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LICENCIATURA EM PEDAGOGIA

DIMAS DE HOLANDA LOPES

ESCOLA DO CASE: O EJA E A SITUAÇÃO DA


PRIVAÇÃO DE LIBERDADE NO SOCIOEDUCATIVO

Luziânia - GO
2016
2

LICENCIATURA EM PEDAGOGIA

DIMAS DE HOLANDA LOPES

ESCOLA DO CASE: O EJA E A SITUAÇÃO DA


PRIVAÇÃO DE LIBERDADE NO SOCIOEDUCATIVO

Trabalho de Conclusão do Curso


Apresentado à Faculdade Albert Einstein,
como requisito parcial para a obtenção do
título de Licenciatura em Pedagogia.
Orientador: Professor D’angelles Sousa de
Oliveira

Luziânia - GO
2016
LICENCIATURA EM PEDAGOGIA

DIMAS DE HOLANDA LOPES

ESCOLA DO CASE: O EJA E A SITUAÇÃO DA


PRIVAÇÃO DE LIBERDADE NO
SOCIOEDUCATIVO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade Albert Einstein,


como requisito parcial para a obtenção do título de Licenciatura em Pedagogia.

Aprovada em _____________ de 2016

________________________________________________
Orientador: Prof. D’angelles Sousa de Oliveira
DEDICATÓRIA

A Deus que está me abençoando na realização de mais


um sonho. Em especial, dedico a minha esposa, minha
filha, meus colegas de trabalho, pela força, paciência e
incentivo.
AGRADECIMENTOS

Agradeço ao meu orientador Professor D’angelles Sousa de Oliveira


pelo apoio, pela gentileza e pela paciência na construção deste trabalho. Esses
poucos encontros deixou importantes marcas em minha vida pessoal e
profissional.
Aos colegas da turma de Licenciatura, que propiciaram, através de seus
olhares críticos nos módulos educacionais, a construção de novos saberes e
encontros durante o Curso.
Ao Centro de Atendimento Socioeducativo – CASE pela abertura do
campo de pesquisa, em especial a Coordenação Geral, Isabel Boschini, pelo
apoio e autorização.
Aos professores da Escola do EJA, especialmente a Coordenadora
Rose, que nos deu todo apoio na construção do trabalho. Aos pedagogos do
CASE, especialmente a Enismária que disponibilizou dados para complementar
o trabalho.
Ao Coordenador de Cursos profissionalizantes do CASE, Marcelo
Nunes, que também disponibilizou dados sobre a participação dos
adolescentes nos cursos desenvolvidos na unidade.
A todos que direta e indiretamente compartilharam comigo cada etapa
de mais uma formação profissional.
RESUMO

Esta pesquisa pretende compreender e analisar a política educacional


voltada para adolescentes privados de liberdade em uma escola de uma
instituição socioeducativa no Centro de Atendimento Socioeducativo - CASE. A
estratégia metodológica utilizada foi o estudo de caso de caráter exploratório,
com abordagem qualitativa. Durante a pesquisa de campo, os instrumentos
utilizados foram a análise documental, observação e entrevistas
semiestruturadas com adolescentes e profissionais que trabalham na escola do
centro socioeducativo. A pesquisa permitiu identificar mudanças de paradigma
na literatura consultada e nos marcos legais sobre a compreensão da
educação do EJA naquele centro socioeducativo. No entanto, ações de
governos, organizações da sociedade civil e pesquisas indicam que a
educação nos centros socioeducativos vem se constituindo como um campo
específico tanto de análise quanto para a formulação de políticas públicas,
ainda incipientes.
Palavras-chave: Adolescentes. Lei. Medida socioeducativa. Internação.
Educação. EJA. Sistema Socioeducativo. GECRIA.
ABSTRACT

This research aims to understand and analyze the educational policy


aimed at adolescents deprived of freedom in a school to own a institution in
Socio-Educational Service Center - CASE. The strategy used was case study
exploratory, qualitative approach. During the fieldwork, the instruments used
were document analysis, observation and semi-structured interviews with
teenagers and professionals working in the school's childcare center. The
research identified paradigm shifts in literature and legal frameworks on an
understanding of education in prisons and childcare centers. However, actions
of governments, civil society organizations and also in the field of research
indicates that education in the socio-educational centers is becoming as a
specific field, for both analysis and the formulation of public policies, still
incomplete.

Keywords: Adolescents. Law. Social hospitalization. Rights. Education.


Socioeducational System. GECRIA. Educational policies.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 01 – Escola do CASE ................................................................................ 13

Figura 02 – Escola do CASE (São João) ............................................................. 26

Figura 03 – Ala de Recolhimento ......................................................................... 31


SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................ 10

1.2 METODOLOGIA ............................................................................................ 17

2. DESENVOLVIMENTO .................................................................................... 19

2.1 O Sistema Regionalizado de Atendimento Socioeducativo de Goiás ............ 19

2.2 Dos Aspectos Pedagógicos e da Escola da EJA na Rotina do CASE .......... 22

2.3 Do Trabalho da Equipe Pedagógica em complemento ao EJA ..................... 26

2.4 Principais Projetos Desenvolvidos pela Equipe Pedagógica .......................... 27

2.5 Do Modelo de Cronograma da Rotina Diária do CASE .................................. 32

2.6 Dos Aspectos Estruturais do CASE ............................................................... 34

2.3 Dos Problemas de Infraestrutura do CASE .................................................... 36

2.8 A Formação Profissional do CASE ................................................................. 45

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................ 48

4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................ 54


10

1. INTRODUÇÃO

O presente texto pretende tecer reflexões e compreensões sobre e o


funcionamento da Escola que opera na modalidade para Jovens e Adultos
(EJA) aos adolescentes autores de ato infracionais em situação de privação de
liberdade no interior do Centro de Atendimento Socioeducativo- CASE do
Município de Luziânia- GO.
A instituição funciona desde agosto de 2006 e, atualmente, é
coordenada pelo Grupo Executivo de Apoio a Criança e Adolescentes -
GECRIA, ligada à Secretaria Cidadã – Secretaria Estadual da Mulher, do
Desenvolvimento Social, da Igualdade Racial, dos Direitos Humanos e do
Trabalho, com sede em Goiânia.
A Escola do CASE tem em sua peculiaridade o EJA, especialmente,
como garantia de direitos estabelecidos pelo poder público que instituiu as
Diretrizes e Bases da Educação Nacional pela Lei n o 9.394/96 no qual, nos
seus princípios, dita: “VII -oferta de educação escolar regular para jovens e
adultos, com características e modalidades adequadas às suas necessidades e
disponibilidades, garantindo-se aos que forem trabalhadores as condições de
acesso e permanência na escola”1.
Cabe salientar que o debate sobre algumas experiências estaduais de
educação para jovens e adultos em situação de restrição e privação de
liberdade remonte há algumas décadas atrás, mas somente a partir de 2005 é
que se inicia no Brasil encaminhamentos para implementação de uma política
propriamente nacional, quando os Ministérios da Educação em parceria com o
Ministério da Justiça iniciaram uma proposta de articulação para
implementação de Programa Nacional de Educação para o Sistema
Penitenciário, formulando as suas Diretrizes, tais como nos esclarece Elionaldo
Fernandes JULIÃO (2013) dizendo que:

1 Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9394.htm, Acesso em: 25/06/2016. A


Educação de Jovens e Adultos (EJA) é também reconhecida conforme expresso na Declaração de
Hamburgo (1997) e nas
Diretrizes Curriculares Nacionais desta modalidade, de acordo com a Resolução CNE/CEB n. 1/2000,
como direito de todos os cidadãos que não iniciaram ou não completaram sua escolaridade básica por
diferentes motivos.
11

“Dentre as principais conquistas, destacam-se a aprovação das


Diretrizes Nacionais para a oferta de educação nos estabelecimentos
penais aprovada pelo Conselho Nacional de Política Criminal e
Penitenciária (Resolução nº 3 de 11/03/2009 do CNPCP) e das
Diretrizes Nacionais para a oferta de educação para jovens e adultos
em situação de privação de liberdade nos estabelecimentos penais
aprovada pelo Conselho Nacional de Educação (Resolução nº 2 de
19/05/2010 do CNE); a alteração na Lei de Execução Penal (LEI Nº
7.210/84) que permite às pessoas presas diminuírem a sua pena com
base nas horas de estudo; e o Plano Estratégico de Educação no
âmbito do Sistema Prisional (Decreto 7626 de 24/11/2011) [JULIÃO,
E. F., 2013, p. 15]2

Ciente da importância dos últimos passos dados pelo Ministério da


Educação (MEC) e da Justiça (MJ) no campo político para que se consiga
efetivamente implementar uma política nacional de educação que também
atenda os jovens e adultos em situação de privação de liberdade no país, tais
eventos são importantes passos no processo de institucionalização da
discussão, segundo Elionaldo (ibid 2013), mobilizando estudiosos, gestores e
o poder público em geral a pensar sobre o tema em âmbito nacional. Destaca-
se também nesta parceria com o MEC e MJ os debates promovidos pela
Unesco na América Latina que resultou na publicação “Educando para a
Liberdade: trajetória, debates e proposições de um projeto para a educação
nas prisões brasileiras” (2006), e vai também levar a reflexão da EJA em
situação de privações de liberdade naqueles países (JULIÃO, 2013; ONOFRE,
2015).3
Destacamos que as diversas Diretrizes mencionadas aos quais norteiam
planos e estratégias da Educação no âmbito do Sistema Prisional sobretudo
nos avanços legislativos do País incluem aqui, nas nossas reflexões e análises,
ações propostas pelo Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo

2JULIÃO, Elionaldo F. Educação para Jovens e Adultos em Situação de Restrição e Privação


de Liberdade: Questões, Avanços e Perspectivas/Elionaldo Fernandes Julião. Jundiaí, Paco
Editorial: 2013, Cap. 01, p. 15.
3Educando para a liberdade: trajetória, debates e proposições de um projeto para a educação
nas prisões brasileira – Brasília : UNESCO, Governo Japonês, Ministério da Educação,
Ministério da Justiça, 2006. Disponível em:
http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/eja_prisao/educando_liberdade_unesco.
pdf, Acesso em: 25/06/2016.
12

(SINASE, Lei Federal no12.594/2012) e, como eixo, segue determinações


expressas no Plano Nacional de Atendimento Socioeducativo Diretrizes e Eixos
Operativos, por qual é organizada a execução das medidas socioeducativas
aplicadas a adolescentes autores da atos infracionais, sendo aplicada a menor
de 18 anos que no bojo são “penalmente inimputáveis” ao que segue o
Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA (Lei no8.069/1990). 4 Da
tipificação de “crime” e ou “contravenção”, pelo Juizado, o ato infracional de
acordo com a capacidade de cumprimento, leva em conta as circunstâncias e a
gravidade da infração, sendo também aplicadas as seguintes medidas
socioeducativas: a) advertência; b) obrigação de reparar o dano; c) prestação
de serviços à comunidade; d) liberdade assistida; e) inserção em regime de
semiliberdade; e f) internação em estabelecimento educacional, considerada a
mais grave, conforme o ECA.
Todavia, no que tange a EJA na atual Constituição Brasileira também
garante o direito ao Ensino Fundamental obrigatório, inclusive para jovens e
adultos, institucionalizando a educação como direito, compreendida como “o
pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e
sua qualificação para o trabalho” (C.F/1988, Art. 205) (apud PIRES, 2006, p.
106)5
A Escola do CASE, diferente de muitas das unidades de internações de
alguns estados no País, segue a Proposta Política Pedagógica- PPP elaborado
pelo GECRIA a fim de nortear atendimento ao adolescente privado de
liberdade em unidades integradas a esse grupo de execução e de gerência
socioeducativa estadual, na qual reafirma que: “O Direito à educação é um
direito fundamental previsto na Constituição Federal e mais do que
simplesmente instrução e alfabetização, o acesso à educação de qualidade é
um portal para a cidadania plena e a inclusão social em muitos níveis.
Extremamente importante na formação e desenvolvimento de qualquer criança

4
Destacamos aqui que as categorias Sistema Penitenciário e ou Sistema Prisional são distintas
ao do Sistema Socioeducativo, mais especificamente no que tange a internação quando
decretada pela autoridade judicial, tornando-se a internação socioeducativa exclusiva para
adolescente, conforme expressa o Art. 123 do ECA e o Art. 185 que não permite que ele
cumpra internação em sistema prisional por entender que a penitenciária não é local adequado
para jovem.
5PIRES, Roseane de A. Educação de Jovens e Adultos. In Ministério da Educação/ Secretaria

da Educação Continuada, Afabetização e Diversidade. Orientações e Ações para a Educação


das Relações Étnico-Raciais. Brasília: SECAD, 2006.
13

e jovem como caminho para a construção do seu futuro, além de que educar
torna–se sinônimo de ressocializar e reinserir”, conforme previsto na
Constituição Federal nos Artigos 205 e 214 e no Estatuto da Criança e do
Adolescente em seu Art. 86 do ECA.6

Figura 01 – Escola do CASE

A Escola do CASE recebem alunos socieducandos em situação de


internação provisória, conforme o artigo 183 do Estatuto, com permanência de
no máximo 45 (quarenta e cinco) dias improrrogáveis até a vigência da
decisão de sentença pelo Juizado da infância e da Juventude na comarca do
município de Luziânia, entre outros; depois de proferido a sentença, por
decisão da autoridade judicial, comprovada a autoria e a materialidade do ato
infracional, que caractezar no cumprimento da prática de ato infracional 7 ao

6Disponível em: http://www.sgc.goias.gov.br/upload/arquivos/2015-01/ppp--educacao---medida-


socioeducativa.pdf, Acesso em: 25/06/2016.
7 Por Ato Infracional o ECA no Art. 103 diz da conduta considerada como crime ou

contravenção penal. O Ato Infracional é, no entender da autoridade judicial, o ato condenável,


de desrespeito às leis, à ordem pública, aos direitos dos cidadãos ou ao patrimônio, cometido
por crianças ou adolescentes (aqui vistos entre idades de 12 a 18 anos, pois aos 21 anos a sua
liberdade é compulsória.
14

prazo máximo de 03 (três) anos em regime fechado, conforme Art. 121 do


ECA, sendo o socioeducando reavaliado de seis em seis meses por Equipe
Técnica Multidisciplinar, uma vez que os adolescentes se originam das escolas
estaduais de seus municípios e, na minoria, das escolas públicas municipais,
sendo em ambos os casos integradas as demais escolas convencionais (de
ensino formal) com carga mínima de 05 (cinco) horas de aulas diárias, de
segunda a quinta-feira8, para o alunado socioeducando, no qual dentro deste
período de internação são garantidos suas matriculas na Unidade. Certamente,
a escolarização é estabelecida a obrigatoriedade durante seu cumprimento,
exigindo que seja executada, paralelamente, a articulação entre diferentes
políticas públicas, quando é possível, tendo em vista a progressão da medida
( Liberdade Assistida – LA, conforme Art. 118 do Estatuto) ou propriamente a
desinternação.
A maior parte dos socieducandos autores de ato infracionais são do
sexo masculino, com idades entre 13 e 18 anos, constituídos por pobres,
número considerados de pardos ou negros que tem um nível educacional muito
baixo9, demonstram pouca afinidade com a escola ou, quando conheceram,
sua experiência frequentemente “tende a terminar em fracasso seja porque
evadiu-se ou mesmo por mera falta de interesse”, haja vista a desestimulante
grade curricular fora do contexto da vida e vivencia do discente; muitos
socieducandos são jovens ainda, além de muitos deles usarem algum tipo de
droga e moravam com a família, apresenta algum indício de Transtorno do
Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) e pouca capacidade de reter o
aprendizado, talvez pelo envolvimento com a toxicodependência, motivo pelo

8Uma vez que a sexta-feira acontece o Dia da Visita na Unidade e as aulas são suspensas,
embora os professores permanecem na Escola da Unidade em planejamento escolar no
cumprimento de carga horária.
9 É muito comum em pesquisa autores lidar com a escassez de dados sobre a população
juvenil de negros encarcerados. Estudos recentes foram divulgado em parceria pela Secretaria
Nacional de Juventude, da Secretaria-Geral da Presidência da República, Secretaria de
Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR) e Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento (PNUD) no Brasil, um estudo, de autoria da pesquisadora Jacqueline
SINHORETTO, intitulado “Mapa do Encarceramento: os jovens do Brasil” que demonstra
dados mais recentes sobre a população carcerária negra e jovem do País. Disponível em:
http://www.seppir.gov.br/central-de-conteudos/noticias/junho/mapa-do-encarceramento-aponta-
maioria-da-populacao-carceraria-e-negra-1 ; Acesso em: 16/07/2016.
15

qual o desvio e a contravenção estão precocemente enchendo as unidades


socioeducativas do País10, conforme nos revela Marc De MAEYER (2013).11
Há autores que defendem a opinião que o EJA na prisão exerça uma
função antieducativa em si (MAEYER, 2013), uma vez que a Escola é imposta
(quando no sistema de internação pode-se oferecer a educação no mesmo
ambiente hostil, ainda que isso possa parecer “paradoxal”), e porque a prisão
impõe atitudes, regras, normas rígidas e comportamento aceitável do ponto de
vista disciplinar. Assim sendo, nas duas instituições coercitivas potencializariam
a aversão ao aluno socioeducando cultivando um sentimento de injustiça e de
incompreensão impingido. Há quem acredita também que a debilidade política
da “clientela” da EJA, composta por “populações marginalizadas” e
discriminadas, entre os quais: “povos indígenas, mulheres, minorias étnicas
etc, é uma das justificativas para a situação de marginalidade das políticas
públicas nessa área”. Neste sentido, a EJA no Brasil, assume uma dimensão
própria devido a sua relação com a pobreza, convertendo-a em um projeto de
atendimento aos “deserdados sociais”, especificamente com qualidade
educacional questionável ou mesmo punitiva (BAQUEIRO, 1996).12
FOUCAULT (2010) e GOFFMAN (1961) abordaram os processos de
legitimação da cultura do confinamento e da repressão, da pena como
modalidade vingativa, pois, historicamente, a sociedade conquistou o direito de
punir (FOUCAULT, 2010).13
Nos capítulos seguintes, trataremos de abordar a rede e os mecanismos
dos órgãos que realizam o gerenciamento e as políticas públicas no Estado de
Goiás quanto ao sistema socioeducativo ao adolescente privado de liberdade,
assim como deficiências na articulação dessas políticas.

10 Segundo o estudo Panorama, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ, 2012, p. 10), os


principais motivos de internação são crime contra patrimônio (roubo e furto), tráfico de drogas e
homicídio.
11De MAEYER, M. A Educação na Prisão não é Mera Atividade. In: Educação & Realidade,

Porto Alegre, v. 38, n. 1, p. 35, jan./mar. 2013. Disponível em:


http://www.ufrgs.br/edu_realidade; Acesso em: 25/06/2016.
12 Pobreza é entendida, aqui, como estado de privação material e marginalização econômica.

BAQUERO, Rute V.; SANTOS, Eliene et al. Socioeducar a Escola: Desafios à Educação de
Jovens e Adultos. ApendSul2008: VI Seminário de Pesquisa em Educação da Região Sul:
UNIVALI, Itajaí – SC, pgs. 1-13.
13 FOUCAULT, Michael. Vigiar e punir: nascimento da prisão. Tradução de Raquel Ramalhete.
38. ed. Petrópolis: RJ: Vozes, 2010 e GOFFMAN, Erving. Manicômios, prisões e conventos.
São Paulo: Perspectiva, 1996.
16

Este estudo propõe-se a analisar a modalidade do ensino EJA voltado


para adolescente privado de liberdade em uma escola no Centro de
Atendimento Socioeducativo – CASE no município de Luziânia – GO.
Apresentado a situação particular institucional e as ações voltadas para o
adolescente, caracterizar a escola e seus atores, identificar e analisar relações
e ações estabelecidas entre jovens e professores no espaço da escola e
demais atores interagindo em todo o processo de discussão delineado nas
páginas que seguem.
17

1.2 METODOLOGIA

A coleta de dados foi realizada no CASE de Luziânia. Nesta instituição


funcionam duas escolas com estrutura análogas a de um estabelecimento de
ensino regular, com 05 (cinco) salas de aula, sala de coordenação e de
professores, além de uma biblioteca, sala de jogos e uma sala de oficina em
desuso.
Na Escola do CASE, o Colégio Estadual Padre José Bazzon assume a
extensão do EJA para os alunos da etapa II (do 6o ao 9o ano do Ensino
Fundamental) e etapa III (do 1o ao 3o ano do Ensino Médio) e o CEMEB Ana
Reis Meireles – Dona Tizinha – do CREJA, que também assume a extensão
para os alunos da etapa I (da Alfabetização ao 5o ano do Fundamental I - no
Município) dentro dos espaços da Unidade, integrando-se ao setor público local
e seguindo as orientações da Secretaria de Educação Municipal de Luziânia,
Uma vez matriculado, o aluno recebe o material didático e orientação de
estudos elaborados pelos professores com apoio da equipe pedagógica.
Participaram da pesquisa 07 (sete) professores que atuam na instituição,
embora houvesse durante a pesquisa um professor de Artes que desistiu de
ministrar aula por inadaptação, para não dizer receio do alunado
socioeducando. Quanto aos demais, sendo a aceitação dos professores em
participar do estudo quase, sem nenhuma resistência de colaborar com o
trabalho, uma vez que o corpo docente encontra-se há anos adaptados à
dinâmica institucional, apesar da intensa rotatividade do corpo discente, haja
vista as frequentes entradas e saídas de adolescentes a qualquer momento do
ano, muito embora o início e o encerramento da sentença judicial não estão
subordinados ao calendário letivo; mesmo com todo esforço da coordenação
escolar de manter o discente estudando, o que acaba comprometendo a
relação pedagógica; sem contar com o clima institucional “perenemente tenso”,
caracterizado por vários procedimentos e medidas de segurança ensejadas
pelo temor de “motins” e “rebeliões” por parte dos adolescentes; além do corpo
docente “desamparado e resiliente”, que atuam sob inúmeras condições
adversas, sem receber formação e qualificação específica para atuar no
Sistema Socieducativo, nem contar eventualmente com o apoio dos
demais servidores da unidade, que fica na porta da sala de aula para garantir a
18

segurança do professor, no momento da aula, mas tampouco se faz o


reconhecimento de outros atores envolvidos nesta instituição.14
Os professores exigiram apenas o sigilo. O pesquisador expôs de forma
clara os objetivos da pesquisa, embora foi proposto a eles a assinatura de um
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (BRASIL, 2012b) 15 , para as
entrevistas (o que foi desnecessário), muitas delas feitas informalmente, haja
vista colher com mais riqueza de detalhes as observações e informações do
cotidiano escolar e dos códigos de linguagem utilizados em salas pelos
adolescentes. Algumas entrevistas foram gravadas em áudio, transcritas na
íntegra e posteriormente analisadas e incluídas no trabalho como corpo literário
do trabalho. Para tanto se utilizou a técnica do Discurso do Sujeito Coletivo
(LEFÈVRE e LEFÈVRE, 2000) que é uma metodologia de organização e
tabulação de dados qualitativos de natureza verbal, obtidos de depoimentos.16
Contudo, preferiu-se também a metodologia de observação em campo
dentro de uma abordagem qualitativa. O acesso ao campo de pesquisa foi
possível através da solicitação de autorização para realização da pesquisa à
Coordenação Geral da Unidade in loco, além da permissão e colaboração da
Coordenação do Colégio Estadual Padre José Bazzon e da colaboração da
Equipe de Pedagogos do CASE e da participação do Coordenador de Curso de
Profissionalização que serão entrevistados informalmente e ou, se necessário,
com questionário previamente semiestruturado pelo pesquisador frente as suas
dificuldades e mais comuns limitações por medida de segurança interna.

14 Citações com adaptações, in CUNHA, Eliseu de O. Educação de Adolescentes Privados de


Liberdade: especificidades da EJA no Sistema Socieducativo II Alfa e Eja – Encontro
Internacional de Alfabetização e Educação de Jovens e Adultos. Disponível:
https://alfaeejablog.files.wordpress.com/2016/03/educacao-de-adolescentes-privados-de-
liberdade.pdf Acesso: 01/10/2016
15 BRASIL. Conselho Nacional de Saúde. BRASIL. Conselho Nacional de Saúde. Resolução nº
466, de 12 de dezembro de 2012b. Diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas
envolvendo seres humanos. Disponível em:
http://conselho.saude.gov.br/resolucoes/2012/Reso466.pdf. Acesso em: 22 de outubro de
2015.
16 LEFÈVRE, F.; LEFÈVRE, A. M. C; TEIXEIRA, J. J. V. O discurso do sujeito coletivo: uma
nova abordagem metodológica em pesquisa qualitativa. Caxias do Sul: EDUCS, 2000.
19

2. DESENVOLVIMENTO

2.1 - O Sistema Regionalizado de Atendimento Socioeducativo de Goiás

É indiscutível que a EJA no País vem alcançando nos últimos anos


enormes avanços no campo normativo e político. A educação em espaços
diferenciados, principalmente para jovens e adultos privados de liberdade, vem
conseguindo, em um ritmo particular, porém intenso, obtendo algumas
conquistas, deixando de ser um tema invisível, tornando-se ponto de pauta de
governos, assim como eventos nacionais e internacionais na concepção de
diretrizes em abrangências. Enfim, conseguido visibilidade até pouco tempo
atrás inimaginável.
O modelo regionalizado de atendimento socioeducativo em Goiás
obedece aos critérios definidos pelo poder judiciário, a partir da instalação e
funcionamento de comarcas polos para o atendimento aos municípios
pertencentes à respectiva regional, com observância do que estabelece o art.
124, VI, do ECA. Já as medidas restritivas de liberdade são executadas por
instituições públicas, ligadas ao Poder Executivo dos estados, sendo a gestora
em nível estadual, em Goiânia, o GECRIA.
O município de Luziânia integra um dos polos de atendimento do
programa de medidas socioeducativas de apenado e internação provisória, a
partir de um acordo-convênio entre os municípios das comarcas de Goiás:
Valparaiso de Goiás, Cidade Ocidental, Santo Antônio do Descoberto, Águas
Lindas de Goiás, entre outras, com apoio das respectivas Varas da Infância e
do Adolescente de cada município e do Ministério Público. Atualmente, a
comarca de Luziânia prioriza vagas em maior percentual aos adolescentes
masculinos que residem no próprio município e ou seus bairros circunvizinhos,
tais como Jardim Ingá e adjacências, assim o Juizado da Infância e do
Adolescente atende uma das diretrizes do ECA, Art. 88, inciso I, que é a
municipalização do atendimento.
A criação do GECRIA em 2012 (Lei nº 17.887) representou o interesse
do Estado de Goiás em garantir prioridade absoluta na execução da política
pública socioeducativa e, nesse âmbito, o CASE de Luziânia é integrada ao
plano de execuções desse Grupo, assim como integram outras cidades:
20

Goiânia, Anápolis, Formosa, Itumbiara e Porangatu. Dessa forma, destaca-se a


responsabilidade do Estado na execução da medida cautelar de internação
provisória (conforme art. 108 ECA) e das medidas socioeducativas de
internação 17 e semiliberdade, enquanto as demais medidas contidas no art.
112 do ECA, Liberdade Assistida (LA) e Prestação de Serviço a Comunidade
(PSC) são de responsabilidade dos municípios.
Compete ao GECRIA, dentre outras ações: instituir, gerir, manter,
coordenar e operacionalizar, no âmbito do Estado de Goiás, o Sistema
Regionalizado de Atendimento Socioeducativo Estadual, observadas as
diretrizes legais fixadas pela União, em adesão ao SINASE; promover as
políticas públicas e a efetivação dos direitos da criança e do adolescente
estabelecidos na Constituição Federal, no ECA, na Lei de Diretrizes e Bases –
LDB, embora a LDB não contempla dispositivos específicos sobre a educação
no sistema socioeducativo, omissão corrigida no Plano Nacional de
Educação/MEC (2001), na LOAS, no SUAS, entre tantas.
Cabe também ao GECRIA coordenar e controlar o fluxo de internação e
ou vagas nas unidades socioeducativas. Contudo, coube ao órgão elaborar um
modelo de gestão para nortear todas as unidades de atendimento à criança e
adolescente em conflito com a lei a partir do Plano Estadual de Atendimento
Socioeducativo em 2015, nos quais todas as unidades integradas viabilizam a
Escola do EJA aos adolescentes autores de atos infracionais dentro do
cronograma das atividades de cada unidade que acolhem os socioeducandos.
Pela amplitude da atuação do GECRIA em diversas unidades de
atendimentos aos socioeducandos, é comum ouvirem queixas quanto a
necessidade de mudança institucional em quase todas as unidades polos, haja
vista a inadequação de edifícios pouco ou quase sem nenhuma estrutura para
estadia que comporte um atendimento mais humano e infraestrutura adequada
como espaço de convivência dos adolescentes autores de ato infracional, uma
gestão de pessoa qualificada e de mais servidores públicos que supram o

17Destacamos a diferenciação entre internação provisória (medida cautelar para aguardo de


sentença válida por até 45 dias), internação sentenciada (Medida socioeducativa
propriamente dita, que pode durar até três anos – Art. 121 - ECA) e internação
sanção/regressão (medida aplicada no descumprimento de medida anteriormente aplicada,
válida por até três meses – art. 122, §1º ECA).
21

deficitário quadro de agentes, educadores e técnicos, entre tantas outros


profissionais que complementam o trabalho de acolhimento na proteção
integral ao socioeducando.
22

2.2 Dos Aspectos Pedagógicos e da Escola da EJA na Rotina do CASE

Quando o adolescente é internado, o técnico pedagogo ao acolher deve


verificar sua situação escolar. Se o adolescente esteve matriculado em alguma
escola de seu município esta matrícula deverá ser transferida para unidade
escolar do CASE e seus familiares ou responsáveis legais serão informado
sobre a tramitação de documentos necessários ao cadastramento de matricula
na Unidade.
A equipe pedagógica do Centro de Internação é responsável pelos
procedimentos e orientações a fim de efetivar transferência e matrícula escolar.
Em regra, após o acolhimento da internação do adolescente, que se
caracteriza em até 05 (cinco) dias, para que possa se adaptar a Ala de
Provisórios em recolhimento e do prazo que ele passa a acompanhar tanto a
rotina quanto os turnos das equipes de agentes e educadores diurnos e
noturnos. Depois de cumprido o prazo de acolhimento, ele deve ser orientado a
frequentar imediatamente as aulas na Escola do CASE para onde foi
transferido e matriculado, ainda que sua documentação estiver em trânsito, o
adolescente é obrigado a frequentar as aulas, caso o adolescente tenha se
negado a frequentar a escola, o técnico pedagogo deve registrar o ocorrido na
sua “ficha de evolução” e também no Relatório da Internação do respectivo
adolescente ao Juizado da Vara da Infância e do Adolescente.
O caráter pedagógico da medida socioeducativa ganha contorno mais
específico a partir das propostas político-pedagógica, da escolarização da
modalidade do EJA, das propostas de profissionalização e da socialização
propriamente dita no CASE, a partir da aplicação de um cronograma
pedagógico obrigatório que conduza o adolescente a refletir sobre o ato
infracional cometido e suas consequências à sociedade, além de fortalecer
seus direitos de cidadania e de ressignificar seus vínculos familiares dentro da
Unidade de atendimento. Assim sendo, deve-se considerar que a Escola do
CASE está intrinsecamente voltada para a rotina e a vivência proposta pelo
cronograma semanal.
23

Cabe salientar que o adolescente, ainda que esteja cumprindo uma


pena restritiva de liberdade, deverá ter a possibilidade de fazer uso de serviços
e atividades externas, desenvolvidas no seio da comunidade a que pertence.
Deve-se priorizar, nessa rotina e cronograma semanal, o atendimento
comunitário, conforme dispõe normativas estabelecidas pelas “Regras das
Nações Unidas para Proteção de Jovens Privados de Liberdade”, a respeito
das atividades escolares, laborativas e atendimento médico, psiquiátricos,
odontológicos, entre tantos. Assim, a Unidade procura, dentro de suas
limitações estruturais e de servidores possibilitar a execução das atividades,
embora qualquer alteração na rotina diária, ou semanal, traz impacto nos
procedimentos de segurança e, sobretudo, nas ações pedagógicas e na
escolarização os quais foram planejadas previamente.
Observa-se que a unidade foi planejada arquitetonicamente para que
possa assegurar etapas das ações pedagógicas à movimentação interna dos
adolescentes durante as diferentes etapas das ações internas e externas que
se faça cumprir recomendações legais contidas na sentença (frequência na
Escola da EJA, possibilidade de profissionalização, convivência familiar nos
finais de semana mediante a visita dos familiares e parentes autorizados e ou
visita monitorada com agendamento Técnico Multidisciplinar etc.), essa
capacidade de atendimento procura estar em conformidade com o SINASE,
especificamente na elabora do Plano Individual do Adolescente (PIA) e em
certo sentido ajusta-se ao Sistema Nacional de Prevenção e Combate a
Tortura (conforme Lei n° 12.847/2013).
A Unidade atualmente trabalha acima da sua capacidade de lotação
como veremos, ou seja, 64 (sessenta e quatro) na média dos 60 (sessenta)
abrigos permitidos. Isso, de algum modo, traz impacto nas intercorrências
surgidas nos agrupamentos de adolescentes por problemática vivenciada no
atendimento diário. A possibilidade de remanejamento de alas propiciará a
efetiva evolução por níveis de crescimento dos adolescentes permitindo assim
o planejamento das execuções de ações especificas para o processo de
permanência; reavaliação da medida e para a consequente progressão do
adolescente na medida socioeducativa, quando isso parte da própria resposta
do socioeducando frente a sua vivência positiva na estada do CASE.
24

O atendimento é realizado em conformidade com as etapas do processo


pedagógico e multidisciplinar é assim individualizado e coletivo, uma vez que a
Unidade procura se ajustar às determinações do GECRIA. As relações
interpessoais por vezes são conturbadas sempre que a rotina da escola se
choca com a rotina da Unidade, ainda que em algumas situações comprometa
a segurança dos servidores, vista como discutível em se tratando de agente e
educadores, quando se posicionam autoritariamente, já que estão diretamente
interagindo, sendo constantemente ameaçados e testados limites de tolerância
pelo socieducando. O grande desafio, a todo instante, é construído uma
relação de “confiabilidade” mútua entre eles, haja vista que as maiores
“barreiras” nesse relacionamento interpessoal se diz mais no âmbito de
preconceitos e de ato infracional propriamente dito, em especial aquele que
traz apelo e comoção social do adolescente infrator, entre outras situações.
Contudo isso, é preciso sempre colocar o adolescente no centro de
todos os movimentos e ações pedagógicas. Eles devem ser protagonistas e,
para que isso ocorra, é importante abrir espaço para a sua participação e
primar pelo diálogo com toda equipe envolvida na sociabilidade construída na
linha de trabalho desenvolvido no CASE. Talvez por essa relação
protagonizada entre agente e autor de ato infracional ser construída
cotidianamente, possa em alguns casos, de maneira positiva inviabilizar
mecanismos de “rebeliões” ou “motins”, haja vista o cumprimento de rotina
dinâmica por parte da Coordenação Geral e da atuação da Equipe Técnica
Multidisciplinar sem contar o fortalecimento de construção positiva de “vínculos”
com aqueles educadores e agentes, muito embora esse vínculo posse ser
afetado com tensões criadas, ocasionalmente, entre ambos.
A distribuição nas 6 (seis) Alas assim segue:
- 14 recolhimentos para internação aos adolescentes com idade de 18
(dezoito anos);
- 11 recolhimentos para internação provisória, sendo os adolescentes num
ala em situação de aguardo de liberação ou sentença ao prazo de 45
(quarenta e cinco) dias;
- 01 recolhimento para internação de isolamento cautelar, embora seja
polêmica essa vaga, pois a Unidade não dispõe de Isolamento no espaço
de recolhimento da Unidade, sendo alguns casos improvisado uma sala;
25

- 38 recolhimentos para internação dos sentenciados, distribuídos em 04


(quatro) alas, sendo que 01 (uma) destas alas reservada para adolescente
com sanção disciplinar (medida disciplinar);

Avalia-se que a lotação acima da capacidade de internação vem


acarretando um estreitamento dos espaços de convivência dos socieducandos,
uma vez que estão limitados apenas em 03 (três) Alas, sendo cada Ala com
capacidade de 10 (dez) recolhimentos nos alojamentos que deveriam ser
individualizados, sendo comum abrigar num mesmo alojamento dois
adolescentes, embora a Unidade siga a regra de adolescente sentenciado com
sentenciado e ou de provisório distintamente com a completude de idade, ato
infracional, e afinidades já constituída anterior à internação, quando são de
uma mesma comunidade domiciliar. Assim também, a Unidade está sofrendo
com o número insuficiente de educadores e agentes por plantões que em
média deveria ser de 17 (dezessete) por plantões diurnos e 10 (dez) por
plantões noturnos. O CASE opera atualmente com 08 (oito) diurno e 05 (cinco)
noturno. O que inviabiliza muito a dinâmica do organograma da rotina diária da
Unidade e da relação interpessoal dos servidores entre si, com a sobrecarga
de tarefas, tanto a questão da segurança de se manter e preservar a
integridade do adolescente, a equipe de professores e a Equipe Técnico
Multidisciplinar como um todo.
26

2.3 Do Trabalho da Equipe Pedagógica em complemento ao EJA

A equipe pedagógica do Case de Luziânia, composta por 04 (quatro)


pedagogos, tem como atribuições: acompanhar, orientar e dar suporte aos
socioeducandos em relação ao desenvolvimento afetivo, cognitivo e
comportamental. Fazer um serviço de apoio ao discente não apenas para
acompanhamento do regimento escolar no que tange a conduta esperada e
frequência nas aulas, mas também quanto às relações interpessoais com os
colegas e servidores em geral e aos agentes que atuam como sentinelas na
Escola do CASE.
O pedagogo também fica atento ao seu interesse ou desinteresse pelas
atividades curriculares e extracurriculares, contribui na orientação dos estudos,
assim como desenvolvimento de sensibilidades, habilidades e valores a fim de
buscar uma formação integral do alunado enquanto privado de sua liberdade.
Nessa perspectiva, a equipe pedagógica presta serviço de atendimento
individual e coletivo permanecendo a disposição para atender o discente que
procura o atendimento por iniciativa própria ou quando convidado,
especialmente quando é detectado pelo professor da EJA alguma deficiência
escolar seja ela a hipótese de déficit de atenção (TDAH), pensamento
acelerado ou dificuldade auditiva, visual ou de aprendizado (em muitos casos,
o adolescente apresenta limitação na alfabetização, apesar de ser
encaminhado a cada profissional especializado para que possa atenuar ou
facilitar os meios de solucioná-los ainda que com apoio do assistente social e
ou de um psicólogo intercambia sua inclusão na rede pelo poder público.
O trabalho pedagógico é feito em equipe, ou seja, cada pedagogo fica
responsável por uma quantidade de adolescentes em tudo o que diz respeito a
sua vida escolar, isso inclui atendimentos individuais ou coletivos, busca por
documentação escolar, orientação à família sobre a transferência para o EJA e
ao discente sobre aspectos escolares, elaboração de relatórios no que diz
respeito à parte pedagógica, da participação dos Estudos de Caso, aplicação
de medidas disciplinares (sanções), acompanhamento durante as atividades
escolares, da reprovação, da evasão, de lazer e saídas externas, realização de
projetos pedagógicos, auxílio aos professores no que se refere a parte
pedagógica, acompanhamento diário da rotina escolar.
27

2.4 Principais Projetos Desenvolvidos pela Equipe Pedagógica

Ao longo de cada semestre e nos interregnos de férias os adolescentes


que estão sentenciados e que frequentarem a Escola do CASE participam de
toda uma programação de atividades lúdico-pedagógicas organizadas pela
equipe de pedagogos, tais como:

“Reforço Escolar” com os adolescentes que necessitam de um


acompanhamento mais específico;
“Ler é um Prazer” onde estimula-se a leitura de livros literários não
somente na escola por intermédio da biblioteca, ou sala de aula, como também
dentro dos alojamentos, com novos encontros para discutir o que foi lido e
fazer reflexões. A equipe pedagógica alega duas condições atenuantes para a
situação: dificuldade de conseguir livros paradidáticos ou literatura juvenil, pois
afirma que estes nunca chegam à Instituição; e a necessidade de manter
papéis longe dos internos, uma vez que são utilizados para fumar e queimar
durante as rebeliões, agravando ainda mais as consequências dessas
manifestações. O observado, no entanto, é que não se dá prioridade de
investimento nesse espaço, por parte de alguns setores, e que a leitura não se
configura importante para formação cidadã dos jovens, muito embora alguns
servidores contribui voluntariamente com aquisições de livros e indicações
pertinentes aos socioeducandos.
“Torneios de Futebol e Vôlei”. Competições realizadas com os
adolescentes e participação dos agentes e educadores com o objetivo de
promover a associação entre a prática desportiva e valores como convivência
social, limites que organizam as relações interpessoais, cooperação, união,
diagnosticar perfis de liderança entre os pares e trabalho em equipe, base para
a construção da cidadania;
“Gincana Maluca de Férias” – Atividade de lazer no período de férias
escolares, com provas desenvolvidas através de um formato educativo, voltado
para o lazer.
28

“Campeonato de Xadrez” - Atividade realizada com os adolescentes


para trabalhar os aspectos cognitivos, raciocínio lógico e a paciência e
resignificar a convivência conflituosa para uma possível e amistosa conciliação
entre eles.
“Sala de Jogos” – Atividades desenvolvidas nesse ambiente com o
objetivo de acompanhar e trabalhar a socialização, coordenação motora,
habilidades de reflexo e desenvolvimentos dos aspectos físicos e cognitivos,
através do tênis de mesa, videogames, damas e dominó.
“Datas Comemorativas” – Através deste projeto trabalhamos com os
adolescentes as principais datas comemorativas do calendário, e ainda,
trazemos reflexões sobre várias questões da cidadania e convivência familiar
(Dia da Mães, São João, Dia da Criança etc) e parental.

Figura 02 – Escola Case (São João)


29

“ENEM e ENCEJA – Novos caminhos” – Por meio deste projeto


realizam aulas de reforço escolar com os conteúdos do ENEM, trabalhando
inclusive como marcar o gabarito corretamente, e ainda, realizando exercícios
de provas anteriores. Em dia de prova do ENEM na própria Unidade, os
adolescentes participam da prova com toda o procedimento e rigor necessário
para o empenho daquele que se preparou, mesmo que muitos deles duvidem
do próprio empenho, mas percebe-se avanços no aprendizado, uma vez que a
cada ano há um elevado índice de notas, ainda que sem aprovação final.
“Projeto Tour no Campus da UnB” – Os alunos tem a oportunidade de
conhecer a Universidade de Brasília, onde buscamos motivá-los a adquirirem
perspectivas futuras relacionadas a continuação dos estudos. O benefício
implica uma pré-seleção avaliada por todo Equipe Multidisciplinar com a
participação dos agentes e educadores e dos coordenadores de equipe,
quando solicitados. Os adolescentes escolhem sua melhor roupa e tênis e são
escoltados pelo agentes e educadores sem qualquer identificação de sua
condição de apenado e o sucesso desse trabalho, autorizado judicialmente, foi
até o momento nunca ter havido qualquer evasão do deles no passeio.
Outras atividades também desenvolvidas pela equipe:

 Acompanhamos as atividades recreativas, como por exemplo, o


futebol, sala de jogos e outras realizadas na escola.

 Auxiliamos os professores na parte pedagógica sugerindo atividades


e propondo métodos mais dinâmicos de aula;

 Realizamos Orientação Educacional aos alunos. Acontece


diariamente;

 Orientamos durante a visita familiar os pais ou responsáveis sobre o


desenvolvimento escolar de seus filhos.

 Proporcionamos a atuação conjunta entre a equipe técnica


(Psicólogos, Assistente Social e Enfermeiro) e escola afim de que toda a
equipe saiba e auxilie no desenvolvimento escolar dos adolescentes.
30

 Realizamos reuniões com os professores, juntamente com a Equipe


Técnica.

 Elaboramos o plano de atendimento individual – PIA.

 Participamos dos Estudos de Caso, trazendo informações sobre o


desenvolvimento escolar e atividades pedagógicas realizadas pelos
adolescentes.

 Elaboramos relatórios sobre os aspectos comportamentais,


cognitivos, físicos e escolares.

 Inserimos os adolescentes nas respectivas séries e turmas, de


acordo com a necessidade peculiar de cada um, no que diz respeito a
segurança e a equipe de referência, preferencialmente, no contra turno
Escolar. Verificamos e atualizamos a lista escolar.

 Acompanhamos diariamente por meio da chamada escolar a


frequência dos alunos, a fim de evitar possíveis faltas que poderão
comprometer seu aprendizado.

 Inscrevemos os adolescentes para as provas do ENEM e ENCEJA


realizadas na Unidade, com o intuito de adequar a sua aprendizagem a
série correta.

 Proporcionamos palestras previamente agendadas do programa


“Escola sem drogas” realizadas pelo ministério público aos
adolescentes.

 Aplicamos medidas disciplinares aos adolescentes com o objetivo de


responsabilização por seus atos e orientação sobre possíveis evoluções.
31

Com essas diretrizes pedagógicas, busca-se fundamentar as práticas


realizadas nas unidades socioeducativas, visando um atendimento de
qualidade, humanizado, que propicie o protagonismo juvenil, garantindo os
direitos dos adolescentes e buscando amenizar o abatimento e cometimento
dos atos infracionais. O processo socioeducativo exige dos diversos atores que
compõem o trabalho do CASE uma disponibilidade para estabelecer vínculos
significativos com os adolescentes e estarem cientes de que a exemplaridade
de suas condutas são de grande relevância para os adolescentes no processo
de aprendizagem de novos modelos de relações humanas. Isso não implica a
perda de autoridade por parte dos agentes, instrutores educacionais e equipe
técnica, mas o exercício do diálogo e a garantia de uma disciplina, com o
propósito de organização do ambiente da Unidade, que não esteja pautado na
violência e na subordinação dos socioeducandos a regras autoritárias.
Repensar a EJA nesta perspectiva de educação antidiscriminatória e ou
antirracista requer criar formas mais democráticas de se implementarem as
atividades, projetos e avaliação, e essas são tarefas que exigem coerência
com princípios assumidos por toda uma Equipe na construção cidadã daqueles
que lhe foram restringindo oportunidades na vida.
32

2.5 Do Modelo do Cronograma da Rotina Diária do CASE

Segue nas páginas seguintes o modelo do Cronograma da Rotina Diária


da Unidade e demais ações pedagógicas, escolarização e profissionalização
(Curso Zap) 18 estabelecidas a fim de que o socioeducando participe das
atividades propostas pela Equipe Multidisciplinar, Enfermaria, e, sobretudo que
o adolescente, enquanto discente, sinta-se diluir suas expectativas e
frustrações no período em que encontra-se privado de sua liberdade e, apesar
das limitações na infraestrutura, e restrição de materiais de manutenção e de
higienização a Unidade segue com o atendimento humanizado que a
instituição possa promover.
Contudo cabe assinalar que dada a extensão do trabalho, não pretende
construir um tópico explicativo sobre cada item da rotina, exposta neste
cronograma, nossa intenção é apenas demonstrar a diversidade de atividade
que a Unidade propõe ao socioeducando por sua estada no CASE.

ROTINA DIÁRIA – CASE LUZIÂNIA


18 a 24 de julho de 2016
SEGUNDA- TERÇA-FEIRA QUARTA- QUINTA-FEIRA SEXTA-FEIRA SÁBADO DOMINGO
FEIRA 19/07 FEIRA 21/07 22/07 23/07 24/07
18/07 Plantão “B” 20/07 Plantão “A” Plantão “B” Plantão “C” Plantão “A”
Plantão “A” Plantão “C”
06h30 06h30 06h30 06h30 06h30 06h30 06h30
- Café da - Café da manhã - Café da - Café da manhã - Café da manhã - Café da -Café da
manhã manhã manhã manhã
07h às 07h15 07h às 07h15 07h às 07h15 07h às 07h15 07h às 07h15 07h às 07h15 07h às 07h15
- Troca de - Troca de plantão - Troca de - Troca de plantão - Troca de - Troca de - Troca de
plantão plantão plantão plantão plantão
- Higiene pessoal
- Preparação p/ a
visita
07h30 07h30 07h30 07h30 ATIVIDADES 08h 08h às 09h
- Higiene - Higiene pessoal - Higiene - Higiene pessoal 08h às 11h - - Higiene - Higiene
pessoal - Higiene das alas pessoal - Higiene das alas - Vis. Familiar Pessoal Pessoal
- Higiene das - Higiene das período matutino - Higiene das - Higiene das
alas alas alas alas

ATIVIDADES ATIVIDADES ATIVIDADES ATIVIDADES ATIVIDADES ATIVIDADES


08h30 às 11h 08h30 às 11h 08h às 11h 08h30 às 11h 09h30 09h30
-Atendimentos - Atendimentos -Atendimentos - Atendimentos - Limpeza da - Limpeza da
08h30 às 10h 08h às 09h 08h30 às 10h 08h às 09h Unidade Unidade
- Campeonato - Curso Zap - Campeonato - Curso Zap 08h
de Vôlei Virtudes de Vôlei Virtudes - Consulta - Atividade
09h as 10h Empreendedoras 09h às 10h Empreendedoras Médica Recreativa
- Atividade de - ala “C” Atividade de - ala “C”
grupo -> 09h15 às 11h grupo -> 09h15 às 11h - Corte de
Medida - Campeonato de Intervenção e - Campeonato de cabelo
Disciplinar Vôlei Saúde Vôlei
- Repasse dos
- Repasse de presto barba
material de
higiene e
pertences

18 Cabe salientar que este curso ainda está em elaboração para implementação.
33

11h30 às 13h 11h30 às 13h 11h30 às 13h 11h30 às 13h 11h30 às 13h 11h às 14h 11h às 14h
- Almoço - Almoço - Almoço - Almoço - Almoço - Almoço - Almoço
- Descanso - Descanso - Descanso - Descanso - Descanso - Descanso - Descanso
- Preparação p/ a
visita
13h às 17h 13h às 17h 13h às 17h 13h às 17h 13h às 17h 13h às 17h 13h às 17h
- Banho / - Banho /Higiene - Banho / - Banho / Higiene - Banho / Higiene - Banho / Hig. - Banho / Hig.
Higiene Pessoal Higiene Pessoal Pessoal Pessoal Pessoal
Pessoal Pessoal

ATIVIDADES ATIVIDADES ATIVIDADES ATIVIDADES ATIVIDADES ATIVIDADES ATIVIDADES


14h às 17h 14h às 17h 14h às 17h 14h às 17h 14h às 17h 14h às 17h 14h às 17h
- Atendimentos - Atendimentos - Atendimentos - Atendimentos - Visita Familiar - Atividade - Atividade
15h às 17h 15h às 17h 15h às 17h 15h às 17h período Recreativa Religiosa
- Campeonato - Campeonato de - Campeonato - Campeonato de vespertino
de Vôlei Vôlei de Vôlei Vôlei
14h às 15h
- Atividade de - Repasse presto
- Repasse de Grupo -> barba
material de regras ala “B”
higiene e
pertences
15h 15h 15h 15h 15h 15h 15h
- Lanche da - Lanche da tarde - Lanche da - Lanche da tarde - Lanche da tarde - Lanche tarde - Lanche tarde
tarde tarde
19h 19h 19h 19h 19h 19h 19h
- Troca de - Troca de Plantão - Troca de - Troca de Plantão - Troca de - Troca de - Troca de
Plantão - Jantar Plantão - Jantar Plantão Plantão Plantão
- Jantar - Jantar - Jantar - Jantar - Jantar
20h30 20h30 20h30 20h30 20h30 20h30 20h30
- Lanche - Lanche - Lanche - Lanche - Lanche - Lanche - Lanche
21h às 23h 21h às 23h 21h às 23h 21h às 23h 21h às 23h 21h às 23h 21h às 23h
- Retirada dos - Retirada dos - Retirada dos - Retirada dos - Retirada dos - Retirada dos - Retirada dos
adolescentes adolescentes para adolescentes adolescentes para adolescentes adol. para hig. adol. para hig.
para higiene higiene pessoal para higiene higiene pessoal para higiene pessoal pessoal
pessoal pessoal pessoal
- Desligar a TV - Desligar a TV às - Desligar a TV - Desligar a TV às - Desligar a TV - Desligar a - Desligar a
às 10h30 10h30 às 10h30 10h30 às 00h TV às 00h TV às 10h30

SAÍDAS SAÍDAS SAÍDAS SAÍDAS SAÍDAS SAÍDAS SAÍDAS

Saídas Saídas Médicas


Médicas - Dentista CAIS
- Exame CAIS 13h
(08h)
- Fisioterapia
CAIS
(08h)
- Exame
Goiânia
(13h30)
Audiências Audiências Audiências
- Novo Gama - Luziânia - Águas Lindas
(14h50) (09h) (14h30)
-Novo Gama
(14h30)
34

2.6 Dos Aspectos Estruturais do CASE

A questão de maior visibilidade hoje, quando se fala nas condições de


funcionamento das unidades de privação de liberdade, é a superlotação e a
precariedade das condições de infraestrutura das unidades de internação
socieducativas no País. De fato, no CASE de Luziânia, esta pode ser
considerada uma das problemáticas, se considerarmos que o SINASE coloca
como parâmetro de atendimento o número de 40 (quarenta) adolescentes por
unidade de internação e de 20 adolescentes em unidades de internação
provisória e semiliberdade.
Considerando tal parâmetro, o CASE está operando com 24 (vinte e
quatro) adolescentes a mais incluindo os internos em internação provisória que
se soma em torno de 10 (dez), muito embora a Unidade comporte tanto a
internação provisória quanto os sentenciados e o Juizado da Infância e da
Juventude municipal procura não está ultrapassando em número maior que
esta capacidade dos 60 (sessenta) infratores atendidos ainda que em sua
maioria acolha os adolescentes do município de Luziânia e das demais
comarcas acima elencadas.

Figura 03 – Ala de Recolhimento


35

Também revela um excesso na aplicação da medida de internação ao


adolescente que infringe o Artigo 157 (do CP Decreto Lei 2848/40 - que é
subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou
violência a pessoa) a qual é aplicada antes da sentença final do processo de
apuração do ato infracional, ou seja, antes de se saber se este é ou não
culpado pela prática do ato durante 45 (quarenta e cinco) dias. É urgente que o
Judiciário reveja os critérios de aplicação dessa medida, que os promotores
exerçam o seu papel de fiscal da lei e que defensores públicos garantam ao
adolescente o recurso a decisões judiciais que determinem a internação
provisória, embora o Juizado da Infância e da Juventude local já tenha criado
critérios para justificar a internação prolongada de 3 (três) anos, uma vez que o
tenha considerado o autor de ato infracional aquele adolescente que comprove
a materialidade do latrocínio e ou da tentativa de homicídio, do sequestro e
estupro, além de homicídio doloso e lesão corporal seguida de morte.
Contudo, isso não reflete apenas na necessidade de construção de
novas unidades municipais, mas, sobretudo, de se rever o modo como vêm
sendo aplicadas as medidas privativas de liberdade, uma vez que o ECA
estabelece tais medidas como grave e ou excepcionais.
36

2.7 Dos Problemas de Infraestrutura do CASE

Ainda com o ECA em vigor, observa-se a continuidade da violação dos


direitos dos adolescentes. É possível encontrar centros socioeducativos
espalhados pelo País com estruturas físicas inadequadas ao cumprimento da
medida de internação (ambientes mal iluminados, insalubres, sem áreas para a
prática de esportes e oficinas), pouco recursos humanos, além da baixa
qualidade do atendimento e manutenção das práticas punitivas.
Um diagnóstico no CASE de Luziânia quanto à inadequada da
infraestrutura nas instalações do prédio revelam diversos problemas que se
arrastam há anos sem soluções imediatas e que comprometem não apenas a
rotina da Escola do CASE, mas toda dinâmica e complexidade da estrutura
física, dos atores envolvidos, sobretudo ao protagonismo da clientela atendida.
Cabe frisar que o ator fundamental neste contexto são os agentes e
educadores sociais, especialmente como responsáveis pelas diretrizes e
práticas de segurança naqueles espaços de vivências dos adolescentes. Os
servidores são os primeiros a se queixarem das ineficazes execuções de ações
preventivas de segurança, das precariedades e falta de recursos e de materiais
de manutenção e conservação material junto a Secretaria de Gestão do
GECRIA. Entre alguns dos problemas analisados aqui, estão:

1) ESCOLA – Dia 25 de janeiro do corrente, iniciaram-se as aulas na


Escola que funciona dentro da Unidade. Mesmo com a doação de
Carteiras e Cadeiras escolares pela Secretaria Municipal de
Educação, encontramos algumas salas de aula inundadas de águas
pluviais que imanavam da laje do teto da Escola. Instalações
elétricas precárias com pouca ou quase nenhuma iluminação nas
salas de aulas, muitas vezes apenas duas lâmpadas fluorescentes.
Vazamentos e infiltrações nas salas e quadro de giz em péssimas
condições de uso e de pouca visibilidade para o aluno. O pó de giz
provoca quadro alérgico a algum socioeducando que apresenta
enfermidade a na sala de aula. Biblioteca na Escola: há uma
biblioteca, embora há precariedade de livros para os alunos terem
acesso á leitura. Apesar de familiarizados com o hábito de leitura,
37

muitos dos alunos preferem gibis ou ler a bíblia. O espaço da


Biblioteca também é utilizado para vídeo-aula ou apresentação de
filme temático pelos professores. A Escola conta com apoio de
policiais como sentinelas, muitos deles não se sentem seguros de
prestar apoio no local, pois estão muito expostos aos olhares dos
alunos que também apresentam desconfortos com a presença dos
policiais, ainda que constantemente os alunos são lembrados das
regras de conduta na escola.
2) ALAS/ ALOJAMENTOS (onde são recolhidos os adolescentes): Nas
6 (seis) Alas nos quais agrupam-se em torno de 10 a 12 internos
ficam alojados (abrigados). Nesses espaços são constantes as
queixas de péssimas instalações: falta bocal de luz em todos os
alojamentos; falta lâmpadas fluorescentes em quase todos os
Alojamentos. Em cada Ala há 01 (um) refletor funcionando que ajuda
os procedimentos noturnos dentro da ala, mas é comum queimar a
lâmpada e ficarem sem iluminação, isso dificulta o procedimento de
segurança para os agentes; falta Iluminação na Entrada Principal do
acesso as Alas e falta iluminação no banheiro coletivo de todas Alas.
Há um risco eminente quando o banheiro é fora do alojamento (sela)
do interno, sobretudo à noite quando se tem que retirar o adolescente
para usar o banheiro coletivo (momento perigoso no qual o agente
pode ser rendido pelo adolescente); vazamentos e infiltrações dentro
da Ala são comuns e sem previsão de reparos e manutenção. Assim,
quando chove caí pela laje, pois o telhado está quebrado e a grade
(churrasqueira) que é vazada pela ventilação natural, no qual molha
o acesso interno e externo dos alojamentos. É comum danos nos
alojamentos dos internos (selas). Recentemente foi autorizada pelo
Juizado a quebra todas as prateleiras de concretos que fica dentro
dos alojamentos, uma vez que foram descaracterizados pelos
próprios internos ora por provocarem dano ao patrimônio ora porque
os adolescentes retiravam para subtrair o ferro para a confecção de
objeto perfurante “espeto”;
3) TELHADO (grade vulgo Churrasqueira): em todas as alas nos quais
comportam os 10 (dez) alojamentos por Alas há uma cobertura
38

metálica coberta com telhas de plástico branca que possibilita a luz


natural no corredor e ventilação em todos os espaços daquela Ala.
Em período sazonal de chuvas a água entra pelos espaços aberto à
ventilação molha o corredor e, dependendo da chuva, queima a TV
analógica daquela Ala;
4) CHUVA TORRENCIAL: o volume de águas pluviais que se
acumulam tanto no pátio da Escola do CASE carece de escoamento
e o acumulo da água desce ao pátio externo que dá acesso as 04
(quatro) Alas da parte de cima e, ainda, desce em cadeia para o pátio
externo que liga os 02 (dois) acessos as alas de baixo, chegando até
a uma altura de 15 cm de água estendendo-se por todo pátio,
tornando-se intransitável e sem escoamento adequado.
5) NO DIA DE VISITA - Os familiares andam nestas águas inundadas
da chuva torrencial para terem acesso as Alas nos quais estão os
internos e são submetidos a permanecerem na visita dentro do
refeitório das alas que são recolhidos os socioeducandos, tendo que
suportarem o mal cheiro dos banheiros e as infiltrações que escoam
do teto molhado.
6) BANHEIROS: O banheiro da Escola do CASE está com as
instalações danificadas, mal tendo pressão de vasão d’água sanitária
em constantes entupimentos de vasos sanitários e péssima
evacuação dos detritos, o que produz mau cheiro. Dentro das Alas, o
vaso é coletivo e, há apenas 01 (uma) bacia sanitária em condições
de uso, haja vista 03 (três) Box por Alas nesse banheiro coletivo,
assim como 01 (uma) pia para higiene bucal de pouco menos que 30
(trinta) centímetros e 01 (um) chuveiro elétrico em funcionamento em
cada Ala, que muitos casos também queima, por fio elétrico
descapado.
7) FALTA LIXEIRA - É precária e pouco habitual o uso de lixeira nas
salas de aula. Algumas delas são improvisadas com papelões
revestidos. Quase não há nos banheiros coletivos. Há lixeiras apenas
nos pátios que intercalam as Alas de Recolhimentos;
8) DA ATIVIDADE DESPORTIVA – Há uma quadra desportiva sem
cobertura e sem cerca ao redor. Recentemente foi feito pintura no
39

chão da quadra e improvisado um pequeno abrigo ao servidores e


técnico para acompanhar o desempenho dos alunos socioeducandos
na atividade de futebol. O futebol é a atividade desportiva que o
alunado mais têm afinidades, embora é o local que mais exige ação
preventiva dos agentes que realizam a sentinela no local, o que muito
não acontece. Foi instaladas novas redes nas grade da trave de
retenção da bola (gol). As atividades desportivas são promovidas ora
pela Escola do CASE incluindo Vôlei e Basquete (ainda pouco usual)
como educação física ora pela Coordenação de Atividade com apoio
da equipe de pedagogos. Infelizmente, foram suspensas as
atividades por parte da Escola do CASE por medida de segurança
uma vez que os discentes verbalizavam evadir-se em massa. Há
pouco tempo a Coordenação de Atividade juntamente com apoio de
um servidor formado em Educação Física proporcionaram a
continuidade das atividades de futebol, mas por causa dos riscos
iminentes e pelo número insuficiente de servidores para realizar o
acompanhamento da atividade desportiva na quadra e pela falta de
apoio policial no local, suspenderam a atividade por questões de
segurança e risco a integridade física tanto dos socioeducando
quanto dos próprios agentes, inclusive dos técnicos que
acompanham atividade coletiva.
9) SAÚDE – Problemas: No período de chuva, em quase todas as 06
(seis) Alas há infiltrações (água que empossa em laje do telhado,
onde pode proliferar mosquitos da Dengue (Aëdes aegypti) Zika e
Chikungunya. Nos alojamentos (selas) com umidade elevada pode
agravar problemas respiratórios (asma e ou pneumonia) e em caso
de uma epidemia o município não suportaria prestar atendimento a
elevado número de pacientes socioeducandos e a unidade não
disporia de agente suficientes para escoltar ou realizar sentinela de
escoltas em hospitais públicos. Por outro lado, quando há infiltração
em um alojamento e não há condições de recolhimento do
socioeducando nele, faz-se necessário remanejá-lo a conviver junto
com outro adolescente o que pode afetar os procedimentos de
segurança que norteiam o trabalho do agente no posto de atuação
40

escalado, pois em alguns casos 02 (dois) internos num mesmo


acolhimento pode levar o risco de rendição do agente, uma vez que
constantemente o adolescente pede para ir ao banheiro coletivo, ali
seu alojamento não há privada. É importante enfatizar que a equipe
de saúde dentro das unidades estar integrada às demais equipes
técnicas. Além disso, a equipe de saúde precisa desenvolver ações
integradas com os demais serviços de saúde e propor ações
interinstitucionais (Hospitais, Clínicas etc) e intersetoriais (CAIS,
Postos de Saúde e UPAs), estabelecendo diálogo com os diversos
equipamentos sociais do município e cidades onde posso ser
inserido. Por fim, cabe à unidade o abastecimento mínimo e
fornecimento de medicamentos e insumos previstos na atenção
farmacêutica básica.
10) DA ENFERMARIA - O CASE conta com uma enfermeira para
atender os adolescentes internos da Unidade. São 02 (dois)
enfermeiros diurno, como servidores efetivos, e 02 (dois) técnicos de
enfermagem noturnos cedidos pelo município de Luziânia em regime
de escala. Atendimentos mais especializados, tais como:
odontológicos, clínicos médico ou clínico geral são marcados com
antecedência e atendidos por médicos da rede municipal, estadual
ou postos de saúde e até por Unidade de Pronto Atendimento (UPA)
local. Eventualmente, há orientações e atividades de prevenção em
saúde, prevenção à drogadição ou programa contra DST/AIDS.
Mesmo supondo que o adolescente não vá fazer uso de drogas na
unidade, desafios como o tratamento do sintomas da abstinência e a
construção de estratégias para lidar com a drogadição, quando forem
liberados da medida, são questões fundamentais a serem tratadas
nos processos socioeducativos. E quanto às ações educativas em
saúde sexual e reprodutiva? E a distribuição de preservativos? A
Coordenação Geral, a Equipe Técnica e enfermeiros tem
consciências que as DSTs são um dos principais problemas de
saúde dentro das unidades socioeducativas, mas, ao mesmo tempo,
preferem discutir tais temas com muita cautela, haja vista que as
relações sexuais entre os internos é tabu. Como regra, as relações
41

sexuais não são permitidas. As razões dessa normatividade


ancoram-se em duas principais concepções: a de que adolescentes
não estão em idade de terem relações sexuais e a de que a unidade
não é o local adequado para tais práticas. No entanto, se é de
conhecimento geral que os socioeducandos costumam manter
relações sexuais na unidade, é precisa avançar nessa discussão e
traçar estratégias que possam garantir o acesso à saúde destes
internos. Contrapartida, durante a noite a medicação que é separada
pela enfermagem e ou que possa ser ministrada pelo educador social
torna-se dificultada pela falta de iluminação nas respectivas Alas, o
que é recomendado à diluição do medicamento. A Falta de
iluminação torna difícil o “exame de corpo de delito (IML)” informal do
socioeducando, em caso de vistoria pelo agente cuja suspeita de
agressão física parte de seus pares na mesma Ala e ou situação
adversa que possa surgir na madrugada. Há falta de medicamentos
básicos, mas com o apoio médico e com os encaminhamentos
realizados a cada quinzena (em parceria com a prefeitura municipal
no Programa Mais Médicos), os enfermeiros tentam conseguir na
rede pública por intermédio de Centro de Saúde local;
11) HIGIENE PESSOAL/LIMPEZA - Há na Unidade exige-se uma
preocupação constante com a higiene pessoal dos adolescentes.
Cada adolescente é orientado a solicitar dos seus pais e parentes
objetos de sua higiene pessoal, embora haja restrições quanto ao
material admitido e doado, por precaução da segurança interna.
Banhos quentes e frios, escovação dentária, higiene das mãos,
higiene dos alojamentos, corte de cabelos são vistoriados e
encaminhados à Coordenação Técnica, quando necessário, com o
auxílio da enfermeira da Unidade. As roupas pessoais, de cama e
banho, dos adolescentes são lavadas na lavanderia interna, que
conta com servidora para esta atividade e auxílio na limpeza e
manutenção do CASE. Por economia, muitos dos socioeducandos
preferem que suas genitoras tragam roupas limpas e retornem com
as sujas para serem lavadas pelas mães. Atualmente, torna-se
precária o estoque de material de higiene na Unidade, são eles:
42

água sanitária, sabão em pó, sabão líquido, rodos, vassouras (em


quantidades que possam atender todas as seis alas). Todos os
adolescentes procuram ter asseio para ir a Escola. São retirados dos
alojamentos para: escovar os dentes, tomam banhos e vão para a
escola com roupas limpas, gostam de passar cremes, arrumar os
cabelos etc. Apesar dos esforços diários dos educadores e dos
agentes das seis equipes de plantões (entre diurno e noturno) que
realizam a vistoria e cobrança dos deveres dos socioeducando desde
a higiene pessoal até a manutenção das Alas e dos pátios externos
também limpos, como estabelecido no ECA. Portanto, é dever do
adolescente preservar a higienização pessoal e do local de
acolhimento, conforme atestam as normativas do Regimento Interno.
Também, torna-se comum a presença de: ratazanas, até cobra, já
que o local do CASE está na parte rural do município de Luziânia,
encontra-se também colônias de formigas de várias espécimes que
adentram alojamentos, na cozinha, lixo, suco e sobras de alimentos;
assim como baratas, encontra-se sapo (“pererecas”) em bueiros e
anilas (por ocasião de chuva). Dentre os itens: falta de colchões
para os adolescentes, os quais alguns dormem em colchões com
péssimas condições de higiene (muitos deles só na espuma o que
prolifera ácaros e fungos que provocam quadros alérgicos). Há
ocasiões em que são tratados temas como DSTs a todos os
socioeducandos, com o apoio da Equipe Multidisciplinar,
Enfermeiros e profissional técnico externo convidado a colaborar com
a divulgação de informações sobre temas específicos de interesse
deles. Também é feita coleta de sangue para teste toxicômanos, de
HIV e doenças endêmicas, assim como campanhas de vacinação.
12) VESTUÁRIO - O adolescente utiliza seu próprio vestuário e pode
solicitar aos seus pais e parentes até 4 peças de roupas durante sua
permanência na unidade. No geral, a exigência é por cor clara,
embora é muito comum os socioeducando usarem a cor branca no
vestuário, embora o CASE ainda não adotou uniformes padronizados
na instituição. É expressamente proibida a permuta de objetos
43

pessoais entre eles, assim como há restrições quanto os acessórios,


tais como: brincos, anéis, piercings, etc.
13) COZINHA – Apesar de não confeccionar a alimentação aos
internos na Unidade é constante lidar com a quantidade de agua
pluviais que minam do teto da cozinha molhando o chão da cozinha
com goteiras intermitentes, pia entupidas e torneiras com defeitos,
as vezes o conserto seria de apenas uma carrapeta de vedação.
14)ALIMENTAÇÃO: A alimentação é terceirizada e são oferecidas 05
(cinco) refeições ao dia. O preparo é realizado fora da instituição e
são condicionadas em “quentinhas” que os adolescentes chamam
de “xepa”. O adolescente toma o café às 06:00 horas da manhã; às
11:20 horas o almoço é servido; às 15 horas um lanche e à noite a
partir das 19 horas, o jantar, e lanche às 21 horas. Todas as
refeições têm um padrão médio de qualidade, uma vez que o
cardápio é previamente estabelecido ou, em ocasiões, são também
sugeridos pelos adolescentes. É comum a perda da qualidade das
refeições depois de um certo tempo de fornecimento, mas os
socioeducando se queixarem e todas as queixas são repassadas à
empresa licitada. No dia de visita as famílias tem permissão para
trazer alguns alimentos, previamente determinadas em lista própria
fornecida pela Unidade.
15) VISITA DOMICILIAR e PIA - A Equipe Multidisciplinar, dentre suas
atribuições, busca sempre que possível, programar a visita ao
domicilio e residência do adolescente, com o propósito de construir
o Plano Individual do Adolescente (PIA). O PIA pode ser construído
como um plano de estratégias e ações a serem desenvolvidas,
segundo diretrizes fixadas por eixos de garantia de direitos
fundamentais (educação, saúde, convivência familiar e comunitária
e outros previstos pelo ECA). O Plano parte da avaliação da Equipe
Técnica criteriosa e busca trabalhar sobre a singularidade no
coletivo. Sendo que, para construção do PIA, deverá ser realizado
Estudo de Caso a partir da reunião com a Equipe Multidisciplinar,
com a presença e participação de agentes socioeducativos. Se a
unidade não trabalha com o PIA, como preparar um plano
44

socioeducativo sem um conhecimento mínimo do socioeducando


atendido? Se a medida não trabalha com acordos e metas
socioeducativas individuais, como esperar que a medida faça
sentido para o adolescente? E como será possível avaliar tal
processo socioeducativo? Há também o Estudo de Caso: No
estudo de caso serão sistematizadas as informações referentes ao
contexto sócio-familiar de origem do adolescente, as circunstâncias
da prática do ato infracional, suas aptidões, habilidades, interesses
e motivações, suas características pessoais e condições para
superação das suas dificuldades que comporá o PIA. Muito da
dificuldade dos técnicos é dispor de veículo e motorista do CASE à
condução dessas visitas, mesmo com o prévio agendamento.

Sabe-se que os estabelecimentos destinados à execução das medidas


socioeducativas (liberdade assistida, prestação de serviço à comunidade,
internação e internação provisória) não conseguem promover sozinhos o
adolescente e garantir todos os seus direitos. Sendo assim, é importante que
estejam todos envolvidos no processo de “ressocialização” a tríade basilar da
rede: Família, Comunidade e Estado. As articulações com a rede são
fundamentais, pois, diante da incompletude institucional, a inclusão dos
adolescentes em programas, serviços sociais e públicos tende a favorecer o
processo socioeducativo e a ajudar na construção de um novo projeto de vida.
Portanto, a educação, também enquanto política pública, é aqui
problematizada a partir de paradigmas jurídicos, políticos, pedagógicos e
administrativos, que atribuem ao Estado a exclusividade da custódia do
adolescente privado de liberdade e, consequentemente, a obrigação de
garantir-lhes os direitos que não foram atingidos pela sentença de internação
(MOREIRA, 2007).19

19 MOREIRA, 2007 – apud GUALBERTO, Juliana das G. G. Educação Escolar de


Adolescentes em Contextos de Privação de Liberdade: um estudo de política educacional em
escola de centro socioeducativo. PUC – Belo Horizonte, 2011, p. 47.
45

2.8 A Formação Profissional no CASE

Se levarmos em consideração que a LDB Nº 9394/96, já previa como


finalidade da educação formal: o preparo para a cidadania e prosseguimento
nos estudos futuros e formação para o trabalho, a profissionalização passa
também a ser responsabilidade da educação aos privados de liberdade. E,
concebendo a medida socioeducativa como “ressocializadora”, a capacitação
profissional torna-se um dos desafios que o Sistema Socioeducativo possa
garantir ao jovem que procura adentrar o mercado de trabalho regular e não
mais se envolver com a prática de atos ilícitos.20
Nessa vertente, o SINASE reforça a necessidade de formação
profissional nos seguintes termos:
Oferecer ao adolescente formação profissional no âmbito da
educação profissional, cursos e programas de formação inicial e
continuada e, também, de educação profissional técnica de nível
médio com certificação reconhecida que favoreçam sua inserção no
mercado de trabalho mediante desenvolvimento de competências,
habilidades e atitudes. A escolha do curso deverá respeitar os
interesses e anseios dos adolescentes e ser pertinente às demandas
do mercado de trabalho. (2006, p. 64).

O trabalho como alternativa a “vadiagem” e “delinquência” não é uma


ideia nova, há muito se acredita na recuperação pelo labor, e agora se postula
a importância da atividade profissional para ensejar uma vida cidadã (apud
SANTOS, 2010); entretanto, oportunidades educacionais e de formação
profissional a com formação inicial e continuada, que possibilita habilitação em
nível técnico, respeitando os interesses dos jovens, estão sendo mais
promissores e compatíveis com as expectativas dos socioeducandos por
intermédio de programas do Governo Federal. 21

20 Apud FIALHO, Lia Machado F. A Escolarização e a Profissionalização como Prática


Educativa na “Ressocialização” de Jovens em Conflito com a Lei Privados de Liberdade.
Universidade Federal do Ceará – UFC, com adaptações. Disponível em:
http://sbhe.org.br/novo/congressos/cbhe7/pdf/07-
%20HISTORIA%20DAS%20INSTITUICOES%20E%20PRATICAS%20EDUCATIVAS/A%20ES
COLARIZACAO%20E%20A%20PROFISSIONALIZACAO%20COMO%20PRATICA%20EDUC
ATIVA.pdf , Acesso em: 29/09/2016.
21 SANTOS, M. A. C. Criança e criminalidade no século XX. In: DEL PRIORE, M. (Org.).
História das crianças no Brasil. 7. ed. São Paulo: Contexto, 2010.
46

Em 2015, foram oferecidas no CASE de Luziânia - GO, um total de 100


(cem) vagas de cursos profissionalizantes por meio do Programa Nacional de
Acesso ao Ensino Técnico e Emprego - PRONATEC, divididas entre 5 (cinco)
cursos distintos, todos com início, obrigatório, até o fim do segundo semestre
desse ano. Infelizmente não foi possível abarcar todas as vagas, por alguns
motivos, dentre eles estão: o número insuficiente de adolescentes internados
na Unidade de Luziânia, uma vez que há uma rotatividade de entrada e saída
de adolescentes sobretudo em internação provisória; um aluno que está
cursando o EJA não poder ser matriculado, concomitantemente, em mais de
um curso; falta de documentação básica, tais como RG e CPF (muitos deles
não os tens); número insuficiente de agentes e educadores para acompanhar
as aulas dos cursos, conforme determinações do Regimento Interno, dentre
outros.
Mesmo assim, foram implantados 2 (dois) cursos, onde estavam
disponíveis 20 (vinte) vagas para cada um, sendo eles: o curso de Desenhista
da Construção Civil oferecido pelo Instituto Federal de Goiás (IFG) Campus de
Luziânia - GO e o Curso de Padeiro, que foi bem aceito pelos alunos, uma vez
que eles tinham aulas práticas aos quais se deliciavam com pães, croissant,
pizzas etc., oferecidos pelo SENAI, sucessivamente.22
O Curso de Desenhista da Construção Civil (IFG) teve início no dia
03/11/2015 com término em 13/04/2016, totalizando 200 h/a. Inicialmente 16
(dezesseis) alunos foram matriculados, mas por motivos diversos, apenas 07
(sete) concluíram, ou seja, apenas 43,75% dos que iniciaram o curso chegaram
ao final.
O Curso de Padeiro (SENAI) teve início no dia 16/11/2015 com término
em 25/02/2016, totalizando 200 h/a. Inicialmente 18 (dezoito) alunos foram
matriculados, mas por questões diversas, apenas 12 (doze) concluíram, ou
seja, um aproveitamento de 66,67%. Dentre as dificuldades encontradas para a
permanência dos adolescentes até o término dos cursos, encontramos as

22O PRONATEC - Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego, sancionado


pela Lei nº 12.513/2011, tem como objetivo oferecer cursos de Educação Profissional e
Tecnológica com qualificação gratuitas aos cursos técnicos (presenciais) para pessoas que
estão cursando ou concluíram o ensino médio, tanto na rede pública quanto na rede privada de
ensino em todo País.
47

seguintes: término do cumprimento da medida de internação (progressão da


medida com a desinternação); problemas de convivência entre os alunos,
geralmente, conflitos de relacionamento interpessoal entre pares na
permanência do CASE ora que surge internamente ora conflitos gerados na
rua da mesma localidade onde residiam os adolescentes; desinteresse e
transferência para outra unidade de internação (as transferências são casos
excepcionais quando o adolescentes não consegue convivência em nenhuma
Ala ou é um adolescente disciplinarmente ‘incorrigível’). Observadas estas e
outras adversidades sofridas pelas turmas durante a ministração dos cursos e
levado em consideração o perfil desses jovens, avaliou-se pela Coordenação
dos Cursos Profissionalizantes que se obteve um aproveitamento satisfatório,
mesmo no caso do Curso de Desenhista da Construção Civil, onde taxa de
conclusão ficou abaixo de 50% (cinquenta por cento).
Para o ano de 2016, no que diz respeito ao PRONATEC, não há ainda
qualquer perspectiva de oferta de cursos, pelo menos não para o primeiro
semestre do ano, mas há outras alternativas que estão sendo viabilizadas,
provavelmente já para o mês de junho, com a implantação do Projeto ZAPe!
VIRTUDES EMPREENDEDORAS, disponibilizado pelo Instituto Alair Martins –
(IAMAR) e ministrado por servidores da própria Unidade de Internação e
também está sendo firmada uma parceria entre o IFG Campus de Luziânia e o
CASE para a implantação de um curso de Operador de Computador, este
ainda sem data prevista para início, mas já em fase bem adiantada, também,
ainda em fase de estudo, a implantação de Cursos na modalidade Educação a
Distância - EAD, uma vez que o CASE de Luziânia conta com um laboratório
de Informática com 6 (seis) computadores novos e Internet.
48

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho propõe-se olhar para a modalidade de ensino da


Educação de Jovens e Adultos (EJA) no Centro de Atendimento
Socioeducativo – CASE no município de Luziânia – GO com especial atenção
ao aluno socioeducando que, por determinação judicial, se encontra privado de
liberdade. Para isso, faz-se necessário então, retomar a proposta inicial do
trabalho, bem como compreender o percurso para o qual foi possível perceber
o longo caminho de constituição e construção das políticas públicas de
atendimento as crianças e adolescentes, ainda que a discussão tenha-se
iniciado no âmbito legislativo das diretrizes do Sistema Prisional no País; bem
como trazer a discussão ao sistema regionalizado da Proposta Político-
Pedagógica no Estado de Goiás, o que pode ser considerar um avanço, haja
vista que há estados que muitas das unidades de atendimento socioeducativo
carecem de tais propostas PPP.
Há unidades estaduais que não passam de “depósitos humanos” pela
falta de infraestrutura e de precárias condições desumanas (WACQUANT,
2001). 23 Em tal cenário estadual, nacional e até internacional, apontam
muitos desafios, no que se refere à concretização, da oferta de educação de
qualidade as pessoas privadas de liberdade seja jovem e adulto.
A ausência de planejamento, de uma proposta PPP, revela um total
descaso dessas unidades no que se refere à principal prática que a legitima
como unidade educacional de internação: a atividade socioeducativa e a
dimensão pedagógica constitui a real essência da medida socioeducativa.
Observou-se, neste trabalho, que não há carência de legislação que dá
amparo a EJA tanto ao socioeducando quanto ao preso adulto, o problema se
dá em relação à falha no cumprimento dessas normas, até porque elas não
estabelecem prazo para serem implementadas (GUALBERTO apud
GRACIANO, 2010)

23 Loic Wacquant em “As Prisões da Miséria” aponta que tais “depósitos humanos” ou
“depósito dos indesejáveis” são os negros, latinos, com baixa renda familiar, oriundos de
famílias do “subproletariado” tanto em países de ‘Primeiro Mundo” quanto os de ‘Segundo
Mundo” e condenados pelo direito comum por envolvimento com drogas, furto, roubo ou
atentados à ordem pública, em grande parte, pequenos delitos. Ver WACQUANT, Loic. As
prisões da miséria. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.
49

A partir da criação da coordenação estadual do GECRIA, na execução


das políticas públicas estaduais, nortearam as unidades polos que compõem
os municípios estaduais aos quais se prestam os centros de atendimento
socioeducativo, onde o município de Luziânia também se integra; percebe-se
que a política regionalizada trouxe benefícios as políticas sociais de
atendimento para alguns destes municípios do Estado de Goiás, mas em
termos de Região Metropolitana do Entorno, o CASE de Luziânia demonstra
peculiaridade, talvez como as demais, sobretudo quando atende adolescente
de localidades tão dispares em distâncias, tais como: Santo Antônio do
Descoberto, Águas Lindas de Goiás, Orizona, Goiânia, por exemplo, ainda que
esse atendimento e acolhimento municipalizado, dentro do que determina o
ECA, se torna de difícil acessibilidade e mobilidade aos familiares e parentes
nas visitas semanais e monitoramento do adolescente. Entretanto, na prática,
verifica-se ainda que nas escolas em funcionamento no interior das prisões
enfrentam as mesmas e sérias dificuldades em relação à falta de recursos
humanos, de instrumentos de segurança, financeiros, técnicos e didáticos o
que dificulta a realização do trabalho educativo no geral.
Trata-se de analisar, a partir dessa perspectiva, a educação escolar
oferecida pelas escolas convencionais (formal) da rede municipal e estadual
de ensino, e a inserção do socioeducando na escola do EJA, ainda que por
imposição judicial e todo pífio aparato da segurança consiga garantir sua
frequência e permanência. Daí temos dois aspectos relevantes a serem
considerados, sendo um destes a evidente dificuldade da escola regular,
quando se leva em conta 05 (cinco) horas de aulas durante 04 (quatro) dias da
semana (de 2a a 5a feira), onde é percebido a limitação na capacidade de
retenção de conteúdo do socioeducando que traz em sua maioria histórico de
dependência e quadro de pensamento acelerado em muitos casos, possível
diagnóstico de TDAH, sem contar ainda os esforços dos docentes poucos
qualificados manter a tal carga horária curricular e a oferta com qualidade,
ainda que os professores estejam cientes de repetidas experiências de
insucesso educacionais fora do âmbito institucional. Vimos que o adolescente é
obrigado a assistir as aulas na Escola do CASE, independentemente do trâmite
da matricula dele, daí os sujeitos são vistos como os que não tem mais
tamanho e idade para estar na mesma série que colegas com trajetórias
50

diferentes, somando-se ainda, o envolvimento em brigas e outros


comportamentos caracterizados como indisciplina. Outro aspecto se refere a
visão dos pedagogos, coordenadores (gestores) e professores da EJA que
demonstram preocupação com a descaracterização do perfil dos alunos,
especialmente os que demonstram dificuldade de alfabetização e ausência de
escrita e leitura, quando se acredita que muitos deles estão obtendo acesso a
direitos básicos somente quando chegaram à unidade socioeducativa, antes
disso os direitos lhe havia sido cerceados, inclusive o direito a educação
(GUALBERTO, 2011). Vimos, por outro lado, que os curso de
profissionalização oferecidos pelo CASE neste ano foram exitosos com o apoio
do programa do PRONATEC. O exercício desse direito se mostra fundamental
no processo socioeducativo de adolescentes que cometem ato infracional.
Geralmente, as atividades de profissionalização são as que mais despertam o
interesse dos adolescentes. Logo, quando são realizadas de forma sistemática
e contextualizadas com interesse de cada adolescente, são bastante exitosas
no processo de ressocialização deste público.
A Escola do CASE procura reafirmar tais conquistas desses direitos
sociais concernentes aos adolescentes autores de ato infracional, mesmo que
gradativa e incansavelmente tenha sido excluídos, como destacados acima,
somando-se tantos que ainda possam permanecer também à margem dos
direitos básicos assegurados na “letra da Lei”.
Não se pode negar que houve avanços importantes e significativos nas
políticas de atendimento, como mostra o primeiro capitulo deste trabalho, mas
ainda há muito que fazer diante da efetivação concreta dos direitos,
principalmente, dos adolescentes privados de liberdade. Cabe ressaltar que o
ECA, o SINASE e os demais dispositivos legais, tem contribuído para qualificar
a discussão sobre o atendimento tanto ao discente autor de ato infracional,
baseado nos princípios da doutrina de proteção integral e da prioridade
absoluta. No entanto, no que se refere ao atendimento, propriamente dito,
ainda é necessário que haja qualificação dos professores para trabalhar na
Unidade enriquecendo métodos e dinâmicas de aprendizagem com didática
que possam interagir com o modus vivendi e bagagem do alunado matriculado,
viabilizar salário digno ao docente, sobretudo afim de reiterar o ensino escolar
51

adequada à condição particular de cada jovem submetido (GUALBERTO,


2011).
Ao perceber em entrevistas informais com os professores, mesmo
aqueles empenhados em melhorar a sua prática educativa ora por já se
encontrar há anos lecionando na Escola do CASE ora aqueles que buscam
aprimorar-se didaticamente para conquistar mais interpretação e absorver os
conteúdos aplicados aos alunos. Os docentes também se revelam
preocupados com a sua posição profissional neste contexto institucional, ainda
que, pela vulnerabilidade de exposição, haja um contrassenso, quando eles
próprios assumem riscos maiores em ministrar aulas em outras escolas da
rede municipal de educação; haja vista que Luziânia ainda carrega o índice de
cidade mais violenta do Entorno. Pouco se fala sobre a possibilidade de
continuidade do trabalho no ano seguinte, embora já relatamos que houve
desistência de um professor de artes por inadequação ao perfil da clientela. Há
ainda docente que se queixa da relação de “distanciamento” entre as equipes
da escola e da Equipe Técnica Multidisciplinar do CASE ou ainda de falta de
ajustamento de comunicabilidade entre equipe pedagógica e professores na
organização das ações de natureza lúdico-pedagógicas e ou de ações
preventivas que possam envolver o espaço da Escola do CASE.
Professores pouco qualificados que exercem o oficio dentro ou fora da
escola do CASE, estão submetidos ou se sujeitam às mesmas condições de
trabalho. Reconhecem também a importância da educação escolar no
processo socioeducativo dos adolescentes. No entanto, exercer o oficio nesta
escola, traz várias questões aos professores, inclusive a confusão nos papéis,
quando são “acusados” por alguns servidores e técnicos como se agisse feito
“mães” dos infratores ou reproduzem a lógica da “barganha” como um código
seguro no terreno da afetividade e da afinidade estabelecida pelo
relacionamento interpessoal.
Entretanto, na prática, verifica-se que as escolas em funcionamento no
interior dos Sistemas Socioeducativos enfrentam sérias dificuldades em relação
à falta de recursos humanos, financeiros, técnicos e didáticos o que dificulta a
realização do trabalho educativo. Num outro contexto, “vemos também que a
prisão passou a ser vista com uma espécie de “mal necessário”, do qual a
sociedade não podia abdicar. Entretanto não “vemos” o que pôr em seu lugar.
52

Ela é a detestável solução, de que não se pode abrir mão”. Foucault (2010, p.
251-254) evidencia a detenção como um mecanismo novo de punição, porém
sem concorrer para a diminuição da taxa de criminalidade”.24
Há um ponto em que não foi levantando no trabalho, trata-se de dados
sobre a reincidência dos egressos da Unidade pesquisada. A Coordenação
Geral destacou a dificuldade de se colher esta informação, ainda que se
acredita muito baixa, se levarem em conta a rotatividade de entrada e saída
dos adolescentes. Pode até ser que a Escola do CASE tenha um papel
fundamental na preservação e na diminuição da reincidência infracional, muito
se acredita que isso ocorra, porque estão em jogo questões cruciais pela falta
de articulações e de apoio social externo à instituição. Fato é que, as causas
da reincidência são de difícil identificação e delimitação, já que envolvem uma
multiplicidade de fatores em interação na captação desses dados. Esse fato é
agravado pela escassez de pesquisas e pela precariedade de dados acerca da
reincidência entre os adolescentes, devido a falhas no acompanhamento dos
egressos do processo socioeducativo. Tal acompanhamento fica a cargo de
alguns profissionais das unidades de internação, os quais se baseiam,
principalmente, no depoimento do próprio egresso ou de seus familiares
(PADOVANI; RISTUM, pg. 972, 2013).25
Como destacamos, há boas perspectivas de mudanças que apontam,
talvez para um novo cenário, o que não significa que a existência da escola no
centro socioeducativo não esteja sendo socialmente questionada quanto a sua
eficácia e contribuição para a ressoalização do sujeito.26 Significa que, talvez,
exista uma possibilidade de que o centro socioeducativo possa passar por

24 Citado de OLIVEIRA, Leandra S. da Silva; ARAÚJO, Elson Luiz de. A educação escolar nas
prisões: um olhar a partir dos direitos humanos. Revista Eletrônica de Educação. São Paulo,
SP: UFSCar, v, 7, n. 1, p. 177-191, mai. 2013. Disponível em http:www.revedec.ufscar.br,
Acesso em: 20 out 2016.
25 Ver PADAVANI, Andrea S., e RISTUM, Marilena. A Escola como caminho socioeducativo

para adolescents privados de liberdade. Educ. Pesqui., São Paulo, v. 39, n. 4, p. 969-984,
out./dez.2013.
26 Cabe salientar que o termo “ressocialização” costuma trazer discussões entre autores, pois
acredita-se que a expressão traga sinonímia com o termo “socialização”, pois alguns
estudiosos apontam que aqueles sujeitos, de fato, nunca deixaram de estar socializados, nem
passaram por um processo de exclusão social, mas que, assim como os demais, são
participantes das relações sociais de uma determinada cultura, mesmo que a forma de inclusão
possa ter sido perversa, o que pode também ser considerado que independe da lógica de
inclusão-exclusão, de alguma maneira tais indivíduos estão inseridos num contexto social de
opressão, de invisibilidade e posições de desigualdade pelo poder público na sociedade.
53

mudanças (estruturarias e de gestão humana) em sua organização, para


acomodar novas formas de gestão da educação em seu interior. Cogitou-se e
ainda este ano, a implantação nas unidades estaduais o modelo de Gestão
Público-Privada, com adesão por parte da Secretaria de Planejamento -
SEGPLAN, que está realizando o processo licitatório estadual, para a
contratação de Organização Social - OS que fará a gestão administrativa e de
recursos humanos com a contratação de servidores públicos temporários para
atuar nos centros de atendimentos socioeducativos, assim como para atender
serviços na área de saúde com o objetivo de controlar e reduzir os custos de
manutenção dessas instituições. Tal medida tem gerando muito desconforto e
instabilidade aos servidores públicos estatutários, uma vez que acreditam virem
decisões arbitrárias por parte do GEGRIA no que se refere a mudança de
escala de plantões, transferência de locações de postos, haja vista que a
maioria dos servidores do município de Luziânia são domiciliados em Brasília e
possam a ir trabalhar em munícipios do Goiás, muito distantes. Tudo ainda é
inserto, mas o basilar é que a Escola do CASE continue a integrar a vida do
socioeducando, enquanto as motivações e sonhos de libertação fomentem
oportunidades que façam o aluno menos comprometido com o desvio, a
exclusão e a criminalidade.
54

4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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