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Cerúmen: quando é necessária uma abordagem? E quais são as melhores opções? Realizamos uma ampla
revisão sobre um assunto que impacta o cotidiano de boa parte dos pediatras e dos clínicos.
O objetivo principal desta diretriz é ajudar os clínicos a identificar pacientes com impactação de cerúmen que
possam se beneficiar de alguma intervenção e promover o manejo baseado em evidências.
A diretriz não se aplica a pacientes com impactação de cerúmen associados às seguintes condições:
Cerúmen, ou “cera de ouvido”, é uma substância natural que limpa, protege e lubrifica o canal auditivo
externo. É também a principal razão pela qual o canal auditivo pode ficar obstruído. Embora muitas vezes
inofensiva, a obstrução do canal auditivo pelo cerúmen pode levar a uma série de sintomas como perda de
audição, zumbido, sensação de entupimento, coceira, otalgia, otorreia, mau odor e tosse. Além disso,
a impactação de cerúmen pode atrapalhar a avaliação diagnóstica, impedindo a análise completa do canal
auditivo externo e da membrana timpânica ou interferindo em exames diagnósticos, como audiometria e
imitanciometria.
Obstrução por cerúmen pode provocar sintomas como perda de audição, zumbido,
sensação de entupimento, coceira, otalgia, otorreia, mau odor e tosse.
O cerúmen é formado nos dois terços externos (parte cartilaginosa) do canal auditivo, e
não no terço interno (porção óssea) que termina no tímpano.
O acúmulo de cerúmen causado pela falha dos mecanismos de autolimpeza é uma das razões mais comuns
pelas quais os pacientes procuram cuidados médicos para problemas relacionados ao ouvido. Está presente em
1 em cada 10 crianças, 1 em cada 20 adultos e mais de um terço das populações geriátricas e com atraso de
desenvolvimento.
Os pacientes-alvo para esta diretriz são crianças acima de 6 meses de idade até adultos com diagnóstico
clínico de impactação de cerúmen.
DEFINIÇÕES:
O cerúmen é definido como uma mistura de secreções (sebo com secreções de glândulas sudoríparas
apócrinas modificadas) e células epiteliais desprendidas, e é normalmente presente no canal auditivo externo.
Como o cerúmen migra distalmente, pode misturar-se com o cabelo e a outras partículas.
A impactação de cerúmen é definida por seu acúmulo, provocando sintomas ou impedindo uma avaliação
necessária do canal auditivo, da membrana timpânica ou do sistema audiovestibular, ou de ambos.
Impactação versus obstrução: embora a “impactação” geralmente implique que o cerúmen esteja alojado,
cunhado ou firmemente aderido no canal auditivo, a nossa definição de impactação de cerúmen não requer
uma obstrução completa. Essa definição implica que o cerúmen está associado a sintomas que podem ser
atribuíveis a ele ou que o cerúmen impede um exame de ouvido necessário.
Os pacientes procuram tratamento para a impactação de cerúmen por uma série de sintomas, já citados
anteriormente. Ressalta-se que a oclusão completa pode resultar em perda auditiva significativa. A perda
auditiva pode variar de 5 a 40 dB dependendo do grau de oclusão do canal pelo cerúmen. Embora a
impactação possa ser assintomática em alguns casos, o manejo pode ser necessário para fins de diagnóstico
para que o canal auditivo e/ou a membrana timpânica possam ser visualizados ou que uma avaliação
diagnóstica possa ser realizada.
1 – PREVENÇÃO PRIMÁRIA
A higiene da orelha é comum nos Estados Unidos e em todo o mundo. Foram realizados vários estudos para
avaliar a prevalência de limpeza de orelha e práticas específicas relacionadas à higiene da orelha em várias
populações. Em 2 estudos, cerca de 90% dos entrevistados acreditavam que as orelhas deveriam ser limpas.
Eles também indicaram que limpam as orelhas ou as orelhas de seus filhos de forma regular. As razões mais
comuns citadas para as práticas de higiene da orelha foram: remoção de detritos (sujeira, poeira e cera), alívio
da coceira e motivos cosméticos. A prática de limpar os ouvidos tem uma forte influência familiar, muitas
vezes começando na infância e continuando durante a adolescência até a idade adulta. Isso sugere que os
clínicos precisam incluir os membros da família, assim como o paciente, ao discutir práticas adequadas de
higiene da orelha.
A produção de cerúmem é um processo fisiológico normal. O guideline sugere que as medidas preventivas
sejam direcionadas ao grupo de maior risco para impactação e obstrução, grupo esse constituído pelas
crianças, idosos, usuários de próteses auditivas e portadores de deficiência cognitiva
As medidas específicas usadas para limpar as orelhas variam de lavar o ouvido externo com sabão e água até
inserir objetos no canal auditivo (por exemplo, pinos, cotonetes, clipes de papel). Embora os dados empíricos
sejam bastante limitados, a opinião de consenso dos clínicos é que a impactação de cerúmen pode ser
exacerbada pelo uso de aparelhos auditivos e cotonetes. Uma incidência maior de cerúmen foi relatada em
crianças cujas orelhas foram limpas com cotonetes. Aproximadamente 9% relataram lesões em suas orelhas
como resultado da limpeza, incluindo abrasões de pele, perfuração de tímpano e impactação de cerúmen. Em
alguns países, existem sondas metálicas especificamente projetadas para limpeza de orelhas e remoção de
cera em casa, disponíveis e fáceis de comprar em mercados e farmácias. Já que objetos de limpeza estão
presentes em todos os lugares, os doentes devem ser aconselhados a não colocar objetos estranhos dentro do
canal auditivo, pois esses objetos podem causar lesões ou agravar a impactação de cerúmen, empurrando-o
mais profundamente no canal auditivo.
3 – SITUAÇÕES ESPECIAIS
Devemos avaliar o paciente com impactação de cerúmen considerando aspectos da história e/ou
exame físico, buscando fatores que modificam o manejo, tais como: uso de terapia anticoagulante,
imunodeficiência, diabetes mellitus, radioterapia prévia de cabeça e pescoço, estenose do canal
auditivo, exostoses e perfuração de membrana timpânica.
Pacientes com coagulopatias devem ser aconselhados sobre o aumento do risco de hemorragia traumática e
cuidados especiais devem ser tomados para reduzir a probabilidade de abrasão ou contusões do canal auditivo.
Pacientes com imunodeficiências (diabetes mellitus, insuficiência renal, transplante prévios de órgãos,
quimioterapia, HIV/AIDS….) podem estar em maior risco de otite externa pós-procedimento, especialmente
quando a irrigação é empregada. A irrigação com água da torneira tem sido implicada como fator etiológico
em vários estudos de otite externa necrosante (osteomielite do canal auditivo). Driscoll et al também
demonstraram que o pH do cerúmen do diabético é significativamente maior do que do não diabético, o que
pode facilitar o crescimento de patógenos. A irrigação nesta população de pacientes deve ser especialmente
cuidadosa para minimizar o trauma. Considerar o uso de gotas otológicas para acidificar o canal auditivo após
a irrigação e fornecer um acompanhamento próximo.
A radiação dirigida para qualquer local da cabeça e pescoço pode fornecer uma dose de radiação suficiente
para afetar permanentemente os canais auditivos externos. Os canais auditivos externos irradiados sofrem
alterações histológicas, incluindo lesão epitelial e atrofia das glândulas ceruminosas. O cerúmen desses
pacientes sofre uma alteração de sua composição que o torna mais seco e requer um desbridamento delicado.
A presença de condições dermatológicas como eczema, dermatose seborreica e displasia ectodérmica pode
complicar o manejo do cerúmen.
Uma membrana timpânica perfurada ou a presença de tubo de timpanostomia patente também limitam as
opções disponíveis para remoção de cerúmen. A suspeita de uma membrana timpânica não intacta deve ser
avaliada por história e/ou exame físico antes da seleção de uma técnica de remoção. A história prévia da
perfuração da membrana timpânica, qualquer cirurgia anterior da orelha, injeções intratimpânicas, tubos de
timpanostomia ou barotrauma devem nos levar a suspeitar de um tímpano não intacto e a utilizar técnicas de
desimpactação diferentes da irrigação. Além disso, o uso de irrigação na presença de uma membrana
timpânica perfurada pode produzir efeitos calóricos, resultando em vertigem. Alguns agentes também podem
ser tóxicos para o ouvido médio ou interno. A remoção mecânica do cerúmen é a técnica preferida quando a
perfuração do tímpano é suspeitada.
A otite externa atual também deve ser identificada por história ou exame físico. Se o canal auditivo estiver
atualmente infectado, a irrigação deve ser evitada.
4 – NÃO INTERVIR
A maioria dos cerúmens é assintomática e não prejudica o exame físico necessário. É importante que os
pacientes e os médicos compreendam que o cerúmen nem sempre precisa ser removido.
pacientes e seus cuidadores sobre a impactação de cerúmen e seus sintomas, bem como os potenciais riscos e
benefícios da sua remoção.
7 – INTERVENÇÕES RECOMENDADAS
No paciente sintomático, o objetivo da intervenção é ajudar a aliviar os sintomas (dor, plenitude, perda
auditiva, zumbido etc). No paciente assintomático com cerúmen impactado, o objetivo é permitir a visualização
do canal auditivo e da membrana timpânica ou realizar avaliações audiométricas ou vestibulares. Vários
métodos para atingir estes objetivos são amplamente utilizados. Contudo, faltam evidências na literatura que
identifiquem claramente a superioridade de uma opção terapêutica versus outra.
Três opções terapêuticas eficazes são mais utilizadas: irrigação, agentes cerumenolíticos e remoção manual
(que requer instrumentação). Podemos combinar mais de uma dessas opções no mesmo dia ou em intervalos
de tempo. Não há ensaios clínicos randomizados comparativos abordando a eficácia relativa dos 3 métodos.
A irrigação (também conhecida como “lavagem de orelha”) envolve a lavagem da cera por um jato de água
morna (idealmente na temperatura corporal). Acompanhe na imagem abaixo. Isto é geralmente seguro e
eficaz, mas carrega o pequeno risco de perfuração do tímpano. Deve ser evitada em certas populações de
risco, como já citado anteriormente.
Cerumenolíticos, ou agentes amaciadores de cera, são utilizados para dispersar o cerúmen e reduzir a
necessidade de irrigação ou remoção manual da impactação. Os cerumenolíticos podem ser utilizados
isoladamente ou em combinação com irrigação ou remoção manual. Uma revisão Cochrane demonstrou a
eficácia das gotas cerumenolíticas, mas não encontrou diferença significativa entre os agentes. Na verdade,
nenhum deles era superior à água. [1]
A remoção manual inclui o uso de curetas, sondas, ganchos, pinças ou microssucção (imagem ao lado). Este
método é geralmente seguro e eficaz, mas pode ferir o canal auditivo. Se o dispositivo de sucção se torna
parcialmente ocluído, pode gerar ruído excessivo no canal auditivo e potencialmente levar a zumbido ou perda
auditiva.
Uma vez que não há vantagem demonstrada de um método sobre outro, o método de tratamento utilizado deve
depender de: recursos disponíveis, experiência do clínico com as opções disponíveis e tomada de decisão
compartilhada.
Opinião de especialistas recomenda não usar cotonete para remover cerúmen do canal auditivo, embora as
evidências sejam escassas.
8 – AGENTES CERUMENOLÍTICOS
A terapia tópica é comumente usada para tratar impactação de cerúmen como intervenção terapêutica única
ou em combinação com outras técnicas, incluindo irrigação do canal auditivo e remoção manual de cerúmen.
As preparações tópicas existem em 3 formas: à base de água, óleo e não água e não óleo. Água e agentes à
base de água têm um efeito cerumenolítico, induzindo a hidratação e posterior fragmentação dos corneócitos
dentro do cerúmen. As preparações à base de óleo lubrificam e suavizam o cerume sem desintegrá-lo.
Apesar da alta incidência de impactação de cerúmen, existe pouca evidência de estudos bem controlados e
homogêneos de alta qualidade sobre a eficácia dos cerumenolíticos comumente usados, isoladamente ou em
conjunto com irrigação subseqüente.
Em resumo, a evidência mostra que qualquer tipo de agente cerumenolítico tende a ser superior a nenhum
tratamento, mas que nenhum agente em particular é superior a qualquer outro.
9 – IRRIGAÇÃO
A irrigação da orelha é uma forma amplamente praticada de remoção de cerúmen e pode ser realizada
com uma seringa ou irrigador eletrônico. Embora não haja ensaios clínicos controlados randomizados de
irrigação auricular versus nenhum tratamento, há consenso geral de que a irrigação auricular é eficaz. A
irrigação manual realizada com uma seringa grande, feita de metal ou plástico, é o método mais comumente
empregado na prática geral. A água deve estar perto da temperatura corporal para evitar efeitos calóricos.
As revisões sistemáticas das evidências disponíveis sugerem que o pré-tratamento (15 minutos antes da
irrigação) com uma gota otológica, para suavizar a cera, melhora a eficácia do procedimento,
independentemente do tipo de solução. Portanto, solução salina e água podem ser tão bons quanto produtos
especialmente formulados para esse fim.
A irrigação da orelha não deve ser realizada em indivíduos que têm uma membrana timpânica não intacta ou
naqueles com antecedente de cirurgia otológica, uma vez que a membrana timpânica pode ser mais fina ou
atrófica e vulnerável à perfuração.
13 – PREVENÇÃO SECUNDÁRIA
Embora a evidência empírica apoiando medidas para reduzir a recorrência da impactação de cerúmen seja
limitada, os clínicos têm a oportunidade de aconselhar os pacientes sobre os riscos e potenciais benefícios de
medidas de controle específicas. As medidas que podem ser benéficas na redução da impactação de cerúmen
incluem: preparações tópicas profiláticas, irrigação do canal auditivo, limpeza de aparelhos auditivos ou
limpeza rotineira do canal auditivo por um clínico.