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Emergências oftalmológicas
Raíza Dantas de Lira Oliveira

QUEIMADURA QUÍMICA

TABELA 1  Queimadura química


Principais Bases/álcalis (mais graves): amônia, detergente, cal, soda
substâncias? cáustica
Ácidos: sulfúrico (baterias), vinagre (ácido acético), cloro, limpa­
‑vidros
Quadro clínico? Baixa de acuidade visual, dor importante, queimadura da pele
periocular, edema palpebral e conjuntival
Conduta ƒƒ Irrigação com Ringer lactato por 30-60 min (mínimo 2 L)
imediata? ƒƒ Everter e irrigar fórnices conjuntivais superior e inferior.
Limpá-los com cotonete umedecido para remover resíduos ou
conjuntiva necrótica
ƒƒ Checar pH após 5-10 min de descanso (fita de tornassol –
medidor de pH na urina) e continuar irrigação até pH
neutralizar (entre 7,3 e 7,7)
ƒƒ Nunca promover reação de neutralização acidobásica (reação
exotérmica)

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FIGURA 1  Desepitelização ocular grave (evidenciada pela coloração com


fluoresceína) causada por queimadura com soda cáustica.

PERFURAÇÃO OCULAR E/OU TRAUMA PENETRANTE

TABELA 2  Perfuração ocular e/ou trauma penetrante


Definição? Laceração de espessura total da esclera ou córnea
Histórias Trauma com objeto pontiagudo, objeto pequeno em alta velocidade,
sugestivas? batendo metal contra metal, acidente automobilístico, perda de
sangue ou saída de líquido do olho no momento do trauma,
principalmente se acompanhada de baixa visual
Quadro clínico? Baixa da acuidade visual, hemorragia subconjuntival, hifema,
câmara anterior rasa ou muito profunda, pupila irregular (Figura 2),
tensão oculodigital diminuída, restrição de motilidade ocular
Conduta ƒƒ Internação hospitalar e jejum
imediata? ƒƒ Proteção ocular (copo ou tapa-olho), evitar curativo compressivo
ƒƒ Avaliar necessidade de vacina antitetânica
ƒƒ Antibiótico EV (moxifloxacino 400 mg EV 1 x/dia ou
ciprofloxacino 400 mg EV 12/12 h)
ƒƒ TC de órbita sem contraste (com cortes axiais e coronais de 1
mm) para avaliar se há corpo estranho intraocular (CEIO)

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FIGURA 2  Perfuração corneana próxima ao limbo, com extrusão de íris. Note


a pupila irregular, indicando o local da perfuração.

HEMORRAGIA RETROBULBAR OU RETRORBITÁRIA

TABELA 3  Hemorragia retrobulbar ou retrorbitária


Definição? Sangramento agudo contido na órbita, semelhante à síndrome
compartimental
Principais Trauma contuso, trauma anestésico (complicação da injeção
causas? anestésica retrobulbar), trauma cirúrgico, espontâneas em
pacientes com discrasias sanguíneas, manobra de Valsalva, entre
outras
Quadro clínico? Diminuição da acuidade visual, dor, proptose, aumento da tensão
oculodigital (TOD), restrição da motilidade ocular
Por que é uma Risco de isquemia do nervo óptico
emergência?
Qual o melhor TC de órbita (com ou sem contraste) para avaliar localização,
exame para extensão da hemorragia e fraturas associadas
elucidação
diagnóstica?
Conduta ƒƒ Compressão mecânica do globo ocular
imediata? ƒƒ Agentes osmóticos (manitol 20% – 250 mL EV aberto)
ƒƒ Cantotomia lateral ampla de alívio, para drenagem do sangue

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FIGURA 3  Proptose e aumento da tensão oculodigital aguda em quadro de


hemorragia retrobulbar.

FIGURA 4  Tomografia computadorizada de órbita evidenciando sangramento


retrorbitário à direita.

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818  Seção XIII • Emergências oftalmológicas

LACERAÇÃO PALPEBRAL

TABELA 4  Laceração palpebral


Principais causas? Trauma cortocontuso (estilhaços de vidro em acidentes
automobilísticos), trauma com objetos cortantes, trauma
relacionados à prática esportiva, mordedura de cachorro
Como proceder? ƒƒ Saber história e mecanismo do trauma, avaliar se há lesões
associadas, proceder exame ocular completo
ƒƒ Se suspeita de CEIO (corpo estranho intraocular): USG ocular
ou TC de crânio)
ƒƒ Se lesão palpebral medial: excluir lesões canaliculares (por
meio de irrigação e intubação do canal lacrimal)
ƒƒ Profilaxia contra tétano e raiva, dependendo da etiologia
ƒƒ Se contaminação, ATB (cefalosporina de primeira geração ou
penicilina V em caso de mordedura de animais, por 7 dias)
ƒƒ Lacerações complexas, com perda de tecido, que envolvem os
canalículos: referenciar a serviço de plástica ocular para
realizar procedimento cirúrgico
ƒƒ Lacerações simples devem ser feitas por todos os
oftalmologistas: alinhamento palpebral correto
Complicações? Infecção, deiscência de sutura, triquíase, lagoftalmo

FIGURA 5  Laceração palpebral com perda tissular importante, causada por


mordida de cachorro.

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FIGURA 6  Laceração palpebral medial, com acometimento de canalículo,


evidenciado pela intubação da lesão.

CELULITE PRÉ-SEPTAL

TABELA 5  Celulite pré-septal


Definição? Infecção do tecido subcutâneo anterior ao septo orbitário
Etiologia? S. aureus, S. pyogenes, S. pneumoniae e H. influenzae
Principais fatores Infecção do trato respiratório, trauma, bacteriemia, infecções
de risco? adjacentes
Faixa etária? Pico 0-10 anos e 50-60 anos
Quadro clínico? Unilateral, edema periorbitário, febre, mal-estar e dor à palpação
Atenção: diferentemente da celulite pós-septal (orbitária), NÃO
ocorrem proptose, alteração da motricidade ocular e
comprometimento do estado geral
(continua)

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TABELA 5  Celulite pré-septal (continuação)


Conduta? ƒƒ Avaliar estado geral do paciente e se necessário: solicitar HMG,
VHS e TC de órbita com e sem contraste para excluir outros
diagnósticos
ƒƒ Cefalexina 6/6 h VO – 10 dias: adultos 500 mg. Crianças: dose
diária de 25 a 50 mg/kg em doses fracionadas (suspensão
250 mg em 0,5 mL)
ƒƒ Amoxacilina/clavulanato 8/8 h VO – 10 dias: adultos e
crianças acima dos 12 anos: 250 a 500 mg. Crianças: 20 a
40 mg/kg/dia
ƒƒ Casos mais graves (toxemia, pacientes com dificuldade de
seguimento, crianças menores de 5 anos): considerar
internação hospitalar e tratamento com antibiótico EV e
posterior introdução de antibiótico oral conforme esquema
abaixo:
–– Ceftriaxone 1 a 2 g de 12/12 h para adultos. Para crianças,
100 mg/kg/dia em 2 doses
–– Casos de alergia a penicilina, usar moxifloxacino para
adultos ou vancomicina em casos de resistência bacteriana
do Staphylococcus
–– Retorno semanal para acompanhamento no PS

FIGURA 7  Edema e hiperemia palpebral em quadro de celulite pré-septal.

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CELULITE PÓS-SEPTAL

TABELA 6  Celulite pós-septal


Definição? Infecção do tecido subcutâneo posterior ao septo orbitário
Etiologia? Staphylococcus, Streptococcus, anaeróbios, H. influenza
Principais fatores Sinusite, trauma, infecção dentária, complicação de cirurgias
de risco? orbitárias ou paranasal
Faixa etária? Adultos jovens

Quadro clínico? Rápida queda do estado geral, mal-estar, dor, perda visual, edema com
sinais flogísticos e febre, proptose, dor e restrição à motilidade ocular
Conduta? Figura 8
Complicações? Neuropatia óptica, meningite, abscesso cerebral e septicemia,
oclusão arterial retiniana

Conduta (Figura 8)

Pacientes com quadro de celulite pós-septal

Tomografia de órbita Internação hospitalar Hemograma completo


com e sem contraste + VHS, PCR
ATB empírico, Ev Hemocultura
(ceftriaxona 2 g, 1 x ao Punção lombar, se
dia + metronidazol suspeita de meningite
500 mg a cada 6 horas

Sinusite, sinais Abscesso Monitorar Avaliar alta


de infecção em subperiostal ou diariamente hospitalar em uso
sítio dentário orbitário AV, MOE, PIO, de ATB oral
ou encefálico proptose, FO (amoxacilina +
Piora clavolunato, VO,
500 mg, 8/8
Consultar ORL, cirurgia Considerar horas)
bucomaxilo ou neurocirurgia drenagem cirúrgica

FIGURA 8  AV: acuidade visual; ATB: antibioticoterapia; MOE: motilidade


ocular extrínseca; PIO: pressão intraocular; FO: fundo de olho.

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FIGURA 9  Celulite pós-septal: proptose, restrição de motilidade, sinais flo-


gísticos importantes e queda do estado geral.

DACRIOCISTITE AGUDA

TABELA 7  Dacriocistite aguda


Definição? Inflamação aguda do saco lacrimal, podendo formar ou não
abscesso
Etiologia? Infecciosa, quase sempre relacionada à obstrução do ducto
nasolacrimal
Quadro clínico? Tumefação dolorosa, de instalação rápida, avermelhada e com
edema de partes moles adjacentes, sob o tendão cantal medial, na
topografia do saco lacrimal
Como fazer o História de infecções prévias e concomitantes de ouvido, nariz ou
diagnóstico? garganta. Saída de secreção mucopurulenta pelo ponto lacrimal
quando se produz uma leve compressão na topografia do saco
lacrimal. Avaliar motilidade ocular extrínseca e acuidade visual para
diferenciar de celulite pós-septal. Não realizar sondagem ou
irrigação da via lacrimal durante infecção aguda!
Conduta? Figura 10

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Compressas mornas e massagem


Promover analgesia com AlNE e antibioticoterapia
sistêmica. Considerar incisão e drenagem para abscesso
que esteja flutuando (colher Gram e culturas)

CRIANÇAS: ADULTOS:
O agente etioIógico mais comum é o Os agentes etiológicos mais comuns
estafilococo. Considerar também são o estafiIococo e o pneumococo
Haemophilus influenza. Deve-se
pesquisar sinusite e otite
simultaneamente

Cefalosporinas de 2ª geração CefaIosporinas de 2ª geração (cefaclor


(cefuroxima VO 125 mg de 12/12 h, 500 mg de 8/8 h ou cefurocima
suspensão de 250 mg/5 ml); 500 mg de 12/12 h); cefalosporinas
Cefalosporina de 3ª geração de 1ª geração (cefalexina 500 mg de
(ceftriaxone injetável 25 mg/kg de 6/6 hs); em casos graves ceftriaxone
12/12 h); alternativo: amoxicilina/ 1 g EV/lM de 12/12 h 7-14 dias.
clavulonato 20 a 40 mg/kg/dia em AIternativo: amoxicilina/clavulonato
três doses 500 mg de 8/8 h

*Na maioria das vezes o tratamento é domiciliar com retornos diários até melhora do
quadro.
*Considerar internação hospitalar para antibioticoterapia EV em casos refratários ao
tratamento VO e/ou pacientes com comprometimento do estado geral. SoIicitar
avaIiação via PS da Pediatria ou Clínica Médica conforme o caso. Na melhora do
quadro, agendar cirurgia a curto prazo (dacriocistorrinostomia).
*Após resoIução do quadro agudo, encaminhar o paciente para o ambulatório de
pIástica ocular para avaliar possível obstrução das vias lacrimais e tratamento
adequado.
*Nota: Considerar reaIização de TC órbita e seios paranasais em casos atípicos,
graves ou que não responderam à antibioticoterapia

FIGURA 10  Tratamento da dacriocistite aguda.

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824  Seção XIII • Emergências oftalmológicas

FIGURA 11  Dacriocistite aguda. Tumefação avermelhada e dolorosa na região


do saco lacrimal.

FIGURA 12  Tomografia de órbita evidenciando fratura do assoalho orbitário


à direita.

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FRATURA ORBITÁRIA

TABELA 8  Fratura orbitária


Quadro clínico? ƒƒ Deformidade óssea, dor, hiperestesia no território do nervo
infraorbitário
ƒƒ Edema e equimose palpebral, enfisema, enoftalmo ou proptose
ƒƒ Restrição de motilidade ocular, baixa de visão, diplopia
Conduta? ƒƒ TC de órbita sem contraste (coronal, sagital, axial)
ƒƒ Se edema importante: AINH e compressas frias
ƒƒ Orientar NÃO realizar manobra de Valsalva, assoprar o nariz ou
tossir
ƒƒ Se sinusite associada: avaliação otorrino. Considerar utilização
de ATB específico para vias aéreas superiores
Quando ƒƒ Diplopia
encaminhar para ƒƒ Enoftalmo
o especialista em ƒƒ Encarceramento de músculo ocular (restrição de motilidade)
órbita? ƒƒ Fratura muito extensa

GLAUCOMA AGUDO OU FECHAMENTO ANGULAR AGUDO

TABELA 9  Glaucoma agudo ou fechamento angular agudo


Epidemiologia? Mulheres, asiáticas > brancas > negras, 50-60 anos
Sintomas? Dor ocular importante, baixa visual com visão de halos,
náuseas e vômitos
Sinais? Pupila em médio midríase, hiporreativa, hiperemia
conjuntival, TOD (tensão oculodigital) aumentada
Diagnóstico diferencial? Olho vermelho (Tabela 19)
Conduta imediata? ƒƒ Decúbito dorsal
ƒƒ Manobra de identação com tonômetro ou cotonete
(3 x por 10 s, com intervalo de 10 s)
ƒƒ Acetazolamida 250 mg 2 comp VO
ƒƒ Manitol 20% 250 mL EV
ƒƒ Colírio timolol 0,5% 12/12 h
ƒƒ Colírio tartarato de brimonidina 12/12 h
ƒƒ Colírio prednisolona 1% 2/2 h
ƒƒ Colírio de pilocarpina 2% nos tempos 0’, 30’, 60’ e
depois de 4/4 h

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826  Seção XIII • Emergências oftalmológicas

FIGURA 13  Glaucoma agudo e suas principais características: dor ocular


intensa, diminuição AV; vômitos, náuseas e cefaleia; pupila midríase não
reage à luz; PIO extremamamente elevada; digitopressão.

ENDOFTALMITE

TABELA 10  Endoftalmite


Tipos Pós-operatória (75%) Trauma (20-30%) Endógena (5-7%)
Etiologia 1. Gram + (75-95%) 1. Gram + (60-75%) 1. Fungos (50-62%)
(Stafilo, Strepto) (Stafilo, Strepto) (Candida,
2. Gram – (10%) 2. Bacillus sp. (25%) Aspergillus sp.)
(Pseudomonas, (CEIO) 2. Bacteriana: G+ ou
Klebsiella, Proteus) 3. Fungos (10-15%) G– (bacillus
3. Fungos (raramente) cereus)
4. Cultura – (25-35%)
Fatores Idade > 80 anos; DM2; Solução de Imunossuprimidos;
de risco ruptura capsular; continuidade; CEIO; drogas endovenosas;
facectomia combinada fechamento ocular septicemia; DM2;
com outros procedimentos; tardio; contaminação neoplasia; cateteres
infecções das pálpebras e orgânica centrais; infecções
conjuntiva; bolha filtrante,
trave vítrea na incisão;
Seidel+

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TABELA 11  Endoftalmite


Sintomas? Dor importante, baixa visual
Sinais? Hiperemia conjuntival, quemose, hipópio, secreção, edema
palpebral superior
Diagnóstico diferencial? Olho vermelho (Tabela 19)
Conduta? Encaminhar ao oftalmologista o mais rápido possível. O
tratamento deve ser instituído assim que houver suspeita
clínica de endoftalmite. Em todos os casos, deve-se realizar
coleta de amostra de vítreo, injeção intravítrea (IVT) de
antibiótico, instituição de colírios fortificados e considerar
uso de antibiótico (ATB) via oral. A conduta cirúrgica fica
reservada apenas a alguns casos. Deve-se explicar ao
paciente sobre a gravidade da patologia, bem como sobre
os procedimentos a serem realizados

ƒƒ ATB VO: ciprofloxacino 500 mg 12/12 h por 10 dias ou levofloxacino


500 mg 1 x/dia por 10 dias.
ƒƒ Colírios fortificados manipulados: gentamicina e cefazolina, pingar a
cada 1 h no olho afetado.
ƒƒ Injeção intravítrea: vancomicina + ceftazidima + dexametasona.

FIGURA 14  Endoftalmite pós-operatória. Três dias após cirurgia de catarata,


paciente relata dor importante, baixa visual aguda e vermelhidão ocular.
Observe a presença de pus na câmara anterior (hipópio).

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828  Seção XIII • Emergências oftalmológicas

HIPOSFAGMA (HEMORRAGIA SUBCONJUNTIVAL)

TABELA 12  Hiposfagma


Causas? Trauma mecânico, coçar, tosse, aumento súbito da
pressão venosa (Valsalva), pico hipertensivo, discrasia
sanguínea (AAS) ou pode ser espontâneo
Quadro clínico? Assintomático (sem dor, sem baixa visual, geralmente
percebe ao olhar no espelho)
Diagnóstico diferencial? Olho vermelho (Tabela 19)
Conduta? Expectante

FIGURA 15  Hemorragia subconjuntival poupando apenas parte inferior da


conjuntiva.

CONJUNTIVITE VIRAL (EPIDÊMICA)

TABELA 13  Conjuntivite viral (epidêmica)


Etiologia? Adenovírus (mais comum), enterovírus
Fatores de risco? Acomete qualquer idade, sem predileção por sexo. Geralmente
associada com infecção do trato respiratório superior
(continua)

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TABELA 13  Conjuntivite viral (epidêmica) (continuação)


Quadro clínico? ƒƒ Pode durar 10-21 dias
ƒƒ Sensação de corpo estranho (areia), queimação
ƒƒ Secreção aquosa, hiperemia conjuntival, edema palpebral,
folículos conjuntivais
ƒƒ Linfonodo pré-auricular palpável
ƒƒ Geralmente inicia em um olho, acometendo o outro após
alguns dias
Conduta? ƒƒ Colírios lubrificantes (se utilizados mais do que 5 x/dia, dar
preferência àqueles sem conservantes)
ƒƒ Compressas frias várias vezes por dia (água filtrada, chá de
camomila, soro fisiológico)
ƒƒ Orientações de higiene e cuidados para evitar contaminação e
transmissão
ƒƒ Em caso de pseudomembranas: retirada mecânica com
cotonete ou pinça sob anestesia tópica; introduzir corticoide*
de baixa penetração cameral, como fluormetolona (Florate®),
loteprednol (Alrex® ou Loteprol®) 6/6 h ou 8/8 h e retorno no
PS-Oftalmo a cada 2-3 dias para reavaliações e novas
remoções, até cessar o processo

FIGURA 16  Hiperemia e folículos conjuntivais inferiores, típicos da conjun-


tivite viral epidêmica.

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830  Seção XIII • Emergências oftalmológicas

CONJUNTIVITES NEONATAIS

TABELA 14
Tempo de Etiologia? Quadro clínico? Conduta?
evolução?
< 24 h Conjuntivite Conjuntivite Observação (melhora em
química (nitrato purulenta 48 h)
de prata) moderada
< 1 semana Neisseria Conjuntivite Internação
gonorrheae purulenta grave, Coletar secreção (Gram e
ƒƒ Anamnese: via pode ter cultura)
de parto, perfuração Ceftriaxone 25 a 50 mg/kg EV
sintomas ocular ou IM, dose única
ginecológicos Avaliação pediátrica (artrite?
maternos meningite? sepse?)
TTO dos pais
Avaliação do serviço social
1 a 2 semanas Chlamydia Secreção Eritromicina VO 50 mg/kg/dia
trachomatis mucoide 6/6 h por 10-14 dias
ƒƒ Anamnese: via Coletar secreção (Gram e
de parto, cultura)
sintomas Avaliação pediátrica
ginecológicos (pneumonia febril?)
maternos TTO dos pais
Avaliação ORL (avaliar se há
otite)

FIGURA 17  Secreção conjuntival purulenta em recém-nascido.

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OUTRAS CONJUNTIVITES

TABELA 15  Outras conjuntivites


Conjuntivite bacteriana (não Conjuntivite gonocócica
gonocócica)
Etiologia e fatores Staphylococcus aureus (em Neisseria gonorrheae
de risco? todas as faixas etárias),
Streptococcus pneumoniae
e Haemophilus influenzae
(mais comuns em crianças)
Quadro clínico? Agudo. Hiperemia, sensação Hiperaguda, 1-4 dias após
de corpo estranho, secreção nascimento. Secreção purulenta
mucopurulenta leve a grave, edema palpebral, papilas
moderada, reação papilar; conjuntivais, quemose acentuada,
linfonodo pré-auricular adenopatia pré-auricular
ausente
Exames Não são necessários de Raspados conjuntivais para
laboratoriais? rotina coloração Gram imediata e para
cultura
Conduta Colírio de antibiótico Tratamento (se Gram mostrar
específica? (quinolonas de amplo diplococos intracelulares G- ou se
espectro – Oflox ou Cipro) alta suspeita):
4 x/d por 5 a 7 dias 1. Ceftriaxone 1 g IM, dose única.
* Em crianças, usar Se envolver córnea: internação
tobramicina para ceftriaxone 1 g EV
* Não utilizar ATB de 4a 2. Colírio de ciprofloxacino 2/2 h
geração (reservar para (ou gati/moxifloxacino 1/1 h se
ceratites infecciosas e envolve córnea)
profilaxia pós-cirúrgica) 3. Tratar os parceiros sexuais com
ATB orais para gonorreia e
clamídia. Seguimento diário até
melhora consistente

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832  Seção XIII • Emergências oftalmológicas

FIGURA 18  A e B Conjuntivite bacteriana. Hiperemia e secreção conjuntival


abundante e purulenta.

TABELA 16
Conjuntivite alérgica Ceratoconjuntivite vernal/atópica
Etiologia e Alérgenos desencadeantes. Mecanismos imunomediados (IgE e
fatores de risco? Histórico de alergias celular). Meninos, primeira década de
vida. Atopia
Quadro clínico? Prurido, secreção aquosa, Bilateral. Recorrência. Prurido, que
associado a espirros e pode estar associado a
coriza. Edema palpebral, lacrimejamento, fotofobia, secreção
quemose e reação papilar mucoide espessa. Papilas conjuntivais
leve grandes no tarso superior ou limbo.
Úlcera em escudo; pontos de Horner­
‑Trantas; punctata superficial
(continua)

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84 • Emergências oftalmológicas  833

TABELA 16  (continuação)


Conjuntivite alérgica Ceratoconjuntivite vernal/atópica
Exames Não são necessários Não são necessários
laboratoriais?

Exames Eliminar agente Como conjuntivite alérgica. Orientar


laboratoriais? desencadeante seguimento ambulatorial para
Leve: lubrificante; tratamento profilático
Moderado: anti­‑histamínicos Se úlcera em escudo: corticoide,
e/ou estabilizadores de antibióticos tópicos; retorno 1-3 dias;
mastócitos remoção da placa de fibrina
Grave: associar corticoide
tópico leve por 1 semana

FIGURA 19  Ceratoconjuntivite atópica. Presença de papilas gigantes em


conjuntiva superior. Reação de hipersensibilidade tipos I e IV.

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834  Seção XIII • Emergências oftalmológicas

DESCOLAMENTO DE RETINA REGMATOGÊNICO

TABELA 17  Descolamento de retina regmatogênico


Fatores de risco? Alta miopia (> –5,00 dioptrias), trauma (principalmente contuso),
cirurgia ocular prévia, história familiar, degenerações periféricas da
retina (lattice) e do vítreo
Quadro clínico? Baixa visual súbita e indolor, precedida ou não por fotopsias
(flashes de luz), visão de “cortina fechando”, moscas volantes,
defeitos de campos visual
Conduta? Há urgência na indicação cirúrgica. A recuperação funcional está
relacionada ao tempo de descolamento macular. Usualmente, não
há necessidade de internação. Solicitar avaliação com
oftalmologista para mapeamento de retina o mais rápido possível
para indicação do tratamento adequado

FIGURA 20  Descolamento de retina inferior, associada à rotura retiniana.

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NEURITE ÓPTICA

TABELA 18  Neurite óptica


Causas? Mais comuns: idiopática e esclerose múltipla (EM)
Outras causas: neuromielite óptica, vasculites, infecções bacterianas e
virais (lues, TB, herpes, Lyme)
Faixa etária? 18 a 45 anos
Quadro Redução aguda da acuidade visual (horas a dias), geralmente visão
clínico? central, unilateral (mais comum no adulto) ou bilateral (principalmente
crianças); dor ocular com piora à movimentação ocular
Conduta ƒƒ No PS, realizar TC de órbitas (com e sem contraste) para descartar
causa compressiva de neuropatia óptica (pode simular neurite)
ƒƒ Internação
ƒƒ Realizar RM de encéfalo e RM de órbitas (sem e com contraste, com
cortes para nervo óptico, com supressão de gordura)
ƒƒ Colher: hemograma, glicemia, FAN, FR, Anti-Ro, Anti-La,
antifosfolípide, anticardiolipina, VHS, PCR, VDRL, FTA-Abs, anti-HIV,
herpes
ƒƒ Colher liquor: com manometria, quimiocitológico e sorologias
ƒƒ Solicitar avaliação da neurologia quando houver perda visual grave
ou associação de sintomas e sinais clínicos e neurológicos
sistêmicos (parestesias e perda de força em membros)
ƒƒ Iniciar anti-helmíntico: albendazol 400 mg VO (dose única por 3
dias; contraindicado em gestantes) e metilprednisolona 1 g/dia EV
por 3 dias (iniciar corticoide só após 24 h do início do albendazol)
ƒƒ Alta com prednisona 1 mg/kg/dia por 11 dias
ƒƒ Encaminhar para neuro-oftalmologia e/ou neurologia e
seguimento com campo visual

SÍNDROME DO OLHO VERMELHO


ƒƒ Olho vermelho é uma das principais queixas no atendimento do pron-
to-socorro de Oftalmologia. É importante para o médico emergencis-
ta diferenciar as principais causas.

Manual de Medicina de Emergencia.indb 835 21/03/18 16:58


836  Seção XIII • Emergências oftalmológicas

TABELA 19  Síndrome do olho vermelho


Conjuntivite Conjuntivite Úlcera de Fechamento Uveíte
viral bacteriana córnea angular agudo anterior
Secreção Aquosa Purulenta Purulenta Ausente Ausente
Visão Conservada Conservada Diminuída Baixa Baixa visual
ou pouco ou pouco importante da moderada
diminuída diminuída visão
Dor Sensação Sensação Moderada a Intensa Moderada a
de corpo de corpo intensa intensa
estranho estranho
Hiperemia Difusa Difusa Pericerática Pericerática Pericerática
Córnea Normal ou Normal Áreas Turva (edema Transparente
infiltrados opacificadas de córnea)
Pupilas Normal Normal Normal Mediomidriose Miose

FIGURA 21  Olho vermelho. Uveíte anterior. Observe hiperemia conjuntival


pericerática (ao redor do limbo).

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84 • Emergências oftalmológicas  837

FIGURA 22  Olho vermelho. Úlcera de córnea em paciente usuário de lente


de contato. Observe a córnea opacificada.

FIGURA 23  Olho vermelho. Laceração palpebral.

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838  Seção XIII • Emergências oftalmológicas

FIGURA 24  Olho vermelho. Triquíase, em que alguns cílios tocam a córnea
e causam irritação ocular.

FIGURA 25  Olho vermelho. Conjuntivite gonocócica hiperaguda.

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84 • Emergências oftalmológicas  839

FIGURA 26  Olho vermelho. Pterígio.

FIGURA 27  Olho vermelho. Corpo estranho corneano.

FIGURA 28  Olho vermelho. Hifema (sangue na câmara anterior) traumático.

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840  Seção XIII • Emergências oftalmológicas

FIGURA 29  Olho vermelho. Ceratite herpética (herpes simples).

FIGURA 30  Olho vermelho. Hemorragia subconjuntival.

FIGURA 31  Olho vermelho. Hordéolo (terçol).

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84 • Emergências oftalmológicas  841

LEITURA SUGERIDA
1. Alvez MR, Nakashima Y, Tanaka T. Clínica oftalmológica – condutas práticas em of-
talmologia. Hospital das Clínicas FMUSP. São Paulo: Guanabara Koogan; 2013.
2. Abucham JZ, Torricelli AA. Manual de condutas pronto-socorro – clínica oftalmoló-
gica. Hospital das Clínicas FMUSP. São Paulo; 2011.
3. Bowling B, Kanski JJ. Oftalmologia clínica – uma abordagem sistêmica. 7. ed. São
Paulo: Elsevier Campus; 2012.

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