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BIBLIOTECA PIONEIRA DE CIÊNCIAS SOCIAIS

PSICOLOGIA

Aconselhamento Psicológico & Psicoterapia

Auto-afirmação - um determinante básico

OSWALDO DE BARROS SANTOS

Conselho Diretor:
Anita de Castilho e Marcondes Cabral
Nelson Rosamilha
Oswaldo de Barros Santos

In memorian:
Dante Moreira Leite

LIVRARIA PIONEIRA EDITORA São Paulo

Capa:
Jairo Porfírio

1982

Todos os direitos reservados por


ENLO MATHEUS GUAZZELLI & CIA. LIDA. 02515 - Praça Dirceu de Lima,
313 Telefone: 266-0926 - São Paulo

índice

Introdução. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
PARTE I VISÃO GLOBAL DOS PROCEDIMENTOS ORIENTADORES E
TERAPÊUTICOS

1. Diagnóstico, Orientação, Aconselhamento e Psicoterapia .. . . . . . . . . . . .

O longo caminho: do diagnóstico para a assistência psicológica. O uso de


testes psicológicos. Orientação, aconselhamento e psicoterapia.

2. Métodos Centrados no Contexto Sócio-Cultural. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .


Fundamentos. Procedimentos comuns. Técnicas específicas.

3. Procedimentos Centrados no Contexto Pessoal. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .


Fundamentos. Procedimentos comuns. Técnicas específicas.

4. Métodos Mistos e Métodos Centrados no Problema. " . . . . . . . . . . . . . .

Fundamentos. Procedimentos comuns. Técnicas específicas.


Aconselhamento e terapia em processos de grupo.

5. A Revolução Rogeriana no Campo do Aconselhamento Psicológico e da


Psicoterapia . . .
Síntese histórica. Idéias básicas e originais. As condições terapêuticas
essenciais. Evolução das idéias: o experienciar e as atuações em grupo.

PARTE 11 OBSERVAÇÕES PESSOAIS

6. Hipótese Sobre a Auto-Afirmação Como Determinante Básico do


Comportamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Resultados de terapia e fundamentos para uma nova hipótese. Seria possível
um neo-rogerianismo? A motivação e os determinantes do comportamento. A
auto-afirmação como motivo básico e emocionalmente preponderante.

7. A Personalidade e a Auto-Afirmação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

O Eu Pessoal, o Eu Social e a emergência da auto-afirmação. A ocorrência


patológica. Neurose e significado da vida. Valores sociais e a auto-afirmação.
Perspectivas humanísticas e filosóficas.

8. Contribuições à Terapia Psicológica. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ..


Objetivos básicos: desenvolvimento pessoal e psicoterapia. Metodologia
psicoterápica: a dinâmica do processo.

PARTE III
APLICAÇÕES EM SITUAÇÕES ESPECIAIS

9. Filhos e Alunos Difíceis. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .


Como ocorrem os problemas. Medidas gerais.

10. Ações Preventivas na Educação, na Família e no Trabalho. . . . . . . . . . . ..

11. A Vida na sua Terceira Fase: a Valorização do Idoso. . . . . . . . . . . . . . . .


Técnicas de orientação e psicoterapia

Referências bibliográficas. . . . . ., . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ..
English-abstract . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

Introdução

Os métodos, técnicas ou modelos de atuação, originários de atitudes naturais


ou de comportamentos direcionados, freqüentemente usados para ajudar as
pessoas com problemas psicológicos, são extremamente variados; dependem de
concepções filosóficas e sociais, como, igualmente, dos recursos situacionais,
profissionais, éticos e operacionais. Ademais, as ciências do comportamento
colocam dúvidas e interrogações sobre os efeitos dos procedimentos orientadores
ou terapêuticos em virtude de pesquisas pouco elucidativas.
Os conceitos e as indicações ou lembretes existentes neste livro resultam, de
um lado, de informações bibliográficas e, de outro, de observações e inferências
pessoais que, em muitos anos, logramos realizar. É uma ligeira coletânea de
posições teóricas e da metodologia correspondente, seguida de uma hipótese
sobre a auto-afirmação como determinante básico do comportamento e, em
conseqüência, de procedimentos e técnicas terapêuticas.
Todas as considerações, sugestões e hipóteses estão francamente abertas à
crítica de todos aqueles que se dedicam ao estudo ou à aplicação prática do
aconselhamento psicológico e da psicoterapia, seja na situação natural e
espontânea dos relacionamentos humanos, seja na situação profissional. O que se
pretende é colocar nossas observações - ainda que falhas ou limitadas - a serviço
desses alvos. Serão especialmente acolhidas as apreciações e contribuições
relacionadas com a proposição original, isto é, com a hipótese de ser a
auto-afirmação o determinante básico do comportamento no plano psicológico.
Agradeço a meus alunos e ex-alunos da Universidade de São Paulo pelo
incentivo e pistas que me ofereceram e aos clientes que _e proporcionaram o mais,
fecundo material para estudos e conclusões. Agradeço, também, às psicólogas
Alice Maria de Carvalho Delitti e Walderez B.F. Bittencourt pela gentileza em rever e
comentar o texto do capítulo 4, oferecendo úteis contribuições.

O.B.S.
PARTE I

VISÃO GLOBAL DOS PROCEDIMENTOS ORIENTADORES E


TERAPÊUTICOS
1 - Diagnóstico, Orientação, Aconselhamento e Psicoterapia

O longo caminho: do diagnóstico para a assistência psicológica

Poucos terão definido tão bem a evolução da Psicologia no plano


operacional, como Rogers (1942) o fez ao examinar sua contribuição ao bem-estar e
à assistência que dela se poderia esperar. Disse o fundador do método centrado na
pessoa que, na década de 1920, o interesse pelo ajustamento do indivíduo era
essencialmente de estilo analítico e de diagnóstico. "Floresceram os estudos de
casos, os testes, os registros e observações e os rótulos de diagnóstico psiquiátrico.
Com o tempo, essa tendência voltou-se da diagnose para a terapia, para a procura
de meios e de processos pelos quais o indivíduo encontre a ajuda de que necessita.
Atualmente, preocupamo-nos mais com a descoberta de recursos terapêuticos mais
efetivos na assistência ao indivíduo. A dinâmica do processo de ajustamento
substitui a longa fase de descrições e rotulações".
Realmente, se nos detivermos no estudo das teorias e das técnicas
psicológicas, parece ser possível inferir que a maioria dos trabalhos psicológicos
era orientada mais no sentido de conhecer a personalidade do que em intervir no
complexo enredo do comportamento humano. As técnicas de diagnóstico tiveram
seu apogeu nos anos de 1920 a 1960. A psicometria e os estudos estatísticos
relacionados com a sensibilidade, a precisão e a validade dos instrumentos de
avaliação psicológica desenvolveram-se de forma sensível dando origem, inclusive,
a um conjunto de normas publicadas, em 1954, pela American Psychological
Association, conseqüência natural do crescente interesse pelos pormenores sobre
os métodos de construção e de aferição de testes. A classificação de reações ou de
sintomas e o relacionamento de traços e de fatores da personalidade era a
tendência dominante. E a psicologia, como estudo e avaliação do comportamento,
passa a ser reconhecida como ciência na medida em que é capaz de prever e
descrever, por testes, questionários, inventarmos e outros recursos, o
comportamento de indivíduos ou de grupos. O próprio comportamento é analisado,
identificado e classificado por idades, sexo, grupos sócio-econômicos ou em
variáveis estatisticamente determinadas. Com Binet, Kuhlmann, Stern, Terman,
Claparede, Spearman e outros, surgem o estudo e a elaboração de testes mentais e
escalas métricas. Os conceitos de idade mental, quociente de inteligência e a
psicometria atingem níveis de alta sofisticação; há preocupações em se desvendar
as "habilidades" primárias ou básicas e têm lugar os estudos fatoriais com
Thurstone, Goodman, Thomson, Vernon, Kelley, Cattell e outros mais; aparecem
famosos testes tais como o "Differential Aptitude Test" , o "California Test of Mental
Maturity" , o "Guilford Zimmerman Aptitude Sorve", o "General Aptitude Test Bater".
Na década de 1940-1950, Wechsler estuda a inteligência e desenvolve as não
menos famosas escalas denominadas W AIS e WISC. Por último, surge a
contribuição de Guilford, baseada em estudos fatoriais pelos quais 120
combinações de habilidades são teoricamente possíveis (Guilford e Hoepfner, 1971)
e os famosos estudos de Piaget sobre o desenvolvimento intelectual da criança. Na
área da personalidade, além do Teste de Rorschach, do M.M.P.I., do T.A.T., do
Teste de Machover surgem notáveis técnicas expressivas tais como o P.M.K. e
inúmeros questionários, provas situacionais e clínicas (Anastasi, 1948, 1957; Van
Kolck, 1975). Esses estudos e trabalhos de mensuração se distanciavam muito dos
procedimentos terapêuticos como se estivéssemos em campos independentes.
O aperfeiçoamento das técnicas de diagnóstico conduziu o Psicólogo a um
conhecimento razoável das reações humanas, mas não lhe ofereceu recursos
suficientes no sentido de manipulá-las. O objetivo fundamental, que seria conhecer
para orientar, prevenir, corrigir, recuperar ou tratar, continuava distante. Ainda
encontramos essa situação em muitos serviços psicológicos: a preocupação com
um bom diagnóstico. Se tal exigência é por vezes necessária, não menos o é a do
estudo dos meios e dos recursos pelos quais possamos ajudar as pessoas
atendidas, por uma razão ou outra, em uma clínica psicológica ou de orientação ou
em um grupo assistencial.
O cenário retratado marca a longa trajetória da Psicologia para seu aspecto
aplicado, assistencial. Professores, chefes, supervisores, orientadores, pais e até
mesmo psicólogos tinham diante de si um quadro, tão perfeito quanto possível, do
ponto de vista descritivo, etiológico, causal, mas poucos sabiam para alterá-lo. O
mais acurado diagnóstico ficava, assim, inoperante, simplesmente porque os
recursos de ajuda, de intervenção, não eram conhecidos ou não aplicados.
A literatura psicológica, farta em técnicas de exame psicológico,
conservou.-se relativamente pobre em estudos e informações sobre procedimentos
para atuação na conduta. Estes se limitavam, principalmente, a manipulações
ambientais, a técnicas de apoio, avisos, recomendações e conselhos. Por outro
lado, em outro universo, desenvolvia-se a Psicanálise com teorias e técnicas delas
derivadas; surgiu a contribuição rogeriana, e brotaram os processos de Skinner bem
como outras teorias e técnicas. A conjunção entre a medida dos fenômenos
psíquicos de um lado e o tratamento desses mesmos fenômenos produziu-se de
maneira lenta e até mesmo hostil como se fossem campos mutuamente exclusivos.
O relacionamento entre a psicometria e a psicoterapia e as preocupações com
solução de problemas psicológicos foram devidos, também, ao considerável impulso
motivacional a partir da II Grande Guerra, quando contingentes imensos de
ex-combatentes precisavam se reintegrar na vida civil. Como assinalam Sundberg e
Tyler (1963), drásticas alterações ocorreram. "Uma nova ênfase nos problemas de
adultos e de crianças desenvolveu-se rapidamente. Os exames de inteligência e de
aptidões continuaram sendo necessários, porém, maior atenção foi dirigida aos
complexos e difíceis campos da personalidade e da motivação. A Psicoterapia
tornou-se a preocupação essencial".

o uso de testes psicológicos

Os testes e as medidas em psicologia remontam aos estudos da psicologia


experimental iniciados por Wundt no século passado, desenvolvidos no começo do
século por Binet e consideravelmente valorizados até a década de 1950-1960,
quando teve início forte tendência contrária a seu uso. As razões que lhes foram
opostas são, em geral, técnico.científicas e filosóficas. As primeiras questionam a
validade técnica das medidas psicológicas e as últimas o direito que teriam as
pessoas de invadir e medir um campo de fenômenos nitidamente pessoais ou de
utilizar os dados obtidos em benefício de grupos ou de instituições, sejam estas
educacionais, políticas ou empresariais.
Parece ao autor que estamos em vias de passar de um modismo psicológico
a outro, ambos impregnados de vantagens e de desvantagens, eis que negar a
existência de testes ou exames é desconhecer a realidade da própria vida. O que se
faz, na verdade, é tentar substituir a avaliação psicométrica por entrevistas e
observações clínicas, mudando-se o método mas não a intenção. A avaliação não
pode, porém, deixar de existir seja por um processo seja por outro. O excessivo
apego a resultados psicométricos sem a devida interpretação do contexto individual
e social foi, e com razão, a origem da resistência aos testes.
O problema do diagnóstico e particularmente dos testes parece concentrar-se
em dois pólos essenciais: 1) a validade das medidas; 2) o uso das medidas obtidas
uma vez comprovada sua validade técnico-científica.
O primeiro ponto parece ser o mais relevante pois, se a medida for precária,
insegura e instável, tudo o mais que dela partir é falso e altamente prejudicial. O
segundo ponto envolve problemas sociais, políticos e essencialmente éticos. Testes
e avaliações sempre existiram e sempre existirão, sob diferentes títulos e calcados
no conhecimento acumulado e na filosofia da época. Nosso problema é aperfeiçoar
as avaliações no seu sentido intrínseco e nas suas implicações culturais, éticas e
terapêuticas.
Quando se coloca o problema do diagnóstico prévio em aconselhamento ou
terapia, podem os testes ser necessários ou não. A tendência atual é esperar que o
diagnóstico ocorra como produto de interação entre psicólogo e cliente e na qual
este atue como participante no seu propalo Julgamento A .pessoa irá ao pouco
firmando sua Imagem e, seu autoconceito. Para fins de pesquisa e para outras
atividades no campo da psicologia, os testes funcionam como medidores ou
indicadores de comportamento e sua utilização é, às vezes, indispensável, desde
que válidos e adequadamente aplicados e Interpretados *
* . No Brasil como no restante do mundo, os testes e técnicas de diagnóstico
também floresceram nas décadas de 1930 a 1950. Vários instrumentos de
avaliação foram elaborados, dentre os quais o Teste SENAI AG-3 e o Teste DEP, a
cargo do autor e de seus colaboradores. Tais testes destinam-se à medida da
inteligência geral, em termos do Fator G.

Orientação, aconselhamento e psicoterapia

Orientar, do ponto de vista psicológico, significa facilitar o conhecimento e a


análise de caminhos ou direções para a conduta, com base em referenciais
pessoais e sociais. Aconselhar, paralelamente, refere-se: ao processo de indicar ou
prescrever caminhos, direções e procedimentos ou de criar condições para que a
pessoa faça, ela própria, o julgamento das alternativas e formule suas opções.
Psicoterapia é o tratamento de perturbações da personalidade ou da conduta
através de métodos e técnicas psicológicas,
É fácil admitir que esses três conceitos, expressos em atuações práticas de
ajuda, estão constantemente se intercruzando, seja nos hábitos e costumes do
dia-a-dia, seja nos processos educacionais ou psicológicos formais e intencionais.
Às vezes, uma simples ação orientadora, em que se facilita o acesso a informações
e se deixa à pessoa decidir por si só, pode ser muito mais eficaz do que um
conselho ou controle da conduta; noutros casos, principalmente em situações de
emergência e de grande ansiedade, um conselho pode ser mais produtivo da que
um demorado processo de orientação ou de terapia; em muitos casos porém,
orientações e conselhos não são suficientes para alterar a conduta, recorrendo à
terapia, como processo mais complexo, mais difícil e mais demorado A efetividade
de uma atuação depende de inúmeros fatores nos quais sobressaem a
personalidade do cliente, as emergências existentes, os recursos disponíveis e
principalmente, os objetivos que se quer atingir e os critérios sociais e filosóficos
que os determinam.
Os conceitos de orientação e de aconselhamento, vistos pelo lado de seus
efeitos, têm variado ao longo da história. Já dizia Sócrates quatro séculos antes de
Cristo: "Conhece-te a ti mesmo", conceito que parece se renovar no posicionamento
atual da linha existencialista e rogeriana, e que com algumas alterações de forma e
de conteúdo vem prevalecendo através dos tempos. Todavia, há pensamentos
diferentes,
Williamson (1939), um dos pioneiros do movimento acadêmico de
Orientação, identificava, em certos aspectos, o aconselhamento com a Educação,
considerando que "à parte da moderna Educação referida como aconselhamento é
a que se refere a processos individualizados e personalizados, destinados a ajudar
o indivíduo a aprender matérias escolares, traços de cidadania, valores e hábitos
pessoais e sociais e todos os outros hábitos, habilidades, atitudes e crenças que
irão constituir um ser humano normal e ajustado'" , .
Como uma das grandes expressões no campo do aconselhamento, Rogers
(1942, 1951) não se preocupa em estabelecer conceitos e definições, De toda sua
obra, porém, se depreende que o aconselhamento é um método de assistência
psicológica destinado a restaurar no indivíduo> suas condições de crescimento e de
atualização, habilitando-o a perceber, sem distorções, a realidade que o cerca e a
agir, nessa realidade, de forma a alcançar ampla satisfação pessoal e social.
Aplica-se em todos os casos em que o indivíduo se defronta com problemas
emocionais, não importando se se trata de doenças ou perturbações não
patológicas. O aconselhamento consiste em uma relação permissiva, que oferece ao
indivíduo oportunidade de compreender a si mesmo e a tal ponto que a habilita a
tomar decisões em face de suas novas perspectivas, O cliente passa a se dirigir
através da liberação e reorganização de seu campo perceptual. A orientação
rogeriana afetou profundamente os princípios e os métodos até então existentes, e
em face dessa repercussão dedica este livro um capítulo especial (Cap. 5) à obra
desse psicólogo,
Para Robinson (1950), baseado principalmente nas técnicas de
comunicação, e originariamente colega de Rogers, o aconselhamento é a atuação
que "cobre todos os tipos de situações de duas pessoas, na qual, uma delas, o
cliente, é ajudado a ajustar-se mais eficazmente a si propalo e a seu melo", Sua
técnica principal é a comunicação, através de entrevistas cuidadosamente
conduzidas e testadas de momento a momento, que facilitam a tomada de decisões
e atuam terapeuticamente.
De ponto de vista dos efeitos da relação ocorrida no processo de
aconselhamento, Pepinskye Pepinsky (1954) os definem como resultantes da
interação que ocorre entre dois indivíduos, conselheiro e cliente, sob forma
profissional, sendo iniciada e mantida como melo de facilitar alterações no
comportamento do cliente.
Hahn e Maclean (1955), representantes, como Williamson, da corrente
clássica de aconselhamento, dão ênfase ao processo de diagnóstico e tomam o
aconselhamento no sentido de informações prestadas ao cliente sobre alternativas
que se oferecem na solução de seus problemas. Há casos, dizem esses autores,
sobre os quais o cliente precisa ser instruído! Há fatos que precisa conhecer; há
aprendizagem a ser realizada.
Patterson (1959) é de opinião que o aconselhamento pode ser focalizado em
termos de áreas de problemas (educacionais, vocacionais, conjugais, etc.), assim
como em termos de ajustamento pessoal ou mesmo terapêutico. Segundo esse
mesmo autor, o aconselhamento não se limita a pessoas normais; aplica-se ao
excepcional, ao anormal ou ao desajustado; manipula as tendências adaptativas do
indivíduo a fim de que este possa usá-los efetivamente.
Shoben (1966), analisando as implicações científicas e filosóficas envolvidas
nos processos de assistência psicológica, afirma que do ponto de vista educacional
e clínico, há dois alvos: o primeiro é ajudar o estudante ou o paciente a desenvolver
suas capacidades para aperfeiçoar sua auto-avaliação "sem, necessariamente, se
determinar o conteúdo de suas conclusões". Um segundo alvo, de certa forma
contraposto ao primeiro, é o de se recusar ajuda técnica sempre que esta possa ser
solicitada num contexto que venha violar os princípios intrínsecos do valor pessoal.
Na corrente comportamentista, encontramos Bijou (1966) afirmando ser "o
objetivo final do aconselhamento ajudar o cliente a lidar mais eficazmente com seu
melo e a substituir o comportamento mal ajustado pelo ajustado". "Parece claro, do
ponto de vista da análise experimental do comportamento, que uma das mais
eficientes formas de produzir as alterações desejáveis é pela modificação direta das
circunstâncias que as suportam, e um dos meios mais efetivos de manter essas
alterações é organizar um melo que continue a suportá-las." A aplicação das leis de
aprendizagem é o melo pelo qual se adquire comportamentos desejáveis.
Krumboltz (1966), da corrente comportamentista, coloca os alvos do
aconselhamento na mesma direção dos psicólogos contemporâneos. Segundo seus
conceitos, "orientadores e psicólogos dedicam-se a ajudar as pessoas a resolverem
mais adequadamente certos tipos de problemas. Alguns desses problemas
relacionam-se com importantes decisões escolares e profissionais, tais como: Que
curso devo fazer? A que profissão devo me dedicar? Outros problemas se
relacionam com dificuldades pessoais, sociais e emocionais, tais como: Como
posso salvar meu casamento? Como poderei suportar esses horríveis sentimentos
de ansiedade, solidão e depressão? Como deverei agir para fazer valer meus
direitos? Como posso relacionar-me melhor com os outros?" A essas questões o
conselheiro acrescenta outras: Como se conceituam os problemas? Como colocar
alvos? Que técnicas serão úteis para atingir esses alvos? Como avaliarei meu
propalo trabalho? Tais questões são tão familiares e nos apegamos tanto a elas que
os novos procedimentos (refere-se ele ao método comportamental) podem justificar
uma verdadeira revolução no aconselhamento
A posição européia, notadamente à francesa, face ao aconselhamento
psicológico, é bem diferente da americana. Piéron (Nepveu, 1961), em um de seus
últimos trabalhos, dizia que os métOdos americanos aproximam-se muito da
Psicanálise e que a concepção francesa e a americana divergem muito no juízo que
fazem sobre o papel do conselheiro. "No regime americano, onde a educação não
tem caráter nacional e onde a tendência geral é a de favorecer em tOdos os
domínios as iniciativas individuais. o conselheiro se aproxima muito do
psicoterapeuta; dirige-se a 'clientes' e não participa, de modo algum, dos problemas
gerais da educação, nem se preocupa em participar de uma obra coletiva. Na
França, ao contrário, tem-se procurado reduzir, ao máximo, a comercialização em
matéria de Orientação. Esta, que tende a se integrar, cada vez mais, na obra
nacional de educação, não visa satisfazer clientes, mas a servir os interesses dos
Jovens encarando o seu futuro..."
Embora haja movimentos renovadores, Nepveu pareceu exprimir bem a
tendência na época dominante na França e, talvez, na Europa quando, analisando os
métodos de Rogers, de Super e de Bordin e baseando-se em contribuições
européias de Nahoum, Delys e de outros, afirma que uma das atitudes correntes é o
"conselheiro adotar uma atitude de peritO, ou de amigo desinteressado".
"Esforça-se em compreender os problemas e as pessoas, em prever uma certa
possibilidade de êxito, em formular conselhos adequados, bem-vindos e liberais".
Não obstante algumas controvérsias, o aconselhamento psicológico parece
ter tOmado corpo e expressão na década de 1950-1960. De acordo com relatO de
Super (1955), "essa nova expressão resultou do consenso geral de um grande
número de psicólogos reunidos no Congresso Anual da American Psychological
Association, em 1951, na Northwestern University". O "Counseling Psychology"
substitui os antigos conceitos e métodos, originários da orientação profissional,
modelada por Parsons e seus seguidores, pela idéia de um trabalho mais sensível à
"unidade da personalidade, mais sensível às pessoas do que aos problemas, pois
que a adaptação a um aspecto da vida está em relação com todos os outros". "O
novo movimento encerra dados teóricos e técnicos da psicoterapia, inclui orientação
profissional e ocupa-se, sobretudo, do indivíduo como pessoa, procurando ajudá-lo a
adaptar-se com sucesso aos vários aspectOs da vida. Os conselheiros ou
orientadores, nesse novo ponto de vista, ocupam-se de pessoas normais podendo
cuidar, ainda, daquelas que apresentam deficiências e são mal ajustados, porém, de
uma maneira diferente daquela que caracteriza a Psicologia Clínica".
Stefflre e Grant (1976), ao escreverem sobre aconselhamento psicológico,
chegam a algumas considerações que parecem exprimir a dimensão hoje
dominante: a) "a definição de aconselhamento depende dos diferentes pontos de
vista das autoridades no assunto. Essas diferenças têm origem em diferentes pontos
de vista filosóficos..."; b) "não se pode fazer uma distinção muitO clara e precisa
entre aconselhamento e psicoterapia"; c) "o aconselhamento é uma forma
deliberada de intervenção na vida dos clientes". Esse mesmo autor classifica o
aconselhamento em quatro diferentes posições ou "sistemas", baseado em quatro
diferentes teorias: a) Teoria do traço-fatOr, segundo a qual a mudança do
comportamento "depende do conhecimento que o cliente tenha de informações"; b)
Teoria centrada no cliente, pela qual o comportamento é modificado pela
"reestruturação do campo fenomenológico"; c) Teoria comportamental, segundo a
qual, após um diagnóstico da situação, determina-se os comportamentos a serem
extintos ou reforçados; d) Teoria psicanalítica, que se propõe' 'claramente a uma
redução de ansiedade na crença de que daí resulte um comportamento mais flexível
e discriminador".
Para Rollo May (1977), o campo do aconselhamento situa-se entre os
problemas da personalidade, para os quais há necessidade de um terapeUta e o_
problemas de imaturidade ou de carência de instrução, para os quais há
necessidade de um educador.
Uma revisão de alguns textos sobre aconselhamento, aliada a nossa própria
experiência, poderia nos levar às seguintes considerações:
1. A orientação, o aconselhamento psicológico e a psicoterapia não são
meros procedimentos técnicos ou operacionais. Subjacente a eles há todo um
arcabouço de posições filosóficas operantes tanto no terapeuta ou 'conselheiro.
como nas pessoas assistidas, o que estabelece marcantes diferenças entre a
psicologia e outras ciências humanas. Mesmo na posição clássica de liberdade e de
não-diretividade há, por parte do psicólogo, uma deliberada e consciente postura
filosófico-social. Noutro extremo, em que o conselheiro visa instalar um
comportamento específico, há, igualmente, um papel social idealizado.
2. O posicionamento conceitual do orientador, conselheiro ou terapeuta flutua,
em geral, entre três premissas: a) o homem é um produto predominantemente social;
possui impulsos naturais, bons ou maus, que precisam ser canalizados para um tipo
de sociedade na qual nos localizamos e que nos assegura a sobrevivência e o
bem-estar; b) o homem é suficientemente capaz de decidir por si mesmo e escolher
as ações mais. adequadas para si propalo e p?ra os outroS desde que sejam
criadas condições facilitadoras para avaliação auto e hetero-referente e para as
opções individuais; c) a autodeterminação é uma utopia; o homem é o produto de
múltiplas variáveis; temos que atuar nos agentes que o controlam e nos
comportamentos tal como ocorrem na vida. quotidiana.

Na prática pedagógica ou psicológica é difícil à distinção entre orientação,


aconselhamento e psicoterapia e a maioria dos autores não se preocupa muito com
essa diversificação teórica. Alguns, entretanto, tentam traçar linhas demarcatórias.
Assim, Perry (1960) distingue o aconselhamento da psicoterapia, baseando-se nos
papéis e funções sociais visados pelo primeiro e na dinâmica da personalidade
proposta pela psicoterapia. Outros autores parecem diferençar estas duas atuações
atribuindo ao aconselhamento os procedimentos que se focalizam no plano
intelectual, cognitivo, consciente, e à psicoterapia os que se relacionam com fatores
afetivos e inconscientes. Rogers (1942; 1955) usa os dois termos de forma
indiferente - como fará o autor neste trabalho - porquanto, segundo ele, não há o que
distinguir na série de contactos individuais que visam assistir a pessoa na alteração
de atitudes ou do comportamento. Wolberg (1977) salienta que a psicoterapia é uma
forma de tratamento para problemas de natureza emocional e na qual uma pessoa,
especialmente treinada, estrutura uma relação profissional com o cliente, com o
objetivo de remover ou de modificar os sintomas ou padrões inadequados de
comportamento e promover crescimento e desenvolvimento da personalidade.
Analisando o relacionamento cada a vez mais intenso entre aconselhamento e
psicoterapia, Albert (1966), por outro lado, declara que o mesmo processo
informativo, concerne-se ao aconselhamento acadêmico e vocacional, não pode se
limitar aos planos conscientes e racionais da personalidade, já que os níveis
profundos refletem-se em todos os aspectos do comportamento.
Nossa experiência vem indicando uma razoável ocorrência de casos nos
quais os métodos de orientação e aconselhamento confundem-se com os de
terapia. Se um jovem tem dificuldade de relacionamento. Com os pais _ se
aplicarmos determinadas técnicas de tratamento emocional, sejam elas rogenanas,
comportamentais ou outras, estaremos fazendo aconselhamento ou terapia? Se uma
mulher procura o psicólogo para libertar-se de um contínuo desinteresse sexual pelo
marido, tendo-se constatado, previamente, não haver problemas na área orgânica
que possam ser responsáveis pelo fato e verificar-se haver uma real
incompatibilidade emocional entre mulher e marido e se técnicas psicológicas forem
usadas para tentar soluções, seria essa tarefa aconselhamento ou psicoterapia? Se
um jovem, movido por profundos sentimentos de insegurança na escolha de carreira,
não consegue tomar decisões e o psicólogo passa a cuidar do problema nos seus
aspectos emocionais, estaria efetuando intervenção terapêutica?
Atualmente, a tendência é distinguir aconselhamento de psicoterapia mais em
termos de grau do que em forma de atuação. Esta última é semelhante e até certo
ponto indistinguível do primeiro, tanto no seu feitio profilático como no de
recuperação ou .. Cura' '. Deixar ao psicólogo os chamados" casos normais com
problemas", diferenciando-os dos patológicos ou anormais para os psiquiatras, é
praticamente impossível, mesmo porque o conceito de normalidade é apenas uma
proposição teórica (Mowrer, 1954). Quer nos parecer, pois, que a psicoterapia ou o
aconselhamento são melhor descritos em termos de um continuum, em lugar de um
julgamento dicotômico. A flexibilidade do trabalho do orientador e do psicólogo deve
ser assegurada, em benefício do propalo cliente por ele assistido. Essa atuação,
face a casos claramente patológicos, pode ser associada à de outros profissionais.
A evolução de cada caso indicará a colaboração pessoal de outros especialmente
sem que tenhamos de determinar, com base em supostas demarcações, os limites
da atuação orientadora e da ação terapêutica.

Uma das mais explícitas conceituações e descrições dos papéis atribuídos


aos que se especializam em Aconselhamento Psicológico é proposta por Jordaan
(1968), em seu levantamento sobre as funções do Conselheiro Psicológico.
Segundo dados por ele compilados, este atua em diferentes setores da vida social
(consultórios, centros universitários, escolas, hospitais, centros de reabilitação,
serviços de orientação profissional, departamentos de pessoal, serviços de
colocação e de treinamento, etc.). Analisando as eventuais diferenças entre Clínica e
Aconselhamento, assinala que alguns especialistas apontam diferenças entre essas
duas especializações, outros, porém, consideram tais diferenças como irrelevantes.
Segundo muitos especialistas, o psicólogo-conselheiro tende a trabalhar com
pessoas normais, convalescentes ou recuperadas e a encaminhar casos mais sérios
a outros especialistas. Usa técnicas psicoterápicas e outros recursos, tais como
exploração de condições ambientais, informações, testes, experiências
exploratórias e outros procedimentos mais freqüentemente do que o psicólogo
clínico. .Em geral, o conselheiro terá desempenho profissional de acordo com a
formação que recebeu e das expectativas de trabalho que se oferecem..
Os dados hoje existentes parecem caracterizar o
psicólogo-conselheiro como o profissional da psicologia de formação mais eclética
o que não impede, contudo, que se dedique também a um determinado tipo de
atuação na qual, particularmente, venha a especializar-se, a exemplo dos que se
dedicam a problemas psicológicos do Trabalho, da Educação, da Família, etc.

Do ponto de vista psicológico, a atuação assistencial, profilática, terapêutica


ou corretiva pode assumir diferentes rótulos classificados por alguns autores como
formas suportivas, reeducativas ou reconstrutivas de tratamento (Pennington &
Berg, 1954; Wolberg, 1977). Sem nos apegarmos a essa classificação, pois
parece-nos difícil distinguir o que realmente ocorre, em face de um rótulo
predeterminado, vamos nos limitar a mencionar apenas exemplos de métodos mais
conhecidos, dando maior extensão ãqueles com os quais está o autor mais
familiarizado. Procurou-se, porém, agrupá-los, tanto quanto possível, em capítulos
próprios, pelo critério de seu posicionamento conceitual. Essa divisão setorial não
reflete, porém, nenhuma tentativa de introduzir uma nova taxionomia no campo da
psicoterapia. O Quadro 1, a seguir, relaciona exemplos de métodos, devendo-se
notar que muitos destes, consoante a situação, podem se enquadrar em outras
categorias.

QUADRO 1
EXEMPLOS DE MÉTODOS DE ORIENTAÇÃO, ACONSELHAMENTO
PSICOLÓGICO E PSICOTERAPIA
MÉTODOS ENTRADOS NO CONTEXTO MÉTODOS CENTRADOS NO CONTEXTO
SÓCLO-CULTURAL PESSOAL
· Informação - orientação · Persuasão · Manipulação · Psicanálise e técnicas analiticamente orien
ambiental · Aproveitamento de interesses e recursos Técnicas de reorganização cognitiva · Técnic
pessoais e ambientais · Terapia ocupacional · crescimento pessoal e autodeterminação · T
Socioterapia · Comunidades terapêuticas e suportivas ou de tranquilização · Terapia ges
vivenciais; processos de grupo Terapia biofuncional e bioenergética · Psicod
Análise transacional · Terapia primal · Psico
· Logoterapia · Existencialismo

Nota: Alguns métodos podem ser classificados em uma ou mais categorias:


outros não são apresentados sob a nomenclatura habitual e enquadram-se na classe
geral em que são colocados no texto (capítulos 2, 3 e 4).
2 - Métodos Centrados no Contexto Sócio-Cultural

Fundamentos

A imposição de padrões culturais, nos seus vários aspectos, é, sempre,


teoricamente repelida, na ânsia de liberdade e autenticidade que envolve o ser
humano. O homem busca afirmar-se e talvez nisto consista todo o móvel da conduta
humana e sobre o qual falaremos no Capítulo 6.
Não obstante o alvo tantas vezes cultivado, vê-se o homem julgado, aceito ou
rejeitado pela forma como se ajusta aos padrões que o cercam. A acepção é válida
em todas as épocas e em todos os lugares, em todas as classes e faixas etárias.
Mesmo a adolescência contestatória, às vezes iconoclasta e irreverente, mas
criativa e pura em muitos ideais que tenta opor à tradição e aos hábitos e costumes,
cria, para si mesma, um modelo ao qual os adolescentes aderem, com normas e
valores próprios. Estes passam a ser os critérios de conduta e de ajustamento pelos
quais os próprios adolescentes são entre si aceitos ou rejeitados. O comportamento
grupal, diluído em pequenas castas e classes ou generalizado em amplos
segmentos populacionais, envolve princípios normativos. Chega-se ao paradoxo de
propor-se a liberdade, a autenticidade, o ser-ele-próprlo e essa atitude
transforma-se em valor Imposto, o que contraria a idéia fundamental de liberdade.
A adaptação da pessoa a certas normas, estilos ou formas de vida é, pois,
um critério comum de ajustamento, embora tentemos rejeitá-lo. Daí se deduz que
muitos procedimentos profiláticos ou educacionais, como técnicas de reeducação
ou de terapia, pautam-se, inexoravelmente, por padrões sócio-culturais, alguns
transitórios ou superficiais, frutos de modismos ou situações de emergência, outros
permanentes e profundos, produtos da experiência acumulada na sucessão de
gerações em uma espécie de inconsciente coletivo de que nos fala Jung. Como ser
diferente, marginalizado, ou não reconhecido socialmente, pode, em certos casos ter
o sentido de destruição, a pessoa procura adaptar-se aos sistemas existentes para
atender à necessidade biológica, básica, de sobreviver. A sociedade indica-lhe os
caminhos para se preservar; exige, de forma aparente ou velada, que se "eduque",
isto é, que saiba falar, andar, vestir-se e usar o sistema social tal como existe; exige
que estude, trabalhe, cuide dos filhos ou de pessoas, segundo certos padrões;
espera que participe da vida comunitária, que pague impostos e que desfrute de
seus bens, móveis e imóveis, segundo certas regras e limitações. Em suma,
estabelece certos determinismos cuja observância é essencial para que a pessoa
seja aceita. O aconselhamento e a terapia são, nestes casos, uma proposta de
adaptação a uma vida pré-definida. A liberdade seria apenas a possibilidade de
escolha entre os determinismos que nos pressionam.
Muitos procedimentos de aconselhamento psicológico e de psicoterapia
visam atingir os alvo_ de que falamos: tentam conduzir as pessoas às situações que
os valores sociais estabelecem como adequadas. Essa imposição, se, em muitos
casos, produz reações de crítica e de oposição e até de uma alienação conducente
a quadros patológicos, por outro lado pode gerar segurança aos que se incorporam
à massa, às tradições, ao pensamento grupal. E coletivo. É a tendência
sociocêntrica em oposição à linha individualista ou centrada na pessoa. Até que
ponto as tendências socializantes ou personalizantes são benéficas ou prejudiciais,
aprazíveis ou aterradoras não sabemos. É assunto Dara os filósofos, sociólogos e
psicólogos sociais. O que nos parece evidente é a ausência de padrões, valores ou
pressões que, de uma forma ou outra, balizam o comportamento humano.
Do ponto de vista do aconselhamento psicológico e de tratamento, há
recursos terapêuticos que visam adaptar o homem a seu contexto sócio-cultural
embora se procure, atualmente, limitar ao máximo a subserviência a valores
preestabelecidos, sem, porém, ignorá-los; tenta-se colocar a pessoa em condições
de opção, ampliando-se o leque de escolha; procura-se aproveitar as
potencialidades individuais e abrir perspectivas para mudanças sociais; procura-se
facilitar o questionamento de problemas e situações de vida. E de forma tal que as
transições ocorram na pessoa e na sociedade sem violentá-las na sua essência,
mas vigorosas no seu posicionamento. O aconselhamento imposto, extremamente
autoritário, é coisa do passado, ainda que as informações, os conselhos, as
advertências atuem em certos casos. Se os conselhos e recomendações fossem;
por si sós, eficientes, as Prisões estariam vazias e os instrumentos; de repressão
teriam amplo sentido. Há, pois, que estabelecer um sistema de comunicação, de
orientação e de atuação psicológica que produza resultados benéficos para a
pessoa e para a sociedade. E, no caso em que os valores sociais sejam
predominantes, muitos processos são usualmente aplicados com maior ou menor
benefício pessoal ou social consoante as exigências que, naquele momento, fluem
da pessoa ou do grupo.

Procedimentos comuns

Como se verifica em vários autores (hahn & MacLean, 1955; Stefflre & Grant,
1976; Sundberg & Tyler, 1963; Wolberg, 1977), há grande variação nos
procedimentos adotados nesta categoria metodológica de tipo "orientador" ou
“diretivo" .
Ainda que prevaleça o sentido sociocêntrico,. Baseado em padrões culturais,
tenta-se, do ponto de vista psicológico, reduzir ao mínimo a diretividade
procurando-se reduzir tensões e preparar a pessoa para decisões socialmente
desejáveis. Em geral, os procedimentos mais comuns são: 1) Discussão com o
psicólogo dos prós e contras de cada situação; 2) Informação, pelo psicólogo, com
base no diagnóstico, das possíveis causas e da possível evolução das reações
observadas; 3) Opinião do psicólogo no sentido de estimular ou de impedir a
consecução de certos planos; 4) Planejamento de situações, com o cliente,
envolvendo assuntos relacionados com os problemas tratados.
Dificilmente se encontra, na literatura, a citação de pormenores técnicos do
método, isto é, sobre o tipo de diálogo e atuação pelo qual o psicólogo conduz o
relacionamento com o cliente. Em geral" são citados métodos de interpretar
resultados de testes face a uma situação considerada e prognósticos que podem
ser levantados. Limitam-se os autores a afirmar que "o cliente deve ser informado",
que" deve tomar conhecimento J' , que o psicólogo deve considerar isto ou aquilo e
que o cliente deve decidir.
Em geral, qualquer dos procedimentos aqui citados, como outros, análogos,
,embora com nomenclatura diferente, compreendem três etapas:

Fase catártica

O psicólogo ouve o cliente mantendo atitudes não críticas, facilitando sua


expressão. O cliente expõe seus problemas e o psicólogo usa várias intervenções,
tais como repetição, sumário e proposição de questões, esperando que o problema
seja devidamente enquadrado em hipóteses prováveis. Essa fase pode durar uma
ou mais sessões, na medida em que seja necessário chegarem, psicólogo e cliente,
a uma estruturação formal dos problemas a enfrentar.

Fase de diagnóstico

Preparado emocionalmente o cliente na fase catártica, pode seguir-se o


diagnóstico, orientando-se sua execução de acordo com os problemas ou hipóteses
fixados na etapa anterior. Anamnese, testes, questionários, entrevistas com
familiares.e outras pessoas são usados. Exames médicos e pareceres escolares ou
profissionais podem ser incluídos no diagnóstico. Este envolve mais de uma pessoa
e, em algumas clínicas, uma grande equipe participa do estudo do caso e da
formulação de hipóteses e de planos (Vide outros comentarmos sobre o diagnóstico,
no Capítulo anterior).
Ao mesmo tempo, o psicólogo procura conhecer as oportunidades de
estudos, de trabalho, de vida social, de recreação e de eventuais tratamentos
específicos disponíveis para o cliente; precisa recorrer a diferentes especialistas,
entre os quais orientadores educacionais, assistentes sociais, médicos, professores
e até mesmo a outros profissionais. Como tem que julgar a disponibilidade de
recursos da comunidade, seu trabalho pessoal geralmente é insuficiente.
Quando o diagnóstico é necessário, temos notado ser mais eficaz o
procedimento que identifique: 1) o nível potencial do cliente, e que se estende
desde suas condições de saúde até seus níveis de escolarização e de condições
sócio-econômicas, incluindo nível de inteligência, de aptidões e reações sensoriais e
motoras; 2) as condições de adaptabilidade que favorecem ou delimitam o uso de
suas potencialidades, penetrando-se no estudo da personalidade do cliente e nos
seus dinamismos. Todos os planos geralmente consideram as expectativas sociais
e, de outro lado, as potencialidades individuais, inclusive as facilitações ou barreiras
que a pessoa pode encontrar (Barros Santos, 1978).
Fase de decisões

Com o quadro do cliente diante de si, o psicólogo é levado à compreensão


do comportamento do cliente e à decisão sobre os procedimentos aplicáveis para
prevenção, ajustamento ou alteração de conduta. A característica básica reside na
maior dose de iniciativa e decisão atribuída ao psicólogo. Este espera o cliente
colocar os problemas e as soluções, mas, se estas não surgirem, assume o
psicólogo o papel de proponente. O diálogo é Uma troca de idéias. O psicólogo
informa, de modo impessoal, sobre os dados apurados, baseando-se em
interpretações clínicas e estatísticas (Meehl, 1954; Super, 1955; Coule, 1960;
Goldman, 1961). Evita personalizar as situações e oferece panoramas gerais,
impedindo o aparecimento de nova ansiedade quando certos dados possam
contrariar os alvos do cliente. Ao discutir com este, o psicólogo, ao mesmo tempo
que informa, tenta explorar em cada idéia ou fato novo os sentimentos manifestos.
Essa atuação, informativa e exploratória, leva o cliente a conhecer suas
possibilidades e, desde que não gere tensões, produz condições favoráveis para
escolhas e decisões. É uma etapa difícil, principalmente quando existem dados
fortemente contrários às expectativas da pessoa. Em geral, é mais cauteloso
esperar que esta, pouco a pouco, com a atmosfera de conforto criada pelo
psicólogo, possa ir, ela própria, inferindo conclusões. As interferências no sentido de
ordenar, proibir, persuadir não têm, em geral, mostrado eficácia. A informação e a
exploração subseqüentes e imediatas nos parecem ser o procedimento mais
adequado até agora encontrado. O psicólogo julga e avalia as possibilidades do
cliente, mas o faz atenuando qualquer grau de dependência ou de ansiedade, na
medida em que seja capaz de, concomitantemente com a informação, incluir atitudes
que conduzam o cliente a explorar-se a si mesmo e à tomada de decisões.

Variações no processo

Em inúmeros casos, na fase catártica ou na fase de decisões, o cliente se


sente mais à vontade "falando dos seus problemas" do que dos motivos
originariamente expostos como razões para consulta. A redução da ansiedade
criada pelas atitudes do psicólogo permite, pois, distinguir os casos em que ocorrem
problemas emocionais generalizados dos que procuram, apenas, informações para
uso predominantemente intelectual. Nessas circunstâncias, vê-se o psicólogo na
contingência de continuar o processo no esquema original previsto, de transformá-Lo
em processo terapêutico específico ou, ainda, de combinar ambos.
O atendimento do caso pode ter início com atitudes e técnicas centradas na
pessoa, o que, além de preparar o cliente para um melhor diagnóstico, quando este
se revelar necessário, permite iniciar uma assistência terapêutica que será útil nas
situações em que, ao lado dos aspectos intelectuais, haja situações emocionais a
serem manipuladas.
Quando o método é aplicado principalmente em casos de orientação
vocacional ou profissional, sem problemas emocionais graves, temos notado que os
clientes, quando submetidos apenas à reflexão de sentimentos, mostraram pouco ou
nenhum avanço no sentido de equacionar melhor suas opções. Sempre que o
psicólogo intervinha apenas com técnicas rogerianas, não se notava o aparecimento
de respostas que revelassem modificação de comportamento associada a eventuais
decisões. Em se tratando de casos em que predominavam problemas cognitivos
O que se supôs antes e se verificou posteriormente - a técnica de informação,
discussão e explanação refletiu-se favoravelmente no aumento das possibilidades
de decisão. Tais efeitos concordam, em parte, com o que afirmam os partidários
desse método e segundo os quais os problemas de escolha nem sempre são
originariamente emocionais. Estudos de Watley (1967), concernentes à predição do
sucesso de estudantes atendidos por conselheiros de orientação doutrinária e
técnicas diferentes, demonstraram que os conselheiros filiados à teoria informativa
(teoria e traços da personalidade) predisseram com mais exatidão o grau de
sucesso dos indivíduos estudados do que os filiados à orientação não diretiva, dos
chamados ecléticos ou dos que não tinham doutrina técnico-científica bem definida.

A maioria das técnicas ou de recursos terapêuticos baseados no contexto


sócio-cultural não tem nomes consagrados. Muitos mesclam-se entre si. Vamos
enumerá-los com pequenas explicações já que constituem variações do
procedimento geral descrito.
Informação-Orientação

É um processo tradicional de interação, de natureza predominantemente


Profilática. Visando oferecer. E discutir alternativas de ação conduzidas, em geral,
Sob a forma de: a) procedimentos de apoio; b) análise de opções envolvendo
Questões. Lembretes. Consulta a dados existentes. Observação da realidade
circunstancial confrontação com modelos de conduta e resultados; c) reflexão dos
sentimentos provocados pelas alternativas estudadas. Aplica-se, em geral, a
pessoas que mantenham contato com a realidade. Motivadas e suficientemente
desenvolvidas para análise de informações.
Os procedimentos informativos ou orientadores atuam geralmente no plano
racional, desde. que haja prévia liberação de estados emocionais que perturbem a
tomada de decisões. É um dos procedimentos mais usados através do tempo e útil
sempre que a pessoa precise de informações para comparar os possíveis efeitos de
suas opções. Enquadram-se estes procedimentos no campo habitual dos
Orientadores ou conselheiros. Seja no campo familiar, escolar, profissional ou social.

Persuasão

Trata-se de imposição comportamental, no plano da ideação e da ação,


baseada em padrões de conduta previamente definidos como únicos possíveis e
válidos. De efeito sugestivo, atua sob a forma de dissuasão racional, geralmente
associada a recompensas e punições. É de valor ético discutível e somente indicado
em situações de emergência e de perigo para o cliente ou para outras pessoas.
Inclui, muitas vezes, a doutrinação e a orientação das pessoas para comportamentos
sociais ou políticos emanados de um grupo dominante. Um exemplo extremado
deste procedimento é a chamada "lavagem cerebral".

Manipulação ambiental

Consiste em uma atuação planejada e diretiva sobre agentes externos,


presentes na família, na escola, no trabalho ou na comunidade, visando eliminar ou
atenuar a exposição do cliente às fontes de frustração ou de conflito. Pode exigir
amplo diagnóstico do cliente e dos fatores externos atuantes em seu comportamento
para localizar as variáveis nele intervenientes e a aplicação de medidas que
conduzam alvos desejados. Muitas vezes o processo é indireto, ou seja, o próprio
cliente não tem conhecimento dos alvos e das intenções que visam alterar seu
comportamento, o que ocorre em casos de deficiência grave e incapacitante no
plano intelectual ou emocional.
Aproveitamento de interesses e de recursos pessoais e ambientais

Partindo de prévio diagnóstico global! E diferencial, visa utilizar ao máximo o


potencial e a estrutura individual, usando caminhos não bloqueados. Inclui o Estudo
da dinâmica do comportamento e dos alvos e das necessidades individuais,
procurando-se conciliá-las com as ofertas e as necessidades sociais. Multo usado
no Campo da Orientação Vocacional e Profissional e na Educação, baseia-se nas
possibilidades da comunidade ou da instituição, procurando-se facilitar à pessoa
seu ajustamento a uma ou mais alternativas que a sociedade oferece. É menos
diretivo Do que os procedimentos _tj.anteriores, já que oferece opções no campo do
trabalho, Do lazer, da família, das atividades comunitárias ou em outras áreas do
comportamento social.
Terapia ocupacional

Compreende atividades de lazer, de recreação e, principalmente, tarefas que


revelem utilidade e sentimento de auto-afirmação. As atividades podem ser livres,
dirigidas ou semidirigidas e propiciam redução de tensões, exploração de aptidões
e de interesses, melhora de comunicação e: da expressão e podem ter ação
preventiva. educativa ou terapêutica (Willard &Spackman. 1970). Pode atuar como
procedimento complementar ou como técnica terapêutica essencial, principalmente
quando outros métodos são inviáveis. Pode incluir outras atividades, tais como
esporte, teatro, movimentos associativos, atividades artísticas, cívicas, sociais,
religiosas, bem como trabalhos manuais e artesanais. É aplicável, também, no
campo empresarial para liberação de tensões, desenvolvimento pessoal
enriquecimento do trabalho e melhora da comunicação.
A laborterapia é algo paralelo que se diferencia de terapia ocupacional
porque estabelece um padrão mínimo de (desempenho a atingir, periodicamente
revisto e neste sentido, tem amplos efeitos pedagógicos e psicológicos tanto para
pessoas ditas normais corno deficientes. Muitas vezes recorre-se a oficinas
especiais ou "protegidas", mas a tendência atual é usar o ambiente normal de
trabalho.
Socioterapia

Confunde-se com outros métodos e técnicas já que o aconselhamento e a


psicoterapia de qualquer estilo são, também, socioterápicos. Mescla-se, mais
comumente, com a manipulação ambiental, com comunidades terapêuticas e com
as técnicas de grupo em geral. Em essência, visa um contexto grupal, de que são
exemplos a terapia familiar (Bowen, 1978), a terapia institucional (para pessoas que
têm vida em comum) e equipes de trabalho. Nestes e noutros casos, a ênfase é
dirigida para os sentimentos e as relações intragrupos e intergrupos; concentra-se
nos problemas de agrupamentos humanos em geral como, também, em grupos
especiais tais como grupo de doentes, grupo de viciados (o A.A.A. é um exemplo),
grupo de minorias raciais, grupo de delinqüentes, etc.
Os procedimentos aplicados correspondem, em geral, às técnicas de grupo,
sob orientações psicológicas as mais diversas (vide capítulo 4).

Comunidades terapêuticas e vivenciais; processos de grupo

São geralmente usadas quando se busca um relacionamento grupal e um


trabalho de grupo e, neste caso, assemelha-se à socioterapia. As comunidades
terapêuticas e vivenciais são, também, destinadas aos casos que não possam ser
atendidos em clínicas ou consultórios comuns por dificuldades diversas. Aplicam-se
igualmente às pessoas que tenham problemas de residência, de locomoção e as
que precisam de constante assistência, seja médica ou psicológica.
Em alguns casos caracteriza-se uma internação ou seja um regime de vida
em clínica, hospital ou comunidade em que a pessoa submete-se a um tratamento
médico, psicológico e social em geral programado pela instituição que a acolhe.
Modernamente, os "internos" são convidados para colaborar, podendo até participar
da direção dos programas em regime de co-gestão, visando-se confrontação com a
realidade e auto-afirmação. A interação entre os participantes é discutida em
sessões especiais prevendo-se, também, relações externas e o gradativo término
da internação com o conseqüente autogoverno. .
Os procedimentos e todas suas variações médicas, psicológicas ou sociais
são planejados e aplicados por equipes multidisciplinares, com a cooperação dos
participantes, podendo ser usados tanto em hospitais como em escolas, empresas,
estabelecimentos penais, centros de abrigo e proteção e obras assistenciais.
O hospital-dia, centro-dia ou centro terapêutico é uma variação metodológica
na qual o cliente conserva o vínculo com a família e freqüenta o centro diariamente ou
algumas vezes por semana. Aplica-se a pessoas para as quais a tarefa terapêutica
de consultório ou de ambulatório é insuficiente e para as quais a internação comum
é desnecessária ou contra-indicada.
Tanto a internação ou hospitalização comum como o centro-dia implicam na
existência de várias atividades que compreendem, em geral: 1) Assistência médica
em geral; 2) Atividades psicoterápicas tais como sessões de grupo, jogos, dança,
esporte, artes plásticas e musicais, artesanato, participação em tarefas para o
centro; 3) Psicoterapia específica, conforme o caso; 4) Contacto com a realidade; 5)
Trabalho com a família, fazendo desta uma ativa participante.
O centro-dia, ou centro terapêutico, vem sendo usado também no campo da
gerontologia, pelo qual conserva o idoso seus vínculos familiares sendo,
simultaneamente, assistido por uma equipe especializada, em um melo que lhe
proporciona convivência e atividade produtiva.
A vivência comunitária é outra variação do procedimento de internação e
comunidade terapêutica. Pode assumir várias formas, desde instituições destinadas
a menores excepcionais ou desemparados, até instituições penais ou conjunto
residencial para idosos. Esse sistema tem algumas vantagens e algumas
desvantagens. Em geral provê meios assistenciais mais facilmente e menos
onerosos mas, por outro lado, afasta o indivíduo da realidade existencial
contribuindo, até certo ponto, para uma segregação social ou etária. Outro perigo é o
envelhecimento ou saturação da comunidade ou seja, o cansaço resultante de uma
constante vida em comum. Os inconvenientes apontados podem ser removidos com
uma organização suficientemente ampla e flexível, com programações variadas e
com população parcialmente rotativa. Pode-se, também, em certos casos, limitar a
estada residencial a alguns dias por semana ou intercalá-la com temporadas em
outros locais, principalmente junto à família.

3 - Procedimentos Centrados no Contexto Pessoal

Fundamentos

Ao longo dos tempos, a sociedade revê os focos de referência em que balisa


seus alvos, concentrando-se ora na pessoa, ora no grupo ou 'sistema, o que
acarreta, no campo do aconselhamento psicológico ou da psicoterapia,
correspondentes alterações. O conceito humanístico, 'voltado para uma atitude
antropocêntrica, geralmente se sucede ao período sociocêntrico, no retorno a um
equilíbrio natural. Essas tendências se alternam e, às vezes, coexistem. Hoje parece
estarmos diante de uma orientação predominantemente personalista em que o
indivíduo é o centro. Nesta conceituação, acentuada depois da II Grande Guerra, o
foco preferencial tem sido o homem, a pessoa antes do grupo, embora alguns
sistemas sociais existam como alvo prioritário.
Embora essas colocações e a luta pelos direitos humanos definam uma
marcante filosofia social, a distância é bem grande entre a idéia e a ação. Mesmo no
aconselhamento tipicamente centrado na pessoa, quando terapeuta e cliente
buscam libertar-se das amarras sociais, estas não conseguem ser eliminadas. Os
seres vivos têm medo de mudanças e apegam-se às estruturas existentes. No
humanismo psicológico, pois, o efeito máximo atingido parece limitar-se a uma
proposição para o futuro, isto é, ao planejamento para geração posterior. O
humanismo é um desenvolvimento e um aproveitamento daquilo que é a pessoa,
com ênfase na inovação, no enriquecimento experiencial e no crescimento, o que
não significa constante oposição social mas a capacidade e a habilidade de extrair
do melo o que é útil à pessoa e, em contrapartida, oferecer ao melo o que pode ser
a ele necessário para o equilíbrio geral. Neste ponto, o aconselhamento e a
psicoterapia de linha chamada' 'humanística" são contrários à educação de massa,
à modelagem social e à socialização planejada.
Os métodos e técnicas dirigidos pelo enfoque humanístico partem do
princípio de que a pessoa, como organismo total, é um ser com características
próprias, que age e interage de acordo com as coordenadas básicas, biopsíquicas
e sociais de sua personalidade, em uma equação pessoal de que nos falam tantos
autores. O meio social é um corpo à parte, tão significativo quanto O ente
biopsíquico, mas não o alvo irremovível e indiscutível. A pessoa é o centro e não o
sistema de valores e de hábitos sociais. Francamente opostos ao domínio
sóclo-cultural, da primeira categoria de métodos (Capítulo 2), coloca como objetivo
básico a satisfação e o bem-estar individual, sem que isto implique em rebeldia ou
subversão mas, ao contrário, em busca de valores e de opções que conciliem o EU
pessoal com o EU social.
Os métodos e os procedimentos práticos atuam tanto no plano consciente
como no inconsciente da personalidade e tendem a ser fenomenológicos ou, como
diz Tyler: "Lida com o mundo como a pessoa o vê mais do que com a realidade
existente" (Sundberg e Tyler, 1963).
A pessoa atingida pela orientação individualista passa a sentir-se segura e
tranqüila à medida em que entende e vivencia seus problemas pessoais e quando
se torna capaz de enfrentar a realidade em todos os seus aspectos; sente redução
de tensões; o autoconceito se eleva; a crítica a si mesmo e aos outros tende a
diminuir e os sucessos e fracassos são percebidos como fatos naturais próprios do
viver e do vivenciar de cada um no seu momento de vida.
O aconselhamento psicológico e as técnicas psicoterápicas que
freqüentemente se intitulam humanísticas, ou centradas na pessoa, nem sempre
assim atuam, quer colocando como referencial o contexto sóclo-cultural (ver capítulo
anterior), quer focalizando o problema em si, a exemplo de outras ciências. No
enfoque centrado na pessoa, o trabalho terapêutico ou profilático é intencionalmente
voltado para o processo particular pelo qual os eventos psíquicos ocorrem em uma
dada pessoa. I 'Os erros da vida ocorrem quando o indivíduo tenta representar algum
papel que não o seu". Esta frase de May (1977) esclarece bem a individualidade de
cada um de nós. Não há tipos, nem rótulos ou categorias de indivíduos ou de
problemas. Há pessoas nas quais condições orgânicas ou sociais geraram
dificuldades, as quais foram manipuladas de acordo com recursos pessoais em um
dado momento. Todo psicólogo experiente sabe que não há dois clientes iguais,
embora, aparentemente, os problemas sejam os mesmos. A vivência de cada um
deles é sempre “sui-generis". Diz Jung que cada um de nós traz em si uma
constituição específica de vida, indeterminável, que não pode ser substituída por
outra. A singularidade de cada pessoa e sua harmonia intrínseca são os alvos. A
Psicanálise de Freud, bem como as teorias e técnicas que dele se originaram,
constituem exemplos clássicos da orientação antropocêntrica, embora o controle
social e cultural esteja sempre presente.

Procedimentos comuns

A abordagem inicial, muitas vezes, é semelhante à usada na metodologia da


primeira categoria (capítulo 2), ou seja, há uma fase de relacionamento e catarse na
qual o cliente expõe seus problemas, formula sua "queixa" e o psicólogo o assiste,
refletindo seus sentimentos e demonstrando aceitação e empatia (o que não
significa aprovação ou reprovação). A partir dessa fase e de acordo com um
pré-julgamento que o psicólogo efetua sobre o cliente e as possibilidades de
atendimento, é fixado um sistema de encontros periódicos, individuais ou em grupo.
Pode ou não haver diagnóstico psicológico no seu sentido tradicional.
Geralmente essa providência é dispensável em certas modalidades de atuação;
noutras, faz parte do processo e noutras é contra-indicado, como na metodologia
rogenana.
As técnicas de atuação são bastante variadas, subordinadas a uma
nomenclatura clássica e bem definida, como a Psicanálise, o Psicodrama, a Gestalt
e outras mais. Todas' lidam com a dinâmica do comportamento e procuram levar o
cliente a descobrir e manipular fontes profundas de ansiedade que, conscientemente
ou não, atuam sobre ele. À medida em que o cliente consegue recompor as
situações traumatizantes, em termos que suavizem suas frustrações e conflitos, pela
redução da sensibilidade (nível de tolerância), pela melhor compreensão de si
mesmo, do outro e do mundo que o cerca, ocorre maior enriquecimento e
fortalecimento do EU e conseqüentemente maiores e melhores recursos para
enfrentar e resolver dificuldades emocionais. A seguir veremos, resumidamente,
alguns exemplos de técnicas desta categoria.

Psicanálise e técnicas analiticamente orientadas

A Psicanálise parece constituir o mais significativo movimento no campo da


Psicologia, em todos os tempos. Embora os efeitos de seus métodos terapêuticos
sejam questionados por muitos, os referenciais teóricos por ela estabelecidos
vieram contribuir poderosamente para que o homem entendesse muito do que se
passa em seu comportamento. De tal forma suas proposições corresponderam à
necessidade de explanação da conduta humana, que seus conceitos e sua
terminologia tornaram-se elementos comuns, quer na linguagem científica ou
profissional, quer no dia-a-dia; impregnaram muitos dos conceitos atuais sobre as
reações humanas e tendem a universalizar-se pelo uso corrente.
Devida a Sigmund Freud, seu genial criador, as teorias e técnicas passaram,
posteriormente, por grandes e minuciosas elaborações e que se classificam, hoje,
em métodos freudianos ou ortodoxos, e muitos outros, classificados de
analiticamente orientados; envolvem associação livre, catarse, interpretação de
idéias, de atos, de atitudes, de sonhos, de resistências e a manipulação do
fenômeno de transferência (Freud, 1949, 1958).
Os conceitos básicos, derivados da Psicanálise, não se limitam atualmente à
tradicional relação terapeuta-cliente, no inviolável gabinete do psicanalista, mas
estendem suas aplicações a quase todos os campos do comportamento humano,
seja na educação, na política, na religião, como, mais recentemente, dento das
organizações de trabalho, a serviço do bem estar e da produtividade. Assim,
conflitos existentes nas relações profissionais, enriquecimento do trabalho e o
desempenho de chefes e subordinados têm sido analisados e interpretados em
termos freudianos.
Como processo terapêutico, a Psicanálise t': seus derivados constituem
tratamentos demorados e dispendiosos, aplicáveis às pessoas com repressões e
conflitos profundos, servindo o terapeuta como uma espécie de ponte pela qual o
cliente revive suas experiências passadas e o "aqui e agora" e reorganiza seus
sentimentos em relação a essas experiências e ao quadro geral da personalidade.
A topografia da vida mental é entendida em termos de Id, Ego e Superego,
quando se utiliza a linguagem freudiana, ou com nomenclatura diversa, mas de
conceitos equivalentes, quando empregada por outras correntes psicológicas. Na
sua mais ampla acepção, o método empregado tem em vista o estudo e a
manipulação das forças psicológicas inconscientes que motivam o comportamento
humano. Este é analisado e interpretado, seja na atividade manifesta no dia-a-dia,
seja nos seus simbolismos mais diversos no trabalho, na vida social, na arte e
noutros aspectos do pensamento e da ação.
O alvo terapêutico básico e original é dotar a pessoa de consciência de suas
características e dos dinamismos que emprega para lidar com suas experiências
traumáticas anteriores, com seus instintos e suas energias. Como técnica, o
terapeuta assume um comportamento neutro, distante, de certa forma ambíguo. A
essência da terapia é a análise, interpretação e manipulação da transferência, isto é,
o encontro, pelo cliente, na figura do terapeuta, de um substituto aceitável que
simboliza seus problemas. Qualquer modificação profunda na personalidade implica
em compreender e explorar ativamente essa transferência, de forma que o cliente
perceba como seu passado interfere no presente. À medida que o processo
continua, o cliente liberta-se, pouco a pouco, da dependência do analista e reformula
suas atitudes básicas, o que geralmente exige longo tempo e considerável
habilidade do terapeuta. .
Muitas e profundas alterações ocorreram no campo aberto por Freud, de tal
forma que algumas delas passaram a constituir “escolas" ou movimentos com
concepções e métodos dificilmente ligados às raízes originais. Não vamos
comentá-las, dada a magnitude do assunto mas, apenas, citar os nomes mais
expressivos devendo-se notar que alguns destes aparecem nos itens seguintes, uma
vez que suas concepções podem se enquadrar em classificação metodológica
diferente. Dentre, pois, tais "escolas" ou movimentos significativos, poderiam ser
lembrados, em ordem alfabética: Abraham (1927); Alexander e French (1946); Berne
(1976); Binswanger (1956); Erickson (1950); Fenichel (1941); Ferenczi (1926);
Fromm (1941); Horney (1950, 1959); Jung (1927, 1939, 1968); Klein (1949); Lacan
(1968, 1977, 1979); Laing (1963, 1967); Lowen (1967); Perls (1976); Rank (1945);
Reich (1945); Reik (1948); Rosen (1953); Stekel (1940); Sullivan (1940, 1954)*.
Algumas das contribuições destes autores são mencionadas mais adiante.

. As datas mencionadas neste trecho, bem como em todo o livro,


correspondem às datas das publicações citadas nas referências bibliográficas.

Técnicas de reorganização cognitiva

A ênfase terapêutica, nesta linha de ação, é dirigida para os conceitos e


valores que o cliente desenvolveu e em função dos quais as dificuldades vivenciais
emergiram. Procura o psicólogo descobriras concepções "errôneas" ou
"inadequadas" do cliente e trazê-las a sua compreensão, modificando, assim, o que
Adler denominou de "estilo de vida" (1917).
O processo varia muito entre seus aplicadores consistindo, genericamente,
em entrevistas com o cliente, seus familiares, professores e outras pessoas da sua
constelação de vida, a fim de se ter idéias precisas das desordens
comportamentais. O mapa cognitivo é explorado; as dificuldades são francamente
discutidas, apontando-se as incoerências, ilogicidades e erros interpretativos,
atuando-se, principalmente, no plano consciente, racional e do chamado bom senso.
Adler dá grande atenção ao clima e às relações familiares (1917); Ellis procura
detectar as principais falsas concepções e tenta modificá-las (1958, 1971); Phillips
(1956), Dreikurs (1959), Mowrer (1953) e Frankl (1955) têm idéias básicas
correlatas, no sentido de uma abordagem cognitiva e racional dos problemas. Este
último de quem falaremos mais adiante, salienta-se pelo foco dirigido ao encontro de
um sentido de vida e à responsabilidade que a pessoa assume no contribuir para a
vida mais do que no usá-la. Um extenso estudo da terapia cognitiva é encontrado em
Beck (1976).
O cliente é instruído a lutar contra as falsas concepções, a ignorar as
depressões ou ansiedades, enfrentando-as como algo passageiro, até certo ponto
inevitável, e a aceitar seus efeitos, bem como a culpa e as falhas pessoais como
indicadores de algo errado no seu estilo de vida.
A terapia cognitiva envolve técnicas especiais (Beck, 1976) que abrailgem,
também, a análise do que o cliente pensa e diz para si mesmo, no seu monólogo
interior. A teoria da dissonância cognitiva (Festinger, 1957) pode oferecer pistas
para estratégias de tratamento na linha comportamentalista (Jensen, 1979). As
técnicas de persuasão são também incluídas e analisadas por diversos autores
(Harrell, 1981) e, além disso, muito relacionadas com a terapia comportamental na
medida em que se cuida de um processo de aprendizagem. Neste enfoque, os
procedimentos têm em vista manipular os sintomas e os problemas de ajustamento
sem atentar para eventuais causas. As sessões terapêuticas assumem, muitas
vezes, as características de instruções e de aulas. O uso de reforços,
comportamento imitativo e observação de modelos são largamente usados (vide
Capítulo 4).

Técnicas de crescimento pessoal e autodeterminação

Embora haja algo em comum com outras posições psicodinâmicas, coube a


Rogers (1942) dar início a um posicionamento considerado, na ocasião,
revolucionário em matéria de aconselhamento e de psicoterapia. Em virtude de sua
larga repercussão e de tratar-se de uma linha de atuação que interessou
particularmente ao autor e a seus alunos dos cursos de Psicologia, é dedicado um
espaço especial sobre o assunto, apresentado no capítulo seguinte.

Técnicas diversas

Presenciamos, atualmente, uma babel de terapias, seja nesta categoria, seja


em outras, assinaladas nos Capítulos 2 e 4. Há grupos, movimentos e serviços
públicos e particulares (centros pastorais, centros de valorização da vida, centros de
emergência e de assistência a ansiosos, viciados ou marginalizados, encontro de
casais, encontro de jovens, grupos comunitários e grupos de encontro em geral,
grupos de gestantes e de idosos e um sem-fim de proposições). Alguns se utilizam
de lazer, entretenimentos, recreação comum; outros utilizam o' esporte e os
exercícios físicos; alguns empregam o esforço, outros o repouso; uns propugnam o
relaxamento e a descontração, outros, ao contrário, a assunção da responsabilidade
e da preocupação; alguns promovem estados solitários e de meditação, outros o
companheirismo e a convivência grupal; outros, enfim, propõem a criatividade, a
libertação e a expressão de si mesmo, enquanto outros proclamam a submissão, a
obediência e o conformismo. Todos eles têm em comum a busca de soluções para
problemas emocionais ou circunstanciais, no plano existencial. As proposições
terapêuticas parecem estar ao sabor da atividade de muitos, bem como do
charlatanismo de alguns, embora haja um bom número de profissionais seriamente
empenhados em aplicar, controlar e estudar novas técnicas e seus efeitos nos
clientes. Dentre as técnicas que têm merecido considerável estudo, poderiam ser
citadas algumas, tais como:
· As técnicas suportivas ou de tranquilização, individuais ou em grupo,
geralmente destinadas a clientes em estado de grande ansiedade ou depressão.
Usam-se vários procedimentos, dentre os quais a catarse, atividades físicas,
compreensão e empatia, sugestão, persuasão, hipnose, relaxamento físico e
mental, repouso, placebos, em geral como procedimentos iniciais seguidos,
depois, por atividades programadas no sentido lúdico, artístico, filantrópico,
profissional, etc.
Nas técnicas suportivas procura-se, inicialmente, baixar o nível de
ansiedade, ou de depressão, elevando-se, por outro lado, o nível de tolerância às
frustrações e conflitos, principalmente quando estes são irremovíveis (redução do
autoconceito, perda de bens ou de parentes, incapacidade física, convivência
forçada com fontes de atrito, etc.). Não se cogita de reorganizar a personalidade,
mas de reduzir ou eliminar os sintomas agudos, propiciando condições para uma
programação terapêutica posterior.
· A terapia gestáltica que parte da experiência organísmica, colocando
o corpo, com seus movimentos e sensações, no mesmo plano da mente. A
ênfase terapêutica consiste em colocar a pessoa em contacto com as
necessidades correntes e imediatas do organismo, Perls (1976), seu principal
fundador, coloca como fundamental a estrutura e a configuração da percepção,
isto é, o processo ativo que leva à construção de um todo perceptivo organizado
e significativo entre o organismo e seu meio. Os desajustes e neuroses são
conseqüências de separações e espaços não naturais na formação das
"gestalten" (configurações) e a ansiedade seria a sensação de ameaça a essa
unificação criativa.
O tratamento é, em geral, grupal, sob a forma de "workshops", nos quais são
usadas dramatizações, troca de posições e papéis, visando-se "minimizar o espaço
vazio entre os processos subjetivos e objetivos e restaurar na pessoa a totalidade da
experiência não-verbal concebida como uma espécie de elam vital" (Kovel, 1976).
Uma extensão do método é a terapia gestáltica centrada na pessoa, como forma de
conjunção entre a posição rogeriana e gestaltista e da qual falamos a seguir.

· A terapia gestáltica centrada na pessoa é, no dizer de Maureen


MilIer * , uma' 'terapia de movimento; movimento através do espaço, do
tempo e dos níveis de consciência. O objetivo é a libertação do
movimento natural de energia de vida, através de ação espontânea e
livre que leva a pessoa à percepção e à satisfação de suas
necessidades através de harmonioso contacto com o universo de onde
provém energia para a vida".
* Tradução do autor, de manuscrito a ele enviado pela autora.

Os seguintes conceitos são básicos:

1. O universo é um todo; é racional; comporta-se' de acordo com suas


próprias leis e está em evolução;
2. A vida, inclusive a vida humana, segue um caminho de crescimento em
direção à complexidade. Essa tendência formativa é um movimento no sentido da
realização construtiva de possibilidades que lhe são inerentes e que não podem ser
destruídas sem se destruir todo o organismo;
3. É da natureza da consciência humana procurar sempre contacto cada vez
mais profundo com uma realidade absoluta;
4. A consciência tem capacidade para expandir-se aprofundando o contacto
com a realidade absoluta.

A postura do terapeuta na abordagem gestáltica centrada na pessoa é a de


fé nesses conceitos, de humildade face ao reconhecimento de que aquilo que é
conhecido como personalidade é, apenas, um pequeno fragmento da totalidade. É
uma postura de curiosidade à procura de uma visão mais ampla da realidade; é uma
postura de incursão e experimento, do cliente e do terapeuta, em novos e mais ricos
contactos com o mundo. O terapeuta é alguém em quem se confia como
co-explorador dós mistérios internos e externos que constituem a existência do
cliente e que o ajuda a descobrir os limites de sua energia.. de seu movimento e de
sua capacidade para nutrir seu contacto com seu mundo (Miller, 1981).
· A terapia biofuncional e bioenergética, resultante das
contribuições de Reich (1945), tem como núcleo a idéia de que o estado
emocional depende da função. do organismo; vivemos e atuamos
fundamentalmente através do corpo e de suas energias, expressas ou
reprimidas. Neste sentido, a função vital e saturar do orgasmo é um
exemplo frisante. É necessário penetrar na "couraça muscular" que o
cliente desenvolve a fim de libertar o material inconsciente. Essa
liberação de emoções reprimidas, através da manipulação dos estados
e tensões corporais, permite a mobilização da energia orgânica. Daí Q
nome de orgonoterapia a essa posição. Posteriormente, Lowen
desenvolveu o pensamento reichiano, com algumas contribuições, sob o
nome de terapia bioenergética.
· O Psicodrama criado por Moreno (1959) visa à .expressão de
sentimentos gerados por situações propostas pelo terapeuta ou pelos
clientes e pela audiência, através de determinados papéis
desempenhados pelos participantes. O psicodrama pode atuar sob
diferentes orientações doutrinárias e tem evoluído muito como técnica
terapêutica, preventiva ou educativa. Dentre suas alternativas há
situações que enfocam o "aqui e agora" no relacionamento pessoal e
social, bem como situações que antecipam dificuldades futuras e outras
que focalizam problemas já vividos e que possam ser revistos. Há,
também, dramatizações de situações hipotéticas que possam trazer à
tona repressões e comportamentos não suficientemente explorados.
O psicodrama, além de sua função terapêutica, é usado, também,
como procedimento didático. .
· A análise transacional, criada por Berne (1976), enfatiza as
respostas e os papéis que as pessoas adotaram nas relações
ambientais e interpessoais, as situações de segurança, auto-estima e de
inferioridade comumente assumida por clássicas figuras de Pai, Adulto e
Criança e seus simbolismos. A terapia focaliza o Ego adulto e os
estados de OK, ou seja, ser julgado positivamente por si mesmo e pelos
outros, ajudando a pessoa a compreender seus papéis e seu significado.
· A terapia primal ou do grito primal, originária de Janov (1970),
baseia-se na liberação de sentimentos profundamente reprimidos e que
pode ocorrer sob forma dramática. O cliente é instruído para seguir uma
programação terapêutica, tal como permanecer em um hotel durante três
semanas e abster-se de drogas ou distrações redutoras,de tensão e
dedicar-se intensa e unicamente ao tratamento, nesse período. Nessa
fase, o cliente tem sessões de duas ou três horas diárias com o
terapeuta, como único diante a ser atendido. Em cada sessão lida-se
com um objetivo específico para levar o cliente a expressar seus mais
profundos sentimentos relacionados com seus pais e isto ocorre através
de palavras, gestos e vigorosas expressões físicas e verbais. Seu
tratamento pode continuar, depois, em grupo no qual o cliente continua
centrado no seu problema (Kovel, 1976).
· A psicobiologia, de A. Meyer (1958), que enfatiza as vantagens
de um amplo diagnóstico e, a seguir, a integração de todas as formas de
psicoterapia, bem como as atuações biológicas e médicas. O
posicionamento é global ou holístico com base no senso comum e na
vivência do cliente em seu meio.
· Já parcialmente mencionada no item relativo aos métodos de
contexto sócio-cultural, a logoterapia é aqui citada por constituir um
conjunto de princípios e de técnicas de certa forma deles independente.
Criada por Victor Frankl (1955), sucessor de Freud em sua cátedra em
Viena, opõe-se ao princípio do prazer e ao pansexualismo freudiano. Sua
técnica consiste em facilitar ao cliente o encontro de um sentido em sua
vida o que, paralelamente, implica em aceitação do Dever e da
Responsabilidade. A saúde psíquica decorre do preenchimento do vazio
existencial; de um espiritualismo que conduza à descoberta, em si
mesmo, do significado da vida. A logoterapia esforça -se,
especialmente, pela conscientização do espiritual. Como análise da
angústia existencial, procura levar o homem a se perceber como ser
responsável e, nesse parâmetro, achar o sentido de sua existência.
A intenção paradoxal é um dos procedimentos usados. Incentiva o cliente a
enfrentar e a praticar aquilo que teme. Esse processo, já estudado por outros
métodos, equivale a desenvolver uma resistência mental (ou espiritual) a certos fatos
perturbadores ou ameaçadores. Além da heróica resistência, acompanha-se de
ironia para com o fato ameaçador, destruindo-lhe a força.

A posição existencialista e o retorno à filosofia


Partindo da Fenomenologia, o Existencialismo,além de seu conteúdo
filosófico, assumiu uma série de posições orientadoras ou terapêuticas condizentes
com seu entendimento do Eu e do Mundo. Esse posicionamento não se erige,
porém, como um novo' 'sistema de terapia, mas uma nova atitude para com a
terapia", como afirma May (1976).
A influência de Kierkegaard, de Husserl, de Heidegger e de Jaspers, como
de outros filósofos, é sensível como assinalam alguns comentaristas (Foulquié, 1960;
Forghieri, 1972), cumprindo destacar, mais tarde, as contribuições de Sartre (1943,
1953), de Binswariger (1956), de Buber (1958) e de May (1973, 1976, 1977). Há um
dimensionamento humanístico com retorno às questões fundamentais do ser, da vida
e dos valores humanos, em franca oposição à avaliação e à medida psicológica
instaladas a partir da Psicofísica de Fechner e da Psicologia Científica ou
Experimental de Wundt e que teve seu apogeu nos trabalhos de Binet e no
surgimento dos testes psicológicos e da psicotécnica na primeira metade do século
XX. Passa-se, assim, do furor de exames e verificações de quocientes de
inteligência ou de outros atributos a uns posicionamentos globais, dinâmicos, em
que esses dados continuam significativos, mas sua importância na vida e nas
reações humanas é sentida e entendida noutras perspectivas. O comportamento da
pessoa não se define mais em termos de perfis ou de traços independentes, mas
em termos d€ sua experiência vital, nem sempre acessível aos instrumentos atuais
de medida. Na perspectivas holísticas, compreensivas, incluem-se valores sociais e
humanos, externos, oriundos de um contexto de necessidades e pressões grupais e,
de outro, de auto-expressão, de ser o que é. Embora inconcebível o Eu sem o outro,
existe no campo do pensamento e da ação um território marcadamente pessoal,
parcialmente autônomo, que responde à solicitação. e exigências internas, geradas
na relação Eu-Outro e que passa a pertencer à pessoa como patrimônio pessoal
que vive e vivencia.
Pode-se admitir que não existe um conjunto de processos formais,
metodológicos, de estilo terapêutico, na Fenomenologia ou no Existencialismo, pois
isso iria de encontro a seus princípios básicos. Existem, porém, atitudes
terapêuticas. A empatia abre as portas ao mundo do cliente para que ele se veja a si
mesmo, se encontre e se aceite; tolere suas limitações e perceba o valor e a
peculiaridade de ser ele mesmo. Importa descobrir-se e descobrir os outros, como o
Eu emerge e evolui através do contacto com o mundo e com pessoas. Entender e
sentir a totalidade da existência é o alvo. Alguns existencialistas, dentre os quais
Boss (1979), traçam uma certa imagem de uma terapia existencialista
("daseinanalytic therapy"), opondo-se frontalmente aos conceitos freudianos,
particularmente no que se refere aos fenômenos da transferência e do inconsciente
(embora os relatem sob outros títulos).
RoBo May admite que a terapia existencialista não é uma cura, mas busca do
autoconhecimento. A chave para o processo de aconselhamento, como textualmente
declara May, está na empatia. É através desse sentimento que todos os
conselheiros atingem as pessoas. Na medida em que essa comunhão de
sentimentos ocorre na sessão de aconselhamento, o problema do cliente "é
transferido para essa nova pessoa e o aconselhador arca com sua metade do
problema. E a estabilidade psicológica do conselheiro, seu esclarecimento,
coragem e força de vontade transferir-se-ão para o aconselhando, prestando-lhe
grande assistência na luta que se desenvolve no interior de sua personalidade" (May,
1977).
A volta aos problemas filosóficos não se faz, porém, à moda antiga. Vem
impregnada de conceitos operacionais e não se restringe à filosofia pura, Busca
nesta uma praxis, algo que ajude o homem a extrair da vida o que ela tem de melhor
para si e para os outros e não se identifica com a pura especulação. Nesse sentido,
o retorno à filosofia pode vir, com o tempo, a explicar muitos dos fracassos dos
diagnósticos e prognósticos psicológicos. Se conseguirmos enquadrar e entender o
comportamento humano dentro de um quadro de valores sociais e pessoais,
provavelmente a ação orientadora e psicoterápica ultrapassará os modestos
resultados até hoje obtidos.

4 - Métodos Mistos e Métodos Centrados no Problema

Fundamentos

Embora a eficácia dos procedimentos orientadores ou terapêuticos esteja


ligada à estrutura e à dinâmica da personalidade, segundo o velho aforismo "há
doentes e não doenças", não se pode ignorar a ocorrência de situações externas
que constituem razão suficiente para gerar frustrações e conflitos, ,até certo ponto
independentes do funcionamento global da personalidade. Desde que tais
ocorrências podem comprometer outras áreas do comportamento, pode-se,
igualmente, agir no sentido inverso, isto é, eliminar ou reduzir as desordens
comportamentais atuando-se sobre agentes externos ou indiretos. Problemas
sexuais, por exemplo, podem ser tratados com técnicas e informações específicas
(Master & Johnson, 1970); problemas escolares ou profissionais podem ter origem
na relação professor-aluno ou chefe-subordinado e como tais serem removidos
quando se atua nessa relação; uma dificuldade de aceitação grupal na
adolescência, ou em outras idades, pode gerar sentimentos de inadaptação e
comportamentos anti-sociais, a qual, quando removida, pode reinstalar
comportamentos sadios; ausência de afeto e proteção na infância podem criar
comportamentos patológicos; um desequilíbrio orgânico, desde uma leve intoxicação
alimentar até uma grave disfunção hormonal, pode dar origem a mudanças no
comportamento; uma deficiência intelectual ou sensorial pode dar como resultado
uma redução da capacidade competitiva e uma conseqüência emocional
desastrosa; uma deficiência nutritiva pode produzir baixo nível de rendimento e ser
interpretada como um falso quadro de indiferença ou desatenção; uma atmosfera
educativa no lar, tipo "laissez faire", com liberdade excessiva e pouca disciplina,
pode gerar imaturidade, insegurança e comportamentos agressivos ou anti-sociais
(Sears, 1961). Os exemplos são incontáveis.
Como os efeitos emocionais das frustrações ou dos conflitos estão sempre
presentes, podem ser usados procedimentos mistos que atuem, concomitantemente,
sobre os agentes externos (causas) e sobre a pessoa (efeito). Às vezes, os
psicólogos se preocupam apenas com os estados emocionais, quando seria mais
indicado atuar diretamente nas raízes circunstanciais do problema. A dificuldade
consiste em identificar os agentes externos, não-psicológicos ou paralelos e as
estratégias e táticas que atuem na pessoa e no meio.
A seguir vamos mencionar, apenas a título de lembrete, sem entrar em
pormenores técnicos que escapam à competência do autor, alguns dos métodos e
técnicas que atuam em vários aspectos. Alguns deles aproximam-se mais da
abordagem cultural, outros da abordagem pessoal e oUtros são centrados em
problemas específicos. A escolha dos procedimentos depende, também, como nos
demais recursos terapêuticos, da formação e preparação profissional do Orientador
ou Terapeuta das possibilidades práticas de atuação *
. Este capítulo, principalmente no que se refere à Modificação do
Comportamento, foi gentilmente revistO por Alice Maria de Carvalho De1itti e
Walderez B.F. Bittencourt que o enriqueceram e o corrigiram com valiosas
contribuições.

Procedimentos comuns

Em geral, os processos de orientação, aconselhamento ou terapia, nesta


categoria de métodos, incluem ampla avaliação das condições da pessoa (estudo
de caso), das características do problema, da situação a manipular e das
alternativas de tratamento existentes. A maioria das atuações processa-se no plano
cognitivo, com ênfase no processo do problema, o que não significa desprezar a
pessoa ou o contexto sócio-cultural nem excluir os processos emocionais. Os
comportamentos, nas suas causas e conseqüências, são geralmente estudados em
laboratórios, no campo da psicologia experimental e, com base nos dados obtidos,
utilizados na assistência psicológica. As pessoas são estudadas face aos
problemas que apresentam. O foco é interpretar os dados à luz de um processo
genérico que tende a ocorrer como respostas organísmicas.
São características básicas do método a definição tão precisa quanto
possível dos comportamentos a serem atingidos, quer para implantá-los, quer para
removê-los ou alterá-los, e um sistema de controle pelo qual seja averiguado o
processo de mudança. Em certos tipos de tratamento são usados medidores de
estados de tensão ou de relaxamento, bem como outros indicadores - médicos ou
psicológicos - de condições orgânicas ou de estados emocionais.
Tais procedimentos, como se poderá inferir, produzem efeitos
satisfatórios em numerosos casos. A dificuldade consiste, como nas demais
categorias de métodos, em identificar o método adequado a uma determinada
desordem comportamental.
Terapia médica ou somática

Como os exemplos são suficientemente significativos no que se refere a


distúrbios de comportamento causados por fatores fisiológicos, a somatoterapia é
um recurso aplicável em numerosos casos, seja como método básico, seja como
coadjuvante fio tratamento. A literatura em geral menciona casos em que o
tratamento com vitaminas reduziu a ocorrência de perturbações mentais associadas
à pelagra; em que drogas energizantes melhoraram estados de depressão ou de
desinteresse; em que correções do funcionamento hepático diminuíram estados de
irritabilidade. São conhecidos, também, os efeitos de certas substâncias sobre o
desejo ou o desempenho sexual, bem como os efeitos da desnutrição e as
repercussões mentais de muitas doenças ou disfunções orgânicas.
Nesta modalidade profilática ou terapêutica há sempre necessidade de se
recorrer a uma equipe multidisciplinar, em que atuem médicos, psicólogos,
fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos e outros profissionais. É
possível conjecturar, embora haja poucos estudos concludentes, que muitos
distúrbios do comportamento, chamados estruturais ou de temperamento e, portanto,
de origem predominantemente genética, sejam beneficiados com esse tipo de
assistência, bem como os que resistem aos tratamentos psicoterápicos conhecidos.
Sobre o assunto deve o leitor reportar-se a obras no campo psiquiátrico e
psicossomático (Baldessarini, 1977; Lion, 1978; Linden e Mass, 1980).
Pode-ser incluído neste tópico um variado elenco de procedimentos que vão
desde exercícios físicos ou relaxamento, até fisioterapia e processos bioquímicos.
Muitas ações cirúrgicas, bem como as plásticas, ortopédicas ou alimentares, podem
ser úteis. As revistas médicas mencionam a ação sedativa de neurolépticos sobre o
sistema nervoso, reduzindo estados de excitabilidade, bem como o efeito de várias
drogas sobre o comportamento em geral (Coleman, 1973; Spoerri, 1974).
A quimioterapia parece apresentar dados promissores, na medida em que os
processos patológicos tenham origem ou sejam desencadeados por fenômenos
orgânicos. É um valioso recurso auxiliar também nos casos de desordens funcionais
para remissão ou alívio de sintomas, facilitando à pessoa tornar-se acessível a
atividades do dia-a-dia, a ocupações profissionais e à psicoterapia. Provocando
redução, ainda que temporária, do medo, da angústia, da agressividade, da
depressão ou de oUtras manifestações inadequadas à situação, consegue
reambientar as pessoas, diminuir alucinações e delírios e abrir perspectivas para
uma retomada de suas atividades habituais, o que as ajuda no plano emocional de
auto-afirmação e de relacionamento social e, assim, indiretamente, contribui para a
melhora do quadro geral. Beitman (1981), citando inquérito entre membros da
Associação Psicanalítica Americana, menciona que cerca de 60% dos analistas usa
medicamentos em alguns dos pacientes. Lesse (1978) afirma ter obtido 83% de
resultados satisfatórios com o uso de psicoterapia e tratamento farmacológico
combinado, em um período de três semanas, em um grupo de clientes com severa
depressão. O mesmo aUtor assinala que no caso de depressões profundas, com
idéias de suicídio, o tratamento puramente psicoterápico mostrou-se inferior ao
tratamento combinado com drogas. .
Ao mencionarmos a relação físico-psíquica naetiologia e no tratamento de
distúrbios mentais e emocionais, poder-se-ia distinguir as técnicas psicossomáticas
das somatopsíquicas. No primeiro caso, estaria o tratamento de desordens
corporais por processos psicológicos; no segundo, o tratamento das perturbações
da personalidade por processos físicos ou fisiológicos. Essa distinção. é, apenas,
didática, pois o organismo se comporta como um conjunto interdependente.O que se
comenta, no momento, é a terapia de desordens mentais ou emocionais por
procedimentos somáticos, geralmente afeto à Medicina e áreas paramédicas.

Reflexologia

A reflexologia, baseada nas contribuições de Pavlov e Bechteéew, na Rússia,


e de Watson, nos Estados Unidos, foi à precursora da terapia comportamental de
que trataremos mais adiante. Os fatos psicológicos são vistos como eventos
fisiológicos, não havendo lugar para a consciência. As teorias sobre o
associassionismo e os conceitos sobre Inibição e excitação são importantes na
compreensão e no tratamento dos eventos comportamentais. O objetivo, segundo
Salter, é "desinibir a inibição e atinge-se esse objetivo com o que podemos chamar
de química verbal". O desajustamento é um processo de aprendizagem e assim é a
psicoterapia. O "equilíbrio entre a excitação e a inibição é a base da vida normal"
(Wolpe, Salter e Reyna, 1966). ; '. .
. . . Os procedimentos podem incluir diálogos, manipulação ambiental, drogas
e aparelhagem variada que atuem para desinibir os focos da inibição condicionada.
Muitas. técnicas de "controle mental", de "controle emocional", exercícios de
concentração e de descontração sensorial, estimulação ou tranquilização
enquadram-se nesta categoria, inclusive sistemas de controle eletromecânicos ou
eletrônicos relacionados com o uso de biofeedback.

Fisicultura, esportes e manipulação corporal

Embora não haja pesquisas suficientes sobre os efeitos psicológicos


decorrentes de determinadas práticas de educação física ou de esportes, a
observação vem mostrando influência favorável dessas atividades, no ajustamento
pessoal e social. A redução de tensões pela ativação de funções fisiológicas ou pelo
relaxamento programado, assim como sentimentos de aUto-afirmação, são alguns
dos efeitos observáveis.
Incluem-se neste grupo de procedimentos todas as atividades relacionadas
com ginástica (diferentes modalidades), esportes individuais e coletivos e atividades
de lazer combinadas com exercícios físicos. Podem incluir, também, regimes
dietéticos, alteração de hábitos de higiene e de saúde física, trato da aparência, do
vestuário, da postura e ele expressões corporais como, até mesmo, a redução ou
eliminação de problemas ortopédicos (ver Terapia Somática e Fisioterapia).
Geralmente a terapia pela cultura física é feita individualmente ou em grupos
através de: 1) Programação de exercícios físicos variados e agradáveis, diariamente
ou algumas vezes por semana; 2) Organização de grupos para competições
adequadas ao nível de desempenho, idade e interesse dos participantes; 3)
Sessões de relaxamento e recreação, inclusive dança, música, meditação e
repouso, articuladas com a programação física.
Solemon e Bumps (1978) apresentam um novo método para induzir o
relaxamento físico empregando corrida lenta, de longa distância, combinada com
meditação. O método baseia-se nas alterações fisiológicas e conseqüente mudança
no estado de consciência ocorrida, similarmente, na corrida e na meditação. A
combinação dos dois efeitos seria vantajosa como coadjuvante terapêutico.
Caberia considerar que os processos tradicionais de fisicultura (exercícios,
condicionamento físico, esportes, competições) vêm sendo questionados e até
combatidos pela antiginástica e pela kinesiterapia (Bertherat, 1979) com base na
teoria de que o corpo nos seus estados de rigidez e tensão retrata, exatamente, os
conflitos, repressões e angústias que permanecem insolúveis. Há toda uma
linguagem corporal que precisa ser previamente interpretada e trabalhada
tomando-se consciência do corpo nos seus movimentos e expressões. Assim,
muitas práticas esportivas e de ginástica podem atuar no sentido inverso mantendo
ou desenvolvendo desequilíbrios tensionais preexistentes. Há, no caso, uma estreita
ligação entre esse posicionamento e a orgonoterapia de Reich (vide referências
adicionais no Capítulo 3).

Técnicas sugestivas e hipnóticas

A sugestão sempre exerceu papel terapêutico e suas aplicações remontam à


Antigüidade, inclusive no que se refere à influência de agentes extraterrenos ou
místicos de que falaremos mais adiante.
Um dos procedimentos conhecidos, proposto por Coué (1936) e,
posteriormente, desenvolvido por outros autores, consiste em levar o cliente a repetir
que, dia-a-dia, acha-se melhor, bem melhor, praticando pouco a pouco um processo
de encorajamento pessoal e de confiança em si. O treinamento autógeno (Schultz,
1959), forma mais atualizada de aplicação do método, combina a aUto-sugestão
com o relaxamento.
A hipnose, geralmente usada como método auxiliar, teve seu valor
redescoberto recentemente como procedimento válido e autônomo (Erickson, 1947).
É útil em várias situações, principalmente na remoção de sintomas que facilite
posterior introdução de outros agentes terapêuticas. Várias considerações sobre
hipnose são encontradas em Spiegel (1978), em Moraes Passos (1975), nos já
mencionados trabalhos de Erickson e em Wolberg (1977).

Arteterapia

Inclui grande variedade de ações no campo da música, pintura, escultura,


literatura, bem como na expressão corporal (dança, ginástica, artes marciais,
exercícios grupais), seja como trabalho terapêutica individual ou em grupo, como
redutor de tensões (música no trabalho, na escola, em hospitais, etc.). Há trabalhos
pioneiros como os de Licht (1946) sobre música, de May (1941), de Rosen (1957) e
de Schoop (1974) sobre dança. Relaciona-se, em alguns aspectos, com a terapia
ocupacional e com outras técnicas terapêuticas.
A dança-terapia e o uso do movimento corporal ver:J. sendo bastante
utilizada na redução de tensões, no desenvolvimento motor e afetivo. Segundo
afirma Serra (1981), coube à Laban (1950) abrir caminhos novos com base na
qualidade do movimento e a Kestenberg (1967) enfatizá-los no desenvolvimento das
estruturas psíquicas da criança. Há; nestes casos, íntima relação com as terapias de
manipulação corporal citadas em item anterior. Vários programas de atividades
artísticas vêm sendo desenvolvidos com doentes mentais que incluem,
principalmente, a criatividade e a recuperação da própria identidade. Nessa área
destaca-se o trabalho de J.M. Erikson (1976).

Ludoterapia

Aplicada principalmente em crianças, pode ocorrer sob várias orientações


terapêuticas, sejam freudianas, rogerianas, comportamentais, ou outras. Utiliza-se
das expressões livremente ensejadas pelos participantes ou decorrentes de jogos e
situações provocadas pelo terapeuta. Baseia-se na acepção de que os sentimentos
livremente expressos são importantes para a criança, independentemente do que
diga ou faça, embora haja limites que lhe permitam ajustar-se à realidade e torná-la
consciente de sua responsabilidade na relação estabelecida com pessoas e objetos
(Axline, 1980; Gondor, 1954). Encontra-se em Schaefer (1976) amplo estudo sobre o
uso do jogo infantil para finalidades terapêuticas no qual o autor especifica diferentes
linhas doutrinárias.

Biblioterapia

Ocupa um lugar modesto no arsenal terapêutico, discutindo os psicólogos seu


uso e seus efeitos. Consiste em um procedimento livre ou dirigido de leituras que
propiciam ao cliente informação, instruções e encorajamento como, também, meios
de reflexão e de auto-análise. Um dos inconveniente é não permitir o diálogo
podendo, em certos casos, conduzir o cliente a interpretações inadequadas de sua
situação. Menninger (1937) e Schneck (1945) foram alguns dos poucos
especialistas que, em anos passados, tentaram sistematizar a literatura sobre esse
procedimento.

Semântica

Consiste em rever, comentar e explorar o sentido de palavras e expressões


que o cliente usa para se conceituar ou para explicar suas frustrações e conflitos. Os
esclarecimentos lingüísticos permitem reduzir ou eliminar as ilogicidades de
pensamentos, atos e conceitos codificados pela linguagem. Os símbolos lingüísticas
são revistos e analisados em função das aspirações e necessidades da pessoa e
da maneira como ela reage a esses conceitos. Korzybski (1941) é considerado o
pioneiro do método.

Modificação do comportamento

As teorias e os procedimentos subordinados à teoria comportamentalista


seguem, com algumas variações, o esquema tradicional da Psicologia Experimental
e de seus estudos no campo da psicologia da aprendizagem, já que" aconselhando,
orientando, intervindo na conduta, o psicólogo ou terapeuta visa modificar
comportamentos existentes e promover a instalação ou aprendizagem de outros. A
expressão "modificação do comportamento" ("behavior modification") tem
prevalecido como título dessa nova abordagem, ainda que pareça imprópria, eis que
todo processo de aconselhamento ou de psicoterapia tem como alvo modificações
comportamentais.
Os estudos e preocupações com as mudanças de comportamento,
entendidas como tais as respostas a certos estímulos, podem ser, sob nomes e
situações diversas, localizados nas mais longínquas épocas, desde que o homem
tenha modificado sua conduta face aos resultados ou conseqüências que sente ou
observa. Os estudos de laboratório datam, porém, do século passado dentre os
quais os de Ebbinghaus e de Thotndike. Posteriormente, Pavlov, Hull e outros
pesquisadores ofereceram novas contribuições até que, com Watson (1930),
Skinner (1938, 1967,1968), Bandura (1961), Lazarus (1971,1972,1977) e outros
especialistas do campo, as implicações teóricas e práticas alcançaram quase todos
os domínios da psicologia, inclusive o aconselhamento e a psicoterapia,
ramificando-se em teorias e ações suplementares e, por vezes, um tanto divergentes
entre si. O corpo teórico básico permanece, embora, para muitos, seja inaceitável,
como foi a teoria psicanalítica no começo do século XX. Estudos, comentários e
análise de resultados da terapia comportamental são fartamente apresentados em
numerosas publicações das quais se destacam as de Eysenck (1952, 1960), de
Hersen e outros (1979) e de Franks e Wilson (1980).
O princípio básico da teoria comportamentalista é o de que o comportamento
humano, como o dos animais, é função de fenômenos que o precederam, isto é, de
antecedentes que facilitam, dificultam ou impedem o surgimento de uma dada
resposta. É claro, também, que essa mesma resposta pode ser afetada por fatores
constitucionais, inatos, não observáveis o que, todavia, não invalida o princípio geral.
As conseqüências de um comportamento podem, também, modificar a ocorrência
de outro, do qual é um antecedente. Manipular os antecedentes, os conseqüentes e
os mediadores (processos encobertos, não diretamente observáveis) torna, pois, o
comportamento passível de mudança.
Os seguintes princípios teóricos e práticos são geralmente aplicáveis às
situações de aconselhamento e de psicoterapia:
a) O comportamento é função do ambiente. Controlamos e somos
controlados. Os eventos que ocorrem em torno de nós modelam o nosso
comportamento. O controle ocorre principalmente pelo reforço e pela punição.
b) O comportamento é aprendido quando, ao ocorrer, é de alguma forma
“recompensado”. A expressão “reforço” significa recompensa ou gratificação.
c) Se a uma resposta casual ou espontânea seguir-se um estímulo reforçador,
a força dessa reação (resposta) será aumentada; se não o for, sua freqüência, no
futuro, será menor. As respostas, reforçadas ou não, terão, assim, maior ou menor
probabilidade de ocorrer no futuro.
d) Há reforços positivos e negativos. Os primeiros consistem na
apresentação de estímulos, no acréscimo de alguma coisa à situação, tal como
alimento. água, contacto sexual, etc. Os outros consistem na remoção de algo
perturbador, por exemplo muito barulho, luz intensa, choque elétrico, frio ou calor
intenso, etc. Além destes, há reforços secundários ou estímulos que, associados aos
anteriores, atuam como eles.
e) Enquanto o reforçamento torna as respostas mais freqüentes, sua falta ou
ausência extingue a resposta.
f) A conseqüência da retirada do reforço positivo é uma redução na
freqüência das respostas, e a conseqüência da remoção de algo desagradável
(reforço negativo) é um aumento dessa freqüência.
g) Para que sejam eficazes os estímulos reforçadores, é preciso que eles
surjam logo após a resposta casual ou espontânea. Um intervalo maior do que
alguns segundos pode reduzir de muito o efeito reforçador. O reforçador deve
ocorrer exata e imediatamente após a concretização do comportamento a ser
aprendido. Caso isso não se verifique, um comportamento diferente pode
instalar-se.
h) O ato de aprender é uma modelagem paulatina do comportamento através
de reforços. Estes podem ser usados e planejados na situação de aconselhamento
e terapia de várias maneiras, usando-se intervalos e meios para discriminar e
generalizar.
i) Mudar o comportamento é mudar as conseqüências e rearranjar as
“contingências do reforçamento”.
j) A aprendizagem ou mudança comportamental ocorre através de quatro
tipos de processos:
- discriminação
- generalização
- encadeamento
- modelação.

k) O comportamento seguido de conseqüências reforçadoras (recompensa)


tem maior probabilidade de ocorrer novamente.
I) O comportamento seguido de conseqüências aversivas (punição) tem
menor probabilidade de ocorrer novamente, mas a força relativa da punição em
alterar o comportamento é pequena, comparada com a força do reforçamento
positivo.
m) O comportamento que não for reforçado tende a se extinguir.
n) Confirmar ao cliente que ele modificou seu comportamento em direção a
um resultado desejado é reforçador para ele.
o) A principal diferença entre os que aprendem é a rapidez com que ocorre a
aprendizagem, não a maneira como ela ocorre.
p) Uma das contingências de reforçamento mais importantes é o tempo que
medeia entre o comportamento e o reforçamento. Quando as conseqüências
positivas ocorrem imediatamente após o comportamento, as probabilidades de que
este venha a ocorrer novamente são maiores do que se houver uma demora.
q) A transferência do comportamento de uma situação para outra depende de
provocá-lo na situação mais próxima possível da realidade que se quer atingir.
r) Outra contingência importante é o esquema de reforçamento, isto é, a
conseqüência intermitente ou contínua. O mais eficiente para instalar novos
comportamentos é o esquema de reforçamento contínuo (que ocorre sempre após a
emissão da resposta), e para manutenção do comportamento é o esquema
intermitente (que ocorre de vez em quando sem que a pessoa saiba quando
ocorrerá, mas espera que ocorra).
s) O intervalo entre os reforços é importante. Em geral é mais eficiente iniciar
reforçando o comportamento toda vez que ele ocorra e, a seguir, deixar de reforçar
em algumas ocasiões. Passa-se depois a reforçar ao acaso de maneira a manter-se
o comportamento desejável.
t) Finalmente, para que o comportamento possa ser instalado, é preciso
que o cliente emita esse comportamento.

As aplicações desses princípios em situação de aconselhamento ou terapia


exigem muitas situações previamente programadas: Terapeuta e cliente procuram:
a) identificar o comportamento que se quer instalar; b) determinar o critério ou nível
de realização adequado ou desejável; c) criar condições em que apareça o
comportamento desejado e os reforçadores adequados; d) aplicar o esquema de
reforçamento mais adequado; e) escolher situações que mais se aproximem: do
real; f) minimizar a possibilidade de erros ou punições; g) criar um procedimento
para a ocorrência da resposta desejável e verificar a manutenção desse
comportamento.

Fé, misticismo, parapsicologia e áreas correlatas

Neste conjunto de recursos, condenado por muitos, aceito por outros, mas
aberto a conjecturas, haveria que distinguir algumas posições principais, a saber: 1)
procedimentos que, embora sob denominações diversas, incluem-se no campo da
fisiologia e da psicologia convencional ou da ciência em geral; 2) procedimentos
relacionados com doutrinas ou práticas não ortodoxas, baseados em “forças” ou
agentes sobrenaturais; 3) procedimentos parapsicológicos que incluem parte do
primeiro grupo, parte do segundo e fenômenos ainda pouco esclarecidos.
A primeira posição pouco acrescenta, do ponto de vista científico atual, aos
procedimentos que a ciência dispõe; apenas muda-se de nome e tenta-se criar uma
doutrina própria. O ritual que os acompanha é, geralmente, parte de um revigorante
influxo sugestivo ou um processo bem elaborado de condicionamento operante e,
desse modo, produz resultados. Podem ser incluídos neste grupo: o Hinduísmo,
para estados de tensão e que compreende, em geral, relaxamento muscular,
meditação e, depois, concentração em soluções objetivas para os problemas; a
Yoga, uma variante do hinduísmo que visa ao autocontrole, em vários estágios; o
Budismo, que busca o controle de todos os desejos e o domínio de si mesmo como
técnica para eliminar sofrimentos; o Zen-budismo, baseado na intuição e na
iluminação, na procura de maneiras diferentes de solver problemas; muitas técnicas
orientais, influências astrais e de fenômenos da natureza (Barter, 1967).
A meditação, outrora pertencente apenas ao campo do comportamento
esotérico, próprio de certos rituais orientais, é hoje um procedimento aplicado como
recurso terapêutico básico ou associado a outros métodos. Maupin (1965) é
considerado um dos pioneiros nas investigações e aplicações experimentais do
método. Deikman (1966), paralelamente, relata que a meditação pode induzir a
pessoa a libertar-se de estereótipos mentais e atingir formas mais agradáveis de
encarar as realidades existentes.
A meditação pode relacionar-se, no plano teórico ou operacional, a outros
procedimentos, tais como o treinamento autógeno, de Schultz, à Yoga, à
auto-regulação do processo cerebral e aos processos genéricos de tomada de
consciência (Chang, 1978): Estudos citados por Hart e Tomlinson (1970) indicam a
ocorrência de mudanças fisiológicas devidas à meditação e que a pessoa “pode
aprender a controlar suas ondas mentais” (p. 588). Dizem os mesmos autores que
“se o homem puder aprender a controlar sua própria consciência, através da
combinação de antigas técnicas com a moderna tecnologia, estaremos entrando em
uma nova idade cultural” .
A meditação lembra, ainda, a Terapia Morita (Chang, 1978) e implicações em
áreas correlatas tais como a percepção do próprio Eu, um recurso para entender a
consciência e o uso de processos subjetivos para controle mental. Infelizmente,
há poucas pesquisas significativas sobre tão fascinante campo e muitos
métodos e técnicas são, apenas, comercialmente explorados.
Na segunda posição podem ser encontrados certos cultos e crendices com
grande variedade de atuações físicas, materiais e espirituais; pode incluir
superstições, magias e correlatos.
Embora a dimensão do transcendente em terapia não seja ignorada pela
ciência psicológica, sua deturpação sob a forma de rituais exóticos é francamente
questionada pelos riscos que a obsessão e a compulsão podem acarretar.
Sacrifícios pessoais e atos anti-sociais podem ter origem em posições místicas
inabaláveis. Muitos líderes carismáticos, atuando sobre pessoas emocionalmente
imaturas ou em extremos graus de ansiedade ou sofrimento, podem converter-se em
“agentes” de cura ou de solução de problemas. O culto de imagens, de pessoas
vivas ou mortas, de gestos, de palavras e de hábitos, bem como as expiações
deliberadamente impostas e deliberadamente aceitas, inclusive autotortura e
flagelamento, em funções de certos “deuses” ou símbolos mágicos, é atuação
comum notadamente em povos primitivos e nos habitantes marginalizados de
grandes concentrações urbanas.
Os sistemas com base na fé podem produzir curas, seja por efeitos
sugestivos, seja por modificação biopsíquica resultante de redução de tensão, seja
por outros fenômenos ainda não totalmente explicados. Neste grupo encontram-se
toda sorte de ações, inclusive as que ocorrem em sessões espíritas.
Em uma terceira posição encontra-se um conjunto de fatos e de atuações na
área da Parapsicologia e, a julgar pelos dados existentes até o momento, segundo a
maioria dos autores, “os fenômenos parapsicológicos, na realidade, não passam de
fenômenos psicológicos” (Ribas, in Amadou, 1969). Embora essa afirmação tenha
certo conteúdo de verdade, não se pode negar a existência de outros fenômenos (as
funções psi) que não se acham, ainda, suficientemente explicados pela psicologia
comum ou científica.
É pensamento do autor que o aconselhamento e a terapia psicológica por
procedimentos parapsicológicos enquadram-se, embora não nominalmente, na
vasta gama de métodos e técnicas já conhecidos, principalmente nos procedimentos
reflexolôgicos, comportamentais, persuasivos e sugestivos. Há que se admitir,
todavia, a possível ocorrência de eventos que, embora possam se enquadrar no
campo científico que conhecemos, ainda assim constituem áreas que precisam ser
consideradas e investigadas.
Segundo Amadou, a utilidade da parapsicologia consiste em permitir melhor
conhecimento da natureza psicológica e fisiológica do homem. “Se a psicologia
profunda dá às manifestações paranormais o seu sentido pessoal e as recoloca no
seu contexto individual, em compensação a parapsicologia enseja aos analistas não
vaguearem acerca da interpretação de determinada manifestação paranormal e os
habilita a compreender e a fazer compreender melhor ao paciente seu próprio
inconsciente, permitindo-lhe que atue sobre ele” (Amadou, 1969). Em suma, não nos
parece haver, até o momento, suficientes razões para se acreditar em métodos e
técnicas exclusivamente parapsicológicas, com causas, procedimentos e resultados
próprios de um novo sistema psicológico. Contudo, um estudo de procedimentos
nessa área é indispensável.
Aconselhamento e terapia em processos de grupo

A literatura psicológica, em geral, cita Pratt como pioneiro do trabalho em


grupo com finalidades profiláticas e terapêuticas, ao reunir tuberculosos, internos de
um hospital, nos Estados Unidos, em 1905, e levá-los a discutir seus problemas de
vida. Moreno, em 1920, é também citado e, especialmente, Kurt Lewin, ao propor,
em 1947, os famosos “T-Group” (grupos de treinamento). Posterior mente surgiram
inumeráveis proposições sobre o assunto e estudos sobre os processos grupais
(Foulkes, 1951; Cartwright e Zander, 1953; Powdermaker e Frank, 1953; Glanz e
Hayes, 1967; Rogers, 1970; Bion, 1974). Há grande variedade de alvos e de
técnicas para aconselhamento e terapia em grupo e de grupo. Algumas formas de
atuação têm objetivos claros e exclusivos; outros são semiconcentrados em
determinadas áreas ou assuntos; outros, enfim, deixam a direção e o conteúdo dos
assuntos a cargo do próprio grupo. Do ponto de vista da estrutura e da dinâmica
grupal podem ser geralmente encontrados os seguintes estilos operacionais*:
* Vide parte final do capítulo 5
1. Grupos orientados ou dirigidos, nos quais a discussão e as contribuições
dos participantes são concentrados pelo líder (monitor ou facilitador) em alguma
tarefa, sentimento ou atitude que constitua um alvo específico de interesse comum
do grupo ou de uma organização. Tais grupos geralmente se associam ao contexto
sócio-cultural ou ambiental e têm, na maioria das vezes, uma finalidade
psicopedagógica, isto é, visam desenvolver comportamentos considerados úteis ou
necessários;
2. Grupos de apoio ou de estímulo, destinados a encorajar e manter certas
atitudes e hábitos, bem como desestimular outros tais como o uso de drogas,
delinqüência, etc. São exemplos o A.A.A., para alcoólatras, o “synamon”, para
toxicômanos, os centros de valorização da vida e outros. Geralmente concentram-se
na solução de problemas específicos.
3. Grupos de livre iniciativa, dos quais os Grupos de Encontro são um
exemplo, bem como certos tipos de comunidade terapêutica. Enfatizam a liberdade
de expressão e de experienciação, a melhora das relações interpessoais e a
redução de tensões.

Os grupos variam também quanto a sua composição, duração e


instrumentação utilizada. Podem ser abertos (para qualquer pessoa, em qualquer
momento) ou fechados (destinados a certas pessoas); podem ter duração ilimitada
e não programada ou, ao contrário, obedecer a rígidos limites de datas, horários e
locais; podem ser conduzidos em ambientes especiais ou não e podem utilizar
apenas a verbalização, ou as posturas e a abordagem corporal, bem como leituras,
atividades lúdicas, profissionais e de lazer ou entretenimento.
Todos esses estilos, sua fundamentação teórica e sua técnica são aplicados
em diferentes situações tais como na terapia familiar, na terapia conjugal, na terapia
profissional, na terapia infantil (combinada com a ludoterapia), na terapia de idosos,
na terapia de doentes ou de pessoas segregadas nas prisões ou instituições sociais
e assim por diante. Muitos dos processos grupais já adquiriram nomes próprios, tais
como Psicodrama, A.A.A., Grupo de Encontro, etc.
Sabem todos quantos operam em grupos que os comportamentos em
situação grupal podem ser muito distintos dos que ocorrem na relação diádica, entre
terapeuta ou conselheiro e cliente. Embora possa parecer simples, mesmo em
grupos não dirigidos, o trabalho do terapeuta, ou de dois ou mais terapeutas
operando em conjunto, é um processo complexo. Em geral, os grupos são
organizados e conduzidos (ou facilitados) de acordo com a fundamentação
doutrinária a que se filiam seus condutores ou facilitadores. Há grande diferença de
procedimentos, por exemplo, entre as ações manifestas ou conduzi das em um
grupo liderado por um psicólogo comportamentalista e as decorrentes de um
psicólogo de formação freudiana, adleriana ou rogeriana.
Além da diferenciação doutrinária que se caracteriza pelo tipo de
verbalização, interpretação ou intervenção do terapeuta, há, ainda, que considerar
dois alvos bem distintos: a) o grupo como alvo terapêutico e o grupo como agente
terapêutico na pessoa. O grupo sempre representa uma dimensão social que
envolve a. maneira como as pessoas se comunicam, como efetuam transações e
interagem em geral. Pode haver, pois, uma concentração no plano coletivo, no grupo
como um organismo ou, por outro lado, com a pessoa e com a forma pela qual
responde ela à situação grupal. No primeiro caso temos a terapia de grupo; no
segundo a terapia em grupo. .
Os efeitos das terapias em situação de grupo são difíceis de avaliar, dada a
extrema variedade de casos e situações. Faltam dados concludentes sobre
composição de grupos, sobre sua duração e característica metodológicas. A
maioria dos autores concorda em que o grupo oferece apoio, estímulo e contacto
com a realidade e, nesses aspectos, sobrepõe-se à terapia individual.

5 - A Revolução Rogeriana no Campo do Aconselhamento Psicológico

e da Psicoterapia

Síntese histórica

Não é fácil identificar as origens do movimento que, em orientação,


aconselhamento psicológico e psicoterapia, marcaram as profundas mudanças
conceituais e operacionais ocorridas nos meados do século em que vivemos. Os
conceitos sociais se encaminhavam no sentido de valorizar o homem, a pessoa, seu
ideais e seus direitos humanos e se verificava, paralelamente, em observações do
comportamento dos clientes e dos terapeutas, que os métodos assistenciais para
“desajustados “ para “ ansiosos” para “neuróticos” e até mesmo para “psicóticos”,
vítimas de rótulos tradicionais, herdados da longa tradição psiquiátrica, atuavam
melhor quando se respeitava as pessoas como elas são, quando se evitava dirigi-las
ou impor normas de conduta. O sentido de liberdade do homem vem de longe e já a
própria religião, na sua longa história, atribui ao homem a faculdade do livre arbítrio,
sem o que o pecado e a virtude não teriam sentido. A antipsiquiatria e o
existencialismo-fenomenológico (Laing, 1963) nos mostram o drama do ser humano
pressionado por modelos e imposições sociais que o alienam e o conduzem a
comportamentos tidos como anormais ou patológicos.
A procura de um alvo na vida e a auto-afirmação, como pessoa, o respeito
aos interesses e ao estilo de vida de cada um parecem ter surgido,
simultaneamente, em todas as esferas da atividade humana, como natural explosão
de repressões acumuladas durante séculos. Passou-se de uma atitude impositiva,
reflexo de uma ciência fragmentária que ditava valores e métodos, a uma concepção
humanística na qual se colocava o organismo e a pessoa como entidades
dominantes em função das quais os fatos psicológicos e a conduta são melhor
explicados e compreendidos. Nesse contexto tomaram forma as idéias de Carl
Rogers, a partir de seu revolucionário livro: Counseling and Psychoterapy: newer
concepts in practice (Boston; H. Mifflin, 1942).
A repercussão das idéias rogerianas pode, pois, ter ocorrido por representar
uma tendência que na época já germinava como, também, ser entendida como uma
gigantesca descoberta no campo psicológico. É provável que, em certos limites,
esses dois eventos tenham se agregado. E, como as novas idéias constituíram um
meio assistencial de que antes não dispúnhamos ou que 'substituíam antigos e
inaceitáveis conceitos operacionais, a elas nos dedicamos, como muitos psicólogos
de todo o mundo. E, por esta razão, temos um capítulo todo especial deste livro.
Rogers descreve sua própria história e como se viu envolvido em métodos
revolucionários no campo da Psicologia. Diz ele que por mais de trinta anos foi
Conselheiro Pessoal ou Psicoterapeuta, tentando ajudar crianças, adolescentes e
adultos,quer apresentassem problemas de estudos, de escolha de carreira, de vida
matrimonial; quer fossem normais, neuróticos ou psicóticos (pois para ele esta última
classificação indica, apenas, rótulos enganosos). Escreveu Carl Rogers vários livros
e muitos artigos em revistas especializadas. Estes últimos ascendem a cerca de
140.
Rogers é psicólogo e dedicou-se, essencialmente, aos trabalhos de
aconselhamento psicológico e psicoterápico, embora, na realidade, seja difícil
distinguir onde terminam uns e começam outros. Seu interesse, como ele mesmo
declara, prende-se ao sofrimento e à esperança, à ansiedade e à satisfação que se
acham presentes na sala do conselheiro psicológico ou do terapeuta. Dirige-se às
peculiaridades da relação que cada terapeuta desenvolve com seu cliente e,
igualmente, aos elementos comuns que descobrimos em todas essas relações.
Concentra-se nas grandes experiências pessoais de cada um de nós; no cliente que,
no consultório, luta para ser ele próprio, ainda que com medo mortal de ser ele
mesmo, tentando ver suas experiências como elas são, desejando vivê-las e, no
entanto, profundamente temeroso do futuro.
Interessante é notar que Rogers defenda ardentemente os processos
terapêuticos em que predominam a permissividade e a total ausência de julga.
mento e de direção, com vida familiar, na infância e na juventude, marcada por
disciplina rígida e árduo trabalho. Seus pais trataram-no e a seus irmãos como filhos
queridos, embora controlassem, zelosamente, o comportamento de cada um. Nada
de bebidas alcoólicas, danças, jogos de cartas ou teatro. A vida social era restrita ao
mínimo e, em seu lugar, muito trabalho. A partir dos 12 anos, Rogers foi criado no
meio rural onde, lendo e estudando agricultura, tomou contato com métodos
científicos, grupos de controle e grupos experimentais e aprendeu, também, o quanto
é difícil testar uma hipótese. Essas são suas próprias afirmações (Rogers, 1961). .
Rogers sentiu que estava se interessando por Psicologia quando começou a
freqüentar cursos e conferências no Teachers College, da Columbia University, em
Nova York. Ainda em fase de completar seus estudos, empregou-se como auxiliar
numa clínica de crianças e, mais tarde, como psicólogo, em Rochester, Nova York. Aí
passou 12 anos atendendo crianças delinqüentes e com problemas
sócio-econômicos, enviadas, em geral por agências e pelos juizados de menores.
Faziam-se diagnósticos e “entrevistas” de tratamento, nos quais a preocupação
dominante era: “Será que dá certo?”; “Vale a pena?”. Vários casos de delinqüência
ou de tendências anormais foram assistidos sem que se constatasse qual quer
recuperação. Alguma coisa estaria errada ou ausente do trabalho psicológico. É
quando começa a lhe ocorrer a idéia de que os clientes, e só eles, é que realmente
sabem o que os traumatiza, que direções tomar, quais os problemas cruciais.
Somente o cliente poderia, pois, oferecer a pista para o rumo a seguir.
Ao trabalhar na Universidade de Rochester, passou Rogers a alimentar
dúvidas sobre se era ou não um psicólogo, pois essa instituição deixou bem claro
que o trabalho por ele desenvolvido não era Psicologia. Seus contatos
subseqüentes, porém, no ramo psiquiátrico e de serviço social e sua filiação à
American Association of Applied Psychology, permitiram-lhe sentir-se mais à
vontade no campo psicológico. Convidado pela Ohio State University, em 1940,
após a publicação de seu primeiro livro, Clinical Treatment of the Problem Child
(1939), começaram suas idéias a provocar discussões. Dois anos depois, em 1942,
publicou seu mais famoso livro, Counseling and Psychotherapy, cujas vendas já
ultrapassam a casa dos 70.000 exemplares. Com esse livro, inicia-se grande
divulgação das idéias e técnicas que vieram transformar profundamente os
procedimentos até então vigentes, principalmente no campo da orientação e da
psicoterapia.
Em 1951, no livro Client-centered Therapy, expande Rogers suas idéias e
analisa melhor várias situações do processo terapêutico, concluindo por apresentar
uma teoria sobre a personalidade e o comportamento. Em 1961, publica On
Becoming a Person, no qual insere, na mesma linha original, vários fatos e
conseqüências como ele os vê, decorrentes de seus princípios.
Em 1965, com Kinget, escreve Rogers um livro extremamente prático sobre
os procedimentos da terapia rogeriana, aproveitando parte de seus trabalhos
anteriores. Em 1969, Rogers descreve seus métodos aplicados ao ensino e à
educação. Em 1970, abordando o trabalho terapêutico com grupos, comenta Rogers
os efeitos observados e as condições facilitadoras das mudanças operadas nos
clientes. Sobre problemas matrimoniais relacionados com assuntos sexuais, escreve
Rogers, em 1973, um livro em que expõe os sentimentos experimentados por casais
face a algumas variações no modelo clássico de vida matrimonial. Outros livros se
segui ram, inclusive A Pessoa como Centro, escrito em português com tradução e
cooperação de Rachel L. Rosenberg, a qual, com o autor, organizou e dirigiu
serviços psicológicos de orientação rogeriana na Universidade de São Paulo, a
partir de 1967.
À vida profissional de Rogers é marcada, ainda, por várias posições
profissionais, tais como as de professor da Universidade de Chicago, de 1945 a
1957, de professor da Universidade de Wisconsin, de 1957 a 1963, de membro
diretor do Western Behavioral Sciences Institute, em LaJolla (.Califórnia), a partir de
1964, e, finalmente, de membro fundador do Center for Studies of the Person, na
mesma cidade.
Seus livros são marcos históricos na evolução e desenvolvimento de idéias
humanísticas. Muitas destas acham-se insertas em conferências e artigos de
revistas e jornais. Todo esse conjunto de conceitos e de orientação terapêutica
tornou o método rogeriano muito conhecido e não menos discutido; passou a
impregnar, direta ou indiretamente, as atuações dos terapeutas de todas as escolas;
afetou os processos de orientação educacional e profissional e penetra, agora, no
campo filosófico, desenvolvendo idéia sobre o ser humano, sua liberdade e suas
possibilidades permanentes de vir a ser ele próprio.
Embora alguns terapeutas ainda se conservem alheios ou cépticos em
relação ao método rogeriano, este progride mesmo no campo médico-psiquiátrico,
abalando técnicas tradicionais de outras correntes e até mesmo da Psicanálise.
Discípulos, colaboradores e seguidores existem em todos os países, inclusive no
Brasil. Em nosso país, os estudos sobre o método rogeriano tiveram início nos
cursos para formação de Orientadores Educacionais, sob a forma de disciplina
teórica. Com a criação dos cursos de Psicologia, a divulgação do método, do ponto
de vista teórico e prático, passou por grande desenvolvimento; Coube-nos a
regência desses cursos na Universidade Católica de Campinas, em 1958-1960, na
Universidade Católica de São Paulo, de 1960 à 1964, e a partir dessa data na
Universidade de São Paulo. Neste última, um centro de aconselhamento psicológico,
de orientação rogeriana, foi por nós criado em 1966, continuado, depois, por RacheI
Rosenberg, Henriette Morato e outros colaboradores.

Idéias básicas e originais

As idéias de Rogers têm suas raízes em muitas e diferentes fontes, das quais
a prática com clientes parece ser a mais significativa. Não obstante, e como ele
próprio afirma, a terapia de Otto Rank, os trabalhos de Jessy Taft, de John Levy e de
Frederic Allen são origens importantes. Dentre os modernos analistas, Horney
poderia ser citada (Rogers, 1951).
Rogers declara que o desenvolvimento de seu trabalho não teria sido possível
sem a apreciação dos impulsos inconscientes e dos complexos de natureza
emocional que constituíram a contribuição de Freud. Embora seu trabalho tenha se
desenvolvido de algum modo diferentemente dos pontos de vista terapêuticos de
Horneye Sullivan, ou de Alexander e de French, mantém, todavia, muitas linhas de
interconexão com essas modernas formulações do pensamento psicanalítico. Por
outro lado, a psicologia da Gestalt teve, também, sua participação e, assim, outras
correntes, de forma que a terapia centrada no cliente foi influenciada pelas teorias e
técnicas atuais do campo clínico, científico e filosófico que se acham presentes em
nossa cultura.
Segundo o próprio Rogers descreve (1942), os novos conceitos têm alvos
completamente distintos dos anteriores. O indivíduo é o foco e não o problema. O
objetivo é facilitar o “crescimento” do indivíduo e não resolver problemas específicos.
É permitir que com maior independência e integração pessoais possa ele próprio, o
cliente, enfrentar não só o problema presente como os do futuro, de forma mais
adequada. Não consiste em fazer-se alguma coisa para o indivíduo ou induzi-lo a
fazer algo; consiste, apenas, em liberá-lo para seu crescimento e desenvolvimento
normal. Os conselheiros ou terapeutas são apenas facilitadores desse crescimento.
Do problema o que importa são os aspectos emocionais e não os intelectuais.
Salienta-se mais a situação presente que a passada. Os padrões emocionais de
reação, aqueles que atuam no seu comportamento e que precisam ser considerados
mais seriamente, apresentam-se tanto no passado como no presente. Finalmente, a
própria entrevista psicólogo-cliente ou terapeuta-cliente é, em si mesma, uma
experiência valiosa, uma experiência de crescimento. A conseqüência básica
desses conceitos é que, ao contrário de muitas outras correntes, os alvos a atingir
são os mesmos para todos os clientes, pouco significando se se trata de um jovem
com dificuldades de escolha de carreira, de alguém com distúrbios psicossomáticos
ou de pessoa com dificuldades matrimoniais.
Poder-se-ia afirmar que a técnica de Rogers foi bem aceita porque, de certa
forma, libertou muitos psicólogos e orientadores da angústia gerada pelo fato de não
saberem o que fazer com os clientes. Afeitos ao diagnóstico, mas não a medidas
para intervir no comportamento, vinham os conselheiros em busca de algo que lhes
sugerisse uma forma de atuar sobre o cliente, de intervir no seu comportamento com
vistas à recuperação, ao desenvolvimento ou à cura. Rogers ofereceu uma solução a
esse crucial problema, dando-lhes um instrumento de trabalho, permitindo que se
transpusesse o profundo fosso entre o diagnóstico e a assistência efetiva esperada
pelo cliente ou por seus responsáveis, como assinalamos no Capítulo 1
O caráter marcante do método é a clássica não-diretividade, embora muitos
psicólogos questionem essa posição e a vejam como utopia ou algo inoperante. Em
verdade, o não-diretivismo de Rogers não é tão inconciliável quanto parece com
outros métodos. Pesquisas diversas mostram ser possível utilizar uma combinação
de técnicas em benefício do cliente (Barros Santos, 1970, 1972).
Além de sua contribuição doutrinária, baseada em experiências
assistemáticas iniciais com centenas de casos, abriu Rogers as fronteiras das
entrevistas individuais, gravando-as e estudando-as. Iniciou uma nova era na
investigação sobre o que ocorre nas sessões terapêuticas tentando, com os poucos
recursos disponíveis, introduzir julgamentos e avaliações por critérios que não
fossem só os do terapeuta envolvido nas sessões. Em conseqüência, pesquisas e
experimentos dos mais variados tipos, sobre os fenômenos que surgem na relação
psicólogo-cliente, são hoje possíveis.
O método rogeriano, inicialmente absorvido por técnicas de diálogo na
entrevista, vem evoluindo em face do acúmulo de dados colhidos pelo seu criador e
por seus seguidores. As bases continuam, porém, as mesmas, ou seja:

1. O diagnóstico anterior ao tratamento é dispensável. O comportamento


psicológico inadequado é caracterizado por tensões que dificultam respostas
adaptativas. Reduzir as tensões para que o indivíduo manipule seus recursos
pessoais é a orientação básica, qualquer que seja o problema enfrentado pelo
cliente.
2. O indivíduo tem tendências pessoais, próprias, de auto-realização. O
trabalho do terapeuta é libertar o indivíduo das barreiras psicológicas que impedem
esse crescimento. Para tanto, deve criar uma atmosfera isenta de pressões, críticas
ou direção, na qual as forças construtivas são liberadas.
3. Os conceitos e as imagens que o indivíduo faz de si e dos outros
pautam-se pelo esquema fenomenológico. O mundo é, para ele, aquilo que ele
sente. Durante o processo de tratamento, psicólogo e cliente tornam-se capazes de
reconhecer o que representa para este o conceito de si mesmo e como se sente em
face dessa imagem de si mesmo. No tratamento bem sucedido, essa imagem e os
sentimentos que a acompanham são modificados; as percepções se tornam mais
flexíveis; os sentimentos podem ser diferenciados e as experiências simbolizadas
adequadamente.
4. A tarefa do terapeuta concentra-se, principalmente, em atitudes. Veremos,
mais adiante, como o próprio Rogers descreve essas atitudes básicas como
condições para modificações construtivas da personalidade.
5. O psicólogo não dá conselhos, informações ou apoio, nem interpreta.
Como facilitador, reflete e vi vencia tanto quanto possível os sentimentos do cliente.
Este deve sentir as relações entre seus problemas e sua experiência passada e
presente. Estas, sentidas e simbolizadas, assim como planos de ação e tentativas
de ajustamento, emanam naturalmente do cliente, sem qualquer atuação direta,
nesse sentido, por parte do psicólogo. O indivíduo recompõe suas percepções e a
vivência de seus sentimentos.
Embora a compreensão do pensamento rogeriano seja relativamente
fácil, não o é sua aplicação orientadora ou terapêutica. Alguns a confundem com
uma permissividade equivalente ao endosso ou aprovação de comportamentos
social ou pessoalmente prejudiciais; outros, com uma excessiva neutralidade que
conduziria a um relacionamento “frio e distante”; outros, ainda, com uma
superficialidade de tratamento.
É usual nos clientes, nos seus pais ou responsáveis e no próprio
público a expectativa de que a orientação inclua sugestões, indicações, lembretes,
informações e conselhos. Se é verdade que em certos casos tais procedimentos
são válidos, na maioria das situações essas técnicas são inócuas ou, às vezes,
prejudiciais. Se tais conselhos fossem úteis na modificação do comportamento, a
conduta humana poderia ser facilmente modificada; os delinqüentes poderiam ser
recuperados com bons conselhos; os doentes mentais poderiam ser tratados com
informações e indicações que lhes mostrassem e indicassem comportamentos
“normais”; as situações de ansiedade e de dúvida poderiam ser resolvidas com
informações adequadas.

Infelizmente muitos orientadores, e mesmo psicólogos, supõem que


recomendações e advertências são sempre necessárias. Acreditam que se deva
“fazer alguma coisa pelo cliente” e confiam nos seus informes e sugestões como
sendo um produto concreto e final de sua atuação. Muitos desses profissionais
assim agem por ignorância dos processos psicológicos, outros porque
emocionalmente sentem necessidade de dirigir e guiar, outros, enfim, porque se
sentem ameaçados pela crítica do cliente quando este não recebe indicadores
concretos e objetivos. Para reduzir suas próprias tensões, acabam dando conselhos
ou atuando de forma paternalista com a impressão de que assim agindo atuaram
corretamente.
Manipular as expectativas do cliente, dos pais, de professores e de outros
elementos envolvidos na orientação do caso não é fácil. Requer profunda habilidade
psicológica do facilitado r no sentido de demonstrar suas técnicas de atuação e de
levar o cliente a obter os efeitos desejáveis. Informar, previamente, o cliente sobre a
maneira de agir seria incorrer na mesma falha; dizer-lhe que não há recomendações,
sugestões ou conselhos pouco ou nada adiantaria. Precisa o cliente sentir, por si
mesmo, a forma de atuar do facilitador, orientador ou do psicólogo, não no sentido
de que a responsabilidade das decisões lhe pesará agora mais do que antes, mas
no clima em que os problemas serão evocados e juntos - cliente e conselheiro - vão
ambos senti-los e estudá-los sem pressões ou soluções externas.
É tão grande a expectativa de “guias” e “direções”, “resultados” e “pareceres”
, que a maioria dos clientes se refugia nesses dados de forma profunda, não
obstante eventuais informações do conselheiro sobre o procedimento a adotar.
Podem os clientes sentir-se logrados, insatisfeitos, desgostosos com as atitudes de
conselheiros contrárias a essas expectativas. Essa frustração pode durar uma ou
mais sessões e pode levar muitos clientes a pensarem que o orientador ou nada
sabe ou é um charlatão. Todavia, se as sessões psicológicas forem adequadamente
conduzidas, esse sentimento desaparecerá facilitando opções ou mudanças
construtivas.

Rogers, em vários de seus trabalhos, discute as condições que, no seu


entender, facilitam o desenvolvimento psicológico e, em conseqüência, seu
ajustamento ou sua recuperação. Inicialmente, diz Rogers, (e isto é comprovado por
pesquisas) os “terapeutas, que realmente ajudam seus clientes, manifestam algo de
comum entre si. Essa verificação, como era de prever, demonstrou notável interesse
em todos os campos terapêuticas. A hipótese original é a de que modificação da
personalidade do cliente ocorre não em virtude da qualificação profissional do
terapeuta; não por causa de seu treinamento ou filiação doutrinária; não por motivo
de suas técnicas de entrevista; não por ser hábil em interpretar, mas, essencialmente
e somente, por causa de certas características de atitude que se formam na relação
com o cliente” (Rogers, 1965b).
Os clientes aparecem para terapia com uma desconcertante variedade de
problemas e uma enorme gama de características pessoais; enfrentam os
terapeutas, que, de Outro lado, demonstram larga diversidade de vistas com relação
ao que será útil como terapia exibindo, também, diversas características de
personalidade no contato com seus clientes. Todavia, subjacente a toda essa
diversidade, parece ser possível distinguir um processo básico no relacionamento
que permite a ocorrência de alterações terapêuticas ou construtivas na
personalidade do cliente.

As condições terapêuticas essenciais


Rogers (1957) concentrou suas preocupações em torno das atitudes que
devem ser desenvolvidas se quisermos, realmente, promover alterações benéficas
na personalidade do cliente. Três condições são necessárias por parte do psicólogo
ou terapeuta*:
* Grande parte deste capítulo contém frases e expressões do próprio Rogers,
transcritas pelo autor com pequenas alterações. As três condições básicas
apresentadas em 1957 são repetidas, posteriormente, em outros trabalhos

a) Congruência e autenticidade
É a relação genuína e sem fachada. O terapeuta é o que é, plenamente aberto
aos sentimentos e atitudes que “naqueles momentos fluem nele próprio”. E chamada
de congruência e significa, também, que o terapeuta é capaz de dispor dos
sentimentos que nele próprio ocorrem, acessível à sua percepção e apto a
comunicá-los, se necessário. Não se nega a si mesmo.
A congruência é maior na medida em que ele, terapeuta, seja capaz de ouvir,
com plena aceitação, o que ocorre em si mesmo e de vivenciar, sem medo, a
complexidade de seus sentimentos.
Na vida diária sentimos essa situação. Há pessoas que nunca são elas
mesmas; operam sob uma máscara ou fachada: dizem coisas que não sentem, são
incongruentes e dificilmente com elas nos abrimos. Confiamos, porém, naquelas que
são o que são, sem a fachada de polimento ou de profissão.
Diz Rogers que tem sentido uma confirmação clínica e experimental dessa
hipótese. Os terapeutas melhor sucedidos no lidar com clientes não-motivados,
resistentes, doentes crônicos, pobremente educados, são os que, antes de tudo, são
reais; que reagem de uma forma genuína, que exibem essa autenticidade e que são
assim percebidos pelo cliente. Ser congruente pode significar, às vezes, exprimir
aborrecimento, preocupação ou frustração no relacionamento com o cliente, mas de
forma tal que este sinta que isso parte do próprio terapeuta e não dele, cliente. Eis
por que técnicas psicoterápicas tão diversas podem ser efetivas na medida que haja
essa condição de congruência, ainda que atingida de maneira diversa (Rogers,
1965b ).

b) Consideração positiva incondicional

Esta segunda condição significa estar o psicólogo ou terapeuta vivenciando


atitudes positivas de aceitação e de calor humano para com o cliente. Envolve a
genuína boa vontade do terapeuta para com tudo que se passa na relação com o
cliente, seja medo, confusão, sofrimento, orgulho, cólera, ódio, amor ou coragem. O
terapeuta vê o cliente como um ser com potencial e reações humanas. Preza o
cliente de um modo tal que não aprova, nem reprova. É o sentimento positivo, sem
reservas e sem julgamento.
Rogers diz que não se precisa ser profissional para sentir a efetividade dessa
atitude. Menciona, como exemplo, o caso de Gladys, hospitalizada como psicótica
durante muitos anos e que começou a melhorar quando uma família começou a
recebê-la em sua casa, sem se importar com seus defeitos, aceitando-a sem
julgá-la, criticá-la ou guiá-la. Disse Gladys certo dia: “Eles (a família) me ajudaram
mais do que qualquer médico. Naturalmente os médicos ajudam também. Mas eles
agüentaram mesmo quando eu lhes era desagradável e dizia coisas que não devia”
(Rogers, 1965b).
O exemplo não é uma história incomum. Muitos casos se lhe assemelham. O
significativo, porém, é que, pouco a pouco, o amor, o carinho, sem tutela ou guia, por
essa jovem, transformou uma alucinada psicótica em alguém com boas
possibilidades de sucesso fora do hospital. O casal que a aceitou deixou claro à
cliente que eles a compreenderiam ainda que seu comportamento fosse estranho ou
denotasse rejeição. Foi um respeito positivo incondicional que, gradualmente,
modificou sua vida e sua personalidade. É essa uma das atitudes que torna efetivo o
terapeuta.

c) Compreensão empática do cliente

Significa ter o terapeuta senso do .mundo interno e das significações


pessoais do cliente como se fosse, ele próprio, seu próprio mundo, mas sem perder
esse “se”. Sentir sua cólera, seu medo ou seus sentimentos de perseguição como se
fosse ele mesmo e, entretanto, sem que o terapeuta se sinta completamente
envolvido por eles. Quando o mundo do cliente é claro ao terapeuta, este pode
mover-se nele livremente, podendo comunicar sua compreensão do que já é
conhecido ao cliente e falar, também, dos significados das experiências pessoais
que o próprio cliente pouco percebe.
Este tipo de empatia é extremamente raro. Não recebemos nem oferecemos
tal atitude com grande freqüência. Em seu lugar, costumamos dizer mais ou menos
assim: “entendo o que está errado com você” ou “entendo porque você age dessa
maneira”. Tais compreensões envolvem julgamentos. Quando porém, o cliente sente
que alguém entende seus sentimentos, sem desejar analisá-los ou julgá-los, pode
florir e crescer nesse clima. Quando o terapeuta pode perceber o que se passa de
momento a momento, no mundo interno do cliente, como este vê e sente, sem perder
sua própria identidade, nesse processo de empatia, então a modificação é possível
de ocorrer.
A menos que o cliente já tenha percebido as atitudes do terapeuta, acima
descritas, é necessário que a transmitamos de alguma forma, pois só assim a
autenticidade, a aceitação e a empatia podem produzir ou facilitar as modificações
desejáveis. Esta é a condição por parte do cliente.

A hipótese essencial segundo Rogers

Rogers repete que a modificação construtiva da personalidade surge


somente quando o cliente percebe a experiência, no clima psicológico, de sua
relação com o terapeuta. Os elementos desse clima não consistem em
conhecimentos, treinamento intelectual, orientação doutrinária em psicoterapia ou
em técnicas especiais. São sentimentos ou atitudes que devem ser experimentados
pelo terapeuta e percebidos pelo cliente.
Outro aspecto da hipótese é que ela pode ser verificada através dos termos
em que foi formulada, de modo a se descobrir até que ponto as qualidades previstas
no relacionamento terapeuta-cliente são ou não fatores causais na produção das
alterações previstas pela psicoterapia. .

Rogers reconhece que suas idéias e atitudes são extremamente criticáveis e


que os outros também as vêem desse modo. As hipóteses, porém, quando
colocadas em termos operacionais, permitem o recurso aos fatos para verificar se
são verdadeiras, falsas ou parcialmente verdadeiras.
Empiricamente, as hipóteses foram testadas de várias maneiras:

a) Estudos de Halkides (Hart e Tomlinson, 1970), referentes à análise da


conversação entre cliente e terapeuta, revelaram ser as três condições (congruência,
consideração positiva incondicional e empatia) associadas aos casos melhor
sucedidos sob o ponto de vista terapêutico. Por outro lado, a intensidade emocional
das expressões dos clientes não se correlacionou, significativamente, com as outras
condições ou com o grau de sucesso.
b) Barret-Lennard (Rogers, 1965), utilizando-se de um inventário dirigido ao
cliente e ao terapeuta, para pesquisa da maneira pela qual um e outro percebiam a
relação terapêutica, concluíram o seguinte:

1. Os clientes que mostraram melhor alteração terapêutica perceberam


melhor as atitudes propostas por Rogers;
2. A correlação entre a percepção, pelo cliente, das atitudes propostas e o
grau de alteração foi maior do que a correlação entre a percepção do terapeuta e o
mesmo grau de alteração. Tais dados significam que o mais importante é o fato de o
cliente perceber a autenticidade, o respeito e a empatia manifestados pelo
terapeuta;
3. A percepção das atitudes propostas ocorre com mais facilidade nos
terapeutas mais experientes e nos clientes menos desajustados.
c) No que se refere à psicoterapia com esquizofrênicos, Rogers verificou que:

1. Os esquizofrênicos percebem as atitudes propostas em nível muito mais


baixo do que os neuróticos;
2. Na medida em que o esquizofrênico percebe as atitudes, melhores são as
possibilidades para uma ação terapêutica;
3. Quanto maior for o grau de empatia e de congruência, tanto maior será o
índice de interação do cliente com outras pessoas;
4. Os clientes envolvidos por essas atitudes-demonstram maior grau de
alterações construtivas da personalidade e, ainda mais, os que participam de uma
relação terapêutica pobre em compreensão empática demonstram agravamento de
sua patologia esquizofrênica.
Outros trabalhos e pesquisas, citados por Rogers ou por outros psicólogos e
psiquiatras, embora não possam ser concludentes, quer pelo reduzido número de
casos, quer pelo esquema operacional com que se tratou a hipótese, são dados
informativos análogos aos que, habitualmente, se coleta na Medicina e em outras
áreas. A dificuldade de se medir modificações emocionais é de todos conhecida e
constitui o mais sério entrave a qualquer pesquisa nesse campo (Truax e Carkhuff,
1970).
Os primeiros estudos realizados, dos quais apenas alguns foram
citados,demonstraram, segundo Rogers, que:

1. É possível estudar as relações entre causa e efeito em psicoterapia. E, se


as conclusões se confirmarem, havemos de pensar que, realmente, o que
caracteriza a psicoterapia são as atitudes do terapeuta, ou seja, o clima psicológico
que este cria;
2. É possível prever, com certa base nos fatos, que a relação percebida pelo
cliente como sendo de alto grau de congruência ou autenticidade do terapeuta, de
sensível e acurada empatia, de alto grau de consideração, respeito e estima e de
sua aceitação incondicional, terá grandes possibilidades de tornar-se uma efetiva
relação terapêutica. Isto se aplica tanto a neuróticos que procuram o psicólogo por
sua' própria iniciativa, como também àqueles que não apresentam desejo
consciente de ajuda;
3. A relação terapeuta.cliente, tal como existe fenomenologicamente,
apresenta associação significativa com a mensuração objetiva das alterações
ocorridas no cliente. Seria o caminho para uma ciência das experiências internas, a
medida das pistas ou das reações que conduzem ao mundo subjetivo do cliente;
4. Julgando-se o relacionamento que se estabelece entre terapeuta e cliente,
pode-se prever se os contatos estabelecidos serão ou não produtivos;
5. Desejando-se especialistas eficientes em seu relacionamento, devemos
nos concentrar menos no estudo do comportamento anormal, teorias psicoterápicas,
teorias da personalidade, treinamento no diagnóstico e mais em dois grandes
objetivos:

I) selecionar previamente os futuros psicólogos e psiquiatras que tenham as


qualidades potenciais aqui descritas como necessárias ao terapeuta;
II) realizar programas de formação educacional de sorte que as pessoas
assim selecionadas desenvolvam suas qualidades.

Infelizmente, diz Rogers, os programas atuais de Psicologia ou de Psiquiatria


agem em sentido contrário, dificultando ao psicólogo ser ele próprio,
sobrecarregando-o com uma bagagem teórica que o torna menos apto a entender o
mundo íntimo de outra pessoa. O essencial não são os conhecimentos técnicos, mas
as qualidades pessoais do terapeuta; não o que ele conhece, mas o que ele
vivencia.

A dinâmica do processo

Diz Rogers (1961), “mas o que faz a pessoa mudar para melhor, quando
durante um certo período mantém contato com um terapeuta que aplica as condições
previstas?”
Respondendo, diz que as reações do cliente são uma recíproca das atitudes
do terapeuta. Primeiramente, como o cliente encontra alguém que ouve, em atitude
não-crítica a seus sentimentos torna-se, pouco a pouco, apto a ouvir a si próprio.
Começa a receber comunicações de dentro de si mesmo; percebe que está
zangado; reconhece quando se acha amedrontado ou, apesar disso, corajoso. À
medida que se torna mais aberto ao que ocorre em si mesmo, passa a ouvir os
sentimentos que antes negava ou reprimia. Passa a perceber os sentimentos que lhe
pareciam tão terríveis, desorganizadores, anormais ou vergonhosos e que,
anteriormente, não fora capaz de reconhecer. Enquanto aprende a ouvir a si mesmo,
torna-se capaz de aceitar-se melhor. Expressa, cada vez mais, os aspectos
desagradáveis e escondidos de si mesmo. Lentamente, ao verificar as atitudes de
consistência e de consideração positiva e incondicional do terapeuta, passa a tomar
as mesmas atitudes para consigo, aceitando-se e reconhecendo-se tal como é e,
portanto, pronto a mover-se para frente, no processo de amadurecimento. Sente-se
capaz de retirar as fachadas que tem usado, eliminar certas defesas e abrir-se ao
que realmente é.
O cliente, ao passar por esse processo, move-se em um continuum. Vai do
estado no qual os sentimentos são irreconhecíveis, impessoais, inexpressos, para
um fluxo no qual cada sentimento é experienciado no momento, percebido, aceito e
adequadamente expresso. Inicialmente, o cliente está distante de sua própria
experiência. Um exemplo bem claro é o das pessoas que intelectualizando- falam
sobre si mesmas de forma abstrata, deixando quem as ouve sem saber o que se
passa nelas mesmas. Dessa distância, move-se o cliente para uma experiência
imediata, na qual vive abertamente essa mesma experiência e começa a saber que
pode voltar a seus sentimentos e descobrir seu significado.
O processo envolve uma liberação dos mapas cognitivos da experiência.
Partindo de experiências construídas de forma rígida, percebidas como fatos
externos, dirige-se o cliente para uma situação moldável que se constrói e se revê a
cada nova experiência. O processo, portanto, move-se da fixação, distância, rigidez
de autoconceito, alheamento a pessoas, impersonalismo de funcionamento a um
estado de maior fluidez, permeabilidade, imediatismo de sentimentos e de
experiência, aceitação destes e descoberta de um “eu” que muda como fruto das
experiências que se vêm modificando. Surge maior realidade e estreitamento de
relações e uma unidade e integração de funcionamento.

Evolução das idéias: o experienciar e as atuações em grupo

De acordo com alguns autores (Hart e Tomlinson, 1970; De La Puente, 1970,


Forghieri, 1972), a primeira fase da contribuição rogeriana estende-se de 1940 a
1950, caracterizada pela ênfase na não-diretividade e pela criação de uma
atmosfera permissiva, pela aceitação do cliente e pela preocupação com a
clarificação de seus sentimentos. As técnicas de entrevistas são estudadas; o
diálogo tipo “espelho”, repetição das expressões do cliente, é exemplo de
intervenção; as atitudes do terapeuta são dirigidas no sentido da promoção da
catarse, do insight e das ações positivas por parte do cliente. O marco desta fase é
estabelecido pelo livro de Rogers, Counseling and Psychotherapy (1942).
A segunda fase situa-se, aproximadamente, entre 1950 e 1957, surgindo sob
a forma de conceitos teóricos mais profundos e por uma atuação terapêutica mais
sistematizada. O livro Client-centered Therapy, publicado por Rogers em 1951, e o
livro Psychotherapie et Relations Humaines (1965), com a colaboração de Kinget,
são exemplos típicos desta fase. Neste momento Rogers passa a dar maior atenção
aos aspectos emocionais do que ao conteúdo verbal das expressões do cliente. A
reflexão dos sentimentos passa a ser a forma característica de atuação terapêutica
em lugar da repetição e da clarificação de sentimentos. O terapeuta procura captar o
sentimento subjacente à expressão do cliente e vivenciá-lo como se fosse ele
próprio, comunicando ao cliente essa sua percepção. É no final desse período que
Rogers (1957) menciona as condições necessárias e suficientes para psicoterapia e
que constituem até hoje uma das orientações básicas do esquema rogeriano: a
congruência, a consideração positiva incondicional e a empatia. Nesse mesmo
período, Rogers elabora uma teoria da personalidade, constituída de 19 pontos
essenciais e que, segundo ele próprio afirma, podem servir para explicar os
fenômenos da organização ou da desorganização da personalidade, mas pouco
interessam na efetiva atuação do terapeuta (Rogers, 1951).
Na década de 60, inicia-se uma terceira fase caracterizada pelo modelo
experiencial, através do qual se procura atingir os núcleos emocionais do cliente.
Experienciar é um constructo que se refere mais à maneira como decorrem os
fenômenos que compõem a experiência do que ao conteúdo desta. A nova
expressão, devida a Gendlin (1961), é incorporada por Rogers ao vocabulário e à
ação terapêutica. Definir o experiencing não é fácil. Parece-nos ser possível,
entendê-lo como vivência conceitual, isto é, como percepção, pelo indivíduo, dos
conceitos que já possui, de seu simbolismo, de seus significados pessoais e das
relações entre o que ele expressa e o sentido subjetivo, interno, pessoal, do que
deseja expressar.
A orientação geral desse novo período encontra-se, parcialmente, no livro de
Rogers, On Becoming a Person, de 1961. Posteriormente, ao procurarem os
rogerianos atingir clientes não motivados ou de difícil comunicação, dentre os quais
muitos psicóticos, novas vias de relacionamento foram tentadas e novas técnicas de
atuação terapêutica surgiram. Estas passam a incluir, dentro do experienciar,
algumas intervenções antes consideradas inoperantes ou inadequadas. Perguntas,
expressão de sentimentos e de opiniões podem ser incluídas na medida em que
elas atuem no mundo subjetivo do cliente. O clima de não-diretividade é mantido,
assim como as condições de congruência, de calor humano, de consideração
positiva incondicional e de empatia. Algumas intervenções, como a simples
repetição, e a reflexão de sentimentos não são tão usadas, a menos que atinjam a
vivência conceitual do cliente.
As alterações ocorridas no método rogeriano não alteram as concepções
básicas que lhe deram origem. Constituem um aperfeiçoamento na forma de
atuação com os clientes, como produto da grande experiência acumulada no
atendimento de novos e variados casos. Rogers, em diálogo mantido com Hart (Hart
e Tornlinson, 1970) e com Evans (1975), menciona muitos dos pontos cruciais de
seu procedimento anterior e atual, por nós aqui sumariados e interpretados:
- O Rogers de outrora e o Rogers de hoje podem ser vistos como pessoas
diferentes, .na medida em que eu, diz Rogers, como meus estudantes ou
seguidores, movemo-nos para frente. É próprio do método permitir esse
crescimento e diferenciação.
- Há casos nos quais se pode verificar que a orientação centrada no cliente
em nada mudou; há outros, porém, que podem acusar drásticas mudanças.
Permanece inalterado o conceito de que o “indivíduo tem dentro de si uma
capacidade - que pode ser liberada sob condições adequadas para entender a si
próprio, para conduzir sua própria vida, para lidar com problemas de sua vida ou
para mover-se no sentido de um maior grau de auto-realização”. O respeito à
dignidade e aos direitos do indivíduo conjuntamente com a idéia de sua capacidade
própria são dois aspectos que jamais mudaram.
- O contato com esquizofrênicos internados, como também com indivíduos
chamados “normais”, dentre os quais educadores, executivos, pessoas diversas da
comunidade e o trabalho em grupo produziram muitas inovações, particularmente
devidas a Gendlin, Hart e outros, como ao próprio Rogers. Sente este, conforme
suas próprias expressões, desejo de exprimir abertamente seus próprios
sentimentos, como recurso para a outra pessoa usar, não como guia ou imposição.
“Se eu estiver zangado, poderei expressar esse sentimento como algo dentro de
mim, não como um julgamento sobre a outra pessoa”. Há mais liberdade. em
exprimir sentimentos pessoais em relação ao que o cliente disse ou fez. Torna-se o
terapeuta, de certa forma, um participante da sessão, expressando problemas e
preocupações todas suas. Somente quando o cliente luta.por achar-se a si próprio,
procura o terapeuta exprimir os sentimentos de empatia que experiência. Nesses
momentos, o trabalho de grupo assemelha-se à terapia individual, onde se cria a
atmosfera que permite à pessoa explorar a si própria. Noutras vezes, o terapeuta
interage sob muitas formas.
- As primeiras preocupações rogerianas reduziam-se às técnicas de atuação,
o que se encontra bem explícito no livro Counseling and Psychotherapy. No livro
Client-centered Therapy, ao lado de uma formulação teórica, concentra Rogers sua
atuação nas intervenções de tipo empático. Em- seus artigos sobre as condições
necessárias e suficientes em psicoterapia e sobre o processo que nela se observa,
fixa Rogers pontos direcionais mais precisos e de mais ampla aplicação. O
desenvolvimento de grupos de encontro tem sido uma conseqüência natural dessas
novas direções ou, provavelmente, a causa de inovações. Nesses grupos várias
formas de expressão são encontradas, seja através da arte, do movimento corporal,
da verbalização. São exemplos de luta contra alienação, da melhor exploração de si
próprios, do encontro de maior sentido nas relações com os outros. A experiência
intensiva em grupo é uma das grandes descobertas da atualidade.
- O comportamento do terapeuta assume diferentes formas de intervenção,
das quais expressar opiniões, expressar sentimentos e propor questões são alguns
exemplos.
- As atitudes do terapeuta, mais do que suas técnicas, são essenciais ao
início e à manutenção de uma relação terapêutica eficaz. A congruência, a
consideração positiva incondicional e a compreensão empática são atitudes
essenciais.
- A flexibilidade do comportamento do terapeuta “é estruturada dentro do
fenômeno do experienciar. As respostas do terapeuta são baseadas seu próprio e
imediato experienciar na relação, sendo dirigida para o processo subjetivo do
cliente”. O seguinte trecho de diálogo, que nos foi enviado por Rogers em 1967,
mostra um exemplo de um trecho da verbalização ocorrida entre o terapeuta e um
cliente não-motivado, com sérios distúrbios psicológicos:
T - Creio que seu silêncio significa que ou você não queria ou não podia ter
vindo agora. Está certo; não há problema. Assim, eu não vou incomodar você, mas
apenas quero que você saiba que estou aqui.
(Longo silêncio de 17 minutos.)
T - Acho que daqui há pouco teremos de suspender nosso encontro.
(Breve silêncio.)
T - É difícil para mim saber como você tem se sentido. Parece-me que
talvez você prefira que eu não saiba como você se sente. De qualquer forma,
parece que, às vezes, é melhor a gente descansar... e relaxar os músculos. Mas,
como lhe disse, eu realmente não sei como você se sente. É a única coisa que
tenho para lhe dizer. A vida tem sido dura ultimamente?
(Breve silêncio.)
T - Talvez esta manhã você preferisse que eu ficasse quieto. .. e, talvez
fosse melhor, não set; entrar em contato com você de algum jeito.
(Silêncio de 2 minutos - o cliente boceja.)
T - Você parece desanimado ou cansado.
(Silêncio de 40 segundos.)
C - Não, somente chateado.
T - Tudo é chato, hein? Você se sente chateado?
(Silêncio de 40 segundos.) .
T - Quer voltar sexta-feira, às 12 h, como sempre?
C - (Boceja e diz qualquer coisa de forma ininteligível.)
(Silêncio de 48 segundos.)
T - É uma espécie de chateação, na qual a gente se afunda. Sentimentos
chatos, hein? É alguma coisa assim?
C - Não.
T - Não?
(Silêncio de 20 segundos.)
C - Não. Nunca fui bom para ninguém, não sou e nunca serei.
T - Sente isso agora, hein? Que você não é bom para você, não é bom para
ninguém. Nunca será bom para ninguém. Completamente sem valor, hein? Esses
são realmente sentimentos chatos. Você se sente sem valor nenhum, não é?
C-É. É aquilo que o sujeito que foi comigo para a cidade me disse outro dia.
.
T - Essa pessoa que foi com você à cidade realmente falou-lhe que você
não serve para nada? É isto que você está dizendo? Será que ouvi direito?
C-É.
T - Acho, se entendi direito, que aí há alguém que significa algo para você; o
que ele pensa de você, porque ele disse que você não serve para nada e tocou
num ponto sensível.
(O cliente chora, quieto.)
T - E isso faz você chorar.
C - Eu não me incomodo.
T - Você diz a você mesmo que não se incomoda; mas eu penso que parte
de você se incomoda, porque alguma parte de você chora...

A terapia centrada na pessoa, expressão que substitui a anterior (centrada no


cliente), vem se desenvolvendo intensamente com contribuições de muitos
psicólogos. Dentre estas destaca-se o expenrenciar, ou a experienciação que,
como vimos (Gendlin, 1961, 1978), corresponde a um fenômeno presente no
processo terapêutico. Trata-se de uma percepção do sentido que os eventos têm
para a vida subjetiva da pessoa. É uma ”interação entre sentimentos e símbolos
(atenção, palavras, fatos) tal como a vida corporal é uma interação entre corpo e
ambiente” (Hart & Fomlinson, 1970). Experienciação é um processo percebido
através de sensações concretas, físicas e psíquicas, de dados eventos, de seu
desenrolar e de seu sentido para a pessoa. Seria, a nosso ver, um fenômeno física e
mentalmente sentido. Uma vivência conceitual em que a pessoa, nesse momento,
enfoca uma colocação nova ou reexplica para si mesma o que estava tentando
descrever, verbalmente ou não. É um momento de movimento interior, de dentro para
fora, em que as coisas se arranjam, se esclarecem e tomam sentido.
A experienciação nem sempre traz como conseqüência um ajustamento ou
solução de problemas. É, porém, um passo que permite à pessoa o encontro de si
mesma, pois a simples tomada de consciência das experiências não é, por si só,
uma expressão de melhora. O que importa é a “disponibilidade destas à
consciência” (Puente, 1979). A terapia experiencial passa a ser um passo adiante.
As idéias de Rogers evoluíram, também, para a direção grupal, sem
menosprezar o contacto entre duas pessoas e a relação diádica em que terapeuta e
cliente, como pessoas, se envolvem no experienciar. Os grupos de encontro e as
comunidades surgem como formas de convivência e de terapia em que as pessoas
possam expressar-se livremente e assim liberar a tendência atualizante presente em
cada uma delas.
Na terapia de grupo centrada na pessoa, Wood (1980) lembra a existência de
três situações: a) o grupo de duas pessoas; b) o pequeno grupo, de 8 a 12 pessoas;
c) O grande grupo ou comunidade de aprendizagem, de 100 a 250 pessoas.
Esse mesmo autor resume as tendências de meio século de observações e de
pesquisas; salienta que "o fundamento da teoria de terapia de grupo centrada na
pessoa é a tendência formativa do universo" cujo teorema seria:

"Quando pessoas (algumas chamadas, às vezes, terapeuta, facilitador,


promotor, e algumas chamadas cliente, membro do grupo, participante) trazem uma
certa disposição para o seu encontro, à tendência formativa é permitido reorganizar
capacidades mais complexas e percepções nos indivíduos e no conjunto.”

Esta disposição na pessoa chamada terapeuta é caracterizada pela


habilidade para traduzir facilmente sentimentos em idéias e idéias em sentimentos,
para ser congruente no relacionamento com os outros, para experienciar
consideração positiva incondicional para com os outros e para experienciar uma
compreensão empática do referencial interno dos outros e segui-lo intuitivamente
sem um "entendimento”, obrigatório. Caracteriza-se, a seguir, pela capacidade para
viver no momento, na incerteza e mesmo na dúvida, para seguir intuitivamente as
expressões do "organismo coletivo", ser capaz de, com cada expressão, seguir,
guiar, permanecer ainda em cooperação com a criatividade .dos ditames
misteriosos do momento. Esta disposição é também caracterizada pela
espontaneidade em acreditar na tendência formativa, à medida em que ela organiza
o experienciar da outra pessoa. E existe nesta disposição uma boa vontade para ser
guiado e modificado pelo próprio experienciar interno como terapeuta na relação.
Na pessoa chamada cliente, esta disposição inclui a espontaneidade em ser
modificado por sua experiência direta e para desenvolver a habilidade para enfocar
seu mundo interior e o mundo interior dos outros. Desta forma, esta pessoa permite
a operação da tendência atualizante e percebe a consideração positiva
incondicional e compreensão empática do outro por si.
Capacidade é percepções mais complexas incluem uma crescente
consciência organísmica e aumentada receptividade à realidade organísmica total e
redução da incongruência entre o eu e a experiência - transformando-se numa
pessoa completa, como indivíduo e como membro da espécie humana. *
* Transcrição literal de trecho do folheto "Terapia de Grupo Centrada na
Pessoa", de J.K. Wood, traduzido por Afonso H.L. Fonseca e distribuído aos
participantes de um grupo de 64 pessoas reunidas em um Encontro de Comunidade
realizado em Pirassununga, São Paulo (Brasil), de 18 a 26 de julho de 1981.

Na organização nos grupos não existem regras. A disposição da pessoa e do


facilitador, seja em grupo diádico ou em grandes grupos, é o fator básico. Os grupos
podem ser organizados para fins de semana ou para períodos contínuos de
convivência, geralmente de duas semanas. Os programas do "Center for Studies of
the Person" de La Jolla, Califórnia; (USA), onde se localizam Rogers e sua equipe,
são um exemplo. O papel do terapeuta ou facilitador é criar um clima, e dele
participar, como membro do grupo, em que cada participante possa sentir-se aceito
e compreendido; em que cada um possa sentir-se ouvido e "facilitado" nas suas
expressões ou no seu silêncio. O agente terapêutico é o experienciar, em que o
participante é capaz de enfocar seus sentimentos e sua maneira de sentir e assim
explicar-se a si mesmo e aos outros que o ouvem o que nele se possa. É o rearranjo
de condições interiores, de dentro para fora, facilitado pela atenção e pela
compreensão do grupo. .

PARTE II
OBSERVAÇÕES PESSOAIS

6 - Hipótese sobre a Auto-Afirmação como Determinante Básico do


Comportamento
Resultados de terapia e fundamentos para uma nova hipótese

Os resultados práticos do aconselhamento psicológico e da psicoterapia são


desconcertantes devido, em grande parte, à ausência de critérios que especifiquem
estados comparáveis de clientes quando iniciam a terapia ou de alvos
suficientemente aceitos como metas terapêuticas.
Analisando os efeitos do aconselhamento e da psicoterapia, Truax e Carkhuff
(1969) assinalam que essas atividades podem ter efeitos positivos, inócuos ou
mesmo negativos, face a alguns estudos publicados. Não obstante a evidência da
inutilidade da psicoterapia em certos casos ou situações, há estudos que provam
efeitos positivos concluindo esses autores que "quando certas características do
terapeuta acham-se presentes, ocorrem resultados positivos enquanto, na sua
ausência, uma deterioração aparece". Esses mesmos autores apresentam amplos,
variados e excelentes informes sobre os efeitos de diversas terapias, razão pela
qual achamos conveniente indicá-las à consulta sem necessidade de reproduzi-las
neste livro.
Muitos resultados são mencionados por Wolpe, (1966), Eysenck (1952, 1965,
1973), Klein (1969), Lazarus (1971), Wolberg (1977), e muitos outros autores
havendo sempre a dúvida sobre a comparabilidade desses dados. Lazarus, por
exemplo, afirma que os resultados que se obtém são produtos de técnicas e não de
teorias.
Quanto às nossas próprias observações, o que achamos conveniente relatar
é, simplesmente, uma visão de fenômenos comportamentais que, durante cerca de
20 anos, a partir da década de 1960-1970, vimos percebendo no atendimento clínico
de crianças, jovens e adultos em situações de aconselhamento psicológico ou de
psicoterapia. Não se trata, evidentemente, de uma investigação científica segundo
os modelos tradicionais das pesquisas sobre as ciências do comportamento.
Assemelha-se parcialmente, ao estudo de casos individuais inspirado na
metodologia de Piaget, do Skinner, e do próprio Freud. É um relato de fatos que
pode coincidir com relatos semelhantes sobejamente conhecidos. Neste caso, seria
uma confirmação de teorias ou de técnicas. Por outro lado, pode surgir como nova
contribuição*
. Comunicação apresentada ao III Encontro Nacional de Psicólogos. Rio de
Janeiro, 1981.

O julgamento do progresso terapêutico ou profilático sofre, como dissemos,


dos defeitos da subjetividade e dos critérios biológicos e sociais que possam ser
aplicados ao conceito de ajustamento, de equilíbrio, de adaptação ou de
"normalidade". Para melhor conceituação da evolução terapêutica, teríamos
necessidade de estabelecer alguns parâmetros, o que se fez através de um elenco
de sinais de progresso constituído por 13 itens reunindo conceitos originários de
posições teóricas bastante diferenciadas (psicanalíticas, comportamentais e
rogerianas). Com base nesse critério de avaliação e em observações adicionais, foi
possível percebe que ocorria evolução de quadros de depressão, de ansiedade ou
de desestruturação. comportamental para um estágio em que esses
comportamentos se atenuavam sempre que:
a) o cliente atribuía a si mesmo a origem do problema, numa visão
auto-referente, ainda que crítica ou traumática. Esta primeira observação foi incluída
na tese de doutouramento do autor, em 1970, e não despertou, na ocasião, interesse
especial;
b) o cliente caminhava no sentido de avaliar a si mesmo, disposto a enfrentar
as dificuldades que o traumatizam;
c) o terapeuta procurava explorar a auto-estima e o autoconceito, trabalhando
com a imagem do cliente.

Dessas observações emergiu uma questão: haveria algum fato psicológico


relacionado com a auto-imagem que estaria agindo em sentido construtivo e
benéfico para o cliente, restaurando sua tranqüilidade e seu desempenho pessoal e
social? Seriam as atitudes de congruência, calor humano, respeito positivo
incondicional e empatia propostas por Rogers (1951)? Seriam as interpretações de
sentimentos profundos, nem sempre verbalizados? Seriam reforços do
comportamento adaptativo? Seria o tratamento objetivo e racional dos problemas,
no esquema cognitivo? Seria o apoio ou apenas a ação catártica? EnfIm: que
comportamento estaria sendo ativado no cliente e que teria facilitado a melhora?
Uma conclusão passou a emergir: deveria existir uma necessidade, motivo, impulso
ou tendência na pessoa que, ao ser adequadamente focalizado pelo terapeuta,
produzisse as mudanças favoráveis. Procurar esse agente responsável pela
modificação dos quadros de depressão e de ansiedade tornou-se o alvo essencial
de observações subseqüentes. Prosseguiu-se, pois, com a atuação centrada na
pessoa, alternando-a ou suplementando-a com outros alvos e, conseqüentemente,
com atitudes e técnicas diferentes. A valorização da pessoa mediante verbalizações
sobre a dinâmica de seus comportamentos, suas defesas, suas aspirações e sua
auto-imagem tornou-se um dos pontos centrais na medida em que se podia
perceber uma relação positiva entre essa abordagem e um progresso terapêutico
suficientemente estável.

Seria possível um neo-rogerianismo?

Nosso contacto com as teorias e técnicas de Rogers teve início com a leitura
de seu livro Counseling & psychotherapy, editado em 1942 e do qual tivemos
conhecimento alguns anos depois. Começamos a adotá-las nos casos de
orientação vocacional, procurando trabalhar com a resistência daqueles que exigiam
"conselhos", "indicações" e até decisões vitais sobre eventos de sua vida. Em 1956
e 1957, em curso regular de pós-graduação realizado na Florida State University e
na Columbia University, nos Estados Unidos, tomamos contacto mais profundo com
os conceitos e com a metodologia rogeriana e ao regressar ao Brasil passamos a
aplicá-los em clínica psicológica. Embora a observação indicasse êxitos na
condução de alguns casos, havia ainda um longo caminho a percorrer para que
sentíssemos, realmente, os efeitos profiláticos ou terapêuticos da posição rogeriana.
Ao lecionar Aconselhamento psicológico nas Universidades Católicas de Campinas
e de São Paulo e, posteriormente, na Universidade de São Paulo, tivemos ocasião
de aplicar e estudar o método rogeriano com alunos do Curso de Psicologia e com
clientes atendidos na Universidade, no SENAI e em nossa clínica particular.
As observações resultantes da aplicação do método, tanto quanto possível na
forma proposta por Rogers, quando comparadas com a aplicação de outros
métodos (Barros santos, 1970) parecem confirmar a suposição de que há algo de
comum em todos os métodos e que responde pelo sucesso terapêutica':
Reexaminando-se os resultados por nós colhidos na relação terapeuta-cliente e nos
julga dores externos, seria possível inferir que as atitudes terapêuticas propostas por
Rogers teriam, para o cliente, um sentido todo especial de auto-afirmação, não
suficientemente aceito ou explicado por Rogers. E, a ser verdadeira a hipótese que
levantamos, ou seja a de ser a auto-afirmação um ingrediente terapêutico essencial,
seria esse sentimento um determinante básico do comportamento humano?
Estaríamos, assim, diante de uma colocação teórica que, partindo da genial
concepção de Rogers, poderia transformar-se em um neo-rogerianismo como fruto
natural do enriquecimento teórico e prático de suas próprias teorias e técnicas.
A possibilidade de um neo-rogerianismo mais se acentua na medida em que
alguns aspectos da posição de Rogers tornaram-se muito vulneráveis à crítica, ou
seja:
1. Antes, como agora, opõe-se Rogers ao diagnóstico formal, inquisitivo,
através do ritual de muitas clínicas psicológicas onde a pessoa se vê coisificada,
manipulada, a mercê de "especialistas" que vão orientá-la. Nesse aspecto cremos
que Rogers retrata com rara felicidade as preocupações dos psicólogos, não só
pelas falhas intrínsecas dos recursos de avaliação (adaptabilidade, precisão e
validade), como pelos agentes emocionais presentes na situação de exame, dentre
os quais estão a motivação e a disponibilidade para ser avaliado e, em alguns
casos, a tendência do cliente em refugiar-se em uma ajuda externa sem dela
participar.
A exclusão total do diagnóstico é, porém, outro fenômeno. Parece-nos
ingênuo, quando não fantasioso, admitir que podemos nos abster de diagnosticar.
Conhecer o cliente e avaliar nossas possibilidades de ajuda, seja isso chamado ou
não de diagnóstico, é uma atitude e uma operacionalização que, queiramos ou não,
é normalmente existente. O simples fato de se conhecer o cliente pelo sexo, idade,
escolaridade, ocupação e motivos de seu contacto com psicólogos são exemplos de
"diagnósticos", embora superficiais. O próprio Rogers descreve seus casos usando
adjetivos qualificativos ou situações de vida que não deixam de ser uma
caracterização da pessoa em estudo. Aliás, o próprio Rogers diz que não existe
percepção sem significado. Ao receber e nos relacionarmos com alguém estamos
percebendo uma relação e seu significado para nós e para o cliente o que,
evidentemente, está ligado a algum tipo de diagnóstico.
2. Quanto à dinâmica do processo, descarta Rogers a tendência
homeostática do organismo no plano psicológico e crê que o homem está sempre
procurando tensões, em um esforço a que se chamaria de curiosidade, na busca de
estímulos mais complicados e enriquecedores (Evans, 1979). O que existe, diz
Rogers, é que "todo organismo tem uma tendência a se manter, a se aperfeiçoar se
possível e, finalmente, a se reproduzir" (Evans, 1979). Os conceitos e os títulos dessa
motivação são menos importantes.
Ao comentar as idéias de Rogers, Richard Farson (in Evans, 1979, p. 35) diz
que “Rogers mostrou que coisas maravilhosas aconteciam quando se confiava e se
aceitava a pessoa, quando seus sentimentos eram respeitados e valorizados,
quando ela se sentia segura e compreendida”.
Ao expressar suas idéias, Rogers mostra o efeito mas não a causa das'
'coisas maravilhosas “; identifica o produto e o procedimento (as três condições
básicas, supõe-se...) mas não a etiologia do fenômeno. Nesse ponto, iguala-se a
Skinner e a outros psicólogos, por ele mesmo criticados, que se baseiam nos efeitos
observáveis mas se abstêm de se aprofundar nas origens do comportamento como
fez Freud. Ora, se quisermos aperfeiçoar os procedimentos, torná-los mais amplos e
mais acessíveis, temos que conhecer a gênese do comportamento, a partir dos
primeiros elos da corrente que o guia ou da fonte de onde brotam os sentimentos e a
ação racional. A abordagem puramente fenomenológica e a comportamentalista
embora sugestivas parecem insuficientes na explicação do comportamento”.
A tentativa de análise dessa dinâmica comportamental nos conduz ao
problema da motivação humana. Rogers pouco diz sobre algo que nos parece
fundamental na longa experiência com pessoas e situações: a auto-afirmação.
Concentra-se ele, sobretudo, no "desenvolvimento do conceito do Eu" (Evans, 1979).
Durante a terapia torna-se mais consciente e mais claro o conceito que o cliente faz
de si. Esse autoconceito muda e nisto consiste a terapia. Tentativamente, diríamos
que justamente nesse ponto se focaliza o núcleo do ingrediente terapêutico: o
autoconceito e a imagem favorável ou desfavorável que a pessoa tem de si; a
afirmação de si mesma como ser-alguém, com percepção não traumática de seus
limites e com percepção não narcisista de suas possibilidades. Rogers mostrou-nos
um caminho no qual não quis, ou não pôde, prosseguir; abriu-nos, porém, as
fronteiras e um novo território aflorou.

A motivação e os determinantes do comportamento

Colocada a possibilidade de um determinante básico, necessidade ou motivo


que respondesse pela melhora do cliente, o primeiro passo foi procurar
encontrarmos estudos, nas pesquisas e nas teorias existentes algo que explicasse o
fenômeno.Estudar o problema da motivação humana foi o campo inicialmente
explorado e, a seguir, resumidamente lembrado nos aspectos que interessam à
hipótese que levantamos.
O que sabemos em Psicologia é que o pensar, o sentir e o agir são
comportamentos resultantes de um grande número de fatores orgânicos ou
biológicos que envolvem desde as mais simples reações alimentares ou digestivas
até os mais complexos processos retículo-corticais. A estes somam-se os sociais,
expressos pelas oportunidades, exigências e alternativas que o meio nos oferece.
Nesse intrincado cenário, no qual surge uma resposta física ou mental intuitiva
ou prodigiosamente elaborada, há um componente emocional que atua na busca de
um bem-estar ou na sensação subjetiva desse estado. Se nos virmos ameaçados,
procuramos agir para reduzir a tensão decorrente da ameaça. O que é ameaçador
ou produtor de tensão pode desorganizar o comportamento, na dependência do grau
de insatisfação produzido, isto é, de necessidades não satisfeitas. Motivos,
impulsos, tendências, pulsões, são, às vezes, sinônimos de necessidade e aqui
usados na mesma acepção.
O que vimos até agora nada tem de novo e é provavelmente estudado desde
os primeiros momentos em que o homem começou a desvendar ou tentou explicar o
seu próprio comportamento. A partir daí, grande número de estudos, pesquisas e
teorias vêm sendo apresentados e oscilam desde as explicações filosóficas, antigas
e atuais, materialistas ou espiritualistas, centradas no ambiente ou centradas no
organismo, até as mais sofisticadas analogias com conceitos físico-matemáticos.

A redução do sofrimento, seja este físico ou mental, parece ser uma


necessidade ou um motivo básico, universal e soberano. Todavia, como assinala
Allport (1966), essa colocação não explica todas as ações do homem.
Argumenta-se, também, que uma necessidade básica e universal, além do evitar
sofrimento, seria a busca do prazer. Essa concepção hedonista não explica,
igualmente, todo o comportamento, pois o prazer é indefinido, da aUto-realização à
autodestruição, como efeito de uma ação realizada. Usa-se, também, a teoria dos
instintos, com base na observação do comportamento de animais e de vegetais.
Todos esses seres seguem certa direção e se desenvolvem de acordo com certo
sistema, num esquema genético ou biológico predeterminado. Certos
comportamento "naturais" são chamados de instintos ou de atividade instintiva,
execUtados em um determinado ritual, em certas situações, independentemente de
aprendizagem. O comportamento pré-maternal, maternal e parental nos animais, ao
preparar o ninho ou o local onde vão nascer os filhos e o cuidar do recém-nascido
até que atinja autonomia de vida são exemplos. Esses e outros fatos físicos e
psicológicos são necessidades e direções do comportamento suficientemente
poderosos para criar e manter uma situação de vida. Qualquer alteração que
bloqueie ou desvirtue o ato em si é destrutiva e a previsão dessa ocorrência uma
ameaça.
O problema dos instintos é algo desafiante para a Psicologia há muito tempo,
como também o é para a Biologia e outras ciências. No comportamento instintivo,
podem ser identificados dois componentes: uma necessidade fisiológica e um ritual
não aprendido, destinado a satisfazê-la. McDougall (1908) definiu o instinto como
uma disposição psicofísica inata que impele o organismo a agir de determinada
maneira. Esse determinante básico do comportamento, pelo menos a determinado
nível de reações comportamentais, vem sendo deixado de lado pela Psicologia, mas
não desapareceu do cenário; a terminologia mudou, mas o conceito permanece e a
identificação dos instintos ou das necessidades ou dos motivos básicos da conduta
é um campo aberto à teorização.
Reconhecem os psicólogos que a primeira categoria de necessidades é de
natureza fisiológica ou orgânica. O organismo vivo procura nutrir-se (alimento, água,
e outros componentes orgânicos), repousar, movimentar-se, proteger-se contra o
excessivo frio ou calor, defender-se contra acidentes e fatos que afetam a
sobrevivência. Aliás, Wolman (1977), como outros autores, aponta o sobreviver
como sendo a necessidade básica. Muitas dessas necessidades são, porém,
influenciadas por ação social na forma de satisfazê-las e assumem, então, dupla
exigência, pessoal ou organísmica e social.
Freud (1938) formulou o conceito de ser a libido o propulsor de todo o
comportamento e a fonte de energia psíquica. No pensamento freudiano encontra-se
amplo substrato relativo à motivação do comportamento. Aliás, segundo alguns
autores (Hilgard, 1975), a psicologia de Freud é, principalmente, uma psicologia da
motivação. Os conceitos primitivos quanto aos instintos de vida, aos instintos de
morte e ao princípio do prazer, embora revistos e reestudados no decorrer dos anos,
abriram considerável espaço para compreensão do comportamento no plano
consciente e, principalmente, no plano inconsciente. Os mecanismos de defesa
seriam processos reguladores dos desequilíbrios, mas não explicam, por si sós, a
predominância de uma necessidade básica. A formulação posterior de Adler,
segundo a qual o homem busca superar sua inferioridade mediante auto-afirmação,
é mais concreta nesse ponto. E o instinto do poder de que nos fala Nuttin (1955),
acrescentando que tanto este como o instinto sexual, proposto por Freud, chocam-se
violentamente como pontos de partida dos conflitos patogênicos.
Cannon (1932) formulou o conceito básico a que denorminou de homeostase,
segundo o qual o organismo, enquanto ser vivo, busca manter um equilíbrio interior
em suas condições fisiológicas. Esse equilíbrio, essencial à manutenção da vida,
conduz o organismo a uma temperatura adequada, à pressão sangüínea dentro de
certos limites, a uma regulagem da acidez ou da alcalinidade do sangue e à
dosagem de vários componentes orgânicos. Esse princípio geral de auto-regulação
é ativado pelo próprio organismo nas condições normais de vida e representa, a
nosso ver, um processo que encontra paralelo psicológico na preservação do
equilíbrio emocional, na busca de uma normalidade psíquica. Resta saber, porém, no
campo psicológico, como reage o organismo às ameaças ou desequilíbrios que o
afetam.
Lewin (1935) introduz o conceito de campo, oposto ao de classe (que
categoriza as pessoas) e afirma que qualquer comportamento num campo
psicológico depende somente desse campo psicológico naquele momento dado
“(Martuscelli, 1959). As necessidades são a fonte de energia psíquica, mas não
identifica Lewin as necessidades específicas. As tarefas, ou expectativas de tarefas,
geram tensões que o indivíduo busca eliminar ou reduzir, executando-as. Lewin
explica operacionalmente o comportamento em termos semelhantes aos da Física,
excluindo a dinâmica das necessidades, e deixa a questão das” forças psicológicas
“abertas à indagação no que se refere à predominância de umas sobre as outras”.
Henry Murray (1938) apresentou dois grandes grupos de motivos que ficaram
conhecidos pela sua simplicidade: necessidades viscerogênicas ou primárias, de
base biológica, e as necessidades psicogênicas ou secundárias, relacionadas com
a interação do indivíduo no seu grupo social.
Na concepção behaviorista clássica, a motivação é colocada em
perspectivas muito diferentes das demais teorias (Skinner, 1956, 1967, 1968; Keller
e Schoenfeld, 1966; Birch e Veroff, 1970; Keller, 1974). A resposta ou reação do
indivíduo e, portanto, sua atividade em uma direção qualquer é função do ambiente.
A probabilidade de ocorrência de um comportamento depende, em geral, dos
esquemas de reforço e de extinção que surgem em sua vida quotidiana. A natureza
do fator reforçador não é, porém, suficientemente explícita.
Klineberg (1946), revendo os conceitos sobre motivação da conduta humana
e ao estabelecer critérios para classificação dos motivos, refere-se à auto-afirmação
como "algo mais complicado" e a coloca num terceiro grupo por não considerá-la
universal. Os fatos que alinha para justificar essa posição não são, porém,
convincentes ao dizer que a auto-afirmação não existe em algumas fases de infância
e em certas tribos de índios. O problema, a nosso ver, é que a auto-afirmação
diferencia-se nas várias culturas e, em conseqüência, sua própria expressão.
Maslow (1954) nos fala de necessidades inferiores e de uma seqüência
hierárquica no comportamento. As primeiras, de natureza biológica, são
fundamentais e predominantes enquanto não satisfeitas. A partir dessa satisfação
surgem outras, tais como a segurança, a afeição e, no ápice, a auto-realização. Esta
última só aparece quando as demais estiverem satisfeitas. O caminho do homem
seria sua plena realização, sua capacidade em desenvolver e realizar suas
potencialidades. Ser alguém e sentir-se capaz, ainda que com limitações, seria um
motivo final.
As teorias monistas e as pluralistas, mencionadas por Angelini (1955),
reduzem o comportamento a um motivo básico, único, ou o colocam em função de
vários motivos, respectivamente. Esta última concepção parece predominar, citando
seus defensores vários motivos ou grupos de motivos, aos quais sempre alguns
mais são acrescentados. Essa intermináve1 lista de motivos é, por si só, uma
indicação de que poderia haver uma base geral que mobiliza todos eles e que seria,
provavelmente, a razão universal da conduta, apenas diversificada consoante os
elementos de cada situação psicológica.
Festinger (1958), ao estudar o problema da dissonância cognitiva, afirma ser
esse fator um determinante significativo do comportamento, comparável a um estado
de carência ou de necessidade. Quando o indivíduo percebe incongruência
(dissonância) entre suas opiniões, atitudes e valores e o comportamento que dele se
espera, ou o que é "forçado" a adotar, surge um conflito interior. O indivíduo
esforça-se por reduzir essa disparidade e essa tendência orienta seu
comportamento.
Concentrando-se mais nos problemas de desenvolvimento cognitivo do que
nos aspectos emocionais da personalidade, Piaget (1952; Flavell, 1975) crê que a
motivação básica, pelo menos no terreno intelectual, emerge de uma necessidade
intrínseca dos próprios órgãos ou das estruturas cognitivas. Não exclui Piaget a
interferência dos impulsos primários ou de outros motivos socialmente
desenvolvidos mas, na sua concepção, gerados os órgãos ou estruturas, estas
buscam alimentar-se pelo próprio funcionamento. A atividade de assimilação parece
ser um fato básico da vida psíquica (Piaget, 1952). A posição piagetiana poderia
nos levar a conjecturar a existência de uma estrutura global, o organismo em si
mesmo, em conseqüência do que o fato básico da vida seria seu pleno
funcionamento ou sua função como pessoa.
Como assinala Edward Murray (1967), o campo da motivação está
desorganizado, tantos são os sistemas concorrentes. Esse autor sintetiza as várias
explicações, mencionando as teorias cognitivas, hedonistas, do instinto e do impulso
e analisa seus vários conceitos; apresenta, por seu turno, uma grande variedade de
motivos e afirma que "a motivação depende de um cérebro que contém mecanismos
para o prazer e a dor, que controla o seu próprio nível de excitação e que é sensível
aos eventos tanto externos como internos". Não se refere Murray a algum motivo
básico ou prioritário; apenas admite que estamos caminhando para uma melhor
compreensão do comportamento humano e, ao referir-se ao motivo de
auto-realização de Maslow, diz que "talvez o futuro leve a pesquisa ao âmago da
tendência auto-realizadora do homem... da busca pelo homem de um significado
para a sua existência". O motivo de realização, mencionado por vários autores
(McClelland, 1953) assemelha-se a um motivo de auto-afirmação, na medida em que
envolve dois aspectos: confrontação com outros e confrontação consigo mesmo.
Semelhante à autocrítica, é operacionalmente mobilizado para avaliar os níveis de
desempenho julgados satisfatórios pelo indivíduo em relação ao comportamento de
outros e em relação às auto-imagens e fantasias. Envolve, na concepção
psicanalítica, o próprio Ego no sentido de seu prestígio, segurança e poder.
Rogers (1942), ao revolucionar os procedimentos de orientação e de
psicoterapia com o método então chamado não-diretivo, chega à conclusão de que
um motivo básico, real, seria a auto-realização, o crescimento pessoal e o
ajustamento. "O organismo tem uma tendência básica e poderosa para atualizar-se,
manter-se e desenvolver-se". Esse seria um determinante do comportamento e,
como se verificará posteriormente, foi um dos grandes inspiradores da hipótese que
formulamos neste trabalho.
Rogers (1978), ao analisar a política dos relacionamentos humanos, afirma
que esta apóia-se “basicamente na concepção do organismo humano e no que o faz
funcionar". A tendência à realização é básica para a motivação. A vida é um
processo ativo e "quer os estímulos provenham de dentro ou de fora, quer o
ambiente seja favorável ou desfavorável, os comportamentos de um organismo
serão dirigidos no sentido dele manter-se, crescer e reproduzir-se". O organismo
move-se auto-regulando-se, autocontrolando-se. "Em seu estado normal, move-se
em direção ao desenvolvimento próprio e à independência de controles externos".
Evidentemente, Rogers ao descrever essa auto-realização como algo inexorável,
está praticamente admitindo um determinismo biológico. Nada se cria em terapia. O
que se faz é liberar a tendência direcional da pessoa.

A auto-afirmação como motivo básico e emocionalmente


preponderante

Os motivos poderiam ser classificados em várias categorias estendendo-se


em um elenco interminável de ações e de seus pressupostos psicológicos. Poucos
psicólogos referem-se à auto-afirmação, embora muitos deles mencionem esse
motivo sem, contudo, identificá-lo como variável dominante. É o caso da busca da
superioridade, de Adler, da busca de individualidade, de Rank, do desenvolvimento
e da autodeterminação de Rogers, de realização de McClelland, da realização do
Eu, de Maslow e de algumas outras colocações. No campo biológico temos razoável
segurança em constatar estados de carência ou de privação e da correspondente
ativação em busca de alimento, de água, de oxigênio, de conforto térmico, de
repouso, de defesa contra fatores destrutivos, de liberdade de movimentos, .de
exploração sensorial e de sobrevivência em geral. No terreno psicológico, aí incluído
o social, os alvos e a correspondente instrumentação comportamental não são assim
tão claros e parecem provir de ações perceptuais e cognitivas, isto é, da forma pela
qual percebemos e elaboramos, mentalmente, os fenômenos pessoais e sociais.
Parece haver, nesta área, uma espécie de referencial de satisfação ou de não
satisfação a que se seguem processos de defesa ou de adaptação do Ego a uma
dada realidade e que aparece, simbolizado ou deformado, no relacionamento
terapêutico tanto quanto nas atividades do dia-a-dia.
O conceito, mas não o conteúdo desse referencial, começou a emergir
quando notamos a evolução dos comportamentos dos clientes em sessões de
orientação e terapia psicológica. Como assinalamos na página 72 os clientes
passavam a um estágio de maior satisfação, por eles julgado, quando conseguiam
colocar-se em um plano auto-referente e interiorizar um julgamento favorável sobre si
mesmos. Restaria hipotetizar sobre a natureza desse referencial que responderia
pela melhora do quadro clínico, E, para responder a essa indagação, formulamos
duas Possibilidades:

a) ocorre, na relação psicoterapêutica, a satisfação de alguma necessidade


psicológica básica que responde pela satisfação em várias áreas vitais para a
pessoa;
b) ocorre na relação terapêutica à satisfação de várias necessidades
psicológicas simultaneamente, sendo difícil ou quase impossível identificá-las.

Para resolver esse impasse inicial, sobre duas formulações, revimos os


casos atendidos e Passamos a observar melhor nossa própria atuação como
terapeuta estudando, diante de cada verbalização, o possível efeito nos clientes. Foi
possível observar que os estados de ansiedade aumentavam, às vezes até com
perturbações, no desempenho da vida diária, sempre que a valorização pessoal e a
auto-afirmação eram atingidas de forma traumática, quer o fato resultasse de
ocorrências da vida diária (conflitos e frustrações, na área da valorização pessoal),
que resultasse de atitudes ou verbalizações pouco confortadoras do terapeuta,
Diante dessa situação, pareceu-nos válido conjecturar que:
1. Há necessidades, motivos ou agentes do comportamento que independem
da opção individual e, conseqüentemente, atuam como automacismos físicos para
gerar a vida, facilitar o crescimento e o amadurecimento e manter a sobrevivência. Ê
a própria vida em contraposição à morte ou inexistência, Não há escolhas salvo na
forma de viver, a pessoa não se avalia através dessas necessidades;
2. Noutro aspecto da vida, há necessidades ou exigências que geram
auto-avaliação física e social. O individuo se vê como um ser vivo, alimentando-se,
crescendo, amadurecendo, produzindo, como entidade física, à qual se agregam
exigências socialmente definidas na cultura em que vive, tais como assumir os
papéis de filho, de pai, de estudante, de profissional, de cidadão, etc. Essas
expectativas sociais o pressionam e o indivíduo se avalia com alguém de quem algo
se espera: surgem necessidades sociais que lhes asseguram a vida social,
completando a sobrevivência apenas física. Esse sentido de vida, forma de
auto-avaliação socialmente provocada e psicologicamente percebida, é vital para o
equilíbrio emocional e, conseqüentemente, para a vivência social. A pergunta que a
pessoa coloca para si mesma, em diferentes instâncias da vida, será esta: até que
ponto vivo social e pessoalmente? Os padrões de desempenho, de adequação, de
competência, de aprovação, de status, de poder e tantos outros são questionados. O
conjunto de respostas que a pessoa emite a essas questões seria a auto-afirmação
e, como tal, seria o determinante básico do comportamento.
Kreeh e Crutchfield (1963) definem parte do que desejamos expressar. Dizem
esses autores que "o comportamento auto-afirmativo pode servir a diferentes
objetivos, exprimir diferentes desejos e necessidades e apresentar inúmeras
formas". Refere-se, "também, à manutenção e aceitação da auto-imagem,
indiferente à maneira pela qual os outros possam vê-lo". No nosso entender, não se
refere este processo mental à competição, nem à busca de superioridade de Adler,
mas à identificação do EU, ao encontro de uma realidade pessoal, àquilo que somos
e que usufruímos, ainda que pequena em um mundo cada vez mais gigantesco. É o
assumir a si mesmo, compreender o que é e aceitar-se.
A insuficiência da auto-afirmação talvez explique a neurose de insignificância
de nossos dias e o aumento crescente dos desajustes emocionais na razão direta
do não-humanismo, isto é, da sociedade povoada pela tecnologia e pela
tecnocracia. O indivíduo vê-se cada vez menos atuante, seja na escola, na família, no
trabalho e um processo de auto depreciação se instala. O antídoto é a
auto-afirmação. As conhecidas tensões dos primeiros astronautas - relatadas pela
imprensa - podem ser um exemplo: um sentimento de insignificância diante de um
mundo imenso, novo, ao qual não estavam acostumados. Em conseqüência, o
sentimento de pequenez, de desvalia conduz ao medo de não ser alguém. Em
proporções menores, esse niilismo pode surgir no dia-a-dia, na medida em que nos
sentimos impotentes, marginalizados, desprezados. Muitos clientes, crianças,
jovens, adultos e idosos, acabam por demonstrar, no decorrer de entrevistas e
sessões terapêuticas, que seu problema básico é não serem devidamente
considerados. Na situação familiar, conjugal e de trabalho, esta situação é bem
evidente. Filhos se queixam de que seus pais não confiam neles; pais se queixam de
que seus filhos não os respeitam; empregados se vêem angustiados quando são
esquecidos ou marginalizados; todos sofrem quando se sentem relegados a um
segundo plano. A recíproca é verdadeira: nota-se a satisfação e o bem-estar quando
somos ouvidos, quando somos participantes, quando nossa presença é notada,
quando, de alguma forma, sentimos ser alguém. Quando, pois, se consegue
restaurar, por outras vias, na relação terapêutica, a percepção do Eu, quando se
recoloca a pessoa em um sentido de valorização de seus papéis e de seu
desempenho reduz-se a angústia existencial e as desordens comportamentais que
dela se originam.
Esse complexo sentimento de avaliação de si mesmo, de auto-afirmação, de
ser alguém, uma pessoa definida no tempo e no espaço, com características
próprias, com possibilidades e limites satisfatoriamente interiorizados estimula e
direciona o comportamento psicológico e, em conseqüência, todos os demais
aspectos da vida nos quais haja opções e decisões e que, em última instância,
estabelecem a forma de ser, de viver.
A auto-afirmação, tal como a entendemos, está amplamente relacionada com
a auto-realização na forma vista por vários teóricos da motivação* , dentre Os quais
os citados por Cofer e Appley (1975) ou seja, Goldstein, Fromm, Horney, Rogers,
May, Maslow e Allport, além de outros. Todavia, e isto nos pareceu importante como
produto de nossas observações, a diferença entre um e outro motivo consiste no fato
de que o primeiro não busca o fazer, o realizar, o criar ou o construir para
efetivar-se. A auto-afirmação é preexistente em maior ou menor grau; a pessoa
mantém uma confiança na própria individualidade, sem necessidade de prová-la a
todo o momento. No seu ponto ideal seria a imagem completa, coerente, integrada
de si mesmo e, portanto, produtora de tranqüilidade e segurança. A pessoa crê no
que é e não no que deve ser. Envolve um sentimento mais profundo do que a
aceitação de si mesmo, proposta por Rogers, porquanto não é um conformismo,
mas uma valoração das experiências vitais e de seu Eu como um conjunto integrado
de disposições e de disponibilidades, de energia e de produção,
independentemente do que faça ou deixe de fazer, socialmente participante como
elo indispensável a toda a cadeia de eventos que ocorre no cosmos. Uma descrição
bem próximo do que se pretende definir é encontrada em Cofer e Appley (1975, pp.
652-75) quando esses autores comentam a natureza da ênfase na auto-realização.
Entretanto, o que se deseja acrescentar à contribuição dos teóricos e dos
comentários citados é que a aUto-afirmação, como motivo de deficiência ou como
motivo de crescimento, no dizer de Maslow (1943, 1954), parece, a nosso ver,
constituir a mola mestre e um determinante básico no comportamento humano.
*Muitos autores distinguem necessidade de motivo. Segundo essas
distinções, a primeira corresponderia à deficiência ou falta de uma substância ou
função necessária ao processo de vida ou de bem-estar. Motivo seria um padrão de
comportamento complexo, socialmente aprendido, que envolve uma necessidade ou
situação que o origina, o estímulo que o mantém e os mecanismos de ajustamento
que dele resultam.
Neste livro. motivo é considerado como um impulso ativo, resultante de uma
necessidade, consciente ou não. Esta, por sua vez, significa um impulso primário
(proteger-se. por exemplo), aprendido ou não, cuja insatisfação pode provocar um
estado de carência. Praticamente, os dois termos se equivalem.
Para suporte da hipótese levantada, somente dispomos de dados clínicos
provenientes de um grande grupo de clientes, de condições pessoais as mais
variadas, atendidos entre 1960 e 1980. Desse contingente, conseguimos
observações regulares e sistemáticas em 80 casos os quais contavam com um
atendimento terapêutico de um ano, no mínimo, com sessões semanais e com um
acompanhamento de, pelo menos, igual duração.
7 - A Personalidade e a Auto-Afirmação

O Eu Pessoal, o Eu Social e a emergência da auto-afirmação

As descrições da personalidade, variadas consoante os autores, nem sempre


são apoiadas em pesquisas mas em constructos teóricos. Todavia, tais constructos
não nascem do nada; têm origem em observações e na experiência quotidiana (Hall
e Lindsey, 1966; Allport, 1969).
A experiência de cada teórico da personalidade, embora sujeita a distorções
próprias do observador e profundamente subjetiva, pode nos levar, porém, a novos
enfoques que, por sua vez, produzem novas interpretações e, possivelmente, novas
aproximações da verdade. O que se relata, agora, pode ser um passo nesse
sentido, embora coexistam explicações análogas, com outra nomenclatura.
Nossa experiência com pessoas ansiosas, jovens ou adultos, que procuram
enfrentar conflitos e frustrações ou entender o que nelas se passa, com clientes
pouco motivados para terapia e que a estas se dirigem por imposições paternas ou
por modismos psicológicos, com pessoas fortemente desestruturadas e com casas
chamados "normais", levou-nos a reafirmar a conhecida bipolaridade comporta
mental: a área individual ou pessoal e a área extra-individual ou social. Essas duas
áreas embora coexistam na pessoa, sendo até mesmo indistinguíveis em muitos
comportamentos, podem, porém, revelar dois conjuntos de agentes os quais, uma
vez ou outra, assumem ações independentes. O esquema a seguir poderia
demonstrar o que ocorre nos dois conjuntos e na personalidade à medida que o
indivíduo se desenvolve ou se socializa:

Na primeira infância geralmente até os 3 anos de idade o EU PESSOAL e o


EU SOCIAL estão separados

A partir do terceiro ano de vida, em geral, o PESSOAL e o EU SOCIAL se


juntam formando uma área de conexão entre os dois EU,com áreas de
interpenetração pessoal e social extremamente variadas.

O EU Pessoal pode ser definido como o repositório de todo o patrimônio


genético, inclusive temperamento, inteligência e outras aptidões, estrutura física,
características sexuais, estrutura e dinâmica sensorial e motora, necessidades
biológicas e, ainda, as experiências e seus efeitos introjetados e já incorporados ao
funcionamento do organismo.
O EU Social seria a figura resultante do conjunto das expectativas, das
direções, imposições e pressões sociais que atuam sobre o Eu Pessoal; é,
sobretudo, um produto da Educação que elegendo valores manipula o indivíduo
modelando-o nas ideologias, hábitos e costumes de uma dada sociedade, nos seus
conteúdos políticos, religiosos, econômicos ou de qualquer outra natureza.
O indivíduo estaria sob duas ordens de pressões: 1) Primeiramente, as que
provêm de seu estado natural, orgânico, constitucional, predominantemente
genético, que traça direções e limites de sua ação. É todo um comportamento
natural, simples, de sobrevivência e de adaptação ao ambiente. A criança
alimenta-se, excreta resíduos, chora, repousa, responde a estímulos sensoriais; mais
tarde, anda, fala, explora o meio e o cultiva; percebe-se, pouco a pouco, como Um
ente vivo, atuante, consciente de certas características suas, inerentes a seu funciona
mento como pessoa; 2) Progressivamente passa a sentir Uma manipulação externa
que provém de outros seres, iguais a ele, e que, isoladamente ou em grupo, o
influenciam e passam a dirigir suas ações. Sente-se levado a comer, a dormir, a
colocar-se em posturas ditadas por outros. É levado a falar, a vestir-se, a interagir
com seus semelhantes da maneira pela qual estes agem ou estabelecem normas de
conduta. Precisa ir à escola, aprender uma profissão, orientar sua atividade sexual
de certas maneiras, participar de ações comunitárias de acordo com padrões
grupais e assim por diante.

A sociedade impõe normas e exige conformismo a seus estilos de pensar, de


agir e de sentir. Para não ser marginalizado, punido ou destruído, o indivíduo
obedece a essas imposições; conforma-se. O processo de acomodação faz-se, às
vezes, às custas da perda de seu EU Pessoal; de concessões. O estilo pessoal,
primitivo, natural, cede lugar aos gabaritos sociais e à alienação de si mesmo, com
graus variados de aceitação ou de repulsa às imposições e referenciais externos. A
pessoa passa a sentir-se invadida no seu território, a perder o que é seu e que lhe
dá segurança existencial. Quando as pressões sociais assumem formas
traumáticas, a pessoa vê-se aniquilada, sem ser alguém. Busca, então,
recompor-se; mostrar que existe; afirmar-se. Quanto mais profunda e traumática a
imposição, maior é o sentimento de não-ser e maior a necessidade de
auto-afirmação.
O fenômeno exposto ocorre todos os dias, todas as horas, em pequenas ou
grandes dimensões. É a criança que vê o novo irmão tomar-lhe o lugar e as
preferências dos pais e dos parentes; é o menino ou menina que, deixado de lado
pelos seus amigos em um jogo ou brinquedo, sente-se rejeitado e, portanto,
não-sendo; é o empregado que vê seu colega promovido e ele não; é o exemplo
clássico de alguém que está em uma fila e vê um outro passar-lhe à frente. Esses
exemplos banais servem para indicar a ocorrência de formas muito mais complexas
emergentes em outras circunstâncias, tais como a busca do poder, do prestígio, do
renome; a liderança; a publicidade em torno de seu nome; a luta pelo dinheiro ou
pelos títulos e pelo status cuja essência nada mais é do que a auto-afirmação, tanto
mais sensível quanto maior a pressão que destruiu o EU Pessoal.
Por outro lado, há pessoas que, embora queiram aparecer ou auto-afirmar-se,
o fazem em escala moderada; não foram aniquiladas ao ponto de procurarem
constante evidência de si mesmos; conservam grande parte de seu EU individual e
com isso se satisfazem.
O processo de ser inicia-se com a percepção organísmica, já afetada pelas
experiências ambientais e sociais. O "self” seria, de acordo com Chein (1944) e
outros autores, o conjunto de conteúdo auto-referentes, relativos a si mesmo; é aquilo
que percebemos como sendo nosso. A conseqüência é a percepção de uma
identidade que, no dizer de Erikson (1971). seria a reflexão e a observação do
indivíduo sobre si mesmo. Essa percepção de si pode incluir dimensões no tempo e
no espaço com noções de continuidade e de contigüidade e de igualdade e de
comparabilidade, que permitem responder à pergunta" quem sou eu"?
Inerente à identificação de si mesmo, surge o processo avaliativo no plano
consciente ou inconsciente das ações do "self" como respostas ao EU Pessoal e ao
EU Social, isto é, aos impulsos naturais da pessoa e às pressões ambientais e
sociais. Tem início um julgamento do EU na sua totalidade e em aspectos
particulares da existência. A simples imagem de espelho que caracteriza sua
identidade é completada pela autocrítica, dando lugar a mudanças adaptativas que a
pessoa tenta operar no sentido de impor-se a si mesma com respeito e admiração;
procura satisfazer seus impulsos e considera as pressões sociais.
Com o processo adaptativo, seu Ego se instala (Hartman, 1957); passa a
conhecer-se melhor e sua identidade, antes fluida e superficial, passa a
estabelecer-se e a definir-se, embora em constante mudança. Do conhecimento de
si surgem a auto-estima e o autoconceito e, em conseqüência, o sentimento de
inadequação, impotência, incapacidade ou, por outro lado, o sentimento de valor
pessoal e de poder. No primeiro caso, sufocado e humilhado pelo quadro de
incapacidade, revolta-se, exibindo comportamentos anti-sociais ou ingressa no
campo das descompensações psicológicas. No segundo caso, suportado pelo
sentimento de valor pessoal, emocionalmente satisfeito, mobiliza seu potencial para
entender a realidade e para a ela adaptar-se. A auto-afirmação no sentido positivo
somente se instala na medida que a pessoa tenha plena consciência do que com ela
ocorre, o que corresponderia ao que Wolman (1977) afirma: "what counts is not only
power as it is but power as perceived by oneself" .
A auto-imagem, auto-estima e autoconceito sempre foram tidas como
agentes importantes na conduta humana (Honey, 1966; Moustakas, 1966;
Rosenberg, 1965) como se verifica pela simples observação de que os
comportamentos individuais se alteram consoante a flutuação dessa percepção na
própria pessoa. Todo ser humano tende a agir de acordo com o que acha que é. "A
estrutura da auto-imagem determina dia após dia, de momento a momento, o
comportamento da pessoa" (Anderson, 1952). Trabalhar, pois, com a auto-afirmação
como produto de auto-imagem, da auto-estima e do autoconceito é operar sobre a
pessoa, educando-a ou reinstalando comportamentos pessoal e socialmente úteis.
O gráfico da página 87 pretende ilustrar como ocorre o processo da auto-afirmação.
Após a formulação das hipóteses mencionadas neste trabalho e relendo
Laing (1963), pudemos encontrar apoio às nossas observações, quando menciona
esse autor a segurança ontológica. Diz Laing que o indivíduo pode' 'sentir seu
próprio ser como real, vivo, total, diferenciado do resto do mundo, em circunstâncias
normais, tão claramente que sua identidade e autonomia nunca são duvidadas;
como contínuo no tempo; como possuidor de uma estabilidade, importância e
autenticidade e merecimento internos coexistindo espacialmente com o corpo e,
geralmente, como iniciado pelo nascimento e passível de extinção pela morte.
Assim, ele apresenta uma essência firme de segurança ontológica" (p. 46). Ao
explicar os comportamentos psicóticos, continua dizendo, "se o indivíduo não pode
ter certas a autenticidade, a vida, a autonomia e a identidade de si e de outros,
então se deixará absorver inventando meios de tentar ser real, de se manter e, aos
outros, vivos; de preservar sua identidade num esforço, como freqüentemente o diz,
para evitar perder o seu eu" (p. 47). Essa desvinculação do Eu ocorreria, também,
segundo Laing, no sentido material, havendo pessoas rotuladas como
esquizofrênicos que se sentem dissociadas de seu corpo, perdem sua identidade
física e conseqüentemente ingressam em profunda angústia existencial; é o Eu
dividido, segundo Laing; o indivíduo é uma coisa e não uma pessoa.
Conhecer o eu, senti-lo como real, sentir-se como alguém, apreciar seus
valores físicos, intelectuais ou afetivos, bem como suas limitações nesses e noutros
campos e, assim, sentir-se como pessoa a quem cabe um espaço no mundo e um
sentido de vida, seria o motivo básico do comportamento em função do qual giram
seus pensamentos e ações. Quando não percebe sua identidade perde-se na
imensidão das coisas e confunde-se com o tudo ou com o nada e desaparece no
seu autoconceito. Esse desaparecer pode causar os mais variados
comportamentos, desde o autismo ou a tentativa de criar um mundo para si próprio,
até a negação do que existe ou o uso de fantasias que satisfaçam a necessidade de
ser alguém.
Muitos exemplos da vida diária ilustram os fatos aqui assinalados, seja na
busca de uma identidade, do reconhecimento de ser alguém, seja nas desordens
comportamentais, de rótulo neurótico ou psicótico, que ocorrem quando o indivíduo
não encontra essa posição psicológica. Um dos casos mais evidentes da
experiência do autor refere-se a uma cliente que, não obstante dispor de condições
sociais e materiais de elevado nível, sem problemas ou queixas objetivamente
distinguíveis, ingressava, ansiosamente, em um grande vazio existencial: a vida não
tinha sentido, principalmente na relação familiar e conjugal; não se sentia válida e útil
na própria família e em conseqüência esquivava-se, o mais que podia, da atmosfera
e das decisões familiares. Procurava atividades longe do círculo familiar, na busca
de alguma forma de ser alguém, mas nem mesmo noutros campos achava o seu Eu;
parecia difícil explicar a si mesma certos comportamentos que assumia e, muitas
vezes, entrava em ansiedade quando tinha que revelar seu próprio nome e sua
identidade. Nas sucessivas sessões focalizou a cliente a história completa de sua
vida: com pais separados desde sua infância, sentia-se incerta na sua origem,
questionando até mesmo suas raízes biológicas com seu pai e sua mãe. Sempre se
tornava extremamente ansiosa ao evocar seu passado, suas origens ou quando
tinha que expor opiniões pessoais. Não se sentia uma pessoa, alguém capaz de
emitir um juízo ou opinião e se o fazia era para impor um ser que procurava existir,
que não havia ainda nascido. A redução da angústia resultante desse niilismo
somente foi possível quando passou a se valorizar como pessoa, com vida e alvos
próprios, quando foi possível perceber sua existência como indivíduo, quando pôde,
abertamente, dialogar com sua mãe sobre sua origem e identificar-se, na família,
como participante desse grupo e de outros, no trabalho e na vida social.
A auto-afirmação é vista, também, como auto-estima e, nesse sentido, como
aponta Chrzanowski (1981), um construto que constitui fundamentos para entender a
motivação humana na vida diária, tanto quanto na situação terapêutica. É uma
realidade mais tangível do que o Ego. Segundo esse mesmo autor, a auto-estima,
que pode ter vários sinônimos tais como auto-respeito, autoconsideração, é a
imagem favorável de si mesmo, de dignidade pessoal. Esses conceitos, pouco
considerados por Freud e outras correntes psicológicas, são agora reapresentados
como algo de máxima significância na conduta e em qualquer forma de terapia. .

GRÁFICO 1
Etapas Principais do Processo de Auto-Afirmação
Percepção dos eventos pessoais e sociais
(Respostas sensoriais, motoras e mentais a
quaisquer estímulos pessoais, ambientais ou
sociais)
|
SELF
|
IDENTIDADE
|
Avaliação no plano consciente ou inconsciente das
respostas aos estímulos pessoais, ambientais e
sociais
|
AUTO IMAGEM
|
Adaptação dos impulsos naturais e pessoais às
pressões e condições ambientais e sociais
|
EGO
|
Auto afirmação negativa; AUTO ESTIMA Auto-afirmação positiva,
insatisfação pessoal; AUTOCONCEITO satisfação pessoal; equilíbrio
deteriorização do emocional
comportamento
A ocorrência patológica
Parece evidente ao autor que a maioria, senão a totalidade dos distúrbios
emocionais, dei origem não-biológica, provém do aniquilamento do EU Pessoal e da
conseqüente necessidade de fazê-lo emergir. A percepção de ser desvalorizado,
desprezado, preferido, parece ser a mais contundente experiência humana. E o
homem assim percebido ingressa em defesas para compensar essa desvalorização
de algum modo e, enquanto isso não ocorre, permanece em estado de real
sofrimento. Não importa se esse sentimento de desvalia seja real ou imaginário.
Desde que a pessoa o sinta, atua como se fosse real.
As compensações psicológicas explicadas pelos mecanismos de defesa
(Freud,Ana Freud e outros) são meios pelos quais o indivíduo recompõe seu
equilíbrio emocional, revendo-se como alguém, bom, útil e expressivo. Às vezes essa
defesa é socialmente inaceitável, não adaptativa, como no caso do indivíduo que
rouba, assalta ou mata para vingar-se, para aparecer, ou para mostrar que existe e
que é alguém. Nesses casos, o indivíduo está psicologicamente equilibrado mas
socialmente condenado. Noutras vezes, busca afirmação em obras ou atividades
que substituem suas deficiências ou pseudo deficiências e que são aceitas e
socialmente valorizadas. Obtém-se, nesse caso, um equilíbrio social e psicológico
adequado. Outras vezes, porém, permanece o indivíduo no plano da nulidade ou da
não-existência e esse sentimento, profundamente traumático, gera angústias às
vezes insuportáveis. Aí estariam, pois, as nascentes de todos os problemas
psicológicos. Manipulá-los, terapeuticamente, com compensações ou com nova
visão de si e dos referenciais externos, é todo o trabalho da reeducação, da
reabilitação ou da psicoterapia e os casos que mencionamos em páginas anteriores
são exemplos que podem ser significativos.
O problema psicológico, manifesto por tensões, angústias ou
comportamentos socialmente indesejáveis, parece brotar como conseqüência da
aniquilação individual, ou, em menor grau, do sentimento de incapacidade ou de
rejeição. Isto porque a própria sociedade exige o conformismo a seus padrões e,
logo a seguir, a expressão individual, ou seja, uma capacidade individual de ser
alguém, de resolver problemas, de tomar iniciativas e de dar contribuições à
sociedade. Diante dessas exigências antagônicas, conformismo versus expressão,
o indivíduo vê-se perplexo. Precisa adaptar-se e precisa ser alguém, para não ser
tragado pelo niilismo. Pode conformar-se totalmente e mergulhar no anonimato, no
nada ser, como defesa. É o seguidor sem restrições, para quem tudo está bom.
Aceita o niilismo sem tensões. Noutro oposto, está o contestador extremado, que
movido pelo seu EU Pessoal tudo questiona e somente por maiores pressões
submete-se às imposições sociais. Entre tais extremos situam-se, porém, grande
parcela de pessoas que lutam por um equilíbrio entre o não-ser e o ser. Não o
atingindo ,ingressam em estados permanentes de tensão e de sofrimento. Esses
casos são comuns e os vemos no dia-a-dia, sofrendo ou gerando sofrimento em
outros. Muitas das personalidades neuróticas ou psicóticas, para usar a rançosa
nomenclatura tradicional, enquadram-se nessa situação: estão à procura de um
equilíbrio entre o ser e o dever-ser; entre o que são (EU Pessoal) e o que acham que
exigem de si (EU Social). Essas pessoas, às vezes, imaginam que as expectativas
dos outros,sobre si mesmas, são de tal ordem que não podem a elas corresponder:
é o sentimento de incapacidade, real ou imaginário; outras procuram vencer as
“exigências” ou expectativas, impondo o seu EU Pessoal, como forma de se
libertarem dessas exigências e temos os comportamentos de prepotência, de
dominância ou de culto de si mesmos. Tanto num caso como noutro, a pessoa sofre
ou provoca sofrimentos e torna,se indesejável para si ou para os outros. A
auto-afirmação parece ser o móvel constante, o regulador da conduta humana.
Conduzi-la a níveis pessoais e sociais adequados, sem ferir a individualidade e a
sociedade,seria o objetivo máximo do bem-estar individual e social.

O determinánte básico, por nós chamado dé auto-afirmação, não é tão


simples como o nome indica; não se confunde com o comportamento de "chamar à
atenção sobre si", como é, às vezes, interpretado. É um produto intelectual e
emocional muito mais abrangente e profundo. Intervêm nesse comportamento
muitos outros elementos, dos quais se destacam:
a) O nível mental, no sentido de ler a pessoa capaz de avaliar e comparar
diferenças dentre fatos e objetos e entre situações diversas;
b) O nível intelectual, no que se refere às cognições e à acumulação de
informações que permitam à pessoa emitir juízos de valor, sobre si e sobre os
outros, e extrair conclusões quantitativas e qualitativas;-
c) Condições de percepção sensorial, através da qual possa a pessoa
receber os estímulos ambientais ou autogerados;
d) As imagens introjetadas de si e dos outros, do Eu-real e do Eu-ideal, ou
seja, todos os agentes derivados do autoconceito resultantes de frustrações e
conflitos, bem como de sentimentos positivos e negativos.
A auto-afirmação não significa, igualmente, o sentimento narcisista estudado
por Kohut (1978) na Sua posição antifreudiana, mas o equilíbrio entre o amor por si e
pelas pessoas e fenômenos que o rodeiam. As desordens psíquicas ocorreriam
quando a pessoa não é capaz de estimar-se a si própria, buscando nos outros, a
todo momento, extremamente vulnerável às críticas, a valorização que lhe falta. O seu
EU fragmentado é ambíguo, confuso, instável e não estruturado, com origens que
podem estar na sua relação com seus pais e sua família. Quando esta descarta os
vínculos entre seus membros deixando a criança entregue a si mesma, sem a troca
de experiências afetivas constantes, ou quando excessivas exigências subjugam a
visão de si mesma, a criança sente-se privada da estima e desenvolve auto.imagem
depreciativa. Como exemplo, basta lembrar os milhões de menores desamparados
ou abandonados que passam a sentir-se injustiçados e rejeitados embora não
possam identificar esse sentimento. Tiveram eles o Eu destruído ou parcialmente
anulado pela falta de progenitores ou pelas atitudes de indiferença ou de não
empatia que freqüentemente encontraram.
O comportamento de auto-afirmação pode ser entendido como resultante dos
juízos que a pessoa faz em relação a si mesma e de seu Eu em relação ao mundo.
Quando esses juízos indicam conceitos grandemente desfavoráveis, que geram
sentimentos de nulidade, de não ser ele próprio, de alienação, ou mesmo de
incapacidade face a necessidades imperiosas, a pessoa ingressa em estados de
depressão ou de angústia, que variam de acordo com o grau de insatisfação
percebido. É a conseqüência da reação do Ego à ameaça de não-ser. Todos nós,
em um momento ou outro da vida, sentimos ocorrer tais sentimentos. No indivíduo
dito “normal", ou normalmente ajustado, essas imagens de incapacidade ou de
nulidade são aceitas e incorporadas como algo não-destrutivo, que ocorrem como
fatos comuns da vida; não afetam a integridade e o conceito básico do EU e,
conseqüentemente, a pessoa continua a viver na busca de outros caminhos; procura
soluções menos frustradoras, aceita os fracassos como parte da experiência normal
de vida e não. se sente invalidado ou rejeitado. Em certos casos, porém, seja por um
acúmulo constante de insucessos, seja pela ocorrência de uma grande e profunda
insatisfação, a pessoa começa a interiorizar conceitos depreciativos sobre-si
mesma; tudo lhe parece ameaçador, reforçando a imagem negativa que está se
gerando, ou já implantada. Dois pólos extremos podem caracterizar os efeitos da
auto-afirmação:

1. Comportamento de nulidade, ou seja, o da percepção e conseqüente


posicionamento de que pouco ou nada adianta fazer, face aos problemas
existenciais, já que seu EU não tem condições de superar problemas. Evita
atividades ou quaisquer realizações porque, de antemão, não confia no seu próprio
desempenho. É o comportamento de fuga, de esquiva, de negação da realidade e
outros semelhantes, explicados como defesas pela linha freudiana, pela não
aceitação de si mesmo, na posição rogeriana, ou pela ausência de reforçamento de
valor pessoal, na linha comportamentalista. A conseqüência emocional, é
geralmente, a depressão temporária ou permanente, a inibição ou bloqueio de
comportamentos, resultante do medo de fracasso; .
2. Comportamento de ativação, que se refere à não aceitação de um juízo
depreciativo, isto é, o organismo reage contra o baixo conceito que lhe é
profundamente traumatizante. A reação, porém, é não-adaptativa, uma vez que,
gerada sob a percepção de incapacidade, cria tensões severas. A pessoa sente-se
incapaz e, em lugar de manter-se em estado depressivo, expresso no
comportamento anterior, procura lutar contra essa imagem, às vezes de forma
impulsiva e irracional.
Predominando o medo do insucesso, o comportamento se desorganiza e
novos fracassos ocorrem. A seguir, mais medo e mais fracassos e os níveis de
excitação aumentam gerando, no plano emocional, estados de intranqüilidade,
agitação, fobias, falhas do desempenho e conseqüente agravamento das condições
existenciais.
Os dois comportamentos, acima mencionados, poderiam corresponder a
dois processos básicos de equilíbrio, quer no plano psicológico como no biológico,e
se referem a estados de inibição e de excitação, fartamente conhecidos no campo
da fisiologia e da psicologia.
Neurose e significado da vida

A auto-afirmação é o reconhecimento e a valorização da própria


individualidade que, no dizer de Rollo May (1977), deve ser preservada. É o alvo da
psicoterapia, no pensamento de Rank (1945), e, como busca da própria
individualidade, uma característica básica do comportamento segundo Jung (1927,
1939).
Analisando métodos de aconselhamento, diz May que forçar o indivíduo a ser
ele mesmo é "piorar ainda mais a confusão. Ele precisa, em primeiro lugar, achar a
si mesmo".
Mais adiante, o mesmo May define o quadro do neurótico e sua teorização
muito tem a ver com o que encontramos sobre a auto-afirmação. Diz May: o
problema do neurótico é sua incapacidade de afirmar. "Afirmar significa mais do que
simplesmente aceitar. É mais um aceitar ativo, um dizer Sim, não apenas verbal ou
mentalmente, mas com resposta de toda a personalidade".
Essa falta de capacidade de afirmar a si próprio, a seus semelhantes e ao
universo está ligada ao acentuado sentimento de insegurança do neurótico. Temos
observado ser comum entre os depressivos, os angustiados e os ansiosos, em
geral, a existência de um sentimento de medo ou de falta de confiança em si e nos
outros. Agem para se defender de perdas, reais ou imaginárias. No neurótico, ao
contrário do psicótico, geralmente o medo e o sentimento de fracasso tem origem
em alguma perda ou ameaça real de perda. A pessoa envolvida teve, na realidade,
alguma dificuldade material ou moral, objetiva, praticamente verificada. A neurose é,
porém, o exagero e a generalização desse medo, causada pela falta de confiança
em si, que assumiu a forma de baixo conceito pouco a pouco interiorizado, seja por
uma visão deformada dos fatos (plano cognitivo), seja por reais e repetidos
insucessos que geraram uma visão negativa de si mesmo (plano emocional). Em
conseqüência, a pessoa não consegue ser alguém; não se afirma como pessoa e a
vida não tem um significado, ou se o tem, o que é pior, surge como inatingível. A
pessoa tem planos ou objetivos e necessidades subjacentes que lhe parecem muito
além de sua capacidade. Nestes casos, coloca alvos acima de suas reais
possibilidades ou, se é capaz, não se vê suficientemente dotado para alcançá-los.
No primeiro caso, suas informações e os dados de que dispõe para manipular o
problema são errôneos ou incompletos. É o caso de pessoas que almejam alto nível
de desempenho, seja no campo profissional, social, sexual ou outro qualquer,
baseado em concepções ou imagens que lhe foram transmitidas e em função das
quais acredita que certos padrões de desempenho são os únicos aceitáveis e que
justificam sua conduta. Esquecem-se de seu próprio Eu e tomam como diretriz o Eu
de outrem. Alienam-se de si mesmos e vivem à sombra de outros, buscando
igualá-los ou superá-los. A satisfação e o bem-estar ficam associados e esses
alvos; não elaboram seus próprios planos e suas próprias decisões. No segundo
caso, simplesmente não se avaliam positivamente.
Na medida em que a pessoa constrói para si mesma seu próprio mundo, com
as limitações e aspirações que derivam de sua auto-imagem, torna-se capaz de
afirmar-se, de traçar seu próprio rumo, relacionado com o mundo externo, mas não
por este dominado. Nesse momento, enquanto pessoa, dá um sentido à sua vida,
fixa metas e estratégias e com elas opera, adaptando-as a eventuais revezes e
impropriedades. Pode sofrer com as frustrações e conflitos, porém reformula planos,
mantém as diretrizes essenciais que coloca para si mesmo. Nesse sentido,
reconhece-se como alguém, que tem condições próprias e que luta para adaptar-se,
com suas potencialidades e limitações. Esse sentido de luta pessoal, ainda que
acarrete derrotas, seria a essência da auto-afirmação. Não é o resultado visível em
si que interessa, mas o sentimento de não-passividade, de independência, de ser
capaz de reconhecer em si algo que permanece, que não foi destruído, apesar dos
fracassos.
A auto-afirmação seria também a percepção da própria existência e o
preenchimento do vácuo existencial, tão bem colocado por Victor Frankl e que,
segundo ele, corresponde à ausência de um sentido de vida. Esse mesmo autor
menciona a pesquisa da Universidade de Harvard, realizada com 100 antigos
estudantes dessa Universidade, e na qual se encontrou grande porcentagem de
pessoas que, depois de formadas e mesmo bem sucedidas na vida profissional,
queixavam-se de "falta de uma missão especial vital", "andam à procura de uma
vocação e de valores pessoais que os sustentem". Ocorre, segundo Frankl, um novo
tipo de neurose, não psicógena, mas noogênica, isto é, resultado de uma carência
de iniciativa, de interesse, que mobilize o homem em uma certa direção. Os
sintomas dessa neurose podem ser semelhantes aos da neurose psicógena
(causada por grandes traumas psíquicos) ou da neurose somatógena (causada por
desequilíbrios orgânicos). O sintoma básico é a angústia existencial, a falta de razão
para viver, o desinteresse, a apatia, produtos do baixo autoconceito e da percepção
de uma nulidade individual. Muitas fobias e ansiedade difusa podem ser o efeito
dessa percepção de nulidade, em que o Eu pouco significa, esmagado pelos outros
ou pela imensidão do Cosmos. Encontrar um sentido para a vida seria
reconhecer-se como alguém, crer em si mesmo, no seu papel e no seu desempenho,
ainda que com limitações e falhas. Esse crer em si e reconhecer-se como pessoa
poderia ser o caráter básico da Psicologia Humanística, hoje em franco
desenvolvimento, em oposição à Psicologia que vê no homem um meio para alguma
coisa e não um fim em si mesmo.

Valores sociais e a auto-afirmação

A auto-afirmação, como determinante básico, seria culturalmente


estruturada com base nos valores introjetados pela pessoa, durante seu
desenvolvimento. É, conseqüentemente, um conceito pessoal, totalmente
individualizado, que a pessoa cria para si mesma. E isto é verdade quando
comparamos os alvos comportamentais que cada um de nós impõe para si próprio.
O que representa valorização pessoal para certas pessoas pode não ser
significativo para outras. Esta acepção corresponde a alguns conceitos de Rogers
quando propõe sua teoria sobre a personalidade (Rogers, 1951). Todavia, o
conceito pessoal sobre si mesmo não existe senão em decorrência de influências
ambientais, isto é, que dão ao indivíduo os parâmetros de comparação entre si e os
outros. É pessoal, enquanto se incorpora à conduta e nela se reflete a todo
momento, gerando idéias, planos, fantasias e imprime direção à conduta; é, porém,
social na sua origem e somente pode ser manipulado através da confrontação entre
as expectativas sociais que o geraram e a conduta que se instalou. .
Afirmar que estamos em uma fase crítica de transição social, em que alguns
valores são substituídos por outros, tornou-se uma linguagem comum e até certo
ponto, no nosso entender, sem muito sentido. O homem sempre esteve em fase de
transição; a juventude, como grupo, sempre foi contestadora e os adultos, como
indivíduos, em sua maioria conservadores, embora como grupo se fantasiem de
renovadores e progressistas. Os valores ligados à estrutura legal da família, à
religião, ao domínio político e a outros campos sempre foram questionados, em
diferentes formas, de acordo com a cultura e os recursos de comunicação e de
interação social. Provavelmente, o acontecimento mais traumático da atualidade é o
de ser a pessoa, hoje, mais facilmente agredida por confrontações e desafios,
porque os conceitos, os valores e as afirmações chegam mais rapidamente a seu
conhecimento e exigem pronunciamentos mais numerosos e em menos tempo do
que antigamente. Em conseqüência, ela é obrigada a pensar e a decidir mais
depressa. Isto gera grandes tensões. O indivíduo não se sente apoiado em dados
definidos, pois as informações que obtém sobre a vida e seus valores, no estudo, no
trabalho, na família, no campo sexual, no casamento, na política, na religião, fluem
sem cessar e até antagonicamente. E o homem começa a perguntar a si mesmo:
Quem sou eu? O que quero? Qual é o meu papel face a todas essas expectativas e
face às decisões que me pressionam cada vez mais?
A crise existencial se instala quando a pessoa vê um conflito entre os valores
introjetados e com os quais, bem ou mal, vai sobrevivendo e a necessidade de
decisão, urgente e imperiosa, sobre assuntos familiares, sexuais, políticos,
religiosos, culturais, etc., os quais muitas vezes contrariam fortemente a estrUtura
que desenvolveu para sobreviver e afirmar-se. O efeito é um sentimento de desvalia
ou incapacidade, diante do mundo complexo, para o qual o tempo de decisão é
encurtado. Os padrões que introjetamos como úteis sofrem o impacto crescente da
urgência de decisões e o sentimento de afirmação de si mesmo entra em colapso. É
comum os pais, e mesmo os jovens , em situações de aconselhamento comum ou
de terapia, afirmarem com plena consciência de seu estado: "não sei o que fazer,
sinto-me perdido", "tenho medo de mudar", "não sei o que vai acontecer".
A mudança de valores às vezes afeta uma área em particular, seja nos
costumes sexuais, seja na valorização do status pelo dinheiro ou pelo poder, seja na
subordinação a princípios éticos, religiosos ou políticos. De qualquer forma, o
indivíduo se vê pressionado, avaliado, julgado pelo que faz ou pelo que não faz. A
tentativa de proteger-se, como o engajamento em opiniões e movimentos, é
igualmente contestada e o produto emocional é a angústia pela tomada de posições.
A pessoa deixa de ser ela mesma para transformar-se em um produto puramente
social para o qual é impelida. Perde o sentido de si mesma e procura equilibrar-se
em valores contraditórios, ou assume posições rígidas para as quais não lhe
faltaram críticas e ameaças. Em muitos casos, o foco de avaliação passa de si
mesma para o mundo externo e a pessoa se anula. Com esse sentimento de não
existir vê-se como robô, manipulado por outros, ou transforma-se em uma fortaleza
individual, em luta permanente com convicções que não são as suas. A angústia
existencial se avoluma e o indivíduo questiona sua própria individualidade.
Quando a pessoa é capaz de manter seu quadro de referências e, no
panorama complexo de opções, conseguir distinguir o seu Eu e valorizá-lo, o
caminho para o crescimento e a tranqüilidade é novamente aberto. Quantas vezes
observamos, em terapia, a pessoa questionar uma opção como algo imposto,
indesejável, e vir, posteriormente, a adotá-la. Nesses casos o fenômeno poderia ser
explicado porque, na revisão de seus valores e de seu Eu, ela pode aceitar a opção
não mais como imposição externa que a anula, mas como decisão que passa a ser
sua e que, por situações diversas, pode coincidir com o alvo das pressões externas.
Uma atitude eficaz na assistência prestada a pessoas que se defrontam com
problemas existenciais seria considerar o que diz Rogers: "Uma forma de ajudar o
indivíduo a aproximar-se da abertura para a vivência é utilizar uma relação em que é
apreciado como uma pessoa em si, em que as descobertas que ocorrem em seu
íntimo são compreendidas e avaliadas empaticamente e na qual tem liberdade de'
vivenciar seus sentimentos e o de outros sem que, ao fazê-lo, seja
ameaçado"(Rogers, 1967).
A proposição de Rogers indica uma atitude terapêutica. Apenas
acrescentamos que a justificação dessa atitude estaria.na necessidade de
auto-afirmação. Encontrar-se "como uma pessoa em si", ter liberdade de "vivenciar
seus sentimentos e o de outros" parece-nos suficientemente claro como um
processo de auto-afirmação.

Perspectivas humanísticas e filosóficas

O próprio movimento filosófico atual reporta-se ao motivo de auto-afirmação


como componente essencial do comportamento humano. O existencialismo é um
notável exemplo ao se contrapor ao tecnicismo que, tratando o homem como objeto,
o anula na sua individualidade, Surge, pois, o humanismo na psicologia que nada
mais significa do que um movimento de inaceitação do homem-objeto; visa restaurar
o seu EU, como pessoa, reconhecendo-o como participante e não como espectador
ou produto da vida. Kierkegaard é tido como um dos inspiradores desse movimento,
seguido por Hussed, Heidegger e Jaspers. Em continuação encontramos Sartre,
Camus, Marcel Ponty, Binswanger, Buber e RoBo May enquanto outros, como Victor
Frankl, Rogers e Laing, caminham na mesma direção, embora sob placas
diferentes. O encontro existencial é a situação educativa ou terapêutica, de pessoa
para pessoa, cada uma com seus valores e seu Eu. Não se busca impingir ou
modelar comportamentos, mas vivenciar o que existe dentro de cada um. É o ser no
mundo que prevalece.
Esse humanismo na Psicologia é bem o reflexo do homem que se revolta e
se desajusta quando se vê alienado de si mesmo; quando é ignorado ou
"coisificado" ou, ainda, e principalmente, quando perde o autoconceito, a
auto-estima, resultante de depreciação externa aceita como válida e assim
introjetada e incorporada ao “self”. Quando se facilita à pessoa questionar a si
própria, no seu em-si e para-si, pode ela retomar a uma visão de si mesma, a se
avaliar face a seus alvos e aspirações, a se reconhecer como um ente próprio, como
seu EU subjetivo, todo único e pessoal. Reabre-se, assim, o caminho da
tranqüilidade e do bem-estar individual e pode-se constatar quanto é decisivo no
ajustamento humano a retomada do valor pessoal, do sentimento de que, apesar dos
conflitos e frustrações, a pessoa ainda é capaz de sentir-se a si mesma, de ter a
consciência de existir e de com ela selecionar seus valores e seus alvos. A
essência, do homem é a percepção de si mesmo, como pessoa, capaz de sentir,
pensar e agir dentro de sua individualidade.
Muito freqüentemente observa-se, na assistência terapêutica, que o cliente
coloca duas imagens, o "dever ser" e o "ser", as quais entram em conflito e geram
angústia. E quanto mais se enfatiza uma ou outra imagem, mais se acentua a
dissonância pessoal e o conflito, pois que a pessoa se vê mais profundamente
atingida pelos "seus" valores e pelos valores externos.
Os testes, as medidas, assim como as avaliações puramente externas que a
todo momento enfrentamos no dia-a-dia tendem a enfatizar o "dever ser", as
expectativas sociais, os critérios pelos quais somos julgados, em função de um
clima externo, frio e inquestionável. O humanismo em psicologia tende a reduzir essa
imposição existencial, retomando o EU, o "ser" como o aspecto importante, não
como soma ou função de partes, mas como um todo capaz, inclusive, de superar as
deficiências parciais avaliadas isoladamente. Reduz-se, assim, a distância entre as
duas imagens, o "dever ser" e o "ser" e a pessoa entra na plenitude de si mesma e
assim sentindo usa toda sua potencialidade da qual é biologicamente dotada. O
humanismo é, no fundo, um retorno parcial da Psicologia ã Filosofia e ã Biologia
sem, contudo, abdicar de seu campo próprio. Não retoma a moderna Psicologia à
mera especulação filosófica, nem regride a simples explicações neurofisiológicas
mas reabre, na concepção do homem, a existência de um sentido de vida, algo que
provém da fé ou de um juízo superior, que pode ser dele mesmo, mas que lhe dá,
como assinala Frankl, uma condição caracteristicamente humana. Esse sentido de
vida é a razão da existência, e, como afirmação de si, parece emergir como a mais
poderosa fonte de ajustamento psicológico aos problemas de vida.
O homem, porém, só chega a encontrar um sentido de vida quando se
defronta, sem pressões ou direções, consigo mesmo e com o mundo. Quando é
capaz de analisar o “dever ser" e o "ser"; quando pode admitir as exigências e as
expectativas sociais como perfeitamente naturais e justificadas no contexto em que
se inserem e não como invasões ao seu EU. É o caso, por exemplo, dos filhos,
ajustados, que entendem as exigências dos pais e seus papéis de “controladores" e
não se sentem rebaixados no seu autOconceito porque são assim controlados.
Admitem a naturalidade desses controles sem que isso lhes afete o seu próprio
valor. É o caso do empregado, do aluno, do cônjuge, do membro de um grupo ou
clube ou de qualquer cidadão que tem que se ater a certas regras e regulamentos.
Na medida em que se sinta afetado, rebaixado, humilhado pelas imposições
existentes, sente estar perdendo o seu EU, ou seja, não o tem suficientemente forte
para entender que, fora de si, há outros “Eus" , sociais e pessoais, com conteúdos
próprios igualmente válidos. Quando sente que seu Eu persiste, não obstante essas
barreiras e que seu "ser" é algo real, próprio, individual, que sobrevive, apesar das
limitações, ou por causa delas, então sua imagem pessoal se fortalece e o conflito
entre o dever e o ser deixa de existir; afirma-se perante? si mesmo e o ajustamento
se instala. Não se confunda, porém, esse comportamento com o conformismo
barato, pois isso equivaleria à anulação de si mesmo. A auto-afirmação implica
também em luta pela conquista do espaço de vida:, exige o questionamento
constante do "dever ser", dos valores e dos sistemas de vida, sempre que essas
regras e regulamentos estigmatizem, explorem e escravizem o homem, sempre que
a ele se negue o direito de ser alguém na integridade de sua vida cognitiva, afetiva
ou sócio-econômica. A luta pela auto-afirmação atinge a pessoa, os grupos, o
trabalho, a política e as nações consoante seu caráter nacional. Assume muitas
vezes a luta pela posse do poder, inclusive pela violência, quando não pode a
pessoa conquistá-la pela inteligência. Nesses casos há um processo de conflito em
que as reações não-adaptativas predominam, isto é, buscam indivíduos e grupos
destruir a fonte frustradora de sua auto-afirmação e configura-se um estado de
patologia social em que inexistem a democracia e o respeito à personalidade
humana. Grupos dominam grupos e impõem valores e regras de vida como nos
regimes totalitários. Nessas circunstâncias, o homem revolta-se e passa a ser
agressor, tão forte é o sentimento de não-afirmação que nele brota. A profilaxia e o
remédio são evidentes. Somente quando ocorre a livre expressão e a valorização de
cada pessoa pode esta construir o seu EU, conhecer seus limites de competência e
agir dentro deles. A violência não terá mais sentido; desaparecerá por
desnecessária ou contraproducente; a auto-afirmação elaborada na pessoa e nos
grupos, por eles próprios, indicará os limites e as características da luta, o encontro
com a comunidade e consigo mesmo.
8 - Contribuições à Terapia Psicológica

Como produto de nossas observações ao lángo de muitos anos, a partir das


teorias e técnicas de Rogers (Barros Santos, 1968) foi possível inferir que algumas
diferenciações teóricas e operacionais estavam se revelando úteis e que poderiam
ser classificadas como urna posição neo-rogeriana. Tais distinções são mais
sensíveis nos seguintes pontos: 1º) Do ponto de vista teórico, a tendência ao
crescimento e a auto-realização proposta por Rogers como fundamental na
motivação humana é sensivelmente ampliada com a busca de auto-afirmação, isto
é, a necessiçlade básica do ser humano em sentir-se alguém, em existir e em
mover-se como pessoa em um mundo que é seu. 2º) As três condições necessárias
e suficientes para terapia propostas por Rogers são colocadas de forma um tanto
diferente, ou seja: a congruência e a autentiddade são mantidas e até mesmo
enfatizadas no sentido de ser o Terapeuta uma pessoa clara e transparente ao
cliente, vivenciando suas experiências e seus sentimentos e expondo-os ao cliente
sempre que este desejar conhecê-Ios; a aceitação ou consideração positiva
incondicional é pouco enfatizada pois sua ocorrência pode significar um
conformismo pouco pragmático ou um artificialismo que se opõe à congruência ou
autenticidade; a empatia é consideravelmente reforçada e ampliada como sendo a
mais eficaz das três condições.

Objetivos básicos: desenvolvimento pessoal e psicoterapia

Geralmente, as pessoas que procuram terapia psicológica ou a assistência de


orientadores e outros profissionais são movidas por um desejo de resolver relações
conturbadas, seja no plano familiar, conjugal, profissional, social, religioso, sexual.
ou em qualquer outra área. Não se sentem suficientemente capazes de enfrentar os
problemas com os dados da realidade em que vivem. Outros sentem-se em
constantes situações de "stress" físico ou mental. Outros, enfim, dirigem-se à terapia
para melhor e mais profundo aproveitamento de suas potencialidades; sentem que
podem ser mais do que são. Em todos os casos há um estado de incongruência em
que sobressai uma discrepância entre o Eu real e o Eu ideal, entre o Eu pessoal e o
Eu social (videcapítulos anteriores). A imagem de si é percebida como algo incerto;
há um sentimento de incapacidade ou, por outro lado, de injustiça, insegurança ou de
medo.
Os procedimentos destinados à assistência psicológica repousam,
basicamente, nos conceitos sobre a vida mental e sobre os determinantes do
comportamento. Nesses referenciais incluem-se, igualmente, a psicopatologia e a
acepção do que é "normal", "útil" ou "desejável". Mowrer (in Pennington & Berg,
1954) apresenta excelente súmula das diferentes posições em que se coloca o
comportamento normal, visto pela estatística, pela psicologia, pela filosofia e pela
teologia e pelo qual se infere que as influências culturais nessa conceituação
parecem ser dominantes.
Atualmente, com a ênfase nos direitos humanos, nos conceitos de liberdade
individual e de livre opção, para não se falarJna, teologia do prazer, os caminhos
terapêuticos parecem abrir-se no sentido de considerar normal, útil ou desejável
aquilo que assim parece à pessoa.. Dá-se a esta a opção e, em conseqüência, a
direção do processo assistencial nem sempre se destina a "curar". O alvo
transforma-se em desenvolvimento pessoal, no sentido de mobilizar ou de ampliar.
os recursos humanos, facilitando à pessoa uma vida mais fértil e mais agradável. O
bem-estar, o prazer, a consciência de ser-se alguém e a eliminação de barreiras ou
atritos passam a ser a tônica do processo. Esse sentimento parece resultar de um
balanço final que a pessoa faz de seu papel na vida, face às expectativas que
derivam dele e dos outros e de seu desempenho, ou seja, da maneira como efetiva
seu papel.

Metodologia psicoterápica: a dinâmica do processo


Como assinala Karasu (1979), o repertório de teorias e técnicas psicoterápicas
tem-se avolumado e se categorizado em modelos freudianos, neofreudianos e
não-freudianos. Uma explosão de formas terapêuticas vem ocorrendo, das quais são
exemplos a terapia "racional" de Ellis, o "realismo" de Glasser, o "gritO primal" de
Janov, a "terapia orgástica" de Reich, o "sentido da vida" de Frankl, a . inibição
recíproca" de Wolpe e até a "meditação transcendental", para citar apenas algumas.
Tanto no caso de desenvolvimento pessoal como no de terapia, os
procedimentos têm variado desde a antigüidade e se estendem através do uso de
recursos biológicos (quimioterápicos, cirúrgicos, manipulativos, bioenergéticos,
etc.), de recursos sociológicos (mudanças ambientais, ocupacionais, situacionais,
institucionais, etc.) e de recursos psicológicos (diálogos, dramatizações, catarse,
hipnose, condicionamento, atuações no plano cognitivo e emocional, etc.) e se
acham descritos por vários autores (Pennington, 1954; Ford, 1963; Sundberg &
Tyler, 1963; Wolberg, 1977) e por nós mencionados nos capítulos iniciais deste livro.
Parece estarmos, agora, na era de valorizar o sentimento, o sensualismo e,
principalmente, a experiência imediata, o “aqui e agora” , desprezando o passado e
o amanhã, o que se explica como repulsa à excessiva dependência do homem à
tecnologia e a conseqüente ameaça de perda da própria individualidade.
Realmente, a massificação e a tecnocracia levaram o homem a buscar reafirmar-se
como alguém que existe; que não é um simples número ou objeto, mas um ser que
tem certo conteúdo pessoal e ao qual devem caber alternativas e opções. Se o
homem se revolta contra esse anonimato em que é colocado é porque o sentimento
profundo de ser (ou de não-ser) foi de alguma forma atingido ou simplesmente
ameaçado. Em qualquer campo o homem parece buscar, sobretudo, o
reconhecimento de que é alguém, que deve ser conhecido e respeitado. Esse
sentimento nos pareceu básico em todos O,s clientes e sua utilização muito útil na
técnica terapêutica, na medida em que nossa observação do quadro clínico seja
válido. Aliás, sobre os efeitos da técnica terapêutica, há muito que ser ainda
descoberto e as pesquisas existentes não são totalmente esclarecedoras, embora
revelem alguns marcos operacionais (Ga:rfield e Bergin, 1978). O que parece mais
comum, se analisarmos os modelos terapêuticos que vêm sendo usados com nomes
diversos através do tempo, é a atenção dada à pessoa, considerando-a,
respeitando-a e desenvolvendo seu poder de opção e de decisão.
Embora seja discutível a generalização de modelos metodológicos em terapia
psicológica, face à diversidade de casos e, principalmente, às atitudes que se
exigem do terapeuta, há certas premissas e conseqüentes formas de atuação que
se têm revelado úteis. Procurou o autor reunir os conceitos da dinâmica terapêutica
em 8 proposições a saber:

1. É possível inferir que as proposições de Rogers referentes às atitudes


essenciais à prática terapêutica e que se referem à congruência, respeito
incondicional ao cliente e empatia, em um clima de calor humano, permaneçam
constantes. O que se propõe, como ingrediente terapêutico complementar e
igualmente útil, é a análise cognitiva e emocional do fenômeno da auto-avaliação
que o cliente realiza.
A avaliação supra referida é um processo habitual de vida, efetuada a todo
momento e tende a ocorrer com mais profundidade em situações de terapia.
Consciente do julgamento que ocorre no cliente, pode o terapeuta facilitar essa
avaliação através de reflexões de idéias e sentimentos e de comentários
esclarecedores sobre:
· eventos que o cliente considera positivos ou negativos em sua experiência;
· fantasias que elabora em torno de seu Eu ideal;
· dificuldades ou barreiras que percebe, internas ou externas.
À medida em que terapeuta e cliente analisam, reflexivamente e em conjunto,
em clima receptivo e não-crítico, os temores e insatisfações, bem como os
SUcessos e gratificações, o cliente tende a modificar a concepção sobre si mesmo.
A competência profissional do terapeuta - que o diferencia dos leigos e da situação
comum de vida - consiste em explorar os elementos cognitivos e emocionais que
dão origem às defesas e aos comportamentos do cliente.
Seria possível argumentar que o processo de avaliação facilitado pelo terapeuta
venha a se contrapor às três condições propostas por Rogers, particularmente às
que se referem à consideração positiva e incondicional e à empatia. A divergência
assim suposta não ocorre, porém, uma vez que a avaliação é realizada pelo cliente.
O terapeuta, no decurso do processo, sente que o cliente está se avaliando e sua
função é reunir os dados e as interpretações deste originárias e abrir caminho para
que o cliente reveja as razões de seus pensamentos, sentimentos e ações e os
interprete sob outras óticas encontrando explicações menos traumatizantes para os
fatos que considera. O papel do terapeuta é o de oferecer, como hipóteses, várias
interpretações alternativas focalizando a dinâmica de necessidades e motivos que
fluem no cliente e as defesas que vem utilizando para satisfazê-Ios.
As colocações ou interpretações não seguem, jamais, o modelo analítico
tradicional em que as expressões físicas ou intelectuais do cliente são captadas pelo
analista no seu sentido inconsciente, simbólico, em termos dos conceitos
psicanalíticos. O material exposto pelo cliente é comentado pelo terapeuta com
expressões usuais do dia-a-dia, ao nível consciente. É um diálogo ativo em que o
significado da existência, o sentido de vida, as aspirações e as fantasias são
exploradas, dentro de realidades fenomenológicas e existenciais.
2. Ocorrendo a auto-avaliação, surge o conceito do eu-real e do eu-ideal,
daquilo que se percebe que é e daquilo que deveria ser; a segurança e a
auto-estima são atingidas. Dessa confrontação surgem problemas no sentido de
examinar eventuais deficiências pessoais, face às exigências e pressões
ambientais. O estado de tranqüilidade, de bem-estar e de produtividade dependerá
dessa confrontação. Não se trata de uma simples aceitação de si mesmo, de acordo
com a posição rogeriana, mas de um julgametito muito profundo em que as ações e
a conduta geral são revistas, com dois sentimentos paralelamente dispostos: 1)
reconhecimento de necessidades, de deficiências e de pontos positivos; 2)
definição de papéis do sentido d_ vida face ao sentimento anterior. Em outras
palavras, a pessoa tem a percepção aceitadora do que é, do que precisa, de suas
potencialidades e de suas dificuldades e, iÍo mesmo tempo, define sua trajetória de
àção, face à avaliação realizada. Não é a aceitação conformista e até certo ponto
impregnada de passividade (nada posso fazer, se sou assim...) mas de um
planejamento operacional de sua vida face a esse julgamento (tenho limitações, agi
com elâsou contra elas, mas posso fazer algo, porque sou alguém e como pessoa
existo e tenho um papel a desempenhar) .
Com base no material verbal apresentado pelo cllente, o terapeutafaz
comparações entre seu desempenho e as barreiras ou dificuldades que enfrenta.
Essa intervenção consiste, de um lado, em vivenciar com o cliente as experiências
positivas ou negativas que enfrentou e os recursos de que dispunha para agir.
O terapeuta procura despertar as fantasias do cliente e seu nível de aspirações.
Nesse momento o cliente faz um julgamento de si mesmo no que se refere a seu
futuro. Surgem imagens sobre o sentido de vida que colocou para si mesmo ou, o
que é mais comum, ausência de um sentido. Esse sentido não é apenas um objetivo,
tal como entrar em uma faculdade, arranjar um determinado emprego, viver
harmoniosamente com o esposo, esposa ou filho, com o chefe ou com os outros,
usufruir melhor a vida sexual ou, como me disse um adolescente certa vez: "meu
único problema é ter uma moto". Não se trata de manipular esses fatos na sua
superfície, nem no seu aspecto operacional, mas no significado que o alcance
desses objetivos tem para sua própria avaliação como pessoa.
3. A relação assistencial, seja profilática ou terapêutica, caracteriza-se por uma
troca de percepções, cognições e sentimentos, entre o psicólogo e a pessoa
assistida. Não se configura, em momento algum, o caráter de discussão ou
confrontação de opiniões, mas o posicionamento do psicólogo, quando este sentir
que sua verbalização e a expressão de sentimentos possa contribuir para aprofundar
o processo de avaliação do cliente sem traumatizá-Io. A discrepância ou a
concordância de sentimentos são fatos reais da vida e por isso são essenciais à
relação psicológica. O que diferencia essa relação da vida real é a ausência de
imposições, luta, domínio ou submissão. Cada um, psicólogo e cliente, tem sua
individualidade e podem pensar igualou diferentemente sobre os mesmos assuntos,
com base nas percepções e vivências de cada um. Esse é o agente positivo que
provavelmente facilita à pessoa sua auto-afirmação.
A aceitação do outro como ele é, deslocando-se o foco referencial do terapeuta
para o cliente, entendendo seu comportamento em função da pessoa que ali está, é
o procedimento básico rogeriano. Essa condição porém, embora teoricamente
compreensível, é praticamente rara, senão na totalidade, pelo menos na maioria das
atuações dos psicólogos, conselheiros e outros profissionais. Vê-se
constantemente, até nas discussões técnicas e na conversação normal, como o
psicólogo julga seu cliente e o está sempre julgando.
4. O diálogo entre o psicólogo e a pessoa assistida processa-se no plano
emocional e cognitivo. Há espaço para apreciação racional dos fatos da vida, para
discussão de planos de ação e obtenção de informações. O material tratado provém
do cliente, não havendo direção por parte do psicólogo, o que não deve impedir este
último de formular perguntas relativas a situações já exploradas ou que estimulem o
cliente a uma ação catártica. Pode haver interpretações superficiais ou profundas,
expressas pelo psicólogo, como hipóteses a serem julgadas pelo cliente. Essa
colocação facilita o vivenciar e o experienciar proposto por Gendlin (1961).
5. O processo terapêutico é, sobretudo, uma revisão de .critérios, não no
sentido de ignorá-Ios, mas na direção de um foco auto-referente. A pessoa muda no
sentido de tranqüilizar-se, quando faz um cotejo de suas próprias potencialidades e
das barreiras que enfrenta; quando verifica em si mesmo suas aspirações e suas
necessidades e as confronta com seu nível de realização. A função do psicólogo é
permitir que essa confrontação se faça de forma "consistente com o self" , porém
muito mais ativa. Se o cliente verbaliza, por exemplo, "fracassei nos meus estudos",
ou "fracassei no meu casamento" ou no "meu trabalho", esse "fracasso" é explorado
pêlo terapeuta em função dos agentes que promoveram esse fracasso; o enfoque
cognitivo e racional conduz, posteriormente, ao enfoque emocional. Parte-se do
cognitivo para o emocional e não deste para aquele.
6. É evidente que os procedimentos e as "técnicas" psicoterápicas, aqui
expostas, freqüentemente se relacionam com outras atuações, particularmente com
as técnicas cognitivas (Beck, 1976; Beck e Rush, 1978), com as técnicas rogerianas
(Rogers, 1951, 1978; Hart e Tomlinson, 1970), com os procedimentos
existencialistas (May, 1977) e logoterápicos (Frankl) e provavelmente com
procedimentos comportamentalistas (Lazarus, 1972, 1977). Não se trata de uma
simples mistura de métodos, mas de um conjunto integrado e coerente de atitudes e
de intervenções, que caminham em uma direção definida, isto é, na exploração, pelo
cliente, do que representa, para ele, o seu EU, e a abertura de espaço para que ele
encontre sua individualid,ade e sua pessoa, para que avalie suas limitações e suas
possibilidades e o resultado de suas atuações vivenciais dentro dessas
coordenadas, ao mesmo tempo em que define, para si mesmo, um sentido de vida e
as razões para existência. A orientação terapêutica é essencialmente baseada na
auto-afirmação e nisto se diferencia das demais teorias e técnicas psicoterápicas.
Opera-se em uma visão humanística da pessoa, em que o indivíduo, como pessoa, é
o foco principal, embora possa haver freqüentes referências a aspectos particulares
do comportamento os quais são entendidos na situação organísmica e global da
pessoa, no seu contexto existencial.
7. A posição terapêutica, tal como a sentimos, pode envolver, também, um
questionamento dos valores vigentes, sejam educacionais, profissionais, familiares
ou pol1ticos, não no sentido de oposição pura e simples, mas na acepção de
confrontá-Ios com as necessidades e os motivos do cliente, quer pessoais, quer
como componentes de grupos ou instituições. Não se restringe unicamente à
pessoa, pois estaríamos, se assim fosse, tratando-a em um mundo particular,
alienando-a das contingênciais sociais e ambientais. Por essa razão, a
personalidade do cliente e suas reações comportamentais são relacionadas com
todos os agentes externos que o cercam; o domínio de seus pensamentos e ações é
ampliado e discutido face às pressões, valores, necessidades e expectativas
sociais. O distúrbio psicológico é visto mais como algo resultante de raízes sociais e
a pessoa do cliente e seu Eu pessoal são confrontados com essas exigências e
características culturais, econômicas e até ecológicas, sem se perder de vista a
pessoa do cliente e sua individualidade. Facilitar a percepção de si mesmo, do
papel que como pessoa ela reserva a si mesma e assim define sua vida, é o alvo
básico. .
8. A ser válida a hipótese de que a auto-afirmação seja o deterrninante básico
do comportamento e que os problemas psicológicos ocorram, embora sob
nomenclatura e formas diversas, no campo do valor pessoal (poder, prestígio,
segurança, confiança em si e sentimentos similares), explicado diferentemente em
outras colocações teóricas, é óbvio que o desenvolvimento pessoal, ou a meta
terapêutica, seja orientado na valorização da pessoa. Não se trata, porém, de
simples elogios, exortações ou justificativas mas, essencialmente, de ênfase na
individualidade da pessoa e nas reações que provêm de seu Eu Pessoal e de seu
Eu Social. A confrontação entre o Ser e o Dever-Ser, ou seja, entre os impulsos
pessoais e as pressões sociais procede-se em termos da pessoa, isto é, daquilo
que éomo indivíduo foi nele produzido. Os erros, limitações ou impropriedade de
atuações, como tais vistos pelo cliente, são reexaminados face a várias alternativas
para que possam ser entendidos na sua dinâmica. *
* Ruth Scheeffer e uma equipe de estudiosos do aconselhamento psicológico,
em excelente trabalho descritivo e crítico de métodos e técnicas nessa área. citam a
proposição de Dinkmeyer publicada no The Personnel and Guidance Jounal (v. 51,
n? 3, pp. 177.81, 1972), segundo a qual o encorajamento e a valorização do cliente
são elementos indispensáveis ao processo de aconselhamento. Essa contribuição
coincide com o que propomos, neste livro, como produto de nossa experiência
pessoal.
O fato psicológico que se julga ser de efeito terapêutico no processo de
auto-afirmação é o momento em que a pessoa, ao verbalizar um comportamento e o,
sentimento traumático que dele flui, defronta-se com outras alternativas que
reexplicam tanto a conduta como a sensação havida. Essas alternativas ou
reinterpretações, oriundas dela própria ou do terapeuta, interrompem o caminho da
jnterpretação traumática até então existente. Facilita-se, assim, o surgimento de
novas alternativas ou respostas que, em geral, reduzem a ansiedade ou angústia
(medo das conseqüências que a pessoa interiorizou) porque oferecem explicações
menos traumáticas com relação ao Eu-pessoal. A pessoa tende a refazer, para
melhor, o juízo sobre si e como essa apreciação é, na linguagem
comportamentalista, um poderoso reforçador positivo, a pessoa tende a incorporar
essa resposta a seu quadro de reações.
Há o risco de emergirem alternativas ou respostas ainda mais traumáticas,
robustecendo o quadro de deficiência e de baixo conceito, já instalado, com
aumento da ansiedade e maior desordem comportamental. São os efeitos negativos
que podem ocorrer em qualquer terapia. A habilidade do terapeuta consiste em
discutir com o cliente todas as alternativas possíveis, traumáticas ou não,
acompanhadas, sempre, de calor humano, apoio e empatia que tendem a neutralizar
os efeitos traumáticos de qualquer nova explicação.

Muitas observações, originárias de outros autores, parecem conformar a


dinâmica do processo tal como a vemos, ou seja:

- A qualidade da relação pessoal é, sempre, o fato mais importante. As


atitudes criadas pelo psicólogo e o clima psicológico são o que leva o cliente a
mudanças constrUtivas. "Um alto grau de empatia talvez seja o fator mais relevante
numa relação sendo, sem dúvida, um dos fatores mais importantes na provocação
de mudanças e de aprendizagem" (Rogers e Rosenberg, 1977). A empatia é uma
forma de valorizar a pessoa, provavelmente mais operante do que o "respeito
positivo incondicional" e a "congruência".
- Pesquisas de Burler, sobre o método rogeriano, citadas e comentadas por
Pagés (1976, p. 113), envolvendo mudanças no Ego Ideal e na concepção do Ego
como conseqüência de terapia, medindo-se as variações pelo processo "Q-sort",
indicaram "que se produzem mudanças, não atribuíveis ao acaso, no sentido da
redução das distâncias entre ego e ego ideal, antes de e após a terapia" (Pages,
1976, p. 114).

A pergunta que os comentaristas e pesquisadores colocam é sobre onde ocorre


a mudança: no ego ideal ou na concepção do ego e a análise dos dados parece
indicar que "na maior parte dos clientes o ego ideal permaneceu admiravelmente
estável no curso da terapia... É principalmente a concepção do Ego que mudou na
maioria dos casos". E Rogers diz, ao referir-se ao resultado da terapia, "que o
cliente tornou-se essencialmente a pessoa que desejava tornar-se quando começou
a terapia" (Pages, 1976).
Mais adiante diz Pages que a terapia produz modificações na maneira como a
pessoa se julga, permanecendo inalterados seus valores. O cliente passa, em função
da terapia, a reconhecer seus próprios valores, a torná-Ios seus, o que exclui a
resignação e a indulgência consigo como produtos da terapia. Nesse caso, a nosso
ver, ocorre o processo de auro-afirmação: o cliente passa a sentir-se como pessoa e
a reconhecer seu potencial e suas limitações, sem efeitos traumáticos. Cremos,
pois, que a resultante terapêutica é a auto-afirmação, embora não seja esse fator
assim identificado por Rogers ou seus comentaristas.
No processo de valorização de si mesmo, surge a confrontação dos valores
introjetados na infância e na adolescência. Toma-se um quadro de valores que ditam
o certo e o errado, na forma pela qual os introjetamos e que muitas vezes entram em
oposição com a nossa própria percepção e nossas experiências. Ocorre uma
acomodação pela escolha de um dos lados, mas pode ocorrer, também, um conflito,
a percepção de uma nítida disparidade entre o que somos e o que "devemos" ser.
Corresponde esta colocação àquilo que Rogers (1978) afirma passar-se na terapia
bem conduzida: a pessoa é valorizada na sua individualidade e singularidade. Este é
o caminho psicoterápico que temos visto como frutífero.
PARTE III

APLICAÇÕES EM SITUAÇÕES ESPECIAIS

9 - Filhos e Alunos Difíceis

o texto abaixo resultou de um levantamento dos problemas mais freqüentemente


citados pelos pais e professores, realizado pelo autor, entre alunos de curso de I? e
de 2? grau. Como constitui amostra de um amplo panorama ed)lcacional e social foi
aqui incluído, com algumas modificações na sua redação original.

Como ocorrem os problemas

1. Vimos nos Capítulos 6 e 7 que a auto-afirmação como necessidade básica


do ser humano transforma-se em determinante do comportamento. Há, porém,
outras necessidades que precisam ser satisfeitas, seja para simples sobrevivência,
seja para desempenhar os papéis que o meio ambiente espera ou impõe. Assim, a
pessoa tem necessidade de alimento, de água, de repouso, de conforto, no plano
físico como, também, necessidade de segurança, de afeto, de contacto humano, de
realização e muitas outras que surgem na confrontação entre o Eu Pessoal e o Eu
Social (ver Capítulo 7). Cada necessidade é expressa por alvo consciente e
aparente, embora seu conteúdo possa ser inconsciente.
2. Quando a pessoa satisfaz uma necessidade, consciente ou
inconscientemente, sente-se bem; está psicologicamente ajustada.
3. Quando a necessidade não pode ser satisfeita, por algum impedimento
material ou barreira colocada pelos pais, colegas, professores ou por outros agentes
quaisquer, a pessoa sente-se frustrada. Outras vezes, a satisfação de uma
necessidade impede a satisfação de outra e o organismo vê-se em conflito.
Qualquer das situações produz estados desagradáveis ou ameaçadores e a pessoa
entra em estado de tensão que se torna maior na medida do grau de insatisfação.
4. Diante de uma necessidade não satisfeita a pessoa tenta vários recursos
para superar as dificuldades e, conseqüentemente, reduzir o inconfortável estado de
tensão. Do ponto de vista psicológico, o ajustamento ocorre quando se elimina ou se
reduz a tensão:
5. Enquanto não se reduz a tensão, a pessoa permanece em crise (ansiedade,
agitação, mal estar, etc.) que é um efeito emocional. E quando a tensão é severa
outras conseqüências danosas podem surgir. Está a pessoa, do ponto de vista
psicológico, com um problema que pode afetar seu desempenho e este fato, em um
círculo vicioso, agrava a tensão.
6. As respostas ou "soluções" encontradas pela pessoa frustrada ou em conflito
consigo mesma são extremamente variadas. O ataque direto ao problema, isto é,
comer se tem fome, beber se tem sede, refazer um trabalho falho, tratar-se quando
doente, é, em geral, a melhor resposta. As vezes, essa solução é impossível ou cria
outros problemas e a pessoa adota processos de ajustamento ou, como afirmou
Freud, mecanismos de defesa. Estes podem variar desde uma negação do fato (não
toma conhecimento) até comportamentos inadequados ou mesmo anti-sociais. O
processo de ajustamento é impulsivo e pode ocorrer tanto no plano consciente como
no inconsciente.
7. A solução ocorre, pois, quando a pessoa satisfaz a necessidade ou quando,
não podendo satisfazê-Ia, adapta-se de outro modo, de maneira benéfica para si
mesma e para o ambiente físico e social em que se acha. Reduzir as tensões
criadas pela insatisfação é, sempre, o primeiro passo, a fim de que a pessoa
mobilize seus recursos pessoais na direção mais satisfatória.
8. Esquematicamente, o processo é exposto na figura abaixo:
Pessoa --------------------------------------|||||||-----------------------------------àAlvo
1 2 3 4

1. Pessoa com necessidade a ser satisfeita;


2. Atividades dirigidas para o alvo;
3. Barreiras que dificultam ou impedem a satisfação da necessidade;
4. Alvo (necessidade, consciente ou não).

Um exemplo prático pode ilustrar os fatos apontados:

a) Suponhamos um jovem que, por qualquer deficiência, sinta-se marginalizado, não


aceito ou não compreendido por seus pais, por seus professores ou por outros
agentes sociais. Note-se que esse sentimento de rejeição pode corresponder a uma
ocorrência real ou ser imaginária;
b) Como o sentimento de ser alguém, valorizado e aceito é uma necessidade, ocorre
um estado de motivação e tensão que o leva a atingir certos alvos;
c) Busca o jovem alguma maneira de tornar-se aceito e por caminhos vários acaba
encontrando uma situação com imagem satisfatória de si mesmo e que lhe reduza a
tensão. Pode ser um sucesso em alguma atividade ou um grupo que o apóia. Se a
atividade ou os padrões dessse grupo forem pessoal e socialmente aprovados -
segundo os habitos e os valores individuais e sociais do momento - a pessoa
adapta-se positivalmente; caso contrário, reduzirá a tensão mas pode adotar
comportamentos que, cedo ou tarde,lhe serão também funestos, ingressando em um
quadro de reações negativas;
d) A solução pode ocorrer quando encontrar, na família, nos estudos,no trabalho ou
em qualquer outra situação signiificativa, a valorizaçãoe o reconhecimento que
procura. Se, por outro lado, houver reais deficiências físicas, intelectuais ou
socioeconôrmicas que dificultemou impeçam sua valorização nos grupos "normais",
temos que ajudar a pessoa a encontrar soluções, o que pode, genericamente,
fazer-se sob as seguintes formas: 1) descobrir situações compensatórias que
restaurem sua valorização e a auto-afirmação; 2) reduzir a tensão mediante uma
revisão, pela pessoa, de suas necessidades, de seus alvos e do significado que
eles apresentam na sua personalidade; 3) combinar as duas soluções.

Medidas preventivas

Muita coisa já se conhece na ciência, por experimentos e pesquisas, a respeito


de certos problemas e a maneira mais eficiente de evitá-Ios ou de recuperar os
indivíduos que deles sofrem. Em Psicologia, não se pode prescrever regras de
ajustamento de uso geral, igualmente efetivas. Como cada caso tem vivências e
experiências próprias, as soluções devem ser individualizadas. Há, tão somente,
alguns princípios gerais que podem ser considerados válidos Pela a grande maioria
dassituações e que atuam como medidas preventivas, a saber:
1. A pessoa precisa sentir-se aceita, querida e considerada. Isso não significa
aprovar ou reprovar sua conduta, mas apenas reconhed-Ia como alguém, com
individualidade própria e com interesses, atitudes e problemas que existem em sua
vida.
2. A pessoa precisa estar informada e encontrar sentido no que faz. Essa
informação consiste em colocar à sua disposição, sem pressões, todos os dados de
que precisa para enfrentar seus grandes ou pequenos problemas. Não se pode
esperar que a criança ou o jovem resolva problemas de Matemática, ou que saiba
aplicar seu dinheiro, quando não conhece certos cálculos ou não está informada
sobre o que comprar com sua mesada ou ordenado. A informação visa, também,
facilitar contacto com vários tipos de atividade, a fim de que, ela mesma, sinta suas
possibilidades e suas limitações.
3. É preciso conhecer e aceitar as necessidades próprias de cada idade e cuja
satisfação é essencial nessa respectiva fase da vida. Privar um jovem de ir a festas
ou passeios com seus amigos ou interromper uma atividade sadia, apenas por
razões de somenos importância, é uma boa maneira para criar frustrações e
conflitos.
4. O aluno precisa mais ser assistido do que guiado. Quando mamifesta
desatenção, displicência, falta de capricho ou de esforço no trabalho escolar, há um
fator emocional presente, quase sempre a falta de confiança em si ou nos outros. É
preciso demonstrar que se deposita confiança nele. Discuta as alternativas e as
expectativas existentes.
5. Para corrigir erros e desenvolver o comportamento desejável, valorize a
pessoa e procure reforçar, de imediato, o comportamento correto. Reforço significa
algo que "recompense" o indivíduo. Evite, por outro lado, qualquer recompensa ou
reforço dos atos errados.
6. Não se pode esperar que todos os alunos tenham igual aproveitamento. Um
aluno intelectualmente limitado, que consegue resultados médios com esforços
intensos, deve ser considerado por essas condições e não porque deixou de
conseguir resultados iguais aos de outros, melhor dotados.
7. Aprende-se pela própria experiência. É preciso, em conseqüência, quando
não ocorre perigo grave, ter-se oportunidade de fazer por si mesmo seu trabalho,
intervindo o professor ou instrutor apenas a seu pedido. Quando, por inibição ou por
medo (outro problema), o aluno evita à professor, essa inibição, ou medo, deve ser
tratada antes, ou concomitantemente, com os outros problemas.
8. Tente analisar, com o próprio aluno, as indecisões que este manifesta em
certas situações. Muitas vezes não sabe ele que curso deve seguir e custa decidir.
Essa incerteza pede ser devida à falta de informações adequadas (não conhece os
cursos nem a si mesmo) mas pode, também, ser devida ao medo de nãco
corresponder às expectativas como fruto de experiências antigas. Essa indecisão
exige que o aluno se expresse livremente e que, em atmosfera isenta de pressões
ou de medo, faça sua escolha. Decidir por ele equivale a aumentar sua
incapacidade de decisão.
9. Quando se identificam dificuldades específicas (de saúde, de: baixo nível
escolar, de socialização ou de outro tipo), é preciso um esquema especial de
recuperação, seja médico, escolar ou psicológico, a ser estudado individualmente.

Quem atende os casos difíceis? Quem coopera?

Pensam muitos leigos quando seu filho, ou seu aluno, apresenta problemas,
que basta mandá-Io para o psicólogo, para o orientador, para o médico ou para
outro especialista. Ignoram essas pessoas que a maioria dos problemas tem origem
ambiental e somente se obtém êxito quando são mobilizados todos os agentes do
meio. A cooperação dos pais, dos professores e de outros agentes, inclusive às
vezes dos próprios colegas, é essencial e não se pode esperar melhora de
desempenho, atitude ou ajustamento sem a contribuição dessas pessoas.
Há, geralmente, três atitudes que os pais, professores e outras
pessoastomam, face aos casos difíceis:
1. Atitude “comodista", expressa pelo encaminhamento do caso à autoridade,
ao Assistente Pedagógico, ao Orientador, ao Psicólogo ou ao Assistente Social,
"lavando as mãos", como se a recuperação fosse obrigação apenas do
"especialista" e que o pai, ou o professor, nada tivesse com o problema;
2. Atitude "coercitiva", segundo a qual tudo se resolve com advertências,
disciplina, punição e controle. O que falta, dizem alguns, "é autoridade". "Nada de
especialistas: o que a pessoa precisa é aprender a andar na linha'". Ignoram essas
pessoas que o indivíduo inadaptado nãose desadapta porque assim o quer. Muitas
vezes ele sabe distinguir entre o certo e o errado, entre o que deve ou não ser feito,
mas não consegue mudar seus próprios hábitos;
3. Atitude "cooperadora", que se expressa pela compreensão das
dificuldades dos problemas e pela predisposição a ajudar no que couber.
Há casos em que um psicólogo, psiquiatra ou orientador, como também um
diretor ou professor, pode manipular sozinho, sem precisar da cooperação escolar
ou familiar. Isto ocorre na intimidade de entrevistas ou contactos pessoais e quando
os problemas são essencialmente individualizados. Freqüentemente porém, as
dificuldades, as pressões, as exigências e insatisfações decorrem de um complexo
de agentes situacionais e a atuação isolada do profissional especializado não é
suficiente. É o caso, por exemplo, do aluno rejeitado pelos colegas ou
constantemente criticado pelos pais ou professores. A redução dos efeitos desse
problema pode ocorrer em sessões individuais, das quais essa situação é ventilada
e o aluno pode manipular melhor suas tensões. Quando, porém, se consegue
modificação no comportamento do grupo ou dos pais e professores que o rejeitam,
o processo é mais rápido e, às vezes, o único realmente efetivo.
Em comunidades escolares, a participação de diretores, assistentes,
professores, instrutores e monitores é imprescindível. Muito raramente o orientador
ou o psicólogo podem trabalhar sozinhos. Ninguém vive isolado, em ilhas; os fatores
ambientais que produziram o desajustamento são, também, os fatores que
promovem ou restauram o ajustamento; ignorá-Ios é ser comodista, irrealista ou
simplesmente desinformado.

De que tipo de assistência precisam os casos difíceis?

A experiência e os estudos sobre Educação e Psicologia vêm demonstrando


que as principais providências, quando se suspeita de "problemas", são as
seguintes:

1. Verifique, preliminarmente, se pode haver fatores orgânicos ligados aos


problemas. Pode a pessoa estar doente, mal alimentada, fatigada, com excesso de
atividades ou de estimulação ou ter deficiências físicas (visão, audição, problemas
neurológicos, etc.). Um exame médico pode ser necessário.
2. Tente identificar os momentos e os lugares ou circunstâncias outras em que
ocorrem os problemas (período do dia, relação com outros hábitos da vida diária,
relação com pessoas, etc.).
3. Evite julgamentos e crie um clima de compreensão e ajuda, o que não
significa aprovação de atos' 'errados", nem tolerância ou permissividade mas,
apenas, que se constata um problema e se quer ajudar.
4. Quando houver uma causa identificada e removível, pode-se reduzir ou
eliminar o problema atuando sobre essa causa.
Exemplos:

a) Aluno que não consegue fazer os trabalhos escolares, não consegue fazer
cálculos ou operações necessárias a certas tarefas:
É possível que o aluno tenha dificuldades físicas ou mentais ou não tenha
aprendido o necessário e tenha nível potencial baixo.
Se houver problemas físicos estes devem ser previamente tratados; se a causa
for falta de escolaridade, isto é, falta de conhecimentos, é óbvio que a solução é
levá-Io a aprender o que lhe falta ou adaptar os programas a seu nível.
b) Aluno que falta constantemente aos trabalhos escolares:
Pode haver várias causas tais como: 1) medo de crítica do professor; 2) medo
de encontrar colegas ou situações que o ameaçam; 3) dificuldades econômicas e
sociais, inclusive vergonha por não ter o que os colegam têm; 4) atração por. outras
atividades que colidem com o horário da escola; 5) sentimento de revolta,
procurando não ir à escola para agredir o mundo que o perturba; 6) necessidades
familiares que impedem a freqüência à escola, etc. .
c) Aluno indisciplinado, que transgride constantemente as recomendações
familiares ou escolares:
Pode haver várias causas, como as citadas no exemplo anterior e outras, de
tipo emocional, que levam o aluno a buscar impor-se e a chamar a atenção sobre si,
ao inconformismo, a reações agressivas provenientes de outras frustrações, etc.

Na imensa maioria dos casos, os problemas acima e outros, não mencionados,


embora oriundos de causas objetivas (físicas, intelectuais ou sociais) geram
condições emocionais desagradáveis para a própria pessoa. Ela sente que há
algoerrado; seu autoconceito se deteriora. Há, pois, dois componentes do
problema,como vimos:
a) uma deficiência potencial; física, social, econômica ou intelectual;
b) a percepção da deficiência, gerando conseqüências emocionais no aluno que
passa a sentir-se diferente ou deficiente o que, por sua vez, agrava uma eventual
deficiência potencial.

Na vida habitual, os pais, professores e instrutores podem colaborar,


observando e registrando as situações em que o comportamento indesejável ocorre.
Podem eles, também, tentar várias situações, para observar a respectiva variação
no comportamento. Essas últimas providências devem, porém, se limitar às
variações habituais da situação familiar ou escolar, ou seja, mudanças de local, de
horário, de tipo de trabalho, de relacionamento com colegas, de atitudes do
professor, deseqüência de atividades, de participação em grupos, de contactos
pessoais, etc., que não ofereçam riscos ou criem outros problemas.

Ajuda emocional, sempre necessária


Ajudar a pessoa a enfrentar estados emocionais é sempre possível e
conveniente. Variam as técnicas, desde a atitude amiga, compreensiva, estimulante,
de um pai, professor ou colega, até os processos mais complexos de intervenção, a
carga de psicólogos, orientadores educacionais e outros especialistas, cada um em
sua área. O que geralmente se usa, na situação familiar ou escolar, é o seguinte:
a) informação, explanação e discussão: a criança ou o jovem é convidado a
discutir suas dúvidas e suas dificuldades e o conselheiro (Pais, Diretores,
Professores, Orientadores), ouve e informa sem críticas, pressões ou comparações,
sem atemorizar ou criar repressões e defesas no indivíduo. É, apenas, uma
ventilação do problema, na qual se estuda, em conjunto, possíveis soluções. O
conselheiro pode propor novos planos e estudar como aluno os "prós e contras" de
cada um;
b) apoio, tranqüilização: consiste em examinar-se o lado positivo das
dificuldades e, mostrando calor humano e compreensão, levar o indivíduo asentir-se
mais animado em enfrentar seus problemas. Não consiste em dar conselhos ou fazer
recomendações mas, ao contrário, em procurar mostrar compreensão das
dificuldades existentes e procura de meios para eliminá-Ias ou para reduzir seus
efeitos;
c) recreação, compensação e atividades substitutas: aplicam-se aos casos que
têm condições de êxito em certas atividades, de modo a compensar, dessa forma,
os insucessos em outras áreas. Muitas pessoas podem melhorar seu ajustamento,
desde que, em esportes, atividades sociais ou de outro tipo, sintam resultados
favoráveis que não podem ser obtidos em estudos, no trabalho ou na vida familiar;
d) facilitar a auto-afirmação sempre que a oportunidade surgir.
Medidas gerais e casos graves

A solução de problemas de conduta não é fácil. Pode demorar algumas


semanas, alguns meses e até alguns anos. As vezes, não há soluções e o que faz o
especialista é impedir que o caso se agrave. Essa circunstância é muito comum e
freqüentemente os pais, diretores e professores dizem: "o caso continua na mesma".
Não vêem eles que continuar na mesma, às vezes, já é um grande passo, pois o
caso poderia deteriorar-se mais, se algumas providências não tivessem sido
tomadas.
Há normas e procedimentos gerais que precisam ser considerados, ou seja:

a) em um clima de autenticidade, compreensão e empatia os problemas são


reduzidos. Criar esse clima é função de todos os elementos da família ou da escola;
lembremo-nos de que a auto-áfirmação pode ser um determinante básico do
comportamento (ver capítulos anteriores);
b) a aplicação de técnicas especiais, quando o caso exige, é função técnica e
legal de médicos, psicólogos e orientadores, conforme o caso e a técnica
empregada (os profissionais sabem disso) ; algumas vezes é indispensável
articulação com os professores e os pais * ;
* Outros especialistas podem ser necessários. tais como o fonoaudiólogo, o
fisioterapeuta, o pedagogo e outros.
c) quando o caso é muito difícil e a escola ou a família não têm recursos para
ajudar os alunos com problemas graves, é recomendável proceder-se da seguinte
forma:
- esgotar todos os recursos escolares e familiares (ver itens anteriores);
- encaminhar a pessoa a tratamento especializado, em organizações públicas e
particulares que possam atendê-Ia e acompanhar a evolução do caso, cooperando
com os recursos familiares e escolares.
- o afastamento dó aluno da vida escolar é a providência menos adequada e
somente se justifica quando a atuação escolar for impossível; quando o aluno se
beneficia com esse afastamento; quando há perigo evidente de que a presença do
aluno certamente contamine o comportamento de todo um grupo (exemplo: traficante
de tóxicos, líder de delinqüentes, portador de graves distúrbios mentais que exigem
internação, etc.). Mesmo o afastamento' só se justifica após todas tentativas de se
recuperar o aluno. Já vimos que há muitos métodos e atitudes que facilitam essa
recuperação.

Atuação de professores

Os professores são pessoas muito significativas na vida do aluno, não só


porque a convivência com eles é intensa, como porque o docente é um modelo para
o aluno. As atitudes dos docentes, às vezes mais do que seus conhecimentos
técnicos, tendem a criar situações de conforto, de apoio, de entusiasmo e de
confiança; noutras vezes, podem gerar insegurança, medo e revolta. Nessa posição
estratégica, a ajuda do docente é indispensável, sempre que haja um aluno com
dificuldades, sejam elas físicas, intelectuais ou emocionais. As técnicas variam
conforme o caso, mas as sugestões contidas nos itens anteriores são sempre
benéficas epor si sós representam grande ajuda. A articulação com psicólogos e
com orientadores é indispensável. Para que os professores possam atuar
eficazmente na modificação do comportamento do aluno, quer para ensinar-lhe
habilidades ou conhecimentos, quer paracorrigir comportamentos inadequados, as
seguintes medidas podem ser úteis:
a) observar cada aluno individualmente, como pessoa; procurar detectar suas
necessidades, seus motivos, suas aspirações, suas dificuldades e seus pontos
positivos;
b) verificar quando um comportamento útil ocorre. Por exemplo: quando e em
que condições executa um cálculo correto; quando e em que con dições toma
uma atitude adequada;
c) uma vez identificada a situação em que ocorre o comportamento útil,
descobrir o que reforça esse comportamento. Exemplo: se uma operação,mental ou
manual, ocorre quando se divulga o que se fez ou quando se elogia, ou quando se
utiliza o trabalho feito, etc. É importante verificar oque satisfaz o aluno e associar o
comportamento desejado a essa satisfação. Esse comportamento assim
recompensado tende a se repetir e o aluno "aprende". É o reforço;
d) quando o aluno errar, não dar importância ao erro. Descobrir o caminho
(reforço) que o leva agir do modo desejável;
e) subdividir cada assunto ou tópico do programa em pequenas partes e dosar
as operações ou tarefas de acordo com cada aluno; reforçar (ou recompensar) de
imediato quando ocorrer um acerto.

O relacionamento com a família do aluno

Quando a direção da Escola ou o Orientador procura articular-se com a


família, podem ocorrer muitas reações emocionais que prejudicam a adaptação do
aluno. É sempre um grande desconforto e ameaça para o aluno ter seus pais
chamados à escola. Como esse contacto, às vezes, agrava os problemas, é sempre
recomendável tratar do caso, primeiramente, com o aluno, na situação escolar.
Quando se impõe o contacto com os pais, o aluno deve ser consultado a respeito.
Essa prática prévia é benéfica ao aluno que se sente valorizado e responsável
(Nunca dizer: "Vou falar com seus pais se você não melhorar"). Essa ameaça é
prejudicial. Deve-se confiar no aluno e mostrar que se confia nele. Se, apesar
desseestímulo à autoconfiança, o problema persiste, é recomendável o uso de
técnicas especiais, na simação escolar, para a recuperação do aluno. Somente em
casos graves promove-se a articulação com a família, contrariando a decisão do
aluno e, mesmo nestes casos, o aluno é cientificado do que pode ocorrer.
Para tornar menos traumatizante o contacto com a família e para solicitar a
cooperação desta na solução de problemas, usa.se o recurso de reuniões gerais,
para as quais todos os pais são convidados e os problemas dos alunos são
focalizados sem se identificar as pessoas. No final da reunião pode-se,
isoladamente, conversar com os pais mais diretamente envolvidos em certas
situações.
A "conversa" com os pais ou responsáveis externos é sempre delicada. É
preciso saber que os pais, quando notificados sobre problemas de seus filhos
sentem-se diminuídos, humilhados, angustiados e até agredidos. Começa-se a
entrevista aceitando e compreendendo a simação dos pais. Não se criam
reprimendas ou advertências que, como no caso do aluno, complicam o problema. É
preciso confiar, também, nos pais e mostrar que se confia neles e que, juntos,
podemos achar soluções. As intimidações ou ameaças aos pais refletem-se no
aluno e, por isso, devem ser evitadas. Quando os pais sentem essa confiança por
parte da escola passam, em geral, a cooperar de forma benéfica.
Muitas vezes os pais respondem de forma indireta, isto é, tornam-se
accessíveis à cooperação, quando convidados a assumir tarefas na escola
(participação em festas, campanhas, associações, etc.). É mais um recurso de que
se dispõe para obter a contribuição familiar.

Exemplos de problemas com suas possíveis causas e medidas assistenciais

Sintomas Possíveis Causas Possíveis Medidas Assistenciais


Conforme o Caso
Desinteresse, apatia, fadiga Problemas de saúde e de nutrição. - Assistência médica. - Atuação de
Falta de repouso. Dificuldades Professores. - Criação de nível
intelectuais. Fatores emocionais. razoável de competição, apelando
para o que for motivador
(necessidades).
Dificuldades em acompanhar o nível Atraso escolar. Dificuldades - Recuperação de estudos (aulas e
de estudos; não consegue realizar sensoriais, motoras ou mentais trabalhos especiais). - Atuação de
tarefas, operações e outros (falta de coordenação motora ou Professores, com tarefas
exercícios outras aptidões). compensatórias.
Falta constante às aulas; não Medo de fracasso. Medo de crítica - Solução de problemas de saúde,
cumpre as tarefas escolares. do professor ou de colegas . de transporte, de horário, etc. -
Dificuldades de transporte e de Ajuda emocional. - Modificação
horário. Problemas domésticos. ambiental para conciliar interesses.
Sentimento de revolta,
procuraandonão fazer as tarefas
para agredir a escola. Problemas
de saúde. Interesse maior por
outras atividades que conflitam com
a atividades escolar .
Dificuldades de raciocínio ou Fatores orgânicos. Agravamento do -Trabalhos individualizados,
discreto atraso mental. problema pela percepção da repetidos, concretizados, para que
incapacidade e pela atitude de o aluno use os sentidos e possa
parentes, amigos e colegas pegar, ver, ouvir, etc., de forma
lenta e progressiva; nada exigir
além da capacidade individual; não
comparar com outros. -Ajuda
emocional.
Desenvolvimento mental ou de Estrutura orgânica favorável. - Aproveitamento das aptidões e
algumas aptidões muito acima da Facilitação sócio-econômica capacidades em tarefas especiais.
média do grupo (superdotados). - Ensino individualizado aberto à
criatividade
Deficiência sensorial ou motora Fatores constitucionais, de saúde - Aproveitamento de outras aptidões
(visão, audição, etc.) ou defeito ou ambientais e capacidades. - Mudança de
ortopédico. aspirações. - Modificações
ambientais
Comportamento sexual. Fatores constitucionais e - Psicoterapia. - Ausência de crítica
psicossociais conjugados quando envolver problema
emocional. - Ajuda emocional.
Rivalidade e briga entre alunos ou Hábitos domésticos. Sentimento de - Atividades físicas para descarga
grupos de alunos. inferioridade e necessidade de afetiva. - Sessões de grupo para
auto-afirmação. Insatisfações discussão de problemas. -
freqüentes. Perturbações mentais. Remanejamento de grupos ou
turmas.
Medo de realizar exercícios e Experiências traumáticas - Emprego de tarefas
tarefas dizendo que "não sabe anteriores. Atitudes inadequadas de sucessivamente graduadas em
fazer" o que se pede. pais ou professores. dificuldade. - Observação de outros
colegas fazendo o trabalho; tarefas
simples. - Valorização da pessoa
(auto-afirmação
Toxicomanias Fatores ambientais e psicossociais - Reduzir ou eliminar a dependência
(farmacodependência) conjugados. fisiológica. - Reduzir ou eliminar a
dependência psicológica por
técnicas terapêuticas individuais e
de grupo. - Ajuda emocional. -
Atividades de auto-afirmação
Situação econômica muito superior Status sócio-econômico e hábitos - Ignorar os comportamentos de
à dos colegas, gerando diferentes dos colegas. . esnobismo.
"exploração" por parte destes, Imaturidade social.
críticas constantes ou rejeição pelo
grupo.
Situações ou problemas familiares: Fragilidade no autoconceito e - Ajuda emocional.
que levam aluno a senti-se problemas domésticos:
focalizado, desprezado ou
criticado' pelos colegas (Ex.: pai ou
parentes alcoólatras ou
condenados pela justiça, ou com
atividades socialmente inaceitáveis;
desconhece o pai ou a mãe, etc.).
Comportamento anti.social, Falta de educação e de "modelos" - Reeducação em outro ambiente,
pré.delinqüente ou' delinqüente adequados na infância e na com outros “modelos". -
(vandalismo, furto, indisciplina meninice. Agressividade resultante Desenvolver confiança recíproca
generalizada, instigação à de sérias privações. entre as pessoas do grupo e o
delinqüência em caráter freqüente.). espírito de equipe.
Furtos, agressões, indisciplina e Frustrações, conflitos e privações - Ajuda emocional. - Mudanças de
vandalismo em caráter ocasional. temporárias. turmas e de ambientes.
Comportamentos psicológicos Fatores orgânicos e psicossociais. - Ajuda emocional. - Psicoterapia. -
anormais tais como fobias, Assistência médico-psiquiátrica.
obsessões, compulsões e outras
reações de tipo neurótico ou
psicótico.
Deficiência concentrada apenas em Deficiência de aprendizagem na - Aulas e exercícios especiais. -
certas atividades tais como em respectiva atividade. Dificuldades Atividades compensatórias. - Ajuda
Português, em Matemática, em sensoriais ou motoras. Medo de emocional. - Contra
Educação Física, na execução de fracassar na atividade ou condicionamento.
operações manuais etc. condicionamento aversivo
(associado a experiências
traumáticas).
Desinteresse pelas atividades não Falta de informações, - Atuação de professores. -
relacionadas com o curso que Necessidades não satisfeitas. Exploração pessoal de novos
freqüentam. interesses.
Grande hesitação na escolha de Falta de informações. Medo de - Dar informações. - Ajuda
profissão. tomar decisões (insegurança). emocional. - Desenvolvimento e
Dependência familiar ou social crescimento pessoal.
(imaturidade) .
Deficiência em roupas, em dinheiro Problemas econômicos, - Atividades compensatórias. -
ou mesmo em lanches, que leva o Auxílio escolar quando possível.
aluno a sentir-se envergonhado ou
humilhado.
Atitudes sociais e grupais muito Necessidade de auto-afirmação ou, - Ignorar os comportamentos
diferentes da dos colegas, gerando ao contrário, sentimento de excêntricos.
atritos com estes. onipotência e superestima de si
mesmo.
Pais que se recusam a participar Falta de informações. Inabilidade de - Convites para reuniões gerais de
da vida escolar, diretores, orientadores, psicólogos pais. - Convite pessoal para
e docentes, execução de certas tarefas. -
Convite para atividades sociais e
recreativas como "ponte" de
contacto.

Nota: A ordem em que aparecem os sintomas não tem nenhuma significação especial.

10 - Ações Preventivas na Educação, na Família e no Trabalho

A educação e a família

A ser válida a constatação de que o motivo de auto-afirmação seja básico como


determinante da conduta, muitos dos atuais esquemas educacionais deveriam ser
questionados. Embora se apregoe em múltiplos e variados cursos de planejamento
educacional, de relações humanas no trabalho e até na própria política, que a
pessoa deve ser ouvida, participante e atuante nas decisões, o que realmente se faz
pouco concorda com essas idéias. Os agentes controladores, como assinala
Skinner (1967), estão sempre presentes, reduzindo o indivíduo à insignificância. A
liberdade seria um mito e, portanto, menos perceptível o sentido da própria
individualidade.
A massificação nos sistemas educacionais, além de rebaixar o nível de ensino,
pois que o atendimento de massas o reduz ao padrão mais baixo do grupo, tende a
conduzir a pessoa à perda de sua individualidade na medida em que padroniza os
conteúdos e os processos pedagógicos. O resultado é, como assinalada Patricia
Cross (1976), não atingir a educação 91 % das habilidades humanas de forma a
assegurar uma contribuição à sociedade desse ponderável contingente.
Deficientes,. "normais" e superdotados, são tratados provavelmente pela média ou
pelo menor nível e o aluno deixa de ser alguém.
A atual legislação educacional brasileira prevê flexibilidade curricular para
atender as diferenças individuais, ao estabelecer que "os currículos do ensino de I? e
2? graus terão um núcleo comum, obrigatório em âmbito nacional e uma parte
diversificada para atender, conforme as necessidades e possibilidades concretas,
às peculiaridades locais, aos planos dos estabelecimentos e às diferenças
individuais dos alunos (Art. 4º, Lei nº 5692, de 11/8/71)". A auto-realização é
prevista, igualmente, no Artigo 1º da mesma Lei.
A distância entre a proposição legal e a realidade educativa é muito grande e, a
nosso ver, reside principalmente, na metodologia pedagógica pouco favorável à
expressão individual. Não é tanto a falta de liberdade de aprender, lembrada por
Rogers mas, sobretudo, a da oportunidade de aprender. Pouco adianta a liberdade,
se não tivermos possibilidades de opções concretas, que permitam a crianças e
jovens elaborarem, dentro dos limites sócio-econômicos, seus próprios programas
ou parte deles, embora não desconheça o autor a dificuldade de construir escolas e
aplicar processos pedagógicos individualizados. A solução seria, como propusemos
em estudo sobre superdotados*, enfatizar a educação individualizada, aplicável em
determinada fase do sistema educacional, mas sem a característica de seriação. O
aluno teria uma seqüência de tarefas. Não haveria exames ou reprovações e o
avanço no currículo se faria pela execução satisfatória da tarefa anterior. O aluno
progredirá, assim, de acordo com suas possibilidades, terá opções e,
conseqüentemente, auto-afirmação e mobilização de seu potencial.
* Seminário sobre Superdorados realizado pelo SENAC em 1979, em São Paulo.

A implicação básica, essencial, decorrente da colocação deste problema é a de


que a educação não só na escola, como no lar, deva atentar para essa busca de
auto-afirmação, criando condições para que crianças e jovens encontrem um sentido
na vida e tenham possibilidade de se reconhecer como alguém. Preservar a
individualidade de cada estudante e liberá-Io para seu próprio crescimento seria o
alvo básico.

Do ponto de vista profilático, a educação dos pais no sentido de alerrá-Ios para


o reconhecimento da individualidade de cada um dos filhos seriá outro alvo.
Evidentemente, os pais são também pessoas e a sua própria individualidade e
aUto-afirmação precisam ser consideradas. O movimento da "Escola de Pais" no
Brasil é um típico exemplo de como podem os pais ser informados, sem serem
guiados; de como podem se reconhecer como alguém e respeitar a individualidade
de seus filhos (Lopes, s/d.).
No que se refere à família, os assuntos e os problemas precisariam ser
discutidos nas duas perspectivas, considerando-se os filhos; na sua individualidade
e os pais, igualmente. Na medida em que se consegue criar, tanto para uns como
para outros, um sentido de vida e condições de auto-afirmação, as possibilidades
de ajustamento aos problemas de vida aumentam significativamente.
Todos os psicólogos e orientadores que atendem adolescentes, ou seus pais,
sabem que a queixa mais freqüente dos jovens em relação à família é sobre a falta
de confiança dos pais em relação aos filhos. Estes são tratados como objetos de
valor, mas vistos como incapazes de se governarem ou de se dirigirem e um
processo de desvalorização instala-se nas crianças ou nos adolescentes. É evidente
que aos filhos falta a informação ou o desenvolvimento físico e mental que os habilita
a agir de forma social e pessoalmente úteis em muitas circunstâncias. Por isso são
criados e assistidos pelos pais desde a gestação, o nascimento e os anos da
infância. Não é menos verdade, porém, que vão eles adquirindo, com o próprio
desenvolvimento, condições próprias de julgamento e de autodireção que os habilita
a se tornarem pessoas, adultas e aUto-suficientes. E muitos pais, por motivos vários,
continuam tratando seus filhos como se estivessem, ainda, em estágio inferior de
desenvolvimento mental e emocional. A conseqüência é óbvia: instala-se um clima
mutuamente perturbador, em que a "autoridade" e a "capacidade" dos pais, não
sendo tão necessárias, geram sentimentos de falta de confiança recíproca, com
imagens de não-afirmação do próprio EU em ambos os lados. Dosar essa
libertação é todo o processo sadio de formação do adulto e do homem capaz.
Permitir a expressão de si mesmo, de ser alguém, de optar, é o recurso psicológico
eficaz que muitos pais podem adotar; é a prevenção contra futuros desajustes que o
jovem enfrenta como produto de sua não-afirmação. Na medida em que a criança ou
o adolescente possa, dentro de seu mundo, fazer suas opções, está se afirmando
como pessoa e preparando-se para enfrentar, posteriormente, outras opções. Os
conhecidos comportamentos de superproteção ou de rejeição são fontes geradoras
da falta de auto-afirmação e, se pudermos eliminá-Ias, ou reduzi-Ias, estamos
evitando problemas de ajustamento no futuro.

A satisfação no trabalho

Como se sabe, a motivação é o ingrediente essencial ao ajustamento e


aodesempenho no trabalho. O que falta saber é no que consiste essa motivação.
Seria a aUto-realização no dizer de Maslow, Herzberg ou McClelland? Esse motivo
básico manifesta-se sob a forma de uma “ampla síndrome de comportamentos que
inclui exposição moderada a riscos, a proposição de altos níveis de qualidade,
odesejo de independência e, geralmente, a necessidade de atingir alvos
considerados excelentes tanto do ponto de vista pessoal como social”; (Fineman e
Warr,1972). No nosso entender, essa conceituação está bem próxima da
auto-afirmação, a tal ponto que pode ser com esta confundida.
Ao examinarmos as situações de ajustamento e de satisfaçao em atividades
profissionais, temos notado que o que mais atinge os empregados é o
reconhecimento pelo trabalho efetuado. Esse reconhecimento, gratificante e
estimulante parao empregado, ou qualquer profissional, geralmente ocorre sob a
forma de partictpação nas decisões (ser consultado, receber atribuições, ter suas
opiniões consideradas,etc.) sob a forma de retribuição financeira e material (salário
compatível com o nível funcional dentro de um plano de eqüidade salarial, benefícios
colaterais, etc.). Por outro lado, a desconsideração, a marginalização, o ostracismo
em que são colocadasas pessoas são, provavelmente, os mais poderosos agentes
de depressão psicológica na situação profissional. O indivíduo vê-se à margem da
empresa ou entidade; sua auto-afirmação simplesmente não ocorre; um quadro de
insatisfação emerge, com repercussões em outras áreas da vida. Em pesquisa feita
pelo autor em duas categorias de profissionais (médicos e enfermeiros) verificou-se
que os eventos mais perturbadores de sua satisfação profissional referiam-se à falta
de consideração pessoal no exercício da atividade profissional*
* A pesquisa aqui aludida refere-se a um levantamento de opiniões, sob forma de
questionário, entre 80 médicos e 25 enfermeiros, participantes de um curso sobre
Psicologia do Trabalho, realizado em São Paulo, em três turmas sucessivas, nos
anos de 1974, 1975 e 1976. As respostas à pergunta sobre fatos desestimulantes
no trabalho, agrupadas em categorias, revelaram, em geral, maior freqüência das
situações que desprestigiavam o trabalho médico ou a pessoa do profissional
envolvido (interferência nas funções médicas ou de enfermagem, desconsideração
do profissional, simulação de doenças e pedidos de falsos atestados,
desobediência às instruções médicas e outras situações, inclusive socialização da
medicina, as quais de uma forma ou outra significavam não afirmação ou
desprestígio pessoal).
Os dados por nós colhidos, embora originários de pequena amostra,
concordam de certo modo com os estudos de Herzberg (1959), segundo os quais a
realização e o reconhecimento são os fatores mais relacionados com a satisfação
no trabalho (Tiffin, 1969). Os mesmos dados parecem concordar com os obtidos em
situação terapêutica (Cap. 6); no sentido de que há uma prevalência no ajustamento
a vida, seja em atividades do dia-a-dia, seja em situação específica (a do trabalho
como exemplo) de uma necessidade básica de reconhecimento e de consideração
da individualidade de cada um e do respeito ao território que lhe é próprio.
No campo do trabalho, a implicação perceptível seria a de que se desejarmos
maior produtividade e, ao mesmo tempo, maior satisfação profissional, com
benéficos efeitos para a pessoa, as atitudes de empresários, chefes, diretores e de
todos quantos lideram movimentos ou atividades, deveria dirigir-se no sentido de
promover maiores níveis de auto-afirmação. Essa atitude exigiria radical
transformação nos sistemas organizacionais, de maneira a tornar cada profissional
ou empregado participante dos planos e das atividades; a respeitar suas opiniões e
suas tarefas; a evitar serviços "de fachada" e a valorizar adequadamente o que é
dito ou produzido na situação profissional. O muito que se fala e se propõe no
campo das relações humanas através de "cursos" e "recomendações", seria
redutível a um princípio geral: considerar não apenas o trabalho, isto é, o produto
elaborado, mas a pessoa que o fez, suas dificuldades e como as superou. Na
medida em que a pessoa seja assim considerada, instala-se uma ampla prevenção
contra os desajustes pessoais e promove-se melhor satisfação comunitária e social.

11 - A Vida na sua Terceira Fase: A Valorização do Idoso

Provavelmente o mais angustiante problema a partir da meia-idade é o


sentimento de envelhecer porquanto o passar dos anos _ partir dessa fase - hoje
conhecida como terceira idade - cria a imagem de desvalia, de redução da
eficiência, da marginalização, da falta de consideração e, em conseqüência,
drásticos efeitos na auto-estima e na auto-afirmação. Poucos fatos impressionarão
mais uma pessoa da faixa dos 50 ou 60 anos do que o de ver-se ela esquecida, não
considerada, em virtude da idade. A necessidade de auto-afirmação que apontamos
como determinante básico da conduta encontra, novamente, uma nova forma de
comprovação.
Nestes últimos anos têm-se acentuado os trabalhos e as preocupações legais,
técnicas e sociais com relação às pessoas idosas. Esse despertar de atitudes tem
raízes em vários fatos, notadamente nos seguintes: 1) a vida prolonga-se; 2) os
recursos médicos e tecnológicos propiciam melhores condições de conforto físico,
de saúde e de atividades sociais; 3) o tempo útil destinado ao trabalho profissional,
de sobrevivência econômica, encurta-se, aumentando os períodos de lazer, quer
anteriores ou posteriores à aposentadoria; 4) os planos de aposentadoria e de
pensões para os indivíduos que ultrapassam os sessenta anos ocorrem, gradual
mente, em melhores termos econômicos, passando a constituir um alvo para
grandes e crescentes contingentes humanos que esperam um lazer de longo prazo;
5) observações e pesquisas vêm demonstrando que grande parte dos idosos
conservam excelentes qualidades físicas, intelectuais e profissionais, constituindo
um grande segmento da força de trabalho do país.
Um levantamento de dados sobre o trabalho de pessoas idosas realizado pelo
autor (1960) revelava, na ocasião que:
1. A habilidade motora declina com a idade. Enquanto o máximo de
desenvolvimento ocorre na adolescência, ou na etapa dos vinte anos, há declínio
porcentual, sobre o máximo, aos 60 anos. Um dos estudos assinala uma redqção de
16,5%, cumprindo notar, porém, que esse declínio não é suficiente, por si só, para
impedir o trabalho normal. Certos indivíduos aos 60 anos possuem, não obstante o
declínio, maior habilidade do que pessoas muito mais jovens;
2. Não ocorre declínio da habilidade de vocabulário com o avançar da idade e
sim, um aumento do tempo de reação em tarefas que envolvam tal habilidade;
3. Quanto à idade e a eficiência profissional, em atividades comuns, em geral,
atinge-se o máximo de desenvolvimento entre 18 e 30 anos. Em tarefas tipicamente
industriais, verificou-se que a eficiência aumentava dos 20 aos 30 anos, declinava
aos 40 e, mais ainda, aos 50 anos. Porém, o declínio - de cerca de 13,5% - ainda
mantinha o grupo dos idosos na zona média da curva de desempenho, o que vem
demonstrar que a desvantagem da idade não é tão séria quanto parece;
4. Quanto à idade e as perspectivas de ajustamento no futuro, aparecem
necessidades novas e, conseqüentemente, novos motivos com o correr dos anos e,
com elas, modificam-se as reações psicológicas que passam a ser dirigidas para
outros alvos.
Outros fatos podem ser assinalados, segundo Patricia Kasscchau (1976) do
Andrus Gerontology Center (USA):

a) A expectativa de vida no Brasil, em 1970, era de, aproximadamente 60 anos, e


tende a elevar-se; é de 64 na Argentina, de 63 na Venezuela, de 61 no México e de
67 nos Estados Unidos. Este tempo amplia-se tratando-se de indivíduos do sexo
feminino.
b) Embora ocorra gradual e lenta diminuição de capacidades, a partir da vida adulta,
seus efeitos não são tão dramáticos como se supunha. Essa diminuição é mais
devida ao decréscimo do nível de prática do que à idade em si mesma.
Experiências com jovens conservados em inatividade no leito mostram que também
neles ocorre essa diminuição.
c) Nas atividades psicomotoras, os idosos demonstram menos potência muscular,
maior tempo de reação aos estímulos e desempenho menos eficiente em tarefas
tais como correr, nadar,etc. Contudo, quando estão eles familiarizados com essas
atividades, não sendo estas muito complexas, as diferenças devido à idade tornam
-se mínimas.
d) O tempo de reação aumenta com a idade. O aumento desse tempo é mais
sensível nas tarefas complexas e muito menor em tarefas simples. A _aior extensão
do tempo de reação parece estar associada ao desejo de verificar o acerto' da
resposta e não à impossibilidade de agir prontamente. Isto poderia significar que,
psicologicamente, o indivíduo idoso sente-se mais responsável pelos seus atos e
que as pressões para fazê-los agir depressa provocam movimentos e atos
desejeitados., Os idosos necessitam de mais tempo para formular e controlar suas
respostas.

e) Nas tarefas complexas, os jovens agem mais por tentativa e erro, enquanto o
idoso procura pensar e usar menos tentativas. Nos problemas complexos e sem
pressão do tempo, o desempenho do idoso iguala o dos jovens. Quando essa
pressão existe, o desempenho do idoso é menor, porque este é forçado a usar o
método de tentativa e erro. Em síntese, se dermos ao idoso mais tempo (e menos
pressões) para realizar uma tarefa, seu desempenho iguala o do adulto (assinala a
autora que este conceito é fundamental).
f) No campo da inteligência e manutenção do nível mental potencial, há dados
extremamente importantes. Baseado nos resultados de testes que medem a
inteligência, os dados indicam somente ligeiro declínio e mesmo assim devido,
provavelmente, a estadOs patológicos não identifi. cados. O nível mais alto atingido
parece estar em torno dos 55 anos e não aos 35. Observou-se, também, que em
muitos casos o desempenho mental na idade dos 70 é mais alto do que na idade de
25. Muitas das diferenças devidas à idade derivam do fato de que os testes usados
enfatizam habilidades e conhecimentos correntes, dos quais o idoso está afastado
pelos seus hábitos de vida. Isto significaria que não há declínio na inteligência mas,
tão somente obsolência, ou seja, falta de atualização do idoso à vida ambiental. Se a
ele fosse dada estimulação ambiental, estas diferenças tenderiam a desaparecer;
se o quociente de inteligência não diminui em termos de capacidade para aprender,
mas por falta de estimulação, é possível concluir que o idoso pode reaprender novas
habilidades.
g) Quanto à aprendizagem e à memória, envolvendo o registro e a retenção, o idoso
necessita mais tempo para processar seus dados e está mais sujeito a menor
desempenho, quando as tarefas não têm muito sentido (motivação). Em geral, o
idoso faz mais tentativas para estabelecer um critério do que os jovens.
h) No que se refere ao pensamento e solução de problemas, o idoso prefere operar
com fatos concretos do que abstratos, tendo mais dificuldades para formar conceitos
e resolver problemas que envolvem muitas peças de informação a serem
manipuladas simultaneamente; tende a repetir soluções anteriores, o que é
desvantajoso quando há necessidades de soluções ao mesmo tempo rápidas e
inovadoras, mas que se torna favorável quando há situações que se mantêm
estáveis ou de lenta modificação, que não exigem grande e pronta criatividade.
i) O idoso pode aprender e ser empregável. Muitos empregadores nos Esta-dos
Unidos e na Europa relatam que após um período inicial de experiência, sentem-se
mais felizes com eles porque inspiram mais confiança sobretudo no que se refere a
assiduidade, pontualidade e rotatividade.
j) No que se refere à personalidade, em geral, o idoso pouco muda com o advento
da idade, embora ocorram mudanças biológicas e sociais. Citando vários autores,
Kasscchau declara que há considerável estabilidade no curso de vida no que se
refere à descrição de si mesmo, aos constructos pessoais e aos estilos cognitivos.
O idoso torna-se apenas mais rígido do que o jovem; há certo grau de dogmatismo e
menos tolerância à ambigüidade e às pressões sociais. Torna-se o idoso, também,
menos impulsivo e mais cauteloso que os jovens. O comportamento do idoso é mais
consistente e melhor previsível do que o do jovem e sua estrutura de personalidade é
mais claramente perceptível. Há mais introspecção e um sentido mais claro de sua
própria identidade.

Em síntese, as pessoas idosas movem-se mais lentamente em resposta ao


ambiente mas se lhe damos tempo para reagir (perceber, avaliar e decidir) o
decréscimo do desempenho é reduzido. Se as apressarmos, tendem a responder
com erros e movimentos desajeitados. Essa circunstância eleva seu nível de
ansiedade, com efeitos sobre o desempenho. As pessoas idosas podem aprender
tanto quanto as jovens ocupando, apenas, maior lapso de tempo. Seu treinamento
para o trabalho é mais eficaz quando feito diretamente na atividade e não em
situações de escola ou classe, de maneira que sintam motivação mais profunda,
originária de situações concretas.

Técnicas de orientação e psicoterapia

O autor teve oportunidade de atender várias pessoas idosas em sessões de


psicoterapia e atividades de grupo. Em todos os casos a necessidade de
auto-afirmação esteve sempre presente, como resultantes da marginalização e da
desconsideração familiar, profissional e social em relação ao idoso. É evidente que
um processo de satisfazer essa necessidade é imperioso, o que poderia ser
atingido através de: 1) restauração, ainda que parcial, de habilidades anteriores; 2)
descoberta de novas habilidades e interesses que dêem sentido à vida; 3) ajuda
emocional para enfrentar as limitações existentes ou novos interesses. Barns e
outros autores (1973) citam alguns procedimentos que podem ser aplicados, a
saber:

Orientação da realidade espaço-temporal

Aplica-se aos casos de idosos em que ocorre acentuada perda da memória,


confusão mental e desorientação espaço-temporal. Pode ser formal (em classes ou
grupos formais, diariamente) ou informal (de acordo com as circunstâncias da vida).
Exige equipamento (quadros, relógios, calendários e outros recursos audiovisuais) e
melhor aplica-se em instituições (clínicas, comunidades, centros de convivência,
etc.).
Método: Repetição programadas de dias, horas, nomes, locais e outros
eventos, usando-se forma motivadora de apresentar os dados. Geralmente os dados
são escritos em um grande quadro e alterados conforme a ocorrência dos eventos e
algum tipo de reforço, em programa a ser estudado conforme a situação.

Desenvolvimento de atividades que despertem o sentido de auto-afirmação e


de valorização pessoal. O encontro de novas ocupações

Tais atividades podem ser realizadas em movimentos sociais, associações,


trabalhos de equipe e similares. Consistem, essencialmepte, em desenvolver um
espírito competitivo que restaure o conceito de si mesmo. A simples atividade,
despida de competição, pode ser temporariamente vantajosa, mas não mobiliza os
recursos potenciais, por ausência de motivação suficiente; como conseqüência, tem
pouco significado de ajustamento e sucesso. O idoso feliz parece ser aquele que
luta, que utiliza seus recursos e que se empenha em vencer obstáculos. Mesmo que
não os supere, a atividade mobilizada nessas direções parece ser altamente bené
fica, restaurando os conceitos de que é alguém que produz e que luta.
Em geral, o idoso acha úteis essas atividades, mas não se empenha em
procurá-Ias, quando delas precisa. Refugia-se, às vezes, nas próprias limitações e
essa situação o torna agressivo ou, por outro lado, conformista e deprimido. Para
vencer essa barreira, seria necessário que o comportamento desejável fosse refor
çado, paulatinamente, pela ocorrência de "produtos" ou "resultados" que tivessem
efeito reforçador. Cada caso particular precisaria ser estudado.
Hoje, busca-se evitar o vazio causado pela aposentadoria, principalmente, nos
indivíduos que se conservam plenamente ativos durante muitos anos. Há uma débil,
mas crescente tendência em buscar-se nova ocupação, isto é, atribuir ao idoso que
se aposenta, ou que por outras razões não mais trabalha, uma forma diferente de
ocupação que o mantenha ocupado e . 'Útil" algumas horas ou alguns dias da
semana. Essa forma de agir diminui acentuadamente os sentimentos negativos que
o indivíduo faz de si e não só mantém seu autoconceito, como o prepara para um
progressivo afastamento profissional ao correr dos anos.
O procedimento consiste em utilizar os serviços de pessoas idosas em tarefas
adequadas a seu nível de desenvolvimento intelectual, a seu status sócio -econômico
e as suas possibilidades físicas*.

* O autor teve ocasião de constatar, em alguns países europeus, o emprego de


pessoas idosas e de alto nível social e intelectual na tarefa de relações públicas,
atendendo e conduzindo visitantes estrangeiros. Esse tipo de trabalho parece ser
bem adaptado para essas pessoas, porque as coloca em posição de prestígio e
não exige esforços físicos ou psíquicos especiais.

Ressocialização

Aplica-se, principalmente, quando ocorrem dificuldades de comunicação, de


participação social, de verbalização, de expressão.
Método: É um programa estruturado em que são usadas técnicas de grupo a
fim de conscientizar escolhas e decisões no meio comunitário. Busca-se a
cooperação dos participantes nas decisões comunitárias ou de grupo. Os objetivos
são: 1) fortalecer relações interpessoais; 2) ajudar o cliente a renovar seu interesse
pelo mundo em que vive focalizando sua atenção em aspectos e atividades simples
da vida diária e que não envolvam dificuldades emocionais; 3) ajudar o cliente a
buscar, no passado, algo que possa fazer novamente.

Remotivação

É uma técnica destinada a encorajar o idoso a desenvolver novos interesses


em seu ambiente focalizando sua atenção em atividades e eventos comuns da vida
diária. É semelhante ao anterior e atua como complemento da orientação da
realidade.
Método: Escolhe-se um motivador e um grupo de pacientes compondo-se o
grupo com 5 a 12 pessoas que se reúnem uma vez por semana, durante uma hora,
durante cerca de 12 semanas. Discute-se um tópico específico, escolhido pelo
grupo. O motivador deve ser hábil para fazer fluir as escolhas e opiniões.
O clima é de aceitação; constitui uma ponte para a realidade. Podem ser
usadas como tarefas motivadoras: leituras, atividades manuais, recursos
audiovisuais, discussão de assuntos, etc. O trabalho individual, de cada um, é
planejado pela própria pessoa ou pelo grupo.
Como equipamento há necessidade de livros, artigos, filmes, recursos
audiovisuais, etc.

Terapia de atitudes
É uma forma de modificação do comportamento que envolve certas atitudes
predeterminadas em todos os contactos com os clientes. Visa-se reforçar o
comportamento desejável e eliminar o indesejável.
Há, segundo os autores, cinco atitudes principais a serem usadas, as quais
podem ser escolhidas, sendo importante que qualquer pessoa que entre em
contacto com o cliente participe da terapia usando, sempre, a mesma atitude
atéobtenção do comportamento desejável.
As 5 atitudes são:
- Firmeza: mais usada com clientes depressivos. Criticam-se as tarefas feitas mas
não o cliente e não se dá atenção aos sentimentos e lamentações.
- Amizade ausente: mais usada com clientes apáticos, pouco sociáveis, autistas.
Consiste em dar atenção ao cliente antes que este a solicite ou demonstre
desejá-Ia. Despende-se tempo extra, especial com o caso atribuindo-se-Ihe tarefas
significativas e que dificilmente errariam.
- Amizade passiva: mais usada com clientes que não se adaptam a uma amizade
mais íntima. Consiste em mostrar interesse e atenção para com a pessoa do cliente
sem procurar movê-Io em qualquer direção. Espera-se que o cliente dê o primeiro
passo.
- Sem exigências: mais indicada para os clientes desconfiados, que se sentem
ameaçados ou encolerizados. Nada se pede; mostra-se que se espera, apenas, que
ele não prejudique ninguém.
- Objetividade: mais indicada para os clientes manipuladores que procuram envolver
ou conquistar o terapeuta. As respostas a esses clientes devem ser consistentes,
casuais e calmas, demonstrar afeto, restringindo-se aos fatos em si.

É evidente que essas atitudes precisam ser adequadamente estabelecidas


conforme a situação e adequadamente inseridas em um esquema de modificação
do comportamento. Não sendo tomadas essas cautelas, o processo pode reforçar
atitudes indesejáveis funcionando o processo no sentido contrário.

Terapia de reforçamento

Consiste em escolher e definir com a pessoa o comportamento a ser alterado.


O reforço (recompensa) segue-se imediatamente à emissão do comportamento
desejado. Podem ser usados "tokens" (vales, fichas e similares) que representam
direito a certos privilégios.
Os procedimentos envolvem vários tipos de reforçamento e cuidados
especiais. As áreas comportamentais mais usadas são as que envolvem
comportamento social (comunicação, auxílio aos outros, expressão, etc.)
comportamento referente aos cuidados pessoais e tarefas especiais (cuidar da
alimentação, do quarto, da comunidade, etc.)

Terapia ambiental

Aplicável a grande número de casos, consiste em aproveitar as oportunidades


do próprio meio para desenvolver motivos, interesses e atitudes. O objetivo é facilitar
ao cliente o contacto com novas pessoas e atividades, criando-se condições ef que
haja pouca possibilidade de frustrações e conflitos. Parte do princípio de qu toda
pessoa tem, sempre, parte de seu Ego aproveitável. O cliente é convidado
participar, oferecendo-se oportunidades práticas de participação.

Terapia rogeriana

É aplicável a grande variedade de situações e consiste, essencialmente, em


criar-se um clima de tal modo permissivo que o indivíduo expressa seus sentimentos
e problemas. Esse fato reduz suas tensões, facilita uma revisão de seu "self" e
favorece o ajustamento do indivíduo aos problemas que enfrenta. É um processo
sobretudo emocional, mais indicado quando o indivíduo enfrenta problemas de
relacionamento humano, de juízos e valores, de compreensão e aceitação de si e
dos outros, de solução de problemas existenciais.
Não há objetivos comportamentais específicos, a não ser o bem-estar e a
retomada da vivência e do crescimento do cliente. A atitude do terapeuta no seu
relacionamento com o cliente é a chave do processo e concentra-se em três pontos:
1) Congtuência e autenticidade, ou seja, uma relação genuína e sem fachadas entre
terapeuta e cliente; 2) Respeito positivo incondicional ao cliente, o que significa
aceitá-Io como ele é, sem julgamentos ou críticas; 3) Empatia ou ter o terapeuta
senso do mundo interno do cliente, como se fosse ele próprio (vide Capítulo 5).
O procedimento pode ser desenvolvido em grupos nos quais os indivíduos
expõem seus problemas e se organizam livremente (grupos de encontro) ou em
sessões individuais.

Terapia de apoio

Geralmente é mais indicada quando a pessoa apresenta limitações de origem


física, social, econômica ou de outra natureza, dificilmente removíveis, ou quando a
estrutura da personalidade é tal que contra-indique alterações profundas nas
defesas existentes. Os efeitos terapêuticos são limitados mas abrem oportunidades
para o desenvolvimento pessoal.
A terapia de apoio no idoso pode assumir várias formas, tais como:

- Discussão de problemas em grupo, usando-se técnicas reflexivas ou


interpretativas;
- Exercícios e atividades em grupo, combinadas com discussão de problemas. Um
programa de exercícios físicos, quando adequado, tem efeito tranqüilizador sendo
mais indicadas as atividades que envolvam movimentação rítmica de grandes
massas de músculos e atividades naturais de passear, andar lentamente, correr,
nadar, etc.
Vivência em comunidade

É pensamento do autor que a colocação de idosos em instituições ou clínicas


geriátricas é um procedimento discutível, com vantagens e desvantagens. Pode dar
origem a um sério problema emocional decorrente do sentimento de solidão,
desprezo ou marginalização. Por outro lado, pode contribuir para um'l melhor
assistência médica e psicológica e pode ser efetivamente recomendada quando
constitui uma espécie de clube ou de local para lazer, dura!"lte algumas horas diárias
ou alguns dias por semana, sem que o idoso se desligue de sua família e de seus
hábitos pessoais no ambiente em que sempre viveu.
Uma solução que provavelmente possa ser eficaz consistiria em organizar-se
um tipo de residência coletiva, com apartamentos e demais serviços, paralelos, de
hotel e de tratamento de saúde, com atividades sociais, esportivas, culturais,
artísticas, etc., onde cada residente conservasse sua autonomia e sua propriedade,
com facilidade de contacto com parentes e amigos, à semelhança de um novo lar.
Neste caso, uma parcela dos residentes poderia ser constituída de pessoas jovens
ou de adultos comuns, que se utilizariam dos mesmos serviços, evitando-se a
imagem de instituição destinada à segregação ou amparo de idosos.

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English-Abstract

PSYCHOLOGICAL COUNSELING AND PSYCHOTHERAPY:


Self-assertion as a basic determinant of human behavior

Paper for presentation in an interactive session at the 20th International Congress of


Applied Psychology, Edinburgh, 1982

The author relates his experience as a Clinical Psychologist after having worked
for many years in the field of Industrial Psychology and Vocational Guidance. The
book which is now being published and this communication refer to his work in
Clinical Psychology started in the sixties after having completed his graduate course
at Columbia University (USA) and after his doctoral dissertation at the University of
São Paulo (Brazil).
First of all, the author comments on the long course from diagnosis to
psychological help and proposes a classification of the methods of counseling and
psychotherapy into three main categories: 1) Social-cultural-context-centered
methods; 2) Personal-context-centered methods; 3) Problem-centered methods an
others. One specific chapter is dedicated to Rogerian ideas and techniques and
neo-Rogerian position is suggested.
Initially, starting from person-centered therapy, according to Rogers theories and
techniques, the author relates his observations over twenty years. Those observations
led him to explore an important fact that occurred during therapy: the majority of clients
who attended counseling or therapeutic sessions would improve as long as they were
able to attribute the reasons for their problems and difficulties to themselves and not
to external causes. At this moment an important question was then raised by the
author: would there be any psychological phenomenon related to the self-concept that
could be responsible for the reduction tension and better adjustment to life
conditions? Using this as a reference point over the years it was observed with all
clients, independent of their social or economic status, that the improvement was
strongly associated with .alterations in their self-image, self-esteem, self-concept and
self assertion.
Obviously, the above conclusion is not new. All systems and psychological
theories have shown that, including Freud, Adler, Jung, Same, May, Rogers and many
others. However, the important point - which might be considered as a new
contribution - is the role of self assertion in human behavior.
In order to clarify those ideas it was necessary to review some basic concepts on
motivation. Following those lines, the author arrives at the hypothesis that se/f
-assertion is one o/ the most significant determinants o/ human behavior,' perhaps
the most prevailing goal of human life, except in the biological field namely natural
needs of survival.
Self-assertion is a complex phenomenon: it could be understood as a large and
varied revision of the Ego, both cognitive and emotional, followed by the judgment
made by the person about himself (Personal I) and about his adaptability to the
expectations from the outside world (Social I). The basis of human behavior, that is,
the needs and motives that consciously or unconsciously would establish the goals of
the activity, excluding purely organic factors, would be centered on the concepts about
himself and about his role in life. To be someone recognized as a person would be
the significant goal, even with limits and failures. Examples can be found every day in
all kinds of human behavior: children who want to do things for themselves;
adolescents who try to show that they are grown up; adults who search for status and
power. On the other hand, the most traumatic experience seems to be the feeling of
being ignored, of having no value, of being forgotten or placed in an inferior position in
any aspect of life. It also means the feeling of being incapacited when faced with
social values and social expectations.
The consequences of such observations over the years may seem trivial; a kind
of well know and unimportant conclusion. Nevertheless, the success of therapy was
always associated to the revision of the self and to the attainment of a stronger feeling
of self-assertion. The book on that matter and this communication aim to call attention
to this focus of emotional life and to indicate the possibility of giving direction to a new
understanding of human behavior. This direction would also mean new ways in the
therapeutic process as well as in prophylactic attitudes in other fields.
Many modem positions like the humanistic movement, existentialism and
anti-psychiatry have already arrived by different ways at similar conclusions. Many
other therapeutic theories and techniques have suggested that the feeling of personal
value, the self-image and the self-concept have significant influence in therapy. This is
more perceptible in Adler and Rogers. Even the reinforcement in Skinner' s theory is
somewhat connected to the main idea: the effect of having completed a task might be
in itself a kind of self-assertion. Although many theories have postulated some effect
derived from the feeling of seIf-esteem and self value, there is no theory or technique
which emphasizes &elf-assertion as the most significant factor in human existence
and, as a consequence, in psychological therapy.

The main contribution of the book and of this communication to a psychological


congress is outlined as follows: 1. Human motivation is highly influenced by
self-assertion; this concept raises the hypothesis of self-assertion being the most
significant determinant of behavior; 2. In the author experience, better results have
been found with Rogerian and similar theories and techniques, when there is
emphasis on self-assertion, that is, when Therapist and client act in the cognitive and
emotional areas examining together successes or failures throughout life, without
fears and anxieties; when both are able to conciliate the Personal I (characteristics
and personal needs) with the Social I (group and social characteristics and needs); 3.
Psychological structure becomes stronger as long as the person recognizes himself
as a real living organism with characteristics that are his own; when he is able to
appreciate his own territory; when he feelds himself as someone with his own ideas
and way of being, open to the world and able to feel, to think and to act in function of
his capacities and limitations, without permanent feelings of loss or inferiority.
Meanwhile there is only clinical data supporting the hypothesis. The contribution
which is now presented comes from a sample of 80 clients (adults and adolescents,
male and female, of different social and economic status) who were observed in their
behavior during counseling or therapy. A check-list with 13 indicators of progress was
informally used to guide the observation.
There is a strong need for research in this field. The author tries only to open a
new way, with an empirical foundation, for expanding our understanding of human
motivation. The consequences might be of high value for the improvement of the
psychotherapeutic process as well as in handling other aspects of life.
Many examples are given by the author related to the family, school life, the work
situation and elderly people.

Oswaldo de Barros Santos São Paulo, Brazil, 1982

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