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PROCESSO PENAL FDUCP

AULAS TEÓRICAS DE PROCESSO PENAL – PROF. JOSÉ LOBO MOUTINHO

& PROF. HENRIQUE SALINAS

2012/2013

15 de Fevereiro – Aula 1 (PROF. JOSÉ LOBO MOUTINHO)

Apresentação. Bibliografia. Método de Avaliação.

O processo penal não serve para apanhar o criminoso; o criminoso só surge no trânsito
em julgado da sentença. Até lá (até ao trânsito em julgado da sentença) chama-se
arguido e presume-se inocente.

19 de Fevereiro – Aula 2 (PROF. JOSÉ LOBO MOUTINHO)

Toda a definição em Direito é perigosa.

NOÇÕES BÁSICAS E GERAIS

PROCESSO PENAL: conjunto de actos em que a actividade é dirigida à jurisdição


penal. Jurisdição enquanto actos que dizem o direito.

É preciso que esta coisa de o direito penal ser declarado e executado no processo
penal é uma garantia fundamental dos cidadãos. Tal encontra-se afirmado na reserva
dos tribunais (art.29º CRP). A CRP não diz que ninguém pode ser punido por, mas sim
que ‘’Ninguém pode ser sentenciado criminalmente senão em virtude de lei anterior
que declare punível (…)’’. A Jurisdição é o fim que qualifica o processo, e não a sua
marca. Tal não significa que o processo penal seja todo ele dominado por um tribunal
e que em todos os momentos ele tenha de intervir. A organização do processo pode
determinar que tal se encontre nas mãos do MP e não do tribunal.

O processo está organizado porque visa a finalidade da jurisdição. A jurisdição como


fim qualitativo do processo. A Jurisdição qualifica o processo como fim.

Interpretação da expressão Jurisdição enquanto Fim Qualitativo do Processo: se no


final do processo penal existir uma sentença condenatória de seguida surge uma fase
executiva do mesmo. Na fase de execução (prisão, pagamento de uma sanção
pecuniária compulsória, etc.), que surge depois da sentença condenatória com
trânsito em julgado, pode-se dizer que o processo penal surge para realizar o direito
penal que foi proferido na sentença condenatória. Se dizer que o Processo Penal serve
para realizar e declarar o direito penal é necessário colocar a seguinte questão: e se o
processo penal terminar com uma sentença de absolvição? O Processo Penal não foi
eficaz? Não, as fases declarativas do processo não visam, de um certo modo, a
realização do processo penal. O processo penal na fase declarativa visa resolver um
ponto de interrogação: gerando-se uma dúvida consistente da possibilidade de ter
sido praticado um acto criminoso, o processo penal visa resolver uma dúvida
socialmente consistente sobre a pratica de um crime. O agente da infracção não
aparece nesta fase do aparecer, mas se alguém aparecer designa-se como arguido.

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Para se ser arguido basta que as circunstâncias sociais apontem para ele como
possível agente da infracção. O processo penal não serve para prosseguir o criminoso,
uma vez que na fase declarativa apenas existe o arguido e esse pode ser qualquer um
de nós.

Tal explica porque é que o arguido tem de ser a principal pessoa no processo: o
arguido não é o criminoso, mas é uma pessoa e por motivos de igualdade chama-se o
ao processo para esclarecer os factos. Deste modo, nós só podemos dizer que o
Processo Penal visa, na fase da declarativa, a declaração do direito penal se nessa
fase podermos incluir também a sentença de absolvição. O processo penal não visa a
declaração do direito penal, mas sim o caso julgado (decisão que se tornou
indiscutível depois de uma discussão processual sobre uma questão). O tribunal é o
foro onde se discute a prática do crime ou a sua inexistência.

Enquanto no processo civil e no processo administrativo, só se existir problemas é que


se recorre ao processo administrativo, o direito penal só se realiza no processo penal. O
processo penal é um pressuposto indispensável sem o qual ninguém pode ser
condenado ou sofrer pena (art. 29º/1). Segundo o PROF. FIGUEIREDO DIAS isto
consubstancia uma unidade funcional, mas o PROF. JOSÉ LOBO MOUTINHO não
concorda: punir e processar, pelo menos na fase declarativa, são coisas distintas. Uma
coisa é perguntar se aquele facto é crime e se por ele se deve aplicar uma pena ao
agente. Tal é uma questão de direito penal. Outra coisa é o processo: como se discute
e como se organiza a discussão.

Note-se que o art. 126º CPP e o art. 32º/8 CRP relacionam-se com o meio processual,
sendo que todos os meios ilegais podem ser meios que no caso concreto sejam os
únicos e mesmo sendo eficaz mas não são processualmente admissíveis. Existe uma
juridicidade diferente. Uma coisa é discutir se houve crime ou não, qual o crime e qual
a sentença; outra coisa é saber como processar (justamente ou injustamente).

No processo penal não é juiz que investiga oficiosamente, existindo a intervenção do


MP. Neste caso é de atender ao art. 379º/1 al. b) do CPP.

O Processo Penal tem uma relevância fundamental no Estado de Direito: a maioria dos
acórdãos do Tribunal Constitucional em fiscalização concreta, o processo penal é a
área que tem maior incidência. No processo penal é que no fundo se organiza; o
processo penal é fundamental para saber o estado em que se encontram os nossos
direitos fundamentais, nomeadamente na preservação da inocência. Na forma em
que o processo penal está organizado quem surge na fase declarativa é o arguido,
que muitas vezes é inocente, e podem surgir indícios da prática do crime e mesmo
assim o arguido estar inocente. Além da preservação da inocência, o processo penal
é fundamental para a garantia dos nossos direitos fundamentais: muitas vezes, diz-se
que o processo penal tem excesso de garantias, mas por detrás de tal, está muitas
vezes o pressuposto de que arguido = criminoso, mas pensando bem, o processo
penal tem possibilidade evasivas da nossa esfera jurídica que mais nenhum processo
tem (escutas telefónicas, pedidos de estratos bancários, etc.). No processo penal,
dentro dos parâmetros proporcionais, o legislador diz que o esclarecimento de crimes
permite restrições da liberdade, da privacidade, do bom nome (quando os processos
penais são públicos). Ou seja as restrições dos direitos fundamentais devem-se ao fim
de esclarecimento da prática ou não de um crime. Uma deficiente regulamentação

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(buscas demasiado amplas, prisões preventivas demasiado amplas) coloca em causa
o fim do processo penal. É por causa disso que os processos, e os recursos para o TC,
são mais do que muitas, sendo no processo penal que são estruturas as garantias
fundamentais. As garantias da liberdade são organizadas no processo penal
(harbeuscorpeus).

O processo penal é o direito constitucional aplicado, ou seja não é apenas uma


concepção Kelsiana de parâmetro de normas. Não, trata-se na realidade de tal uma
vez que de forma global no processo penal estão as garantias fundamentais do
cidadão em jogo.

MODELOS E PRINCÍPIOS DO PROCESSO PENAL

Qual o tipo essencial de processo? Como é que o processo está organizado? Qual a
sua estrutura? Quais os vectores, linhas, que oferecem a feição essencial do processo?
Qual as escolhas fundamentais que permitem a escolha do tipo de processo? Qual o
modelo essencial do processo penal?

A estrutura do julgamento no processo civil e no processo penal não são muito


diferentes. A fase de julgamento, à partida não tem grande diferença: enquanto no
processo penal existe o MP e no processo civil existe o advogado do autor, de resto
não é muito diferente. Enquanto no processo civil, tem de ser assim o processo penal
não tem de ser assim: nós escolhemos, achamos, que aquela é a melhor forma de
organizar uma discussão. Sendo o direito privado disponível, obviamente que neste
vigora o princípio do dispositivo inicialmente. A estrutura triangular existe nos dois
processos, mas no processo civil existindo dois particulares em discussão ambos têm de
estar numa posição paritária. O dispositivo do direito privado implica o impulso de
parte (não há juízo sem autor), e a posição equiparada a igualdade material das
pessoas traduz-se na existência do princípio do contraditório e na distribuição do ónus
da prova de forma equitativa. Uma estrutura destas no direito civil é imperativamente
assim. No processo penal não tem de ser assim: primeiro o direito não é disponível, e
por outro lado não há duas partes no processo: a única pessoa que está em jogo no
processo é o arguido, ou seja o arguido é o único que tem a esfera jurídica em jogo no
processo. Não existem duas partes equiparadas com a esfera em jogo no processo.
Portanto não existe no processo penal um princípio de contraditório natural nem
vigora o princípio do dispositivo. A vítima no processo penal se surgir só surge na
sentença, sendo que até lá tem se alguém que diz ser vitima (a vítima é tão vítima
como o arguido é agente). Nos termos do art. 69º CPP consagram-se as situações em
que a vítima (assistente) intervém no processo.

Tanto é possível um esquema do tipo em que ao arguido aparece materialmente


perante o tribunal, como um esquema trilateral em que para preservar a
imparcialidade do tribunal organiza-se o processo porque se quer assim. Ou seja, tanto
pode estar o processo organizado perante um esquema inquisitório como organizado
por um esquema acusatório. Repara-se que o modelo inquisitório era o usado
historicamente.

(VELHO) PROCESSO ACUSATÓRIO: Típico das sociedades mais simples: os crimes de


furto, roubo, dano e injúria eram delitos particulares em que a pena não era pública.
Assentava num processo semelhante ao civil: processo acusatório por parte do

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particular (exigia o impulso de um terceiro, o centro do impulso judicial não era feito
pelo tribunal) e assente no processo do contraditório perante passividade imparcial do
juiz.

PROCESSO INQUISITÓRIO: típico da evolução para sociedades mais complexas e


estruturadas; o crescimento do poder social, do poder do estado, torna natural o
nascimento de crimes sem um ofendido palpável pelo que o interesse da justiça
compete nomeadamente ao tribunal. O processo começa com uma informação tal
que faz formulemos um juízo de que uma infracção aconteceu, começando por uma
investigação pelo próprio magistrado seguido de um julgamento.

 Inicio por investigação Judicial oficiosa (inquisitio) e pronúncia ou não


pronúncia

 Segue-se a contestação e julgamento (valiam as provas da fase anterior


(escritas) e encontra-se sujeito a princípio de verdade material,
independentemente da posição do ofendido)

O juiz procura da verdade material, não estando limitado pela actuação probatória
do acusador e pelas alegações. O juiz tem um papel activo.

O processo inquisitório era o processo romano extraordinário, que nunca entre nós foi
verdadeiramente uma regra, mas na prática tornou-se o processo mais frequente.
Cada vez mais, à medida que a sociedade foi crescendo, o sistema passou a
depender menos do impulso dos particulares. Posteriormente, foi adoptado pelo
direito da igreja, mas é um processo que dominou as ordens jurídicas até ao
liberalismo, mais exactamente o processo penal reformado que apareceu no código
de instrução penal. A legislação liberal procurou ser um processo de natureza mista,
uma vez que procurava um processo com elementos de cada um dos modelos do
processo. Estamos face a um regresso ao processo acusatória, uma vez que procurava
se o sossego do tribunal enquanto alguém lhe formulasse uma acusação, se desseuma
oportunidade de defesa ao arguido, tendo por fim a garantia da defesa, mediante a
imparcialidade do juiz.

Retomar o Acusatório na Estrutura do Processo –> Necessidade de Acusação

 Promoção por entidade diferente do tribunal (recriação do MP)


 Equiparação da Promoção e Defesa
 Com Posição Imparcial do Juíz

Manutenção de Aspectos do Processo Inquisitório

 Princípio da Oficialidade e da Legalidade: o MP não está dependente do


impulso de ninguém para investigar e obrigado a proceder, a investigar. Ele
não está limitado em princípio pelo particular e não lhe é permitido fazer um
juízo livre.

 Princípio da Verdade Material (Princípio da Investigação

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Ou seja, conseguiu-se uma estrutura acusatória (trilateral) em que o juiz é passivo e só
terá de julgar quando algo lhe seja apresentado, mas a organização de tal é oficial
do MP permitiu que este age como velho juiz do processo inquisitório. O MP é o centro
do sistema, uma vez que é dele que depende a estrutura acusatória do processo e
sobre ele repousa o velho poder inquisitório que assenta na possibilidade de
investigação.

O Actual Processo Penal Português é acusatório quando à estrutura essencial, mas tem
aspectos inquisitórios.

 É Acusatório quanto à Estrutura Essencial

 Art. 32º/5 I parte CRP: o tribunal não pode nem mexer-se sem
acusação, nem exceder os limites da acusação.

 PRINCÍPIO DA ACUSAÇÃO: art. 309º e 379º/I al. b) – o tribunal não pode


promover o processo nem conhecer de factos daqueles que lhe uma
outra entidade lhe diz na acusação

 De tipo moderno/misto: existe o MP, ou seja existe uma magistratura


organizada que tem por função essencial, que determinou a sua
criação, é o exercício da acção penal (art. 219º/I CRP). O MP não tem
o monopólio da acção penal uma vez que o MP está muitas vezes
condicionado em certos casos pela vontade dos particulares (é
verdade que o MP tem legitimidade para exercer a acção penal sem
mais em principio, muito embora tal seja um princípio com restrições. Ou
seja, há crimes, excepcionalmente, em que a sua legitimidade está
restringida: crimes sexuais e crimes de injúria ou difamação o
legislador tem receio que o processo penal conduzido contra a
vontade da própria vitima possa multiplicar os danos que já resultavam
do próprio crime)

 Tem aspectos Inquisitórios

 Na Promoção

 PRINCÍPIO DA OFICIALIDADE (art. 48º): o MP tem legitimidade


para de forma incondicionada proceder nos termos do
processo penal.

 PRÍNCIPIO DA LEGALIDADE (art. 219º/I CRP e por exemplo o art.


262º/2): o MP é obrigado a proceder, tem o dever de tal.
Atende-se ao art. 219º/1 II parte.

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 Na Prova

 PRINCÍPIO DA VERDADE MATERIAL E INVESTIGAÇÃO (art. 340º): o


processo pratica todos os actos necessários para a descoberta
da verdade, e mesmo o tribunal de julgamento tem esse poder
de investigação estando sim limitado pela estrutura do processo.

Embora, da natureza e critérios do direito substantivo não derive nenhuma estrutura


processo penal, este tem uma opção estrutural muito semelhante à daquele. De um
processo puramente acusatório para o inquisitório, a partir das formas liberais,
procurou-se misturar características dos dois modelos e deste modo o actual processo
penal português é um modelo misto que combina elementos dos dois modelos.

ÂMBITO DE INTRODUÇÃO

DO PROCESSO COMUM (e não das formas especiais):

 No CPP

 PROCESSO SUMÁRIO (art. 381º e ss)


 PROCESSO ABREVIADO (art. 391º e ss)
 PROCESSO SUMARÍSSIMO (art. 392º e ss)

 FORA DO CPP (art. 3º)

POR CRIME PÚBLICO (art. 48º)corresponde à excepção do Princípio da Oficialidade

 E não por crime semi-público (art. 49º): crimes cujo procedimento depende de
queixa (exemplo: crimes contra o património sem violência)

 Ou por crime particular (art. 50º)

IDEIA ESQUEMÁTICA DO PROCESSO PENAL

Não é a mesma coisa dizer réu no processo civil e arguido no processo penal: a
simples submissão de uma pessoa a processo envolve uma restrição da sua esfera
jurídica de liberdade. A submissão a julgamento trás uma restrição para a esfera
jurídica da pessoa, que começa por ser no direito à honra, mas que depois também é
sempre de uma forma restrita de outros aspectos (qualquer arguido é submetido ao
termo de identidade e residência) e além disso ainda pode estar suspenso do
exercício de funções, preso preventivamente, etc. Não se pode sentar no banco dos
réusalguém de cara lavada: o processo penal não pode começar pela petição inicial.
Primeiro em vez de o processo se iniciar com a petição inicial, como só pode ir a
julgamento alguém quando existir indivíduos suficientes da pratica dos factos por ele,
o processo penal antecipa-se a uma fase de investigação (recolha da prova da
pratica da infracção), depois discute-se se existem indícios ou não e só depois é que
se passa para o julgamento. A contestação do arguido só é apresentada na fase de
julgamento.

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PARTIÇÃO FUNDAMENTAL

 FASES PRELIMINARES (ao julgamento) – Livro VI CPP  PROCESSO


PREPARATÓRIO OU PRELIMINAR

 Inquérito: Fim (art. 262º) e MP (art. 263º)


 Instrução: Fim (art. 286º/1) e JIC(art. 288º/1)

 JULGAMENTO – Livro VII CPP  PROCESSO PRINCIPAL

 Actos Preliminares (Audiência/Sentença) – Tribunal do Julgamento (art.


14º a 16º)

FIM DO INQUÉRITO

Na base do Inquérito está sempre uma notícia da infracção. Deve ser possível que
aquele crime tenha sido praticado de forma a possibilitar este inquérito. Trata-se de
uma informação que baseia o juízo de que o crime pode ter sido cometido, pelo que
conduz a uma dúvida sobre a pratica do crime o que dá origem ao processo.

A noticia do crime encontra-se consagrada no art. 241º e ss CPP. Quando às


denúncias anónimas é necessário atender ao art. 246º/5.

O inquérito não é só um acrescer de prova, o próprio facto está em elaboração.


Analisar a existência do crime assenta em identificar/elaborar o objecto do processo.
Trata-se de produção de prova para saber se há indícios suficientes para ele ser
levado a julgamento.

Terminada a investigação, dá-se o encerramento do inquérito. Das duas uma: ou há


indícios suficientes e neste caso nos termos do art. 283º/1 e 2 o MP deduz acusação
(nesta fase, surge as formas de diversão nos quais pode existir ou não o princípio da
oportunidade); ou não há, o MP arquiva nos termos do art. 277º/1 e 2.

Note-se que o MP tem a direcção do inquérito, mas pode acontecer que os actos de
investigação sejam realizados pela polícia ou por outras entidades que sejam
legalmente autorizadas a fazê-lo. A direcção da investigação compete sempre ao
MP, mas a pratica dos actos de investigação pode ser delegada por ele. Alguns actos
não cabem ao MP, nomeadamente as escutas, em que a decisão de autorização
cabe ao juiz a pedido do MP. Se durante o inquérito for necessário praticar actos que
restrinjam direitos fundamentais eles terão de ser praticados pelo juiz, apesar da
direcção do inquérito caber ao MP.

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CARACTERES GERAIS DO INQUÉRITO, COMO FASE

 FASE INQUISITÓRIA

 PRINCÍPIO DE INVESTIGAÇÃO OU NECESSIDADE (art. 262º/1 e 267º)

 QUANTO À ESTRUTURA DOS ACTOS DE INVESTIGAÇÃO: entre quem investiga e o


meio de prova. É uma estrutura inquisitória, unilateral (não é feita em diálogo)

 FASE ESCRITA (art.275º)

 REVISÃO DE 2007

 Fase já não secreta, em princípio (art. 86º)

22 de Fevereiro – Aula 3 (PROF. HENRIQUE SALINAS)

A fase do inquérito serve para a investigação da pratica do crime, determinar os seus


agentes e a responsabilidade deles, enquanto ocorre a recolha de provas, nos termos
do art. 262º/1.

Do ponto de vista técnico jurídico, o que está na origem do inquérito é a notícia do


crime.

Nos termos do art. 241º, encontram-se consagradas as modalidades da notícia do


crime:

 Conhecimento próprio: MP toma conhecimento directo da prática do crime,

 Por intermédio dos OPC (órgãos de polícia criminal): Na generalidade das


situações, outras pessoas dizem ao MP que ocorreu um facto como relevância
criminal.

 Denúncia (lato sensu) – art. 242º e ss e art. 53º/1 al. a): qualquer pessoa (não
sendo o MP nem os OPC) comunica um facto com relevância criminal.

 Denúncia stricto sensu – art. 53º/1 al. a) I parte: a denúncia é uma


declaração de ciência. Exemplo: vi uma pessoa morte na estrada.

 Queixa – crimes semi públicos e particulares (art. 49º e ss): para além de
ser uma declaração de ciência é também uma declaração de
vontade (a violência doméstica já não é um crime semi público, mas os
crimes contra a honra (injúria, difamação, etc.) são). Exemplo: eu vi o
senhor X a chamar ao senhor Y ladrão. Os titulares do direito de queixa
encontram-se consagrados no art. 113º do C.Penal – ofendidos, ou seja
o titular do bem jurídico/objecto imediato violado que a lei quis
salvaguardar com a incriminação. Se uma pessoa for injuriada, mas
morrer antes de apresentar a queixa (prazo de 6 meses) tal direito
transmite-se aos seus herdeiros.

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Nos CRIMES PÚBLICOS, nos termos do art. 48º, o MP tem legitimidade para fazer tudo e
no julgamento sustenta a acusação. A legitimidade do MP não sofre qualquer
restrição. Note-se que o art. 48º é uma regra geral.

Nos CRIMES PARTICULARES, nos termos do art. 50º, o MP só tem legitimidade (só pode
haver processo e continuação deste) se o titular do direito violado apresentar a
queixa, assumir a posição processual enquanto assistente do processo e já em veste
de assistente vier a deduzir a sua acusação particular.

Nos CRIMES SEMI PÚBLICOS, nos termos do art. 49º, a legitimidade do MP está
condicionada à apresentação de uma queixa por parte do titular do direito
respectivo. Se o titular da queixa desistir de tal o MP não tem legitimidade para
prosseguir o processo.

Enquanto da queixa depende a instauração do processo, a acusação ocorre no


momento do encerramento do inquérito. O art. 50º apenas indica quais as condições
que delimitam a legitimidade

Como é que se sabe se um determinado crime é público, semi público ou particular?

Como o art. 48º é a regra geral, se não existir nenhuma norma que diga o contrário,
não existe qualquer restrição à legitimidade do MP pelo que se está face a crime
público. Quando existe uma restrição/limite à legitimidade do MP tal tem se encontrar
consagrado no CPenal. Exemplo: art. 101, 142º e 188º/2 (crime semi público) e nº3
(crime particular) do CPenal. Note-se que como o crime é particular a legitimidade do
MP encontra-se condicionada pelos requisitos do art. 50º/1 CPP.

A importância da distinção prática é muito importante, sendo de natureza Formal:


existe uma regra geral (art. 48º - crime público) e duas excepções (crime semi público
e particular – como são excepções não são susceptíveis de aplicação analógica). Se
a ofensa à integridade física simples é um crime de natureza semi público e a ofensa
integridade física é qualificada é um crime público, embora o bem jurídico ofendido
seja o mesmo a norma excepcional é apenas o art. 143º e o art. 144º não, aplicando-
se a regra geral do art. 48º.

Nos termos do art. 262º/2 consagra-se a abertura de inquéritos estando tal sujeito ao
Princípio da Legalidade.Adquirida a notícia do crime, o MP é obrigado a instaurar o
inquérito, não existindo aqui poderes de oportunidade. O MP está estritamente
vinculado ao princípio da legalidade. Quais são as excepções previstas no nº2 I parte?

 Crime semi público e particular

 Há formas de processo, por exemplo o sumário, que começa logo com o


julgamento, não existindo inquérito.

CONTEÚDO

 PRINCÍPIO DE NECESSIDADE – art. 262º/1: finalidades do inquérito. Na fase de


investigação realizam-se exames periciais, interrogatório às testemunhas,
buscas pela obtenção e produção de prova, etc. Ou seja, o MP tem de fazer
aquilo que for mais conveniente para alcançar as finalidades do inquérito.

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 DESVIO: obrigatoriedade do 1º interrogatório do arguido – art. 272º. É o único
acto obrigatório: visa permitir que o arguido possa exercer o seu direito de
defesa. O arguido pode, por exemplo, ter um alibi embora os indícios
conduzam num determinado sentido. É obrigatório que a pessoa que esta a ser
investigada seja constituída como arguido e tenha a oportunidade de exercer
o seu direito de defesa, podendo, contudo, exercer o seu direito ao silêncio.

DURAÇÃO

 Nos termos do art. 276º, consagram-se os prazos máximos de duração do


inquérito. No nosso ordenamento os prazos só são peremptórias para as partes,
pelo que em princípio se o MP nada fizer durante o prazo, pós prazo nada
acontece. O MP só tem de cumprir o prazo máximo se o processo estiver em
segredo de justiça e se quiser impedir o acesso aos autos. Quando exista
arguidos em prisão preventiva ou em domicílio o MP tem que respeitar os
prazos.

 Consagra-se uma natureza meramente ordenadora – art. 276º/4, 108º e ss e art.


89º/6.

ENCERRAMENTO DO INQUÉRITO

Agora contrapõe-se por um lado os crimes públicos e semi públicos, e por outro lado
os crimes particulares: no fim do inquérito não existe qualquer diferença entre os dois
primeiros, mas por outro lado nos crimes particulares existem os requisitos do art. 50º.

Ministério Público – art. 276º

 Crimes Públicos e Crimes Semi Públicos

 Falta de Pressupostos  Arquivamento – art. 277º a 279º


 Indiciação e Outros Pressupostos
 Acusação – art. 283º
 Alternativas – art. 280º, 281º/2 e 392º (estas medidas tem o
mesmo efeito que teria uma condenação na sequência do
julgamento: não se gasta o dinheiro do Estado, uma vez que se
satisfazem as finalidades que se prosseguem logo no
encerramento do inquérito. Tal sucede nas seguintes situações:

 Art. 392º - Dedução da acusação no processo


sumaríssimo: a pena concreta resulta do acordo quanto
à pena entre o MP, o juiz e o arguido. Só pode ser
utilizado em casos muito pouco graves (só quando o
arguido deve ser condenado numa pena de multa). O
MP, nos termos do art. 392º, o MP diz qual a pena que é
mais adequada, o juiz aceita e o arguido ou aceita ou
recusa não podendo fazer uma contra proposta. Se
arguido não concordar ou o juiz considerar que não se
verificam os pressupostos para o processo sumaríssimo, o

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processo volta a ser transmitido sobre a forma comum e
ele passa a ser verdadeiramente uma acusação.

 Art. 280º e 281º/2 – têm em comum que o MP em concordância


com o juiz chegarem a acordo que não há necessidade de
continuar o processo, uma vez que o arquivamento e a
suspensão cumprem a finalidade que teria a aplicação de uma
pena.
o Art. 280º - o processo é arquivado sem que o arguido
tenha que realizar qualquer contraprestação. Não é o
arquivamento do art. 277º porque aqui já existe
indiciação suficiente. Nos casos do art. 280º verificam se
os pressupostos de dispensa da pena consagrados no
art. 74º do C.Penal. Nos termos do art. 143º/3 consagram-
se situações de dispensa de pena. O que tem lugar não
é uma dispensa de pena (esta só pode ser decretada
pelo juiz na sentença), mas o MP propõe ao juiz que o
processo seja arquivado. O MP aqui também precisa de
ter a concordância do juiz de instrução. Se ele não der a
concordância terá de ser proferida a acusação.

o Art. 281º/2 – são situações de gravidade superior à


anterior, sendo o requisito quanto ao limite da pena este
não ser superior a 5anos (já os homicídios privilegiados
podem caber aqui – criminalidade média).
Compreende-se que o ‘’arquivamento’’ não saia de
graça ao arguido. Ele terá de realizar algumas
prestações. Prestações enquanto equivalentes
substâncias da pena (visam obter que sejam cumpridas
as finalidades da pena). As prestações encontram-se
consagradas no nº2 mas tudo isto só ocorrerá se existir
acordo entre o MP, o arguido, assistente e o juiz de
instrução. O processo fica só suspenso, mas não fica
suspenso ad eternum: só durante um determinado prazo
para que o arguido cumpra as injunções e as regras de
conduta. Se ele assim fizer, aplicando o art. 282º, o
processo será arquivado pelo MP. Se o arguido não
cumprir o MP irá deduzir a acusação.

 Crimes Particulares Notificação (art. 285º)  Acusação Particular

 Se não existir acusação particular, o processo não pode avançar. Deste


modo, num crime particular, terminado o inquérito, obrigatoriamente o
MP não tome nenhuma atitude (não arquive ou não acuse) sem dar a
palavra ao assistente. Ainda que o MP ache que não há indícios da
pratica do crime, ele terá sempre de notificar o assistente para que este
querendo deduzir acusação particular. O que o MP faz é dizer o que
acha da existência ou inexistência de indícios, mas mesmo assim terá
sempre de notificar o assistente.

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 Com a notificação, o assistente poderá deduzir ou não acusação. Se


não deduzir, o MP não poderá fazer nada mesmo que ache que há
indícios porque falta um requisito (art. 50º) o que condiciona a sua
legitimidade.

 O MP está sujeito a critérios de estrita legalidade e objectivade.

 Com ou sem acusação do MP, com a acusação do assistente, o


processo segue sempre para a frente.

A INSTRUÇÃO COMO FASE DO PROCESSO

Nos termos do art. 286º/1, a instrução tem como finalidade imediata e última, ou seja
visa a comprovação (confirmação?), isto é em rigor um meio de impugnação da
decisão tomada no encerramento do inquérito. Tem natureza impugnatória.

Nos termos do art. 288º, encontra-se consagrada a fase jurisdicional: é da


competência do juiz da instrução.

 Nos termos do art. 286/2, a instrução tem caracter facultativo nos termos do
art. 287º consagra-se o requerimento. Se o MP arquiva e ninguém requer a
abertura de instrução, o processo fica arquivado, se o MP tiver acusado e
ninguém impugnar o processo vai directamente para a fase do julgamento.

 Nos termos do art. 289º, já é contraditória: é feita com a participação de todos


os sujeitos processuais.

 Nos termos do art. 86º/6 al. a), já é pública (desde de 2007 – na fase de
instrução já não vigora o segredo de justiça)

 Nos termos do art. 303º, já possui um objecto invariável: o objecto processual já


se encontra bem delimitado. Uma das consequências fundamentais da
estrutura acusatória do processo é que: o tribunal só pode julgar se existir
acusação e só pode conhecer dos factos que foram imputados ao arguido
nessa mesma acusação (PRINCÍPIO DA VINCULAÇÃO TEMÁTICA). A
delimitação do objecto do processo tem lugar no encerramento do processo.
Se o arguido é acusado por furto simples e o assistente não requer a abertura
da instrução, o arguido só pode ser condenado por furto simples.

CONTEÚDO

 FASE DOS ACTOS DE INSTRUÇÃO: actos de produção de prova (1º - prova que
o requerente de abertura de instrução pede ao juiz que seja produzida; 2º - o
juiz pode ainda oficiosamente determinar a pratica dos actos de instrução que
considere ser necessáriospara a descoberta da verdade e também deferir
aqueles que considere desnecessários)

 Requerimento
 Despacho de Abertura

Maria Luísa Lobo – 2012/2013 Page12


PROCESSO PENAL FDUCP

 FASE DO DEBATO INSTRUTÓRIO: momento em que os sujeitos processuais fazem


as suas alegações finais quanto à prova produzida (art. 298º)

 Encerramento

 Decisão Instrutória – art. 307º e 308º

o Despacho de Pronúncia

o Despacho de não Pronúncia

Ministério Público: encerramento do Inquérito

 Crime Particularnotificação (art. 285º)  ASSISTENTE (se é ele a acusar não


tem legitimidade para vir mais tarde impugnar): acusação particular

 MP – art. 285º/3: não poderá se tal vier a alterar substancialmente os


factos nos termos do art. 285º/4 devido à falta de legitimidade e não
pode actuar em nome do arguido porque este pode querer ir a
julgamento em vez de ser despronunciado

 Acusação
 Abstenção

 ARGUIDO – requer a abertura da instrução – art. 287º/1 al. a): para


evitar a submissão a julgamento; se não o fizer o processo avança para
a fase de julgamento

 Crime Público e Semi Público

 Acusação (art. 283º)

 ASSISTENTE:para evitar a sua submissão a julgamento

o Acusação – art. 284º: desde que não altere


substancialmente a acusação do MP.

o Requer a Abertura da Instrução – art. 287º/1 al. b):


quando pretenda alterar substancialmente a acusação
do MP, mas necessita de ter a concordância do juiz.
note-se que o assistente não está sujeito a critérios de
objectividade.

o O assistente poderá ainda nada fazer, uma vez que


como não se está face a um crime particular o processo
segue.

Maria Luísa Lobo – 2012/2013 Page13


PROCESSO PENAL FDUCP
 ARGUIDO: requer a abertura da instrução – art. 287º/1 al. a):

 Arquivamento (art. 277º)  ASSISTENTE

 Requer a abertura da instrução – art. 287º/1 al. b)

 Requer uma reclamação hierárquica – art. 278º/2

ALTERAÇÃO SUBSTANCIAL DOS FACTOS art. 1º al. f) – aquela que tenha por efeito a
imputação ao arguido de crime diverso ou a agravação dos limites máximos das
sanções aplicáveis.

26 de Fevereiro – Aula 4 (PROF. HENRIQUE SALINAS)

ACTOS DE INSTRUÇÃO

Nos termos do art. 290º, estabelece-se o regime da competência.

Os actos de instrução não são obrigatórios nos termos do art. 288º/4 e nos termos do
art. 289º/1.

 Reclamação do despacho que indefere a sua realização a decidir por


despacho irrecorrível, nos termos do art. 291º/2. Não pode haver recurso desta
decisão.

 Excepto interrogatório do arguido, a seu pedido nos termos do art. 292º/2 II. Se
o arguido requerer o seu próprio interrogatório o juiz não pode recusa-lo ouvir.
Um dos direitos fundamentais do arguido é o direito ao silencio. É o único acto
de instrução obrigatório, desde que o arguido o requeira ao juiz de instrução.

Não existe repetição (caracter complementar), nos termos do art. 291º/3. Em princípio,
a prova que já tiver sido produzida na forma de inquérito não vai ser repetida, salvo se
se demonstrar que não foram cumpridas as formalidades exigidas ou mesmo assim
existe a necessidade da sua repetição.

Os actos de instrução possuem uma estrutura contraditória nos termos do art. 289º/2.

DEBATE INSTRUTÓRIO

É obrigatório: não pode haver fase da instrução sem este.

A sua finalidade encontra-se consagrada no art. 298º: apenas uma discussão oral, em
que cada um dos sujeitos processuais vai dizer quanto à prova resultou ou não indícios
suficientes. Se se justificou a submissão do arguido a julgamento.

Nos termos do art. 297º/3 consagra-se a notificação do despacho que designa data.

A estrutura do debate instrutório encontra-se consagrada no art. 302º:

 Essencial: discussão sobre

 Resultados do inquérito e da instrução


 Situação indiciária

Maria Luísa Lobo – 2012/2013 Page14


PROCESSO PENAL FDUCP
 Eventual: produção de prova indiciária suplementar nos termos do art. 302º/2 e
ss:

 Objecto: questões concretas controversas definidas pelo juiz


 O regime específico dos actos instrutórios praticados durante o debate
 Contraditoriedade
 Recorribilidade do despacho que indefira

Decisão Instrutória

No final da instrução, o juiz ira proferir a decisão instrutória.

Modalidades da Decisão Instrutória:

 Despacho de Pronúncia: nos casos em que o tribunal ache que exista indícios
suficientes da pratica do crime. Segue-se para a fase de julgamento.

 Despacho de Não Pronúncia: não há indícios da pratica de crime, seja por que
razão for. O processo ficara arquivado e não segue para julgamento.

Quanto à Impugnabilidade:

 Princípio Geral da Recorribilidade nos termos do art. 399º, salvo exista menção
expressa em sentido contrário.

 Excepções:

 Directa: art. 310º/1 – so estabelece a irrecorribilidade das decisões


expressamente previstas no seu texto, sendo que às restantes aplica-se
o art. 399º. Se no final da instrução o juiz arquiva, o assistente
poderárequer a abertura da instrução. Se o juiz der razão ao assistente
ira pronunciar o arguido. Este despacho de pronuncia é susceptível de
recurso.

 Abrange toda a decisão e não só o juízo de indiciação: art.


308º/1 e 3.

 Indirecta: art. 309º/1 e 2 e art. 310º/2 -

Quanto ao Caso Julgado: este problema não se coloca quanto ao despacho de


pronuncia (exige a remessa dos autos para o julgamento) mas apenas quanto ao
despacho de não pronuncia.

Maria Luísa Lobo – 2012/2013 Page15


PROCESSO PENAL FDUCP
FASE DO JULGAMENTO

Despacho Liminar

É da competência do presidente, e tem como objecto nos termos do art. 311º/1 o


saneamento do processo. Note-se que a confissão do arguido nos articulados não tem
qualquer efeito tal como não tem qualquer efeitos o facto do arguido não contestar.

Acórdão nº2/95: a decisão judicial genérica transitada e proferida ao abrigo do art.


311º/1 do CPP, sobre a legitimidade do Ministério Público, não tem valor de caso
julgado formal podendo até à decisão final ser dela tomado conhecimento.

A contestação encontrasse consagrada no art. 315º, tendo um conteúdo de defesa


(processual e) material e poder ocorrer o requerimento de meios de prova.

Quanto aos direitos do arguido tal não consubstancia um ónus e existe a irrelevância
probatória: (1) de falta de contestação; (2) de não imputação especificada, (3) de
confissão.

Maria Luísa Lobo – 2012/2013 Page16


PROCESSO PENAL FDUCP
PRINCÍPIOS DA AUDIÊNCIA DE JULGAMENTO

Princípios Estruturais:

 Contraditório (art. 32º/5 CRP, 327º, 299º/2 e 360º)

 Concentração e Continuidade (art. 328º/6 e ac. STJ. Nº11/2008): para efeitos


de conservação da prova, se existir um adiamento entre sessões de audiência
de julgamento superior a 30 dias, a audiência tem de recomeçar do inicio.
Hoje em dia esta regra já não faz sentido devido ao facto de toda a prova ser
gravada.

 Imediação: o tribunal só pode julgar com base na prova que tiver sido
produzida na audiência de julgamento. no inquérito, as intimações das
testemunhas são feitas de forma inquisitória (pelo MP, sem que os sujeitos
processuais estejam presentes)

 Oralidade

 Publicidade (art. 321º)

Nos termos do art. 355º consagra-se a garantia da audiência quanto aos meios de
prova.

Outros Princípios

 Investigação (art. 340º)

 Identidade do Objecto de Processo (art. 358º, 359º e 379º)

1 de Março – Aula 5 (PROF. JOSÉ LOBO MOUTINHO)

A LEI PROCESSUAL PENAL

FONTES

 A CONSTITUIÇÃO PROCESSUAL PENAL

 O Direito Processual Penal é Direito Constitucional aplicado.


 Art. 32º/1 e 2 e 8 da CRP: Respeita às garantias fundamentais do
processo penal existe um cuidado com o trânsito do processo penal.
Muito para além deste elenco de garantias, algumas delas e tem
servido de cláusulas abertas para a descoberta de novos direitos
fundamentais, nomeadamente o nº1 (‘’todas as garantias de defesa’’).
Para além das exigências o art. 32º existe a cláusula aberta que visa um
processo equitativo. Na versão inicial, o nº1 não consagrava o direito ao
recurso, sendo acrescentado numa das revisões posteriores. Trata-se de
uma válvula de escape em que apesar das inovações que a vida social
sempre trás que está pronta a funcionar quanto existam garantias. Será
necessário ainda atender ao art. 449º/1 al. g) do CPP.

Maria Luísa Lobo – 2012/2013 Page17


PROCESSO PENAL FDUCP
 No processo penal a jurisprudência constitucional tem uma enorme
importância

 FONTES INTERNACIONAIS

 DUDH (art. 8º e 16º/2 da CRP e art. 10º e 11º/1)


 CEDH (art. 6º)

 LEI ORDINÁRIA

 A reserva relativa de competência da AR – art. 165º/1 al. c) só pode


legislar em matéria processual penal a AR ou o Governo quando
autorizado
 O CPP
 Referência aos acórdãos de fixação de jurisprudência – art.
445ºterminando o instituto dos assentos, tal não implicou a eliminação
do instituto de uniformização de uniformização. Na prática, os acórdãos
de uniformização de jurisprudência multiplicaram-se (com maior
facilidade existem agora, uma vez que é rara a pequena intervenção
do STJ, muitos casos ‘’morrem’’ na Relação). Embora a lei diga no nº3
do art. 445º que não existe jurisprudência obrigatória na realidade a sua
força material grande. Normalmente não existem acórdãos de
uniformização de jurisprudência seguintes que se contradizem.

O CPP é de 1987:

 Tem como antecedentes remotos o Código de 1929, a reforma de 1972 a


legislação pós revolucionária. Em 1935 tornou-se o processo com uma estrutura
acusatória. Com a Revolução o Processo Penal foi identificado como uma
mole do sistema opressivo do regime antigo, existindo uma convulsão no
sentido de fazer desaparecer a estrutura acusatória, tirando o poder ao MP e
centrando o poder no juíz. O MP fica reduzido a nada.

 Foi elaborado pela Comissão revisora presidida pelo Prof. Figueiredo Dias,
sendo a lei de autorização legislativa a nº43/86, de 26 de Setembro. Foi
publicado em 1987 superando as divagações das legislações pós revolução e
repondo uma estrutura acusatória e um MP com função activa.

 Existiram várias reformas, sendo que a de 1998 foi presidida pelo Prof. Germano
Marques da Silva.

INTERPRETAÇÃO

A interpretação da lei penal é feita de acordo com as regras gerais que se encontram
no CC. É importante desde já salientar que a presunção de inocência (in dubio pro
reo) não é cânone interpretativo. Se existir uma duvida na veracidade de um facto
essa duvida deverá considerar-se a favor do réu, mas não é uma interpretação, mas
apenas um género de ónus da prova. Como regra de decisão terá que se dizer que
não é uma regra de decisão da matéria de direito.

Maria Luísa Lobo – 2012/2013 Page18


PROCESSO PENAL FDUCP
INTEGRAÇÃO

Quando se fala em integração é necessário atender ao art. 4º CPP. É necessário


contudo salientar que existem proibições de analogia, nos termos gerais em dois
casos:

 Normas excepcionais ou enumerações taxativas


 Legalidade por força da restrição de direitos fundamentais (art. 191º)

Ou seja: não é proibida a analogia sendo esta utilizada nos casos omissos, com
excepção dos sectores de processo penal indicados em que esta é proibida.

APLICAÇÃO DA LEI NO TEMPO

Nos termos do art. 5º/1 consagra-se o Princípio Tempusregitfactum (o tempo rege o


facto) ou aplicação imediata que se traduz no seguinte:

 Não retroactividade da regra posterior e não ultra actividade da regra anterior


 Aos processos futuros e aos actos futuros dos processos pendentes

PROBLEMA: O processo às vezes começa segundo uma determinada lei, continua


com outra em vigor e termina com outra. Quidiures? A lei estabelece como princípio
exactamente a mesma coisa, ou seja quando aparece a lei nova ela aplica-se aos
processos que se iniciem depois e aos processos que se iniciaram antes mas que
continuam após a sua estrada em vigor (processos pendentes). Cada acto processual
é avaliado de acordo com a lei que estiver em vigor no momento da sua prática.

Contudo, existem excepções ao Princípio basilar nesta matéria:

 Agravamento sensível da situação processual do arguido – art. 5º/2: se não


existisse essa excepção a nova lei aplicar-se-ia. A norma revogada continua a
aplicar-se o que consubstancia um caso de ultra actividade,

 Quebra de harmonia e unidade dos actos processuais – art. 5º/2:

 O princípio do juíz natural – art. 32º/9 CRP: existe uma divergência doutrinal.

 O problema das chamadas leis processuais materiais – Prof. Taipa de Carvalho


(criador) e Prof. Germano Marques da Silva: em vez de se aplicar o art. 5º CPP
aplicam-se as regras gerais de aplicação do tempo de direito penal (art. 2º CP)

 A prescrição do procedimento criminal: aplicação do art. 2º. É um


instituto que prescreve o procedimento criminal antes de mais
prescreve a punibilidade (doutrina em geral aceita tal)

 As condições de procedibilidade (queixa, acusação particular)?


Defendido pelo Prof. Taipa de Carvalho e pelo Prof. Germano Marques
da Silva: lei processual material porque se o agente não fizer queixa não
pode ser instaurado o procedimento. Aplica-se o art. 2º CP.Prof. José
Lobo Moutinho acha istouma confusão.

Maria Luísa Lobo – 2012/2013 Page19


PROCESSO PENAL FDUCP
5 de Março – Aula 6 (PROF. JOSÉ LOBO MOUTINHO)

APLICAÇÃO TERRITORIAL/NO ESPAÇO

Trata-se de um problema diferente da aplicação da lei penal substantiva. Quanto ao


regime é necessário atender sobretudo ao art. 6º:

 Primeira Parte do art. 6: Princípio da Territorialidade, ou seja a lei processual


penal é aplicável em todo o território

 Segunda Parte do art.6: consagra-se um desvio ao princípio anterior, existindo a


aplicação extra territorial

 Nos termos do art. 229º consagram-se as relações com autoridades


estrangeiras

APLICAÇÃO DA LEI QUANTO ÀS PESSOAS

Nesta matéria vigora o Princípio da Universalidade e não da Pessoalidade: a lei aplica-


se no território nacional, independentemente de ser aplicada a portugueses ou a
estrangeiros. O processo aplica-se em função do território e não das pessoas.

Existem ainda as isenções pessoais da jurisdição, nomeadamente quanto a pessoal


diplomático, ou seja o facto de se ser representante de um Estado Estrangeiro num
estado conduz a que o pessoal diplomático de um pais esta isento da jurisdição do
pais em que esta. Tal mexe ao nível do corpo diplomático, podendo a pessoa tornar-
se personae non grata mas mantem se a liberdade de acção do pessoal diplomático.
Mesmo nas embaixadas, a menos que estas o permitam, podem entrar autoridades
do país em que se encontram. Embora estejam sujeitas à lei estão isentas de jurisdição.

O PROCESSO PENAL PORTUGUÊS

ELEMENTOS NECESSÁRIOS À ORGANIZAÇÃO DO PROCESSO

 Sujeitos
 Objecto
 Actos
 Prova
 Medidas de Coacção e de Garantia Patrimonial
 Relações com Autoridade Estrangeiras

Quando se fala em MARCHA DO PROCESSO é necessário analisar duas coisas:

 Formas do Processo
 Respectivas Fases

Maria Luísa Lobo – 2012/2013 Page20


PROCESSO PENAL FDUCP
I – OS SUJEITOS DO PROCESSO

No processo existem vários intervenientes (grande número de testemunhas por


exemplo) mas só alguns são sujeitos: o Tribunal e as Partes (pelo menos em sentido
formal), nomeadamente (1) o MP, (2) o arguido, (3) as partes civis e (4) o assistente.

Quando se fala em intervenientes ou participantes estamos a referir-nos aquelas


pessoas que não tem uma condução activa no processo, ou seja não têm uma
condução orientadora ou conformadora embora também exerçam funções
(funcionários, testemunhas, peritos e intérpretes).

O processo penal em sentido real só tem uma parte: o arguido (o facto de o processo
ser decidido da forma X ou da forma Y só tem influência na esfera jurídica do arguido
e nesse sentido o processo penal só tem uma parte). A consequência jurídica do crime
é uma restrição, é uma pena que passa pela esfera jurídica do arguido este é a única
parte em sentido material no processo. Contudo, nos termos do art. 71º quando está
em causa um pedido de indemnização também se podem considerar as partes civis
como partes em sentido material.

JURISDIÇÃO (art. 8º CPP e art. 202º CRP)

Tomada no sentido etimológico, ou seja no sentido estrito, a jurisdição corresponde à


sentença final. Contudo, no sentido amplo, a jurisdição corresponde à execução e ao
processo (para – ou quase – jurisdição) e às suas fases.

Quanto à competência esta corresponde à parcela de jurisdição que compete a


cada tribunal.

PRINCÍPIO DA JURISDIÇÃO

 A RESERVA DA JURISDIÇÃO PENAL (ART. 29º/1 E 202º CRP)

 Existe uma protecção fundamental do Estado de Direito. A jurisdição


em sentido amplo tem de ser exercida num estado de direito por um
tribunal. Ou seja, nos termos do art. 202º/1 a jurisdição só poderá ser da
competência daqueles que sejam tribunais, sendo estes os que se
encontram consagrados nas regras seguintes. Se assim não for isto uma
violação da reserva da jurisdição penal.

 Esteio material na independência e imparcialidade do Tribunal

 Coordenação com estrutura acusatória do processo: não é o facto se a


jurisdição penal estar reservada aos tribunais que implica a forma como
o processo é organizado. Actualmente, a reserva da jurisdição coincide
com a estrutura acusatória.

Maria Luísa Lobo – 2012/2013 Page21


PROCESSO PENAL FDUCP
 DELIMITAÇÃO EXTERIOR, POR VEZES PROBLEMÁTICA

 Os poderes do juíz durante a investigação pré acusatória:

 A hesitação histórica e teórica entre:

o Juiz instrutor (juiz policia) – ordenamento espanhol: a


parte anterior à acusação, ou anterior ao feito em
julgamento, na fase em que se buscam os indícios
suficientes, deve intervir um juiz com a mesma extensão
que na fase de julgamento, como órgão que promove e
orienta a realização processual. A investigação que se
segue à noticia do crime deve ser judicial. A jurisdição
estende-se à própria investigação. Era a solução do CPP
de 29: a investigação estavadivida entre corpo de delito
e instrução. Deste modo, o MP ficava reduzido a nada. O
processo neste caso conduzia ao esvaziamento da
actividade do MP.

o Juiz garante (juiz das liberdades): o juiz não serve para


investigar, mas o juiz terá uma intervenção que assenta
não em investigar, ordenar periciais, etc, mas apenas
intervém se e na medida em que direitos fundamentais
estão em jogo e não pode deixar se a investigação nas
mãos do MP ou dos órgãos de policia criminal. Com o DL
35 007 chegou-se à conclusão em que se ou acabava
com o MP ou dava-se efectiva actividade ao MP. Deste
modo, passou a designar-se a fase do corpo de delito e
de instrução só pode instrução que tinha duas sub fases.
Manteve-se a competência do juiz para decidir questões
de prisões preventivas e etc mas acabou-se com o juiz
policia que esvaziava o MP e fazia desmaiar o
acusatório.

 A solução actual: o art. 32º/4 – toda a instrução é da


competência de um juiz, uma vez que pós 25 de Abril o MP não
era completamente autónomo do Governo não podia ter a
investigação preparatória (actual inquérito). Estávamos face a
um juiz policia. Posteriormente houveram decretos que
consagravam uma outra fase do processo o inquérito (diferente
da instrução) que consagrava algo diferente. Isto gerou um
problema que nunca mais teve solução mas que hoje esta
pacificado. O Código de 87 apontou para o juiz garante: art.
267º, 268º, 269º e 270º sistema de globalmente de juiz garante
(semelhante ao DL 35 007). Não existe uma instrução
preparatória seguida de uma instrução acusatória, mas sim uma
investigação seguida de uma instrução.

Maria Luísa Lobo – 2012/2013 Page22


PROCESSO PENAL FDUCP
Ac. TC 7/87: fiscalização preventiva quanto à compatibilidade
do sistema do Código (competência do inquérito ao MP) com o
art. 32º/4 afirma duas coisas (1) onde se lê no art. 32º/4 ‘’toda
a instrução e da competência de um juiz’’ deve-se ler que a
pratica de actos resultantes de direitos fundamentais é da
competência do juiz (2) não pode duvidar-se que a direcção
do inquérito cabe ao MP (219 CRP) PROF. JOSÉ LOBO
MOUTINHO: a solução é correcta mas o TC fez uma
interpretação abusiva, sendo que o fim do art. 32º/4 assentava
em que o MP não ter poderes substanciais.

 Intervenção do juiz em determinados actos (art. 280º/281º) também


levantou problemas: na versão original do Código o legislador previa
que estes institutos (alternativas à acusação) eram da exclusiva
competência do MP. Tal conduziu a requerer-se a fiscalização
preventiva e o TC reconheceu a necessidade da participação do juiz
de instrução a par do MP (‘’o MP com a concordância do juiz de
instrução’’) – art. 280º/1 e art. 281º/1.

Em suma: esta questão da delimitação exterior da jurisdição é por vezes


problemática, sendo o grande ponto das hesitações assenta em saber
a função do juiz na investigação pre acusatória. A solução actual, por
uma interpretação ‘abusiva’ do art. 32º/4 CRP, é a do juiz garante.

PRINCÍPIO DO JUÍZ NATURAL (art. 32º/9): na Alemanha designa-se como Princípio do


Juíz Legal. O Princípio do Juíz Natural visa evitar a interferência de terceiros no
processo de modo a poder interferir na decisão final. Tal encontra-se mais ou menos
consagrado no art. 32º/9

 Garantia de Independência e Imparcialidade do Juiz: acórdão 603/2003esta


garantia visa impedir a manipulação do juiz que há-de intervir.

 Ideia Fulcral: ‘’determinabilidade’’

 Impedir a interferência de terceiros no exercício de jurisdição

 Mediante a escolha do juiz

 Para exercer funções num determinado processo

Conteúdo do Princípio do Juíz Natural

 GARANTIA PLÁSTICA VERTENTES CONSAGRADAS

 Proibição de tribunais extraordinários ou de excepções:

 Art. 209º/4 e 213º CRP


 Art. 211º/1 e 3 CRP

Maria Luísa Lobo – 2012/2013 Page23


PROCESSO PENAL FDUCP
 Reserva de lei anterior na delimitação da competência (art. 32º/9 CRP)

 O problema da aplicação da lei sobre competência no tempo.


A Interpretação restritiva da disposição constitucional.

PROF. FIGUEIREDO DIAS: O princípio do juiz natural não impede a


aplicação imediata das leis sobre competência.

PROF. JOSÉ LOBO MOUTINHO:regra geral da competência no


LOFTJ e excepções

 LOFTJ 99 – art. 22º


 LOFTJ 2008 – art. 24º

 Proibição de desaforamento (art. 32º/9 CRP)

 O problema do art. 16º/3 e 4 CPPprocessos que a partida


seriam da competência do tribunal colectivo são agora do
tribunal singular mediante requerimento do MP. Mas isto não é
um critério de competência. O art. 16º à partida não generaliza
qualquer problema, sendo que só o começou a ser um
problema de o tribunal singular não pode ser declarado
incompetente (nº4). O nº4 quando diz que o tribunal não pode
aplicar pena superior 5anos, se tal for interpretado no sentido de
o tribunal não poder ser declarado incompetente, passa a ser
um problema em que deixa de ser relevante a pena concreta
mas é relevante o entendimento que o MP tem sob a pena
concreta. Entendeu-se que o nº4 só seria necessário se o tribunal
não pudesse declarar-se incompetente. No projecto do Dr.
Figueiredo Dias o nº4 não existia: o tribunal singular podendo
declarar-se incompetente declarava-se; na passagem deste
projecto para a redacção definitiva do CPP surgiu o nº4 que só
fazia sentido interpretando que o tribunal não poder-se-ia
declarar incompetente. Assim sendo interpretado levantou-se o
problema do juiz natural: os juízes singulares começaram a dizer
que recebendo o requerimento não concordavam a pena não
superior nº4 e declaravam-se incompetentes. Varias vezes o TC
disse que tal não era inconstitucional ate que o assunto ficou
pacifico: regra do nº4 permanece em que em termos de
jurisprudência, apesar de as não pronuncias de
inconstitucionalidade não fazerem caso julgado, não terem
força obrigatória geral, apesar disso foi pacificada a decisão.

 O problema da competência por conexão (art. 31º)

Maria Luísa Lobo – 2012/2013 Page24


PROCESSO PENAL FDUCP
 GARANTIA ABERTA: Pode suceder ser identificadas outras consequências do juiz
natural. Assim por exemplo, quanto às regras de distribuição dentro dos
tribunais que são estabelecidos com uma determinada competência e existem
regras que depois do funcionamento das regras de competência funcionam
dentro dos tribunais as regras de distribuição (regras de distribuição do trabalho
dentro do mesmo tribunal). Deste modo, as exigências de determinabilidade,
de alergia a que haja decisões individuais em que se escolhe o concreto
juízo/juiz são abrangidas pelo principio do juiz natural. O acórdão nº 614/03
analisa à luz das exigências do juiz natural um problema de regras de
distribuição entre os juízes de Lisboa. Tal não está previsto em mais lado
nenhum. O problema que é tratado é versado sem que o art. 32º/9 seja
aplicado no seu âmbito de aplicação. Aquilo que está em jogo é um
problema análogo do juiz natural: evitar que haja interferências ilegítimas de
terceiros com o intuito de decidir qual o juiz que ira resolver o litigio. É uma
garantia que no fundo vai ser poder ser usada no sentido de evitar a
interferência de terceiros na pessoa que vai tomar conta de determinado caso
e os riscos de determinação da decisão final.

8 de Março – Aula 7 (PROF. JOSÉ LOBO MOUTINHO)

Nas sociedades mais complexas (leia-se as não tribais) para existir o exercício da
função jurisdicional a jurisdição tem de ser repartida por uma serie de tribunais.

A divisão do poder jurisdicional pelos tribunais dá-se em primeiro lugar ao nível da


própria constituição: dentro da jurisdição total é a constituição que separa vários
troços de jurisdição e a entrega a varias ordens jurisdicionais: jurisdição judicial,
administrativa e fiscal, militar, contas, etc. Quanto ao processo penal, a CRP reserva a
jurisdição penal a duas ordens: a titulo comum (tribunais judiciais) e a titulo
especial/excepcional (tribunais militaressó funcionam em Estado de Guerra).

Uma vez que é a CRP a proceder à distinção anterior (distinção entre ordens
jurisdicionais), o exercício da função processual quando não exercida pelos tribunais
judiciais ou militares gera um vicio de falta de jurisdição o que conduz como efeitos à
inexistência dos actos processuais. O conhecimento por uma ordem de tribunais que
não tem à partida jurisdição penal não é uma questão de mera incompetência mas
sim de inexistência. As nulidades insanáveis constantes do art. 119º al. a) ou e), por
exemplo, será muito mais grave o regime do juiz que não tem jurisdição. As nulidades
encontram-se sempre taxativamente previstas na lei. A decisão final será a da
inexistência, não transitando em julgado e não sendo exequível.

A jurisdição é um pressuposto de existência do processo e a competência um


pressuposto de validade do processo.

Maria Luísa Lobo – 2012/2013 Page25


PROCESSO PENAL FDUCP
REPARTICIPAÇÃO DA JURISDIÇÃO PENAL PELOS TRIBUNAIS JUDICIAIS

É necessário distinguir entre a LOFTJ e o CPP:

 LOFTJ: como se reparte a jurisdição penal pelos tribunais judiciais? É uma lei
geral que não se limita à matéria penal, tratando ainda da matéria civil e
comercial. Interessa antes de mais a instituição tribunal: exemplo, tribunal da
comarca da Covilhã. Coloca-se numa perspectiva institucional: como é que a
jurisdição civil e criminal se distribui pelos órgãos tribunal que existem em PT?

 CPP: só tem regras de competência em matéria penal. Não lhe interessa a


existência concreta do tribunal, coloca-se numa função estrutural e funcional
do tribunal.

Na disciplina de Processo Penal iremos limitar-nos à perspectiva do CPP, esquecendo


a LOFTJ.

Em processo penal a competência internacional não é autonomizada encontrando-se


regulada no mesmo sitio que a competência territorial nos art. 20º a 22º do CPP. O
problema é muito delimitado: se o crime é cometido em território nacional o problema
da competência internacional fica resolvido quando se resolve o problema da
competência territorial; o problema só se levanta quando a jurisdição portuguesa é
aplicável a crimes cometidos estritamente em território estrangeiro. A jurisdição
portuguesa abrange à partida todos os factos para os quais a lei penal substantiva são
da competência do direito português.

Quanto à competência material, tal no CPP tem um significado diferente do estudado


no PCivil. Não pode haver competência de tribunais para certas categorias de crimes!
Contudo existem certas repartições.

COMPETÊNCIA FUNCIONAL  FUNÇÃO PROCESSUAL

 Funções no Inquérito e Instrução (art. 17º CPP)


 Julgamento (art. 13º a 16º)
 Recurso(art. 12º/3 al. b) e art. 11º/4 al. b))
 Execução (art. 470º). Penas e Medidas de Segurança Privativas da Liberdade
(art. 18º e 91º LOFTJ)
 Outras
 Harbeas Corpus: art. 220º/1 e 222º/1
 Tribunais colectivos: presidente e tribunal (art. 311º e 338º)

Maria Luísa Lobo – 2012/2013 Page26


PROCESSO PENAL FDUCP
12 de Março – Aula 8 (PROF. JOSÉ LOBO MOUTINHO)

COMPETÊNCIA MATERIAL

No tempo do professor, para as penas maiores seriam julgadas no processo querela,


aquilo que actualmente se designa por tribunal colectivo. Tudo o resto era julgado no
tribunal singular.

Existem dois grandes critérios:

 CRITÉRIO DA COMPETÊNCIA MATERIAL EM RAZÃO DA PESSOA: entende-se,


dentro de uma perspectiva de confiança no público da imparcialidade, que
certas pessoas devem ser julgadas no tribunal superior para quem ninguém
duvide da imparcialidade dos juízes. Por exemplo, o presidente da republica ou
o magistrado de um tribunal superior fossem julgados num tribunal de 1º
instância, embora pudessem julgar bem, tal colocava em causa a confiança
da comunidade da imparcialidade, objectividade, imparcialidade e isenção
dos tribunais. Abrange dois tipos de pessoas: (1) altos titulares de cargos
políticos; (2) magistrados judiciais ou magistrados do MP. Neste caso, a
competência material existe diferenciada para todas as fases do processo. A
matéria aqui diferencia a competência para as varias funções (normais).
Exemplo: quanto ao PR art. 11º/3 al. a) e nº7 enquanto o nº7 refere-se à
competência funcional, no nº3 al. a) trata-se de uma competência material;
Juíz de Direito nos termos do art. 12º/6 (competência funcional), 12º/3 al. a) e
11º/4 al. b) (competência material). A competência material diferencia os
tribunais nas suas diversas fases.

 CRITÉRIO/solução geral: ‘’índole’’ da causa: Quando não esteja em causa


titulares de cargos político e magistrados só existe divisão no julgamento.
Podem intervir no Julgamento um dos três tipos de tribunais: júri, colectivo ou
singular. O julgamento, a decisão final, tanto a deliberação como a
elaboração da sentença são da competência de todo o tribunal. Se é
competente um tribunal singular, jurí ou colectivo é competente um desses
para decisão da matéria de facto e de direito, e decide-a toda de uma so vez
na deliberação e elaboração do acórdão final. Desenvolvimento lógico da
audiência penal. Em PT é raríssimo o júri e mesmo assim é diferente
comparando por exemplo com os EUA: nos filmes normalmente surge um juiz
sentado e que tem competência em matéria processual (produção de prova;
modo de produção de prova; o que júri deve ou não ter em conta, etc.) e o
júri que responde culpado ou não culpado ou seja trata-se de uma
competência que tem um pouco de matéria de direito mas que trata de saber
se esta ou não provado aquilo que foi dito a acusação; a decisão acerca da
pena cabe ao juiz. Em PT as coisas funcionam de outra forma: por exemplo o
art. 338 refere-se ao tribunal e o art. 311º e 322º referem-se ao presidente. Ou
seja, em PT existem algumas competências atribuídas ao presidente do
tribunal, mas a competência para decidir questões de facto e de direito é da
competência do tribunal. O tribunal do júri em PT é um tribunal misto: composto
por três juízes do tribunal colectivo mais quatro jurados existem juízes
profissionais e membros do tribunal escolhido naquele momento para quele
processo. O tribunal do júri tem de ser requerido – art. 13º CPP. A regra de

Maria Luísa Lobo – 2012/2013 Page27


PROCESSO PENAL FDUCP
competência não é automática, tendo de ser requerida, sob pena de o caso
ser julgado por um tribunal colectivo. A pratica do júri em PT é praticamente
quase nula. Uma vez requerido, o tribunal de júri não pode ser afastado e
quem o requereu não o pode irretractar.

 CRITÉRIO DA GRAVIDADE DO CRIME, DEPREENDIDA:os crimes são graves


ou não de acordo com a consequência jurídica a que conduzem, mas
o legislador não fez assim e procedeu à seguinte distinção (crimes muito
graves punidos com penas muito leves)

 CRITÉRIO QUALITATIVO/DA SUA NATUREZA: art- 13º/1, 14º/1 e 2 e


16º/2 al. a). ANÁLISE DO ART. 14º/2 AL. A): elemento objectivo
‘’elemento do tipo a morte de uma pessoa’’ e elemento
subjectivo ‘’dolosos ou agravados pelo resultado’’ leia-se por
exemplo ofensa à integridade física agravada pelo resultado
(morre), mas não a negligência.

 CRITÉRIO QUANTITATIVO/DA GRAVIDADE DA PENA APLICÁVEL:


art. 13º/2, 14º/2 al. b) e 15º

 Art. 16º/3 e 4: é relevante a pena, mas não abstractamente


aplicável mas sim concretamente aplicável de acordo com a
visão do MP (visto a propósito do juiz natural que não pode se
declarar incompetente

Exemplo: art. 134º CP Tribunal Colectivo (art. 14º/2 a) CPP),


embora a pena se compreendesse no âmbito do tribunal
singular. Não seria aplicável o art. 16º/3 uma vez que só é
relevante a pena concreta.

 PROCESSO SUMÁRIO  TRIBUNAL SINGULAR (art. 381º/2 e 16º/2 al. b)).


Fora os casos de criminalidade violenta, a lei alarga o âmbito de
aplicação do processo sumario (que hoje eram da competência do
tribunal colectivo).

Em suma, nos termos do art. 13º/1 e 14º/1 é preciso analisar a competência qualitativa,
depois verifica-se o processo sumário e só no fim é que questionamos a competência
quantitativa.

O processo sumário não se aplica aos casos do art. 1º al. m) e nos casos que a partida
seriam da competência do tribunal colectivo e do júri de acordo com o critério
qualitativo de acordo com o art. 13º/1 e 14º/1, mas aplica-se aos homicídios, por
exemplo. Ou seja, por regra basta que exista flagrante delito para se aplicar o
processo sumário. Sempre que se aplicar o processo sumário tal é da competência do
tribunal singular.

Quanto ao Recurso, pode existir uma diferenciação na marcha do recurso: art. 12º/3
al. b) e 11º/4 al. b), sendo necessário ainda verificar o art. 432º e 427º.

Maria Luísa Lobo – 2012/2013 Page28


PROCESSO PENAL FDUCP
COMPETÊNCIA TERRITORIAL

O lugar do delito depreendido do lugar da consumação.

Art. 19º CPP. Existem regras subsidiárias quando não e conhece o lugar da infracção.

REGRAS ESPECIAIS

COMPETÊNCIA POR CONEXÃO (art. 24º/1 e 25º)

A propósito do crime conexo a lei trata do processo cumulativo.

Quando os crimes têm determinadas conexões, o legislador inverte a regra e vários


crimes são julgados no mesmo processo.

Nos termos do art. 29º, o efeito primário assenta na unificação processual.

Regime Processual Especial: a competência por conexão – art. 27º (regra de


competência material e funcional), 28º (regra de competência territorial) e 31º CPP

OBSTRUÇÃO AO EXERCÍCIO DA COMPETÊNCIA

 Nos termos do art. 37º consagram-se os pressupostos:


 Nos termos do art. 33/1º II parte consagra-se a consequência: remoção de
competência

INCOMPETÊNCIA

O CPP não tem a mesma perspectiva técnica que baseia a teoria dos pressupostos
processuais. A teoria das excepções dilatórias correspondem à falta de pressupostos
processuais. O nosso código de 29’ tratava de algumas excepções, mas no código
actual tal encontra-se um pouco deslocado para a teoria das nulidades.

O CPP simultaneamente considera a incompetência como uma nulidade e tem um


regime de incompetência semelhante ao das excepções dilatórias: art. 119º al. e).

O art. 32º é o regime próprio da nulidade na falta de competência. É de


conhecimento oficioso até ao transito em julgado, não sucedendo assim apenas no
caso da incompetência territorial.

Os efeitos da incompetência encontram-se consagrados no art. 33º, ocorrendo a


remessa para o tribunal competente, excepto no caso de incompetência
internacional caso em que o processo é arquivado. Os actos processuais urgentes e as
medidas cautelares encontram-se consagrados no art. 33º/2 e 3. No CPP não existe a
absolvição da instância devido à falta de pressupostos, nomeadamente no caso de
incompetência.

Maria Luísa Lobo – 2012/2013 Page29


PROCESSO PENAL FDUCP
GARANTIAS DE IMPARCIALIDADE DO JUIZ

Independência tem que a ter cada qual para a saber usar – PROF. CAVALEIRO
FERREIRA

TIPOS DE GARANTIAS

 GARANTIAS INSTITUCIONAIS/ESTATUTÁRIAS (art. 215º e ss CRP)

 GARANTIAS PROCESSUAIS (art. 39º e ss): há causas de suspeita de


imparcialidade em que se admite o surgimento de suspeição devido às
relações pessoais do juiz com a causa, como também da sua intervenção
anterior no processo. O legislador pegou em certas causas que considerou
mais graves e formulou a ideia de que não pode servir como juiz (causa de
impedimento). Nas causas de impedimento o juiz declara-se impedido e a
decisão pode ou não ser recorrível nos termos do art. 41º. Existem outras
circunstancias que podem colocar em causa a imparcialidade do juiz, criando
o instituto das RECUSAS E ESCUSAS nos termos do art. 43º.

O MINISTÉRIO PÚBLICO

MINISTÉRIO: ministrar é servir, pelo que ministério é serviço público.

Distinção do Ministério de acordo com duas perspectivas:

 Como FUNÇÃO (poder-dever) exercida no processo exercer a acção penal


(art. 219º CRP), função primeira do MP. O MP tem a função de exercer a
acção penal no processo. O MP também lhe incumbe outras funções mas
exercer a acção penal é a primeira. O MP foi criado e tem o seu núcleo
decisivo na função de exercer a acção penal. Art. 53º - elenco das funções
essenciais que marcam o conteúdo da acção penal – funções de promoção.
Tanto o MP como o Juiz tem o mesmo fim, o mesmo critério, mas exercem no
processo funções diferentes.

 Como ÓRGÃO CONSTITUCIONAL incumbido dessa função órgão judiciário


(‘’Tribunais’’ CRP).

Primeiro é necessário saber qual o serviço que se pretende (função) e depois organiza-
se (órgão constitucional).

FUNÇÃO – EXERCICIO DA ACÇÃO PENAL

 CONTEÚDO (ART. 53º):‘’colaborar com o tribunal’’  o MP não vai ajudar o


tribunal no exercício da jurisdição, ou seja o MP não é o secretario do MP: o MP
trabalha em conjunto com o tribunal, em conjunto no processo mas um é o
exercício da jurisdição e outro é o jurisdição da acção penal. Trabalham os
dois no processo, cada um ao lado do outro, com o mesmo fim (descoberta
da verdade) e critério (legalidade e estreita objectividade). A função é
diferente: enquanto a função jurisdicional assentava no dizer do direito e etc,
ao MP compete a função de promoção do processo. O juiz decide, mas o MP
promove. Quando o legislador introduziu o nº2 do art. 53º consagram-se
acções promotivas.

Maria Luísa Lobo – 2012/2013 Page30


PROCESSO PENAL FDUCP
 CRITÉRIO:

 Legalidade (art. 219º CRP)


 Estrita Objectividade (art. 53º/1)

 FIM: descoberta da verdade e realização do Direito (art. 53º/2 CRP) 



EXERCÍCIO DA ACÇÃO PENAL: ASPECTOS ESPECIAIS

Muitas Vezes diz-se que o MP tem o monopólio da acção penal, mas tal não é
verdade em PT, uma vez

 O MP mesmo quanto ao exercício das funções que lhe são atribuídas,


independentemente da intervenção de outras pessoas, ele por vezes
encontra-se limitado (crimes semi públicos por exemplo)

 Em PT o MP não é o único a promover podendo ser acompanhado de


particulares acção penal privada (chama-se assim, mas continua a ser
pública). Categorias de Particulares:

 Ofendido/Assistente (art. 68º/1 al. a)acabou com a intervenção do


ofendido no processo (assistente) e com protecção constitucional no
art. 32º/7.

 Qualquer pessoa do povo (art. 68º/1 al. e))

15 de Março – Aula 9 (PROF. JOSÉ LOBO MOUTINHO)

O PRINCÍPIO DA LEGALIDADE (art. 219º)

O MP é obrigado a proceder depois de receber a notícia do crime. Não se trata da


legalidade administrativa geral nem a legalidade substantiva penal, mas sim a
legalidade no sentido de o MP ser obrigado a exercer as suas funções. É obrigado a
exercer o poder que tem quando verificados os pressupostos jurídicos e factuais. Este
principio de legalidade encontra-se subjacente a todos os casos do art. 53º/2
(exemplo al. b): obrigado a ‘’dirigir o inquérito’’).

Nos termos do art. 219º CRPoprincípio da legalidade é meramente orientador


(‘’exercer a acção penal orientada pelo princípio da legalidade’’).

Há situações em que apesar de verificados os pressupostos para o MP abrir o processo


ele decide não abrir porque considera que não é conveniente  PRINCÍPIO DA
OPORTUNIDADE (opõe-se ao princípio da legalidade). O MP tem uma margem de

Inicialmente o CPP não admitia nenhuma margem de discricionariedade a não ser no


final do inquérito e no inicio da instrução. O CPP nunca admitiu uma margem de
oportunidade no inicio do processo. É verdade que o art. 262º/2 ressalva as excepções
mas são casos de ilegitimidade do MP ou de julgamento em processo sumaríssimo.

Maria Luísa Lobo – 2012/2013 Page31


PROCESSO PENAL FDUCP
Houve desde o inicio alguns institutos em que o legislador quis ver a consagração de
uma margem de oportunidade: institutos situados pelo final do inquérito e no inicio da
instrução

 Hipótese de Oportunidade/Excepção: ofensa à integridade física, queixa, MP


iniciou processo, o inquérito chegou ao fim e as alternativas são o (1)
arquivamento – falta de indícios ou (2)acusar – com obtenção de indícios.
Existindo alternativa à acusação esta poderia ser comanda pelo princípio da
oportunidade. Neste caso, nos termos do art. 280º poderia ocorrer
arquivamento em caso de dispensa de pena (art. 74º e art. 148º CP). Existindo
uma ofensa à integridade física por negligência (art. 148º/2), mas verificando-
se uma causa de dispensa de pena dever-se-ia acusar porque a dispensa de
pena é um caso em que existindo indícios da pratica de um crime deve-se
declarar o reu culpado nos termos do art. 74º/1 CP. Note-se ainda que
consubstancia sentença condenatória a dispensa de pena nos termos do art.
375º/3. Nos termos do art. 280º, em vez de deduzir acusação ele pode (é uma
faculdade) arquivar o inquérito (com a concordância do juiz de instrução) – é
uma alternativa à acusação. O art. 280º não exige em princípio concordância
do assistente não sendo susceptível a decisão de arquivamento susceptível de
impugnação nos termos do art. 280º/3. O art. 280º refere-se a uma hipótese de
diversão, sendo ainda uma hipótese de oportunidade uma vez que a lei deixa
claro que não se é obrigado a arquivar.

 Na redacção inicial do CPP, na suspensão provisoria do processo o MP podia


com a concordância do juiz fazer ‘x e y’’, mas em 2007 essa disposição legal
foi alterada. Actualmente, nos termos do art. 281º consagra-se que se o
exposto no artigo o MP determina a suspensão provisória do processo
acompanhada da obrigação de determinadas condutas. Em vez de deduzir
acusação e levar a julgamento impõe uma regra de conduta ou uma
injunção. No final, se o arguido cumprir as injunções e regras de conduta, o MP
arquiva o processo: hipótese de diversão é mas não é uma situação de
oportunidade.

 Oprocesso sumaríssimo esta pensado para casos em que existe a expectativa


de aplicação ao arguido de uma pena não privativa da liberdade. É
necessário atender ao art. 382º: trata-se de um acto que é uma alternativa à
acusação em que no final do inquérito o MP tem tudo para acusar. Mas como
se trata apenas de uma pena pecuniária, o MP propõe uma pena concreta e
se existir concordância do juiz existe dispensa de audiência sempre com a
concordância do arguido.Mas tal consubstancia uma hipótese de
oportunidade? Trata-se de um caso semelhante à suspensão provisória de
pena, sendo portanto uma hipótese de diversão, mas fica bastante longe do
arquivamento em caso de dispensa da pena pelo que não consubstancia
uma hipótese de oportunidade.

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PROCESSO PENAL FDUCP
PROF. PEDRO CAEIRO (Professor da Universidade de Coimbra): o ‘’pode’’ constante do
art. 280º é de acordo com que critério? Como é que o MP decide se pode ou não
pode?

É verdade que o princípio é o da legalidade, é verdade que a CRP permite que este
seja um mero orientador do sistema. Actualmente, só o arquivamento em caso de
dispensa de pena é um caso que alem de ser uma hipótese de diversão, é também
uma manifestação do principio da oportunidade. Tem-se entendido que o ‘’pode’’ no
art. 280º, embora isto seja um problema meramente dogmático, consubstancia um
poder-dever (pode desde que se verifiquem os pressupostos: ‘’Se o processo for por
crime (…) dispensa de pena’’ – é um pressuposto!).

O MP COMO ÓRGÃO CONSTITUCIONAL

O MP encontra-se previsto na CRP, sendo um órgão constitucional e não um órgão


soberano.

Criou-se no seio das Reformas Liberais, sendo entendido inicialmente como um órgão
que representava o poder executivo nos tribunais. O MP era um comissário do governo
junto dos tribunais judiciais. O que sucedeu ao longo de dois seculos de evolução,
uma evolução nem sempre liminar mas ate aos últimos tempos bastante certa, foi no
sentido de transformar o antigo funcionário (publico) do governo (directamente
dependente do Ministério, actualmente, designado de Justiça) numa magistratura.
Magistraturaessa que se traduz na hierarquia. A substancia hierárquica judiciaria nos
tribunais corresponde à possibilidade de decisão de recurso. Existe ainda que limitado
um poder de decisão da magistratura do MP. Primeiro olha-se para o MP num todo,
dentro do qual existe o poder hierárquico, e posteriormente à posição de cada
magistrado.

O MP, actualmente, é um órgão judiciário (estando a própria sistematização da CRP


correspondendo a tal: MP regulado na parte da jurisdição) com um estatuto próprio
(não se reconduz ao estatuto administrativo) e autónomo (art. 219º/2).

Nos termos do art. 2º do Estatuto do MP (EMP) e de acordo com o art. 219º/2 CRP, o
MP deve obediência à lei, sendo tal importante na autonomia relativa ao governo e
ao tribunal.

AUTONOMIA DO MP RELATIVA AO GOVERNO: O MP tem como função essencial


exercer a acção penal, mas também desempenha outras funções. Esta autonomia
não é igual relativamente a todas as funções adquiridas pelo MP ao longo do tempo.
Em tempos, o Ministério da Justiça tinha poder de direcção sobre o procurador geral
da republica que depois tinha poder de direcção face aos magistrados do MP. Mas
este poder foi limitado a operações genéricas e tem vindo a diminuir. Há uns anos
atras (2006) surgiu a ideia que como a acção penal funciona muito mal, era
necessário que o MP fosse integrado de alguma forma na organização do estado e
que o poder do MP tinha que ser controlado. Numa perspectiva positivista, admitindo
que no direito penal e no direito em geral não há direito nem justiça, e que dentro das
normas penais se vertem as proposições de politica criminal, obviamente sendo
politica criminal tem que incumbir aos órgãos políticos. Enquadra-se o MP no amplo

Maria Luísa Lobo – 2012/2013 Page33


PROCESSO PENAL FDUCP
domínio da politica criminal surgindo as leis quadro da politica criminal. Estas leis,
nomeadamente a Lei 17º/2006 que se encontraem vigor sendo alteradas de forma
bianual, eram segundo o PROF. FIGUIEIREDO DIAS ‘’uma inutilidade perigosa’’, sendo
que visa definir prioridades (art. 5º) e obrigações para o MP.

AUTONOMIA DO MP FACE AOS TRIBUNAIS: Quanto aos tribunais, o MP não recebe


orientações daquele, promovendo e o juiz decide (deferindo ou indeferindo) e o MP
acata as decisões do tribunais. Desde 1987 admite-se que o MP tenha uma decisão
final sobre o processo (na fase final do inquérito), que não havendo ou não estando
constituindo assistentes no processo, não é sindicável judicialmente.

ESTATUTO CONSTITUCIONAL DOS AGENTES DO MP (art. 219º/4 e 5): antes de mais é


importante salientar que são magistrados, podendo exercer autonomamente o seu
poder. São magistrados responsáveis e hierarquicamente subordinados (art. 76º EMP).
Existe um poder de direcção dentro do MP dos magistrados de grau superior face aos
de grau inferior. Além do poder directivo existe ainda o poder disciplinar. Note-se que
quando se fala que os magistrados são hierarquicamente subordinados, tal tem de ser
entendido em termos limitados

 O poder directivo é limitado a fim de preservar a autonomia própria do


magistrado não só face a decisões ilegais e recusa de cumprimento de uma
ordem com fundamento na grave violação da consciência juridica (art. 76º/1
e 3 e art. 79º EMP)

 Para preservar a autonomia de cada magistrado, na hierarquia do MP quem


da ordens, não disciplina. Existe uma cisão do poder disciplinar (art. 219º/5 e
220º/2 CRP)

19 de Março – Aula 10 (PROF. JOSÉ LOBO MOUTINHO& PROF. HENRIQUE SALINAS)

Nos termos do art. 219º/4 CRP consagra-se a inamovivelidade do MP, ou seja ‘’não
podem ser transferidos, suspensos, aposentados ou demitidos senão nos casos
previstos na lei’’.

Nos termos do art. 220º consagra-se a expressão orgânica do MP:

 Hierarquia
 Complexidade
 O CSMP como garante da autonomia dos magistrados

PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS RELATIVOS AO MP

I – DA EXISTÊNCIA DO PROCESSO

Um processo em que o MP não intervenha, em que os OPC deduzam acusação por


exemplo, conduz à inexistência do processo. A falta do MP conduz à inexistência do
processo.

Maria Luísa Lobo – 2012/2013 Page34


PROCESSO PENAL FDUCP
II – DA VALIDADE DO PROCESSO

O MP está organizado, sendo uma magistratura com funções paralelas à do tribunal.


O MP esta organizado como os tribunais estão.

Quanto à matéria penal, ao lado da organização dos tribunais existe a organização


paralela dos magistrados do MP. O MP terá como os tribunais os seus serviços nas
comarcas, procuradores gerais distritais nas Relações e procuradores gerais no STJ. Há
uns anos tendeu a apostar-se na especialização: para a criminalidade que atravessa
varias comarcas foram criados na sede de distritos os DIABES. O Departamento Central
de Investigação e Acção Penal surgiu posteriormente e destina-se à criminalidade de
enorme complexidade (várias comarcas de distritos diferentes).

Segundo o CPP todas as ilegalidades que não sejam nulidades dá lugar a uma mera
irregularidade como sucede no caso de incompetência do MP quando haja
competência do tribunal.

Quanto à legitimidade, a falta de promoção do processo pelo MP nos termos do art.


48º (manifestação do princípio da oficialidade) conduz a uma nulidade insanável nos
termos do art. 119º al. b) Iparte.

EXCEPÇÕES À OFICIALIDADE

PRINCÍPIO GERAL OFICIALIDADE: art. 48º CRIMES PÚBLICOS

RESTRIÇÕES:

Tradicionalmente, estes condicionamentos visavam evitar a produção de mais danos


ainda para a eventual vitima (pensamento vitimológico). Mas hoje o pensamento
passa mais por utilizar isto para conseguir uma descriminalização real: pegou-se em
muitos crimes nas suas fases menos graves, transformando-se em semi públicos, na
esperança dos particulares se esquecerem de apresentar queixa. Tudo o que é
violento é crime público; os crimes contra o património na sua forma simples são
crimes semi públicos (nos casos do art. 207º serão crimes particulares)

 QUEIXA

 Exemplo: art. 178º/1, corpo; art. 203º/2 CP


 Regime do Direito de Queixa: art. 113º e ss CP
 Regime Procedimental: art. 49º/1 a 3; 51º e ss
 CRIMES SEMI-PÚBLICOS

 ACUSAÇÃO PARTICULAR

 Exemplo: art. 188º/1 CP


 Regime do Direito de Queixa: art. 117º CP
 Regime Procedimental: art. 50º/285º/51 e ss
 CRIMES PARTICULARES

Maria Luísa Lobo – 2012/2013 Page35


PROCESSO PENAL FDUCP
 PARTICIPAÇÃO DA AUTORIDADE PÚBLICA

 Exemplo: art. 348º CP


 Regime: art. 49º/4

O que significa em concreto o crime depender de queixa ou de acusação particular?

Em primeiro lugar, o MP fica condicionado à vontade ou de um particular ou de uma


autoridade pública. Esta possibilidade de condicionar é para o particular um direito,
uma vez que não tem a obrigação de intervir. Esse direito encontra-se regulado no art.
113º e ss CP. Este direito encontra-se sujeito ao prazo de caducidade de 6meses. O
particular pode renunciar ao seu direito, expressa ou tacitamente. Mesmo que o
processo já tenha sido iniciado o ofendido poderá desistir até à publicação da
sentença em 1ºinstância.

Análise do art. 49º CPP: o único condicionamento positivo é a queixa. Pode ele
queixar-se e nem sequer constituir-se assistente. Antes do CPP de 82’ nos crimes semi
públicos desde o momento da queixa o processo prosseguia tal qual como se fosse
um crime público. O condicionamento era puramente inicial. Actualmente, embora
seja necessário apenas a apresentação da queixa e embora seja verdade que não é
preciso que ele faça nada mais, mas ele mantém sempre o poder de desistir da
queixa: a vontade deleesta latente sobre o processo.

Análise do art. 50º CPP: Nos crimes particulares o condicionamento do MP e do


andamento do processo é mais intenso e extenso. Além da queixa é necessário que o
ofendido se torne assistente e deduza a acusação no fim do inquérito nos termos do
art. 285º. Note-se que o MP só será obrigado a acusar se existirem indícios da pratica
do crime uma vez que ele se encontra vinculado ao Princípio da Legalidade.

OS ÓRGÃOS DE POLÍCIA CRIMINAL (art. 55º e 56º)

Não são sujeitos do processo, não tendo qualquer poder de promoção autónoma do
processo. São uns órgãos em principio puramente auxiliares e na realidade são órgãos
auxiliares de todas as autoridades judiciarias que intervém no processo (não só do MP).

Actualmente, a situação do OPC e as suas relações com MP nomeadamente no inicio


do processo possuem um enorme factor de perturbação que leva a questionar o seu
papel e a possível promoção do processo no inicio do processo.

O CPP apenas se refere aos OPC mas não indica em concreto quem eles são: faz uma
definição puramente formal (art. 1º al. c)) e distingue das autoridades de policia
criminal (art. 1º al. d)).

Análise do art. 257º: disposição que fala das autoridades de polícia criminal e não dos
OPC.

Maria Luísa Lobo – 2012/2013 Page36


PROCESSO PENAL FDUCP
COMPETÊNCIA DOS OPC – ART. 55º

 Co-adjuvação das autoridades judiciárias

 Delegação – art. 270º e 290º/2(competência para praticar actos que o


CPP diz serem delegáveis)
 Com reserva de direcção – art. 53º/2 al. b), 263º e 288º/1
 Dependência funcional – art. 55º/2

 Medidas cautelares e de policia – art. 55º/2 e 248º

Em 2008, surgiu a Lei nº 49/2007 – LEI DA ORGANIZAÇÃO DA INVESTIGAÇÃO CRIMINAL

Nos termos do art. 3º consagra-se que os OPC são instituições (corporações) policiais,
tendo competência para a investigação criminal (policia judiciária ou criminal), ainda
que ao lado de competência para actividade preventiva (policia administrativa ou
preventiva).

Tradicionalmente a policia da investigação criminal era a policia judiciaria (judiciaria


enquanto função da competência para a investigação criminal), mas com o passar
do tempo houve pressão por parte de outras instituições policiais que à partida eram
meramente preventivas para terem competência para a investigação criminal.

COMPETÊNCIA

 GENÉRICA: como por exemplo, PJ, PSP e GNR


 ESPECÍFICA: atende-se ao art. 15º da Lei nº 274º/2007; 40º RGIT

Quanto à posição central da PJ é necessário atender ao art. 4º:

 Foi criada, na reforma de 1945, como órgão auxiliar do processo penal


 Existe uma competência reservada para a investigação (art. 7º/2 e 3)

As funções dos OPC encontram-se consagradas no art. 2º. Coloca-se a questão de


saber se existe autonomia para início e desenvolvimento do processo (art. 2º/3 e ss). A
direcção da investigação cabe ao MP, embora possa ocorrer a delegação de certas
funções nos OPC e pode ainda ser necessária a intervenção dos OPC quando a
investigação seja complexa.

A competência constitucional do MP para exercer a acção penal:

 Implica direcção efectiva, e não apenas de decisão sobre a acusação.

 O exercício da acção penal envolve:

 Decisão inicial sobre a abertura do inquérito (não mero receptáculo de


comunicações: art. 53º/1 al. a) CPP art. 241 art. 248º/1 e 2)

 Orientação da investigação: existe uma certa margem de liberdade na


realização do acto, sem prejuízo das directrizes genéricas sobre a
investigação em concreto e do poder de instruir especificamente sobre
a realização de quaisquer actos (art. 2º/7)

Maria Luísa Lobo – 2012/2013 Page37


PROCESSO PENAL FDUCP
 Engloba poderes conexos ou instrumentais, nomeadamente a
fiscalização (art. 2º/7), a avocação (art. 2º/7) e informação.

O ARGUIDO E O SEU DEFENSOR

O arguido é a personagem central do processo. É sujeito do processo nos termos do


art. 60º, e não é só objecto do processo ou meio de prova (ex: declarações do
arguido). O arguido devido à sua qualidade como tal tem direito ao silêncio. Ou seja,
as declarações do arguido além de serem meio de prova são também uma
faculdade que este possa utilizar para poder exercer o seu direito de defesa que por
seu lado pode ser também um direito ao silencio. O direito de se pronunciar sobre os
factos integra as suas garantias processuais e estratégia de defesa. Se o arguido
mentir (quando exerce o seu direito de defesa) ele não pratica qualquer crime
(quando o arguido mente não pratica qualquer crime ≠ quando as testemunhas
mentem praticam um crime).

O arguido é o único que não cumpre uma função, mas que exerce um direito, o
direito de defesa: é contra ele que são dirigidas as acusações e é ele que exerce o
direito de defesa pelo que se compreende que seja a personagem central do
processo. É a única parte em sentido material, quanto à questão penal. Quando se
fala em arguido fala-se no princípio da defesa pessoal (quem confessa ou não os
factos é o arguido mas através das suas declarações que presta pessoalmente).

Quanto à posição processual do arguido é necessário distinguir o seguinte:

 Posição Estática: exigências constitucionais e a posição processual do arguido


no CPP

 Posição Dinâmica: como se assume a qualidade de arguido no processo penal


e como é que se a perde?

 A situação/estatuto do imputado não arguido (questão que surge a partir de


2007)

I – POSIÇÃO ESTÁTICA

EXIGÊNCIAS CONSTITUCIONAIS

Segundo o art. 32º/1 Ip CRP o processo criminal assegura todas as garantias da defesa.
Deste modo, o art. 32º/1 CRP consubstancia uma cláusula aberta. Ou seja trata-se da
apreciação do processo na sua globalidade, tendo o processo de ser justo e
equitativo. Sempre que uma determinada solução possa colocar em causa a
estratégia de defesa do arguido e a justiça e equidade, a solução adoptada pelo
código acabara por violar a constituição. Quando se fala da exigência do processo
equitativo e justo historicamente tal representava o direito ao recurso, mas existem
outros aspectos nomeadamente o art. 417º/2 (conclusões em recurso). Quando se fala
no direito ao recurso é necessário ter em consideração a opinião jurisprudencial: o
recurso tem algumas exigências formais, nomeadamente a necessidade de nele
constar as conclusões alguma jurisprudência considerava que quando as
conclusões eram muito extensas não eram conclusões, pelo que o recurso não tinha
conclusões, pelo que consequentemente não seria conhecido.

Maria Luísa Lobo – 2012/2013 Page38


PROCESSO PENAL FDUCP
Nos termos do art. 32º/2 Ip CRP consagra-se a presunção de inocência em matéria de
decisão da matéria de facto, sendo um princípio geral do processo penal: exigência
de tratamento do arguido no processo como sujeito e em particular, em matéria de
medidas de coacção.

O Direito ao Recurso, antes de se encontrar na CRP, já tinha sido decretado pelo


tribunal. O art. 32º/1 consagra ainda quando se refere a ‘’garantias de defesa’’ o
direito à decisão em tempo útil, o art. 417º/2 CPP, a regra segundo a qual a não
apresentação de conclusões em recurso dava lugar ao não conhecimento do recurso
deixou de existir ao abrigo desta disposição constitucional. O art. 32º/1 CRP é uma
garantia aberta no sentido de dar a segurança necessária de dar um processo
equitativo ou justo.

22 de Março – Aula 11 (PROF. JOSÉ LOBO MOUTINHO)

PRINCÍPIO DO IN DUBIO PRO REO: relaciona-se com o princípio da inocência, sendo


que esta surgiu no âmbito do direito francês e no âmbito da prova para explicar uma
regra de decisão da matéria de facto quando fica ilíquida (semelhante ao ónus da
prova em Processo Civil). Quem tem a presunção a seu favor não necessita de prova,
sendo necessário provar positivamente o contrario da presunção. Verdadeiramente
não é uma presunção nem se comporta como tal. Isto que surgiu na matéria de prova
(se não se provou, ainda que tenham ficado duvidas, presume-se inocente) saiu da
matéria de facto para exprimir um dos princípios basilares do processo penal. Ao longo
de todo o processo ele deve presumir-se inocente: clausula aberta semelhante à
consagrada no art. 32º/2 CRP. Existem certas situações que expressam a presunção de
inocência, como por exemplo:

 No âmbito das medidas de coacção, nomeadamente a prisão preventiva e


outras restrições à liberdade do individuo e que não podem estar fundadas
tem de ser compatíveis com a presunção de inocência. As medidas de
coacção não são equivalentes a pena de prisão, pelo que quando se aplica
uma medida de coacção a alguém tal não serve para aplicação de pena
sendo que mesmo nesta situação o arguido beneficia da presunção de
inocência finalidade da medida de coacção consagrada no art. 204º. É
verdade que a prisão preventiva só pode existir indícios da prática do crime
por aquele sujeito mas tal não consubstancia uma pena.

 Exigindo a lei indícios estes não podem ser presumidos

 Direito à informação do arguido: muitas vezes, na pratica do processo, o


arguido não pode ser tratado na perspectiva do ‘’ele sabe muito bem o que
fez’’. O direito à informação é imposto pela presunção de inocência, por ser
alguém chamado a intervir no processo, por um assunto do seu particular
interesse, mas que não se sabe se é ou não culpado pelo que tem o direito à
presunção de inocência. As perguntas, no interrogatório, devem ser feitas de
forma clara e inequívocas (face a um suspeito de homicídio, por exemplo, não
se pergunta se antes ele já matou alguém, pergunta-se sim se ele matou
aquela pessoa em concreto de cuja pratica do crime esta a ser interrogado).

Maria Luísa Lobo – 2012/2013 Page39


PROCESSO PENAL FDUCP
POSIÇÃO PROCESSUAL DO ARGUIDO NO CPP

Nos termos do art. 60º CPP, o arguido é sujeito do processo. Nos termos do art. 61º
consagram-se os direitos e deveres do arguido.

QUANTO AOS DIREITOS – ART. 61/1

 DIREITOS DE PARTICIPAÇÃO ACTIVA: direito a fazer qualquer coisa no processo;


o arguido tem direito a agir no processo.

 À presença (al. a))


 A ser ouvido (al. b)
 De intervenção promotiva (al. g)/i) e art. 98º/1 in fine) – este direito não
existe de forma global no inquérito, sendo que o arguido não tem
direito a estar presente nas diligências do inquérito (art. 86º/6 e 8)

 DIREITOS DE PARTICIPAÇÃO PASSIVA: garantias da participação do arguido; o


arguido só pode aparecer no processo como arguido; o arguido tem direito a
ser tratado/na pele de arguido; direitos auxiliares do seu direito de defesa
global

 Ao silêncio (al. d); art. 359º/2 CP (nova lei) e art. 133º/1 al. a)) – E? ele
sempre pode mentir; não é punível se mentir (≠ as testemunhas e o
assistente não podem mentir). O arguido no processo penal é uma
‘’parte’’. No tempo do modelo inquisitório, a tortura podia ser utilizada
para saber se o arguido estava ou não a falar a verdade (o arguido é
uma ‘’testemunha’’ muito importante). Do direito ao silêncio deriva o
direito global de não ser obrigado a colaborar na sua própria
incriminação. Note-se que sobre os factos que lhe são imputados e os
esclarecimentos das declarações ele tem direito ao silêncio; mas ele
tem de responder com a verdade sobre a sua identidade (sob pena de
ser punível por falsa identidade) e sobre os seus antecedentes criminais.
Com a nova lei, só existe o dever de responder com verdade quanto à
identidade e já não quanto aos antecedentes criminais. O direito ao
silencio existe em todas as fases do processo, em todas as declarações
que ele prestar.

 À informação (al. c/h): até à Reforma de 2007 o processo na fase de


inquérito era público e o arguido só tinha direito de acesso aos autos
em algumas circunstâncias pontuais, em que por ele lhe ter sido
aplicada uma medida de coacção de prisão preventiva para ele
defender-se teria de recorrer aos autos. Quando era interrogado não
era obrigatório dizer-lhe quais os factos que lhe eram imputados nem
quais os meios de prova. Colocou-se em causa, posteriormente, a
questão de saber como é que ele poderia exercer o seu direito ao
recurso sem poder consultar os autos. Em 2007 o legislador alterou as
normas sobre o interrogatório do arguido durante o inquérito (art. 141º/4
e ss.) Ou seja, é se obrigado sempre a dizer quais os factos que são
imputados ao arguido e de forma, se possível, concreta. A lei obriga

Maria Luísa Lobo – 2012/2013 Page40


PROCESSO PENAL FDUCP
ainda, em principio, a indicar quais os meios de prova, quem disse o
que, que escutas, que documentos e que declarações estão ali que
fizeram com que ele fosse chamado a prestar declarações. No
interrogatório do arguido é obrigatório informa-lo dos factos.

 A defensor (al. e/f) e nº2; art. 32º/3 CRP): em qualquer fase do processo
tem direito à intervenção/assistência de defensor. Contudo, há certos
actos em que a lei obriga à intervenção de defensor casos de
assistência obrigatória

QUANTO AOS DEVERES – ART. 61º/3defesa pessoal e disponibilidade para o processo:


o arguido só é representado pelo seu defensor nas questões técnicas e ele tem de
estar disponível para o processo (se o arguido fugir não se tem a certeza de uma
decisão efectiva e justa para o processo)

 Dever de comparência (al. a)


 Dever de identificação pessoal e de residência (al. b) (nova lei), c) e art.
196º/3))
 Sujeição a diligências de prova e medidas de coacção (al. d)

5 de Abril – Aula 12 (PROF. JOSÉ LOBO MOUTINHO)

AQUISIÇÃO DA QUALIDADE DE ARGUIDO

A constituição do arguido ocorre com um incidente, estando o procedimento


dependente de um Fundamento material que justifica quem ao arguido seja atribuída
a posição jurídica rica que a lei lhe atribui.

A constituição do arguido encontra-se especialmente consagrada no art. 57º a 59º,


estando a sua posição consagrada a partir do art. 60º.

Nos termos do art. 57º assume a qualidade de arguido quando exista acusação ou
requerimento de instrução. Inicialmente, o arguido não tinha verdadeira necessidade
de intervir na fase de inquérito, estando a sua intervenção dependente de tal traduzir-
lhe ser ou não favorável. Só se interrogava o arguido quando existia alguma
esperança que ele se ‘’enterrasse’’ e confessasse a prática do crime. Actualmente,
nos termos do nº2 a qualidade do arguido conserva-se durante todo o decurso do
processo. Deste modo, os casos do art. 58º e 59º assentam na constituição do arguido
durante o inquérito. Antes de 1998 existia a regra que o arguido era constituído
quando era acusado e antes disso, durante o inquérito, so em certas circunstancias
pontuais é que a coisa se alterava: tal terminou em 1998.

Nos termos do art. 58º, pode adquirir a qualidade de arguido antes das situações do
art. 57º quando:

 ART. 58º/1 al. a) + ART. 272º/1: quando esteja a correr o inquérito e haja
fundada suspeita contra determinada pessoa, esta seja prestada a prestar
declarações. Torna-se arguido no primeiro interrogatório daquele quando
exista fundada suspeita de ter praticado o crime. Trata-se da fundada suspeita
da prática da infracção.

Maria Luísa Lobo – 2012/2013 Page41


PROCESSO PENAL FDUCP
 ART. 58º/1 al. b): quando exista a aplicação de medida de coacção ou de
garantia patrimonial.

 ART. 58º/1 al. c) + ART. 254º al. a): quando exista a detenção do suspeito.

 ART. 58º/1 al. d) + ART. 243º: quando exista o levantamento do auto de notícia
indicando o agente; constatação oficial do flagrante em delito;

 ART. 59º/1: quando existam declarações (fortemente) indiciantes;

 ART. 59º/2: quando (a requerimento) exista a realização de diligências que


afectem pessoalmente uma pessoa investigada. Para a lei suspeito não é o
arguido! Se num processo existir já um suspeito e estiverem a ser diligências que
o afectem pessoalmente a lei dá-lhe o direito (e não a obrigação) de pedir
que seja considerado arguido. Não é um caso de fundada suspeita, porque se
assim o fosse estaríamos no âmbito do art. 58º/1 al. a). Mas muitas vezes o
arguido não quer utilizar esta faculdade: ser arguido é bom porque é uma
defesa para ele (art. 61º), mas também é mau devido ao facto de tal afectar a
sua honra, sendo um peso sobre a sua esfera jurídica.

PERGUNTA DE ORAL: quando se está no âmbito da constituição do arguido explicar (e


não apenas indicar) os direitos e deveres do arguido constante do art. 61º.

Analisemos agora o procedimento de aquisição da qualidade de arguido.

O procedimento (formalidades – art. 58º/5) é composto pelas seguintes etapas:

1. Advertência ao arguido (art. 57º/3, 58º/2 e 59º/1)

2. Entrega de documento (art. 57º/3, 58º/4 e 59º/3)

3. Sujeição a termo de identidade e residência (art. 196º): corresponde a


consequências processuais, na medida em que em primeiro lugar traduz-se
numa restrição da liberdade, e em segundo lugar ele poderá ser julgado na
sua ausência (se não se conseguir encontrar o arguido)

Note-se que nos termos do art. 58º/3 e 6 quando a constituição do arguido feita por
órgão de polícia criminal encontra-se sujeita a validação da autoridade judiciária que
vai apreciar a existência de fundamento da constituição de arguido ou da sua não
inexistência.

PROF. JOSÉ LOBO MOUTINHO: sendo que o termo de identidade e residência conduz a
uma restrição da liberdade do arguido, quando proferido por órgão de polícia
criminal também se encontram sujeitos a validação pelo MP.

4. (OPINIÃO DO PROF. JOSÉ LOBO MOUTINHO) 1º INTERROGATÓRIO DO ARGUIDO

 Obrigatoriedade? É uma questão limitada (art. 272º, 194º, 141º e 381º)


mas existente (art. 58º/1 al. d) e 59º). Nos termos do art. 58º/1 al. a)
quando se refere ‘’esta prestar declarações’’ existe claramente o
interrogatório; quanto ao processo sumário uma vez que o dedito em

Maria Luísa Lobo – 2012/2013 Page42


PROCESSO PENAL FDUCP
flagrante vai ser imediatamente sujeito a julgamento ou em 48 horas ou
em 5dias ou em 20 dias sendo que se o arguido não for logo sujeito a
julgamento será interrogado pelo juiz de instrução.

 Competência para o 1º Interrogatório do Arguido: se a constituição de


arguido fosse por um órgão de polícia criminal tinha de ser validado,
mas desde há uma semana resultava que se o arguido não estivesse
detido o primeiro interrogatório podia ser feito pelo juiz de instrução ou
pelo órgão de polícia criminal (art. 268º/1 al. a) – só o primeiro
interrogatório do arguido detido era da competência do juiz de
instrução). Actualmente é necessário atender ao art. 144º/2 (nova lei!) e
ao art. 141º/4 al. b) ee) (quando se pretender usar as declarações feitas
em audiência em julgamento – caso em que o interrogatório só poderá
ser feito pelo MP e não pelos órgãos de polícia criminal). Tendo em
consideração o disposto no art. 32º/4 CRP (quando estão em causa
direitos fundamentais a competência é do juiz de instrução) o primeiro
interrogatório, estivesse o arguido detido ou não, deveria ser da
competência do juiz de instrução.

 Consequências da Omissão: por exemplo, quanto a escritórios de


advogados de acordo com o EOA só se podem realizar buscas
naqueles quando o advogado for constituído arguido. Muitas vezes,
fazem-se buscas, tornam o advogado arguido mas depois não o
interrogam. Para as diligências do art. 58º existe o nº5: a sanção geral
para o incumprimento da constituição de arguido é a nulidade da
prova, nulidade das declarações do arguido que não podem ser
usadas contra ele. E se se omitir o primeiro interrogatório considerando
este, como o professor defende, sempre obrigatório: a questão foi muito
defendida na jurisprudência defendendo o professor a existência de
uma nulidade insanável, mas o tribunaldefendeu a existência de uma
nulidade sanável (dependente de arguição) nos termos do art. 120º/2
al. d).

Imputado Não Arguido (‘’suspeito’’ PROF. GERMANO MARQUES DA SILVA: SUSPEITO É


UMA TESTEMUNHA QUALIFICADA)

 Questão Minorada: art. 132º/4 possibilidade de qualquer testemunha se


poder fazer acompanhar de advogado.

 Mas não resolvida.

 Posição Processual

 Impedimento a intervir em qualquer outra veste, incluindo a de


testemunha

 Direito ao silêncio e ao defensor

 Interrogatório em termos similares ao do arguido

Maria Luísa Lobo – 2012/2013 Page43


PROCESSO PENAL FDUCP
9 de Abril - Aula 13 (PROF. JOSÉ LOBO MOUTINHO)

O defensor é necessário para defesa do arguido:

 Perturbação das faculdades;


 Inferioridade estrutural e técnico-jurídica
 Limitação da liberdade de movimentos

A defesa é direito e necessidade da justiça:

 A função da defesa é similar à da acusação, sendo o defensor também um


MP enquanto serviço público e o defensor é órgão autónomo da
administração da justiça

Tem como finalidade duas coisas:

 A legalidade e justiça do processo e, através dela, a descoberta da


verdade e a realização da justiça;

 Consideradas de modo parcial só pode agir a favor do arguido (≠ MP:


imparcial)

Quanto à posição jurídica do defensor, o arguido não é só um sujeito de prova, sendo


entregue a representação dos actos em que o arguido age como sujeito processual
existindo a possibilidade de ele não ratificar os actos do seu representante.

A assistência do arguido na medida em que este é um sujeito de prova, actos de


defesa pessoal, sendo a regra a constante no art. 61º/1 al. d). É obrigatória a
assistência nos termos do art. 64º

Existe uma tutela especial da função da defesa, nomeadamente:

 Comunicação com o arguido – art. 61º/1 al. f) e nº2:


 Segredo profissional – art. 135º 177º/5 e 180º

Para além dos seus poderes de intervenção, como representante ou


assistente, existem os direitos de intervenção passiva, que assenta na tutela
especial da função de defesa.

Constituição do Defensor: pode ser nomeado oficiosamente (art. 64º/1, 2 e 3)


ou a solicitação do arguido (art. 61º/1 al. d) IIp)). O advogado constituído pelo
arguido pode ser ser o advogado ou advogado estagiário nos termos do art.
189º EOA. O direito do arguido à constituição de advogado encontra-se
consagrado no art. 61º/1 al. e) e no art. 62º/1).

O ASSISTENTE

A constituição de assistente é uma exigência constitucional nos termos do art.


32º/7 (direito de intervenção do ofendido) e do art. 52º/3 (direito de acção
popular penal)

Maria Luísa Lobo – 2012/2013 Page44


PROCESSO PENAL FDUCP
Em princípio, o assistente é o ofendido. Quais são as razões que fundamentam
a ‘’participação’’ e exigência do assistente no procedimento penal?

A intervenção do assistente consubstancia uma excelente e democrática


intervenção, na medida em que tem uma maior proximidade com os factos, o
que permite um enriquecimento da instrução e do diálogo, além de estando
ele inserindo no processo, a possibilidade de ficar convencido com a decisão
final é superior. Importa ainda dizer que face ao arquivamento do MP, o
assistente pode requerer a reabertura do inquérito ou a abertura da instrução.
A intervenção do assistente fomenta a intervenção do juiz, fomenta aquilo que
o MP faz, mas sem cair no juiz policia, no juiz promotor do processo.

PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS DE CONSTITUIÇÃO COMO ASSISTENTE

 LEGITIMIDADE – art. 68º

 PRINCÍPIO: será ofendido (art. 68º/1 al. a) e d)) ou quem o


representa ou quem o substitua

 A constituição como assistente ocorre nos casos em que estejam


em causa crimes com bens jurídicos individuais, ainda que
públicos (art. 131º (art. 22º ss) e art. 144º). Por exemplo, tendo em
consideração o art. 256º que consubstancia um crime público,
no entanto a jurisprudência afirmou que tal só seria punível se
fosse com a intenção de prejudicar outra pessoa pelo que se
justificou este tratamento ‘’especial’’ – crimes que à partida que
até pela sistemática tem como conteúdo um bem colectivo,
mas depois demonstra-se que também existe interesse do
particular, admitindo-se a sua constituição como assistente. STJ:
tem seguido um critério aberto, ou seja, é necessário ver caso a
caso e exista o interesse do particular marque a sua presença
nos elementos do tipo.

 Mas existem excepções:

 Quivis de populo (acção penal popular) - art. 68º/1 al. e):


acção penal popular cuja missão relaciona-se em maior
medida com o aspecto de fiscalização da actuação do
MP.

 Entidades a quem a lei confere esse direito – art. 68º/1


(corpo)

Maria Luísa Lobo – 2012/2013 Page45


PROCESSO PENAL FDUCP
 A CONSTITUIÇÃO COMO ASSISNTE COMO CONDIÇÃO DE LEGITIMIDADE –
art. 50º/1 e 246º/4 II: na queixa é necessário dizer que se quer constituir
como assistente e tem-se um prazo de 10 dias para tal.

 REPRESENTAÇÃO JUDICIÁRIA – art. 70º: os assistentes são assistentes e


não testemunhas, mas encontram-se obrigados a dizer a verdade! Tem
sempre de ser representados por advogado.

A ACÇÃO PENAL PRIVADA – art. 69º

 CONTEÚDO: existe a colocação com o MP e a regra de subordinação


da intervenção à actividade do MP dependência geral ou mera
exigência de litisconsórcio?

 art. 69º/2 al. b) – fora desses casos o assistente não pode deduzir
acusação fora dos casos aí previstos. O assistente faz um
requerimento de instrução, e não uma verdadeira acusação. O
assistente pode materialmente acusar ainda que o MP não o
faça. Ter em atenção o art. 287º in fine que remete para o art.
283º/3 al. b) e c): no nosso sistema, nesta fase crucial, pode
sempre deduzir ‘’acusação’’ ou não.

 Assento 8/2009: o assistente não tem legitimidade para recorrer.

 NATUREZA PÚBLICA (salvo quanto ao sujeito): acção penal privada,


sendo privada quanto ao sujeito, mas pública quanto ao seu conteúdo.

 DINÂMICA

 O incidente de constituição como assistente

 Art. 68º/2 e art. 246º/4 II

AS PARTES CIVIS

A RESPONSABILIDADE CIVIL CONEXA COM A PENAL

 NATUREZA: problema de conexão processual

PRINCÍPIO DA ADESÃO (art. 71º): não é um princípio absoluto, porque existem


excepções constantes no art. 72º tendo como fundamento o facto de ser um
ónus excessivo para o lesado ou por outras razões.

O princípio é o que se está face a uma indemnização civil existe o ónus de


promover o processo no procedimento criminal respectivo.

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PROCESSO PENAL FDUCP
PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS ESPECÍFICOS

QUANTO À LEGITIMIDADE..

 ACTIVA: AUTOR OU DEMANDANTE

 Nos termos do art. 74º/1 fala-se em lesado ofendido e/ou


assistente ou não (art. 495º CC); acontece muitas vezes que a
pessoa que tem o direito de se constituir assistente, e é o lesado,
vai ao processo apenas para pedir a indemnização civil. O
lesado pode ser diferente do assistente, quando é uma pessoa
que não se pode constituir como assistente.

 PASSIVA: RÉU OU DEMANDADO

 Será o responsável civil, podendo ser (1) o arguido; (2)


eventualmente poderá ser responsável meramente civil (art. 73º;
ex: seguradora)

 Com o Código da Estrada de 94’ começou a admitir-se que a


seguradora fosse ao processo apenas para pedir a
indemnização civil. Nos termos do art. 73º, pode existir uma
mudança subjectiva (daí falar-se em partes civis: podem ou não
ser aquelas que já se encontram no processo)

Pensando no responsável meramente civis os poderes processuais de tal são


equiparados, por um lado o lesado tem em geral os poderes e funções do
assistente nos termos do art. 74º/1 e 2; por outro lado o demandado tem os
poderes e funções do arguido nos termos do art. 74º/3.

QUANTO À REPRESENTAÇÃO JUDICIÁRIA: art. 76º

Quanto à Tramitação: a responsabilidade civil derivada do crime não terá


uma natureza mista? Não é relevante jurídico penalmente?

CPP 87: princípio do pedido (art. 77º) e do caso julgado (art. 82º)
Responsabilidade civil e penal estão especialmente conexas (art. 129º CP),
estão sujeitas ao Princípio do Dispositivo, e a decisão do tribunal faz caso
julgado da mesma forma que o faria se tivesse sido proferida no processo civil

 Revisão do CPP 98: é preciso ter em consideração a informação do


lesado (art. 75º) e o arbitramento oficioso de reparação (art. 82º-A)
existe um regresso em parte ao arbitramento oficioso; a indemnização
deixa de ser vista como civil para passar a ser vista como forma de
protecção penal da vitima. Tal implica a ultrapassagem do principio do
pedido e do seu caracter dispositivo e tem como consequência o facto
de não valer como caso julgado civil

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PROCESSO PENAL FDUCP
12 de Abril – Aula 14 (PROF. JOSÉ LOBO MOUTINHO)

ACTOS PROCESSUAIS

Trata-se de actos jurídicos com eficácia processual. Especifico dos actos processuais é
o facto de cada acto processual não valer só por si mesmo, vindo cada um na
sequência dos anteriores e preparando o seguinte (acto).

Os actos processuais são a expressão dinâmica do processo, sendo o acto como que
uma partícula do movimento e existindo uma conexão teleológica entre os actos
processuais.

Os actos processuais possuem uma enorme variedade:

 Existem declarações (vontade, voluntárias ou de ciência) e operações (actos


materiais);
 Os actos podem ser ou não ser decisórios – art. 97º
 E encontram-se nas várias fases do processo

Os actos processuais para além de no fundo serem uma expressão da dinâmica do


processo e desse modo dependerem não só de si mesmo, são também qualificados
de diversas formas diferentes.

O regime dos actos processuais não se encontra consagrado de forma sistemática:


além de constarem do Livro II CPP (possui algum regime geral dos actos processuais
naquilo que é especificamente processual penal, havendo contudo muita coisa que
está omissa) é necessário recorrer também aos princípios gerais (exemplo:
interpretação).

Na disciplina de processo penal, devido à falta de tempo, iremos estudar apenas as


seguintes matérias:

 Publicidade e Segredo de Justiça


 Forma e Documentação dos Factos
 Nulidades

PUBLICIDADE E SEGREDO DE JUSTIÇA

Exemplo:suponha-se que corre um determinado inquérito – chamado ‘’Operação


Terramoto’’ – destinado a averiguar crimes de burla qualificada (art. 218º CP), com
inúmeros arguidos e de grande complexidade.

 O jornalista A, que quer trabalhar sobre o tema, pergunta se o pode fazerestá


em causa o problema do segredo de justiça externo (está se fora do processo).
Trata-se do segredo ou publicidade do processo. Pode existir uma intromissão
na vida privada, uma denúncia caluniosa, uma difamação. Em princípio não
há problema em publicar, desde que não se publique sobre o que se esta a
fazer no processo.

 B, dado nos jornais como um dos suspeitos, pergunta se, tendo-se iniciado o
processo há 4anos, não poderá já ter acesso a eleestá em causa o problema
do segredo de justiça interno (está-se dentro do processo)

Maria Luísa Lobo – 2012/2013 Page48


PROCESSO PENAL FDUCP
O segredo é a negação da publicidade: em princípio, onde há segredo não há
publicidade, e onde há publicidade não há segredo. Mas o segredo pode ser só para
fora. Note-se que só o inquérito pode ter o problema do segredo, o restante processo
é público.

O segredo tem dois âmbitos:

 ÂMBITO EXTERNO: para o público em geral

 ÂMBITO INTERNO: para certos sujeitos processuais (arguido, assistente)

O segredo nos termos do art. 86º/6 e 8, art. 89º e 90º pode ter o seguinte conteúdo:

 Assistência
 Narração (especialmente importante face aos meios de comunicação social)
 Consulta de Autos e Obtenção de Cópias

JUSTIFICAÇÃO DO SEGREDO:

 Defesa dos Direitos dos Participantes Processuais (antes de mais, da honra e da


paz do arguido (eficácia externa):

 Eficácia da Investigação (Interno e Externo)

Nos termos do art. 86º/1 consagra-se a publicidade do processo devido à


transparência processual que é exigida. Mas existem limites!

Actualmente, o segredo termina quando acaba o inquérito, mas antes o segredo


terminava com o despacho de pronúncia (já existiam indícios suficientes da pratica
daquele crime por aquele sujeito pelo que o peso que recaia sobre a sua honra e
imagem já não era de todo infundado).

1. Nível Externo

A regra é a da publicidade (art. 86º/1), mas existem limites e excepções:

 LIMITES: o limite geral encontra-se consagrado no art. 86º/7, depois existem


outros limites nomeadamente (1) à assistência – art. 87º/1 ii parte e ss; (2) à
consulta de autos e obtenção e cópias – art. 90º.

 EXCEPÇÕES:

 Violação do Segredo – art. 371º CP


 A determinação do segredo no inquérito – art. 86º/1 a 5
 Limites ao Segredo: art. 86º/9
 ÂMBITO SUBJECTO DO INQUÉRITO:

 As pessoas vinculadas – art. 86º/8


 Os meios de comunicação social – art. 88º: só podem publicar
actos que não estejam cobertos pelo segredo de justiça, mas
mesmo assim há limites – art- 88º/2, 3 e 4

Maria Luísa Lobo – 2012/2013 Page49


PROCESSO PENAL FDUCP
16 de Abril – Aula 15 (PROF. JOSÉ LOBO MOUTINHO)

Quando nos termos do art. 86º/1 se diz que o processo é público tal traduz-se na
assistência, consulta e autos e obtenção de cópias e à narração

O segredo vincula todos os sujeitos e participantes processuais, bem como as pessoas


que, por qualquer título, tiverem tomado contacto com o processo ou conhecimento
de elementos a ele pertencentes – art. 86º/8.

A violação do segredo de justiça é punida nos termos do art. 371º: ‘’ilegitimamente’’


que chama a atenção para oa situação do art. 31º/1 al. b), ou seja o problema da
justificação do facto. Mesmo quando o processo era pública tinha restrições, mas
mesmo quando o processo está sujeito segredo mas também há restrições
nomeadamente no art. 86º/9 e ss.

Ultimamente a incriminação da violação do segredo de justiça tornou-se menos


eficaz: hoje em dia, como vigora o principio da publicidade do processo quando o
jornalista recebe noticias quanto ao processo parte do pressuposto que este é público.

2. Nível Interno

Antigamente, tanto o arguido como o assistente eram equiparados a terceiros,


quando o processo estava sujeito a segredo. Isto caiu por pressão do TC, uma vez que
esta solução levava a consequências devastadoras.

ACÓRDÃO CASA PIA

 Acórdão 416/2003:
 Acórdão 607/2003

Hoje em dia o arguido goza do direito à informação sobre os factos imputados, com
suficiente concretização e, se possível for, quanto aos meios de prova do processo.

Em caso de inquérito sujeito a segredo..

 O arguido goza do direito à informação

 Sobreosfactos: art. 61º/1 al. c)  art. 141º/4 al. c)  art. 143º/3  art
144º/1  art. 194º/4 e 6

 Sobre os meios de prova:


 Interrogatório do arguido: art. 141º/4 al. d); art. 143º/2; art. 144º/1
e art. 194º/4

 Aplicação de medida de coacção: art. 194º/6 e 7

Maria Luísa Lobo – 2012/2013 Page50


PROCESSO PENAL FDUCP
 O arguido goza do direito a consultar os autos

 Em geral (art. 89º/1, 2, 3 e 6) mesmo estando o processo em segredo


certas pessoas (arguido, assistente, ofendido e responsável civil) podem
aceder ao processo, excepto se o MP considerar que tal pode
perturbar a investigação. Se assim o fizer a questão é decidida pelo juiz.
Existe um princípio de publicidade interna. Mas note-se que este
segredo é temporalmente limitado (nº6 – findo os prazos de duração
máxima do inquérito.. – chega-se ao fim do inquérito e ainda se dá mais
3 meses.). O ‘’prazo objectivamente indispensável’’ constante no art.
89º/6 pode ser mais de três meses?

 Aplicação de medida de coacção: art. 194º/8

 O arguido goza do direito de assistência e de intervenção – art. 61º/1 al. a)

 Actos a que o arguido tem o direito ou dever de assistir: art. 271º e ss


(art. 147º/153º)

O PRINCÍPIO DA ORALIDADE

FIM:

 Defesa da espontaneidade e da autenticidade


 Maior plasticidade e adaptabilidade
 Acessoriamente, serve contraditório e publicidade

SENTIDO (não veda documentação dos actos orais)

 FRACO: prestação oral de depoimentos, intervenções e decisões as


declarações no processo penal são sempre produzidas oralmente e registadas
(art. 96º, 275º e 296º)

 FORTE: fundamentação directa da decisão só existe em parte na instrução


(debate instrutório – art. 289º) e totalmente na audiência de julgamento (art.
329º e ss, nomeadamente art. 355º)

FORMA E DOCUMENTAÇÃO

Nos termos do art. 97º consagram-se os actos decisórios, sendo acompanhados do


dever geral de fundamentação (nível constitucional: art. 205º/1 e 268º/3 CRP)

Quanto à documentação, nos termos do art. 99º e ss consagram-se os autos e as


actas (art. 275º e 296º)

Analisar Ac. 680/88 – Conselheira Maria dos Prazeres Beleza (fundamentação da


fundamentação)

Maria Luísa Lobo – 2012/2013 Page51


PROCESSO PENAL FDUCP
19 de Abril – Aula 16 (PROF. JOSÉ LOBO MOUTINHO)

AS NULIDADES: COORDENDAS GERAIS

Nos termos do art. 2º consagra-se o princípio da legalidade dos actos processuais:

 Definição legal: dentro do processo, do modelo que cada acto deve seguir
para ser capaz de produzir os seus efeitos próprios.

 O incumprimento da lei não é indiferente:

 Quando aos actos processuais não correspondem ao modelo legal são


deficientes e incapazes de produzir exactamente aos mesmos efeitos
(‘’imagine-se uma vaca: quando é completa é perfeita; se lhe faltar
uma perna é deficiente).

 Quando o acto é ferido por invalidade ou nulidade (art. 374~º e 379º -


erro no processo; o juiz errou ao fazer a sentença uma vez que esta não
corresponde ao modelo legal)

TIPOS DE INVALIDADE

A ilegalidade nem sempre é afectada com uma imperfeição que é como se o acto
não existisse, mas existe sempre uma incapacidade para a produção de efeitos como
se fosse válido: pelo menos, a produção dos mesmos efeitos, mas em termos precários
(invalidades sanáveis).

Nos termos do art. 118º, quando o acto ilegal é irregular implica um regime muito
restrito de impugnação uma vez que não pode ser conhecida oficiosamente e tem de
ser alegada no próprio acto.

Em suma, a ilegalidade não tem sempre a mesma gravidade.

Existem vários tipos de invalidade:

 Inexistência (não prevista na lei)


 Nulidade insanável – art. 119º
 Nulidade dependente de arguição – art. 120º
 Irregularidade – art. 123º
 Nulidade de prova (a estudar depois da matéria da prova)

Existe o princípio do aproveitamento dos actos imperfeitos, ou seja a lei tendo em


conta sobretudo os efeitos que uma invalidade, por força dos actos processuais
valerem porque são partículas de movimentos, uma invalidade no processo tem
efeitos catastróficos.

Quanto aos tipos de invalidade, o regime regra é o das irregularidade nos termos do
art. 118º/22, existindo tipicidade das nulidades nos termos do art. 118º/1.

Note-se que existe uma dupla tipicidade das nulidades insanáveis nos termos do art.
119º e 120º/1.

Maria Luísa Lobo – 2012/2013 Page52


PROCESSO PENAL FDUCP
Nos termos do art. 122º consagra-se a anulação dos actos.

INEXISTÊNCIAS

O que foi praticado está de tal maneira afastado do modelo legal que lhe falta o
racionalmente imprescindível à substância do acto, não tendo qualquer relevância e
não produzindo efeitos!

Quanto à determinação dos casos tal foge à tipicidade e apenas respeita ao


aproveitável. Uma via: a fortiori a partir das nulidades insanáveis (por exemplo, art.
119º)

 Falta de tribunal ou de jurisdição (al. a) e e))


 Fala de MP, de arguido ou de defensor (al. b) e c))
 Falta de acusação (al. b))
 Processamento em processo civil (al. f))

Quanto ao regime: a fortiri a partir das nulidades insanáveis, não existindo a sanação
com transito em julgado e sendo inexequível a decisão.

NULIDADES INSANÁVEIS

É uma terminologia deficiente, porque só são insanáveis ate ao transito em julgado.

Existe um Duplo numerus clausus: art. 119º e outros (art. 321º/1 e 330º/1, etc.)

Quando ao regime é de conhecimento oficioso até ao transito em julgado da decisão


final estando os seus efeitos consagrados no art. 122º.

NULIDADES DEPENDENTES DE ARGUIÇÃO

Existe um numerus clausus consagrado no art. 120º/1 e 2 e outros no art. 283º, 309º e
379º.

Quando ao regime depende de arguição pelos interessados, nos prazos previstos na


lei (art. 120º/3), é possível ser sanada (art. 121º), estando os seus efeitos consagrados
no art. 122º.

Quanto aos regimes especiais atende-se ao art. 283º/3 e neste caso aplica-se o art.
120º/3 al. b).

AS IRREGULARIDADES

A invalidade é a regra. Quanto ao seu regime depende de arguição, dentro de um


certo prazo, podendo existir sanação (art. 121º aplicação analógica) e reparação
oficiosa (art. 123º).

Maria Luísa Lobo – 2012/2013 Page53


PROCESSO PENAL FDUCP
HIPÓTESE PRÁTICA

Durante uma audiência de julgamento o defensor do arguido requer a inquirição de


uma testemunha não arrolada nem pela defesa, nem pela acusação, ao abrigo do
disposto no art. 340.º, do C.P.P., invocando que o seu depoimento é fundamental para
a descoberta da verdade, uma vez que assistiu a todos os factos objecto do processo.
O juiz profere o seguinte despacho:«Indeferido».

1. Este despacho sofre de algum vício? Como deve ser invocado? Qual a
consequência?

2. Suponha agora que o julgamento chega ao fim e que o arguido é condenado.


O seu defensor constata, porém, que da sentença não consta a enumeração
dos factos provados. Esta sentença sofre de algum vício? Como deve ser
invocado? Qual a consequência?

23 de Abril – Aula 17 (PROF. JOSÉ LOBO MOUTINHO)

A PROVA

VER POWERPOINT A CERCA DA MATÉRIA DA PROVA (DADO ATÉ AO SLIDE 12, INCLUSIVE)

26 de Abril – Aula 18 (PROF. HENRIQUE SALINAS)

OBJECTO DO PROCESSO

NOÇÃO

 A estrutura acusatória e o objecto do processo: o tribunal não pode conhecer


de factos que não tenham sido imputados ao arguido na acusação deduzida
pelo MP. Se o processo tivesse natureza inquisitória, o tribunal podia conhecer
de qualquer crime cometido pelo arguido (como estamos face a um processo
com natureza acusatória não pode ser assim).

 Os critérios de definição do objecto do processo:

 A teoria naturalística: o objecto do processo é o acontecimento


histórico; são os factos considerados do ponto de vista exclusivamente
naturalista. Não são relevantes quaisquer configurações jurídicas e em
particular a qualificação jurídica destes mesmos factos. Hoje não se
pode dizer que o objecto do processo são apenas os factos, sendo
irrelevante a qualificação jurídica: o que interessa são os factos que
possam e sejam subsumíveis a um determinado tipo de crime!

 A teoria normativista: o objecto do processo seria uma violação da


ordem jurídica, independentemente dos factos concretos que a
poderiam concretizar. O objecto do processo é por exemplo um
homicídio, sendo que os factos concretos que integram tal seriam
irrelevantes para a determinação do objecto do processo. Com a
alteração da qualificação jurídica alterava-se o objecto do processo.

Ambas as teses são demasiado radicais. Hoje em dia esta polémica esta um pouco
ultrapassada: em rigor nenhuma destas teses deve ser sido defendida, a não ser o Prof.
Cavaleiro Ferreira, de certo modo defensor da teoria naturalística, mas com certas
alterações.

Maria Luísa Lobo – 2012/2013 Page54


PROCESSO PENAL FDUCP
Basicamente hoje em dia a grande generalidade dos autores reconhece que o ponto
de partida para a definição do objecto do processo são os factos, o acontecimento
histórico (teoria naturalística), mas esta perspectiva é insuficiente porque estes factos
só tem relevância se forem subsumíveis a um determinado tipo de crime (teoria
normativista) – nos termos do art. 283º/3 al. c) é necessário que o MP indica quais as
disposições legais aplicáveis na acusação.

De acordo com o nosso CPP a diversa qualificação jurídica dos factos não dá lugar a
um novo e distinto objecto do processo, integrando-se nas possibilidades de alteração
do objecto pré existente: depois de uma acesa polemica entre a jurisprudência do STJ
e o Prof. Germano Marques da Silva, hoje em dia o art. 358º/3 e o art. 303º vêm sujeitar
expressamente a alteração da qualificação jurídica ao regime da alteração não
substancial dos factos o que leva a concluir que embora existam algumas condições
para que a qualificação jurídica possa ser modificada, a verdade é que sempre que
há uma alteração de qualificação jurídica ainda se esta dentro do mesmo objecto
processual.

NOTA: Segundo o Prof. Germano Marques da Silva o regime da alteração da


qualificação jurídica deve seguir o regime da alteração substancial dos factos, mas
isso não significa que ele seja adepto da Teoria Normativista.

Em qualquer uma das perspectiva, mesmo para o PROF. GERMANO MARQUES DA


SILVA, uma alteração da qualificação jurídica não implica um diferente objecto do
processo.

A solução consagrada no art. 358º/3 tutela ou não suficientemente os direitos de


defesa do arguido?QUERELA DOUTRINAL

Quando o CPP entrou em vigor não existia qualquer norma que tratasse do regime
aplicável à alteração da qualificação jurídica dos factos. Deste modo, surgiram as
duas interpretações previsíveis:

 TESE1: a alteração da qualificação jurídica devia ser totalmente livre, ou seja


em qualquer momento o tribunal convencia-se que os factos tinham sido mal
qualificados podia alterar tais oficiosamente sem ter de comunicar nada ao
arguido (acórdão de uniformização de jurisprudência nº2/93), não se conferia
qualquer direito de defesa ao arguido.

 Ac. Nº2/93: foi declarado inconstitucional três vezes seguidas, dando


origem a uma declaração de inconstitucionalidade com força
obrigatória geral – Acórdão do TC nº 445/97. Se o que está em causa é
o direito de defesa do arguido a alteração da qualificação jurídica será
possível desde que seja atribuído ao arguido tal direito.

 TESE2 – PROF. GERMANO MARQUES DA SILVA: a alteração da qualificação


jurídica dos factos devia ficar sujeita ao regime da alteração da substancial
dos factos. A alteração substancial dos factos é aquela que tem como
consequência algo diverso ao arguido ou o aumento da pena aplicável.
Segundo o professor isto também poderia resultar da alteração da
qualificação jurídica dos factos. O prof. ainda acrescentava em oposição ao
STJ que não se pode dizer de forma alguma que seja indiferente para o
arguido a qualificação jurídica dos factos. O direito de defesa do arguido seria
alterado com uma alteração da qualificação jurídica!

Maria Luísa Lobo – 2012/2013 Page55


PROCESSO PENAL FDUCP
O legislador de 98 passou a regular expressamente a alteração da qualificação
jurídica, equiparando a alteração da qualificação jurídica ao regime da alteração
substancial dos factos. Salvaguarda-se o direito de defesa do arguido art. 358º/3 e
art. 303º/5.

Segundo o PROF. GERMANO MARQUES DA SILVA o regime actualmente vigente não


defende em absoluto o arguido:

 EXEMPLO1: o arguido poderá ficar privado de requerer o julgamento pelo


tribunal de júri;

 EXEMPLO2: sendo imputável ao arguido o crime de homicídio privilegiado com


pena de 3 anos, o arguido sabe que a sua pena poderá ser suspensa e
confessa os factos que são imputados. Dando o tribunal os factos como
provados considera que se está face a um homicídio qualificado passando a
pena a ter um limite de 25anos.

De acordo com a teoria naturalística o objecto do processo é o acontecimento


histórico unitário, não sendo muito fácil de delimitar, fazendo parte do (mesmo)
objecto do processo todos os factos que foram praticados inseridos no limite temporal
do acontecimento histórica. O problema é que embora todos os factos tenham sido
praticados dentro do mesmo acontecimento histórico unitário, a verdade é que não
existe apenas um objecto do processo mas sim vários.

Nos termos do art. 24º/1 e 25º visa-se estabelecer as situações/casos em que se tem no
mesmo processo diversos objectos processuais. O critério utilizado pelo legislador para
se ter uma situação de conexões do processo assenta no concurso de crimes ou de
pluralidade de crimes. Para o nosso legislador sempre que há uma pluralidade de
crimes cada um deles, em ultimo caso, pode ser conhecido em separado: mesmo nos
casos de concurso efectivo e real é ou não verdade que os vários crimes praticados
podem ser conhecidos em processos separados? Sim, basta que os processos estejam
em fases processuais diferentes. O legislador ao admitir que o concurso real de crimes
é um caso de conexão está a admitir que, por exemplo, no caso de concurso de
crimes, cada crime pode dar lugar a processos diferentes o que pressupõe vários
objectos de processos. Mesmos nos casos de concurso ideal existem diversos objectos
processuais.

Pode noutras situações suceder que se tenha um único crime apesar de ele ter sido
praticado em condições de tempo, modo e lugar diversas: crimes habituais ou
reiterado no crime de violência doméstica, apesar de a agressão poder não ser
todos os dias, existe apenas um crime e um único objecto processual.

No crime continuado, em rigor, existem condutas que isoladamente consideradas


traduzem a pratica de um concurso real de crimes. Hoje o regime assenta no art.
79º/2: se forem descobertas novos factos pode-se instaurar um novo processo para
delas conhecer esta função só é compatível se se considerar que a cada parcela
da continuação corresponde um objecto processual autónomo.

A definição do objecto no processo no CPP irá resultar da delimitação material,


nomeadamente da acusação, da constituição do assistente e do requerimento de
abertura de instrução.

Maria Luísa Lobo – 2012/2013 Page56


PROCESSO PENAL FDUCP
A estrutura acusatória do processo implica que a partir do momento em que ocorre a
acusação só possam ser conhecidos factos novos nos termos expressamente previstos
na lei. Tal resulta igualmente do regime da invalidade da estrutura acusatória (art.
369º) e da nulidade da sentença (art. 379º) – segundo estes artigos se o tribunal
conhecer de factos que não constam da acusação, a sentença é nula.

Compete a cada lei estabelecer os limites para cada situação e que é ou não
possível a determinação de factos novos: art. 303º, art. 358 e 359º normas que
estabelecem os limites em que é possível o conhecimento de factos novos!

Nos termos do art. 303º. 358º e 359º utiliza-se como critério a alteração (não)
substancial dos factos:

 ALTERAÇÃO NÃO SUBSTANCIAL DOS FACTOS: os factos novos podem ser


conhecidos desde que seja comunicado ao arguido e a este seja conferido o
direito de defesa;

 ALTRAÇÃO SUBSTANCIAL DOS FACTOS: Os factos novos só podem ser


conhecidos se existir acordo entre todos os sujeitos processuais.

A noção de alteração substancial dos factos encontra-se consagrada no art. 1º al. f).

30 de Abril – Aula 19 (PROF. JOSÉ LOBO MOUTINHO)

CONTINUAÇÃO DA MATÉRIA DA PROVA

ADMISSIBILIDADE DOS MEIOS DE PROVA

Nos termos do art. 125º são admissíveis as provas que não forem proibidos por lei. Os
meios de prova atípicos não podem ser proibidos por lei. As proibições de prova têm
um conteúdo especial: estas proibições de prova valem quer para as provas
nominadas quer para as provas não nominadas. As proibições de prova é um aspecto
comum a todo o tipo de prova.

Até 2007 a disposição respeitante aos meios de prova admitidos era apenas o art.
118º/3 ‘’não prejudicam as normas deste Código relativas a proibições de prova’’ – tal
indica os seguintes aspectos:

i. Existe uma coisa chamada violação de provas que tem um regime próprio
(além da matéria das invalidades normais existe uma certa categoria de
proibições de prova). As proibições de prova encontram-se espalhadas pelo
código e possuem conteúdo variável. Nos termos do art. 126º trata-se de
proibições de método de prova: meios de obtenção de prova, meios de
produção de prova, etc. O art. 126º trata apenas do caso mais paradigmático:
meios de prova são nulos (nº1, nº2 e nº3), podendo apenas ser usados
exclusivamente nos termos do nº4. O art. 126º é um postulado do consagrado
no art. 32º/8 sendo de salientar que respeita sempre a direitos, liberdades e
garantias. Contudo existe um problema: às vezes o código não se exprime
dizendo que existe uma proibição de prova, mas analisando a norma através
da sua causa e conteúdo chega-se à conclusão que tal consubstancia uma
proibição de prova (exemplo: art. 355º - a consequência é igual aos casos do
proibição de prova, sendo de atender que neste caso não respeita a direitos,
liberdades e garantias; art. 167º - embora não fale em nulidade respeita a
certos dizendo indicando que são ilícitos)

Maria Luísa Lobo – 2012/2013 Page57


PROCESSO PENAL FDUCP
ii. Além de existirem dificuldades quanto à localização de nulidades de prova na
lei, nada indica que as nulidades de prova tem de estar previstas na lei
(tipicidade).

DOUTRINA: analisam-se as proibições de método de prova (art. 126º e art. 32º/8 CRP),
de meios de prova (art. 355º) e de tema de prova (art. 137º - as testemunhas não
podem ser inquiridas sobre um determinado tema em que incide o segredo de
estado)

PROF. JOSÉ LOBO MOUTINHO – CRITÉRIO: Em princípio, encontramos uma proibição de


prova ai onde a violação da lei implicar a violação de um direito fundamental geral
substantivo ou processual. Desde que seja um direito fundamental pode-se dizer que
existe uma proibição de prova , sendo que tal decorre da constituição. Haverá
proibições de prova sempre que no código ou fora deste, ou nada regulamento em
concreto, a produção de prova se faça contra direitos fundamentais sejam
substantivos (ex: direitos de privacidade) ou simplesmente processual (ex: garantias do
processo penal). Mas isto não é estável, existindo muito discussão pelo que a lei pode
introduzir proibições de prova para lá deste critério como acontece com o segredo de
estado. Trata-se de uma tutela dos direitos fundamentais e foge ao princípio da
tipicidade das nulidades em processo penal: o regime das nulidades de prova é um
regime muito forte – as provas não poderão ser utilizadas como meio de prova; não
valem como meio de prova, sendo que tal envolve um vicio, semelhante mas mais
forte, do que o regime das nulidades insanáveis: é necessário atender ao art. 449º/1 al.
e) – possibilidade de rever sentenças transitadas em julgado, sendo que pelo menos as
nulidades do art. 126º/1 e 3 nem com o transito em julgado se sanam (questão: isto é
extensivo às restantes nulidades, ou só aos casos do art. 126º?).

Muitas vezes no decurso do processo, um meio de prova não é essencial para provar
o facto mas sim para provar outros meios de prova. Esse meio de prova tem certas
consequências ao nível da investigação, nomeadamente não só para provar o que
diz sobre factos mas sim também para encontrar outros meios de prova que digam
respeito àquele. Isto gera o problema da extensão do meio de prova. A solução para
tal explicitamente não existe em termos claros no CPP, sendo encontrado pelo TC
através de uma aplicação do art. 122º: as nulidades tornam inválido o acto a que
respeitarem bem como aqueles que daquele acto dependerem (dependência
funcional). Recorreu-se à doutrina americana: parte-se da TEORIA DOS FRUTOS DA
ARVORE VENENOSA, ou seja serão inválidos os meios de prova que tenham vindo ao
processo através do meio de prova inválido. Simplesmente o Supremo Tribunal
Americano foi temperando esta teoria admitindo um conjunto de excepções:

i. Excepção da fonte independente: apesar de ter sido encontrada na sequência


temporal da antiga prova (invalida) ela foi obtida através de forma autónoma;

ii. Excepção da descoberta inevitável: um cadáver foi encontrado porque o


arguido disse que ali estava, mas nesse momento já estavam a ser efectuadas
buscas nesse local;

iii. Excepção da nódoa dissipada: por um acto exterior, designadamente por


declarações do arguido, este ter sanado ou confirmado as declarações que
vinham do meio de prova nulo.

Tecnicamente deve-se colocar na situação em que se estaria se não tivesse havido a


invalidade do meio de prova.

Maria Luísa Lobo – 2012/2013 Page58


PROCESSO PENAL FDUCP
Uma coisa é certa quanto às nulidades de prova: muitas vezes a jurisprudência em
matéria de nulidades de prova não é satisfatória, existindo alvos fáceis.

APRECIAÇÃO DA PROVA

Em processo civil vigorou durante muito tempo o sistema tabulado dos meios de
prova, a fim de evitar o arbítrio dos tribunais, vinculando o juiz a decidir de um certo
modo se para tal apontassem determinadas provas. Nesta matéria é necessário
atender ao texto de Pascoal de Mello Freire, nomeadamente ao título V e ss.

Depois do sistema da prova tabulado passou a existir o sistema da livre convicção


(intima ou moral), sendo que a instituição do júri surgiu com as reformas liberais, sendo
que as suas decisões não precisavam de ser fundamentadas e eram irrecorríveis. Com
o CPP de 29 e atendendo ao art. 469º e 473º houve uma extensão de tal aos juízes
profissionais.

Começou a criticar-se o sistema invocando que os juízes julgavam com, sem e contra
a prova!

A evolução posterior passou pela objectividade e controlabilidade, visando-se afastar


as duas consequências que levavam a que a convicção fosse mesmo íntima: a falta
de fundamentação e a irrecorribilidade. Tal demorou anos até se tornar pacífico.

Actualmente o sistema vigente assente no princípio da livre apreciação da prova nos


termos do art. 127º, mas há que ter cautela ao interpretar a liberdade: em principio o
juiz não esta sujeito a regras legais de tabelamento, mas a convicção tem de ser
objectividade, tendo de constar da fundamentação e esta ainda sujeito as regras da
experiencia, logicas e cientificas. A valoração da prova não pode ser puramente
íntima, fazendo-se de acordo com critérios objectivos. Tem de se reflectir na
fundamentação da matéria de facto (qual o raciocínio desde a prova recebida ate à
decisão da matéria de facto) a fim de constar da sentença: art. 374º/2 ‘’ que
fundamentam a decisão, com indicação e exame crítico das provas que serviram
para formar a convicção do tribunal’’.

Será necessário atender ao art. 428º e ao art. 410º/2 al. c): a fundamentação é
necessário para o controlo, sendo que desde 98 assumiu-se que o próprio juízo, a
apreciação da prova, esta sujeito ao controlo dos tribunais superiores.

LIMITAÇÕES AO PRINCÍPIO

Casos Claros

 Valor Positivo

 Prova pericial – art. 163º


 Prova documental – art. 169º

 Valor Negativo

 Testemunhas não identificadas – art. 19º/2 da Lei 93/99 (desvio ao


princípio da livre apreciação da prova, em sentido contrário)

 Depoimento de co-arguido – art. 345º/4 (não se deixa valer como meio


de prova um depoimento naquela parte não foi verdadeiramente
contraditório porque o seu direito ao silêncio prevaleceu)

Maria Luísa Lobo – 2012/2013 Page59


PROCESSO PENAL FDUCP
Casos Duvidosos

 Valor Positivo  confissão do arguido em audiência de julgamento (art. 344º)?


O novo artigo 357º/2

 Antigamente a confissão feita no inquérito, desacompanhada doutros


meios de prova, não servia para acusar sequer. Existe muita confissão
falta, por bons ou maus motivos.

 Art. 344º: se fosse só o nº1 e nº2 o sistema seria semelhante ao dos EUA.
O juiz decide em sua livre convicção sobre o caracter livre da confissão
ou sobre a sua veracidade, tal visa permitir ao juiz que caso ele fique
convencido dispensar no todo ou em parte a produção dos restantes
meios de prova – nº3 al. b). esta norma não estabelece uma restrição à
livre apreciação da prova, devido ao facto do nº3 al. b) permitir-lhe
sempre apreciar a veracidade da confissão, sendo que se o juiz ficar
convencido pode dispensar outros meios de prova.

 Art. 357º/2: não pode com base naquele depoimento dispensar-se a


restante produção de prova, sendo utilizada como livre apreciação nos
termos do art. 141º/4 al. b).

 Valor Negativo  Prova Testemunhal vs Prova por Declarações?  qual o


critério? Não se relaciona com o facto de um ser terceiro (testemunha) e outros
sujeitos processuais.

PRODUÇÃO DA PROVA – PRINCÍPIOS GERAIS

i. PRINCÍPIO DA IMEDIAÇÃO: SENTIDOS

 SENTIDO1: dever de apreciar ou obter os meios de prova mais directos


relativamente aos factos; tem de ser uma prova o mais próximo, directa dos
factos (exemplo: A diz que a vizinha presenciou os factos; quem é chamado a
testemunhar é a vizinha que viu) – art. 128º/1 e 2. Será necessário ainda
atender ao art. 129º. Pretende-se o meio de prova mais directo/próximo com
os factos.

 SENTIDO2: dever de contacto directo dos sujeitos (mormente, decidentes), com


os meios de prova; o sujeito decidente – tribunal – deve conhecer com base na
prova que foi examinada directamente sobre ele; só vigora na audiência e
não nem no inquérito nem na instrução – art. 355º e ss: art- 357º/1 al. b)

 ANALISE DO ART. 357º: a lei permite que em certas condições as


declarações feitas no inquérito possam ser lidas em audiência e
valoradas como meio de prova para produzir a sentença. Só podem ser
utilizadas declaradas (interrogatório) prestadas pelo juiz ou face à
autoridade judiciária; é necessário que esteja acompanhado do seu
defensor e tem de ser previamente advertido das consequências.

ii. PRINCÍPIO DA CONTRADITORIEDADE:

 Debate ou discussão activa entre as partes

 Nos termos do art. 32º/5 da CRP

Maria Luísa Lobo – 2012/2013 Page60


PROCESSO PENAL FDUCP
 Audiência – art. 327º/2 (formas diferenciadas: art. 348º vs art. 345º-
347º/art. 350º)

 Outros actos

 Declarações para memoria futura


 Perícia
 Actos instrutórios e debate instrutório

3 de Maio – Aula 20 (PROF. JOSÉ LOBO MOUTINHO E PROF. HENRIQUE SALINAS)

TESTE!

7 de Maio – Aula 21 (PROF. JOSÉ LOBO MOUTINHO)

PRINCIPAIS MEIOS DE PROVA

PROVAS PESSOAIS – declarações pessoais

 PROVA TESTEMUNHA: testemunha enquanto terceiro; testemunha enquanto


alguém que não tem uma relação directa com o processo. Os deveres da
testemunha são tutelados penalmente. De uma forma geral incumbe sobre os
direitos e deveres da testemunha o direito de prestar declarações com
verdade – art. 132º e art. 360º CP. Quando a testemunha está sujeita ao
segredo profissional é necessário atender ao art. 135º, sendo de salientar que o
segredo pode ser quebrado mas apenas através de decisão do Tribunal da
Relação fazendo uma ponderação entre o que está em jogo e o segredo
profissional. No art. 138º consagra-se o regime geral da inquirição de
testemunhas, sendo um pouco afastado nos termos do art. 348º quanto à
inquirição de testemunhas na audiência de julgamento.

 PROVA POR DECLARAÇÕES: quanto ao arguido é necessário atender ao art.


141º a 144º; quanto ao assistente e às partes civis é necessário atender ao art.
145º/2 e 359º/2 CP.

PROVA PERICIAL (art. 151º e ss): este meio de prova é caracterizada pela sua
peculiaridade, ou seja exige um juízo técnico sobre certos meios de prova. Quanto ao
seu caracter tal é obrigatório ou facultativo? Sendo obrigatório tal se não for realizado
pode viciar o processo de nulidade (dependente de arguição) nos termos do art.
120º/2 al. d) II parte. Deste modo, o PROF. JOSÉ LOBO MOUTINHO E O CONSELHEIRO
MAIA GONÇALVES defendem o seu caracter obrigatório. Note-se que compete ao
julgador pegar na apreciação realizada pelo perito e de conjuga-la com outros meios
de prova. A função do perito tem sempre de se limitar ao aspecto cientifico, técnico
ou artístico de que ele é perito.

PROVAS REAIS (=COISAS):

 PROVA DOCUMENTAL: nos termos do art. 164º documentos são coisas.

 Pode ainda existir exames de outras coisas, isto é, coisas que não sejam
documentos (art. 171º)

Maria Luísa Lobo – 2012/2013 Page61


PROCESSO PENAL FDUCP
MEDIDAS COACTIVAS EM PROCESSO PENAL

Em atenção à necessidade da justiça penal, a CRP e a lei permitem que o processo


penal faz uso de medidas de caracter restrito que não têm paralelo em outras formas
de processo.

Estes meios de coerção são diversos, tendo em consideração as suas várias


finalidades. As escutas por exemplo têm uma finalidade probatória. Mas as medidas
coactivas também podem assentar numa restrição da esfera jurídica, como sucede
por exemplo no caso da prisão preventiva.

No processo penal, a ordem jurídica tomando em consideração a importância deste,


admite a restrição de certos direitos com uma finalidade estritamente processual. É
poder coercivo do poder penal.

A lei designa os meios coercivos como meios de obtenção de prova e a seu lado
estão as medidas coactivas e de garantia patrimonial mas no fundo ambas
completam-se,

Quanto a todas estas medidas às vezes existe o perigo da demora e são necessárias
medidas cautelares – art. 55º/2 (há situações em que a situação implica a tomada de
medidas de natureza cautelar que ainda não são medidas coactivas, mas se não
forem tomadas pode determinar a dissipação dos meios de prova). Antigamente os
actos compreendidos no art. 249º eram designados como actos de polícia
competente. São diligências cuja estrutura material são iguais (suprimir a posse de
quem a tinha para a colocar à ordem do processo), mas que são praticadas pelos
órgão de polícia criminal devido ao seu caracter urgente. Tal esta preparado para a
partida não poder ser transformado em meras palavras, sendo que a lei as permite
devido ao seu caracter de urgência, mas depois são obrigados a realizar um relatório.
Com a entrega do relatório ao MP ou ao juiz de instrução, sendo que é necessária um
acto de validação por estes.

MEIOS DE OBTENÇÃO DE PROVA

MEIOS DE OBTENÇÃO DE PROVA  definem-se pela sua natureza coerciva, pelo que
os exames nem sempre são um meio de obtenção de prova. Os meios de obtenção
de prova são medidas coercivas/coactivas/restritivas da esfera jurídica que tem por
objecto a recolha de prova e a sua guarda no processo.

1. EXAMES

O exame serve para apreender da coisa que existe o seu valor probatório, isto é o seu
valor demonstrativo da realidade dos factos (imputados ou não). Enquanto é
actividade probatória que se tem sobre coisas, está sujeito ao regime geral. Só existe
exame enquanto meio de obtenção de prova quando interfere com direitos
fundamentais, nomeadamente quando não é consentido. É necessário atender ao
art. 172º/1: se ele consentir existe actividade probatória normal; se ele não consentir já
é meio e obtenção de prova, tendo de ser autorizado pela autoridade judiciaria
competente.

Nos termos do art. 178º quando se trata da apreensão de um bem que é mero
propriedade privada pode ser praticado pelo MP (tendo em consideração que os
actos do inquérito que se prendem com direitos fundamentais devem ser praticados
pelo juiz de instrução, não se entende o porque de aqui ser diferente).

Maria Luísa Lobo – 2012/2013 Page62


PROCESSO PENAL FDUCP
Quando aos exames não consentidos o regime geral consta do art. 172º/1, sendo
necessário atender ao art. 172º/2 quando os exames não consentidos reconduzam-se
a características físicas e psíquicas. Quanto aos exames que possam ofender o pudor
é necessário atender ao art. 172º/3 e ao art. 270º/2 al. c). Será necessário ainda
atender ao art. 173º quanto ás pessoas no local do exame.

Quando às medidas cautelares: art. 171º/2 e 4; art. 173º/4 e art. 249º/2 al. a).

2. REVISTAS E BUSCAS

Enquanto a revista se faz a pessoas, as buscas realizam-se relativamente a lugares.

Nos termos do art. 174º/1 e 2 consagra-se a noção e o objecto das revistas e buscas.

A busca só é meio de obtenção de prova quando se faz em relação a lugares cujo


acesso não é livre.

Quanto ao regime geral, a competência é da autoridade judiciária – art. 174º/3 –


sendo necessário ainda existir despacho – art. 174º/4 – e formalidades – art. 174º/4,
175º e 176º. O art. 174º/5 e 6 refere-se a medidas cautelares.

Quanto aos regimes especiais, a CRP e a lei, estabelecem certos regimes especiais.
quanto ao domicilio – art. 34º/2 e 3 CRP, art. 177º e art. 269º/1 al. c) -, quanto a
escritórios de advogados ou consultórios médicos – art. 175º/5 e art. 268º/1 al. c) –
quanto ao estabelecimento oficial de saúde – art. 175º/6 e art. 268º/1 al. c) – e quanto
ao estabelecimento bancário – art. 268º/1 al. c)  nestes casos entra em jogo a
privacidade de muitas gente (uma busca num escritório de advogados faz com que
todos os casos sejam visíveis)

Quanto às medidas cautelares é necessário atender ao art. 174º/5 e 6, ao art. 176º/3,


ao art. 177º/3 e 4 e ao art. 251º

3. APREENSÕES

É necessário atender ao art. 178º/1, estando o seu regime geral consagrado no art.
178º/3. Mas existem casos especiais nomeadamente no que toca a correspondência
(art. 34º/4; art. 179º, 268º/1 al. d) e 269º/1 al. d); em escritórios de advogados ou
consultórios médicos (art. 180º e 268º/1 al. c); estabelecimento (art. 181º e 268º/1 al. c)
e quando se esteja obrigado a segredo (art. 182º  art. 135º)

Quanto às medidas cautelares é necessário atender ao art. 178º/4 e 5, ao art. 249º/2


al. c) e ao art. 252º.

As apreensões não aprendem a propriedade da coisa, mas apenas a posse da coisa.

14 de Maio - Aula 22 (PROF. JOSÉ LOBO MOUTINHO)

4. ESCUTAS TELEFÓNICAS

Foi um meio de obtenção de prova que teve ser o boom na década de 80/90 cujo o
regime foi sofrendo um aperfeiçoamento, em virtude sobretudo do TC.

A noção de escutas telefónicas depreende-se do art. 187º/1. As escutas telefónicas só


podem ser ordenadas a partir do inquérito. Na legislação de 2007 acrescentou-se um
requisito subjectivo: restringe-se ao visado/suspeito/arguido (art. 187º/4 e 5); a ideia é
ficar demonstrado que é o intermediário.

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PROCESSO PENAL FDUCP
Quando no art. 187º/7 fala-se ‘’sem prejuízo do disposto no art. 248º’’ há quem
entenda que não pode ser utilizado como meio de prova, mas neste momento pode
dar lugar a uma noticia da infracção  o PROF. JOSÉ LOBO MOUTINHO tem as maiores
duvidas quanto à constitucionalidade disto.

O procedimento quanto às escutas encontra-se consagrado no art. 188º.

Os meios de prova obtidos sem a devida autorização conduzem à nulidade de tais


nos termos do art. 126º/3.

MEDIDAS DE COACÇÃO

As medidas de coacção são providências cautelares especificas do processo penal.

As medidas de coacção divergem de outros meios coactivos, nomeadamente dos


meios de obtenção de prova (art. 171º), das medidas de garantia patrimonial (art.
191º/227º) e da detenção (art. 250º e 254º).

Enquanto a prisão preventiva visa o perigo de fuga, etc (finalidades do art. 204º); a
detenção visa as finalidades do art. 254º.

Quanto à sua natureza excepcional é necessário atender nomeadamente ao seu


direito à liberdade e à segurança.

Nos termos do art. 27º consagra-se o direito à liberdade e à segurança, ou seja,


consagra-se o princípio da liberdade pessoal (física ou de locomoção).

Existe uma natureza excepcional das restantes privações de liberdade (como as


processuais).

As medidas de coacção compatibilizam-se com a presunção de inocência, não


sendo antecipação de pena ou medida de segurança.

As medidas de coacção estão sujeitas ao princípios gerais da legalidade e da


necessidade – art. 27º/28º e 18º CRP; art. 191º - e ao princípio da adequação e
proporcionalidade – art. 193º/1 e 2.

Quanto aos pressupostos gerais das medidas de coacção:

1. Constituição de arguido (art. 192º/1 + art. 58º/1 al. b)

2. Pericula libertatis (art. 204º)

3. Fumus Commissi Delicti

 Imputação – art. 192º + art. 196º a 199º


 Fortes Indicios – art. 200º a 202º

Quanto à tipologia das medidas de coacção elas encontram-se consagradas através


de uma refracção da adequação e de proporcionalidade. Quanto a estas é
necessário atender ao art. 196º a 202º.

Existe a possibilidade de cumulação de medidas, nos termos em que a lei o permitir.

A decisão sobre medidas de coacção não transita em julgado.

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PROCESSO PENAL FDUCP
15 de Maio – Aula 23 (PROF. JOSÉ LOBO MOUTINHO)

IDEIA ESQUEMÁTICA DA MARCHA DO PROCESSO COMUM

A fronteira entre o processo preliminar (inquérito e instrução) e o julgamento assenta


na indiciação suficiente. A indiciação suficiente, resultando tal do art. 283º/1 (remete
para o art. 308º/2) e o art. 283º/2, assenta numa possibilidade razoável de ao arguido
vir a ser aplicada, por força de tais indícios, em julgamento, uma pena ou medida de
segurança.

O princípio da presunção de inocência na sua vertente de indubio pro reu também se


levanta quanto à acusação? Segundo o PROF. JOSÉ LOBO MOUTINHO as bases entre
o juízo feito no inquérito e na instrução e a base probatória feita em julgamento são
coisas diferenças, mas o fim tem de ser igual. Existindo uma dúvida razoável não se
deve produzir acusação ou pronunciar ou não pronunciar o arguido. Isto é, se a
situação de dúvida que existe no inquérito e/ou na instrução se passasse no
julgamento, é necessário fazer o mesmo que se faria se se tivesse nesta fase, ou seja
absolver o réu em prol do indubio pro reu. Ou seja, o juiz sobre o final do inquérito faz-
se com base nos actos de inquérito; o juizo no final da instrução faz-se com base nos ó
actos de inquérito e de instrução; o juízo no final do julgamento faz-se com base nos
actos de julgamento: só se o juízo no fim do inquérito ou da instrução ultrapassar a
duvida razoável é que se passa para a fase de julgamento.

O inquérito é uma fase inquisitória uma vez que nesta fase não existe contraditório, a
não ser, por exemplo, quanto às declarações de memória futura, sendo que neste
caso o contraditório é fraco uma vez que quem interroga é o juiz. É um contraditório
mais fraco do que o contraditório é diferente do usado na fase do julgamento.

O inquérito é também uma fase escrita nos termos do art. 275º, sendo que o MP
apenas poderá decidir se irá acusar ou arquivar com base naquilo que constar dos
autos de inquérito.

Em princípio o inquérito é uma fase pública, mas poderá estar sujeita a segredo, sendo
que neste caso tal é requerido ou pelo juiz de instrução (art. 86º/2) ou pelo MP (art.
86º/3), sendo que neste último caso fica sujeito a validação pelo juiz o que
consubstancia uma medida cautelar. Note-se que o processo ainda que público para
dentro, pode ser secreto para fora – art. 89º/1.

Note-se que enquanto a denúncia é uma declaração de ciência, a queixa é uma


declaração de vontade.

Dizer que o único acto legalmente obrigatório na fase de inquérito é questionável:


quando a apreciação da prova exige alguma coisa tem de ser praticada a perícia,
sob pena de nulidade nos termos do art. 120º/2 al. d).

17 de Maio – Aula 24 (PROF. JOSÉ LOBO MOUTINHO)

Em 2007, o poder de mandar seguir o inquérito por parte do superior hierárquico,


sendo um poder oficioso, também podia ser requerido. Não precisa de iniciativa, não
significa que não pudesse haver lugar a esta. Em 2007 esclareceu-se que o
requerimento podia ser feito no mesmo prazo que a instrução – nos termos do art. 278º,
o assistente ou o ofendido com a faculdade de se constituir assistente pode requerer a
intervenção hierárquica, se já tiver passado o prazo da instrução. Há casos em que
não se pode pedir a instrução, porque o inquérito as vezes não da sequer elementos
sobre quem é a pessoa em causa/arguido – o requerimento de instrução muitas vezes
é a única ‘’acusação’’ que há no processo (tem o conteúdo de uma acusação).

Maria Luísa Lobo – 2012/2013 Page65


PROCESSO PENAL FDUCP
Na instrução, tendo em consideração o art. 287º é necessário identificar o objecto do
processo.

Em casos em que o inquérito termina em que não foi possível pelas diligencias
efectuadas saber quem foi o arguido é impossível pedir a instrução, sendo a única
opção a intervenção hierárquica. Quando seja possível contudo requerer a instrução,
esta será uma opção mais viável do que deixar passar o seu prazo e requerer a
intervenção hierárquica.

Quanto à instrução iremos analisar agora o seu esquema.

O debate instrutório é o único acto obrigatório da instrução. Durante a instrução


também pode haver formas de diversão como por exemplo é consagrado no art.
280º/2 e 308º/2.

A pronuncia é a decisão processual de submissão do facto a julgamento, sendo a não


pronuncia o facto contrário. Há quem distinga modalidades dentro da não pronuncia,
nomeadamente o PROF. GERMANO MARQUES DA SILVA. Por vezes o juiz no despacho
de instrução de não pronuncia quando acha que a acusação é nula não pronuncia,
faz algo diferente: o processo não vai para julgamento, no fundo declarando a
nulidade do processo, voltando o processo para as mãos do MP. É um despacho
estritamente processual quando o juiz decide que o processo vai para trás porque a
acusação por exemplo é nula e não um despacho de não pronúncia – o PROF.
GERMANO MARQUES DA SILVA discorda desta posição.

Contudo, o nosso sistema complicou o sistema de impugnação da recorribilidade.


Atendendo ao art. 399º o princípio geral é o da recorribilidade. Em principio a decisão
instrutória é recorrível, mas quanto a esta, o legislador estabeleceu uma excepção e
um desvio:

 Excepção (art. 310º/1) – quando no final da instrução o juiz pronuncia pelos


factos constantes da acusação do MP tal despacho é irrecorrível. Esta
irrecorribilidade depois de introduzida levantou o seguinte problema: quando
no final da instrução o juiz conhece de uma questão processual levantada
pelo arguido (por exemplo: prescrição) tal é recorrível? Num acórdão de
fixação de jurisprudência entendeu-se que quanto às questões incidentais
podia-se recorrer; mas depois foi acrescentada a segunda parte do art. 310º/1
onde se consagra que tal também é irrecorrível.

 Desvio – conjugando o art. 309º com o art. 310º/3 quando ao despacho de


nulo primeiro argúi-se a nulidade perante o juiz e só depois é que se recorre do
despacho proferido por esse juiz.

Analisemos agora o despacho liminar de julgamento.

O tribunal de julgamento quando recebe os autos tem sempre de verificar/sanear o


processo, verificar as questões processuais. Quando o processo vem da instrução e
não existirem questões prévias marca-se a audiência, uma vez que já se passou por
um juízo de instrução. Quando não houve instrução o juiz tem um certo alargamento
da sua competência – art. 311º/2. O art. 311º/2 é uma enumeração exemplificativa ou
taxativa? O art. 311º/3 afastou a jurisprudência do STJ porque admitiu realmente a
rejeição da acusação apenas em casos em que o tribunal não tivesse para decidir se
não que ler a acusação, coisa que teria sempre de fazer para julgar.

Maria Luísa Lobo – 2012/2013 Page66


PROCESSO PENAL FDUCP
Quanto ao objecto do processo, nomeadamente ao principio da sua unidade, trata-
se de assegurar que a decisão recai sobre algo que o arguido teve a oportunidade de
se defender. O principio da identidade do objecto do processo é uma garantia
inerente ao principio do contraditório. o facto vai-se definido ao longo do processo. O
primeiro momento decisivo para a identificação do objecto do processo é o final do
inquérito. A partir da acusação pelo MP ou do despacho de pronúncia, o objecto do
processo fixa-se não podendo existir uma alteração substancial dos factos.

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