Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Definição: hálux valgo (desvio lateral do hálux) é uma deformidade complexa e irreversível do primeiro raio, com varismo do
1º MTT, valgismo do hálux, formação do joanete (hipertrofia bursal sobre a face medial da cabeça), artrite da 1ª MTTF
podendo haver deformidades dos dedos menores
Joanete ou bunion: proeminência óssea medial, correspondendo à cabeça do 1º MTT, podendo haver exostose verdadeira,
ou somente hipertrofia de partes moles, com presença de Bursa.
Epidemiologia
Mulheres acima de 50 anos, ♀9:1♂
Geralmente bilateral
40% apresentam comprometimento do 2º dedo, como garra e MTTalgia
Anatomia
Estabilidade da MTTF é mantida primordialmente por partes moles, como os ligamentos colaterais medial e lateral, as duas
cabeças do tendão adutor e o tendão abdutor do hálux
Estruturas laterais:
o Ligamento colateral lateral: do tubérculo lateral da cabeça MTT até o tubérculo lateral da base da FP
o Ligamento suspensor lateral MTTsesamóide: do tubérculo lateral da cabeça do MTT até a margem lateral do
sesamóide lateral
o Ligamento transverso MTT profundo: do sesamóide lateral à placa plantar do 2º MTT
o Tendão do músculo adutor do hálux: inserção variável entre o sesamóide lateral e a FP
Cabeça oblíqua: base do 2º, 3º e 4º MTT
Cabeça transversa: cabeça do 3º, 4º e 5º MTT
Estruturas plantares:
o Ligamentos sesamoidefalangianos curtos, lateral e medial: conectam a porção distal de cada sesamóide à base da
FP, fazendo parte da inserção distal das duas cabeças do flexor curto do hálux (corresponde à placa plantar)
o Cápsula articular plantar
o Tendão flexor longo do hálux: atravessa o sulco entre os sesamoides
o Aponeurose plantar: auxilia na estabilização dorsal por inserir-se na cápsula e base da FP
Estruturas mediais:
o Ligamento colateral medial:do tubérculo medial da cabeça do MTT até o tubérculo medial da base da FP
o Ligamento suspensor medial MTTsesamoide: do tubérculo medial da cabeça do MTT até a margem medial do
sesamóide medial
o Tendão do abdutor do hálux: insere-se plantar e medial da cápsula MTTF
Estruturas dorsais:
o Tendões dos mm extensores do hálux:
Curto: lateralmente, na base da FP
Longo: medialmente, na base da FD
o Cápsula articular dorsal
Etiopatogenia
Etiologia
Etiologia multifatorial: predisposição genética, uso habitual de calçados inadequados, deformidades do mediopé e retropé,
desequilíbrio neuromuscular e frouxidão ligamentar.
Deformidade vem de fatores adquiridos, porém a presença de hereditariedade implica em fator genético importante
Os fatores que levam ao aparecimento do hálux valgo podem ser extrínsecos ou intrínsecos
Patogenia
Ainda é controverso sobre qual deformidade é a lesão essencial do hálux valgo: MTT primum varo ou desvio lateral do hálux.
Evidências apontam para o desvio do hálux como lesão inicial (Campbell). Sizínio fala o contrário.
Quando a deformidade inicia, tende a progredir, pois os tendões agem como forças deformantes
Formação do Valgismo
Achatamento da Extensor do
Varismo do 1º Valgismo do joanete Subluxação dos excessivo leva à
crista plantar hálux age como
MTT hálux (saliência sesamoides pronação do
intersesamoide adutor
medial) hálux
O ângulo entre os metatarsais mediais torna-se maior que 9°, levando ao pé espraiado, com surgimento do joanete pelo
atrito com o calçado
O ângulo de valgo metatarsofalangeano (AMF) torna-se maior que 15°
Se o AMF exceder 30°, resulta em pronação do hálux, que torna o abdutor
do hálux mais plantar
O único restritor medial passa a ser o ligamento capsular medial, com sua
porção capsulosesamoide e capsulofalangeana
O adutor do hálux puxa o hálux mais para valgo, estirando a cápsula medial
Aumentam momento de valgo da MTF: FCH, FLH, adutor e ELH
A crista plantar da cabeça do metatarso se achata pela pressão do
sesamoide tibial, permitindo ao sesamoide fibular desviar parcial ou
completamente para o primeiro espaço intermetatarsal, diminuindo carga sobre o
primeiro raio, o que aumenta a chance de metatarsalgia de transferência,
calosidades e fraturas de estresse nos metatarsos menores.
A energia de valgização afasta as cabeças dos MTT, mas não afasta os sesamoides da cabeça do 2º MTT. Dessa forma, os
sesamoides mantém suas posições e, quando se fala em correção, deve-se levar a cabeça do MTT até eles, e não o inverso
(Sizínio)
Quadro clínico
Dor na face interna da 1ª MTTF, que intensifica com deambulação e uso de calçado inadequado. Outros locais: MTTF 2º, nas
calosidades (plantares e dorsais) e no 3º espaço intermetatarsal.
Inflamação por atrito da face medial da 1ª MTTF, podendo gerar bursite
Deformidade (efeito estético) e calosidades
Exame físico: inspeção estática e dinâmica, palpação e manobras
o Teste da redutibilidade do valgismo do hálux
Prova de McBride, para avaliar o grau de retração das estruturas laterais
Paciente com apoio bipodálico, aplica-se força varizante no hálux
Se não houver contraturas, o dedo se alinha com o MTT em varo
o Manobra para avaliar hipermobilidade da 1ª MTTcuneiforme
Apreensão de ambos os lados da articulação com os polegares e indicadores em pinça,
mantendo-se o tornozelo em neutro
Translação acima do normal indica teste positivo
o Teste de compressão látero-medial nas cabeças dos MTT: teste de Mulder (neuroma)
Achados radiográficos
Raio x de pé: AP e perfil com carga, axial de sesamóides
Parâmetros radiográficos:
Ângulo art. MTT distal (AAMD) Ângulo interfalângico do hálux Congruência da 1ª MTTF Forma da cabeça do 1º MTT Discrepância entre o 1º e 2º MTT
Classificação
Coughlin
Deformidade
Normal Leve Moderada Grave
Ângulo MF < 15° 15 a 19° 20 a 39° > 40°
Ângulo IM < 9° 9 a 11° 12 a 15° > 16°
Deslocamento sesamóide - < 49% 50 – 75% > 75%
Tratamento
Conservador
o AINEs e analgésicos: alívio temporário
o Adequação dos calçados
Câmara anterior ampla, material macio e acolchoado
Se acompanhado de MTTalgia: solado firme (distribuir de forma homogênea a pressão no antepé)
Se acompanhado de talagia: elevação do retropé 3 – 4 cm (diminuir estiramento da cadeia posterior)
o Órteses varizantes e espaçadores interdigitais: não possuem benefício
Cirúrgico
1- Pele: Incisão longitudinal sobre a MTTF (meio da FP até 2 cm proximal à eminência medial)
2- Cápsula: Incisão longitudinal 3-4 mm plantar à incisão na pele (McBride fazia transversa), descola o periósteo e cápsula;
Pode ser feita incisão em forma de L invertido
3- Remoção da eminência medial: exostectomia com osteótomo, regularização das bordas com goiva
4- Liberação do tendão adutor e cápsula lateral: incisão longitudinal dorsal no primeiro espaço, liberação da inserção na base
da FP, liberação da inserção conjunta com a cabeça lateral do flexor curto, secção do ligamento intermetatarsal
transverso (cuidado com feixe neurovascular logo abaixo) e cápsula lateral (Sizínio indica que o ligamento suspensor
lateral MTTsesamoide é a principal estrutura lateral que deve ser liberada)
5- Sesamoidectomia fibular (lateral): possui duas abordagens
a. Dorsal: usa a mesma incisão anterior
b. Plantar: outra incisão longitudinal na face plantar do primeiro espaço
6- Imbricação da cápsula medial: parte plantar fica sobre a dorsal
Osteotomia de Mitchell
Taxa de não-união desprezível, recorrência infrequente
Maior incômodo é a metatarsalgia, atribuida à consolidação viciosa em dorsiflexão, encurtamento excessivo do MTT, ou
ambos
Corrige hálux valgo leve a moderado, pacientes mais velhos
Técnica:
1- Remoção da eminência medial
2- Osteotomia da porção distal da diáfise do 1º MTT (dupla - incompleta distal e completa proximal)
a. Incompleta: mantém 3 – 6 mm de osso lateral
b. Completa: 3 mm proximal à primera
3- Deslocamento lateral e angulação do fragmento capital: encurta o MTT, alinha a superfície articular e relaxa o adutor;
tensiona a sutura com o fragmento capital fletido a 10º plantar
4- Capsulorrafia medial
Osteotomia scarf
Feita no nível diafisário
Estudos cadavéricos confirmam maior estabilidade comparada à chevron proximal ou crescente
Geralmente associada a liberação de partes moles lateral, bunionectomia, capsulorrafia medial e,
ocasionalmente, osteotomia da FP
Indicações: deformidades leves a moderadas
Contra-indicado se houver instabilidade da 1ª MTT-cuneiforme
Sobreposição mínima entre os fragmentos corresponde a 1/3 da largura do MTT
Osteotomia Ludloff
Osteotomia oblíqua de dorsal-proximal para plantar-distal na região proximal do 1º MTT
Fixação com método de compressão permite deambulação precoce
Único corte torna o procedimento mais simples
Indicações: deformidades moderadas
Artrodese da 1ª MTTF
Indicações: deformidade grave, com pronação severa, artrose, recorrência da deformidade, hálux valgo por desequilíbrio
muscular, hálux valgo pós traumático com lesão importante de partes moles mediais, AR
Cortes variam, fixação também (FK, parafuso ou placa)
o Mankey e Mann: placa dorsal
o Kumar: placa dorsal + parafuso de tração (biomecanicamente superior)
o Johnson e Alexander: artrodese com encurtamento da FP + fixação com parafuso de tração
Posição da artrodese: 15° de valgo do hálux e 15 – 20° de dorsiflexão da FP