Você está na página 1de 6

CENTRO UNIVERSITÁRIO AUGUSTO MOTTA

LEITURA, INTERPRETAÇÃO E PRODUÇÃO DE TEXTOS I


Aula 3: LÍNGUA/ LINGUAGEM/ VARIAÇÃO LINGUÍSTICA

Linguagem e língua
(texto adaptado)
Na origem de toda a atividade comunicativa do ser humano está a linguagem, que é a
capacidade de se comunicar por meio de uma língua. Língua é um sistema de signos convencionais
usados pelos membros de uma mesma comunidade. Em outras palavras: um grupo social convenciona
e utiliza um conjunto organizado de elementos representativos. (...)
Individualmente, cada pessoa pode utilizar a língua de seu grupo social de uma maneira
particular, personalizada, desenvolvendo assim a fala. Observe: você, ao falar ou escrever, dá
preferência a determinadas palavras ou construções, seja por hábito, seja por opção consciente. Esse
seu modo particular de empregar a língua portuguesa é a sua fala (...) Por mais original e criativa que
seja, no entanto, sua fala deve estar contida no conjunto mais amplo que é a língua portuguesa; caso
contrário, você estará deixando de empregar a nossa língua e não será mais compreendido pêlos
membros da nossa comunidade. Note, pois, que língua é um conceito amplo e elástico, capaz de
abarcar todas as manifestações individuais, todas as falas.
Estudar a língua portuguesa é tornar-se apto a utilizá-la com eficiência na produção e
interpretação dos textos com que se organiza nossa vida social. Por meio desse estudo, amplia-se o
exercício de nossa sociabilidade — e, conseqüentemente, de nossa cidadania, que passa a ser mais
lúcida. Ampliam-se também as possibilidades de fruição dos textos, seja pelo simples prazer de saber
produzi-los de forma bem feita, seja pela leitura mais sensível e inteligente dos textos literários.
Conhecer bem a língua em que se vive e pensa é investir no ser humano que você é.

INFANTE, Ulisses, Do Texto ao Texto: curso prático de redação e leitura – São Paulo : Scipione, 1998, p.28,29.

Língua e identidade
Além de ser um meio de interação social, a língua também é uma forma de identidade cultural e
grupal. Falar a mesma língua de outra pessoa geralmente equivale a ter com elas muitas coisas em
comum: referências culturais, esportivas, musicais, hábitos alimentares, etc. A língua é, portanto, um
elemento importante na definição da identidade de um povo ou de um grupo social.
Mas não é só isso. Além de nossa identidade social, a língua revela também muito do que
somos individualmente. Ela mostra nossa agressividade, afetividade, formalidade, gentileza, educação,
etc.
A tira abaixo é um exemplo de como a língua cria uma identidade grupal.
1. Orelha está parado na esquina e alguém fala com ele. Observe o 2° quadrinho:

a. O que significa, no contexto, a expressão “Orelha, diz aí” ?

b. E a expressão “maluco”, com a qual Orelha ser refere ao seu interlocutor?

c. Na fala do interlocutor de Orelha existem desvios com relação à variedade padrão. Troque idéias
com os colegas e identifique-os.

2. No 2° quadrinho, Orelha usa uma expressão que é muito comum entre os jovens e não está de
acordo com a variedade padrão.
a. Qual é essa expressão?

b. Como você escreveria essa fala, de acordo com a variedade padrão?

3. A personagem usa a expressão “sei lá” por três vezes. O que isso significa em relação à
capacidade de expressão da personagem?

4. O humor da tira está no último quadrinho.

a. O que a personagem quer dizer quando afirma que fica “no agito”

b. Observe o comportamento da personagem e responda: Onde está o humor da tira?

5. Considerando-se o perfil dos interlocutores e o lugar em que ocorre a interação verbal (“esquina
maldita”), a variedade lingüística empregada pelos interlocutores é adequada à situação?
Justifique sua resposta.

Variedades lingüísticas

Empregada por tão grande quantidade de indivíduos, em situações tão diferentes e a todo
momento, é de se esperar que a língua não se apresenta estática. Ou seja, condicionantes sociais,
regionais e as diversas situações em que se realiza determinam a ocorrência de variações em uma
língua.
Dino Preti subordina o estudo das variedades lingüísticas a dois amplos campos:

1. Variedades geográficas:
. Falares regionais ou dialetos
. Linguagem urbana x linguagem rural

2. Variedades socioculturais:
. Variedades devidas ao falante
- Dialetos sociais
- Grau de escolaridade, profissão, idade, sexo, etc.

. Variedades devidas à situação:


- Níveis de fala ou registros (formal/coloquial)
- Tema, ambiente, intimidade ou não entre os falantes, estado emocional do falante.

a. Variedades geográficas:

O anúncio faz um trocadilho entre “bichas” (filas), marca típica da sociedade urbana e
burocratizada, e “bichos”, símbolo de natureza e vida natural. O texto, no entanto, talvez soe
estranho ao falante da língua portuguesa que mora no Brasil. Para nós, as pessoas formam filas (e
não bichas) quando aguardam sua vez de serem atendidas em um banco, em uma bilheteria de
cinema, etc.
Pode-se perceber facilmente que a maneira como o português é empregado no Brasil e em
Portugal não é exatamente a mesma, assim como também é diferente nas regiões geográficas
brasileiras e até numa mesma região. Tomemos como exemplo o Sudeste: os falares de Minas
Gerais e do Rio de Janeiro apresentam suas peculiaridades e distinções.
Do mesmo modo, as regiões urbanas e as regiões rurais também possuem vocabulário e
pronúncia diferentes, bem como expressões típicas.
Portanto, há variações na língua condicionadas a aspectos geográficos.

b. Variedades socioculturais
Variedades devidas ao falante

a) Grupos culturais
Uma pessoa que conhece a língua que emprega apenas “de ouvido”, que não teve a
oportunidade de tomar conhecimento das regras internas que a compõem, domina essa língua de cujas
realizações participa de forma diversa de uma pessoa que tem contato com esse código lingüístico por
meio de livros, periódicos, dicionários ou ainda por intermédio da convivência com pessoas de boa
formação intelectual.
Atenção: Não se quer dizer que um fale melhor ou pior que o outro. Deseja-se apenas
registrar o fato de que a formação escolar de um indivíduo, por exemplo, suas atividades profissionais,
seu nível cultural podem determinar um domínio diferente da língua.
Cada classe social – econômica mas sobretudo culturalmente falando – emprega a língua de
uma maneira especial.

b) O jargão (uma variação social)


Observe os diversos grupos profissionais: cada um deles faz uso de um
determinado vocabulário e expressões que são típicos do seu trabalho. O jargão – essa linguagem
técnica que alguns profissionais dominam – é empregado por um grupo restrito e muitas vezes é
inacessível a outros falantes da língua.
Se pensarmos , por exemplo, na linguagem da economia, da informática... Quantos de nós
estamos preparados para entendê-las?
Variedades devidas à situação:

O humor da
tira é determinado
pelo “excesso de
informalidade” por
parte do namorado
que acaba de ser
apresentado aos
pais da garota.
Como uma
norma de boa
educação, espera-se que a pessoa estranha seja gentil, dirija-se aos donos da casa com respeito e
manifeste alguma cerimônia, com um pedido de licença. Cabe à pessoa visitada dispensar as
formalidades e fazer com que o estranho se sinta bem.
Nesse caso, observe que o namorado nem mesmo cumprimenta a garota e se dirige aos pais
dela com tanta grosseria que Hagar toma uma posição “defensiva”, ameaçando o rapaz com um
machado.
A ilustração nos mostra o emprego de uma linguagem pouco adequada à situação que envolve
as personagens.
Analisando nossa própria maneira de falar, cada um de nós é capaz de perceber que
dominamos várias “línguas”, ou seja, temos várias maneiras de “registrar” a língua. A cada momento
fazemos uso de um desses registros.

A variação de maior prestígio: A norma padrão


Falamos genericamente sobre variações da linguagem, mas seria conveniente destacar ao
menos três delas: a linguagem coloquial, a norma culta e a linguagem literária.

Linguagem coloquial ou norma popular


É a linguagem que empregamos em nosso cotidiano, em situações sem formalidade, com
interlocutores que consideramos “iguais” a nós no que diz respeito ao domínio da língua.
Na linguagem coloquial, não há preocupação no tocante a um falar “certo” ou “errado”, uma vez
que não nos sentimos pressionados pela necessidade de usar regras e damos prioridade à
expressividade, à transmissão da informação por si.

Norma culta ou norma padrão


Se há tantas variações de uma língua, qual delas é a ensinada na escola? Por que essa e na as
demais? “Quem” faz essa escolha?
Essas perguntas apenas refletem um fato: de todas as variações, uma tem mais prestígio que as
demais e acaba por ser escolhida como padrão a todos os falantes.

“Dialeto padrão: também chamado norma padrão culta, ou, simplesmente norma culta, é o dialeto a que
se atribui, em determinado contexto social, maior prestígio; é considerado o modelo – daí a designação
de padrão, de norma – segundo o qual se avaliam os demais dialetos. É o dialeto falado pelas classes
sociais privilegiadas, particularmente em situações de maior formalidade, usado nos meios de
comunicação de massa (jornais, revistas, noticiários de televisão, etc.), ensinado na escola, e codificado
nas gramáticas escolares (por isso, é corrente a falsa idéia de que só o dialeto padrão pode ter uma
gramática, quando qualquer variedade linguística pode ter a sua). É ainda, fundamentalmente, o dialeto
usado quando se escreve (há naturalmente, diferenças formais, que decorrem das condições
específicas de produção da língua escrita, por exemplo, de sua descontextualização. Excetuadas
diferenças de pronúncia e pequenas diferenças de vocabulário, o dialeto padrão sobrepõe-se aos
dialetos regionais, e é o mesmo, em toda a extensão do país”
Magda Soares
Regionalismos
O Brasil é um país de dimensões continentais e mesmo assim ainda possui uma língua única.
Além de contribuir para uma grande diversidade nos hábitos culturais, religiosos, políticos e artísticos, a
influência de várias culturas deixou na língua portuguesa marcas que acentuam a riqueza de
vocabulário e de pronúncia.
É importante destacar que as diferenças na nossa língua não constituem erro, mas são
conseqüências das marcas deixadas por outros idiomas que entraram na formação do português
brasileiro. Entre esses idiomas estão os indígenas e africanos, além dos europeus, como o francês e o
italiano.
A influência desses elementos, presentes com maior ou menor intensidade em cada região do
país, aliada ao desenvolvimento histórico peculiar de cada lugar, fez com que surgissem
regionalismos, isto é, expressões típicas de determinada região. Essa variedade lingüística pode se
manifestar na construção sintática – por exemplo, em algumas regiões se diz sei, não, em outras não
sei -, mas a grande maioria dos regionalismos ocorre no vocabulário.
Assim, um mesmo objeto pode ser nomeado por palavras, diversas, conforme a região. Por
exemplo: no Rio Grande do Sul, a pipa ou papagaio se chama pandorga; o semáforo pode ser
designado por farol em São Paulo, e sinal ou sinaleiro no Rio de Janeiro.

Regionalismo é, na língua, o emprego de palavras ou expressões peculiares a determinadas regiões. Em


literatura, é a produção literária que focaliza especialmente usos, costumes, falares e tradições regionais.

Gíria
A gíria é uma das variedades que uma língua pode apresentar. Quase sempre é criada por um
grupo social, como os dos fãs de rap, de funk, de heavy metal, o dos surfistas, dos skatistas, dos
grafiteiros, dos bikers, etc. Quando restrita a uma profissão, a gíria é chamada de jargão. É o caso
do jargão dos jornalistas, dos médicos, dos dentistas e outras profissões.

TEXTO 1: Leia este anúncio:

1. O anúncio tem a finalidade de promover um


aparelho de som de determinada marca. Para
isso, simula a situação de uma pessoa que faz
um pedido a Papai Noel.
a. Que tipo de texto é enviado a Papai Noel?
b. Quem você imagina que seja o locutor desse
texto? Por quê?

3. A linguagem pode indicar tanto o grupo


social a que pertence o locutor quanto o
grau de intimidade existente entre os
interlocutores.

Observe a linguagem empregada no texto:


a. O locutor do texto trata Papai Noel de modo
formal ou informal? Justifique sua resposta com
algumas expressões do texto.

B. Identifique palavras ou expressões que façam


parte da gíria dos adolescentes.

c. Em certo trecho, o locutor trata o interlocutor


de modo respeitoso, provavelmente por causa
da idade do Papai Noel. Identifique a expressão
que revela esse tratamento.
3. É comum, na linguagem oral, buscarmos formas simplificadas, mais curtas, que podem ser
pronunciadas em menos tempo. Daí haver o fenômeno de certas palavras serem reduzidas, como, por
exemplo, cê, usada em lugar de você; moto, em lugar de motocicleta. Identifique, no texto, três
exemplos de formas reduzidas, típicas da linguagem oral.

4. Para convencer Papai Noel a lhe dar o aparelho de som, o locutor usa um argumento, isto é, uma
justificativa ou explicação. Qual é esse argumento?

5. Pense agora na situação de produção do anúncio. Ele foi publicado às vésperas do Natal em uma
revista de circulação nacional, lida geralmente por pessoas adultas, da classe média, com bom poder
aquisitivo. Os textos dessa revista são predominantemente escritos na variedade padrão.

a. Na verdade, quem são os leitores que o anúncio tem em vista: os adolescentes ou os pais dos
adolescentes?

b. Troque idéias com os colegas: Considerando-se a intencionalidade do anúncio, por que, então, o
texto faz uso de uma variedade lingüística não padrão?

TEXTO 2
Assaltantes Regionais

ASSALTANTE BAIANO: ASSALTANTE PAULISTA:


Ô meu rei... (pausa) Aê, mano.
Isso é um assalto... (longa pausa) Isso é um assalto, truta.
Levanta os braços, mas não se avexe não...(outra Levanta os braços, meu.
pausa) Passa a grana logo, parcero.
Se num quiser nem precisa levantar, pra num ficar Mais rápido, meu, que eu ainda preciso pegar a
cansado.... bilheteria aberta pra
Vai passando a grana, bem devagarinho (pausa pra comprar o ingresso do jogo do Corintia, véio..
pausa) Pô, se manda, cara.
Num repara se o berro está sem bala, mas é pra
não ficar muito
pesado. ASSALTANTE GAÚCHO:
Não esquenta, meu irmãozinho,(pausa) O gurí, ficas atento .
Vou deixar teus documentos na encruzilhada. Báh, isso é um assalto
Levanta os braços e te aquieta, tchê !
Não tentes nada e cuidado que esse facão corta
ASSALTANTE MINEIRO: uma barbaridade, tchê.
Ô sô, prestenção Passa as pilas prá cá !
Issé um assarto, uai. E te manda a la cria, senão o quarenta e quatro fala.
Levantus braço e fica ketin quié mió procê.
Esse trem na minha mão tá chein de bala...
Mió passá logo os trocados que eu num tô bão hoje. ASSALTANTE NORDESTINO:
Vai andando, uai! Tá esperando o quê, sô?! Ei, bichim...Isso é um assalto...Arriba os braços e
num se bula nem faça muganga...Arrebola o
dinheiro no mato e não faça patim senão enfio a
ASSALTANTE CARIOCA: peixeira no teu bucho e boto teu fato pra fora!
Aí, perdeu, merrrrrrrrrrmão Perdão, meu Padim Ciço, mas é que eu to com uma
Seguiiiinnte, bicho fome da moléstia.
Tu te fu. Isso é um assalto...
Passa a grana e levanta oxxxxxxxx
braçoxxxxxxxxxxx rapá.
Não fica de caô que eu te passo o cerol....
Vai andando e se olhar pra traxxxxxxxxxxxxxx vira
presunto.

Você também pode gostar