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Sumário

Apresentação ........................................................................................................................................... 3
Aula 01 - Biomas: qual a conexão com o clima? (Parte 1) ................................................................. 5
Modelagem climática: o que é isso? .............................................................................................................................5
Vamos conhecer os biomas? ............................................................................................................................................7
Amazônia: o poder estabilizador do clima .............................................................................................................. 11
As vozes da floresta .......................................................................................................................................................... 13
Caatinga e mudança do clima ...................................................................................................................................... 15
Aula 02 - Biomas: qual a conexão com o clima? (Parte 2) ............................................................................ 19
Um solo que tem sede... ................................................................................................................................................. 19
A delicadeza e a força do Cerrado .............................................................................................................................. 21
Desafios e oportunidades no centro-oeste ............................................................................................................. 24
A elegância da Mata Atlântica ...................................................................................................................................... 26
O equilíbrio das águas no Pantanal............................................................................................................................ 29
Aula 03 - Alguns reflexos da mudança do clima na sociedade moderna ............................................... 32
O céu se confunde com a terra no horizonte dos campos sulinos................................................................. 32
Os limites da zona costeira ............................................................................................................................................ 34
O estrago que faz uma ocupação desordenada .................................................................................................... 37
Impactos na saúde ............................................................................................................................................................ 40
A saúde mental também é afetada pela mudança do clima. ............................................................................ 42
A humanidade caminha produzindo, produzindo... ............................................................................................. 42

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Apresentação
Olá, seja bem-vindo(a)!
Chegamos a um novo módulo! Vamos relembrar o que foi visto nos módulos anteriores?
No Módulo 01, apresentamos as noções básicas sobre Mudança do Clima, as causas e os efeitos na
natureza e nas sociedades humanas.
Já no Módulo 02, apresentamos a trajetória das conferências e negociações mundiais para tentar
estabilizar os efeitos do aquecimento global, bem como as decisões vinculantes que emergiram das COPs,
fazendo com que os países implementassem políticas de mitigação.
Neste Módulo 03, vamos reconhecer as características dos biomas brasileiros e as suas vulnerabilidades
socioambientais, bem como as políticas ambientais de mitigação e adaptação. Já vimos algumas políticas no
Módulo 02, mas vamos aprofundá-las levando em conta as especificidades de cada território de estudo.
Portanto, o objetivo geral deste módulo é apresentar os impactos e medidas de adaptação à mudança
do clima nos biomas brasileiros e nas áreas urbanas.
Veja a seguir o conteúdo de cada aula deste módulo.

Aula 01: Biomas: Qual a conexão com o clima? Parte 1

Modelagem climática, o que é isso?


Vamos conhecer os biomas?
Amazônia: o poder estabilizador do clima.
As vozes da Floresta.
Caatinga e mudança do clima.

Aula 02: Biomas: Qual a conexão com o clima? Parte 2

Um solo que tem sede...


A delicadeza e a força do Cerrado.
Desafios e oportunidades no Centro-oeste.
A elegância da Mata Atlântica.
O equilíbrio das águas no Pantanal.

Aula 03: Alguns reflexos da mudança do clima na sociedade moderna

O céu se confunde com a terra no horizonte dos pampas.


Os limites da Zona Costeiras.
O estrago que faz uma ocupação desordenada.
Impactos na saúde.
A humanidade caminha produzindo, produzindo.

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Muito bem! Após esta pequena contextualização, já podemos dar início à primeira aula.
Pronto(a) para começar? Então, bons estudos!

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Aula 01 - Biomas: qual a conexão com o clima? (Parte 1)

Modelagem climática: o que é isso?

“Há um mundo de fatos além do mundo das palavras”.


(Thomas Huxley)

As projeções climáticas dos relatórios do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC)
para o século XXI baseiam-se em modelagens climáticas. Esse é um assunto muito complicado, não
pretendemos aprofundá-lo neste curso, mas é importante saber que os modelos climáticos são usados como
ferramentas para fazer projeções de futuras mudanças do clima, como consequência de futuros cenários de
forçantes climáticas (gases de efeito estufa e aerossóis).

Assista ao vídeo Conclusões: o que nos espera no futuro:

https://www.youtube.com/watch?v=EMJzLn_GXEM

Já vimos que existe um grau de incerteza do futuro cenário climático do planeta, incerteza muito maior
quando se deseja projetá-lo para regiões. A técnica para traduzir a resolução espacial dos modelos climáticos
globais para escalas mais refinadas é obtida com a regionalização (downscaling em inglês).

Downscaling é uma técnica que utiliza a interpolação, ou seja, a junção de um modelo climático global
com um modelo regional, para obter projeções climáticas mais detalhadas. Essas projeções servem para estudar
os impactos da mudança de clima nos biomas, na biodiversidade, nos setores econômicos, nos recursos hídricos,
setor energético, saúde etc. e serve para indicar a vulnerabilidade aos riscos climáticos e para apoiar estudos de
mitigação e adaptação.

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Os Modelos Climáticos Regionais no Brasil, de forma geral, conseguem simular os padrões
climatológicos característicos de cada estação do ano, apesar de algumas diferenças encontradas entre eles.
Veja um esquema de downscaling:

Em 2013, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) apresentou o Modelo Brasileiro de Sistema
Terrestre, um programa de computador pioneiro no país capaz de projetar cenários climáticos a partir de dados
coletados no Brasil. Com os resultados obtidos, possibilitou-se, por exemplo, melhorar a previsão de
precipitação; constatar que o desmatamento da Amazônia aumenta a possibilidade de ocorrência de El Niño e
identificar ocorrências de anomalias climáticas.
Vamos aprender mais um conceito?
Vimos no Módulo 01 o que é a Variabilidade Climática – uma variação das condições climáticas em
torno da média climatológica. E o que é Anomalia Climática? É uma flutuação extrema de um elemento em
uma série climatológica, com desvios acentuados do padrão observado de variabilidade.

Veja exemplos de anomalias climáticas:

Chuva Ácida: Chuva com alto índice de acidez devido à poluição atmosférica.
Ilha de Calor: Aquecimento das regiões centrais das áreas urbanas devido às dificuldades de circulação
causadas pela verticalização (muitos edifícios), pela substituição da cobertura vegetal por construções e pela
poluição.
Inversão Térmica: Ocorre quando poluentes impedem o aquecimento (e ascensão) de massas de ar
frias, que ficam “presas” próximo do solo, alterando a circulação atmosférica em grandes centros urbanos.
El Niño e La Niña: O El Niño ocorre devido ao aquecimento superficial das águas no Oceano Pacífico,
causando modificações de temperatura e umidade em diversas partes do globo. Já o La Niña é o fenômeno

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inverso, quando ocorre resfriamento superficial das águas no Oceano Pacífico. Muitas vezes ocasionam uma
forte seca na região nordeste e enchentes na região sul do Brasil.

Caro(a) cursista, já vimos alguns exemplos de anomalias climáticas, lembra?

Assista ao vídeo Cientistas cada vez mais preocupados com as alterações


climáticas:
http://pt.euronews.com/2015/07/21/cientistas-cada-vez-mais-preocupados-com-
as-alteraces-climaticas

Os climatologistas dizem que, em comparação com o passado, observa-se


hoje uma ampliação múltipla de fenômenos climáticos anormais. Alertam que as
mudanças climáticas estão causando uma mudança nas estações do ano: o
inverno e o verão estão se tornando longos, enquanto que as estações
intercalares estão desaparecendo gradualmente.

Vamos conhecer os biomas?

“Quando as aves falam com as pedras e as rãs com as águas - é de poesia


que estão falando.”
(Manoel de Barros)

É importante ter uma noção do que é um modelo climático regional porque vamos viajar pelo Brasil,
conhecer os biomas e analisá-los sob esta lente climática. Agora, vamos dar uma visão geral do Brasil, dos
biomas e do clima e depois vamos viajar para as regiões.
Nas pesquisas sobre mudança do clima, os ecossistemas têm processos importantes, como a ciclagem
de nutrientes, produção de CO2, fotossíntese e produção de biomassa vegetal.
Em um bioma, existem vários ecossistemas! Segundo IBGE, bioma é um:

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[...] conjunto de vida (vegetal e animal) definido pelo agrupamento de
tipos de vegetação contíguos e identificáveis em escala regional, com condições
geoclimáticas similares e história compartilhada de mudanças, resultando em uma
diversidade biológica própria.”

Os ecossistemas são representados pelas fitofisionomias (tipos de vegetação), organizadas em


biomas. Cada fitofisionomia tem uma sensibilidade diferente à mudança do clima, pois algumas possuem maior
dependência de umidade (ombrófilas). Mudança nos padrões dos parâmetros climáticos (variações muito fortes
na quantidade e concentração de chuvas, na duração do período seco ou eventos extremos) poderão impactar
em algum grau as fitofisionomias.
O Instituto Brasileiro de Geografa e Estatística (IBGE) classificou o território continental brasileiro em
seis biomas:
Floresta Amazônica
Pantanal
Cerrado
Caatinga
Campos dos Pampas
Mata Atlântica

Além disso, o Brasil possui uma costa marinha de 3,5 milhões km², que inclui ecossistemas como recifes
de corais, dunas, manguezais, lagoas, estuários e pântanos.
O Brasil abriga a maior biodiversidade do planeta. Essa abundante variedade de vida – que se traduz
em mais de 20% do número total de espécies da Terra – eleva o Brasil ao posto de principal nação entre os 17
países megadiversos.
O país abriga também uma rica sociobiodiversidade, representada por mais de 200 povos indígenas
e por diversas comunidades – como quilombolas, caiçaras e seringueiros, para citar alguns – que reúnem um
inestimável acervo de conhecimentos tradicionais sobre a conservação da biodiversidade.
O estudo do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (PBMC/2013) revela que o território brasileiro
sofrerá um aumento incremental, ao longo do tempo, da temperatura média em todo o país, mas com
intensidade variada, afetando principalmente os biomas: Amazônia, Caatinga, Cerrado, Pantanal e Mata
Atlântica

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Na figura a seguir, notamos a redução da pluviosidade média na Amazônia, Caatinga, Cerrado, Pantanal
e Mata Atlântica Norte, e aumento da pluviosidade na Mata Atlântica Sul e Pampa.

Parece que todos os biomas brasileiros correm perigo...


Atualmente, segundo os especialistas, como resultado da expansão das atividades agropecuárias e da
urbanização no país, todos os biomas brasileiros correm risco de extinção caso sejam mantidos os mesmos
padrões de exploração. O Cerrado e a Mata Atlântica já se encontram na lista mundial de hotspots, isto é, são
áreas com grande diversidade que podem sofrer alterações significativas com a mudança do clima.
Em 2016, o Observatório do Clima informou a partir do mapa da vulnerabilidade dos ecossistemas à
variabilidade climática, que a Caatinga e a Amazônia estão entre os biomas mais sensíveis à variabilidade
climática a partir do mapa da vulnerabilidade dos ecossistemas à variabilidade climática.. O estudo foi realizado
por um grupo de pesquisadores da Noruega e do Reino Unido e publicado no periódico Nature. Seus autores
criaram um índice de sensibilidade da vegetação baseado em séries de dados de satélites sobre cobertura
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vegetal durante 14 anos (de 2000 a 2013) e variáveis climáticas (temperatura atmosférica, disponibilidade de
água e cobertura de nuvens) que influenciam na capacidade da vegetação de fazer fotossíntese.
No período estudado, a Caatinga e a Amazônia responderam com maior sensibilidade à variabilidade
climática em comparação com outras partes do mundo, apresentando, por exemplo, mudanças no aspecto da
vegetação – menos verde, menos folhas novas e menos absorção de carbono do ar.

Assista à um vídeo que mostra as características de todos os biomas


brasileiros. Nas próximas aulas, detalharemos cada um deles:

www.youtube.com/watch?v=0dlXce3s4mo..

É importante saber:
Em 2016, o Ministério do meio Ambiente lançou o Plano Nacional de Adaptação à Mudança do Clima
de 2016 a 2020 – PNA. O mapeamento da vulnerabilidade à mudança do clima requer o desenvolvimento de
estratégias setoriais e temáticas, além de considerar a dinâmica territorial. Foram consideradas 11 estratégias
setoriais e temáticas: Agricultura, Biodiversidade e Ecossistemas, Cidades, Desastres Naturais, Indústria e
Mineração Infraestrutura Povos e Populações Vulneráveis, Recursos Hídricos, Saúde, Segurança Alimentar e
Nutricional e Zonas Costeiras.
Segundo o plano, a estratégia de biodiversidade e ecossistemas tem como objetivos: analisar os
impactos da mudança do clima sobre a biodiversidade no país e avaliar possíveis medidas de adaptação para
reduzir a sua vulnerabilidade; e avaliar o papel da biodiversidade e dos ecossistemas na redução da
vulnerabilidade socioeconômica.
Tão importante como os Planos Setoriais de Mitigação e Adaptação à Mudança do Clima, que já
vimos nas aulas anteriores, o Plano Nacional de Adaptação à Mudança do Clima (PNA) tem como estratégia
de biodiversidade e ecossistemas os seguintes objetivos:
Analisar os impactos da mudança do clima sobre a biodiversidade no país e avaliar
possíveis medidas de adaptação para reduzir a sua vulnerabilidade;
Avaliar o papel da biodiversidade dos ecossistemas na redução da vulnerabilidade
socioeconômica por meio da provisão de serviços ecossistêmicos (PNA/2016).

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Amazônia: o poder estabilizador do clima

“Tudo o que nasce deve morrer, passando pela natureza em direção à


eternidade.”
(William Shakespeare)

Vamos viajar por cada um dos biomas e explorar sua sociobiodiversidade, as vulnerabilidades em
relação à mudança do clima, os problemas e as oportunidades de cada região. Neste módulo, começaremos
pela Amazônia e Caatinga.
Antes de viajarmos para a Amazônia, vamos entender qual a diferença entre serviços ecossistêmicos
e serviços ambientais.
O primeiro está associado a uma função ecossistêmica, que são as constantes interações entre os
elementos estruturais da natureza, como: transferência de energia, ciclagem de nutrientes, regulação de gases,
regulação climática, ciclo de água, entre outros.
De modo geral, uma função ecossistêmica gera um determinado serviço ecossistêmico quando os
processos naturais subjacentes desencadeiam uma série de benefícios, direta ou indiretamente apropriáveis
pelo ser humano.
Já os serviços ambientais são conceituados como aqueles prestados pelos diversos agentes
econômicos para conservação e/ou recuperação dos recursos naturais. Entre os diversos exemplos, podem ser
destacados:
Recuperação e manutenção da mata ciliar;
Construção de terraços;
Recuperação de áreas degradadas.

A principal diferença entre serviços ambientais e serviços ecossistêmicos é que, no primeiro caso, os
benefícios gerados estão associados a ações de manejo do homem nos sistemas naturais ou agroecossistemas;
já os serviços ecossistêmicos refletem apenas os benefícios diretos e indiretos providos pelo funcionamento dos
ecossistemas, sem a interferência humana. Para mais informações, clique aqui.
O Brasil é o segundo país do mundo em área coberta por florestas, atrás apenas da Rússia. Grande
parte dessa floresta está no bioma amazônico. Esse bioma chega a ocupar uma área de 4.196.943 Km², que
corresponde a mais de 40% do território nacional e é constituída principalmente por uma floresta tropical e
passa pelos estados do Acre, Amapá, Amazonas, Pará e Roraima, e parte do território do Maranhão, Mato Grosso,
Rondônia e Tocantins.
A Amazônia é formada por distintos ecossistemas como florestas densas de terra firme, florestas
estacionais, florestas de igapó, campos alagados, várzeas, savanas, refúgios montanhosos e formações pioneiras.

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Quais são os serviços ecossistêmicos da Amazônia?
Segundo o pesquisador do INPE, Antônio Nobre, a Amazônia é um sistema autorregulado capaz de
capturar umidade do Oceano Atlântico para manter a estabilidade do clima e do regime de chuvas da América
do Sul a leste dos Andes.
Em sua pesquisa “O Futuro Climático da Amazônia” (2014), destacou a capacidade da Amazônia na
regulação do clima e os impactos que podem ocorrer na região devido ao desmatamento que irá atingir não só
quem vive na região hoje coberta pela floresta, mas também quem vive além dela.
Segundo a pesquisa, desde o início do século XIX, a ciência revelou importantes segredos acerca do
poder desta floresta. Vamos ver quais são:

O primeiro segredo é que a floresta mantém úmido o ar em movimento, o que leva chuvas para
áreas do continente adentro distantes dos oceanos. Isso se dá pela capacidade inata das árvores de
transferir grandes volumes de água do solo para a atmosfera por meio da transpiração.
O segundo segredo é a formação de chuvas abundantes em ar limpo. As árvores emitem substâncias
voláteis precursoras de sementes de condensação do vapor d’água, cuja eficiência na nucleação de
nuvens resulta em chuvas fartas e benignas.
O terceiro segredo é a sobrevivência da floresta Amazônica a cataclismos climáticos e sua
formidável competência em sustentar um ciclo hidrológico benéfico, mesmo em condições externas
desfavoráveis. Segundo a nova teoria da bomba biótica*, a transpiração abundante das árvores,
casada com uma condensação fortíssima na formação das nuvens e chuvas – condensação essa maior
que aquela nos oceanos contíguos –, leva a um rebaixamento da pressão atmosférica sobre a floresta,
que suga o ar úmido sobre o oceano para dentro do continente, mantendo as chuvas em quaisquer
circunstâncias.
*A bomba biótica da Floresta Amazônica funciona como o coração do ciclo hidrológico e sistema circulatório na América
do Sul. Temos dois corpos de água, o oceano azul, que já conhecemos, e o oceano verde, a floresta. A transpiração da floresta é tão
grande quanto a do oceano, mas a condensação de nuvens na floresta é muito maior por causa das partículas de odores das plantas que
estão no ar! Tais partículas são atraídas por água, ou seja, buscam moléculas de água no ar e se juntam com a umidade da transpiração
das árvores, formando nuvens! Porque a condensação é maior na floresta, a pressão diminui e puxa o ar úmido do oceano. Eis a bomba
biótica. Daí, a Amazônia envia essas nuvens em forma de rios voadores para o sul do continente. Se os familiares rios são análogos às
veias, que drenam a água usada e a retornam para a origem no oceano, os rios aéreos são as artérias, que trazem a água fresca, renovada
na evaporação do oceano.
O quarto segredo indica a razão de a porção meridional da América do Sul, a leste dos Andes, não
ser desértica, como áreas na mesma latitude, a oeste dos Andes e em outros continentes. A floresta
amazônica não somente mantém o ar úmido para si mesma, mas exporta rios aéreos de vapor que
transportam a água para as chuvas fartas que irrigam regiões distantes no verão hemisférico.
O quinto segredo desvendado é a atenuação da violência atmosférica e tem explicação no efeito
dosador, distribuidor e dissipador da energia nos ventos, exercido pelo rugoso dossel florestal, e da
aceleração lateral de larga escala dos ventos na baixa atmosfera, promovida pela bomba biótica, o
que impede a organização de furacões e similares.

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Todos esses efeitos em conjunto fazem da majestosa floresta Amazônica a melhor e mais valiosa
parceira de todas as atividades humanas que requerem chuva na medida certa, um clima ameno e proteção de
eventos extremos. Incrível, não é?

Assista ao vídeo TED – Antônio Nobre – Há um rio sobre nós :

https://www.youtube.com/watch?v=HYcY5erxTYs

O Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na


Amazônia Legal (PPCDAm) parte do princípio de que o combate às causas do
desmatamento não poderia mais ser conduzido de forma isolada pelos órgãos
ambientais. Em sua terceira fase, os resultados registraram a terceira menor taxa
de desmatamento da série histórica que se inicia em 1988 e corresponde a 70,3%
de redução em relação à linha de base estabelecida pela PNMC (19.625 km²).

As vozes da floresta

Os seringueiros, os índios, os ribeirinhos há mais de 100 anos ocupam a


floresta. Nunca a ameaçaram. Quem a ameaça são os projetos agropecuários, os
grandes madeireiros e as hidrelétricas com suas inundações criminosas.

(Chico Mendes)

A Amazônia é tão fantástica que não cabe em um único tópico! Vamos falar agora dos povos
tradicionais que dependem da floresta para sobreviver. Esses povos, assim como a fauna e a flora, também são
vulneráveis à mudança do Clima.
Na floresta amazônica, existe aproximadamente 2.500 espécies de árvores e 30 mil espécies de
plantas, ondem vivem cerca de 4.221 espécies de animais entre mamíferos, insetos, répteis e aves (MMA,
2005).

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Nessa imensa área megadiversa, convivem 23,55 milhões de habitantes – mais de 12% da população
brasileira. Cerca de 110 milhões de hectares da floresta amazônica são atualmente protegidas em forma de
terras indígenas, onde vivem cerca de 430 mil pessoas. Essa área corresponde a 13 bilhões de toneladas de
carbono, estocado na forma de vegetação – que, uma vez preservado, ainda retira CO2 da atmosfera todos os
anos (IPAM, 2016).

Hoje, no Parque Indígena do Xingu, em Mato Grosso, vivem 6.500 índios


de 16 povos diferentes, que com seu tradicional sistema de manejo do território
garantem a preservação das florestas. Entretanto, no entorno do Parque a
realidade é outra. Com 86% das florestas convertidas principalmente em soja,
milho e pasto, os últimos 30 anos foram de devastação ambiental no entorno, e as
consequências no clima, nos animais e na agricultura estão sendo sentidas pelos
índios. Assita ao filme produzido pelo Instituto Socioambiental (ISA) em parceria
com o Instituto Catitu, e exibido durante a Conferência do Clima de Paris (COP-
21):
https://www.socioambiental.org/pt-br/noticias-socioambientais/premiado-
curta-lancado-para-internet-alerta-para-mudancas-climaticas-no-xingu

O aumento da temperatura global causado pelo constante uso e movimentação da terra está refletindo
na mudança no regime de chuvas e aumentando os períodos de seca com impacto direto sobre a produção de
alimentos dos indígenas, levando à necessidade de consumir produção de fora da aldeia e até produtos
industrializados.
Além dos indígenas, temos comunidades quilombolas, seringueiros, ribeirinhos, agricultores familiares
que, embora constantemente ameaçados por práticas de uma economia predatória e ilegal, ainda são os
verdadeiros guardiões da floresta.

Os agricultores familiares e ribeirinhos também estão vulneráveis à mudança do clima


O último Censo Agropecuário do IBGE, de 2006, identificou cerca de 410 mil estabelecimentos
familiares ocupando uma área de mais de 16 milhões de hectares na Região Norte. São poucos agricultores que
ocupam imensas áreas e trabalham pela subsistência e pela diversidade produtiva em combinações específicas
que dependem das características locais em que esse núcleo se insere. Representam menos de 10% do total no
Brasil, mas ocupam 20% do total de área destinada à agricultura familiar no país.
No Amazonas, o extrativismo vegetal e animal constituem importante atividade econômica em áreas
rurais. Assim como a pesca e a caça para a alimentação familiar, o extrativismo vegetal faz-se presente pela
coleta de frutos como o açaí, buriti, bacaba, cipós, madeira, entre outros.

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Os ribeirinhos geralmente são extremamente pobres e sofrem com a poluição dos rios (esgoto),
assoreamento e a erosão. As atividades desempenhadas por essa população são o artesanato e a agricultura,
sabendo que a maioria das culturas e criações de animais são complementares à alimentação como caça, pesca
e extrativismo vegetal. Na época das grandes enchentes, é a população que mais sofre pelas águas que invadem
suas casas.

Assista a série que mostra a vida dos ribeirinhos da Amazônia na maior cheia de
todos os tempos:

https://www.youtube.com/watch?v=Yc8SPv20WRQ

A sustentabilidade das reservas extrativistas pela ótica do clima


Após anos de lutas do movimento dos seringueiros, foram criadas as Reservas Extrativistas (RESEX). São
áreas de domínio público, com uso concedido às populações extrativistas tradicionais, cuja subsistência baseia-
se no extrativismo e na agricultura de subsistência e na criação de animais de pequeno porte, e têm como
objetivos básicos proteger os meios de vida e a cultura dessas populações, e assegurar o uso sustentável dos
recursos naturais.
Esse tipo de arranjo social e econômico é o mais adequado para a região amazônica, pois contribui
para a manutenção da floresta à medida que pressupõe a preservação da biodiversidade com a participação
ativa das comunidades que historicamente a integram.

Caatinga e mudança do clima

Sertão: estes seus vazios.

(Guimarães Rosa)

Depois da abundância de umidade e de água na floresta amazônica, vamos para o oposto. A Caatinga
é um bioma frágil e muito rico, porém árido, com um processo histórico de desmatamento e fortemente afetado
pelo aquecimento global.

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A caatinga ocupa uma área de cerca de 840 mil quilômetros quadrados, o equivalente a 11% do
território nacional. Engloba os estados de Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande
do Norte, Piauí, Sergipe e o norte de Minas Gerais. Rico em biodiversidade, o bioma abriga 178 espécies de
mamíferos, 591 de aves, 177 de répteis, 79 espécies de anfíbios, 241 de peixes e 221 de abelhas. Cerca de 27
milhões de pessoas vivem na região, a maioria carente e dependente dos recursos do bioma para sobreviver.
Apesar da sua importância, o bioma tem sido desmatado de forma acelerada devido principalmente ao
consumo de lenha nativa, explorada de forma ilegal e insustentável para fins domésticos e industriais, além do
sobrepastoreio e a conversão para pastagens e agricultura.
O clima da Caatinga é semiárido, com temperaturas médias anuais entre 25o C e 30o C. O sistema de
chuvas é complexo. Durante poucos meses caem chuvas irregulares, e alguns anos são mais chuvosos, alternados
irregularmente com anos de secas.

Caatinga vem do tupi e significa mata branca. Essa vegetação é


encontrada somente no nordeste do Brasil e apresenta uma diversidade de
formas, entre elas a caatinga arbórea, com árvores de 8 a 15 metros de altura.

Quais os efeitos da mudança do clima na caatinga?

Segundo os Relatórios dos GT 1 e 2 do IPCC (2007), o semiárido nordestino será uma das regiões
brasileiras mais afetadas pelas mudanças climáticas globais. A área parece ameaçada por mais uma má notícia:
os estudos revelam que, no processo de aquecimento global, não só choverá menos e as secas serão mais
intensas, como significará uma redução no nível de água dos reservatórios subterrâneos que pode chegar a 70%
até o ano 2050.
Se por um lado as reduções de chuva aparecem na maioria dos modelos globais do IPCC 4º RA,
provocando um aquecimento que pode chegar de 3º C a
4º C para a segunda metade do século XXI, por outro as chuvas torrenciais e concentradas em curto período
de tempo resultam em enchentes, causando graves impactos socioambientais.
Devido ao aumento da temperatura, haverá maior evaporação da água de lagos, açudes e reservatórios,
o que pode acarretar reduções de até 15 a 20% nas vazões do Rio São Francisco. A consequência social desse
fenômeno será a maior dificuldade de permanência das populações na zona rural, causando migração para os
centros urbanos, gerando os “refugiados ambientais” e agravando os problemas sociais nas cidades.

Como está sendo debatida a questão da seca em nível global


O tema da desertificação foi tratado pela primeira vez a nível internacional em 1977, ao celebrar-se a
Conferência das Nações Unidas sobre a Desertificação (UNCCD), em Nairóbi, Quênia, como resposta da
comunidade internacional à catástrofe da seca e fome que assolou entre 1968 e 1974 a zona do Sahel, na África,

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levando cerca de 500 mil pessoas à morte. Foi a partir daí que a comunidade internacional começou de fato a
se mobilizar para combater o problema.

Assista ao vídeo Sahel – África, com fotos de Sebastião Salgado:

https://www.youtube.com/watch?v=VnLSfcIDXPs

Na Rio-92, época da ratificação da Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação
e Mitigação dos Efeitos das Secas (UNCCD) (sigla em Inglês), o conceito de “desertificação” foi atribuído tanto
às variações climáticas como às atividades humanas. No entanto, a população rural deixou de ser considerada
como a principal causadora do problema e passou a ser vista como a mais vulnerável dadas as condições
ambientais e econômicas deterioradas em que vive. Junto com outros 192 países, o Brasil é signatário da
Convenção.

Saiba mais sobre o processo de desertificação que acontece em áreas do


Sertão de Alagoas:

http://g1.globo.com/al/alagoas/bom-dia-alagoas/videos/v/saiba-mais-
sobre-o-processo-de-desertificacao-que-acontece-em-areas-do-sertao-de-
al/4691513/

MMA e INPE. Mudanças Climáticas Globais e o Impacto no Bioma Caatinga.


MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Convenção das Nações Unidas de Combate à
Desertificação. Disponíveis no curso digital (dentro da Plataforma de Ensino).

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A desertificação atualmente afeta um quinto da população mundial e um
terço da superfície terrestre. É assim que entre 6 e 7 milhões de hectares perdem-
se anualmente por erosão e mais de 20 milhões de hectares estão afetados pela
salinização, enquanto que em torno de 70% dos 5,2 bilhões de hectares de terras
secas que se utilizam para a agricultura em todo o mundo já estão empobrecidos.
O panorama é também preocupante na América Latina e no Caribe, onde quase
75% das terras secas acham-se moderada ou gravemente desertificadas, existindo
vastas áreas vulneráveis severamente afetadas por processos de degradação e
seca.

Muito bem! Chegamos ao final da primeira aula do Módulo 03, na qual vimos as características dos
biomas brasileiros da Amazônia e da Caatinga.

Na próxima aula, vamos continuar nossa viagem pelos biomas brasileiros, adentrando as características
do Cerrado, da Mata Atlântica e do Pantanal.
Até lá!

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Aula 02 - Biomas: qual a conexão com o clima? (Parte 2)

Olá, seja bem-vindo(a) à segunda aula de nosso Módulo 03!


Na aula passada, conhecemos os biomas da Amazônia e da Caatinga. Vamos agora adentrar o sertão
e ver o que está acontecendo com a terra. Depois, continuamos nosso percurso pelo Cerrado, Mata Atlântica e
Pantanal.
Bons estudos!

Um solo que tem sede...

“Carcará!
Lá no sertão...
É um bicho que avoa que nem avião
É um pássaro malvado
Tem o bico volteado que nem gavião
Carcará, pega, mata e come...”

(Música de João do Vale)

As ações para o enfrentamento da desertificação no Brasil remontam 1974, quando se iniciou a


preparação do relatório do Brasil para a Conferência de Nairóbi, em 1977. Esse relatório foi preparado pela
SUDENE sob a coordenação do Prof. João Vasconcelos Sobrinho, que, em 1974, publica o livro “O Grande
Deserto Brasileiro”, no qual desenvolve a tese de que estaria em formação no Brasil um grande deserto, que se
iniciaria a partir de determinados núcleos de degradação da Caatinga e se estenderia por meio dos cerrados do
Centro-Oeste, indo até a fronteira com Paraguai.
Em 1997, o Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA), por meio da resolução 238, aprova a
Política Nacional de Controle da Desertificação. Em 2005, o Ministério do Meio Ambiente, seguindo as
disposições do artigo 10° da Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação e Mitigação dos
Efeitos das Secas (UNCCD) define os requisitos básicos para o Programa de Ação Nacional de Combate à
Desertificação (PAN-Brasil), que deve especificar o papel do Governo, das comunidades locais e os detentores
de terra, bem como determinar quais os recursos disponíveis e quais os necessários para combater a
desertificação.

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No Brasil são 1.480 municípios susceptíveis ao processo de desertificação
que atinge, particularmente, os estados do Nordeste, além de Minas Gerais e
Espírito Santo. Estudos realizados pelo MMA em parceria com os governos dos 11
Estados mostram que as áreas suscetíveis à desertificação representam 16% do
território brasileiro e 27% do total de municípios, envolvendo uma população de
mais de 31,5 milhões de habitantes, onde se concentra 85% da pobreza do país.
Logo, representa um contexto que demanda uma política pública robusta
para o combate à pobreza e a melhoria das condições de vida desses habitantes.

Segundo relatório do Programa de Combate à Desertificação e Mitigação dos Efeitos na América do


Sul, realizado pelas Organização dos Estados Americanos (OEA), a área afetada de forma “muito grave” no
Nordeste chega a atingir 98.595 km², ou 10% do semiárido brasileiro. Desse total, quatro são os chamados
"núcleos de desertificação", que estão nos municípios de Gilbués (PI), Irauçuba (CE) e Cabrobó (PE), além da
região de Seridó (RN), totalizando uma área de 18.743,5 km² (equivalente a quase 2 milhões de campos de
futebol).
Em 2007, o Ministério do Meio Ambiente publicou o Atlas de Áreas Suscetíveis de Desertificação no
Brasil, que traça o perfil ambiental, produtivo e demográfico de nove Estados do Nordeste, Espírito Santo e
Minas Gerais, composto por 66 mapas temáticos. Em 2015, o Governo sanciona a Lei nº 13.153, de 2015, a
Política Nacional de Combate à Desertificação e Mitigação dos Efeitos da Seca. A produção desse Atlas
representa um esforço de apresentar e analisar o panorama dos principais fatores promotores da desertificação
para ser utilizado como base de comparação para avaliações futuras do avanço ou regresso do processo de
desertificação no país.

Qual a diferença entre desertificação e arenização?

MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Programa de Ação Nacional de Combate à


Desertificação e Mitigação dos Efeitos da Seca – PAN Brasil.
BRASIL. Lei nº13153, de 2015. Política Nacional de Combate à Desertificação e Mitigação
dos Efeitos da Seca.
MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Atlas de áreas suscetíveis à Desertificação no Brasil.
Disponíveis no curso digital (dentro da Plataforma de Ensino).

A principal diferença entre desertificação e arenização está na composição climática, relacionada com
o índice de pluviosidade da região em que eles se manifestam. Além disso, a composição dos solos também é
um fator importante a ser considerado. A arenização, ou formação de bancos de areia, refere-se ao processo de
retirada de cobertura vegetal em solos arenosos em regiões de clima úmido, com regime de chuvas constantes,
como o sudoeste do Rio Grande do Sul. Esse fenômeno não deve ser confundido com a desertificação, que
ocorre em clima árido, semiárido e semiúmido e assemelha-se a uma seca prolongada e intensa.

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Vimos que a conservação da Caatinga está intimamente associada ao combate da desertificação. Em
que pese esse quadro, menos de 1,5% do bioma está inserido em Unidades de Conservação de Proteção
integral (como Parques, Reservas Biológicas e Estações Ecológicas), que são as mais restritivas à intervenção
humana.

A delicadeza e a força do Cerrado

“Porque não somos como cerrado? Que bom seria se, quando chovesse
dentro de nós, brotasse a primavera.”

(Rosa Berg)

Cerrado ou savana brasileira é um bioma com vários tipos de vegetação, mas a fisionomia mais típica
é caracterizada por árvores baixas, retorcidas, em geral dotadas de casca grossa e suberosa, espaçadas, e que
levam por baixo tapete de gramíneas.
Com uma área de 2,04 milhões km2, o que equivale a aproximadamente 22% do território nacional, o
Cerrado é o segundo maior bioma brasileiro, somente superado pela Amazônia. Esse bioma ocupa a área central
do Brasil, compreendendo os estados de Goiás, Tocantins, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Bahia,
Maranhão, Piauí, Rondônia, Paraná, São Paulo e Distrito Federal, além dos encraves no Amapá, Roraima e
Amazonas.
É considerado estratégico em vista dos serviços ecossistêmicos que oferece: geração de recursos
hídricos – a região abriga as nascentes de três grandes bacias do continente sul-americano (Tocantins-Araguaia,
Paraná-Prata, São Francisco), produção de alimentos e bioenergia (maior região produtora de grãos e carne,
tem produção expressiva de biocombustíveis), regulação climática (estoques e fluxos significativos de carbono
no solo e na vegetação), biodiversidade (maior diversidade de plantas entre as savanas tropicais, com cerca de
12 mil espécies de plantas com flores).
Hoje, o Cerrado apresenta 2,85% de sua área total protegida em unidades de conservação de proteção
integral e 5,36% em unidades de conservação de uso sustentável. Áreas Protegidas na Amazônia Legal somam
43,9% da região, sendo que as unidades de proteção integral totalizam 37,8% da área ocupada pelas UCs. Por
fim, enquanto o bioma Amazônia ainda mantém cerca de 80% de sua cobertura original, 50% do Cerrado já foi
convertido para outros usos nos últimos 50 anos.

Para se aprofundar no assunto, veja este documentário da TV Brasil,


chamado SOS Cerrado:

https://www.youtube.com/watch?v=1WG-VT_Je40

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O Cerrado é o mais antigo bioma brasileiro. Fala-se que sua idade é de
aproximadamente 65 milhões de anos. É tão velho que 70% de sua biomassa está
dentro da terra. Por isso, se diz que é uma “floresta de cabeça para baixo”. Para
alguns especialistas, o Cerrado não permite qualquer revitalização. Uma vez
devastado, devastado para sempre.

A vegetação do Cerrado
O Cerrado tem várias fisionomias na sua extensão: no sentido restrito, caracteriza-se pela presença de
árvores baixas, inclinadas, tortuosas, com ramificações irregulares e retorcidas, e geralmente com evidências de
queimadas. Mas temos outros tipos de vegetação tais como: o campo sujo, o cerradão, o cerrado rupestre, a
vereda e a mata ripária (subdividida em duas categorias: mata ciliar e mata de galeria):

Como assim? Quer dizer que uma característica do Cerrado Brasileiro é a sua capacidade de
armazenamento de carbono?
Bom, vamos descobrir!

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Este vídeo da WWF-Brasil, chamado Você conhece o Cerrado?, é bem
didático:

https://www.youtube.com/watch?v=orGhCBbK4Iw

Um sumidouro de carbono é algo que absorve mais carbono do que emite, enquanto uma fonte de
carbono é algo que emite mais carbono do que absorve. Florestas, solos, oceanos e a atmosfera armazenam
carbono e este carbono movimenta-se entre tais meios por meio de um ciclo contínuo. O movimento contínuo
de carbono significa que florestas agem como fontes ou sumidouros em diferentes momentos.

Segundo a FAO, a biomassa vegetal exerce dois papéis principais no sistema climático. Clique em cada
item para ter acesso à informação.
O primeiro papel da biomassa vegetal é o da fotossíntese, que retira CO2 (gás carbônico) da atmosfera
e o estoca na biomassa.
O segundo papel é que biomassa, quando queimada, emite CO2, aerossóis e outros gases causadores
do aquecimento global.
Devido a esses dois aspectos, a biomassa vegetal tem chamado atenção por ser tanto uma fonte de
carbono para produção de energia como recurso para sequestro e imobilização de carbono.
Portanto, é importante monitorar as mudanças na quantidade de biomassa das florestas para verificar
o quanto elas podem estar contribuindo para emissão ou estoque de carbono. É provável que o Cerrado gere
atualmente maiores emissões de gases de efeito estufa do que a Amazônia por causa da movimentação da
terra gerada pela agropecuária e pelas queimadas.
Por hectare, os estoques de carbono no Cerrado são muito maiores do que parecem à primeira vista,
uma vez que as raízes profundas que as árvores, arbustos e plantas herbáceas precisam para sobreviver durante
a longa estação seca, contêm a maior parte da biomassa.
As raízes em florestas tropicais úmidas são rasas, a fim de captarem a água que chega ao chão da
floresta, onde os nutrientes também são concentrados durante o ano todo. Geralmente, a maior parte da
biomassa vegetal encontra-se na parte área das árvores de maior diâmetro (80%). Em contraste, a percentagem
de biomassa, que é subterrânea no Cerrado, chega a 70% onde se concentram as raízes.

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SANTOS, M. A. O cerrado brasileiro: notas para estudo / Mauro Augusto
dos Santos; Alisson Flávio Barbieri; José Alberto Magno de Carvalho; Carla
Jorge Machado. - Belo Horizonte: UFMG/Cedeplar, 2010.
LOPES, R. B., MIOLA, D. T. B. Sequestro de carbono em diferentes
fitofisionomias do Cerrado.
EMBRAPA. Savanas: desafios e estratégias para o equilíbrio entre
sociedade, agronegócio e recursos naturais.
TEODORO, D. A. A. (2014). Biomassa, Estoque de Carbono e Nutrientes no
Cerrado. Dissertação de Mestrado. Publicação PPGEFL. DM-239/2014, Programa
de Pós-Graduação em Ciências Florestais, Universidade de Brasília UnB, Brasília,
DF, 59p. Disponíveis no curso digital (dentro da Plataforma de Ensino).

Desafios e oportunidades no centro-oeste

Tendo em conta as
condições de que dispõe e na medida do possível, é a natureza que faz sempre as
coisas mais belas e melhores.

(Aristóteles)

No tópico passado, vimos algumas características do Cerrado e o serviço ecossistêmico que ele presta:
imenso dreno de carbono! Agora, vamos falar das oportunidades que este grande bioma oferece, bem como
dos impactos resultantes do uso da terra em função do modelo de desenvolvimento econômico que depende
da exportação de grãos.
Como já citamos, os biomas mais importantes como drenos de carbono são predominantemente
florestas e savanas, como o Cerrado brasileiro. Sendo as savanas o maior componente da vegetação mundial,
cobrindo um sexto da superfície da Terra, a vasta cobertura vegetal das mesmas pode contribuir
significativamente para o orçamento global de carbono.
O Cerrado é considerado uma das regiões mais ricas e biodiversas do mundo e é uma excelente região
para o desenvolvimento de projetos de reflorestamento, uma vez que esses projetos podem auxiliar a
preservação da biodiversidade. A implantação ou recuperação de áreas degradadas serve como alternativa para
o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) e consequente Certificado de Emissão Reduzida.
O sequestro de carbono só acontece quando as árvores e a floresta estão em crescimento, servindo
como sumidouro. Ao atingir o clímax, as espécies perdem esse potencial, mas mantêm ainda a função de estocar
o carbono absorvido anteriormente na forma de madeira. Esse fato torna importante e atrativa a recuperação

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dos ecossistemas naturais em áreas degradadas. Por meio da regeneração, aumenta-se consideravelmente a
biomassa e consequentemente o estoque de carbono fixado.

Vimos que a expansão indiscriminada dos limites agrícolas no Cerrado pode ser desacelerada pela
adoção de atividades de exploração mais diversificadas que inclui várias espécies e arranjos produtivos no
âmbito do MDL.
Essa forma de “olhar o mundo” só traz benefícios tais como a inclusão de pequenos agricultores, o
desenvolvimento de novas técnicas de sistemas agroflorestais sustentáveis e produção de produtos florestais
não madeireiros – além da contribuição para o mercado de carbono.

Assista ao vídeo Projeto de reflorestamento melhora vida de


agricultores de Luís Eduardo Magalhães:

http://g1.globo.com/bahia/bahia-rural/videos/v/projeto-de-
reflorestamento-melhora-vida-de-agricultores-de-luis-eduardo-
magalhaes/3782150/

Os povos do cerrado são parceiros na preservação!


A população tradicional do cerrado é tão diversa quanto sua vegetação: temos agricultores familiares,
quilombolas, quebradeiras de coco babaçu e povos indígenas, além das populações urbanas que compõem um
rico mosaico de outros tantos traços advindos de origens diversas.
O Cerrado abriga 216 terras indígenas com 83 diferentes etnias sendo que a grande maioria não passou
por um processo de regularização fundiária. O mesmo tem ocorrido nas comunidades quilombolas, onde a
disputa por terras para a produção de commodities cresce a cada dia, resultando em sérios conflitos fundiários
e colocando essas populações em risco.

Fogo e desmatamento
O Cerrado apresenta uma longa história de fogo, tanto natural quanto antrópico. Após o
desenvolvimento da agricultura e da pecuária, a ocorrência do fogo no Cerrado tem aumentado, tanto em áreas
cultivadas como em áreas nativas.
A ocorrência de queimadas no Cerrado pode resultar em um aumento das emissões de gases de efeito
estufa e que pode alcançar outras regiões no Brasil, movida por grandes correntes de circulação de massas de
ar – segundo alguns especialistas, sua contribuição para a mudança do clima na América do Sul é evidente. Além
disso, a conversão da vegetação nativa de Cerrado pode reduzir a evapotranspiração e o fluxo de calor latente
para atmosfera e consequentemente diminuir a pluviosidade, bem como aumentar a frequência e a intensidade
dos veranicos (breves períodos sem chuva durante a estação chuvosa) e elevar as temperaturas do ar na
superfície.
O desmatamento ocorre de modo intenso em função das características propícias à agricultura e à
pecuária e da demanda por carvão vegetal para a indústria siderúrgica, predominantemente nos polos de Minas
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Gerais e, mais recentemente, do Mato Grosso do Sul. Do total de cerca de 9,5 milhões de toneladas de carvão
vegetal produzido no Brasil em 2005, 49,6% foram oriundos da vegetação nativa do Cerrado. Além da extração
de vegetação nativa, temos 54 milhões de hectares ocupados por pastagens cultivadas e 21,56 milhões de
hectares por culturas agrícolas neste bioma.

O Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento e das


Queimadas no Cerrado (PPCerrado) tem como meta a redução de 40% do
desmatamento do Bioma até 2020, estando em sintonia com outros planos
setoriais tais como: o da Agropecuária e o da Siderurgia (carvão vegetal). A
relação entre as ações do PPCerrado e as mudanças na dinâmica do
desmatamento do Cerrado ainda é de difícil mensuração por se tratar de um
Plano recente (segunda fase encerrada em 2015), e também pela ausência de série
histórica de monitoramento do desmatamento neste bioma, que passou a ter
mensuração anual em 2008, realizada pelo Ibama. O último dado oficial, que é
referente ao período 2011-2012, deverá ser retomado em 2016, com o advento do
Programa de Monitoramento Ambiental dos Biomas Brasileiros. Disponível
no curso digital (dentro da Plataforma de Ensino)

A elegância da Mata Atlântica

Elegância é a arte de não se fazer notar, aliada ao cuidado sutil de se


deixar distinguir.

(Paul Valéry)

Vamos continuar a nossa viagem! Vimos no tópico passado algumas oportunidades econômicas no
Cerrado, além da agricultura intensiva. Como podemos compatibilizar uma economia baseada em commodities
– exportação de grãos – em uma economia de baixo carbono no Cerrado? É um desafio!
Falando em desafio, vamos para um bioma super ameaçado! A Mata Atlântica abrange áreas com
grande concentração demográfica, perto da zona costeira.
Este bioma ocupa uma área de 1.110.182 Km², que corresponde a 13,04% do território nacional, e que
é constituída principalmente por mata ao longo da costa litorânea que vai do Rio Grande do Norte ao Rio
Grande do Sul. A Mata Atlântica passa pelos territórios dos estados do Espírito Santo, Rio de Janeiro e Santa
Catarina, e parte do território dos estados de Alagoas, Bahia, Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraíba,
Paraná, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, São Paulo e Sergipe.
A área ocupada pela Mata Atlântica é a mais densamente habitada no Brasil, com mais de 120
milhões de pessoas, e os remanescentes de vegetação nativa estão reduzidos a cerca de 20% de sua cobertura
original em diferentes estágios de regeneração.

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Quanto mais ameaçado ou maior a perda de área de um bioma, maiores são os esforços direcionados
para sua preservação. No caso da Mata Atlântica, apenas 7% da vegetação estão bem conservados em
fragmentos acima de 100 hectares. Mesmo reduzida e muito fragmentada, estima-se que ainda existam cerca
de 20 mil espécies vegetais (cerca de 40% das espécies existentes sós no Brasil). Em relação à fauna, os
levantamentos indicam a existência de 849 espécies de aves, 370 espécies de anfíbios, 200 espécies de répteis,
270 de mamíferos e cerca de 350 espécies de peixes.
Uma notícia boa é que, nos últimos anos, as taxas de desmatamento na Mata Atlântica registraram
declínio significativo, e a notícia ruim é a existência de grande fragmentação e isolamento das áreas de
vegetação nativa remanescentes. Nesse sentido, foi inserido o Sistema Nacional de Unidades de Conservação
(SNUC), a figura dos mosaicos que integra unidades de conservação próximas e de diferentes categorias,
buscando uma gestão integrada para compatibilizar a conservação, a valorização da sociobiodiversidade e o
desenvolvimento sustentável em âmbito regional.

Vamos dar uma caminhada pela Mata Atlântica? Assista:

https://www.youtube.com/watch?v=k5jQbhZIh20

Existem muitas ações e políticas dos governos federal, estaduais e municipais,


bem como trabalhos de ONGs, Institutos de Pesquisa e parcerias com Organismos
Internacionais direcionado à Mata Atlântica - até uma legislação específica.
Com base na Lei da Mata Atlântica (Lei nº 11.428, de 2006), que dispõe sobre a
utilização e proteção da vegetação nativa, tanto das formações florestais como dos
ecossistemas associados que integram a Mata Atlântica, o Ministério do Meio
Ambiente está empenhado em implantar uma gestão integrada da conservação e
restauração da floresta com enfoque ecossistêmico e incorporando fatores
climáticos por meio do projeto Biodiversidade e Mudanças Climáticas na Mata
Atlântica. O projeto visa promover a conservação da biodiversidade e a restauração
florestal em três regiões de mosaicos de unidades de conservação na Mata Atlântica, a
fim de contribuir para a mitigação e adaptação à mudança do clima. Para tanto, está
sendo utilizada uma metodologia chamada Adaptação baseada em Ecossistemas
(AbE) para preparar a sociedade brasileira aos desafios atuais e futuros da mudança
do clima. Essa abordagem inclui o uso da biodiversidade e dos serviços
ecossistêmicos como parte de uma estratégia geral para ajudar as comunidades a se
adaptarem aos efeitos adversos da mudança do clima e promover sumidouros de
carbono naturais para a mitigação de gases do efeito estufa. Foram escolhidos os
mosaicos do Lagamar no Paraná, do extremo sul da Bahia e do Rio de Janeiro como
áreas prioritárias do projeto.

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Vamos conhecer melhor a Adaptação baseada em Ecossistemas (AbE)?
Quando os ecossistemas são bem manejados, têm potencial maior de adaptação, resistindo e
recuperando-se mais facilmente dos impactos de eventos climáticos extremos. Já vimos nas aulas passadas que
os ecossistemas fornecem vários serviços ambientais tais como os serviços de provisão para sobrevivência, a
regulação do clima e purificação da água, o bem-estar cultural e assim por diante.
Já vimos também que a Adaptação é o ajuste em sistemas naturais ou humanos, em resposta aos
impactos das mudanças climáticas, atuais ou previstas, de modo a minimizar os prejuízos ou potencializar
benefícios (UNFCCC, 2012). Existem diversas abordagens para a adaptação às mudanças climáticas, como a
abordagem baseada em perigos, gerenciamento de riscos, vulnerabilidades, resiliência e ecossistemas. A
Adaptação Baseada em Ecossistemas (AbE) é, portanto, uma das estratégias de adaptação existentes, que pode
ser utilizada combinada com outras medidas de adaptação às mudanças climáticas, associadas à manutenção
dos serviços ambientais e à conservação da biodiversidade.
A abordagem Adaptação baseada em Ecossistema (AbE) é uma metodologia que envolve a análise
dos serviços da biodiversidade e dos ecossistemas como parte da estratégia para adaptação aos efeitos adversos
das Mudanças do Clima. Trata-se de uma adaptação humana considerando a importância dos serviços
ecossistêmicos para reduzir sua vulnerabilidade, por isso ela tem como característica: foco antropocêntrico;
ajuda minimizar os efeitos negativos das mudanças do clima nas pessoas e nos ecossistemas

Os critérios para classificar ações de AbE são:


Uso da biodiversidade e dos serviços ecossistêmicos - Envolver ações de conservação,
recuperação e/ou gestão de ecossistemas;
Objetivar medidas de adaptação para pessoas e comunidades;
Aplicar lentes climáticas - preferencialmente conduzir estudos de avaliação de
vulnerabilidade.

No Brasil, o número de exemplos de projetos em AbE ainda é incipiente. No entanto, as poucas


experiências encontradas demonstram o potencial da diversidade biológica brasileira e da tradição que o país
possui em relação ao envolvimento de comunidades.
A AbE foi incluída no Plano Nacional de Adaptação à Mudança do Clima (PNA), por apresentar custos
normalmente muito inferiores e por aliar benefícios como a conservação da biodiversidade e a manutenção dos
serviços ambientais na adaptação às mudanças climáticas.

Na tabela a seguir, mostramos projetos AbE desenvolvidos no Brasil.

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O equilíbrio das águas no Pantanal

Natureza é uma força que inunda como os desertos.

(Manoel de Barros)

No último tópico, vimos que alguns projetos desenvolvidos na Mata Atlântica usam a abordagem
Adaptação baseada em Ecossistemas (AbE). Existem outros projetos AbE no Bioma Cerrado, na Amazônia, na
Caatinga e Zona Costeira.

O Pantanal é a maior área úmida continental do planeta e berço de uma


rica biodiversidade. O vídeo mostra um pouco da beleza deste importante bioma:
https://www.youtube.com/watch?v=vpm5ygA0nb0

O bioma Pantanal é considerado uma das maiores extensões úmidas contínuas do planeta. Este bioma
continental é considerado o de menor extensão territorial no Brasil, ocupando 1,76% da área total do território
brasileiro. Em seu espaço territorial, o bioma, que é uma planície aluvial, é influenciado por rios que drenam a
bacia do Alto Paraguai. O Pantanal sofre influência direta de três importantes biomas brasileiros: Amazônia,
Cerrado e Mata Atlântica. Estudos indicam que o bioma abriga os seguintes números de espécies catalogadas:
263 espécies de peixes, 41 espécies de anfíbios, 113 espécies de répteis, 463 espécies de aves e 132 espécies de
mamíferos, sendo duas endêmicas.

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A paisagem do Pantanal como conhecemos hoje é uma vasta planície com baixo gradiente topográfico,
tendo o rio Paraguai como tronco do sistema. O escoamento superficial das águas é muito lento e por isso
muitas áreas são inundadas nos meses de verão e outono.

Assista ao vídeo com imagens belíssimas do Pantanal:

https://www.youtube.com/watch?v=TcRbIwC8t48

Nas zonas úmidas, os serviços ecossistêmicos são fundamentais para as espécies de fauna e flora e para
o bem-estar de populações humanas. Além de regular o regime hídrico de vastas regiões, essas áreas funcionam
como fonte de biodiversidade em todos os níveis, cumprindo, ainda, papel relevante de caráter econômico,
cultural e recreativo. Ao mesmo tempo, atendem necessidades de água e alimentação para uma ampla variedade
de espécies e para comunidades humanas, rurais e urbanas.
As áreas úmidas são, social e economicamente, insubstituíveis, ainda, por conterem inundações,
permitirem a recarga de aquíferos, reterem nutrientes, purificarem a água e estabilizarem zonas costeiras. O
colapso desses serviços, decorrente da destruição das zonas úmidas, pode resultar em desastres ambientais com
elevados custos em termos de vidas humanas e em termos econômicos. Os ambientes úmidos também
cumprem um papel vital no processo de adaptação e mitigação das mudanças climáticas, já que muitos desses
ambientes são grandes reservatórios de carbono.

A importância das zonas úmidas começou com a Convenção de Ramsar


Em 1971, foi realizado um evento intergovernamental no Irã, conhecido como Convenção de Ramsar,
que marcou o início das ações nacionais e internacionais para a conservação e o uso sustentável das zonas
úmidas e de seus recursos naturais. Com 150 países signatários no tratado, incluindo o Brasil, a convenção
também classificou as áreas úmidas de importância mundial, os chamados Sítios Ramsar. Existem 1.556 sítios
Ramsar reconhecidos mundialmente por suas características, biodiversidade e importância estratégica para as
populações locais.
No Brasil, além do Parque Nacional do Pantanal Matogrossense (MT), possui outras sete áreas
classificadas como Sítios Ramsar: Estação Ecológica Mamirauá (AM), Ilha do Bananal (TO), Reentrâncias
Maranhenses (MA), Área de Proteção Ambiental da Baixada Maranhense (MA), Parque Estadual Marinho do Parcel
de Manoel Luz (MA), Lagoa do Peixe (RS) e a Reserva Particular do Patrimônio Natural SESC Pantanal (MT).

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Apenas 4,4% do Pantanal encontra-se protegido por Unidades de
Conservação, dos quais 2,9% correspondem a unidades de proteção integral e
1,5% de uso sustentável (MMA).

MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE – PANTANAL. Disponível no curso


digital (dentro da Plataforma de Ensino).

As ameaças
Apesar de sua beleza natural exuberante, o bioma vem sendo muito impactado pela ação humana,
principalmente pela atividade agropecuária, especialmente nas áreas de planalto adjacentes do bioma. Outra
ameaça são as hidrelétricas, que podem interferir no regime hidrológico dos rios que tendem a ajustar suas
dinâmicas fluviais às intervenções.

Assista ao vídeo sobre a influência das mudanças climáticas no Pantanal:

http://g1.globo.com/mato-grosso-do-sul/noticia/2015/12/pantanal-pode-ser-
drasticamente-afetado-por-mudancas-climaticas.html

Muito bem! Finalizamos aqui a segunda aula do Módulo 03 de nosso curso, onde falamos sobre a
conexão existente entre os diversos biomas brasileiros e as mudanças do clima, viajando pela Caatinga, o
Cerrado e o Pantanal.
Na próxima aula, vamos continuar nossa viagem, mergulhando em “águas cinzas” e percorrendo os
pampas e a zona costeira do Brasil. Depois, abordaremos o “ecossistema urbano”.
Até lá!

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Aula 03 - Alguns reflexos da mudança do clima na sociedade
moderna

Olá, seja bem-vindo(a) à terceira aula de nosso Módulo 03!


Nas semanas anteriores, vimos que existe uma forte conexão entre os biomas e a estabilidade do clima.
Os serviços ecossistêmicos para mitigar e adaptar os efeitos da mudança do clima, o envolvimento dos povos
tradicionais, o apoio dos gestores e dos estudos (pesquisas e inventários) desenvolvidos nos centros urbanos e
a inserção da lente climática na elaboração e implementação de projetos e programas estão sendo incorporados
como pressupostos básicos para a elaboração e implementação de projetos de adaptação.

Nesta aula, vamos mergulhar em “águas cinzas”, mas antes vamos finalizar nossa viagem e percorrer
os pampas e a zona costeira do Brasil. Depois, vamos abordar o “ecossistema urbano”, visualizar as ocupações
em áreas de risco e ver como a sociedade é dependente de uma estrutura de alta emissão de carbono,
característica do nosso sistema de produção e do nosso estilo de vida, que está também afetando a saúde
humana.
Vamos lá? Então, bons estudos!

O céu se confunde com a terra no horizonte dos campos sulinos

“Verdes são os campos,


De cor de limão:
Assim são os olhos
Do meu coração.”

(Luís de Camões)

Na aula passada, fomos ao Pantanal. Apesar de este bioma ser relativamente preservado, sua
dependência do ciclo hidrológico pode colocá-lo em risco com a mudança do clima.
Agora, vamos ao extremo sul do Brasil, o último bioma da nossa viagem, conhecer uma paisagem plana
que os índios chamavam de pampas.
O bioma Campos Sulinos é muitas vezes confundido com os “pampas”, termo de origem indígena
para “região plana”. A maior parte está localizada no estado do Rio Grande do Sul, onde ocupa uma área de
176.496 km² (IBGE, 2004). Isso corresponde a 63% do território estadual e a 2,07% do território brasileiro. As
paisagens naturais do Pampa são variadas, de serras a planícies, de morros rupestres a coxilhas. O bioma exibe
um imenso patrimônio cultural associado à biodiversidade. As paisagens naturais dos Pampas caracterizam-se

32
pelo predomínio dos campos nativos, mas há também a presença de matas ciliares, matas de encosta, matas de
pau-ferro, formações arbustivas, butiazais, banhados, afloramentos rochosos etc.
Em relação às áreas naturais protegidas no Brasil, o Pampa é o bioma que tem a menor
representatividade no Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), representando apenas 0,4% da
área continental brasileira protegida por unidades de conservação. A Convenção sobre Diversidade Biológica
(CDB), da qual o Brasil é signatário, em suas metas para 2020, prevê a proteção de pelo menos 17% de áreas
terrestres representativas da heterogeneidade de cada bioma.

Assista ao vídeo Especial Bioma Pampa, da TV Assembleia do Rio Grande


do Sul:

https://www.youtube.com/watch?v=LEcphxlUM04

O maior problema deste bioma é a perda de área como consequência de sua conversão para outros
usos de terra. Esse é um processo que pode facilmente ser observado e que está causando perda de habitat
para espécies campestres e fragmentação dos campos remanescentes.
A conversão do uso da terra acontece cada vez mais rápido até em regiões onde o solo não é adequado
ao uso da lavoura. Pela característica do solo e vegetação, uma vez destruída é muito difícil restaurar a vegetação
campestre. Além disso, práticas inadequadas de manejo - por exemplo, carga alta de animais - levam à perda
de diversidade por meio da seleção de certas espécies, e podem causar problemas de erosão e de perda de
produtividade.

Qual a conexão deste bioma com a mudança do clima?


A floresta dos Campos Sulinos é composta basicamente do pinheiro-do-paraná (Araucária
Angustifólia). Em direção ao Arroio Chuí, na divisa com o Uruguai, estabelece-se um campo com formas
arbustivas sobre afloramentos rochosos. Esses ecossistemas campestres são responsáveis por uma grande parte
da produtividade primária terrestre e podem influenciar potencialmente as reservas globais de carbono. Já vimos
isso no Cerrado, lembra?
Além da derrubada das araucárias para o cultivo, existem ainda uma forte pressão de pastejo e a prática
do fogo, que não permitem o estabelecimento da vegetação arbustiva. A agricultura, a pecuária de corte e a
industrialização trouxeram vários problemas ambientais, como a degradação, a compactação dos solos, a
contaminação e o assoreamento dos aquíferos, devido ao manejo inadequado das culturas. O manejo
inadequado em áreas inapropriadas dos campos sulinos tem levado a um processo de arenização,
principalmente em áreas cujo substrato é o arenito. Já cometamos sobre isso, lembra?

33
A maior parte do Bioma Campos Sulinos fica no Aquífero Guarani.
O Sistema Aquífero Guarani (SAG) é um corpo hídrico subterrâneo e
transfronteiriço que abrange parte dos territórios da Argentina, do Brasil, do
Paraguai e do Uruguai. Possui um volume acumulado de 37.000 km3 de água e
área estimada de 1.087.000 km2. Na parte brasileira, estende-se por oito estados:
Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul,
Santa Catarina e São Paulo.

Os limites da zona costeira

“Mar não tem desenho


o vento não deixa
o tamanho...”
(Guimarães Rosa)

Neste tópico, vamos ver como a Zona Costeira responde à mudança do clima e os impactos para a
região mais populosa do Brasil. Esse assunto é bastante extenso e complicado, mas o importante é você
conhecer a inter-relação entre os ambientes costeiros, os oceanos e a dinâmica dos ventos.
A Zona Costeira do Brasil é uma unidade territorial que se estende, em sua porção terrestre, por mais
de 8.500 km, abrangendo 17 estados e mais de quatrocentos municípios, distribuídos do Norte equatorial ao
Sul temperado do país. Inclui ainda a faixa marítima formada por mar territorial, com largura de 12 milhas
náuticas a partir da linha da costa. A Zona Marinha tem início na região costeira e compreende a plataforma
continental marinha e a Zona Econômica Exclusiva (ZEE) que, no caso brasileiro, alonga-se até 200 milhas da
costa.
Os sistemas ambientais costeiros no Brasil são extraordinariamente diversos. Nosso litoral é composto
por uma grande variedade de ecossistemas que incluem manguezais, recifes de corais, dunas, restingas, praias
arenosas, costões rochosos, lagoas, estuários que abrigam inúmeras espécies de flora e fauna, muitas das quais
só existem em nossas águas, e algumas estão ameaçadas de extinção. Desses ecossistemas destacam-se os
manguezais, berçários de diversas espécies marinhas e de água doce, e os recifes de coral, aclamados como o
mais diverso habitat marinho do mundo.

Assista ao vídeo Série Manguezais Brasileiros (JN – TV Globo, março de


2013):

https://www.youtube.com/watch?v=VJq_SWnLKc8

34
A Zona Costeira é influenciada por agentes oceânicos, atmosféricos e continentais, motivo pelo qual
é particularmente sensível à mudança do clima. Alterações na intensidade, na distribuição espacial ou na
climatologia de ventos afetam os esforços sobre estruturas portuárias, trazem impactos sobre construções
urbanas e mobilizam sedimentos de dunas (NEVES et al., 2008).
É nesse cenário dinâmico e de alta mobilidade, tanto física quanto socioeconômica, que residem
aproximadamente 18% da população do país, sendo que 16 das 28 regiões metropolitanas encontram-se no
litoral. Essas áreas de adensamento populacional convivem com amplas extensões de povoamento disperso e
rarefeito. São os habitats das comunidades de pescadores artesanais, dos remanescentes de quilombos, de
tribos indígenas e de outros agrupamentos imersos em gêneros de vida tradicionais (NICOLODI et al., 2010).
Nesse sentido, torna-se fundamental a compreensão das interações entre oceanos e zonas costeiras
com as variáveis relacionadas à mudança do clima. Vamos ver no quadro abaixo as possibilidades de risco
climático que atingem a zona costeira em geral:

Você se lembra do 5º RA do IPCC?

O nível do mar aumentou em cerca de 19 cm entre 1901 e 2010 devido à


expansão térmica das águas. No cenário mais pessimista, a elevação pode chegar
a mais de 80 cm até 2100”.

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Os impactos!

Imagens de alto de prédio mostram ondas invadindo avenida de Santos:

https://www.youtube.com/watch?v=mQzq6WPHpqM

Os impactos de eventos climáticos extremos na zona costeira atingem o setor portuário causando
enormes prejuízos como, por exemplo, as chuvas intensas que atingiram Santa Catarina em novembro de 2008,
onde, além de causar mais de uma centena de vítimas fatais, trouxeram a destruição do porto de Itajaí. Tais
impactos também atingem o setor turístico, pois, das dez cidades brasileiras mais visitadas pelos turistas
estrangeiros, seis (Rio de Janeiro-RJ, Salvador-BA, Fortaleza-CE, Recife-PE, Búzios-RJ e Florianópolis-SC) situam-
se na zona costeira.
Os impactos nas zonas costeiras vão demandar ações de adaptação das estruturas já existentes por
parte do poder público e mudanças nos paradigmas de planejamento setorial.

O Ministério do Meio Ambiente lançou em 2009 o Macrodiagnóstico da


Zona Costeira e Marinha, que teve como objetivo orientar ações de
planejamento territorial, conservação, regulamentação e controle dos patrimônios
natural para diferentes segmentos da sociedade que atuam na zona costeira, além
de apoio para elaboração de estudos e pesquisas. O documento aponta, num
conjunto de mapas, as localidades que apresentam os maiores potenciais de risco
natural, social e também tecnológico. Os graus de vulnerabilidade indicados pelo
macrodiagnóstico vão de muito baixo a muito elevado.
Outra política, o Projeto de Gestão Integrada da Orla Marítima (Projeto
Orla), que busca compatibilizar o ordenamento dos espaços litorâneos sob
domínio da União, com ampla articulação entre as três esferas de governo e a
sociedade, tem o potencial de tratar de tais questões de forma efetiva. O Projeto
Orla tem antecipado a percepção das questões de adaptação de zona costeira ao
identificar, discutir e definir medidas para o uso e ocupação dos espaços da orla
marítima, em especial sob o domínio da União.

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MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Macrodiagnóstico da Zona Costeira e
Marinha, 2009.
NEVES, C.F., MUEHE, D. Vulnerabilidade, Impactos e Adaptação a
Mudanças do Clima: a Zona Costeira, Centro de Gestão de Estudos
Estratégicos (CGEE), Rio de Janeiro, 2008.
NICOLODI J. L., PETERMANN R. M. Mudanças Climáticas e a
Vulnerabilidade da Zona Costeira do Brasil: Aspectos ambientais,
sociais e tecnológicos. Revista de Gestão Costeira, UNIVALI, 2010.
REDE BIOMAR. Manual de Ecossistemas Marinhos e Costeiros para
Educadores, 2016.
TCU. Auditorias de natureza operacional sobre políticas públicas e
mudanças climáticas. Adaptação das zonas costeiras brasileiras, 2009.
Disponíveis no curso digital (dentro da Plataforma de Ensino).

O estrago que faz uma ocupação desordenada

Assista ao vídeo Prevenção de desastres (PNUD):

https://www.youtube.com/watch?v=P8hc7E1CNJQ

No tópico passado, pontuamos algumas consequências que a mudança do clima vem causando na
zona costeira. Agora, vamos para as cidades conhecer os riscos potenciais da ocupação urbana em áreas
inadequadas. Os eventos climáticos extremos que impactam o relevo e a urbanização da zona costeira também
fazem muitos estragos nas cidades.
O aumento da frequência e intensidade dos eventos climáticos extremos nas zonas urbanas dos países
em desenvolvimento tem sido tema de debate público mundial sobre as catástrofes. As alterações da dinâmica
do clima atribuídas à ação do homem, somadas à urbanização crescente e desordenada, são apontadas como
as causas principais dos riscos naturais aos quais a sociedade moderna está exposta. Conhecer, portanto, a
dimensão das vulnerabilidades dos assentamentos humanos tornou-se passo fundamental para a adoção de
medidas mais abrangentes e efetivas de prevenção e redução dos danos socioeconômicos e ambientais
causados por essas adversidades (IPEA, 2011).
No Brasil, até mesmo as pequenas e médias cidades no interior estão se urbanizando sem o devido
cuidado com a ocupação ordenada do solo urbano. As variações térmicas observadas entre as zonas urbanas e
rurais podem diferir muito, tendo como causas principais a substituição da vegetação natural pelo excesso de
concreto e asfalto, adensamento das edificações e ações antrópicas.

37
A busca por alternativas para moradia da população de baixa renda do país é um imperativo. Somente
com habitação segura, bem edificada e em locais seguros e adequados serão eliminados os efeitos mais
perversos das mudanças climáticas nas áreas urbanas: a morte de pessoas. A recorrência de desastres naturais,
especialmente enchentes e deslizamentos, são muitas vezes a consequência de uma urbanização excludente e
que permitiu a ocupação de áreas impróprias à moradia, tais como margens de córregos e encostas de morros

Os desafios
Os desafios são muitos, e para resolvê-los é necessária uma gestão urbana integrada. Um dos maiores
desafios ambientais das cidades brasileiras consistem em equacionar o problema das ocupações em áreas de
risco ambiental, o que inclui:
a realocação de moradias sempre que necessário;
a coleta e o tratamento do esgoto produzido;
a destinação de forma ambientalmente adequada dos resíduos sólidos;
a implantação de sistemas completos de drenagem urbana e controle da poluição do ar por meio de
controle das emissões locais de veículos automotores.

Outras medidas também serão fundamentais, como as indicadas para atenuar a elevação da
temperatura nas cidades. Cidades mais arborizadas serão mais agradáveis para viver e amenizarão parcialmente
o calor. Outra recomendação é a construção de edifícios adequados às condições tropicais existente em grande
parte do território brasileiro, a qual depende apenas da regulamentação dos códigos de obra pelo poder público
municipal.

Entre 2006 e 2014 ocorreram no Brasil 11.344 desastres naturais


relacionados a estiagem, a grande maioria na região Nordeste (7.970). Neste
mesmo período, desastres decorrentes do alto índice de precipitação
pluviométrica foram registrados, sendo identificados 4.528 eventos relacionados a
enxurradas em todo o país com 3.016 casos de inundações, 612 alagamentos e
ainda 594 casos de chuvas intensas no Brasil. Disponível em:
http://www.caubr.gov.br/?page_id=47572

Em 2011, o Brasil estruturou um sistema de monitoramento e alerta, com a criação do Centro Nacional
de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais (Cemaden) e, em 10 de abril de 2012, aprovou a Política
Nacional de Proteção e Defesa Civil, por meio da Lei 12.608.
Com a utilização da técnica downscaling (já conversamos sobre isso lembra?), os pesquisadores do
INPE e do Cemaden fizeram projeções de mudanças climáticas de diferentes regiões do Estado de São Paulo,
para avaliar tendências e alterações no padrão de chuvas extremas até 2100.

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Assista ao vídeo Extremos climáticos devem ocorrer com mais
frequência e intensidade em São Paulo:

http://agencia.fapesp.br/extremos_climaticos_devem_ocorrer_com_mais_fr
equencia_e_intensidade_em_sao_paulo/20717/

Em 2011, a Agência Nacional de Águas (ANA) começou a mapear as áreas


sujeitas a inundações para instalar Salas de Situação em todos os estados.
O Atlas de Vulnerabilidade às Inundações do Brasil tem como objetivo
traçar um diagnóstico dos trechos inundáveis dos principais rios do país e
detalhar o grau de vulnerabilidade de cada trecho, consolidando, de
maneira inédita, as informações disponíveis nos estados e na União. O
Atlas visa subsidiar políticas públicas de previsão e prevenção de eventos
hidrológicos críticos e contribuir para a alocação racional de recursos
públicos e atividades dos órgãos de defesa civil.
Em 2016, o Plano Nacional de Adaptação à Mudança do Clima,
elaborado pelo Ministério do Meio Ambiente, aborda estratégias setoriais
e temáticas de adaptação onde, entre os 11 temas, inclui as áreas de
infraestrutura, cidades e indústrias. O Rio de Janeiro foi a primeira cidade a
elaborar seu Plano de Resiliência contra Chuvas Fortes, em parceria com a
Secretaria Nacional de Defesa Civil.

Assista ao vídeo Defesa Civil SC - Municípios em Ação:

https://www.youtube.com/watch?v=rJxwV53Xx-E

O Plano Nacional de Mudança do Clima foi aprovado em dezembro de


2008 e revisado em 2014. Em 2013, foram lançados os Planos Setoriais de
Mitigação e Adaptação. Destes, merece destaque para nossa aula o Plano
Setorial de Transporte e de Mobilidade Urbana para Mitigação da Mudança
do Clima. O plano apresenta diretrizes e metas desafiadoras, no sentido de
diminuir o peso da participação do transporte individual na matriz nacional e
aumentar a participação do transporte público coletivo na matriz de mobilidade.

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Impactos na saúde

“Abstrações são encantadoras, mas sou a favor de que se deva também


respirar o ar e comer o pão.”

(Hermann Hesse)

No tópico anterior, vimos como a ocupação desordenada nas cidades coloca em risco a vida da
população e causa prejuízos enormes ao poder público. Neste tópico, vamos ver que os eventos extremos e a
poluição atmosférica deixam mais um rastro de perigo à população: sua saúde física e mental.
As mudanças climáticas podem produzir impactos sobre a saúde humana por diferentes vias. Por um
lado, impacta de forma direta, como no caso das ondas de calor, ou mortes causadas por outros eventos
extremos como furacões e inundações. Mas muitas vezes esse impacto é indireto, sendo mediado por alterações
no ambiente como a alteração de ecossistemas e de ciclos biogeoquímicos, que podem aumentar a incidência
de doenças infecciosas, doenças hidro transmissíveis e doenças não transmissíveis, que incluem a desnutrição e
doenças mentais (BARCELLOS et al, 2009).
Como vimos na aula passada, os desastres ambientais ocasionam deslocamentos populacionais
temporários ou permanentes, contribuindo para o estresse, depressão e problemas sociais, econômicos e
psicológicos advindos das perdas humanas e materiais.
De acordo com estudo da Organização Pan-americana de Saúde (OPAS), produzido em 2008, a
mudança do clima pode produzir impactos sobre a saúde humana por diferentes vias. São doenças que podem
se agravar com as enchentes ou secas que afetam a qualidade e o acesso à água. Nas flutuações climáticas
sazonais, produzem doenças vetoriais como, por exemplo, a maior incidência da dengue no verão e da malária
na Amazônia durante o período de estiagem. Também podem afetar a dinâmica das doenças de veiculação
hídrica, como a leptospirose, as hepatites virais, as doenças diarreicas etc.

Segundo o Ministério da Saúde, os problemas relacionados com a falta de


saneamento básico causam cerca de 15 mil óbitos por ano no Brasil.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) afirmou que 50% das doenças
respiratórias crônicas e 60% das doenças respiratórias agudas estão
associadas à exposição a poluentes atmosféricos.

40
Também, as doenças respiratórias são influenciadas por queimadas e pelos efeitos de inversões
térmicas que concentram a poluição, impactando diretamente a qualidade do ar, principalmente nas áreas
urbanas. As emissões gasosas e de material particulado para a atmosfera derivam principalmente de veículos,
indústrias e da queima de biomassa.
No Brasil, as fontes estacionárias e grandes frotas de veículos concentram-se nas áreas metropolitanas
localizadas principalmente na Região Sudeste, enquanto a queima de biomassa ocorre em maior extensão e
intensidade na Amazônia Legal, situada ao norte do país.

Saúde ambiental e as conferências


De acordo com o Ministério da Saúde (2007), o campo da saúde ambiental compreende a área da saúde
pública, afeita ao conhecimento científico e à formulação de políticas públicas e às correspondentes
intervenções (ações) relacionadas à interação entre a saúde humana e os fatores do meio ambiente natural e
antrópico que as determinam, condicionam e influenciam, com vistas a melhorar a qualidade de vida do ser
humano sob o ponto de vista da sustentabilidade.
Na III Conferência Nacional de Meio Ambiente sobre Mudança do Clima, o debate em torno do
Eixo Temático II – Adaptação – mostrou um conjunto de deliberações referentes ao tema Saúde. Uma delas
refere-se à necessidade de criar nas três esferas de governo e em parceria com universidades, institutos,
fundações e órgãos afins, sistemas de alerta precoce, conjugando a previsão de eventos climáticos extremos
com mapas de vulnerabilidade e planos de contingência que incluam assistência de saúde em caráter especial.
A 1ª Conferência Nacional de Saúde Ambiental (CNSA) realizada em 2009 teve como foco “A Saúde
Ambiental na cidade, no campo e na floresta: construindo cidadania, qualidade de vida e territórios
sustentáveis”. O objetivo foi debater sobre as relações entre produção e consumo, seus impactos na saúde e no
meio ambiente, além da estruturação de territórios sustentáveis nas cidades, no campo e nas florestas.
Os resultados da 1ª CNSA demonstraram os desafios para a consolidação do binômio saúde-ambiente
como política pública e a necessidade de novos arranjos organizacionais para alcançar este objetivo (CARVALHO
et al., 2010).

Na 1ª CNSA, uma das diretrizes resultantes do tema Educação,


Informação, Comunicação e Produção de Conhecimento foi a “[...] implantação
de Políticas Socioambientais voltadas para as distintas realidades dos biomas e
territórios, com ênfase na saúde e prevenção a partir da inserção efetiva da
educação ambiental e saúde ambiental na educação formal e não formal bem
como a inserção desta temática no Programa Nacional de Educação Ambiental
(PRONEA)”.

41
A saúde mental também é afetada pela mudança do clima.

A questão dos desastres envolve necessariamente a relação do homem com seu ambiente, e, em face
disso, o tema torna-se relevante para a Psicologia. O comportamento das pessoas perante as situações de
desastres é o resultado de como cada comunidade percebe e administra as suas ameaças de desestabilização,
ou das estratégias de adaptação psicológicas.

Assista ao vídeo Psicologia Emergencial e Grandes Desastres:

https://www.youtube.com/watch?v=V86etqZIcs4

Vamos pegar o exemplo das moradias que são suscetíveis a inundações. Essa situação coloca em risco
a integridade física e emocional dos que lá residem. Quando a moradia é destruída ou danificada
estruturalmente, as repercussões sobre a rotina da família são complexas, visto que as redes sociais de
convivência dos familiares envolvidos são modificadas. Esse processo envolve a perda dos bens permanentes e
de consumo da família, tais como móveis, alimentos e vestuário, ou seja, envolve a perda do que é preciso para
satisfazer as necessidades dentro e fora do lar.

A humanidade caminha produzindo, produzindo...

“A tecnologia moderna é capaz de realizar a produção sem emprego. O diabo é


que a economia moderna não consegue inventar o consumo sem salário.”

(Hebert de Souza)

No tópico anterior, vimos como a mudança do clima está afetando a saúde das pessoas. Agora, vamos
falar sobre produção e como o processo produtivo está sendo inserido em uma economia de baixo carbono.

A Revolução Industrial teve início na Grã-Bretanha na metade do sec. XVIII. Naquele momento, a
produção em massa passou a ganhar força, deixando para trás o modo de produção agrícola e manual. Pela
primeira vez na história, máquinas passaram a gerar produtos. A velocidade de produção fez emergir um novo
conceito de progresso, bem como a capacidade humana de se sobrepor aos ambientes naturais.

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Mais de três séculos se passaram e os resultados deste tipo de desenvolvimento econômico vetorizaram
os modos de produção e consumo insustentáveis, enaltecendo uma cultura do desperdício cuja consequência
aponta para a degradação do meio ambiente e aumento de emissões de GEE.
Já vimos que o uso da terra e florestas são as atividades econômicas que mais emitem GEE no Brasil,
lembra? Por meio dos Planos Setoriais como Agricultura de Baixo Carbono (Plano ABC), o Brasil está
implementando uma economia de baixo carbono.

Assista ao vídeo Sistemas de Produção Sustentável (Embrapa):

https://www.youtube.com/watch?v=7_7OlrlDxsA

Nas áreas urbanas, as indústrias são apontadas como os grandes agentes poluidores, pois, para
movimentar suas máquinas, precisa de combustível, gás ou óleo, expelindo para a atmosfera gases tóxicos,
como metano e dióxido de carbono. Se eles não forem adequadamente filtrados e tratados, vão para a
atmosfera. A poluição industrial tornou-se “globalizada” e afeta diretamente a vida de toda a população, pois
intensificou a quantidade de emissões de GEE na atmosfera.
A noção de eficiência e prevenção à poluição começou a ganhar corpo no século XX, a partir da década
de 1970, quando a preocupação com a poluição ambiental causada principalmente pela indústria passou a ser
incluída na pauta dos governos e respondida por meio de políticas de comando e controle, aplicadas, sobretudo
a grandes empresas.
A partir da década de noventa, impulsionado pelos processos liderados pelas agências das Nações
Unidas, foi introduzido o conceito de produção mais limpa (P+L) para considerar a cadeia produtiva e o ciclo
de vida de produtos e serviços como um todo, inclusive na perspectiva do consumo. Esse conceito começou a
incorporar novas variáveis e deu mais ênfase às questões sociais, consolidando-se na ideia de “Produção e
Consumo Sustentáveis”.

O Plano de Johanesburgo, aprovado na Rio+10 em 2002, propôs a


elaboração de um conjunto de programas, com duração de dez anos (10
Years Framework Program), que apoiasse e fortalecesse iniciativas
regionais e nacionais para promoção de mudanças nos padrões de
consumo e produção.
Em 2013, num encontro em Marrocos, foi consolidada a aplicabilidade dos
conceitos de Produção e Consumo Sustentáveis (PCS) junto com
estratégias de implementação – essa iniciativa ficou conhecida como
Processo de Marrakesh.

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Segundo o Processo de Marrakesh, "produção sustentável" é a incorporação, ao longo de todo o ciclo
de vida de bens e serviços, das melhores alternativas possíveis para minimizar impactos ambientais e sociais.
Acredita-se que essa abordagem reduz, prevenindo, mais do que mitigando, impactos ambientais e minimiza
riscos à saúde humana, gerando efeitos econômicos e sociais positivos.
Vista numa perspectiva planetária, a produção sustentável deve incorporar a noção de limites na oferta
de recursos naturais e na capacidade do meio ambiente para absorver os impactos da ação humana. Uma
produção sustentável será necessariamente menos intensiva em emissões de gases do efeito estufa e em energia
e demais recursos. Uma produção sustentável pensa o ciclo completo dos produtos - do berço ao berço (cradle
to cradle), procurando alongar a vida útil dos produtos e reaproveitar ao máximo possível os insumos da
reciclagem em novas cadeias produtivas.

Economia de baixo carbono


Economia de baixo carbono é um termo que serve para nomear as empresas e países que melhoram
seus processos produtivos a fim de reduzir o impacto energético, diminuir a eliminação dos gases do efeito
estufa (GEEs) no meio ambiente e dar impulso à sustentabilidade.

Assista ao vídeo Economia de baixo carbono:

https://www.youtube.com/watch?v=YxbcbynbDxo

A Economia de baixo carbono está contida no conceito de Economia Verde, a qual, segundo o
PNUMA, é uma economia que resulta em melhoria do bem-estar da humanidade e igualdade social, ao mesmo
tempo em que reduz os riscos ambientais e a escassez ecológica. Ela tem três características principais:
baixa emissão de carbono;
eficiência no uso de recursos;
busca pela inclusão social.

Em uma economia verde, os setores de alta tecnologia requerem mão de obra qualificada nos
diferentes níveis (superior, técnico e profissionalizante) e uma educação básica de qualidade que forme cidadãos
conscientes, críticos e com capacidade de resolver problemas. A certificação ambiental e campanhas
informativas são políticas essenciais para promover mudanças no comportamento dos agentes econômicos no
mercado brasileiro. Neste contexto, o papel da Educação Ambiental é fundamental para dar subsídios às
escolhas individuais, coletivas e políticas dos cidadãos.

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Assista ao vídeo A História da Agricultura e a Economia Verde:

https://www.youtube.com/watch?v=YxbcbynbDxo

A Pegada Ecológica é uma metodologia de contabilidade ambiental que


avalia a pressão do consumo das populações humanas sobre os recursos naturais.
Expressada em hectares globais (ha), permite comparar diferentes padrões de
consumo e verificar se estão dentro da capacidade ecológica do planeta.

Em 2011, o Governo Federal lançou o Plano de Ação para Produção e


Consumo Sustentáveis (PPCS), sendo uma referência para as ações de governo,
do setor produtivo e da sociedade que direcionam o Brasil para padrões mais
sustentáveis de produção e consumo. O Plano articula as principais políticas
ambientais e de desenvolvimento do país, em especial as Políticas Nacionais de
Mudança do Clima e de Resíduos Sólidos e o plano Brasil Maior, auxiliando no
alcance de suas metas por meio de práticas produtivas sustentáveis e da adesão
do consumidor a esse movimento.
O PPCS é um plano dinâmico, vivo, e que deve ser apropriado pela sociedade em
geral. Sua implementação será progressiva, refletindo os avanços em outras
políticas públicas e o amadurecimento da sociedade brasileira.
Em seu primeiro ciclo, de 2011 a 2014, o PPCS teve seus esforços focados em seis
áreas principais:
Educação para o Consumo Sustentável;
Varejo e Consumo Sustentável;
Aumento da reciclagem;
Compras Públicas Sustentáveis;
Construções Sustentáveis;
Agenda Ambiental na Administração Pública (A3P).

Assista ao vídeo Pegada ecológica e consumo consciente (Cidades e


Soluções):

https://www.youtube.com/watch?v=J8b_i9t0nJw

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Muito bem! Com esta aula, chegamos ao final do Módulo 03.
Neste módulo, reconhecemos as características dos biomas brasileiros e as suas vulnerabilidades
socioambientais, bem como as políticas ambientais de mitigação e adaptação.

No próximo módulo, que é o último de nosso curso, vamos falar da educação ambiental para uma
sociedade de baixo carbono, o que nos leva pelos caminhos da cidadania, do engajamento, da justiça e
aprendizagem social. Vamos colocar em prática nosso aprendizado durante o curso nas ações cotidianas e
mostrar aos gestores alguns instrumentos de planejamento.
Até lá!

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