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LIVRO DE SALMOS

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Salmos ou Tehilim( do hebraico ‫תהילים‬, Louvores) é um livro do Tanakh (fazendo parte dos escritos ou Ketuvim)
e da Bíblia Cristã, vem depois do Livro de Jó e antes do Livro dos Provérbios.[1][2] É o maior livro de toda Bíblia [3] e
constitui-se de 150 (ou 151 segundo a Igreja Ortodoxa) cânticos e poemas que são o coração do Antigo
Testamento, é a grande síntese que reúne todos os temas e estilos dessa parte da Bíblia [4], utilizados pelo antigo
Israel como hinário no Templo de Jerusalém, e hoje são utilizados como orações ou louvores, no Judaísmo, no
Cristianismo e também no Islamismo (o Corão refere os salmos como "um bálsamo"). Tal fato, comum aos três
monoteísmos semitas, não tem paralelo, dado que judeus, cristãos e muçulmanos acreditam nos Salmos que
foram escritos em hebraico, depois traduzidos para o grego e latim.

ORIGENS
A autoria da maioria dos salmos é atribuída ao rei David, o qual teria escrito pelo menos 73 poemas. Asafe é
considerado o autor de 12 salmos. Os filhos de Corá escreveram uns nove e o rei Salomão ao menos dois. Hemã,
com os filhos de Corá, bem como Etã e Moisés, escreveram no mínimo um cada. Todavia, 51 salmos seriam tidos
de autoria anônima.
O período em que os salmos foram compostos varia muito, representando um lapso temporal de
aproximadamente um milênio, desde a data aproximada de 1440 a.C., quando houve o êxodo dos Israelitas do
Egito até o cativeiro babilônico, sendo que muitas vezes esses poemas permitem traçar um paralelo com os
acontecimentos históricos, principalmente com a vida de Davi, quando, por exemplo, havia fugido da perseguição
promovida pelo rei Saul ou quanto ao arrependimento pelo seu pecado com Bate-Seba.
Poemas de louvor, os salmos foram inicialmente transmitidos através da tradição oral e a fixação por escrito teve
lugar, sobretudo através do movimento de recolha das tradições israelitas, iniciado no exílio babilônico pelo
profeta Ezequiel (séculos VII-VI a.C.). Como tal, muitos destes textos são muito anteriores, sendo bastante difícil a
sua crítica do ponto de vista literário estritos. Ainda assim, tendo em conta a comparação com a literatura poética
coeva do Egito, da Assíria e da Babilônia, pode-se afirmar que estes poemas de Israel são um dos expoentes da
poesia universal.
Os salmos, em termos de conteúdo, possuem estrutura coerente, o que também pode ser observado em
passagens do Antigo Testamento e em obras literárias do Oriente Médio da Antiguidade.[5]
Tal como em outras tradições culturais, também a poesia hebraica andava estreitamente associada à música.
Assim, embora não seja de se excluir para os salmos a possível recitação em forma de leitura, "todavia, dado o
seu gênero literário, com razão são designados em hebraico pelo termo Tehillim, isto é, «cânticos de louvor», e,
em grego psalmói, ou seja, «cânticos acompanhados ao som do saltério», ou ainda: oração cantada e
acompanhada com instrumentos musicais[4].
De fato, todos os salmos possuem um certo caráter musical, que determina o modo como devem ser executados.
E assim, mesmo quando o salmo é recitado sem canto, ou até individualmente ou em silêncio, a sua recitação terá
de conservar este caráter musical[6]
Os salmos acabaram por constituir um hinário litúrgico para uso no templo de Jerusalém, do qual transitaram quer
para a sinagoga judaica, quer para as liturgias cristãs.
Na Igreja Católica, os 150 salmos formam o núcleo da oração cotidiana: a chamada Liturgia das Horas, também
conhecida por Ofício Divino e cuja organização remonta a São Bento de Núrsia. A oração conhecida por rosário,
com as suas 150 Ave Marias( hoje 200), formou-se por analogia com os 150 salmos do Ofício. Outra forma muito
popular é organizar listas de Salmos por finalidade, isto é, salmos para serem rezados em determinadas ocasiões
como festas, doenças, colheitas ou funerais. Historicamente, a primeira destas listas foi organizada a partir da
prática de Santo Arsênio da Capadócia, que rezava um salmo como uma oração com certas finalidades.
Os salmos são também poesia, que é a forma mais apropriada para expressar os sentimentos diante da realidade
da vida permeada pelo mistério de Deus, o aliado que se compromete com o homem para com ele construir a
história. É Deus participando da luta pela vida e liberdade. Dessa forma, os salmos convidam para que também
nós nos voltemos com atenção para a vida e a história. Nelas descobrimos o Deus sempre presente e disposto a
se aliar, para caminhar na luta pela construção do mundo novo[4].
Os salmos supõem o contexto maior de uma fé que nasce da história e constrói história. Seu ponto de partida é o
Deus libertador que ouve o clamor do povo e se torna presente, dando eficácia à sua luta pela liberdade e vida (Ex
3,7-8). Por isso, os salmos são as orações que manifestam a fé que os pobres e oprimidos têm no Deus aliado.
Como esse Deus não aprova a situação dos desfavorecidos, o povo tem a ousadia de reivindicar seus direitos,
denunciar a injustiça, resistir aos poderosos e até mesmo questionar o próprio Deus. São orações que nos
conscientizam e engajam na luta dentro dos conflitos, sem dar espaço para o pieguismo, o individualismo ou a
alienação[4].
O livro dos Salmos é um dos mais citados pelos escritores do Novo Testamento. O próprio Jesus orava os salmos,
e sua vida e ação trouxeram significado pleno para o sentido que essas orações já possuíam. Depois dele, os
salmos se tornaram a oração do novo povo de Deus, comprometido com Jesus Cristo para a transformação do
mundo, em vista da construção do Reino[4].
Vários salmos são considerados pelos teólogos como proféticos ou messiânicos, pois referem-se à vinda do
Cristo e, por isso, existem muitas citações de versos dos salmistas no Novo Testamento com o propósito de
provar o cumprimento das profecias na pessoa de Jesus.[7]
O Salmo 150 constituiria uma doxologia, ou arremate de louvor do livro. [8]

VARIAÇÕES ENTRE AS TRADUÇÕES


O livro dos Salmos chegou até nós em sua versão grega (Septuaginta) e hebraica. A versão grega deste livro,
como de toda a bíblia, foi utilizada pelos cristãos convertidos e por São Jerônimo na confecção de sua edição
"Vulgata", tradução latina dos livros inspirados. Na Reforma Protestante é que se buscaram os manuscritos
originais hebraicos para fazer novas traduções e foi constatada a diferença que havia entre as duas traduções: as
versões, apesar de terem o texto completo, diferem na numeração de capítulos e versículos.

Versículos

A versão grega costuma apresentar, na maioria dos salmos, um versículo de introdução, em que são atribuídas
autorias e apontados instrumentos que deveriam ser utilizados ao se cantar os textos. Este versículo faz com que
a versão hebraica tenha, nesses casos, um versículo a menos, uma vez que essas informações não são
consideradas inspiradas por essa versão.

Capítulos

Em suma, pode-se dizer que entre os Salmos 10 e 148, a numeração da Bíblia Hebraica está uma unidade à
frente da numeração seguida na Septuaginta e na Vulgata, que juntam: os Salmos 9 e 10 no Salmo 9 (da
Septuaginta/Vulgata), e, os Salmos 114 e 115 no Salmo 113 (da Septuaginta/Vulgata); e dividem: o Salmo 116
nos Salmos 114 e 115 (da Septuaginta/Vulgata), e, o o Salmo 147 nos Salmos 146 e 147 (da
Septuaginta/Vulgata)[9].

Veja a tabela abaixo:

Texto hebraico Texto grego


1a8 1a8
9 e 10 9
11 a 113 10 a 112
114-115 113
116 114-115
117 a 146 116 a 145
147 146 e 147
148 a 150 148 a 150

Aplicação
No Judaísmo e no Protestantismo, a numeração usada sempre foi a hebraica.
A Igreja Católica, considerando oficial a tradução da "Vulgata", por muito tempo usou a numeração grega em suas
bíblias. Porém, estudiosos consideram essa numeração errada, uma vez que certos salmos, que parecem ser um
só, estão separados, enquanto outros, de assuntos bem diferentes, estão juntos. Vendo que a Vulgata era falha
ao se basear somente num texto (Septuaginta), e no ínterim de novas descobertas das Escrituras (Manuscritos do
Mar Morto), a Igreja permitiu a tradução das Escrituras diretamente dos originais (Constituição Dogmática Dei
Verbum) e promoveu uma nova tradução e revisão da Bíblia (Neovulgata), que, desta vez, trouxe a numeração
dos salmos a partir da versão hebraica, mas não resolveu a questão dos versículos introdutórios. A despeito desta
nova tradução católica, é possível encontrar bíblias católicas que ainda se baseiam na Vulgata, por seu
tradicionalismo, como é o caso da bíblia da Editora Ave Maria.

SALMOS PROFÉTICOS
Alguns salmos são considerados proféticos ou messiânicos pela Teologia cristã, pois apontam para a vinda do
Messias, sendo com freqüência citados no Novo Testamento da Bíblia com o objetivo de identificar Jesus Cristo
como o cumpridor da promessa.
No Salmo 2, que fala do reinado do Ungido de Deus, verificam-se algumas citações no livro de Atos e na Epístola
aos Hebreus.
Já o Salmo 8 que fala da glória divina e da dignidade do Filho do Homem é citado no Evangelho de Mateus, bem
como em algumas epístolas de Paulo.
Por sua vez, o Salmo 16 é uma referência à ressurreição de Cristo em seu verso 10, quando Davi assim profetiza:
"Pois não deixarás a minha alma na morte, nem permitirás que o teu Santo veja corrupção."
Por sua vez, o Salmo 22 fala do sofrimento e da vitória do Messias que se entende cumprido na crucificação de
Jesus, principalmente devido aos versos 7 e 18 que, respectivamente, coincidem com a zombaria experimentada
durante o martírio e a repartição das vestes pelos soldados.
Todos esses salmos foram proferidos pelo rei Davi, que teria governado Israel um milênio antes do ministério de
Jesus.
Importante destacar que tais salmos referem-se à numeração da Bíblia protestante, o que deve ser observado
pelo leitor ao consultar a Bíblia católica, cujo conteúdo é o mesmo.

OS SALMOS E A HISTÓRIA DE DAVI


Vários salmos relacionam-se com os acontecimentos que marcaram a vida do rei Davi.
O Salmo 59 tem a ver com a ocasião em que Saul teria enviado homens à casa de Davi para prendê-lo. Já os
Salmos 34 e 56 referem-se à sua fuga de Saul. Por sua vez, o Salmo 142 foi composto quando David encontrava-
se escondido na caverna de Adulão, na região do mar Morto.
Ao terminar a perseguição de Saul, Davi compõe o Salmo 18, ressaltando a fidelidade de Deus.
Quando é confrontado pelo profeta Natã sobre o seu adultério com Bate-Seba e a morte de Urias, Davi compõe o
Salmo 51, demonstrando o seu verdadeiro arrependimento.
Novamente ao ser perseguido, agora por seu filho Absalão, Davi ainda escreve os Salmos 3 e 7, o que revela sua
confiança no livramento de Deus.
Além destes citados acima, outros Salmos que se relacionam com passagens da vida de Davi seriam o 52 (depois
que Doengue assassinou os 85 sacerdotes e suas famílias), o 54 (quando os zifeus tentaram traí-lo), o 57
(enquanto se escondia em uma caverna) e o 63 (enquanto escondia-se no deserto de En-Gedi).
Importante alertar novamente que tais Salmos referem-se à numeração da Bíblia protestante, o que deve ser
observado pelo leitor ao consultar a Bíblia católica, cujo conteúdo permanece o mesmo.

O TRATAMENTO MUSICAL DOS SALMOS NA LITURGIA CRISTÃ


A história do canto do salmo na liturgia cristã corre paralela à história da liturgia, da música e das Igrejas cristãs.
Após o desenvolvimento do salmo responsorial no século IV, a função do salmista acaba por se transformar num
ministério próprio, mais tarde incluído até no clero local. No entanto, este ministério acaba por cair em desuso com
a especialização crescente dos cantores e com a instituição das scholae, ao mesmo tempo em que a participação
do povo se reduz.
Na missa, o salmo vê-se limitado a um único versículo, nas versões extraordinariamente elaboradas do gradual
gregoriano, assim chamado por ser cantado dos degraus do altar. No Ofício Divino, o canto dos salmos recebe
também o desvelo de gerações de compositores, que expressamente compõem algumas das obras-primas da
música ocidental, em particular para o solene canto de Vésperas, como, por exemplo, Vespro della Beata Vergine
Maria, de 1610, de Claudio Monteverdi, ou as Vesperae Solennes de Confessore, KV 339, de Wolfgang Amadeus
Mozart), mas onde muitas vezes, na prática, a oração cede lugar ao concerto.
Na Igreja Católica, o motu proprio Tra le Solecitudine de 1903, do Papa Pio X, exclui da liturgia os salmos "de
concerto". Após o Concílio Vaticano II, é restaurado o salmo responsorial na missa, através da Instrução Geral do
Missal Romano de 1969.

REFERÊNCIAS
1. ↑ Echegary, J. González et ali. A Bíblia e seu contexto (em português). 2 ed. São Paulo: Edições Ave
Maria, 2000. 1133 p. 2 vol. ISBN 978-85-276-0347-8
2. ↑ Pearlman, Myer. Através da Bíblia: Livro por Livro (em português). 23 ed. São Paulo: Editora Vida,
2006. 439 p. ISBN 978-85-7367-134-6
3. ↑ Acácio, José M. Antigo Testamento III - Livros Poéticos. 3 ed. CETADEB. Paraná, Apucarana, 2008,
p.41.
4. ↑ a b c d e Salmos, Edição Pastoral da Bíblia, acessado em 08 de agosto de 2010
5. ↑ Mackenzie, John L. Dicionário Bíblico. São Paulo, Paulinas, 1983, p.829.
6. ↑ Liturgia das Horas - Ofício Divino (em português). liturgiadashoras.org. Página visitada em 4 de julho de
2009.
7. ↑ Salmos Online (em português). www.salmosonline.com. Página visitada em 4 de julho de 2009.
8. ↑ Salmos (em português). www.salmododia.com.br. Página visitada em 6 de abril de 2010.
9. ↑ Bíblia de Jerusalém, Nova Edição Revista e Ampliada, Ed. de 2002, 3ª Impressão (2004), Ed. Paulus, São
Paulo, p 858
10. ↑ Mackenzie, John L. Dicionário Bíblico. São Paulo: Paulinas, 1983, p.827

Bibliografia
 Mackenzie, John L. Dicionário Bíblico. São Paulo, Paulinas, 1983, 3a. edição.
 A Bíblia de Jerusalém. São Paulo, Paulinas, 1981.

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