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Médicos em
DE EDUCAÇÃO
Atenção Primária
PERMANENTE à Saúde
EM SAÚDE
DA FAMÍLIA
UNIDADE
Procedimentos
3
ambulatoriais
em APS
Dependendo da nossa área adscrita do território, pode ser necessário realizar alguns pro-
cedimentos ambulatoriais em APS, tais como: lavagem otológica; remoção de anel, remoção
de anzol e zíper preso, além de remoção de corpos estranhos.
CERUME IMPACTADO
A enfermeira Daniela já havia reunido o material para a dra. Denise da situação-problema
realizar uma lavagem otológica no atendimento à tarde. Você sabe realizar esse procedi-
mento na APS?
O cerume é formado a partir das glândulas ceruminosas, da secreção sebácea e dos produ-
tos de descamação da pele do meato acústico externo (MAE). Tem papel de proteção contra
danos físicos e infecciosos.
Existem dois tipos principais de cerume: úmido e seco. O tipo seco de cera do ouvido apre-
senta coloração amarelo-acinzentada, bronze ou amarelo-amarronzada. É de difícil remo-
ção pela curetagem, mas é facilmente lavado com irrigação suave. O cerume úmido é mar-
rom-escuro e pegajoso e apresenta uma maior concentração de lipídeos. É relativamente
impermeável à água e, assim, sua remoção é mais eficiente pela curetagem manual.
- otite aguda;
(http://189.28.128.100/dab/docs/publicacoes/cadernos_ab/abcad30.pdf).
• Despejar o soro aquecido na cuba redonda ou aspirar diretamente com agulha. Sempre assegurar
que a temperatura do soro não está excessivamente alta, podendo pedir também ao paciente
para verificá-la.
• Aspirar com a seringa diretamente na cuba com o soro aquecido até completar a seringa e acoplar
a seringa na extremidade não cortada do scalp.
• Sob leve pressão, posicionar a cuba rim, bem justaposta, à cabeça/pescoço do paciente na altu-
ra logo abaixo da orelha. Verificar se está bem justaposta para não molhar o paciente durante o
procedimento.
• Tracionar o pavilhão auricular para trás e para cima e direcionar a sonda de irrigação para a região
posterossuperior do meato acústico, a meio caminho entre o meato e o tímpano.
• - Uma vez esvaziada a seringa, removê-la com o cateter (scalp), desacoplá-la e repetir as etapas
anteriores quantas vezes forem necessárias.
• desistência do paciente;
O usuário deve ser esclarecido quanto à sensação comum de ouvido cheio após a irrigação.
Além disso, é importante orientar o usuário a não introduzir nenhum objeto no conduto
auditivo e a não usar hastes de algodão, fazendo a limpeza apenas externamente.
REMOÇÃO DE ANEL
Anéis presos ao dedo são situações comuns que podem ser, muitas vezes, resolvidas na
APS. Tais situações podem ocorrer pelo aumento da circunferência do dedo, por edema,
por aumento de peso ou pelo crescimento das extremidades com a idade. Como anéis,
em geral, têm bastante apelo sentimental, técnicas de remoção com preservação do anel
podem ser tentadas.
Situações como trauma, envenenamento e reações alérgicas podem gerar rapidamente dor,
lesão nervosa, isquemia e gangrena digital. Na suspeita dessas complicações, a técnica de
corte do anel deve ser priorizada.
A técnica do torniquete pode ser tentada usando clipe de papel (ou agulha ou pinça hemos-
tática) e fita dental (ou fio de sutura de seda, de algodão ou fita umbilical).
• Com o clipe, passa-se a ponta da fita dental para o lado proximal em relação ao anel, mantendo-a aí.
• A partir do anel, começa-se a enrolar o dedo distalmente ao anel com discreta compressão até
ultrapassar a primeira articulação interfalangeana. Certificar-se de que cada volta sucessiva se
encoste à anterior para que nenhuma porção da pele se saliente entre as voltas.
• Pega-se a ponta que ficou proximal ao anel e começa-se a desenrolar o dedo, fazendo o anel desli-
zar sobre a fita.
• Evitar trauma e pressão excessivos ao dedo. Mesmo com uma pressão leve, o paciente deve ser
avisado de que pode sentir algum desconforto.
• Quando obtiver o posicionamento correto do cortador de anel, girar a lâmina enquanto se faz uma
pressão adequada para manter a serra no metal do anel. Continuar a rotação da lâmina serrilhada
até que o anel seja completamente dividido. As duas porções do anel são seguradas com as pinças
ou com os alicates e abertas para permitir a retirada.
Uma inspeção e um exame completos do dedo devem ser feitos após a remoção do anel. O
edema do dedo previamente constringido deve se resolver em algumas horas (MAYEAUX, 2012).
A técnica ideal para remoção de anzol depende do anzol que está incrustado. Há muitos
tipos e tamanhos diferentes de anzóis. Contudo, os mais comuns são os anzóis de haste reta
e farpa única (A), os de haste reta e várias farpas (B) e os anzóis triplos (C).
Em grande parte das técnicas, há a necessidade do corte do anzol, por isso recomenda-se
que, em unidades que atendam com frequência esse tipo de acidente, haja disponível um
alicate para corte de aço.
• Se for encontrada resistência enquanto o anzol é removido, o procedimento deve ser interrom
pido e outra técnica deve ser tentada. Não se deve usar essa técnica em tecidos móveis, como
o lóbulo da orelha.
Ferimentos puntiformes devem ser deixados abertos e cobertos com curativos simples.
O estado neurovascular deve ser reavaliado e a vacina antitetânica confirmada e atualizada
(MAYEAUX, 2012).
Procedimentos Médicos em Atenção Primária à Saúde
Procedimentos ambulatoriais em APS 11
Quando o anzol estiver enferrujado e, portanto, soltando fragmentos, deve-se introduzir
uma pinça ou tentacânula no leito do anzol e, por meio de uma incisão, expor o ferimento
para adequada assepsia em caso de lesões mais superficiais. Nos ferimentos mais profun-
dos, opta-se pela ampliação do orifício de entrada, debridamento do trajeto e irrigação insis-
tente com soro fisiológico após a remoção do anzol (GUSSO; LOPES, 2012). Nesses casos
é prudente o uso de antibióticos sistêmicos.
ZÍPER PRESO
Os acidentes com zíper são mais frequentes em crianças, e o método mais simples para
evitá-los é o uso de roupas de baixo. É mais comum que o prepúcio fique preso no zíper,
entretanto há relatos de acidentes com grandes lábios vulvares e bolsa escrotal. A grande
maioria dos casos é resolvida pelos próprios indivíduos ou familiares em nível domiciliar.
Mas acidentes com difícil remoção e dor intensa decorrente podem causar uma situação
dramática na unidade de saúde (GUSSO; LOPES, 2012).
Técnica do procedimento
• Embebe-se o prepúcio e o zíper com
óleo mineral ou vaselina líquida.
• Utiliza-se o orifício de entrada, quando existente, podendo-se logo pinçar o objeto (se pequeno)
ou utiliza-se a cicatriz prévia como referência para realizar uma pequena elipse de pele (pode-se
inserir uma pinça de ponta fina ou tentacânula para localização precisa da lesão).
• Realiza-se incisão profunda o suficiente até alcançar o objetivo, podendo-se também realizar o
desprendimento das bordas em 1 cm e pressionando-se as laterais da lesão com os dedos expon-
do o tecido adiposo com o corpo estranho para ser facilmente removido.
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Procedimentos ambulatoriais em APS 13
Fonte: (DUNCAM et al., 2013)
• Se o ferimento permitir, e for necessário, pode-se confeccionar uma sutura com pontos simples
seguido de curativo com gaze.
Quase todos os ferimentos causados por corpos estranhos têm o potencial de infecção e,
devido ao pequeno orifício de entrada, deve-se considerar o bacilo do tétano e os organis-
mos piogênicos comuns como os possíveis invasores. Assim, a profilaxia do tétano deve ser
rotina no tratamento primário dos corpos estranhos nos tecidos moles (BRASIL, 2011).
Durante anamnese e exame físico, deve-se tentar identificar o tipo de corpo estranho que
se procura (metal, vidro, plástico, madeira etc.). Deve-se tomar cuidado especial com obje-
tos estranhos à base de ferro, pois a ferrugem é tóxica para a córnea e pode impedir sua
cicatrização.
Caso o médico se sinta apto, a remoção pode ser tentada em casos de corpos estranhos
pequenos, conjuntivais ou corneanos, alojados há 24 horas ou menos. Para tanto, será
necessário o uso de foco de ambulatório, lanterna, hastes flexíveis de algodão estéril, colírio
anestésico, lupa, agulha 13x0,45 mm (insulina), soro fisiológico, oftalmoscópio.
Linha do tempo
Utilizar a ponta da agulha para levantar o objeto com cuidado. Virar a cabeça do paciente
para o lado e irrigar copiosamente o olho. Ao final do procedimento testar e registrar outra
vez a acuidade visual do paciente.
A infecção ocular por corpo estranho é rara, porém, em razão de sua potencial gravidade,
está indicado que, após a remoção do corpo estranho, seja administrado antibiótico tópico,
como cloranfenicol a 0,5%, gentamicina ou cloridrato de ciprofloxacina (a cada 3 horas) nas
primeiras 24 a 48 horas (DUNCAM et al., 2013).
Nos casos de não remoção, perfuração (arrasamento da câmara anterior, evasão de líqui-
do), laceração da esclerótica, presença de ferrugem, suspeita de corpo estranho intraocular
ou corpo estranho metálico por mais de 24 horas, deve-se realizar encaminhamento ao
especialista de imediato. Pode-se administrar um anti-inflamatório não esteroide ou anal-
gésico oral e ocluir o olho sem fazer pressão, somente para proteger o local. E não se deve
utilizar qualquer tipo de pomada ou colírio sobre a lesão.
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CORPO ESTRANHO NASAL
Quando o objeto estranho permanece próximo do vestíbulo nasal, anteriormente aos cor-
netos inferiores, sua remoção pode ser facilmente conseguida em ambiente clínico. Em
geral, quanto mais longe o objeto está das narinas, mais desafiadora se torna sua remoção,
podendo ser considerada uma consulta com otorrinolaringologista.
Como a mucosa nasal é uma estrutura relativamente frágil, é preciso cautela ao inserir ins-
trumentos nessa área, pois podem ocorrer sangramentos problemáticos (MAYEAUX, 2012).
Para o procedimento, será necessário um espéculo nasal, ganchos rombos, pinça anatômica
ou baioneta, sonda de Itard ou pinça “jacaré”. Também pode-se usar um cateter nasal ou
sonda urinária de alívio acoplados a uma pera de sucção.
TÉCNICA DO PROCEDIMENTO:
REMOÇÃO DE CORPO ESTRANHO NASAL
• Utilizar um espéculo nasal e o gancho de ponta romba para remover
o corpo estranho. O emprego de uma lâmpada de cabeça libera as
duas mãos, de modo que elas podem ser utilizadas na instrumentação.
Espinhas de peixe são o corpo estranho mais comum a ficar impactado na orofaringe.
As localizações usuais são a tonsila palatina e a base da língua (DUNCAM et al., 2013).
• Usar a cadeira do dentista ou com indivíduo sentado mesmo. Utiliza-se um espelho dentário e um
espelho frontal para localizar; pode-se usar um abaixador de língua metálico e, então, remover o
corpo estranho com uma pinça anatômica, baioneta ou hemostática.
• A localização pode ser feita também com um laringoscópio, com o médico ficando à cabeceira da
pessoa, que deve permanecer com o pescoço hiperextendido.
• Não sendo possível localizar ou remover o corpo estranho, o indivíduo deve ser encaminhado ime-
diatamente ao serviço de otorrinolaringologia.
Não se deve realizar a lavagem de ouvido, quando se tratar de pilha alcalina de relógio ou de
calculadora, pois a irrigação pode espalhar pelo MAE substâncias químicas que se despren-
dem desse tipo de corpo estranho (CRM-PR 2014).
Quando o corpo estranho for um inseto, como mosquitos, besouros e baratas, estes devem
ser imobilizados mediante instilação de substância oleosa, éter ou lidocaína para depois se
proceder à sua remoção. No caso de sementes e/ou fragmentos de algodão, estes podem
ficar aderidos e exigem a retirada com uma pinça delicada. Quando larvas estiverem presen-
tes no conduto auditivo, deve-se observar atentamente se não há invasão do ouvido médio
através de perfuração do tímpano, situação que indica avaliação urgente por otorrinolarin-
gologista (DUNCAM et al., 2013).
Quando a lavagem otológica for contraindicada, o uso de otoscópio com espaço para mani-
pulação, cureta de ouvido, ganchos e pinça jacaré geralmente é suficiente para a retirada da
maioria dos outros corpos estranhos de ouvido. Quando há edema de conduto e laceração
de mucosa, antibiótico sistêmico e tópico são necessários (AMATO, 2016).