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Ce n t r a l d e Ca se s ESPM / EX AM E

CASE Nº 016

Case-Study
PERDIGÃO

Redesenhando a Operação Logística de sua


cadeia de suprimentos

Este case descreve o processo de adaptação de uma grande


indústria de alimentos às novas necessidades de distribuição, com
dois objetivos principais: reduzir os custos e servir melhor os clientes.
O tema não é novo, mas está ganhando cada vez mais importância,
com a globalização e o aumento das pressões competitivas no
mercado nacional

Nota Importante ESTE CASE SE DESTINA EXCLUSIVAMENTE AO ESTUDO E


DISCUSSÃO EM CLASSE, SENDO PROIBIDA A SUA
UTILIZAÇÃO OU REPRODUÇÃO EM QUALQUER OUTRA
FORMA. DIREITOS RESERVADOS ESPM/EXAME.

Este Case foi elaborado pelos Professores Francisco Gracioso e


André Luís de C. M. Duarte

Central de Cases ESPM/EXAME


Fone (11)5085-4647 / Fax (11)5085-4646
Introdução

Este caso apresenta uma empresa do setor de alimentos que busca, em


razão do seu crescimento, redesenhar suas operações logísticas na tentativa
reduzir seus custos logísticos e, acima de tudo, fornecer aos seus clientes um
serviço de melhor qualidade.

Em geral, a cadeia de suprimentos é definida como o conjunto de atividades


e o fluxo de mercadorias desde a fonte de matéria-prima até o consumidor final na
ponta da cadeia. Há a necessidade de se considerar nesta definição o fluxo
contrário das informações e das próprias mercadorias às suas origens em certas
condições especiais, tais como, produtos avariados ou rejeitados. Esta ampla visão
permite enxergar as sinergias existentes entre os vários elos da cadeia.

Com o movimento de globalização e conseqüente aumento da concorrência,


as empresas se viram obrigadas a buscar saídas para se tornarem cada vez mais
competitivas. Diferente do estabelecido por Porter (1980), que afirmava que a
competição ocorria entre unidades de negócio de maneira isolada, outras teorias
mais recentes afirmam que uma empresa não sobrevive de maneira isolada, e que a
grande força de sua competitividade está também na sua cadeia de suprimentos de
maneira conjunta. Assim, atualmente a competição está ocorrendo no nível das
cadeias produtivas, ou seja, entre diferentes cadeias produtivas.

Segundo Lavalle (1999), a cadeia de suprimentos de alimentos tem


experimentado mudanças substanciais na década de 90 em razão do aumento da
competição imposta pela abertura do mercado interno e da estabilidade econômica
vivida pelo país.

Os ganhos financeiros acabavam encobrindo os custos logísticos de uma


operação, muitas vezes pouco eficiente. Com a eliminação dos ganhos
inflacionários, a cadeia de suprimentos passou a ser encarada como estratégica
para as organizações, podendo ser decisiva para sua competitividade. As empresas
têm dado maior importância para o relacionamento mais próximo entre todos os elos
da cadeia de suprimentos. A integração da rede passou a ser vista como objetivo
capital para a obtenção de ganhos de produtividade no âmbito das empresas. Neste
sentido as questões logísticas aparecem na agenda da alta administração como
parte integrante das estratégias competitivas para fazer frente à concorrência.

Cada vez mais a busca por eficiência de uma cadeia produtiva tem como
pré-requisito a alta qualidade dos serviços prestados ao cliente final. No entanto,
para atingir plenamente estes objetivos, é fundamental que exista um alto nível de
integração e coordenação entre os processos logísticos de empresas de uma
mesma cadeia de suprimento. As empresas estão se conscientizando de que não é
possível atender às exigências de serviço dos clientes e, simultaneamente, cumprir
com os objetivos de custo da empresa, sem trabalhar de forma coordenada e
integrada com outros participantes da cadeia de suprimento. Ações de uma

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empresa afetam de forma positiva ou negativa os custos de outras empresas da
cadeia de suprimento.

Neste sentido, a logística representa um fator chave para a sobrevivência


das empresas no mercado. Determinar o nível de serviço que será oferecido,
localizar instalações, estoques e transportes são elementos primordiais para
operação eficiente de qualquer sistema logístico. As decisões tomadas referentes a
estes elementos impactam a rentabilidade, o fluxo de caixa e o retorno sobre o
investimento da empresa.

A Perdigão: o histórico

A origem da Perdigão data de 1934, quando duas famílias de imigrantes


italianos - os Ponzoni e os Brandalise - inauguraram um pequeno armazém de
secos e molhados em Vila das Perdizes, às margens do Rio do Peixe, meio oeste
de Santa Catarina. O armazém foi chamado de Ponzoni, Brandalize & Cia.

Este pequeno comércio foi crescendo e se diversificando. Em 1939 iniciou


suas atividades industriais com um abatedouro e uma fábrica de produtos suínos.
Em 1954 entrou no mercado de aves com a construção da Granja Santa Gema.

Em 1955, já preocupada com o transporte e distribuição de sua produção, a


empresa cria o Expresso Perdigão. Porém, a precariedade das estradas exigiu a
utilização do transporte aéreo, fazendo com que a empresa adquirisse em 1957 dois
aviões Douglas DC-3 para possibilitar a colocação dos seus produtos no mercado
de São Paulo.

Em 1958 a empresa passa a se chamar Perdigão S. A. Comércio e Indústria.


A escolha deste nome se deve a abundância desta ave (macho da Perdiz) na
região. Com investimentos constantes em distribuição, tecnologia e produção, a
Perdigão foi se transformando num dos maiores complexos agroindustriais do
mundo. Suas principais atividades passaram a ser focadas na criação, produção e
abate de aves e suínos e industrialização e venda de produtos de origem animal e
de soja e seus derivados.

Apesar deste crescimento, os anos 90 começaram difíceis para a Perdigão.


Em 1991 morre Saul Brandalise um dos fundadores da Perdigão. Ângelo Ponzoni,
outro fundador, morreria um ano depois. A pressão por melhores resultados levou a
empresa, em 1994, a passar seu controle acionário para um grupo de fundo de
pensões, encerrando a fase de administração familiar.

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A Profissionalização

A partir de 1994, após sua profissionalização, a Perdigão passou por uma


profunda reestruturação interna, concentrou seu negócio na produção de alimentos
de proteína animal, iniciou o Projeto de Otimização (que viria a aumentar a
capacidade produtiva da empresa em 50% nos três anos seguintes), lançou o
programa de Qualidade Total e o programa TIP (tecnologia da informação Perdigão)
contemplando a instalação do software de gestão empresarial SAP R/3.

No primeiro semestre de 2000 a Perdigão adquiriu Frigorífico Batávia, 6a


empresa brasileira no ranking de processadoras de carne. Ainda em 2000 iniciou a
operação do complexo industrial de Rio Verde (GO) - Projeto Buriti - composto por
uma fábrica de ração, um parque de produção de aves e suínos, por dois
abatedouros com capacidades diárias de 280 mil aves e 3,5 mil suínos e por uma
unidade de industrialização de carnes. Neste mesmo ano a Perdigão foi a primeira
empresa brasileira de alimentos a ter suas ações listadas na bolsa de Nova York.

No período 1994-2000, o investimento médio foi de R$130 milhões de reais,


com geração anual de 1200 novos empregos. No ano de 2000 a companhia investiu
R$216 milhões, montante 14% superior ao realizado no ano anterior (figura 1).
Desse total, 71% foram destinados ao projeto Buriti em Rio Verde (GO). Para 2001
estão previstos novos investimentos da ordem de R$100 milhões.

250
216
200 190
R$ em milhões

150 133
124

100 81
55
50
8
0
1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000

Figura 1: Evolução dos investimentos. Fonte: Relatório Anual Perdigão 2000

Todos estes investimentos estão dando resultado. A Perdigão alcançou a


liderança no mercado de produtos industrializados, encerrando o ano de 2000 com
22,5% do market share. A figura 2 mostra esta evolução. A linha de pratos prontos,

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lançada em 1998, alcançou 31,9% de market share e as carnes congeladas
saltaram de 31,3%, em 1999, para 32,5%, em 2000. Os ganhos de mercado, aliados
à evolução de outros segmentos, como o mercado institucional, proporcionaram um
aumento de 21% no faturamento bruto.

35%
32%
31% 31% 31%
30%

26%
25%
23%
22% 22%
20% 20%
18%
16% 16% 16%
15% 15%

10%
9% 9%

5%

0% 0%
1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000

Industrializados de Carne Congelados de Carne Pratos Prontos - Massas

Figura 2: Evolução do Market Share. Fonte: Relatório Anual Perdigão 2000

Hoje, a Perdigão emprega mais de 19 mil funcionários e é constituída por 13


unidades industriais de carnes, 2 de soja, 7 fábricas de ração e 14 incubatórios. A
grande maioria destas unidades industriais estão localizadas no sul do país, nos
estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Possui ainda, 3659 produtores
integrados de aves e 2633 produtores integrados de suínos.

A Estrutura Logística

A Perdigão atende cerca de 60000 clientes no mercado interno através de 30


centros de distribuição (sendo 9 distribuidores terceirizados) estrategicamente
espalhados pelo país. Estes centros de distribuição são responsáveis pelas
entregas nos canais de venda dos produtos. As lojas de auto-serviço
(supermercados) representam a maior parcela dos clientes da Perdigão com 63,5%.
A figura 3 mostra a composição dos principais canais de distribuição dos produtos
Perdigão.

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Canais de Distribuição

Institucional
8%
Atacado
10%

Auto-serviço
Pequeno Varejo
64%
18%

Figura 3: Canais de Distribuição - Perdigão (3o Trimestre 2000)


A Perdigão tem no sistema logístico um de seus principais apoios para
avançar no mercado. A estrutura logística disponível permite a entrega de qualquer
produto, do Rio Grande do Sul ao Amazonas, em apenas 24 horas. Sua frota de
veículos é totalmente terceirizada, porém, trabalha em regime de exclusividade.

A figura abaixo mostra a complexidade da cadeia de suprimentos da


Perdigão:

Cadeia de Suprimentos - Perdigão

Fluxo de Informações

6200 13 30 60000
Fábricas de Produtores Unidades Centros de Lojas de Auto -Serviço Consumidor
Ração e Integrados Industriais Distribuição Pequenos Varejos Final
Incubatórios
Atacado
Instituições

Fluxo de Materiais

Figura 4: Cadeia de Suprimentos da Perdigão

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Deve-se destacar o trabalho de integração da Perdigão com seus produtores.
Estes produtores, que também trabalham em regime de exclusividade, recebem
apoio total da Perdigão, que oferece garantia de compra de toda a produção de
seus parceiros, colocando a disposição a mais avançada tecnologia e toda
assistência técnica necessária para assegurar ganhos de produtividade e qualidade
na criação de aves e suínos de milhares de pequenas propriedades rurais. Esta
proximidade, com fornecedores, permite uma maior padronização e controle de sua
matéria prima. Além disto, consegue controlar melhor o nível de estoque em toda
cadeia produtiva.

O Problema Logístico

A rede logística da Perdigão é bastante complexa. São mais de 6000


produtores integrados que abastecem 13 unidades industriais, mais de 400 itens em
seu mix de produto e 2400 toneladas produzidas diariamente e transportadas para
30 centros de distribuição e, na seqüência, distribuídas para cerca de 60000 clientes
de todos os pontos do país. São 640 cargas distribuídas para todo o Brasil
diariamente.

A complexidade da distribuição aumenta ainda mais pois a Perdigão precisa


balancear a equação de densidade e peso específico, ou seja, para aproveitar ao
máximo o espaço de um caminhão é necessário pensar no volume e no peso de
toda carga. Além disto, deve-se levar em conta o tipo do produto (se congelado viaja
a -20o C e se resfriado viaja a 0o C) e a sua validade (um produto resfriado pode ter
validade de apenas 1 mês).

Além destas características, outros fatores levaram a Perdigão a repensar


sua estratégia de operações logísticas conforme explica seu gerente de logística:

"Todas as unidades industriais da Perdigão estavam localizadas no sul do


país, principalmente nos estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul (ver mapa
no anexo 1). A construção do complexo agroindustrial de Rio Verde, em Goiás, que
aumentará em 30% a capacidade produtiva atual da empresa, justifica por si só a
reformulação da nossa operação logística."

Ele continua:

"Além disto, outros fatores nos levam a reformular nossas operações


logísticas: a compra do frigorífico Batávia, que somou à rede uma nova unidade
industrial no Paraná e novos centros de distribuição; o crescimento das vendas da
Perdigão nos últimos 5 anos; e a estratégia de lançamento de novos produtos
(aumentando o mix de produtos), bastante agressiva nos últimos anos (figura 5)."

Algo precisava ser feito visando não só a redução dos custos logísticos, mas
principalmente um melhor atendimento ao consumidor. A diretoria da empresa

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percebeu que investimentos na área de logística eram fundamentais para que a
Perdigão continuasse seu crescimento no mercado.

"A qualidade do serviço é fundamental para a estratégia da Perdigão",


confirma novamente seu gerente de logística.

Lançamento de Novos Produtos

48
50
41
39
40 35

30 24 24

20

10

0
1995 1996 1997 1998 1999 2000

Figura 5: Lançamento de novos produtos.

Dentro deste contexto, a Perdigão procurou uma empresa de consultoria de


renome internacional para ajudá-la no redesenho de suas operações logísticas.

Redesenhando a Rede Logística

Com ajuda da empresa de consultoria a Perdigão está redesenhando sua


rede de suprimentos. Sobre isto, o vice presidente da consultoria contratada afirma:

"Empresas como a Perdigão têm custos associados à logística bastante


expressivos, isto ocorre porque, o supply chain e logística incluem muito mais do
que o transporte, movimentação e armazenagem dos produtos. Há dois outros
importantes custos a serem relacionados: o de manter estoques (inventário) e um
outro ainda mais difícil de mensurar e que usualmente tem um peso grande no tipo
de negócio da Perdigão, o da venda perdida pelo fato da empresa não ter o produto
no local e na hora certa."

O primeiro passo deste trabalho foi feito pela empresa de consultoria com o
auxílio de um software de simulação da cadeia de suprimentos (Supply Chain
Designer, da Synquest Software). Através de modelos matemáticos, este software
oferece milhares de combinações e cenários, simulando a melhor solução para
atender o cliente em até 24 horas com o menor custo.

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“Através deste software tomamos decisões estratégicas sobre onde devemos
investir com a ampliação ou construção de novos centros de distribuição, e quais
deverão ser desativados”, comentou o gerente de logística da Perdigão.

Como resultado deste estudo a Perdigão passou a adotar o conceito de


“multifiliais”, um rezoneamento das áreas de atendimento das filiais de vendas e dos
centros de distribuição. Anteriormente, todo centro de distribuição estava atrelado a
uma filial de vendas, ou seja, o centro de distribuição só fazia entregas na sua
região de vendas. Agora, o programa de gerenciamento de logística identifica a filial
mais próxima ao cliente para que esta faça a entrega independente de qual filial
tenha feito a venda. Assim, um cliente em Unaí (MG), que era atendido pelo centro
de distribuição de Minas Gerais, será atendido pelo centro de distribuição do Distrito
Federal que fica em uma menor distância, ainda que sua filial de vendas seja a de
Minas Gerais. Com o novo sistema, além de reduzir o tempo de entrega do produto
ao cliente, o custo com o frete será menor.

Com o novo sistema, a empresa espera racionalizar a distribuição, reduzindo


custos de frete e de estocagem de produtos.

O próximo passo envolverá a compra de um software de gerenciamento da


cadeia de suprimentos mais adequado às necessidades da Perdigão. No momento
a Perdigão está na fase de escolha deste software que proporcionará à empresa
mais um recurso para gerenciamento da rede logística e para tomada de decisões.
Envolvido na escolha deste software o gerente de recursos de informações da
Perdigão explica:

“Hoje, o controle da frota de transportes é feito por um roteirizador e uma


ferramenta própria de abastecimento. Com o software de Supply Chain, estaremos
integrando nosso processo logístico ao sistema de gestão empresarial SAP R/3, o
que deve agilizar os processos e facilitar as decisões estratégicas.”

A Perdigão está apenas iniciando um longo trabalho com algumas definições


estratégicas. O objetivo deste trabalho é ter um sistema integrado de gestão da
cadeia de suprimentos, um raio-x completo de toda a cadeia, do produtor ao cliente
final. “Tornar a cadeia de suprimentos ainda mais eficaz no que se refere à redução
de custos e melhoria no nível de serviço é nosso objetivo”, comenta o gerente de
logística que espera em 2003, término do projeto, reduzir em 6% os custos anuais
da empresa em logística.

Bibliografia

LAVALLE, C. A Organização Logística Em Empresas Da Cadeia De Suprimento De


Alimentos: Um Desafio Gerencial, Revista Tecnologística, Agosto/1999.

PORTER, M. E. Competitive Strategy: Techniques for Analysing Industries and


Competitors, Free Press, New York, NY, 1980.

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Questões para Discussão

Suponha que você é um dos consultores contratados pela Perdigão para auxiliá-la
neste projeto de redesenho de sua cadeia logística. Comente e discuta com sua
equipe as seguintes questões:

- Quais as características mais importantes para um software de Gestão da


Cadeia de Suprimentos? Como este software irá auxiliar as operações
logísticas da Perdigão?

- Quais dificuldades poderão ser enfrentadas pela Perdigão na implantação


da nova sistemática de operação logística?

- Comente sobre as vantagens e desvantagens em se ter uma central


única de distribuição para o caso da Perdigão.

- Por que o gerente de logística da Perdigão está preocupado com o


aumento do mix de produtos da Perdigão? O que isto afeta suas
operações logísticas?

- Quais as próximas ações a serem tomadas pela empresa?

- Finalmente, quais as implicações deste novo conceito de “Cadeia de


Suprimento” no futuro da Perdigão e de outras empresas similares?
Como será o marketing dessas cadeias integradas verticalmente? A esse
respeito leia também o artigo “O Marketing na Economia de Rede”, de
Philip Kotler, publicado na Revista da ESPM de Agosto de 2000.

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Anexo 1

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