Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
TASCHNER
A pós-modernidade
PÓS-
e a sociologia
GISELA B. TASCHNER
é socióloga e professora
da FGV-SP.
O
conceito de pós-modernismo, assenta-
do no campo das artes, tem gerado mais
ERN
não há consenso sobre ele ou sobre sua utilidade: a pós-
modernidade aparece ora como um momento que suce-
MOD
O objetivo deste artigo é – sem ter qualquer
PÓS-MODERNIDADE E MODERNIDADE
NID
era passada pagã.
res geradas pelas relações de produção bem depois, os shopping centers) ganha- 9 K. Mannheim, Ideologia y Uto-
pia, trad. esp. da versão ingle-
capitalista. ram grande realce, embalando as recém- sa de 1954, Madrid, Aguilar,
A diferenciação (assim como suas con- nascidas técnicas de sedução dos possíveis 1966.
seqüências) aparece aqui também, no de- consumidores. O desenvolvimento do 10 No sentido atribuído a esse
termo por Thomas S. Kuhn: A
senvolvimento dessas relações, através da marketing e da propaganda ajudava a redu- Estrutura das Revoluções Cien-
tíficas, trad. port. da edição
subordinação não só formal, mas também zir o gargalo que se formava na realização americana de 1969, São Pau-
real, do trabalho ao capital, a qual, junto do valor, no processo de reprodução am- lo, Perspectiva, 1991 (1a edi-
ção americana 1962,
com o crescimento das empresas e de seus pliada do capital (no sentido desse concei- University of Chicago Press).
mercados, vai formando uma sociedade to em Marx) (12). 11 W. Leach, Land of Desire, New
burguesa e um modo especificamente ca- Passou-se a buscar um “homem médio” York, Vintage, Random House,
1994 (1a ed. 1993).
pitalista de produção (8). O socialismo ci- como alvo para consumir uma produção de
12 Cf. O Capital, op. cit., Livro 2 .
entífico emerge no horizonte como a uto- bens de consumo padronizados; e na estei-
13 E. Morin,Cultura de Massas no
pia – no sentido mannheimiano (9) do ter- ra da publicidade, desenvolveu-se uma Século XX – o Espírito do Tem-
mo – que pode superar as contradições e cultura de massas. Segundo Morin (13), po, trad. port. do original fran-
cês de 1962, Rio de Janeiro e
problemas dessa sociedade. seria uma cultura – pensada em termos mais São Paulo, Forense, 1969.
Lyotard é que não há uma razão, há razões, lismo tardio. 47 D. Kellner, op. cit., p. 253.
Ele desenvolve depois esse ar-
não há uma História, há histórias. Isso apa- Inspirando-se na periodização de gumento, tentando qualificar as
narrativas em grupos distintos
rece mais claramente na entrevista que ele Mandel – capitalismo de mercado, capita- e especificar suas concordân-
concedeu após ter escrito A Condição Pós- lismo monopolista (ou imperialismo) e cias e discordâncias em rela-
ção a Lyotard. Mas isso está
moderna (48). capitalismo tardio (ou multinacional ou do fora do escopo deste trabalho.
Finalmente, se em Lyotard a pós-mo- consumidor) – Jameson caracteriza esse ter- 48 Jean-François Lyotard, entrevis-
dernidade aparece em alguns momentos ceiro estágio do capitalismo como a forma ta a Theory, Culture and
Society, vol. 5, nr 2-3, 1988,
como uma época específica, como vimos mais pura de capital, como a expansão pro- pp. 227-309.
em algumas passagens acima, em outros digiosa do capital para áreas até então não 49 Idem, ibidem, p. 237.
ela aparece não como “o fim do modernis- sujeitas à mercantilização. 50 Frederic Jameson,“Postmod-
mo”, mas como “uma outra relação com o Jameson trabalha sobre a idéia frank- ernism or the Cultural Logic of
Late Capitalism”, in New Left
modernismo” (49). furtiana da expansão da lógica mercantil Review, 146, 1984, p. 57.