no que diz respeito às relações


homem-natureza, pode ser convertida em trabalho de reintegração holística,
com a ajuda de uma pedagogia básica que incentive relações harmoniosa com
o meio ambiente.”

Finalmente, Pierre Weil diz que essa sensibilização pretende abrir aos
seres humanos a idéia de que, entre eles e o cosmos, existe um “cordão umbilical
invisível e imprescindível”. Acreditando, ele que a paz esteja ao alcance de
todos, mas é necessário que cada um ache sua resposta para a questão: “O que
posso e vou fazer a curto e médio prazos pela paz?”.

Conclusão

Pierre Weil nos ensina a amar a natureza e nós mesmos, visando uma
cultura de paz. Para ele, a paz é o ponto chave para o desenvolvimento pleno de
toda a humanidade.

Além disso, ele aborda vários métodos praticáveis em todos os setores da


sociedade para uma busca completa da paz, ou seja, uma visão holística da paz,
destruindo o que ele chama de “fantasia da separatividade”, portanto, deve-se
sempre buscar a paz e a harmonia, seja interior ou exterior, porém todas
interligadas e inteiradas num só ideal.

Em suma, Ele quer que através de uma educação holística e participativa,


mantendo, mesmo que inconscientemente, relação estreita com o pensamento de
Paulo Freire, pois apregoa uma educação onde todos buscam juntamente se auto
determinarem, ou seja, a busca pela a emancipação.

Referencias Bibliográficas:

WEIL, Pierre. A Arte de Viver em Paz. Paris : UNESCO. Ed. Gente, 4ª edição, 1990.

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