Você está na página 1de 985

Secretaria de Estado de Educação, Esporte e Lazer

Do Estado de Mato Grosso

SEDUC-MT
Técnico Administrativo Educacional
Volume I
Edital Nº 01/2017 - 03 de Julho de 2017
JL018-A-2017
DADOS DA OBRA

Título da obra: Secretaria de Estado de Educação, Esporte e Lazer do Estado de Mato Grosso
- SEDUC-MT

Cargo: Técnico Administrativo Educacional

(Baseado no Edital Nº 01/2017 - 03 de Julho de 2017)

Volume I
• Língua Portuguesa
• Noções de Informática
• Legislação Básica
• História do Estado do Mato Grosso
• Geografia do Estado do Mato Grosso

Volume II
• Noções de Administração Pública
• Noções de Ética e Filosofia
• Políticas Públicas da Educação
• Redação Oficial
• Noções Básicas de Arquivo
• Raciocínio Lógico e Matemático
• Relações Interpessoais
• Estatística Básica

Gestão de Conteúdos
Emanuela Amaral de Souza

Produção Editorial/Revisão
Elaine Cristina
Igor de Oliveira
Camila Lopes
Suelen Domenica Pereira

Capa
Natália Maio

Editoração Eletrônica
Marlene Moreno

Gerente de Projetos
Bruno Fernandes
APRESENTAÇÃO

PARABÉNS! ESTE É O PASSAPORTE PARA SUA APROVAÇÃO.

A Nova Concursos tem um único propósito: mudar a vida das pessoas.


Vamos ajudar você a alcançar o tão desejado cargo público.
Nossos livros são elaborados por professores que atuam na área de Concursos Públicos. Assim a
matéria é organizada de forma que otimize o tempo do candidato. Afinal corremos contra o tempo,
por isso a preparação é muito importante.
Aproveitando, convidamos você para conhecer nossa linha de produtos “Cursos online”, conteúdos
preparatórios e por edital, ministrados pelos melhores professores do mercado.
Estar à frente é nosso objetivo, sempre.
Contamos com índice de aprovação de 87%*.
O que nos motiva é a busca da excelência. Aumentar este índice é nossa meta.
Acesse www.novaconcursos.com.br e conheça todos os nossos produtos.
Oferecemos uma solução completa com foco na sua aprovação, como: apostilas, livros, cursos on-
line, questões comentadas e treinamentos com simulados online.
Desejamos-lhe muito sucesso nesta nova etapa da sua vida!
Obrigado e bons estudos!

*Índice de aprovação baseado em ferramentas internas de medição.

CURSO ONLINE

PASSO 1
Acesse:
www.novaconcursos.com.br/passaporte

PASSO 2
Digite o código do produto no campo indicado no
site.
O código encontra-se no verso da capa da apostila.
*Utilize sempre os 8 primeiros dígitos.
Ex: FV054-17

PASSO 3
Pronto!
Você já pode acessar os conteúdos online.
SUMÁRIO

Língua Portuguesa

1. Interpretação de texto: informações literais e inferências possíveis; ponto de vista do autor; significação contextual
de palavras e expressões; relações entre ideias e recursos de coesão; figuras de estilo............................................................ 01
2. Conhecimentos linguísticos: ortografia: emprego das letras, divisão silábica, acentuação gráfica, encontros vocálicos
e consonantais, dígrafos; classes de palavras: substantivos, adjetivos, artigos, numerais, pronomes, verbos, advérbios,
preposições, conjunções, interjeições: conceituações, classificações, flexões, emprego, locuções. Sintaxe: estrutura da
oração, estrutura do período, concordância (verbal e nominal); regência (verbal e nominal); crase, colocação de prono-
mes; pontuação......................................................................................................................................................................................................... 26

Noções de Informática

1. Conceito de Internet e Intranet...................................................................................................................................................................... 01


2. Ferramentas e aplicativos de navegação, de correio eletrônico, de grupo de discussão, de busca e pesquisa. .......... 01
3. Procedimentos, aplicativos, dispositivos para armazenamento de dados e para realização de cópia de segurança
(backup). ..................................................................................................................................................................................................................... 10
4. Principais aplicativos para edição de textos, planilhas eletrônicas, geração de material escrito, audiovisual e ou-
tros. ......................................................................................................................................................................................................................13
5. Pacote Microsoft Office..................................................................................................................................................................................... 13

Legislação Básica

1. Constituição Federal de 1988......................................................................................................................................................................... 01


1.1 Estatuto da Criança e do Adolescente - Lei nº 8.069 de 1990. ...................................................................................................... 24
1.2 LDBEN- Lei nº 9.394 de 1996........................................................................................................................................................................ 63
2. Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica. ........................................................................................................................ 81
3. Plano Nacional de Educação........................................................................................................................................................................... 92
4. Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental de 9 (nove) anos. ...................................................................108
5. Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. ......................................................................117
6. Plano Estadual de Educação Lei 10111 de 06 de junho de 2014, Lei Orgânica dos Profissionais do Ensino Básico (LO-
PEB); ............................................................................................................................................................................................................................125
7. Lei Complementar nº 50/98 de 01de outubro de 1998; ...................................................................................................................137
8. Lei 7.040/98; ........................................................................................................................................................................................................151
9. Resolução nº 150/1999 – CEE/MT;..............................................................................................................................................................158
10. Resolução n° 257/06 – CEE/MT; ...............................................................................................................................................................163
11. Resolução nº 249/07 – CEE/MT; ...............................................................................................................................................................166
12. Resolução nº 630/08, LC 206 de 29 de dezembro de 2004 e LC 04 de 15 de outubro de 1990.....................................168

História do Estado do Mato Grosso

Período Colonial..................................................................................................................................................................................................... 01
1. Os Bandeirantes: escravidão indígena e exploração do ouro............................................................................................................ 05
2. A fundação de Cuiabá: tensões políticas entre os fundadores e a administração colonial................................................... 09
3. A fundação de Vila Bela da Santíssima Trindade e a criação da Capitania de Mato Grosso................................................. 11
4. A escravidão negra em Mato Grosso........................................................................................................................................................... 15

Período Imperial..................................................................................................................................................................................................... 20
1 A crise da mineração e as alternativas econômicas da Província...................................................................................................... 26
2 A Rusga..................................................................................................................................................................................................................... 34
3 Os quilombos em Mato Grosso...................................................................................................................................................................... 37
4 Os Presidentes de Província e suas realizações........................................................................................................................................ 42
SUMÁRIO

5 A Guerra da Tríplice Aliança contra o Paraguai e a participação de Mato Grosso...................................................................... 80


6 A economia mato-grossense após a Guerra da Tríplice Aliança contra o Paraguai................................................................... 85
7 O fim do Império em Mato Grosso................................................................................................................................................................ 88

Período Republicano............................................................................................................................................................................................ 90
1 O coronelismo em Mato Grosso...................................................................................................................................................................103
2 Economia de Mato Grosso na Primeira República: usinas de açúcar e criação de gado.......................................................106
3 Relações de trabalho em Mato Grosso na Primeira República.........................................................................................................108
4 Mato Grosso durante a Era Vargas: política e economia....................................................................................................................112
5 Política fundiária e as tensões sociais no campo...................................................................................................................................117
6. Os governadores estaduais e suas realizações......................................................................................................................................121

Geografia do Estado do Mato Grosso

1. Mato Grosso e a região Centro-Oeste,....................................................................................................................................................... 01


2. Geopolítica de Mato Grosso,........................................................................................................................................................................... 10
3. Ocupação do território,..................................................................................................................................................................................... 23
4. Aspectos físicos e domínios naturais do espaço mato-grossense................................................................................................... 29
5. Aspectos político-administrativos,................................................................................................................................................................ 32
6. Aspectos socioeconômicos de Mato Grosso,........................................................................................................................................... 34
7. Formação étnica,.................................................................................................................................................................................................. 37
8. Programas governamentais e fronteira agrícola mato-grossense,.................................................................................................. 41
9. A economia do Estado no contexto nacional,.......................................................................................................................................... 44
10. A urbanização do Estado................................................................................................................................................................................ 47
LÍNGUA PORTUGUESA

1. Interpretação de texto: informações literais e inferências possíveis; ponto de vista do autor; significação contextual de
palavras e expressões; relações entre ideias e recursos de coesão; figuras de estilo................................................................... 01
2. Conhecimentos linguísticos: ortografia: emprego das letras, divisão silábica, acentuação gráfica, encontros vocálicos
e consonantais, dígrafos; classes de palavras: substantivos, adjetivos, artigos, numerais, pronomes, verbos, advérbios,
preposições, conjunções, interjeições: conceituações, classificações, flexões, emprego, locuções. Sintaxe: estrutura da
oração, estrutura do período, concordância (verbal e nominal); regência (verbal e nominal); crase, colocação de prono-
mes; pontuação......................................................................................................................................................................................................... 26
LÍNGUA PORTUGUESA

Argumentativo: Os textos argumentativos, ao contrá-


1. INTERPRETAÇÃO DE TEXTO: rio, têm por finalidade principal persuadir o leitor sobre o
INFORMAÇÕES LITERAIS E INFERÊNCIAS ponto de vista do autor a respeito do assunto. Quando o
POSSÍVEIS; PONTO DE VISTA DO AUTOR; texto, além de explicar, também persuade o interlocutor e
SIGNIFICAÇÃO CONTEXTUAL DE PALAVRAS modifica seu comportamento, temos um texto dissertativo
-argumentativo.
E EXPRESSÕES; RELAÇÕES ENTRE IDEIAS
Exemplos: texto de opinião, carta do leitor, carta de soli-
E RECURSOS DE COESÃO; FIGURAS DE ESTILO. citação, deliberação informal, discurso de defesa e acusação
(advocacia), resenha crítica, artigos de opinião ou assinados,
editorial.
Interpretação de Texto Exposição: Apresenta informações sobre assuntos, ex-
põe ideias; explica, avalia, reflete. (analisa ideias). Estrutura
Texto Literário: expressa a opinião pessoal do autor básica; ideia principal; desenvolvimento; conclusão. Uso de
que também é transmitida através de figuras, impregnado linguagem clara. Ex: ensaios, artigos científicos, exposições
de subjetivismo. Ex: um romance, um conto, uma poesia... etc.
(Conotação, Figurado, Subjetivo, Pessoal).
Injunção: Indica como realizar uma ação. É também
Texto Não-Literário: preocupa-se em transmitir uma utilizado para predizer acontecimentos e comportamentos.
mensagem da forma mais clara e objetiva possível. Ex: uma Utiliza linguagem objetiva e simples. Os verbos são, na sua
notícia de jornal, uma bula de medicamento. (Denotação, maioria, empregados no modo imperativo. Há também o
Claro, Objetivo, Informativo). uso do futuro do presente. Ex: Receita de um bolo e ma-
O objetivo do texto é passar conhecimento para o lei- nuais.
tor. Nesse tipo textual, não se faz a defesa de uma ideia.
Exemplos de textos explicativos são os encontrados em Diálogo: é uma conversação estabelecida entre duas ou
manuais de instruções. mais pessoas. Pode conter marcas da linguagem oral, como
pausas e retomadas.
Informativo: Tem a função de informar o leitor a res-
peito de algo ou alguém, é o texto de uma notícia de jornal, Entrevista: é uma conversação entre duas ou mais pes-
de revista, folhetos informativos, propagandas. Uso da fun- soas (o entrevistador e o entrevistado), na qual perguntas
ção referencial da linguagem, 3ª pessoa do singular. são feitas pelo entrevistador para obter informação do en-
trevistado. Os repórteres entrevistam as suas fontes para
Descrição: Um texto em que se faz um retrato por es- obter declarações que validem as informações apuradas ou
crito de um lugar, uma pessoa, um animal ou um objeto. A que relatem situações vividas por personagens. Antes de ir
classe de palavras mais utilizada nessa produção é o ad- para a rua, o repórter recebe uma pauta que contém infor-
jetivo, pela sua função caracterizadora. Numa abordagem mações que o ajudarão a construir a matéria. Além das in-
mais abstrata, pode-se até descrever sensações ou senti- formações, a pauta sugere o enfoque a ser trabalhado assim
mentos. Não há relação de anterioridade e posterioridade. como as fontes a serem entrevistadas. Antes da entrevista
Significa “criar” com palavras a imagem do objeto descrito. o repórter costuma reunir o máximo de informações dis-
É fazer uma descrição minuciosa do objeto ou da persona- poníveis sobre o assunto a ser abordado e sobre a pessoa
gem a que o texto se refere. que será entrevistada. Munido deste material, ele formula
perguntas que levem o entrevistado a fornecer informações
Narração: Modalidade em que se conta um fato, fictí- novas e relevantes. O repórter também deve ser perspicaz
cio ou não, que ocorreu num determinado tempo e lugar, para perceber se o entrevistado mente ou manipula dados
envolvendo certos personagens. Refere-se a objetos do nas suas respostas, fato que costuma acontecer principal-
mundo real. Há uma relação de anterioridade e posteriori- mente com as fontes oficiais do tema. Por exemplo, quando
dade. O tempo verbal predominante é o passado. Estamos o repórter vai entrevistar o presidente de uma instituição
cercados de narrações desde as que nos contam histórias pública sobre um problema que está a afetar o fornecimen-
infantis, como o “Chapeuzinho Vermelho” ou a “Bela Ador- to de serviços à população, ele tende a evitar as perguntas
mecida”, até as picantes piadas do cotidiano. e a querer reverter a resposta para o que considera positivo
na instituição. É importante que o repórter seja insistente. O
Dissertação: Dissertar é o mesmo que desenvolver ou entrevistador deve conquistar a confiança do entrevistado,
explicar um assunto, discorrer sobre ele. Assim, o texto dis- mas não tentar dominá-lo, nem ser por ele dominado. Caso
sertativo pertence ao grupo dos textos expositivos, junta- contrário, acabará induzindo as respostas ou perdendo a
mente com o texto de apresentação científica, o relatório, o objetividade.
texto didático, o artigo enciclopédico. Em princípio, o texto As entrevistas apresentam com frequência alguns sinais
dissertativo não está preocupado com a persuasão e sim, de pontuação como o ponto de interrogação, o travessão,
com a transmissão de conhecimento, sendo, portanto, um aspas, reticências, parêntese e as vezes colchetes, que ser-
texto informativo. vem para dar ao leitor maior informações que ele suposta-
mente desconhece. O título da entrevista é um enunciado

1
LÍNGUA PORTUGUESA

curto que chama a atenção do leitor e resume a ideia básica Jornalismo e literatura: É assim que podemos dizer que
da entrevista. Pode estar todo em letra maiúscula e recebe a crônica é uma mistura de jornalismo e literatura. De um
maior destaque da página. Na maioria dos casos, apenas as recebe a observação atenta da realidade cotidiana e do
preposições ficam com a letra minúscula. O subtítulo intro- outro, a construção da linguagem, o jogo verbal. Algumas
duz o objetivo principal da entrevista e não vem seguido de crônicas são editadas em livro, para garantir sua durabili-
ponto final. É um pequeno texto e vem em destaque tam- dade no tempo.
bém. A fotografia do entrevistado aparece normalmente na
primeira página da entrevista e pode estar acompanhada Interpretação de Texto
por uma frase dita por ele. As frases importantes ditas pelo
entrevistado e que aparecem em destaque nas outras pági- O primeiro passo para interpretar um texto consiste em
nas da entrevista são chamadas de “olho”. decompô-lo, após uma primeira leitura, em suas “ideias bá-
sicas ou ideias núcleo”, ou seja, um trabalho analítico bus-
Crônica: Assim como a fábula e o enigma, a crônica é cando os conceitos definidores da opinião explicitada pelo
um gênero narrativo. Como diz a origem da palavra (Cro- autor. Esta operação fará com que o significado do texto
nos é o deus grego do tempo), narra fatos históricos em “salte aos olhos” do leitor. Ler é uma atividade muito mais
ordem cronológica, ou trata de temas da atualidade. Mas complexa do que a simples interpretação dos símbolos
não é só isso. Lendo esse texto, você conhecerá as princi- gráficos, de códigos,  requer que o indivíduo seja capaz de
pais características da crônica, técnicas de sua redação e interpretar o material lido, comparando-o e incorporando
terá exemplos. -o à sua bagagem pessoal, ou seja, requer que o indivíduo
Uma das mais famosas crônicas da história da literatu- mantenha um comportamento ativo diante da leitura.
ra luso-brasileira corresponde à definição de crônica como Os diferentes níveis de leitura
“narração histórica”. É a “Carta de Achamento do Brasil”, de
Pero Vaz de Caminha”, na qual são narrados ao rei portu- Para que isso aconteça, é necessário que haja matu-
guês, D. Manuel, o descobrimento do Brasil e como foram ridade para a compreensão do material lido, senão tudo
cairá no esquecimento ou ficará armazenado em nossa
os primeiros dias que os marinheiros portugueses passa-
memória sem uso, até que tenhamos condições cognitivas
ram aqui. Mas trataremos, sobretudo, da crônica como
para utilizar.
gênero que comenta assuntos do dia a dia. Para começar,
De uma forma geral, passamos por diferentes níveis
uma crônica sobre a crônica, de Machado de Assis:
ou etapas até termos condições de aproveitar totalmente
o assunto lido. Essas etapas ou níveis são cumulativas e vão
O nascimento da crônica
sendo adquiridas pela vida, estando presente em pratica-
mente toda a nossa leitura.
“Há um meio certo de começar a crônica por uma tri-
vialidade. É dizer: Que calor! Que desenfreado calor! Diz-se O Primeiro Nível é elementar e diz respeito ao perío-
isto, agitando as pontas do lenço, bufando como um touro, do de alfabetização. Ler é uma capacidade cerebral muito
ou simplesmente sacudindo a sobrecasaca. Resvala-se do sofisticada e requer experiência: não basta apenas conhe-
calor aos fenômenos atmosféricos, fazem-se algumas con- cermos os códigos, a gramática, a semântica, é preciso que
jeturas acerca do sol e da lua, outras sobre a febre amarela, tenhamos um bom domínio da língua.
manda-se um suspiro a Petrópolis, e la glace est rompue
está começada a crônica. (...) O Segundo Nível é a pré-leitura ou leitura inspecional.
(Machado de Assis. “Crônicas Escolhidas”. São Pau- Tem duas funções específicas: primeiro, prevenir para que a
lo: Editora Ática, 1994) leitura posterior não nos surpreenda e, sendo, para que te-
nhamos chance de escolher qual material leremos, efetiva-
Publicada em jornal ou revista onde é publicada, desti- mente. Trata-se, na verdade, de nossa primeira impressão
na-se à leitura diária ou semanal e trata de acontecimentos sobre o livro. É a leitura que comumente desenvolvemos
cotidianos. A crônica se diferencia no jornal por não buscar “nas livrarias”. Nela, por meio do salteio de partes, respon-
exatidão da informação. Diferente da notícia, que procura dem basicamente às seguintes perguntas:
relatar os fatos que acontecem, a crônica os analisa, dá- - Por que ler este livro?
lhes um colorido emocional, mostrando aos olhos do leitor - Será uma leitura útil?
uma situação comum, vista por outro ângulo, singular. - Dentro de que contexto ele poderá se enquadrar?
O leitor pressuposto da crônica é urbano e, em princí-
pio, um leitor de jornal ou de revista. A preocupação com Essas perguntas devem ser revistas durante as etapas
esse leitor é que faz com que, dentre os assuntos tratados, que se seguem, procurando usar de imparcialidade quanto
o cronista dê maior atenção aos problemas do modo de ao ponto de vista do autor, e o assunto, evitando preconcei-
vida urbano, do mundo contemporâneo, dos pequenos tos. Se você se propuser a ler um livro sem interesse, com
acontecimentos do dia a dia comuns nas grandes cidades. olhar crítico, rejeitando-o antes de conhecê-lo, provavel-
mente o aproveitamento será muito baixo.
Ler é armazenar informações; desenvolver; ampliar
horizontes; compreender o mundo; comunicar-se melhor;
escrever melhor; relacionar-se melhor com o outro.

2
LÍNGUA PORTUGUESA

Pré-Leitura Veja bem: a esta altura já conhecemos bem o livro e o ato


Nome do livro de interromper a leitura não vai fragmentar a compreensão
Autor do assunto como um todo. Será, também, nessa etapa que
Dados Bibliográficos sublinharemos os tópicos importantes, se necessário. Para
Prefácio e Índice  ressaltar trechos importantes opte por um sinal discreto pró-
Prólogo e Introdução ximo a eles, visando principalmente a marcar o local do texto
em que se encontra, obrigando-o a fixar a cronologia e a
O primeiro passo é memorizar o nome do autor e a edi- sequência deste fato importante, situando-o no livro.
ção do livro, fazer um folheio sistemático: ler o prefácio e o Aproveite bem esta etapa de leitura. Para auxiliar no es-
índice (ou sumário), analisar um pouco da história que deu tudo, é interessante que, ao final da leitura de cada capítulo,
origem ao livro, ver o número da edição e o ano de publica- você faça um breve resumo com suas próprias palavras de
ção. Se falarmos em ler um Machado de Assis, um Júlio Verne, tudo o que foi lido.
um Jorge Amado, já estaremos sabendo muito sobre o livro.
É muito importante verificar estes dados para enquadrarmos Um Quinto Nível pode ser opcional: a etapa da repe-
o livro na cronologia dos fatos e na atualidade das informa- tição aplicada. Quando lemos, assimilamos o conteúdo do
ções que ele contém.  Verifique detalhes que possam contri- texto, mas aprendizagem efetiva vai requerer que tenhamos
buir para a coleta do maior número de informações possível. prática, ou seja, que tenhamos experiência do que foi lido na
Tudo isso vai ser útil quando formos arquivar os dados lidos vida. Você só pode compreender conceitos que tenha visto
no nosso arquivo mental. A propósito, você sabe o que seja em seu cotidiano. Nada como unir a teoria à prática. Na lei-
um prólogo, um prefácio e uma introdução? Muita gente tura, quando não passamos pela etapa da repetição aplicada,
pensa que os três são a mesma coisa, mas não: ficamos muitas vezes sujeitos  àqueles brancos quando que-
Prólogo: é um comentário feito pelo autor a respeito do remos evocar o assunto. Para evitar isso, faça resumos.
tema e de sua experiência pessoal. Observe agora os trechos sublinhados do livro e os re-
Prefácio: é escrito por terceiros ou pelo próprio autor, sumos de cada capítulo, trace um diagrama sobre o livro, es-
force-se para traduzi-lo com suas próprias palavras. Procure
referindo-se ao tema abordado no livro e muitas vezes tam-
associar o assunto lido com alguma experiência já vivida ou
bém tecendo comentários sobre o autor.
tente exemplificá-lo com algo concreto, como se fosse um
Introdução: escrita também pelo autor, referindo-se ao
professor e o estivesse ensinando para uma turma de alunos
livro e não ao tema.
interessados. É importante lembrar que esquecemos mais nas
O segundo passo é fazer uma leitura superficial. Pode-
próximas 8 horas do que nos 30 dias posteriores. Isto quer di-
se, nesse caso, aplicar as técnicas da leitura dinâmica.
zer que devemos fazer pausas durante a leitura e ao retornar-
mos ao livro, consultamos os resumos. Não pense que é um
O Terceiro Nível é conhecido como analítico. Depois de exercício monótono. Nós somos capazes de realizar diaria-
vasculharmos bem o livro na pré-leitura, analisamos o livro. mente exercícios físicos com o propósito de melhorar a apa-
Para isso, é imprescindível que saibamos em qual gênero rência e a saúde. Pois bem, embora não tenhamos condições
o livro se enquadra: trata-se de um romance, um tratado, de ver com o que se apresenta nossa mente, somos capazes
um livro de pesquisa e, neste caso, existe apenas teoria ou de senti-la quando melhoramos nossas aptidões como o ra-
são inseridas práticas e exemplos. No caso de ser um livro ciocínio, a prontidão de informações e, obviamente, nossos
teórico, que requeira memorização, procure criar imagens conhecimentos intelectuais. Vale a pena se esforçar no início
mentais sobre o assunto, ou seja, veja, realmente, o que está e criar um método de leitura eficiente e rápido.
lendo, dando vida e muita criatividade ao assunto.  Note
bem: a leitura efetiva vai acontecer nesta fase, e a primeira Ideias Núcleo
coisa a fazer é ser capaz de resumir o assunto do livro em
duas frases. Já temos algum conteúdo para isso, pois o en- O primeiro passo para interpretar um texto consiste em
cadeamento das ideias já é de nosso conhecimento. Procure, decompô-lo, após uma primeira leitura, em suas “ideias bási-
agora, ler bem o livro, do início ao fim. Esta é a leitura efetiva, cas ou ideias núcleo”, ou seja, um trabalho analítico buscando
aproveite bem este momento. Fique atento! Aproveite todas os conceitos definidores da opinião explicitada pelo autor.
as informações que a pré-leitura ofereceu. Não pare a leitura Esta operação fará com que o significado do texto “salte aos
para buscar significados de palavras em dicionários ou sub- olhos” do leitor. Exemplo:
linhar textos, isto será feito em outro momento.
“Incalculável é a contribuição do famoso neurologista aus-
O Quarto Nível de leitura é o denominado de controle. tríaco no tocante aos estudos sobre a formação da personali-
Trata-se de uma leitura com a qual vamos efetivamente aca- dade humana. Sigmund Freud (1859-1939) conseguiu acender
bar com qualquer dúvida que ainda persista. Normalmente, luzes nas camadas mais profundas da psique humana: o in-
os termos desconhecidos de um texto são explicitados  nes- consciente e subconsciente. Começou estudando casos clínicos
te próprio texto, à medida que vamos adiantando a leitura. de comportamentos anômalos ou patológicos, com a ajuda
Um mecanismo psicológico fará com que fiquemos com da hipnose e em colaboração com os colegas Joseph Breuer
aquela dúvida incomodando-nos até que tenhamos a res- e Martin Charcot (Estudos sobre a histeria, 1895). Insatisfeito
posta. Caso não haja explicação no texto, será na etapa do com os resultados obtidos pelo hipnotismo, inventou o método
controle que lançaremos mão do dicionário. que até hoje é usado pela psicanálise: o das ‘livres associações’

3
LÍNGUA PORTUGUESA

de ideias e de sentimentos, estimuladas pela terapeuta por pa- - Voltar ao texto tantas quantas vezes precisar;
lavras dirigidas ao paciente com o fim de descobrir a fonte - Não permitir que prevaleçam suas ideias sobre as do autor;
das perturbações mentais. Para este caminho de regresso às - Partir o texto em pedaços (parágrafos, partes) para
origens de um trauma, Freud se utilizou especialmente da lin- melhor compreensão;
guagem onírica dos pacientes, considerando os sonhos como - Centralizar cada questão ao pedaço (parágrafo, parte)
compensação dos desejos insatisfeitos na fase de vigília. do texto correspondente;
Mas a grande novidade de Freud, que escandalizou o - Verificar, com atenção e cuidado, o enunciado de cada
mundo cultural da época, foi a apresentação da tese de que questão;
toda neurose é de origem sexual.” - Cuidado com os vocábulos: destoa (=diferente de...),
(Salvatore D’Onofrio) não, correta, incorreta, certa, errada, falsa, verdadeira, ex-
ceto, e outras; palavras que aparecem nas perguntas e que,
Primeiro Conceito do Texto: “Incalculável é a contribui- às vezes, dificultam a entender o que se perguntou e o que
ção do famoso neurologista austríaco no tocante aos estudos se pediu;
sobre a formação da personalidade humana. Sigmund Freud - Quando duas alternativas lhe parecem corretas, pro-
(1859-1939) conseguiu acender luzes nas camadas mais pro- curar a mais exata ou a mais completa;
fundas da psique humana: o inconsciente e subconsciente.” - Quando o autor apenas sugerir ideia, procurar um
O autor do texto afirma, inicialmente, que Sigmund Freud fundamento de lógica objetiva;
ajudou a ciência a compreender os níveis mais profundos - Cuidado com as questões voltadas para dados su-
da personalidade humana, o inconsciente e subconsciente. perficiais;
- Não se deve procurar a verdade exata dentro daquela
Segundo Conceito do Texto: “Começou estudando casos resposta, mas a opção que melhor se enquadre no sentido
clínicos de comportamentos anômalos ou patológicos, com do texto;
a ajuda da hipnose e em colaboração com os colegas Joseph - Às vezes a etimologia ou a semelhança das palavras
Breuer e Martin Charcot (Estudos sobre a histeria, 1895). In- denuncia a resposta;
satisfeito com os resultados obtidos pelo hipnotismo, inven- - Procure estabelecer quais foram as opiniões expostas
tou o método que até hoje é usado pela psicanálise: o das pelo autor, definindo o tema e a mensagem;
‘livres associações’ de ideias e de sentimentos, estimuladas - O autor defende ideias e você deve percebê-las;
pela terapeuta por palavras dirigidas ao paciente com o fim - Os adjuntos adverbiais e os predicativos do sujeito
de descobrir a fonte das perturbações mentais.” A segunda são importantíssimos na interpretação do texto. Exemplos:
ideia núcleo mostra que Freud deu início a sua pesquisa es-
tudando os comportamentos humanos anormais ou doen- Ele morreu de fome.
tios por meio da hipnose. Insatisfeito com esse método, de fome: adjunto adverbial de causa, determina a cau-
criou o das “livres associações de ideias e de sentimentos”. sa na realização do fato (= morte de “ele”).
Terceiro Conceito do Texto: “Para este caminho de re- Ele morreu faminto.
gresso às origens de um trauma, Freud se utilizou especial- faminto: predicativo do sujeito, é o estado em que
mente da linguagem onírica dos pacientes, considerando os “ele” se encontrava quando morreu.
sonhos como compensação dos desejos insatisfeitos na fase - As orações coordenadas não têm oração principal,
de vigília.” Aqui, está explicitado que a descoberta das raí- apenas as ideias estão coordenadas entre si;
zes de um trauma se faz por meio da compreensão dos - Os adjetivos ligados a um substantivo vão dar a ele
sonhos, que seriam uma linguagem metafórica dos desejos maior clareza de expressão, aumentando-lhe ou determi-
não realizados ao longo da vida do dia a dia. nando-lhe o significado;
- Esclarecer o vocabulário;
Quarto Conceito do Texto: “Mas a grande novidade de - Entender o vocabulário;
Freud, que escandalizou o mundo cultural da época, foi a - Viver a história;
apresentação da tese de que toda neurose é de origem sexual.” - Ative sua leitura;
Por fim, o texto afirma que Freud escandalizou a sociedade - Ver, perceber, sentir, apalpar o que se pergunta e o que
de seu tempo, afirmando a novidade de que todo o trauma se pede;
psicológico é de origem sexual. - Não se deve preocupar com a arrumação das letras
nas alternativas;
Podemos, tranquilamente, ser bem-sucedidos numa - As perguntas são fáceis, dependendo de quem lê o
interpretação de texto. Para isso, devemos observar o se- texto ou como o leu;
guinte: - Cuidado com as opiniões pessoais, elas não existem;
- Sentir, perceber a mensagem do autor;
- Ler todo o texto, procurando ter uma visão geral do - Cuidado com a exatidão das questões em relação ao
assunto; texto;
- Se encontrar palavras desconhecidas, não interrompa - Descobrir o assunto e procurar pensar sobre ele;
a leitura, vá até o fim, ininterruptamente; - Todos os termos da análise sintática, cada termo tem
- Ler, ler bem, ler profundamente, ou seja, ler o texto seu valor, sua importância;
pelo menos umas três vezes; - Todas as orações subordinadas têm oração principal
- Ler com perspicácia, sutileza, malícia nas entrelinhas; e as ideias se completam.

4
LÍNGUA PORTUGUESA

Vícios de Leitura preocupamos em aprimorar este processo. É lendo que vamos


construindo nossos valores e estes são os responsáveis pela
Por acaso você tem o hábito de ler movimentando a ca- transformação dos fatos em objetos de nosso sentimento.
beça? Ou quem sabe, acompanhando com o dedo? Talvez Leitura é um dos grandes, senão o maior, ingrediente
vocalizando baixinho... Você não percebe, mas esses movi- da civilização. Ela é uma atividade ampla e livre, fato com-
mentos são alguns dos tantos que prejudicam a leitura. Es- provado pela frustração de algumas pessoas ao assistirem a
ses movimentos são conhecidos como vícios de linguagem. um filme, cuja história já foi lida em um livro. Quando lemos,
Movimentar a cabeça: procure perceber se você não está associamos as informações lidas à imensa bagagem de co-
movimentando a cabeça enquanto lê. Este movimento, ao fi- nhecimentos que temos armazenados em nosso cérebro e
nal de pouco tempo, gera muito cansaço além de não causar então somos capazes de criar, imaginar e sonhar.
nenhum efeito positivo. Durante a leitura apenas movimen- É por meio da leitura que podemos entrar em conta-
tamos os olhos. to com pessoas distantes ou do passado, observando suas
Regressar no texto, durante a leitura: pessoas que têm di- crenças, convicções e descobertas que foram imortalizadas
ficuldade de memorizar um assunto, que não compreendem por meio da escrita. Esta possibilita o avanço tecnológico e
algumas expressões ou palavras tendem a voltar na sua lei- científico, registrando os conhecimentos, levando-os a qual-
tura. Este movimento apenas incrementa a falta de memória, quer pessoa em qualquer lugar do mundo, desde que saibam
pois secciona a linha de raciocínio e raramente explica o des- decodificar a mensagem, interpretando os símbolos usados
conhecido, o que normalmente é elucidado no decorrer da como registro da informação. A leitura é o verdadeiro elo in-
leitura. Procure sempre manter uma sequência e não fique tegrador do ser humano e a sociedade em que ele vive!
“indo e vindo” no livro. O assunto pode se tornar um bicho O mundo de hoje é marcado pelo enorme fluxo de infor-
de sete cabeças! mações oferecidas a todo instante. É preciso também tornar-
Ler palavra por palavra: para escrever usamos muitas mo-nos mais receptivos e atentos, para nos mantermos atua-
palavras que apenas servem como adereços. Procure ler o lizados e competitivos. Para isso, é imprescindível leitura que
conjunto e perceber o seu significado. nos estimule cada vez mais em vista dos resultados que ela
Sub-vocalização: é o ato de repetir mentalmente a pala-
oferece. Se você pretende acompanhar a evolução do mundo,
vra. Isto só será corrigido quando conseguirmos ultrapassar
manter-se em dia, atualizado e bem informado, precisa preo-
a marca de 250 palavras por minuto.
cupar-se com a qualidade da sua leitura.
Usar apoios: algumas pessoas têm o hábito de acompa-
Observe: você pode gostar de ler sobre esoterismo e
nhar a leitura com réguas, apontando ou utilizando um objeto
uma pessoa próxima não se interessar por este assunto. Por
que salta “linha a linha”. O movimento dos olhos é muito mais
outro lado, será que esta mesma pessoa se interessa por um
rápido quando é livre do que quando o fazemos guiado por
livro que fale sobre História ou esportes? No caso da leitura,
qualquer objeto.
não existe livro interessante, mas leitores interessados.
Leitura Eficiente A pessoa que se preocupa com a qualidade de sua leitura
e com o resultado que poderá obter, deve pensar no ato de ler
Ao ler realizamos as seguintes operações: como um comportamento que requer alguns cuidados, para
ser realmente eficaz.
- Captamos o estímulo, ou seja, por meio da visão, enca-
minhamos o material a ser lido para nosso cérebro. - Atitude: pensamento positivo para aquilo que deseja
- Passamos, então, a perceber e a interpretar o dado ler. Manter-se descansado é muito importante também. Não
sensorial (palavras, números etc.) e a organizá-lo segundo adianta um desgaste físico enorme, pois a retenção da in-
nossa bagagem de conhecimentos anteriores. Para essa eta- formação será inversamente proporcional. Uma alimentação
pa, precisamos de motivação, de forma a tornar o processo adequada é muito importante.
mais otimizado possível. - Ambiente: o ambiente de leitura deve ser prepara-
- Assimilamos o conteúdo lido integrando-o ao nos- do para ela. Nada de ambientes com muitos estímulos que
so “arquivo mental” e aplicando o conhecimento ao nosso forcem a dispersão. Deve ser um local tranquilo, agradável,
cotidiano. ventilado, com uma cadeira confortável para o leitor e mesa
para apoiar o livro a uma altura que possibilite postura cor-
A leitura é um processo muito mais amplo do que pode- poral adequada. Quanto a iluminação, deve vir do lado pos-
mos imaginar. Ler não é unicamente interpretar os símbolos terior esquerdo, pois o movimento de virar a página aconte-
gráficos, mas interpretar o mundo em que vivemos. Na ver- cerá antes de ter sido lida a última linha da página direita e,
dade, passamos todo o nosso tempo lendo! de outra forma, haveria a formação de sombra nesta página,
O psicanalista francês Lacan disse que o olhar da mãe o que atrapalharia a leitura.
configura a estrutura psíquica da criança, ou seja, esta se vê - Objetos necessários: para evitar que, durante a lei-
a partir de como vê seu reflexo nos olhos da mãe! O bebê, tura, levantarmos para pegar algum objeto que julguemos
então, segundo esta citação, lê nos olhos da mãe o sentimen- importante, devemos colocar lápis, marca-texto e dicionário
to com que é recebido e interpreta suas emoções: se o que sempre à mão. Quanto sublinhar os pontos importantes do
encontra é rejeição, sua experiência básica será de terror; se texto, é preciso aprender a técnica adequada. Não o fazer na
encontra alegria, sua experiência será de tranquilidade, etc. Ler primeira leitura, evitando que os aspectos sublinhados pa-
está tão relacionado com o fato de existirmos que nem nos recem-se mais com um mosaico de informações aleatórias.

5
LÍNGUA PORTUGUESA

Os concursos apresentam questões interpretativas que Na verdade, quatro passos básicos para uma boa in-
têm por finalidade a identificação de um  leitor autônomo. terpretação político-ideológica de uma charge. Afinal, se a
Portanto, o candidato deve compreender os níveis estruturais corrida eleitoral para a Presidência da República já começou,
da língua por meio da lógica, além de necessitar de um bom não vai mal dar uma boa olhada nas charges publicadas em
léxico internalizado. cada jornal, impresso ou eletrônico, para ver o que se passa
As frases produzem significados diferentes de acordo na cabeça dos donos da grande mídia sobre esse momento
com o contexto em que estão inseridas. Torna-se, assim, ne- ímpar no processo democrático nacional…
cessário sempre fazer um confronto entre todas as partes que
compõem o texto. Além disso, é fundamental apreender as
informações apresentadas por trás do texto e as inferências a
que ele remete. Este procedimento justifica-se por um texto
ser sempre produto de uma postura ideológica do autor dian-
te de uma temática qualquer.

Como ler e interpretar uma charge

Interpretar cartuns, charges ou quadrinhos exigem três


habilidades: observação, conhecimento do assunto e vocabu-
lário adequado. A primeira permite que o leitor “veja” todos Amarildo. A Gazeta-ES, 12/04/2010
os ícones presentes - e dono da situação - dê início à des-
crição minuciosa, mas que prioriza as relevâncias. A segunda Passo 1: Procure saber do que a charge está tratando: A
requer um leitor “antenado” com o noticiário mais recente, charge geralmente está relacionada, por meio do uso de
caso contrário não será possível estabelecer sentidos para o ANALOGIAS, a uma notícia ou fato político, econômico, so-
que vê. A terceira encerra o ciclo, pois, sem dar nome ao que cial ou cultural. Portanto, a primeira tarefa de um “analis-
vê, o leitor não faz a tradução da imagem. ta de charges” será compreender a qual fato ou notícia a
Desse modo, interpretar charges - ou qualquer outra for- charge em questão está relacionada.
ma de expressão visual – exige procedimentos lógicos, aten-
ção aos detalhes e uma preocupação rigorosa em associar Passo 2: Entenda os elementos contidos na charge:
imagens aos fatos. Numa charge de crítica política ou econômica, sempre há
um protagonista e um antagonista da situação – ou seja,
um personagem alvejado pela crítica do chargista e outro
que faz a vez de porta-voz da crítica do chargista. Não ne-
cessariamente o antagonista aparece na cena… O próprio
cenário da charge, uma nota de rodapé ou a própria situa-
ção na qual o protagonista está inserido pode fazer a vez
de antagonista. Já nas charges de caráter social ou cultural,
geralmente não há protagonistas e antagonistas, mas ele-
mentos do fato ou da notícia que são caricaturizados – isto
é, retratados humoristicamente – com vistas a trazer força
à notícia representada na charge. No caso das charges de
crítica econômica e política, a identificação dos papéis de
protagonista e antagonista da situação é fundamental para
o próximo passo na interpretação desta charge.
Benett. Folha de São Paulo, 15/02/2010
Passo 3: Identifique a linha editorial do veículo de co-
Charges são desenhos humorísticos que se utilizam da municação: Não é novidade para nenhum de nós que a
ironia e do sarcasmo para a constituição de uma crítica a uma imparcialidade da informação é uma mera ilusão, da qual
situação social ou política vigente, e contra a qual se preten- nos convenceram de tanto repetir. Não existe imparciali-
de – ou ao menos se pretendia, na origem desse fenômeno dade nem nas ciências, quanto mais na imprensa! E por
artístico, na Inglaterra do século XIX – fazer uma oposição. mais que a manipulação da notícia seja um ato moralmen-
Diferente do cartoon, arte também surgida na Inglaterra e te execrável, a parcialidade na informação noticiada pelos
que pretendia parodiar situações do cotidiano da sociedade, meios de comunicação não apenas é inevitável, como tam-
constituindo assim uma crítica dos costumes que ultrapassa bém pode vir a ser benéfica no que tange ao processo da
os limites do tempo e projeta-se como crítica de época, a constituição de posicionamentos críticos e ideológicos no
charge é caracterizada especificamente por ser uma crônica, debate democrático. Reafirmando aquele lugar-comum,
ou seja, narra ou satiriza um fato acontecido em determinado mas válido, do dramaturgo Nelson Rodrigues (do qual eu
momento, e que perderá sua carga humorística ao ser des- nunca encontrei a citação, confesso), “toda unanimidade é
vencilhada do contexto temporal no qual está inserida. Toda- burra”. Por isso, é preciso compreender e identificar a linha
via, a palavra cartunista acabou designando, na nossa lingua- editorial do veículo de comunicação no qual a charge foi
gem cotidiana, a categoria de artistas que produz esse tipo de publicada, pois esta revela a ideologia que inspira o foco
desenho humorístico (charges ou cartoons) de parcialidade que este dá às suas notícias.

6
LÍNGUA PORTUGUESA

Toda fotografia é uma espécie de espelho da Alice do País


das Maravilhas, e cada pessoa que mergulha nesse espelho de
papel sai numa dimensão diferente e vivencia experiências di-
versas, pois o lado de lá é como o albergue espanhol do ditado:
cada um só encontra nele o que trouxe consigo. Além disso, o
significado de uma imagem muda com o passar do tempo, até
para o mesmo observador.
Variam, também, os níveis de percepção de uma foto-
grafia. Isso ocorre, na verdade, com todas as artes: um músi-
co, por exemplo, é capaz de perceber dimensões sonoras in-
teiramente insuspeitas para os leigos. Da mesma forma, um
fotógrafo profissional lê as imagens fotográficas de modo
diferente daqueles que desconhecem a sintaxe da fotografia,
a “escrita da luz”. Mas é difícil imaginar alguém que seja
Thiago Recchia. Gazeta do Povo, 01/04/2010 insensível à magia de uma foto.
(Adaptado de Pedro Vasquez, em Por trás daquela foto.
Passo 4: Compreenda qual o posicionamento ideológico São Paulo: Companhia das Letras, 2010)
frente ao fato, do qual a charge quer te convencer: Assim
como a notícia vem, como já foi comentado, carregada de 1. O segmento do texto que ressalta a ação mesma da
parcialidade ideológica, a charge não está longe de ser um percepção de uma foto é:
meio propício de comunicação de um ponto de vista. E (A) A câmara fotográfica é uma verdadeira máquina do
com um detalhe a mais: a charge convence! Por seu efei- tempo.
to humorístico, a crítica proposta pela charge permanece (B) a fotografia congela o tempo.
enraizada por tempo indeterminado em nossa imagina- (C) nosso olhar é a varinha de condão que descongela o
ção e, por decorrência, como vários autores da consagra- instante aprisionado.
da psicologia da imagem já demonstraram, nos processos (D) o significado de uma imagem muda com o passar do
inconscientes que podem influenciar as decisões e esco- tempo.
lhas que julgamos serem estritamente voluntárias. Com- (E) Mas é difícil imaginar alguém que seja insensível à ma-
preender a mensagem ideológica da qual é composta uma gia de uma foto.
charge acaba tendo a função de tornar conscientes estes
processos, fazendo com que nossa decisão seja funda- 2. No contexto do último parágrafo, a referência aos vários
mentada numa decisão mais racional e posicionada, e ao níveis de percepção de uma fotografia remete
mesmo tempo menos ingênua e caricata da situação. Aí, (A) à diversidade das qualidades intrínsecas de uma foto.
sim, a charge poderá auxiliar na formulação clara e cônscia (B) às diferenças de qualificação do olhar dos observadores.
de um posicionamento perante os fatos e notícias apre- (C) aos graus de insensibilidade de alguns diante de uma foto.
sentados por esses meios de comunicação! (D) às relações que a fotografia mantém com as outras artes.
(E) aos vários tempos que cada fotografia representa em
Exercícios si mesma.

Atenção: As questões de números 1 a 5 referem-se ao 3. Atente para as seguintes afirmações:


texto seguinte. I. Ao dizer, no primeiro parágrafo, que a fotografia congela
o tempo, o autor defende a ideia de que a realidade apreendi-
Fotografias da numa foto já não pertence a tempo algum.
II. No segundo parágrafo, a menção ao ditado sobre o al-
Toda fotografia é um portal aberto para outra dimen- bergue espanhol tem por finalidade sugerir que o olhar do
são: o passado. A câmara fotográfica é uma verdadeira má- observador não interfere no sentido próprio e particular de
quina do tempo, transformando o que é naquilo que já não uma foto.
é mais, porque o que temos diante dos olhos é transmu- III. Um fotógrafo profissional, conforme sugere o terceiro
dado imediatamente em passado no momento do clique. parágrafo, vê não apenas uma foto, mas os recursos de uma
Costumamos dizer que a fotografia congela o tempo, pre- linguagem específica nela fixados.
servando um momento passageiro para toda a eternidade, Em relação ao texto, está correto o que se afirma SOMEN-
e isso não deixa de ser verdade. Todavia, existe algo que TE em
descongela essa imagem: nosso olhar. Em francês, imagem (A) I e II.
e magia contêm as mesmas cinco letras: image e magie. (B) II e III.
Toda imagem é magia, e nosso olhar é a varinha de condão (C) I.
que descongela o instante aprisionado nas geleiras eternas (D) II.
do tempo fotográfico. (E) III.

7
LÍNGUA PORTUGUESA

4. No contexto do primeiro parágrafo, o segmento Toda- 6. A afirmação de que os dicionários podem ajudar a in-
via, existe algo que descongela essa imagem pode ser substituí- cendiar debates confirma-se, no texto, pelo fato de que o ver-
do, sem prejuízo para a correção e a coerência do texto, por: bete discriminar
(A) Tendo isso em vista, há que se descongelar essa imagem. (A) padece de um sentido vago e impreciso, gerando por
(B) Ainda assim, há mais que uma imagem descongelada. isso inúmeras controvérsias entre os usuários.
(C) Apesar de tudo, essa imagem descongela algo. (B) apresenta um sentido secundário, variante de seu sen-
(D) Há, não obstante, o que faz essa imagem descongelar. tido principal, que não é reconhecido por todos.
(E) Há algo, outrossim, que essa imagem descongelará. (C) abona tanto o sentido legítimo como o ilegítimo que
se costuma atribuir a esse vocábulo.
5. Está clara e correta a redação deste livre comentário so- (D) faz pensar nas dificuldades que existem quando se tra-
bre o texto: ta de determinar a origem de um vocábulo.
(A) Apesar de se ombrearem com outras artes plásticas, (E) desdobra-se em acepções contraditórias que corres-
a fotografia nos faz desfrutar e viver experiências de natureza pondem a convicções incompatíveis.
igualmente temporal.
(B) Na superfície espacial de uma fotografia, nem se ima- 7. Diz-se que tratar igualmente os desiguais é perpetuar a
gine os tempos a que suscitarão essa imagem aparentemente desigualdade.
congelada... Da afirmação acima é coerente deduzir esta outra:
(C) Conquanto seja o registro de um determinado espaço, (A) Os homens são desiguais porque foram tratados com
uma foto leva-nos a viver profundas experiências de caráter o mesmo critério de igualdade.
temporal. (B) A igualdade só é alcançável se abolida a fixação de um
(D) Tal como ocorrem nos espelhos da Alice, as experiên- mesmo critério para casos muito diferentes.
cias físicas de uma fotografia podem se inocular em planos (C) Quando todos os desiguais são tratados desigualmen-
temporais. te, a desigualdade definitiva torna-se aceitável.
(E) Nenhuma imagem fotográfica é congelada suficien- (D) Uma forma de perpetuar a igualdade está em sempre
temente para abrir mão de implicâncias semânticas no plano
tratar os iguais como se fossem desiguais.
temporal.
(E) Critérios diferentes implicam desigualdades tais que os
injustiçados são sempre os mesmos.
Atenção: As questões de números 6 a 9 referem-se ao tex-
to seguinte.
8. Considerando-se o contexto, traduz-se adequadamen-
te o sentido de um segmento em:
Discriminar ou discriminar?
(A) iluminar teses controvertidas (1º parágrafo) = amainar
Os dicionários não são úteis apenas para esclarecer o sen-
tido de um vocábulo; ajudam, com frequência, a iluminar teses posições dubitativas.
controvertidas e mesmo a incendiar debates. Vamos ao Dicio- (B) um preciso discernimento (2º parágrafo) = uma arrai-
nário Houaiss, ao verbete discriminar, e lá encontramos, entre gada dissuasão.
outras, estas duas acepções: a) perceber diferenças; distinguir, (C) disseminar o juízo preconcebido (2º parágrafo) = dis-
discernir; b) tratar mal ou de modo injusto, desigual, um indiví- suadir o julgamento predestinado.
duo ou grupo de indivíduos, em razão de alguma característi- (D) a forma mais censurável (3º parágrafo) = o modo mais
ca pessoal, cor da pele, classe social, convicções etc. repreensível.
Na primeira acepção, discriminar é dar atenção às diferen- (E) As acepções são inconciliáveis (3º parágrafo) = as ver-
ças, supõe um preciso discernimento; o termo transpira o senti- sões são inatacáveis.
do positivo de quem reconhece e considera o estatuto do que é
diferente. Discriminar o certo do errado é o primeiro passo no 9. É preciso reelaborar, para sanar falha estrutural, a reda-
caminho da ética. Já na segunda acepção, discriminar é deixar ção da seguinte frase:
agir o preconceito, é disseminar o juízo preconcebido. Discrimi- (A) O autor do texto chama a atenção para o fato de que
nar alguém: fazê-lo objeto de nossa intolerância. o desejo de promover a igualdade corre o risco de obter um
Diz-se que tratar igualmente os desiguais é perpetuar a de- efeito contrário.
sigualdade. Nesse caso, deixar de discriminar (no sentido de dis- (B) Embora haja quem aposte no critério único de julga-
cernir) é permitir que uma discriminação continue (no sentido de mento, para se promover a igualdade, visto que desconside-
preconceito). Estamos vivendo uma época em que a bandeira da ram o risco do contrário.
discriminação se apresenta em seu sentido mais positivo: trata-se (C) Quem vê como justa a aplicação de um mesmo crité-
de aplicar políticas afirmativas para promover aqueles que vêm rio para julgar casos diferentes não crê que isso reafirme uma
sofrendo discriminações históricas. Mas há, por outro lado, quem situação de injustiça.
veja nessas propostas afirmativas a forma mais censurável de (D) Muitas vezes é preciso corrigir certas distorções apli-
discriminação... É o caso das cotas especiais para vagas numa cando-se medidas que, à primeira vista, parecem em si mes-
universidade ou numa empresa: é uma discriminação, cujo senti- mas distorcidas.
do positivo ou negativo depende da convicção de quem a avalia. (E) Em nossa época, há desequilíbrios sociais tão graves
As acepções são inconciliáveis, mas estão no mesmo verbete do que tornam necessários os desequilíbrios compensatórios de
dicionário e se mostram vivas na mesma sociedade. uma ação corretiva.
(Aníbal Lucchesi, inédito)

8
LÍNGUA PORTUGUESA

Atenção: As questões de números 10 a 14 referem-se 11. Atente para as seguintes afirmações sobre o texto:
à crônica abaixo. I. A analogia entre a baleia e a União Soviética insinua,
entre outros termos de aproximação, o encalhe dos gigantes.
Bom para o sorveteiro II. As reações dos envolvidos no episódio da baleia en-
Por alguma razão inconsciente, eu fugia da notícia. Mas calhada revelam que, acima das diferentes providências, ati-
a notícia me perseguia. Até no avião, o único jornal abria na nham-se todos a um mesmo propósito.
minha cara o drama da baleia encalhada na praia de Saqua- III. A expressão Tudo é símbolo prende-se ao fato de que o
rema. Afinal, depois de quase três dias se debatendo na areia autor aproveitou o episódio da baleia encalhada para também
figurar o encalhe de um país imobilizado pela alta inflação.
da praia e na tela da televisão, o filhote de jubarte conseguiu
Em relação ao texto, está correto o que se afirma em
ser devolvido ao mar. Até a União Soviética acabou, como
(A) I, II e III.
foi dito por locutores especializados em necrológio eufórico.
(B) I e III, apenas.
Mas o drama da baleia não acabava. Centenas de curiosos (C) II e III, apenas.
foram lá apreciar aquela montanha de força a se esfalfar em (D) I e II, apenas.
vão na luta pela sobrevivência. Um belo espetáculo. (E) III, apenas.
À noite, cessava o trabalho, ou a diversão. Mas já ao
raiar do dia, sem recursos, com simples cordas e as próprias 12. Foram irrelevantes para a salvação da baleia estes
mãos, todos se empenhavam no lúcido objetivo comum. Co- dois fatores:
mum, vírgula. O sorveteiro vendeu centenas de picolés. Por (A) o necrológio da União Soviética e os serviços da trai-
ele a baleia ficava encalhada por mais duas ou três semanas. neira da Petrobrás.
Uma santa senhora teve a feliz ideia de levar pastéis e em- (B) o prestígio dos valores ecológicos e o empenho no
padinhas para vender com ágio. Um malvado sugeriu que se lúcido objetivo comum.
desse por perdida a batalha e se começasse logo a repartir (C) o fato de a jubarte ser um animal de sangue frio e o
os bifes. prestígio dos valores ecológicos.
Em 1966, uma baleia adulta foi parar ali mesmo e em (D) o fato de a Petrobrás ser uma empresa estatal e as
quinze minutos estava toda retalhada. Muitos se lembravam iniciativas que couberam a uma traineira.
da alegria voraz com que foram disputadas as toneladas da (E) o aproveitamento comercial da situação e a força des-
comunal empregada pela jubarte.
vítima. Essa de agora teve mais sorte. Foi salva graças à re-
ligião ecológica que anda na moda e que por um momento
13. Considerando-se o contexto, traduz-se adequada-
estabeleceu uma trégua entre todos nós, animais de sangue
mente o sentido de um segmento em:
quente ou de sangue frio. (A) em necrológio eufórico (1º parágrafo) = em façanha
Até que enfim chegou uma traineira da Petrobrás. Logo mortal.
uma estatal, ó céus, num momento em que é preciso dar (B) Comum, vírgula (2º parágrafo) = Geral, mas nem tanto.
provas da eficácia da empresa privada. De qualquer forma, (C) que se desse por perdida a batalha (2º parágrafo) =
eu já podia recolher a minha aflição. Metáfora fácil, lá se foi, que se imaginasse o efeito de uma derrota.
espero que salva, a baleia de Saquarema. O maior animal (D) estabeleceu uma trégua entre todos nós (3º parágrafo)
do mundo, assim frágil, à mercê de curiosos. À noite, sonhei = derrogou uma imunidade para nós todos.
com o Brasil encalhado na areia diabólica da inflação. A bor- (E) é preciso dar provas da eficácia (4º parágrafo) = con-
do, uma tripulação de camelôs anunciava umas bugigangas. vém explicitar os bons propósitos.
Tudo fala. Tudo é símbolo.
(Otto Lara Resende, Folha de S. Paulo) 14. Está clara e correta a redação deste livre comentário
sobre o último parágrafo do texto.
10. O cronista ressalta aspectos contrastantes do caso (A) Apesar de tratar do drama ocorrido com uma baleia, o
de Saquarema, tal como se observa na relação entre estas cronista não deixa de aludir a circunstâncias nacionais, como
duas expressões: o impulso para as privatizações e os custos da alta inflação.
(B) Mormente tratando de uma jubarte encalhado, o
(A) drama da baleia encalhada e três dias se debatendo
cronista não obsta em tratar de assuntos da pauta nacional,
na areia.
como a inflação ou o processo empresarial das privatizações.
(B) em quinze minutos estava toda retalhada e foram
(C) Vê-se que um cronista pode assumir, como aqui ocor-
disputadas as toneladas da vítima. reu, o papel tanto de um repórter curioso como analisar fatos
(C) se esfalfar em vão na luta pela sobrevivência e levar oportunos, qual seja a escalada inflacionária ou a privatização.
pastéis e empadinhas para vender com ágio. (D) O incidente da jubarte encalhado não impediu de que
(D) o filhote de jubarte conseguiu ser devolvido ao mar e o cronista se valesse de tal episódio para opinar diante de
lá se foi, espero que salva, a baleia de Saquarema. outros fatos, haja vista a inflação nacional ou a escalada das
(E) Até que enfim chegou uma traineira da Petrobrás e privatizações.
Logo uma estatal, ó céus. (E) Ao bom cronista ocorre associar um episódio como
o da jubarte com a natureza de outros, bem distintos, sejam
os da economia inflacionada, sejam o crescente prestígio das
privatizações.

9
LÍNGUA PORTUGUESA

Atenção: As questões de números 15 a 18 referem-se ao II. O autor do texto manifesta-se francamente favorável
texto abaixo. à razão do mérito, a menos que uma situação de real im-
passe imponha a resolução pelo voto.
A razão do mérito e a do voto III. A conotação pejorativa que o uso de aspas confe-
re ao termo “assembleísmo” expressa o ponto de vista dos
Um ministro, ao tempo do governo militar, irritado com a que desconsideram a qualificação técnica.
campanha pelas eleições diretas para presidente da Repúbli- Em relação ao texto, está correto SOMENTE o que se afir-
ca, buscou minimizar a importância do voto com o seguinte ma em
argumento: − Será que os passageiros de um avião gostariam (A) I.
de fazer uma eleição para escolher um deles como piloto de (B) II.
seu voo? Ou prefeririam confiar no mérito do profissional mais (C) III.
abalizado? (D) I e II.
A perfídia desse argumento está na falsa analogia entre (E) II e III.
uma função eminentemente técnica e uma função eminente-
mente política. No fundo, o ministro queria dizer que o governo 17. Considerando-se o contexto, são expressões bas-
estava indo muito bem nas mãos dos militares e que estes sa- tante próximas quanto ao sentido:
beriam melhor que ninguém prosseguir no comando da nação. (A) fazer uma eleição e confiar no mérito do profissional.
Entre a escolha pelo mérito e a escolha pelo voto há neces- (B) especialidade técnica e vocação política.
sidades muito distintas. Num concurso público, por exemplo, a (C) classificação de profissionais e escolha da liderança.
avaliação do mérito pessoal do candidato se impõe sobre qual- (D) avaliação do mérito e reconhecimento da qualificação.
quer outra. A seleção e a classificação de profissionais devem (E) transparência do método e desejo da maioria.
ser processos marcados pela transparência do método e pela
adequação aos objetivos. Já a escolha da liderança de uma as- 18. Atente para a redação do seguinte comunicado:
sociação de classe, de um sindicato deve ocorrer em confor-
Viemos por esse intermédio convocar-lhe para a as-
midade com o desejo da maioria, que escolhe livremente seu
sembleia geral da próxima sexta-feira, aonde se decidi-
representante. Entre a especialidade técnica e a vocação polí-
rá os rumos do nosso movimento reivindicatório.
tica há diferenças profundas de natureza, que pedem distintas
formas de reconhecimento.
As falhas do texto encontram-se plenamente sanadas em:
Essas questões vêm à tona quando, em certas instituições,
(A) Vimos, por este intermédio, convocá-lo para a as-
o prestígio do “assembleísmo” surge como absoluto. Há quem
sembleia geral da próxima sexta-feira, quando se decidirão
pretenda decidir tudo no voto, reconhecendo numa assembleia
os rumos do nosso movimento reivindicatório.
a “soberania” que a qualifica para a tomada de qualquer deci- (B) Viemos por este intermédio convocar-lhe para a as-
são. Não por acaso, quando alguém se opõe a essa generaliza- sembleia geral da próxima sexta-feira, onde se decidirá os
ção, lembrando a razão do mérito, ouvem-se diatribes contra rumos do nosso movimento reivindicatório.
a “meritocracia”. Eis aí uma tarefa para nós todos: reconhecer, (C) Vimos, por este intermédio, convocar-lhe para a as-
caso a caso, a legitimidade que tem a decisão pelo voto ou pelo sembleia geral da próxima sexta-feira, em cuja se decidirão
reconhecimento da qualificação indispensável. Assim, não ele- os rumos do nosso movimento reivindicatório.
geremos deputado alguém sem espírito público, nem votare- (D) Vimos por esse intermédio convocá-lo para a assem-
mos no passageiro que deverá pilotar nosso avião. bleia geral da próxima sexta-feira, em que se decidirá os ru-
(Júlio Castanho de Almeida, inédito) mos do nosso movimento reivindicatório.
(E) Viemos, por este intermédio, convocá-lo para a as-
15. Deve-se presumir, com base no texto, que a razão do sembleia geral da próxima sexta-feira, em que se decidirão
mérito e a razão do voto devem ser consideradas, diante da os rumos do nosso movimento reivindicatório.
tomada de uma decisão,
(A) complementares, pois em separado nenhuma delas Respostas: 01-C / 02-B / 03-E / 04-D / 05-C / 06-E / 07-B
satisfaz o que exige uma situação dada. / 08-D / 09-B / 10-C / 11-B / 12-E / 13-B / 14-A / 15-E / 16-A
(B) excludentes, já que numa votação não se leva em con- / 17-D / 18-A
ta nenhuma questão de mérito.
(C) excludentes, já que a qualificação por mérito pressu- Significação das Palavras
põe que toda votação é ilegítima.
(D) conciliáveis, desde que as mesmas pessoas que votam Quanto à significação, as palavras são divididas nas se-
sejam as que decidam pelo mérito. guintes categorias:
(E) independentes, visto que cada uma atende a necessi-
dades de bem distintas naturezas. Sinônimos: são palavras de sentido igual ou aproxima-
do. Exemplo:
16. Atente para as seguintes afirmações: - Alfabeto, abecedário.
I. A argumentação do ministro, referida no primeiro pa- - Brado, grito, clamor.
rágrafo, é rebatida pelo autor do texto por ser falaciosa e - Extinguir, apagar, abolir, suprimir.
escamotear os reais interesses de quem a formula. - Justo, certo, exato, reto, íntegro, imparcial.

10
LÍNGUA PORTUGUESA

Na maioria das vezes não é indiferente usar um sinô- Homófonos Heterográficos: iguais na pronúncia e di-
nimo pelo outro. Embora irmanados pelo sentido comum, ferentes na escrita.
os sinônimos diferenciam-se, entretanto, uns dos outros, - Acender (atear, pôr fogo) e ascender (subir).
por matizes de significação e certas propriedades que o - Concertar (harmonizar) e consertar (reparar, emendar).
escritor não pode desconhecer. Com efeito, estes têm sen- - Concerto (harmonia, sessão musical) e conserto (ato
tido mais amplo, aqueles, mais restrito (animal e quadrúpe- de consertar).
de); uns são próprios da fala corrente, desataviada, vulgar, - Cegar (tornar cego) e segar (cortar, ceifar).
outros, ao invés, pertencem à esfera da linguagem culta, - Apreçar (determinar o preço, avaliar) e apressar (acelerar).
literária, científica ou poética (orador e tribuno, oculista e - Cela (pequeno quarto), sela (arreio) e sela (verbo selar).
oftalmologista, cinzento e cinéreo). - Censo (recenseamento) e senso ( juízo).
A contribuição Greco-latina é responsável pela existên- - Cerrar (fechar) e serrar (cortar).
cia, em nossa língua, de numerosos pares de sinônimos. - Paço (palácio) e passo (andar).
Exemplos: - Hera (trepadeira) e era (época), era (verbo).
- Adversário e antagonista. - Caça (ato de caçar), cassa (tecido) e cassa (verbo cas-
- Translúcido e diáfano. sar = anular).
- Semicírculo e hemiciclo. - Cessão (ato de ceder), seção (divisão, repartição) e
- Contraveneno e antídoto. sessão (tempo de uma reunião ou espetáculo).
- Moral e ética.
- Colóquio e diálogo. Homófonos Homográficos: iguais na escrita e na pro-
- Transformação e metamorfose. núncia.
- Oposição e antítese. - Caminhada (substantivo), caminhada (verbo).
- Cedo (verbo), cedo (advérbio).
O fato linguístico de existirem sinônimos chama-se sinoní- - Somem (verbo somar), somem (verbo sumir).
mia, palavra que também designa o emprego de sinônimos. - Livre (adjetivo), livre (verbo livrar).
- Pomos (substantivo), pomos (verbo pôr).
Antônimos: são palavras de significação oposta. Exemplos:
- Alude (avalancha), alude (verbo aludir).
- Ordem e anarquia.
- Soberba e humildade.
Parônimos: são palavras parecidas na escrita e na pro-
- Louvar e censurar.
núncia: Coro e couro, cesta e sesta, eminente e iminente,
- Mal e bem.
tetânico e titânico, atoar e atuar, degradar e degredar, céti-
co e séptico, prescrever e proscrever, descrição e discrição,
A antonímia pode originar-se de um prefixo de senti-
do oposto ou negativo. Exemplos: Bendizer/maldizer, sim- infligir (aplicar) e infringir (transgredir), osso e ouço, sede
pático/antipático, progredir/regredir, concórdia/discórdia, (vontade de beber) e cede (verbo ceder), comprimento e
explícito/implícito, ativo/inativo, esperar/desesperar, co- cumprimento, deferir (conceder, dar deferimento) e diferir
munista/anticomunista, simétrico/assimétrico, pré-nupcial/ (ser diferente, divergir, adiar), ratificar (confirmar) e retifi-
pós-nupcial. car (tornar reto, corrigir), vultoso (volumoso, muito grande:
soma vultosa) e vultuoso (congestionado: rosto vultuoso).
Homônimos: são palavras que têm a mesma pronún-
cia, e às vezes a mesma grafia, mas significação diferente. Polissemia: Uma palavra pode ter mais de uma signifi-
Exemplos: cação. A esse fato linguístico dá-se o nome de polissemia.
- São (sadio), são (forma do verbo ser) e são (santo). Exemplos:
- Aço (substantivo) e asso (verbo). - Mangueira: tubo de borracha ou plástico para regar
as plantas ou apagar incêndios; árvore frutífera; grande
Só o contexto é que determina a significação dos ho- curral de gado.
mônimos. A homonímia pode ser causa de ambiguidade, - Pena: pluma, peça de metal para escrever; punição; dó.
por isso é considerada uma deficiência dos idiomas. - Velar: cobrir com véu, ocultar, vigiar, cuidar, relativo
O que chama a atenção nos homônimos é o seu aspec- ao véu do palato.
to fônico (som) e o gráfico (grafia). Daí serem divididos em: Podemos citar ainda, como exemplos de palavras po-
lissêmicas, o verbo dar e os substantivos linha e ponto, que
Homógrafos Heterofônicos: iguais na escrita e dife- têm dezenas de acepções.
rentes no timbre ou na intensidade das vogais.
- Rego (substantivo) e rego (verbo). Sentido Próprio e Sentido Figurado: as palavras po-
- Colher (verbo) e colher (substantivo). dem ser empregadas no sentido próprio ou no sentido fi-
- Jogo (substantivo) e jogo (verbo). gurado. Exemplos:
- Apoio (verbo) e apoio (substantivo). - Construí um muro de pedra. (sentido próprio).
- Para (verbo parar) e para (preposição). - Ênio tem um coração de pedra. (sentido figurado).
- Providência (substantivo) e providencia (verbo). - As águas pingavam da torneira, (sentido próprio).
- Às (substantivo), às (contração) e as (artigo). - As horas iam pingando lentamente, (sentido figurado).
- Pelo (substantivo), pelo (verbo) e pelo (contração de per+o).

11
LÍNGUA PORTUGUESA

Denotação e Conotação: Observe as palavras em des- 07. O ...... do prefeito foi ..... ontem.
taque nos seguintes exemplos: a) mandado - caçado
- Comprei uma correntinha de ouro. b) mandato - cassado
- Fulano nadava em ouro. c) mandato - caçado
No primeiro exemplo, a palavra ouro denota ou desig- d) mandado - casçado
na simplesmente o conhecido metal precioso, tem sentido e) mandado - cassado
próprio, real, denotativo.
No segundo exemplo, ouro sugere ou evoca riquezas,
08. Marque a alternativa cujas palavras preenchem cor-
poder, glória, luxo, ostentação; tem o sentido conotativo,
possui várias conotações (ideias associadas, sentimentos, retamente as respectivas lacunas, na frase seguinte: “Ne-
evocações que irradiam da palavra). cessitando ...... o número do cartão do PIS, ...... a data de
meu nascimento.”
Exercícios a) ratificar, proscrevi
b) prescrever, discriminei
01. Estava ....... a ....... da guerra, pois os homens ....... nos c) descriminar, retifiquei
erros do passado. d) proscrever, prescrevi
a) eminente, deflagração, incidiram e) retificar, ratifiquei
b) iminente, deflagração, reincidiram
c) eminente, conflagração, reincidiram 09. “A ......... científica do povo levou-o a .... de feiticeiros
d) preste, conflaglação, incidiram os ..... em astronomia.”
e) prestes, flagração, recindiram a) insipiência tachar expertos
b) insipiência taxar expertos
02. “Durante a ........ solene era ........ o desinteresse do c) incipiência taxar espertos
mestre diante da ....... demonstrada pelo político”. d) incipiência tachar espertos
a) seção - fragrante - incipiência e) insipiência taxar espertos
b) sessão - flagrante - insipiência
c) sessão - fragrante - incipiência 10. Na oração: Em sua vida, nunca teve muito ......, apre-
d) cessão - flagrante - incipiência sentava-se sempre ...... no ..... de tarefas ...... . As palavras
e) seção - flagrante - insipiência adequadas para preenchimento das lacunas são:
a) censo - lasso - cumprimento - eminentes
03. Na ..... plenária estudou-se a ..... de direitos territo- b) senso - lasso - cumprimento - iminentes
riais a ..... . c) senso - laço - comprimento - iminentes
a) sessão - cessão - estrangeiros d) senso - laço - cumprimento - eminentes
b) seção - cessão - estrangeiros e) censo - lasso - comprimento - iminentes
c) secção - sessão - extrangeiros
d) sessão - seção - estrangeiros
e) seção - sessão - estrangeiros Respostas: (01.B)(02.B)(03.A)(04.D)(05.B)(06.C)(07.B)
(08.E)(09.A)(10.B)
04. Há uma alternativa errada. Assinale-a:
a) A eminente autoridade acaba de concluir uma via- Coesão
gem política.
b) A catástrofe torna-se iminente. Uma das propriedades que distinguem um texto de
c) Sua ascensão foi rápida. um amontoado de frases é a relação existente entre os ele-
d) Ascenderam o fogo rapidamente. mentos que os constituem. A coesão textual é a ligação,
e) Reacendeu o fogo do entusiasmo. a relação, a conexão entre palavras, expressões ou frases
do texto. Ela manifesta-se por elementos gramaticais, que
05. Há uma alternativa errada. Assinale-a: servem para estabelecer vínculos entre os componentes do
a) cozer = cozinhar; coser = costurar texto. Observe:
b) imigrar = sair do país; emigrar = entrar no país
“O iraquiano leu sua declaração num bloquinho comum
c) comprimento = medida; cumprimento = saudação
de anotações, que segurava na mão.”
d) consertar = arrumar; concertar = harmonizar
e) chácara = sítio; xácara = verso
Nesse período, o pronome relativo “que” estabelece
06. Assinale o item em que a palavra destacada está conexão entre as duas orações. O iraquiano leu sua decla-
incorretamente aplicada: ração num bloquinho comum de anotações e segurava na
a) Trouxeram-me um ramalhete de flores fragrantes. mão, retomando na segunda um dos termos da primeira:
b) A justiça infligiu a pena merecida aos desordeiros. bloquinho. O pronome relativo é um elemento coesivo, e a
c) Promoveram uma festa beneficiente para a creche. conexão entre as duas orações, um fenômeno de coesão.
d) Devemos ser fiéis ao cumprimento do dever. Leia o texto que segue:
e) A cessão de terras compete ao Estado.

12
LÍNGUA PORTUGUESA

Arroz-doce da infância “Ele era muito diferente de seu mestre, a quem sucedera
na cátedra de Sociologia na Universidade de São Paulo.”
Ingredientes O pronome relativo “quem” retoma o substantivo mestre.
1 litro de leite desnatado
150g de arroz cru lavado “As pessoas simplificam Machado de Assis; elas o veem
1 pitada de sal como um pensador cín iço e descrente do amor e da amizade.”
4 colheres (sopa) de açúcar O pronome pessoal “elas” recupera o substantivo pessoas;
1 colher (sobremesa) de canela em pó o pronome pessoal “o” retoma o nome Machado de Assis.

Preparo “Os dois homens caminhavam pela calçada, ambos tra-


Em uma panela ferva o leite, acrescente o arroz, a pitada jando roupa escura.”
de sal e mexa sem parar até cozinhar o arroz. Adicione o O numeral “ambos” retoma a expressão os dois homens.
açúcar e deixe no fogo por mais 2 ou 3 minutos. Despeje em
um recipiente, polvilhe a canela. Sirva. “Fui ao cinema domingo e, chegando lá, fiquei desani-
Cozinha Clássica Baixo Colesterol, nº4. mado com a fila.”
São Paulo, InCor, agosto de 1999, p. 42. O advérbio “lá” recupera a expressão ao cinema.

Toda receita culinária tem duas partes: lista dos ingre- “O governador vai pessoalmente inaugurar a creche dos
dientes e modo de preparar. As informações apresentadas na funcionários do palácio, e o fará para demonstrar seu apreço
primeira são retomadas na segunda. Nesta, os nomes men- aos servidores.”
cionados pela primeira vez na lista de ingredientes vêm prece- A forma verbal “fará” retoma a perífrase verbal vai
didos de artigo definido, o qual exerce, entre outras funções, inaugurar e seu complemento.
a de indicar que o termo determinado por ele se refere ao
mesmo ser a que uma palavra idêntica já fizera menção. - Em princípio, o termo a que o anafórico se refere deve es-
No nosso texto, por exemplo, quando se diz que se tar presente no texto, senão a coesão fica comprometida, como
adiciona o açúcar, o artigo citado na primeira parte. Se neste exemplo:
dissesse apenas adicione açúcar, deveria adicionar, pois se
trataria de outro açúcar, diverso daquele citado no rol dos “André é meu grande amigo. Começou a namorá-la há
ingredientes. vários meses.”
Há dois tipos principais de mecanismos de coesão: re- A rigor, não se pode dizer que o pronome “la” seja um
tomada ou antecipação de palavras, expressões ou frases e anafórico, pois não está retomando nenhuma das palavras
encadeamento de segmentos. citadas antes. Exatamente por isso, o sentido da frase fica to-
talmente prejudicado: não há possibilidade de se depreen-
Retomada ou Antecipação por meio de uma palavra der o sentido desse pronome.
gramatical Pode ocorrer, no entanto, que o anafórico não se refi-
(pronome, verbos ou advérbios) ra a nenhuma palavra citada anteriormente no interior do
texto, mas que possa ser inferida por certos pressupostos
“No mercado de trabalho brasileiro, ainda hoje não há típicos da cultura em que se inscreve o texto. É o caso de
total igualdade entre homens e mulheres: estas ainda ga- um exemplo como este:
nham menos do que aqueles em cargos equivalentes.”
“O casamento teria sido às 20 horas. O noivo já estava
Nesse período, o pronome demonstrativo “estas” reto- desesperado, porque eram 21 horas e ela não havia compa-
ma o termo mulheres, enquanto “aqueles” recupera a pala- recido.”
vra homens. Por dados do contexto cultural, sabe-se que o prono-
Os termos que servem para retomar outros são de- me “ela” é um anafórico que só pode estar-se referindo à
nominados anafóricos; os que servem para anunciar, para palavra noiva. Num casamento, estando presente o noivo,
antecipar outros são chamados catafóricos. No exemplo a o desespero só pode ser pelo atraso da noiva (representa-
seguir, desta antecipa abandonar a faculdade no último ano: da por “ela” no exemplo citado).
- O artigo indefinido serve geralmente para introduzir
“Já viu uma loucura desta, abandonar a faculdade no informações novas ao texto. Quando elas forem retomadas,
último ano?” deverão ser precedidas do artigo definido, pois este é que
São anafóricos ou catafóricos os pronomes demons- tem a função de indicar que o termo por ele determinado
trativos, os pronomes relativos, certos advérbios ou locu- é idêntico, em termos de valor referencial, a um termo já
ções adverbiais (nesse momento, então, lá), o verbo fazer, mencionado.
o artigo definido, os pronomes pessoais de 3ª pessoa (ele,
o, a, os, as, lhe, lhes), os pronomes indefinidos. Exemplos:

13
LÍNGUA PORTUGUESA

“O encarregado da limpeza encontrou uma carteira na A repetição do termo presidente estabelece a coesão
sala de espetáculos. Curiosamente, a carteira tinha muito di- entre o último período e o que vem antes dele.
nheiro dentro, mas nem um documento sequer.”
- Quando, em dado contexto, o anafórico pode referir-se “Observava as estrelas, os planetas, os satélites. Os as-
a dois termos distintos, há uma ruptura de coesão, porque tros sempre o atraíram.
ocorre uma ambiguidade insolúvel. É preciso que o texto seja Os dois períodos estão relacionados pelo hiperônimo
escrito de tal forma que o leitor possa determinar exatamente astros, que recupera os hipônimos estrelas, planetas, satélites.
qual é a palavra retomada pelo anafórico.
“Eles (os alquimistas) acreditavam que o organismo do
“Durante o ensaio, o ator principal brigou com o diretor por homem era regido por humores (fluidos orgânicos) que per-
causa da sua arrogância.” corriam, ou apenas existiam, em maior ou menor intensidade
O anafórico “sua” pode estar-se referindo tanto à palavra em nosso corpo. Eram quatro os humores: o sangue, a fleuma
ator quanto a diretor. (secreção pulmonar), a bile amarela e a bile negra. E eram
também estes quatro fluidos ligados aos quatro elementos
“André brigou com o ex-namorado de uma amiga, que tra- fundamentais: ao Ar (seco), à Água (úmido), ao Fogo (quente)
balha na mesma firma.” e à Terra (frio), respectivamente.”
Não se sabe se o anafórico “que” está se referindo ao ter- Ziraldo. In: Revista Vozes, nº3, abril de 1970, p.18.
mo amiga ou a ex-namorado. Permutando o anafórico “que”
por “o qual” ou “a qual”, essa ambiguidade seria desfeita. Nesse texto, a ligação entre o segundo e o primeiro pe-
ríodos se faz pela repetição da palavra humores; entre o ter-
Retomada por palavra lexical ceiro e o segundo se faz pela utilização do sinônimo fluidos.
(substantivo, adjetivo ou verbo) É preciso manejar com muito cuidado a repetição de
palavras, pois, se ela não for usada para criar um efeito de
Uma palavra pode ser retomada, que por uma repetição, sentido de intensificação, constituirá uma falha de estilo.
quer por uma substituição por sinônimo, hiperônimo, hipôni-
No trecho transcrito a seguir, por exemplo, fica claro o uso
mo ou antonomásia.
da repetição da palavra vice e outras parecidas (vicissitudes,
Sinônimo é o nome que se dá a uma palavra que possui
vicejam, viciem), com a evidente intenção de ridicularizar a
o mesmo sentido que outra, ou sentido bastante aproximado:
condição secundária que um provável flamenguista atribui
injúria e afronta, alegre e contente.
ao Vasco e ao seu Vice-presidente:
Hiperônimo é um termo que mantém com outro uma
relação do tipo contém/está contido;
Hipônimo é uma palavra que mantém com outra uma “Recebi por esses dias um e-mail com uma série de pia-
relação do tipo está contido/contém. O significado do termo das sobre o pouco simpático Eurico Miranda. Faltam-me
rosa está contido no de flor e o de flor contém o de rosa, pois provas, mas tudo leva a crer que o remetente seja um fla-
toda rosa é uma flor, mas nem toda flor é uma rosa. Flor é, menguista.”
pois, hiperônimo de rosa, e esta palavra é hipônimo daquela. Segundo o texto, Eurico nasceu para ser vice: é vice-pre-
Antonomásia é a substituição de um nome próprio por sidente do clube, vice-campeão carioca e bi vice-campeão
um nome comum ou de um comum por um próprio. Ela ocor- mundial. E isso sem falar do vice no Carioca de futsal, no Ca-
re, principalmente, quando uma pessoa célebre é designada rioca de basquete, no Brasileiro de basquete e na Taça Gua-
por uma característica notória ou quando o nome próprio de nabara. São vicissitudes que vicejam. Espero que não viciem.
uma personagem famosa é usada para designar outras pes- José Roberto Torero. In: Folha de S. Paulo, 08/03/2000,
soas que possuam a mesma característica que a distingue: p. 4-7.

“O rei do futebol (=Pelé) som podia ser um brasileiro.” A elipse é o apagamento de um segmento de frase que
pode ser facilmente recuperado pelo contexto. Também cons-
“O herói de dois mundos (=Garibaldi) foi lembrado numa titui um expediente de coesão, pois é o apagamento de um
recente minissérie de tevê.” termo que seria repetido, e o preenchimento do vazio dei-
Referência ao fato notório de Giuseppe Garibaldi haver xado pelo termo apagado (=elíptico) exige, necessariamen-
lutado pela liberdade na Europa e na América. te, que se faça correlação com outros termos presentes no
contexto, ou referidos na situação em que se desenrola a fala.
“Ele é um hércules (=um homem muito forte).
Referência à força física que caracteriza o herói grego Vejamos estes versos do poema “Círculo vicioso”, de
Hércules. Machado de Assis:

“Um presidente da República tem uma agenda de traba- (...)


lho extremamente carregada. Deve receber ministros, embai- Mas a lua, fitando o sol, com azedume:
xadores, visitantes estrangeiros, parlamentares; precisa a todo
momento tomar graves decisões que afetam a vida de muitas “Mísera! Tivesse eu aquela enorme, aquela
pessoas; necessita acompanhar tudo o que acontece no Brasil e Claridade imorta, que toda a luz resume!”
no mundo. Um presidente deve começar a trabalhar ao raiar do Obra completa. Rio de Janeiro, Nova Aguilar, 1979,
dia e terminar sua jornada altas horas da noite.” v.III, p. 151.

14
LÍNGUA PORTUGUESA

Nesse caso, o verbo dizer, que seria enunciado antes - Gradação: há operadores que marcam uma grada-
daquilo que disse a lua, isto é, antes das aspas, fica suben- ção numa série de argumentos orientados para uma mes-
tendido, é omitido por ser facilmente presumível. ma conclusão. Dividem-se eles, em dois subtipos: os que
Qualquer segmento da frase pode sofrer elipse. Veja indicam o argumento mais forte de uma série: até, mesmo,
que, no exemplo abaixo, é o sujeito meu pai que vem elidi- até mesmo, inclusive, e os que subentendem uma escala
do (ou apagado) antes de sentiu e parou: com argumentos mais fortes: ao menos, pelo menos, no mí-
nimo, no máximo, quando muito.
“Meu pai começou a andar novamente, sentiu a pontada
“Ele é um bom conferencista: tem uma voz bonita, é
no peito e parou.”
bem articulado, conhece bem o assunto de que fala e é até
Pode ocorrer também elipse por antecipação. No
sedutor.”
exemplo que segue, aquela promoção é complemento tan-
Toda a série de qualidades está orientada no sentido
to de querer quanto de desejar, no entanto aparece apenas de comprovar que ele é bom conferencista; dentro dessa
depois do segundo verbo: série, ser sedutor é considerado o argumento mais forte.

“Ficou muito deprimido com o fato de ter sido preferido. “Ele é ambicioso e tem grande capacidade de trabalho.
Afinal, queria muito, desejava ardentemente aquela promoção.” Chegará a ser pelo menos diretor da empresa.”
Quando se faz essa elipse por antecipação com verbos Pelo menos introduz um argumento orientado no mes-
que têm regência diferente, a coesão é rompida. Por exem- mo sentido de ser ambicioso e ter grande capacidade de
plo, não se deve dizer “Conheço e gosto deste livro”, pois trabalho; por outro lado, subentende que há argumentos
o verbo conhecer rege complemento não introduzido por mais fortes para comprovar que ele tem as qualidades re-
preposição, e a elipse retoma o complemento inteiro, por- queridas dos que vão longe (por exemplo, ser presidente
tanto teríamos uma preposição indevida: “Conheço (deste da empresa) e que se está usando o menos forte; ao me-
livro) e gosto deste livro”. Em “Implico e dispenso sem dó nos, pelo menos e no mínimo ligam argumentos de valor
positivo.
os estranhos palpiteiros”, diferentemente, no complemento
em elipse faltaria a preposição “com” exigida pelo verbo
“Ele não é bom aluno. No máximo vai terminar o
implicar. segundo grau.”
Nesses casos, para assegurar a coesão, o recomendável No máximo introduz um argumento orientado no mes-
é colocar o complemento junto ao primeiro verbo, respei- mo sentido de ter muita dificuldade de aprender; supõe
tando sua regência, e retomá-lo após o segundo por um que há uma escala argumentativa (por exemplo, fazer uma
anafórico, acrescentando a preposição devida (Conheço faculdade) e que se está usando o argumento menos for-
este livro e gosto dele) ou eliminando a indevida (Implico te da escala no sentido de provar a afirmação anterior; no
com estranhos palpiteiros e os dispenso sem dó). máximo e quando muito estabelecem ligação entre argu-
mentos de valor depreciativo.
Coesão por Conexão
- Conjunção Argumentativa: há operadores que as-
Há na língua uma série de palavras ou locuções que sinalam uma conjunção argumentativa, ou seja, ligam um
são responsáveis pela concatenação ou relação entre seg- conjunto de argumentos orientados em favor de uma dada
conclusão: e, também, ainda, nem, não só... mas também,
mentos do texto. Esses elementos denominam-se conecto-
tanto... como, além de, a par de.
res ou operadores discursivos. Por exemplo: visto que, até, “Se alguém pode tomar essa decisão é você. Você é o
ora, no entanto, contudo, ou seja. diretor da escola, é muito respeitado pelos funcionários e
Note-se que eles fazem mais do que ligar partes do também é muito querido pelos alunos.”
texto: estabelecem entre elas relações semânticas de di-
versos tipos, como contrariedade, causa, consequência, Arrolam-se três argumentos em favor da tese que é o
condição, conclusão, etc. Essas relações exercem função interlocutor quem pode tomar uma dada decisão. O último
argumentativa no texto, por isso os operadores discursivos deles é introduzido por “e também”, que indica um argu-
não podem ser usados indiscriminadamente. mento final na mesma direção argumentativa dos prece-
Na frase “O time apresentou um bom futebol, mas não dentes.
alcançou a vitória”, por exemplo, o conector “mas” está Esses operadores introduzem novos argumentos; não
adequadamente usado, pois ele liga dois segmentos com significam, em hipótese nenhuma, a repetição do que já
orientação argumentativa contrária. foi dito. Ou seja, só podem ser ligados com conectores
de conjunção segmentos que representam uma progres-
Se fosse utilizado, nesse caso, o conector “portanto”, o
são discursiva. É possível dizer “Disfarçou as lágrimas que
resultado seria um paradoxo semântico, pois esse operador
o assaltaram e continuou seu discurso”, porque o segundo
discursivo liga dois segmentos com a mesma orientação segmento indica um desenvolvimento da exposição. Não
argumentativa, sendo o segmento introduzido por ele a teria cabimento usar operadores desse tipo para ligar dois
conclusão do anterior. segmentos como “Disfarçou as lágrimas que o assaltaram
e escondeu o choro que tomou conta dele”.

15
LÍNGUA PORTUGUESA

- Disjunção Argumentativa: há também operadores “__Qualquer atleta do time principal é tão bom quanto
que indicam uma disjunção argumentativa, ou seja, fazem os das divisões de base.”
uma conexão entre segmentos que levam a conclusões Nesse caso, seu argumento seria contra a necessidade
opostas, que têm orientação argumentativa diferente: ou, da promoção, pois ele estaria declarando que os atletas do
ou então, quer... quer, seja... seja, caso contrário, ao contrário. time principal são tão bons quanto os das divisões de base.

“Não agredi esse imbecil. Ao contrário, ajudei a separar - Explicação ou Justificativa: há operadores que in-
a briga, para que ele não apanhasse.” troduzem uma explicação ou uma justificativa em relação
O argumento introduzido por ao contrário é diame- ao que foi dito anteriormente: porque, já que, que, pois.
tralmente oposto àquele de que o falante teria agredido
alguém. “Já que os Estados Unidos invadiram o Iraque sem au-
torização da ONU, devem arcar sozinhos com os custos da
- Conclusão: existem operadores que marcam uma guerra.”
conclusão em relação ao que foi dito em dois ou mais Já que inicia um argumento que dá uma justificativa
enunciados anteriores (geralmente, uma das afirmações para a tese de que os Estados Unidos devam arcar sozinhos
de que decorre a conclusão fica implícita, por manifestar com o custo da guerra contra o Iraque.
uma voz geral, uma verdade universalmente aceita): logo,
portanto, por conseguinte, pois (o pois é conclusivo quando - Contrajunção: os operadores discursivos que assina-
não encabeça a oração). lam uma relação de contrajunção, isto é, que ligam enuncia-
dos com orientação argumentativa contrária, são as conjun-
“Essa guerra é uma guerra de conquista, pois visa ao ções adversativas (mas, contudo, todavia, no entanto, entre-
controle dos fluxos mundiais de petróleo. Por conseguinte, tanto, porém) e as concessivas (embora, apesar de, apesar de
não é moralmente defensável.” que, conquanto, ainda que, posto que, se bem que).
Por conseguinte introduz uma conclusão em relação à Qual é a diferença entre as adversativas e as conces-
afirmação exposta no primeiro período. sivas, se tanto umas como outras ligam enunciados com
orientação argumentativa contrária?
- Comparação: outros importantes operadores discur- Nas adversativas, prevalece a orientação do segmento
sivos são os que estabelecem uma comparação de igual- introduzido pela conjunção.
dade, superioridade ou inferioridade entre dois elementos,
com vistas a uma conclusão contrária ou favorável a certa “O atleta pode cair por causa do impacto, mas se levan-
ideia: tanto... quanto, tão... como, mais... (do) que. ta mais decidido a vencer.”
Nesse caso, a primeira oração conduz a uma conclu-
“Os problemas de fuga de presos serão tanto mais gra- são negativa sobre um processo ocorrido com o atleta,
ves quanto maior for a corrupção entre os agentes peniten- enquanto a começada pela conjunção “mas” leva a uma
ciários.” conclusão positiva. Essa segunda orientação é a mais forte.
O comparativo de igualdade tem no texto uma função Compare-se, por exemplo, “Ela é simpática, mas não é
argumentativa: mostrar que o problema da fuga de presos bonita” com “Ela não é bonita, mas é simpática”. No primei-
cresce à medida que aumenta a corrupção entre os agen- ro caso, o que se quer dizer é que a simpatia é suplanta-
tes penitenciários; por isso, os segmentos podem até ser da pela falta de beleza; no segundo, que a falta de beleza
permutáveis do ponto de vista sintático, mas não o são do perde relevância diante da simpatia. Quando se usam as
ponto de vista argumentativo, pois não há igualdade argu- conjunções adversativas, introduz-se um argumento com
mentativa proposta, “Tanto maior será a corrupção entre os vistas a determinada conclusão, para, em seguida, apresen-
agentes penitenciários quanto mais grave for o problema da tar um argumento decisivo para uma conclusão contrária.
fuga de presos”. Com as conjunções concessivas, a orientação argu-
Muitas vezes a permutação dos segmentos leva a con- mentativa que predomina é a do segmento não introduzi-
clusões opostas: Imagine-se, por exemplo, o seguinte diá- do pela conjunção.
logo entre o diretor de um clube esportivo e o técnico de
futebol: “Embora haja conexão entre saber escrever e saber gra-
mática, trata-se de capacidades diferentes.”
“__Precisamos promover atletas das divisões de base A oração iniciada por “embora” apresenta uma orien-
para reforçar nosso time. tação argumentativa no sentido de que saber escrever e
__Qualquer atleta das divisões de base é tão bom quan- saber gramática são duas coisas interligadas; a oração prin-
to os do time principal.” cipal conduz à direção argumentativa contrária.
Nesse caso, o argumento do técnico é a favor da pro- Quando se utilizam conjunções concessivas, a estraté-
moção, pois ele declara que qualquer atleta das divisões de gia argumentativa é a de introduzir no texto um argumento
base tem, pelo menos, o mesmo nível dos do time princi- que, embora tido como verdadeiro, será anulado por outro
pal, o que significa que estes não primam exatamente pela mais forte com orientação contrária.
excelência em relação aos outros. A diferença entre as adversativas e as concessivas, por-
Suponhamos, agora, que o técnico tivesse invertido os tanto, é de estratégia argumentativa. Compare os seguin-
segmentos na sua fala: tes períodos:

16
LÍNGUA PORTUGUESA

“Por mais que o exército tivesse planejado a operação - Retificação ou Correção: há ainda os que indicam
(argumento mais fraco), a realidade mostrou-se mais com- uma retificação, uma correção do que foi afirmado antes:
plexa (argumento mais forte).” ou melhor, de fato, pelo contrário, ao contrário, isto é, quer
“O exército planejou minuciosamente a operação (argu- dizer, ou seja, em outras palavras. Exemplo:
mento mais fraco), mas a realidade mostrou-se mais com-
plexa (argumento mais forte).” “Vou-me casar neste final de semana. Ou melhor, vou
passar a viver junto com minha namorada.”
- Argumento Decisivo: há operadores discursivos que
introduzem um argumento decisivo para derrubar a argu- O conector inicia um segmento que retifica o que foi
mentação contrária, mas apresentando-o como se fosse dito antes.
um acréscimo, como se fosse apenas algo mais numa sé- Esses operadores servem também para marcar um
rie argumentativa: além do mais, além de tudo, além disso, esclarecimento, um desenvolvimento, uma redefinição do
conteúdo enunciado anteriormente. Exemplo:
ademais.
“A última tentativa de proibir a propaganda de cigarros
“Ele está num período muito bom da vida: começou a
nas corridas de Fórmula 1 não vingou. De fato, os interes-
namorar a mulher de seus sonhos, foi promovido na empre-
ses dos fabricantes mais uma vez prevaleceram sobre os
sa, recebeu um prêmio que ambicionava havia muito tempo da saúde.”
e, além disso, ganhou uma bolada na loteria.”
O conector introduz um esclarecimento sobre o que
O operador discursivo introduz o que se considera a foi dito antes.
prova mais forte de que “Ele está num período muito bom Servem ainda para assinalar uma atenuação ou um re-
da vida”; no entanto, essa prova é apresentada como se forço do conteúdo de verdade de um enunciado. Exemplo:
fosse apenas mais uma.
“Quando a atual oposição estava no comando do país,
- Generalização ou Amplificação: existem operado- não fez o que exige hoje que o governo faça. Ao contrário,
res que assinalam uma generalização ou uma amplificação suas políticas iam na direção contrária do que prega atual-
do que foi dito antes: de fato, realmente, como aliás, tam- mente.
bém, é verdade que.
O conector introduz um argumento que reforça o que foi
“O problema da erradicação da pobreza passa pela ge- dito antes.
ração de empregos. De fato, só o crescimento econômico
leva ao aumento de renda da população.” - Explicação: há operadores que desencadeiam uma
explicação, uma confirmação, uma ilustração do que foi
O conector introduz uma amplificação do que foi dito afirmado antes: assim, desse modo, dessa maneira.
antes.
“O exército inimigo não desejava a paz. Assim, enquanto
“Ele é um técnico retranqueiro, como aliás o são todos os se processavam as negociações, atacou de surpresa.”
que atualmente militam no nosso futebol.
O conector introduz uma generalização ao que foi afir- O operador introduz uma confirmação do que foi afir-
mado: não “ele”, mas todos os técnicos do nosso futebol são mado antes.
retranqueiros.
Coesão por Justaposição
- Especificação ou Exemplificação: também há ope-
É a coesão que se estabelece com base na sequência
radores que marcam uma especificação ou uma exempli-
dos enunciados, marcada ou não com sequenciadores.
ficação do que foi afirmado anteriormente: por exemplo, Examinemos os principais sequenciadores.
como.
- Sequenciadores Temporais: são os indicadores de
“A violência não é um fenômeno que está dissemina- anterioridade, concomitância ou posterioridade: dois meses
do apenas entre as camadas mais pobres da população. Por depois, uma semana antes, um pouco mais tarde, etc. (são
exemplo, é crescente o número de jovens da classe média utilizados predominantemente nas narrações).
que estão envolvidos em toda sorte de delitos, dos menos
aos mais graves.” “Uma semana antes de ser internado gravemente
Por exemplo assinala que o que vem a seguir especifica, doente, ele esteve conosco. Estava alegre e cheio de planos
exemplifica a afirmação de que a violência não é um fenô- para o futuro.”
meno adstrito aos membros das “camadas mais pobres da - Sequenciadores Espaciais: são os indicadores de po-
população”. sição relativa no espaço: à esquerda, à direita, junto de, etc.
(são usados principalmente nas descrições).

17
LÍNGUA PORTUGUESA

“A um lado, duas estatuetas de bronze dourado, repre- - que apoiariam a campanha de combate à fome (oração
sentando o amor e a castidade, sustentam uma cúpula oval de subordinada substantiva objetiva direta da segunda oração)
forma ligeira, donde se desdobram até o pavimento bambolins - que foi lançada pelo governo federal (oração subordina-
de cassa finíssima. (...) Do outro lado, há uma lareira, não de da adjetiva restritiva da terceira oração).
fogo, que o dispensa nosso ameno clima fluminense, ainda na
maior força do inverno.” Observe-se que falta o predicado da primeira oração.
José de Alencar. Senhora. Quem escreveu o período começou a encadear orações su-
São Paulo, FTD, 1992, p. 77. bordinadas e “esqueceu-se” de terminar a principal.
Quebras de coesão desse tipo são mais comuns em perío-
- Sequenciadores de Ordem: são os que assinalam a or- dos longos. No entanto, mesmo quando se elaboram períodos
dem dos assuntos numa exposição: primeiramente, em segun- curtos é preciso cuidar para que sejam sintaticamente comple-
da, a seguir, finalmente, etc. tos e para que suas partes estejam bem conectadas entre si.
Para que um conjunto de frases constitua um texto, não
“Para mostrar os horrores da guerra, falarei, inicialmente, das basta que elas estejam coesas: se não tiverem unidade de
agruras por que passam as populações civis; em seguida, discor- sentido, mesmo que aparentemente organizadas, elas não
rerei sobre a vida dos soldados na frente de batalha; finalmente, passarão de um amontoado injustificado. Exemplo:
exporei suas consequências para a economia mundial e, portanto,
para a vida cotidiana de todos os habitantes do planeta.” “Vivo há muitos anos em São Paulo. A cidade tem excelen-
tes restaurantes. Ela tem bairros muito pobres. Também o Rio
- Sequenciadores para Introdução: são os que, na con- de Janeiro tem favelas.”
versação principalmente, servem para introduzir um tema ou
mudar de assunto: a propósito, por falar nisso, mas voltando ao Todas as frases são coesas. O hiperônimo cidade retoma
assunto, fazendo um parêntese, etc. o substantivo São Paulo, estabelecendo uma relação entre o
segundo e o primeiro períodos. O pronome “ela” recupera
“Joaquim viveu sempre cercado do carinho de muitas pes- a palavra cidade, vinculando o terceiro ao segundo período.
soas. A propósito, era um homem que sabia agradar às mulheres.” O operador também realiza uma conjunção argumentativa,
relacionando o quarto período ao terceiro. No entanto, esse
- Operadores discursivos não explicitados: se o texto conjunto não é um texto, pois não apresenta unidade de sen-
for construído sem marcadores de sequenciação, o leitor de- tido, isto é, não tem coerência. A coesão, portanto, é condição
verá inferir, a partir da ordem dos enunciados, os operadores necessária, mas não suficiente, para produzir um texto.
discursivos não explicitados na superfície textual. Nesses ca-
sos, os lugares dos diferentes conectores estarão indicados, Coerência
na escrita, pelos sinais de pontuação: ponto-final, vírgula,
ponto-e-vírgula, dois-pontos. Infância

“A reforma política é indispensável. Sem a existência da O camisolão


fidelidade partidária, cada parlamentar vota segundo seus in- O jarro
teresses e não de acordo com um programa partidário. Assim, O passarinho
não há bases governamentais sólidas.” O oceano
A vista na casa que a gente sentava no sofá
Esse texto contém três períodos. O segundo indica a cau-
sa de a reforma política ser indispensável. Portanto o ponto- Adolescência
final do primeiro período está no lugar de um porque.
Aquele amor
A língua tem um grande número de conectores e se- Nem me fale
quenciadores. Apresentamos os principais e explicamos sua
função. É preciso ficar atento aos fenômenos de coesão. Mos- Maturidade
tramos que o uso inadequado dos conectores e a utilização
inapropriada dos anafóricos ou catafóricos geram rupturas na O Sr. e a Sra. Amadeu
coesão, o que leva o texto a não ter sentido ou, pelo menos, a Participam a V. Exa.
não ter o sentido desejado. Outra falha comum no que tange O feliz nascimento
a coesão é a falta de partes indispensáveis da oração ou do De sua filha
período. Analisemos este exemplo: Gilberta
Velhice
“As empresas que anunciaram que apoiariam a campanha
de combate à fome que foi lançada pelo governo federal.” O netinho jogou os óculos
O período compõe-se de: Na latrina
- As empresas Oswaldo de Andrade. Poesias reunidas.
- que anunciaram (oração subordinada adjetiva restritiva 4ª Ed. Rio de Janeiro
da primeira oração) Civilização Brasileira, 1974, p. 160-161.

18
LÍNGUA PORTUGUESA

Talvez o que mais chame a atenção nesse poema, ao me- No país em que vivemos, que predomina o capitalismo,
nos à primeira vista, seja a ausência de elementos de coesão, o mais rico sempre é quem vence!
quer retomando o que foi dito antes, quer encadeando seg- Apud: J. A. Durigan, M. B. M. Abaurre e Y. F. Vieira
mentos textuais. No entanto, percebemos nele um sentido (orgs).
unitário, sobretudo se soubermos que o seu título é “As qua- A magia da mudança. Campinas, Unicamp, 1987,
tro gares”, ou seja, as quatro estações. p. 53.
Com essa informação, podemos imaginar que se trata Nesses parágrafos, vemos três temas (direito de opção;
de flashes de cada uma das quatro grandes fases da vida: a adolescência e escolha profissional; relações sociais sob o
infância, a adolescência, a maturidade e a velhice. A primeira capitalismo) que mantêm relações muito tênues entre si.
é caracterizada pelas descobertas (o oceano), por ações (o Esse fato, prejudicando a continuidade semântica entre as
jarro, que certamente a criança quebrara; o passarinho que partes, impede a apreensão do todo e, portanto, configura
ela caçara) e por experiências marcantes (a visita que se per- um texto incoerente.
cebia na sala apropriada e o camisolão que se usava para Há no texto, vários tipos de relação entre as partes que
dormir); a segunda é caracterizada por amores perdidos, de o compõem, e, por isso, costuma-se falar em vários níveis
que não se quer mais falar; a terceira, pela formalidade e pela de coerência.
responsabilidade indicadas pela participação formal do nas-
cimento da filha; a última, pela condescendência para com a Coerência Narrativa
traquinagem do neto (a quem cabe a vez de assumir a ação).
A primeira parte é uma sucessão de palavras; a segunda, uma A coerência narrativa consiste no respeito às implica-
frase em que falta um nexo sintático; a terceira, a participação ções lógicas entre as partes do relato. Por exemplo, para
do nascimento de uma filha; e a quarta, uma oração comple- que um sujeito realize uma ação, é preciso que ele tenha
ta, porém aparentemente desgarrada das demais. competência para tanto, ou seja, que saiba e possa efe-
Como se explica que sejamos capazes de entender esse tuá-la. Constitui, então, incoerência narrativa o seguinte
poema em seus múltiplos sentidos, apesar da falta de marca- exemplo: o narrador conta que foi a uma festa onde to-
dores de coesão entre as partes? dos fumavam e, por isso, a espessa fumaça impedia que se
A explicação está no fato de que ele tem uma qualidade visse qualquer coisa; de repente, sem mencionar nenhuma
indispensável para a existência de um texto: a coerência. mudança dessa situação, ele diz que se encostou a uma
Que é a unidade de sentido resultante da relação que se coluna e passou a observar as pessoas, que eram ruivas,
estabelece entre as partes do texto. Uma ideia ajuda a com- loiras, morenas. Se o narrador diz que não podia enxer-
preender a outra, produzindo um sentido global, à luz do gar nada, é incoerente dizer que via as pessoas com tanta
qual cada uma das partes ganha sentido. No poema acima, nitidez. Em outros termos, se nega a competência para a
os subtítulos “Infância”, “Adolescência”, “Maturidade” e “Ve- realização de um desempenho qualquer, esse desempenho
lhice” garantem essa unidade. Colocar a participação formal não pode ocorrer. Isso por respeito às leis da coerência nar-
do nascimento da filha, por exemplo, sob o título “Maturida- rativa. Observe outro exemplo:
de” dá a conotação da responsabilidade habitualmente asso-
ciada ao indivíduo adulto e cria um sentido unitário. “Pior fez o quarto-zagueiro Edinho Baiano, do Paraná
Esse texto, como outros do mesmo tipo, comprova que Clube, entrevistado por um repórter da Rádio Cidade. O Pa-
um conjunto de enunciados pode formar um todo coerente raná tinha tomado um balaio de gols do Guarani de Campi-
mesmo sem a presença de elementos coesivos, isto é, mesmo nas, alguns dias antes. O repórter queria saber o que tinha
sem a presença explícita de marcadores de relação entre as acontecido. Edinho não teve dúvida sobre os motivos:
diferentes unidades linguísticas. Em outros termos, a coesão __ Como a gente já esperava, fomos surpreendidos pelo
funciona apenas como um mecanismo auxiliar na produção ataque do Guarani.”
da unidade de sentido, pois esta depende, na verdade, das Ernâni Buchman. In: Folha de Londrina.
relações subjacentes ao texto, da não-contradição entre as
partes, da continuidade semântica, em síntese, da coerência. A surpresa implica o inesperado. Não se pode ser sur-
A coerência é um fator de interpretabilidade do texto, preendido com o que já se esperava que acontecesse.
pois possibilita que todas as suas partes sejam engloba-
das num único significado que explique cada uma delas. Coerência Argumentativa
Quando esse sentido não pode ser alcançado por faltar re-
lação de sentido entre as partes, lemos um texto incoerente, A coerência argumentativa diz respeito às relações de
como este: implicação ou de adequação entre premissas e conclusões
A todo ser humano foi dado o direito de opção entre a ou entre afirmações e consequências. Não é possível al-
mediocridade de uma vida que se acomoda e a grandeza de guém dizer que é a favor da pena de morte porque é con-
uma vida voltada para o aprimoramento intelectual. tra tirar a vida de alguém. Da mesma forma, é incoerente
A adolescência é uma fase tão difícil que todos enfrentam. defender o respeito à lei e à Constituição Brasileira e ser
De repente vejo que não sou mais uma “criancinha” depen- favorável à execução de assaltantes no interior de prisões.
dente do “papai”. Chegou a hora de me decidir! Tenho que Muitas vezes, as conclusões não são adequadas às
escolher uma profissão para me realizar e ser independente premissas. Não há coerência, por exemplo, num raciocínio
financeiramente. como este:

19
LÍNGUA PORTUGUESA

Há muitos servidores públicos no Brasil que são verda- Coerência do Nível de Linguagem Utilizado
deiros marajás.
O candidato a governador é funcionário público. A coerência do nível de linguagem utilizado é aquela
Portanto o candidato é um marajá. que concerne à compatibilidade do léxico e das estruturas
morfossintáticas com a variante escolhida numa dada situa-
Segundo uma lei da lógica formal, não se pode con- ção de comunicação. Ocorre incoerência relacionada ao ní-
cluir nada com certeza baseado em duas premissas parti- vel de linguagem quando, por exemplo, o enunciador utiliza
culares. Dizer que muitos servidores públicos são marajás um termo chulo ou pertencente à linguagem informal num
não permite concluir que qualquer um seja. texto caracterizado pela norma culta formal. Tanto sabemos
A falta de relação entre o que se diz e o que foi dito que isso não é permitido que, quando o fazemos, acrescen-
anteriormente também constitui incoerência. É o que se vê tamos uma ressalva: com perdão da palavra, se me permi-
neste diálogo: tem dizer. Observe um exemplo de incoerência nesse nível:

“Tendo recebido a notificação para pagamento da cha-


“__ Vereador, o senhor é a favor ou contra o pagamento
mada taxa do lixo, ouso dirigir-me a V. Exª, senhora prefeita,
de pedágio para circular no centro da cidade?
para expor-lhe minha inconformidade diante dessa medida,
__ É preciso melhorar a vida dos habitantes das grandes
porque o IPTU foi aumentado, no governo anterior, de 0,6%
cidades. A degradação urbana atinge a todos nós e, por con- para 1% do valor venal do imóvel exatamente para cobrir as
seguinte, é necessário reabilitar as áreas que contam com despesas da municipalidade com os gastos de coleta e destina-
abundante oferta de serviços públicos.” ção dos resíduos sólidos produzidos pelos moradores de nossa
cidade. Francamente, achei uma sacanagem esta armação da
Coerência Figurativa Prefeitura: jogar mais um gasto nas costas da gente.”

A coerência figurativa refere-se à compatibilidade das Como se vê, o léxico usado no último período do texto
figuras que manifestam determinado tema. Para que o lei- destoa completamente do utilizado no período anterior.
tor possa perceber o tema que está sendo veiculado por
uma série de figuras encadeadas, estas precisam ser com- Ninguém há de negar a incoerência de um texto como
patíveis umas com as outras. Seria estranho (para dizer o este: Saltou para a rua, abriu a janela do 5º andar e deixou
mínimo) que alguém, ao descrever um jantar oferecido no um bilhete no parapeito explicando a razão de seu suicí-
palácio do Itamarati a um governador estrangeiro, depois dio, em que há evidente violação da lei sucessivamente dos
de falar de baixela de prata, porcelana finíssima, flores, can- eventos. Entretanto talvez nem todo mundo concorde que
delabros, toalhas de renda, incluísse no percurso figurativo seja incoerente incluir guardanapos de papel no jantar do
guardanapos de papel. Itamarati descrito no item sobre coerência figurativa, al-
guém poderia objetivar que é preconceito considerá-los
Coerência Temporal inadequados. Então, justifica-se perguntar: o que, afinal,
determina se um texto é ou não coerente?
Por coerência temporal entende-se aquela que concer- A natureza da coerência está relacionada a dois concei-
ne à sucessão dos eventos e à compatibilidade dos enun- tos básicos de verdade: adequação à realidade e conformi-
ciados do ponto de vista de sua localização no tempo. Não dade lógica entre os enunciados.
se poderia, por exemplo, dizer: “O assassino foi executado Vimos que temos diferentes níveis de coerência: nar-
na câmara de gás e, depois, condenado à morte”. rativa, argumentativa, figurativa, etc. Em cada nível, temos
duas espécies diversas de coerência:
- extratextual: aquela que diz respeito à adequação
Coerência Espacial
entre o texto e uma “realidade” exterior a ele.
- intratextual: aquela que diz respeito à compatibili-
A coerência espacial diz respeito à compatibilidade dos
dade, à adequação, à não-contradição entre os enunciados
enunciados do ponto de vista da localização no espaço. do texto.
Seria incoerente, por exemplo, o seguinte texto: “O filme ‘A
Marvada Carne’ mostra a mudança sofrida por um homem A exterioridade a que o conteúdo do texto deve ajus-
que vivia lá no interior e encanta-se com a agitação e a di- tar-se pode ser:
versidade da vida na capital, pois aqui já não suportava mais - o conhecimento do mundo: o conjunto de dados
a mesmice e o tédio”. Dizendo lá no interior, o enunciador referentes ao mundo físico, à cultura de um povo, ao con-
dá a entender que seu pronunciamento está sendo feito de teúdo das ciências, etc. que constitui o repertório com que
algum lugar distante do interior; portanto ele não poderia se produzem e se entendem textos. O período “O homem
usar o advérbio “aqui” para localizar “a mesmice” e “o tédio” olhou através das paredes e viu onde os bandidos escon-
que caracterizavam a vida interiorana da personagem. Em diam a vítima que havia sido sequestrada” é incoerente,
síntese, não é coerente usar “lá” e “aqui” para indicar o mes- pois nosso conhecimento do mundo diz que homens não
mo lugar. vêem através das paredes. Temos, então, uma incoerência
figurativa extratextual.

20
LÍNGUA PORTUGUESA

- os mecanismos semânticos e gramaticais da lín- - A situação de comunicação:


gua: o conjunto dos conhecimentos sobre o código lin-
guístico necessário à codificação de mensagens decodifi- __A telefônica.
cáveis por outros usuários da mesma língua. O texto se- __Era hoje?
guinte, por exemplo, está absolutamente sem sentido por
inobservância de mecanismos desse tipo: Esse diálogo não seria compreendido fora da situação
“Conscientizar alunos pré-sólidos ao ingresso de uma de interlocução, porque deixa implícitos certos enunciados
carreira universitária informações críticas a respeito da que, dentro dela, são perfeitamente compreendidos:
realidade profissional a ser optada. Deve ser ciado novos
métodos criativos nos ensinos de primeiro e segundo grau:
__ O empregado da companhia telefônica que vinha
estimulando o aluno a formação crítica de suas ideias as
consertar o telefone está aí.
quais, serão a praticidade cotidiana. Aptidões pessoais serão
associadas a testes vocacionais sérios de maneira discursiva __ Era hoje que ele viria?
a analisar conceituações fundamentais.”
Apud: J. A. Durigan et alii. Op. cit., p. 58. - O conhecimento de mundo:

Fatores de Coerência 31 de março / 1º de abril


Dúvida Revolucionária
- O contexto: para uma dada unidade linguística, fun-
ciona como contexto a unidade linguística maior que ela: Ontem foi hoje?
a sílaba é contexto para o fonema; a palavra, para a sílaba; Ou hoje é que foi ontem?
a oração, para a palavra; o período, para a oração; o texto,
para o período, e assim por diante. Aparentemente, falta coerência temporal a esse poema:
“Um chopps, dois pastel, o polpettone do Jardim de Na- o que significa “ontem foi hoje” ou “hoje é que foi ontem?”.
poli, cruzar a Ipiranga com a avenida São João, o “Parmera”, No entanto, as duas datas colocadas no início do poema
o “Curíntia”, todo mundo estar usando cinto de segurança.” e o título remetem a um episódio da História do Brasil, o
golpe militar de 1964, chamado Revolução de 1964. Esse
À primeira vista, parece não haver nenhuma coerência
fato deve fazer parte de nosso conhecimento de mundo,
na enumeração desses elementos. Quando ficamos saben-
assim como o detalhe de que ele ocorreu no dia 1º de abril,
do, no entanto, que eles fazem parte de um texto intitulado
mas sua comemoração foi mudada para 31 de março, para
“100 motivos para gostar de São Paulo”, o que aparente-
mente era caótico torna-se coerente: evitar relações entre o evento e o “dia da mentira”.

100 motivos para gostar de São Paulo - As regras do gênero:

1. Um chopps “O homem olhou através das paredes e viu onde os ban-


2. E dois pastel didos escondiam a vítima que havia sido sequestrada.”
(...)
5. O polpettone do Jardim de Napoli Essa frase é incoerente no discurso cotidiano, mas é
(...) completamente coerente no mundo criado pelas histórias
30. Cruzar a Ipiranga com a av. São João de super-heróis, em que o Super-Homem, por exemplo,
(...) tem força praticamente ilimitada; pode voar no espaço a
43. O “Parmera” uma velocidade igual à da luz; quando ultrapassa essa ve-
(...) locidade, vence a barreira do tempo e pode transferir-se
45. O “Curíntia” para outras épocas; seus olhos de raios X permitem-lhe ver
(..) através de qualquer corpo, a distâncias infinitas, etc.
59. Todo mundo estar usando cinto de segurança
Nosso conhecimento de mundo não é restrito ao que
(...)
efetivamente existe, ao que se pode ver, tocar, etc.: ele inclui
também os mundos criados pela linguagem nos diferentes
O texto apresenta os traços culturais da cidade, e to-
dos convergem para um único significado: a celebração da gêneros de texto, ficção científica, contos maravilhosos,
capital do estado de São Paulo no seu aniversário. Os dois mitos, discurso religioso, etc., regidos por outras lógicas.
primeiros itens de nosso exemplo referem-se a marcas lin- Assim, o que é incoerente num determinado gênero não o
guísticas do falar paulistano; o terceiro, a um prato que tor- é, necessariamente, em outro.
nou conhecido o restaurante chamado Jardim de Napoli; o
quarto, a um verso da música “Sampa”, de Caetano Veloso;
o sexto e o sétimo, à maneira como os dois times mais
populares da cidade são denominados na variante linguís-
tica popular; o último à obediência a uma lei que na época
ainda não vigorava no resto do país.

21
LÍNGUA PORTUGUESA

- O sentido não literal: dirigido por Penny Marshall em 1988, com Tom Hanks) e “Um
convidado bem trapalhão” (The party, Blake Edwards, 1968,
“As verdes ideias incolores dormem, mas poderão explodir com Peter Sellers), há cenas em que os respectivos protago-
a qualquer momento.” nistas exibem comportamento incompatível com a ocasião,
mas não há incoerência nisso, pois todo o enredo converge
Tomando em seu sentido literal, esse texto é absurdo, para que o espectador se solidarize com eles, por sua ingenui-
pois, nessa acepção, o termo ideias não pode ser qualificado dade e falta de traquejo social. Mas, se aparece num texto uma
por adjetivos de cor; não se podem atribuir ao mesmo ser, ao figura incoerente uma única vez, o leitor não pode ter certeza
mesmo tempo, as qualidades verde e incolor; o verbo dormir de que se trata de uma quebra de coerência proposital, com
deve ter como sujeito um substantivo animado. vistas a criar determinado efeito de sentido, vai pensar que se
No entanto, se entendermos ideias verdes em sentido não trata de contradição devida a inabilidade, descuido ou igno-
literal, como concepções ambientalistas, o período pode ser rância do enunciador.
lido da seguinte maneira: “As idéias ambientalistas sem atrativo Dissemos também que há outros textos que fazem da in-
estão latentes, mas poderão manifestar-se a qualquer momento.” versão da realidade seu princípio constitutivo; da incoerência,
um fator de coerência. São exemplos as obras de Lewis Car-
- O intertexto: rol “Alice no país das maravilhas” e “Através do espelho”, que
pretendem apresentar paradoxos de sentido, subverter o prin-
Falso diálogo entre Pessoa e Caeiro cípio da realidade, mostrar as aporias da lógica, confrontar a
lógica do senso comum com outras.
__ a chuva me deixa triste...
__ a mim me deixa molhado. Reproduzimos um poema de Manuel Bandeira que con-
José Paulo Paes. Op. Cit., p 79. tém mais de um exemplo do que foi abordado:

Muitos textos retomam outros, constroem-se com base Teresa


em outros e, por isso, só ganham coerência nessa relação com
o texto sobre o qual foram construídos, ou seja, na relação de A primeira vez que vi Teresa
intertextualidade. É o caso desse poema. Para compreendê-lo, Achei que ela tinha pernas estúpidas
é preciso saber que Alberto Caeiro é um dos heterônimos do Achei também que a cara parecia uma perna
poeta Fernando Pessoa; que heterônimo não é pseudônimo,
mas uma individualidade lírica distinta da do autor (o ortô- Quando vi Teresa de novo
nimo); que para Caeiro o real é a exterioridade e não deve- Achei que seus olhos eram muito mais velhos
mos acrescentar-lhe impressões subjetivas; que sua posição é [que o resto do corpo
antimetafísica; que não devemos interpretar a realidade pela (Os olhos nasceram e ficaram dez anos esperando
inteligência, pois essa interpretação conduz a simples concei- [que o resto do corpo nascesse)
tos vazios, em síntese, é preciso ter lido textos de Caeiro. Por
outro lado, é preciso saber que o ortônimo (Fernando Pessoa Da terceira vez não vi mais nada
ele mesmo) exprime suas emoções, falando da solidão interior, Os céus se misturaram com a terra
do tédio, etc. E o espírito de Deus voltou a se mover sobre a face
[das águas.
Incoerência Proposital Poesias completas e prosa. Rio de Janeiro,
Aguilar, 1986, p. 214.
Existem textos em que há uma quebra proposital da coe-
rência, com vistas a produzir determinado efeito de sentido, Para percebermos a coerência desse texto, é preciso, no
assim como existem outros que fazem da não-coerência o mínimo, que nosso conhecimento de mundo inclua o poema:
próprio princípio constitutivo da produção de sentido. Poderia
alguém perguntar, então, se realmente existe texto incoerente. O Adeus de Teresa
Sem dúvida existe: é aquele em que a incoerência é produzida
involuntariamente, por inabilidade, descuido ou ignorância do A primeira vez que fitei Teresa,
enunciador, e não usada funcionalmente para construir certo Como as plantas que arrasta a correnteza,
sentido. A valsa nos levou nos giros seus...
Quando se trata de incoerência proposital, o enunciador
dissemina pistas no texto, para que o leitor perceba que ela Castro Alves
faz parte de um programa intencionalmente direcionado para
veicular determinado tema. Se, por exemplo, num texto que Para identificarmos a relação de intertextualidade entre
mostra uma festa muito luxuosa, aparecem figuras como pes- eles; que tenhamos noção da crítica do Modernismo às esco-
soas comendo de boca aberta, falando em voz muito alta e em las literárias precedentes, no caso, ao Romantismo, em que ne-
linguagem chula, ostentando sua últimas aquisições, o enuncia- nhuma musa seria tratada com tanta cerimônia e muito menos
dor certamente não está querendo manifestar o tema do luxo, teria “cara”; que façamos uma leitura não literal; que perceba-
do requinte, mas o da vulgaridade dos novos-ricos. Para ficar mos sua lógica interna, criada pela disseminação proposital de
no exemplo da festa: em filmes como “Quero ser grande” (Big, elementos que pareceriam absurdos em outro contexto.

22
LÍNGUA PORTUGUESA

Figuras de Estilo - o efeito pela causa.


Suou muito para conseguir a casa própria. (suor substi-
Segundo Mauro Ferreira, a importância em reconhecer tui o trabalho)
figuras de linguagem está no fato de que tal conhecimen-
to, além de auxiliar a compreender melhor os textos literá- Perífrase
rios, deixa-nos mais sensíveis à beleza da linguagem e ao É a designação de um ser através de alguma de suas
significado simbólico das palavras e dos textos. características ou atributos, ou de um fato que o celebrizou.
Definição: Figuras de linguagem são certos recursos A Veneza Brasileira também é palco de grandes espetá-
não--convencionais que o falante ou escritor cria para dar culos. (Veneza Brasileira = Recife)
maior expressividade à sua mensagem. A Cidade Maravilhosa está tomada pela violência. (Ci-
dade Maravilhosa = Rio de Janeiro)
Metáfora
É o emprego de uma palavra com o significado de ou- Antítese
tra em vista de uma relação de semelhanças entre ambas. É Consiste no uso de palavras de sentidos opostos.
uma comparação subentendida. Nada com Deus é tudo.
Minha boca é um túmulo. Tudo sem Deus é nada.
Essa rua é um verdadeiro deserto.
Eufemismo
Comparação Consiste em suavizar palavras ou expressões que são
Consiste em atribuir características de um ser a outro, desagradáveis.
em virtude de uma determinada semelhança. Ele foi repousar no céu, junto ao Pai. (repousar no céu
O meu coração está igual a um céu cinzento. = morrer)
O carro dele é rápido como um avião. Os homens públicos envergonham o povo. (homens pú-
blicos = políticos)
Prosopopeia
É uma figura de linguagem que atribui características
Hipérbole
humanas a seres inanimados. Também podemos chamá-la
É um exagero intencional com a finalidade de tornar
de PERSONIFICAÇÃO.
mais expressiva a ideia.
O céu está mostrando sua face mais bela.
Ela chorou rios de lágrimas.
O cão mostrou grande sisudez.
Muitas pessoas morriam de medo da perna cabeluda.
Sinestesia
Ironia
Consiste na fusão de impressões sensoriais diferentes
(mistura dos cinco sentidos). Consiste na inversão dos sentidos, ou seja, afirmamos
Raquel tem um olhar frio, desesperador. o contrário do que pensamos.
Aquela criança tem um olhar tão doce. Que alunos inteligentes, não sabem nem somar.
Se você gritar mais alto, eu agradeço.
Catacrese Onomatopeia
É o emprego de uma palavra no sentido figurado por Consiste na reprodução ou imitação do som ou voz na-
falta de um termo próprio. tural dos seres.
O menino quebrou o braço da cadeira. Com o au-au dos cachorros, os gatos desapareceram.
A manga da camisa rasgou. Miau-miau. – Eram os gatos miando no telhado a noite
toda.
Metonímia
É a substituição de uma palavra por outra, quando Aliteração
existe uma relação lógica, uma proximidade de sentidos Consiste na repetição de um determinado som conso-
que permite essa troca. Ocorre metonímia quando empre- nantal no início ou interior das palavras.
gamos: O rato roeu a roupa do rei de Roma.
- O autor pela obra.
Li Jô Soares dezenas de vezes. (a obra de Jô Soares) Elipse
Consiste na omissão de um termo que fica subentendi-
- o continente pelo conteúdo. do no contexto, identificado facilmente.
O ginásio aplaudiu a seleção. (ginásio está substituindo Após a queda, nenhuma fratura.
os torcedores)
Zeugma
- a parte pelo todo. Consiste na omissão de um termo já empregado ante-
Vários brasileiros vivem sem teto, ao relento. (teto substitui riormente.
casa) Ele come carne, eu verduras.

23
LÍNGUA PORTUGUESA

Pleonasmo São oito as figuras de pensamento:


Consiste na intensificação de um termo através da sua
repetição, reforçando seu significado. 1) Antítese
Nós cantamos um canto glorioso. É a aproximação de palavras ou expressões de sentidos
opostos. O contraste que se estabelece serve para dar uma
Polissíndeto ênfase aos conceitos envolvidos, o que não ocorreria com a
É a repetição da conjunção entre as orações de um pe- exposição isolada dos mesmos. Exemplos:
ríodo ou entre os termos da oração. Viverei para sempre ou morrerei tentando.
Chegamos de viagem e tomamos banho e saímos para Do riso se fez o pranto.
dançar. Hoje fez sol, ontem, porém, choveu muito.

Assíndeto 2) Apóstrofe
É assim denominado o chamamento do receptor da
Ocorre quando há a ausência da conjunção entre duas
mensagem, seja ele de natureza imaginária ou não. É utilizada
orações.
para dar ênfase à expressão e realiza-se por meio do vocativo.
Chegamos de viagem, tomamos banho, depois saímos
Exemplos:
para dançar.
Deus! Ó Deus! Onde estás que não respondes?
Pai Nosso, que estais no céu;
Anacoluto Ó meu querido Santo António;
Consiste numa mudança repentina da construção sin-
tática da frase. 3) Paradoxo
Ele, nada podia assustá-lo. É uma proposição aparentemente absurda, resultante da
- Nota: o anacoluto ocorre com frequência na lingua- união de ideias que se contradizem referindo-se ao mesmo
gem falada, quando o falante interrompe a frase, abando- termo. Os paradoxos viciosos são denominados Oxímoros (ou
nando o que havia dito para reconstruí-la novamente. oximoron). Exemplos:
“Menino do Rio / Calor que provoca arrepio...”
Anáfora “Amor é fogo que arde sem se ver; / É ferida que dói e não
Consiste na repetição de uma palavra ou expressão se sente; / É um contentamento descontente; / É dor que desa-
para reforçar o sentido, contribuindo para uma maior ex- tina sem doer;” (Camões)
pressividade.
Cada alma é uma escada para Deus, 4) Eufemismo
Cada alma é um corredor-Universo para Deus, Consiste em empregar uma expressão mais suave, mais
Cada alma é um rio correndo por margens de Externo nobre ou menos agressiva, para atenuar uma verdade tida
Para Deus e em Deus com um sussurro noturno. (Fer- como penosa, desagradável ou chocante. Exemplos:
nando Pessoa) “E pela paz derradeira que enfim vai nos redimir Deus lhe
pague”. (Chico Buarque).
Silepse paz derradeira = morte
Ocorre quando a concordância é realizada com a ideia
e não sua forma gramatical. Existem três tipos de silepse: 5) Gradação
gênero, número e pessoa. Na gradação temos uma sequência de palavras que in-
tensificam a mesma ideia. Exemplo:
- De gênero: Vossa excelência está preocupado com as
“Aqui... além... mais longe por onde eu movo o passo.” (Cas-
notícias. (a palavra vossa excelência é feminina quanto à
tro Alves).
forma, mas nesse exemplo a concordância se deu com a
pessoa a que se refere o pronome de tratamento e não
6) Hipérbole
com o sujeito). É a expressão intencionalmente exagerada com o intuito
- De número: A boiada ficou furiosa com o peão e der- de realçar uma ideia, proporcionando uma imagem emocio-
rubaram a cerca. (nesse caso a concordância se deu com a nante e de impacto. Exemplos:
ideia de plural da palavra boiada). “Faz umas dez horas que essa menina penteia esse cabelo”.
- De pessoa: As mulheres decidimos não votar em de- Ele morreu de tanto rir.
terminado partido até prestarem conta ao povo. (nesse tipo
de silepse, o falante se inclui mentalmente entre os partici- 7) Ironia
pantes de um sujeito em 3ª pessoa). Ocorre ironia quando, pelo contexto, pela entonação,
pela contradição de termos, pretende-se questionar certo
Fonte:http://juliobattisti.com.br/tutoriais/josebferraz/ tipo de pensamento. A intenção é depreciativa ou sarcástica.
figuraslinguagem001.asp Exemplos:
Parece um anjinho aquele menino, briga com todos que
São conhecidas pelo nome de figuras de pensamento estão por perto.
os recursos estilísticos utilizados para incrementar o signi- “Moça linda, bem tratada, / três séculos de família, / burra
ficado das palavras no seu aspecto semântico. como uma porta: / um amor.” (Mário de Andrade).

24
LÍNGUA PORTUGUESA

8) Prosopopeia ou Personificação Zeugma


Consiste na atribuição de ações, qualidades ou carac- Ao contrário da elipse, na zeugma ocorre a omissão
terísticas humanas a seres não humanos. Exemplos: de um termo já expresso no discurso. Constatemos: Maria
Chora, viola. gosta de Matemática, eu de Português.
A morte mostrou sua face mais sinistra. Observamos que houve a omissão do verbo gostar.
O morro dos ventos uivantes.
Anáfora
Figuras de construção ou sintaxe integram as cha- Essa figura de linguagem se caracteriza pela repetição
madas figuras de linguagem, representando um subgrupo intencional de um termo no início de um período, frase ou
destas. Dessa forma, tendo em vista o padrão não conven- verso. Observemos um caso representativo:
cional que prevalece nas figuras de linguagem (ou seja, a A Estrela
subjetividade, a sensibilidade por parte do emissor, deixan-
do às claras seus aspectos estilísticos), devemos compreen- Vi uma estrela tão alta,
der sua denominação. Em outras palavras, por que “figuras Vi uma estrela tão fria!
de construção ou sintaxe”? Vi uma estrela luzindo
Podemos afirmar que assim se denominam em virtude Na minha vida vazia.
de apresentarem algum tipo de modificação na estrutura
da oração, tendo em vista os reais e já ressaltados objetivos Era uma estrela tão alta!
da enunciação (do discurso) – sendo o principal conferir Era uma estrela tão fria!
ênfase a ela. Era uma estrela sozinha
Assim sendo, comecemos entendendo que, em termos Luzindo no fim do dia.
convencionais, a estrutura sintática da nossa língua se perfaz [...]
de uma sequência, demarcada pelos seguintes elementos: Manuel Bandeira

Notamos a utilização de termos que se repetem suces-


SUJEITO + PREDICADO + COMPLEMENTO
sivamente em cada verso da criação de Manuel Bandeira.
(Nós) CHEGAMOS ATRASADOS À REUNIÃO.
Polissíndeto
Figura cuja principal característica se define pela repe-
Temos, assim, um sujeito oculto – nós; um predicado
tição enfática do conectivo, geralmente representado pela
verbal – chegamos atrasados; e um complemento, repre-
conjunção coordenada “e”. Observemos um verso extraí-
sentado por um adjunto adverbial de lugar – à reunião.
do de uma criação de Olavo Bilac, intitulada “A um poeta”:
Quando há uma ruptura dessa sequência lógica, mate- “Trabalha e teima, e lima, e sofre, e sua!”
rializada pela inversão de termos, repetição ou até mesmo
omissão destes, é justamente aí que as figuras em questão Assíndeto
se manifestam. Desse modo, elas se encontram muito pre- Diferentemente do que ocorre no polissíndeto, mani-
sentes na linguagem literária, na publicitária e na lingua- festado pela repetição da conjunção, no assíndeto ocorre a
gem cotidiana de forma geral. Vejamos cada uma delas de omissão deste. Vejamos: Vim, vi, venci (Júlio César)
modo particular: Depreendemos que se trata de orações assindéticas,
justamente pela omissão do conectivo “e”.
Elipse
Tal figura se caracteriza pela omissão de um termo na Anacoluto
oração não expresso anteriormente, contudo, facilmente Trata-se de uma figura que se caracteriza pela inter-
identificado pelo contexto. Vejamos um exemplo: rupção da sequência lógica do pensamento, ou seja, em
termos sintáticos, afirma-se que há uma mudança na cons-
Rondó dos cavalinhos trução do período, deixando algum termo desligado do
[...] restante dos elementos. Vejamos:
Essas crianças de hoje, elas estão muito evoluídas.
Os cavalinhos correndo, Notamos que o termo em destaque, que era para re-
E nós, cavalões, comendo... presentar o sujeito da oração, encontra-se desligado dos
O Brasil politicando, demais termos, não cumprindo, portanto, nenhuma função
Nossa! A poesia morrendo... sintática.
O sol tão claro lá fora,
O sol tão claro, Esmeralda, Inversão (ou Hipérbato)
E em minhalma — anoitecendo! Trata-se da inversão da ordem direta dos termos da
Manuel Bandeira oração. Constatemos: Eufórico chegou o menino.
Deduzimos que o predicativo do sujeito (pois se tra-
Notamos que em todos os versos há a omissão do ver- ta de um predicado verbo-nominal) encontra-se no início
bo estar, sendo este facilmente identificado pelo contexto. da oração, quando este deveria estar expresso no final, ou
seja: O menino chegou eufórico.

25
LÍNGUA PORTUGUESA

Pleonasmo O fonema s:
Figura que consiste na repetição enfática de uma ideia Escreve-se com S e não com C/Ç as palavras substan-
antes expressa, tanto do ponto de vista sintático quanto tivadas derivadas de verbos com radicais em nd, rg, rt, pel,
semântico, no intuito de reforçar a mensagem. Exemplo: corr e sent: pretender - pretensão / expandir - expansão /
Vivemos uma vida tranquila. ascender - ascensão / inverter - inversão / aspergir aspersão
O termo em destaque reforça uma ideia antes ressal- / submergir - submersão / divertir - diversão / impelir - im-
tada, uma vez que viver já diz respeito à vida. Temos uma pulsivo / compelir - compulsório / repelir - repulsa / recorrer
repetição de ordem semântica. - recurso / discorrer - discurso / sentir - sensível / consentir
A ele nada lhe devo. - consensual

Percebemos que o pronome oblíquo (lhe) faz refe- Escreve-se com SS e não com C e Ç os nomes deri-
rência à terceira pessoa do singular, já expressa. Trata-se, vados dos verbos cujos radicais terminem em gred, ced,
prim ou com verbos terminados por tir ou meter: agredir
portanto, de uma repetição de ordem sintática demarcada
- agressivo / imprimir - impressão / admitir - admissão /
pelo que chamamos de objeto direto pleonástico.
ceder - cessão / exceder - excesso / percutir - percussão /
regredir - regressão / oprimir - opressão / comprometer -
Observação importante: O pleonasmo utilizado sem
compromisso / submeter - submissão
a intenção de conferir ênfase ao discurso, torna-se o que *quando o prefixo termina com vogal que se junta com
denominamos de vício de linguagem – ocorrência que deve a palavra iniciada por “s”. Exemplos: a + simétrico - assimé-
ser evitada. Como, por exemplo: subir para cima, descer trico / re + surgir - ressurgir
para baixo, entrar para dentro, entre outras circunstâncias *no pretérito imperfeito simples do subjuntivo. Exem-
linguísticas. plos: ficasse, falasse

Escreve-se com C ou Ç e não com S e SS os vocábulos


2. CONHECIMENTOS LINGUÍSTICOS: de origem árabe: cetim, açucena, açúcar
*os vocábulos de origem tupi, africana ou exótica: cipó,
ORTOGRAFIA: EMPREGO DAS LETRAS,
Juçara, caçula, cachaça, cacique
DIVISÃO SILÁBICA, ACENTUAÇÃO GRÁFICA, *os sufixos aça, aço, ação, çar, ecer, iça, nça, uça, uçu,
ENCONTROS VOCÁLICOS E CONSONANTAIS, uço: barcaça, ricaço, aguçar, empalidecer, carniça, caniço,
DÍGRAFOS; CLASSES DE PALAVRAS: SUBSTAN- esperança, carapuça, dentuço
TIVOS, ADJETIVOS, ARTIGOS, NUMERAIS, *nomes derivados do verbo ter: abster - abstenção /
PRONOMES, VERBOS, ADVÉRBIOS, deter - detenção / ater - atenção / reter - retenção
PREPOSIÇÕES, CONJUNÇÕES, INTERJEIÇÕES: *após ditongos: foice, coice, traição
CONCEITUAÇÕES, CLASSIFICAÇÕES, FLEXÕES, *palavras derivadas de outras terminadas em te, to(r):
EMPREGO, LOCUÇÕES. SINTAXE: ESTRUTURA marte - marciano / infrator - infração / absorto - absorção
DA ORAÇÃO, ESTRUTURA DO PERÍODO,
O fonema z:
CONCORDÂNCIA (VERBAL E NOMINAL);
REGÊNCIA (VERBAL E NOMINAL); CRASE, Escreve-se com S e não com Z:
COLOCAÇÃO DE PRONOMES; PONTUAÇÃO. *os sufixos: ês, esa, esia, e isa, quando o radical é subs-
tantivo, ou em gentílicos e títulos nobiliárquicos: freguês,
freguesa, freguesia, poetisa, baronesa, princesa, etc.
*os sufixos gregos: ase, ese, ise e ose: catequese, meta-
Ortografia
morfose.
*as formas verbais pôr e querer: pôs, pus, quisera, quis,
A ortografia é a parte da língua responsável pela gra- quiseste.
fia correta das palavras. Essa grafia baseia-se no padrão *nomes derivados de verbos com radicais terminados
culto da língua. em “d”: aludir - alusão / decidir - decisão / empreender -
As palavras podem apresentar igualdade total ou par- empresa / difundir - difusão
cial no que se refere a sua grafia e pronúncia, mesmo ten- *os diminutivos cujos radicais terminam com “s”: Luís -
do significados diferentes. Essas palavras são chamadas Luisinho / Rosa - Rosinha / lápis - lapisinho
de homônimas (canto, do grego, significa ângulo / canto, *após ditongos: coisa, pausa, pouso
do latim, significa música vocal). As palavras homônimas *em verbos derivados de nomes cujo radical termina
dividem-se em homógrafas, quando têm a mesma grafia com “s”: anális(e) + ar - analisar / pesquis(a) + ar - pesquisar
(gosto, substantivo e gosto, 1ª pessoa do singular do verbo Escreve-se com Z e não com S:
gostar) e homófonas, quando têm o mesmo som (paço, pa- *os sufixos “ez” e “eza” das palavras derivadas de adje-
lácio ou passo, movimento durante o andar). tivo: macio - maciez / rico - riqueza
Quanto à grafia correta em língua portuguesa, devem- *os sufixos “izar” (desde que o radical da palavra de
se observar as seguintes regras: origem não termine com s): final - finalizar / concreto - con-
cretizar

26
LÍNGUA PORTUGUESA

*como consoante de ligação se o radical não terminar Questões sobre Ortografia


com s: pé + inho - pezinho / café + al - cafezal ≠ lápis +
inho - lapisinho 01. (TRE/AP - TÉCNICO JUDICIÁRIO – FCC/2011) Entre
as frases que seguem, a única correta é:
O fonema j: a) Ele se esqueceu de que?
b) Era tão ruím aquele texto, que não deu para distri-
Escreve-se com G e não com J: bui-lo entre os presentes.
*as palavras de origem grega ou árabe: tigela, girafa, c) Embora devessemos, não fomos excessivos nas críticas.
gesso. d) O juíz nunca negou-se a atender às reivindicações
*estrangeirismo, cuja letra G é originária: sargento, gim. dos funcionários.
*as terminações: agem, igem, ugem, ege, oge (com e) Não sei por que ele mereceria minha consideração.
poucas exceções): imagem, vertigem, penugem, bege, foge.
02. (Escrevente TJ SP – Vunesp/2013). Assinale a alter-
Observação: Exceção: pajem nativa cujas palavras se apresentam flexionadas de acordo
*as terminações: ágio, égio, ígio, ógio, ugio: sortilégio, com a norma- -padrão.
litígio, relógio, refúgio. (A) Os tabeliãos devem preparar o documento.
*os verbos terminados em ger e gir: eleger, mugir. (B) Esses cidadões tinham autorização para portar fuzis.
*depois da letra “r” com poucas exceções: emergir, sur- (C) Para autenticar as certidãos, procure o cartório local.
gir. (D) Ao descer e subir escadas, segure-se nos corrimãos.
*depois da letra “a”, desde que não seja radical termi- (E) Cuidado com os degrais, que são perigosos!
nado com j: ágil, agente.
03. (Agente de Vigilância e Recepção – VUNESP –
Escreve-se com J e não com G: 2013). Suponha-se que o cartaz a seguir seja utilizado para
*as palavras de origem latinas: jeito, majestade, hoje. informar os usuários sobre o festival Sounderground.
*as palavras de origem árabe, africana ou exótica: ji-
Prezado Usuário
boia, manjerona.
________ de oferecer lazer e cultura aos passageiros do
*as palavras terminada com aje: aje, ultraje.
metrô, ________ desta segunda-feira (25/02), ________ 17h30,
começa o Sounderground, festival internacional que presti-
O fonema ch:
gia os músicos que tocam em estações do metrô.
Confira o dia e a estação em que os artistas se apresen-
Escreve-se com X e não com CH:
tarão e divirta-se!
*as palavras de origem tupi, africana ou exótica: aba-
Para que o texto atenda à norma-padrão, devem-se
caxi, muxoxo, xucro.
*as palavras de origem inglesa (sh) e espanhola (J): preencher as lacunas, correta e respectivamente, com as
xampu, lagartixa. expressões
*depois de ditongo: frouxo, feixe. A) A fim ...a partir ... as
*depois de “en”: enxurrada, enxoval. B) A fim ...à partir ... às
C) A fim ...a partir ... às
Observação: Exceção: quando a palavra de origem D) Afim ...a partir ... às
não derive de outra iniciada com ch - Cheio - (enchente) E) Afim ...à partir ... as

Escreve-se com CH e não com X: 04. (TRF - 1ª REGIÃO - TÉCNICO JUDICIÁRIO - FCC/2011)
*as palavras de origem estrangeira: chave, chumbo, As palavras estão corretamente grafadas na seguinte frase:
chassi, mochila, espadachim, chope, sanduíche, salsicha. (A) Que eles viajem sempre é muito bom, mas não é
boa a ansiedade com que enfrentam o excesso de passa-
As letras e e i: geiros nos aeroportos.
*os ditongos nasais são escritos com “e”: mãe, põem. (B) Comete muitos deslises, talvez por sua espontanei-
Com “i”, só o ditongo interno cãibra. dade, mas nada que ponha em cheque sua reputação de
*os verbos que apresentam infinitivo em -oar, -uar são pessoa cortês.
escritos com “e”: caçoe, tumultue. Escrevemos com “i”, os (C) Ele era rabugento e tinha ojeriza ao hábito do só-
verbos com infinitivo em -air, -oer e -uir: trai, dói, possui. cio de descançar após o almoço sob a frondoza árvore do
- atenção para as palavras que mudam de sentido pátio.
quando substituímos a grafia “e” pela grafia “i”: área (super- (D) Não sei se isso influe, mas a persistência dessa má-
fície), ária (melodia) / delatar (denunciar), dilatar (expandir) goa pode estar sendo o grande impecilho na superação
/ emergir (vir à tona), imergir (mergulhar) / peão (de estân- dessa sua crise.
cia, que anda a pé), pião (brinquedo). (E) O diretor exitou ao aprovar a retenção dessa alta
Fonte: http://www.pciconcursos.com.br/aulas/portu- quantia, mas não quiz ser taxado de conivente na conces-
gues/ortografia são de privilégios ilegítimos.

27
LÍNGUA PORTUGUESA

05.Em qual das alternativas a frase está corretamente GABARITO


escrita?
A) O mindingo não depositou na cardeneta de poupansa. 01.E 02. D 03. C 04. A 05. B
B) O mendigo não depositou na caderneta de poupança. 06. E 07. C 08. E 09. A 10. C
C) O mindigo não depozitou na cardeneta de poupanssa.
D) O mendingo não depozitou na carderneta de poupansa. RESOLUÇÃO
06.(IAMSPE/SP – ATENDENTE – [PAJEM] - CCI) – VU- 1-)
NESP/2011) Assinale a alternativa em que o trecho – Mas (A) Ele se esqueceu de que? = quê?
ela cresceu ... – está corretamente reescrito no plural, com o
(B) Era tão ruím (ruim) aquele texto, que não deu para
verbo no tempo futuro.
distribui-lo (distribuí-lo) entre os presentes.
(A) Mas elas cresceram...
(C) Embora devêssemos (devêssemos) , não fomos ex-
(B) Mas elas cresciam...
cessivos nas críticas.
(C) Mas elas cresçam...
(D) Mas elas crescem... (D) O juíz ( juiz) nunca (se) negou a atender às reivindi-
(E) Mas elas crescerão... cações dos funcionários.
(E) Não sei por que ele mereceria minha consideração.
07. (IAMSPE/SP – ATENDENTE – [PAJEM – CCI] – VU-
NESP/2011 - ADAPTADA) Assinale a alternativa em que o 2-)
trecho – O teste decisivo e derradeiro para ele, cidadão an- (A) Os tabeliãos devem preparar o documento. = ta-
sioso e sofredor...– está escrito corretamente no plural. beliães
(A) Os testes decisivo e derradeiros para eles, cidadãos (B) Esses cidadões tinham autorização para portar fuzis.
ansioso e sofredores... = cidadãos
(B) Os testes decisivos e derradeiros para eles, cidadães (C) Para autenticar as certidãos, procure o cartório lo-
ansioso e sofredores... cal. = certidões
(C) Os testes decisivos e derradeiros para eles, cidadãos (E) Cuidado com os degrais, que são perigosos = de-
ansiosos e sofredores... graus
(D) Os testes decisivo e derradeiros para eles, cidadões
ansioso e sofredores... 3-) Prezado Usuário
(E) Os testes decisivos e derradeiros para eles, cidadães A fim de oferecer lazer e cultura aos passageiros do me-
ansiosos e sofredores... trô, a partir desta segunda-feira (25/02), às 17h30, começa
o Sounderground, festival internacional que prestigia os mú-
08. (MPE/RJ – TÉCNICO ADMINISTRATIVO – FUJB/2011) sicos que tocam em estações do metrô.
Assinale a alternativa em que a frase NÃO contraria a nor- Confira o dia e a estação em que os artistas se apresen-
ma culta: tarão e divirta-se!
A) Entre eu e a vida sempre houve muitos infortúnios, A fim = indica finalidade; a partir: sempre separado;
por isso posso me queixar com razão. antes de horas: há crase
B) Sempre houveram várias formas eficazes para ultra-
passarmos os infortúnios da vida.
4-) Fiz a correção entre parênteses:
C) Devemos controlar nossas emoções todas as vezes que
(A) Que eles viajem sempre é muito bom, mas não é
vermos a pobreza e a miséria fazerem parte de nossa vida.
boa a ansiedade com que enfrentam o excesso de passa-
D) É difícil entender o por quê de tanto sofrimento,
principalmente daqueles que procuram viver com dignida- geiros nos aeroportos.
de e simplicidade. (B) Comete muitos deslises (deslizes), talvez por sua
E) As dificuldades por que passamos certamente nos espontaneidade, mas nada que ponha em cheque (xeque)
fazem mais fortes e preparados para os infortúnios da vida. sua reputação de pessoa cortês.
(C) Ele era rabugento e tinha ojeriza ao hábito do sócio
09.Assinale a alternativa cuja frase esteja incorreta: de descançar (descansar) após o almoço sob a frondoza
A) Porque essa cara? (frondosa) árvore do pátio.
B) Não vou porque não quero. (D) Não sei se isso influe (influi), mas a persistência
C) Mas por quê? dessa mágoa pode estar sendo o grande impecilho (empe-
D) Você saiu por quê? cilho) na superação dessa sua crise.
(E) O diretor exitou (hesitou) ao aprovar a retenção
10-) (GOVERNO DO ESTADO DE ALAGOAS – TÉCNICO dessa alta quantia, mas não quiz (quis) ser taxado de coni-
FORENSE - CESPE/2013 - adaptada) Uma variante igual- vente na concessão de privilégios ilegítimos.
mente correta do termo “autópsia” é autopsia.
( ) Certo
( ) Errado

28
LÍNGUA PORTUGUESA

5-) Classificação das palavras quanto ao número de


A) O mindingo não depositou na cardeneta de pou- sílabas
pansa. = mendigo/caderneta/poupança
C) O mindigo não depozitou na cardeneta de poupans- - Monossílabas: possuem apenas uma sílaba. Exemplos:
sa. = mendigo/caderneta/poupança mãe, flor, lá, meu;
D) O mendingo não depozitou na carderneta de pou- - Dissílabas: possuem duas sílabas. Exemplos: ca-fé,
pansa. =mendigo/depositou/caderneta/poupança i-ra, a-í, trans-por;
- Trissílabas: possuem três sílabas. Exemplos: ci-ne-ma,
6-) Futuro do verbo “crescer”: crescerão. Teremos: mas pró-xi-mo, pers-pi-caz, O-da-ir;
elas crescerão... - Polissílabas: possuem quatro ou mais sílabas. Exem-
plos: a-ve-ni-da, li-te-ra-tu-ra, a-mi-ga-vel-men-te, o-tor
7-) Como os itens apresentam o mesmo texto, a alter- -ri-no-la-rin-go-lo-gis-ta.
nativa correta já indica onde estão as inadequações nos
demais itens. Divisão Silábica

8-) Fiz as correções entre parênteses: Na divisão silábica das palavras, cumpre observar as
A) Entre eu (mim) e a vida sempre houve muitos infor- seguintes normas:
túnios, por isso posso me queixar com razão.
B) Sempre houveram (houve) várias formas eficazes - Não se separam os ditongos e tritongos. Exemplos:
para ultrapassarmos os infortúnios da vida. foi-ce, a-ve-ri-guou;
C) Devemos controlar nossas emoções todas as vezes - Não se separam os dígrafos ch, lh, nh, gu, qu. Exem-
que vermos (virmos) a pobreza e a miséria fazerem parte plos: cha-ve, ba-ra-lho, ba-nha, fre-guês, quei-xa;
de nossa vida. - Não se separam os encontros consonantais que ini-
D) É difícil entender o por quê (o porquê) de tanto so- ciam sílaba. Exemplos: psi-có-lo-go, re-fres-co;
frimento, principalmente daqueles que procuram viver com - Separam-se as vogais dos hiatos. Exemplos: ca-a-tin-
dignidade e simplicidade. ga, fi-el, sa-ú-de;
E) As dificuldades por que (= pelas quais; correto) pas- - Separam-se as letras dos dígrafos rr, ss, sc, sç xc.
samos certamente nos fazem mais fortes e preparados Exemplos: car-ro, pas-sa-re-la, des-cer, nas-ço, ex-ce-len-
para os infortúnios da vida. te;
- Separam-se os encontros consonantais das sílabas
9-) Por que essa cara? = é uma pergunta e o pronome internas, excetuando-se aqueles em que a segunda con-
está longe do ponto de interrogação. soante é l ou r. Exemplos: ap-to, bis-ne-to, con-vic-ção,
a-brir, a-pli-car.
10-) autopsia s.f., autópsia s.f.; cf. autopsia
(fonte: http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/ Acento Tônico
sys/start.htm?sid=23)
RESPOSTA: “CERTO”. Na emissão de uma palavra de duas ou mais sílabas,
percebe-se que há uma sílaba de maior intensidade sonora
Divisão Silábica do que as demais.
calor - a sílaba lor é a de maior intensidade.
Sílaba faceiro - a sílaba cei é a de maior intensidade.
sólido - a sílaba só é a de maior intensidade.
A palavra amor está dividida em grupos de fonemas
pronunciados separadamente: a - mor. A cada um des- Obs.: a presença da sílaba de maior intensidade nas pa-
ses grupos pronunciados numa só emissão de voz dá-se lavras, em meio à sílabas de menor intensidade, é um dos
o nome de sílaba. Em nossa língua, o núcleo da sílaba é elementos que dão melodia à frase.
sempre uma vogal: não existe sílaba sem vogal e nunca
há mais do que uma vogal em  cada sílaba. Dessa forma, Classificação da sílaba quanto a intensidade
para sabermos o número de sílabas de uma palavra, deve-
mos perceber quantas vogais tem essa palavra. Atenção: -Tônica: é a sílaba pronunciada com maior intensidade.
as letras i e u (mais raramente com as letras e e o) podem - Átona: é a sílaba pronunciada com menor intensidade.
representar semivogais. - Subtônica: é a sílaba de intensidade intermediária.
Ocorre, principalmente, nas palavras derivadas, correspon-
dendo à tônica da palavra primitiva. 

29
LÍNGUA PORTUGUESA

Classificação das palavras quanto à posição da sí- 4-Assinale o item em que todas as sílabas estão corre-
laba tônica tamente separadas:
a) a-p-ti-dão;
De acordo com a posição da sílaba tônica, os vocábu- b) so-li-tá-ri-o;
los da língua portuguesa que contêm  duas ou mais sílabas c) col-me-ia;
são classificados em: d) ar-mis-tí-cio;
- Oxítonos: são aqueles cuja sílaba tônica é a última. e) trans-a-tlân-ti-co.
Exemplos: avó, urubu, parabéns
- Paroxítonos: são aqueles cuja sílaba tônica é a penúl- 5- Assinale o item em que a divisão silábica está errada:
tima. Exemplos: dócil, suavemente, banana a) tran-sa-tlân-ti-co / de-sin-fe-tar;
- Proparoxítonos: são aqueles cuja sílaba tônica é a an- b) subs-ta-be-le-cer / de-su-ma-no;
tepenúltima. Exemplos: máximo, parábola, íntimo c) cis-an-di-no / sub-es-ti-mar;
d) ab-di-ca-ção / a-bla-ti-vo;
e) fri-is-si-mo / ma-ci-is-si-mo.
Saiba que:
- São palavras oxítonas, entre outras: cateter, mister,
6- Existe erro de divisão silábica no item:
Nobel, novel, ruim, sutil, transistor, ureter.
a) mei-a / pa-ra-noi-a / ba-lai-o;
- São palavras paroxítonas, entre outras: avaro, aziago, b) oc-ci-pi-tal / ex-ces-so / pneu-má-ti-co;
boêmia, caracteres, cartomancia, celtibero, circuito, decano, c) subs-tân-cia / pers-pec-ti-va / felds-pa-to;
filantropo, fluido, fortuito, gratuito, Hungria, ibero, impu- d) su-bli-nhar / su-blin-gual / a-brup-to;
dico, inaudito, intuito, maquinaria, meteorito, misantropo, e) tran-sa-tlân-ti-co / trans-cen-der / tran-so-ce-â-ni-co.
necropsia (alguns dicionários admitem também necrópsia),
Normandia, pegada, policromo, pudico, quiromancia, rubri- 7- A única alternativa correta quanto à divisão silábica é:
ca, subido(a). a) ma-qui-na-ri-a / for-tui-to;
- São palavras proparoxítonas, entre outras: aerólito, b) tun-gs-tê-nio / ri-tmo; ;
bávaro, bímano, crisântemo, ímprobo, ínterim, lêvedo, ôme- c) an-do-rin-ha / sub-o-fi-ci-al;
ga, pântano, trânsfuga. d) bo-ê-mi-a / ab-scis-sa;
- As seguintes palavras, entre outras, admitem dupla e) coe-são / si-len-cio-so.
tonicidade: acróbata/acrobata, hieróglifo/hieroglifo, Oceâ-
nia/Oceania, ortoépia/ortoepia, projétil/projetil, réptil/reptil, 8- Indique a alternativa em que as palavras “sussurro”,
zângão/zangão. ”iguaizinhos” e “gnomo”, estão corretamente divididas em
sílabas:
Exercícios a) sus - su - rro, igu - ai - zi - nhos, g - no - mo;
b) su - ssu - rro, i - guai - zi - nhos, gno - mo;
1-Assinale o item em que a divisão silábica é incorreta: c) sus - su - rro, i - guai - zi - nhos, gno - mo;
a) gra-tui-to; d) su - ssur - ro, i - gu - ai - zi - nhos, gn - omo;
b) ad-vo-ga-do; e) sus - sur - ro, i - guai - zi - nhos, gno - mo.
c) tran-si-tó-rio;
d) psi-co-lo-gi-a; 9- Na expressão “A icterícia nada tem a ver com he-
e) in-ter-stí-cio. modiálise ou disenteria”, as palavras grifadas apresentam-
se corretamente divididas em sílabas na alternativa:
a) i-cte-rí-cia, he-mo-di-á-li-se, di-sen-te-ria;
2-Assinale o item em que a separação silábica é incor-
b) ic-te-rí-ci-a, he-mo-diá-li-se, dis-en-te-ria;
reta:
c) i-c-te-rí-cia, he-mo-di-á-li-se, di-sen-te-ria;
a) psi-có-ti-co;
d) ic-te-rí-cia, he-mo-di-á-li-se, di-sen-te-ri-a;
b) per-mis-si-vi-da-de;
e) ic-te-rí-cia, he-mo-di-á-li-se, di-sen-te-ria.
c) as-sem-ble-ia;
d) ob-ten-ção; 10- Assinale a única opção em que há, um vocábulo cuja
e) fa-mí-lia. separação silábica não esta feita de acordo com a norma or-
tográfica vigente:
3-Assinale o item em que todos os vocábulos têm as a) es-cor-re-gou / in-crí-veis;
sílabas corretamente separadas: b) in-fân-cia / cres-ci-a;
a) al-dei-a, caa-tin-ga , tran-si-ção; c) i-dei-a / lé-guas;
b) pro-sse-gui-a, cus-tó-dia, trans-ver-sal; d) des-o-be-de-ceu / cons-tru-í-da;
c) a-bsur-do, pra-ia, in-cons-ci-ên-cia; e) vo-ou / sor-ri-em.
d) o-ccip-tal, gra-tui-to, ab-di-car;
e) mis-té-rio, ap-ti-dão, sus-ce-tí-vel. Respostas: 1-E / 2-C / 3-E / 4-D / 5-C / 6-D / 7-A / 8-E
/ 9-E / 10-D

30
LÍNGUA PORTUGUESA

Acentuação Gráfica acento grave (`) – indica a fusão da preposição “a” com
artigos e pronomes. Ex.: à – às – àquelas – àqueles
A acentuação é um dos requisitos que perfazem as re- trema ( ¨ ) – De acordo com a nova regra, foi total-
gras estabelecidas pela Gramática Normativa. Esta se com- mente abolido das palavras. Há uma exceção: é utilizado
põe de algumas particularidades, às quais devemos estar em palavras derivadas de nomes próprios estrangeiros. Ex.:
atentos, procurando estabelecer uma relação de familia- mülleriano (de Müller)
ridade e, consequentemente, colocando-as em prática na
linguagem escrita. til (~) – indica que as letras “a” e “o” representam vo-
À medida que desenvolvemos o hábito da leitura e a gais nasais. Ex.: coração – melão – órgão – ímã
prática de redigir, automaticamente aprimoramos essas
competências, e logo nos adequamos à forma padrão. Regras fundamentais:

Regras básicas – Acentuação tônica Palavras oxítonas:


Acentuam-se todas as oxítonas terminadas em: “a”, “e”,
A acentuação tônica implica na intensidade com que “o”, “em”, seguidas ou não do plural(s): Pará – café(s) – ci-
são pronunciadas as sílabas das palavras. Aquela que se dá pó(s) – armazém(s)
de forma mais acentuada, conceitua-se como sílaba tônica. Essa regra também é aplicada aos seguintes casos:
As demais, como são pronunciadas com menos intensida- Monossílabos tônicos terminados em “a”, “e”, “o”, se-
de, são denominadas de átonas. guidos ou não de “s”. Ex.: pá – pé – dó – há
Formas verbais terminadas em “a”, “e”, “o” tônicos, se-
De acordo com a tonicidade, as palavras são classifica- guidas de lo, la, los, las. Ex. respeitá-lo – percebê-lo – com-
das como: pô-lo

Oxítonas – São aquelas cuja sílaba tônica recai sobre a Paroxítonas:


Acentuam-se as palavras paroxítonas terminadas em:
última sílaba. Ex.: café – coração – cajá – atum – caju – papel
- i, is : táxi – lápis – júri
Paroxítonas – São aquelas em que a sílaba tônica recai
- us, um, uns : vírus – álbuns – fórum
na penúltima sílaba. Ex.: útil – tórax – táxi – leque – retrato
- l, n, r, x, ps : automóvel – elétron - cadáver – tórax –
– passível
fórceps
- ã, ãs, ão, ãos : ímã – ímãs – órfão – órgãos
Proparoxítonas - São aquelas em que a sílaba tônica
-- Dica da Zê!: Memorize a palavra LINURXÃO. Para
está na antepenúltima sílaba. Ex.: lâmpada – câmara – tím-
quê? Repare que essa palavra apresenta as terminações das
pano – médico – ônibus paroxítonas que são acentuadas: L, I N, U (aqui inclua UM =
fórum), R, X, Ã, ÃO. Assim ficará mais fácil a memorização!
Como podemos observar, os vocábulos possuem mais
de uma sílaba, mas em nossa língua existem aqueles com -ditongo oral, crescente ou decrescente, seguido ou
uma sílaba somente: são os chamados monossílabos que, não de “s”: água – pônei – mágoa – jóquei
quando pronunciados, apresentam certa diferenciação
quanto à intensidade. Regras especiais:
Tal diferenciação só é percebida quando os pronun-
ciamos em uma dada sequência de palavras. Assim como Os ditongos de pronúncia aberta “ei”, “oi” (ditongos
podemos observar no exemplo a seguir: abertos), que antes eram acentuados, perderam o acento
de acordo com a nova regra, mas desde que estejam em
“Sei que não vai dar em nada, palavras paroxítonas.
Seus segredos sei de cor”.
Os monossílabos classificam-se como tônicos; os de- * Cuidado: Se os ditongos abertos estiverem em uma
mais, como átonos (que, em, de). palavra oxítona (herói) ou monossílaba (céu) ainda são
acentuados. Ex.: herói, céu, dói, escarcéu.
Os acentos
Antes Agora
acento agudo (´) – Colocado sobre as letras «a», «i», assembléia assembleia
«u» e sobre o «e» do grupo “em” - indica que estas letras idéia ideia
representam as vogais tônicas de palavras como Amapá, geléia geleia
caí, público, parabéns. Sobre as letras “e” e “o” indica, além jibóia jiboia
da tonicidade, timbre aberto.Ex.: herói – médico – céu (di- apóia (verbo apoiar) apoia
tongos abertos) paranóico paranoico

acento circunflexo (^) – colocado sobre as letras “a”, Quando a vogal do hiato for “i” ou “u” tônicos, acom-
“e” e “o” indica, além da tonicidade, timbre fechado: Ex.: panhados ou não de “s”, haverá acento. Ex.: saída – faísca
tâmara – Atlântico – pêssego – supôs – baú – país – Luís

31
LÍNGUA PORTUGUESA

Observação importante: Não se acentuam mais as palavras homógrafas que


Não serão mais acentuados “i” e “u” tônicos, formando antes eram acentuadas para diferenciá-las de outras seme-
hiato quando vierem depois de ditongo: Ex.: lhantes (regra do acento diferencial). Apenas em algumas
Antes Agora exceções, como:
bocaiúva bocaiuva A forma verbal pôde (terceira pessoa do singular do
feiúra feiura pretérito perfeito do modo indicativo) ainda continua sen-
Sauípe Sauipe
do acentuada para diferenciar-se de pode (terceira pessoa
do singular do presente do indicativo). Ex:
O acento pertencente aos encontros “oo” e “ee” foi
abolido. Ex.: Ela pode fazer isso agora.
Antes Agora Elvis não pôde participar porque sua mão não deixou...
crêem creem
lêem leem O mesmo ocorreu com o verbo pôr para diferenciar da
vôo voo preposição por.
enjôo enjoo - Quando, na frase, der para substituir o “por” por “co-
locar”, estaremos trabalhando com um verbo, portanto:
- Agora memorize a palavra CREDELEVÊ. São os verbos “pôr”; nos outros casos, “por” preposição. Ex:
que, no plural, dobram o “e”, mas que não recebem mais Faço isso por você.
acento como antes: CRER, DAR, LER e VER. Posso pôr (colocar) meus livros aqui?
Repare: Questões sobre Acentuação Gráfica
1-) O menino crê em você
Os meninos creem em você.
2-) Elza lê bem! 01. (TJ/SP – AGENTE DE FISCALIZAÇÃO JUDICIÁRIA –
Todas leem bem! VUNESP/2010) Assinale a alternativa em que as palavras
3-) Espero que ele dê o recado à sala. são acentuadas graficamente pelos mesmos motivos que
Esperamos que os garotos deem o recado! justificam, respectivamente, as acentuações de: década,
4-) Rubens vê tudo! relógios, suíços.
Eles veem tudo! (A) flexíveis, cartório, tênis.
(B) inferência, provável, saída.
* Cuidado! Há o verbo vir: (C) óbvio, após, países.
Ele vem à tarde! (D) islâmico, cenário, propôs.
Eles vêm à tarde! (E) república, empresária, graúda.
Não se acentuam o “i” e o “u” que formam hiato quan- 02. (TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAU-
do seguidos, na mesma sílaba, de l, m, n, r ou z. Ra-ul, ru
LO - ESCREVENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO – VUNESP/2013)
-im, con-tri-bu-in-te, sa-ir, ju-iz
Assinale a alternativa com as palavras acentuadas segundo
Não se acentuam as letras “i” e “u” dos hiatos se esti- as regras de acentuação, respectivamente, de intercâmbio
verem seguidas do dígrafo nh. Ex: ra-i-nha, ven-to-i-nha. e antropológico.
(A) Distúrbio e acórdão.
Não se acentuam as letras “i” e “u” dos hiatos se vierem (B) Máquina e jiló.
precedidas de vogal idêntica: xi-i-ta, pa-ra-cu-u-ba (C) Alvará e Vândalo.
(D) Consciência e características.
As formas verbais que possuíam o acento tônico na (E) Órgão e órfãs.
raiz, com “u” tônico precedido de “g” ou “q” e seguido de
“e” ou “i” não serão mais acentuadas. Ex.: 03. (TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO ACRE –
Antes Depois TÉCNICO EM MICROINFORMÁTICA - CESPE/2012) As pa-
apazigúe (apaziguar) apazigue lavras “conteúdo”, “calúnia” e “injúria” são acentuadas de
averigúe (averiguar) averigue
acordo com a mesma regra de acentuação gráfica.
argúi (arguir) argui
( ) CERTO ( ) ERRADO
Acentuam-se os verbos pertencentes à terceira pessoa do
plural de: ele tem – eles têm / ele vem – eles vêm (verbo vir) 04. (TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MINAS
GERAIS – OFICIAL JUDICIÁRIO – FUNDEP/2010) Assinale a
A regra prevalece também para os verbos conter, obter, afirmativa em que se aplica a mesma regra de acentuação.
reter, deter, abster. A) tevê – pôde – vê
ele contém – eles contêm B) únicas – histórias – saudáveis
ele obtém – eles obtêm C) indivíduo – séria – noticiários
ele retém – eles retêm D) diário – máximo – satélite
ele convém – eles convêm

32
LÍNGUA PORTUGUESA

05. (ANATEL – TÉCNICO ADMINISTRATIVO – CES- 2-) Para que saibamos qual alternativa assinalar, primei-
PE/2012) Nas palavras “análise” e “mínimos”, o emprego ro temos que classificar as palavras do enunciado quanto à
do acento gráfico tem justificativas gramaticais diferentes. posição de sua sílaba tônica:
(...) CERTO ( ) ERRADO Intercâmbio = paroxítona terminada em ditongo; An-
tropológico = proparoxítona (todas são acentuadas). Ago-
06. (ANCINE – TÉCNICO ADMINISTRATIVO – CES- ra, vamos à análise dos itens apresentados:
PE/2012) Os vocábulos “indivíduo”, “diária” e “paciência” (A) Distúrbio = paroxítona terminada em ditongo;
recebem acento gráfico com base na mesma regra de acen- acórdão = paroxítona terminada em “ão”
tuação gráfica. (B) Máquina = proparoxítona; jiló = oxítona terminada
(...) CERTO ( ) ERRADO em “o”
(C) Alvará = oxítona terminada em “a”; Vândalo = pro-
07. (BACEN – TÉCNICO DO BANCO CENTRAL – CES- paroxítona
GRANRIO/2010) As palavras que se acentuam pelas mes- (D) Consciência = paroxítona terminada em ditongo;
mas regras de “conferência”, “razoável”, “países” e “será”, características = proparoxítona
respectivamente, são (E) Órgão e órfãs = ambas: paroxítona terminada em
a) trajetória, inútil, café e baú. “ão” e “ã”, respectivamente.
b) exercício, balaústre, níveis e sofá.
c) necessário, túnel, infindáveis e só. 3-) “Conteúdo” é acentuada seguindo a regra do hiato;
d) médio, nível, raízes e você. calúnia = paroxítona terminada em ditongo; injúria = paro-
e) éter, hífen, propôs e saída. xítona terminada em ditongo.
RESPOSTA: “ERRADO”.
08. (CORREIOS – CARTEIRO – CESPE/2011) São acen-
tuados graficamente de acordo com a mesma regra de 4-)
acentuação gráfica os vocábulos A) tevê – pôde – vê
A) também e coincidência. Tevê = oxítona terminada em “e”; pôde (pretérito per-
B) quilômetros e tivéssemos. feito do Indicativo) = acento diferencial (que ainda preva-
C) jogá-la e incrível. lece após o Novo Acordo Ortográfico) para diferenciar de
D) Escócia e nós. “pode” – presente do Indicativo; vê = monossílaba termi-
E) correspondência e três. nada em “e”
B) únicas – histórias – saudáveis
09. (IBAMA – TÉCNICO ADMINISTRATIVO – CES- Únicas = proparoxítona; história = paroxítona termi-
PE/2012) As palavras “pó”, “só” e “céu” são acentuadas de nada em ditongo; saudáveis = paroxítona terminada em
acordo com a mesma regra de acentuação gráfica. ditongo.
(...) CERTO ( ) ERRADO C) indivíduo – séria – noticiários
Indivíduo = paroxítona terminada em ditongo; séria =
GABARITO paroxítona terminada em ditongo; noticiários = paroxítona
terminada em ditongo.
01. E 02. D 03. E 04. C 05. E D) diário – máximo – satélite
06. C 07. D 08. B 09. E Diário = paroxítona terminada em ditongo; máximo =
proparoxítona; satélite = proparoxítona.
RESOLUÇÃO
5-) Análise = proparoxítona / mínimos = proparoxíto-
1-) Década = proparoxítona / relógios = paroxítona na. Ambas são acentuadas pela mesma regra (antepenúlti-
terminada em ditongo / suíços = regra do hiato ma sílaba é tônica, “mais forte”).
(A) flexíveis e cartório = paroxítonas terminadas em RESPOSTA: “ERRADO”.
ditongo / tênis = paroxítona terminada em “i” (seguida
de “s”) 6-) Indivíduo = paroxítona terminada em ditongo; diária
(B) inferência = paroxítona terminada em ditongo / = paroxítona terminada em ditongo; paciência = paroxítona
provável = paroxítona terminada em “l” / saída = regra do terminada em ditongo. Os três vocábulos são acentuados
hiato devido à mesma regra.
(C) óbvio = paroxítona terminada em ditongo / após RESPOSTA: “CERTO”.
= oxítona terminada em “o” + “s” / países = regra do hiato
(D) islâmico = proparoxítona / cenário = paroxítona 7-) Vamos classificar as palavras do enunciado:
terminada em ditongo / propôs = oxítona terminada em 1-) Conferência = paroxítona terminada em ditongo
“o” + “s” 2-) razoável = paroxítona terminada em “l’
(E) república = proparoxítona / empresária = paroxíto- 3-) países = regra do hiato
na terminada em ditongo / graúda = regra do hiato 4-) será = oxítona terminada em “a”

33
LÍNGUA PORTUGUESA

a) trajetória, inútil, café e baú. Adjetivo Pátrio (ou gentílico)


Trajetória = paroxítona terminada em ditongo; inútil =
paroxítona terminada em “l’; café = oxítona terminada em “e” Indica a nacionalidade ou o lugar de origem do ser.
b) exercício, balaústre, níveis e sofá. Observe alguns deles:
Exercício = paroxítona terminada em ditongo; balaústre =
regra do hiato; níveis = paroxítona terminada em “i + s”; sofá Estados e cidades brasileiros:
= oxítona terminada em “a”. Alagoas alagoano
c) necessário, túnel, infindáveis e só. Amapá amapaense
Necessário = paroxítona terminada em ditongo; túnel = Aracaju aracajuano ou aracajuense
paroxítona terminada em “l’; infindáveis = paroxítona termina- Amazonas amazonense ou baré
da em “i + s”; só = monossílaba terminada em “o”. Belo Horizonte belo-horizontino
d) médio, nível, raízes e você. Brasília brasiliense
Médio = paroxítona terminada em ditongo; nível = paro- Cabo Frio cabo-friense
xítona terminada em “l’; raízes = regra do hiato; será = oxítona Campinas campineiro ou campinense
terminada em “a”.
e) éter, hífen, propôs e saída. Adjetivo Pátrio Composto
Éter = paroxítona terminada em “r”; hífen = paroxítona
terminada em “n”; propôs = oxítona terminada em “o + s”; Na formação do adjetivo pátrio composto, o primeiro
saída = regra do hiato. elemento aparece na forma reduzida e, normalmente, eru-
dita. Observe alguns exemplos:
8-)
A) também e coincidência. África afro- / Cultura afro-americana
Também = oxítona terminada em “e + m”; coincidência = Alemanha germano- ou teuto-/Competições teuto
paroxítona terminada em ditongo -inglesas
América américo- / Companhia américo-africana
B) quilômetros e tivéssemos.
Bélgica belgo- / Acampamentos belgo-franceses
Quilômetros = proparoxítona; tivéssemos = proparoxítona
China sino- / Acordos sino-japoneses
C) jogá-la e incrível.
Espanha hispano- / Mercado hispano-português
Oxítona terminada em “a”; incrível = paroxítona termina-
Europa euro- / Negociações euro-americanas
da em “l’
França franco- ou galo- / Reuniões franco-italianas
D) Escócia e nós.
Grécia greco- / Filmes greco-romanos
Escócia = paroxítona terminada em ditongo; nós = mo-
Inglaterra anglo- / Letras anglo-portuguesas
nossílaba terminada em “o + s” Itália ítalo- / Sociedade ítalo-portuguesa
E) correspondência e três. Japão nipo- / Associações nipo-brasileiras
Correspondência = paroxítona terminada em ditongo; Portugal luso- / Acordos luso-brasileiros
três = monossílaba terminada em “e + s”
Flexão dos adjetivos
9-) Pó = monossílaba terminada em “o”; só = monos-
sílaba terminada em “o”; céu = monossílaba terminada em O adjetivo varia em gênero, número e grau.
ditongo aberto “éu”.
RESPOSTA: “ERRADO”. Gênero dos Adjetivos

Classes de palavras Os adjetivos concordam com o substantivo a que se


referem (masculino e feminino). De forma semelhante aos
Adjetivo é a palavra que expressa uma qualidade ou ca- substantivos, classificam-se em:
racterística do ser e se relaciona com o substantivo.
Ao analisarmos a palavra bondoso, por exemplo, perce- Biformes - têm duas formas, sendo uma para o mas-
bemos que, além de expressar uma qualidade, ela pode ser culino e outra para o feminino. Por exemplo: ativo e ativa,
colocada ao lado de um substantivo: homem bondoso, moça mau e má, judeu e judia.
bondosa, pessoa bondosa. Se o adjetivo é composto e biforme, ele flexiona no
Já com a palavra bondade, embora expresse uma quali- feminino somente o último elemento. Por exemplo: o moço
dade, não acontece o mesmo; não faz sentido dizer: homem norte-americano, a moça norte-americana.
bondade, moça bondade, pessoa bondade. Bondade, portanto, Exceção: surdo-mudo e surda-muda.
não é adjetivo, mas substantivo.
Uniformes - têm uma só forma tanto para o masculino
Morfossintaxe do Adjetivo: como para o feminino. Por exemplo: homem feliz e mulher
feliz.
O adjetivo exerce sempre funções sintáticas (função dentro Se o adjetivo é composto e uniforme, fica invariável no
de uma oração) relativas aos substantivos, atuando como ad- feminino. Por exemplo: conflito político-social e desavença po-
junto adnominal ou como predicativo (do sujeito ou do objeto). lítico-social.

34
LÍNGUA PORTUGUESA

Número dos Adjetivos Sou tão alto como você. = Comparativo de Igualdade
No comparativo de igualdade, o segundo termo da com-
Plural dos adjetivos simples paração é introduzido pelas palavras como, quanto ou quão.
Os adjetivos simples flexionam-se no plural de acordo
com as regras estabelecidas para a flexão numérica dos subs- Sou mais alto (do) que você. = Comparativo de Supe-
tantivos simples. Por exemplo: mau e maus, feliz e felizes, ruim rioridade Analítico
e ruins boa e boas No comparativo de superioridade analítico, entre os
dois substantivos comparados, um tem qualidade supe-
Caso o adjetivo seja uma palavra que também exerça rior. A forma é analítica porque pedimos auxílio a “mais...do
função de substantivo, ficará invariável, ou seja, se a palavra que” ou “mais...que”.
que estiver qualificando um elemento for, originalmente,
um substantivo, ela manterá sua forma primitiva. Exemplo: O Sol é maior (do) que a Terra. = Comparativo de Supe-
a palavra cinza é originalmente um substantivo; porém, se rioridade Sintético
estiver qualificando um elemento, funcionará como adje-
tivo. Ficará, então, invariável. Logo: camisas cinza, ternos Alguns adjetivos possuem, para o comparativo de su-
cinza. perioridade, formas sintéticas, herdadas do latim. São eles:
bom /melhor, pequeno/menor, mau/pior, alto/superior,
Veja outros exemplos:
grande/maior, baixo/inferior.
Motos vinho (mas: motos verdes)
Observe que:
Paredes musgo (mas: paredes brancas).
a) As formas menor e pior são comparativos de supe-
Comícios monstro (mas: comícios grandiosos). rioridade, pois equivalem a mais pequeno e mais mau, res-
pectivamente.
Adjetivo Composto b) Bom, mau, grande e pequeno têm formas sintéticas
(melhor, pior, maior e menor), porém, em comparações fei-
É aquele formado por dois ou mais elementos. Normal- tas entre duas qualidades de um mesmo elemento, deve-se
mente, esses elementos são ligados por hífen. Apenas o últi- usar as formas analíticas mais bom, mais mau,mais grande e
mo elemento concorda com o substantivo a que se refere; os mais pequeno. Por exemplo:
demais ficam na forma masculina, singular. Caso um dos ele- Pedro é maior do que Paulo - Comparação de dois ele-
mentos que formam o adjetivo composto seja um substanti- mentos.
vo adjetivado, todo o adjetivo composto ficará invariável. Por Pedro é mais grande que pequeno - comparação de
exemplo: a palavra rosa é originalmente um substantivo, po- duas qualidades de um mesmo elemento.
rém, se estiver qualificando um elemento, funcionará como
adjetivo. Caso se ligue a outra palavra por hífen, formará um Sou menos alto (do) que você. = Comparativo de In-
adjetivo composto; como é um substantivo adjetivado, o ad- ferioridade
jetivo composto inteiro ficará invariável. Por exemplo: Sou menos passivo (do) que tolerante.
Camisas rosa-claro.
Ternos rosa-claro. Superlativo
Olhos verde-claros.
Calças azul-escuras e camisas verde-mar. O superlativo expressa qualidades num grau muito
Telhados marrom-café e paredes verde-claras. elevado ou em grau máximo. O grau superlativo pode ser
Obs.: - Azul-marinho, azul-celeste, ultravioleta e qual- absoluto ou relativo e apresenta as seguintes modalidades:
quer adjetivo composto iniciado por cor-de-... são sempre Superlativo Absoluto: ocorre quando a qualidade de
invariáveis. um ser é intensificada, sem relação com outros seres. Apre-
- Os adjetivos compostos surdo-mudo e pele-vermelha senta-se nas formas:
Analítica: a intensificação se faz com o auxílio de pala-
têm os dois elementos flexionados.
vras que dão ideia de intensidade (advérbios). Por exemplo:
O secretário é muito inteligente.
Grau do Adjetivo
Sintética: a intensificação se faz por meio do acrésci-
mo de sufixos. Por exemplo: O secretário é inteligentíssimo.
Os adjetivos flexionam-se em grau para indicar a inten- Observe alguns superlativos sintéticos:
sidade da qualidade do ser. São dois os graus do adjetivo: o
comparativo e o superlativo. benéfico beneficentíssimo
bom boníssimo ou ótimo
Comparativo comum comuníssimo
cruel crudelíssimo
Nesse grau, comparam-se a mesma característica atri- difícil dificílimo
buída a dois ou mais seres ou duas ou mais característi- doce dulcíssimo
cas atribuídas ao mesmo ser. O comparativo pode ser de fácil facílimo
igualdade, de superioridade ou de inferioridade. Observe fiel fidelíssimo
os exemplos abaixo:

35
LÍNGUA PORTUGUESA

Superlativo Relativo: ocorre quando a qualidade de um de intensidade: Muito, demais, pouco, tão, menos, em
ser é intensificada em relação a um conjunto de seres. Essa excesso, bastante, pouco, mais, menos, demasiado, quanto,
relação pode ser: quão, tanto, que(equivale a quão), tudo, nada, todo, quase,
de todo, de muito, por completo.
De Superioridade: Clara é a mais bela da sala.
De Inferioridade: Clara é a menos bela da sala. de tempo: Hoje, logo, primeiro, ontem, tarde outrora,
amanhã, cedo, dantes, depois, ainda, antigamente, antes,
Note bem: doravante, nunca, então, ora, jamais, agora, sempre, já, en-
1) O superlativo absoluto analítico é expresso por meio fim, afinal, breve, constantemente, entrementes, imediata-
dos advérbios muito, extremamente, excepcionalmente, etc., mente, primeiramente, provisoriamente, sucessivamente, às
antepostos ao adjetivo. vezes, à tarde, à noite, de manhã, de repente, de vez em
2) O superlativo absoluto sintético apresenta-se sob duas quando, de quando em quando, a qualquer momento, de
formas : uma erudita, de origem latina, outra popular, de ori- tempos em tempos, em breve, hoje em dia
gem vernácula. A forma erudita é constituída pelo radical do
adjetivo latino + um dos sufixos -íssimo, -imo ou érrimo. Por de lugar: Aqui, antes, dentro, ali, adiante, fora, acolá,
exemplo: fidelíssimo, facílimo, paupérrimo. A forma popular é atrás, além, lá, detrás, aquém, cá, acima, onde, perto, aí,
constituída do radical do adjetivo português + o sufixo -íssi- abaixo, aonde, longe, debaixo, algures, defronte, nenhures,
mo: pobríssimo, agilíssimo. adentro, afora, alhures, nenhures, aquém, embaixo, exter-
3) Em vez dos superlativos normais seriíssimo, precariís- namente, a distância, à distancia de, de longe, de perto, em
simo, necessariíssimo, preferem-se, na linguagem atual, as cima, à direita, à esquerda, ao lado, em volta
formas seríssimo, precaríssimo, necessaríssimo, sem o desa-
gradável hiato i-í. de negação : Não, nem, nunca, jamais, de modo algum,
de forma nenhuma, tampouco, de jeito nenhum
O advérbio, assim como muitas outras palavras existen-
tes na Língua Portuguesa, advém de outras línguas. Assim
de dúvida: Acaso, porventura, possivelmente, provavel-
sendo, tal qual o adjetivo, o prefixo “ad-” indica a ideia de
mente, quiçá, talvez, casualmente, por certo, quem sabe
proximidade, contiguidade. Essa proximidade faz referência
ao processo verbal, no sentido de caracterizá-lo, ou seja, indi-
de afirmação: Sim, certamente, realmente, decerto, efe-
cando as circunstâncias em que esse processo se desenvolve.
tivamente, certo, decididamente, realmente, deveras, indubi-
O advérbio relaciona-se aos verbos da língua, no senti-
tavelmente (=sem dúvida).
do de caracterizar os processos expressos por ele. Contudo,
ele não é modificador exclusivo desta classe (verbos), pois
também modifica o adjetivo e até outro advérbio. Seguem de exclusão: Apenas, exclusivamente, salvo, senão, so-
alguns exemplos: mente, simplesmente, só, unicamente
Para quem se diz distantemente alheio a esse assunto,
você está até bem informado. de inclusão: Ainda, até, mesmo, inclusivamente, também
Temos o advérbio “distantemente” que modifica o adjeti-
vo alheio, representando uma qualidade, característica. de ordem: Depois, primeiramente, ultimamente

O artista canta muito mal. de designação: Eis


Nesse caso, o advérbio de intensidade “muito” modifi-
ca outro advérbio de modo – “mal”. Em ambos os exemplos de interrogação: onde? (lugar), como? (modo), quan-
pudemos verificar que se tratava de somente uma palavra do? (tempo), por quê? (causa), quanto? (preço e intensidade),
funcionando como advérbio. No entanto, ele pode estar de- para quê? (finalidade)
marcado por mais de uma palavra, que mesmo assim não
deixará de ocupar tal função. Temos aí o que chamamos de Locução adverbial
locução adverbial, representada por algumas expressões, tais
como: às vezes, sem dúvida, frente a frente, de modo algum, É reunião de duas ou mais palavras com valor de ad-
entre outras. vérbio. Exemplo:
Dependendo das circunstâncias expressas pelos advér- Carlos saiu às pressas. (indicando modo)
bios, eles se classificam em distintas categorias, uma vez ex- Maria saiu à tarde. (indicando tempo)
pressas por:
Há locuções adverbiais que possuem advérbios cor-
de modo: Bem, mal, assim, depressa, devagar, às pressas, respondentes. Exemplo: Carlos saiu às pressas. = Carlos saiu
às claras, às cegas, à toa, à vontade, às escondidas, aos pou- apressadamente.
cos, desse jeito, desse modo, dessa maneira, em geral, frente a
frente, lado a lado, a pé, de cor, em vão, e a maior parte dos Apenas os advérbios de intensidade, de lugar e de
que terminam em -”mente”: calmamente, tristemente, propo- modo são flexionados, sendo que os demais são todos in-
sitadamente, pacientemente, amorosamente, docemente, es- variáveis. A única flexão propriamente dita que existe na
candalosamente, bondosamente, generosamente categoria dos advérbios é a de grau:

36
LÍNGUA PORTUGUESA

Superlativo: aumenta a intensidade. Exemplos: longe - No caso de os nomes próprios personativos estarem
- longíssimo, pouco - pouquíssimo, inconstitucionalmente - no plural, são determinados pelo uso do artigo: Os Maias,
inconstitucionalissimamente, etc.; os Incas, Os Astecas...
Diminutivo: diminui a intensidade. Exemplos: perto -
pertinho, pouco - pouquinho, devagar - devagarinho. - Usa-se o artigo depois do pronome indefinido to-
Artigo é a palavra que, vindo antes de um substantivo, do(a) para conferir uma ideia de totalidade. Sem o uso dele
indica se ele está sendo empregado de maneira definida ou (o artigo), o pronome assume a noção de qualquer.
indefinida. Além disso, o artigo indica, ao mesmo tempo, o Toda a classe parabenizou o professor. (a sala toda)
gênero e o número dos substantivos. Toda classe possui alunos interessados e desinteressa-
dos. (qualquer classe)
Classificação dos Artigos
- Antes de pronomes possessivos, o uso do artigo é
Artigos Definidos: determinam os substantivos de facultativo:
maneira precisa: o, a, os, as. Por exemplo: Eu matei o animal. Adoro o meu vestido longo. Adoro meu vestido longo.
Artigos Indefinidos: determinam os substantivos de
maneira vaga: um, uma, uns, umas. Por exemplo: Eu matei - A utilização do artigo indefinido pode indicar uma
um animal. ideia de aproximação numérica: O máximo que ele deve ter
é uns vinte anos.
Combinação dos Artigos - O artigo também é usado para substantivar palavras
oriundas de outras classes gramaticais: Não sei o porquê de
É muito presente a combinação dos artigos definidos tudo isso.
e indefinidos com preposições. Veja a forma assumida por
essas combinações: - Nunca deve ser usado artigo depois do pronome re-
lativo cujo (e flexões).
Este é o homem cujo amigo desapareceu.
Preposições Artigos
Este é o autor cuja obra conheço.
o, os
- Não se deve usar artigo antes das palavras casa ( no
a ao, aos
sentido de lar, moradia) e terra ( no sentido de chão firme),
de do, dos
a menos que venham especificadas.
em no, nos
por (per) pelo, pelos
Eles estavam em casa.
a, as um, uns uma, umas
Eles estavam na casa dos amigos.
à, às - -
Os marinheiros permaneceram em terra.
da, das dum, duns duma, dumas Os marinheiros permanecem na terra dos anões.
na, nas num, nuns numa, numas
pela, pelas - - - Não se emprega artigo antes dos pronomes de trata-
mento, com exceção de senhor(a), senhorita e dona: Vossa
- As formas à e às indicam a fusão da preposição a com excelência resolverá os problemas de Sua Senhoria.
o artigo definido a. Essa fusão de vogais idênticas é conhe-
cida por crase. - Não se une com preposição o artigo que faz parte do
nome de revistas, jornais, obras literárias: Li a notícia em O
Constatemos as circunstâncias em que os artigos se Estado de S. Paulo.
manifestam:
Morfossintaxe
- Considera-se obrigatório o uso do artigo depois do
numeral “ambos”: Ambos os garotos decidiram participar Para definir o que é artigo é preciso mencionar suas
das olimpíadas. relações com o substantivo. Assim, nas orações da língua
portuguesa, o artigo exerce a função de adjunto adnominal
- Nomes próprios indicativos de lugar admitem o uso do substantivo a que se refere. Tal função independe da
do artigo, outros não: São Paulo, O Rio de Janeiro, Veneza, função exercida pelo substantivo:
A Bahia... A existência é uma poesia.
Uma existência é a poesia.
- Quando indicado no singular, o artigo definido pode
indicar toda uma espécie: O trabalho dignifica o homem. Conjunção é a palavra invariável que liga duas orações
ou dois termos semelhantes de uma mesma oração. Por
- No caso de nomes próprios personativos, denotando exemplo:
a ideia de familiaridade ou afetividade, é facultativo o uso A menina segurou a boneca e mostrou quando viu as
do artigo: O Pedro é o xodó da família. amiguinhas.

37
LÍNGUA PORTUGUESA

Deste exemplo podem ser retiradas três informações: - COMPARATIVAS


1-) segurou a boneca 2-) a menina mostrou 3-) viu Principais conjunções comparativas: que, do que, tão...
as amiguinhas como, mais...do que, menos...do que.
Ela fala mais que um papagaio.
Cada informação está estruturada em torno de um ver-
bo: segurou, mostrou, viu. Assim, há nessa frase três orações: - CONCESSIVAS
1ª oração: A menina segurou a boneca 2ª oração: e Principais conjunções concessivas: embora, ainda que,
mostrou 3ª oração: quando viu as amiguinhas. mesmo que, apesar de, se bem que.
A segunda oração liga-se à primeira por meio do “e”, e Indicam uma concessão, admitem uma contradição,
a terceira oração liga-se à segunda por meio do “quando”. um fato inesperado. Traz em si uma ideia de “apesar de”.
As palavras “e” e “quando” ligam, portanto, orações. Embora estivesse cansada, fui ao shopping. (= apesar de
estar cansada)
Observe: Gosto de natação e de futebol.
Apesar de ter chovido fui ao cinema.
Nessa frase as expressões de natação, de futebol são
partes ou termos de uma mesma oração. Logo, a palavra
- CONFORMATIVAS
“e” está ligando termos de uma mesma oração.
Principais conjunções conformativas: como, segundo,
Morfossintaxe da Conjunção conforme, consoante
Cada um colhe conforme semeia.
As conjunções, a exemplo das preposições, não exer- Expressam uma ideia de acordo, concordância, confor-
cem propriamente uma função sintática: são conectivos. midade.
Classificação
- Conjunções Coordenativas - CONSECUTIVAS
- Conjunções Subordinativas Expressam uma ideia de consequência.
Principais conjunções consecutivas: que (após “tal”,
Conjunções coordenativas “tanto”, “tão”, “tamanho”).
Falou tanto que ficou rouco.
Dividem-se em:
- ADITIVAS: expressam a ideia de adição, soma. Ex. Gos- - FINAIS
to de cantar e de dançar. Expressam ideia de finalidade, objetivo.
Principais conjunções aditivas: e, nem, não só...mas Todos trabalham para que possam sobreviver.
também, não só...como também. Principais conjunções finais: para que, a fim de que,
porque (=para que),
- ADVERSATIVAS: Expressam ideias contrárias, de opo-
sição, de compensação. Ex. Estudei, mas não entendi nada. - PROPORCIONAIS
Principais conjunções adversativas: mas, porém, contu- Principais conjunções proporcionais: à medida que,
do, todavia, no entanto, entretanto. quanto mais, ao passo que, à proporção que.
À medida que as horas passavam, mais sono ele tinha.
- ALTERNATIVAS: Expressam ideia de alternância.
Ou você sai do telefone ou eu vendo o aparelho. - TEMPORAIS
Principais conjunções alternativas: Ou...ou, ora...ora, Principais conjunções temporais: quando, enquanto,
quer...quer, já...já.
logo que.
- CONCLUSIVAS: Servem para dar conclusões às ora-
Quando eu sair, vou passar na locadora.
ções. Ex. Estudei muito, por isso mereço passar.
Principais conjunções conclusivas: logo, por isso, pois
Diferença entre orações causais e explicativas
(depois do verbo), portanto, por conseguinte, assim.

- EXPLICATIVAS: Explicam, dão um motivo ou razão. Ex. Quando estudamos Orações Subordinadas Adverbiais
É melhor colocar o casaco porque está fazendo muito frio lá (OSA) e Coordenadas Sindéticas (CS), geralmente nos de-
fora. paramos com a dúvida de como distinguir uma oração cau-
Principais conjunções explicativas: que, porque, pois sal de uma explicativa. Veja os exemplos:
(antes do verbo), porquanto. 1º) Na frase “Não atravesse a rua, porque você pode ser
atropelado”:
Conjunções subordinativas a) Temos uma CS Explicativa, que indica uma justificati-
va ou uma explicação do fato expresso na oração anterior.
- CAUSAIS b) As orações são coordenadas e, por isso, indepen-
Principais conjunções causais: porque, visto que, já que, dentes uma da outra. Neste caso, há uma pausa entre as
uma vez que, como (= porque). orações que vêm marcadas por vírgula.
Ele não fez o trabalho porque não tem livro. Não atravesse a rua. Você pode ser atropelado.

38
LÍNGUA PORTUGUESA

Outra dica é, quando a oração que antecede a OC Psiu! = contexto: alguém pronunciando essa expres-
(Oração Coordenada) vier com verbo no modo imperativo, são na rua; significado da interjeição (sugestão): “Estou te
ela será explicativa. chamando! Ei, espere!”
Façam silêncio, que estou falando. (façam= verbo im- Psiu! = contexto: alguém pronunciando essa expres-
perativo) são em um hospital; significado da interjeição (sugestão):
“Por favor, faça silêncio!”
2º) Na frase “Precisavam enterrar os mortos em outra Puxa! Ganhei o maior prêmio do sorteio!
cidade porque não havia cemitério no local.” puxa: interjeição; tom da fala: euforia
a) Temos uma OSA Causal, já que a oração subordina- Puxa! Hoje não foi meu dia de sorte!
da (parte destacada) mostra a causa da ação expressa pelo puxa: interjeição; tom da fala: decepção
verbo da oração principal. Outra forma de reconhecê-la é
colocá-la no início do período, introduzida pela conjunção As interjeições cumprem, normalmente, duas funções:
como - o que não ocorre com a CS Explicativa. 1) Sintetizar uma frase exclamativa, exprimindo ale-
Como não havia cemitério no local, precisavam enterrar gria, tristeza, dor, etc.
os mortos em outra cidade. Você faz o que no Brasil?
b) As orações são subordinadas e, por isso, totalmente Eu? Eu negocio com madeiras.
dependentes uma da outra. Ah, deve ser muito interessante.

Interjeição é a palavra invariável que exprime emo- 2) Sintetizar uma frase apelativa
ções, sensações, estados de espírito, ou que procura agir Cuidado! Saia da minha frente.
sobre o interlocutor, levando-o a adotar certo comporta-
mento sem que, para isso, seja necessário fazer uso de es- As interjeições podem ser formadas por:
truturas linguísticas mais elaboradas. Observe o exemplo: - simples sons vocálicos: Oh!, Ah!, Ó, Ô.
Droga! Preste atenção quando eu estou falando! - palavras: Oba!, Olá!, Claro!
- grupos de palavras (locuções interjetivas): Meu Deus!,
No exemplo acima, o interlocutor está muito bravo. Ora bolas!
Toda sua raiva se traduz numa palavra: Droga! Ele poderia
ter dito: - Estou com muita raiva de você! Mas usou sim- A ideia expressa pela interjeição depende muitas ve-
plesmente uma palavra. Ele empregou a interjeição Droga! zes da entonação com que é pronunciada; por isso, pode
As sentenças da língua costumam se organizar de for- ocorrer que uma interjeição tenha mais de um sentido. Por
ma lógica: há uma sintaxe que estrutura seus elementos e exemplo:
os distribui em posições adequadas a cada um deles. As in- Oh! Que surpresa desagradável! (ideia de contra-
terjeições, por outro lado, são uma espécie de “palavra-fra- riedade)
se”, ou seja, há uma ideia expressa por uma palavra (ou um Oh! Que bom te encontrar. (ideia de alegria)
conjunto de palavras - locução interjetiva) que poderia ser
colocada em termos de uma sentença. Veja os exemplos: Classificação das Interjeições
Bravo! Bis!
bravo e bis: interjeição = sentença (sugestão): “Foi Comumente, as interjeições expressam sentido de:
muito bom! Repitam!” - Advertência: Cuidado!, Devagar!, Calma!, Sentido!,
Ai! Ai! Ai! Machuquei meu pé... ai: interjeição = senten- Atenção!, Olha!, Alerta!
ça (sugestão): “Isso está doendo!” ou “Estou com dor!” - Afugentamento: Fora!, Passa!, Rua!, Xô!
- Alegria ou Satisfação: Oh!, Ah!,Eh!, Oba!, Viva!
A interjeição é um recurso da linguagem afetiva, em - Alívio: Arre!, Uf!, Ufa! Ah!
que não há uma ideia organizada de maneira lógica, como - Animação ou Estímulo: Vamos!, Força!, Coragem!,
são as sentenças da língua, mas sim a manifestação de um Eia!, Ânimo!, Adiante!, Firme!, Toca!
suspiro, um estado da alma decorrente de uma situação - Aplauso ou Aprovação: Bravo!, Bis!, Apoiado!, Viva!,
particular, um momento ou um contexto específico. Exem- Boa!
plos: - Concordância: Claro!, Sim!, Pois não!, Tá!, Hã-hã!
Ah, como eu queria voltar a ser criança! - Repulsa ou Desaprovação: Credo!, Irra!, Ih!, Livra!,
ah: expressão de um estado emotivo = interjeição Safa!, Fora!, Abaixo!, Francamente!, Xi!, Chega!, Basta!,
Hum! Esse pudim estava maravilhoso! Ora!
hum: expressão de um pensamento súbito = interjeição - Desejo ou Intenção: Oh!, Pudera!, Tomara!, Oxalá!
- Desculpa: Perdão!
O significado das interjeições está vinculado à maneira - Dor ou Tristeza: Ai!, Ui!, Ai de mim!, Que pena!, Ah!,
como elas são proferidas. Desse modo, o tom da fala é que Oh!, Eh!
dita o sentido que a expressão vai adquirir em cada contex- - Dúvida ou Incredulidade: Qual!, Qual o quê!, Hum!,
to de enunciação. Exemplos: Epa!, Ora!

39
LÍNGUA PORTUGUESA

- Espanto ou Admiração: Oh!, Ah!, Uai!, Puxa!, Céus!, Interjeições, leitura e produção de textos
Quê!, Caramba!, Opa!, Virgem!, Vixe!, Nossa!, Hem?!,
Hein?, Cruz!, Putz! Usadas com muita frequência na língua falada infor-
- Impaciência ou Contrariedade: Hum!, Hem!, Irra!, mal, quando empregadas na língua escrita, as interjeições
Raios!, Diabo!, Puxa!, Pô!, Ora! costumam conferir-lhe certo tom inconfundível de colo-
- Pedido de Auxílio: Socorro!, Aqui!, Piedade! quialidade. Além disso, elas podem muitas vezes indicar
- Saudação, Chamamento ou Invocação: Salve!, Viva!, traços pessoais do falante - como a escassez de vocabulá-
Adeus!, Olá!, Alô!, Ei!, Tchau!, Ô, Ó, Psiu!, Socorro!, Valha- rio, o temperamento agressivo ou dócil, até mesmo a ori-
me, Deus! gem geográfica. É nos textos narrativos - particularmente
- Silêncio: Psiu!, Bico!, Silêncio! nos diálogos - que comumente se faz uso das interjeições
- Terror ou Medo: Credo!, Cruzes!, Uh!, Ui!, Oh! com o objetivo de caracterizar personagens e, também,
graças à sua natureza sintética, agilizar as falas. Nature-
Saiba que: As interjeições são palavras invariáveis, isto za sintética e conteúdo mais emocional do que racional
é, não sofrem variação em gênero, número e grau como fazem das interjeições presença constante nos textos pu-
os nomes, nem de número, pessoa, tempo, modo, aspec- blicitários.
to e voz como os verbos. No entanto, em uso específico,
algumas interjeições sofrem variação em grau. Deve-se ter
Fonte: http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/
claro, neste caso, que não se trata de um processo natural
morf89.php
dessa classe de palavra, mas tão só uma variação que a
linguagem afetiva permite. Exemplos: oizinho, bravíssimo,
Numeral é a palavra que indica os seres em termos
até loguinho.
numéricos, isto é, que atribui quantidade aos seres ou os
Locução Interjetiva situa em determinada sequência.
Ocorre quando duas ou mais palavras formam uma Os quatro últimos ingressos foram vendidos há pouco.
expressão com sentido de interjeição. Por exemplo : Ora [quatro: numeral = atributo numérico de “ingresso”]
bolas! Quem me dera! Virgem Maria! Meu Deus! Eu quero café duplo, e você?
Ó de casa! Ai de mim! Valha-me Deus! Graças a Deus! ...[duplo: numeral = atributo numérico de “café”]
Alto lá! Muito bem! A primeira pessoa da fila pode entrar, por favor!
...[primeira: numeral = situa o ser “pessoa” na sequên-
Observações: cia de “fila”]
- As interjeições são como frases resumidas, sintéticas.
Por exemplo: Ué! = Eu não esperava por essa!, Perdão! = Note bem: os numerais traduzem, em palavras, o que
Peço-lhe que me desculpe. os números indicam em relação aos seres. Assim, quando
a expressão é colocada em números (1, 1°, 1/3, etc.) não se
- Além do contexto, o que caracteriza a interjeição é o trata de numerais, mas sim de algarismos.
seu tom exclamativo; por isso, palavras de outras classes Além dos numerais mais conhecidos, já que refletem a
gramaticais podem aparecer como interjeições. ideia expressa pelos números, existem mais algumas pala-
Viva! Basta! (Verbos) vras consideradas numerais porque denotam quantidade,
Fora! Francamente! (Advérbios) proporção ou ordenação. São alguns exemplos: década,
dúzia, par, ambos(as), novena.
- A interjeição pode ser considerada uma “palavra-fra-
se” porque sozinha pode constituir uma mensagem. Ex.: Classificação dos Numerais
Socorro!, Ajudem-me!, Silêncio!, Fique quieto!
Cardinais: indicam contagem, medida. É o número
- Há, também, as interjeições onomatopaicas ou imita-
básico: um, dois, cem mil, etc.
tivas, que exprimem ruídos e vozes. Ex.: Pum! Miau! Bum-
Ordinais: indicam a ordem ou lugar do ser numa série
ba! Zás! Plaft! Pof! Catapimba! Tique-taque! Quá-quá-
dada: primeiro, segundo, centésimo, etc.
quá!, etc.
Fracionários: indicam parte de um inteiro, ou seja, a
- Não se deve confundir a interjeição de apelo “ó” com
a sua homônima “oh!”, que exprime admiração, alegria, divisão dos seres: meio, terço, dois quintos, etc.
tristeza, etc. Faz-se uma pausa depois do” oh!” exclamativo Multiplicativos: expressam ideia de multiplicação dos
e não a fazemos depois do “ó” vocativo. seres, indicando quantas vezes a quantidade foi aumenta-
“Ó natureza! ó mãe piedosa e pura!” (Olavo Bilac) da: dobro, triplo, quíntuplo, etc.
Oh! a jornada negra!” (Olavo Bilac)
- Na linguagem afetiva, certas interjeições, originadas
de palavras de outras classes, podem aparecer flexionadas
no diminutivo ou no superlativo: Calminha! Adeusinho!
Obrigadinho!

40
LÍNGUA PORTUGUESA

Leitura dos Numerais


Separando os números em centenas, de trás para frente, obtêm-se conjuntos numéricos, em forma de centenas e, no
início, também de dezenas ou unidades. Entre esses conjuntos usa-se vírgula; as unidades ligam-se pela conjunção “e”.
1.203.726 = um milhão, duzentos e três mil, setecentos e vinte e seis.
45.520 = quarenta e cinco mil, quinhentos e vinte.

Flexão dos numerais

Os numerais cardinais que variam em gênero são um/uma, dois/duas e os que indicam centenas de duzentos/duzentas
em diante: trezentos/trezentas; quatrocentos/quatrocentas, etc. Cardinais como milhão, bilhão, trilhão, variam em número:
milhões, bilhões, trilhões. Os demais cardinais são invariáveis.

Os numerais ordinais variam em gênero e número:


primeiro segundo milésimo
primeira segunda milésima
primeiros segundos milésimos
primeiras segundas milésimas

Os numerais multiplicativos são invariáveis quando atuam em funções substantivas: Fizeram o dobro do esforço e con-
seguiram o triplo de produção.
Quando atuam em funções adjetivas, esses numerais flexionam-se em gênero e número: Teve de tomar doses triplas do
medicamento.
Os numerais fracionários flexionam-se em gênero e número. Observe: um terço/dois terços, uma terça parte/duas terças partes
Os numerais coletivos flexionam-se em número: uma dúzia, um milheiro, duas dúzias, dois milheiros.
É comum na linguagem coloquial a indicação de grau nos numerais, traduzindo afetividade ou especialização de sen-
tido. É o que ocorre em frases como:
“Me empresta duzentinho...”
É artigo de primeiríssima qualidade!
O time está arriscado por ter caído na segundona. (= segunda divisão de futebol)

Emprego dos Numerais

*Para designar papas, reis, imperadores, séculos e partes em que se divide uma obra, utilizam-se os ordinais até décimo e
a partir daí os cardinais, desde que o numeral venha depois do substantivo:

Ordinais Cardinais
João Paulo II (segundo) Tomo XV (quinze)
D. Pedro II (segundo) Luís XVI (dezesseis)
Ato II (segundo) Capítulo XX (vinte)
Século VIII (oitavo) Século XX (vinte)
Canto IX (nono) João XXIII ( vinte e três)

*Para designar leis, decretos e portarias, utiliza-se o ordinal até nono e o cardinal de dez em diante:
Artigo 1.° (primeiro) Artigo 10 (dez)
Artigo 9.° (nono) Artigo 21 (vinte e um)

*Ambos/ambas são considerados numerais. Significam “um e outro”, “os dois” (ou “uma e outra”, “as duas”) e são largamente
empregados para retomar pares de seres aos quais já se fez referência.
Pedro e João parecem ter finalmente percebido a importância da solidariedade. Ambos agora participam das atividades
comunitárias de seu bairro.
Obs.: a forma “ambos os dois” é considerada enfática. Atualmente, seu uso indica afetação, artificialismo.

41
LÍNGUA PORTUGUESA

Cardinais Ordinais Multiplicativos Fracionários


um primeiro - -
dois segundo dobro, duplo meio
três terceiro triplo, tríplice terço
quatro quarto quádruplo quarto
cinco quinto quíntuplo quinto
seis sexto sêxtuplo sexto
sete sétimo sétuplo sétimo
oito oitavo óctuplo oitavo
nove nono nônuplo nono
dez décimo décuplo décimo
onze décimo primeiro - onze avos
doze décimo segundo - doze avos
treze décimo terceiro - treze avos
catorze décimo quarto - catorze avos
quinze décimo quinto - quinze avos
dezesseis décimo sexto - dezesseis avos
dezessete décimo sétimo - dezessete avos
dezoito décimo oitavo - dezoito avos
dezenove décimo nono - dezenove avos
vinte vigésimo - vinte avos
trinta trigésimo - trinta avos
quarenta quadragésimo - quarenta avos
cinqüenta quinquagésimo - cinquenta avos
sessenta sexagésimo - sessenta avos
setenta septuagésimo - setenta avos
oitenta octogésimo - oitenta avos
noventa nonagésimo - noventa avos
cem centésimo cêntuplo centésimo
duzentos ducentésimo - ducentésimo
trezentos trecentésimo - trecentésimo
quatrocentos quadringentésimo - quadringentésimo

Cardinais Ordinais Multiplicativos Fracionários


quinhentos quingentésimo - quingentésimo
seiscentos sexcentésimo - sexcentésimo
setecentos septingentésimo - septingentésimo
oitocentos octingentésimo - octingentésimo
novecentos nongentésimo - nongentésimo
ou noningentésimo
mil milésimo - milésimo
milhão milionésimo - milionésimo
bilhão bilionésimo - bilionésimo

Preposição é uma palavra invariável que serve para ligar termos ou orações. Quando esta ligação acontece, normal-
mente há uma subordinação do segundo termo em relação ao primeiro. As preposições são muito importantes na estrutura
da língua, pois estabelecem a coesão textual e possuem valores semânticos indispensáveis para a compreensão do texto.

Tipos de Preposição
1. Preposições essenciais: palavras que atuam exclusivamente como preposições: a, ante, perante, após, até, com, contra,
de, desde, em, entre, para, por, sem, sob, sobre, trás, atrás de, dentro de, para com.
2. Preposições acidentais: palavras de outras classes gramaticais que podem atuar como preposições: como, durante,
exceto, fora, mediante, salvo, segundo, senão, visto.
3. Locuções prepositivas: duas ou mais palavras valendo como uma preposição, sendo que a última palavra é uma delas:
abaixo de, acerca de, acima de, ao lado de, a respeito de, de acordo com, em cima de, embaixo de, em frente a, ao redor de,
graças a, junto a, com, perto de, por causa de, por cima de, por trás de.
A preposição, como já foi dito, é invariável. No entanto pode unir-se a outras palavras e assim estabelecer concordância
em gênero ou em número. Ex: por + o = pelo por + a = pela.
Vale ressaltar que essa concordância não é característica da preposição, mas das palavras às quais ela se une.

42
LÍNGUA PORTUGUESA

Esse processo de junção de uma preposição com outra Dicas sobre preposição
palavra pode se dar a partir de dois processos:
1. Combinação: A preposição não sofre alteração. 1. O “a” pode funcionar como preposição, pronome
preposição a + artigos definidos o, os pessoal oblíquo e artigo. Como distingui-los? Caso o “a”
a + o = ao seja um artigo, virá precedendo um substantivo. Ele servirá
preposição a + advérbio onde para determiná-lo como um substantivo singular e femi-
a + onde = aonde nino.
2. Contração: Quando a preposição sofre alteração. A dona da casa não quis nos atender.
Como posso fazer a Joana concordar comigo?
Preposição + Artigos
De + o(s) = do(s) - Quando é preposição, além de ser invariável, liga dois
De + a(s) = da(s) termos e estabelece relação de subordinação entre eles.
De + um = dum Cheguei a sua casa ontem pela manhã.
De + uns = duns Não queria, mas vou ter que ir à outra cidade para pro-
De + uma = duma curar um tratamento adequado.
De + umas = dumas
Em + o(s) = no(s) - Se for pronome pessoal oblíquo estará ocupando o
Em + a(s) = na(s) lugar e/ou a função de um substantivo.
Em + um = num Temos Maria como parte da família. / Nós a temos como
Em + uma = numa parte da família
Em + uns = nuns Creio que conhecemos nossa mãe melhor que ninguém.
Em + umas = numas / Creio que a conhecemos melhor que ninguém.
A + à(s) = à(s)
Por + o = pelo(s) 2. Algumas relações semânticas estabelecidas por meio
Por + a = pela(s) das preposições:
Destino = Irei para casa.
Preposição + Pronomes Modo = Chegou em casa aos gritos.
De + ele(s) = dele(s) Lugar = Vou ficar em casa;
De + ela(s) = dela(s) Assunto = Escrevi um artigo sobre adolescência.
De + este(s) = deste(s) Tempo = A prova vai começar em dois minutos.
De + esta(s) = desta(s) Causa = Ela faleceu de derrame cerebral.
De + esse(s) = desse(s) Fim ou finalidade = Vou ao médico para começar o tra-
De + essa(s) = dessa(s) tamento.
De + aquele(s) = daquele(s) Instrumento = Escreveu a lápis.
De + aquela(s) = daquela(s) Posse = Não posso doar as roupas da mamãe.
De + isto = disto Autoria = Esse livro de Machado de Assis é muito bom.
De + isso = disso Companhia = Estarei com ele amanhã.
De + aquilo = daquilo Matéria = Farei um cartão de papel reciclado.
De + aqui = daqui Meio = Nós vamos fazer um passeio de barco.
De + aí = daí Origem = Nós somos do Nordeste, e você?
De + ali = dali Conteúdo = Quebrei dois frascos de perfume.
De + outro = doutro(s) Oposição = Esse movimento é contra o que eu penso.
De + outra = doutra(s) Preço = Essa roupa sai por R$ 50 à vista.
Em + este(s) = neste(s)
Em + esta(s) = nesta(s) Fonte:
Em + esse(s) = nesse(s) http://www.infoescola.com/portugues/preposicao/
Em + aquele(s) = naquele(s)
Em + aquela(s) = naquela(s) Pronome é a palavra que se usa em lugar do nome, ou
Em + isto = nisto a ele se refere, ou que acompanha o nome, qualificando-o
Em + isso = nisso de alguma forma.
Em + aquilo = naquilo
A + aquele(s) = àquele(s) A moça era mesmo bonita. Ela morava nos meus sonhos!
A + aquela(s) = àquela(s) [substituição do nome]
A + aquilo = àquilo A moça que morava nos meus sonhos era mesmo bonita!
[referência ao nome]
Essa moça morava nos meus sonhos!
[qualificação do nome]

43
LÍNGUA PORTUGUESA

Grande parte dos pronomes não possuem significados - 1ª pessoa do singular: eu


fixos, isto é, essas palavras só adquirem significação dentro - 2ª pessoa do singular: tu
de um contexto, o qual nos permite recuperar a referên- - 3ª pessoa do singular: ele, ela
cia exata daquilo que está sendo colocado por meio dos - 1ª pessoa do plural: nós
pronomes no ato da comunicação. Com exceção dos pro- - 2ª pessoa do plural: vós
nomes interrogativos e indefinidos, os demais pronomes - 3ª pessoa do plural: eles, elas
têm por função principal apontar para as pessoas do dis-
curso ou a elas se relacionar, indicando-lhes sua situação Atenção: esses pronomes não costumam ser usados
no tempo ou no espaço. Em virtude dessa característica, como complementos verbais na língua-padrão. Frases
os pronomes apresentam uma forma específica para cada como “Vi ele na rua”, “Encontrei ela na praça”, “Trouxeram
pessoa do discurso. eu até aqui”, comuns na língua oral cotidiana, devem ser
Minha carteira estava vazia quando eu fui assaltada. evitadas na língua formal escrita ou falada. Na língua for-
[minha/eu: pronomes de 1ª pessoa = aquele que fala] mal, devem ser usados os pronomes oblíquos correspon-
Tua carteira estava vazia quando tu foste assaltada? dentes: “Vi-o na rua”, “Encontrei-a na praça”, “Trouxeram-
[tua/tu: pronomes de 2ª pessoa = aquele a quem se fala] me até aqui”.
A carteira dela estava vazia quando ela foi assaltada. Obs.: frequentemente observamos a omissão do pro-
[dela/ela: pronomes de 3ª pessoa = aquele de quem se fala] nome reto em Língua Portuguesa. Isso se dá porque as pró-
prias formas verbais marcam, através de suas desinências,
Em termos morfológicos, os pronomes são palavras as pessoas do verbo indicadas pelo pronome reto: Fizemos
variáveis em gênero (masculino ou feminino) e em núme- boa viagem. (Nós)
ro (singular ou plural). Assim, espera-se que a referência
através do pronome seja coerente em termos de gênero Pronome Oblíquo
e número (fenômeno da concordância) com o seu objeto,
mesmo quando este se apresenta ausente no enunciado. Pronome pessoal do caso oblíquo é aquele que, na
sentença, exerce a função de complemento verbal (objeto
Fala-se de Roberta. Ele quer participar do desfile da nos- direto ou indireto) ou complemento nominal.
sa escola neste ano. Ofertaram-nos flores. (objeto indireto)
[nossa: pronome que qualifica “escola” = concordância
adequada] Obs.: em verdade, o pronome oblíquo é uma forma
[neste: pronome que determina “ano” = concordância variante do pronome pessoal do caso reto. Essa variação
adequada] indica a função diversa que eles desempenham na oração:
[ele: pronome que faz referência à “Roberta” = concor- pronome reto marca o sujeito da oração; pronome oblíquo
dância inadequada] marca o complemento da oração.
Existem seis tipos de pronomes: pessoais, possessivos, Os pronomes oblíquos sofrem variação de acordo com
demonstrativos, indefinidos, relativos e interrogativos. a acentuação tônica que possuem, podendo ser átonos ou
tônicos.
Pronomes Pessoais
Pronome Oblíquo Átono
São aqueles que substituem os substantivos, indicando
diretamente as pessoas do discurso. Quem fala ou escreve São chamados átonos os pronomes oblíquos que não
assume os pronomes “eu” ou “nós”, usa os pronomes “tu”, são precedidos de preposição. Possuem acentuação tônica
“vós”, “você” ou “vocês” para designar a quem se dirige e fraca: Ele me deu um presente.
“ele”, “ela”, “eles” ou “elas” para fazer referência à pessoa ou O quadro dos pronomes oblíquos átonos é assim con-
às pessoas de quem fala. figurado:
Os pronomes pessoais variam de acordo com as fun- - 1ª pessoa do singular (eu): me
ções que exercem nas orações, podendo ser do caso reto - 2ª pessoa do singular (tu): te
ou do caso oblíquo. - 3ª pessoa do singular (ele, ela): o, a, lhe
- 1ª pessoa do plural (nós): nos
Pronome Reto - 2ª pessoa do plural (vós): vos
- 3ª pessoa do plural (eles, elas): os, as, lhes
Pronome pessoal do caso reto é aquele que, na sen-
tença, exerce a função de sujeito ou predicativo do sujeito. Observações:
Nós lhe ofertamos flores. O “lhe” é o único pronome oblíquo átono que já se
apresenta na forma contraída, ou seja, houve a união en-
Os pronomes retos apresentam flexão de número, gê- tre o pronome “o” ou “a” e preposição “a” ou “para”. Por
nero (apenas na 3ª pessoa) e pessoa, sendo essa última a acompanhar diretamente uma preposição, o pronome
principal flexão, uma vez que marca a pessoa do discurso. “lhe” exerce sempre a função de objeto indireto na oração.
Dessa forma, o quadro dos pronomes retos é assim confi- Os pronomes me, te, nos e vos podem tanto ser objetos
gurado: diretos como objetos indiretos.

44
LÍNGUA PORTUGUESA

Os pronomes o, a, os e as atuam exclusivamente como Atenção: Há construções em que a preposição, apesar


objetos diretos. de surgir anteposta a um pronome, serve para introduzir
Os pronomes me, te, lhe, nos, vos e lhes podem com- uma oração cujo verbo está no infinitivo. Nesses casos, o
binar-se com os pronomes o, os, a, as, dando origem a for- verbo pode ter sujeito expresso; se esse sujeito for um pro-
mas como mo, mos , ma, mas; to, tos, ta, tas; lho, lhos, lha, nome, deverá ser do caso reto.
lhas; no-lo, no-los, no-la, no-las, vo-lo, vo-los, vo-la, vo-las. Trouxeram vários vestidos para eu experimentar.
Observe o uso dessas formas nos exemplos que seguem: Não vá sem eu mandar.
- Trouxeste o pacote?
- Sim, entreguei-to ainda há pouco. - A combinação da preposição “com” e alguns prono-
- Não contaram a novidade a vocês? mes originou as formas especiais comigo, contigo, consigo,
- Não, no-la contaram. conosco e convosco. Tais pronomes oblíquos tônicos fre-
No português do Brasil, essas combinações não são quentemente exercem a função de adjunto adverbial de
usadas; até mesmo na língua literária atual, seu emprego companhia.
é muito raro. Ele carregava o documento consigo.
- As formas “conosco” e “convosco” são substituídas por
Atenção: Os pronomes o, os, a, as assumem formas “com nós” e “com vós” quando os pronomes pessoais são
especiais depois de certas terminações verbais. Quando o reforçados por palavras como outros, mesmos, próprios, to-
verbo termina em -z, -s ou -r, o pronome assume a forma dos, ambos ou algum numeral.
lo, los, la ou las, ao mesmo tempo que a terminação verbal Você terá de viajar com nós todos.
é suprimida. Por exemplo: Estávamos com vós outros quando chegaram as más no-
fiz + o = fi-lo tícias.
fazeis + o = fazei-lo Ele disse que iria com nós três.
dizer + a = dizê-la
Pronome Reflexivo
Quando o verbo termina em som nasal, o pronome as-
São pronomes pessoais oblíquos que, embora funcio-
sume as formas no, nos, na, nas. Por exemplo:
nem como objetos direto ou indireto, referem-se ao sujeito
viram + o: viram-no
da oração. Indicam que o sujeito pratica e recebe a ação
repõe + os = repõe-nos
expressa pelo verbo.
retém + a: retém-na
O quadro dos pronomes reflexivos é assim configurado:
tem + as = tem-nas
- 1ª pessoa do singular (eu): me, mim.
Eu não me vanglorio disso.
Pronome Oblíquo Tônico Olhei para mim no espelho e não gostei do que vi.
Os pronomes oblíquos tônicos são sempre precedidos - 2ª pessoa do singular (tu): te, ti.
por preposições, em geral as preposições a, para, de e com. Assim tu te prejudicas.
Por esse motivo, os pronomes tônicos exercem a função Conhece a ti mesmo.
de objeto indireto da oração. Possuem acentuação tônica
forte. - 3ª pessoa do singular (ele, ela): se, si, consigo.
O quadro dos pronomes oblíquos tônicos é assim con- Guilherme já se preparou.
figurado: Ela deu a si um presente.
- 1ª pessoa do singular (eu): mim, comigo Antônio conversou consigo mesmo.
- 2ª pessoa do singular (tu): ti, contigo
- 3ª pessoa do singular (ele, ela): ele, ela - 1ª pessoa do plural (nós): nos.
- 1ª pessoa do plural (nós): nós, conosco Lavamo-nos no rio.
- 2ª pessoa do plural (vós): vós, convosco
- 3ª pessoa do plural (eles, elas): eles, elas - 2ª pessoa do plural (vós): vos.
Vós vos beneficiastes com a esta conquista.
Observe que as únicas formas próprias do pronome tô-
nico são a primeira pessoa (mim) e segunda pessoa (ti). As - 3ª pessoa do plural (eles, elas): se, si, consigo.
demais repetem a forma do pronome pessoal do caso reto. Eles se conheceram.
- As preposições essenciais introduzem sempre prono- Elas deram a si um dia de folga.
mes pessoais do caso oblíquo e nunca pronome do caso
reto. Nos contextos interlocutivos que exigem o uso da A Segunda Pessoa Indireta
língua formal, os pronomes costumam ser usados desta
forma: A chamada segunda pessoa indireta manifesta-se quan-
Não há mais nada entre mim e ti. do utilizamos pronomes que, apesar de indicarem nosso in-
Não se comprovou qualquer ligação entre ti e ela. terlocutor (portanto, a segunda pessoa), utilizam o verbo na
Não há nenhuma acusação contra mim. terceira pessoa. É o caso dos chamados pronomes de tra-
Não vá sem mim. tamento, que podem ser observados no quadro seguinte:

45
LÍNGUA PORTUGUESA

Pronomes de Tratamento

Vossa Alteza V. A. príncipes, duques


Vossa Eminência V. Ema.(s) cardeais
Vossa Reverendíssima V. Revma.(s) acerdotes e bispos
Vossa Excelência V. Ex.ª (s) altas autoridades e oficiais-generais
Vossa Magnificência V. Mag.ª (s) reitores de universidades
Vossa Majestade V. M. reis e rainhas
Vossa Majestade Imperial V. M. I. Imperadores
Vossa Santidade V. S. Papa
Vossa Senhoria V. S.ª (s) tratamento cerimonioso
Vossa Onipotência V. O. Deus

Também são pronomes de tratamento o senhor, a senhora e você, vocês. “O senhor” e “a senhora” são empregados no
tratamento cerimonioso; “você” e “vocês”, no tratamento familiar. Você e vocês são largamente empregados no português
do Brasil; em algumas regiões, a forma tu é de uso frequente; em outras, pouco empregada. Já a forma vós tem uso restrito
à linguagem litúrgica, ultraformal ou literária.

Observações:
a) Vossa Excelência X Sua Excelência : os pronomes de tratamento que possuem “Vossa (s)” são empregados em relação
à pessoa com quem falamos: Espero que V. Ex.ª, Senhor Ministro, compareça a este encontro.

*Emprega-se “Sua (s)” quando se fala a respeito da pessoa.
Todos os membros da C.P.I. afirmaram que Sua Excelência, o Senhor Presidente da República, agiu com propriedade.

- Os pronomes de tratamento representam uma forma indireta de nos dirigirmos aos nossos interlocutores. Ao tratar-
mos um deputado por Vossa Excelência, por exemplo, estamos nos endereçando à excelência que esse deputado suposta-
mente tem para poder ocupar o cargo que ocupa.

- 3ª pessoa: embora os pronomes de tratamento dirijam-se à 2ª pessoa, toda a concordância deve ser feita com a
3ª pessoa. Assim, os verbos, os pronomes possessivos e os pronomes oblíquos empregados em relação a eles devem ficar
na 3ª pessoa.
Basta que V. Ex.ª cumpra a terça parte das suas promessas, para que seus eleitores lhe fiquem reconhecidos.

- Uniformidade de Tratamento: quando escrevemos ou nos dirigimos a alguém, não é permitido mudar, ao longo do
texto, a pessoa do tratamento escolhida inicialmente. Assim, por exemplo, se começamos a chamar alguém de “você”, não
poderemos usar “te” ou “teu”. O uso correto exigirá, ainda, verbo na terceira pessoa.
Quando você vier, eu te abraçarei e enrolar-me-ei nos teus cabelos. (errado)
Quando você vier, eu a abraçarei e enrolar-me-ei nos seus cabelos. (correto)
Quando tu vieres, eu te abraçarei e enrolar-me-ei nos teus cabelos. (correto)

Pronomes Possessivos

São palavras que, ao indicarem a pessoa gramatical (possuidor), acrescentam a ela a ideia de posse de algo (coisa
possuída).
Este caderno é meu. (meu = possuidor: 1ª pessoa do singular)

NÚMERO PESSOA PRONOME


singular primeira meu(s), minha(s)
singular segunda teu(s), tua(s)
singular terceira seu(s), sua(s)
plural primeira nosso(s), nossa(s)
plural segunda vosso(s), vossa(s)
plural terceira seu(s), sua(s)

Note que: A forma do possessivo depende da pessoa gramatical a que se refere; o gênero e o número concordam com
o objeto possuído: Ele trouxe seu apoio e sua contribuição naquele momento difícil.

46
LÍNGUA PORTUGUESA

Observações: No tempo:
Este ano está sendo bom para nós. O pronome este se
1 - A forma “seu” não é um possessivo quando resultar refere ao ano presente.
da alteração fonética da palavra senhor: Muito obrigado, Esse ano que passou foi razoável. O pronome esse se re-
seu José. fere a um passado próximo.
Aquele ano foi terrível para todos. O pronome aquele
2 - Os pronomes possessivos nem sempre indicam está se referindo a um passado distante.
posse. Podem ter outros empregos, como: - Os pronomes demonstrativos podem ser variáveis ou
invariáveis, observe:
a) indicar afetividade: Não faça isso, minha filha.
Variáveis: este(s), esta(s), esse(s), essa(s), aquele(s), aque-
la(s).
b) indicar cálculo aproximado: Ele já deve ter seus 40 anos.
Invariáveis: isto, isso, aquilo.
- Também aparecem como pronomes demonstrativos:
c) atribuir valor indefinido ao substantivo: Marisa tem - o(s), a(s): quando estiverem antecedendo o “que” e pu-
lá seus defeitos, mas eu gosto muito dela. derem ser substituídos por aquele(s), aquela(s), aquilo.
Não ouvi o que disseste. (Não ouvi aquilo que disseste.)
3- Em frases onde se usam pronomes de tratamento, Essa rua não é a que te indiquei. (Esta rua não é aquela
o pronome possessivo fica na 3ª pessoa: Vossa Excelência que te indiquei.)
trouxe sua mensagem?
- mesmo(s), mesma(s): Estas são as mesmas pessoas que
4- Referindo-se a mais de um substantivo, o possessi- o procuraram ontem.
vo concorda com o mais próximo: Trouxe-me seus livros e
anotações. - próprio(s), própria(s): Os próprios alunos resolveram o
problema.
5- Em algumas construções, os pronomes pessoais
oblíquos átonos assumem valor de possessivo: Vou seguir- - semelhante(s): Não compre semelhante livro.
lhe os passos. (= Vou seguir seus passos.)
- tal, tais: Tal era a solução para o problema.
Pronomes Demonstrativos
Note que:
- Não raro os demonstrativos aparecem na frase, em
Os pronomes demonstrativos são utilizados para ex- construções redundantes, com finalidade expressiva, para
plicitar a posição de uma certa palavra em relação a outras salientar algum termo anterior. Por exemplo: Manuela, essa é
ou ao contexto. Essa relação pode ocorrer em termos de que dera em cheio casando com o José Afonso. Desfrutar das
espaço, no tempo ou discurso. belezas brasileiras, isso é que é sorte!
No espaço:
Compro este carro (aqui). O pronome este indica que o - O pronome demonstrativo neutro ou pode representar
carro está perto da pessoa que fala. um termo ou o conteúdo de uma oração inteira, caso em
Compro esse carro (aí). O pronome esse indica que o que aparece, geralmente, como objeto direto, predicativo ou
carro está perto da pessoa com quem falo, ou afastado da aposto: O casamento seria um desastre. Todos o pressentiam.
pessoa que fala.
Compro aquele carro (lá). O pronome aquele diz que - Para evitar a repetição de um verbo anteriormente ex-
o carro está afastado da pessoa que fala e daquela com presso, é comum empregar-se, em tais casos, o verbo fazer,
quem falo. chamado, então, verbo vicário (= que substitui, que faz as
vezes de): Ninguém teve coragem de falar antes que ela o
Atenção: em situações de fala direta (tanto ao vivo fizesse.
quanto por meio de correspondência, que é uma moda-
- Em frases como a seguinte, este se refere à pessoa
lidade escrita de fala), são particularmente importantes o
mencionada em último lugar; aquele, à mencionada em pri-
este e o esse - o primeiro localiza os seres em relação ao
meiro lugar: O referido deputado e o Dr. Alcides eram amigos
emissor; o segundo, em relação ao destinatário. Trocá-los íntimos; aquele casado, solteiro este. [ou então: este solteiro,
pode causar ambiguidade. aquele casado]
Dirijo-me a essa universidade com o objetivo de solicitar
informações sobre o concurso vestibular. (trata-se da univer- - O pronome demonstrativo tal pode ter conotação irô-
sidade destinatária). nica: A menina foi a tal que ameaçou o professor?
Reafirmamos a disposição desta universidade em parti-
cipar no próximo Encontro de Jovens. (trata-se da universi- - Pode ocorrer a contração das preposições a, de, em
dade que envia a mensagem). com pronome demonstrativo: àquele, àquela, deste, desta,
disso, nisso, no, etc: Não acreditei no que estava vendo. (no
= naquilo)

47
LÍNGUA PORTUGUESA

Pronomes Indefinidos Indefinidos Sistemáticos

São palavras que se referem à terceira pessoa do dis- Ao observar atentamente os pronomes indefinidos,
curso, dando-lhe sentido vago (impreciso) ou expressando percebemos que existem alguns grupos que criam oposi-
quantidade indeterminada. ção de sentido. É o caso de: algum/alguém/algo, que têm
Alguém entrou no jardim e destruiu as mudas recém sentido afirmativo, e nenhum/ninguém/nada, que têm
-plantadas. sentido negativo; todo/tudo, que indicam uma totalidade
afirmativa, e nenhum/nada, que indicam uma totalidade
negativa; alguém/ninguém, que se referem à pessoa, e
Não é difícil perceber que “alguém” indica uma pessoa algo/nada, que se referem à coisa; certo, que particulariza,
de quem se fala (uma terceira pessoa, portanto) de forma e qualquer, que generaliza.
imprecisa, vaga. É uma palavra capaz de indicar um ser hu- Essas oposições de sentido são muito importantes na
mano que seguramente existe, mas cuja identidade é des- construção de frases e textos coerentes, pois delas muitas
conhecida ou não se quer revelar. Classificam-se em: vezes dependem a solidez e a consistência dos argumen-
- Pronomes Indefinidos Substantivos: assumem o lu- tos expostos. Observe nas frases seguintes a força que os
gar do ser ou da quantidade aproximada de seres na frase. pronomes indefinidos destacados imprimem às afirmações
São eles: algo, alguém, fulano, sicrano, beltrano, nada, nin- de que fazem parte:
guém, outrem, quem, tudo. Nada do que tem sido feito produziu qualquer resultado
Algo o incomoda? prático.
Quem avisa amigo é. Certas pessoas conseguem perceber sutilezas: não são
pessoas quaisquer.
- Pronomes Indefinidos Adjetivos: qualificam um ser
expresso na frase, conferindo-lhe a noção de quantidade Pronomes Relativos
aproximada. São eles: cada, certo(s), certa(s).
Cada povo tem seus costumes. São aqueles que representam nomes já mencionados
Certas pessoas exercem várias profissões. anteriormente e com os quais se relacionam. Introduzem
as orações subordinadas adjetivas.
Note que: Ora são pronomes indefinidos substantivos, O racismo é um sistema que afirma a superioridade de
ora pronomes indefinidos adjetivos: um grupo racial sobre outros.
algum, alguns, alguma(s), bastante(s) (= muito, muitos), (afirma a superioridade de um grupo racial sobre ou-
demais, mais, menos, muito(s), muita(s), nenhum, nenhuns, tros = oração subordinada adjetiva).
nenhuma(s), outro(s), outra(s), pouco(s), pouca(s), qualquer, O pronome relativo “que” refere-se à palavra “sistema”
quaisquer, qual, que, quanto(s), quanta(s), tal, tais, tanto(s), e introduz uma oração subordinada. Diz-se que a palavra
tanta(s), todo(s), toda(s), um, uns, uma(s), vários, várias. “sistema” é antecedente do pronome relativo que.
Menos palavras e mais ações. O antecedente do pronome relativo pode ser o prono-
Alguns se contentam pouco. me demonstrativo o, a, os, as.
Os pronomes indefinidos podem ser divididos em va- Não sei o que você está querendo dizer.
riáveis e invariáveis. Observe: Às vezes, o antecedente do pronome relativo não vem ex-
Variáveis = algum, nenhum, todo, muito, pouco, vário, presso.
tanto, outro, quanto, alguma, nenhuma, toda, muita, pouca, Quem casa, quer casa.
vária, tanta, outra, quanta, qualquer, quaisquer, alguns, ne-
nhuns, todos, muitos, poucos, vários, tantos, outros, quantos, Observe:
algumas, nenhumas, todas, muitas, poucas, várias, tantas, Pronomes relativos variáveis = o qual, cujo, quanto, os
outras, quantas. quais, cujos, quantos, a qual, cuja, quanta, as quais, cujas,
Invariáveis = alguém, ninguém, outrem, tudo, nada, quantas.
algo, cada. Pronomes relativos invariáveis = quem, que, onde.

São locuções pronominais indefinidas: Note que:


- O pronome “que” é o relativo de mais largo emprego,
cada qual, cada um, qualquer um, quantos quer (que), sendo por isso chamado relativo universal. Pode ser subs-
quem quer (que), seja quem for, seja qual for, todo aquele tituído por o qual, a qual, os quais, as quais, quando seu
(que), tal qual (= certo), tal e qual, tal ou qual, um ou outro, antecedente for um substantivo.
uma ou outra, etc. O trabalho que eu fiz refere-se à corrupção. (= o qual)
Cada um escolheu o vinho desejado. A cantora que acabou de se apresentar é péssima. (= a qual)
Os trabalhos que eu fiz referem-se à corrupção. (= os quais)
As cantoras que se apresentaram eram péssimas. (= as quais)

48
LÍNGUA PORTUGUESA

- O qual, os quais, a qual e as quais são exclusivamente Pronomes Interrogativos


pronomes relativos: por isso, são utilizados didaticamente
para verificar se palavras como “que”, “quem”, “onde” (que São usados na formulação de perguntas, sejam elas di-
podem ter várias classificações) são pronomes relativos. To- retas ou indiretas. Assim como os pronomes indefinidos,
dos eles são usados com referência à pessoa ou coisa por referem- -se à 3ª pessoa do discurso de modo
motivo de clareza ou depois de determinadas preposições: impreciso. São pronomes interrogativos: que, quem, qual (e
Regressando de São Paulo, visitei o sítio de minha tia, o qual variações), quanto (e variações).
me deixou encantado. (O uso de “que”, neste caso, geraria Quem fez o almoço?/ Diga-me quem fez o almoço.
ambiguidade.) Qual das bonecas preferes? / Não sei qual das bonecas
Essas são as conclusões sobre as quais pairam mui- preferes.
tas dúvidas? (Não se poderia usar “que” depois de sobre.) Quantos passageiros desembarcaram? / Pergunte quan-
tos passageiros desembarcaram.
- O relativo “que” às vezes equivale a o que, coisa que, e
se refere a uma oração: Não chegou a ser padre, mas deixou Sobre os pronomes:
de ser poeta, que era a sua vocação natural.
O pronome pessoal é do caso reto quando tem função
- O pronome “cujo” não concorda com o seu antece- de sujeito na frase. O pronome pessoal é do caso oblíquo
dente, mas com o consequente. Equivale a do qual, da qual, quando desempenha função de complemento. Vamos en-
dos quais, das quais. tender, primeiramente, como o pronome pessoal surge na
Este é o caderno cujas folhas estão rasgadas. frase e que função exerce. Observe as orações:
(antecedente) (consequente) 1. Eu não sei essa matéria, mas ele irá me ajudar.
2. Maria foi embora para casa, pois não sabia se devia lhe
- “Quanto” é pronome relativo quando tem por antece- ajudar.
dente um pronome indefinido: tanto (ou variações) e tudo:
Na primeira oração os pronomes pessoais “eu” e “ele”
exercem função de sujeito, logo, são pertencentes ao caso
Emprestei tantos quantos foram necessários.
reto. Já na segunda oração, observamos o pronome “lhe”
(antecedente)
exercendo função de complemento, e, consequentemente,
Ele fez tudo quanto havia falado.
é do caso oblíquo.
(antecedente)
Os pronomes pessoais indicam as pessoas do discurso,
o pronome oblíquo “lhe”, da segunda oração, aponta para
- O pronome “quem” se refere a pessoas e vem sempre
a segunda pessoa do singular (tu/você): Maria não sabia se
precedido de preposição. devia ajudar.... Ajudar quem? Você (lhe).
É um professor a quem muito devemos.
(preposição) Importante: Em observação à segunda oração, o em-
prego do pronome oblíquo “lhe” é justificado antes do ver-
- “Onde”, como pronome relativo, sempre possui an- bo intransitivo “ajudar” porque o pronome oblíquo pode
tecedente e só pode ser utilizado na indicação de lugar: A estar antes, depois ou entre locução verbal, caso o verbo
casa onde morava foi assaltada. principal (no caso “ajudar”) esteja no infinitivo ou gerúndio.
- Na indicação de tempo, deve-se empregar quando ou Eu desejo lhe perguntar algo.
em que. Eu estou perguntando-lhe algo.
Sinto saudades da época em que (quando) morávamos no
exterior. Os pronomes pessoais oblíquos podem ser átonos ou
tônicos: os primeiros não são precedidos de preposição,
- Podem ser utilizadas como pronomes relativos as pa- diferentemente dos segundos que são sempre precedidos
lavras: de preposição.
- como (= pelo qual): Não me parece correto o modo - Pronome oblíquo átono: Joana me perguntou o que
como você agiu semana passada. eu estava fazendo.
- quando (= em que): Bons eram os tempos quando po- - Pronome oblíquo tônico: Joana perguntou para mim
díamos jogar videogame. o que eu estava fazendo.

- Os pronomes relativos permitem reunir duas orações A colocação pronominal é a posição que os prono-
numa só frase. mes pessoais oblíquos átonos ocupam na frase em relação
O futebol é um esporte. ao verbo a que se referem. São pronomes oblíquos átonos:
O povo gosta muito deste esporte. me, te, se, o, os, a, as, lhe, lhes, nos e vos.
O futebol é um esporte de que o povo gosta muito. O pronome oblíquo átono pode assumir três posições
na oração em relação ao verbo:
- Numa série de orações adjetivas coordenadas, pode 1. próclise: pronome antes do verbo
ocorrer a elipse do relativo “que”: A sala estava cheia de 2. ênclise: pronome depois do verbo
gente que conversava, (que) ria, (que) fumava. 3. mesóclise: pronome no meio do verbo

49
LÍNGUA PORTUGUESA

Próclise Mesóclise

A próclise é aplicada antes do verbo quando temos: A mesóclise acontece quando o verbo está flexionado
- Palavras com sentido negativo: no futuro do presente ou no futuro do pretérito:
Nada me faz querer sair dessa cama. A prova realizar-se-á neste domingo pela manhã. (= ela
Não se trata de nenhuma novidade. se realizará)
Far-lhe-ei uma proposta irrecusável. (= eu farei uma
- Advérbios: proposta a você)
Nesta casa se fala alemão.
Naquele dia me falaram que a professora não veio. Questões sobre Pronome

- Pronomes relativos: 01. (Escrevente TJ SP – Vunesp/2012).


A aluna que me mostrou a tarefa não veio hoje. Restam dúvidas sobre o crescimento verde. Primeiro, não
Não vou deixar de estudar os conteúdos que me falaram. está claro até onde pode realmente chegar uma política ba-
seada em melhorar a eficiência sem preços adequados para
- Pronomes indefinidos: o carbono, a água e (na maioria dos países pobres) a terra.
Quem me disse isso? É verdade que mesmo que a ameaça dos preços do carbono
Todos se comoveram durante o discurso de despedida. e da água faça em si diferença, as companhias não podem
suportar ter de pagar, de repente, digamos, 40 dólares por
- Pronomes demonstrativos: tonelada de carbono, sem qualquer preparação. Portanto,
Isso me deixa muito feliz! elas começam a usar preços-sombra. Ainda assim, ninguém
Aquilo me incentivou a mudar de atitude! encontrou até agora uma maneira de quantificar adequada-
mente os insumos básicos. E sem eles a maioria das políticas
- Preposição seguida de gerúndio: de crescimento verde sempre será a segunda opção.
Em se tratando de qualidade, o Brasil Escola é o site mais
(Carta Capital, 27.06.2012. Adaptado)
indicado à pesquisa escolar.
Os pronomes “elas” e “eles”, em destaque no texto, re-
ferem- -se, respectivamente, a
- Conjunção subordinativa:
(A) dúvidas e preços.
Vamos estabelecer critérios, conforme lhe avisaram.
(B) dúvidas e insumos básicos.
(C) companhias e insumos básicos.
Ênclise
(D) companhias e preços do carbono e da água.
(E) políticas de crescimento e preços adequados.
A ênclise é empregada depois do verbo. A norma culta
não aceita orações iniciadas com pronomes oblíquos áto-
nos. A ênclise vai acontecer quando: 02. (Agente de Apoio Administrativo – FCC – 2013-
- O verbo estiver no imperativo afirmativo: adap.). Fazendo-se as alterações necessárias, o trecho gri-
Amem-se uns aos outros. fado está corretamente substituído por um pronome em:
Sigam-me e não terão derrotas. A) ...sei tratar tipos como o senhor. − sei tratá-lo
B) ...erguendo os braços desalentado... − erguendo-
- O verbo iniciar a oração: lhes desalentado
Diga-lhe que está tudo bem. C) ...que tem de conhecer as leis do país? − que tem
Chamaram-me para ser sócio. de conhecê-lo?
D) ...não parecia ser um importante industrial... − não
- O verbo estiver no infinitivo impessoal regido da prepo- parecia ser-lhe
sição “a”: E) incomodaram o general... − incomodaram-no
Naquele instante os dois passaram a odiar-se.
Passaram a cumprimentar-se mutuamente. 03.(Agente de Defensoria Pública – FCC – 2013-adap.). A
- O verbo estiver no gerúndio: substituição do elemento grifado pelo pronome correspon-
Não quis saber o que aconteceu, fazendo-se de despreo- dente, com os necessários ajustes, foi realizada de modo IN-
cupada. CORRETO em:
Despediu-se, beijando-me a face. A) mostrando o rio= mostrando-o.
B) como escolher sítio= como escolhê-lo.
- Houver vírgula ou pausa antes do verbo: C) transpor [...] as matas espessas= transpor-lhes.
Se passar no concurso em outra cidade, mudo-me no D) Às estreitas veredas[...] nada acrescentariam =
mesmo instante. nada lhes acrescentariam.
Se não tiver outro jeito, alisto-me nas forças armadas. E) viu uma dessas marcas= viu uma delas.

50
LÍNGUA PORTUGUESA

04. (Papiloscopista Policial – Vunesp – 2013). Assinale a Fazendo-se as alterações necessárias, os segmentos grifa-
alternativa em que o pronome destacado está posicionado dos acima foram corretamente substituídos por um pronome,
de acordo com a norma-padrão da língua. na ordem dada, em:
(A) Ela não lembrava-se do caminho de volta. (A) devoravam-nos − impedi-la − convencê-los
(B) A menina tinha distanciado-se muito da família. (B) devoravam-lhe − impedi-las − convencer-lhes
(C) A garota disse que perdeu-se dos pais. (C) devoravam-no − impedi-las − convencer-lhes
(D) O pai alegrou-se ao encontrar a filha. (D) devoravam-nos − impedir-lhe − convencê-los
(E) Ninguém comprometeu-se a ajudar a criança. (E) devoravam-lhes − impedi-la − convencê-los

05. (Escrevente TJ SP – Vunesp 2011). Assinale a alter- 10. (Agente de Vigilância e Recepção – VUNESP – 2013-
nativa cujo emprego do pronome está em conformidade adap.). No trecho, – Em ambos os casos, as câmeras dos es-
com a norma padrão da língua. tabelecimentos felizmente comprovam os acontecimentos,
(A) Não autorizam-nos a ler os comentários sigilosos. e testemunhas vão ajudar a polícia na investigação. – de
(B) Nos falaram que a diplomacia americana está abalada. acordo com a norma-padrão, os pronomes que substi-
(C) Ninguém o informou sobre o caso WikiLeaks. tuem, corretamente, os termos em destaque são:
(D) Conformado, se rendeu às punições. A) os comprovam … ajudá-la.
(E) Todos querem que combata-se a corrupção. B) os comprovam …ajudar-la.
C) os comprovam … ajudar-lhe.
06. (Papiloscopista Policial = Vunesp - 2013). Assina- D) lhes comprovam … ajudar-lhe.
le a alternativa correta quanto à colocação pronominal, de E) lhes comprovam … ajudá-la.
acordo com a norma-padrão da língua portuguesa.
(A) Para que se evite perder objetos, recomenda-se que GABARITO
eles sejam sempre trazidos junto ao corpo.
(B) O passageiro ao lado jamais imaginou-se na situa- 01. C 02. E 03. C 04. D 05. C
ção de ter de procurar a dona de uma bolsa perdida.
06. A 07. C 08. E 09. A 10. A
(C) Nos sentimos impotentes quando não consegui-
mos restituir um objeto à pessoa que o perdeu.
RESOLUÇÃO
(D) O homem se indignou quando propuseram-lhe
que abrisse a bolsa que encontrara.
1-) Restam dúvidas sobre o crescimento verde. Primei-
(E) Em tratando-se de objetos encontrados, há uma
ro, não está claro até onde pode realmente chegar uma
tendência natural das pessoas em devolvê-los a seus donos.
política baseada em melhorar a eficiência sem preços ade-
07. (Agente de Apoio Operacional – VUNESP – 2013). quados para o carbono, a água e (na maioria dos países
Há pessoas que, mesmo sem condições, compram produ- pobres) a terra. É verdade que mesmo que a ameaça dos
tos______ não necessitam e______ tendo de pagar tudo______ prazo. preços do carbono e da água faça em si diferença, as com-
Assinale a alternativa que preenche as lacunas, correta panhias não podem suportar ter de pagar, de repente, di-
e respectivamente, considerando a norma culta da língua. gamos, 40 dólares por tonelada de carbono, sem qualquer
A) a que … acaba … à preparação. Portanto, elas começam a usar preços-som-
B) com que … acabam … à bra. Ainda assim, ninguém encontrou até agora uma ma-
C) de que … acabam … a neira de quantificar adequadamente os insumos básicos.
D) em que … acaba … a E sem eles a maioria das políticas de crescimento verde
E) dos quais … acaba … à sempre será a segunda opção.

08. (Agente de Apoio Socioeducativo – VUNESP – 2-)


2013-adap.). Assinale a alternativa que substitui, correta e A) ...sei tratar tipos como o senhor. − sei tratá-los
respectivamente, as lacunas do trecho. B) ...erguendo os braços desalentado... − erguendo-os
______alguns anos, num programa de televisão, uma jo- desalentado
vem fazia referência______ violência______ o brasileiro estava C) ...que tem de conhecer as leis do país? − que tem de
sujeito de forma cômica. conhecê-las ?
A) Fazem... a ... de que D) ...não parecia ser um importante industrial... − não
B) Faz ...a ... que parecia sê-lo
C) Fazem ...à ... com que
D) Faz ...à ... que 3-) transpor [...] as matas espessas= transpô-las
E) Faz ...à ... a que
4-)
09. (TRF 3ª região- Técnico Judiciário - /2014) (A) Ela não se lembrava do caminho de volta.
(B) A menina tinha se distanciado muito da família.
As sereias então devoravam impiedosamente os tripulantes. (C) A garota disse que se perdeu dos pais.
... ele conseguiu impedir a tripulação de perder a cabeça... (E) Ninguém se comprometeu a ajudar a criança
... e fez de tudo para convencer os tripulantes...

51
LÍNGUA PORTUGUESA

5-) Classificação dos Substantivos


(A) Não nos autorizam a ler os comentários sigilosos.
(B) Falaram-nos que a diplomacia americana está abalada. 1- Substantivos Comuns e Próprios
(D) Conformado, rendeu-se às punições. Observe a definição: s.f. 1: Povoação maior que vila, com
(E) Todos querem que se combata a corrupção. muitas casas e edifícios, dispostos em ruas e avenidas (no Brasil,
toda a sede de município é cidade). 2. O centro de uma cidade
6-) (em oposição aos bairros).
(B) O passageiro ao lado jamais se imaginou na situação
de ter de procurar a dona de uma bolsa perdida. Qualquer “povoação maior que vila, com muitas casas e
(C) Sentimo-nos impotentes quando não conseguimos edifícios, dispostos em ruas e avenidas” será chamada cidade.
restituir um objeto à pessoa que o perdeu. Isso significa que a palavra cidade é um substantivo comum.
(D) O homem indignou-se quando lhe propuseram que Substantivo Comum é aquele que designa os seres de
abrisse a bolsa que encontrara. uma mesma espécie de forma genérica: cidade, menino, ho-
(E) Em se tratando de objetos encontrados, há uma ten- mem, mulher, país, cachorro.
dência natural das pessoas em devolvê-los a seus donos. Estamos voando para Barcelona.
7-) Há pessoas que, mesmo sem condições, compram
produtos de que não necessitam e acabam tendo de O substantivo Barcelona designa apenas um ser da espé-
pagar tudo a prazo. cie cidade. Esse substantivo é próprio. Substantivo Próprio: é
aquele que designa os seres de uma mesma espécie de forma
8-) Faz alguns anos, num programa de televisão, uma particular: Londres, Paulinho, Pedro, Tietê, Brasil.
jovem fazia referência à violência a que o brasileiro estava
sujeito de forma cômica. 2 - Substantivos Concretos e Abstratos
Faz, no sentido de tempo passado = sempre no singular
LÂMPADA MALA
9-)
devoravam - verbo terminado em “m” = pronome oblí- Os substantivos lâmpada e mala designam seres com
quo no/na (fizeram-na, colocaram-no) existência própria, que são independentes de outros seres.
impedir - verbo transitivo direto = pede objeto direto; São substantivos concretos.
“lhe” é para objeto indireto
convencer - verbo transitivo direto = pede objeto direto; Substantivo Concreto: é aquele que designa o ser que
“lhe” é para objeto indireto existe, independentemente de outros seres.
(A) devoravam-nos − impedi-la − convencê-los Obs.: os substantivos concretos designam seres do mun-
do real e do mundo imaginário.
10-) – Em ambos os casos, as câmeras dos estabelecimen- Seres do mundo real: homem, mulher, cadeira, cobra, Bra-
tos felizmente comprovam os acontecimentos, e testemunhas sília, etc.
vão ajudar a polícia na investigação. Seres do mundo imaginário: saci, mãe-d’água, fantasma,
felizmente os comprovam ... ajudá-la etc.
(advérbio)
Observe agora:
Tudo o que existe é ser e cada ser tem um nome. Subs- Beleza exposta
tantivo é a classe gramatical de palavras variáveis, as quais Jovens atrizes veteranas destacam-se pelo visual.
denominam os seres. Além de objetos, pessoas e fenômenos, O substantivo beleza designa uma qualidade.
os substantivos também nomeiam: Substantivo Abstrato: é aquele que designa seres que
-lugares: Alemanha, Porto Alegre... dependem de outros para se manifestar ou existir.
-sentimentos: raiva, amor... Pense bem: a beleza não existe por si só, não pode ser
-estados: alegria, tristeza... observada. Só podemos observar a beleza numa pessoa ou
-qualidades: honestidade, sinceridade... coisa que seja bela. A beleza depende de outro ser para se
-ações: corrida, pescaria... manifestar. Portanto, a palavra beleza é um substantivo abs-
trato.
Morfossintaxe do substantivo Os substantivos abstratos designam estados, qualidades,
ações e sentimentos dos seres, dos quais podem ser abstraí-
Nas orações de língua portuguesa, o substantivo em geral dos, e sem os quais não podem existir: vida (estado), rapidez
exerce funções diretamente relacionadas com o verbo: atua (qualidade), viagem (ação), saudade (sentimento).
como núcleo do sujeito, dos complementos verbais (objeto di-
reto ou indireto) e do agente da passiva. Pode ainda funcionar 3 - Substantivos Coletivos
como núcleo do complemento nominal ou do aposto, como
núcleo do predicativo do sujeito, do objeto ou como núcleo Ele vinha pela estrada e foi picado por uma abelha, outra
do vocativo. Também encontramos substantivos como nú- abelha, mais outra abelha.
cleos de adjuntos adnominais e de adjuntos adverbiais - quan- Ele vinha pela estrada e foi picado por várias abelhas.
do essas funções são desempenhadas por grupos de palavras. Ele vinha pela estrada e foi picado por um enxame.

52
LÍNGUA PORTUGUESA

Note que, no primeiro caso, para indicar plural, foi necessário repetir o substantivo: uma abelha, outra abelha, mais outra abelha...
No segundo caso, utilizaram-se duas palavras no plural.
No terceiro caso, empregou-se um substantivo no singular (enxame) para designar um conjunto de seres da mesma espécie (abelhas).
O substantivo enxame é um substantivo coletivo.
Substantivo Coletivo: é o substantivo comum que, mesmo estando no singular, designa um conjunto de seres da mesma espécie.

Substantivo coletivo Conjunto de:


assembleia pessoas reunidas
alcateia lobos
acervo livros
antologia trechos literários selecionados
arquipélago ilhas
banda músicos
bando desordeiros ou malfeitores
banca examinadores
batalhão soldados
cardume peixes
caravana viajantes peregrinos
cacho frutas
cáfila camelos
cancioneiro canções, poesias líricas
colmeia abelhas
chusma gente, pessoas
concílio bispos
congresso parlamentares, cientistas.
elenco atores de uma peça ou filme
esquadra navios de guerra
enxoval roupas
falange soldados, anjos
fauna animais de uma região
feixe lenha, capim
flora vegetais de uma região
frota navios mercantes, ônibus
girândola fogos de artifício
horda bandidos, invasores
junta médicos, bois, credores, examinadores
júri jurados
legião soldados, anjos, demônios
leva presos, recrutas
malta malfeitores ou desordeiros
manada búfalos, bois, elefantes,
matilha cães de raça
molho chaves, verduras
multidão pessoas em geral
ninhada pintos
nuvem insetos (gafanhotos, mosquitos, etc.)
penca bananas, chaves
pinacoteca pinturas, quadros
quadrilha ladrões, bandidos
ramalhete flores
rebanho ovelhas
récua bestas de carga, cavalgadura
repertório peças teatrais, obras musicais
réstia alhos ou cebolas
romanceiro poesias narrativas
revoada pássaros
sínodo párocos
talha lenha
tropa muares, soldados
turma estudantes, trabalhadores
vara porcos

53
LÍNGUA PORTUGUESA

Formação dos Substantivos Substantivos Biformes e Substantivos Uniformes

Substantivos Simples e Compostos Substantivos Biformes (= duas formas): ao indicar no-


Chuva - subst. Fem. 1 - água caindo em gotas sobre a mes de seres vivos, geralmente o gênero da palavra está
terra. relacionado ao sexo do ser, havendo, portanto, duas formas,
O substantivo chuva é formado por um único elemento uma para o masculino e outra para o feminino. Observe:
ou radical. É um substantivo simples. gato – gata, homem – mulher, poeta – poetisa, prefeito - pre-
feita
Substantivo Simples: é aquele formado por um único
Substantivos Uniformes: são aqueles que apresentam
elemento.
uma única forma, que serve tanto para o masculino quanto
Outros substantivos simples: tempo, sol, sofá, etc. Veja
para o feminino. Classificam-se em:
agora: O substantivo guarda-chuva é formado por dois ele- - Epicenos: têm um só gênero e nomeiam bichos: a co-
mentos (guarda + chuva). Esse substantivo é composto. bra macho e a cobra fêmea, o jacaré macho e o jacaré fêmea.
- Sobrecomuns: têm um só gênero e nomeiam pes-
Substantivo Composto: é aquele formado por dois ou soas: a criança, a testemunha, a vítima, o cônjuge, o gênio, o
mais elementos. Outros exemplos: beija-flor, passatempo. ídolo, o indivíduo.
- Comuns de Dois Gêneros: indicam o sexo das pes-
Substantivos Primitivos e Derivados soas por meio do artigo: o colega e a colega, o doente e a
Meu limão meu limoeiro, doente, o artista e a artista.
meu pé de jacarandá...
Saiba que: Substantivos de origem grega terminados
O substantivo limão é primitivo, pois não se originou em ema ou oma, são masculinos: o fonema, o poema, o sis-
de nenhum outro dentro de língua portuguesa. tema, o sintoma, o teorema.
- Existem certos substantivos que, variando de gênero,
Substantivo Primitivo: é aquele que não deriva de variam em seu significado: o rádio (aparelho receptor) e a rá-
nenhuma outra palavra da própria língua portuguesa. O dio (estação emissora) o capital (dinheiro) e a capital (cidade)
substantivo limoeiro é derivado, pois se originou a partir
Formação do Feminino dos Substantivos Biformes
da palavra limão.
- Regra geral: troca-se a terminação -o por –a: aluno -
Substantivo Derivado: é aquele que se origina de ou- aluna.
tra palavra. - Substantivos terminados em -ês: acrescenta-se -a ao
masculino: freguês - freguesa
- Substantivos terminados em -ão: fazem o feminino de
Flexão dos substantivos três formas:
- troca-se -ão por -oa. = patrão – patroa
O substantivo é uma classe variável. A palavra é variá- - troca-se -ão por -ã. = campeão - campeã
vel quando sofre flexão (variação). A palavra menino, por -troca-se -ão por ona. = solteirão - solteirona
exemplo, pode sofrer variações para indicar:
Plural: meninos Feminino: menina Exceções: barão – baronesa ladrão- ladra sultão -
Aumentativo: meninão Diminutivo: menininho sultana

Flexão de Gênero - Substantivos terminados em -or:


- acrescenta-se -a ao masculino = doutor – doutora
Gênero é a propriedade que as palavras têm de indicar - troca-se -or por -triz: = imperador - imperatriz
sexo real ou fictício dos seres. Na língua portuguesa, há
- Substantivos com feminino em -esa, -essa, -isa: cônsul
dois gêneros: masculino e feminino. Pertencem ao gênero
- consulesa / abade - abadessa / poeta - poetisa / duque -
masculino os substantivos que podem vir precedidos dos
duquesa / conde - condessa / profeta - profetisa
artigos o, os, um, uns. Veja estes títulos de filmes:
O velho e o mar - Substantivos que formam o feminino trocando o -e
Um Natal inesquecível final por -a: elefante - elefanta
Os reis da praia
- Substantivos que têm radicais diferentes no masculino
Pertencem ao gênero feminino os substantivos que e no feminino: bode – cabra / boi - vaca
podem vir precedidos dos artigos a, as, uma, umas:
A história sem fim - Substantivos que formam o feminino de maneira es-
Uma cidade sem passado pecial, isto é, não seguem nenhuma das regras anteriores:
As tartarugas ninjas czar – czarina réu - ré

54
LÍNGUA PORTUGUESA

Formação do Feminino dos Substantivos Uniformes Femininos: a dinamite, a derme, a hélice, a omoplata, a
Epicenos: cataplasma, a pane, a mascote, a gênese, a entorse, a libido,
Novo jacaré escapa de policiais no rio Pinheiros. a cal, a faringe, a cólera (doença), a ubá (canoa).

Não é possível saber o sexo do jacaré em questão. Isso - São geralmente masculinos os substantivos de ori-
ocorre porque o substantivo jacaré tem apenas uma forma gem grega terminados em -ma: o grama (peso), o quilo-
para indicar o masculino e o feminino. grama, o plasma, o apostema, o diagrama, o epigrama, o
Alguns nomes de animais apresentam uma só forma telefonema, o estratagema, o dilema, o teorema, o trema, o
para designar os dois sexos. Esses substantivos são cha- eczema, o edema, o magma, o estigma, o axioma, o traco-
mados de epicenos. No caso dos epicenos, quando houver ma, o hematoma.
a necessidade de especificar o sexo, utilizam-se palavras
macho e fêmea. Exceções: a cataplasma, a celeuma, a fleuma, etc.
A cobra macho picou o marinheiro.
A cobra fêmea escondeu-se na bananeira. Gênero dos Nomes de Cidades:

Sobrecomuns: Com raras exceções, nomes de cidades são femininos.


Entregue as crianças à natureza.
A histórica Ouro Preto.
A palavra crianças refere-se tanto a seres do sexo mas- A dinâmica São Paulo.
culino, quanto a seres do sexo feminino. Nesse caso, nem A acolhedora Porto Alegre.
o artigo nem um possível adjetivo permitem identificar o Uma Londres imensa e triste.
sexo dos seres a que se refere a palavra. Veja: Exceções: o Rio de Janeiro, o Cairo, o Porto, o Havre.
A criança chorona chamava-se João.
A criança chorona chamava-se Maria. Gênero e Significação:

Outros substantivos sobrecomuns: Muitos substantivos têm uma significação no masculi-


a criatura = João é uma boa criatura. Maria é uma boa no e outra no feminino. Observe: o baliza (soldado que, que
criatura. à frente da tropa, indica os movimentos que se deve realizar
o cônjuge = O cônjuge de João faleceu. O cônjuge de em conjunto; o que vai à frente de um bloco carnavalesco,
Marcela faleceu manejando um bastão), a baliza (marco, estaca; sinal que
marca um limite ou proibição de trânsito), o cabeça (chefe),
Comuns de Dois Gêneros: a cabeça (parte do corpo), o cisma (separação religiosa, dissi-
Motorista tem acidente idêntico 23 anos depois. dência), a cisma (ato de cismar, desconfiança), o cinza (a cor
cinzenta), a cinza (resíduos de combustão), o capital (dinhei-
Quem sofreu o acidente: um homem ou uma mulher? ro), a capital (cidade), o coma (perda dos sentidos), a coma
É impossível saber apenas pelo título da notícia, uma (cabeleira), o coral (pólipo, a cor vermelha, canto em coro),
vez que a palavra motorista é um substantivo uniforme. a coral (cobra venenosa), o crisma (óleo sagrado, usado na
A distinção de gênero pode ser feita através da análise administração da crisma e de outros sacramentos), a crisma
do artigo ou adjetivo, quando acompanharem o substanti- (sacramento da confirmação), o cura (pároco), a cura (ato de
vo: o colega - a colega; o imigrante - a imigrante; um jovem curar), o estepe (pneu sobressalente), a estepe (vasta planície
- uma jovem; artista famoso - artista famosa; repórter fran- de vegetação), o guia (pessoa que guia outras), a guia (docu-
cês - repórter francesa mento, pena grande das asas das aves), o grama (unidade de
peso), a grama (relva), o caixa (funcionário da caixa), a caixa
- A palavra personagem é usada indistintamente nos (recipiente, setor de pagamentos), o lente (professor), a lente
dois gêneros. (vidro de aumento), o moral (ânimo), a moral (honestidade,
a) Entre os escritores modernos nota-se acentuada bons costumes, ética), o nascente (lado onde nasce o Sol), a
preferência pelo masculino: O menino descobriu nas nuvens nascente (a fonte), o maria-fumaça (trem como locomotiva
os personagens dos contos de carochinha. a vapor), maria-fumaça (locomotiva movida a vapor), o pala
b) Com referência a mulher, deve-se preferir o femini- (poncho), a pala (parte anterior do boné ou quepe, antepa-
no: O problema está nas mulheres de mais idade, que não ro), o rádio (aparelho receptor), a rádio (estação emissora), o
aceitam a personagem. voga (remador), a voga (moda, popularidade).
- Diz-se: o (ou a) manequim Marcela, o (ou a) modelo
fotográfico Ana Belmonte. Flexão de Número do Substantivo
Observe o gênero dos substantivos seguintes:
Em português, há dois números gramaticais: o singular,
Masculinos: o tapa, o eclipse, o lança-perfume, o dó que indica um ser ou um grupo de seres, e o plural, que
(pena), o sanduíche, o clarinete, o champanha, o sósia, o indica mais de um ser ou grupo de seres. A característica
maracajá, o clã, o hosana, o herpes, o pijama, o suéter, o do plural é o “s” final.
soprano, o proclama, o pernoite, o púbis.

55
LÍNGUA PORTUGUESA

Plural dos Substantivos Simples - Flexionam-se os dois elementos, quando formados de:
substantivo + substantivo = couve-flor e couves-flores
- Os substantivos terminados em vogal, ditongo oral e substantivo + adjetivo = amor-perfeito e amores-per-
“n” fazem o plural pelo acréscimo de “s”: pai – pais; ímã – feitos
ímãs; hífen - hifens (sem acento, no plural). Exceção: cânon adjetivo + substantivo = gentil-homem e gentis-homens
- cânones. numeral + substantivo = quinta-feira e quintas-feiras

- Os substantivos terminados em “m” fazem o plural - Flexiona-se somente o segundo elemento, quando
em “ns”: homem - homens. formados de:
verbo + substantivo = guarda-roupa e guarda-roupas
- Os substantivos terminados em “r” e “z” fazem o plu- palavra invariável + palavra variável = alto-falante e
ral pelo acréscimo de “es”: revólver – revólveres; raiz - raízes. alto- -falantes
palavras repetidas ou imitativas = reco-reco e reco-recos
Atenção: O plural de caráter é caracteres.
- Flexiona-se somente o primeiro elemento, quando
- Os substantivos terminados em al, el, ol, ul flexionam- formados de:
se no plural, trocando o “l” por “is”: quintal - quintais; cara- substantivo + preposição clara + substantivo = água-
col – caracóis; hotel - hotéis. Exceções: mal e males, cônsul de-colônia e águas-de-colônia
e cônsules. substantivo + preposição oculta + substantivo = cava-
lo-vapor e cavalos-vapor
- Os substantivos terminados em “il” fazem o plural de substantivo + substantivo que funciona como determi-
duas maneiras: nante do primeiro, ou seja, especifica a função ou o tipo do
- Quando oxítonos, em “is”: canil - canis termo anterior:
- Quando paroxítonos, em “eis”: míssil - mísseis. palavra-chave - palavras-chave, bomba-relógio - bom-
Obs.: a palavra réptil pode formar seu plural de duas
bas-relógio, notícia-bomba - notícias-bomba, homem-rã -
maneiras: répteis ou reptis (pouco usada).
homens-rã, peixe- -espada - peixes-espada.
- Os substantivos terminados em “s” fazem o plural de
duas maneiras:
- Permanecem invariáveis, quando formados de:
- Quando monossilábicos ou oxítonos, mediante o
verbo + advérbio = o bota-fora e os bota-fora
acréscimo de “es”: ás – ases / retrós - retroses
verbo + substantivo no plural = o saca-rolhas e os sa-
- Quando paroxítonos ou proparoxítonos, ficam inva-
ca-rolhas
riáveis: o lápis - os lápis / o ônibus - os ônibus.
- Casos Especiais
o louva-a-deus e os louva-a-deus
- Os substantivos terminados em “ao” fazem o plural
o bem-te-vi e os bem-te-vis
de três maneiras.
- substituindo o -ão por -ões: ação - ações o bem-me-quer e os bem-me-queres
- substituindo o -ão por -ães: cão - cães o joão-ninguém e os joões-ninguém.
- substituindo o -ão por -ãos: grão - grãos
Plural das Palavras Substantivadas
- Os substantivos terminados em “x” ficam invariáveis:
o látex - os látex. As palavras substantivadas, isto é, palavras de outras
classes gramaticais usadas como substantivo, apresentam,
no plural, as flexões próprias dos substantivos.
Plural dos Substantivos Compostos Pese bem os prós e os contras.
O aluno errou na prova dos noves.
-A formação do plural dos substantivos compostos de- Ouça com a mesma serenidade os sins e os nãos.
pende da forma como são grafados, do tipo de palavras
que formam o composto e da relação que estabelecem en- Obs.: numerais substantivados terminados em “s” ou
tre si. Aqueles que são grafados sem hífen comportam-se “z” não variam no plural: Nas provas mensais consegui mui-
como os substantivos simples: aguardente/aguardentes, tos seis e alguns dez.
girassol/girassóis, pontapé/pontapés, malmequer/
malmequeres.
O plural dos substantivos compostos cujos elementos
são ligados por hífen costuma provocar muitas dúvidas e
discussões. Algumas orientações são dadas a seguir:

56
LÍNGUA PORTUGUESA

Plural dos Diminutivos Têm a vogal tônica fechada (ô): adornos, almoços, bol-
sos, esposos, estojos, globos, gostos, polvos, rolos, soros, etc.
Flexiona-se o substantivo no plural, retira-se o “s” final Obs.: distinga-se molho (ô) = caldo (molho de carne),
e acrescenta-se o sufixo diminutivo. de molho (ó) = feixe (molho de lenha).
pãe(s) + zinhos = pãezinhos
animai(s) + zinhos = animaizinhos Particularidades sobre o Número dos Substantivos
botõe(s) + zinhos = botõezinhos
chapéu(s) + zinhos = chapeuzinhos - Há substantivos que só se usam no singular: o sul, o
farói(s) + zinhos = faroizinhos
norte, o leste, o oeste, a fé, etc.
tren(s) + zinhos = trenzinhos
- Outros só no plural: as núpcias, os víveres, os pêsames,
colhere(s) + zinhas = colherezinhas
flore(s) + zinhas = florezinhas as espadas/os paus (naipes de baralho), as fezes.
mão(s) + zinhas = mãozinhas - Outros, enfim, têm, no plural, sentido diferente do
papéi(s) + zinhos = papeizinhos singular: bem (virtude) e bens (riquezas), honra (probidade,
nuven(s) + zinhas = nuvenzinhas bom nome) e honras (homenagem, títulos).
funi(s) + zinhos = funizinhos - Usamos às vezes, os substantivos no singular, mas
túnei(s) + zinhos = tuneizinhos com sentido de plural:
pai(s) + zinhos = paizinhos Aqui morreu muito negro.
pé(s) + zinhos = pezinhos Celebraram o sacrifício divino muitas vezes em capelas
pé(s) + zitos = pezitos improvisadas.

Plural dos Nomes Próprios Personativos Flexão de Grau do Substantivo

Devem-se pluralizar os nomes próprios de pessoas Grau é a propriedade que as palavras têm de exprimir
sempre que a terminação preste-se à flexão. as variações de tamanho dos seres. Classifica-se em:
Os Napoleões também são derrotados. - Grau Normal - Indica um ser de tamanho considera-
As Raquéis e Esteres. do normal. Por exemplo: casa
Plural dos Substantivos Estrangeiros
- Grau Aumentativo - Indica o aumento do tamanho
Substantivos ainda não aportuguesados devem ser es- do ser. Classifica-se em:
critos como na língua original, acrescentando-se “s” (exceto Analítico = o substantivo é acompanhado de um adje-
quando terminam em “s” ou “z”): os shows, os shorts, os jazz. tivo que indica grandeza. Por exemplo: casa grande.
Substantivos já aportuguesados flexionam-se de acor- Sintético = é acrescido ao substantivo um sufixo indi-
do com as regras de nossa língua: os clubes, os chopes, os cador de aumento. Por exemplo: casarão.
jipes, os esportes, as toaletes, os bibelôs, os garçons,
os réquiens. - Grau Diminutivo - Indica a diminuição do tamanho
Observe o exemplo: do ser. Pode ser:
Este jogador faz gols toda vez que joga. Analítico = substantivo acompanhado de um adjetivo
O plural correto seria gois (ô), mas não se usa. que indica pequenez. Por exemplo: casa pequena.
Sintético = é acrescido ao substantivo um sufixo indi-
Plural com Mudança de Timbre cador de diminuição. Por exemplo: casinha.

Certos substantivos formam o plural com mudança de Verbo é a classe de palavras que se flexiona em pes-
timbre da vogal tônica (o fechado / o aberto). É um fato soa, número, tempo, modo e voz. Pode indicar, entre outros
fonético chamado metafonia (plural metafônico). processos: ação (correr); estado (ficar); fenômeno (chover);
ocorrência (nascer); desejo (querer).
Singular Plural
O que caracteriza o verbo são as suas flexões, e não
corpo (ô) corpos (ó)
esforço esforços os seus possíveis significados. Observe que palavras como
fogo fogos corrida, chuva e nascimento têm conteúdo muito próximo
forno fornos ao de alguns verbos mencionados acima; não apresentam,
fosso fossos porém, todas as possibilidades de flexão que esses verbos
imposto impostos possuem.
olho olhos
osso (ô) ossos (ó) Estrutura das Formas Verbais
ovo ovos Do ponto de vista estrutural, uma forma verbal pode
poço poços apresentar os seguintes elementos:
porto portos - Radical: é a parte invariável, que expressa o significa-
posto postos do essencial do verbo. Por exemplo: fal-ei; fal-ava; fal-am.
tijolo tijolos (radical fal-)

57
LÍNGUA PORTUGUESA

- Tema: é o radical seguido da vogal temática que in- ** Todos os verbos que indicam fenômenos da natureza
dica a conjugação a que pertence o verbo. Por exemplo: são impessoais: chover, ventar, nevar, gear, trovejar, amanhe-
fala-r cer, escurecer, etc. Quando, porém, se constrói, “Amanheci
São três as conjugações: 1ª - Vogal Temática - A - (fa- mal-humorado”, usa-se o verbo “amanhecer” em sentido fi-
lar), 2ª - Vogal Temática - E - (vender), 3ª - Vogal Temática gurado. Qualquer verbo impessoal, empregado em sentido
- I - (partir). figurado, deixa de ser impessoal para ser pessoal.
- Desinência modo-temporal: é o elemento que de- Amanheci mal-humorado. (Sujeito desinencial: eu)
signa o tempo e o modo do verbo. Por exemplo: Choveram candidatos ao cargo. (Sujeito: candidatos)
falávamos ( indica o pretérito imperfeito do indicativo.) Fiz quinze anos ontem. (Sujeito desinencial: eu)
falasse ( indica o pretérito imperfeito do subjuntivo.)
- Desinência número-pessoal: é o elemento que de- ** São impessoais, ainda:
signa a pessoa do discurso ( 1ª, 2ª ou 3ª) e o número (sin- 1. o verbo passar (seguido de preposição), indicando
tempo: Já passa das seis.
gular ou plural):
2. os verbos bastar e chegar, seguidos da preposição de,
falamos (indica a 1ª pessoa do plural.)
indicando suficiência: Basta de tolices. Chega de blasfêmias.
falavam (indica a 3ª pessoa do plural.)
3. os verbos estar e ficar em orações tais como Está
bem, Está muito bem assim, Não fica bem, Fica mal, sem re-
Observação: o verbo pôr, assim como seus derivados ferência a sujeito expresso anteriormente. Podemos, ainda,
(compor, repor, depor, etc.), pertencem à 2ª conjugação, nesse caso, classificar o sujeito como hipotético, tornando-
pois a forma arcaica do verbo pôr era poer. A vogal “e”, se, tais verbos, então, pessoais.
apesar de haver desaparecido do infinitivo, revela-se em 4. o verbo deu + para da língua popular, equivalente de
algumas formas do verbo: põe, pões, põem, etc. “ser possível”. Por exemplo:
Não deu para chegar mais cedo.
Formas Rizotônicas e Arrizotônicas Dá para me arrumar uns trocados?
Ao combinarmos os conhecimentos sobre a estrutura
dos verbos com o conceito de acentuação tônica, perce- * Unipessoais: são aqueles que, tendo sujeito, conju-
bemos com facilidade que nas formas rizotônicas o acento gam-se apenas nas terceiras pessoas, do singular e do plu-
tônico cai no radical do verbo: opino, aprendam, nutro, por ral.
exemplo. Nas formas arrizotônicas, o acento tônico não cai A fruta amadureceu.
no radical, mas sim na terminação verbal: opinei, aprende- As frutas amadureceram.
rão, nutriríamos. Obs.: os verbos unipessoais podem ser usados como
verbos pessoais na linguagem figurada: Teu irmão amadu-
Classificação dos Verbos receu bastante.
Classificam-se em:
- Regulares: são aqueles que possuem as desinências Entre os unipessoais estão os verbos que significam vo-
normais de sua conjugação e cuja flexão não provoca alte- zes de animais; eis alguns: bramar: tigre, bramir: crocodilo,
rações no radical: canto cantei cantarei cantava cacarejar: galinha, coaxar: sapo, cricrilar: grilo
cantasse.
- Irregulares: são aqueles cuja flexão provoca altera- Os principais verbos unipessoais são:
ções no radical ou nas desinências: faço fiz farei fi- 1. cumprir, importar, convir, doer, aprazer, parecer, ser
(preciso, necessário, etc.):
zesse.
Cumpre trabalharmos bastante. (Sujeito: trabalharmos
- Defectivos: são aqueles que não apresentam conju-
bastante.)
gação completa. Classificam-se em impessoais, unipessoais
Parece que vai chover. (Sujeito: que vai chover.)
e pessoais:
É preciso que chova. (Sujeito: que chova.)
* Impessoais: são os verbos que não têm sujeito. Nor-
malmente, são usados na terceira pessoa do singular. Os 2. fazer e ir, em orações que dão ideia de tempo, segui-
principais verbos impessoais são: dos da conjunção que.
** haver, quando sinônimo de existir, acontecer, reali- Faz dez anos que deixei de fumar. (Sujeito: que deixei de
zar-se ou fazer (em orações temporais). fumar.)
Havia poucos ingressos à venda. (Havia = Existiam) Vai para (ou Vai em ou Vai por) dez anos que não vejo
Houve duas guerras mundiais. (Houve = Aconteceram) Cláudia. (Sujeito: que não vejo Cláudia)
Haverá reuniões aqui. (Haverá = Realizar-se-ão) Obs.: todos os sujeitos apontados são oracionais.
Deixei de fumar há muitos anos. (há = faz)
* Pessoais: não apresentam algumas flexões por moti-
** fazer, ser e estar (quando indicam tempo) vos morfológicos ou eufônicos. Por exemplo:
Faz invernos rigorosos no Sul do Brasil. - verbo falir. Este verbo teria como formas do presente
Era primavera quando a conheci. do indicativo falo, fales, fale, idênticas às do verbo falar -
Estava frio naquele dia. o que provavelmente causaria problemas de interpretação
em certos contextos.

58
LÍNGUA PORTUGUESA

- verbo computar. Este verbo teria como formas do presente do indicativo computo, computas, computa - formas de
sonoridade considerada ofensiva por alguns ouvidos gramaticais. Essas razões muitas vezes não impedem o uso efetivo de
formas verbais repudiadas por alguns gramáticos: exemplo disso é o próprio verbo computar, que, com o desenvolvimento
e a popularização da informática, tem sido conjugado em todos os tempos, modos e pessoas.

- Abundantes: são aqueles que possuem mais de uma forma com o mesmo valor. Geralmente, esse fenômeno costuma
ocorrer no particípio, em que, além das formas regulares terminadas em -ado ou -ido, surgem as chamadas formas curtas
(particípio irregular). Observe:

INFINITIVO PARTICÍPIO REGULAR PARTICÍPIO IRREGULAR

Anexar Anexado Anexo


Dispersar Dispersado Disperso
Eleger Elegido Eleito
Envolver Envolvido Envolto

INFINITIVO PARTICÍPIO REGULAR PARTICÍPIO IRREGULAR

Imprimir Imprimido Impresso


Matar Matado Morto
Morrer Morrido Morto
Pegar Pegado Pego
Soltar Soltado Solto

- Anômalos: são aqueles que incluem mais de um radical em sua conjugação. Por exemplo: Ir, Pôr, Ser, Saber (vou, vais,
ides, fui, foste, pus, pôs, punha, sou, és, fui, foste, seja).

- Auxiliares: São aqueles que entram na formação dos tempos compostos e das locuções verbais. O verbo principal,
quando acompanhado de verbo auxiliar, é expresso numa das formas nominais: infinitivo, gerúndio ou particípio.

Vou espantar as moscas.


(verbo auxiliar) (verbo principal no infinitivo)

Está chegando a hora do debate.


(verbo auxiliar) (verbo principal no gerúndio)

Os noivos foram cumprimentados por todos os presentes.


(verbo auxiliar) (verbo principal no particípio)

Obs.: os verbos auxiliares mais usados são: ser, estar, ter e haver.

Conjugação dos Verbos Auxiliares

SER - Modo Indicativo


Presente Pret.Perfeito Pretérito Imp. Pret.Mais-Que-Perf. Fut.do Pres. Fut. Do Pretérito
sou fui era fora serei seria
és foste eras foras serás serias
é foi era fora será seria
somos fomos éramos fôramos seremos seríamos
sois fostes éreis fôreis sereis seríeis
são foram eram foram serão seriam

59
LÍNGUA PORTUGUESA

SER - Modo Subjuntivo

Presente Pretérito Imperfeito Futuro


que eu seja se eu fosse quando eu for
que tu sejas se tu fosses quando tu fores
que ele seja se ele fosse quando ele for
que nós sejamos se nós fôssemos quando nós formos
que vós sejais se vós fôsseis quando vós fordes
que eles sejam se eles fossem quando eles forem

SER - Modo Imperativo

Afirmativo Negativo
sê tu não sejas tu
seja você não seja você
sejamos nós não sejamos nós
sede vós não sejais vós
sejam vocês não sejam vocês

SER - Formas Nominais

Infinitivo Impessoal Infinitivo Pessoal Gerúndio Particípio


ser ser eu sendo sido
seres tu

Infinitivo Impessoal Infinitivo Pessoal Gerúndio Particípio


ser ele
sermos nós
serdes vós
serem eles

ESTAR - Modo Indicativo

Presente Pret. perf. Pret. Imperf. Pret.Mais-Que-Perf. Fut.doPres. Fut.do Preté.


estou estive estava estivera estarei estaria
estás estiveste estavas estiveras estarás estarias
está esteve estava estivera estará estaria
estamos estivemos estávamos estivéramos estaremos estaríamos
estais estivestes estáveis estivéreis estareis estaríeis
estão estiveram estavam estiveram estarão estariam

ESTAR - Modo Subjuntivo e Imperativo

Presente Pretérito Imperfeito Futuro Afirmativo Negativo


esteja estivesse estiver
estejas estivesses estiveres está estejas
esteja estivesse estiver esteja esteja
estejamos estivéssemos estivermos estejamos estejamos
estejais estivésseis estiverdes estai estejais
estejam estivessem estiverem estejam estejam

ESTAR - Formas Nominais

Infinitivo Impessoal Infinitivo Pessoal Gerúndio Particípio


estar estar estando estado
estares
estar
estarmos
estardes
estarem

60
LÍNGUA PORTUGUESA

HAVER - Modo Indicativo

Presente Pret. Perf. Pret. Imper. Pret.Mais-Que-Perf. Fut. Do Pres. Fut. Do Preté.
hei houve havia houvera haverei haveria
hás houveste havias houveras haverás haverias
há houve havia houvera haverá haveria
havemos houvemos havíamos houvéramos haveremos haveríamos
haveis houvestes havíeis houvéreis havereis haveríeis
hão houveram haviam houveram haverão haveriam

HAVER - Modo Subjuntivo e Imperativo

Presente Pretérito Imperfeito Futuro Afirmativo Negativo


haja houvesse houver
hajas houvesses houveres há hajas
haja houvesse houver haja haja
hajamos houvéssemos houvermos hajamos hajamos
hajais houvésseis houverdes havei hajais
hajam houvessem houverem hajam hajam

HAVER - Formas Nominais

Infinitivo Impessoal Infinitivo Pessoal Gerúndio Particípio


haver haver havendo havido
haveres
haver
havermos
haverdes
haverem

TER - Modo Indicativo

Presente Pret. Perf. Pret. Imper. Preté.Mais-Que-Perf. Fut. Do Pres. Fut. Do Preté.
Tenho tive tinha tivera terei teria
tens tiveste tinhas tiveras terás terias
tem teve tinha tivera terá teria
temos tivemos tínhamos tivéramos teremos teríamos
tendes tivestes tínheis tivéreis tereis teríeis
têm tiveram tinham tiveram terão teriam

TER - Modo Subjuntivo e Imperativo

Presente Pretérito Imperfeito Futuro Afirmativo Negativo


Tenha tivesse tiver
tenhas tivesses tiveres tem tenhas
tenha tivesse tiver tenha tenha
tenhamos tivéssemos tivermos tenhamos tenhamos
tenhais tivésseis tiverdes tende tenhais
tenham tivessem tiverem tenham tenham

- Pronominais: São aqueles verbos que se conjugam com os pronomes oblíquos átonos me, te, se, nos, vos, se, na
mesma pessoa do sujeito, expressando reflexibilidade (pronominais acidentais) ou apenas reforçando a ideia já implícita no
próprio sentido do verbo (reflexivos essenciais). Veja:
- 1. Essenciais: são aqueles que sempre se conjugam com os pronomes oblíquos me, te, se, nos, vos, se. São poucos:
abster-se, ater- -se, apiedar-se, atrever-se, dignar-se, arrepender-se, etc. Nos verbos pronominais essenciais a reflexibilidade
já está implícita no radical do verbo. Por exemplo: Arrependi-me de ter estado lá.

61
LÍNGUA PORTUGUESA

A ideia é de que a pessoa representada pelo sujeito (eu) - Infinitivo Impessoal: exprime a significação do ver-
tem um sentimento (arrependimento) que recai sobre ela bo de modo vago e indefinido, podendo ter valor e função
mesma, pois não recebe ação transitiva nenhuma vinda do de substantivo. Por exemplo:
verbo; o pronome oblíquo átono é apenas uma partícula Viver é lutar. (= vida é luta)
integrante do verbo, já que, pelo uso, sempre é conjugada É indispensável combater a corrupção. (= combate à)
com o verbo. Diz-se que o pronome apenas serve de refor-
ço da ideia reflexiva expressa pelo radical do próprio verbo. O infinitivo impessoal pode apresentar-se no presen-
Veja uma conjugação pronominal essencial (verbo e te (forma simples) ou no passado (forma composta). Por
respectivos pronomes): exemplo:
Eu me arrependo É preciso ler este livro.
Tu te arrependes Era preciso ter lido este livro.
Ele se arrepende
Nós nos arrependemos - Infinitivo Pessoal: é o infinitivo relacionado às três
pessoas do discurso. Na 1ª e 3ª pessoas do singular, não
Vós vos arrependeis
apresenta desinências, assumindo a mesma forma do im-
Eles se arrependem
pessoal; nas demais, flexiona-se da seguinte maneira:
2ª pessoa do singular: Radical + ES Ex.: teres(tu)
- 2. Acidentais: são aqueles verbos transitivos diretos
1ª pessoa do plural: Radical + MOS Ex.: termos (nós)
em que a ação exercida pelo sujeito recai sobre o obje- 2ª pessoa do plural: Radical + DES Ex.: terdes (vós)
to representado por pronome oblíquo da mesma pessoa 3ª pessoa do plural: Radical + EM Ex.: terem (eles)
do sujeito; assim, o sujeito faz uma ação que recai sobre Por exemplo: Foste elogiado por teres alcançado uma
ele mesmo. Em geral, os verbos transitivos diretos ou tran- boa colocação.
sitivos diretos e indiretos podem ser conjugados com os
pronomes mencionados, formando o que se chama voz - Gerúndio: o gerúndio pode funcionar como adjetivo
reflexiva. Por exemplo: Maria se penteava. ou advérbio. Por exemplo:
A reflexibilidade é acidental, pois a ação reflexiva pode Saindo de casa, encontrei alguns amigos. (função de ad-
ser exercida também sobre outra pessoa. Por exemplo: vérbio)
Maria penteou-me. Nas ruas, havia crianças vendendo doces. (função de ad-
Observações: jetivo)
- Por fazerem parte integrante do verbo, os pronomes Na forma simples, o gerúndio expressa uma ação em
oblíquos átonos dos verbos pronominais não possuem curso; na forma composta, uma ação concluída. Por exemplo:
função sintática. Trabalhando, aprenderás o valor do dinheiro.
- Há verbos que também são acompanhados de prono- Tendo trabalhado, aprendeu o valor do dinheiro.
mes oblíquos átonos, mas que não são essencialmente pro-
nominais, são os verbos reflexivos. Nos verbos reflexivos, os - Particípio: quando não é empregado na formação
pronomes, apesar de se encontrarem na pessoa idêntica à dos tempos compostos, o particípio indica geralmente o
do sujeito, exercem funções sintáticas. Por exemplo: resultado de uma ação terminada, flexionando-se em gê-
Eu me feri. = Eu(sujeito) - 1ª pessoa do singular me nero, número e grau. Por exemplo:
(objeto direto) - 1ª pessoa do singular Terminados os exames, os candidatos saíram.

Modos Verbais Quando o particípio exprime somente estado, sem


nenhuma relação temporal, assume verdadeiramente a
função de adjetivo (adjetivo verbal). Por exemplo: Ela foi a
Dá-se o nome de modo às várias formas assumidas
aluna escolhida para representar a escola.
pelo verbo na expressão de um fato. Em Português, exis-
tem três modos:
Tempos Verbais
Indicativo - indica uma certeza, uma realidade: Eu
sempre estudo. Tomando-se como referência o momento em que se
Subjuntivo - indica uma dúvida, uma possibilidade: fala, a ação expressa pelo verbo pode ocorrer em diversos
Talvez eu estude amanhã. tempos. Veja:
Imperativo - indica uma ordem, um pedido: Estuda 1. Tempos do Indicativo
agora, menino. - Presente - Expressa um fato atual: Eu estudo neste
colégio.
Formas Nominais - Pretérito Imperfeito - Expressa um fato ocorrido
num momento anterior ao atual, mas que não foi comple-
Além desses três modos, o verbo apresenta ainda for- tamente terminado: Ele estudava as lições quando foi inter-
mas que podem exercer funções de nomes (substantivo, rompido.
adjetivo, advérbio), sendo por isso denominadas formas - Pretérito Perfeito - Expressa um fato ocorrido num
nominais. Observe: momento anterior ao atual e que foi totalmente terminado:
Ele estudou as lições ontem à noite.

62
LÍNGUA PORTUGUESA

- Pretérito-Mais-Que-Perfeito - Expressa um fato ocorrido antes de outro fato já terminado: Ele já tinha estudado as
lições quando os amigos chegaram. (forma composta) Ele já estudara as lições quando os amigos chegaram. (forma simples).
- Futuro do Presente - Enuncia um fato que deve ocorrer num tempo vindouro com relação ao momento atual: Ele
estudará as lições amanhã.
- Futuro do Pretérito - Enuncia um fato que pode ocorrer posteriormente a um determinado fato passado: Se eu ti-
vesse dinheiro, viajaria nas férias.

2. Tempos do Subjuntivo
- Presente - Enuncia um fato que pode ocorrer no momento atual: É conveniente que estudes para o exame.
- Pretérito Imperfeito - Expressa um fato passado, mas posterior a outro já ocorrido: Eu esperava que ele vencesse o jogo.
Obs.: o pretérito imperfeito é também usado nas construções em que se expressa a ideia de condição ou desejo. Por
exemplo: Se ele viesse ao clube, participaria do campeonato.

- Futuro do Presente - Enuncia um fato que pode ocorrer num momento futuro em relação ao atual: Quando ele vier
à loja, levará as encomendas.
Obs.: o futuro do presente é também usado em frases que indicam possibilidade ou desejo. Por exemplo: Se ele vier à
loja, levará as encomendas.

Presente do Indicativo

1ª conjugação 2ª conjugação 3ª conjugação Desinência pessoal


CANTAR VENDER PARTIR
cantO vendO partO O
cantaS vendeS parteS S
canta vende parte -
cantaMOS vendeMOS partiMOS MOS
cantaIS vendeIS partIS IS
cantaM vendeM parteM M

Pretérito Perfeito do Indicativo


1ª conjugação 2ª conjugação 3ª conjugação Desinência pessoal
CANTAR VENDER PARTIR
canteI vendI partI I
cantaSTE vendeSTE partISTE STE
cantoU vendeU partiU U
cantaMOS vendeMOS partiMOS MOS
cantaSTES vendeSTES partISTES STES
cantaRAM vendeRAM partiRAM RAM

Pretérito mais-que-perfeito
1ª conjugação 2ª conjugação 3ª conjugação Des. temporal (1ª/2ª e 3ª conj.) Desinência pessoal
CANTAR VENDER PARTIR
cantaRA vendeRA partiRA RA Ø
cantaRAS vendeRAS partiRAS RA S
cantaRA vendeRA partiRA RA Ø
cantáRAMOS vendêRAMOS partíRAMOS RA MOS
cantáREIS vendêREIS partíREIS RE IS
cantaRAM vendeRAM partiRAM RA M

Pretérito Imperfeito do Indicativo


1ª conjugação 2ª conjugação 3ª conjugação
CANTAR VENDER PARTIR
cantAVA vendIA partIA
cantAVAS vendIAS partAS
CantAVA vendIA partIA
cantÁVAMOS vendÍAMOS partÍAMOS
cantÁVEIS vendÍEIS partÍEIS
cantAVAM vendIAM partIAM

63
LÍNGUA PORTUGUESA

Futuro do Presente do Indicativo


1ª conjugação 2ª conjugação 3ª conjugação
CANTAR VENDER PARTIR
cantar ei vender ei partir ei
cantar ás vender ás partir ás
cantar á vender á partir á
cantar emos vender emos partir emos
cantar eis vender eis partir eis
cantar ão vender ão partir ão

Futuro do Pretérito do Indicativo


1ª conjugação 2ª conjugação 3ª conjugação
CANTAR VENDER PARTIR
cantarIA venderIA partirIA
cantarIAS venderIAS partirIAS
cantarIA venderIA partirIA
cantarÍAMOS venderÍAMOS partirÍAMOS
cantarÍEIS venderÍEIS partirÍEIS
cantarIAM venderIAM partirIAM

Presente do Subjuntivo
Para se formar o presente do subjuntivo, substitui-se a desinência -o da primeira pessoa do singular do presente do indi-
cativo pela desinência -E (nos verbos de 1ª conjugação) ou pela desinência -A (nos verbos de 2ª e 3ª conjugação).

1ª conjug. 2ª conjug. 3ª conju. Des. temporal Des.temporal Desinên. pessoal


1ª conj. 2ª/3ª conj.
CANTAR VENDER PARTIR
cantE vendA partA E A Ø
cantES vendAS partAS E A S
cantE vendA partA E A Ø
cantEMOS vendAMOS partAMOS E A MOS
cantEIS vendAIS partAIS E A IS
cantEM vendAM partAM E A M

Pretérito Imperfeito do Subjuntivo

Para formar o imperfeito do subjuntivo, elimina-se a desinência -STE da 2ª pessoa do singular do pretérito perfeito, ob-
tendo-se, assim, o tema desse tempo. Acrescenta-se a esse tema a desinência temporal -SSE mais a desinência de número e
pessoa correspondente.

1ª conjugação 2ª conjugação 3ª conjugação Des. temporal Desinência pessoal


1ª /2ª e 3ª conj.
CANTAR VENDER PARTIR
cantaSSE vendeSSE partiSSE SSE Ø
cantaSSES vendeSSES partiSSES SSE S
cantaSSE vendeSSE partiSSE SSE Ø
cantáSSEMOS vendêSSEMOS partíSSEMOS SSE MOS
cantáSSEIS vendêSSEIS partíSSEIS SSE IS
cantaSSEM vendeSSEM partiSSEM SSE M

64
LÍNGUA PORTUGUESA

Futuro do Subjuntivo

Para formar o futuro do subjuntivo elimina-se a desinência -STE da 2ª pessoa do singular do pretérito perfeito, ob-
tendo-se, assim, o tema desse tempo. Acrescenta-se a esse tema a desinência temporal -R mais a desinência de número e
pessoa correspondente.

1ª conjugação 2ª conjugação 3ª conjugação Des. temporal Desinência pessoal


1ª /2ª e 3ª conj.
CANTAR VENDER PARTIR
cantaR vendeR partiR Ø
cantaRES vendeRES partiRES R ES
cantaR vendeR partiR R Ø
cantaRMOS vendeRMOS partiRMOS R MOS
cantaRDES vendeRDES partiRDES R DES
cantaREM vendeREM PartiREM R EM

Modo Imperativo

Imperativo Afirmativo

Para se formar o imperativo afirmativo, toma-se do presente do indicativo a 2ª pessoa do singular (tu) e a segunda
pessoa do plural (vós) eliminando-se o “S” final. As demais pessoas vêm, sem alteração, do presente do subjuntivo. Veja:

Presente do Indicativo Imperativo Afirmativo Presente do Subjuntivo

Eu canto --- Que eu cante


Tu cantas CantA tu Que tu cantes
Ele canta Cante você Que ele cante
Nós cantamos Cantemos nós Que nós cantemos
Vós cantais CantAI vós Que vós canteis
Eles cantam Cantem vocês Que eles cantem

Imperativo Negativo
Para se formar o imperativo negativo, basta antecipar a negação às formas do presente do subjuntivo.

Presente do Subjuntivo Imperativo Negativo

Que eu cante ---


Que tu cantes Não cantes tu
Que ele cante Não cante você
Que nós cantemos Não cantemos nós
Que vós canteis Não canteis vós
Que eles cantem Não cantem eles

Observações:

- No modo imperativo não faz sentido usar na 3ª pessoa (singular e plural) as formas ele/eles, pois uma ordem, pedido
ou conselho só se aplicam diretamente à pessoa com quem se fala. Por essa razão, utiliza-se você/vocês.
- O verbo SER, no imperativo, faz excepcionalmente: sê (tu), sede (vós).

Infinitivo Pessoal
1ª conjugação 2ª conjugação 3ª conjugação
CANTAR VENDER PARTIR
cantar vender partir
cantarES venderES partirES
cantar vender partir
cantarMOS venderMOS partirMOS
cantarDES venderDES partirDES
cantarEM venderEM partirEM

65
LÍNGUA PORTUGUESA

Questões sobre Verbo 06. (Escrevente TJ SP Vunesp 2013) Assinale a alternativa


em que todos os verbos estão empregados de acordo com a
01. (Agente Polícia Vunesp 2013) Considere o trecho a norma-padrão.
seguir. (A) Enviaram o texto, para que o revíssemos antes da
É comum que objetos ___________ esquecidos em locais impressão definitiva.
públicos. Mas muitos transtornos poderiam ser evitados se as (B) Não haverá prova do crime se o réu se manter em
pessoas _____________ a atenção voltada para seus pertences, silêncio.
conservando-os junto ao corpo. (C) Vão pagar horas-extras aos que se disporem a tra-
Assinale a alternativa que preenche, correta e respecti- balhar no feriado.
vamente, as lacunas do texto. (D) Ficarão surpresos quando o verem com a toga...
(A) sejam … mantesse (B) sejam … mantivessem (E) Se você quer a promoção, é necessário que a requera
(C) sejam … mantém (D) seja … mantivessem (E) a seu superior.
seja … mantêm
07. (Papiloscopista Policial Vunesp 2013-adap.) Assina-
02. (Escrevente TJ SP Vunesp 2012-adap.) Na frase –… os le a alternativa que substitui, corretamente e sem alterar o
níveis de pessoas sem emprego estão apresentando quedas sentido da frase, a expressão destacada em – Se a crian-
sucessivas de 2005 para cá. –, a locução verbal em destaque ça se perder, quem encontrá-la verá na pulseira instruções
expressa ação para que envie uma mensagem eletrônica ao grupo ou
(A) concluída. (B) atemporal. (C) contínua. acione o código na internet.
(D) hipotética. (E) futura. (A) Caso a criança se havia perdido…
(B) Caso a criança perdeu…
03. (Escrevente TJ SP Vunesp 2013-adap.) Sem querer es- (C) Caso a criança se perca…
tereotipar, mas já estereotipando: trata-se de um ser cujas in- (D) Caso a criança estivera perdida…
terações sociais terminam, 99% das vezes, diante da pergunta (E) Caso a criança se perda…
“débito ou crédito?”.
Nesse contexto, o verbo estereotipar tem sentido de
08. (Agente de Apoio Operacional – VUNESP – 2013-
(A) considerar ao acaso, sem premeditação.
adap.). Assinale a alternativa em que o verbo destacado está
(B) aceitar uma ideia mesmo sem estar convencido dela.
no tempo futuro.
(C) adotar como referência de qualidade.
A) Os consumidores são assediados pelo marketing …
(D) julgar de acordo com normas legais.
B) … somente eles podem decidir se irão ou não comprar.
(E) classificar segundo ideias preconcebidas.
C) É como se abrissem em nós uma “caixa de neces-
04. (Escrevente TJ SP Vunesp 2013) Assinale a alternativa sidades”…
contendo a frase do texto na qual a expressão verbal desta- D) … de onde vem o produto…?
cada exprime possibilidade. E) Uma pesquisa mostrou que 55,4% das pessoas…
(A) ... o cientista Theodor Nelson sonhava com um sis-
tema capaz de disponibilizar um grande número de obras 09. (Papiloscopista Policial – VUNESP – 2013). Assina-
literárias... le a alternativa em que a concordância das formas verbais
(B) Funcionando como um imenso sistema de informa- destacadas se dá em conformidade com a norma-padrão
ção e arquivamento, o hipertexto deveria ser um enorme da língua.
arquivo virtual. (A) Chegou, para ajudar a família, vários amigos e vi-
(C) Isso acarreta uma textualidade que funciona por as- zinhos.
sociação, e não mais por sequências fixas previamente esta- (B) Haviam várias hipóteses acerca do que poderia ter
belecidas. acontecido com a criança.
(D) Desde o surgimento da ideia de hipertexto, esse con- (C) Fazia horas que a criança tinha saído e os pais já
ceito está ligado a uma nova concepção de textualidade... estavam preocupados.
(E) Criou, então, o “Xanadu”, um projeto para disponibi- (D) Era duas horas da tarde, quando a criança foi en-
lizar toda a literatura do mundo... contrada.
(E) Existia várias maneiras de voltar para casa, mas a
05.(POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DO ACRE – ALUNO criança se perdeu mesmo assim.
SOLDADO COMBATENTE – FUNCAB/2012) No trecho: “O
crescimento econômico, se associado à ampliação do empre- 10. (Agente de Escolta e Vigilância Penitenciária – VU-
go, PODE melhorar o quadro aqui sumariamente descrito.”, se NESP – 2013-adap.). Leia as frases a seguir.
passarmos o verbo destacado para o futuro do pretérito do I. Havia onze pessoas jogando pedras e pedaços de ma-
indicativo, teremos a forma: deira no animal.
A) puder. II. Existiam muitos ferimentos no boi.
B) poderia. III. Havia muita gente assustando o boi numa avenida
C) pôde. movimentada.
D) poderá. Substituindo-se o verbo Haver pelo verbo Existir e este
E) pudesse. pelo verbo Haver, nas frases, têm-se, respectivamente:

66
LÍNGUA PORTUGUESA

A) Existia – Haviam – Existiam 9-)


B) Existiam – Havia – Existiam (A) Chegaram, para ajudar a família, vários amigos e
C) Existiam – Haviam – Existiam vizinhos.
D) Existiam – Havia – Existia (B) Havia várias hipóteses acerca do que poderia ter
E) Existia – Havia – Existia acontecido com a criança.
(D) Eram duas horas da tarde, quando a criança foi en-
GABARITO contrada.
(E) Existiam várias maneiras de voltar para casa, mas a
01. B 02. C 03. E 04. B 05. B criança se perdeu mesmo assim.
06. A 07. C 08. B 09. C 10. D
10-) I. Havia onze pessoas jogando pedras e pedaços
RESOLUÇÃO de madeira no animal.
II. Existiam muitos ferimentos no boi.
1-) É comum que objetos sejam esquecidos em III. Havia muita gente assustando o boi numa avenida
locais públicos. Mas muitos transtornos poderiam ser evi- movimentada.
tados se as pessoas mantivessem a atenção voltada para Haver – sentido de existir= invariável, impessoal;
seus pertences, conservando-os junto ao corpo. existir = variável. Portanto, temos:
I – Existiam onze pessoas...
2-) os níveis de pessoas sem emprego estão apresen- II – Havia muitos ferimentos...
tando quedas sucessivas de 2005 para cá. –, a locução ver- III – Existia muita gente...
bal em destaque expressa ação contínua (= não concluída)

3-) Sem querer estereotipar, mas já estereotipando: tra- Verbos irregulares são verbos que sofrem alterações
ta-se de um ser cujas interações sociais terminam, 99% das em seu radical ou em suas desinências, afastando-se do
vezes, diante da pergunta “débito ou crédito?”. modelo a que pertencem.
Nesse contexto, o verbo estereotipar tem sentido de No português, para verificar se um verbo sofre altera-
classificar segundo ideias preconcebidas. ções, basta conjugá-lo no presente e no pretérito perfeito
do indicativo. Ex: faço – fiz, trago – trouxe, posso - pude.
4-) (B) Funcionando como um imenso sistema de infor- Não é considerada irregularidade a alteração gráfica
mação e arquivamento, o hipertexto deveria ser um enor- do radical de certos verbos para conservação da regulari-
me arquivo virtual. = verbo no futuro do pretérito dade fônica. Ex: embarcar – embarco, fingir – finjo.

5-) Conjugando o verbo “poder” no futuro do pretérito Exemplo de conjugação do verbo “dar” no presente do
do Indicativo: eu poderia, tu poderias, ele poderia, nós po- indicativo:
deríamos, vós poderíeis, eles poderiam. O sujeito da oração Eu dou
é crescimento econômico (singular), portanto, terceira pes- Tu dás
soa do singular (ele) = poderia. Ele dá
6-) Nós damos
(B) Não haverá prova do crime se o réu se mantiver em Vós dais
silêncio. Eles dão
(C) Vão pagar horas-extras aos que se dispuserem a
trabalhar no feriado. Percebe-se que há alteração do radical, afastando-se
(D) Ficarão surpresos quando o virem com a toga... do original “dar” durante a conjugação, sendo considerado
(E) Se você quiser a promoção, é necessário que a re- verbo irregular.
queira a seu superior. Exemplo: Conjugação do verbo valer:

7-) Caso a criança se perca…(perda = substantivo: Modo Indicativo


Houve uma grande perda salarial...) Presente
eu valho
8-) tu vales
A) Os consumidores são assediados pelo marketing = ele vale
presente nós valemos
C) É como se abrissem em nós uma “caixa de necessi- vós valeis
dades”… = pretérito do Subjuntivo eles valem
D) … de onde vem o produto…? = presente
E) Uma pesquisa mostrou que 55,4% das pessoas… =
pretérito perfeito

67
LÍNGUA PORTUGUESA

Pretérito Perfeito do Indicativo Pretérito Imperfeito do Subjuntivo


eu vali se eu valesse
tu valeste se tu valesses
ele valeu se ele valesse
nós valemos se nós valêssemos
vós valestes se vós valêsseis
eles valeram se eles valessem

Pretérito Imperfeito do Indicativo Futuro do Subjuntivo


eu valia quando eu valer
tu valias quando tu valeres
ele valia quando ele valer
nós valíamos quando nós valermos
vós valíeis quando vós valerdes
quando eles valerem
eles valiam
Imperativo
Pretérito Mais-que-perfeito do Indicativo
Imperativo Afirmativo
eu valera
--
tu valeras
vale tu
ele valera
valha ele
nós valêramos
valhamos nós
vós valêreis valei vós
eles valeram valham eles
Futuro do Presente do Indicativo Imperativo Negativo
eu valerei --
tu valerás não valhas tu
ele valerá não valha ele
nós valeremos não valhamos nós
vós valereis não valhais vós
eles valerão não valham eles

Futuro do Pretérito do Indicativo Infinitivo


eu valeria Infinitivo Pessoal
tu valerias por valer eu
ele valeria por valeres tu
nós valeríamos por valer ele
vós valeríeis por valermos nós
eles valeriam por valerdes vós
por valerem eles
Mais-que-perfeito Composto do Indicativo
eu tinha valido Infinitivo Impessoal = valer
tu tinhas valido Particípio = Valido
ele tinha valido Acompanhe abaixo uma lista com os principais verbos
nós tínhamos valido irregulares:
vós tínheis valido
eles tinham valido Dizer
Presente do indicativo: Digo, dizes, diz, dizemos, di-
Gerúndio do verbo valer = valendo zeis, dizem.
Pretérito perfeito do indicativo: Disse, disseste, disse,
Modo Subjuntivo dissemos, dissestes, disseram.
Presente Futuro do presente do indicativo: Direi, dirás, dirá,
que eu valha diremos, direis, dirão.
que tu valhas
que ele valha Fazer
que nós valhamos Presente do indicativo: Faço, fazes, faz, fazemos, fa-
que vós valhais zeis, fazem.
que eles valham Pretérito perfeito do indicativo: Fiz, fizeste, fez, fize-
mos, fizestes, fizeram.

68
LÍNGUA PORTUGUESA

Futuro do presente do indicativo: Farei, farás, fará, Obs.: não confundir o emprego reflexivo do verbo com
faremos, fareis, farão. a noção de reciprocidade: Os lutadores feriram-se. (um ao
outro)
Ir
Presente do indicativo: Vou, vais, vai, vamos, ides, vão. Formação da Voz Passiva
Pretérito perfeito do indicativo: Fui, foste, foi, fomos,
fostes, foram. A voz passiva pode ser formada por dois processos:
Futuro do presente do indicativo: Irei, irás, irá, ire- analítico e sintético.
mos, ireis, irão.
Futuro do subjuntivo: For, fores, for, formos, fordes, 1- Voz Passiva Analítica
forem. Constrói-se da seguinte maneira: Verbo SER + particí-
pio do verbo principal. Por exemplo:
Querer A escola será pintada.
Presente do indicativo: Quero, queres, quer, queremos, O trabalho é feito por ele.
quereis, querem.
Pretérito perfeito do indicativo: Quis, quiseste, quis, Obs.: o agente da passiva geralmente é acompanhado
quisemos, quisestes, quiseram. da preposição por, mas pode ocorrer a construção com a
Presente do subjuntivo: Queira, queiras, queira, quei- preposição de. Por exemplo: A casa ficou cercada de soldados.
ramos, queirais, queiram. - Pode acontecer ainda que o agente da passiva não
esteja explícito na frase: A exposição será aberta amanhã.
Ver - A variação temporal é indicada pelo verbo auxiliar
Presente do indicativo: Vejo, vês, vê, vemos, vedes, (SER), pois o particípio é invariável. Observe a transforma-
veem. ção das frases seguintes:
Pretérito perfeito do indicativo: Vi, viste, viu, vimos, a) Ele fez o trabalho. (pretérito perfeito do indicativo)
vistes, viram. O trabalho foi feito por ele. (pretérito perfeito do indi-
cativo)
Futuro do presente do indicativo:Verei, verás, verá,
veremos, vereis, verão.
b) Ele faz o trabalho. (presente do indicativo)
Futuro do subjuntivo: Vir, vires, vir, virmos, virdes, vi-
O trabalho é feito por ele. (presente do indicativo)
rem.
c) Ele fará o trabalho. (futuro do presente)
Vir
O trabalho será feito por ele. (futuro do presente)
Presente do indicativo: Venho, vens, vem, vimos, vin-
des, vêm. - Nas frases com locuções verbais, o verbo SER assume
Pretérito perfeito do indicativo: Vim, vieste, veio, vie- o mesmo tempo e modo do verbo principal da voz ativa.
mos, viestes, vieram. Observe a transformação da frase seguinte:
Futuro do presente do indicativo: Virei, virás, virá, vi- O vento ia levando as folhas. (gerúndio)
remos, vireis, virão. As folhas iam sendo levadas pelo vento. (gerúndio)
Futuro do subjuntivo: Vier, vieres, vier, viermos, vier-
des, vierem. Obs.: é menos frequente a construção da voz passi-
va analítica com outros verbos que podem eventualmente
Vozes do Verbo funcionar como auxiliares. Por exemplo: A moça ficou mar-
cada pela doença.
Dá-se o nome de voz à forma assumida pelo verbo
para indicar se o sujeito gramatical é agente ou paciente 2- Voz Passiva Sintética
da ação. São três as vozes verbais: A voz passiva sintética ou pronominal constrói-se com
- Ativa: quando o sujeito é agente, isto é, pratica a o verbo na 3ª pessoa, seguido do pronome apassivador SE.
ação expressa pelo verbo. Por exemplo: Por exemplo:
Ele fez o trabalho. Abriram-se as inscrições para o concurso.
sujeito agente ação objeto Destruiu-se o velho prédio da escola.
(paciente) Obs.: o agente não costuma vir expresso na voz passiva
sintética.
- Passiva: quando o sujeito é paciente, recebendo a
ação expressa pelo verbo. Por exemplo: Curiosidade: A palavra passivo possui a mesma raiz la-
O trabalho foi feito por ele. tina de paixão (latim passio, passionis) e ambas se relacio-
sujeito paciente ação agente nam com o significado sofrimento, padecimento. Daí vem o
da passiva significado de voz passiva como sendo a voz que expressa
- Reflexiva: quando o sujeito é ao mesmo tempo agen- a ação sofrida pelo sujeito. Na voz passiva temos dois ele-
te e paciente, isto é, pratica e recebe a ação. Por exemplo: mentos que nem sempre aparecem: SUJEITO PACIENTE e
O menino feriu-se. AGENTE DA PASSIVA.

69
LÍNGUA PORTUGUESA

Conversão da Voz Ativa na Voz Passiva Questões sobre Vozes dos Verbos

Pode-se mudar a voz ativa na passiva sem alterar subs- 01. (COLÉGIO PEDRO II/RJ – ASSISTENTE EM ADMI-
tancialmente o sentido da frase. NISTRAÇÃO – AOCP/2010) Em “Os dados foram divulgados
Gutenberg inventou a imprensa (Voz Ativa) ontem pelo Instituto Sou da Paz.”, a expressão destacada é
Sujeito da Ativa objeto Direto (A) adjunto adnominal.
(B) sujeito paciente.
(C) objeto indireto.
A imprensa foi inventada por Gutenberg (Voz Passiva)
(D) complemento nominal.
Sujeito da Passiva Agente da Passiva (E) agente da passiva.
Observe que o objeto direto será o sujeito da passiva, 02. (FCC-COPERGÁS – Auxiliar Técnico Administrativo -
o sujeito da ativa passará a agente da passiva e o verbo ati- 2011) Um dia um tufão furibundo abateu-o pela raiz. Trans-
vo assumirá a forma passiva, conservando o mesmo tempo. pondo- -se a frase acima para a voz passiva, a forma
Observe mais exemplos: verbal resultante será:
- Os mestres têm constantemente aconselhado os alunos. (A) era abatido. (B) fora abatido.
Os alunos têm sido constantemente aconselhados pelos (C) abatera-se. (D) foi abatido.
mestres. (E) tinha abatido
- Eu o acompanharei.
Ele será acompanhado por mim. 03. (TRE/AL – TÉCNICO JUDICIÁRIO – FCC/2010)
... valores e princípios que sejam percebidos pela socie-
dade como tais.
Obs.: quando o sujeito da voz ativa for indeterminado,
Transpondo para a voz ativa a frase acima, o verbo pas-
não haverá complemento agente na passiva. Por exemplo: sará a ser, corretamente,
Prejudicaram-me. / Fui prejudicado. (A) perceba.
(B) foi percebido.
Saiba que: (C) tenham percebido.
- Aos verbos que não são ativos nem passivos ou refle- (D) devam perceber.
xivos, são chamados neutros. (E) estava percebendo.
O vinho é bom.
Aqui chove muito. 04. (TJ/RJ – TÉCNICO DE ATIVIDADE JUDICIÁRIA SEM
ESPECIALIDADE – FCC/2012) As ruas estavam ocupadas
- Há formas passivas com sentido ativo: pela multidão...
É chegada a hora. (= Chegou a hora.) A forma verbal resultante da transposição da frase aci-
Eu ainda não era nascido. (= Eu ainda não tinha nascido.) ma para a voz ativa é:
(A) ocupava-se.
És um homem lido e viajado. (= que leu e viajou)
(B) ocupavam.
(C) ocupou.
- Inversamente, usamos formas ativas com sentido (D) ocupa.
passivo: (E) ocupava.
Há coisas difíceis de entender. (= serem entendidas)
Mandou-o lançar na prisão. (= ser lançado) 05. (TRF - 5ª REGIÃO - TÉCNICO JUDICIÁRIO - FCC/2012)
- Os verbos chamar-se, batizar-se, operar-se (no sentido A frase que NÃO admite transposição para a voz passiva
cirúrgico) e vacinar-se são considerados passivos, logo o está em:
sujeito é paciente. (A) Quando Rodolfo surgiu...
Chamo-me Luís. (B) ... adquiriu as impressoras...
Batizei-me na Igreja do Carmo. (C) ... e sustentar, às vezes, família numerosa.
Operou-se de hérnia. (D) ... acolheu-o como patrono.
Vacinaram-se contra a gripe. (E) ... que montou [...] a primeira grande folhetaria do
Recife ...
Fonte: http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/
06. (TRF - 4ª REGIÃO – TÉCNICO JUDICIÁRIO –
morf54.php FCC/2010) O engajamento moral e político não chegou a
constituir um deslocamento da atenção intelectual de Said ...
Transpondo-se a frase acima para a voz passiva, a for-
ma verbal resultante é:
a) se constituiu.
b) chegou a ser constituído.
c) teria chegado a constituir.
d) chega a se constituir.
e) chegaria a ser constituído.

70
LÍNGUA PORTUGUESA

07. (METRÔ/SP – TÉCNICO SISTEMAS METROVIÁRIOS 2-) Um dia um tufão furibundo abateu-o pela raiz. =
CIVIL – FCC/2014 - ADAPTADA) ...’sertanejo’ indicava indis- Ele foi abatido...
tintamente as músicas produzidas no interior do país...
Transpondo-se a frase acima para a voz passiva, a for- 3-) ... valores e princípios que sejam percebidos pela
ma verbal resultante será: sociedade como tais = dois verbos na voz passiva, então
(A) vinham indicadas. teremos um na ativa: que a sociedade perceba os valores
(B) era indicado. e princípios...
(C) eram indicadas.
(D) tinha indicado. 4-) As ruas estavam ocupadas pela multidão = dois
(E) foi indicada. verbos na passiva, um verbo na ativa:
A multidão ocupava as ruas.
08. (GOVERNO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO –
PROCON – AGENTE ADMINISTRATIVO – CEPERJ/2012 - 5-)
adaptada) Um exemplo de construção na voz passiva está B = as impressoras foram adquiridas...
em: C = família numerosa é sustentada...
D – foi acolhido como patrono...
(A) “A Gulliver recolherá 6 mil brinquedos”
E – a primeira grande folhetaria do Recife foi montada...
(B) “o consumidor pode solicitar a devolução do di-
nheiro”
6-) O engajamento moral e político não chegou a cons-
(C) “enviar o brinquedo por sedex” tituir um deslocamento da atenção intelectual de Said = dois
(D) “A empresa também é obrigada pelo Código de De- verbos na voz ativa, mas com presença de preposição e, um
fesa do Consumidor” deles, no infinitivo, então o verbo auxiliar “ser” ficará no in-
(E) “A empresa fez campanha para recolher” finitivo (na voz passiva) e o verbo principal (constituir) ficará
no particípio: Um deslocamento da atenção intelectual de
09. (METRÔ/SP –SECRETÁRIA PLENO – FCC/2010) Said não chegou a ser constituído pelo engajamento...
Transpondo-se para a voz passiva a construção Mais tarde
vim a entender a tradução completa, a forma verbal resul- 7-)’sertanejo’ indicava indistintamente as músicas pro-
tante será: duzidas no interior do país.
(A) veio a ser entendida. As músicas produzidas no país eram indicadas pelo
(B) teria entendido. sertanejo, indistintamente.
(C) fora entendida.
(D) terá sido entendida. 8-)
(E) tê-la-ia entendido. (A) “A Gulliver recolherá 6 mil brinquedos” = voz ativa
(B) “o consumidor pode solicitar a devolução do di-
10. (INFRAERO – CADASTRO RESERVA OPERACIONAL nheiro” = voz ativa
PROFISSIONAL DE TRÁFEGO AÉREO – FCC/2011 - ADAP- (C) “enviar o brinquedo por sedex” = voz ativa
TADA) (D) “A empresa também é obrigada pelo Código de De-
... ele empreende, de maneira quase clandestina, a série fesa do Consumidor” = voz passiva
Mulheres. (E) “A empresa fez campanha para recolher” = voz ativa
Transpondo-se a frase acima para a voz passiva, a for-
ma verbal resultante será: 9-)Mais tarde vim a entender a tradução completa...
(A) foi empreendida. A tradução completa veio a ser entendida por mim.
(B) são empreendidos. 10-) ele empreende, de maneira quase clandestina, a
série Mulheres.
(C) foi empreendido.
A série de mulheres é empreendida por ele, de maneira
(D) é empreendida.
quase clandestina.
(E) são empreendidas.
Frase, período e oração:
GABARITO Frase é todo enunciado suficiente por si mesmo para
estabelecer comunicação. Expressa juízo, indica ação, esta-
01. E 02. D 03. A 04. E 05. A do ou fenômeno, transmite um apelo, ordem ou exterioriza
06. B 07. C 08. D 09. A 10. D emoções.
Normalmente a frase é composta por dois termos – o
RESOLUÇÃO sujeito e o predicado – mas não obrigatoriamente, pois em
Português há orações ou frases sem sujeito: Há muito tem-
1-) No enunciado temos uma oração com a voz passiva po que não chove.
do verbo. Transformando-a em ativa, teremos: “O Instituto
Sou da Paz divulgou dados”. Nessa, “Instituto Sou da Paz” Enquanto na língua falada a frase é caracterizada pela
funciona como sujeito da oração, ou seja, na passiva sua fun- entoação, na língua escrita, a entoação é reduzida a sinais
ção é a de agente da passiva. O sujeito paciente é “os dados”. de pontuação.

71
LÍNGUA PORTUGUESA

Quanto aos tipos de frases, além da classificação em ver- Período simples é aquele constituído por apenas uma
bais e nominais, feita a partir de seus elementos constituintes, oração, que recebe o nome de oração absoluta.
elas podem ser classificadas a partir de seu sentido global: Chove.
- frases interrogativas: o emissor da mensagem formu- A existência é frágil.
la uma pergunta: Que queres fazer? Os homens sensíveis pedem amor sincero às mulheres de
- frases imperativas: o emissor da mensagem dá uma opinião.
ordem ou faz um pedido: Dê-me uma mãozinha! Faça-o
sair! Período composto é aquele constituído por duas ou mais
- frases exclamativas: o emissor exterioriza um estado orações:
afetivo: Que dia difícil! “Quando você foi embora, fez-se noite em meu viver.”
- frases declarativas: o emissor constata um fato: Ele já Cantei, dancei e depois dormi.
chegou.
Termos essenciais da oração:
Quanto à estrutura da frase, as frases que possuem O sujeito e o predicado são considerados termos es-
verbo (oração) são estruturadas por dois elementos essen- senciais da oração, ou seja, sujeito e predicado são termos
ciais: sujeito e predicado. O sujeito é o termo da frase que indispensáveis para a formação das orações. No entanto,
concorda com o verbo em número e pessoa. É o “ser de existem orações formadas exclusivamente pelo predicado.
quem se declara algo”, “o tema do que se vai comunicar”. O que define, pois, a oração, é a presença do verbo.
O predicado é a parte da frase que contém “a informação O sujeito é o termo que estabelece concordância com
nova para o ouvinte”. Ele se refere ao tema, constituindo a o verbo.
declaração do que se atribui ao sujeito. “Minha primeira lágrima caiu dentro dos teus olhos.”
Quando o núcleo da declaração está no verbo, temos “Minhas primeiras lágrimas caíram dentro dos teus
o predicado verbal. Mas, se o núcleo estiver num nome, olhos”.
teremos um predicado nominal: Na primeira frase, o sujeito é minha primeira lágrima.
Os homens sensíveis pedem amor sincero às mulheres de Minha e primeira referem-se ao conceito básico expresso
opinião. em lágrima. Lágrima é, pois, a principal palavra do sujeito,
A existência é frágil. sendo, por isso, denominada núcleo do sujeito. O núcleo
do sujeito relaciona-se com o verbo, estabelecendo a con-
A oração, às vezes, é sinônimo de frase ou período cordância.
A função do sujeito é basicamente desempenhada por
(simples) quando encerra um pensamento completo e vem
substantivos, o que a torna uma função substantiva da ora-
limitada por ponto-final, ponto de interrogação, ponto de
ção. Pronomes, substantivos, numerais e quaisquer outras
exclamação e por reticências. palavras substantivadas (derivação imprópria) também po-
Um vulto cresce na escuridão. Clarissa encolhe-se. É Vasco. dem exercer a função de sujeito.
Ele já partiu;
Acima temos três orações correspondentes a três pe- Os dois sumiram;
ríodos simples ou a três frases. Mas, nem sempre oração é Um sim é suave e sugestivo.
frase: “convém que te apresses” apresenta duas orações,
mas uma só frase, pois somente o conjunto das duas é que Os sujeitos são classificados a partir de dois elementos:
traduz um pensamento completo. o de determinação ou indeterminação e o de núcleo do
Outra definição para oração é a frase ou membro de sujeito.
frase que se organiza ao redor de um verbo. A oração pos- Um sujeito é determinado quando é facilmente iden-
sui sempre um verbo (ou locução verbal), que implica na tificável pela concordância verbal. O sujeito determinado
existência de um predicado, ao qual pode ou não estar li- pode ser simples ou composto.
gado um sujeito. A indeterminação do sujeito ocorre quando não é
Assim, a oração é caracterizada pela presença de um possível identificar claramente a que se refere a concor-
verbo. Dessa forma: dância verbal. Isso ocorre quando não se pode ou não inte-
Rua! = é uma frase, não é uma oração. ressa indicar precisamente o sujeito de uma oração.
Estão gritando seu nome lá fora;
Já em: “Quero a rosa mais linda que houver, para enfei-
Trabalha-se demais neste lugar.
tar a noite do meu bem.” Temos uma frase e três orações:
As duas últimas orações não são frases, pois em si mesmas O sujeito simples é o sujeito determinado que possui
não satisfazem um propósito comunicativo; são, portanto, um único núcleo. Esse vocábulo pode estar no singular ou
membros de frase. no plural; pode também ser um pronome indefinido.
Nós nos respeitamos mutuamente;
Quanto ao período, ele denomina a frase constituí- A existência é frágil;
da por uma ou mais orações, formando um todo, com Ninguém se move;
sentido completo. O período pode ser simples ou com- O amar faz bem.
posto.

72
LÍNGUA PORTUGUESA

O sujeito composto é o sujeito determinado que pos- Nas orações que surge o sujeito, o predicado é aquilo
sui mais de um núcleo. que se declara a respeito desse sujeito.
Alimentos e roupas andam caríssimos; Com exceção do vocativo, que é um termo à parte, tudo
Ela e eu nos respeitamos mutuamente; o que difere do sujeito numa oração é o seu predicado.
O amar e o odiar são tidos como duas faces da mesma Os homens (sujeito) pedem amor às mulheres (predicado);
moeda. Passou-me (predicado) uma ideia estranha (sujeito) pelo
Além desses dois sujeitos determinados, é comum a pensamento (predicado).
referência ao sujeito oculto ( ou elíptico), isto é, ao núcleo
do sujeito que está implícito e que pode ser reconhecido Para o estudo do predicado, é necessário verificar se seu
pela desinência verbal ou pelo contexto. núcleo está num nome ou num verbo. Deve-se considerar
Abolimos todas as regras. = (nós) também se as palavras que formam o predicado referem-se
apenas ao verbo ou também ao sujeito da oração.
Os homens sensíveis (sujeito) pedem amor sincero às mu-
O sujeito indeterminado surge quando não se quer
lheres de opinião.
ou não se pode identificar claramente a que o predicado da
oração refere--se. Existe uma referência imprecisa ao sujei-
O predicado acima apresenta apenas uma palavra que se
to, caso contrário, teríamos uma oração sem sujeito.
refere ao sujeito: pedem. As demais palavras ligam-se direta
Na língua portuguesa o sujeito pode ser indetermina- ou indiretamente ao verbo.
do de duas maneiras: A existência (sujeito) é frágil (predicado).
- com verbo na terceira pessoa do plural, desde que o
sujeito não tenha sido identificado anteriormente: O nome frágil, por intermédio do verbo, refere-se ao
Bateram à porta; sujeito da oração. O verbo atua como elemento de ligação
Andam espalhando boatos a respeito da queda do ministro. entre o sujeito e a palavra a ele relacionada.

- com o verbo na terceira pessoa do singular, acrescido O predicado verbal é aquele que tem como núcleo sig-
do pronome se. Esta é uma construção típica dos verbos nificativo um verbo:
que não apresentam complemento direto: Chove muito nesta época do ano;
Precisa-se de mentes criativas; Senti seu toque suave;
Vivia-se bem naqueles tempos; O velho prédio foi demolido.
Trata-se de casos delicados; Os verbos acima são significativos, isto é, não servem
Sempre se está sujeito a erros. apenas para indicar o estado do sujeito, mas indicam pro-
O pronome se funciona como índice de indetermina- cessos.
ção do sujeito.
O predicado nominal é aquele que tem como núcleo
As orações sem sujeito, formadas apenas pelo predi- significativo um nome; esse nome atribui uma qualidade ou
cado, articulam-se a partir de um verbo impessoal. A men- estado ao sujeito, por isso é chamado de predicativo do su-
sagem está centrada no processo verbal. Os principais ca- jeito. O predicativo é um nome que se liga a outro nome da
sos de orações sem sujeito com: oração por meio de um verbo.
- os verbos que indicam fenômenos da natureza: Nos predicados nominais, o verbo não é significativo, isto
Amanheceu repentinamente; é, não indica um processo. O verbo une o sujeito ao predica-
tivo, indicando circunstâncias referentes ao estado do sujeito:
Está chuviscando.
“Ele é senhor das suas mãos e das ferramentas.”
- os verbos estar, fazer, haver e ser, quando indicam
Na frase acima o verbo ser poderia ser substituído por
fenômenos meteorológicos ou se relacionam ao tempo em
estar, andar, ficar, parecer, permanecer ou continuar, atuando
geral: como elemento de ligação entre o sujeito e as palavras a ele
Está tarde. relacionadas.
Ainda é cedo. A função de predicativo é exercida normalmente por um
Já são três horas, preciso ir; adjetivo ou substantivo.
Faz frio nesta época do ano;
Há muitos anos aguardamos mudanças significativas; O predicado verbo-nominal é aquele que apresenta
Faz anos que esperamos melhores condições de vida; dois núcleos significativos: um verbo e um nome. No predi-
cado verbo-nominal, o predicativo pode referir-se ao sujeito
O predicado é o conjunto de enunciados que numa ou ao complemento verbal.
dada oração contém a informação nova para o ouvinte. O verbo do predicado verbo-nominal é sempre significa-
Nas orações sem sujeito, o predicado simplesmente enun- tivo, indicando processos. É também sempre por intermédio
cia um fato qualquer: do verbo que o predicativo se relaciona com o termo a que
Chove muito nesta época do ano; se refere.
Houve problemas na reunião. O dia amanheceu ensolarado;
As mulheres julgam os homens inconstantes

73
LÍNGUA PORTUGUESA

No primeiro exemplo, o verbo amanheceu apresenta Termos acessórios da oração e vocativo:


duas funções: a de verbo significativo e a de verbo de liga-
ção. Esse predicado poderia ser desdobrado em dois, um Os termos acessórios recebem esse nome por serem
verbal e outro nominal: acidentais, explicativos, circunstanciais. São termos acessó-
O dia amanheceu; rios o adjunto adverbial, adjunto adnominal, o aposto e o
O dia estava ensolarado. vocativo.

No segundo exemplo, é o verbo julgar que relaciona O adjunto adverbial é o termo da oração que indi-
ca uma circunstância do processo verbal, ou intensifica o
o complemento homens como o predicativo inconstantes.
sentido de um adjetivo, verbo ou advérbio. É uma função
adverbial, pois cabe ao advérbio e às locuções adverbiais
Termos integrantes da oração:
exercerem o papel de adjunto adverbial.
Amanhã voltarei de bicicleta àquela velha praça.
Os complementos verbais (objeto direto e indireto) e o
complemento nominal são chamados termos integrantes As circunstâncias comumente expressas pelo adjunto
da oração. adverbial são:
Os complementos verbais integram o sentido dos ver- - acréscimo: Além de tristeza, sentia profundo cansaço.
bos transitivos, com eles formando unidades significativas. - afirmação: Sim, realmente irei partir.
Esses verbos podem se relacionar com seus complementos - assunto: Falavam sobre futebol.
diretamente, sem a presença de preposição ou indiretamen- - causa: Morrer ou matar de fome, de raiva e de sede…
te, por intermédio de preposição. - companhia: Sempre contigo bailando sob as estrelas.
O objeto direto é o complemento que se liga direta- - concessão: Apesar de você, amanhã há de ser outro dia.
mente ao verbo. - conformidade: Fez tudo conforme o combinado.
Os homens sensíveis pedem amor às mulheres de opi- - dúvida: Talvez nos deixem entrar.
nião; - fim: Estudou para o exame.
Os homens sinceros pedem-no às mulheres de opinião; - frequência: Sempre aparecia por lá.
Dou-lhes três. - instrumento: Fez o corte com a faca.
- intensidade: Corria bastante.
Houve muita confusão na partida final.
- limite: Andava atabalhoado do quarto à sala.
- lugar: Vou à cidade.
O objeto direto preposicionado ocorre principalmente:
- matéria: Compunha-se de substâncias estranhas.
- com nomes próprios de pessoas ou nomes comuns - meio: Viajarei de trem.
referentes a pessoas: - modo: Foram recrutados a dedo.
Amar a Deus; - negação: Não há ninguém que mereça.
Adorar a Xangô; - preço: As casas estão sendo vendidas a preços exorbi-
Estimar aos pais. tantes.
- substituição ou troca: Abandonou suas convicções por
- com pronomes indefinidos de pessoa e pronomes de privilégios econômicos.
tratamento: - tempo: Ontem à tarde encontrou o velho amigo.
Não excluo a ninguém;
Não quero cansar a Vossa Senhoria. O adjunto adnominal é o termo acessório que deter-
mina, especifica ou explica um substantivo. É uma função
- para evitar ambiguidade: adjetiva, pois são os adjetivos e as locuções adjetivas que
Ao povo prejudica a crise. (sem preposição, a situação exercem o papel de adjunto adnominal na oração. Também
seria outra) atuam como adjuntos adnominais os artigos, os numerais e
os pronomes adjetivos.
O poeta inovador enviou dois longos trabalhos ao seu
O objeto indireto é o complemento que se liga indire-
amigo de infância.
tamente ao verbo, ou seja, através de uma preposição.
Os homens sensíveis pedem amor sincero às mulheres;
O adjunto adnominal liga-se diretamente ao substan-
Os homens pedem-lhes amor sincero; tivo a que se refere, sem participação do verbo. Já o predi-
Gosto de música popular brasileira. cativo do objeto liga-se ao objeto por meio de um verbo.
O poeta português deixou uma obra originalíssima.
O termo que integra o sentido de um nome chama-se O poeta deixou-a.
complemento nominal. O complemento nominal liga-se (originalíssima não precisou ser repetida, portanto: ad-
ao nome que completa por intermédio de preposição: junto adnominal)
Desenvolvemos profundo respeito à arte; O poeta português deixou uma obra inacabada.
A arte é necessária à vida; O poeta deixou-a inacabada.
Tenho-lhe profundo respeito. (inacabada precisou ser repetida, então: predicativo do
objeto)

74
LÍNGUA PORTUGUESA

Enquanto o complemento nominal relaciona-se a um Estou comprando um protetor solar, depois irei à praia.
substantivo, adjetivo ou advérbio; o adjunto nominal rela- (Período Composto)
ciona-se apenas ao substantivo. Podemos dizer:
1. Estou comprando um protetor solar.
O aposto é um termo acessório que permite ampliar, 2. Irei à praia.
explicar, desenvolver ou resumir a ideia contida num termo Separando as duas, vemos que elas são independentes.
que exerça qualquer função sintática. É esse tipo de período que veremos agora: o Período
Composto por Coordenação.
Ontem, segunda-feira, passei o dia mal-humorado. Quanto à classificação das orações coordenadas, te-
mos dois tipos: Coordenadas Assindéticas e Coordenadas
Segunda-feira é aposto do adjunto adverbial de tempo Sindéticas.
ontem. Dizemos que o aposto é sintaticamente equivalente
ao termo que se relaciona porque poderia substituí-lo: Se- Coordenadas Assindéticas
gunda-feira passei o dia mal-humorado. São orações coordenadas entre si e que não são ligadas
O aposto pode ser classificado, de acordo com seu va- através de nenhum conectivo. Estão apenas justapostas.
lor na oração, em:
a) explicativo: A linguística, ciência das línguas huma- Coordenadas Sindéticas
nas, permite-nos interpretar melhor nossa relação com o Ao contrário da anterior, são orações coordenadas en-
mundo. tre si, mas que são ligadas através de uma conjunção coor-
b) enumerativo: A vida humana compõe-se de muitas denativa. Esse caráter vai trazer para esse tipo de oração
coisas: amor, arte, ação. uma classificação. As orações coordenadas sindéticas são
c) resumidor ou recapitulativo: Fantasias, suor e sonho, classificadas em cinco tipos: aditivas, adversativas, alterna-
tudo isso forma o carnaval. tivas, conclusivas e explicativas.
d) comparativo: Seus olhos, indagadores holofotes, fixa- Orações Coordenadas Sindéticas Aditivas: suas prin-
cipais conjunções são: e, nem, não só... mas também, não
ram-se por muito tempo na baía anoitecida.
só... como, assim... como.
Não só cantei como também dancei.
O vocativo é um termo que serve para chamar, invocar
Nem comprei o protetor solar, nem fui à praia.
ou interpelar um ouvinte real ou hipotético.
Comprei o protetor solar e fui à praia.
A função de vocativo é substantiva, cabendo a subs-
tantivos, pronomes substantivos, numerais e palavras subs-
Orações Coordenadas Sindéticas Adversativas: suas
tantivadas esse papel na linguagem.
principais conjunções são: mas, contudo, todavia, entretan-
to, porém, no entanto, ainda, assim, senão.
João, venha comigo! Fiquei muito cansada, contudo me diverti bastante.
Traga-me doces, minha menina! Ainda que a noite acabasse, nós continuaríamos dan-
çando.
PERÍODO COMPOSTO POR COORDENAÇÃO Não comprei o protetor solar, mas mesmo assim fui à praia.
O período composto caracteriza-se por possuir mais Orações Coordenadas Sindéticas Alternativas: suas
de uma oração em sua composição. Sendo assim: principais conjunções são: ou... ou; ora...ora; quer...quer;
- Eu irei à praia. (Período Simples = um verbo, uma seja...seja.
oração) Ou uso o protetor solar, ou uso o óleo bronzeador.
- Estou comprando um protetor solar, depois irei à Ora sei que carreira seguir, ora penso em várias carreiras
praia. (Período Composto =locução verbal, verbo, duas diferentes.
orações) Quer eu durma quer eu fique acordado, ficarei no quarto.
- Já me decidi: só irei à praia, se antes eu comprar um pro-
tetor solar. (Período Composto = três verbos, três orações). Orações Coordenadas Sindéticas Conclusivas: suas
principais conjunções são: logo, portanto, por fim, por con-
Cada verbo ou locução verbal corresponde a uma seguinte, consequentemente, pois (posposto ao verbo)
oração. Isso implica que o primeiro exemplo é um perío- Passei no concurso, portanto irei comemorar.
do simples, pois tem apenas uma oração, os dois outros Conclui o meu projeto, logo posso descansar.
exemplos são períodos compostos, pois têm mais de uma Tomou muito sol, consequentemente ficou adoentada.
oração. A situação é delicada; devemos, pois, agir
Há dois tipos de relações que podem se estabelecer
entre as orações de um período composto: uma relação de Orações Coordenadas Sindéticas Explicativas: suas
coordenação ou uma relação de subordinação. principais conjunções são: isto é, ou seja, a saber, na verda-
Duas orações são coordenadas quando estão juntas de, pois (anteposto ao verbo).
em um mesmo período, (ou seja, em um mesmo bloco de Só passei na prova porque me esforcei por muito tempo.
informações, marcado pela pontuação final), mas têm, am- Só fiquei triste por você não ter viajado comigo.
bas, estruturas individuais, como é o exemplo de: Não fui à praia, pois queria descansar durante o Domingo.

75
LÍNGUA PORTUGUESA

PERÍODO COMPOSTO POR SUBORDINAÇÃO É fundamental que você compareça à reunião.


Oração Principal Oração Subordinada Substantiva
Observe o exemplo abaixo de Vinícius de Moraes: Subjetiva
“Eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto.”
Oração Principal Oração Subordinada Atenção:
Observe que a oração subordinada substantiva pode
Observe que na oração subordinada temos o verbo ser substituída pelo pronome “ isso”. Assim, temos um pe-
“existe”, que está conjugado na terceira pessoa do singu- ríodo simples:
lar do presente do indicativo. As orações subordinadas que É fundamental isso. ou Isso é fundamental.
apresentam verbo em qualquer dos tempos finitos (tempos
do modo do indicativo, subjuntivo e imperativo), são cha-
Dessa forma, a oração correspondente a “isso” exercerá
madas de orações desenvolvidas ou explícitas.
a função de sujeito
Podemos modificar o período acima. Veja:
Eu sinto existir em meu gesto o teu gesto. Veja algumas estruturas típicas que ocorrem na oração
Oração Principal Oração Subordinada principal:

A análise das orações continua sendo a mesma: “Eu - Verbos de ligação + predicativo, em construções do
sinto” é a oração principal, cujo objeto direto é a oração tipo: É bom - É útil - É conveniente - É certo - Parece certo - É
subordinada “existir em meu gesto o teu gesto”. Note que claro - Está evidente - Está comprovado
a oração subordinada apresenta agora verbo no infinitivo. É bom que você compareça à minha festa.
Além disso, a conjunção “que”, conectivo que unia as duas - Expressões na voz passiva, como: Sabe-se - Soube-se
orações, desapareceu. As orações subordinadas cujo verbo - Conta-se - Diz-se - Comenta-se - É sabido - Foi anunciado
surge numa das formas nominais (infinitivo - flexionado ou - Ficou provado
não -, gerúndio ou particípio) chamamos orações reduzi- Sabe-se que Aline não gosta de Pedro.
das ou implícitas.
Obs.: as orações reduzidas não são introduzidas por - Verbos como: convir - cumprir - constar - admirar -
conjunções nem pronomes relativos. Podem ser, eventual- importar - ocorrer - acontecer
mente, introduzidas por preposição. Convém que não se atrase na entrevista.
Obs.: quando a oração subordinada substantiva é sub-
1) ORAÇÕES SUBORDINADAS SUBSTANTIVAS
jetiva, o verbo da oração principal está sempre na 3ª. pes-
soa do singular.
A oração subordinada substantiva tem valor de subs-
tantivo e vem introduzida, geralmente, por conjunção inte-
grante (que, se). b) Objetiva Direta
Suponho que você foi à biblioteca hoje.
Oração Subordinada Substantiva A oração subordinada substantiva objetiva direta exer-
ce função de objeto direto do verbo da oração principal.
Você sabe se o presidente já chegou?
Oração Subordinada Substantiva Todos querem sua aprovação no concurso.
Objeto Direto
Os pronomes interrogativos (que, quem, qual) também
introduzem as orações subordinadas substantivas, bem Todos querem que você seja aprovado. (Todos
como os advérbios interrogativos (por que, quando, onde, querem isso)
como). Veja os exemplos: Oração Principal oração Subordinada Substantiva
O garoto perguntou qual seu nome. Objetiva Direta
Oração Subordinada Substantiva
As orações subordinadas substantivas objetivas diretas
Não sabemos por que a vizinha se
desenvolvidas são iniciadas por:
mudou.
- Conjunções integrantes “que” (às vezes elíptica) e “se”:
Oração Subordinada Substantiva
A professora verificou se todos alunos estavam presentes.
Classificação das Orações Subordinadas Substantivas
- Pronomes indefinidos que, quem, qual, quanto (às
De acordo com a função que exerce no período, a ora- vezes regidos de preposição), nas interrogações indiretas:
ção subordinada substantiva pode ser: O pessoal queria saber quem era o dono do carro importado.
a) Subjetiva
É subjetiva quando exerce a função sintática de sujeito - Advérbios como, quando, onde, por que, quão (às
do verbo da oração principal. Observe: vezes regidos de preposição), nas interrogações indiretas:
É fundamental o seu comparecimento à reunião. Eu não sei por que ela fez isso.
Sujeito

76
LÍNGUA PORTUGUESA

c) Objetiva Indireta Fernanda tinha um grande sonho: ser feliz!


A oração subordinada substantiva objetiva indireta Oração Subordinada Substantiva
atua como objeto indireto do verbo da oração principal. Apositiva
Vem precedida de preposição. reduzida de infinitivo
Meu pai insiste em meu estudo.
Objeto Indireto * Dica: geralmente há a presença dos dois pontos! ( : )

Meu pai insiste em que eu estude. (Meu pai insiste nisso) 2) ORAÇÕES SUBORDINADAS ADJETIVAS
Oração Subordinada Substantiva Objetiva
Indireta Uma oração subordinada adjetiva é aquela que possui
valor e função de adjetivo, ou seja, que a ele equivale. As
Obs.: em alguns casos, a preposição pode estar elíptica orações vêm introduzidas por pronome relativo e exercem
na oração. a função de adjunto adnominal do antecedente. Observe
Marta não gosta (de) que a chamem de senhora. o exemplo:
Oração Subordinada Substantiva Objetiva Esta foi uma redação bem-sucedida.
Indireta Substantivo Adjetivo (Adjunto Adnominal)

d) Completiva Nominal Note que o substantivo redação foi caracterizado pelo


A oração subordinada substantiva completiva nominal adjetivo bem-sucedida. Nesse caso, é possível formarmos
completa um nome que pertence à oração principal e tam- outra construção, a qual exerce exatamente o mesmo pa-
bém vem marcada por preposição. pel. Veja:
Sentimos orgulho de seu comportamento. Esta foi uma redação que fez sucesso.
Complemento Nominal Oração Principal Oração Subordinada Adjetiva
Sentimos orgulho de que você se comportou. (Sen-
Perceba que a conexão entre a oração subordinada ad-
timos orgulho disso.)
jetiva e o termo da oração principal que ela modifica é feita
Oração Subordinada Substantiva Completiva Nominal
pelo pronome relativo “que”. Além de conectar (ou relacio-
nar) duas orações, o pronome relativo desempenha uma
Lembre-se: as orações subordinadas substantivas ob-
função sintática na oração subordinada: ocupa o papel que
jetivas indiretas integram o sentido de um verbo, enquanto
seria exercido pelo termo que o antecede.
que orações subordinadas substantivas completivas nomi-
Obs.: para que dois períodos se unam num período
nais integram o sentido de um nome. Para distinguir uma
composto, altera-se o modo verbal da segunda oração.
da outra, é necessário levar em conta o termo complemen-
tado. Essa é, aliás, a diferença entre o objeto indireto e o Atenção: Vale lembrar um recurso didático para reco-
complemento nominal: o primeiro complementa um verbo, nhecer o pronome relativo que: ele sempre pode ser subs-
o segundo, um nome. tituído por: o qual - a qual - os quais - as quais
Refiro-me ao aluno que é estudioso.
e) Predicativa Essa oração é equivalente a:
A oração subordinada substantiva predicativa exerce Refiro-me ao aluno o qual estuda.
papel de predicativo do sujeito do verbo da oração princi-
pal e vem sempre depois do verbo ser. Forma das Orações Subordinadas Adjetivas
Nosso desejo era sua desistência.
Predicativo do Sujeito Quando são introduzidas por um pronome relativo e
apresentam verbo no modo indicativo ou subjuntivo, as
Nosso desejo era que ele desistisse. (Nosso desejo orações subordinadas adjetivas são chamadas desenvolvi-
era isso) das. Além delas, existem as orações subordinadas adjetivas
Oração Subordinada Substantiva reduzidas, que não são introduzidas por pronome relativo
Predicativa (podem ser introduzidas por preposição) e apresentam o
Obs.: em certos casos, usa-se a preposição expletiva verbo numa das formas nominais (infinitivo, gerúndio ou
“de” para realce. Veja o exemplo: A impressão é de que não particípio).
fui bem na prova. Ele foi o primeiro aluno que se apresentou.
Ele foi o primeiro aluno a se apresentar.
f) Apositiva No primeiro período, há uma oração subordinada ad-
A oração subordinada substantiva apositiva exerce fun- jetiva desenvolvida, já que é introduzida pelo pronome re-
ção de aposto de algum termo da oração principal. lativo “que” e apresenta verbo conjugado no pretérito per-
Fernanda tinha um grande sonho: a felicidade! feito do indicativo. No segundo, há uma oração subordina-
Aposto da adjetiva reduzida de infinitivo: não há pronome relativo
(Fernanda tinha um grande sonho: isso.) e seu verbo está no infinitivo.

77
LÍNGUA PORTUGUESA

Classificação das Orações Subordinadas Adjetivas Naquele momento, senti uma das maiores emoções de
minha vida.
Na relação que estabelecem com o termo que carac- Quando vi a estátua, senti uma das maiores emoções de
terizam, as orações subordinadas adjetivas podem atuar de minha vida.
duas maneiras diferentes. Há aquelas que restringem ou
especificam o sentido do termo a que se referem, indivi- No primeiro período, “naquele momento” é um adjun-
dualizando-o. Nessas orações não há marcação de pausa, to adverbial de tempo, que modifica a forma verbal “senti”.
sendo chamadas subordinadas adjetivas restritivas. Existem No segundo período, esse papel é exercido pela oração
também orações que realçam um detalhe ou amplificam da- “Quando vi a estátua”, que é, portanto, uma oração su-
dos sobre o antecedente, que já se encontra suficientemen- bordinada adverbial temporal. Essa oração é desenvolvida,
te definido, as quais denominam-se subordinadas adjetivas pois é introduzida por uma conjunção subordinativa (quan-
explicativas. do) e apresenta uma forma verbal do modo indicativo (“vi”,
Exemplo 1: do pretérito perfeito do indicativo). Seria possível reduzi-la,
Jamais teria chegado aqui, não fosse a gentileza de um obtendo-se:
homem que passava naquele momento.
Oração Subordinada Adjetiva Restritiva Ao ver a estátua, senti uma das maiores emoções de
minha vida.
Nesse período, observe que a oração em destaque res-
tringe e particulariza o sentido da palavra “homem”: trata- A oração em destaque é reduzida, pois apresenta uma
se de um homem específico, único. A oração limita o uni- das formas nominais do verbo (“ver” no infinitivo) e não é
verso de homens, isto é, não se refere a todos os homens, introduzida por conjunção subordinativa, mas sim por uma
mas sim àquele que estava passando naquele momento. preposição (“a”, combinada com o artigo “o”).
Obs.: a classificação das orações subordinadas adver-
Exemplo 2: biais é feita do mesmo modo que a classificação dos ad-
O homem, que se considera racional, muitas vezes juntos adverbiais. Baseia-se na circunstância expressa pela
age animalescamente. oração.
Oração Subordinada Adjetiva Explicativa
Circunstâncias Expressas pelas Orações Subordina-
Nesse período, a oração em destaque não tem sentido das Adverbiais
restritivo em relação à palavra “homem”; na verdade, essa a) Causa
oração apenas explicita uma ideia que já sabemos estar A ideia de causa está diretamente ligada àquilo que
contida no conceito de “homem”. provoca um determinado fato, ao motivo do que se declara
Saiba que: A oração subordinada adjetiva explicativa na oração principal. “É aquilo ou aquele que determina um
é separada da oração principal por uma pausa que, na es- acontecimento”.
crita, é representada pela vírgula. É comum, por isso, que Principal conjunção subordinativa causal: PORQUE
a pontuação seja indicada como forma de diferenciar as Outras conjunções e locuções causais: como (sempre
orações explicativas das restritivas; de fato, as explicativas introduzido na oração anteposta à oração principal), pois,
vêm sempre isoladas por vírgulas; as restritivas, não. pois que, já que, uma vez que, visto que.
As ruas ficaram alagadas porque a chuva foi muito forte.
3) ORAÇÕES SUBORDINADAS ADVERBIAIS Como ninguém se interessou pelo projeto, não houve al-
ternativa a não ser cancelá-lo.
Uma oração subordinada adverbial é aquela que exerce Já que você não vai, eu também não vou.
a função de adjunto adverbial do verbo da oração principal.
Dessa forma, pode exprimir circunstância de tempo, modo, b) Consequência
fim, causa, condição, hipótese, etc. Quando desenvolvida, As orações subordinadas adverbiais consecutivas ex-
vem introduzida por uma das conjunções subordinativas primem um fato que é consequência, que é efeito do que
(com exclusão das integrantes). Classifica-se de acordo com se declara na oração principal. São introduzidas pelas con-
a conjunção ou locução conjuntiva que a introduz. junções e locuções: que, de forma que, de sorte que, tanto
que, etc., e pelas estruturas tão...que, tanto...que, tamanho...
Durante a madrugada, eu olhei você dormindo. que.
Oração Subordinada Adverbial Principal conjunção subordinativa consecutiva: QUE
(precedido de tal, tanto, tão, tamanho)
Observe que a oração em destaque agrega uma cir- É feio que dói. (É tão feio que, em consequência, causa
cunstância de tempo. É, portanto, chamada de oração dor.)
subordinada adverbial temporal. Os adjuntos adverbiais Nunca abandonou seus ideais, de sorte que acabou con-
são termos acessórios que indicam uma circunstância re- cretizando-os.
ferente, via de regra, a um verbo. A classificação do adjunto Não consigo ver televisão sem bocejar. (Oração Reduzi-
adverbial depende da exata compreensão da circunstância da de Infinitivo)
que exprime. Observe os exemplos abaixo:

78
LÍNGUA PORTUGUESA

c) Condição f) Conformidade
Condição é aquilo que se impõe como necessário para As orações subordinadas adverbiais conformativas in-
a realização ou não de um fato. As orações subordinadas dicam ideia de conformidade, ou seja, exprimem uma re-
adverbiais condicionais exprimem o que deve ou não ocor- gra, um modelo adotado para a execução do que se decla-
rer para que se realize ou deixe de se realizar o fato expres- ra na oração principal.
so na oração principal. Principal conjunção subordinativa conformativa: CON-
Principal conjunção subordinativa condicional: SE FORME
Outras conjunções condicionais: caso, contanto que, Outras conjunções conformativas: como, consoante e
desde que, salvo se, exceto se, a não ser que, a menos que, segundo (todas com o mesmo valor de conforme).
sem que, uma vez que (seguida de verbo no subjuntivo). Fiz o bolo conforme ensina a receita.
Se o regulamento do campeonato for bem elaborado, Consoante reza a Constituição, todos os cidadãos têm
certamente o melhor time será campeão. direitos iguais.
Uma vez que todos aceitem a proposta, assinaremos o
contrato. g) Finalidade
Caso você se case, convide-me para a festa. As orações subordinadas adverbiais finais indicam a
intenção, a finalidade daquilo que se declara na oração
d) Concessão principal.
As orações subordinadas adverbiais concessivas in- Principal conjunção subordinativa final: A FIM DE QUE
dicam concessão às ações do verbo da oração principal, Outras conjunções finais: que, porque (= para que) e a
isto é, admitem uma contradição ou um fato inesperado. A locução conjuntiva para que.
ideia de concessão está diretamente ligada ao contraste, à Aproximei-me dela a fim de que ficássemos amigos.
quebra de expectativa. Felipe abriu a porta do carro para que sua namorada en-
Principal conjunção subordinativa concessiva: EMBORA trasse.
Utiliza-se também a conjunção: conquanto e as locu-
ções ainda que, ainda quando, mesmo que, se bem que, pos- h) Proporção
to que, apesar de que. As orações subordinadas adverbiais proporcionais ex-
Só irei se ele for. primem ideia de proporção, ou seja, um fato simultâneo ao
A oração acima expressa uma condição: o fato de “eu” expresso na oração principal.
ir só se realizará caso essa condição seja satisfeita. Principal locução conjuntiva subordinativa proporcio-
Compare agora com: nal: À PROPORÇÃO QUE
Irei mesmo que ele não vá. Outras locuções conjuntivas proporcionais: à medida
A distinção fica nítida; temos agora uma concessão: que, ao passo que. Há ainda as estruturas: quanto maior...
irei de qualquer maneira, independentemente de sua ida. A (maior), quanto maior...(menor), quanto menor...(maior),
oração destacada é, portanto, subordinada adverbial con- quanto menor...(menor), quanto mais...(mais), quanto mais...
cessiva. (menos), quanto menos...(mais), quanto menos...(menos).
Observe outros exemplos: À proporção que estudávamos, acertávamos mais questões.
Embora fizesse calor, levei agasalho. Visito meus amigos à medida que eles me convidam.
Conquanto a economia tenha crescido, pelo menos me- Quanto maior for a altura, maior será o tombo.
tade da população continua à margem do mercado de con-
sumo. i) Tempo
Foi aprovado sem estudar (= sem que estudasse / embo- As orações subordinadas adverbiais temporais acres-
ra não estudasse). (reduzida de infinitivo) centam uma ideia de tempo ao fato expresso na oração
principal, podendo exprimir noções de simultaneidade, an-
e) Comparação terioridade ou posterioridade.
As orações subordinadas adverbiais comparativas esta- Principal conjunção subordinativa temporal: QUANDO
belecem uma comparação com a ação indicada pelo verbo Outras conjunções subordinativas temporais: enquan-
da oração principal. to, mal e locuções conjuntivas: assim que, logo que, todas as
Principal conjunção subordinativa comparativa: COMO vezes que, antes que, depois que, sempre que, desde que, etc.
Ele dorme como um urso. Quando você foi embora, chegaram outros convidados.
Saiba que: É comum a omissão do verbo nas orações Sempre que ele vem, ocorrem problemas.
subordinadas adverbiais comparativas. Por exemplo: Mal você saiu, ela chegou.
Agem como crianças. (agem) Terminada a festa, todos se retiraram. (= Quando termi-
Oração Subordinada Adverbial Comparativa nou a festa) (Oração Reduzida de Particípio)

No entanto, quando se comparam ações diferentes,


isso não ocorre. Por exemplo: Ela fala mais do que faz.
(comparação do verbo falar e do verbo fazer).

79
LÍNGUA PORTUGUESA

Questões sobre Orações Coordenadas 06. A frase abaixo em que o conectivo E tem valor ad-
versativo é:
01. A oração “Não se verificou, todavia, uma transplan- A) “O gesto é fácil E não ajuda em nada”.
tação integral de gosto e de estilo” tem valor: B )“O que vemos na esquina E nos sinais de trânsito...”.
A) conclusivo B) adversativo C) concessivo C) “..adultos submetem crianças E adolescentes à tarefa
D) explicativo E) alternativo de pedir esmola”.
D) “Quem dá esmola nas ruas contribui para a manu-
02. “Estudamos, logo deveremos passar nos exames”. tenção da miséria E prejudica o desenvolvimento da socie-
A oração em destaque é: dade”.
a) coordenada explicativa b) coordenada adversativa E) “A vida dessas pessoas é marcada pela falta de di-
c) coordenada aditiva d) coordenada conclusiva nheiro, de moradia digna, emprego, segurança, lazer, cul-
e) coordenada assindética tura, acesso à saúde E à educação”.

07. Assinale a alternativa em que o sentido da conjunção


03. (Agente Educacional – VUNESP – 2013-adap.) Re-
sublinhada está corretamente indicado entre parênteses.
leia o seguinte trecho:
A) Meu primo formou-se em Direito, porém não pre-
Joyce e Mozart são ótimos, mas eles, como quase toda a
tende trabalhar como advogado. (explicação)
cultura humanística, têm pouca relevância para nossa vida B) Não fui ao cinema nem assisti ao jogo. (adição)
prática. C) Você está preparado para a prova; por isso, não se
Sem que haja alteração de sentido, e de acordo com a preocupe. (oposição)
norma- -padrão da língua portuguesa, ao se substituir o ter- D) Vá dormir mais cedo, pois o vestibular será amanhã.
mo em destaque, o trecho estará corretamente reescrito em: (alternância)
A) Joyce e Mozart são ótimos, portanto eles, como qua- E) Os meninos deviam correr para casa ou apanhariam
se toda a cultura humanística, têm pouca relevância para toda a chuva. (conclusão)
nossa vida prática.
B) Joyce e Mozart são ótimos, conforme eles, como 08. Analise sintaticamente as duas orações destacadas
quase toda a cultura humanística, têm pouca relevância no texto “O assaltante pulou o muro, mas não penetrou na
para nossa vida prática. casa, nem assustou seus habitantes.” A seguir, classifique
C) Joyce e Mozart são ótimos, assim eles, como quase -as, respectivamente, como coordenadas:
toda a cultura humanística, têm pouca relevância para nos- A) adversativa e aditiva. B) explicativa e aditiva.
sa vida prática. C) adversativa e alternativa. D) aditiva e alternativa.
D) Joyce e Mozart são ótimos, todavia eles, como qua-
se toda a cultura humanística, têm pouca relevância para 09. Um livro de receita é um bom presente porque aju-
nossa vida prática. da as pessoas que não sabem cozinhar. A palavra “porque”
E) Joyce e Mozart são ótimos, pois eles, como quase pode ser substituída, sem alteração de sentido, por
toda a cultura humanística, têm pouca relevância para nos- A) entretanto. B) então. C) assim. D) pois. E) porém.
sa vida prática.
10- Na oração “Pedro não joga E NEM ASSISTE”, te-
04. (Analista Administrativo – VUNESP – 2013-adap.) mos a presença de uma oração coordenada que pode ser
Em – ...fruto não só do novo acesso da população ao auto- classificada em:
móvel mas também da necessidade de maior número de A) Coordenada assindética;
B) Coordenada assindética aditiva;
viagens... –, os termos em destaque estabelecem relação de
C) Coordenada sindética alternativa;
A) explicação. B) oposição. C) alternância.
D) Coordenada sindética aditiva.
D) conclusão. E) adição.
GABARITO
05. Analise a oração destacada: Não se desespere, que
estaremos a seu lado sempre. 01. B 02. E 03. D 04. E 05. D
Marque a opção correta quanto à sua classificação: 06. A 07. B 08. A 09. D 10. D
A) Coordenada sindética aditiva.
B) Coordenada sindética alternativa. RESOLUÇÃO
C) Coordenada sindética conclusiva.
D) Coordenada sindética explicativa. 1-) “Não se verificou, todavia, uma transplantação inte-
gral de gosto e de estilo” = conjunção adversativa, portan-
to: oração coordenada sindética adversativa

2-) Estudamos, logo deveremos passar nos exames =


a oração em destaque não é introduzida por conjunção,
então: coordenada assindética

80
LÍNGUA PORTUGUESA

3-) Joyce e Mozart são ótimos, mas eles... = conjunção Questões sobre Orações Subordinadas
(e ideia) adversativa
A) Joyce e Mozart são ótimos, portanto eles, como (Papiloscopista Policial – Vunesp/2013).
quase toda a cultura humanística, têm pouca relevância Mais denso, menos trânsito
para nossa vida prática. = conclusiva
B) Joyce e Mozart são ótimos, conforme eles, como As grandes cidades brasileiras estão congestionadas e
quase toda a cultura humanística, têm pouca relevância em processo de deterioração agudizado pelo crescimento
para nossa vida prática. = conformativa econômico da última década. Existem deficiências evidentes
C) Joyce e Mozart são ótimos, assim eles, como quase em infraestrutura, mas é importante também considerar o
toda a cultura humanística, têm pouca relevância para nos- planejamento urbano.
sa vida prática. = conclusiva Muitas grandes cidades adotaram uma abordagem de
E) Joyce e Mozart são ótimos, pois eles, como quase desconcentração, incentivando a criação de diversos centros
toda a cultura humanística, têm pouca relevância para nos-
urbanos, na visão de que isso levaria a uma maior facilidade
sa vida prática. = explicativa
de deslocamento.
Dica: conjunção pois como explicativa = dá para eu
Mas o efeito tem sido o inverso. A criação de diversos
substituir por porque; como conclusiva: substituo por por-
centros e o aumento das distâncias multiplicam o número de
tanto.
viagens, dificultando o investimento em transporte coletivo e
4-) fruto não só do novo acesso da população ao au- aumentando a necessidade do transporte individual.
tomóvel mas também da necessidade de maior número de Se olharmos Los Angeles como a região que levou a
viagens... estabelecem relação de adição de ideias, de fatos desconcentração ao extremo, ficam claras as consequências.
Numa região rica como a Califórnia, com enorme investi-
5-) Não se desespere, que estaremos a seu lado sempre. mento viário, temos engarrafamentos gigantescos que vira-
= conjunção explicativa (= porque) - coordenada sin- ram característica da cidade.
dética explicativa Os modelos urbanos bem-sucedidos são aqueles com
elevado adensamento e predominância do transporte coleti-
6-) vo, como mostram Manhattan e Tóquio.
A) “O gesto é fácil E não ajuda em nada”. = mas não O centro histórico de São Paulo é a região da cidade
ajuda (ideia contrária) mais bem servida de transporte coletivo, com infraestrutura
B )“O que vemos na esquina E nos sinais de trânsito...”. de telecomunicação, água, eletricidade etc. Como em outras
= adição grandes cidades, essa deveria ser a região mais adensada da
C) “..adultos submetem crianças E adolescentes à tarefa metrópole. Mas não é o caso. Temos, hoje, um esvaziamento
de pedir esmola”. = adição gradual do centro, com deslocamento das atividades para
D) “Quem dá esmola nas ruas contribui para a manu- diversas regiões da cidade.
tenção da miséria E prejudica o desenvolvimento da socie- A visão de adensamento com uso abundante de trans-
dade”. = adição porte coletivo precisa ser recuperada. Desse modo, será pos-
E) “A vida dessas pessoas é marcada pela falta de di- sível reverter esse processo de uso cada vez mais intenso do
nheiro, de moradia digna, emprego, segurança, lazer, cul- transporte individual, fruto não só do novo acesso da popu-
tura, acesso à saúde E à educação”. = adição lação ao automóvel, mas também da necessidade de maior
número de viagens em função da distância cada vez maior
7-) entre os destinos da população.
A) Meu primo formou-se em Direito, porém não pre-
(Henrique Meirelles, Folha de S.Paulo, 13.01.2013. Adaptado)
tende trabalhar como advogado. = adversativa
C) Você está preparado para a prova; por isso, não se
As expressões mais denso e menos trânsito, no título,
preocupe. = conclusão
estabelecem entre si uma relação de
D) Vá dormir mais cedo, pois o vestibular será amanhã.
= explicativa (A) comparação e adição.
E) Os meninos deviam correr para casa ou apanhariam (B) causa e consequência.
toda a chuva. = alternativa (C) conformidade e negação.
(D) hipótese e concessão.
8-) - mas não penetrou na casa = conjunção adversativa (E) alternância e explicação
- nem assustou seus habitantes = conjunção aditiva
02. (Agente de Escolta e Vigilância Penitenciária – VU-
9-) Um livro de receita é um bom presente porque aju- NESP – 2013). No trecho – Tem surtido um efeito positi-
da as pessoas que não sabem cozinhar. vo por eles se tornarem uma referência positiva dentro da
= conjunção explicativa: pois unidade, já que cumprem melhor as regras, respeitam o
próximo e pensam melhor nas suas ações, refletem antes
10-) E NEM ASSISTE= conjunção aditiva (ideia de adi- de tomar uma atitude. – o termo em destaque estabelece
ção, soma de fatos) = Coordenada sindética aditiva. entre as orações uma relação de

81
LÍNGUA PORTUGUESA

A) condição. A) Mesmo com a desconcentração e o aumento da Ex-


B) causa. tensão urbana verificados no Brasil, é importante desenvolver
C) comparação. e adensar ainda mais os diversos centros já existentes...
D) tempo. B) Uma vez que se verifica a desconcentração e o aumen-
E) concessão. to da extensão urbana no Brasil, é importante desenvolver e
adensar ainda mais os diversos centros já existentes...
03. (UFV-MG) As orações subordinadas substantivas C) Assim como são verificados a desconcentração e o au-
que aparecem nos períodos abaixo são todas subjetivas, mento da extensão urbana no Brasil, é importante desenvol-
ver e adensar ainda mais os diversos centros já existentes...
exceto:
D) Visto que com a desconcentração e o aumento da ex-
A) Decidiu-se que o petróleo subiria de preço.
tensão urbana verificados no Brasil, é importante desenvolver
B) É muito bom que o homem, vez por outra, reflita
e adensar ainda mais os diversos centros já existentes...
sobre sua vida. E) De maneira que, com a desconcentração e o aumento
C) Ignoras quanto custou meu relógio? da extensão urbana verificados no Brasil, é importante desen-
D) Perguntou-se ao diretor quando seríamos recebidos. volver e adensar ainda mais os diversos centros já existentes...
E) Convinha-nos que você estivesse presente à reunião
06. (Analista Administrativo – VUNESP – 2013). Em – É
04. (Agente de Vigilância e Recepção – VUNESP – fundamental que essa visão de adensamento com uso abun-
2013). Considere a tirinha em que se vê Honi conversando dante de transporte coletivo seja recuperada para que pos-
com seu Namorado Lute. samos reverter esse processo de uso… –, a expressão em des-
taque estabelece entre as orações relação de
A) consequência.
B) condição.
C) finalidade.
D) causa.
E) concessão.

07. (Analista de Sistemas – VUNESP – 2013 – adap.). Con-


sidere o trecho: “Como as músicas eram de protesto, naquele
mesmo ano foi enquadrado na lei de segurança nacional pela
ditadura militar e exilado.” O termo Como, em destaque na
primeira parte do enunciado, expressa ideia de
A) contraste e tem sentido equivalente a porém.
B) concessão e tem sentido equivalente a mesmo que.
C) conformidade e tem sentido equivalente a conforme.
D) causa e tem sentido equivalente a visto que.
E) finalidade e tem sentido equivalente a para que.

08. (Analista em Planejamento, Orçamento e Finanças Pú-


(Dik Browne, Folha de S. Paulo, 26.01.2013) blicas – VUNESP – 2013-adap.) No trecho – “Fio, disjuntor, to-
É correto afirmar que a expressão contanto que esta- mada, tudo!”, insiste o motorista, com tanto orgulho que chega
belece entre as orações relação de a contaminar-me. –, a construção tanto ... que estabelece entre
A) causa, pois Honi quer ter filhos e não deseja traba- as construções [com tanto orgulho] e [que chega a contami-
lhar depois de casada. nar-me] uma relação de
B) comparação, pois o namorado espera ter sucesso A) condição e finalidade.
como cantor romântico. B) conformidade e proporção.
C) finalidade e concessão.
C) tempo, pois ambos ainda são adolescentes, mas já
D) proporção e comparação.
pensam em casamento.
E) causa e consequência.
D) condição, pois Lute sabe que exercendo a profissão
de músico provavelmente ganhará pouco. 09. “Os Estados Unidos são considerados hoje um país
E) finalidade, pois Honi espera que seu futuro marido bem mais fechado – embora em doze dias recebam o mesmo
torne-se um artista famoso. número de imigrantes que o Brasil em um ano.” A alternativa
que substitui a expressão em negrito, sem prejuízo ao con-
05. (Analista Administrativo – VUNESP – 2013). Em – teúdo, é:
Apesar da desconcentração e do aumento da extensão A) já que.
urbana verificados no Brasil, é importante desenvolver B) todavia.
e adensar ainda mais os diversos centros já existentes... –, C) ainda que.
sem que tenha seu sentido alterado, o trecho em destaque D) entretanto.
está corretamente reescrito em: E) talvez.

82
LÍNGUA PORTUGUESA

10. (Escrevente TJ SP – Vunesp – 2013) Assinale a alter- 10-) contanto que garantam sua autenticidade. = con-
nativa que substitui o trecho em destaque na frase – Assi- junção condicional = desde que
narei o documento, contanto que garantam sua autenti-
cidade. – sem que haja prejuízo de sentido. Questões sobre Análise Sintática
(A) desde que garantam sua autenticidade.
(B) no entanto garantam sua autenticidade. 01. (Agente de Apoio Administrativo – FCC – 2013). Os
(C) embora garantam sua autenticidade. trabalhadores passaram mais tempo na escola...
(D) portanto garantam sua autenticidade. O segmento grifado acima possui a mesma função sin-
(E) a menos que garantam sua autenticidade. tática que o destacado em:
A) ...o que reduz a média de ganho da categoria.
GABARITO B) ...houve mais ofertas de trabalhadores dessa classe.
C) O crescimento da escolaridade também foi impul-
01. B 02. B 03. C 04. D 05. A sionado...
06. C 07. D 08. E 09. C 10. A D) ...elevando a fatia dos brasileiros com ensino médio...
E) ...impulsionado pelo aumento do número de univer-
RESOLUÇÃO sidades...

1-) mais denso e menos trânsito = mais denso, conse- 02.(Agente de Defensoria Pública – FCC – 2013). Donos
quentemente, menos trânsito, então: causa e consequência de uma capacidade de orientação nas brenhas selvagens [...],
sabiam os paulistas como...
2-) já que cumprem melhor as regras = estabelece en- O segmento em destaque na frase acima exerce a mes-
tre as orações uma relação de causa com a consequência ma função sintática que o elemento grifado em:
de “tem um efeito positivo”. A) Nas expedições breves serviam de balizas ou mos-
tradores para a volta.
3-) Ignoras quanto custou meu relógio? = oração B) Às estreitas veredas e atalhos [...], nada acrescenta-
subordinada substantiva objetiva direta riam aqueles de considerável...
A oração não atende aos requisitos de tais orações, ou C) Só a um olhar muito exercitado seria perceptível o
seja, não se inicia com verbo de ligação, tampouco pelos sinal.
verbos “convir”, “parecer”, “importar”, “constar” etc., e tam- D) Uma sequência de tais galhos, em qualquer flores-
bém não inicia com as conjunções integrantes “que” e “se”. ta, podia significar uma pista.
E) Alguns mapas e textos do século XVII apresentam-
4-) a expressão contanto que estabelece uma relação nos a vila de São Paulo como centro...
de condição (condicional)
03. Há complemento nominal em:
5-) Apesar da desconcentração e do aumento da ex- A)Você devia vir cá fora receber o beijo da madrugada.
tensão urbana verificados no Brasil = conjunção concessiva B)... embora fosse quase certa a sua possibilidade de
B) Uma vez que se verifica a desconcentração e o au- ganhar a vida.
mento da extensão urbana no Brasil, = causal C)Ela estava na janela do edifício.
C) Assim como são verificados a desconcentração e o D)... sem saber ao certo se gostávamos dele.
aumento da extensão urbana no Brasil = comparativa E)Pouco depois começaram a brincar de bandido e
D) Visto que com a desconcentração e o aumento da mocinho de cinema.
extensão urbana verificados no Brasil = causal
E) De maneira que, com a desconcentração e o aumen- 04. (ESPM-SP) Em “esta lhe deu cem mil contos”, o ter-
to da extensão urbana verificados no Brasil = consecutivas mo destacado é:
A) pronome possessivo
6-) para que possamos = conjunção final (finalidade) B) complemento nominal
C) objeto indireto
7-) “Como as músicas eram de protesto = expressa D) adjunto adnominal
ideia de causa da consequência “foi enquadrado” = causa E) objeto direto
e tem sentido equivalente a visto que.
05. Assinale a alternativa correta e identifique o sujeito
8-) com tanto orgulho que chega a contaminar-me. – a das seguintes orações em relação aos verbos destacados:
construção estabelece uma relação de causa e consequên- - Amanhã teremos uma palestra sobre qualidade de
cia. (a causa da “contaminação” – consequência) vida.
- Neste ano, quero prestar serviço voluntário.
9-) Os Estados Unidos são considerados hoje um país A)Tu – vós
bem mais fechado – embora em doze dias recebam o mes- B)Nós – eu
mo número de imigrantes que o Brasil em um ano.” = con- C)Vós – nós
junção concessiva: ainda que D) Ele - tu

83
LÍNGUA PORTUGUESA

06. Classifique o sujeito das orações destacadas no tex- 4-) esta lhe deu cem mil contos = o verbo DAR é bi-
to seguinte e, a seguir, assinale a sequência correta. transitivo, ou seja, transitivo direto e indireto, portanto pre-
É notável, nos textos épicos, a participação do sobrena- cisa de dois complementos – dois objetos: direto e indireto.
tural. É frequente a mistura de assuntos relativos ao nacio- Deu o quê? = cem mil contos (direto)
nalismo com o caráter maravilhoso. Nas epopeias, os deu- Deu a quem? lhe (=a ele, a ela) = indireto
ses tomam partido e interferem nas aventuras dos heróis,
ajudando-os ou atrapalhando- -os. 5-) - Amanhã ( nós ) teremos uma palestra sobre qua-
A)simples, composto lidade de vida.
B)indeterminado, composto - Neste ano, ( eu ) quero prestar serviço voluntário.
C)simples, simples
D) oculto, indeterminado 6-) É notável, nos textos épicos, a participação do so-
brenatural. É frequente a mistura de assuntos relativos ao
07. (ESPM-SP) “Surgiram fotógrafos e repórteres”. nacionalismo com o caráter maravilhoso. Nas epopeias, os
Identifique a alternativa que classifica corretamente a fun- deuses tomam partido e interferem nas aventuras dos he-
ção sintática e a classe morfológica dos termos destacados: róis, ajudando-os ou atrapalhando-os.
A) objeto indireto – substantivo Ambos os termos apresentam sujeito simples
B) objeto direto - substantivo
C) sujeito – adjetivo 7-) Surgiram fotógrafos e repórteres.
D) objeto direto – adjetivo O sujeito está deslocado, colocado na ordem indireta
E) sujeito - substantivo (final da oração). Portanto: função sintática: sujeito (com-
posto); classe morfológica (classe de palavras): substantivos.
GABARITO
Concordância (Verbal e Nominal)
01. C 02. D 03. B 04. C 05. B 06. C 07. E
Ao falarmos sobre a concordância verbal, estamos
nos referindo à relação de dependência estabelecida entre
RESOLUÇÃO um termo e outro mediante um contexto oracional. Desta
feita, os agentes principais desse processo são representa-
1-) Os trabalhadores passaram mais tempo na escola dos pelo sujeito, que no caso funciona como subordinante;
= SUJEITO e o verbo, o qual desempenha a função de subordinado.
A) ...o que reduz a média de ganho da categoria. = ob- Dessa forma, temos que a concordância verbal carac-
jeto direto teriza-se pela adaptação do verbo, tendo em vista os que-
B) ...houve mais ofertas de trabalhadores dessa classe. sitos “número e pessoa” em relação ao sujeito. Exemplifi-
= objeto direto cando, temos: O aluno chegou atrasado. Temos que o verbo
C) O crescimento da escolaridade também foi impul- apresenta-se na terceira pessoa do singular, pois faz refe-
sionado... = sujeito paciente rência a um sujeito, assim também expresso (ele). Como
D) ...elevando a fatia dos brasileiros com ensino mé- poderíamos também dizer: os alunos chegaram atrasados.
dio... = objeto direto
E) ...impulsionado pelo aumento do número de univer- Casos referentes a sujeito simples
sidades... = agente da passiva
1) Em caso de sujeito simples, o verbo concorda com
2-) Donos de uma capacidade de orientação nas bre- o núcleo em número e pessoa: O aluno chegou atrasado.
nhas selvagens [...], sabiam os paulistas como... = SUJEITO
A) Nas expedições breves = ADJUNTO ADVERBIAL 2) Nos casos referentes a sujeito representado por
B) nada acrescentariam aqueles de considerável...= ad- substantivo coletivo, o verbo permanece na terceira pes-
junto adverbial soa do singular: A multidão, apavorada, saiu aos gritos.
C) seria perceptível o sinal. = predicativo Observação:
D) Uma sequência de tais galhos = sujeito - No caso de o coletivo aparecer seguido de adjunto
E) apresentam-nos a vila de São Paulo como = objeto direto adnominal no plural, o verbo permanecerá no singular ou
poderá ir para o plural:
3-) Uma multidão de pessoas saiu aos gritos.
A) o beijo da madrugada. = adjunto adnominal Uma multidão de pessoas saíram aos gritos.
B)a sua possibilidade de ganhar a vida. = complemento
nominal (possibilidade de quê?) 3) Quando o sujeito é representado por expressões par-
C)na janela do edifício. = adjunto adnominal titivas, representadas por “a maioria de, a maior parte de, a
D)... sem saber ao certo se gostávamos dele. = objeto metade de, uma porção de” entre outras, o verbo tanto pode
indireto concordar com o núcleo dessas expressões quanto com o
E) a brincar de bandido e mocinho de cinema = objeto substantivo que a segue: A maioria dos alunos resolveu ficar.
indireto A maioria dos alunos resolveram ficar.

84
LÍNGUA PORTUGUESA

4) No caso de o sujeito ser representado por expres- 11) Nos casos em que o sujeito estiver representado
sões aproximativas, representadas por “cerca de, perto de”, por pronomes de tratamento, o verbo deverá ser empre-
o verbo concorda com o substantivo determinado por elas: gado na terceira pessoa do singular ou do plural: Vossas
Cerca de mil candidatos se inscreveram no concurso. Majestades gostaram das homenagens. Vossa Majestade
agradeceu o convite.
5) Em casos em que o sujeito é representado pela ex-
pressão “mais de um”, o verbo permanece no singular: Mais 12) Casos relativos a sujeito representado por substan-
de um candidato se inscreveu no concurso de piadas. tivo próprio no plural se encontram relacionados a alguns
Observação: aspectos que os determinam:
- No caso da referida expressão aparecer repetida ou - Diante de nomes de obras no plural, seguidos do ver-
associada a um verbo que exprime reciprocidade, o verbo, bo ser, este permanece no singular, contanto que o predi-
necessariamente, deverá permanecer no plural: cativo também esteja no singular: Memórias póstumas de
Mais de um aluno, mais de um professor contribuíram Brás Cubas é uma criação de Machado de Assis.
na campanha de doação de alimentos. - Nos casos de artigo expresso no plural, o verbo tam-
Mais de um formando se abraçaram durante as soleni- bém permanece no plural: Os Estados Unidos são uma po-
dades de formatura. tência mundial.
- Casos em que o artigo figura no singular ou em que
6) Quando o sujeito for composto da expressão “um ele nem aparece, o verbo permanece no singular: Estados
dos que”, o verbo permanecerá no plural: Esse jogador foi Unidos é uma potência mundial.
um dos que atuaram na Copa América.
Casos referentes a sujeito composto
7) Em casos relativos à concordância com locuções
pronominais, representadas por “algum de nós, qual de vós, 1) Nos casos relativos a sujeito composto de pessoas
quais de vós, alguns de nós”, entre outras, faz-se necessário gramaticais diferentes, o verbo deverá ir para o plural, es-
nos atermos a duas questões básicas: tando relacionado a dois pressupostos básicos:
- No caso de o primeiro pronome estar expresso no - Quando houver a 1ª pessoa, esta prevalecerá sobre as
plural, o verbo poderá com ele concordar, como poderá demais: Eu, tu e ele faremos um lindo passeio.
também concordar com o pronome pessoal: Alguns de nós - Quando houver a 2ª pessoa, o verbo poderá flexionar
o receberemos. / Alguns de nós o receberão. na 2ª ou na 3ª pessoa: Tu e ele sois primos. Tu e ele são primos.
- Quando o primeiro pronome da locução estiver ex-
presso no singular, o verbo permanecerá, também, no sin- 2) Nos casos em que o sujeito composto aparecer an-
gular: Algum de nós o receberá. teposto ao verbo, este permanecerá no plural: O pai e seus
dois filhos compareceram ao evento.
8) No caso de o sujeito aparecer representado pelo
pronome “quem”, o verbo permanecerá na terceira pessoa 3) No caso em que o sujeito aparecer posposto ao ver-
do singular ou poderá concordar com o antecedente desse bo, este poderá concordar com o núcleo mais próximo ou
pronome: Fomos nós quem contou toda a verdade para permanecer no plural: Compareceram ao evento o pai e seus
ela. / Fomos nós quem contamos toda a verdade para ela. dois filhos. Compareceu ao evento o pai e seus dois filhos.

9) Em casos nos quais o sujeito aparece realçado pela 4) Nos casos relacionados a sujeito simples, porém
palavra “que”, o verbo deverá concordar com o termo que com mais de um núcleo, o verbo deverá permanecer no
antecede essa palavra: Nesta empresa somos nós que toma- singular: Meu esposo e grande companheiro merece toda a
mos as decisões. / Em casa sou eu que decido tudo. felicidade do mundo.

10) No caso de o sujeito aparecer representado por ex- 5) Casos relativos a sujeito composto de palavras sinô-
pressões que indicam porcentagens, o verbo concordará nimas ou ordenado por elementos em gradação, o verbo
com o numeral ou com o substantivo a que se refere essa poderá permanecer no singular ou ir para o plural: Minha
porcentagem: 50% dos funcionários aprovaram a decisão vitória, minha conquista, minha premiação são frutos de
da diretoria. / 50% do eleitorado apoiou a decisão. meu esforço. / Minha vitória, minha conquista, minha pre-
miação é fruto de meu esforço.
Observações:
- Caso o verbo apareça anteposto à expressão de por- Concordância nominal é o ajuste que fazemos aos
centagem, esse deverá concordar com o numeral: Aprova- demais termos da oração para que concordem em gênero
ram a decisão da diretoria 50% dos funcionários. e número com o substantivo. Teremos que alterar, portan-
- Em casos relativos a 1%, o verbo permanecerá no sin- to, o artigo, o adjetivo, o numeral e o pronome. Além disso,
gular: 1% dos funcionários não aprovou a decisão da dire- temos também o verbo, que se flexionará à sua maneira.
toria. Regra geral: O artigo, o adjetivo, o numeral e o prono-
- Em casos em que o numeral estiver acompanhado de me concordam em gênero e número com o substantivo.
determinantes no plural, o verbo permanecerá no plural: - A pequena criança é uma gracinha.
Os 50% dos funcionários apoiaram a decisão da diretoria. - O garoto que encontrei era muito gentil e simpático.

85
LÍNGUA PORTUGUESA

Casos especiais: Veremos alguns casos que fogem à h) Muito, pouco, caro
regra geral mostrada acima. - Como adjetivos: seguem a regra geral.
a) Um adjetivo após vários substantivos Comi muitas frutas durante a viagem.
- Substantivos de mesmo gênero: adjetivo vai para o Pouco arroz é suficiente para mim.
plural ou concorda com o substantivo mais próximo. Os sapatos estavam caros.
- Irmão e primo recém-chegado estiveram aqui.
- Irmão e primo recém-chegados estiveram aqui. - Como advérbios: são invariáveis.
Comi muito durante a viagem.
- Substantivos de gêneros diferentes: vai para o plural Pouco lutei, por isso perdi a batalha.
masculino ou concorda com o substantivo mais próximo. Comprei caro os sapatos.
- Ela tem pai e mãe louros.
- Ela tem pai e mãe loura. i) Mesmo, bastante
- Adjetivo funciona como predicativo: vai obrigatoria- - Como advérbios: invariáveis
mente para o plural. Preciso mesmo da sua ajuda.
- O homem e o menino estavam perdidos. Fiquei bastante contente com a proposta de emprego.
- O homem e sua esposa estiveram hospedados aqui.
- Como pronomes: seguem a regra geral.
b) Um adjetivo anteposto a vários substantivos Seus argumentos foram bastantes para me convencer.
- Adjetivo anteposto normalmente concorda com o mais Os mesmos argumentos que eu usei, você copiou.
próximo.
Comi delicioso almoço e sobremesa. j) Menos, alerta
Provei deliciosa fruta e suco. - Em todas as ocasiões são invariáveis.
Preciso de menos comida para perder peso.
- Adjetivo anteposto funcionando como predicativo: Estamos alerta para com suas chamadas.
concorda com o mais próximo ou vai para o plural.
Estavam feridos o pai e os filhos.
k) Tal Qual
Estava ferido o pai e os filhos.
- “Tal” concorda com o antecedente, “qual” concorda
com o consequente.
c) Um substantivo e mais de um adjetivo
As garotas são vaidosas tais qual a tia.
- antecede todos os adjetivos com um artigo.
Os pais vieram fantasiados tais quais os filhos.
Falava fluentemente a língua inglesa e a espanhola.
l) Possível
- coloca o substantivo no plural.
Falava fluentemente as línguas inglesa e espanhola. - Quando vem acompanhado de “mais”, “menos”, “me-
lhor” ou “pior”, acompanha o artigo que precede as ex-
d) Pronomes de tratamento pressões.
- sempre concordam com a 3ª pessoa. A mais possível das alternativas é a que você expôs.
Vossa Santidade esteve no Brasil. Os melhores cargos possíveis estão neste setor da em-
presa.
e) Anexo, incluso, próprio, obrigado As piores situações possíveis são encontradas nas fave-
- Concordam com o substantivo a que se referem. las da cidade.
As cartas estão anexas.
A bebida está inclusa. m) Meio
Precisamos de nomes próprios. - Como advérbio: invariável.
Obrigado, disse o rapaz. Estou meio (um pouco) insegura.

f) Um(a) e outro(a), num(a) e noutro(a) - Como numeral: segue a regra geral.


- Após essas expressões o substantivo fica sempre no Comi meia (metade) laranja pela manhã.
singular e o adjetivo no plural.
Renato advogou um e outro caso fáceis. n) Só
Pusemos numa e noutra bandeja rasas o peixe. - apenas, somente (advérbio): invariável.
Só consegui comprar uma passagem.
g) É bom, é necessário, é proibido
- Essas expressões não variam se o sujeito não vier pre- - sozinho (adjetivo): variável.
cedido de artigo ou outro determinante. Estiveram sós durante horas.
Canja é bom. / A canja é boa.
É necessário sua presença. / É necessária a sua presença. Fonte:
É proibido entrada de pessoas não autorizadas. / A en- http://www.brasilescola.com/gramatica/concordancia-verbal.htm
trada é proibida.

86
LÍNGUA PORTUGUESA

Questões sobre Concordância Nominal e Verbal De acordo com a norma-padrão da língua portugue-
sa, as lacunas do texto devem ser preenchidas, correta e
01.(TRE/AL – TÉCNICO JUDICIÁRIO – FCC/2010) A con- respectivamente, com:
cordância verbal e nominal está inteiramente correta na frase: (A) Restam… faça… será (B) Resta… faz… será
(A) A sociedade deve reconhecer os princípios e va- (C) Restam… faz... serão (D) Restam… façam…
lores que determinam as escolhas dos governantes, para serão
conferir legitimidade a suas decisões. (E) Resta… fazem… será
(B) A confiança dos cidadãos em seus dirigentes de-
vem ser embasados na percepção dos valores e princípios 04 (Escrevente TJ SP – Vunesp/2012) Assinale a alterna-
que regem a prática política. tiva em que o trecho
(C) Eleições livres e diretas é garantia de um verdadei- – Ainda assim, ninguém encontrou até agora uma ma-
ro regime democrático, em que se respeita tanto as liber- neira de quantificar adequadamente os insumos básicos.–
dades individuais quanto as coletivas. está corretamente reescrito, de acordo com a norma-pa-
(D) As instituições fundamentais de um regime demo- drão da língua portuguesa.
crático não pode estar subordinado às ordens indiscrimina- (A) Ainda assim, temos certeza que ninguém encon-
das de um único poder central. trou até agora uma maneira adequada de se quantificar os
(E) O interesse de todos os cidadãos estão voltados insumos básicos.
para o momento eleitoral, que expõem as diferentes opi- (B) Ainda assim, temos certeza de que ninguém encon-
niões existentes na sociedade. trou até agora uma maneira adequada de os insumos bási-
cos ser quantificados.
02. (Agente Técnico – FCC – 2013). As normas de concor- (C) Ainda assim, temos certeza que ninguém encontrou
dância verbal e nominal estão inteiramente respeitadas em: até agora uma maneira adequada para que os insumos bá-
A) Alguns dos aspectos mais desejáveis de uma boa sicos sejam quantificado.
leitura, que satisfaça aos leitores e seja veículo de aprimo- (D) Ainda assim, temos certeza de que ninguém encon-
trou até agora uma maneira adequada para que os insu-
ramento intelectual, estão na capacidade de criação do au-
mos básicos seja quantificado.
tor, mediante palavras, sua matéria-prima.
(E) Ainda assim, temos certeza de que ninguém encon-
B) Obras que se considera clássicas na literatura sempre
trou até agora uma maneira adequada de se quantificarem
delineia novos caminhos, pois é capaz de encantar o leitor
os insumos básicos.
ao ultrapassar os limites da época em que vivem seus au-
tores, gênios no domínio das palavras, sua matéria-prima.
05. (FUNDAÇÃO CASA/SP - AGENTE ADMINISTRATIVO
C) A palavra, matéria-prima de poetas e romancistas,
- VUNESP/2011 - ADAPTADA) Observe as frases do texto:
lhe permitem criar todo um mundo de ficção, em que per- I. Cerca de 75 por cento dos países obtêm nota nega-
sonagens se transformam em seres vivos a acompanhar os tiva...
leitores, numa verdadeira interação com a realidade. II. ... à Venezuela, de Chávez, que obtém a pior classi-
D) As possibilidades de comunicação entre autor e lei- ficação do continente americano (2,0)...
tor somente se realiza plenamente caso haja afinidade de Assim como ocorre com o verbo “obter” nas frases I e
ideias entre ambos, o que permite, ao mesmo tempo, o II, a concordância segue as mesmas regras, na ordem dos
crescimento intelectual deste último e o prazer da leitura. exemplos, em:
E) Consta, na literatura mundial, obras-primas que (A) Todas as pessoas têm boas perspectivas para o
constitui leitura obrigatória e se tornam referências por seu próximo ano. Será que alguém tem opinião diferente da
conteúdo que ultrapassa os limites de tempo e de época. maioria?
(B) Vem muita gente prestigiar as nossas festas juninas.
03. (Escrevente TJ-SP – Vunesp/2012) Leia o texto para Vêm pessoas de muito longe para brincar de quadrilha.
responder à questão. (C) Pouca gente quis voltar mais cedo para casa. Quase
_________dúvidas sobre o crescimento verde. Primeiro, todos quiseram ficar até o nascer do sol na praia.
não está claro até onde pode realmente chegar uma políti- (D) Existem pessoas bem intencionadas por aqui, mas
ca baseada em melhorar a eficiência sem preços adequados também existem umas que não merecem nossa atenção.
para o carbono, a água e (na maioria dos países pobres) a (E) Aqueles que não atrapalham muito ajudam.
terra. É verdade que mesmo que a ameaça dos preços do
carbono e da água em si ___________diferença, as compa- 06. (TRF - 5ª REGIÃO - TÉCNICO JUDICIÁRIO - FCC/2012)
nhias não podem suportar ter de pagar, de repente, digamos, Os folheteiros vivem em feiras, mercados, praças e locais de
40 dólares por tonelada de carbono, sem qualquer prepara- peregrinação.
ção. Portanto, elas começam a usar preços- -sombra. O verbo da frase acima NÃO pode ser mantido no plu-
Ainda assim, ninguém encontrou até agora uma maneira ral caso o segmento grifado seja substituído por:
de quantificar adequadamente os insumos básicos. E sem (A) Há folheteiros que
eles a maioria das políticas de crescimento verde sempre (B) A maior parte dos folheteiros
___________ a segunda opção. (C) O folheteiro e sua família
(Carta Capital, (D) O grosso dos folheteiros
27.06.2012. Adaptado) (E) Cada um dos folheteiros

87
LÍNGUA PORTUGUESA

07. (TRF - 5ª REGIÃO - TÉCNICO JUDICIÁRIO - 10. (CETESB/SP – ESCRITURÁRIO - VUNESP/2013) Assi-
FCC/2012) Todas as formas verbais estão corretamente fle- nale a alternativa em que a concordância das formas verbais
xionadas em: destacadas está de acordo com a norma-padrão da língua.
(A) Enquanto não se disporem a considerar o cordel (A) Fazem dez anos que deixei de trabalhar em higieni-
sem preconceitos, as pessoas não serão capazes de fruir zação subterrânea.
dessas criações poéticas tão originais. (B) Ainda existe muitas pessoas que discriminam os tra-
(B) Ainda que nem sempre detenha o mesmo status balhadores da área de limpeza.
atribuído à arte erudita, o cordel vem sendo estudado hoje (C) No trabalho em meio a tanta sujeira, havia altos riscos
nas melhores universidades do país. de se contrair alguma doença.
(C) Rodolfo Coelho Cavalcante deve ter percebido que (D) Eu passava a manhã no subterrâneo: quando era sete
a situação dos cordelistas não mudaria a não ser que eles da manhã, eu já estava fazendo meu serviço.
mesmos requizessem o respeito que faziam por merecer. (E) As companhias de limpeza, apenas recentemente, co-
(D) Se não proveem do preconceito, a desvalorização e meçou a adotar medidas mais rigorosas para a proteção de
a pouca visibilidade dessa arte popular tão rica só pode ser seus funcionários.
resultado do puro e simples desconhecimento.
(E) Rodolfo Coelho Cavalcante entreveu que os proble- GABARITO
mas dos cordelistas estavam diretamente ligados à falta de
01. A 02. A 03. A 04. E 05. A
representatividade.
06. E 07. |B 08. D 09. D 10. C
08. (TRF - 4ª REGIÃO – TÉCNICO JUDICIÁRIO – RESOLUÇÃO
FCC/2010) Observam-se corretamente as regras de con-
cordância verbal e nominal em: 1-) Fiz os acertos entre parênteses:
a) O desenraizamento, não só entre intelectuais como (A) A sociedade deve reconhecer os princípios e valores
entre os mais diversos tipos de pessoas, das mais sofistica- que determinam as escolhas dos governantes, para conferir
das às mais humildes, são cada vez mais comuns nos dias legitimidade a suas decisões.
de hoje. (B) A confiança dos cidadãos em seus dirigentes devem
b) A importância de intelectuais como Edward Said e (deve) ser embasados (embasada) na percepção dos valores e
Tony Judt, que não se furtaram ao debate sobre questões princípios que regem a prática política.
polêmicas de seu tempo, não estão apenas nos livros que (C) Eleições livres e diretas é (são) garantia de um ver-
escreveram. dadeiro regime democrático, em que se respeita (respeitam)
c) Nada indica que o conflito no Oriente Médio entre tanto as liberdades individuais quanto as coletivas.
árabes e judeus, responsável por tantas mortes e tanto so- (D) As instituições fundamentais de um regime democrá-
frimento, estejam próximos de serem resolvidos ou pelo tico não pode (podem) estar subordinado (subordinadas) às
menos de terem alguma trégua. ordens indiscriminadas de um único poder central.
d) Intelectuais que têm compromisso apenas com a (E) O interesse de todos os cidadãos estão (está) voltados
verdade, ainda que conscientes de que esta é até certo (voltado) para o momento eleitoral, que expõem (expõe) as
ponto relativa, costumam encontrar muito mais detratores diferentes opiniões existentes na sociedade.
que admiradores.
e) No final do século XX já não se via muitos intelec- 2-)
tuais e escritores como Edward Said, que não apenas era A) Alguns dos aspectos mais desejáveis de uma boa leitu-
notícia pelos livros que publicavam como pelas posições ra, que satisfaça aos leitores e seja veículo de aprimoramento
que corajosamente assumiam. intelectual, estão na capacidade de criação do autor, mediante
palavras, sua matéria-prima. = correta
B) Obras que se consideram clássicas na literatura sempre
09. (TRF - 2ª REGIÃO - TÉCNICO JUDICIÁRIO - FCC/2012)
delineiam novos caminhos, pois são capazes de encantar o
O verbo que, dadas as alterações entre parênteses propos-
leitor ao ultrapassarem os limites da época em que vivem seus
tas para o segmento grifado, deverá ser colocado no plural,
autores, gênios no domínio das palavras, sua matéria-prima.
está em: C) A palavra, matéria-prima de poetas e romancistas, lhes
(A) Não há dúvida de que o estilo de vida... (dúvidas) permite criar todo um mundo de ficção, em que personagens
(B) O que não se sabe... (ninguém nas regiões do pla- se transformam em seres vivos a acompanhar os leitores,
neta) numa verdadeira interação com a realidade.
(C) O consumo mundial não dá sinal de trégua... (O D) As possibilidades de comunicação entre autor e lei-
consumo mundial de barris de petróleo) tor somente se realizam plenamente caso haja afinidade de
(D) Um aumento elevado no preço do óleo reflete-se ideias entre ambos, o que permite, ao mesmo tempo, o cres-
no custo da matéria-prima... (Constantes aumentos) cimento intelectual deste último e o prazer da leitura.
(E) o tema das mudanças climáticas pressiona os es- E) Constam, na literatura mundial, obras-primas que
forços mundiais... (a preocupação em torno das mudanças constituem leitura obrigatória e se tornam referências por seu
climáticas) conteúdo que ultrapassa os limites de tempo e de época.

88
LÍNGUA PORTUGUESA

3-) _Restam___dúvidas (D) Se não proveem (provêm) do preconceito, a desva-


mesmo que a ameaça dos preços do carbono e da lorização e a pouca visibilidade dessa arte popular tão rica
água em si __faça __diferença só pode (podem) ser resultado do puro e simples desco-
a maioria das políticas de crescimento verde sempre nhecimento.
____será_____ a segunda opção. (E) Rodolfo Coelho Cavalcante entreveu (entreviu) que
Em “a maioria de”, a concordância pode ser dupla: tan- os problemas dos cordelistas estavam diretamente ligados
to no plural quanto no singular. Nas alternativas não há à falta de representatividade.
“restam/faça/serão”, portanto a A é que apresenta as op-
ções adequadas. 8-) Fiz as correções entre parênteses:
a) O desenraizamento, não só entre intelectuais como
4-)
entre os mais diversos tipos de pessoas, das mais sofistica-
(A) Ainda assim, temos certeza de que ninguém encon-
das às mais humildes, são (é) cada vez mais comuns (co-
trou até agora uma maneira adequada de se quantificar os
mum) nos dias de hoje.
insumos básicos.
b) A importância de intelectuais como Edward Said e
(B) Ainda assim, temos certeza de que ninguém encon-
Tony Judt, que não se furtaram ao debate sobre questões
trou até agora uma maneira adequada de os insumos bási-
polêmicas de seu tempo, não estão (está) apenas nos livros
cos serem quantificados.
que escreveram.
(C) Ainda assim, temos certeza de que ninguém encon-
c) Nada indica que o conflito no Oriente Médio en-
trou até agora uma maneira adequada para que os insu-
tre árabes e judeus, responsável por tantas mortes e tanto
mos básicos sejam quantificados.
(D) Ainda assim, temos certeza de que ninguém encon- sofrimento, estejam (esteja) próximos (próximo) de serem
trou até agora uma maneira adequada para que os insu- (ser) resolvidos (resolvido) ou pelo menos de terem (ter)
mos básicos sejam quantificados. alguma trégua.
(E) Ainda assim, temos certeza de que ninguém encon- d) Intelectuais que têm compromisso apenas com a
trou até agora uma maneira adequada de se quantificarem verdade, ainda que conscientes de que esta é até certo
os insumos básicos. = correta ponto relativa, costumam encontrar muito mais detratores
que admiradores.
5-) Em I, obtêm está no plural; em II, no singular. Vamos e) No final do século XX já não se via (viam) muitos
aos itens: intelectuais e escritores como Edward Said, que não apenas
(A) Todas as pessoas têm (plural) ... Será que alguém era (eram) notícia pelos livros que publicavam como pelas
tem (singular) posições que corajosamente assumiam.
(B) Vem (singular) muita gente... Vêm pessoas (plural)
(C) Pouca gente quis (singular)... Quase todos quise- 9-)
ram (plural) (A) Não há dúvida de que o estilo de vida... (dúvidas) =
(D) Existem (plural) pessoas ... mas também existem “há” permaneceria no singular
umas (plural) (B) O que não se sabe ... (ninguém nas regiões do pla-
(E) Aqueles que não atrapalham muito ajudam (ambas neta) = “sabe” permaneceria no singular
as formas estão no plural) (C) O consumo mundial não dá sinal de trégua ... (O
consumo mundial de barris de petróleo) = “dá” permane-
6-) ceria no singular
A - Há folheteiros que vivem (concorda com o objeto (D) Um aumento elevado no preço do óleo reflete-se
“folheterios”) no custo da matéria-prima... Constantes aumentos) = “re-
B – A maior parte dos folheteiros vivem/vive (opcional) flete” passaria para “refletem-se”
C – O folheteiro e sua família vivem (sujeito composto) (E) o tema das mudanças climáticas pressiona os es-
D – O grosso dos folheteiros vive/vivem (opcional) forços mundiais... (a preocupação em torno das mudanças
E – Cada um dos folheteiros vive = somente no singular climáticas) = “pressiona” permaneceria no singular

7-) Coloquei entre parênteses a forma verbal correta: 10-) Fiz as correções:
(A) Enquanto não se disporem (dispuserem) a conside- (A) Fazem dez anos = faz (sentido de tempo = singular)
rar o cordel sem preconceitos, as pessoas não serão capa- (B) Ainda existe muitas pessoas = existem
zes de fruir dessas criações poéticas tão originais. (C) No trabalho em meio a tanta sujeira, havia altos riscos
(B) Ainda que nem sempre detenha o mesmo status (D) Eu passava a manhã no subterrâneo: quando era
atribuído à arte erudita, o cordel vem sendo estudado hoje sete da manhã = eram
nas melhores universidades do país. (E) As companhias de limpeza, apenas recentemente,
(C) Rodolfo Coelho Cavalcante deve ter percebido que começou = começaram
a situação dos cordelistas não mudaria a não ser que eles
mesmos requizessem (requeressem) o respeito que faziam
por merecer.

89
LÍNGUA PORTUGUESA

Regência (Verbal e Nominal) Fui ao teatro.


Adjunto Adverbial de Lugar
Dá-se o nome de regência à relação de subordinação
que ocorre entre um verbo (ou um nome) e seus comple- Ricardo foi para a Espanha.
mentos. Ocupa-se em estabelecer relações entre as pala- Adjunto Adverbial de Lugar
vras, criando frases não ambíguas, que expressem efetiva-
mente o sentido desejado, que sejam corretas e claras. - Comparecer
O adjunto adverbial de lugar pode ser introduzido por
Regência Verbal em ou a.
Comparecemos ao estádio (ou no estádio) para ver o
Termo Regente: VERBO último jogo.

A regência verbal estuda a relação que se estabelece Verbos Transitivos Diretos


entre os verbos e os termos que os complementam (obje-
tos diretos e objetos indiretos) ou caracterizam (adjuntos Os verbos transitivos diretos são complementados por
adverbiais). objetos diretos. Isso significa que não exigem preposição
O estudo da regência verbal permite-nos ampliar nos- para o estabelecimento da relação de regência. Ao empre-
sa capacidade expressiva, pois oferece oportunidade de gar esses verbos, devemos lembrar que os pronomes oblí-
conhecermos as diversas significações que um verbo pode quos o, a, os, as atuam como objetos diretos. Esses prono-
assumir com a simples mudança ou retirada de uma pre- mes podem assumir as formas lo, los, la, las (após formas
posição. Observe: verbais terminadas em -r, -s ou -z) ou no, na, nos, nas (após
A mãe agrada o filho. -> agradar significa acariciar, formas verbais terminadas em sons nasais), enquanto lhe e
contentar. lhes são, quando complementos verbais, objetos indiretos.
A mãe agrada ao filho. -> agradar significa “causar São verbos transitivos diretos, dentre outros: abando-
nar, abençoar, aborrecer, abraçar, acompanhar, acusar, ad-
agrado ou prazer”, satisfazer.
mirar, adorar, alegrar, ameaçar, amolar, amparar, auxiliar,
Logo, conclui-se que “agradar alguém” é diferente de
castigar, condenar, conhecer, conservar,convidar, defender,
“agradar a alguém”.
eleger, estimar, humilhar, namorar, ouvir, prejudicar, prezar,
proteger, respeitar, socorrer, suportar, ver, visitar.
Saiba que:
Na língua culta, esses verbos funcionam exatamente
O conhecimento do uso adequado das preposições é
como o verbo amar:
um dos aspectos fundamentais do estudo da regência ver-
Amo aquele rapaz. / Amo-o.
bal (e também nominal). As preposições são capazes de Amo aquela moça. / Amo-a.
modificar completamente o sentido do que se está sendo Amam aquele rapaz. / Amam-no.
dito. Veja os exemplos: Ele deve amar aquela mulher. / Ele deve amá-la.
Cheguei ao metrô. Obs.: os pronomes lhe, lhes só acompanham esses ver-
Cheguei no metrô. bos para indicar posse (caso em que atuam como adjuntos
adnominais).
No primeiro caso, o metrô é o lugar a que vou; no se- Quero beijar-lhe o rosto. (= beijar seu rosto)
gundo caso, é o meio de transporte por mim utilizado. A Prejudicaram-lhe a carreira. (= prejudicaram sua carreira)
oração “Cheguei no metrô”, popularmente usada a fim de Conheço-lhe o mau humor! (= conheço seu mau humor)
indicar o lugar a que se vai, possui, no padrão culto da lín-
gua, sentido diferente. Aliás, é muito comum existirem di- Verbos Transitivos Indiretos
vergências entre a regência coloquial, cotidiana de alguns
verbos, e a regência culta. Os verbos transitivos indiretos são complementados
Para estudar a regência verbal, agruparemos os verbos por objetos indiretos. Isso significa que esses verbos exi-
de acordo com sua transitividade. A transitividade, porém, gem uma preposição para o estabelecimento da relação
não é um fato absoluto: um mesmo verbo pode atuar de de regência. Os pronomes pessoais do caso oblíquo de ter-
diferentes formas em frases distintas. ceira pessoa que podem atuar como objetos indiretos são
o “lhe”, o “lhes”, para substituir pessoas. Não se utilizam
Verbos Intransitivos os pronomes o, os, a, as como complementos de verbos
transitivos indiretos. Com os objetos indiretos que não re-
Os verbos intransitivos não possuem complemento. É presentam pessoas, usam-se pronomes oblíquos tônicos
importante, no entanto, destacar alguns detalhes relativos de terceira pessoa (ele, ela) em lugar dos pronomes átonos
aos adjuntos adverbiais que costumam acompanhá-los. lhe, lhes.
- Chegar, Ir Os verbos transitivos indiretos são os seguintes:
Normalmente vêm acompanhados de adjuntos adver- - Consistir - Tem complemento introduzido pela preposi-
biais de lugar. Na língua culta, as preposições usadas para ção “em”: A modernidade verdadeira consiste em direitos iguais
indicar destino ou direção são: a, para. para todos.

90
LÍNGUA PORTUGUESA

- Obedecer e Desobedecer - Possuem seus comple- Comparar


mentos introduzidos pela preposição “a”: Quando seguido de dois objetos, esse verbo admite as
Devemos obedecer aos nossos princípios e ideais. preposições “a” ou “com” para introduzir o complemento
Eles desobedeceram às leis do trânsito. indireto.
- Responder - Tem complemento introduzido pela pre- Comparei seu comportamento ao (ou com o) de uma
posição “a”. Esse verbo pede objeto indireto para indicar “a criança.
quem” ou “ao que” se responde.
Respondi ao meu patrão. Pedir
Respondemos às perguntas. Esse verbo pede objeto direto de coisa (geralmente na
Respondeu-lhe à altura. forma de oração subordinada substantiva) e indireto de
pessoa.
Obs.: o verbo responder, apesar de transitivo indireto Pedi-lhe favores.
quando exprime aquilo a que se responde, admite voz pas- Objeto Indireto Objeto Direto
siva analítica. Veja:
O questionário foi respondido corretamente. Pedi-lhe que se mantivesse em silêncio.
Todas as perguntas foram respondidas satisfatoriamente. Objeto Indireto Oração Subordinada Substantiva
Objetiva Direta
- Simpatizar e Antipatizar - Possuem seus complemen-
tos introduzidos pela preposição “com”. Saiba que:
Antipatizo com aquela apresentadora. - A construção “pedir para”, muito comum na lingua-
Simpatizo com os que condenam os políticos que gover- gem cotidiana, deve ter emprego muito limitado na língua
nam para uma minoria privilegiada. culta. No entanto, é considerada correta quando a palavra
licença estiver subentendida.
Verbos Transitivos Diretos e Indiretos Peço (licença) para ir entregar-lhe os catálogos em casa.
Observe que, nesse caso, a preposição “para” introduz
Os verbos transitivos diretos e indiretos são acompa- uma oração subordinada adverbial final reduzida de infini-
nhados de um objeto direto e um indireto. Merecem desta- tivo (para ir entregar-lhe os catálogos em casa).
que, nesse grupo: Agradecer, Perdoar e Pagar. São verbos
que apresentam objeto direto relacionado a coisas e objeto - A construção “dizer para”, também muito usada po-
indireto relacionado a pessoas. Veja os exemplos: pularmente, é igualmente considerada incorreta.
Agradeço aos ouvintes a audiência.
Objeto Indireto Objeto Direto Preferir
Paguei o débito ao cobrador. Na língua culta, esse verbo deve apresentar objeto in-
Objeto Direto Objeto Indireto direto introduzido pela preposição “a”. Por Exemplo:
Prefiro qualquer coisa a abrir mão de meus ideais.
- O uso dos pronomes oblíquos átonos deve ser feito Prefiro trem a ônibus.
com particular cuidado. Observe:
Agradeci o presente. / Agradeci-o. Obs.: na língua culta, o verbo “preferir” deve ser usado
Agradeço a você. / Agradeço-lhe. sem termos intensificadores, tais como: muito, antes, mil
Perdoei a ofensa. / Perdoei-a. vezes, um milhão de vezes, mais. A ênfase já é dada pelo
Perdoei ao agressor. / Perdoei-lhe. prefixo existente no próprio verbo (pre).
Paguei minhas contas. / Paguei-as.
Paguei aos meus credores. / Paguei-lhes. Mudança de Transitividade X Mudança de Significado

Informar Há verbos que, de acordo com a mudança de transitivi-


- Apresenta objeto direto ao se referir a coisas e objeto dade, apresentam mudança de significado. O conhecimento
indireto ao se referir a pessoas, ou vice-versa. das diferentes regências desses verbos é um recurso linguís-
Informe os novos preços aos clientes. tico muito importante, pois além de permitir a correta inter-
Informe os clientes dos novos preços. (ou sobre os novos pretação de passagens escritas, oferece possibilidades ex-
preços) pressivas a quem fala ou escreve. Dentre os principais, estão:

- Na utilização de pronomes como complementos, veja AGRADAR


as construções: - Agradar é transitivo direto no sentido de fazer cari-
Informei-os aos clientes. / Informei-lhes os novos preços. nhos, acariciar.
Informe-os dos novos preços. / Informe-os deles. (ou so- Sempre agrada o filho quando o revê. / Sempre o agrada
bre eles) quando o revê.
Cláudia não perde oportunidade de agradar o gato. /
Obs.: a mesma regência do verbo informar é usada para Cláudia não perde oportunidade de agradá-lo.
os seguintes: avisar, certificar, notificar, cientificar, prevenir.

91
LÍNGUA PORTUGUESA

- Agradar é transitivo indireto no sentido de causar CUSTAR


agrado a, satisfazer, ser agradável a. Rege complemento - Custar é intransitivo no sentido de ter determinado
introduzido pela preposição “a”. valor ou preço, sendo acompanhado de adjunto adverbial:
O cantor não agradou aos presentes. Frutas e verduras não deveriam custar muito.
O cantor não lhes agradou.
- No sentido de ser difícil, penoso, pode ser intransiti-
ASPIRAR vo ou transitivo indireto.
- Aspirar é transitivo direto no sentido de sorver, inspi-
rar (o ar), inalar: Aspirava o suave aroma. (Aspirava-o) Muito custa viver tão longe da família.
- Aspirar é transitivo indireto no sentido de desejar, ter Verbo Oração Subordinada Substantiva
como ambição: Aspirávamos a melhores condições de vida. Subjetiva
(Aspirávamos a elas) Intransitivo Reduzida de Infinitivo

Obs.: como o objeto direto do verbo “aspirar” não é Custa-me (a mim) crer que tomou realmente aquela
pessoa, mas coisa, não se usam as formas pronominais atitude.
átonas “lhe” e “lhes” e sim as formas tônicas “a ele (s)”, “ a Objeto Oração Subordinada Substantiva
ela (s)”. Veja o exemplo: Aspiravam a uma existência me- Subjetiva
lhor. (= Aspiravam a ela) Indireto Reduzida de Infinitivo

ASSISTIR Obs.: a Gramática Normativa condena as construções


- Assistir é transitivo direto no sentido de ajudar, pres- que atribuem ao verbo “custar” um sujeito representado
tar assistência a, auxiliar. Por exemplo: por pessoa. Observe:
As empresas de saúde negam-se a assistir os idosos. Custei para entender o problema.
As empresas de saúde negam-se a assisti-los. Forma correta: Custou-me entender o problema.

- Assistir é transitivo indireto no sentido de ver, pre- IMPLICAR


senciar, estar presente, caber, pertencer. Exemplos: - Como transitivo direto, esse verbo tem dois sentidos:
Assistimos ao documentário. a) dar a entender, fazer supor, pressupor: Suas atitudes
Não assisti às últimas sessões. implicavam um firme propósito.
Essa lei assiste ao inquilino. b) Ter como consequência, trazer como consequência,
acarretar, provocar: Liberdade de escolha implica amadure-
Obs.: no sentido de morar, residir, o verbo “assistir” é cimento político de um povo.
intransitivo, sendo acompanhado de adjunto adverbial de
lugar introduzido pela preposição “em”: Assistimos numa - Como transitivo direto e indireto, significa compro-
conturbada cidade. meter, envolver: Implicaram aquele jornalista em questões
econômicas.
CHAMAR
- Chamar é transitivo direto no sentido de convocar, Obs.: no sentido de antipatizar, ter implicância, é tran-
solicitar a atenção ou a presença de. sitivo indireto e rege com preposição “com”: Implicava com
Por gentileza, vá chamar sua prima. / Por favor, vá cha- quem não trabalhasse arduamente.
má-la.
Chamei você várias vezes. / Chamei-o várias vezes. PROCEDER
- Proceder é intransitivo no sentido de ser decisivo, ter
- Chamar no sentido de denominar, apelidar pode cabimento, ter fundamento ou portar-se, comportar-se,
apresentar objeto direto e indireto, ao qual se refere pre- agir. Nessa segunda acepção, vem sempre acompanhado
dicativo preposicionado ou não. de adjunto adverbial de modo.
A torcida chamou o jogador mercenário. As afirmações da testemunha procediam, não havia
A torcida chamou ao jogador mercenário. como refutá-las.
A torcida chamou o jogador de mercenário. Você procede muito mal.
A torcida chamou ao jogador de mercenário.
- Nos sentidos de ter origem, derivar-se (rege a prepo-
sição” de”) e fazer, executar (rege complemento introduzi-
do pela preposição “a”) é transitivo indireto.
O avião procede de Maceió.
Procedeu-se aos exames.
O delegado procederá ao inquérito.

92
LÍNGUA PORTUGUESA

QUERER NAMORAR
- Querer é transitivo direto no sentido de desejar, ter É transitivo direto, ou seja, não admite preposição: Ma-
vontade de, cobiçar. ria namora João.
Querem melhor atendimento.
Queremos um país melhor. Obs: Não é correto dizer: “Maria namora com João”.

- Querer é transitivo indireto no sentido de ter afeição, OBEDECER


estimar, amar. É transitivo indireto, ou seja, exige complemento com
Quero muito aos meus amigos. a preposição “a” (obedecer a): Devemos obedecer aos pais.
Ele quer bem à linda menina.
Despede-se o filho que muito lhe quer. Obs: embora seja transitivo indireto, esse verbo pode
VISAR ser usado na voz passiva: A fila não foi obedecida.
- Como transitivo direto, apresenta os sentidos de mi-
rar, fazer pontaria e de pôr visto, rubricar. VER
O homem visou o alvo. É transitivo direto, ou seja, não exige preposição: Ele
O gerente não quis visar o cheque. viu o filme.
Regência Nominal
- No sentido de ter em vista, ter como meta, ter como
objetivo, é transitivo indireto e rege a preposição “a”. É o nome da relação existente entre um nome (subs-
O ensino deve sempre visar ao progresso social. tantivo, adjetivo ou advérbio) e os termos regidos por esse
Prometeram tomar medidas que visassem ao bem-estar nome. Essa relação é sempre intermediada por uma prepo-
público. sição. No estudo da regência nominal, é preciso levar em
conta que vários nomes apresentam exatamente o mesmo
ESQUECER – LEMBRAR regime dos verbos de que derivam. Conhecer o regime de
- Lembrar algo – esquecer algo um verbo significa, nesses casos, conhecer o regime dos
- Lembrar-se de algo – esquecer-se de algo (prono- nomes cognatos. Observe o exemplo: Verbo obedecer e
minal) os nomes correspondentes: todos regem complementos
introduzidos pela preposição a. Veja:
No 1º caso, os verbos são transitivos diretos, ou seja, Obedecer a algo/ a alguém.
exigem complemento sem preposição: Ele esqueceu o livro. Obediente a algo/ a alguém.
No 2º caso, os verbos são pronominais (-se, -me, etc)
e exigem complemento com a preposição “de”. São, por- Apresentamos a seguir vários nomes acompanhados
tanto, transitivos indiretos: da preposição ou preposições que os regem. Observe-os
- Ele se esqueceu do caderno. atentamente e procure, sempre que possível, associar es-
- Eu me esqueci da chave. ses nomes entre si ou a algum verbo cuja regência você
- Eles se esqueceram da prova. conhece.
- Nós nos lembramos de tudo o que aconteceu.

Há uma construção em que a coisa esquecida ou lem-


brada passa a funcionar como sujeito e o verbo sofre leve
alteração de sentido. É uma construção muito rara na lín-
gua contemporânea, porém, é fácil encontrá-la em textos
clássicos tanto brasileiros como portugueses. Machado de
Assis, por exemplo, fez uso dessa construção várias vezes.
- Esqueceu-me a tragédia. (cair no esquecimento)
- Lembrou-me a festa. (vir à lembrança)

O verbo lembrar também pode ser transitivo direto e


indireto (lembrar alguma coisa a alguém ou alguém de al-
guma coisa).

SIMPATIZAR
Transitivo indireto e exige a preposição “com”: Não
simpatizei com os jurados.

93
LÍNGUA PORTUGUESA

Substantivos

Admiração a, por Devoção a, para, com, por Medo a, de


Aversão a, para, por Doutor em Obediência a
Atentado a, contra Dúvida acerca de, em, sobre Ojeriza a, por
Bacharel em Horror a Proeminência sobre
Capacidade de, para Impaciência com Respeito a, com, para com, por

Adjetivos
Acessível a Diferente de Necessário a
Acostumado a, com Entendido em Nocivo a
Afável com, para com Equivalente a Paralelo a
Agradável a Escasso de Parco em, de
Alheio a, de Essencial a, para Passível de
Análogo a Fácil de Preferível a
Ansioso de, para, por Fanático por Prejudicial a
Apto a, para Favorável a Prestes a
Ávido de Generoso com Propício a
Benéfico a Grato a, por Próximo a
Capaz de, para Hábil em Relacionado com
Compatível com Habituado a Relativo a
Contemporâneo a, de Idêntico a Satisfeito com, de, em, por
Contíguo a Impróprio para Semelhante a
Contrário a Indeciso em Sensível a
Curioso de, por Insensível a Sito em
Descontente com Liberal com Suspeito de
Desejoso de Natural de Vazio de

Advérbios
Longe de Perto de

Obs.: os advérbios terminados em -mente tendem a seguir o regime dos adjetivos de que são formados: paralela a;
paralelamente a; relativa a; relativamente a.

Fonte: http://www.soportugues.com.br/secoes/sint/sint61.php

Questões sobre Regência Nominal e Verbal

01. (Administrador – FCC – 2013-adap.).


... a que ponto a astronomia facilitou a obra das outras ciências ...
O verbo que exige o mesmo tipo de complemento que o grifado acima está empregado em:
A) ...astros que ficam tão distantes ...
B) ...que a astronomia é uma das ciências ...
C) ...que nos proporcionou um espírito ...
D) ...cuja importância ninguém ignora ...
E) ...onde seu corpo não passa de um ponto obscuro ...

02.(Agente de Apoio Administrativo – FCC – 2013-adap.).


... pediu ao delegado do bairro que desse um jeito nos filhos do sueco.
O verbo que exige, no contexto, o mesmo tipo de complementos que o grifado acima está empregado em:
A) ...que existe uma coisa chamada exército...
B) ...como se isso aqui fosse casa da sogra?
C) ...compareceu em companhia da mulher à delegacia...
D) Eu ensino o senhor a cumprir a lei, ali no duro...
E) O delegado apenas olhou-a espantado com o atrevimento.

94
LÍNGUA PORTUGUESA

03.(Agente de Defensoria Pública – FCC – 2013-adap.). 06. (Papiloscopista Policial – VUNESP – 2013). Assina-
... constava simplesmente de uma vareta quebrada em le a alternativa correta quanto à regência dos termos em
partes desiguais... destaque.
O verbo que exige o mesmo tipo de complemento que (A) Ele tentava convencer duas senhoras a assumir a
o grifado acima está empregado em: responsabilidade pelo problema.
A) Em campos extensos, chegavam em alguns casos a (B) A menina tinha o receio a levar uma bronca por ter
extremos de sutileza. se perdido.
B) ...eram comumente assinalados a golpes de macha- (C) A garota tinha apenas a lembrança pelo desenho
do nos troncos mais robustos. de um índio na porta do prédio.
C) Os toscos desenhos e os nomes estropiados deso- (D) A menina não tinha orgulho sob o fato de ter se
rientam, não raro, quem... perdido de sua família.
D) Koch-Grünberg viu uma dessas marcas de caminho (E) A família toda se organizou para realizar a procura
na serra de Tunuí... à garotinha.
E) ...em que tão bem se revelam suas afinidades com o
gentio, mestre e colaborador... 07. (Analista de Sistemas – VUNESP – 2013). Assinale
a alternativa que completa, correta e respectivamente, as
04. (Agente Técnico – FCC – 2013-adap.). lacunas do texto, de acordo com as regras de regência.
... para lidar com as múltiplas vertentes da justiça... Os estudos _______ quais a pesquisadora se reportou já
O verbo que exige o mesmo tipo de complemento que assinalavam uma relação entre os distúrbios da imagem
o da frase acima se encontra em: corporal e a exposição a imagens idealizadas pela mídia.
A) A palavra direito, em português, vem de directum, A pesquisa faz um alerta ______ influência negativa que
do verbo latino dirigere... a mídia pode exercer sobre os jovens.
B) ...o Direito tem uma complexa função de gestão das A) dos … na B) nos … entre a
sociedades... C) aos … para a D) sobre os … pela
C) ...o de que o Direito [...] esteja permeado e regulado E) pelos … sob a
pela justiça.
D) Essa problematicidade não afasta a força das aspi- 08. (Analista em Planejamento, Orçamento e Finanças
rações da justiça... Públicas – VUNESP – 2013). Considerando a norma-padrão
E) Na dinâmica dessa tensão tem papel relevante o da língua, assinale a alternativa em que os trechos desta-
sentimento de justiça. cados estão corretos quanto à regência, verbal ou nominal.
A) O prédio que o taxista mostrou dispunha de mais
05. (Escrevente TJ SP – Vunesp 2012) Assinale a alter- de dez mil tomadas.
nativa em que o período, adaptado da revista Pesquisa B) O autor fez conjecturas sob a possibilidade de haver
Fapesp de junho de 2012, está correto quanto à regência um homem que estaria ouvindo as notas de um oboé.
nominal e à pontuação. C) Centenas de trabalhadores estão empenhados de
(A) Não há dúvida que as mulheres ampliam, rapida- criar logotipos e negociar.
mente, seu espaço na carreira científica ainda que o avanço D) O taxista levou o autor a indagar no número de
seja mais notável em alguns países, o Brasil é um exemplo, tomadas do edifício.
do que em outros. E) A corrida com o taxista possibilitou que o autor re-
(B) Não há dúvida de que, as mulheres, ampliam ra- parasse a um prédio na marginal.
pidamente seu espaço na carreira científica; ainda que o
avanço seja mais notável, em alguns países, o Brasil é um 09. (Assistente de Informática II – VUNESP – 2013). As-
exemplo!, do que em outros. sinale a alternativa que substitui a expressão destacada na
(C) Não há dúvida de que as mulheres, ampliam ra- frase, conforme as regras de regência da norma-padrão da
pidamente seu espaço, na carreira científica, ainda que o língua e sem alteração de sentido.
avanço seja mais notável, em alguns países: o Brasil é um Muitas organizações lutaram a favor da igualdade de
exemplo, do que em outros. direitos dos trabalhadores domésticos.
(D) Não há dúvida de que as mulheres ampliam rapida- A) da B) na C) pela
mente seu espaço na carreira científica, ainda que o avanço D) sob a E) sobre a
seja mais notável em alguns países – o Brasil é um exemplo
– do que em outros. GABARITO
(E) Não há dúvida que as mulheres ampliam rapida-
mente, seu espaço na carreira científica, ainda que, o avan- 01. D 02. D 03. A 04. A 05. D
ço seja mais notável em alguns países (o Brasil é um exem- 06. A 07. C 08. A 09. C
plo) do que em outros.

95
LÍNGUA PORTUGUESA

RESOLUÇÃO 6-)
(B) A menina tinha o receio de levar uma bronca por
1-) ... a que ponto a astronomia facilitou a obra das ou- ter se perdido.
tras ciências ... (C) A garota tinha apenas a lembrança do desenho de
Facilitar – verbo transitivo direto um índio na porta do prédio.
A) ...astros que ficam tão distantes ... = verbo de ligação (D) A menina não tinha orgulho do fato de ter se per-
B) ...que a astronomia é uma das ciências ... = verbo de dido de sua família.
ligação (E) A família toda se organizou para realizar a procura
C) ...que nos proporcionou um espírito ... = verbo transi- pela garotinha.
tivo direto e indireto
E) ...onde seu corpo não passa de um ponto obscuro = 7-) Os estudos aos quais a pesquisadora se re-
verbo transitivo indireto portou já assinalavam uma relação entre os distúrbios da
imagem corporal e a exposição a imagens idealizadas pela
2-) ... pediu ao delegado do bairro que desse um jeito
mídia.
nos filhos do sueco.
A pesquisa faz um alerta para a influência negativa
Pedir = verbo transitivo direto e indireto
que a mídia pode exercer sobre os jovens.
A) ...que existe uma coisa chamada EXÉRCITO... = tran-
sitivo direto
B) ...como se isso aqui fosse casa da sogra? =verbo de 8-)
ligação B) O autor fez conjecturas sobre a possibilidade de ha-
C) ...compareceu em companhia da mulher à delegacia... ver um homem que estaria ouvindo as notas de um oboé.
=verbo intransitivo C) Centenas de trabalhadores estão empenhados em
E) O delegado apenas olhou-a espantado com o atrevi- criar logotipos e negociar.
mento. =transitivo direto D) O taxista levou o autor a indagar sobre o número de
tomadas do edifício.
3-) ... constava simplesmente de uma vareta quebrada E) A corrida com o taxista possibilitou que o autor re-
em partes desiguais... parasse em um prédio na marginal.
Constar = verbo intransitivo
B) ...eram comumente assinalados a golpes de machado 9-) Muitas organizações lutaram pela igualdade de
nos troncos mais robustos. =ligação direitos dos trabalhadores domésticos.
C) Os toscos desenhos e os nomes estropiados deso-
rientam, não raro, quem... =transitivo direto Crase
D) Koch-Grünberg viu uma dessas marcas de caminho
na serra de Tunuí... = transitivo direto A palavra crase é de origem grega e significa “fusão”,
E) ...em que tão bem se revelam suas afinidades com o “mistura”. Na língua portuguesa, é o nome que se dá à
gentio, mestre e colaborador...=transitivo direto “junção” de duas vogais idênticas. É de grande importân-
cia a crase da preposição “a” com o artigo feminino “a”
4-) ... para lidar com as múltiplas vertentes da justiça... (s), com o “a” inicial dos pronomes aquele(s), aquela (s),
Lidar = transitivo indireto aquilo e com o “a” do relativo a qual (as quais). Na escri-
B) ...o Direito tem uma complexa função de gestão das ta, utilizamos o acento grave ( ` ) para indicar a crase. O
sociedades... =transitivo direto
uso apropriado do acento grave depende da compreensão
C) ...o de que o Direito [...] esteja permeado e regulado
da fusão das duas vogais. É fundamental também, para o
pela justiça. =ligação
entendimento da crase, dominar a regência dos verbos e
D) Essa problematicidade não afasta a força das aspira-
nomes que exigem a preposição “a”. Aprender a usar a cra-
ções da justiça... =transitivo direto e indireto
E) Na dinâmica dessa tensão tem papel relevante o sen- se, portanto, consiste em aprender a verificar a ocorrência
timento de justiça. =transitivo direto simultânea de uma preposição e um artigo ou pronome.
Observe:
5-) A correção do item deve respeitar as regras de pon- Vou a + a igreja.
tuação também. Assinalei apenas os desvios quanto à regên- Vou à igreja.
cia (pontuação encontra-se em tópico específico)
(A) Não há dúvida de que as mulheres ampliam, No exemplo acima, temos a ocorrência da preposição
(B) Não há dúvida de que (erros quanto à pon- “a”, exigida pelo verbo ir (ir a algum lugar) e a ocorrência
tuação) do artigo “a” que está determinando o substantivo femini-
(C) Não há dúvida de que as mulheres, (erros quanto no igreja. Quando ocorre esse encontro das duas vogais e
à pontuação) elas se unem, a união delas é indicada pelo acento grave.
(E) Não há dúvida de que as mulheres ampliam rapida- Observe os outros exemplos:
mente, seu espaço na carreira científica, ainda que, o avanço Conheço a aluna.
seja mais notável em alguns países (o Brasil é um exemplo) Refiro-me à aluna.
do que em outros.

96
LÍNGUA PORTUGUESA

No primeiro exemplo, o verbo é transitivo direto (co- - diante da palavra “moda”, com o sentido de “à
nhecer algo ou alguém), logo não exige preposição e a moda de” (mesmo que a expressão moda de fique suben-
crase não pode ocorrer. No segundo exemplo, o verbo é tendida):
transitivo indireto (referir--se a algo ou a alguém) e exige O jogador fez um gol à (moda de) Pelé.
a preposição “a”. Portanto, a crase é possível, desde que o Usava sapatos à (moda de) Luís XV.
termo seguinte seja feminino e admita o artigo feminino Estava com vontade de comer frango à (moda de) pas-
“a” ou um dos pronomes já especificados. sarinho.
O menino resolveu vestir-se à (moda de) Fidel Castro.
Casos em que a crase NÃO ocorre:
- na indicação de horas:
- diante de substantivos masculinos: Acordei às sete horas da manhã.
Andamos a cavalo. Elas chegaram às dez horas.
Fomos a pé.
Foram dormir à meia-noite.
Passou a camisa a ferro.
- em locuções adverbiais, prepositivas e conjuntivas
Fazer o exercício a lápis.
de que participam palavras femininas. Por exemplo:
Compramos os móveis a prazo.
à tarde às ocultas às pressas à medida que
- diante de verbos no infinitivo: à noite às claras às escondidas à força
A criança começou a falar. à vontade à beça à larga à escuta
Ela não tem nada a dizer. às avessas à revelia à exceção de à imitação de
à esquerda às turras às vezes à chave
Obs.: como os verbos não admitem artigos, o “a” dos à direita à procura à deriva à toa
exemplos acima é apenas preposição, logo não ocorrerá à luz à sombra de à frente de
crase. à proporção que
à semelhança de às ordens à beira de
- diante da maioria dos pronomes e das expressões
de tratamento, com exceção das formas senhora, se- Crase diante de Nomes de Lugar
nhorita e dona:
Diga a ela que não estarei em casa amanhã. Alguns nomes de lugar não admitem a anteposição do
Entreguei a todos os documentos necessários. artigo “a”. Outros, entretanto, admitem o artigo, de modo
Ele fez referência a Vossa Excelência no discurso de on- que diante deles haverá crase, desde que o termo regente
tem. exija a preposição “a”. Para saber se um nome de lugar ad-
Peço a Vossa Senhoria que aguarde alguns minutos. mite ou não a anteposição do artigo feminino “a”, deve-se
substituir o termo regente por um verbo que peça a prepo-
Os poucos casos em que ocorre crase diante dos pro- sição “de” ou “em”. A ocorrência da contração “da” ou “na”
nomes podem ser identificados pelo método: troque a pa- prova que esse nome de lugar aceita o artigo e, por isso,
lavra feminina por uma masculina, caso na nova construção haverá crase. Por exemplo:
surgir a forma ao, ocorrerá crase. Por exemplo: Vou à França. (Vim da [de+a] França. Estou na [em+a]
Refiro-me à mesma pessoa. (Refiro-me ao mesmo in- França.)
divíduo.) Cheguei à Grécia. (Vim da Grécia. Estou na Grécia.)
Informei o ocorrido à senhora. (Informei o ocorrido ao Retornarei à Itália. (Vim da Itália. Estou na Itália)
senhor.)
Vou a Porto Alegre. (Vim de Porto Alegre. Estou em Por-
Peça à própria Cláudia para sair mais cedo. (Peça ao
to Alegre.)
próprio Cláudio para sair mais cedo.)
*- Dica da Zê!: use a regrinha “Vou A volto DA, crase
- diante de numerais cardinais:
Chegou a duzentos o número de feridos. HÁ; vou A volto DE, crase PRA QUÊ?”
Daqui a uma semana começa o campeonato. Ex: Vou a Campinas. = Volto de Campinas.
Vou à praia. = Volto da praia.
Casos em que a crase SEMPRE ocorre:
- ATENÇÃO: quando o nome de lugar estiver especifi-
- diante de palavras femininas: cado, ocorrerá crase. Veja:
Amanhã iremos à festa de aniversário de minha colega. Retornarei à São Paulo dos bandeirantes. = mesmo
Sempre vamos à praia no verão. que, pela regrinha acima, seja a do “VOLTO DE”
Ela disse à irmã o que havia escutado pelos corredores. Irei à Salvador de Jorge Amado.
Sou grata à população.
Fumar é prejudicial à saúde.
Este aparelho é posterior à invenção do telefone.

97
LÍNGUA PORTUGUESA

Crase diante dos Pronomes Demonstrativos Aquele A Palavra Distância


(s), Aquela (s), Aquilo
Se a palavra distância estiver especificada, determina-
Haverá crase diante desses pronomes sempre que o da, a crase deve ocorrer. Por exemplo: Sua casa fica à dis-
termo regente exigir a preposição “a”. Por exemplo: tância de 100km daqui. (A palavra está determinada)
Todos devem ficar à distância de 50 metros do palco. (A
Refiro-me a + aquele atentado. palavra está especificada.)
Preposição Pronome
Refiro-me àquele atentado.
Se a palavra distância não estiver especificada, a crase
não pode ocorrer. Por exemplo:
O termo regente do exemplo acima é o verbo transitivo
Os militares ficaram a distância.
indireto referir (referir-se a algo ou alguém) e exige preposi-
ção, portanto, ocorre a crase. Observe este outro exemplo: Gostava de fotografar a distância.
Aluguei aquela casa. Ensinou a distância.
Dizem que aquele médico cura a distância.
O verbo “alugar” é transitivo direto (alugar algo) e não Reconheci o menino a distância.
exige preposição. Logo, a crase não ocorre nesse caso. Veja
outros exemplos: Observação: por motivo de clareza, para evitar ambi-
Dediquei àquela senhora todo o meu trabalho. guidade, pode-se usar a crase. Veja:
Quero agradecer àqueles que me socorreram. Gostava de fotografar à distância.
Refiro-me àquilo que aconteceu com seu pai. Ensinou à distância.
Não obedecerei àquele sujeito. Dizem que aquele médico cura à distância.
Assisti àquele filme três vezes. Casos em que a ocorrência da crase é FACULTATIVA
Espero aquele rapaz. - diante de nomes próprios femininos:
Fiz aquilo que você disse. Observação: é facultativo o uso da crase diante de no-
Comprei aquela caneta. mes próprios femininos porque é facultativo o uso do ar-
tigo. Observe:
Crase com os Pronomes Relativos A Qual, As Quais
Paula é muito bonita. Laura é minha amiga.
A Paula é muito bonita. A Laura é minha amiga.
A ocorrência da crase com os pronomes relativos a qual
e as quais depende do verbo. Se o verbo que rege esses
pronomes exigir a preposição “a”, haverá crase. É possível Como podemos constatar, é facultativo o uso do artigo
detectar a ocorrência da crase nesses casos utilizando a feminino diante de nomes próprios femininos, então pode-
substituição do termo regido feminino por um termo regi- mos escrever as frases abaixo das seguintes formas:
do masculino. Por exemplo: Entreguei o cartão a Paula. Entreguei o cartão a Ro-
berto.
A igreja à qual me refiro fica no centro da cidade. Entreguei o cartão à Paula. Entreguei o cartão ao Roberto.
O monumento ao qual me refiro fica no centro da cidade.
- diante de pronome possessivo feminino:
Caso surja a forma ao com a troca do termo, ocorrerá a Observação: é facultativo o uso da crase diante de pro-
crase. Veja outros exemplos: nomes possessivos femininos porque é facultativo o uso do
São normas às quais todos os alunos devem obedecer. artigo. Observe:
Esta foi a conclusão à qual ele chegou. Minha avó tem setenta anos. Minha irmã está esperan-
Várias alunas às quais ele fez perguntas não souberam do por você.
responder nenhuma das questões. A minha avó tem setenta anos. A minha irmã está es-
A sessão à qual assisti estava vazia. perando por você.
Sendo facultativo o uso do artigo feminino diante de
Crase com o Pronome Demonstrativo “a”
pronomes possessivos femininos, então podemos escrever
as frases abaixo das seguintes formas:
A ocorrência da crase com o pronome demonstrativo “a”
também pode ser detectada através da substituição do ter- Cedi o lugar a minha avó. Cedi o lugar a meu avô.
mo regente feminino por um termo regido masculino. Veja: Cedi o lugar à minha avó. Cedi o lugar ao meu avô.
Minha revolta é ligada à do meu país.
Meu luto é ligado ao do meu país. - depois da preposição até:
As orações são semelhantes às de antes. Fui até a praia. ou Fui até à praia.
Os exemplos são semelhantes aos de antes. Acompanhe-o até a porta. ou Acompanhe-o
Suas perguntas são superiores às dele. até à porta.
Seus argumentos são superiores aos dele. A palestra vai até as cinco horas da tarde. ou A
Sua blusa é idêntica à de minha colega. palestra vai até às cinco horas da tarde.
Seu casaco é idêntico ao de minha colega.

98
LÍNGUA PORTUGUESA

Questões sobre Crase A) leitura apressada e sem profundidade.


B) cada um de nós neste formigueiro.
01.( Escrevente TJ SP – Vunesp/2012) No Brasil, as dis- C) exemplo de obras publicadas recentemente.
cussões sobre drogas parecem limitar-se ______aspectos ju- D) uma comunicação festiva e virtual.
rídicos ou policiais. É como se suas únicas consequências E) respeito de autores reconhecidos pelo público.
estivessem em legalismos, tecnicalidades e estatísticas cri-
minais. Raro ler ____respeito envolvendo questões de saúde 05. (Agente de Escolta e Vigilância Penitenciária – VU-
pública como programas de esclarecimento e prevenção, de NESP – 2013).
tratamento para dependentes e de reintegração desses____
O Instituto Nacional de Administração Prisional (INAP)
vida. Quantos de nós sabemos o nome de um médico ou
também desenvolve atividades lúdicas de apoio______ res-
clínica ____quem tentar encaminhar um drogado da nossa
socialização do indivíduo preso, com o objetivo de prepará-
própria família?
(Ruy Castro, Da nossa própria família. Folha de S.Paulo, -lo para o retorno______ sociedade. Dessa forma, quando em
17.09.2012. Adaptado) liberdade, ele estará capacitado______ ter uma profissão e
As lacunas do texto devem ser preenchidas, correta e uma vida digna.
respectivamente, com: (Disponível em: www.metropolitana.com.br/blog/
(A) aos … à … a … a qual_e_a_importancia_da_ressocializacao_de_presos. Aces-
(B) aos … a … à … a so em: 18.08.2012. Adaptado)
(C) a … a … à … à
(D) à … à … à … à Assinale a alternativa que preenche, correta e respecti-
(E) a … a … a … a vamente, as lacunas do texto, de acordo com a norma-pa-
drão da língua portuguesa.
02. (Agente de Apoio Administrativo – FCC – 2013).Leia A) à … à … à
o texto a seguir. B) a … a … à
Foi por esse tempo que Rita, desconfiada e medrosa, cor- C) a … à … à
reu ______ cartomante para consultá-la sobre a verdadeira D) à … à ... a
causa do procedimento de Camilo. Vimos que ______ carto- E) a … à … a
mante restituiu--lhe ______ confiança, e que o rapaz repreen-
deu-a por ter feito o que fez.
06. (TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAU-
(Machado de Assis. A cartomante. In: Várias histórias.
LO - ESCREVENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO – VUNESP/2013)
Rio de Janeiro: Globo, 1997, p. 6)
Assinale a alternativa que completa as lacunas do trecho a
Preenchem corretamente as lacunas da frase acima, na seguir, empregando o sinal indicativo de crase de acordo
ordem dada: com a norma-padrão.
A) à – a – a Não nos sujeitamos ____ corrupção; tampouco cedere-
B) a – a – à mos espaço ____ nenhuma ação que se proponha ____ preju-
C) à – a – à dicar nossas instituições.
D) à – à – a (A) à … à … à
E) a – à – à (B) a … à … à
(C) à … a … a
03 (POLÍCIA CIVIL/SP – AGENTE POLICIAL - VU- (D) à … à … a
NESP/2013) De acordo com a norma-padrão da língua (E) a … a … à
portuguesa, o acento indicativo de crase está corretamente
empregado em: 07. (Agente de Escolta e Vigilância Penitenciária – VU-
(A) A população, de um modo geral, está à espera de NESP – 2013-adap) O acento indicativo de crase está corre-
que, com o novo texto, a lei seca possa coibir os acidentes. tamente empregado em:
(B) A nova lei chega para obrigar os motoristas à re-
A) Tendências agressivas começam à ser relacionadas
pensarem a sua postura.
com as dificuldades para lidar com as frustrações de seus
(C) A partir de agora os motoristas estarão sujeitos à
desejos.
punições muito mais severas.
(D) À ninguém é dado o direito de colocar em risco a B) A agressividade impulsiva deve-se à perturbações
vida dos demais motoristas e de pedestres. nos mecanismos biológicos de controle emocional.
(E) Cabe à todos na sociedade zelar pelo cumprimento C) A violência urbana é comparada à uma enfermidade.
da nova lei para que ela possa funcionar. D) Condições de risco aliadas à exemplo de impunida-
de alimentam a violência crescente nas cidades.
04. (Agente Técnico – FCC – 2013-adap.) Claro que não E) Um ambiente desfavorável à formação da personali-
me estou referindo a essa vulgar comunicação festiva e dade atinge os mais vulneráveis.
efervescente.
O vocábulo a deverá receber o sinal indicativo de crase
se o segmento grifado for substituído por:

99
LÍNGUA PORTUGUESA

08. (Agente de Vigilância e Recepção – VUNESP – 2013). 3-)


O sinal indicativo de crase está correto em: (A) A população, de um modo geral, está à espera (dá
A) Este cientista tem se dedicado à uma pesquisa na para substituir por “esperando”) de que
área de biotecnologia. (B) A nova lei chega para obrigar os motoristas à re-
B) Os pais não podem ser omissos e devem se dedicar pensarem (antes de verbo)
à educação dos filhos. (C) A partir de agora os motoristas estarão sujeitos à
C) Nossa síndica dedica-se integralmente à conservar punições (generalizando, palavra no plural)
as instalações do prédio. (D) À ninguém (pronome indefinido)
D) O bombeiro deve dedicar sua atenção à qualquer (E) Cabe à todos (pronome indefinido)
detalhe que envolva a segurança das pessoas.
E) É função da política é dedicar-se à todo problema 4-) Claro que não me estou referindo à leitura apressa-
que comprometa o bem-estar do cidadão. da e sem profundidade.
a cada um de nós neste formigueiro. (antes de prono-
09. (TRF - 5ª REGIÃO - TÉCNICO JUDICIÁRIO - FCC/2012) me indefinido)
O detetive Gervase Fen, que apareceu em 1944, é um ho- a exemplo de obras publicadas recentemente. (palavra
mem de face corada, muito afeito ...... frases inteligentes e masculina)
citações dos clássicos; sua esposa, Dolly, uma dama meiga e a uma comunicação festiva e virtual. (artigo indefinido)
sossegada, fica sentada tricotando tranquilamente, impassí- a respeito de autores reconhecidos pelo público. (pa-
vel ...... propensão de seu marido ...... investigar assassinatos. lavra masculina)
(Adaptado de P.D.James, op.cit.)
5-) O Instituto Nacional de Administração Prisional
Preenchem corretamente as lacunas da frase acima, na (INAP) também desenvolve atividades lúdicas de apoio___à__
ordem dada: ressocialização do indivíduo preso, com o objetivo de prepa-
(A) à - à - a rá--lo para o retorno___à__ sociedade. Dessa forma, quando
(B) a - à - a
em liberdade, ele estará capacitado__a___ ter uma profissão
(C) à - a - à
e uma vida digna.
(D) a - à - à
- Apoio a ? Regência nominal pede preposição;
(E) à - a – a
- retorno a? regência nominal pede preposição;
- antes de verbo no infinitivo não há crase.
10. (POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DO ACRE – ALUNO
SOLDADO COMBATENTE – FUNCAB/2012) Em qual das op-
6-) Vamos por partes!
ções abaixo o acento indicativo de crase foi corretamente
indicado? - Quem se sujeita, sujeita-se A algo ou A alguém, por-
A) O dia fora quente, mas à noite estava fria e escura. tanto: pede preposição;
B) Ninguém se referira à essa ideia antes. - quem cede, cede algo A alguém, então teremos ob-
C) Esta era à medida certa do quarto. jeto direto e indireto;
D) Ela fechou a porta e saiu às pressas. - quem se propõe, propõe-se A alguma coisa.
E) Os rapazes sempre gostaram de andar à cavalo. Vejamos:
Não nos sujeitamos À corrupção; tampouco cedere-
GABARITO mos espaço A nenhuma ação que se proponha A prejudicar
nossas instituições.
01. B 02. A 03. A 04. A 05. D * Sujeitar A + A corrupção;
06.C 07. E 08. B 09.B 10. D * ceder espaço (objeto direto) A nenhuma ação (objeto
indireto. Não há acento indicativo de crase, pois “nenhu-
RESOLUÇÃO ma” é pronome indefinido);
* que se proponha A prejudicar (objeto indireto, no
1-) limitar-se _aos _aspectos jurídicos ou policiais. caso, oração subordinada com função de objeto indireto.
Raro ler __a__respeito (antes de palavra masculina Não há acento indicativo de crase porque temos um verbo
não há crase) no infinitivo – “prejudicar”).
de reintegração desses_à_ vida. (reintegrar a + a
vida = à) 7-)
o nome de um médico ou clínica __a_quem tentar en- A) Tendências agressivas começam à ser relacionadas
caminhar um drogado da nossa própria família? (antes de com as dificuldades para lidar com as frustrações de seus
pronome indefinido/relativo) desejos. (antes de verbo no infinitivo não há crase)
B) A agressividade impulsiva deve-se à perturbações
2-) correu _à (= para a ) cartomante para consultá-la nos mecanismos biológicos de controle emocional. (se
sobre a verdadeira causa do procedimento de Camilo. Vi- o “a” está no singular e antecede palavra no plural, não há
mos que _a__cartomante (objeto direto)restituiu-lhe ___a___ crase)
confiança (objeto direto), e que o rapaz repreendeu-a por C) A violência urbana é comparada à uma enfermidade.
ter feito o que fez. (artigo indefinido)

100
LÍNGUA PORTUGUESA

D) Condições de risco aliadas à exemplo de impunida- Ponto e Vírgula ( ; )


de alimentam a violência crescente nas cidades. (palavra 1- Separa várias partes do discurso, que têm a mesma
masculina) importância.
E) Um ambiente desfavorável à formação da personali- - “Os pobres dão pelo pão o trabalho; os ricos dão pelo
dade atinge os mais vulneráveis. = correta (regência nomi- pão a fazenda; os de espíritos generosos dão pelo pão a vida;
nal: desfavorável a?) os de nenhum espírito dão pelo pão a alma...” (VIEIRA)

8-) 2- Separa partes de frases que já estão separadas por


A) Este cientista tem se dedicado à uma pesquisa na vírgulas.
área de biotecnologia. (artigo indefinido) - Alguns quiseram verão, praia e calor; outros, monta-
B) Os pais não podem ser omissos e devem se dedicar nhas, frio e cobertor.
à educação dos filhos. = correta (regência verbal: dedicar a )
C) Nossa síndica dedica-se integralmente à conservar 3- Separa itens de uma enumeração, exposição de mo-
as instalações do prédio. (verbo no infinitivo) tivos, decreto de lei, etc.
D) O bombeiro deve dedicar sua atenção à qualquer - Ir ao supermercado;
detalhe que envolva a segurança das pessoas. (pronome - Pegar as crianças na escola;
indefinido) - Caminhada na praia;
E) É função da política é dedicar-se à todo problema - Reunião com amigos.
que comprometa o bem-estar do cidadão. (pronome in-
definido) Dois pontos
1- Antes de uma citação
9-) Afeito a frases (generalizando, já que o “a” está - Vejamos como Afrânio Coutinho trata este assunto:
no singular e “frases”, no plural)
Impassível à propensão (regência nominal: pede pre- 2- Antes de um aposto
- Três coisas não me agradam: chuva pela manhã, frio à
posição)
tarde e calor à noite.
A investigar (antes de verbo no infinitivo não há acen-
to indicativo de crase)
3- Antes de uma explicação ou esclarecimento
Sequência: a / à / a.
- Lá estava a deplorável família: triste, cabisbaixa, viven-
do a rotina de sempre.
10-)
A) O dia fora quente, mas à noite = mas a noite (artigo e
4- Em frases de estilo direto
substantivo. Diferente de: Estudo à noite = período do dia) Maria perguntou:
B) Ninguém se referira à essa ideia antes.= a essa (an- - Por que você não toma uma decisão?
tes de pronome demonstrativo)
C) Esta era à medida certa do quarto. = a medida (arti- Ponto de Exclamação
go e substantivo, no caso. Diferente da conjunção propor- 1- Usa-se para indicar entonação de surpresa, cólera,
cional: À medida que lia, mais aprendia) susto, súplica, etc.
D) Ela fechou a porta e saiu às pressas. = correta (ad- - Sim! Claro que eu quero me casar com você!
vérbio de modo = apressadamente) 2- Depois de interjeições ou vocativos
E) Os rapazes sempre gostaram de andar à cavalo. = - Ai! Que susto!
palavra masculina - João! Há quanto tempo!

Pontuação Ponto de Interrogação


Usa-se nas interrogações diretas e indiretas livres.
Os sinais de pontuação são marcações gráficas que “- Então? Que é isso? Desertaram ambos?” (Artur Aze-
servem para compor a coesão e a coerência textual, além vedo)
de ressaltar especificidades semânticas e pragmáticas. Ve-
jamos as principais funções dos sinais de pontuação co- Reticências
nhecidos pelo uso da língua portuguesa. 1- Indica que palavras foram suprimidas.
- Comprei lápis, canetas, cadernos...
Ponto
1- Indica o término do discurso ou de parte dele. 2- Indica interrupção violenta da frase.
- Façamos o que for preciso para tirá-la da situação em “- Não... quero dizer... é verdad... Ah!”
que se encontra.
- Gostaria de comprar pão, queijo, manteiga e leite. 3- Indica interrupções de hesitação ou dúvida
- Acordei. Olhei em volta. Não reconheci onde estava. - Este mal... pega doutor?

2- Usa-se nas abreviações - V. Exª. - Sr. 4- Indica que o sentido vai além do que foi dito
- Deixa, depois, o coração falar...

101
LÍNGUA PORTUGUESA

Vírgula (C) Diante da testemunha, o homem abriu a bolsa e, em-


bora experimentasse a sensação de violar uma intimidade,
Não se usa vírgula procurou a esmo entre as coisinhas, tentando encontrar algo
*separando termos que, do ponto de vista sintático, li- que pudesse ajudar a revelar quem era a sua dona.
gam-se diretamente entre si: (D) Diante da testemunha, o homem, abriu a bolsa e, em-
- entre sujeito e predicado. bora experimentasse a sensação de violar uma intimidade,
Todos os alunos da sala foram advertidos. procurou a esmo entre as coisinhas, tentando, encontrar algo
Sujeito predicado que pudesse ajudar a revelar quem era a sua dona.
(E) Diante da testemunha, o homem abriu a bolsa e, em-
- entre o verbo e seus objetos. bora, experimentasse a sensação de violar uma intimidade,
O trabalho custou sacrifício aos realizadores. procurou a esmo entre as coisinhas, tentando, encontrar algo
V.T.D.I. O.D. O.I. que pudesse ajudar a revelar quem era a sua dona.

Usa-se a vírgula: 02. (CNJ – TÉCNICO JUDICIÁRIO – CESPE/2013 - ADAPTA-


- Para marcar intercalação: DA) Jogadores de futebol de diversos times entraram em campo
a) do adjunto adverbial: O café, em razão da sua abun- em prol do programa “Pai Presente”, nos jogos do Campeonato
dância, vem caindo de preço. Nacional em apoio à campanha que visa 4 reduzir o número
b) da conjunção: Os cerrados são secos e áridos. Estão pro- de pessoas que não possuem o nome do pai em sua certidão
duzindo, todavia, altas quantidades de alimentos. de nascimento. (...)
c) das expressões explicativas ou corretivas: As indústrias A oração subordinada “que não possuem o nome do pai
não querem abrir mão de suas vantagens, isto é, não querem em sua certidão de nascimento” não é antecedida por vírgula
abrir mão dos lucros altos. porque tem natureza restritiva.
( ) Certo ( ) Errado
- Para marcar inversão:
a) do adjunto adverbial (colocado no início da oração): 03.(BNDES – TÉCNICO ADMINISTRATIVO – BNDES/2012)
Depois das sete horas, todo o comércio está de portas fechadas. Em que período a vírgula pode ser retirada, mantendo-se o
b) dos objetos pleonásticos antepostos ao verbo: Aos pes- sentido e a obediência à norma-padrão?
quisadores, não lhes destinaram verba alguma. (A) Quando o técnico chegou, a equipe começou o treino.
c) do nome de lugar anteposto às datas: Recife, 15 de (B) Antônio, quer saber as últimas novidades dos esportes?
maio de 1982. (C) As Olimpíadas de 2016 ocorrerão no Rio, que se pre-
para para o evento.
- Para separar entre si elementos coordenados (dispostos (D) Atualmente, várias áreas contribuem para o aprimora-
em enumeração): mento do desportista.
Era um garoto de 15 anos, alto, magro. (E) Eis alguns esportes que a Ciência do Esporte ajuda:
A ventania levou árvores, e telhados, e pontes, e animais. judô, natação e canoagem.

- Para marcar elipse (omissão) do verbo: 04. (BANPARÁ/PA – TÉCNICO BANCÁRIO – ESPP/2012)
Nós queremos comer pizza; e vocês, churrasco. Assinale a alternativa em que a pontuação está correta.
- Para isolar: a) Meu grande amigo Pedro, esteve aqui ontem!
- o aposto: São Paulo, considerada a metrópole brasileira, b) Foi solicitado, pelo diretor o comprovante da transação.
possui um trânsito caótico. c) Maria, você trouxe os documentos?
- o vocativo: Ora, Thiago, não diga bobagem. d) O garoto de óculos leu, em voz alta o poema.
e) Na noite de ontem o vigia percebeu, uma movimenta-
Fontes: http://www.infoescola.com/portugues/pontuacao/ ção estranha.
http://www.brasilescola.com/gramatica/uso-da-virgula.
htm 05. (Papiloscopista Policial – Vunesp – 2013 – adap.). As-
sinale a alternativa em que a frase mantém-se correta após o
Questões sobre Pontuação acréscimo das vírgulas.
(A) Se a criança se perder, quem encontrá-la, verá na pul-
01. (Agente Policial – Vunesp – 2013). Assinale a alterna- seira instruções para que envie, uma mensagem eletrônica ao
tiva em que a pontuação está corretamente empregada, de grupo ou acione o código na internet.
acordo com a norma-padrão da língua portuguesa. (B) Um geolocalizador também, avisará, os pais de onde
(A) Diante da testemunha, o homem abriu a bolsa e, em- o código foi acionado.
bora, experimentasse, a sensação de violar uma intimidade, (C) Assim que o código é digitado, familiares cadastrados,
procurou a esmo entre as coisinhas, tentando encontrar algo recebem automaticamente, uma mensagem dizendo que a
que pudesse ajudar a revelar quem era a sua dona. criança foi encontrada.
(B) Diante, da testemunha o homem abriu a bolsa e, em- (D) De fabricação chinesa, a nova pulseirinha, chega pri-
bora experimentasse a sensação, de violar uma intimidade, meiro às, areias do Guarujá.
procurou a esmo entre as coisinhas, tentando encontrar algo (E) O sistema permite, ainda, cadastrar o nome e o telefo-
que pudesse ajudar a revelar quem era a sua dona. ne de quem a encontrou e informar um ponto de referência

102
LÍNGUA PORTUGUESA

06. (DNIT – TÉCNICO ADMINISTRATIVO – ESAF/2013) (A) Os filmes que, mostram a luta pela sobrevivência
Para que o fragmento abaixo seja coerente e gramatical- em condições hostis nem sempre conseguem agradar, aos
mente correto, é necessário inserir sinais de pontuação. espectadores.
Assinale a posição em que não deve ser usado o sinal de (B) Várias experiências de prisioneiros, semelhantes en-
ponto, e sim a vírgula, para que sejam respeitadas as regras tre si, podem ser reunidas e fazer parte de uma mesma
gramaticais. Desconsidere os ajustes nas letras iniciais mi- história ficcional.
núsculas. (C) A história de heroísmo e de determinação que nem
O projeto Escola de Bicicleta está distribuindo bicicletas sempre, é convincente, se passa em um cenário marcado,
de bambu para 4600 alunos da rede pública de São Pau- pelo frio.
lo(A) o programa desenvolve ainda oficinas e cursos para as (D) Caminhar por um extenso território gelado, é correr
crianças utilizarem a bicicleta de forma segura e correta(B) riscos iminentes que comprometem, a sobrevivência.
os alunos ajudam a traçar ciclorrotas e participam de ati- (E) Para os fugitivos que se propunham, a alcançar a
liberdade, nada poderia parecer, realmente intransponível.
vidades sobre cidadania e reciclagem(C) as escolas partici-
pantes se tornam também centros de descarte de garrafas
GABARITO
PET(D) destinadas depois para reciclagem(E) o programa
possibilitará o retorno das bicicletas pela saúde das crian-
01. C 02. C 03. D 04. C 05. E
ças e transformação das comunidades em lugares melhores 06. D 07. A 08. B 09.B
para se viver.
(Adaptado de Vida Simples, abril de 2012, edição 117) RESOLUÇÃO
a) A
b) B 1- Assinalei com um (X) as pontuações inadequadas
c) C (A) Diante da testemunha, o homem abriu a bolsa e,
d) D embora, (X) experimentasse , (X) a sensação de violar uma
e) E intimidade, procurou a esmo entre as coisinhas, tentando
encontrar algo que pudesse ajudar a revelar quem era a
07. (DETRAN - OFICIAL ESTADUAL DE TRÂNSITO – VU- sua dona.
NESP/2013) Assinale a alternativa correta quanto ao uso da (B) Diante , (X) da testemunha o homem abriu a bolsa
pontuação. e, embora experimentasse a sensação , (X) de violar uma
(A) Segundo alguns psicólogos, é possível, em certas intimidade, procurou a esmo entre as coisinhas, tentando
circunstâncias, ceder à frustração para que a raiva seja ali- encontrar algo que pudesse ajudar a revelar quem era a
viada. sua dona.
(B) Dirigir pode aumentar, nosso nível de estresse, por- (D) Diante da testemunha, o homem , (X) abriu a bolsa
que você está junto; com os outros motoristas cujos com- e, embora experimentasse a sensação de violar uma inti-
portamentos, são desconhecidos. midade, procurou a esmo entre as coisinhas, tentando , (X)
(C) Os motoristas, devem saber, que os carros podem encontrar algo que pudesse ajudar a revelar quem era a
ser uma extensão de nossa personalidade. sua dona.
(D) A ira de trânsito pode ocasionar, acidentes e; au- (E) Diante da testemunha, o homem abriu a bolsa e,
mentar os níveis de estresse em alguns motoristas. embora , (X) experimentasse a sensação de violar uma in-
(E) Os congestionamentos e o número de motoristas timidade, procurou a esmo entre as coisinhas, tentando ,
na rua, são as principais causas da ira de trânsito. (X) encontrar algo que pudesse ajudar a revelar quem era
a sua dona.
08. (ACADEMIA DE POLÍCIA DO ESTADO DE MINAS
2-) A oração restringe o grupo que participará da cam-
GERAIS – TÉCNICO ASSISTENTE DA POLÍCIA CIVIL - FU-
panha (apenas os que não têm o nome do pai na certidão
MARC/2013) “Paciência, minha filha, este é apenas um ciclo
de nascimento). Se colocarmos uma vírgula, a oração tor-
econômico e a nossa geração foi escolhida para este vexame, nar-se-á “explicativa”, generalizando a informação, o que
você aí desse tamanho pedindo esmola e eu aqui sem nada dará a entender que TODAS as pessoa não têm o nome do
para te dizer, agora afasta que abriu o sinal.” pai na certidão.
No período acima, as vírgulas foram empregadas em RESPOSTA: “CERTO”.
“Paciência, minha filha, este é [...]”, para separar
(A) aposto. 3-)
(B) vocativo. (A) Quando o técnico chegou, a equipe começou o
(C) adjunto adverbial. treino. = mantê-la (termo deslocado)
(D) expressão explicativa. (B) Antônio, quer saber as últimas novidades dos es-
portes? = mantê-la (vocativo)
09. (INFRAERO – CADASTRO RESERVA OPERACIONAL (C) As Olimpíadas de 2016 ocorrerão no Rio, que se
PROFISSIONAL DE TRÁFEGO AÉREO – FCC/2011) O perío- prepara para o evento.
do corretamente pontuado é: = mantê-la (explicação)

103
LÍNGUA PORTUGUESA

(D) Atualmente, várias áreas contribuem para o apri- 8-) Paciência, minha filha, este é... = é o termo usado
moramento do desportista. para se dirigir ao interlocutor, ou seja, é um vocativo.
= pode retirá-la (advérbio de tempo)
(E) Eis alguns esportes que a Ciência do Esporte ajuda: 9-) Fiz as marcações (X) onde as pontuações estão ina-
judô, natação e canoagem. dequadas ou faltantes:
= mantê-la (enumeração) (A) Os filmes que,(X) mostram a luta pela sobrevivência
em condições hostis nem sempre conseguem agradar, (X)
4-) Assinalei com (X) a pontuação inadequada ou fal- aos espectadores.
tante: (B) Várias experiências de prisioneiros, semelhantes en-
a) Meu grande amigo Pedro, (X) esteve aqui ontem! tre si, podem ser reunidas e fazer parte de uma mesma
b) Foi solicitado, (X) pelo diretor o comprovante da história ficcional.
transação. (C) A história de heroísmo e de determinação (X) que
c) Maria, você trouxe os documentos? nem sempre, (X) é convincente, se passa em um cenário
d) O garoto de óculos leu, em voz alta (X) o poema. marcado, (X) pelo frio.
e) Na noite de ontem (X) o vigia percebeu, (X) uma mo- (D) Caminhar por um extenso território gelado, (X) é
vimentação estranha. correr riscos iminentes (X) que comprometem, (X) a sobre-
vivência.
5-) Assinalei com (X) onde estão as pontuações inade- (E) Para os fugitivos que se propunham, (X) a alcançar
quadas a liberdade, nada poderia parecer, (X) realmente intrans-
(A) Se a criança se perder, quem encontrá-la , (X) verá ponível.
na pulseira instruções para que envie , (X) uma mensagem
eletrônica ao grupo ou acione o código na internet.
(B) Um geolocalizador também , (X) avisará , (X) os
pais de onde o código foi acionado.
(C) Assim que o código é digitado, familiares cadastra-
dos , (X) recebem ( , ) automaticamente, uma mensagem
dizendo que a criança foi encontrada.
(D) De fabricação chinesa, a nova pulseirinha , (X) che-
ga primeiro às , (X) areias do Guarujá.

6-)
O projeto Escola de Bicicleta está distribuindo bicicletas
de bambu para 4600 alunos da rede pública de São Pau-
lo(A). O programa desenvolve ainda oficinas e cursos para
as crianças utilizarem a bicicleta de forma segura e corre-
ta(B). Os alunos ajudam a traçar ciclorrotas e participam de
atividades sobre cidadania e reciclagem(C). As escolas parti-
cipantes se tornam também centros de descarte de garrafas
PET(D), destinadas depois para reciclagem(E). O programa
possibilitará o retorno das bicicletas pela saúde das crian-
ças e transformação das comunidades em lugares melhores
para se viver.
A vírgula deve ser colocada após a palavra “PET”, posi-
ção (D), pois antecipa um termo explicativo.

7-) Fiz as indicações (X) das pontuações inadequadas:


(A) Segundo alguns psicólogos, é possível, em certas
circunstâncias, ceder à frustração para que a raiva seja ali-
viada.
(B) Dirigir pode aumentar, (X) nosso nível de estresse,
porque você está junto; (X) com os outros motoristas cujos
comportamentos, (X) são desconhecidos.
(C) Os motoristas, (X) devem saber, (X) que os carros
podem ser uma extensão de nossa personalidade.
(D) A ira de trânsito pode ocasionar, (X) acidentes e; (X)
aumentar os níveis de estresse em alguns motoristas.
(E) Os congestionamentos e o número de motoristas
na rua, (X) são as principais causas da ira de trânsito.

104
LÍNGUA PORTUGUESA

EXERCÍCIOS COMPLEMENTARES (C) Um levantamento mostrou que os adolescentes


americanos consomem, em média, 357 calorias diárias des-
1-) (FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO ABC/ sa fonte.
SP – ADMINISTRADOR - VUNESP/2013) Assinale a al- (D) Um levantamento, (X) mostrou que os adolescentes
ternativa correta quanto à concordância, de acordo americanos, (X) consomem (X) em média (X) 357 calorias
com a norma-padrão da língua portuguesa. diárias dessa fonte.
(A) A má distribuição de riquezas e a desigualdade (E) Um levantamento mostrou que os adolescentes
social está no centro dos debates atuais. americanos, (X) consomem (X) em média (X) 357 calorias
(B) Políticos, economistas e teóricos diverge em re- diárias, (X) dessa fonte.
lação aos efeitos da desigualdade social.
(C) A diferença entre a renda dos mais ricos e a dos RESPOSTA: “C”.
mais pobres é um fenômeno crescente.
(D) A má distribuição de riquezas tem sido muito 3-) (TRT/RO E AC – ANALISTA JUDICIÁRIO –
criticado por alguns teóricos. FCC/2011) Estão plenamente observadas as normas de
(E) Os debates relacionado à distribuição de rique- concordância verbal na frase:
zas não são de exclusividade dos economistas. a) Destinam-se aos homens-placa um lugar visível
nas ruas e nas praças, ao passo que lhes é suprimida a
Realizei a correção nos itens: visibilidade social.
(A) A má distribuição de riquezas e a desigualdade so- b) As duas tábuas em que se comprimem o famige-
cial está = estão rado homem-placa carregam ditos que soam irônicos,
(B) Políticos, economistas e teóricos diverge = diver- como “compro ouro”.
gem c) Não se compara aos vexames dos homens-placa
(C) A diferença entre a renda dos mais ricos e a dos a exposição pública a que se submetem os guardadores
mais pobres é um fenômeno crescente. de carros.
(D) A má distribuição de riquezas tem sido muito criti- d) Ao se revogarem o emprego de carros-placa na
cado = criticada propaganda imobiliária, poupou-se a todos uma de-
(E) Os debates relacionado = relacionados monstração de mau gosto.
e) Não sensibilizavam aos possíveis interessados
RESPOSTA: “C”. em apartamentos de luxo a visão grotesca daqueles ve-
lhos carros-placa.
2-) (COREN/SP – ADVOGADO – VUNESP/2013) Se-
guindo a norma-padrão da língua portuguesa, a frase Fiz as correções entre parênteses:
– Um levantamento mostrou que os adolescentes ame- a) Destinam-se (destina-se) aos homens-placa um lu-
ricanos consomem em média 357 calorias diárias dessa gar visível nas ruas e nas praças, ao passo que lhes é supri-
fonte. – recebe o acréscimo correto das vírgulas em: mida a visibilidade social.
(A) Um levantamento mostrou, que os adolescentes b) As duas tábuas em que se comprimem (comprime)
americanos consomem em média 357 calorias, diárias o famigerado homem-placa carregam ditos que soam irô-
dessa fonte. nicos, como “compro ouro”.
(B) Um levantamento mostrou que, os adolescentes c) Não se compara aos vexames dos homens-placa a
americanos consomem, em média 357 calorias diárias exposição pública a que se submetem os guardadores de
dessa fonte. carros.
(C) Um levantamento mostrou que os adolescentes d) Ao se revogarem (revogar) o emprego de carros
americanos consomem, em média, 357 calorias diárias -placa na propaganda imobiliária, poupou-se a todos uma
dessa fonte. demonstração de mau gosto.
(D) Um levantamento, mostrou que os adolescen- e) Não sensibilizavam (sensibilizava) aos possíveis in-
tes americanos, consomem em média 357 calorias diá- teressados em apartamentos de luxo a visão grotesca da-
rias dessa fonte. queles velhos carros-placa.
(E) Um levantamento mostrou que os adolescentes
americanos, consomem em média 357 calorias diárias, RESPOSTA: “C”.
dessa fonte.
4-) (TRE/PA- ANALISTA JUDICIÁRIO – FGV/2011)
Assinalei com um “X” onde há pontuação inadequada Assinale a palavra que tenha sido acentuada seguindo a
ou faltante: mesma regra que distribuídos.
(A) Um levantamento mostrou, (X) que os adolescentes (A) sócio
americanos consomem (X) em média (X) 357 calorias, (X) (B) sofrê-lo
diárias dessa fonte. (C) lúcidos
(B) Um levantamento mostrou que, (X) os adolescentes (D) constituí
americanos consomem, em média (X) 357 calorias diárias (E) órfãos
dessa fonte.

105
LÍNGUA PORTUGUESA

Distribuímos = regra do hiato (...) O uso do pronome de tratamento Vossa Senhoria


(A) sócio = paroxítona terminada em ditongo (abreviado V. Sa.) para vereadores está correto, sim. Numa
(B) sofrê-lo = oxítona (não se considera o pronome Câmara de Vereadores só se usa Vossa Excelência para o seu
oblíquo. Nunca!) presidente, de acordo com o Manual de Redação da Presi-
(C) lúcidos = proparoxítona dência da República (1991).
(D) constituí = regra do hiato (diferente de “constitui” (Fonte: http://www.linguabrasil.com.br/nao-tropece-de-
– oxítona: cons-ti-tui) tail.php?id=393)
(E) órfãos = paroxítona terminada em “ão”
RESPOSTA: “E”.
RESPOSTA: “D”.
7-) (TRE/AL – TÉCNICO JUDICIÁRIO – FCC/2010)
5-) (TRT/PE – ANALISTA JUDICIÁRIO – FCC/2012) ... valores e princípios que sejam percebidos pela so-
A concordância verbal está plenamente observada na
ciedade como tais.
frase:
Transpondo para a voz ativa a frase acima, o verbo
(A) Provocam muitas polêmicas, entre crentes e
passará a ser, corretamente,
materialistas, o posicionamento de alguns religiosos e
(A) perceba.
parlamentares acerca da educação religiosa nas escolas
públicas. (B) foi percebido.
(B) Sempre deverão haver bons motivos, junto (C) tenham percebido.
àqueles que são contra a obrigatoriedade do ensino (D) devam perceber.
religioso, para se reservar essa prática a setores da ini- (E) estava percebendo.
ciativa privada.
(C) Um dos argumentos trazidos pelo autor do tex- ... valores e princípios que sejam percebidos pela so-
to, contra os que votam a favor do ensino religioso na ciedade como tais = dois verbos na voz passiva, então te-
escola pública, consistem nos altos custos econômicos remos um na ativa: que a sociedade perceba os valores e
que acarretarão tal medida. princípios...
(D) O número de templos em atividade na cidade
de São Paulo vêm gradativamente aumentando, em RESPOSTA: “A”
proporção maior do que ocorrem com o número de es-
colas públicas. 8-) (TRE/AL – TÉCNICO JUDICIÁRIO – FCC/2010) A
(E) Tanto a Lei de Diretrizes e Bases da Educação concordância verbal e nominal está inteiramente corre-
como a regulação natural do mercado sinalizam para ta na frase:
as inconveniências que adviriam da adoção do ensino (A) A sociedade deve reconhecer os princípios e
religioso nas escolas públicas. valores que determinam as escolhas dos governantes,
para conferir legitimidade a suas decisões.
(A) Provocam = provoca (o posicionamento) (B) A confiança dos cidadãos em seus dirigentes
(B) Sempre deverão haver bons motivos = deverá haver devem ser embasados na percepção dos valores e prin-
(C) Um dos argumentos trazidos pelo autor do texto, cípios que regem a prática política.
contra os que votam a favor do ensino religioso na escola (C) Eleições livres e diretas é garantia de um verda-
pública, consistem = consiste. deiro regime democrático, em que se respeita tanto as
(D) O número de templos em atividade na cidade de liberdades individuais quanto as coletivas.
São Paulo vêm gradativamente aumentando, em propor-
(D) As instituições fundamentais de um regime de-
ção maior do que ocorrem = ocorre
mocrático não pode estar subordinado às ordens indis-
(E) Tanto a Lei de Diretrizes e Bases da Educação como
criminadas de um único poder central.
a regulação natural do mercado sinalizam para as inconve-
(E) O interesse de todos os cidadãos estão voltados
niências que adviriam da adoção do ensino religioso nas
escolas públicas. para o momento eleitoral, que expõem as diferentes
opiniões existentes na sociedade.
RESPOSTA: “E”.
Fiz os acertos entre parênteses:
6-) (TRE/PA- ANALISTA JUDICIÁRIO – FGV/2011) (A) A sociedade deve reconhecer os princípios e valores
Segundo o Manual de Redação da Presidência da Repú- que determinam as escolhas dos governantes, para confe-
blica, NÃO se deve usar Vossa Excelência para rir legitimidade a suas decisões.
(A) embaixadores. (B) A confiança dos cidadãos em seus dirigentes de-
(B) conselheiros dos Tribunais de Contas estaduais. vem (deve) ser embasados (embasada) na percepção dos
(C) prefeitos municipais. valores e princípios que regem a prática política.
(D) presidentes das Câmaras de Vereadores. (C) Eleições livres e diretas é (são) garantia de um ver-
(E) vereadores. dadeiro regime democrático, em que se respeita (respei-
tam) tanto as liberdades individuais quanto as coletivas.

106
LÍNGUA PORTUGUESA

(D) As instituições fundamentais de um regime demo- b) Será preciso, talvez redefinir a infância: já que as
crático não pode (podem) estar subordinado (subordina- crianças, de hoje, ao que tudo indica nada têm a ver, com
das) às ordens indiscriminadas de um único poder central. as de ontem.
(E) O interesse de todos os cidadãos estão (está) vol- c) Será preciso, talvez: redefinir a infância, já que as
tados (voltado) para o momento eleitoral, que expõem (ex- crianças de hoje ao que tudo indica, nada têm a ver com
põe) as diferentes opiniões existentes na sociedade. as de ontem.
d) Será preciso, talvez redefinir a infância? - já que
RESPOSTA: “A”. as crianças de hoje ao que tudo indica, nada têm a ver
com as de ontem.
9-) (TRE/AL – ANALISTA JUDICIÁRIO – FCC/2010) e) Será preciso, talvez, redefinir a infância, já que as
A frase que admite transposição para a voz passiva é: crianças de hoje, ao que tudo indica, nada têm a ver com
(A) O cúmulo da ilusão é também o cúmulo do sa- as de ontem.
grado.
(B) O conceito de espetáculo unifica e explica uma Devido à igualdade textual entre os itens, a apresentação da
grande diversidade de fenômenos. alternativa correta indica quais são as inadequações nas demais.
(C) O espetáculo é ao mesmo tempo parte da so-
ciedade, a própria sociedade e seu instrumento de uni- RESPOSTA: “E”.
ficação.
(D) As imagens fluem desligadas de cada aspecto 12-) (POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DO ACRE – ALU-
da vida (...). NO SOLDADO COMBATENTE – FUNCAB/2012) No tre-
(E) Por ser algo separado, ele é o foco do olhar ilu- cho: “O crescimento econômico, se associado à amplia-
dido e da falsa consciência. ção do emprego, PODE melhorar o quadro aqui sumaria-
mente descrito.”, se passarmos o verbo destacado para o
(A) O cúmulo da ilusão é também o cúmulo do sagrado. futuro do pretérito do indicativo, teremos a forma:
(B) O conceito de espetáculo unifica e explica uma A) puder.
grande diversidade de fenômenos. B) poderia.
- Uma grande diversidade de fenômenos é unificada e C) pôde.
explicada pelo conceito... D) poderá.
(C) O espetáculo é ao mesmo tempo parte da socieda- E) pudesse.
de, a própria sociedade e seu instrumento de unificação.
(D) As imagens fluem desligadas de cada aspecto da Conjugando o verbo “poder” no futuro do pretérito do
vida (...). Indicativo: eu poderia, tu poderias, ele poderia, nós pode-
(E) Por ser algo separado, ele é o foco do olhar iludido ríamos, vós poderíeis, eles poderiam. O sujeito da oração é
e da falsa consciência. crescimento econômico (singular), portanto, terceira pessoa
do singular (ele) = poderia.
RESPOSTA: “B”.
RESPOSTA: “B”.
10-) (MPE/AM - AGENTE DE APOIO ADMINISTRA-
TIVO - FCC/2013) “Quando a gente entra nas serrarias, 13-) (TRE/AP - TÉCNICO JUDICIÁRIO – FCC/2011) En-
vê dezenas de caminhões parados”, revelou o analista tre as frases que seguem, a única correta é:
ambiental Geraldo Motta. a) Ele se esqueceu de que?
Substituindo-se Quando por Se, os verbos subli- b) Era tão ruím aquele texto, que não deu para dis-
nhados devem sofrer as seguintes alterações: tribui-lo entre os presentes.
(A) entrar − vira c) Embora devessemos, não fomos excessivos nas
(B) entrava − tinha visto críticas.
(C) entrasse − veria d) O juíz nunca negou-se a atender às reivindicações
(D) entraria − veria dos funcionários.
(E) entrava − teria visto e) Não sei por que ele mereceria minha consideração.

Se a gente entrasse (verbo no singular) na serraria, ve- (A) Ele se esqueceu de que? = quê?
ria = entrasse / veria. (B) Era tão ruím (ruim) aquele texto, que não deu para
distribui-lo (distribuí-lo) entre os presentes.
RESPOSTA: “C”. (C) Embora devêssemos (devêssemos) , não fomos ex-
cessivos nas críticas.
11-) (TRE/AL – ANALISTA JUDICIÁRIO – FCC/2010) (D) O juíz ( juiz) nunca (se) negou a atender às reivindica-
A pontuação está inteiramente adequada na frase: ções dos funcionários.
a) Será preciso, talvez, redefinir a infância já que as (E) Não sei por que ele mereceria minha consideração.
crianças de hoje, ao que tudo indica nada mais têm a
ver com as de ontem. RESPOSTA: “E”.

107
LÍNGUA PORTUGUESA

14-) (FUNDAÇÃO CASA/SP - AGENTE ADMINIS- 16-) (UNESP/SP - ASSISTENTE TÉCNICO ADMINIS-
TRATIVO - VUNESP/2011 - ADAPTADA) Observe as fra- TRATIVO - VUNESP/2012) A correlação entre as formas
ses do texto: verbais está correta em:
I, Cerca de 75 por cento dos países obtêm nota ne- (A) Se o consumo desnecessário vier a crescer, o
gativa... planeta não resistiu.
II,... à Venezuela, de Chávez, que obtém a pior clas- (B) Se todas as partes do mundo estiverem com alto
sificação do continente americano (2,0)... poder de consumo, o planeta em breve sofrerá um co-
Assim como ocorre com o verbo “obter” nas frases lapso.
I e II, a concordância segue as mesmas regras, na ordem (C) Caso todo prazer, como o da comida, o da bebi-
dos exemplos, em: da, o do jogo, o do sexo e o do consumo não conheces-
(A) Todas as pessoas têm boas perspectivas para o se distorções patológicas, não haverá vícios.
próximo ano. Será que alguém tem opinião diferente (D) Se os meios tecnológicos não tivessem se tor-
da maioria? nado tão eficientes, talvez as coisas não ficaram tão
(B) Vem muita gente prestigiar as nossas festas ju- baratas.
ninas. Vêm pessoas de muito longe para brincar de qua- (E) Se as pessoas não se propuserem a consumir
drilha. conscientemente, a oferta de produtos supérfluos crescia.
(C) Pouca gente quis voltar mais cedo para casa.
Quase todos quiseram ficar até o nascer do sol na praia. Fiz as correções necessárias:
(D) Existem pessoas bem intencionadas por aqui, (A) Se o consumo desnecessário vier a crescer, o plane-
mas também existem umas que não merecem nossa ta não resistiu = resistirá
atenção. (B) Se todas as partes do mundo estiverem com alto
(E) Aqueles que não atrapalham muito ajudam. poder de consumo, o planeta em breve sofrerá um colapso.
(C) Caso todo prazer, como o da comida, o da bebida,
Em I, obtêm está no plural; em II, no singular. Vamos o do jogo, o do sexo e o do consumo não conhecesse dis-
aos itens:
torções patológicas, não haverá = haveria
(A) Todas as pessoas têm (plural) ... Será que alguém
(D) Se os meios tecnológicos não tivessem se tornado
tem (singular)
tão eficientes, talvez as coisas não ficaram = ficariam (ou
(B) Vem (singular) muita gente... Vêm pessoas (plural)
teriam ficado)
(C) Pouca gente quis (singular)... Quase todos quise-
(E) Se as pessoas não se propuserem a consumir cons-
ram (plural)
cientemente, a oferta de produtos supérfluos crescia =
(D) Existem (plural) pessoas ... mas também existem
crescerá
umas (plural)
(E) Aqueles que não atrapalham muito ajudam (ambas
as formas estão no plural) RESPOSTA: “B”.

RESPOSTA: “A”. 17-) (TJ/SP – AGENTE DE FISCALIZAÇÃO JUDICIÁ-


RIA – VUNESP/2010) Assinale a alternativa que preen-
15-) (CETESB/SP - ANALISTA ADMINISTRATIVO - che adequadamente e de acordo com a norma culta a
RECURSOS HUMANOS - VUNESP/2013 - ADAPTADA) lacuna da frase: Quando um candidato trêmulo ______ eu
Considere as orações: … sabíamos respeitar os mais lhe faria a pergunta mais deliciosa de todas.
velhos! / E quando eles falavam nós calávamos a boca! (A) entrasse
Alterando apenas o tempo dos verbos destacados (B) entraria
para o tempo presente, sem qualquer outro ajuste, (C) entrava
tem-se, de acordo com a norma-padrão da língua por- (D) entrar
tuguesa: (E) entrou
(A) … soubemos respeitar os mais velhos! / E quan-
do eles falaram nós calamos a boca! O verbo “faria” está no futuro do pretérito, ou seja, in-
(B) … saberíamos respeitar os mais velhos! / E quan- dica que é uma ação que, para acontecer, depende de ou-
do eles falassem nós calaríamos a boca! tra. Exemplo: Quando um candidato entrasse, eu faria / Se
(C) … soubéssemos respeitar os mais velhos! / E ele entrar, eu farei / Caso ele entre, eu faço...
quando eles falassem nós calaríamos a boca!
(D) … saberemos respeitar os mais velhos! / E quan- RESPOSTA: “A”.
do eles falarem nós calaremos a boca!
(E) … sabemos respeitar os mais velhos! / E quando 18-) (TJ/SP – AGENTE DE FISCALIZAÇÃO JUDICIÁ-
eles falam nós calamos a boca! RIA – VUNESP/2010 - ADAPTADA)
Assinale a alternativa de concordância que pode ser
No presente: nós sabemos / eles falam. considerada correta como variante da frase do texto –
A maioria considera aceitável que um convidado che-
RESPOSTA: “E”. gue mais de duas horas ...

108
LÍNGUA PORTUGUESA

(A) A maioria dos cariocas consideram aceitável 20-) (POLÍCIA CIVIL/SP – AGENTE POLICIAL - VU-
que um convidado chegue mais de duas horas... NESP/2013) De acordo com a norma- padrão da
(B) A maioria dos cariocas considera aceitáveis que língua portuguesa, o acento indicativo de crase está
um convidado chegue mais de duas horas... corretamente empregado em:
(C) As maiorias dos cariocas considera aceitáveis (A) A população, de um modo geral, está à espera
que um convidado chegue mais de duas horas... de que, com o novo texto, a lei seca possa coibir os aci-
(D) As maiorias dos cariocas consideram aceitáveis dentes.
que um convidado chegue mais de duas horas... (B) A nova lei chega para obrigar os motoristas à
(E) As maiorias dos cariocas consideram aceitável repensarem a sua postura.
que um convidado cheguem mais de duas horas... (C) A partir de agora os motoristas estarão sujeitos
à punições muito mais severas.
Fiz as indicações: (D) À ninguém é dado o direito de colocar em risco
(A) A maioria dos cariocas consideram (ou considera, a vida dos demais motoristas e de pedestres.
(E) Cabe à todos na sociedade zelar pelo cumpri-
tanto faz) aceitável que um convidado chegue mais de
mento da nova lei para que ela possa funcionar.
duas horas...
(B) A maioria dos cariocas considera (ok) aceitáveis
(A) A população, de um modo geral, está à espera (dá
(aceitável) que um convidado chegue mais de duas horas... para substituir por “esperando”) de que
(C) As (A) maiorias (maioria) dos cariocas considera (ok) (B) A nova lei chega para obrigar os motoristas à re-
aceitáveis (aceitável) que um convidado chegue mais de pensarem (antes de verbo)
duas horas... (C) A partir de agora os motoristas estarão sujeitos à
(D) As (A) maiorias (maioria) dos cariocas consideram punições (generalizando, palavra no plural)
(ok) aceitáveis (aceitável) que um convidado chegue mais (D) À ninguém (pronome indefinido)
de duas horas... (E) Cabe à todos (pronome indefinido)
(E) As (A) maiorias (maioria) dos cariocas consideram
(ok) aceitável que um convidado cheguem (chegue) mais RESPOSTA: “A”.
de duas horas...
(TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
RESPOSTA: “A”. - ESCREVENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO – VUNESP/2013 -
ADAPTADO) Leia o texto, para responder às questões
19-) (TJ/SP – AGENTE DE FISCALIZAÇÃO JUDICIÁ- de números 21 e 22.
RIA – VUNESP/2010) Assinale a alternativa em que as Veja, aí estão eles, a bailar seu diabólico “pas de
palavras são acentuadas graficamente pelos mesmos deux” (*): sentado, ao fundo do restaurante, o cliente
motivos que justificam, respectivamente, as acentua- paulista acena, assovia, agita os braços num agônico
ções de: década, relógios, suíços. polichinelo; encostado à parede, marmóreo e impas-
(A) flexíveis, cartório, tênis. sível, o garçom carioca o ignora com redobrada aten-
(B) inferência, provável, saída. ção. O paulista estrebucha: “Amigô?!”, “Chefê?!”, “Par-
(C) óbvio, após, países. ceirô?!”; o garçom boceja, tira um fiapo do ombro, olha
(D) islâmico, cenário, propôs. pro lustre.
(E) república, empresária, graúda. Eu disse “cliente paulista”, percebo a redundância:
o paulista é sempre cliente. Sem querer estereotipar,
mas já estereotipando: trata-se de um ser cujas inte-
Década = proparoxítona / relógios = paroxítona termi-
rações sociais terminam, 99% das vezes, diante da per-
nada em ditongo / suíços = regra do hiato
gunta “débito ou crédito?”.[...] Como pode ele entender
(A) flexíveis e cartório = paroxítonas terminadas em
que o fato de estar pagando não garantirá a atenção do
ditongo / tênis = paroxítona terminada em “i” (seguida garçom carioca? Como pode o ignóbil paulista, nascido
de “s”) e criado na crua batalha entre burgueses e proletários,
(B) inferência = paroxítona terminada em ditongo / compreender o discreto charme da aristocracia?
provável = paroxítona terminada em “l” / saída = regra do Sim, meu caro paulista: o garçom carioca é antes
hiato de tudo um nobre. Um antigo membro da corte que
(C) óbvio = paroxítona terminada em ditongo / após esconde, por trás da carapinha entediada, do descaso
= oxítona terminada em “o” + “s” / países = regra do hiato e da gravata borboleta, saudades do imperador. [...]
(D) islâmico = proparoxítona / cenário = paroxítona Se deixou de bajular os príncipes e princesas do século
terminada em ditongo / propôs = oxítona terminada em 19, passou a servir reis e rainhas do 20: levou gim tô-
“o” + “s” nicas para Vinicius e caipirinhas para Sinatra, uísques
(E) república = proparoxítona / empresária = paroxíto- para Tom e leites para Nelson, recebeu gordas gorjetas
na terminada em ditongo / graúda = regra do hiato de Orson Welles e autógrafos de Rockfeller; ainda hoje
fala de futebol com Roberto Carlos e ouve conselhos de
RESPOSTA: “E”. João Gilberto. Continua tão nobre quanto sempre foi,
seu orgulho permanece intacto.

109
LÍNGUA PORTUGUESA

Até que chega esse paulista, esse homem bidimensio- 23-) (TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAU-
nal e sem poesia, de camisa polo, meia soquete e sapatê- LO - ESCREVENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO – VUNESP/2013)
nis, achando que o jacarezinho de sua Lacoste é um crachá O sentido de marmóreo (adjetivo) equivale ao da expres-
universal, capaz de abrir todas as portas. Ah, paulishhhhta são de mármore. Assinale a alternativa contendo as ex-
otááário, nenhum emblema preencherá o vazio que car- pressões com sentidos equivalentes, respectivamente, aos
regas no peito - pensa o garçom, antes de conduzi-lo à das palavras ígneo e pétreo.
última mesa do restaurante, a caminho do banheiro, e ali (A) De corda; de plástico.
esquecê-lo para todo o sempre. (B) De fogo; de madeira.
Veja, veja como ele se debate, como se debaterá ama- (C) De madeira; de pedra.
nhã, depois de amanhã e até a Quarta-Feira de Cinzas, (D) De fogo; de pedra.
maldizendo a Guanabara, saudoso das várzeas do Tietê, (E) De plástico; de cinza.
onde a desigualdade é tão mais organizada: “Ô, compa-
nheirô, faz meia hora que eu cheguei, dava pra ver um Questão que pode ser resolvida usando a lógica ou asso-
cardápio?!”. Acalme-se, conterrâneo. ciação de palavras! Veja: a ignição do carro lembra-nos fogo,
Acostume-se com sua existência plebeia. O garçom combustão... Pedra, petrificado. Encontrou a resposta?
carioca não está aí para servi-lo, você é que foi ao restau-
rante para homenageá-lo. RESPOSTA: “D”.
(Antonio Prata, Cliente paulista, garçom carioca. Folha de
S.Paulo, 06.02.2013) (TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
(*) Um tipo de coreografia, de dança. - ESCREVENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO – VUNESP/2013 -
ADAPTADO) Para responder às questões de números 24
21-) (TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAU- e 25, considere a seguinte passagem: Sem querer estereo-
LO - ESCREVENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO – VUNESP/2013) tipar, mas já estereotipando: trata-se de um ser cujas in-
Assinale a alternativa contendo passagem em que o autor terações sociais terminam, 99% das vezes, diante da per-
simula dialogar com o leitor.
gunta “débito ou crédito?”.
(A) Acalme-se, conterrâneo. Acostume-se com sua
existência plebeia.
24-) (TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAU-
(B) Ô, companheiro, faz meia hora que eu cheguei...
LO - ESCREVENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO – VUNESP/2013)
(C) Veja, aí estão eles, a bailar seu diabólico “pas de
Nesse contexto, o verbo estereotipar tem sentido de
deux”.
(A) considerar ao acaso, sem premeditação.
(D) Sim, meu caro paulista...
(E) Ah, paulishhhhta otááário... (B) aceitar uma ideia mesmo sem estar convencido
dela.
Em “meu caro paulista”, o autor está dirigindo-se a nós, (C) adotar como referência de qualidade.
leitores. (D) julgar de acordo com normas legais.
(E) classificar segundo ideias preconcebidas.
RESPOSTA: “D”.
Classificar conforme regras conhecidas, mas não confir-
22-) (TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAU- madas se verdadeiras.
LO - ESCREVENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO – VUNESP/2013)
O contexto em que se encontra a passagem – Se deixou RESPOSTA: “E”.
de bajular os príncipes e princesas do século 19, passou a
servir reis e rainhas do 20 (2.º parágrafo) – leva a concluir,
corretamente, que a menção a
(A) príncipes e princesas constitui uma referência em
sentido não literal.
(B) reis e rainhas constitui uma referência em sentido
não literal.
(C) príncipes, princesas, reis e rainhas constitui uma
referência em sentido não literal.
(D) príncipes, princesas, reis e rainhas constitui uma
referência em sentido literal.
(E) reis e rainhas constitui uma referência em sentido
literal.

Pela leitura do texto infere-se que os “reis e rainhas” do


século 20 são as personalidades da mídia, os “famosos” e “fa-
mosas”. Quanto a príncipes e princesas do século 19, esses
eram da corte, literalmente.

RESPOSTA: “B”.

110
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

1. Conceito de Internet e Intranet...................................................................................................................................................................... 01


2. Ferramentas e aplicativos de navegação, de correio eletrônico, de grupo de discussão, de busca e pesquisa. .......... 01
3. Procedimentos, aplicativos, dispositivos para armazenamento de dados e para realização de cópia de segurança
(backup). ..................................................................................................................................................................................................................... 10
4. Principais aplicativos para edição de textos, planilhas eletrônicas, geração de material escrito, audiovisual e ou-
tros. ......................................................................................................................................................................................................................13
5. Pacote Microsoft Office..................................................................................................................................................................................... 13
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

• Provedores de Acesso: São instituições que se conec-


1. CONCEITO DE INTERNET E INTRANET. tam à Internet via um ou mais acessos dedicados e disponi-
2. FERRAMENTAS E APLICATIVOS DE bilizam acesso à terceiros a partir de suas instalações;
NAVEGAÇÃO, DE CORREIO ELETRÔNICO, • Provedores de Informação: São instituições que dispo-
DE GRUPO DE DISCUSSÃO, DE BUSCA E nibilizam informação através da Internet.
PESQUISA.
Endereço Eletrônico ou URL
Para se localizar um recurso na rede mundial, deve-se
conhecer o seu endereço.
INTERNET Este endereço, que é único, também é considerado sua
“Imagine que fosse descoberto um continente tão URL (Uniform Resource Locator), ou Localizador de Recur-
vasto que suas dimensões não tivessem fim. Imagine um sos Universal. Boa parte dos endereços apresenta-se assim:
mundo novo, com tantos recursos que a ganância do fu- www.xxxx.com.br
turo não seria capaz de esgotar; com tantas oportunidades Onde:
que os empreendedores seriam poucos para aproveitá-las; www = protocolo da World Wide Web
e com um tipo peculiar de imóvel que se expandiria xxx = domínio
com o desenvolvimento.” com = comercial
John P. Barlow br = brasil
Os Estados Unidos temiam que em um ataque nuclear
ficassem sem comunicação entre a Casa Branca e o Pentá- WWW = World Wide Web ou Grande Teia Mundial
gono. É um serviço disponível na Internet que possui um con-
Este meio de comunicação “infalível”, até o fim da déca- junto de documentos espalhados por toda rede e disponibi-
da de 60, ficou em poder exclusivo do governo conectando lizados a qualquer um.
bases militares, em quatro localidades. Estes documentos são escritos em hipertexto, que utiliza
Nos anos 70, seu uso foi liberado para instituições uma linguagem especial, chamada HTML.
norte-americanas de pesquisa que desejassem aprimorar
a tecnologia, logo vinte e três computadores foram conec-
Domínio
tados, porém o padrão de conversação entre as máquinas
Designa o dono do endereço eletrônico em questão,
se tornou impróprio pela quantidade de equipamentos.
e onde os hipertextos deste empreendimento estão loca-
Era necessário criar um modelo padrão e universal
lizados. Quanto ao tipo do domínio, existem:
para que as máquinas continuassem trocando dados, sur-
.com = Instituição comercial ou provedor de serviço
giu então o Protocolo Padrão TCP/IP, que permitiria portan-
.edu = Instituição acadêmica
to que mais outras máquinas fossem inseridas àquela rede.
.gov = Instituição governamental
Com esses avanços, em 1972 é criado o correio eletrô-
nico, o E-mail, permitindo a troca de mensagens entre as .mil = Instituição militar norte-americana
máquinas que compunham aquela rede de pesquisa, assim .net = Provedor de serviços em redes
no ano seguinte a rede se torna internacional. .org = Organização sem fins lucrativos
Na década de 80, a Fundação Nacional de Ciência do
Brasil conectou sua grande rede à ARPANET, gerando aqui- HTTP, Hyper Texto Transfer Protocol ou Protocolo de Tras-
lo que conhecemos hoje como internet, auxiliando portanto ferência em Hipertexto
o processo de pesquisa em tecnologia e outras áreas a nível É um protocolo ou língua específica da internet, res-
mundial, além de alimentar as forças armadas brasileiras de ponsável pela comunicação entre computadores.
informação de todos os tipos, até que em 1990 caísse no Um hipertexto é um texto em formato digital, e pode
domínio público. levar a outros, fazendo o uso de elementos especiais (pa-
Com esta popularidade e o surgimento de softwares de lavras, frases, ícones, gráficos) ou ainda um Mapa Sensitivo
navegação de interface amigável, no fim da década de 90, o qual leva a outros conjuntos de informação na forma de
pessoas que não tinham conhecimentos profundos de in- blocos de textos, imagens ou sons.
formática começaram a utilizar a rede internacional. Assim, um link ou hiperlink, quando acionado com o
mouse, remete o usuário à outra parte do documento ou
Acesso à Internet outro documento.
O ISP, Internet Service Provider, ou Provedor de Serviço
de Internet, oferece principalmente serviço de acesso à In- Home Page
ternet, adicionando serviços como e-mail, hospedagem de Sendo assim, home page designa a página inicial, prin-
sites ou blogs, ou seja, são instituições que se conectam cipal do site ou web page.
à Internet com o objetivo de fornecer serviços à ela É muito comum os usuários confundirem um Blog ou
relacionados, e em função do serviço classificam-se em: Perfil no Orkut com uma Home Page, porém são coisas dis-
• Provedores de Backbone: São instituições que cons- tintas, aonde um Blog é um diário e um Perfil no Orkut é
troem e administram backbones de longo alcance, ou seja, um Profile, ou seja um hipertexto que possui informações
estrutura física de conexão, com o objetivo de fornecer aces- de um usuário dentro de uma comunidade virtual.
so à Internet para redes locais;

1
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

HTML, Hyper Text Markut language ou Linguagem de


Marcação de Hipertexto
É a linguagem com a qual se cria as páginas para a
web.
Suas principais características são:
• Portabilidade (Os documentos escritos em HTML de-
vem ter aparência semelhante nas diversas plataformas de
trabalho);
• Flexibilidade (O usuário deve ter a liberdade de “cus-
tomizar” diversos elementos do documento, como o ta-
manho padrão da letra, as cores, etc);
• Tamanho Reduzido (Os documentos devem ter
um tamanho reduzido, a fim de economizar tempo na
transmissão através da Internet, evitando longos perío-
dos de espera e congestionamento na rede).

Browser ou Navegador Entre cada par de camadas adjacentes há uma interfa-


É o programa específico para visualizar as páginas da ce. A interface define quais operações primitivas e serviços
web. a camada inferior oferece à camada superior. Quando os
O Browser lê e interpreta os documentos escritos em projetistas decidem quantas camadas incluir em uma rede
HTML, apresentando as páginas formatadas para os e o que cada camada deve fazer, uma das considerações
usuários. mais importantes é definir interfaces limpas entre as cama-
das. Isso requer, por sua vez, que cada camada desempe-
ARQUITETURAS DE REDES nhe um conjunto específico de funções bem compreendi-
As modernas redes de computadores são projetadas das. Além de minimizar a quantidade de informações que
de forma altamente estruturada. Nas seções seguintes deve ser passada de camada em camada, interfaces bem
examinaremos com algum detalhe a técnica de estrutu- definidas também tornam fácil a troca da implementação
ração. de uma camada por outra implementação completamente
diferente (por exemplo, trocar todas as linhas telefônicas
HIERARQUIAS DE PROTOCOLOS por canais de satélite), pois tudo o que é exigido da nova
Para reduzir a complexidade de projeto, a maioria das implementação é que ela ofereça à camada superior exa-
redes é organizada em camadas ou níveis, cada uma cons- tamente os mesmos serviços que a implementação antiga
truída sobre sua predecessora. O número de camadas, o oferecia.
nome, o conteúdo e a função de cada camada diferem O conjunto de camadas e protocolos é chamado de
de uma rede para outra. No entanto, em todas as redes, arquitetura de rede. A especificação de arquitetura deve
o propósito de cada camada é oferecer certos serviços às conter informações suficientes para que um implementa-
camadas superiores, protegendo essas camadas dos de- dor possa escrever o programa ou construir o hardware de
talhes de como os serviços oferecidos são de fato imple- cada camada de tal forma que obedeça corretamente ao
mentados. protocolo apropriado. Nem os detalhes de implementação
A camada n em uma máquina estabelece uma con- nem a especificação das interfaces são parte da arquitetura,
versão com a camada n em outra máquina. As regras e pois esses detalhes estão escondidos dentro da máquina e
convenções utilizadas nesta conversação são chamadas não são visíveis externamente. Não é nem mesmo neces-
coletivamente de protocolo da camada n, conforme ilus- sário que as interfaces em todas as máquinas em uma rede
trado na Figura abaixo para uma rede com sete camadas. sejam as mesmas, desde que cada máquina possa usar cor-
As entidades que compõem as camadas correspondentes retamente todos os protocolos.
em máquinas diferentes são chamadas de processos par-
ceiros. Em outras palavras, são os processos parceiros que O endereço IP
se comunicam utilizando o protocolo. Quando você quer enviar uma carta a alguém, você...
Na verdade, nenhum dado é transferido diretamente Ok, você não envia mais cartas; prefere e-mail ou deixar um
da camada n em uma máquina para a camada n em outra recado no Facebook. Vamos então melhorar este exemplo:
máquina. Em vez disso, cada camada passa dados e infor- quando você quer enviar um presente a alguém, você ob-
mações de controle para a camada imediatamente abaixo, tém o endereço da pessoa e contrata os Correios ou uma
até que o nível mais baixo seja alcançado. Abaixo do nível transportadora para entregar. É graças ao endereço que é
1 está o meio físico de comunicação, através do qual a co- possível encontrar exatamente a pessoa a ser presenteada.
municação ocorre. Na Figura abaixo, a comunicação virtual Também é graças ao seu endereço - único para cada resi-
é mostrada através de linhas pontilhadas e a comunicação dência ou estabelecimento - que você recebe suas contas
física através de linhas sólidas. de água, aquele produto que você comprou em uma loja
on-line, enfim.

2
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Na internet, o princípio é o mesmo. Para que o seu Classe A: 0.0.0.0 até 127.255.255.255 - permite até 128
computador seja encontrado e possa fazer parte da rede redes, cada uma com até 16.777.214 dispositivos conectados;
mundial de computadores, necessita ter um endereço úni- Classe B: 128.0.0.0 até 191.255.255.255 - permite até
co. O mesmo vale para websites: este fica em um servidor, 16.384 redes, cada uma com até 65.536 dispositivos;
que por sua vez precisa ter um endereço para ser localiza- Classe C: 192.0.0.0 até 223.255.255.255 - permite até
do na internet. Isto é feito pelo endereço IP (IP Address), 2.097.152 redes, cada uma com até 254 dispositivos;
recurso que também é utilizado para redes locais, como a Classe D: 224.0.0.0 até 239.255.255.255 - multicast;
existente na empresa que você trabalha, por exemplo. Classe E: 240.0.0.0 até 255.255.255.255 - multicast reser-
O endereço IP é uma sequência de números composta vado.
de 32 bits. Esse valor consiste em um conjunto de quatro
sequências de 8 bits. Cada uma destas é separada por um As três primeiras classes são assim divididas para aten-
ponto e recebe o nome de octeto ou simplesmente byte, já der às seguintes necessidades:
que um byte é formado por 8 bits. O número 172.31.110.10 - Os endereços IP da classe A são usados em locais onde
é um exemplo. Repare que cada octeto é formado por nú- são necessárias poucas redes, mas uma grande quantida-
meros que podem ir de 0 a 255, não mais do que isso. de de máquinas nelas. Para isso, o primeiro byte é utilizado
como identificador da rede e os demais servem como iden-
tificador dos dispositivos conectados (PCs, impressoras, etc);
- Os endereços IP da classe B são usados nos casos onde
a quantidade de redes é equivalente ou semelhante à quan-
tidade de dispositivos. Para isso, usam-se os dois primeiros
bytes do endereço IP para identificar a rede e os restantes
para identificar os dispositivos;
- Os endereços IP da classe C são usados em locais que
requerem grande quantidade de redes, mas com poucos
dispositivos em cada uma. Assim, os três primeiros bytes são
A divisão de um IP em quatro partes facilita a organi- usados para identificar a rede e o último é utilizado para
zação da rede, da mesma forma que a divisão do seu en- identificar as máquinas.
dereço em cidade, bairro, CEP, número, etc, torna possível Quanto às classes D e E, elas existem por motivos espe-
a organização das casas da região onde você mora. Neste ciais: a primeira é usada para a propagação de pacotes espe-
sentido, os dois primeiros octetos de um endereço IP po- ciais para a comunicação entre os computadores, enquanto
dem ser utilizados para identificar a rede, por exemplo. Em que a segunda está reservada para aplicações futuras ou
uma escola que tem, por exemplo, uma rede para alunos experimentais.
e outra para professores, pode-se ter 172.31.x.x para uma Vale frisar que há vários blocos de endereços reservados
rede e 172.32.x.x para a outra, sendo que os dois últimos para fins especiais. Por exemplo, quando o endereço começa
octetos são usados na identificação de computadores. com 127, geralmente indica uma rede “falsa”, isto é, inexisten-
te, utilizada para testes. No caso do endereço 127.0.0.1, este
Classes de endereços IP sempre se refere à própria máquina, ou seja, ao próprio host,
Neste ponto, você já sabe que os endereços IP podem razão esta que o leva a ser chamado de localhost. Já o endere-
ser utilizados tanto para identificar o seu computador den- ço 255.255.255.255 é utilizado para propagar mensagens para
tro de uma rede, quanto para identificá-lo na internet. todos os hosts de uma rede de maneira simultânea.
Se na rede da empresa onde você trabalha o seu com-
putador tem, como exemplo, IP 172.31.100.10, uma má- Endereços IP privados
quina em outra rede pode ter este mesmo número, afinal, Há conjuntos de endereços das classes A, B e C que são
ambas as redes são distintas e não se comunicam, sequer privados. Isto significa que eles não podem ser utilizados na
internet, sendo reservados para aplicações locais. São, es-
sabem da existência da outra. Mas, como a internet é uma
sencialmente, estes:
rede global, cada dispositivo conectado nela precisa ter um
-Classe A: 10.0.0.0 à 10.255.255.255;
endereço único. O mesmo vale para uma rede local: nesta,
-Classe B: 172.16.0.0 à 172.31.255.255;
cada dispositivo conectado deve receber um endereço úni- -Classe C: 192.168.0.0 à 192.168.255.255.
co. Se duas ou mais máquinas tiverem o mesmo IP, tem-se Suponha então que você tenha que gerenciar uma rede
então um problema chamado “conflito de IP”, que dificulta com cerca de 50 computadores. Você pode alocar para es-
a comunicação destes dispositivos e pode inclusive atrapa- tas máquinas endereços de 192.168.0.1 até 192.168.0.50, por
lhar toda a rede. exemplo. Todas elas precisam de acesso à internet. O que
Para que seja possível termos tanto IPs para uso em re- fazer? Adicionar mais um IP para cada uma delas? Não. Na
des locais quanto para utilização na internet, contamos com verdade, basta conectá-las a um servidor ou equipamento
um esquema de distribuição estabelecido pelas entidades de rede - como um roteador - que receba a conexão à in-
IANA (Internet Assigned Numbers Authority) e ICANN (In- ternet e a compartilhe com todos os dispositivos conecta-
ternet Corporation for Assigned Names and Numbers) que, dos a ele. Com isso, somente este equipamento precisará
basicamente, divide os endereços em três classes principais de um endereço IP para acesso à rede mundial de compu-
e mais duas complementares. São elas: tadores.

3
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Máscara de sub-rede Se fizermos o número 2 elevado pela quantidade de bits


As classes IP ajudam na organização deste tipo de en- “trocados”, teremos a quantidade possível de sub-redes. Em
dereçamento, mas podem também representar desperdí- nosso caso, temos 2^3 = 8. Temos então a possibilidade de
cio. Uma solução bastante interessante para isso atende criar até oito sub-redes. Sobrou cinco bits para o endereça-
pelo nome de máscara de sub-rede, recurso onde parte dos mento dos host. Fazemos a mesma conta: 2^5 = 32. Assim,
números que um octeto destinado a identificar dispositivos temos 32 dispositivos em cada sub-rede (estamos fazendo
conectados (hosts) é “trocado” para aumentar a capacidade estes cálculos sem considerar limitações que possam impedir
da rede. Para compreender melhor, vamos enxergar as clas- o uso de todos os hosts e sub-redes).
ses A, B e C da seguinte forma: 11100000 corresponde a 224, logo, a máscara resultante
- A: N.H.H.H; é 255.255.255.224.
- B: N.N.H.H; Perceba que esse esquema de “trocar” bits pode ser em-
- C: N.N.N.H. pregado também em endereços classes A e B, conforme a
N significa Network (rede) e H indica Host. Com o uso necessidade. Vale ressaltar também que não é possível utili-
de máscaras, podemos fazer uma rede do N.N.H.H se “trans- zar 0.0.0.0 ou 255.255.255.255 como máscara.
formar” em N.N.N.H. Em outras palavras, as máscaras de sub
IP estático e IP dinâmico
-rede permitem determinar quantos octetos e bits são des-
IP estático (ou fixo) é um endereço IP dado permanente-
tinados para a identificação da rede e quantos são utilizados
mente a um dispositivo, ou seja, seu número não muda, ex-
para identificar os dispositivos.
Para isso, utiliza-se, basicamente, o seguinte esquema: se ceto se tal ação for executada manualmente. Como exemplo,
um octeto é usado para identificação da rede, este receberá há casos de assinaturas de acesso à internet via ADSL onde
a máscara de sub-rede 255. Mas, se um octeto é aplicado o provedor atribui um IP estático aos seus assinantes. Assim,
para os dispositivos, seu valor na máscara de sub-rede será sempre que um cliente se conectar, usará o mesmo IP.
0 (zero). A tabela a seguir mostra um exemplo desta relação: O IP dinâmico, por sua vez, é um endereço que é dado
a um computador quando este se conecta à rede, mas que
muda toda vez que há conexão. Por exemplo, suponha que
Identificador
Identificador
Máscara
você conectou seu computador à internet hoje. Quando
Classe Endereço IP
da rede
do
de sub-rede você conectá-lo amanhã, lhe será dado outro IP. Para enten-
computador der melhor, imagine a seguinte situação: uma empresa tem
80 computadores ligados em rede. Usando IPs dinâmicos, a
A 10.2.68.12 10 2.68.12 255.0.0.0
empresa disponibiliza 90 endereços IP para tais máquinas.
B 172.31.101.25 172.31 101.25 255.255.0.0 Como nenhum IP é fixo, um computador receberá, quando
C 192.168.0.10 192.168.0 10 255.255.255.0 se conectar, um endereço IP destes 90 que não estiver sen-
do utilizado. É mais ou menos assim que os provedores de
Você percebe então que podemos ter redes com másca- internet trabalham.
ra 255.0.0.0, 255.255.0.0 e 255.255.255.0, cada uma indicando O método mais utilizado na distribuição de IPs dinâmicos
uma classe. Mas, como já informado, ainda pode haver situa- é o protocolo DHCP (Dynamic Host Configuration Protocol).
ções onde há desperdício. Por exemplo, suponha que uma
faculdade tenha que criar uma rede para cada um de seus IP nos sites
cinco cursos. Cada curso possui 20 computadores. A solu- Você já sabe que os sites na Web também necessitam de
ção seria então criar cinco redes classe C? Pode ser melhor um IP. Mas, se você digitar em seu navegador www.infowes-
do que utilizar classes B, mas ainda haverá desperdício. Uma ter.com, por exemplo, como é que o seu computador sabe
forma de contornar este problema é criar uma rede classe qual o IP deste site ao ponto de conseguir encontrá-lo?
C dividida em cinco sub-redes. Para isso, as máscaras nova- Quando você digitar um endereço qualquer de um site,
mente entram em ação. um servidor de DNS (Domain Name System) é consultado.
Nós utilizamos números de 0 a 255 nos octetos, mas Ele é quem informa qual IP está associado a cada site. O sis-
estes, na verdade, representam bytes (linguagem binária). tema DNS possui uma hierarquia interessante, semelhante a
255 em binário é 11111111. O número zero, por sua vez,
uma árvore (termo conhecido por programadores). Se, por
é 00000000. Assim, a máscara de um endereço classe C,
exemplo, o site www.infowester.com é requisitado, o sistema
255.255.255.0, é:
envia a solicitação a um servidor responsável por termina-
11111111.11111111.11111111.00000000
ções “.com”. Esse servidor localizará qual o IP do endereço
Perceba então que, aqui, temos uma máscara formada
por 24 bits 1: 11111111 + 11111111 + 11111111. Para criar- e responderá à solicitação. Se o site solicitado termina com
mos as nossas sub-redes, temos que ter um esquema com “.br”, um servidor responsável por esta terminação é consul-
25, 26 ou mais bits, conforme a necessidade e as possibilida- tado e assim por diante.
des. Em outras palavras, precisamos trocar alguns zeros do
último octeto por 1. IPv6
Suponha que trocamos os três primeiros bits do último O mundo está cada vez mais conectado. Se, em um pas-
octeto (sempre trocamos da esquerda para a direita), resul- sado não muito distante, você conectava apenas o PC da sua
tando em: casa à internet, hoje o faz com o celular, com o seu notebook
11111111.11111111.11111111.11100000 em um serviço de acesso Wi-Fi no aeroporto e assim por

4
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

diante. Somando este aspecto ao fato de cada vez mais pes- Perceba, no entanto, que se você estiver conectado a
soas acessarem a internet no mundo inteiro, nos deparamos partir de uma rede local - tal como uma rede wireless -
com um grande problema: o número de IPs disponíveis deixa visualizará o IP que esta disponibiliza à sua conexão. Para
de ser suficiente para toda as (futuras) aplicações. saber o endereço IP do acesso à internet em uso pela rede,
A solução para este grande problema (grande mesmo, você pode visitar sites como whatsmyip.org.
afinal, a internet não pode parar de crescer!) atende pelo
nome de IPv6, uma nova especificação capaz de suportar até Provedor
- respire fundo - 340.282.366.920.938.463.463.374.607.431.7 O provedor é uma empresa prestadora de serviços que
68.211.456 de endereços, um número absurdamente alto! oferece acesso à Internet. Para acessar a Internet, é neces-
sário conectar-se com um computador que já esteja na In-
ternet (no caso, o provedor) e esse computador deve per-
mitir que seus usuários também tenham acesso a Internet.
No Brasil, a maioria dos provedores está conectada
à Embratel, que por sua vez, está conectada com outros
computadores fora do Brasil. Esta conexão chama-se link,
que é a conexão física que interliga o provedor de acesso
com a Embratel. Neste caso, a Embratel é conhecida como
backbone, ou seja, é a “espinha dorsal” da Internet no Bra-
sil. Pode-se imaginar o backbone como se fosse uma ave-
nida de três pistas e os links como se fossem as ruas que
estão interligadas nesta avenida.
Tanto o link como o backbone possui uma velocidade
O IPv6 não consiste, necessariamente, apenas no au- de transmissão, ou seja, com qual velocidade ele transmite
mento da quantidade de octetos. Um endereço do tipo os dados. Esta velocidade é dada em bps (bits por segun-
pode ser, por exemplo: do). Deve ser feito um contrato com o provedor de acesso,
FEDC:2D9D:DC28:7654:3210:FC57:D4C8:1FFF que fornecerá um nome de usuário, uma senha de acesso
e um endereço eletrônico na Internet.
Finalizando
Com o surgimento do IPv6, tem-se a impressão de que URL - Uniform Resource Locator
a especificação tratada neste texto, o IPv4, vai sumir do Tudo na Internet tem um endereço, ou seja, uma iden-
mapa. Isso até deve acontecer, mas vai demorar bastante. tificação de onde está localizado o computador e quais re-
Durante essa fase, que podemos considerar de transição, cursos este computador oferece. Por exemplo, a URL:
o que veremos é a “convivência” entre ambos os padrões. http://www.novaconcursos.com.br
Não por menos, praticamente todos os sistemas operacio- Será mais bem explicado adiante.
nais atuais e a maioria dos dispositivos de rede estão aptos
a lidar tanto com um quanto com o outro. Por isso, se você Como descobrir um endereço na Internet?
é ou pretende ser um profissional que trabalha com redes
ou simplesmente quer conhecer mais o assunto, procure se Para que possamos entender melhor, vamos exempli-
aprofundar nas duas especificações. ficar.
A esta altura, você também deve estar querendo des- Você estuda em uma universidade e precisa fazer algu-
cobrir qual o seu IP. Cada sistema operacional tem uma mas pesquisas para um trabalho. Onde procurar as infor-
forma de mostrar isso. Se você é usuário de Windows, por mações que preciso?
exemplo, pode fazê-lo digitando cmd em um campo do Para isso, existem na Internet os “famosos” sites de
Menu Iniciar e, na janela que surgir, informar ipconfig /all procura, que são sites que possuem um enorme banco de
e apertar Enter. Em ambientes Linux, o comando é ifconfig. dados (que contém o cadastro de milhares de Home Pa-
ges), que permitem a procura por um determinado assun-
to. Caso a palavra ou o assunto que foi procurado exista
em alguma dessas páginas, será listado toda esta relação
de páginas encontradas.
A pesquisa pode ser realizada com uma palavra, refe-
rente ao assunto desejado. Por exemplo, você quer pesqui-
sar sobre amortecedores, caso não encontre nada como
amortecedores, procure como autopeças, e assim suces-
sivamente.

Barra de endereços

5
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

A Barra de Endereços possibilita que se possa navegar - Áudio/Vídeo (Arquivos WAV, MID, AVI, etc.).
em páginas da internet, bastando para isto digitar o ende- - Visualizadores de Imagens (Arquivos JPG, GIF, BMP,
reço da página. PCX, etc.).
Alguns sites interessantes: - Negócios e Utilitários
• www.diariopopular.com.br (Jornal Diário Popular) - Apresentações
• www.ufpel.tche.br (Ufpel)
• www.cefetrs.tche.br (Cefet) FTP - Transferência de Arquivos
• www.servidor.gov.br (Informações sobre servidor pú- Permite copiar arquivos de um computador da Internet
blico) para o seu computador.
• www.siapenet.gog.br (contracheque) Os programas disponíveis na Internet podem ser:
• www.pelotas.com.br (Site Oficial de Pelotas) • Freeware: Programa livre que pode ser distribuído e
• www.mec.gov.br (Ministério da Educação) utilizado livremente, não requer nenhuma taxa para sua utili-
zação, e não é considerado “pirataria” a cópia deste programa.
Identificação de endereços de um site • Shareware: Programa demonstração que pode ser
Exemplo: http://www.pelotas.com.br utilizado por um determinado prazo ou que contém alguns
http:// -> (Hiper Text Tranfer Protocol) protocolo de limites, para ser utilizado apenas como um teste do progra-
comunicação ma. Se o usuário gostar ele compra, caso contrário, não usa
WWW -> (World Wide Web) Grande rede mundial mais o programa. Na maioria das vezes, esses programas
pelotas -> empresa ou organização que mantém o site exibem, de tempos em tempos, uma mensagem avisando
.com -> tipo de organização que ele deve ser registrado. Outros tipos de shareware têm
......br -> identifica o país tempo de uso limitado. Depois de expirado este tempo de
Tipos de Organizações: teste, é necessário que seja feito a compra deste programa.
.edu -> instituições educacionais. Exemplo: michigam.
edu Navegar nas páginas
.com -> instituções comerciais. Exemplo: microsoft. Consiste percorrer as páginas na internet a partir de um
documento normal e de links das próprias páginas.
com
.gov -> governamental. Exemplo: fazenda.gov
Como salvar documentos, arquivos e sites
.mil -> instalação militar. Exemplo: af.mil
Clique no menu Arquivo e na opção Salvar como.
.net -> computadores com funções de administrar re-
des. Exemplo: embratel.net
Como copiar e colar para um editor de textos
.org -> organizações não governamentais. Exemplo:
Selecionar o conteúdo ou figura da página. Clicar com o
care.org
botão direito do mouse e escolha a opção Copiar.
Home Page
Pela definição técnica temos que uma Home Page é
um arquivo ASCII (no formato HTML) acessado de compu-
tadores rodando um Navegador (Browser), que permite o
acesso às informações em um ambiente gráfico e multimí-
dia. Todo em hipertexto, facilitando a busca de informações
dentro das Home Pages.
O endereço de Home Pages tem o seguinte formato:
http://www.endereço.com/página.html
Por exemplo, a página principal da Pronag: Abra o editor de texto clique em colar
http://www.pronag.com.br/index.html
Navegadores
PLUG-INS O navegador de WWW é a ferramenta mais importante
Os plug-ins são programas que expandem a capacida- para o usuário de Internet. É com ele que se podem visitar
de do Browser em recursos específicos - permitindo, por museus, ler revistas eletrônicas, fazer compras e até partici-
exemplo, que você toque arquivos de som ou veja filmes par de novelas interativas. As informações na Web são or-
em vídeo dentro de uma Home Page. As empresas de soft- ganizadas na forma de páginas de hipertexto, cada um com
ware vêm desenvolvendo plug-ins a uma velocidade im- seu endereço próprio, conhecido como URL. Para começar
pressionante. Maiores informações e endereços sobre plu- a navegar, é preciso digitar um desses endereços no campo
g-ins são encontradas na página: chamado Endereço no navegador. O software estabelece a
http://www.yahoo.com/Computers_and_Internet/Soft- conexão e traz, para a tela, a página correspondente.
ware/Internet/World_Wide_Web/Browsers/Plug_Ins/Indices/ O navegador não precisa de nenhuma configuração
Atualmente existem vários tipos de plug-ins. Abaixo especial para exibir uma página da Web, mas é necessário
temos uma relação de alguns deles: ajustar alguns parâmetros para que ele seja capaz de enviar
- 3D e Animação (Arquivos VRML, MPEG, QuickTime, e receber algumas mensagens de correio eletrônico e aces-
etc.). sar grupos de discussão (news).

6
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

O World Wide Web foi inicialmente desenvolvido no Os sites de pesquisa em geral não fazem distinção na
Centro de Pesquisas da CERN (Conseil Europeen pour la pesquisa com letras maiúsculas e minúsculas e nem pala-
Recherche Nucleaire), Suíça. Originalmente, o WWW era vras com ou sem acento.
um meio para físicos da CERN trocar experiências sobre
suas pesquisas através da exibição de páginas de texto. Fi- Opções de pesquisa
cou claro, desde o início, o imenso potencial que o WWW
possuía para diversos tipos de aplicações, inclusive não
científicas.
O WWW não dispunha de gráficos em seus primór-
dios, apenas de hipertexto. Entretanto, em 1993, o projeto Web: pesquisa em todos os sites
WWW ganhou força extra com a inserção de um visualiza- Imagens: pesquisa por imagens anexadas nas páginas.
dor (também conhecido como browser) de páginas capaz Exemplo do resultado se uma pesquisa.
não apenas de formatar texto, mas também de exibir grá-
ficos, som e vídeo. Este browser chamava-se Mosaic e foi
desenvolvido dentro da NCSA, por um time chefiado por
Mark Andreesen. O sucesso do Mosaic foi espetacular.
Depois disto, várias outras companhias passaram a
produzir browsers que deveriam fazer concorrência ao
Mosaic. Mark Andreesen partiu para a criação da Netscape
Communications, criadora do browser Netscape.
Surgiram ainda o Cello, o AIR Mosaic, o SPRY Mosaic,
o Microsoft Internet Explorer, o Mozilla Firefox e muitos
outros browsers.

Busca e pesquisa na web


Grupos: pesquisa nos grupos de discussão da Usenet.
Os sites de busca servem para procurar por um deter- Exemplo:
minado assunto ou informação na internet.
Alguns sites interessantes:
• www.google.com.br
• http://br.altavista.com
• http://cade.search.yahoo.com
• http://br.bing.com/

Como fazer a pesquisa


Digite na barra de endereço o endereço do site de pes- Diretórios: pesquisa o conteúdo da internet organiza-
quisa. Por exemplo: dos por assunto em categorias. Exemplo:
www.google.com.br

Como escolher palavra-chave


• Busca com uma palavra: retorna páginas que in-
cluam a palavra digitada.
• “Busca entre aspas”: a pesquisa só retorna páginas
que incluam todos os seus termos de busca, ou seja, toda a
sequência de termos que foram digitadas.
• Busca com sinal de mais (+): a pesquisa retorna
Em pesquisar pode-se escolher onde será feita a pesquisa. páginas que incluam todas
• as palavras aleatoriamente na página.
• Busca com sinal de menos (-): as palavras que fi-
cam antes do sinal de
• menos são excluídas da pesquisa.
• Resultado de um cálculo: pode ser efetuado um
cálculo em um site de pesquisa.

7
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Por exemplo: 3+4 presas. Em outras palavras, uma intranet consiste em uma
rede privativa de computadores que se baseia nos padrões
de comunicação de dados da Internet pública, baseadas na
Irá retornar: tecnologia usada na Internet (páginas HTML, e-mail, FTP,
etc.) que vêm, atualmente fazendo muito sucesso. Entre
O resultado da pesquisa as razões para este sucesso, estão o custo de implantação
O resultado da pesquisa é visualizado da seguinte forma: relativamente baixo e a facilidade de uso propiciada pelos
programas de navegação na Web, os browsers.

Objetivo de construir uma Intranet


Organizações constroem uma intranet porque ela é
uma ferramenta ágil e competitiva. Poderosa o suficien-
te para economizar tempo, diminuir as desvantagens da
distância e alavancar sobre o seu maior patrimônio de
capital-funcionários com conhecimentos das operações e
produtos da empresa.

Aplicações da Intranet
INTRANET Já é ponto pacífico que apoiarmos a estrutura de co-
A Intranet ou Internet Corporativa é a implantação de municações corporativas em uma intranet dá para simpli-
uma Internet restrita apenas a utilização interna de uma ficar o trabalho, pois estamos virtualmente todos na mes-
empresa. As intranets ou Webs corporativas, são redes de ma sala. De qualquer modo, é cedo para se afirmar onde
comunicação internas baseadas na tecnologia usada na In- a intranet vai ser mais efetiva para unir (no sentido opera-
ternet. Como um jornal editado internamente, e que pode cional) os diversos profissionais de uma empresa. Mas em
ser acessado apenas pelos funcionários da empresa. algumas áreas já se vislumbram benefícios, por exemplo:
A intranet cumpre o papel de conectar entre si filiais e • Marketing e Vendas - Informações sobre pro-
departamentos, mesclando (com segurança) as suas infor- dutos, listas de preços, promoções, planejamento de
mações particulares dentro da estrutura de comunicações eventos;
da empresa. • Desenvolvimento de Produtos - OT (Orientação
O grande sucesso da Internet, é particularmente da de Trabalho), planejamentos, listas de responsabilidades
World Wide Web (WWW) que influenciou muita coisa na de membros das equipes, situações de projetos;
evolução da informática nos últimos anos. • Apoio ao Funcionário - Perguntas e respostas,
Em primeiro lugar, o uso do hipertexto (documentos sistemas de melhoria contínua (Sistema de Sugestões),
interligados através de vínculos, ou links) e a enorme facili- manuais de qualidade;
dade de se criar, interligar e disponibilizar documentos mul- • Recursos Humanos - Treinamentos, cursos, apos-
timídia (texto, gráficos, animações, etc.), democratizaram o tilas, políticas da companhia, organograma, oportunida-
acesso à informação através de redes de computadores. Em des de trabalho, programas de desenvolvimento pessoal,
segundo lugar, criou-se uma gigantesca base de usuários, já benefícios.
familiarizados com conhecimentos básicos de informática e Para acessar as informações disponíveis na Web cor-
de navegação na Internet. Finalmente, surgiram muitas fer- porativa, o funcionário praticamente não precisa ser trei-
ramentas de software de custo zero ou pequeno, que permi- nado. Afinal, o esforço de operação desses programas se
tem a qualquer organização ou empresa, sem muito esforço,
resume quase somente em clicar nos links que remetem
“entrar na rede” e começar a acessar e colocar informação.
às novas páginas. No entanto, a simplicidade de uma in-
O resultado inevitável foi a impressionante explosão na in-
tranet termina aí. Projetar e implantar uma rede desse tipo
formação disponível na Internet, que segundo consta, está
dobrando de tamanho a cada mês. é uma tarefa complexa e exige a presença de profissionais
Assim, não demorou muito a surgir um novo conceito, especializados. Essa dificuldade aumenta com o tamanho
que tem interessado um número cada vez maior de empresas, da intranet, sua diversidade de funções e a quantidade de
hospitais, faculdades e outras organizações interessadas em informações nela armazenadas.
integrar informações e usuários: a intranet. Seu advento e dis- A intranet é baseada em quatro conceitos:
seminação promete operar uma revolução tão profunda para • Conectividade - A base de conexão dos compu-
a vida organizacional quanto o aparecimento das primeiras re- tadores ligados através de uma rede, e que podem trans-
des locais de computadores, no final da década de 80. ferir qualquer tipo de informação digital entre si;
• Heterogeneidade - Diferentes tipos de computa-
O que é Intranet? dores e sistemas operacionais podem ser conectados de
O termo “intranet” começou a ser usado em meados de forma transparente;
1995 por fornecedores de produtos de rede para se referi- • Navegação - É possível passar de um documento
rem ao uso dentro das empresas privadas de tecnologias a outro através de referências ou vínculos de hipertexto,
projetadas para a comunicação por computador entre em- que facilitam o acesso não linear aos documentos;

8
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

• Execução Distribuída - Determinadas tarefas de A Internet e a Web ficaram famosas, com justa razão,
acesso ou manipulação na intranet só podem ocorrer gra- por serem uma mistura caótica de informações úteis e irrele-
ças à execução de programas aplicativos, que podem es- vantes, o meteórico aumento da popularidade de sites da Web
tar no servidor, ou nos microcomputadores que acessam a dedicados a índices e mecanismos de busca é uma medida
rede (também chamados de clientes, daí surgiu à expres- da necessidade de uma abordagem organizada. Uma intranet
são que caracteriza a arquitetura da intranet: cliente-servi- aproveita a utilidade da Internet e da Web num ambiente con-
dor). A vantagem da intranet é que esses programas são trolado e seguro.
ativados através da WWW, permitindo grande flexibilidade.
Determinadas linguagens, como Java, assumiram grande Vantagens e Desvantagens da Intranet
importância no desenvolvimento de softwares aplicativos Alguns dos benefícios são:
que obedeçam aos três conceitos anteriores. • Redução de custos de impressão, papel, distribuição de
software, e-mail e processamento de pedidos;
Como montar uma Intranet • Redução de despesas com telefonemas e pessoal no su-
Basicamente a montagem de uma intranet consiste em porte telefônico;
usar as estruturas de redes locais existentes na maioria das • Maior facilidade e rapidez no acesso as informações téc-
empresas, e em instalar um servidor Web. nicas e de marketing;
Servidor Web - É a máquina que faz o papel de repo- • Maior rapidez e facilidade no acesso a localizações re-
sitório das informações contidas na intranet. É lá que os motas;
clientes vão buscar as páginas HTML, mensagens de e-mail • Incrementando o acesso a informações da concorrência;
ou qualquer outro tipo de arquivo. • Uma base de pesquisa mais compreensiva;
• Facilidade de acesso a consumidores (clientes) e parcei-
Protocolos - São os diferentes idiomas de comunica- ros (revendas);
ção utilizados. O servidor deve abrigar quatro protocolos. • Aumento da precisão e redução de tempo no acesso à
O primeiro é o HTTP, responsável pela comunicação do informação;
browser com o servidor, em seguida vem o SMTP ligado ao • Uma única interface amigável e consistente para apren-
envio de mensagens pelo e-mail, e o FTP usado na transfe- der e usar;
rência de arquivos. Independentemente das aplicações uti- • Informação e treinamento imediato (Just in Time);
• As informações disponíveis são visualizadas com clareza;
lizadas na intranet, todas as máquinas nela ligadas devem
• Redução de tempo na pesquisa a informações;
falar um idioma comum: o TCP/IP, protocolo da Internet.
• Compartilhamento e reutilização de ferramentas e infor-
mação;
Identificação do Servidor e das Estações - Depois de
• Redução no tempo de configuração e atualização dos
definidos os protocolos, o sistema já sabe onde achar as
sistemas;
informações e como requisitá-las. Falta apenas saber o
• Simplificação e/ou redução das licenças de software e
nome de quem pede e de quem solicita. Para isso existem
outros;
dois programas: o DNS que identifica o servidor e o DHCP
• Redução de custos de documentação;
(Dinamic Host Configuration Protocol) que atribui nome às • Redução de custos de suporte;
estações clientes. • Redução de redundância na criação e manutenção de
Estações da Rede - Nas estações da rede, os funcio- páginas;
nários acessam as informações colocadas à sua disposição • Redução de custos de arquivamento;
no servidor. Para isso usam o Web browser, software que • Compartilhamento de recursos e habilidade.
permite folhear os documentos.
Alguns dos empecilhos são:
Comparando Intranet com Internet • Aplicativos de Colaboração - Os aplicativos de cola-
Na verdade as diferenças entre uma intranet e a In- boração, não são tão poderosos quanto os oferecidos pelos
ternet, é uma questão de semântica e de escala. Ambas programas para grupos de trabalho tradicionais. É necessário
utilizam as mesmas técnicas e ferramentas, os mesmos configurar e manter aplicativos separados, como e-mail e ser-
protocolos de rede e os mesmos produtos servidores. O vidores Web, em vez de usar um sistema unificado, como faria
conteúdo na Internet, por definição, fica disponível em es- com um pacote de software para grupo de trabalho;
cala mundial e inclui tudo, desde uma home-page de al- • Número Limitado de Ferramentas - Há um número limi-
guém com seis anos de idade até as previsões do tempo. tado de ferramentas para conectar um servidor Web a bancos
A maior parte dos dados de uma empresa não se destina de dados ou outros aplicativos back-end. As intranets exigem
ao consumo externo, na verdade, alguns dados, tais como uma rede TCP/IP, ao contrário de outras soluções de software
as cifras das vendas, clientes e correspondências legais, de- para grupo de trabalho que funcionam com os protocolos de
vem ser protegidos com cuidado. E, do ponto de vista da transmissão de redes local existentes;
escala, a Internet é global, uma intranet está contida den- • Ausência de Replicação Embutida – As intranets não
tro de um pequeno grupo, departamento ou organização apresentam nenhuma replicação embutida para usuários
corporativa. No extremo, há uma intranet global, mas ela remotos. A HMTL não é poderosa o suficiente para desen-
ainda conserva a natureza privada de uma Internet menor. volver aplicativos cliente/servidor.

9
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Como a Intranet é ligada à Internet EXTRANET


A Extranet de uma empresa é a porção de sua rede de
computadores que faz uso da Internet para partilhar com
segurança parte do seu sistema de informação.
A Extranet de uma empresa é a porção de sua rede de
computadores que faz uso da Internet para partilhar com
segurança parte do seu sistema de informação.
Tomado o termo em seu sentido mais amplo, o concei-
to confunde-se com Intranet. Uma Extranet também pode
ser vista como uma parte da empresa que é estendida a
usuários externos (“rede extra-empresa”), tais como repre-
sentantes e clientes. Outro uso comum do termo Extranet
ocorre na designação da “parte privada” de um site, onde
somente “usuários registrados” podem navegar, previa-
mente autenticados por sua senha (login).

Empresa estendida
O acesso à intranet de uma empresa através de um
Portal (internet) estabelecido na web de forma que pessoas
Segurança da Intranet e funcionários de uma empresa consigam ter acesso à in-
Três tecnologias fornecem segurança ao armazena- tranet através de redes externas ao ambiente da empresa.
mento e à troca de dados em uma rede: autenticação, con- Uma extranet é uma intranet que pode ser acessada via
trole de acesso e criptografia. Web por clientes ou outros usuários autorizados. Uma in-
Autenticação - É o processo que consiste em verificar tranet é uma rede restrita à empresa que utiliza as mesmas
se um usuário é realmente quem alega ser. Os documen- tecnologias presentes na Internet, como e-mail, webpages,
tos e dados podem ser protegidos através da solicitação servidor FTP etc.
de uma combinação de nome do usuário/senha, ou da ve- A ideia de uma extranet é melhorar a comunicação en-
rificação do endereço IP do solicitante, ou de ambas. Os tre os funcionários e parceiros além de acumular uma base
usuários autenticados têm o acesso autorizado ou negado de conhecimento que possa ajudar os funcionários a criar
a recursos específicos de uma intranet, com base em uma novas soluções.
ACL (Access Control List) mantida no servidor Web; Exemplificando uma rede de conexões privadas, basea-
da na Internet, utilizada entre departamentos de uma em-
Criptografia - É a conversão dos dados para um for- presa ou parceiros externos, na cadeia de abastecimento,
mato que pode ser lido por alguém que tenha uma chave trocando informações sobre compras, vendas, fabricação,
secreta de descriptografia. Um método de criptografia am- distribuição, contabilidade entre outros.
plamente utilizado para a segurança de transações Web é a
tecnologia de chave pública, que constitui a base do HTTPS
- um protocolo Web seguro; 3. PROCEDIMENTOS, APLICATIVOS,
DISPOSITIVOS PARA ARMAZENAMENTO DE
Firewall - Você pode proporcionar uma comunicação DADOS E PARA REALIZAÇÃO DE CÓPIA DE
segura entre uma intranet e a Internet através de servi- SEGURANÇA (BACKUP).
dores proxy, que são programas que residem no firewall
e permitem (ou não) a transmissão de pacotes com base
no serviço que está sendo solicitado. Um proxy HTTP, por
CÓPIAS DE SEGURANÇA (BACKUP)
exemplo, pode permitir que navegadores Webs internos
da empresa acessem servidores Web externos, mas não o Existem muitas maneiras de perder informações em
contrário. um computador involuntariamente. Uma criança usando o
Dispositivos para realização de Cópias de Segurança teclado como se fosse um piano, uma queda de energia,
Os dispositivos para a realização de cópias de seguran- um relâmpago, inundações. E algumas vezes o equipamen-
ça do(s) servidor(es) constituem uma das peças de especial to simplesmente falha. Em modos gerais o backup é uma
importância. Por exemplo, unidades de disco amovíveis tarefa essencial para todos os que usam computadores e
com grande capacidade de armazenamento, tapes... / ou outros dispositivos, tais como máquinas digitais de
Queremos ainda referir que para o funcionamento de fotografia, leitores de MP3, etc.
uma rede existem outros conceitos como topologias/con- O termo backup também pode ser utilizado para hard-
figurações (rede linear, rede em estrela, rede em anel, rede ware significando um equipamento para socorro (funciona
em árvore, rede em malha …), métodos de acesso, tipos como um pneu socorro do veículo) pode ser uma impres-
de cabos, protocolos de comunicação, velocidade de trans- sora, cpu ou monitor etc.. que servirá para substituir tem-
missão … porariamente um desses equipamentos que estejam com
problemas.

10
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Atualmente os mais conhecidos meios de backups • Para ver o conteúdo de uma subpasta (uma pasta
são: CD-ROM, DVD e Disco Rígido Externo, pendrives e dentro de outra pasta) clique duas vezes sobre a pasta de-
fitas magnéticas. Na prática existem inúmeros softwares sejada do lado direito do “Windows Explorer”;
para criação de backups e a posterior reposição. Como por • Depois de visualizar os arquivos ou pastas que se
exemplo o Norton Ghost da Symantec. deseja copiar no lado direito do “Windows Explorer”, se-
Se você costuma fazer cópias de backup dos seus ar- lecione-os (clicando sobre o arquivo ou pasta, este ficará
quivos regularmente e os mantêm em um local separado, destacado);
você pode obter uma parte ou até todas as informações • Clique com o botão direito do mouse sobre o arquivo
de volta caso algo aconteça aos originais no computador. “Copiar”;
A decisão sobre quais arquivos incluir no backup é • Clique na unidade correspondente ao dispositivo no
muito pessoal. Tudo aquilo que não pode ser substituído lado esquerdo do “Windows Explorer”;
facilmente deve estar no topo da sua lista. Antes de come- • Clique com o botão direito do mouse no espaço em
çar, faça uma lista de verificação de todos os arquivos a branco do lado direito, e escolha “Colar”;
serem incluídos no backup. Isso o ajudará a determinar o
que precisa de backup, além de servir de lista de referência Selecionando Vários Arquivos
para recuperar um arquivo de backup.
Eis algumas sugestões para ajudá-lo a começar: • Para selecionar vários arquivos ou pastas, após sele-
• Dados bancários e outras informações financeiras cionar o primeiro segure a tecla “Ctrl” e clique nos outros
• Fotografias digitais arquivos ou pastas desejadas. Todos os arquivos (ou pas-
• Software comprado e baixado através da Internet tas) selecionados ficarão destacados.
• Projetos pessoais
• Seu catálogo de endereços de e-mail Fazendo Backup do seu Outlook
• Seu calendário do Microsoft Outlook
• Seus favoritos do Internet Explorer Todos sabem do risco que é não termos backup dos
O detalhe mais importante antes de fazer um backup nossos dados, e dentre eles se inclui as informações que
é formatar o dispositivo. Isso pode ser feito clicando com guardamos no OUTLOOK.
o botão direito do mouse sobre o ícone do dispositivo, Já imaginou ter que entrar com todos os contatos no-
dentro do ícone “Meu Computador” e selecionar a opção vamente? E seus compromissos no calendário? Pior, como
formatar. é que vai recuperar as mensagens de e-mail que você tinha
Para ter certeza que o dispositivo não está danificado, guardado?
escolha a formatação completa, que verificará cada setor Como fazer o backup das informações do Outlook, não
do disquete e mostrará para você se o disquete tem algum é uma atividade muito simples (pelo menos não há nele
dano. Sempre que um disquete tiver problemas, não copie nada automatizado), listamos aqui algumas maneiras de
arquivos de backups para ele. executar este backup e se garantir contra qualquer proble-
Bem, agora que você já sabe fazer cópias de segurança, ma! Exemplo para Outlook.
conheça os dois erros mais banais que você pode cometer 1 - Copie todas as mensagens para uma pasta separa-
e tornar o seu backup inútil: da (com isso você terá feito o backup das mensagens)
1- Fazer uma cópia do arquivo no mesmo disco. Isso 2 - Vá em Ferramentas -> Contas lá selecione todas as
não é backup, pois se acontecer algum problema no disco contas que deseja salvar e selecione Exportar. Cada conta
você vai perder os dois arquivos. será salva com a extensão (IAF) na pasta que você quiser.
2- Fazer uma cópia e apagar o original. Isso também 3 - Para exportar todos os seus contatos, abra o seu
não é backup, por motivos óbvios. catálogo de endereços do seu Outlook, então clique em
Procure utilizar arquivos compactados apenas como Arquivo -> Exportar -> Catálogo de endereços (WAB). Com
backups secundários, como imagens que geralmente ocu- esse procedimento todos os seus contatos serão armaze-
pam um espaço muito grande. nados num arquivo de extensão (WAB) com o nome que
você quiser e na pasta que você quiser.
Copiando Arquivos de um Disco Rígido (H.D.) para 4 - Para as assinaturas é simples, basta copiar o con-
um Dispositivo (Fazendo Backup) teúdo de cada assinatura que você utiliza em arquivos de
texto (TXT) separados. Depois você poderá utilizar as suas
• Clique no botão “Iniciar” (canto inferior esquerdo); assinaturas a partir dos arquivos que criou.
• Escolha “Programas”; e no menu que abre escolha 5 - Para as regras (ou filtros), você deverá ir em Ferra-
“Windows Explorer”. mentas -> Assistente de Regras -> Clicar em OPÇÕES ->
• O Windows Explorer é dividido em duas partes. Do Clicar em Exportar Regras. Será salvo um arquivo com a
lado esquerdo são exibidas as pastas (diretórios) e do lado extensão RWZ. Fazer todos esses procedimentos é mais
direito o conteúdo das pastas; trabalhoso, porém muito mais seguro.
• Para ver o conteúdo de uma pasta clique uma vez so- Outra solução, é utilizar programas específicos para
bre a pasta desejada (no lado esquerdo), e ele será exibido backup do Outlook.
do lado direito.

11
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

MEIOS DISPONÍVEIS PARA BACKUPS EM ARMA- Utilizando a ferramenta inclusa no Windows XP


ZENAMENTO EXTERNO Professional.
Se você trabalha com o Windows XP Professional, você
Entende-se por armazenamento externo qualquer me- dispõe de uma ferramenta muito útil que se encarrega de
canismo que não se encontre dentro do seu PC. Existem fazer os backups que você marcar. Siga estes passos para
várias opções, e apresentamos uma tabela com os mais co- utilizá-la:
muns, vantagens e desvantagens: 1. Clique em “Iniciar” e depois em “Todos os Progra-
mas”. 2. Dentro de “Acessórios”, aponte para “Ferramentas
CD-RW de Sistema”. 3. Escolha a opção “Backup”.
É um CD em que pode guardar/gravar suas informa- Se for a primeira vez que você utiliza essa ferramenta,
ções. Arquivos realmente preciosos que precisam ser guar- aparecerá o “Assistente de backup ou restauração”. Clique
dados com 100% de certeza de que não sofrerão danos em Avançar e siga as instruções na tela. Se você deseja um
com o passar do tempo devem ser becapeados em CDs. A guia passo a passo de como usar essa ferramenta, pode
maioria dos computadores atuais inclui uma unidade para obtê-lo em Backup do Windows XP Facilitado (em inglês).
gravar em CD-RW. O CD-ROM é a forma mais segura de Sugestão: Se você não sabe qual versão de sistema
fazer grandes backups. Cada CD armazena até 700 Mb e, operacional utiliza, dê um clique com o botão direito so-
por ser uma mídia ótica, onde os dados são gravados de bre o ícone “Meu Computador” e escolha “Propriedades”.
maneira física, é muito mais confiável que mídias magnéti- Dentro da guia “Sistema” você encontrará a versão do seu
cas sujeitas a interferências elétricas. sistema operacional.
DVD-RW Para utilizar a ferramenta de backups no Windows
A capacidade de armazenamento é muito maior, nor- XP Home Edition
malmente entre 4 e 5 gibabytes.
Se seu PC tem o Windows XP Home Edition, você pre-
Pen Drive
cisa adicionar a ferramenta de backups que vem no seu CD
São dispositivos bastante pequenos que se conectam a
original seguindo estes passos:
uma porta USB do seu equipamento.
1. Insira o CD do Windows XP (ou o que veio com seu
São muito portáteis, frequentemente são do tipo “cha-
equipamento se ele foi pré-carregado) na unidade de CD.
veiro”, ideais para backups rápidos e para mover arquivos
Se a tela de apresentação não aparecer, dê um clique duplo
entre máquinas.
sobre o ícone da unidade de CD dentro de “Meu Compu-
Você deve escolher um modelo que não seja muito
tador”.
frágil.
2. Na tela de apresentação, escolha a opção “Executar
HD Externo tarefas adicionais”.
O HD externo funciona como um periférico, como se 3. Clique em “Explorar este CD”.
fosse um Pen Drive, só que com uma capacidade infinita- 4. O Windows Explorer se abrirá. Localize a pasta
mente maior. “ValueAdd” e dê um clique duplo sobre ela, depois em Msft
e depois em NtBackup.
Backups utilizando o Windows 5. Agora, dê um clique duplo sobre o arquivo NtBackup.
msi para instalar a ferramenta de backup.
Fazer backups de sua informação não tem que ser um Nota: Ao terminar a instalação, é provável que seja so-
trabalho complicado. Você pode simplesmente recorrer ao licitado que você reinicie seu equipamento.
método Copiar e Colar, ou seja, aproveitar as ferramentas Para utilizar a ferramenta, siga estes passos:
dependendo da versão do Sistema Operacional (Windows, 1. Clique em “Iniciar” e depois em “Todos os Progra-
Linux, etc.) que você utiliza. mas”.
2. Dentro de “Acessórios”, aponte para “Ferramentas
Cópias Manuais de Sistema”.
Você pode fazer backups da sua informação com estes 3. Escolha a opção “backup”.
passos simples: Se for a primeira vez que você utiliza essa ferramenta,
1. Clique com o botão direito sobre o arquivo ou pasta aparecerá o “Assistente de backup ou restauração”. Clique
de que seja fazer backup e depois clique na opção “Copiar” em Avançar e siga as instruções na tela. Se você deseja um
no menu exibido. 2. Agora marque a unidade de backup, guia passo a passo de como usar essa ferramenta, pode
clique com o botão direito sobre ela e escolha “Colar” no obtê-lo em Backup do Windows XP Facilitado (em inglês).
menu exibido. Você pode marcar a unidade de backup ao Sugestão: Se você não sabe qual versão de sistema
localizá-la no ícone “Meu Computador”, ou seja, como uma operacional utiliza, dê um clique com o botão direito so-
das unidades do Windows Explorer. bre o ícone “Meu Computador” e escolha “Propriedades”.
Isso é tudo. Não se esqueça de verificar o backup para Dentro da guia “Sistema” você encontrará a versão do seu
se certificar que ele coube na unidade de backup e o man- sistema operacional.
tenha protegido.

12
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Recomendações para proteger seus backups

Fazer backups é uma excelente prática de segurança básica. Agora lhe damos conselhos simples para que você esteja
a salvo no dia em que precisar deles:
1. Tenha seus backups fora do PC, em outro escritório, e, se for possível, em algum recipiente à prova de incêndios,
como os cofres onde você guarda seus documentos e valores importantes.
2. Faça mais de uma cópia da sua informação e as mantenha em lugares separados.
3. Estabeleça uma idade máxima para seus backups, é melhor comprimir os arquivos que já sejam muito antigos (quase
todos os programas de backup contam com essa opção), assim você não desperdiça espaço útil.
4. Proteja seus backups com uma senha, de maneira que sua informação fique criptografada o suficiente para que nin-
guém mais possa acessá-la. Se sua informação é importante para seus entes queridos, implemente alguma forma para que
eles possam saber a senha se você não estiver presente.

*texto adaptado do material disponivel em:


https://www.vivaolinux.com.br/linux/
www.petropolis.rj.gov.br/intranet/images/intro_linux
http://www.paulobarbosa.com.br/downloads/grupos.pdf

4. PRINCIPAIS APLICATIVOS PARA EDIÇÃO


DE TEXTOS, PLANILHAS ELETRÔNICAS,
GERAÇÃO DE MATERIAL ESCRITO,
AUDIOVISUAL E OUTROS.
5. PACOTE MICROSOFT OFFICE.

MS WORD

O Word faz parte da suíte de aplicativos Office, e é considerado um dos principais produtos da Microsoft sendo a suíte
que domina o mercado de suítes de escritório, mesmo com o crescimento de ferramentas gratuitas como Google Docs e
Open Office.

Interface
No cabeçalho de nosso programa temos a barra de títulos do documento ,
que como é um novo documento apresenta como título “Documento1”. Na esquerda temos a Barra de acesso rápido,
que permite acessar alguns comandos mais rapidamente como salvar, desfazer. Você pode personalizar

essa barra, clicando no menu de contexto (flecha para baixo) à direita dela.

Mais a esquerda tem a ABA Arquivo.


Através dessa ABA, podemos criar novos documentos, abrir arquivos existentes, salvar documentos, imprimir, preparar
o documento (permite adicionar propriedades ao documento, criptografar, adicionar assinaturas digitais, etc.). Vamos uti-
lizar alguns destes recursos no andamento de nosso curso.

ABAS

Os comandos para a edição de nosso texto agora ficam agrupadas dentro destas guias. Dentro destas guias temos
os grupos de ferramentas, por exemplo, na guia Inicio, temos “Fonte”, “Parágrafo”, etc., nestes grupos fica visíveis para os
usuários os principais comandos, para acessar os demais comandos destes grupos de ferramentas, alguns destes grupos
possuem pequenas marcações na sua direita inferior.

13
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

O Word possui também guias contextuais quando determinados elementos dentro de seu texto são selecionados, por exem-
plo, ao selecionar uma imagem, ele criar na barra de guias, uma guia com a possibilidade de manipulação do elemento selecionado.

Trabalhando com documentos


Ao iniciarmos o Word temos um documento em branco que é sua área de edição de texto. Vamos digitar um pequeno
texto conforme abaixo:

14
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Salvando Arquivos Abrindo um arquivo do Word


É importante ao terminar um documento, ou durante Para abrir um arquivo, você precisa clicar na ABA Ar-
a digitação do mesmo, quando o documento a ser criado quivo.
é longo, salvar seu trabalho. Salvar consiste em armaze-
nar se documento em forma de arquivo em seu compu-
tador, pendrive, ou outro dispositivo de armazenamento.
Para salvar seu documento, clique no botão salvar no topo
da tela. Será aberta uma tela onde você poderá definir o
nome, local e formato de seu arquivo.

Na esquerda da janela, o botão abrir é o segundo abai-


xo de novo, observe também que ele mostra uma relação
de documentos recentes, nessa área serão mostrados os
últimos documentos abertos pelo Word facilitando a aber-
tura. Ao clicar em abrir, será necessário localizar o arquivo
no local onde o mesmo foi salvo.
Observe na janela de salvar que o Word procura salvar
seus arquivos na pasta Documents do usuário, você pode
mudar o local do arquivo a ser salvo, pela parte esquerda da
janela. No campo nome do arquivo, o Word normalmente
preenche com o título do documento, como o documento
não possui um título, ele pega os primeiros 255 caracteres e
atribui como nome, é aconselhável colocar um nome menor e
que se aproxime do conteúdo de seu texto. “Em Tipo a maior
mudança, até versão 2003, os documentos eram salvos no
formato”. DOC”, a partir da versão 2010, os documentos são
salvos na versão”. DOCX”, que não são compatíveis com as
versões anteriores. Para poder salvar seu documento e manter
ele compatível com versões anteriores do Word, clique na di-
reita dessa opção e mude para Documento do Word 97-2003.

Caso necessite salvar seu arquivo em outro formato,


outro local ou outro nome, clique no botão Office e esco-
lha Salvar Como.

Visualização do Documento
Podemos alterar a forma de visualização de nosso do-
cumento. No rodapé a direta da tela temos o controle de
Zoom.·. Anterior a este controle de zoom temos os botões
de forma de visualização de seu documento,
que podem também ser acessados pela Aba Exibição.

Observe que o nome de seu arquivo agora aparece na


barra de títulos.

15
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Os cinco primeiros botões são os mesmos que temos Configuração de Documentos


em miniaturas no rodapé. Um dos principais cuidados que se deve ter com seus
• Layout de Impressão: Formato atual de seu docu- documentos é em relação à configuração da página. A
mento é o formato de como seu documento ficará na folha ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) possui um
impressa. manual de regras para documentações, então é comum es-
• Leitura em Tela Inteira: Ele oculta as barras de cutar “o documento tem que estar dentro das normas”, não
seu documento, facilitando a leitura em tela, observe que vou me atentar a nenhuma das normas especificas, porém
no rodapé do documento à direita, ele possui uma flecha vou ensinar como e onde estão as opções de configuração
apontado para a próxima página. Para sair desse modo de de um documento.
visualização, clique no botão fechar no topo à direita da No Word 2010 a ABA que permite configurar sua pági-
tela. na é a ABA Layout da Página.
• Layout da Web: Aproxima seu texto de uma visua-
lização na Internet, esse formato existe, pois muitos usuá-
rios postam textos produzidos no Word em sites e blogs
na Internet.
• Estrutura de Tópicos: Permite visualizar seu docu-
mento em tópicos, o formato terá melhor compreensão
quando trabalharmos com marcadores.
• Rascunho: É o formato bruto, permite aplicar di-
versos recursos de produção de texto, porém não visualiza
como impressão nem outro tipo de meio.
O terceiro grupo de ferramentas da Aba exibição per-
mite trabalhar com o Zoom da página. Ao clicar no botão
Zoom o Word apresenta a seguinte janela:

O grupo “Configurar Página”, permite definir as mar-


gens de seu documento, ele possui alguns tamanhos pré-
definidos, como também personalizá-las.
Ao personalizar as margens, é possível alterar as mar-
gens superior, esquerda, inferior e direita, definir a orien-
tação da página, se retrato ou paisagem, configurar a fora
de várias páginas, como normal, livro, espelho. Ainda nessa
mesma janela temos a guia Papel.

Onde podemos utilizar um valor de zoom predefinido,


ou colocarmos a porcentagem desejada, podemos visuali-
zar o documento em várias páginas. E finalizando essa aba
temos as formas de exibir os documentos aberto em uma
mesma seção do Word.

Nesta guia podemos definir o tipo de papel, e fonte de


alimentação do papel.

16
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Ao clicar em mais Colunas, é possível personalizar as


suas colunas, o Word disponibiliza algumas opções pré-
definidas, mas você pode colocar em um número maior de
colunas, adicionar linha entre as colunas, definir a largura
e o espaçamento entre as colunas. Observe que se você
pretende utilizar larguras de colunas diferentes é preciso
desmarcar a opção “Colunas de mesma largura”. Atente
também que se preciso adicionar colunas a somente uma
parte do texto, eu preciso primeiro selecionar esse texto.

A terceira guia dessa janela chama-se Layout. A primei-


ra opção dessa guia chama-se seção. Aqui se define como
será uma nova seção do documento, vamos aprender mais Números de Linha
frente como trabalhar com seções.
Em cabeçalhos e rodapés podemos definir se vamos É bastante comum em documentos acrescentar nume-
utilizar cabeçalhos e rodapés diferentes nas páginas pares ração nas páginas dos documentos, o Word permite que
e ímpares, e se quero ocultar as informações de cabeçalho você possa fazer facilmente, clicando no botão “Números
e rodapé da primeira página. Em Página, pode-se definir o de Linhas”.
alinhamento do conteúdo do texto na página. O padrão é
o alinhamento superior, mesmo que fique um bom espa-
ço em branco abaixo do que está editado. Ao escolher a
opção centralizada, ele centraliza o conteúdo na vertical. A
opção números de linha permite adicionar numeração as
linhas do documento.

Ao clicar em “Opções de Numeração de Linhas...”,


abre-se a janela que vimos em Layout.

Plano de Fundo da Página

Colunas

Podemos adicionar as páginas do documento, marcas


d’água, cores e bordas. O grupo Plano de Fundo da Página
possui três botões para modificar o documento.
Clique no botão Marca d’água.

17
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Selecionando Textos
Embora seja um processo simples, a seleção de tex-
tos é indispensável para ganho de tempo na edição de seu
texto. Através da seleção de texto podemos mudar a cor,
tamanho e tipo de fonte, etc.
Selecionando pelo Mouse
Ao posicionar o mouse mais a esquerda do texto, o
cursor aponta para a direita.
• Ao dar um clique ele seleciona toda a linha
• Ao dar um duplo clique ele seleciona todo o pa-
rágrafo.
• Ao dar um triplo clique seleciona todo o texto
Com o cursor no meio de uma palavra:
• Ao dar um clique o cursor se posiciona onde foi clicado
• Ao dar um duplo clique, ele seleciona toda a palavra.
• Ao dar um triplo clique ele seleciona todo o parágrafo
Podemos também clicar, manter o mouse pressionado
e arrastar até onde se deseja selecionar. O problema é que
se o mouse for solto antes do desejado, é preciso reiniciar
o processo, ou pressionar a tecla SHIFT no teclado e clicar
ao final da seleção desejada. Podemos também clicar onde
começa a seleção, pressionar a tecla SHIFT e clicar onde
termina a seleção. É possível selecionar palavras alternadas.
Selecione a primeira palavra, pressione CTRL e vá selecio-
nando as partes do texto que deseja modificar.
O Word apresenta alguns modelos, mais abaixo temos
o item Personalizar Marca D’água. Clique nessa opção. Copiar e Colar
O copiar e colar no Word funciona da mesma forma
que qualquer outro programa, pode-se utilizar as teclas de
atalho CTRL+C (copiar), CTRL+X (Recortar) e CTRL+V(Co-
lar), ou o primeiro grupo na ABA Inicio.

Este é um processo comum, porém um cuidado importan-


te é quando se copia texto de outro tipo de meio como, por
exemplo, da Internet. Textos na Internet possuem formatações
e padrões deferentes dos editores de texto. Ao copiar um tex-
Nesta janela podemos definir uma imagem como mar- to da Internet, se você precisa adequá-lo ao seu documento,
ca d’água, basta clicar em Selecionar Imagem, escolher a não basta apenas clicar em colar, é necessário clicar na setinha
imagem e depois definir a dimensão e se a imagem fica- apontando para baixo no botão Colar, escolher Colar Especial.
rá mais fraca (desbotar) e clicar em OK. Como também é
possível definir um texto como marca d’água. O segundo
botão permite colocar uma cor de fundo em seu texto, um
recurso interessante é que o Word verifica a cor aplicada e
automaticamente ele muda a cor do texto.

O botão Bordas da Página, já estudamos seu funciona-


mento ao clicar nas opções de Margens.

18
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Observe na imagem que ele traz o texto no formato Formatação de Fonte


HTML. Precisa-se do texto limpo para que você possa ma- A formatação de fonte diz respeito ao tipo de letra,
nipulá-lo, marque a opção Texto não formatado e clique tamanho de letra, cor, espaçamento entre caracteres, etc.,
em OK. para formatar uma palavra, basta apenas clicar sobre ela,
para duas ou mais é necessário selecionar o texto, se quiser
Localizar e Substituir formatar somente uma letra também é necessário selecio-
Ao final da ABA Inicio temos o grupo edição, dentro nar a letra. No grupo Fonte, temos visível o tipo de letra,
dela temos a opção Localizar e a opção Substituir. Clique tamanho, botões de aumentar fonte e diminuir fonte, lim-
na opção Substituir. par formatação, negrito, itálico, sublinhado, observe que ao
lado de sublinhado temos uma seta apontando para baixo,
ao clicar nessa seta, é possível escolher tipo e cor de linha.

A janela que se abre possui três guias, localizar, Substi-


tuir e Ir para. A guia substituir que estamos vendo, permi-
te substituir em seu documento uma palavra por outra. A
substituição pode ser feita uma a uma, clicando em subs-
tituir, ou pode ser todas de uma única vez clicando-se no
Ao lado do botão de sublinhado temos o botão Ta-
botão Substituir Tudo.
chado – que coloca um risco no meio da palavra, botão
Algumas vezes posso precisar substituir uma palavra
subscrito e sobrescrito e o botão Maiúsculas e Minúsculas.
por ela mesma, porém com outra cor, ou então somente
quando escrita em maiúscula, etc., nestes casos clique no
botão Mais. As opções são:
• Pesquisar: Use esta opção para indicar a direção
da pesquisa;
• Diferenciar maiúsculas de minúsculas: Será localiza-
da exatamente a palavra como foi digitada na caixa localizar.
• Palavras Inteiras: Localiza uma palavra inteira e
não parte de uma palavra. Ex: Atenciosamente.
• Usar caracteres curinga: Procura somente as pa-
lavras que você especificou com o caractere coringa. Ex.
Se você digitou *ão o Word vai localizar todas as palavras
terminadas em ão. Este botão permite alterar a colocação de letras maiús-
• Semelhantes: Localiza palavras que tem a mesma culas e minúsculas em seu texto. Após esse botão temos
sonoridade, mas escrita diferente. Disponível somente para o de realce – que permite colocar uma cor de fundo para
palavras em inglês. realçar o texto e o botão de cor do texto.
• Todas as formas de palavra: Localiza todas as for-
mas da palavra, não será permitida se as opções usar carac-
tere coringa e semelhantes estiverem marcadas.
• Formatar: Localiza e Substitui de acordo com o es-
pecificado como formatação.
• Especial: Adiciona caracteres especiais à caixa lo-
calizar. A caixa de seleção usar caracteres curinga.

Formatação de texto
Um dos maiores recursos de uma edição de texto é a
possibilidade de se formatar o texto. No Office 2010 a ABA
responsável pela formatação é a Inicio e os grupo Fonte,
Parágrafo e Estilo.

19
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Podemos também clicar na Faixa no grupo Fonte. Formatação de parágrafos

A principal regra da formatação de parágrafos é que


independente de onde estiver o cursor a formatação será
aplicada em todo o parágrafo, tendo ele uma linha ou mais.
Quando se trata de dois ou mais parágrafos será necessá-
rioselecionar os parágrafos a serem formatados. A forma-
tação de parágrafos pode ser localizada na ABA Inicio, e os
recuos também na ABA Layout da Página.

A janela fonte contém os principais comandos de No grupo da Guia Inicio, temos as opções de marcado-
formatação e permite que você possa observar as altera- res (bullets e numeração e listas de vários níveis), diminuir
ções antes de aplica. Ainda nessa janela temos a opção e aumentar recuo, classificação e botão Mostrar Tudo, na
Avançado. segunda linha temos os botões de alinhamentos: esquer-
da, centralizado, direita e justificado, espaçamento entre li-
nhas, observe que o espaçamento entre linhas possui uma
seta para baixo, permitindo que se possa definir qual o es-
paçamento a ser utilizado.

Cor do Preenchimento do Parágrafo.

Podemos definir a escala da fonte, o espaçamento en-


tre os caracteres que pode ser condensado ou comprimido,
a posição é referente ao sobrescrito e subscrito, permitindo
que se faça algo como: .

Kerning: é o acerto entre o espaço dentro das palavras,


pois algumas vezes acontece de as letras ficaram com es-
paçamento entre elas de forma diferente. Uma ferramenta
interessante do Word é a ferramenta pincel, pois com ela
você pode copiar toda a formatação de um texto e aplicar
em outro.

20
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Bordas no parágrafo. As opções disponíveis são praticamente as mesmas


disponíveis pelo grupo.
Podemos trabalhar os recuos de texto também pelas
réguas superiores.

Marcadores e Numeração

Os marcadores e numeração fazem parte do grupo


parágrafos, mas devido a sua importância, merecem um
destaque. Existem dois tipos de marcadores: Símbolos e
Numeração.

Na guia parágrafo da ABA Layout de Página temos


apenas os recuos e os espaçamentos entre parágrafos. Ao
clicar na Faixa do grupo Parágrafos, será aberta a janela de
Formatação de Parágrafos.

A opção vários níveis é utilizada quando nosso texto


tenha níveis de marcação como, por exemplo, contratos e
petições. Os marcadores do tipo Símbolos como o nome já
diz permite adicionar símbolos a frente de seus parágrafos.
Se precisarmos criar níveis nos marcadores, basta clicar
antes do inicio da primeira palavra do parágrafo e pressio-
nar a tecla TAB no teclado.

Você pode observar que o Word automaticamente


adicionou outros símbolos ao marcador, você pode alte-
rar os símbolos dos marcadores, clicando na seta ao lado
do botão Marcadores e escolhendo a opção Definir Novo
Marcador.

21
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Ao clicar em Símbolo, será mostrada a seguinte janela:

Onde você poderá escolher a Fonte (No caso acon-


selha-se a utilizar fontes de símbolos como a Winddings,
Webdings), e depois o símbolo. Ao clicar em Imagem, você
poderá utilizar uma imagem do Office, e ao clicar no botão
importar, poderá utilizar uma imagem externa.
Podemos começar escolhendo uma definição de borda
Bordas e Sombreamento (caixa, sombra, 3D e outra), ou pode-se especificar cada uma
das bordas na direita onde diz Visualização. Pode-se pelo
Podemos colocar bordas e sombreamentos em nosso meio da janela especificar cor e largura da linha da borda.
texto. Podem ser bordas simples aplicadas a textos e pará- A Guia Sombreamento permite atribuir um preenchimento
grafos. Bordas na página como vimos quando estudamos a de fundo ao texto selecionado. Você pode escolher uma cor
ABA Layout da Página e sombreamentos. Selecione o texto base, e depois aplicar uma textura junto dessa cor.
ou o parágrafo a ser aplicado à borda e ao clicar no botão
de bordas do grupo Parágrafo, você pode escolher uma Cabeçalho e Rodapé
borda pré-definida ou então clicar na última opção Bordas O Word sempre reserva uma parte das margens para o
e Sombreamento. cabeçalho e rodapé. Para acessar as opções de cabeçalho e
rodapé, clique na ABA Inserir, Grupo Cabeçalho e Rodapé.

22
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Ele é composto de três opções Cabeçalho, Rodapé e Número de Página.

Ao clicar em Cabeçalho o Word disponibiliza algumas opções de caixas para que você possa digitar seu texto. Ao clicar
em Editar Cabeçalho o Word edita a área de cabeçalho e a barra superior passa a ter comandos para alteração do cabeçalho.

A área do cabeçalho é exibida em um retângulo pontilhado, o restante do documento fica em segundo plano. Tudo o que
for inserido no cabeçalho será mostrado em todas as páginas, com exceção se você definiu seções diferentes nas páginas.

23
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Para aplicar números de páginas automaticamente em seu cabeçalho basta clicar em Números de Página, apenas tome
o cuidado de escolher Inicio da Página se optar por Fim da Página ele aplicará o número da página no rodapé. Podemos
também aplicar cabeçalhos e rodapés diferentes a um documento, para isso basta que ambos estejam em seções diferentes
do documento. O cuidado é ao aplicar o cabeçalho ou o rodapé, desmarcar a opção Vincular ao anterior.
O funcionamento para o rodapé é o mesmo para o cabeçalho, apenas deve-se clicar no botão Rodapé.

Data e Hora

O Word Permite que você possa adicionar um campo de Data e Hora em seu texto, dentro da ABA Inserir, no grupo
Texto, temos o botão Data e Hora.

Basta escolher o formato a ser aplicado e clicar em OK. Se precisar que esse campo sempre atualize data, marque a
opção Atualizar automaticamente.

Inserindo Elementos Gráficos

O Word permite que se insira em seus documentos arquivos gráficos como Imagem, Clip-art, Formas, etc., as opções
de inserção estão disponíveis na ABA Inserir.

24
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Imagens

O primeiro elemento gráfico que temos é o elemento Imagem. Para inserir uma imagem clique no botão com o mesmo
nome no grupo Ilustrações na ABA Inserir. Na janela que se abre, localize o arquivo de imagem em seu computador.

A imagem será inserida no local onde estava seu cursor.


O que será ensinado agora é praticamente igual para todo os elementos gráficos, que é a manipulação dos elementos
gráficos. Ao inserir a imagem é possível observar que a mesma enquanto selecionada possui uma caixa pontilhadas em
sua volta, para mover a imagem de local, basta clicar sobre ela e arrastar para o local desejado, se precisar redimensionar a
imagem, basta clicar em um dos pequenos quadrados em suas extremidades, que são chamados por Alças de redimensio-
namento. Para sair da seleção da imagem, basta apenas clicar em qualquer outra parte do texto. Ao clicar sobre a imagem,
a barra superior mostra as configurações de manipulação da imagem.

O primeiro grupo é o Ajustar, dentre as opções temos Brilho e Contraste, que permite clarear ou escurecer a imagem e
adicionar ou remover o contraste. Podemos recolorir a imagem.

Entre as opções de recolorir podemos colocar nossa imagem em tons de cinza, preto e branco, desbotar a imagem e
remover uma cor da imagem. Este recurso permite definir uma imagem com fundo transparente. A opção Compactar Ima-
gens permite deixar sua imagem mais adequada ao editor de textos. Ao clicar nesta opção o Word mostra a seguinte janela:

25
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Ao clicar na opção Mais Opções de Layout abre-se a


janela Layout Avançado que permite trabalhar a disposição
da imagem em relação ao bloco de texto no qual ela esta
inserida. Essas mesmas opções estão disponíveis na opção
Quebra Automática de Texto nesse mesmo grupo. Ao colo-
car a sua imagem em uma disposição com o texto, é habi-
litado alguns recursos da barra de imagens. Como bordas

Através deste grupo é possível acrescentar bordas a


sua imagem E no grupo Organizar ele habilita as opções de
Trazer para Frente, Enviar para Trás e Alinhar. Ao clicar no
Pode-se aplicar a compactação a imagem selecionada, botão Trazer para Frente, ele abre três opções: Trazer para
ou a todas as imagens do texto. Podemos alterar a resolução Frente e Avançar, são utilizadas quando houver duas ou
da imagem. A opção Redefinir Imagem retorna a imagem ao mais imagens e você precisa mudar o empilhamento delas.
seu estado inicial, abandonando todas as alterações feitas. O A opção Trazer para Frente do Texto faz com que a ima-
próximo grupo chama-se Sombra, como o próprio nome diz, gem flutue sobre o Texto. Ao ter mais de uma imagem e ao
permite adicionar uma sombra a imagem que foi inserida. selecionar as imagens (Utilize a tecla SHIFT), você poderá
alinhar as suas imagens.

No botão Efeitos de Sombra, você poderá escolher al-


gumas posições de sombra (Projetada, Perspectiva) e cor
da sombra. Ao lado deste botão é possível definir a posi-
ção da sombra e no meio a opção de ativar e desativar a
sombra. No grupo Organizar é possível definir a posição da
imagem em relação ao texto.

O primeiro dos botões é a Posição, ela permite definir


em qual posição a imagem deverá ficar em relação ao texto.

26
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

O último grupo é referente às dimensões da imagem. Clip Art


Clip-Art são imagens, porém são imagens que fazem
parte do pacote Office. Para inserir um clipart, basta pela
ABA Inserir, clicar na opção Clip-Art. Na direita da tela
abre-se a opção de consulta aos clip-Art.

Neste grupo você pode cortar a sua imagem, ou redi-


mensionar a imagem definindo Largura e Altura.
Os comandos vistos até o momento estavam disponí-
veis da seguinte forma, pois nosso documento esta salvo
em.DOC – versão compatível com Office XP e 2003. Ao salvar
o documento em .DOCX compatível somente com a versão
2010, acontecem algumas alterações na barra de imagens.

No grupo Ajustar já temos algumas alterações, ao cli-


car no item Cor. Em estilos de imagem podemos definir
bordas e sombreamentos para a imagem.
Clique sobre a imagem a ser adicionada ao seu texto
com o botão direito e escolha Copiar (CTRL+C). Clique em
seu texto onde o Clip-Art deve ser adicionado e clique em
Colar (CTRL+V) As configurações de manipulação do clip
-art são as mesmas das imagens.

Formas
Podemos também adicionar formas ao nosso conteú-
do do texto

Podemos aplicar também os Efeitos de Imagem

27
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Para desenhar uma forma, o processo é simples, basta Ainda nesse grupo temos a opção de trabalharmos as
clicar na forma desejada e arrastar o mouse na tela para cores, contorno e alterar a forma.
definir as suas dimensões. Ao desenhar a sua forma a barra
passa a ter as propriedade para modificar a forma.

O primeiro grupo chama-se Inserir Forma, ele possui


a ferramenta de Inserir uma forma. Ao lado temos a fer-
ramenta Editar Forma essa ferramenta permite trabalhar
os nós da forma – Algumas formas bloqueiam a utilização
dessa ferramenta. Abaixo dela temos a ferramenta de caixa
de texto, que permite adicionar uma caixa de texto ao seu
documento. Estando com uma forma fechada, podemos
transformar essa forma em uma caixa de texto. Ao lado
temos o Grupo Estilos de Forma.

Os primeiros botões permitem aplicar um estilo a sua


forma.

A opção Imagem preenche sua forma com alguma


imagem. A opção Gradação permite aplicar tons de gra-
diente em sua forma.

28
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Ao clicar em Mais Gradações, será possível personalizar Ao clicar na opção Duas Cores, você pode definir a cor
a forma como será o preenchimento do gradiente. 1 e cor 2, o nível de transparência e o sombreamento.

Na guia gradiente, temos as opções de Uma cor, Duas Ao clicar em Pré-definidas, o Office possui algumas co-
cores e Pré-definidas. res de preenchimento prontas.

Ao escolher uma cor você pode escolher a cor a ser


aplicada, se quer ela mais para o claro ou escuro, pode de-
finir a transparência do gradiente e como será o sombrea-
mento.

A Guia Textura permite aplicar imagens como texturas


ao preenchimento, a guia Padrão permite aplicar padrões
de preenchimento e imagem permite aplicar uma imagem
Após o grupo Estilos de Forma temos o grupo sombra e
após ele o grupo Efeitos 3D.

29
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Em hierarquia, escolha o primeiro da segunda linha e


clique em OK.

Podemos aplicar efeitos tridimensionais em nossas


formas. Além de aplicar o efeitos podemos mudar a cor
do 3D, alterar a profundidade, a direção, luminosidade e
superfície. As demais opções da Forma são idênticas as das
imagens.

SmartArt

O SmartArt permite ao você adicionar Organogramas


ao seu documento. Se você estiver usando o Office 2003
ou seu documento estiver salvo em DOC, ao clicar nesse
botão, ele habilita a seguinte janela:

Altere os textos conforme a sua necessidade. Ao clicar


no topo em Ferramentas SmartArt, serão mostradas as op-
ções de alteração do objeto.

O primeiro botão é o de Adicionar uma forma. Basta


clicar em um botão do mesmo nível do que será criado
e clicar neste botão. Outra forma de se criar novas caixas
Basta selecionar o tipo de organograma a ser trabalha- dentro de um mesmo nível é ao terminar de digitar o texto
do e clique em OK. Porém se o formato de seu documento pressionar ENTER. Ainda no grupo Criar Gráfico temos os
for DOCX, a janela a ser mostrada será: botões de Elevar / Rebaixar que permite mudar o nível hie-
rárquico de nosso organograma.
No grupo Layout podemos mudar a disposição de nos-
so organograma.
O próximo grupo é o Estilos de SmartArt que permite
mudar as cores e o estilo do organograma.

30
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

O primeiro grupo é o Texto, nesse grupo podemos edi-


tar o texto digitado e definir seu espaçamento e alinha-
mentos. No grupo Estilos de WordArt pode-se mudar a
forma do WordArt, depois temos os grupos de Sombra,
Efeitos 3D, Organizar e Tamanho.

Tabelas
As tabelas são com certeza um dos elementos mais im-
portantes para colocar dados em seu documento.
Use tabelas para organizar informações e criar formas
de páginas interessantes e disponibilizar seus dados.
Para inserir uma tabela, na ABA Inserir clique no botão Tabela.

WordArt
Para finalizarmos o trabalho com elementos gráficos
temo os WordArt que já um velho conhecido da suíte Offi-
ce, ele ainda mantém a mesma interface desde a versão do
Office 97 No grupo Texto da ABA Inserir temos o botão de
WorArt Selecione um formato de WordArt e clique sobre ele.

Ao clicar no botão de Tabela, você pode definir a quan-


tidade de linhas e colunas, pode clicar no item Inserir Ta-
bela ou Desenhar a Tabela, Inserir uma planilha do Excel ou
usar uma Tabela Rápida que nada mais são do que tabelas
prontas onde será somente necessário alterar o conteúdo.

Será solicitado a digitação do texto do WordArt. Digite


seu texto e clique em OK. Será mostrada a barra do WordArt

31
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Você pode criar facilmente uma tabela mais complexa, por exemplo, que contenha células de diferentes alturas ou um
número variável de colunas por linha semelhante à maneira como você usa uma caneta para desenhar uma tabela.
Ao desenhar a caixa que fará parte da tabela, você pode utilizar o topo

Ferramentas de Tabela.

Através do grupo Opções de Estilo de Tabela é possível definir células de cabeçalho. O grupo Estilos de Tabela permite
aplicar uma formatação a sua tabela e o grupo Desenhar Bordas permite definir o estilo, espessura e cor da linha. O botão
Desenhar Tabela transforma seu cursor em um lápis para desenhar as células de sua tabela, e o botão Borracha apaga as
linhas da tabela.
Você pode observar também que ao estar com alguma célula da tabela com o cursor o Word acrescenta mais uma ABA
ao final, chamada Layout, clique sobre essa ABA.

O primeiro grupo Tabela permite selecionar em sua tabela, apenas uma célula, uma linha, uma coluna ou toda a tabela.

Ao clicar na opção Propriedades será aberto uma janela com as propriedades da janela.

32
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Nesta janela existem quatro Guias. A opção dividir células permite dividir uma célula. Ao
A primeira é relativa à tabela, pode-se definir a largura clicar nessa opção será mostrada uma janela onde você
da tabela, o alinhamento e a quebra do texto na tabela. Ao deve definir em quantas linhas e colunas a célula será di-
clicar no botão Bordas e Sombreamento abre-se a janela vidida.
de bordas e sombreamento estudada anteriormente. Ao
clicar em Opções é possível definir as margens das células
e o espaçamento entre as células.

A opção dividir tabela insere um parágrafo acima da


célula que o cursor está, dividindo a tabela. O grupo Tama-
nho da Célula permite definir a largura e altura da célula.
A opção AutoAjuste tem a função de ajustar sua célula de
acordo com o conteúdo dentro dela.

O segundo grupo é o Linhas e Colunas permite adicio-


nar e remover linhas e colunas de sua tabela. O grupo Alinhamento permite definir o alinhamento
do conteúdo da tabela. O botão Direção do Texto permite
mudar a direção de seu texto. A opção Margens da Célula,
permite alterar as margens das células como vimos ante-
riormente.

Ao clicar na Faixa deste grupo ele abre uma janela onde


é possível deslocar células, inserir linhas e colunas. O ter-
ceiro grupo é referente à divisão e mesclagem de células.

O grupo Dados permite classificar, criar cálculos, etc.,


em sua tabela.

A opção Mesclar Células, somente estará disponível se A opção classificar como o próprio nome diz permite
você selecionar duas ou mais células. Esse comando permi- classificar os dados de sua tabela.
te fazer com que as células selecionadas tornem-se uma só.

33
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Ele abre a seguinte janela e coloca sua primeira linha como a linha de cabeçalho, você pode colocar até três colunas
como critérios de classificação.
O botão Converter em Texto permite transformar sua tabela em textos normal. A opção fórmula permite fazer cálculos
na tabela.

ABA Revisão
A ABA revisão é responsável por correção, proteção, comentários etc., de seu documento.

O primeiro grupo Revisão de Texto tem como principal botão o de ortografia e Gramática, clique sobre ele.

O objetivo desta ferramenta e verificar todo o seu documento em busca de erros.

Os de ortografia ele marca em vermelho e os de gramática em verde. É importante lembrar que o fato dele marcar com
cores para verificação na impressão sairá com as cores normais. Ao encontrar uma palavra considerada pelo Word como
errada você pode:
• Ignorar uma vez: Ignora a palavra somente nessa parte do texto.
• Ignorar Todas: Ignora a palavra quando ela aparecer em qualquer parte do texto.
• Adicionar ao dicionário: Adiciona a palavra ao dicionário do Word, ou seja, mesmo que ela apareça em outro texto
ela não será grafada como errada. Esta opção deve ser utilizada quando palavras que existam, mas que ainda não façam
parte do Word.
• Alterar: Altera a palavra. Você pode alterá-la por uma palavra que tenha aparecido na caixa de sugestões, ou se
você a corrigiu no quadro superior.
• Alterar Todas: Faz a alteração em todas as palavras que estejam da mesma forma no texto.

34
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Impressão

Para imprimir seu documento o processo é muito sim-


ples. Clique no botão
Office e ao posicionar o mouse em Imprimir ele abre
algumas opções.

Podemos também se necessário criarmos nossos pró-


prios estilos. Clique na Faixa do grupo Estilo.

Estilos

Os estilos podem ser considerados formatações pron-


tas a serem aplicadas em textos e parágrafos. O Word dis-
ponibiliza uma grande quantidade de estilos através do
grupo estilos.

Para aplicar um estilo ao um texto é simples. Se você


clicar em seu texto sem selecioná-lo, e clicar sobre um esti-
lo existente, ele aplica o estilo ao parágrafo inteiro, porém
se algum texto estiver selecionado o estilo será aplicado Será mostrado todos os estilos presentes no documen-
somente ao que foi selecionado. to em uma caixa à direita. Na parte de baixo da janela exis-
tem três botões, o primeiro deles chama-se Novo Estilo,
clique sobre ele.

Observe na imagem acima que foi aplicado o estilo Tí-


tulo2 em ambos os textos, mas no de cima como foi clicado
somente no texto, o estilo está aplicado ao parágrafo, na
linha de baixo o texto foi selecionado, então a aplicação do
estilo foi somente no que estava selecionado. Ao clicar no
botão Alterar Estilos é possível acessar a diversas defini-
ções de estilos através da opção Conjunto de Estilos.

35
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

No exemplo dei o nome de Citações ao meu estilo, de- Será mostrada uma janela de configuração de seu índi-
fini que ele será aplicado a parágrafos, que a base de cria- ce. Clique no botão Opções.
ção dele foi o estilo corpo e que ao finalizar ele e iniciar um
novo parágrafo o próximo será também corpo.
Abaixo definir a formatação a ser aplicada no mesmo.
Na parte de baixo mantive a opção dele aparecer nos esti-
los rápidos e que o mesmo está disponível somente a este
documento. Ao finalizar clique em OK. Veja um exemplo do
estilo aplicado:

Índices

Sumário

O Sumário ou Índice Analítico é o mais utilizado, ele


normalmente aparece no inicio de documentos. A princi-
pal regra é que todo parágrafo que faça parte de seu índi-
ce precisa estar atrelado a um estilo. Clique no local onde Será aberta outra janela, nesta janela aparecem todos
você precisa que fique seu índice e clique no botão Sumá- os estilos presentes no documento, então é nela que você
rio. Serão mostrados alguns modelos de sumário, clique define quais estilos farão parte de seu índice.
em Inserir Sumário. No exemplo apliquei o nível 1 do índice ao estilo Título
1, o nível 2 ao Título 2 e o nível 3 ao Título 3. Após definir
quais serão suas entradas de índice clique em OK.
Retorna-se a janela anterior, onde você pode definir
qual será o preenchimento entre as chamadas de índice e
seu respectivo número de página e na parte mais abaixo,
você pode definir o Formato de seu índice e quantos níveis
farão parte do índice.
Ao clicar em Ok, seu índice será criado.

Quando houver necessidade de atualizar o índice, bas-


ta clicar com o botão direito do mouse em qualquer parte
do índice e escolher Atualizar Campo.

Na janela que se abre escolha Atualizar o índice inteiro.

36
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

MS EXCEL

O Excel é uma das melhores planilhas existentes no


mercado. As planilhas eletrônicas são programas que se
assemelham a uma folha de trabalho, na qual podemos
colocar dados ou valores em forma de tabela e aproveitar
a grande capacidade de cálculo e armazenamento do
computador para conseguir efetuar trabalhos que,
normalmente, seriam resolvidos com uma calculadora, lápis
e papel. A tela do computador se transforma numa folha
onde podemos observar uma série de linhas (números) e
colunas (letras). A cada encontro de uma linha com uma
coluna temos uma célula onde podemos armazenar um
texto, um valor, funções ou fórmula para os cálculos. O
Excel oferece, inicialmente, em uma única pasta de trabalho Na janela que é mostrada é possível inserir uma nova
três planilhas, mas é claro que você poderá inserir mais planilha, excluir uma planilha existente, renomear uma pla-
planilhas conforma sua necessidade. nilha, mover ou copiar essa planilha, etc...

Interface Movimentação na planilha


A interface do Excel segue o padrão dos aplicativos Of- Para selecionar uma célula ou torná-la ativa, basta mo-
fice, com ABAS, Botão Office, controle de Zoom na direita. vimentar o retângulo (cursor) de seleção para a posição de-
O que muda são alguns grupos e botões exclusivos do Ex- sejada. A movimentação poderá ser feita através do mouse
cel e as guias de planilha no rodapé à esquerda: ou teclado.
Com o mouse para selecionar uma célula basta dar um
clique em cima dela e observe que a célula na qual você
clicou é mostrada como referência na barra de fórmulas.

Guias de Planilha
Se você precisar selecionar mais de uma célula, basta
manter pressionado o mouse e arrastar selecionando as
células em sequência.

Um arquivo do Excel ao iniciar com três guias de plani-


lha, estas guias permite que se possa em um único arqui-
vo armazenar mais de uma planilha, inicialmente o Excel
possui três planilhas, e ao final da Plan3 temos o ícone de
inserir planilha que cria uma nova planilha. Você pode clicar
com o botão direito do mouse em uma planilha existente
para manipular as planilhas.

Se precisar selecionar células alternadamente, clique


sobre a primeira célula a ser selecionada, pressione CTRL e
vá clicando nas que você quer selecionar.

37
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Dê um nome ao seu arquivo, defina o local onde ele


deverá ser salvo e clique em Salvar, o formato padrão das
planilhas do Excel 2010 é o xlsx, se precisar salvar em xls
para manter compatibilidade com as versões anteriores é
preciso em tipo definir como Pasta de Trabalho do Excel
97 – 2003.
Para abrir um arquivo existente, clique no botão Office
e depois no botão Abrir, localize seu arquivo e clique sobre
ele e depois em abrir.

Podemos também nos movimentar com o teclado,


neste caso usamos a combinação das setas do teclado com
a tecla SHIFT.

Operadores e Funções

Entrada de textos e números A função é um método utilizado para tornar mais fácil
e rápido a montagem de fórmulas que envolvem cálculos
Na área de trabalho do Excel podem ser digitados ca- mais complexos e vários valores.
racteres, números e fórmulas. Ao finalizar a digitação de Existem funções para os cálculos matemáticos, fi-
seus dados, você pode pressionar a tecla ENTER, ou com nanceiros e estatísticos. Por exemplo, na função: =SOMA
as setas mudar de célula, esse recurso somente não será (A1:A10) seria o mesmo que (A1+A2+A3+A4+A5+A6+A7
válido quando estiver efetuando um cálculo. Caso preci- +A8+A9+A10), só que com a função o processo passa a
se alterar o conteúdo de uma célula sem precisar redigitar ser mais fácil. Ainda conforme o exemplo pode-se observar
tudo novamente, clique sobre ela e pressione F2, faça sua que é necessário sempre iniciar um cálculo com sinal de
alteração e pressione ENTER em seu teclado. igual (=) e usa-se nos cálculos a referência de células (A1) e
não somente valores.
Salvando e Abrindo Arquivos A quantidade de argumentos empregados em uma
Para salvar uma planilha o processo é igual ao feito no função depende do tipo de função a ser utilizada. Os ar-
Word, clique no botão Office e clique me Salvar. gumentos podem ser números, textos, valores lógicos, re-
ferências, etc...

Operadores
Operadores são símbolos matemáticos que permitem
fazer cálculos e comparações entre as células. Os operado-
res são:

38
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Vamos montar uma planilha simples. Poderíamos fazer o seguinte cálculo =1*20 que me
traria o resultado, porém bastaria alterar o valor da quan-
tidade ou o V. unitário que eu precisaria fazer novamente
o cálculo. O correto é então é fazer =A4*C4 com isso eu
multiplico referenciando as células, independente do con-
teúdo dela, ele fará a multiplicação, desde que ali se tenha
um número.

Observe que o conteúdo de algumas células é maior


que a sua largura, podemos acertar isso da seguinte forma.
Se precisar trabalhar a largura de uma coluna, posicio-
no o mouse entre as colunas, o mouse fica com o formato
de uma flecha de duas pontas, posso arrastar para definir a
nova largura, ou posso dar um duplo clique que fará com
que a largura da coluna acerte-se com o conteúdo. Posso
também clicar com o botão direito do mouse e escolher Observe que ao fazer o cálculo é colocado também na
Largura da Coluna. barra de fórmulas, e mesmo após pressionar ENTER, ao cli-
car sobre a célula onde está o resultado, você poderá ver
como se chegou ao resultado pela barra de fórmulas.

Para o cálculo do teclado é necessário então fazer o


cálculo da segunda linha A5*C5 e assim sucessivamente.
Observamos então que a coluna representada pela letra
não muda, muda-se somente o número que representa a
linha, e se nossa planilha tivesse uma grande quantidade
de produtos, repetir o cálculo seria cansativo e com certe-
za sujeita a erros. Quando temos uma sequência de cálcu-
O objetivo desta planilha é calcularmos o valor total de los como a nossa planilha o Excel permite que se faça um
cada produto (quantidade multiplicado por valor unitário) único cálculo e ao posicionar o cursor do mouse no canto
e depois o total de todos os produtos. inferior direito da célula o cursor se transforma em uma
Para o total de cada produto precisamos utilizar o ope- cruz (não confundir com a seta branca que permite mover
rador de multiplicação (*), no caso do Mouse temos que o conteúdo da célula e ao pressionar o mouse e arrastar ele
a quantidade está na célula A4 e o valor unitário está na copia a fórmula poupando tempo).
célula C4, o nosso caçulo será feito na célula D4.

39
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Para calcular o total você poderia utilizar o seguinte cálculo D4+D5+D6+D7+D8, porém isso não seria nada pratico em
planilhas maiores. Quando tenho sequências de cálculos o Excel permite a utilização de funções.
No caso a função a ser utilizada é a função SOMA, a sua estrutura é =SOMA(CelIni:Celfim), ou seja, inicia-se com o sinal
de igual (=), escreve-se o nome da função, abrem-se parênteses, clica-se na célula inicial da soma e arrasta-se até a
última célula a ser somada, este intervalo é representado pelo sinal de dois pontos (:), e fecham-se os parênteses.
Embora você possa fazer manualmente na célula o Excel possui um assistente de função que facilita e muito a utilização
das mesmas em sua planilha. Na ABA Inicio do Excel dentro do grupo Edição existe o botão de função.

A primeira função é justamente Soma, então clique na célula e clique no botão de função.

Observe conforme a imagem que o Excel acrescenta a soma e o intervalo de células pressione ENTER e você terá seu
cálculo.

Formatação de células
A formatação de células é muito semelhante a que vimos para formatação de fonte no Word, basta apenas que a célula
onde será aplicada a formatação esteja selecionada, se precisar selecionar mais de uma célula, basta selecioná-las.
As opções de formatação de célula estão na ABA Inicio.

Temos o grupo Fonte que permite alterar a fonte a ser utilizada, o tamanho, aplicar negrito, itálico e sublinhado, linhas
de grade, cor de preenchimento e cor de fonte. Ao clicar na faixa do grupo será mostrada a janela de fonte.

40
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

A guia Alinhamento permite definir o alinhamento do


conteúdo da célula na horizontal e vertical, além do con-
trole do texto.

A guia Bordas permite adicionar bordas a sua planilha,


embora a planilha já possua as linhas de grade que faci-
litam a identificação de suas células, você pode adicionar
bordas para dar mais destaque.

A guia mostrada nesta janela é a Fonte nela temos o


tipo da letra, estilo, tamanho, sublinhado e cor, observe que
existem menos recursos de formatação do que no Word.
A guia Número permite que se formatem os números
de suas células. Ele dividido em categorias e dentro de
cada categoria ele possui exemplos de utilização e algumas
personalizações como, por exemplo, na categoria Moeda
em que é possível definir o símbolo a ser usado e o número
de casas decimais.

A guia Preenchimento permite adicionar cores de


preenchimento às suas células.

41
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Vamos então formatar nossa planilha, inicialmente sele- O botão estilo de Célula permite que se utilize um esti-
cione todas as células de valores em moeda. Você pode uti- lo de cor para sua planilha.
lizar a janela de formatação como vimos antes, como pode
também no grupo Número clicar sobre o botão moeda.

Vamos colocar também a linha onde estão Quant, Pro- A segunda opção Formatar como Tabela permite tam-
duto etc... em negrito e centralizado. bém aplicar uma formatação a sua planilha, porém ele já
O título Relação de Produtos ficará melhor visualmente começa a trabalhar com Dados.
se estiver centralizado entra a largura da planilha, então
selecione desde a célula A1 até a célula D1 depois clique
no botão Mesclar e Centralizar centralize e aumente um
pouco o tamanho da fonte.

Para finalizar selecione toda a sua planilha e no botão


de bordas, selecione uma borda externa.

Ele acrescenta uma coluna superior com indicações de


colunas e abre uma nova ABA chamada Design

No grupo Opções de Estilo de Tabela desmarque a op-


Estilos ção Linhas de Cabeçalho.
Esta opção é utilizada par aplicar, automaticamente um Para poder manipular também os dados de sua pla-
formato pré-definido a uma planilha selecionada. nilha é necessário selecionar as células que pretende ma-
nipular como planilha e no grupo Ferramentas clique no
botão Converter em Intervalo.

42
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Auto Preenchimento das Células

Vimos no exemplo anterior que é possível copiar uma fórmula que o Excel entende que ali temos uma fórmula e faz
a cópia. Podemos usar este recurso em outras situações, se eu tiver um texto comum ou um número único, e aplicar este
recurso, ele copia sem alterar o que será copiado, mas posso utilizar este recurso para ganhar tempo.
Se eu criar uma sequência numérica, por exemplo, na célula A1 o número 1 e na célula A2 o número 2, ao selecionar
ambos, o Excel entende que preciso copiar uma sequência.
Se eu colocar na célula A1 o número 1 e na célula A2 o número 3, ele entende que agora a sequência é de dois em dois.

Esta mesma sequência pode ser aplicada a dias da semana, horas, etc...

Inserção de linhas e colunas

Para adicionar ou remover linhas e colunas no Excel é simples. Para adicionar, basta clicar com o botão direito do mouse
em uma linha e depois clicar em Inserir, a linha será adicionada acima da selecionada, no caso a coluna será adicionada à
esquerda. Para excluir uma linha ou uma coluna, basta clicar com o botão direito na linha ou coluna a ser excluída.

Este processo pode ser feito também pelo grupo Células que está na ABA inicio.

43
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Através da opção Formatar podemos também definir a largura das linhas e colunas.

Congelar Painéis

Algumas planilhas quando muito longas necessitam que sejam mantidos seus cabeçalho e primeiras linhas, evitando-se
assim a digitação de valores em locais errados. Esse recurso chama-se congelar painéis e está disponível na ABA exibição.

No grupo Janela temos o botão Congelar Painéis, clique na opção congelar primeira linha e mesmo que você role a
tela a primeira linha ficará estática.

44
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Ainda dentro desta ABA podemos criar uma nova ja- O cálculo ficaria para o primeiro produto =D4/D9 e de-
nela da planilha Ativa clicando no botão Nova Janela, po- pois bastaria aplicar a formatação de porcentagem e acres-
demos organizar as janelas abertas clicando no botão Or- centar duas casas decimais.
ganizar Tudo,

Pelo grupo Mostrar / Ocultar podemos retirar as linhas


de grade, as linhas de cabeçalho de coluna e linha e a barra
de formulas.

Porém se utilizarmos o conceito aprendido de copiar


Trabalhando com Referências a célula E4 para resolver os demais cálculos na célula E5 à
Percebemos que ao copiar uma fórmula, automatica- fórmula ficará =D5/D10, porém se observarmos o correto
mente são alteradas as referências, isso ocorre, pois traba- seria ficar =D5/D9, pois a célula D9 é a célula com o valor
lhamos até o momento com valores relativos. total, ou seja, esta é a célula comum a todos os cálculos a
Porém, vamos adicionar em nossa planilha mais serem feitos, com isso não posso copiar a fórmula, pelo
uma coluna onde pretendo calcular qual a porcentagem menos não como está.
cada produto representa no valor total Uma solução seria fazer uma a uma, mas a ideia de
uma planilha é ganhar-se tempo.
A célula D9 então é um valor absoluto, ele não muda é
também chamado de valor constante.
A solução é então travar a célula dentro da formula,
para isso usamos o símbolo do cifrão ($), na célula que fize-
mos o cálculo E4 de clique sobre ela, depois clique na barra
de fórmulas sobre a referência da célula D9.

45
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Algumas outras funções


Vamos inicialmente montar a seguinte planilha

Pressione em seu teclado a tecla F4. Será então adi-


cionado o símbolo de cifrão antes da letra D e antes do
número 9. $D$9.

Em nosso controle de atletas vamos através de algu-


mas outras funções saber algumas outras informações de
nossa planilha.
O Excel possui muitas funções, você pode conhecer
mais sobre elas através do assistente de função.

Pressione ENTER e agora você poderá copiar a sua cé-


lula.

No exemplo acima foi possível travar toda a células,


existem casos em que será necessário travar somente a li-
nha e casos onde será necessário travar somente a coluna.
As combinações então ficariam (tomando como base
a célula D9)
D9 - Relativa, não fixa linha nem coluna Ao clicar na opção Mais Funções abre-se a tela de In-
$D9 - Mista, fixa apenas a coluna, permitindo a varia- serir Função, você pode digitar uma descrição do que gos-
ção da linha. taria de saber calcular, pode buscar por categoria, como
D$9 - Mista, fixa apenas a linha, permitindo a variação Financeira,m Data Hora etc..., ao escolher uma categoria,
da coluna. na caixa central serão mostradas todas as funções relativas
$D$9 - Absoluta, fixa a linha e a coluna. a essa categoria.

46
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Ao selecionar, por exemplo, a categoria Estatística e Em nossa planilha clique na célula abaixo da coluna de
dentro do conjunto de funções desta categoria a função idade na linha de valores máximos E16 e monte a seguinte
Máximo abaixo é apresentado uma breve explicação da uti- função =MIN(E4:E13). Com essa função está buscando no in-
lização desta função. Se precisar de mais detalhes da utili- tervalo das células E4 à E13 qual é valor máximo encontrado.
zação da função clique sobre o link Ajuda sobre esta função.

Para calcular os valores mínimos para o peso e a altura


o processo é o mesmo.

Média
Calcula a média aritmética de uma seleção de valores.
Máximo Vamos utilizar essa função em nossa planilha para sa-
Mostra o valor MAIOR de uma seleção de células. ber os valores médios nas características de nossos atletas.
Em nossa planilha vamos utilizar essa função para sa- Em nossa planilha clique na célula abaixo da coluna
ber é a maior idade, maior peso e a maior altura. de idade na linha de valores máximos E17 e monte a se-
Em nossa planilha clique na célula abaixo da coluna de guinte função =MEDIA(E4:E13). Com essa função estamos
idade na linha de valores máximos E15 e monte a seguin- buscando no intervalo das células E4 à E13 qual é valor
te função =MAXIMO(E4:E13). Com essa função estamos máximo encontrado.
buscando no intervalo das células E4 à E13 qual é valor
máximo encontrado.

Para o peso e a altura basta apenas repetir o processo


Vamos utilizar essa função em nossa planilha de con-
trole de atletas. Vamos utilizar a função nos valores médios
da planilha, deixaremos com duas casas decimais.
Vamos repetir o processo para os valores máximos do Vamos aproveitar também o exemplo para utilizar-
peso e da altura. mos um recurso muito interessante do Excel que é o ani-
nhamento de funções, ou seja, uma função fazendo parte
MIN de outra.
Mostra o valor mínimo de uma seleção de células. A função para o cálculo da média da Idade é =MÉ-
Vamos utilizar essa função em nossa planilha para saber DIA(E4:E13) clique na célula onde está o cálculo e depois
os valores mínimos nas características de nossos atletas. clique na barra de fórmulas.

47
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Altere a função para =ARRED(MÉDIA(E4:E13);1) com Convertendo isso para a função e baseando-se que a
isso fizemos com que caso exista números após a vírgu- idade do primeiro atleta está na célula E4 à função ficará:
la o mesmo será arredonda a somente uma casa decimal. =SE(E4<18;”Juvenil”;”Profissional”.)
Caso você não queira casas decimais coloque após o ponto
e vírgula o número zero.
Nesta situação deve-se ter uma atenção grande em re-
lação aos parênteses, observe que foi aberto uma após a
função ARRED e um a pós a função MÉDIA então se deve
ter o cuidado de fechá-los corretamente. O que auxilia no
fechamento correto dos parênteses é que o Excel vai colo-
rindo os mesmos enquanto você faz o cálculo.

Explicando a função.
=SE(E4<18: inicio da função e teste lógico, aqui é veri-
Função SE ficado se o conteúdo da célula E4 é menor que 18.
“Juvenil”: Valor a ser apresentado como verdadeiro.
Esta é com certeza uma das funções mais importantes “Profissional”: Valor a ser apresentado como falso.
do Excel e provavelmente uma das mais complexas para )
quem está iniciando. Vamos incrementar um pouco mais nossa planilha, va-
Esta função retorna um valor de teste_lógico que per- mos criar uma tabela em separado com a seguinte defini-
mite avaliar uma célula ou um cálculo e retornar um valor ção. Até 18 anos será juvenil, de 18 anos até 30 anos será
verdadeiro ou um valor falso. considerado profissional e acima dos 30 anos será consi-
derado Master.
Sua sintaxe é =SE (TESTELÓGICO;VALOR
VERDADEIRO;VALOR FALSO).
Nossa planilha ficará da seguinte forma.
=SE - Atribuição de inicio da função;

TESTELÓGICO - Teste a ser feito par validar a célula;


VALOR VERDADEIRO - Valor a ser apresentado na cé-
lula quando o teste lógico for verdadeiro, pode ser outra
célula, um caçulo, um número ou um texto, apenas lem-
brando que se for um texto deverá estar entre aspas.
VALOR FALSO - Valor a ser apresentado na célula quan-
do o teste lógico for falso, pode ser outra célula, um caçulo,
um número ou um texto, apenas lembrando que se for um
texto deverá estar entre aspas.
Para exemplificar o funcionamento da função vamos
acrescentar em nossa planilha de controle de atletas uma
coluna chamada categoria. Temos então agora na coluna J a referência de idade, e
na coluna K a categoria.

Então agora preciso verificar a idade de acordo com


o valor na coluna J e retornar com valores verdadeiros e
falsos o conteúdo da coluna K. A função então ficará da
seguinte forma:

Vamos atribuir inicialmente que atletas com idade me- =SE(E4<J4;K4;SE(E4<J5;K5;K6))


nor que 18 anos serão da categoria Juvenil e acima disso Temos então:
categoria Profissional. Então a lógica da função será que =SE(E4<J4: Aqui temos nosso primeiro teste lógico,
quando a Idade do atleta for menor que 18 ele será Juvenil onde verificamos se a idade que consta na célula E4 é
e quando ela for igual ou maior que 18 ele será Profissional. menor que o valor que consta na célula J4.

48
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

K4: Célula definida a ser retornada como verdadeiro =HORA(AGORA()) Retorna à hora atual
deste teste lógico, no caso o texto “Juvenil”. =MINUTO(AGORA()) Retorna o minuto atual
SE(E4<J5: segundo teste lógico, onde verificamos se =SEGUNDO(AGORA()) Retorna o segundo atual
valor da célula E4 é menor que 30, se for real retorna o =AGORA( ) Retorna a data e à hora
segundo valor verdadeiro, é importante ressaltar que este =DIA.DA.SEMANA(HOJE()) Retorna o dia da semana
teste lógico somente será utilizado se o primeiro teste der em número
como falso. =DIAS360( ) Calcula o número de dias que há entre
K5: Segundo valor verdadeiro, será retornado se o se- uma data inicial e uma data final.
gundo teste lógico estiver correto. Para exemplificar monte a seguinte planilha.
K6: Valor falso, será retornado se todos os testes lógi-
cos derem como falso.
Permite contar em um intervalo de valores quantas ve-
zes se repete determinado item. Vamos aplicar a função
em nossa planilha de controle de atletas

Adicione as seguintes linhas abaixo de sua planilha

Em V.Diário, vamos calcular quantas horas foram tra-


balhadas durante cada dia.
=B3-B2+B5-B4, pegamos a data de saída e subtraímos
pela data de entrada de manhã, com isso sabemos quan-
tas horas foram trabalhadas pela manhã na mesma função
faço a subtração da saída no período da tarde pela entrada
do período da tarde e somo os dois períodos.

Então vamos utilizar a função CONT.SE para buscar em


nossa planilha quantos atletas temos em cada categoria.

Repita o processo para todos os demais dias da sema-


na, somente no sábado é preciso apenas calcular a parte da
manhã, ou seja, não precisa ser feito o cálculo do período
da tarde.

A função ficou da seguinte forma =CONT.SE(H4:H13;K4)


onde se faz a contagem em um intervalo de H3:H13 que é
o resultado calculado pela função
SE e retorna a célula K4 onde está a categoria juvenil de
atletas. Para as demais categorias basta repetir o cálculo
mudando-se somente a categoria que está sendo buscada.

Funções de Data e Hora


Podemos trabalhar com diversas funções que se ba- Para calcular o V. da hora que o funcionário recebe co-
seiam na data e hora de seu computador. As principais fun- loque um valor, no caso adicione 15 e coloquei no formato
ções de data e hora são: Moeda. Vamos agora então calcular quanto ele ganhou por
=HOJE( ) Retorna a data atual. dia, pois temos quantas horas ele trabalhou durante o dia
=MÊS(HOJE()) Retorna o mês atual e sabemos o valor da hora. Como temos dois formatos de
=ANO(HOJE()) Retorna o ano atual números precisamos durante o cálculo fazer a conversão.

49
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Para a segunda-feira o cálculo fica da seguinte forma: Crie um novo campo abaixo da Tabela e coloque V. a
=HORA(B6)*B7+MINUTO(B6)*B7/60. receber e faça a soma dos valores totais.
Inicialmente utilizamos a função HORA e pegamos como
referência de hora o valor da célula B6, multiplicamos pelo
valor que está em B7, essa parte calcula somente à hora cheia
então precisamos somar os minutos que pega a função MI-
NUTO e multiplica a quantidade de horas pelo valor da hora,
como o valor é para a hora o dividimos então por 60
Após isso coloque o valor em formato Moeda.

Planilhas 3D

O conceito de planilha 3D foi implantado no Excel


na versão 5 do programa, ele é chamado dessa forma
pois permite que se façam referências de uma planilha
em outra.
Para os demais cálculos o V.Hora será igual há todos Posso por exemplo fazer uma soma de valores que es-
os dias então ele precisa ser fixo para que o cálculo possa tejam em outra planilha, ou seja quando na planilha matriz
ser copiado, o número 60 por ser um número não é muda. algum valor seja alterado na planilha que possui referência
=HORA(B6)*$B$7+MINUTO(B6)*$B$7/60 com ela também muda.
Para sabermos quantas horas o funcionário trabalhou
na semana, faça a soma de todos os dias trabalhados. Vamos a um exemplo

Ao observar atentamente o valor calculado ele mostra


20:40, porém nessa semana o funcionário trabalhou mais
de 40 horas, isso ocorre pois o cálculo de horas zera ao Faremos uma planilha para conversão de valores, en-
chegar em 23:59:59, então preciso fazer com que o Excel tão na planilha 1 vamos ter um campo para que se coloque
entenda que ele precisa continuar a contagem. Clique na o valore em real e automaticamente ele fará a conversão
faixa do grupo número na ABA Inicio, na janela que se abre para outras moedas, monte a seguinte planilha.
clique na categoria Hora e escolha o formato 37:30:55 esse
formato faz com que a contagem continue. Vamos renomear a planilha para resultado.

Para isso dê um duplo clique no nome de sua planilha


Plan1 e digite o novo nome.
Salve seu arquivo e clique na guia Plan2 e digite a se-
guinte planilha

50
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Para poder copiar a fórmula para as demais células,


bloqueie a célula B2 que é referente ao valor em real.
O ideal nesta planilha é que a única célula onde o usuá-
rio possa manipular seja a célula onde será digitado valor
em real para a conversão, então vamos bloquear a planilha
deixando essa célula desprotegia.
Clique na célula onde será digitado o valor em real
depois na ABA Inicio no grupo Fonte clique na faixa e na
janela que se abre clique na guia Proteção.
Desmarque a opção Bloqueadas, isso é necessário, pois
esta célula é a única que poderá receber dados.

Renomeie essa planilha para valores

Retorne a planilha resultado e coloque um valor qual-


quer no campo onde será digitado valor.

Clique agora na ABA Revisão e no grupo Alterações


clique no botão Proteger Planilha.

Clique agora no campo onde será colocado o valor de


compra do dólar na célula B4 e clique na célula onde está
o valor que acabou de digitar célula B2, adicione o sinal de
divisão (/) e depois clique na planilha valores ele vai colocar
o nome da planilha seguido de um ponto de exclamação Será mostrada mais uma janela coloque uma senha
(!) e clique onde está o valor de compra do dólar. A função (recomendável)
ficará da seguinte forma =B2/valores!B2.

Com isso toda vez que eu alterar na planilha valores o


valor do dólar, ele atualiza na planilha resultado.
Faça o cálculo para o valor do dólar para venda, a fun-
ção ficará da seguinte forma: =B2/valores!C2.

51
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Ao tentar alterar uma célula protegida será mostrado o seguinte aviso

Se precisar alterar alguma célula protegida basta clicar no botão Desproteger Planilha no grupo Alterações.

Inserção de Objetos

A inserção de objetos no Excel é muito semelhante ao que aprendemos no Word, as opções de inserção de objetos
estão na ABA Inserir.

Podemos inserir Imagens, clip-arts, formas, SmartArt, caixas de texto, WordArt, objetos, símbolos, etc.
Como a maioria dos elementos já sabemos como implementar vamos focar em Gráficos.

Gráficos
A utilização de um gráfico em uma planilha além de deixá-la com uma aparência melhor também facilita na hora de
mostrar resultados. As opções de gráficos, esta no grupo Gráficos na ABA Inserir do Excel

52
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Para criar um gráfico é importante decidir quais dados serão avaliados para o gráfico. Vamos utilizar a planilha Atletas
para criarmos nosso gráfico, vamos criar um gráfico que mostre os atletas x peso.
Selecione a coluna com o nome dos atletas, pressione CTRL e selecione os valores do peso.

Ao clicar em um dos modelos de gráfico no grupo Gráficos você poderá selecionar um tipo de gráfico disponível, no
exemplo cliquei no estilo de gráfico de colunas.

53
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Escolha no subgrupo coluna 2D a primeira opção e seu gráfico será criado.

Para mover o gráfico para qualquer parte de sua planilha basta clicar em uma área em branco de o gráfico manter o
mouse pressionado e arrastar para outra parte.
Na parte superior do Excel é mostrada a ABA Design (Acima dela Ferramentas de Gráfico).

Se você quiser mudar o estilo de seu gráfico, você pode clicar no botão Alterar Tipo de Gráfico.

54
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Para alterar a exibição entre linhas e colunas, basta cli-


car no botão Alterar Linha/Coluna.

Podemos também deixar nosso gráfico isolado em


uma nova planilha, basta clicar no botão Mover Gráfico.
Ainda em Layout do Gráfico podemos modificar a dis-
tribuição dos elementos do Gráfico.

Dados
O Excel possui uma ABA chamada Dados que permite
importar dados de outras fontes, ou trabalhar os dados de
uma planilha do Excel

Podemos também modificar o estilo de nosso gráfico


através do grupo Estilos de Gráfico

Classificação
Vamos agora trabalhar com o gerenciamento de dados
criados no Excel.
Vamos utilizar para isso a planilha de Atletas.
Classificar uma lista de dados é muito fácil, e este re-
curso pode ser obtido pelo botão Classificar e Filtrar na
ABA Inicio, ou pelo grupo Classificar e Filtrar na ABA Dados.

55
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Vamos então selecionar os dados de nossa planilha que serão classificados.

Clique no botão Classificar.

Você precisa definir quais serão os critérios de sua classificação, onde diz
Classificar por clique e escolha nome, depois clique no botão Adicionar Nível e coloque Modalidade.

Antes de clicar em OK, verifique se está marcada a opção Meus dados contêm cabeçalhos, pois selecionamos a linha
de títulos em nossa planilha e clique em OK.

56
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Você pode mudar a ordem de classificação sempre que for necessário, basta clicar no botão de Classificar.

Auto Filtro
Este é um recurso que permite listar somente os dados que você precisa visualizar no momento em sua planilha. Com
seus dados selecionados clique no botão Filtro e observe que será adicionado junto a cada célula do cabeçalho da planilha
uma seta.

Estas setas permite visualizar somente os dados que te interessam na planilha, por exemplo caso eu precise da relação
de atletas do sexo feminino, basta eu clicar na seta do cabeçalho sexo e marcar somente Feminino, que os demais dados
da planilha ficarão ocultos.

57
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Posso ainda refinar mais a minha filtragem, caso precise saber dentro do sexo feminino quantos atletas estão na cate-
goria Profissional, eu faço um novo filtro na coluna Categoria.

Observe que as colunas que estão com filtro possuem um ícone em forma de funil no lugar da seta.
Para remover os filtros, basta clicar nos cabeçalhos com filtro e escolher a opção selecionar tudo.
Você também pode personalizar seus filtros através da opção Filtros de Texto e Filtro de número (quando conteúdo da
célula for um número).

58
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Observe na esquerda que são mostrados os níveis de


visualização dos subtotais e que ele faz um total a cada
sequência do sexo dos atletas.
Para remover os subtotais, basta clicar no botão Subto-
tal e na janela que aparece clique em Remover Todos.

Subtotais Impressão
Podemos agrupar nossos dados através de seus valo- O processo de impressão no Excel é muito parecido
res, vamos inicialmente classificar nossa planilha pelo sexo com o que fizemos no Word.
dos atletas relacionado com a idade. Clique no botão Office e depois em Imprimir e escolha
Visualizar Impressão.

Depois clique no botão Subtotal.


Em A cada alteração em: coloque sexo e em Adicionar
subtotal a deixe marcado apenas Peso, depois clique em OK.

No caso escolhi a planilha atletas, podemos observar


que a mesma não cabe em uma única página. Clique no
botão Configurar Página.

59
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Marque a opção Paisagem e clique em OK. CTRL + Sinal de adição (+): quando você precisar inse-
rir células, linhas ou colunas no meio dos dados, ao invés
de clicar com o mouse no número da linha ou na letra da
coluna, basta pressionar esse comando.
*Utilize o sinal de adição do teclado numérico ou a
combinação CTRL + SHIFT + Sinal de adição que fica à es-
querda da tecla backspace, pois ela tem o mesmo efeito.
CTRL + Sinal de subtração (-): para excluir células, li-
nhas ou colunas inteiras, pressione essas teclas. Esse co-
mando funciona tanto no teclado normal quanto no tecla-
do numérico.
CTRL + D: você pode precisar que todas as células de
determinada coluna tenham o mesmo valor. Apertando
CTRL + D, você fará com que a célula ativa seja preenchi-
da com o mesmo valor da célula que está acima dela. Por
Teclas de atalho do Excel exemplo: você digitou o número 5432 na célula A1 e quer
que ele se repita até a linha 30. Selecione da célula A1 até
CTRL + !: quando se está trabalhando com planilhas a A30 e pressione o comando. Veja que todas as células
grandes, quando os dados precisam ser apresentados a um serão preenchidas com o valor 5432.
gerente, ou mesmo só para facilitar sua vida, a melhor ma- CTRL + R: funciona da mesma forma que o comando
neira de destacar certas informações é formatar a célula, de acima, mas para preenchimento de colunas. Exemplo: sele-
modo que a fonte, a cor do texto, as bordas e várias outras cione da célula A1 até a E1 e pressione CTRL + R. Todas as
configurações de formatação. Mas ter que usar o mouse células selecionadas terão o mesmo valor da A1.
para encontrar as opções de formatação faz você perder CTRL + ALT + V: você já deve ter cometido o erro de co-
muito tempo. Portanto, pressionando CTRL + !, você fará piar uma célula e colar em outro local, acabando com a for-
com que a janela de opções de formatação da célula seja matação que tinha definido anteriormente, pois as células
exibida. Lembre-se que você pode selecionar várias células de origem eram azuis e as de destino eram verdes. Ou seja,
para aplicar a formatação de uma só vez. você agora tem células azuis onde tudo deveria ser verde.
CTRL + (: muitas vezes você precisa visualizar dados Para que isso não aconteça, você pode utilizar o comando
que não estão próximos uns dos outros. Para isso o Excel “colar valores”, que fará com que somente os valores das
fornece a opção de ocultar células e colunas. Pressionan- células copiadas apareçam, sem qualquer formatação. Para
do CTRL + (, você fará com que as linhas correspondentes não precisar usar o mouse, copie as células desejadas e na
à seleção sejam ocultadas. Se houver somente uma célula hora de colar utilize as teclas CTRL + ALT + V.
ativa, só será ocultada a linha correspondente. Por exem- CTRL + PAGE DOWN: não há como ser rápido utilizan-
plo: se você selecionar células que estão nas linhas 1, 2, 3 do o mouse para alternar entre as planilhas de um mesmo
e 4 e pressionar as teclas mencionadas, essas quatro linhas arquivo. Utilize esse comando para mudar para a próxima
serão ocultadas. planilha da sua pasta de trabalho.
Para reexibir aquilo que você ocultou, selecione uma CTRL + PAGE UP: similar ao comando anterior. Porém,
célula da linha anterior e uma da próxima, depois utilize executando-o você muda para a planilha anterior.
as teclas CTRL + SHIFT + (. Por exemplo: se você ocultou a *É possível selecionar as planilhas que estão antes ou
linha 14 e precisa reexibi-la, selecione uma célula da linha depois da atual, pressionando também o SHIFT nos dois
13, uma da linha 15 e pressione as teclas de atalho. comando acima.
CTRL + ): esse atalho funciona exatamente como o
anterior, porém, ele não oculta linhas, mas sim COLUNAS. Teclas de função
Para reexibir as colunas que você ocultou, utilize as teclas Poucas pessoas conhecem todo o potencial das teclas
CTRL + SHIFT + ). Por exemplo: você ocultou a coluna C e que ficam na mesma linha do “Esc”. Assim como o CTRL,
quer reexibi-la. Selecione uma célula da coluna B e uma da as teclas de função podem ser utilizadas em combinação
célula D, depois pressione as teclas mencionadas. com outras, para produzir comandos diferentes do padrão
CTRL + SHIFT + $: quando estiver trabalhando com va- atribuído a elas. Veja alguns deles abaixo.
lores monetários, você pode aplicar o formato de moeda F2: se você cometer algum erro enquanto está inse-
utilizando esse atalho. Ele coloca o símbolo R$ no número rindo fórmulas em uma célula, pressione o F2 para poder
e duas casas decimais. Valores negativos são colocados en- mover o cursor do teclado dentro da célula, usando as se-
tre parênteses. tas para a direita e esquerda. Caso você pressione uma da
CTRL + SHIFT + Asterisco (*): esse comando é extre- setas sem usar o F2, o cursor será movido para outra célula.
mamente útil quando você precisa selecionar os dados ALT + SHIFT + F1: inserir novas planilhas dentro de um
que estão envolta da célula atualmente ativa. Caso existam arquivo do Excel também exige vários cliques com o mou-
células vazias no meio dos dados, elas também serão se- se, mas você pode usar o comando ALT + SHIFT + F1 para
lecionadas. Veja na imagem abaixo um exemplo. A célula ganhar algum tempo. As teclas SHIFT + F11 produzem o
selecionada era a D6. mesmo efeito.

60
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

F8: use essa tecla para ligar ou desligar o modo de se- Uma imagem do PowerPoint 2010 no modo Normal
leção estendida. Esse pode ser usado da mesma forma que que possui vários elementos rotulados.
o SHIFT. Porém, ele só será desativado quando for pres- 1 No painel Slide, você pode trabalhar em slides indi-
sionado novamente, diferente do SHIFT, que precisa ser viduais.
mantido pressionado para que você possa selecionar várias 2 As bordas pontilhadas identificam os espaços reser-
células da planilha. vados, onde você pode digitar texto ou inserir imagens,
gráficos e outros objetos.
Veja abaixo outros comandos úteis: 3 A guia Slides mostra uma versão em miniatura de
CTRL + Setas de direção: move o cursor para a última cada slide inteiro mostrado no painel Slide. Depois de adi-
célula preenchida. Se houve alguma célula vazia no meio, cionar outros slides, você poderá clicar em uma miniatu-
o cursor será movido para a última célula preenchida que ra na guia Slides para fazer com que o slide apareça no
estiver antes da vazia. painel Slide ou poderá arrastar miniaturas para reorganizar
END: pressione essa tecla uma vez para ativar ou de- os slides na apresentação. Também é possível adicionar ou
sativar o “Modo de Término”. Sua função é parecida com o excluir slides na guia Slides.
comando anterior. Pressiona uma vez para ativar e depois 4 No painel Anotações, você pode digitar observações
pressione uma tecla de direção para mover o cursor para a sobre o slide atual. Também pode distribuir suas anotações
última célula preenchida. para a audiência ou consultá-las no Modo de Exibição do
*Se a tecla Scroll Lock estiver ativada, pressionar END Apresentador durante a apresentação.
fará com que o cursor seja movido para a célula que estiver
visível no canto inferior direito da janela. Etapa 2: Começar com uma apresentação em branco
CTRL + BARRA DE ESPAÇO: utilize essa atalho se você Por padrão, o PowerPoint 2010 aplica o modelo Apre-
quiser selecionar a coluna inteira onde está o cursor. sentação em Branco, mostrado na ilustração anterior, às
SHIFT + BARRA DE ESPAÇOS: semelhante ao comando novas apresentações. Apresentação em Branco é o mais
acima, porém, seleciona a linha inteira onde está o cursor. simples e o mais genérico dos modelos no PowerPoint
2010 e será um bom modelo a ser usado quando você co-
POWERPOINT
meçar a trabalhar com o PowerPoint.
Para criar uma nova apresentação baseada no modelo
O PowerPoint é um aplicativo visual e gráfico, usado
Apresentação em Branco, faça o seguinte:
principalmente para criar apresentações. Com ele, você
1. Clique na guia Arquivo.
pode criar, visualizar e mostrar apresentações de slides que
2. Aponte para Novo e, em Modelos e Temas Dispo-
combinam texto, formas, imagens, gráficos, animações, ta-
níveis, selecione Apresentação em Branco.
belas, vídeos e muito mais.
3. Clique em Criar.
Familiarizar-se com o espaço de trabalho do PowerPoint
O espaço de trabalho, ou modo de exibição Normal, foi Etapa 3: Ajustar o tamanho do painel de anotações
desenvolvido para ajudá-lo a encontrar e usar facilmente Depois que você abre o modelo Apresentação em
os recursos do Microsoft PowerPoint 2010. Branco, somente uma pequena parte do painel Anotações
Este artigo contém instruções passo a passo para aju- fica visível. Para ver uma parte maior desse painel e ter mais
dá-lo a se preparar para criar apresentações com o Power- espaço para digitar, faça o seguinte:
Point 2010 1. Aponte para a borda superior do painel Anota-
ções.
Etapa 1: Abrir o PowerPoint 2. Quando o ponteiro se transformar em uma , ar-
Quando você inicia o PowerPoint, ele é aberto no modo de raste a borda para cima a fim de criar mais espaço para as
exibição chamado Normal, onde você cria e trabalha em slides. anotações do apresentador, como mostrado na ilustração
a seguir.

Observe que o slide no painel Slide se redimensiona


automaticamente para se ajustar ao espaço disponível.

61
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Etapa 4: Criar a apresentação Outros recursos da Faixa de Opções


Agora que preparou o espaço de trabalho para ser usa-
do, você está pronto para começar a adicionar texto, for-
mas, imagens, animações (e outros slides também) à apre-
sentação. Próximo à parte superior da tela, há três botões
que podem ser úteis quando você iniciar o trabalho:
• Desfazer , que desfaz sua última alteração
(para ver uma dica de tela sobre qual ação será desfeita,
coloque o ponteiro sobre o botão. Para ver um menu de
outras alterações recentes que também podem ser desfei-
tas, clique na seta à direita de Desfazer ). Outros elementos que podem ser exibidos na Faixa de
• Você também pode desfazer uma alteração pres- Opções são as guias contextuais, as galerias e os iniciado-
sionando CTRL+Z. res de caixa de diálogo.
• Refazer ou Repetir , que repete ou refaz
sua última alteração, dependendo da ação feita anterior-  Uma galeria, neste caso a galeria de formas no gru-
mente (para ver uma dica de tela sobre qual ação será re- po Desenho. As galerias são janelas ou menus retangulares
petida ou refeita, coloque o ponteiro sobre o botão). Você que apresentam uma gama de opções visuais relacionadas.
também pode repetir ou refazer uma alteração pressionan-  Uma guia contextual, neste caso a guia Ferramentas
do CTRL+Y. de Imagem. Para diminuir a poluição visual, algumas guias
• A Ajuda do Microsoft Office PowerPoint , que são mostradas somente quando necessárias. Por exemplo,
abre o painel Ajuda do PowerPoint. Você também pode a guia Ferramentas de Imagem será mostrada somente se
abrir a Ajuda pressionando F1. você inserir uma imagem a um slide e a selecionar.
 Um Iniciador da Caixa de Diálogo, neste caso, um
Familiarizar-se com a Faixa de Opções do Power- que inicia a caixa de diálogo Formatar Forma.
Point 2010
Ao iniciar o Microsoft PowerPoint 2010 pela primeira Localização dos comandos conhecidos na Faixa de Op-
vez, você perceberá que os menus e as barras de ferra- ções
mentas do PowerPoint 2003 e das versões anteriores foram Para encontrar a localização de comandos específicos
substituídos pela Faixa de Opções. em guias e grupos, consulte os diagramas a seguir.

O que é a Faixa de Opções? A guia Arquivo


A Faixa de Opções contém os comandos e os outros
itens de menu presentes nos menus e barras de ferramen-
tas do PowerPoint 2003 e de versões anteriores. A Faixa de
Opções foi projetada para ajudá-lo a localizar rapidamente
os comandos necessários para concluir uma tarefa.

Principais recursos da Faixa de Opções

A Faixa de Opções exibida no lado esquerdo da guia


Página Inicial do PowerPoint 2010.
1 Uma guia da Faixa de Opções, neste caso a guia Pá-
gina Inicial. Cada guia está relacionada a um tipo de ativi-
dade, como inserir mídia ou aplicar animações a objetos.
2 Um grupo na guia Página Inicial, neste caso o grupo
Fonte. Os comandos são organizados em grupos lógicos e
reunidos nas guias.
3 Um botão ou comando individual no grupo Slides,
neste caso o botão Novo Slide.

62
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

A guia Arquivo é o local onde é possível criar um novo arquivo, abrir ou salvar um existente e imprimir sua apresenta-
ção.
1 Salvar como
2 Abrir
3 Novo
4 Imprimir

A guia Página Inicial

A guia Página Inicial é o local onde é possível inserir novos slides, agrupar objetos e formatar texto no slide.
1 Se você clicar na seta ao lado de Novo Slide, poderá escolher entre vários layouts de slide.
2 O grupo Fonte inclui os botões Fonte, Negrito, Itálico e Tamanho da Fonte.
3 O grupo Parágrafo inclui Alinhar Texto à Direita, Alinhar Texto à Esquerda, Justificar e Centralizar.
4 Para localizar o comando Agrupar, clique em Organizar e, em Agrupar Objetos, selecione Agrupar.

Guia Inserir

A guia Inserir é o local onde é possível inserir tabelas, formas, gráficos, cabeçalhos ou rodapés em sua apresentação.
1 Tabela
2 Formas
3 Gráfico
4 Cabeçalho e Rodapé

Guia Design

A guia Design é o local onde é possível personalizar o plano de fundo, o design e as cores do tema ou a configuração
de página na apresentação.
1 Clique em Configurar Página para iniciar a caixa de diálogo Configurar Página.
2 No grupo Temas, clique em um tema para aplicá-lo à sua apresentação.
3 Clique em Estilos de Plano de Fundo para selecionar uma cor e design de plano de fundo para sua apresentação.

Guia Transições

63
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

A guia Transições é o local onde é possível aplicar, alterar ou remover transições no slide atual.
1 No grupo Transições para este Slide, clique em uma transição para aplicá-la ao slide atual.
2 Na lista Som, você pode selecionar entre vários sons que serão executados durante a transição.
3 Em Avançar Slide, você pode selecionar Ao Clicar com o Mouse para fazer com que a transição ocorra ao clicar.

Guia Animações

A guia Animações é o local onde é possível aplicar, alterar ou remover animações em objetos do slide.
1 Clique em Adicionar Animação e selecione uma animação que será aplicada ao objeto selecionado.
2 Clique em Painel de Animação para iniciar o painel de tarefas Painel de Animação.
3 O grupo Intervalo inclui áreas para definir o Página Inicial e a Duração.

Guia Apresentação de Slides

A guia Apresentação de Slides é o local onde é possível iniciar uma apresentação de slides, personalizar as configura-
ções da apresentação de slides e ocultar slides individuais.
1 O grupo Iniciar Apresentação de Slides, que inclui Do Começo e Do Slide Atual.
2 Clique em Configurar Apresentação de Slides para iniciar a caixa de diálogo Configurar Apresentação.
3 Ocultar Slide

Guia Revisão

A guia Revisão é o local onde é possível verificar a ortografia, alterar o idioma da apresentação ou comparar alterações
na apresentação atual com outra.
1 Ortografia, para iniciar o verificador ortográfico.
2 O grupo Idioma, que inclui Editando Idiomas, onde é possível selecionar o idioma.
3 Comparar, onde é possível comparar as alterações na apresentação atual com outra.

Guia Exibir

A guia Exibir é o local onde é possível exibir o slide mestre, as anotações mestras, a classificação de slides. Você também
pode ativar ou desativar a régua, as linhas de grade e as guias de desenho.
1 Classificação de Slides
2 Slide Mestre
3 O grupo Mostrar, que inclui Régua e Linhas de Grade.

64
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Eu não vejo o comando de que preciso!     Criar uma apresentação


Alguns comandos, como Recortar ou Compactar, são 1. Clique na guia Arquivo e clique em Novo.
guias contextuais. 2. Siga um destes procedimentos:
Para exibir uma guia contextual, primeiramente sele- • Clique em Apresentação em Branco e em Criar.
cione o objeto que será trabalhado e verifique se uma guia • Aplique um modelo ou tema, seja interno forneci-
contextual é exibida na Faixa de Opções. do com o PowerPoint 2010 ou baixado do Office.com.

Localizar e aplicar um modelo Abrir uma apresentação


O PowerPoint 2010 permite aplicar modelos internos
ou os seus próprios modelos personalizados e pesquisar 1. Clique na guia Arquivo e em Abrir.
vários modelos disponíveis no Office.com. O Office.com 2. No painel esquerdo da caixa de diálogo Abrir, cli-
fornece uma ampla seleção de modelos do PowerPoint po- que na unidade ou pasta que contém a apresentação de-
pulares, incluindo apresentações e slides de design. sejada.
Para localizar um modelo no PowerPoint 2010, siga 3. No painel direito da caixa de diálogo Abrir, abra a
este procedimento: pasta que contém a apresentação.
Na guia Arquivo, clique em Novo. 4. Clique na apresentação e clique em Abrir.
Em Modelos e Temas Disponíveis, siga um destes pro-
cedimentos: Observação   Por padrão, o PowerPoint 2010 mostra
• Para reutilizar um modelo usado recentemente, somente apresentações do PowerPoint na caixa de diálogo
clique em Modelos Recentes, clique no modelo desejado Abrir. Para exibir outros tipos de arquivos, clique em Todas
e depois em Criar. as Apresentações do PowerPoint e selecione o tipo de ar-
• Para utilizar um modelo já instalado, clique em quivo que deseja exibir.
Meus Modelos, selecione o modelo desejado e clique em
OK.
• Para utilizar um dos modelos internos instalados
com o PowerPoint, clique em Modelos de Exemplo, clique
no modelo desejado e depois em Criar.
• Para localizar um modelo no Office.com, em Mo-
delos do Office.com, clique em uma categoria de modelo,
selecione o modelo desejado e clique em Baixar para baixar
o modelo do Office.com para o computador.

Salvar uma apresentação

Observação- Você também pode pesquisar modelos


no Office.com de dentro do PowerPoint. Na caixa Pesquisar
modelos no Office.com, digite um ou mais termos de pes-
quisa e clique no botão de seta para pesquisar.

65
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Como com qualquer programa de software, é uma boa Será exibida uma galeria que mostra as miniaturas dos
ideia nomear e salvar a apresentação imediatamente e salvar vários layouts de slide disponíveis.
suas alterações com frequência enquanto você trabalha: • O nome identifica o conteúdo para o qual cada
1. Clique na guia Arquivo. slide foi criado.
2. Clique em Salvar como e siga um destes procedi- • Os espaços reservados que exibem ícones colo-
mentos: ridos podem conter texto, mas você também pode clicar
• Para que uma apresentação só possa ser aberta nos ícones para inserir objetos automaticamente, incluindo
no PowerPoint 2010 ou no PowerPoint 2007, na lista Salvar elementos gráficos SmartArt e clip-art.
como tipo, selecione Apresentação do PowerPoint (*.pptx). 3. Clique no layout desejado para o novo slide.
• Para uma apresentação que possa ser aberta no
PowerPoint 2010 ou em versões anteriores do PowerPoint,
selecione Apresentação do PowerPoint 97-2003 (*.ppt).
3. No painel esquerdo da caixa de diálogo Salvar
como, clique na pasta ou em outro local onde você queira
salvar sua apresentação.
4. Na caixa Nome de arquivo, digite um nome para a
apresentação ou aceite o nome padrão e clique em Salvar.
De agora em diante, você pode pressionar CTRL+S ou
pode clicar em Salvar, próximo à parte superior da tela, para
salvar rapidamente a apresentação, a qualquer momento.
Observação: Para salvar a apresentação em um forma-
to diferente de .pptx, clique na lista Salvar como tipo e se-
lecione o formato de arquivo desejado.
O Microsoft PowerPoint 2010 oferece uma série de ti-
pos de arquivo que você pode usar para salvar; por exem-
plo, JPEGs (.jpg), arquivos Portable Document Format (.pdf),
páginas da Web (.html), Apresentação OpenDocument
(.odp), inclusive como vídeo ou filme etc.
Também é possível abrir vários formatos de arquivo
diferentes com o PowerPoint 2010, como Apresentações
OpenDocument, páginas da Web e outros tipos de arqui-
vos.

Adicionar, reorganizar e excluir slides O novo slide agora aparece na guia Slides, onde está
O único slide que é exibido automaticamente ao abrir realçado como o slide atual, e também como o grande sli-
o PowerPoint tem dois espaços reservados, sendo um for- de à direita no painel Slide. Repita esse procedimento para
matado para um título e o outro formatado para um sub- cada novo slide que você deseja adicionar.
título. A organização dos espaços reservados em um slide
é chamada layout. O Microsoft PowerPoint 2010 também Determinar quantos slides são necessários
oferece outros tipos de espaços reservados, como aqueles Para calcular o número de slides necessários, faça um
de imagens e elementos gráficos de SmartArt. rascunho do material que você planeja abordar e, em se-
Ao adicionar um slide à sua apresentação, siga este guida, divida o material em slides individuais. Você prova-
procedimento para escolher um layout para o novo slide velmente deseja pelo menos:
ao mesmo tempo: • Um slide de título principal
1. No modo de exibição Normal, no painel que con- • Um slide introdutório que lista os pontos princi-
tém as guias Tópicos e Slides, clique na guia Slides e clique pais ou áreas da sua apresentação
abaixo do único slide exibido automaticamente ao abrir o • Um slide para cada ponto ou área que esteja lista-
PowerPoint. da no slide introdutório
2. Na guia Página Inicial, no grupo Slides, clique na • Um slide de resumo que repete a lista de pontos
seta ao lado de Novo Slide. Ou então, para que o novo sli- ou áreas principais da sua apresentação
de tenha o mesmo layout do slide anterior, basta clicar em Usando essa estrutura básica, se você possui três pon-
Novo Slide em vez de clicar na seta ao lado dele. tos ou áreas principais para apresentar, planeje ter um mí-
nimo de seis: um slide de título, um slide introdutório, um
slide para cada um dos três pontos ou áreas principais e
um slide de resumo.

66
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Se houver uma grande quantidade de material para apresentar sobre qualquer um dos pontos ou áreas principais,
talvez você queira criar um subagrupamento de slides para esse material, usando a mesma estrutura de tópicos básica.
Dica: Pense em quanto tempo cada slide deve ficar visível na tela durante a sua apresentação. Uma boa estimativa
padrão é de dois a cinco minutos por slide.
Aplicar um novo layout a um slide
Para alterar o layout de um slide existente, faça o seguinte:
• No modo de exibição Normal, no painel que contém as guias Tópicos e Slides, clique na guia Slides e clique no
slide ao qual deseja aplicar um novo layout.
• Na guia Página Inicial, no grupo Slides, clique em Layout e, em seguida, clique no novo layout desejado.
 Observação   Se você aplicar um layout que não possua tipos de espaços reservados suficientes para o conteúdo que
já existe no slide, serão criados espaços reservados adicionais automaticamente para armazenar esse conteúdo.

Copiar um slide
Se você deseja criar dois ou mais slides que tenham conteúdo e layout semelhantes, salve o seu trabalho criando um
slide que tenha toda a formatação e o conteúdo que será compartilhado por ambos os slides, fazendo uma cópia desse
slide antes dos retoques finais em cada um deles.
1. No modo de exibição Normal, no painel que contém as guias Tópicos e Slides, clique na guia Slides, clique com o
botão direito do mouse no slide que deseja copiar e clique em Copiar.
2. Na guia Slides, clique com o botão direito do mouse onde você deseja adicionar a nova cópia do slide e clique em Colar.
Você também pode usar esse procedimento para inserir uma cópia de um slide de uma apresentação para outra.

Reorganizar a ordem dos slides


No modo de exibição Normal, no painel que contém as guias Tópicos e Slides, clique na guia Slides, clique no slide que
deseja mover e arraste-o para o local desejado.
Para selecionar vários slides, clique em um slide que deseja mover, pressione e mantenha pressionada a tecla CTRL
enquanto clica em cada um dos outros slides que deseja mover.

Excluir um slide
No modo de exibição Normal, no painel que contém as guias Tópicos e Slides, clique na guia Slides, clique com o botão
direito do mouse no slide que deseja excluir e clique em Excluir Slide.

Adicionar formas ao slide


1. Na guia Início, no grupo Desenho, clique em Formas.

67
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

2. Clique na forma desejada, clique em qualquer parte do slide e arraste para colocar a forma.
Para criar um quadrado ou círculo perfeito (ou restringir as dimensões de outras formas), pressione e mantenha a tecla
SHIFT pressionada ao arrastar.

Exibir uma apresentação de slides


Para exibir a apresentação no modo de exibição Apresentação de Slides a partir do primeiro slide, siga este procedi-
mento:
Na guia Apresentação de Slides, no grupo Iniciar Apresentação de Slides, clique em Do Começo (ou pressione F5).

Para exibir a apresentação no modo de exibição Apresentação de Slides a partir do slide atual, siga este procedimen-
to(ou pressione Shift+F5):
Na guia Apresentação de Slides, no grupo Iniciar Apresentação de Slides, clique em Do Slide Atual.

Imprimir uma apresentação


1. Clique na guia Arquivo e clique em Imprimir.
2. Em Imprimir, siga um destes procedimentos:
• Para imprimir todos os slides, clique em Tudo.
• Para imprimir somente o slide exibido no momento, clique em Slide Atual.
• Para imprimir slides específicos por número, clique em Intervalo Personalizado de Slides e digite uma lista de slides
individuais, um intervalo, ou ambos.
Observação   Use vírgulas para separar os números, sem espaços. Por exemplo: 1,3,5-12.
3. Em Outras Configurações, clique na lista Cor e selecione a configuração desejada.
4. Ao concluir as seleções, clique em Imprimir.

68
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

• Criar e imprimir folhetos


Você pode imprimir as apresentações na forma de fo-
lhetos, com até nove slides em uma página, que podem ser
utilizados pelo público para acompanhar a apresentação ou
para referência futura.
O folheto com três slides por página possui espaços
entre as linhas para anotações.
Você pode selecionar um layout para os folhetos em vi-
sualização de impressão (um modo de exibição de um do-
cumento da maneira como ele aparecerá ao ser impresso).
Organizar conteúdo em um folheto:
Na visualização de impressão é possível organizar o
conteúdo no folheto e visualizá-lo para saber como ele será
impresso. Você pode especificar a orientação da página
como paisagem ou retrato e o número de slides que deseja
exibir por página.
Você pode adicionar visualizar e editar cabeçalhos e ro-
dapés, como os números das páginas. No layout com um
slide por página, você só poderá aplicar cabeçalhos e roda-
pés ao folheto e não aos slides, se não desejar exibir texto,
data ou numeração no cabeçalho ou no rodapé dos slides.

Aplicar conteúdo e formatação em todos os folhetos: O formato Folhetos (3 Slides por Página) possui linhas
Se desejar alterar a aparência, a posição e o tamanho da para anotações do público.
numeração, da data ou do texto do cabeçalho e do rodapé
em todos os folhetos, faça as alterações no folheto mestre.
Para especificar a orientação da página, clicar na seta
Para incluir um nome ou logotipo em todas as páginas do
em Orientação e, em seguida, clicar em Paisagem ou Re-
folheto, basta adicioná-lo ao mestre. As alterações feitas no
trato.
folheto mestre também são exibidas na impressão da estru-
tura de tópicos.
Clicar em Imprimir.
Imprimir folhetos:
1. Abrir a apresentação em que deseja imprimir os fo-
Inserir texto
lhetos.
2. Clicar na aba Arquivo, clicar na seleção de layout de
slides para impressão na seção ‘Configurações’ e escolher o Para inserir um texto no slide clicar com o botão es-
modo de impressão(aqui também podemos selecionar os querdo do mouse no retângulo (Clique para adicionar um
modos ‘Anotações’ e ‘Estrutura de tópicos’) título), após clicar o ponto de inserção (cursor será exibido).

Então basta começar a digitar.

69
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

10 – Cor da Fonte
Altera a cor da fonte.
11 – Alinhar Texto à Esquerda
Alinha o texto à esquerda. Também pode ser acionado
através do comando Ctrl+Q.
12 – Centralizar
Centraliza o texto. Também pode ser acionado através
do comando Ctrl+E.
13 – Alinhar Texto à Direita
Alinha o texto à direita. Também pode ser acionado
através do comando Ctrl+G.
14 – Justificar
Alinha o texto às margens esquerda e direita, adicio-
nando espaço extra entre as palavras conforme o neces-
sário, promovendo uma aparência organizada nas laterais
esquerda e direita da página.
Formatar texto 15 – Colunas
Para alterar um texto, é necessário primeiro selecioná Divide o texto em duas ou mais colunas.
-lo. Para selecionar um texto ou palavra, basta clicar com
o boto esquerdo sobre o ponto em que se deseja iniciar Limpar formatação
a seleção e manter o botão pressionado, arrastar o mouse Para limpar toda a formatação de um texto basta se-
até o ponto desejado e soltar o botão esquerdo. lecioná-lo e clicar no botão , localizado na guia Início.

Inserir símbolos especiais


Além dos caracteres que aparecem no teclado, é pos-
sível inserir no slide vários caracteres e símbolos especiais.
1. Posicionar o cursor no local que se deseja inserir o
símbolo.
2. Acionar a guia Inserir.

1 – Fonte 3. Clicar no botão Símbolo.


Altera o tipo de fonte 4. Selecionar o símbolo.
2 – Tamanho da fonte
Altera o tamanho da fonte
3 – Negrito
Aplica negrito ao texto selecionado. Também pode ser
acionado através do comando Ctrl+N.
4 – Itálico
Aplica Itálico ao texto selecionado. Também pode ser
acionado através do comando Ctrl+I.
5 – Sublinhado
Sublinha o texto selecionado. Também pode ser acio-
nado através do comando Ctrl+S.
6 – Tachado
Desenha uma linha no meio do texto selecionado.
7 – Sombra de Texto
Adiciona uma sombra atrás do texto selecionado para
destacá-lo no slide. 5. Clicar em Inserir e em seguida Fechar.
8 – Espaçamento entre Caracteres
Ajusta o espaçamento entre caracteres. Marcadores e numeração
9 – Maiúsculas e Minúsculas Com a guia Início acionada, clicar no botão , para
Altera todo o texto selecionado para MAIÚSCULAS, criar parágrafos com marcadores. Para escolher o tipo de
minúsculas, ou outros usos comuns de maiúsculas/minús- marcador clicar na seta.
culas.

70
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

ficos variam desde listas gráficas e diagramas de processos


até gráficos mais complexos, como diagramas de Venn e
organogramas.
• Gráfico: insere um gráfico para ilustrar e comparar
dados.
• WordArt: insere um texto com efeitos especiais.

Alterar plano de fundo


Para alterar o plano de fundo de um slide, basta clicar
com o botão direito do mouse sobre ele, e em seguida
clicar em Formatar Plano de Fundo.

Com a guia Início acionada, clicar no botão , para ini-


ciar uma lista numerada. Para escolher diferentes formatos
de numeração clicar na seta.

Depois escolher entre as opções clicar Aplicar a tudo


para aplicar a mudança a todos os slides, se for alterar ape-
nas o slide atual clicar em fechar.

Inserir figuras

Animar textos e objetos


Para inserir uma figura no slide clicar na guia Inserir, e Para animar um texto ou objeto, selecionar o texto ou
clicar em um desses botões: objeto, clicar na guia Animações, e depois em Animações
• Imagem do Arquivo: insere uma imagem de um ar- Personalizadas, abrirá um painel à direita, clicar em Adicio-
quivo. nar efeito. Nele se encontram várias opções de animação
• Clip-art: é possível escolher entre várias figuras que de entrada, ênfase, saída e trajetórias de animação.
acompanham o Microsoft Office.
• Formas: insere formas prontas, como retângulos e Inserir botão de ação
círculos, setas, linhas, símbolos de fluxograma e textos ex- Um botão de ação consiste em um botão já existente que
plicativos. pode ser inserido na apresentação e para o qual pode defi-
• SmartArt: insere um elemento gráfico SmartArt para nir hiperlinks. Os botões de ação contêm formas, como setas
comunicar informações visualmente. Esses elementos grá- para direita e para esquerda e símbolos de fácil compreensão

71
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

referentes às ações de ir para o próximo, anterior, primeiro Uma apresentação personalizada com hiperlinks é uma
e último slide, além de executarem filmes ou sons. Eles são forma rápida de navegar para uma ou mais apresentações se-
mais comumente usados para apresentações autoexecutáveis paradas.
— por exemplo, apresentações que são exibidas várias vezes 1 – Apresentação Personalizada Básica
em uma cabine ou quiosque (um computador e monitor, ge- Utilizar uma apresentação personalizada básica para forne-
ralmente localizados em uma área frequentada por muitas cer apresentações separadas para diferentes grupos da sua or-
pessoas, que pode incluir tela sensível ao toque, som ou vídeo. ganização. Por exemplo, se sua apresentação contém um total
Os quiosques podem ser configurados para executar de cinco slides, é possível criar uma apresentação personalizada
apresentações do PowerPoint de forma automática, contí- chamada “Site 1” que inclui apenas os slides 1, 3 e 5. É possível
nua ou ambas). criar uma segunda apresentação personalizada chamada “Site
1. Na guia Inserir, no grupo Ilustrações, clicar na seta 2” que inclui os slides 1, 2, 4 e 5. Quando você criar uma apre-
abaixo de Formas e, em seguida, clique no botão Mais . sentação personalizada a partir de outra apresentação, é possí-
2. Em Botões de Ação, clicar no botão que se deseja vel executá-la, na íntegra, em sua sequência original.
adicionar.
3. Clicar sobre um local do slide e arrastar para dese-
nhar a forma para o botão.
4. Na caixa Configurar Ação, seguir um destes proce-
dimentos:
• Para escolher o comportamento do botão de ação
quando você clicar nele, clicar na guia Selecionar com o
Mouse.
• Para escolher o comportamento do botão de ação
quando você mover o ponteiro sobre ele, clicar na guia Se-
lecionar sem o Mouse.
5. Para escolher o que acontece quando você clica ou
move o ponteiro sobre o botão de ação, siga um destes
procedimentos:
• Se você não quiser que nada aconteça, clicar em Ne- 1. Na guia Apresentações de Slides, no grupo Iniciar
nhuma. Apresentação de Slides, clicar na seta ao lado de Apresenta-
• Para criar um hiperlink, clicar em Hiperlink para e sele- ção de Slides Personalizada e, em seguida, clicar em Apresen-
cionar o destino para o hiperlink. tações Personalizadas.
• Para executar um programa, clicar em Executar pro- 2. Na caixa de diálogo Apresentações Personalizadas, cli-
grama e, em seguida, clicar em Procurar e localizar o pro- car em Novo.
grama que você deseja executar. 3. Em Slides na apresentação, clicar nos slides que você
• Para executar um macro (uma ação ou um conjunto deseja incluir na apresentação personalizada e, em seguida,
de ações que você pode usar para automatizar tarefas. Os clicar em Adicionar.
macros são gravados na linguagem de programação Visual Para selecionar diversos slides sequenciais, clicar no pri-
Basic for Applications), clicar em Executar macro e selecio- meiro slide e, em seguida, manter pressionada a tecla SHIFT
nar a macro que você deseja executar. enquanto clica no último slide que deseja selecionar. Para se-
As configurações de Executar macro estarão disponí- lecionar diversos slides não sequenciais, manter pressionada a
veis somente se a sua apresentação contiver um macro. tecla CTRL enquanto clica em cada slide que queira selecionar.
• Se você deseja que a forma escolhida como um botão 4. Para alterar a ordem em que os slides são exibidos, em
de ação execute uma ação, clicar em Ação do objeto e sele- Slides na apresentação personalizada, clicar em um slide e,
cionar a ação que você deseja que ele execute. em seguida, clicar em uma das setas para mover o slide para
As configurações de Ação do objeto estarão disponí- cima ou para baixo na lista.
veis somente se a sua apresentação contiver um objeto OLE 5. Digitar um nome na caixa Nome da apresentação de
(uma tecnologia de integração de programa que pode ser slides e clicar em OK. Para criar apresentações personalizadas
usada para compartilhamento de informações entre pro- adicionais com quaisquer slides da sua apresentação, repetir
gramas. Todos os programas do Office oferecem suporte as etapas de 1 a 5.
para OLE; por isso, você pode compartilhar informações por Para visualizar uma apresentação personalizada, clicar no
meio de objetos vinculados e incorporados). nome da apresentação na caixa de diálogo Apresentações
• Para tocar um som, marcar a caixa de seleção Tocar Personalizadas e, em seguida, clicar em Mostrar.
som e selecionar o som desejado. 2 – Apresentação Personalizada com Hiperlink
Utilizar uma apresentação personalizada com hiperlinks
Criar apresentação personalizada para organizar o conteúdo de uma apresentação. Por exem-
Existem dois tipos de apresentações personalizadas: plo, se você cria uma apresentação personalizada principal
básica e com hiperlinks. sobre a nova organização geral da sua empresa, é possível
Uma apresentação personalizada básica é uma apre- criar uma apresentação personalizada para cada departa-
sentação separada ou uma apresentação que inclui alguns mento da sua organização e vinculá-los a essas exibições
slides originais. da apresentação principal.

72
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

1. Sem transição
2. Persiana Horizontal
3. Persiana Vertical
1. Na guia Apresentações, no grupo Iniciar Apresen- 4. Quadro Fechar
tação de Slides, clicar na seta ao lado de Apresentação de 5. Quadro Abrir
Slides Personalizada e, em seguida, clicar em Apresenta- 6. Quadriculado na Horizontal
ções Personalizadas. 7. Quadriculado na Vertical
2. Na caixa de diálogo Apresentações Personalizadas, 8. Pente Horizontal
clicar em Novo. 9. Pente Vertical
3. Em Slides na apresentação, clicar nos slides que
você deseja incluir na apresentação personalizada principal Para consultar mais efeitos de transição, na lista Esti-
e, em seguida, clicar em Adicionar. los Rápidos, clicar no botão Mais, conforme mostrado no
Para selecionar diversos slides sequenciais, clicar no
diagrama acima.
primeiro slide e, em seguida, manter pressionada a tecla
• Adicionar a mesma transição de slides a todos os
SHIFT enquanto clica no último slide que deseja selecio-
slides em sua apresentação:
nar. Para selecionar diversos slides não sequenciais, manter
1. No painel que contém as guias Tópicos e Slides,
pressionada a tecla CTRL enquanto clica em cada slide que
queira selecionar. clicar na guia Slides.
4. Para alterar a ordem em que os slides são exibidos, 2. Na guia Início, clicar na miniatura de um slide.
em Slides na apresentação personalizada, clicar em um sli- 3. Na guia Animações, no grupo Transição para Este
de e, em seguida, clicar em uma das setas para mover o Slide, clicar em um efeito de transição de slides.
slide para cima ou para baixo na lista. 4. Para consultar mais efeitos de transição, na lista
5. Digitar um nome na caixa Nome da apresentação de Estilos Rápidos, clicar no botão Mais.
slides e clicar em OK. Para criar apresentações personaliza- 5. Para definir a velocidade de transição de slides,
das adicionais com quaisquer slides da sua apresentação, no grupo Transição para Este Slide, clicar na seta ao lado
repetir as etapas de 1 a 5. de Velocidade da Transição e, em seguida, selecionar a
6. Para criar um hiperlink da apresentação principal velocidade desejada.
para uma apresentação de suporte, selecionar o texto ou 6. No grupo Transição para Este Slide, clicar em Apli-
objeto que você deseja para representar o hiperlink. car a Tudo.
7. Na guia Inserir, no grupo Vínculos, clicar na seta • Adicionar diferentes transições de slides aos slides
abaixo de Hiperlink. em sua apresentação
8. Em Vincular para, clicar em Colocar Neste Documento. 1. No painel que contém as guias Tópicos e Slides,
9. Seguir um destes procedimentos: clicar na guia Slides.
• Para se vincular a uma apresentação personalizada, 2. Na guia Início, clicar na miniatura de um slide.
na lista Selecionar um local neste documento, selecionar a 3. Na guia Animações, no grupo Transição para Este
apresentação personalizada para a qual deseja ir e marcar Slide, clicar no efeito de transição de slides que você de-
a caixa de seleção Mostrar e retornar. seja para esse slide.
• Para se vincular a um local na apresentação atual, na 4. Para consultar mais efeitos de transição, na lista
lista Selecione um local neste documento, selecionar o sli- Estilos Rápidos, clicar no botão Mais.
de para o qual você deseja ir. 5. Para definir a velocidade de transição de slides,
Para visualizar uma apresentação personalizada, clicar no grupo Transição para Este Slide, clicar na seta ao lado
no nome da apresentação na caixa de diálogo Apresenta-
de Velocidade da Transição e, em seguida, selecionar a
ções Personalizadas e, em seguida, clicar em Mostrar.
velocidade desejada.
6. Para adicionar uma transição de slides diferente a
Transição de slides
outro slide em sua apresentação, repetir as etapas 2 a 4.
As transições de slide são os efeitos semelhantes à ani-
mação que ocorrem no modo de exibição Apresentação • Adicionar som a transições de slides
de Slides quando você move de um slide para o próximo. 1. No painel que contém as guias Tópicos e Slides,
É possível controlar a velocidade de cada efeito de clicar na guia Slides.
transição de slides e também adicionar som. 2. Na guia Início, clicar na miniatura de um slide.
O Microsoft Office PowerPoint 2010 inclui vários tipos 3. Na guia Animações, no grupo Transição para Este
diferentes de transições de slides, incluindo (mas não se Slide, clicar na seta ao lado de Som de Transição e, em
limitando) as seguintes: seguida, seguir um destes procedimentos:

73
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

• Para adicionar um som a partir da lista, selecionar o o Para mostrar uma apresentação sem executar uma
som desejado. narração incorporada, marcar a caixa de seleção Apresen-
• Para adicionar um som não encontrado na lista, se- tação sem narração.
lecionar Outro Som, localizar o arquivo de som que você o Para mostrar uma apresentação sem executar uma
deseja adicionar e, em seguida, clicar em OK. animação incorporada, marcar a caixa de seleção Apresen-
4. Para adicionar som a uma transição de slides dife- tação sem animação.
rente, repetir as etapas 2 e 3. o Ao fazer sua apresentação diante de uma audiência
ao vivo, é possível escrever nos slides. Para especificar uma
Configurar apresentação de slides cor de tinta, na lista Cor da caneta, selecionar uma cor de
• Tipo de apresentação tinta.
Usar as opções na seção Tipo de apresentação para
especificar como você deseja mostrar a apresentação para A lista Cor da caneta estará disponível apenas se Exibi-
sua audiência. da por um orador (tela inteira) (na seção Tipo de apresen-
o Para fazer sua apresentação diante de uma audiência tação) estiver selecionada.
ao vivo, clicar em Exibida por um orador (tela inteira). • Avançar slides
o Para permitir que a audiência exiba sua apresentação Usar as opções na seção Avançar slides para especificar
a partir de um disco rígido ou CD em um computador ou como mover de um slide para outro.
o Para avançar para cada slide manualmente durante a
na Internet, clicar em Apresentada por uma pessoa (janela).
apresentação, clicar em Manualmente.
o Para permitir que a audiência role por sua apresen-
o Para usar intervalos de slide para avançar para cada
tação de auto execução a partir de um computador autô-
slide automaticamente durante a apresentação, clicar em
nomo, marcar a caixa de seleção Mostrar barra de rolagem.
Usar intervalos, se houver.
o Para entregar uma apresentação de auto execução • Vários Monitores
executada em um quiosque (um computador e monitor,
geralmente localizados em uma área frequentada por mui- É possível executar sua apresentação do Microsoft Of-
tas pessoas, que pode incluir tela sensível ao toque, som ou fice PowerPoint 2010 de um monitor (por exemplo, em um
vídeo. Os quiosques podem ser configurados para executar pódio) enquanto o público a vê em um segundo monitor.
apresentações do PowerPoint de forma automática, con- Usando dois monitores, é possível executar outros pro-
tínua ou ambas), clicar em Apresentada em um quiosque gramas que não são vistos pelo público e acessar o modo
(tela inteira). de exibição Apresentador. Este modo de exibição oferece
• Mostrar slides as seguintes ferramentas para facilitar a apresentação de
Usar as opções na seção Mostrar slides para especifi- informação:
car quais slides estão disponíveis em uma apresentação ou o É possível utilizar miniaturas para selecionar os slides
para criar uma apresentação personalizada (uma apresen- de uma sequência e criar uma apresentação personalizada
tação dentro de uma apresentação na qual você agrupa para o seu público.
slides em uma apresentação existente para poder mostrar o A visualização de texto mostra aquilo que o seu pró-
essa seção da apresentação para um público em particular). ximo clique adicionará à tela, como um slide novo ou o
o Para mostrar todos os slides em sua apresentação, próximo marcador de uma lista.
clicar em Tudo. o As anotações do orador são mostradas em letras
o Para mostrar um grupo específico de slides de sua grandes e claras, para que você possa utilizá-las como um
apresentação, digitar o número do primeiro slide que você script para a sua apresentação.
deseja mostrar na caixa De e digitar o número do último o É possível escurecer a tela durante sua apresenta-
slide que você deseja mostrar na caixa Até. ção e, depois, prosseguir do ponto em que você parou.
o Para iniciar uma apresentação de slides personaliza- Por exemplo, talvez você não queira exibir o conteúdo do
da que seja derivada de outra apresentação do PowerPoint, slide durante um intervalo ou uma seção de perguntas e
clicar em Apresentação personalizada e, em seguida, clicar respostas.
na apresentação que você deseja exibir como uma apre-
sentação personalizada (uma apresentação dentro de uma
apresentação na qual você agrupa slides em uma apresen-
tação existente para poder mostrar essa seção da apresen-
tação para um público em particular).
• Opções da apresentação
Usar as opções na seção Opções da apresentação para
especificar como você deseja que arquivos de som, narra-
ções ou animações sejam executados em sua apresentação.
o Para executar um arquivo de som ou animação con-
tinuamente, marcar a caixa de opções Repetir até ‘Esc’ ser
pressionada.

74
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

No modo de exibição do Apresentador, os ícones e bo- 1. Na guia Apresentação de Slides, no grupo Monito-
tões são grandes o suficiente para uma fácil navegação, mes- res, clicar em Mostrar Modo de Exibição do Apresentador.
mo quando você está usando um teclado ou mouse desco- 2. Na caixa de diálogo Propriedades de Vídeo, na guia
nhecido. A seguinte ilustração mostra as várias ferramentas Configurações, clicar no ícone do monitor para o monitor
disponibilizadas pelo modo de exibição Apresentador. do apresentador e desmarcar a caixa de seleção Usar este
dispositivo como monitor primário.
Se a caixa de seleção Usar este dispositivo como moni-
tor primário estiver marcada e não disponível, o monitor foi
designado como o monitor primário. Somente é possível
selecionar um monitor primário por vez. Se você clicar em
um ícone de monitor diferente, a caixa de seleção Usar este
dispositivo como monitor primário é desmarcada e torna-
se disponível novamente.
É possível mostrar o modo de exibição Apresentador e
executar a apresentação de apenas um monitor — geral-
mente, o monitor 1.
3. Clicar no ícone do monitor para o monitor do públi-
co e marcar a caixa de seleção Estender a área de trabalho
do Windows a este monitor.
Executar uma apresentação em dois monitores usando
o modo de exibição do Apresentador:
Após configurar seus monitores, abrir a apresentação
que deseja executar e fazer o seguinte:
1. Na guia Apresentação de Slides, no grupo Configu-
ração, clicar em Configurar a Apresentação de Slides.
1. Miniaturas dos slides que você pode clicar para 2. Na caixa de diálogo Configurar Apresentação, esco-
pular um slide ou retornar para um slide já apresentado.
lher as opções desejadas e clicar em OK.
2. O slide que você está exibindo no momento para
3. Para começar a entrega da apresentação, na guia
o público.
Exibir, no grupo Modos de Exibição de Apresentação, clicar
3. O botão Finalizar Apresentação, que você pode
em Apresentação de Slides.
clicar a qualquer momento para finalizar a sua apresenta-
• Desempenho
ção.
Usar as opções na seção Desempenho para especificar
4. O botão Escurecer, que você pode clicar para es-
o nível de clareza visual da apresentação.
curecer a tela do público temporariamente e, em seguida,
clicar de novo para exibir o slide atual. o Para acelerar o desenho de elementos gráficos na
5. Avançar para cima, que indica o slide que o seu apresentação, selecionar Usar aceleração de elementos
público verá em seguida. gráficos do hardware.
6. Botões que você pode selecionar para mover para o Na lista Resolução da apresentação de slides, clicar
frente ou para trás na sua apresentação. na resolução, ou número de pixels por polegada, que você
7. O Número do slide (por exemplo, Slide 7 de 12) deseja. Quanto mais pixels, mais nítida será a imagem, con-
8. O tempo decorrido, em horas e minutos, desde o tudo mais lento será o desempenho do computador. Por
início da sua apresentação. exemplo, uma tela de 640 x 480 pixels é capaz de exibir 640
9. As anotações do orador, que você pode usar como pontos distintos em cada uma das 480 linhas, ou aproxi-
um script para a sua apresentação. madamente 300.000 pixels. Essa é a resolução com desem-
Requisitos para o uso do modo de exibição Apresen- penho mais rápido, contudo fornece a menor qualidade.
tador: Em contraste, uma tela com 1280 x 1024 pixels fornece as
Para utilizar o modo de exibição Apresentador, faça o imagens mais nítidas, mas com desempenho mais lento.
seguinte:
o Certifique-se que o computador usado para a apre-
sentação tem capacidade para vários monitores.
o Ativar o suporte a vários monitores
o Ativar o modo de exibição Apresentador.

Ativar o suporte a vários monitores:


Embora os computadores possam oferecer suporte a
mais de dois monitores, o PowerPoint oferece suporte para
o uso de até dois monitores para uma apresentação. Para
desativar o suporte a vários monitores, selecionar o segun-
do monitor e desmarcar a caixa de seleção Estender a área
de trabalho do Windows a este monitor.

75
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

QUESTÕES GERAIS Comentário: Quando desejamos excluir permanente-


mente um arquivo ou pasta no Windows sem enviar antes
1- Com relação ao sistema operacional Windows, assi- para a lixeira, basta pressionarmos a tecla Shift em conjun-
nale a opção correta. to com a tecla Delete. O Windows exibirá uma mensagem
(A) A desinstalação de um aplicativo no Windows deve do tipo “Você tem certeza que deseja excluir permanente-
ser feita a partir de opção equivalente do Painel de Con- mente este arquivo?” ao invés de “Você tem certeza que
trole, de modo a garantir a correta remoção dos arquivos deseja enviar este arquivo para a lixeira?”.
relacionados ao aplicativo, sem prejuízo ao sistema opera- Resposta: C
cional.
(B) O acionamento simultâneo das teclas CTRL, ALT e 4- Qual a técnica que permite reduzir o tamanho de
DELETE constitui ferramenta poderosa de acesso direto aos arquivos, sem que haja perda de informação?
diretórios de programas instalados na máquina em uso. (A) Compactação
(C) O Windows oferece acesso facilitado a usuários de (B) Deleção
um computador, pois bastam o nome do usuário e a senha (C) Criptografia
da máquina para se ter acesso às contas dos demais usuá- (D) Minimização
rios possivelmente cadastrados nessa máquina. (E) Encolhimento adaptativo
(D) O Windows oferece um conjunto de acessórios
disponíveis por meio da instalação do pacote Office, entre Comentários: A compactação de arquivos é uma téc-
eles, calculadora, bloco de notas, WordPad e Paint. nica amplamente utilizada. Alguns arquivos compactados
(E) O comando Fazer Logoff, disponível a partir do bo- podem conter extensões ZIP, TAR, GZ, RAR e alguns exem-
tão Iniciar do Windows, oferece a opção de se encerrar o plos de programas compactadores são o WinZip, WinRar,
Windows, dar saída no usuário correntemente em uso na SolusZip, etc.
máquina e, em seguida, desligar o computador. Resposta: A

Comentários: Para desinstalar um programa de forma 5- A figura a seguir foi extraída do MS-Excel:
segura deve-se acessar Painel de Controle / Adicionar ou
remover programas
Resposta – Letra A

2- Nos sistemas operacionais como o Windows, as in-


formações estão contidas em arquivos de vários formatos,
que são armazenados no disco fixo ou em outros tipos de
mídias removíveis do computador, organizados em:  
(A) telas. Se o conteúdo da célula D1 for copiado (Ctrl+C) e co-
(B) pastas. lado (Ctrl+V) na célula D3, seu valor será:
(C) janelas. (A) 7
(D) imagens. (B) 56
(E) programas. (C) 448
(D) 511
Comentários: O Windows Explorer, mostra de forma (E) uma mensagem de erro
bem clara a organização por meio de PASTAS, que nada  
mais são do que compartimentos que ajudam a organizar Comentários: temos que D1=SOMA(A1:C1). Quando
os arquivos em endereços específicos, como se fosse um copiamos uma célula que contém uma fórmula e colamos
sistema de armário e gavetas. em outra célula, a fórmula mudará ajustando-se à nova po-
Resposta: Letra B sição. Veja como saber como ficará a nova fórmula ao ser
copiada de D1 para D3:
3- Um item selecionado do Windows XP pode ser ex-  
cluído permanentemente, sem colocá-Lo na Lixeira, pres-  
sionando-se simultaneamente as teclas
(A) Ctrl + Delete.
(B) Shift + End.
(C) Shift + Delete.
(D) Ctrl + End.
(E) Ctrl + X.

76
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Agora é só substituir os valores: A fórmula diz para III. Upload é a transferência de dados de um computa-
somar todas as células de A3 até C3(dois pontos significam dor local para um servidor ou computador remoto.
‘até’), sendo assim teremos que somar A3,  , B3, C3 obtendo- IV. Anexar um arquivo em mensagem de e-mail signi-
se o resultado 448. fica movê-lo definitivamente da máquina local, para envio
Resposta: C. a um destinatário, com endereço eletrônico.
Estão corretas apenas as afirmativas:
6- “O correio eletrônico é um método que permite compor, A) I, II, III, IV
enviar e receber mensagens através de sistemas eletrônicos de B) I, II
comunicação”. São softwares gerenciadores de email, EXCETO: C) I, II, III
A) Mozilla Thunderbird. D) I, II, IV
B) Yahoo Messenger. E) I, III, IV
C) Outlook Express. Comentários: O URL é o endereço (único) de um recur-
D) IncrediMail. so na Internet. A questão parece diferenciar um recurso de
E) Microsoft Office Outlook 2003.
página, mas na verdade uma página é um recurso (o mais
conhecido, creio) da Web. Item verdadeiro.
Comentários: Podemos citar vários gerenciadores de
É comum confundir os itens II e III, por isso memorize:
e-mail (eletronic mail ou correio eletrônico), mas devemos
down = baixo = baixar para sua máquina, descarregar. II e
memorizar que os sistemas que trabalham o correio eletrôni-
co podem funcionar por meio de um software instalado em III são verdadeiros.
nosso computador local ou por meio de um programa que
funciona dentro de um navegador, via acesso por Internet.
Este programa da Internet, que não precisa ser instalado, e é
chamado de WEBMAIL, enquanto o software local é o geren-
ciador de e-mail citado pela questão.
Principais Vantagens do Gerenciador de e-mail:
• Pode ler e escrever mensagens mesmo quando está
desconectado da Internet;
• Permite armazenar as mensagens localmente (no
computador local);
• Permite utilizar várias caixas de e-mail ao mesmo
tempo;
Maiores Desvantagens: No item IV encontramos o item falso da questão, o
• Ocupam espaço em disco; que nos leva ao gabarito – letra C. Anexar um arquivo em
• Compatibilidade com os servidores de e-mail (nem mensagem de e-mail significa copiar e não mover!
sempre são compatíveis). Resposta: C.
A seguir, uma lista de gerenciadores de e-mail (em negri-
to os mais conhecidos e utilizados atualmente): 8- A respeito dos modos de utilização de aplicativos
Microsoft Office Outlook do ambiente MS Office, assinale a opção correta.
Microsoft Outlook Express; (A) Ao se clicar no nome de um documento gravado
Mozilla Thunderbird; com a extensão .xls a partir do Meu Computador, o Win-
IcrediMail dows ativa o MS Access para a abertura do documento
Eudora
em tela.
Pegasus Mail
(B) As opções Copiar e Colar, que podem ser obtidas
Apple Mail (Apple)
ao se acionar simultaneamente as teclas CTRL + C e CTRL
Kmail (Linux)
+ V,respectivamente, estão disponíveis no menu Editar de
Windows Mail
A questão cita o Yahoo Mail, mas este é um WEBMAIL, ou todos os aplicativos da suíte MS Office.
seja, não é instalado no computador local. Logo, é o gabarito (C) A opção Salvar Como, disponível no menu das apli-
da questão. cações do MS Office, permite que o usuário salve o do-
Resposta: B. cumento correntemente aberto com outro nome. Nesse
caso, a versão antiga do documento é apagada e só a nova
7- Sobre os conceitos de utilização da Internet e correio versão permanece armazenada no computador.
eletrônico, analise: (D) O menu Exibir permite a visualização do documen-
I. A URL digitada na barra de Endereço é usada pelos na- to aberto correntemente, por exemplo, no formato do MS
vegadores da Web (Internet Explorer, Mozilla e Google Chro- Word para ser aberto no MS PowerPoint.
me) para localizar recursos e páginas da Internet (Exemplo: (E) Uma das vantagens de se utilizar o MS Word é a
http://www.google.com.br). elaboração de apresentações de slides que utilizem con-
II. Download significa descarregar ou baixar; é a trans- teúdo e imagens de maneira estruturada e organizada.
ferência de dados de um servidor ou computador remoto
para um computador local.

77
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Comentários: O menu editar geralmente contém os co- 10- Com relação à Internet, assinale a opção correta.
mandos universais dos programas da Microsoft como é o (A) A URL é o endereço físico de uma máquina na Inter-
caso dos atalhos CTRL + C, CTRL + V, CTRL + X, além do net, pois, por esse endereço, determina-se a cidade onde
localizar. está localizada tal máquina.
Em relação às outras letras: (B) O SMTP é um serviço que permite a vários usuários
Letra A – Incorreto – A extensão .xls abre o aplicativo se conectarem a uma mesma máquina simultaneamente,
Excel e não o Access como no caso de salas de bate-papo.
Letra C – Incorreto – A opção salvar como, cria uma (C) O servidor Pop é o responsável pelo envio e recebi-
cópia do arquivo corrente e não apaga a sua versão antiga. mento de arquivos na Internet.
Letra D – Incorreto – O menu exibir mostra formas de (D) Quando se digita o endereço de uma página web,
exibição do documento dentro do contexto de cada pro- o termo http significa o protocolo de acesso a páginas em
grama e não de um programa para o outro como é o caso formato HTML, por exemplo.
da afirmativa. (E) O protocolo FTP é utilizado quando um usuário de
Letra E – Incorreto – O Ms Word não faz apresentação correio eletrônico envia uma mensagem com anexo para
de slides e sim o Ms Power Point. outro destinatário de correio eletrônico.
Resposta: B Comentários: Os itens apresentados nessa questão es-
tão relacionados a protocolos de acesso. Segue abaixo os
9- Com relação a conceitos de Internet e intranet, assi- protocolos mais comuns:
nale a opção correta. - HTTP(Hypertext Transfer Protocol) – Protocole de car-
(A) Domínio é o nome dado a um servidor que controla regamento de páginas de Hipertexto –  HTML
a entrada e a saída de conteúdo em uma rede, como ocorre - IP (Internet Protocol) – Identificação lógica de uma
na Internet. máquina na rede
(B) A intranet só pode ser acessada por usuários da - POP (Post Office Protocol) – Protocolo de recebimen-
Internet que possuam uma conexão http, ao digitarem na to de emails direto no PC via gerenciador de emails
barra de endereços do navegador: http://intranet.com. - SMTP (Simple Mail Transfer Protocol) – Protocolo pa-
(C) Um modem ADSL não pode ser utilizado em uma drão de envio de emails
rede local, pois sua função é conectar um computador à - IMAP(Internet Message Access Protocol) – Semelhan-
rede de telefonia fixa. te ao POP, no entanto, possui mais recursos e dá ao usuário
(D) O modelo cliente/servidor, em que uma máquina a possibilidade de armazenamento e acesso a suas mensa-
denominada cliente requisita serviços a outra, denominada gens de email direto no servidor.
servidor, ainda é o atual paradigma de acesso à Internet. - FTP(File Transfer Protocol) – Protocolo para transfe-
(E) Um servidor de páginas web é a máquina que ar- rência de arquivos
mazena os nomes dos usuários que possuem permissão de Resposta: D
acesso a uma quantidade restrita de páginas da Internet.
Comentários: O modelo cliente/servidor é questionado 11- Quanto ao Windows Explorer, assinale a opção correta.
em termos de internet pois não é tão robusto quanto re- (A) O Windows Explorer é utilizado para gerenciar pas-
des P2P pois, enquanto no primeiro modelo uma queda do tas e arquivos e por seu intermédio não é possível acessar o
servidor central impede o acesso aos usuários clientes, no Painel de Controle, o qual só pode ser acessado pelo botão
segundo mesmo que um servidor “caia” outros servidores Iniciar do Windows.
ainda darão acesso ao mesmo conteúdo permitindo que (B) Para se obter a listagem completa dos arquivos sal-
o download continue. Ex: programas torrent, Emule, Lime- vos em um diretório, exibindo-se tamanho, tipo e data de
ware, etc. modificação, deve-se selecionar Detalhes nas opções de
Em relação às outras letras: Modos de Exibição.
letra A – Incorreto – Domínio é um nome que serve (C) No Windows Explorer, o item Meus Locais de Rede
para localizar e identificar conjuntos de computadores na oferece um histórico de páginas visitadas na Internet para
Internet e corresponde ao endereço que digitamos no na- acesso direto a elas.
vegador. (D) Quando um arquivo estiver aberto no Windows e
letra B – Incorreto – A intranet é acessada da mesma a opção Renomear for acionada no Windows Explorer com
forma que a internet, contudo, o ambiente de acesso a rede o botão direito do mouse,será salva uma nova versão do
é restrito a uma rede local e não a internet como um todo. arquivo e a anterior continuará aberta com o nome antigo.
letra C – Incorreto – O modem ADSL conecta o compu- (E) Para se encontrar arquivos armazenados na estrutu-
tador a internet, como o acesso a intranet se faz da mesma ra de diretórios do Windows, deve-se utilizar o sítio de bus-
forma só que de maneira local, o acesso via ADSL pode sim ca Google, pois é ele que dá acesso a todos os diretórios de
acessar redes locais. máquinas ligadas à Internet.
letra E – Incorreto – Um servidor é um sistema de com-
putação que fornece serviços a uma rede de computado- Comentários: Na opção Modos de Exibição, os arqui-
res. E não necessariamente armazena nomes de usuários e/ vos são mostrados de várias formas como Listas, Miniatu-
ou restringe acessos. ras e Detalhes.
Resposta: D Resposta: B

78
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Atenção: Para responder às questões de números Comentários: Claro que, para se enviar arquivos pelo
12 e 13, considere integralmente o texto abaixo: correio eletrônico deve-se recorrer ao uso de anexação, ou
Todos os textos produzidos no editor de textos padrão seja, anexar o arquivo à mensagem. Quando colocamos
deverão ser publicados em rede interna de uso exclusivo do os endereços dos destinatários no campo Cco, ou seja, no
órgão, com tecnologia semelhante à usada na rede mundial campo “com cópia oculta”, um destinatário não ficará sa-
de computadores. bendo quem mais recebeu aquela mensagem, o que aten-
Antes da impressão e/ou da publicação os textos deve- de a segurança solicitada no enunciado.
rão ser verificados para que não contenham erros. Alguns Resposta: A
artigos digitados deverão conter a imagem dos resultados
obtidos em planilhas eletrônicas, ou seja, linhas, colunas, va- 14. (Caixa Econômica Federal - Técnico Bancário
lores e totais. Novo - CESGRANRIO/2012) Usado para o manuseio
Todo trabalho produzido deverá ser salvo e cuidados de- de arquivos em lotes, também denominados scripts, o
vem ser tomados para a recuperação em caso de perda e shell de comando é um programa que fornece comuni-
também para evitar o acesso por pessoas não autorizadas às
cação entre o usuário e o sistema operacional de forma
informações guardadas.
direta e independente. Nos sistemas operacionais Win-
Os funcionários serão estimulados a realizar pesquisas
dows XP, esse programa pode ser acessado por meio de
na internet visando o atendimento do nível de qualidade da
informação prestada à sociedade, pelo órgão. um comando da pasta Acessórios denominado
O ambiente operacional de computação disponível para (A) Prompt de Comando
realizar estas operações envolve o uso do MS-Windows, do (B) Comandos de Sistema
MS-Office, das ferramentas Internet Explorer e de correio (C) Agendador de Tarefas
eletrônico, em português e em suas versões padrões mais (D) Acesso Independente
utilizadas atualmente. (E) Acesso Direto
Observação: Entenda-se por mídia removível disquetes,
CD’s e DVD’s graváveis, Pen Drives (mídia removível acopla- Resposta: “A”
da em portas do tipo USB) e outras funcionalmente seme-
lhantes. Comentários
Prompt de Comando é um recurso do Windows que ofe-
12- As células que contêm cálculos feitos na planilha rece um ponto de entrada para a digitação de comandos do
eletrônica, MSDOS (Microsoft Disk Operating System) e outros coman-
(A) quando “coladas” no editor de textos, apresentarão dos do computador. O mais importante é o fato de que, ao
resultados diferentes do original. digitar comandos, você pode executar tarefas no computa-
(B) não podem ser “coladas” no editor de textos. dor sem usar a interface gráfica do Windows. O Prompt de
(C) somente podem ser copiadas para o editor de tex- Comando é normalmente usado apenas por usuários avan-
tos dentro de um limite máximo de dez linhas e cinco co- çados.
lunas.
(D) só podem ser copiadas para o editor de texto uma 15. (Caixa Econômica Federal - Técnico Bancário
a uma. Novo - CESGRANRIO/2012) Seja o texto a seguir di-
(E) quando integralmente selecionadas, copiadas e gitado no aplicativo Word. Aplicativos para edição de
“coladas” no editor de textos, serão exibidas na forma de textos. Aplicando-se a esse texto o efeito de fonte Ta-
tabela. chado, o resultado obtido será
 
Comentários: Sempre que se copia células de uma pla-
nilha eletrônica e cola-se no Word, estas se apresentam
como uma tabela simples, onde as fórmulas são esqueci-
das e só os números são colados.
Resposta: E

13- O envio do arquivo que contém o texto, por meio


do correio eletrônico, deve considerar as operações de
(A) anexação de arquivos e de inserção dos endereços
eletrônicos dos destinatários no campo “Cco”.
(B) de desanexação de arquivos e de inserção dos en- Resposta: “C”
dereços eletrônicos dos destinatários no campo “Para”.
(C) de anexação de arquivos e de inserção dos endere- Comentários:
ços eletrônicos dos destinatários no campo “Cc”. Temos 3 itens com a formatação taxado aplicada: c, d,
(D) de desanexação de arquivos e de inserção dos en- e. Entretanto, temos que observar que na questão os itens
dereços eletrônicos dos destinatários no campo “Cco”. d, e, além de receberem taxado, também ficaram em caixa
(E) de anexação de arquivos e de inserção dos endere- alta. O único que recebe apenas o taxada, sem alterar outras
ços eletrônicos dos destinatários no campo “Para”.   formatações foi o item c.

79
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

16. (Caixa Econômica Federal - Técnico Bancário Resposta: “C”


Novo - CESGRANRIO/2012) O envio e o recebimento
de um arquivo de textos ou de imagens na internet, en- Comentário:
tre um servidor e um cliente, constituem, em relação ao Expressão =MÉDIA(A1:A3)
cliente, respectivamente, um São somadas as celular A1, A2 e A3, sendo uma média é
(A) download e um upload dividido por 3 (pois tem 3 células): (8+3+4)/3 = 5
(B) downgrade e um upgrade Expressão =MENOR(B1:B3;2)
(C) downfile e um upfile Da célula B1 até a B3, deve mostrar o 2º menor número,
(D) upgrade e um downgrade que seria o número 1. Para facilitar coloque esses números
(E) upload e um download em ordem crescente.
Expressão =MAIOR(C1:C3;3)
Resposta: “E”. Da célula C1 até a C3, deve mostrar o 3º maior número,
que seria o número 2. Para facilitar coloque esses números
Comentários: em ordem decrescente.
 Up – Cima / Down – baixo  / Load – Carregar;
Upload – Carregar para cima (enviar). 19- (SPPREV – Técnico – Vunesp/2011 – II)
Download – Carregar para baixo (receber ou “baixar”)
17- (TJ/SP – Escrevente Téc. Jud. – Vunesp/2011)
Assinale a alternativa que contém os nomes dos menus
do programa Microsoft Word XP, em sua configuração
padrão, que, respectivamente, permitem aos usuários:
(I) numerar as páginas do documento, (II) contar as pa-
lavras de um parágrafo e (III) adicionar um cabeçalho
ao texto em edição.
a) Janela, Ferramentas e Inserir.
b) Inserir, Ferramentas e Exibir.
c) Formatar, Editar e Janela.
d) Arquivo, Exibir e Formatar.
e) Arquivo, Ferramentas e Tabela. a) 1
Resposta: “B” b) 2
Comentário: c) 3
• Ação numerar - “INSERIR” d) 4
• Ação contar paginas - “FERRAMENTAS” e) 5
• Ação adicionar cabeçalho - “EXIBIR”
Resposta: “D”
18- (TJ/SP – Escrevente Téc. Jud. – Vunesp/2011)
Comentário:
Passo 1
A célula A1 contém a fórmula =B$1+C1

a) 3, 0 e 7.
b) 5, 0 e 7.
c) 5, 1 e 2.
d) 7, 5 e 2.
e) 8, 3 e 4.

80
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Passo 2 21- (SPPREV – Técnico – Vunesp/2011 - II) No âmbi-


que foi propagada pela alça de preenchimento para A2 to das URLs, considere o exemplo: protocolo://xxx.yyy.
e A3 zzz.br. O domínio de topo (ou TLD, conforme sigla em
inglês) utilizado para classificar o tipo de instituição, no
exemplo dado acima, é o
a) protocolo.
b) xxx.
c) zzz.
d) yyy.
e) br.

Resposta: “C”
Comentários:
a) protocolo. protocolo HTTP
b) xxx. o nome do domínio
c) zzz. o tipo de domínio
Click na imagem para melhor visualizar d) yyy. subdomínios
e) br. indicação do país ao qual pertence o domínio
Passo 3
Assim, a célula com interrogação (A3) apresenta, após a 22. (TJ/SP – Escrevente Téc. Jud. – Vunesp/2012)
propagação, o resultado Analise a régua horizontal do Microsoft Word, na sua
configuração padrão, exibida na figura.

Assinale a alternativa que contém apenas os indica-


dores de tabulação.
(A) II, III, IV e V.
(B) III e VI.
(C) I, IV e V.
(D) III, IV e V.
(E) I, II e VI.
20- (SPPREV – Técnico – Vunesp/2011 - II) No Po- Resposta: D
werPoint 2007, a inserção de um novo comentário pode Comentário:
ser feita na guia
a) Geral.
b) Inserir.
c) Animações.
d) Apresentação de slides.
e) Revisão.
Resposta: “E”
Comentário:

Você pode usar a régua para definir tabulações manuais


no lado esquerdo, no meio e no lado direito do documento.
Obs.: Se a régua horizontal localizada no topo do do-
cumento não estiver sendo exibida, clique no botão Exibir
Régua no topo da barra de rolagem vertical.
É possível definir tabulações rapidamente clicando no
seletor de tabulação na extremidade esquerda da régua
até que ela exiba o tipo de tabulação que você deseja. Em
seguida, clique na régua no local desejado.

81
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Uma tabulação Direita define a extremidade do texto à Nesta questão, foram colocadas várias funções, destrin-
direita. Conforme você digita, o texto é movido para a esquerda. chadas no exemplo acima (arredondamento, mínimo e so-
Uma tabulação Decimal alinha números ao redor de um matório) em uma única questão. A função ARRED é para
ponto decimal. Independentemente do numero de dígitos, o arredondamento e pertence a mesma família de INT(parte
ponto decimal ficará na mesma posição. inteira) e TRUNCAR (parte do valor sem arredondamento).
Uma tabulação Barra não posiciona o texto. Ela insere A resposta está no item 2 que indica a quantidade de casas
uma barra vertical na posição de tabulação. decimais. Sendo duas casas decimais, não poderia ser letra
A, C ou D. A função SOMA efetua a soma das três células
23. (TJ/SP – Escrevente Téc. Jud. – Vunesp/2012) (B1:B3->B1 até B3). A função MÍNIMO descobre o menor
Uma planilha do Microsoft Excel, na sua configuração entre os dois valores informados (2,66666 - dízima periódi-
padrão, possui os seguintes valores nas células: B1=4, ca - e 2,7). A função ARRED arredonda o número com duas
B2=1 e B3=3. A fórmula =ARRED(MÍNIMO(SOMA casas decimais.
(B1:B3)/3;2,7);2) inserida na célula B5 apresentará o se-
guinte resultado: Considere a figura que mostra o Windows Explorer
(A) 2 do Microsoft Windows XP, em sua configuração origi-
(B) 1,66 nal, e responda às questões de números 24 e 25.
(C) 2,667
(D) 2,7
(E) 2,67
Resposta: E
Comentário:

24. (TJ/SP – Escrevente Téc. Jud. – Vunesp/2012) O


arquivo zaSetup_en se encontra
(A) no disquete.
(B) no DVD.
(C) em Meus documentos.
(D) no Desktop.
(E) na raiz do disco rígido.

Resposta: E

Comentário:

No Windows Explorer, você pode ver a hierarquia das


pastas em seu computador e todos os arquivos e pastas loca-
lizados em cada pasta selecionada. Ele é especialmente útil
para copiar e mover arquivos.
Ele é composto de uma janela dividida em dois painéis:
O painel da esquerda é uma árvore de pastas hierarquiza-
da que mostra todas as unidades de disco, a Lixeira, a área
de trabalho ou Desktop (também tratada como uma pasta);
O painel da direita exibe o conteúdo do item selecionado à
esquerda e funciona de maneira idêntica às janelas do Meu
Computador (no Meu Computador, como padrão ele traz a
janela sem divisão, as é possível dividi-la também clicando
no ícone Pastas na Barra de Ferramentas)

82
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

25. (TJ/SP – Escrevente Téc. Jud. – Vunesp/2012) Ao EXERCÍCIOS COMPLEMENTARES

se clicar em , localizado abaixo do menu Favori- 01. (POLÍCIA FEDERAL - PAPILOSCOPIS-


TA DA POLÍCIA FEDERAL – CESPE/2012) - Acer-
tos, será fechado ca de conceitos de hardware, julgue o item seguinte.
Diferentemente dos computadores pessoais ou PCs
tradicionais, que são operados por meio de teclado e
(A) o Meu computador. mouse, os tablets, computadores pessoais portáteis,
(B) o Disco Local (C:). dispõem de recurso touch-screen. Outra diferença entre
(C) o painel Pastas. esses dois tipos de computadores diz respeito ao fato
(D) Meus documentos. de o tablet possuir firmwares, em vez de processadores,
(E) o painel de arquivos. como o PC.
( ) Certo
Resposta: C ( ) Errado

Comentário: Firmwares não são hardwares, e sim códigos de pro-


gramação existentes no próprio hardware, inclusos em
chips de memória (ROM, PROM, EPROM, EEPROM, flash)
durante sua fabricação. Sua natureza, na maioria das vezes,
é não volátil, ou seja, não perde seus dados durante a au-
sência de energia elétrica, mas quando presentes em tipos
de memória como PROM ou EPROM, podem ser atualiza-
dos.
Por esse motivo, os firmwares não substituem proces-
sadores inteiros.
A seguir, veja alguns modelos de tablets e observe a
presença do processador em sua configuração:

Este botão, contido na barra de ferramentas, exibe/


oculta o painel PASTAS.
Tablet Softronic PHASER KINNO 4GB Android 2.3.4
Tela 7 Polegadas

Características do Produto
Tablet 4GB - Softronic
APRESENTAÇÃO DO PRODUTO: Com o novo Phaser-
kinno Plus, você possui muito mais interatividade e rapidez
na palma de suas mãos, graças ao seu poderoso processa-
dor A10 de 1.2 Ghz, ele consegue ser totalmente multi-ta-
refas para você que se desdobra em dez durante o seu dia
a dia, podendo ler um livro, escutar suas músicas e conti-
nuar acompanhando sua vida em redes sociais e sincroni-
zando e-mails. Tudo isso sem se preocupar com a lentidão
do sistema. Para você que precisa estar conectado a todo
o momento, o PhaserKinno Plus ainda oferece suporte a
modem externo. Ele conta com uma tela touchscreen capa-

83
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

citiva de 7 polegadas que permite uma maior sensibilidade 02. (UFFS - TÉCNICO DE LABORATÓRIO ÁREA
e leveza ao tocar na tela de seu tablet, dispensando total- INFORMÁTICA – FEPESE/2012)- São componentes de
mente o uso das inconvenientes canelas stykus. Possui saí- hardware de um micro-computador:
da mini HDMI, para curtir seus vídeos favoritos da internet a. ( ) Disco rígido, patch-panel, BIOS, firmware,
ou de seu computador, na sua televisão ou projetor, com mouse.
entrada HDMI. Além de acompanhar um lindo case com b. ( ) RJ-11, processador, memória RAM, placa de
teclado para utilização de tablet comparada com a de um rede, pen-drive.
notebook com grande performance. c. ( ) Memória ROM, placa de vídeo, BIOS, proces-
- Modelo: PHASER KINNO. sador, placa mãe.
- Capacidade: 4GB. Expansível para 32GB via Micro SD. d. ( ) Memória RAM, Memória ROM, Disco rígido,
- Memória: 512MB. processador, placa e rede.
- Tela:7 Polegadas capacitiva, sensível ao toque. e. ( ) Memória RAM, BIOS, Disco rígido, processa-
- Câmera:frontal 2 megapixels. dor, placa de rede.
- Conectividade: Wi-Fi - LAN 802.11b/g/n.
- Processador:Allwinner A10 de 1.0~1.2 Ghz. Já vimos a respeito de Memória RAM, Memória ROM,
- Sistema Operacional:Android 2.3.4. Disco Rígido e Processador.
Placa de rede é um hardware especificamente proje-
tado para possibilitar a comunicação entre computadores.

Placa de rede

RESPOSTA: “D”.

03. (TRE - ANALISTA JUDICIÁRIO – FCC/2012) -


Em relação a hardware e software, é correto afirmar:
Tablet Multilaser Diamond NB005 8GB Android 2.3 a) Para que um software aplicativo esteja pronto
Tela 7 Polegadas para execução no computador, ele deve estar carregado
Wi-Fi HDMI na memória flash.
Informações técnicas b) O fator determinante de diferenciação entre um
Marca: Multilaser processador sem memória cache e outro com esse re-
Capacidade :8 Gb. Memória expansível até 32 GB por curso reside na velocidade de acesso à memória RAM.
cartão micro SD. c) Processar e controlar as instruções executadas no
Processador: Boxchip 1.5 GHz. computador é tarefa típica da unidade de aritmética e
Sistema Operacional: Android. 2.3. lógica.
TV e vídeo: Somente vídeo: Vídeos suportados - MKV d) O pendrive é um dispositivo de armazenamento
(H.264HP), AVI, RM/BMVB, FLV eMPEG-1/2. removível, dotado de memória flash e conector USB,
Tamanho da tela: 7 “. LCD Multi toque. que pode ser conectado em vários equipamentos ele-
Resolução: 800 x 480. trônicos.
Wi-Fi:Sim. e) Dispositivos de alta velocidade, tais como discos
Resolução: 1.3 megapixels e filmadora digital. rígidos e placas de vídeo, conectam-se diretamente ao
Localização processador.
Sensores: Sensor de gravidade: gira a tela conforme a O pendrive, por ser um dispositivo portátil, de grande
posição do tablet. poder de armazenamento e conector USB (Universal Serial
Bus) que permite sua rápida aceitação em vários disposi-
Áudio Formatos suportados: tivos de hardware, popularizou-se rapidamente. Hoje, en-
MP3, WMA, WAV, APE, AC3, FLAC e AAC. contramos pendrives de vários GBs, como 2, 4, 8, 16 e até
Duração aproximada da bateria: 512GB.
- 06 horas reproduzindo vídeo ou wi-fi ligado; A tecnologia USB está sendo largamente utilizada para
- 48 horas em standby. padronizar entradas e conectores, possibilitando um mes-
Alimentação do Tablet: mo tipo de conector para diversos tipos de equipamentos
Bateria recarregável. como mouses, teclados, impressoras e outros. Por esse mo-
tivo, os equipamentos atuais possuem uma grande quan-
RESPOSTA: “ERRADO”. tidade de conectores USB. Além disso, a tecnologia usada

84
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

por esses conectores é a Plugand Play, onde basta conectar Veja a seguir imagens ilustrativas da memória RAM.
o dispositivo para que o sistema o reconheça precisando
de poucos ou quase nenhum caminho de configuração
para poder utilizá-lo.
O tipo de memória que o pendrive utiliza - memó-
ria flash - é do tipo EEPROM (Electrically-ErasablePro-
grammableRead-OnlyMemory), uma memória não vo-
látil, ou seja, não depende da permanência de energia
elétrica para manter os dados,de leitura e gravação. Os
chips de memória flash ocupam pouco espaço físico, mas
grande poder de armazenamento.
Veja imagens de pendrives:

Tipos de memória RAM

RESPOSTA: “A”.

05. (TCE/SP - AGENTE DE FISCALIZAÇÃO FINAN-


CEIRA – FCC/2012) - Sobre os computadores é correto
afirmar:
Tipos de pendrive a) O BIOS é um software armazenado em um chip
de memória RAM fixado na placa mãe. Tem a função de
RESPOSTA: “D”.
armazenar o Sistema Operacional.
b) A fonte de alimentação transforma a tensão elé-
04. (ANE - ANALISTA EDUCACIONAL – NÍVEL I –
trica que entra no computador, de 240 V para 110 V,
GRAU A – INSPETOR ESCOLAR – FCC/2012) - Marco Au-
pois os componentes internos suportam apenas a ten-
rélio estava digitando um documento na sala dos pro-
são de 110 V.
fessores da escola ABCD quando uma queda de energia
b) Barramentos são circuitos integrados que fazem
fez com que o computador que usava desligasse.
a transmissão física de dados de um dispositivo a outro.
Após o retorno da energia elétrica, Marco Aurélio
ligou o computador e percebeu que havia perdido o d) Quando o sistema de fornecimento de energia
documento digitado, pois não o havia gravado. Como falha, um estabilizador comum tem como principal ob-
tinha conhecimentos gerais sobre informática, concluiu jetivo manter o abastecimento por meio de sua bateria
que perdera o documento porque, enquanto estava di- até que a energia volte ou o computador seja desligado.
gitando, ele estava armazenado em um dispositivo de e) Um bit representa um sinal elétrico de exatos 5
hardware que perde seu conteúdo quando o computa- V que é interpretado pelos componentes de hardware
dor desliga. O nome desse dispositivo é do computador.
a) memória RAM.
b) HD. (A)BIOS é a sigla do termo Basic Input/Output System,
c) memória ROM. ou Sistema Básico de Entrada/Saída. É um software grava-
d) pen drive. do na memória não volátil ou memória ROM, que é a sigla
para ReadOnlyMemory, ou Memória de Somente Leitura,
RAM – Randon AcessMemory, ou Memória de Acesso que não altera ou perde os dados com o desligamento ou
Randômico, é um hardware considerado como memória ausência de energia do computador. Esse software não ar-
primária, volátil. Ela mantém os dados armazenados en- mazena o Sistema Operacional. É o primeiro software que
quanto estes estão à disposição das solicitações do proces- é executado quando ligamos o computador.
sador, mantendo-os através de pulsos elétricos. As infor- (B)A fonte de alimentação do computador é um equi-
mações mantidas nesse tipo de memória são informações pamento eletrônico, fixada ao gabinete e ligada aos conec-
que estão em uso em um programa em execução, como no tores da placa mãe e alguns drives. Fornece energia aos
caso de textos que estão sendo digitados e não foram sal- demais componentes da máquina. Ela transforma a cor-
vos no disco rígido ainda. Como as informações são man- rente elétrica alternada (que tem o sentido variável com
tidas por pulsos elétricos, caso haja falta de energia, seja o tempo) em uma corrente constante ao longo do tempo.
pelo desligamento do computador, seja por uma queda (C)Os barramentos são como vias de tráfego presentes
brusca que cause o desligamento inesperado do equipa- na placa mãe, por onde sinais elétricos (representando da-
mento, os dados presentes nesse tipo de memória serão dos) podem percorrer toda sua extensão se comunicando
perdidos. com todos os dispositivos.

85
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

(D)O estabilizador é um equipamento eletrônico exter- Em um computador, a velocidade do clock se refere ao


no ao gabinete do computador, onde os demais cabos de número de pulsos por segundo gerados por um oscilador
energia da máquina são ligados. Geralmente, o estabiliza- (dispositivo eletrônico que gera sinais), que determina o
dor é ligado diretamente na rede elétrica e tem a função de tempo necessário para o processador executar uma instru-
estabilizar a tensão desta para evitar danos ao equipamen- ção. Assim para avaliar a performance de um processador,
to devido às variações e picos de tensão. medimos a quantidade de pulsos gerados em 1 segundo e,
(E)BIT é a sigla para BinaryDigit, ou Dígito Binário, que para tanto, utilizamos uma unidade de medida de frequên-
pode ser representado apenas pelo 0 ou pelo 1 (verdadeiro cia, o Hertz.
ou falso) que representam a menor unidade de informação
transmitida na computação ou informática. RESPOSTA: “E”.

RESPOSTA: “C”. 07. (TCE/SP - AGENTE DE FISCALIZAÇÃO FINAN-


CEIRA – FCC/2012) - O armazenamento de informações
06. (TCE/SP - AGENTE DE FISCALIZAÇÃO FINAN- em computadores é feito pela utilização de dispositivos
CEIRA – FCC/2012) - O processador do computador (ou chamados de memória, que as mantêm de forma volátil
CPU) é uma das partes principais do hardware do com- ou permanente. Entre esses dispositivos, está a memó-
putador e é responsável pelos cálculos, execução de ta- ria RAM ou memória
refas e processamento de dados. Sobre processadores, a) magnética.
considere: b) secundária.
I. Contém um conjunto restrito de células de me- c) cache.
mória chamados registradores que podem ser lidos e d) principal.
escritos muito mais rapidamente que em outros dispo- e) de armazenamento em massa.
sitivos de memória.
II. Em relação a sua arquitetura, se destacam os mo- A memória RAM, sigla de Random Access Memory, ou
delos RISC (ReducedInstruction Set Computer) e CISC memória de acesso randômico, é um dispositivo eletrôni-
(ComplexInstruction Set Computer). co de armazenamento temporário de dados que permite a
III. Possuem um clock interno de sincronização que leitura e escrita, ou seja, as informações ocupam lugar nes-
define a velocidade com que o processamento ocorre. sa memória enquanto aguardam serem usadas pelo pro-
Essa velocidade é medida em Hertz. cessador. Os dados da memória RAM são representados
Está correto o que se afirma em por pulsos elétricos e são descartados assim que o forne-
cimento de energia elétrica é interrompido, seja pelo des-
a) III, apenas. ligamento do computador, ou por uma queda de energia.
b) I e II, apenas. Por esse motivo, essas memórias também são chamadas
c) II e III, apenas. de memórias voláteis. Devido a sua importância para o fun-
d) II, apenas. cionamento do computador, a memória RAM é considera-
e) I, II e III. da um tipo de memória principal. Existem ainda outros ti-
pos de memórias que são consideradas desse grupo, como
O processador é um chip que executa instruções inter- a memória ROM, sigla de ReadOnlyMemory, ou memória
nas do computador (em geral, operações matemáticas e de somente leitura, onde os dados são geralmente grava-
lógicas, leitura e gravação de informações). Todas as ações dos na fábrica e não são perdidos em caso de ausência de
estão presentes na memória do computador e requisitadas energia. Por esse motivo, a memória ROM é considerada
pelo sistema. A velocidade do processador é medida em memória não volátil.
ciclos denominados clocks e sua unidade é expressa atra-
vés de Hz. RESPOSTA: “D”.
Os registradores são unidades de memória que repre-
sentam o meio mais caro e rápido de armazenamento de
dados. Por isso são usados em pequenas quantidades nos
processadores.
Quanto às arquiteturas RISC e CISC, podemos nos valer
das palavras de Nicholas Carter, em seu livro Arquitetura
de Computadores, editora Bookman:
... RISC são arquiteturas de carga-armazenamento, en-
quanto que a maior parte das arquiteturas CISC permite que
outras operações também façam referência à memória.
Podemos citar também o autor Rogério Amigo De Oli-
veira, que em seu livro Informática – Teoria e Questões de
Concursos com Gabarito, editora Campus, fala a respeito do
clock, da seguinte maneira:

86
LEGISLAÇÃO BÁSICA

1. Constituição Federal de 1988......................................................................................................................................................................... 01


1.1 Estatuto da Criança e do Adolescente - Lei nº 8.069 de 1990. ...................................................................................................... 24
1.2 LDBEN- Lei nº 9.394 de 1996........................................................................................................................................................................ 63
2. Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica. ........................................................................................................................ 81
3. Plano Nacional de Educação........................................................................................................................................................................... 92
4. Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental de 9 (nove) anos. ...................................................................108
5. Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. ......................................................................117
6. Plano Estadual de Educação Lei 10111 de 06 de junho de 2014, Lei Orgânica dos Profissionais do Ensino Básico (LO-
PEB); ............................................................................................................................................................................................................................125
7. Lei Complementar nº 50/98 de 01de outubro de 1998; ...................................................................................................................137
8. Lei 7.040/98; ........................................................................................................................................................................................................151
9. Resolução nº 150/1999 – CEE/MT;..............................................................................................................................................................158
10. Resolução n° 257/06 – CEE/MT; ...............................................................................................................................................................163
11. Resolução nº 249/07 – CEE/MT; ...............................................................................................................................................................166
12. Resolução nº 630/08, LC 206 de 29 de dezembro de 2004 e LC 04 de 15 de outubro de 1990.....................................168
LEGISLAÇÃO BÁSICA

Em razão disso, por exemplo, um estrangeiro pode in-


1. CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988. gressar com habeas corpus ou mandado de segurança, ou
então intentar ação reivindicatória com relação a imóvel
seu localizado no Brasil (ainda que não resida no país).
Somente alguns direitos não são estendidos a todas as
Direitos individuais e coletivos (artigo 5º) pessoas. A exemplo, o direito de intentar ação popular exi-
ge a condição de cidadão, que só é possuída por nacionais
1 Abrangência protetiva titulares de direitos políticos.

1.1 Direitos individuais e coletivos 2 Relação direitos-deveres


O capítulo I do título II é intitulado “direitos e deve- O capítulo em estudo é denominado “direitos e garan-
res individuais e coletivos”. Da própria nomenclatura do tias deveres e coletivos”, remetendo à necessária relação
capítulo já se extrai que a proteção vai além dos direitos direitos-deveres entre os titulares dos direitos fundamen-
do indivíduo e também abrange direitos da coletividade. A tais. Acima de tudo, o que se deve ter em vista é a pre-
missa reconhecida nos direitos fundamentais de que não
maior parte dos direitos enumerados no artigo 5º do texto
há direito que seja absoluto, correspondendo-se para cada
constitucional é de direitos individuais, mas são incluídos
direito um dever. Logo, o exercício de direitos fundamen-
alguns direitos coletivos e mesmo remédios constitucio-
tais é limitado pelo igual direito de mesmo exercício por
nais próprios para a tutela destes direitos coletivos (ex.:
parte de outrem, não sendo nunca absolutos, mas sempre
mandado de segurança coletivo). relativos.
Explica Canotilho2 quanto aos direitos fundamentais: “a
1.2 Direitos e garantias ideia de deveres fundamentais é suscetível de ser entendi-
Não obstante, o capítulo vai além da proteção dos di- da como o ‘outro lado’ dos direitos fundamentais. Como
reitos e estabelece garantias em prol da preservação des- ao titular de um direito fundamental corresponde um de-
tes, bem como remédios constitucionais a serem utilizados ver por parte de um outro titular, poder-se-ia dizer que o
caso estes direitos e garantias não sejam preservados. Nes- particular está vinculado aos direitos fundamentais como
te sentido, dividem-se em direitos e garantias as previsões destinatário de um dever fundamental. Neste sentido, um
do artigo 5º: os direitos são as disposições declaratórias e direito fundamental, enquanto protegido, pressuporia um
as garantias são as disposições assecuratórias. dever correspondente”. Com efeito, a um direito funda-
O legislador muitas vezes reúne no mesmo dispositivo mental conferido à pessoa corresponde o dever de respei-
o direito e a garantia, como no caso do artigo 5º, IX: “é livre to ao arcabouço de direitos conferidos às outras pessoas.
a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de
comunicação, independentemente de censura ou licença” 3 Direitos em espécie assegurados no artigo 5º
– o direito é o de liberdade de expressão e a garantia é a Preconiza o artigo 5º da Constituição Federal em seu
vedação de censura ou exigência de licença. Em outros ca- caput: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de
sos, o legislador traz o direito num dispositivo e a garantia qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos es-
em outro: a liberdade de locomoção, direito, é colocada trangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à
no artigo 5º, XV, ao passo que o dever de relaxamento da vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade,
prisão ilegal de ofício pelo juiz, garantia, se encontra no nos termos seguintes [...]”.
artigo 5º, LXV1. O caput do artigo 5º, que pode ser considerado um
Em caso de ineficácia da garantia, implicando em vio- dos principais (senão o principal) artigos da Constituição
lação de direito, cabe a utilização dos remédios constitu- Federal, consagra o princípio da igualdade e delimita as
cionais. cinco esferas de direitos individuais e coletivos que mere-
cem proteção, isto é, vida, liberdade, igualdade, segurança
Atenção para o fato de o constituinte chamar os remé-
e propriedade. Os incisos deste artigos delimitam vários
dios constitucionais de garantias, e todas as suas fórmulas
direitos e garantias que se enquadram em alguma destas
de direitos e garantias propriamente ditas apenas de di-
esferas de proteção, podendo se falar em duas esferas es-
reitos.
pecíficas que ganham também destaque no texto consti-
tucional, quais sejam, direitos de acesso à justiça e direitos
1.3 Brasileiros e estrangeiros constitucionais-penais.
O caput do artigo 5º aparenta restringir a proteção
conferida pelo dispositivo a algumas pessoas, notadamen- 4 Direito à igualdade
te, “aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País”.
No entanto, tal restrição é apenas aparente e tem sido in- 4.1 Abrangência
terpretada no sentido de que os direitos estarão protegi- Observa-se, pelo teor do caput do artigo 5º, CF, que o
dos com relação a todas as pessoas nos limites da sobera- constituinte afirmou por duas vezes o princípio da igualda-
nia do país. de: “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qual-
1 FARIA, Cássio Juvenal. Notas pessoais tomadas em telecon- 2 CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito constitucional
ferência. e teoria da constituição. 2. ed. Coimbra: Almedina, 1998, p. 479.

1
LEGISLAÇÃO BÁSICA

quer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estran- a determinada categoria); fomentariam o racismo e o ódio;
geiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, bem como ferem o princípio da isonomia por causar uma
à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos discriminação reversa.
termos seguintes [...]”. Por outro lado, quem é favorável às ações afirmativas
Não obstante, reforça este princípio em seu primeiro defende que elas representam o ideal de justiça compen-
inciso: “I - homens e mulheres são iguais em direitos e satória (o objetivo é compensar injustiças passadas, dívidas
obrigações, nos termos desta Constituição”. Este inciso é históricas, como uma compensação aos negros por tê-los
especificamente voltado à necessidade de igualdade de feito escravos, p. ex.); representam o ideal de justiça dis-
gênero, afirmando que não deve haver nenhuma distinção tributiva (a preocupação, aqui, é com o presente. Busca-
sexo feminino e o masculino, de modo que o homem e a se uma concretização do princípio da igualdade material);
mulher possuem os mesmos direitos e obrigações. bem como promovem a diversidade.
Entretanto, o princípio da isonomia abrange muito Neste sentido, as discriminações legais asseguram a
mais do que a igualdade de gêneros, envolve uma pers- verdadeira igualdade, por exemplo, com as ações afirmati-
vas, a proteção especial ao trabalho da mulher e do menor,
pectiva mais ampla.
as garantias aos portadores de deficiência, entre outras
medidas que atribuam a pessoas com diferentes condi-
O direito à igualdade é um dos direitos norteadores
ções, iguais possibilidades, protegendo e respeitando suas
de interpretação de qualquer sistema jurídico. O primeiro diferenças3. Tem predominado em doutrina e jurisprudên-
enfoque que foi dado a este direito foi o de direito civil, cia, inclusive no Supremo Tribunal Federal, que as ações
enquadrando-o na primeira dimensão, no sentido de que a afirmativas são válidas.
todas as pessoas deveriam ser garantidos os mesmos direi-
tos e deveres. Trata-se de um aspecto relacionado à igual- 5 Direito à vida
dade enquanto liberdade, tirando o homem do arbítrio dos
demais por meio da equiparação. Basicamente, estaria se 5.1 Abrangência
falando na igualdade perante a lei. O caput do artigo 5º da Constituição assegura a prote-
No entanto, com o passar dos tempos, se percebeu ção do direito à vida. A vida humana é o centro gravitacio-
que não bastava igualar todos os homens em direitos e nal em torno do qual orbitam todos os direitos da pessoa
deveres para torná-los iguais, pois nem todos possuem humana, possuindo reflexos jurídicos, políticos, econômi-
as mesmas condições de exercer estes direitos e deveres. cos, morais e religiosos. Daí existir uma dificuldade em con-
Logo, não é suficiente garantir um direito à igualdade for- ceituar o vocábulo vida. Logo, tudo aquilo que uma pessoa
mal, mas é preciso buscar progressivamente a igualdade possui deixa de ter valor ou sentido se ela perde a vida.
material. No sentido de igualdade material que aparece o Sendo assim, a vida é o bem principal de qualquer pessoa,
direito à igualdade num segundo momento, pretendendo- é o primeiro valor moral inerente a todos os seres huma-
se do Estado, tanto no momento de legislar quanto no de nos4.
aplicar e executar a lei, uma postura de promoção de polí- No tópico do direito à vida tem-se tanto o direito de
ticas governamentais voltadas a grupos vulneráveis. nascer/permanecer vivo, o que envolve questões como
Assim, o direito à igualdade possui dois sentidos notá- pena de morte, eutanásia, pesquisas com células-tronco e
veis: o de igualdade perante a lei, referindo-se à aplicação aborto; quanto o direito de viver com dignidade, o que
uniforme da lei a todas as pessoas que vivem em socieda- engloba o respeito à integridade física, psíquica e moral,
de; e o de igualdade material, correspondendo à necessi- incluindo neste aspecto a vedação da tortura, bem como
dade de discriminações positivas com relação a grupos vul- a garantia de recursos que permitam viver a vida com dig-
nidade.
neráveis da sociedade, em contraponto à igualdade formal.
Embora o direito à vida seja em si pouco delimitado
nos incisos que seguem o caput do artigo 5º, trata-se de
4.2 Ações afirmativas
um dos direitos mais discutidos em termos jurisprudenciais
Neste sentido, desponta a temática das ações afirmati- e sociológicos. É no direito à vida que se encaixam polêmi-
vas, que são políticas públicas ou programas privados cria- cas discussões como: aborto de anencéfalo, pesquisa com
dos temporariamente e desenvolvidos com a finalidade de células tronco, pena de morte, eutanásia, etc.
reduzir as desigualdades decorrentes de discriminações ou
de uma hipossuficiência econômica ou física, por meio da 5.2 Vedação à tortura
concessão de algum tipo de vantagem compensatória de De forma expressa no texto constitucional destaca-se
tais condições. a vedação da tortura, corolário do direito à vida, conforme
previsão no inciso III do artigo 5º:
Quem é contra as ações afirmativas argumenta que,
em uma sociedade pluralista, a condição de membro de 3 SANFELICE, Patrícia de Mello. Comentários aos artigos I e
II. In: BALERA, Wagner (Coord.). Comentários à Declaração Universal
um grupo específico não pode ser usada como critério de
dos Direitos do Homem. Brasília: Fortium, 2008, p. 08.
inclusão ou exclusão de benefícios. Ademais, afirma-se que
4 BARRETO, Ana Carolina Rossi; IBRAHIM, Fábio Zambitte.
elas desprivilegiam o critério republicano do mérito (se- Comentários aos Artigos III e IV. In: BALERA, Wagner (Coord.). Comen-
gundo o qual o indivíduo deve alcançar determinado cargo tários à Declaração Universal dos Direitos do Homem. Brasília: For-
público pela sua capacidade e esforço, e não por pertencer tium, 2008, p. 15.

2
LEGISLAÇÃO BÁSICA

Art. 5º, III, CF. Ninguém será submetido a tortura assim determine. Assim, salvo situações previstas em lei,
nem a tratamento desumano ou degradante. a pessoa tem liberdade para agir como considerar conve-
A tortura é um dos piores meios de tratamento de- niente.
sumano, expressamente vedada em âmbito internacional, Portanto, o princípio da legalidade possui estrita rela-
como visto no tópico anterior. No Brasil, além da disciplina ção com o princípio da liberdade, posto que, a priori, tudo
constitucional, a Lei nº 9.455, de 7 de abril de 1997 define à pessoa é lícito. Somente é vedado o que a lei expres-
os crimes de tortura e dá outras providências, destacando- samente estabelecer como proibido. A pessoa pode fazer
se o artigo 1º: tudo o que quiser, como regra, ou seja, agir de qualquer
maneira que a lei não proíba.
Art. 1º Constitui crime de tortura:
I - constranger alguém com emprego de violência ou
6.2 Liberdade de pensamento e de expressão
grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou mental:
O artigo 5º, IV, CF prevê, consolidando a afirmação si-
a) com o fim de obter informação, declaração ou confis-
são da vítima ou de terceira pessoa; multânea da liberdade de pensamento e da liberdade de
b) para provocar ação ou omissão de natureza crimi- expressão:
nosa;
c) em razão de discriminação racial ou religiosa; Art. 5º, IV, CF. É livre a manifestação do pensamento,
II - submeter alguém, sob sua guarda, poder ou autori- sendo vedado o anonimato.
dade, com emprego de violência ou grave ameaça, a intenso
sofrimento físico ou mental, como forma de aplicar castigo Em primeiro plano tem-se a liberdade de pensamento.
pessoal ou medida de caráter preventivo. Afinal, “o ser humano, através dos processos internos de
Pena - reclusão, de dois a oito anos. reflexão, formula juízos de valor. Estes exteriorizam nada
§ 1º Na mesma pena incorre quem submete pessoa mais do que a opinião de seu emitente. Assim, a regra
presa ou sujeita a medida de segurança a sofrimento físico constitucional, ao consagrar a livre manifestação do pensa-
ou mental, por intermédio da prática de ato não previsto mento, imprime a existência jurídica ao chamado direito de
em lei ou não resultante de medida legal. opinião”5. Em outras palavras, primeiro existe o direito de
§ 2º Aquele que se omite em face dessas condutas, ter uma opinião, depois o de expressá-la.
quando tinha o dever de evitá-las ou apurá-las, incorre na No mais, surge como corolário do direito à liberdade
pena de detenção de um a quatro anos.
de pensamento e de expressão o direito à escusa por con-
§ 3º Se resulta lesão corporal de natureza grave ou
vicção filosófica ou política:
gravíssima, a pena é de reclusão de quatro a dez anos; se
resulta morte, a reclusão é de oito a dezesseis anos.
§ 4º Aumenta-se a pena de um sexto até um terço: Art. 5º, VIII, CF. Ninguém será privado de direitos por
I - se o crime é cometido por agente público; motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou
II – se o crime é cometido contra criança, gestante, por- política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação
tador de deficiência, adolescente ou maior de 60 (sessenta) legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação al-
anos;  ternativa, fixada em lei.
III - se o crime é cometido mediante sequestro.
§ 5º A condenação acarretará a perda do cargo, função Trata-se de instrumento para a consecução do direito
ou emprego público e a interdição para seu exercício pelo assegurado na Constituição Federal – não basta permitir
dobro do prazo da pena aplicada. que se pense diferente, é preciso respeitar tal posiciona-
§ 6º O crime de tortura é inafiançável e insuscetível de mento.
graça ou anistia. Com efeito, este direito de liberdade de expressão é
§ 7º O condenado por crime previsto nesta Lei, salvo a limitado. Um destes limites é o anonimato, que consiste na
hipótese do § 2º, iniciará o cumprimento da pena em regi- garantia de atribuir a cada manifestação uma autoria cer-
me fechado. ta e determinada, permitindo eventuais responsabilizações
por manifestações que contrariem a lei.
6 Direito à liberdade
Tem-se, ainda, a seguinte previsão no artigo 5º, IX, CF:
O caput do artigo 5º da Constituição assegura a pro-
teção do direito à liberdade, delimitada em alguns incisos
que o seguem. Art. 5º, IX, CF. É livre a expressão da atividade inte-
lectual, artística, científica e de comunicação, indepen-
6.1 Liberdade e legalidade dentemente de censura ou licença.
Prevê o artigo 5º, II, CF:
Consolida-se outra perspectiva da liberdade de expres-
Art. 5º, II, CF. Ninguém será obrigado a fazer ou dei- são, referente de forma específica a atividades intelectuais,
xar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei. artísticas, científicas e de comunicação. Dispensa-se, com
relação a estas, a exigência de licença para a manifestação
O princípio da legalidade se encontra delimitado nes- do pensamento, bem como veda-se a censura prévia.
te inciso, prevendo que nenhuma pessoa será obrigada a 5 ARAÚJO, Luiz Alberto David; NUNES JÚNIOR, Vidal Serrano.
fazer ou deixar de fazer alguma coisa a não ser que a lei Curso de direito constitucional. 10. ed. São Paulo: Saraiva, 2006.

3
LEGISLAÇÃO BÁSICA

A respeito da censura prévia, tem-se não cabe impe- Art. 5º, VIII, CF. Ninguém será privado de direitos por
dir a divulgação e o acesso a informações como modo de motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou po-
controle do poder. A censura somente é cabível quando lítica, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal
necessária ao interesse público numa ordem democrática, a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alterna-
por exemplo, censurar a publicação de um conteúdo de tiva, fixada em lei.
exploração sexual infanto-juvenil é adequado.
O direito à resposta (artigo 5º, V, CF) e o direito à in- Sempre que a lei impõe uma obrigação a todos, por
denização (artigo 5º, X, CF) funcionam como a contrapar- exemplo, a todos os homens maiores de 18 anos o alis-
tida para aquele que teve algum direito seu violado (no- tamento militar, não cabe se escusar, a não ser que tenha
fundado motivo em crença religiosa ou convicção filosó-
tadamente inerentes à privacidade ou à personalidade)
fica/política, caso em que será obrigado a cumprir uma
em decorrência dos excessos no exercício da liberdade de
prestação alternativa, isto é, uma outra atividade que não
expressão. contrarie tais preceitos.
6.3 Liberdade de crença/religiosa 6.4 Liberdade de informação
Dispõe o artigo 5º, VI, CF: O direito de acesso à informação também se liga a uma
dimensão do direito à liberdade. Neste sentido, prevê o
Art. 5º, VI, CF. É inviolável a liberdade de consciência artigo 5º, XIV, CF:
e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos
religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos lo- Art. 5º, XIV - é assegurado a todos o acesso à informa-
cais de culto e a suas liturgias. ção e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao
exercício profissional.
Cada pessoa tem liberdade para professar a sua fé
como bem entender dentro dos limites da lei. Não há uma Trata-se da liberdade de informação, consistente na
crença ou religião que seja proibida, garantindo-se que a liberdade de procurar e receber informações e ideias por
profissão desta fé possa se realizar em locais próprios. quaisquer meios, independente de fronteiras, sem interfe-
Nota-se que a liberdade de religião engloba 3 tipos rência.
distintos, porém intrinsecamente relacionados de liberda- A liberdade de informação tem um caráter passivo, ao
passo que a liberdade de expressão tem uma caracterís-
des: a liberdade de crença; a liberdade de culto; e a liber-
tica ativa, de forma que juntas formam os aspectos ativo
dade de organização religiosa.
e passivo da exteriorização da liberdade de pensamento:
não basta poder manifestar o seu próprio pensamento, é
Consoante o magistério de José Afonso da Silva6, entra preciso que ele seja ouvido e, para tanto, há necessidade
na liberdade de crença a liberdade de escolha da religião, de se garantir o acesso ao pensamento manifestado para
a liberdade de aderir a qualquer seita religiosa, a liberdade a sociedade.
(ou o direito) de mudar de religião, além da liberdade de Por sua vez, o acesso à informação envolve o direito de
não aderir a religião alguma, assim como a liberdade de todos obterem informações claras, precisas e verdadeiras a
descrença, a liberdade de ser ateu e de exprimir o agnos- respeito de fatos que sejam de seu interesse, notadamente
ticismo, apenas excluída a liberdade de embaraçar o livre pelos meios de comunicação imparciais e não monopoli-
exercício de qualquer religião, de qualquer crença. A liber- zados (artigo 220, CF). No entanto, nem sempre é possível
dade de culto consiste na liberdade de orar e de praticar que a imprensa divulgue com quem obteve a informação
os atos próprios das manifestações exteriores em casa ou divulgada, sem o que a segurança desta poderia ficar pre-
em público, bem como a de recebimento de contribuições judicada e a informação inevitavelmente não chegaria ao
para tanto. Por fim, a liberdade de organização religiosa público.
refere-se à possibilidade de estabelecimento e organização Especificadamente quanto à liberdade de informação
de igrejas e suas relações com o Estado. no âmbito do Poder Público, merecem destaque algumas
previsões.
Como decorrência do direito à liberdade religiosa, as-
Primeiramente, prevê o artigo 5º, XXXIII, CF:
segurando o seu exercício, destaca-se o artigo 5º, VII, CF:
Art. 5º, XXXIII, CF. Todos têm direito a receber dos ór-
Art. 5º, VII, CF. É assegurada, nos termos da lei, a presta- gãos públicos informações de seu interesse particular, ou
ção de assistência religiosa nas entidades civis e milita- de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo
res de internação coletiva. da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas
cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e
O dispositivo refere-se não só aos estabelecimentos do Estado.
prisionais civis e militares, mas também a hospitais.
Ainda, surge como corolário do direito à liberdade reli- A respeito, a Lei nº 12.527, de 18 de novembro de 2011
giosa o direito à escusa por convicção religiosa: regula o acesso a informações previsto no inciso XXXIII do
art. 5º, CF, também conhecida como Lei do Acesso à Infor-
6 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional po- mação.
sitivo. 25. ed. São Paulo: Malheiros, 2006. Não obstante, estabelece o artigo 5º, XXXIV, CF:

4
LEGISLAÇÃO BÁSICA

Art. 5º, XXXIV, CF. São a todos assegurados, independen- Classicamente, a prisão é a forma de restrição da liber-
temente do pagamento de taxas: a) o direito de petição aos dade. Neste sentido, uma pessoa somente poderá ser pre-
Poderes Públicos em defesa de direitos ou contra ilegalidade sa nos casos autorizados pela própria Constituição Federal.
ou abuso de poder; b) a obtenção de certidões em reparti- A despeito da normativa específica de natureza penal, re-
ções públicas, para defesa de direitos e esclarecimento de força-se a impossibilidade de se restringir a liberdade de
situações de interesse pessoal. locomoção pela prisão civil por dívida.
Prevê o artigo 5º, LXVII, CF:
Quanto ao direito de petição, de maneira prática, cum-
pre observar que o direito de petição deve resultar em uma Art. 5º, LXVII, CF. Não haverá prisão civil por dívida,
manifestação do Estado, normalmente dirimindo (resol- salvo a do responsável pelo inadimplemento voluntário e
vendo) uma questão proposta, em um verdadeiro exercí- inescusável de obrigação alimentícia e a do depositário in-
cio contínuo de delimitação dos direitos e obrigações que fiel.
regulam a vida social e, desta maneira, quando “dificulta
a apreciação de um pedido que um cidadão quer apre- Nos termos da Súmula Vinculante nº 25 do Supremo
sentar” (muitas vezes, embaraçando-lhe o acesso à Justiça); Tribunal Federal, “é ilícita a prisão civil de depositário infiel,
“demora para responder aos pedidos formulados” (admi- qualquer que seja a modalidade do depósito”. Por isso, a
nistrativa e, principalmente, judicialmente) ou “impõe res- única exceção à regra da prisão por dívida do ordenamento
trições e/ou condições para a formulação de petição”, traz é a que se refere à obrigação alimentícia.
a chamada insegurança jurídica, que traz desesperança e
faz proliferar as desigualdades e as injustiças. 6.6 Liberdade de trabalho
Dentro do espectro do direito de petição se insere, por O direito à liberdade também é mencionado no artigo
exemplo, o direito de solicitar esclarecimentos, de solicitar 5º, XIII, CF:
cópias reprográficas e certidões, bem como de ofertar de-
Art. 5º, XIII, CF. É livre o exercício de qualquer traba-
núncias de irregularidades. Contudo, o constituinte, talvez
lho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profis-
na intenção de deixar clara a obrigação dos Poderes Públi-
sionais que a lei estabelecer.
cos em fornecer certidões, trouxe a letra b) do inciso, o que
gera confusões conceituais no sentido do direito de obter
O livre exercício profissional é garantido, respeitados
certidões ser dissociado do direito de petição.
os limites legais. Por exemplo, não pode exercer a profis-
Por fim, relevante destacar a previsão do artigo 5º, LX,
são de advogado aquele que não se formou em Direito
CF:
e não foi aprovado no Exame da Ordem dos Advogados
do Brasil; não pode exercer a medicina aquele que não fez
Art. 5º, LX, CF. A lei só poderá restringir a publicidade
faculdade de medicina reconhecida pelo MEC e obteve o
dos atos processuais quando a defesa da intimidade ou o cadastro no Conselho Regional de Medicina.
interesse social o exigirem.
6.7 Liberdade de reunião
Logo, o processo, em regra, não será sigiloso. Apenas Sobre a liberdade de reunião, prevê o artigo 5º, XVI, CF:
o será quando a intimidade merecer preservação (ex.: pro-
cesso criminal de estupro ou causas de família em geral) ou Art. 5º, XVI, CF. Todos podem reunir-se pacificamente,
quando o interesse social exigir (ex.: investigações que pos- sem armas, em locais abertos ao público, independente-
sam ser comprometidas pela publicidade). A publicidade é mente de autorização, desde que não frustrem outra reu-
instrumento para a efetivação da liberdade de informação. nião anteriormente convocada para o mesmo local, sendo
apenas exigido prévio aviso à autoridade competente.
6.5 Liberdade de locomoção
Outra faceta do direito à liberdade encontra-se no ar- Pessoas podem ir às ruas para reunirem-se com de-
tigo 5º, XV, CF: mais na defesa de uma causa, apenas possuindo o dever
de informar tal reunião. Tal dever remonta-se a questões de
Art. 5º, XV, CF. É livre a locomoção no território nacio- segurança coletiva. Imagine uma grande reunião de pes-
nal em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos soas por uma causa, a exemplo da Parada Gay, que chega
da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens. a aglomerar milhões de pessoas em algumas capitais: seria
absurdo tolerar tal tipo de reunião sem o prévio aviso do
A liberdade de locomoção é um aspecto básico do di- poder público para que ele organize o policiamento e a as-
reito à liberdade, permitindo à pessoa ir e vir em todo o sistência médica, evitando algazarras e socorrendo pessoas
território do país em tempos de paz (em tempos de guerra que tenham algum mal-estar no local. Outro limite é o uso
é possível limitar tal liberdade em prol da segurança). A de armas, totalmente vedado, assim como de substâncias
liberdade de sair do país não significa que existe um direito ilícitas (Ex.: embora a Marcha da Maconha tenha sido au-
de ingressar em qualquer outro país, pois caberá à ele, no torizada pelo Supremo Tribunal Federal, vedou-se que nela
exercício de sua soberania, controlar tal entrada. tal substância ilícita fosse utilizada).

5
LEGISLAÇÃO BÁSICA

6.8 Liberdade de associação Art. 5º, XX, CF. Ninguém poderá ser compelido a asso-
No que tange à liberdade de reunião, traz o artigo 5º, ciar-se ou a permanecer associado.
XVII, CF:
7 Direitos à privacidade e à personalidade
Art. 5º, XVII, CF. É plena a liberdade de associação
para fins lícitos, vedada a de caráter paramilitar. 7.1 Abrangência
Prevê o artigo 5º, X, CF:
A liberdade de associação difere-se da de reunião por
sua perenidade, isto é, enquanto a liberdade de reunião é Art. 5º, X, CF. São invioláveis a intimidade, a vida pri-
exercida de forma sazonal, eventual, a liberdade de asso- vada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o di-
ciação implica na formação de um grupo organizado que reito a indenização pelo dano material ou moral decorrente
se mantém por um período de tempo considerável, dotado de sua violação.
de estrutura e organização próprias.
Por exemplo, o PCC e o Comando vermelho são asso-
O legislador opta por trazer correlacionados no mes-
ciações ilícitas e de caráter paramilitar, pois possuem ar-
mo dispositivo legal os direitos à privacidade e à persona-
mas e o ideal de realizar sua própria justiça paralelamente
lidade.
à estatal.
Reforçando a conexão entre a privacidade e a intimida-
O texto constitucional se estende na regulamentação
da liberdade de associação. de, ao abordar a proteção da vida privada – que, em resu-
O artigo 5º, XVIII, CF, preconiza: mo, é a privacidade da vida pessoal no âmbito do domicílio
e de círculos de amigos –, Silva7 entende que “o segredo
Art. 5º, XVIII, CF. A criação de associações e, na forma da vida privada é condição de expansão da personalidade”,
da lei, a de cooperativas independem de autorização, sendo mas não caracteriza os direitos de personalidade em si.
vedada a interferência estatal em seu funcionamento. A união da intimidade e da vida privada forma a pri-
vacidade, sendo que a primeira se localiza em esfera mais
Neste sentido, associações são organizações resultan- estrita. É possível ilustrar a vida social como se fosse um
tes da reunião legal entre duas ou mais pessoas, com ou grande círculo no qual há um menor, o da vida privada, e
sem personalidade jurídica, para a realização de um obje- dentro deste um ainda mais restrito e impenetrável, o da
tivo comum; já cooperativas são uma forma específica de intimidade. Com efeito, pela “Teoria das Esferas” (ou “Teoria
associação, pois visam a obtenção de vantagens comuns dos Círculos Concêntricos”), importada do direito alemão,
em suas atividades econômicas. quanto mais próxima do indivíduo, maior a proteção a ser
Ainda, tem-se o artigo 5º, XIX, CF: conferida à esfera (as esferas são representadas pela inti-
midade, pela vida privada, e pela publicidade).
Art. 5º, XIX, CF. As associações só poderão ser compul- “O direito à honra distancia-se levemente dos dois an-
soriamente dissolvidas ou ter suas atividades suspensas por teriores, podendo referir-se ao juízo positivo que a pessoa
decisão judicial, exigindo-se, no primeiro caso, o trânsito em tem de si (honra subjetiva) e ao juízo positivo que dela fa-
julgado. zem os outros (honra objetiva), conferindo-lhe respeitabi-
lidade no meio social. O direito à imagem também pos-
O primeiro caso é o de dissolução compulsória, ou seja, sui duas conotações, podendo ser entendido em sentido
a associação deixará de existir para sempre. Obviamente, é objetivo, com relação à reprodução gráfica da pessoa, por
preciso o trânsito em julgado da decisão judicial que as- meio de fotografias, filmagens, desenhos, ou em sentido
sim determine, pois antes disso sempre há possibilidade
subjetivo, significando o conjunto de qualidades cultivadas
de reverter a decisão e permitir que a associação continue
pela pessoa e reconhecidas como suas pelo grupo social”8.
em funcionamento. Contudo, a decisão judicial pode sus-
pender atividades até que o trânsito em julgado ocorra, ou
7.2 Inviolabilidade de domicílio e sigilo de corres-
seja, no curso de um processo judicial.
Em destaque, a legitimidade representativa da associa- pondência
ção quanto aos seus filiados, conforme artigo 5º, XXI, CF: Correlatos ao direito à privacidade, aparecem a invio-
labilidade do domicílio e o sigilo das correspondências e
Art. 5º, XXI, CF. As entidades associativas, quando ex- comunicações.
pressamente autorizadas, têm legitimidade para represen- Neste sentido, o artigo 5º, XI, CF prevê:
tar seus filiados judicial ou extrajudicialmente.
Art. 5º, XI, CF. A casa é asilo inviolável do indivíduo,
Trata-se de caso de legitimidade processual extraordi- ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do mo-
nária, pela qual um ente vai a juízo defender interesse de rador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para
outra(s) pessoa(s) porque a lei assim autoriza. prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial.
A liberdade de associação envolve não somente o di-
reito de criar associações e de fazer parte delas, mas tam- 7 Ibid.
bém o de não associar-se e o de deixar a associação, con- 8 MOTTA, Sylvio; BARCHET, Gustavo. Curso de direito cons-
forme artigo 5º, XX, CF: titucional. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007.

6
LEGISLAÇÃO BÁSICA

O domicílio é inviolável, razão pela qual ninguém pode diciário com a consequente responsabilidade civil e penal
nele entrar sem o consentimento do morador, a não ser de seus autores, decorrentes inclusive de publicações inju-
EM QUALQUER HORÁRIO no caso de flagrante delito (o riosas na imprensa, que deve exercer vigilância e controle
morador foi flagrado na prática de crime e fugiu para seu da matéria que divulga”9.
domicílio) ou desastre (incêndio, enchente, terremoto...) ou
para prestar socorro (morador teve ataque do coração, está O  direito de resposta é o direito que uma pessoa
sufocado, desmaiado...), e SOMENTE DURANTE O DIA por tem de se defender de críticas públicas no mesmo meio
determinação judicial. em que foram publicadas garantida exatamente a mes-
Quanto ao sigilo de correspondência e das comunica- ma repercussão. Mesmo quando for garantido o direito
ções, prevê o artigo 5º, XII, CF: “XII - é inviolável o sigilo de resposta não é possível reverter plenamente os da-
da correspondência e das comunicações telegráficas, de nos causados pela manifestação ilícita de pensamento,
dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último razão pela qual a pessoa inda fará jus à indenização.
caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a A manifestação ilícita do pensamento geralmente cau-
lei estabelecer para fins de investigação criminal ou instru- sa um dano, ou seja, um prejuízo sofrido pelo agente, que
ção processual penal”. O sigilo de correspondência e das pode ser individual ou coletivo, moral ou material, econô-
comunicações está melhor regulamentado na Lei nº 9.296, mico e não econômico.
de 1996.
Dano material é aquele que atinge o patrimônio (ma-
7.3 Personalidade jurídica e gratuidade de registro terial ou imaterial) da vítima, podendo ser mensurado fi-
Quando se fala em reconhecimento como pessoa pe- nanceiramente e indenizado.
rante a lei desdobra-se uma esfera bastante específica dos
direitos de personalidade, consistente na personalidade ju- “Dano moral direto consiste na lesão a um interesse
rídica. Basicamente, consiste no direito de ser reconhecido que visa a satisfação ou gozo de um bem jurídico extrapa-
como pessoa perante a lei. trimonial contido nos direitos da personalidade (como a
Para ser visto como pessoa perante a lei mostra-se vida, a integridade corporal, a liberdade, a honra, o decoro,
necessário o registro. Por ser instrumento que serve como a intimidade, os sentimentos afetivos, a própria imagem)
pressuposto ao exercício de direitos fundamentais, asse- ou nos atributos da pessoa (como o nome, a capacidade, o
gura-se a sua gratuidade aos que não tiverem condição de estado de família)”10.
com ele arcar. Já o dano à imagem é delimitado no artigo 20 do Có-
Aborda o artigo 5º, LXXVI, CF: digo Civil: “Salvo se autorizadas, ou se necessárias à ad-
ministração da justiça ou à manutenção da ordem públi-
Art. 5º, LXXVI, CF. São gratuitos para os reconhecida- ca, a divulgação de escritos, a transmissão da palavra, ou
mente pobres, na forma da lei: a) o registro civil de nasci- a publicação, a exposição ou a utilização da imagem de
mento; b) a certidão de óbito. uma pessoa poderão ser proibidas, a seu requerimento e
sem prejuízo da indenização que couber, se lhe atingirem a
O reconhecimento do marco inicial e do marco final honra, a boa fama ou a respeitabilidade, ou se se destina-
da personalidade jurídica pelo registro é direito individual, rem a fins comerciais”.
não dependendo de condições financeiras. Evidente, seria
absurdo cobrar de uma pessoa sem condições a elabora- 8 Direito à segurança
ção de documentos para que ela seja reconhecida como O caput do artigo 5º da Constituição assegura a pro-
viva ou morta, o que apenas incentivaria a indigência dos teção do direito à segurança. Na qualidade de direito in-
menos favorecidos. dividual liga-se à segurança do indivíduo como um todo,
desde sua integridade física e mental, até a própria segu-
7.4 Direito à indenização e direito de resposta rança jurídica.
Com vistas à proteção do direito à privacidade, do di- No sentido aqui estudado, o direito à segurança pes-
reito à personalidade e do direito à imagem, asseguram-se soal é o direito de viver sem medo, protegido pela soli-
dois instrumentos, o direito à indenização e o direito de dariedade e liberto de agressões, logo, é uma maneira de
resposta, conforme as necessidades do caso concreto. garantir o direito à vida.
Com efeito, prevê o artigo 5º, V, CF: Nesta linha, para Silva11, “efetivamente, esse conjunto
de direitos aparelha situações, proibições, limitações e pro-
Art. 5º, V, CF. É assegurado o direito de resposta, pro- cedimentos destinados a assegurar o exercício e o gozo de
porcional ao agravo, além da indenização por dano mate- algum direito individual fundamental (intimidade, liberda-
rial, moral ou à imagem. de pessoal ou a incolumidade física ou moral)”.
9 BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. 26.
“A manifestação do pensamento é livre e garantida ed. São Paulo: Malheiros, 2011.
em nível constitucional, não aludindo a censura prévia em 10 ZANNONI, Eduardo. El daño en la responsabilidad civil.
diversões e espetáculos públicos. Os abusos porventura Buenos Aires: Astrea, 1982.
ocorridos no exercício indevido da manifestação do pensa- 11 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional po-
mento são passíveis de exame e apreciação pelo Poder Ju- sitivo. 25. ed. São Paulo: Malheiros, 2006.

7
LEGISLAÇÃO BÁSICA

Especificamente no que tange à segurança jurídica, como todos os outros, se encontra limitado pelos demais
tem-se o disposto no artigo 5º, XXXVI, CF: princípios conforme melhor se atenda à dignidade do ser
humano.
Art. 5º, XXXVI, CF. A lei não prejudicará o direito adqui- A Constituição Federal delimita o que se entende por
rido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada. função social:

Pelo inciso restam estabelecidos limites à retroativida- Art. 182, caput, CF. A política de desenvolvimento urba-
no, executada pelo Poder Público municipal, conforme dire-
de da lei.
trizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno
Define o artigo 6º da Lei de Introdução às Normas do desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o
Direito Brasileiro: bem-estar de seus habitantes.

Art. 6º, LINDB. A Lei em vigor terá efeito imediato e ge- Artigo 182, § 1º, CF. O plano diretor, aprovado pela Câ-
ral, respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e mara Municipal, obrigatório para cidades com mais de vinte
a coisa julgada. mil habitantes, é o instrumento básico da política de desen-
§ 1º Reputa-se ato jurídico perfeito o já consumado volvimento e de expansão urbana.
segundo a lei vigente ao tempo em que se efetuou.
§ 2º Consideram-se adquiridos assim os direitos que o Artigo 182, § 2º, CF. A propriedade urbana cumpre sua
seu titular, ou alguém por ele, possa exercer, como aqueles função social quando atende às exigências fundamentais de
cujo começo do exercício tenha termo pré-fixo, ou condi- ordenação da cidade expressas no plano diretor13.
ção pré-estabelecida inalterável, a arbítrio de outrem.
Artigo 186, CF. A função social é cumprida quando a
§ 3º Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisão
propriedade rural atende, simultaneamente, segundo crité-
judicial de que já não caiba recurso.
rios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos seguintes
requisitos:
9 Direito à propriedade I - aproveitamento racional e adequado;
O caput do artigo 5º da Constituição assegura a pro- II - utilização adequada dos recursos naturais disponí-
teção do direito à propriedade, tanto material quanto inte- veis e preservação do meio ambiente;
lectual, delimitada em alguns incisos que o seguem. III - observância das disposições que regulam as rela-
ções de trabalho;
9.1 Função social da propriedade material IV - exploração que favoreça o bem-estar dos proprie-
O artigo 5º, XXII, CF estabelece: tários e dos trabalhadores.

Art. 5º, XXII, CF. É garantido o direito de propriedade. 9.2 Desapropriação


No caso de desrespeito à função social da proprieda-
de cabe até mesmo desapropriação do bem, de modo que
A seguir, no inciso XXIII do artigo 5º, CF estabelece o
pode-se depreender do texto constitucional duas possibi-
principal fator limitador deste direito:
lidades de desapropriação: por desrespeito à função social
e por necessidade ou utilidade pública.
Art. 5º, XXIII, CF. A propriedade atenderá a sua função A Constituição Federal prevê a possibilidade de desa-
social. propriação por desatendimento à função social:

A propriedade, segundo Silva12, “[...] não pode mais ser Artigo 182, § 4º, CF. É facultado ao Poder Público mu-
considerada como um direito individual nem como institui- nicipal, mediante lei específica para área incluída no plano
ção do direito privado. [...] embora prevista entre os direi- diretor, exigir, nos termos da lei federal, do proprietário do
tos individuais, ela não mais poderá ser considerada puro solo urbano não edificado, subutilizado ou não utiliza-
direito individual, relativizando-se seu conceito e significa- do, que promova seu adequado aproveitamento, sob pena,
do, especialmente porque os princípios da ordem econô- sucessivamente, de:
mica são preordenados à vista da realização de seu fim: I - parcelamento ou edificação compulsórios;
assegurar a todos existência digna, conforme os ditames II - imposto sobre a propriedade predial e territorial ur-
bana progressivo no tempo;
da justiça social. Se é assim, então a propriedade privada,
III - desapropriação com pagamento mediante títulos
que, ademais, tem que atender a sua função social, fica vin- da dívida pública de emissão previamente aprovada pelo
culada à consecução daquele princípio”. Senado Federal, com prazo de resgate de até dez anos, em
parcelas anuais, iguais e sucessivas, assegurados o valor real
Com efeito, a proteção da propriedade privada está li- da indenização e os juros legais14.
mitada ao atendimento de sua função social, sendo este o
13 Instrumento básico de um processo de planejamento mu-
requisito que a correlaciona com a proteção da dignidade nicipal para a implantação da política de desenvolvimento urbano,
da pessoa humana. A propriedade de bens e valores em norteando a ação dos agentes públicos e privados (Lei n. 10.257/2001
geral é um direito assegurado na Constituição Federal e, - Estatuto da cidade).
12 Ibid. 14 Nota-se que antes de se promover a desapropriação de

8
LEGISLAÇÃO BÁSICA

Artigo 184, CF. Compete à União desapropriar por in- f) o aproveitamento industrial das minas e das jazidas
teresse social, para fins de reforma agrária, o imóvel rural minerais, das águas e da energia hidráulica;
que não esteja cumprindo sua função social, mediante g) a assistência pública, as obras de higiene e decoração,
prévia e justa indenização em títulos da dívida agrária, casas de saúde, clínicas, estações de clima e fontes medici-
com cláusula de preservação do valor real, resgatáveis no nais;
prazo de até vinte anos, a partir do segundo ano de sua h) a exploração ou a conservação dos serviços públicos;
emissão, e cuja utilização será definida em lei15. i) a abertura, conservação e melhoramento de vias ou
logradouros públicos; a execução de planos de urbanização;
Artigo 184, § 1º, CF. As benfeitorias úteis e necessárias o parcelamento do solo, com ou sem edificação, para sua
serão indenizadas em dinheiro. melhor utilização econômica, higiênica ou estética; a cons-
trução ou ampliação de distritos industriais;
No que tange à desapropriação por necessidade ou j) o funcionamento dos meios de transporte coletivo;
utilidade pública, prevê o artigo 5º, XXIV, CF:
k) a preservação e conservação dos monumentos históri-
cos e artísticos, isolados ou integrados em conjuntos urbanos
Art. 5º, XXIV, CF. A lei estabelecerá o procedimento para
ou rurais, bem como as medidas necessárias a manter-lhes
desapropriação por necessidade ou utilidade pública, ou por
e realçar-lhes os aspectos mais valiosos ou característicos e,
interesse social, mediante justa e prévia indenização em di-
nheiro, ressalvados os casos previstos nesta Constituição. ainda, a proteção de paisagens e locais particularmente do-
tados pela natureza;
Ainda, prevê o artigo 182, § 3º, CF: l) a preservação e a conservação adequada de arquivos,
documentos e outros bens moveis de valor histórico ou ar-
Art. 183, §3º, CF. As desapropriações de imóveis urbanos tístico;
serão feitas com prévia e justa indenização em dinheiro. m) a construção de edifícios públicos, monumentos co-
memorativos e cemitérios;
Tem-se, ainda o artigo 184, §§ 2º e 3º, CF: n) a criação de estádios, aeródromos ou campos de pou-
so para aeronaves;
Art. 184, §2º, CF. O decreto que declarar o imóvel como o) a reedição ou divulgação de obra ou invento de natu-
de interesse social, para fins de reforma agrária, autoriza a reza científica, artística ou literária;
União a propor a ação de desapropriação. p) os demais casos previstos por leis especiais.

Art. 184, §3º, CF. Cabe à lei complementar estabelecer Um grande problema que faz com que processos que
procedimento contraditório especial, de rito sumário, para o tenham a desapropriação por objeto se estendam é a in-
processo judicial de desapropriação. devida valorização do imóvel pelo Poder Público, que ge-
ralmente pretende pagar valor muito abaixo do devido,
A desapropriação por utilidade ou necessidade pública necessitando o Judiciário intervir em prol da correta ava-
deve se dar mediante prévia e justa indenização em dinhei- liação.
ro. O Decreto-lei nº 3.365/1941 a disciplina, delimitando Outra questão reside na chamada tredestinação, pela
o procedimento e conceituando utilidade pública, em seu qual há a destinação de um bem expropriado (desapro-
artigo 5º: priação) a finalidade diversa da que se planejou inicial-
mente. A tredestinação pode ser lícita ou ilícita. Será ilícita
Artigo 5º, Decreto-lei nº 3.365/1941. Consideram-se ca- quando resultante de desvio do propósito original; e será
sos de utilidade pública:
lícita quando a Administração Pública dê ao bem finalidade
a) a segurança nacional;
diversa, porém preservando a razão do interesse público.
b) a defesa do Estado;
c) o socorro público em caso de calamidade;
9.3 Política agrária e reforma agrária
d) a salubridade pública;
e) a criação e melhoramento de centros de população, Enquanto desdobramento do direito à propriedade
seu abastecimento regular de meios de subsistência; imóvel e da função social desta propriedade, tem-se ainda
o artigo 5º, XXVI, CF:
imóvel urbano por desatendimento à função social é necessário to-
mar duas providências, sucessivas: primeiro, o parcelamento ou edi-
ficação compulsórios; depois, o estabelecimento de imposto sobre a Art. 5º, XXVI, CF. A pequena propriedade rural, assim
propriedade predial e territorial urbana progressivo no tempo. Se am- definida em lei, desde que trabalhada pela família, não será
bas medidas restarem ineficazes, parte-se para a desapropriação por objeto de penhora para pagamento de débitos decorrentes
desatendimento à função social. de sua atividade produtiva, dispondo a lei sobre os meios de
15 A desapropriação em decorrência do desatendimento da financiar o seu desenvolvimento.
função social é indenizada, mas não da mesma maneira que a desa-
propriação por necessidade ou utilidade pública, já que na primeira
há violação do ordenamento constitucional pelo proprietário, mas na
Assim, se uma pessoa é mais humilde e tem uma pe-
segunda não. Por isso, indeniza-se em títulos da dívida agrária, que na quena propriedade será assegurado que permaneça com
prática não são tão valorizados quanto o dinheiro. ela e a torne mais produtiva.

9
LEGISLAÇÃO BÁSICA

A preservação da pequena propriedade em detrimento prévia aprovação do Congresso Nacional”, salvo no caso
dos grandes latifúndios improdutivos é uma das diretrizes- de alienações ou concessões de terras públicas para fins de
guias da regulamentação da política agrária brasileira, que reforma agrária (artigo 188, §§ 1º e 2º, CF).
tem como principal escopo a realização da reforma agrária. Os que forem favorecidos pela reforma agrária (ho-
Parte da questão financeira atinente à reforma agrária mens, mulheres, ambos, qualquer estado civil) não pode-
se encontra prevista no artigo 184, §§ 4º e 5º, CF: rão negociar seus títulos pelo prazo de 10 anos (artigo 189,
CF).
Art. 184, § 4º, CF. O orçamento fixará anualmente o vo- Consta, ainda, que “a lei regulará e limitará a aquisição
lume total de títulos da dívida agrária, assim como o mon- ou o arrendamento de propriedade rural por pessoa física
tante de recursos para atender ao programa de reforma ou jurídica estrangeira e estabelecerá os casos que depen-
agrária no exercício. derão de autorização do Congresso Nacional” (artigo 190,
CF).
Art. 184, § 5º, CF. São isentas de impostos federais, esta-
9.4 Usucapião
duais e municipais as operações de transferência de imóveis
Usucapião é o modo originário de aquisição da pro-
desapropriados para fins de reforma agrária.
priedade que decorre da posse prolongada por um lon-
go tempo, preenchidos outros requisitos legais. Em outras
Como a finalidade da reforma agrária é transformar
palavras, usucapião é uma situação em que alguém tem a
terras improdutivas e grandes propriedades em atinentes à posse de um bem por um tempo longo, sem ser incomo-
função social, alguns imóveis rurais não podem ser abran- dado, a ponto de se tornar proprietário.
gidos pela reforma agrária: A Constituição regulamenta o acesso à propriedade
mediante posse prolongada no tempo – usucapião – em
Art. 185, CF. São insuscetíveis de desapropriação para casos específicos, denominados usucapião especial urbana
fins de reforma agrária: I - a pequena e média propriedade e usucapião especial rural.
rural, assim definida em lei, desde que seu proprietário não O artigo 183 da Constituição regulamenta a usucapião
possua outra; II - a propriedade produtiva. Parágrafo único. especial urbana:
A lei garantirá tratamento especial à propriedade produtiva
e fixará normas para o cumprimento dos requisitos relativos Art. 183. Aquele que possuir como sua área urbana de
a sua função social. até duzentos e cinquenta metros quadrados, por cinco anos,
ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua
Sobre as diretrizes da política agrícola, prevê o artigo moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde
187: que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural.
§ 1º O título de domínio e a concessão de uso serão
Art. 187, CF. A política agrícola será planejada e exe- conferidos ao homem ou à mulher, ou a ambos, indepen-
cutada na forma da lei, com a participação efetiva do setor dentemente do estado civil.
de produção, envolvendo produtores e trabalhadores rurais, § 2º Esse direito não será reconhecido ao mesmo pos-
bem como dos setores de comercialização, de armazena- suidor mais de uma vez.
mento e de transportes, levando em conta, especialmente: § 3º Os imóveis públicos não serão adquiridos por usu-
I - os instrumentos creditícios e fiscais; capião.
II - os preços compatíveis com os custos de produção e a
garantia de comercialização; Além dos requisitos gerais (animus e posse que seja
III - o incentivo à pesquisa e à tecnologia; pública, pacífica, ininterrupta e contínua), são exigidos os
seguintes requisitos específicos:
IV - a assistência técnica e extensão rural;
a) Área urbana – há controvérsia. Pela teoria da locali-
V - o seguro agrícola;
zação, área urbana é a que está dentro do perímetro urba-
VI - o cooperativismo;
no. Pela teoria da destinação, mais importante que a locali-
VII - a eletrificação rural e irrigação;
zação é a sua utilização. Ex.: se tem fins agrícolas/pecuários
VIII - a habitação para o trabalhador rural. e estiver dentro do perímetro urbana, o imóvel é rural. Para
§ 1º Incluem-se no planejamento agrícola as atividades fins de usucapião a maioria diz que prevalece a teoria da
agroindustriais, agropecuárias, pesqueiras e florestais. localização.
§ 2º Serão compatibilizadas as ações de política agríco- b) Imóveis até 250 m² – Pode dentro de uma posse
la e de reforma agrária. maior isolar área de 250m² e ingressar com a ação? A juris-
prudência é pacífica que a posse desde o início deve ficar
As terras devolutas e públicas serão destinadas confor- restrita a 250m². Predomina também que o terreno deve
me a política agrícola e o plano nacional de reforma agrá- ter 250m², não a área construída (a área de um sobrado,
ria (artigo 188, caput, CF). Neste sentido, “a alienação ou a por exemplo, pode ser maior que a de um terreno).
concessão, a qualquer título, de terras públicas com área c) 5 anos – houve controvérsia porque a Constituição
superior a dois mil e quinhentos hectares a pessoa física Federal de 1988 que criou esta modalidade. E se antes
ou jurídica, ainda que por interposta pessoa, dependerá de de 05 de outubro de 1988 uma pessoa tivesse há 4 anos

10
LEGISLAÇÃO BÁSICA

dentro do limite da usucapião urbana? Predominou que 9.6 Direito sucessório


só corria o prazo a partir da criação do instituto, não só
porque antes não existia e o prazo não podia correr, como O direito sucessório aparece como uma faceta do di-
também não se poderia prejudicar o proprietário. reito à propriedade, encontrando disciplina constitucional
d) Moradia sua ou de sua família – não basta ter posse, no artigo 5º, XXX e XXXI, CF:
é preciso que a pessoa more, sozinha ou com sua família,
ao longo de todo o prazo (não só no início ou no final). Art. 5º, XXX, CF. É garantido o direito de herança.
Logo, não cabe acessio temporis por cessão da posse.
e) Nenhum outro imóvel, nem urbano, nem rural, no Art. 5º, XXXI, CF. A sucessão de bens de estrangeiros
Brasil. O usucapiente não prova isso, apenas alega. Se al- situados no País será regulada pela lei brasileira em benefí-
guém não quiser a usucapião, prova o contrário. Este re- cio do cônjuge ou dos filhos brasileiros, sempre que não lhes
quisito é verificado no momento em que completa 5 anos. seja mais favorável a lei pessoal do de cujus.
Em relação à previsão da usucapião especial rural, des-
taca-se o artigo 191, CF: O direito à herança envolve o direito de receber – seja
devido a uma previsão legal, seja por testamento – bens
Art. 191, CF. Aquele que, não sendo proprietário de imó- de uma pessoa que faleceu. Assim, o patrimônio passa
vel rural ou urbano, possua como seu, por cinco anos inin- para outra pessoa, conforme a vontade do falecido e/ou
terruptos, sem oposição, área de terra, em zona rural, não a lei determine. A Constituição estabelece uma disciplina
superior a cinquenta hectares, tornando-a produtiva por seu específica para bens de estrangeiros situados no Brasil, as-
trabalho ou de sua família, tendo nela sua moradia, adqui- segurando que eles sejam repassados ao cônjuge e filhos
rir-lhe-á a propriedade. Parágrafo único. Os imóveis públicos brasileiros nos termos da lei mais benéfica (do Brasil ou do
não serão adquiridos por usucapião. país estrangeiro).

Além dos requisitos gerais (animus e posse que seja 9.7 Direito do consumidor
pública, pacífica, ininterrupta e contínua), são exigidos os Nos termos do artigo 5º, XXXII, CF:
seguintes requisitos específicos:
Art. 5º, XXXII, CF. O Estado promoverá, na forma da lei,
a) Imóvel rural
a defesa do consumidor.
b) 50 hectares, no máximo – há também legislação que
estabelece um limite mínimo, o módulo rural (Estatuto da
O direito do consumidor liga-se ao direito à proprieda-
Terra). É possível usucapir áreas menores que o módulo ru-
de a partir do momento em que garante à pessoa que irá
ral? Tem prevalecido o entendimento de que pode, mas é
adquirir bens e serviços que estes sejam entregues e pres-
assunto muito controverso.
tados da forma adequada, impedindo que o fornecedor se
c) 5 anos – pode ser considerado o prazo antes 05 de
enriqueça ilicitamente, se aproveite de maneira indevida da
outubro de 1988 (Constituição Federal)? Depende. Se a posição menos favorável e de vulnerabilidade técnica do
área é de até 25 hectares sim, pois já havia tal possibilidade consumidor.
antes da CF/88. Se área for maior (entre 25 ha e 50 ha) não. O Direito do Consumidor pode ser considerado um
d) Moradia sua ou de sua família – a pessoa deve morar ramo recente do Direito. No Brasil, a legislação que o re-
na área rural. gulamentou foi promulgada nos anos 90, qual seja a Lei nº
e) Nenhum outro imóvel. 8.078, de 11 de setembro de 1990, conforme determinado
f) O usucapiente, com seu trabalho, deve ter tornado pela Constituição Federal de 1988, que também estabele-
a área produtiva. Por isso, é chamado de usucapião “pro ceu no artigo 48 do Ato das Disposições Constitucionais
labore”. Dependerá do caso concreto. Transitórias: “o Congresso Nacional, dentro de cento e vin-
te dias da promulgação da Constituição, elaborará código
9.5 Uso temporário de defesa do consumidor”. A elaboração do Código de De-
No mais, estabelece-se uma terceira limitação ao di- fesa do Consumidor foi um grande passo para a proteção
reito de propriedade que não possui o caráter definitivo da pessoa nas relações de consumo que estabeleça, res-
da desapropriação, mas é temporária, conforme artigo 5º, peitando-se a condição de hipossuficiente técnico daquele
XXV, CF: que adquire um bem ou faz uso de determinado serviço,
enquanto consumidor.
Art. 5º, XXV, CF. No caso de iminente perigo público, a
autoridade competente poderá usar de propriedade par- 9.8 Propriedade intelectual
ticular, assegurada ao proprietário indenização ulterior, se Além da propriedade material, o constituinte protege
houver dano. também a propriedade intelectual, notadamente no artigo
5º, XXVII, XXVIII e XXIX, CF:
Se uma pessoa tem uma propriedade, numa situação
de perigo, o poder público pode se utilizar dela (ex.: mon- Art. 5º, XXVII, CF. Aos autores pertence o direito exclu-
tar uma base para capturar um fugitivo), pois o interesse da sivo de utilização, publicação ou reprodução de suas
coletividade é maior que o do indivíduo proprietário. obras, transmissível aos herdeiros pelo tempo que a lei fixar;

11
LEGISLAÇÃO BÁSICA

Art. 5º, XXVIII, CF. São assegurados, nos termos da lei: a) 10 Direitos de acesso à justiça
a proteção às participações individuais em obras coleti- A formação de um conceito sistemático de acesso à
vas e à reprodução da imagem e voz humanas, inclusive justiça se dá com a teoria de Cappelletti e Garth, que apon-
nas atividades desportivas; b) o direito de fiscalização do taram três ondas de acesso, isto é, três posicionamentos
aproveitamento econômico das obras que criarem ou de básicos para a realização efetiva de tal acesso. Tais ondas
que participarem aos criadores, aos intérpretes e às respecti- foram percebidas paulatinamente com a evolução do Di-
vas representações sindicais e associativas; reito moderno conforme implementadas as bases da onda
anterior, quer dizer, ficou evidente aos autores a emergên-
Art. 5º, XXIX, CF. A lei assegurará aos autores de inven- cia de uma nova onda quando superada a afirmação das
tos industriais privilégio temporário para sua utilização, premissas da onda anterior, restando parcialmente imple-
bem como proteção às criações industriais, à propriedade mentada (visto que até hoje enfrentam-se obstáculos ao
das marcas, aos nomes de empresas e a outros signos distin- pleno atendimento em todas as ondas).
tivos, tendo em vista o interesse social e o desenvolvimento Primeiro, Cappelletti e Garth17 entendem que surgiu
tecnológico e econômico do País. uma onda de concessão de assistência judiciária aos po-
bres, partindo-se da prestação sem interesse de remunera-
Assim, a propriedade possui uma vertente intelectual ção por parte dos advogados e, ao final, levando à criação
que deve ser respeitada, tanto sob o aspecto moral quanto de um aparato estrutural para a prestação da assistência
sob o patrimonial. No âmbito infraconstitucional brasileiro, pelo Estado.
a Lei nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998, regulamenta os Em segundo lugar, no entender de Cappelletti e Garth18,
direitos autorais, isto é, “os direitos de autor e os que lhes veio a onda de superação do problema na representação
são conexos”. dos interesses difusos, saindo da concepção tradicional de
O artigo 7° do referido diploma considera como obras processo como algo restrito a apenas duas partes indivi-
intelectuais que merecem a proteção do direito do autor dualizadas e ocasionando o surgimento de novas institui-
os textos de obras de natureza literária, artística ou científi- ções, como o Ministério Público.
ca; as conferências, sermões e obras semelhantes; as obras Finalmente, Cappelletti e Garth19 apontam uma terceira
cinematográficas e televisivas; as composições musicais; onda consistente no surgimento de uma concepção mais
fotografias; ilustrações; programas de computador; coletâ- ampla de acesso à justiça, considerando o conjunto de ins-
neas e enciclopédias; entre outras. tituições, mecanismos, pessoas e procedimentos utilizados:
Os direitos morais do autor, que são imprescritíveis, “[...] esse enfoque encoraja a exploração de uma ampla va-
inalienáveis e irrenunciáveis, envolvem, basicamente, o di- riedade de reformas, incluindo alterações nas formas de
reito de reivindicar a autoria da obra, ter seu nome divul- procedimento, mudanças na estrutura dos tribunais ou a
gado na utilização desta, assegurar a integridade desta ou criação de novos tribunais, o uso de pessoas leigas ou pa-
modificá-la e retirá-la de circulação se esta passar a afron- raprofissionais, tanto como juízes quanto como defensores,
tar sua honra ou imagem. modificações no direito substantivo destinadas a evitar li-
Já os direitos patrimoniais do autor, nos termos dos tígios ou facilitar sua solução e a utilização de mecanismos
artigos 41 a 44 da Lei nº 9.610/98, prescrevem em 70 anos privados ou informais de solução dos litígios. Esse enfoque,
contados do primeiro ano seguinte à sua morte ou do em suma, não receia inovações radicais e compreensivas,
falecimento do último coautor, ou contados do primeiro que vão muito além da esfera de representação judicial”.
ano seguinte à divulgação da obra se esta for de natureza Assim, dentro da noção de acesso à justiça, diversos
audiovisual ou fotográfica. Estes, por sua vez, abrangem, aspectos podem ser destacados: de um lado, deve criar-se
basicamente, o direito de dispor sobre a reprodução, edi- o Poder Judiciário e se disponibilizar meios para que todas
ção, adaptação, tradução, utilização, inclusão em bases de as pessoas possam buscá-lo; de outro lado, não basta ga-
dados ou qualquer outra modalidade de utilização; sendo rantir meios de acesso se estes forem insuficientes, já que
que estas modalidades de utilização podem se dar a título para que exista o verdadeiro acesso à justiça é necessário
oneroso ou gratuito. que se aplique o direito material de maneira justa e célere.
“Os direitos autorais, também conhecidos como co- Relacionando-se à primeira onda de acesso à justiça,
pyright (direito de cópia), são considerados bens móveis, prevê a Constituição em seu artigo 5º, XXXV:
podendo ser alienados, doados, cedidos ou locados. Res-
salte-se que a permissão a terceiros de utilização de cria- Art. 5º, XXXV, CF. A lei não excluirá da apreciação do
ções artísticas é direito do autor. [...] A proteção consti- Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito.
tucional abrange o plágio e a contrafação. Enquanto que
o primeiro caracteriza-se pela difusão de obra criada ou O princípio da inafastabilidade da jurisdição é o prin-
produzida por terceiros, como se fosse própria, a segunda cípio de Direito Processual Público subjetivo, também
configura a reprodução de obra alheia sem a necessária cunhado como Princípio da Ação, em que a Constituição
permissão do autor”16. 17 CAPPELLETTI, Mauro; GARTH, Bryant. Acesso à Justiça.
16 MORAES, Alexandre de. Direitos humanos fundamentais: Tradução Ellen Grace Northfleet. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris
teoria geral, comentários aos artigos 1º a 5º da Constituição da Repú- Editor, 1998, p. 31-32.
blica Federativa do Brasil, doutrina e jurisprudência. São Paulo: Atlas, 18 Ibid., p. 49-52.
1997. 19 Ibid., p. 67-73.

12
LEGISLAÇÃO BÁSICA

garante a necessária tutela estatal aos conflitos ocorrentes Art. 5º, XXXVIII, CF. É reconhecida a instituição do júri,
na vida em sociedade. Sempre que uma controvérsia for com a organização que lhe der a lei, assegurados: a) a ple-
levada ao Poder Judiciário, preenchidos os requisitos de nitude de defesa; b) o sigilo das votações; c) a soberania dos
admissibilidade, ela será resolvida, independentemente de veredictos; d) a competência para o julgamento dos crimes
haver ou não previsão específica a respeito na legislação. dolosos contra a vida.
Também se liga à primeira onda de acesso à justiça,
no que tange à abertura do Judiciário mesmo aos menos O Tribunal do Júri é formado por pessoas do povo, que
favorecidos economicamente, o artigo 5º, LXXIV, CF: julgam os seus pares. Entende-se ser direito fundamental
o de ser julgado por seus iguais, membros da sociedade e
Art. 5º, LXXIV, CF. O Estado prestará assistência jurídi- não magistrados, no caso de determinados crimes que por
ca integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência sua natureza possuem fortes fatores de influência emocio-
de recursos. nal.
Plenitude da defesa envolve tanto a autodefesa quanto
a defesa técnica e deve ser mais ampla que a denominada
O constituinte, ciente de que não basta garantir o aces-
ampla defesa assegurada em todos os procedimentos judi-
so ao Poder Judiciário, sendo também necessária a efeti-
ciais e administrativos.
vidade processual, incluiu pela Emenda Constitucional nº
Sigilo das votações envolve a realização de votações
45/2004 o inciso LXXVIII ao artigo 5º da Constituição:
secretas, preservando a liberdade de voto dos que com-
põem o conselho que irá julgar o ato praticado.
Art. 5º, LXXVIII, CF. A todos, no âmbito judicial e admi- A decisão tomada pelo conselho é soberana. Contudo,
nistrativo, são assegurados a razoável duração do proces- a soberania dos veredictos veda a alteração das decisões
so e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação.  dos jurados, não a recorribilidade dos julgamentos do Tri-
bunal do Júri para que seja procedido novo julgamento
Com o tempo se percebeu que não bastava garantir uma vez cassada a decisão recorrida, haja vista preservar
o acesso à justiça se este não fosse célere e eficaz. Não o ordenamento jurídico pelo princípio do duplo grau de
significa que se deve acelerar o processo em detrimento jurisdição.
de direitos e garantias assegurados em lei, mas sim que é Por fim, a competência para julgamento é dos crimes
preciso proporcionar um trâmite que dure nem mais e nem dolosos (em que há intenção ou ao menos se assume o
menos que o necessário para a efetiva realização da justiça risco de produção do resultado) contra a vida, que são: ho-
no caso concreto. micídio, aborto, induzimento, instigação ou auxílio a sui-
cídio e infanticídio. Sua competência não é absoluta e é
11 Direitos constitucionais-penais mitigada, por vezes, pela própria Constituição (artigos 29,
X / 102, I, b) e c) / 105, I, a) / 108, I).
11.1 Juiz natural e vedação ao juízo ou tribunal de
exceção 11.3 Anterioridade e irretroatividade da lei
Quando o artigo 5º, LIII, CF menciona: O artigo 5º, XXXIX, CF preconiza:

Artigo 5º, LIII, CF. Ninguém será processado nem senten- Art. 5º, XXXIX, CF. Não há crime sem lei anterior que o
ciado senão pela autoridade competente. defina, nem pena sem prévia cominação legal.

O dispositivo consolida o princípio do juiz natural que É a consagração da regra do nullum crimen nulla poena
assegura a toda pessoa o direito de conhecer previamente sine praevia lege. Simultaneamente, se assegura o princípio
da legalidade (ou reserva legal), na medida em que não há
daquele que a julgará no processo em que seja parte, re-
crime sem lei que o defina, nem pena sem prévia comina-
vestindo tal juízo em jurisdição competente para a matéria
ção legal, e o princípio da anterioridade, posto que não há
específica do caso antes mesmo do fato ocorrer.
crime sem lei anterior que o defina.
Por sua vez, um desdobramento deste princípio encon-
Ainda no que tange ao princípio da anterioridade, tem-
tra-se no se o artigo 5º, XL, CF:
Artigo 5º, XXXVII, CF. Não haverá juízo ou tribunal de Art. 5º, XL, CF. A lei penal não retroagirá, salvo para
exceção. beneficiar o réu.

Juízo ou Tribunal de Exceção é aquele especialmente O dispositivo consolida outra faceta do princípio da
criado para uma situação pretérita, bem como não reco- anterioridade: se, por um lado, é necessário que a lei tenha
nhecido como legítimo pela Constituição do país. definido um fato como crime e dado certo tratamento pe-
nal a este fato (ex.: pena de detenção ou reclusão, tempo
11.2 Tribunal do júri de pena, etc.) antes que ele ocorra; por outro lado, se vier
A respeito da competência do Tribunal do júri, prevê o uma lei posterior ao fato que o exclua do rol de crimes ou
artigo 5º, XXXVIII, CF: que confira tratamento mais benéfico (diminuindo a pena

13
LEGISLAÇÃO BÁSICA

ou alterando o regime de cumprimento, notadamente), ela Art. 5º, XLIV, CF. Constitui crime inafiançável e impres-
será aplicada. Restam consagrados tanto o princípio da ir- critível a ação de grupos armados, civis ou militares,
retroatividade da lei penal in pejus quanto o da retroativi- contra a ordem constitucional e o Estado Democrático.
dade da lei penal mais benéfica.
11.5 Personalidade da pena
11.4 Menções específicas a crimes
A personalidade da pena encontra respaldo no artigo
O artigo 5º, XLI, CF estabelece: 5º, XLV, CF:

Art. 5º, XLI, CF. A lei punirá qualquer discriminação Art. 5º, XLV, CF. Nenhuma pena passará da pessoa do
atentatória dos direitos e liberdades fundamentais. condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a de-
cretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, esten-
Sendo assim confere fórmula genérica que remete ao didas aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do
princípio da igualdade numa concepção ampla, razão pela valor do patrimônio transferido.
qual práticas discriminatórias não podem ser aceitas. No
entanto, o constituinte entendeu por bem prever trata- O princípio da personalidade encerra o comando de o
mento específico a certas práticas criminosas. crime ser imputado somente ao seu autor, que é, por seu
Neste sentido, prevê o artigo 5º, XLII, CF: turno, a única pessoa passível de sofrer a sanção. Seria fla-
grante a injustiça se fosse possível alguém responder pelos
Art. 5º, XLII, CF. A prática do racismo constitui crime atos ilícitos de outrem: caso contrário, a reação, ao invés de
inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, restringir-se ao malfeitor, alcançaria inocentes. Contudo, se
nos termos da lei. uma pessoa deixou patrimônio e faleceu, este patrimônio
responderá pelas repercussões financeiras do ilícito.
A Lei nº 7.716, de 5 de janeiro de 1989 define os crimes
11.6 Individualização da pena
resultantes de preconceito de raça ou de cor. Contra eles
A individualização da pena tem por finalidade concre-
não cabe fiança (pagamento de valor para deixar a prisão
tizar o princípio de que a responsabilização penal é sempre
provisória) e não se aplica o instituto da prescrição (perda
pessoal, devendo assim ser aplicada conforme as peculia-
de pretensão de se processar/punir uma pessoa pelo de-
ridades do agente.
curso do tempo).
A primeira menção à individualização da pena se en-
Não obstante, preconiza ao artigo 5º, XLIII, CF:
contra no artigo 5º, XLVI, CF:
Art. 5º, XLIII, CF. A lei considerará crimes inafiançáveis
Art. 5º, XLVI, CF. A lei regulará a individualização da
e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura, o pena e adotará, entre outras, as seguintes: a) privação ou
tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo restrição da liberdade; b) perda de bens; c) multa; d) presta-
e os definidos como crimes hediondos, por eles responden- ção social alternativa; e) suspensão ou interdição de direitos.
do os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los,
se omitirem. Pelo princípio da individualização da pena, a pena deve
ser individualizada nos planos legislativo, judiciário e exe-
Anistia, graça e indulto diferenciam-se nos seguintes cutório, evitando-se a padronização a sanção penal. A in-
termos: a anistia exclui o crime, rescinde a condenação e dividualização da pena significa adaptar a pena ao conde-
extingue totalmente a punibilidade, a graça e o indulto nado, consideradas as características do agente e do delito.
apenas extinguem a punibilidade, podendo ser parciais; a A pena privativa de liberdade é aquela que restringe,
anistia, em regra, atinge crimes políticos, a graça e o in- com maior ou menor intensidade, a liberdade do condena-
dulto, crimes comuns; a anistia pode ser concedida pelo do, consistente em permanecer em algum estabelecimento
Poder Legislativo, a graça e o indulto são de competência prisional, por um determinado tempo.
exclusiva do Presidente da República; a anistia pode ser A pena de multa ou patrimonial opera uma diminuição
concedida antes da sentença final ou depois da condena- do patrimônio do indivíduo delituoso.
ção irrecorrível, a graça e o indulto pressupõem o trânsito A prestação social alternativa corresponde às penas
em julgado da sentença condenatória; graça e o indulto restritivas de direitos, autônomas e substitutivas das penas
apenas extinguem a punibilidade, persistindo os efeitos do privativas de liberdade, estabelecidas no artigo 44 do Có-
crime, apagados na anistia; graça é em regra individual e digo Penal.
solicitada, enquanto o indulto é coletivo e espontâneo. Por seu turno, a individualização da pena deve também
Não cabe graça, anistia ou indulto (pode-se considerar se fazer presente na fase de sua execução, conforme se
que o artigo o abrange, pela doutrina majoritária) contra depreende do artigo 5º, XLVIII, CF:
crimes de tortura, tráfico, terrorismo (TTT) e hediondos
(previstos na Lei nº 8.072 de 25 de julho de 1990). Além Artigo 5º, XLVIII, CF. A pena será cumprida em estabe-
disso, são crimes que não aceitam fiança. lecimentos distintos, de acordo com a natureza do delito,
Por fim, prevê a CF: a idade e o sexo do apenado.

14
LEGISLAÇÃO BÁSICA

A distinção do estabelecimento conforme a natureza no, será remunerado; além disso, condições de dignidade e
do delito visa impedir que a prisão se torne uma faculdade segurança do trabalhador, como descanso semanal e equi-
do crime. Infelizmente, o Estado não possui aparato sufi- pamentos de proteção, deverão ser respeitados.
ciente para cumprir tal diretiva, diferenciando, no máximo,
o nível de segurança das prisões. Quanto à idade, desta- 11.8 Respeito à integridade do preso
cam-se as Fundações Casas, para cumprimento de medida Prevê o artigo 5º, XLIX, CF:
por menores infratores. Quanto ao sexo, prisões costumam
ser exclusivamente para homens ou para mulheres. Art. 5º, XLIX, CF. É assegurado aos presos o respeito à
Também se denota o respeito à individualização da integridade física e moral.
pena nesta faceta pelo artigo 5º, L, CF:
Obviamente, o desrespeito à integridade física e mo-
Art. 5º, L, CF. Às presidiárias serão asseguradas condi- ral do preso é uma violação do princípio da dignidade da
ções para que possam permanecer com seus filhos durante pessoa humana.
o período de amamentação. Dois tipos de tratamentos que violam esta integridade
estão mencionados no próprio artigo 5º da Constituição
Preserva-se a individualização da pena porque é toma- Federal. Em primeiro lugar, tem-se a vedação da tortura
da a condição peculiar da presa que possui filho no perío- e de tratamentos desumanos e degradantes (artigo 5º, III,
do de amamentação, mas também se preserva a dignidade CF), o que vale na execução da pena.
da criança, não a afastando do seio materno de maneira No mais, prevê o artigo 5º, LVIII, CF:
precária e impedindo a formação de vínculo pela amamen-
tação. Art. 5º, LVIII, CF. O civilmente identificado não será sub-
metido a identificação criminal, salvo nas hipóteses pre-
11.7 Vedação de determinadas penas vistas em lei.
O constituinte viu por bem proibir algumas espécies de
penas, consoante ao artigo 5º, XLVII, CF: Se uma pessoa possui identificação civil, não há por-
que fazer identificação criminal, colhendo digitais, fotos,
Art. 5º, XLVII, CF. Não haverá penas: a) de morte, salvo etc. Pensa-se que seria uma situação constrangedora des-
em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX; b) necessária ao suspeito, sendo assim, violaria a integridade
de caráter perpétuo; c) de trabalhos forçados; d) de bani- moral.
mento; e) cruéis.
11.9 Devido processo legal, contraditório e ampla
Em resumo, o inciso consolida o princípio da humani- defesa
dade, pelo qual o “poder punitivo estatal não pode aplicar Estabelece o artigo 5º, LIV, CF:
sanções que atinjam a dignidade da pessoa humana ou que
lesionem a constituição físico-psíquica dos condenados”20 . Art. 5º, LIV, CF. Ninguém será privado da liberdade ou de
Quanto à questão da pena de morte, percebe-se que o seus bens sem o devido processo legal.
constituinte não estabeleceu uma total vedação, autorizan-
do-a nos casos de guerra declarada. Obviamente, deve-se Pelo princípio do devido processo legal a legislação
respeitar o princípio da anterioridade da lei, ou seja, a le- deve ser respeitada quando o Estado pretender punir al-
gislação deve prever a pena de morte ao fato antes dele ser guém judicialmente. Logo, o procedimento deve ser livre
praticado. No ordenamento brasileiro, este papel é cumpri- de vícios e seguir estritamente a legislação vigente, sob
do pelo Código Penal Militar (Decreto-Lei nº 1.001/1969), pena de nulidade processual.
que prevê a pena de morte a ser executada por fuzilamento Surgem como corolário do devido processo legal o
nos casos tipificados em seu Livro II, que aborda os crimes contraditório e a ampla defesa, pois somente um procedi-
militares em tempo de guerra. mento que os garanta estará livre dos vícios. Neste sentido,
Por sua vez, estão absolutamente vedadas em quais- o artigo 5º, LV, CF:
quer circunstâncias as penas de caráter perpétuo, de traba-
lhos forçados, de banimento e cruéis. Art. 5º, LV, CF. Aos litigantes, em processo judicial ou
No que tange aos trabalhos forçados, vale destacar administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o
que o trabalho obrigatório não é considerado um trata- contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a
mento contrário à dignidade do recluso, embora o trabalho ela inerentes.
forçado o seja. O trabalho é obrigatório, dentro das condi-
ções do apenado, não podendo ser cruel ou menosprezar O devido processo legal possui a faceta formal, pela
a capacidade física e intelectual do condenado; como o qual se deve seguir o adequado procedimento na aplica-
trabalho não existe independente da educação, cabe in- ção da lei e, sendo assim, respeitar o contraditório e a am-
centivar o aperfeiçoamento pessoal; até mesmo porque o pla defesa. Não obstante, o devido processo legal tem sua
trabalho deve se aproximar da realidade do mundo exter- faceta material que consiste na tomada de decisões justas,
20 BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal. 16. que respeitem os parâmetros da razoabilidade e da pro-
ed. São Paulo: Saraiva, 2011. v. 1. porcionalidade.

15
LEGISLAÇÃO BÁSICA

11.10 Vedação de provas ilícitas Art. 5º, LXII, CF. A prisão de qualquer pessoa e o local
Dispõe o artigo 5º, LVI, CF: onde se encontre serão comunicados imediatamente ao
juiz competente e à família do preso ou à pessoa por ele
Artigo 5º, LVI, CF. São inadmissíveis, no processo, as pro- indicada.
vas obtidas por meios ilícitos.
Não obstante, o preso deverá ser informado de todos
Provas ilícitas, por força da nova redação dada ao arti- os seus direitos, inclusive o direito ao silêncio, podendo
go 157 do CPP, são as obtidas em violação a normas cons- entrar em contato com sua família e com um advogado,
titucionais ou legai, ou seja, prova ilícita é a que viola regra conforme artigo 5º, LXIII, CF:
de direito material, constitucional ou legal, no momento
da sua obtenção. São vedadas porque não se pode aceitar Art. 5º, LXIII, CF. O preso será informado de seus direi-
o descumprimento do ordenamento para fazê-lo cumprir: tos, entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe asse-
seria paradoxal. gurada a assistência da família e de advogado.

11.11 Presunção de inocência Estabelece-se no artigo 5º, LXIV, CF:


Prevê a Constituição no artigo 5º, LVII:
Art. 5º, LXIV, CF. O preso tem direito à identificação
Art. 5º, LVII, CF. ninguém será considerado culpado até dos responsáveis por sua prisão ou por seu interrogatório
o trânsito em julgado de sentença penal condenatória. policial.
Consolida-se o princípio da presunção de inocência, Por isso mesmo, o auto de prisão em flagrante e a ata
pelo qual uma pessoa não é culpada até que, em definitivo, do depoimento do interrogatório são assinados pelas au-
o Judiciário assim decida, respeitados todos os princípios e toridades envolvidas nas práticas destes atos procedimen-
garantias constitucionais. tais.
Ainda, a legislação estabelece inúmeros requisitos para
11.12 Ação penal privada subsidiária da pública
que a prisão seja validada, sem os quais cabe relaxamento,
Nos termos do artigo 5º, LIX, CF:
tanto que assim prevê o artigo 5º, LXV, CF:
Art. 5º, LIX, CF. Será admitida ação privada nos crimes
Art. 5º, LXV, CF. A prisão ilegal será imediatamente re-
de ação pública, se esta não for intentada no prazo legal.
laxada pela autoridade judiciária.
A chamada ação penal privada subsidiária da pública
encontra respaldo constitucional, assegurando que a omis- Desta forma, como decorrência lógica, tem-se a previ-
são do poder público na atividade de persecução criminal são do artigo 5º, LXVI, CF:
não será ignorada, fornecendo-se instrumento para que o
interessado a proponha. Art. 5º, LXVI, CF. Ninguém será levado à prisão ou nela
mantido, quando a lei admitir a liberdade provisória, com
11.13 Prisão e liberdade ou sem fiança.
O constituinte confere espaço bastante extenso no ar-
tigo 5º em relação ao tratamento da prisão, notadamente Mesmo que a pessoa seja presa em flagrante, devido
por se tratar de ato que vai contra o direito à liberdade. ao princípio da presunção de inocência, entende-se que
Obviamente, a prisão não é vedada em todos os casos, ela não deve ser mantida presa quando não preencher os
porque práticas atentatórias a direitos fundamentais impli- requisitos legais para prisão preventiva ou temporária.
cam na tipificação penal, autorizando a restrição da liber-
dade daquele que assim agiu. 11.14 Indenização por erro judiciário
No inciso LXI do artigo 5º, CF, prevê-se: A disciplina sobre direitos decorrentes do erro judiciá-
rio encontra-se no artigo 5º, LXXV, CF:
Art. 5º, LXI, CF. Ninguém será preso senão em flagran-
te delito ou por ordem escrita e fundamentada de autori- Art. 5º, LXXV, CF. O Estado indenizará o condenado por
dade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão erro judiciário, assim como o que ficar preso além do tem-
militar ou crime propriamente militar, definidos em lei. po fixado na sentença.

Logo, a prisão somente se dará em caso de flagrante Trata-se do erro em que incorre um juiz na apreciação
delito (necessariamente antes do trânsito em julgado), ou e julgamento de um processo criminal, resultando em con-
em caráter temporário, provisório ou definitivo (as duas denação de alguém inocente. Neste caso, o Estado inde-
primeiras independente do trânsito em julgado, preen- nizará. Ele também indenizará uma pessoa que ficar presa
chidos requisitos legais e a última pela irreversibilidade da além do tempo que foi condenada a cumprir.
condenação).
Aborda-se no artigo 5º, LXII o dever de comunicação 12 Direitos fundamentais implícitos
ao juiz e à família ou pessoa indicada pelo preso: Prevê o § 2º do artigo 5º da Constituição Federal:

16
LEGISLAÇÃO BÁSICA

Art. 5º, §2º, CF. Os direitos e garantias expressos nesta tucionais, desde que houvesse a aprovação do tratado em
Constituição não excluem outros decorrentes do regime e cada Casa do Congresso Nacional e obtivesse a votação
dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacio- em dois turnos e com três quintos dos votos dos respecti-
nais em que a República Federativa do Brasil seja parte. vos membros:

Daí se depreende que os direitos ou garantias podem Art. 5º, § 3º, CF. Os tratados e convenções interna-
estar expressos ou implícitos no texto constitucional. Sen- cionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em
do assim, o rol enumerado nos incisos do artigo 5º é ape- cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três
nas exemplificativo, não taxativo. quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalen-
tes às emendas constitucionais. 
13 Tratados internacionais incorporados ao ordena-
mento interno Logo, a partir da alteração constitucional, os tratados
Estabelece o artigo 5º, § 2º, CF que os direitos e garan- de direitos humanos que ingressarem no ordenamento ju-
tias podem decorrer, dentre outras fontes, dos “tratados rídico brasileiro, versando sobre matéria de direitos huma-
internacionais em que a República Federativa do Brasil nos, irão passar por um processo de aprovação semelhante
seja parte”. ao da emenda constitucional.
Para o tratado internacional ingressar no ordenamen- Contudo, há posicionamentos conflituosos quanto à
to jurídico brasileiro deve ser observado um procedimento possibilidade de considerar como hierarquicamente cons-
complexo, que exige o cumprimento de quatro fases: a ne- titucional os tratados internacionais de direitos humanos
gociação (bilateral ou multilateral, com posterior assinatura que ingressaram no ordenamento jurídico brasileiro ante-
do Presidente da República), submissão do tratado assina- riormente ao advento da referida emenda. Tal discussão se
do ao Congresso Nacional (que dará referendo por meio deu com relação à prisão civil do depositário infiel, prevista
do decreto legislativo), ratificação do tratado (confirmação como legal na Constituição e ilegal no Pacto de São José
da obrigação perante a comunidade internacional) e a pro- da Costa Rica (tratado de direitos humanos aprovado antes
mulgação e publicação do tratado pelo Poder Executivo21. da EC nº 45/04), sendo que o Supremo Tribunal Federal
Notadamente, quando o constituinte menciona os tratados firmou o entendimento pela supralegalidade do tratado de
internacionais no §2º do artigo 5º refere-se àqueles que direitos humanos anterior à Emenda (estaria numa posição
tenham por fulcro ampliar o rol de direitos do artigo 5º, ou que paralisaria a eficácia da lei infraconstitucional, mas não
seja, tratado internacional de direitos humanos. revogaria a Constituição no ponto controverso).
O §1° e o §2° do artigo 5° existiam de maneira originá-
ria na Constituição Federal, conferindo o caráter de prima- 14 Tribunal Penal Internacional
zia dos direitos humanos, desde logo consagrando o prin- Preconiza o artigo 5º, CF em seu § 4º:
cípio da primazia dos direitos humanos, como reconhecido
pela doutrina e jurisprudência majoritários na época. “O Art. 5º, §4º, CF. O Brasil se submete à jurisdição de Tri-
princípio da primazia dos direitos humanos nas relações bunal Penal Internacional a cuja criação tenha manifestado
internacionais implica em que o Brasil deve incorporar os adesão. 
tratados quanto ao tema ao ordenamento interno brasilei-
ro e respeitá-los. Implica, também em que as normas vol- O Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional foi
tadas à proteção da dignidade em caráter universal devem promulgado no Brasil pelo Decreto nº 4.388 de 25 de se-
ser aplicadas no Brasil em caráter prioritário em relação a tembro de 2002. Ele contém 128 artigos e foi elaborado em
outras normas”22. Roma, no dia 17 de julho de 1998, regendo a competência
Regra geral, os tratados internacionais comuns ingres- e o funcionamento deste Tribunal voltado às pessoas res-
sam com força de lei ordinária no ordenamento jurídico ponsáveis por crimes de maior gravidade com repercussão
brasileiro porque somente existe previsão constitucional internacional (artigo 1º, ETPI).
quanto à possibilidade da equiparação às emendas consti- “Ao contrário da Corte Internacional de Justiça, cuja ju-
tucionais se o tratado abranger matéria de direitos huma- risdição é restrita a Estados, ao Tribunal Penal Internacional
nos. Antes da emenda alterou o quadro quanto aos trata- compete o processo e julgamento de violações contra indi-
dos de direitos humanos, era o que acontecia, mas isso não víduos; e, distintamente dos Tribunais de crimes de guerra
significa que tais direitos eram menos importantes devido da Iugoslávia e de Ruanda, criados para analisarem crimes
ao princípio da primazia e ao reconhecimento dos direitos cometidos durante esses conflitos, sua jurisdição não está
implícitos. restrita a uma situação específica”23.
Por seu turno, com o advento da Emenda Constitucio- Resume Mello24: “a Conferência das Nações Unidas so-
nal nº 45/04 se introduziu o §3º ao artigo 5º da Consti- bre a criação de uma Corte Criminal Internacional, reunida
tuição Federal, de modo que os tratados internacionais de em Roma, em 1998, aprovou a referida Corte. Ela é perma-
direitos humanos foram equiparados às emendas consti- nente. Tem sede em Haia. A corte tem personalidade inter-
21 VICENTE SOBRINHO, Benedito. Direitos Fundamentais e 23 NEVES, Gustavo Bregalda. Direito Internacional Público &
Prisão Civil. Porto Alegre: Sérgio Antonio Fabris Editor, 2008. Direito Internacional Privado. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2009.
22 PORTELA, Paulo Henrique Gonçalves. Direito Internacio- 24 MELLO, Celso D. de Albuquerque. Curso de Direito Inter-
nal Público e Privado. Salvador: JusPodivm, 2009. nacional Público. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2000.

17
LEGISLAÇÃO BÁSICA

nacional. Ela julga: a) crime de genocídio; b) crime contra h) Conceito de coação ilegal: encontra-se no artigo
a humanidade; c) crime de guerra; d) crime de agressão. 648, CPP:
Para o crime de genocídio usa a definição da convenção
de 1948. Como crimes contra a humanidade são citados: Art. 648, CPP. A coação considerar-se-á ilegal: I - quando
assassinato, escravidão, prisão violando as normas inter- não houver justa causa; II - quando alguém estiver preso
nacionais, violação tortura, apartheid, escravidão sexual, por mais tempo do que determina a lei; III - quando quem
prostituição forçada, esterilização, etc. São crimes de guer- ordenar a coação não tiver competência para fazê-lo; IV -
ra: homicídio internacional, destruição de bens não justifi- quando houver cessado o motivo que autorizou a coação;
cada pela guerra, deportação, forçar um prisioneiro a servir V - quando não for alguém admitido a prestar fiança, nos
nas forças inimigas, etc.”. casos em que a lei a autoriza; VI - quando o processo for
manifestamente nulo; VII - quando extinta a punibilidade.
15 Remédios constitucionais
Remédios constitucionais são as espécies de ações ju- i) Procedimento: regulamentado nos artigos 647 a
diciárias que visam proteger os direitos fundamentais re- 667 do Código de Processo Penal.
conhecidos no texto constitucional quando a declaração e
a garantia destes não se mostrar suficiente. Assim, o Poder 15.2 Habeas data
Judiciário será acionado para sanar o desrespeito a estes O artigo 5º, LXXII, CF prevê:
direitos fundamentais, servindo cada espécie de ação para
uma forma de violação. Art. 5º, LXXII, CF. Conceder-se-á habeas data: a) para
assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa
15.1 Habeas corpus do impetrante, constantes de registros ou bancos de dados
No que tange à disciplina do habeas corpus, prevê a de entidades governamentais ou de caráter público; b) para
Constituição em seu artigo 5º, LXVIII: a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por
processo sigiloso, judicial ou administrativo.
Art. 5º, LXVIII, CF. Conceder-se-á habeas corpus sempre
que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência Tal como o habeas corpus, trata-se de ação gratuita (ar-
ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade tigo 5º, LXXVII, CF).
ou abuso de poder. a) Antecedente histórico: Freedom of Information Act,
de 1974.
Trata-se de ação gratuita, nos termos do artigo 5º, LXX- b) Escopo: proteção do acesso a informações pessoais
VII, CF. constantes de registros ou bancos de dados de entidades
a) Antecedentes históricos: A Magna Carta inglesa, governamentais ou de caráter público, para o conhecimen-
de 1215, foi o primeiro documento a mencionar este remé- to ou retificação (correção).
dio e o Habeas Corpus Act, de 1679, o regulamentou. c) Natureza jurídica: ação constitucional que tutela o
b) Escopo: ação que serve para proteger a liberdade acesso a informações pessoais.
de locomoção. Antes de haver proteção no Brasil por ou- d) Legitimidade ativa: pessoa física, brasileira ou es-
tros remédios constitucionais de direitos que não este, o trangeira, ou por pessoa jurídica, de direito público ou pri-
habeas-corpus foi utilizado para protegê-los. Hoje, apenas vado, tratando-se de ação personalíssima – os dados de-
serve à lesão ou ameaça de lesão ao direito de ir e vir. vem ser a respeito da pessoa que a propõe.
c) Natureza jurídica: ação constitucional de cunho e) Legitimidade passiva: entidades governamentais
predominantemente penal, pois protege o direito de ir e da Administração Pública Direta e Indireta nas três esferas,
vir e vai contra a restrição arbitrária da liberdade. bem como instituições, órgãos, entidades e pessoas jurídi-
d) Espécies: preventivo, para os casos de ameaça de cas privadas prestadores de serviços de interesse público
violação ao direito de ir e vir, conferindo-se um “salvo con- que possuam dados relativos à pessoa do impetrante.
duto”, ou repressivo, para quando ameaça já tiver se ma- f) Competência: Conforme o caso, nos termos da
terializado. Constituição, do Supremo Tribunal Federal (art. 102, I, “d”),
e) Legitimidade ativa: qualquer pessoa pode manejá do Superior Tribunal de Justiça (art. 105, I, “b”), dos Tribu-
-lo, em próprio nome ou de terceiro, bem como o Ministé- nais Regionais Federais (art. 108, I, “c”), bem como dos juí-
rio Público (artigo 654, CPP). Impetrante é o que ingressa zes federais (art. 109, VIII).
com a ação e paciente é aquele que está sendo vítima da g) Regulamentação específica: Lei nº 9.507, de 12 de
restrição à liberdade de locomoção. As duas figuras podem novembro de 1997.
se concentrar numa mesma pessoa. h) Procedimento: artigos 8º a 19 da Lei nº 9.507/1997.
f) Legitimidade passiva: pessoa física, agente público
ou privado. 15.3 Mandado de segurança individual
g) Competência: é determinada pela autoridade coa- Dispõe a Constituição no artigo 5º, LXIX:
tora, sendo a autoridade imediatamente superior a ela. Ex.:
Delegado de Polícia é autoridade coatora, propõe na Vara Art. 5º, LXIX, CF. Conceder-se-á mandado de segu-
Criminal Estadual; Juiz de Direito de uma Vara Criminal é a rança para proteger direito líquido e certo, não amparado
autoridade coatora, impetra no Tribunal de Justiça. por habeas-corpus ou habeas-data, quando o responsável

18
LEGISLAÇÃO BÁSICA

pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública viduais homogêneos ou coletivos), e devido à questão da
ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do legitimidade ativa, pertencente a partidos políticos e deter-
Poder Público. minadas associações.
c) Natureza jurídica: ação constitucional de natureza
a) Origem: Veio com a finalidade de preencher a lacu- civil, independente da natureza do ato, de caráter coletivo.
na decorrente da sistemática do habeas corpus e das limi- d) Objeto: o objeto do mandado de segurança coleti-
nares possessórias. vo são os direitos coletivos e os direitos individuais homo-
b) Escopo: Trata-se de remédio constitucional com gêneos. Tal instituto não se presta à proteção dos direitos
natureza subsidiária pelo qual se busca a invalidação de difusos, conforme posicionamento amplamente majoritá-
atos de autoridade ou a suspensão dos efeitos da omissão rio, já que, dada sua difícil individualização, fica improvável
administrativa, geradores de lesão a direito líquido e certo, a verificação da ilegalidade ou do abuso do poder sobre tal
por ilegalidade ou abuso de poder. São protegidos todos direito (art. 21, parágrafo único, Lei nº 12.016/09).
os direitos líquidos e certos à exceção da proteção de di- e) Legitimidade ativa: como se extrai da própria disci-
reitos humanos à liberdade de locomoção e ao acesso ou plina constitucional, aliada ao artigo 21 da Lei nº 12.016/09,
retificação de informações relativas à pessoa do impetran- é de partido político com representação no Congresso Na-
te, constantes de registros ou bancos de dados de entida- cional, bem como de organização sindical, entidade de
des governamentais ou de caráter público, ambos sujeitos classe ou associação legalmente constituída e em funcio-
a instrumentos específicos. namento há, pelo menos, 1 (um) ano, em defesa de direitos
c) Natureza jurídica: ação constitucional de natureza líquidos e certos que atinjam diretamente seus interesses
civil, independente da natureza do ato impugnado (admi- ou de seus membros.
nistrativo, jurisdicional, eleitoral, criminal, trabalhista). f) Disciplina específica na Lei nº 12.016/09: “Art. 22.
d) Espécies: preventivo, quando se estiver na iminên- No mandado de segurança coletivo, a sentença fará coisa
cia de violação a direito líquido e certo, ou reparatório, julgada limitadamente aos membros do grupo ou catego-
quando já consumado o abuso/ilegalidade. ria substituídos pelo impetrante. § 1º O mandado de segu-
e) Direito líquido e certo: é aquele que pode ser de- rança coletivo não induz litispendência para as ações indi-
monstrado de plano mediante prova pré-constituída, sem viduais, mas os efeitos da coisa julgada não beneficiarão o
a necessidade de dilação probatória, isto devido à natureza impetrante a título individual se não requerer a desistência
célere e sumária do procedimento. de seu mandado de segurança no prazo de 30 (trinta) dias
f) Legitimidade ativa: a mais ampla possível, abran- a contar da ciência comprovada da impetração da segu-
gendo não só a pessoa física como a jurídica, nacional ou rança coletiva. § 2º No mandado de segurança coletivo,
estrangeira, residente ou não no Brasil, bem como órgãos a liminar só poderá ser concedida após a audiência do re-
públicos despersonalizados e universalidades/pessoas for- presentante judicial da pessoa jurídica de direito público,
mais reconhecidas por lei. que deverá se pronunciar no prazo de 72 (setenta e duas)
g) Legitimidade passiva: A autoridade coatora deve horas”.
ser autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no
exercício de atribuições do Poder Público. Neste viés, o art. 15.5 Mandado de injunção
6º, §3º, Lei nº 12.016/09, preceitua que “considera-se auto- Regulamenta o artigo 5º, LXXI, CF:
ridade coatora aquela que tenha praticado o ato impugna-
do ou da qual emane a ordem para a sua prática”. Art. 5º, LXXI, CF. Conceder-se-á mandado de injunção
h) Competência: Fixada de acordo com a autoridade sempre que a falta de norma regulamentadora torne inviá-
coatora. vel o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das
i) Regulamentação específica: Lei nº 12.016, de 07 de prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à ci-
agosto de 2009. dadania.
j) Procedimento: artigos 6º a 19 da Lei nº 12.016/09. a) Escopo: os dois requisitos constitucionais para que
seja proposto o mandado de injunção são a existência de
15.4 Mandado de segurança coletivo norma constitucional de eficácia limitada que prescreva di-
A Constituição Federal prevê a possibilidade de ingres- reitos, liberdades constitucionais e prerrogativas inerentes
so com mandado de segurança coletivo, consoante ao ar- à nacionalidade, à soberania e à cidadania; além da falta de
tigo 5º, LXX: norma regulamentadores, impossibilitando o exercício dos
direitos, liberdades e prerrogativas em questão. Assim, visa
Art. 5º, LXX, CF. O mandado de segurança coletivo pode curar o hábito que se incutiu no legislador brasileiro de não
ser impetrado por: a) partido político com representação no regulamentar as normas de eficácia limitada para que elas
Congresso Nacional; b) organização sindical, entidade de não sejam aplicáveis.
classe ou associação legalmente constituída e em funciona- b) Natureza jurídica: ação constitucional que objetiva
mento há pelo menos um ano, em defesa dos interesses de a regulamentação de normas constitucionais de eficácia li-
seus membros ou associados. mitada.
a) Origem: Constituição Federal de 1988. c) Legitimidade ativa: qualquer pessoa, nacional ou
b) Escopo: preservação ou reparação de direito líqui- estrangeira, física ou jurídica, capaz ou incapaz, que titula-
do e certo relacionado a interesses transindividuais (indi- rize direito fundamental não materializável por omissão le-

19
LEGISLAÇÃO BÁSICA

gislativa do Poder público, bem como o Ministério Público Art. 6º, CF. São direitos sociais a educação, a saúde, a
na defesa de seus interesses institucionais. Não se aceita a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o la-
legitimidade ativa de pessoas jurídicas de direito público. zer, a segurança, a previdência social, a proteção à ma-
d) Competência: Supremo Tribunal Federal, quando a ternidade e à infância, a assistência aos desamparados,
elaboração de norma regulamentadora for atribuição do na forma desta Constituição. 
Presidente da República, do Congresso Nacional, da Câma-
ra dos Deputados, do Senado Federal, das Mesas de uma Trata-se de desdobramento da perspectiva do Estado
dessas Casas Legislativas, do Tribunal de Contas da União, Social de Direito. Em suma, são elencados os direitos huma-
de um dos Tribunais Superiores, ou do próprio Supremo nos de 2ª dimensão, notadamente conhecidos como direi-
Tribunal Federal (art. 102, I, “q”, CF); ao Superior Tribunal de tos econômicos, sociais e culturais. Em resumo, os direitos
Justiça, quando a elaboração da norma regulamentadora sociais envolvem prestações positivas do Estado (diferente
for atribuição de órgão, entidade ou autoridade federal, da dos de liberdade, que referem-se à postura de abstenção
administração direta ou indireta, excetuados os casos da estatal), ou seja, políticas estatais que visem consolidar o
competência do Supremo Tribunal Federal e dos órgãos da princípio da igualdade não apenas formalmente, mas ma-
Justiça Militar, da Justiça Eleitoral, da Justiça do Trabalho e terialmente (tratando os desiguais de maneira desigual).
da Justiça Federal (art. 105, I, “h”, CF); ao Tribunal Superior Por seu turno, embora no capítulo específico do Título
Eleitoral, quando as decisões dos Tribunais Regionais Elei- II que aborda os direitos sociais não se perceba uma in-
torais denegarem habeas corpus, mandado de segurança, tensa regulamentação destes, à exceção dos direitos tra-
habeas data ou mandado de injunção (art. 121, §4º, V, CF); balhistas, o Título VIII da Constituição Federal, que aborda
e aos Tribunais de Justiça Estaduais, frente aos entes a ele a ordem social, se concentra em trazer normativas mais
vinculados. detalhadas a respeitos de direitos indicados como sociais.
e) Procedimento: aplicação da Lei nº 13.300/16.
1 Igualdade material e efetivação dos direitos so-
15.6 Ação popular ciais
Prevê o artigo 5º, LXXIII, CF: Independentemente da categoria de direitos que este-
ja sendo abordada, a igualdade nunca deve aparecer num
Art. 5º, LXXIII, CF. Qualquer cidadão é parte legítima sentido meramente formal, mas necessariamente material.
para propor ação popular que vise a anular ato lesivo ao pa- Significa que discriminações indevidas são proibidas, mas
trimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à existem certas distinções que não só devem ser aceitas,
moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimô- como também se mostram essenciais.
nio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada No que tange aos direitos sociais percebe-se que a
má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência. igualdade material assume grande relevância. Afinal, esta
a) Origem: Constituição Federal de 1934. categoria de direitos pressupõe uma postura ativa do Es-
b) Escopo: é instrumento de exercício direto da demo- tado em prol da efetivação. Nem todos podem arcar com
cracia, permitindo ao cidadão que busque a proteção da suas despesas de saúde, educação, cultura, alimentação e
coisa pública, ou seja, que vise assegurar a preservação dos moradia, assim como nem todos se encontram na posição
interesses transindividuais. de explorador da mão-de-obra, sendo a grande maioria da
c) Natureza jurídica: trata-se de ação constitucional, população de explorados. Estas pessoas estão numa clara
que visa anular ato lesivo ao patrimônio público ou de en- posição de desigualdade e caberá ao Estado cuidar para
tidade de que o Estado participe, à moralidade administra- que progressivamente atinjam uma posição de igualdade
tiva, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural real, já que não é por conta desta posição desfavorável que
d) Legitimidade ativa: deve ser cidadão, ou seja, aque- se pode afirmar que são menos dignos, menos titulares de
le nacional que esteja no pleno gozo dos direitos políticos. direitos fundamentais.
e) Legitimidade passiva: ente da Administração Pú- Logo, a efetivação dos direitos sociais é uma meta a ser
blica, direta ou indireta, ou então pessoa jurídica que de alcançada pelo Estado em prol da consolidação da igual-
algum modo lide com a coisa pública. dade material. Sendo assim, o Estado buscará o crescente
f) Competência: Será fixada de acordo com a origem aperfeiçoamento da oferta de serviços públicos com quali-
do ato ou omissão a serem impugnados (artigo 5º, Lei nº dade para que todos os nacionais tenham garantidos seus
4.717/65). direitos fundamentais de segunda dimensão da maneira
g) Regulamentação específica: Lei nº 4.717, de 29 de mais plena possível.
junho de 1965. Há se ressaltar também que o Estado não possui ape-
h) Procedimento: artigos 7º a 19, Lei nº 4.717/65. nas um papel direto na promoção dos direitos econômicos,
sociais e culturais, mas também um indireto, quando por
Direitos sociais (artigo 6º) meio de sua gestão permite que os indivíduos adquiram
A Constituição Federal, dentro do Título II, aborda no condições para sustentarem suas necessidades pertencen-
capítulo II a categoria dos direitos sociais, em sua maioria tes a esta categoria de direitos.
normas programáticas e que necessitam de uma postura
interventiva estatal em prol da implementação. 2 Reserva do possível e mínimo existencial
Os direitos assegurados nesta categoria encontram Os direitos sociais serão concretizados gradualmente,
menção genérica no artigo 6º, CF: notadamente porque estão previstos em normas progra-

20
LEGISLAÇÃO BÁSICA

máticas e porque a implementação deles gera um ônus evidente, entende-se válida (por exemplo, houve alteração
para o Estado. Diferentemente dos direitos individuais, que do prazo prescricional diferenciado para os trabalhadores
dependem de uma postura de abstenção estatal, os direi- agrícolas). O que, em hipótese alguma, pode ser aceito é
tos sociais precisam que o Estado assuma um papel ativo um retrocesso evidente, seja excluindo uma categoria de
em prol da efetivação destes. direitos (ex.: abolir o Sistema Único de Saúde), seja dimi-
A previsão excessiva de direitos sociais no bojo de uma nuindo sensivelmente a abrangência da proteção (ex.: ex-
Constituição, a despeito de um instante bem-intencionado cluindo o ensino médio gratuito).
de palavras promovido pelo constituinte, pode levar à ne- Questão polêmica se refere à proibição do retrocesso:
gativa, paradoxal – e, portanto, inadmissível – consequên- se uma decisão judicial melhorar a efetivação de um direito
cia de uma Carta Magna cujas finalidades não condigam social, ela se torna vinculante e é impossível ao legislador
com seus próprios prescritos, fato que deslegitima o Poder alterar a Constituição para retirar este avanço? Por um lado,
Público como determinador de que particulares respeitem a proibição do retrocesso merece ser tomada em conceito
os direitos fundamentais, já que sequer eles próprios, os amplo, abrangendo inclusive decisões judiciais; por outro
administradores, conseguem cumprir o que consta de seu lado, a decisão judicial não tem por fulcro alterar a norma,
Estatuto Máximo25. o que somente é feito pelo legislador, e ele teria o direito
Tecnicamente, nos direitos sociais é possível invocar de prever que aquela decisão judicial não está incorporada
a cláusula da reserva do possível como argumento para a na proibição do retrocesso. A questão é polêmica e não há
não implementação de determinado direito social – seja entendimento dominante.
pela absoluta ausência de recursos (reserva do possível fá-
tica), seja pela ausência de previsão orçamentária nos ter- Direito à educação (artigos 205 a 214)
mos do artigo 167, CF (reserva do possível jurídica).
O Ministro Celso de Mello afirmou em julgamento que CAPÍTULO III
os direitos sociais “não pode converter-se em promessa DA EDUCAÇÃO, DA CULTURA E DO DESPORTO
constitucional inconsequente, sob pena de o Poder Públi-
co, fraudando justas expectativas nele depositadas pela co- Seção I
letividade, substituir, de maneira ilegítima, o cumprimento
DA EDUCAÇÃO
de seu impostergável dever, por um gesto irresponsável de
infidelidade governamental ao que determina a própria Lei
Art. 205. A educação, direito de todos e dever do
Fundamental do Estado”26.
Estado e da família, será promovida e incentivada com a
Sendo assim, a invocação da cláusula da reserva do
colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvi-
possível, embora viável, não pode servir de muleta para
mento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidada-
que o Estado não arque com obrigações básicas. Neste
nia e sua qualificação para o trabalho.
viés, geralmente, quando invocada a cláusula é afastada,
entendendo o Poder Judiciário que não cabe ao Estado se
eximir de garantir direitos sociais com o simples argumen- Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguin-
to de que não há orçamento específico para isso – ele de- tes princípios:
veria ter reservado parcela suficiente de suas finanças para I - igualdade de condições para o acesso e permanên-
atender esta demanda. cia na escola;
Com efeito, deve ser preservado o mínimo existencial, II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divul-
que tem por fulcro limitar a discricionariedade político-ad- gar o pensamento, a arte e o saber;
ministrativa e estabelecer diretrizes orçamentárias básicas III - pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas,
a serem seguidas, sob pena de caber a intervenção do Po- e coexistência de instituições públicas e privadas de ensino;
der Judiciário em prol de sua efetivação. IV - gratuidade do ensino público em estabelecimen-
tos oficiais;
3 Princípio da proibição do retrocesso V - valorização dos profissionais da educação esco-
Proibição do retrocesso é a impossibilidade de que lar, garantidos, na forma da lei, planos de carreira, com
uma conquista garantida na Constituição Federal sofra um ingresso exclusivamente por concurso público de provas e
retrocesso, de modo que um direito social garantido não títulos, aos das redes públicas; 
pode deixar de o ser. VI - gestão democrática do ensino público, na forma
Conforme jurisprudência, a proibição do retrocesso da lei;
deve ser tomada com reservas, até mesmo porque segun- VII - garantia de padrão de qualidade.
do entendimento predominante as normas do artigo 7º, VIII - piso salarial profissional nacional para os profis-
CF não são cláusula pétrea, sendo assim passíveis de alte- sionais da educação escolar pública, nos termos de lei fede-
ração. Se for alterada normativa sobre direito trabalhista ral. 
assegurado no referido dispositivo, não sendo o prejuízo Parágrafo único. A lei disporá sobre as categorias de tra-
25 LAZARI, Rafael José Nadim de. Reserva do possível e mí-
balhadores considerados profissionais da educação básica e
nimo existencial: a pretensão de eficácia da norma constitucional em sobre a fixação de prazo para a elaboração ou adequação de
face da realidade. Curitiba: Juruá, 2012, p. 56-57. seus planos de carreira, no âmbito da União, dos Estados, do
26 RTJ 175/1212-1213, Rel. Min. CELSO DE MELLO. Distrito Federal e dos Municípios. 

21
LEGISLAÇÃO BÁSICA

Art. 207. As universidades gozam de autonomia didá- Art. 211. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Mu-
tico-científica, administrativa e de gestão financeira e nicípios organizarão em regime de colaboração seus sis-
patrimonial, e obedecerão ao princípio de indissociabili- temas de ensino.
dade entre ensino, pesquisa e extensão. § 1º A União organizará o sistema federal de ensi-
§ 1º É facultado às universidades admitir professores, no e o dos Territórios, financiará as instituições de ensi-
técnicos e cientistas estrangeiros, na forma da lei. no públicas federais e exercerá, em matéria educacional,
§ 2º O disposto neste artigo aplica-se às instituições de função redistributiva e supletiva, de forma a garantir
pesquisa científica e tecnológica.  equalização de oportunidades educacionais e padrão míni-
mo de qualidade do ensino mediante assistência técnica e
Art. 208. O dever do Estado com a educação será efeti- financeira aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios; 
vado mediante a garantia de: § 2º Os Municípios atuarão prioritariamente no ensino
I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 fundamental e na educação infantil. 
(quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade, assegurada inclu- § 3º Os Estados e o Distrito Federal atuarão prioritaria-
sive sua oferta gratuita para todos os que a ela não tiveram mente no ensino fundamental e médio. 
acesso na idade própria;  § 4º Na organização de seus sistemas de ensino, a
II - progressiva universalização do ensino médio gra- União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios defini-
tuito;  rão formas de colaboração, de modo a assegurar a univer-
III - atendimento educacional especializado aos porta- salização do ensino obrigatório. 
dores de deficiência, preferencialmente na rede regular de § 5º A educação básica pública atenderá prioritaria-
ensino; mente ao ensino regular. 
IV - educação infantil, em creche e pré-escola, às
crianças até 5 (cinco) anos de idade;  Art. 212. A União aplicará, anualmente, nunca me-
V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pes- nos de dezoito, e os Estados, o Distrito Federal e os Mu-
quisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada
nicípios vinte e cinco por cento, no mínimo, da receita re-
um;
sultante de impostos, compreendida a proveniente de trans-
VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às
ferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino.
condições do educando;
§ 1º A parcela da arrecadação de impostos transferida
VII - atendimento ao educando, em todas as etapas
pela União aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios,
da educação básica, por meio de programas suplementares
ou pelos Estados aos respectivos Municípios, não é conside-
de material didático escolar, transporte, alimentação e assis-
rada, para efeito do cálculo previsto neste artigo, receita do
tência à saúde. 
governo que a transferir.
§ 1º O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é di-
§ 2º Para efeito do cumprimento do disposto no
reito público subjetivo.
§ 2º O não-oferecimento do ensino obrigatório pelo «caput» deste artigo, serão considerados os sistemas de
Poder Público, ou sua oferta irregular, importa responsabi- ensino federal, estadual e municipal e os recursos aplica-
lidade da autoridade competente. dos na forma do art. 213.
§ 3º Compete ao Poder Público recensear os educan- § 3º A distribuição dos recursos públicos assegurará
dos no ensino fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, prioridade ao atendimento das necessidades do ensino
junto aos pais ou responsáveis, pela frequência à escola. obrigatório, no que se refere a universalização, garantia
de padrão de qualidade e equidade, nos termos do plano
Art. 209. O ensino é livre à iniciativa privada, atendi- nacional de educação. 
das as seguintes condições: § 4º Os programas suplementares de alimentação e
I - cumprimento das normas gerais da educação na- assistência à saúde previstos no art. 208, VII, serão finan-
cional; ciados com recursos provenientes de contribuições sociais e
II - autorização e avaliação de qualidade pelo Poder outros recursos orçamentários.
Público. § 5º A educação básica pública terá como fonte adicio-
nal de financiamento a contribuição social do salário-e-
Art. 210. Serão fixados conteúdos mínimos para o ducação, recolhida pelas empresas na forma da lei. 
ensino fundamental, de maneira a assegurar formação § 6º As cotas estaduais e municipais da arrecadação da
básica comum e respeito aos valores culturais e artísticos, contribuição social do salário-educação serão distribuídas
nacionais e regionais. proporcionalmente ao número de alunos matriculados na
§ 1º O ensino religioso, de matrícula facultativa, cons- educação básica nas respectivas redes públicas de ensino. 
tituirá disciplina dos horários normais das escolas públicas
de ensino fundamental. Art. 213. Os recursos públicos serão destinados às es-
§ 2º O ensino fundamental regular será ministrado em colas públicas, podendo ser dirigidos a escolas comunitá-
língua portuguesa, assegurada às comunidades indígenas rias, confessionais ou filantrópicas, definidas em lei, que:
também a utilização de suas línguas maternas e processos I - comprovem finalidade não-lucrativa e apliquem
próprios de aprendizagem. seus excedentes financeiros em educação;

22
LEGISLAÇÃO BÁSICA

II - assegurem a destinação de seu patrimônio a outra - “igualdade de condições para o acesso e permanência
escola comunitária, filantrópica ou confessional, ou ao Poder na escola”, que significa a compreensão de que a educação
Público, no caso de encerramento de suas atividades. é um direito de todos e não apenas dos mais favorecidos,
§ 1º Os recursos de que trata este artigo poderão ser cabendo ao Estado investir para que os menos favorecidos
destinados a bolsas de estudo para o ensino fundamen- ingressem e permaneçam na escola;
tal e médio, na forma da lei, para os que demonstrarem - “liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar
insuficiência de recursos, quando houver falta de vagas e o pensamento, a arte e o saber”, de forma que o ensino
cursos regulares da rede pública na localidade da residência tem um caráter ativo e passivo, indo além da compreensão
do educando, ficando o Poder Público obrigado a investir de conteúdos dogmático se abrangendo também os pro-
prioritariamente na expansão de sua rede na localidade. cessos criativos;
§ 2º As atividades de pesquisa, de extensão e de estí- - “pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas,
mulo e fomento à inovação realizadas por universidades e/ e coexistência de instituições públicas e privadas de ensi-
ou por instituições de educação profissional e tecnológica no”, de modo que não se entende haver um único método
poderão receber apoio financeiro do Poder Público.  de ensino, uma única maneira de aprender, permitindo a
exploração das atividades educacionais também por ins-
Art. 214. A lei estabelecerá o plano nacional de edu- tituições privadas. A respeito das instituições privadas, o
cação, de duração decenal, com o objetivo de articular o artigo 209, CF prevê que “o ensino é livre à iniciativa pri-
sistema nacional de educação em regime de colaboração vada, atendidas as seguintes condições: I - cumprimento
e definir diretrizes, objetivos, metas e estratégias de imple- das normas gerais da educação nacional; II - autorização e
mentação para assegurar a manutenção e desenvolvimento avaliação de qualidade pelo Poder Público”;
do ensino em seus diversos níveis, etapas e modalidades por - “gratuidade do ensino público em estabelecimentos
meio de ações integradas dos poderes públicos das diferen- oficiais”, sendo esta a principal vertente de implementação
tes esferas federativas que conduzam a: do direito à educação pelo Estado;
I - erradicação do analfabetismo; - “valorização dos profissionais da educação escolar,
II - universalização do atendimento escolar; garantidos, na forma da lei, planos de carreira, com ingres-
so exclusivamente por concurso público de provas e títu-
III - melhoria da qualidade do ensino;
los, aos das redes públicas”, bem como “piso salarial pro-
IV - formação para o trabalho;
fissional nacional para os profissionais da educação escolar
V - promoção humanística, científica e tecnológica
pública, nos termos de lei federal”, pois sem a valorização
do País.
dos profissionais responsáveis pelo ensino será inatingível
VI - estabelecimento de meta de aplicação de recursos
o seu aperfeiçoamento. Além disso, “a lei disporá sobre as
públicos em educação como proporção do produto inter-
categorias de trabalhadores considerados profissionais da
no bruto. 
educação básica e sobre a fixação de prazo para a elabora-
ção ou adequação de seus planos de carreira, no âmbito da
O artigo 6º da Constituição Federal menciona o direi- União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios”
to à educação como um de seus direitos sociais. A educa- (artigo 206, parágrafo único, CF);
ção proporciona o pleno desenvolvimento da pessoa, não - “gestão democrática do ensino público, na forma
apenas capacitando-a para o trabalho, mas também para da lei”, remetendo ao direito de participação popular na
a vida social como um todo. Contudo, a educação tem um tomada de decisões políticas referentes às atividades de
custo para o Estado, já que nem todos podem arcar com o ensino; e
custeio de ensino privado. - “garantia de padrão de qualidade”, posto que sem
No título VIII, que aborda a ordem social, delimita-se a qualidade de ensino é impossível atingir uma melhoria na
questão da obrigação do Estado com relação ao direito à qualificação pessoal e profissional dos nacionais. 
educação, assim como menciona-se quais outros agentes O ensino universitário encontra respaldo no artigo 207
responsáveis pela efetivação deste direito. da Constituição, tendo autonomia didático-científica, ad-
Neste sentido, o artigo 205, CF, prevê: “A educação, di- ministrativa e de gestão financeira e patrimonial, e sendo
reito de todos e dever do Estado e da família, será promo- baseado na tríade ensino-pesquisa-extensão, disciplina
vida e incentivada com a colaboração da sociedade, visan- que se estende a instituições de pesquisa científica e tec-
do ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para nológica. Com vistas ao aperfeiçoamento desta tríade, au-
o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”. toriza-se a contratação de profissionais estrangeiros.
Resta claro que a educação não é um dever exclusivo Enquanto que os artigos 205 e 206 da Constituição
do Estado, mas da sociedade como um todo e, principal- possuem uma menor densidade normativa, colacionando
mente, da família. Depreende-se que educação vai além princípios diretores e ideias basilares, o artigo 208 volta-se
do mero aprendizado de conteúdos e envolve a educação à regulamentação do modo pelo qual o Estado efetivará o
para a cidadania e o comportamento ético em sociedade direito à educação.
– a educação da qual o constituinte fala não é apenas a Interessante notar, em primeira análise, que o Estado
formal, mas também a informal. se exime da obrigatoriedade no fornecimento de educação
Por seu turno, o artigo 206 da Constituição estabelece superior, no art. 208, V, quando assegura, apenas, o “aces-
os princípios que devem guiar o ensino: so” aos níveis mais elevados de ensino, pesquisa e cria-

23
LEGISLAÇÃO BÁSICA

ção artística. Fica denotada ausência de comprometimento Art. 3º A criança e o adolescente gozam de todos os
orçamentário e infraestrutural estatal com um número su- direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem
ficiente de universidades/faculdades públicas aptas a re- prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, asse-
cepcionar o maciço contingente de alunos que saem da gurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as
camada básica de ensino, sendo, pois, clarividente exemplo oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o de-
de aplicação da reserva do possível dentro da Constituição. senvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em
Ainda, é preciso observar que se utiliza a expressão “se- condições de liberdade e de dignidade.
gundo a capacidade de cada um”, de forma que o critério Parágrafo único.  Os direitos enunciados nesta Lei apli-
para admissão em universidades/faculdades públicas é, so- cam-se a todas as crianças e adolescentes, sem discrimina-
mente, pelo preparo intelectual do cidadão, a ser testado ção de nascimento, situação familiar, idade, sexo, raça, et-
nia ou cor, religião ou crença, deficiência, condição pessoal
em avaliações com tal fito, como o vestibular e o exame
de desenvolvimento e aprendizagem, condição econômica,
nacional do ensino médio. ambiente social, região e local de moradia ou outra condi-
O ensino básico possui conteúdos mínimos, fixados ção que diferencie as pessoas, as famílias ou a comunidade
nos moldes do artigo 210, CF. A menção do ensino religio- em que vivem.(incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)
so como facultativo remete à laicidade do Estado, ao passo Art. 4º É dever da família, da comunidade, da socie-
que a menção ao ensino de línguas de povos indígenas dade em geral e do poder público assegurar, com abso-
remete ao pluralismo político, fundamento da República luta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida,
Federativa. à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer,
O artigo 211, CF trabalha com a organização e colabo- à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à
ração dos sistemas de ensino entre os entes federativos. liberdade e à convivência familiar e comunitária.
Por sua vez, os artigos 212 e 213 da Constituição traba- Parágrafo único. A garantia de prioridade compreende:
lham com aspectos orçamentários: a) primazia de receber proteção e socorro em quais-
Encerrando a disciplina da educação, o artigo 214 tra- quer circunstâncias;
b) precedência de atendimento nos serviços públicos
balha com o plano nacional de educação, de duração de-
ou de relevância pública;
cenal (na atualidade, estamos no início da implementação c) preferência na formulação e na execução das políti-
do PNE cuja duração se estende até o ano de 202427), que cas sociais públicas;
tem metas ali descritas.  d) destinação privilegiada de recursos públicos nas
áreas relacionadas com a proteção à infância e à juventude.

Art. 5º Nenhuma criança ou adolescente será objeto de


1.1 ESTATUTO DA CRIANÇA E DO qualquer forma de negligência, discriminação, exploração,
ADOLESCENTE - LEI Nº 8.069 DE 1990. . violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei
qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos
fundamentais.

LEI Nº 8.069, DE 13 DE JULHO DE 1990. Art. 6º Na interpretação desta Lei levar-se-ão em conta
os fins sociais a que ela se dirige, as exigências do bem
comum, os direitos e deveres individuais e coletivos, e a
Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e condição peculiar da criança e do adolescente como pes-
dá outras providências. soas em desenvolvimento.
 O PRESIDENTE DA REPÚBLICA: Faço saber que o Título II
Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: Dos Direitos Fundamentais
Capítulo I
Título I Do Direito à Vida e à Saúde
Das Disposições Preliminares
Art. 7º A criança e o adolescente têm direito a proteção
Art. 1º Esta Lei dispõe sobre a proteção integral à crian- à vida e à saúde, mediante a efetivação de políticas sociais
ça e ao adolescente. públicas que permitam o nascimento e o desenvolvimento
sadio e harmonioso, em condições dignas de existência.
Art. 2º Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a
Art. 8o  É assegurado a todas as mulheres o acesso aos
pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescente programas e às políticas de saúde da mulher e de plane-
aquela entre doze e dezoito anos de idade. jamento reprodutivo e, às gestantes, nutrição adequada,
atenção humanizada à gravidez, ao parto e ao puerpério
Parágrafo único. Nos casos expressos em lei, aplica-se e atendimento pré-natal, perinatal e pós-natal integral no
excepcionalmente este Estatuto às pessoas entre dezoito e âmbito do Sistema Único de Saúde.  (Redação dada pela
vinte e um anos de idade. Lei nº 13.257, de 2016)
§ 1o  O atendimento pré-natal será realizado por pro-
fissionais da atenção primária.  (Redação dada pela Lei nº
27 http://pne.mec.gov.br/ 13.257, de 2016)

24
LEGISLAÇÃO BÁSICA

§ 2o  Os profissionais de saúde de referência da gestan- materno e à alimentação complementar saudável, de for-
te garantirão sua vinculação, no último trimestre da ges- ma contínua.  (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)
tação, ao estabelecimento em que será realizado o parto, § 2o  Os serviços de unidades de terapia intensiva neo-
garantido o direito de opção da mulher.  (Redação dada natal deverão dispor de banco de leite humano ou unidade
pela Lei nº 13.257, de 2016) de coleta de leite humano.  (Incluído pela Lei nº 13.257, de
§ 3o  Os serviços de saúde onde o parto for realizado 2016)
assegurarão às mulheres e aos seus filhos recém-nascidos
alta hospitalar responsável e contrarreferência na atenção Art. 10. Os hospitais e demais estabelecimentos de
primária, bem como o acesso a outros serviços e a gru- atenção à saúde de gestantes, públicos e particulares, são
pos de apoio à amamentação.  (Redação dada pela Lei nº obrigados a:
13.257, de 2016) I - manter registro das atividades desenvolvidas, atra-
§ 4o  Incumbe ao poder público proporcionar assis- vés de prontuários individuais, pelo prazo de dezoito anos;
tência psicológica à gestante e à mãe, no período pré e II - identificar o recém-nascido mediante o registro de
pós-natal, inclusive como forma de prevenir ou minorar as sua impressão plantar e digital e da impressão digital da
consequências do estado puerperal.       (Incluído pela Lei mãe, sem prejuízo de outras formas normatizadas pela au-
nº 12.010, de 2009)      Vigência toridade administrativa competente;
§ 5o  A assistência referida no § 4o deste artigo deverá III - proceder a exames visando ao diagnóstico e tera-
ser prestada também a gestantes e mães que manifestem pêutica de anormalidades no metabolismo do recém-nas-
interesse em entregar seus filhos para adoção, bem como cido, bem como prestar orientação aos pais;
a gestantes e mães que se encontrem em situação de pri- IV - fornecer declaração de nascimento onde constem
vação de liberdade.  (Redação dada pela Lei nº 13.257, de necessariamente as intercorrências do parto e do desen-
2016) volvimento do neonato;
§ 6o  A gestante e a parturiente têm direito a 1 (um) V - manter alojamento conjunto, possibilitando ao
acompanhante de sua preferência durante o período do neonato a permanência junto à mãe.
pré-natal, do trabalho de parto e do pós-parto imedia-
to.  (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016) Art. 11.  É assegurado acesso integral às linhas de cui-
§ 7o  A gestante deverá receber orientação sobre alei- dado voltadas à saúde da criança e do adolescente, por
tamento materno, alimentação complementar saudável e intermédio do Sistema Único de Saúde, observado o prin-
crescimento e desenvolvimento infantil, bem como sobre cípio da equidade no acesso a ações e serviços para pro-
formas de favorecer a criação de vínculos afetivos e de es- moção, proteção e recuperação da saúde.  (Redação dada
timular o desenvolvimento integral da criança.  (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)
pela Lei nº 13.257, de 2016) § 1o  A criança e o adolescente com deficiência serão
§ 8o  A gestante tem direito a acompanhamento sau- atendidos, sem discriminação ou segregação, em suas ne-
dável durante toda a gestação e a parto natural cuidadoso, cessidades gerais de saúde e específicas de habilitação e
reabilitação.  (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016)
estabelecendo-se a aplicação de cesariana e outras inter-
§ 2o  Incumbe ao poder público fornecer gratuitamen-
venções cirúrgicas por motivos médicos.  (Incluído pela Lei
te, àqueles que necessitarem, medicamentos, órteses, pró-
nº 13.257, de 2016)
teses e outras tecnologias assistivas relativas ao tratamen-
§ 9o  A atenção primária à saúde fará a busca ativa da
to, habilitação ou reabilitação para crianças e adolescentes,
gestante que não iniciar ou que abandonar as consultas de
de acordo com as linhas de cuidado voltadas às suas ne-
pré-natal, bem como da puérpera que não comparecer às
cessidades específicas.  (Redação dada pela Lei nº 13.257,
consultas pós-parto.  (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)
de 2016)
§ 10.  Incumbe ao poder público garantir, à gestante e
§ 3o  Os profissionais que atuam no cuidado diário ou
à mulher com filho na primeira infância que se encontrem frequente de crianças na primeira infância receberão for-
sob custódia em unidade de privação de liberdade, am- mação específica e permanente para a detecção de sinais
biência que atenda às normas sanitárias e assistenciais do de risco para o desenvolvimento psíquico, bem como para
Sistema Único de Saúde para o acolhimento do filho, em o acompanhamento que se fizer necessário.  (Incluído pela
articulação com o sistema de ensino competente, visando Lei nº 13.257, de 2016)
ao desenvolvimento integral da criança.  (Incluído pela Lei
nº 13.257, de 2016) Art. 12.  Os estabelecimentos de atendimento à saúde,
inclusive as unidades neonatais, de terapia intensiva e de
Art. 9º O poder público, as instituições e os empre- cuidados intermediários, deverão proporcionar condições
gadores propiciarão condições adequadas ao aleitamento para a permanência em tempo integral de um dos pais ou
materno, inclusive aos filhos de mães submetidas a medida responsável, nos casos de internação de criança ou adoles-
privativa de liberdade. cente.  (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016)
§ 1o  Os profissionais das unidades primárias de saúde
desenvolverão ações sistemáticas, individuais ou coletivas, Art. 13. Os casos de suspeita ou confirmação de castigo
visando ao planejamento, à implementação e à avaliação físico, de tratamento cruel ou degradante e de maus-tratos
de ações de promoção, proteção e apoio ao aleitamento contra criança ou adolescente serão obrigatoriamente co-

25
LEGISLAÇÃO BÁSICA

municados ao Conselho Tutelar da respectiva localidade, V - participar da vida familiar e comunitária, sem dis-
sem prejuízo de outras providências legais. (Redação dada criminação;
pela Lei nº 13.010, de 2014) VI - participar da vida política, na forma da lei;
§ 1o  As gestantes ou mães que manifestem interesse VII - buscar refúgio, auxílio e orientação.
em entregar seus filhos para adoção serão obrigatoriamen-
te encaminhadas, sem constrangimento, à Justiça da Infân- Art. 17. O direito ao respeito consiste na inviolabilidade
cia e da Juventude.  (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016) da integridade física, psíquica e moral da criança e do ado-
§ 2o  Os serviços de saúde em suas diferentes portas de lescente, abrangendo a preservação da imagem, da iden-
entrada, os serviços de assistência social em seu compo- tidade, da autonomia, dos valores, ideias e crenças, dos
nente especializado, o Centro de Referência Especializado espaços e objetos pessoais.
de Assistência Social (Creas) e os demais órgãos do Siste-
ma de Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente Art. 18. É dever de todos velar pela dignidade da crian-
deverão conferir máxima prioridade ao atendimento das ça e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tra-
crianças na faixa etária da primeira infância com suspeita tamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou
ou confirmação de violência de qualquer natureza, formu- constrangedor.
lando projeto terapêutico singular que inclua intervenção
em rede e, se necessário, acompanhamento domiciliar.  (In- Art. 18-A. A criança e o adolescente têm o direito de
cluído pela Lei nº 13.257, de 2016) ser educados e cuidados sem o uso de castigo físico ou de
tratamento cruel ou degradante, como formas de correção,
Art. 14. O Sistema Único de Saúde promoverá progra- disciplina, educação ou qualquer outro pretexto, pelos pais,
mas de assistência médica e odontológica para a preven- pelos integrantes da família ampliada, pelos responsáveis,
ção das enfermidades que ordinariamente afetam a popu- pelos agentes públicos executores de medidas socioeduca-
lação infantil, e campanhas de educação sanitária para pais, tivas ou por qualquer pessoa encarregada de cuidar deles,
educadores e alunos. tratá-los, educá-los ou protegê-los.     (Incluído pela Lei nº
§ 1o  É obrigatória a vacinação das crianças nos casos
13.010, de 2014)
recomendados pelas autoridades sanitárias.  (Renumerado
Parágrafo único.   Para os fins desta Lei, considera-
do parágrafo único pela Lei nº 13.257, de 2016)
se:     (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014)
§ 2o  O Sistema Único de Saúde promoverá a atenção à
I - castigo físico: ação de natureza disciplinar ou puni-
saúde bucal das crianças e das gestantes, de forma trans-
tiva aplicada com o uso da força física sobre a criança ou
versal, integral e intersetorial com as demais linhas de cui-
o adolescente que resulte em:(Incluído pela Lei nº 13.010,
dado direcionadas à mulher e à criança.  (Incluído pela Lei
de 2014)
nº 13.257, de 2016)
a) sofrimento físico; ou     (Incluído pela Lei nº 13.010,
§ 3o  A atenção odontológica à criança terá função
educativa protetiva e será prestada, inicialmente, antes de de 2014)
o bebê nascer, por meio de aconselhamento pré-natal, e, b) lesão;     (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014)
posteriormente, no sexto e no décimo segundo anos de II - tratamento cruel ou degradante: conduta ou forma
vida, com orientações sobre saúde bucal. (Incluído pela Lei cruel de tratamento em relação à criança ou ao adolescen-
nº 13.257, de 2016) te que:     (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014)
§ 4o  A criança com necessidade de cuidados odonto- a) humilhe; ou     (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014)
lógicos especiais será atendida pelo Sistema Único de Saú- b) ameace gravemente; ou     (Incluído pela Lei nº
de. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016) 13.010, de 2014)
c) ridicularize.     (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014)
Capítulo II
Do Direito à Liberdade, ao Respeito Art. 18-B. Os pais, os integrantes da família ampliada,
e à Dignidade os responsáveis, os agentes públicos executores de medi-
das socioeducativas ou qualquer pessoa encarregada de
Art. 15. A criança e o adolescente têm direito à liberda- cuidar de crianças e de adolescentes, tratá-los, educá-los
de, ao respeito e à dignidade como pessoas humanas em ou protegê-los que utilizarem castigo físico ou tratamento
processo de desenvolvimento e como sujeitos de direitos cruel ou degradante como formas de correção, disciplina,
civis, humanos e sociais garantidos na Constituição e nas educação ou qualquer outro pretexto estarão sujeitos, sem
leis. prejuízo de outras sanções cabíveis, às seguintes medi-
das, que serão aplicadas de acordo com a gravidade do
Art. 16. O direito à liberdade compreende os seguintes caso:     (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014)
aspectos: I - encaminhamento a programa oficial ou comunitário
I - ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços de proteção à família;     (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014)
comunitários, ressalvadas as restrições legais; II - encaminhamento a tratamento psicológico ou psi-
II - opinião e expressão; quiátrico;     (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014)
III - crença e culto religioso; III - encaminhamento a cursos ou programas de orien-
IV - brincar, praticar esportes e divertir-se; tação;     (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014)

26
LEGISLAÇÃO BÁSICA

IV - obrigação de encaminhar a criança a tratamento Art. 22. Aos pais incumbe o dever de sustento, guarda
especializado;   (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014) e educação dos filhos menores, cabendo-lhes ainda, no in-
V - advertência.  (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014) teresse destes, a obrigação de cumprir e fazer cumprir as
Parágrafo único.  As medidas previstas neste artigo se- determinações judiciais.
rão aplicadas pelo Conselho Tutelar, sem prejuízo de outras Parágrafo único.  A mãe e o pai, ou os responsáveis,
providências legais. (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014) têm direitos iguais e deveres e responsabilidades compar-
tilhados no cuidado e na educação da criança, devendo
Capítulo III ser resguardado o direito de transmissão familiar de suas
Do Direito à Convivência Familiar e crenças e culturas, assegurados os direitos da criança esta-
Comunitária belecidos nesta Lei.  (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)
Seção I
Disposições Gerais Art. 23. A falta ou a carência de recursos materiais não
constitui motivo suficiente para a perda ou a suspensão
Art. 19.  É direito da criança e do adolescente ser criado do poder familiar. (Expressão substituída pela Lei nº 12.010,
e educado no seio de sua família e, excepcionalmente, em de 2009) Vigência
família substituta, assegurada a convivência familiar e co- § 1o  Não existindo outro motivo que por si só autorize
munitária, em ambiente que garanta seu desenvolvimento a decretação da medida, a criança ou o adolescente será
integral.  (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016) mantido em sua família de origem, a qual deverá obrigato-
§ 1o  Toda criança ou adolescente que estiver inserido riamente ser incluída em serviços e programas oficiais de
em programa de acolhimento familiar ou institucional terá proteção, apoio e promoção.  (Redação dada pela Lei nº
sua situação reavaliada, no máximo, a cada 6 (seis) meses, 13.257, de 2016)
devendo a autoridade judiciária competente, com base em § 2o A condenação criminal do pai ou da mãe não im-
relatório elaborado por equipe interprofissional ou multi- plicará a destituição do poder familiar, exceto na hipótese
disciplinar, decidir de forma fundamentada pela possibi- de condenação por crime doloso, sujeito à pena de reclu-
lidade de reintegração familiar ou colocação em família são, contra o próprio filho ou filha  (Incluído pela Lei nº
substituta, em quaisquer das modalidades previstas no art. 12.962, de 2014)
28 desta Lei.      (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vi-
gência Art. 24. A perda e a suspensão do poder familiar serão
§ 2o  A permanência da criança e do adolescente em decretadas judicialmente, em procedimento contraditório,
programa de acolhimento institucional não se prolongará nos casos previstos na legislação civil, bem como na hipó-
por mais de 2 (dois) anos, salvo comprovada necessidade tese de descumprimento injustificado dos deveres e obri-
que atenda ao seu superior interesse, devidamente funda- gações a que alude o art. 22.     (Expressão substituída pela
mentada pela autoridade judiciária. (Incluído pela Lei nº Lei nº 12.010, de 2009)Vigência
12.010, de 2009)  Vigência
§ 3o  A manutenção ou a reintegração de criança ou Seção II
adolescente à sua família terá preferência em relação a Da Família Natural
qualquer outra providência, caso em que será esta incluída
em serviços e programas de proteção, apoio e promoção, Art. 25. Entende-se por família natural a comunidade
nos termos do § 1o do art. 23, dos incisos I e IV do caput do formada pelos pais ou qualquer deles e seus descenden-
art. 101 e dos incisos I a IV do caput  do art. 129 desta tes.     (Vide Lei nº 12.010, de 2009)   Vigência
Lei.  (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016) Parágrafo único.  Entende-se por família extensa ou
§ 4o  Será garantida a convivência da criança e do adoles- ampliada aquela que se estende para além da unidade
cente com a mãe ou o pai privado de liberdade, por meio de pais e filhos ou da unidade do casal, formada por parentes
visitas periódicas promovidas pelo responsável ou, nas hipó- próximos com os quais a criança ou adolescente convive
teses de acolhimento institucional, pela entidade responsável, e mantém vínculos de afinidade e afetividade.     (Incluído
independentemente de autorização judicial. (Incluído pela Lei pela Lei nº 12.010, de 2009)   Vigência
nº 12.962, de 2014)
Art. 26. Os filhos havidos fora do casamento poderão
Art. 20. Os filhos, havidos ou não da relação do casa- ser reconhecidos pelos pais, conjunta ou separadamente,
mento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e quali- no próprio termo de nascimento, por testamento, median-
ficações, proibidas quaisquer designações discriminatórias te escritura ou outro documento público, qualquer que
relativas à filiação. seja a origem da filiação.
Parágrafo único. O reconhecimento pode preceder o
Art. 21. O poder familiar será exercido, em igualdade nascimento do filho ou suceder-lhe ao falecimento, se dei-
de condições, pelo pai e pela mãe, na forma do que dispu- xar descendentes.
ser a legislação civil, assegurado a qualquer deles o direito Art. 27. O reconhecimento do estado de filiação é direi-
de, em caso de discordância, recorrer à autoridade judiciá- to personalíssimo, indisponível e imprescritível, podendo
ria competente para a solução da divergência.  (Expressão ser exercitado contra os pais ou seus herdeiros, sem qual-
substituída pela Lei nº 12.010, de 2009)  Vigência quer restrição, observado o segredo de Justiça.

27
LEGISLAÇÃO BÁSICA

Seção III Art. 29. Não se deferirá colocação em família substituta


Da Família Substituta a pessoa que revele, por qualquer modo, incompatibilida-
Subseção I de com a natureza da medida ou não ofereça ambiente
Disposições Gerais familiar adequado.

Art. 28. A colocação em família substituta far-se-á me- Art. 30. A colocação em família substituta não admiti-
diante guarda, tutela ou adoção, independentemente da rá transferência da criança ou adolescente a terceiros ou
a entidades governamentais ou não-governamentais, sem
situação jurídica da criança ou adolescente, nos termos
autorização judicial.
desta Lei.
§ 1o  Sempre que possível, a criança ou o adolescente Art. 31. A colocação em família substituta estrangeira
será previamente ouvido por equipe interprofissional, res- constitui medida excepcional, somente admissível na mo-
peitado seu estágio de desenvolvimento e grau de com- dalidade de adoção.
preensão sobre as implicações da medida, e terá sua opi-
nião devidamente considerada.     (Redação dada pela Lei Art. 32. Ao assumir a guarda ou a tutela, o responsável
nº 12.010, de 2009)   Vigência prestará compromisso de bem e fielmente desempenhar o
§ 2o  Tratando-se de maior de 12 (doze) anos de idade, encargo, mediante termo nos autos.
será necessário seu consentimento, colhido em audiên-
cia.     (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009)   Vigência Subseção II
§ 3o  Na apreciação do pedido levar-se-á em conta o Da Guarda
grau de parentesco e a relação de afinidade ou de afeti-
vidade, a fim de evitar ou minorar as consequências de- Art. 33. A guarda obriga a prestação de assistência
material, moral e educacional à criança ou adolescente,
correntes da medida.     (Incluído pela Lei nº 12.010, de
conferindo a seu detentor o direito de opor-se a terceiros,
2009)   Vigência inclusive aos pais.     (Vide Lei nº 12.010, de 2009)   Vigência
§ 4o  Os grupos de irmãos serão colocados sob adoção, § 1º A guarda destina-se a regularizar a posse de fato,
tutela ou guarda da mesma família substituta, ressalvada a podendo ser deferida, liminar ou incidentalmente, nos pro-
comprovada existência de risco de abuso ou outra situação cedimentos de tutela e adoção, exceto no de adoção por
que justifique plenamente a excepcionalidade de solução estrangeiros.
diversa, procurando-se, em qualquer caso, evitar o rompi- § 2º Excepcionalmente, deferir-se-á a guarda, fora dos
mento definitivo dos vínculos fraternais. (Incluído pela Lei casos de tutela e adoção, para atender a situações pecu-
nº 12.010, de 2009)   Vigência liares ou suprir a falta eventual dos pais ou responsável,
§ 5o  A colocação da criança ou adolescente em famí- podendo ser deferido o direito de representação para a
lia substituta será precedida de sua preparação gradativa e prática de atos determinados.
acompanhamento posterior, realizados pela equipe inter- § 3º A guarda confere à criança ou adolescente a con-
profissional a serviço da Justiça da Infância e da Juventude, dição de dependente, para todos os fins e efeitos de direi-
to, inclusive previdenciários.
preferencialmente com o apoio dos técnicos responsáveis
§ 4o  Salvo expressa e fundamentada determinação em
pela execução da política municipal de garantia do direito contrário, da autoridade judiciária competente, ou quan-
à convivência familiar.     (Incluído pela Lei nº 12.010, de do a medida for aplicada em preparação para adoção, o
2009)   Vigência deferimento da guarda de criança ou adolescente a ter-
§ 6o  Em se tratando de criança ou adolescente indíge- ceiros não impede o exercício do direito de visitas pelos
na ou proveniente de comunidade remanescente de qui- pais, assim como o dever de prestar alimentos, que serão
lombo, é ainda obrigatório:     (Incluído pela Lei nº 12.010, objeto de regulamentação específica, a pedido do interes-
de 2009)   Vigência sado ou do Ministério Público. (Incluído pela Lei nº 12.010,
I - que sejam consideradas e respeitadas sua identi- de 2009)   Vigência
dade social e cultural, os seus costumes e tradições, bem Art. 34.  O poder público estimulará, por meio de assis-
como suas instituições, desde que não sejam incompatíveis tência jurídica, incentivos fiscais e subsídios, o acolhimento,
com os direitos fundamentais reconhecidos por esta Lei e sob a forma de guarda, de criança ou adolescente afastado
pela Constituição Federal;     (Incluído pela Lei nº 12.010, de do convívio familiar. (Redação dada pela Lei nº 12.010, de
2009)  Vigência
2009)   Vigência
§ 1o  A inclusão da criança ou adolescente em progra-
II - que a colocação familiar ocorra prioritariamente no
mas de acolhimento familiar terá preferência a seu acolhi-
seio de sua comunidade ou junto a membros da mesma mento institucional, observado, em qualquer caso, o cará-
etnia;     (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)   Vigência ter temporário e excepcional da medida, nos termos desta
III - a intervenção e oitiva de representantes do ór- Lei. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)  Vigência
gão federal responsável pela política indigenista, no caso § 2o  Na hipótese do § 1o deste artigo a pessoa ou casal
de crianças e adolescentes indígenas, e de antropólogos, cadastrado no programa de acolhimento familiar poderá
perante a equipe interprofissional ou multidisciplinar que receber a criança ou adolescente mediante guarda, obser-
irá acompanhar o caso.     (Incluído pela Lei nº 12.010, de vado o disposto nos arts. 28 a 33 desta Lei.(Incluído pela Lei
2009)   Vigência nº 12.010, de 2009)

28
LEGISLAÇÃO BÁSICA

§ 3o  A União apoiará a implementação de serviços de Art. 40. O adotando deve contar com, no máximo, de-
acolhimento em família acolhedora como política pública, zoito anos à data do pedido, salvo se já estiver sob a guar-
os quais deverão dispor de equipe que organize o acolhi- da ou tutela dos adotantes.
mento temporário de crianças e de adolescentes em re-
sidências de famílias selecionadas, capacitadas e acompa- Art. 41. A adoção atribui a condição de filho ao adota-
nhadas que não estejam no cadastro de adoção. (Incluído do, com os mesmos direitos e deveres, inclusive sucessó-
pela Lei nº 13.257, de 2016) rios, desligando-o de qualquer vínculo com pais e paren-
§ 4o  Poderão ser utilizados recursos federais, estaduais, tes, salvo os impedimentos matrimoniais.
distritais e municipais para a manutenção dos serviços de § 1º Se um dos cônjuges ou concubinos adota o filho
acolhimento em família acolhedora, facultando-se o repas- do outro, mantêm-se os vínculos de filiação entre o adota-
se de recursos para a própria família acolhedora. (Incluído do e o cônjuge ou concubino do adotante e os respectivos
pela Lei nº 13.257, de 2016) parentes.
§ 2º É recíproco o direito sucessório entre o adotado,
Art. 35. A guarda poderá ser revogada a qualquer tem- seus descendentes, o adotante, seus ascendentes, descen-
po, mediante ato judicial fundamentado, ouvido o Minis- dentes e colaterais até o 4º grau, observada a ordem de
tério Público. vocação hereditária.

Subseção III Art. 42.  Podem adotar os maiores de 18 (dezoito) anos,


Da Tutela independentemente do estado civil.     (Redação dada pela
Lei nº 12.010, de 2009)  Vigência
Art. 36.  A tutela será deferida, nos termos da lei civil, a § 1º Não podem adotar os ascendentes e os irmãos do
pessoa de até 18 (dezoito) anos incompletos.     (Redação adotando.
dada pela Lei nº 12.010, de 2009)  Vigência
§ 2o  Para adoção conjunta, é indispensável que os
Parágrafo único. O deferimento da tutela pressupõe a
adotantes sejam casados civilmente ou mantenham união
prévia decretação da perda ou suspensão do poder fami-
estável, comprovada a estabilidade da família.     (Redação
liar e implica necessariamente o dever de guarda.     (Ex-
dada pela Lei nº 12.010, de 2009)  Vigência
pressão substituída pela Lei nº 12.010, de 2009)   Vigência
§ 3º O adotante há de ser, pelo menos, dezesseis anos
mais velho do que o adotando.
Art. 37.  O tutor nomeado por testamento ou qualquer
§ 4o  Os divorciados, os judicialmente separados e os
documento autêntico, conforme previsto no parágrafo úni-
ex-companheiros podem adotar conjuntamente, contanto
co do art. 1.729 da Lei no10.406, de 10 de janeiro de 2002
que acordem sobre a guarda e o regime de visitas e desde
- Código Civil, deverá, no prazo de 30 (trinta) dias após a
abertura da sucessão, ingressar com pedido destinado ao que o estágio de convivência tenha sido iniciado na cons-
controle judicial do ato, observando o procedimento pre- tância do período de convivência e que seja comprovada a
visto nos arts. 165 a 170 desta Lei.     (Redação dada pela existência de vínculos de afinidade e afetividade com aque-
Lei nº 12.010, de 2009)  Vigência le não detentor da guarda, que justifiquem a excepciona-
Parágrafo único.  Na apreciação do pedido, serão ob- lidade da concessão.      (Redação dada pela Lei nº 12.010,
servados os requisitos previstos nos arts. 28 e 29 desta de 2009)  Vigência
Lei, somente sendo deferida a tutela à pessoa indicada na § 5o  Nos casos do § 4o deste artigo, desde que de-
disposição de última vontade, se restar comprovado que monstrado efetivo benefício ao adotando, será assegurada
a medida é vantajosa ao tutelando e que não existe outra a guarda compartilhada, conforme previsto no art. 1.584 da
pessoa em melhores condições de assumi-la.     (Redação Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002 - Código Civil. (Re-
dada pela Lei nº 12.010, de 2009)  Vigência dação dada pela Lei nº 12.010, de 2009)  Vigência
§ 6o  A adoção poderá ser deferida ao adotante que,
Art. 38. Aplica-se à destituição da tutela o disposto no após inequívoca manifestação de vontade, vier a falecer no
art. 24. curso do procedimento, antes de prolatada a sentença.(In-
Subseção IV cluído pela Lei nº 12.010, de 2009)  Vigência
Da Adoção
Art. 43. A adoção será deferida quando apresentar
Art. 39. A adoção de criança e de adolescente reger- reais vantagens para o adotando e fundar-se em motivos
se-á segundo o disposto nesta Lei. legítimos.
§ 1o  A adoção é medida excepcional e irrevogável, à
qual se deve recorrer apenas quando esgotados os recur- Art. 44. Enquanto não der conta de sua administração e
sos de manutenção da criança ou adolescente na família saldar o seu alcance, não pode o tutor ou o curador adotar
natural ou extensa, na forma do parágrafo único do art. 25 o pupilo ou o curatelado.
desta Lei.     (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)  Vigência
§ 2o  É vedada a adoção por procuração.     (Incluído Art. 45. A adoção depende do consentimento dos pais
pela Lei nº 12.010, de 2009)  Vigência ou do representante legal do adotando.

29
LEGISLAÇÃO BÁSICA

§ 1º. O consentimento será dispensado em relação à § 9º Terão prioridade de tramitação os processos de


criança ou adolescente cujos pais sejam desconhecidos adoção em que o adotando for criança ou adolescente
ou tenham sido destituídos do poder familiar. (Expressão com deficiência ou com doença crônica. (Incluído pela Lei
substituída pela Lei nº 12.010, de 2009)   Vigência nº 12.955, de 2014)
§ 2º. Em se tratando de adotando maior de doze anos
de idade, será também necessário o seu consentimento. Art. 48. O adotado tem direito de conhecer sua origem
Art. 46. A adoção será precedida de estágio de con- biológica, bem como de obter acesso irrestrito ao processo
vivência com a criança ou adolescente, pelo prazo que a no qual a medida foi aplicada e seus eventuais incidentes,
autoridade judiciária fixar, observadas as peculiaridades do após completar 18 (dezoito) anos. (Redação dada pela Lei
caso.
nº 12.010, de 2009) Vigência
§ 1o  O estágio de convivência poderá ser dispensado
se o adotando já estiver sob a tutela ou guarda legal do Parágrafo único. O acesso ao processo de adoção po-
adotante durante tempo suficiente para que seja possível derá ser também deferido ao adotado menor de 18 (dezoi-
avaliar a conveniência da constituição do vínculo.     (Reda- to) anos, a seu pedido, assegurada orientação e assistência
ção dada pela Lei nº 12.010, de 2009)  Vigência jurídica e psicológica. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)
§ 2o  A simples guarda de fato não autoriza, por si só, Vigência
a dispensa da realização do estágio de convivência.      (Re-
dação dada pela Lei nº 12.010, de 2009)  Vigência Art. 49. A morte dos adotantes não restabelece o poder
§ 3o  Em caso de adoção por pessoa ou casal residente familiar dos pais naturais. (Expressão substituída pela Lei nº
ou domiciliado fora do País, o estágio de convivência, cum- 12.010, de 2009) Vigência
prido no território nacional, será de, no mínimo, 30 (trinta)
dias.     (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)  Vigência Art. 50. A autoridade judiciária manterá, em cada co-
§ 4o  O estágio de convivência será acompanhado pela marca ou foro regional, um registro de crianças e adoles-
equipe interprofissional a serviço da Justiça da Infância e
centes em condições de serem adotados e outro de pes-
da Juventude, preferencialmente com apoio dos técnicos
responsáveis pela execução da política de garantia do di- soas interessadas na adoção. (Vide Lei nº 12.010, de 2009)
reito à convivência familiar, que apresentarão relatório mi- Vigência
nucioso acerca da conveniência do deferimento da medi- § 1º O deferimento da inscrição dar-se-á após prévia
da.     (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)  Vigência consulta aos órgãos técnicos do juizado, ouvido o Minis-
Art. 47. O vínculo da adoção constitui-se por sentença tério Público.
judicial, que será inscrita no registro civil mediante manda- § 2º Não será deferida a inscrição se o interessado não
do do qual não se fornecerá certidão. satisfazer os requisitos legais, ou verificada qualquer das
§ 1º A inscrição consignará o nome dos adotantes hipóteses previstas no art. 29.
como pais, bem como o nome de seus ascendentes. § 3o A inscrição de postulantes à adoção será prece-
§ 2º O mandado judicial, que será arquivado, cancelará dida de um período de preparação psicossocial e jurídica,
o registro original do adotado. orientado pela equipe técnica da Justiça da Infância e da
§ 3o A pedido do adotante, o novo registro poderá Juventude, preferencialmente com apoio dos técnicos res-
ser lavrado no Cartório do Registro Civil do Município de
ponsáveis pela execução da política municipal de garan-
sua residência. (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009)
tia do direito à convivência familiar. (Incluído pela Lei nº
Vigência
§ 4o Nenhuma observação sobre a origem do ato po- 12.010, de 2009) Vigência
derá constar nas certidões do registro. (Redação dada pela § 4o Sempre que possível e recomendável, a prepa-
Lei nº 12.010, de 2009) Vigência ração referida no § 3o deste artigo incluirá o contato com
§ 5o A sentença conferirá ao adotado o nome do crianças e adolescentes em acolhimento familiar ou insti-
adotante e, a pedido de qualquer deles, poderá determi- tucional em condições de serem adotados, a ser realizado
nar a modificação do prenome. (Redação dada pela Lei nº sob a orientação, supervisão e avaliação da equipe técnica
12.010, de 2009) Vigência da Justiça da Infância e da Juventude, com apoio dos téc-
§ 6o Caso a modificação de prenome seja requerida nicos responsáveis pelo programa de acolhimento e pela
pelo adotante, é obrigatória a oitiva do adotando, observa- execução da política municipal de garantia do direito à
do o disposto nos §§ 1o e 2o do art. 28 desta Lei. (Redação convivência familiar. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)
dada pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência Vigência
§ 7o A adoção produz seus efeitos a partir do trânsito
§ 5o Serão criados e implementados cadastros esta-
em julgado da sentença constitutiva, exceto na hipótese
duais e nacional de crianças e adolescentes em condições
prevista no § 6o do art. 42 desta Lei, caso em que terá força
retroativa à data do óbito. (Incluído pela Lei nº 12.010, de de serem adotados e de pessoas ou casais habilitados à
2009) Vigência adoção. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
§ 8o O processo relativo à adoção assim como outros a § 6o Haverá cadastros distintos para pessoas ou casais
ele relacionados serão mantidos em arquivo, admitindo-se residentes fora do País, que somente serão consultados na
seu armazenamento em microfilme ou por outros meios, inexistência de postulantes nacionais habilitados nos ca-
garantida a sua conservação para consulta a qualquer tem- dastros mencionados no § 5o deste artigo. (Incluído pela Lei
po. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência nº 12.010, de 2009) Vigência

30
LEGISLAÇÃO BÁSICA

§ 7o As autoridades estaduais e federais em matéria de das Crianças e à Cooperação em Matéria de Adoção Inter-
adoção terão acesso integral aos cadastros, incumbindo- nacional, aprovada pelo Decreto Legislativo no 1, de 14 de
lhes a troca de informações e a cooperação mútua, para janeiro de 1999, e promulgada pelo Decreto no 3.087, de
melhoria do sistema. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) 21 de junho de 1999. (Redação dada pela Lei nº 12.010, de
Vigência 2009) Vigência
§ 8o A autoridade judiciária providenciará, no prazo § 1o A adoção internacional de criança ou adolescen-
de 48 (quarenta e oito) horas, a inscrição das crianças e te brasileiro ou domiciliado no Brasil somente terá lugar
adolescentes em condições de serem adotados que não quando restar comprovado: (Redação dada pela Lei nº
tiveram colocação familiar na comarca de origem, e das 12.010, de 2009) Vigência
pessoas ou casais que tiveram deferida sua habilitação à I - que a colocação em família substituta é a solução
adoção nos cadastros estadual e nacional referidos no § 5o adequada ao caso concreto; (Incluído pela Lei nº 12.010, de
deste artigo, sob pena de responsabilidade. (Incluído pela 2009) Vigência
Lei nº 12.010, de 2009) Vigência II - que foram esgotadas todas as possibilidades de
§ 9o Compete à Autoridade Central Estadual zelar pela colocação da criança ou adolescente em família substituta
manutenção e correta alimentação dos cadastros, com brasileira, após consulta aos cadastros mencionados no art.
posterior comunicação à Autoridade Central Federal Brasi- 50 desta Lei; (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
leira. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência III - que, em se tratando de adoção de adolescente,
§ 10. A adoção internacional somente será deferida se, este foi consultado, por meios adequados ao seu estágio
após consulta ao cadastro de pessoas ou casais habilitados de desenvolvimento, e que se encontra preparado para a
à adoção, mantido pela Justiça da Infância e da Juventude medida, mediante parecer elaborado por equipe interpro-
na comarca, bem como aos cadastros estadual e nacional fissional, observado o disposto nos §§ 1o e 2o do art. 28
referidos no § 5o deste artigo, não for encontrado interes- desta Lei. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
sado com residência permanente no Brasil. (Incluído pela § 2o Os brasileiros residentes no exterior terão prefe-
Lei nº 12.010, de 2009) Vigência rência aos estrangeiros, nos casos de adoção internacional
§ 11. Enquanto não localizada pessoa ou casal interes- de criança ou adolescente brasileiro. (Redação dada pela
sado em sua adoção, a criança ou o adolescente, sempre Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
que possível e recomendável, será colocado sob guarda de
§ 3o A adoção internacional pressupõe a intervenção
família cadastrada em programa de acolhimento familiar.
das Autoridades Centrais Estaduais e Federal em matéria
(Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
de adoção internacional. (Redação dada pela Lei nº 12.010,
§ 12. A alimentação do cadastro e a convocação cri-
de 2009) Vigência
teriosa dos postulantes à adoção serão fiscalizadas pelo
Ministério Público. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)
Art. 52. A adoção internacional observará o procedi-
Vigência
mento previsto nos arts. 165 a 170 desta Lei, com as se-
§ 13. Somente poderá ser deferida adoção em favor
guintes adaptações: (Redação dada pela Lei nº 12.010, de
de candidato domiciliado no Brasil não cadastrado previa-
mente nos termos desta Lei quando: (Incluído pela Lei nº 2009) Vigência
12.010, de 2009) Vigência I - a pessoa ou casal estrangeiro, interessado em ado-
I - se tratar de pedido de adoção unilateral; (Incluído tar criança ou adolescente brasileiro, deverá formular pe-
pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência dido de habilitação à adoção perante a Autoridade Central
II - for formulada por parente com o qual a criança ou em matéria de adoção internacional no país de acolhida,
adolescente mantenha vínculos de afinidade e afetividade; assim entendido aquele onde está situada sua residência
(Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência habitual; (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
III - oriundo o pedido de quem detém a tutela ou guar- II - se a Autoridade Central do país de acolhida con-
da legal de criança maior de 3 (três) anos ou adolescente, siderar que os solicitantes estão habilitados e aptos para
desde que o lapso de tempo de convivência comprove a adotar, emitirá um relatório que contenha informações so-
fixação de laços de afinidade e afetividade, e não seja cons- bre a identidade, a capacidade jurídica e adequação dos
tatada a ocorrência de má-fé ou qualquer das situações solicitantes para adotar, sua situação pessoal, familiar e
previstas nos arts. 237 ou 238 desta Lei. (Incluído pela Lei médica, seu meio social, os motivos que os animam e sua
nº 12.010, de 2009) Vigência aptidão para assumir uma adoção internacional; (Incluído
§ 14. Nas hipóteses previstas no § 13 deste artigo, o pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
candidato deverá comprovar, no curso do procedimento, III - a Autoridade Central do país de acolhida enviará o
que preenche os requisitos necessários à adoção, confor- relatório à Autoridade Central Estadual, com cópia para a
me previsto nesta Lei. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Autoridade Central Federal Brasileira; (Incluído pela Lei nº
Vigência 12.010, de 2009) Vigência
IV - o relatório será instruído com toda a documen-
Art. 51. Considera-se adoção internacional aquela na tação necessária, incluindo estudo psicossocial elaborado
qual a pessoa ou casal postulante é residente ou domici- por equipe interprofissional habilitada e cópia autenticada
liado fora do Brasil, conforme previsto no Artigo 2 da Con- da legislação pertinente, acompanhada da respectiva prova
venção de Haia, de 29 de maio de 1993, Relativa à Proteção de vigência; (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

31
LEGISLAÇÃO BÁSICA

V - os documentos em língua estrangeira serão devida- II - ser dirigidos e administrados por pessoas qualifi-
mente autenticados pela autoridade consular, observados cadas e de reconhecida idoneidade moral, com comprova-
os tratados e convenções internacionais, e acompanhados da formação ou experiência para atuar na área de adoção
da respectiva tradução, por tradutor público juramentado; internacional, cadastradas pelo Departamento de Polícia
(Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência Federal e aprovadas pela Autoridade Central Federal Bra-
VI - a Autoridade Central Estadual poderá fazer exigên- sileira, mediante publicação de portaria do órgão federal
cias e solicitar complementação sobre o estudo psicosso- competente; (Incluída pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
cial do postulante estrangeiro à adoção, já realizado no país III - estar submetidos à supervisão das autoridades
de acolhida; (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
competentes do país onde estiverem sediados e no país
VII - verificada, após estudo realizado pela Autoridade
Central Estadual, a compatibilidade da legislação estran- de acolhida, inclusive quanto à sua composição, funciona-
geira com a nacional, além do preenchimento por parte mento e situação financeira; (Incluído pela Lei nº 12.010, de
dos postulantes à medida dos requisitos objetivos e sub- 2009) Vigência
jetivos necessários ao seu deferimento, tanto à luz do que IV - apresentar à Autoridade Central Federal Brasileira,
dispõe esta Lei como da legislação do país de acolhida, a cada ano, relatório geral das atividades desenvolvidas,
será expedido laudo de habilitação à adoção internacional, bem como relatório de acompanhamento das adoções in-
que terá validade por, no máximo, 1 (um) ano; (Incluído ternacionais efetuadas no período, cuja cópia será encami-
pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência nhada ao Departamento de Polícia Federal; (Incluído pela
VIII - de posse do laudo de habilitação, o interessado Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
será autorizado a formalizar pedido de adoção perante o V - enviar relatório pós-adotivo semestral para a Au-
Juízo da Infância e da Juventude do local em que se encon- toridade Central Estadual, com cópia para a Autoridade
tra a criança ou adolescente, conforme indicação efetua- Central Federal Brasileira, pelo período mínimo de 2 (dois)
da pela Autoridade Central Estadual. (Incluído pela Lei nº
anos. O envio do relatório será mantido até a juntada de
12.010, de 2009) Vigência
cópia autenticada do registro civil, estabelecendo a cidada-
§ 1o Se a legislação do país de acolhida assim o auto-
rizar, admite-se que os pedidos de habilitação à adoção nia do país de acolhida para o adotado; (Incluído pela Lei
internacional sejam intermediados por organismos creden- nº 12.010, de 2009) Vigência
ciados. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência VI - tomar as medidas necessárias para garantir que os
§ 2o Incumbe à Autoridade Central Federal Brasileira adotantes encaminhem à Autoridade Central Federal Bra-
o credenciamento de organismos nacionais e estrangeiros sileira cópia da certidão de registro de nascimento estran-
encarregados de intermediar pedidos de habilitação à ado- geira e do certificado de nacionalidade tão logo lhes sejam
ção internacional, com posterior comunicação às Autorida- concedidos. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
des Centrais Estaduais e publicação nos órgãos oficiais de § 5o A não apresentação dos relatórios referidos no §
imprensa e em sítio próprio da internet. (Incluído pela Lei 4o deste artigo pelo organismo credenciado poderá acarre-
nº 12.010, de 2009) Vigência tar a suspensão de seu credenciamento. (Incluído pela Lei
§ 3o Somente será admissível o credenciamento de or- nº 12.010, de 2009) Vigência
ganismos que: (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
§ 6o O credenciamento de organismo nacional ou es-
I - sejam oriundos de países que ratificaram a Conven-
trangeiro encarregado de intermediar pedidos de adoção
ção de Haia e estejam devidamente credenciados pela Au-
toridade Central do país onde estiverem sediados e no país internacional terá validade de 2 (dois) anos. (Incluído pela
de acolhida do adotando para atuar em adoção internacio- Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
nal no Brasil; (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência § 7o A renovação do credenciamento poderá ser con-
II - satisfizerem as condições de integridade moral, cedida mediante requerimento protocolado na Autoridade
competência profissional, experiência e responsabilidade Central Federal Brasileira nos 60 (sessenta) dias anteriores
exigidas pelos países respectivos e pela Autoridade Cen- ao término do respectivo prazo de validade. (Incluído pela
tral Federal Brasileira; (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
Vigência § 8o Antes de transitada em julgado a decisão que con-
III - forem qualificados por seus padrões éticos e sua cedeu a adoção internacional, não será permitida a saída
formação e experiência para atuar na área de adoção in- do adotando do território nacional. (Incluído pela Lei nº
ternacional; (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência 12.010, de 2009) Vigência
IV - cumprirem os requisitos exigidos pelo ordena- § 9o Transitada em julgado a decisão, a autoridade ju-
mento jurídico brasileiro e pelas normas estabelecidas pela
diciária determinará a expedição de alvará com autoriza-
Autoridade Central Federal Brasileira. (Incluído pela Lei nº
12.010, de 2009) Vigência ção de viagem, bem como para obtenção de passaporte,
§ 4o Os organismos credenciados deverão ainda: (In- constando, obrigatoriamente, as características da criança
cluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência ou adolescente adotado, como idade, cor, sexo, eventuais
I - perseguir unicamente fins não lucrativos, nas con- sinais ou traços peculiares, assim como foto recente e a
dições e dentro dos limites fixados pelas autoridades com- aposição da impressão digital do seu polegar direito, ins-
petentes do país onde estiverem sediados, do país de aco- truindo o documento com cópia autenticada da decisão
lhida e pela Autoridade Central Federal Brasileira; (Incluído e certidão de trânsito em julgado. (Incluído pela Lei nº
pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência 12.010, de 2009) Vigência

32
LEGISLAÇÃO BÁSICA

§ 10. A Autoridade Central Federal Brasileira poderá, a nhecida pela Autoridade Central Estadual que tiver proces-
qualquer momento, solicitar informações sobre a situação sado o pedido de habilitação dos pais adotivos, que comu-
das crianças e adolescentes adotados. (Incluído pela Lei nº nicará o fato à Autoridade Central Federal e determinará
12.010, de 2009) Vigência as providências necessárias à expedição do Certificado de
§ 11. A cobrança de valores por parte dos organismos Naturalização Provisório. (Incluído pela Lei nº 12.010, de
credenciados, que sejam considerados abusivos pela Auto- 2009) Vigência
ridade Central Federal Brasileira e que não estejam devida- § 1o A Autoridade Central Estadual, ouvido o Ministério
mente comprovados, é causa de seu descredenciamento. Público, somente deixará de reconhecer os efeitos daquela
(Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência decisão se restar demonstrado que a adoção é manifesta-
§ 12. Uma mesma pessoa ou seu cônjuge não podem
mente contrária à ordem pública ou não atende ao interes-
ser representados por mais de uma entidade credenciada
se superior da criança ou do adolescente. (Incluído pela Lei
para atuar na cooperação em adoção internacional. (Incluí-
do pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência nº 12.010, de 2009) Vigência
§ 13. A habilitação de postulante estrangeiro ou do- § 2o Na hipótese de não reconhecimento da adoção,
miciliado fora do Brasil terá validade máxima de 1 (um) prevista no § 1o deste artigo, o Ministério Público deverá
ano, podendo ser renovada. (Incluído pela Lei nº 12.010, imediatamente requerer o que for de direito para resguar-
de 2009) Vigência dar os interesses da criança ou do adolescente, comunican-
§ 14. É vedado o contato direto de representantes de do-se as providências à Autoridade Central Estadual, que
organismos de adoção, nacionais ou estrangeiros, com di- fará a comunicação à Autoridade Central Federal Brasileira
rigentes de programas de acolhimento institucional ou fa- e à Autoridade Central do país de origem. (Incluído pela Lei
miliar, assim como com crianças e adolescentes em condi- nº 12.010, de 2009) Vigência
ções de serem adotados, sem a devida autorização judicial.
(Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência Art. 52-D. Nas adoções internacionais, quando o Brasil
§ 15. A Autoridade Central Federal Brasileira poderá for o país de acolhida e a adoção não tenha sido deferida
limitar ou suspender a concessão de novos credenciamen- no país de origem porque a sua legislação a delega ao país
tos sempre que julgar necessário, mediante ato administra- de acolhida, ou, ainda, na hipótese de, mesmo com deci-
tivo fundamentado. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) são, a criança ou o adolescente ser oriundo de país que não
Vigência tenha aderido à Convenção referida, o processo de adoção
Art. 52-A. É vedado, sob pena de responsabilidade e
seguirá as regras da adoção nacional. (Incluído pela Lei nº
descredenciamento, o repasse de recursos provenientes
12.010, de 2009) Vigência
de organismos estrangeiros encarregados de intermediar
pedidos de adoção internacional a organismos nacionais
ou a pessoas físicas. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Capítulo IV
Vigência Do Direito à Educação, à Cultura, ao
Parágrafo único. Eventuais repasses somente poderão Esporte e ao Lazer
ser efetuados via Fundo dos Direitos da Criança e do Ado-
lescente e estarão sujeitos às deliberações do respectivo Art. 53. A criança e o adolescente têm direito à edu-
Conselho de Direitos da Criança e do Adolescente. (Incluí- cação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa,
do pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o
trabalho, assegurando-se-lhes:
Art. 52-B. A adoção por brasileiro residente no exterior I - igualdade de condições para o acesso e permanên-
em país ratificante da Convenção de Haia, cujo processo cia na escola;
de adoção tenha sido processado em conformidade com a II - direito de ser respeitado por seus educadores;
legislação vigente no país de residência e atendido o dis- III - direito de contestar critérios avaliativos, podendo
posto na Alínea “c” do Artigo 17 da referida Convenção, recorrer às instâncias escolares superiores;
será automaticamente recepcionada com o reingresso no IV - direito de organização e participação em entidades
Brasil. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência estudantis;
§ 1o Caso não tenha sido atendido o disposto na Alínea
V - acesso à escola pública e gratuita próxima de sua
“c” do Artigo 17 da Convenção de Haia, deverá a sentença
residência.
ser homologada pelo Superior Tribunal de Justiça. (Incluído
pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência Parágrafo único. É direito dos pais ou responsáveis ter
§ 2o O pretendente brasileiro residente no exterior ciência do processo pedagógico, bem como participar da
em país não ratificante da Convenção de Haia, uma vez definição das propostas educacionais.
reingressado no Brasil, deverá requerer a homologação da
sentença estrangeira pelo Superior Tribunal de Justiça. (In- Art. 54. É dever do Estado assegurar à criança e ao ado-
cluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência lescente:
I - ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive
Art. 52-C. Nas adoções internacionais, quando o Brasil para os que a ele não tiveram acesso na idade própria;
for o país de acolhida, a decisão da autoridade competente II - progressiva extensão da obrigatoriedade e gratui-
do país de origem da criança ou do adolescente será co- dade ao ensino médio;

33
LEGISLAÇÃO BÁSICA

III - atendimento educacional especializado aos por- Art. 61. A proteção ao trabalho dos adolescentes é re-
tadores de deficiência, preferencialmente na rede regular gulada por legislação especial, sem prejuízo do disposto
de ensino; nesta Lei.
IV – atendimento em creche e pré-escola às crianças
de zero a cinco anos de idade; (Redação dada pela Lei nº Art. 62. Considera-se aprendizagem a formação técni-
13.306, de 2016) co-profissional ministrada segundo as diretrizes e bases da
V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pes- legislação de educação em vigor.
quisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada
Art. 63. A formação técnico-profissional obedecerá aos
um;
seguintes princípios:
VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às I - garantia de acesso e frequência obrigatória ao en-
condições do adolescente trabalhador; sino regular;
VII - atendimento no ensino fundamental, através de II - atividade compatível com o desenvolvimento do
programas suplementares de material didático-escolar, adolescente;
transporte, alimentação e assistência à saúde. III - horário especial para o exercício das atividades.
§ 1º O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito
público subjetivo. Art. 64. Ao adolescente até quatorze anos de idade é
§ 2º O não oferecimento do ensino obrigatório pelo assegurada bolsa de aprendizagem.
poder público ou sua oferta irregular importa responsabili-
dade da autoridade competente. Art. 65. Ao adolescente aprendiz, maior de quatorze
§ 3º Compete ao poder público recensear os educan- anos, são assegurados os direitos trabalhistas e previden-
dos no ensino fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, ciários.
junto aos pais ou responsável, pela frequência à escola.
Art. 66. Ao adolescente portador de deficiência é asse-
Art. 55. Os pais ou responsável têm a obrigação de ma- gurado trabalho protegido.
tricular seus filhos ou pupilos na rede regular de ensino.
Art. 67. Ao adolescente empregado, aprendiz, em regi-
me familiar de trabalho, aluno de escola técnica, assistido
Art. 56. Os dirigentes de estabelecimentos de ensino
em entidade governamental ou não-governamental, é ve-
fundamental comunicarão ao Conselho Tutelar os casos de:
dado trabalho:
I - maus-tratos envolvendo seus alunos; I - noturno, realizado entre as vinte e duas horas de um
II - reiteração de faltas injustificadas e de evasão esco- dia e as cinco horas do dia seguinte;
lar, esgotados os recursos escolares; II - perigoso, insalubre ou penoso;
III - elevados níveis de repetência. III - realizado em locais prejudiciais à sua formação e ao
seu desenvolvimento físico, psíquico, moral e social;
Art. 57. O poder público estimulará pesquisas, expe- IV - realizado em horários e locais que não permitam a
riências e novas propostas relativas a calendário, seriação, frequência à escola.
currículo, metodologia, didática e avaliação, com vistas à
inserção de crianças e adolescentes excluídos do ensino Art. 68. O programa social que tenha por base o traba-
fundamental obrigatório. lho educativo, sob responsabilidade de entidade governa-
mental ou não-governamental sem fins lucrativos, deverá
Art. 58. No processo educacional respeitar-se-ão os va- assegurar ao adolescente que dele participe condições de
lores culturais, artísticos e históricos próprios do contexto capacitação para o exercício de atividade regular remune-
social da criança e do adolescente, garantindo-se a estes a rada.
liberdade da criação e o acesso às fontes de cultura. § 1º Entende-se por trabalho educativo a atividade la-
boral em que as exigências pedagógicas relativas ao de-
senvolvimento pessoal e social do educando prevalecem
Art. 59. Os municípios, com apoio dos estados e da
sobre o aspecto produtivo.
União, estimularão e facilitarão a destinação de recursos e
§ 2º A remuneração que o adolescente recebe pelo tra-
espaços para programações culturais, esportivas e de lazer balho efetuado ou a participação na venda dos produtos
voltadas para a infância e a juventude. de seu trabalho não desfigura o caráter educativo.

Capítulo V Art. 69. O adolescente tem direito à profissionalização


Do Direito à Profissionalização e e à proteção no trabalho, observados os seguintes aspec-
à Proteção no Trabalho tos, entre outros:
I - respeito à condição peculiar de pessoa em desen-
Art. 60. É proibido qualquer trabalho a menores de volvimento;
quatorze anos de idade, salvo na condição de aprendiz. II - capacitação profissional adequada ao mercado de
(Vide Constituição Federal) trabalho.

34
LEGISLAÇÃO BÁSICA

Título III Art. 70-B. As entidades, públicas e privadas, que atuem


Da Prevenção nas áreas a que se refere o art. 71, dentre outras, devem
Capítulo I contar, em seus quadros, com pessoas capacitadas a reco-
Disposições Gerais nhecer e comunicar ao Conselho Tutelar suspeitas ou casos
de maus-tratos praticados contra crianças e adolescentes.
Art. 70. É dever de todos prevenir a ocorrência de (Incluído pela Lei nº 13.046, de 2014)
ameaça ou violação dos direitos da criança e do adoles- Parágrafo único. São igualmente responsáveis pela
cente. comunicação de que trata este artigo, as pessoas encarre-
gadas, por razão de cargo, função, ofício, ministério, pro-
Art. 70-A. A União, os Estados, o Distrito Federal e os fissão ou ocupação, do cuidado, assistência ou guarda de
Municípios deverão atuar de forma articulada na elabora- crianças e adolescentes, punível, na forma deste Estatuto, o
ção de políticas públicas e na execução de ações destina- injustificado retardamento ou omissão, culposos ou dolo-
das a coibir o uso de castigo físico ou de tratamento cruel sos. (Incluído pela Lei nº 13.046, de 2014)
ou degradante e difundir formas não violentas de educa-
ção de crianças e de adolescentes, tendo como principais Art. 71. A criança e o adolescente têm direito a infor-
ações: (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014) mação, cultura, lazer, esportes, diversões, espetáculos e
I - a promoção de campanhas educativas permanentes produtos e serviços que respeitem sua condição peculiar
para a divulgação do direito da criança e do adolescente de pessoa em desenvolvimento.
de serem educados e cuidados sem o uso de castigo físico
ou de tratamento cruel ou degradante e dos instrumentos Art. 72. As obrigações previstas nesta Lei não excluem
de proteção aos direitos humanos; (Incluído pela Lei nº da prevenção especial outras decorrentes dos princípios
13.010, de 2014) por ela adotados.
II - a integração com os órgãos do Poder Judiciário,
do Ministério Público e da Defensoria Pública, com o Con- Art. 73. A inobservância das normas de prevenção im-
selho Tutelar, com os Conselhos de Direitos da Criança e portará em responsabilidade da pessoa física ou jurídica,
do Adolescente e com as entidades não governamentais nos termos desta Lei.
que atuam na promoção, proteção e defesa dos direitos
da criança e do adolescente; (Incluído pela Lei nº 13.010, Capítulo II
Da Prevenção Especial
de 2014)
Seção I
III - a formação continuada e a capacitação dos profis-
Da informação, Cultura, Lazer,
sionais de saúde, educação e assistência social e dos de-
Esportes, Diversões e Espetáculos
mais agentes que atuam na promoção, proteção e defesa
dos direitos da criança e do adolescente para o desen-
Art. 74. O poder público, através do órgão competente,
volvimento das competências necessárias à prevenção, à
regulará as diversões e espetáculos públicos, informando
identificação de evidências, ao diagnóstico e ao enfrenta-
sobre a natureza deles, as faixas etárias a que não se re-
mento de todas as formas de violência contra a criança e o
comendem, locais e horários em que sua apresentação se
adolescente; (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014) mostre inadequada.
IV - o apoio e o incentivo às práticas de resolução pa- Parágrafo único. Os responsáveis pelas diversões e es-
cífica de conflitos que envolvam violência contra a criança petáculos públicos deverão afixar, em lugar visível e de fácil
e o adolescente; (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014) acesso, à entrada do local de exibição, informação destaca-
V - a inclusão, nas políticas públicas, de ações que da sobre a natureza do espetáculo e a faixa etária especifi-
visem a garantir os direitos da criança e do adolescente, cada no certificado de classificação.
desde a atenção pré-natal, e de atividades junto aos pais e
responsáveis com o objetivo de promover a informação, a Art. 75. Toda criança ou adolescente terá acesso às di-
reflexão, o debate e a orientação sobre alternativas ao uso versões e espetáculos públicos classificados como adequa-
de castigo físico ou de tratamento cruel ou degradante no dos à sua faixa etária.
processo educativo; (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014) Parágrafo único. As crianças menores de dez anos so-
VI - a promoção de espaços intersetoriais locais para a mente poderão ingressar e permanecer nos locais de apre-
articulação de ações e a elaboração de planos de atuação sentação ou exibição quando acompanhadas dos pais ou
conjunta focados nas famílias em situação de violência, responsável.
com participação de profissionais de saúde, de assistência
social e de educação e de órgãos de promoção, proteção Art. 76. As emissoras de rádio e televisão somente
e defesa dos direitos da criança e do adolescente. (Incluído exibirão, no horário recomendado para o público infanto
pela Lei nº 13.010, de 2014) juvenil, programas com finalidades educativas, artísticas,
Parágrafo único. As famílias com crianças e adoles- culturais e informativas.
centes com deficiência terão prioridade de atendimento Parágrafo único. Nenhum espetáculo será apresentado
nas ações e políticas públicas de prevenção e proteção. ou anunciado sem aviso de sua classificação, antes de sua
(Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014) transmissão, apresentação ou exibição.

35
LEGISLAÇÃO BÁSICA

Art. 77. Os proprietários, diretores, gerentes e funcio- § 1º A autorização não será exigida quando:
nários de empresas que explorem a venda ou aluguel de a) tratar-se de comarca contígua à da residência da
fitas de programação em vídeo cuidarão para que não haja criança, se na mesma unidade da Federação, ou incluída na
venda ou locação em desacordo com a classificação atri- mesma região metropolitana;
buída pelo órgão competente. b) a criança estiver acompanhada:
Parágrafo único. As fitas a que alude este artigo de- 1) de ascendente ou colateral maior, até o terceiro
verão exibir, no invólucro, informação sobre a natureza da grau, comprovado documentalmente o parentesco;
obra e a faixa etária a que se destinam. 2) de pessoa maior, expressamente autorizada pelo
pai, mãe ou responsável.
Art. 78. As revistas e publicações contendo material im- § 2º A autoridade judiciária poderá, a pedido dos pais
próprio ou inadequado a crianças e adolescentes deverão ou responsável, conceder autorização válida por dois anos.
ser comercializadas em embalagem lacrada, com a adver-
tência de seu conteúdo. Art. 84. Quando se tratar de viagem ao exterior, a auto-
Parágrafo único. As editoras cuidarão para que as ca- rização é dispensável, se a criança ou adolescente:
pas que contenham mensagens pornográficas ou obscenas I - estiver acompanhado de ambos os pais ou respon-
sejam protegidas com embalagem opaca. sável;
II - viajar na companhia de um dos pais, autorizado ex-
Art. 79. As revistas e publicações destinadas ao público pressamente pelo outro através de documento com firma
infanto-juvenil não poderão conter ilustrações, fotografias, reconhecida.
legendas, crônicas ou anúncios de bebidas alcoólicas, taba-
co, armas e munições, e deverão respeitar os valores éticos Art. 85. Sem prévia e expressa autorização judicial, ne-
e sociais da pessoa e da família. nhuma criança ou adolescente nascido em território na-
cional poderá sair do País em companhia de estrangeiro
Art. 80. Os responsáveis por estabelecimentos que ex- residente ou domiciliado no exterior.
plorem comercialmente bilhar, sinuca ou congênere ou por
casas de jogos, assim entendidas as que realizem apostas, Parte Especial
ainda que eventualmente, cuidarão para que não seja per-
mitida a entrada e a permanência de crianças e adolescen- Título I
tes no local, afixando aviso para orientação do público. Da Política de Atendimento

Seção II Capítulo I
Dos Produtos e Serviços Disposições Gerais

Art. 81. É proibida a venda à criança ou ao adolescente Art. 86. A política de atendimento dos direitos da crian-
de: ça e do adolescente far-se-á através de um conjunto articu-
I - armas, munições e explosivos; lado de ações governamentais e não-governamentais, da
II - bebidas alcoólicas; União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios.
III - produtos cujos componentes possam causar de-
pendência física ou psíquica ainda que por utilização in- Art. 87. São linhas de ação da política de atendimento:
devida; (Vide Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
IV - fogos de estampido e de artifício, exceto aqueles I - políticas sociais básicas;
que pelo seu reduzido potencial sejam incapazes de pro- II - serviços, programas, projetos e benefícios de assis-
vocar qualquer dano físico em caso de utilização indevida; tência social de garantia de proteção social e de prevenção
V - revistas e publicações a que alude o art. 78; e redução de violações de direitos, seus agravamentos ou
VI - bilhetes lotéricos e equivalentes. reincidências; (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016)
III - serviços especiais de prevenção e atendimento
Art. 82. É proibida a hospedagem de criança ou ado- médico e psicossocial às vítimas de negligência, maus-tra-
lescente em hotel, motel, pensão ou estabelecimento con- tos, exploração, abuso, crueldade e opressão;
gênere, salvo se autorizado ou acompanhado pelos pais ou IV - serviço de identificação e localização de pais, res-
responsável. ponsável, crianças e adolescentes desaparecidos;
V - proteção jurídico-social por entidades de defesa
Seção III dos direitos da criança e do adolescente.
Da Autorização para Viajar VI - políticas e programas destinados a prevenir ou
abreviar o período de afastamento do convívio familiar e a
Art. 83. Nenhuma criança poderá viajar para fora da garantir o efetivo exercício do direito à convivência familiar
comarca onde reside, desacompanhada dos pais ou res- de crianças e adolescentes; (Incluído pela Lei nº 12.010, de
ponsável, sem expressa autorização judicial. 2009) Vigência

36
LEGISLAÇÃO BÁSICA

VII - campanhas de estímulo ao acolhimento sob forma Capítulo II


de guarda de crianças e adolescentes afastados do con- Das Entidades de Atendimento
vívio familiar e à adoção, especificamente inter-racial, de Seção I
crianças maiores ou de adolescentes, com necessidades Disposições Gerais
específicas de saúde ou com deficiências e de grupos de
irmãos. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência Art. 90. As entidades de atendimento são responsá-
veis pela manutenção das próprias unidades, assim como
Art. 88. São diretrizes da política de atendimento: pelo planejamento e execução de programas de proteção
I - municipalização do atendimento; e socioeducativos destinados a crianças e adolescentes, em
II - criação de conselhos municipais, estaduais e nacio- regime de:
nal dos direitos da criança e do adolescente, órgãos de- I - orientação e apoio sócio familiar;
II - apoio socioeducativo em meio aberto;
liberativos e controladores das ações em todos os níveis,
III - colocação familiar;
assegurada a participação popular paritária por meio de
IV - acolhimento institucional; (Redação dada pela Lei
organizações representativas, segundo leis federal, esta-
nº 12.010, de 2009) vigência
duais e municipais;
V - prestação de serviços à comunidade; (Redação
III - criação e manutenção de programas específicos, dada pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)
observada a descentralização político-administrativa; VI - liberdade assistida; (Redação dada pela Lei nº
IV - manutenção de fundos nacional, estaduais e muni- 12.594, de 2012) (Vide)
cipais vinculados aos respectivos conselhos dos direitos da VII - semiliberdade; e (Redação dada pela Lei nº 12.594,
criança e do adolescente; de 2012) (Vide)
V - integração operacional de órgãos do Judiciário, VIII - internação. (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012)
Ministério Público, Defensoria, Segurança Pública e Assis- (Vide)
tência Social, preferencialmente em um mesmo local, para § 1o As entidades governamentais e não governamen-
efeito de agilização do atendimento inicial a adolescente a tais deverão proceder à inscrição de seus programas, es-
quem se atribua autoria de ato infracional; pecificando os regimes de atendimento, na forma definida
VI - integração operacional de órgãos do Judiciário, neste artigo, no Conselho Municipal dos Direitos da Crian-
Ministério Público, Defensoria, Conselho Tutelar e encar- ça e do Adolescente, o qual manterá registro das inscrições
regados da execução das políticas sociais básicas e de as- e de suas alterações, do que fará comunicação ao Conse-
sistência social, para efeito de agilização do atendimento lho Tutelar e à autoridade judiciária. (Incluído pela Lei nº
de crianças e de adolescentes inseridos em programas de 12.010, de 2009) Vigência
acolhimento familiar ou institucional, com vista na sua rá- § 2o Os recursos destinados à implementação e ma-
pida reintegração à família de origem ou, se tal solução nutenção dos programas relacionados neste artigo serão
se mostrar comprovadamente inviável, sua colocação em previstos nas dotações orçamentárias dos órgãos públicos
família substituta, em quaisquer das modalidades previstas encarregados das áreas de Educação, Saúde e Assistência
no art. 28 desta Lei; (Redação dada pela Lei nº 12.010, de Social, dentre outros, observando-se o princípio da priori-
2009) Vigência dade absoluta à criança e ao adolescente preconizado pelo
VII - mobilização da opinião pública para a indispen- caput do art. 227 da Constituição Federal e pelo caput e
sável participação dos diversos segmentos da sociedade. parágrafo único do art. 4odesta Lei. (Incluído pela Lei nº
(Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)Vigência 12.010, de 2009) Vigência
§ 3o Os programas em execução serão reavaliados pelo
VIII - especialização e formação continuada dos pro-
Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adoles-
fissionais que trabalham nas diferentes áreas da atenção
cente, no máximo, a cada 2 (dois) anos, constituindo-se
à primeira infância, incluindo os conhecimentos sobre di-
critérios para renovação da autorização de funcionamento:
reitos da criança e sobre desenvolvimento infantil;(Incluído
(Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
pela Lei nº 13.257, de 2016) I - o efetivo respeito às regras e princípios desta Lei,
IX - formação profissional com abrangência dos di- bem como às resoluções relativas à modalidade de aten-
versos direitos da criança e do adolescente que favoreça a dimento prestado expedidas pelos Conselhos de Direitos
intersetorialidade no atendimento da criança e do adoles- da Criança e do Adolescente, em todos os níveis; (Incluído
cente e seu desenvolvimento integral;(Incluído pela Lei nº pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
13.257, de 2016) II - a qualidade e eficiência do trabalho desenvolvido,
X - realização e divulgação de pesquisas sobre desen- atestadas pelo Conselho Tutelar, pelo Ministério Público e
volvimento infantil e sobre prevenção da violência.(Incluído pela Justiça da Infância e da Juventude; (Incluído pela Lei nº
pela Lei nº 13.257, de 2016) 12.010, de 2009) Vigência
III - em se tratando de programas de acolhimento ins-
Art. 89. A função de membro do conselho nacional e titucional ou familiar, serão considerados os índices de su-
dos conselhos estaduais e municipais dos direitos da crian- cesso na reintegração familiar ou de adaptação à família
ça e do adolescente é considerada de interesse público re- substituta, conforme o caso. (Incluído pela Lei nº 12.010,
levante e não será remunerada. de 2009)Vigência

37
LEGISLAÇÃO BÁSICA

Art. 91. As entidades não-governamentais somente § 3o Os entes federados, por intermédio dos Poderes
poderão funcionar depois de registradas no Conselho Mu- Executivo e Judiciário, promoverão conjuntamente a per-
nicipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, o qual manente qualificação dos profissionais que atuam direta
comunicará o registro ao Conselho Tutelar e à autoridade ou indiretamente em programas de acolhimento institucio-
judiciária da respectiva localidade. nal e destinados à colocação familiar de crianças e adoles-
§ 1o Será negado o registro à entidade que: (Incluído centes, incluindo membros do Poder Judiciário, Ministério
pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência Público e Conselho Tutelar. (Incluído pela Lei nº 12.010, de
a) não ofereça instalações físicas em condições ade- 2009) Vigência
quadas de habitabilidade, higiene, salubridade e seguran- § 4o Salvo determinação em contrário da autorida-
ça; de judiciária competente, as entidades que desenvolvem
b) não apresente plano de trabalho compatível com os programas de acolhimento familiar ou institucional, se ne-
princípios desta Lei; cessário com o auxílio do Conselho Tutelar e dos órgãos
c) esteja irregularmente constituída; de assistência social, estimularão o contato da criança ou
d) tenha em seus quadros pessoas inidôneas. adolescente com seus pais e parentes, em cumprimento ao
e) não se adequar ou deixar de cumprir as resoluções e disposto nos incisos I e VIII do caput deste artigo. (Incluído
deliberações relativas à modalidade de atendimento pres- pela Lei nº 12.010, de 2009)Vigência
tado expedidas pelos Conselhos de Direitos da Criança e § 5o As entidades que desenvolvem programas de aco-
do Adolescente, em todos os níveis. (Incluída pela Lei nº lhimento familiar ou institucional somente poderão rece-
12.010, de 2009) Vigência ber recursos públicos se comprovado o atendimento dos
§ 2o O registro terá validade máxima de 4 (quatro) anos, princípios, exigências e finalidades desta Lei.(Incluído pela
cabendo ao Conselho Municipal dos Direitos da Criança e Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
do Adolescente, periodicamente, reavaliar o cabimento de § 6o O descumprimento das disposições desta Lei
sua renovação, observado o disposto no § 1o deste artigo. pelo dirigente de entidade que desenvolva programas de
(Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)Vigência acolhimento familiar ou institucional é causa de sua desti-
tuição, sem prejuízo da apuração de sua responsabilidade
Art. 92. As entidades que desenvolvam programas de
administrativa, civil e criminal. (Incluído pela Lei nº 12.010,
acolhimento familiar ou institucional deverão adotar os se-
de 2009) Vigência
guintes princípios: (Redação dada pela Lei nº 12.010, de
§ 7o Quando se tratar de criança de 0 (zero) a 3 (três)
2009) Vigência
anos em acolhimento institucional, dar-se-á especial aten-
I - preservação dos vínculos familiares e promoção da
ção à atuação de educadores de referência estáveis e qua-
reintegração familiar;(Redação dada pela Lei nº 12.010, de
litativamente significativos, às rotinas específicas e ao aten-
2009)Vigência
dimento das necessidades básicas, incluindo as de afeto
II - integração em família substituta, quando esgotados
como prioritárias. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)
os recursos de manutenção na família natural ou extensa;
(Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009)Vigência
III - atendimento personalizado e em pequenos gru- Art. 93. As entidades que mantenham programa de
pos; acolhimento institucional poderão, em caráter excepcional
IV - desenvolvimento de atividades em regime de co e de urgência, acolher crianças e adolescentes sem prévia
-educação; determinação da autoridade competente, fazendo comu-
V - não desmembramento de grupos de irmãos; nicação do fato em até 24 (vinte e quatro) horas ao Juiz
VI - evitar, sempre que possível, a transferência para da Infância e da Juventude, sob pena de responsabilidade.
outras entidades de crianças e adolescentes abrigados; (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009)Vigência
VII - participação na vida da comunidade local; Parágrafo único. Recebida a comunicação, a autorida-
VIII - preparação gradativa para o desligamento; de judiciária, ouvido o Ministério Público e se necessário
IX - participação de pessoas da comunidade no pro- com o apoio do Conselho Tutelar local, tomará as medidas
cesso educativo. necessárias para promover a imediata reintegração familiar
§ 1o O dirigente de entidade que desenvolve progra- da criança ou do adolescente ou, se por qualquer razão
ma de acolhimento institucional é equiparado ao guar- não for isso possível ou recomendável, para seu encami-
dião, para todos os efeitos de direito. (Incluído pela Lei nº nhamento a programa de acolhimento familiar, institucio-
12.010, de 2009) Vigência nal ou a família substituta, observado o disposto no § 2o
§ 2o Os dirigentes de entidades que desenvolvem pro- do art. 101 desta Lei.(Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)
gramas de acolhimento familiar ou institucional remeterão Vigência
à autoridade judiciária, no máximo a cada 6 (seis) meses,
relatório circunstanciado acerca da situação de cada crian- Art. 94. As entidades que desenvolvem programas de
ça ou adolescente acolhido e sua família, para fins da rea- internação têm as seguintes obrigações, entre outras:
valiação prevista no § 1o do art. 19 desta Lei.(Incluído pela I - observar os direitos e garantias de que são titulares
Lei nº 12.010, de 2009)Vigência os adolescentes;

38
LEGISLAÇÃO BÁSICA

II - não restringir nenhum direito que não tenha sido Seção II


objeto de restrição na decisão de internação; Da Fiscalização das Entidades
III - oferecer atendimento personalizado, em pequenas
unidades e grupos reduzidos; Art. 95. As entidades governamentais e não-governa-
IV - preservar a identidade e oferecer ambiente de res- mentais referidas no art. 90 serão fiscalizadas pelo Judi-
peito e dignidade ao adolescente; ciário, pelo Ministério Público e pelos Conselhos Tutelares.
V - diligenciar no sentido do restabelecimento e da Art. 96. Os planos de aplicação e as prestações de con-
preservação dos vínculos familiares; tas serão apresentados ao estado ou ao município, confor-
VI - comunicar à autoridade judiciária, periodicamente, me a origem das dotações orçamentárias.
os casos em que se mostre inviável ou impossível o reata- Art. 97. São medidas aplicáveis às entidades de atendi-
mento dos vínculos familiares; mento que descumprirem obrigação constante do art. 94,
VII - oferecer instalações físicas em condições adequa- sem prejuízo da responsabilidade civil e criminal de seus
das de habitabilidade, higiene, salubridade e segurança e dirigentes ou prepostos: (Vide Lei nº 12.010, de 2009) Vi-
os objetos necessários à higiene pessoal; gência
VIII - oferecer vestuário e alimentação suficientes e I - às entidades governamentais:
adequados à faixa etária dos adolescentes atendidos; a) advertência;
IX - oferecer cuidados médicos, psicológicos, odonto- b) afastamento provisório de seus dirigentes;
lógicos e farmacêuticos; c) afastamento definitivo de seus dirigentes;
X - propiciar escolarização e profissionalização; d) fechamento de unidade ou interdição de programa.
XI - propiciar atividades culturais, esportivas e de lazer; II - às entidades não-governamentais:
XII - propiciar assistência religiosa àqueles que deseja- a) advertência;
b) suspensão total ou parcial do repasse de verbas pú-
rem, de acordo com suas crenças;
blicas;
XIII - proceder a estudo social e pessoal de cada caso;
c) interdição de unidades ou suspensão de programa;
XIV - reavaliar periodicamente cada caso, com interva-
d) cassação do registro.
lo máximo de seis meses, dando ciência dos resultados à
§ 1o Em caso de reiteradas infrações cometidas por
autoridade competente;
entidades de atendimento, que coloquem em risco os di-
XV - informar, periodicamente, o adolescente interna-
reitos assegurados nesta Lei, deverá ser o fato comunicado
do sobre sua situação processual;
ao Ministério Público ou representado perante autoridade
XVI - comunicar às autoridades competentes todos os
judiciária competente para as providências cabíveis, inclu-
casos de adolescentes portadores de moléstias infecto-
sive suspensão das atividades ou dissolução da entidade.
contagiosas; (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
XVII - fornecer comprovante de depósito dos perten- § 2o As pessoas jurídicas de direito público e as organi-
ces dos adolescentes; zações não governamentais responderão pelos danos que
XVIII - manter programas destinados ao apoio e acom- seus agentes causarem às crianças e aos adolescentes, ca-
panhamento de egressos; racterizado o descumprimento dos princípios norteadores
XIX - providenciar os documentos necessários ao exer- das atividades de proteção específica. (Redação dada pela
cício da cidadania àqueles que não os tiverem; Lei nº 12.010, de 2009)Vigência
XX - manter arquivo de anotações onde constem data
e circunstâncias do atendimento, nome do adolescente, Título II
seus pais ou responsável, parentes, endereços, sexo, idade, Das Medidas de Proteção
acompanhamento da sua formação, relação de seus per- Capítulo I
tences e demais dados que possibilitem sua identificação e Disposições Gerais
a individualização do atendimento.
§ 1o Aplicam-se, no que couber, as obrigações cons- Art. 98. As medidas de proteção à criança e ao adoles-
tantes deste artigo às entidades que mantêm programas cente são aplicáveis sempre que os direitos reconhecidos
de acolhimento institucional e familiar. (Redação dada pela nesta Lei forem ameaçados ou violados:
Lei nº 12.010, de 2009) Vigência I - por ação ou omissão da sociedade ou do Estado;
§ 2º No cumprimento das obrigações a que alude este II - por falta, omissão ou abuso dos pais ou responsá-
artigo as entidades utilizarão preferencialmente os recur- vel;
sos da comunidade. III - em razão de sua conduta.

Art. 94-A. As entidades, públicas ou privadas, que abri- Capítulo II


guem ou recepcionem crianças e adolescentes, ainda que Das Medidas Específicas de Proteção
em caráter temporário, devem ter, em seus quadros, pro-
fissionais capacitados a reconhecer e reportar ao Conselho Art. 99. As medidas previstas neste Capítulo pode-
Tutelar suspeitas ou ocorrências de maus-tratos. (Incluído rão ser aplicadas isolada ou cumulativamente, bem como
pela Lei nº 13.046, de 2014) substituídas a qualquer tempo.

39
LEGISLAÇÃO BÁSICA

Art. 100. Na aplicação das medidas levar-se-ão em XI - obrigatoriedade da informação: a criança e o


conta as necessidades pedagógicas, preferindo-se aquelas adolescente, respeitado seu estágio de desenvolvimento
que visem ao fortalecimento dos vínculos familiares e co- e capacidade de compreensão, seus pais ou responsável
munitários. devem ser informados dos seus direitos, dos motivos que
Parágrafo único. São também princípios que regem determinaram a intervenção e da forma como esta se pro-
a aplicação das medidas:(Incluído pela Lei nº 12.010, de cessa; (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
2009) Vigência XII - oitiva obrigatória e participação: a criança e o ado-
I - condição da criança e do adolescente como sujei- lescente, em separado ou na companhia dos pais, de res-
tos de direitos: crianças e adolescentes são os titulares dos ponsável ou de pessoa por si indicada, bem como os seus
direitos previstos nesta e em outras Leis, bem como na pais ou responsável, têm direito a ser ouvidos e a participar
Constituição Federal; (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) nos atos e na definição da medida de promoção dos direi-
Vigência tos e de proteção, sendo sua opinião devidamente consi-
II - proteção integral e prioritária: a interpretação e derada pela autoridade judiciária competente, observado o
aplicação de toda e qualquer norma contida nesta Lei deve disposto nos §§ 1o e 2o do art. 28 desta Lei.(Incluído pela Lei
ser voltada à proteção integral e prioritária dos direitos de
nº 12.010, de 2009) Vigência
que crianças e adolescentes são titulares; (Incluído pela Lei
nº 12.010, de 2009) Vigência
Art. 101. Verificada qualquer das hipóteses previstas no
III - responsabilidade primária e solidária do poder pú-
blico: a plena efetivação dos direitos assegurados a crianças art. 98, a autoridade competente poderá determinar, den-
e a adolescentes por esta Lei e pela Constituição Federal, tre outras, as seguintes medidas:
salvo nos casos por esta expressamente ressalvados, é de I - encaminhamento aos pais ou responsável, mediante
responsabilidade primária e solidária das 3 (três) esferas de termo de responsabilidade;
governo, sem prejuízo da municipalização do atendimento II - orientação, apoio e acompanhamento temporários;
e da possibilidade da execução de programas por entida- III - matrícula e frequência obrigatórias em estabeleci-
des não governamentais; (Incluído pela Lei nº 12.010, de mento oficial de ensino fundamental;
2009) Vigência IV - inclusão em serviços e programas oficiais ou co-
IV - interesse superior da criança e do adolescente: a munitários de proteção, apoio e promoção da família, da
intervenção deve atender prioritariamente aos interesses criança e do adolescente; (Redação dada pela Lei nº 13.257,
e direitos da criança e do adolescente, sem prejuízo da de 2016)
consideração que for devida a outros interesses legítimos V - requisição de tratamento médico, psicológico ou
no âmbito da pluralidade dos interesses presentes no caso psiquiátrico, em regime hospitalar ou ambulatorial;
concreto; (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência VI - inclusão em programa oficial ou comunitário de
V - privacidade: a promoção dos direitos e proteção auxílio, orientação e tratamento a alcoólatras e toxicôma-
da criança e do adolescente deve ser efetuada no respeito nos;
pela intimidade, direito à imagem e reserva da sua vida pri- VII - acolhimento institucional; (Redação dada pela Lei
vada;(Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência nº 12.010, de 2009) Vigência
VI - intervenção precoce: a intervenção das autorida- VIII - inclusão em programa de acolhimento familiar;
des competentes deve ser efetuada logo que a situação (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
de perigo seja conhecida; (Incluído pela Lei nº 12.010, de IX - colocação em família substituta. (Incluído pela Lei
2009) Vigência nº 12.010, de 2009) Vigência
VII - intervenção mínima: a intervenção deve ser exer- § 1o O acolhimento institucional e o acolhimento fa-
cida exclusivamente pelas autoridades e instituições cuja miliar são medidas provisórias e excepcionais, utilizáveis
ação seja indispensável à efetiva promoção dos direitos e à
como forma de transição para reintegração familiar ou, não
proteção da criança e do adolescente; (Incluído pela Lei nº
sendo esta possível, para colocação em família substituta,
12.010, de 2009) Vigência
não implicando privação de liberdade. (Incluído pela Lei nº
VIII - proporcionalidade e atualidade: a intervenção
deve ser a necessária e adequada à situação de perigo em 12.010, de 2009) Vigência
que a criança ou o adolescente se encontram no momento § 2o Sem prejuízo da tomada de medidas emergenciais
em que a decisão é tomada; (Incluído pela Lei nº 12.010, de para proteção de vítimas de violência ou abuso sexual e
2009) Vigência das providências a que alude o art. 130 desta Lei, o afasta-
IX - responsabilidade parental: a intervenção deve ser mento da criança ou adolescente do convívio familiar é de
efetuada de modo que os pais assumam os seus deveres competência exclusiva da autoridade judiciária e importará
para com a criança e o adolescente; (Incluído pela Lei nº na deflagração, a pedido do Ministério Público ou de quem
12.010, de 2009) Vigência tenha legítimo interesse, de procedimento judicial conten-
X - prevalência da família: na promoção de direitos e na cioso, no qual se garanta aos pais ou ao responsável legal o
proteção da criança e do adolescente deve ser dada preva- exercício do contraditório e da ampla defesa.(Incluído pela
lência às medidas que os mantenham ou reintegrem na sua Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
família natural ou extensa ou, se isto não for possível, que § 3o Crianças e adolescentes somente poderão ser
promovam a sua integração em família substituta; (Incluído encaminhados às instituições que executam programas
pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência de acolhimento institucional, governamentais ou não, por

40
LEGISLAÇÃO BÁSICA

meio de uma Guia de Acolhimento, expedida pela autori- § 9o Em sendo constatada a impossibilidade de reinte-
dade judiciária, na qual obrigatoriamente constará, dentre gração da criança ou do adolescente à família de origem,
outros: (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência após seu encaminhamento a programas oficiais ou comu-
I - sua identificação e a qualificação completa de seus nitários de orientação, apoio e promoção social, será envia-
pais ou de seu responsável, se conhecidos;(Incluído pela do relatório fundamentado ao Ministério Público, no qual
Lei nº 12.010, de 2009) Vigência conste a descrição pormenorizada das providências toma-
II - o endereço de residência dos pais ou do responsá- das e a expressa recomendação, subscrita pelos técnicos
da entidade ou responsáveis pela execução da política mu-
vel, com pontos de referência;(Incluído pela Lei nº 12.010,
nicipal de garantia do direito à convivência familiar, para a
de 2009) Vigência
destituição do poder familiar, ou destituição de tutela ou
III - os nomes de parentes ou de terceiros interessados guarda.(Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
em tê-los sob sua guarda;(Incluído pela Lei nº 12.010, de § 10. Recebido o relatório, o Ministério Público terá
2009) Vigência o prazo de 30 (trinta) dias para o ingresso com a ação de
IV - os motivos da retirada ou da não reintegração ao destituição do poder familiar, salvo se entender necessária
convívio familiar.(Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vi- a realização de estudos complementares ou outras provi-
gência dências que entender indispensáveis ao ajuizamento da
§ 4o Imediatamente após o acolhimento da criança ou demanda.(Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
do adolescente, a entidade responsável pelo programa de § 11. A autoridade judiciária manterá, em cada comar-
acolhimento institucional ou familiar elaborará um plano ca ou foro regional, um cadastro contendo informações
individual de atendimento, visando à reintegração familiar, atualizadas sobre as crianças e adolescentes em regime de
ressalvada a existência de ordem escrita e fundamentada acolhimento familiar e institucional sob sua responsabili-
em contrário de autoridade judiciária competente, caso em dade, com informações pormenorizadas sobre a situação
jurídica de cada um, bem como as providências tomadas
que também deverá contemplar sua colocação em família
para sua reintegração familiar ou colocação em família
substituta, observadas as regras e princípios desta Lei.(In- substituta, em qualquer das modalidades previstas no art.
cluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência 28 desta Lei. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
§ 5o O plano individual será elaborado sob a respon- § 12. Terão acesso ao cadastro o Ministério Público, o
sabilidade da equipe técnica do respectivo programa de Conselho Tutelar, o órgão gestor da Assistência Social e os
atendimento e levará em consideração a opinião da criança Conselhos Municipais dos Direitos da Criança e do Adoles-
ou do adolescente e a oitiva dos pais ou do responsável. cente e da Assistência Social, aos quais incumbe deliberar
(Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência sobre a implementação de políticas públicas que permitam
§ 6o Constarão do plano individual, dentre outros: (In- reduzir o número de crianças e adolescentes afastados do
cluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência convívio familiar e abreviar o período de permanência em
I - os resultados da avaliação interdisciplinar; (Incluído programa de acolhimento. (Incluído pela Lei nº 12.010, de
pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência 2009) Vigência
II - os compromissos assumidos pelos pais ou respon-
Art. 102. As medidas de proteção de que trata este Ca-
sável; e (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
pítulo serão acompanhadas da regularização do registro
III - a previsão das atividades a serem desenvolvidas civil. (Vide Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
com a criança ou com o adolescente acolhido e seus pais § 1º Verificada a inexistência de registro anterior, o as-
ou responsável, com vista na reintegração familiar ou, caso sento de nascimento da criança ou adolescente será feito
seja esta vedada por expressa e fundamentada determi- à vista dos elementos disponíveis, mediante requisição da
nação judicial, as providências a serem tomadas para sua autoridade judiciária.
colocação em família substituta, sob direta supervisão da § 2º Os registros e certidões necessários à regulariza-
autoridade judiciária. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) ção de que trata este artigo são isentos de multas, custas e
Vigência emolumentos, gozando de absoluta prioridade.
§ 7o O acolhimento familiar ou institucional ocorrerá § 3o Caso ainda não definida a paternidade, será defla-
no local mais próximo à residência dos pais ou do respon- grado procedimento específico destinado à sua averigua-
sável e, como parte do processo de reintegração familiar, ção, conforme previsto pela Lei no 8.560, de 29 de dezem-
sempre que identificada a necessidade, a família de origem bro de 1992. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
§ 4o Nas hipóteses previstas no § 3o deste artigo, é dis-
será incluída em programas oficiais de orientação, de apoio
pensável o ajuizamento de ação de investigação de pater-
e de promoção social, sendo facilitado e estimulado o con-
nidade pelo Ministério Público se, após o não compareci-
tato com a criança ou com o adolescente acolhido.(Incluído mento ou a recusa do suposto pai em assumir a paternida-
pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência de a ele atribuída, a criança for encaminhada para adoção.
§ 8o Verificada a possibilidade de reintegração familiar, (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
o responsável pelo programa de acolhimento familiar ou § 5o Os registros e certidões necessários à inclusão, a
institucional fará imediata comunicação à autoridade judi- qualquer tempo, do nome do pai no assento de nascimen-
ciária, que dará vista ao Ministério Público, pelo prazo de 5 to são isentos de multas, custas e emolumentos, gozando
(cinco) dias, decidindo em igual prazo. (Incluído pela Lei nº de absoluta prioridade. (Incluído dada pela Lei nº 13.257,
12.010, de 2009) Vigência de 2016)

41
LEGISLAÇÃO BÁSICA

§ 6o São gratuitas, a qualquer tempo, a averbação re- II - igualdade na relação processual, podendo confron-
querida do reconhecimento de paternidade no assento de tar-se com vítimas e testemunhas e produzir todas as pro-
nascimento e a certidão correspondente. (Incluído dada vas necessárias à sua defesa;
pela Lei nº 13.257, de 2016) III - defesa técnica por advogado;
IV - assistência judiciária gratuita e integral aos neces-
Título III sitados, na forma da lei;
Da Prática de Ato Infracional V - direito de ser ouvido pessoalmente pela autoridade
Capítulo I competente;
Disposições Gerais VI - direito de solicitar a presença de seus pais ou res-
ponsável em qualquer fase do procedimento.
Art. 103. Considera-se ato infracional a conduta descri-
Capítulo IV
ta como crime ou contravenção penal. Das Medidas Sócio-Educativas
Seção I
Art. 104. São penalmente inimputáveis os menores de Disposições Gerais
dezoito anos, sujeitos às medidas previstas nesta Lei.
Parágrafo único. Para os efeitos desta Lei, deve ser con- Art. 112. Verificada a prática de ato infracional, a au-
siderada a idade do adolescente à data do fato. toridade competente poderá aplicar ao adolescente as se-
guintes medidas:
Art. 105. Ao ato infracional praticado por criança cor- I - advertência;
responderão as medidas previstas no art. 101. II - obrigação de reparar o dano;
III - prestação de serviços à comunidade;
Capítulo II IV - liberdade assistida;
Dos Direitos Individuais V - inserção em regime de semi-liberdade;
VI - internação em estabelecimento educacional;
Art. 106. Nenhum adolescente será privado de sua li- VII - qualquer uma das previstas no art. 101, I a VI.
berdade senão em flagrante de ato infracional ou por or- § 1º A medida aplicada ao adolescente levará em conta
dem escrita e fundamentada da autoridade judiciária com- a sua capacidade de cumpri-la, as circunstâncias e a gravi-
dade da infração.
petente.
§ 2º Em hipótese alguma e sob pretexto algum, será
Parágrafo único. O adolescente tem direito à identifi- admitida a prestação de trabalho forçado.
cação dos responsáveis pela sua apreensão, devendo ser § 3º Os adolescentes portadores de doença ou defi-
informado acerca de seus direitos. ciência mental receberão tratamento individual e especiali-
zado, em local adequado às suas condições.
Art. 107. A apreensão de qualquer adolescente e o lo-
cal onde se encontra recolhido serão incontinenti comu- Art. 113. Aplica-se a este Capítulo o disposto nos arts.
nicados à autoridade judiciária competente e à família do 99 e 100.
apreendido ou à pessoa por ele indicada.
Parágrafo único. Examinar-se-á, desde logo e sob pena Art. 114. A imposição das medidas previstas nos incisos
de responsabilidade, a possibilidade de liberação imediata. II a VI do art. 112 pressupõe a existência de provas suficien-
Art. 108. A internação, antes da sentença, pode ser de- tes da autoria e da materialidade da infração, ressalvada a
terminada pelo prazo máximo de quarenta e cinco dias. hipótese de remissão, nos termos do art. 127.
Parágrafo único. A decisão deverá ser fundamentada e Parágrafo único. A advertência poderá ser aplicada
basear-se em indícios suficientes de autoria e materialida- sempre que houver prova da materialidade e indícios sufi-
de, demonstrada a necessidade imperiosa da medida. cientes da autoria.

Seção II
Art. 109. O adolescente civilmente identificado não
Da Advertência
será submetido a identificação compulsória pelos órgãos
policiais, de proteção e judiciais, salvo para efeito de con- Art. 115. A advertência consistirá em admoestação ver-
frontação, havendo dúvida fundada. bal, que será reduzida a termo e assinada.
Capítulo III Seção III
Das Garantias Processuais Da Obrigação de Reparar o Dano

Art. 110. Nenhum adolescente será privado de sua li- Art. 116. Em se tratando de ato infracional com refle-
berdade sem o devido processo legal. xos patrimoniais, a autoridade poderá determinar, se for o
caso, que o adolescente restitua a coisa, promova o ressar-
Art. 111. São asseguradas ao adolescente, entre outras, cimento do dano, ou, por outra forma, compense o prejuí-
as seguintes garantias: zo da vítima.
I - pleno e formal conhecimento da atribuição de ato Parágrafo único. Havendo manifesta impossibilidade, a
infracional, mediante citação ou meio equivalente; medida poderá ser substituída por outra adequada.

42
LEGISLAÇÃO BÁSICA

Seção IV Seção VII


Da Prestação de Serviços à Comunidade Da Internação

Art. 117. A prestação de serviços comunitários con- Art. 121. A internação constitui medida privativa da li-
siste na realização de tarefas gratuitas de interesse geral, berdade, sujeita aos princípios de brevidade, excepcionali-
por período não excedente a seis meses, junto a entidades dade e respeito à condição peculiar de pessoa em desen-
assistenciais, hospitais, escolas e outros estabelecimentos volvimento.
congêneres, bem como em programas comunitários ou § 1º Será permitida a realização de atividades externas,
governamentais. a critério da equipe técnica da entidade, salvo expressa de-
Parágrafo único. As tarefas serão atribuídas conforme terminação judicial em contrário.
as aptidões do adolescente, devendo ser cumpridas du- § 2º A medida não comporta prazo determinado, de-
rante jornada máxima de oito horas semanais, aos sába- vendo sua manutenção ser reavaliada, mediante decisão
dos, domingos e feriados ou em dias úteis, de modo a não fundamentada, no máximo a cada seis meses.
prejudicar a frequência à escola ou à jornada normal de § 3º Em nenhuma hipótese o período máximo de inter-
trabalho. nação excederá a três anos.
§ 4º Atingido o limite estabelecido no parágrafo ante-
Seção V rior, o adolescente deverá ser liberado, colocado em regi-
Da Liberdade Assistida me de semi-liberdade ou de liberdade assistida.
§ 5º A liberação será compulsória aos vinte e um anos
Art. 118. A liberdade assistida será adotada sempre que de idade.
se afigurar a medida mais adequada para o fim de acompa- § 6º Em qualquer hipótese a desinternação será prece-
nhar, auxiliar e orientar o adolescente. dida de autorização judicial, ouvido o Ministério Público.
§ 7o A determinação judicial mencionada no § 1o pode-
§ 1º A autoridade designará pessoa capacitada para
rá ser revista a qualquer tempo pela autoridade judiciária.
acompanhar o caso, a qual poderá ser recomendada por
(Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)
entidade ou programa de atendimento.
§ 2º A liberdade assistida será fixada pelo prazo míni-
Art. 122. A medida de internação só poderá ser aplica-
mo de seis meses, podendo a qualquer tempo ser prorro-
da quando:
gada, revogada ou substituída por outra medida, ouvido o
I - tratar-se de ato infracional cometido mediante gra-
orientador, o Ministério Público e o defensor.
ve ameaça ou violência a pessoa;
II - por reiteração no cometimento de outras infrações
Art. 119. Incumbe ao orientador, com o apoio e a su-
graves;
pervisão da autoridade competente, a realização dos se-
III - por descumprimento reiterado e injustificável da
guintes encargos, entre outros: medida anteriormente imposta.
I - promover socialmente o adolescente e sua família, § 1o O prazo de internação na hipótese do inciso III
fornecendo-lhes orientação e inserindo-os, se necessário, deste artigo não poderá ser superior a 3 (três) meses, de-
em programa oficial ou comunitário de auxílio e assistência vendo ser decretada judicialmente após o devido processo
social; legal. (Redação dada pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)
II - supervisionar a frequência e o aproveitamento es- § 2º. Em nenhuma hipótese será aplicada a internação,
colar do adolescente, promovendo, inclusive, sua matrícula; havendo outra medida adequada.
III - diligenciar no sentido da profissionalização do
adolescente e de sua inserção no mercado de trabalho; Art. 123. A internação deverá ser cumprida em entida-
IV - apresentar relatório do caso. de exclusiva para adolescentes, em local distinto daquele
destinado ao abrigo, obedecida rigorosa separação por cri-
Seção VI térios de idade, compleição física e gravidade da infração.
Do Regime de Semi-liberdade Parágrafo único. Durante o período de internação, in-
clusive provisória, serão obrigatórias atividades pedagógi-
Art. 120. O regime de semi-liberdade pode ser deter- cas.
minado desde o início, ou como forma de transição para o
meio aberto, possibilitada a realização de atividades exter- Art. 124. São direitos do adolescente privado de liber-
nas, independentemente de autorização judicial. dade, entre outros, os seguintes:
§ 1º São obrigatórias a escolarização e a profissionali- I - entrevistar-se pessoalmente com o representante
zação, devendo, sempre que possível, ser utilizados os re- do Ministério Público;
cursos existentes na comunidade. II - peticionar diretamente a qualquer autoridade;
§ 2º A medida não comporta prazo determinado apli- III - avistar-se reservadamente com seu defensor;
cando-se, no que couber, as disposições relativas à inter- IV - ser informado de sua situação processual, sempre
nação. que solicitada;

43
LEGISLAÇÃO BÁSICA

V - ser tratado com respeito e dignidade; I - encaminhamento a serviços e programas oficiais ou


VI - permanecer internado na mesma localidade ou comunitários de proteção, apoio e promoção da família;
naquela mais próxima ao domicílio de seus pais ou res- (Redação dada dada pela Lei nº 13.257, de 2016)
ponsável; II - inclusão em programa oficial ou comunitário de au-
VII - receber visitas, ao menos, semanalmente; xílio, orientação e tratamento a alcoólatras e toxicômanos;
VIII - corresponder-se com seus familiares e amigos; III - encaminhamento a tratamento psicológico ou psi-
IX - ter acesso aos objetos necessários à higiene e as- quiátrico;
seio pessoal; IV - encaminhamento a cursos ou programas de orien-
X - habitar alojamento em condições adequadas de hi- tação;
giene e salubridade;
V - obrigação de matricular o filho ou pupilo e acom-
XI - receber escolarização e profissionalização;
panhar sua frequência e aproveitamento escolar;
XII - realizar atividades culturais, esportivas e de lazer:
XIII - ter acesso aos meios de comunicação social; VI - obrigação de encaminhar a criança ou adolescente
XIV - receber assistência religiosa, segundo a sua cren- a tratamento especializado;
ça, e desde que assim o deseje; VII - advertência;
XV - manter a posse de seus objetos pessoais e dispor VIII - perda da guarda;
de local seguro para guardá-los, recebendo comprovante IX - destituição da tutela;
daqueles porventura depositados em poder da entidade; X - suspensão ou destituição do poder familiar. (Ex-
XVI - receber, quando de sua desinternação, os docu- pressão substituída pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
mentos pessoais indispensáveis à vida em sociedade. Parágrafo único. Na aplicação das medidas previstas
§ 1º Em nenhum caso haverá incomunicabilidade. nos incisos IX e X deste artigo, observar-se-á o disposto
§ 2º A autoridade judiciária poderá suspender tem- nos arts. 23 e 24.
porariamente a visita, inclusive de pais ou responsável, se
existirem motivos sérios e fundados de sua prejudicialida- Art. 130. Verificada a hipótese de maus-tratos, opres-
de aos interesses do adolescente. são ou abuso sexual impostos pelos pais ou responsável,
a autoridade judiciária poderá determinar, como medida
Art. 125. É dever do Estado zelar pela integridade físi- cautelar, o afastamento do agressor da moradia comum.
ca e mental dos internos, cabendo-lhe adotar as medidas Parágrafo único. Da medida cautelar constará, ainda, a
adequadas de contenção e segurança.
fixação provisória dos alimentos de que necessitem a crian-
Capítulo V ça ou o adolescente dependentes do agressor. (Incluído
Da Remissão pela Lei nº 12.415, de 2011)

Art. 126. Antes de iniciado o procedimento judicial Título V


para apuração de ato infracional, o representante do Mi- Do Conselho Tutelar
nistério Público poderá conceder a remissão, como forma Capítulo I
de exclusão do processo, atendendo às circunstâncias e Disposições Gerais
consequências do fato, ao contexto social, bem como à
personalidade do adolescente e sua maior ou menor parti- Art. 131. O Conselho Tutelar é órgão permanente e au-
cipação no ato infracional. tônomo, não jurisdicional, encarregado pela sociedade de
Parágrafo único. Iniciado o procedimento, a concessão zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do ado-
da remissão pela autoridade judiciária importará na sus- lescente, definidos nesta Lei.
pensão ou extinção do processo.
Art. 132. Em cada Município e em cada Região Ad-
Art. 127. A remissão não implica necessariamente o re- ministrativa do Distrito Federal haverá, no mínimo, 1 (um)
conhecimento ou comprovação da responsabilidade, nem Conselho Tutelar como órgão integrante da administração
prevalece para efeito de antecedentes, podendo incluir
pública local, composto de 5 (cinco) membros, escolhidos
eventualmente a aplicação de qualquer das medidas pre-
pela população local para mandato de 4 (quatro) anos, per-
vistas em lei, exceto a colocação em regime de semi-liber-
dade e a internação. mitida 1 (uma) recondução, mediante novo processo de es-
colha. (Redação dada pela Lei nº 12.696, de 2012)
Art. 128. A medida aplicada por força da remissão po-
derá ser revista judicialmente, a qualquer tempo, mediante Art. 133. Para a candidatura a membro do Conselho
pedido expresso do adolescente ou de seu representante Tutelar, serão exigidos os seguintes requisitos:
legal, ou do Ministério Público. I - reconhecida idoneidade moral;
II - idade superior a vinte e um anos;
Título IV III - residir no município.
Das Medidas Pertinentes aos P Art. 134. Lei municipal ou distrital disporá sobre o lo-
ais ou Responsável cal, dia e horário de funcionamento do Conselho Tutelar,
inclusive quanto à remuneração dos respectivos membros,
Art. 129. São medidas aplicáveis aos pais ou respon- aos quais é assegurado o direito a: (Redação dada pela Lei
sável: nº 12.696, de 2012)

44
LEGISLAÇÃO BÁSICA

I - cobertura previdenciária; (Incluído pela Lei nº 12.696, XII - promover e incentivar, na comunidade e nos gru-
de 2012) pos profissionais, ações de divulgação e treinamento para
II - gozo de férias anuais remuneradas, acrescidas de o reconhecimento de sintomas de maus-tratos em crianças
1/3 (um terço) do valor da remuneração mensal; (Incluído e adolescentes. (Incluído pela Lei nº 13.046, de 2014)
pela Lei nº 12.696, de 2012) Parágrafo único. Se, no exercício de suas atribuições,
III - licença-maternidade; (Incluído pela Lei nº 12.696, o Conselho Tutelar entender necessário o afastamento do
de 2012) convívio familiar, comunicará incontinenti o fato ao Minis-
IV - licença-paternidade; (Incluído pela Lei nº 12.696, tério Público, prestando-lhe informações sobre os moti-
de 2012) vos de tal entendimento e as providências tomadas para a
V - gratificação natalina. (Incluído pela Lei nº 12.696, orientação, o apoio e a promoção social da família. (Incluí-
de 2012) do pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
Parágrafo único. Constará da lei orçamentária muni-
cipal e da do Distrito Federal previsão dos recursos neces-
Art. 137. As decisões do Conselho Tutelar somente po-
sários ao funcionamento do Conselho Tutelar e à remu-
derão ser revistas pela autoridade judiciária a pedido de
neração e formação continuada dos conselheiros tutelares.
quem tenha legítimo interesse.
(Redação dada pela Lei nº 12.696, de 2012)

Art. 135. O exercício efetivo da função de conselheiro Capítulo III


constituirá serviço público relevante e estabelecerá pre- Da Competência
sunção de idoneidade moral. (Redação dada pela Lei nº
12.696, de 2012) Art. 138. Aplica-se ao Conselho Tutelar a regra de com-
petência constante do art. 147.
Capítulo II
Das Atribuições do Conselho Capítulo IV
Da Escolha dos Conselheiros
Art. 136. São atribuições do Conselho Tutelar:
I - atender as crianças e adolescentes nas hipóteses Art. 139. O processo para a escolha dos membros do
previstas nos arts. 98 e 105, aplicando as medidas previstas Conselho Tutelar será estabelecido em lei municipal e rea-
no art. 101, I a VII; lizado sob a responsabilidade do Conselho Municipal dos
II - atender e aconselhar os pais ou responsável, apli- Direitos da Criança e do Adolescente, e a fiscalização do
cando as medidas previstas no art. 129, I a VII; Ministério Público. (Redação dada pela Lei nº 8.242, de
III - promover a execução de suas decisões, podendo 12.10.1991)
para tanto: § 1o O processo de escolha dos membros do Conselho
a) requisitar serviços públicos nas áreas de saúde, edu- Tutelar ocorrerá em data unificada em todo o território na-
cação, serviço social, previdência, trabalho e segurança; cional a cada 4 (quatro) anos, no primeiro domingo do mês
b) representar junto à autoridade judiciária nos casos de outubro do ano subsequente ao da eleição presidencial.
de descumprimento injustificado de suas deliberações. (Incluído pela Lei nº 12.696, de 2012)
IV - encaminhar ao Ministério Público notícia de fato § 2o A posse dos conselheiros tutelares ocorrerá no dia
que constitua infração administrativa ou penal contra os 10 de janeiro do ano subsequente ao processo de escolha.
direitos da criança ou adolescente; (Incluído pela Lei nº 12.696, de 2012)
V - encaminhar à autoridade judiciária os casos de sua § 3o No processo de escolha dos membros do Con-
competência;
selho Tutelar, é vedado ao candidato doar, oferecer, pro-
VI - providenciar a medida estabelecida pela autorida-
meter ou entregar ao eleitor bem ou vantagem pessoal de
de judiciária, dentre as previstas no art. 101, de I a VI, para
qualquer natureza, inclusive brindes de pequeno valor. (In-
o adolescente autor de ato infracional;
cluído pela Lei nº 12.696, de 2012)
VII - expedir notificações;
VIII - requisitar certidões de nascimento e de óbito de
criança ou adolescente quando necessário; Capítulo V
IX - assessorar o Poder Executivo local na elaboração Dos Impedimentos
da proposta orçamentária para planos e programas de
atendimento dos direitos da criança e do adolescente; Art. 140. São impedidos de servir no mesmo Conse-
X - representar, em nome da pessoa e da família, con- lho marido e mulher, ascendentes e descendentes, sogro e
tra a violação dos direitos previstos no art. 220, § 3º, inciso genro ou nora, irmãos, cunhados, durante o cunhadio, tio e
II, da Constituição Federal; sobrinho, padrasto ou madrasta e enteado.
XI - representar ao Ministério Público para efeito das Parágrafo único. Estende-se o impedimento do con-
ações de perda ou suspensão do poder familiar, após es- selheiro, na forma deste artigo, em relação à autoridade
gotadas as possibilidades de manutenção da criança ou do judiciária e ao representante do Ministério Público com
adolescente junto à família natural. (Redação dada pela Lei atuação na Justiça da Infância e da Juventude, em exercício
nº 12.010, de 2009) Vigência na comarca, foro regional ou distrital.

45
LEGISLAÇÃO BÁSICA

Título VI § 1º. Nos casos de ato infracional, será competente a


Do Acesso à Justiça autoridade do lugar da ação ou omissão, observadas as re-
Capítulo I gras de conexão, continência e prevenção.
Disposições Gerais § 2º A execução das medidas poderá ser delegada à
autoridade competente da residência dos pais ou respon-
Art. 141. É garantido o acesso de toda criança ou ado- sável, ou do local onde sediar-se a entidade que abrigar a
lescente à Defensoria Pública, ao Ministério Público e ao criança ou adolescente.
Poder Judiciário, por qualquer de seus órgãos. § 3º Em caso de infração cometida através de trans-
§ 1º. A assistência judiciária gratuita será prestada aos missão simultânea de rádio ou televisão, que atinja mais
que dela necessitarem, através de defensor público ou ad- de uma comarca, será competente, para aplicação da pe-
vogado nomeado. nalidade, a autoridade judiciária do local da sede estadual
§ 2º As ações judiciais da competência da Justiça da da emissora ou rede, tendo a sentença eficácia para todas
Infância e da Juventude são isentas de custas e emolumen- as transmissoras ou retransmissoras do respectivo estado.
tos, ressalvada a hipótese de litigância de má-fé.
Art. 148. A Justiça da Infância e da Juventude é com-
Art. 142. Os menores de dezesseis anos serão repre- petente para:
sentados e os maiores de dezesseis e menores de vinte e I - conhecer de representações promovidas pelo Minis-
um anos assistidos por seus pais, tutores ou curadores, na tério Público, para apuração de ato infracional atribuído a
forma da legislação civil ou processual. adolescente, aplicando as medidas cabíveis;
Parágrafo único. A autoridade judiciária dará curador II - conceder a remissão, como forma de suspensão ou
especial à criança ou adolescente, sempre que os interes- extinção do processo;
ses destes colidirem com os de seus pais ou responsável, III - conhecer de pedidos de adoção e seus incidentes;
ou quando carecer de representação ou assistência legal IV - conhecer de ações civis fundadas em interesses
ainda que eventual. individuais, difusos ou coletivos afetos à criança e ao ado-
lescente, observado o disposto no art. 209;
Art. 143. E vedada a divulgação de atos judiciais, poli- V - conhecer de ações decorrentes de irregularidades
ciais e administrativos que digam respeito a crianças e ado- em entidades de atendimento, aplicando as medidas ca-
lescentes a que se atribua autoria de ato infracional. bíveis;
Parágrafo único. Qualquer notícia a respeito do fato VI - aplicar penalidades administrativas nos casos de
não poderá identificar a criança ou adolescente, vedando- infrações contra norma de proteção à criança ou adoles-
se fotografia, referência a nome, apelido, filiação, parentes- cente;
co, residência e, inclusive, iniciais do nome e sobrenome. VII - conhecer de casos encaminhados pelo Conselho
(Redação dada pela Lei nº 10.764, de 12.11.2003) Tutelar, aplicando as medidas cabíveis.
Parágrafo único. Quando se tratar de criança ou ado-
Art. 144. A expedição de cópia ou certidão de atos a lescente nas hipóteses do art. 98, é também competente a
que se refere o artigo anterior somente será deferida pela Justiça da Infância e da Juventude para o fim de:
autoridade judiciária competente, se demonstrado o inte- a) conhecer de pedidos de guarda e tutela;
resse e justificada a finalidade. b) conhecer de ações de destituição do poder fami-
liar, perda ou modificação da tutela ou guarda; (Expressão
Capítulo II substituída pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
Da Justiça da Infância e da Juventude c) suprir a capacidade ou o consentimento para o ca-
Seção I samento;
Disposições Gerais d) conhecer de pedidos baseados em discordância
paterna ou materna, em relação ao exercício do poder fa-
Art. 145. Os estados e o Distrito Federal poderão criar miliar; (Expressão substituída pela Lei nº 12.010, de 2009)
varas especializadas e exclusivas da infância e da juventude, Vigência
cabendo ao Poder Judiciário estabelecer sua proporcionali- e) conceder a emancipação, nos termos da lei civil,
dade por número de habitantes, dotá-las de infra-estrutura quando faltarem os pais;
e dispor sobre o atendimento, inclusive em plantões. f) designar curador especial em casos de apresentação
Seção II de queixa ou representação, ou de outros procedimentos
Do Juiz judiciais ou extrajudiciais em que haja interesses de criança
ou adolescente;
Art. 146. A autoridade a que se refere esta Lei é o Juiz g) conhecer de ações de alimentos;
da Infância e da Juventude, ou o juiz que exerce essa fun- h) determinar o cancelamento, a retificação e o supri-
ção, na forma da lei de organização judiciária local. mento dos registros de nascimento e óbito.

Art. 147. A competência será determinada: Art. 149. Compete à autoridade judiciária disciplinar,
I - pelo domicílio dos pais ou responsável; através de portaria, ou autorizar, mediante alvará:
II - pelo lugar onde se encontre a criança ou adoles- I - a entrada e permanência de criança ou adolescente,
cente, à falta dos pais ou responsável. desacompanhado dos pais ou responsável, em:

46
LEGISLAÇÃO BÁSICA

a) estádio, ginásio e campo desportivo; Parágrafo único. O disposto neste artigo não se aplica
b) bailes ou promoções dançantes; para o fim de afastamento da criança ou do adolescente de
c) boate ou congêneres; sua família de origem e em outros procedimentos neces-
d) casa que explore comercialmente diversões eletrô- sariamente contenciosos. (Incluído pela Lei nº 12.010, de
nicas; 2009) Vigência
e) estúdios cinematográficos, de teatro, rádio e tele-
visão. Art. 154. Aplica-se às multas o disposto no art. 214.
II - a participação de criança e adolescente em:
a) espetáculos públicos e seus ensaios;
Seção II
b) certames de beleza.
Da Perda e da Suspensão do Poder Familiar
§ 1º Para os fins do disposto neste artigo, a autoridade
(Expressão substituída pela Lei nº 12.010, de 2009)
judiciária levará em conta, dentre outros fatores:
a) os princípios desta Lei; Vigência
b) as peculiaridades locais;
c) a existência de instalações adequadas; Art. 155. O procedimento para a perda ou a suspensão
d) o tipo de frequência habitual ao local; do poder familiar terá início por provocação do Ministério
e) a adequação do ambiente a eventual participação Público ou de quem tenha legítimo interesse. (Expressão
ou frequência de crianças e adolescentes; substituída pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
f) a natureza do espetáculo.
§ 2º As medidas adotadas na conformidade deste ar- Art. 156. A petição inicial indicará:
tigo deverão ser fundamentadas, caso a caso, vedadas as I - a autoridade judiciária a que for dirigida;
determinações de caráter geral. II - o nome, o estado civil, a profissão e a residência
do requerente e do requerido, dispensada a qualificação
Seção III em se tratando de pedido formulado por representante do
Dos Serviços Auxiliares Ministério Público;
III - a exposição sumária do fato e o pedido;
Art. 150. Cabe ao Poder Judiciário, na elaboração de IV - as provas que serão produzidas, oferecendo, desde
sua proposta orçamentária, prever recursos para manuten- logo, o rol de testemunhas e documentos.
ção de equipe interprofissional, destinada a assessorar a
Justiça da Infância e da Juventude.
Art. 157. Havendo motivo grave, poderá a autoridade
Art. 151. Compete à equipe interprofissional dentre judiciária, ouvido o Ministério Público, decretar a suspen-
outras atribuições que lhe forem reservadas pela legislação são do poder familiar, liminar ou incidentalmente, até o
local, fornecer subsídios por escrito, mediante laudos, ou julgamento definitivo da causa, ficando a criança ou ado-
verbalmente, na audiência, e bem assim desenvolver tra- lescente confiado a pessoa idônea, mediante termo de res-
balhos de aconselhamento, orientação, encaminhamento, ponsabilidade. (Expressão substituída pela Lei nº 12.010,
prevenção e outros, tudo sob a imediata subordinação à de 2009) Vigência
autoridade judiciária, assegurada a livre manifestação do
ponto de vista técnico. Art. 158. O requerido será citado para, no prazo de dez
dias, oferecer resposta escrita, indicando as provas a serem
Capítulo III produzidas e oferecendo desde logo o rol de testemunhas
Dos Procedimentos e documentos.
Seção I § 1o A citação será pessoal, salvo se esgotados todos
Disposições Gerais os meios para sua realização. (Incluído pela Lei nº 12.962,
de 2014)
Art. 152. Aos procedimentos regulados nesta Lei apli- § 2o O requerido privado de liberdade deverá ser citado
cam-se subsidiariamente as normas gerais previstas na le- pessoalmente. (Incluído pela Lei nº 12.962, de 2014)
gislação processual pertinente.
Parágrafo único. É assegurada, sob pena de respon-
Art. 159. Se o requerido não tiver possibilidade de
sabilidade, prioridade absoluta na tramitação dos proces-
constituir advogado, sem prejuízo do próprio sustento e
sos e procedimentos previstos nesta Lei, assim como na
execução dos atos e diligências judiciais a eles referentes. de sua família, poderá requerer, em cartório, que lhe seja
(Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)Vigência nomeado dativo, ao qual incumbirá a apresentação de res-
posta, contando-se o prazo a partir da intimação do des-
Art. 153. Se a medida judicial a ser adotada não cor- pacho de nomeação.
responder a procedimento previsto nesta ou em outra lei, Parágrafo único. Na hipótese de requerido privado de
a autoridade judiciária poderá investigar os fatos e ordenar liberdade, o oficial de justiça deverá perguntar, no momen-
de ofício as providências necessárias, ouvido o Ministério to da citação pessoal, se deseja que lhe seja nomeado de-
Público. fensor. (Incluído pela Lei nº 12.962, de 2014)

47
LEGISLAÇÃO BÁSICA

Art. 160. Sendo necessário, a autoridade judiciária re- Seção III


quisitará de qualquer repartição ou órgão público a apre- Da Destituição da Tutela
sentação de documento que interesse à causa, de ofício ou
a requerimento das partes ou do Ministério Público. Art. 164. Na destituição da tutela, observar-se-á o pro-
cedimento para a remoção de tutor previsto na lei proces-
Art. 161. Não sendo contestado o pedido, a autoridade sual civil e, no que couber, o disposto na seção anterior.
judiciária dará vista dos autos ao Ministério Público, por
cinco dias, salvo quando este for o requerente, decidindo Seção IV
em igual prazo. Da Colocação em Família Substituta
§ 1o A autoridade judiciária, de ofício ou a requeri-
mento das partes ou do Ministério Público, determinará a Art. 165. São requisitos para a concessão de pedidos
realização de estudo social ou perícia por equipe interpro- de colocação em família substituta:
fissional ou multidisciplinar, bem como a oitiva de teste- I - qualificação completa do requerente e de seu even-
munhas que comprovem a presença de uma das causas de tual cônjuge, ou companheiro, com expressa anuência des-
suspensão ou destituição do poder familiar previstas nos te;
arts. 1.637 e 1.638 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de II - indicação de eventual parentesco do requerente e
2002 - Código Civil, ou no art. 24 desta Lei. (Redação dada de seu cônjuge, ou companheiro, com a criança ou adoles-
pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência cente, especificando se tem ou não parente vivo;
§ 2o Em sendo os pais oriundos de comunidades in- III - qualificação completa da criança ou adolescente e
dígenas, é ainda obrigatória a intervenção, junto à equipe de seus pais, se conhecidos;
profissional ou multidisciplinar referida no § 1o deste artigo, IV - indicação do cartório onde foi inscrito nascimento,
de representantes do órgão federal responsável pela políti- anexando, se possível, uma cópia da respectiva certidão;
ca indigenista, observado o disposto no § 6o do art. 28 des- V - declaração sobre a existência de bens, direitos ou
ta Lei. (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência rendimentos relativos à criança ou ao adolescente.
§ 3o Se o pedido importar em modificação de guarda, Parágrafo único. Em se tratando de adoção, observar-
será obrigatória, desde que possível e razoável, a oitiva da se-ão também os requisitos específicos.
criança ou adolescente, respeitado seu estágio de desen-
volvimento e grau de compreensão sobre as implicações
Art. 166. Se os pais forem falecidos, tiverem sido des-
da medida. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
tituídos ou suspensos do poder familiar, ou houverem
§ 4o É obrigatória a oitiva dos pais sempre que esses
aderido expressamente ao pedido de colocação em famí-
forem identificados e estiverem em local conhecido. (In-
lia substituta, este poderá ser formulado diretamente em
cluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
cartório, em petição assinada pelos próprios requerentes,
§ 5o Se o pai ou a mãe estiverem privados de liberdade,
a autoridade judicial requisitará sua apresentação para a dispensada a assistência de advogado. (Redação dada pela
oitiva. (Incluído pela Lei nº 12.962, de 2014) Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
§ 1o Na hipótese de concordância dos pais, esses serão
Art. 162. Apresentada a resposta, a autoridade judiciá- ouvidos pela autoridade judiciária e pelo representante do
ria dará vista dos autos ao Ministério Público, por cinco Ministério Público, tomando-se por termo as declarações.
dias, salvo quando este for o requerente, designando, des- (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
de logo, audiência de instrução e julgamento. § 2o O consentimento dos titulares do poder familiar
§ 1º A requerimento de qualquer das partes, do Minis- será precedido de orientações e esclarecimentos prestados
tério Público, ou de ofício, a autoridade judiciária poderá pela equipe interprofissional da Justiça da Infância e da Ju-
determinar a realização de estudo social ou, se possível, de ventude, em especial, no caso de adoção, sobre a irrevoga-
perícia por equipe interprofissional. bilidade da medida. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)
§ 2º Na audiência, presentes as partes e o Ministério Vigência
Público, serão ouvidas as testemunhas, colhendo-se oral- § 3o O consentimento dos titulares do poder familiar
mente o parecer técnico, salvo quando apresentado por será colhido pela autoridade judiciária competente em
escrito, manifestando-se sucessivamente o requerente, o audiência, presente o Ministério Público, garantida a livre
requerido e o Ministério Público, pelo tempo de vinte mi- manifestação de vontade e esgotados os esforços para ma-
nutos cada um, prorrogável por mais dez. A decisão será nutenção da criança ou do adolescente na família natural
proferida na audiência, podendo a autoridade judiciária, ou extensa. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
excepcionalmente, designar data para sua leitura no prazo § 4o O consentimento prestado por escrito não terá
máximo de cinco dias. validade se não for ratificado na audiência a que se refere
o § 3o deste artigo. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)
Art. 163. O prazo máximo para conclusão do proce- Vigência
dimento será de 120 (cento e vinte) dias. (Redação dada § 5o O consentimento é retratável até a data da publi-
pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência cação da sentença constitutiva da adoção. (Incluído pela
Parágrafo único. A sentença que decretar a perda ou Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
a suspensão do poder familiar será averbada à margem do § 6o O consentimento somente terá valor se for dado
registro de nascimento da criança ou do adolescente. (In- após o nascimento da criança. (Incluído pela Lei nº 12.010,
cluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência de 2009) Vigência

48
LEGISLAÇÃO BÁSICA

§ 7o A família substituta receberá a devida orientação lecerá a atribuição da repartição especializada, que, após as
por intermédio de equipe técnica interprofissional a serviço providências necessárias e conforme o caso, encaminhará
do Poder Judiciário, preferencialmente com apoio dos téc- o adulto à repartição policial própria.
nicos responsáveis pela execução da política municipal de
garantia do direito à convivência familiar. (Incluído pela Lei Art. 173. Em caso de flagrante de ato infracional co-
nº 12.010, de 2009) Vigência metido mediante violência ou grave ameaça a pessoa, a
autoridade policial, sem prejuízo do disposto nos arts. 106,
Art. 167. A autoridade judiciária, de ofício ou a reque- parágrafo único, e 107, deverá:
rimento das partes ou do Ministério Público, determinará I - lavrar auto de apreensão, ouvidos as testemunhas e
a realização de estudo social ou, se possível, perícia por o adolescente;
equipe interprofissional, decidindo sobre a concessão de II - apreender o produto e os instrumentos da infração;
guarda provisória, bem como, no caso de adoção, sobre o III - requisitar os exames ou perícias necessários à com-
estágio de convivência. provação da materialidade e autoria da infração.
Parágrafo único. Deferida a concessão da guarda pro- Parágrafo único. Nas demais hipóteses de flagrante,
visória ou do estágio de convivência, a criança ou o ado- a lavratura do auto poderá ser substituída por boletim de
lescente será entregue ao interessado, mediante termo de ocorrência circunstanciada.
responsabilidade. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vi-
gência Art. 174. Comparecendo qualquer dos pais ou respon-
sável, o adolescente será prontamente liberado pela auto-
Art. 168. Apresentado o relatório social ou o laudo pe- ridade policial, sob termo de compromisso e responsabili-
ricial, e ouvida, sempre que possível, a criança ou o adoles- dade de sua apresentação ao representante do Ministério
cente, dar-se-á vista dos autos ao Ministério Público, pelo Público, no mesmo dia ou, sendo impossível, no primeiro
prazo de cinco dias, decidindo a autoridade judiciária em dia útil imediato, exceto quando, pela gravidade do ato
igual prazo. infracional e sua repercussão social, deva o adolescente
permanecer sob internação para garantia de sua segurança
pessoal ou manutenção da ordem pública.
Art. 169. Nas hipóteses em que a destituição da tutela,
a perda ou a suspensão do poder familiar constituir pressu-
Art. 175. Em caso de não liberação, a autoridade poli-
posto lógico da medida principal de colocação em família
cial encaminhará, desde logo, o adolescente ao represen-
substituta, será observado o procedimento contraditório
tante do Ministério Público, juntamente com cópia do auto
previsto nas Seções II e III deste Capítulo. (Expressão subs-
de apreensão ou boletim de ocorrência.
tituída pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
§ 1º Sendo impossível a apresentação imediata, a au-
Parágrafo único. A perda ou a modificação da guarda
toridade policial encaminhará o adolescente à entidade de
poderá ser decretada nos mesmos autos do procedimento,
atendimento, que fará a apresentação ao representante do
observado o disposto no art. 35. Ministério Público no prazo de vinte e quatro horas.
§ 2º Nas localidades onde não houver entidade de
Art. 170. Concedida a guarda ou a tutela, observar-se-á atendimento, a apresentação far-se-á pela autoridade po-
o disposto no art. 32, e, quanto à adoção, o contido no art. licial. À falta de repartição policial especializada, o adoles-
47. cente aguardará a apresentação em dependência separada
Parágrafo único. A colocação de criança ou adolescen- da destinada a maiores, não podendo, em qualquer hipó-
te sob a guarda de pessoa inscrita em programa de acolhi- tese, exceder o prazo referido no parágrafo anterior.
mento familiar será comunicada pela autoridade judiciária
à entidade por este responsável no prazo máximo de 5 Art. 176. Sendo o adolescente liberado, a autoridade
(cinco) dias. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência policial encaminhará imediatamente ao representante do
Ministério Público cópia do auto de apreensão ou boletim
Seção V de ocorrência.
Da Apuração de Ato Infracional
Atribuído a Adolescente Art. 177. Se, afastada a hipótese de flagrante, houver
indícios de participação de adolescente na prática de ato
Art. 171. O adolescente apreendido por força de or- infracional, a autoridade policial encaminhará ao represen-
dem judicial será, desde logo, encaminhado à autoridade tante do Ministério Público relatório das investigações e
judiciária. demais documentos.

Art. 172. O adolescente apreendido em flagrante de Art. 178. O adolescente a quem se atribua autoria de
ato infracional será, desde logo, encaminhado à autoridade ato infracional não poderá ser conduzido ou transportado
policial competente. em compartimento fechado de veículo policial, em condi-
Parágrafo único. Havendo repartição policial especiali- ções atentatórias à sua dignidade, ou que impliquem risco
zada para atendimento de adolescente e em se tratando de à sua integridade física ou mental, sob pena de responsa-
ato infracional praticado em co-autoria com maior, preva- bilidade.

49
LEGISLAÇÃO BÁSICA

Art. 179. Apresentado o adolescente, o representan- § 1º O adolescente e seus pais ou responsável serão
te do Ministério Público, no mesmo dia e à vista do auto cientificados do teor da representação, e notificados a
de apreensão, boletim de ocorrência ou relatório policial, comparecer à audiência, acompanhados de advogado.
devidamente autuados pelo cartório judicial e com infor- § 2º Se os pais ou responsável não forem localizados, a
mação sobre os antecedentes do adolescente, procederá autoridade judiciária dará curador especial ao adolescente.
imediata e informalmente à sua oitiva e, em sendo possível, § 3º Não sendo localizado o adolescente, a autoridade
de seus pais ou responsável, vítima e testemunhas. judiciária expedirá mandado de busca e apreensão, deter-
Parágrafo único. Em caso de não apresentação, o re- minando o sobrestamento do feito, até a efetiva apresen-
presentante do Ministério Público notificará os pais ou tação.
responsável para apresentação do adolescente, podendo § 4º Estando o adolescente internado, será requisitada
requisitar o concurso das polícias civil e militar. a sua apresentação, sem prejuízo da notificação dos pais
ou responsável.
Art. 180. Adotadas as providências a que alude o artigo
anterior, o representante do Ministério Público poderá: Art. 185. A internação, decretada ou mantida pela au-
I - promover o arquivamento dos autos; toridade judiciária, não poderá ser cumprida em estabele-
II - conceder a remissão; cimento prisional.
III - representar à autoridade judiciária para aplicação § 1º Inexistindo na comarca entidade com as carac-
de medida sócio-educativa. terísticas definidas no art. 123, o adolescente deverá ser
imediatamente transferido para a localidade mais próxima.
Art. 181. Promovido o arquivamento dos autos ou con- § 2º Sendo impossível a pronta transferência, o adoles-
cedida a remissão pelo representante do Ministério Públi- cente aguardará sua remoção em repartição policial, desde
co, mediante termo fundamentado, que conterá o resumo que em seção isolada dos adultos e com instalações apro-
dos fatos, os autos serão conclusos à autoridade judiciária priadas, não podendo ultrapassar o prazo máximo de cinco
para homologação. dias, sob pena de responsabilidade.
§ 1º Homologado o arquivamento ou a remissão, a au-
toridade judiciária determinará, conforme o caso, o cum- Art. 186. Comparecendo o adolescente, seus pais ou
primento da medida. responsável, a autoridade judiciária procederá à oitiva dos
§ 2º Discordando, a autoridade judiciária fará remessa mesmos, podendo solicitar opinião de profissional qualifi-
cado.
dos autos ao Procurador-Geral de Justiça, mediante despa-
§ 1º Se a autoridade judiciária entender adequada a
cho fundamentado, e este oferecerá representação, desig-
remissão, ouvirá o representante do Ministério Público,
nará outro membro do Ministério Público para apresentá
proferindo decisão.
-la, ou ratificará o arquivamento ou a remissão, que só en-
§ 2º Sendo o fato grave, passível de aplicação de medi-
tão estará a autoridade judiciária obrigada a homologar.
da de internação ou colocação em regime de semi-liberda-
de, a autoridade judiciária, verificando que o adolescente
Art. 182. Se, por qualquer razão, o representante do
não possui advogado constituído, nomeará defensor, de-
Ministério Público não promover o arquivamento ou con-
signando, desde logo, audiência em continuação, podendo
ceder a remissão, oferecerá representação à autoridade
determinar a realização de diligências e estudo do caso.
judiciária, propondo a instauração de procedimento para § 3º O advogado constituído ou o defensor nomeado,
aplicação da medida sócio-educativa que se afigurar a mais no prazo de três dias contado da audiência de apresenta-
adequada. ção, oferecerá defesa prévia e rol de testemunhas.
§ 1º A representação será oferecida por petição, que § 4º Na audiência em continuação, ouvidas as testemu-
conterá o breve resumo dos fatos e a classificação do ato nhas arroladas na representação e na defesa prévia, cum-
infracional e, quando necessário, o rol de testemunhas, po- pridas as diligências e juntado o relatório da equipe inter-
dendo ser deduzida oralmente, em sessão diária instalada profissional, será dada a palavra ao representante do Mi-
pela autoridade judiciária. nistério Público e ao defensor, sucessivamente, pelo tempo
§ 2º A representação independe de prova pré-consti- de vinte minutos para cada um, prorrogável por mais dez,
tuída da autoria e materialidade. a critério da autoridade judiciária, que em seguida proferirá
decisão.
Art. 183. O prazo máximo e improrrogável para a con-
clusão do procedimento, estando o adolescente internado Art. 187. Se o adolescente, devidamente notificado,
provisoriamente, será de quarenta e cinco dias. não comparecer, injustificadamente à audiência de apre-
sentação, a autoridade judiciária designará nova data, de-
Art. 184. Oferecida a representação, a autoridade judi- terminando sua condução coercitiva.
ciária designará audiência de apresentação do adolescente,
decidindo, desde logo, sobre a decretação ou manutenção Art. 188. A remissão, como forma de extinção ou sus-
da internação, observado o disposto no art. 108 e pará- pensão do processo, poderá ser aplicada em qualquer fase
grafo. do procedimento, antes da sentença.

50
LEGISLAÇÃO BÁSICA

Art. 189. A autoridade judiciária não aplicará qualquer I – dados de conexão: informações referentes a hora,
medida, desde que reconheça na sentença: data, início, término, duração, endereço de Protocolo de
I - estar provada a inexistência do fato; Internet (IP) utilizado e terminal de origem da conexão; (In-
II - não haver prova da existência do fato; cluído pela Lei nº 13.441, de 2017)
III - não constituir o fato ato infracional; II – dados cadastrais: informações referentes a nome e
IV - não existir prova de ter o adolescente concorrido endereço de assinante ou de usuário registrado ou auten-
para o ato infracional. ticado para a conexão a quem endereço de IP, identificação
Parágrafo único. Na hipótese deste artigo, estando o de usuário ou código de acesso tenha sido atribuído no
adolescente internado, será imediatamente colocado em momento da conexão.
liberdade. § 3º A infiltração de agentes de polícia na internet não
será admitida se a prova puder ser obtida por outros meios.
Art. 190. A intimação da sentença que aplicar medida (Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017)
de internação ou regime de semi-liberdade será feita:
I - ao adolescente e ao seu defensor; Art. 190-B. As informações da operação de infiltração
II - quando não for encontrado o adolescente, a seus serão encaminhadas diretamente ao juiz responsável pela
pais ou responsável, sem prejuízo do defensor. autorização da medida, que zelará por seu sigilo. (Incluído
§ 1º Sendo outra a medida aplicada, a intimação far- pela Lei nº 13.441, de 2017)
se-á unicamente na pessoa do defensor. Parágrafo único. Antes da conclusão da operação, o
§ 2º Recaindo a intimação na pessoa do adolescente, acesso aos autos será reservado ao juiz, ao Ministério Pú-
deverá este manifestar se deseja ou não recorrer da sen- blico e ao delegado de polícia responsável pela operação,
tença. com o objetivo de garantir o sigilo das investigações. (In-
cluído pela Lei nº 13.441, de 2017)
Seção V-A
(Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017) Art. 190-C. Não comete crime o policial que oculta a
Da Infiltração de Agentes de Polícia para a Investiga- sua identidade para, por meio da internet, colher indícios
ção de Crimes contra a Dignidade Sexual de Criança e de autoria e materialidade dos crimes previstos nos arts.
de Adolescente” 240, 241, 241-A, 241-B, 241-C e 241-D desta Lei e nos arts.
154-A, 217-A, 218, 218-A e 218-B do Decreto-Lei nº 2.848,
Art. 190-A. A infiltração de agentes de polícia na inter- de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal). (Incluído pela
net com o fim de investigar os crimes previstos nos arts. Lei nº 13.441, de 2017)
240, 241, 241-A, 241-B, 241-C e 241-D desta Lei e nos arts. Parágrafo único. O agente policial infiltrado que deixar
154-A, 217-A, 218, 218-A e 218-B do Decreto-Lei nº 2.848, de observar a estrita finalidade da investigação responderá
de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), obedecerá às pelos excessos praticados. (Incluído pela Lei nº 13.441, de
seguintes regras: (Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017) 2017)
I – será precedida de autorização judicial devidamente
circunstanciada e fundamentada, que estabelecerá os limi- Art. 190-D. Os órgãos de registro e cadastro público
tes da infiltração para obtenção de prova, ouvido o Minis- poderão incluir nos bancos de dados próprios, mediante
tério Público; (Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017) procedimento sigiloso e requisição da autoridade judicial,
II – dar-se-á mediante requerimento do Ministério Pú- as informações necessárias à efetividade da identidade fic-
blico ou representação de delegado de polícia e conterá a tícia criada. (Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017)
demonstração de sua necessidade, o alcance das tarefas Parágrafo único. O procedimento sigiloso de que trata
dos policiais, os nomes ou apelidos das pessoas investiga- esta Seção será numerado e tombado em livro específico.
das e, quando possível, os dados de conexão ou cadastrais (Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017)
que permitam a identificação dessas pessoas; (Incluído
pela Lei nº 13.441, de 2017) Art. 190-E. Concluída a investigação, todos os atos
III – não poderá exceder o prazo de 90 (noventa) dias, eletrônicos praticados durante a operação deverão ser re-
sem prejuízo de eventuais renovações, desde que o total gistrados, gravados, armazenados e encaminhados ao juiz
não exceda a 720 (setecentos e vinte) dias e seja demons- e ao Ministério Público, juntamente com relatório circuns-
trada sua efetiva necessidade, a critério da autoridade judi- tanciado. (Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017)
cial. (Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017) Parágrafo único. Os atos eletrônicos registrados citados
§ 1º A autoridade judicial e o Ministério Público pode- no caput deste artigo serão reunidos em autos apartados e
rão requisitar relatórios parciais da operação de infiltração apensados ao processo criminal juntamente com o inqué-
antes do término do prazo de que trata o inciso II do § 1º rito policial, assegurando-se a preservação da identidade
deste artigo. (Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017) do agente policial infiltrado e a intimidade das crianças e
§ 2º Para efeitos do disposto no inciso I do § 1º deste dos adolescentes envolvidos. (Incluído pela Lei nº 13.441,
artigo, consideram-se: (Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017) de 2017)

51
LEGISLAÇÃO BÁSICA

Seção VI II - por oficial de justiça ou funcionário legalmente ha-


Da Apuração de Irregularidades em bilitado, que entregará cópia do auto ou da representação
Entidade de Atendimento ao requerido, ou a seu representante legal, lavrando certi-
dão;
Art. 191. O procedimento de apuração de irregulari- III - por via postal, com aviso de recebimento, se não
dades em entidade governamental e não-governamental for encontrado o requerido ou seu representante legal;
terá início mediante portaria da autoridade judiciária ou re- IV - por edital, com prazo de trinta dias, se incerto ou
presentação do Ministério Público ou do Conselho Tutelar, não sabido o paradeiro do requerido ou de seu represen-
onde conste, necessariamente, resumo dos fatos. tante legal.
Parágrafo único. Havendo motivo grave, poderá a au-
toridade judiciária, ouvido o Ministério Público, decretar Art. 196. Não sendo apresentada a defesa no prazo le-
liminarmente o afastamento provisório do dirigente da en- gal, a autoridade judiciária dará vista dos autos do Ministé-
tidade, mediante decisão fundamentada. rio Público, por cinco dias, decidindo em igual prazo.

Art. 192. O dirigente da entidade será citado para, no Art. 197. Apresentada a defesa, a autoridade judiciária
prazo de dez dias, oferecer resposta escrita, podendo jun- procederá na conformidade do artigo anterior, ou, sendo
tar documentos e indicar as provas a produzir. necessário, designará audiência de instrução e julgamento.
(Vide Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
Art. 193. Apresentada ou não a resposta, e sendo ne- Parágrafo único. Colhida a prova oral, manifestar-se-ão
cessário, a autoridade judiciária designará audiência de ins- sucessivamente o Ministério Público e o procurador do re-
trução e julgamento, intimando as partes. querido, pelo tempo de vinte minutos para cada um, pror-
§ 1º Salvo manifestação em audiência, as partes e o rogável por mais dez, a critério da autoridade judiciária,
Ministério Público terão cinco dias para oferecer alegações que em seguida proferirá sentença.
finais, decidindo a autoridade judiciária em igual prazo.
§ 2º Em se tratando de afastamento provisório ou de- Seção VIII
finitivo de dirigente de entidade governamental, a auto- (Incluída pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
ridade judiciária oficiará à autoridade administrativa ime- Da Habilitação de Pretendentes à Adoção
diatamente superior ao afastado, marcando prazo para a
substituição. Art. 197-A. Os postulantes à adoção, domiciliados no
§ 3º Antes de aplicar qualquer das medidas, a autorida- Brasil, apresentarão petição inicial na qual conste: (Incluído
de judiciária poderá fixar prazo para a remoção das irregu- pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
laridades verificadas. Satisfeitas as exigências, o processo I - qualificação completa; (Incluído pela Lei nº 12.010,
será extinto, sem julgamento de mérito. de 2009) Vigência
§ 4º A multa e a advertência serão impostas ao dirigen- II - dados familiares; (Incluído pela Lei nº 12.010, de
te da entidade ou programa de atendimento. 2009) Vigência
III - cópias autenticadas de certidão de nascimento ou
Seção VII casamento, ou declaração relativa ao período de união es-
Da Apuração de Infração Administrativa às Normas de tável; (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
Proteção à Criança e ao Adolescente IV - cópias da cédula de identidade e inscrição no Ca-
dastro de Pessoas Físicas; (Incluído pela Lei nº 12.010, de
Art. 194. O procedimento para imposição de penali- 2009) Vigência
dade administrativa por infração às normas de proteção V - comprovante de renda e domicílio; (Incluído pela
à criança e ao adolescente terá início por representação Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
do Ministério Público, ou do Conselho Tutelar, ou auto de VI - atestados de sanidade física e mental; (Incluído
infração elaborado por servidor efetivo ou voluntário cre- pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
denciado, e assinado por duas testemunhas, se possível. VII - certidão de antecedentes criminais; (Incluído pela
§ 1º No procedimento iniciado com o auto de infração, Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
poderão ser usadas fórmulas impressas, especificando-se a VIII - certidão negativa de distribuição cível. (Incluído
natureza e as circunstâncias da infração. pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
§ 2º Sempre que possível, à verificação da infração se-
guir-se-á a lavratura do auto, certificando-se, em caso con- Art. 197-B. A autoridade judiciária, no prazo de 48
trário, dos motivos do retardamento. (quarenta e oito) horas, dará vista dos autos ao Ministério
Público, que no prazo de 5 (cinco) dias poderá: (Incluído
Art. 195. O requerido terá prazo de dez dias para apre- pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
sentação de defesa, contado da data da intimação, que I - apresentar quesitos a serem respondidos pela equi-
será feita: pe interprofissional encarregada de elaborar o estudo téc-
I - pelo autuante, no próprio auto, quando este for la- nico a que se refere o art. 197-C desta Lei; (Incluído pela Lei
vrado na presença do requerido; nº 12.010, de 2009) Vigência

52
LEGISLAÇÃO BÁSICA

II - requerer a designação de audiência para oitiva dos § 2o A recusa sistemática na adoção das crianças ou
postulantes em juízo e testemunhas; (Incluído pela Lei nº adolescentes indicados importará na reavaliação da ha-
12.010, de 2009) Vigência bilitação concedida. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)
III - requerer a juntada de documentos complementa- Vigência
res e a realização de outras diligências que entender neces- Capítulo IV
sárias. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência Dos Recursos
Art. 197-C. Intervirá no feito, obrigatoriamente, equipe Art. 198. Nos procedimentos afetos à Justiça da Infân-
interprofissional a serviço da Justiça da Infância e da Juven-
cia e da Juventude, inclusive os relativos à execução das
tude, que deverá elaborar estudo psicossocial, que conterá
medidas socioeducativas, adotar-se-á o sistema recursal da
subsídios que permitam aferir a capacidade e o preparo
Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973 (Código de Processo
dos postulantes para o exercício de uma paternidade ou
maternidade responsável, à luz dos requisitos e princípios Civil), com as seguintes adaptações: (Redação dada pela Lei
desta Lei. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência nº 12.594, de 2012) (Vide)
§ 1o É obrigatória a participação dos postulantes em I - os recursos serão interpostos independentemente
programa oferecido pela Justiça da Infância e da Juventu- de preparo;
de preferencialmente com apoio dos técnicos responsáveis II - em todos os recursos, salvo nos embargos de de-
pela execução da política municipal de garantia do direito claração, o prazo para o Ministério Público e para a defesa
à convivência familiar, que inclua preparação psicológica, será sempre de 10 (dez) dias; (Redação dada pela Lei nº
orientação e estímulo à adoção inter-racial, de crianças 12.594, de 2012) (Vide)
maiores ou de adolescentes, com necessidades específicas III - os recursos terão preferência de julgamento e dis-
de saúde ou com deficiências e de grupos de irmãos. (In- pensarão revisor;
cluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência IV - (Revogado pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
§ 2o Sempre que possível e recomendável, a etapa V - (Revogado pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
obrigatória da preparação referida no § 1o deste artigo in- VI - (Revogado pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
cluirá o contato com crianças e adolescentes em regime VII - antes de determinar a remessa dos autos à supe-
de acolhimento familiar ou institucional em condições de rior instância, no caso de apelação, ou do instrumento, no
serem adotados, a ser realizado sob a orientação, super-
caso de agravo, a autoridade judiciária proferirá despacho
visão e avaliação da equipe técnica da Justiça da Infância
fundamentado, mantendo ou reformando a decisão, no
e da Juventude, com o apoio dos técnicos responsáveis
prazo de cinco dias;
pelo programa de acolhimento familiar ou institucional e
pela execução da política municipal de garantia do direito VIII - mantida a decisão apelada ou agravada, o escri-
à convivência familiar. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) vão remeterá os autos ou o instrumento à superior instân-
Vigência cia dentro de vinte e quatro horas, independentemente de
novo pedido do recorrente; se a reformar, a remessa dos
Art. 197-D. Certificada nos autos a conclusão da parti- autos dependerá de pedido expresso da parte interessada
cipação no programa referido no art. 197-C desta Lei, a au- ou do Ministério Público, no prazo de cinco dias, contados
toridade judiciária, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, da intimação.
decidirá acerca das diligências requeridas pelo Ministério
Público e determinará a juntada do estudo psicossocial, Art. 199. Contra as decisões proferidas com base no
designando, conforme o caso, audiência de instrução e jul- art. 149 caberá recurso de apelação.
gamento. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
Parágrafo único. Caso não sejam requeridas diligên- Art. 199-A. A sentença que deferir a adoção produz
cias, ou sendo essas indeferidas, a autoridade judiciária efeito desde logo, embora sujeita a apelação, que será re-
determinará a juntada do estudo psicossocial, abrindo a cebida exclusivamente no efeito devolutivo, salvo se se tra-
seguir vista dos autos ao Ministério Público, por 5 (cinco) tar de adoção internacional ou se houver perigo de dano
dias, decidindo em igual prazo. (Incluído pela Lei nº 12.010,
irreparável ou de difícil reparação ao adotando. (Incluído
de 2009) Vigência
pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
Art. 197-E. Deferida a habilitação, o postulante será
inscrito nos cadastros referidos no art. 50 desta Lei, sendo a Art. 199-B. A sentença que destituir ambos ou qual-
sua convocação para a adoção feita de acordo com ordem quer dos genitores do poder familiar fica sujeita a apela-
cronológica de habilitação e conforme a disponibilidade ção, que deverá ser recebida apenas no efeito devolutivo.
de crianças ou adolescentes adotáveis. (Incluído pela Lei nº (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
12.010, de 2009) Vigência
§ 1o A ordem cronológica das habilitações somente Art. 199-C. Os recursos nos procedimentos de adoção
poderá deixar de ser observada pela autoridade judiciária e de destituição de poder familiar, em face da relevância
nas hipóteses previstas no § 13 do art. 50 desta Lei, quan- das questões, serão processados com prioridade absoluta,
do comprovado ser essa a melhor solução no interesse do devendo ser imediatamente distribuídos, ficando vedado
adotando. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência que aguardem, em qualquer situação, oportuna distribui-

53
LEGISLAÇÃO BÁSICA

ção, e serão colocados em mesa para julgamento sem revi- VII - instaurar sindicâncias, requisitar diligências inves-
são e com parecer urgente do Ministério Público. (Incluído tigatórias e determinar a instauração de inquérito policial,
pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência para apuração de ilícitos ou infrações às normas de prote-
ção à infância e à juventude;
Art. 199-D. O relator deverá colocar o processo em VIII - zelar pelo efetivo respeito aos direitos e garantias
mesa para julgamento no prazo máximo de 60 (sessen- legais assegurados às crianças e adolescentes, promoven-
ta) dias, contado da sua conclusão. (Incluído pela Lei nº do as medidas judiciais e extrajudiciais cabíveis;
12.010, de 2009) Vigência IX - impetrar mandado de segurança, de injunção e
Parágrafo único. O Ministério Público será intimado da habeas corpus, em qualquer juízo, instância ou tribunal,
data do julgamento e poderá na sessão, se entender neces- na defesa dos interesses sociais e individuais indisponíveis
sário, apresentar oralmente seu parecer. (Incluído pela Lei afetos à criança e ao adolescente;
nº 12.010, de 2009) Vigência X - representar ao juízo visando à aplicação de penali-
dade por infrações cometidas contra as normas de prote-
Art. 199-E. O Ministério Público poderá requerer a ins- ção à infância e à juventude, sem prejuízo da promoção da
tauração de procedimento para apuração de responsabili- responsabilidade civil e penal do infrator, quando cabível;
dades se constatar o descumprimento das providências e XI - inspecionar as entidades públicas e particulares de
do prazo previstos nos artigos anteriores. (Incluído pela Lei atendimento e os programas de que trata esta Lei, ado-
nº 12.010, de 2009) Vigência tando de pronto as medidas administrativas ou judiciais
necessárias à remoção de irregularidades porventura ve-
Capítulo V rificadas;
Do Ministério Público XII - requisitar força policial, bem como a colaboração
dos serviços médicos, hospitalares, educacionais e de as-
Art. 200. As funções do Ministério Público previstas sistência social, públicos ou privados, para o desempenho
nesta Lei serão exercidas nos termos da respectiva lei or- de suas atribuições.
§ 1º A legitimação do Ministério Público para as ações
gânica.
cíveis previstas neste artigo não impede a de terceiros, nas
mesmas hipóteses, segundo dispuserem a Constituição e
Art. 201. Compete ao Ministério Público:
esta Lei.
I - conceder a remissão como forma de exclusão do
§ 2º As atribuições constantes deste artigo não ex-
processo;
cluem outras, desde que compatíveis com a finalidade do
II - promover e acompanhar os procedimentos relati-
Ministério Público.
vos às infrações atribuídas a adolescentes;
§ 3º O representante do Ministério Público, no exercí-
III - promover e acompanhar as ações de alimentos e
cio de suas funções, terá livre acesso a todo local onde se
os procedimentos de suspensão e destituição do poder fa- encontre criança ou adolescente.
miliar, nomeação e remoção de tutores, curadores e guar- § 4º O representante do Ministério Público será res-
diães, bem como oficiar em todos os demais procedimen- ponsável pelo uso indevido das informações e documentos
tos da competência da Justiça da Infância e da Juventude; que requisitar, nas hipóteses legais de sigilo.
(Expressão substituída pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência § 5º Para o exercício da atribuição de que trata o inci-
IV - promover, de ofício ou por solicitação dos inte- so VIII deste artigo, poderá o representante do Ministério
ressados, a especialização e a inscrição de hipoteca legal e Público:
a prestação de contas dos tutores, curadores e quaisquer a) reduzir a termo as declarações do reclamante, ins-
administradores de bens de crianças e adolescentes nas hi- taurando o competente procedimento, sob sua presidên-
póteses do art. 98; cia;
V - promover o inquérito civil e a ação civil pública para b) entender-se diretamente com a pessoa ou autorida-
a proteção dos interesses individuais, difusos ou coletivos de reclamada, em dia, local e horário previamente notifica-
relativos à infância e à adolescência, inclusive os definidos dos ou acertados;
no art. 220, § 3º inciso II, da Constituição Federal; c) efetuar recomendações visando à melhoria dos ser-
VI - instaurar procedimentos administrativos e, para viços públicos e de relevância pública afetos à criança e
instruí-los: ao adolescente, fixando prazo razoável para sua perfeita
a) expedir notificações para colher depoimentos ou es- adequação.
clarecimentos e, em caso de não comparecimento injusti-
ficado, requisitar condução coercitiva, inclusive pela polícia Art. 202. Nos processos e procedimentos em que não
civil ou militar; for parte, atuará obrigatoriamente o Ministério Público na
b) requisitar informações, exames, perícias e documen- defesa dos direitos e interesses de que cuida esta Lei, hi-
tos de autoridades municipais, estaduais e federais, da ad- pótese em que terá vista dos autos depois das partes, po-
ministração direta ou indireta, bem como promover inspe- dendo juntar documentos e requerer diligências, usando
ções e diligências investigatórias; os recursos cabíveis.
c) requisitar informações e documentos a particulares Art. 203. A intimação do Ministério Público, em qual-
e instituições privadas; quer caso, será feita pessoalmente.

54
LEGISLAÇÃO BÁSICA

Art. 204. A falta de intervenção do Ministério Público IX - de ações, serviços e programas de orientação,
acarreta a nulidade do feito, que será declarada de ofício apoio e promoção social de famílias e destinados ao ple-
pelo juiz ou a requerimento de qualquer interessado. no exercício do direito à convivência familiar por crianças e
adolescentes. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
Art. 205. As manifestações processuais do representan- X - de programas de atendimento para a execução das
te do Ministério Público deverão ser fundamentadas. medidas socioeducativas e aplicação de medidas de prote-
ção. (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)
Capítulo VI § 1o As hipóteses previstas neste artigo não excluem da
Do Advogado proteção judicial outros interesses individuais, difusos ou
coletivos, próprios da infância e da adolescência, protegi-
Art. 206. A criança ou o adolescente, seus pais ou res- dos pela Constituição e pela Lei. (Renumerado do Parágra-
ponsável, e qualquer pessoa que tenha legítimo interesse fo único pela Lei nº 11.259, de 2005)
na solução da lide poderão intervir nos procedimentos de § 2o A investigação do desaparecimento de crianças
que trata esta Lei, através de advogado, o qual será inti- ou adolescentes será realizada imediatamente após noti-
mado para todos os atos, pessoalmente ou por publicação ficação aos órgãos competentes, que deverão comunicar
oficial, respeitado o segredo de justiça. o fato aos portos, aeroportos, Polícia Rodoviária e compa-
Parágrafo único. Será prestada assistência judiciária in- nhias de transporte interestaduais e internacionais, forne-
tegral e gratuita àqueles que dela necessitarem. cendo-lhes todos os dados necessários à identificação do
desaparecido. (Incluído pela Lei nº 11.259, de 2005)
Art. 207. Nenhum adolescente a quem se atribua a prá-
tica de ato infracional, ainda que ausente ou foragido, será Art. 209. As ações previstas neste Capítulo serão pro-
processado sem defensor. postas no foro do local onde ocorreu ou deva ocorrer a
§ 1º Se o adolescente não tiver defensor, ser-lhe-á no- ação ou omissão, cujo juízo terá competência absoluta para
meado pelo juiz, ressalvado o direito de, a todo tempo, processar a causa, ressalvadas a competência da Justiça Fe-
constituir outro de sua preferência. deral e a competência originária dos tribunais superiores.
§ 2º A ausência do defensor não determinará o adia-
mento de nenhum ato do processo, devendo o juiz nomear
Art. 210. Para as ações cíveis fundadas em interesses
substituto, ainda que provisoriamente, ou para o só efeito
coletivos ou difusos, consideram-se legitimados concor-
do ato.
rentemente:
§ 3º Será dispensada a outorga de mandato, quando
I - o Ministério Público;
se tratar de defensor nomeado ou, sido constituído, tiver
II - a União, os estados, os municípios, o Distrito Fede-
sido indicado por ocasião de ato formal com a presença da
ral e os territórios;
autoridade judiciária.
III - as associações legalmente constituídas há pelo
Capítulo VII menos um ano e que incluam entre seus fins institucionais
Da Proteção Judicial dos Interesses a defesa dos interesses e direitos protegidos por esta Lei,
Individuais, Difusos e Coletivos dispensada a autorização da assembléia, se houver prévia
autorização estatutária.
Art. 208. Regem-se pelas disposições desta Lei as ações § 1º Admitir-se-á litisconsórcio facultativo entre os Mi-
de responsabilidade por ofensa aos direitos assegurados à nistérios Públicos da União e dos estados na defesa dos
criança e ao adolescente, referentes ao não oferecimento interesses e direitos de que cuida esta Lei.
ou oferta irregular: (Vide Lei nº 12.010, de 2009) Vigência § 2º Em caso de desistência ou abandono da ação por
I - do ensino obrigatório; associação legitimada, o Ministério Público ou outro legiti-
II - de atendimento educacional especializado aos por- mado poderá assumir a titularidade ativa.
tadores de deficiência;
III – de atendimento em creche e pré-escola às crianças Art. 211. Os órgãos públicos legitimados poderão to-
de zero a cinco anos de idade; (Redação dada pela Lei nº mar dos interessados compromisso de ajustamento de sua
13.306, de 2016) conduta às exigências legais, o qual terá eficácia de título
IV - de ensino noturno regular, adequado às condições executivo extrajudicial.
do educando;
V - de programas suplementares de oferta de material Art. 212. Para defesa dos direitos e interesses protegi-
didático-escolar, transporte e assistência à saúde do edu- dos por esta Lei, são admissíveis todas as espécies de ações
cando do ensino fundamental; pertinentes.
VI - de serviço de assistência social visando à proteção § 1º Aplicam-se às ações previstas neste Capítulo as
à família, à maternidade, à infância e à adolescência, bem normas do Código de Processo Civil.
como ao amparo às crianças e adolescentes que dele ne- § 2º Contra atos ilegais ou abusivos de autoridade pú-
cessitem; blica ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribui-
VII - de acesso às ações e serviços de saúde; ções do poder público, que lesem direito líquido e certo
VIII - de escolarização e profissionalização dos adoles- previsto nesta Lei, caberá ação mandamental, que se rege-
centes privados de liberdade. rá pelas normas da lei do mandado de segurança.

55
LEGISLAÇÃO BÁSICA

Art. 213. Na ação que tenha por objeto o cumprimen- Art. 220. Qualquer pessoa poderá e o servidor público
to de obrigação de fazer ou não fazer, o juiz concederá deverá provocar a iniciativa do Ministério Público, prestan-
a tutela específica da obrigação ou determinará providên- do-lhe informações sobre fatos que constituam objeto de
cias que assegurem o resultado prático equivalente ao do ação civil, e indicando-lhe os elementos de convicção.
adimplemento.
§ 1º Sendo relevante o fundamento da demanda e ha- Art. 221. Se, no exercício de suas funções, os juízos e
vendo justificado receio de ineficácia do provimento final, tribunais tiverem conhecimento de fatos que possam en-
é lícito ao juiz conceder a tutela liminarmente ou após jus- sejar a propositura de ação civil, remeterão peças ao Minis-
tificação prévia, citando o réu. tério Público para as providências cabíveis.
§ 2º O juiz poderá, na hipótese do parágrafo anterior
Art. 222. Para instruir a petição inicial, o interessado
ou na sentença, impor multa diária ao réu, independente-
poderá requerer às autoridades competentes as certidões
mente de pedido do autor, se for suficiente ou compatível e informações que julgar necessárias, que serão fornecidas
com a obrigação, fixando prazo razoável para o cumpri- no prazo de quinze dias.
mento do preceito.
§ 3º A multa só será exigível do réu após o trânsito em Art. 223. O Ministério Público poderá instaurar, sob
julgado da sentença favorável ao autor, mas será devida sua presidência, inquérito civil, ou requisitar, de qualquer
desde o dia em que se houver configurado o descumpri- pessoa, organismo público ou particular, certidões, infor-
mento. mações, exames ou perícias, no prazo que assinalar, o qual
não poderá ser inferior a dez dias úteis.
Art. 214. Os valores das multas reverterão ao fundo ge- § 1º Se o órgão do Ministério Público, esgotadas todas
rido pelo Conselho dos Direitos da Criança e do Adolescen- as diligências, se convencer da inexistência de fundamento
te do respectivo município. para a propositura da ação cível, promoverá o arquivamen-
§ 1º As multas não recolhidas até trinta dias após o to dos autos do inquérito civil ou das peças informativas,
trânsito em julgado da decisão serão exigidas através de fazendo-o fundamentadamente.
execução promovida pelo Ministério Público, nos mesmos § 2º Os autos do inquérito civil ou as peças de informa-
autos, facultada igual iniciativa aos demais legitimados. ção arquivados serão remetidos, sob pena de se incorrer
§ 2º Enquanto o fundo não for regulamentado, o di- em falta grave, no prazo de três dias, ao Conselho Superior
do Ministério Público.
nheiro ficará depositado em estabelecimento oficial de cré-
§ 3º Até que seja homologada ou rejeitada a promoção
dito, em conta com correção monetária.
de arquivamento, em sessão do Conselho Superior do Mi-
nistério público, poderão as associações legitimadas apre-
Art. 215. O juiz poderá conferir efeito suspensivo aos sentar razões escritas ou documentos, que serão juntados
recursos, para evitar dano irreparável à parte. aos autos do inquérito ou anexados às peças de informa-
ção.
Art. 216. Transitada em julgado a sentença que impuser § 4º A promoção de arquivamento será submetida a
condenação ao poder público, o juiz determinará a remes- exame e deliberação do Conselho Superior do Ministério
sa de peças à autoridade competente, para apuração da Público, conforme dispuser o seu regimento.
responsabilidade civil e administrativa do agente a que se § 5º Deixando o Conselho Superior de homologar a
atribua a ação ou omissão. promoção de arquivamento, designará, desde logo, outro
órgão do Ministério Público para o ajuizamento da ação.
Art. 217. Decorridos sessenta dias do trânsito em julga- Art. 224. Aplicam-se subsidiariamente, no que couber,
do da sentença condenatória sem que a associação autora as disposições da Lei n.º 7.347, de 24 de julho de 1985.
lhe promova a execução, deverá fazê-lo o Ministério Públi-
co, facultada igual iniciativa aos demais legitimados. Título VII
Dos Crimes e Das Infrações Administrativas
Capítulo I
Art. 218. O juiz condenará a associação autora a pagar
Dos Crimes
ao réu os honorários advocatícios arbitrados na conformi-
Seção I
dade do § 4º do art. 20 da Lei n.º 5.869, de 11 de janeiro de Disposições Gerais
1973 (Código de Processo Civil), quando reconhecer que a
pretensão é manifestamente infundada. Art. 225. Este Capítulo dispõe sobre crimes praticados
Parágrafo único. Em caso de litigância de má-fé, a as- contra a criança e o adolescente, por ação ou omissão, sem
sociação autora e os diretores responsáveis pela proposi- prejuízo do disposto na legislação penal.
tura da ação serão solidariamente condenados ao décuplo
das custas, sem prejuízo de responsabilidade por perdas e Art. 226. Aplicam-se aos crimes definidos nesta Lei as
danos. normas da Parte Geral do Código Penal e, quanto ao pro-
cesso, as pertinentes ao Código de Processo Penal.
Art. 219. Nas ações de que trata este Capítulo, não ha-
verá adiantamento de custas, emolumentos, honorários Art. 227. Os crimes definidos nesta Lei são de ação pú-
periciais e quaisquer outras despesas. blica incondicionada

56
LEGISLAÇÃO BÁSICA

Seção II Art. 237. Subtrair criança ou adolescente ao poder de


Dos Crimes em Espécie quem o tem sob sua guarda em virtude de lei ou ordem
judicial, com o fim de colocação em lar substituto:
Art. 228. Deixar o encarregado de serviço ou o dirigen- Pena - reclusão de dois a seis anos, e multa.
te de estabelecimento de atenção à saúde de gestante de
manter registro das atividades desenvolvidas, na forma e Art. 238. Prometer ou efetivar a entrega de filho ou pu-
prazo referidos no art. 10 desta Lei, bem como de fornecer pilo a terceiro, mediante paga ou recompensa:
à parturiente ou a seu responsável, por ocasião da alta mé- Pena - reclusão de um a quatro anos, e multa.
dica, declaração de nascimento, onde constem as intercor- Parágrafo único. Incide nas mesmas penas quem ofere-
rências do parto e do desenvolvimento do neonato: ce ou efetiva a paga ou recompensa.
Pena - detenção de seis meses a dois anos.
Parágrafo único. Se o crime é culposo: Art. 239. Promover ou auxiliar a efetivação de ato des-
Pena - detenção de dois a seis meses, ou multa. tinado ao envio de criança ou adolescente para o exterior
Art. 229. Deixar o médico, enfermeiro ou dirigente de com inobservância das formalidades legais ou com o fito
estabelecimento de atenção à saúde de gestante de iden- de obter lucro:
tificar corretamente o neonato e a parturiente, por ocasião Pena - reclusão de quatro a seis anos, e multa.
do parto, bem como deixar de proceder aos exames referi- Parágrafo único. Se há emprego de violência, gra-
dos no art. 10 desta Lei: ve ameaça ou fraude: (Incluído pela Lei nº 10.764, de
Pena - detenção de seis meses a dois anos. 12.11.2003)
Parágrafo único. Se o crime é culposo: Pena - reclusão, de 6 (seis) a 8 (oito) anos, além da pena
Pena - detenção de dois a seis meses, ou multa. correspondente à violência.

Art. 230. Privar a criança ou o adolescente de sua liber- Art. 240. Produzir, reproduzir, dirigir, fotografar, filmar
dade, procedendo à sua apreensão sem estar em flagrante ou registrar, por qualquer meio, cena de sexo explícito ou
de ato infracional ou inexistindo ordem escrita da autorida- pornográfica, envolvendo criança ou adolescente: (Reda-
de judiciária competente: ção dada pela Lei nº 11.829, de 2008)
Pena - detenção de seis meses a dois anos. Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.
Parágrafo único. Incide na mesma pena aquele que (Redação dada pela Lei nº 11.829, de 2008)
procede à apreensão sem observância das formalidades § 1o Incorre nas mesmas penas quem agencia, facilita,
legais. recruta, coage, ou de qualquer modo intermedeia a parti-
cipação de criança ou adolescente nas cenas referidas no
Art. 231. Deixar a autoridade policial responsável pela caput deste artigo, ou ainda quem com esses contracena.
apreensão de criança ou adolescente de fazer imediata co- (Redação dada pela Lei nº 11.829, de 2008)
municação à autoridade judiciária competente e à família § 2o Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se o agente
do apreendido ou à pessoa por ele indicada: comete o crime: (Redação dada pela Lei nº 11.829, de 2008)
Pena - detenção de seis meses a dois anos. I – no exercício de cargo ou função pública ou a pretex-
to de exercê-la; (Redação dada pela Lei nº 11.829, de 2008)
Art. 232. Submeter criança ou adolescente sob sua au- II – prevalecendo-se de relações domésticas, de coa-
toridade, guarda ou vigilância a vexame ou a constrangi- bitação ou de hospitalidade; ou (Redação dada pela Lei nº
mento: 11.829, de 2008)
Pena - detenção de seis meses a dois anos. III – prevalecendo-se de relações de parentesco con-
sanguíneo ou afim até o terceiro grau, ou por adoção, de
Art. 233. (Revogado pela Lei nº 9.455, de 7.4.1997: tutor, curador, preceptor, empregador da vítima ou de
quem, a qualquer outro título, tenha autoridade sobre ela,
Art. 234. Deixar a autoridade competente, sem justa ou com seu consentimento. (Incluído pela Lei nº 11.829,
causa, de ordenar a imediata liberação de criança ou ado- de 2008)
lescente, tão logo tenha conhecimento da ilegalidade da
apreensão: Art. 241. Vender ou expor à venda fotografia, vídeo
Pena - detenção de seis meses a dois anos. ou outro registro que contenha cena de sexo explícito ou
pornográfica envolvendo criança ou adolescente: (Redação
Art. 235. Descumprir, injustificadamente, prazo fixado dada pela Lei nº 11.829, de 2008)
nesta Lei em benefício de adolescente privado de liberda- Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.
de: (Redação dada pela Lei nº 11.829, de 2008)
Pena - detenção de seis meses a dois anos.
Art. 241-A. Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir,
Art. 236. Impedir ou embaraçar a ação de autoridade distribuir, publicar ou divulgar por qualquer meio, inclusive
judiciária, membro do Conselho Tutelar ou representante por meio de sistema de informática ou telemático, fotogra-
do Ministério Público no exercício de função prevista nesta fia, vídeo ou outro registro que contenha cena de sexo ex-
Lei: plícito ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente:
Pena - detenção de seis meses a dois anos. (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008)

57
LEGISLAÇÃO BÁSICA

Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa. (In- Art. 241-D. Aliciar, assediar, instigar ou constranger,
cluído pela Lei nº 11.829, de 2008) por qualquer meio de comunicação, criança, com o fim de
§ 1o Nas mesmas penas incorre quem: (Incluído pela com ela praticar ato libidinoso:(Incluído pela Lei nº 11.829,
Lei nº 11.829, de 2008) de 2008)
I – assegura os meios ou serviços para o armazena- Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa. (In-
mento das fotografias, cenas ou imagens de que trata o cluído pela Lei nº 11.829, de 2008)
caput deste artigo; (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008) Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre quem: (In-
II – assegura, por qualquer meio, o acesso por rede de cluído pela Lei nº 11.829, de 2008)
computadores às fotografias, cenas ou imagens de que I – facilita ou induz o acesso à criança de material con-
trata o caput deste artigo. (Incluído pela Lei nº 11.829, de
tendo cena de sexo explícito ou pornográfica com o fim de
2008)
com ela praticar ato libidinoso;(Incluído pela Lei nº 11.829,
§ 2o As condutas tipificadas nos incisos I e II do § 1o
deste artigo são puníveis quando o responsável legal pela de 2008)
prestação do serviço, oficialmente notificado, deixa de de- II – pratica as condutas descritas no caput deste artigo
sabilitar o acesso ao conteúdo ilícito de que trata o caput com o fim de induzir criança a se exibir de forma pornográ-
deste artigo. (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008) fica ou sexualmente explícita.(Incluído pela Lei nº 11.829,
de 2008)
Art. 241-B. Adquirir, possuir ou armazenar, por qual-
quer meio, fotografia, vídeo ou outra forma de registro que Art. 241-E. Para efeito dos crimes previstos nesta Lei,
contenha cena de sexo explícito ou pornográfica envolven- a expressão “cena de sexo explícito ou pornográfica” com-
do criança ou adolescente: (Incluído pela Lei nº 11.829, de preende qualquer situação que envolva criança ou adoles-
2008) cente em atividades sexuais explícitas, reais ou simuladas,
Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. ou exibição dos órgãos genitais de uma criança ou adoles-
(Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008) cente para fins primordialmente sexuais(Incluído pela Lei
§ 1o A pena é diminuída de 1 (um) a 2/3 (dois terços) se nº 11.829, de 2008)
de pequena quantidade o material a que se refere o caput
deste artigo. (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008) Art. 242. Vender, fornecer ainda que gratuitamente
§ 2o Não há crime se a posse ou o armazenamento ou entregar, de qualquer forma, a criança ou adolescente
tem a finalidade de comunicar às autoridades competentes
arma, munição ou explosivo:
a ocorrência das condutas descritas nos arts. 240, 241, 241-
Pena - reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos. (Redação
A e 241-C desta Lei, quando a comunicação for feita por:
(Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008) dada pela Lei nº 10.764, de 12.11.2003)
I – agente público no exercício de suas funções; (Incluí-
do pela Lei nº 11.829, de 2008) Art. 243. Vender, fornecer, servir, ministrar ou entregar,
II – membro de entidade, legalmente constituída, que ainda que gratuitamente, de qualquer forma, a criança ou
inclua, entre suas finalidades institucionais, o recebimento, a adolescente, bebida alcoólica ou, sem justa causa, outros
o processamento e o encaminhamento de notícia dos cri- produtos cujos componentes possam causar dependên-
mes referidos neste parágrafo;(Incluído pela Lei nº 11.829, cia física ou psíquica:(Redação dada pela Lei nº 13.106, de
de 2008) 2015)
III – representante legal e funcionários responsáveis de Pena - detenção de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa,
provedor de acesso ou serviço prestado por meio de rede se o fato não constitui crime mais grave. (Redação dada
de computadores, até o recebimento do material relativo à pela Lei nº 13.106, de 2015)
notícia feita à autoridade policial, ao Ministério Público ou
ao Poder Judiciário. (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008) Art. 244. Vender, fornecer ainda que gratuitamente ou
§ 3o As pessoas referidas no § 2o deste artigo deverão entregar, de qualquer forma, a criança ou adolescente fo-
manter sob sigilo o material ilícito referido. (Incluído pela gos de estampido ou de artifício, exceto aqueles que, pelo
Lei nº 11.829, de 2008) seu reduzido potencial, sejam incapazes de provocar qual-
quer dano físico em caso de utilização indevida:
Art. 241-C. Simular a participação de criança ou ado-
Pena - detenção de seis meses a dois anos, e multa.
lescente em cena de sexo explícito ou pornográfica por
meio de adulteração, montagem ou modificação de foto-
grafia, vídeo ou qualquer outra forma de representação vi- Art. 244-A. Submeter criança ou adolescente, como tais
sual: (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008) definidos no caput do art. 2o desta Lei, à prostituição ou à
Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa. exploração sexual: (Incluído pela Lei nº 9.975, de 23.6.2000)
(Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008) Pena – reclusão de quatro a dez anos e multa, além da
Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas quem perda de bens e valores utilizados na prática criminosa em
vende, expõe à venda, disponibiliza, distribui, publica ou favor do Fundo dos Direitos da Criança e do Adolescente
divulga por qualquer meio, adquire, possui ou armazena o da unidade da Federação (Estado ou Distrito Federal) em
material produzido na forma do caput deste artigo. (Incluí- que foi cometido o crime, ressalvado o direito de terceiro
do pela Lei nº 11.829, de 2008) de boa-fé. (Redação dada pela Lei nº 13.440, de 2017)

58
LEGISLAÇÃO BÁSICA

§ 1o Incorrem nas mesmas penas o proprietário, o ge- da emissora até por dois dias, bem como da publicação do
rente ou o responsável pelo local em que se verifique a periódico até por dois números. (Expressão declara incons-
submissão de criança ou adolescente às práticas referi- titucional pela ADIN 869-2).
das no caput deste artigo. (Incluído pela Lei nº 9.975, de
23.6.2000) Art. 248. Deixar de apresentar à autoridade judiciária
§ 2o Constitui efeito obrigatório da condenação a cas- de seu domicílio, no prazo de cinco dias, com o fim de re-
sação da licença de localização e de funcionamento do gularizar a guarda, adolescente trazido de outra comarca
estabelecimento. (Incluído pela Lei nº 9.975, de 23.6.2000) para a prestação de serviço doméstico, mesmo que autori-
zado pelos pais ou responsável:
Art. 244-B. Corromper ou facilitar a corrupção de me- Pena - multa de três a vinte salários de referência, apli-
nor de 18 (dezoito) anos, com ele praticando infração penal cando-se o dobro em caso de reincidência, independen-
ou induzindo-o a praticá-la:(Incluído pela Lei nº 12.015, de temente das despesas de retorno do adolescente, se for
2009) o caso.
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.(Incluído
pela Lei nº 12.015, de 2009) Art. 249. Descumprir, dolosa ou culposamente, os de-
§ 1o Incorre nas penas previstas no caput deste artigo veres inerentes ao poder familiar ou decorrente de tutela
quem pratica as condutas ali tipificadas utilizando-se de ou guarda, bem assim determinação da autoridade judiciá-
quaisquer meios eletrônicos, inclusive salas de bate-papo ria ou Conselho Tutelar: (Expressão substituída pela Lei nº
da internet. (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009) 12.010, de 2009) Vigência
§ 2o As penas previstas no caput deste artigo são au- Pena - multa de três a vinte salários de referência, apli-
mentadas de um terço no caso de a infração cometida ou cando-se o dobro em caso de reincidência.
induzida estar incluída no rol do art. 1o da Lei no 8.072, de
25 de julho de 1990. (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009) Art. 250. Hospedar criança ou adolescente desacom-
panhado dos pais ou responsável, ou sem autorização es-
crita desses ou da autoridade judiciária, em hotel, pensão,
Capítulo II
motel ou congênere:(Redação dada pela Lei nº 12.038, de
Das Infrações Administrativas
2009).
Pena – multa. (Redação dada pela Lei nº 12.038, de
Art. 245. Deixar o médico, professor ou responsável por
2009).
estabelecimento de atenção à saúde e de ensino funda-
§ 1º Em caso de reincidência, sem prejuízo da pena de
mental, pré-escola ou creche, de comunicar à autoridade
multa, a autoridade judiciária poderá determinar o fecha-
competente os casos de que tenha conhecimento, en-
mento do estabelecimento por até 15 (quinze) dias. (Incluí-
volvendo suspeita ou confirmação de maus-tratos contra
do pela Lei nº 12.038, de 2009).
criança ou adolescente: § 2º Se comprovada a reincidência em período inferior
Pena - multa de três a vinte salários de referência, apli- a 30 (trinta) dias, o estabelecimento será definitivamente
cando-se o dobro em caso de reincidência. fechado e terá sua licença cassada. (Incluído pela Lei nº
12.038, de 2009).
Art. 246. Impedir o responsável ou funcionário de en-
tidade de atendimento o exercício dos direitos constantes Art. 251. Transportar criança ou adolescente, por qual-
nos incisos II, III, VII, VIII e XI do art. 124 desta Lei: quer meio, com inobservância do disposto nos arts. 83, 84
Pena - multa de três a vinte salários de referência, apli- e 85 desta Lei:
cando-se o dobro em caso de reincidência. Pena - multa de três a vinte salários de referência, apli-
cando-se o dobro em caso de reincidência.
Art. 247. Divulgar, total ou parcialmente, sem autoriza-
ção devida, por qualquer meio de comunicação, nome, ato Art. 252. Deixar o responsável por diversão ou espetá-
ou documento de procedimento policial, administrativo ou culo público de afixar, em lugar visível e de fácil acesso, à
judicial relativo a criança ou adolescente a que se atribua entrada do local de exibição, informação destacada sobre
ato infracional: a natureza da diversão ou espetáculo e a faixa etária espe-
Pena - multa de três a vinte salários de referência, apli- cificada no certificado de classificação:
cando-se o dobro em caso de reincidência. Pena - multa de três a vinte salários de referência, apli-
§ 1º Incorre na mesma pena quem exibe, total ou par- cando-se o dobro em caso de reincidência.
cialmente, fotografia de criança ou adolescente envolvido
em ato infracional, ou qualquer ilustração que lhe diga res- Art. 253. Anunciar peças teatrais, filmes ou quaisquer
peito ou se refira a atos que lhe sejam atribuídos, de forma representações ou espetáculos, sem indicar os limites de
a permitir sua identificação, direta ou indiretamente. idade a que não se recomendem:
§ 2º Se o fato for praticado por órgão de imprensa Pena - multa de três a vinte salários de referência, du-
ou emissora de rádio ou televisão, além da pena prevista plicada em caso de reincidência, aplicável, separadamente,
neste artigo, a autoridade judiciária poderá determinar a à casa de espetáculo e aos órgãos de divulgação ou publi-
apreensão da publicação ou a suspensão da programação cidade.

59
LEGISLAÇÃO BÁSICA

Art. 254. Transmitir, através de rádio ou televisão, espe- Pena - multa de R$ 1.000,00 (mil reais) a R$ 3.000,00
táculo em horário diverso do autorizado ou sem aviso de (três mil reais). (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vi-
sua classificação: gência
Pena - multa de vinte a cem salários de referência; du- Parágrafo único. Incorre na mesma pena o funcionário
plicada em caso de reincidência a autoridade judiciária po- de programa oficial ou comunitário destinado à garantia
derá determinar a suspensão da programação da emissora do direito à convivência familiar que deixa de efetuar a co-
por até dois dias. municação referida no caput deste artigo. (Incluído pela Lei
nº 12.010, de 2009) Vigência
Art. 255. Exibir filme, trailer, peça, amostra ou congêne-
re classificado pelo órgão competente como inadequado Art. 258-C. Descumprir a proibição estabelecida no in-
às crianças ou adolescentes admitidos ao espetáculo: ciso II do art. 81: (Redação dada pela Lei nº 13.106, de 2015)
Pena - multa de vinte a cem salários de referência; na Pena - multa de R$ 3.000,00 (três mil reais) a R$
reincidência, a autoridade poderá determinar a suspensão 10.000,00 (dez mil reais);(Redação dada pela Lei nº 13.106,
do espetáculo ou o fechamento do estabelecimento por de 2015)
até quinze dias.
Medida Administrativa - interdição do estabelecimento
comercial até o recolhimento da multa aplicada. (Redação
Art. 256. Vender ou locar a criança ou adolescente fita
dada pela Lei nº 13.106, de 2015)
de programação em vídeo, em desacordo com a classifica-
ção atribuída pelo órgão competente:
Pena - multa de três a vinte salários de referência; em Disposições Finais e Transitórias
caso de reincidência, a autoridade judiciária poderá deter-
minar o fechamento do estabelecimento por até quinze Art. 259. A União, no prazo de noventa dias contados
dias. da publicação deste Estatuto, elaborará projeto de lei dis-
pondo sobre a criação ou adaptação de seus órgãos às di-
Art. 257. Descumprir obrigação constante dos arts. 78 retrizes da política de atendimento fixadas no art. 88 e ao
e 79 desta Lei: que estabelece o Título V do Livro II.
Pena - multa de três a vinte salários de referência, du- Parágrafo único. Compete aos estados e municípios
plicando-se a pena em caso de reincidência, sem prejuízo promoverem a adaptação de seus órgãos e programas às
de apreensão da revista ou publicação. diretrizes e princípios estabelecidos nesta Lei.

Art. 258. Deixar o responsável pelo estabelecimento ou Art. 260. Os contribuintes poderão efetuar doações aos
o empresário de observar o que dispõe esta Lei sobre o Fundos dos Direitos da Criança e do Adolescente nacional,
acesso de criança ou adolescente aos locais de diversão, ou distrital, estaduais ou municipais, devidamente comprova-
sobre sua participação no espetáculo: (Vide Lei nº 12.010, das, sendo essas integralmente deduzidas do imposto de
de 2009) Vigência renda, obedecidos os seguintes limites:(Redação dada pela
Pena - multa de três a vinte salários de referência; em Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)
caso de reincidência, a autoridade judiciária poderá deter- I - 1% (um por cento) do imposto sobre a renda devido
minar o fechamento do estabelecimento por até quinze apurado pelas pessoas jurídicas tributadas com base no lu-
dias. cro real; e (Redação dada pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)
II - 6% (seis por cento) do imposto sobre a renda apu-
Art. 258-A. Deixar a autoridade competente de provi- rado pelas pessoas físicas na Declaração de Ajuste Anual,
denciar a instalação e operacionalização dos cadastros pre- observado o disposto no art. 22 da Lei no 9.532, de 10 de
vistos no art. 50 e no § 11 do art. 101 desta Lei: (Incluído
dezembro de 1997.(Redação dada pela Lei nº 12.594, de
pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
2012) (Vide)
Pena - multa de R$ 1.000,00 (mil reais) a R$ 3.000,00
§ 1º - (Revogado pela Lei nº 9.532, de 10.12.1997)
(três mil reais). (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vi-
gência § 1o-A. Na definição das prioridades a serem atendidas
Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas a autori- com os recursos captados pelos fundos nacional, estaduais
dade que deixa de efetuar o cadastramento de crianças e e municipais dos direitos da criança e do adolescente, se-
de adolescentes em condições de serem adotadas, de pes- rão consideradas as disposições do Plano Nacional de Pro-
soas ou casais habilitados à adoção e de crianças e adoles- moção, Proteção e Defesa do Direito de Crianças e Adoles-
centes em regime de acolhimento institucional ou familiar. centes à Convivência Familiar e Comunitária e as do Plano
(Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência Nacional pela Primeira Infância. (Redação dada dada pela
Lei nº 13.257, de 2016)
Art. 258-B. Deixar o médico, enfermeiro ou dirigen- § 2o Os conselhos nacional, estaduais e municipais dos
te de estabelecimento de atenção à saúde de gestante de direitos da criança e do adolescente fixarão critérios de
efetuar imediato encaminhamento à autoridade judiciária utilização, por meio de planos de aplicação, das dotações
de caso de que tenha conhecimento de mãe ou gestante subsidiadas e demais receitas, aplicando necessariamente
interessada em entregar seu filho para adoção: (Incluído percentual para incentivo ao acolhimento, sob a forma de
pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência guarda, de crianças e adolescentes e para programas de

60
LEGISLAÇÃO BÁSICA

atenção integral à primeira infância em áreas de maior ca- § 4o O não pagamento da doação no prazo estabe-
rência socioeconômica e em situações de calamidade. (Re- lecido no § 3o implica a glosa definitiva desta parcela de
dação dada dada pela Lei nº 13.257, de 2016) dedução, ficando a pessoa física obrigada ao recolhimento
§ 3º O Departamento da Receita Federal, do Ministé- da diferença de imposto devido apurado na Declaração de
rio da Economia, Fazenda e Planejamento, regulamentará Ajuste Anual com os acréscimos legais previstos na legisla-
a comprovação das doações feitas aos fundos, nos termos ção. (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)
deste artigo. (Incluído pela Lei nº 8.242, de 12.10.1991) § 5o A pessoa física poderá deduzir do imposto apu-
§ 4º O Ministério Público determinará em cada co- rado na Declaração de Ajuste Anual as doações feitas, no
marca a forma de fiscalização da aplicação, pelo Fundo respectivo ano-calendário, aos fundos controlados pelos
Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, dos Conselhos dos Direitos da Criança e do Adolescente mu-
incentivos fiscais referidos neste artigo. (Incluído pela Lei nicipais, distrital, estaduais e nacional concomitantemente
nº 8.242, de 12.10.1991) com a opção de que trata o caput, respeitado o limite pre-
§ 5o Observado o disposto no § 4o do art. 3o da Lei no visto no inciso II do art. 260. (Incluído pela Lei nº 12.594, de
9.249, de 26 de dezembro de 1995, a dedução de que trata 2012) (Vide)
o inciso I do caput:(Redação dada pela Lei nº 12.594, de
2012) (Vide)
Art. 260-B. A doação de que trata o inciso I do art. 260
I - será considerada isoladamente, não se submetendo
poderá ser deduzida: (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012)
a limite em conjunto com outras deduções do imposto; e
(Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide) (Vide)
II - não poderá ser computada como despesa ope- I - do imposto devido no trimestre, para as pessoas ju-
racional na apuração do lucro real. (Incluído pela Lei nº rídicas que apuram o imposto trimestralmente; e (Incluído
12.594, de 2012) (Vide) pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)
Art. 260-A. A partir do exercício de 2010, ano-calen- II - do imposto devido mensalmente e no ajuste anual,
dário de 2009, a pessoa física poderá optar pela doação para as pessoas jurídicas que apuram o imposto anualmen-
de que trata o inciso II do caput do art. 260 diretamente te. (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)
em sua Declaração de Ajuste Anual. (Incluído pela Lei nº Parágrafo único. A doação deverá ser efetuada dentro
12.594, de 2012) (Vide) do período a que se refere a apuração do imposto. (Incluí-
§ 1o A doação de que trata o caput poderá ser dedu- do pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)
zida até os seguintes percentuais aplicados sobre o impos-
to apurado na declaração: (Incluído pela Lei nº 12.594, de Art. 260-C. As doações de que trata o art. 260 desta
2012) (Vide) Lei podem ser efetuadas em espécie ou em bens. (Incluído
I - (VETADO); (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)
(Vide) Parágrafo único. As doações efetuadas em espécie de-
II - (VETADO); (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) vem ser depositadas em conta específica, em instituição fi-
(Vide) nanceira pública, vinculadas aos respectivos fundos de que
III - 3% (três por cento) a partir do exercício de 2012. trata o art. 260. (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)
(Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)
§ 2o A dedução de que trata o caput: (Incluído pela Lei Art. 260-D. Os órgãos responsáveis pela administra-
nº 12.594, de 2012) (Vide) ção das contas dos Fundos dos Direitos da Criança e do
I - está sujeita ao limite de 6% (seis por cento) do im- Adolescente nacional, estaduais, distrital e municipais de-
posto sobre a renda apurado na declaração de que trata o vem emitir recibo em favor do doador, assinado por pes-
inciso II do caput do art. 260; (Incluído pela Lei nº 12.594, soa competente e pelo presidente do Conselho correspon-
de 2012) (Vide)
dente, especificando: (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012)
II - não se aplica à pessoa física que: (Incluído pela Lei
(Vide)
nº 12.594, de 2012) (Vide)
I - número de ordem; (Incluído pela Lei nº 12.594, de
a) utilizar o desconto simplificado; (Incluído pela Lei nº
12.594, de 2012) (Vide) 2012) (Vide)
b) apresentar declaração em formulário; ou (Incluído II - nome, Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ)
pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide) e endereço do emitente; (Incluído pela Lei nº 12.594, de
c) entregar a declaração fora do prazo; (Incluído pela 2012) (Vide)
Lei nº 12.594, de 2012) (Vide) III - nome, CNPJ ou Cadastro de Pessoas Físicas (CPF)
III - só se aplica às doações em espécie; e (Incluído pela do doador; (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)
Lei nº 12.594, de 2012) (Vide) IV - data da doação e valor efetivamente recebido; e
IV - não exclui ou reduz outros benefícios ou deduções (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)
em vigor. (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide) V - ano-calendário a que se refere a doação. (Incluído
§ 3o O pagamento da doação deve ser efetuado até a pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)
data de vencimento da primeira quota ou quota única do § 1o O comprovante de que trata o caput deste arti-
imposto, observadas instruções específicas da Secretaria go pode ser emitido anualmente, desde que discrimine os
da Receita Federal do Brasil. (Incluído pela Lei nº 12.594, valores doados mês a mês. (Incluído pela Lei nº 12.594, de
de 2012) (Vide) 2012) (Vide)

61
LEGISLAÇÃO BÁSICA

§ 2o No caso de doação em bens, o comprovante Art. 260-I. Os Conselhos dos Direitos da Criança e do
deve conter a identificação dos bens, mediante descrição Adolescente nacional, estaduais, distrital e municipais di-
em campo próprio ou em relação anexa ao comprovan- vulgarão amplamente à comunidade: (Incluído pela Lei nº
te, informando também se houve avaliação, o nome, CPF 12.594, de 2012) (Vide)
ou CNPJ e endereço dos avaliadores. (Incluído pela Lei nº I - o calendário de suas reuniões; (Incluído pela Lei nº
12.594, de 2012) (Vide) 12.594, de 2012) (Vide)
II - as ações prioritárias para aplicação das políticas de
Art. 260-E. Na hipótese da doação em bens, o doador atendimento à criança e ao adolescente; (Incluído pela Lei
deverá: (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide) nº 12.594, de 2012) (Vide)
I - comprovar a propriedade dos bens, mediante do- III - os requisitos para a apresentação de projetos a
cumentação hábil; (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) serem beneficiados com recursos dos Fundos dos Direitos
(Vide) da Criança e do Adolescente nacional, estaduais, distrital
II - baixar os bens doados na declaração de bens e di- ou municipais; (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)
reitos, quando se tratar de pessoa física, e na escrituração, IV - a relação dos projetos aprovados em cada ano-
no caso de pessoa jurídica; e (Incluído pela Lei nº 12.594, calendário e o valor dos recursos previstos para implemen-
de 2012) (Vide) tação das ações, por projeto; (Incluído pela Lei nº 12.594,
III - considerar como valor dos bens doados: (Incluído de 2012) (Vide)
pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide) V - o total dos recursos recebidos e a respectiva desti-
a) para as pessoas físicas, o valor constante da última nação, por projeto atendido, inclusive com cadastramento
declaração do imposto de renda, desde que não exceda na base de dados do Sistema de Informações sobre a In-
o valor de mercado; (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) fância e a Adolescência; e (Incluído pela Lei nº 12.594, de
(Vide) 2012) (Vide)
b) para as pessoas jurídicas, o valor contábil dos bens. VI - a avaliação dos resultados dos projetos beneficia-
(Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide) dos com recursos dos Fundos dos Direitos da Criança e
do Adolescente nacional, estaduais, distrital e municipais.
Parágrafo único. O preço obtido em caso de leilão não
(Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)
será considerado na determinação do valor dos bens doa-
dos, exceto se o leilão for determinado por autoridade ju-
Art. 260-J. O Ministério Público determinará, em cada
diciária. (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)
Comarca, a forma de fiscalização da aplicação dos incenti-
vos fiscais referidos no art. 260 desta Lei. (Incluído pela Lei
Art. 260-F. Os documentos a que se referem os arts.
nº 12.594, de 2012) (Vide)
260-D e 260-E devem ser mantidos pelo contribuinte por
Parágrafo único. O descumprimento do disposto nos
um prazo de 5 (cinco) anos para fins de comprovação da
arts. 260-G e 260-I sujeitará os infratores a responder por
dedução perante a Receita Federal do Brasil. (Incluído pela
ação judicial proposta pelo Ministério Público, que poderá
Lei nº 12.594, de 2012) (Vide) atuar de ofício, a requerimento ou representação de qual-
quer cidadão. (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)
Art. 260-G. Os órgãos responsáveis pela administração
das contas dos Fundos dos Direitos da Criança e do Ado- Art. 260-K. A Secretaria de Direitos Humanos da Presi-
lescente nacional, estaduais, distrital e municipais devem: dência da República (SDH/PR) encaminhará à Secretaria da
(Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide) Receita Federal do Brasil, até 31 de outubro de cada ano,
I - manter conta bancária específica destinada exclusi- arquivo eletrônico contendo a relação atualizada dos Fun-
vamente a gerir os recursos do Fundo; (Incluído pela Lei nº dos dos Direitos da Criança e do Adolescente nacional, dis-
12.594, de 2012) (Vide) trital, estaduais e municipais, com a indicação dos respec-
II - manter controle das doações recebidas; e (Incluído tivos números de inscrição no CNPJ e das contas bancárias
pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide) específicas mantidas em instituições financeiras públicas,
III - informar anualmente à Secretaria da Receita Fede- destinadas exclusivamente a gerir os recursos dos Fundos.
ral do Brasil as doações recebidas mês a mês, identifican- (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)
do os seguintes dados por doador: (Incluído pela Lei nº
12.594, de 2012) (Vide) Art. 260-L. A Secretaria da Receita Federal do Brasil
a) nome, CNPJ ou CPF; (Incluído pela Lei nº 12.594, de expedirá as instruções necessárias à aplicação do disposto
2012) (Vide) nos arts. 260 a 260-K.(Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012)
b) valor doado, especificando se a doação foi em espé- (Vide)
cie ou em bens. (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)
Art. 261. A falta dos conselhos municipais dos direitos
Art. 260-H. Em caso de descumprimento das obriga- da criança e do adolescente, os registros, inscrições e alte-
ções previstas no art. 260-G, a Secretaria da Receita Federal rações a que se referem os arts. 90, parágrafo único, e 91
do Brasil dará conhecimento do fato ao Ministério Público. desta Lei serão efetuados perante a autoridade judiciária
(Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide) da comarca a que pertencer a entidade.

62
LEGISLAÇÃO BÁSICA

Parágrafo único. A União fica autorizada a repassar Art. 266. Esta Lei entra em vigor noventa dias após sua
aos estados e municípios, e os estados aos municípios, os publicação.
recursos referentes aos programas e atividades previstos Parágrafo único. Durante o período de vacância deve-
nesta Lei, tão logo estejam criados os conselhos dos direi- rão ser promovidas atividades e campanhas de divulgação
tos da criança e do adolescente nos seus respectivos níveis. e esclarecimentos acerca do disposto nesta Lei.

Art. 262. Enquanto não instalados os Conselhos Tute- Art. 267. Revogam-se as Leis n.º 4.513, de 1964, e 6.697,
lares, as atribuições a eles conferidas serão exercidas pela de 10 de outubro de 1979 (Código de Menores), e as de-
autoridade judiciária. mais disposições em contrário.
Art. 263. O Decreto-Lei n.º 2.848, de 7 de dezembro Brasília, 13 de julho de 1990; 169º da Independência e
de 1940 (Código Penal), passa a vigorar com as seguintes 102º da República.
alterações:
1) Art. 121 ............................................................
§ 4º No homicídio culposo, a pena é aumentada de
um terço, se o crime resulta de inobservância de regra téc-
nica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de 1.2 LDBEN - LEI Nº 9.394 DE 1996.
prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as
consequências do seu ato, ou foge para evitar prisão em
flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada
de um terço, se o crime é praticado contra pessoa menor LEI Nº 9.394, DE 20 DE DEZEMBRO DE 1996
de catorze anos.
2) Art. 129 ............................................................... A lei estudada neste tópico, provavelmente a mais re-
§ 7º Aumenta-se a pena de um terço, se ocorrer qual- levante deste edital, tanto que é repetida em dois outros
quer das hipóteses do art. 121, § 4º. tópicos, “estabelece as diretrizes e bases da educação
§ 8º Aplica-se à lesão culposa o disposto no § 5º do nacional”. Data de 20 de dezembro de 2016, tendo sido
art. 121. promulgada pelo ex-presidente Fernando Henrique Car-
3) Art. 136................................................................. doso, mas já passou por inúmeras alterações desde então.
§ 3º Aumenta-se a pena de um terço, se o crime é pra- Partamos para o comentário em bloco de seus dispositivos:
ticado contra pessoa menor de catorze anos.
4) Art. 213 .................................................................. TÍTULO I
Parágrafo único. Se a ofendida é menor de catorze Da Educação
anos:
Pena - reclusão de quatro a dez anos. Art. 1º A educação abrange os processos formativos
5) Art. 214................................................................... que se desenvolvem na vida familiar, na convivência hu-
Parágrafo único. Se o ofendido é menor de catorze mana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesqui-
anos: sa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil
Pena - reclusão de três a nove anos.» e nas manifestações culturais.
Art. 264. O art. 102 da Lei n.º 6.015, de 31 de dezembro § 1º Esta Lei disciplina a educação escolar, que se de-
de 1973, fica acrescido do seguinte item: senvolve, predominantemente, por meio do ensino, em ins-
“Art. 102 .................................................................... tituições próprias.
6º) a perda e a suspensão do pátrio poder. “
§ 2º A educação escolar deverá vincular-se ao mundo
do trabalho e à prática social.
Art. 265. A Imprensa Nacional e demais gráficas da
União, da administração direta ou indireta, inclusive fun-
O primeiro artigo da LDB estabelece que a educação
dações instituídas e mantidas pelo poder público federal
promoverão edição popular do texto integral deste Estatu- é um processo que não se dá exclusivamente nas escolas.
to, que será posto à disposição das escolas e das entidades Trata-se da clássica distinção entre educação formal e não
de atendimento e de defesa dos direitos da criança e do formal ou informal: “A educação formal é aquela desen-
adolescente. volvida nas escolas, com conteúdos previamente demarca-
dos; a informal como aquela que os indivíduos aprendem
Art. 265-A. O poder público fará periodicamente am- durante seu processo de socialização - na família, bairro,
pla divulgação dos direitos da criança e do adolescente nos clube, amigos, etc., carregada de valores e cultura própria,
meios de comunicação social. (Redação dada pela Lei nº de pertencimento e sentimentos herdados; e a educação
13.257, de 2016) não formal é aquela que se aprende ‘no mundo da vida’, via
Parágrafo único. A divulgação a que se refere o caput os processos de compartilhamento de experiências, princi-
será veiculada em linguagem clara, compreensível e ade- palmente em espaços e ações coletivas cotidianas”28. A LDB
quada a crianças e adolescentes, especialmente às crianças 28 GOHN, Maria da Glória. Educação não-formal, participação
com idade inferior a 6 (seis) anos. (Incluído dada pela Lei nº da sociedade civil e estruturas colegiadas nas escolas. Ensaio: aval.
13.257, de 2016) pol. públ. Educ., Rio de Janeiro, v. 14, n. 50, p. 27-38, jan./mar. 2006.

63
LEGISLAÇÃO BÁSICA

disciplina apenas a educação escolar, ou seja, a educação III - atendimento educacional especializado gratuito
formal, que não exclui o papel das famílias e das comuni- aos educandos com deficiência, transtornos globais do
dades na educação informal. desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação, trans-
versal a todos os níveis, etapas e modalidades, preferencial-
TÍTULO II mente na rede regular de ensino;
Dos Princípios e Fins da E IV - acesso público e gratuito aos ensinos fundamen-
ducação Nacional tal e médio para todos os que não os concluíram na idade
própria;
Art. 2º A educação, dever da família e do Estado, ins- V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da
pirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solida- pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de
riedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvi- cada um;
mento do educando, seu preparo para o exercício da cidada- VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às
nia e sua qualificação para o trabalho.
condições do educando;
VII - oferta de educação escolar regular para jovens e
Art. 3º O ensino será ministrado com base nos seguintes
adultos, com características e modalidades adequadas às
princípios:
suas necessidades e disponibilidades, garantindo-se aos que
I - igualdade de condições para o acesso e permanência
na escola; forem trabalhadores as condições de acesso e permanência
II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a na escola;
cultura, o pensamento, a arte e o saber; VIII - atendimento ao educando, em todas as etapas da
III - pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas; educação básica, por meio de programas suplementares
IV - respeito à liberdade e apreço à tolerância; de material didático-escolar, transporte, alimentação e
V - coexistência de instituições públicas e privadas de assistência à saúde;
ensino; IX - padrões mínimos de qualidade de ensino, defini-
VI - gratuidade do ensino público em estabelecimentos dos como a variedade e quantidade mínimas, por aluno, de
oficiais; insumos indispensáveis ao desenvolvimento do processo de
VII - valorização do profissional da educação escolar; ensino-aprendizagem.
VIII - gestão democrática do ensino público, na forma X - vaga na escola pública de educação infantil ou de
desta Lei e da legislação dos sistemas de ensino; ensino fundamental mais próxima de sua residência a
IX - garantia de padrão de qualidade; toda criança a partir do dia em que completar 4 (quatro)
X - valorização da experiência extraescolar; anos de idade.
XI - vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as
práticas sociais. Art. 5º O acesso à educação básica obrigatória é direi-
XII - consideração com a diversidade étnico-racial. to público subjetivo, podendo qualquer cidadão, grupo de
cidadãos, associação comunitária, organização sindical, en-
A educação escolar deve permitir a formação do cida- tidade de classe ou outra legalmente constituída e, ainda, o
dão e do trabalhador: uma pessoa que consiga se inserir no Ministério Público, acionar o poder público para exigi-lo.
mercado de trabalho e ter noções adequadas de cidada- § 1º O poder público, na esfera de sua competência
nia e solidariedade no convívio social. Entre os princípios, federativa, deverá:
trabalha-se com o direito de acesso à educação de quali- I - recensear anualmente as crianças e adolescentes em
dade (gratuita nos estabelecimentos públicos), a liberdade idade escolar, bem como os jovens e adultos que não con-
nas atividades de ensino em geral (tanto para o educador
cluíram a educação básica;
quanto para o educado), a valorização do professor, o in-
II - fazer-lhes a chamada pública;
centivo à educação informal e o respeito às diversidades de
III - zelar, junto aos pais ou responsáveis, pela frequência
ideias, gêneros, raça e cor.
à escola.
TÍTULO III § 2º Em todas as esferas administrativas, o Poder Públi-
Do Direito à Educação e do Dever de Educar co assegurará em primeiro lugar o acesso ao ensino obri-
gatório, nos termos deste artigo, contemplando em segui-
Art. 4º O dever do Estado com educação escolar pública da os demais níveis e modalidades de ensino, conforme as
será efetivado mediante a garantia de: prioridades constitucionais e legais.
I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 § 3º Qualquer das partes mencionadas no caput deste
(quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade, organizada da artigo tem legitimidade para peticionar no Poder Judiciário,
seguinte forma: na hipótese do § 2º do art. 208 da Constituição Federal,
a) pré-escola; sendo gratuita e de rito sumário a ação judicial correspon-
b) ensino fundamental; dente.
c) ensino médio; § 4º Comprovada a negligência da autoridade compe-
II - educação infantil gratuita às crianças de até 5 tente para garantir o oferecimento do ensino obrigatório,
(cinco) anos de idade; poderá ela ser imputada por crime de responsabilidade.

64
LEGISLAÇÃO BÁSICA

§ 5º Para garantir o cumprimento da obrigatoriedade § 1º Caberá à União a coordenação da política nacional


de ensino, o Poder Público criará formas alternativas de de educação, articulando os diferentes níveis e sistemas e
acesso aos diferentes níveis de ensino, independentemen- exercendo função normativa, redistributiva e supletiva
te da escolarização anterior. em relação às demais instâncias educacionais.
§ 2º Os sistemas de ensino terão liberdade de organi-
Art. 6º É dever dos pais ou responsáveis efetuar a zação nos termos desta Lei.
matrícula das crianças na educação básica a partir dos 4
(quatro) anos de idade. Art. 9º A União incumbir-se-á de:
I - elaborar o Plano Nacional de Educação, em cola-
Art. 7º O ensino é livre à iniciativa privada, atendidas boração com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios;
as seguintes condições: II - organizar, manter e desenvolver os órgãos e institui-
I - cumprimento das normas gerais da educação nacio- ções oficiais do sistema federal de ensino e o dos Territórios;
nal e do respectivo sistema de ensino; III - prestar assistência técnica e financeira aos Es-
II - autorização de funcionamento e avaliação de quali- tados, ao Distrito Federal e aos Municípios para o desen-
dade pelo Poder Público; volvimento de seus sistemas de ensino e o atendimento
III - capacidade de autofinanciamento, ressalvado o pre- prioritário à escolaridade obrigatória, exercendo sua função
visto no art. 213 da Constituição Federal. redistributiva e supletiva;
IV - estabelecer, em colaboração com os Estados, o Dis-
Conforme se percebe pelo artigo 4º, divide-se em eta- trito Federal e os Municípios, competências e diretrizes
pas a formação escolar, nos seguintes termos: para a educação infantil, o ensino fundamental e o ensino
- A educação básica é obrigatória e gratuita. Envolve médio, que nortearão os currículos e seus conteúdos míni-
a pré-escola, o ensino fundamental e o ensino médio. A mos, de modo a assegurar formação básica comum;
educação infantil deve ser garantida próxima à residência. IV-A - estabelecer, em colaboração com os Estados, o
Com efeito, existe a garantia do direito à creche gratuita. Distrito Federal e os Municípios, diretrizes e procedimen-
tos para identificação, cadastramento e atendimento, na
No mais, pessoas fora da idade escolar que queiram com-
educação básica e na educação superior, de alunos com al-
pletar seus estudos têm direito ao ensino fundamental e
tas habilidades ou superdotação;
médio.
V - coletar, analisar e disseminar informações sobre a
- A educação superior envolve os níveis mais elevados
educação;
do ensino, da pesquisa e da criação artística, devendo ser
VI - assegurar processo nacional de avaliação do
acessível conforme a capacidade de cada um.
rendimento escolar no ensino fundamental, médio e supe-
- Neste contexto, devem ser assegurados programas
rior, em colaboração com os sistemas de ensino, objetivan-
suplementares de material didático-escolar, transporte, ali-
do a definição de prioridades e a melhoria da qualidade do
mentação e assistência à saúde.
ensino;
O artigo 5º reitera a gratuidade e obrigatoriedade do VII - baixar normas gerais sobre cursos de graduação
ensino básico e assegura a possibilidade de se buscar judi- e pós-graduação;
cialmente a garantia deste direito em caso de negativa pelo VIII - assegurar processo nacional de avaliação das
poder público. Será possível fazê-lo por meio de mandado instituições de educação superior, com a cooperação dos
de segurança ou ação civil pública. Além da judicialização sistemas que tiverem responsabilidade sobre este nível de
para fazer valer o direito na esfera cível, cabe em caso de ensino;
negligência o acionamento na esfera penal, buscando-se a IX - autorizar, reconhecer, credenciar, supervisionar
punição por crime de responsabilidade. e avaliar, respectivamente, os cursos das instituições de
Adiante, coloca-se o dever dos pais ou responsáveis educação superior e os estabelecimentos do seu sistema de
efetuar a matrícula da criança. ensino.
Por fim, o artigo 7º estabelece a possibilidade do en- § 1º Na estrutura educacional, haverá um Conselho Na-
sino particular, desde que sejam respeitadas as normas da cional de Educação, com funções normativas e de supervi-
educação nacional, autorizado o funcionamento pelo po- são e atividade permanente, criado por lei.
der público e que tenha possibilidade de se manter inde- § 2° Para o cumprimento do disposto nos incisos V a
pendentemente de auxílio estatal, embora exista previsão IX, a União terá acesso a todos os dados e informações
de tais auxílios em circunstâncias determinadas descritas necessários de todos os estabelecimentos e órgãos edu-
no artigo 213, CF. cacionais.
§ 3º As atribuições constantes do inciso IX poderão
TÍTULO IV ser delegadas aos Estados e ao Distrito Federal, desde que
Da Organização da Educação Nacional mantenham instituições de educação superior.

Art. 8º A União, os Estados, o Distrito Federal e os Art. 10. Os Estados incumbir-se-ão de:
Municípios organizarão, em regime de colaboração, os I - organizar, manter e desenvolver os órgãos e institui-
respectivos sistemas de ensino. ções oficiais dos seus sistemas de ensino;

65
LEGISLAÇÃO BÁSICA

II - definir, com os Municípios, formas de colaboração VI - articular-se com as famílias e a comunidade,


na oferta do ensino fundamental, as quais devem assegurar criando processos de integração da sociedade com a escola;
a distribuição proporcional das responsabilidades, de acordo VII - informar pai e mãe, conviventes ou não com seus
com a população a ser atendida e os recursos financeiros filhos, e, se for o caso, os responsáveis legais, sobre a fre-
disponíveis em cada uma dessas esferas do Poder Público; quência e rendimento dos alunos, bem como sobre a exe-
III - elaborar e executar políticas e planos educacio- cução da proposta pedagógica da escola;
nais, em consonância com as diretrizes e planos nacionais VIII - notificar ao Conselho Tutelar do Município, ao juiz
de educação, integrando e coordenando as suas ações e as competente da Comarca e ao respectivo representante do
dos seus Municípios; Ministério Público a relação dos alunos que apresentem
IV - autorizar, reconhecer, credenciar, supervisionar e quantidade de faltas acima de cinquenta por cento do
avaliar, respectivamente, os cursos das instituições de edu- percentual permitido em lei.
cação superior e os estabelecimentos do seu sistema de en-
sino; Art. 13. Os docentes incumbir-se-ão de:
V - baixar normas complementares para o seu sistema I - participar da elaboração da proposta pedagógica do
de ensino; estabelecimento de ensino;
VI - assegurar o ensino fundamental e oferecer, com II - elaborar e cumprir plano de trabalho, segundo a
prioridade, o ensino médio a todos que o demandarem, proposta pedagógica do estabelecimento de ensino;
respeitado o disposto no art. 38 desta Lei; III - zelar pela aprendizagem dos alunos;
VII - assumir o transporte escolar dos alunos da rede IV - estabelecer estratégias de recuperação para os
estadual. alunos de menor rendimento;
Parágrafo único. Ao Distrito Federal aplicar-se-ão as V - ministrar os dias letivos e horas-aula estabelecidos,
competências referentes aos Estados e aos Municípios. além de participar integralmente dos períodos dedicados ao
planejamento, à avaliação e ao desenvolvimento profissio-
Art. 11. Os Municípios incumbir-se-ão de: nal;
I - organizar, manter e desenvolver os órgãos e insti- VI - colaborar com as atividades de articulação da es-
tuições oficiais dos seus sistemas de ensino, integrando-os cola com as famílias e a comunidade.
às políticas e planos educacionais da União e dos Estados;
II - exercer ação redistributiva em relação às suas es- Art. 14. Os sistemas de ensino definirão as normas da
colas; gestão democrática do ensino público na educação bá-
III - baixar normas complementares para o seu siste- sica, de acordo com as suas peculiaridades e conforme os
ma de ensino; seguintes princípios:
IV - autorizar, credenciar e supervisionar os estabele- I - participação dos profissionais da educação na elabo-
cimentos do seu sistema de ensino; ração do projeto pedagógico da escola;
V - oferecer a educação infantil em creches e pré-es- II - participação das comunidades escolar e local em
colas, e, com prioridade, o ensino fundamental, permi- conselhos escolares ou equivalentes.
tida a atuação em outros níveis de ensino somente quan-
do estiverem atendidas plenamente as necessidades de sua Art. 15. Os sistemas de ensino assegurarão às unidades
área de competência e com recursos acima dos percentuais escolares públicas de educação básica que os integram pro-
mínimos vinculados pela Constituição Federal à manuten- gressivos graus de autonomia pedagógica e administra-
ção e desenvolvimento do ensino. tiva e de gestão financeira, observadas as normas gerais
VI - assumir o transporte escolar dos alunos da rede de direito financeiro público.
municipal.
Parágrafo único. Os Municípios poderão optar, ainda, Art. 16. O sistema federal de ensino compreende:
por se integrar ao sistema estadual de ensino ou compor I - as instituições de ensino mantidas pela União;
com ele um sistema único de educação básica. II - as instituições de educação superior criadas e manti-
das pela iniciativa privada;
Art. 12. Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as III - os órgãos federais de educação.
normas comuns e as do seu sistema de ensino, terão a in-
cumbência de: Art. 17. Os sistemas de ensino dos Estados e do Dis-
I - elaborar e executar sua proposta pedagógica; trito Federal compreendem:
II - administrar seu pessoal e seus recursos materiais e I - as instituições de ensino mantidas, respectivamente,
financeiros; pelo Poder Público estadual e pelo Distrito Federal;
III - assegurar o cumprimento dos dias letivos e horas II - as instituições de educação superior mantidas pelo
-aula estabelecidas; Poder Público municipal;
IV - velar pelo cumprimento do plano de trabalho de III - as instituições de ensino fundamental e médio cria-
cada docente; das e mantidas pela iniciativa privada;
V - prover meios para a recuperação dos alunos de IV - os órgãos de educação estaduais e do Distrito Fede-
menor rendimento; ral, respectivamente.

66
LEGISLAÇÃO BÁSICA

Parágrafo único. No Distrito Federal, as instituições de TÍTULO V


educação infantil, criadas e mantidas pela iniciativa privada, Dos Níveis e das Modalidades de
integram seu sistema de ensino. Educação e Ensino

Art. 18. Os sistemas municipais de ensino compreen- CAPÍTULO I


dem: Da Composição dos Níveis Escolares
I - as instituições do ensino fundamental, médio e de
educação infantil mantidas pelo Poder Público municipal; Art. 21. A educação escolar compõe-se de:
II - as instituições de educação infantil criadas e manti- I - educação básica, formada pela educação infantil,
das pela iniciativa privada; ensino fundamental e ensino médio;
III - os órgãos municipais de educação. II - educação superior.

Art. 19. As instituições de ensino dos diferentes ní- CAPÍTULO II


veis classificam-se nas seguintes categorias administrativas: DA EDUCAÇÃO BÁSICA
I - públicas, assim entendidas as criadas ou incorpora-
das, mantidas e administradas pelo Poder Público;
Seção I
II - privadas, assim entendidas as mantidas e adminis-
Das Disposições Gerais
tradas por pessoas físicas ou jurídicas de direito privado.
Art. 22. A educação básica tem por finalidades desen-
Art. 20. As instituições privadas de ensino se enqua-
drarão nas seguintes categorias: volver o educando, assegurar-lhe a formação comum in-
dispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhe
I - particulares em sentido estrito, assim entendidas as meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores.
que são instituídas e mantidas por uma ou mais pessoas fí-
sicas ou jurídicas de direito privado que não apresentem as Art. 23. A educação básica poderá organizar-se em sé-
características dos incisos abaixo; ries anuais, períodos semestrais, ciclos, alternância re-
gular de períodos de estudos, grupos não-seriados, com
II - comunitárias, assim entendidas as que são insti- base na idade, na competência e em outros critérios, ou por
tuídas por grupos de pessoas físicas ou por uma ou mais forma diversa de organização, sempre que o interesse do
pessoas jurídicas, inclusive cooperativas educacionais, sem processo de aprendizagem assim o recomendar.
fins lucrativos, que incluam na sua entidade mantenedora § 1º A escola poderá reclassificar os alunos, inclusive
representantes da comunidade; quando se tratar de transferências entre estabelecimentos
situados no País e no exterior, tendo como base as normas
III - confessionais, assim entendidas as que são insti- curriculares gerais.
tuídas por grupos de pessoas físicas ou por uma ou mais § 2º O calendário escolar deverá adequar-se às pecu-
pessoas jurídicas que atendem a orientação confessional e liaridades locais, inclusive climáticas e econômicas, a cri-
ideologia específicas e ao disposto no inciso anterior; tério do respectivo sistema de ensino, sem com isso reduzir o
número de horas letivas previsto nesta Lei.
IV - filantrópicas, na forma da lei.
Art. 24. A educação básica, nos níveis fundamental e
A LDB estabelece um regime de colaboração entre as médio, será organizada de acordo com as seguintes regras
entidades de ensino nas esferas federativas diversas, no en- comuns:
tanto, coloca competência à União de encabeçar e coorde- I - a carga horária mínima anual será de oitocentas
nar os sistemas de ensino. Tal papel de liderança, descrito horas para o ensino fundamental e para o ensino médio,
no artigo 9º, envolve poderes de regulação e de controle,
distribuídas por um mínimo de duzentos dias de efetivo tra-
autorizando funcionamento ou suspendendo-o, realizando
balho escolar, excluído o tempo reservado aos exames finais,
avaliação constante de desempenho, entre outros deveres.
quando houver; ;
Uma nota interessante é reparar que o artigo 10 esta-
II - a classificação em qualquer série ou etapa, exceto a
belece o dever dos Estados de garantir a educação no en-
sino fundamental e priorizar a educação no ensino médio, primeira do ensino fundamental, pode ser feita:
ao passo que o artigo 11 coloca o dever dos municípios a) por promoção, para alunos que cursaram, com apro-
de garantir a educação infantil e priorizar a educação fun- veitamento, a série ou fase anterior, na própria escola;
damental. É possível, ainda, integrar educação municipal e b) por transferência, para candidatos procedentes de
estadual em um sistema único. outras escolas;
Quanto às questões pedagógicas e de gestão dos es- c) independentemente de escolarização anterior, me-
tabelecimentos de ensino, incumbe a eles próprios, em in- diante avaliação feita pela escola, que defina o grau de
tegração com seus docentes. Este processo de interação desenvolvimento e experiência do candidato e permita sua
entre instituição e docente, bem como destes com a co- inscrição na série ou etapa adequada, conforme regulamen-
munidade local, é conhecido como gestão democrática. tação do respectivo sistema de ensino;

67
LEGISLAÇÃO BÁSICA

III - nos estabelecimentos que adotam a progressão re- ger, obrigatoriamente, o estudo da língua portuguesa e
gular por série, o regimento escolar pode admitir formas de da matemática, o conhecimento do mundo físico e na-
progressão parcial, desde que preservada a sequência do tural e da realidade social e política, especialmente da
currículo, observadas as normas do respectivo sistema de República Federativa do Brasil, observado, na educação in-
ensino; fantil, o disposto no art. 31, no ensino fundamental, o dis-
IV - poderão organizar-se classes, ou turmas, com alu- posto no art. 32, e no ensino médio, o disposto no art. 36.
nos de séries distintas, com níveis equivalentes de adianta- § 2º O ensino da arte, especialmente em suas expres-
mento na matéria, para o ensino de línguas estrangeiras, sões regionais, constituirá componente curricular obrigató-
artes, ou outros componentes curriculares; rio da educação básica.
V - a verificação do rendimento escolar observará os se- § 3º A educação física, integrada à proposta pedagó-
guintes critérios: gica da escola, é componente curricular obrigatório da edu-
a) avaliação contínua e cumulativa do desempenho cação infantil e do ensino fundamental, sendo sua prática
do aluno, com prevalência dos aspectos qualitativos sobre os facultativa ao aluno:
quantitativos e dos resultados ao longo do período sobre os I - que cumpra jornada de trabalho igual ou superior a
de eventuais provas finais; seis horas;
b) possibilidade de aceleração de estudos para alunos II - maior de trinta anos de idade;
com atraso escolar; III - que estiver prestando serviço militar inicial ou que,
c) possibilidade de avanço nos cursos e nas séries me- em situação similar, estiver obrigado à prática da educação
diante verificação do aprendizado; física;
d) aproveitamento de estudos concluídos com êxito; IV - amparado pelo Decreto-Lei no 1.044, de 21 de ou-
e) obrigatoriedade de estudos de recuperação, de pre- tubro de 1969;
ferência paralelos ao período letivo, para os casos de baixo V - (VETADO);
rendimento escolar, a serem disciplinados pelas instituições VI - que tenha prole.
de ensino em seus regimentos; § 4º O ensino da História do Brasil levará em conta as
VI - o controle de frequência fica a cargo da escola, contribuições das diferentes culturas e etnias para a forma-
ção do povo brasileiro, especialmente das matrizes indí-
conforme o disposto no seu regimento e nas normas do res-
gena, africana e europeia.
pectivo sistema de ensino, exigida a frequência mínima de
§ 5o No currículo do ensino fundamental, a partir do
setenta e cinco por cento do total de horas letivas para
sexto ano, será ofertada a língua inglesa.
aprovação;
§ 6o As artes visuais, a dança, a música e o teatro são
VII - cabe a cada instituição de ensino expedir histó-
as linguagens que constituirão o componente curricular de
ricos escolares, declarações de conclusão de série e di-
que trata o § 2o deste artigo.
plomas ou certificados de conclusão de cursos, com as
§ 7º A integralização curricular poderá incluir, a critério
especificações cabíveis.
dos sistemas de ensino, projetos e pesquisas envolvendo
§ 1º A carga horária mínima anual de que trata o inci- os temas transversais de que trata o caput.
so I do caput deverá ser ampliada de forma progressiva, § 8º A exibição de filmes de produção nacional cons-
no ensino médio, para mil e quatrocentas horas, devendo tituirá componente curricular complementar integrado à
os sistemas de ensino oferecer, no prazo máximo de cinco proposta pedagógica da escola, sendo a sua exibição obriga-
anos, pelo menos mil horas anuais de carga horária, a partir tória por, no mínimo, 2 (duas) horas mensais.
de 2 de março de 2017. § 9o Conteúdos relativos aos direitos humanos e
§ 2º Os sistemas de ensino disporão sobre a oferta de à prevenção de todas as formas de violência contra
educação de jovens e adultos e de ensino noturno regular, a criança e o adolescente serão incluídos, como temas
adequado às condições do educando, conforme o inciso transversais, nos currículos escolares de que trata o caput
VI do art. 4º. deste artigo, tendo como diretriz a Lei no 8.069, de 13 de
Art. 25. Será objetivo permanente das autoridades res- julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente), ob-
ponsáveis alcançar relação adequada entre o número de servada a produção e distribuição de material didático ade-
alunos e o professor, a carga horária e as condições ma- quado.
teriais do estabelecimento. § 10. A inclusão de novos componentes curriculares de
Parágrafo único. Cabe ao respectivo sistema de ensino, caráter obrigatório na Base Nacional Comum Curricular de-
à vista das condições disponíveis e das características regio- penderá de aprovação do Conselho Nacional de Educação
nais e locais, estabelecer parâmetro para atendimento do e de homologação pelo Ministro de Estado da Educação.
disposto neste artigo.
Art. 26. Os currículos da educação infantil, do ensino Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental
fundamental e do ensino médio devem ter base nacional e de ensino médio, públicos e privados, torna-se obrigatório
comum, a ser complementada, em cada sistema de ensino e o estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena.
em cada estabelecimento escolar, por uma parte diversifica- § 1o O conteúdo programático a que se refere este ar-
da, exigida pelas características regionais e locais da socie- tigo incluirá diversos aspectos da história e da cultura que
dade, da cultura, da economia e dos educandos. caracterizam a formação da população brasileira, a partir
§ 1º Os currículos a que se refere o caput devem abran- desses dois grupos étnicos, tais como o estudo da história

68
LEGISLAÇÃO BÁSICA

da África e dos africanos, a luta dos negros e dos povos de todas as formas de violência contra a criança e o ado-
indígenas no Brasil, a cultura negra e indígena brasileira e lescente. É obrigatório o estudo da história e cultura afro
o negro e o índio na formação da sociedade nacional, res- -brasileira e indígena. Ainda, a educação deve considerar
gatando as suas contribuições nas áreas social, econômica as peculiaridades da zona rural quando nela for ministrada.
e política, pertinentes à história do Brasil.
§ 2o Os conteúdos referentes à história e cultura afro-bra- Seção II
sileira e dos povos indígenas brasileiros serão ministrados no Da Educação Infantil
âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de
educação artística e de literatura e história brasileiras. Art. 29. A educação infantil, primeira etapa da educa-
ção básica, tem como finalidade o desenvolvimento inte-
Art. 27. Os conteúdos curriculares da educação básica gral da criança de até 5 (cinco) anos, em seus aspectos
observarão, ainda, as seguintes diretrizes: físico, psicológico, intelectual e social, complementando a
I - a difusão de valores fundamentais ao interesse so-
ação da família e da comunidade.
cial, aos direitos e deveres dos cidadãos, de respeito ao bem
comum e à ordem democrática;
Art. 30. A educação infantil será oferecida em:
II - consideração das condições de escolaridade dos
I - creches, ou entidades equivalentes, para crianças de
alunos em cada estabelecimento;
III - orientação para o trabalho; até três anos de idade;
IV - promoção do desporto educacional e apoio às prá- II - pré-escolas, para as crianças de 4 (quatro) a 5 (cin-
ticas desportivas não-formais. co) anos de idade.

Art. 28. Na oferta de educação básica para a população Art. 31. A educação infantil será organizada de acordo
rural, os sistemas de ensino promoverão as adaptações ne- com as seguintes regras comuns:
cessárias à sua adequação às peculiaridades da vida rural e I - avaliação mediante acompanhamento e registro do
de cada região, especialmente: desenvolvimento das crianças, sem o objetivo de promoção,
I - conteúdos curriculares e metodologias apropriadas mesmo para o acesso ao ensino fundamental;
às reais necessidades e interesses dos alunos da zona rural; II - carga horária mínima anual de 800 (oitocentas) ho-
II - organização escolar própria, incluindo adequação do ras, distribuída por um mínimo de 200 (duzentos) dias de
calendário escolar às fases do ciclo agrícola e às condições trabalho educacional;
climáticas; III - atendimento à criança de, no mínimo, 4 (quatro)
III - adequação à natureza do trabalho na zona rural. horas diárias para o turno parcial e de 7 (sete) horas para a
Parágrafo único. O fechamento de escolas do campo, jornada integral;
indígenas e quilombolas será precedido de manifestação do IV - controle de frequência pela instituição de educação
órgão normativo do respectivo sistema de ensino, que consi- pré-escolar, exigida a frequência mínima de 60% (sessenta
derará a justificativa apresentada pela Secretaria de Educa- por cento) do total de horas;
ção, a análise do diagnóstico do impacto da ação e a mani- V - expedição de documentação que permita atestar os
festação da comunidade escolar. processos de desenvolvimento e aprendizagem da criança.

A educação básica tem por papel a formação da base A educação infantil é ministrada em creches até os 3
do educado. anos de idade e em pré-escolas dos 3 aos 5 anos de idade.
Os critérios para mudança de série podem ser promo-
ção (aprovação em etapa anterior), transferência (candida-
Seção III
tos de outras escolas) e avaliação (análise da experiência e
Do Ensino Fundamental
desenvolvimento do candidato). O ensino poderá ser ace-
lerado caso necessário. Nas situações de alunos que não
Art. 32. O ensino fundamental obrigatório, com dura-
acompanhem seu ritmo, deverá ser garantida recuperação.
Exige-se, além do desempenho, a frequência de 75%, ção de 9 (nove) anos, gratuito na escola pública, iniciando-
no mínimo, para aprovação. se aos 6 (seis) anos de idade, terá por objetivo a formação
O currículo da educação básica segue uma base na- básica do cidadão, mediante:
cional comum. Devem abranger língua portuguesa e da I - o desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo
matemática, o conhecimento do mundo físico e natural e como meios básicos o pleno domínio da leitura, da escrita e
da realidade social e política. A educação física deve ser do cálculo;
oferecida obrigatoriamente, mas é facultativa ao aluno em II - a compreensão do ambiente natural e social, do sis-
certas situações, como de trabalho, serviço militar, idade tema político, da tecnologia, das artes e dos valores em que
superior a 30 anos. Em respeito ao pluralismo, deve consi- se fundamenta a sociedade;
derar as matrizes indígena, africana e europeia como temas III - o desenvolvimento da capacidade de aprendizagem,
transversais. Ainda em tal condição, cabe o aprendizado de tendo em vista a aquisição de conhecimentos e habilidades
Conteúdos relativos aos direitos humanos e à prevenção e a formação de atitudes e valores;

69
LEGISLAÇÃO BÁSICA

IV - o fortalecimento dos vínculos de família, dos laços Seção IV


de solidariedade humana e de tolerância recíproca em que Do Ensino Médio
se assenta a vida social.
§ 1º É facultado aos sistemas de ensino desdobrar o Art. 35. O ensino médio, etapa final da educação bá-
ensino fundamental em ciclos. sica, com duração mínima de três anos, terá como finali-
§ 2º Os estabelecimentos que utilizam progressão re- dades:
gular por série podem adotar no ensino fundamental o re- I - a consolidação e o aprofundamento dos conhecimen-
gime de progressão continuada, sem prejuízo da avaliação tos adquiridos no ensino fundamental, possibilitando o pros-
do processo de ensino-aprendizagem, observadas as nor- seguimento de estudos;
mas do respectivo sistema de ensino. II - a preparação básica para o trabalho e a cidadania do
§ 3º O ensino fundamental regular será ministrado em educando, para continuar aprendendo, de modo a ser capaz
língua portuguesa, assegurada às comunidades indígenas de se adaptar com flexibilidade a novas condições de ocupa-
a utilização de suas línguas maternas e processos próprios ção ou aperfeiçoamento posteriores;
de aprendizagem. III - o aprimoramento do educando como pessoa hu-
§ 4º O ensino fundamental será presencial, sendo o en- mana, incluindo a formação ética e o desenvolvimento da
sino a distância utilizado como complementação da apren- autonomia intelectual e do pensamento crítico;
dizagem ou em situações emergenciais. IV - a compreensão dos fundamentos científico-tecnoló-
§ 5º O currículo do ensino fundamental incluirá, obri- gicos dos processos produtivos, relacionando a teoria com a
gatoriamente, conteúdo que trate dos direitos das crianças prática, no ensino de cada disciplina.
e dos adolescentes, tendo como diretriz a Lei nº 8.069, de
13 de julho de 1990, que institui o Estatuto da Criança e Art. 35-A. A Base Nacional Comum Curricular defi-
do Adolescente, observada a produção e distribuição de nirá direitos e objetivos de aprendizagem do ensino médio,
material didático adequado. conforme diretrizes do Conselho Nacional de Educação, nas
§ 6º O estudo sobre os símbolos nacionais será incluído seguintes áreas do conhecimento:
como tema transversal nos currículos do ensino fundamen- I - linguagens e suas tecnologias;
tal. II - matemática e suas tecnologias;
III - ciências da natureza e suas tecnologias;
Art. 33. O ensino religioso, de matrícula facultativa, IV - ciências humanas e sociais aplicadas.
é parte integrante da formação básica do cidadão e cons- § 1º A parte diversificada dos currículos de que trata
titui disciplina dos horários normais das escolas públicas o caput do art. 26, definida em cada sistema de ensino, de-
de ensino fundamental, assegurado o respeito à diversida- verá estar harmonizada à Base Nacional Comum Curricu-
de cultural religiosa do Brasil, vedadas quaisquer formas de lar e ser articulada a partir do contexto histórico, econômico,
proselitismo. social, ambiental e cultural.
§ 1º Os sistemas de ensino regulamentarão os procedi- § 2º A Base Nacional Comum Curricular referente ao
mentos para a definição dos conteúdos do ensino religioso ensino médio incluirá obrigatoriamente estudos e práti-
e estabelecerão as normas para a habilitação e admissão cas de educação física, arte, sociologia e filosofia.
dos professores. § 3º O ensino da língua portuguesa e da matemática
§ 2º Os sistemas de ensino ouvirão entidade civil, cons- será obrigatório nos três anos do ensino médio, assegurada
tituída pelas diferentes denominações religiosas, para a de- às comunidades indígenas, também, a utilização das respec-
finição dos conteúdos do ensino religioso. tivas línguas maternas.
§ 4º Os currículos do ensino médio incluirão, obriga-
Art. 34. A jornada escolar no ensino fundamental inclui- toriamente, o estudo da língua inglesa e poderão ofertar
rá pelo menos quatro horas de trabalho efetivo em sala outras línguas estrangeiras, em caráter optativo, preferen-
de aula, sendo progressivamente ampliado o período de cialmente o espanhol, de acordo com a disponibilidade de
permanência na escola. oferta, locais e horários definidos pelos sistemas de ensino.
§ 1º São ressalvados os casos do ensino noturno e das § 5º A carga horária destinada ao cumprimento da Base
formas alternativas de organização autorizadas nesta Lei. Nacional Comum Curricular não poderá ser superior a mil
§ 2º O ensino fundamental será ministrado progres- e oitocentas horas do total da carga horária do ensino
sivamente em tempo integral, a critério dos sistemas de médio, de acordo com a definição dos sistemas de ensino.
ensino. § 6º A União estabelecerá os padrões de desempenho
esperados para o ensino médio, que serão referência nos
O ensino fundamental inicia-se aos 6 anos de idade e processos nacionais de avaliação, a partir da Base Nacional
tem duração de 9 anos. Além de objetivar a alfabetização, Comum Curricular.
também incentiva a formação do cidadão, da pessoa em § 7º Os currículos do ensino médio deverão considerar
contato com o mundo que o cerca estabelecendo vínculos a formação integral do aluno, de maneira a adotar um
de solidariedade e amizade. O ensino fundamental deve trabalho voltado para a construção de seu projeto de vida e
ser presencial, em regra. O ensino religioso é facultativo. A para sua formação nos aspectos físicos, cognitivos e socioe-
carga horária diária é de no mínimo 4 horas. mocionais.

70
LEGISLAÇÃO BÁSICA

§ 8º Os conteúdos, as metodologias e as formas de § 9º As instituições de ensino emitirão certificado com


avaliação processual e formativa serão organizados nas re- validade nacional, que habilitará o concluinte do ensino
des de ensino por meio de atividades teóricas e práticas, médio ao prosseguimento dos estudos em nível superior
provas orais e escritas, seminários, projetos e atividades ou em outros cursos ou formações para os quais a conclu-
on-line, de tal forma que ao final do ensino médio o edu- são do ensino médio seja etapa obrigatória.
cando demonstre: § 10. Além das formas de organização previstas no art.
I - domínio dos princípios científicos e tecnológicos que 23, o ensino médio poderá ser organizado em módulos e
presidem a produção moderna; adotar o sistema de créditos com terminalidade específica.
II - conhecimento das formas contemporâneas de lin- § 11. Para efeito de cumprimento das exigências cur-
guagem. riculares do ensino médio, os sistemas de ensino poderão
reconhecer competências e firmar convênios com institui-
Art. 36. O currículo do ensino médio será composto ções de educação a distância com notório reconhecimento,
pela Base Nacional Comum Curricular e por itinerários mediante as seguintes formas de comprovação:
formativos, que deverão ser organizados por meio da ofer- I - demonstração prática;
ta de diferentes arranjos curriculares, conforme a relevância II - experiência de trabalho supervisionado ou outra ex-
para o contexto local e a possibilidade dos sistemas de en- periência adquirida fora do ambiente escolar;
sino, a saber: III - atividades de educação técnica oferecidas em outras
I - linguagens e suas tecnologias; instituições de ensino credenciadas;
II - matemática e suas tecnologias; IV - cursos oferecidos por centros ou programas ocupa-
III - ciências da natureza e suas tecnologias; cionais;
IV - ciências humanas e sociais aplicadas; V - estudos realizados em instituições de ensino nacio-
V - formação técnica e profissional. nais ou estrangeiras;
§ 1º A organização das áreas de que trata o caput e das VI - cursos realizados por meio de educação a distância
respectivas competências e habilidades será feita de acor- ou educação presencial mediada por tecnologias.
do com critérios estabelecidos em cada sistema de ensino. § 12. As escolas deverão orientar os alunos no processo
§ 2º (Revogado) de escolha das áreas de conhecimento ou de atuação pro-
§ 3º A critério dos sistemas de ensino, poderá ser fissional previstas no caput.
composto itinerário formativo integrado, que se traduz na A etapa final do ensino médio tem a duração de três
composição de componentes curriculares da Base Nacio- anos e busca fornecer a consolidação e o aprofundamento
nal Comum Curricular - BNCC e dos itinerários formativos, dos conhecimentos transmitidos no ensino fundamental,
considerando os incisos I a V do caput. com a devida atenção a conhecimentos que permitam o
§ 4º (Revogado) ingresso do aluno no ensino universitário e na carreira de
§ 5º Os sistemas de ensino, mediante disponibilidade trabalho. Neste ponto, a LDB sofreu alterações recentes
de vagas na rede, possibilitarão ao aluno concluinte do en- pela Medida Provisória nº 746/2016, convertida na Lei nº
sino médio cursar mais um itinerário formativo de que trata 13.415, de 2017, que foi alvo de inúmeras críticas, nota-
o caput. damente por estabelecer como facultativos conhecimen-
§ 6º A critério dos sistemas de ensino, a oferta de for- tos que antes eram tidos como obrigatórios. Para entender
mação com ênfase técnica e profissional considerará: melhor esta questão, percebe-se que na verdade a pro-
I - a inclusão de vivências práticas de trabalho no se- posta é a especificação de matrizes ainda durante o ensino
tor produtivo ou em ambientes de simulação, estabelecendo médio: o aluno poderá escolher em quais áreas de conheci-
parcerias e fazendo uso, quando aplicável, de instrumentos mento pretende se concentrar. Por exemplo, um aluno que
estabelecidos pela legislação sobre aprendizagem profissio- não queira se especializar em ciências humanas, não teria
nal; a obrigação de cursar matérias como história e geografia.
II - a possibilidade de concessão de certificados interme- Um aluno que não tenha interesse em ir para a universida-
diários de qualificação para o trabalho, quando a formação de e já queira ingressar no mercado de trabalho, terá aulas
for estruturada e organizada em etapas com terminalidade. concentradas em formação técnica e profissional, apren-
§ 7º A oferta de formações experimentais relacionadas dendo marcenaria, mecânica, administração, entre outras
ao inciso V do caput, em áreas que não constem do Catá- questões. As áreas que podem ser optadas são as seguin-
logo Nacional dos Cursos Técnicos, dependerá, para sua tes: linguagens e suas tecnologias; matemática e suas tec-
continuidade, do reconhecimento pelo respectivo Conse- nologias; ciências da natureza e suas tecnologias; ciências
lho Estadual de Educação, no prazo de três anos, e da inser- humanas e sociais aplicadas; formação técnica e profissio-
ção no Catálogo Nacional dos Cursos Técnicos, no prazo de nal. As únicas matérias estabelecidas como obrigatórias
cinco anos, contados da data de oferta inicial da formação. são: português, matemática, artes, educação física, filosofia
§ 8º A oferta de formação técnica e profissional a que e sociologia – estas quatro últimas inicialmente seriam fa-
se refere o inciso V do caput, realizada na própria insti- cultativas, mas devido a pressões sociais foram colocadas
tuição ou em parceria com outras instituições, deverá ser como obrigatórias. Ainda é cedo para dizer se realmente
aprovada previamente pelo Conselho Estadual de Educa- este será o rumo conferido pela reforma, eis que a Base
ção, homologada pelo Secretário Estadual de Educação e Nacional Comum Curricular que detalhará estas questões
certificada pelos sistemas de ensino. ainda está em discussão.

71
LEGISLAÇÃO BÁSICA

Seção IV-A A educação profissional e técnica pode se dar durante


Da Educação Profissional Técnica o Ensino Médio, notadamente se o estudante fizer a op-
de Nível Médio ção por esta categoria de ensino (o ensino médio pode
ser voltado à formação técnico-profissional, preparando o
Art. 36-A. Sem prejuízo do disposto na Seção IV deste jovem para o ingresso no mercado de trabalho indepen-
Capítulo, o ensino médio, atendida a formação geral do edu- dentemente de ensino universitário), quanto após o Ensino
cando, poderá prepará-lo para o exercício de profissões Médio, em instituições próprias de ensino técnico-profis-
técnicas. sionalizante (neste sentido, há cursos técnicos-profissio-
Parágrafo único. A preparação geral para o trabalho nais com menor duração que os cursos de ensino superior
e, facultativamente, a habilitação profissional poderão ser e que são equiparados a este).
desenvolvidas nos próprios estabelecimentos de ensino mé-
dio ou em cooperação com instituições especializadas em Seção V
educação profissional. Da Educação de
Jovens e Adultos
Art. 36-B. A educação profissional técnica de nível mé-
dio será desenvolvida nas seguintes formas: Art. 37. A educação de jovens e adultos será destina-
I - articulada com o ensino médio; da àqueles que não tiveram acesso ou continuidade de
II - subsequente, em cursos destinados a quem já tenha estudos no ensino fundamental e médio na idade pró-
concluído o ensino médio. pria.
Parágrafo único. A educação profissional técnica de ní- § 1º Os sistemas de ensino assegurarão gratuitamente
vel médio deverá observar: aos jovens e aos adultos, que não puderam efetuar os es-
I - os objetivos e definições contidos nas diretrizes cur- tudos na idade regular, oportunidades educacionais apro-
riculares nacionais estabelecidas pelo Conselho Nacional de priadas, consideradas as características do alunado, seus
Educação; interesses, condições de vida e de trabalho, mediante cur-
II - as normas complementares dos respectivos sistemas
sos e exames.
de ensino;
§ 2º O Poder Público viabilizará e estimulará o acesso
III - as exigências de cada instituição de ensino, nos ter-
e a permanência do trabalhador na escola, mediante ações
mos de seu projeto pedagógico.
integradas e complementares entre si.
§ 3º A educação de jovens e adultos deverá articular-
Art. 36-C. A educação profissional técnica de nível mé-
se, preferencialmente, com a educação profissional, na for-
dio articulada, prevista no inciso I do caput do art. 36-B
ma do regulamento.
desta Lei, será desenvolvida de forma:
I - integrada, oferecida somente a quem já tenha con-
cluído o ensino fundamental, sendo o curso planejado de Art. 38. Os sistemas de ensino manterão cursos e exames
modo a conduzir o aluno à habilitação profissional técnica supletivos, que compreenderão a base nacional comum do
de nível médio, na mesma instituição de ensino, efetuando- currículo, habilitando ao prosseguimento de estudos em ca-
se matrícula única para cada aluno; ráter regular.
II - concomitante, oferecida a quem ingresse no ensino § 1º Os exames a que se refere este artigo realizar-se
médio ou já o esteja cursando, efetuando-se matrículas dis- -ão:
tintas para cada curso, e podendo ocorrer: I - no nível de conclusão do ensino fundamental, para os
a) na mesma instituição de ensino, aproveitando-se as maiores de quinze anos;
oportunidades educacionais disponíveis; II - no nível de conclusão do ensino médio, para os
b) em instituições de ensino distintas, aproveitando-se maiores de dezoito anos.
as oportunidades educacionais disponíveis; § 2º Os conhecimentos e habilidades adquiridos pelos
c) em instituições de ensino distintas, mediante convê- educandos por meios informais serão aferidos e reconhe-
nios de intercomplementaridade, visando ao planejamento e cidos mediante exames.
ao desenvolvimento de projeto pedagógico unificado.
A educação de jovens e adultos objetiva permitir a
Art. 36-D. Os diplomas de cursos de educação profis- conclusão do ensino fundamental e médio para aqueles
sional técnica de nível médio, quando registrados, terão que já ultrapassaram a idade regular em que isso deveria
validade nacional e habilitarão ao prosseguimento de ter acontecido.
estudos na educação superior.
Parágrafo único. Os cursos de educação profissional CAPÍTULO III
técnica de nível médio, nas formas articulada concomitante Da Educação Profissional e Tecnológica
e subsequente, quando estruturados e organizados em eta-
pas com terminalidade, possibilitarão a obtenção de certifi- Art. 39. A educação profissional e tecnológica, no
cados de qualificação para o trabalho após a conclusão, com cumprimento dos objetivos da educação nacional, integra-se
aproveitamento, de cada etapa que caracterize uma qualifi- aos diferentes níveis e modalidades de educação e às dimen-
cação para o trabalho. sões do trabalho, da ciência e da tecnologia.

72
LEGISLAÇÃO BÁSICA

§ 1º Os cursos de educação profissional e tecnológica IV - promover a divulgação de conhecimentos cultu-


poderão ser organizados por eixos tecnológicos, possibi- rais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da
litando a construção de diferentes itinerários formativos, humanidade e comunicar o saber através do ensino, de pu-
observadas as normas do respectivo sistema e nível de en- blicações ou de outras formas de comunicação;
sino. V - suscitar o desejo permanente de aperfeiçoamento
§ 2º A educação profissional e tecnológica abrangerá cultural e profissional e possibilitar a correspondente concre-
os seguintes cursos: tização, integrando os conhecimentos que vão sendo adqui-
I – de formação inicial e continuada ou qualificação ridos numa estrutura intelectual sistematizadora do conhe-
profissional; cimento de cada geração;
II – de educação profissional técnica de nível médio; VI - estimular o conhecimento dos problemas do
III – de educação profissional tecnológica de gra- mundo presente, em particular os nacionais e regionais,
duação e pós-graduação. prestar serviços especializados à comunidade e estabelecer
§ 3º Os cursos de educação profissional tecnológica de com esta uma relação de reciprocidade;
graduação e pós-graduação organizar-se-ão, no que con- VII - promover a extensão, aberta à participação da
cerne a objetivos, características e duração, de acordo com população, visando à difusão das conquistas e benefícios re-
as diretrizes curriculares nacionais estabelecidas pelo Con- sultantes da criação cultural e da pesquisa científica e tecno-
selho Nacional de Educação. lógica geradas na instituição.
VIII - atuar em favor da universalização e do aprimo-
Art. 40. A educação profissional será desenvolvida ramento da educação básica, mediante a formação e a
em articulação com o ensino regular ou por diferentes capacitação de profissionais, a realização de pesquisas pe-
estratégias de educação continuada, em instituições es- dagógicas e o desenvolvimento de atividades de extensão
pecializadas ou no ambiente de trabalho. que aproximem os dois níveis escolares.

Art. 41. O conhecimento adquirido na educação profis- Art. 44. A educação superior abrangerá os seguintes
sional e tecnológica, inclusive no trabalho, poderá ser objeto cursos e programas:
de avaliação, reconhecimento e certificação para prossegui- I - cursos sequenciais por campo de saber, de diferentes
mento ou conclusão de estudos. níveis de abrangência, abertos a candidatos que atendam
aos requisitos estabelecidos pelas instituições de ensino, des-
Art. 42. As instituições de educação profissional e tec-
de que tenham concluído o ensino médio ou equivalente;
nológica, além dos seus cursos regulares, oferecerão cursos
II - de graduação, abertos a candidatos que tenham
especiais, abertos à comunidade, condicionada a matrícula
concluído o ensino médio ou equivalente e tenham sido clas-
à capacidade de aproveitamento e não necessariamente
sificados em processo seletivo;
ao nível de escolaridade.
III - de pós-graduação, compreendendo programas de
mestrado e doutorado, cursos de especialização, aperfeiçoa-
A educação profissional e tecnológica pode se dar não
mento e outros, abertos a candidatos diplomados em cursos
apenas no ensino médio, mas também em instituições pró-
de graduação e que atendam às exigências das instituições
prias, que podem conferir inclusive diploma de formação
de ensino;
em nível superior. Exemplos: FATEC, SENAI, entre outros.
O acesso a este tipo de ensino não necessariamente exige IV - de extensão, abertos a candidatos que atendam
conclusão dos níveis prévios de educação, eis que seu prin- aos requisitos estabelecidos em cada caso pelas instituições
cipal objetivo não é o ensino de conteúdos típicos, mas sim de ensino.
a capacitação profissional. § 1º. Os resultados do processo seletivo referido no
inciso II do caput deste artigo serão tornados públicos
CAPÍTULO IV pelas instituições de ensino superior, sendo obrigatória a
DA EDUCAÇÃO SUPERIOR divulgação da relação nominal dos classificados, a respec-
tiva ordem de classificação, bem como do cronograma das
Art. 43. A educação superior tem por finalidade: chamadas para matrícula, de acordo com os critérios para
I - estimular a criação cultural e o desenvolvimento preenchimento das vagas constantes do respectivo edital.
do espírito científico e do pensamento reflexivo; § 2º No caso de empate no processo seletivo, as ins-
II - formar diplomados nas diferentes áreas de co- tituições públicas de ensino superior darão prioridade de
nhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais matrícula ao candidato que comprove ter renda familiar
e para a participação no desenvolvimento da sociedade bra- inferior a dez salários mínimos, ou ao de menor renda fa-
sileira, e colaborar na sua formação contínua; miliar, quando mais de um candidato preencher o critério
III - incentivar o trabalho de pesquisa e investigação inicial.
científica, visando o desenvolvimento da ciência e da tec- § 3º O processo seletivo referido no inciso II conside-
nologia e da criação e difusão da cultura, e, desse modo, de- rará as competências e as habilidades definidas na Base
senvolver o entendimento do homem e do meio em que vive; Nacional Comum Curricular.

73
LEGISLAÇÃO BÁSICA

Art. 45. A educação superior será ministrada em ins- c) caso haja mudança na grade do curso ou no corpo
tituições de ensino superior, públicas ou privadas, com docente até o início das aulas, os alunos devem ser comuni-
variados graus de abrangência ou especialização. cados sobre as alterações;
V - deve conter as seguintes informações:
Art. 46. A autorização e o reconhecimento de cursos, a) a lista de todos os cursos oferecidos pela instituição
bem como o credenciamento de instituições de educa- de ensino superior;
ção superior, terão prazos limitados, sendo renovados, b) a lista das disciplinas que compõem a grade curricular
periodicamente, após processo regular de avaliação. de cada curso e as respectivas cargas horárias;
§ 1º Após um prazo para saneamento de deficiências c) a identificação dos docentes que ministrarão as aulas
eventualmente identificadas pela avaliação a que se refere em cada curso, as disciplinas que efetivamente ministrará
este artigo, haverá reavaliação, que poderá resultar, con- naquele curso ou cursos, sua titulação, abrangendo a qualifi-
forme o caso, em desativação de cursos e habilitações, em cação profissional do docente e o tempo de casa do docente,
intervenção na instituição, em suspensão temporária de de forma total, contínua ou intermitente.
prerrogativas da autonomia, ou em descredenciamento. § 2º Os alunos que tenham extraordinário aproveita-
§ 2º No caso de instituição pública, o Poder Executivo mento nos estudos, demonstrado por meio de provas e
responsável por sua manutenção acompanhará o processo outros instrumentos de avaliação específicos, aplicados
de saneamento e fornecerá recursos adicionais, se neces- por banca examinadora especial, poderão ter abreviada a
sários, para a superação das deficiências. duração dos seus cursos, de acordo com as normas dos
sistemas de ensino.
Art. 47. Na educação superior, o ano letivo regular, in- § 3º É obrigatória a frequência de alunos e professores,
dependente do ano civil, tem, no mínimo, duzentos dias de salvo nos programas de educação a distância.
trabalho acadêmico efetivo, excluído o tempo reservado § 4º As instituições de educação superior oferecerão,
aos exames finais, quando houver. no período noturno, cursos de graduação nos mesmos
§ 1º As instituições informarão aos interessados, antes padrões de qualidade mantidos no período diurno, sendo
de cada período letivo, os programas dos cursos e demais obrigatória a oferta noturna nas instituições públicas, ga-
componentes curriculares, sua duração, requisitos, qualifi- rantida a necessária previsão orçamentária.
cação dos professores, recursos disponíveis e critérios de
avaliação, obrigando-se a cumprir as respectivas condi- Art. 48. Os diplomas de cursos superiores reconheci-
ções, e a publicação deve ser feita, sendo as 3 (três) primei- dos, quando registrados, terão validade nacional como
ras formas concomitantemente: prova da formação recebida por seu titular.
I - em página específica na internet no sítio eletrônico § 1º Os diplomas expedidos pelas universidades serão
oficial da instituição de ensino superior, obedecido o seguin- por elas próprias registrados, e aqueles conferidos por ins-
te: tituições não-universitárias serão registrados em universi-
a) toda publicação a que se refere esta Lei deve ter como dades indicadas pelo Conselho Nacional de Educação.
título “Grade e Corpo Docente”; § 2º Os diplomas de graduação expedidos por univer-
b) a página principal da instituição de ensino superior, sidades estrangeiras serão revalidados por universidades
bem como a página da oferta de seus cursos aos ingressan- públicas que tenham curso do mesmo nível e área ou equi-
tes sob a forma de vestibulares, processo seletivo e outras valente, respeitando-se os acordos internacionais de reci-
com a mesma finalidade, deve conter a ligação desta com a procidade ou equiparação.
página específica prevista neste inciso; § 3º Os diplomas de Mestrado e de Doutorado expe-
c) caso a instituição de ensino superior não possua sítio didos por universidades estrangeiras só poderão ser reco-
eletrônico, deve criar página específica para divulgação das nhecidos por universidades que possuam cursos de pós-
informações de que trata esta Lei; graduação reconhecidos e avaliados, na mesma área de
d) a página específica deve conter a data completa de conhecimento e em nível equivalente ou superior.
sua última atualização;
II - em toda propaganda eletrônica da instituição de en- Art. 49. As instituições de educação superior aceitarão
sino superior, por meio de ligação para a página referida no a transferência de alunos regulares, para cursos afins, na
inciso I; hipótese de existência de vagas, e mediante processo sele-
III - em local visível da instituição de ensino superior e de tivo.
fácil acesso ao público; Parágrafo único. As transferências ex officio dar-se-ão
IV - deve ser atualizada semestralmente ou anualmente, na forma da lei.
de acordo com a duração das disciplinas de cada curso ofe-
recido, observando o seguinte: Art. 50. As instituições de educação superior, quando
a) caso o curso mantenha disciplinas com duração dife- da ocorrência de vagas, abrirão matrícula nas disciplinas
renciada, a publicação deve ser semestral; de seus cursos a alunos não regulares que demonstrarem
b) a publicação deve ser feita até 1 (um) mês antes do capacidade de cursá-las com proveito, mediante processo
início das aulas; seletivo prévio.

74
LEGISLAÇÃO BÁSICA

Art. 51. As instituições de educação superior credencia- Art. 54. As universidades mantidas pelo Poder Público
das como universidades, ao deliberar sobre critérios e nor- gozarão, na forma da lei, de estatuto jurídico especial
mas de seleção e admissão de estudantes, levarão em conta para atender às peculiaridades de sua estrutura, organiza-
os efeitos desses critérios sobre a orientação do ensino mé- ção e financiamento pelo Poder Público, assim como dos
dio, articulando-se com os órgãos normativos dos sistemas seus planos de carreira e do regime jurídico do seu pessoal.
de ensino. § 1º No exercício da sua autonomia, além das atribui-
ções asseguradas pelo artigo anterior, as universidades pú-
Art. 52. As universidades são instituições pluridiscipli- blicas poderão:
nares de formação dos quadros profissionais de nível supe- I - propor o seu quadro de pessoal docente, técnico e
rior, de pesquisa, de extensão e de domínio e cultivo do administrativo, assim como um plano de cargos e salários,
saber humano, que se caracterizam por: atendidas as normas gerais pertinentes e os recursos dispo-
I - produção intelectual institucionalizada mediante níveis;
o estudo sistemático dos temas e problemas mais relevantes, II - elaborar o regulamento de seu pessoal em conformi-
tanto do ponto de vista científico e cultural, quanto regional dade com as normas gerais concernentes;
e nacional; III - aprovar e executar planos, programas e projetos de
II - um terço do corpo docente, pelo menos, com titu- investimentos referentes a obras, serviços e aquisições em
lação acadêmica de mestrado ou doutorado; geral, de acordo com os recursos alocados pelo respectivo
III - um terço do corpo docente em regime de tempo Poder mantenedor;
integral. IV - elaborar seus orçamentos anuais e plurianuais;
Parágrafo único. É facultada a criação de universidades V - adotar regime financeiro e contábil que atenda às
especializadas por campo do saber. suas peculiaridades de organização e funcionamento;
VI - realizar operações de crédito ou de financiamen-
Art. 53. No exercício de sua autonomia, são assegura- to, com aprovação do Poder competente, para aquisição de
das às universidades, sem prejuízo de outras, as seguintes bens imóveis, instalações e equipamentos;
atribuições: VII - efetuar transferências, quitações e tomar outras
I - criar, organizar e extinguir, em sua sede, cursos e providências de ordem orçamentária, financeira e patrimo-
programas de educação superior previstos nesta Lei, obede-
nial necessárias ao seu bom desempenho.
cendo às normas gerais da União e, quando for o caso, do
§ 2º Atribuições de autonomia universitária poderão
respectivo sistema de ensino;
ser estendidas a instituições que comprovem alta qualifica-
II - fixar os currículos dos seus cursos e programas, ob-
ção para o ensino ou para a pesquisa, com base em avalia-
servadas as diretrizes gerais pertinentes;
ção realizada pelo Poder Público.
III - estabelecer planos, programas e projetos de pesqui-
sa científica, produção artística e atividades de extensão;
Art. 55. Caberá à União assegurar, anualmente, em seu
IV - fixar o número de vagas de acordo com a capacida-
de institucional e as exigências do seu meio; Orçamento Geral, recursos suficientes para manutenção e
V - elaborar e reformar os seus estatutos e regimentos desenvolvimento das instituições de educação superior por
em consonância com as normas gerais atinentes; ela mantidas.
VI - conferir graus, diplomas e outros títulos;
VII - firmar contratos, acordos e convênios; Art. 56. As instituições públicas de educação superior
VIII - aprovar e executar planos, programas e projetos obedecerão ao princípio da gestão democrática, assegu-
de investimentos referentes a obras, serviços e aquisições em rada a existência de órgãos colegiados deliberativos, de
geral, bem como administrar rendimentos conforme dispo- que participarão os segmentos da comunidade institucional,
sitivos institucionais; local e regional.
IX - administrar os rendimentos e deles dispor na forma Parágrafo único. Em qualquer caso, os docentes ocupa-
prevista no ato de constituição, nas leis e nos respectivos es- rão setenta por cento dos assentos em cada órgão colegiado
tatutos; e comissão, inclusive nos que tratarem da elaboração e mo-
X - receber subvenções, doações, heranças, legados e dificações estatutárias e regimentais, bem como da escolha
cooperação financeira resultante de convênios com entida- de dirigentes.
des públicas e privadas.
Parágrafo único. Para garantir a autonomia didático- Art. 57. Nas instituições públicas de educação superior,
científica das universidades, caberá aos seus colegiados de o professor ficará obrigado ao mínimo de oito horas sema-
ensino e pesquisa decidir, dentro dos recursos orçamentários nais de aulas.
disponíveis, sobre: A educação superior se funda no tripé: ensino, pesqui-
I - criação, expansão, modificação e extinção de cursos; sa e extensão. No viés do ensino, objetiva-se propiciar o
II - ampliação e diminuição de vagas; acesso ao conhecimento técnico e científico, tanto dentro
III - elaboração da programação dos cursos; do ambiente acadêmico quanto fora dele; no aspecto pes-
IV - programação das pesquisas e das atividades de ex- quisa, busca-se desenvolver os conhecimentos já existen-
tensão; tes; no aspecto extensão, pretende-se atingir a comunida-
V - contratação e dispensa de professores; de por meio de atividades que possam ir além dos ambien-
VI - planos de carreira docente. tes acadêmicos, inserindo-se no cotidiano da vida social.

75
LEGISLAÇÃO BÁSICA

Classicamente, a educação superior se dá nos níveis de Art. 59. Os sistemas de ensino assegurarão aos educan-
graduação, cujo acesso se dá por meio dos vestibulares, e dos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento
pós-graduação, cujo acesso também se dá por processos e altas habilidades ou superdotação:
seletivos próprios, funcionando como complementação I - currículos, métodos, técnicas, recursos educativos
ao ensino superior. Entretanto, o ensino superior também e organização específicos, para atender às suas necessida-
pode se dar em cursos sequenciais e em cursos de exten- des;
são, de menor duração e complexidade. II - terminalidade específica para aqueles que não
O ensino superior pode ser ministrado em instituições puderem atingir o nível exigido para a conclusão do ensino
públicas ou privadas. Independentemente da natureza da fundamental, em virtude de suas deficiências, e aceleração
instituição, é necessário respeitar as regras mínimas sobre para concluir em menor tempo o programa escolar para os
duração do ano letivo, programas de curso, componentes superdotados;
curriculares, etc. III - professores com especialização adequada em ní-
O diploma faz prova da formação. vel médio ou superior, para atendimento especializado, bem
É possível a transferência entre instituições. A transfe- como professores do ensino regular capacitados para a inte-
rência a pedido está condicionada a número de vagas e a gração desses educandos nas classes comuns;
processo seletivo. As transferências de ofício se sujeitam a IV - educação especial para o trabalho, visando a sua
critérios próprios. Um exemplo de transferência de ofício efetiva integração na vida em sociedade, inclusive condições
se dá no caso de remoção de servidor público de ofício no adequadas para os que não revelarem capacidade de inser-
interesse da Administração (caso o servidor ou seu depen- ção no trabalho competitivo, mediante articulação com os
dente estude em instituição pública na cidade onde estava órgãos oficiais afins, bem como para aqueles que apresen-
lotado, tem o direito de ser transferido para a instituição tam uma habilidade superior nas áreas artística, intelectual
pública da nova lotação). ou psicomotora;
É possível que uma pessoa assista aulas nas instituições V - acesso igualitário aos benefícios dos programas
públicas independentemente de vínculo com o curso, des- sociais suplementares disponíveis para o respectivo nível do
de que haja vagas disponíveis. ensino regular.
Para propiciar o desenvolvimento institucional, exige-
se que pelo menos 1/3 do corpo docente da instituição Art. 59-A. O poder público deverá instituir cadastro na-
possua mestrado ou doutorado, bem como que 1/3 do cional de alunos com altas habilidades ou superdotação
corpo docente se dedique exclusivamente à docência. matriculados na educação básica e na educação superior, a
Em que pesem as regras mínimas acerca do ensino su- fim de fomentar a execução de políticas públicas destinadas
perior, as instituições de ensino superior são dotadas de ao desenvolvimento pleno das potencialidades desse aluna-
autonomia para se organizarem. do.
As universidades públicas gozam de estatuto jurídico Parágrafo único. A identificação precoce de alunos com
especial. altas habilidades ou superdotação, os critérios e procedi-
As instituições públicas devem obedecer ao princípio mentos para inclusão no cadastro referido no caput deste
da gestão democrática, assegurado pela existência de ór- artigo, as entidades responsáveis pelo cadastramento, os
gãos colegiados deliberativos que mesclem membros da mecanismos de acesso aos dados do cadastro e as políticas
comunidade, do corpo docente e do corpo discente. de desenvolvimento das potencialidades do alunado de que
trata o caput serão definidos em regulamento.
CAPÍTULO V
DA EDUCAÇÃO ESPECIAL Art. 60. Os órgãos normativos dos sistemas de ensino
estabelecerão critérios de caracterização das instituições
Art. 58. Entende-se por educação especial, para os efei- privadas sem fins lucrativos, especializadas e com atuação
tos desta Lei, a modalidade de educação escolar oferecida exclusiva em educação especial, para fins de apoio técnico e
preferencialmente na rede regular de ensino, para educan- financeiro pelo Poder Público.
dos com deficiência, transtornos globais do desenvolvi- Parágrafo único. O poder público adotará, como alter-
mento e altas habilidades ou superdotação. nativa preferencial, a ampliação do atendimento aos edu-
§ 1º Haverá, quando necessário, serviços de apoio es- candos com deficiência, transtornos globais do desenvolvi-
pecializado, na escola regular, para atender às peculiarida- mento e altas habilidades ou superdotação na própria rede
des da clientela de educação especial. pública regular de ensino, independentemente do apoio às
§ 2º O atendimento educacional será feito em classes, instituições previstas neste artigo.
escolas ou serviços especializados, sempre que, em função
das condições específicas dos alunos, não for possível a sua A educação especial volta-se a educandos com defi-
integração nas classes comuns de ensino regular. ciência, transtornos globais do desenvolvimento e altas
§ 3º A oferta de educação especial, dever constitucio- habilidades ou superdotação. Para que ela seja efetivada,
nal do Estado, tem início na faixa etária de zero a seis anos, exige-se a especialização das instituições de ensino e de
durante a educação infantil. seus profissionais.

76
LEGISLAÇÃO BÁSICA

TÍTULO VI § 3º A formação inicial de profissionais de magisté-


Dos Profissionais da Educação rio dará preferência ao ensino presencial, subsidiariamente
fazendo uso de recursos e tecnologias de educação a dis-
Art. 61. Consideram-se profissionais da educação tância.
escolar básica os que, nela estando em efetivo exercício e § 4º A União, o Distrito Federal, os Estados e os Mu-
tendo sido formados em cursos reconhecidos, são: nicípios adotarão mecanismos facilitadores de acesso e
I – professores habilitados em nível médio ou supe- permanência em cursos de formação de docentes em nível
rior para a docência na educação infantil e nos ensinos superior para atuar na educação básica pública.
fundamental e médio; § 5º A União, o Distrito Federal, os Estados e os Mu-
II – trabalhadores em educação portadores de di- nicípios incentivarão a formação de profissionais do ma-
ploma de pedagogia, com habilitação em administração, gistério para atuar na educação básica pública mediante
planejamento, supervisão, inspeção e orientação educacio- programa institucional de bolsa de iniciação à docência a
nal, bem como com títulos de mestrado ou doutorado nas estudantes matriculados em cursos de licenciatura, de gra-
mesmas áreas; duação plena, nas instituições de educação superior.
III - trabalhadores em educação, portadores de diplo- § 6º O Ministério da Educação poderá estabelecer
ma de curso técnico ou superior em área pedagógica ou nota mínima em exame nacional aplicado aos concluintes
afim; e do ensino médio como pré-requisito para o ingresso em
IV - profissionais com notório saber reconhecido pelos cursos de graduação para formação de docentes, ouvido o
respectivos sistemas de ensino para ministrar conteú- Conselho Nacional de Educação - CNE.
dos de áreas afins à sua formação para atender o dispos- § 7º (VETADO).
to no inciso V do caput do art. 36. § 8º Os currículos dos cursos de formação de docentes
Parágrafo único. A formação dos profissionais da edu- terão por referência a Base Nacional Comum Curricular.
cação, de modo a atender às especificidades do exercício
de suas atividades, bem como aos objetivos das diferentes Art. 62-A. A formação dos profissionais a que se refere o
etapas e modalidades da educação básica, terá como fun- inciso III do art. 61 far-se-á por meio de cursos de conteúdo
damentos: técnico-pedagógico, em nível médio ou superior, incluindo
habilitações tecnológicas.
I – a presença de sólida formação básica, que propi-
Parágrafo único. Garantir-se-á formação continuada
cie o conhecimento dos fundamentos científicos e sociais de
para os profissionais a que se refere o caput, no local de
suas competências de trabalho;
trabalho ou em instituições de educação básica e superior,
II – a associação entre teorias e práticas, mediante
incluindo cursos de educação profissional, cursos superiores
estágios supervisionados e capacitação em serviço;
de graduação plena ou tecnológicos e de pós-graduação.
III – o aproveitamento da formação e experiências
anteriores, em instituições de ensino e em outras atividades.
Art. 63. Os institutos superiores de educação manterão:
IV - profissionais com notório saber reconhecido pe-
I - cursos formadores de profissionais para a edu-
los respectivos sistemas de ensino, para ministrar conteúdos
cação básica, inclusive o curso normal superior, destinado
de áreas afins à sua formação ou experiência profissional, à formação de docentes para a educação infantil e para as
atestados por titulação específica ou prática de ensino em primeiras séries do ensino fundamental;
unidades educacionais da rede pública ou privada ou das II - programas de formação pedagógica para portado-
corporações privadas em que tenham atuado, exclusivamen- res de diplomas de educação superior que queiram se dedi-
te para atender ao inciso V do caput do art. 36; car à educação básica;
V - profissionais graduados que tenham feito com- III - programas de educação continuada para os pro-
plementação pedagógica, conforme disposto pelo Conse- fissionais de educação dos diversos níveis.
lho Nacional de Educação.
Art. 64. A formação de profissionais de educação para
Art. 62. A formação de docentes para atuar na educa- administração, planejamento, inspeção, supervisão e orien-
ção básica far-se-á em nível superior, em curso de licencia- tação educacional para a educação básica, será feita em
tura plena, admitida, como formação mínima para o exercí- cursos de graduação em pedagogia ou em nível de pós-gra-
cio do magistério na educação infantil e nos cinco primeiros duação, a critério da instituição de ensino, garantida, nesta
anos do ensino fundamental, a oferecida em nível médio, na formação, a base comum nacional.
modalidade normal.
§ 1º A União, o Distrito Federal, os Estados e os Mu- Art. 65. A formação docente, exceto para a educação su-
nicípios, em regime de colaboração, deverão promover a perior, incluirá prática de ensino de, no mínimo, trezentas
formação inicial, a continuada e a capacitação dos profis- horas.
sionais de magistério.
§ 2º A formação continuada e a capacitação dos pro- Art. 66. A preparação para o exercício do magistério
fissionais de magistério poderão utilizar recursos e tecno- superior far-se-á em nível de pós-graduação, prioritaria-
logias de educação a distância. mente em programas de mestrado e doutorado.

77
LEGISLAÇÃO BÁSICA

Parágrafo único. O notório saber, reconhecido por uni- III - receita do salário-educação e de outras contribui-
versidade com curso de doutorado em área afim, poderá su- ções sociais;
prir a exigência de título acadêmico. IV - receita de incentivos fiscais;
V - outros recursos previstos em lei.
Art. 67. Os sistemas de ensino promoverão a valori-
zação dos profissionais da educação, assegurando-lhes, Art. 69. A União aplicará, anualmente, nunca menos
inclusive nos termos dos estatutos e dos planos de carreira de dezoito, e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios,
do magistério público: vinte e cinco por cento, ou o que consta nas respectivas
I - ingresso exclusivamente por concurso público de pro- Constituições ou Leis Orgânicas, da receita resultante de
vas e títulos; impostos, compreendidas as transferências constitucionais,
II - aperfeiçoamento profissional continuado, inclusive na manutenção e desenvolvimento do ensino público.
com licenciamento periódico remunerado para esse fim; § 1º A parcela da arrecadação de impostos transferida
III - piso salarial profissional; pela União aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municí-
IV - progressão funcional baseada na titulação ou habi- pios, ou pelos Estados aos respectivos Municípios, não será
litação, e na avaliação do desempenho; considerada, para efeito do cálculo previsto neste artigo,
V - período reservado a estudos, planejamento e avalia- receita do governo que a transferir.
ção, incluído na carga de trabalho; § 2º Serão consideradas excluídas das receitas de im-
VI - condições adequadas de trabalho. postos mencionadas neste artigo as operações de crédito
§ 1º A experiência docente é pré-requisito para o exer- por antecipação de receita orçamentária de impostos.
cício profissional de quaisquer outras funções de magisté- § 3º Para fixação inicial dos valores correspondentes
rio, nos termos das normas de cada sistema de ensino. aos mínimos estatuídos neste artigo, será considerada a re-
§ 2º Para os efeitos do disposto no § 5º do art. 40 e ceita estimada na lei do orçamento anual, ajustada, quan-
no § 8º do art. 201 da Constituição Federal, são conside- do for o caso, por lei que autorizar a abertura de créditos
radas funções de magistério as exercidas por professores adicionais, com base no eventual excesso de arrecadação.
e especialistas em educação no desempenho de ativida- § 4º As diferenças entre a receita e a despesa previstas
des educativas, quando exercidas em estabelecimento de e as efetivamente realizadas, que resultem no não atendi-
mento dos percentuais mínimos obrigatórios, serão apu-
educação básica em seus diversos níveis e modalidades,
radas e corrigidas a cada trimestre do exercício financeiro.
incluídas, além do exercício da docência, as de direção de
§ 5º O repasse dos valores referidos neste artigo do
unidade escolar e as de coordenação e assessoramento pe-
caixa da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Mu-
dagógico.
nicípios ocorrerá imediatamente ao órgão responsável pela
§ 3º A União prestará assistência técnica aos Estados,
educação, observados os seguintes prazos:
ao Distrito Federal e aos Municípios na elaboração de con-
I - recursos arrecadados do primeiro ao décimo dia de
cursos públicos para provimento de cargos dos profissio-
cada mês, até o vigésimo dia;
nais da educação.
II - recursos arrecadados do décimo primeiro ao vigési-
Os profissionais da educação devem possuir formação
mo dia de cada mês, até o trigésimo dia;
específica, notadamente possuir habilitação para a docên- III - recursos arrecadados do vigésimo primeiro dia ao
cia, que pode se dar pelas licenciaturas e magistérios em final de cada mês, até o décimo dia do mês subsequente.
geral, bem como pela pedagogia, ou ainda por formação e § 6º O atraso da liberação sujeitará os recursos a cor-
área afim que habilite para o ensino de matérias específicas reção monetária e à responsabilização civil e criminal das
(ex.: profissional do Direito pode lecionar português, filoso- autoridades competentes.
fia e sociologia). Além disso, devem possuir experiência em
atividades de ensino. Quanto ao ensino superior, exige-se Art. 70. Considerar-se-ão como de manutenção e
pós-graduação, que pode ser uma simples especialização, desenvolvimento do ensino as despesas realizadas com
embora deva preferencialmente se possuir mestrado ou vistas à consecução dos objetivos básicos das instituições
doutorado. No âmbito do ensino público, exige-se valori- educacionais de todos os níveis, compreendendo as que se
zação do profissional, criando-se plano de carreira e aper- destinam a:
feiçoando-se as condições de trabalho. I - remuneração e aperfeiçoamento do pessoal docente e
demais profissionais da educação;
TÍTULO VII II - aquisição, manutenção, construção e conservação de
Dos Recursos financeiros instalações e equipamentos necessários ao ensino;
III – uso e manutenção de bens e serviços vinculados ao
Art. 68. Serão recursos públicos destinados à educa- ensino;
ção os originários de: IV - levantamentos estatísticos, estudos e pesquisas vi-
I - receita de impostos próprios da União, dos Estados, do sando precipuamente ao aprimoramento da qualidade e à
Distrito Federal e dos Municípios; expansão do ensino;
II - receita de transferências constitucionais e outras V - realização de atividades-meio necessárias ao funcio-
transferências; namento dos sistemas de ensino;

78
LEGISLAÇÃO BÁSICA

VI - concessão de bolsas de estudo a alunos de escolas § 2º A capacidade de atendimento de cada governo


públicas e privadas; será definida pela razão entre os recursos de uso constitu-
VII - amortização e custeio de operações de crédito des- cionalmente obrigatório na manutenção e desenvolvimen-
tinadas a atender ao disposto nos incisos deste artigo; to do ensino e o custo anual do aluno, relativo ao padrão
VIII - aquisição de material didático-escolar e manuten- mínimo de qualidade.
ção de programas de transporte escolar. § 3º Com base nos critérios estabelecidos nos §§ 1º e
2º, a União poderá fazer a transferência direta de recursos
Art. 71. Não constituirão despesas de manutenção e a cada estabelecimento de ensino, considerado o número
desenvolvimento do ensino aquelas realizadas com: de alunos que efetivamente frequentam a escola.
I - pesquisa, quando não vinculada às instituições de en- § 4º A ação supletiva e redistributiva não poderá ser
exercida em favor do Distrito Federal, dos Estados e dos
sino, ou, quando efetivada fora dos sistemas de ensino, que
Municípios se estes oferecerem vagas, na área de ensino
não vise, precipuamente, ao aprimoramento de sua qualida-
de sua responsabilidade, conforme o inciso VI do art. 10
de ou à sua expansão; e o inciso V do art. 11 desta Lei, em número inferior à sua
II - subvenção a instituições públicas ou privadas de ca- capacidade de atendimento.
ráter assistencial, desportivo ou cultural;
III - formação de quadros especiais para a administração Art. 76. A ação supletiva e redistributiva prevista no
pública, sejam militares ou civis, inclusive diplomáticos; artigo anterior ficará condicionada ao efetivo cumprimento
IV - programas suplementares de alimentação, assistên- pelos Estados, Distrito Federal e Municípios do disposto nesta
cia médico-odontológica, farmacêutica e psicológica, e ou- Lei, sem prejuízo de outras prescrições legais.
tras formas de assistência social;
V - obras de infraestrutura, ainda que realizadas para Art. 77. Os recursos públicos serão destinados às esco-
beneficiar direta ou indiretamente a rede escolar; las públicas, podendo ser dirigidos a escolas comunitárias,
VI - pessoal docente e demais trabalhadores da educa- confessionais ou filantrópicas que:
ção, quando em desvio de função ou em atividade alheia à I - comprovem finalidade não-lucrativa e não distri-
manutenção e desenvolvimento do ensino. buam resultados, dividendos, bonificações, participações ou
parcela de seu patrimônio sob nenhuma forma ou pretexto;
Art. 72. As receitas e despesas com manutenção e de- II - apliquem seus excedentes financeiros em educação;
senvolvimento do ensino serão apuradas e publicadas nos III - assegurem a destinação de seu patrimônio a outra
escola comunitária, filantrópica ou confessional, ou ao Poder
balanços do Poder Público, assim como nos relatórios a que
Público, no caso de encerramento de suas atividades;
se refere o § 3º do art. 165 da Constituição Federal.
IV - prestem contas ao Poder Público dos recursos rece-
bidos.
Art. 73. Os órgãos fiscalizadores examinarão, prioritaria- § 1º Os recursos de que trata este artigo poderão ser
mente, na prestação de contas de recursos públicos, o cum- destinados a bolsas de estudo para a educação básica, na
primento do disposto no art. 212 da Constituição Federal, no forma da lei, para os que demonstrarem insuficiência de
art. 60 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias e recursos, quando houver falta de vagas e cursos regulares
na legislação concernente. da rede pública de domicílio do educando, ficando o Poder
Público obrigado a investir prioritariamente na expansão
Art. 74. A União, em colaboração com os Estados, o Dis- da sua rede local.
trito Federal e os Municípios, estabelecerá padrão mínimo § 2º As atividades universitárias de pesquisa e extensão
de oportunidades educacionais para o ensino fundamen- poderão receber apoio financeiro do Poder Público, inclu-
tal, baseado no cálculo do custo mínimo por aluno, capaz de sive mediante bolsas de estudo.
assegurar ensino de qualidade.
Parágrafo único. O custo mínimo de que trata este ar- No aspecto orçamentário, merece destaque a exigên-
tigo será calculado pela União ao final de cada ano, com cia de dedicação de parcela mínima dos impostos da União
validade para o ano subsequente, considerando variações (18%) e dos Estados e Distrito Federal (25%) voltada à edu-
regionais no custo dos insumos e as diversas modalidades cação. Ainda, coloca-se o papel de suplementação e redis-
tribuição da União em relação aos Estados e Municípios
de ensino.
e dos Estados com relação aos Municípios, repassando-se
verbas para permitir que estas unidades federativas consi-
Art. 75. A ação supletiva e redistributiva da União e gam lograr êxito em oferecer parâmetro mínimo de quali-
dos Estados será exercida de modo a corrigir, progressiva- dade no ensino que é de sua incumbência.
mente, as disparidades de acesso e garantir o padrão mí-
nimo de qualidade de ensino. TÍTULO VIII
§ 1º A ação a que se refere este artigo obedecerá a Das Disposições Gerais
fórmula de domínio público que inclua a capacidade de
atendimento e a medida do esforço fiscal do respectivo Art. 78. O Sistema de Ensino da União, com a colabo-
Estado, do Distrito Federal ou do Município em favor da ração das agências federais de fomento à cultura e de as-
manutenção e do desenvolvimento do ensino. sistência aos índios, desenvolverá programas integrados de

79
LEGISLAÇÃO BÁSICA

ensino e pesquisa, para oferta de educação escolar bilín- I - custos de transmissão reduzidos em canais comer-
gue e intercultural aos povos indígenas, com os seguintes ciais de radiodifusão sonora e de sons e imagens e em outros
objetivos: meios de comunicação que sejam explorados mediante au-
I - proporcionar aos índios, suas comunidades e povos, torização, concessão ou permissão do poder público;
a recuperação de suas memórias históricas; a reafirmação II - concessão de canais com finalidades exclusivamente
de suas identidades étnicas; a valorização de suas línguas educativas;
e ciências; III - reserva de tempo mínimo, sem ônus para o Poder
II - garantir aos índios, suas comunidades e povos, o Público, pelos concessionários de canais comerciais.
acesso às informações, conhecimentos técnicos e científicos
da sociedade nacional e demais sociedades indígenas e não Art. 81. É permitida a organização de cursos ou insti-
-índias. tuições de ensino experimentais, desde que obedecidas as
disposições desta Lei.
Art. 79. A União apoiará técnica e financeiramente os
sistemas de ensino no provimento da educação intercultural Art. 82. Os sistemas de ensino estabelecerão as normas
às comunidades indígenas, desenvolvendo programas inte- de realização de estágio em sua jurisdição, observada a lei
grados de ensino e pesquisa. federal sobre a matéria.
§ 1º Os programas serão planejados com audiência das
comunidades indígenas. Art. 83. O ensino militar é regulado em lei específica,
§ 2º Os programas a que se refere este artigo, incluí- admitida a equivalência de estudos, de acordo com as nor-
dos nos Planos Nacionais de Educação, terão os seguintes mas fixadas pelos sistemas de ensino.
objetivos:
I - fortalecer as práticas socioculturais e a língua mater- Art. 84. Os discentes da educação superior poderão ser
na de cada comunidade indígena; aproveitados em tarefas de ensino e pesquisa pelas respecti-
vas instituições, exercendo funções de monitoria, de acordo
II - manter programas de formação de pessoal especia-
com seu rendimento e seu plano de estudos.
lizado, destinado à educação escolar nas comunidades in-
dígenas;
Art. 85. Qualquer cidadão habilitado com a titula-
III - desenvolver currículos e programas específicos, neles
ção própria poderá exigir a abertura de concurso públi-
incluindo os conteúdos culturais correspondentes às respec-
co de provas e títulos para cargo de docente de instituição
tivas comunidades;
pública de ensino que estiver sendo ocupado por professor
IV - elaborar e publicar sistematicamente material didá- não concursado, por mais de seis anos, ressalvados os direi-
tico específico e diferenciado. tos assegurados pelos arts. 41 da Constituição Federal e 19
§ 3º No que se refere à educação superior, sem prejuízo do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias.
de outras ações, o atendimento aos povos indígenas efe-
tivar-se-á, nas universidades públicas e privadas, mediante Art. 86. As instituições de educação superior constituídas
a oferta de ensino e de assistência estudantil, assim como como universidades integrar-se-ão, também, na sua condi-
de estímulo à pesquisa e desenvolvimento de programas ção de instituições de pesquisa, ao Sistema Nacional de
especiais. Ciência e Tecnologia, nos termos da legislação específica.
Art. 79-A. (VETADO). TÍTULO IX
Das Disposições Transitórias
Art. 79-B. O calendário escolar incluirá o dia 20 de no-
vembro como ‘Dia Nacional da Consciência Negra’. Art. 87. É instituída a Década da Educação, a iniciar-se
um ano a partir da publicação desta Lei.
Art. 80. O Poder Público incentivará o desenvolvi- § 1º A União, no prazo de um ano a partir da publica-
mento e a veiculação de programas de ensino a distân- ção desta Lei, encaminhará, ao Congresso Nacional, o Pla-
cia, em todos os níveis e modalidades de ensino, e de no Nacional de Educação, com diretrizes e metas para os
educação continuada. dez anos seguintes, em sintonia com a Declaração Mundial
§ 1º A educação a distância, organizada com abertura sobre Educação para Todos.
e regime especiais, será oferecida por instituições especifica- § 2º (Revogado).
mente credenciadas pela União. § 3º O Distrito Federal, cada Estado e Município, e, su-
§ 2º A União regulamentará os requisitos para a reali- pletivamente, a União, devem:
zação de exames e registro de diploma relativos a cursos I - (Revogado).
de educação a distância. II - prover cursos presenciais ou a distância aos jovens e
§ 3º As normas para produção, controle e avaliação de adultos insuficientemente escolarizados;
programas de educação a distância e a autorização para III - realizar programas de capacitação para todos os
sua implementação, caberão aos respectivos sistemas de professores em exercício, utilizando também, para isto, os
ensino, podendo haver cooperação e integração entre os recursos da educação a distância;
diferentes sistemas. IV - integrar todos os estabelecimentos de ensino funda-
§ 4º A educação a distância gozará de tratamento mental do seu território ao sistema nacional de avaliação do
diferenciado, que incluirá: rendimento escolar.

80
LEGISLAÇÃO BÁSICA

§ 4º (Revogado). § 1º do artigo 9º da Lei nº 4.024/1961, com a redação dada


§ 5º Serão conjugados todos os esforços objetivando a pela Lei nº 9.131/1995, nos artigos 36, 36-A, 36-B, 36-C,
progressão das redes escolares públicas urbanas de ensino 36-D, 37, 39, 40, 41 e 42 da Lei nº 9.394/1996, com a reda-
fundamental para o regime de escolas de tempo integral. ção dada pela Lei nº 11.741/2008, bem como no Decreto
§ 6º A assistência financeira da União aos Estados, ao nº 5.154/2004, e com fundamento no Parecer CNE/CEB nº
Distrito Federal e aos Municípios, bem como a dos Estados 7/2010, homologado por Despacho do Senhor Ministro de
aos seus Municípios, ficam condicionadas ao cumprimen- Estado da Educação, publicado no DOU de 9 de julho de
to do art. 212 da Constituição Federal e dispositivos legais 2010.
pertinentes pelos governos beneficiados. RESOLVE:
Art. 1º A presente Resolução define Diretrizes Curricu-
Art. 87-A. (VETADO). lares Nacionais Gerais para o conjunto orgânico, sequencial
e articulado das etapas e modalidades da Educação Básica,
Art. 88. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Mu- baseando-se no direito de toda pessoa ao seu pleno de-
nicípios adaptarão sua legislação educacional e de ensino às senvolvimento, à preparação para o exercício da cidadania
disposições desta Lei no prazo máximo de um ano, a partir e à qualificação para o trabalho, na vivência e convivên-
da data de sua publicação. cia em ambiente educativo, e tendo como fundamento
§ 1º As instituições educacionais adaptarão seus esta- a responsabilidade que o Estado brasileiro, a família e a
tutos e regimentos aos dispositivos desta Lei e às normas sociedade têm de garantir a democratização do acesso, a
dos respectivos sistemas de ensino, nos prazos por estes inclusão, a permanência e a conclusão com sucesso das
estabelecidos. crianças, dos jovens e adultos na instituição educacional, a
§ 2º O prazo para que as universidades cumpram o dis- aprendizagem para continuidade dos estudos e a extensão
posto nos incisos II e III do art. 52 é de oito anos. da obrigatoriedade e da gratuidade da Educação Básica.
Art. 89. As creches e pré-escolas existentes ou que ve- TÍTULO I
nham a ser criadas deverão, no prazo de três anos, a contar OBJETIVOS
da publicação desta Lei, integrar-se ao respectivo sistema de
ensino. Art. 2º Estas Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais
para a Educação Básica têm por objetivos:
Art. 90. As questões suscitadas na transição entre o re-
I - sistematizar os princípios e as diretrizes gerais da
gime anterior e o que se institui nesta Lei serão resolvidas
Educação Básica contidos na Constituição, na Lei de Diretri-
pelo Conselho Nacional de Educação ou, mediante delega-
zes e Bases da Educação Nacional (LDB) e demais disposi-
ção deste, pelos órgãos normativos dos sistemas de ensino,
tivos legais, traduzindo-os em orientações que contribuam
preservada a autonomia universitária.
para assegurar a formação básica comum nacional, tendo
como foco os sujeitos que dão vida ao currículo e à escola;
Art. 91. Esta Lei entra em vigor na data de sua publica-
ção. II - estimular a reflexão crítica e propositiva que deve sub-
sidiar a formulação, a execução e a avaliação do projeto
Art. 92. Revogam-se as disposições das Leis nºs 4.024, político-pedagógico da escola de Educação Básica;
de 20 de dezembro de 1961, e 5.540, de 28 de novembro de III - orientar os cursos de formação inicial e continua-
1968, não alteradas pelas Leis nºs 9.131, de 24 de novembro da de docentes e demais profissionais da Educação Básica,
de 1995 e 9.192, de 21 de dezembro de 1995 e, ainda, as Leis os sistemas educativos dos diferentes entes federados e
nºs 5.692, de 11 de agosto de 1971 e 7.044, de 18 de outubro as escolas que os integram, indistintamente da rede a que
de 1982, e as demais leis e decretos-lei que as modificaram e pertençam.
quaisquer outras disposições em contrário. Art. 3º As Diretrizes Curriculares Nacionais específicas
para as etapas e modalidades da Educação Básica devem
evidenciar o seu papel de indicador de opções políticas,
sociais, culturais, educacionais, e a função da educação,
2. DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS na sua relação com um projeto de Nação, tendo como re-
DA EDUCAÇÃO BÁSICA. ferência os objetivos constitucionais, fundamentando-se
na cidadania e na dignidade da pessoa, o que pressupõe
igualdade, liberdade, pluralidade, diversidade, respeito,
justiça social, solidariedade e sustentabilidade.
RESOLUÇÃO Nº 4, DE 13 DE JULHO DE 2010
TÍTULO II
Define Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a REFERÊNCIAS CONCEITUAIS
Educação Básica.
Art. 4º As bases que dão sustentação ao projeto nacio-
O Presidente da Câmara de Educação Básica do Con- nal de educação responsabilizam o poder público, a família,
selho Nacional de Educação, no uso de suas atribuições a sociedade e a escola pela garantia a todos os educandos
legais, e de conformidade com o disposto na alínea “c” do de um ensino ministrado de acordo com os princípios de:

81
LEGISLAÇÃO BÁSICA

I - igualdade de condições para o acesso, inclusão, per- TÍTULO IV


manência e sucesso na escola; ACESSO E PERMANÊNCIA PARA A
II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar CONQUISTA DA QUALIDADE SOCIAL
a cultura, o pensamento, a arte e o saber;
III - pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas; Art. 8º A garantia de padrão de qualidade, com pleno
IV - respeito à liberdade e aos direitos; acesso, inclusão e permanência dos sujeitos das aprendiza-
V - coexistência de instituições públicas e privadas de gens na escola e seu sucesso, com redução da evasão, da
ensino; retenção e da distorção de idade/ano/série, resulta na qua-
VI - gratuidade do ensino público em estabelecimen- lidade social da educação, que é uma conquista coletiva de
tos oficiais; todos os sujeitos do processo educativo.
VII - valorização do profissional da educação escolar;
VIII - gestão democrática do ensino público, na forma Art. 9º A escola de qualidade social adota como cen-
tralidade o estudante e a aprendizagem, o que pressupõe
da legislação e das normas dos respectivos sistemas de en-
atendimento aos seguintes requisitos:
sino;
I - revisão das referências conceituais quanto aos dife-
IX - garantia de padrão de qualidade;
rentes espaços e tempos educativos, abrangendo espaços
X - valorização da experiência extraescolar;
sociais na escola e fora dela;
XI - vinculação entre a educação escolar, o trabalho e
II - consideração sobre a inclusão, a valorização das
as práticas sociais. diferenças e o atendimento à pluralidade e à diversidade
cultural, resgatando e respeitando as várias manifestações
Art. 5º A Educação Básica é direito universal e alicerce de cada comunidade;
indispensável para o exercício da cidadania em plenitude, III - foco no projeto político-pedagógico, no gosto pela
da qual depende a possibilidade de conquistar todos os aprendizagem e na avaliação das aprendizagens como ins-
demais direitos, definidos na Constituição Federal, no Es- trumento de contínua progressão dos estudantes;
tatuto da Criança e do Adolescente (ECA), na legislação IV - inter-relação entre organização do currículo, do
ordinária e nas demais disposições que consagram as prer- trabalho pedagógico e da jornada de trabalho do profes-
rogativas do cidadão. sor, tendo como objetivo a aprendizagem do estudante;
Art. 6º Na Educação Básica, é necessário considerar as V - preparação dos profissionais da educação, gesto-
dimensões do educar e do cuidar, em sua inseparabilida- res, professores, especialistas, técnicos, monitores e outros;
de, buscando recuperar, para a função social desse nível VI - compatibilidade entre a proposta curricular e a in-
da educação, a sua centralidade, que é o educando, pessoa fraestrutura entendida como espaço formativo dotado de
em formação na sua essência humana. efetiva disponibilidade de tempos para a sua utilização e
acessibilidade;
TÍTULO III VII - integração dos profissionais da educação, dos es-
SISTEMA NACIONAL DE EDUCAÇÃO tudantes, das famílias, dos agentes da comunidade interes-
sados na educação;
Art. 7º A concepção de educação deve orientar a ins- VIII - valorização dos profissionais da educação, com
titucionalização do regime de colaboração entre União, programa de formação continuada, critérios de acesso,
Estados, Distrito Federal e Municípios, no contexto da es- permanência, remuneração compatível com a jornada de
trutura federativa brasileira, em que convivem sistemas trabalho definida no projeto político-pedagógico;
educacionais autônomos, para assegurar efetividade ao IX - realização de parceria com órgãos, tais como os de
assistência social e desenvolvimento humano, cidadania,
projeto da educação nacional, vencer a fragmentação das
ciência e tecnologia, esporte, turismo, cultura e arte, saúde,
políticas públicas e superar a desarticulação institucional.
meio ambiente.
§ 1º Essa institucionalização é possibilitada por um Sis-
Art. 10. A exigência legal de definição de padrões mí-
tema Nacional de Educação, no qual cada ente federativo,
nimos de qualidade da educação traduz a necessidade de
com suas peculiares competências, é chamado a colaborar
reconhecer que a sua avaliação associa-se à ação planeja-
para transformar a Educação Básica em um sistema orgâni- da, coletivamente, pelos sujeitos da escola.
co, sequencial e articulado. § 1º O planejamento das ações coletivas exercidas pela
§ 2º O que caracteriza um sistema é a atividade inten- escola supõe que os sujeitos tenham clareza quanto:
cional e organicamente concebida, que se justifica pela I - aos princípios e às finalidades da educação, além
realização de atividades voltadas para as mesmas finalida- do reconhecimento e da análise dos dados indicados pelo
des ou para a concretização dos mesmos objetivos. Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) e/ou
§ 3º O regime de colaboração entre os entes federados outros indicadores, que o complementem ou substituam;
pressupõe o estabelecimento de regras de equivalência II - à relevância de um projeto político-pedagógico
entre as funções distributiva, supletiva, normativa, de su- concebido e assumido colegiadamente pela comunidade
pervisão e avaliação da educação nacional, respeitada a au- educacional, respeitadas as múltiplas diversidades e a plu-
tonomia dos sistemas e valorizadas as diferenças regionais. ralidade cultural;

82
LEGISLAÇÃO BÁSICA

III - à riqueza da valorização das diferenças manifesta- § 3º Os cursos em tempo parcial noturno devem esta-
das pelos sujeitos do processo educativo, em seus diversos belecer metodologia adequada às idades, à maturidade e à
segmentos, respeitados o tempo e o contexto sociocultu- experiência de aprendizagens, para atenderem aos jovens
ral; e adultos em escolarização no tempo regular ou na moda-
IV - aos padrões mínimos de qualidade (Custo Aluno- lidade de Educação de Jovens e Adultos.
Qualidade Inicial – CAQi);
§ 2º Para que se concretize a educação escolar, exige- CAPÍTULO I
se um padrão mínimo de insumos, que tem como base um FORMAS PARA A ORGANIZAÇÃO
investimento com valor calculado a partir das despesas es- CURRICULAR
senciais ao desenvolvimento dos processos e procedimen-
tos formativos, que levem, gradualmente, a uma educação Art. 13. O currículo, assumindo como referência os
integral, dotada de qualidade social: princípios educacionais garantidos à educação, assegu-
rados no artigo 4º desta Resolução, configura-se como o
I - creches e escolas que possuam condições de in-
conjunto de valores e práticas que proporcionam a produ-
fraestrutura e adequados equipamentos;
ção, a socialização de significados no espaço social e con-
II - professores qualificados com remuneração adequa-
tribuem intensamente para a construção de identidades
da e compatível com a de outros profissionais com igual
socioculturais dos educandos.
nível de formação, em regime de trabalho de 40 (quarenta) § 1º O currículo deve difundir os valores fundamentais
horas em tempo integral em uma mesma escola; do interesse social, dos direitos e deveres dos cidadãos,
III - definição de uma relação adequada entre o nú- do respeito ao bem comum e à ordem democrática, consi-
mero de alunos por turma e por professor, que assegure derando as condições de escolaridade dos estudantes em
aprendizagens relevantes; cada estabelecimento, a orientação para o trabalho, a pro-
IV - pessoal de apoio técnico e administrativo que res- moção de práticas educativas formais e não-formais.
ponda às exigências do que se estabelece no projeto polí- § 2º Na organização da proposta curricular, deve-se
tico-pedagógico. assegurar o entendimento de currículo como experiências
escolares que se desdobram em torno do conhecimento,
TÍTULO V permeadas pelas relações sociais, articulando vivências e
ORGANIZAÇÃO CURRICULAR: CONCEITO, saberes dos estudantes com os conhecimentos historica-
LIMITES, POSSIBILIDADES mente acumulados e contribuindo para construir as identi-
dades dos educandos.
Art. 11. A escola de Educação Básica é o espaço em que § 3º A organização do percurso formativo, aberto e
se ressignifica e se recria a cultura herdada, reconstruindo- contextualizado, deve ser construída em função das pecu-
se as identidades culturais, em que se aprende a valorizar liaridades do meio e das características, interesses e neces-
as raízes próprias das diferentes regiões do País. sidades dos estudantes, incluindo não só os componentes
Parágrafo único. Essa concepção de escola exige a su- curriculares centrais obrigatórios, previstos na legislação e
peração do rito escolar, desde a construção do currículo nas normas educacionais, mas outros, também, de modo
até os critérios que orientam a organização do trabalho flexível e variável, conforme cada projeto escolar, e asse-
escolar em sua multidimensionalidade, privilegia trocas, gurando:
acolhimento e aconchego, para garantir o bem-estar de I - concepção e organização do espaço curricular e fí-
crianças, adolescentes, jovens e adultos, no relacionamento sico que se imbriquem e alarguem, incluindo espaços, am-
entre todas as pessoas. bientes e equipamentos que não apenas as salas de aula
da escola, mas, igualmente, os espaços de outras escolas
Art. 12. Cabe aos sistemas educacionais, em geral, defi-
e os socioculturais e esportivo recreativos do entorno, da
nir o programa de escolas de tempo parcial diurno (matuti-
cidade e mesmo da região;
no ou vespertino), tempo parcial noturno, e tempo integral
II - ampliação e diversificação dos tempos e espaços
(turno e contra-turno ou turno único com jornada escolar
curriculares que pressuponham profissionais da educação
de 7 horas, no mínimo, durante todo o período letivo), ten- dispostos a inventar e construir a escola de qualidade so-
do em vista a amplitude do papel socioeducativo atribuído cial, com responsabilidade compartilhada com as demais
ao conjunto orgânico da Educação Básica, o que requer ou- autoridades que respondem pela gestão dos órgãos do
tra organização e gestão do trabalho pedagógico. poder público, na busca de parcerias possíveis e necessá-
§ 1º Deve-se ampliar a jornada escolar, em único ou rias, até porque educar é responsabilidade da família, do
diferentes espaços educativos, nos quais a permanência Estado e da sociedade;
do estudante vincula-se tanto à quantidade e qualidade III - escolha da abordagem didático-pedagógica dis-
do tempo diário de escolarização quanto à diversidade de ciplinar, pluridisciplinar, interdisciplinar ou transdisciplinar
atividades de aprendizagens. pela escola, que oriente o projeto político-pedagógico
§ 2º A jornada em tempo integral com qualidade im- e resulte de pacto estabelecido entre os profissionais da
plica a necessidade da incorporação efetiva e orgânica, no escola, conselhos escolares e comunidade, subsidiando a
currículo, de atividades e estudos pedagogicamente plane- organização da matriz curricular, a definição de eixos temá-
jados e acompanhados. ticos e a constituição de redes de aprendizagem;

83
LEGISLAÇÃO BÁSICA

IV - compreensão da matriz curricular entendida como das linguagens; nas atividades desportivas e corporais; na
propulsora de movimento, dinamismo curricular e educa- produção artística; nas formas diversas de exercício da ci-
cional, de tal modo que os diferentes campos do conheci- dadania; e nos movimentos sociais.
mento possam se coadunar com o conjunto de atividades § 1º Integram a base nacional comum nacional:
educativas; a) a Língua Portuguesa;
V - organização da matriz curricular entendida como b) a Matemática;
alternativa operacional que embase a gestão do currículo c) o conhecimento do mundo físico, natural, da realida-
escolar e represente subsídio para a gestão da escola (na de social e política, especialmente do Brasil, incluindo-se o
organização do tempo e do espaço curricular, distribuição
estudo da História e das Culturas Afro-Brasileira e Indígena,
e controle do tempo dos trabalhos docentes), passo para
d) a Arte, em suas diferentes formas de expressão, in-
uma gestão centrada na abordagem interdisciplinar, orga-
cluindo-se a música;
nizada por eixos temáticos, mediante interlocução entre os
diferentes campos do conhecimento; e) a Educação Física;
VI - entendimento de que eixos temáticos são uma for- f) o Ensino Religioso.
ma de organizar o trabalho pedagógico, limitando a dis- § 2º Tais componentes curriculares são organizados
persão do conhecimento, fornecendo o cenário no qual se pelos sistemas educativos, em forma de áreas de conhe-
constroem objetos de estudo, propiciando a concretização cimento, disciplinas, eixos temáticos, preservando-se a es-
da proposta pedagógica centrada na visão interdisciplinar, pecificidade dos diferentes campos do conhecimento, por
superando o isolamento das pessoas e a compartimentali- meio dos quais se desenvolvem as habilidades indispensá-
zação de conteúdos rígidos; veis ao exercício da cidadania, em ritmo compatível com as
VII - estímulo à criação de métodos didático-pedagó- etapas do desenvolvimento integral do cidadão.
gicos utilizando-se recursos tecnológicos de informação § 3º A base nacional comum e a parte diversificada não
e comunicação, a serem inseridos no cotidiano escolar, a podem se constituir em dois blocos distintos, com discipli-
fim de superar a distância entre estudantes que aprendem nas específicas para cada uma dessas partes, mas devem
a receber informação com rapidez utilizando a linguagem ser organicamente planejadas e geridas de tal modo que
digital e professores que dela ainda não se apropriaram; as tecnologias de informação e comunicação perpassem
VIII - constituição de rede de aprendizagem, entendida transversalmente a proposta curricular, desde a Educação
como um conjunto de ações didático-pedagógicas, com Infantil até o Ensino Médio, imprimindo direção aos proje-
foco na aprendizagem e no gosto de aprender, subsidiada
tos político-pedagógicos.
pela consciência de que o processo de comunicação entre
estudantes e professores é efetivado por meio de práticas
e recursos diversos; Art. 15. A parte diversificada enriquece e complemen-
IX - adoção de rede de aprendizagem, também, como ta a base nacional comum, prevendo o estudo das carac-
ferramenta didático-pedagógica relevante nos programas terísticas regionais e locais da sociedade, da cultura, da
de formação inicial e continuada de profissionais da educa- economia e da comunidade escolar, perpassando todos
ção, sendo que esta opção requer planejamento sistemá- os tempos e espaços curriculares constituintes do Ensino
tico integrado estabelecido entre sistemas educativos ou Fundamental e do Ensino Médio, independentemente do
conjunto de unidades escolares; ciclo da vida no qual os sujeitos tenham acesso à escola.
§ 4º A transversalidade é entendida como uma forma § 1º A parte diversificada pode ser organizada em te-
de organizar o trabalho didático pedagógico em que te- mas gerais, na forma de eixos temáticos, selecionados co-
mas e eixos temáticos são integrados às disciplinas e às legiadamente pelos sistemas educativos ou pela unidade
áreas ditas convencionais, de forma a estarem presentes escolar.
em todas elas. § 2º A LDB inclui o estudo de, pelo menos, uma língua
§ 5º A transversalidade difere da interdisciplinaridade e estrangeira moderna na parte diversificada, cabendo sua
ambas complementam-se, rejeitando a concepção de co- escolha à comunidade escolar, dentro das possibilidades
nhecimento que toma a realidade como algo estável, pron- da escola, que deve considerar o atendimento das caracte-
to e acabado. rísticas locais, regionais, nacionais e transnacionais, tendo
§ 6º A transversalidade refere-se à dimensão didático
em vista as demandas do mundo do trabalho e da interna-
-pedagógica, e a interdisciplinaridade, à abordagem epis-
cionalização de toda ordem de relações.
temológica dos objetos de conhecimento.
§ 3º A língua espanhola, por força da Lei nº 11.161/2005,
CAPÍTULO II é obrigatoriamente ofertada no Ensino Médio, embora fa-
FORMAÇÃO BÁSICA COMUM E PARTE DIVERSIFICADA cultativa para o estudante, bem como possibilitada no En-
sino Fundamental, do 6º ao 9º ano.
Art. 14. A base nacional comum na Educação Básica
constitui-se de conhecimentos, saberes e valores produzi- Art. 16. Leis específicas, que complementam a LDB, de-
dos culturalmente, expressos nas políticas públicas e gera- terminam que sejam incluídos componentes não discipli-
dos nas instituições produtoras do conhecimento científico nares, como temas relativos ao trânsito, ao meio ambiente
e tecnológico; no mundo do trabalho; no desenvolvimento e à condição e direitos do idoso.

84
LEGISLAÇÃO BÁSICA

Art. 17. No Ensino Fundamental e no Ensino Médio, Art. 20. O respeito aos educandos e a seus tempos
destinar-se-ão, pelo menos, 20% do total da carga horá- mentais, socioemocionais, culturais e identitários é um
ria anual ao conjunto de programas e projetos interdisci- princípio orientador de toda a ação educativa, sendo res-
plinares eletivos criados pela escola, previsto no projeto ponsabilidade dos sistemas a criação de condições para
pedagógico, de modo que os estudantes do Ensino Fun- que crianças, adolescentes, jovens e adultos, com sua di-
damental e do Médio possam escolher aquele programa versidade, tenham a oportunidade de receber a formação
ou projeto com que se identifiquem e que lhes permitam que corresponda à idade própria de percurso escolar.
melhor lidar com o conhecimento e a experiência.
§ 1º Tais programas e projetos devem ser desenvolvi- CAPÍTULO I
dos de modo dinâmico, criativo e flexível, em articulação ETAPAS DA EDUCAÇÃO BÁSICA
com a comunidade em que a escola esteja inserida.
§ 2º A interdisciplinaridade e a contextualização devem Art. 21. São etapas correspondentes a diferentes mo-
assegurar a transversalidade do conhecimento de diferen- mentos constitutivos do desenvolvimento educacional:
tes disciplinas e eixos temáticos, perpassando todo o cur- I - a Educação Infantil, que compreende: a Creche,
rículo e propiciando a interlocução entre os saberes e os englobando as diferentes etapas do desenvolvimento da
diferentes campos do conhecimento. criança até 3 (três) anos e 11 (onze) meses; e a Pré-Escola,
com duração de 2 (dois) anos;
TÍTULO VI II - o Ensino Fundamental, obrigatório e gratuito, com
ORGANIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO duração de 9 (nove) anos, é organizado e tratado em duas
BÁSICA fases: a dos 5 (cinco) anos iniciais e a dos 4 (quatro) anos
finais;
Art. 18. Na organização da Educação Básica, devem- III - o Ensino Médio, com duração mínima de 3 (três)
se observar as Diretrizes Curriculares Nacionais comuns a anos.
todas as suas etapas, modalidades e orientações temáticas, Parágrafo único. Essas etapas e fases têm previsão de
respeitadas as suas especificidades e as dos sujeitos a que idades próprias, as quais, no entanto, são diversas quan-
se destinam. do se atenta para sujeitos com características que fogem à
§ 1º As etapas e as modalidades do processo de es- norma, como é o caso, entre outros:
colarização estruturam-se de modo orgânico, sequencial e I - de atraso na matrícula e/ou no percurso escolar;
articulado, de maneira complexa, embora permanecendo II - de retenção, repetência e retorno de quem havia
individualizadas ao logo do percurso do estudante, apesar abandonado os estudos;
III - de portadores de deficiência limitadora;
das mudanças por que passam:
IV - de jovens e adultos sem escolarização ou com esta
I - a dimensão orgânica é atendida quando são obser-
incompleta;
vadas as especificidades e as diferenças de cada sistema
V - de habitantes de zonas rurais;
educativo, sem perder o que lhes é comum: as semelhan-
VI - de indígenas e quilombolas;
ças e as identidades que lhe são inerentes;
VII - de adolescentes em regime de acolhimento ou
II - a dimensão sequencial compreende os processos
internação, jovens e adultos em situação de privação de
educativos que acompanham as exigências de aprendiza-
liberdade nos estabelecimentos penais.
gens definidas em cada etapa do percurso formativo, con-
tínuo e progressivo, da Educação Básica até a Educação
Seção I
Superior, constituindo-se em diferentes e insubstituíveis Educação Infantil
momentos da vida dos educandos;
III - a articulação das dimensões orgânica e sequencial Art. 22. A Educação Infantil tem por objetivo o desen-
das etapas e das modalidades da Educação Básica, e destas volvimento integral da criança, em seus aspectos físico,
com a Educação Superior, implica ação coordenada e inte- afetivo, psicológico, intelectual, social, complementando a
gradora do seu conjunto. ação da família e da comunidade.
§ 2º A transição entre as etapas da Educação Básica § 1º As crianças provêm de diferentes e singulares con-
e suas fases requer formas de articulação das dimensões textos socioculturais, socioeconômicos e étnicos, por isso
orgânica e sequencial que assegurem aos educandos, sem devem ter a oportunidade de ser acolhidas e respeitadas
tensões e rupturas, a continuidade de seus processos pecu- pela escola e pelos profissionais da educação, com base
liares de aprendizagem e desenvolvimento. nos princípios da individualidade, igualdade, liberdade, di-
versidade e pluralidade.
Art. 19. Cada etapa é delimitada por sua finalidade, § 2º Para as crianças, independentemente das diferen-
seus princípios, objetivos e diretrizes educacionais, funda- tes condições físicas, sensoriais, intelectuais, linguísticas,
mentando-se na inseparabilidade dos conceitos referen- étnico-raciais, socioeconômicas, de origem, de religião, en-
ciais: cuidar e educar, pois esta é uma concepção norteado- tre outras, as relações sociais e intersubjetivas no espaço
ra do projeto político-pedagógico elaborado e executado escolar requerem a atenção intensiva dos profissionais da
pela comunidade educacional. educação, durante o tempo de desenvolvimento das ativi-

85
LEGISLAÇÃO BÁSICA

dades que lhes são peculiares, pois este é o momento em V - fortalecimento dos vínculos de família, dos laços de
que a curiosidade deve ser estimulada, a partir da brinca- solidariedade humana e de respeito recíproco em que se
deira orientada pelos profissionais da educação. assenta a vida social.
§ 3º Os vínculos de família, dos laços de solidariedade
humana e do respeito mútuo em que se assenta a vida so- Art. 25. Os sistemas estaduais e municipais devem es-
cial devem iniciar-se na Educação Infantil e sua intensifica- tabelecer especial forma de colaboração visando à oferta
ção deve ocorrer ao longo da Educação Básica. do Ensino Fundamental e à articulação sequente entre a
§ 4º Os sistemas educativos devem envidar esforços primeira fase, no geral assumida pelo Município, e a se-
promovendo ações a partir das quais as unidades de Edu- gunda, pelo Estado, para evitar obstáculos ao acesso de
cação Infantil sejam dotadas de condições para acolher as estudantes que se transfiram de uma rede para outra para
crianças,em estreita relação com a família, com agentes so- completar esta escolaridade obrigatória, garantindo a or-
ciais e com a sociedade, prevendo programas e projetos ganicidade e a totalidade do processo formativo do esco-
em parceria, formalmente estabelecidos. lar.
§ 5º A gestão da convivência e as situações em que se
torna necessária a solução de problemas individuais e co- Seção III
letivos pelas crianças devem ser previamente programadas, Ensino Médio
com foco nas motivações estimuladas e orientadas pelos
professores e demais profissionais da educação e outros Art. 26. O Ensino Médio, etapa final do processo for-
de áreas pertinentes, respeitados os limites e as potenciali- mativo da Educação Básica, é orientado por princípios e
dades de cada criança e os vínculos desta com a família ou finalidades que preveem:
com o seu responsável direto. I - a consolidação e o aprofundamento dos conheci-
mentos adquiridos no Ensino Fundamental, possibilitando
Seção II o prosseguimento de estudos;
Ensino Fundamental II - a preparação básica para a cidadania e o trabalho,
tomado este como princípio educativo, para continuar
Art. 23. O Ensino Fundamental com 9 (nove) anos de aprendendo, de modo a ser capaz de enfrentar novas con-
duração, de matrícula obrigatória para as crianças a partir dições de ocupação e aperfeiçoamento posteriores;
dos 6 (seis) anos de idade, tem duas fases sequentes com III - o desenvolvimento do educando como pessoa hu-
características próprias, chamadas de anos iniciais, com 5 mana, incluindo a formação ética e estética, o desenvolvi-
(cinco) anos de duração, em regra para estudantes de 6 mento da autonomia intelectual e do pensamento crítico;
(seis) a 10 (dez) anos de idade; e anos finais, com 4 (quatro) IV - a compreensão dos fundamentos científicos e tec-
anos de duração, para os de 11 (onze) a 14 (quatorze) anos. nológicos presentes na sociedade contemporânea, relacio-
Parágrafo único. No Ensino Fundamental, acolher sig- nando a teoria com a prática.
nifica também cuidar e educar, como forma de garantir § 1º O Ensino Médio deve ter uma base unitária sobre a
a aprendizagem dos conteúdos curriculares, para que o qual podem se assentar possibilidades diversas como pre-
estudante desenvolva interesses e sensibilidades que lhe paração geral para o trabalho ou, facultativamente, para
permitam usufruir dos bens culturais disponíveis na co- profissões técnicas; na ciência e na tecnologia, como inicia-
munidade, na sua cidade ou na sociedade em geral, e que ção científica e tecnológica; na cultura, como ampliação da
lhe possibilitem ainda sentir-se como produtor valorizado formação cultural.
desses bens. § 2º A definição e a gestão do currículo inscrevem-se
em uma lógica que se dirige aos jovens, considerando suas
Art. 24. Os objetivos da formação básica das crianças, singularidades, que se situam em um tempo determinado.
definidos para a Educação Infantil, prolongam-se duran- § 3º Os sistemas educativos devem prever currículos
te os anos iniciais do Ensino Fundamental, especialmente flexíveis, com diferentes alternativas, para que os jovens
no primeiro, e completam-se nos anos finais, ampliando e tenham a oportunidade de escolher o percurso formati-
intensificando, gradativamente, o processo educativo, me- vo que atenda seus interesses, necessidades e aspirações,
diante: para que se assegure a permanência dos jovens na escola,
I - desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo com proveito, até a conclusão da Educação Básica.
como meios básicos o pleno domínio da leitura, da escrita
e do cálculo; CAPÍTULO II
II - foco central na alfabetização, ao longo dos 3 (três) MODALIDADES DA EDUCAÇÃO
primeiros anos; BÁSICA
III - compreensão do ambiente natural e social, do sis-
tema político, da economia, da tecnologia, das artes, da Art. 27. A cada etapa da Educação Básica pode cor-
cultura e dos valores em que se fundamenta a sociedade; responder uma ou mais das modalidades de ensino: Edu-
IV - o desenvolvimento da capacidade de aprendiza- cação de Jovens e Adultos, Educação Especial, Educação
gem, tendo em vista a aquisição de conhecimentos e habi- Profissional e Tecnológica, Educação do Campo, Educação
lidades e a formação de atitudes e valores; Escolar Indígena e Educação a Distância.

86
LEGISLAÇÃO BÁSICA

Seção I dades e necessidades dos estudantes, organizar e orientar


Educação de Jovens e Adultos sobre os serviços e recursos pedagógicos e de acessibili-
dade para a participação e aprendizagem dos estudantes.
Art. 28. A Educação de Jovens e Adultos (EJA) destina- § 3º Na organização desta modalidade, os sistemas de
se aos que se situam na faixa etária superior à considerada ensino devem observar as seguintes orientações funda-
própria, no nível de conclusão do Ensino Fundamental e do mentais:
Ensino Médio. I - o pleno acesso e a efetiva participação dos estudan-
§ 1º Cabe aos sistemas educativos viabilizar a oferta de tes no ensino regular;
cursos gratuitos aos jovens e aos adultos, proporcionan- II - a oferta do atendimento educacional especializado;
do-lhes oportunidades educacionais apropriadas, conside- III - a formação de professores para o AEE e para o de-
radas as características do alunado, seus interesses, condi- senvolvimento de práticas educacionais inclusivas;
ções de vida e de trabalho, mediante cursos, exames, ações IV - a participação da comunidade escolar;
integradas e complementares entre si, estruturados em um V - a acessibilidade arquitetônica, nas comunicações e
projeto pedagógico próprio. informações, nos mobiliários e equipamentos e nos trans-
§ 2º Os cursos de EJA, preferencialmente tendo a Edu- portes;
cação Profissional articulada com a Educação Básica, de- VI - a articulação das políticas públicas intersetoriais.
vem pautar-se pela flexibilidade, tanto de currículo quanto
de tempo e espaço, para que seja(m): Seção III
I - rompida a simetria com o ensino regular para crian- Educação Profissional e
ças e adolescentes, de modo a permitir percursos indivi- Tecnológica
dualizados e conteúdos significativos para os jovens e
adultos; Art. 30. A Educação Profissional e Tecnológica, no cum-
II - providos o suporte e a atenção individuais às dife- primento dos objetivos da educação nacional, integra-se
rentes necessidades dos estudantes no processo de apren- aos diferentes níveis e modalidades de educação e às di-
dizagem, mediante atividades diversificadas; mensões do trabalho, da ciência e da tecnologia, e articula-
III - valorizada a realização de atividades e vivências se com o ensino regular e com outras modalidades educa-
socializadoras, culturais, recreativas e esportivas, geradoras cionais: Educação de Jovens e Adultos, Educação Especial e
de enriquecimento do percurso formativo dos estudantes; Educação a Distância.
IV - desenvolvida a agregação de competências para
o trabalho; Art. 31. Como modalidade da Educação Básica, a Edu-
V - promovida a motivação e a orientação permanente cação Profissional e Tecnológica ocorre na oferta de cursos
dos estudantes, visando maior participação nas aulas e seu de formação inicial e continuada ou qualificação profissio-
melhor aproveitamento e desempenho; nal e nos de Educação Profissional Técnica de nível médio.
VI - realizada, sistematicamente, a formação continua-
da, destinada, especificamente, aos educadores de jovens Art. 32. A Educação Profissional Técnica de nível médio
e adultos. é desenvolvida nas seguintes formas:
Seção II I - articulada com o Ensino Médio, sob duas formas:
Educação Especial a) integrada, na mesma instituição; ou
b) concomitante, na mesma ou em distintas institui-
Art. 29. A Educação Especial, como modalidade trans- ções;
versal a todos os níveis, etapas e modalidades de ensino, é II - subsequente, em cursos destinados a quem já te-
parte integrante da educação regular, devendo ser prevista nha concluído o Ensino Médio.
no projeto político-pedagógico da unidade escolar. § 1º Os cursos articulados com o Ensino Médio, orga-
§ 1º Os sistemas de ensino devem matricular os es- nizados na forma integrada, são cursos de matrícula única,
tudantes com deficiência, transtornos globais do desen- que conduzem os educandos à habilitação profissional téc-
volvimento e altas habilidades/superdotação nas classes nica de nível médio ao mesmo tempo em que concluem a
comuns do ensino regular e no Atendimento Educacional última etapa da Educação Básica.
Especializado (AEE), complementar ou suplementar à es- § 2º Os cursos técnicos articulados com o Ensino Mé-
colarização, ofertado em salas de recursos multifuncionais dio, ofertados na forma concomitante, com dupla matrícu-
ou em centros de AEE da rede pública ou de instituições la e dupla certificação, podem ocorrer:
comunitárias, confessionais ou filantrópicas sem fins lucra- I - na mesma instituição de ensino, aproveitando-se as
tivos. oportunidades educacionais disponíveis;
§ 2º Os sistemas e as escolas devem criar condições II - em instituições de ensino distintas, aproveitando-se
para que o professor da classe comum possa explorar as as oportunidades educacionais disponíveis;
potencialidades de todos os estudantes, adotando uma III - em instituições de ensino distintas, mediante con-
pedagogia dialógica, interativa, interdisciplinar e inclusiva vênios de intercomplementaridade, com planejamento e
e, na interface, o professor do AEE deve identificar habili- desenvolvimento de projeto pedagógico unificado.

87
LEGISLAÇÃO BÁSICA

§ 3º São admitidas, nos cursos de Educação Profissio- própria em respeito à especificidade étnico-cultural de
nal Técnica de nível médio, a organização e a estruturação cada povo ou comunidade e formação específica de seu
em etapas que possibilitem qualificação profissional inter- quadro docente, observados os princípios constitucionais,
mediária. a base nacional comum e os princípios que orientam a Edu-
§ 4º A Educação Profissional e Tecnológica pode ser cação Básica brasileira.
desenvolvida por diferentes estratégias de educação con-
Parágrafo único. Na estruturação e no funcionamen-
tinuada, em instituições especializadas ou no ambiente de
trabalho, incluindo os programas e cursos de aprendiza- to das escolas indígenas, é reconhecida a sua condição de
gem, previstos na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). possuidores de normas e ordenamento jurídico próprios,
com ensino intercultural e bilíngue, visando à valorização
Art. 33. A organização curricular da Educação Profissio- plena das culturas dos povos indígenas e à afirmação e ma-
nal e Tecnológica por eixo tecnológico fundamenta-se na nutenção de sua diversidade étnica.
identificação das tecnologias que se encontram na base de
uma dada formação profissional e dos arranjos lógicos por Art. 38. Na organização de escola indígena, deve ser
elas constituídos. considerada a participação da comunidade, na definição
Art. 34. Os conhecimentos e as habilidades adquiridos do modelo de organização e gestão, bem como:
tanto nos cursos de Educação Profissional e Tecnológica, I - suas estruturas sociais;
como os adquiridos na prática laboral pelos trabalhadores, II - suas práticas socioculturais e religiosas;
podem ser objeto de avaliação, reconhecimento e certifica- III - suas formas de produção de conhecimento, pro-
ção para prosseguimento ou conclusão de estudos. cessos próprios e métodos de ensino-aprendizagem;
IV - suas atividades econômicas;
Seção IV V - edificação de escolas que atendam aos interesses
Educação Básica das comunidades indígenas;
do Campo
VI - uso de materiais didático-pedagógicos produzidos
Art. 35. Na modalidade de Educação Básica do Campo, de acordo com o contexto sociocultural de cada povo in-
a educação para a população rural está prevista com ade- dígena.
quações necessárias às peculiaridades da vida no campo e Seção VI
de cada região, definindo-se orientações para três aspec- Educação a Distância
tos essenciais à organização da ação pedagógica:
I - conteúdos curriculares e metodologias apropriadas Art. 39. A modalidade Educação a Distância caracte-
às reais necessidades e interesses dos estudantes da zona riza-se pela mediação didático pedagógica nos processos
rural; de ensino e aprendizagem que ocorre com a utilização de
II - organização escolar própria, incluindo adequação
meios e tecnologias de informação e comunicação, com
do calendário escolar às fases do ciclo agrícola e às condi-
ções climáticas; estudantes e professores desenvolvendo atividades educa-
III - adequação à natureza do trabalho na zona rural. tivas em lugares ou tempos diversos.

Art. 36. A identidade da escola do campo é definida Art. 40. O credenciamento para a oferta de cursos e
pela vinculação com as questões inerentes à sua realidade, programas de Educação de Jovens e Adultos, de Educação
com propostas pedagógicas que contemplam sua diver- Especial e de Educação Profissional Técnica de nível mé-
sidade em todos os aspectos, tais como sociais, culturais, dio e Tecnológica, na modalidade a distância, compete aos
políticos, econômicos, de gênero, geração e etnia. sistemas estaduais de ensino, atendidas a regulamentação
Parágrafo único. Formas de organização e metodolo-
gias pertinentes à realidade do campo devem ter acolhidas, federal e as normas complementares desses sistemas.
como a pedagogia da terra, pela qual se busca um traba-
lho pedagógico fundamentado no princípio da sustenta- Seção VII
bilidade, para assegurar a preservação da vida das futuras Educação Escolar
gerações, e a pedagogia da alternância, na qual o estu- Quilombola
dante participa, concomitante e alternadamente, de dois
ambientes/situações de aprendizagem: o escolar e o labo- Art. 41. A Educação Escolar Quilombola é desenvolvida
ral, supondo parceria educativa, em que ambas as partes em unidades educacionais inscritas em suas terras e cul-
são corresponsáveis pelo aprendizado e pela formação do
tura, requerendo pedagogia própria em respeito à espe-
estudante.
cificidade étnico-cultural de cada comunidade e formação
Seção V específica de seu quadro docente, observados os princípios
Educação Escolar Indígena constitucionais, a base nacional comum e os princípios que
orientam a Educação Básica brasileira.
Art. 37. A Educação Escolar Indígena ocorre em uni- Parágrafo único. Na estruturação e no funcionamento
dades educacionais inscritas em suas terras e culturas, as das escolas quilombolas, bem com nas demais, deve ser
quais têm uma realidade singular, requerendo pedagogia reconhecida e valorizada a diversidade cultural.

88
LEGISLAÇÃO BÁSICA

TÍTULO VII IV - as bases norteadoras da organização do trabalho


ELEMENTOS CONSTITUTIVOS PARA A pedagógico;
ORGANIZAÇÃO DAS DIRETRIZES V - a definição de qualidade das aprendizagens e, por
CURRICULARES NACIONAIS GERAIS consequência, da escola, no contexto das desigualdades
PARA A EDUCAÇÃO BÁSICA que se refletem na escola;
VI - os fundamentos da gestão democrática, compar-
Art. 42. São elementos constitutivos para a operaciona- tilhada e participativa (órgãos colegiados e de representa-
lização destas Diretrizes o projeto político-pedagógico e o ção estudantil);
regimento escolar; o sistema de avaliação; a gestão demo- VII - o programa de acompanhamento de acesso, de
crática e a organização da escola; o professor e o programa permanência dos estudantes e de superação da retenção
de formação docente. escolar;
VIII - o programa de formação inicial e continuada dos
CAPÍTULO I profissionais da educação, regentes e não regentes;
O PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO E IX - as ações de acompanhamento sistemático dos re-
O REGIMENTO ESCOLAR sultados do processo de avaliação interna e externa (Siste-
ma de Avaliação da Educação Básica – SAEB, Prova Brasil,
Art. 43. O projeto político-pedagógico, interdepen- dados estatísticos, pesquisas sobre os sujeitos da Educação
dentemente da autonomia pedagógica, administrativa e Básica), incluindo dados referentes ao IDEB e/ou que com-
de gestão financeira da instituição educacional, representa plementem ou substituam os desenvolvidos pelas unida-
mais do que um documento, sendo um dos meios de viabi- des da federação e outros;
lizar a escola democrática para todos e de qualidade social. X - a concepção da organização do espaço físico da
§ 1º A autonomia da instituição educacional baseia-se instituição escolar de tal modo que este seja compatível
na busca de sua identidade, que se expressa na constru- com as características de seus sujeitos, que atenda as nor-
ção de seu projeto pedagógico e do seu regimento escolar, mas de acessibilidade, além da natureza e das finalidades
enquanto manifestação de seu ideal de educação e que da educação, deliberadas e assumidas pela comunidade
permite uma nova e democrática ordenação pedagógica
educacional.
das relações escolares.
§ 2º Cabe à escola, considerada a sua identidade e a de
Art. 45. O regimento escolar, discutido e aprovado pela
seus sujeitos, articular a formulação do projeto político-pe-
comunidade escolar e conhecido por todos, constitui-se
dagógico com os planos de educação – nacional, estadual,
em um dos instrumentos de execução do projeto político
municipal –, o contexto em que a escola se situa e as neces-
pedagógico, com transparência e responsabilidade.
sidades locais e de seus estudantes.
Parágrafo único. O regimento escolar trata da natureza
§ 3º A missão da unidade escolar, o papel socioeduca-
e da finalidade da instituição, da relação da gestão demo-
tivo, artístico, cultural, ambiental, as questões de gênero,
crática com os órgãos colegiados, das atribuições de seus
etnia e diversidade cultural que compõem as ações educa-
tivas, a organização e a gestão curricular são componentes órgãos e sujeitos, das suas normas pedagógicas, incluindo
integrantes do projeto político-pedagógico, devendo ser os critérios de acesso, promoção, mobilidade do estudante,
previstas as prioridades institucionais que a identificam, dos direitos e deveres dos seus sujeitos: estudantes, profes-
definindo o conjunto das ações educativas próprias das sores, técnicos e funcionários, gestores, famílias, represen-
etapas da Educação Básica assumidas, de acordo com as tação estudantil e função das suas instâncias colegiadas.
especificidades que lhes correspondam, preservando a sua
articulação sistêmica. CAPÍTULO II
AVALIAÇÃO
Art. 44. O projeto político-pedagógico, instância de
construção coletiva que respeita os sujeitos das aprendiza- Art. 46. A avaliação no ambiente educacional com-
gens, entendidos como cidadãos com direitos à proteção e preende 3 (três) dimensões básicas:
à participação social, deve contemplar: I - avaliação da aprendizagem;
I - o diagnóstico da realidade concreta dos sujeitos do II - avaliação institucional interna e externa;
processo educativo, contextualizados no espaço e no tem- III - avaliação de redes de Educação Básica.
po;
II - a concepção sobre educação, conhecimento, avalia- Seção I
ção da aprendizagem e mobilidade escolar; Avaliação da
III - o perfil real dos sujeitos – crianças, jovens e adul- aprendizagem
tos – que justificam e instituem a vida da e na escola, do
ponto de vista intelectual, cultural, emocional, afetivo, so- Art. 47. A avaliação da aprendizagem baseia-se na con-
cioeconômico, como base da reflexão sobre as relações cepção de educação que norteia a relação professor-estu-
vida-conhecimento-cultura professor-estudante e institui- dante-conhecimento-vida em movimento, devendo ser um
ção escolar; ato reflexo de reconstrução da prática pedagógica avalia-

89
LEGISLAÇÃO BÁSICA

tiva, premissa básica e fundamental para se questionar o Art. 50. A progressão pode ser regular ou parcial, sendo
educar, transformando a mudança em ato, acima de tudo, que esta deve preservar a sequência do currículo e obser-
político. var as normas do respectivo sistema de ensino, requerendo
§ 1º A validade da avaliação, na sua função diagnóstica, o redesenho da organização das ações pedagógicas, com
liga-se à aprendizagem, possibilitando o aprendiz a recriar, previsão de horário de trabalho e espaço de atuação para
refazer o que aprendeu, criar, propor e, nesse contexto, professor e estudante, com conjunto próprio de recursos
aponta para uma avaliação global, que vai além do aspecto didático pedagógicos.
quantitativo, porque identifica o desenvolvimento da auto-
nomia do estudante, que é indissociavelmente ético, social, Art. 51. As escolas que utilizam organização por série
intelectual. podem adotar, no Ensino Fundamental, sem prejuízo da
§ 2º Em nível operacional, a avaliação da aprendiza- avaliação do processo ensino-aprendizagem, diversas for-
gem tem, como referência, o conjunto de conhecimentos, mas de progressão, inclusive a de progressão continuada,
habilidades, atitudes, valores e emoções que os sujeitos do jamais entendida como promoção automática, o que su-
processo educativo projetam para si de modo integrado e põe tratar o conhecimento como processo e vivência que
articulado com aqueles princípios definidos para a Educa- não se harmoniza com a ideia de interrupção, mas sim de
ção Básica, redimensionados para cada uma de suas eta- construção, em que o estudante, enquanto sujeito da ação,
pas, bem assim no projeto político-pedagógico da escola. está em processo contínuo de formação, construindo sig-
§ 3º A avaliação na Educação Infantil é realizada me- nificados.
diante acompanhamento e registro do desenvolvimento
da criança, sem o objetivo de promoção, mesmo em se tra- Seção III
tando de acesso ao Ensino Fundamental. Avaliação institucional
§ 4º A avaliação da aprendizagem no Ensino Funda-
mental e no Ensino Médio, de caráter formativo predo- Art. 52. A avaliação institucional interna deve ser pre-
minando sobre o quantitativo e classificatório, adota uma vista no projeto político pedagógico e detalhada no plano
estratégia de progresso individual e contínuo que favorece de gestão, realizada anualmente, levando em consideração
as orientações contidas na regulamentação vigente, para
o crescimento do educando, preservando a qualidade ne-
rever o conjunto de objetivos e metas a serem concretiza-
cessária para a sua formação escolar, sendo organizada de
dos, mediante ação dos diversos segmentos da comunida-
acordo com regras comuns a essas duas etapas.
de educativa, o que pressupõe delimitação de indicadores
compatíveis com a missão da escola, além de clareza
Seção II
quanto ao que seja qualidade social da aprendizagem
Promoção, aceleração de
e da escola.
estudos e classificação
Seção IV
Art. 48. A promoção e a classificação no Ensino Funda- Avaliação de redes de
mental e no Ensino Médio podem ser utilizadas em qual- Educação Básica
quer ano, série, ciclo, módulo ou outra unidade de per-
curso adotada, exceto na primeira do Ensino Fundamental, Art. 53. A avaliação de redes de Educação Básica ocorre
alicerçando-se na orientação de que a avaliação do rendi- periodicamente, é realizada por órgãos externos à escola e
mento escolar observará os seguintes critérios: engloba os resultados da avaliação institucional, sendo que
I - avaliação contínua e cumulativa do desempenho do os resultados dessa avaliação sinalizam para a sociedade
estudante, com prevalência dos aspectos qualitativos sobre se a escola apresenta qualidade suficiente para continuar
os quantitativos e dos resultados ao longo do período so- funcionando como está.
bre os de eventuais provas finais;
II - possibilidade de aceleração de estudos para estu- CAPÍTULO III
dantes com atraso escolar; GESTÃO DEMOCRÁTICA E
III - possibilidade de avanço nos cursos e nas séries ORGANIZAÇÃO DA ESCOLA
mediante verificação do aprendizado;
IV - aproveitamento de estudos concluídos com êxito; Art. 54. É pressuposto da organização do trabalho pe-
V - oferta obrigatória de apoio pedagógico destinado dagógico e da gestão da escola conceber a organização e
à recuperação contínua e concomitante de aprendizagem a gestão das pessoas, do espaço, dos processos e procedi-
de estudantes com déficit de rendimento escolar, a ser pre- mentos que viabilizam o trabalho expresso no projeto po-
visto no regimento escolar. lítico-pedagógico e em planos da escola, em que se con-
formam as condições de trabalho definidas pelas instâncias
Art. 49. A aceleração de estudos destina-se a estudan- colegiadas.
tes com atraso escolar, àqueles que, por algum motivo, en- § 1º As instituições, respeitadas as normas legais e as
contram-se em descompasso de idade, por razões como do seu sistema de ensino, têm incumbências complexas e
ingresso tardio, retenção, dificuldades no processo de en- abrangentes, que exigem outra concepção de organização
sino-aprendizagem ou outras. do trabalho pedagógico, como distribuição da carga horá-

90
LEGISLAÇÃO BÁSICA

ria, remuneração, estratégias claramente definidas para a CAPÍTULO IV


ação didático-pedagógica coletiva que inclua a pesquisa, O PROFESSOR E A FORMAÇÃO
a criação de novas abordagens e práticas metodológicas, INICIAL E CONTINUADA
incluindo a produção de recursos didáticos adequados às
condições da escola e da comunidade em que esteja ela Art. 56. A tarefa de cuidar e educar, que a fundamenta-
inserida. ção da ação docente e os programas de formação inicial e
§ 2º É obrigatória a gestão democrática no ensino pú- continuada dos profissionais da educação instauram, refle-
blico e prevista, em geral, para todas as instituições de en- te-se na eleição de um ou outro método de aprendizagem,
sino, o que implica decisões coletivas que pressupõem a a partir do qual é determinado o perfil de docente para a
participação da comunidade escolar na gestão da escola Educação Básica, em atendimento às dimensões técnicas,
e a observância dos princípios e finalidades da educação. políticas, éticas e estéticas.
§ 3º No exercício da gestão democrática, a escola deve § 1º Para a formação inicial e continuada, as escolas de
se empenhar para constituir-se em espaço das diferenças e formação dos profissionais da educação, sejam gestores,
da pluralidade, inscrita na diversidade do processo tornado professores ou especialistas, deverão incluir em seus currí-
possível por meio de relações intersubjetivas, cuja meta é culos e programas:
a de se fundamentar em princípio educativo emancipador, a) o conhecimento da escola como organização com-
expresso na liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e di- plexa que tem a função de promover a educação para e na
vulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber. cidadania;
b) a pesquisa, a análise e a aplicação dos resultados de
Art. 55. A gestão democrática constitui-se em instru- investigações de interesse da área educacional;
mento de horizontalização das relações, de vivência e con- c) a participação na gestão de processos educativos e
vivência colegiada, superando o autoritarismo no planeja- na organização e funcionamento de sistemas e instituições
mento e na concepção e organização curricular, educando de ensino;
para a conquista da cidadania plena e fortalecendo a ação d) a temática da gestão democrática, dando ênfase à
conjunta que busca criar e recriar o trabalho da e na escola construção do projeto político pedagógico, mediante tra-
mediante: balho coletivo de que todos os que compõem a comunida-
de escolar são responsáveis.
I - a compreensão da globalidade da pessoa, enquanto
ser que aprende, que sonha e ousa, em busca de uma con- Art. 57. Entre os princípios definidos para a educação
vivência social libertadora fundamentada na ética cidadã; nacional está a valorização do profissional da educação,
com a compreensão de que valorizá-lo é valorizar a escola,
II - a superação dos processos e procedimentos buro- com qualidade gestorial, educativa, social, cultural, ética,
cráticos, assumindo com pertinência e relevância: os planos estética, ambiental.
pedagógicos, os objetivos institucionais e educacionais, e § 1º A valorização do profissional da educação escolar
as atividades de avaliação contínua; vincula-se à obrigatoriedade da garantia de qualidade e
ambas se associam à exigência de programas de formação
III - a prática em que os sujeitos constitutivos da comu- inicial e continuada de docentes e não docentes, no con-
nidade educacional discutam a própria práxis pedagógica texto do conjunto de múltiplas atribuições definidas para
impregnando-a de entusiasmo e de compromisso com a os sistemas educativos, em que se inscrevem as funções
sua própria comunidade, valorizando-a, situando-a no con- do professor.
texto das relações sociais e buscando soluções conjuntas; § 2º Os programas de formação inicial e continuada
dos profissionais da educação, vinculados às orientações
IV - a construção de relações interpessoais solidárias, destas Diretrizes, devem prepará-los para o desempenho
geridas de tal modo que os professores se sintam estimula- de suas atribuições, considerando necessário:
dos a conhecer melhor os seus pares (colegas de trabalho, a) além de um conjunto de habilidades cognitivas, sa-
estudantes, famílias), a expor as suas ideias, a traduzir as ber pesquisar, orientar, avaliar e elaborar propostas, isto
suas dificuldades e expectativas pessoais e profissionais; é, interpretar e reconstruir o conhecimento coletivamente;
b) trabalhar cooperativamente em equipe;
V - a instauração de relações entre os estudantes, pro- c) compreender, interpretar e aplicar a linguagem e os
porcionando-lhes espaços de convivência e situações de instrumentos produzidos ao longo da evolução tecnológi-
aprendizagem, por meio dos quais aprendam a se com- ca, econômica e organizativa;
preender e se organizar em equipes de estudos e de práti- d) desenvolver competências para integração com a
cas esportivas, artísticas e políticas; comunidade e para relacionamento com as famílias.

VI - a presença articuladora e mobilizadora do gestor Art. 58. A formação inicial, nos cursos de licenciatura,
no cotidiano da escola e nos espaços com os quais a escola não esgota o desenvolvimento dos conhecimentos, sabe-
interage, em busca da qualidade social das aprendizagens res e habilidades referidas, razão pela qual um programa
que lhe caiba desenvolver, com transparência e responsa- de formação continuada dos profissionais da educação
bilidade. será contemplado no projeto político-pedagógico.

91
LEGISLAÇÃO BÁSICA

Art. 59. Os sistemas educativos devem instituir orien- Art. 3o As metas previstas no Anexo desta Lei serão
tações para que o projeto de formação dos profissionais cumpridas no prazo de vigência deste PNE, desde que não
preveja: haja prazo inferior definido para metas e estratégias espe-
a) a consolidação da identidade dos profissionais da cíficas.
educação, nas suas relações com a escola e com o estu-
dante; Art. 4o As metas previstas no Anexo desta Lei deverão
b) a criação de incentivos para o resgate da imagem ter como referência a Pesquisa Nacional por Amostra
social do professor, assim como da autonomia docente de Domicílios - PNAD, o censo demográfico e os censos
tanto individual como coletiva; nacionais da educação básica e superior mais atualizados,
c) a definição de indicadores de qualidade social da disponíveis na data da publicação desta Lei.
educação escolar, a fim de que as agências formadoras de Parágrafo único. O poder público buscará ampliar o es-
profissionais da educação revejam os projetos dos cursos copo das pesquisas com fins estatísticos de forma a incluir
de formação inicial e continuada de docentes, de modo informação detalhada sobre o perfil das populações de 4
(quatro) a 17 (dezessete) anos com deficiência.
que correspondam às exigências de um projeto de Nação.
Art. 60. Esta Resolução entrará em vigor na data de sua
Art. 5o A execução do PNE e o cumprimento de suas
publicação.
metas serão objeto de monitoramento contínuo e de
avaliações periódicas, realizados pelas seguintes instân-
FRANCISCO APARECIDO CORDÃO cias:
I - Ministério da Educação - MEC;
II - Comissão de Educação da Câmara dos Deputados e
Comissão de Educação, Cultura e Esporte do Senado Federal;
3. PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO. III - Conselho Nacional de Educação - CNE;
IV - Fórum Nacional de Educação.
§ 1o Compete, ainda, às instâncias referidas no caput:
I - divulgar os resultados do monitoramento e das
LEI N° 13.005, DE 25 DE JUNHO DE 2014 avaliações nos respectivos sítios institucionais da internet;
II - analisar e propor políticas públicas para assegu-
Trata-se da legislação que “Aprova o Plano Nacional de rar a implementação das estratégias e o cumprimento das
Educação - PNE e dá outras providências”. metas;
III - analisar e propor a revisão do percentual de investi-
Art. 1o É aprovado o Plano Nacional de Educação - PNE, mento público em educação.
com vigência por 10 (dez) anos, a contar da publicação § 2o A cada 2 (dois) anos, ao longo do período de vigên-
desta Lei, na forma do Anexo, com vistas ao cumprimento do cia deste PNE, o Instituto Nacional de Estudos e Pesqui-
disposto no art. 214 da Constituição Federal. sas Educacionais Anísio Teixeira - INEP publicará estudos
para aferir a evolução no cumprimento das metas estabe-
Art. 2o São diretrizes do PNE: lecidas no Anexo desta Lei, com informações organizadas
I - erradicação do analfabetismo; por ente federado e consolidadas em âmbito nacional, tendo
II - universalização do atendimento escolar; como referência os estudos e as pesquisas de que trata o art.
III - superação das desigualdades educacionais, com 4o, sem prejuízo de outras fontes e informações relevantes.
ênfase na promoção da cidadania e na erradicação de todas § 3o A meta progressiva do investimento público em
as formas de discriminação; educação será avaliada no quarto ano de vigência do PNE e
IV - melhoria da qualidade da educação; poderá ser ampliada por meio de lei para atender às necessi-
V - formação para o trabalho e para a cidadania, dades financeiras do cumprimento das demais metas.
§ 4º O investimento público em educação a que se re-
com ênfase nos valores morais e éticos em que se fundamen-
ferem o inciso VI do art. 214 da Constituição Federal e a
ta a sociedade;
meta 20 do Anexo desta Lei engloba os recursos aplicados
VI - promoção do princípio da gestão democrática
na forma do art. 212 da Constituição Federal e do art. 60
da educação pública;
do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, bem
VII - promoção humanística, científica, cultural e como os recursos aplicados nos programas de expansão da
tecnológica do País; educação profissional e superior, inclusive na forma de in-
VIII - estabelecimento de meta de aplicação de recur- centivo e isenção fiscal, as bolsas de estudos concedidas no
sos públicos em educação como proporção do Produto Brasil e no exterior, os subsídios concedidos em programas
Interno Bruto - PIB, que assegure atendimento às necessi- de financiamento estudantil e o financiamento de creches,
dades de expansão, com padrão de qualidade e equidade; pré-escolas e de educação especial na forma do art. 213 da
IX - valorização dos (as) profissionais da educação; Constituição Federal.
X - promoção dos princípios do respeito aos direitos § 5o Será destinada à manutenção e ao desenvolvimen-
humanos, à diversidade e à sustentabilidade socioam- to do ensino, em acréscimo aos recursos vinculados nos
biental. termos do art. 212 da Constituição Federal, além de outros

92
LEGISLAÇÃO BÁSICA

recursos previstos em lei, a parcela da participação no re- Art. 8o Os Estados, o Distrito Federal e os Municí-
sultado ou da compensação financeira pela exploração de pios deverão elaborar seus correspondentes planos de
petróleo e de gás natural, na forma de lei específica, com educação, ou adequar os planos já aprovados em lei, em
a finalidade de assegurar o cumprimento da meta prevista consonância com as diretrizes, metas e estratégias previstas
no inciso VI do art. 214 da Constituição Federal. neste PNE, no prazo de 1 (um) ano contado da publicação
desta Lei.
Art. 6o A União promoverá a realização de pelo menos § 1o Os entes federados estabelecerão nos respectivos
2 (duas) conferências nacionais de educação até o final planos de educação estratégias que:
do decênio, precedidas de conferências distrital, municipais I - assegurem a articulação das políticas educacionais
e estaduais, articuladas e coordenadas pelo Fórum Nacional com as demais políticas sociais, particularmente as culturais;
de Educação, instituído nesta Lei, no âmbito do Ministério da II - considerem as necessidades específicas das popula-
Educação. ções do campo e das comunidades indígenas e quilombolas,
§ 1o O Fórum Nacional de Educação, além da atribuição asseguradas a equidade educacional e a diversidade cultu-
referida no caput: ral;
I - acompanhará a execução do PNE e o cumprimento III - garantam o atendimento das necessidades específi-
de suas metas; cas na educação especial, assegurado o sistema educacional
II - promoverá a articulação das conferências nacionais inclusivo em todos os níveis, etapas e modalidades;
de educação com as conferências regionais, estaduais e mu- IV - promovam a articulação interfederativa na imple-
nicipais que as precederem. mentação das políticas educacionais.
§ 2o As conferências nacionais de educação realizar-se § 2o Os processos de elaboração e adequação dos pla-
-ão com intervalo de até 4 (quatro) anos entre elas, com nos de educação dos Estados, do Distrito Federal e dos
o objetivo de avaliar a execução deste PNE e subsidiar a Municípios, de que trata o caput deste artigo, serão reali-
elaboração do plano nacional de educação para o decênio zados com ampla participação de representantes da comu-
subsequente. nidade educacional e da sociedade civil.
Art. 7o A União, os Estados, o Distrito Federal e os
Art. 9o Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios
Municípios atuarão em regime de colaboração, visando
deverão aprovar leis específicas para os seus sistemas
ao alcance das metas e à implementação das estratégias ob-
de ensino, disciplinando a gestão democrática da educa-
jeto deste Plano.
ção pública nos respectivos âmbitos de atuação, no prazo de
§ 1o Caberá aos gestores federais, estaduais, municipais
2 (dois) anos contado da publicação desta Lei, adequando,
e do Distrito Federal a adoção das medidas governamen-
quando for o caso, a legislação local já adotada com essa
tais necessárias ao alcance das metas previstas neste PNE.
finalidade.
§ 2o As estratégias definidas no Anexo desta Lei não
elidem a adoção de medidas adicionais em âmbito local
ou de instrumentos jurídicos que formalizem a coopera- Art. 10. O plano plurianual, as diretrizes orçamentárias
ção entre os entes federados, podendo ser complementadas e os orçamentos anuais da União, dos Estados, do Distrito
por mecanismos nacionais e locais de coordenação e cola- Federal e dos Municípios serão formulados de maneira a as-
boração recíproca. segurar a consignação de dotações orçamentárias com-
§ 3o Os sistemas de ensino dos Estados, do Distrito Fe- patíveis com as diretrizes, metas e estratégias deste PNE e
deral e dos Municípios criarão mecanismos para o acom- com os respectivos planos de educação, a fim de viabilizar
panhamento local da consecução das metas deste PNE e sua plena execução.
dos planos previstos no art. 8o.
§ 4o Haverá regime de colaboração específico para a Art. 11. O Sistema Nacional de Avaliação da Edu-
implementação de modalidades de educação escolar que cação Básica, coordenado pela União, em colaboração
necessitem considerar territórios étnico-educacionais e a com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, cons-
utilização de estratégias que levem em conta as identidades tituirá fonte de informação para a avaliação da quali-
e especificidades socioculturais e linguísticas de cada comu- dade da educação básica e para a orientação das políti-
nidade envolvida, assegurada a consulta prévia e informada cas públicas desse nível de ensino.
a essa comunidade. § 1o O sistema de avaliação a que se refere o caput
§ 5o Será criada uma instância permanente de nego- produzirá, no máximo a cada 2 (dois) anos:
ciação e cooperação entre a União, os Estados, o Distrito I - indicadores de rendimento escolar, referentes ao
Federal e os Municípios. desempenho dos (as) estudantes apurado em exames na-
§ 6o O fortalecimento do regime de colaboração entre cionais de avaliação, com participação de pelo menos 80%
os Estados e respectivos Municípios incluirá a instituição (oitenta por cento) dos (as) alunos (as) de cada ano escolar
de instâncias permanentes de negociação, cooperação e periodicamente avaliado em cada escola, e aos dados perti-
pactuação em cada Estado. nentes apurados pelo censo escolar da educação básica;
§ 7o O fortalecimento do regime de colaboração entre II - indicadores de avaliação institucional, relativos a
os Municípios dar-se-á, inclusive, mediante a adoção de ar- características como o perfil do alunado e do corpo dos (as)
ranjos de desenvolvimento da educação. profissionais da educação, as relações entre dimensão do

93
LEGISLAÇÃO BÁSICA

corpo docente, do corpo técnico e do corpo discente, a in- rização dos profissionais da educação, considerada estra-
fraestrutura das escolas, os recursos pedagógicos disponíveis tégica para que as metas anteriores sejam atingidas, e o
e os processos da gestão, entre outras relevantes. quarto grupo de metas refere-se ao ensino superior.
§ 2o A elaboração e a divulgação de índices para ava- O Ministério da Educação se mobilizou de forma arti-
liação da qualidade, como o Índice de Desenvolvimento culada com os demais entes federados e instâncias repre-
da Educação Básica - IDEB, que agreguem os indicadores sentativas do setor educacional, direcionando o seu traba-
mencionados no inciso I do § 1o não elidem a obrigatorie- lho em torno do plano em um movimento inédito: referen-
dade de divulgação, em separado, de cada um deles. ciou seu Planejamento Estratégico Institucional e seu Plano
§ 3o Os indicadores mencionados no § 1o serão esti- Tático Operacional a cada meta do PNE, envolveu todas as
mados por etapa, estabelecimento de ensino, rede esco- secretarias e autarquias na definição das ações, dos res-
lar, unidade da Federação e em nível agregado nacional, ponsáveis e dos recursos. A elaboração do Plano Plurianual
sendo amplamente divulgados, ressalvada a publicação (PPA) 2016-2019 também foi orientada pelo PNE.
de resultados individuais e indicadores por turma, que fica O PNE vige de 2014 a 2024. O anexo ao PNE colaciona
admitida exclusivamente para a comunidade do respectivo metas que correspondem às diretrizes descritas no artigo
estabelecimento e para o órgão gestor da respectiva rede. 2º. Atividades de monitoramento e avaliação do cumpri-
§ 4o Cabem ao Inep a elaboração e o cálculo do Ideb e mento do PNE são desempenhadas pelo MEC, pela Comis-
dos indicadores referidos no § 1o. são de Educação da Câmara dos Deputados e Comissão de
§ 5o A avaliação de desempenho dos (as) estudantes Educação, Cultura e Esporte do Senado Federal, pelo CNE
em exames, referida no inciso I do § 1o, poderá ser direta- e pelo Fórum Nacional de Educação. O Fórum Nacional
mente realizada pela União ou, mediante acordo de coope- de Educação tem o papel de organizar duas conferências
ração, pelos Estados e pelo Distrito Federal, nos respectivos nacionais neste período, integrando os diversos setores
sistemas de ensino e de seus Municípios, caso mantenham componentes da educação no país. O INEP irá publicar os
sistemas próprios de avaliação do rendimento escolar, asse- resultados de avaliação a cada dois anos. Ainda, o PNE ins-
gurada a compatibilidade metodológica entre esses sistemas titui um regime colaborativo entre as diversas unidades da
e o nacional, especialmente no que se refere às escalas de federação, reforçando o dever dos Estados e municípios de
proficiência e ao calendário de aplicação. firmarem seus próprios planos de educação e de elabora-
rem leis específicas no âmbito dos seus sistemas de ensino.
Art. 12. Até o final do primeiro semestre do nono ano de
vigência deste PNE, o Poder Executivo encaminhará ao Con- ANEXO
gresso Nacional, sem prejuízo das prerrogativas deste Poder, METAS E ESTRATÉGIAS
o projeto de lei referente ao Plano Nacional de Educação
a vigorar no período subsequente, que incluirá diagnóstico, Meta 1: universalizar, até 2016, a educação infantil
diretrizes, metas e estratégias para o próximo decênio. na pré-escola para as crianças de 4 (quatro) a 5 (cinco)
anos de idade e ampliar a oferta de educação infantil
Art. 13. O poder público deverá instituir, em lei específi- em creches de forma a atender, no mínimo, 50% (cin-
ca, contados 2 (dois) anos da publicação desta Lei, o Sistema quenta por cento) das crianças de até 3 (três) anos até o
Nacional de Educação, responsável pela articulação entre os final da vigência deste PNE.
sistemas de ensino, em regime de colaboração, para efetiva- Estratégias:
ção das diretrizes, metas e estratégias do Plano Nacional de 1.1) definir, em regime de colaboração entre a União,
Educação. os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, metas de ex-
pansão das respectivas redes públicas de educação infantil
Art. 14. Esta Lei entra em vigor na data de sua publi- segundo padrão nacional de qualidade, considerando as pe-
cação. culiaridades locais;
1.2) garantir que, ao final da vigência deste PNE, seja
Brasília, 25 de junho de 2014; 193o da Independência inferior a 10% (dez por cento) a diferença entre as taxas de
e 126o da República. frequência à educação infantil das crianças de até 3 (três)
anos oriundas do quinto de renda familiar per capita mais
O Plano Nacional de Educação (PNE) determina dire- elevado e as do quinto de renda familiar per capita mais
trizes, metas e estratégias para a política educacional dos baixo;
próximos dez anos. O primeiro grupo são metas estrutu- 1.3) realizar, periodicamente, em regime de colaboração,
rantes para a garantia do direito a educação básica com levantamento da demanda por creche para a população de
qualidade, e que assim promovam a garantia do acesso, à até 3 (três) anos, como forma de planejar a oferta e verificar
universalização do ensino obrigatório, e à ampliação das o atendimento da demanda manifesta;
oportunidades educacionais. Um segundo grupo de metas 1.4) estabelecer, no primeiro ano de vigência do PNE,
diz respeito especificamente à redução das desigualdades normas, procedimentos e prazos para definição de mecanis-
e à valorização da diversidade, caminhos imprescindíveis mos de consulta pública da demanda das famílias por cre-
para a equidade. O terceiro bloco de metas trata da valo- ches;

94
LEGISLAÇÃO BÁSICA

1.5) manter e ampliar, em regime de colaboração e res- 1.15) promover a busca ativa de crianças em idade cor-
peitadas as normas de acessibilidade, programa nacional de respondente à educação infantil, em parceria com órgãos
construção e reestruturação de escolas, bem como de aqui- públicos de assistência social, saúde e proteção à infância,
sição de equipamentos, visando à expansão e à melhoria da preservando o direito de opção da família em relação às
rede física de escolas públicas de educação infantil; crianças de até 3 (três) anos;
1.6) implantar, até o segundo ano de vigência deste PNE, 1.16) o Distrito Federal e os Municípios, com a colabora-
avaliação da educação infantil, a ser realizada a cada 2 ção da União e dos Estados, realizarão e publicarão, a cada
(dois) anos, com base em parâmetros nacionais de qualida- ano, levantamento da demanda manifesta por educação in-
de, a fim de aferir a infraestrutura física, o quadro de pessoal, fantil em creches e pré-escolas, como forma de planejar e
as condições de gestão, os recursos pedagógicos, a situação verificar o atendimento;
de acessibilidade, entre outros indicadores relevantes; 1.17) estimular o acesso à educação infantil em tempo
1.7) articular a oferta de matrículas gratuitas em creches integral, para todas as crianças de 0 (zero) a 5 (cinco) anos,
certificadas como entidades beneficentes de assistência so- conforme estabelecido nas Diretrizes Curriculares Nacionais
cial na área de educação com a expansão da oferta na rede para a Educação Infantil.
escolar pública;
1.8) promover a formação inicial e continuada dos (as) Meta 2: universalizar o ensino fundamental de
profissionais da educação infantil, garantindo, progressiva- 9 (nove) anos para toda a população de 6 (seis) a 14
mente, o atendimento por profissionais com formação su- (quatorze) anos e garantir que pelo menos 95% (noven-
perior; ta e cinco por cento) dos alunos concluam essa etapa
1.9) estimular a articulação entre pós-graduação, nú- na idade recomendada, até o último ano de vigência
cleos de pesquisa e cursos de formação para profissionais deste PNE.
da educação, de modo a garantir a elaboração de currícu- Estratégias:
los e propostas pedagógicas que incorporem os avanços de 2.1) o Ministério da Educação, em articulação e cola-
pesquisas ligadas ao processo de ensino-aprendizagem e boração com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios,
às teorias educacionais no atendimento da população de 0 deverá, até o final do 2o (segundo) ano de vigência deste
PNE, elaborar e encaminhar ao Conselho Nacional de Edu-
(zero) a 5 (cinco) anos;
cação, precedida de consulta pública nacional, proposta de
1.10) fomentar o atendimento das populações do campo
direitos e objetivos de aprendizagem e desenvolvimento
e das comunidades indígenas e quilombolas na educação
para os (as) alunos (as) do ensino fundamental;
infantil nas respectivas comunidades, por meio do redimen-
2.2) pactuar entre União, Estados, Distrito Federal e Mu-
sionamento da distribuição territorial da oferta, limitando a
nicípios, no âmbito da instância permanente de que trata o
nucleação de escolas e o deslocamento de crianças, de forma
§ 5º do art. 7º desta Lei, a implantação dos direitos e obje-
a atender às especificidades dessas comunidades, garantido
tivos de aprendizagem e desenvolvimento que configurarão
consulta prévia e informada;
a base nacional comum curricular do ensino fundamental;
1.11) priorizar o acesso à educação infantil e fomentar 2.3) criar mecanismos para o acompanhamento indivi-
a oferta do atendimento educacional especializado comple- dualizado dos (as) alunos (as) do ensino fundamental;
mentar e suplementar aos (às) alunos (as) com deficiência, 2.4) fortalecer o acompanhamento e o monitoramen-
transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades to do acesso, da permanência e do aproveitamento escolar
ou superdotação, assegurando a educação bilíngue para dos beneficiários de programas de transferência de renda,
crianças surdas e a transversalidade da educação especial bem como das situações de discriminação, preconceitos e
nessa etapa da educação básica; violências na escola, visando ao estabelecimento de condi-
1.12) implementar, em caráter complementar, progra- ções adequadas para o sucesso escolar dos (as) alunos (as),
mas de orientação e apoio às famílias, por meio da articu- em colaboração com as famílias e com órgãos públicos de
lação das áreas de educação, saúde e assistência social, com assistência social, saúde e proteção à infância, adolescência
foco no desenvolvimento integral das crianças de até 3 (três) e juventude;
anos de idade; 2.5) promover a busca ativa de crianças e adolescentes
1.13) preservar as especificidades da educação infantil fora da escola, em parceria com órgãos públicos de assis-
na organização das redes escolares, garantindo o atendi- tência social, saúde e proteção à infância, adolescência e
mento da criança de 0 (zero) a 5 (cinco) anos em estabeleci- juventude;
mentos que atendam a parâmetros nacionais de qualidade, 2.6) desenvolver tecnologias pedagógicas que combi-
e a articulação com a etapa escolar seguinte, visando ao in- nem, de maneira articulada, a organização do tempo e das
gresso do (a) aluno(a) de 6 (seis) anos de idade no ensino atividades didáticas entre a escola e o ambiente comunitá-
fundamental; rio, considerando as especificidades da educação especial,
1.14) fortalecer o acompanhamento e o monitoramento das escolas do campo e das comunidades indígenas e qui-
do acesso e da permanência das crianças na educação in- lombolas;
fantil, em especial dos beneficiários de programas de trans- 2.7) disciplinar, no âmbito dos sistemas de ensino, a or-
ferência de renda, em colaboração com as famílias e com ganização flexível do trabalho pedagógico, incluindo ade-
os órgãos públicos de assistência social, saúde e proteção à quação do calendário escolar de acordo com a realidade lo-
infância; cal, a identidade cultural e as condições climáticas da região;

95
LEGISLAÇÃO BÁSICA

2.8) promover a relação das escolas com instituições e 3.4) garantir a fruição de bens e espaços culturais, de
movimentos culturais, a fim de garantir a oferta regular de forma regular, bem como a ampliação da prática desportiva,
atividades culturais para a livre fruição dos (as) alunos (as) integrada ao currículo escolar;
dentro e fora dos espaços escolares, assegurando ainda que 3.5) manter e ampliar programas e ações de correção de
as escolas se tornem polos de criação e difusão cultural; fluxo do ensino fundamental, por meio do acompanhamen-
2.9) incentivar a participação dos pais ou responsáveis to individualizado do (a) aluno (a) com rendimento escolar
no acompanhamento das atividades escolares dos filhos por defasado e pela adoção de práticas como aulas de reforço no
turno complementar, estudos de recuperação e progressão
meio do estreitamento das relações entre as escolas e as fa-
parcial, de forma a reposicioná-lo no ciclo escolar de manei-
mílias;
ra compatível com sua idade;
2.10) estimular a oferta do ensino fundamental, em es- 3.6) universalizar o Exame Nacional do Ensino Médio -
pecial dos anos iniciais, para as populações do campo, indí- ENEM, fundamentado em matriz de referência do conteú-
genas e quilombolas, nas próprias comunidades; do curricular do ensino médio e em técnicas estatísticas e
2.11) desenvolver formas alternativas de oferta do en- psicométricas que permitam comparabilidade de resultados,
sino fundamental, garantida a qualidade, para atender aos articulando-o com o Sistema Nacional de Avaliação da Edu-
filhos e filhas de profissionais que se dedicam a atividades de cação Básica - SAEB, e promover sua utilização como ins-
caráter itinerante; trumento de avaliação sistêmica, para subsidiar políticas
2.12) oferecer atividades extracurriculares de incentivo públicas para a educação básica, de avaliação certificadora,
aos (às) estudantes e de estímulo a habilidades, inclusive possibilitando aferição de conhecimentos e habilidades ad-
mediante certames e concursos nacionais; quiridos dentro e fora da escola, e de avaliação classificató-
2.13) promover atividades de desenvolvimento e estímu- ria, como critério de acesso à educação superior;
3.7) fomentar a expansão das matrículas gratuitas de
lo a habilidades esportivas nas escolas, interligadas a um
ensino médio integrado à educação profissional, observan-
plano de disseminação do desporto educacional e de desen-
do-se as peculiaridades das populações do campo, das co-
volvimento esportivo nacional. munidades indígenas e quilombolas e das pessoas com de-
ficiência;
Meta 3: universalizar, até 2016, o atendimento esco- 3.8) estruturar e fortalecer o acompanhamento e o mo-
lar para toda a população de 15 (quinze) a 17 (dezesse- nitoramento do acesso e da permanência dos e das jovens
te) anos e elevar, até o final do período de vigência des- beneficiários (as) de programas de transferência de renda,
te PNE, a taxa líquida de matrículas no ensino médio no ensino médio, quanto à frequência, ao aproveitamento
para 85% (oitenta e cinco por cento). escolar e à interação com o coletivo, bem como das situações
de discriminação, preconceitos e violências, práticas irregu-
Estratégias: lares de exploração do trabalho, consumo de drogas, gravi-
3.1) institucionalizar programa nacional de renovação dez precoce, em colaboração com as famílias e com órgãos
do ensino médio, a fim de incentivar práticas pedagógicas públicos de assistência social, saúde e proteção à adolescên-
com abordagens interdisciplinares estruturadas pela rela- cia e juventude;
3.9) promover a busca ativa da população de 15 (quinze)
ção entre teoria e prática, por meio de currículos escolares
a 17 (dezessete) anos fora da escola, em articulação com os
que organizem, de maneira flexível e diversificada, conteú-
serviços de assistência social, saúde e proteção à adolescên-
dos obrigatórios e eletivos articulados em dimensões como cia e à juventude;
ciência, trabalho, linguagens, tecnologia, cultura e esporte, 3.10) fomentar programas de educação e de cultura
garantindo-se a aquisição de equipamentos e laboratórios, para a população urbana e do campo de jovens, na faixa
a produção de material didático específico, a formação con- etária de 15 (quinze) a 17 (dezessete) anos, e de adultos, com
tinuada de professores e a articulação com instituições aca- qualificação social e profissional para aqueles que estejam
dêmicas, esportivas e culturais; fora da escola e com defasagem no fluxo escolar;
3.2) o Ministério da Educação, em articulação e cola- 3.11) redimensionar a oferta de ensino médio nos tur-
boração com os entes federados e ouvida a sociedade me- nos diurno e noturno, bem como a distribuição territorial das
diante consulta pública nacional, elaborará e encaminhará escolas de ensino médio, de forma a atender a toda a de-
ao Conselho Nacional de Educação - CNE, até o 2o(segundo) manda, de acordo com as necessidades específicas dos (as)
ano de vigência deste PNE, proposta de direitos e objetivos alunos (as);
3.12) desenvolver formas alternativas de oferta do ensi-
de aprendizagem e desenvolvimento para os (as) alunos (as)
no médio, garantida a qualidade, para atender aos filhos e
de ensino médio, a serem atingidos nos tempos e etapas de
filhas de profissionais que se dedicam a atividades de caráter
organização deste nível de ensino, com vistas a garantir for- itinerante;
mação básica comum; 3.13) implementar políticas de prevenção à evasão mo-
3.3) pactuar entre União, Estados, Distrito Federal e Mu- tivada por preconceito ou quaisquer formas de discrimina-
nicípios, no âmbito da instância permanente de que trata o ção, criando rede de proteção contra formas associadas de
§ 5o do art. 7o desta Lei, a implantação dos direitos e objeti- exclusão;
vos de aprendizagem e desenvolvimento que configurarão 3.14) estimular a participação dos adolescentes nos cur-
a base nacional comum curricular do ensino médio; sos das áreas tecnológicas e científicas.

96
LEGISLAÇÃO BÁSICA

Meta 4: universalizar, para a população de 4 (qua- 4.7) garantir a oferta de educação bilíngue, em Língua
tro) a 17 (dezessete) anos com deficiência, transtornos Brasileira de Sinais - LIBRAS como primeira língua e na mo-
globais do desenvolvimento e altas habilidades ou su- dalidade escrita da Língua Portuguesa como segunda lín-
perdotação, o acesso à educação básica e ao atendi- gua, aos (às) alunos (as) surdos e com deficiência auditiva de
mento educacional especializado, preferencialmente na 0 (zero) a 17 (dezessete) anos, em escolas e classes bilíngues
rede regular de ensino, com a garantia de sistema edu- e em escolas inclusivas, nos termos do art. 22 do Decreto no
cacional inclusivo, de salas de recursos multifuncionais, 5.626, de 22 de dezembro de 2005, e dos arts. 24 e 30 da
classes, escolas ou serviços especializados, públicos ou Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência,
conveniados. bem como a adoção do Sistema Braille de leitura para ce-
gos e surdos-cegos;
Estratégias: 4.8) garantir a oferta de educação inclusiva, vedada a
4.1) contabilizar, para fins do repasse do Fundo de Ma- exclusão do ensino regular sob alegação de deficiência e
nutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Va-
promovida a articulação pedagógica entre o ensino regular
lorização dos Profissionais da Educação - FUNDEB, as ma-
e o atendimento educacional especializado;
trículas dos (as) estudantes da educação regular da rede
4.9) fortalecer o acompanhamento e o monitoramento
pública que recebam atendimento educacional especializa-
do acesso à escola e ao atendimento educacional especiali-
do complementar e suplementar, sem prejuízo do cômputo
dessas matrículas na educação básica regular, e as matrí- zado, bem como da permanência e do desenvolvimento es-
culas efetivadas, conforme o censo escolar mais atualizado, colar dos (as) alunos (as) com deficiência, transtornos globais
na educação especial oferecida em instituições comunitárias, do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação
confessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos, convenia- beneficiários (as) de programas de transferência de renda,
das com o poder público e com atuação exclusiva na moda- juntamente com o combate às situações de discriminação,
lidade, nos termos da Lei no11.494, de 20 de junho de 2007; preconceito e violência, com vistas ao estabelecimento de
4.2) promover, no prazo de vigência deste PNE, a uni- condições adequadas para o sucesso educacional, em cola-
versalização do atendimento escolar à demanda manifesta boração com as famílias e com os órgãos públicos de assis-
pelas famílias de crianças de 0 (zero) a 3 (três) anos com tência social, saúde e proteção à infância, à adolescência e
deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas à juventude;
habilidades ou superdotação, observado o que dispõe a Lei 4.10) fomentar pesquisas voltadas para o desenvolvi-
no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as mento de metodologias, materiais didáticos, equipamentos
diretrizes e bases da educação nacional; e recursos de tecnologia assistiva, com vistas à promoção
4.3) implantar, ao longo deste PNE, salas de recursos do ensino e da aprendizagem, bem como das condições de
multifuncionais e fomentar a formação continuada de pro- acessibilidade dos (as) estudantes com deficiência, transtor-
fessores e professoras para o atendimento educacional es- nos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou su-
pecializado nas escolas urbanas, do campo, indígenas e de perdotação;
comunidades quilombolas; 4.11) promover o desenvolvimento de pesquisas interdis-
4.4) garantir atendimento educacional especializado em ciplinares para subsidiar a formulação de políticas públicas
salas de recursos multifuncionais, classes, escolas ou ser- intersetoriais que atendam as especificidades educacionais
viços especializados, públicos ou conveniados, nas formas de estudantes com deficiência, transtornos globais do desen-
complementar e suplementar, a todos (as) alunos (as) com volvimento e altas habilidades ou superdotação que requei-
deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas ram medidas de atendimento especializado;
habilidades ou superdotação, matriculados na rede pública 4.12) promover a articulação intersetorial entre órgãos
de educação básica, conforme necessidade identificada por
e políticas públicas de saúde, assistência social e direitos hu-
meio de avaliação, ouvidos a família e o aluno;
manos, em parceria com as famílias, com o fim de desen-
4.5) estimular a criação de centros multidisciplinares
volver modelos de atendimento voltados à continuidade do
de apoio, pesquisa e assessoria, articulados com instituições
atendimento escolar, na educação de jovens e adultos, das
acadêmicas e integrados por profissionais das áreas de saú-
de, assistência social, pedagogia e psicologia, para apoiar o pessoas com deficiência e transtornos globais do desenvol-
trabalho dos (as) professores da educação básica com os (as) vimento com idade superior à faixa etária de escolarização
alunos (as) com deficiência, transtornos globais do desenvol- obrigatória, de forma a assegurar a atenção integral ao lon-
vimento e altas habilidades ou superdotação; go da vida;
4.6) manter e ampliar programas suplementares que 4.13) apoiar a ampliação das equipes de profissionais da
promovam a acessibilidade nas instituições públicas, para educação para atender à demanda do processo de escolari-
garantir o acesso e a permanência dos (as) alunos (as) com zação dos (das) estudantes com deficiência, transtornos glo-
deficiência por meio da adequação arquitetônica, da oferta bais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdota-
de transporte acessível e da disponibilização de material di- ção, garantindo a oferta de professores (as) do atendimento
dático próprio e de recursos de tecnologia assistiva, assegu- educacional especializado, profissionais de apoio ou auxilia-
rando, ainda, no contexto escolar, em todas as etapas, níveis res, tradutores (as) e intérpretes de Libras, guias-intérpretes
e modalidades de ensino, a identificação dos (as) alunos (as) para surdos-cegos, professores de Libras, prioritariamente
com altas habilidades ou superdotação; surdos, e professores bilíngues;

97
LEGISLAÇÃO BÁSICA

4.14) definir, no segundo ano de vigência deste PNE, in- 5.3) selecionar, certificar e divulgar tecnologias educa-
dicadores de qualidade e política de avaliação e supervisão cionais para a alfabetização de crianças, assegurada a di-
para o funcionamento de instituições públicas e privadas versidade de métodos e propostas pedagógicas, bem como o
que prestam atendimento a alunos com deficiência, trans- acompanhamento dos resultados nos sistemas de ensino em
tornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou que forem aplicadas, devendo ser disponibilizadas, preferen-
superdotação; cialmente, como recursos educacionais abertos;
4.15) promover, por iniciativa do Ministério da Educação, 5.4) fomentar o desenvolvimento de tecnologias educa-
nos órgãos de pesquisa, demografia e estatística competen- cionais e de práticas pedagógicas inovadoras que assegurem
tes, a obtenção de informação detalhada sobre o perfil das a alfabetização e favoreçam a melhoria do fluxo escolar e a
pessoas com deficiência, transtornos globais do desenvolvi- aprendizagem dos (as) alunos (as), consideradas as diversas
mento e altas habilidades ou superdotação de 0 (zero) a 17 abordagens metodológicas e sua efetividade;
(dezessete) anos; 5.5) apoiar a alfabetização de crianças do campo, in-
4.16) incentivar a inclusão nos cursos de licenciatura e dígenas, quilombolas e de populações itinerantes, com a
nos demais cursos de formação para profissionais da educa- produção de materiais didáticos específicos, e desenvolver
ção, inclusive em nível de pós-graduação, observado o dis- instrumentos de acompanhamento que considerem o uso da
posto no caput do art. 207 da Constituição Federal, dos refe- língua materna pelas comunidades indígenas e a identidade
renciais teóricos, das teorias de aprendizagem e dos proces- cultural das comunidades quilombolas;
sos de ensino-aprendizagem relacionados ao atendimento 5.6) promover e estimular a formação inicial e continua-
educacional de alunos com deficiência, transtornos globais da de professores (as) para a alfabetização de crianças, com
do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação; o conhecimento de novas tecnologias educacionais e práti-
4.17) promover parcerias com instituições comunitárias, cas pedagógicas inovadoras, estimulando a articulação en-
confessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos, convenia- tre programas de pós-graduação stricto sensu e ações de for-
das com o poder público, visando a ampliar as condições mação continuada de professores (as) para a alfabetização;
de apoio ao atendimento escolar integral das pessoas com 5.7) apoiar a alfabetização das pessoas com deficiência,
deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas considerando as suas especificidades, inclusive a alfabetiza-
ção bilíngue de pessoas surdas, sem estabelecimento de ter-
habilidades ou superdotação matriculadas nas redes públi-
minalidade temporal.
cas de ensino;
4.18) promover parcerias com instituições comunitárias,
Meta 6: oferecer educação em tempo integral em,
confessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos, convenia-
no mínimo, 50% (cinquenta por cento) das escolas pú-
das com o poder público, visando a ampliar a oferta de for-
blicas, de forma a atender, pelo menos, 25% (vinte e
mação continuada e a produção de material didático acessí-
cinco por cento) dos (as) alunos (as) da educação bá-
vel, assim como os serviços de acessibilidade necessários ao
sica.
pleno acesso, participação e aprendizagem dos estudantes
Estratégias:
com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e 6.1) promover, com o apoio da União, a oferta de edu-
altas habilidades ou superdotação matriculados na rede pú- cação básica pública em tempo integral, por meio de ativi-
blica de ensino; dades de acompanhamento pedagógico e multidisciplinares,
4.19) promover parcerias com instituições comunitárias, inclusive culturais e esportivas, de forma que o tempo de
confessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos, convenia- permanência dos (as) alunos (as) na escola, ou sob sua res-
das com o poder público, a fim de favorecer a participação ponsabilidade, passe a ser igual ou superior a 7 (sete) horas
das famílias e da sociedade na construção do sistema edu- diárias durante todo o ano letivo, com a ampliação progres-
cacional inclusivo. siva da jornada de professores em uma única escola;
6.2) instituir, em regime de colaboração, programa de
Meta 5: alfabetizar todas as crianças, no máximo, construção de escolas com padrão arquitetônico e de mobi-
até o final do 3o (terceiro) ano do ensino fundamental. liário adequado para atendimento em tempo integral, prio-
Estratégias: ritariamente em comunidades pobres ou com crianças em
5.1) estruturar os processos pedagógicos de alfabetiza- situação de vulnerabilidade social;
ção, nos anos iniciais do ensino fundamental, articulando-os 6.3) institucionalizar e manter, em regime de colabora-
com as estratégias desenvolvidas na pré-escola, com qualifi- ção, programa nacional de ampliação e reestruturação das
cação e valorização dos (as) professores (as) alfabetizadores escolas públicas, por meio da instalação de quadras polies-
e com apoio pedagógico específico, a fim de garantir a alfa- portivas, laboratórios, inclusive de informática, espaços para
betização plena de todas as crianças; atividades culturais, bibliotecas, auditórios, cozinhas, refeitó-
5.2) instituir instrumentos de avaliação nacional perió- rios, banheiros e outros equipamentos, bem como da produ-
dicos e específicos para aferir a alfabetização das crianças, ção de material didático e da formação de recursos humanos
aplicados a cada ano, bem como estimular os sistemas de para a educação em tempo integral;
ensino e as escolas a criarem os respectivos instrumentos de 6.4) fomentar a articulação da escola com os diferentes
avaliação e monitoramento, implementando medidas peda- espaços educativos, culturais e esportivos e com equipamen-
gógicas para alfabetizar todos os alunos e alunas até o final tos públicos, como centros comunitários, bibliotecas, praças,
do terceiro ano do ensino fundamental; parques, museus, teatros, cinemas e planetários;

98
LEGISLAÇÃO BÁSICA

6.5) estimular a oferta de atividades voltadas à ampliação da jornada escolar de alunos (as) matriculados nas escolas da
rede pública de educação básica por parte das entidades privadas de serviço social vinculadas ao sistema sindical, de forma
concomitante e em articulação com a rede pública de ensino;
6.6) orientar a aplicação da gratuidade de que trata o art. 13 da Lei no 12.101, de 27 de novembro de 2009, em atividades
de ampliação da jornada escolar de alunos (as) das escolas da rede pública de educação básica, de forma concomitante e
em articulação com a rede pública de ensino;
6.7) atender às escolas do campo e de comunidades indígenas e quilombolas na oferta de educação em tempo integral,
com base em consulta prévia e informada, considerando-se as peculiaridades locais;
6.8) garantir a educação em tempo integral para pessoas com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas
habilidades ou superdotação na faixa etária de 4 (quatro) a 17 (dezessete) anos, assegurando atendimento educacional es-
pecializado complementar e suplementar ofertado em salas de recursos multifuncionais da própria escola ou em instituições
especializadas;
6.9) adotar medidas para otimizar o tempo de permanência dos alunos na escola, direcionando a expansão da jornada
para o efetivo trabalho escolar, combinado com atividades recreativas, esportivas e culturais.

Meta 7: fomentar a qualidade da educação básica em todas as etapas e modalidades, com melhoria do fluxo
escolar e da aprendizagem de modo a atingir as seguintes médias nacionais para o Ideb:

IDEB 2015 2017 2019 2021


Anos iniciais do ensino fundamental 5,2 5,5 5,7 6,0
Anos finais do ensino fundamental 4,7 5,0 5,2 5,5
Ensino médio 4,3 4,7 5,0 5,2
Estratégias:
7.1) estabelecer e implantar, mediante pactuação interfederativa, diretrizes pedagógicas para a educação básica e a base
nacional comum dos currículos, com direitos e objetivos de aprendizagem e desenvolvimento dos (as) alunos (as) para cada
ano do ensino fundamental e médio, respeitada a diversidade regional, estadual e local;
7.2) assegurar que:
a) no quinto ano de vigência deste PNE, pelo menos 70% (setenta por cento) dos (as) alunos (as) do ensino fundamental
e do ensino médio tenham alcançado nível suficiente de aprendizado em relação aos direitos e objetivos de aprendizagem e
desenvolvimento de seu ano de estudo, e 50% (cinquenta por cento), pelo menos, o nível desejável;
b) no último ano de vigência deste PNE, todos os (as) estudantes do ensino fundamental e do ensino médio tenham al-
cançado nível suficiente de aprendizado em relação aos direitos e objetivos de aprendizagem e desenvolvimento de seu ano
de estudo, e 80% (oitenta por cento), pelo menos, o nível desejável;
7.3) constituir, em colaboração entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, um conjunto nacional de
indicadores de avaliação institucional com base no perfil do alunado e do corpo de profissionais da educação, nas condições
de infraestrutura das escolas, nos recursos pedagógicos disponíveis, nas características da gestão e em outras dimensões rele-
vantes, considerando as especificidades das modalidades de ensino;
7.4) induzir processo contínuo de autoavaliação das escolas de educação básica, por meio da constituição de instrumentos
de avaliação que orientem as dimensões a serem fortalecidas, destacando-se a elaboração de planejamento estratégico, a
melhoria contínua da qualidade educacional, a formação continuada dos (as) profissionais da educação e o aprimoramento
da gestão democrática;
7.5) formalizar e executar os planos de ações articuladas dando cumprimento às metas de qualidade estabelecidas para a
educação básica pública e às estratégias de apoio técnico e financeiro voltadas à melhoria da gestão educacional, à formação
de professores e professoras e profissionais de serviços e apoio escolares, à ampliação e ao desenvolvimento de recursos peda-
gógicos e à melhoria e expansão da infraestrutura física da rede escolar;
7.6) associar a prestação de assistência técnica financeira à fixação de metas intermediárias, nos termos estabelecidos
conforme pactuação voluntária entre os entes, priorizando sistemas e redes de ensino com Ideb abaixo da média nacional;
7.7) aprimorar continuamente os instrumentos de avaliação da qualidade do ensino fundamental e médio, de forma a
englobar o ensino de ciências nos exames aplicados nos anos finais do ensino fundamental, e incorporar o Exame Nacional
do Ensino Médio, assegurada a sua universalização, ao sistema de avaliação da educação básica, bem como apoiar o uso dos
resultados das avaliações nacionais pelas escolas e redes de ensino para a melhoria de seus processos e práticas pedagógicas;
7.8) desenvolver indicadores específicos de avaliação da qualidade da educação especial, bem como da qualidade da
educação bilíngue para surdos;
7.9) orientar as políticas das redes e sistemas de ensino, de forma a buscar atingir as metas do Ideb, diminuindo a dife-
rença entre as escolas com os menores índices e a média nacional, garantindo equidade da aprendizagem e reduzindo pela
metade, até o último ano de vigência deste PNE, as diferenças entre as médias dos índices dos Estados, inclusive do Distrito
Federal, e dos Municípios;

99
LEGISLAÇÃO BÁSICA

7.10) fixar, acompanhar e divulgar bienalmente os resultados pedagógicos dos indicadores do sistema nacional de avalia-
ção da educação básica e do Ideb, relativos às escolas, às redes públicas de educação básica e aos sistemas de ensino da União,
dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, assegurando a contextualização desses resultados, com relação a indicadores
sociais relevantes, como os de nível socioeconômico das famílias dos (as) alunos (as), e a transparência e o acesso público às
informações técnicas de concepção e operação do sistema de avaliação;
7.11) melhorar o desempenho dos alunos da educação básica nas avaliações da aprendizagem no Programa Internacio-
nal de Avaliação de Estudantes - PISA, tomado como instrumento externo de referência, internacionalmente reconhecido, de
acordo com as seguintes projeções:

PISA 2015 2018 2021


Média dos resultados em matemática, leitura e ciências 438 455 473

7.12) incentivar o desenvolvimento, selecionar, certificar e divulgar tecnologias educacionais para a educação infantil, o
ensino fundamental e o ensino médio e incentivar práticas pedagógicas inovadoras que assegurem a melhoria do fluxo escolar
e a aprendizagem, assegurada a diversidade de métodos e propostas pedagógicas, com preferência para softwares livres e
recursos educacionais abertos, bem como o acompanhamento dos resultados nos sistemas de ensino em que forem aplicadas;
7.13) garantir transporte gratuito para todos (as) os (as) estudantes da educação do campo na faixa etária da educação
escolar obrigatória, mediante renovação e padronização integral da frota de veículos, de acordo com especificações definidas
pelo Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia - INMETRO, e financiamento compartilhado, com participação
da União proporcional às necessidades dos entes federados, visando a reduzir a evasão escolar e o tempo médio de desloca-
mento a partir de cada situação local;
7.14) desenvolver pesquisas de modelos alternativos de atendimento escolar para a população do campo que considerem
as especificidades locais e as boas práticas nacionais e internacionais;
7.15) universalizar, até o quinto ano de vigência deste PNE, o acesso à rede mundial de computadores em banda larga
de alta velocidade e triplicar, até o final da década, a relação computador/aluno (a) nas escolas da rede pública de educação
básica, promovendo a utilização pedagógica das tecnologias da informação e da comunicação;
7.16) apoiar técnica e financeiramente a gestão escolar mediante transferência direta de recursos financeiros à escola,
garantindo a participação da comunidade escolar no planejamento e na aplicação dos recursos, visando à ampliação da
transparência e ao efetivo desenvolvimento da gestão democrática;
7.17) ampliar programas e aprofundar ações de atendimento ao (à) aluno (a), em todas as etapas da educação básica, por
meio de programas suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde;
7.18) assegurar a todas as escolas públicas de educação básica o acesso a energia elétrica, abastecimento de água trata-
da, esgotamento sanitário e manejo dos resíduos sólidos, garantir o acesso dos alunos a espaços para a prática esportiva, a
bens culturais e artísticos e a equipamentos e laboratórios de ciências e, em cada edifício escolar, garantir a acessibilidade às
pessoas com deficiência;
7.19) institucionalizar e manter, em regime de colaboração, programa nacional de reestruturação e aquisição de equipa-
mentos para escolas públicas, visando à equalização regional das oportunidades educacionais;
7.20) prover equipamentos e recursos tecnológicos digitais para a utilização pedagógica no ambiente escolar a todas as
escolas públicas da educação básica, criando, inclusive, mecanismos para implementação das condições necessárias para a
universalização das bibliotecas nas instituições educacionais, com acesso a redes digitais de computadores, inclusive a internet;
7.21) a União, em regime de colaboração com os entes federados subnacionais, estabelecerá, no prazo de 2 (dois) anos
contados da publicação desta Lei, parâmetros mínimos de qualidade dos serviços da educação básica, a serem utilizados como
referência para infraestrutura das escolas, recursos pedagógicos, entre outros insumos relevantes, bem como instrumento para
adoção de medidas para a melhoria da qualidade do ensino;
7.22) informatizar integralmente a gestão das escolas públicas e das secretarias de educação dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios, bem como manter programa nacional de formação inicial e continuada para o pessoal técnico das
secretarias de educação;
7.23) garantir políticas de combate à violência na escola, inclusive pelo desenvolvimento de ações destinadas à capacita-
ção de educadores para detecção dos sinais de suas causas, como a violência doméstica e sexual, favorecendo a adoção das
providências adequadas para promover a construção da cultura de paz e um ambiente escolar dotado de segurança para a
comunidade;
7.24) implementar políticas de inclusão e permanência na escola para adolescentes e jovens que se encontram em regime
de liberdade assistida e em situação de rua, assegurando os princípios da Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990 - Estatuto da
Criança e do Adolescente;
7.25) garantir nos currículos escolares conteúdos sobre a história e as culturas afro-brasileira e indígenas e implementar
ações educacionais, nos termos das Leis nos 10.639, de 9 de janeiro de 2003, e 11.645, de 10 de março de 2008, asseguran-
do-se a implementação das respectivas diretrizes curriculares nacionais, por meio de ações colaborativas com fóruns de
educação para a diversidade étnico-racial, conselhos escolares, equipes pedagógicas e a sociedade civil;

100
LEGISLAÇÃO BÁSICA

7.26) consolidar a educação escolar no campo de po- 7.34) instituir, em articulação com os Estados, os Municí-
pulações tradicionais, de populações itinerantes e de comu- pios e o Distrito Federal, programa nacional de formação de
nidades indígenas e quilombolas, respeitando a articulação professores e professoras e de alunos e alunas para promover
entre os ambientes escolares e comunitários e garantindo: e consolidar política de preservação da memória nacional;
o desenvolvimento sustentável e preservação da identida- 7.35) promover a regulação da oferta da educação bási-
de cultural; a participação da comunidade na definição do ca pela iniciativa privada, de forma a garantir a qualidade e
modelo de organização pedagógica e de gestão das insti- o cumprimento da função social da educação;
tuições, consideradas as práticas socioculturais e as formas 7.36) estabelecer políticas de estímulo às escolas que
particulares de organização do tempo; a oferta bilíngue na melhorarem o desempenho no Ideb, de modo a valorizar o
educação infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental, mérito do corpo docente, da direção e da comunidade es-
em língua materna das comunidades indígenas e em língua colar.
portuguesa; a reestruturação e a aquisição de equipamen-
tos; a oferta de programa para a formação inicial e conti- Meta 8: elevar a escolaridade média da população
nuada de profissionais da educação; e o atendimento em de 18 (dezoito) a 29 (vinte e nove) anos, de modo a al-
educação especial; cançar, no mínimo, 12 (doze) anos de estudo no últi-
7.27) desenvolver currículos e propostas pedagógicas es- mo ano de vigência deste Plano, para as populações do
pecíficas para educação escolar para as escolas do campo e campo, da região de menor escolaridade no País e dos
para as comunidades indígenas e quilombolas, incluindo os 25% (vinte e cinco por cento) mais pobres, e igualar a
conteúdos culturais correspondentes às respectivas comuni- escolaridade média entre negros e não negros declara-
dades e considerando o fortalecimento das práticas sociocul- dos à Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Esta-
turais e da língua materna de cada comunidade indígena, tística - IBGE.
produzindo e disponibilizando materiais didáticos específi- Estratégias:
cos, inclusive para os (as) alunos (as) com deficiência; 8.1) institucionalizar programas e desenvolver tecnolo-
7.28) mobilizar as famílias e setores da sociedade civil, gias para correção de fluxo, para acompanhamento peda-
articulando a educação formal com experiências de educa- gógico individualizado e para recuperação e progressão par-
ção popular e cidadã, com os propósitos de que a educação cial, bem como priorizar estudantes com rendimento escolar
seja assumida como responsabilidade de todos e de ampliar defasado, considerando as especificidades dos segmentos
o controle social sobre o cumprimento das políticas públicas populacionais considerados;
educacionais; 8.2) implementar programas de educação de jovens e
7.29) promover a articulação dos programas da área adultos para os segmentos populacionais considerados, que
da educação, de âmbito local e nacional, com os de outras estejam fora da escola e com defasagem idade-série, asso-
áreas, como saúde, trabalho e emprego, assistência social, ciados a outras estratégias que garantam a continuidade da
esporte e cultura, possibilitando a criação de rede de apoio escolarização, após a alfabetização inicial;
integral às famílias, como condição para a melhoria da qua- 8.3) garantir acesso gratuito a exames de certificação da
lidade educacional; conclusão dos ensinos fundamental e médio;
7.30) universalizar, mediante articulação entre os ór- 8.4) expandir a oferta gratuita de educação profissional
gãos responsáveis pelas áreas da saúde e da educação, o técnica por parte das entidades privadas de serviço social e
atendimento aos (às) estudantes da rede escolar pública de de formação profissional vinculadas ao sistema sindical, de
educação básica por meio de ações de prevenção, promoção forma concomitante ao ensino ofertado na rede escolar pú-
e atenção à saúde; blica, para os segmentos populacionais considerados;
7.31) estabelecer ações efetivas especificamente volta- 8.5) promover, em parceria com as áreas de saúde e as-
das para a promoção, prevenção, atenção e atendimento à sistência social, o acompanhamento e o monitoramento do
saúde e à integridade física, mental e emocional dos (das) acesso à escola específicos para os segmentos populacionais
profissionais da educação, como condição para a melhoria considerados, identificar motivos de absenteísmo e colaborar
da qualidade educacional; com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios para a
7.32) fortalecer, com a colaboração técnica e financeira garantia de frequência e apoio à aprendizagem, de maneira
da União, em articulação com o sistema nacional de avalia- a estimular a ampliação do atendimento desses (as) estu-
ção, os sistemas estaduais de avaliação da educação básica, dantes na rede pública regular de ensino;
com participação, por adesão, das redes municipais de en- 8.6) promover busca ativa de jovens fora da escola per-
sino, para orientar as políticas públicas e as práticas peda- tencentes aos segmentos populacionais considerados, em
gógicas, com o fornecimento das informações às escolas e à parceria com as áreas de assistência social, saúde e proteção
sociedade; à juventude.
7.33) promover, com especial ênfase, em consonância
com as diretrizes do Plano Nacional do Livro e da Leitura, a Meta 9: elevar a taxa de alfabetização da popula-
formação de leitores e leitoras e a capacitação de professo- ção com 15 (quinze) anos ou mais para 93,5% (noventa
res e professoras, bibliotecários e bibliotecárias e agentes da e três inteiros e cinco décimos por cento) até 2015 e, até
comunidade para atuar como mediadores e mediadoras da o final da vigência deste PNE, erradicar o analfabetis-
leitura, de acordo com a especificidade das diferentes etapas mo absoluto e reduzir em 50% (cinquenta por cento) a
do desenvolvimento e da aprendizagem; taxa de analfabetismo funcional.

101
LEGISLAÇÃO BÁSICA

Estratégias: Meta 10: oferecer, no mínimo, 25% (vinte e cinco por


9.1) assegurar a oferta gratuita da educação de jovens e cento) das matrículas de educação de jovens e adultos,
adultos a todos os que não tiveram acesso à educação básica nos ensinos fundamental e médio, na forma integrada
na idade própria; à educação profissional.
9.2) realizar diagnóstico dos jovens e adultos com en- Estratégias:
sino fundamental e médio incompletos, para identificar a 10.1) manter programa nacional de educação de jovens
demanda ativa por vagas na educação de jovens e adultos; e adultos voltado à conclusão do ensino fundamental e à
9.3) implementar ações de alfabetização de jovens e formação profissional inicial, de forma a estimular a conclu-
adultos com garantia de continuidade da escolarização bá- são da educação básica;
sica; 10.2) expandir as matrículas na educação de jovens e
9.4) criar benefício adicional no programa nacional de adultos, de modo a articular a formação inicial e continuada
transferência de renda para jovens e adultos que frequenta- de trabalhadores com a educação profissional, objetivando
rem cursos de alfabetização; a elevação do nível de escolaridade do trabalhador e da tra-
9.5) realizar chamadas públicas regulares para educa- balhadora;
ção de jovens e adultos, promovendo-se busca ativa em regi- 10.3) fomentar a integração da educação de jovens e
me de colaboração entre entes federados e em parceria com adultos com a educação profissional, em cursos planejados,
organizações da sociedade civil; de acordo com as características do público da educação de
9.6) realizar avaliação, por meio de exames específicos, jovens e adultos e considerando as especificidades das popu-
que permita aferir o grau de alfabetização de jovens e adul- lações itinerantes e do campo e das comunidades indígenas
tos com mais de 15 (quinze) anos de idade; e quilombolas, inclusive na modalidade de educação a dis-
9.7) executar ações de atendimento ao (à) estudante da tância;
educação de jovens e adultos por meio de programas su- 10.4) ampliar as oportunidades profissionais dos jovens
plementares de transporte, alimentação e saúde, inclusive e adultos com deficiência e baixo nível de escolaridade, por
atendimento oftalmológico e fornecimento gratuito de ócu- meio do acesso à educação de jovens e adultos articulada à
los, em articulação com a área da saúde; educação profissional;
9.8) assegurar a oferta de educação de jovens e adul- 10.5) implantar programa nacional de reestruturação e
tos, nas etapas de ensino fundamental e médio, às pessoas aquisição de equipamentos voltados à expansão e à melho-
privadas de liberdade em todos os estabelecimentos penais, ria da rede física de escolas públicas que atuam na educação
assegurando-se formação específica dos professores e das de jovens e adultos integrada à educação profissional, ga-
professoras e implementação de diretrizes nacionais em re- rantindo acessibilidade à pessoa com deficiência;
gime de colaboração; 10.6) estimular a diversificação curricular da educa-
9.9) apoiar técnica e financeiramente projetos inovado- ção de jovens e adultos, articulando a formação básica e a
res na educação de jovens e adultos que visem ao desenvol- preparação para o mundo do trabalho e estabelecendo in-
vimento de modelos adequados às necessidades específicas ter-relações entre teoria e prática, nos eixos da ciência, do
desses (as) alunos (as); trabalho, da tecnologia e da cultura e cidadania, de forma
9.10) estabelecer mecanismos e incentivos que integrem a organizar o tempo e o espaço pedagógicos adequados às
os segmentos empregadores, públicos e privados, e os sis- características desses alunos e alunas;
temas de ensino, para promover a compatibilização da jor- 10.7) fomentar a produção de material didático, o de-
nada de trabalho dos empregados e das empregadas com a senvolvimento de currículos e metodologias específicas, os
oferta das ações de alfabetização e de educação de jovens e instrumentos de avaliação, o acesso a equipamentos e labo-
adultos; ratórios e a formação continuada de docentes das redes pú-
9.11) implementar programas de capacitação tecnológi- blicas que atuam na educação de jovens e adultos articulada
ca da população jovem e adulta, direcionados para os seg- à educação profissional;
mentos com baixos níveis de escolarização formal e para os 10.8) fomentar a oferta pública de formação inicial e
(as) alunos (as) com deficiência, articulando os sistemas de continuada para trabalhadores e trabalhadoras articulada
ensino, a Rede Federal de Educação Profissional, Científica à educação de jovens e adultos, em regime de colaboração
e Tecnológica, as universidades, as cooperativas e as asso- e com apoio de entidades privadas de formação profissional
ciações, por meio de ações de extensão desenvolvidas em vinculadas ao sistema sindical e de entidades sem fins lucra-
centros vocacionais tecnológicos, com tecnologias assistivas tivos de atendimento à pessoa com deficiência, com atuação
que favoreçam a efetiva inclusão social e produtiva dessa exclusiva na modalidade;
população; 10.9) institucionalizar programa nacional de assistência
9.12) considerar, nas políticas públicas de jovens e adul- ao estudante, compreendendo ações de assistência social, fi-
tos, as necessidades dos idosos, com vistas à promoção de nanceira e de apoio psicopedagógico que contribuam para
políticas de erradicação do analfabetismo, ao acesso a tec- garantir o acesso, a permanência, a aprendizagem e a con-
nologias educacionais e atividades recreativas, culturais e clusão com êxito da educação de jovens e adultos articulada
esportivas, à implementação de programas de valorização à educação profissional;
e compartilhamento dos conhecimentos e experiência dos 10.10) orientar a expansão da oferta de educação de jo-
idosos e à inclusão dos temas do envelhecimento e da velhi- vens e adultos articulada à educação profissional, de modo
ce nas escolas. a atender às pessoas privadas de liberdade nos estabele-

102
LEGISLAÇÃO BÁSICA

cimentos penais, assegurando-se formação específica dos 11.12) elevar gradualmente o investimento em progra-
professores e das professoras e implementação de diretrizes mas de assistência estudantil e mecanismos de mobilidade
nacionais em regime de colaboração; acadêmica, visando a garantir as condições necessárias à
10.11) implementar mecanismos de reconhecimento de permanência dos (as) estudantes e à conclusão dos cursos
saberes dos jovens e adultos trabalhadores, a serem conside- técnicos de nível médio;
rados na articulação curricular dos cursos de formação ini- 11.13) reduzir as desigualdades étnico-raciais e regio-
cial e continuada e dos cursos técnicos de nível médio. nais no acesso e permanência na educação profissional téc-
nica de nível médio, inclusive mediante a adoção de políticas
Meta 11: triplicar as matrículas da educação profis- afirmativas, na forma da lei;
sional técnica de nível médio, assegurando a qualidade 11.14) estruturar sistema nacional de informação pro-
da oferta e pelo menos 50% (cinquenta por cento) da fissional, articulando a oferta de formação das instituições
expansão no segmento público. especializadas em educação profissional aos dados do mer-
Estratégias:
cado de trabalho e a consultas promovidas em entidades
11.1) expandir as matrículas de educação profissional
empresariais e de trabalhadores
técnica de nível médio na Rede Federal de Educação Profis-
sional, Científica e Tecnológica, levando em consideração a
responsabilidade dos Institutos na ordenação territorial, sua Meta 12: elevar a taxa bruta de matrícula na edu-
vinculação com arranjos produtivos, sociais e culturais locais cação superior para 50% (cinquenta por cento) e a taxa
e regionais, bem como a interiorização da educação profis- líquida para 33% (trinta e três por cento) da população
sional; de 18 (dezoito) a 24 (vinte e quatro) anos, assegurada a
11.2) fomentar a expansão da oferta de educação pro- qualidade da oferta e expansão para, pelo menos, 40%
fissional técnica de nível médio nas redes públicas estaduais (quarenta por cento) das novas matrículas, no segmen-
de ensino; to público.
11.3) fomentar a expansão da oferta de educação pro-
fissional técnica de nível médio na modalidade de educação Estratégias:
a distância, com a finalidade de ampliar a oferta e demo- 12.1) otimizar a capacidade instalada da estrutura física
cratizar o acesso à educação profissional pública e gratuita, e de recursos humanos das instituições públicas de educação
assegurado padrão de qualidade; superior, mediante ações planejadas e coordenadas, de for-
11.4) estimular a expansão do estágio na educação pro- ma a ampliar e interiorizar o acesso à graduação;
fissional técnica de nível médio e do ensino médio regular, 12.2) ampliar a oferta de vagas, por meio da expansão e
preservando-se seu caráter pedagógico integrado ao itinerá- interiorização da rede federal de educação superior, da Rede
rio formativo do aluno, visando à formação de qualificações Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica e
próprias da atividade profissional, à contextualização curri- do sistema Universidade Aberta do Brasil, considerando a
cular e ao desenvolvimento da juventude; densidade populacional, a oferta de vagas públicas em re-
11.5) ampliar a oferta de programas de reconhecimen- lação à população na idade de referência e observadas as
to de saberes para fins de certificação profissional em nível características regionais das micro e mesorregiões definidas
técnico; pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística -
11.6) ampliar a oferta de matrículas gratuitas de educa- IBGE, uniformizando a expansão no território nacional;
ção profissional técnica de nível médio pelas entidades pri- 12.3) elevar gradualmente a taxa de conclusão média
vadas de formação profissional vinculadas ao sistema sindi- dos cursos de graduação presenciais nas universidades pú-
cal e entidades sem fins lucrativos de atendimento à pessoa
blicas para 90% (noventa por cento), ofertar, no mínimo, um
com deficiência, com atuação exclusiva na modalidade;
terço das vagas em cursos noturnos e elevar a relação de
11.7) expandir a oferta de financiamento estudantil à
estudantes por professor (a) para 18 (dezoito), mediante es-
educação profissional técnica de nível médio oferecida em
instituições privadas de educação superior; tratégias de aproveitamento de créditos e inovações acadê-
11.8) institucionalizar sistema de avaliação da qualida- micas que valorizem a aquisição de competências de nível
de da educação profissional técnica de nível médio das redes superior;
escolares públicas e privadas; 12.4) fomentar a oferta de educação superior pública e
11.9) expandir o atendimento do ensino médio gratui- gratuita prioritariamente para a formação de professores e
to integrado à formação profissional para as populações do professoras para a educação básica, sobretudo nas áreas de
campo e para as comunidades indígenas e quilombolas, de ciências e matemática, bem como para atender ao défice de
acordo com os seus interesses e necessidades; profissionais em áreas específicas;
11.10) expandir a oferta de educação profissional téc- 12.5) ampliar as políticas de inclusão e de assistência
nica de nível médio para as pessoas com deficiência, trans- estudantil dirigidas aos (às) estudantes de instituições públi-
tornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou cas, bolsistas de instituições privadas de educação superior
superdotação; e beneficiários do Fundo de Financiamento Estudantil - FIES,
11.11) elevar gradualmente a taxa de conclusão média de que trata a Lei no 10.260, de 12 de julho de 2001, na
dos cursos técnicos de nível médio na Rede Federal de Edu- educação superior, de modo a reduzir as desigualdades ét-
cação Profissional, Científica e Tecnológica para 90% (no- nico-raciais e ampliar as taxas de acesso e permanência na
venta por cento) e elevar, nos cursos presenciais, a relação educação superior de estudantes egressos da escola pú-
de alunos (as) por professor para 20 (vinte); blica, afrodescendentes e indígenas e de estudantes com

103
LEGISLAÇÃO BÁSICA

deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas visão, em relação aos processos de autorização de cursos e
habilidades ou superdotação, de forma a apoiar seu suces- instituições, de reconhecimento ou renovação de reconheci-
so acadêmico; mento de cursos superiores e de credenciamento ou recre-
12.6) expandir o financiamento estudantil por meio do denciamento de instituições, no âmbito do sistema federal
Fundo de Financiamento Estudantil - FIES, de que trata a Lei de ensino;
no 10.260, de 12 de julho de 2001, com a constituição de 12.20) ampliar, no âmbito do Fundo de Financiamento
fundo garantidor do financiamento, de forma a dispensar ao Estudante do Ensino Superior - FIES, de que trata a Lei nº
progressivamente a exigência de fiador; 10.260, de 12 de julho de 2001, e do Programa Universidade
12.7) assegurar, no mínimo, 10% (dez por cento) do to- para Todos - PROUNI, de que trata a Lei no 11.096, de 13
tal de créditos curriculares exigidos para a graduação em de janeiro de 2005, os benefícios destinados à concessão de
programas e projetos de extensão universitária, orientando financiamento a estudantes regularmente matriculados em
sua ação, prioritariamente, para áreas de grande pertinência cursos superiores presenciais ou a distância, com avaliação
social; positiva, de acordo com regulamentação própria, nos pro-
12.8) ampliar a oferta de estágio como parte da forma- cessos conduzidos pelo Ministério da Educação;
12.21) fortalecer as redes físicas de laboratórios mul-
ção na educação superior;
tifuncionais das IES e ICTs nas áreas estratégicas definidas
12.9) ampliar a participação proporcional de grupos his-
pela política e estratégias nacionais de ciência, tecnologia
toricamente desfavorecidos na educação superior, inclusive
e inovação.
mediante a adoção de políticas afirmativas, na forma da lei;
12.10) assegurar condições de acessibilidade nas insti- Meta 13: elevar a qualidade da educação superior
tuições de educação superior, na forma da legislação; e ampliar a proporção de mestres e doutores do corpo
12.11) fomentar estudos e pesquisas que analisem a ne- docente em efetivo exercício no conjunto do sistema de
cessidade de articulação entre formação, currículo, pesquisa educação superior para 75% (setenta e cinco por cento),
e mundo do trabalho, considerando as necessidades econô- sendo, do total, no mínimo, 35% (trinta e cinco por cen-
micas, sociais e culturais do País; to) doutores.
12.12) consolidar e ampliar programas e ações de in-
centivo à mobilidade estudantil e docente em cursos de gra- Estratégias:
duação e pós-graduação, em âmbito nacional e internacio- 13.1) aperfeiçoar o Sistema Nacional de Avaliação da
nal, tendo em vista o enriquecimento da formação de nível Educação Superior - SINAES, de que trata a Lei no 10.861,
superior; de 14 de abril de 2004, fortalecendo as ações de avaliação,
12.13) expandir atendimento específico a populações do regulação e supervisão;
campo e comunidades indígenas e quilombolas, em relação 13.2) ampliar a cobertura do Exame Nacional de De-
a acesso, permanência, conclusão e formação de profissio- sempenho de Estudantes - ENADE, de modo a ampliar o
nais para atuação nessas populações; quantitativo de estudantes e de áreas avaliadas no que diz
12.14) mapear a demanda e fomentar a oferta de for- respeito à aprendizagem resultante da graduação;
mação de pessoal de nível superior, destacadamente a que 13.3) induzir processo contínuo de autoavaliação das
se refere à formação nas áreas de ciências e matemática, instituições de educação superior, fortalecendo a participa-
considerando as necessidades do desenvolvimento do País, ção das comissões próprias de avaliação, bem como a apli-
a inovação tecnológica e a melhoria da qualidade da edu- cação de instrumentos de avaliação que orientem as dimen-
cação básica; sões a serem fortalecidas, destacando-se a qualificação e a
12.15) institucionalizar programa de composição de dedicação do corpo docente;
acervo digital de referências bibliográficas e audiovisuais 13.4) promover a melhoria da qualidade dos cursos de
pedagogia e licenciaturas, por meio da aplicação de instru-
para os cursos de graduação, assegurada a acessibilidade às
mento próprio de avaliação aprovado pela Comissão Nacio-
pessoas com deficiência;
nal de Avaliação da Educação Superior - CONAES, integran-
12.16) consolidar processos seletivos nacionais e regio-
do-os às demandas e necessidades das redes de educação
nais para acesso à educação superior como forma de superar básica, de modo a permitir aos graduandos a aquisição das
exames vestibulares isolados; qualificações necessárias a conduzir o processo pedagógico
12.17) estimular mecanismos para ocupar as vagas ocio- de seus futuros alunos (as), combinando formação geral e
sas em cada período letivo na educação superior pública; específica com a prática didática, além da educação para as
12.18) estimular a expansão e reestruturação das ins- relações étnico-raciais, a diversidade e as necessidades das
tituições de educação superior estaduais e municipais cujo pessoas com deficiência;
ensino seja gratuito, por meio de apoio técnico e financeiro 13.5) elevar o padrão de qualidade das universidades,
do Governo Federal, mediante termo de adesão a programa direcionando sua atividade, de modo que realizem, efetiva-
de reestruturação, na forma de regulamento, que considere mente, pesquisa institucionalizada, articulada a programas
a sua contribuição para a ampliação de vagas, a capacida- de pós-graduação stricto sensu;
de fiscal e as necessidades dos sistemas de ensino dos entes 13.6) substituir o Exame Nacional de Desempenho de
mantenedores na oferta e qualidade da educação básica; Estudantes - ENADE aplicado ao final do primeiro ano do
12.19) reestruturar com ênfase na melhoria de prazos e curso de graduação pelo Exame Nacional do Ensino Médio
qualidade da decisão, no prazo de 2 (dois) anos, os procedi- - ENEM, a fim de apurar o valor agregado dos cursos de
mentos adotados na área de avaliação, regulação e super- graduação;

104
LEGISLAÇÃO BÁSICA

13.7) fomentar a formação de consórcios entre insti- 14.10) promover o intercâmbio científico e tecnológico,
tuições públicas de educação superior, com vistas a poten- nacional e internacional, entre as instituições de ensino, pes-
cializar a atuação regional, inclusive por meio de plano de quisa e extensão;
desenvolvimento institucional integrado, assegurando maior 14.11) ampliar o investimento em pesquisas com foco
visibilidade nacional e internacional às atividades de ensino, em desenvolvimento e estímulo à inovação, bem como in-
pesquisa e extensão; crementar a formação de recursos humanos para a inova-
13.8) elevar gradualmente a taxa de conclusão média ção, de modo a buscar o aumento da competitividade das
dos cursos de graduação presenciais nas universidades pú- empresas de base tecnológica;
blicas, de modo a atingir 90% (noventa por cento) e, nas ins- 14.12) ampliar o investimento na formação de doutores
tituições privadas, 75% (setenta e cinco por cento), em 2020, de modo a atingir a proporção de 4 (quatro) doutores por
e fomentar a melhoria dos resultados de aprendizagem, de 1.000 (mil) habitantes;
modo que, em 5 (cinco) anos, pelo menos 60% (sessenta 14.13) aumentar qualitativa e quantitativamente o de-
por cento) dos estudantes apresentem desempenho positivo sempenho científico e tecnológico do País e a competitivi-
igual ou superior a 60% (sessenta por cento) no Exame Na- dade internacional da pesquisa brasileira, ampliando a coo-
cional de Desempenho de Estudantes - ENADE e, no último peração científica com empresas, Instituições de Educação
ano de vigência, pelo menos 75% (setenta e cinco por cen- Superior - IES e demais Instituições Científicas e Tecnológicas
to) dos estudantes obtenham desempenho positivo igual ou - ICTs;
superior a 75% (setenta e cinco por cento) nesse exame, em 14.14) estimular a pesquisa científica e de inovação e
cada área de formação profissional; promover a formação de recursos humanos que valorize a
13.9) promover a formação inicial e continuada dos (as) diversidade regional e a biodiversidade da região amazôni-
profissionais técnico-administrativos da educação superior. ca e do cerrado, bem como a gestão de recursos hídricos no
semiárido para mitigação dos efeitos da seca e geração de
Meta 14: elevar gradualmente o número de matrí- emprego e renda na região;
culas na pós-graduação stricto sensu, de modo a atin- 14.15) estimular a pesquisa aplicada, no âmbito das IES
e das ICTs, de modo a incrementar a inovação e a produção
gir a titulação anual de 60.000 (sessenta mil) mestres e
e registro de patentes.
25.000 (vinte e cinco mil) doutores.
Meta 15: garantir, em regime de colaboração entre
Estratégias:
a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios,
14.1) expandir o financiamento da pós-graduação stric-
no prazo de 1 (um) ano de vigência deste PNE, política
to sensu por meio das agências oficiais de fomento;
nacional de formação dos profissionais da educação de
14.2) estimular a integração e a atuação articulada en-
que tratam os incisos I, II e III do caput do art. 61 da
tre a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, assegurado que
Superior - CAPES e as agências estaduais de fomento à pes- todos os professores e as professoras da educação bási-
quisa; ca possuam formação específica de nível superior, obtida
14.3) expandir o financiamento estudantil por meio do em curso de licenciatura na área de conhecimento em que
Fies à pós-graduação stricto sensu; atuam.
14.4) expandir a oferta de cursos de pós-graduação Estratégias:
stricto sensu, utilizando inclusive metodologias, recursos e 15.1) atuar, conjuntamente, com base em plano estraté-
tecnologias de educação a distância; gico que apresente diagnóstico das necessidades de forma-
14.5) implementar ações para reduzir as desigualdades ção de profissionais da educação e da capacidade de atendi-
étnico-raciais e regionais e para favorecer o acesso das po- mento, por parte de instituições públicas e comunitárias de
pulações do campo e das comunidades indígenas e quilom- educação superior existentes nos Estados, Distrito Federal e
bolas a programas de mestrado e doutorado; Municípios, e defina obrigações recíprocas entre os partíci-
14.6) ampliar a oferta de programas de pós-graduação pes;
stricto sensu, especialmente os de doutorado, nos campi no- 15.2) consolidar o financiamento estudantil a estudan-
vos abertos em decorrência dos programas de expansão e tes matriculados em cursos de licenciatura com avaliação
interiorização das instituições superiores públicas; positiva pelo Sistema Nacional de Avaliação da Educação
14.7) manter e expandir programa de acervo digital de Superior - SINAES, na forma da Lei nº 10.861, de 14 de abril
referências bibliográficas para os cursos de pós-graduação, de 2004, inclusive a amortização do saldo devedor pela do-
assegurada a acessibilidade às pessoas com deficiência; cência efetiva na rede pública de educação básica;
14.8) estimular a participação das mulheres nos cursos 15.3) ampliar programa permanente de iniciação à do-
de pós-graduação stricto sensu, em particular aqueles liga- cência a estudantes matriculados em cursos de licenciatura,
dos às áreas de Engenharia, Matemática, Física, Química, a fim de aprimorar a formação de profissionais para atuar
Informática e outros no campo das ciências; no magistério da educação básica;
14.9) consolidar programas, projetos e ações que objeti- 15.4) consolidar e ampliar plataforma eletrônica para
vem a internacionalização da pesquisa e da pós-graduação organizar a oferta e as matrículas em cursos de formação
brasileiras, incentivando a atuação em rede e o fortaleci- inicial e continuada de profissionais da educação, bem como
mento de grupos de pesquisa; para divulgar e atualizar seus currículos eletrônicos;

105
LEGISLAÇÃO BÁSICA

15.5) implementar programas específicos para formação das instituições públicas de educação superior, de forma or-
de profissionais da educação para as escolas do campo e gânica e articulada às políticas de formação dos Estados, do
de comunidades indígenas e quilombolas e para a educação Distrito Federal e dos Municípios;
especial; 16.2) consolidar política nacional de formação de pro-
15.6) promover a reforma curricular dos cursos de li- fessores e professoras da educação básica, definindo dire-
cenciatura e estimular a renovação pedagógica, de forma a trizes nacionais, áreas prioritárias, instituições formadoras e
assegurar o foco no aprendizado do (a) aluno (a), dividindo processos de certificação das atividades formativas;
a carga horária em formação geral, formação na área do 16.3) expandir programa de composição de acervo de
saber e didática específica e incorporando as modernas tec- obras didáticas, paradidáticas e de literatura e de dicioná-
nologias de informação e comunicação, em articulação com rios, e programa específico de acesso a bens culturais, in-
a base nacional comum dos currículos da educação básica, cluindo obras e materiais produzidos em Libras e em Braille,
de que tratam as estratégias 2.1, 2.2, 3.2 e 3.3 deste PNE; sem prejuízo de outros, a serem disponibilizados para os pro-
15.7) garantir, por meio das funções de avaliação, regu- fessores e as professoras da rede pública de educação básica,
lação e supervisão da educação superior, a plena implemen- favorecendo a construção do conhecimento e a valorização
tação das respectivas diretrizes curriculares; da cultura da investigação;
15.8) valorizar as práticas de ensino e os estágios nos 16.4) ampliar e consolidar portal eletrônico para sub-
cursos de formação de nível médio e superior dos profissio- sidiar a atuação dos professores e das professoras da edu-
nais da educação, visando ao trabalho sistemático de ar- cação básica, disponibilizando gratuitamente materiais di-
ticulação entre a formação acadêmica e as demandas da dáticos e pedagógicos suplementares, inclusive aqueles com
educação básica; formato acessível;
15.9) implementar cursos e programas especiais para 16.5) ampliar a oferta de bolsas de estudo para pós-
assegurar formação específica na educação superior, nas graduação dos professores e das professoras e demais profis-
respectivas áreas de atuação, aos docentes com formação sionais da educação básica;
de nível médio na modalidade normal, não licenciados ou 16.6) fortalecer a formação dos professores e das pro-
licenciados em área diversa da de atuação docente, em efe- fessoras das escolas públicas de educação básica, por meio
da implementação das ações do Plano Nacional do Livro e
tivo exercício;
Leitura e da instituição de programa nacional de disponibi-
15.10) fomentar a oferta de cursos técnicos de nível mé-
lização de recursos para acesso a bens culturais pelo magis-
dio e tecnológicos de nível superior destinados à formação,
tério público.
nas respectivas áreas de atuação, dos (as) profissionais da
educação de outros segmentos que não os do magistério;
Meta 17: valorizar os (as) profissionais do magis-
15.11) implantar, no prazo de 1 (um) ano de vigência
tério das redes públicas de educação básica de forma
desta Lei, política nacional de formação continuada para os
a equiparar seu rendimento médio ao dos (as) demais
(as) profissionais da educação de outros segmentos que não profissionais com escolaridade equivalente, até o final
os do magistério, construída em regime de colaboração en- do sexto ano de vigência deste PNE.
tre os entes federados;
15.12) instituir programa de concessão de bolsas de es- Estratégias:
tudos para que os professores de idiomas das escolas públi- 17.1) constituir, por iniciativa do Ministério da Educação,
cas de educação básica realizem estudos de imersão e aper- até o final do primeiro ano de vigência deste PNE, fórum
feiçoamento nos países que tenham como idioma nativo as permanente, com representação da União, dos Estados, do
línguas que lecionem; Distrito Federal, dos Municípios e dos trabalhadores da edu-
15.13) desenvolver modelos de formação docente para cação, para acompanhamento da atualização progressiva
a educação profissional que valorizem a experiência prática, do valor do piso salarial nacional para os profissionais do
por meio da oferta, nas redes federal e estaduais de edu- magistério público da educação básica;
cação profissional, de cursos voltados à complementação e 17.2) constituir como tarefa do fórum permanente o
certificação didático-pedagógica de profissionais experien- acompanhamento da evolução salarial por meio de indi-
tes. cadores da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios -
PNAD, periodicamente divulgados pela Fundação Instituto
Meta 16: formar, em nível de pós-graduação, 50% Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE;
(cinquenta por cento) dos professores da educação bási- 17.3) implementar, no âmbito da União, dos Estados, do
ca, até o último ano de vigência deste PNE, e garantir a Distrito Federal e dos Municípios, planos de Carreira para os
todos (as) os (as) profissionais da educação básica for- (as) profissionais do magistério das redes públicas de edu-
mação continuada em sua área de atuação, consideran- cação básica, observados os critérios estabelecidos na Lei no
do as necessidades, demandas e contextualizações dos 11.738, de 16 de julho de 2008, com implantação gradual
sistemas de ensino. do cumprimento da jornada de trabalho em um único es-
tabelecimento escolar;
Estratégias: 17.4) ampliar a assistência financeira específica da
16.1) realizar, em regime de colaboração, o planejamen- União aos entes federados para implementação de políticas
to estratégico para dimensionamento da demanda por for- de valorização dos (as) profissionais do magistério, em par-
mação continuada e fomentar a respectiva oferta por parte ticular o piso salarial nacional profissional.

106
LEGISLAÇÃO BÁSICA

Meta 18: assegurar, no prazo de 2 (dois) anos, a penho e à consulta pública à comunidade escolar, no
existência de planos de Carreira para os (as) profissio- âmbito das escolas públicas, prevendo recursos e apoio
nais da educação básica e superior pública de todos os técnico da União para tanto.
sistemas de ensino e, para o plano de Carreira dos (as)
profissionais da educação básica pública, tomar como Estratégias:
referência o piso salarial nacional profissional, definido 19.1) priorizar o repasse de transferências voluntárias
em lei federal, nos termos do inciso VIII do art. 206 da da União na área da educação para os entes federados que
Constituição Federal. tenham aprovado legislação específica que regulamente a
matéria na área de sua abrangência, respeitando-se a le-
Estratégias: gislação nacional, e que considere, conjuntamente, para a
18.1) estruturar as redes públicas de educação básica nomeação dos diretores e diretoras de escola, critérios téc-
de modo que, até o início do terceiro ano de vigência deste nicos de mérito e desempenho, bem como a participação da
PNE, 90% (noventa por cento), no mínimo, dos respectivos comunidade escolar;
profissionais do magistério e 50% (cinquenta por cento), no 19.2) ampliar os programas de apoio e formação aos
mínimo, dos respectivos profissionais da educação não do- (às) conselheiros (as) dos conselhos de acompanhamento e
centes sejam ocupantes de cargos de provimento efetivo e controle social do Fundeb, dos conselhos de alimentação es-
estejam em exercício nas redes escolares a que se encontrem colar, dos conselhos regionais e de outros e aos (às) represen-
vinculados; tantes educacionais em demais conselhos de acompanha-
18.2) implantar, nas redes públicas de educação básica mento de políticas públicas, garantindo a esses colegiados
e superior, acompanhamento dos profissionais iniciantes, su- recursos financeiros, espaço físico adequado, equipamentos
pervisionados por equipe de profissionais experientes, a fim e meios de transporte para visitas à rede escolar, com vistas
de fundamentar, com base em avaliação documentada, a ao bom desempenho de suas funções;
decisão pela efetivação após o estágio probatório e oferecer, 19.3) incentivar os Estados, o Distrito Federal e os Muni-
durante esse período, curso de aprofundamento de estudos cípios a constituírem Fóruns Permanentes de Educação, com
na área de atuação do (a) professor (a), com destaque para o intuito de coordenar as conferências municipais, estaduais
os conteúdos a serem ensinados e as metodologias de ensino e distrital bem como efetuar o acompanhamento da execu-
ção deste PNE e dos seus planos de educação;
de cada disciplina;
19.4) estimular, em todas as redes de educação básica,
18.3) realizar, por iniciativa do Ministério da Educação, a
a constituição e o fortalecimento de grêmios estudantis e
cada 2 (dois) anos a partir do segundo ano de vigência des-
associações de pais, assegurando-se-lhes, inclusive, espaços
te PNE, prova nacional para subsidiar os Estados, o Distrito
adequados e condições de funcionamento nas escolas e fo-
Federal e os Municípios, mediante adesão, na realização de
mentando a sua articulação orgânica com os conselhos es-
concursos públicos de admissão de profissionais do magisté-
colares, por meio das respectivas representações;
rio da educação básica pública;
19.5) estimular a constituição e o fortalecimento de
18.4) prever, nos planos de Carreira dos profissionais da conselhos escolares e conselhos municipais de educação,
educação dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, como instrumentos de participação e fiscalização na gestão
licenças remuneradas e incentivos para qualificação profis- escolar e educacional, inclusive por meio de programas de
sional, inclusive em nível de pós-graduação stricto sensu; formação de conselheiros, assegurando-se condições de fun-
18.5) realizar anualmente, a partir do segundo ano de cionamento autônomo;
vigência deste PNE, por iniciativa do Ministério da Educação, 19.6) estimular a participação e a consulta de profissio-
em regime de colaboração, o censo dos (as) profissionais da nais da educação, alunos (as) e seus familiares na formula-
educação básica de outros segmentos que não os do magis- ção dos projetos político-pedagógicos, currículos escolares,
tério; planos de gestão escolar e regimentos escolares, asseguran-
18.6) considerar as especificidades socioculturais das es- do a participação dos pais na avaliação de docentes e ges-
colas do campo e das comunidades indígenas e quilombolas tores escolares;
no provimento de cargos efetivos para essas escolas; 19.7) favorecer processos de autonomia pedagógica, ad-
18.7) priorizar o repasse de transferências federais vo- ministrativa e de gestão financeira nos estabelecimentos de
luntárias, na área de educação, para os Estados, o Distrito ensino;
Federal e os Municípios que tenham aprovado lei específica 19.8) desenvolver programas de formação de diretores
estabelecendo planos de Carreira para os (as) profissionais e gestores escolares, bem como aplicar prova nacional es-
da educação; pecífica, a fim de subsidiar a definição de critérios objetivos
18.8) estimular a existência de comissões permanentes para o provimento dos cargos, cujos resultados possam ser
de profissionais da educação de todos os sistemas de ensi- utilizados por adesão.
no, em todas as instâncias da Federação, para subsidiar os
órgãos competentes na elaboração, reestruturação e imple- Meta 20: ampliar o investimento público em educa-
mentação dos planos de Carreira. ção pública de forma a atingir, no mínimo, o patamar
de 7% (sete por cento) do Produto Interno Bruto - PIB
Meta 19: assegurar condições, no prazo de 2 (dois) do País no 5o (quinto) ano de vigência desta Lei e, no mí-
anos, para a efetivação da gestão democrática da edu- nimo, o equivalente a 10% (dez por cento) do PIB ao final
cação, associada a critérios técnicos de mérito e desem- do decênio.

107
LEGISLAÇÃO BÁSICA

Estratégias: cional de Educação - CNE e pelas Comissões de Educação da


20.1) garantir fontes de financiamento permanentes e Câmara dos Deputados e de Educação, Cultura e Esportes do
sustentáveis para todos os níveis, etapas e modalidades da Senado Federal;
educação básica, observando-se as políticas de colaboração 20.9) regulamentar o parágrafo único do art. 23 e o art.
entre os entes federados, em especial as decorrentes do art. 211 da Constituição Federal, no prazo de 2 (dois) anos, por
60 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias e do lei complementar, de forma a estabelecer as normas de coo-
§ 1o do art. 75 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, peração entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os
que tratam da capacidade de atendimento e do esforço fiscal Municípios, em matéria educacional, e a articulação do sis-
de cada ente federado, com vistas a atender suas demandas tema nacional de educação em regime de colaboração, com
educacionais à luz do padrão de qualidade nacional; equilíbrio na repartição das responsabilidades e dos recursos
20.2) aperfeiçoar e ampliar os mecanismos de acompa- e efetivo cumprimento das funções redistributiva e supletiva
nhamento da arrecadação da contribuição social do salário da União no combate às desigualdades educacionais regio-
-educação; nais, com especial atenção às regiões Norte e Nordeste;
20.3) destinar à manutenção e desenvolvimento do en- 20.10) caberá à União, na forma da lei, a complemen-
sino, em acréscimo aos recursos vinculados nos termos do tação de recursos financeiros a todos os Estados, ao Distrito
art. 212 da Constituição Federal, na forma da lei específica, Federal e aos Municípios que não conseguirem atingir o va-
a parcela da participação no resultado ou da compensação lor do CAQi e, posteriormente, do CAQ;
financeira pela exploração de petróleo e gás natural e outros 20.11) aprovar, no prazo de 1 (um) ano, Lei de Responsa-
recursos, com a finalidade de cumprimento da meta prevista bilidade Educacional, assegurando padrão de qualidade na
no inciso VI do caput do art. 214 da Constituição Federal; educação básica, em cada sistema e rede de ensino, aferida
20.4) fortalecer os mecanismos e os instrumentos que pelo processo de metas de qualidade aferidas por institutos
assegurem, nos termos do parágrafo único do art. 48 da oficiais de avaliação educacionais;
Lei Complementar no 101, de 4 de maio de 2000, a trans- 20.12) definir critérios para distribuição dos recursos
parência e o controle social na utilização dos recursos pú- adicionais dirigidos à educação ao longo do decênio, que
blicos aplicados em educação, especialmente a realização considerem a equalização das oportunidades educacionais,
a vulnerabilidade socioeconômica e o compromisso técnico
de audiências públicas, a criação de portais eletrônicos de
e de gestão do sistema de ensino, a serem pactuados na ins-
transparência e a capacitação dos membros de conselhos
tância prevista no § 5o do art. 7o desta Lei.
de acompanhamento e controle social do Fundeb, com a
colaboração entre o Ministério da Educação, as Secretarias
de Educação dos Estados e dos Municípios e os Tribunais de
Contas da União, dos Estados e dos Municípios; 4. DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS
20.5) desenvolver, por meio do Instituto Nacional de Es- PARA O ENSINO FUNDAMENTAL DE 9
tudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira - INEP, estu- (NOVE) ANOS.
dos e acompanhamento regular dos investimentos e custos
por aluno da educação básica e superior pública, em todas
as suas etapas e modalidades; RESOLUÇÃO Nº 7, DE 14 DE DEZEMBRODE 2010
20.6) no prazo de 2 (dois) anos da vigência deste PNE,
será implantado o Custo Aluno-Qualidade inicial - CAQi, re- Fixa Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino
ferenciado no conjunto de padrões mínimos estabelecidos Fundamental de 9 (nove) anos.
na legislação educacional e cujo financiamento será cal-
culado com base nos respectivos insumos indispensáveis ao O Presidente da Câmara de Educação Básica do Con-
processo de ensino-aprendizagem e será progressivamente selho Nacional de Educação, de conformidade com o dis-
reajustado até a implementação plena do Custo Aluno Qua- posto na alínea “c” do § 1º do art. 9º da Lei nº 4.024/61,
lidade - CAQ; com a redação dada pela Lei nº 9.131/95, no art. 32 da Lei
20.7) implementar o Custo Aluno Qualidade - CAQ nº 9.394/96, na Lei nº 11.274/2006, e com fundamento no
como parâmetro para o financiamento da educação de to- Parecer CNE/CEB nº 11/2010, homologado por Despacho
das etapas e modalidades da educação básica, a partir do do Senhor Ministro de Estado da Educação, publicado no
cálculo e do acompanhamento regular dos indicadores de DOU de 9 de dezembro de 2010, resolve:
gastos educacionais com investimentos em qualificação e Art. 1º A presente Resolução fixa as Diretrizes Curri-
remuneração do pessoal docente e dos demais profissionais culares Nacionais para o Ensino Fundamental de 9 (nove)
da educação pública, em aquisição, manutenção, construção anos a serem observadas na organização curricular dos sis-
e conservação de instalações e equipamentos necessários ao temas de ensino e de suas unidades escolares.
ensino e em aquisição de material didático-escolar, alimen- Art. 2º As Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensi-
tação e transporte escolar; no Fundamental de 9 (nove) anos articulam-se com as Di-
20.8) o CAQ será definido no prazo de 3 (três) anos e retrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Bá-
será continuamente ajustado, com base em metodologia for- sica (Parecer CNE/CEB nº 7/2010 e Resolução CNE/CEB nº
mulada pelo Ministério da Educação - MEC, e acompanhado 4/2010) e reúnem princípios, fundamentos e procedimen-
pelo Fórum Nacional de Educação - FNE, pelo Conselho Na- tos definidos pelo Conselho Nacional de Educação, para

108
LEGISLAÇÃO BÁSICA

orientar as políticas públicas educacionais e a elaboração, § 4º A educação escolar, comprometida com a igualda-
implementação e avaliação das orientações curriculares de do acesso de todos ao conhecimento e especialmente
nacionais, das propostas curriculares dos Estados, do Dis- empenhada em garantir esse acesso aos grupos da popu-
trito Federal, dos Municípios, e dos projetos político-peda- lação em desvantagem na sociedade, será uma educação
gógicos das escolas. com qualidade social e contribuirá para dirimir as desigual-
Parágrafo único. Estas Diretrizes Curriculares Nacionais dades historicamente produzidas, assegurando, assim, o
aplicam-se a todas as modalidades do Ensino Fundamental ingresso, a permanência e o sucesso na escola, com a con-
previstas na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacio- sequente redução da evasão, da retenção e das distorções
nal, bem como à Educação do Campo, à Educação Escolar de idade/ano/série (Parecer CNE/CEB nº 7/2010 e Resolu-
Indígena e à Educação Escolar Quilombola. ção CNE/CEB nº 4/2010, que define as Diretrizes Curricula-
res Nacionais Gerais para a Educação Básica).
FUNDAMENTOS
Art. 3º O Ensino Fundamental se traduz como um direi-
PRINCÍPIOS
to público subjetivo de cada um e como dever do Estado e
Art. 6º Os sistemas de ensino e as escolas adotarão,
da família na sua oferta a todos.
como norteadores das políticas educativas e das ações pe-
dagógicas, os seguintes princípios:
Art. 4º É dever do Estado garantir a oferta do Ensino
Fundamental público, gratuito e de qualidade, sem requi- I – Éticos: de justiça, solidariedade, liberdade e autono-
sito de seleção. mia; de respeito à dignidade da pessoa humana e de com-
Parágrafo único. As escolas que ministram esse ensino promisso com a promoção do bem de todos, contribuin-
deverão trabalhar considerando essa etapa da educação do para combater e eliminar quaisquer manifestações de
como aquela capaz de assegurar a cada um e a todos o preconceito de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer
acesso ao conhecimento e aos elementos da cultura im- outras formas de discriminação.
prescindíveis para o seu desenvolvimento pessoal e para a II – Políticos: de reconhecimento dos direitos e deveres
vida em sociedade, assim como os benefícios de uma for- de cidadania, de respeito ao bem comum e à preservação
mação comum, independentemente da grande diversidade do regime democrático e dos recursos ambientais; da bus-
da população escolar e das demandas sociais. ca da equidade no acesso à educação, à saúde, ao traba-
Art. 5º O direito à educação, entendido como um di- lho, aos bens culturais e outros benefícios; da exigência de
reito inalienável do ser humano, constitui o fundamento diversidade de tratamento para assegurar a igualdade de
maior destas Diretrizes. A educação, ao proporcionar o de- direitos entre os alunos que apresentam diferentes neces-
senvolvimento do potencial humano, permite o exercício sidades; da redução da pobreza e das desigualdades so-
dos direitos civis, políticos, sociais e do direito à diferença, ciais e regionais.
sendo ela mesma também um direito social, e possibilita a III – Estéticos: do cultivo da sensibilidade juntamente
formação cidadã e o usufruto dos bens sociais e culturais. com o da racionalidade; do enriquecimento das formas
§ 1º O Ensino Fundamental deve comprometer-se com de expressão e do exercício da criatividade; da valorização
uma educação com qualidade social, igualmente entendida das diferentes manifestações culturais, especialmente a da
como direito humano. cultura brasileira; da construção de identidades plurais e
§ 2º A educação de qualidade, como um direito funda- solidárias.
mental, é, antes de tudo, relevante, pertinente e equitativa. Art. 7º De acordo com esses princípios, e em confor-
I – A relevância reporta-se à promoção de aprendiza- midade com o art. 22 e o art. 32 da Lei nº 9.394/96 (LDB),
gens significativas do ponto de vista das exigências sociais as propostas curriculares do Ensino Fundamental visarão
e de desenvolvimento pessoal.
desenvolver o educando, assegurar-lhe a formação comum
II – A pertinência refere-se à possibilidade de atender
indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhe
às necessidades e às características dos estudantes de di-
os meios para progredir no trabalho e em estudos poste-
versos contextos sociais e culturais e com diferentes capa-
riores, mediante os objetivos previstos para esta etapa da
cidades e interesses.
III – A equidade alude à importância de tratar de forma escolarização, a saber:
diferenciada o que se apresenta como desigual no ponto I – o desenvolvimento da capacidade de aprender, ten-
de partida, com vistas a obter desenvolvimento e aprendi- do como meios básicos o pleno domínio da leitura, da es-
zagens equiparáveis, assegurando a todos a igualdade de crita e do cálculo;
direito à educação. II – a compreensão do ambiente natural e social, do
§ 3º Na perspectiva de contribuir para a erradicação da sistema político, das artes, da tecnologia e dos valores em
pobreza e das desigualdades, a equidade requer que sejam que se fundamenta a sociedade;
oferecidos mais recursos e melhores condições às escolas III – a aquisição de conhecimentos e habilidades, e a
menos providas e aos alunos que deles mais necessitem. formação de atitudes e valores como instrumentos para
Ao lado das políticas universais, dirigidas a todos sem re- uma visão crítica do mundo;
quisito de seleção, é preciso também sustentar políticas IV – o fortalecimento dos vínculos de família, dos laços
reparadoras que assegurem maior apoio aos diferentes de solidariedade humana e de tolerância recíproca em que
grupos sociais em desvantagem. se assenta a vida social.

109
LEGISLAÇÃO BÁSICA

MATRÍCULA NO ENSINO FUNDAMENTAL DE 9 (NOVE) § 1º A articulação entre a base nacional comum e a par-
ANOS E CARGA HORÁRIA te diversificada do currículo do Ensino Fundamental possi-
Art. 8º O Ensino Fundamental, com duração de 9 (nove) bilita a sintonia dos interesses mais amplos de formação
anos, abrange a população na faixa etária dos 6 (seis) aos básica do cidadão com a realidade local, as necessidades
14 (quatorze) anos de idade e se estende, também, a to- dos alunos, as características regionais da sociedade, da
dos os que, na idade própria, não tiveram condições de cultura e da economia e perpassa todo o currículo.
frequentá-lo. § 2º Voltados à divulgação de valores fundamentais ao
§ 1º É obrigatória a matrícula no Ensino Fundamental interesse social e à preservação da ordem democrática, os
de crianças com 6 (seis) anos completos ou a completar até conhecimentos que fazem parte da base nacional comum
o dia 31 de março do ano em que ocorrer a matrícula, nos a que todos devem ter acesso, independentemente da re-
termos da Lei e das normas nacionais vigentes. gião e do lugar em que vivem, asseguram a característica
§ 2º As crianças que completarem 6 (seis) anos após unitária das orientações curriculares nacionais, das propos-
essa data deverão ser matriculadas na Educação Infantil
tas curriculares dos Estados, do Distrito Federal, dos Mu-
(Pré-Escola).
nicípios, e dos projetos político-pedagógicos das escolas.
§ 3º A carga horária mínima anual do Ensino Funda-
§ 3º Os conteúdos curriculares que compõem a parte
mental regular será de 800 (oitocentas) horas relógio, dis-
tribuídas em, pelo menos, 200 (duzentos) dias de efetivo diversificada do currículo serão definidos pelos sistemas de
trabalho escolar. ensino e pelas escolas, de modo a complementar e enri-
quecer o currículo, assegurando a contextualização dos co-
CURRÍCULO nhecimentos escolares em face das diferentes realidades.
Art. 9º O currículo do Ensino Fundamental é entendi-
do, nesta Resolução, como constituído pelas experiências Art. 12 Os conteúdos que compõem a base nacional
escolares que se desdobram em torno do conhecimento, comum e a parte diversificada têm origem nas disciplinas
permeadas pelas relações sociais, buscando articular vi- científicas, no desenvolvimento das linguagens, no mundo
vências e saberes dos alunos com os conhecimentos his- do trabalho, na cultura e na tecnologia, na produção ar-
toricamente acumulados e contribuindo para construir as tística, nas atividades desportivas e corporais, na área da
identidades dos estudantes. saúde e ainda incorporam saberes como os que advêm das
§ 1º O foco nas experiências escolares significa que as formas diversas de exercício da cidadania, dos movimentos
orientações e as propostas curriculares que provêm das di- sociais, da cultura escolar, da experiência docente, do coti-
versas instâncias só terão concretude por meio das ações diano e dos alunos.
educativas que envolvem os alunos.
§ 2º As experiências escolares abrangem todos os as- Art. 13 Os conteúdos a que se refere o art. 12 são cons-
pectos do ambiente escolar:, aqueles que compõem a par- tituídos por componentes curriculares que, por sua vez, se
te explícita do currículo, bem como os que também contri- articulam com as áreas de conhecimento, a saber:
buem, de forma implícita, para a aquisição de conhecimen- Linguagens, Matemática, Ciências da Natureza e Ciên-
tos socialmente relevantes. Valores, atitudes, sensibilidade cias Humanas. As áreas de conhecimento favorecem a co-
e orientações de conduta são veiculados não só pelos co- municação entre diferentes conhecimentos sistematizados
nhecimentos, mas por meio de rotinas, rituais, normas de e entre estes e outros saberes, mas permitem que os re-
convívio social, festividades, pela distribuição do tempo e ferenciais próprios de cada componente curricular sejam
organização do espaço educativo, pelos materiais utiliza- preservados.
dos na aprendizagem e pelo recreio, enfim, pelas vivências
proporcionadas pela escola.
Art. 14 O currículo da base nacional comum do Ensino
§ 3º Os conhecimentos escolares são aqueles que as
Fundamental deve abranger, obrigatoriamente, conforme
diferentes instâncias que produzem orientações sobre o
currículo, as escolas e os professores selecionam e trans- o art. 26 da Lei nº 9.394/96, o estudo da Língua Portugue-
formam a fim de que possam ser ensinados e aprendidos, sa e da Matemática, o conhecimento do mundo físico e
ao mesmo tempo em que servem de elementos para a for- natural e da realidade social e política, especialmente a do
mação ética, estética e política do aluno. Brasil, bem como o ensino da Arte, a Educação Física e o
Ensino Religioso.
BASE NACIONAL COMUM E PARTE DIVERSIFICADA:
COMPLEMENTARIDADE Art. 15 Os componentes curriculares obrigatórios do
Ensino Fundamental serão assim organizados em relação
Art. 10 O currículo do Ensino Fundamental tem uma às áreas de conhecimento:
base nacional comum, complementada em cada sistema I – Linguagens:
de ensino e em cada estabelecimento escolar por uma par- a) Língua Portuguesa;
te diversificada. b) Língua Materna, para populações indígenas;
c) Língua Estrangeira moderna;
Art. 11 A base nacional comum e a parte diversificada d) Arte; e
do currículo do Ensino Fundamental constituem um todo e) Educação Física;
integrado e não podem ser consideradas como dois blocos II – Matemática;
distintos. III – Ciências da Natureza;

110
LEGISLAÇÃO BÁSICA

IV – Ciências Humanas: § 1º Outras leis específicas que complementam a Lei


a) História; nº 9.394/96 determinam que sejam ainda incluídos te-
b) Geografia; mas relativos à condição e aos direitos dos idosos (Lei nº
V – Ensino Religioso. 10.741/2003) e à educação para o trânsito (Lei nº 9.503/97).
§ 1º O Ensino Fundamental deve ser ministrado em lín- § 2º A transversalidade constitui uma das maneiras de
gua portuguesa, assegurada também às comunidades in- trabalhar os componentes curriculares, as áreas de conhe-
dígenas a utilização de suas línguas maternas e processos cimento e os temas sociais em uma perspectiva integrada,
próprios de aprendizagem, conforme o art. 210, § 2º, da conforme a Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a
Constituição Federal. Educação Básica (Parecer CNE/CEB nº 7/2010 e Resolução
§ 2º O ensino de História do Brasil levará em conta as CNE/CEB nº 4/2010).
contribuições das diferentes culturas e etnias para a forma- § 3º Aos órgãos executivos dos sistemas de ensino
ção do povo brasileiro, especialmente das matrizes indí- compete a produção e a disseminação de materiais sub-
gena, africana e europeia (art. 26, § 4º, da Lei nº 9.394/96). sidiários ao trabalho docente, que contribuam para a eli-
§ 3º A história e as culturas indígena e afro-brasileira, minação de discriminações, racismo, sexismo, homofobia e
presentes, obrigatoriamente, nos conteúdos desenvolvidos outros preconceitos e que conduzam à adoção de compor-
no âmbito de todo o currículo escolar e, em especial, no tamentos responsáveis e solidários em relação aos outros e
ensino de Arte, Literatura e História do Brasil, assim como ao meio ambiente.
a História da África, deverão assegurar o conhecimento e
o reconhecimento desses povos para a constituição da na- Art. 17 Na parte diversificada do currículo do Ensino
ção (conforme art. 26-A da Lei nº 9.394/96, alterado pela Fundamental será incluído, obrigatoriamente, a partir do 6º
Lei nº 11.645/2008). Sua inclusão possibilita ampliar o le- ano, o ensino de, pelo menos, uma Língua Estrangeira mo-
que de referências culturais de toda a população escolar e derna, cuja escolha ficará a cargo da comunidade escolar.
contribui para a mudança das suas concepções de mundo, Parágrafo único. Entre as línguas estrangeiras moder-
transformando os conhecimentos comuns veiculados pelo nas, a língua espanhola poderá ser a opção, nos termos da
Lei nº 11.161/2005.
currículo e contribuindo para a construção de identidades
mais plurais e solidárias.
PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO
§ 4º A Música constitui conteúdo obrigatório, mas não
exclusivo, do componente curricular Arte, o qual com-
Art. 18 O currículo do Ensino Fundamental com 9
preende também as artes visuais, o teatro e a dança, con-
(nove) anos de duração exige a estruturação de um projeto
forme o § 6º do art. 26 da Lei nº 9.394/96.
educativo coerente, articulado e integrado, de acordo com
§ 5º A Educação Física, componente obrigatório do
os modos de ser e de se desenvolver das crianças e adoles-
currículo do Ensino Fundamental, integra a proposta políti-
centes nos diferentes contextos sociais.
co-pedagógica da escola e será facultativa ao aluno apenas
nas circunstâncias previstas no § 3º do art. 26 da Lei nº Art. 19 Ciclos, séries e outras formas de organização a
9.394/96. que se refere a Lei nº 9.394/96 serão compreendidos como
§ 6º O Ensino Religioso, de matrícula facultativa ao alu- tempos e espaços interdependentes e articulados entre si,
no, é parte integrante da formação básica do cidadão e ao longo dos 9 (nove) anos de duração do Ensino Funda-
constitui componente curricular dos horários normais das mental.
escolas públicas de Ensino Fundamental, assegurado o res-
peito à diversidade cultural e religiosa do Brasil e vedadas GESTÃO DEMOCRÁTICA E PARTICIPATIVA COMO GA-
quaisquer formas de proselitismo, conforme o art. 33 da RANTIA DO DIREITO À EDUCAÇÃO
Lei nº 9.394/96.
Art. 20 As escolas deverão formular o projeto políti-
Art. 16 Os componentes curriculares e as áreas de co- co-pedagógico e elaborar o regimento escolar de acordo
nhecimento devem articular em seus conteúdos, a partir com a proposta do Ensino Fundamental de 9 (nove) anos,
das possibilidades abertas pelos seus referenciais, a abor- por meio de processos participativos relacionados à gestão
dagem de temas abrangentes e contemporâneos que afe- democrática.
tam a vida humana em escala global, regional e local, bem § 1º O projeto político-pedagógico da escola traduz a
como na esfera individual. Temas como saúde, sexualida- proposta educativa construída pela comunidade escolar no
de e gênero, vida familiar e social, assim como os direitos exercício de sua autonomia, com base nas características
das crianças e adolescentes, de acordo com o Estatuto da dos alunos, nos profissionais e recursos disponíveis, tendo
Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069/90), preservação do como referência as orientações curriculares nacionais e dos
meio ambiente, nos termos da política nacional de educa- respectivos sistemas de ensino.
ção ambiental (Lei nº 9.795/99), educação para o consumo, § 2º Será assegurada ampla participação dos profissio-
educação fiscal, trabalho, ciência e tecnologia, e diversida- nais da escola, da família, dos alunos e da comunidade lo-
de cultural devem permear o desenvolvimento dos con- cal na definição das orientações imprimidas aos processos
teúdos da base nacional comum e da parte diversificada educativos e nas formas de implementá-las, tendo como
do currículo. apoio um processo contínuo de avaliação das ações, a fim

111
LEGISLAÇÃO BÁSICA

de garantir a distribuição social do conhecimento e con- para desenvolver propostas pedagógicas que avancem na
tribuir para a construção de uma sociedade democrática e direção de um trabalho colaborativo, capaz de superar a
igualitária. fragmentação dos componentes curriculares.
§ 3º O regimento escolar deve assegurar as condições § 2º Constituem exemplos de possibilidades de inte-
institucionais adequadas para a execução do projeto políti- gração do currículo, entre outros, as propostas curricula-
co-pedagógico e a oferta de uma educação inclusiva e com res ordenadas em torno de grandes eixos articuladores,
qualidade social, igualmente garantida a ampla participa- projetos interdisciplinares com base em temas geradores
ção da comunidade escolar na sua elaboração. formulados a partir de questões da comunidade e articu-
§ 4º O projeto político-pedagógico e o regimento lados aos componentes curriculares e às áreas de conheci-
escolar, em conformidade com a legislação e as normas mento, currículos em rede, propostas ordenadas em torno
vigentes, conferirão espaço e tempo para que os profis- de conceitos-chave ou conceitos nucleares que permitam
sionais da escola e, em especial, os professores, possam trabalhar as questões cognitivas e as questões culturais
participar de reuniões de trabalho coletivo, planejar e exe- numa perspectiva transversal, e projetos de trabalho com
cutar as ações educativas de modo articulado, avaliar os diversas acepções.
trabalhos dos alunos, tomar parte em ações de formação § 3º Os projetos propostos pela escola, comunidade,
continuada e estabelecer contatos com a comunidade. redes e sistemas de ensino serão articulados ao desenvol-
§ 5º Na implementação de seu projeto político-peda- vimento dos componentes curriculares e às áreas de co-
gógico, as escolas se articularão com as instituições for- nhecimento, observadas as disposições contidas nas Dire-
madoras com vistas a assegurar a formação continuada de trizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica
seus profissionais. (Resolução CNE/CEB nº 4/2010, art. 17) e nos termos do
Parecer que dá base à presente Resolução.
Art. 21 No projeto político-pedagógico do Ensino
Fundamental e no regimento escolar, o aluno, centro do Art. 25 Os professores levarão em conta a diversida-
planejamento curricular, será considerado como sujeito de sociocultural da população escolar, as desigualdades
que atribui sentidos à natureza e à sociedade nas práticas de acesso ao consumo de bens culturais e a multiplicidade
sociais que vivencia, produzindo cultura e construindo sua de interesses e necessidades apresentadas pelos alunos no
identidade pessoal e social. desenvolvimento de metodologias e estratégias variadas
Parágrafo único. Como sujeito de direitos, o aluno que melhor respondam às diferenças de aprendizagem en-
tomará parte ativa na discussão e na implementação das tre os estudantes e às suas demandas.
normas que regem as formas de relacionamento na escola,
fornecerá indicações relevantes a respeito do que deve ser Art. 26 Os sistemas de ensino e as escolas assegurarão
trabalhado no currículo e será incentivado a participar das adequadas condições de trabalho aos seus profissionais e o
organizações estudantis. provimento de outros insumos, de acordo com os padrões
mínimos de qualidade referidos no inciso IX do art. 4º da
Art. 22 O trabalho educativo no Ensino Fundamental Lei nº 9.394/96 e em normas específicas estabelecidas pelo
deve empenhar-se na promoção de uma cultura escolar Conselho Nacional de Educação, com vistas à criação de
acolhedora e respeitosa, que reconheça e valorize as ex- um ambiente propício à aprendizagem, com base:
periências dos alunos atendendo as suas diferenças e ne- I – no trabalho compartilhado e no compromisso indi-
cessidades específicas, de modo a contribuir para efetivar a vidual e coletivo dos professores e demais profissionais da
inclusão escolar e o direito de todos à educação. escola com a aprendizagem dos alunos;
II – no atendimento às necessidades específicas de
Art. 23 Na implementação do projeto político-pedagó- aprendizagem de cada um mediante abordagens apropria-
gico, o cuidar e o educar, indissociáveis funções da escola, das;
resultarão em ações integradas que buscam articular-se, III – na utilização dos recursos disponíveis na escola e
pedagogicamente, no interior da própria instituição, e nos espaços sociais e culturais do entorno;
também externamente, com os serviços de apoio aos siste- IV – na contextualização dos conteúdos, assegurando
mas educacionais e com as políticas de outras áreas, para que a aprendizagem seja relevante e socialmente signifi-
assegurar a aprendizagem, o bem-estar e o desenvolvi- cativa;
mento do aluno em todas as suas dimensões. V – no cultivo do diálogo e de relações de parceria com
as famílias.
RELEVÂNCIA DOS CONTEÚDOS, INTEGRAÇÃO E ABOR- Parágrafo único. Como protagonistas das ações pe-
DAGENS dagógicas, caberá aos docentes equilibrar a ênfase no
reconhecimento e valorização da experiência do aluno e
Art. 24 A necessária integração dos conhecimentos da cultura local que contribui para construir identidades
escolares no currículo favorece a sua contextualização e afirmativas, e a necessidade de lhes fornecer instrumentos
aproxima o processo educativo das experiências dos alu- mais complexos de análise da realidade que possibilitem
nos. o acesso a níveis universais de explicação dos fenômenos,
§ 1º A oportunidade de conhecer e analisar experiên- propiciando-lhes os meios para transitar entre a sua e ou-
cias assentadas em diversas concepções de currículo inte- tras realidades e culturas e participar de diferentes esferas
grado e interdisciplinar oferecerá aos docentes subsídios da vida social, econômica e política.

112
LEGISLAÇÃO BÁSICA

Art. 27 Os sistemas de ensino, as escolas e os profes- Art. 30 Os três anos iniciais do Ensino Fundamental
sores, com o apoio das famílias e da comunidade, envi- devem assegurar:
darão esforços para assegurar o progresso contínuo dos I – a alfabetização e o letramento;
alunos no que se refere ao seu desenvolvimento pleno II – o desenvolvimento das diversas formas de expres-
e à aquisição de aprendizagens significativas, lançando são, incluindo o aprendizado da Língua Portuguesa, a Li-
mão de todos os recursos disponíveis e criando renovadas teratura, a Música e demais artes, a Educação Física, assim
oportunidades para evitar que a trajetória escolar discente como o aprendizado da Matemática, da Ciência, da Histó-
seja retardada ou indevidamente interrompida. ria e da Geografia;
§ 1º Devem, portanto, adotar as providências neces- III – a continuidade da aprendizagem, tendo em conta
sárias para que a operacionalização do princípio da conti- a complexidade do processo de alfabetização e os prejuí-
nuidade não seja traduzida como “promoção automática” zos que a repetência pode causar no Ensino Fundamental
de alunos de um ano, série ou ciclo para o seguinte, e para como um todo e, particularmente, na passagem do primei-
que o combate à repetência não se transforme em des- ro para o segundo ano de escolaridade e deste para o ter-
compromisso com o ensino e a aprendizagem. ceiro.
§ 2º A organização do trabalho pedagógico inclui- § 1º Mesmo quando o sistema de ensino ou a escola,
rá a mobilidade e a flexibilização dos tempos e espaços no uso de sua autonomia, fizerem opção pelo regime se-
escolares, a diversidade nos agrupamentos de alunos, as riado, será necessário considerar os três anos iniciais do
diversas linguagens artísticas, a diversidade de materiais, Ensino Fundamental como um bloco pedagógico ou um
os variados suportes literários, as atividades que mobili- ciclo sequencial não passível de interrupção, voltado para
zem o raciocínio, as atitudes investigativas, as abordagens ampliar a todos os alunos as oportunidades de sistematiza-
complementares e as atividades de reforço, a articulação ção e aprofundamento das aprendizagens básicas, impres-
entre a escola e a comunidade, e o acesso aos espaços de cindíveis para o prosseguimento dos estudos.
expressão cultural. § 2º Considerando as características de desenvolvi-
mento dos alunos, cabe aos professores adotar formas de
Art. 28 A utilização qualificada das tecnologias e con- trabalho que proporcionem maior mobilidade das crianças
teúdos das mídias como recurso aliado ao desenvolvimen- nas salas de aula e as levem a explorar mais intensamente
to do currículo contribui para o importante papel que tem as diversas linguagens artísticas, a começar pela literatura,
a escola como ambiente de inclusão digital e de utilização a utilizar materiais que ofereçam oportunidades de racio-
crítica das tecnologias da informação e comunicação, re- cinar, manuseando-os e explorando as suas características
querendo o aporte dos sistemas de ensino no que se refere e propriedades.
à:
I – provisão de recursos midiáticos atualizados e em Art. 31 Do 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental, os
número suficiente para o atendimento aos alunos; componentes curriculares Educação Física e
II – adequada formação do professor e demais profis- Art. poderão estar a cargo do professor de referên-
sionais da escola. cia da turma, aquele com o qual os alunos permanecem a
maior parte do período escolar, ou de professores licencia-
ARTICULAÇÕES E CONTINUIDADE DA TRAJETÓRIA ES- dos nos respectivos componentes.
COLAR § 1º Nas escolas que optarem por incluir Língua Estran-
geira nos anos iniciais do Ensino Fundamental, o professor
Art. 29 A necessidade de assegurar aos alunos um per- deverá ter licenciatura específica no componente curricular.
curso contínuo de aprendizagens torna imperativa a arti- § 2º Nos casos em que esses componentes curricula-
culação de todas as etapas da educação, especialmente res sejam desenvolvidos por professores com licenciatura
do Ensino Fundamental com a Educação Infantil, dos anos específica (conforme Parecer CNE/CEB nº 2/2008), deve ser
iniciais e dos anos finais no interior do Ensino Fundamental, assegurada a integração com os demais componentes tra-
bem como do Ensino Fundamental com o Ensino Médio, balhados pelo professor de referência da turma.
garantindo a qualidade da Educação Básica.
§ 1º O reconhecimento do que os alunos já aprende- AVALIAÇÃO: PARTE INTEGRANTE DO CURRÍCULO
ram antes da sua entrada no Ensino Fundamental e a re- Art. 32 A avaliação dos alunos, a ser realizada pelos
cuperação do caráter lúdico do ensino contribuirão para professores e pela escola como parte integrante da pro-
melhor qualificar a ação pedagógica junto às crianças, so- posta curricular e da implementação do currículo, é redi-
bretudo nos anos iniciais dessa etapa da escolarização. mensionadora da ação pedagógica e deve:
§ 2º Na passagem dos anos iniciais para os anos finais I – assumir um caráter processual, formativo e partici-
do Ensino Fundamental, especial atenção será dada: pativo, ser contínua, cumulativa e diagnóstica, com vistas a:
I – pelos sistemas de ensino, ao planejamento da ofer- a) identificar potencialidades e dificuldades de apren-
ta educativa dos alunos transferidos das redes municipais dizagem e detectar problemas de ensino;
para as estaduais; b) subsidiar decisões sobre a utilização de estratégias
II – pelas escolas, à coordenação das demandas especí- e abordagens de acordo com as necessidades dos alunos,
ficas feitas pelos diferentes professores aos alunos, a fim de criar condições de intervir de modo imediato e a mais lon-
que os estudantes possam melhor organizar as suas ativi- go prazo para sanar dificuldades e redirecionar o trabalho
dades diante das solicitações muito diversas que recebem. docente;

113
LEGISLAÇÃO BÁSICA

c) manter a família informada sobre o desempenho dos qualidade inicial (CAQi), consideradas inclusive as suas mo-
alunos; dalidades e as formas diferenciadas de atendimento como
d) reconhecer o direito do aluno e da família de discutir a Educação do Campo, a Educação Escolar Indígena, a Edu-
os resultados de avaliação, inclusive em instâncias superio- cação Escolar Quilombola e as escolas de tempo integral.
res à escola, revendo procedimentos sempre que as reivin- Parágrafo único. A melhoria dos resultados de apren-
dicações forem procedentes. dizagem dos alunos e da qualidade da educação obriga:
II – utilizar vários instrumentos e procedimentos, tais I – os sistemas de ensino a incrementarem os disposi-
como a observação, o registro descritivo e reflexivo, os tivos da carreira e de condições de exercício e valorização
trabalhos individuais e coletivos, os portfólios, exercícios, do magistério e dos demais profissionais da educação e a
provas, questionários, dentre outros, tendo em conta a sua oferecerem os recursos e apoios que demandam as escolas
adequação à faixa etária e às características de desenvolvi- e seus profissionais para melhorar a sua atuação;
mento do educando; II – as escolas a uma apreciação mais ampla das opor-
III – fazer prevalecer os aspectos qualitativos da apren- tunidades educativas por elas oferecidas aos educandos,
dizagem do aluno sobre os quantitativos, bem como os re- reforçando a sua responsabilidade de propiciar renovadas
sultados ao longo do período sobre os de eventuais provas oportunidades e incentivos aos que delas mais necessitem.
finais, tal com determina a alínea “a” do inciso V do art. 24
da Lei nº 9.394/96; A EDUCAÇÃO EM ESCOLA DE TEMPO INTEGRAL
IV – assegurar tempos e espaços diversos para que os
alunos com menor rendimento tenham condições de ser Art. 36 Considera-se como de período integral a jorna-
devidamente atendidos ao longo do ano letivo; da escolar que se organiza em 7 (sete) horas diárias, no mí-
V – prover, obrigatoriamente, períodos de recupera- nimo, perfazendo uma carga horária anual de, pelo menos,
ção, de preferência paralelos ao período letivo, como de- 1.400 (mil e quatrocentas) horas.
termina a Lei nº 9.394/96; Parágrafo único. As escolas e, solidariamente, os sis-
VI – assegurar tempos e espaços de reposição dos temas de ensino, conjugarão esforços objetivando o pro-
conteúdos curriculares, ao longo do ano letivo, aos alunos gressivo aumento da carga horária mínima diária e, conse-
com frequência insuficiente, evitando, sempre que possível, quentemente, da carga horária anual, com vistas à maior
a retenção por faltas; qualificação do processo de ensino-aprendizagem, tendo
VII – possibilitar a aceleração de estudos para os alunos como horizonte o atendimento escolar em período inte-
com defasagem idade-série. gral.

Art. 33 Os procedimentos de avaliação adotados pelos Art. 37 A proposta educacional da escola de tempo in-
professores e pela escola serão articulados às avaliações tegral promoverá a ampliação de tempos, espaços e opor-
realizadas em nível nacional e às congêneres nos diferentes tunidades educativas e o compartilhamento da tarefa de
Estados e Municípios, criadas com o objetivo de subsidiar educar e cuidar entre os profissionais da escola e de outras
os sistemas de ensino e as escolas nos esforços de melhoria áreas, as famílias e outros atores sociais, sob a coordena-
da qualidade da educação e da aprendizagem dos alunos. ção da escola e de seus professores, visando alcançar a
§ 1º A análise do rendimento dos alunos com base nos melhoria da qualidade da aprendizagem e da convivência
indicadores produzidos por essas avaliações deve auxiliar social e diminuir as diferenças de acesso ao conhecimento
os sistemas de ensino e a comunidade escolar a redimen- e aos bens culturais, em especial entre as populações so-
sionarem as práticas educativas com vistas ao alcance de cialmente mais vulneráveis.
melhores resultados. § 1º O currículo da escola de tempo integral, concebido
§ 2º A avaliação externa do rendimento dos alunos re- como um projeto educativo integrado, implica a ampliação
fere-se apenas a uma parcela restrita do que é trabalhado da jornada escolar diária mediante o desenvolvimento de
nas escolas, de sorte que as referências para o currículo atividades como o acompanhamento pedagógico, o refor-
devem continuar sendo as contidas nas propostas políti- ço e o aprofundamento da aprendizagem, a experimenta-
co-pedagógicas das escolas, articuladas às orientações e ção e a pesquisa científica, a cultura e as artes, o esporte
propostas curriculares dos sistemas, sem reduzir os seus e o lazer, as tecnologias da comunicação e informação, a
propósitos ao que é avaliado pelos testes de larga escala. afirmação da cultura dos direitos humanos, a preservação
do meio ambiente, a promoção da saúde, entre outras, ar-
Art. 34 Os sistemas, as redes de ensino e os projetos ticuladas aos componentes curriculares e às áreas de co-
político-pedagógicos das escolas devem expressar com nhecimento, a vivências e práticas socioculturais.
clareza o que é esperado dos alunos em relação à sua § 2º As atividades serão desenvolvidas dentro do es-
aprendizagem. paço escolar conforme a disponibilidade da escola, ou fora
dele, em espaços distintos da cidade ou do território em
Art. 35 Os resultados de aprendizagem dos alunos que está situada a unidade escolar, mediante a utilização
devem ser aliados à avaliação das escolas e de seus pro- de equipamentos sociais e culturais aí existentes e o esta-
fessores, tendo em conta os parâmetros de referência dos belecimento de parcerias com órgãos ou entidades locais,
insumos básicos necessários à educação de qualidade para sempre de acordo com o respectivo projeto político-peda-
todos nesta etapa da educação e respectivo custo aluno- gógico.

114
LEGISLAÇÃO BÁSICA

§ 3º Ao restituir a condição de ambiente de aprendiza- II – valorização dos saberes e do papel dessas popula-
gem à comunidade e à cidade, a escola estará contribuindo ções na produção de conhecimentos sobre o mundo, seu
para a construção de redes sociais e de cidades educado- ambiente natural e cultural, assim como as práticas am-
ras. bientalmente sustentáveis que utilizam;
§ 4º Os órgãos executivos e normativos da União e dos III – reafirmação do pertencimento étnico, no caso das
sistemas estaduais e municipais de educação assegurarão comunidades quilombolas e dos povos indígenas, e do cul-
que o atendimento dos alunos na escola de tempo integral tivo da língua materna na escola para estes últimos, como
possua infraestrutura adequada e pessoal qualificado, além elementos importantes de construção da identidade;
do que, esse atendimento terá caráter obrigatório e será IV – flexibilização, se necessário, do calendário escolar,
passível de avaliação em cada escola. das rotinas e atividades, tendo em conta as diferenças rela-
tivas às atividades econômicas e culturais, mantido o total
EDUCAÇÃO DO CAMPO, EDUCAÇÃO ESCOLAR INDÍ- de horas anuais obrigatórias no currículo;
GENA E EDUCAÇÃO ESCOLAR QUILOMBOLA V – superação das desigualdades sociais e escolares
que afetam essas populações, tendo por garantia o direito
Art. 38 A Educação do Campo, tratada como educação à educação;
rural na legislação brasileira, incorpora os espaços da flo- § 2º Os projetos político-pedagógicos das escolas do
resta, da pecuária, das minas e da agricultura e se estende, campo, indígenas e quilombolas devem contemplar a di-
também, aos espaços pesqueiros, caiçaras, ribeirinhos e versidade nos seus aspectos sociais, culturais, políticos,
extrativistas, conforme as Diretrizes para a Educação Básica econômicos, éticos e estéticos, de gênero, geração e etnia.
do Campo (Parecer CNE/CEB nº 36/2001 e Resolução CNE/ § 3º As escolas que atendem a essas populações de-
CEB nº 1/2002; Parecer CNE/CEB nº 3/2008 e Resolução verão ser devidamente providas pelos sistemas de ensino
CNE/CEB nº 2/2008). de materiais didáticos e educacionais que subsidiem o tra-
balho com a diversidade, bem como de recursos que asse-
Art. 39 A Educação Escolar Indígena e a Educação Es- gurem aos alunos o acesso a outros bens culturais e lhes
colar Quilombola são, respectivamente, oferecidas em uni- permitam estreitar o contato com outros modos de vida e
dades educacionais inscritas em suas terras e culturas e, outras formas de conhecimento.
para essas populações, estão assegurados direitos especí- § 4º A participação das populações locais pode tam-
ficos na Constituição Federal que lhes permitem valorizar e bém subsidiar as redes escolares e os sistemas de ensino
preservar as suas culturas e reafirmar o seu pertencimento quanto à produção e à oferta de materiais escolares e no
étnico. que diz respeito a transporte e a equipamentos que aten-
§ 1º As escolas indígenas, atendendo a normas e or- dam as características ambientais e socioculturais das co-
denamentos jurídicos próprios e a Diretrizes Curriculares munidades e as necessidades locais e regionais.
Nacionais específicas, terão ensino intercultural e bilíngue,
com vistas à afirmação e à manutenção da diversidade EDUCAÇÃO ESPECIAL
étnica e linguística, assegurarão a participação da comu-
nidade no seu modelo de edificação, organização e ges- Art. 41 O projeto político-pedagógico da escola e o re-
tão, e deverão contar com materiais didáticos produzidos gimento escolar, amparados na legislação vigente, deverão
de acordo com o contexto cultural de cada povo (Parecer contemplar a melhoria das condições de acesso e de per-
CNE/CEB nº 14/99 e Resolução CNE/CEB nº 3/99). manência dos alunos com deficiência, transtornos globais
§ 2º O detalhamento da Educação Escolar Quilombola do desenvolvimento e altas habilidades nas classes comuns
deverá ser definido pelo Conselho Nacional de Educação do ensino regular, intensificando o processo de inclusão
por meio de Diretrizes Curriculares Nacionais específicas. nas escolas públicas e privadas e buscando a universaliza-
ção do atendimento.
Art. 40 O atendimento escolar às populações do cam- Parágrafo único. Os recursos de acessibilidade são
po, povos indígenas e quilombolas requer respeito às suas aqueles que asseguram condições de acesso ao currícu-
peculiares condições de vida e a utilização de pedagogias lo dos alunos com deficiência e mobilidade reduzida, por
condizentes com as suas formas próprias de produzir co- meio da utilização de materiais didáticos, dos espaços, mo-
nhecimentos, observadas as Diretrizes Curriculares Nacio- biliários e equipamentos, dos sistemas de comunicação e
nais Gerais para a Educação Básica (Parecer CNE/CEB nº informação, dos transportes e outros serviços.
7/2010 e Resolução CNE/CEB nº 4/2010).
§ 1º As escolas das populações do campo, dos povos Art. 42 O atendimento educacional especializado aos
indígenas e dos quilombolas, ao contar com a participação alunos da Educação Especial será promovido e expandido
ativa das comunidades locais nas decisões referentes ao com o apoio dos órgãos competentes. Ele não substitui a
currículo, estarão ampliando as oportunidades de: escolarização, mas contribui para ampliar o acesso ao cur-
I – reconhecimento de seus modos próprios de vida, rículo, ao proporcionar independência aos educandos para
suas culturas, tradições e memórias coletivas, como fun- a realização de tarefas e favorecer a sua autonomia (con-
damentais para a constituição da identidade das crianças, forme Decreto nº 6.571/2008, Parecer CNE/CEB nº 13/2009
adolescentes e adultos; e Resolução CNE/CEB nº 4/2009).

115
LEGISLAÇÃO BÁSICA

Parágrafo único. O atendimento educacional especia- Art. 46 A oferta de cursos de Educação de Jovens e
lizado poderá ser oferecido no contraturno, em salas de Adultos, nos anos iniciais do Ensino Fundamental, será pre-
recursos multifuncionais na própria escola, em outra esco- sencial e a sua duração ficará a critério de cada sistema
la ou em centros especializados e será implementado por de ensino, nos termos do Parecer CNE/CEB nº 29/2006, tal
professores e profissionais com formação especializada, de como remete o Parecer CNE/CEB nº 6/2010 e a Resolução
acordo com plano de atendimento aos alunos que identi- CNE/CEB nº 3/2010. Nos anos finais, ou seja, do 6º ano ao
fique suas necessidades educacionais específicas, defina os 9º ano, os cursos poderão ser presenciais ou a distância,
recursos necessários e as atividades a serem desenvolvidas. devidamente credenciados, e terão 1.600 (mil e seiscentas)
horas de duração.
EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS Parágrafo único. Tendo em conta as situações, os per-
fis e as faixas etárias dos adolescentes, jovens e adultos,
Art. 43 Os sistemas de ensino assegurarão, gratuita- o projeto político-pedagógico da escola e o regimento
mente, aos jovens e adultos que não puderam efetuar os escolar viabilizarão um modelo pedagógico próprio para
estudos na idade própria, oportunidades educacionais essa modalidade de ensino que permita a apropriação e a
adequadas às suas características, interesses, condições de contextualização das Diretrizes Curriculares Nacionais, as-
vida e de trabalho mediante cursos e exames, conforme segurando:
estabelece o art. 37, § 1º, da Lei nº 9.394/96. I – a identificação e o reconhecimento das formas de
aprender dos adolescentes, jovens e adultos e a valoriza-
Art. 44 A Educação de Jovens e Adultos, voltada para ção de seus conhecimentos e experiências;
a garantia de formação integral, da alfabetização às dife- II – a distribuição dos componentes curriculares de
rentes etapas da escolarização ao longo da vida, inclusive modo a proporcionar um patamar igualitário de formação,
àqueles em situação de privação de liberdade, é pautada bem como a sua disposição adequada nos tempos e espa-
pela inclusão e pela qualidade social e requer: I – um pro- ços educativos, em face das necessidades específicas dos
cesso de gestão e financiamento que lhe assegure isono- estudantes.
mia em relação ao Ensino Fundamental regular;
II – um modelo pedagógico próprio que permita a Art. 47 A inserção de Educação de Jovens e Adultos no
apropriação e a contextualização das Diretrizes Curricula- Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica, incluin-
res Nacionais; do, além da avaliação do rendimento dos alunos, a aferição
III – a implantação de um sistema de monitoramento de indicadores institucionais das redes públicas e privadas,
e avaliação; concorrerá para a universalização e a melhoria da qualida-
IV – uma política de formação permanente de seus de do processo educativo.
professores;
V – maior alocação de recursos para que seja ministra- A IMPLEMENTAÇÃO DESTAS DIRETRIZES: COMPRO-
da por docentes licenciados. MISSO SOLIDÁRIO DOS SISTEMAS E REDES DE ENSINO

Art. 45 A idade mínima para o ingresso nos cursos de Art. 48 Tendo em vista a implementação destas Diretri-
Educação de Jovens e Adultos e para a realização de exa- zes, cabe aos sistemas e às redes de ensino prover:
mes de conclusão de EJA será de 15 (quinze) anos comple- I – os recursos necessários à ampliação dos tempos e
tos (Parecer CNE/CEB nº 6/2010 e Resolução CNE/CEB nº espaços dedicados ao trabalho educativo nas escolas e a
3/2010). distribuição de materiais didáticos e escolares adequados;
Parágrafo único. Considerada a prioridade de aten- II – a formação continuada dos professores e demais
dimento à escolarização obrigatória, para que haja oferta profissionais da escola em estreita articulação com as ins-
capaz de contemplar o pleno atendimento dos adolescen- tituições responsáveis pela formação inicial, dispensando
tes, jovens e adultos na faixa dos 15 (quinze) anos ou mais, especiais esforços quanto à formação dos docentes das
com defasagem idade/série, tanto na sequência do ensino modalidades específicas do Ensino Fundamental e àqueles
regular, quanto em Educação de Jovens e Adultos, assim que trabalham nas escolas do campo, indígenas e quilom-
como nos cursos destinados à formação profissional, tor- bolas;
na-se necessário: III – a coordenação do processo de implementação do
I – fazer a chamada ampliada dos estudantes em todas currículo, evitando a fragmentação dos projetos educativos
as modalidades do Ensino Fundamental; no interior de uma mesma realidade educacional;
II – apoiar as redes e os sistemas de ensino a estabe- IV – o acompanhamento e a avaliação dos programas
lecerem política própria para o atendimento desses estu- e ações educativas nas respectivas redes e escolas e o su-
dantes, que considere as suas potencialidades, necessida- primento das necessidades detectadas.
des, expectativas em relação à vida, às culturas juvenis e ao
mundo do trabalho, inclusive com programas de acelera- Art. 49 O Ministério da Educação, em articulação com
ção da aprendizagem, quando necessário; os Estados, os Municípios e o Distrito Federal, deverá en-
III – incentivar a oferta de Educação de Jovens e Adul- caminhar ao Conselho Nacional de Educação, precedida
tos nos períodos diurno e noturno, com avaliação em pro- de consulta pública nacional, proposta de expectativas de
cesso. aprendizagem dos conhecimentos escolares que devem

116
LEGISLAÇÃO BÁSICA

ser atingidas pelos alunos em diferentes estágios do Ensino e práticas educacionais reprodutoras da ordem social. A
Fundamental (art. 9º, § 3º, desta Resolução). partir do processo de democratização da escola, eviden-
Parágrafo único. Cabe, ainda, ao Ministério da Educa- cia-se o paradoxo inclusão/exclusão quando os sistemas
ção elaborar orientações e oferecer outros subsídios para a de ensino universalizam o acesso, mas continuam excluin-
implementação destas Diretrizes. do indivíduos e grupos considerados fora dos padrões ho-
mogeneizadores da escola. Assim, sob formas distintas, a
Art. 50 A presente Resolução entrará em vigor na data exclusão tem apresentado características comuns nos pro-
de sua publicação, revogando-se as disposições em con- cessos de segregação e integração, que pressupõem a se-
trário, especialmente a Resolução CNE/CEB nº 2, de 7 de leção, naturalizando o fracasso escolar.
abril de 1998. A partir da visão dos direitos humanos e do conceito
de cidadania fundamentado no reconhecimento das dife-
FRANCISCO APARECIDO CORDÃO renças e na participação dos sujeitos, decorre uma iden-
tificação dos mecanismos e processos de hierarquização
que operam na regulação e produção das desigualdades.
Essa problematização explicita os processos normativos de
5. POLÍTICA NACIONAL DE EDUCAÇÃO distinção dos estudantes em razão de características inte-
ESPECIAL NA PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO lectuais, físicas, culturais, sociais e linguísticas, entre outras,
INCLUSIVA. estruturantes do modelo tradicional de educação escolar.
A educação especial se organizou tradicionalmente
como atendimento educacional especializado substitutivo
ao ensino comum, evidenciando diferentes compreensões,
Política Nacional de Educação Especial na Perspec- terminologias e modalidades
tiva da Educação Inclusiva que levaram à criação de instituições especializadas,
escolas especiais e classes especiais. Essa organização,
I – Introdução fundamentada no conceito de normalidade/anormalida-
O movimento mundial pela educação inclusiva é uma de, determina formas de atendimento clínico-terapêuticos
ação política, cultural, social e pedagógica, desencadeada fortemente ancorados nos testes psicométricos que, por
em defesa do direito de todos os estudantes de estarem meio de diagnósticos, definem as práticas escolares para
juntos, aprendendo e participando, sem nenhum tipo de os estudantes com deficiência.
discriminação. A educação inclusiva constitui um paradig- No Brasil, o atendimento às pessoas com deficiência
ma educacional fundamentado na concepção de direitos teve início na época do Império, com a criação de duas
humanos, que conjuga igualdade e diferença como valores instituições: o Imperial Instituto dos Meninos Cegos, em
indissociáveis, e que avança em relação à ideia de equida- 1854, atual Instituto Benjamin Constant – IBC, e o Instituto
de formal ao contextualizar as circunstâncias históricas da dos Surdos Mudos, em 1857, hoje denominado Instituto
produção da exclusão dentro e fora da escola. Nacional da Educação dos Surdos – INES, ambos no Rio
Ao reconhecer que as dificuldades enfrentadas nos sis- de Janeiro. No início do século XX é fundado o Instituto
temas de ensino evidenciam a necessidade de confrontar Pestalozzi (1926), instituição especializada no atendimento
as práticas discriminatórias e criar alternativas para superá às pessoas com deficiência mental; em 1954, é fundada a
-las, a educação inclusiva assume espaço central no debate primeira Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais –
acerca da sociedade contemporânea e do papel da escola
APAE; e, em 1945, é criado o primeiro atendimento edu-
na superação da lógica da exclusão. A partir dos referen-
cacional especializado às pessoas com superdotação na
ciais para a construção de sistemas educacionais inclusivos,
Sociedade Pestalozzi, por Helena Antipoff.
a organização de escolas e classes especiais passa a ser
Em 1961, o atendimento educacional às pessoas com
repensada, implicando uma mudança estrutural e cultural
da escola para que todos os estudantes tenham suas espe- deficiência passa a ser fundamentado pelas disposições da
cificidades atendidas. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDBEN,
Nesta perspectiva, o Ministério da Educação/Secretaria Lei nº 4.024/61, que aponta o direito dos “excepcionais” à
de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e In- educação, preferencialmente dentro do sistema geral de
clusão apresenta a Política Nacional de Educação Especial ensino.
na Perspectiva da Educação Inclusiva, que acompanha os A Lei nº 5.692/71, que altera a LDBEN de 1961, ao defi-
avanços do conhecimento e das lutas sociais, visando cons- nir “tratamento especial” para os estudantescom “deficiên-
tituir políticas públicas promotoras de uma educação de cias físicas, mentais, os que se encontram em atraso con-
qualidade para todos os estudantes. siderável quanto à idade regular de matrícula e os super-
dotados”, não promove a organização de um sistema de
II – Marcos históricos e normativos ensino capaz de atender aos estudantes com deficiência,
A escola historicamente se caracterizou pela visão da transtornos globais do desenvolvimento e altas habilida-
educação que delimita a escolarização como privilégio de des/superdotação e acaba reforçando o encaminhamento
um grupo, uma exclusão que foi legitimada nas políticas dos estudantes para as classes e escolas especiais.

117
LEGISLAÇÃO BÁSICA

Em 1973, o MEC cria o Centro Nacional de Educação desfavorecidos ou marginalizados. (Brasil, 1997, p. 17 e 18).
Especial – CENESP, responsável pela gerência da educação Em 1994, é publicada a Política Nacional de Educação
especial no Brasil, que, sob a égide integracionista, impul- Especial, orientando o processo de “integração instrucio-
sionou ações educacionais voltadas às pessoas com defi- nal” que condiciona o acesso às classes comuns do ensino
ciência e às pessoas com superdotação, mas ainda confi- regular àqueles que “(...) possuem condições de acompa-
guradas por campanhas assistenciais e iniciativas isoladas nhar e desenvolver as atividades curriculares programadas
do Estado. do ensino comum, no mesmo ritmo que os estudantes
Nesse período, não se efetiva uma política pública de ditos normais” (p.19). Ao reafirmar os pressupostos cons-
acesso universal à educação, permanecendo a concepção truídos a partir de padrões homogêneos de participação e
de “políticas especiais” para tratar da educação de estu- aprendizagem, a Política de 1994 não provoca uma refor-
dantes com deficiência. No que se refere aos estudantes mulação das práticas educacionais de maneira que sejam
com superdotação, apesar do acesso ao ensino regular, valorizados os diferentes potenciais de aprendizagem no
não é organizado um atendimento especializado que con- ensino comum, mas mantém a responsabilidade da educa-
sidere as suas singularidades de aprendizagem. ção desses estudantes exclusivamente no âmbito da edu-
A Constituição Federal de 1988 traz como um dos seus cação especial.
objetivos fundamentais “promover o bem de todos, sem A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei nº
preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer 9.394/96, no artigo 59, preconiza que os sistemas de ensino
outras formas de discriminação” (art.3º, inciso IV). Define, devem assegurar aos estudantes currículo, métodos, recur-
no artigo 205, a educação como um direito de todos, ga- sos e organização específicos para atender às suas neces-
rantindo o pleno desenvolvimento da pessoa, o exercício sidades; assegura a terminalidade específica àqueles que
da cidadania e a qualificação para o trabalho. No seu arti- não atingiram o nível exigido para a conclusão do ensino
go 206, inciso I, estabelece a “igualdade de condições de fundamental, em virtude de suas deficiências; e assegura
acesso e permanência na escola” como um dos princípios a aceleração de estudos aos superdotados para conclusão
para o ensino e garante como dever do Estado, a oferta do do programa escolar. Também define, dentre as normas
atendimento educacional especializado, preferencialmente para a organização da educação básica, a “possibilidade
na rede regular de ensino (art. 208). de avanço nos cursos e nas séries mediante verificação do
O Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, Lei nº aprendizado” (art. 24, inciso V) e “[...] oportunidades edu-
8.069/90, no artigo 55, reforça os dispositivos legais supra- cacionais apropriadas, consideradas as características do
citados ao determinar que “os pais ou responsáveis têm alunado, seus interesses, condições de vida e de trabalho,
a obrigação de matricular seus filhos ou pupilos na rede mediante cursos e exames” (art. 37).
regular de ensino”. Também nessa década, documentos Em 1999, o Decreto nº 3.298, que regulamenta a Lei nº
como a Declaração Mundial de Educação para Todos (1990) 7.853/89, ao dispor sobre a Política Nacional para a Inte-
e a Declaração de Salamanca (1994) passam a influenciar a gração da Pessoa Portadora de Deficiência, define a edu-
formulação das políticas públicas da educação inclusiva. cação especial como uma modalidade transversal a todos
A Conferência Mundial de Educação para Todos, Jom- os níveis e modalidades de ensino, enfatizando a atuação
tien/1990, chama a atenção para os altos índices de crian- complementar da educação especial ao ensino regular.
ças, adolescentes e jovens sem escolarização, tendo como Acompanhando o processo de mudança, as Diretrizes
objetivo promover transformações nos sistemas de ensino Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica,
para assegurar o acesso e a permanência de todos na es- Resolução CNE/CEB nº 2/2001, no artigo 2º, determinam
cola. que:
Para o alcance das metas de educação para todos, a “Os sistemas de ensino devem matricular todos os es-
Conferência Mundial de Necessidades Educativas Espe- tudantes, cabendo às escolas organizarem-se para o aten-
ciais: Acesso e Qualidade, realizada pela UNESCO em 1994, dimento aos educandos com necessidades educacionais
propõe aprofundar a discussão, problematizando as causas especiais, assegurando as condições necessárias para uma
da exclusão escolar. A partir desta reflexão acerca das prá- educação de qualidade para todos. (MEC/SEESP, 2001).”
ticas educacionais que resultam na desigualdade social de As Diretrizes ampliam o caráter da educação especial
diversos grupos, o documento Declaração de Salamanca para realizar o atendimento educacional especializado
e Linha de Ação sobre Necessidades Educativas Especiais complementar ou suplementar à escolarização, porém, ao
proclama que as escolas comuns representam o meio mais admitir a possibilidade de substituir o ensino regular, não
eficaz para combater as atitudes discriminatórias, ressal- potencializam a adoção de uma política de educação inclu-
tando que: siva na rede pública de ensino, prevista no seu artigo 2º.
O princípio fundamental desta Linha de Ação é de O Plano Nacional de Educação – PNE, Lei nº
que as escolas devem acolher todas as crianças, indepen- 10.172/2001, destaca que “o grande avanço que a década
dentemente de suas condições físicas, intelectuais, sociais, da educação deveria produzir seria a construção de uma
emocionais, linguísticas ou outras. Devem acolher crian- escola inclusiva que garanta o atendimento à diversidade
ças com deficiência e crianças bem dotadas; crianças que humana”. Ao estabelecer objetivos e metas para que os sis-
vivem nas ruas e que trabalham; crianças de populações temas de ensino favoreçam o atendimento aos estudantes
distantes ou nômades; crianças de minorias linguísticas, com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e
étnicos ou culturais e crianças de outros grupos e zonas altas habilidades/superdotação, aponta um déficit referen-

118
LEGISLAÇÃO BÁSICA

te à oferta de matrículas para estudantes com deficiência o objetivo de promover a acessibilidade urbana e apoiar
nas classes comuns do ensino regular, à formação docente, ações que garantam o acesso universal aos espaços pú-
à acessibilidade física e ao atendimento educacional espe- blicos.
cializado. O Decreto nº 5.626/05, que regulamenta a Lei nº
A Convenção da Guatemala (1999), promulgada no 10.436/2002, visando o acesso à escola aos estudantes sur-
Brasil pelo Decreto nº 3.956/2001, afirma que as pessoas dos, dispõe sobre a inclusão da Libras como disciplina cur-
com deficiência têm os mesmos direitos humanos e li- ricular, a formação e a certificação de professor de Libras,
berdades fundamentais que as demais pessoas, definindo instrutor e tradutor/intérprete de Libras, o ensino da Língua
como discriminação com base na deficiência toda diferen- Portuguesa como segunda língua para estudantes surdos
ciação ou exclusão que possa impedir ou anular o exercício e a organização da educação bilíngue no ensino regular.
dos direitos humanos e de suas liberdades fundamentais. Em 2005, com a implantação dos Núcleos de Atividades
Este Decreto tem importante repercussão na educação, de Altas Habilidades/Superdotação –NAAH/S em todos os
exigindo uma reinterpretação da educação especial, com- estados e no Distrito Federal, são organizados centros de
preendida no contexto da diferenciação, adotado para pro- referência na área das altas habilidades/superdotação para
mover a eliminação das barreiras que impedem o acesso à o atendimento educacional especializado, para a orienta-
escolarização. ção às famílias e a formação continuada dos professores,
Na perspectiva da educação inclusiva, a Resolução constituindo a organização da política de educação inclusi-
CNE/CP nº 1/2002, que estabelece as Diretrizes Curricula-
va de forma a garantir esse atendimento aos estudantes da
res Nacionais para a Formação de Professores da Educação
rede pública de ensino.
Básica, define que as instituições de ensino superior devem
Neste mesmo ano, a Secretaria Especial dos Direitos
prever, em sua organização curricular, formação docente
Humanos, os Ministérios da Educação e da Justiça, junta-
voltada para a atenção à diversidade e que contemple co-
mente com a Organização das Nações Unidas para a Edu-
nhecimentos sobre as especificidades dos estudantes com
cação, a Ciência e a Cultura – UNESCO, lançam o Plano
deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas
Nacional de Educação em Direitos Humanos, que objetiva,
habilidades/superdotação.
dentre as suas ações, contemplar, no currículo da educa-
A Lei nº 10.436/02 reconhece a Língua Brasileira de Si-
ção básica, temáticas relativas às pessoas com deficiência
nais – Libras como meio legal de comunicação e expressão,
e desenvolver ações afirmativas que possibilitem acesso e
determinando que sejam garantidas formas institucionali-
permanência na educação superior.
zadas de apoiar seu uso e difusão, bem como a inclusão da
Em 2007, é lançado o Plano de Desenvolvimento da
disciplina de Libras como parte integrante do currículo nos
Educação – PDE, reafirmado pela Agenda Social, tendo
cursos de formação de professores e de fonoaudiologia.
A Portaria nº 2.678/02 do MEC aprova diretrizes e nor- como eixos a formação de professores para a educação es-
mas para o uso, o ensino, a produção e a difusão do siste- pecial, a implantação de salas de recursos multifuncionais,
ma Braille em todas as modalidades de ensino, compreen- a acessibilidade arquitetônica dos prédios escolares, aces-
dendo o projeto da Grafia Braille para a Língua Portuguesa so e a permanência das pessoas com deficiência na edu-
e a recomendação para o seu uso em todo o território na- cação superior e o monitoramento do acesso à escola dos
cional. favorecidos pelo Beneficio de Prestação Continuada – BPC.
Em 2003, é implementado pelo MEC o Programa Edu- No documento do MEC, Plano de Desenvolvimento da
cação Inclusiva: direito à diversidade, com vistas a apoiar a Educação: razões, princípios e programas é
transformação dos sistemas de ensino em sistemas educa- reafirmada a visão que busca superar a oposição entre
cionais inclusivos, promovendo um amplo processo de for- educação regular e educação especial.
mação de gestores e educadores nos municípios brasileiros Contrariando a concepção sistêmica da transversalidade
para a garantia do direito de acesso de todos à escolariza- da educação especial nos diferentes níveis, etapas e moda-
ção, à oferta do atendimento educacional especializado e à lidades de ensino, a educação não se estruturou na pers-
garantia da acessibilidade. pectiva da inclusão e do atendimento às necessidades edu-
Em 2004, o Ministério Público Federal publica o docu- cacionais especiais, limitando, o cumprimento do princípio
mento O Acesso de Estudantes com Deficiência às Escolas e constitucional que prevê a igualdade de condições para o
Classes Comuns da Rede Regular, com o objetivo de disse- acesso e permanência na escola e a continuidade nos níveis
minar os mais elevados de ensino (2007, p. 09).
conceitos e diretrizes mundiais para a inclusão, reafir- Para a implementação do PDE é publicado o Decreto
mando o direito e os benefícios da escolarização de estu- nº 6.094/2007, que estabelece nas diretrizes do Compro-
dantes com e sem deficiência nas turmas comuns do ensi- misso Todos pela Educação, a garantia do acesso e perma-
no regular. nência no ensino regular e o atendimento aos estudantes
Impulsionando a inclusão educacional e social, o De- com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e
creto nº 5.296/04 regulamentou as Leis nº 10.048/00 e nº altas habilidades/superdotação, fortalecendo seu ingresso
10.098/00, estabelecendo normas e critérios para a promo- nas escolas públicas.
ção da acessibilidade às pessoas com deficiência ou com A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Defi-
mobilidade reduzida. Nesse contexto, o Programa Brasil ciência, aprovada pela ONU em 2006 e ratificada com força
Acessível, do Ministério das Cidades, é desenvolvido com de Emenda Constitucional por meio do Decreto Legislativo

119
LEGISLAÇÃO BÁSICA

n°186/2008 e do Decreto Executivo n°6949/2009, estabe- A fim de promover políticas públicas de inclusão social
lece que os Estados-Partes devem assegurar um sistema das pessoas com deficiência, dentre as quais, aquelas que
de educação inclusiva em todos os níveis de ensino, em efetivam um sistema educacional inclusivo, nos termos da
ambientes que maximizem o desenvolvimento acadêmico Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência,
e social compatível com a meta da plena participação e instituiu-se, por meio do Decreto n°7612/2011, o Plano Na-
inclusão, adotando medidas para garantir que: cional dos Direitos da Pessoa com Deficiência – Viver sem
a) As pessoas com deficiência não sejam excluídas do Limite.
sistema educacional geral sob alegação de A Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa
deficiência e que as crianças com deficiência não sejam com Transtorno do espectro Autista é criada pela Lei nº
excluídas do ensino fundamental gratuito e compulsório, 12.764/2012. Além de consolidar um conjunto de direitos,
sob alegação de deficiência; esta lei em seu artigo 7º, veda a recusa de matrícula à pes-
b) As pessoas com deficiência possam ter acesso ao soas com qualquer tipo de deficiência e estabelece punição
ensino fundamental inclusivo, de qualidade e gratuito, em para o gestor escolar ou autoridade competente que prati-
igualdade de condições com as demais pessoas na comu- que esse ato discriminatório.
nidade em que vivem (Art.24). Ancorada nas deliberações da Conferência Nacional
de Educação – CONAE/ 2010, a Lei nº 13.005/2014, que
O Decreto n° 6571/2008, incorporado pelo Decreto n° institui o Plano Nacional de Educação – PNE, no inciso III,
7611/2011, institui a política pública de financiamento no parágrafo 1º, do artigo 8º, determina que os Estados, o Dis-
âmbito do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da trito Federal e os Municípios garantam o atendimento as
Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Edu- necessidades específicas na educação especial, assegurado
cação - FUNDEB, estabelecendo o duplo cômputo das ma- o sistema educacional inclusivo em todos os níveis, etapas
triculas dos estudantes com deficiência, transtornos glo- e modalidades. Com base neste pressuposto, a meta 4 e
bais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação. respectivas estratégias objetivam universalizar, para as pes-
Visando ao desenvolvimento inclusivo dos sistemas públi- soas com deficiência, transtornos globais do desenvolvi-
cos de ensino, este Decreto também define o atendimento mento e altas habilidades/superdotação, na faixa etária de
educacional especializado complementar ou suplementar 04 a 17 anos, o acesso à educação básica e ao atendimento
educacional especializado. O AEE é ofertado preferencial-
à escolarização e os demais serviços da educação especial,
mente na rede regular de ensino, podendo ser realizado
além de outras medidas de apoio à inclusão escolar.
por meio de convênios com instituições especializadas,
Com a finalidade de orientar a organização dos sis-
sem prejuízo do sistema educacional inclusivo.
temas educacionais inclusivos, o Conselho Nacional de
III – Diagnóstico da Educação Especial
Educação – CNE publica a Resolução CNE/CEB, 04/2009,
O Censo Escolar/MEC/INEP, realizado anualmente em
que institui as Diretrizes Operacionais para o Atendimento
todas as escolas de educação básica, possibilita o acompa-
Educacional Especializado – AEE na Educação Básica. Este
nhamento dos indicadores da educação especial: acesso à
documento determina o público alvo da educação espe-
educação básica, matrícula na rede pública, ingresso nas
cial, define o caráter complementar ou suplementar do
classes comuns, oferta do atendimento educacional espe-
AEE, prevendo sua institucionalização no projeto político cializado, acessibilidade nos prédios escolares, municípios
pedagógico da escola. com matrícula de estudantes com deficiência, transtornos
globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdo-
O caráter não substitutivo e transversal da educação tação, escolas com acesso ao ensino regular e formação
especial é ratificado pela Resolução CNE/CEB n°04/2010, docente para o atendimento às necessidades educacionais
que institui Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação específicas dos estudantes.
Básica e preconiza em seu artigo 29, que os sistemas de Para compor esses indicadores no âmbito da educação
ensino devem matricular os estudantes com deficiência, especial, o Censo Escolar/MEC/INEP coleta dados referen-
transtornos globais do desenvolvimento e altas habilida- tes ao número geral de matrículas; à oferta da matrícula
des/superdotação nas classes comuns do ensino regular e nas escolas públicas, escolas privadas e comunitárias sem
no Atendimento Educacional Especializado - AEE, comple- fins lucrativos; às matrículas em classes especiais, escola
mentar ou suplementar à escolarização, ofertado em salas especial e classes comuns de ensino regular; ao número
de recursos multifuncionais ou em centros de AEE da rede de estudantes do ensino regular com atendimento edu-
pública ou de instituições comunitárias, confessionais ou cacional especializado; às matrículas, conforme tipos de
filantrópicas sem fins lucrativos. deficiência, transtornos do desenvolvimento e altas habi-
lidades/superdotação; à infra-estrutura das escolas quanto
O Decreto n°7084/2010, ao dispor sobre os programas à acessibilidade arquitetônica, à sala de recursos ou aos
nacionais de materiais didáticos, estabelece no artigo 28, equipamentos específicos; e à formação dos professores
que o Ministério da Educação adotará mecanismos para que atuam no atendimento educacional especializado.
promoção da acessibilidade nos programas de material di- A partir de 2004, são efetivadas mudanças no instru-
dático destinado aos estudantes da educação especial e mento de pesquisa do Censo, que passa a registrar a série
professores das escolas de educação básica públicas. ou ciclo escolar dos estudantes identificados na área da

120
LEGISLAÇÃO BÁSICA

educação especial, possibilitando monitorar o percurso escolar. Em 2007, o formulário impresso do Censo Escolar foi
transformado em um sistema de informações on-line, o Censo Web, que qualifica o processo de coleta e tratamento das
informações, permite atualização dos dados dentro do mesmo ano escolar, bem como possibilita o cruzamento com outros
bancos de dados, tais como os das áreas de saúde, assistência e previdência social. Também são realizadas alterações que
ampliam o universo da pesquisa, agregando informações individualizadas dos estudantes, das turmas, dos professores e
da escola.

Com relação aos dados da educação especial, o Censo Escolar registra uma evolução nas matrículas, de 337.326 em
1998 para 843.342 em 2013, expressando um crescimento de 150%. No que se refere ao ingresso em classes comuns do
ensino regular, verifica-se um crescimento de 1.377%, passando de 43.923 estudantes em 1998 para 648.921 em 2013,
conforme demonstra o gráfico a seguir:

Quanto à distribuição dessas matrículas nas esferas pública e privada, em 1998 registra-se 179.364 (53,2%) estudantes
na rede pública e 157.962 (46,8%) nas escolas privadas, principalmente em instituições especializadas filantrópicas. Com
o desenvolvimento das ações e políticas de educação inclusiva nesse período, evidencia-se um crescimento de 270% das
matrículas nas escolas públicas, que alcançam 664.466 (79%) estudantes em 2013, conforme demonstra o gráfico:

121
LEGISLAÇÃO BÁSICA

Com relação à distribuição das matrículas por etapa de ensino em 2013: 59.959 (7%) estão na educação infantil, 614.390
(73%) no ensino fundamental, 48.589 (6%) no ensino médio, 118.047 (13%) na educação de jovens e adultos, e 2.357 (1%)
na educação profissional e tecnológica.
O Censo da Educação Superior registra que, entre 2003 e 2012, o número de estudantes passou de 5.078 para 26.663
estudantes, representando um crescimento de 425%.
A evolução das ações referentes à educação especial nos últimos anos é expressa no crescimento de 81% no número
de municípios com matrículas de estudantes público alvo da educação especial. Em 1998, registram-se 2.738 municípios
(50%), chegando a 2013, com 5.553 municípios (99%).
Verifica-se, ainda, o aumento do número de escolas com matrícula, que em 1998 registra 6.557 escolas com matrícula
de estudantes público alvo da educação especial e, em 2013 passa a registrar 104.000, representando um crescimento de
1.486%. Dentre as escolas com matrícula de estudante público alvo da educação especial, em 2013, 4.071 são escolas es-
peciais e 99.929 são escolas de ensino regular com matrículas nas turmas comuns.
O indicador de acessibilidade arquitetônica em prédios escolares, em 1998, aponta que 14% dos 6.557 estabelecimen-
tos de ensino com matrícula de estudantes com deficiência e altas habilidades/superdotação apresentam acessibilidade ar-
quitetônica. Em 2013, das 104.000 escolas com matrículas de estudantes público alvo da educação especial, 24% possuem
acessibilidade arquitetônica.
Com relação à formação dos professores que atuam na educação especial, o Censo Escolar de 2013 registra 93.371
professores com curso específico nessa área de conhecimento.

IV – Objetivo da Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva


A Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva tem como objetivo o acesso, a participa-
ção e a aprendizagem dos estudantes com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/super-
dotação nas escolas regulares, orientando os sistemas de ensino para promover respostas às necessidades educacionais,
garantindo:
• Transversalidade da educação especial desde a educação infantil até a educação superior;
• Atendimento educacional especializado;
• Continuidade da escolarização nos níveis mais elevados do ensino;
• Formação de professores para o atendimento educacional especializado e demais profissionais da educação para
a inclusão escolar;

122
LEGISLAÇÃO BÁSICA

• Participação da família e da comunidade; Os estudos mais recentes no campo da educação es-


• Acessibilidade urbanística, arquitetônica, nos mo- pecial enfatizam que as definições e uso de classificações
biliários e equipamentos, nos transportes, na comunicação devem ser contextualizados, não se esgotando na mera
e informação; e especificação ou categorização atribuída a um quadro de
• Articulação intersetorial na implementação das deficiência, transtorno, distúrbio, síndrome ou aptidão.
políticas públicas. Considera-se que as pessoas se modificam continua-
mente, transformando o contexto no qual se inserem. Esse
V – Estudantes atendidos pela Educação Especial dinamismo exige uma atuação pedagógica voltada para al-
Por muito tempo perdurou o entendimento de que a terar a situação de exclusão, reforçando a importância dos
educação especial, organizada de forma paralela à educa- ambientes heterogêneos para a promoção da aprendiza-
ção comum, seria a forma mais apropriada para o aten- gem de todos os estudantes.
dimento de estudantes que apresentavam deficiência ou A partir dessa conceituação, considera-se pessoa com
que não se adequassem à estrutura rígida dos sistemas de deficiência aquela que tem impedimentos de longo prazo,
ensino. de natureza física, mental ou sensorial que, em interação
Essa concepção exerceu impacto duradouro na história com diversas barreiras, podem ter restringida sua partici-
da educação especial, resultando em práticas que enfati- pação plena e efetiva na escola e na sociedade. Os estu-
zavam os aspectos relacionados à deficiência, em contra- dantes com transtornos globais do desenvolvimento são
posição à sua dimensão pedagógica. O desenvolvimento aqueles que apresentam alterações qualitativas das intera-
de estudos no campo da educação e dos direitos huma- ções sociais recíprocas e na comunicação, um repertório de
nos vêm modificando os conceitos, a legislação, as práticas interesses e atividades restrito, estereotipado e repetitivo.
educacionais e de gestão, indicando a necessidade de se Incluem-se nesse grupo estudantes com autismo, síndro-
promover uma reestruturação das escolas de ensino regu- mes do espectro do autismo e psicose infantil. Estudantes
lar e da educação especial. com altas habilidades/superdotação demonstram poten-
cial elevado em qualquer uma das seguintes áreas, isoladas
ou combinadas: intelectual, acadêmica, liderança, psicomo-
Em 1994, a Declaração de Salamanca proclama que as
tricidade e artes, além de apresentar grande criatividade,
escolas regulares com orientação inclusiva constituem os
envolvimento na aprendizagem e realização de tarefas em
meios mais eficazes de combater atitudes discriminatórias
áreas de seu interesse.
e que estudantes com deficiência e altas habilidades/su-
perdotação devem ter acesso à escola regular, tendo como
VI – Diretrizes da Política Nacional de Educação Espe-
princípio orientador que “as escolas deveriam acomodar
cial na Perspectiva da Educação Inclusiva
todas as crianças independentemente de suas condições
A educação especial é uma modalidade de ensino que
físicas, intelectuais, sociais, emocionais, linguísticas ou ou-
perpassa todos os níveis, etapas e modalidades, realiza o
tras” (BRASIL, 2006, p.330).
atendimento educacional especializado, disponibiliza os
O conceito de necessidades educacionais especiais, recursos e serviços e orienta quanto a sua utilização no
que passa a ser amplamente disseminado a partir dessa processo de ensino e aprendizagem nas turmas comuns
Declaração, ressalta a interação das características indivi- do ensino regular.
duais dos estudantes com o ambiente educacional e social. O atendimento educacional especializado tem como
No entanto, mesmo com uma perspectiva conceitual que função identificar, elaborar e organizar recursos pedagó-
aponte para a organização de sistemas educacionais inclu- gicos e de acessibilidade que eliminem as barreiras para
sivos, que garanta o acesso de todos os estudantes e os a plena participação dos estudantes, considerando suas
apoios necessários para sua participação e aprendizagem, necessidades específicas. As atividades desenvolvidas no
as políticas implementadas pelos sistemas de ensino não atendimento educacional especializado diferenciam-se da-
alcançaram esse objetivo. quelas realizadas na sala de aula comum, não sendo subs-
Na perspectiva da educação inclusiva, a educação es- titutivas à escolarização. Esse atendimento complementa
pecial passa a integrar a proposta pedagógica da escola e/ou suplementa a formação dos estudantes com vistas à
regular, promovendo o atendimento aos estudantes com autonomia e independência na escola e fora dela.
deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas Dentre as atividades de atendimento educacional es-
habilidades/superdotação. Nestes casos e em outros, como pecializado são disponibilizados programas de enriqueci-
os transtornos funcionais específicos, a educação especial mento curricular, o ensino de linguagens e códigos espe-
atua de forma articulada com o ensino comum, orientando cíficos de comunicação e sinalização e tecnologia assistiva.
para o atendimento desses estudantes. Ao longo de todo o processo de escolarização esse aten-
A educação especial direciona suas ações para o aten- dimento deve estar articulado com a proposta pedagógi-
dimento às especificidades desses estudantes no processo ca do ensino comum. O atendimento educacional espe-
educacional e, no âmbito de uma atuação mais ampla na cializado é acompanhado por meio de instrumentos que
escola, orienta a organização de redes de apoio, a forma- possibilitem monitoramento e avaliação da oferta realizada
ção continuada, a identificação de recursos, serviços e o nas escolas da rede pública e nos centros de atendimento
desenvolvimento de práticas colaborativas. educacional especializados públicos ou conveniados.

123
LEGISLAÇÃO BÁSICA

O acesso à educação tem início na educação infantil, da adequação e produção de materiais didáticos e peda-
na qual se desenvolvem as bases necessárias para a cons- gógicos, da utilização de recursos ópticos e não ópticos, da
trução do conhecimento e desenvolvimento global do alu- tecnologia assistiva e outros.
no. Nessa etapa, o lúdico, o acesso às formas diferencia- A avaliação pedagógica como processo dinâmico
das de comunicação, a riqueza de estímulos nos aspectos considera tanto o conhecimento prévio e o nível atual de
físicos, emocionais, cognitivos, psicomotores e sociais e a desenvolvimento do aluno quanto às possibilidades de
convivência com as diferenças favorecem as relações inter- aprendizagem futura, configurando
pessoais, o respeito e a valorização da criança. uma ação pedagógica processual e formativa que
Do nascimento aos três anos, o atendimento educa- analisa o desempenho do aluno em relação ao seu pro-
cional especializado se expressa por meio de serviços de gresso individual, prevalecendo na avaliação os aspectos
estimulação precoce, que objetivam otimizar o processo qualitativos que indiquem as intervenções pedagógicas do
de desenvolvimento e aprendizagem em interface com os professor. No processo de avaliação, o professor deve criar
serviços de saúde e assistência social. Em todas as etapas e estratégias considerando que alguns estudantes podem
demandar ampliação do tempo para a realização dos tra-
modalidades da educação básica, o atendimento educacio-
balhos e o uso da língua de sinais, de textos em Braille, de
nal especializado é organizado para apoiar o desenvolvi-
informática ou de tecnologia assistiva como uma prática
mento dos estudantes, constituindo oferta obrigatória dos
cotidiana.
sistemas de ensino. Deve ser realizado no turno inverso ao Cabe aos sistemas de ensino, ao organizar a educação
da classe comum, na própria escola ou centro especializa- especial na perspectiva da educação inclusiva, disponibi-
do que realize esse serviço educacional. lizar as funções de instrutor, tradutor/intérprete de Libras
Desse modo, na modalidade de educação de jovens e guia-intérprete, bem como de monitor ou cuidador dos
e adultos e educação profissional, as ações da educação estudantes com necessidade de apoio nas atividades de
especial possibilitam a ampliação de oportunidades de es- higiene, alimentação, locomoção, entre outras, que exijam
colarização, formação para ingresso no mundo do trabalho auxílio constante no cotidiano escolar.
e efetiva participação social. Para atuar na educação especial, o professor deve ter
A interface da educação especial na educação indí- como base da sua formação, inicial e continuada, conhe-
gena, do campo e quilombola deve assegurar que os re- cimentos gerais para o exercício da docência e conheci-
cursos, serviços e atendimento educacional especializado mentos específicos da área. Essa formação possibilita a sua
estejam presentes nos projetos pedagógicos construídos atuação no atendimento educacional especializado, apro-
com base nas diferenças socioculturais desses grupos. funda o caráter interativo e interdisciplinar da atuação nas
Na educação superior, a educação especial se efetiva salas comuns do ensino regular, nas salas de recursos, nos
por meio de ações que promovam o acesso, a permanência centros de atendimento educacional especializado, nos nú-
e a participação dos estudantes. Estas ações envolvem o cleos de acessibilidade das instituições de educação supe-
planejamento e a organização de recursos e serviços para rior, nas classes hospitalares e nos ambientes domiciliares,
a promoção da acessibilidade arquitetônica, nas comunica- para a oferta dos serviços e recursos de educação especial.
ções, nos sistemas de informação, nos materiais didáticos e Para assegurar a intersetorialidade na implementação
pedagógicos, que devem ser disponibilizados nos proces- das políticas públicas a formação deve contemplar conhe-
sos seletivos e no desenvolvimento de todas as atividades cimentos de gestão de sistema educacional inclusivo, ten-
que envolvam o ensino, a pesquisa e a extensão. do em vista o desenvolvimento de projetos em parceria
Para o ingresso dos estudantes surdos nas escolas co- com outras áreas, visando à acessibilidade arquitetônica,
muns, a educação bilíngue – Língua Portuguesa/Libras de- aos atendimentos de saúde, à promoção de ações de assis-
tência social, trabalho e justiça.
senvolve o ensino escolar na Língua Portuguesa e na língua
Os sistemas de ensino devem organizar as condições
de sinais, o ensino da Língua Portuguesa como segunda
de acesso aos espaços, aos recursos pedagógicos e à co-
língua na modalidade escrita para estudantes surdos, os
municação que favoreçam a promoção da aprendizagem e
serviços de tradutor/intérprete de Libras e Língua Portu- a valorização das diferenças, de forma a atender as necessi-
guesa e o ensino da Libras para os demais estudantes da dades educacionais de todos os estudantes. A acessibilida-
escola. O atendimento educacional especializado para es- de deve ser assegurada mediante a eliminação de barreiras
ses estudantes é ofertado tanto na modalidade oral e escri- arquitetônicas, urbanísticas, na edificação – incluindo ins-
ta quanto na língua de sinais. Devido à diferença linguísti- talações, equipamentos e mobiliários – e nos transportes
ca, orienta-se que o aluno surdo esteja com outros surdos escolares, bem como as barreiras nas comunicações e in-
em turmas comuns na escola regular. formações.
O atendimento educacional especializado é realizado
mediante a atuação de profissionais com conhecimentos VII – Referências
específicos no ensino da Língua Brasileira de Sinais, da Lín- BRASIL. Ministério da Educação. Lei de Diretrizes e Ba-
gua Portuguesa na modalidade escrita como segunda lín- ses da Educação Nacional. LDB 4.024, de 20 de dezembro
gua, do sistema Braille, do Soroban, da orientação e mobi- de 1961.
lidade, das atividades de vida autônoma, da comunicação BRASIL. Ministério da Educação. Lei de Diretrizes e Ba-
alternativa, do desenvolvimento dos processos mentais ses da Educação Nacional. LDB 5.692, de 11 de agosto de
superiores, dos programas de enriquecimento curricular, 1971.

124
LEGISLAÇÃO BÁSICA

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. BRASIL. INEP. Censo Escolar, 2006. Disponível em:
Brasília: Imprensa Oficial, 1988. <http:// http://www.inep.gov. br/basica/censo/default.asp
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educa- >. Acesso em: 20 de jan. 2007.
ção Especial. Lei Nº. 7.853, de 24 de outubro de 1989. BRASIL. Ministério da Educação. Plano de Desenvolvi-
BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente no Brasil. mento da Educação: razões, princípios e programas. Brasí-
Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. lia: MEC, 2007.
BRASIL. Declaração Mundial sobre Educação para To- ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Convenção so-
dos: plano de ação para satisfazer as necessidades básicas bre os Direitos das Pessoas com Deficiência, 2006.
de aprendizagem.
UNESCO, Jomtiem/Tailândia, 1990.
BRASIL. Declaração de Salamanca e linha de ação sobre
necessidades educativas especiais. Brasília: UNESCO, 1994. 6. PLANO ESTADUAL DE EDUCAÇÃO
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educa- LEI 10111 DE 06 DE JUNHO DE 2014, LEI
ção Especial. Política Nacional de Educação Especial. Brasí- ORGÂNICA DOS PROFISSIONAIS DO ENSINO
lia: MEC/SEESP, 1994. BÁSICO (LOPEB);
BRASIL. Ministério da Educação. Lei de Diretrizes e Ba-
ses da Educação Nacional. LDB 9.394, de 20 de dezembro
de 1996.
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educa- LEI Nº 10.111, DE 06 DE JUNHO DE 2014 - D.O.
ção Especial. Decreto nº 3.298, de 20 de dezembro de 1999. 06.06.14.
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educa-
ção Especial. Diretrizes Nacionais para a Educação Especial Dispõe sobre a revisão e alteração do Plano Esta-
na Educação Básica. Brasília: MEC/SEESP, 2001. dual de Educação, instituído pela Lei nº 8.806, de 10 de
BRASIL. Ministério da Educação. Lei nº 10.172, de 09 de janeiro de 2008.
janeiro de 2001. Aprova o Plano Nacional de Educação e dá
outras providências.
BRASIL. Decreto Nº 3.956, de 8 de outubro de 2001. A ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE MATO
Promulga a Convenção Interamericana para a Eliminação
GROSSO, tendo em vista o que dispõe o Art. 42 da Consti-
de Todas as Formas de Discriminação contra as Pessoas
tuição Estadual, aprova e o Governador do Estado sanciona
Portadoras de Deficiência. Guatemala: 2001.
a seguinte lei:
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educa-
ção Especial. Lei Nº. 10.436, de 24 de abril de 2002. Dispõe
Art. 1º Fica alterado o Anexo I da Lei nº 8.806, de 10 de
sobre a Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS e dá outras
janeiro de 2008, que institui o Plano Estadual de Educação,
providências.
de acordo com o diagnóstico elaborado pela Conferência
BRASIL. Ministério da Educação. Portaria Nº 2.678, de
de Avaliação do Plano Estadual de Educação – 2011, cujas
24 de setembro de 2002. Disponível em: ftp://ftp.fnde.gov.
metas passam a vigorar nos termos do Anexo Único desta
br/web/resoluçoes_2002/por2678_24092002.doc
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educa- lei.
ção Especial. Decreto Nº 5.296 de 02 de dezembro de 2004. Art. 2º Esta lei entra em vigor a partir da data de sua
BRASIL.Ministério Público Federal. O acesso de estu- publicação.
dantes com deficiência às escolas e classes comuns da rede
regular de ensino. Fundação Procurador Pedro Jorge de Palácio Paiaguás, em Cuiabá, 06 de junho de 2014.
Melo e Silva( Orgs). 2ª ed. ver. e atualiz. Brasília: Procurado-
ria Federal dos Direitos do Cidadão, 2004. as) SILVAL DA CUNHA BARBOSA
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Edu- Governador do Estado
cação Especial. Decreto Nº 5.626, de 22 de dezembro de
2005. Regulamenta a Lei Nº 10.436, de 24 de abril de 2002. ANEXO ÚNICO
BRASIL. Comitê Nacional de Educação em Direitos Hu- META 1 - Promover, continuamente, o Sistema Único
manos. Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos. de Ensino.
Brasília: Secretaria Especial dos Direitos Humanos, Ministé- Indicador – número de municípios que cumprem o
rio da Educação, Ministério da Justiça, UNESCO, 2006. Art. 11 da Lei Complementar nº 49/98 em relação ao nú-
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educa- mero total de municípios.
ção Especial. Direito à educação: subsídios para a gestão Estratégias:
dos sistemas educacionais – orientações gerais e marcos
legais. Brasília: MEC/SEESP, 2006. 1. Estabelecer, por intermédio de instrumentos legais,
BRASIL. IBGE. Censo Demográfico, 2000 Disponível em: cooperação entre o Estado e a totalidade dos municípios,
<http://www.ibge.gov.br/ home/estatistica/populacao/ explicitando claramente os objetivos e as responsabilida-
censo2000/default.shtm>. Acesso em: 20 de jan. 2007. des comuns no atendimento da escolarização básica, na

125
LEGISLAÇÃO BÁSICA

sua universalização, na qualidade do ensino e na gestão 9. Apoiar técnica e financeiramente a gestão escolar
democrática, objetivando a implantação do Sistema Único mediante transferência direta de recursos financeiros à
de Educação. escola, garantindo a participação da comunidade escolar
no planejamento e na aplicação dos recursos, visando à
META 2 - Aferir a qualidade da educação em 100% ampliação da
(cem por cento) das unidades de ensino do sistema es- transparência e ao efetivo desenvolvimento da gestão
tadual de educação até 2015. democrática.

Indicador - número de escolas com qualidade aferida 10. Apoiar tecnicamente ações de incentivo à divulga-
por número total de escolas do sistema estadual (pública e ção da cultura mato-grossense.
privada). Estratégias: 11. Garantir políticas de combate à violência na es-
cola e a construção da cultura de paz e ambiente escolar
1. Assegurar que todas as escolas de educação bá- dotado de
sica em todas as modalidades tenham desencadeado o segurança para a comunidade escolar.
processo para a elaboração do seu projeto político-pe-
dagógico, com observância das Diretrizes Curriculares e/ 12. Implantar e implementar rede de comunicação
ou políticas estadual e municipal, com efetiva participação contínua e eficiente entre unidades escolares, estadual,
da comunidade. municipal e unidades administrativas centrais e descentra-
lizadas públicas.
Indicador - número de escolas com seu PPP implanta-
do em relação à totalidade de escolas. 13. Assegurar o desenvolvimento de projetos curricu-
lares articulados com a base nacional comum, relacionados
2. Garantir instrumentos legais que assegurem eleição à Educação
direta de gestores pela comunidade, em todas as unida- Ambiental, à Educação das Relações Étnico-Raciais e
des escolares públicas de Mato Grosso, para os cargos de dos direitos humanos, gêneros, sexualidade e música.
Diretor, Coordenador e Assessor Pedagógico, a cada 02
(dois) anos com direito a uma reeleição. 14. Garantir meios e espaços permanentes de divulga-
ção, discussão e compartilhamento de vivências e experiên-
Indicador - número de escolas com eleições regula- cias exitosas de todas as etapas e modalidades da educa-
mentadas por instrumentos legais pelo número total de ção básica.
escolas públicas.
15. Garantir financiamento anual para pesquisas que
3. Definir expectativas de aprendizagem para a educa- tratem do processo ensino-aprendizagem na educação
ção básica, com vista a garantir formação geral comum. básica e ensino superior, por intermédio de edital específico
da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Mato
Indicador - quantidade de etapas e modalidades Grosso - FAPEMAT e outros agentes financiadores.
com expectativas de aprendizagens estabelecidas para
cada etapa e modalidade da educação básica. 16. Disponibilizar transporte escolar, obedecendo pa-
drões de legislação de trânsito, para alunos e professores
4. Implantar a avaliação sistêmica do processo educa- do ensino fundamental, educação de jovens e adultos,
cional da educação básica e do ensino superior, baseada médio do campo, urbano, terras indígenas, quilombolas
na realidade, particularidades e peculiaridades regionais. e assentados que comprovadamente necessitem de aten-
dimento.
5. Realizar campanhas contínuas de mídia pro-
movidas pelo órgão mantenedor visando otimizar a 17. Assegurar apoio financeiro e pedagógico para as
participação da comunidade escolar nos CDCE, grêmios escolas que apresentarem projetos que visem ao desen-
estudantis, conselhos diretores. volvimento significativo dos estudantes, bem como a par-
ticipação em jogos estudantis intermunicipais e estaduais,
6. Capacitar os membros dos conselhos escolares, con- mostras científicas e similares.
selhos diretores e conselhos municipais de educação para
que possam exercer seu papel de controle social. 18. Estabelecer parcerias entre União, Estado e municí-
pios, envolvendo as Secretarias de Educação, de Saúde, de
7. Fomentar ações que visem à interação entre família Bem Estar Social, Ambiental, de Cultura, de Ação Social,
e escola. Conselhos Tutelares e Conselhos Municipais de Educação
para o pleno atendimento das necessidades dos estudan-
8. Garantir aos grêmios estudantis suporte e estrutu- tes da educação básica, incluindo equipe multiprofissional
ra na organização de ações, eventos pedagógicos, sociais (pedagogos, assistente social, fonoaudiólogos e outros),
e culturais realizados nas unidades escolares. sem ônus para a educação.

126
LEGISLAÇÃO BÁSICA

19. Garantir a renovação e manutenção periódica 29. Garantir que todas as escolas organizadas em
dos equipamentos de multimídia, informática e labo- Ciclos de Formação Humana tenham o Coordenador Pe-
ratoriais, com profissional capacitado por turno de funcio- dagógico e o Coordenador de Ciclo/Professor Articulador
namento da unidade escolar com a atribuição de auxiliar o em todos os ciclos, independente do número de aluno,
professor. com espaço físico específico e adequado para atender a
demanda.
20. Apoiar ações de Educação Ambiental articuladas
com os projetos políticos-pedagógicos das escolas que 30. Garantir a fruição a bens e espaços culturais, de
contribuam ou promovam o desenvolvimento local susten- forma regular, bem como a ampliação da prática despor-
tável. tiva, de forma integrada ao currículo escolar.

21. Viabilizar mecanismos normativos que orientem 31. Garantir a renovação e manutenção periódica
a destinação de parte dos recursos financeiros oriundos dos equipamentos de multimídia, informática e labo-
do Fundo Municipal de Bens Lesados e/ou outros fundos ratoriais, com profissional capacitado por turno de funcio-
para apoiar ações em Educação Ambiental desenvolvidas namento da unidade escolar com a atribuição de auxiliar o
pelas unidades escolares públicas. professor.

22. Fomentar parcerias com órgãos gestores da políti- 32. Assegurar apoio financeiro e pedagógico às es-
ca ambiental estadual e municipal para abertura de editais colas que apresentarem projetos que visem ao desen-
anuais de apoio a projetos de Educação Ambiental, visando volvimento significativo dos estudantes, bem como a parti-
sua concretização nas escolas e em espaços não escolarizados. cipação em jogos estudantis, mostras científicas e similares.

23. Promover ações de Educação Ambiental com os 33. Adotar medidas administrativas, pedagógicas e
povos indígenas, quilombolas, ribeirinhos e assentados, organizacionais necessárias para garantir ao estudante o
em parceria com Ministério do Meio Ambiente e Edu- acesso e a permanência na escola sem discriminação por
cação, IBAMA, SEMA e FUNAI, abordando a Legislação motivo de identidade de gênero e orientação sexual.
Ambiental, Nacional, Estadual e Municipal, possibilitando o
desenvolvimento de projetos ambientais. 34. Elaborar diretrizes que orientem os sistemas de en-
sino na implementação de ações que comprovem o respei-
24. Orientar as escolas para que o ensino da educa- to ao cidadão e à não discriminação por orientação sexual.
ção religiosa e as solenidades escolares sejam realizados
com base na laicidade do ensino, primando pelo direito 35. Realizar parcerias com instituições de educação
democrático da religiosidade de todos os povos e cultu- superior e de educação profissional e tecnológica para a
ras, conforme legislação oferta de cursos de extensão, para prover as necessidades
vigente. de educação continuada.

25. Constituir comissão com a participação dos pro- META 3 - Garantir, imediatamente, a aplicabilidade
fissionais da educação, entidades civis e organizadas integral dos recursos financeiros públicos, conforme pre-
para elaborar visto em lei, destinados à educação.
orientações para o processo de escolha e adoção de li- Indicador - total de recursos aplicados na educação
vros e materiais didáticos, acervo das bibliotecas escolares, pelo total de recursos destinados para a educação.
observando as especificidades das relações étnico-raciais Estratégias:
no Estado. 1. Garantir, imediatamente, a aplicabilidade integral
dos recursos financeiros destinados à educação, confor-
26. Garantir a produção, publicação e distribuição às me os 35%
escolas da rede pública de livros/outros materiais peda- (trinta e cinco por cento) estabelecidos na Constituição
gógicos, enfocando a diversidade étnico-racial e cultural Estadual
do Estado, com a participação dos segmentos e especia-
listas/estudiosos da temática. 2. Garantir, imediatamente, a aplicabilidade integral
dos recursos financeiros públicos destinados à educação,
27. Buscar alternativas que possibilitem moradia nas conforme o estabelecido na Lei Orgânica Municipal.
proximidades da escola aos profissionais da educação que
atuam nas escolas do campo. 3. Assegurar outras fontes de receita à educação, in-
cluindo na vinculação todos os tributos (impostos, taxas e
28. Implantar e ampliar em 20% (vinte por cento) das contribuições).
escolas por ano a oferta da Língua Estrangeira, Arte e Edu-
cação Física aos alunos dos anos iniciais do ensino funda- 4. Elaborar estudos para que se assegure a utilização
mental, garantindo profissionais com qualificação específica do PIB como referência de financiamento para a educação
na área. conforme preconiza a Emenda Constitucional nº 59/2009.

127
LEGISLAÇÃO BÁSICA

5. Utilizar o piso salarial profissional nacional pau- 3. Garantir no plano de carreira a inclusão até o nível
tado na Lei Federal nº 11.738 de 16 de julho de 2008, doutorado aos profissionais da educação.
como patamar
mínimo de referência para a elaboração do Plano de 4. Assegurar o direito à licença-prêmio por assiduidade
Carreiras Cargos e Salários para os profissionais da Educa- aos profissionais da rede pública estadual e municipal.
ção.
5. Garantir nos Planos de Carreiras, Cargos e Salários
6. Implantar um padrão de gestão que priorize a que a elevação por tempo de serviço se dê por inter-
destinação de recursos para as atividades-fim, a des- médio da avaliação de desempenho na função de atuação.
centralização, a autonomia da escola, a equidade, o foco
na aprendizagem dos alunos e a participação da comuni- 6. Garantir concursos públicos para a rede municipal
dade. e estadual de ensino, respeitando o plano de carreira, a
habilitação e a s qualificações exigidas para os cargos e a
disponibilidade de vagas reais.
7. Assegurar, por intermédio de instrumentos le-
gais, a autonomia administrativa, pedagógica e finan-
7. Fortalecer o quadro de profissionais de carreira nas
ceira das escolas públicas, garantindo o repasse direto
Escolas Técnicas Estaduais de Educação Profissional e Tec-
de recursos para despesas de manutenção e capital para o nológica com a realização de concurso público, conforme
cumprimento de sua proposta didático-pedagógica. disponibilidade de vagas reais.
8. Avaliar os mecanismos atualmente existentes de 8. Assegurar 02 horas de formação continuada com-
gestão dos recursos financeiros da escola, construindo putada na hora de trabalho dos profissionais técnicos e
um plano de trabalho conjunto órgão gestor/unidade apoio da educação.
escolar/CDCE.
9. Garantir direitos e condições dignas de atendimento
9. Assegurar, mediante instrumentos legais especí- ao profissional da Educação Municipal e Estadual e agili-
ficos, que os recursos para reformas nas escolas sejam dade nos processos de aposentadoria para que seja pu-
depositados diretamente na conta-corrente do Conselho blicada em no máximo 03 meses, a partir do momento da
Deliberativo e geridos pelo mesmo, com assistência técni- solicitação.
ca do Estado e/ou das respectivas prefeituras.
10. Garantir, aos profissionais das redes pública esta-
10. Assegurar, mediante instrumentos legais espe- dual e municipal atendimento da perícia médica em cada
cíficos, que o recebimento definitivo da obra seja feito município pólo.
pela unidade executora da escola e respectivo responsá-
vel técnico do órgão fiscalizador central. 11. Elaborar e executar instrumentos legais que ampa-
rem o profissional da educação pública e privada preser-
11. Assegurar, por intermédio de instrumentos legais vando a integridade física, psíquica e moral em caso de
específicos, que o pagamento das tarifas de água, ener- agressões de natureza verbal, física e psicológica, denún-
gia elétrica, telefônica e internet das escolas públicas seja cias sem provas, punições sem justa causa.
mantido pelas respectivas entidades mantenedoras, inde-
pendente dos repasses de manutenção e conservação. 12. Garantir o acesso à Seguridade Social aos profissio-
nais da educação.
META 4 - Assegurar, imediatamente, a existência de
13. Garantir assistência médica ao tratamento dos pro-
plano de carreira para os profissionais da educação básica
blemas relacionados à saúde adquiridos no exercício da
pública. Indicador - número de planos de carreira para
profissão.
educação básica em relação ao número de entes federati-
vos que compõem o sistema. 14. Estabelecer planos anuais de trabalho com base nos
Estratégias: resultados do processo de avaliação institucional, assegu-
1. Garantir que os municípios do Estado tenham ou rando aos profissionais da educação profissional e tecno-
criem carreiras próprias para os profissionais da educa- lógica que prestam serviço na unidade central as condições
ção d o seu necessárias a sua atualização profissional.
sistema público de ensino ou adotem oficialmente pla-
nos de carreiras já existentes. 15. Garantir vigia nas unidades escolares públicas em
todos os turnos de funcionamento.
2. Utilizar a Lei Federal nº 11.738, de 16 de julho de
2008, como patamar mínimo de referência para a elabora- 16. Garantir, aos profissionais da educação, o “ano sa-
ção do Plano de Carreiras, Cargos e Salários para os profis- bático” para atualização profissional, ao final de cada pe-
sionais da educação. ríodo de 07 anos.

128
LEGISLAÇÃO BÁSICA

17. Buscar meios para que os profissionais de contratos 9. Garantir formação continuada específica aos pro-
temporários da rede pública de ensino tenham direito à fessores e gestores indígenas, do campo e quilombola
remuneração de férias e décimo terceiro. que atuam na
Educação de Jovens e Adultos e na educação profissio-
18. Garantir que os profissionais da educação tenham nal e tecnológica.
acesso à aquisição de equipamentos essenciais à sua qua-
lificação profissional e aprimoramento de suas condições 10. Assegurar a formação continuada específica dos
de trabalho. professores e gestores das redes pública e privada que
atuam na
META 5 - Oportunizar formação específica inicial e
Educação de Jovens e Adultos e educação profissional
continuada, de modo que todos que atuam na educação
e tecnológica.
possuam formação em nível superior até 2017.
Indicador-número de vagas oferecidas para formação
específica inicial e continuada pelo total de pessoas que 11. Ofertar formação continuada aos profissionais na
atuam na educação e não possuem formação em nível su- função de gestores da educação pública e privada.
perior.
12. Oferecer formação continuada com especialistas
Estratégias: aos profissionais da educação básica pública e privada
que atendem alunos com necessidades educacionais espe-
1. Garantir a oferta de cursos de nível superior em li- ciais.
cenciatura em instituições públicas para os profissionais da
rede pública que atuam na educação básica, em todas as 13. Promover e dar condições de formação aos pro-
etapas e modalidades. fessores das redes pública e privada que atuam em língua
espanhola ou inglesa para atender a demanda estabeleci-
2. Garantir aos profissionais da educação formação ini- da.
cial e continuada com ênfase na educação especial, edu-
cação quilombola, educação indígena, do campo, educa- 14. Assegurar formação continuada aos profissionais
ção para o trabalho e respeito às diversidades em parceria que atuam na educação a distância.
com os CEFAPRO (Centro de Formação e Atualização dos
Profissionais da Educação Básica) e instituições superiores
15. Oferecer cursos de formação continuada sobre His-
públicas.
tória e Cultura Afro-Brasileiras e Relações Étnico-Raciais e
3. Expandir a oferta de vagas para pós-graduação stric- Indígenas aos profissionais da educação e de maneira es-
to sensu na área da educação. pecífica aos professores das redes pública e privada que
atuam nas disciplinas referidas nas Leis Federais nºs 10.639,
4. Ofertar curso de formação continuada aos profissio- de 09 de janeiro de 2003, e 11.645, de 10 de março de
nais da educação, prioritariamente no local de trabalho, de 2008.
forma articulada e integrada com a prática no contexto do
processo educativo. 16. Oferecer formação continuada aos profissionais
da educação pública e privada referente a gênero, se-
5. Acompanhar e avaliar a formação docente inicial e xualidade e orientação sexual, dentro do seg-
continuada dos profissionais da educação. mento diversidade, visando o enfrentamento
do sexismo e da homofobia/lesbofobia/transfobia
6. Garantir, financiar e ampliar programas de formação na perspectiva dos direitos humanos.
que garantam cursos de extensão e pós-graduação, por
meio de convênios com IES, para a formação de docentes 17. Oferecer formação continuada na área de agroe-
voltados às modalidades e especificidades. cologia, sustentabilidade e economia solidária aos pro-
fissionais da educação do campo, em parceria com as
7. Estabelecer e garantir parcerias para o desenvol-
Secretarias Municipais e Estadual de Meio Ambiente,
vimento de projetos de pesquisa e de extensão, entre
Agricultura, Educação e outras instituições.
instituições
formadoras e os sistemas de ensino Federal, Estadual
e Municipais. 18. Promover formação continuada para profissionais
da educação que atuam em escolas quilombolas.
8. Ampliar a oferta de cursos de licenciatura e de
formação continuada para profissionais da educação bá- 19. Ofertar e garantir formação continuada de traba-
sica pública e privada, possibilitando que tenham, também, lhadores da educação profissional e tecnológica das redes
conhecimento do mundo virtual e das novas tecnologias públicas, sob a responsabilidade financeira da União e do
educacionais. Estado.

129
LEGISLAÇÃO BÁSICA

20. Garantir e aplicar recursos pedagógicos, financeiros, 7. Garantir que as unidades escolares de educação
humanos e físicos para a participação dos profissionais da infantil façam a devida adequação de seu funcionamento,
educação das redes pública e privada em fóruns, seminá- atendendo às necessidades da comunidade em que estão
rios e grupos de estudos relativos à temática da educação. inseridas.

21. Estabelecer/ampliar parcerias para o oferecimento 8. Estabelecer, em todos os municípios, um sistema


de cursos de formação inicial, complementação pedagó- de acompanhamento, controle e orientação da Educação
gica e pós- graduação aos docentes que atuarão na Edu- Infantil, dos estabelecimentos públicos e privados, em ar-
cação Profissional e Tecnológica. ticulação com as instituições de ensino superior público
com experiência comprovada na área.
22. Ofertar, na rede pública de ensino, cursos técnicos
de nível médio integrado no eixo tecnológico de ser. META 9. Garantir alimentação escolar adequada para todas
6 - Ofertar educação infantil a 80% (oitenta por cento) de as crianças atendidas nos estabelecimentos públicos e
crianças de 0 a 03 anos até 2017. Indicador - número de
conveniados de
crianças de 0 a 3 anos atendidas em relação ao total de
Educação Infantil.
crianças nessa faixa etária.
Estratégias:
10. Garantir ações complementares socioeducativas
1. Realizar, em regime de colaboração, levantamento de apoio às famílias de crianças de 0 a 03 anos, tais como
anual da demanda por creche para a população de até 03 palestras sobre desenvolvimento infantil e oficinas pedagó-
anos, criando gicas, promovendo a interação pais/crianças.
banco de dados e publicizando-o para planejar a oferta
e verificar o atendimento da demanda manifesta. META 7 - Ofertar a Educação Infantil para 100% (cem
por cento) de crianças de 04 e 05 anos até 2016. Indicador:
2. Garantir relação professor/criança, infraestrutura e número de crianças de 4 a 5 anos atendidas em relação ao
material didático adequados ao processo educativo, con- total de crianças atendidas nessa faixa etária.
siderando as características das distintas faixas etárias, con- Estratégias:
forme os padrões do CAQ (Custo Aluno Qualidade). 1. Realizar, em regime de colaboração, levantamento
anual da demanda por creche para população de 04 e 05
3. Somente autorizar a construção e o funcionamento anos, criando
de instituições de educação infantil, públicas ou privadas, banco de dados e publicizando-o para planejar a oferta
que atendam aos requisitos previamente definidos. e verificar o atendimento da demanda manifesta.

4. Assegurar que todos os municípios tenham definido 2. Garantir relação professor/criança, infraestrutura e
sua política para a Educação Infantil, com base nas di- material didático adequados ao processo educativo, con-
retrizes e sugestões de referenciais curriculares nacionais e siderando as características das distintas faixas etárias, con-
nas normas complementares estaduais e municipais. forme os padrões do CAQ (Custo Aluno Qualidade).
5. Garantir que, no prazo de 01 (um) ano a partir 3. Somente autorizar a construção e funcionamento
da aprovação deste plano, todas as instituições que ofer- de instituições de educação infantil, públicas ou privadas
tam a Educação Infantil tenham formulado seus proje- que atendam
tos pedagógicos com a participação dos profissionais
aos requisitos previamente definidos.
de educação e comunidade escolar, observando o Plano
Nacional de educação infantil e os seguintes fundamentos
4. Assegurar que todos os municípios tenham defini-
norteadores:
do sua política para a Educação Infantil, com base nas
a) princípios éticos da autonomia, da responsabili-
dade, da solidariedade e do respeito ao bem comum; diretrizes e
respeito à ordem democrática; sugestões de referenciais curriculares nacionais e nas
normas complementares estaduais e municipais.
b) princípios políticos dos direitos e deveres de cida-
dania, do exercício da criticidade e do c) princípios esté- 5. Garantir que, no prazo de 01 ano, a partir da apro-
ticos da sensibilidade, da criatividade, da ludicidade e da vação deste plano, todas as instituições que ofertam a Edu-
diversidade de manifestações artísticas e culturais. cação Infantil tenham formulado seus projetos pedagó-
gicos, com a participação dos profissionais de educação
6. Criar e construir centros de Educação Infantil, am- e comunidade escolar, observando a política municipal de
pliando os já existentes, para atendimento conjunto de educação infantil e os seguintes fundamentos norteadores:
crianças de 0 a
03 anos, em tempo integral, conforme padrões míni- a) princípios éticos da autonomia, da responsabilida-
mos exigidos pela Legislação, considerando a demanda de, da solidariedade e do respeito ao bem comum; respei-
dos municípios com a contrapartida do Estado e União. to à ordem democrática;

130
LEGISLAÇÃO BÁSICA

b) princípios políticos dos direitos e deveres de cidada- 5. Atender a demanda de transporte escolar para alu-
nia, do exercício da criticidade e do c) princípios estéticos nos oriundos da zona rural e terras ocupadas por indíge-
da sensibilidade, da criatividade, da ludicidade e da diver- nas, quilombolas e assentados, em regime de colaboração
sidade de manifestações artísticas e culturais. entre União, Estado e Municípios, observando aos prin-
cípios básicos de segurança exigidos pelo Departamento
6. Criar e construir centros de Educação Infantil, am- Nacional de Trânsito, e ainda, levando em consideração:
pliando os já existentes, para atendimento conjunto de
crianças de 04 e a) tempo de permanência e idade mínima dos alunos
que se beneficiarão dele;
05 anos, em tempo integral, conforme padrões mí-
nimos exigidos pela legislação, considerando a demanda b) presença de um monitor por veículo para ajudar o
dos municípios com a contrapartida do estado e união. motorista a cuidar dos alunos.

7. Garantir que as unidades escolares de educação 6. Desenvolver formas alternativas de oferta de ensino
infantil façam a devida adequação de seu funcionamento, fundamental para atender os filhos de profissionais que se
atendendo as necessidades da comunidade em que estão dedicam à atividade de caráter itinerante.
inseridas.
META 9 - Garantir a oferta de ensino médio a 100%
8. Estabelecer, em todos os municípios, um sistema da demanda, com acréscimos anuais de 25% (vinte e cinco
de acompanhamento, controle e orientação da Educação por cento) até 2017.
Infantil, dos estabelecimentos públicos e privados, em ar-
ticulação com as instituições de ensino superior público Indicador: número de matrículas no ensino médio em
com experiência comprovada na área. relação a população escolarizável.

9. Garantir alimentação escolar adequada para todas Estratégias:


as crianças atendidas nos estabelecimentos públicos e 1. Garantir a relação professor/estudante, infraestrutu-
ra e material didático adequados ao processo educativo,
conveniados de Educação Infantil.
considerando
as características desta etapa de ensino, conforme os
10. Garantir ações complementares socioeducativas
padrões do CAQ -Custo Aluno Qualidade.
de apoio às famílias de crianças de 04 e 05 anos, tais
como palestras sobre desenvolvimento infantil e oficinas
2. Consolidar a identidade do Ensino Médio, aperfei-
pedagógicas, promovendo a interação pais/crianças.
çoando a concepção curricular que proporciona forma-
ção geral e específica.
META 8 - Atender 100% (cem por cento) da popula-
ção escolarizável no ensino fundamental até 2015 na idade
3. Manter e ampliar programas e ações de correção
apropriada. Indicador: percentual da população atendida de fluxo, por meio do acompanhamento individualizado
no ensino fundamental na idade apropriada em relação ao do estudante com rendimento escolar defasado e pela
total da população escolarizável, nesta faixa etária. adoção de práticas como aulas de reforço no turno
complementar, estudos de recuperação e progressão par-
Estratégias: cial, de forma a reposicioná-lo no ciclo escolar de maneira
1. Realizar anualmente, em parceria com os muni- compatível com sua idade.
cípios, o mapeamento da população escolarizável em
idade escolar 4. Redimensionar a oferta de ensino médio nos tur-
obrigatória que se encontra fora da escola, por resi- nos diurno e noturno, bem como a distribuição territorial
dência e local de trabalho dos pais. das escolas de ensino médio, de forma a atender a toda a
demanda de acordo com as necessidades específicas dos
2. Garantir relação professor/criança, infraestrutura e alunos.
material didático adequados ao processo educativo, con-
siderando as características das distintas faixas etárias, con- 5. Implantar, imediatamente, em todas as escolas,
forme os padrões do CAQ (Custo Aluno Qualidade). uma organização curricular para o ensino noturno regu-
lar, de modo a atender as especificidades do aluno traba-
3. Reduzir em 100% (cem por cento) a distorção idade/ lhador.
ano, com qualidade na aprendizagem.
6. Garantir no currículo a inserção de atividades
4. Reduzir em 100% (cem por cento) a repetência e a que utilizem outros espaços pedagógicos além da sala
evasão no ensino fundamental, primando pela qualidade de aula, possibilitando o acesso a esses locais em todos
da Educação. os turnos.

131
LEGISLAÇÃO BÁSICA

7. Implantar e ampliar a oferta do Ensino Médio Inte- temple discussões de relevância para a formação profissio-
grado à Educação Profissional para atender a demanda. nal, socioeconômica, ambiental, para a cidadania, estudos
dos agravos da saúde e políticas técnicas de segurança.
8. Fomentar a expansão das matrículas gratuitas de
Ensino Médio Integrado à Educação Profissional, obser- 6. Ampliar o percentual dos recursos para o Fundo
vando-se as peculiaridades das populações do campo, das Estadual de Educação Profissional e Tecnológica para ma-
comunidades indígenas e quilombolas e das pessoas com nutenção e investimento.
deficiência.
7. Realizar avaliação institucional, com participação
9. Garantir cursos profissionalizantes presenciais e a efetiva da comunidade escolar, do órgão gestor, dos pro-
distância, com elevação da escolaridade, para atender fissionais da educação profissional e dos estudantes.
demandas específicas, especialmente as comunidades
indígenas, quilombolas, trabalhadores que atuam em 8. Elaborar programas para garantir o acesso e a per-
setores econômicos sazonais e adolescentes em processo manência dos jovens e adultos em cursos de Educação
de ressocialização. Profissional e
Tecnológica.
10. Prover nas escolas de ensino médio equipamen-
tos de informática, na proporção mínima de um conjun- 9. Ofertar, na rede pública, cursos referentes ao eixo
to (computador conectado à internet, impressora e data tecnológico de serviços de apoio escolar por meio de En-
show) para cada 35 alunos. sino Médio
Integrado à Educação Profissional.
11. Atender, imediatamente, a demanda por ensino
médio nas populações do campo, nas comunidades in- 10. Implementar políticas de Educação Profissional e
dígenas e quilombolas, preferencialmente com professores Tecnológica, buscando a inclusão dos alunos com deficiên-
das próprias comunidades. cias no mercado de trabalho.

12. Estruturar e fortalecer o acompanhamento e o 11. Promover a interação entre escola e sociedade por
meio da prestação de serviços realizados pelos estudantes.
monitoramento do acesso e da permanência dos jovens
beneficiários de programas de transferência de renda, no
12. Elaborar plano de oferta de merenda escolar aos
ensino médio, quanto à frequência, ao aproveitamento
alunos da Educação Profissional e Tecnológica.
escolar e à interação com o coletivo, bem como das si-
tuações de discriminação, preconceitos e violências; práti-
13. Garantir a ampliação e atualização do acervo das
cas irregulares de trabalho, consumo de drogas, gravidez
bibliotecas das Escolas Técnicas Profissionalizantes e das
precoce; em colaboração com as famílias e com órgãos escolas que ofertam o Ensino Médio Integrado à Educação
públicos de assistência social, saúde e proteção à adoles- Profissional.
cência e juventude.
METAS 11 - Ofertar vagas de Educação de Jovens e
META 10 - Ampliar as matrículas da educação profis- Adultos - EJA para 100% (cem por cento) da demanda
sional técnica de nível médio, de modo a triplicá-las até existente até 2016.
2017. Indicador: acréscimos anuais da oferta de Educação
Profissional técnica de nível médio. Indicador: número de vagas ofertadas para EJA em re-
Estratégias: lação à demanda de jovens e adultos.
1. Expandir o número de escolas que ofertam curso
técnico de nível médio, considerando a localização da de- Estratégias:
manda e as especificidades regionais. 1. Estabelecer parcerias Estado/municípios para a
realização de mapeamento e busca ativa de jovens e
2. Implantar Ensino Médio Integrado à Educação Pro- adultos fora da escola, com as áreas de assistência social,
fissional, concomitante ou subsequente aos estudantes da saúde e proteção à juventude, por residência ou local
EJA. de trabalho, visando identificar a demanda e programar a
oferta da EJA desde a alfabetização ao ensino médio.
3. Elaborar padrões mínimos de funcionamento que
contemplem a relação professor/estudante, infraestrutura 2. Alfabetizar todos os jovens e adultos no Estado de
e material didático adequados ao processo educativo. Mato Grosso com garantia da continuidade da escolariza-
ção básica em todos os turnos, conforme a necessidade.
4. Assegurar que as escolas que ofertam curso profis-
sionalizante tenham Coordenador Pedagógico específico. 3. Garantir a relação professor/estudante, infraestrutu-
ra e material didático adequados ao processo educativo,
5. Assegurar, por meio dos Projetos Políticos Pedagó- considerando as características da demanda da EJA, con-
gicos - PPPs que a proposta pedagógica de curso dos di- forme os padrões do CAQ - Custo Aluno Qualidade e com
ferentes eixos da Educação Profissional e Tecnológica con- a agenda territorial estadual.

132
LEGISLAÇÃO BÁSICA

4. Garantir acesso gratuito a exames de certificação 15. Apoiar técnica e financeiramente projetos inova-
de conclusão e/ou de prosseguimento de estudos nos dores na EJA que visem ao desenvolvimento de modelos
ensinos fundamental e médio. adequados às necessidades específicas desses estudantes.

5. Implantar em todos os municípios setores próprios 16. Garantir a oferta de EJA nas escolas do campo
incumbidos de promover a EJA. com educação profissionalizante, observadas as especifici-
6. Estabelecer parcerias entre União, Estado e muni- dades desta demanda.
cípios, envolvendo Secretarias de Educação, de Saúde, de
Bem Estar 17. Atender nas escolas indígenas que solicitarem cur-
Social, Ambiental, de Cultura, de Ação Social, exe- so EJA/PROEJA e que, de preferência, o curso seja minis-
cutando ações de atendimento ao estudante da EJA trado pelo próprio índio.
por meio de programas suplementares de transporte, ali-
mentação e saúde, inclusive atendimento oftalmológico e 18. Garantir cursos profissionalizantes presenciais e
fornecimento gratuito de óculos. a distância, com elevação da escolaridade, para atender
demandas específicas, especialmente das comunidades
7. Estabelecer mecanismos e incentivos que integrem indígenas, quilombolas e trabalhadores que atuam em
os segmentos empregadores, públicos e privados, e os setores econômicos sazonais.
sistemas de ensino para promover a compatibilização da
jornada de trabalho dos empregados com a oferta das 19. Implantar e garantir em todos os sistemas de ensi-
ações de alfabetização e de educação de jovens e adultos. no instrumentos que garantam o aproveitamento das ho-
ras aula cumpridas pelos alunos que evadiram no ano an-
8. Assegurar a oferta de Educação de Jovens e Adul- terior, propiciando continuidade dos estudos no ano atual,
tos, nas etapas de ensino fundamental, médio e educação desde que concluído com a avaliação da aprendizagem
profissional, às pessoas privadas de liberdade em todos dos conteúdos.
os estabelecimentos penais, assegurando a formação es-
pecífica dos professores e garantindo para o sistema so- 20. Fomentar programas especiais de educação à po-
cioeducativo (SINASE) e unidades prisionais espaço físico pulação urbana e do campo, na faixa etária de 15 (quinze)
adequado, material pedagógico para docentes e discentes, a 17 (dezessete) anos, com qualificação social e profissional
com segurança aos que realizam esse atendimento. para jovens que estejam fora da escola e com defasagem
idade série.
9. Garantir a diversificação curricular da EJA inte-
grando a formação geral à preparação para o mun- 21. Oferecer ensino médio a distância na modalidade
do do trabalho, estabelecendo interrelação entre teoria e de EJA com seu aproveitamento nos cursos presenciais, em
prática nos eixos da ciência, do trabalho, da tecnologia e conformidade com a legislação vigente.
da cultura e cidadania, de forma a organizar o tempo e os
espaços pedagógicos adequados às características desses 22. Assegurar à demanda da EJA profissional capacita-
estudantes. do e ambiente diferenciado para atender as necessidades
de pais alunos cujos filhos menores de 10 anos necessi-
10. Implantar escolas pólos no campo para atender tem de acompanhamento enquanto estudam para que não
alunos da modalidade EJA do campo, com aulas pre- haja desistência.
senciais e semipresenciais, inclusive por meio da pedago-
gia da alternância, com incentivos para os alunos. META 12 – Ofertar educação básica a toda população
escolarizável que mora no campo, em escolas do e no cam-
11. Realizar parcerias com instituições de educação po, até 2017.
superior e de educação profissionalizante para a oferta de
cursos de extensão, de acordo com a demanda apresenta- Indicador - Número de alunos da educação básica
da, para prover as necessidades de educação continuada atendidos no e do campo pela população escolarizável da
de jovens e adultos. educação básica que mora no campo.

12. Desenvolver formas alternativas de oferta de Estratégias:


ensino fundamental para atender os profissionais que se 1. Estabelecer parcerias Estado/municípios para a rea-
dedicam à atividade de caráter itinerante. lização de mapeamento e busca ativa de estudantes fora
da escola em parceria com as áreas de assistência social,
13. Garantir a reestruturação do espaço físico das saúde e demais instituições de assistência ao homem do
escolas públicas de EJA com ambiente apropriado para a campo, por residência ou local de trabalho.
prática da disciplina de educação física.
2. Garantir relação professor/criança, infraestrutura e
14. Identificar e publicar experiências exitosas na EJA, material didático adequados ao processo educativo, consi-
sob a responsabilidade do FEE, em regime de colaboração derando as características das distintas faixas etárias, con-
entre os entes federados. forme os padrões do CAQ - Custo Aluno Qualidade.

133
LEGISLAÇÃO BÁSICA

3. Universalizar a oferta da educação básica no e do 6. Estabelecer política de produção e publicação de


campo, respeitando as peculiaridades de cada região, com materiais didáticos para as escolas indígenas.
infraestrutura apropriada, estimulando a prática agrícola e
tecnológica com base na agroecologia e na socioeconomia 7. Garantir a implantação de programas de avaliação,
solidária. por meio de comissões específicas, para acompanhar os
programas de formação do professor indígena, conforme
4. Criar mecanismos para que os municípios criem po- estabelece a legislação da educação escolar indígena.
líticas em seus planos municipais para a educação do cam-
po. 8. Implantar e fomentar os territórios etnoeducacionais
dos povos indígenas de Mato Grosso.
5. Implementar e garantir cursos profissionalizantes
nas escolas do campo, de acordo com a demanda, com 9. Garantir as condições necessárias infraestrutural
profissionais capacitados nas áreas técnicas, atendendo a e pedagógica para atendimento de estudantes indí-
singularidade de cada região e suas diferentes formas de genas com necessidades especiais.
produção, por intermédio de parcerias firmadas entre as
diferentes esferas de governo e outros órgãos e institui- 10. Garantir autonomia na aquisição da merenda
ções, visando à sustentabilidade no uso da terra de forma escolar para as comunidades indígenas de acordo com
equilibrada e outras demandas locais. a Legislação vigente, respeitando a dieta alimentar de cada
povo.
6. Promover a formação continuada em Educação Am-
biental do trabalhador rural e agricultor familiar para a 11. Realizar intercâmbio entre escolas indígenas e não
conservação e sustentabilidade ambiental: reflorestamen- indígenas.
to, culturas adaptadas à região e conservação do solo, por
intermédio de parcerias entre diferentes esferas de gover- 12. Apoiar técnica e financeiramente as ações do Con-
no e outros órgãos e instituições. selho Estadual Indígena (CEI).

13. Realizar, a cada 02 (dois) anos, a Conferência


7. Destinar área específica às práticas agroecológicas,
Regional/Estadual da Educação Escolar Indígena para
oportunizando ação pedagógica nas escolas do campo.
avaliação e acompanhamento das políticas educacionais,
com o segmento indígena e seus parceiros institucionais.
META 13 - Atender a população indígena, em todos os
níveis de ensino, em 100% (cem por cento) da demanda em
14. Atender a demanda por ensino médio nas aldeias
idade apropriada até 2017.
indígenas, preferencialmente com professores indígenas.
Indicador: quantidade de alunos em idade apropriada
15. Criar e implantar o Centro Educacional de Forma-
atendidos pela quantidade de demanda em idade apro- ção, Pesquisa e Produção de Material Didático Indígena
priada não atendida. em cada região do Estado de Mato Grosso.
Estratégias: META 14 - Expandir o atendimento aos estudantes
1. Realizar, anualmente, em parceria com os municí- com deficiências, transtornos globais do desenvolvimen-
pios, o mapeamento da população escolarizável que se en- to e altas habilidades ou superdotação, atendendo a 100%
contra fora da escola. (cem por cento) da demanda até 2015.

2. Normatizar a categoria Escolar Indígena no Sistema Indicador: número de estudantes com deficiências,
Público de Ensino de Mato Grosso. transtornos globais do desenvolvimento e altas habi-
lidade ou superdotação atendidos em relação à demanda
3. Criar a Carreira do Magistério Indígena, bus- total.
cando o fortalecimento da educação escolar indígena,
respeitando a legislação vigente. Estratégias:
1. Estabelecer parcerias Estado/municípios para a rea-
4. Garantir que as ações da política da educação es- lização de mapeamento e busca ativa de pessoas com de-
colar indígena estejam implantadas, em Mato Grosso de ficiência fora
acordo com o da escola, em parceria com as áreas de assistência so-
Parecer 14/99 do Conselho Nacional de Educação. cial e saúde, por residência ou local de trabalho.

5. Equipar as escolas indígenas, assegurando a pre- 2. Oferecer espaços físicos com adequação de
venção contra incêndio e pânico, obedecendo ao padrão acessibilidade aos diversos tipos de deficiências, além
mínimo de infraestrutura previamente estabelecido pelo de incluir os profissionais da educação que tenham algum
CEE e CEI. tipo de necessidade especial.

134
LEGISLAÇÃO BÁSICA

3. Garantir salas de recursos nas escolas da rede públi- 15. Apoiar ações e programas de inclusão digital às
ca de educação básica sempre que se fizer pertinente ou pessoas com necessidades educacionais especiais.
necessário.
16. Oferecer qualificação profissional por polo aos
4. Ampliar a oferta de Educação de Jovens e Adultos, estudantes com deficiências, transtornos globais do de-
no período diurno para contemplar os estudantes com senvolvimento e altas habilidades ou superdotação, con-
deficiência, siderando as demandas locais e visando sua colocação e
transtornos globais do desenvolvimento e altas habili- permanência no mercado de trabalho, em parceria com or-
dades ou superdotação. ganizações governamentais e não governamentais.
5. Fortalecer o atendimento especializado aos estudan- 17. Elaborar estudos quanto à viabilidade de se dispo-
tes da educação especial inclusos na Educação de Jovens e nibilizar monitor ou cuidador dos alunos com necessida-
Adultos.
des de apoio nas atividades de higienização, alimentação
e locomoção entre outras, que exijam auxílio constante no
6. Ampliar e fortalecer o atendimento individualizado
cotidiano escolar.
aos estudantes que tenham impedimento comprovado
por meio de laudo médico.
18. Ofertar treinamentos esportivos aos estudantes
7. Atender a demanda pelos serviços e apoios espe- com deficiências em parceria com as demais Secretarias.
cializados como complementação do processo de escola-
rização. META 15 - Igualar a escolaridade média entre grupos
de cor e raça declarados à Fundação Instituto Brasileiro de
8. Expandir o atendimento às pessoas com surdez, Geografia e Estatística - IBGE até 2017.
garantindo intérprete de Língua Brasileira de Sinais (LI-
BRAS) para estudantes surdos nas salas regulares, inves- Indicador: escolaridade média de cada um dos grupos
tindo na formação de recursos humanos, em parcerias de cor e raça.
com as IES públicas e organizações não governamentais. Estratégias:

9. Fortalecer e ampliar transporte adaptado para estu- 1. Estabelecer políticas de ações afirmativas a
dantes com necessidades especiais das escolas urbanas e partir de pesquisas, junto ao censo escolar sobre
do campo. reprovação,
evasão/abandono escolar, fazendo um recorte de gê-
10. Capacitar os profissionais da educação das unida- nero, cor/raça, renda e nível de escolaridade dos pais.
des escolares estaduais e municipais, bem como assessores
pedagógicos estaduais, para que se assegure, na proposta 2. Implantar em todos os municípios setores próprios
pedagógica, a inclusão dos estudantes com necessidades incumbidos de promover as questões sobre educação das
educacionais especiais. relações
étnico-raciais.
11. Disponibilizar livros de literatura e didáticos em
Braille, falados e em caracteres ampliados, às escolas 3. Manter e ampliar programas e ações de correção
que têm estudantes cegos e de baixa visão, bem como de fluxo por meio do acompanhamento individualizado
livros adaptados para alunos com deficiência física, por
do estudante
intermédio de parcerias com instituições de assistência
com rendimento escolar defasado e em condição so-
social, cultura e organizações não governamentais, União,
cialmente vulnerável e da adoção de práticas, como aulas
Estado e municípios.
de reforço no turno complementar, estudos de recupera-
12. Estabelecer parcerias com a área de saúde e assis- ção e progressão parcial, de forma a reposicioná-lo no
tência social do Estado e Município, previdência e outras ciclo escolar de maneira compatível com sua idade.
instituições civis afins, para aplicar testes de acuidade vi-
sual, auditiva e demais exames especializados nos estudan- 4. Criar o Centro de Referência Educacional/Artístico-
tes das instituições de educação básica. Cultural para valorização e revitalização dos grupos étnicos
raciais no
13. Implantar, em parceria com as Secretarias de Saúde Estado de Mato Grosso.
e de Assistência Social, programas de orientação e acom-
panhamento às famílias dos estudantes com necessidades 5. Apoiar técnica e financeiramente projetos inovado-
educacionais especiais. res que visem o desenvolvimento de propostas pedagógi-
cas adequadas às necessidades específicas dos estudantes
14. Ampliar o atendimento dos serviços de classes hos- quanto ao conhecimento das diversidades étnico-racial, de
pitalares sm hospitais públicos ou conveniados ao SUS. gênero, sexualidade e orientação sexual.

135
LEGISLAÇÃO BÁSICA

6. Promover projeto de intercâmbio educacional e cul- Indicador: número de matrículas de alunos, na faixa
tural entre escolas quilombolas de Mato Grosso e a África, etária de 18 a 24 anos, na Educação Superior pelo nú-
por meio de parcerias entre instituições governamentais e mero total de
não governamentais. jovens desta mesma faixa etária com ensino médio
concluído.
7. Instituir oficialmente a Semana da Consciência Ne- Estratégias
gra na Educação do Estado de Mato Grosso dentro do 1. Ampliar e diversificar a oferta de vagas na educação
cronograma oficial e do calendário escolar das redes edu- superior pública, garantindo o seu financiamento.
cacionais pública e privada, oportunizando a avaliação da
implementação da Lei Federal nº 10.639/03. 2. Diminuir as desigualdades de oferta de ensino
superior existentes entre as diferentes regiões do Estado,
META 16 - Aumentar progressivamente a carga horá- ampliando a oferta de vagas e criando novos cursos nos
ria em 01 hora por ano, atingindo pelo menos sete horas diversos polos de universidades públicas.
diárias, para
25% (vinte e cinco por cento) dos estudantes matricu- 3. Garantir no quadro docente permanente das IES
lados na educação básica até 2017. um percentual mínimo de 75% (setenta e cinco por cento),
com titulação de mestre/doutor, sendo do total, no míni-
Indicador: número de estudantes matriculados na mo, 35% (trinta e cinco por cento) com titulação de doutor.
educação básica em escolas com carga horária entre 5
e 7 horas diárias pelo número de matrículas na educação 4. Ampliar o percentual dos recursos à Fundação de
básica. Apoio à Pesquisa de Mato Grosso - FAPEMAT.

Estratégias: 5. Criar e implantar um plano de políticas públicas


de incentivo ao deslocamento e permanência de pro-
1. Assegurar estrutura física adequada, materiais peda- fissionais especializados nas regiões mais distantes.
gógicos, recursos financeiros e profissionais da educação
6. Ampliar o número e adequar os laboratórios, bi-
necessários para o atendimento da carga horária ampliada.
bliotecas, museus e equipamentos nas universidades pú-
blicas de acordo com a demanda atendida.
2. Garantir atividades de apoio às tarefas escolares
de todas as escolas que implantarem carga horária de 07
7. Assegurar a oferta de graduação e pós-graduação
horas, com previsão de espaço físico, recursos financeiros e
às pessoas privadas de liberdade em todos os estabeleci-
profissionais da educação em número suficiente.
mentos penais.
3. Fomentar a articulação das escolas com os diferen-
8. Assegurar estrutura física, pedagógica e formação
tes espaços educativos culturais e esportivos e equipa- dos profissionais necessárias à oferta de educação a dis-
mentos públicos, como centros comunitários, bibliotecas, tância.
praças, parques, museus, teatros, cinemas e planetários.
9. Realizar avaliação dos programas de educação a dis-
4. Criar um sistema para acompanhamento e avalia- tância.
ção dos resultados obtidos na implementação do currícu-
lo com carga horária ampliada. 10. Criar e implementar nas universidades, Centros de
Referência de Ensino, Pesquisa e Extensão, potencializando
5. Criar Centros de Educação Infantil para atendimento meios e formas de divulgar e socializar os saberes e fazeres
conjunto de crianças de 0 a 05 anos, em tempo integral, produzidos nas IES.
conforme padrões mínimos exigidos pela Legislação.
11. Ampliar nas Universidades e IES a habilitação
6. Atender aos estudantes do campo, de comunidades específica, em nível de pós-graduação, para garantir a
indígenas e quilombolas na oferta de carga horária amplia- formação de profissionais em educação especial.
da, com base em consulta prévia e informada, consideran-
do-se as peculiaridades locais. 12. Elaborar programa de ações afirmativas que in-
cluam bolsas, assistência estudantil, alimentação, auxílio-
7. Garantir, no mínimo, 03 (três) refeições diárias em to- moradia, entre outros, para assegurar o acesso e a perma-
das as escolas que implantarem carga horária de 07 horas. nência dos estudantes no ensino superior.

META 17 - Prover a oferta de educação superior 13. Implementar e divulgar a Lei nº 8.699, de 09 de
para, pelo menos, 33% (trinta e três por cento) da po- agosto de 2007, que institui o Programa Universitário de
pulação mato- grossense com ensino médio concluído na Mato Grosso - PROMAT, destinado a concessão de bolsas
faixa etária de 18 a 24 anos, garantindo seu financiamento. de estudo a estudantes universitários de baixa renda.

136
LEGISLAÇÃO BÁSICA

14. Oferecer bolsas de estudos para pós-graduação Administrativo Educacional, que desempenham atividades
(mestrado e doutorado) em parceria com órgãos federais nas unidades escolares e na administração central do Sis-
no contexto de um plano institucional de qualificação pre- tema Público de Educação Básica.
viamente instituído. Parágrafo único Os órgãos do Sistema Público Educa-
cional devem proporcionar aos profissionais da Educação
15. Oferecer, por intermédio da Fundação de Amparo Básica valorização mediante formação continuada, piso sa-
à Pesquisa do Estado de Mato Grosso (FAPEMAT), pelo me- larial profissional, garantia de condições de trabalho, pro-
nos , 02 (dois) editais anuais, a partir da aprovação deste dução científica e cumprimento da aplicação dos recursos
plano, que oportunizem o desenvolvimento de projetos constitucionais destinados à educação.
de pesquisa de mestres e dos recém-mestres e recém-
TÍTULO II
doutores, estimulando consequentemente sua permanên-
DA ESTRUTURA DA CARREIRA DOS PROFISSIONAIS
cia nos quadros da instituição.
DA EDUCAÇÃO BÁSICA
CAPÍTULO I
16. Estimular o desenvolvimento e/ou uso de ambien- DA CONSTITUIÇÃO DA CARREIRA
tes virtuais de aprendizagem.
Art. 3º A carreira dos Profissionais da Educação Básica
é constituída de três cargos:
I - Professor - composto das atribuições inerentes às
7. LEI COMPLEMENTAR Nº 50/98 DE 01DE atividades de docência, de coordenação e assessoramento
OUTUBRO DE 1998; pedagógico, e de direção de unidade escolar;
II - Técnico Administrativo Educacional - composto de
atribuições inerentes às atividades de administração esco-
lar de multimeios didáticos e outras que exijam formações
LEI COMPLEMENTAR Nº 50, DE 1º DE OUTUBRO DE específicas; e
1998 - D.O. 1°.10.98. III - Apoio Administrativo Educacional - composto de
atribuições inerentes às atividades de nutrição escolar, de
Dispõe sobre a Carreira dos Profissionais da Educa- manutenção de infra-estrutura e de transporte, ou outras
ção Básica de Mato Grosso. que requeiram formação em nível de ensino fundamental.

CAPÍTULO II
A ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE MATO
DAS SÉRIES DE CLASSES DOS CARGOS
GROSSO, tendo em vista o que dispõe o Art. 45 da Consti-
DA CARREIRA
tuição Estadual, aprova e o Governador do Estado sanciona Seção I
a seguinte lei complementar: Da Série de Classe do Cargo de Professor

TÍTULO I Art. 4º A série de classes do cargo de Professor é es-


DA FINALIDADE truturada em linha horizontal de acesso, identificada por
letras maiúsculas.
Art. 1º Esta lei complementar cria a carreira dos Profis- § 1° As classes são estruturadas segundo os graus de
sionais da Educação Básica do Sistema Público Educacional, formação exigidos para o provimento do cargo, da seguin-
tendo por finalidade organizá-la, estruturá-la e estabelecer te forma:
as normas sobre o regime jurídico de seu pessoal. I - Classe A - habilitação específica de nível médio-ma-
Parágrafo único Entende-se por carreira estratégica gistério;
aquela essencial para o oferecimento de serviço público, II - Classe B - habilitação específica de grau superior
priorizado e mantido sob a responsabilidade do Estado, em nível de graduação, representado por licenciatura ple-
com contratação exclusiva por concurso público ou privati- na e/ou formação nos esquemas I e II, conforme Parecer
zado, com revisão obrigatória de remuneração a cada doze 151/70 do Ministério de Educação, aprovado em 06 de fe-
meses. vereiro de 1970;
III - Classe C - habilitação específica de grau superior
em nível de graduação, representado por licenciatura ple-
CAPÍTULO I
na, com especialização, atendendo às normas do Conselho
DOS PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO BÁSICA Nacional;
IV - Classe D - habilitação específica de grau superior
Art. 2º Para os efeitos desta lei complementar, enten- em nível de graduação, representado por licenciatura ple-
de-se por Profissionais da Educação Básica o conjunto de na, com curso de mestrado e/ou doutorado na área de
professores que exercem atividades de docência ou supor- educação relacionada com sua habilitação.
te pedagógico direto a tais atividades, incluídas as de coor- § 2º Cada classe desdobra-se em níveis, indicados por
denação, assessoramento pedagógico e de direção escolar, algarismos arábicos de 01 a 09 que constituem a linha ver-
e funcionários Técnico Administrativo Educacional e Apoio tical de progressão.

137
LEGISLAÇÃO BÁSICA

Art. 5º São atribuições específicas do Professor: didáticos de uso especial, atuando ainda na orientação dos
I - participar da formulação de políticas educacionais trabalhos de leitura nas bibliotecas escolares, laboratórios
nos diversos âmbitos do Sistema Público de Educação Bá- e salas de ciência.
sica; II - Apoio Administrativo Educacional:
II - elaborar planos, programas e projetos educacionais a) nutrição escolar - atividades relativas à preparação,
no âmbito específico de sua atuação; conservação, armazenamento e distribuição da alimenta-
III - participar da elaboração do Plano Político-Peda- ção escolar;
gógico; b) manutenção da infra-estrutura e transporte escolar
IV - desenvolver a regência efetiva; - funções de vigilância, segurança, limpeza e manutenção
V - controlar e avaliar o rendimento escolar; da infra-estrutura escolar e de transporte.
VI - executar tarefa de recuperação de alunos;
VII - participar de reunião de trabalho; TÍTULO III
VIII - desenvolver pesquisa educacional; e DO REGIME FUNCIONAL
IX - participar de ações administrativas e das interações CAPÍTULO I
educativas com a comunidade. DO INGRESSO

Seção II Art. 8º O ingresso na carreira dos Profissionais da Edu-


Da Série de Classe dos Cargos de Técnico cação Básica obedecerá aos seguintes critérios:
Administrativo Educacional e Apoio I - ter a habilitação específica exigida para provimento
Administrativo Educacional de cargo público;
II - ter escolaridade compatível com a natureza do car-
Art. 6º A série de classe dos cargos Técnico e de Apoio go; e
Administrativo Educacional estrutura-se em linha horizon- III - ter registro profissional expedido por órgão com-
tal de acesso da seguinte forma, identificada por letras petente, quando assim exigido.
maiúsculas:
I - Técnico Administrativo Educacional: Seção I
a) Classe A - habilitação específica de ensino médio e Do Concurso Público
profissionalização específica;
b) Classe B - habilitação em grau superior, em nível de Art. 9º Para o ingresso na carreira dos Profissionais da
graduação e profissionalização específica; Educação Básica, exigir-se-á concurso público de provas ou
c) Classe C - habilitação em grau superior, com curso de provas e títulos.
de especialização na área de atuação ou correlata e profis- Parágrafo único O julgamento dos títulos será efetua-
sionalização específica; do de acordo com os critérios estabelecidos pelo Edital de
d) Classe D - habilitação em grau superior, com curso Abertura do Concurso.
de mestrado ou doutorado na área de atuação ou correlata Art. 10 O concurso público para provimento dos car-
profissionalização específica. gos dos Profissionais da Educação Básica reger-se-á, em
II - Apoio Administrativo Educacional: todas as suas fases, pelas normas estabelecidas na legis-
a) Classe A - habilitação em nível de ensino fundamen- lação que orienta os concursos públicos, em edital a ser
tal e profissionalização específica; expedido pelo órgão competente, atendendo às demandas
b) Classe B - habilitação em nível de ensino médio e por município.
profissionalização específica. Parágrafo único Será assegurada, para fins de acom-
Parágrafo único Cada classe desdobra-se em níveis, panhamento, a participação do sindicato representante
indicados por algarismos arábicos de 01 a 09, que consti- dos Profissionais da Educação Básica na organização dos
tuem a linha vertical de progressão. concursos, até a nomeação dos aprovados.

Art. 7º São atividades específicas do Técnico Admi- Art. 11 As provas do concurso público para a carreira
nistrativo Educacional e do funcionário de Apoio Adminis- dos Profissionais da Educação Básica deverão abranger os
trativo Educacional o assessoramento ao órgão central da aspectos de formação geral e formação específica, de acor-
instituição de Educação Básica; a administração escolar; o do com a habilitação exigida pelo cargo.
desenvolvimento de tarefas relacionadas a multimeios di-
dáticos, nutrição escolar e manutenção de infra-estrutura e CAPÍTULO II
transporte, obedecendo à seguinte descrição: DAS FORMAS DE PROVIMENTO
I - Técnico Administrativo Educacional: Seção I
a) administração escolar - as atividades de escritura- Da Nomeação
ção, arquivo, protocolo, estatística, atas, transferências es-
colares, boletins, etc, relativas ao funcionamento das secre- Art. 12 Nomeação é a forma de investidura inicial em
tarias escolares; e cargo público efetivo.
b) multimeios didáticos - opera mimeógrafo, videocas- § 1° A nomeação obedecerá, rigorosamente, a ordem
sete, televisor, projetor de slides, computador, calculadora, de classificação dos candidatos, por município, aprovados
fotocopiadora, retroprojetor, bem como outros recursos em concurso.

138
LEGISLAÇÃO BÁSICA

§ 2° O nomeado adquire estabilidade após o cumpri- I - zelo, eficiência e criatividade no desempenho das
mento do estágio probatório, nos termos do Artigo 19 des- atribuições de seu cargo;
ta lei complementar. II - assiduidade e pontualidade;
§ 3° A nomeação terá efeito de vinculação permanente III - produtividade;
na mesma unidade, salvo o disposto no Artigo 49 desta lei IV - capacidade de iniciativa e de relacionamento;
complementar. V - respeito e compromisso com a instituição;
VI - participação nas atividades promovidas pela ins-
Seção II tituição;
Da Posse VII - responsabilidade e disciplina;
VIII - idoneidade moral.
Art. 13 Posse é investidura em cargo público, median-
te a aceitação expressa das atribuições de servidores e Art. 19 Seis meses antes de findo o período do estágio
responsabilidades inerentes ao cargo público, com o com- probatório, será submetida à homologação da autoridade
promisso de bem servir, formalizada com a assinatura do competente a avaliação de desempenho do funcionário,
termo pela autoridade competente e pelo empossado. realizada de acordo com o que dispuser a legislação ou
o regulamento pertinente, sem prejuízo da continuidade
Art. 14 Haverá posse nos cargos da carreira dos Profis- de apuração dos fatores enumerados nos incisos do artigo
sionais da Educação Básica nos casos de nomeação. anterior desta lei complementar. (*revogados...)
§ 1° Para a avaliação prevista no caput deste artigo,
Art. 15 A posse deverá ser efetuada no prazo máximo será constituída Comissão de Avaliação com participação
de 60 (sessenta) dias, a contar da publicação do ato de pro- paritária entre o órgão da educação e o sindicato de repre-
vimento no Diário Oficial do Estado. sentação dos Profissionais da Educação Básica.
§ 1° A requerimento do interessado, o prazo da posse § 2° O Profissional da Educação Básica não aprovado
poderá ser prorrogado por até 30 (trinta) dias. no estágio probatório será exonerado, cabendo recurso ao
§ 2° No caso do interessado não tomar posse no prazo dirigente máximo do Sistema, assegurada ampla defesa.
previsto no caput deste artigo, tornar-se-á sem efeito a sua .(*revogado pela Lei Complementar nº 206, de 29 de dezem-
nomeação, ressalvado o previsto no parágrafo anterior. bro de 2004.)
§ 3° A posse poderá ser efetivada mediante procuração
específica. Seção V
§ 4° No ato da posse, o Profissional da Educação Básica Da Estabilidade
apresentará, obrigatoriamente, declaração dos bens e va-
lores que constituem seu patrimônio e declaração quanto Art. 20 O Profissional da Educação Básica habilitado
ao exercício ou não de outro cargo, emprego ou função em concurso público e empossado em cargo da carreira
pública. adquirirá estabilidade no serviço público ao completar 03
(três) anos de efetivo exercício, condicionada a aprovação
Art. 16 A posse em cargo público dependerá de com- no estágio probatório.
provada aptidão física e mental para o exercício do cargo,
mediante inspeção médica oficial. Art. 21 O Profissional da Educação Básica estável só
perderá o cargo em virtude de sentença judicial transita-
Seção III da em julgado, de processo administrativo disciplinar ou
Do Exercício mediante processo de avaliação periódica de desempenho,
assegurados em todos os casos contraditórios a ampla de-
Art. 17 O exercício é o efetivo desempenho do cargo fesa.
para o qual o Profissional da Educação Básica foi nomeado
e empossado. Seção VI
Parágrafo único Se o Profissional da Educação Básica Da Readaptação
não entrar em exercício no prazo de 30 (trinta) dias após a
sua posse, será demitido do cargo. Art. 22 Readaptação é o aproveitamento do funcioná-
rio em cargo de atribuição e responsabilidade compatíveis
Seção IV com a limitação que tenha sofrido em sua capacidade física
Do Estágio Probatório ou mental, verificada em inspeção médica.
§ 1° Se julgado incapaz para o serviço público, o rea-
Art. 18 Ao entrar em exercício, o funcionário nomeado daptando será aposentado nos termos da lei vigente.
para o cargo de provimento efetivo ficará sujeito ao está- § 2° A readaptação será efetivada em cargo da carreira
gio probatório por período de 24 (vinte e quatro) meses, de atribuições afins, respeitada a habilitação exigida.
durante o qual a sua aptidão e capacidade serão objeto § 3° Em qualquer hipótese, a readaptação não poderá
de avaliação para o desempenho do cargo, observados os acarretar aumento ou redução do subsídio do Profissional
seguintes fatores: da Educação Básica.

139
LEGISLAÇÃO BÁSICA

Seção VII Parágrafo único O órgão central do Sistema de Edu-


Da Reversão cação Pública determinará o imediato aproveitamento do
Profissional da Educação em disponibilidade, em vaga que
Art. 23 Reversão é o retorno à atividade de funcionário vier ocorrer nos órgãos do Sistema de Educação Pública na
aposentado por invalidez quando, por junta médica oficial, localidade em que trabalhava anteriormente ou em outra,
forem declarados insubsistentes os motivos determinantes atendendo ao interesse público.
da aposentadoria.
Art. 31 Será tornado sem efeito o aproveitamento e
Art. 24 A reversão far-se-á no mesmo cargo ou no car- cassada a disponibilidade se o Profissional da Educação
go resultante de sua transformação, com subsídio integral. Básica não entrar em exercício no prazo legal, salvo por
Parágrafo único Encontrando-se provido este cargo, doença comprovada por junta médica oficial.
o Profissional da Educação Básica exercerá suas atribuições
como excedente, até a ocorrência de vaga. Art. 32 Havendo mais de um concorrente à mesma
vaga, terá preferência o de maior tempo de disponibilidade
Art. 25 Não poderá reverter o aposentado que já tiver e, no caso de empate, o de maior tempo de serviço público.
completado 70 (setenta) anos idade.
CAPÍTULO III
Seção VIII DA VACÂNCIA
Da Reintegração
Art. 33 A vacância do cargo público decorrerá de:
Art. 26 Reintegração é a reinvestidura do Profissional I - exoneração;
da Educação Básica estável no cargo anteriormente ocupa- II - demissão;
do ou no cargo resultante de sua transformação, quando III - remoção;
invalidada a sua demissão por decisão administrativa ou IV - readaptação;
judicial, com ressarcimento de todas as vantagens. V - aposentadoria;
§ 1º Na hipótese do cargo ter sido extinto, o funcioná- VI - posse em outro cargo inacumulável; e
rio ocupará outro cargo equivalente ao anterior, com todas VII - falecimento.
as vantagens.
§ 2º O cargo a que se refere o caput deste artigo so- Art. 34 A exoneração do cargo efetivo dar-se-á a pedi-
mente poderá ser preenchido em caráter precário até o do do funcionário ou de ofício.
julgamento final. Parágrafo único A exoneração de ofício dar-se-á:
I - quando não satisfeitas as condições do estágio pro-
Seção IX batório;
Da Recondução II - quando, por decorrência do prazo, ficar extinta a
punibilidade para demissão por abandono de cargo;
Art. 27 Recondução é o retorno do funcionário estável III - quando, tendo tomado posse, não entrar em exer-
ao cargo anteriormente ocupado e decorrerá de: cício no prazo estabelecido.
I - inabilitação em estágio probatório relativo a outro Art. 35 A exoneração de cargo em comissão dar-se-á:
cargo; I - a juízo da autoridade competente, salvo os cargos
II - reintegração do anterior ocupante. ocupados mediante processos eletivos;
Parágrafo único Encontrando-se provido o cargo de II - a pedido do próprio servidor.
origem, o Profissional da Educação Básica será aproveitado
em outro cargo. CAPÍTULO IV
DO REGIME DE TRABALHO
Seção X Seção I
Da Disponibilidade e do Da Jornada Semanal de Trabalho
Aproveitamento
Art. 36 O regime de trabalho dos Profissionais da Edu-
Art. 28 Aproveitamento é o retorno do Profissional da cação Básica será de 30 (trinta) horas semanais.
Educação Básica em disponibilidade ao exercício do cargo
público. Art. 37 A distribuição da jornada de trabalho do Pro-
fissional da Educação Básica é de responsabilidade da uni-
Art. 29 Extinto o cargo ou declarada a sua desneces- dade escolar ou administrativa e deve estar articulada ao
sidade, o Profissional da Educação Básica estável ficará em Plano de Desenvolvimento Estratégico, em se tratando de
disponibilidade. unidade escolar.

Art. 30 O retorno à atividade do Profissional da Educa- Art. 38 Fica assegurado a todos os professores o cor-
ção Básica em disponibilidade far-se-á mediante aprovei- respondente a 33,33% (trinta e três vírgula trinta e três por
tamento obrigatório em cargo de atribuições e subsídios cento) de sua jornada semanal para atividades relaciona-
compatíveis com o anteriormente ocupado. das ao processo didático-pedagógico.

140
LEGISLAÇÃO BÁSICA

§ 1° Entende-se por hora-atividade aquela destinada à nova habilitação específica alcançada pelo mesmo, devi-
preparação e avaliação do trabalho didático, à colaboração damente comprovada, observado o interstício de 03 (três)
com a administração da escola, às reuniões pedagógicas, à anos.
articulação com a comunidade e ao aperfeiçoamento pro- Seção II
fissional, de acordo com a proposta pedagógica da escola. Da Progressão Funcional
§ 2° Dentro de um percentual de até 10% (dez por cen-
to) do quadro de professores, poderá a unidade escolar, Art. 42 O Profissional da Educação Básica terá direito
nos termos de regulamentação específica, destinar percen- à progressão funcional, de um nível para outro, desde que
tual superior ao previsto no caput deste artigo. aprovado em processo contínuo e específico de avaliação,
§ 3° Na aplicação do preceito contido no parágrafo an- obrigatoriamente, a cada 03 (três) anos.
terior, será observado o limite de até 50% (cinqüenta por § 1° Para a primeira progressão, o prazo será contado a
cento) da jornada de trabalho para professores em regên- partir da data em que se der o exercício do profissional no
cia que desenvolverem atividades articuladas e previstas cargo ou do seu enquadramento.
no Projeto Político-Pedagógico, aprovado pelo Conselho § 2° Decorrido o prazo previsto no caput; e não haven-
Deliberativo Escolar e ratificado pela Secretaria de Estado do processo de avaliação, a progressão funcional dar-se-á
de Educação. automaticamente.
§ 4° São considerados requisitos básicos para a distri- § 3° As demais normas da avaliação processual referida
buição referida no parágrafo anterior: no caput deste artigo, incluindo instrumentos e critérios,
I - apresentação de um projeto individual ou coletivo terão regulamento próprio, definido por Comissão Paritária
de natureza científica ou cultural e de função pedagógica, constituída pelo órgão da educação e do sindicato repre-
sintonizado com o Projeto Político-Pedagógico da escola; sentante dos Profissionais de Educação Básica.
II - impedimento de outro vínculo empregatício, públi-
co ou privado; Seção III
III - apresentação periódica, para a apreciação e apro- Da Remoção
vação da equipe técnico-pedagógica, de relatório descriti-
vo e analítico dos resultados parciais alcançados, de forma Art. 43 Remoção é o deslocamento do Profissional da
a garantir a continuidade de execução do projeto; Educação Básica de um para outro município e/ou órgão
IV - realização de pesquisa e participação em grupos do sistema de ensino, observada a existência de vagas.
de estudo ou de trabalho, conforme o Projeto Político-Pe- § 1° A remoção dar-se-á:
dagógico da escola. I - a pedido;
§ 5° As demais condições e normas de implantação e II - por permuta;
avaliação das horas-atividades serão definidas em regula- III - por motivo de saúde;
mentação específica, por comissão paritária, entre Secreta- IV - por transferência de um dos cônjuges, quanto este
ria de Estado de Educação e o sindicato da categoria. for servidor público.
§ 2° A remoção dar-se-á exclusivamente em época de
Art. 39 Ao Profissional da Educação Básica no exercí- férias escolares.
cio da função de direção da unidade escolar, assessor pe- § 3° A remoção por motivo de saúde dependerá de ins-
dagógico e secretário escolar será atribuído o regime de peção médica oficial, comprovando as razões apresentadas
trabalho de dedicação exclusiva, não incorporável para fins pelo requerente.
de aposentadoria, com impedimento de exercício de outra § 4° A remoção por permuta poderá ser concedida
atividade remunerada, seja pública ou privada. quando os requerentes exercerem atividades da mesma
natureza, do mesmo nível e grau de habilitação.
TÍTULO IV § 5° O removido terá o prazo de 30 (trinta) dias para
DA MOVIMENTAÇÃO NA CARREIRA entrar em exercício na nova sede.
CAPÍTULO I
DA MOVIMENTAÇÃO FUNCIONAL
TÍTULO IV
Art. 40 A movimentação funcional do Profissional da DOS DIREITOS, DAS VANTAGENS E DAS
Educação Básica dar-se-á em duas modalidades: CONCESSÕES
I - por promoção de classe; CAPÍTULO I
II - por progressão funcional. DO SUBSÍDIO

Seção I Art. 44 O sistema remuneratório dos Profissionais da


Da Promoção de Classe Educação Básica é estabelecido através de subsídio fixado
em parcela única, vedado o acréscimo de qualquer grati-
Art. 41 A promoção do Profissional da Educação Bási- ficação, adicional, abono, prêmio, verba de representação
ca, de uma classe para outra imediatamente superior à que ou qualquer outra espécie remuneratória, devendo ser re-
ocupa, na mesma série de classes, dar-se-á em virtude da visto, obrigatoriamente, a cada 12 (doze) meses.

141
LEGISLAÇÃO BÁSICA

Art. 45 Fica instituído, por esta lei complementar, o piso salarial, na forma de subsídio, em parcela única, dos
Profissionais da Educação Básica do Estado de Mato Grosso com jornada de 30 (trinta) horas semanais, abaixo do
qual não haverá qualquer subsídio, ressalvada a diferenciação decorrente do regime de trabalho reduzido e decor-
rente do não-cumprimento da exigência de escolaridade mínima para enquadramento.
Art. 46 O cálculo do subsídio correspondente a cada classe e nível da estrutura da carreira dos Profissionais da
Educação Básica obedecerá às tabelas anexas.
Art. 47 O valor do subsídio dos Profissionais da Educação Pública Básica será de R$465,00 (quatrocentos e sessen-
ta e cinco reais) para o nível médio, considerado magistério para o professor, e de 2° grau, mais profissionalização
específica, para os funcionários, conforme quadros de correspondência, anexos I, II e III.
Parágrafo único Para os profissionais de nível elementar, após a profissionalização, o piso salarial será de R$372,00
(trezentos e setenta e dois reais).
Art. 48 Até a conclusão da profissionalização, garante-se ao funcionário da Educação Básica, na forma de subsídio,
piso de R$279,00 (duzentos e setenta e nove reais) para os que têm nível médio.
Parágrafo único Ao Profissional da Educação Básica de nível elementar garante-se, na forma de subsídio, piso de
R$167,40 (cento e sessenta e sete reais e quarenta centavos).
Art. 49 Fica garantido que os profissionais técnico-administrativos que optarem pela nova carreira e não possuí-
rem os requisitos mínimos para o enquadramento receberão, mediante atestado de matrícula e de frequência, 44
(quarenta e quatro) passes mensais de transporte coletivo urbano.

CAPÍTULO II
DOS DIREITOS
Seção I
Da Licença para Qualificação Profissional

Art. 50 A licença para qualificação profissional se dará com prévia autorização do Governo do Estado, e consiste no
afastamento dos Profissionais da Educação Básica das suas funções, sem prejuízo do seu subsídio e vantagens, assegurada
a sua efetividade para todos os efeitos da carreira, e será concedida:
I - para frequência a cursos de atualização, em conformidade com a Política Educacional ou com o Plano de Desenvol-
vimento Estratégico;
II - para frequência a cursos de formação, aperfeiçoamento e especialização profissional ou de pós-graduação, e está-
gio, no País ou no exterior, se do interesse da unidade;
III - participar de congressos e outras reuniões de natureza científica, cultural, técnica ou sindical, inerentes às funções
desempenhadas pelo Profissional na Educação Básica.

Art. 51 São requisitos para a concessão de licença para aperfeiçoamento profissional:


I - exercício de 03 (três) anos ininterruptos na função;
II - curso correlacionado com a área de atuação, em sintonia com a Política Educacional ou com o Plano de Desenvol-
vimento Estratégico da escola;
III - disponibilidade orçamentária e financeira.

Art. 52 Os Profissionais da Educação Básica licenciados para os fins de que trata o Artigo 50, obrigam-se a prestar
serviços no órgão de lotação, quando de seu retorno, por um período mínimo igual ao do seu afastamento.

Art. 53 O número de licenciados para qualificação profissional não poderá exceder 1/6 (um sexto) do quadro de lota-
ção da unidade.
§ 1° A licença de que trata o caput deste artigo será concedida mediante requerimento fundamentado e projeto de
estudo apresentado para apreciação do Conselho Deliberativo Escolar, com, no mínimo, 6 (seis) meses de antecedência.
§ 2° Em se tratando de profissional do órgão central, o requerimento e o projeto de estudo deverão ser apresentados
à autoridade máxima da Instituição, com no mínimo 6 (seis) meses de antecedência.

142
LEGISLAÇÃO BÁSICA

Seção II d) afastamento para acompanhar cônjuge ou compa-


Das Férias nheiro.
Parágrafo único As faltas injustificadas ao serviço re-
Art. 54 O professor e os demais profissionais em efeti- tardarão a concessão da licença prevista neste artigo, na
vo exercício do cargo gozarão de férias anuais: proporção de um mês para cada três faltas.
I - de 45 (quarenta e cinco) dias para professores, de
acordo com o calendário escolar; Art. 59 O número de Profissionais da Educação Bási-
II - de 30 (trinta) dias para os demais Profissionais da ca em gozo simultâneo de licença-prêmio não poderá ser
Educação Básica, de acordo com a escala de férias. superior a 1/3 (um terço) da lotação da respectiva unidade
§ 1° Os Profissionais da Educação Básica em exercício administrativa do órgão ou entidade.
fora da unidade escolar gozarão de 30 (trinta) dias de férias
anuais, conforme escala. Art. 60 Para possibilitar o controle das concessões da
§ 2° É vedado levar à conta de férias qualquer falta ao licença, o órgão de lotação deverá proceder anualmente à
serviço. escala dos Profissionais da Educação Básica para atender
§ 3° É proibida a acumulação de férias, salvo por ab- o disposto no Artigo 57, § 3°, garantindo os recursos orça-
soluta necessidade do serviço e pelo prazo máximo de 02 mentários e financeiros necessários ao pagamento, no caso
(dois) anos. de opção em espécie.

Art. 55 Independente de solicitação, será pago aos CAPÍTULO III


Profissionais da Educação Básica, por ocasião das férias, um DAS CONCESSÕES E DOS AFASTAMENTOS
adicional de 1/3 (um terço) da remuneração, correspon- Seção I
dente ao período de férias. Das Concessões

Art. 56 Aplica-se aos servidores contratados tempo- Art. 61 Sem qualquer prejuízo, poderá o Profissional
rariamente, nos termos da Lei Complementar n° 04/90, o da Educação Básica ausentar-se do serviço:
disposto nesta Seção. I - por 01 (um) dia, para doação de sangue;
II - por 02 (dois) dias, para se alistar como eleitor;
Seção III III - por 08 (oito) dias consecutivos, em razão de:
Da Licença-Prêmio por Assiduidade a) casamento;
b) falecimento do cônjuge, companheiro, pais, madras-
Art. 57 Após cada quinquênio ininterrupto de efeti- ta ou padrasto, filhos, enteados, menor sob guarda ou tu-
vo exercício no serviço público estadual, o profissional da tela, irmão e avós.
Educação Básica fará jus a 03 (três) meses de licença, a tí- Art. 62 Será concedido horário especial ao Profissional
tulo de prêmio por assiduidade, com o subsídio do cargo da Educação Básica estudante, quando comprovada a in-
efetivo, sendo permitida sua conversão em espécie, parcial compatibilidade entre o horário escolar e o do órgão, sem
ou total, por opção do servidor. prejuízo do exercício do cargo.
§ 1° Para fins da licença-prêmio de que trata este arti- Parágrafo único Para efeito do disposto neste artigo,
go, será considerado o tempo de serviço desde seu ingres- será exigida a compensação de horários na repartição, res-
so no serviço público estadual. peitada a duração semanal do trabalho.
§ 2° É facultado ao Profissional da Educação Básica fra-
cionar a licença de que trata este artigo em até 03 (três) Art. 63 Ao Profissional da Educação Básica estudan-
parcelas, desde que defina previamente os meses para te que mudar de sede no interesse da Administração, é
gozo da licença. assegurada, na localidade da nova residência ou na mais
§ 3° Ocorrendo a opção pela conversão em espécie, próxima, matrícula em instituição de ensino congênere, em
a autorização para pagamento deverá observar a dispo- qualquer época, independente de vaga, na forma e condi-
nibilidade orçamentária do órgão de lotação do servidor, ções estabelecidas na legislação específica.
devendo no caso de indisponibilidade, constituir priorida- Parágrafo único O disposto neste artigo estende-se
de para a imediata reformulação orçamentária no mesmo ao cônjuge ou companheiro, aos filhos ou enteados do
exercício. (*revogado pela Lei Complementar nº 59, de 03 de Profissional da Educação Básica que vivam na sua compa-
fevereiro de 1999.) nhia, bem como aos menores sob guarda, com autorização
judicial.
Art. 58 Não se concederá licença-prêmio ao Profissio-
nal da Educação Básica que, no período aquisitivo: Seção II
I - sofrer penalidade disciplinar de suspensão; Dos Afastamentos
II - afastar-se do cargo em virtude de:
a) licença por motivo de doença em pessoa da família, Art. 64 Aos Profissionais da Educação Básica serão
sem subsídio; permitidos os seguintes afastamentos:
b) licença para tratar de interesse particular; I - para exercer atribuições em outro órgão ou entida-
c) condenação a pena privativa de liberdade por sen- de dos Poderes da União, do Estado ou do Distrito Federal
tença definitiva; e dos Municípios, sem ônus para o órgão de origem;

143
LEGISLAÇÃO BÁSICA

II - para exercer função de natureza técnico-pedagó- V - desempenho de mandato eletivo federal, estadual,
gica em órgão da União ou dos Municípios conveniados municipal ou do Distrito Federal;
com o Estado de Mato Grosso, sem ônus para o órgão de VI - júri e outros serviços obrigatórios por lei;
origem; VII - licenças:
III - para exercer atividade em entidade sindical de clas- a) à gestante, à adotante e à paternidade;
se, com ônus para o órgão de origem; b) para tratamento da própria saúde, até 02 (dois) anos;
IV - para exercício de mandato eletivo, com direito a c) por motivo de acidente em serviço ou doença pro-
opção de subsídio; fissional;
V - para estudo ou missão no exterior. d) prêmio por assiduidade;
e) por convocação para o serviço militar;
Art. 65 Na hipótese do inciso V do artigo anterior, o f) qualificação profissional;
Profissional da Educação Básica não poderá ausentar-se do g) licença para acompanhar cônjuge ou companheiro;
Estado ou do País para estudo ou missão oficial sem a au- h) licença para tratamento de saúde em pessoa da fa-
torização do Governador do Estado. mília; e
§ 1° O afastamento não excederá 4 (quatro) anos e, fin- i) desempenho de mandato classista.
da a missão ou o estudo, somente decorrido igual período, VIII - deslocamento para a nova sede de que trata o
será permitido novo afastamento. Artigo 43 desta lei complementar;
§ 2° Ao Profissional da Educação Básica beneficiado IX - participação em competição desportiva estadual e
pelo disposto neste artigo não será concedida exoneração nacional ou convocação para integrar representação des-
ou licença para tratar de interesse particular antes de de- portiva nacional, no País ou no exterior, conforme disposto
corrido período igual ao do afastamento, ressalvada a hi- em lei específica.
pótese do ressarcimento da despesa havida com o mesmo
afastamento. Art. 70 Contar-se-á apenas para efeito de aposenta-
doria e disponibilidade:
Art. 66 O afastamento do Profissional da Educação Bá- I - o tempo de serviço público federal, estadual e mu-
sica para servir em organismo internacional de que o Brasil nicipal, mediante comprovação do serviço prestado e do
recolhimento da previdência social;
participe ou com o qual coopere dar-se-á com direito à
II - a licença para atividade política, no caso do Artigo
opção pelo subsídio.
108, § 2°, da Lei Complementar n° 04, de 15 de outubro de
1990;
CAPÍTULO IV
III - o tempo correspondente ao desempenho de man-
DO TEMPO DE SERVIÇO
dato eletivo federal, distrital, estadual, municipal, anterior
ao ingresso no serviço público estadual;
Art. 67 É contado, para todos os efeitos, o tempo de
IV - o tempo de serviço relativo a tiro de guerra.
serviço público estadual prestado na Administração Direta,
§ 1° O tempo de serviço a que se refere o inciso I deste
nas Autarquias e Fundações Públicas do Estado de Mato artigo não poderá ser contado em dobro ou com quais-
Grosso, inclusive o das Forças Armadas. quer outros acréscimos, salvo se houver norma correspon-
dente na legislação estadual.
Art. 68 A apuração do tempo de serviço será feita em § 2° O tempo em que o Profissional da Educação Públi-
dias, que serão convertidos em anos, considerado o ano ca esteve aposentado ou em disponibilidade será contado
como de 365 (trezentos e sessenta e cinco) dias. apenas para nova aposentadoria ou disponibilidade.
Parágrafo único Feita a conversão, os dias restantes, § 3° Será contado em dobro o tempo de serviço pres-
até 182 (cento e oitenta e dois), não serão computados, ar- tado às Forças Armadas, em operações de guerra e nas
redondando-se para 01 (um) ano quando excederem deste áreas de fronteira.
número, para efeito de aposentadoria. § 4° É vedada a contagem cumulativa de tempo de ser-
viço prestado concomitantemente em mais de um cargo
Art. 69 Além das ausências ao serviço, previstas no ou função em órgão ou entidades dos Poderes da União,
Artigo 61, são considerados como de efetivo exercício os Estado, Distrito Federal e Município, Autarquia, Fundação
afastamentos em virtude de: Pública, Sociedade de Economia Mista e Empresa Pública.
I - férias;
II - exercício de cargo em comissão ou equivalente em CAPÍTULO V
órgãos ou entidades dos Poderes da União, dos Estados, DA APOSENTADORIA
Municípios e Distrito Federal;
III - exercício de cargo ou função de governo ou ad- Art. 71 O Profissional da Educação Básica será apo-
ministração, em qualquer parte do território nacional, por sentado:
nomeação do Presidente da República, Governo Estadual I - por invalidez permanente, sendo os proventos inte-
e Municipal; grais quando decorrentes de acidente em serviço, moléstia
IV - participação em programa de treinamento regular- profissional ou doença grave, contagiosa ou incurável, es-
mente instituído; pecificada em lei, e proporcional nos demais casos;

144
LEGISLAÇÃO BÁSICA

II - compulsoriamente, aos 70 (setenta) anos de idade, CAPÍTULO VI


com proventos proporcionais ao tempo de serviço; DOS DIREITOS E DOS DEVERES ESPECIAIS DOS PRO-
III - voluntariamente: FISSIONAIS DA EDUCAÇÃO BÁSICA
a) aos 35 (trinta e cinco) anos de serviço, se homem, e Seção I
aos 30 (trinta), se mulher, com proventos integrais; Dos Direitos Especiais
b) aos 30 (trinta) anos de efetivo exercício em funções
de magistério, se professor, e 25 (vinte e cinco), se profes- Art. 75 Além dos direitos previstos nesta lei, são direi-
sora, com proventos integrais; tos dos Profissionais da Educação Básica:
c) aos 30 (trinta) anos de serviço, se homem, e aos 25 I - ter a seu alcance informações educacionais, biblio-
(vinte e cinco), se mulher, com proventos proporcionais a teca, material didático-pedagógico, instrumentos de traba-
esse tempo; lho, bem como contar com assistência técnica que auxilie
d) aos 65 (sessenta e cinco) anos de idade, se homem, e estimule a melhoria de seu desempenho profissional e
e aos 60 (sessenta), se mulher, com proventos proporcio- ampliação de seus conhecimentos;
nais ao tempo de serviço. II - dispor, no ambiente de trabalho, de instalações
§ 1° Consideram-se doenças graves, contagiosas ou in- adequadas e material técnico e pedagógico suficiente e
curáveis, a que se refere o inciso I deste artigo, tuberculose adequado para que possa exercer com eficiência as suas
funções;
ativa, alienação mental, neoplasia maligna, cegueira poste-
III - ter liberdade de escolha e utilização de materiais e
rior ao ingresso no serviço público, hanseníase, cardiopatia
procedimentos didáticos e de instrumento de avaliação do
grave, doença de Parkinson, paralisia irreversível e incapa-
processo ensino-aprendizagem, dentro dos princípios psi-
citante, espondiloartrose anquilosante, nefropatia grave,
copedagógicos, objetivando alcançar o respeito à pessoa
estado avançado do Mal de Paget, osteíte deformante, Sín-
humana e à construção do bem comum;
drome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS); no caso de
IV - ter acesso a recursos para a publicação de traba-
magistério, surdez permanente, anomalia da fala e outras
lhos e livros didáticos ou técnico-científicos;
que a lei indicar, com base na medicina especializada.
V - não sofrer qualquer tipo de discriminação moral
§ 2° Nos casos de exercício de atividades consideradas
ou material decorrente de sua opção profissional, ficando
insalubres ou perigosas, bem como nas hipóteses previstas
o infrator sujeito às penalidades previstas na Constituição
no Artigo 90 da Lei Complementar n° 04/90, a aposentado- Federal, Artigo 5°, V e XII;
ria de que trata o inciso III, alíneas “a”, “b” e “c”, observará VI - reunir-se na unidade escolar para tratar de assun-
o disposto em lei específica. tos de interesse da categoria e da educação em geral, sem
prejuízo das atividades escolares.
Art. 72 A aposentadoria compulsória será automática
e declarada por ato, com vigência a partir do dia imediato Seção II
àquele em que o funcionário atingir a idade limite de per- Dos Deveres Especiais
manência no serviço ativo. (*revogado pela Lei Complemen-
tar nº 206, de 29 de dezembro de 2004.) Art. 76 Aos integrantes do grupo dos Profissionais da
Educação Básica no desempenho de suas atividades, além
Art. 73 A aposentadoria voluntária ou por invalidez dos deveres comuns aos funcionários públicos civis do Es-
vigorará a partir da data da publicação do respectivo ato. tado, cumpre:
(*revogado...) I - preservar as finalidades da Educação Nacional ins-
§ 1° A aposentadoria por invalidez será precedida de piradas nos princípios da liberdade e nos ideais de solida-
licença para tratamento de saúde, por período não exce- riedade humana;
dente a 24 (vinte e quatro) meses. II - promover e/ou participar das atividades educacio-
§ 2° Expirado o período de licença e não estando em nais, sociais e culturais, escolares e extra-escolares em be-
condições de reassumir o cargo ou de ser readaptado, o nefício dos alunos e da coletividade a que serve a escola;
Profissional da Educação Básica será aposentado. III - esforçar-se em prol da educação integral do alu-
§ 3° O lapso de tempo compreendido entre o térmi- no, utilizando processo que acompanhe o avanço científico
no da licença e a publicação do ato de aposentadoria será e tecnológico e sugerindo também medidas tendentes ao
considerado como de prorrogação de licença. (*revogado aperfeiçoamento dos serviços educacionais;
pela Lei Complementar nº 206, de 29 de dezembro de 2004.) IV - comparecer ao local de trabalho com assiduidade
e pontualidade, executando as tarefas com zelo e presteza;
Art. 74 O provento de aposentadoria será calculado V - fornecer elementos para permanente atualização
com observância do disposto nos Artigos 44 a 49 desta lei de seus assentamentos junto aos órgãos da Administração;
complementar e revisto, na mesma data e proporção, sem- VI - assegurar o desenvolvimento do censo crítico e da
pre que se modificar o valor do subsídio do Profissional da consciência política do educando;
Educação Básica em atividade. (*revogado pela Lei Comple- VII - respeitar o aluno como sujeito do processo educa-
mentar nº 206, de 29 de dezembro de 2004.) tivo e comprometer-se com a eficácia do seu aprendizado;

145
LEGISLAÇÃO BÁSICA

VIII - comprometer-se com o aprimoramento pessoal e Art. 81 O tempo de serviço de efetivo exercício do Pro-
profissional através da atualização e aperfeiçoamento dos fissional da Educação Básica, para efeito de aposentadoria,
conhecimentos, assim como da observância aos princípios nos termos da alínea “b”, inciso III, do Artigo 40 da Consti-
morais e éticos; tuição da República, será aquele exercido estritamente em
IX - manter em dia registro, escriturações e documen- Regência de Classe.
tação inerentes à função desenvolvida e à vida profissional; Parágrafo único Aplicam-se os dispositivos previstos
X - preservar os princípios democráticos da participa- no Artigo 40 da Constituição Federal aos demais profis-
ção, da cooperação, do diálogo, do respeito à liberdade e sionais da Educação Básica que estiverem desempenhando
da justiça social. funções diversas às do caput deste artigo.
TÍTULO VI TÍTULO VI
DAS DISPOSIÇÕES GERAIS DAS DISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS
Art. 77 A função de Diretor é considerada eletiva e
Art. 82 O direito referente ao subsídio integral consti-
deverá recair sempre em integrante da carreira dos Pro-
tui-se a partir do mês de dezembro de 1998.
fissionais da Educação Básica, escolhido pela comunidade
Parágrafo único A diferença entre o valor das atuais
escolar.
remunerações e o subsídio integral será parcelada, mês a
Parágrafo único A eleição, as atribuições e os demais
critérios para escolha de diretores, de que trata este artigo, mês, a partir da publicação desta lei complementar, até o
serão estabelecidos em lei. mês de dezembro de 1998.

Art. 78 Os Profissionais da Educação Básica poderão Art. 83 O enquadramento dos atuais professores nesta
congregar-se em sindicato ou associação de classe, na de- lei complementar dar-se-á pelo nível de habilitação e pelo
fesa dos seus direitos, nos termos da Constituição da Re- tempo de serviço.
pública.
§ 1° Ao Profissional da Educação Básica, quando no Art. 84 O enquadramento dos atuais servidores nos
exercício de mandato eletivo em diretoria sindical ou asso- cargos de Técnico Administrativo Educacional e Apoio Ad-
ciativa, representativa de categoria profissional da carreira, ministrativo Educacional dar-se-á em dois momentos:
aplica-se o disposto no Artigo 133 da Constituição Estadual I - temporariamente, pelo grau de escolaridade e tem-
vigente. po de serviço;
§ 2° O Profissional da Educação Básica eleito e que II - definitivamente, na conclusão da profissionalização
estiver no exercício de função diretiva e executiva em As- específica.
sociação de Classe do Magistério, de âmbito estadual ou § 1° No prazo máximo de 08 (oito) anos, os servidores
nacional, será dispensado pelo Chefe do Poder Executivo deverão completar os estudos necessários, de modo a se-
de suas atividades funcionais, sem qualquer prejuízo a di- rem enquadrados nesta lei complementar.
reitos e vantagens. § 2° Os estudos de que trata o parágrafo anterior de-
vem ser garantidos pelo Governo do Estado de Mato Gros-
Art. 79 Em caso de necessidade comprovada, confor- so, através do órgão competente.
me Lei Complementar n° 12, de 13 de janeiro de 1992, po-
derão ser admitidos Profissionais da Educação Básica me- Art. 85 Os atuais professores dos níveis 3 e 4, que não
diante contrato temporário. atendem aos requisitos para o enquadramento nos cargos
§ 1° A admissão de que trata este artigo deverá ob-
previstos nesta lei complementar, terão tabela de subsídio
servar as habilitações inerentes ao cargo do profissional
própria, conforme os Anexos IV, V E VI, garantindo o seu
substituído, priorizando o candidato com o melhor nível
enquadramento na conclusão da Licenciatura Plena.
de habilitação.
§ 2° O Profissional da Educação Básica contratado tem-
porariamente perceberá subsídio compatível com a sua Art. 86 Durante o mês de dezembro de 1998, os pro-
classe e área de atuação. fessores em regime de 20 (vinte) e 22 (vinte e duas) horas
§ 3° Os órgãos competentes nos municípios deverão -aulas semanais de trabalho deverão optar pelo regime de
promover, anualmente, o cadastramento dos candidatos 30 (trinta) horas semanais, desde que tenham no máximo
interessados e divulgar a relação nominal, com endereços 50% (cinquenta por cento) de efetivo exercício nas funções
e habilitações respectivas, nas unidades escolares sob sua do magistério, permanecendo até então em tabela provi-
jurisdição, para seleção. sória.

Art. 80 É assegurado ao Profissional da Educação Bási- Art. 87 Durante o mês de dezembro de 1998, fica ga-
ca ativo ou inativo o recebimento da gratificação natalícia rantido aos atuais especialistas da educação, transpostos
integral até o dia 20 de dezembro do ano trabalhado, ga- pelo Decreto n° 2.067, de 21 de maio de 1986, o direito à
rantida a proporcionalidade aos contratados temporaria- opção pelo retorno ao cargo de professor; caso contrário,
mente. (*revogado pela Lei Complementar nº 165, de 02 de que sejam mantidos os direitos previstos na Lei n° 4.566, de
abril de 2004.) 24 de junho de 1983.

146
LEGISLAÇÃO BÁSICA

Art. 88 Fica considerado em extinção, à medida que vagar, o cargo de Especialista da Educação, assegurando-se os
direitos adquiridos por aqueles transpostos através do Decreto n° 2.067, de 21 de maio de 1986, em tabela própria, anexo
VIII, aos aposentados ou em exercício no Sistema Educacional do Estado.

Art. 89 O próximo concurso a ser oferecido para provimento de vagas do cargo de professor será o último a aceitar
inscrições com escolaridade em nível de 2° Grau Magistério.
Parágrafo único Aplica-se o disposto neste artigo às vagas dos cargos de funcionário Técnico Administrativo cuja
inscrição limitar-se-á à escolaridade mínima em nível de 1° grau completo.

TÍTULO VII
DAS DISPOSIÇÕES FINAIS

Art. 90 É facultado aos atuais funcionários declarados estáveis, nos termos do Artigo 19 do Ato das Disposições Consti-
tucionais Transitórias da Constituição Federal, em exercício na função de professor e que possuam os requisitos estabeleci-
dos no Artigo 4° desta lei complementar, optarem para o quadro dos Profissionais da Educação Básica, nas classes e níveis
correspondentes. (*revogado pela Lei Complementar nº 206, de 29 de dezembro de 2004.)

Art. 91 Os efeitos financeiros desta lei complementar ficam condicionados à existência de previsão orçamentária.

Art. 92 Fica extinto o cargo de professor criado pela Lei n° 4.566, de 24 de junho de 1983, e Lei n° 5.076, de 02 de de-
zembro de 1986, cujo ocupante ingressar nesta lei complementar.
Parágrafo único Ficam considerados em extinção os cargos de professor regidos pela Lei n° 4.566, de 24/06/83; Lei
n° 5.076, de 02/12/86; e pelos Decretos: 751, de 27/06/84; 2.067, de 21/05/86; 2.941, de 23/10/90; e 3.500, de 13/09/93.

Art. 93 O Poder Executivo, no prazo de 180 (cento e oitenta) dias após a publicação desta lei complementar, procederá
à regulamentação necessária à sua eficácia.

Art. 94 Esta lei complementar entra em vigor na data de sua publicação.

Art. 95 Revogam-se as disposições em contrário.

Palácio Paiaguás, em Cuiabá, 1º de outubro de 1998.

as) DANTE MARTINS DE OLIVEIRA


Governador do Estado

ANEXO I

PROFESSOR 30 HORAS

147
LEGISLAÇÃO BÁSICA

ANEXO II

TÉCNICO ADMINISTRATIVO EDUCACIONAL

JORNADA 30 HORAS SEMANAIS


ANEXO III

APOIO ADMINISTRATIVO EDUCACIONAL-ELEMENTAR

JORNADA 30 HORAS SEMANAIS

ANEXO IV

PROFESSOR 20 HORAS.

148
LEGISLAÇÃO BÁSICA

ANEXO V

PROFESSOR 20 HORAS

ANEXO VI

PROFESSOR
30 HORAS

149
LEGISLAÇÃO BÁSICA

ANEXO VII

ESPECIALISTAS EM EDUCAÇÃO

150
LEGISLAÇÃO BÁSICA

Art. 4º Os diretores das escolas públicas estaduais e


8. LEI 7.040/98; da rede que compõe a Gestão Única deverão ser indicados
pela comunidade escolar de cada unidade de ensino, me-
diante votação direta.
Parágrafo único Entende-se por comunidade escolar,
LEI Nº 7.040, DE 1º DE OUTUBRO DE 1998 - D.O. para efeito desta lei, o conjunto de alunos, pais ou respon-
1º.10.98. sáveis por alunos, os profissionais da educação em efetivo
exercício no estabelecimento de ensino.
Regulamenta os dispositivos do Artigo 14 da Lei Fe-
deral nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996 (Diretrizes e Art. 5º Compete ao diretor:
I - representar a escola, responsabilizando-se pelo seu
Bases da Educação Nacional), bem como o inciso VI do
funcionamento;
Artigo 206 da Constituição Federal, que estabelecem
II - coordenar, em consonância com o Conselho Deli-
Gestão Democrática do Ensino Público Estadual, ado-
berativo da Comunidade Escolar, a elaboração, a execução
tando o sistema seletivo para escolha dos dirigentes
e a avaliação do Projeto Político-Pedagógico e do Plano
dos estabelecimentos de ensino e a criação dos Conse-
de Desenvolvimento Estratégico da Escola, observadas as
lhos Deliberativos da Comunidade Escolar nas Unida-
Políticas Públicas da Secretaria de Estado de Educação, e
des de Ensino. outros processos de planejamento;
III - coordenar a implementação do Projeto Político-Pe-
A ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE MATO dagógico da Escola, assegurando a unidade e o cumpri-
GROSSO, tendo em vista o que dispõe o Art. 42 da Consti- mento do currículo e do calendário escolar;
tuição Estadual, aprova e o Governador do Estado sanciona IV - manter atualizado o tombamento dos bens pú-
a seguinte lei: blicos, zelando, em conjunto com todos os segmentos da
comunidade escolar, pela sua conservação;
TÍTULO I V - dar conhecimento à comunidade escolar das dire-
DA GESTÃO DEMOCRÁTICA DO ENSINO trizes e normas emitidas pelos órgãos do sistema de ensi-
PÚBLICO ESTADUAL no;
VI - submeter ao Conselho Deliberativo da Comunida-
Art. 1º A Gestão Democrática do Ensino Público Esta- de Escolar para exame e parecer, no prazo regulamentado,
dual, princípio inscrito no Artigo 206, VI, da Constituição a prestação de contas dos recursos financeiros repassados
Federal, e no Artigo 14 da Lei Federal nº 9.394/96, será à unidade escolar;
exercida na forma desta lei, obedecendo aos seguintes VII - divulgar à comunidade escolar a movimentação
preceitos: financeira da escola;
I - co-responsabilidade entre Poder Público e socieda- VIII - coordenar o processo de avaliação das ações pe-
de na gestão da escola; dagógicas e técnico-administrativo-financeiras desenvolvi-
II - autonomia pedagógica, administrativa e financei- das na escola;
ra da Escola, mediante organização e funcionamento dos IX - apresentar, anualmente, à Secretaria de Estado de
Conselhos Deliberativos da Comunidade Escolar, do rigor Educação e à comunidade escolar, a avaliação do cumpri-
na aplicação dos critérios democráticos para escolha do di- mento das metas estabelecidas no Plano de Desenvolvi-
retor de escola e da transferência automática e sistemática mento da Escola, avaliação interna da Escola e as propostas
de recursos às unidades escolares; que visem à melhoria da qualidade do ensino e ao alcance
III - transparência dos mecanismos administrativos, fi- das metas estabelecidas;
nanceiros e pedagógicos; X - cumprir e fazer cumprir a legislação vigente.
IV - eficiência no uso dos recursos financeiros. Art. 6º O período de administração do diretor corres-
ponde a mandato de 02 (dois) anos, permitida a recondu-
TÍTULO II ção.
DA AUTONOMIA NA GESTÃO
Art. 7º A vacância da função de diretor ocorre por con-
ADMINISTRATIVA clusão da gestão, renúncia, destituição, aposentadoria ou
morte.
Art. 2º A administração das unidades escolares públi- Parágrafo único O afastamento do diretor por perío-
cas estaduais e da rede que compõem a Gestão Única será do superior a 02 (dois) meses, excetuando-se os casos de
exercida pelos seguintes órgãos: licença saúde, licença gestante e licença saúde família, im-
I - diretoria; plicará a vacância da função.
II - órgãos consultivos e deliberativos da unidade es-
colar. Art. 8º Ocorrendo a vacância da função de diretor, ini-
Art. 3º A administração das unidades escolares será ciar-se-á o processo de nova indicação, no prazo máximo
exercida pelo diretor, em consonância com as deliberações de 15 (quinze) dias letivos.
do Conselho Deliberativo da Comunidade Escolar, respei- Parágrafo único No caso do disposto neste artigo, a
tadas as disposições legais. pessoa indicada completa o mandato de seu antecessor.

151
LEGISLAÇÃO BÁSICA

Art. 9º Ocorrendo a vacância da função de diretor nos tui-se de profissionais da educação básica, pais e alunos,
6 (seis) meses anteriores ao término do período, completa- em mandato de 2 (dois) anos, constituído em Assembleia
rá o mandato o coordenador pedagógico. Geral.
Parágrafo único No impedimento do coordenador
pedagógico, um membro dos profissionais da educação Art. 18 O Conselho Deliberativo da Comunidade Esco-
em exercício na unidade escolar, escolhido em assembleia lar deverá ser constituído paritariamente por profissionais
da comunidade escolar. da educação básica, pais e alunos, tendo no mínimo 08
(oito) e no máximo 16 (dezesseis) membros. 50% (cinquen-
Art. 10 A destituição do diretor indicado somente po- ta por cento) deve ser constituído de representantes do
derá ocorrer motivadamente: segmento escola e 50% (cinquenta por cento) de represen-
I - após sindicância, em que seja assegurado o direito tantes da comunidade, sendo o diretor da escola membro
de defesa em face da ocorrência de fatos que constituam nato do Conselho.
ilícito penal, falta de idoneidade moral, de disciplina, de as-
siduidade, de dedicação ao serviço, deficiência ou infração Art. 19 A eleição de seus membros deverá acontecer
funcional previstas na Lei Complementar dos Profissionais 30 (trinta) dias antes da eleição de diretor e seu mandato
da Educação Básica; será de 2 (dois) anos, com direito à reeleição de apenas um
II - por descumprimento desta lei, no que diz respeito período.
às atribuições e responsabilidades.
§ 1º O Conselho Deliberativo Escolar, mediante deci- Art. 20 Os representantes do Conselho serão eleitos
são fundamentada e documentada pela maioria absoluta em Assembleia de cada segmento da comunidade escolar,
de seus membros, e o Secretário de Estado de Educação, vencendo por maioria simples.
mediante despacho fundamentado, poderão propor ou
determinar a instauração de sindicância, para os fins pre- Art. 21 Para fazer parte do Conselho, o candidato do
vistos neste artigo. segmento aluno deverá ter no mínimo 14 (quatorze) anos
§ 2º O Secretário de Estado de Educação determinará o ou estar cursando a 5ª série do 1º Grau.
afastamento do indiciado durante a realização do processo
de sindicância.
Art. 22 O presidente do Conselho, o secretário e o te-
soureiro deverão ser escolhidos entre seus membros. É ve-
Art. 11 São órgãos consultivos e deliberativos da uni-
dado ao diretor ocupar o cargo de presidente do Conselho.
dade escolar:
I - a Assembleia Geral;
Art. 23 O primeiro Conselho formado na escola tem
II - o Conselho Deliberativo da Comunidade Escolar;
responsabilidade de elaborar seu regimento, no prazo de
III - o Conselho Fiscal.
30 (trinta) dias, sendo o mesmo referendado em Assem-
Art. 12 A comunidade escolar reunir-se-á em Assem- bleia Geral.
bleia Geral ordinária, no mínimo, uma vez por semestre.
Art. 24 O representante do segmento pais não poderá
Art. 13 O Conselho Deliberativo da Comunidade Esco- ser profissional da educação básica da escola.
lar reunir-se-á, ordinariamente, uma vez por mês.
Art. 25 Fica assegurada a eleição de 1 (um) suplen-
Art. 14 O Conselho Fiscal reunir-se-á, ordinariamente, te para cada segmento, que assumirá apenas em caso de
a cada semestre. vacância ou destituição de um membro do segmento que
representa.
Art. 15 Cada órgão terá seu funcionamento regula-
mentado em Regimento próprio. Art. 26 As escolas de suplência obedecerão aos mes-
mos critérios das demais, na formação do Conselho Delibe-
Art. 16 Compete à Assembleia Geral: rativo da Comunidade Escolar.
I - conhecer o balanço financeiro e o relatório sobre o
exercício findo, deliberando sobre os mesmos; Art. 27 Ocorrerá a vacância do membro do Conse-
II - eleger os membros do Conselho Fiscal e suplentes; lho Deliberativo da Comunidade Escolar por conclusão do
III - avaliar anualmente os resultados alcançados pela mandato, renúncia, desligamento da escola ou destituição,
escola e o desempenho do Conselho Deliberativo da Co- aposentadoria ou morte.
munidade Escolar; § 1º O não-comparecimento injustificado do membro
IV - definir o processo de escolha dos membros do do Conselho a 03 (três) reuniões ordinárias consecutivas ou
Conselho Deliberativo da Comunidade Escolar e do Con- a 05 (cinco) reuniões ordinárias ou extraordinárias alterna-
selho Fiscal. das, também implicará vacância da função de conselheiro.
§ 2º No prazo mínimo de 15 (quinze) dias, preenchi-
Art. 17 O Conselho Deliberativo da Comunidade Esco- dos os requisitos do § 1º, o Conselho convocará uma As-
lar é um organismo deliberativo e consultivo das diretrizes sembléia Geral do respectivo segmento escolar, quando os
e linhas gerais desenvolvidas na unidade escolar e consti- pares, ouvidas as partes, deliberarão sobre o afastamento

152
LEGISLAÇÃO BÁSICA

ou desligamento do membro do Conselho Deliberativo Es- XV - deliberar sobre propostas de convênios com o Po-
colar, que será destituído se a maioria dos presentes da der Público ou instituições não-governamentais;
Assembléia assim o decidir. XVI - acompanhar e fiscalizar a folha de pagamento
dos profissionais da educação da unidade escolar;
Art. 28 A unidade escolar pública do Estado, que for XVII - divulgar bimestralmente as atividades realizadas
criada a partir da data da publicação desta lei, deverá for- pelo Conselho;
mar um Conselho Deliberativo da Comunidade Escolar. XVIII - analisar, aprovar, acompanhar e avaliar os proje-
tos a serem desenvolvidos pela escola;
Art. 29 A formação dos Conselhos das escolas indíge- XIX - elaborar e executar o orçamento anual da unida-
nas ficará a critério das próprias comunidades, respeitando de escolar;
as especificidades de organização de cada grupo étnico. XX - deliberar sobre aplicação e movimentação dos re-
cursos da unidade escolar;
Art. 30 Fica assegurada a capacitação dos membros XXI - encaminhar ao Conselho Fiscal o balanço e o re-
do Conselho, bem como prestação, quando solicitado, de
latório antes de submetê-los à apreciação da assembleia
orientações pedagógicas, jurídicas e administrativas dos
geral;
órgãos educacionais do Estado.
XXII - encaminhar, quando for o caso, à autoridade
Art. 31 Compete ao Conselho Deliberativo da Comu- competente, solicitação fundamentada de sindicância ou
nidade Escolar: processo disciplinar administrativo para o fim de destitui-
I - eleger o presidente, bem como o secretário e o te- ção de diretor, mediante decisão da maioria absoluta do
soureiro; Conselho Deliberativo;
II - criar e garantir mecanismos de participação da XXIII - prestar contas dos recursos que forem repassa-
comunidade escolar na definição do Plano de Desenvol- dos à unidade escolar:
vimento Estratégico e do Projeto Político-Pedagógico, e a) quando se tratar de recursos públicos, ao Conselho
demais processos de planejamento no âmbito da comu- Fiscal, ao Fundo Estadual de Educação e ao Tribunal de
nidade escolar; Contas;
III - participar da elaboração, acompanhamento e ava- b) quando se tratar de recursos de outras fontes, ao
liação do Plano de Desenvolvimento Estratégico da Escola; Conselho Fiscal e à Assembleia Geral.
IV - participar da elaboração, acompanhamento e ava-
liação do Projeto Político-Pedagógico da Escola; Art. 32 - Compete ao presidente:
V - participar da elaboração do calendário escolar e I - representar o Conselho Deliberativo da Comunidade
aprová-lo, levando em conta o mínimo de dias letivos exi- Escolar em juízo e fora dele;
gidos legalmente; II - convocar a Assembleia Geral e as reuniões do Con-
VI - conhecer e deliberar sobre o processo e resultados selho Deliberativo da Comunidade Escolar e o Conselho
da avaliação externa e interna do funcionamento da escola, Fiscal;
propondo planos que visem à melhoria do ensino; III - presidir a Assembleia Geral e as reuniões do Con-
VII - deliberar, quando convocado, sobre problemas de selho Deliberativo da Comunidade Escolar;
rendimento escolar, indisciplina e infringências; IV - autorizar pagamento e assinar cheques, em con-
VIII - propor medidas que visem a equacionar a relação junto com o tesoureiro e o diretor da escola.
idade-série, observando as possibilidades da unidade de
ensino; Art. 33 Compete ao secretário:
IX - analisar o desempenho dos profissionais da unida-
I - auxiliar o presidente em suas funções;
de escolar, tendo assessoria de uma equipe habilitada na
II - preparar o expediente do Conselho Deliberativo da
área e sugerindo medidas que favoreçam a superação das
Comunidade Escolar;
deficiências, quando for o caso;
X - acompanhar o processo de distribuição de turmas III - organizar o relatório anual do Conselho Deliberati-
e/ou aulas da unidade escolar; vo da Comunidade Escolar;
XI - garantir a divulgação do resultado do rendimento IV - secretariar a Assembleia Geral e as reuniões do
escolar de cada ano letivo, bem como um relatório das ati- Conselho Deliberativo da Comunidade Escolar;
vidades docentes à comunidade; V - manter em dia os registros.
XII - avaliar junto às instâncias internas, pedagógica e
administrativa, o estágio probatório dos servidores lotados Art. 34 Compete ao tesoureiro:
na unidade escolar, de acordo com as normas constitucio- I - arrecadar a receita da unidade escolar;
nais; II - fazer a escrituração da receita e despesa, nos ter-
XIII - analisar planilhas e orçamentos para realização de mos das instruções que forem baixadas pela Secretaria de
reparos, reformas e ampliações no prédio escolar, acompa- Estado de Educação e as do Tribunal de Contas;
nhando sua execução; III - apresentar, mensalmente, o relatório com o de-
XIV - deliberar sobre a contratação de serviços e aqui- monstrativo da receita e despesa da escola ao Conselho
sição de bens para a escola, observando a aplicação da Deliberativo da Comunidade Escolar;
legislação vigente quando a fonte de recursos for de na- IV - efetuar pagamentos autorizados pelo Conselho
tureza pública; Deliberativo da Comunidade Escolar;

153
LEGISLAÇÃO BÁSICA

V - manter em ordem e sob sua supervisão os livros, Art. 42 O repasse de recursos financeiros às unidades
documentos e serviços contábeis do Conselho Deliberativo escolares que visa ao financiamento de serviços e necessi-
da Comunidade Escolar; dades básicas, será regulamentado pela Secretaria de Esta-
VI - assinar cheques juntamente com o presidente e o do de Educação e repassado bimestralmente.
diretor da escola. Parágrafo único Os recursos para aquisição de ma-
terial didático e capacitação de recursos humanos serão
Art. 35 O Conselho Deliberativo da Comunidade Es- repassados de acordo com o Plano de Desenvolvimento
colar reunir-se-á, ordinariamente, uma vez por mês, exceto Estratégico.
nos períodos de férias e de recesso escolar, em dia e hora
previamente marcados, mediante convocação do presi- Art. 43 Os recursos financeiros da unidade escolar
dente para conhecer o andamento dos trabalhos e tratar serão depositados em conta específica a ser mantida em
de assuntos de interesse geral. estabelecimento de crédito, onde houver, efetuando-se
Parágrafo único O Conselho reunir-se-á, extraordina- sua movimentação através de cheques nominais pelo pre-
riamente, sempre que for convocado pelo presidente, ou sidente, tesoureiro e diretor da escola.
por solicitação da maioria de seus membros. § 1º Na hipótese de não existir nenhum estabeleci-
mento de crédito, os recursos serão depositados na agên-
Art. 36 As deliberações do Conselho da Comunidade cia bancária da sede do município de mais fácil acesso.
Escolar serão tomadas por maioria de votos. § 2º Em qualquer caso, será permitida a existência, em
caixa, de numerário em espécie, até o limite de 01 (um)
Art. 37 O Conselho Fiscal compõe-se de 03 (três) salário mínimo, para atender às despesas do pronto paga-
membros efetivos e de 03 (três) suplentes, escolhidos mento.
anualmente pela Assembleia Geral ordinária, dentre os
membros da comunidade escolar. Art. 44 As aquisições ou contratações efetuadas pela
Parágrafo único É vedada a eleição de aluno para o escola deverão ser aprovadas previamente pelo Conselho
Conselho Fiscal, salvo se maior de 21 (vinte e um) anos. Deliberativo da Comunidade Escolar, conforme normas e
regulamentos a serem baixados pela Secretaria de Estado
Art. 38 Compete ao Conselho Fiscal: de Educação.
I - examinar os documentos contábeis da entidade, a
situação do Conselho e os valores em depósitos; Art. 45 A contratação de obras e serviços será restrita
II - apresentar à Assembleia Geral ordinária parecer so- às necessidades de construção, reforma, ampliação e ma-
bre as contas do Conselho, no exercício em que servir; nutenção dos prédios e equipamentos escolares, ficando
III - apontar à Assembleia Geral as irregularidades que vedada sua utilização para substituir ou complementar pes-
descobrir, sugerindo as medidas que reputar úteis ao Con- soal necessário para atividades pedagógica, administrativa,
selho; nutricional, de limpeza, de vigilância ou outras funções.
IV - convocar a Assembleia Geral ordinária, se o Presi-
dente do Conselho retardar por mais um mês a sua con- Art. 46 É vedado ao Conselho Deliberativo da Comu-
vocação. nidade Escolar:
I - adquirir veículos ou imóveis, locar ou construir pré-
Art. 39 Os membros do Conselho Deliberativo da Co- dios com recursos oriundos das subvenções ou auxílios
munidade Escolar e do Conselho Fiscal exercerão gratuita- que lhe forem concedidos pelo Poder Público, sem autori-
mente suas funções, não sendo, face aos cargos desempe- zação da Secretaria de Estado de Educação;
nhados, considerados servidores públicos. II - conceder empréstimos ou dar garantias de aval,
fianças e caução, sob qualquer forma;
TÍTULO III III - empregar subvenções, auxílios ou recursos de
DA AUTONOMIA DA GESTÃO qualquer natureza, em desacordo com os projetos ou pro-
FINANCEIRA gramas a que se destinam.

Art. 40 A autonomia da Gestão Financeira dos Estabe- Art. 47 É proibida qualquer ação que iniba ou impeça
lecimentos de Ensino objetiva o seu funcionamento normal o aluno de frequentar a escola ou que fira o direito de aces-
e a melhoria no padrão de qualidade. so e permanência na mesma, direito esse expressamente
garantido na Constituição Federal.
Art. 41 Constituem recursos da unidade escolar:
I - repasse, doações, subvenções que lhe forem conce- Art. 48 É proibida a cobrança de mensalidade ou taxas
didos pela União, Estado, Município, e entidades públicas e aos membros da comunidade escolar, a qualquer título.
privadas, associações de classe e quaisquer outras catego-
rias ou entes comunitários; Art. 49 Pela indevida aplicação dos recursos, respon-
II - renda de exploração de cantina, bem como outras derão solidariamente os membros do Conselho que te-
iniciativas ou promoções. nham autorizado a despesa ou efetuado o pagamento.

154
LEGISLAÇÃO BÁSICA

Art. 50 A aquisição de personalidade jurídica pelo II - ter no mínimo 2 (dois) anos de efetivo exercício
Conselho Deliberativo da Comunidade Escolar tem como ininterruptos até a data da inscrição, prestados na escola
requisito a aprovação de seu Estatuto pela Assembleia Ge- que pretende dirigir;
ral, observada a legislação pertinente. III - ser habilitado em nível de Licenciatura Plena;
IV - participar dos ciclos de estudos a serem organi-
TÍTULO IV zados pelas Assessorias Pedagógicas nos Municípios, sob
DA AUTONOMIA DA GESTÃO orientação da Secretaria de Estado de Educação.
PEDAGÓGICA
Art. 57 Caso não haja profissional da educação com
Art. 51 A autonomia da Gestão Pedagógica das unida- dois anos de serviços da unidade escolar, poderá inscrever-
des escolares objetiva a efetivação da intencionalidade da se o profissional que tenha um ano na unidade escolar ou
escola mediante um compromisso definido coletivamente. dois anos em qualquer escola pública no Município.

Art. 52 A autonomia da Gestão das Unidades Escola- Art. 58 Na unidade escolar onde inexistir profissional
res será assegurada pela definição, no Plano de Desenvol- da educação com habilitação de nível superior, poderá
vimento Estratégico de Escola, de propostas pedagógicas inscrever-se o profissional com habilitação em nível de 2º
específicas do Projeto Político Pedagógico. Grau, com Magistério, ou com profissionalização específi-
ca.
TÍTULO V Parágrafo único O profissional poderá concorrer à di-
DA ESCOLHA PARA DIRETORES DE reção de apenas uma escola.
ESCOLA PÚBLICA ESTADUAL
Art. 59 É vedada a participação, no processo seletivo,
Art. 53 Os critérios para escolha de diretores têm do profissional que nos últimos cinco anos:
como referência clara os campos do conhecimento, da I - tenha sido exonerado, dispensado ou suspenso do
competência e liderança, na perspectiva de assegurar um exercício da função em decorrência de processo adminis-
conhecimento mínimo da realidade onde se insere.
trativo disciplinar;
II - esteja respondendo a processo administrativo dis-
Art. 54 A seleção de profissional para provimento do
ciplinar;
cargo em comissão de diretor das escolas públicas, consi-
III - esteja sob processo de sindicância;
derando-se a aptidão para liderança e as habilidades ge-
IV - esteja inadimplente junto ao Fundo Estadual de
renciais necessárias ao exercício do cargo, será realizada
Educação ou ao Tribunal de Contas do Estado;
em 2 (duas) etapas:
V - esteja sob licenças contínuas.
I - 1ª Etapa - constará de ciclos de estudos;
II - 2ª Etapa - constará de seleção do candidato pela
comunidade escolar por meio de votação na própria uni- Art. 60 Haverá em cada unidade escolar uma comis-
dade escolar, levando-se em consideração a proposta de são para conduzir o processo de seleção de candidato à
trabalho do candidato que deverá conter: direção, constituída em Assembleia Geral da comunidade,
a) objetivos e metas para melhoria da escola e do en- convocada pelo dirigente da escola.
sino. § 1º Devem compor a comissão 1 (um) membro efetivo
b) estratégias para preservação do patrimônio público. e seu respectivo suplente, dentre:
c) estratégias para a participação da comunidade no I - representante dos profissionais da educação básica;
cotidiano da escola, na gestão dos recursos financeiros II - representante dos pais;
quanto ao acompanhamento e avaliação das ações peda- III - representante dos alunos maiores de 14 (quatorze)
gógicas. anos.
§ 1º Serão considerados aptos, na primeira etapa, os § 2º O representante e seu suplente serão eleitos em
candidatos com 100 (cem por cento) de frequência. Assembleia Geral pelos respectivos segmentos, em data,
§ 2º A segunda etapa do processo deverá realizar-se hora e local amplamente divulgados.
em todas as escolas estaduais, em data a ser fixada pela § 3º A comissão de seleção, uma vez constituída, ele-
Secretaria de Estado de Educação. gerá um de seus membros para presidi-la.
§ 4º O membro da comissão que praticar qualquer ato
Art. 55 O candidato que não fizer apresentação de lesivo às normas que regulam o processo será substituído
sua proposta de trabalho em Assembleia Geral, em data e pelo seu suplente após a comprovação da irregularidade e
horário marcados pela Comissão, estará automaticamente parecer da Assessoria Pedagógica no Município.
desclassificado. § 5º Não poderá compor a comissão:
I - qualquer um dos candidatos, seu cônjuge e ou pa-
Art. 56 Para participar do processo de que trata esta rente até segundo grau;
lei, o candidato, integrante do quadro dos Profissionais da II - o servidor em exercício no cargo de diretor.
Educação Básica, deve: § 6º O diretor da escola deverá colocar à disposição da
I - ser ocupante de cargo efetivo ou estável do quadro comissão os recursos humanos e materiais necessários ao
dos Profissionais da Educação Básica; desempenho de suas atribuições.

155
LEGISLAÇÃO BÁSICA

Art. 61 A comissão terá, dentre outras, as atribuições Art. 65 Estará afastado do processo, à vista de repre-
de: sentação da parte ofendida, devidamente fundamentada
I - planejar, organizar, coordenar e presidir o processo e dirigida a comissão, o candidato que praticar quaisquer
de seleção do candidato pela comunidade; dos atos do
II - divulgar amplamente as normas e os critérios rela- Art.go 64 desta lei, ou que permitir a outrem praticá
tivos ao processo de seleção; -los em seu favor.
III - analisar, juntamente com o Assessor Pedagógico Parágrafo único Caso o candidato possua apelido
no Município, as inscrições dos candidatos, deferindo-as pelo qual é conhecido, poderá usá-lo para a divulgação de
ou não; sua candidatura junto à comunidade escolar.
IV - convocar a Assembleia Geral para a exposição de
proposta de trabalho do candidato aos alunos, aos pais e
Art. 66 Podem votar:
aos profissionais da educação;
V - providenciar material de votação, lista de votantes I - profissionais da educação em exercício na escola;
por segmento e urnas; II - alunos regularmente matriculados com frequência
VI - credenciar até dois fiscais indicados pelos candida- comprovada, que tenham no mínimo 12 (doze) anos de
tos, identificando-os através de crachás; idade ou estejam cursando da 5ª série em diante;
VII - lavrar e assinar as atas de todas as reuniões e de- III - pai e mãe (dois votos por família) ou responsável
cisões em livro próprio; (um voto por família) pelos alunos menores de 18 (dezoito)
VIII - receber os pedidos de impugnação - por escrito anos que tenham frequência comprovada.
- relativos ao candidato ou ao processo para análise junto § 1º O profissional da educação com filhos na escola
com a Assessoria Pedagógica e emitir parecer no máximo votará apenas pelo seu segmento.
em 24 horas após o recebimento do pedido; § 2º O profissional da educação que ocupa mais de um
IX - designar, credenciar, instruir, com a devida ante- cargo na escola votará apenas uma vez.
cedência, os componentes das mesas receptoras e escru-
tinadoras; Art. 67 No ato de votação, o votante deverá apresen-
X - acondicionar as cédulas e fichas de votação, bem tar à mesa receptora um documento que comprove sua
como a listagem dos votantes em envelopes lacrados e ru- legitimidade (identidade ou outros).
bricados por todos os seus membros, arquivando na escola
por um prazo de 90 (noventa) dias, após os quais deverá
Art. 68 Não é permitido voto por procuração.
proceder à incineração.
XI - divulgar o resultado final do processo de seleção
e enviar a documentação à Secretaria de Estado de Educa- Art. 69 O votante com identidade comprovada, cujo
ção, através da Equipe de Assessoria Pedagógica no Muni- nome não conste em nenhuma lista, poderá votar numa
cípio, em 24 (vinte e quatro) horas. lista em separado.

Art. 62 A Assembleia a que se refere o Art. 70 O processo de votação será conduzido por me-
Art.go 61, IV, deverá ser realizada em horário que pos- sas receptoras designadas pela comissão de eleição.
sibilite o atendimento ao maior número possível de inte-
ressados na exposição do plano de trabalho, cujo teor de- Art. 71 Poderão permanecer no recinto destinado à
verá ser amplamente divulgado tanto no interior da escola, mesa receptora apenas os seus membros e os fiscais.
como na comunidade,
Art. 72 Nenhuma autoridade estranha à mesa poderá
Art. 63 Na Assembleia Geral, deverá ser concedida a intervir, sob pretexto algum, em seu regular funcionamen-
cada candidato a mesma fração de tempo para exposição to, exceto o presidente da comissão, quando solicitado.
e debate da sua proposta de trabalho.
Art. 73 Cada mesa será composta por no mínimo três
Art. 64 É vedado ao candidato e à comunidade: e no máximo cinco membros e dois suplentes, escolhidos
I - exposição de faixas e cartazes fora da escola;
pela comissão entre os votantes e com antecedência míni-
II - distribuição de panfletos promocionais e de brindes
ma de três dias.
de qualquer espécie como objetos de propaganda ou de
aliciamento de votantes; Parágrafo único Não podem integrar a mesa os candi-
III - realização de festas na escola, que não estejam datos, seus cônjuges e parentes até o segundo grau.
previstas no seu calendário;
IV - atos que impliquem em oferecimento, promessas Art. 74 Os eventuais pedidos de impugnação dos me-
inviáveis ou vantagens de qualquer natureza; sários, devidamente fundamentados, serão dirigidos ao
V - aparição isolada nos meios de comunicação, ainda presidente da comissão e, caso sejam considerados perti-
que em forma de entrevista jornalística; nentes, a substituição será feita pelo suplente.
VI - utilização de símbolos, frases ou imagens associa- Parágrafo único O candidato que não solicitar a im-
das ou semelhantes às empregadas por órgãos do gover- pugnação ficará impedido de arguir, sobre este fundamen-
no. to, a nulidade do processo.

156
LEGISLAÇÃO BÁSICA

Art. 75 O voto será dado em cédula única, contendo Parágrafo único Divulgado o resultado, não cabe sua
o carimbo identificador da escola estadual, devidamente revisão, exceto em caso de provimento de recurso impetra-
assinado pelo presidente da comissão e um dos mesários. do nos termos do
Art.go 88 desta lei.
Art. 76 O secretário da mesa deverá lavrar a ata cir-
cunstanciada dos trabalhos realizados, a qual deverá ser Art. 83 No momento de transmissão de cargo ao dire-
assinada por todos os mesários. tor selecionado pelas comunidades, o profissional da edu-
cação que estiver na direção deverá apresentar a avaliação
Art. 77 Os fiscais indicados pelos candidatos poderão pedagógica de sua gestão e fazer a entrega do balanço do
solicitar ao presidente da mesa o registro, em ata, de even- acervo documental e do inventário do material, do equipa-
tuais irregularidades ocorridas durante o processo. mento e do patrimônio existentes na unidade escolar.

Art. 78 As mesas receptoras, uma vez encerrada a vo- Art. 84 O profissional da educação que esteja exer-
tação e elaborada a respectiva ata, ficam automaticamente cendo a direção da escola, caso seja novamente escolhi-
transformadas em mesas escrutinadoras, para procederem do, deve apresentar à comunidade, em Assembleia Geral,
imediatamente à contagem dos votos, no mesmo local de a prestação de contas da gestão anterior, no momento da
votação. posse.
§ 1º Antes da abertura da urna, a comissão deverá ve- Parágrafo único A transmissão do cargo deverá ocor-
rificar se há nela indícios de violação e, em caso de consta- rer em Assembleia Geral da comunidade escolar.
tação, a mesma deverá ser encaminhada com relatório ao
Conselho Deliberativo da Comunidade Escolar para deci- Art. 85 Na unidade escolar onde não houver candidato
são cabível. inscrito no processo seletivo ou classificado nos termos dos
§ 2º Caso o Conselho Deliberativo da Comunidade Es- Art.gos 54 e seus respectivos parágrafos e 55, respon-
colar se julgue incompetente, recorrerá à Assessoria Peda- derá pela direção o profissional designado pelo Secretário
de Educação, oriundo de outra escola, respeitando-se os
gógica, no Município, e esta, se for o caso, ao Secretário de
critérios previstos no
Estado de Educação.
Art.go 56, I, II e IV.
§ 3º Antes da abertura da urna, a mesa escrutinadora
Parágrafo único No município com apenas uma uni-
deverá examinar os votos tomados em separado, anulan-
dade escolar, onde não se aplicar os termos deste artigo, o
do-os se for o caso, ou incluindo-os entre os demais, pre-
Secretário de Educação fará a designação do diretor.
servando o sigilo.
Art. 86 Ao candidato que se sentir prejudicado ou de-
Art. 79 Não havendo coincidência entre o número de tectar irregularidades no desenvolvimento do processo de
votantes e o número de cédulas existentes na urna, o fato seleção do diretor, será facultado dirigir representação à
somente constituirá motivo de anulação, se resultante de comissão, conforme
fraude comprovada e, neste caso, adota-se o mesmo pro- Art.go 61, VIII.
cedimento citado nos §§ 2º e 3º do
Art.go 78. Art. 87 Das decisões da comissão cabem recursos diri-
gidos à Secretaria de Estado de Educação.
Art. 80 Os pedidos de impugnação fundados em vio- Parágrafo único O prazo para a interposição do recur-
lação de urnas somente poderão ser apresentados até sua so é de 72 (setenta e duas) horas improrrogáveis, contados
abertura. do dia seguinte ao do recebimento de despacho desfavo-
rável à representação.
Art. 81 São nulos os votos:
I - registrados em cédulas que não correspondam ao Art. 88 Decorrido o prazo previsto no Parágrafo único
modelo padrão; do
II - que indiquem mais de um candidato; Art.go 87, e não havendo recursos, o candidato sele-
III - que contenham expressões ou qualquer outra ma- cionado assumirá o cargo em comissão.
nifestação além daquela que exprime o voto;
IV - dados a candidatos que não estejam aptos a parti- Art. 89 Os casos omissos serão resolvidos pela Secre-
cipar da 2ª etapa do processo, conforme o taria de Estado de Educação.
Art.go 54 desta lei.
Art. 90 Esta lei entra em vigor na data de sua publi-
Art. 82 Concluídos os trabalhos de escrutinação, lavra- cação.
da a ata do resultado final de todo o processo e assinada
pelos componentes da mesa escrutinadora, todo material Art. 91 Revogam-se as disposições em contrário.
será entregue ao presidente da comissão que se reunirá
com os demais membros para: Palácio Paiaguás, em Cuiabá, 1º de outubro de 1998.
I - verificar toda a documentação;
II - decidir sobre eventuais irregularidades; as) DANTE MARTINS DE OLIVEIRA
III - divulgar o resultado final da votação; Governador do Estado

157
LEGISLAÇÃO BÁSICA

Art. 4º. A carga horária mínima anual, com referência


9. RESOLUÇÃO Nº 150/1999 – CEE/MT; ao ensino fundamental e médio será de 800 (oitocentas)
horas, distribuídas por um mínimo de 200 (duzentos) dias
de efetivo trabalho escolar.
§ 1º. As 800 (oitocentas) horas serão consideradas no
RESOLUÇÃO Nº 150/99-CEE/MT seu sentido cronológico, de sessenta minutos, podendo a
duração da aula ser fixada livremente pela escola, em seu
Estabelece normas aplicáveis para a Educação Básica Regimento Escolar.
no Sistema Estadual de Ensino, com vistas à adaptação da § 2º. Os cursos regulares noturnos organizados com
legislação educacional às disposições da Lei nº 9394/96 e carga horária diária inferior a quatro horas, deverão esten-
da Lei Complementar nº 49/98, e dá outras providências. der o período letivo para alcançar o mínimo de horas esta-
belecidas pela legislação vigente.
O CONSELHO ESTADUAL DE EDUCAÇÃO DE MATO
GROSSO, no uso de suas atribuições, e tendo em vista o Art. 5º. A jornada escolar diária, no ensino fundamen-
disposto no tal e médio, será de pelo menos 4 (quatro) horas de traba-
Art.go 88 da Lei 9394/96, lho efetivo dentro ou fora de sala de aula, incluindo o re-
Art.go 10 da Lei Complementar nº 49/98, e por decisão creio, devendo ser progressivamente ampliada, com vistas
da Plenária desta data à escola de tempo integral, ressalvados os casos do ensino
RESOLVE: noturno e das formas alternativas de organização autori-
zadas por lei.
CAPÍTULO I
Das Disposições Gerais Art. 6º. A fixação do início e término das atividades
escolares, para o ano letivo, não mantém vinculação ao ano
Art. 1º. As instituições escolares de educação básica civil.
vinculadas ao sistema estadual de ensino, independente- § 1º. O calendário escolar deverá adequar-se às con-
mente de seu nível e modalidade, promoverão sua organi- dições específicas locais, considerando-se, sobretudo, as
zação e/ou reorganização administrativa e didática defini- condições climáticas e econômicas.
das na Proposta Pedagógica e no Regimento Escolar, como
§ 2º. Quanto à natureza do trabalho da população ru-
parte constitutiva desta, para adequar-se à Lei 9394/96, Lei
ral, recomenda-se especial flexibilização na oferta da edu-
Complementar nº 49/98, normas do Conselho Nacional de
cação básica, considerando-se as fases do ciclo agrícola e
Educação e aos dispositivos desta Resolução.
as condições climáticas, em relação, sobretudo, ao calen-
dário, programação e metodologia adequada, sem com
Art. 2º. A educação escolar composta da educação bá-
isso reduzir a carga horária mínima de 800 (oitocentas) ho-
sica, constituída de educação infantil, ensino fundamental
ras anuais.
e ensino médio, compreende os processos educacionais
em sua forma regular e nas modalidades de educação de § 3º. Para maior proveito de seus alunos, as instituições
jovens e adultos, educação especial, educação profissional, escolares poderão estabelecer, a critério, em outros perío-
educação indígena, educação a distância e educação rural. dos escolares, aulas e ou atividades complementares, além
das horas obrigatórias e mínimas.
Art. 3º. As instituições educacionais, ao elaborarem a
sua Proposta Pedagógica, inserida no Regimento Escolar, Art. 7º. Às escolas indígenas está assegurada a utiliza-
com a participação do corpo docente e em articulação com ção de suas línguas maternas, organização curricular e pro-
os demais integrantes da comunidade escolar, observarão cessos pedagógicos próprios, metodologias, adequação
as metas, objetivos e processos didático-pedagógicos a se- do calendário escolar às atividades culturais, bem como,
rem cumpridos em consonância com os presentes disposi- programas e ações que garantam às nações indígenas au-
tivos, abrangendo, dentre outros aspectos, os relacionados to-sustentação e auto-determinação, ouvido o Conselho
a seguir: de Educação Escolar Indígena de Mato Grosso e observa-
I – calendário escolar, currículo mínimo, conteúdos das as normas do Conselho Estadual de Educação.
programáticos, formas de aprendizagem, processos de
avaliação e recuperação; CAPITULO II
II – regime escolar, quer das atividades em geral, quer Da Educação Básica
das ações didático-pedagógicas; e ainda,
III – procedimentos adequados para o atendimento Art. 8º. O ensino fundamental e médio poderá ser es-
das necessidades educativas especiais de todos os alunos. truturado em regime seriado, anual ou semestral, ciclos de
§ 1º. A Proposta Pedagógica deverá estar permanente- formação, alternância regular de períodos de estudos não-
mente a disposição do alunado e da comunidade escolar. seriados, com base na idade, competência e demais habi-
§ 2º. A aprovação de qualquer aluno está condicionada lidades, e ainda, em outras formas de organização escolar,
ao mínimo de 75% (setenta e cinco por cento) de frequên- salvo no caso de experiência pedagógica, preliminarmente
cia, em relação ao cômputo do total de horas letivas, exce- aprovada por este Conselho, observados os mínimos de
to na Educação Infantil. carga horária e de dias letivos.

158
LEGISLAÇÃO BÁSICA

Parágrafo único. Em se tratando de aceleração de es- Parágrafo único. Os documentos apresentados no ato
tudos para alunos com defasagem idade/série escolar no da matrícula passarão a integrar, obrigatoriamente, a pasta
ensino fundamental, os procedimentos legais e pedagógi- individual do aluno.
cos estão explicitados no Parecer nº 244/97, deste Conse-
lho, publicado em D.O.E. de 29.12.97, como referência às Art. 17. A matrícula em estabelecimento de ensino in-
Escolas interessadas. tegrante do sistema estadual de ensino será:
I – QUANTO À NATUREZA
Art. 9º. A Educação Infantil será oferecida em:
I – creches ou entidades equivalentes, para crianças de a) inicial;
zero até três anos de idade; b) renovada;
II – pré-escolas, para crianças de quatro a seis anos. c) por transferência;
d) extraordinária.
Art. 10. As instituições de educação infantil de cada II – QUANTO AO REGIME ESCOLAR
município deverão ser integradas ao respectivo sistema de a) por série, ciclo, período ou fase;
ensino até dezembro de 1999, ajustando-se, para tal, aos b) por disciplina.
preceitos da Lei 9394/96 e demais normas específicas. III – QUANTO À PERIODIZAÇÃO
a) anual
Art. 11. O ensino fundamental com duração mínima b) semestral;
de oito anos, será oferecido a crianças a partir dos sete c) ciclado.
anos de idade, facultando-se a matrícula a partir de seis
anos, com base no que dispõe o Art. 18. Considera-se inicial a matrícula quando efe-
Art.go 87, § 3º, inciso I, da LDB.
tuada:
§ 1º. Atendidos os candidatos com 07 (sete) anos com-
pletos e havendo disponibilidade de vagas e, desde que I – na educação infantil;
previsto no Regimento Escolar, a escola poderá receber II – excepcionalmente, em qualquer das fases do ensi-
matrículas nesta série, período, ciclo ou fase, de crianças no fundamental, regular ou supletivo, quando a escolariza-
que vierem a completar 07 (sete) anos de idade, dentro do ção anterior não possa ser comprovada;
ano escolar respectivo à matrícula. III – na 1ª série do ensino médio.
§ 2º. Ao oferecer o Ensino Fundamental a partir dos 06
(seis) anos de idade, a escola deverá zelar, na sua Proposta Art. 19. No ato da matrícula deverão ser apresentados
Pedagógica pelo equilíbrio das funções intelectuais, psíqui- os documentos pessoais, além dos que possam ser solici-
co-afetivo-sociais da criança. tados pela escola.
Parágrafo único. Na ausência da apresentação dos
Art. 12. O ensino médio, com duração mínima de três documentos pessoais a matrícula não poderá ser negada,
anos e o mínimo de 2.400 horas, visará à formação geral observando-se a Resolução Conjunta 001/97-Seduc/Cee/
do educando, podendo, concomitante ou sequencialmen-
Cedca/Procon/Promotoria de Justiça da Infância e Juventu-
te, prepará-lo para o exercício de profissões técnicas.
Parágrafo único. Será facultada a oferta de matrícula de, publicada em D.O.E.
por disciplina ou área de conhecimento no ensino médio,
garantida a oferta de todos os componentes curriculares Art. 20. Entende-se por matrícula renovada aquela
adotados pela Escola em todos os períodos letivos, confor- através da qual o aluno confirma sua permanência no esta-
me Proposta Pedagógica. belecimento de ensino, após ter cursado o período imedia-
tamente anterior ou quando volta a freqüentar o mesmo
Art. 13. Matrícula é o ato formal que vincula o educan- estabelecimento após interregno de um ou mais período
do a um estabelecimento de ensino autorizado a funcionar, letivos, para prosseguir estudos.
conferindo-lhe a condição de aluno. Parágrafo único. Serão necessariamente anexados ao
requerimento de renovação de matrícula, documentos que
Art. 14. A matrícula será requerida pelo interessado, atualizem as informações já existentes e que não sejam do
se maior de idade, por seus pais ou responsáveis, quando conhecimento da escola.
menor de idade, e deferida pelo diretor do estabelecimen-
to de ensino, em conformidade com o
Art.go 11 desta Resolução e os dispositivos regimen- Art. 21. A matrícula por transferência é aquela pela
tais. qual o aluno ao se desligar oficialmente de um Estabeleci-
mento de Ensino vincula-se a outro congênere, para conti-
Art. 15. O período de matrícula será estabelecido no nuidade de estudos.
calendário escolar do estabelecimento de ensino.
Art. 22. Matrícula extraordinária é aquela efetivada
Art. 16. À efetivação da matrícula, importa, necessa- fora da época determinada pela escola e tem a finalida-
riamente, o direito e o dever do interessado em conhecer de de reintegrar no processo de escolarização os alunos
os dispositivos regimentais do estabelecimento de ensino, com idade escolar, que se encontram fora da escola, pela
a aceitação dos mesmos e o compromisso de cumpri-los impossibilidade de terem sido matriculados na época de-
integralmente. terminada.

159
LEGISLAÇÃO BÁSICA

§ 1º. A comprovação da impossibilidade de matrícula II – identificação dos conteúdos programáticos signi-


em tempo hábil será feita através de declaração dos res- ficativos, de acordo com as situações individuais de cada
ponsáveis pelo aluno, devidamente arquivada. aluno com aproveitamento insuficiente;
§ 2º. O aluno de matrícula extraordinária será inte- III – ao professor incumbe estabelecer estratégias de
grado em classes comuns, recebendo acompanhamento recuperação para alunos de menor rendimento e, à escola,
pedagógico adequado, com vistas a sua reintegração no prover meios para sua execução;
processo ensino-aprendizagem e permanência na escola. IV – revisão dos resultados anteriormente anotados
nos registros escolares, após a reavaliação, como estímulo
Art. 23. O aluno de matrícula extraordinária poderá ao progresso do aluno;
ser submetido a reclassificação para a série seguinte, no V – a aprovação ou não do aluno, ao final do período
ano letivo subsequente, quando não atingir os mínimos de letivo, será verificada considerando-se a nota, conceito ou
frequência e de aproveitamento de estudos previstos no menção mínimos previstos em Regimento Escolar.
regimento escolar, no ano letivo antecedente.
Art. 27 - Classificação é o posicionamento do aluno
Art. 24. Além das disposições legais mínimas estabe- ou do candidato em etapa organizada sob a forma de série
lecidas para a educação básica, observar-se-á no planeja- anual, período semestral, ciclo, período de estudo, grupo
mento, execução e avaliação da proposta pedagógica do não seriado ou outra forma adotada pela escola.
ensino fundamental, o que segue:
I – as diretrizes curriculares nacionais para o ensino Art. 28 - A classificação do aluno, em qualquer eta-
fundamental, de acordo com o Parecer CNE/CEB nº 04/98 pa, série ou fase, exceto a primeira do ensino fundamental,
e Resolução CNE/CEB nº 02/98, publicada em Diário Oficial será feita:
da União, em 15.04.98, ou substitutivos. I – por promoção, para alunos que cursaram, com
II – a preponderância, no currículo, da Base Nacional aproveitamento, a série ou fase anterior ou outra forma de
Comum sobre a Parte Diversificada; organização adotada pela própria escola;
III – conteúdos mínimos das áreas de conhecimento, II – por transferência, para candidatos procedentes de
outras escolas, mediante apreciação do Histórico Escolar
que levem em conta aspectos que serão contemplados na
em que se consigne o aproveitamento curricular quanto
intercessão entre as áreas e aspectos relevantes da cida-
aos componentes da base nacional comum;
dania, a partir da identidade da escola e da comunidade
III – independentemente de escolarização formal ante-
escolar;
rior ou quando for comprovadamente impossível a recupe-
IV – parte diversificada capaz de atender às condições
ração dos registros escolares, mediante avaliação feita pela
culturais, sociais e econômicas de natureza regional, bem
instituição receptora, para situá-lo na etapa, série, ciclo,
como às aspirações da própria escola, e acrescentada con-
período ou fase adequada.
forme interesse da comunidade escolar;
Parágrafo único. Para a classificação deverão ser ve-
V – condições plenas de operacionalização das estra- rificados os conhecimentos da base nacional comum do
tégias, educacionais, espaço físico condizente, horário, ca- currículo.
lendário escolar e demais atividades implícitas do processo
ensino-aprendizagem. Art. 29. Reclassificação do aluno é seu reposiciona-
Parágrafo único - A parte diversificada dos currículos mento em série, ciclo, período ou outra forma de organi-
do ensino fundamental será definida pela escola, de acordo zação adotada pela escola, diferente daquela indicada em
com as características contidas no inciso IV deste seu histórico escolar.
Art.go.
Art. 30. A reclassificação de alunos será permitida no
Art. 25 - A proposta curricular do ensino médio – for- Sistema Estadual de Ensino, mediante processo de ava-
mação geral e a parte diversificada será desenvolvida em liação realizado pelo Conselho de Classe ou similar e, no
consonância com as diretrizes curriculares nacionais para o caso dos quatro primeiros anos do Ensino Fundamental ou
ensino médio, de acordo com o Parecer CNE/CEB nº 15/98 equivalente, pelos professores do aluno, antes do início do
e Resolução CNE/CEB nº 03/98, publicada em Diário Oficial 2º bimestre.
da União, em 05.08.98, ou substitutivos. § 1º. A reclassificação tomará por base as normas cur-
riculares gerais, cuja sequência será preservada, levando-se
Art. 26 - Nos casos de insuficiente rendimento escolar em conta, na avaliação o grau de maturidade, competên-
compete obrigatoriamente à escola proporcionar estudos cias e habilidades mínimas para prosseguimento de estu-
de recuperação, seguidos de avaliação, consoante regula- dos subsequentes.
mentação no Regimento Escolar, de acordo com a Propos- § 2º. O resultado da avaliação, justificativa e procedi-
ta Pedagógica, onde se contemplem os seguintes critérios: mentos adotados constarão de ata lavrada em livro pró-
I – recuperação contínua e paralela ao processo ensi- prio, da qual será extraída súmula assinada pela direção,
no-aprendizagem do período letivo, facultando-se novas e também, pelo conselho de classe e ou professores en-
oportunidades após a conclusão do mesmo, aos alunos volvidos, para ser arquivada na pasta individual do aluno,
que permanecerem com dificuldades; assegurando-se histórico escolar correspondente.

160
LEGISLAÇÃO BÁSICA

§ 3º. Somente poderão ser beneficiários da reclassifi- Art. 38. Do histórico escolar destinado à transferência
cação alunos em situação de defasagem idade/série, que constarão:
apresentem rendimento escolar superior ao exigido na I – identificação do estabelecimento de origem, ende-
fase, ciclo ou série, os de matrícula extraordinária no ano reço completo e, se houver, natureza do ato de sua criação,
anterior, ou ainda alunos oriundos de outras formas de or- autorização de funcionamento ou reconhecimento, con-
ganização escolar adotadas pela escola receptora. forme o caso, com citação do órgão e data da respectiva
§ 4º. Não será permitida a reclassificação para a série, publicação;
período ou ciclo anterior ao que o aluno tenha sido apro- II – identificação do aluno, com nome completo, sua
vado. filiação, data de nascimento, nacionalidade, natureza e,
§ 5º. Não poderá ser reclassificado em série posterior quando for o caso, dados relativos ao certificado de reser-
o aluno que, no ano antecedente, houver sido reprovado vista e ao título de eleitor;
por aproveitamento. III – currículo das séries, ciclos, períodos ou etapas con-
cluídas e, no caso de transferência durante o período letivo,
também da série, ciclo ou período em curso, até a data da
Art. 31. Os procedimentos de classificação e reclassifi-
transferência, constando os seguintes elementos:
cação devem ser coerentes com a Proposta Pedagógica do
a) horas de trabalho escolar efetivo ministradas, por
estabelecimento e constar do Regimento Escolar, para que
área de estudo, disciplina ou conteúdo específico;
produzam os efeitos legais. b) declaração explícita de aprovação, recuperação, de
dependência ou reprovação, bem como a de “cursando ou
Art. 32. Quando se tratar de transferência expedida, desistente”, conforme o caso.
por outros estabelecimentos de ensino do país ou do ex- IV – registro das situações peculiares à vida escolar do
terior, organizados de forma diferenciada, caberá a obser- aluno, tais como: matrícula por disciplina, matrícula por de-
vância das normas de equivalência de estudos, dispostos pendência, matrícula com aproveitamento de resultados
em Resolução específica. parciais, obtidos em exames supletivos, adaptações, vali-
dação de estudos, dispensa de frequência, de acordo com
Art. 33. Transferência é a passagem do aluno de um a legislação, comprovante de conclusão do Ensino Funda-
estabelecimento de ensino para o outro, inclusive de escola mental, identificação das escolas anteriormente cursadas,
de país estrangeiro, ou ainda, de uma habilitação, curso ou e outros dados que a Escola julgar necessário informar à
modalidade para outra, no mesmo nível de ensino, dentro Escola de destino;
de um mesmo estabelecimento de ensino. V – assinatura do diretor e do secretário do estabele-
Parágrafo único. Aos alunos procedentes de outro cimento, sotopostos os nomes por extenso à máquina ou
Sistema de Ensino, será observado, em seus registros es- carimbo, e os números dos respectivos registros ou auto-
colares, o amparo legal vigente no sistema de origem, ca- rização.
bendo responsabilidade da direção do estabelecimento de Parágrafo único. A Escola de origem é obrigada a
destino, na aferição deste amparo. fornecer à de destino os dados que sejam necessários ao
julgamento desta última a respeito da situação do aluno,
Art. 34. Os registros referentes ao aproveitamento e à para o fim de atender às normas desta Resolução, cabendo
assiduidade do aluno, até a data da transferência são atri- a escola receptora, a responsabilidade quanto ao aceite do
buições exclusivas do estabelecimento de origem, devendo aluno.
os mesmos ser transpostos para a documentação escolar
do aluno no estabelecimento de destino, sem modifica- Art. 39. A matrícula será efetuada mediante a apresen-
tação da documentação de transferência.
ções.
§ 1º. Excepcionalmente, a Escola poderá aceitar a ma-
trícula por transferência, em caráter condicional, pelo prazo
Art. 35. A nenhum estabelecimento de ensino inte-
máximo de 45 (quarenta e cinco) dias, mediante a apresen-
grante do sistema é permitido receber como aprovado
tação de declaração provisória de transferência, expedida
qualquer aluno que, segundo os critérios regimentais do pela Escola de origem, na qual se consignem:
estabelecimento de origem, tenha sido reprovado, ressal- a) identificação do estabelecimento;
vado o caso de matrícula com dependência, prevista em re- b) identificação do aluno;
gimento do estabelecimento de destino, com observância c) etapa, série, ciclo ou período em curso, concluído
das normas vigentes. com aprovação ou com dependência de matéria, disciplina
ou componente específico, conforme o caso; ou, na hipó-
Art. 36. Para concessão de transferência, não se exigirá tese de matrícula por disciplina, disciplinas em curso ou
declaração da existência de vaga na escola de destino. disciplinas concluídas com aprovação;
d) cópia autêntica do currículo pleno adotado, de
Art. 37. Os alunos beneficiados com a prerrogativa modo a permitir, desde logo, a verificação da necessidade
legal de transferência em qualquer época e independen- de adaptação do aluno ao novo currículo;
temente da existência de vaga não estão isentos de adap- e) compromisso de fornecimento da documentação
tação. completa no prazo mencionado neste parágrafo.

161
LEGISLAÇÃO BÁSICA

§ 2º. A Escola de destino deverá, de imediato, comuni- § 2º. A matrícula por progressão parcial será admitida
car-se com a escola de origem, a fim de manter o intercâm- a partir da 6ª série do ensino fundamental e, no ensino mé-
bio escola x escola, até a efetivação da matrícula. dio, a partir da 2ª série, ou no seu correspondente.
§ 3º. É nula a matrícula por transferência efetivada me- § 3º. A oferta da progressão parcial (dependência) será
diante a apresentação de transcrição de Histórico Escolar, em turno diverso do qual o aluno está matriculado.
bem como a obtida por meios fraudulentos, cabendo res-
ponsabilização da Escola que a expediu. Art. 44. Será facultado ao aluno que não lograr apro-
§ 4º. A transferência compulsória não será admitida no veitamento em todas as disciplinas da última série, ciclo ou
Sistema Estadual de Ensino. período do ensino fundamental ou do ensino médio, cursar
em qualquer ano letivo subsequente, apenas as disciplinas
Art. 40. No caso de recolhimento de arquivos escola- em que não obteve aprovação.
res caberá às Secretarias Municipais de Educação expedir a
documentação de transferências, observando, no que cou- Art. 45. A matrícula no ensino médio depende, obriga-
ber, as normas desta Resolução. toriamente, da conclusão do ensino fundamental.
Parágrafo único. Na capital, o recolhimento dos ar-
quivos escolares é de competência do Centro de Docu- Art. 46. A adaptação de estudos, sob forma de suple-
mentação Escolar da SEDUC. mentação, será exigida toda vez que novo currículo a ser
desenvolvido pelo aluno no estabelecimento de destino
Art. 41. À transferência de aluno de Escola vinculada seja diferente do cursado no estabelecimento de origem.
a Sistema de Ensino de outro país aplicam-se as normas
da presente Resolução, respeitadas, porém, as do Sistema Art. 47. Ocorrerá suplementação quando o estudo de
de origem quanto à sua concessão e às características da matérias, disciplinas ou componentes da base nacional co-
respectiva documentação, exigindo-se a mais: mum não foi realizado pelo aluno, na escola de origem, e
I – requerimento do interessado; não estiver contemplado em pelo menos uma série, fase,
II – tradução oficial da documentação escolar do país ciclo ou período, que falta para o aluno cursar, na de des-
estrangeiro; tino.
III – autenticação da documentação escolar do país es-
Parágrafo único. A suplementação de estudos implica
trangeiro pelo Consulado Brasileiro com sede no país onde
obrigatoriedade de o aluno cursar normalmente a matéria,
a escola estrangeira funcional
disciplina ou componentes específicos, com apuração da
IV – histórico escolar de eventuais estudos realizados
assiduidade e avaliação do aproveitamento, na forma da
no Brasil, antes da transferência para o país estrangeiro.
lei, em horários não coincidentes com os demais estudos.
§ 1º. A escola do sistema não aceitará certificados de
atividades isoladas ou cursos livres, como: música, dança,
Art. 48. A realização da adaptação, com êxito, confere
alimentação, artesanato, informática e similares, para efeito
de prosseguimento de estudos. ao aluno o direito de componente ou disciplina concluída,
§ 2º. Cabe à escola do sistema, por meio do Regimen- para todos os efeitos legais, devendo seu registro constar
to Escolar, determinar a forma de eventuais adaptações de obrigatoriamente do Histórico Escolar.
estudos, observada a legislação vigente. § 1º. A adaptação far-se-á, no máximo, em 05 (cinco)
§ 3º. Em caso de dúvida quanto à interpretação dos componentes curriculares ou disciplinas, independente-
documentos, a escola de destino diligenciará no sentido de mente da base nacional comum ou parte diversificada.
obter os elementos indispensáveis ao seu julgamento, sem § 2º. Se o número de adaptação necessária for superior
o que a matrícula não poderá efetivar-se. a 05 (cinco), o aluno permanecerá na série, ciclo ou período
anterior, porém dispensado das disciplinas ou componen-
Art. 42. Progressão regular é o procedimento utilizado tes curriculares em que já tenha obtido aprovação.
pela escola que permite a promoção do aluno de uma série
para a outra, de forma sequencial. CAPÍTULO III
Parágrafo único. Nas unidades escolares que adotam Das Disposições Finais
a progressão regular por série (regime seriado), o regimen-
to poderá contemplar formas de progressão parcial (de- Art. 49. O acesso e a permanência dos alunos na es-
pendência) desde que preservada a sequência do currículo cola são assegurados no Regimento Escolar, à luz dos dis-
e observadas as normas vigentes. positivos legais da LDB, desta Resolução e demais normas
dispostas para o Sistema Estadual de Ensino, inclusive da
Art. 43. Entende-se por progressão parcial aquela em Resolução Conjunta nº 001/97, retromencionada.
que o aluno passa a cursar a série, anual ou semestral se-
guinte, mesmo não tendo sido aprovado em todos os com- Art. 50. O Conselho Estadual de Educação baixará nor-
ponentes curriculares anteriores. mas complementares sobre a Educação Infantil, Educação
§ 1º. O aluno beneficiado com o regime de progressão Especial, Educação de Jovens e Adultos, Educação Profis-
parcial poderá acumular, no mesmo período letivo, a crité- sional, Educação Indígena e Educação a Distância, dentre
rio da escola, até quatro dependências em componentes outras para autorização reconhecimento e credenciamento
curriculares anteriores. de cursos e instituições.

162
LEGISLAÇÃO BÁSICA

Art. 51. É assegurado aos atuais alunos matricula-


dos em cursos autorizados e/ou reconhecidos, o direito 10. RESOLUÇÃO N° 257/06 – CEE/MT;
de concluírem seus estudos na forma pela qual iniciaram,
desde que atendidas as orientações preliminares dispostas
no Parecer 209/97, do Conselho Estadual de Educação/MT.
RESOLUÇÃO Nº 257/06-CEE/MT
Art. 52. Os processos de solicitação para cursos novos
em andamento neste Conselho, protocolados até a data da Dispõe sobre a Implantação do Ensino Fundamental
publicação desta Resolução serão baixados em diligência, para Nove Anos de duração, no Sistema Estadual de Ensino
para se adaptarem as presentes normas e ao previsto na de Mato Grosso, e dá outras providências.
Lei Complementar 49/98 e Lei nº 9394/96, no que couber.
O CONSELHO ESTADUAL DE EDUCAÇÃO DE MATO
Art. 53. Às Escolas, cujas autorizações do ensino fun- GROSSO, no uso de suas atribuições legais, e considerando
damental e médio, regular, venceram em 31/12/98, e que o que dispõe as Leis Nº 9394/1996 - LDB, Nº 10.172/2001,
ainda não obtiveram reconhecimento, fica assegurada a Nº 11.114/2005 e Lei Nº 11.274 de 06/02/2006, conside-
prorrogação dos atos respectivos, até 31/12/99, para efeito rando também as disposições contidas no Parecer CNE/
de adequação dos cursos às presentes normas. CEB Nº 18/2005 e na Resolução Nº 03/2005 CNE/CEB, e
por decisão da Plenária de 31/10/2006,
Art. 54. Para fins de ajustamento à Lei Complementar RESOLVE:
49/98 e Lei nº 9394/96 e às normas constantes desta Reso-
lução, os estabelecimentos de ensino deverão proceder às Capítulo I
devidas alterações no Regimento e Propostas Pedagógicas, Das Disposições Gerais
antes do início do ano letivo 2000.
Art. 1º - O Ensino Fundamental, etapa da Educação
Art. 55. Nos processos a serem instruídos a partir des- Básica constitui-se direito público subjetivo, sendo obriga-
ta Resolução deverão constar, de acordo com o caso, no- tório e gratuito na escola pública terá duração mínima de
menclaturas contempladas na Lei nº 9394/96, na seguinte nove anos, iniciando-se a partir dos seis anos de idade.
forma:
I – Nível: Educação Básica. Art. 2º - A Ampliação do Ensino Fundamental para
II – Etapas – Educação Infantil, Ensino Fundamental ou Nove Anos fundamenta-se numa concepção de aluno
Ensino Médio. como ser histórico, em contínuo processo de desenvolvi-
III – Modalidades – Educação de Jovens e Adultos, Edu- mento e formação, com vistas à construção de um cidadão
cação Especial, Educação Indígena e ainda, Educação Pro- autônomo.
fissional de nível técnico.
Art. 3º - O Ensino Fundamental de Nove Anos será
Art. 56. Compete à Mantenedora adequar a denomi- obrigatório em todas as escolas que compõem o Sistema
nação da unidade escolar, valendo ressaltar que não há Estadual de Ensino, terá por objetivo a formação básica do
necessidade de constar o nível e etapas que a instituição aluno, como sujeito de direito, visando:
oferece. I. O desenvolvimento da capacidade de aprendizagem
Parágrafo único. A denominação pode ser nome de tendo em vista à aquisição de conhecimentos, atitudes, va-
pessoa, sigla, datas memoráveis ou nome fantasia e, quan- lores e habilidades;
do alterada por ato da mantenedora, deverá ser comunica- II. O desenvolvimento da capacidade de aprender,
da a este Conselho, para os efeitos cadastrais e legais. tendo como meios básicos o pleno domínio da leitura, da
escrita e do cálculo;
Art. 57. A escola deverá afixar em local visível e nos III. A compreensão do ambiente natural, social, do sis-
documentos oficiais o amparo legal de funcionamento das tema político, da tecnologia, das artes e dos valores em
etapas de ensino que oferece. que se fundamenta a sociedade;
IV. O fortalecimento dos vínculos da família, dos laços
Art. 58. As dúvidas e os casos omissos nesta Resolução
de solidariedade humana, cooperação e de tolerância recí-
serão apreciados e resolvidos pelo CEE/MT, observadas as
proca em que se assenta a vida social.
disposições legais e a jurisprudência específica.

Art. 59. Revogam-se as disposições em contrário, prin- Art. 4º - É dever dos pais ou responsáveis efetuar a
cipalmente, a Resolução nº 270/94-CEE/MT. matrícula no Ensino Fundamental da criança a partir dos
seis anos de idade, bem como, acompanhar o desenvolvi-
Art. 60. Esta Resolução entra em vigor na data de sua mento escolar de seus filhos ou tutelados.
publicação.
REGISTRADA PUBLICADA Art. 5º - Os órgãos competentes do Sistema Estadual
de Ensino deverão assegurar a oferta da Educação Infantil
CUMPRA–SE para crianças até cinco anos de idade, com qualidade, pre-
Cuiabá, 14 de dezembro de 1999. servando a identidade pedagógica desta etapa de ensino.

163
LEGISLAÇÃO BÁSICA

Capitulo II
Da organização do Ensino Fundamental

Art. 6º - A matrícula no Ensino Fundamental de Nove Anos será destinada aos alunos que completarem seis anos de
idade, até 30 de abril do ano letivo em curso.

Art. 7º - O Ensino Fundamental com duração de Nove Anos estrutura-se em cinco anos iniciais e quatro anos finais, de-
vendo ser implantado no Sistema Estadual de Ensino de Mato Grosso, a partir de 2007 adotando a seguinte nomenclatura:

Etapa da Educação Idade prevista na Duração


Básica matrícula
Ensino Fundamental de 06 a 14 anos de idade 09 anos
Anos iniciais de 06 a 10 anos de idade 05 anos
Anos finais de 11 a 14 anos de idade 04 anos

Parágrafo único – A Organização da Educação Infantil compreende:

0 até 03 anos de idade Creche -


Etapa da Educação Idade prevista na Duração
Básica matrícula
Educação Infantil até 05 anos de idade -
Pré-escola 04 e 05 anos de idade -

Art. 8º - A organização do Ensino Fundamental de Nove Anos deve articular-se com a Educação Infantil na perspectiva
de continuidade do aprender com prazer, respeitando, as fases de desenvolvimento próprio de cada criança.

Art. 9º - O Sistema Estadual de Ensino terá prazo até o ano 2010 para implementar a obrigatoriedade do Ensino Fun-
damental de Nove Anos, conforme a legislação em vigor.

Art. 10 - O Ensino Fundamental de Nove Anos poderá organizar-se das seguintes formas: ciclos, anos, séries, períodos
semestrais, alternância regular de períodos de estudos, grupos não – seriados, sempre que o interesse do processo de
aprendizagem assim o recomendar.

Art. 11 - Em qualquer uma das formas de organização curricular deverá ser pautada pelo respeito às fases de desen-
volvimento de formação humana, as condições sócio-culturais dos alunos e da sua comunidade.

Art. 12 - As mantenedoras das instituições de ensino deverão compatibilizar a nova situação de oferta com a duração
do Ensino Fundamental de Nove Anos para o atendimento dos alunos a partir de seis anos de idade nos termos que esta-
belece a legislação em vigor, a saber:
I. Realizar a chamada pública, conforme estabelece o
Art. 5º da LDB/96;
II. Planejar oferta de vagas;
III. Prever número suficiente de salas de aula;
IV. Reorganizar o tempo e o espaço escolar;
V. Assegurar recursos humanos em número suficiente;
VI. Assegurar recursos humanos especializados;
VII. Garantir a formação continuada de professores, gestores, assessores pedagógicos;
VIII. Assegurar a aquisição de materiais didáticos pedagógicos e acervo bibliográfico;
IX. Assegurar adequação dos materiais didáticos pedagógicos especializados para alunos com necessidades educacio-
nais especiais;
X. Assegurar adequação do mobiliário;
XI. Adaptar equipamentos e mobiliários para alunos com necessidades educacionais especiais;
XII. Assegurar apoio pedagógico para acompanhamento dos alunos que necessitarem;
XIII. Reorganizar a proposta pedagógica das Secretarias de Educação;
XIV. Reorganizar o projeto pedagógico da escola.

164
LEGISLAÇÃO BÁSICA

Art. 13 - As instituições educacionais ao implantar em Art.19 - Os alunos com Necessidades Educacionais


2007 o Ensino Fundamental de Nove Anos, deverão ade- Especiais matriculados no Ensino Fundamental, terão ga-
quar-se à nova organização de ensino, encaminhando para rantido os serviços de Apoio Pedagógico Especializados
a devida orientação do órgão executivo do sistema, a Pro- para atender suas necessidades educacionais, conforme a
posta Pedagógica contendo a Matriz Curricular e Regimen- Resolução nº 261/01-CEE/MT.
to Escolar. Parágrafo único - Os serviços de Apoio Pedagógico
Especializados deverão ser organizados e garantidos no
Capitulo III Projeto Pedagógico e no Regimento Escolar, para atender
Da Proposta Pedagógica aos alunos com Necessidades Educacionais Especiais.

Art. 14 - As instituições escolares deverão contemplar Art. 20 - O aluno que ingressar no Ensino Fundamental
na organização de suas propostas pedagógicas as Diretri- com sete anos de idade, mesmo sem experiência escolar,
zes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental ob- deverá ser matriculado no segundo (2º) ano do Ensino Fun-
servando os seguintes princípios: damental de Nove Anos, sendo oportunizado a avaliação
I. éticos calcados na autonomia, na responsabilidade, diagnóstica, a ser realizada pela instituição educacional
na solidariedade e no respeito ao bem comum; que o receber, a fim de direcionar o apoio pedagógico,
II. políticos calcados nos direitos e deveres de cidada- quando necessário.
nia, no exercício da criticidade e no exercício democrático;
III. estéticos da sensibilidade, criatividade, ludicidade Art. 21 - As mantenedoras deverão assegurar forma-
e diversidade de manifestações artísticas e culturais. ção continuada aos profissionais da Educação Básica, com
§ 1º - A proposta pedagógica deverá assegurar ao alu- vistas à qualidade do ensino.
no o direito à aprendizagem respeitando o processo de
desenvolvimento humano e a diversidade existente, com Art. 22 - A Proposta Pedagógica deverá garantir as di-
vistas à construção de sua identidade e autonomia. versas formas de expressão envolvendo todas as áreas do
§ 2º - O primeiro ano do Ensino Fundamental não se conhecimento, visando à qualidade do processo de ensino
deve limitar à codificação e decodificação da leitura e da e da aprendizagem.
escrita, mas garantir atividades que assegurem a imersão
no processo de letramento de forma lúdica e prazerosa Art. 23 - Compete à instituição de ensino, ao elaborar
qualificando o tempo e a continuidade do cuidar e educar. a sua Proposta Pedagógica garantir:
§ 3º - As propostas pedagógicas para os anos iniciais I. a articulação família, escola e comunidade;
do Ensino Fundamental devem assegurar que a transição II. respeito às concepções de infância, do desenvolvi-
da educação infantil para a referida etapa efetive-se de mento humano, de ensino e aprendizagem sem perder de
forma a evitar rupturas no processo ensino-aprendizagem, vista a ludicidade;
resguardando o desenvolvimento infantil quanto aos as- III. respeito às características e as expectativas da co-
pectos emocionais, afetivos, cognitivos, lingüísticos e cul- munidade;
turais. IV. a descrição detalhada do espaço físico, das instala-
ções e dos equipamentos, devidamente adequados à etapa
Art.15 - O Sistema Estadual de Ensino de Mato Grosso de ensino;
deverá administrar a convivência com os planos curricula- V. a definição dos parâmetros para organização das
res do ensino fundamental de oito anos e dos planos cur- turmas e/ou grupos de alunos, considerando a faixa etária;
riculares do ensino fundamental de nove anos, garantindo VI. a seleção e organização dos conteúdos nas diferen-
assim a terminalidade dos estudos para os alunos que in- tes áreas do conhecimento e atividades no trabalho peda-
gressaram no Ensino Fundamental de oito anos. gógico;
VII. a gestão escolar expressa nos princípios norteado-
Art. 16 - O aluno que em 2006, estiver cursando o En- res da Gestão Democrática;
sino Fundamental, deverá concluí-lo em oito anos, asse- VIII. a articulação da educação infantil com o ensino
gurando assim a terminalidade, como garante a legislação fundamental, assegurando a continuidade do processo de
vigente. ensino e aprendizagem;
IX. a avaliação como processo com vistas ao desenvol-
Art. 17 - A escola deverá reorganizar a Proposta Cur- vimento integral do aluno;
ricular tendo em vista não apenas o primeiro (1º) ano, mas X. a avaliação coletiva, como elemento indispensável
toda a estrutura do Ensino Fundamental organizado em para tomada de decisão;
nove anos de forma coletiva e participativa. XI. a Formação Continuada dos profissionais da escola
com vistas à qualidade de ensino, conforme os artigos 3º e
Art. 18 - A abordagem dos conteúdos curriculares do 14º desta Resolução.
Ensino Fundamental de Nove Anos deverá ser contextua-
lizada e globalizada num movimento crescente de com- Art. 24 - A avaliação deverá subsidiar permanente-
preensão da realidade, de forma articulada e interdiscipli- mente o professor no exercício da sua profissão, permitin-
nar. do as retomadas necessárias na Prática Pedagógica,

165
LEGISLAÇÃO BÁSICA

Art. 25 - A avaliação do processo de ensino e apren- Art. 32 – A partir da vigência desta Resolução não será
dizagem deverá ser diagnóstica, formativa e contínua, de aceito pedido de autorização para oferta do Ensino Funda-
forma a garantir o processo de desenvolvimento do aluno mental de oito anos.
e apropriação do conhecimento como referência da ação
educativa. Art. 33 - Os casos omissos deverão ser submetidos ao
§ 1º - A avaliação do processo de ensino e aprendiza- Conselho Estadual de Educação de Mato -Grosso para aná-
gem não terá caráter seletivo, mas o indicador da necessi- lise e deliberação.
dade de intervenção pedagógica levando em consideração
aspectos curriculares e metodológicos com vistas ao suces- Art. 34 - Esta Resolução entra em vigor na data de sua
so da aprendizagem de todos os alunos. publicação, revogando as disposições em contrário.
§ 2º - Os registros elaborados durante o processo de
avaliação deverão conter indicações descritivas sobre os
diferentes aspectos do desenvolvimento e da aprendiza-
gem do aluno. 11. RESOLUÇÃO Nº 249/07 – CEE/MT;

Art. 26 - Os órgãos que compõem o Sistema Estadual


de Ensino deverão desencadear processo de avaliação ins- RESOLUÇÃO Nº 249/2007-CEE/MT.
titucional a fim de obter informação que permita conhecer
e intervir na realidade diagnosticada com vistas à qualida- Estabelece normas para registro e expedição de certifi-
de de ensino. cados e diplomas no Sistema Estadual de Ensino.

Art. 27 - A Progressão Parcial no Ensino Fundamen- O CONSELHO ESTADUAL DE EDUCAÇÃO DE MATO


tal de Nove Anos, dar-se-á no Sistema Estadual de Ensino, GROSSO, no uso das atribuições que lhe são conferidas
mediante regulamentação no regimento escolar, obser- pelo Inciso V, do
vando as normas legais vigentes. Art.go 10, da Lei Federal Nº 9394/96-LDB, de 20 de de-
Parágrafo único - A matrícula por Progressão Parcial zembro de 1996, pelo Decreto Federal Nº 5154/04, de 23
será assegurada nos três (03) últimos anos/séries aos alu- de julho de 2004, pelas Leis Estaduais - Lei Complementar
nos do Ensino Fundamental. Nº 49/98, de 01 de outubro de 1998, Lei Complementar
Nº 57/99, de 22 de janeiro de 1999, Lei Complementar Nº
Art. 28 - O aluno que for transferido de uma escola 77/00, de 13 de dezembro de 2000, Lei Complementar Nº
de Ensino Fundamental de Nove Anos para uma escola de 209/05, de 12 de janeiro de 2005 -, tendo em vista o resul-
Ensino Fundamental de oito anos, ou vice e versa deverá tado dos trabalhos da Comissão instituída pela Portaria Nº
ser enturmado considerando a faixa etária, série, ano ou 002/2005-CEE/MT, considerando o que dispõe a Resolução
ciclo correspondente. Nº 169/06-CEE/MT, de 12 de setembro de 2006, e também
a decisão tomada pelo Pleno na Décima Reunião Ordiná-
Art. 29 - O professor para atuar no Ensino Fundamen- ria de Plenária realizada no dia 22 de maio de 2007,
tal deverá ter a formação de Nível Superior com Licencia-
tura Plena em Pedagogia com Habilitação em Docência ou R E S O L V E:
Normal Superior admitindo-se a formação mínima em Cur-
so Normal de nível médio, sendo que para os anos finais do Art. 1º – Cabe ao estabelecimento de ensino público
Ensino Fundamental admitir-se-á para exercício da docên- e particular, registrar e expedir documento comprobató-
cia professores com Licenciatura Plena na área especifica. rio de conclusão de etapas, módulos do Ensino Médio e
Educação Profissional - formação inicial e continuada de
Capítulo IV trabalhadores e da Educação Profissional Técnica de Nível
DAS DISPOSIÇÕES FINAIS Médio, conforme dispõe esta Resolução.

Art. 30 - O estabelecimento de ensino credenciado ou Art. 2º – A expedição de documento de que trata o


recredenciado, autorizado ou renovado a autorização para artigo anterior é atribuída, no Sistema Estadual de Ensino,
ofertar a Educação Básica na etapa do Ensino Fundamen- exclusivamente ao estabelecimento legalmente credencia-
tal, encaminhará ao Conselho Estadual de Educação até do e autorizado pelo Conselho Estadual de Educação-CEE/
30/05/2007 Relatório Circunstanciado sobre a implantação MT, que ministre:
do Ensino Fundamental de Nove Anos para a devida atuali- I. Cursos de Ensino Médio, cabendo histórico escolar e
zação no Programa de Informatização do CEE/MT. certificado:
a) No ensino regular autorizado em suas respectivas
Art. 31 - A partir de 2007 as instituições educacionais modalidades;
deverão especificar nos documentos escolares a duração b) Nos exames supletivos.
do Ensino Fundamental que o aluno está cursando ou con- II. Cursos de Educação Profissional, cabendo Declara-
cluindo. ção de Conclusão, Histórico Escolar e Diploma no:

166
LEGISLAÇÃO BÁSICA

a. Ensino Médio Integrado; d) No rodapé – espaço para o local e data de expedi-


b. Ensino Técnico de nível médio; ção, nome e assinatura do Secretário Escolar e do Diretor
c. Nas certificações por competência das respectivas da Instituição;
habilitações profissionais. e) A Instituição responsável pela última certificação
III. Cursos de Educação Profissional, cabendo Declara- de determinado itinerário formativo expedirá o corres-
ção de Conclusão de Curso, Histórico Escolar e Certificado pondente diploma, constando no verso a respectiva carga
nas: horária dos itinerários formativos e/ou aproveitamento de
a. Especializações técnicas de nível médio; estudos, observado o requisito exigido para conclusão do
b. Qualificações profissionais das saídas intermediárias ensino médio;
f) No diploma de educação profissional técnica de nível
das respectivas habilitações técnicas;
médio deve constar a área e a habilitação correspondente.
c. Nas certificações de competências parciais e nas
V. No verso deve constar:
qualificações intermediárias das respectivas habilitações a. identificação da Escola;
técnicas. a. nome do curso/área/habilitação profissional concluí-
IV. Cursos de Formação Inicial e Continuada de Traba- da, constando o total de carga horária distribuída por dis-
lhadores, cabendo apenas Certificado. ciplina ou competências e estágio supervisionado, quando
for o caso;
Art. 3º - O registro e a expedição de certificado parcial a. dados referentes a registro do certificado/diploma,
ou de conclusão de ensino médio, via exame supletivo constando o número do livro, página, número do registro,
é de competência da Secretaria de Estado de Educação- data, nome e assinatura do responsável pelo registro e es-
SEDUC/MT e/ou das Secretarias Municipais de Educação. paço reservado para observação.
§ 1º – No histórico escolar de educação profissional
Art. 4º - O registro de diploma e de certificado utilizará que acompanha o certificado ou diploma deverá constar as
código de 06 (seis) dígitos, sendo os dois primeiros refe- competências definidas no perfil profissional de conclusão
rentes ao ano de conclusão do curso e os quatro seguin- de curso.
tes, para a numeração sequencial anual dos diplomas ou § 2º – O diploma de educação profissional técnica de
certificados, que deverá iniciar a partir do Nº 0001, (exem- nível médio deverá ser expedido por instituição credencia-
plo 070001, onde: 07 corresponde ao ano de conclusão do da pelo Conselho Estadual de Educação de Mato Grosso-
CEE/MT, para fins de validade nacional deve constar no
curso, e 0001 corresponde à numeração sequencial anual).
verso o número do NIC correspondente ao seu plano de
curso após inserção eletrônica no Cadastro Nacional de
Art. 5º - O registro de diploma e/ou certificado será Cursos de Educação Profissional Técnica de Nível Médio,
feito pelo estabelecimento de ensino em livros próprios, do Ministério da Educação-MEC.
em separado por modalidade, nível e curso, conforme es- § 3º – As Instituições deverão inserir dispositivos de
pecificado no parágrafo anterior, com termos de abertura segurança, a partir do ano de 2008, nos impressos de certi-
e de encerramento assinados pelo Secretário Escolar e pelo ficados e diplomas a serem confeccionados.
Diretor da Instituição.
Art. 7º – Na confecção dos Certificados deverá obser-
Art. 6º - Na confecção do Diploma deverá observar as var as seguintes especificações:
seguintes especificações: I. No anverso, adotar os mesmos procedimentos utili-
I. Formato: padrão (A4); zados nas alíneas “a”, “b”, “c”, e “d”, do inciso IV, do artigo
II. Material: papel com gramatura mínima de 180 gra- 6º, desta Resolução, com a expressão “Certificado”;
mas/m²; II. No verso, adotar os procedimentos cabíveis utiliza-
III. Escrita: formulário impresso com espaço para o dos nas alíneas “a”, (ajustando-se à nomenclatura e as es-
preenchimento de nomes variáveis, podendo ser digitado pecificações corretas do curso em referência), “b” e “c” , do
ou ainda manuscrito; Inciso V, se for o caso, e a alínea “e” do Inciso IV, do
IV. No anverso deve constar: Art.go 6º, desta Resolução.
a. Ao alto – lado direito, o Selo da República Federativa
Art. 8º – Os atos legais referidos na alínea “b”, do inci-
do Brasil; lado esquerdo, o Brasão do Estado de Mato Gros-
so IV, do artigo 6º e inciso I, do artigo 7º, desta Resolução
so e, ao centro, os dizeres: República Federativa do Brasil, são:
Estado de Mato Grosso e Sistema Estadual de Ensino; I. No caso de Diploma de Educação Profissional - Por-
a. Abaixo – espaços reservados para as indicações re- taria de Credenciamento da instituição na área profissio-
lativas a: nome do estabelecimento, endereço completo, e nal e Resolução de Autorização do curso concedidas pelo
ato legal de credenciamento/autorização do curso, cons- Conselho Estadual de Educação de Mato Grosso-CEE/MT,
tando data da publicação em Diário Oficial do Estado; dentro dos respectivos prazos de vigência;
a. No corpo – a expressão, em destaque – Diploma, II. No caso de Certificado do Ensino Médio - Portaria de
acrescentando-se a fundamentação legal, nome do titu- Credenciamento da instituição e Resolução de Autorização
lado/concluinte, naturalidade/UF, nacionalidade, data de do curso concedidas pelo Conselho Estadual de Educação
nascimento, filiação, data de conclusão do curso e nome de Mato Grosso-CEE/MT, dentro dos respectivos prazos de
da titulação/ área /habilitação profissional conferida; vigência.

167
LEGISLAÇÃO BÁSICA

Art. 9º – Outros dados indispensáveis dos modelos


de certificados parciais e de conclusão de níveis de ensino, 12. RESOLUÇÃO Nº 630/08, LC 206 DE 29
via exame supletivo, serão definidos pelo órgão próprio do DE DEZEMBRO DE 2004 E LC 04 DE 15 DE
Sistema responsável pelos Exames Supletivos. OUTUBRO DE 1990.

Art. 10 – A Escola registrará os diplomas e/ou certifi-


cados, e expedirá no prazo máximo de 60 (sessenta) dias, a
contar da data de encerramento do ano letivo, correspon- RESOLUÇÃO Nº 630/08
dente ao termino do curso.
Fixa normas para a oferta da Educação Básica no Siste-
ma Estadual de Ensino de Mato Grosso.
Art. 11 – O acompanhamento e a orientação dos ser-
viços de registro e de expedição de diplomas e/ou certifi-
O CONSELHO ESTADUAL DE EDUCAÇÃO DE MATO
cados referentes à Educação Básica compete:
GROSSO, no uso de suas atribuições, em cumprimento às
a. À Secretaria de Estado de Educação-SEDUC/MT -
disposições contidas nos Incisos e Parágrafos do
quando se tratar de Escola Pública Estadual; Art. 208 e Incisos do
b. Às Secretarias Municipais de Educação - quando se Art. 209, da Constituição Federal, e na Lei Nº 9394/96-
tratar de Escola Pública Municipal e; LDB, com fundamento no
c. À Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia-SECI- Art. 33, da Lei Complementar Estadual Nº 49/98, de 01
TEC/MT - quando se tratar da Educação Profissional Técni- de outubro de 1998, com alterações trazidas pela Lei Com-
ca de Nível Médio. plementar Estadual Nº 77, de 13 de dezembro de 2000 e
pela Lei Complementar Estadual Nº 209, de 12 de janeiro
Art. 12 – A segunda via de diploma e/ou certificado de 2005, e considerando a necessidade de rever e consoli-
será expedida pela Instituição de Ensino mediante requeri- dar normas para o Sistema Estadual de Ensino, referentes a
mento do interessado. criação e credenciamento de estabelecimento de ensino, e
a autorização de cursos a serem ofertados, conforme deci-
Art. 13 – O registro e a expedição de diploma e/ou são da Plenária de 09 de dezembro de 2008,
certificado, em primeira ou segunda via, de escola desa- RESOLVE:
tivada serão realizados por órgão próprio do Sistema de
Ensino responsável pela guarda do arquivo. CAPÍTULO I
Das Disposições Preliminares
Art. 14 – Os responsáveis pelo registro e expedição
de diploma e certificado respondem administrativa, civil e Art. 1º - O funcionamento de Unidade Escolar na Edu-
penalmente pelos seus atos e omissões praticados. cação Básica dependerá da criação, credenciamento da
unidade e autorização de cursos a serem ofertados, con-
Art. 15 – É privativo dos titulares dos cargos de Di- forme o disposto nesta Resolução.
retor e Secretário Escolar a assinatura da documentação
comprobatória de conclusão de etapas, módulos e níveis Art. 2º - O credenciamento da Unidade Escolar, de ca-
ráter único e permanente, assegura a sua inserção no Siste-
de ensino.
ma Estadual de Ensino, possibilitando ao dirigente solicitar
a autorização e ou renovação de autorização de cursos da
Art. 16 – As Instituições de Ensino terão prazo de 90
Educação Básica a serem ofertados.
(noventa) dias para se adequarem às normas desta Reso-
Parágrafo único – Em se tratando de curso da Edu-
lução.
cação Profissional Técnica de Nível Médio e de Educação
a Distância (EaD) deve também atender as normas espe-
Art. 17 – Fica garantida a gratuidade da expedição de cíficas.
diplomas e certificados, bem como seus registros em Insti-
tuições Públicas. Art. 3º - Autorização, e a Renovação de Autorização, é
o ato formal do Conselho Estadual de Educação de Mato
Art. 18 – Esta Resolução entra em vigor na data de sua Grosso, de caráter temporário, que permite a Entidade
publicação, revogando-se as disposições em contrário, e a Educacional pública ou privada ofertar a Educação Básica.
Resolução Nº 196/97-CEE-MT, de 21 de outubro de 1997.
Art. 4º - O pedido para autorização de curso da Educa-
Cuiabá, 29 de maio de 2007 ção Básica, na modalidade educação indígena, será formu-
lado através de processo instruído respeitando também as
normas especificas da modalidade, e deverá conter obriga-
toriamente Parecer Técnico do Conselho Estadual de Edu-
cação Escolar Indígena-CEI/MT.

168
LEGISLAÇÃO BÁSICA

Art. 5º - Para atender especificamente as diversidades Art. 8º - A criação de unidade escolar privada com-
étnico-culturais do Estado, do Município, de uma localida- provar-se-á mediante apresentação dos seguintes docu-
de ou de uma região, poderão ser dispensadas ou adiadas mentos:
exigências contidas nesta Resolução. I. constitutivos da entidade, no caso de:
a.empresa – Ata de sua constituição devidamente re-
CAPITULO II gistrada na Junta Comercial do Estado, acompanhada das
Da Criação de Unidade Escolar alterações posteriores, se houver;
Pública e Privada b.organização societária – copia registrada de seu esta-
tuto social vigente, ata de eleição e posse da atual diretoria;
Art. 6º - A criação de unidade escolar pública dar-se c.por outras formas – cópia de documentação compro-
-á por ato do Poder Executivo Estadual ou Municipal, me- batória de sua existência legal.
diante processo encaminhado pela respectiva Secretaria de II. inscrição da instituição mantenedora no CNPJ;
Educação. III. alvará de funcionamento, ou seu equivalente, emi-
§ 1º - O processo de criação de que trata o caput deve- tido por órgão próprio do município, cuja finalidade seja
rá ser instruído com a seguinte documentação: o funcionamento de atividades educacionais, relacionadas
I. requerimento do representante da SEDUC/MT no aos níveis e modalidades pretendidas.
Município ao Secretário de Estado de Educação, no caso
de escola estadual, ou do representante da Secretaria Mu- CAPITULO III
nicipal de Educação, ao Secretário Municipal de Educação, Do Credenciamento
no caso de escola municipal;
II. justificativa fundamentada da solicitação; Art. 9º - A solicitação de credenciamento da unidade
III. indicação das etapas e/ou modalidades de ensino escolar de ensino público ou privado será formalizada ao
que pretende ofertar;
Conselho Estadual de Educação, atendendo aos seguintes
IV. previsão de início, número de alunos, turmas e tur-
requisitos:
nos de funcionamento, recursos humanos habilitados e
§ 1º - Em se tratando de unidade escolar pública, o
disponíveis;
processo deve ser instruído contendo:
V. forma de implantação: imediata ou gradativa;
I. requerimento do diretor da unidade escolar para o
VI. cópia da ata da reunião onde a comunidade escolar
fim específico de credenciamento;
escolheu a denominação da Unidade com biografia, quan-
II. documentos e informações referentes a criação da
do se tratar de Patrono, ou com o histórico da denomina-
unidade, conforme consta do
ção escolhida;
Art. 6º desta Resolução;
VII. informar ainda:
III. relação do mobiliário, equipamentos em geral e de
a. previsão de instalação; laboratórios disponibilizados para as atividades pedagógi-
b. equipamentos e materiais pedagógicos adequados cas;
à etapa e/ou modalidades de ensino pretendidas; IV. indicação do acervo bibliográfico em números de
c. endereço completo; volumes de livros e periódicos disponíveis na Biblioteca;
d. número de dependências e a que se destinam; V. documentos referentes a estrutura física:
e. capacidade de atendimento; a. planta de localização da edificação no terreno, com
f. área construída; indicação da área livre e coberta e os afastamentos vizi-
g. área livre; nhos, firmado por profissional habilitado;
h. quadra de esportes; b. planta baixa do edifício, devidamente assinada por
i. se a unidade escolar está devidamente adaptada para profissional habilitado, contendo indicação:
atender as exigências de acessibilidade. do pé-direito; da abertura para iluminação e ventila-
VIII. e também anexar: ção; da localização das salas de aula; da biblioteca; da sala
a. cópia da planta baixa; de professores; das salas para administração; dos sanitá-
b. cópia do contrato de locação, do termo de comoda- rios; e da área coberta destinada para recreação, prática
to, doação ou outro que comprove a situação do prédio. desportiva e abrigo, ajustada ao projeto pedagógico da
§ 2º - Fica a respectiva Secretaria de Educação incum- escola e à população escolar.
bida de encaminhar ao Conselho Estadual de Educação- VI. laudo técnico expedido pelo órgão de vigilância sa-
CEE/MT o ato de criação, para a devida inserção no sistema. nitária ou por um engenheiro sanitarista com referência a:
a. condições de salubridade e higiene da área escolar;
Art. 7º - Em cumprimento de dever inerente ao Poder b. condições dos reservatórios e qualidade da água;
Público, a unidade escolar estadual e ou municipal poderá c. destinação de lixo;
iniciar as atividades imediatamente após a publicação do d. sistema de esgoto ou fossa séptica; e
ato de sua criação, devendo o pedido de credenciamento e. outros julgados necessários.
da escola e o pedido de autorização de cursos, serem enca- VII. laudo técnico expedido pelo setor municipal de ur-
minhados ao Conselho Estadual de Educação/CEE/MT, no banismo ou equivalente do poder público ou ainda de um
prazo máximo de 120 (cento e vinte) dias. engenheiro civil habilitado, com referência a:

169
LEGISLAÇÃO BÁSICA

a. localização física da unidade escolar; e rubricadas pelo dirigente da instituição, será protocolado
b. condições das instalações das redes elétrica e hi- na Assessoria Pedagógica ou outro órgão para tal designa-
dráulica; do no município.
c. condições de segurança quanto ao acesso e a circu-
lação nas áreas internas e externas; Art. 11 - A autorização dar-se-á para a oferta da Edu-
d. condições das instalações sanitárias, nos aspectos cação Básica, esta de caráter indissociável, devendo ser
qualitativos e quantitativos apropriados; feita através de processo único, contemplando no Projeto
e. espaço de lazer, recreação e educação física adequa- Político Pedagógico-PPP as especificidades contidas nas
dos aos turnos de funcionamento das etapas e/ou moda- normas vigentes para as diferentes modalidades.
lidades ofertadas;
f. existência de dispositivos adequados de prevenção Art. 12 - O Conselho Estadual de Educação emitirá a
contra sinistros; autorização para oferta da Educação Básica por 05 (cinco)
g. adequação das barreiras arquitetônicas a fim de ga- anos, mediante processo instruído com os documentos e
rantir acessibilidade, tais como: rampas de acesso, coloca- informações, organizados sequencialmente em 01 (uma)
ção de barras de apoio, banheiros adaptados e alargamen- via impressa, com páginas numeradas e rubricadas pelo di-
to de portas. rigente da instituição, atendendo os itens a seguir:
§ 2º - Em se tratando de unidade escolar privada, o I. requerimento de solicitação de autorização para
processo deverá ser instruído contendo: oferta da Educação Básica à Presidência do Conselho Esta-
I. da mantenedora e seus dirigentes: dual de Educação, contendo denominação e endereço do
a. requerimento dos responsáveis legais da mantene- estabelecimento de ensino;
dora, à Presidência do Conselho Estadual de Educação, so- II. Projeto Político Pedagógico-PPP, contendo:
licitando o credenciamento da unidade escolar de ensino; a. descrição sucinta da filosofia, objetivos e metas da
b. todos os documentos e informações referentes á escola;
criação da instituição constantes do artigo 8º desta Reso- b. proposta curricular;
lução;
c. metodologia;
c. denominação e endereço completo da mantenedora.
d. sistemática de avaliação;
II. da unidade escolar de ensino:
e. matriz curricular;
a. denominação e endereço da instituição escolar;
f. calendário escolar do período inicial das atividades a
b. todos os documentos e informações exigidos nos
ser autorizada;
itens III a VII do § 1º deste artigo.
III. recursos materiais e didático-pedagógicos disponí-
§ 3º - Os laudos técnicos que contiverem itens de res-
veis para a oferta pretendida;
trições ou recomendações sanáveis deverão estar acom-
IV. indicação do acervo bibliográfico, em número de
panhados de compromissos firmados pela mantenedora
indicando prazo de saneamento das restrições. volumes de livros e periódicos existentes;
§ 4º - As unidades de ensino públicas ou privadas cre- V. instalações e equipamentos disponíveis para a ofer-
denciadas ficam obrigadas a comunicar ao CEE/MT todas ta pretendida;
as alterações ocorridas após o ato de credenciamento no VI. regimento escolar contendo normas de organiza-
que se referem aos requisitos constantes deste artigo, o ção interna e construído de acordo com os princípios esta-
não cumprimento desta disposição acarretará sanções ca- belecidos pelo Projeto Político Pedagógico-PPP, devendo
bíveis. estar subordinado a toda a legislação vigente e refletindo
a orientação pretendida pela escola para os trabalhos pe-
CAPITULO IV dagógicos;
Da Autorização dos Cursos da Educação VII. estrutura administrativa, detalhando:
Básica e sua Renovação a. etapa e/ou modalidade de ensino pretendida;
b. previsão de atendimento (número de alunos, turmas
Art. 10 - A solicitação de autorização e ou renovação e turnos);
de autorização de cursos da Educação Básica, será formali- c. indicação da modalidade de escrituração escolar e
zada ao Conselho Estadual de Educação pelo dirigente da de arquivo;
instituição escolar pública e da privada, pelo representante d. quadro do corpo docente com indicação da previsão
legal da mantenedora. da habilitação profissional exigida, área de atuação, per-
§ 1º - O processo de autorização para a oferta de mitindo-se, no máximo 25% (vinte e cinco por cento) dos
Educação Básica, de unidade escolar pública, com pági- profissionais em busca da qualificação adequada, quando
nas numeradas e rubricadas pelo dirigente da instituição, se tratar de município que apresente carência de recursos
será protocolado na Assessoria Pedagógica ou outro órgão humanos devidamente habilitados para as áreas do conhe-
para tal designado no município, obedecendo ao prazo fi- cimento;
xado no e. relação nominal da equipe gestora e da equipe téc-
Art. 7º desta Resolução. nico-administrativa com indicação da respectiva qualifica-
§ 2º - O processo de autorização para a oferta de Edu- ção profissional, exigindo para o Cargo de Secretário habi-
cação Básica, de escolas privadas, com páginas numeradas litação profissional própria, no mínimo de Ensino Médio, e

170
LEGISLAÇÃO BÁSICA

para o Cargo de Diretor, de Supervisor, de Coordenador, Art. 14 – No âmbito de cada Assessoria Pedagógica
ou outro cargo com denominação equivalente, habilitação ou órgão delegado, o responsável pelo serviço de protoco-
de Ensino Superior na área educacional. Excepcionalmente, lo, ao receber a documentação para ser protocolada deve
no município que persistir a carência desses profissionais verificar se as páginas estão devidamente numeradas e ru-
serão admitidos profissionais em formação. bricadas pelo dirigente da instituição, para então inserir no
Sistema de Protocolo do Estado de Mato Grosso.
Art. 13 – Quando se tratar de renovação de autoriza-
ção o processo com páginas numeradas e rubricadas pelo Art. 15 – Compete à Assessoria Pedagógica no Municí-
dirigente da instituição, será protocolado na Assessoria Pe- pio ou órgão delegado, realizar “in loco” Verificação Prévia,
dagógica ou outro órgão para tal designado no município, atestando o cumprimento dos requisitos para a autoriza-
120 (cento e vinte) dias antes de findar o prazo da autoriza- ção além de prestar outras informações detalhadas sobre
ção, instruído somente com os seguintes itens: os seguintes aspectos:
I. Projeto Político Pedagógico-PPP, construído coletiva- I. escrituração escolar e arquivos, físicos ou virtuais, que
mente pela comunidade escolar, com a devida ata da reu- assegurem a verificação da identidade de cada aluno, pro-
nião que o aprovou, devendo conter: fessor e demais funcionários, bem como a regularidade e
a. diagnóstico que evidencia os problemas que afetam autenticidade do processo escolar, de forma a apresentar:
o processo pedagógico, mostrando o que compete à esco- a. pedido formal de matrícula ou cópia do contrato ce-
la, ao órgão mantenedor e à sociedade resolver; lebrado entre escola e aluno;
b. concepções e princípios norteadores do trabalho b. cópia da carteira de identidade, ou da certidão de
pedagógico, fundamentais ao estabelecimento da identi- nascimento, ou da certidão de casamento;
dade da instituição, evidenciando concepção de sociedade, c. arquivo individual do aluno com documentação e as-
de educação, de aluno, de relação professor/aluno, de en- sentamentos da sua vida escolar pretérita;
sino e aprendizagem; d. arquivo individual do professor e demais funcioná-
c. filosofia, objetivo, organização curricular, metodolo- rios, contendo os assentamentos e documentos compro-
gia, forma de avaliação, gestão; batórios da sua situação funcional e habilitação, documen-
d. matriz curricular e calendário. tação pessoal e endereço atualizado;
II. regimento escolar, coletivamente construído e se e. registro físico ou virtual de frequência de professo-
constituindo em um documento com páginas devidamente res, equipe técnica e funcionários;
numeradas e rubricadas pela direção da escola, acompa- f. registro físico ou virtual de frequência diária dos alu-
nhado por ata da reunião que o aprovou, contendo, dentre nos e do processo de avaliação efetuado.
outros itens: II. regimento escolar da instituição em conformidade
a. identificação da instituição escolar e sua mantene- com o Projeto Político Pedagógico e atendendo as normas
dora; legais vigentes;
b. dos objetivos e finalidades da escola; III. operacionalização do currículo pleno oferecido
c. do regime de funcionamento; atendendo aos objetivos e princípios filosóficos que cons-
d. da Secretaria Escolar; tam do PPP da escola;
e. dos Conselhos Deliberativos (se houver); IV. quadro de pessoal docente e técnico-administrativo
f. da Direção Escolar; coincidente com o operacionalizado pela escola, no caso
g. do Corpo Docente e Discente; de instituição em funcionamento;
h. da Organização e regime didático; V. existência de mobiliário, equipamentos, recursos
i. dos Currículos e Programas; pedagógicos e acervo bibliográfico, em perfeito estado de
j. do Calendário Escolar; conservação e disponíveis na instituição;
k. da matricula e da transferência; VI. análise do desempenho escolar, a partir dos dados
l. da frequência e avaliação do rendimento escolar; de aprovação, evasão e repetência, quando instituição em
m. dos direitos e deveres dos diversos segmentos par- funcionamento.
ticipantes; § 1º - A Verificação Prévia realizada pela Assessoria
n. das disposições gerais. Pedagógica deve ser concluída no prazo máximo de 40
III. outras informações: (quarenta) dias, a contar da data do protocolo inicial do
a. comprovação documental da prestação das infor- processo, na Assessoria.
mações estatísticas do Censo Escolar do ultimo período § 2º - A Verificação Prévia objetivará, ao CEE/MT, o
decorrido; exame de dados que comprove as condições pedagógicas
b. memorial descritivo da estrutura física, alterada des- para o funcionamento das etapas e/ou modalidades de en-
de o credenciamento do estabelecimento, explicitando os sino da Educação Básica a ser autorizada.
itens modificados, firmado por profissional habilitado e de-
vidamente registrado no conselho de classe. Art. 16 - Realizada a Verificação Prévia, a Assessoria
Parágrafo único – A não observância do prazo fixado Pedagógica do Município encaminhará o processo ao Con-
no “caput” do artigo, acarretará ao dirigente da instituição selho Estadual de Educação, com o respectivo Relatório
sanções previstas em lei. Circunstanciado da Verificação, datado e assinado, com as

171
LEGISLAÇÃO BÁSICA

novas páginas que foram acrescidas ao processo, devida- § 1º - É de responsabilidade da unidade escolar expe-
mente numeradas e rubricadas dando sequência ao origi- dir documentação regular, em tempo hábil, para assegurar
nal. aos alunos a continuidade de estudos.
§ 2º - A regularidade dos atos da escola em relação ao
Art. 17 - A Equipe Técnica do Conselho Estadual de processo de desativação voluntária será verificada “in loco”
Educação, à vista dos autos, do Relatório de Verificação por comissão especial, designada para este fim pela Asses-
Prévia e das disposições desta Resolução emitirá informa- soria Pedagógica no Município.
ção técnica no prazo máximo de 40 (quarenta) dias e en- § 3º - A apreciação do pedido de desativação volun-
caminhará o processo à Câmara pertinente, para análise e tária de etapas e/ou modalidades será divulgada por ato
decisão final sobre o pedido. próprio do Conselho Estadual de Educação.
§ 1º - Havendo irregularidades a serem saneadas, o
processo será diligenciado antes do encaminhamento à Art. 20 - A desativação voluntária temporária poderá
Câmara, sendo fixado um prazo de até 60 (sessenta) dias ser autorizada no máximo até 02 (dois) anos, período no
para o seu retorno ao Conselho Estadual de Educação, ca- qual ficam suspensos os efeitos do ato de autorização dos
bendo reanálise pela Equipe Técnica. cursos.
§ 2º - O não cumprimento da diligência no prazo fixa- Parágrafo único – O reinicio das atividades desativa-
do implicará na cessação do trâmite do processo. das dependerá de manifestação expressa da mantenedora,
§ 3º - Havendo decisão favorável da Câmara pertinente, quando entidade privada ou da direção da escola, quando
o CEE/MT emitirá o ato próprio de autorização que ganha- pública, devendo o CEE/MT determinar imediata Verifica-
rá eficácia com sua publicação em Diário Oficial Estadual. ção “in loco” pela Assessoria Pedagógica.

CAPITULO V Art. 21 - A desativação voluntária definitiva, parcial ou


Da Desativação e Reativação das Atividades total, implicará a revogação formal da autorização dos cur-
Escolares sos desativados.
§ 1º - No caso de desativação parcial, a documentação
escolar ficará sob a guarda do próprio estabelecimento de
Art. 18 - A desativação de unidade escolar de Educa-
ensino, devendo comunicar todas as mudanças de endere-
ção Básica credenciada e de cursos de qualquer etapa e /
ço que ocorrerem;
ou modalidade de ensino autorizados a funcionar ou com
§ 2º - No caso de desativação definitiva e total, a do-
ato legal vencido, poderá ocorrer:
cumentação escolar será recolhida pela Assessoria Peda-
a. por iniciativa da entidade mantenedora, entendida
gógica no Município ou outro órgão que vier substituí-la,
como voluntária;
para efeito de arquivamento, observadas todas as cautelas
b. por determinação da autoridade competente, en-
legais e normativas, principalmente aquelas quanto ao res-
tendida como desativação compulsória. guardo dos direitos dos discentes envolvidos.
Parágrafo único - A desativação das atividades, nas
formas acima previstas, poderá ocorrer em caráter: Art. 22 - A desativação compulsória de estabelecimen-
a. definitivo; to de ensino e/ou cursos atenderá aos trâmites previstos
b. temporário; na Resolução Nº 093/06-CEE/MT e respeitará todos os di-
c. parcial, quando se tratar de curso, etapa e de moda- reitos, aos envolvidos, ao contraditório e a ampla defesa,
lidade a paralisar; previstos na legislação vigente.
d. total, no caso de estabelecimento de ensino.
CAPÍTULO VI
Art. 19 - Para a desativação voluntária de atividades, Das Mudanças de Mantenedora, de Sede e
que estejam dentro do prazo de vigência do ato legal de de Denominação da Mantida
funcionamento, a mantenedora encaminhará processo
próprio ao Conselho Estadual de Educação, constituído de: Art. 23 - As modificações que alteram a organização
g. justificativa incluindo o caráter da desativação; da unidade escolar pública ou privada credenciada e que
h. cronograma de desativação; mantenha cursos, etapas e/ou modalidades de ensino, au-
i. descrição dos procedimentos relativos à continuida- torizados em relação à mantenedora, sede ou denomina-
de da oferta regular de ensino até a desativação; ção do estabelecimento, deverão ser submetidas ao Con-
j. garantia de regularidade de escrituração escolar e selho Estadual de Educação, para análise e aprovação, em
arquivo; processo próprio, assim instruído:
k. cópia da ata de reunião de comunicação aos alunos, I. documentos constitutivos da nova mantenedora, no
pais ou responsáveis, quanto à desativação; caso de:
l. prova escrita de transferência do acervo documental, d. empresa - ato de sua constituição devidamente re-
nos casos em que couber; gistrado na Junta Comercial do Estado, acompanhada das
m. cópia do ato legal de credenciamento do estabele- alterações posteriores, se houver;
cimento de ensino e autorização dos cursos para compro- e. organização societária - copia registrada de seu esta-
vação dos prazos de vigência. tuto social vigente, ata de eleição e posse da atual diretoria;

172
LEGISLAÇÃO BÁSICA

f. por outras formas - cópia de documentação compro- a sua mantenedora encaminhar ao CEE/MT o projeto de
batória de sua existência legal; ocupação provisória que garanta as condições mínimas de
g. cópia do CNPJ da Mantenedora; conforto e segurança para a continuidade das atividades
h. alvará expedido pelo município sede da escola e que letivas, no decorrer de toda a obra.
autoriza o funcionamento de atividades educacionais, rela- Parágrafo único - A unidade escolar que nesse pe-
cionadas às etapas e modalidades pretendidas; ríodo de reformas ou ampliação do prédio, optar por sus-
i. cópia de documentação referente ao ato jurídico que pender as aulas, deve também comunicar tal decisão a este
legalizou a transferência. Conselho.
II. quanto à mudança de sede da mantida:
a. prova de propriedade de terreno e edifício onde fun- Art. 27 - Fica revogado o artigo 12 da Resolução Nº
cionará o estabelecimento de ensino ou prova de direito 180/2000-CEE/MT que limita em 03 (três) anos o prazo do
de uso do edifício, pelo prazo mínimo de 4 (quatro) anos; período de autorização dos cursos na Modalidade Educa-
b. documentação da estrutura física; ção de Jovens e Adultos-EJA, que doravante passa ter o
c. alvará expedido pelo município que autoriza o fun- mesmo prazo fixado no
cionamento de atividades educacionais, relacionadas aos Art. 12 desta Resolução.
níveis e modalidades pretendidas;
d. cópia do CNPJ da mantida, quando esta se encon- Art. 28 - Toda unidade escolar pública e privada em
trar instalada em outro município que não é o mesmo da funcionamento fica sujeito à supervisão, fiscalização e ava-
mantedora. liação do Sistema Estadual de Ensino, nos termos da legis-
III. quanto à mudança de denominação da mantida: lação vigente.
a. comunicado formal, com justificativa, encaminha-
da pela mantenedora quando entidade privada e direção Art. 29 - O Conselho Estadual de Educação firmará
quando pública; convênios e outros mecanismos legais com os demais ór-
b. comprovante da decisão da mantenedora, quando gãos de cadastramento e licença para funcionamento co-
se tratar de unidade escolar da rede particular; mercial, de modo a coibir ofertas irregulares.
c. encaminhamento do documento oficial que autoriza
a mudança. Art. 30 - As salas de aula devem atender ao corres-
§ 1º - A transferência de mantenedor ou de sede de pondente de, no mínimo, 1.30 m² (um metro quadrado e
qualquer unidade escolar, e também a mudança de deno- trinta centímetros) por aluno e área livre com capacidade
minação se efetivará somente após publicação de ato do para até 500 (quinhentos) alunos, no mínimo, de 500m²
Conselho Estadual de Educação, específico para tal fim. (quinhentos metros quadrados) dos quais 50% (cinquenta
§ 2º- As transferências operadas segundo o parágra- por cento) sejam destinados à quadra poliesportiva.
fo anterior obrigam o estabelecimento beneficiário fazer Parágrafo único - Para efeito de organização das tur-
de imediato as adaptações regimentais e de escrituração mas serão observados os limites pertinentes a cada etapa e
escolar correspondentes, inclusive, a estatutária, nos casos modalidade de ensino.
em que couber.
Art. 31 - Fica prorrogada automaticamente a validade
CAPÍTULO VII do Ato de Credenciamento de unidade escolar pública ou
Das Disposições Finais e Transitórias privada a vencer, a partir de 2009.
Parágrafo único - A unidade escolar pública ou pri-
Art. 24 - A partir da vigência desta Resolução, con- vada com ato de credenciamento vencido em 2008 deve
validações de estudos realizados por alunos em escolas encaminhar processo pedindo credenciamento, no prazo
desprovidas da competente autorização para funcionar, só máximo de 120 (cento e vinte dias), nos moldes desta Re-
poderão ser efetivadas após a devida apuração dos fatos solução.
que ensejaram a transgressão e responsabilização de seus
dirigentes. Art. 32 - Deve ser impedido, por todos os meios legais,
o funcionamento de unidade escolar pública ou privada
Art. 25 - A publicidade de decisão colegiada de cre- que não atender o que dispõe esta Resolução.
denciamento de unidade escolar e autorização de cursos
será identificada através de numeração sequencial, seguida Art. 33 - Esta Resolução entra em vigor na data de sua
do ano civil de sua expedição e antecedida das expressões publicação, revogando-se as disposições em contrário, es-
“CREDENCIAMENTO Nº” e “AUTORIZAÇÃO Nº”, conforme pecialmente a Resolução Nº 384/2004, de 23 de dezembro
o caso. de 2004, publicada no Diário Oficial do dia 29 de dezembro
de 2004, páginas 54 a 57.
Art. 26 - A execução de reformas ou ampliação dos
prédios sede das escolas que implicarem desalojamento
do corpo discente, em parte ou na sua totalidade, deve

173
LEGISLAÇÃO BÁSICA

LEI COMPLEMENTAR Nº 206, DE 29 DE DEZEMBRO DE 2. coordenar, em consonância com o Conselho Deli-


2004 - D.O. 22.03.05. berativo da Comunidade Escolar, a elaboração, a execução
e a avaliação do Projeto Político-Pedagógico e do Plano
Dispõe sobre alterações na Lei Complementar nº de Desenvolvimento Estratégico da Escola, observadas as
50, de 1º de outubro de 1998. políticas públicas da Secretaria de Estado de Educação, e
outros processos de planejamento;
A ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE MATO 3. coordenar a implementação do Projeto Político-Pe-
GROSSO, tendo em vista o que dispõe o dagógico da Escola, assegurando a unidade e o cumpri-
Art. 45 da Constituição Estadual, aprova e o Governa- mento do currículo e do calendário escolar;
dor do Estado sanciona a seguinte lei complementar: 4. manter atualizado o tombamento dos bens públicos,
zelando, em conjunto com todos os segmentos da comuni-
Art. 1º O dade escolar, pela sua conservação;
Art. 1º da Lei Complementar nº 50, de 1º de outubro de 5. dar conhecimento à comunidade escolar das diretri-
1998, passa a vigorar com a seguinte redação: zes e normas emitidas pelos órgãos do sistema de ensino;
“ 6. submeter ao Conselho Deliberativo da Comunidade
Art. 1º Esta lei complementar cria a carreira dos Pro- Escolar para exame e parecer, no prazo regulamentado, a
fissionais da Educação Básica de Mato Grosso, tendo por prestação de contas dos recursos financeiros repassados à
finalidade organizá-la, estruturá-la e estabelecer as normas unidade escolar;
sobre o regime jurídico de seu pessoal. 7. divulgar a comunidade escolar a movimentação fi-
Parágrafo único Entende-se por carreira estratégi- nanceira da escola;
ca aquela essencial ao Estado para o oferecimento de um 8. coordenar o processo de avaliação das ações peda-
serviço público de qualidade, priorizado e mantido sob gógicas e técnico-administrativo-financeiras desenvolvidas
responsabilidade do Estado, com admissão exclusiva por na escola;
concurso público, ressalvado os casos descritos no art. 79 9. apresentar, anualmente, à Secretaria de Estado de
desta lei complementar, e revisão anual dos subsídios a Educação e à Comunidade Escolar, a avaliação do cumpri-
cada 12 (doze) meses.”
mento das metas estabelecidas no Plano de Desenvolvi-
mento da Escola, avaliação interna da escola e as propostas
Art. 2º O parágrafo único do
que visem à melhoria da qualidade do ensino e ao alcance
Art. 2º da Lei Complementar nº 50/98 passa a vigorar
das metas estabelecidas;
com a seguinte redação:
10. cumprir e fazer cumprir a legislação vigente;

b) Coordenador pedagógico, função composta das se-
Art. 2º (...)
guintes atribuições:
Parágrafo único A Secretaria de Estado de Educação
deve proporcionar aos Profissionais da Educação Básica va- 1. investigar o processo de construção de conhecimen-
lorização mediante formação continuada, manutenção do to e desenvolvimento do educando;
piso salarial profissional, garantia de condições de trabalho, 2. criar estratégias de atendimento educacional com-
condições básicas para o aumento da produção científica plementar e integrada às atividades desenvolvidas na tur-
dos professores e cumprimento da aplicação dos recursos ma;
constitucionais destinados à educação.” 3. proporcionar diferentes vivências visando o resgate
da auto-estima, a integração no ambiente escolar e a cons-
Art. 3º O trução dos conhecimentos onde os alunos apresentam di-
Art. 3º da Lei Complementar nº 50/98 passa a vigorar ficuldades;
com a seguinte redação: 4. participar das reuniões pedagógicas planejando,
“ junto com os demais professores, as intervenções neces-
Art. 3º A carreira dos Profissionais da Educação Básica sárias a cada grupo de alunos, bem como as reuniões com
é constituída de: pais e conselho de classe;
I - 03 (três) cargos de carreira, de provimento efetivo: 5. coordenar o planejamento e a execução das ações
a) Professor - composto das atribuições e atividades pedagógicas da Unidade Escolar;
descritas no § 4º do art. 5º desta lei complementar; 6. articular a elaboração participativa do Projeto Peda-
b) Técnico Administrativo Educacional - composto das gógico da Escola;
atribuições e atividades descritas no art. 9º desta lei com- 7. coordenar, acompanhar e avaliar o projeto pedagó-
plementar; gico na Unidade Escolar;
c) Apoio Administrativo Educacional - composto das 8. acompanhar o processo de implantação das diretri-
atribuições e atividades descritas no art. 9º desta lei com- zes da Secretaria de Estado de Educação relativas à avalia-
plementar; ção da aprendizagem e ao currículo, orientado e intervindo
II - 04 (quatro) funções de dedicação exclusiva: junto aos professores e alunos quando solicitado e/ou ne-
a) Diretor de unidade escolar, função composta das se- cessário;
guintes atribuições: 9. coletar, analisar e divulgar os resultados de desem-
1. representar a escola, responsabilizando-se pelo seu penho dos alunos, visando a correção e intervenção no Pla-
funcionamento; nejamento Pedagógico;

174
LEGISLAÇÃO BÁSICA

10. desenvolver e coordenar sessões de estudos nos 3.f. subsidiar as unidades escolares na execução e con-
horários de hora-atividade, viabilizando a atualização pe- solidação dos atos administrativos;
dagógica em serviço; 3.g. dar atendimento e resposta, em tempo hábil, às
11. coordenar e acompanhar as atividades nos horários solicitações emanadas das superintendências da secretaria
de hora-atividade na unidade escolar; de estado de educação e unidades escolar, no âmbito da
12. analisar/avaliar junto aos professores as causas da sua competência;
evasão e repetência propondo ações para superação; 4. encaminhar para a assessoria jurídica da Secretaria
13. propor e planejar ações de atualização e aperfei- de Estado de Educação, para emissão de parecer técnico,
çoamento de professore e técnicos, visando à melhoria de
os processos referentes à criação de Escola, bem como a
desempenho profissional;
autorização para o seu funcionamento, seu reconhecimen-
14. divulgar e analisar, junto à Comunidade Escolar,
to, nova denominação, transferências de mantenedora,
documentos e diretrizes emanadas pela Secretaria de Es-
encerramento de atividade, suspensão temporária de ati-
tado de Educação e pelo Conselho Estadual de Educação,
vidade e extinção de cursos do sistema estadual de ensino,
buscando implementá-los na unidade escolar, atendendo
observando rigorosamente as documentações pertinentes
às peculiaridades regionais;
a cada processo;
15. coordenar a utilização plena dos recursos da TV Es-
5. articular e monitorar programas e projetos emana-
cola pelos professores, onde não houver um técnico em
dos da SEDUC na área de abrangência das unidades esco-
multimeios didáticos;
lares pública, privadas e ONGs;
16. propor e incentivar a realização de palestras, en-
6. expedir documentação referente a alunos das esco-
contros e similares com grupos de alunos e professores
las desativadas, através dos documentos mantidos sob sua
sobre temas relevantes para a formação integral e desen-
guarda;
volvimento da cidadania;
7. chancelar as atas de resultados finais, juntamente
17. propor, em articulação com a Direção, a implanta-
com o diretor e secretário escolar;
ção e implementação de medidas e ações que contribuam
8. elaborar relatório circunstanciado de verificação pré-
para promover a melhoria da qualidade de ensino e o su-
via da situação da escola, através de visita objetivando re-
cesso escolar dos alunos;
gularidade no processo;
c) Assessor pedagógico, função composta das seguin-
9. orientar, acompanhar e analisar a elaboração do Pla-
tes atribuições:
no de Desenvolvimento Escolar (PDE), tendo por base ins-
1. fornecer orientação técnica e administrativa às Uni-
trumentos emanados do órgão central;
dades Escolares públicas e privadas;
10. monitorar a execução do Plano de Desenvolvimen-
2. assessorar técnica e administrativamente as secreta-
to Escolar (PDE) nas unidades escolares, através de instru-
rias municipais de educação, nos termos de convênio;
mentos avaliativos emitidos pelo órgão central;
3. orientar e acompanhar a aplicação da legislação
11. participar do processo de elaboração dos atos ad-
educacional e administrativa às unidades escolares públi-
ministrativos no que refere a atribuição de classes e/ou
cas e privadas quanto a:
aulas.
3.a. assessorar as secretarias municipais de educação
d) Secretário Escolar, função composta das seguintes
(SME) quanto à aplicabilidade da legislação educacional e
atribuições:
administrativa advindas do Conselho Estadual de Educação
1. a responsabilidade básica de planejamento, organi-
e da Secretaria de Estado de Educação;
zação, coordenação, controle e avaliação de todas as ativi-
3.b. orientar e acompanhar as escolas do Sistema Es-
dades pertinentes à secretaria e sua execução;
tadual de Ensino na elaboração e execução da matriz cur-
2. participar da elaboração do Plano de Desenvolvi-
ricular, calendário escolar, quadro de pessoal, regimento
mento Escolar;
escolar e demais documentos necessários e de interesse
3. participar juntamente com os técnicos administrati-
da escola;
vos educacionais, da programação das atividades da secre-
3.b.1. aprovar os documentos mencionados no caput
taria, mantendo-a articulada com as demais programações
quando se tratar de estabelecimentos privados e, em se
da Escola;
tratando de escolas públicas, a aprovação dar-se á pelo
Conselho Deliberativo da Comunidade Escolar (CDCE); 4. atribuir tarefas aos técnicos administrativos educa-
3.c. monitorar, bimestralmente (in loco) as Escolas da cionais, orientando e controlando as atividades de registro
Rede Estadual de Ensino, objetivando o cumprimento do e escrituração, assegurando o cumprimento de normas e
estabelecido na legislação pertinente, referente à composi- prazos relativos ao processamento de dados determinados
ção de turma e quadro de pessoal; pelos órgãos competentes;
3.d. manter sob seu controle o quantitativo de pessoal 5. verificar a regularidade da documentação referente
estabelecido pela secretaria de estado de educação, bem à matrícula, adaptação, transferência de alunos, encami-
como as disponibilidades para outros órgãos públicos; nhando os casos especiais à deliberação do diretor (a);
3.e. emitir parecer sobre as irregularidades constatadas 6. atender, providenciar o levantamento e encaminha-
nas unidades escolares e submetê-lo a apreciação e homo- mento aos órgãos competentes de dados e informações
logação da Secretaria de Estado de Educação; educacionais;

175
LEGISLAÇÃO BÁSICA

7. preparar a escala de férias e gozo de licença dos ser- “ Art. 4º O cargo de Professor é estruturado em linha
vidores da escola submetendo à deliberação do Conselho horizontal de acesso, identificada por letras maiúsculas,
Deliberativo da Comunidade Escolar; conforme tabelas dos Anexos I e II da presente lei com-
8. elaborar e providenciar a divulgação de editais, co- plementar.
municados e instruções relativas às atividades; § 1º As classes são estruturadas segundo a formação
9. elaborar relatórios das atividades da Secretaria e co- exigida para o provimento e para a progressão horizontal
laborar na elaboração do relatório anual da escola; no cargo, de acordo com seguinte:
10. cumprir e fazer cumprir as determinações do dire- I - (...)
tor (a), do Conselho Deliberativo da Comunidade Escolar e II - (...)
dos órgãos competentes; III - (...)
11. assinar, juntamente com o diretor (a), todos os do- IV - Classe D: habilitação específica de grau superior
cumentos escolares destinados aos alunos; em nível de graduação, representado por licenciatura ple-
12. facilitar e prestar todas as solicitações aos repre- na, com curso de mestrado na área de educação relaciona-
sentantes da Secretaria de Estado de Educação e do Con- da com sua habilitação;
selho Estadual de Educação sobre o exame de livros, escri- V - Classe E: habilitação específica de grau superior em
turação e documentação relativa à vida escolar dos alunos nível de graduação, representado por licenciatura plena,
e vida funcional dos servidores e, fornecer-lhes todos os com curso de doutorado na área de educação relacionada
elementos que necessitarem para seus relatórios, nos pra- com sua habilitação.
zos devidos; § 2º Cada classe desdobra-se em níveis, indicados por
13. redigir as correspondências oficiais da escola; algarismos arábicos de 01 a 12 que constituem a linha ver-
14. dialogar com o diretor (a) sobre assunto que diga tical de progressão.
respeito à melhoria do andamento de seu serviço; § 3º Portaria emitida pelo Secretário titular da pasta
15. não permitir a presença de pessoas estranhas ao disporá sobre as atribuições específicas dos professores
serviço da secretaria; com título de doutorado.
16. tomar as providências necessárias para manter a § 4º São atribuições específicas do Professor:
atualização dos serviços pertinentes ao estabelecimento; I - (...)
17. fazer a distribuição de serviços aos técnicos admi- (...)
nistrativos educacionais; X - buscar formação continuada no sentido de enfocar
18. tabular os dados dos rendimentos escolares, em a perspectiva da ação reflexiva e investigativa;
conformidade ao processo de recuperação e no final de XI - cumprir e fazer cumprir as determinações da legis-
cada ano letivo. lação vigente;
§ 1º A ocupação das funções de confiança de dedica- XII - cumprir a hora-atividade no âmbito da unidade
ção exclusiva, estabelecidas no inciso II deste artigo, é pri- escolar;
vativa de servidor de carreira, efetivo e estável, atendidos XIII - manter a cota mínima de produção científica, que
os requisitos estabelecidos para a sua designação, a serem será estabelecida por meio de ato administrativo regula-
regulamentados por meio de portaria emitida pelo Secre- mentar.”
tário titular da pasta.
§ 2º O percentual máximo de vagas a serem ocupa- Art. 6º A Seção II do Capítulo II do Título II da Lei Com-
das pelos profissionais previstos no parágrafo anterior não plementar nº 50/98 passa a vigorar com a seguinte reda-
poderá ser superior a 15% (quinze por cento) do total de ção:
vagas destinadas às funções de Diretor de Escola e Secre-
tário Escolar. (*revogado pela Lei Complementar nº 211, de “Seção II
12 de maio de 2005.) Dos Cargos de Técnico Administrativo Educacional e
§ 3º A quantidade total de vagas referente às funções Apoio Administrativo Educacional”
de confiança de dedicação exclusiva fica estabelecida de
acordo com a tabela do Anexo X desta lei complementar.”
Art. 7º O
Art. 4º A Seção I e o Capítulo II do Título II da Lei Com- Art. 6º da Lei Complementar nº 50/98 passa a vigorar
plementar nº 50/98 passam a vigorar com a seguinte re- com a seguinte redação:
dação: “
Art. 6º O cargo de Técnico Administrativo Educacional
“CAPÍTULO II estrutura-se em linha horizontal de acesso, identificada por
DOS CARGOS DA CARREIRA letras maiúsculas, conforme tabela do Anexo III da presente
Seção I lei complementar:
Do Cargo de Professor” I - Classe A: habilitação específica no ensino médio e
curso de profissionalização específica;
II - Classe B: habilitação em grau superior, em nível de
Art. 5º O graduação mais curso de profissionalização específica ou
Art. 4º da Lei Complementar nº 50/98 passa a vigorar curso de especialização lato sensu na área de gestão/admi-
com a seguinte redação: nistração escolar;

176
LEGISLAÇÃO BÁSICA

III - Classe C: habilitação em grau superior, com curso ra, retroprojetor, bem como outros recursos didáticos de
de especialização lato sensu em área correlata mais, curso uso especial, atuando ainda, na orientação dos trabalhos
de profissionalização específica ou outro curso de especia- de leitura nas bibliotecas escolares, laboratórios e salas de
lização lato sensu na área de gestão/administração escolar; ciências;
IV - Classe D: habilitação em grau superior, com curso II - (...)
de mestrado ou doutorado na área de atuação ou correlata a) Nutrição Escolar, cujas principais atividades são:
profissionalização específica. preparar os alimentos que compõem a merenda, manter a
§ 1º Cada classe desdobra-se em níveis, indicados por limpeza e a organização do local, dos materiais e dos equi-
algarismos arábicos de 01 a 12 que constituem a linha ver- pamentos necessários ao refeitório e a cozinha, manter a
tical de progressão. higiene, a organização e o controle dos insumos utilizados
§ 2º O curso de especialização na área de gestão/ad- na preparação da merenda e das demais refeições;
ministração escolar que poderá substituir o curso de pro- b) Manutenção de Infra-estrutura, cujas principais ati-
fissionalização específica deverá ser formalmente referen- vidades são: limpeza e higienização das unidades escola-
dado pela área de Formação e Atualização de Professores res, execução de pequenos reparos elétricos, hidráulicos,
da SEDUC. sanitários e de alvenaria, execução da limpeza das áreas
§ 3º A estrutura, o conteúdo e a carga horária do cur- externas incluindo serviços de jardinagem;
so de profissionalização específica serão regulamentados c) Transporte, cujas principais atividades são: conduzir
através de portaria emitida pelo Secretário titular da pasta.” os veículos pertencentes à Secretaria de Estado de Edu-
cação de acordo com as disposições contidas no Código
Art. 8º Fica acrescentado o Nacional de Trânsito, manter os veículos sob sua respon-
Art. 6º-A à Lei Complementar nº 50/98, com a seguinte sabilidade em condições adequadas de uso e, detectar, re-
redação: gistrar e relatar ao superior hierárquico todos os eventos
“ mecânicos, elétricos e de funilaria anormais que ocorram
Art. 6º-A O cargo de Apoio Administrativo Educacio- com o veículo durante o uso;
nal estrutura-se em linha horizontal de acesso identifica- d) Vigilância, cujas principais atividades são: fazer a vi-
da por letras maiúsculas, conforme tabela do Anexo IV, da gilância das áreas internas e externas das unidades esco-
presente Lei: lares e órgão central, comunicar ao diretor das unidades
I - Classe A: habilitação em nível de ensino fundamen- escolar todas as situações de risco à integridade física das
tal completo e curso de profissionalização específica; pessoas e do patrimônio público;
II - Classe B: habilitação em nível de ensino médio e e) Segurança, cujas principais atividades são: prevenir
curso de profissionalização específica. os alunos e os profissionais da educação de possíveis situa-
§ 1º Cada classe desdobra-se em níveis, indicados por ções perigosas dentro das unidades escolares; controlar a
algarismos arábicos de 01 a 12, que constituem a linha ver- entrada e saída de pessoas junto às unidades escolares e
tical de progressão. a SEDUC; detectar, registrar e relatar à direção da unidade
§ 2º A estrutura, o conteúdo e a carga horária do cur- escolar e/ou à chefia imediata, possível situações de riscos
so de profissionalização específica serão regulamentados à integridade física das pessoas e a integridades dos bens
através de portaria emitida pelo Secretário titular da pasta.” públicos sob sua responsabilidade.
§ 1º O desenvolvimento das atribuições e atividades
Art. 9º Ficam alterados, o caput e as alíneas “a” e “b” do Técnico e do Apoio Administrativo Educacional dar-se-á
dos incisos I e II, e acrescentada a alínea “c” ao inciso I, as dentro das unidades escolares, nas quais serão lotados de
alíneas “c” e “d” ao inciso II e os § 1º e § 2º ao acordo com as necessidades e conveniência da Unidade
Art. 7º da Lei Complementar nº 50/98, que passa a vi- Escolar e da Secretaria de Estado de Educação, bem como
gorar com a seguinte redação: do estabelecido no lotacionograma de cada unidade es-
“ colar.
Art. 7º São atribuições do Técnico Administrativo Edu- § 2º Os profissionais de apoio administrativo educa-
cacional e do Apoio Administrativo Educacional: cional deverão ser capacitados para executar as atribuições
I - (...) estabelecidas no inciso II deste artigo.”
a) Administração Escolar, cujas principais ativida-
des são: escrituração, arquivo, protocolo, estatística, atas, Art. 10 O
transferências escolares, boletins, relatórios relativos ao Art. 18 da Lei Complementar nº 50/98 passa a vigorar
funcionamento das secretarias escolares; assistência e/ou com a seguinte redação:
administração dos serviços de almoxarifado, dos serviços “
de planejamento e orçamentários, dos serviços financeiros; Art. 18 (...)
dos serviços de manutenção e controle da infra-estrutura; I - (...)
dos serviços de transporte, dos serviços de manutenção, (...)
guarda e controle dos materiais e equipamentos para a § 1º (...)
prática de esportes nas unidades escolares e outros; § 2º Para a aquisição da estabilidade no cargo, é obri-
b) Multimeios Didáticos, cujas principais atividades gatória a avaliação especial de desempenho, em que o ser-
são: organizar, controlar e operar quaisquer aparelhos ele- vidor nomeado deverá obter, na média de 05 (cinco) ava-
trônicos tais como: mimeógrafo, videocassete, televisor, liações, a somatória acima de 60% (sessenta por cento) da
projetor de slides, computador, calculadora, fotocopiado- pontuação total considerada.”

177
LEGISLAÇÃO BÁSICA

Art. 11 O Capítulo IV do Título III da Lei Complemen- V - de 41 (quarenta e um) a 50 (cinquenta) Escolas da
tar nº 50/98 passa a vigorar com a seguinte redação: Rede Pública Estadual de Ensino, 05 (cinco) Assessores;
“CAPÍTULO IV VI - de 51 (cinquenta e um) a 60 (sessenta) Escolas da
DO REGIME DE TRABALHO ESPECÍFICO DOS PROFIS- Rede Pública Estadual de Ensino, 06 (seis) Assessores;
SIONAIS DA EDUCAÇÃO” VII - de 61 (sessenta e um) a 70 (setenta) Escolas da
Rede Pública Estadual de Ensino, 07 (sete) Assessores.”
Art. 12 O Art. 13 Acrescenta no
Art. 39 da Lei Complementar nº 50/98 passa a vigorar Art. 41 da Lei Complementar nº 50/98, o § 1º e § 2º, que
com a seguinte redação: passa a vigorar com a seguinte redação:
“ “
Art. 41 A promoção do profissional da educação bási-
Art. 39 Ao Profissional da Educação Básica no exercício
da função de diretor de unidade escolar, assessor peda- ca do quadro atual dar-se-á em virtude de nova habilitação
gógico, coordenador pedagógico e secretário escolar, será específica alcançada pelo mesmo, devidamente comprova-
atribuído o regime de trabalho de dedicação exclusiva, com do, observado o interstício de 03 (três) anos.
impedimento de exercício de outra atividade remunerada, § 1º O profissional nomeado para a carreira dos pro-
seja pública ou privada. fissionais da educação básica será enquadrado na classe e
§ 1º O profissional designado para a função estabele- nível inicial.
cida no caput, fará jus ao recebimento de um percentual § 2º Os coeficientes para os aumentos salariais de uma
estabelecido sobre o seu subsídio, de acordo o previsto na classe para a subsequente ficam estabelecidos de acordo
tabela do Anexo X desta lei complementar. com o seguinte:
§ 2º O subsídio do servidor contratado na situação I - para as classes do cargo de Professor:
especial prevista no § 2º do art. 3º desta lei complemen- a) classe A: 1,00;
tar será pago sob o regime de dedicação exclusiva, cor- b) classe B: 1,50;
respondente a 40 (quarenta) horas semanais de trabalho, c) classe C: 1,70;
com impedimento de prestar serviço em outra atividade d) classe D: 2,02;
remunerada, seja pública ou privada e será estabelecido de e) classe E: 2,30;
acordo com o seguinte: II - para as classes do cargo de Técnico Administrativo
I - no caso de Diretor: Educacional:
a) considerar como subsídio o valor pago ao nível 1, da a) classe A: 1,00;
classe em que o profissional se enquadra, tendo em vista o b) classe B: 1,50;
grau de escolaridade e as demais formações, efetivamente c) classe C: 1,70;
comprovada(s) através do(s) diploma(s) e títulos; d) classe D: 2,02;
II - no caso de Secretário Escolar: III - para as classes do cargo de Apoio Administrativo
a) considerar como subsídio o valor pago ao servidor, Educacional:
do cargo de Técnico Administrativo Educacional, na classe a) classe A: 1,00;
e nível inicial da carreira, ou seja, classe A, nível 1; b) classe B: 1,25.”
III - deve ser acrescido ao subsídio estabelecido de
acordo com o disposto nos incisos I e II deste parágrafo, Art. 14 O título da Seção II do Capítulo I do Título IV da
o percentual estabelecido na tabela do Anexo X desta lei Lei Complementar nº 50/98 passa a vigorar com a seguinte
complementar.
redação:
§ 3º Não haverá designação para função de assessor
pedagógico no Município onde existir apenas 01 (uma) Es- “Seção II
cola da Rede Pública Estadual de Ensino, cabendo ao dire- Da Progressão de Nível”
tor da unidade escolar acumular as atribuições do Assessor
Pedagógico. Art. 15 Acrescenta no art. 42 da Lei Complementar nº
§ 4º Nos municípios onde houver mais de 01 (um) As- 50/98, o § 4º, que passa a vigorar com a seguinte redação:
sessor Pedagógico o número de escolas sob sua responsa- “
bilidade será definida pela média entre as escolas públicas Art. 42 O Profissional da Educação Básica terá direito
estaduais no Município e o número de assessores previsto à progressão de um nível para outro, desde que aprovado
no quadro de correspondência, a saber: em processo contínuo e específico de avaliação de desem-
I - de 02 (duas) a 10 (dez) Escolas da Rede Pública Esta- penho, obrigatoriamente, a cada 03 (três) anos.
dual de Ensino, 01 (um) Assessor; § 1º (...)
II - de 11 (onze) a 20 (vinte) Escolas da Rede Pública § 2º (...)
Estadual de Ensino, 02 (dois) Assessores; § 3º As normas de avaliação de desempenho, específi-
III - de 21 (vinte e um) a 30 (trinta) Escolas da Rede
cas do cargo de Professor, incluindo os instrumentos e os
Pública Estadual de Ensino, 03 (três) Assessores; critérios legais e objetivos, terão regulamento próprio, a ser
IV - de 31 (trinta e um) a 40 (quarenta) Escolas da Rede definido por Comissão constituída pelo Órgão da Educa-
Pública Estadual de Ensino, 04 (quatro) Assessores; ção e pelos Sindicatos representantes da categoria.

178
LEGISLAÇÃO BÁSICA

§ 4º Os coeficientes para os aumentos salariais de um Art. 20 O


nível para o subsequente ficam estabelecidos de acordo Art. 77 da Lei Complementar nº 50/98 passa a vigorar
com o seguinte: com a seguinte redação:
I - 1,00; “
II - 1,04; Art. 77 A função de Diretor é considerada eletiva e de-
III - 1,085; verá sempre recair em integrante de cargo de provimento
IV - 1,135; efetivo da carreira dos Profissionais da Educação Básica do
V - 1,19; Poder Executivo Estadual, escolhido pela comunidade es-
VI - 1,25; colar.”
VII - 1,32;
VIII - 1,41; Art. 21 Os incisos I, II, III e IV e o § 3º do
IX - 1, 50; Art. 84 da Lei Complementar nº 50/98 passam a vigorar
X - 1,53; com a seguinte redação:
XI - 1,56; “
XII - 1,59.” Art. 84 (...)
I - os atuais servidores efetivos, que se encontram lo-
Art. 16 O inciso II do tados na Secretaria de Estado de Educação e que possuam
Art. 51 da Lei Complementar nº 50/98 passa a vigorar o grau de escolaridade, a profissionalização específica e o
com a seguinte redação: tempo de serviço exigido, farão jus aos subsídios estabe-
“ lecidos nas tabelas dos Anexos I, II, III e IV desta lei com-
Art. 51 (...) plementar;
I - (...) II - os atuais servidores declarados estáveis no serviço
II - curso correlacionado com a área de atuação, em público, nos termos do art. 19 do Ato das Disposições Tran-
sintonia com a Política Educacional e com o Projeto Políti- sitórias da Constituição Federal, que possuam o grau de
co-Pedagógico da Escola; escolaridade, a profissionalização específica e o tempo de
III - (...)” serviço exigido serão designados para o exercício das fun-
ções referentes aos cargos criados nesta lei complementar
Art. 17 O
e farão jus aos subsídios estabelecidos nas tabelas dispos-
Art. 67 da Lei Complementar nº 50/98 passa a vigorar
tas nos Anexos I, II, III e IV desta lei complementar;
com a seguinte redação:
III - os atuais servidores que preencham os requisi-

tos de escolaridade mínima estabelecidos nesta lei com-
Art. 67 É contado, para todos os efeitos, exceto para
fins de progressão de nível, o tempo de serviço público plementar, mas que ainda não concluíram o requisito da
estadual prestado na Administração Direta, nas Autarquias profissionalização específica, exigida para a ocupação do
e Fundações Públicas do Estado de Mato Grosso, inclusive cargo, farão jus aos subsídios estabelecidos nas tabelas VII
o das Forças Armadas. e VIII, até a conclusão da profissionalização;
Parágrafo único O tempo de serviço para enquadra- IV - os atuais servidores, lotados até 30 de setembro de
mento no nível dar-se-á nos termos do inciso II do § 3º do 1998 na Secretaria de Estado de Educação e enquadrados
Art.84 desta lei complementar.” na Lei nº 6.027, de 03 de julho de 1992, nos cargos da Ati-
vidade de Apoio Administrativo e Operacional - tabela de
Art. 18 O nível médio e elementar, que não preencham os requisitos
Art. 71 da Lei Complementar nº 50/98 passa a vigorar de escolaridade mínima para o enquadramento nos cargos
com a seguinte redação: constantes do inciso I do art. 3º desta lei complementar,
“ permanecerão nos cargos em que se encontram e:
Art. 71 A aposentadoria dos Profissionais da Educação a) concluída a escolaridade mínima, até 1º de outubro
Básica de Mato Grosso obedecerá aos critérios e requisi- de 2006, será garantida a opção pelo enquadramento nos
tos estabelecidos pela Constituição da República de 1988 termos desta lei;
e pelas Emendas Constitucionais posteriormente editadas.” b) no caso de não conclusão da escolaridade mínima,
estes servidores permanecerão vinculados à Lei nº 6.027 de
Art. 19 Fica acrescentado o parágrafo único no art. 75 03 de julho de 1992.
da Lei Complementar nº 5098 que passa a vigorar com a § 1º (...)
seguinte redação: § 2º (...)
“ § 3º Para efeito de enquadramento nesta lei comple-
Art. 75 (...) mentar dos atuais servidores do quadro permanente da
I - (...) Secretaria de Estado de Educação, observar-se-ão os se-
(...) guintes critérios:
VI - (...) I - para enquadramento na classe, obedecera à forma-
Parágrafo único A Secretaria de Estado de Educação ção e titulação prevista nos
deverá estabelecer anualmente, na respectiva lei orçamen- Art.. 4º, 5º e 6º desta lei complementar;
tária, verba para a execução dos projetos específicos para II - para enquadramento no nível, levar-se-á em con-
prevenção, promoção e recuperação da saúde e de rea- ta o tempo de serviço público, contado a partir da data
daptação dos profissionais da educação básica sujeita a do ingresso do profissional no cargo efetivo ou declarado
doenças decorrentes do exercício da profissão.” estável no serviço público integrante da mesma carreira.”

179
LEGISLAÇÃO BÁSICA

Art. 22 Ficam renumerados e alterados todos os anexos que dispõem sobre os subsídios dos cargos de provimento
efetivo e de provimento em comissão estabelecidos por legislação anterior referente aos profissionais da educação.

Art. 23 As alterações dos subsídios previstos nesta lei complementar serão realizadas, sempre que necessário, por meio
de lei ordinária.

Art. 24 Esta lei complementar entra em vigor na data de sua publicação, com efeitos financeiros a partir de janeiro de
2005.

Art. 25 Revogam-se os arts. 19, 72, 73, 74 e 90 da Lei Complementar nº 50 de 1º de outubro de 1998; o art. 11 da Lei
Complementar nº 104, de 22 de janeiro de 2002, os arts. 5º e 6º da Lei Complementar nº 159, de 18 de março de 2004;
revoga-se a Lei Complementar nº 63, de 26 de agosto de 1999, e a Lei Complementar nº 97, de 14 de dezembro de 2001.
Palácio Paiaguás, em Cuiabá, 29 de dezembro de 2004.

as) BLAIRO BORGES MAGGI


Governador do Estado

ANEXO I

ANEXO II

180
LEGISLAÇÃO BÁSICA

ANEXO III

ANEXO IV

ANEXO V

181
LEGISLAÇÃO BÁSICA

ANEXO VI

ANEXO VII

182
LEGISLAÇÃO BÁSICA

ANEXO VIII

ANEXO IX

183
LEGISLAÇÃO BÁSICA

ANEXO X

184
LEGISLAÇÃO BÁSICA

ANEXO XI

LC 04 DE 15 DE OUTUBRO DE 1990.

Dispõe sobre o Estatuto dos Servidores Públicos da Administração Direta, das Autarquias e das Fundações Pú-
blicas Estaduais. (* suspensa a eficácia do §2º do
Art. 272 - ADIN nº 554/06 e também suspensa a eficácia do
Art. 57 - ADIN nº 559/06).

O GOVERNADOR DO ESTADO DE MATO GROSSO:


Faço saber que a Assembleia Legislativa do Estado decreta e eu sanciono a seguinte lei complementar:

TÍTULO I
CAPÍTULO ÚNICO
DAS DISPOSIÇÕES PRELIMINARES

Art. 1° Esta lei complementar institui o Estatuto dos Servidores Públicos da Administração Direta, das Autarquias e das
Fundações Estaduais criadas e mantidas pelo Poder Público.

185
LEGISLAÇÃO BÁSICA

Art. 2° Para os efeitos desta lei complementar, servi- V - a idade mínima prevista em lei;
dor é a pessoa legalmente investida em cargo público. VI - a boa saúde física e mental.
§ 1° As atribuições do cargo podem justificar a exigên-
Art. 3° Cargo Público integrante da carreira é o con- cia de outros requisitos estabelecidos em lei.
junto de atribuições e responsabilidades previstas na estru- § 2° Às pessoas portadoras de deficiência é assegurado
tura organizacional que deve ser cometido a um servidor. o direito de se inscrever em concurso público para provi-
Parágrafo único Os cargos públicos, acessíveis a todos mento de cargo cujas atribuições sejam compatíveis com a
os brasileiros, são criados por lei complementar, com de- deficiência de que são portadoras; para as quais deverá ser
nominação própria e remuneração paga pelos cofres públi- reservado um mínimo de 5% (cinco por cento) das vagas
cos, para provimento em caráter efetivo ou em comissão. oferecidas no concurso, observando-se o disposto na Lei
Estadual n° 4.902, de 09.10.85.
Art. 4° Os cargos de provimento efetivo da Adminis-
tração Direta, das Autarquias e das Fundações criadas e Art. 9° O provimento dos cargos públicos far-se-á me-
mantidas pelo Poder Público, serão organizados e providos diante ato da autoridade competente de cada Poder, do
em carreiras. dirigente superior da autarquia ou da fundação pública.

Art. 5° As carreiras serão organizadas em classes de Art. 10 A investidura em cargo público ocorrerá com
cargos, observadas a escolaridade e a qualificação profis- a posse.
sional exigidas, bem assim a natureza e complexidade das
atribuições a serem exercidas e manterão correlação com Art. 11 São formas de provimento de cargo público:
as finalidades dos órgãos ou entidades a que devam aten- I - nomeação;
der. II - ascensão;
§ 1° Classe é a divisão básica da carreira, que agrupa os III - transferência;
cargos da mesma denominação, segundo o nível de atri- IV - readaptação;
buições e responsabilidades, inclusive aquelas das funções V - reversão;
VI - aproveitamento;
de direção, chefia, assessoramento e assistência.
VII - reintegração;
§ 2° As classes serão desdobradas em padrões, aos
VIII - recondução.
quais correspondem a remuneração do cargo.
§ 3° As carreiras compreendem classes de cargos do
Seção II
mesmo grupo profissional, reunidas em segmentos distin-
Da Nomeação
tos, escalonados nos níveis básico, auxiliar, médio e supe-
rior.
Art. 12 A nomeação far-se-á:
I - em caráter efetivo, quando se tratar de cargo de
Art. 6° Quadro é o conjunto de carreira e em comissão, carreiras;
integrantes das estruturas dos órgãos da Administração II - em comissão, para os cargos de confiança, de livre
Direta, das Autarquias e das Fundações criadas e mantidas exoneração, respeitando o que dispõe o
pelo Poder Art.go 7° da Lei n° 5.601, de 09.05.90.
Parágrafo único A designação por acesso, para a fun-
Art. 7° É proibida a prestação de serviços gratuitos, ção de direção, chefia, assessoramento e assistência, recai-
salvo os casos previstos em lei. rá, exclusivamente, em servidor de carreira, satisfeitos os
requisitos de que trata o
TÍTULO II Art.go 13, parágrafo único.
DO PROVIMENTO, PROGRESSÃO, VACÂNCIA,
PROMOÇÃO, ASCENSÃO, ACESSO, REMOÇÃO, Art. 13 A nomeação para cargo de carreira depende
REDISTRIBUIÇÃO E SUBSTITUIÇÃO de prévia habilitação em concurso público de provas ou
CAPÍTULO I de provas e títulos, obedecida a ordem de classificação e
DO PROVIMENTO o prazo de sua Parágrafo único Os demais requisitos para
Seção I o ingresso e o desenvolvimento do servidor na carreira,
Disposições Gerais mediante progressão, promoção, ascensão e acesso serão
estabelecidos pela lei que fixar as diretrizes do sistema de
carreira na administração pública estadual e seus regula-
Art. 8° São requisitos básicos para o ingresso no ser- mentos.
viço público:
I - a nacionalidade brasileira; Seção III
II - o gozo dos direitos políticos; Do Concurso Público
III - a quitação com as obrigações militares e eleitorais;
IV - o nível de escolaridade exigido para o exercício do Art. 14 O concurso será de caráter eliminatório e clas-
cargo; sificatório, compreendendo, provas ou provas e títulos.

186
LEGISLAÇÃO BÁSICA

§ 1° A publicação do resultado do concurso deverá ser § 5° No ato da posse, o servidor apresentará, obriga-
efetivada no prazo máximo de 30 (trinta) dias após a rea- toriamente, declaração dos bens e valores que constituem
lização do mesmo. (Parágrafo renumerado e alterado pela seu patrimônio e declaração quanto ao exercício ou não de
Lei Complementar nº 298, de 07 de janeiro de 1998.) outro cargo, emprego ou função pública.
§ 2° O concurso público e as vagas estabelecidas no § 6° Será tornado sem efeito o ato de provimento se a
edital poderão ser dispostas por região ou municípios po- posse não ocorrer no prazo previsto no §1°.
los, a critério da Administração Pública. (incluído pela Lei § 7° O ato de provimento ocorrerá no prazo máximo
Complementar nº 298, de 07 de janeiro de 1998.) de 30 (trinta) dias após a publicação do resultado do con-
§ 3° A Administração Pública, observando-se estrita- curso para as vagas imediatamente disponíveis conforme o
mente a ordem classificatória e a pontuação obtida no cer- estabelecido no edital de concurso.
tame, quando não forem preenchidas todas as vagas exis-
tentes em determinada região ou município pólo poderá Art. 17 A posse em cargo público dependerá de com-
aproveitar os candidatos classificados e excedentes dos
provada aptidão física e mental para o exercício do cargo,
demais pólos. (incluído pela Lei Complementar nº 298, de
mediante inspeção médica oficial.
07 de janeiro de 1998.)
Parágrafo único Será empossado em cargo público
§ 4° O aproveitamento dos candidatos classificados e
aquele que for julgado apto física e mentalmente pela as-
excedentes de que trata o § 3° se dará por convocação pu-
blicada em Diário Oficial. (incluído pela Lei Complementar sistência médica pública do Estado, excetuando-se os ca-
nº 298, de 07 de janeiro de 1998.) sos previstos no § 2° do
§ 5° O candidato que opta por assumir vagas em ou- Art.go 8° desta lei complementar.
tros municípios ou região pólo que eventualmente tiver va-
gas não preenchidas, automaticamente, será considerado Art. 18 Exercício é o efetivo desempenho das atribui-
desistente de assumir na região ou município pólo opção ções do cargo.
para qual se inscreveu para o concurso. (incluído pela Lei § 1º É de 15 (quinze) dias o prazo para o servidor em-
Complementar nº 298, de 07 de janeiro de 1998.) possado em cargo público de provimento efetivo entrar
em exercício, contados da data da posse. (alterado pela Lei
Art. 15 O concurso público terá validade de até 2 Complementar nº 289 de 19 de dezembro de 2007.)
(dois) anos, podendo ser prorrogada uma única vez, por § 2° Será exonerado o servidor empossado que não
igual período. entrar em exercício no prazo previsto no parágrafo ante-
§ 1º O prazo de validade do concurso e as condições rior.
de sua realização serão fixados em edital que será publica- § 3° A autoridade competente do órgão ou entidade
do no Diário Oficial do Estado. (alterado pela Lei Comple- para onde for designado o servidor compete dar-lhe exer-
mentar nº 260 de 13 de dezembro de 2006.) cício.
§ 2° Não se abrirá novo concurso enquanto houver
candidato aprovado em concurso anterior com prazo de Art. 19 O início, a suspensão, a interrupção e o reinício
validade ainda não expirado. do exercício serão registrados no assentamento individual
§ 3º Os princípios da ética e da filosofia serão maté- do servidor.
rias obrigatórias nos concursos públicos. (incluído pela Lei Parágrafo único Ao entrar em exercício, o servidor
Complementar nº 400, de 24 de maio de 2010) apresentará ao órgão competente os elementos necessá-
rios ao assentamento individual.
Seção IV
Da Posse e do Exercício
Art. 20 A promoção ou a ascensão não interrompem
o tempo de exercício, que é contado no novo posiciona-
Art. 16 Posse é a investidura no cargo público median-
mento na carreira a partir da data da publicação do ato que
te a aceitação expressa das atribuições, deveres e respon-
promover ou ascender o servidor.
sabilidades inerentes ao cargo público com o compromisso
de bem servir, formalizada com a assinatura do termo pela
autoridade competente e pelo empossado. Art. 21 O servidor transferido, removido, redistribuído,
§ 1º A posse ocorrerá no prazo improrrogável de 30 requisitado ou cedido, quando licenciado, que deva prestar
(trinta) dias contados da publicação do ato de provimento. serviços em outra localidade, terá 30 (trinta) dias de prazo
(alterado pela Lei Complementar nº 289 de 19 de dezembro para entrar em exercício, incluído nesse tempo o necessá-
de 2007.) rio ao deslocamento para a nova sede.
§ 2° Em se tratando de servidor em licença, ou afasta- Parágrafo único Na hipótese do servidor encontrar-se
mento por qualquer outro motivo legal, o prazo será con- afastado legalmente, o prazo a que se refere este artigo
tado do término do impedimento. será contado a partir do término do afastamento.
§ 3° A posse poderá dar-se mediante procuração es-
pecífica. Art. 22 O ocupante de cargo de provimento efetivo,
§ 4° Só haverá posse nos casos de provimento de car- integrante do sistema de carreira, fica sujeito a 30 (trinta)
go por nomeação, acesso e ascensão. horas semanais de trabalho.

187
LEGISLAÇÃO BÁSICA

Art. 23 Ao entrar em exercício, o servidor nomeado Art. 27 Será admitida a transferência de servidor ocu-
para o cargo de provimento efetivo ficará sujeito a está- pante de cargo de quadro em extinção para igual situação
gio probatório por período de 24 (vinte e quatro) meses, em quadro de outro órgão ou entidade.
durante o qual sua aptidão e capacidade serão objeto de Parágrafo único A transferência far-se-á a pedido do
avaliação para o desempenho do cargo, observados os se- servidor, atendendo a conveniência do serviço público.
guintes fatores: (prazo 3 anos)
I - assiduidade; Art. 28 São requisitos essenciais da transferência:
II - disciplina; I - interesse comprovado do serviço;
III - capacidade de iniciativa; II - existência de vaga;
III - contar, o servidor, com 02 (dois) anos de efetivo
IV - produtividade;
exercício no cargo.
V - responsabilidade;
Parágrafo único Nos casos de transferência não se
VI - idoneidade moral. aplicam os incisos deste artigo para cônjuge ou compa-
§ 1° 04 (quatro) meses antes de findo o período do nheiro (a).
estágio probatório, será, obrigatoriamente, submetida à
homologação da autoridade competente a avaliação do Art. 29 As transferências não poderão exceder de 1/3
desempenho do servidor, realizada de acordo com o que (um terço) das vagas de cada classe.
dispuser a lei e o regulamento do plano de carreira, sem
prejuízo da continuidade de apuração dos fatores enume- Seção VII
rados nos incisos I a VI. Da Readaptação
§ 2° Se, no curso do estágio probatório, for apurada,
em processo regular, a inaptidão para exercício do cargo, Art. 30 Readaptação é a investidura do servidor em
será exonerado. cargo de atribuições e responsabilidades compatíveis com
§ 3° No curso do processo a que se refere o parágra- a limitação que tenha sofrido em sua capacidade física ou
fo anterior, e desde a sua instauração, será assegurado ao mental verificada em inspeção médica.
servidor ampla defesa que poderá ser exercitada pessoal- § 1° Se julgado incapaz para o serviço público, o rea-
mente ou por intermédio de procurador habilitado, confe- daptando será aposentado, nos termos da lei vigente.
rindo-se-lhe, ainda, o prazo de 10 (dez) dias, para juntada § 2° A readaptação será efetivada em cargo de carreira
de atribuições afins, respeitada a habilitação exigida.
de documentos e apresentação de defesa escrita.
§ 3° Em qualquer hipótese, a readaptação não poderá
§ 4° Para a avaliação prevista neste artigo, deverá ser
acarretar aumento ou redução de remuneração do servi-
constituída uma comissão paritária no órgão ou entidade dor.
composta por 06 (seis) membros.
§ 5° Não constituem provas suficientes e eficazes as Seção VIII
certidões ou portarias desacompanhadas dos documentos Da Reversão
de atos administrativos para avaliar negativamente a apti-
dão e capacidade do servidor no desempenho do cargo, Art. 31 Reversão é o retorno à atividade de servidor
sobretudo nos fatores a que refere os incisos I, II, III, IV, V aposentado por invalidez.
e VI deste artigo. quando, por junta médica oficial, forem declarados in-
subsistentes os motivos determinantes da aposentadoria.
Seção V
Da Estabilidade Art. 32 A reversão far-se-á no mesmo cargo ou no
cargo resultante de sua transformação, com remuneração
Art. 24 O servidor habilitado em concurso público e integral.
empossado em cargo de carreira adquirirá estabilidade Parágrafo único Encontrando-se provido este cargo,
no serviço público ao completar 02 (dois) anos de efetivo o servidor exercerá suas atribuições como excedente, até a
exercício. (prazo 3 anos - vide EMC nº 19) ocorrência de vaga.

Art. 33 Não poderá reverter o aposentado que já tiver


Art. 25 O servidor estável só perderá o cargo em vir-
completado 70 (setenta) anos de idade.
tude de sentença judicial transitada em julgado ou de pro-
cesso administrativo disciplinar no qual lhe seja assegurada Art. 34 A reversão far-se-á a pedido.
ampla defesa.
Seção IX
Seção VI Da Reintegração
Da Transferência
Art. 35 Reintegração é a investidura do servidor estável
Art. 26 Transferência é a passagem do servidor estável no cargo anteriormente ocupado ou no cargo resultante
de cargo efetivo de carreira para outro de igual denomina- de sua transformação, quando invalidada a sua demissão
ção, classe e remuneração, pertencente a quadro de pes- por ocasião administrativa ou judicial, com ressarcimento
soal diverso e na mesma localidade. de todas as vantagens.

188
LEGISLAÇÃO BÁSICA

§ 1° Na hipótese do cargo ter sido extinto, o servidor CAPÍTULO II


ocupará outro cargo equivalente ao anterior com todas as DA VACÂNCIA
vantagens.
§ 2° O cargo a que se refere o artigo somente poderá Art. 43 A vacância do cargo público decorrerá de:
ser preenchido em caráter precário até o julgamento final. I - exoneração;
II - demissão;
Seção X III - ascensão;
Da Recondução IV - acesso;
V - transferência;
Art. 36 Recondução é o retorno do servidor estável ao VI - readaptação;
cargo anteriormente ocupado e decorrerá de: VII - aposentadoria;
I - inabilitação em estágio probatório relativo a outro VIII - posse em outro cargo inacumulável;
cargo; IX - falecimento.
II - reintegração do anterior ocupante.
Parágrafo único Encontrando-se provido o cargo de Art. 44 A exoneração de cargo efetivo dar-se-á a pedi-
origem, o servidor será aproveitado em outro, observado do do servidor, ou de ofício.
o disposto no Parágrafo único A exoneração de ofício dar-se-á:
Art.go 40. I - quando não satisfeitas as condições do estágio pro-
batório;
Seção XI II - quando por decorrência do prazo, ficar extinta a
Da Disponibilidade e do Aproveitamento punibilidade para demissão por abandono de cargo;
III - quando, tendo tomado posse, não entrar no exer-
Art. 37 Aproveitamento é o retorno do servidor em cício no prazo estabelecido.
disponibilidade ao exercício do cargo público.
Art. 45 A exoneração de cargo em comissão dar-se-á:
Art. 38 Extinto o cargo ou declarada a sua desneces- I - a juízo da autoridade competente, salvo os cargos
sidade, o servidor estável ficará em disponibilidade, com ocupados por servidores do plano de carreira através de
remuneração integral. eleições;
II - a pedido do próprio servidor;
Art. 39 O retorno à atividade de servidor em disponi- III - em conformidade com o que dispõe a Lei n° 5.601,
bilidade far-se-á mediante aproveitamento obrigatório em de 09.05.90.
cargo de atribuições e remunerações compatíveis com o Parágrafo único (revogado pela Lei Complementar nº
anteriormente ocupado. 266, de 29 de dezembro de 2006.)
Parágrafo único O Órgão Central do Sistema de Pes-
soal Civil determinará o imediato aproveitamento de ser- CAPÍTULO III
vidor em disponibilidade em vaga que vier a ocorrer nos DA PROGRESSÃO, PROMOÇÃO, ASCENSÃO E ACESSO
órgãos da administração pública, na localidade em que
trabalhava anteriormente ou em outra com a concordância Art. 46 Progressão é a passagem do servidor de uma
do servidor. referência para a imediatamente superior, dentro da mes-
ma classe e da categoria funcional a que pertence, obede-
Art. 40 O aproveitamento do servidor que se encontra cidos os critérios especificados para a avaliação de desem-
em disponibilidade há mais de 12 (doze) meses dependerá penho e tempo de efetiva permanência na carreira.
de prévia comprovação de sua capacidade física e mental,
por junta médica oficial. Art. 47 Ascensão é a passagem do servidor de um ní-
§ 1° Se julgado apto, o servidor assumirá o exercício do vel para outro sendo posicionado na primeira classe e em
cargo no prazo de 30 (trinta) dias, contados da publicação referência ou padrão de vencimento imediatamente supe-
do ato de aproveitamento. rior àquele em que se encontrava, na mesma carreira.
§ 2° Verificada a incapacidade definitiva, o servidor em
disponibilidade será aposentado, na forma da legislação Art. 48 Promoção é a passagem do servidor de uma
em vigor. classe para a imediatamente superior do respectivo grupo
de carreira que pertence, obedecidos os critérios de avalia-
Art. 41 Será tornado sem efeito o aproveitamento e ção, desempenho e qualificação funcional.
cassada a disponibilidade se o servidor não entrar em exer-
cício no prazo legal, salvo doença comprovada por junta Art. 49 Acesso é a investidura do servidor na função de
médica oficial. direção, chefia, assessoramento e assistência, segundo os
critérios estabelecidos em lei.
Art. 42 Havendo mais de um concorrente à mesma
vaga, terá preferência o de maior tempo de disponibilidade Art. 50 Os critérios para aplicação deste capítulo serão
e, no caso de empate, o de maior tempo de serviço público definidos ao instituir o plano de carreira.

189
LEGISLAÇÃO BÁSICA

Parágrafo único Fica assegurada a participação dos CAPÍTULO V


servidores na elaboração do plano de carreira e seus cri- DA SUBSTITUIÇÃO
térios.
Art. 54. (revogado pela Lei Complementar nº 266, de 29
CAPÍTULO IV de dezembro de 2006.)
DA REMOÇÃO E DA REDISTRIBUIÇÃO § 1° O substituto assumirá automaticamente o exer-
Seção I cício do cargo ou função de direção ou chefia nos afasta-
Da Remoção mentos ou impedimentos regulamentares do titular.
§ 2° (VETADO)
Art. 51 Remoção é o deslocamento do servidor, a pe-
dido ou de ofício, no âmbito do mesmo quadro, com ou Art. 55. (revogado pela Lei Complementar nº 266, de 29
sem mudança de sede, observada a lotação existente em de dezembro de 2006.)
cada órgão:
I - de uma para outra repartição do mesmo órgão ou TÍTULO III
entidade; DOS DIREITOS E VANTAGENS
II - de um para outro órgão ou entidade, desde que CAPÍTULO I
compatíveis a situação funcional e a carreira específica do DO VENCIMENTO E DA REMUNERAÇÃO
servidor removido.
§ 1º A remoção a pedido para outra localidade, por Art. 56 Vencimento é a retribuição pecuniária pelo
motivo de saúde do servidor, cônjuge, companheiro ou exercício de cargo público, com valor fixado em lei.
dependente, fica condicionada à apresentação de laudo
pericial emitido pela Coordenadoria-Geral de Perícia Mé- Art. 57 Remuneração é o vencimento do cargo efeti-
dica da Secretaria de Estado de Administração - SAD, bem vo, acrescido das vantagens pecuniárias, permanentes ou
como à existência de vaga. temporárias, previstas nas Constituições Federal e Estadual,
§ 2º A remoção para outra localidade, baseada no inte- em acordos coletivos ou em convenções de trabalho que
resse público, deverá ser devidamente fundamentada. (alte- venham a ser celebrados. (* suspensa a eficácia – ADIN nº
rado pela Lei Complementar nº 187, de 15 de julho de 2004.) 559/06)

Art. 52 O ato que remover o servidor estudante de Art. 58 A remuneração total do servidor será compos-
uma para outra cidade ficará suspenso se, na nova sede, ta exclusivamente do vencimento base, de uma única verba
não existir estabelecimento congênere oficial, reconhecido de representação e do adicional por tempo de serviço.
ou equiparado àquele em que o interessado esteja matri- Parágrafo único O adicional por tempo de serviço
culado, devendo permanecer no exercício do cargo. concedido aos ocupantes dos cargos de carreira de pro-
§ 1° Efetivar-se-á a remoção se o servidor concluir o vimento efetivo e aos empregados públicos como única
curso, deixar de cursá-lo ou for reprovado durante 02 (dois) vantagem pessoal, não será considerado para efeito deste
anos consecutivos. artigo.
§ 2° Semestralmente, o interessado deverá apresentar
prova de sua frequência regular do curso que estiver ma- Art. 59 Ao servidor nomeado para o exercício de cargo
triculado perante a repartição a que esteja subordinado. em comissão, é facultado optar entre o vencimento de seu
cargo efetivo e do cargo em comissão, acrescido da verba
Seção II única de representação.
Da Redistribuição Parágrafo único O servidor investido em cargo em
comissão de órgão ou entidade diversa da de sua lotação
Art. 53 Redistribuição é o deslocamento do servidor, receberá a remuneração de acordo com o estabelecido no
com o respectivo cargo, para o quadro de pessoal do mes- Art.go 119, § 1°.
mo ou qualquer órgão ou entidade do governo, cujos pla-
nos de carreira e remuneração sejam idênticos, observa- Art. 60 O vencimento do cargo efetivo, acrescido das
do sempre o interesse da administração. (alterado pela Lei vantagens de caráter permanente, é irredutível.
Complementar nº 187, de 15 de julho de 2004.)
§ 1° A redistribuição dar-se-á exclusivamente para Art. 61 É assegurada a isonomia de vencimento para
ajustamento de quadros de pessoal às necessidades dos cargos de atribuições iguais ou assemelhadas do mesmo
serviços, inclusive nos casos de reorganização, extinção ou Poder ou entre servidores dos três Poderes, ressalvadas as
criação de órgão ou entidade. vantagens de caráter individual e as relativas à natureza e
§ 2° Nos casos de extinção de órgão ou entidade, os ao local de trabalho.
servidores estáveis que não puderem ser redistribuídos, na
forma deste artigo, serão colocados em disponibilidade Art. 62 Nenhum servidor poderá perceber, mensal-
com remuneração integral, até seu aproveitamento na for- mente, a título de remuneração, importância superior à
ma do Art.go 40. soma dos valores percebidos como remuneração, em es-

190
LEGISLAÇÃO BÁSICA

pécie, a qualquer título, no âmbito dos respectivos Pode- Parágrafo único A não-quitação do débito no prazo
res, pelos Secretários de Estado, por membros da Assem- previsto implicará sua inscrição na dívida ativa.
bleia Legislativa e membros do Tribunal de Justiça.
Parágrafo único Excluem-se do teto de remuneração, Art. 68 O vencimento, a remuneração e o provento
o adicional por tempo de serviço e as vantagens previstas não serão objeto de arresto, sequestro ou penhora, exceto
no Art.go 82, I a VIII. nos casos de prestação de alimentos resultantes de decisão
judicial.
Art. 63 A relação entre a menor e a maior remunera-
ção atribuída aos cargos de carreira não poderá ser supe- Art. 69 O pagamento da remuneração dos servidores
rior a 08 (oito) vezes. públicos dar-se-á até o dia 10 (dez) do mês seguinte ao
que se refere.
Art. 64 O servidor perderá:
§ 1° O não-pagamento até a data prevista neste artigo
I - vencimento ou remuneração do dia que não com-
parecer ao serviço, salvo motivo legal ou moléstia compro- importará na correção do seu valor, aplicando-se os índices
vada; federais de correção diária, a partir do dia seguinte ao do
II - 1/3 (um terço) do vencimento ou da remuneração vencimento até a data do efetivo pagamento.
do dia, quando comparecer ao serviço com atraso máximo § 2° O montante da correção será pago juntamente
de uma hora, ou quando se retirar antecipadamente; com o vencimento do mês subsequente, corrigido o seu
III - 1/3 (um terço) do vencimento ou da remuneração total até o último dia do mês, pelos mesmos índices do
durante o afastamento por motivo de prisão preventiva, parágrafo anterior.
pronúncia por crime comum, denúncia por crime funcio-
nal, condenação recorrível por crime inafiançável ou pro- CAPÍTULO II
cesso no qual haja pronúncia, com direito à diferença, se DAS VANTAGENS
absolvida;
IV - 2/3 (dois terços) do vencimento ou da remunera- Art. 70 Além do vencimento poderão ser pagas ao ser-
ção durante o período de afastamento em virtude da con- vidor as seguintes vantagens:
denação por sentença definitiva, cuja pena não resulte em I - indenizações;
demissão . II - gratificações e adicionais.
Parágrafo único A indenização não se incorpora ao
Art. 65 Salvo por imposição legal, ou mandado judi-
vencimento ou provento
cial, nenhum desconto incidirá sobre a remuneração ou
provento. para qualquer efeito.
§ 1° Mediante autorização do servidor poderá haver
consignação em folha de pagamento a favor de terceiros, Art. 71 As vantagens não serão computadas nem acu-
ou seja, instituições de previdências, associações, sindica- muladas para efeito de
tos, pecúlio, seguros e os demais na forma definida em concessão de quaisquer outros acréscimos pecuniários
regulamento instituído pelas associações e sindicatos dos ulteriores, sob o mesmo título ou idêntico
servidores. fundamento.
§ 2° Sob pena de responsabilidade a autoridade que
determinar o desconto em folha de pagamento para ins- Seção I
tituições de previdência ou associações, deverá efetivar o Das Indenizações
repasse do desconto, no prazo máximo dos 05 (cinco) pri-
meiros dias úteis do mês subsequente. Art. 72 Constituem indenizações ao servidor:
I - ajuda de custo;
Art. 66 As reposições e indenizações ao erário serão II - diárias.
descontadas em parcelas mensais não excedentes à déci-
ma parte da remuneração ou provento. Art. 73 Os valores das indenizações, assim como as
§ 1° Independente do parcelamento previsto neste ar-
condições para a sua concessão, serão estabelecidos em
tigo, o recebimento de quantias indevidas poderá implicar
regulamento.
processo disciplinar para apuração de responsabilidades e
aplicação das penalidades cabíveis.
§ 2° Nos casos de comprovada má fé e abandono de Subseção I
cargo, a reposição deverá ser feita de uma só vez, sem pre- Da Ajuda de Custo
juízo das penalidades cabíveis, inclusive no que se refere a
inscrição na dívida ativa. Art. 74. (revogado pela Lei Complementar nº 59, de 03
de fevereiro de 1999.)
Art. 67 O servidor em débito com o erário que for § 1° Correm por conta da administração as despesas
demitido, exonerado ou que tiver a sua aposentadoria ou com transporte do servidor e de sua família, bem como
disponibilidade cassada, terá o prazo de 60 (sessenta) dias de um empregado doméstico, compreendendo passagem,
para quitá-lo. bagagem e bens pessoais.

191
LEGISLAÇÃO BÁSICA

§ 2° À família do servidor que falecer na nova sede são I - gratificação natalina;


assegurados ajuda de custo e transporte para a localidade II - adicional pelo exercício de atividades insalubres,
de origem, dentro do prazo de 06 (seis) meses, contado perigosas ou penosas;
do óbito. III - adicional pela prestação de serviço extraordinário;
IV - adicional noturno;
Art. 75. (revogado pela Lei Complementar nº 59, de 03 V - adicional de férias;
de fevereiro de 1999.) VI - adicional por tempo de serviço;
VII - (VETADO)
Art. 76 Não será concedida a ajuda de custo ao servi- VIII - (VETADO)
dor que se afastar do cargo, ou reassumi-lo, em virtude de
mandato eletivo. Subseção V
Da Gratificação Natalina
Art. 77. (revogado pela Lei Complementar nº 59, de 03
de fevereiro de 1999.) Art. 83 A gratificação natalina corresponde a 1/12 (um
Parágrafo único No afastamento previsto no doze avos) de remuneração a que o servidor fizer jus ao
Art.go 121, I, a ajuda de custo será paga pelo órgão mês de dezembro, por mês de exercício, no respectivo ano.
cessionário, quando cabível. Parágrafo único A fração igual ou superior a 15 (quin-
ze) dias será considerada como mês integral.
Art. 78 O servidor ficará obrigado a restituir a ajuda
de custo quando, injustificadamente, não se apresentar na Art. 84 A gratificação será paga até o dia 20 (vinte) do
nova sede no prazo determinado no mês de dezembro de cada ano.
Art.go 21. Parágrafo único (revogado pela Lei Complementar nº
Parágrafo único Não haverá obrigação de restituir a 479, de 26 de dezembro de 2012).
ajuda de custo nos casos de exoneração de ofício, ou de
retorno por motivo de doença comprovada. Art. 85 O servidor exonerado perceberá sua gratifica-
ção natalina, proporcionalmente aos de efetivo exercício,
Subseção II
calculada sobre a remuneração do mês da exoneração.
Das Diárias
Subseção VI
Art. 79 O servidor que, a serviço, se afastar da sede, em
Do Adicional por Tempo de Serviço
caráter eventual ou transitório, para outro ponto do terri-
tório mato-grossense e de outras unidades da Federação,
fará jus a passagens e diárias para cobrir as despesas de
pousada, alimentação, locomoção urbana e rural. Art. 86 O adicional por tempo de serviço é devido à
Parágrafo único A diária será concedida por dia de razão de 2% (dois por cento), por ano de serviço público
afastamento, sendo devida pela metade quando o deslo- estadual, incidente sobre o vencimento-base do cargo efe-
camento não exigir pernoite fora da sede. tivo, até o limite de 50% (cinquenta por cento). (redação
dada pela Lei Complementar nº 42, de 16 de abril de 2006.)
Art. 80 O servidor que receber diárias e não se afastar § 1º O servidor fará jus ao adicional a partir do mês
da sede, por qualquer motivo, fica obrigado a restituí-las imediato àquele em que completar o anuênio, indepen-
integralmente, no prazo de 05 (cinco) dias. dente de requerimento. (redação dada pela Lei Comple-
Parágrafo único Na hipótese do servidor retornar à mentar nº 42, de 16 de abril de 2006.)
sede em prazo menor do que o previsto para o seu afasta- § 2º (VETADO) (redação dada pela Lei Complementar nº
mento, restituirá as diárias recebidas em excesso, em igual 42, de 16 de abril de 2006.)
prazo. § 3º Fica excluído do teto constitucional o adicional por
tempo de serviço.
Subseção III (redação dada pela Lei Complementar nº 42, de 16 de
Da Indenização de Transporte abril de 2006.)

Art. 81 Conceder-se-á indenização de transporte ao Subseção VII


servidor que realizar despesas com a utilização do meio Dos Adicionais de Insalubridade, Periculosidade ou
próprio de locomoção para execução de serviços externos, Penosidade
por força dasatribuições próprias do cargo, conforme re-
gulamento.
Art. 87 Os servidores que trabalham com habitualida-
Subseção IV de em locais insalubres ou em contato permanente com
Das Gratificações e Adicionais substâncias tóxicas ou com risco de vida, fazem jus a um
adicional no termos da legislação pertinente.
Art. 82 Além da remuneração e das indenizações pre- § 1° O servidor que fizer jus a mais de um adicional
vistas nesta lei complementar, poderão ser deferidas aos será concedido o pagamento, de acordo com a legislação
servidores as seguintes gratificações adicionais: pertinente.

192
LEGISLAÇÃO BÁSICA

§ 2° O direito ao adicional de insalubridade ou peri- Subseção X


culosidade cessa com a eliminação das condições ou dos Do Adicional de Férias
riscos que deram causa à sua concessão.
Art. 95 Independente de solicitação, será pago ao ser-
Art. 88 Caberá à Administração Estadual exercer per- vidor, por ocasião das férias, um adicional de 1/3 (um ter-
manente controle da atividade de servidores em operações ço) da remuneração correspondente ao período de férias.
ou locais considerados penosos, insalubres ou perigosos. Parágrafo único No caso do servidor exercer função
Parágrafo único A servidora gestante ou lactante será de direção, chefia, assessoramento ou assistência ou ocu-
afastada, enquanto durar a gestação e a lactação, das ope- par cargo em comissão, a respectiva vantagem será con-
rações e locais previstos neste artigo, exercendo suas ativi- siderada no cálculo do adicional de que trata este artigo.
dades em local salubre e em serviço não perigoso.
Art. 96 O servidor em regime de acumulação lícita per-
Art. 89 Na concessão dos adicionais de penosidade, ceberá o adicional de férias calculado sobre a remuneração
insalubridade e de periculosidade serão observadas as si- do cargo em que for gozar as férias.
tuações especificadas na legislação pertinente aplicável ao
servidor público. Art. 97 O servidor fará jus a 30 (trinta) dias de férias,
que podem ser cumuladas até o máximo de dois períodos,
Art. 90 O adicional de penosidade será devido ao mediante comprovada necessidade de serviço, ressalvadas
servidor em exercício em zonas de fronteira ou em locali- as hipóteses em que haja legislação específica. (alterado
dades, cujas condições de vida o justifiquem, nos termos, pela Lei Complementar nº 141, de 16 de dezembro de 2003.)
condições e limites fixados em regulamento. § 1° Para o período aquisitivo de férias serão exigidos
12 (doze) meses de exercício.
Art. 91 Os locais de trabalho e os servidores que ope- § 2° É vedado levar à conta de férias qualquer falta ao
ram com Raios X ou substâncias radioativas devem ser serviço.
mantidos sob controle permanente, de modo que as do- § 3° Fica proibida a contagem, em dobro, de férias não
ses de radiação ionizantes não ultrapassem o nível máximo gozadas, para fins de aposentadoria e promoção por anti-
previsto na legislação própria. guidade, acumuladas por mais de 02 (dois) períodos.
Parágrafo único Os servidores a que se refere este ar- § 4° Para gozo das férias previstas neste artigo, deverá
tigo devem ser submetidos a exame médico oficial. ser observada a escala a ser organizada pela repartição.
§ 5º As férias poderão ser parceladas em até 02 (duas)
Subseção VIII etapas, se assim requeridas pelo servidor, sendo cada uma
Do Adicional por Serviço destas de 15 (quinze dias). (incluído pela Lei Complementar
Extraordinário nº 141, de 16 de dezembro de 2003.)
§ 6º Caso não cumprido o estabelecido no caput des-
Art. 92 O serviço extraordinário será remunerado com te artigo, o servidor público, automaticamente, entrará em
acréscimo de no mínimo 50% (cinquenta por cento) em re- gozo de férias a partir do primeiro dia do terceiro período
lação à hora normal de trabalho. aquisitivo. (incluído pela Lei Complementar nº 293, de 26 de
dezembro de 2007.)
Art. 93 Somente será permitido serviço extraordinário
para atender situações excepcionais e temporárias, respei- Art. 98 Quando em gozo de férias, o servidor terá di-
tado o limite máximo de 02 (duas) horas diárias, conforme reito a receber o equivalente a 01 (um) mês de vencimento.
se dispuser em regulamento. Parágrafo único No caso de férias proporcionais, o
servidor perceberá uma remuneração correspondente ao
Subseção IX número de dias gozados. (alterado pela Lei Complementar
Do Adicional Noturno nº 141, de 16 de dezembro de 2003.)

Art. 99 O pagamento da remuneração das férias será


Art. 94 O serviço noturno prestado em horário com- efetuado até 02 (dois) dias antes do início do respectivo
preendido entre 22 (vinte e duas) horas de um dia e 05 período, observando-se o disposto no § 1° deste artigo.
(cinco) horas do dia seguinte, terá o valor hora acrescido de § 1° É facultado ao servidor converter 1/3 (um terço)
mais 25% (vinte e cinco por cento), computando-se cada das férias em abono pecuniário, desde que o requeira com
hora com 52 (cinquenta e dois) minutos e 30 (trinta) se- pelo menos 60 (sessenta) dias de antecedência do seu iní-
gundos. cio.
Parágrafo único Em se tratando de serviço extraordi- § 2° No cálculo do abono pecuniário será considerado
nário, o acréscimo de que trata este artigo incidirá sobre a o valor do adicional de férias, previsto no
remuneração prevista no Art.go 93. Art.go 82, V.

193
LEGISLAÇÃO BÁSICA

Art. 100 O servidor que opera direta e permanente- § 2º A licença será concedida sem prejuízo da remune-
mente com Raios X ou substâncias radioativas gozará, obri- ração do cargo efetivo, até um 01 (um) ano, com 2/3 (dois
gatoriamente, 20 (vinte) dias consecutivos de férias, por terços) do vencimento ou remuneração, excedendo esse
semestre de atividade profissional, proibida, em qualquer prazo, até 02 (dois) anos.
hipótese, a acumulação.
Seção III
Art. 101 É proibida a transferência e remoção do servi- Da Licença por Motivo de Afastamento
dor quando em gozo de férias. do Cônjuge

Art. 102 As férias somente poderão ser interrompidas Art. 106 Poderá ser concedida licença ao servidor para
por motivo de calamidade acompanhar o cônjuge ou companheiro que for deslocado
pública, comoção interna, convocação para júri, serviço para outro ponto do território nacional, para o exterior ou
militar ou eleitoral ou por motivo de superior para o exercício de mandato eletivo dos Poderes Executivo
interesse público definidos em lei, devendo o período e Legislativo.
interrompido ser gozado imediatamente, após a § 1° A licença será por prazo indeterminado e sem re-
cessação do motivo da interrupção. muneração.
§ 2° Na hipótese do deslocamento de que trata este
CAPÍTULO III artigo, o servidor poderá ser lotado, provisoriamente, em
DAS LICENÇAS repartição da Administração Estadual Direta, Autárquica ou
Seção I Fundacional, desde que para exercício de atividade com-
Disposições Gerais patível com o seu cargo com remuneração do órgão de
origem.
Art. 103 Conceder-se-á, ao servidor, licença:
I - por motivo de doença em pessoa da família; Seção lV
Da Licença para o Serviço Militar
II - por motivo de afastamento do cônjuge ou compa-
nheiro;
Art. 107 Ao servidor convocado para o serviço militar
III - para serviço militar;
será concedida licença, na forma e condições previstas na
IV - para atividade política;
legislação específica.
V - prêmio por assiduidade;
Parágrafo único Concluído o serviço militar o servidor
VI - para tratar de interesses particulares;
terá 30 (trinta) dias, com remuneração, para reassumir o
VII - para qualificação profissional.
exercício do cargo.
§ 1º A licença, prevista no inciso I, será precedida de
exame por médico da junta médica oficial. Seção V
§ 2º O servidor não poderá permanecer em licença da Da Licença para a Atividade Política
mesma espécie por período superior a 24 (vinte e quatro)
meses, salvo nos casos dos incisos II, III, IV e VII deste ar- Art. 108 O servidor terá direito a licença, sem remune-
tigo. ração, durante o período que mediar entre a sua escolha,
§ 3º É vedado o exercício de atividade remunerada du- em convenção partidária, como candidato a cargo eletivo,
rante o período da licença prevista no inciso I deste artigo, e a véspera do registro de sua candidatura perante a justiça
ressalvada a hipótese no eleitoral.
Art.go 105 e seus parágrafos. § 1° O servidor candidato a cargo eletivo na localidade
onde desempenha sua função e que exerça cargo de di-
Art. 104 A licença concedida dentro de 60 (sessenta) reção, chefia, assessoramento, assistência, arrecadação ou
dias do término de outra da mesma espécie será conside- fiscalização, dele será afastado, a partir do dia imediato ao
rada como prorrogação. do registro de sua candidatura perante a justiça eleitoral,
até o décimo quinto dia seguinte ao do pleito.
Seção II § 2° A partir do registro da candidatura e até o déci-
Da Licença por Motivo de Doença em mo quinto dia seguinte ao da eleição, o servidor fará jus à
Pessoa da Família licença como se em exercício estivesse, com o vencimento
de que trata o
Art. 105 Poderá ser concedida licença ao servidor, por Art.go 57.
motivo de doença do cônjuge ou companheiro, padrasto
ou madrasta, ascendente, descendente, enteado e colateral Seção VI
consanguíneo ou afim até o segundo grau civil, mediante Da Licença-Prêmio por
comprovação médica. Assiduidade
§ 1º A licença somente será deferida se a assistência di-
reta do servidor for indispensável e não puder ser prestada Art. 109 Após cada quinquênio ininterrupto de efetivo
simultaneamente com o exercício do cargo, o que deverá exercício no serviço público estadual, o servidor fará jus a
ser apurado através de acompanhamento social. 03 (três) meses de licença, a título de prêmio por assiduida-

194
LEGISLAÇÃO BÁSICA

de, com a remuneração do cargo efetivo, sendo permitida § 1° A licença poderá ser interrompida a qualquer tem-
sua conversão em espécie parcial ou total, por opção do po, a pedido do servidor ou no Interesse do serviço público.
servidor. § 2° Não se concederá nova licença antes de decorri-
§ 1° Para fins da licença-prêmio de que trata este arti- dos 02 (dois) anos do término da anterior.
go, será considerado o tempo de serviço desde seu ingres- § 3° Não se concederá licença a servidor nomeado, re-
so no serviço público estadual. movido, redistribuído ou transferido, antes de completar
§ 2° É facultado ao servidor fracionar a licença de que 02 (dois) anos de exercício.
trata este artigo em até 03 (três) parcelas, desde que defina § 4° O requerente aguardará, em exercício no cargo, a
previamente os meses para gozo da licença. publicação no Diário Oficial, do ato decisório sobre a licen-
§ 3°. (revogado pela Lei Complementar nº 59, de 03 de ça solicitada.
fevereiro de 1999.)
§ 4° ( revogado pela Lei Complementar nº 59, de 03 de Seção VIII
fevereiro de 1999.) Da Licença para o Desempenho do
Mandato Classista
Art. 110 Não se concederá licença-prêmio ao servidor
que, no período aquisitivo: Art. 115 É assegurado ao servidor o direito à licença
I - sofrer penalidade disciplinar de suspensão; para o desempenho do mandato em confederação, fede-
II - afastar-se do cargo em virtude de: ração, associação de classe de âmbito estadual, sindicato
a) licença por motivo de doença em pessoa da família, representativo da categoria e entidade fiscalizadora da
sem remuneração; profissão, nos termos do
b) licença para tratar de interesses particulares; Art.go 133 da Constituição Estadual.
c) condenação a pena privativa de liberdade, por sen- Parágrafo único A licença terá duração igual a do
tença definitiva; mandato, podendo ser prorrogado no caso da reeleição.
d) afastamento para acompanhar cônjuge ou compa-
nheiro. Seção IX
Parágrafo único As faltas injustificadas ao serviço re- Da Licença para Qualificação
tardarão a concessão da licença prevista neste artigo, na Profissional
proporção de um mês para cada três faltas.
Art. 116 A licença para qualificação profissional dar-
Art. 111 O número de servidor em gozo simultâneo se-á com prévia autorização do Governador do Estado e
de licença-prêmio não poderá ser superior a 1/3 (um terço) consiste no afastamento do servidor de suas funções, sem
da lotação da respectiva unidade administrativa do órgão prejuízo dos seus vencimentos, assegurada a sua efetivida-
ou entidade. de para todos os efeitos de carreira e será concedida para
frequência de curso de formação, treinamento, aperfeiçoa-
Art. 112 Para efeito de aposentadoria será contado em mento e especialização profissional ou em nível de pós-
dobro o tempo de licença prêmio não gozado. graduação e estágio, no país ou no exterior, se de interesse
do Estado.
Art. 113 Para possibilitar o controle das concessões da
licença, o órgão de lotação deverá proceder anualmente à Art. 117 Para concessão da licença de que trata o ar-
escala dos servidores, a fim de atender o disposto no tigo anterior, terão preferências os servidores que satisfa-
Art.go 109, § 4°, e garantir os recursos orçamentários e çam os seguintes requisitos:
financeiros necessários ao pagamento, no caso de opção I - residência em localidade onde não existam unidades
em espécie. universitárias ou faculdades isoladas;
§ 1º O servidor não poderá cumular duas licenças-prê- II - experiência no máximo de 05 (cinco) anos de Ma-
mio. gistério Público Estadual e o servidor com 05 (cinco) anos
§ 2º O servidor deverá gozar a licença-prêmio concedi- de efetivo exercício no Estado;
da, obrigatoriamente, no período aquisitivo subsequente. III - curso correlacionado com a área de atuação.
§ 3º Caso não usufrua no período subsequente, entra-
rá, automaticamente, em gozo da referida licença a partir Art. 118 Realizando-se o curso na mesma localidade
do primeiro dia do terceiro período aquisitivo. (incluído da lotação do serviço ou em outra de fácil acesso, em lugar
pela Lei Complementar nº 293, de 26 de dezembro de 2007.) da licença será concedida simples dispensa do expediente
pelo tempo necessário à frequência regular do curso.
Seção VII Parágrafo único A dispensa de que trata o artigo de-
Da Licença para Tratar de Interesses verá ser obrigatoriamente comprovado mediante frequên-
Particulares cia regular do curso.

Art. 114 A pedido e sem prejuízo do serviço será con- CAPÍTULO IV


cedida, ao servidor estável, licença para o trato de assuntos DOS AFASTAMENTOS
particulares, pelo prazo de até 02 (dois) anos consecutivos, Seção I
sem remuneração, podendo esta licença ser interrompida a Do Afastamento para Servir a Outro Órgão ou En-
qualquer momento por interesse do servidor. tidade

195
LEGISLAÇÃO BÁSICA

Art. 119 O servidor poderá ser cedido para ter exercí- Art. 123 O afastamento para estudo ou missão oficial
cio em outro órgão ou entidade dos Poderes da União dos no exterior obedecerá ao disposto em legislação específica.
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, nas seguin-
tes hipóteses: CAPÍTULO V
I - para exercício de cargo em comissão de confiança; DAS CONCESSÕES
II - em casos previstos em leis específicas.
§ 1° Na hipótese do inciso I deste artigo, o ônus da Art. 124 Sem qualquer prejuízo, poderá o servidor au-
remuneração será do órgão ou entidade cessionária. sentar-se do serviço:
§ 2° Mediante autorização do Governador do Estado, o I - por 01 (um) dia para doação de sangue;
servidor do Poder Executivo poderá ter exercício em outro II - por 02 (dois) dias para se listar como eleitor
órgão da Administração Pública Estadual, que não tenha III - por 08 (oito) dias consecutivos em razão de:
quadro próprio de pessoal, para fim determinado e a prazo a) casamento;
certo. b) falecimento do cônjuge, companheiro, pais, madras-
ta ou padrasto, filhos, enteados, menor sob guarda ou tu-
Seção II tela, irmãos e avós.
Do Afastamento para Exercício de Mandato Eletivo
Art. 125 (revogado pela Lei Complementar nº 293, de
Art. 120 Ao servidor investido em mandato eletivo 26 de dezembro de 2007.)
aplicam-se as seguintes disposições: Parágrafo único (revogado pela Lei Complementar nº
I - tratando-se de mandato federal, estadual ou distri- 293, de 26 de dezembro de 2007.)
tal, ficará afastado do cargo;
II - investido no mandato de prefeito, será afastado do Art. 126 Ao servidor estudante que mudar de sede
cargo, sendo-lhe facultado optar pela sua remuneração; no interesse da administração, é assegurada, na localida-
III - investido no mandato de vereador: de da nova residência ou na mais próxima, matrícula em
instituição de ensino congênere, em qualquer época, inde-
a) havendo compatibilidade de horários, perceberá as
pendente de vaga, na forma e condições estabelecidas na
vantagens de seu cargo, sem prejuízo da remuneração do
legislação específica.
cargo eletivo;
Parágrafo único O disposto neste artigo estende-se
b) não havendo compatibilidade de horários, será afas-
ao cônjuge ou companheiro, aos filhos ou enteados do ser-
tado do cargo, sendo-lhe facultado optar pela sua remu-
vidor, que vivam na sua companhia, bem como aos meno-
neração;
res sob a sua guarda, com autorização judicial.
c) não poderá exercer cargo em comissão ou de con-
fiança na administração pública, de livre exoneração. CAPÍTULO VI
§ 1° No caso de afastamento do cargo, o servidor con- DO TEMPO DE SERVIÇO
tribuirá para a seguridade social como se em exercício es-
tivesse. Art. 127 É contado para todos os efeitos o tempo de
§ 2° O servidor investido em mandato eletivo ou clas- serviço público prestado ao Estado de Mato Grosso, inclu-
sista não poderá ser removido ou redistribuído de ofício sive o das Forças Armadas.
para localidade diversa onde exerce o mandato.
Art. 128 A apuração do tempo de serviço será feita em
Seção III dias que serão convertidos em anos, considerado o ano
Do Afastamento para Estudo ou Missão no Exterior como de 365 (trezentos e sessenta e cinco) dias.
Parágrafo único Feita a conversão, os dias restantes,
Art. 121 O servidor não poderá ausentar-se do Estado até 182 (cento e oitenta e dois), não serão computados, ar-
ou País para estudo ou missão oficial, sem autorização do redondando-se para 1 (um) ano quando excederem deste
Governador do Estado, ou Presidente dos órgãos dos Po- número, para efeito de aposentadoria.
deres Legislativo e Judiciário.
§ 1° A ausência não excederá de 04 (quatro) anos, e fin- Art. 129 Além das ausências ao serviço previstas no
da a missão ou estudo, somente decorrido igual período, Art.go 125, são considerados como de efetivo exercício
será permitida nova ausência. os afastamentos em virtude de:
§ 2° Ao servidor beneficiado pelo disposto neste arti- I - férias;
go não será concedida exoneração ou licença para tratar II - exercício de cargo em comissão ou equivalente em
de interesse particular, antes de decorrido período igual a órgãos ou entidade dos Poderes da União, dos Estados,
do afastamento, ressalvada a hipótese do ressarcimento da Municípios e Distrito Federal;
despesa havida com seu afastamento. III - exercício de cargo ou função de governo ou ad-
ministração, em qualquer parte do território nacional, por
Art. 122 O afastamento de servidor para servir em or- nomeação do Presidente da República, Governo Estadual
ganismo internacional de que o Brasil participe ou com o e Municipal;
qual coopere dar-se-á com direito a opção pela remune- IV - participação em programa de treinamento regular-
ração. mente instituído;

196
LEGISLAÇÃO BÁSICA

V - desempenho de mandato eletivo federal, estadual, Parágrafo único É possibilitado, dependente somente
municipal ou do Distrito Federal, exceto para promoção de sindicalização prévia, que o requerimento seja subscrito
por merecimento; pelo respectivo Sindicato da categoria do servidor. (incluí-
VI - júri e outros serviços obrigatórios por lei; do pela Lei Complementar nº 345, de 15 de janeiro de 2009.)
VII - missão ou estudo no exterior, quando autorizado
o afastamento; Art. 132 O requerimento será dirigido à autoridade
VIII - licença: competente para decidi-lo e encaminhado através daquela
a) à gestante, à adotante e à paternidade; a que estiver imediatamente subordinado o requerente.
b) para tratamento da própria saúde, até 02 (dois) anos;
c) por motivo de acidente em serviço ou doença pro- Art. 133 Cabe pedido de reconsideração à autoridade
fissional; que houver expedido o ato ou proferido a primeira deci-
d) prêmio por assiduidade; são, não podendo ser renovado.
e) por convocação para serviço militar; Parágrafo único O requerimento e o pedido da re-
f) qualificação profissional; consideração de que tratam os artigos anteriores deverão
g) licença para acompanhar cônjuge ou companheiro; ser despachados no prazo de 05 (cinco) dias e decididos
h) licença para tratamento de saúde em pessoa da fa- dentro de 30 (trinta) dias, contados a partir do recebimen-
mília; to dos autos pela autoridade julgadora, após a apreciação
i) para o desempenho de mandato classista; pela Procuradoria-Geral do Estado, consoante estabelece o
IX - deslocamento para a nova sede de que trata o art. 14, II, da Lei Complementar nº 111, de 1º de julho de
Art.go 21; 2002. (redação dada pela Lei Complementar nº 123, de 1º
X - participação em competição desportiva estadual e de julho de 2003.)
nacional ou convocação para integrar representação des-
portiva nacional, no País ou no exterior, conforme disposto Art. 134 Caberá recurso:
em lei específica. I - do indeferimento do pedido de reconsideração;
II - das decisões sobre os recursos sucessivamente in-
Art. 130 Contar-se-á apenas para efeito de aposenta- terpostos.
doria e disponibilidade: § 1° O recurso será dirigido a autoridade imediatamen-
I - o tempo de serviço público federal, estadual e mu- te superior a que tiver expedido o ato ou proferido a de-
nicipal, mediante comprovação do serviço prestado e de cisão, e, sucessivamente, em escala ascendente, às demais
recolhimento da previdência social; autoridades.
II - a licença para atividade política, no caso do § 2° O recurso será encaminhado por intermédio da
Art.go 108, § 2º ;III - o tempo correspondente ao de- autoridade a que estiver imediatamente subordinado o re-
sempenho de mandato eletivo federal, estadual, municipal querente
ou distrital, anterior ao ingresso no serviço público esta-
dual; Art. 135 O prazo para interposição de pedido de re-
IV - o tempo de serviço em atividade privada, vinculada consideração ou de recurso é de 30 (trinta) dias, a contar
à Previdência Social, e após decorridos 05 (cinco) anos de da publicação ou da ciência, pelo interessado, da decisão
efetivo exercício no serviço público; decorrida.
V - o tempo de serviço relativo a tiro de guerra;
VI - (VETADO) Art. 136 O recurso poderá ser recebido com efeito
§ 1° O tempo de serviço a que se refere o inciso I deste suspensivo, a juízo da autoridade competente.
artigo não poderá ser contado em dobro ou com quais- Parágrafo único Em caso de provimento do pedido de
quer outros acréscimos, salvo se houver norma correspon- reconsideração ou de recurso, os efeitos da decisão retroa-
dente na legislação estadual. girão à data do ato impugnado.
§ 2° O tempo em que o servidor esteve aposentado ou
em disponibilidade será apenas contado para nova apo- Art. 137 O direito de requerer prescreve:
sentadoria ou disponibilidade. I - em 5 (cinco anos), quanto aos atos de demissão e
§ 3° Será contado, em dobro, o tempo de serviço pres- de cassação de aposentadoria ou disponibilidade ou que
tado às Forças Armadas em operações de guerra. afetem interesse patrimonial e créditos resultantes das re-
§ 4° É vedada a contagem cumulativa de tempo de ser- lações do trabalho;
viço prestado concomitantemente em mais de um cargo II - em 120 (cento e vinte) dias, nos demais casos, salvo
ou função em órgão ou entidades dos Poderes da União, quando o outro prazo foi fixado em lei.
Estado, Distrito Federal e Município, autarquia, fundação Parágrafo único O prazo de prescrição será contado
pública, sociedade de economia mista e empresa pública. da data da publicação do ato impugnado ou da ciência,
pelo interessado, quando o ato não for publicado.
CAPÍTULO VII
DO DIREITO DE PETIÇÃO Art. 138 O pedido de reconsideração e o recurso,
quando cabíveis, interrompem a prescrição.
Art. 131 É assegurado ao servidor o direito de reque- Parágrafo único Interrompida a prescrição, o prazo
rer aos Poderes Públicos, em defesa de direito ou de inte- recomeçará a correr pelo restante, no dia em que cessar a
resse legítimo. interrupção.

197
LEGISLAÇÃO BÁSICA

Art. 139 A prescrição é de ordem publica, não poden- V - referir-se de modo depreciativo ou desrespeitoso
do ser relevada pela administração. às autoridades públicas ou aos atos do Poder Público, me-
diante manifestação escrita ou oral, podendo, porém, criti-
Art. 140 Para o exercício do direito de petição, é asse- car ato do Poder Público, do ponto de vista doutrinário ou
gurada vista do processo ou documento na repartição ao da organização do serviço, em trabalho assinado;
servidor ou a procurador por ele constituído. VI - cometer à pessoa estranha à repartição, fora dos
casos previstos em lei, o desempenho de atribuições que
Art. 141 A administração deverá rever seus atos, a sejam sua responsabilidade ou de seu subordinado;
qualquer tempo, quando eivados de ilegalidade. VII - compelir ou aliciar outro servidor no sentido de
filiação a associação profissional ou sindical, ou a partido
Art. 142 São fatais e improrrogáveis os prazos estabe- político;
lecidos neste Capítulo. VIII - manter sob sua chefia imediata, cônjuge, compa-
nheiro ou parente até o segundo grau civil;
TÍTULO IV IX - valer-se do cargo para lograr proveito pessoal ou
DO REGIME DISCIPLINAR de outrem, em detrimento da dignidade da função pública;
CAPÍTULO I X - participar de gerência ou administração de empresa
DOS DEVERES privada, de sociedade civil, ou exercer comércio, e, nessa
qualidade, transacionar com o Estado;
Art. 143 São deveres do funcionário: XI - atuar, como procurador ou intermediário, junto a
I - exercer com zelo e dedicação as atribuições do car- repartições públicas, salvo quando se tratar de benefícios
go; previdenciários ou assistenciais de parentes até o segundo
II - ser leal às instituições a que servir; grau, e de cônjuge ou companheiro;
III - observar as normas legais e regulamentares; XII - receber propina, comissão, presente ou vantagens
IV - cumprir as ordens superiores, exceto quando ma- de qualquer espécie, em razão de suas atribuições;
nifestamente ilegais; XIII - aceitar comissão, emprego ou pensão do Estado
V - atender com presteza: estrangeiro, sem licença do Governador do Estado;
a) ao público em geral, prestando as informações re- XlV - praticar usura sob qualquer de suas formas;
queridas, ressalvadas as protegidas por sigilo; XV - proceder de forma desidiosa;
b) à expedição de certidões requeridas para defesa de XVI - utilizar pessoa ou recursos materiais em serviços
direito ou esclarecimento de situações de interesse pes- ou atividades particulares;
soal; XVII - cometer a outro servidor atribuições estranhas às
c) às requisições para a defesa da fazenda pública;. do cargo que ocupa, exceto em situações de emergência e
VI - levar ao conhecimento da autoridade superior as transitórias;
irregularidades de que tiver ciência em razão do cargo; XVIII - exercer quaisquer atividades que sejam incom-
VII - zelar pela economia do material e pela conserva- patíveis com o exercício do cargo ou função e com o horá-
ção do patrimônio público; rio de trabalho.
VIII - guardar sigilo sobre assuntos da repartição; XIX - assediar sexualmente ou moralmente outro servi-
IX - manter conduta compatível com a moralidade ad- dor público. (incluído pela Lei Complementar nº 347, de 29
ministrativa; de março de 2009.)
X - ser assíduo e pontual ao serviço;
XI - tratar com urbanidade as pessoas; CAPITULO III
XII - representar contra ilegalidade ou abuso de poder. DA ACUMULAÇÃO
Parágrafo único A representação de que trata o inciso
XII será encaminhada pela via hierárquica e obrigatoria- Art. 145 Ressalvados os casos previstos na Constitui-
mente apreciada pela autoridade superior àquela contra a ção, é vedada a acumulação remunerada de cargos públi-
qual é formulada, assegurando-se ao representado direito cos.
de defesa. § 1° A proibição de acumular estende-se a cargos, em-
pregos e funções em autarquias, fundações públicas, em-
CAPITULO II presas públicas, sociedades de economia mista da União,
DAS PROIBIÇÕES dos Estados e dos Municípios.
§ 2° A acumulação de cargos, ainda que lícita, fica con-
Art. 144 Ao servidor público é proibido: dicionada à comprovação da compatibilidade de horários.
I - ausentar-se do serviço durante o expediente, sem
prévia autorização do chefe imediato; Art. 146 O servidor não poderá exercer mais de um
II - retirar, sem prévia anuência da autoridade compe- cargo em comissão nem ser remunerado pela participação
tente, qualquer documento ou objeto da repartição; em órgão de deliberação coletiva.
III - recusar fé a documentos públicos;
IV - opor resistência injustificada ao andamento de do- Art. 147 O servidor vinculado ao regime desta lei com-
cumento e processo ou execução de serviço; plementar, que acumular licitamente dois cargos de carrei-

198
LEGISLAÇÃO BÁSICA

ra, quando investido em cargo de provimento em comis- Art. 156 A repreensão será aplicada por escrito, nos
são, ficará afastado de ambos os cargos efetivos, receben- casos de violação de proibição constante do
do a remuneração do cargo em comissão, facultando-lhe a Art.go 143, I a IX, e de inobservância de dever funcional
opção pela remuneração. previsto em lei, regulamento ou norma interna, que não
Parágrafo único O afastamento previsto neste artigo justifique imposição de penalidade mais grave.
ocorrerá apenas em relação a um dos cargos, se houver
compatibilidade de horários. Art. 157 A suspensão será aplicada em caso de rein-
cidência das faltas punidas com repreensão e de violação
CAPITULO IV das demais proibições que não tipifiquem infração sujeita à
DAS RESPONSABILIDADES penalidade de demissão, não podendo exceder de 90 (no-
(vide Lei Complementar nº 207, de 29 de dezembro de venta) dias.
2004.) § 1° Será punido com suspensão de até 15 (quinze)
dias o servidor que, injustificadamente, recusar-se a ser
Art. 148 O servidor responde civil, penal e administra-
submetido a inspeção médica determinada pela autorida-
tivamente, pelo exercício irregular de suas atribuições.
de competente, cessando os efeitos da penalidade uma vez
cumprida a determinação.
Art. 149 A responsabilidade civil decorre do ato omis-
sivo ou comissivo, doloso ou culposo, que resulte em pre- § 2° Quando houver conveniência para o serviço, a pe-
juízo ao erário ou a terceiros. nalidade de suspensão poderá ser convertida em multa, na
§ 1° A indenização de prejuízo dolosamente causado base de 50% (cinquenta por cento) por dia de vencimento
ao erário somente será liquidada na forma prevista no ou remuneração, ficando o servidor obrigado a permane-
Art.go 66, na falta de outros bens que assegurem a cer em serviço.
execução do débito pela via judicial.
§ 2° Tratando-se de dano causado a terceiros, respon- Art. 158 As penalidades de repreensão e de suspensão
derá o servidor perante a fazenda estadual, em ação re- terão seus registros cancelados, após o decurso de 01 (um)
gressiva. ano e 03 (três) meses de efetivo exercício, respectivamente,
§ 3° A obrigação de reparar o dano estende-se aos su- se o servidor não houver, nesse período, praticado nova
cessores e contra eles será executada, até o limite do valor infração disciplinar.
da herança recebida. Parágrafo único O cancelamento da penalidade não
surtirá efeitos retroativos.
Art. 150 A responsabilidade penal abrange os crimes
e contravenções imputados ao servidor, nessa qualidade. Art. 159 A demissão será aplicada nos seguintes casos:
I - crime contra a administração pública;
Art. 151 A responsabilidade administrativa resulta de II - abandono de cargo;
ato omissivo ou comissivo praticado no desempenho de III - inassiduidade habitual;
cargo ou função. IV - improbidade administrativa;
V - incontinência pública e conduta escandalosa;
Art. 152 As sanções civis, penais e administrativas po- VI - insubordinação grave em serviço;
derão cumular-se sendo independentes entre si. VII - ofensa física em serviço a servidor ou a particular,
salvo em legítima defesa própria ou de outrem;
Art. 153 A responsabilidade civil ou administrativa do VIII - aplicação irregular de dinheiro público;
servidor será afastada no caso de absolvição criminal que
IX - revelação de segredo apropriado em razão do car-
negue a existência do fato ou a sua autoria.
go;
X - lesão aos cofres públicos e dilapidação do patrimô-
CAPITULO V
DAS PENALIDADES nio estadual;
(vide Lei Complementar nº 207, de 29 de XI - corrupção;
dezembro de 2004.) XII - acumulação ilegal de cargos ou funções públicas
após constatação em processo disciplinar;
Art. 154 São penalidades disciplinares: XIII - transgressão do
I - repreensão; Art.go 144, X a XVII.
II - suspensão;
III - demissão; Art. 160 Verificada em processo disciplinar acumula-
IV - cassação de aposentadoria ou disponibilidade; ção proibida, e provada a boa fé, o servidor optará por um
V - destituição de cargo em comissão. dos cargos.
§ 1° Provada a má fé, perderá também o cargo que
Art. 155 Na aplicação das penalidades serão conside- exercia há mais tempo e restituirá o que tiver percebido
radas a natureza e a gravidade da infração cometida, os indevidamente.
danos que dela provierem para o serviço público, as cir- § 2° Na hipótese do parágrafo anterior, sendo um dos
cunstâncias agravantes ou atenuantes e os antecedentes cargos ou função exercido em outro órgão ou entidade, a
funcionais. demissão lhe será comunicada.

199
LEGISLAÇÃO BÁSICA

Art. 161 Será cassada a aposentadoria ou a disponibi- II - em 02 (dois) anos, quanto à repreensão e suspen-
lidade do inativo que houver praticado, na atividade, falta são.
punível com a demissão. § 1° O prazo de prescrição começa da data em que o
fato ou transgressão se tornou conhecido.
Art. 162 A destituição de cargo em comissão, exercido § 2° Os prazos de prescrição previstos na lei penal
por não ocupante de cargo efetivo, será aplicada nos ca- aplicam-se às infrações disciplinares capituladas também
sos de infração sujeita às penalidades de suspensão e de como crime.
demissão. § 3° A abertura de sindicância ou a instauração de pro-
Parágrafo único Ocorrida a exoneração de que trata o cesso disciplinar interrompe a prescrição, até a decisão fi-
Art.go 45, o ato será convertido em destituição de car- nal proferida por autoridade competente.
go em comissão prevista neste artigo. § 4° Interrompido o curso da prescrição, este recome-
çará a correr pelo prazo restante, a partir do dia em que
Art. 163 A demissão ou a destituição de cargo em co- cessar a interrupção.
missão, nos casos dos incisos IV, VIII e X do § 5° Decorrido o prazo legal para o disposto no § 3º,
Art.go 144, implica indisponibilidade dos bens e res- sem a conclusão e o julgamento, recomeçará a correr o
sarcimento ao erário sem prejuízo da ação penal cabível. curso da prescrição.

Art. 164 A demissão ou a destituição de cargo em co- TITULO V


missão por infringência do DO PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR
Art.go 144, X, XII e XIII, incompatibiliza o ex-servidor (vide Lei Complementar nº 207, de 29 de dezembro de
para nova investidura em cargo público estadual, pelo pra- 2004.)
zo mínimo de 05 (cinco) anos.
Parágrafo único Não poderá retornar ao serviço pú- CAPÍTULO I
blico estadual o servidor que for demitido ou destituído do DISPOSIÇÕES GERAIS
cargo em comissão por infringência do
Art. 170 A autoridade que tiver ciência de irregularida-
Art.go 159, I, IV, VIII, X e XI.
de no serviço público é obrigada a promover a sua apura-
ção imediata, mediante sindicância ou processo disciplinar,
Art. 165 Configura o abandono de cargo a ausência
assegurada ao acusado ampla defesa.
intencional do servidor ao serviço, por mais de 30 (trinta)
dias consecutivos.
Art. 171 As denúncias sobre irregularidades serão ob-
jeto de apuração, desde que contenham a identificação e o
Art. 166 Entende-se por inassiduidade habitual a fal- endereço do denunciante e sejam formuladas por escrito,
ta ao serviço, sem causa justificada, por 60 (sessenta) dias, confirmada a autenticidade.
interpoladamente, durante o período de 12 (doze) meses. Parágrafo único Quando o fato narrado não configu-
rar evidente infração disciplinar ou ilícito penal, a denúncia
Art. 167 O ato de imposição da penalidade mencio- será arquivada por falta de objeto.
nará sempre o fundamento legal e a causa da sanção dis-
ciplinar. Art. 172 Da sindicância poderá resultar:
I - arquivamento do processo
Art. 168 As penalidades disciplinares serão aplicadas: II - aplicação de penalidade de repressão ou suspensão
I - pelo Governador do Estado, pelos Presidentes do de até 30 (trinta) dias;
Poder Legislativo e dos Tribunais Estaduais, pelo Procura- III - instauração de processo disciplinar.
dor-Geral da Justiça e pelo dirigente superior de autarquia
e fundação, quando se tratar de demissão e cassação de Art. 173 Sempre que o ilícito praticado pelo servidor
aposentadoria ou disponibilidade de servidor vinculado ao ensejar a imposição de penalidade de suspensão por mais
respectivo Poder, órgão ou entidade; de 30 (trinta) dias de demissão ou destituição de cargo em
II - pelas autoridades administrativas de hierarquia comissão, será obrigatória a instauração do processo dis-
imediatamente inferior àquelas mencionadas no inciso I, ciplinar.
quando se trata de suspensão superior a 30 (trinta) dias;
III - pelo chefe da repartição e outra autoridade, na for- CAPITULO II
ma dos respectivos regimentos ou regulamentos, nos ca- DO AFASTAMENTO PREVENTIVO
sos de repreensão ou de suspensão de até 30 (trinta) dias;
IV - pela autoridade que houver feito a nomeação, Art. 174 Como medida cautelar e a fim de que o ser-
quando se tratar de destituição de cargo em comissão de vidor não venha a influir na apuração da irregularidade, a
não ocupante do cargo efetivo. autoridade instauradora do processo disciplinar poderá or-
denar o seu afastamento do exercício do cargo, pelo prazo
Art. 169 A ação disciplinar prescreverá: de até 60 (sessenta) dias, sem prejuízo da remuneração.
I - em 05 (cinco) anos, quanto às infrações puníveis Parágrafo único O afastamento poderá ser prorroga-
com demissão, cassação de aposentadoria ou disponibili- do por igual prazo, findo o qual cessarão os seus efeitos,
dade e destituição de cargo em comissão; ainda que não concluído o processo.

200
LEGISLAÇÃO BÁSICA

CAPITULO III Parágrafo único Na hipótese do relatório da sindicân-


DO PROCESSO DISCIPLINAR cia concluir que a infração está capitulada como ilícito pe-
nal, a autoridade competente encaminhará cópia dos autos
Art. 175 O processo disciplinar é o instrumento des- ao Ministério Público, independentemente da imediata ins-
tinado a apurar responsabilidade de servidor por infração tauração do processo disciplinar.
praticada no exercício de suas atribuições, ou que tenha
relação mediata com as atribuições do cargo em que se Art. 182 Na fase do inquérito, a comissão promove-
encontre investido. rá a tomada de depoimentos, acareações, investigações e
§ 1º O servidor que responde a processo administrati- diligências cabíveis, objetivando a coleta de prova, recor-
vo disciplinar nos termos do caput deste artigo, até decisão rendo, quando necessário, a técnicos e peritos, de modo a
final da autoridade competente e independentemente do permitir a completa elucidação dos fatos.
que dispõe o artigo anterior, deverá ser remanejado para
exercer as atribuições do cargo em que se encontra inves- Art. 183 É assegurado ao servidor o direito de acom-
tido em ambiente de trabalho diverso daquele em que as panhar o processo em qualquer fase, pessoalmente ou por
exercia quando da instauração do referido processo, sem intermédio de procurador, arrolar-se e reinquirir testemu-
prejuízo da remuneração. (redação dada pela Lei Comple- nhas, produzir provas e contraprovas e formular quesitos,
mentar nº 85, de 10 de julho de 2001.) quando se tratar de prova pericial.
§ 2º Para a aplicação das penalidades previstas nes- § 1° O Presidente da comissão poderá denegar pedi-
ta lei complementar, observar-se-á o disposto no art. 168. dos considerados impertinentes meramente protelatórios
(redação dada pela Lei Complementar nº 85, de 10 de julho ou de nenhum interesse para o esclarecimento dos fatos.
de 2001.) § 2° Será indeferido o pedido de prova pericial, quan-
do a comprovação do fato independer de conhecimento
Art. 176 (VETADO) especial de perito.
Art. 177 A comissão de inquérito exercerá suas ativi- Art. 184 As testemunhas serão intimadas a depor me-
dades com independência e imparcialidade, assegurado o
diante mandado expedido pelo Presidente da comissão,
sigilo necessário à elucidação do fato ou exigido pelo inte-
devendo a segunda via, com o ciente do interessado, ser
resse da administração.
anexada aos autos.
Parágrafo único Se a testemunha for servidor público,
Art. 178 O processo disciplinar se desenvolve nas se-
a expedição do mandado será imediatamente comunicada
guintes fases:
ao chefe da repartição onde serve, com indicação do dia e
I - instauração, com a publicação do ato que constituirá
hora marcados para a inquirição.
a comissão;
II - inquérito administrativo, que compreende instru-
ção, defesa e relatório; Art. 185 O depoimento será prestado oralmente e re-
III - julgamento. duzido a termo, não sendo lícito à testemunha trazê-lo por
escrito.
Art. 179 O prazo para a conclusão do processo disci- § 1° As testemunhas serão inquiridas separadamente.
plinar não excederá 60 (sessenta) dias, contados da data § 2° Na hipótese de depoimentos contraditórios ou
de publicação do ato que constituir a comissão, admitida a que se infirmem, procederse-á a acareação entre os de-
sua prorrogação por igual prazo, quando as circunstâncias poentes.
o exigirem.
§ 1° Decorrido, sem que seja apresentado o relatório Art. 186 Concluída a inquirição das testemunhas a co-
conclusivo, a autoridade competente deverá determinar a missão promoverá o interrogatório do acusado, observa-
apuração da responsabilidade dos membros da comissão. dos os procedimentos previstos nos
§ 2° Sempre que necessário, a comissão dedicará tem- Art.gos 184 e 185.
po integral aos seus trabalhos, ficando seus membros dis- § 1° No caso de mais de um acusado, cada um deles
pensados do ponto, até a entrega do relatório final. será ouvido separadamente, e sempre que divergirem em
§ 3° As reuniões da comissão serão registradas em atas suas declarações sobre fatos ou circunstâncias, será pro-
que deverão detalhar as deliberações adotadas. movida a acareação entre eles.
§ 2° O procurador do acusado poderá assistir ao inter-
Seção I rogatório, bem como à inquirição das testemunhas, sendo-
Do Inquérito lhe vedado interferir nas perguntas e respostas, facultan-
do-lhe, porém, reinquiri-las, por intermédio do Presidente
Art. 180 O inquérito administrativo será contraditório, da comissão.
assegurada ao acusado ampla defesa, com a utilização dos
meios e recursos admitidos em direito. Art. 187 Quando houver dúvida sobre a sanidade
mental do acusado, a comissão proporá à autoridade com-
Art. 181 Os autos da sindicância integrarão o processo petente que ele seja submetido a exame por junta médica
disciplinar, como pela informativa da instrução. oficial, da qual participe pelo menos um médico psiquiatra.

201
LEGISLAÇÃO BÁSICA

Parágrafo único O incidente de sanidade mental será § 1° Se a penalidade a ser aplicada exceder a alçada da
processado em auto partado e apenso ao processo princi- autoridade instauradora do processo, este será encaminha-
pal, após a expedição do laudo pericial. do à autoridade competente que decidirá em igual prazo.
§ 2° Havendo mais de um indiciado e diversidade de
Art. 188 Tipificada a infração disciplinar será formula- sanções, o julgamento caberá a autoridade competente
da a indicação do servidor com a especificação dos fatos a para a imposição da pena mais grave.
ele imputados e das respectivas provas. § 3° Se a penalidade prevista for a de demissão, o jul-
§ 1° O indiciado será citado por mandado expedido gamento caberá às autoridades de que trata o inciso I do
pelo Presidente da comissão para apresentar defesa escri- Art.go 169.
ta, no prazo de 10 (dez) dias, assegurando-se-lhe vista do
processo na repartição. Art. 195 O julgamento acatará o relatório da comissão,
§ 2° Havendo dois ou mais indiciados, o prazo será co- salvo quando contrário às provas dos autos.
mum e de 20 (vinte) dias. Parágrafo único Quando o relatório da comissão con-
§ 3° O prazo de defesa poderá ser prorrogado pelo trariar as provas dos autos, a autoridade julgadora poderá,
dobro, para diligências reputadas indispensáveis. motivadamente, agravar a penalidade proposta, abrandá
§ 4° No caso de recusa do indiciado em apor o ciente -la, ou isentar o funcionário de responsabilidade.
na cópia da citação, o prazo para defesa contar-se-á da
data declarada em termo próprio, pelo membro da comis- Art. 196 Verificada a existência de vício insanável, a
são que fez a citação. autoridade julgadora declarará a nulidade total ou parcial
do processo e ordenará a constituição de outra comissão,
Art. 189 O indiciado que mudar de residência fica para a instauração de novo processo.
obrigado a comunicar à comissão o lugar onde poderá ser § 1º O julgamento fora do prazo legal não implica nuli-
encontrado. dade do processo. (redação dada pela Lei Complementar nº
123, de 1º de julho de 2003.)
Art. 190 Achando-se o indiciado em lugar incerto e § 2° A autoridade julgadora que der causa à prescrição
não sabido, será citado por edital, publicado no Diário Ofi- de que trata o
cial do Estado e em jornal de grande circulação na localida- Art.go 169, § 2°, será responsabilizada na forma do Ca-
de do último domicílio conhecido, para apresentar defesa. pítulo V do Título V desta lei complementar.
Parágrafo único Na hipótese deste artigo, o prazo
para defesa será de 15 (quinze) dias a partir da última pu- Art. 197 Extinta a punibilidade pela prescrição, a auto-
blicação do edital. ridade julgadora determinará o registro do fato nos assen-
tamentos individuais do servidor.
Art. 191 Considerar-se-á revel o indiciado que, regu-
larmente citado, não apresentar defesa no prazo legal. Art. 198 Quando a infração estiver capitulada como
§ 1° A revelia será declarada por termo nos autos do crime, o processo disciplinar será remetido ao Ministério
processo e devolverá o prazo para a defesa. Público para instauração da ação penal, ficando translado
§ 2° Para defender o indiciado revel, a autoridade ins- na repartição.
tauradora do processo designará um servidor como de-
fensor dativo de cargo de nível igual ou superior ao do Art. 199 O servidor que responde processo disciplinar
indiciado. só poderá ser exonerado a pedido, do cargo, ou aposen-
tado voluntariamente, após a conclusão do processo e o
Art. 192 Apreciada a defesa, a comissão elaborará re- cumprimento da penalidade acaso aplicada.
latório minucioso, onde resumirá as peças principais dos Parágrafo único Ocorrida a exoneração de que trata o
autos e mencionará as provas em que se baseou para for- Art.go 44, parágrafo único, I, o ato será convertido em
mar a sua convicção. demissão, se for o caso.
§ 1° O relatório será conclusivo quanto à inocência ou
responsabilidade do servidor. Art. 200 Serão assegurados transporte e diárias;
§ 2° O processo disciplinar, com o relatório da comis- I - ao servidor convocado para prestar depoimento
são, indicará o dispositivo legal ou regulamentar transgre- fora da sede de sua repartição, na condição de testemunha,
dido, bem como as circunstâncias agravantes ou atenuan- denunciado ou indiciado;
tes. II - aos membros da comissão e ao secretário, quando
obrigados a se deslocarem da sede dos trabalhos para a
Art. 193 O processo disciplinar, com o relatório da co- realização de missão essencial ao esclarecimento dos fatos.
missão, será remetido à autoridade que determinou a sua
instauração, para julgamento. Seção III
Da Revisão do Processo
Seção II
Do Julgamento Art. 201 O processo disciplinar poderá ser revisto, a
qualquer tempo, a pedido, ou de ofício, quando se aduzi-
Art. 194 No prazo de 60 (sessenta) dias, contados do rem fatos novos ou circunstanciais suscetíveis de justificar
recebimento do processo, a autoridade julgadora proferirá a inocência do punido ou a inadequação da penalidade
a sua decisão. aplicada.

202
LEGISLAÇÃO BÁSICA

§ 1° Em caso de falecimento, ausência ou desapare- Art. 211 O Plano de Seguridade Social visa dar cober-
cimento do servidor, qualquer pessoa poderá requerer a tura aos riscos a que está sujeito o servidor e sua família, e
revisão do processo. compreende um conjunto de benefícios e ações que aten-
§ 2° No caso de incapacidade mental do servidor, a dam as seguintes finalidades:
revisão será requerida pelo respectivo curador. I - garantir meios de subsistência nos eventos de doen-
ça, invalidez, velhice, acidente em serviço, inatividade, fale-
Art. 202 No processo revisional, o ônus da prova cabe cimento e reclusão; II - proteção à maternidade, à adoção
ao requerente. e à paternidade;
III - (revogado pela Lei Complementar nº 94, de 28 de
Art. 203 A simples alegação de injustiça da penalidade novembro de 2001.)
não constitui fundamento para revisão que requer elemen- Parágrafo único Os benefícios serão concedidos nos
tos novos, ainda não apreciados no processo originário. termos e condições definidos em regulamento, observadas
as disposições desta lei complementar.
Art. 204 O requerimento de revisão do processo será
dirigido ao Secretário de Estado ou autoridade equivalente, Art. 212 Os benefícios do Plano de Seguridade Social
que se autorizar a revisão, encaminhará o pedido ao diri- do servidor compreende:
gente do órgão ou entidade onde se originou o processo I - quanto ao servidor:
disciplinar. a) aposentadoria;
Parágrafo único Recebida a petição, o dirigente do ór- b) (revogada pela Lei Complementar nº 94, de 28 de
gão ou entidade providenciará a constituição da comissão novembro de 2001.)
na forma prevista no c) salário família;
Art.go 176 desta lei complementar. d) licença à gestante, à adotante e licença-paternidade;
(alterada pela Lei Complementar nº 263, de 26 de dezembro
Art. 205 A revisão correrá em apenso ao processo ori- de 2006.)
ginário. e) licença por acidente em serviço;
Parágrafo único Na petição inicial, o requerente pe- f) licença para tratamento de saúde;
II - quanto ao dependente:
dirá dia e hora para a produção de provas e inquirição das
a) pensão vitalícia e temporária;
testemunhas que arrolar.
b) (revogada pela Lei Complementar nº 94, de 28 de
novembro de 2001.)
Art. 206 A comissão revisora terá até 60 (sessenta) dias
c) ( revogada pela Lei Complementar nº 94, de 28 de
para a conclusão dos trabalhos, prorrogáveis por igual pra-
novembro de 2001.)
zo, quando as circunstâncias o exigirem.
d) auxílio reclusão.
§ 1°. (* revogada pela Lei Complementar nº 254, de 02
Art. 207 Aplicam-se aos trabalhos da comissão reviso- de dezembro de 2006.)
ra, no que couber, as normas e procedimentos próprios da § 2° O recebimento indevido de benefícios havidos por
comissão do processo disciplinar. fraude, dolo ou ma fé implicará na devolução ao erário do
total auferido, sem prejuízo da ação penal cabível.
Art. 208 O julgamento caberá à autoridade que apli-
cou a penalidade nos termos do CAPÍTULO II
Art.go 154 desta lei complementar. DOS BENEFÍCIOS
Parágrafo único O prazo para julgamento será até 60 Seção I
(sessenta) dias, Da Aposentadoria
contados do recebimento do processo no curso do
qual a autoridade julgadora poderá determinar diligências. Art. 213 O servidor será aposentado:
I - por invalidez permanente, sendo os proventos in-
Art. 209 Julgada procedente a revisão, será declarada tegrais quando decorrentes de acidentes em serviço, mo-
sem efeito a penalidade aplicada, restabelecendo-se todos léstia profissional ou doença grave, contagiosa ou incurá-
os direitos do servidor, exceto em relação à destituição de vel, especificada em lei, com base de conclusões de junta
cargo em comissão que será convertida em exoneração. médica do IPEMAT-Instituto de Previdência do Estado de
Parágrafo único Da revisão do processo não poderá Mato Grosso e proporcional nos demais casos. (redação
resultar agravamento de penalidade. dada pela Lei Complementar nº 68, de 16 de fevereiro de
2000.)
TITULO VI II - compulsoriamente, aos 70 (setenta) anos de idade,
DA SEGURIDADE SOCIAL DO SERVIDOR com proventos proporcionais ao tempo de serviços;
CAPÍTULO I III - voluntariamente:
DISPOSIÇÕES GERAIS a) aos 35 (trinta e cinco) anos de serviço, se homem, e
aos 30 (trinta), se mulher, com proventos integrais;
Art. 210 O Estado manterá Plano de Seguridade Social b) aos 30 (trinta) anos de efetivo exercício em funções
para o servidor e sua família submetido ao Regime Jurídico de magistério, se professor, e 25 (vinte e cinco), se profes-
Único. sora, com proventos integrais;

203
LEGISLAÇÃO BÁSICA

c) aos 30 (trinta) anos de serviço, se homem, e aos 25 Art. 217 O servidor aposentado com provento pro-
(vinte e cinco), se mulher, com proventos proporcionais a porcional ao tempo de serviço, se acometido de qualquer
esse tempo; das moléstias especificadas no
d) aos 65 (sessenta e cinco) anos de idade, se homem, Art.go 213, § 1º, passará a perceber provento integral.
e aos 60 (sessenta), se mulher, com proventos proporcio-
nais ao tempo de serviço. Art. 218 Quando proporcional ao tempo de serviço, o
§ 1° Consideram-se doenças graves, contagiosas ou in- provento não será inferior a 1/3 (um terço) da remuneração
curáveis, a que se refere o inciso I deste artigo, tuberculose da atividade nem ao valor do vencimento mínimo do res-
ativa, alienação mental, neoplasia maligna, cegueira poste- pectivo plano de carreira.
rior ao ingresso no serviço público, hanseníase, cardiopatia
grave, doença de Parkinson, paralisia irreversível e incapa- Art. 219. (revogado pela Lei Complementar nº 59, de 03
citante, expondiloartrose anquilorante, nefropatia grave, de fevereiro de 1999.)
estado avançado do mal de Paget, osteíte deformante, I - com a remuneração da classe imediatamente supe-
síndrome da imunodeficiência adquirida, Aids; no caso de rior, correspondente àquela em que se encontra posiciona-
magistério, surdez permanente, anomalia da fala e outros do, quando prestado menos de 15 (quinze) anos de efetivo
que a lei indicar com base na medicina especializada. exercício no Estado de Mato Grosso;
§ 2° Nos casos de exercício de atividades consideradas II - com provento aumentado em 20% (vinte por cen-
insalubres ou perigosas, bem como nas hipóteses previstas to), quando ocupante da última classe e referência da res-
no Art.go 90, a aposentadoria de que trata o inciso III, “a”, pectiva carreira, se prestado mais de 15 (quinze) anos de
“b” e “c”, observará o disposto em lei específica. efetivo exercício no Estado de Mato Grosso;
§ 3º Estende-se aos ocupantes de cargos em comissão, III - com remuneração da última classe e referência,
as prerrogativas inseridas no inciso I deste artigo, quando quando prestados mais de 10 (dez) anos de serviço efetivo
se tratar de acidente em serviço, moléstia profissional e in- ao Estado de Mato Grosso.
validez permanente. (incluído pela Lei Complementar nº 68,
de 16 de fevereiro de 2000.)
Art. 220 O servidor que tiver exercido função de dire-
§ 4º Para atender ao disposto no inciso I deste artigo,
ção, chefia, assessoramento, assistência ou cargo em co-
a Junta Médica do IPEMAT terá o prazo de 30 (trinta) dias
missão, por período de 05 (cinco) anos consecutivos ou 10
para expedir o laudo ou atestado de invalidez, contados
(dez) anos interpolados poderá se aposentar com a grati-
da data do requerimento do interessado. (incluído pela Lei
ficação da função ou remuneração do cargo em comissão,
Complementar nº 68, de 16 de fevereiro de 2000.)
de maior valor, desde que exercido por um período míni-
mo de 02 (dois) anos.
Art. 214 A aposentadoria compulsória será automática
Parágrafo único Quando o exercício da função ou car-
e declarada por ato, com vigência a partir do dia imediato
go em comissão de maior valor não corresponde ao pe-
àquele em que o servidor atingir a idade limite de perma-
nência no serviço ativo. ríodo de 02 (dois) anos, será incorporada a gratificação ou
remuneração da função ou cargo em comissão imediata-
Art. 215 A aposentadoria voluntária ou por invalidez mente inferior dentre os exercidos.
vigorará a partir da data da publicação do respectivo ato.
§ 1° A aposentadoria por invalidez será precedida de Art. 221 Ao servidor aposentado será paga a gratifica-
licença para tratamento de saúde, por período não exce- ção natalina, até o dia 20 (vinte) do mês de dezembro, em
dente a 24 (vinte e quatro) meses. valor equivalente ao respectivo provento, deduzido adian-
§ 2° Expirado o período de licença e não estando em tamento recebido.
condições de reassumir o cargo, ou de ser readaptado, o
servidor será aposentado. Art. 222 Ao ex-combatente que tenha efetivamente
§ 3° O lapso de tempo compreendido entre o térmi- participado de operações bélicas, durante a Segunda Guer-
no da licença e a publicação do ato de aposentadoria será ra Mundial, nos termos da Lei n° 5.315, de 12.09.67, será
considerado como de prorrogação de licença. concedida a aposentadoria com proventos integrais, aos
25 (vinte e cinco) anos de serviço efetivo.
Art. 216 O provento de aposentadoria será calculado
com observância do disposto no Seção II
Art.go 57, e revisto na mesma data e proporção, sem- Do Auxílio Natalidade
pre que se modificar a remuneração do servidor em ativi-
dade. Art. 223. ( revogado pela Lei Complementar nº 124, de
Parágrafo único São estendidos aos inativos quais- 03 de julho de 2003).
quer benefícios ou vantagens posteriormente concedidos § 1° Na hipótese de parto múltiplo, o valor será acres-
ao servidor em atividade, inclusive, quando decorrentes da cido de 100% (cem por cento).
transformação ou reclassificação do cargo ou função em § 2° O auxílio será pago ao cônjuge ou companheiro,
que se deu a aposentadoria. servidor público, quando a parturiente não for servidora

204
LEGISLAÇÃO BÁSICA

Seção III § 3° No caso do parágrafo anterior, o atestado só pro-


Do Salário Família duzirá efeitos depois da homologação pelo setor médico
do respectivo órgão ou entidade.
Art. 224 O salário família, definido na legislação espe- § 4° No caso de não ser homologada a licença, o servi-
cífica, é devido ao servidor ativo ou ao inativo, por depen- dor será obrigado a reassumir o exercício do cargo, sendo
dente econômico. considerado, como de faltas justificadas, os dias em que
§ 1º Consideram-se dependentes para efeito de per- deixou de comparecer ao serviço por esse motivo, fican-
cepção do salário família: do, no caso, caracterizada a responsabilidade do médico
I - o filho, até quatorze anos de idade ou inválido; e atestante.
II - o enteado e o menor que esteja sob sua tutela, § 5° Será facultado à administração, em caso de dúvida
comprovada a dependência econômica, e desde que não razoável, exigir inspeção, por junta médica oficial.
possua bens suficientes para o próprio sustento e educa-
ção. Art. 231 Findo o prazo da licença, se necessário, o ser-
§ 2º O salário-família somente será devido ao servidor vidor será submetido a nova inspeção médica, que con-
que perceber remuneração, vencimento ou subsídio igual cluirá pela volta ao serviço, pela prorrogação da licença ou
ou inferior ao teto fixado para esse fim pelo Regime Geral pela aposentadoria.
de Previdência Social. (alterado pela Lei Complementar nº
124, de 03 de julho de 2003.) Art. 232 O atestado e o laudo da junta médica não se
referirão ao nome ou natureza da doença, salvo quando se
Art. 225 Não se configura a dependência econômica tratar de lesões produzidas por acidente em serviço, doen-
quando o beneficiário do salário família perceber rendi- ça profissional ou quaisquer das doenças especificadas no
mento do trabalho ou de qualquer outra fonte, inclusive Art.go 213, § 1°.
pensão ou provento de aposentadoria, em valor igual ou
superior ao salário-mínimo. Art. 233 O servidor que apresente indícios de lesões
orgânicas ou funcionais será submetido à inspeção médica.
Art. 226 Quando pai e mãe forem servidores públicos
Art. 234 Será punido disciplinarmente o servidor que
e viverem em comum, o salário família será pago a um de-
se recusar à inspeção médica, cessando os efeitos da pena
les, quando separados, será pago a um e outro, de acordo
logo que se verifique a inspeção.
com a distribuição dos dependentes.
Parágrafo único Ao pai e à mãe equiparam-se o pa-
Seção V
drasto, a madrasta e, na falta destes, os representantes le-
Da Licença à Gestante, à Adotante e da
gais dos incapazes.
Licença Paternidade
Art. 227 O salário família não está sujeito a qualquer Art. 235 Será concedida licença à servidora gestante
tributo, nem servirá de base para qualquer contribuição, por um período de 180 (cento e oitenta) dias consecutivos,
inclusive para previdência social. sem prejuízo da remuneração, mediante inspeção médica.
§ 1º A licença poderá ter inicio no primeiro dia do oi-
Art. 228 O afastamento do cargo efetivo, sem remune- tavo mês da gestação, salvo antecipação por prescrição
ração, não acarreta a suspensão do pagamento do salário médica.
família. § 2º no caso de nascimento prematuro, a licença terá
início a partir do parto.
Seção IV § 3º No caso de natimorto, será concedida a licença
Da Licença para Tratamento de Saúde para tratamento de saúde, a critério médico, na forma
prescrita no
Art. 229 Será concedida ao servidor licença para trata- Art. 231, da Lei Complementar n° 04/90.
mento de saúde, a pedido ou de ofício, com base em pe- § 4º Ocorrido o parto, sem que tenha sido requerida a
rícia médica sem prejuízo da remuneração a que fizer jus. licença, poderá esta ser concedida mediante apresentação
da certidão de nascimento e vigorará a partir da data do
Art. 230 A inspeção para fins de licença para Trata- evento.
mento de Saúde será feita pelo Médico Assistente do ór- § 5º No caso de aborto não criminoso, atestado por
gão da Previdência Estadual ou Junta Médica Oficial, con- médico oficial, a servidora terá direito a 60 (sessenta) dias
forme se dispuser em regulamento. (redação dada pela Lei de repouso remunerado, podendo ser prorrogado por ins-
Complementar nº 12, de 13 de janeiro de 1992.) peção médica. (alterado pela Lei Complementar nº 330, de
§ 1° Sempre que necessário, a inspeção médica será 10 de setembro de 2008.)
realizada na residência do servidor ou no estabelecimento
hospitalar onde se encontrar internado. Art. 236 Pelo nascimento ou adoção de filho, o ser-
§ 2° Inexistindo médico do órgão ou entidade no local vidor terá direito à licença-paternidade de 05 (cinco) dias
onde se encontra o servidor, será aceito atestado passado consecutivos. (alterado pela Lei Complementar nº 263, de
por médico particular. 26 de dezembro de 2006.)

205
LEGISLAÇÃO BÁSICA

Art. 237 Para amamentar o próprio filho, até a idade Art. 244 As pensões distinguem-se, quanto à nature-
de 06 (seis) meses, a servidora lactante terá direito, durante za, em vitalícias e temporárias.
a jornada de trabalho, a uma hora de descanso, que poderá § 1° A pensão vitalícia é composta de cota ou cotas
ser parcelada em 02 (dois) períodos de 1/2 (meia) hora. permanentes, que somente se extinguem ou revertem com
a morte de seus beneficiários.
Art. 238 À servidora que adotar ou obtiver guarda ju- § 2° A pensão temporária é composta de cota ou cotas
dicial de criança de até 04 (quatro) anos de idade serão que podem se extinguir ou reverter por motivo de morte,
concedidos 90 (noventa) dias, de licença remunerada para cessação da invalidez ou maioridade do beneficiário.
ajustamento do adotado ao novo lar. (alterado pela Lei § 3° Aplica-se, para efeito deste artigo, os benefícios
Complementar nº 426, de 27 de junho de 2011). previstos na alínea “a” do
§ 1°. ( revogado pela Lei Complementar nº 124, de 03 Art.go 140 da Constituição Estadual.
de julho de 2003).
§ 2°. (revogado pela Lei Complementar nº 124, de 03 de Art. 245 São beneficiários das pensões:
julho de 2003). I - vitalícia:
§ 3º No caso de adoção ou guarda judicial de recém a) cônjuge;
nas cido a licença será concedida até que a criança com- b) a pessoa desquitada, separada judicialmente ou di-
plete 06 (seis) meses de idade, mas nunca inferior ao prazo vorciada, com percepção de pensão;
concedido pelo caput. c) o companheiro ou companheira designada que
§ 4º No caso de adoção ou guarda judicial de criança comprove união estável como entidade familiar;
com mais de 04 (quatro) anos de idade, o prazo de que d) a mãe e o pai que comprovem dependência econô-
trata este artigo será de 30 (trinta) dias. mica do servidor;
§ 5º Decorrido o prazo da licença, a servidora deverá e) (revogada pela Lei Complementar nº 124, de 03 de
apresentar ao órgão competente certidão judicial, atestan- julho de 2003).
do a permanência da adoção ou da guarda no período cor- II - temporária:
respondente, sob pena de incorrer nas sanções previstas a) os filhos até que atinjam a maioridade civil ou se in-
no Art. 154, I e III. (incluído pela Lei Complementar nº 426,
válidos, enquanto durar a invalidez; (alterado pela Lei Com-
de 27 de junho de 2011).
plementar nº 197, de 14 de dezembro de 2004.)
b) (revogado pela Lei Complementar nº 197, de 14 de
Seção VI
dezembro de 2004.)
Da Licença por Acidente em Serviço
c) o irmão órfão de pai e sem padrasto, até 21 (vinte
e um) anos, e o inválido, enquanto durar a invalidez, que
Art. 239 Será licenciado, com remuneração integral, o
servidor acidentado em serviço. comprovem dependência econômica do servidor;
d) (revogado pela Lei Complementar nº 124, de 03 de
Art. 240 Configura acidente em serviço o dano físico julho de 2003).
ou mental sofrido pelo servidor e que se relacione mediata § 1° A concessão da pensão vitalícia aos beneficiários
ou imediatamente com as atribuições do cargo exercido. de que tratam as alíneas “a” a “c” do inciso I deste artigo,
Parágrafo único Equipara-se ao acidente em serviço exclui desse direito os demais beneficiários referidos nas
o dano: alíneas “d” e “e”.
I - decorrente de agressão sofrida e não provocada § 2° A concessão da pensão temporária aos beneficiá-
pelo servidor no exercício do cargo; rios de que tratam as alíneas “a” e “b” do inciso II deste ar-
II - sofrido no percurso da residência para o trabalho tigo, exclui desse direito os demais beneficiários referidos
e vice-versa. nas alíneas “c” e “d”.

Art. 241 O servidor acidentado em serviço que neces- Art. 246 A pensão será concedida integralmente ao
site de tratamento especializado poderá ser tratado em titular da pensão vitalícia, exceto se existirem beneficiários
instituição privada, à conta de recursos públicos, dentro ou da pensão temporária.
fora do Estado. § 1° Decorrendo habilitação de vários titulares à pen-
Parágrafo único O tratamento recomendado por jun- são vitalícia, o seu valor será distribuído em partes iguais
ta médica oficial constitui medida de exceção e somente entre os beneficiários habilitados.
será admissível quando inexistirem meios e recursos ade- § 2° Ocorrendo habilitação às pensões vitalícia e tem-
quados em instituição pública. porária, metade do valor caberá ao titular ou titulares da
pensão vitalícia, sendo a outra metade rateada, em partes
Art. 242 A prova do acidente será feita no prazo de 10 iguais, entre os titulares da pensão temporária.
(dez) dias, prorrogável quando as circunstâncias o exigirem. § 3° Ocorrendo habilitação somente à pensão tempo-
rária, o valor integral da pensão será rateado, em partes
Art. 243 Por morte do servidor, os dependentes fazem iguais, entre os que se habilitarem.
jus a uma pensão mensal de valor correspondente ao da
respectiva remuneração ou provento, a partir da data do Art. 247 A pensão poderá ser requerida a qualquer
óbito, observado o limite estabelecido no tempo, prescrevendo tão somente as prestações exigíveis
Art.go 62 desta lei complementar. há mais de 05 (cinco) anos.

206
LEGISLAÇÃO BÁSICA

Parágrafo único Concedida a pensão, qualquer prova Seção VIII


posterior ou habilitação tardia que implique exclusão de Do Pecúlio Especial
beneficiários ou redução de pensão só produzirá efeitos a
partir da data em que foi oferecida. Art. 254. (revogado pela Lei Complementar nº 59, de 03
de fevereiro de 1999.)
Art. 248 Não faz jus à pensão o beneficiário condena- § 1° O pecúlio será concedido obedecida a seguinte
do pela prática de crime doloso de que resultou a morte ordem de preferência:
do servidor. I - ao cônjuge ou companheiro sobrevivente;
II - aos filhos e aos enteados, menores de 21 (vinte e
Art. 249 Será concedida pensão provisória por morte um) anos;
do servidor nos seguintes casos: III - aos indicados por livre nomeação do servidor;
I - declaração de ausência pela autoridade judiciária IV - aos herdeiros, na forma da lei civil.
competente; § 2° A declaração para beneficiários será feita ou al-
II - desaparecimento em desabamento, inundação, in- terada a qualquer tempo, nela se mencionando o critério
cêndio ou acidente não caracterizado como em serviço; de divisão do pecúlio, no caso de mais de um beneficiário.
III - desaparecimento no desempenho das atribuições
do cargo ou em missão de segurança. Art. 255. (revogado pela Lei Complementar nº 59, de 03
Parágrafo único A pensão provisória será transforma- de fevereiro de 1999.)
da em vitalícia ou temporária conforme o caso, decorridos Parágrafo único Reaparecendo o servidor, o pecúlio
05 (cinco) anos de sua vigência, ressalvado o eventual rea- será por este restituído, mediante desconto em folha de
parecimento do servidor, hipótese em que o benefício será pagamento à razão de 10% (dez por cento) da remunera-
automaticamente cancelado. ção ou dos proventos mensais.

Art. 250 Acarreta perda de qualidade de beneficiário: Art. 256 (revogado pela Lei Complementar nº 59, de 03
de fevereiro de 1999.)
I - o seu falecimento;
I - do óbito do servidor;
II - a anulação do casamento, quando a decisão ocorrer
II - da data da declaração de ausência ou do dia do
após a concessão da pensão do cônjuge;
desaparecimento do servidor.
III - a cessação da invalidez em se tratando de benefi-
ciário inválido;
Seção IX
IV - a cessação da menoridade civil por qualquer das
Do Auxílio Funeral
causas previstas na legislação em vigor, bem como a da
invalidez; (alterado pela Lei Complementar nº 197, de 14 de
Art. 257. (revogado pela Lei Complementar nº 59, de 03
dezembro de 2004.) de fevereiro de 1999.)
V - a acumulação de pensão na forma do § 1° No caso de acumulação legal de cargos no Estado,
Art.go 249; o auxílio será pago tomando-se por base a soma de ambas
VI - a renúncia expressa. as remunerações.
VII - a constituição de nova união estável ou a celebra- § 2° O auxílio será devido também, ao servidor, por
ção de novo casamento para os que recebem o benefício morte do cônjuge, companheiro ou dependente econômi-
com fundamento nas alíneas ‘a’, ‘b’ ou ‘c’ do inciso I do co.
art. 245. (incluído pela Lei Complementar nº 197, de 14 de § 3° O auxílio será pago no prazo de 48 (quarenta e
dezembro de 2004.) oito) horas, por meio de procedimento sumaríssimo, à pes-
soa da família que houver custeado o funeral.
Art. 251 Por morte ou perda da qualidade de benefi-
ciário a respectiva cota reverterá: Art. 258. (revogado pela Lei Complementar nº 59, de 03
I - da pensão vitalícia para os remanescentes desta de fevereiro de 1999.)
pensão ou para os titulares da pensão temporária, se não
houver pensionista remanescente da pensão vitalícia; Art. 259. (Revogado pela Lei Complementar nº 59, de
II - da pensão temporária para os co-beneficiários ou, 03 de fevereiro de 1999.)
na falta destes, para o beneficiário da pensão vitalícia.
Seção X
Art. 252 As pensões serão automaticamente atualiza- Do Auxílio Reclusão
das na mesma data e na mesma proporção dos reajustes
dos vencimentos dos servidores, aplicando-se o disposto Art. 260 À família do servidor ativo é devido o auxílio
no parágrafo único do reclusão, nos seguintes valores:
Art.go 214. I - 2/3 (dois terços) da remuneração, quando afastado
por motivo de prisão, em flagrante ou preventiva, deter-
Art. 253 Ressalvado o direito de opção, é vedada a minada pela autoridade competente, enquanto perdurar a
percepção cumulativa de mais de 02 (duas) pensões. prisão;

207
LEGISLAÇÃO BÁSICA

II - metade da remuneração, durante o afastamento § 1º As contratações de que trata este artigo terão do-
em virtude de condenação, por sentença definitiva, à pena tação específica e não poderão ultrapassar o prazo de 06
que não determine perda do cargo. (seis) meses, exceto nas hipóteses dos incisos II, IV e VI,
§ 1° Nos casos previstos no inciso I deste artigo, o ser- cujo prazo máximo será de 12 (doze) meses, e inciso V, cujo
vidor terá direito à integralização da remuneração, desde prazo máximo será de 24 (vinte e quatro) meses, prazos
que absolvido. estes somente prorrogáveis se o interesse público, justifi-
§ 2° O pagamento do auxílio reclusão cessará a partir cadamente, assim o exigir ou até a nomeação por concurso
do dia imediato àquele em que o servidor for posto em público. (redação dada pela Lei Complementar nº 12, de 13
liberdade, ainda que condicional. de janeiro de 1992.)
§ 3º O auxílio reclusão somente será devido à famí- § 2° O recrutamento será feito mediante processos se-
lia do servidor que perceber remuneração, vencimento ou letivos simplificados, sujeito a ampla divulgação em jornal
subsídio igual ou inferior ao teto fixado para esse fim pelo de grande circulação, e observará os critérios definidos em
Regime Geral de Previdência Social. (incluído pela Lei Com- regulamento, exceto na hipótese prevista nos incisos III e
plementar nº 124, de 03 de julho de 2003.) IV deste artigo, quando se tratar de situação emergencial.

CAPITULO III Art. 265 É vedado o desvio de função de pessoa con-


DA ASSISTÊNCIA À SAÚDE tratada, na forma deste Título, sob pena de nulidade do
contrato e responsabilidade administrativa e civil da autori-
Art. 261. (revogado pela Lei Complementar nº 94, de 28 dade contratante. (redação dada pela Lei Complementar nº
de novembro de 2001.) 12, de 13 de janeiro de 1992.)

CAPITULO IV Art. 266 Nas contratações por tempo determinado


DO CUSTEIO serão observados os padrões de vencimento dos planos
de carreira do órgão ou entidade contratante, exceto na
hipótese do inciso V do
Art. 262 O Plano de Seguridade Social do servidor será
Art.go 264, quando serão observados os valores do
custeado com o produto de arrecadação de contribuições
mercado de trabalho.
sociais obrigatórias dos servidores dos três Poderes do
Estado, das Autarquias e das Fundações e das Fundações
TITULO VIII
Públicas, criadas e mantidas pelo Poder Público Estadual.
CAPITULO ÚNICO
§ 1° A contribuição do servidor, diferenciada em fun-
DAS DISPOSIÇÕES GERAIS
ção da remuneração mensal, bem como dos órgãos e enti-
dades, será fixada em lei. Art. 267 O dia do servidor público será comemorado a
§ 2° O custeio da aposentadoria é de responsabilidade vinte e oito de outubro.
integral do tesouro do Estado.
Art. 268 Poderão ser instituídos, no âmbito dos Pode-
TITULO VII res Executivo, Legislativo e Judiciário, os seguintes incenti-
CAPITULO ÚNICO vos funcionais, além daqueles já previstos nos respectivos
DA CONTRATAÇÃO TEMPORÁRIA DE planos de carreira:
EXCEPCIONAL INTERESSE PÚBLICO I - prêmios pela apresentação de ideias, inventos ou
trabalhos que favoreçam o aumento da produtividade e a
Art. 263 Para atender a necessidade temporária de ex- redução dos custos operacionais; e
cepcional interesse público, poderão ser efetuadas contra- II - concessão de medalhas, diploma de honra ao méri-
tações de pessoal por tempo determinado. to, condecorações e elogio.

Art. 264 Consideram-se como de necessidade tempo- Art. 269 Os prazos previstos nesta lei complementar
rária de excepcional interesse público as contratações que serão contados em dias corridos, excluindo-se o dia do co-
visem a: meço e incluindo-se o do vencimento, ficando prorrogado,
I - combater surtos epidêmicos; para o primeiro dia útil seguinte, o prazo vencido em dia
II - fazer recenseamento; em que não haja expediente.
III - atender a situações de calamidade pública;
IV - substituir professor ou admitir professor visitante, Art. 270 Por motivo de crença religiosa ou de convic-
inclusive estrangeiro, conforme lei específica do magisté- ção filosófica ou política, nenhum servidor poderá ser pri-
rio; vado de quaisquer de seus direitos, sofrer discriminação
V - permitir a execução de serviço, por profissional de em sua vida funcional, nem eximir-se do cumprimento de
notória especialização, inclusive estrangeiro, nas áreas de seus deveres.
pesquisas científica e tecnológica;
VI - atender a outras situações motivadamente de ur- Art. 271 É vedado exigir atestado de ideologia como
gência. (redação dada pela Lei Complementar nº 12, de 13 condição para posse ou exercício de cargo ou função pú-
de janeiro de 1992.) blica.

208
LEGISLAÇÃO BÁSICA

Parágrafo único Será responsabilizada administrativa e mantidas pelo Estado de Mato Grosso, regidos pelo Esta-
e criminalmente a autoridade que infringir o disposto neste tuto dos Servidores Públicos Civis do Estado, de que trata
artigo. a Lei n° 1.638, de 28 de outubro de 1961, ou pela Consoli-
dação das Leis do Trabalho-CLT, aprovada pelo Decreto-Lei
Art. 272 São assegurados ao servidor público os di- n° 5.452, de 1º de maio de 1943, exceto os contratados por
reitos de associação profissional ou sindical e o de greve. prazo determinado, conforme o disposto nesta lei comple-
§ 1° O direito de greve será exercido nos termos e nos mentar.
limites definidos em lei. § 1° A submissão de que trata este artigo fica condi-
§ 2° Asseguram-se aos servidores os direitos de cele- cionada ao que dispõe a lei que instituir o Regime Jurídico
brarem acordos ou convenções coletivas de trabalho. (* Único.
suspensa a eficácia – ADIN nº 559/06) § 2° Os empregos ocupados pelos servidores incluídos
no regime estatutário ficam transformados em cargos, na
Art. 273 É vedado ao servidor servir sob a direção ime- data da publicação desta lei complementar.
diata de cônjuge ou parente até segundo grau, salvo em § 3° Os contratos individuais de trabalho se extinguem
função de confiança ou livre escolha, não podendo ultra- automaticamente pela transformação dos empregos ou
passar de 02 (dois) o seu número. funções, ficando assegurados aos respectivos ocupantes a
continuidade da contagem de tempo de serviço para fins
Art. 274 Consideram-se da família do servidor, além de férias, gratificação natalina, anuênio, aposentadoria e
de cônjuge e filhos, quaisquer pessoas que vivam às suas disponibilidade, e ao pessoal optante nos termos da Lei
expensas e constem de seu assentamento individual. n° 5.107, de 13 de setembro de 1966, o levantamento do
Parágrafo único Equipara-se ao cônjuge a compa- FGTS.
nheira ou companheiro, que comprove união estável como § 4° O regime jurídico desta lei complementar é exten-
entidade familiar. sivo aos serventuários da justiça, remunerados com recur-
sos do Estado, no que couber.
Art. 275 Para os fins desta lei complementar, conside-
§ 5° Os empregos dos servidores estrangeiros com
ra-se sede o município onde a repartição estiver instalada
estabilidade no serviço público, enquanto não adquirirem
e onde o servidor tiver exercício, em caráter permanente.
a nacionalidade brasileira, passarão a integrar tabela em
extinção, do respectivo órgão ou entidade, sem prejuízo.
Art. 276 Aos servidores regidos pelas leis especiais, de
§ 6° (VETADO)
que trata o parágrafo único do
§ 7° Assegura-se aos servidores contratados sob o re-
Art.go 45 da Constituição Estadual, com exceção do
gime jurídico celetista que não desejarem ser submetidos
inciso VII e
Art.go 79, serão aplicadas, subsidiariamente, as dispo- ao regime jurídico estatutário o direito de, alternativamen-
sições deste Estatuto. te:
I - ter o contrato de trabalho rescindido, garantido-lhe
Art. 277 Quando da fixação das condições para reali- a indenização pecuniária integral de todos os direitos ad-
zação de concurso público de provas ou de provas e títu- quiridos na vigência do regime celetista, inclusive os pre-
los, deverá ser observado que a inscrição de ocupantes de vistos nos §§ 3° e 6° deste artigo;
cargo público independerá do limite de idade. II - obter remanejamento para empresas públicas ou
Parágrafo único Ao estipular o limite de vagas, deve- de economia mista do Estado, desde que haja manifesta-
rão ser reservados 50% (cinquenta por cento) do quantita- ção favorável da administração do órgão de origem e da
tivo fixado, para fins de ascensão funcional. empresa de destino do servidor.

Art. 278 As Polícias Militar e Civil do Estado serão regi- Art. 281 (VETADO)
das por estatuto próprio.
Seção Única
Art. 279 A investidura em cargo público depende de Dos Direitos Inerentes aos Planos de Carreira aos quais
aprovação prévia em concurso público de provas ou de se Encontram Vinculados os Empregos
provas e títulos, ressalvadas as nomeações para cargo em
comissão declarado em lei, de livre nomeação e exonera- Art. 282 A licença especial, disciplinada pelo
ção, conforme Art.go 120 da Lei n° 1.638/61, ou por outro diploma le-
Art.go 12 desta lei complementar. gal, fica transformada em licença-prêmio por assiduidade,
na forma prevista nos
TITULO IX Art.gos 109 a 113 desta lei complementar.
CAPITULO ÚNICO
DAS DISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS E FINAIS Art. 283 Até a data de vigência da lei de que trata o
Art.go 262, § 1°, os servidores abrangidos por esta lei
Art. 280 Ficam submetidos ao regime jurídico desta complementar contribuirão na forma e nos percentuais
lei complementar, os servidores dos Poderes do Estado da atualmente estabelecidos para o servidor do Estado, con-
Administração Direta, das Autarquias e Fundações criadas forme regulamento próprio.

209
LEGISLAÇÃO BÁSICA

Art. 284 Esta lei complementar entra em vigor na data (A) Sentido político
de sua publicação, com efeitos financeiros a partir do pri- (B) Sentido sociológico.
meiro dia do mês subsequente. (C) Sentido jurídico.
(D) Sentido culturalista.
Art. 285 Revogam-se as Leis n° 1.638, de 28 de outu- (E) Sentido simbólico.
bro de 1961; n° 5.083, de 03 de dezembro de 1986; e n°
968, de 04 de novembro de 1957, Decreto n° 511, de 25 de 5. (PC/SC - Agente de Polícia - ACAFE/2014) A Repú-
março de 1968, Lei n° 5.063, de 20 de novembro de 1986, e blica Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel
Decreto n° 2.245, de 02 de dezembro de 1986. dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se
em Estado Democrático de Direito (art. 1º da CF).
Palácio Paiaguás, em Cuiabá, 15 de outubro de 1990.
Com base no enunciado acima é correto afirmar, ex-
as) EDISON FREITAS DE OLIVEIRA ceto:
Governador do Estado (A) são objetivos fundamentais da república federati-
va do Brasil erradicar a pobreza e a marginalização e redu-
EXERCÍCIOS zir as desigualdades sociais e regionais.
(B) a soberania, a cidadania e o pluralismo político
1. (TJ/MG - Juiz - FUNDEP/2014) Sobre o conceito de não são fundamentos da república federativa do brasil.
Constituição, assinale a alternativa CORRETA. (C) ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer
(A) É o estatuto que regula as relações entre Estados alguma coisa senão em virtude de lei.
soberanos. (D) é livre a manifestação de pensamento, sendo ve-
(B) É o conjunto de normas que regula os direitos e dado o anonimato.
deveres de um povo. (E) construir uma sociedade livre, justa e solidária é
(C) É a lei fundamental e suprema de um Estado, que um dos objetivos fundamentais da república federativa do
contém normas referentes à estruturação, à formação dos Brasil.
poderes públicos, direitos, garantias e deveres dos cida-
dãos. 6. (PC/SC - Agente de Polícia - ACAFE/2014) A Cons-
(D) É a norma maior de um Estado, que regula os di- tituição brasileira inicia com o Título I dedicado aos “prin-
reitos e deveres de um povo nas suas relações.
cípios fundamentais”, que são as regras informadoras de
todo um sistema de normas, as diretrizes básicas do orde-
2. (TJ/MG - Juiz - FUNDEP/2014) Dentre as formas
de classificação das Constituições, uma delas é quanto à namento constitucional brasileiro. São regras que contêm
origem. os mais importantes valores que informam a elaboração da
Em relação às características de uma Constituição Constituição da República Federativa do Brasil.
quanto à sua origem, assinale a alternativa CORRETA. Diante dessa afirmação, analise as questões a seguir e
(A) Dogmáticas ou históricas. assinale a alternativa correta.
(B) Materiais ou formais. I - Nas relações internacionais, a República brasileira
(C) Analíticas ou sintéticas. rege-se, entre outros, pelos seguintes princípios: autode-
(D) Promulgadas ou outorgadas. terminação dos povos, defesa da paz, igualdade entre os
Estados, concessão de asilo político.
3. (TJ/MG - Juiz - FUNDEP/2014) Sobre a supremacia II - Os princípios não são dotados de normatividade,
da Constituição da República, assinale a alternativa COR- ou seja, possuem efeito vinculante, mas constituem regras
RETA. jurídicas efetivas.
(A) A supremacia está no fato de o controle da cons- III - Violar um princípio é muito mais grave que trans-
titucionalidade das leis só ser exercido pelo Supremo Tri- gredir uma norma qualquer, pois implica ofensa a todo o
bunal Federal. sistema de comandos.
(B) A supremacia está na obrigatoriedade de submis- IV - São princípios que norteiam a atividade econômica
são das leis aos princípios que norteiam o Estado por ela
no Brasil: a soberania nacional, a função social da proprie-
instituído.
dade, a livre concorrência, a defesa do consumidor; a pro-
(C) A supremacia está no fato de a interpretação da
constituição não depender da observância dos princípios priedade privada.
que a norteiam. V - A diferença de salários, de critério de admissão por
(D) A supremacia está no fato de que os princípios e motivo de sexo, idade, cor ou estado civil a qualquer dos
fundamentos da constituição se resumam na declaração de trabalhadores urbanos e rurais fere o princípio da igualda-
soberania. de do caput do art. 5º da Constituição Federal.
(A) Apenas I, II, III estão corretas.
4. (PC/PI - Delegado de Polícia – UESPI/2014) Entre (B) Apenas II e IV estão corretas.
os chamados sentidos doutrinariamente atribuídos à Cons- (C) Apenas III e V estão corretas.
tituição, existe um que realiza a distinção entre Constituição (D) Apenas I, III, IV e V estão corretas.
e lei constitucional. Assinale a alternativa que o contempla. (E) Todas as afirmações estão corretas.

210
LEGISLAÇÃO BÁSICA

7. (DPE/GO - Defensor Público - UFG/2014) A pro- III - Os direitos e garantias expressos na Constituição
pósito dos princípios fundamentais da República Federati- Federal não excluem outros decorrentes do regime e dos
va do Brasil, reconhece-se que: princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais
(A) o pluralismo político está inserido entre seus ob- em que o Brasil seja parte.
jetivos. IV - São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra
(B) a livre iniciativa é um de seus fundamentos e se e a imagem das pessoas, assegurado o direito à indeniza-
contrapõe ao valor social do trabalho. ção pelo dano material ou moral decorrente de sua viola-
(C) a dignidade é também do nascituro, o que desau- ção.
toriza, portanto, a prática da interrupção da gravidez quan- V - É inviolável a liberdade de consciência e de crença,
do decorrente de estupro. sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e
(D) a promoção do bem de todos, sem preconceito garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e
de origem, raça, sexo, cor, idade e qualquer outra forma de suas liturgias.
discriminação, é um de seus objetivos. (A) Apenas I, II e III estão corretas.
(E) o legislativo, o executivo e o judiciário, dependen- (B) Apenas II, III e IV estão corretas.
tes e harmônicos entre si, são poderes da união. (C) Apenas III e V estão corretas.
(D) Apenas IV e V estão corretas.
8. (DPE/DF - Analista - Assistência Judiciária - (E) Todas as questões estão corretas.
FGV/2014) Sobre os Princípios Fundamentais da República
Federativa do Brasil, à luz do texto constitucional de 1988, 10. (PC/SC - Agente de Polícia - ACAFE/2014) Os
é INCORRETO afirmar que: remédios constitucionais são as formas estabelecidas pela
(A) a República Federativa do Brasil tem como funda- Constituição Federal para concretizar e proteger os direitos
mentos: a soberania, a cidadania, a dignidade da pessoa fundamentais a fim de que sejam assegurados os valores
humana, os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa essenciais e indisponíveis do ser humano.
e o pluralismo político. Assim, é correto afirmar, exceto:
(B) a República Federativa do Brasil tem como obje- (A) O habeas corpus pode ser formulado sem advo-
tivos fundamentais: construir uma sociedade livre, justa e gado, não tendo de obedecer a qualquer formalidade pro-
solidária; garantir o desenvolvimento nacional, erradicar cessual, e o próprio cidadão prejudicado pode ser o autor.
a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades (B) O habeas corpus é utilizado sempre que alguém
sociais e regionais; promover o bem de todos, sem precon- sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação
ceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso
formas de discriminação. de poder.
(C) todo o poder emana do povo, que o exerce unica- (C) O autor da ação constitucional de habeas corpus
mente por meio de representantes eleitos. recebe o nome de impetrante; o indivíduo em favor do qual
(D) entre outros, são princípios adotados pela Repú- se impetra, paciente, podendo ser o mesmo impetrante, e
blica Federativa do Brasil nas suas relações internacionais, a autoridade que pratica a ilegalidade, autoridade coatora.
os seguintes: a independência nacional, a prevalência dos (D) Caberá habeas corpus em relação a punições dis-
direitos humanos e o repúdio ao terrorismo e ao racismo. ciplinares militares.
(E) a autodeterminação dos povos, a não intervenção (E) O habeas corpus será preventivo quando alguém
e a defesa da paz são princípios regedores das relações se achar ameaçado de sofrer violência, ou repressivo,
internacionais da República Federativa do Brasil. quando for concreta a lesão.

9. (PC/SC - Agente de Polícia - ACAFE/2014) O art. 11. (PC/SC - Agente de Polícia - ACAFE/2014) Ainda
5º da Constituição Federal trata dos direitos e deveres in- em relação aos outros remédios constitucionais analise as
dividuais e coletivos, espécie do gênero direitos e garan- questões a seguir e assinale a alternativa correta.
tias fundamentais (Título II). Assim, apesar de referir-se, I - O habeas data assegura o conhecimento de infor-
de modo expresso, apenas a direitos e deveres, também mações relativas à pessoa do impetrante, constantes de
consagrou as garantias fundamentais. (LENZA, Pedro. Di- registros ou banco de dados de entidades governamentais
reito Constitucional Esquematizado, São Paulo: Saraiva, ou de caráter público.
2009,13ª. ed., p. 671). II - Será concedido habeas data para a retificação de
Com base na afirmação acima, analise as questões a dados, quando não se prefira fazê-lo por processo sigiloso,
seguir e assinale a alternativa correta. judicial ou administrativo.
I - Os direitos são bens e vantagens prescritos na nor- III - Em se tratando de registro ou banco de dados de
ma constitucional, enquanto as garantias são os instrumen- entidade governamental, o sujeito passivo na ação de ha-
tos através dos quais se assegura o exercício dos aludidos beas data será a pessoa jurídica componente da adminis-
direitos. tração direta e indireta do Estado.
II - O rol dos direitos expressos nos 78 incisos e pa- IV - O mandado de injunção serve para requerer à au-
rágrafos do art. 5º da Constituição Federal é meramente toridade competente que faça uma lei para tornar viável o
exemplificativo. exercício dos direitos e liberdades constitucionais.

211
LEGISLAÇÃO BÁSICA

V - O pressuposto lógico do mandado de injunção é a (A) a obtenção de certidões em repartições públicas.


demora legislativa que impede um direito de ser efetivado (B) a defesa do consumidor, prevista em estatuto pró-
pela falta de complementação de uma lei. prio.
(A) Todas as afirmações estão corretas. (C) o respeito à integridade física dos presos, garanti-
(B) Apenas I, II e III estão corretas. do pela lei de execução penal.
(C) Apenas II, III e IV estão corretas. (D) a remuneração do trabalho noturno superior ao
(D) Apenas II, III e V estão corretas. diurno, posto que contido na legislação ordinária trabalhis-
(E) Apenas IV e V estão corretas. ta.

12. (PC/SC - Agente de Polícia - ACAFE/2014) O de- 16. (PC/MG - Investigador de Polícia - FU-
vido processo legal estabelecido como direito do cidadão MARC/2014) A casa é asilo inviolável do indivíduo, po-
na Constituição Federal configura dupla proteção ao indi- dendo-se nela entrar, sem permissão do morador, EXCETO
víduo, pois atua no âmbito material de proteção ao direito (A) em caso de desastre.
de liberdade e no âmbito formal, ao assegurar-lhe parida- (B) em caso de flagrante delito.
de de condições com o Estado para defender-se. (C) para prestar socorro.
Com base na afirmação acima, analise as questões a (D) por determinação judicial, a qualquer hora.
seguir e assinale a alternativa correta.
I - Ninguém será processado nem sentenciado senão 17. (Prefeitura de Florianópolis/SC - Administrador
pela autoridade competente. - FGV/2014) Em tema de direitos e garantias fundamen-
II - A lei só poderá restringir a publicidade dos atos tais, o artigo 5º da Constituição da República estabelece
processuais quando a defesa da intimidade ou o interesse que é:
social o exigirem. (A) livre a manifestação do pensamento, sendo fo-
III - São admissíveis, no processo, as provas obtidas por mentado o anonimato;
meios ilícitos. (B) assegurado o direito de resposta, proporcional ao
IV - Ninguém será levado à prisão ou nela mantido, agravo, que substitui o direito à indenização por dano ma-
quando a lei admitir a liberdade provisória, com ou sem terial, moral ou à imagem;
fiança. (C) assegurado a todos o acesso à informação e res-
V - Não haverá prisão civil por dívida, nem mesmo a do guardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício
depositário infiel. profissional;
(A) Apenas I, II e IV estão corretas. (D) livre a expressão da atividade intelectual, artística,
(B) Apenas I, III e V estão corretas. científica e de comunicação, ressalvados os casos de cen-
(C) Apenas III e IV estão corretas. sura ou licença;
(D) Apenas IV e V estão corretas. (E) direito de todos receber dos órgãos públicos in-
(E) Todas as questões estão corretas. formações de seu interesse particular, sendo vedada a
alegação de sigilo por imprescindibilidade à segurança da
13. (PC/MG - Investigador de Polícia - FU- sociedade e do Estado.
MARC/2014) Sobre a Lei Penal, é CORRETO afirmar que
(A) não retroage, salvo para beneficiar o réu. 18. (TJ-RJ - Técnico de Atividade Judiciária -
(B) não retroage, salvo se o fato criminoso ainda não FGV/2014) A partir da Emenda Constitucional nº 45/2004,
for conhecido. os tratados e convenções internacionais sobre direitos hu-
(C) retroage, salvo disposição expressa em contrário. manos:
(D) retroage, se ainda não houver processo penal ins- (A) sempre terão a natureza jurídica de lei, exigindo a
taurado. sua aprovação, pelo Congresso Nacional e a promulgação,
na ordem interna, pelo Chefe do Poder Executivo;
14. (PC/MG - Investigador de Polícia - FU- (B) sempre terão a natureza jurídica de emenda cons-
MARC/2014) Sobre as garantias fundamentais estabeleci- titucional, exigindo, apenas, que a sua aprovação, pelo
das na Constituição Federal, é CORRETO afirmar que Congresso Nacional, se dê em dois turnos de votação, com
(A) a Lei Penal é sempre irretroativa. o voto favorável de dois terços dos respectivos membros;
(B) a prática do racismo constitui crime inafiançável e (C) podem ter a natureza jurídica de emenda constitu-
imprescritível. cional, desde que a sua aprovação, pelo Congresso Nacio-
(C) não haverá pena de morte em nenhuma circuns- nal, se dê em dois turnos de votação, com o voto favorável
tância. de três quintos dos respectivos membros;
(D) os templos religiosos, entendidos como casas de (D) podem ter a natureza jurídica de lei complemen-
Deus, possuem garantia de inviolabilidade domiciliar. tar, desde que o Congresso Nacional venha a aprová-los
com observância do processo legislativo ordinário;
15. (PC/MG - Investigador de Polícia - FU- (E) sempre terão a natureza jurídica de atos de direito
MARC/2014) NÃO figura entre as garantias expressas no internacional, não se integrando, em qualquer hipótese, à
artigo 5º da Constituição Federal: ordem jurídica interna.

212
LEGISLAÇÃO BÁSICA

19. (OAB - Exame de Ordem Unificado - FGV/2014) (B) gira em torno da legitimidade constitucional do
Pedro promoveu ação em face da União Federal e seu controle e da intervenção do poder judiciário em tema de
pedido foi julgado procedente, com efeitos patrimoniais implementação de políticas públicas, quando caracterizada
vencidos e vincendos, não havendo mais recurso a ser in- hipótese de omissão governamental.
terposto. Posteriormente, o Congresso Nacional aprovou (C) considera que as políticas públicas são reservadas
lei, que foi sancionada, extinguindo o direito reconhecido discricionariamente à análise e intervenção do poder judi-
a Pedro. Após a publicação da referida lei, a Administração ciário, que as limitará ou ampliará, de acordo com o caso
Pública federal notificou Pedro para devolver os valores re- concreto.
cebidos, comunicando que não mais ocorreriam os paga- (D) é sinônima, em significado e extensão, à teoria do
mentos futuros, em decorrência da norma em foco. mínimo existencial, examinado à luz da violação dos direi-
Nos termos da Constituição Federal, assinale a opção tos fundamentais sociais, culturais e econômicos, como o
correta direito à saúde e à educação básica.
(A) A lei não pode retroagir, porque a situação versa (E) defende a integridade e a intangibilidade dos di-
sobre direitos indisponíveis de Pedro reitos fundamentais, independentemente das possibilida-
(B) A lei não pode retroagir para prejudicar a coisa des financeiras e orçamentárias do estado.
julgada formada em favor de Pedro.
(C) A lei pode retroagir, pois não há direito adquirido 22. (Prefeitura de Recife/PE - Procurador -
de Pedro diante de nova legislação. FCC/2014) A Emenda Constitucional nº 72, promulgada
(D) A lei pode retroagir, porque não há ato jurídico em 2 de abril de 2013, tem por finalidade estabelecer a
perfeito em favor de Pedro diante de pagamentos penden- igualdade de direitos entre os trabalhadores domésticos e
tes. os demais trabalhadores urbanos e rurais. Nos termos de
suas disposições, a Emenda
20. (SP-URBANISMO - Analista Administrativo - Ju- (A) determinou a extensão ao trabalhador doméstico,
rídico - VUNESP/2014) João apresenta requerimento jun- dentre outros, dos direitos à remuneração do serviço ex-
traordinário superior, no mínimo, em cinquenta por cento a
to à Prefeitura do Município de São Paulo, pleiteando que
do normal e à proteção do mercado de trabalho da mulher,
lhe seja informado o número de licitações, na modalidade
mediante incentivos específicos.
pregão, realizadas pela São Paulo Urbanismo desde 2010.
(A) instituiu vedação ao legislador para conferir tra-
O pleito de João
tamento diferenciado aos trabalhadores domésticos, em
(A) não encontra previsão expressa como direito fun-
relação aos trabalhadores urbanos e rurais.
damental na Constituição Federal, mas, todavia, deverá ser
(B) não determinou a extensão ao trabalhador do-
acolhido em virtude do texto constitucional prever que a
méstico, dentre outros, dos direitos à proteção em face da
lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou
automação e à proteção do mercado de trabalho da mu-
ameaça a direito lher, mediante incentivos específicos.
(B) é constitucionalmente previsto, pois é a todos as- (C) determinou a extensão ao trabalhador doméstico,
segurado, mediante o pagamento de taxa, o direito de pe- dentre outros, dos direitos à proteção em face da automa-
tição aos Poderes Públicos em defesa de direitos ou contra ção e ao piso salarial proporcional à extensão e à comple-
ilegalidade ou abuso de poder xidade do trabalho.
(C) não encontra amparo constitucional, uma vez (D) não determinou a extensão ao trabalhador do-
que a obtenção de certidões em repartições públicas será méstico, dentre outros, dos direitos à remuneração do ser-
atendida apenas se o objeto do pedido for para defesa de viço extraordinário superior, no mínimo, em cinquenta por
direitos ou para esclarecimento de situações de interesse cento a do normal e ao piso salarial proporcional à exten-
pessoal. são e à complexidade do trabalho.
(D) encontra amparo constitucional, pois todos têm
direito a receber dos órgãos públicos informações de seu 23. (MDIC - Agente Administrativo - CESPE/2014)
interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que Com referência à CF, aos direitos e garantias fundamen-
serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabili- tais, à organização político-administrativa, à administração
dade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à pública e ao Poder Judiciário, julgue os itens subsecutivos.
segurança da sociedade e do Estado. A CF prevê o direito de greve na iniciativa privada e
(E) é constitucionalmente previsto, devendo ser res- determina que cabe à lei definir os serviços ou atividades
pondido em 48 (quarenta e oito) horas, pois a todos, no essenciais e dispor sobre o atendimento das necessidades
âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoá- inadiáveis da comunidade.
vel duração do processo e os meios que garantam a celeri- Certo ( )
dade de sua tramitação. Errado ( )

21. (TCE/PI - Assessor Jurídico - FCC/2014) A teoria 24. (TJ/MT - Juiz de Direito - FMP/2014) Assinale a
da reserva do possível alternativa correta.
(A) significa a inoponibilidade do arbítrio estatal à (A) O rol de direitos sociais nos incisos do art. 7º e
efetivação dos direitos sociais, econômicos e culturais. seguintes é exaustivo.

213
LEGISLAÇÃO BÁSICA

(B) É vedada a redução proporcional do salário do tra- (C) Marcos, brasileiro, 35 anos e analfabeto, poderá
balhador sob qualquer hipótese. candidatar-se ao cargo de prefeito.
(C) É assegurado ao trabalhador o gozo de férias (D) Luís, capitão do exército com 5 anos de serviço,
anuais remuneradas com, no mínimo, um terço a mais do mas que não pretende e nem irá afastar-se das atividades
que o salário normal. militares, poderá candidatar-se ao cargo de prefeito.
(D) A licença à gestante, sem prejuízo do emprego e
do salário, não está constitucionalmente prevista, mas é 29. (TJ/MT - Juiz - FMP-RS/2014) Assinale a alterna-
determinada pela CLT. tiva correta a respeito dos partidos políticos.
(E) O direito à licença paternidade, sem prejuízo do (A) É vedado a eles o recebimento de recursos finan-
emprego e do salário, não está constitucionalmente previs- ceiros por parte de empresas transnacionais.
to, mas é determinado pela CLT. (B) É assegurado a eles o acesso gratuito à propagan-
da no rádio e na televisão, exceto aqueles que não pos-
25. (TRT/16ª REGIÃO/MA - Analista Judiciário - suam representação no Congresso Nacional.
FCC/2014) Pietro, nascido na Itália, naturalizou-se brasilei- (C) Os partidos devem, obrigatoriamente, ter caráter
ro no ano de 2012. No ano de 2011, Pietro acabou come- nacional.
tendo um crime de roubo, cuja autoria foi apurada apenas (D) Os partidos devem, após cada campanha, apre-
no ano de 2013, sendo instaurada a competente ação pe- sentar ao Congresso Nacional a sua prestação de contas
nal, culminando com a condenação de Pietro, pela Justiça para aprovação.
Pública, ao cumprimento da pena de 05 anos e 04 meses (E) Em razão de sua importante função institucional,
de reclusão, em regime inicial fechado, por sentença tran- os partidos políticos possuem natureza jurídica de direito
sitada em julgado. Neste caso, nos termos estabelecidos público.
pela Constituição federal, Pietro
(A) não poderá ser extraditado, tendo em vista a quan- 30. (TJ/SE - Técnico Judiciário - Área Judiciária -
tidade de pena que lhe foi imposta pelo Poder Judiciário. CESPE/2014) Julgue os itens seguintes, em relação à or-
ganização político-administrativa da República Federativa
(B) não poderá ser extraditado, pois o crime foi come-
do Brasil.
tido antes da sua naturalização.
O poder constituinte dos estados, dada a sua condição
(C) poderá ser extraditado.
de ente federativo autônomo, é soberano e ilimitado.
(D) não poderá ser extraditado, pois não cometeu cri-
Certo ( )
me hediondo ou de tráfico ilícito de entorpecentes e dro-
Errado ( )
gas afim.
(E) não poderá ser extraditado, pois a sentença con-
31. (TJ/SE - Técnico Judiciário - Área Judiciária -
denatória transitou em julgado após a naturalização.
CESPE/2014) Julgue os itens seguintes, em relação à or-
ganização político-administrativa da República Federativa
26. (PC/SP - Delegado de Polícia - VUNESP/2014) É do Brasil.
privativo de brasileiro nato o cargo de A despeito de serem entes federativos, os territórios
(A) Ministro do Supremo Tribunal Federal. federais carecem de autonomia.
(B) Senador. Certo ( )
(C) Juiz de Direito. Errado ( )
(D) Delegado de Polícia.
(E) Deputado Federal. 32. (TRT/23ª REGIÃO (MT) - Juiz Substituto - TRT
23ªR/2014) Sobre a administração pública, assinale a al-
27. (PC/TO - Delegado de Polícia - Aroeira/2014) ternativa INCORRETA:
No caso de condenação criminal transitada em julgado, (A) A administração pública direta e indireta de qual-
enquanto durarem seus efeitos, o condenado terá seus di- quer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal
reitos políticos: e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade,
(A) mantidos. moralidade, publicidade, eficiência e impessoalidade.
(B) cassados. (B) É garantido ao servidor público civil o direito à li-
(C) perdidos. vre associação sindical.
(D) suspensos. (C) A administração fazendária e seus servidores fis-
cais terão, dentro de suas áreas de competência e jurisdi-
28. (OAB XIII - Primeira Fase - FGV/2014) No que ção, precedência sobre os demais setores administrativos,
concerne às condições de elegibilidade para o cargo de na forma da lei.
prefeito previstas na CRFB/88, assinale a opção correta. (D) A proibição de acumulação remunerada de cargos
(A) José, ex-prefeito, que renunciou ao cargo 120 dias públicos se estende a emprego e funções, não abrangen-
antes da eleição poderá candidatar-se à reeleição ao cargo do, pois, sociedades de economia mista.
de prefeito. (E) As funções de confiança, exercidas exclusivamente
(B) João, brasileiro, solteiro, 22 anos, poderá candida- por servidores ocupantes de cargo efetivo, e os cargos em
tar-se, pela primeira vez, ao cargo de prefeito. comissão, a serem preenchidos por servidores de carreira

214
LEGISLAÇÃO BÁSICA

nos casos, condições e percentuais mínimos previstos em não, incluídas as vantagens pessoais ou de qualquer outra
lei, destinam-se, apenas, às atribuições de direção, chefia e natureza, não poderão exceder o subsídio mensal, em es-
assessoramento. pécie, dos Ministros do Supremo Tribunal Federal.
III. É vedada a vinculação ou equiparação de quaisquer
33. (PC/SC - Agente de Polícia - ACAFE/2014) “A ad- espécies remuneratórias para o efeito de remuneração de
ministração pública pode ser definida objetivamente como pessoal do serviço público.
a atividade concreta e imediata que o Estado desenvolve Está(ão) correta(s) a(s) afirmativa(s):
para a consecução dos interesses coletivos e subjetivamen- (A) I, II e III.
te como o conjunto de órgãos e de pessoas jurídicas aos (B) I, apenas.
quais a lei atribui o exercício da função administrativa do (C) I e II, apenas.
Estado”. (MORAES, Alexandre de, Direito Constitucional. (D) I e III, apenas.
São Paulo: Atlas, 2007, 22. ed., p. 310) (E) II e III, apenas.
Com base no que determina a Constituição Federal a
36. (TJ/RJ - Juiz Substituto - VUNESP/2014) Assinale
respeito da administração pública é correto afirmar, exceto:
a alternativa que está de acordo com o disposto na Cons-
(A) A investidura em cargo ou emprego público de-
tituição Federal.
pende de aprovação prévia em concurso público de pro-
(A) Os Municípios atuarão prioritariamente no ensino
vas e títulos, de acordo com a natureza e complexidade do fundamental e na educação infantil, enquanto os Estados e
cargo, ressalvadas as nomeações para cargo em comissão. o Distrito Federal atuarão exclusivamente nos ensinos fun-
(B) A Administração pública direta e indireta obede- damental e médio.
cerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, morali- (B) As pessoas físicas que praticarem condutas e ati-
dade, publicidade e eficiência. vidades consideradas lesivas ao meio ambiente ficarão su-
(C) O prazo de validade do concurso público será de jeitas às respectivas sanções penais e administrativas, e as
até dois anos, prorrogável uma vez, por igual período. pessoas jurídicas serão obrigadas, exclusivamente, a repa-
(D) A Constituição Federal não veda a acumulação re- rar os danos causados ao meio ambiente.
munerada de cargos públicos. (C) As terras tradicionalmente ocupadas pelos índios
(E) A lei estabelecerá os prazos de prescrição para destinam-se à sua posse permanente, cabendo-lhes o usu-
ilícitos praticados por qualquer agente, servidor ou não, fruto exclusivo das riquezas do solo, dos rios e dos lagos
que causem prejuízos ao erário, ressalvadas as respectivas nelas existentes.
ações de ressarcimento. (D) É vedado às universidades e às instituições de pes-
quisa científica e tecnológica admitir professores, técnicos
34. (AGU - Administrador - IDECAN/2014) Com e cientistas estrangeiros.
relação à competência privativa da União para legislar, é
INCORRETO afirmar que compete privativamente à União 37. (SEAP/DF - Analista Direito - IADES/2014) Acer-
legislar sobre ca da organização do Estado, em consonância com a Cons-
(A) registros públicos. tituição Federal, assinale a alternativa correta.
(B) comércio exterior e interestadual. (A) É competência comum da União, dos estados, do
(C) organização do sistema nacional de emprego e Distrito Federal e dos municípios proporcionar os meios de
condições para o exercício de profissões. acesso à cultura, à educação e à ciência.
(D) direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, (B) É competência exclusiva da União proteger os do-
agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho. cumentos, as obras e outros bens de valor histórico, artísti-
co e cultural, os monumentos, as paisagens naturais notá-
(E) florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natu-
veis e os sítios arqueológicos.
reza, defesa do solo e dos recursos naturais, proteção do
(C) É competência exclusiva dos estados impedir a
meio ambiente e controle da poluição.
evasão, a destruição e a descaracterização de obras de arte
e de outros bens de valor histórico, artístico ou cultural.
35. (AGU - Administrador - IDECAN/2014) Conside- (D) Compete, exclusivamente, à União legislar sobre a
rando as regras constitucionais sobre a administração pú- proteção ao patrimônio histórico, cultural, artístico, turísti-
blica, analise as afirmativas. co e paisagístico.
I. Os vencimentos dos cargos do Poder Legislativo e (E) Compete, exclusivamente, aos estados legislar so-
do Poder Judiciário não poderão ser superiores aos pagos bre educação, cultura, ensino e desporto.
pelo Poder Executivo.
II. A remuneração e o subsídio dos ocupantes de car- 38. (TRT/18ª REGIÃO/GO - Juiz do Trabalho -
gos, funções e empregos públicos da administração direta, FCC/2014) O exercício do direito de greve pelos servidores
autárquica e fundacional, dos membros de qualquer dos públicos civis da Administração direta
Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos (A) deve ser considerado inconstitucional, até que
Municípios, dos detentores de mandato eletivo e dos de- seja editada a lei definidora dos termos e limites em que
mais agentes políticos e os proventos, pensões ou outra possa ser exercido, a fim de preservar a continuidade da
espécie remuneratória, percebidos cumulativamente ou prestação dos serviços públicos.

215
LEGISLAÇÃO BÁSICA

(B) deve ser considerado abusivo se exercido por ser- (A) a prisão provisória, sem direito à fiança.
vidores públicos em estágio probatório. (B) a indisponibilidade dos bens.
(C) é constitucional, visto que previsto em norma da (C) a impossibilidade de deixar o país.
constituição federal com aplicabilidade imediata, não ne- (D) a suspensão dos direitos civis.
cessitando de regulamentação, nem de integração norma- (E) o pagamento de multa ao fundo de proteção so-
tiva, para que o direito nela previsto possa ser exercido. cial.
(D) é constitucional, devendo, no entanto, observar a
regulamentação legislativa da greve dos trabalhadores em 42. (OAB XIII - Primeira Fase - FGV/2014) José é ci-
geral, que se aplica, naquilo que couber, aos servidores pú- dadão do município W, onde está localizado o distrito de B.
blicos enquanto não for promulgada lei específica para o Após consultas informais, José verifica o desejo da popula-
exercício desse direito. ção distrital de obter a emancipação do distrito em relação
(E) é constitucional e poderá ensejar convenção cole- ao município de origem.
tiva em que seja prevista a majoração dos vencimentos dos De acordo com as normas constitucionais federais,
servidores públicos. dentre outros requisitos para legitimar a criação de um
novo Município, são indispensáveis:
39. (TRT/18ª REGIÃO/GO - Juiz do Trabalho - (A) lei estadual e referendo.
FCC/2014) Certo Município editou lei municipal que dis- (B) lei municipal e plebiscito.
ciplinou o horário de funcionamento de farmácias e dro- (C) lei municipal e referendo.
garias. O sindicato dos empregados do comércio da região (D) lei estadual e plebiscito.
pretende impugnar judicialmente a referida norma, sob o
argumento de que o Município não teria competência para 43. (MPE/MG - Promotor de Justiça - MPE/2014)
legislar sobre a matéria, mesmo na ausência de lei fede- Assinale a afirmativa INCORRETA:
ral e estadual sobre o tema. Considerando a Constituição (A) O federalismo por agregação surge quando Esta-
Federal e a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, a dos soberanos cedem uma parcela de sua soberania para
pretensão do sindicato formar um ente único.
(A) não encontra fundamento constitucional, uma vez (B) O federalismo dualista caracteriza-se pela sujeição
que cabe aos Municípios fixar o horário de funcionamen- dos Estados federados à União.
to desses estabelecimentos, inserindo-se a matéria na sua (C) O federalismo centrípeto se caracteriza pelo forta-
competência para legislar sobre assuntos de interesse local. lecimento do poder central decorrente da predominância
(B) não encontra fundamento constitucional, uma vez de atribuições conferidas à União.
que, apesar da matéria se inserir na competência residual (D) No federalismo atípico, constata-se a existência de
dos Estados, cabe aos Municípios suprir a ausência de lei três esferas de competências: União, Estados e Municípios.
estadual para atender as suas peculiaridades locais.
(C) encontra fundamento constitucional, uma vez que 44. (UNICAMP - Procurador - VUNESP/2014) Consi-
a ausência de norma federal disciplinando a matéria não derando o disposto na Constituição Federal sobre o Poder
poderia ser suprida por lei estadual, nem por lei municipal. Judiciário, assinale a alternativa correta.
(D) encontra fundamento constitucional, uma vez (A) As decisões administrativas dos tribunais serão
que, inexistindo lei federal a respeito, apenas os Estados motivadas e em sessão pública, sendo as disciplinares to-
poderiam legislar sobre a matéria para atender as suas pe- madas pelo voto da maioria absoluta de seus membros, em
culiaridades. sessão secreta.
(E) encontra fundamento constitucional, uma vez que (B) Os servidores dos cartórios judiciais receberão de-
a matéria insere-se na competência residual dos Estados legação para a prática de atos de administração e atos de
para legislar sobre as competências que não lhes sejam ve- mero expediente, limitados às decisões de caráter interlo-
dadas pela Constituição. cutório.
(C) Um quinto dos lugares dos Tribunais dos Estados
40. (PC/SP - Delegado de Polícia - VUNESP/2014) será composto de advogados de notório saber jurídico e
Compete privativamente à União legislar sobre de reputação ilibada, com mais de dez anos de efetiva ati-
(A) produção e consumo. vidade profissional, indicados em lista tríplice pelos órgãos
(B) assistência jurídica e defensoria pública. de representação das respectivas classes.
(C) trânsito e transporte. (D) Aos juízes é vedado exercer a advocacia no juízo
(D) direito tributário, financeiro, penitenciário, econô- ou tribunal do qual se afastou, antes de decorridos cinco
mico e urbanístico. anos do afastamento do cargo por aposentadoria ou exo-
(E) educação, cultura, ensino e desporto. neração.
(E) O juiz goza da garantia da inamovibilidade, mas,
41. (PC/SP - Delegado de Polícia - VUNESP/2014) havendo interesse público, poderá ser removido, por deci-
Os atos de improbidade administrativa importarão, nos são da maioria absoluta do respectivo tribunal ou do Con-
termos da Constituição Federal, dentre outros, selho Nacional de Justiça, assegurada ampla defesa.

216
LEGISLAÇÃO BÁSICA

45. (TRT/23ª REGIÃO (MT) - Juiz Substituto - TRT (D) o número de juízes na unidade jurisdicional será
23ªR/2014) Assinale a alternativa CORRETA: proporcional à efetiva demanda judicial com à Respectiva
(A) Compete ao Supremo Tribunal Federal processar população.
e julgar, originariamente, o litígio entre Estado estrangeiro (E) a inamovibilidade e a irredutibilidade salarial são
ou organismo internacional e a União, Estados, Distrito Fe- garantias da magistratura, mas não são absolutas, posto
deral ou Município. que comportem exceções, ditadas em lei.
(B) Compete ao Supremo Tribunal Federal julgar, em
recurso extraordinário, o habeas corpus, habeas data, man- 48. (AGU - Administrador - IDECAN/2014) Conside-
dado de segurança e mandado de injunção decididos, em rando as regras constitucionais sobre as funções essenciais
instância única, pelos Tribunais Superiores, se denegatória da justiça, analise.
a decisão. I. Constituem garantias do Ministério Público: vitali-
(C) Compete ao Superior Tribunal de Justiça julgar, em ciedade, após 2 anos de exercício, não podendo perder o
grau de recurso especial, os conflitos de competência entre cargo senão por sentença judicial transitada em julgado,
quaisquer tribunais, ressalvado o disposto no artigo 102, I, e inamovibilidade, salvo por motivo de interesse públi-
“o”, bem como entre tribunal e juízes a ele não vinculados, co, mediante decisão do órgão colegiado competente do
e entre juízes vinculados a tribunais diversos. Ministério Público, pelo voto da maioria absoluta de seus
(D) Compete ao Superior Tribunal de Justiça processar membros, assegurada ampla defesa. Constituem vedações
e julgar, originariamente, os conflitos de atribuições entre do Ministério Público: participar de sociedade comercial,
autoridades administrativas e judiciárias da União, ou entre na forma da lei, exercer atividade político-partidária e exer-
autoridades Judiciárias de um Estado e administrativas de cer, ainda que em disponibilidade, qualquer outra função
outro ou do Distrito Federal, ou entre as destes e da União. pública, sem exceções.
(E) Compete ao Supremo Tribunal Federal julgar, em II. A Advocacia-Geral da União é a instituição que, di-
recurso ordinário, os conflitos de competência entre o Su- retamente ou por meio de órgão vinculado, representa a
perior Tribunal de Justiça e quaisquer tribunais. União, judicial e extrajudicialmente, cabendo-lhe, nos ter-
mos da lei complementar que dispuser sobre sua organiza-
46. (TRT/23ª REGIÃO (MT) - Juiz Substituto - TRT ção e funcionamento, as atividades de consultoria e asses-
23ªR/2014) Sobre o Estatuto da Magistratura, NÃO É COR- soramento jurídico do Poder Executivo e a representação
RETO afirmar: da União na execução da dívida ativa de natureza tributária.
(A) A aferição do merecimento, para fins de promo- III. Os Procuradores dos Estados e do Distrito Federal,
ção, ocorrerá conforme o desempenho e pelos critérios ob- organizados em carreira, na qual o ingresso dependerá de
jetivos de produtividade e presteza no exercício da jurisdi- concurso público de provas e títulos, com a participação
ção e pela frequência e aproveitamento em cursos oficiais facultativa da Ordem dos Advogados do Brasil, exercerão a
ou reconhecidos de aperfeiçoamento. representação judicial e a consultoria jurídica das respecti-
(B) Não será promovido o juiz que, injustificadamen- vas unidades federadas.
te, retiver os autos em seu poder além do prazo legal, não Está(ão) INCORRETA(S) a(s) afirmativa(s):
podendo devolvê-los ao cartório sem o devido despacho (A) I, II e III.
ou decisão. (B) II, apenas.
(C) Na apuração da antiguidade, o Tribunal somente (C) I e II, apenas.
poderá recusar o juiz mais antigo pelo voto fundamentado (D) I e III, apenas.
de dois terços dos membros presentes à sessão, conforme (E) II e III, apenas.
procedimento próprio, e assegurada ampla defesa, repe-
tindo-se a votação até fixar-se a indicação. 49. (AGU - Administrador - IDECAN/2014) “Joaqui-
(D) O juiz titular residirá na respectiva comarca, salvo na impetra mandado de segurança no Tribunal de Justiça
autorização do Tribunal. do local em que reside por ter direito líquido e certo que
(E) A distribuição de processos será imediata em to- foi violado por abuso de autoridade da autoridade coatora
dos os graus de jurisdição. envolvida na situação. Considere que, nessa hipótese, a au-
toridade coatora era o Governador do Estado, que possuía
47. (TRT/23ª REGIÃO (MT) - Juiz Substituto - TRT foro por prerrogativa de função e que, por essa razão, a
23ªR/2014) Sob a égide da Constituição Federal, assinale competência para julgamento do writ era mesmo do Tri-
a alternativa INCORRETA: bunal de Justiça local. Considere, ainda, que a impetração
(A) é vedada a edição de medida provisória sobre ma- ocorreu tempestivamente, e que todos os requisitos de ad-
téria já disciplinada em projeto de lei aprovado pelo con- missibilidade foram observados. Entretanto, mesmo com a
gresso nacional e pendente de sanção ou veto presidencial. observância de todos os requisitos formais, meritoriamen-
(B) as decisões administrativas dos tribunais serão te, foi denegatória a decisão do mandado de segurança
motivadas e em sessão pública. impetrado por Joaquina.”
(C) as decisões administrativas de natureza disciplinar Tendo em vista todos os aspectos apresentados no
serão tomadas pelo voto de dois terços dos membros do caso anterior, assinale a opção que indica, acertadamente,
tribunal. o recurso a ser interposto por Joaquina.

217
LEGISLAÇÃO BÁSICA

(A) Recurso especial para o STJ. 53. (DPE/DF - Analista - Assistência Judiciária -
(B) Recurso ordinário para o STJ. FGV/2014) A Emenda Constitucional nº 45, de 2004, adi-
(C) Embargos infringentes para o STJ. cionou o art. 103-B na Constituição da República, crian-
(D) Agravo de instrumento para o STJ. do o Conselho Nacional de Justiça, órgão composto por
(E) Recurso extraordinário para o STF. membros do Judiciário, do Ministério Público, advogados
e cidadãos, com o intuito mor de supervisionar a atuação
50. (TJ/RJ - Juiz Substituto - VUNESP/2014) De administrativa e financeira do Poder Judiciário e o cumpri-
acordo com o texto constitucional, lei complementar, de mento dos deveres funcionais dos juízes, além de outras
iniciativa do Supremo Tribunal Federal, disporá sobre o atribuições constantes no Estatuto da Magistratura e ou-
Estatuto da Magistratura, observados, entre outros, os se- tras que a própria Constituição lhe atribui. Com base no
guintes princípios: disposto na Constituição da República, constitui uma atri-
(A) o ato de remoção, disponibilidade, demissão e buição do Conselho Nacional de Justiça:
aposentadoria do magistrado, por interesse público, fun- (A) determinar a aposentadoria de juiz federal com
dar-se-á em decisão por voto da maioria absoluta do res- subsídios ou proventos proporcionais ao tempo de serviço,
pectivo tribunal ou do Conselho Nacional de Justiça, asse- assegurada a ampla defesa.
gurada ampla defesa. (B) encaminhar projeto de lei orçamentária referente
(B) um quinto dos lugares dos Tribunais Regionais Fe- a tribunal de justiça que não o tenha feito no prazo devido.
derais, dos Tribunais dos Estados, e do Distrito Federal e (C) expedir atos regulamentares, no âmbito de sua
Territórios será composto de membros, do Ministério Pú- competência, que só terão eficácia depois de sancionados
blico, com mais de dez anos de carreira, e de advogados pelo presidente da república.
de notório saber jurídico e de reputação ilibada, com mais (D) rever unicamente, mediante provocação, os pro-
de dez anos de efetiva atividade profissional, indicados em cessos disciplinares de juízes e membros de tribunais jul-
lista sêxtupla pelos órgãos de representação das respecti- gados há menos de um ano.
vas classes. (E) declarar, observando a reserva de plenário, a in-
(C) todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judi- constitucionalidade das leis que envolvam conflitos de
ciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, massa.
sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em
determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, 54. (TJ/MT - Juiz - FMP-RS/2014) A respeito do Con-
selho Nacional de Justiça, assinale a alternativa correta.
ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do
(A) Possui como função a fiscalização do Poder Judi-
direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudi-
ciário e, eminentemente, função jurisdicional.
que o interesse da Administração Pública.
(B) Tem competência para julgar magistrados por cri-
(D) nos tribunais com número superior a vinte e cinco
me de autoridade
julgadores, poderá ser constituído órgão especial, com o
(C) Tem como função apreciar a legalidade dos atos
mínimo de onze e o máximo de vinte e cinco membros,
administrativos praticados por membros do Poder Judiciá-
para o exercício das atribuições administrativas e jurisdicio-
rio.
nais delegadas da competência do tribunal pleno, proven-
(D) Não possui competência para rever processos
do-se metade das vagas por antiguidade, e a outra metade disciplinares de juízes e membros de tribunais julgados há
por merecimento. menos de um ano.
(E) O CNJ pode suspender e fiscalizar decisão conces-
51. (PC/TO - Delegado de Polícia - Aroeira/2014) siva de mandado de segurança.
M. T. foi condenado, em primeira instância, pela prática de
crime político. Contra a referida sentença condenatória é 55. (TRT 3ª Região/MG - Juiz do Trabalho - TRT
cabível: 3R/2014) Sobre as funções institucionais do Ministério Pú-
(A) recurso em sentido estrito para o Tribunal de Jus- blico é incorreto afirmar:
tiça. (A) Defender judicialmente os direitos e interesses
(B) apelação para o Tribunal Regional Federal. das populações indígenas, inclusive através de Promotor
(C) recurso ordinário para o Supremo Tribunal Federal. de Justiça ad hoc.
(D) recurso inominado para o Superior Tribunal de (B) Promover, privativamente, a ação penal pública,
Justiça. na forma da lei.
(C) Promover o inquérito civil e a ação civil pública,
52. (PC/TO - Delegado de Polícia - Aroeira/2014) para a proteção do patrimônio público e social, do meio
O processo e julgamento da execução de carta rogatória, ambiente e de outros interesses difusos e coletivos.
após o exequatur, e de sentença estrangeira, após a homo- (D) Expedir notificações nos procedimentos adminis-
logação, é de competência: trativos de sua competência, requisitando informações e
(A) dos Tribunais Regionais Federais. documentos para instruí-los, na forma da lei complementar
(B) dos juízes federais. respectiva.
(C) do Supremo Tribunal Federal. (E) Exercer o controle externo da atividade policial, na
(D) do Superior Tribunal de Justiça. forma da lei complementar.

218
LEGISLAÇÃO BÁSICA

56. (MDIC - Agente Administrativo - CESPE/2014) (B) As denominadas normas constitucionais de eficá-
No que se refere aos Poderes Legislativo, Executivo e Judi- cia plena não necessitam de providência ulterior para sua
ciário, bem como às funções essenciais à justiça, julgue os aplicação, a exemplo do disposto no art. 37, I, da CF, que
seguintes itens. prevê o acesso a cargos, empregos e funções públicas a
A CF garante autonomia funcional e administrativa à brasileiros e estrangeiros.
defensoria pública estadual e ao Ministério Público. (C) O dispositivo constitucional que assegura a gra-
Certo ( ) tuidade nos transportes coletivos urbanos aos maiores de
Errado ( ) sessenta e cinco anos não configura norma de eficácia ple-
na e aplicabilidade imediata, pois demanda uma lei inte-
57. (TJ/SE - Titular de Serviços de Notas e de Regis- grativa infraconstitucional para produzir efeitos.
tro - CESPE/2014) No que se refere às funções essenciais à (D) A norma constitucional de eficácia contida é aque-
justiça, assinale a opção correta de acordo com a CF. la que, embora tenha aplicabilidade direta e imediata, pode
(A) De acordo com a CF, a representação judicial dos ter sua abrangência reduzida pela norma infraconstitucio-
nal, como ocorre com o artigo da CF que confere aos es-
Estados, do Distrito Federal e dos municípios cabe exclu-
tados a competência para a instituição de regiões metro-
sivamente aos procuradores organizados em carreira, de-
politanas.
pendendo o ingresso nessa carreira de aprovação em con-
(E) Conforme o método jurídico ou hermenêutico
curso público de provas e títulos.
clássico, a Constituição deve ser considerada como uma lei
(B) As defensorias públicas dos Estados, do Distrito e, em decorrência, todos os métodos tradicionais de her-
Federal e da União possuem autonomia funcional e admi- menêutica devem ser utilizados na atividade interpretativa,
nistrativa, sendo-lhes assegurada a iniciativa de suas pro- mediante a utilização de vários elementos de exegese, tais
postas orçamentárias na forma estabelecida na CF. como o filológico, o histórico, o lógico e o teleológico.
(C) Cabe ao Ministério Público Federal representar a
União na execução de sua dívida ativa de natureza tribu- 60. (TCE/PI - Assessor Jurídico - FCC/2014) No to-
tária. cante à eficácia e à aplicabilidade das normas constitucio-
(D) A CF estabelece um rol exemplificativo de funções nais, as
institucionais do MP, como, por exemplo, a função de pro- (A) definidoras dos direitos e garantias fundamentais
mover, privativamente, as ações civil e penal públicas, na são programáticas, dependendo sempre de regulamenta-
forma da lei. ção infraconstitucional.
(E) À imunidade profissional do advogado não se po- (B) de eficácia contida ou prospectiva têm aplicabili-
dem aplicar restrições de qualquer natureza. dade indireta e imediata, não integral, produzindo efeitos
restritos e limitados infraconstitucionalmente quando de
58. (PGE/PI - Procurador do Estado Substituto - sua promulgação.
CESPE/2014) Acerca da interpretação das normas consti- (C) de eficácia limitada são de aplicabilidade mediata
tucionais, assinale a opção correta. e diferida, mas sem vinculação com as normas infracons-
(A) Em razão do caráter aberto e indeterminado de titucionais subsequentes, ou seja, sem relevância jurídica
muitas de suas normas, a CF admite o fenômeno da cons- interpretativa e integrativa.
trução jurídica, sem que isso configure necessariamente (D) de eficácia plena e aplicabilidade direta, imediata
usurpação de poder constituinte. e integral são aquelas normas que, no momento em que a
(B) Lacunas constitucionais devem ser preenchidas constituição entra em vigor, já estão aptas a produzir todos
por meio dos processos formais de mudança constitucio- os seus efeitos, independentemente de norma integrativa
infraconstitucional.
nal, não se admitindo a via interpretativa como mecanismo
(E) declaratórias de princípios programáticos veicu-
de solução dessas deficiências.
lam programas a serem implementados pelos cidadãos,
(C) A existência de métodos específicos de interpre-
sem interferência estatal, visando à realização de fins so-
tação constitucional exclui a incidência dos métodos tra-
ciais e culturais.
dicionais.
(D) A normatividade constitucional não é compatível 61. (TJ/RJ - Juiz Substituto - VUNESP/2014) A pro-
com as chamadas normas implícitas. pósito da ação direta de inconstitucionalidade, é correto
(E) Interpretação extensiva e analogia são procedi- afirmar que
mentos estranhos ao direito constitucional. (A) precisam demonstrar pertinência temática para a
propositura da ação os seguintes legitimados: governador
59. (TJ/DF - Juiz - CESPE/2014) No que se refere à de Estado; Conselho Federal da Ordem dos Advogados do
aplicabilidade e à interpretação das normas constitucio- Brasil; partido político com representação no Congresso
nais, assinale a opção correta. Nacional; e confederação sindical ou entidade de classe de
(A) Conforme o método de interpretação denomina- âmbito nacional.
do científico-espiritual, a análise da norma constitucional (B) a concessão de liminar em sede de medida caute-
deve-se fixar na literalidade da norma, de modo a extrair lar na ação não admite a restauração de vigência da legis-
seu sentido sem que se leve em consideração a realidade lação anterior, acaso existente, o que somente ocorrerá no
social. julgamento definitivo de procedência do pedido da ação.

219
LEGISLAÇÃO BÁSICA

(C) nas ações propostas por Estado da Federação, a apenas em relação aos demais órgãos do Poder Judiciário
petição inicial deve ser firmada, exclusivamente, pelo Pro- e à Administração pública direta, mas não em relação à Ad-
curador-Geral do Estado em nome do Governador. ministração pública indireta e ao Poder Legislativo.
(D) são passíveis de ser objeto da ação: as leis e os (E) é vedado ao Superior Tribunal de Justiça o exer-
atos normativos federais e estaduais, medidas provisórias, cício do controle difuso de constitucionalidade, conside-
decreto do Chefe do Executivo que promulga tratados e rando que a competência para processar e julgar o recurso
convenções e emendas constitucionais. extraordinário é do Supremo Tribunal Federal.

62. (PC/TO - Delegado de Polícia - Aroeira/2014) 65. (TRT/18ª REGIÃO/GO - Juiz do Trabalho -
Pode propor a ação direta de inconstitucionalidade e a FCC/2014) O Presidente da República, a pretexto de exercer
ação declaratória de constitucionalidade, entre outros, o: seu poder regulamentar, editou decreto, sem que existisse
(A) Governador de Estado ou do Distrito Federal. lei tratando da matéria por ele disciplinada, pelo qual criou
obrigações que somente poderiam, à luz da Constituição
(B) Presidente do Senado Federal.
Federal, ter sido instituídas por lei formal. Por esse motivo,
(C) Presidente da Câmara dos Deputados.
a constitucionalidade do referido decreto foi arguida em
(D) Presidente de Assembleia Legislativa.
um caso concreto, como questão prejudicial para o julga-
mento do pedido principal da petição inicial, ensejando,
63. (SEFAZ/RJ - Auditor Fiscal da Receita Federal em segundo grau de jurisdição, o pronunciamento do ple-
- FCC/2014) Suponha que o Advogado-Geral da União nário de determinado Tribunal declarando a inconstitucio-
proponha ação direta de inconstitucionalidade (ADIN) pe- nalidade da norma, pelo voto da maioria absoluta de seus
rante o Supremo Tribunal Federal (STF) para questionar a membros. À luz da Constituição Federal e da jurisprudência
constitucionalidade de três artigos de lei estadual do Rio do Supremo Tribunal Federal, o decreto presidencial
de Janeiro em face da Constituição da República. Conforme (A) não poderia ter sido declarado inconstitucional
a disciplina constitucional a respeito do controle de consti- pelo Tribunal, mas tão somente ilegal, uma vez que o de-
tucionalidade concentrado, creto foi editado com fundamento no poder regulamentar
(A) o Advogado-Geral da União não possui legitimi- do Presidente da República, motivo pelo qual a sua inapli-
dade para propor ADIN. cabilidade a um caso concreto não dependeria de prévia
(B) o STF deve remeter os autos do processo para jul- manifestação do plenário do Tribunal.
gamento pelo Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. (B) não poderia ter sido declarado inconstitucional
(C) não se pode propor ADIN para questionar apenas pelo plenário do Tribunal, mas tão somente ilegal, uma
parte de lei. vez que o decreto foi editado com fundamento no poder
(D) o STF deve converter a ADIN em recurso extraordi- regulamentar do Presidente da República, mas, ainda as-
nário para que seja viável analisar o pedido da ação. sim, a declaração de sua inaplicabilidade ao caso concreto
(E) lei estadual não pode ser objeto de ADIN. dependeria de manifestação do plenário do Tribunal, visto
tratar-se de norma geral e abstrata.
64. (TRT/18ª REGIÃO/GO - Juiz do Trabalho - (C) poderia ter sido declarado inconstitucional pelo
FCC/2014) Considerando a disciplina jurídica do controle plenário do Tribunal, uma vez que as obrigações foram
de constitucionalidade e a jurisprudência do Supremo Tri- criadas sem qualquer amparo legal, mas, por tratar- se
bunal Federal na matéria, de ofensa indireta à Constituição Federal, é dispensável o
(A) súmula vinculante pode ser objeto de ação dire- quórum da maioria absoluta do Plenário.
ta de inconstitucionalidade que, se julgada procedente, (D) poderia ter sido declarado inconstitucional pelo
Tribunal, uma vez que as obrigações foram criadas sem
produzirá eficácia contra todos e efeito vinculante relati-
qualquer amparo legal e com ofensa direta à Constituição
vamente aos órgãos do Poder Judiciário e à Administração
Federal, sendo, no entanto, desnecessária a manifestação
pública direta, indireta, nas esferas federal, estadual e mu-
plenária do Tribunal, uma vez que a declaração de invali-
nicipal.
dade dessa espécie normativa não está sujeita à reserva de
(B) ato administrativo que contrarie súmula vinculan- plenário.
te não pode ser objeto de reclamação proposta perante (E) poderia ter sido declarado inconstitucional pelo
o Supremo Tribunal Federal, uma vez que a reclamação é plenário do Tribunal, uma vez que as obrigações foram
cabível apenas contra decisão judicial, que poderá ser cas- criadas sem qualquer amparo legal e com ofensa direta
sada pelo STF, com a determinação de que outra seja pro- à Constituição Federal, sendo dispensada a manifestação
ferida com ou sem a aplicação da súmula, conforme o caso. plenária do Tribunal se o plenário do Supremo Tribunal Fe-
(C) o cabimento do recurso extraordinário está sujei- deral já tiver declarado a inconstitucionalidade do mesmo
to à demonstração da existência de repercussão geral das decreto.
questões discutidas no caso, podendo o STF recusá-lo pela
manifestação de dois terços dos seus membros. 66. (PC/SP - Delegado de Polícia - VUNESP/2014)
(D) a aprovação de súmula vinculante, a qual poderá Pode(m) propor a ação direta de inconstitucionalidade e a
ser provocada pelos legitimados à propositura da ação di- ação declaratória de constitucionalidade perante o Supre-
reta de inconstitucionalidade, produzirá efeitos vinculantes mo Tribunal Federal:

220
LEGISLAÇÃO BÁSICA

(A) partido político sem representação no Congresso (B) Sim, pois a qualquer cidadão é dado o direito de
Nacional. resistência, em qualquer situação que julgar haver ilegali-
(B) os Conselhos Federais de órgãos de classe profis- dade ou inconstitucionalidade.
sional. (C) Não, porque o cidadão não possui legitimidade
(C) confederação sindical ou entidade de classe de para alegar vícios de forma ou de conteúdo nos casos con-
âmbito regional. cretos que lhe afetem.
(D) a Mesa da Câmara dos Deputados. (D) Sim, pois até que haja decisão judicial sobre a in-
(E) o Procurador-Geral de Justiça. constitucionalidade, a lei é válida, pois é presumida sua
constitucionalidade, obrigando os particulares a segui-la
67. (OAB XIII - Primeira Fase - FGV/2014) A argui- (E) Não, porque cabe somente ao Supremo Tribunal
ção de descumprimento de preceito fundamental (ADPF), Federal se pronunciar sobre a constitucionalidade e a im-
regulada pela Lei nº 9.882/99, tem por objeto evitar ou re- peratividade das leis.
parar lesão a preceito fundamental, resultante de ato do
Poder Público. 70. (Câmara Municipal de São Paulo/SP - Procura-
Com base no legalmente disposto sobre a ADPF, assi- dor Legislativo - FCC/2014) Lei municipal que viole nor-
nale a opção correta. ma da Constituição Federal de observância obrigatória pe-
(A) Face à extraordinariedade da ADPF, a decisão de los Estados, cujo conteúdo foi reproduzido na Constituição
indeferimento liminar da petição inicial é irrecorrível. Estadual, poderá ser objeto de ação direta de inconstitu-
(B) De acordo com a Lei nº 9.882/99, vige o principio cionalidade ajuizada perante o
da subsidiariedade quanto ao cabimento da ADPF. (A) Tribunal de Justiça do Estado, em face da Consti-
(C) A decisão proferida em ADPF produzirá somente tuição Estadual, podendo o Tribunal declarar a inconstitu-
efeitos erga omnes e ex tunc. cionalidade da norma por maioria simples dos seus mem-
(D) O prefeito de qualquer município pode propor bros ou dos membros de seu órgão especial.
ADPF contra lei local perante o STF. (B) Tribunal de Justiça do Estado, em face das Cons-
tituições Federal e Estadual, sendo vedado o exercício do
68. (EMPLASA - Analista Jurídico - Direito - VU-
controle difuso de constitucionalidade da lei municipal, em
NESP/2014) Ao declarar a inconstitucionalidade de lei ou
face da Constituição Federal, pelo Supremo Tribunal Fede-
ato normativo, o Supremo Tribunal Federal poderá modu-
ral.
lar os efeitos daquela declaração.
(C) Supremo Tribunal Federal, em face da Constitui-
(A) restringindo-os a determinados entes federativos
ção Federal, sem prejuízo do controle difuso de constitu-
que não serão prejudicados pelo impacto da decisão como
cionalidade da norma municipal em face das Constituições
outros que sejam afetados diretamente, em matéria relati-
Federal e Estadual.
va à repartição das receitas tributárias.
(B) ao decidir que ela só terá eficácia a partir de seu (D) Supremo Tribunal Federal, em face da Constitui-
trânsito em julgado ou de outro momento que venha a ção Federal, bem como ação direta de inconstitucionali-
ser fixado, tendo em vista razões de segurança jurídica ou dade ajuizada perante o Tribunal de Justiça do Estado, em
de excepcional interesse social, mediante voto de 2/3 (dois face da Constituição Estadual.
terços) de seus membros. (E) Tribunal de Justiça do Estado, em face da Cons-
(C) por decisão unânime, estando presentes os 11 tituição Estadual, sendo cabível recurso extraordinário ao
(onze) ministros que compõem aquele tribunal, podendo Supremo Tribunal Federal contra o acórdão proferido pelo
fixar período de até 180 (cento e oitenta) dias de suspen- Tribunal local se preenchidos os requisitos constitucionais
são da eficácia da declaração de inconstitucionalidade. e legais.
(D) se julgar procedente ação direta de inconstitucio-
nalidade, mediante voto da maioria absoluta dos membros 71. (TRT/23ª REGIÃO (MT) - Juiz Substituto - TRT
do tribunal, decidindo que a aplicação imediata da decisão 23ªR/2014) Sobre o processo legislativo, aponte a alter-
poderá causar riscos à segurança da sociedade ou do es- nativa CORRETA:
tado. (A) A Constituição Federal poderá ser emendada me-
(E) pois a interpretação conforme a constituição e a diante proposta de um terço, no mínimo, dos membros da
declaração parcial de inconstitucionalidade sem redução Câmara dos Deputados ou do Senado Federal, do Presi-
de texto têm eficácia contra todos e efeito vinculante em dente da República ou de Mais da metade das Assembleias
relação aos órgãos do poder judiciário e do poder legisla- Legislativas das unidades da Federação, manifestando-se
tivo. cada uma delas pela maioria absoluta de seus membros.
(B) A matéria constante de proposta de emenda
69. (EMPLASA - Analista Jurídico - Direito - VU- constitucional rejeitada ou havida por prejudicada somen-
NESP/2014) Os particulares estão obrigados a cumprir lei te poderá ser objeto de nova proposta na mesma sessão
inconstitucional, cuja inconstitucionalidade ainda não foi legislativa por deliberação de, no mínimo, dois terços dos
proclamada pelo Poder Judiciário? membros de uma das Casas Legislativas.
(A) Não, pois não se pode presumir como válida uma (C) São de iniciativa privativa do Presidente da Repú-
lei cuja inconstitucionalidade é notória, sendo desnecessá- blica leis que fixem ou modifiquem os efetivos das Forças
ria a declaração formal Armadas.

221
LEGISLAÇÃO BÁSICA

(D) A discussão e votação dos projetos de lei de ini- (A) absoluta do Senado Federal.
ciativa do Presidente da República, do Supremo Tribunal (B) absoluta do Congresso Nacional.
Federal e dos Tribunais superiores terão início no Senado (C) simples do Senado Federal.
Federal. (D) simples do Congresso Nacional.
(E) As leis complementares serão aprovadas por (E) absoluta do Supremo Tribunal Federal.
maioria simples.
75. (DPE/DF - Analista - Assistência Judiciária -
72. (TJ/RJ - Juiz Substituto - VUNESP/2014) No to- FGV/2014) Os membros da Comissão Parlamentar de In-
cante às normas constitucionais referentes ao processo le- quérito do Sistema Carcerário constataram a presença de
gislativo, assinale a alternativa correta. mulheres detidas em cadeia pública masculina em uma
(A) São de iniciativa privativa do Presidente da Repú- unidade federativa brasileira. As detentas reclamavam da
blica, entre outras, as leis que disponham sobre organiza- infraestrutura precária e confirmaram denúncias de que
ção do Ministério Público e da Defensoria Pública da União, uma menina de 16 anos ficou detida na mesma unidade
bem como normas gerais para a organização do Ministério prisional estatal por 12 dias. Diante de tais circunstâncias
Público e da Defensoria Pública dos Estados, do Distrito político-administrativas, havendo a intervenção federal
Federal e dos Territórios. para assegurar a garantia dos direitos da pessoa humana,
(B) É vedada a edição de medidas provisórias, entre ela deverá ser decretada pelo Presidente da República:
outras, sobre matéria relativa a: direito eleitoral, direito ci- (A) espontaneamente, sem necessidade de controle
vil, direito penal, direito processual penal, direito proces- político do Congresso Nacional.
sual civil e organização do Poder Judiciário e do Ministério (B) após requisição do Superior Tribunal de Justiça.
Público, a carreira e a garantia de seus membros. (C) após prévia autorização do Congresso Nacional.
(C) Se a medida provisória não for apreciada em até (D) após provimento, pelo Supremo Tribunal Federal,
cento e vinte dias contados de sua publicação, entrará em de representação do Procurador-Geral da República.
regime de urgência, subsequentemente, em cada uma das (E) após anuência do Judiciário, a se fazer por decisão
de seu Órgão Especial, com chancela final do Legislativo
Casas do Congresso Nacional, ficando sobrestadas, até que
do Estado.
se ultime a votação, todas as demais deliberações legislati-
vas da Casa em que estiver tramitando.
76. (Prefeitura de Recife/PE - Procurador- FCC/2014)
(D) O projeto de lei aprovado por uma Casa será re-
Ao analisar o funcionamento do bicameralismo brasileiro
visto pela outra, em um só turno de discussão e votação,
no âmbito do processo legislativo, Manoel Gonçalves Fer-
e enviado à sanção ou promulgação, se a Casa revisora o
reira Filho apresenta a seguinte lição: “as Câmaras no pro-
aprovar, ou, se o projeto for emendado ou rejeitado, volta-
cesso legislativo brasileiro não estão em pé de igualdade”
rá à Casa iniciadora.
(cf. Curso de Direito Constitucional. São Paulo: Saraiva, 39.
ed., 2013). Alude, assim, o autor ao caráter assimétrico, im-
73. (TRT/16ª REGIÃO/MA - Analista Judiciário - perfeito ou desigual que informa a atuação das Casas do
FCC/2014) Nos termos estabelecidos pela Constituição fe- Congresso Nacional nos processos de
deral NÃO é atribuição constitucional do Tribunal de Con- (A) apreciação dos vetos presidenciais e de elabora-
tas da União ção das leis ordinárias e complementares.
(A) julgar as contas as contas dos administradores e (B) conversão de medida provisória em lei e de elabo-
demais responsáveis por recursos públicos. ração das leis ordinárias e complementares.
(B) julgar as contas do presidente da república. (C) revisão constitucional e de elaboração das leis or-
(C) sustar, se não atendido, a execução de ato impug- dinárias e complementares.
nado, comunicando à câmara dos deputados e ao senado (D) conversão de medida provisória em lei e de elabo-
federal. ração das emendas constitucionais.
(D) apreciar, em regra, para fins de registro, a legalida- (E) elaboração das emendas constitucionais e de
de dos atos de admissão de pessoal, a qualquer título, na aprovação de tratados e convenções internacionais sobre
administração direta. direitos humanos com estatura equivalente às emendas
(E) fiscalizar as contas nacionais das empresas supra- constitucionais.
nacionais de cujo capital social a união participe, de forma
direta ou indireta, nos termos do tratado consultivo. 77. (PC-SE - Escrivão substituto - IBFC/2014) Segun-
do a Constituição Federal, no capítulo “Do Poder Executi-
74. (TRT/16ª REGIÃO/MA - Analista Judiciário - vo”, compete ao Presidente da República, exceto:
FCC/2014) Analise a seguinte situação hipotética: “Tício, (A) Manter relações com Estados estrangeiros e acre-
Juiz do Tribunal Regional do Trabalho da 16ª Região, é indi- ditar seus representantes diplomáticos.
cado pelo Tribunal Superior do Trabalho para compor este (B) Conceder indulto e comutar penas, com audiência,
Tribunal Superior e ocupar a vaga do Ministro Fúlvio, apo- se necessário, dos órgãos instituídos em lei.
sentado neste ano de 2014”. Antes de ser nomeado pelo (C) Suspender a execução, no todo ou em parte, de lei
Presidente da República o nome do Magistrado Tício deve- declarada inconstitucional por decisão definitiva do Supre-
rá ser aprovado pela maioria mo Tribunal Federal

222
LEGISLAÇÃO BÁSICA

(D) Dispor, mediante decreto, sobre organização e 81. (OAB XIII - Primeira Fase - FGV/2014) O Presi-
funcionamento da administração federal, quando não im- dente da República possui uma série de competências pri-
plicar aumento de despesa nem criação ou extinção de ór- vativas, que lhe são atribuídas diretamente pela Constitui-
gãos públicos. ção. Admite-se que algumas delas possam ser delegadas
ao Ministro de Estado da pasta relacionada ao tema. Den-
78. (PC-SE - Agente de Polícia Judiciária - IBFC/2014) tre as competências delegáveis, inclui-se.
Segundo a Constituição Federal, no capítulo “Do Poder (A) editar medidas provisórias com força de lei, nos
Executivo”, o Presidente e o Vice-Presidente da República termos do artigo 62 da Constituição.
poderão, sem licença do Congresso Nacional, ausentar-se (B) nomear, observado o disposto no artigo 73, os Mi-
do país, sob pena de perda do cargo, por até: nistros do Tribunal de Contas da União.
(A) 15 dias. (C) prover e extinguir os cargos públicos federais, na
(B) 30 dias. forma da lei.
(D) iniciar o processo legislativo, na forma e nos casos
(C) 45 dias.
previstos na Constituição.
(D) 60 dias.
82. (PC/SC - Delegado de Polícia - ACAFE/2014) O
79. (PC/PI - Delegado de Polícia – UESPI/2014) Con-
Presidente da República pode, ouvidos o Conselho da Re-
siderando o que estabelecem as normas constitucionais pública e o Conselho de Defesa Nacional, decretar estado
sobre o Poder Executivo, assinale a alternativa CORRETA. de defesa para preservar ou prontamente restabelecer, em
(A) A perda do cargo é a consequência inafastável locais restritos e determinados, a ordem pública ou a paz
para o Prefeito que assumir outro cargo ou função na Ad- social ameaçadas por grave e iminente instabilidade insti-
ministração Pública, seja direta ou indireta. tucional ou atingidas por calamidades de grandes propor-
(B) A vacância dos cargos de Presidente e Vice-Pre- ções na natureza.
sidente da República, verificada nos últimos dois anos do Sobre o tema e de acordo com a Constituição da Re-
mandato, ensejará a realização de eleição, pelo Congresso pública Federativa do Brasil - CRFB/88 é correto afirmar,
Nacional, para ambos os cargos vagos, a ser realizada trinta exceto:
dias depois da última vaga. (A) Na vigência do estado de defesa a prisão por cri-
(C) Do Conselho da República participam, também, me contra o Estado, determinada pelo executor da medida,
seis cidadãos brasileiros, com mais de trinta e cinco anos será por este comunicada imediatamente ao juiz compe-
de idade, nomeados pelo Presidente da República, todos tente, que a relaxará, se não for legal, facultado ao preso
com mandato de quatro anos, admitida uma única recon- requerer exame de corpo de delito à autoridade policial.
dução. (B) Decretado o estado de defesa ou sua prorrogação,
(D) Os requisitos constitucionais para assumir o cargo o presidente da república, dentro de vinte e quatro horas,
de Ministro de Estado, auxiliar do Presidente da República, submeterá o ato com a respectiva justificação ao congresso
são os seguintes: ter mais de vinte e um anos de idade; es- nacional, que decidirá por maioria absoluta.
tar no exercício dos direitos políticos; e ser brasileiro nato. (C) Na vigência do estado de defesa a comunicação
(E) Nos crimes de responsabilidade, o Presidente da será acompanhada de declaração, pela autoridade, do es-
República é julgado pela Câmara dos Deputados, sob a di- tado físico e mental do detido no momento de sua autua-
reção do Presidente do Supremo Tribunal Federal, com a ção.
necessária autorização prévia do Senado Federal. (D) Na vigência do estado de defesa a prisão ou de-
tenção de qualquer pessoa não poderá ser superior a trinta
dias, estando vedada, ainda, a incomunicabilidade do pre-
80. (OAB XIII - Primeira Fase - FGV/2014) Imagine
so.
a hipótese na qual o avião presidencial sofre um acidente,
(E) O tempo de duração do estado de defesa não será
vindo a vitimar o Presidente da República e seu Vice, após
superior a trinta dias, podendo ser prorrogado uma vez,
a conclusão do terceiro ano de mandato.
por igual período, se persistirem as razões que justificaram
A partir da hipótese apresentada, assinale a afirmativa a sua decretação.
correta.
(A) O Presidente do Senado Federal assume o cargo e 83. (PC/SC - Delegado de Polícia - ACAFE/2014)
completa o mandato. O Presidente da República pode, ouvidos o Conselho da
(B) O Presidente da Câmara dos Deputados assume o República e o Conselho de Defesa Nacional, solicitar ao
cargo e convoca eleições que realizar-se-ão noventa dias Congresso Nacional autorização para decretar o estado de
depois de abertas as vagas. sítio. Nesse sentido é correto afirmar, exceto:
(C) O Presidente do Congresso Nacional assume o (A) Na vigência do estado de sítio só poderão ser to-
cargo e completa o mandato. madas contra as pessoas as seguintes medidas: obrigação
(D) O Presidente da Câmara dos Deputados assume de permanência em localidade determinada; detenção em
o cargo e convoca eleições que serão realizadas trinta dias edifício não destinado a acusados ou condenados por cri-
após a abertura das vagas, pelo Congresso Nacional, na mes comuns; restrições relativas à inviolabilidade da cor-
forma da lei. respondência, ao sigilo das comunicações, à prestação de

223
LEGISLAÇÃO BÁSICA

informações e à liberdade de imprensa, radiodifusão e te- (E) é vedada a destinação de recursos públicos para
levisão, na forma da lei; suspensão da liberdade de reunião; auxílios ou subvenções às instituições privadas de saúde
busca e apreensão em domicílio; intervenção nas empresas com fins lucrativos.
de serviços públicos e requisição de bens.
(B) O Presidente da República pode solicitar ao Con- 86. (DPE/GO - Defensor Público - UFG/2014) A
gresso Nacional autorização para decretar o estado de sítio Constituição Federal de 1988 prevê a família como célula
nos casos de comoção grave de repercussão nacional ou mater da sociedade, ao que goza, assim, de especial prote-
ocorrência de fatos que comprovem a ineficácia de medida ção do Estado. Por isso,
tomada durante o estado de defesa. (A) concebe-se como família aquela união feita por
(C) Solicitada autorização para decretar o estado de pessoas de diferentes sexos, desde que formalizada peran-
sítio durante o recesso parlamentar, o Presidente do Se- te as autoridades notariais de acordo com a jurisprudência
nado Federal, de imediato, convocará extraordinariamente dos Tribunais Superiores.
o Congresso Nacional para se reunir dentro de cinco dias, (B) entende-se como entidade familiar a comunidade
a fim de apreciar o ato, sendo que o Congresso Nacional formada por qualquer dos pais e seus descendentes.
permanecerá em funcionamento até o término das medi- (C) são exercidos diferentemente pelo homem e pela
das coercitivas. mulher, tendo em vista a própria diferença de gênero e os
(D) O decreto do estado de sítio indicará sua duração, direitos e deveres referentes à sociedade conjugal.
as normas necessárias a sua execução e as garantias cons- (D) considera-se o casamento religioso inapto para
titucionais que ficarão suspensas, e, depois de publicado, o gerar efeito civil, visto que a República Federativa do Brasil
Presidente da República designará o executor das medidas constitui um Estado laico.
específicas e as áreas abrangidas. (E) é de livre decisão do casal o planejamento fami-
(E) O Presidente da República, ao solicitar autorização liar, admitindo-se, porém, intervenção coercitiva do Estado
para decretar o estado de sítio ou sua prorrogação, relatará para controle da natalidade.
os motivos determinantes do pedido, devendo o Congres-
so Nacional decidir por maioria absoluta.
87. (SEAP/DF - Analista Direito - IADES/2014) Quan-
to à ordem social preconizada pela Constituição Federal,
84. (DPE/GO - Defensor Público - UFG/2014) A leitu-
assinale a alternativa correta.
ra do lema “Educação: direito de todos e dever do Estado!”
(A) Constituem patrimônio cultural brasileiro apenas
à luz do Direito Constitucional favorece o entendimento
os bens de natureza imaterial, tomados individualmente
de que:
ou em conjunto, portadores de referência á identidade, á
(A) o direito fundamental à educação exclui o direito à
ação, e á memória dos diferentes grupos formadores da
creche, dado tratar-se de dever da família.
(B) a educação é dever exclusivo do estado, sendo, sociedade brasileira.
portanto, alheio à família e à sociedade. (B) O Poder Público, isoladamente, promoverá e pro-
(C) o dever do estado com a educação dos deficientes tegerá o patrimônio cultural brasileiro, por meio de inven-
é de atendimento educacional especializado, obrigatoria- tários, registros, vigilância, tombamento e desapropriação,
mente, fora da rede regular de ensino. e de outras formas de acautelamento e preservação.
(D) a gratuidade do ensino público veda a percepção (C) Serão fixados conteúdos mínimos para o ensino
de quaisquer valores pelos estabelecimentos oficiais ainda fundamental, de maneira a assegurar formação básica co-
que de cunho voluntário. mum e respeito aos valores culturais e artísticos, nacionais
(E) a omissão no oferecimento do ensino obrigatório e regionais.
pelo poder público importa em responsabilidade da auto- (D) A lei estabelecerá o Plano Nacional de Cultura,
ridade competente. de duração anual, visando ao desenvolvimento cultural do
País e à integração das ações do Poder Público.
85. (DPE/GO - Defensor Público - UFG/2014) A (E) A União organizará o sistema de cultura de cada
Constituição Federal de 1988 prevê a saúde como direi- estado, município e Distrito Federal.
to fundamental a ser assegurado ao cidadão. A propósito
desse direito, 88. (SEAP/DF - Analista Direito - IADES/2014) Acer-
(A) assegura-se o fornecimento de medicamentos de ca dos princípios do Sistema Nacional de Cultura, assinale
alto custo exclusivamente aos necessitados, devido à infini- a alternativa correta.
tude das demandas e à finitude dos recursos. (A) A democratização dos processos decisórios com
(B) é exclusiva do ministério público a legitimidade participação e controle social não compõe os princípios do
para ajuizamento de ação de mandado de segurança com Sistema Nacional de Cultura.
vistas a promover o fornecimento de medicamentos. (B) Ampliação progressiva dos recursos contidos nos
(C) é vedada à iniciativa privada a exploração econô- orçamentos públicos para a cultura e transversalidade das
mica da assistência à saúde dado o direito fundamental à políticas culturais são princípios do Sistema Nacional de
saúde ser consectário do direito à vida. Cultura.
(D) regula-se o sistema único de saúde (SUS) exclusi- (C) O Sistema Nacional de Cultura não se rege pela
vamente por meio da legislação infraconstitucional, visto autonomia dos entes federados e das instituições da so-
que está fora das matérias constitucionais. ciedade civil.

224
LEGISLAÇÃO BÁSICA

(D) A complementaridade nos papéis dos agentes cul- B) Pertence à União o produto da arrecadação do im-
turais não engloba as ações do Sistema Nacional de Cul- posto sobre renda e proventos de qualquer natureza, inci-
tura. dente na fonte, sobre rendimentos pagos, a qualquer título,
(E) A transparência e o compartilhamento das infor- por eles, suas autarquias e pelas fundações que instituírem
mações não compõe os princípios do Sistema Nacional de e mantiverem em âmbito municipal.
Cultura. C) É vedado à União, aos estados, ao Distrito Federal e
aos municípios instituir impostos sobre patrimônio, renda
89. (DPE/DF - Analista - Assistência Judiciária - ou serviços, uns dos outros, extensiva às autarquias e às
FGV/2014) No que concerne à previsão constitucional fundações instituídas e mantidas pelo Poder Público, no
que se refere ao patrimônio, à renda e aos serviços, vincu-
acerca da seguridade social, é INCORRETO afirmar que:
lados a suas finalidades essenciais ou às delas decorrentes.
(A) a seguridade social engloba os direitos relativos à
D) É vedado à União, aos estados, ao Distrito Federal
saúde, à previdência e à assistência social. e aos municípios instituir impostos sobre patrimônio, ren-
(B) constitui um, entre vários, dos objetivos da segu- da ou serviços, relacionados com exploração de atividades
ridade social a universalidade da cobertura e do atendi- econômicas regidas pelas normas aplicáveis a empreen-
mento. dimentos privados, ou em que haja contraprestação ou
(C) o caráter democrático e descentralizado da admi- pagamento de preços ou tarifas pelo usuário, exonerando
nistração, um dos objetivos constantes na organização da o promitente comprador da obrigação de pagar imposto
seguridade social, é realizado através da gestão tripartite relativamente ao bem imóvel.
nos órgãos colegiados, com participação dos trabalhado- E) Cabe à lei ordinária dispor sobre substituição tribu-
res, dos empregadores e do governo. tária.
(D) a participação no custeio da seguridade social
deve ser realizada de forma equânime entre os participan- 92. (DPE/GO - Defensor Público - UFG/2014) O po-
tes. der de tributar implica o poder de destruir. Com base nessa
(E) constitui um, entre vários, dos objetivos da seguri- premissa, a Constituição de 1988 estabelece uma série de
dade social a uniformidade e a equivalência dos benefícios direitos fundamentais do contribuinte previstos no título
e serviços às populações urbanas e rurais. do Sistema Tributário Nacional e, por isso,
A) o princípio da capacidade contributiva autoriza a
imposição de alíquotas progressivas no Imposto Predial
90. (Prefeitura de Recife/PE - Procurador- FCC/2014)
Territorial Urbano (IPTU), conforme o valor, a localização e
Entre as competências constitucionalmente atribuídas ao o uso do imóvel.
Sistema Único de Saúde, encontram-se as seguintes; B) a fixação de alíquotas progressivas de Imposto
(A) participar da formulação da política e da execução Transmissão Causa Mortis e Doações (ITCM-D) é inconsti-
das ações de saneamento básico; e estimular a participação tucional em função de o art.145, §1º, da CF, ter aplicação
direta ou indireta de empresas ou capitais estrangeiros na exclusiva aos impostos reais.
assistência à saúde no País C) o Supremo Tribunal Federal já se manifestou pela
(B) colaborar na proteção do meio ambiente, nele inconstitucionalidade da cobrança da Contribuição sobre
compreendido o do trabalho; e apoiar a habilitação e a Iluminação Pública (COSIP).
reabilitação das pessoas com deficiência e a promoção de D) as taxas são espécies tributárias aptas à remunera-
sua integração à vida comunitária. ção de serviços públicos universais, específicos e divisíveis,
(C) participar da formulação da política e da execução a exemplo da limpeza de logradouros públicos.
das ações de saneamento básico; e apoiar a habilitação e a E) o direito fundamental ao não confisco tributário é
reabilitação das pessoas com deficiência e a promoção de inaplicável às multas tributárias, dado que a multa está fora
sua integração à vida comunitária. do rol dos tributos.
(D) ordenar a formação de recursos humanos na área
de saúde; e estimular a participação direta ou indireta de 93. (DPE/GO - Defensor Público - UFG/2014) As
imunidades tributárias são consectárias de direitos fun-
empresas ou capitais estrangeiros na assistência à saúde
damentais que o constituinte pretendeu prestigiar. A esse
no País.
respeito, a Constituição Federal prevê que a imunidade
(E) colaborar na proteção do meio ambiente, nele A) dos templos de qualquer culto é decorrente do di-
compreendido o do trabalho; e participar do controle e fis- reito fundamental à liberdade religiosa em contraste com a
calização da produção, transporte, guarda e utilização de laicidade do Estado.
substâncias e produtos psicoativos, tóxicos e radioativos. B) dos partidos políticos constitui garantia fundamen-
tal ao pluralismo político que, portanto, deixa de contem-
91. (CONAB - Direito - IADES/2014) Com base na plar suas fundações.
Constituição Federal, acerca do sistema tributário nacional, C) tributária comporta interpretação restritiva na medi-
assinale a alternativa correta. da em que representa benefícios.
A) Pertence à União o produto da arrecadação do im- D) dos livros, jornais, periódicos e do papel destinado à
posto sobre renda e proventos de qualquer natureza, inci- sua impressão é decorrente do direito fundamental à livre
dente na fonte, sobre rendimentos pagos, a qualquer título, manifestação de ideias e pensamentos.
por eles, suas autarquias e pelas fundações que instituírem E) religiosa comporta aplicação exclusiva às religiões
e mantiverem em âmbito estadual. oficiais titulares de templos religiosos.

225
LEGISLAÇÃO BÁSICA

94. (DPE/GO – Defensor Público - UFG/2014) O or- A) independentemente da localização de bens móveis
çamento público constitui importante instrumento assecu- e imóveis, respectivos direitos, títulos e créditos, à União.
ratório de direitos fundamentais. Por isso, a Constituição B) se o de cujus possuía bens, era residente ou do-
de 1988 prevê título específico para as Finanças Públicas. miciliado ou teve seu inventário processado no exterior, à
Nesse contexto, União.
A) o orçamento público é editado por meio de lei ordi- C) relativamente a bens imóveis e respectivos direitos,
nária com caráter coercitivo. ao Estado da situação do bem, ou ao Distrito Federal.
B) a legalidade é princípio orçamentário indicador de D) relativamente a bens imóveis e respectivos direitos,
que a lei orçamentária excluirá dispositivo estranho à pre- ao Estado e ao Município, de forma complementar, onde se
visão de receita e à fixação de despesa. processar o inventário.
C) a vinculação da receita de impostos para o fundo de E) se o de cujus possuía bens, era residente ou domi-
combate à pobreza é exceção ao princípio orçamentário da ciliado ou teve seu inventário processado no exterior, ao
não afetação de receita de impostos. Município da situação do bem.
D) o plano plurianual é de vigência quadrienal, enquan-
to a lei de diretrizes orçamentárias tem vigência trienal. RESPOSTAS
E) a lei orçamentária anual compreenderá exclusiva-
mente o orçamento fiscal e o orçamento da seguridade 1. Resposta: “C”. Constituição é muito mais do que
social. um documento escrito que fica no ápice do ordenamen-
to jurídico nacional estabelecendo normas de limitação e
95. (TRT 2ª Região/SP - Juiz do Trabalho - TRT organização do Estado, mas tem um significado intrínseco
2R/2014) A ordem econômica é fundada na valorização sociológico, político, cultural e econômico. Independente
do trabalho humano e na livre iniciativa. Em relação a esta do conceito, percebe-se que o foco é a organização do Es-
afirmação, aponte a alternativa correta: tado e a limitação de seu poder.
A) Uma das finalidades da ordem econômica é dar tra-
tamento favorecido às pequenas empresas, desde que se- 2. Resposta: “D”. Quanto à origem, a Constituição
jam constituídas de acordo com a lei nacional e tenham sua
pode ser outorgada, quando imposta unilateralmente pelo
sede e administração no Brasil.
agente revolucionário, ou promulgada, quando é votada,
B) A busca do pleno emprego constitui um direito fun-
sendo também conhecida como democrática ou popular.
damental coletivo e não se confunde, nem se comunica,
com a ordem econômica nacional, cujo objetivo é a garan-
3. Resposta: “B”. A Constituição Federal e os demais
tia de lucro às empresas.
atos normativos que compõem o denominado bloco de
C) A atividade econômica depende sempre de auto-
constitucionalidade, notadamente, emendas constitucio-
rização dos órgãos públicos para que possa ser exercida,
pois é necessário o respeito aos direitos fundamentais dos nais e tratados internacionais de direitos humanos apro-
trabalhadores. vados com quórum especial após a Emenda Constitucional
D) Tratamento favorecido para as empresas de peque- nº 45/2004, estão no topo do ordenamento jurídico. Sendo
no porte constituídas sob as leis brasileiras ainda que te- assim, todos os atos abaixo deles devem guardar uma es-
nham sua sede e administração em outro país. trita compatibilidade, sob pena de serem inconstitucionais.
E) A imposição de sentenças normativas para dirimir Por isso, estes atos que estão abaixo na pirâmide, se sujei-
conflitos que imponham obstáculos ao equilíbrio entre o tam a controle de constitucionalidade.
capital e o trabalho.
4. Resposta: “A”. Carl Schmitt propõe que o conceito
96. (TJ/MT - Juiz - FMP-RS/2014) São princípios ge- de Constituição não está na Constituição em si, mas nas
rais da atividade econômica brasileira: decisões políticas tomadas antes de sua elaboração. Sen-
A) a propriedade democrática, a soberania nacional e a do assim, o conceito de Constituição será estruturado por
livre concorrência. fatores como o regime de governo e a forma de Estado
B) a defesa do consumidor, a igualdade salarial e a li- vigentes no momento de elaboração da lei maior. A Cons-
berdade do consumo. tituição é o produto de uma decisão política e variará con-
C) a redução das desigualdades regionais e sociais, a forme o modelo político à época de sua elaboração.
propriedade comunitária e a igualdade salarial.
D) o tratamento favorecido para as empresas de pe- 5. Resposta: “B”. Todas as alternativas descrevem ca-
queno porte, a igualdade salarial e a propriedade demo- racterísticas, atributos do Estado Democrático de Direito
crática. que é a República Federativa brasileira, notadamente: er-
E) a defesa do consumidor, a defesa do meio ambiente radicação da pobreza e diminuição de desigualdades (ar-
e a livre concorrência. tigo 3º, III, CF); soberania, cidadania e pluralismo político
(artigo 1º, I, II e V, CF); princípio da legalidade (artigo 5º, II,
97. (TJ/PA - Analista Judiciário - Fiscal de Arrecada- CF); liberdade de expressão (artigo 5º, IV, CF); construção
ção - VUNESP/2014) Instituir impostos sobre a transmis- de sociedade justa, livre e solidária (artigo 3º, I, CF). Sendo
são causa mortis e doação de quaisquer bens ou direitos assim, incorreta a afirmação de que soberania, cidadania
compete, e pluralismo político não são fundamentos da República

226
LEGISLAÇÃO BÁSICA

Federativa do Brasil, pois estão como tais enumerados no que “são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e
artigo 1º, CF, além de decorrerem da própria estrutura de a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização
um Estado Democrático de Direito. pelo dano material ou moral decorrente de sua violação”;
o que faz também o item V com relação ao artigo 5º, VI,
6. Resposta: “D”. O item “I” descreve alguns dos prin- CF que diz que “é inviolável a liberdade de consciência e
cípios que regem as relações internacionais brasileiras, de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos
enumerados no artigo 4º, CF, estando correto; o item “II” religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais
afasta a normatividade dos princípios, o que é incorreto, de culto e a suas liturgias”. Sendo assim, todas afirmativas
pois os princípios têm forma normativa e, inclusive, po- estão corretas.
dem ser aplicados de forma autônoma se não houver lei
específica a respeito ou se esta se mostrar inadequada, por 10. Resposta: “D”. O habeas corpus é garantia pre-
isso mesmo, correta a afirmação do item “III”; os princípios vista no artigo 5º, LXVIII, CF: “conceder-se-á habeas corpus
descritos no item “IV” são alguns dos que regem a ordem sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer
econômica, enumerados no artigo 170, CF, restando corre- violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por
ta; o item “V” traz um exemplo de violação ao princípio da ilegalidade ou abuso de poder”. A respeito dele, a lei bus-
ca torná-lo o mais acessível possível, por ser diretamente
igualdade material, assegurado no artigo 5º, CF e refletido
relacionado a um direito fundamental da pessoa humana.
em todo texto constitucional, estando assim correto. Logo,
O objeto de tutela é a liberdade de locomoção; a propo-
apenas o item “II” está incorreto.
situra não depende de advogado; o que propõe a ação é
denominado impetrante e quem será por ela beneficiado é
7. Resposta: “D”. O artigo 1º, CF traz os princípios chamado paciente (podendo a mesma pessoa ser os dois),
fundamentais (fundamentos) da República Federativa do contra quem é proposta a ação é a denominada autoridade
Brasil: “I - a soberania; II - a cidadania; III - a dignidade da coatora; e é possível utilizar habeas corpus repressivamen-
pessoa humana; IV - os valores sociais do trabalho e da te e preventivamente. Por sua vez, a Constituição Federal
livre iniciativa; V - o pluralismo político”. O princípio de “A” prevê no artigo 142, §2º que “não caberá habeas corpus em
se encontra no inciso V; o de “B” no inciso IV; o de “C” no relação a punições disciplinares militares”.
inciso III, pois viola a dignidade humana da mãe forçá-la a
dar luz à um filho que resulte de estupro; o de “E” decorre 11. Resposta: “A”. No que tange ao tema, destaque
dos incisos I e II e é previsão do artigo 2º, que dispõe que para os seguintes incisos do artigo 5º da CF: “LXXI - conce-
“são Poderes da União, independentes e harmônicos entre der-se-á mandado de injunção sempre que a falta de nor-
si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário”. Somente resta a ma regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos
alternativa “D”, que apesar de realmente trazer um objetivo e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes
da República Federativa brasileira – previsto no artigo 3º, à nacionalidade, à soberania e à cidadania; LXXII - conce-
IV, não tem a ver com os princípios fundamentais, mas sim der-se-á habeas data: a) para assegurar o conhecimento de
com os objetivos. informações relativas à pessoa do impetrante, constantes
de registros ou bancos de dados de entidades governa-
8. Resposta: “C”. A democracia brasileira adota a mo- mentais ou de caráter público; b) para a retificação de da-
dalidade semidireta, porque possibilita a participação po- dos, quando não se prefira fazê-lo por processo sigiloso,
pular direta no poder por intermédio de processos como judicial ou administrativo”. Os itens “I” e “II” repetem o teor
o plebiscito, o referendo e a iniciativa popular. Como são do artigo 5º, LXXII, CF. Já o item “III” decorre logicamente
hipóteses restritas, pode-se afirmar que a democracia indi- da previsão dos direitos fundamentais como limitadores da
reta é predominantemente adotada no Brasil, por meio do atuação do Estado, logo, as informações requeridas serão
sufrágio universal e do voto direto e secreto com igual va- contra uma entidade governamental da administração di-
lor para todos. Contudo, não é a única maneira de se exer- reta ou indireta. Por sua vez, o item “IV” reflete o artigo 5º,
LXXI, CF, do qual decorre logicamente o item “V”, posto
cer o poder (artigo 14, CF e artigo 1º, parágrafo único, CF).
que a demora do legislador em regulamentar uma norma
constitucional de aplicabilidade mediata, que necessita do
9. Resposta: “E”. “I” está correta porque a principal
preenchimento de seu conteúdo, evidencia-se em risco aos
diferença entre direitos e garantias é que os primeiros
direitos fundamentais garantidos pela Constituição Fede-
servem para determinar os bens jurídicos tutelados e as ral.
segundas são os instrumentos para assegurar estes (ex:
direito de liberdade de locomoção – garantia do habeas 12. Resposta: “A”. Nos termos do artigo 5º, LIII, CF,
corpus). “II” está correta, afinal, o próprio artigo 5º prevê “ninguém será processado nem sentenciado senão pela
em seu §2º que “os direitos e garantias expressos nesta autoridade competente”, restando o item “I” correto; pelo
Constituição não excluem outros decorrentes do regime e artigo 5º, LX, CF, “a lei só poderá restringir a publicidade
dos princípios por ela adotados, ou dos tratados interna- dos atos processuais quando a defesa da intimidade ou o
cionais em que a República Federativa do Brasil seja parte”, interesse social o exigirem”, motivo pelo qual o item “II”
fundamento que também demonstra que o item “III” está está correto; e prevê o artigo 5º, LXVI, CF que “ninguém
correto. O item IV traz cópia do artigo 5º, X, CF, que prevê será levado à prisão ou nela mantido, quando a lei admitir

227
LEGISLAÇÃO BÁSICA

a liberdade provisória, com ou sem fiança”, confirmando 20. Resposta: “D”. Trata-se de garantia constitucio-
o item “IV”. Por sua vez, o item “III” está incorreto porque nal prevista no artigo 5º, XXXIII, CF: “todos têm direito a
“são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por receber dos órgãos públicos informações de seu interes-
meios ilícitos” (artigo 5º, LVI, CF); e o item “V” está incorre- se particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão
to porque a jurisprudência atual ainda aceita a prisão civil prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade,
do devedor de alimentos, sendo que o texto constitucional ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segu-
autoriza tanto esta quanto a do depositário infiel (artigo rança da sociedade e do Estado”.
5º, LXVII, CF).
21. Resposta: “B”. A teoria da reserva do possível bus-
13. Resposta: “A”. Preconiza o artigo 5º, XL, CF: “XL ca impedir que se argumente por uma obrigação infinita
- a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu”. do Estado de atender direitos econômicos, sociais e cultu-
Assim, se vier uma lei posterior ao fato que o exclua do rais. No entanto, não pode ser invocada como muleta para
rol de crimes ou que confira tratamento mais benéfico (di- impedir que estes direitos adquiram efetividade. Se a invo-
minuindo a pena ou alterando o regime de cumprimento, cação da reserva do possível não demonstrar cabalmente
notadamente), ela será aplicada. que o Estado não tem condições de arcar com as despesas,
o Poder Judiciário irá intervir e sanar a omissão.
14. Resposta: “B”. Neste sentido, prevê o artigo 5º,
XLII, CF: “XLII - a prática do racismo constitui crime inafian- 22. Resposta: “C”. A Emenda Constitucional nº
çável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos ter- 72/2013, que ficou conhecida no curso de seu processo de
mos da lei”, restando “B” correta. “A” é incorreta porque votação como PEC das domésticas, deu redação ao pará-
a lei penal retroage para beneficiar o réu; “C” é incorreta grafo único do artigo 7º, o qual estende alguns dos direi-
porque é aceita a pena de morte para os crimes milita- tos enumerados nos incisos do caput para a categoria dos
res praticados em tempo de guerra; “D” é incorreta porque trabalhadores domésticos, quais sejam: “IV, VI, VII, VIII, X,
igrejas não possuem inviolabilidade domiciliar. XIII, XV, XVI, XVII, XVIII, XIX, XXI, XXII, XXIV, XXVI, XXX, XXXI
e XXXIII e, atendidas as condições estabelecidas em lei e
observada a simplificação do cumprimento das obrigações
15. Resposta: “D”. Embora o direito previsto na alter-
tributárias, principais e acessórias, decorrentes da relação
nativa “D” seja um direito fundamental, não é um direito
de trabalho e suas peculiaridades, os previstos nos incisos
individual, logo, não está previsto no artigo 5º, e sim no
I, II, III, IX, XII, XXV e XXVIII, bem como a sua integração à
artigo 7º, CF, em seu inciso IX (“remuneração do trabalho
previdência social”. Os direitos descritos na alternativa “C”
noturno superior à do diurno”).
estão previstos nos incisos XXVII e XX do artigo 7º da Cons-
tituição, não estendidos aos empregados domésticos pela
16. Resposta: “D”. A propósito, o artigo 5º, XI, CF dis-
emenda.
põe: “a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela
podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo 23. Resposta: “Certo”. O artigo 9º, CF disciplina o di-
em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar so- reito de greve: “É assegurado o direito de greve, compe-
corro, ou, durante o dia, por determinação judicial”. Sen- tindo aos trabalhadores decidir sobre a oportunidade de
do assim, não cabe o ingresso por determinação judicial a exercê-lo e sobre os interesses que devam por meio dele
qualquer hora, mas somente durante o dia. defender. § 1º A lei definirá os serviços ou atividades
essenciais e disporá sobre o atendimento das necessida-
17. Resposta: C. Dispõe o artigo 5º, CF em seu inciso des inadiáveis da comunidade. § 2º Os abusos cometidos
XIV: “é assegurado a todos o acesso à informação e res- sujeitam os responsáveis às penas da lei”.
guardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício
profissional”. 24. Resposta: “C”. “A” está incorreta porque o rol de
direitos sociais do artigo 7º é apenas exemplificativo, não
18. Resposta: “C”. Estabelece o §3º do artigo 5º,CF: excluindo outros que decorram das normas trabalhistas,
“Os tratados e convenções internacionais sobre direitos dos direitos humanos internacionais e das convenções e
humanos que forem aprovados, em cada Casa do Con- acordos coletivos; “B” está incorreta porque a redução pro-
gresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos porcional pode ser aceita se intermediada por negociação
dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas coletiva, evitando cenário de demissão em massa; “D” está
constitucionais”. Logo, é necessário o preenchimento de incorreta porque a licença-gestante encontra arcabouço
determinados requisitos para a incorporação. constitucional, tal como a licença-paternidade, restando
“E” também incorreta (artigo 7º, XVIII e XIX, CF. Sendo as-
19. Resposta: “B”. No que tange à segurança jurídica, sim, “C” está correta, conforme disposto no artigo 7º: “gozo
tem-se o disposto no artigo 5º, XXXVI, CF: “XXXVI - a lei de férias anuais remuneradas com, pelo menos, um terço
não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito a mais do que o salário normal” (artigo 7º, XVII, CF).
e a coisa julgada”. A coisa julgada se formou a favor de
Pedro e não pode ser quebrada por lei posterior que altere 25. Resposta: “C”. Nos termos do artigo 5º, LI, CF, “ne-
a situação fático-jurídica, sob pena de se atentar contra a nhum brasileiro será extraditado, salvo o naturalizado, em
segurança jurídica. caso de crime comum, praticado antes da naturalização, ou

228
LEGISLAÇÃO BÁSICA

de comprovado envolvimento em tráfico ilícito de entor- 30. Resposta: “Errado”. A soberania é elemento intrín-
pecentes e drogas afins, na forma da lei”. Embora a conde- seco ao Estado nacional, ou seja, à União. O Brasil, enquan-
nação tenha ocorrido após a naturalização, o crime comum to Estado Nacional, é soberano. Suas unidades federativas,
foi praticado antes dela, permitindo a extradição de Pietro. por seu turno, não possuem o atributo da soberania, tanto
que não podem dele se desvincularem (atitudes neste sen-
26. Resposta: “A”. Conforme disciplina o artigo 12, § tido podem gerar intervenção federal por atentarem contra
3º, CF, “São privativos de brasileiro nato os cargos: I - de o regime federativo). Logo, os Estados-membros possuem
Presidente e Vice-Presidente da República; II - de Presiden- autonomia relativa, limitada ao previsto pela Constituição,
te da Câmara dos Deputados; III - de Presidente do Senado e não possuem soberania.
Federal; IV - de Ministro do Supremo Tribunal Federal; V
- da carreira diplomática; VI - de oficial das Forças Armadas; 31. Resposta: “Errado”. Os Territórios, atualmente não
VII - de Ministro de Estado da Defesa”. O motivo da veda- existentes no país, se vierem a existir, possuem vinculação
ção é que em determinadas circunstâncias o Ministro do com a União e não a autonomia enquanto entes federati-
Supremo Tribunal Federal pode assumir substitutivamente vos. Somente são entes federativos a União, os Estados, O
a Presidência da República. distrito Federal e os Municípios.

27. Resposta: “D”. Os direitos políticos nunca podem 32. Resposta: “D”. O artigo 37, caput da Constituição
ser cassados ou perdidos, mas no máximo suspensos. A Federal colaciona os cinco princípios descritos na alterna-
condenação criminal transitada em julgado justifica a sus- tiva “A” como de necessária observância na Administração
pensão dos direitos políticos, o que é disposto no artigo Pública em todas suas esferas e em todos os seus Poderes.
15, III, CF: “é vedada a cassação de direitos políticos, cuja Já a alternativa “B” repete previsão expressa do artigo 37,
perda ou suspensão só se dará nos casos de: [...] III - conde- VI, CF; assim como a alternativa “C” traz a previsão do ar-
nação criminal transitada em julgado, enquanto durarem tigo 37, XVIII, CF; e a alternativa “E” repete o previsto no
seus efeitos”. artigo 37, V, CF.
Somente resta a alternativa “D”, que contraria o teor
28. Resposta: “B”. Prevê o artigo 14, § 3º, CF: São con- do artigo 37, XVII, CF: “A proibição de acumular estende-
dições de elegibilidade, na forma da lei: [...] VI - a idade mí-
se a empregos e funções e abrange autarquias, fundações,
nima de: c) vinte e um anos para Deputado Federal, Depu-
empresas públicas, sociedades de economia mista, suas
tado Estadual ou Distrital, Prefeito, Vice-Prefeito e juiz de
subsidiárias, e sociedades controladas, direta ou indireta-
paz”, de modo que João preenche o requisito etário para
mente, pelo poder público”. Com efeito, as sociedades de
a candidatura. “A” está errada porque a renúncia é exigida
economia mista não estão excluídas da proibição de acu-
para cargo diverso (artigo 14, §6º, CF); “C” está errada por-
mulação remunerada de cargos, razão pela qual a alterna-
que o analfabeto não pode se eleger (artigo 14, §4º, CF);
tiva é incorreta.
“D” está errada porque o afastamento neste caso é exigido
(artigo 14, §8º, I, CF).
33. Resposta: “D”. A alternativa “A” colaciona a exi-
29. Resposta: “C”. O artigo 17 da Constituição Federal gência do artigo 37, II, CF; a alternativa “B” traz os clássicos
regulamenta os partidos políticos e coloca o caráter nacio- princípios da Administração Pública previstos no caput do
nal como preceito que deva necessariamente se observado: artigo 37; em “C” percebe-se o prazo de validade de um
“É livre a criação, fusão, incorporação e extinção de parti- concurso público e sua possibilidade de prorrogação nos
dos políticos, resguardados a soberania nacional, o regime moldes exatos do artigo 37, III, CF; e “E” repete o teor do
democrático, o pluripartidarismo, os direitos fundamentais artigo 37, §5º, CF. Por sua vez, a vedação de acumulações
da pessoa humana e observados os seguintes preceitos: ao servidor público está prevista no artigo 37, XVI, CF: “é
I - caráter nacional; II - proibição de recebimento de re- vedada a acumulação remunerada de cargos públicos, ex-
cursos financeiros de entidade ou governo estrangeiros ou ceto, quando houver compatibilidade de horários, obser-
de subordinação a estes; III - prestação de contas à Justiça vado em qualquer caso o disposto no inciso XI: a) a de dois
Eleitoral; IV - funcionamento parlamentar de acordo com a cargos de professor; b) a de um cargo de professor com
lei. § 1º É assegurada aos partidos políticos autonomia para outro técnico ou científico; c) a de dois cargos ou empre-
definir sua estrutura interna, organização e funcionamento gos privativos de profissionais de saúde, com profissões
e para adotar os critérios de escolha e o regime de suas regulamentadas”.
coligações eleitorais, sem obrigatoriedade de vinculação
entre as candidaturas em âmbito nacional, estadual, distri- 34. Resposta: “E”. A competência descrita em “E” é
tal ou municipal, devendo seus estatutos estabelecer nor- comum entre União, Estados e Distrito Federal: “
mas de disciplina e fidelidade partidária. § 2º Os partidos Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito
políticos, após adquirirem personalidade jurídica, na forma Federal legislar concorrentemente sobre: [...] VI - florestas,
da lei civil, registrarão seus estatutos no Tribunal Superior caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do
Eleitoral. § 3º Os partidos políticos têm direito a recursos solo e dos recursos naturais, proteção do meio ambiente
do fundo partidário e acesso gratuito ao rádio e à televisão, e controle da poluição”. O artigo 22, CF descreve nos inci-
na forma da lei. § 4º É vedada a utilização pelos partidos sos XXV, VIII, XVI e I competências privativas da União que
políticos de organização paramilitar”. constam, nesta ordem, as alternativas “A”, “B”, “C” e “D”.

229
LEGISLAÇÃO BÁSICA

35. Resposta: “A”. O item I traz o teor do artigo 37, 2.677, que, em suas razões, aduziu que “o servidor público,
XII, CF: “os vencimentos dos cargos do Poder Legislativo e independente da lei complementar, tem o direito público,
do Poder Judiciário não poderão ser superiores aos pagos subjetivo, constitucionalizado de declarar greve”. Esse di-
pelo Poder Executivo”. O item II corresponde ao artigo 37, reito abrange o servidor público em estágio probatório,
XI, CF: “XI - a remuneração e o subsídio dos ocupantes de não podendo ser penalizado pelo exercício de um direito
cargos, funções e empregos públicos da administração di- constitucionalmente garantido.
reta, autárquica e fundacional, dos membros de qualquer
dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e 39. Resposta: “A”. Nos termos do artigo 30, I, CF,
dos Municípios, dos detentores de mandato eletivo e dos “Compete aos Municípios: I - legislar sobre assuntos de in-
demais agentes políticos e os proventos, pensões ou ou- teresse local”. A questão é que o Município tem autonomia
tra espécie remuneratória, percebidos cumulativamente para legislar sobre temas de seu particularizado interesse
ou não, incluídas as vantagens pessoais ou de qualquer e não de forma privativa. A mera alegação de que se faz
outra natureza, não poderão exceder o subsídio mensal, necessária a existência de lei delimitando o interesse local
em espécie, dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, do Município apresenta-se apenas como outra possibili-
aplicando-se como limite, nos Municípios, o subsídio do dade de atuação. Nada impede a elaboração de legislação
Prefeito, e nos Estados e no Distrito Federal, o subsídio definindo o que seria de interesse do Município, mas em
mensal do Governador no âmbito do Poder Executivo, o sua ausência, a Carta Constitucional conferiu-lhe autono-
subsídio dos Deputados Estaduais e Distritais no âmbito mia para decidir o que seria de seu interesse.
do Poder Legislativo e o subsídio dos Desembargadores
do Tribunal de Justiça, limitado a noventa inteiros e vinte e 40. Resposta: “C”. A competência privativa legislati-
cinco centésimos por cento do subsídio mensal, em espé- va da União está descrita no artigo 22 da Constituição e a
cie, dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, no âmbito previsão da alternativa “C” é a do seu inciso XI. Sobre pro-
do Poder Judiciário, aplicável este limite aos membros do dução e consumo, a competência é legislativa concorrente
Ministério Público, aos Procuradores e aos Defensores Pú- entre União, estados e Distrito Federal (artigo 24, V, CF),
blicos”. O item III refere-se ao inciso XIII do artigo 37, CF: “é assim como a de legislar sobre assistência jurídica e Defen-
vedada a vinculação ou equiparação de quaisquer espécies soria Pública (artigo 24, XIII, CF), a de legislar sobre direito
tributário, financeiro, penitenciário, econômico e urbanísti-
remuneratórias para o efeito de remuneração de pessoal
co (artigo 24, I, CF) e a de legislar sobre educação, cultura,
do serviço público”. Logo, as três afirmativas estão corretas.
ensino e desporto (artigo 24, IX, CF).
36. Resposta: “C”. A alternativa “C” traz o teor do arti-
41. Resposta: “B”. Nos moldes do artigo 37, §4º, CF,
go 231, §2º, CF: “As terras tradicionalmente ocupadas pelos
“os atos de improbidade administrativa importarão a sus-
índios destinam-se a sua posse permanente, cabendo-lhes
pensão dos direitos políticos, a perda da função pública, a
o usufruto exclusivo das riquezas do solo, dos rios e dos la-
indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário,
gos nelas existentes”, restando correta. “A” está errada por- na forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação
que o artigo 211, §3º, CF prevê que “os Estados e o Distrito penal cabível”. Dentre as alternativas, somente “B” descreve
Federal atuarão prioritariamente no ensino fundamental e previsão do dispositivo retro.
médio”, não exclusivamente nestes. “B” está errada porque
pessoas jurídicas se sujeitam também a sanções penais e 42. Resposta: “D”. Disciplina o artigo 18, §4º, CF: “§ 4º
administrativas (artigo 225, §3º, CF). “D” está incorreta por- A criação, a incorporação, a fusão e o desmembramento
que nestes casos estrangeiros podem ser admitidos (artigo de Municípios, far-se-ão por lei estadual, dentro do perío-
207, §1º, CF). do determinado por Lei Complementar Federal, e depen-
derão de consulta prévia, mediante plebiscito, às popula-
37. Resposta: “A”. A alternativa “A” traz competência ções dos Municípios envolvidos, após divulgação dos Estu-
descrita no artigo 23, V, CF: “ dos de Viabilidade Municipal, apresentados e publicados
Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, na forma da lei”.
do Distrito Federal e dos Municípios: [...] V - proporcionar
os meios de acesso à cultura, à educação e à ciência”. Todas 43. Resposta: “B”. O federalismo dualista é caracte-
as demais estão incorretas: “B” competência concorrente rizado por uma rígida separação de competências entre o
entre todos os entes federados (artigo 24, III, CF); “C” com- ente central (união) e os entes regionais (estados-mem-
petência concorrente entre todos os entes federados (ar- bros). Sendo assim, não há uma relação mais intensa de
tigo 24, IV, CF); “D” competência concorrente entre União, submissão e sim de autonomia.
estados e DF (artigo 24, VII, CF); “E” competência concor-
rente entre União, estados e DF (artigo 24, IX, CF). 44. Resposta: “E”. “A” está incorreta porque a decisão,
mesmo sobre infrações disciplinares, é tomada em sessão
38. Resposta: “D”. A greve é um direito do servidor pública; “B” está incorreta porque o único legitimado para
público, previsto no inciso VII do artigo 37 da Constituição decidir é o juiz e não seu servidor, ainda que por delega-
Federal de 1988, portanto, trata-se de um direito consti- ção; “C” está incorreta porque a lista é sêxtupla; “D” está
tucional. Nesse sentido já decidiu o Superior Tribunal de incorreta porque o prazo em que se proíbe o exercício é de
Justiça ao julgar o recurso no Mandado de Segurança nº três anos. Somente resta a alternativa “D”, aplicando-se o

230
LEGISLAÇÃO BÁSICA

artigo 95, CF: Os juízes gozam das seguintes garantias: [...] voto da maioria absoluta de seus membros”, logo, o quó-
II - inamovibilidade, salvo por motivo de interesse público, rum é de maioria absoluta e não de 2/3, e as decisões são
na forma do art. 93, VIII”. Logo, o motivo de interesse pú- motivadas e tomadas em sessão pública, afastando-se a
blico pode gerar a quebra da garantia da inamovibilidade. alternativa “C” e confirmando-se a alternativa “B”. A alter-
nativa “A” está de acordo com o artigo 62, §1º, IV, CF; a “D”
45. Resposta: “D”. As competências de processamen- com o artigo 93, XIII, CF; e a “E” segue o disposto no artigo
to e julgamento estão previstas nos artigos 102, CF – em 95, II e III, CF.
relação ao Supremo Tribunal Federal – e 105, CF – quanto
ao Superior Tribunal de Justiça. As regras de competências 48. Resposta: “A”. O item I está praticamente inteiro
previstas nas alternativas “A”, “B”, “C” e “E” estão incorretas, correto, somente se percebendo o erro ao final, quando
pelos seguintes motivos: afirma que não há exceções para o exercício de outra fun-
Quanto à alternativa “A”, o art. 102, I, “e”, CF prevê ção pública porque a própria Constituição prevê uma exce-
que o Supremo Tribunal Federal processa e julga origina- ção no artigo 128, §5º, II, “d” – uma atividade de magistério.
riamente “o litígio entre Estado estrangeiro ou organismo II está incorreta porque a Advocacia Geral da União não
internacional e a União, o Estado, o Distrito Federal ou o representa o Executivo federal na execução de dívida ativa
Território”, excluindo os Municípios. de natureza tributária: “
Em relação à alternativa “B”, o artigo 102, II, “a”, CF, Art.go 131, §3º, CF. Na execução da dívida ativa de na-
prevê que compete ao Supremo Tribunal Federal “julgar, tureza tributária, a representação da União cabe à Procu-
em recurso ordinário: a) o ‘habeas corpus’, o mandado de radoria-Geral da Fazenda Nacional, observado o disposto
segurança, o ‘habeas data’ e o mandado de injunção de- em lei”. III está incorreta porque a participação da Ordem
cididos em única instância pelos Tribunais Superiores, se dos Advogados do Brasil no concurso de provas e títulos é
denegatória a decisão”, logo, o recurso é ordinário, não obrigatória em todas as fases (artigo 132, CF). Neste senti-
extraordinário. do, as três afirmativas estão incorretas.
No que tange à alternativa “C”, o artigo 105, I, “d”, CF
prevê que o Superior Tribunal de Justiça processará e jul- 49. Resposta: “B”. Neste sentido, prevê o artigo 105,
gará originariamente “os conflitos de competência entre
I, “b”, CF: “Compete ao Superior Tribunal de Justiça: [...] II
quaisquer tribunais, ressalvado o disposto no art. 102, I, ‘o’,
- julgar, em recurso ordinário: [...] b) os mandados de se-
bem como entre tribunal e juízes a ele não vinculados e
gurança decididos em única instância pelos Tribunais Re-
entre juízes vinculados a tribunais diversos”, de modo que
gionais Federais ou pelos tribunais dos Estados, do Distrito
o julgamento é originário, não em sede de recurso especial.
Federal e Territórios, quando denegatória a decisão”.
Sobre a alternativa “E”, “os conflitos de competência
entre o Superior Tribunal de Justiça e quaisquer tribunais,
50. Resposta: “B”. A regra do quinto constitucional
entre Tribunais Superiores, ou entre estes e qualquer outro
está prevista na Constituição Federal com o seguinte teor: “
tribunal” são julgados pelo Supremo Tribunal Federal, con-
forme artigo 102, I, “o”, CF, mas não em sede de recurso Art. 94, CF. Um quinto dos lugares dos Tribunais Re-
ordinário, e sim originariamente. gionais Federais, dos Tribunais dos Estados, e do Distrito
Resta a alternativa “D”, que vai de encontro com o ar- Federal e Territórios será composto de membros, do Mi-
tigo 105, I, “g”, CF, competindo originariamente ao Supe- nistério Público, com mais de dez anos de carreira, e de
rior Tribunal de Justiça processar e julgar “os conflitos de advogados de notório saber jurídico e de reputação iliba-
atribuições entre autoridades administrativas e judiciárias da, com mais de dez anos de efetiva atividade profissional,
da União, ou entre autoridades judiciárias de um Estado e indicados em lista sêxtupla pelos órgãos de representação
administrativas de outro ou do Distrito Federal, ou entre as das respectivas classes. Parágrafo único. Recebidas as in-
deste e da União”. dicações, o tribunal formará lista tríplice, enviando-a ao
Poder Executivo, que, nos vinte dias subsequentes, esco-
46. Resposta: “C”. O Estatuto da Magistratura tem suas lherá um de seus integrantes para nomeação”.
regulamentações gerais descritas no artigo 93 da CF, sendo
que todas as alternativas, exceto a “C” estão em compati- 51. Resposta: “C”. Os crimes políticos são julgados em
bilidade com este dispositivo. Neste sentido, o artigo 93, II, recurso ordinário pelo Supremo Tribunal Federal sempre,
“d”, CF prevê que “na apuração de antiguidade, o tribunal conforme artigo 102, II, “b”, CF: “Compete ao Supremo Tri-
somente poderá recusar o juiz mais antigo pelo voto fun- bunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição,
damentado de dois terços de seus membros, conforme cabendo-lhe: [...] II - julgar, em recurso ordinário: [...] b) o
procedimento próprio, e assegurada ampla defesa, repe- crime político”.
tindo-se a votação até fixar-se a indicação”. Sendo assim,
não consideram-se apenas os membros presentes, mas to- 52. Resposta: “B”. Nos termos do artigo 109, X, CF,
dos os membros do Tribunal. “aos juízes federais compete processar e julgar: [...] X - os
crimes de ingresso ou permanência irregular de estrangei-
47. Resposta: “C”. Nos termos do artigo 93, X, CF, “as ro, a execução de carta rogatória, após o exequatur, e de
decisões administrativas dos tribunais serão motivadas e sentença estrangeira, após a homologação, as causas re-
em sessão pública, sendo as disciplinares tomadas pelo ferentes à nacionalidade, inclusive a respectiva opção, e à

231
LEGISLAÇÃO BÁSICA

naturalização”. Nota para a pergunta capciosa do examina- órgãos do Poder Judiciário, podendo desconstituí-los,
dor, afinal, a competência para conceder o exequatur é do revê-los ou fixar prazo para que se adotem as providências
Superior Tribunal de Justiça (artigo 105, I, “i”, CF). necessárias ao exato cumprimento da lei, sem prejuízo da
competência do Tribunal de Contas da União” (grifo nosso).
53. Resposta: “A”. As competências do Conselho Na-
cional de Justiça estão descritas no artigo 103-B, § 4º, CF: 55. Resposta: “A”. O artigo 129, CF, estabelece as fun-
“§ 4º Compete ao Conselho o controle da atuação adminis- ções institucionais do Ministério Público, nos seguintes ter-
trativa e financeira do Poder Judiciário e do cumprimento mos: “
dos deveres funcionais dos juízes, cabendo-lhe, além de Art. 129. São funções institucionais do Ministério Públi-
outras atribuições que lhe forem conferidas pelo Estatuto co: I - promover, privativamente, a ação penal pública,
da Magistratura: I - zelar pela autonomia do Poder Judi- na forma da lei; II - zelar pelo efetivo respeito dos Poderes
ciário e pelo cumprimento do Estatuto da Magistratura, Públicos e dos serviços de relevância pública aos direitos
podendo expedir atos regulamentares, no âmbito de sua assegurados nesta Constituição, promovendo as medidas
competência, ou recomendar providências; II - zelar pela necessárias a sua garantia; III - promover o inquérito civil
observância do art. 37 e apreciar, de ofício ou mediante e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio
provocação, a legalidade dos atos administrativos pratica- público e social, do meio ambiente e de outros interes-
dos por membros ou órgãos do Poder Judiciário, podendo ses difusos e coletivos; IV - promover a ação de incons-
desconstituí-los, revê-los ou fixar prazo para que se ado- titucionalidade ou representação para fins de intervenção
tem as providências necessárias ao exato cumprimento da da União e dos Estados, nos casos previstos nesta Consti-
lei, sem prejuízo da competência do Tribunal de Contas da tuição; V - defender judicialmente os direitos e interesses
União; III - receber e conhecer das reclamações contra das populações indígenas; VI - expedir notificações nos
membros ou órgãos do Poder Judiciário, inclusive contra procedimentos administrativos de sua competência, re-
seus serviços auxiliares, serventias e órgãos prestadores de quisitando informações e documentos para instruí-los,
serviços notariais e de registro que atuem por delegação na forma da lei complementar respectiva; VII - exercer
do poder público ou oficializados, sem prejuízo da com- o controle externo da atividade policial, na forma da lei
petência disciplinar e correicional dos tribunais, podendo complementar mencionada no artigo anterior; VIII - requi-
avocar processos disciplinares em curso e determinar a sitar diligências investigatórias e a instauração de inquérito
remoção, a disponibilidade ou a aposentadoria com sub- policial, indicados os fundamentos jurídicos de suas mani-
festações processuais; IX - exercer outras funções que lhe
sídios ou proventos proporcionais ao tempo de serviço
forem conferidas, desde que compatíveis com sua finalida-
e aplicar outras sanções administrativas, assegurada am-
de, sendo-lhe vedada a representação judicial e a consul-
pla defesa; IV - representar ao Ministério Público, no caso
toria jurídica de entidades públicas”. Com efeito, embora
de crime contra a administração pública ou de abuso de
o Ministério Público possa promover a defesa dos direitos
autoridade; V - rever, de ofício ou mediante provocação, os e dos interessas das populações indígenas, não o faz por
processos disciplinares de juízes e membros de tribunais promotor ad hoc, figura não mais aceita, nos termos do
julgados há menos de um ano; VI - elaborar semestralmen- artigo 129, §2º, CF, que prevê: “As funções do Ministério
te relatório estatístico sobre processos e sentenças prola- Público só podem ser exercidas por integrantes da carreira,
tadas, por unidade da Federação, nos diferentes órgãos do que deverão residir na comarca da respectiva lotação, salvo
Poder Judiciário; VII - elaborar relatório anual, propondo autorização do chefe da instituição”.
as providências que julgar necessárias, sobre a situação do
Poder Judiciário no País e as atividades do Conselho, o qual 56. Resposta: “Certo”. A autonomia funcional e admi-
deve integrar mensagem do Presidente do Supremo Tri- nistrativa do Ministério Público é garantida no artigo 127,
bunal Federal a ser remetida ao Congresso Nacional, por §2º, CF e a autonomia funcional e administrativa da Defen-
ocasião da abertura da sessão legislativa”. Conforme grifos soria Pública estadual é garantida no artigo 134, §2º, CF.
no inciso III do referido dispositivo, um juiz federal, como
funcionário do Poder Judiciário, pode ter sua aposentado- 57. Resposta: “B”. “B” está correta porque autonomia
ria determinada pelo Conselho Nacional de Justiça com funcional e administrativa pertencem às Defensorias Públi-
subsídios ou proventos proporcionais ao tempo de serviço, cas como um todo, conforme artigo 134, CF: “§ 2º Às De-
tendo preservado seu direito à ampla defesa. fensorias Públicas Estaduais são asseguradas autonomia
funcional e administrativa e a iniciativa de sua proposta
54. Resposta: “C”. Preconiza o artigo 103-B, § 4º, II: orçamentária dentro dos limites estabelecidos na lei de
“Compete ao Conselho o controle da atuação adminis- diretrizes orçamentárias e subordinação ao disposto no art.
trativa e financeira do Poder Judiciário e do cumprimento 99, § 2º. § 3º Aplica-se o disposto no § 2º às Defensorias
dos deveres funcionais dos juízes, cabendo-lhe, além de Públicas da União e do Distrito Federal” (grifo nosso).
outras atribuições que lhe forem conferidas pelo Estatuto Por seu turno, “A” está incorreta porque nas carreiras ini-
da Magistratura: [...] II - zelar pela observância do art. 37 e ciais de fato o ingresso se dá por concurso de provas e tí-
apreciar, de ofício ou mediante provocação, a legalidade tulos, mas o Advogado-Geral da União é de livre nomeação
dos atos administrativos praticados por membros ou do Presidente da República (artigo 131, §1º, CF); “C” está

232
LEGISLAÇÃO BÁSICA

incorreta porque tal incumbência é da Procuradoria-Geral CF). Não é somente a lei que aceita o controle de consti-
da Fazenda Nacional (artigo 131, §1º, CF); “D” está incor- tucionalidade, embora lei seja o tipo mais clássico de ato
reta porque a competência de promover ação civil pública normativo. É possível o controle de qualquer ato normativo
não é privativa do Ministério Público e nem mesmo a de federal ou estadual, por exemplo, uma medida provisória
promover a ação penal, já que o constituinte assegura a ou um Decreto autônomo. Qualquer ato normativo carac-
ação penal subsidiária da pública; “E” está incorreta porque teriza-se por possuir abstração e generalidade, bastando
logicamente a imunidade profissional do advogado sofre isto para ser considerado como tal. Contudo, para ser pas-
restrições. sível de controle de constitucionalidade, segundo o Supre-
mo Tribunal Federal, precisa também ser autônomo.
58. Resposta: “A”. Desde a metade do século XX, o
discurso do Positivismo não mais se adéqua às exigências 62. Resposta: “A”. O rol de legitimados para proposi-
jurídicas; no entanto, o pós-positivismo não promoveu um ção da ação é taxativo e está previsto no artigo 103 da CF:
simples retorno ao jusnaturalismo, mas uma inclusão no “Podem propor a ação direta de inconstitucionalidade e a
ordenamento jurídico das ideias de justiça e legitimidade, ação declaratória de constitucionalidade: I - o Presidente
bem como dos princípios como o da dignidade humana, da República; II - a Mesa do Senado Federal; III - a Mesa
da razoabilidade, da solidariedade e da reserva de justiça. da Câmara dos Deputados; IV - a Mesa de Assembleia Le-
No Brasil, desde o ano de 2001, 13 anos depois da Consti- gislativa ou da Câmara Legislativa do Distrito Federal; V -
tuição Federal de 1988, parece estar se formando um novo o Governador de Estado ou do Distrito Federal; VI - o
direito constitucional. Neste novo Direito constitucional se Procurador-Geral da República; VII - o Conselho Federal da
percebe uma onda de ativismo na qual o intérprete assume Ordem dos Advogados do Brasil; VIII - partido político com
o papel de efetivador da norma, não mais se contentando representação no Congresso Nacional; IX - confederação
com a interpretação literal. Quando se vai além no proces- sindical ou entidade de classe de âmbito nacional” (grifo
so de interpretação, num fenômeno de construção jurídica, nosso).
se está legitimado pela própria ordem constitucional, salvo
se houver evidente abuso da prerrogativa. 63. Resposta: “A”. O rol de legitimados para proposi-
ção da ação é taxativo e está previsto no artigo 103 da CF:
59. Resposta: “E”. O método científico-espiritual vai “Podem propor a ação direta de inconstitucionalidade e a
além da literalidade da norma, envolvendo a compreen- ação declaratória de constitucionalidade: I - o Presidente
são da Constituição como uma ordem de valores e como da República; II - a Mesa do Senado Federal; III - a Mesa
elemento do processo de integração. O artigo 37, I, CF da Câmara dos Deputados; IV - a Mesa de Assembleia Le-
não traz norma de aplicabilidade plena. Conforme doutri- gislativa ou da Câmara Legislativa do Distrito Federal; V - o
na constitucionalista o art. 230, §2º, CF trata-se de norma Governador de Estado ou do Distrito Federal; VI - o Procu-
de eficácia plena, produzindo ampla e irrestritamente seus rador-Geral da República; VII - o Conselho Federal da Or-
efeitos. A regulamentação sobre a competência de institui- dem dos Advogados do Brasil; VIII - partido político com
ção de regiões metropolitanas é norma de eficácia plena, representação no Congresso Nacional; IX - confederação
não contida. sindical ou entidade de classe de âmbito nacional”. O ar-
Com efeito, somente resta a alternativa “E”, consideran- tigo 2º da Lei nº 9.868/1999 repete o teor do artigo 103,
do que o método jurídico ou hermenêutico-clássico parte CF. O Advogado-Geral da União representa o Presidente
da premissa de que a Constituição é uma lei, devendo ser da República neste tipo de ação, mas não tem autonomia
interpretada como tal, dispondo o intérprete dos seguintes para a propositura.
elementos tradicionais ou clássicos da hermenêutica jurídi-
ca, que remontam à Escola Histórica do Direito de Savigny, 64. Resposta: “C”. A repercussão geral é um dos me-
de 1840: gramatical (ou literal); histórico; sistemático (ou canismos criado pelo Legislativo para restringir o número
lógico); teleológico (ou racional); e genético. de recursos no STF. Prevista no art. 102, §3º, CF, desde a
Emenda Constitucional nº 45/2004, passou a ser requisi-
60. Resposta: “D”. As normas que definem direitos e to de admissibilidade do RE, exigindo que a matéria te-
garantias fundamentais são de eficácia imediata, motivo nha relevante valor social, político, econômico ou jurídico,
pelo qual “A” está incorreta. As de eficácia contida tam- transcendendo o interesse individual das partes. Dos 11
bém, mas podem ter a eficácia restringida por lei, estando ministros, ao menos 8 (2/3) devem dizer que não há reper-
“B” incorreta. As normas de eficácia limitada possuem rele- cussão geral. Logo, a falta de repercussão geral deve ser
vância jurídica interpretativa e integrativa, motivo pelo qual bem evidente.
“C” está errada. E as normas programáticas trazem metas
a serem atingidas e efetivadas pelo Estado, então “E” está 65. Resposta: “E”. A regra é que os decretos do Po-
incorreta. “D”, por seu turno, traz adequada conceituação der Executivo são vinculados a uma legislação que devam
das normas de eficácia plena e aplicabilidade direta. regulamentar. No caso dos decretos autônomos, somente
são cabíveis quando autorizados, não podendo criar obri-
61. Resposta: “D”. O objeto da ação direta de incons- gações que somente podem ser criadas por lei federal.
titucionalidade é uma lei ou ato normativo federal ou es- Sendo o decreto autônomo, cabe o controle de constitu-
tadual que contrarie a Constituição Federal (art. 102, I, “a”, cionalidade pela via direta.

233
LEGISLAÇÃO BÁSICA

66. Resposta: “D”. O artigo 103, CF traz rol taxativo de 70. Resposta: “E”. Cabe ação direta de inconstituciona-
legitimados que “podem propor a ação direta de inconsti- lidade de lei municipal perante o Tribunal de Justiça local em
tucionalidade e a ação declaratória de constitucionalidade: caso de confronto com a Constituição Estadual, cuja supre-
I - o Presidente da República; II - a Mesa do Senado Federal; macia é resguardada pelo Tribunal local. Quanto ao recurso
III - a Mesa da Câmara dos Deputados; IV - a Mesa de cabível da decisão que julgue o ato inconstitucional, trata-se
Assembleia Legislativa ou da Câmara Legislativa do Distrito do recurso extraordinário: “
Federal; V - o Governador de Estado ou do Distrito Federal; Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, preci-
VI - o Procurador-Geral da República; VII - o Conselho Fede- puamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe: [...] III -
ral da Ordem dos Advogados do Brasil; VIII - partido político julgar, mediante recurso extraordinário, as causas decididas
com representação no Congresso Nacional; IX - confedera- em única ou última instância, quando a decisão recorrida:
ção sindical ou entidade de classe de âmbito nacional”. Das [...] c) julgar válida lei ou ato de governo local contestado em
alternativas, somente a “D” traz uma hipótese do dispositivo. face desta Constituição”. Coloca-se a hipótese da alínea “c”
porque a Constituição estadual deve guardar uma relação
67. Resposta: “B”. “A subsidiariedade, na modalidade de compatibilidade com a Federal, de modo que lei munici-
incidental de ADPF, coloca a perspectiva objetiva em um pal que a viole a Estadual acabará por violar a Federal.
plano secundário, residual – que não deixa de ter sua im-
portância, como implícita e intrinsecamente o têm todas as 71. Resposta: “C”. O artigo 61, §1º, CF estabelece pro-
demais formas de controle concentrado de constituciona- jetos de leis que somente podem ser propostos pelo Presi-
lidade existentes no sistema. Aqui, incidentalmente a uma dente da República, que são de sua iniciativa privativa, como
lide pré-existente, o enfrentamento da questão objetiva os que “fixem ou modifiquem os efetivos das Forças Arma-
pelo STF decorre não da ausência de outras formas legais das” (inciso I). A alternativa “A” repete o artigo 60, caput, mas
de fiscalização abstrata, mas do exame do espectro social afirma que a maioria dos membros das Assembleias Legis-
da controvérsia jurídica ínsita no caso concreto, bem como lativas deve ser absoluta, quando na verdade basta a relati-
da relevância geral da questão debatida, circunstâncias que va. Quanto à emenda rejeitada ou havida por prejudicada,
conforme o §5º do artigo 61 da CF, “não pode ser objeto de
passam a integrar indissociavelmente, o próprio juízo de ad-
nova proposta na mesma sessão legislativa”, nem mesmo
missibilidade desta novel ação constitucional, quando, por
a deliberação de 2/3 dos membros altera isto, razão pela
via incidental, for ela submetida ao conhecimento do Supre-
qual “B” está incorreta. “D” está incorreta porque a porta de
mo Tribunal Federal”29.
entrada destes projetos de lei é a Câmara dos Deputados.
“E” resta incorreta porque “as leis complementares serão
68. Resposta: “B”. A modulação de efeitos se encontra
aprovadas por maioria absoluta” (artigo 69, CF), não maioria
disciplinada pela Lei nº 9.868/1999 em seu artigo 27, do qual
simples.
se extrai que “B” está correta: “Ao declarar a inconstituciona-
lidade de lei ou ato normativo, e tendo em vista razões de 72. Resposta: “A”. A alternativa “A” está em consonân-
segurança jurídica ou de excepcional interesse social, poderá cia com o artigo 61, § 1º, CF: “São de iniciativa privativa do
o Supremo Tribunal Federal, por maioria de dois terços de Presidente da República as leis que: [...] II - disponham sobre:
seus membros, restringir os efeitos daquela declaração ou [...] d) organização do Ministério Público e da Defensoria Pú-
decidir que ela só tenha eficácia a partir de seu trânsito em blica da União, bem como normas gerais para a organização
julgado ou de outro momento que venha a ser fixado”. “A” do Ministério Público e da Defensoria Pública dos Estados,
está incorreta porque a modulação não se refere a deter- do Distrito Federal e dos Territórios”. A alternativa “B” está
minadas pessoas, tem caráter temporal e não subjetivo; “C” errada porque amplia o rol de vedações do artigo 62, §1º,
está incorreta porque é dispensável decisão unânime, “D” CF; “C” está errada porque amplia o prazo de 45 dias do
está incorreta porque o quórum de maioria absoluta é insu- artigo 62, §6º, CF para 120 dias; “D” está errada porque no
ficiente; “E” está incorreta porque o efeito vinculante atinge caso de rejeição pela Casa revisora há arquivamento (artigo
todos os Poderes. 65, caput, CF).

69. Resposta: “D”. A inconstitucionalidade não se pre- 73. Resposta: “A”. As atribuições do Tribunal de Contas
sume, de modo que até que seja expressamente declarada da União estão descritas no artigo 71 da Constituição Fede-
como inconstitucional, uma lei é constitucional. Vale refor- ral, sendo a competência descrita na letra “A” prevista logo
çar que o reconhecimento da inconstitucionalidade para ter no inciso II: “
efeitos contra todos (“erga omnes”), deve ser feito em via de Art. 71. O controle externo, a cargo do Congresso Na-
controle de constitucionalidade concentrado ou, se na via cional, será exercido com o auxílio do Tribunal de Contas
do controle difuso, mediante expedição de resolução do Se- da União, ao qual compete: I - apreciar as contas prestadas
nado Federal ou edição de súmula vinculante. Sendo assim, anualmente pelo Presidente da República, mediante parecer
mesmo que a inconstitucionalidade seja, em tese, manifesta, prévio que deverá ser elaborado em sessenta dias a contar
deverá ser pronunciada em determinados moldes para que de seu recebimento; II - julgar as contas dos administra-
a lei possa deixar de ser cumprida. dores e demais responsáveis por dinheiros, bens e valo-
29 http://jus.com.br/artigos/8080/a-dupla-significacao-da- res públicos da administração direta e indireta, incluídas
-subsidiariedade-da-adpf as fundações e sociedades instituídas e mantidas pelo Po-

234
LEGISLAÇÃO BÁSICA

der Público federal, e as contas daqueles que derem cau- 76. Resposta: “B”. Na apreciação e elaboração de leis
sa a perda, extravio ou outra irregularidade de que resulte e emendas constitucionais, no geral, ambas Casas do Con-
prejuízo ao erário público; III - apreciar, para fins de registro, gresso Nacional possuem a mesma força, seja quando deli-
a legalidade dos atos de admissão de pessoal, a qualquer beram de forma conjunta, seja quando deliberam de forma
título, na administração direta e indireta, incluídas as fun- autônoma. Na deliberação conjunta, como no caso do veto
dações instituídas e mantidas pelo Poder Público, excetua- (art. 66, §4º, CF) e da revisão constitucional (art. 3º, ADCT), a
das as nomeações para cargo de provimento em comissão, força dos membros é equivalente. Da mesma forma, em ma-
bem como a das concessões de aposentadorias, reformas e téria de emenda constitucional e equivalentes, a deliberação
pensões, ressalvadas as melhorias posteriores que não al- tem a mesma força (art. 60, CF). Nos casos de leis ordinárias,
terem o fundamento legal do ato concessório; IV - realizar, conversão de medidas provisórias em leis e de leis comple-
por iniciativa própria, da Câmara dos Deputados, do Sena- mentares, quase sempre a deliberação principal se fará na
do Federal, de Comissão técnica ou de inquérito, inspeções Câmara dos Deputados, o que a coloca numa posição de
e auditorias de natureza contábil, financeira, orçamentária, destaque no sistema jurídico-constitucional.
operacional e patrimonial, nas unidades administrativas dos
Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, e demais entida- 77. Resposta: “C”. A incumbência descrita na assertiva
des referidas no inciso II; V - fiscalizar as contas nacionais “C” é privativa do Senado Federal: “
das empresas supranacionais de cujo capital social a União Art. 52. Compete privativamente ao Senado Federal: [...]
participe, de forma direta ou indireta, nos termos do tratado X - suspender a execução, no todo ou em parte, de lei de-
constitutivo; VI - fiscalizar a aplicação de quaisquer recursos clarada inconstitucional por decisão definitiva do Supremo
repassados pela União mediante convênio, acordo, ajuste ou Tribunal Federal”.
outros instrumentos congêneres, a Estado, ao Distrito Fede-
ral ou a Município; VII - prestar as informações solicitadas 78. Resposta: “A”. Prevê o artigo 83, CF: “O Presidente e
pelo Congresso Nacional, por qualquer de suas Casas, ou o Vice-Presidente da República não poderão, sem licença do
Congresso Nacional, ausentar-se do País por período supe-
por qualquer das respectivas Comissões, sobre a fiscalização
rior a quinze dias, sob pena de perda do cargo”.
contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial
e sobre resultados de auditorias e inspeções realizadas; VIII -
79. Resposta: “B”. Disciplina, neste sentido, o artigo 81,
aplicar aos responsáveis, em caso de ilegalidade de despesa
§1º, CF: “Vagando os cargos de Presidente e Vice-Presidente
ou irregularidade de contas, as sanções previstas em lei, que
da República, far-se-á eleição noventa dias depois de aberta
estabelecerá, entre outras cominações, multa proporcional
a última vaga. § 1º Ocorrendo a vacância nos últimos dois
ao dano causado ao erário; IX - assinar prazo para que o ór- anos do período presidencial, a eleição para ambos os car-
gão ou entidade adote as providências necessárias ao exato gos será feita trinta dias depois da última vaga, pelo Con-
cumprimento da lei, se verificada ilegalidade; X - sustar, se gresso Nacional, na forma da lei”.
não atendido, a execução do ato impugnado, comunicando
a decisão à Câmara dos Deputados e ao Senado Federal; XI 80. Resposta: “D”. Quem assume no lugar do Vice-Pre-
- representar ao Poder competente sobre irregularidades ou sidente, segundo a ordem prevista no artigo 80, CF, é su-
abusos apurados”. cessivamente, “o Presidente da Câmara dos Deputados, o
do Senado Federal e o do Supremo Tribunal Federal”. Como
74. Resposta: “C”. Nos termos do artigo 52, III, “a”, CF: vagaram os dois cargos, Presidência e Vice-Presidência, “[...]
“Compete privativamente ao Senado Federal: [...] III - apro- far-se-á eleição noventa dias depois de aberta a última vaga
var previamente, por voto secreto, após arguição pública, a (artigo 81, caput, CF), mas “ocorrendo a vacância nos últimos
escolha de: a) Magistrados, nos casos estabelecidos nesta dois anos do período presidencial, a eleição para ambos
Constituição”; sendo que a respeito prevê o artigo 111-A, os cargos será feita trinta dias depois da última vaga, pelo
CF: “o Tribunal Superior do Trabalho compor-se-á de vinte Congresso Nacional, na forma da lei” (artigo 81, §1º, CF).
e sete Ministros, escolhidos dentre brasileiros com mais de
trinta e cinco e menos de sessenta e cinco anos, nomeados 81. Resposta: “C”. Tratam-se das competências privati-
pelo Presidente da República após aprovação pela maioria vas administrativas, que são delegáveis, enumeradas no arti-
absoluta do Senado Federal” (grifo nosso). go 84, CF (“Compete privativamente ao Presidente da Repú-
blica”), sendo que a hipótese da alternativa “C” está prevista
75. Resposta: “D”. Prevê o artigo 36, CF: “A decreta- no inciso XXV do dispositivo.
ção da intervenção dependerá: [...] III - de provimento, pelo
Supremo Tribunal Federal, de representação do Procurador- 82. Resposta: “D”. A assertiva “A” está de acordo com
Geral da República, na hipótese do artigo 34, VII, e no caso o artigo 136, §3º, I, CF; a assertiva “B” está conforme o artigo
de recusa à execução de lei federal”. Por seu turno, prevê o 136, §4º, CF; a afirmativa “C” está em consonância com o
referido artigo 34, VII, CF: “VII - assegurar a observância dos artigo 136, §3º, II, CF; a alternativa “E” repete o teor do artigo
seguintes princípios constitucionais: a) forma republicana, 136, §2º, CF. Somente resta a alternativa “D”, sendo que o
sistema representativo e regime democrático; b) direitos da artigo 136, §3º, CF prevê que “III - a prisão ou detenção de
pessoa humana; c) autonomia municipal; d) prestação de qualquer pessoa não poderá ser superior a dez dias, salvo
contas da administração pública, direta e indireta”. No caso quando autorizada pelo Poder Judiciário; IV - é vedada a in-
relatado no enunciado, há evidente desrespeito ao princípio comunicabilidade do preso”. O erro está quanto ao prazo
da dignidade da pessoa humana. da prisão.’

235
LEGISLAÇÃO BÁSICA

83. Resposta: “A”. É o que se extrai do artigo 139, CF: decisão totalmente livre do casal (artigo 226, §7º, CF), res-
“Na vigência do estado de sítio decretado com funda- tando “E” incorreta. Resta a alternativa “B”, que corretamen-
mento no art. 137, I, só poderão ser tomadas contra as te traz o teor do artigo 226, §4º, CF: “entende-se, também,
pessoas as seguintes medidas: I - obrigação de permanência como entidade familiar a comunidade formada por qualquer
em localidade determinada; II - detenção em edifício não dos pais e seus descendentes”.
destinado a acusados ou condenados por crimes comuns;
III - restrições relativas à inviolabilidade da correspondência, 87. Resposta: “C”. A alternativa “A” está incorreta por-
ao sigilo das comunicações, à prestação de informações e que o patrimônio cultural também pode ter natureza mate-
à liberdade de imprensa, radiodifusão e televisão, na forma rial (artigo 216, caput, CF). “B” está incorreta porque o Poder
da lei; IV - suspensão da liberdade de reunião; V - busca e Público promoverá e protegerá o patrimônio cultural não
apreensão em domicílio; VI - intervenção nas empresas de isoladamente e sim com a colaboração da comunidade (ar-
serviços públicos; VII - requisição de bens. Parágrafo único. tigo 216, §1º, CF). A alternativa “C” está correta e traz o teor
Não se inclui nas restrições do inciso III a difusão de pronun- do artigo 210, caput, CF: “Serão fixados conteúdos mínimos
ciamentos de parlamentares efetuados em suas Casas Legis- para o ensino fundamental, de maneira a assegurar forma-
lativas, desde que liberada pela respectiva Mesa”. Logo, tais ção básica comum e respeito aos valores culturais e artísti-
medidas descritas na alternativa “A” nem sempre poderão cos, nacionais e regionais”. O Plano Nacional de Cultura é de
ser tomadas no estado de sítio, mas somente quando hou- duração plurianual (artigo 215, §3º, CF).O previsto na alter-
ver “comoção grave de repercussão nacional ou ocorrência nativa “E” vai contra a descentralização do Sistema Nacional
de fatos que comprovem a ineficácia de medida tomada du- de Cultura (artigo 216-A, caput, CF).
rante o estado de defesa” (artigo 137, I, CF).
88. Resposta: “B”. Trata-se de princípio previsto no ar-
84. Resposta: “E”. Em que pese o direito à educação ser tigo 216-A, §1º, CF: “VII - transversalidade das políticas cul-
um direito de segunda dimensão, classicamente relacionado turais” e “XII - ampliação progressiva dos recursos contidos
à ideia de norma programática do texto constitucional, as nos orçamentos públicos para a cultura”.
promessas feitas pelo constituinte não podem ser tomadas
de forma vã. A omissão do Estado em garantir a gratuidade 89. Resposta: “C”. Observando o artigo 194, parágrafo
do ensino público, assegurada no artigo 206, IV, CF, gera único, VII, CF é possível perceber que a alternativa “C” está
responsabilidade da autoridade que deveria ter tomado incorreta: “Compete ao Poder Público, nos termos da lei,
providências para tanto. No mais, trata-se de dever com- organizar a seguridade social, com base nos seguintes ob-
partilhado e não exclusivo do Estado, que abrange todas jetivos: [...] caráter democrático e descentralizado da admi-
as esferas educacionais, inclusive o ensino em creche, além nistração, mediante gestão quadripartite, com participação
do ensino não formal. Os deficientes devem ser integrados dos trabalhadores, dos empregadores, dos aposentados e
neste sistema, não excluídos dele. Eventualmente, os esta- do Governo nos órgãos colegiados”. Logo, os aposentados
belecimentos oficiais podem perceber valores, notadamente estão incluídos e a gestão é quadripartite.
provenientes de doações.
90. Resposta: “E”. Neste viés, o artigo 200, CF prevê:
85. Resposta: “E”. Os medicamentos de alto custo de- “Ao sistema único de saúde compete, além de outras atri-
vem ser fornecidos a todos aqueles que o necessitarem, não buições, nos termos da lei: I - controlar e fiscalizar procedi-
somente aos hipossuficientes, até mesmo porque é possí- mentos, produtos e substâncias de interesse para a saúde
vel que uma pessoa com boa renda não tenha condições e participar da produção de medicamentos, equipamentos,
de arcar com estes. O mandado de segurança buscando o imunobiológicos, hemoderivados e outros insumos; II - exe-
fornecimento de medicamentos pode ser interposto pelo cutar as ações de vigilância sanitária e epidemiológica, bem
Ministério Público, mas não somente por ele, também pela como as de saúde do trabalhador; III - ordenar a formação
Defensoria Pública e pelo próprio interessado. O sistema de recursos humanos na área de saúde; IV - participar da
de saúde está previsto na Lei nº 8.080/1990, mas encontra formulação da política e da execução das ações de sanea-
substrato constitucional, especialmente em seu artigo 6º. mento básico; V - incrementar em sua área de atuação o
Referida lei especial assegura a possibilidade de participação desenvolvimento científico e tecnológico; VI - fiscalizar e
de entidades privadas no sistema, desde que não possuam inspecionar alimentos, compreendido o controle de seu teor
fim lucrativo, ou seja, atendam pelo preço do SUS. nutricional, bem como bebidas e águas para consumo hu-
86. Resposta: “B”. A alternativa “A” está incorreta por- mano; VII - participar do controle e fiscalização da pro-
que o que se equiparou à família foi a união estável entre dução, transporte, guarda e utilização de substâncias e
pessoas do mesmo sexo, a qual independe de formalização produtos psicoativos, tóxicos e radioativos; VIII - colabo-
escrita. A alternativa “C” está incorreta porque o artigo 226, rar na proteção do meio ambiente, nele compreendido
§5º, CF prevê a igualdade entre homem e mulher no casa- o do trabalho”. Conforme grifos, as atribuições descritas na
mento: “os direitos e deveres referentes à sociedade conju- alternativa “E” estão corretas.
gal são exercidos igualmente pelo homem e pela mulher”.
O casamento religioso, por sua vez, pode gerar efeitos civis, 91. Resposta: “C”.O artigo 150 da Constituição Federal
conforme artigo 226, §2º, restando “D” incorreta. O Estado trata das limitações ao poder de tributar, sendo que no in-
não pode intervir coativamente no planejamento familiar, ciso VI, “a”, destaca-se a vedação descrita na letra “C”: “Sem

236
LEGISLAÇÃO BÁSICA

prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é ca, ou de participação societária remanescente após a alie-
vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Muni- nação, cujos rendimentos, gerados a partir de 18 de junho
cípios: I - exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabele- de 2002, reverterão ao Fundo de Combate e Erradicação de
ça; II - instituir tratamento desigual entre contribuintes que Pobreza. § 1º Caso o montante anual previsto nos rendimen-
se encontrem em situação equivalente, proibida qualquer tos transferidos ao Fundo de Combate e Erradicação da Po-
distinção em razão de ocupação profissional ou função por breza, na forma deste artigo, não alcance o valor de quatro
eles exercida, independentemente da denominação jurídica bilhões de reais. far-se-á complementação na forma do art.
dos rendimentos, títulos ou direitos; III - cobrar tributos: a) 80, inciso IV, do Ato das disposições Constitucionais Transi-
em relação a fatos geradores ocorridos antes do início da tórias. § 2º Sem prejuízo do disposto no § 1º, o Poder Exe-
vigência da lei que os houver instituído ou aumentado; b) cutivo poderá destinar ao Fundo a que se refere este artigo
no mesmo exercício financeiro em que haja sido publicada outras receitas decorrentes da alienação de bens da União. §
a lei que os instituiu ou aumentou; c) antes de decorridos 3º A constituição do Fundo a que se refere o caput, a trans-
noventa dias da data em que haja sido publicada a lei que ferência de recursos ao Fundo de Combate e Erradicação da
os instituiu ou aumentou, observado o disposto na alínea b; Pobreza e as demais disposições referentes ao § 1º deste ar-
IV - utilizar tributo com efeito de confisco; V - estabelecer tigo serão disciplinadas em lei, não se aplicando o disposto
limitações ao tráfego de pessoas ou bens, por meio de tribu- no art. 165, § 9º, inciso II, da Constituição” – Percebe-se que
tos interestaduais ou intermunicipais, ressalvada a cobrança vincula a receita de impostos a uma destinação específica, o
de pedágio pela utilização de vias conservadas pelo Poder que não é usual, já que a proibição de vinculação de receita
Público; VI - instituir impostos sobre: a) patrimônio, ren- de impostos prevista no art. 167, IV, da CF impede a fixação
da ou serviços, uns dos outros; b) templos de qualquer de uma prévia destinação desses recursos, de modo que “C”
culto; c) patrimônio, renda ou serviços dos partidos políti- está correta. O plano plurianual é de vigência quadrienal,
cos, inclusive suas fundações, das entidades sindicais dos mas a lei de diretrizes orçamentárias é de vigência anual, não
trabalhadores, das instituições de educação e de assistência trienal, restando incorreta “D”. A lei orçamentária anual tam-
social, sem fins lucrativos, atendidos os requisitos da lei; d) bém abrange “o orçamento de investimento das empresas
livros, jornais, periódicos e o papel destinado a sua impres- em que a União, direta ou indiretamente, detenha a maioria
são. e) fonogramas e videofonogramas musicais produzidos do capital social com direito a voto” (artigo 165, §5º, II, CF),
no Brasil contendo obras musicais ou literomusicais de auto- restando “E” incorreta.
res brasileiros e/ou obras em geral interpretadas por artistas
brasileiros bem como os suportes materiais ou arquivos di- 95. Resposta: “A”. Nos termos do artigo 170, CF, “a or-
gitais que os contenham, salvo na etapa de replicação indus- dem econômica, fundada na valorização do trabalho huma-
trial de mídias ópticas de leitura a laser”. no e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos exis-
tência digna, conforme os ditames da justiça social, obser-
92. Resposta: “A”. A questão da progressividade se liga vados os seguintes princípios: [...] IX - tratamento favorecido
diretamente à capacidade contributiva, pois as alíquotas se- para as empresas de pequeno porte constituídas sob as leis
rão progressivamente maiores conforme melhor for a con- brasileiras e que tenham sua sede e administração no País”.
dição econômica objetiva do contribuinte. Aquele que pos-
sui um imóvel de maior valor, progressivamente contribuirá 96. Resposta: “E”. Nos termos do artigo 170, CF, “a
mais, assim como serão maiores ou menores as alíquotas de ordem econômica, fundada na valorização do trabalho hu-
IPTU de acordo com a localização e o uso do imóvel. mano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos
existência digna, conforme os ditames da justiça social, ob-
93. Resposta: “D”. A imunidade dos livros, jornais, pe- servados os seguintes princípios: I - soberania nacional; II
riódicos e do papel destinado à sua impressão, prevista no - propriedade privada; III - função social da propriedade; IV
artigo 150, VI, “d”, CF está diretamente relacionada ao direito - livre concorrência; V - defesa do consumidor; VI - de-
fundamental à liberdade de expressão tendo em vista que é fesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento di-
por estes instrumentos que se exercerá tal liberdade, essen- ferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e
cial ao Estado Democrático de Direito. serviços e de seus processos de elaboração e prestação; VII
94. Resposta: “C”. O orçamento público é regulamen- - redução das desigualdades regionais e sociais; VIII - busca
tado por lei complementar (artigo 165, §9º, CF), estando “A” do pleno emprego; IX - tratamento favorecido para as em-
incorreta. Legalidade significa que um tributo só poderá ser presas de pequeno porte constituídas sob as leis brasileiras
instituído ou aumentado por lei (artigo 150, I, CF), estando e que tenham sua sede e administração no País”. Conforme
“B” incorreta. O fundo de combate à pobreza está previsto os grifos, a alternativa “E” traz três dos princípios que regem
na Constituição nos seguintes termos: “ a ordem econômica.
Art. 81. É instituído Fundo constituído pelos recursos
recebidos pela União em decorrência da desestatização de
sociedades de economia mista ou empresas públicas por
ela controladas, direta ou indiretamente, quando a opera-
ção envolver a alienação do respectivo controle acionário a
pessoa ou entidade não integrante da Administração Públi-

237
LEGISLAÇÃO BÁSICA

ANOTAÇÕES

__________________________________________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________________________________________

238
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

Período Colonial..................................................................................................................................................................................................... 01
1. Os Bandeirantes: escravidão indígena e exploração do ouro............................................................................................................ 05
2. A fundação de Cuiabá: tensões políticas entre os fundadores e a administração colonial.................................................... 09
3. A fundação de Vila Bela da Santíssima Trindade e a criação da Capitania de Mato Grosso................................................. 11
4. A escravidão negra em Mato Grosso........................................................................................................................................................... 15

Período Imperial..................................................................................................................................................................................................... 20
1 A crise da mineração e as alternativas econômicas da Província...................................................................................................... 26
2 A Rusga..................................................................................................................................................................................................................... 34
3 Os quilombos em Mato Grosso...................................................................................................................................................................... 37
4 Os Presidentes de Província e suas realizações........................................................................................................................................ 42
5 A Guerra da Tríplice Aliança contra o Paraguai e a participação de Mato Grosso...................................................................... 80
6 A economia mato-grossense após a Guerra da Tríplice Aliança contra o Paraguai................................................................... 85
7 O fim do Império em Mato Grosso................................................................................................................................................................ 88

Período Republicano............................................................................................................................................................................................ 90
1 O coronelismo em Mato Grosso...................................................................................................................................................................103
2 Economia de Mato Grosso na Primeira República: usinas de açúcar e criação de gado.......................................................106
3 Relações de trabalho em Mato Grosso na Primeira República.........................................................................................................108
4 Mato Grosso durante a Era Vargas: política e economia.....................................................................................................................112
5 Política fundiária e as tensões sociais no campo...................................................................................................................................117
6. Os governadores estaduais e suas realizações......................................................................................................................................121
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

própria sorte, poucas vingaram. Abandonadas, sujeitas ao


PERÍODO COLONIAL. ataque de índios, evidenciando escassez de braços e/ou de
vontade, as capitanias manifestam o relativo anacronismo
do modelo jurídico ao qual se vinculavam o feudal. Doar
terras de modo hereditário aos fidalgos do reino mantinha
Não é surpresa que colônias são estabelecidas em vir- a tradição que vinha desde a Reconquista moura, passan-
tude do interesse das metrópoles. Em alguns casos, sua do pela tomada de Ceuta e pela aventura africana: premiar
instalação se dá como simples válvula de escape demo- o serviço ao rei com a doação de terras. Esse modelo se
gráfico a fim de evitar conflitos sociais (na Antiguidade, te- reproduziria de forma bastante adaptada à realidade colo-
mos as colônias mediterrânicas gregas do período arcaico); nial. O capitão donatário doava sesmarias, que eram ocu-
em outros casos, como locais de desterro ou prisão (até o padas apenas em sua “testada” e alugada ou arrendada
século passado, a ilha do Diabo, na Guiana Francesa, por para novos colonos, reproduzindo uma relação de hierar-
exemplo). quia muito verticalizada, marco até hoje da sociedade bra-
A Colônia portuguesa na América do Sul não foi exce- sileira. Se, de um lado, isso lembra a herança feudal da Ida-
ção. Existe um amplo debate sobre o sentido da coloniza- de Média portuguesa, de outro, aos poucos seus marcos
ção, mas não há dúvidas de que esse sentido era mercan- jurídicos, como a vassalagem, a segurança, o caráter militar,
til. O mercantilismo português engendrou a ocupação do bem como a liturgia existente na Idade Média, não existem
território americano subordinando essa ocupação a seus mais. Haveria na Colônia menos institucionalização jurídica
interesses econômico-comerciais. da hierarquia, mas esta permanecia sendo traço essencial
Inicialmente de modo tímido, aos poucos a coloniza- da sociedade colonial.
ção assume feições cada vez mais intensas, com a presença Tal hierarquia é o fio condutor da organização da so-
da Coroa portuguesa fazendo-se sentir de forma tão signi- ciedade colonial, expressando-se na forma de monopólios.
ficativa. Em suma, se um estudante mais afoito exigisse, sob O monopólio é a síntese do mercantilismo. Assumindo a
ameaça de morte, um resumo da história da colonização lógica mercantil como definidora da empresa colonial, de-
em uma única frase, este professor diria que se tratou de vemos nos perguntar o que define o mercantilismo. Não
uma crescente presença dos interesses mercantis do Esta- sendo uma teoria econômica como o liberalismo e sem se
do português na América do Sul. No entanto, essa é uma constituir em uma escola teórica, o mercantilismo não é
simplificação radical. Nem todos os interesses do Estado abstrato. É empírico e, por isso mesmo, pouco homogêneo.
português eram mercantis; ao menos, não exclusivamente Trata-se de um conjunto de práticas econômicas adotadas
mercantis. As décadas iniciais do chamado período pré-co- pelos modernos estados absolutistas europeus para sus-
loniais demonstram que o interesse mercantil de Portugal tentar os crescentes gastos com a burocracia e, sobretudo,
não estava na América, mas na Ásia, e a ocupação america- com as Forças Armadas. Esses gastos eram inexistentes no
na tinha objetivo estritamente geopolítico. modelo feudal, que terceirizava as funções estatais justiça,
Como diria Fernando Pessoa, o objetivo era o contro- coerção, segurança, cobrança de impostos, exercidas priva-
le do “Mar português”, o mar oceano, o Oceano Atlântico, damente, na Idade Média, por senhores feudais. Toda essa
cuja rota levaria às especiarias asiáticas; este sim, objeto trajetória centralizadora não faz parte do escopo deste li-
de cobiça mercantil lusitana. Os objetivos religiosos tam- vro, mas foi sintetizada na formulação weberiana de que o
bém não podem ser negligenciados. Por que outra razão Estado é o “monopólio legítimo dos meios de coerção” e
encontramos na Colônia, vivendo em meio aos nativos, em discutida longamente por debatedores e estudiosos da for-
condições muito distintas das que tinham na metrópole, mação dos estados nacionais, como Perry Anderson, Char-
padres, sobretudo da Companhia de Jesus, a espalhar a pa- les Tilly, Hendrik Spruyt, Janice Thomson e outros. Assim
lavra de Deus? Os métodos, o desfecho de sua empresa ou sendo, o mercantilismo é o que viabiliza economicamente
mesmo a manipulação política de seu serviço podem ser o Estado moderno absolutista. Poderíamos dizer que são
questionados hoje, mas a sinceridade religiosa era em ge- duas faces da mesma moeda, metáfora que será ampliada
ral genuína e não deve ser subsumidos esquematicamente em breve, quando voltarmos da Europa para a Colônia, se
em modelos explicativos estruturais surgidos séculos de- ainda houver paciência do leitor para com esta breve di-
pois, que reduzem as causalidades à dimensão econômica gressão.
ou a qualquer outra. Um segundo reducionismo óbvio que O mercantilismo é a expressão econômica dos mono-
é o geográfico. pólios assumidos pelo Estado ao final do período feudal,
A empresa mercantil da Coroa portuguesa tinha, den- enquanto o absolutismo seria a expressão política desse
tre as capitanias, suas filhas preferidas. A Bahia, Pernam- monopólio, que é bom que se diga sempre foi mais uma
buco e, mais tarde, o Rio de Janeiro estavam sempre sob a pretensão que uma realidade (o Estado, não raro, será
atenção de Sua Majestade, o que não ocorria com o Ma- obrigado a terceirizar monopólios tanto na esfera política
ranhão ou com São Vicente. Por serem menos relevantes corsários, mercenários quanto na esfera econômica com-
gozavam de maior autonomia. No caso paulista isso trouxe panhias de comércio, capitanias hereditárias, zonas de
consequências expressivas: a aventura para o sertão. A au- contratação como o distrito diamantino). Dessa forma, o
toridade da Coroa sobre a América colonial, crescente no monopólio, ou a pretensão a ele, vai tal qual um polvo,
tempo, foi desigual no espaço. O fracasso geral do ensaio um monstro necessário, como na imagem hobbesiana, es-
das capitanias hereditárias é exemplar disso. Largadas à palhando seus tentáculos políticos, econômicos, militares

1
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

progressivamente. Quanto mais longe alcançavam, mais A civilização produzida pelo açúcar tem a realização de
forte era considerado o Estado. Eram recorrentes as guer- sua produção em um mercado muito distante, controlado e
ras mercantis com o objetivo de engrandecer o Estado e dirigido de outro continente. Reitera a afirmativa inicial de que
enriquecer o rei; com frequência, essas guerras eram mais as colônias servem aos propósitos mercantis; monopolistas
caras que os lucros que advinham delas. A obsessão dos da metrópole. Na obra de Roberto Simonsen, encontramos o
monarcas franceses com a conquista de Flandres nada mais esforço de síntese bastante famoso na construção de um mo-
era que a cobiça por seu “rico comércio”. A conquista por- delo histórico que estruturasse a experiência mercantil portu-
tuguesa de Ceuta (1415) entreposto comercial muçulmano guesa na América do Sul. Em História Econômica do Brasil de
no norte da África, não fez senão desviar as rotas de co- 1937, Simonsen defende uma visão cíclica e evolucionista da
mércio que até então afluíam para aquela metrópole an- economia colonial. Teríamos vivido sucessivos ciclos com a pri-
tes da chegada dos cristãos. A concepção de que a guerra mazia de um único produto o açúcar, o ouro, o café. Esta visão
está presente de tal forma e durante tanto tempo nos livros
era um instrumento de acumulação de ouro e de recursos,
didáticos que se tornou parte do “senso comum”, talvez por
tão comum ao espírito mercantil da época moderna, segue
sua simplicidade quase didática, mas vem sendo, desde então
arraigada em nossos dias e dita às regras nos jogos de ta-
longamente questionada. Entendimentos mais recentes com-
buleiro ou eletrônicos dos dias de hoje, cuja pretensão é plexificam o panorama colonial tanto em razão de pesquisas
conquistar o mundo. que desmontam empiricamente a posição do industrial pau-
Nem todo mercantilismo é lucrativo. No entanto as lista quanto por novos insights interpretativos ou abordagens
tentativas e/ou pretensões de conquista, por caras que metodológicas. Um exemplo é a perspectiva de Ilmar Mattos.
fossem, aumentava o prestígio do rei, fortalecendo-o. Dirá Este autor resgata as complexidades internas da sociedade
Charles Tilly, em capítulo clássico do livro Coercion, Capital colonial que foi aos poucos ganhando dinâmica própria, inde-
and European States, no qual desenvolve a definição webe- pendente dos interesses metropolitanos.
riana, que, se os estados fizeram a guerra tanto quanto as Isso se deu à medida que o colonizador português, com
guerras fizeram os estados nacionais. A expressão variável seu intuito de monopólio colonial, foi se transformando em
do monopólio mercantil se dá nas distintas estratégias de colono “brasileiro”. Também este “colono” era titular de outros
arrecadação em muitos casos, desesperadas e crescente- tipos de monopólios da violência sobre os escravos, por exem-
mente insolventes que os reis modernos e seus ministros plo, ao mesmo tempo em que seguia submetido aos mono-
vão inventar ao longo dos séculos XIV ao XVIII. O famoso pólios emanados da metrópole monopólio comerciais, mo-
Colbert, ministro do rei francês buscou criativamente au- nopólio da fé, entre outros. Estes monopólios emanavam dos
mentar as rendas de seu soberano estimulando manufa- centros de poder aqui criados para disseminar a autoridade
do rei: as cidades coloniais. Ao contrário da cidade medieval,
turas de luxo que, por exclusivíssimas, contribuíram, junto
expressão da liberdade contra a opressão feudal dos campo-
com Versalhes e demais extravagâncias do monarca helio-
neses, servos dos nobres, a cidade colonial era expressão da
cêntrico, para a fama de capital do bom gosto, da moda
autoridade metropolitana e centro administrativo e burocráti-
e da sofisticação que a França evoca até os dias de hoje. co do poder português. Seu símbolo era o pelourinho, marco
Outros menos criativos ou mais pragmáticos recorriam à do exercício da violência. Na famosa expressão medieval “o
tributação pura e simples, como o cameralismo austríaco. ar da cidade liberta”. Bastava ao servo viver um ano e um dia
Os ingleses e holandeses investiram na criação de compa- para se tornar um homem livre. Muito diferente era a dinâ-
nhias de comércio. Oliver Cromwell leva o monopólio a um mica da cidade colonial. A vida dos escravos, mas também a
novo patamar com os Atos de Navegação, que contribui- dos senhores, dos funcionários e dos homens livres, era objeto
riam para a primazia naval britânica nos séculos seguintes. de constante vigilância social. As autoridades metropolitanas
Os reis de Portugal e Espanha, sobretudo em virtude exerciam sobre eles controles social, religioso, comercial e le-
do pioneirismo na expansão marítima e legitimados que gal. Não surpreende que, nos registros históricos, seja frequen-
estavam pelo Tratado de Tordesilhas (1494) o testamen- te a menção a brancos e mestiços em quilombos.
to de Adão, na colorida imagem do rei francês Francisco O quilombo desterritorializado negava o espaço de po-
I –, priorizaram desde cedo o colonialismo como forma de der e se constituía em espaço de liberdade. A cidade, não raro
acumular recursos. No caso espanhol, a prata justificava o nascida a partir de um forte e de uma igreja (expressão do mo-
esforço; no caso português, a esperança do ouro. O mono- nopólio político-militar e religioso), era igualmente a forma do
pólio, característica absoluta do mercantilismo, chega en- Império português se afirmar perante inimigos como os fran-
ceses e os espanhóis. As fundações do Rio de Janeiro (1565)
tão à América portuguesa. Ilmar Mattos nos ensina que o
e Belém (1616), originada do Forte do Presépio, serviram de
monopólio está tão arraigado à mentalidade mercantil que
elemento de defesa e dissuasão contra os franceses invaso-
ele é percebido até entre as colônias de um mesmo Impé-
res na Guanabara e na Amazônia. A Colônia do Sacramento
rio. Sugestões de que Portugal plantasse pimenta no litoral é originariamente apenas um forte português; e, mesmo na
brasileiro foram ignoradas pela metrópole, pois feririam o África, a presença portuguesa no Daomé era originariamente
exclusivo das colônias. O açúcar foi uma alternativa. Ante composta de fortes. O mais famoso foi São Jorge da Mina, em
o preço exorbitante do frete, só faria sentido a produção torno do qual surgiu toda uma cidade de portugueses, estran-
de bens de alto valor agregado por volume e isso explica geiros e brasileiros retornados, transformando Uidá em centro
a opção pelo açúcar, produto tão exclusivo na Europa que exportador de escravos, fundamental para o abastecimento
chegou a ser parte do dote de princesas portuguesas. das Minas Gerais no século XVIII.

2
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

A sociedade colonial

A moeda colonial de Ilmar Mattos. Esquema didático


da sociedade colonial: uma pirâmide heterodoxa. Os co-
lonizadores e a expressão de seu monopólio na Colônia.
Os comerciantes e os grandes senhores: ascensão social e
tensões. Os senhores: de engenho, de terras, de escravos.
Os colonizados: escravos, mestiços e brancos pobres. O
trabalho como estigma na sociedade colonial. Ilmar Mat-
tos cunhou uma boa metáfora para ilustrar a relação da
metrópole com a Colônia: tratava-se de uma moeda. Não
é um pacto, tampouco uma sucessão de ciclos.
A moeda colonial tem dois lados: em um deles, há os
interesses da metrópole; no outro, estão os interesses dos
colonos. Um não existe sem o outro, e cada qual tem inte- Além do monopólio comercial, havia o monopólio re-
resse no/necessidade do outro, embora nem sempre com ligioso. Expressava-se de modo violento nas visitações do
o mesmo entusiasmo. A interpretação de Mattos sobre o Santo Ofício à Colônia, que punia comportamentos des-
período colonial tem o propósito mais amplo de iluminar viantes da fé católica. O controle era espiritual e compor-
uma época mais recente. Trata-se apenas de um preâm- tamental. Eram punidas tanto as práticas ditas judaizantes
bulo em sua obra cujo cerne da análise é posterior. Está ou protestantes preocupação grave após a expulsão dos
este autor mais preocupado com a fase de “recunhagem” holandeses quanto nas práticas nefandas, sexualmente
da moeda colonial, que se daria após a Independência. No desviantes ou animistas dos escravos africanos e dos bran-
chamado período do “regresso” (de 1837 em diante), uma cos que fossem denunciados. Havia o “tempo do perdão”,
facção conservadora foi capaz de articular-se de modo no qual aqueles que confessavam voluntariamente seus
crimes sofriam penas menores.
bem-sucedido para restauração, com modificações, o mo-
O confisco de bens e a pena de morte foram com fre-
delo de produção mercantil. Retomaram o monopólio da
quência aplicada nos crimes contra a fé. Como vimos, es-
violência legitimada pelo Estado imperial que se desejava
ses monopólios eram expressos a partir da cidade colonial,
fortalecer. Mattos chamou essa época de “tempo saquare-
centro de difusão do poder metropolitano e quanto mais
ma”, título de seu livro homônimo, clássico da historiogra-
longe desses centros, mais difusa era a presença da autori-
fia sobre o Império brasileiro. Mesmo ciente do propósito
dade metropolitana. O sertão era a expressão da liberdade.
ilmariano, tomo aqui emprestada sua síntese didática da
O sertão além do lugar dos quilombos era também para
formação da sociedade colonial sob a hegemonia da ló-
onde partiam os bandeirantes, tão ciosos de sua autono-
gica mercantil monopolista. O monopólio estava presente mia que chegam a aclamar um rei paulista em 1640. Essa
em todas as relações sociais e, para fugir dele, o indivíduo, vocação para o sertão explica o grau de liberdade de que
fosse branco ou negro, precisava escapar para um quilom- gozavam os bandeirantes paulistas que apenas remota e
bo, já que até na morte estava sob o controle da igreja nominalmente estavam a serviço de Portugal e, não raro,
que decidia se ele podia ou não ser enterrado em campo desobedeciam as ordens de El-Rei.
santo. A imagem de uma pirâmide ilustra visualmente o A desobediência mais frequente era no tocante à es-
entendimento do que era a sociedade colonial de acordo cravização dos índios. Com o passar dos anos e com o cres-
com “Tempo saquarema”. cimento da população branca na Colônia, começam a se
O colonizador, que aos poucos vai se transmudando diferenciar mais claramente os papéis dos colonizadores e
em colono, é, ao chegar, agente do Império português, dos colonos. O interesse dos primeiros está na metrópole.
trazendo para a Colônia o monopólio mercantil gravado O colonizador é agente direto ou indireto dos interesses
nas leis e nos editos reais. O monopólio era a liga, o metal da metrópole. Comerciantes, funcionários da Coroa, padres
no qual era cunhada a “moeda colonial” e se expressava e bispos não existia separação entre Estado e Igreja; esta
em diversos níveis. Era monopólio do colonizador o co- era um braço do Estado português eram todos agentes
mércio, estabelecido para o interesse da metrópole e feito do exclusivo metropolitano em suas expressões religiosas,
exclusivamente com a metrópole. Mais que um “pacto” a políticas ou comerciais. Tal distinção, entretanto, nunca foi
relação entre a metrópole e a colônia se traduzia na in- tão rígida como a que ocorria na América espanhola en-
tenção do estabelecimento jurídico de uma lógica exclusi- tre criollos e peninsulares, os chapetones. Muitos agentes
vista. Os contrabandos notórios e constantes, estimulados da Coroa e grandes comerciantes nascidos no Brasil, tendo
pela corrupção dos agentes da coroa, garantiram que ra- estudado na Universidade de Coimbra ou se tornado cor-
ramente essa intenção fosse plenamente posta em prática. tesãos em Lisboa, adquiriram prestígio social muito mais
difícil de conseguir para um criollo nascido no Peru ou em
Buenos Aires. Fiquemos com dois exemplos. Alexandre de
Gusmão, secretário particular de D. João V, negociador do
Tratado de Madri, e Azeredo Coutinho, bispo de Pernam-
buco, fundador do Seminário de Olinda, inquisidor do rei-

3
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

no em Lisboa. O primeiro nasceu em Santos, litoral paulista; rarquia era clara para todos e cada um sabia qual era o seu
o segundo, em Campos, no norte do Rio de Janeiro. Não lugar. Entretanto, ao possuir um único escravo, o indivíduo
estava fechado aos brasileiros talentosos, afortunados ou se libertava da carga negativa estigmatizante do trabalho e
com fortuna, o cursus honorum da burocracia portuguesa. se tornava um senhor, ainda que dos mais humildes. Dentre
Essa distinção com a América espanhola é explicada por os fatores de produção, a mão de obra era o mais escas-
Sérgio Buarque de Holanda. O pai de Chico nos ensina que so. Na economia mercantil, ainda que existissem pequenos
a escassez de gente em Portugal, sobretudo alfabetizada, posseiros, com poucos ou nenhuns escravos, o modelo de
obrigava a incorporação à burocracia portuguesa de talen- plantation era hegemônico, sendo necessário um grande
tos coloniais. Favorecia-se certa “democratização” no aces- número de escravos para a realização da produção. A terra,
so às instituições do Estado. em relação à mão de obra, era muito mais abundante. O
Na Colônia, entretanto, não eram infrequentes as modelo de doação de sesmarias na zona litorânea e as cha-
tensões entre os colonos e os colonizadores, em torno do madas “datas auríferas” na zona mineradora. Impressiona o
questionamento não dos pressupostos, mas da aplicação tamanho das sesmarias doadas, imensas, e, às vezes, mais
do exclusivo metropolitano. Quem são os colonos? Os co- de uma, para o mesmo beneficiário. Está aí a origem do
lonos eram os senhores da colônia. Tais senhores eram de- sistema latifundiário que ainda hoje é hegemônico no Bra-
tentores do monopólio sobre os meios de produção: o en- sil. Era frequente a ocupação apenas parcial da terra para
genho, a terra e o escravo. A hierarquia medieval relegava fins de produção, já que seria impossível para a maior parte
ao comerciante, burguês, um lugar de pária na sociedade. dos sesmeiros ocupar completamente suas sesmarias sem
Desconfiava-se daquele indivíduo que viajava, era livre e fim. Resulta disso que a ocupação se restringia à chamada
não tinha um senhor. Já o senhor de terras invariavelmente “testada” da sesmaria, deixando o sertão desocupado. Ou-
era um nobre, nunca um plebeu. A lógica se invertia na so- tra prática frequente era o aluguel da sesmaria aos foreiros
ciedade colonial criada pela empresa mercantil portuguesa que pagavam, geralmente em bens e produtos, o foro ao
na América. O comerciante, rico e poderoso, era agente da proprietário. Muitas eram as ordens religiosas que tiravam
Coroa. Titular do monopólio comercial que controlava o do foro o grosso de suas rendas.
mercado ao qual se subordinava o colono brasileiro. Não Esse modelo perpetuava a hierarquização até entre os
raro era também o comerciante credor dos senhores de colonos; desde o simples posseiro, que mediante grilagem
Engenho. Os colonos dependiam dos comerciantes para ocupava a terra até então desocupada, até o sesmeiro, pas-
o abastecimento dos escravos africanos. Dependiam deles sando pelo foreiro que alugava a terra. Daí se depreende
igualmente para fazer escoar sua produção. Apesar desta que, em uma sociedade na qual a plantation era a norma,
dependência, não se muda da noite para o dia a mentalida- não adiantava muito ser dono de uma grande terra sem
de secular preconceituosa contra os comerciantes. possuir escravos. O padre João Daniel, uma espécie de An-
Os senhores eram ciosos de sua pretensa “nobreza” tonil amazônico, relata a situação de famílias, outrora ricas
e ressentiam-se da posição subordinada. Defendiam seu e titulares de imensas propriedades, reduzidas à miséria em
status dificultando como podiam a expressão política dos virtude da fuga de seus escravos indígenas. Cabem ainda
comerciantes nas cidades coloniais, o que gerou enfrenta- algumas palavras sobre os colonizados. São os homens
mentos conhecidos. Esta relação tensa era amenizada pela obrigados ao trabalho. Fossem escravos ou libertos, bran-
relativa tolerância da coroa que se valia da concessão de cos pobres ou mestiços, carregava em seu cotidiano diá-
títulos, cargos, sinecuras e honrarias para os colonos. Dota- rio o estigma do pecado original, reforçado a cada dia em
va assim, a administração colonial de elementos brasileiros. uma cultura escravocrata. Humilhados, subordinados a um
Vendia cargos e prebendas. Arrendava o privilégio de co- senhor, aprendem a cada dia que sua sobrevivência e sub-
brar impostos “o arrematador” que lhe adiantava os recur- sistência residem apenas e exclusivamente no trabalho que
sos. Às vezes, porém, em vez de amenizar o conflito, essa exercem. Seu lugar na sociedade é muito pouco prestigio-
estratégia favorecia o confronto, como no caso da Guerra so. Tais indivíduos na base da pirâmide carregavam consigo
dos Emboabas. Nessa ocasião, paulistas, estimulados indi- uma esperança. Esperança perniciosa cujo eco ainda hoje
retamente por cargos e títulos recebidos do rei de Portugal, se percebe em nossa sociedade. Seu principal sonho era
julgaram que eram os donos das minas e atacaram grupos o de liberdade. O dia em que livres, não mais precisariam
“estrangeiros” que igualmente haviam sido agraciados pela trabalhar. Sonhavam ainda, após a alforria, com a compra
Coroa com cargos e começavam a rivalizar com os paulistas de um escravo que trabalhasse por eles. O escravo como
em termos de autoridade e de prestígio na zona das mi- aposentadoria.
Nos dias de hoje, tais imagens se transmudaram no
nas recém-descobertas. Discutiremos essas rebeliões, suas
sonho do enriquecimento rápido, da loteria, da aposenta-
semelhanças e diferenças na última seção deste capítulo.
doria precoce ou até de um emprego público no qual não
Quanto à questão da hierarquia, ela estava presente mes-
seja necessário trabalhar. O trabalho segue sendo visto por
mo no nível intraestamental.
muitos como um castigo. Havia ainda, e quase sempre um
Havia uma clara hierarquia entre os colonos, que de-
consolo para os pobres coitados da colônia. Havia sempre
pendia do tamanho da terra possuída, do número de es-
alguém ainda mais abaixo na escala de degradação social.
cravos em sua(s) senzala(s) e/ou do número de foreiros em
Quase todos estão abaixo do senhor de engenho, “título a
suas possessões. Esses “homens bons” que se queriam no-
que muitos aspiram e que poucos podem possuir”, segun-
bres se relacionavam entre si em um mundo em que a hie-

4
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

do Antonil, exceto o rei e seus representantes (bispos, go-


vernadores, inquisidores). O senhor de engenho subordina 1. OS BANDEIRANTES:
a “cana obrigada” de outros senhores que, sem engenho, ESCRAVIDÃO INDÍGENA E EXPLORAÇÃO
não têm outra escolha senão recorrer a ele para benefi- DO OURO
ciar industrialmente sua cana, transmudando-a em pães de
açúcar. O senhor de terras explorado pelo senhor de enge-
nho que o extorque está acima, no entanto, do colono que Na Capitania de São Vicente, no início da colonização,
só possui escravos, mas tem de alugá-los por não ter terras. os engenhos de açúcar prosperaram. Entretanto, esse em-
Este, por sua vez, se sente feliz por não estar na desdita do preendimento não resistiu perante o polo açucareiro do
idoso ou da idosa que só tem um escravo para chamar de Nordeste. Como já dissemos, durante o século XVII, o li-
seu escravo que o sustenta com sua jornada de aluguel e mite territorial entre Portugal e Espanha, estabelecido pelo
que foi comprado com o esforço de uma vida de trabalho. Tratado de Tordesilhas, deixou de fazer sentido. O territó-
Bem pior era a vida dos que não possuíam escravos. Resta- rio português, limitado ao litoral e ao sertão nordestino,
va-lhes apenas a alegria de não ser escravo. foi ampliado graças a diversos fatores. Veremos abaixo os
Trabalhavam mas eram brancos. Ou libertos. Não ti- principais aspectos da expansão territorial.
nham “donos”, apenas um senhor. Não eram açoitados. Se
escravo, preferia ter a felicidade de viverem em cidades. Bandeirantismo
Os escravos urbanos se consolavam com a oportunidade
de terem alguma chance de montar pecúlio, trabalhar por
O bandeirantismo foi o conjunto de ações empreen-
jornal, ser “escravo de ganho”, inviável no ambiente rural
didas pelos habitantes da Capitania de São Vicente rumo
da senzala. Melhor que a senzala era ao menos viver na
ao interior. Os bandeirantes eram habitantes da Vila de
Casa Grande, como domésticos. Comemoravam poder vi-
ver perto de seu senhor ou capataz. Eram dispensados de São Paulo de Piratininga, capital de São Vicente, de onde
trabalhar no eito. Mas mesmo na senzala havia diferencia- partiam as expedições. Desde o início da colonização, essa
ção. Os escravos ladinos tinham nascido no Brasil ou pelo região era afastada das relações mercantilistas que uniam
menos falavam português. Com isso conseguiam privilé- a Metrópole e a colônia. Os habitantes da Capitania de São
gios, vantagens, impossíveis para os que não conseguiam Vicente foram os responsáveis pela exploração do interior
se comunicar diferentemente dos recém-chegados da Áfri- do Brasil e contribuíram de forma decisiva para o cresci-
ca, chamados pretos boçais. Tinham a pior das fortunas na mento territorial do Brasil.
colônia portuguesa: não estavam acima de ninguém.
Não é de surpreender a tão propalada incapacidade Diferença entre Entrada e Bandeiras
do povo brasileiro para se indignar, de se rebelar contra as
malversações, a indignidade dos poderosos de hoje, dos A principal diferença entre entradas e bandeiras é que
corruptos. Desde a Colônia, cada grupo social aprendia ra- as primeiras tinham financiamento público, eram organi-
pidamente que era melhor olhar para baixo em busca de zadas pelo governo, geralmente procuravam respeitar os
consolo ou vingança do que para cima. Olhar para cima limites do Tratado de Tordesilhas e as maiorias das expedi-
significava ameaçar alguém poderoso, ciumento e cioso de ções realizadas partiam da capital do Brasil na época, Sal-
sua posição, que vigiava constantemente os que estavam vador, na Bahia ou até mesmo de Pernambuco. Bandeiras
abaixo. Puniam-se violentamente os que não soubessem eram expedições particulares e não respeitavam os limites
o seu lugar. Acomodação era sobrevivência. O monopólio de Tordesilhas, geralmente partiam da Vila de São Paulo
da violência era o monopólio do senhor contra o escravo de Piratininga, na Capitania de São Vicente (hoje São Pau-
rebelde, que sofria as mais variadas sevícias até que seu es- lo). Mas ambas tinham objetivos semelhantes. As entradas
pírito, sua resistência, irremediavelmente alquebrada, não se preocupavam mais com a prospecção do território e de
pudesse mais planejar fugas, vinganças ou rebeliões. metais preciosos, já as bandeiras, além disso, se dedicavam
O tronco e o pelourinho eram os lugares do castigo também ao apresamento de índios para escravização.
público. Serviam de exemplo recorrente e pedagogica-
mente eficiente. Marcavam na alma o aprendizado da sub-
missão. Era ensinamento que se generalizava um pouco
mais a cada vergastada assistida. Contra um poder que lhe
era muito superior, restava ao escravo e resta, muitas vezes,
ainda hoje ao povo conformar-se. Se, como sabemos, de-
mocracia e cidadania são práticas cotidianamente apren-
didas, não podemos ser acusados de maus alunos. A lição
por muitos séculos repetida formou o aprendizado hierar-
quizante do submeter e da submissão. Texto adaptado de
ALMEIDA, J. D. L. D

5
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

Diferentes fases no sistema de bandeirantismo, foram fundamentais para a definição do espaço territorial brasileiro,
vejam:
O bandeirantismo prospector: Estas expedições eram realizadas para a busca de metais e pedras preciosas. A bus-
ca de ouro era uma preocupação constante da Coroa portuguesa. Os governadores da metrópole organizaram diversas
expedições que foram chamadas de Entradas. Dentre as várias expedições realizadas em busca de ouro, destacam-se as
realizadas por Fernão Dias Paes Leme, Borba Gato, Garcia Rodrigues Paes e Bartolomeu Bueno da Silva, o Anhanguera. Essas
bandeiras penetraram o interior da região central do Brasil (Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso). O primeiro achado aurífero
ocorreu nas Minas Gerais, no final do século XVII.
O bandeirantismo apresador: Essas expedições eram empreendidas para aprisionar (alguns autores usam expressões
como aprear, apresar ou mesmo cativar) os indígenas. Estes já habitavam ou fugiram das regiões litorâneas dominadas
pelos portugueses. Essas bandeiras atacavam as aldeias ou as missões (reduções) jesuítas para escravizar os índios. Os indí-
genas capturados eram vendidos para as regiões açucareiras, mas eram sobretudo empregados nas plantações dos colonos
paulistas. As bandeiras iniciaram-se ainda no final do século XVI e prosseguiram até meados do século XVII.
Descidas: As descidas eram expedições realizadas pelos jesuítas ao interior do Brasil com o objetivo de convencer os
indígenas “dessa região” a migrarem para regiões próximas das suas missões ou reduções visando facilitar o trabalho de
catequização. As principais missões jesuíticas ficavam no norte e no sul do país. Como já foi salientado, os principais objeti-
vos das bandeiras eram os metais preciosos e a captura dos indígenas. Os paulistas dependiam do trabalho dos índios para
sustentar sua economia, desvinculada do comércio com a Metrópole. Sem recursos para empregar a mão-de-obra africana,
os habitantes de São Paulo passaram a utilizar sistematicamente o trabalho escravo do índio em todo tipo de atividade.
Observando o mapa, vemos que as terras hoje pertencentes ao Estado do Mato Grosso, ainda não faziam parte do Bra-
sil. A linha de Tordesilhas passava na ilha de Marajó (PA) e saía em Laguna (SC). O processo de colonização do Mato Grosso
só irá se iniciar no século XVIII com a descoberta de ricas jazidas de ouro na região.

6
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

As primeiras incursões no território do Mato Grosso datam de 1525, quando Pedro Aleixo Garcia vai em direção à Bo-
lívia, seguindo as águas dos rios Paraná e Paraguai. Posteriormente, portugueses e espanhóis são atraídos à região, devido
aos rumores de que haveria muita riqueza naquelas terras, ainda não devidamente exploradas. Também vieram jesuítas
espanhóis, que criaram Missões entre os rios Paraná e Paraguai, com o objetivo de assegurar os limites de Portugal, já que
as terras estavam nos limites da Espanha.

A organização de uma bandeira

Em 1560, Mem de Sá designou Brás Cubas para liderar uma entrada a fim de procurar ouro, prata e joias. Segundo o
relato da entrada, Cubas teria percorrido cerca de 300 léguas sertão adentro, no entanto, tal distância não é confirmada
como certeza; Ele retornou em 1561, depois de alguns meses, tendo fracassado e ficado enfermo. Ainda no mesmo ano,
Mem de Sá enviou a entrada de Luís Martins, o qual teria encontrado segundo ele, ouro e umas pedras verdes que se acre-
ditara serem esmeraldas. 
No entanto, hoje os historiadores a partir de outras fontes documentais, apontam que o suposto ouro que Martins
descobrira que ele havia dito ser tão valioso quanto o ouro da Costa da Mina em África, provavelmente deve ter sido pirita,
o chamado “ouro dos tolos”, os quais consistem em cristais isométricos de ferro com a aparência dourada. Já as supostas
esmeraldas, provavelmente eram turmalinas. Pois se a descoberta de Martins fosse real, porque nenhuma expedição fora
enviada para o mesmo lugar para certificar-se da descoberta? Mas, pelo contrário, outras missões partiram para locais
diferentes da região, pois boatos sobre ouro e prata surgiam toda hora. A solução mais viável por hora era caçar índios. 
“O movimento bandeirantista surgiu da necessidade de mão-de-obra dos habitantes do Planalto piratingano. Sem
condições de importar os escravos africanos que o comércio europeu colocava-lhes à disposição nos portos coloniais, uti-
lizavam a força de trabalho indígena”.
A primeiras bandeiras eram expedições pequenas, contendo algumas dezenas de homens e até mesmo centenas. No
auge das bandeiras, no século XVII como será visto, algumas bandeiras chegaram a conter milhares de integrantes,  eram
verdadeiros exércitos que cruzavam o interior do continente. 
As primeiras bandeiras eram armadas (organizadas) pelos seus próprios líderes, no entanto, com o passar do tempo,
alguns homens ricos, se uniam para financiar a expedição, e não necessariamente eles participavam da bandeira, mas con-
tratavam um homem experiente que conhece-se as matas e os costumes indígenas para liderar a expedição, então depen-
dendo do investimento feito, comprava-se armas, equipamentos, mantimentos, medicamentos e convocava-se o restante
dos membros da expedição, os quais geralmente eram homens entre os seus 15 e 35 anos, atrás de fazerem riqueza e fama;
homens de coragem e força, pois a selva era implacável.

7
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

Alguns bandeirantes que começaram ainda cedo sua Em caso de um bandeirante consegui-se cumprir com
carreira, por exemplo, foram Bartolomeu Bueno da Silva sua missão, mas acaba-se morrendo na viagem de volta,
Filho  (Anhanguera II) e  Antônio Pires de Campo, ambos sua parte do lucro seria dada a sua família, ou em caso des-
participaram de bandeiras armadas por seus pais, quando te tivesse dívidas, seu lucro seria utilizado para quitá-las.
tinham apenas quatorze anos. Francisco Dias da Silva tinha Em caso do bandeirante morre-se e a bandeira não tivesse
dezesseis anos quando participou de sua primeira bandei- sucesso, sua dívida seria cobrada de sua família. 
ra, armada por um tio seu. Outros bandeirantes dedicavam Em alguns casos um bandeirante poderia se oferecer
quase a vida toda as bandeiras, as quais se tornavam para para participar da bandeira, ele ofereceria uma quantia que
eles um estilo de vida; Manuel de Campos Bicudo partici- seria paga ao líder da bandeira, também chamado  cabo-
pou de pelo menos vinte e quatro bandeiras, Fernando Dias de-tropa, o qual se comprometeria em levá-lo e trazê-lo
Paes Leme fora até o fim da vida um bandeirante, vindo a em segurança, assim se Deus permitisse, pois em alguns
falecer durante uma bandeira, tendo na época mais de 64 contratos nota-se trechos dizendo que: “Deus lhe guarde
anos. Domingo Jorge Velho, embora tenha se aposentado sua saúde”, “Deus lhe guarde sua vida”, “Deus lhe traga
na velhice, seguiu até essa, sendo um bandeirante.  vivo”, etc.
Além de conter homens livres, as bandeiras também ti- “Digo eu Martim do Prado que me concerto com Filipe
nham como membros, “índios amansados”, usando um ter- de Veres o levar nesta entrada adonde vai Lázaro da Costa,
mo da época. Tais indígenas, eram cristãos e sabiam falar o qual me obrigo a levar por ida e vinda, dando-me Nosso
português, em geral eles eram os guias da expedição, pois Senhor vida e saúde, por preço e quantia de dez mil réis em
muitos conheciam as trilhas e rotas de viagem pelas matas, dinheiro, de contanto ou em fazenda”.
pois não existiam estradas propriamente falando; seguia-se O chefe, cabo-de-tropa, líder ou capitão de uma ban-
o curso de rios, ou trilhas, que para olhos desapercebidos deira era a autoridade maior numa bandeira, seu poder era
passariam em branco, daí a necessidade de se terem pes- imenso, ao ponto de agir como um juiz. O chefe era o res-
soas (no caso os índios) que conhecessem aquelas rotas.  ponsável por coordenar a bandeira, definir o trajeto a ser
O fato de muitas bandeiras conterem índios é interes- percorrida a estratégia de ataque, a divisão dos afazeres e
sante, pois na literatura tradicional, se conveniou a ideia de do lucro, claro que ele contava com ajuda de homens de
que os bandeirantes fossem apenas brancos, mas na rea- sua confiança para fazer isso. Além disso, em caso de indis-
lidade, haviam muitos mestiços, principalmente caboclos ciplina, os indisciplinados eram punidos para dar o exem-
ou mamelucos (ambos os termos designam os mestiços de plo, e em casos de rebelião contra a autoridade do chefe,
branco com índio), além de haver índios puros mesmo, e os rebeldes eram geralmente executados por sua traição.
em alguns casos mais raros, negros. Além disso, era comum Fernão Dias Paes tivera que enfrentar uma rebelião desta,
muitos bandeirantes falarem a língua geral, língua esta que onde ele condenou os traidores a pena de morte, e um dos
originalmente era um dialeto tupi, que com a introdução traidores era um filho bastardo seu.
da língua portuguesa, fora misturada a este dialeto. Pelo Os Bandeirantes foram os homens valentes, que no
fato de conviver muito com os indígenas, alguns bandei- princípio da colonização do Brasil, foram usados pelos por-
rantes falavam mais em língua geral do que em português.  tugueses com o objetivo de lutar com indígenas rebeldes e
“O bandeirante foi fruto social de uma região margina- escravos fugitivos.
lizada, de escassos recursos materiais e de vida econômica  
restrita, e suas ações se orientaram ou no sentido de tirar Atividades e importância histórica 
o máximo proveito das brechas que a economia colonial  
eventualmente oferecia para a efetivação de lucros rápidos Estes homens, que saiam de São Paulo e São Vicente,
e passageiros em conjunturas favoráveis - como no caso da dirigiam-se para o interior do Brasil caminhando através de
caça do índio”. florestas e também seguindo caminho por rios, o Rio Tietê
As bandeiras eram organizadas através de  contra- foi um dos principais meios de acesso para o interior de
tos entre o armador e os bandeirantes. Alguns contratos São Paulo. Estas explorações territoriais eram chamadas de
eram apenas verbais, outros eram escritos e assinados pelo Entradas ou Bandeiras. Enquanto as Entradas eram expedi-
armador e os participantes da bandeira. No contrato, es- ções oficiais organizadas pelo governo, as Bandeiras eram
tipulava-se a porcentagem que cada um receberia com financiadas por particulares (senhores de engenho, donos
o lucro da bandeira, e as medidas tomadas em caso de de minas, comerciantes). 
prejuízo. Em caso de o armador não ser um bandeirante, Estas expedições tinham como objetivo predominante
ele deixava estabelecido no contrato que se a bandeira fra- capturar os índios e procurar por pedras e metais preciosos.
cassasse em sua missão, os bandeirantes deveriam pagar Contudo, estes homens ficaram historicamente conhecidos
uma compensação pelo investimento feito pelo armador como os responsáveis pela conquista de grande parte do
ou armadores. A quitação dessa dívida variava de contrato território brasileiro. Alguns chegaram até fora do território
para contrato. Outro ponto a mencionar no contrato, era brasileiro, em locais como a Bolívia e o Uruguai. 
o fato que no mesmo se encontrava uma cláusula de risco Do século XVII em diante, o interesse dos portugueses
de vida, pois as bandeiras eram expedições perigosas, e o passou a ser a procura por ouro e pedras preciosas. Então,
bandeirante poderia ser morto por um índio, ou se afogar, os bandeirantes Fernão Dias Pais e seu genro Manuel Bor-
se perder, ser atacado por uma onça, ser picado por uma ba Gato, concentraram-se nestas buscas desbravando Mi-
cobra, adoecer, etc.  nas Gerais. Depois outros bandeirantes foram para além da

8
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

linha do Tratado de Tordesilhas e descobriram o ouro. Mui- em São Paulo e se tornaram provedores de gêneros ali-
tos aventureiros os seguiram, e, estes, permaneceram em mentícios e outros artigos para a região mineradora a qual
Goiás e Mato Grosso dando início a formação das primeiras carecia desses gêneros. Outros se mudaram para o Rio de
cidades. Nessa ocasião destacaram-se: Antonio Pedroso, Janeiro e para o Nordeste. 
Alvarenga e Bartolomeu Bueno da Veiga, o Anhanguera.  Para historiadores como Volpato, Magalhães [1978),
Outros bandeirantes que fizeram nome neste perío- Davidoff e Taunay [1975], o século XVIII marcou o final do
do foram: Jerônimo Leitão (primeira bandeira conhecida), Ciclo das Bandeiras, pois antes de meados do século, mui-
Nicolau Barreto (seguiu trajeto pelo Tietê e Paraná e re- tas minas haviam sido descobertas, e as bandeiras que pro-
gressou com índios capturados), Antônio Raposo Tavares curavam por mais minas, começaram a desistir de continuar
(atacou missões jesuítas espanholas para capturar índios), com o objetivo, e passaram a se concentrar em explorar o
Francisco Bueno (missões no Sul até o Uruguai).  que fora encontrado. Magalhães e Volpato também falam
Como conclusão, pode-se dizer que os bandeirantes que algumas expedições que ainda continuaram a ocorrer
foram responsáveis pela expansão do território brasileiro, pelo século XVIII eram chamadas de bandeiras, eram ex-
desbravando os sertões além do Tratado de Tordesilhas. pedições punitivas, mas ele defende que tais expedições
Por outro lado, agiram de forma violenta na caça de indíge- embora compartilhassem o nome, não devem ser inseridas
nas e de escravos foragidos, contribuindo para a manuten- no movimento do bandeirismo, pois não tinham nenhuma
ção do sistema escravocrata que vigorava no Brasil Colônia. semelhança fora o nome.  O ouro descoberto ofuscou o
brilho das bandeiras pondo fim a um legado de quase dois
O brilho do ouro ofusca as bandeiras séculos. Texto adaptado de VOLPATO. L

As bandeiras se desenvolveram ao longo do século


XVII, entre irem prear índios, servir como mercenários ou 2. A FUNDAÇÃO DE CUIABÁ: TENSÕES
paramilitares no Nordeste, combatendo quilombos, e lu- POLÍTICAS ENTRE OS FUNDADORES E A
tando contra os holandeses; atuaram também como pa- ADMINISTRAÇÃO COLONIAL.
ramilitares no sul, atacando os domínios espanhóis, outras
viajaram para a Floresta Amazônica e outras continuaram a
procurar por ouro nas regiões que hoje compreendem Mi-
nas Gerais, Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Por Sobre a origem do nome do Município, diz Carlos Dru-
volta da segunda metade do século XVII, indícios de minas mond concordar com os jesuitas, quando admitem ser o
de ouro começaram a correr pelos sertões hoje mineiro topônimo oriundo do tupi. Segundo ele, Cuiabá derivar-se
e  goiense, ouro já havia sido descoberto ainda no sécu- -ia de Icúia, espécie de flecha para pesca, feita de cana bra-
lo XVI na bandeira de Afonso Sardinha em1598, o mesmo va e pá, partícula locativa: lugar, pouso. Icuiapá designaria,
descobriu ouro na Serra da Mantiqueira (serra que se es- por conseguinte, lugar onde se faz alguma coisa.
tende pelos atuais estados de São Paulo, Rio de Janeiro e A fundação da cidade é uma consequência do arrojo
Minas Gerais).  dos bandeirantes paulistas que, empenhados a principio na
O ouro descoberto fora em pouca quantidade, porém captura de índios para os trabalhos da lavoura, e atraídos
outros pequenos veios de aluvião foram encontrados em depois pelas minas de ouro e diamantes, vieram a desbra-
outras áreas da Capitania de São Vicente, mais devido a var os sertões brasileiros.
pouca quantidade, acabou não gerando uma “corrida do É incerto o nome do primeiro chefe bandeirante que
ouro” como seria vista no final do século XVII. Por volta de visitou o Estado. Consta, no entanto, ter sido o valente Ma-
1694 ou 1695, minas de ouro foram descobertas e a região noel Corrêa, seguido de outros não menos ousados, como
fora batizada de Minas Gerais. A “corrida do ouro” havia Antônio Pires de Campos e Pascoal Moreira Cabral.
começado, e em pouco tempo se tornaria em uma “febre Segundo José Barbosa de Sá, na Relação das Povoa-
do ouro”. Pessoas de todos os cantos da colônia, da me- ções de Cuiabá e Mato Grosso, foi Antônio Pires de Cam-
trópole e de outras nações se dirigiram para Minas Gerais pos o primeiro a alcançar a chapada cuiabana. Coube, po-
atrás dessa pedra dourada. rém, a Pascoal Moreira Cabral, imprimir novo rumo ao no-
As bandeiras ainda continuaram pelos trinta anos se- madismo bandeirante, quando, partindo de Araritaguaba,
guinte, procurando novas minas de ouro, onde acabaram em 1716, teve conhecimento, através de Antônio Pires de
encontrado outras minas por Minas Gerais, Goiás e no Campos, da existência de aldeamentos de índios coxipo-
Mato Grosso. Além de também terem descoberto minas nés. Arribou até o afluente do Cuiabá, a que denomina-
de esmeraldas e de diamante. Porém, a medida que o ciclo vam Coxipó, em cujo leito descobriu, por acaso, o ouro,
do ouro crescia, muitos bandeirantes acabaram deixando em meio aos cascalhos. Repentinamente transformou-se o
as bandeiras para se juntarem as levas de imigrantes que “modus vivendi” dos bandeirantes, que não mais andariam
chegavam as regiões mineradoras para tentarem a sorte de exclusivamente à caça de silvícolas. Mais tarde abandona-
enriquecer. As bandeiras de preação, já não davam tanto ram o arraial, em que de início se estabeleceram, surgindo
lucro como antes e era um investimento arriscado. Aque- o da “Forquilha”, com a sua primeira igreja, sob a invocação
les bandeirantes que não foram atrás de ouro ou foram de Nossa Senhora da Penha de França. Celebrou a primeira
lutar para conseguir monopólio sobre as minas, como fora missa o Padre Jerônimo Botelho. Nesse local, a 8 de abril
o caso daGuerra dos Emboabas  (1707-1709), ou ficaram de 1719, convocados os homens de bem, lavrou-se o ter-

9
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

mo de fundação do arraial, sendo Pascoal Moreira Cabral Pascoal Moreira Cabral foi aclamado pelos mineiros
nomeado guarda-mor regente. Seguiu, na ocasião, para São como Guarda-Mor, com as funções de organizar o primeiro
Paulo, o Capitão Antônio Antunes Maciel, incumbido de le- arraial, cobrar impostos em nome da Coroa portuguesa e
var as amostras do ouro encontrado ao Governador da Capi- estabelecer a justiça. Ou seja, comandava as funções ad-
tania, D. Pedro de Almeida Portugal. A brandura com que se ministrativas e fiscais. Em 8 de abril de 1719, Pascoal assi-
houve o capitão-mor das minas, na arrecadação dos dízimos nou a ata da fundação de Cuiabá no local conhecido como
devidos à Coroa Portuguesa, motivou sua substituição pelo Forquilha, às margens do Coxipó, de forma a garantir os
antigo Capitão-mor de Sorocaba, Fernando Dias Falcão. direitos pela descoberta à Capitania de São Paulo e Minas
A mudança de Cuiabá para o sítio atual se deve ao so- do Ouro. No entanto, a sua nomeação oficial, dada pelo Ca-
rocabano Miguel Sutil de Oliveira, João Francisco Barbado
pitão-General da Capitania de São Paulo, só ocorreu em 26
e seus companheiros, que chegaram até à embocadura do
de abril de 1723.
córrego “Prainha” onde, guiados pelos aborígines, encontra-
ram maior abundância do precioso metal. Estabeleceram-se Outro bandeirante, Miguel Sutil, fez uma grande des-
nas fraldas da elevação de Nossa Senhora do Rosário, na coberta de ouro em 1722. Ele havia construído sua casa às
“lavra do Sutil”, hoje Cuiabá, atraindo os moradores da an- margens do rio Cuiabá. Certo dia, em sua casa faltou açúcar,
tiga povoação. O afluxo de gente a esse novo Eldorado foi de forma que, pediu aos índios que lhe trouxessem mel, es-
extraordinário e, apesar das dificuldades de comunicações, ses lhe trouxeram ouro. Eis que havia sido encontrada uma
espantoso o seu desenvolvimento. das maiores jazidas auríferas do Brasil. Com a descoberta
Tanto que, em 1.° de janeiro de 1726, o Capitão General das novas jazidas, a povoação inicial do Arraial da Forquilha
de São Paulo, Rodrigo Cesar de Menezes, mandou erigir em foi se mudando gradativamente para a região do rio Cuiabá.
vila o povoado, sob a invocação de Nosso Senhor Bom Jesus A partir do córrego da Prainha, onde estavam as lavras do
de Cuiabá. Difícil se tornava à Capitania de São Paulo a admi- Sutil, uma cidade começou a se constituir, rumo ao porto.
nistração dos distritos de Cuiabá e Mato Grosso, que foram Com a exploração do ouro, o arraial de Cuiabá cresceu
por fim desanexados, por Alvará de 9 de maio de 1748, por com a construção de casas, igrejas e atividades comerciais.
força do qual se criava a Capitania de Mato Grosso e Cuia- A grande maioria dos habitantes do arraial se dedicava à
bá. Foi seu primeiro governador D. Antônio Rolim de Moura mineração. Os produtos agrícolas de primeira necessidade,
Tavares, que ali aportou em 1751, com a recomendação de tais como arroz, feijão, mandioca, farinha de mandioca, mi-
transferir para Mato Grosso a sede do governo. lho, açúcar e cachaça eram fornecidos por duas localidades
Mais tarde, em 19 de março de 1752, foi erigida em
próximas a Cuiabá: Rio Abaixo (atual Santo Antônio de Le-
capital a recém-fundada Vila Bela da Santíssima Trindade.
verger) e Serra Acima (atual Chapada dos Guimarães).
Dada a sua posição geográfica central, Cuiabá conservou
sua hegemonia, apesar de destituída dos foros de capital. Todos os demais gêneros e produtos de que necessi-
Elevada à categoria de cidade, em 17 de setembro de 1818, tavam provinham de São Paulo. De lá chegavam roupas,
passou a Capital em 1825, porém, só em 19 de agosto de bebidas, medicamentos, ferramentas de trabalho, alimen-
1835 foi confirmada a predominância política que histori- tos variados, dentre os quais, destacava-se o sal, produto
camente lhe cabia. A sobrevivência de Cuiabá é verdadeiro indispensável ao bem-estar da população do arraial.
milagre de resistência e combatividade do seu povo contra Desenvolveu-se um sistema abastecedor e de trans-
todos os fatores adversos que a empolgaram, até o advento porte de pessoas, implementado quase que exclusivamente
da sua atual transformação em metrópole progressista. por meio dos rios, denominado de monções. Alguns tre-
Sua evolução socioeconômica foi tolhida durante mais chos percorridos por terra, entre as cabeceiras dos rios na-
de um século por agitações internas e dificuldades de toda vegados, eram denominados de varadouros. As canoas e
a espécie, das quais a menor era a distancia que a separava as bagagens eram carregadas no ombro dos índios ou dos
da capital do País. O problema de comunicação só foi solu- africanos. O abastecimento hidroviário era feito duas vezes
cionado em 1857, com a chegada do primeiro navio a vapor, ao ano e a viagem demorava, aproximadamente, de 4 a 6
sob o comando de Antônio Cláudio Soído. meses, dependendo do volume de água dos rios.
O primeiro bandeirante a dar notícia sobre a região do No mapa a seguir, podemos ver os trechos de monções
Mato Grosso, foi Antônio Pires de Campos, que, em 1718, do sul. No primeiro trecho fluvial o varadouro se localizava
explorou o ribeirão Mutuca e o rio Coxipó, até o encontro
em Camapuã. No segundo trecho, em Campos de Vacaria.
com o rio Cuiabá. Pires de Campos não encontrou ouro, so-
mente índios.
A bandeira de Pascoal Moreira Cabral subiu o rio Coxi-
pó-Mirim, em 1718, para capturar índios Coxiponés. Trava-
ram violento combate com esses índios e foram socorridos
pela bandeira dos irmãos Antunes Maciel. Pascoal Moreira
Cabral resolveu seguir para o Arraial de São Gonçalo Ve-
lho, ou Aldeia Velha, onde havia deixado alguns homens
acampados. Após uma das refeições, quando alguns dos
integrantes da bandeira lavavam pratos no rio, encontraram
pepitas de ouro. Estavam descobertas as minas em território
mato-grossense, no ano de 1719.

10
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

3. A FUNDAÇÃO DE VILA BELA DA


SANTÍSSIMA TRINDADE E A CRIAÇÃO DA
CAPITANIA DE MATO GROSSO.

Vila Bela Santíssima Trindade localiza-se na parte oeste


de Mato Grosso (Figura 1), ocupa uma área de 13.631 km²
e estima 14.523 habitantes segundo dados do IBGE (2009).
Ela faz limite com a cidade de Comodoro ao norte, ao leste
com os municípios de Pontes e Lacerda e Nova Lacerda e
limita-se com a República da Bolívia ao Sul e Oeste. Situa-
se na bacia amazônica, a 198 metros acima do nível do mar.

As minas de Cuiabá distanciavam-se da Vila de São


Paulo de Piratininga, sede da Capitania de São Paulo, as
quais pertenciam. O acesso a legislação régia, a fiscalização
na extração do ouro, a entrada de mercadorias e a saída
do ouro estavam o controle dos próprios descobridores os
bandeirantes. Com o objetivo de estender a administração
portuguesa até as minas cuiabanas, o governador da capi-
tania, Rodrigo Moreira César de Menezes instalou-se em
Cuiabá, entre novembro de 1726 ao primeiro semestre de
1728.
Em 1º de janeiro de 1727, elevou Cuiabá a categoria de
vila, intitulando-a Vila Real do Senhor Bom Jesus de Cuia-
bá. Antes de instalar-se em Cuiabá, Rodrigo Moreira César
de Menezes precisou enfrentar os irmãos João e Lourenço
Leme, opulentos comerciantes e mineradores, que exer-
ciam um extremo controle nas minas da região de Cuiabá. Vila Bela da Santíssima Trindade, hoje município, limi-
Os dois foram presos e mortos. Uma das primeiras medidas ta-se ao norte com o município de Aripuanã, a leste com
de Rodrigo César em Cuiabá foi o aumento de impostos, o os municípios de Diamantino, Tangará da Serra, Pontes e
que afugentou muitos moradores da vila. Lacerda e Cáceres, ao sul com a Bolívia e ao oeste com
O governador tratou de garantir a reprodução do mo- Rondônia. Integra a microrregião do Alto Guaporé-Jauru.
delo colonial em Cuiabá, com as seguintes medidas: O sistema hidrográfico do município está vinculado à bacia
- Determinou que os impostos sobre o ouro não mais Amazônica, destacam-se os rios Guaporé e o Juruena. A
fossem cobrados por capitação, instituindo o quinto.
edificação da Vila nesse lugar justificou-se pela vizinhança
- Ordenou que todo o ouro retirado das minas de Cuia-
com os espanhóis. O sítio da Vila representava a chave e o
bá deveria ser quintado junto à Casa de Fundição de São
propugnáculo do sertão do Brasil pela parte do Peru.
Paulo.
Assim, o sítio desta vila deveria especialmente corres-
- Criou os postos de Provedor da Fazenda Real e Prove-
dor dos Quintos, para cuidar das finanças. ponder a este fim, ainda que ali resultasse alguns incômo-
- Criou o cargo de Ouvidor Geral das minas de Cuiabá, dos aos moradores. Por esse motivo, Rolim escolheu o sitio
para cuidar da Justiça. Outra medida implementada foi a de Pouso Alegre, um lugar que para ele correspondia às
regularização da questão das terras, com as primeiras doa- instruções da Rainha, ou seja, fundar vila na borda do rio
ções de cartas de sesmarias. As sesmarias eram extensões Guaporé ou de outro rio navegável. A Vila no princípio era
de terras doadas pelo rei, por meio dos capitães-generais, apenas sinalizada a um tronco de piúva, servindo de pe-
aos colonos que tivessem requeridos, através de ofício, lourinho.
uma determinada porção de terra, a que chamavam “data”. Fincado no meio do descampado, apresentava-se
Texto adaptado de SIGNORI, L como um marco da futura praça. Rolim de Moura aguardou
até o dia de São José, para constatar o nível da cheia do
rio e fundou, enfim, Vila Bela, convocando autoridades, ho-
mens bons e o povo para levantarem o pelourinho. Antes
de sua vinda, ali se achava apenas uns ranchinhos construí-
dos no barranco do rio, lugar onde os pescadores faziam
seus postos quando vinham às pescarias. Entretanto, pas-
sados cinco anos, observa-se certo crescimento.

11
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

O relevo possui características do cerrado e da Amazônia, sendo marcado por extensos chapadões. A serra Ricardo Franco
é a que possui maior ênfase, localizado na divisa de Vila Bela e Republica da Bolívia. O clima predominante é o quente e semi
-úmido, sendo marcante pelo período de seis meses de cheia e seis meses de seca, fato este que influenciou a decadência da
cidade como capital, posteriormente, abordado neste artigo .
A cidade possui grande importância na história da formação do estado de Mato Grosso. No período provincial, esta
região foi escolhida para sediar a capital do estado por Dom Rolim de Moura em 19 de março de 1752, devido à descoberta
de jazidas de ouro no local e sua localização sobre parte do Rio Guaporé, sendo assim um ótimo lugar para se difundir a
economia do estado, idealizado pela coroa portuguesa a partir de um plano de desenvolvimento e de traçado urbano, como
visto na figura 2.

Poucos anos após sua fundação, a cidade evidenciou não ser mais adequada, devida sua falta de salubridade, comum
obtenção de doenças na população e o intenso trabalho escravo, que juntamente aos maus tratos, reduzia vida útil desta mão
de obra. A cidade então foi considerada uma “terra doentia”. O fato do arrecadamento sobre as minas de ouro ser instável, o
comércio ser incerto pela distância da cidade afetando assim a chegada de mercadorias, a tensão a dominar a população pela
resistência do povo indígena sobre o território e a produção agrária condenada devido às expressivas cheias em um período e
a seca espaçada em outro, fez com que a transferência da capital do Estado para outro lugar fosse inevitável, posteriormente
se fixando na atual cidade de Cuiabá. Os brancos da época diziam que só os negros poderiam permanecer na região, pois
eram mais fortes sendo menos suscetíveis à obtenção de doenças. Os escravos então foram “largados” no município, disse-
minando ali seus ideais de liberdade e suas culturas raízes
A população negra de Vila Bela ainda possui a lembrança de toda a atrocidade da escravidão, onde os maus tratos e o
trabalho intenso nos garimpos trouxeram-lhe essas marcas e revoltas, decorrentes em todo o Brasil. Os negros resistiam pela
liberdade e resgate do seu corpo, por tanto várias lutas ocorriam na época a fim de findar o regime atroz onde se encontra-
vam. A solução muitas vezes era a morte prematura, suicídio e fuga, sendo o ultimo o promissor dos quilombos. Dois quilom-
bos se destacaram na região vilabelense: Quariterê e Piolho. A população encontrada nos quilombos não se limitava somente
a negros e escravos, mas também a índios e demais pessoas excluídas pela sociedade. Todas essas manifestações trazem e
movem sentimentos até hoje na primeira capital de Mato Grosso, constituindo também a cultura recente.
Atualmente a população possui uma cultura ainda muito forte, permanecendo intacta desde sua origem pelos escravos.
Sendo pouco explorada Vila Bela ainda compõe várias paisagens que juntamente as ruínas da antiga igreja matriz (construída
pela coroa portuguesa) trazem turistas anualmente. A cidade faz manifestações de fé e cultura por meio de um grande evento
de nível internacional. A famosa Festança, que engloba Festa do Divino Espírito Santo, a Santíssima Trindade e as Três Pessoas
(padroeira do lugar), vem promovendo a cidade durante anos, trazendo um fluxo significativo de turistas, o que move grande
parte do desenvolvimento e a economia da região. A festividade ocorre de forma periódica, todo mês de julho no município,
trazendo belas mostras cultuais passadas de gerações a gerações, como as rezas em devoção ao “Glorioso São Benedito”, que
visa proteger todo o Vale do rio Guaporé, a Dança do Chorado e a Dança do Congo, as bebidas afrodisíacas produzidas pelas
mulheres mais antigas e também as comidas típicas, que neste período festivo é distribuída gratuitamente a toda a população.
A falta de infra-estrutura acaba por dificultar o êxito neste tipo de evento local. Não possuindo um lugar adequado às
festividades ocorrem nas ruas, na pequena praça principal em frente à atual igreja, no singelo centro comunitário e nas casas
dos “festeiros”.

A CAPITANIA DE MATO GROSSO:

Mato Grosso teve seu espaço colonizado na primeira metade do século XVIII, sendo o arraial e depois Vila Real do Senhor
Bom Jesus do Cuiabá (atual cidade de Cuiabá) o ponto mais avançado até 1734, quando foram descobertas as minas na regi-
ão do Guaporé. Essa vila teve sua origem com a descoberta do ouro nas lavras do Coxipó-Mirim, em 1719, tendo à frente de
tal investida paulistas e reinóis. No ano de 1727 o arraial do Senhor Bom Jesus do Cuiabá (1722) foi elevado à condição de vila
e, nesse momento, pertencia à jurisdição da capitania de São Paulo.

12
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

Em 1748 essa capitania teve sua circunscrição reduzida em função das fundações das capitanias de Mato Grosso e de
Goiás. Embora tivesse uma vasta extensão territorial que totalizasse 48 mil léguas, a capitania de Mato Grosso era consti-
tuída por apenas dois distritos, o do Cuiabá e o do Mato Grosso, e suas respectivas vilas: Vila Real do Senhor Bom Jesus do
Cuiabá (1727) e Vila Bela da Santíssima Trindade (1752), esta última fundada para ser sede de governo. Além delas, arraiais,
povoados e edificações militares foram criados ao longo da linha de fronteira no decorrer do setecentos e somente em
1820 uma nova vila foi fundada: a Vila de Diamantino. Capitania fronteira-mineira, Mato Grosso situava-se na região central
do continente sul-americano, era habitada por uma diversidade de sociedades indígenas, tinha a mineração como atividade
produtiva decisiva e estava localizada em área de fronteira com os domínios hispânicos, isto é, com as Províncias de Moxos
e Chiquitos constituídas por inúmeras missões religiosas.
A história dessa capitania, mesmo com uma produção bem menor em comparação às áreas de mineração como as
Minas Gerais, foi e tem sido objeto de interesse de vários pesquisadores estabelecidos em diferentes regiões do Brasil e
fora do país. Considerando as atuais pesquisas sobre essa região e os limites deste artigo, optamos por dar visibilidade aos
textos dos cronistas e aos trabalhos (algumas teses, dissertações e artigos) desenvolvidos nas últimas quatro décadas, com
o objetivo de divulgar o que tem sido produzido na região, já que muitas vezes esses trabalhos têm ficado restritos aos seus
locais de produção, mesmo em tempos de internet e de domínio público. Observamos que não temos a pretensão de dar
conta de todas as obras e as reflexões apresentadas são menos analíticas e mais descritivas. Quanto às fontes impressas,
faremos uma abordagem geral dos textos dos cronistas setecentistas pelo fato de terem sido fontes privilegiadas por certo
período.
Vale ressaltar que a criação da Capitania de Mato Grosso se deu devido à descoberta do ouro a partir de 1719, Vila Bella,
assim como as missões espanholas de Mojos, serviram aos interesses da coroa em fixar ali um governo com autonomia
para administrar e organizar o oeste agora conquistado, afastando de vez as pretensões espanholas. Esse distanciamento
não foi fácil, pois as intenções da coroa teria que sobrepor às pequenas divergências que apareciam na área de fronteira.
Logo que foi colocado em prática o projeto de criação da Capitania de Mato Grosso em 1748, conforme a configuração
que apresenta no mapa abaixo a mesma assumiu uma posição estratégica na defesa do território incorporado pelos colo-
nos de origem lusa, índios e negros para a posse da metrópole portuguesa. A Capitania de Mato Grosso tinha como limites
territoriais as regiões sul da bacia amazônica até a proximidade do Chaco paraguaio e a margem direita do rio Guaporé.

Outro ponto pensado pela coroa segundo Marco Antônio Domingues Teixeira e Dante Fonseca, os colonos expandi-
ram o projeto de colonização da fronteira com as terras espanholas, pensou na possibilidade de assentar rebanhos para
subsistência, vindo da região de Goiás com intuito de fixar na fronteira uma agropecuária no qual daria aos colonos meios
para sobreviver.

13
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

Ao que tudo indica, esse rebanho desenvolveu-se de Para Emanoel Pontes Pinto, as intenções de Rolim de
forma lenta na Capitania de Mato Grosso, que de acordo Moura era criar um ponto de apoio naquela fronteira que:
com Ernani Silva Bruno, em 1737 sabe-se que começaram ao retornar para impor sua jurisdição sobre toda a margem
a ser levados rebanhos de bois para Mato Grosso, pelo ser- oriental do rio Guaporé e do pequeno trecho do rio Ma-
tanista Pinho Azevedo, um dos abridores do caminho de moré, recomendou aos jesuítas espanhóis que desocupas-
Goiás para Cuiabá. sem as missões de Santa Rosa, São Miguel e de São Simão,
Para que a conquista do oeste da Capitania de Mato por eles instaladas indevidamente em área reconhecida-
Grosso fosse definitiva, coube a Antônio Rolim de Moura, mente de soberania portuguesa.
tornar Vila Bela da Santíssima Trindade em 19 de março Vale lembrar que não foi Rolim de Moura que pediu
de 1752 como capital da Capitania, a margem direita do a saída dos jesuítas, pois segundo Denise Maldi Meireles
rio Guaporé demonstrando o interesse de Portugal na pre- os mesmos foram retirados mediante ordem da Corte, que,
servação do território e proteção das minas. Para Octayde dentro do movimento de expulsão dos jesuítas e, após a
Jorge da Silva, Rolim de Moura permaneceria com a ideia sua saída, a missão entrou em decadência: aos poucos, os
de impedir que os espanhóis dominassem a navegação do índios abandonaram o local.
rio Guaporé, devendo se estabelecer nos limites propostos Essa retirada tinha o propósito de evitar um confronto
no Tratado de Madri 1750. Era preciso povoar a frontei- direto com a coroa. Tomando posse da missão de Santa Rosa
ra, mantê-la viva, colonizada e habitada. Diria mais tarde o e reaproveitando as estruturas desta missão em 1754, Rolim
naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira (citado por Ernani de Moura implanta a guarda de Santa Rosa Velha, que de-
Silva Bruno) que a escolha de Vila Bela para sede da nova pois de reformada, se transformou em destacamento militar
capitania se explicava pela riqueza incomum das jazidas da de Nossa Senhora da Conceição em 1760, em 1769 Forte
Serra de São Vicente, pela contiguidade da fronteira espa- de Bragança. Ao assumir a missão de Santa Rosa, procurou
nhola e pela vizinhança do Pará, facilitando as comunica- erguer um destacamento militar para resguardar a área, que
ções e auxílio mútuo. diante da insegurança que se encontrava a fronteira oeste
Vila Bela foi fundada há poucos quilômetros dos ar- da Capitania de Mato Grosso e pela falta das organizações
missionárias portuguesa na região, Rolim de Moura decidiu
raias, justamente para mantê-los longe dos espanhóis. Esta
ocupar militarmente a região do Guaporé em 1760 (Fig. 08),
prática deixava clara a política de manter a posse do territó-
com um destacamento que garantiu a presença militar na
rio. Para Antônio Rolim de Moura, a formação das missões
região, um corpo de guarda permanente para fazer a defesa
em área portuguesa surgia como estratégia para explorar
do local, que para Denise Maldi Meireles:
um território inexplorado, para isso era fundamental que
Em 1757 enviou um destacamento para o local conhe-
a posse desse território fosse decisiva, que segundo Deni-
cido como “sítio das Pedras”, abaixo da foz do rio Mequens,
se Maldi Meireles, esse governo tinha certo respeito pelos
com a intenção ostensiva de intimidar os espanhóis. Em
Mojos, mesmo sabendo de suas intenções, lhe coube uma
1760 fundou, cerca de dois quilômetros abaixo da antiga
medida de enviar o Pe. Agostinho Lourenço, jesuíta que Santa Rosa, um forte a que deu o nome de Forte de Nossa
veio com sua comitiva, a missão jesuítica de San Miguel. Senhora da Conceição.
Para Denise Maldi Meireles, as intenções do governa- Se por um lado o Tratado de Madri reconhecia a posse
dor Rolim de Moura era plausível, por isso resolveu correr o portuguesa, ainda que baseada em sua população, a pos-
risco de manter contatos com os mojos e conclui que: Para terior anulação do mesmo, pelo Tratado de El Pardo (1761),
o fim deste mês mando um dos Padres da Companhia que em outra circunstância deveria exigir uma política mais de-
trouxe comigo à dita Aldeia de S. Miguel, com o pretexto cisiva, que fixasse definitivamente a posse dos rios Madeira
de visitá-los, e levar-lhes as índias que se acharam perten- e Guaporé, como o meio de comunicação entre as Capita-
centes às missões castelhanas, e juntamente para tomar nias do Grão-Pará e Maranhão com a Capitania de Mato
conhecimento da economia e governo delas, pois é certo Grosso, e ainda, como meio para o seu mútuo auxílio de-
que excedem nisso muito as nossas. A falta de meio me fensivo. Esta política como diz José João Planella, iria depois
embaraça dar logo princípio a uma para acudir a extrema definir-se com a construção, no reinado seguinte, de uma
necessidade em que se acham daquele remédio para a sua série de fortificações que acabaram definindo as fronteiras
salvação os muitos índios, que estão em poder dos mora- mato-grossenses e amazônicas.
dores abaixo, a maior parte deles ainda por batizar . Com essas divisas, os recursos naturais como o ouro e
Os constantes ataques efetuados pelos índios mojos as drogas do sertão, vão contribuir para a ocupação tem-
armados contra as monções no trajeto pelo rio Guaporé, porária do território, muito embora do injusto sistema, que
segundo Emanoel Pontes Pinto, obrigou o governador Ro- imprime suas transações comerciais mercantilistas nas fon-
lim de Moura a ir pessoalmente inspecionar essa rota, em tes da produção, baseado na exploração adotada desde o
1754 acompanhado de soldados e da milícia de sertanistas início da colonização.
criada em Vila Bela, estendendo essa viagem até o trecho Portanto, compreendemos que o século XVIII foi o mo-
encachoeirado do rio Mamoré. Para Ione Aparecida Cas- mento que os portugueses garantiram o domínio de posse
tilho Pereira, em 1763, Rolim de Moura mandou atacar a do território de fronteira da Capitania Oeste de Mato Gros-
missão espanhola de São Miguel, situada na margem es- so que, segundo Sérgio Buarque de Holanda: sem povoar,
querda do rio Guaporé, por ser a mais próxima das missões agindo mais em extensão do que em profundidade, acen-
envolvidas no conflito. tuada importância tiveram as bandeiras na expansão geo-

14
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

gráfica do Brasil Colonial. Na caça ao índio e na pesquisa de para escraviza-los em São Paulo. Inicialmente era somente
pedras e metais, descomprimiram o Brasil de Tordesilhas, uma rota para chegarem até as Minas de Ouro em Cuiabá,
desbravaram e conquistaram a terra, expulsaram a frente utilizando os escravos para carregarem as coisas pelo cami-
pioneira jesuítica de catequese e colonização, alimentaram nho. Em algumas cartas citam a presença de escravos ne-
com o braço índio a agricultura do sul ao norte, estabe- gros, como em fazendas de Camapuã, que por volta de 1800
leceram rotas, descobriram ouro, abriram caminhos para o eram tidas como locais de abastecimento das monções.
povoamento de Minas Gerais, de Mato Grosso e Goiás. Muitos escravos vieram da região de minas, na época
O processo de consolidação e expansão da fronteira foi de 1850, conforme registros de cartórios dos municípios
intensificado a partir das politicas agressivas implantadas de Corumbá, Miranda, Nioaque e Paranaíba, para servi-
pelo primeiro ministro português, Dom Sebastião Carvalho ços domésticos e agrícolas. A utilização e continuidade da
e Melo (1750-1777), que em sintonia com a coroa portu- mão de obra escrava no estado deram-se com o início da
guesa, houve condições para a realização dessa mudança, mineração em Cuiabá, e após, com a crise do minério foi
tornando os capitães generais da Capitania de Mato Grosso transferida para o trabalho agropecuário, onde Santana de
aliados fieis na execução dessa tarefa. O apoio do primeiro Paranaíba começou a se destacar a partir de 1830 como um
ministro foi o combustível que gerou a mudança na Capi- dos primeiros pontos de irradiação da sociedade escrava-
tania, mas devido à falta de técnica adequada para explorar gista no estado de Mato Grosso do Sul.
o ouro, não houve uma preocupação em racionar a retirada Até que algo acontecesse em defesa aos Negros no
desse metal. Texto adaptado de BERLANDI, A. C. D. B; TAR- estado e no Brasil inteiro, muitos foram escravizados e
DIVO, V. P; KABEYA, R. B. A mortos antes de provarem do gosto da liberdade. A Lei do
ventre livre datada de 28 de setembro de 1871 foi insti-
tuída, e somente alguns anos após foi a vez da Lei Áurea
em 13 de Maio de 1888. A história deste estado trata estes
4. A ESCRAVIDÃO NEGRA
pioneiros como heróis em nossos livros, como desbravado-
EM MATO GROSSO. res, bandeirantes, pioneiros do sertão, sem mostrar o lado
escravicionista da história.
 Em 1832, começam a descer para o Sul do Pantanal
os fazendeiros de Cuiabá com seus escravos. Dentre eles
A história do Negro no Mato Grosso possui capítulos
destaca-se a figura do Barão de Vila Maria, estabelecendo
por tempos desconhecidos e ignorados pelos historiado-
em Corumbá, e mostrado como importante desenvolvedor
res, porém, existem registros que demonstram uma origem
da região do Mato Grosso do Sul como criador de gado,
escravagista na região em decorrência do desenvolvimento
fabricante de água ardente e agricultor, foi um dos que
do sul do Mato Grosso, até a criação do atual estado do
mantinham negros escravizados, os mesmos negros que
Mato Grosso do Sul.
enviou para lutar na guerra do Paraguai. Umas das regiões
Em 1540, os primeiros negros chegam à região, na
mais escravagistas foram Corumbá e Santana do Paranaí-
época do desbravamento do Espanhol Cabeza de Vaca.
ba, tudo registrado em documentos das alfandegas, onde
Partindo da época das monções, desde o século XVIII, de-
cadastravam os escravos e pagavam os impostos. Havia
senvolveram-se a vinda dos escravos para o “sul do Mato
também uma Junta Classificatória dos escravos, que faziam
Grosso”, foram diversas as expedições e capitanias para
atas, com informações e características dos escravos e a
esta região que cruzavam o Pantanal. Poucos são os regis-
quem eles pertenciam. Constavam também, nos censos do
tros que falam diretamente do Estado do Mato Grosso do
século XIX uma população livre de 2880 pessoas e de 354
Sul, a maioria dos documentos relatam sobre a região sul
cativos trazidos pelas famílias dos colonos, principalmente
do Mato Grosso.
do conhecido Triangulo Mineiro que ocuparam a região,
A vinda dos negros como mão de obra escrava teve
em busca das terras devolutas na expansão do sul do Mato
sua continuidade no ano de 1600, com os Bandeirantes, em
Grosso.
suas comitivas, e com a chegada dos fazendeiros desbra-
Outro pioneiro que despontou com o uso de mão de
vadores de terras das regiões do Mato Grosso, São Paulo,
obra escrava, foi Protásio Garcia Leal, da região de Três
Goiás, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e vários outros esta-
Lagoas, dono de diversas propriedades rurais na região.
dos. Foram estabelecendo suas posses, derrubando matas,
Considerado como família tradicional em Santana de Para-
plantando, criando gado, e engenhos erguidos à custa do
naíba. Já em 1872 foram relacionadas 142 cativos entre os
trabalho escravo de descendentes africanos.
escravizados referentes à família dos Garcia Leal, em inven-
Os comerciantes e pioneiros eram em suma senhores
tário em nome de Anna Garcia Leal em 1860 haviam vários
escravistas, que mantinham em sua posse a mão de obra
cativos, inclusive crianças, de 13 anos, 12 anos, nove anos,
escrava para a força de trabalho enquanto aumentavam suas
três anos e um ano de idade.
fazendas e seus comércios, inclusive na região das fazendas
Consta em documento referente a inventário em nome
da Nhecolandia. Alguns registros de 1726 relatam a presen-
Miquelina Garcia Leal, uma escrava de nome Benedita, que
ça de sertanistas na região perto de Coxim, Camapuã e Ta-
teve de pagar 320 mil contos de reis pela sua liberdade,
quari, o que caracteriza a presença de escravos negros na
prestando por anos serviços aos senhores até quitar sua dí-
mesma época. Esse movimento mais comercial dos bandei-
vida. Em outro documento datado de 1841, citado no livro
rantes deu-se quando vieram em busca dos nativos (índios)
“Como se de ventre livre fosse”, ficou registrado a concessão

15
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

de alforria para algumas das escravas de famílias tradicionais O quilombo de Quariterê situava-se às margens do rio
da cidade de Paranaíba, elas eram: Maria Benghela e Thereza Quarité ou Piolho, afluente da margem direita do Guaporé.
Africana depois de servir por 35 anos em cativeiro tiveram Era formado de escravos fugidos das Minas de Mato Gros-
a sua liberdade. Até o ano de 1871 as cartas de alforria po- so, de pretos livres e de índios. Outros, de menor porte,
diam ser revogadas por diversos motivos, inclusive ingrati- situavam-se ao norte do Arraial de São Vicentene nas ver-
dão. Os negros eram vistos pelo Direito Civil como coisas, tentes dos rios Galera, Sararé, Piolho e Pindaituba da Cabe-
como bens, eram objetos de partilha e herança, citados em ceira do Rio Manso, Quilombo entre os rios Cabaçal e Sipo-
documentos de inventario e contratos de compra e venda. tuba e Quilombo entre os rios Jaguari,Paraguai e Sepituba.
Em Corumbá, contam os registros que por volta de 1882, Estes cinco últimos localizavam-se, portanto, na região dos
a família Fleury da fazenda Tapera, mantinha em seu espólio, formadores da Bacia Platina.
cabeças de boi, cavalos, engenhos de açúcar e escravos. Na Como estratégia, os quilombos eram localizados em
região, eram utilizados para trabalhos do campo e com os lugar de difícil acesso, alguns deles o mais próximo possí-
animais. Ainda em Corumbá, a figura já citada do Barão de vel dos domínios espanhóis para facilitar a fuga, no caso de
Vila Maria, é citado no livro de classificação dos escravos em ataque pelo poder constituído. A população variava entre
1877, que mesmo após a guerra do Paraguai ainda havia 30 a 109 pessoas. Como em outras regiões do Brasil, os
sob sua posse 41 cativos em sua propriedade, fora os que quilombos mato-grossenses eram organizados em arraiais,
não eram registrados pelos outros donos em outras proprie- cada qual sob a chefia de um “capataz”. Os arraiais ficavam
dades. Naquela época a população de cativos representava distantes uns dos outros cerca de três a quatro léguas.
45% da população geral do município, enquanto em Santa- Para a sobrevivência nos quilombos, plantavam roças
na do Paranaíba dava-se o total de 30%. Na região de Mi- e apoderavam-se de mantimentos, armas e outros objetos,
randa, contavam com uma população de 720 pessoas livres nos assaltos aos viajantes e fazendeiros. Além da lavoura
e 100 cativos, logo após a guerra, o relatório da Província, de subsistência, havia um sistema de troca realizada com
mostrou o total de 207 trabalhadores escravizados. os moradores das povoações próximas. Para a defesa, tam-
A história conta que muitas pessoas além dos soldados bém fabricavam armas, que se somavam àquelas consegui-
participaram do maior confronto armado da América do sul,
das nos assaltos aos viajantes.
mulheres, crianças, índios, escravos e ex-escravos lutaram na
O primeiro quilombo de Mato Grosso de que se teve
Guerra do Paraguai em 1864-1870. Alguns talvez conquista-
notícia foi o de Quariterê, também referido por alguns cro-
ram sua liberdade ou um pedaço de terra somente após ter
nistas por Quilombo das Campanhas do rio Galera. É sobre
lutado na Guerra, caso sobreviveram.
ele que se têm, no momento, mais informações, ainda que
A escravidão negra em Mato Grosso teve início com as
escassas.
atividades mineradoras, em 1719. Os negros eram trazidos,
O Quilombo de Quariterê foi batido, pela primeira
inicialmente, pelas monções fluviais e depois através do
caminho terrestre que ligava Cuiabá a Goiás, aberto em vez, em 1770, por uma poderosa bandeira dirigida pelo
1736. Posteriormente, vinham também do Grão- Pará, for- Capitão-Mor João da Costa Pinto. E, na esteira de sua des-
necidos pela Companhia Geral do Grão-Pará e Maranhão. truição, poucos registros foram deixados sobre ele. Sabe-se
Nas primeiras décadas desse século, o elemento negro re- que a forma de governo adotada foi à realeza. Havia um
presentava 85% da população de Mato Grosso. rei, mas à época era governada por uma viúva negra, a Ra-
A resistência contra a escravidão assumiu várias moda- inha Tereza, assistida por uma espécie de parlamento, com
lidades, entre elas o suicídio, a fuga e a organização de qui- Capitão-Mor e Conselheiro. Este último era conhecido por
lombos. A fuga, inclusive para as colônias espanholas, atin- José Piolho.
giu um índice tão alto em 1751, que chegou a preocupar o A fartura desse quilombo foi registrada pelos seus des-
então Governador e Capitão-General da Capitania, Antonio truidores, e ela contrastava com a escassez que reinava,
Rolim de Moura. A organização em quilombos constituiu o nessa mesma época, em Vila Bela e nas Minas de Mato
movimento de maior envergadura contra o regime de tra- Grosso, já decadentes. Tal abundância relacionava-se à
balho compulsório e a violência da sociedade escravocrata. forma de apropriação da terra (pelo trabalho), disponibili-
Quando se fala em quilombo, lembra-se sempre Palma- dade de mão de obra e, sobretudo, trabalho cooperativo e
res, o mais divulgado nos livros de história aplicados em sa- solidariedade social. Nas roças, os produtos eram variados
las de aula. No entanto, vários quilombos existiram no atual e, além dos voltados para a alimentação - complementada
território brasileiro, inclusive em Mato Grosso. As pesquisas pela caça e pesca - eram cultivados fumo e algodão. Havia
realizadas indicam, até o momento, a existência de dez duas tendas de ferreiro, o que indica a utilização de imple-
quilombos em Mato Grosso, número este que seguramente mentos de ferro. Através de relações mantidas com a socie-
será ampliado, na medida em que novos estudos forem dade “branca”, obtinham ferro, além de sal e outros artigos.
desenvolvidos. A região onde se situa Vila Bela da O principal posto de comércio dos quilombos dessa região
Santíssima Trindade, primeira capital de Mato Grosso, era o Arraial de São Vicente, onde também aliciavam escra-
foi palco de lutas pela libertação da escravidão no sé- vos para a fuga.
culo XVIII, e de estabelecimento de vários quilombos, seja Sabe-se ainda, através das poucas fontes existentes,
nos contrafortes da Chapada dos Parecís, seja no Vale do que a disciplina no Quilombo de Quariterê era rígida. A Ra-
Guaporé, propriamente dito. O mais importante deles, assim inha aplicava duros castigos - como enforcamento, fratura
como do Estado como um todo, foi o quilombo de Quarite- das pernas e enterramento vivo - para aqueles que deser-
rê, conhecido também por Quariteté. tassem, porque colocava em risco a segurança, a defesa e a

16
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

própria existência do quilombo. Apesar de todos esses cui- Além dos 54 quilombolas aprisionados no Piolho - dos
dados, Quariterê foi batido em 1770, ocasião em que foram quais seis eram escravos fugitivosforam capturados mais 24
aprisionados 79 negros de ambos os sexos e trinta indíge- escravos dos diversos quilombos abandonados.
nas. Eles foram levados a ferro para Vila Bela, onde sofre- Com seus quilombos destruídos e sem imediatos meios
ram humilhantes e cruéis castigos em praça pública, além de vida, pressionados pelo medo, perseguidos por bandeiras
de haverem sido marcados a ferro com a letra F, como de- que os mantinham “às vésperas da morte”, como bem ex-
terminava o Alvará Régio. A rainha Teresa, ante a destruição pressou Maria de Lourdes Bandeira (1988), muitos escravos,
do quilombo que liderava, enlouqueceu. Presa e conduzida desesperados, se entregavam aos seus senhores.
também para Vila Bela, num gesto de suprema indignação, Os quilombolas do Piolho não foram, contudo, vítimas
revolta e resistência, ter-se-ia suicidado. Mas não morreu dos cruéis castigos aplicados àqueles liderados pela rainha
com ela o quilombo de Quariterê. Os quilombolas que con- Teresa, décadas antes. O governador João Albuquerque, sur-
seguiram fugir a esse ataque, escondendo-se nas matas, preendido pela sua “cristandade”, mandou-os batizar, partici-
pando pessoalmente da cerimônia, como padrinho de alguns,
tornaram a erguê-lo, numa heróica atitude de resistência,
juntamente com pessoas “notáveis” de Vila Bela. Ele, por con-
nas proximidades do rio Branco. Começaram tudo de novo,
siderar que os índios, as índias e seus filhos caborés eram
constituindo famílias com índias Cabixis - com quem man-
livres e os pretos, embora escravos já fossem muito velhos,
tinham continuadas guerras - das quais nasceram filhos encarregou-os de estabelecer contatos com os índios Cabixi
caborés. Cultivavam milho, feijão, fava, mandioca, abóbo- da região e dar apoio ao comércio e à navegação. Partiram
ra, amendoim, batata, cará e outros tubérculos. Plantavam os 54 quilombolas em muita canoas, levando mantimentos,
frutas, como o ananás, a melancia e muitas variedades de sementes, ferramentas e animais, e fundaram a aldeia Car-
bananas, além do fumo e algodão, que fiavam e teciam lota. Mas, como colocou Maria de Lourdes Bandeira (1988),
panos grossos com os quais se vestiam. Este quilombo ela não teve a mesma vitalidade de um quilombo, na medida
reconstituído foi denominado Piolho,, em homenagem ao em que a liberdade não fora conquistada, mas concedida pe-
conselheiro da Rainha Teresa. los senhores, roubando-lhe assim a sua essência, ou seja, o
Em 1795, no governo de João Albuquerque, o quilom- quilombo enquanto um modelo de luta de libertação, de
bo do Piolho foi novamente batido por bandeira, que le- conquista de condições de vida mais humana e digna.
vava consigo um preto forro que havia sido captura- Destas facetas da história da resistência negra em Mato
do no quilombo de Quariterê, juntamente com os demais Grosso, muito há por se resgatar nas entrelinhas dos registros
que, em 1770, foram levados para Vila Bela. Desta feita, escritos e, sobretudo, na memória social.
foram trazidas para essa localidade 54 pessoas, sendo seis
negros muito idosos, sobreviventes do primeiro ataque, Os escravos nas cartas de alforrias
oito índios, dezenove índias e vinte e um caborés nascidos
no quilombo e cujas idades variavam entre 2 e 16 anos. As transformações ocorridas na economia europeia du-
A notícia dessa destruidora bandeira espalhou-se ra- rante a segunda metade do século XIX determinaram alte-
pidamente pela região, entre os pequenos quilombos ao rações no antigo sistema colonial implantado no continente
norte de São Vicente e nas vertentes dos rios Galera, Sa- americano desde o seu descobrimento. Segundo Emília Viotti
raré, Piolho e Pindaituba, nos contrafortes da Chapada dos da Costa, no livro Da senzala à Colônia, mudanças na ordem
Paresís. Muitos deles foram abandonados a tempo, outros capitalista envolvendo a revolução nos meios de transporte
não, e muitos foram surpreendidos e mortos. Os que con- e no sistema de produção proporcionaram transformações
seguiram fugir, como estratégia de defesa, confundiam os que, segundo a autora, [promoveram o crescimento da po-
pulação na Europa e a crescente divisão do trabalho acarretou
seus próprios rastros. O comandante da bandeira ordenou
a expansão do mercado internacional, tornando impossível a
que fossem queimados os ranchos abandonados. Esse foi
manutenção dos quadros rígidos do sistema colonial tradi-
o destino que teve um situado nas matas do Pindaituba e
cional]. Em pouco tempo a escravidão tornou-se um sistema
outro entre o rio Sararé e o Arraial de Lavrinhas. Ao norte de trabalho inadequado nessa nova ordem, sobretudo para
do Pindaituba foi localizado também um quilombo aban- o segmento ligado à questão industrial. Esse quadro resultou
donado, dividido em “dois quartéis”, um com 11 casas e na supressão do tráfico no Brasil, vislumbrando passos de-
outro com 10. cisivos para o fim do escravismo. A abolição tornou-se cada
Os negros fugidos desse quilombo formaram outro vez mais impositiva, gerando acirrados movimentos sociais
no Córrego do Mutuca, seis léguas ao norte do antigo, de pressão junto às forças políticas imperiais.
também dividido em dois núcleos, distantes três léguas um A carência de mão de obra ensejou a política de alfor-
do outro. Um era chefiado por Antonio Brandão, com 14 rias visando ao bom andamento do sistema até seu último
negros, cindo escravos: o outro, formado em princípio de suspiro. A explosão de alforrias condicionadas ou seletivas
agosto daquele ano (1795), era chefiado por Joaquim Feliz, verificadas nos últimos anos da escravatura no Brasil expres-
com 13 negros e sete negras. Um mês depois a bandeira sava a tentativa dos escravizadores em preservarem a escassa
alcançou a este quilombo, já abandonado, mas aprisionou e cara mão de obra cativa sob controle, conforme se observa
um de três quilombolas que aí vieram à busca de manti- nos conteúdos das cartas de alforria da região. Num trecho
mentos. Quando a bandeira chegou ao quilombo do Mu- do documento (1841) transcrito a seguir, retirado do livro
tuca, seus habitantes já haviam se evadido nas matas. A três Como se de ventre livre nascido fosse... estão as imposições
léguas dali, rumo ao leste, localizou também o quilombo de Dona Anna Angélica de Freitas para concessão de alforrias
de Joaquim Telles, já abandonado. a algumas de suas escravizadas:

17
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

Compareceu presente Dona Anna Angélica de Freitas documentos, como o Libelo citado, que muitos escravos
pessoa de mim reconhecida pela própria de que trato e procuram a Justiça para tentarem se libertar por meio de
dou fé, e por Ela Outorgante me foi dito em presença de brechas, seja na lei, seja nos atos de seus senhores. No
seu marido e das testemunhas abaixo nomeadas e assina- caso, os escravos de Matheus aproveitaram que ele não os
das de mim igualmente reconhecidas que por este instru- tinham matriculado, sonegando dados e impostos, e pedi-
mento na bem assim e muito de sua boa vontade declara, ram sua liberdade, pois, segundo a legislação da época, o
e como fato declarado tem libertar as suas escravas dos escravo não matriculado estaria liberto.
nomes seguintes, a saber, Joana Crioula depois de servir
mais cinco anos no cativeiro Maria Benguela depois de A ESCRAVIDÃO NEGRA EM SANT´ANA DE PARANAÍBA
servir vinte anos, e Theresa Africana depois de servir trinta (1828-1888):
e cinco anos, as quais todas gozarão de plena liberdade,
logo que se conclusão os mencionados prazos que lhe são A introdução do escravo negro como mão-de-obra
relativos. escravizada em Sant´Ana de Paranaíba ocorreu com a ocu-
Nesse sentido, até o ano de 1871 as Cartas de Liber- pação e povoamento da região por homens brancos no
dade podiam ser revogadas pelos escravistas, e a qualquer final da década de 1820. Esses homens saíram da região
tempo, por vários motivos, entre eles sob alegação de in- do Triângulo Mineiro e de Franca/SP com suas famílias
gratidão. Uma hipótese para tal acontecimento seria de para se estabelecerem na localidade que seria conhecida
que os escravizadores libertavam escravos idosos ou que como sertão de Sant’Ana de Paranaíba e sertão dos Garcia
não estavam aptos para o trabalho, e compravam escra- (Garcia era o sobrenome de uma grande família que es-
vos novos e que estavam com boa idade para a lida. Entre tabeleceu na localidade e conquistou certa notoriedade).
os documentos, anexados no livros Cativos nas terras dos A mão-de-obra escrava era utilizada em trabalhos na
pantanais: escravidão e resistência no sul do Mato Grosso lavoura e no trabalho doméstico. A economia local à época
séculos XVIII e XIX, de Moura, publicado em 2008, estão era de agricultura de subsistência e início de uma produ-
os Recibos de Compra e Venda de cativos de Santana do ção pastoril. A ocupação de Sant’ Ana de Paranaíba pode
ser entendida como frente de expansão, conceito desen-
Paranaíba - 1867, cujo conteúdo mostra um único com-
volvido pelo sociólogo José de Souza Martins (1997). Esse
prador adquirindo o mesmo cativo de vendedores dife-
entendimento ocorre devido às características da ocupa-
rentes. Cabe ressaltar que o cativo arrolado no documento
ção que se deu pelo avanço sobre território indígena na
fazia parte da herança deixada pelo falecido. Isto significa
qual a terra é apossada e a ocupação é esparsa com fracas
que o comprador que adquirisse esse escravizado precisa-
ligações com o comércio capitalista-mercantil.
ria comprar as outras partes pertencentes a cada herdeiro.
Outra característica que se enquadra na ocupação da
Isso explica por que o nome de um mesmo escravizado
localidade e que pertence a frente de expansão é que a
aparecia mais de uma vez na lista do comprador. Como
busca pela fartura e de sossego era uma preocupação
exemplo, temos o caso de Joaquim Teixeira de Queiroz maior do que a de fazer comércio. Outras características
que comprou o cativo Pedro Crioulo, de João Patrício de da frente de expansão é a necessidade econômica, que
Oliveira e de Cassemiro Antonio de Paiva. aqui se enquadra na decadência da mineração, e situação
Portanto, no processo de partilha, o cativo Pedro foi de opressão política ou conflito familiar, no caso da família
dividido entre os três herdeiros, isso era explicado pelo Garcia Leal, eles saíram de Minas Gerais após um conflito
direito civil que o via como coisa, como objeto, e por isso por terra. Segundo Sena, “na medida em que avançava a
podia ser vendido, alugado ou até penhorado. Durante a primeira metade do século XIX, cresceu a quantidade de
pesquisa realizada no Memorial do Tribunal de Justiça de lugares habitados no território de Mato Grosso. Significa-
Mato Grosso do Sul deparamo-nos com um Libelo refe- tivo foi o número de vilas, arraiais, freguesia, povoados etc.
rente à posse de um cativo, do ano de 1874 em Santa- que surgiram”.
na de Paranaíba. No Libelo iniciado por Matheus Dias de
Campos, ele pede a posse da escrava Rita e de seu filho Os processos-crimes e a escravidão em Sant´Ana de
Tibério, pois os cativos estavam sendo considerados livres Paranaíba
perante a Lei, posto que ele não havia matriculado os dois
escravos. Tentando obter os escravos de volta, Matheus Silva (2004) examina os processos-crimes relacionados
alegou ignorância e sandice de sua parte. Esse argumento com escravidão em Botucatu. Para o autor, na zona rural
foi recusado pelo procurador Joaquim Lemos da Silva nos imperava a autoridade do senhor de escravos, abrindo um
seguintes termos: largo caminho para a violência desmedida e ilegal, violên-
Que o autor nunca foi nem era homem tão rustico e cia essa maior da qual já era socialmente aceita e consi-
ignorante como alega por que não consta que tenha feito derada legal. Antes de começar a analisar os processos-
ou use de fazer mãos negócios em prejuízo seu, nem tão crimes é necessário entender que há uma diferença entre
pouco tem vivido em estado de sandice, tanto que sobre crime e criminalidade. Crime é o fenômeno social em sua
si rege a sua pessoa. A leitura detida do processo de Ma- singularidade e possibilita várias interpretações e crimina-
theus Dias de Campos revelou seu insucesso na recupera- lidade é o fenômeno social em uma dimensão mais ampla,
ção de seus cativos. A alforria era uma forma de o escravo que a partir do estabelecimento de regularidades e cortes
conseguir a sua liberdade, mas podemos ver em vários possibilita a compreensão de padrões.

18
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

Neste trabalho buscamos entender o crime em si policial (cuja prática já era antiga), que documenta as in-
quando descrevemos e debatemos os processos crimes; vestigações do crime realizadas pela polícia. Essas foram
bem como buscamos entender a criminalidade de Sant´A- as Legislações e modificações nelas realizadas durante o
na de Paranaíba no século XIX quando examinamos suas período de estudo em relação à investigação e punição
regularidades e os padrões em que ocorreram. Quando se de crimes. Ao pesquisar os processos-crime referentes à
pensa em processo-crime logo o associamos à violência. Sant’Ana de Paranaíba nosso objetivo foi o de apreender
Lara nos recorda que havia diferentes signicados para a como os escravos apareciam nos processos-crimes e ten-
violência existente na escravidão brasileira desde o pe- tar compreender as condições que eles se relacionavam
ríodo colonial. Ainda que atenuada ou questionada, ela ou estavam envolvidos com os crimes. Para isso fizemos
era parte importante da dominação dos senhores sobre uma leitura dos processos-crimes que envolviam escra-
seus escravos no interior das unidades produtivas. A vio- vos, mas também buscamos analisar os processos crimes
lência do senhor era vista como castigo, dominação. A que envolviam as pessoas livres, pois percebemos que os
do escravo, como falta, transgressão, violação do domínio processos-crimes que se encontram no Arquivo do Tribu-
senhorial, rebeldia. nal de Justiça de Mato Grosso do Sul são documentos que
A violência foi uma presença marcante e contínua na trazem em si crimes de maior potencial ofensivo.
conservação e permanência da escravidão no Brasil mes- No Arquivo do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do
mo de formas diferenciadas; seja para fazer funcionar, Sul foram encontrados três caixas de processos criminais
produzirem ou mesmo para dificultar essas tarefas. A vio- correspondentes ao período de 1859 a 1886. Não sabe-
lência existente no sistema escravista não se restringia ao mos se os documentos dessas caixas correspondem ao
monopólio da força ao senhor de escravos, embora fosse total de processos-crimes realizados na localidade ou se
fundamental para a perpetuação da escravidão, não era a foi perdido algum documento pelo tempo e deterioração,
única arma de coação. Conforme Machado “à luz dessas pois, por exemplo, na caixa 114 não consta o documento
reflexões, considera-se a sociedade escravista como pro- de número 09. Das três caixas soma-se um total de 69 do-
dutora de uma ampla rede de controle social, capaz de cumentos, sendo que em apenas 6 são citados escravos e
combinar o argumento da força com outros mecanismos somente em um o escravo é acusado de matar seu senhor.
de dominação”. Para entendermos a relação entre senho- Entendemos que há a possibilidade de ter havido o cos-
res e escravos não podemos dizer somente que o escravo tume do próprio senhor punir o escravo tanto como em
resistiu à escravidão. crimes de menores quanto de maiores agravantes. Quei-
O escravo violento e rebelado é uma forma extre- róz (1977) estudou aos processos-crimes em São Paulo no
ma de negar o sistema no qual vivenciavam, porém não século XIX e para ela as mortes de escravos derivadas de
eram as únicas formas. Havia formas não violentas ou castigos pelo seu senhor “deveriam ser muito mais nume-
outras formas de se contrapor ao senhor, como as pe- rosas do que as registradas pela documentação. É sabido
quenas faltas, o trabalho moroso ou mal feito, a quebra que os grandes senhores brasileiros possuíam cemitérios
dos instrumentos de trabalho, o furto de pequena parte particulares”.
da produção agrícola. Pois é necessário considerar que Um exemplo de punição dada pelo senhor é uma de-
resistir significa, por um lado, impor determinados limites núncia de 1862. Isaías Joaquim Guimarães foi acusado de
ao poder do senhor, onerá-lo em sua amplitude, colocar açoitar seu escravo Sebastião até a morte por este ter rou-
à mostra suas inconsistências”. Machado (1987) analisou bado um colar de ouro de pequeno valor de sua casa. O
os processos crimes de Campinas e Taubaté no século XIX denunciante foi o Juiz Municipal substituto Martin Gabriel
e percebeu que havia poucos processos contra a proprie- de Mello Taques. Para a averiguação da denúncia reali-
dade cometidos pelos escravos, isso porque os senhores zada pelo Juiz Municipal foram chamados cinco homens
resolviam a maioria das questões de forma amigável não para darem seu testemunho.
as transfeririam para a esfera jurídica. De 1603 a 1830, As testemunhas foram: Reverendo Francisco de Salles
os crimes na América portuguesa e no Império brasilei- Souza Fleury, com 58 anos à época, natural da província
ro eram definidos pelo Livro V das Ordenações Filipinas. de Minas Gerais; Manoel Pereira Dias, negociante, natural
Em 1830 foi promulgado o Código Criminal do Império de Minas Gerais; Lucas Antunes da Silva, 28 anos, lavrador,
do Brasil, que foi logo sucedido pelo Código de Processo natural da província de Minas Gerais; Francisco Anselmo
Penal em 1832. A partir do Código de 1830 as penas defi- Grilho, 48 anos, funcionário público, natural de Minas Ge-
niam-se de acordo coma gravidade do crime e introduziu- rais; Alferes Antônio Francisco de Andrade, 38 anos, natu-
se o habeaus corpus. ral de São Paulo. O Juiz Municipal Joaquim Silveira Simões
Grinberg ressalta que houve duas modificações no acabou não aceitando a denúncia após ouvir as testemu-
Código de Processo Penal, uma em 1841 e outra em 1871. nhas. Ele julgou improcedente a denúncia porque todas
Na explicação da autora. Na primeira, em 1841, a refor- as testemunhas depuseram que ouviram dizer vagamente
ma tirou dos juízes de paz as atribuições de investigar sobre o crime. Além do mais o Alferes Antônio Francisco
crimes, tarefa então atribuída exclusivamente aos chefes de Andrade e Lucas Antunes da Silva duvidaram, mesmo
de polícia e seus delegados, o que significava, na época, de ouvir dizer, que o motivo da morte do escravo fosse o
fortalecimento do aparato repressivo do Estado. A segun- açoitamento, pois o escravo encontrava-se doente, fazen-
da vez foi em 1871, com a criação formal do inquérito do uso de remédios.

19
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

Não temos como saber qual teria sido a causa da blocos políticos não havia grandes divergências ideoló-
morte do escravo Sebastião, os açoites ou uma doença, gicas, pois ambos eram formados por proprietários rurais,
mas não é de duvidar que ele tivesse sido açoitado até a comerciantes, intelectuais. As principais diferenças estavam
morte por causa do roubo de um colar de ouro, pois seu na forma de organização do Estado: monarquia constitu-
senhor Isaías Guimarães pode ter feito isso para dar uma cional, parlamentar, federativa, república.
punição exemplar para que seus outros escravos não ten- Sentindo as tensões políticas Dom Pedro I dissolveu
tassem algo parecido. É importante recordar que Isaías a Constituinte e pouco tempo depois outorgou a Consti-
Joaquim Guimarães é um nome recorrente nos Livros de tuição de 1824. As tensões no âmbito do Estado daí em
Pagamento de meia siza dos escravos. Podemos perceber diante se agravaram: revoltas no nordeste, crise econômica,
que o processo foi feito não por causa do furto do escravo, pressão de Portugal. Estes fatos, aliados a outros levaram
mas porque Guimarães açoitou o seu escravo até a morte D. Pedro I a abdicar o trono em 1831 em favor de seu fi-
por um motivo fútil, pois o colar de ouro teria pouco valor. lho menor, Pedro de Alcântara. A renúncia do imperador
Guimarães não teve nenhuma punição oficial, mas talvez desencadeou no Brasil um dos períodos mais tensos da
nossa história. Como estabelecia a Constituição Imperial,
a intenção do processo fosse constranger e assim quem
no seu artigo 123 foi instituída a regência trina provisória
sabe evitar que os senhores matassem seus escravos. Por
que depois virou regência una definitiva. Com o objetivo
esse processo, podemos pensar que os pequenos furtos
de minimizar os conflitos políticos gerados pela vacância
realizados por escravos não eram levados à Justiça porque
do monarca, pela própria instituição das regências, e de in-
os senhores resolviam entre eles e os escravos a situação teresses regionais aprovou-se o Ato Adicional de 1834, que
e punia os escravos conforme achavam necessário. Texto delegou poderes às câmaras municipais e às províncias.
adaptado de CAMARGO, I. C. D Criaram-se as assembleias legislativas provinciais, as
quais passaram a ter poder de legislar e organizar vários
setores da administração pública, entre eles a instrução
PERÍODO IMPERIAL. primária e secundária. Uma discussão mais aprofundada,
sobre as tensões políticas relativas ao período regencial e
ao Ato Adicional será feita logo a seguir.
Mesmo com a vacância do Imperador o Brasil não pa-
Para muitos historiadores, entre eles Prado Jr, a inde- rou e aos pouco foi se incorporando de forma mais efetiva
pendência do Brasil não pode ser compreendida somente ao capitalismo, que estava em franca ascensão na Europa
a partir de setembro de 1822, pois já na colônia começa- e Estados Unidos.
va a se constituir uma elite local que almeja maior poder O século XIX consolidou a Revolução Industrial, abrin-
político. Com a vinda da família real em 1808, o processo do uma nova perspectiva de desenvolvimento para os paí-
ganhou outra dinâmica, pois a partir de então, várias medi- ses ligados, por relações de comércio às nações da Euro-
das foram tomadas no âmbito econômico, político, social e pa Ocidental. A ideologia liberal burguesa se impôs como
cultural, as quais estimularam as elites locais e fortaleceram vencedora e o padrão europeu de progresso e civilização
a luta pela independência. A Independência chegou, e tudo tornou-se o espelho para muitos países, sendo um deles o
transcorreu em harmonia, sem guerra, de cima para baixo, Brasil. Os anos oitocentos também se caracterizaram pelo
ou seja, sem nenhuma ruptura significativa. No entanto, desenvolvimento da ciência, onde várias teorias foram ela-
tal fato foi importantíssimo para nossa história. A partir de boradas tentando explicar a dinâmica social, política e eco-
nômica da sociedade de então. O rápido crescimento na
então o poder estava próximo, e por isso mais sujeito às
produção industrial trouxe a necessidade de novos merca-
criticas, as contradições e ao jogo de interesses.
dos consumidores e fornecedores de matérias primas para
Coube à nova Nação a tarefa de criar instituições e leis
atender à crescente demandam. A grande produção in-
para substituir às existentes. Nesse sentido, o imperador dustrial permitiu alta acumulação de capitais gerando forte
convocou eleições, onde foram eleitos noventa ilustres ci- concorrência entre as nações e trazendo enormes transfor-
dadãos para compor a Assembleia Constituinte no ano de mações nos países que receberam partes desses capitais
1823 e elaborar a nova Constituição. Nela, intensos deba- como investimentos.
tes foram travados entre os parlamentares sobre os mais Paradoxalmente, ao contrário do que ocorria no Brasil,
variados temas da época, dentre eles a instrução pública, a a produção industrial tinha como motor o trabalhador livre
criação da universidade brasileira e muitos outros. No ca- assalariado, e isso entraram em choque com a realidade
lor dos debates alguns grupos políticos foram ganhando brasileira, que se dinamizava a partir do trabalho escravo.
força, entre eles os conservadores, os liberais moderados Dentro do ideal burguês, o trabalho figura associado ao
e os exaltados. Os liberais queriam restringir o poder do progresso e representa a possibilidade de ascensão indi-
imperador e a intervenção do Estado na vida econômica vidual, constituindo-se em direito natural do indivíduo. A
e política da Nação. Mas como bem lembra Emilia Viotti expressão máxima do liberalismo é: o trabalho dignifica o
da Costa “o liberalismo brasileiro, no entanto só pode ser homem. No Brasil o confronto entre trabalho escravo e tra-
entendido com referência à realidade brasileira. Os libe- balho livre passou a ocupar lugar central nas discussões
rais brasileiros importaram princípios e fórmulas políticas, nacionais e provinciais. Era necessário efetuar essa transi-
mas as ajustaram às suas próprias necessidades”. Entre os ção preservando o direito dos proprietários de escravos e
donos das terras.

20
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

Após a maioridade de D. Pedro II em 1840, o Brasil ini- As novas ideias se confrontaram com o modo de viver
cia um período de crescimento econômico e estabilidade de grande parte do povo de Mato Grosso, particularmente
política. As rebeliões foram suplantadas e várias medidas da capital, Cuiabá. Parte daquela população, principalmen-
foram tomadas para colocar o Brasil na rota do progresso. te os cuiabanos, não via a necessidade de acumulação de
Em 1850 foram promulgadas a Lei Eusébio de Queiroz, capitais, ou seja, não conheciam as práticas capitalistas. E,
que proibiu o tráfico de escravos, e a Lei de Terras, que por isso, eram vistos pelos visitantes como pessoas sem ini-
regulou a propriedade fundiária no Brasil. Essas leis, segun- ciativa, que esperavam que o governo resolvesse seus pro-
do Mattos, equacionaram alguns problemas que o Brasil blemas. As primeiras críticas aos costumes locais vinham,
geralmente dos próprios presidentes da Província, oriundos
vinha enfrentando e que perturbavam a classe dirigente.
de outras regiões, principalmente da Corte, trazendo con-
A Lei Eusébio de Queiroz, ao proibir o tráfico de escravos,
sigo as ideias de progresso e modernização veiculadas nas
fortaleceu a soberania do Império frente à pressão inglesa
grandes cidades de então. Foi nesse contexto que aparece-
e aos especuladores internacionais do tráfico de escravos. ram as preocupações com a reordenação do espaço urbano
Ao regular a entrada de escravos, contribuiu para diminuir e com a higienização da cidade de Cuiabá. Os códigos de
o desequilíbrio entre livres e cativos no país. posturas e leis provinciais procuravam ordenar os espaços
Grande parte da população brasileira à época era es- da cidade, buscando disciplinar e conscientizar a popula-
crava, e esse fator preocupava a elite, pois o perigo de re- ção, principalmente a pobre para um novo jeito de viver.
voltas e insurreições era constante, ao menos (presente) no A circulação das novas ideias foi dificultada com a de-
imaginário da classe dominante. O fim do tráfico também flagração da guerra com o Paraguai a partir do final de
dinamizou a economia nacional, através do fortalecimento 1864, a qual trouxe graves problemas para o Brasil, prin-
do comércio interprovincial, e impediu que muitos trafican- cipalmente para Mato Grosso. Além de alterar o fluxo nor-
tes de escravos, sobretudo estrangeiros, se apoderassem mal de ideias, produtos e capitais pelo período que durou,
de terras brasileiras como forma de pagamento pelos es- trouxe também um grande pânico para a região, desarti-
cravos comercializados com os fazendeiros. Por outro lado, culando o comércio local. No mesmo período da guerra
a Lei de Terras, ao regular a propriedade fundiária limitan- com o Paraguai, ocorreu na região uma grande cheia no
do o acesso a terra, contribuiu para o encaminhamento da Rio Cuiabá no ano de 1865, e também uma catastrófica
questão da mão-de-obra, através da absorção dos homens epidemia de varíola, em 1867. A junção desses três even-
tos (guerra, enchente e epidemia), acrescidos de algumas
livres e dos imigrantes no mercado de trabalho, contribuiu
especificidades regionais, caracterizou um quadro que Vol-
também para diminuir os conflitos entre os fazendeiros nas
pato definiu como o “apocalipse cuiabano”.
disputas por novas terras.
O fim da guerra e a destruição do Paraguai reacende-
Ao analisar os discursos das autoridades do período, ram as esperanças de progresso e civilização na elite local.
sobre a questão da imigração é possível perceber que, para A abertura definitiva do caminho fluvial inseriu, definiti-
ocupar o lugar dos escravos africanos como força de tra- vamente Mato Grosso no processo de modernização. Sua
balho desejava a vinda de trabalhadores europeus. Só o economia tornou-se mais dinâmica, possibilitando, a partir
trabalhador branco e ordeiro poderia propiciar condições de 1870, um rápido desenvolvimento das atividades pro-
para o crescimento do país. Criaram-se estímulos para a dutivas que vinham se acentuando após 1830. A decadente
vinda de imigrantes; todavia, quando eles começaram a mineração foi, ao longo dessas décadas, sendo substituída
chegar com mais intensidade, a partir da década de 1870, o pelas atividades ligadas à pecuária, à produção açucareira,
sonho de tornarem-se proprietários de terras foi desfeito. A e às atividades extrativistas (erva-mate, borracha) e pelo
Lei de Terras de 1850 estabelecia que a posse da terra só se fortalecimento do comércio com a região do Prata.
daria por meio da compra. Descapitalizados, os imigrantes Após o sucesso na Guerra do Paraguai, tudo indicava
ficaram impossibilitados de adquirir terras, passando a tra- que o Brasil entraria num período de estabilidade políti-
balhar para os fazendeiros das regiões produtoras de café, ca e econômica, mas pelo contaria, cada dia que passava
especialmente. aumentavam as criticas ao sistema imperial. Questões li-
O desejo de participar diretamente da ideia de pro- gadas à abolição da escravatura, a entrada dos imigrantes,
a participação dos militares, a questão religiosa e as ideias
gresso, que o capitalismo inspirava também se mostrou
republicanas, acabaram roubando a cena política e desen-
forte em Mato Grosso. Ocupar espaço na nova divisão
cadeando uma forte crise ao regime monárquico.
internacional do trabalho era um dos objetivos da classe
dirigente provincial. Participar do progresso e da civiliza- Embates entre Conservadores e Liberais
ção era manifestações presentes nos ideais da elite ma-
to-grossense. Havia uma ardorosa luta pela abertura da O período regencial brasileiro, que vai da abdicação de
navegação pelo rio Paraguai, através da Bacia do Prata. Pedro I a Maioridade de Pedro II (1831-1840) foi marca-
Este caminho encurtaria as distâncias temporais dos cen- do por vários movimentos revoltosos de diversas nature-
tros decisórios do país. Era fundamental a abertura dessa zas, mas com predominância das questões locais e regio-
rota fluvial, pois ela permitiria a inserção definitiva de Mato nais. Por isso, seu entendimento é muito importante para
Grosso no mundo civilizado. Em 1857, a abertura fluvial foi a compreensão das tensões e do próprio movimento de
conseguida e Mato Grosso recebeu um fluxo de produtos, organização do Estado e da sociedade imperial a partir da
pessoas, capitais e ideias de forma mais intensa. maioridade de Dom Pedro II.

21
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

Tais revoltas marcaram os interesses de Liberais e Con- A descentralização era vista pelos conservadores
servadores na disputa pelo poder. À medida que os con- como espaço da “desordem”, por isso deveria ser comba-
frontos foram acontecendo, os liberais passaram a ser de- tida através da construção de uma sociedade ordenada. A
nominado de “Luzias” e os conservadores de “Saquarema”. desordem é tida, pelo setor que está no poder, como um
Em linhas gerais, os Liberais lutavam por um poder descen- elemento altamente prejudicial e nocivo, à medida que re-
tralizado, federativo, já os Conservadores, por um poder presenta uma ameaça à ordem estabelecida. Por isso, ao
centralizado, pela restauração da Monarquia e do poder combater um estado dito de “desordem”, busca-se justifi-
do Imperador. car uma ação centralizadora e corretora dos desequilíbrios
Apelidos depreciativos dados aos partidários dos gru- sociais. É evidente que os defensores da descentralização
pos políticos do Império. O termo Luzias se refere à derrota não se consideravam desordeiros, apenas desejavam
que o grupo liberal mineiro sofre na cidade de Santa Luzia, maior participação nas decisões. No entanto, eram vistos
daí o nome Luzias, igual a liberal. Já o termo Saquarema pelos conservadores como bárbaros, inimigos da Nação,
surgiu devido às eleições em meados da década de 1840 por isso precisavam ser combatidos.
na vila de Saquarema na Província do Rio de Janeiro. O O mérito da classe senhorial fluminense (conservado-
subdelegado de polícia ameaçou matar os eleitores que res) foi seu projeto consistente de sociedade e Estado. Isso
não votassem nos liberais. Os chefes conservadores que ti- possibilitou, ao mesmo tempo, a estruturação do Estado e
nham terras e muitos parentes naquela região conseguiram a constituição e ampliação daquela força política. Mattos,
livrar seus protegidos de tal ameaça. Daí em diante, Saqua- ao estudar aquele grupo, afirma que, entender o processo
rema passou a significar protegidos e virou rapidamente de construção do Estado Imperial e de constituição da clas-
sinônimo de Conservadores. se senhorial como processos recíprocos é justamente com-
Nesse contexto, emergiu no cenário político, um grupo preender esta dupla dimensão do ato de governar, é ter em
de intelectuais orgânicos ligados ao grupo conservador e consideração o Estado em suas funções de dominação e
setores da economia da Província do Rio de Janeiro (Flu- direção, é conceber a Coroa como um partido.
minense) e da Corte, que passaram a defender um Estado Através dos princípios da lealdade e fidelidade ao Im-
forte articulando várias forças políticas. A ascensão econô-
perador, ou autoridade mais próxima (ou superior), o proje-
mica dos conservadores estava vinculada à produção agrí-
to político conservador foi ocupando espaços em todos os
cola mercantil-escravista, com destaque para a cultura do
cantos do Império e ampliando sua base de sustentação.
café, que a partir dos anos de 1830 passou a ocupar po-
Seus membros exerciam as posições mais variadas na es-
sição de destaque nas exportações brasileiras. A crescen-
trutura social e hierarquia administrativa.
te produção cafeeira proporcionou o fortalecimento dos
A proposição de Gramsci, dos três níveis, referida na
produtores, de um setor comercial e financeiro, bem como
parte introdutória é fundamental para compreender a es-
dos comissários ligados ao comércio do café e ao tráfico
de escravos, responsáveis pelo fornecimento de mão-de trutura administrativa e social que se organizou no Império.
-obra às lavouras em expansão. A hegemonia econômica Um nível mais distante composto por proprietários e sitian-
garantia-lhes uma maior participação no campo político. tes nas diversas regiões do Império, além do funcionalis-
Em curto espaço de tempo, o grupo conservador assumiu mo representado pelos policiais, professores, agentes de
o comando da província Fluminense. Na administração da quarteirão. Esse elemento constituiu-se em grande força,
província, os conservadores colocaram em prática seu pro- a partir do momento em que existiu uma direção. O outro
jeto político, buscando restabelecer a Ordem Pública ele- intermediário composto por juízes, chefes de polícia, inspe-
vando os proprietários ao comando do Estado. tores, párocos, fazendeiros, médicos, jornalistas, agentes,
Como conservadores, lutavam por um Estado centrali- que faziam a ligação entre os mais próximos e os mais dis-
zado e defendiam a restauração monárquica, pois acredita- tantes, colocando-os em sintonia. Ocupavam a função de
vam que uma Nação só seria civilizada se fosse forte. E uma intelectuais difusores, que se serviam da estrutura do Esta-
Nação forte pressupunha um poder central, no caso do do e das relações familiares para executar suas tarefas. O
Brasil, a monarquia, que seria a cabeça da Nação, ou cor- elemento intermediário, naquele contexto, ocupou posição
po social. Os agentes administrativos seriam os membros extremamente estratégica, visto estar em contato mais di-
desse corpo, que levariam o projeto de ordem e civilização reto com o elemento difuso. E por fim o mais próximo, mi-
a todos os confins do Império. Amantes da liberdade, mas nistros, conselheiros, presidentes de províncias, deputados
sob a égide da Ordem, e esta só seria possível através de gerais e senadores. Núcleo produtor e ao mesmo tempo
uma direção segura do Estado. Por outro lado, os liberais difusor das ideias e princípios que sustentaram aquele pro-
também aspiravam à liberdade, mas esta estava associada jeto. A prática daqueles segmentos visava o fortalecimento
aos interesses individuais do senhor na sua região. O grupo da ação do Estado e da administração, e isso possibilita,
conservador se mostrou mais homogêneo e, aos poucos, “concluir que a hierarquização nela presente unia, de um
foi ampliando sua base de sustentação, impondo derrotas lado, todos os súditos ao imperador, desde o mais pobre
sobre derrotas aos adversários liberais. Com o advento da dos cidadãos da mais distante freguesia do ‘Sertão’ até o
maioridade, tornaram-se base de apoio do jovem monarca. senador do Império ou o conselheiro do Estado”.
Ao conceber o imperador como a cabeça da Nação passou Os resultados positivos da ação política desencadeada
a defender a hierarquia, a centralização política e adminis- pelos Saquaremas advieram do conjunto dos agentes es-
trativa, fundamentados no princípio da fidelidade e lealda- palhados pelo território, fazendo a ligação entre as extre-
de a D. Pedro II (topo da hierarquia). midades do corpo social. Um dos teóricos principais desse

22
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

projeto afirmava que: “é por meio do complexo dos agen- Ao conquistar a hegemonia política, a classe senhorial
tes que formam a administração que se põe ele em contato percebeu que não bastava ordenar e disciplinar os escra-
com os particulares que lhes transmite as suas ordens, que vos e pobres livres era preciso ir além e civilizar o povo. A
estuda as suas necessidades e recebe as suas reclamações”. civilização do povo traria consigo o progresso, e possibili-
O fortalecimento da administração colocaria o governo taria a superação da barbárie, e da selvageria, ou seja, da
do Estado em contato permanente com o governo da casa, desordem. Era necessário, portanto, incutir nos indivíduos,
possibilitando dessa forma uma vigilância constante e uma os valores da moralidade, do respeito à autoridade e da hie-
direção mais eficiente. rarquia. Nessa tarefa, a instrução pública desempenhou um
As províncias faziam parte daquele contexto e, sem dú- papel fundamental, como espaço privilegiado para difundir
vida, contribuíram umas mais, outras menos, para a cons- uma determinada ordem e civilização.
trução, difusão e ampliação do projeto conservador. No Os Saquaremas foram vitoriosos em meados do sécu-
caso de Mato Grosso, superado o conflito denominado de lo XIX, porque elaboraram um projeto político coerente, e
souberam utilizar-se dos mecanismos da força e consenso
Rusga, em 1834, a província procurou fortalecer as rela-
para construir um tipo de sociedade e fortalecer os interes-
ções com o grupo emergente na Província Fluminense e na
ses da sua classe. Assim, a organização da estrutura admi-
Corte e se adequar às novas ideias e propósitos. A classe
nistrativa visou atender os propósitos da classe senhorial
proprietária local fazia eco com os cafeicultores do Vale do
dirigente. Tal afirmativa pode ser evidenciada pela seguinte
Paraíba, base social do Estado implantado no país. O con- passagem em Mattos:
servadorismo vingaria mais forte na Província, defendendo Presidentes de províncias e chefes de legião da Guarda
os mesmos pressupostos levantados pelos cafeicultores na Nacional; bispos e juízes municipais, de paz e de ór-
Corte: a preservação da integridade do latifúndio e a explo- fãos; membros das relações e redatores de jornais locais;
ração do trabalho escravo. empregados das faculdades de medicina, dos cursos jurí-
Esta relação fortalecia-se ainda mais nas províncias, na dicos e academias e juízes de direito; comandantes supe-
medida em que grande parte dos presidentes nomeados riores da Guarda Nacional, párocos e médicos; chefes de
para administrá-las vinha diretamente da Corte. Eles tra- polícia e professores - todos esses e alguns mais, em graus
ziam novas ideias e valores, ou seja, as novidades, as quais variados e em situações diversas, nos níveis local, municipal,
eram adaptadas as realidades locais. provincial ou geral, tornaram-se peças estratégicas no jogo
Entender as questões históricas e políticas do período de constituição do estado imperial e da classe senhorial, um
regencial, ou seja, as limitações, tanto da Corte, como das jogo que não se travava exclusivamente entre o governo da
províncias se faz necessário para compreender o proces- casa e o governo do Estado.
so de hierarquização do Estado. Por outro lado, entender As discussões acima mostram que o projeto político da
os embates entre centralização e descentralização naque- classe senhorial passava pela organização de uma rede ad-
le contexto, e a vitória do regresso conservador, permite ministrativa de funcionários públicos, no entanto, só esta
visualizar melhor a construção do poder do inspetor de não bastava para implementá-lo concretamente. Era ne-
instrução pública, bem como, os princípios norteadores da cessário, também, mostrar que este se apresentava como
prática pedagógica do século XIX. o ideal para a Nação em construção, pois traria de volta ao
Neste ponto, se faz necessário retomar algumas idéias meio social a ordem e colocaria o Brasil no mundo civilizado.
e princípios básicos do grupo conservador, que assumiu a Os aliados vieram de diversos segmentos sociais religiosos,
Província do Rio de Janeiro, e alguns cargos estratégicos profissionais liberais, literatos, professores e tornaram-se
na administração do Império (conselheiros, ministros, juí- peças chave para a difusão de uma nova concepção de Es-
zes, etc.) para mostrar com mais precisão o que estou pre- tado e sociedade. Esses agentes, “embora tenham métodos
de ações específicos obedecem a um objetivo único, qual
tendendo afirmar. O discurso conservador era homogêneo
seja, o de tornar a população apta a viver, numa socieda-
nas questões ligadas à luta pela restauração do poder mo-
de civilizada”. Deste modo, a construção e difusão daquele
nárquico e na construção de um poder administrativo forte
modelo de sociedade era tarefa de todos os esclarecidos
e hierarquizado. Para eles, só um poder forte, centralizado
que exerciam funções estratégicas na sociedade e não só
e hierarquizado poderia conduzir os problemas e anseios dos empregados públicos.
individuais para o conjunto da Nação. Fundamentavam O conjunto dos agentes era regido por uma hierarquia
aqueles propósitos justificando que: há em todas as socie- administrativa rígida, por isso, se obrigavam a fornecer as
dades um número de necessidades comuns, maior ou me- informações do seu setor aos superiores. Esta prática pode
nor segundo o seu desenvolvimento e civilização, às quais ser caracterizada como o olho do soberano, que adentrava
o poder público deve satisfazer. É o fim de a administração e vigiava nos mais longínquos pontos do Império, garantin-
pública promover essas necessidades coletivas, e dirigir os do a ordem, à medida que disciplinava os indivíduos.
interesses sociais, quer gerais, quer locais. Para compreender esta estrutura de poder na sociedade
Acreditavam que, somente a partir da implementação imperial, é necessário considerar o grau de interação entre
e concretização desse tipo de administração centralizada, os funcionários públicos e a classe dirigente como um todo.
poder-se-ia combater a desordem e implementar a ordem, Tal tarefa pode ser equacionada com facilidade consideran-
e a moralidade pública. do o estudo produzido por Carvalho, sobre a elite política
imperial. Ele apresenta elementos que permitem compreen-

23
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

der como foi possível construir uma rede administrativa bu- para administrá-la. Eram homens da própria província, que
rocrática e centralizada. A elite dirigente brasileira após a conheciam seus problemas. Segundo: estavam próximos da
independência dispunha de um alto grau de homogenei- Corte, por isso tinham mais acesso à informação, as ideias
dade devido a sua formação jurídica, basicamente centrada circulavam mais rápido. Terceiro: era a província mais forte
no direito romano em Coimbra. A tradição de Coimbra foi economicamente. Quarto: devido à hegemonia conserva-
seguida na organização das faculdades de Direito de São dora, seus presidentes permaneceram mais tempo no po-
Paulo e Olinda. Aos bacharéis era reservado espaço nos se- der e por isso puderam por em prática suas ideias e projetos
tores burocráticos e administrativos do Estado, recebendo de forma mais eficiente. Enquanto, nas demais províncias a
um treinamento para assumir as funções públicas. Além média de duração do mandato do presidente era de apro-
disso, a elite política e administrativa provinha das classes ximadamente seis meses, na Fluminense foi superior a um
mais favorecidas da sociedade, ou seja, descendiam da elite ano. A partir de então, o Rio de Janeiro passou a desempe-
econômica e política. Este foi um elemento fundamental de nhar um papel de “laboratório”, produtor e difusor de novos
socialização e homogeneização da administração pública, / velhos valores que deveriam ser estendidos para o restan-
mas segundo ele, o ELEMENTO PODEROSO de unificação te do país, entre eles, a instrução pública, que teve um peso
ideológica da política imperial foi à educação superior. E significativo no projeto conservador.
isto por três razões. Em primeiro lugar, porque quase toda Não há como negar o papel desempenhado pela Corte
a elite possuía estudos superiores, o que acontecia com e a província do Rio de Janeiro, pois lá se encontrava a parte
pouca gente fora dela: a elite era uma ilha de letrados num mais desenvolvida do Império do Brasil. Por isso, se pode
mar de analfabetos. Em segundo lugar, porque a educação afirmar com segurança, que a Província do Rio de Janeiro
superior se concentrava na formação jurídica e fornecia em e a Corte cumpriram o papel de centro criador e difusor de
consequência um núcleo de conhecimentos e habilidades. idéias e de um consistente projeto de sociedade e Estado,
Em terceiro lugar, porque se concentrava, até a independên- no qual a instrução pública cumpriu um papel fundamental.
cia, na Universidade de Coimbra e após a Independência, Esta influência anulou sensivelmente os efeitos do Ato Adi-
em quatro capitais provinciais, ou duas, se considerarmos cional, nas províncias, principalmente no que se refere ao
apenas a formação jurídica. lado negativo, destacado pela historiografia, ou seja, o ex-
Essa era uma prática e, ao mesmo tempo, caracterís- cesso de leis. O que houve, na verdade, foi uma adaptação
tica do Império brasileiro. O Estado formava seus quadros da legislação produzida no núcleo mais dinâmico à realida-
utilizando pessoas oriundas da camada mais favorecida da de das províncias. As Assembleias Legislativas provinciais se
sociedade, prestando-lhes um treinamento para as funções omitiram do direito advindo do Ato Adicional e acabaram
burocráticas e administrativas, garantindo dessa forma um seguindo as orientações e modelos trazidos, pelos presi-
grau satisfatório de homogeneidade e uma identidade dentes nomeados para administrá-las. Portanto, a auto-
ideológica. nomia concedida às províncias, em legislar sobre instrução
Ao pensar a história da educação brasileira pela pers- pública, advinda do Ato Adicional deve ser relativisada.
pectiva da centralização e hierarquização política, social e
administrativa, se faz necessário rever o papel do Ato Adi- Prática Política e Pedagógica Frente a Professores e Alunos
cional, enquanto fator definidor de uma política educacio-
nal no Império, principalmente se o objeto central é a ins- A instrução pública elementar ocupou um espaço privi-
trução elementar. legiado ao servir de ligação entre teoria e prática, dentro do
Há, pode se dizer, uma unanimidade nos discursos projeto conservador para a sociedade brasileira do século
da historiografia da educação brasileira, com relação ao XIX. Por isso, é preciso refletir mais atentamente sobre as
grau de influência das medidas descentralizadoras desen- preocupações educativas dos Saquaremas para verificar até
cadeadas pelo Ato Adicional de 1834. A maioria dos histo- que ponto o mesmo foi difundido no Império e na província
riadores argumenta, que a instrução primária ou elementar de Mato Grosso, especificamente.
no período imperial foi um fracasso geral. Como enfatizado anteriormente, as experiências bem
De fato, o Ato Adicional de 1834, ao dar autonomia sucedidas eram rapidamente difundidas para outras Pro-
às províncias, possibilitou aos dirigentes locais ampliarem víncias. Mato Grosso, por exemplo, teve uma relação muito
seus poderes e, a partir destes, construir e difundir suas dinâmica com o núcleo produtor e difusor do projeto con-
aspirações de sociedade. Mas daí, afirmar, que o mesmo servador. Na lógica conservadora, a Instrução cumpria - ou
foi responsável pelas mazelas da instrução pública no Im- deveria cumprir - um papel fundamental, que permitia - ou
pério é no mínimo um tanto forçado. A documentação que deveria permitir - que o Império se colocasse ao lado das
trabalho, pensada no seu contexto, permite trilhar um ca- ‘Nações Civilizadas’. Instruir ‘todas as classes’ era, pois, o ato
minho diverso. de difusão das Luzes que permitiriam romper as trevas que
Uma das razões desse argumento é o fato de que este caracterizavam o passado colonial; a possibilidade de es-
mesmo Ato desmembrou a Corte da Província, criando as- tabelecer o primado da Razão, superando a ‘barbárie dos
sim, o Município Neutro. A nova província passou a ter uma Sertões’ e a ‘desordem’ das Ruas; o meio de levar a efeito
administração separada da Coroa. Nesse sentido, a grande o espírito de Associação, ultrapassando as tendências lo-
beneficiada com o Ato Adicional foi à Província do Rio de calistas representadas pela Casa; além da oportunidade de
Janeiro, por vários motivos. Para exemplificar vou destacar usufruir os benefícios do Progresso, e assim romper com as
quatro: o primeiro diz respeito aos presidentes nomeados concepções mágicas a respeito do mundo e da natureza.

24
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

A tarefa da instrução elementar estava muito clara, e o Para os Saquaremas, “a centralização é a unidade da
sucesso desse projeto dependia da ampliação e difusão des- Nação e a unidade do poder. É ela que leva às extremida-
ses princípios, entre a população livre, entre os livres pobres des do corpo social aquela ação que, partindo do seu co-
e mesmo entre os escravos. Cabia à instrução formar as crian- ração e voltando a ele dá vida ao mesmo corpo”. Cabia ao
ças e jovens (futuros cidadãos - trabalhadores), disciplinando poder político e administrativo fazer com que as necessida-
e preparando-os para desempenhar certo papel social, bem des individuais e coletivas fossem dirigidas para o interesse
como ocupar os espaços gerados a partir das novas relações social, quer em nível nacional ou local. Portanto, só um po-
de trabalho que estavam se concretizando. Portanto, a ins- der forte e centralizado, com um direcionamento político
trução elementar devia ser difundida de maneira adequada
poderia acabar com a desordem e instaurar a moralidade
para todos os pontos possíveis do Império, pois, da humilde
Pública. Para viabilizar esse projeto era necessário construir
casa, que tinha o nome de escola, “dependia” o futuro de
uma sociedade hierarquizada, através da instituição de um
toda uma sociedade.
O papel esperado da escola e do professor seria o de olhar vigilante e disciplinador. Nesta sociedade projetada e
encaminhar o “povo” para a civilização, fazendo com que este difundida pelos conservadores, “a administração é a ação
pudesse, aos poucos, assimilar os preceitos de uma socie- vital do poder político e o seu indispensável complemento.
dade ordenada. Reservava-se à instrução pública uma tare- O poder político é a cabeça, a administração o braço”.
fa muito importante naquele projeto de construção de uma A ação política posta em prática pelos conservadores
ordem e difusão da civilização. Segundo um dos intelectuais tornou-os vitoriosos ao
Saquarema, a tarefa exigida para viabilizar aqueles objetivos, longo do período imperial brasileiro. Ela teve reflexos
não seria fácil. Era “preciso, portanto juntar à instrução pri- diretos na construção do poder do inspetor de instrução
mária a educação, e educar o povo, inspirar- lhe sentimentos pública na Província de Mato Grosso, e ao mesmo tem-
de religião e moral, melhorando-lhe assim pouco a pouco os po a ação desencadeada pelo inspetor na organização e
costumes”. difusão da instrução, contribuiu decisivamente para o for-
A formação do povo era um fator fundamental nesse talecimento daquela ação política conservadora. A partir
processo. Ela poderia criar as condições necessárias para a desse olhar, é possível entender como o inspetor, em pou-
estabilidade do Império, garantindo aos cidadãos a possi- co tempo, passou a desfrutar de poderes quase absolutos
bilidade de distinguir-se da massa de escravos e superar o no regulamento de 1873, momento em que aquele modelo
estado de barbárie de grande parte da população, espalhada
de sociedade e Estado encontrava-se em sua forma plena.
pelos confins do território.
Para se ter uma ideia do poder do inspetor, basta ob-
Joaquim Gaudie Ley, inspetor de instrução pública da
servar o que estabelecia a legislação educacional. Cabia ao
Província de Mato Grosso, discursa na mesma linha, ao afir-
mar que, A instrução primária não é só uma dívida social para inspetor geral e/ou paroquial fazer uma triagem dos pou-
o povo; é também uma necessidade pública: sem ela a re- cos candidatos que desejavam ocupar o cargo de professor
ligião, as luzes, a ordem e a segurança pública dificilmente por meio de concurso público. O inspetor deveria “levar
serão conservadas; pois é certo que em todos os tempos e ao conhecimento do governo, com as mais precisas in-
lugares, a ignorância tem sido a mãe de todos os vícios. formações, requerimentos dos candidatos na véspera dos
Esta passagem reflete a clareza do inspetor em relação ao concursos”. No tocante aos professores, que já exerciam o
projeto nacional, e estabelece o seu compromisso, enquanto cargo, cabia ao inspetor, “atestar sobre a moralidade, assi-
agente do Estado, com a difusão e edificação da instrução duidade e comportamento dos professores no desempe-
pública. A sua organização era uma necessidade pública, pois nho de suas obrigações”. Não bastando isso, poderia ainda
ela proporcionaria o “melhoramento moral de seus habitan- “empregar todos os meios possíveis para avaliar os talentos
tes, contribuindo para a construção de uma sociedade or- e comportamento moral e civil dos professores, a fim de
denada e hierarquizada, onde os indivíduos saberiam quais informar a respeito do estado do ensino público”. O seu
eram os espaços que poderiam e deveriam ocupar”. poder não parava por aí, pois, se necessário fosse, pode-
A instrução superior foi a grande força do poder estatal, ria “exigir dos professores quaisquer outras informações,
que fez dela um instrumento capaz de preparar os quadros para ter certeza do comportamento e ação dos mestres
administrativos dentro de um grau de homogeneidade, en-
em exercício, ou dos candidatos ao concurso”. Dessa forma
volvendo toda a camada superior da sociedade. Por outro
saberia se o referido professor tinha as qualidades neces-
lado, a instrução elementar e a secundária cumpriram muito
sárias para desempenhar a função e não oferecia perigo
bem o seu papel, de preparar os indivíduos para uma sub-
missão às autoridades e o respeito à hierarquia. Em assim à ordem e à integridade do Império. Texto adaptado de
sendo, a hierarquia era praticada cotidianamente no interior CASTANHA, A. P
da escola, onde o professor era a autoridade suprema. Da
mesma forma, esse mesmo professor era constantemente
vigiado, disciplinado e pouco valorizado pelos seus superio-
res, no caso, os inspetores paroquiais e o inspetor geral. Essa
cadeia de poderes em que se constituiu a escola e toda a
estrutura administrativa do Império tinha um único objetivo:
disciplinar e ordenar os indivíduos, tornando-os obedientes.
É essa pratica que chamo de Pedagogia da Moralidade.

25
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

1. A CRISE DA MINERAÇÃO E AS
ALTERNATIVAS ECONÔMICAS
DA PROVÍNCIA.

As primeiras expedições às terras da região Centro Oeste aconteceram durante o século XVIII, no atual Estado de Mato
Grosso, realizado por bandeirantes paulistas1 que exploravam a região buscando índios e minerais preciosos. A descoberta
de riquezas minerais atraiu populações que se fixaram nas áreas lavra, efetivando assim o povoamento do Centro Oeste,
possibilitando o desenvolvimento de atividades como a pecuária e a criação de animais de carga, que após o esgotamento
das reservas extratíveis com a tecnologia disponível, se tornariam a atividade econômica predominante. O atual Estado do
Mato Grosso começou a ser ocupado por migrantes interessados na exploração do ouro e diamante descobertos na região:
neste Estado, a primeira povoação originada da atividade mineradora foi Cuiabá, fundada em 1719 pelo bandeirante Pascoal
Moreira Cabral, após a descoberta de ouro no rio Cuiapó-Mirim.
Foram criadas rotas terrestres para esta região através do Estado de Goiás, e Cuiabá, na época, passou a ser uma das cida-
des mais populosas do Brasil, desenvolvendo também localidades próximas, como a Vila Bela da Santíssima Trindade, fundada
em 1752, que se tornou capital da Capitania de Mato Grosso. Em 1777 foram descobertas as minas de Beripoconé, na beira do
Pantanal Matogrossense, na área em que se localiza atualmente a cidade de Poconé, distante 90 km de Cuiabá. No Estado de
Goiás, o ouro foi descoberto em 1726 por bandeirantes que saíram de São Paulo, comandados por Bueno Filho e João Leite da
Silva Ortiz; o metal foi descoberto nas localidades de Ponte do Meio e Batatal. Seguiram-se descobertas em Capela da Barra,
Arraial do Ferreira, Ouro Fino e Natividade, em 1734; São Félix, em 1736; Jaraguá, em 1737; Cavalcante, em 1740 e Guarinos,
em 1741; em Guarinos chegaram a ser utilizados 3000 escravos. Além do ouro, a exploração do diamante foi outro promotor
do povoamento da região, dando origem, em 1728, ao arraial de Diamantino, na confluência dos rios do Ouro e Paraguai;
desenvolveu também a região do Rio Araguaia, em cujo vale se estabeleceu a pecuária, originando povoações como São Félix
do Araguaia e Cocalinho, além de regiões mineradoras no sul de Goiás, alcançadas com a travessia do Rio Araguaia através de
Alto Araguaia (Santa Rita do Araguaia), Ponte Branca, Barra do Garças, Araguaiana (Registro do Araguaia) e Torixoréu, antigo
porto para abastecimento da região.
De maneira geral, as lavras de minerais preciosos no Centro Oeste foram de curta duração, não possibilitando a instalação
de pólos urbanos e administrativos de controle das minas, como ocorreu em Minas Gerais. Após a ocupação inicial estimulada
pela mineração, a principal atividade econômica da região passa a ser a pecuária extensiva e a agricultura de subsistência,
caracterizando a ocupação do Centro Oeste por grandes propriedades pastoris, em áreas de grandes vazios demográficos.
Em Goiás, a mineração de ouro praticamente desapareceu por volta de 1820, e só foi retomada entre 1918 e 1922, com
os serviços de implantação e exploração da Mina do Chapéu do Sol, em Crixás, que tiveram curta duração. Já no século XX,
após décadas de estagnação, ocorre um segundo ciclo do ouro na região, que se inicia com a substancial elevação dos preços
de ouro ocorrida no início da década de 70, causada em grande parte pela desestabilização do acordo de BrettonWoods , que
fixava o valor da onça-troy de ouro em U$$ 35. Ao fim de 1974, o valor da onça-troy de ouro chega a U$$ 195, com aumentos
crescentes que atingiram seu pico em 1980. A tendência recente é de queda nos preços do ouro, o que provoca problemas
em municípios que cresceram apoiados na mineração durante os anos 80.

Os aumentos nos preços internacionais de ouro levam à retomada da mineração de jazidas até então consideradas de
baixo teor, e no início dos anos 80 é retomada a garimpagem do ouro em Goiás, que atinge seu auge no final de 1983 e
1984, nos municípios de Crixás, Guarinos, Pilar de Goiás, Jaraguá, Goianésia, Ceres, Pirenópolis, São Domingos, Monte Alegre
e outros; em Pilar do Goiás, Crixás e Guarinos instalamse na década de 70 a METAGO e mineradoras subsidiárias das Multina-
cionais INCO e SHELL (hoje INCO e Morro Velho), que requerem e detém alvarás de pesquisa. Além da exploração de metais
preciosos, teve grande peso econômico no Centro Oeste expandido à extração de minérios de menor valor, explorados em
grande escala.

26
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

Este setor se desenvolve no período de construção de indústrias de base no Brasil, durante a década de 30, com des-
taque para a siderurgia e a indústria de construção civil, com forte crescimento na extração de minerais ferrosos e de mi-
nerais usados na construção civil. Em 1934 é criado por Getúlio Vargas o DNPM, marcando o início da intervenção efetiva
do Governo no setor de minerais estratégicos. Durante o II PND, o setor mineral é estimulado por políticas que visavam
desenvolver novos produtos minerais para a exportação, financiando parte do déficit da conta petróleo, crescente desde o
primeiro choque do petróleo em 1973. A partir daí, desenvolve-se a atividade mineradora industrial no Brasil e no Centro
Oeste, em grandes empresas atuando em grandes lavras, altamente mecanizadas e com alto volume de produção.

A mineração no Centro-Oeste expandido

A mineração no Centro Oeste expandido, apesar de ter sido a atividade econômica que iniciou a colonização da região,
tem atualmente uma pequena participação na produção nacional. Contudo, a atividade mineradora na região sempre foi
um importante atrator de população (especialmente nas áreas de garimpo), tendo um peso significativo na dinâmica de-
mográfica da região, como ocorreu recentemente em Rondônia, com os garimpos de cassiterita. Outro aspecto importante
são os impactos que a mineração tem sobre os ecossistemas da região, especificamente as áreas de cerrado e Amazônia,
ecossistemas frágeis e relativamente conservados, e que originam as maiores bacias hidrográficas do país.
Por suas características, a mineração cria passivos ambientais visíveis mesmo após a suspensão destas atividades, mais
intensamente em áreas de garimpo irregular, nas quais não são adotadas medidas de recuperação das áreas degradadas.
Nos Estados do Centro Oeste expandido, como no Brasil, predominam as pequenas minas:

Outro indicador da atividade é a CFEM, arrecadada das empresas que desenvolvem atividades mineradoras. A tabela a
seguir mostra a evolução da arrecadação nos estados do Centro-Oeste expandido:

27
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

Além de ser o terceiro Estado do Brasil e o maior do Centro Oeste expandido na arrecadação da CFEM, com 7% das
contribuições totais (Gazeta Mercantil, 1998), Goiás também é o Estado do Centro Oeste expandido onde são gerados mais
empregos no setor mineral, conforme descrito na tabela a seguir:

Os minerais explorados em larga escala por grandes empresas mineradoras no Centro Oeste expandido são o calcário,
o minério de ferro, o manganês, o níquel, a rocha fosfática e mais recentemente o nióbio. Na produção de minério de ferro,
destaca-se o Estado do Mato Grosso do Sul, que responde por 4,3% da produção brasileira; a produção concentra-se nos
municípios de Corumbá e Ladário, no noroeste do Estado, fronteira com a Bolívia. As ocorrências de minérios de Ferro e
Manganês na região de Corumbá são conhecidas desde 1870: a primeira concessão é outorgada ao Barão de Vila Maria em
1876. Em 1970 é criada a Urucum Mineração, em parceria com a Companhia Vale do Rio Doce, que é a atual proprietária;
em 1974 a Mineração Corumbaense S.A. é criada por empresários do Estado.
Em 1984 a SOBRAMIL instalou um pequeno forno para produzir minério de ferro, com capacidade de produção de 50 t
por dia, desativado em 1970. Em Corumbá, além das empresas de mineração existem indústrias de beneficiamento de ferro
e manganês, e fábricas de cimento (Itaú S/A e Eldorado S/A); para beneficiar o minério, essas fábricas empregam energia
elétrica e carvão vegetal em seus fornos, emitindo grande quantidade de poluentes, identificada visualmente sob a forma
de nuvens de fumaça e pela camada de poeira sílica lançada sobre a vegetação dos morros situados no entorno da fábrica;
além disso, a demanda por carvão vegetal causa o desmatamento das áreas próximas: durante os anos 40, em Corumbá,
a atividade siderúrgica ligada à mineração levou ao desaparecimento das florestas próximas ao Município. A opção para
o desenvolvimento da siderurgia atualmente discutida é a utilização de gás natural como combustível. A tabela a seguir
mostra as principais empresas do setor siderúrgico no Mato Grosso do Sul:

28
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

No Mato Grosso do Sul a atividade mineradora se inicia na década de 20, em garimpos de ouro e diamante; atualmen-
te, além da extração e beneficiamento de ferro, manganês e calcário para cimento nos municípios de Ladário e Corumbá,
se produz calcário para uso agrícola nos municípios de Bonito e Jardim. Em 1955 foi implantada em Corumbá a empresa
produtora de cimento Companhia de Cimento Portland Corumbá, do grupo Votorantim, hoje com a marca Companhia
Portland de Cimento Itaú; em 1983 o grupo Camargo Correa instalou uma fábrica em Bodoquena, MS, com a marca cimen-
to Eldorado.
O calcário é geralmente extraído próximo a centros urbanos, e causa poluições do ar e sonora, devido às detonações e
britagem, que produzem pó, vibração e ruído. O maior contingente de trabalhadores no setor mineral do Mato Grosso do
Sul está na região da planície do pantanal, na maioria mão de obra irregular contratada por empresas informais, extratoras
de argila e areia. Em Goiás, na mineração industrial, destaca-se a produção de rocha fosfática no município de Catalão;
a produção deste mineral ganha impulso a partir do PNFCA (1974-79), efetuado durante o Governo Geisel, quando se
adotaram políticas para desenvolver o setor de insumos agrícolas; participaram do PNFCA o BNDE, a Petrobrás, o DNPM,
o CETEM, e o MIC. Em 1979 a METAGO, associada à Petrobrás e ao BNDE/FIBASE, fundou a GOIÁSFÉRTIL, viabilizando o
projeto da mina de rocha fosfática de Catalão. Em Catalão também se explora o nióbio, na empresa Mineração Catalão de
Goiás, na bacia do Rio Paranaíba. A tabela a seguir mostra a evolução da atividade nas duas maiores empresas produtoras
de rocha fosfática, no período do PNFCA:

Outros minerais importantes no Estado de Goiás são o níquel e o calcário: o níquel é explorado pelas em pressa Níquel
Tocantins e pela CODEMIN13, situadas no município de Niquelândia; no município de Cezarina existe uma grande empresa
de extração de calcário, a Cimento Goiás. No Estado de Mato Grosso, existe uma grande empresa de exploração de ouro,
a Mineração Santa Elina, que explora a mina de ouro de são Francisco, no município Vila Bela da Santíssima Trindade. Em
Rondônia, o Grupo Paranapanema explora níquel e cassiterita no município de Bom Futuro.
Todas as atividades mineradoras causam em comum as seguintes alterações ambientais: mudança na paisagem do
local de lavra, causada pela escavação e pela retirada de rochas e cascalho, alterando totalmente o terreno da lavra, aumen-
tando a erosão e assoreando cursos d’água adjacentes. A mineração realizada no leito dos rios provoca profundas altera-
ções, devido às operações de dragagem. Além disso, também ocorrem impactos indiretos bastante significativos causados
pelo deslocamento de populações aos locais de lavra, com o uso predatório de recursos naturais (principalmente madeira e
fauna), e especialmente no caso dos garimpos, problemas típicos de aglomerações humanas não planejadas, como sanea-
mento precário, difusão de doenças epidêmicas14, problemas sociais como exploração do trabalho, subemprego, prosti-
tuição e violência, que contribuíram para a disseminação da imagem das áreas de garimpos como uma “terra de ninguém”.
Os (garimpos ocorrem preferencialmente em áreas onde existe abundância de metais preciosos e de fácil extração;)
segundo SCLIAR (1996) os principais minérios garimpáveis são ouro, diamante e gemas em geral, cassiterita (minério de
estanho) e columbialita (minério de nióbio-tântalo). Segundo o CPRM, a atividade garimpeira responde por mais de 85% da
produção oficial, ou por mais de 91% da estimada; dados da Organização Internacional do Trabalho mostram que, no Brasil,
existem cerca de 10.000 empresas pequenas e médias atuando no ramo de mineração, gerando entre 100.000 e 250.000
empregos, com 90% de informalidade no trabalho. O caráter informal e clandestino dessas atividades, que dificilmente são
fiscalizadas pelas autoridades competentes, acaba resultando em degradação ambiental16 e más condições de segurança
e de saúde dos trabalhadores, permitindo a intensa exploração do trabalho e a exploração indiscriminada dos recursos
naturais.
O alto grau de informalidade da atividade pode ser percebido pelo baixo número de garimpos em áreas tituladas pelo
DNPM, apenas 16 áreas: nove garimpos de ouro, dois de diamantes, dois de esmeraldas e o restante de outras gemas,
com os maiores garimpos se concentrando na Amazônia Legal, nos Estados do Pará, Mato Grosso e Rondônia. Em 1993
o DNPM realizou um levantamento nacional dos garimpeiros, que estimou que a população garimpeira em 1993 estava
entre 300.000 a 400.000 pessoas, 61% na Amazônia, particularmente nos estados do Pará e Mato Grosso, 20% nos estados
do Centro-oeste, 8% no Sudeste, 7% no Nordeste e 4% no Sul. A maioria dos garimpeiros pesquisados pelo levantamento
dedicava-se à produção de ouro, cerca de 73%, seguindo-se as gemas com 11%, diamante com 10%, cassiterita com 1%, e
6% na categoria outros minerais. Em um trabalho mais recente, NASCIMENTO (2000) estimou que existem cerca de 600.000
pessoas no garimpo, principalmente nos estados de Rondônia (rio Madeira),norte de Mato Grosso (pequenos afluentes do
alto rio Teles Pires e alto Juruema) e Pará (principalmente ao longo dos rios Tapajós, Tocantins e Araguaia).

29
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

No Centro Oeste expandido, as principais regiões de garimpo são, em Rondônia, garimpos de ouro nas regiões do Alto
e médio rio Madeira e rio Paranari-Amana; em Mato Grosso, garimpos de ouro em Alta Floresta e Peixoto de Azevedo (que
atualmente já estão praticamente esgotados), e diamante em Poxoréu; em Goiás garimpos de cassiterita em Campo Alegre,
de esmeralda em Santa Terezinha e de quartzo e diamantes nos vales dos rios Paranaíba, Claro e Araguaia, no município
de Cristalina. De acordo com SILVA (1990) no Mato Grosso do Sul existem garimpos de diamante no leste do Estado, nos
cursos dos rios Jauru, Taquari, Piqueri e Coxim e na borda Noroeste da Bacia do Paraná, nos municípios de Pedro Gomes,
Coxim, Rio Verde de Mato Grosso, Corguinho, Rochedo e Aquidauana; garimpos de cobre, chumbo e zinco no município
de Bodoquena; garimpos de ouro nos municípios de Bonito, Maracaju e Coxim. Uma característica dos garimpos são os
conflitos entre garimpeiros e empresas mineradoras.
O governo chegou a criar algumas áreas especiais para garimpeiros, a fim de resolver conflitos mais graves: em 1978
foi criada a reserva garimpeira do rio Madeira, em Rondônia, para a exploração de ouro, e a reserva garimpeira de Poxoréu,
no Mato Grosso, para a exploração de diamantes. Atualmente, apesar da situação de informalidade, os garimpeiros utilizam
pesados equipamentos nas suas atividades; os garimpos se tornaram complexos sistemas informais de lavra mecanizada,
utilizando equipamentos como dragas, tratores e até completas estações de tratamento de minérios. Além de intensificar a
exploração dos trabalhadores informais pelos proprietários dos garimpos, o uso destes equipamentos em garimpos irregu-
lares é preocupante porque para o uso deste tipo de equipamento é imprescindível o controle de impactos ambientais, que
se intensificam com o aumento da escala de produção: é retirado mais material das lavras, são usadas quantidades maiores
de produtos químicos, e o volume de solo que assoreia os cursos d’água adjacentes é maior. As recomendações ambientais
para áreas de garimpo são a recomposição da área de lavra (plano de recuperação), além de um EIA/RIMA. Os Planos de
recuperação de áreas degradam foi instituído pelo Decreto 97.632/89, e deve ser apresentado pela empresa mineradora,
especificando a atividades a serem realizadas para recuperar as áreas degradadas pela mineração. O EIA/RIMA é exigido
para se obter licenciamento ambiental18, e está definido na resolução CONAMA 01/86.
O Estudo de Impacto Ambiental (EIA) é um conjunto de atividades técnico-científicas destinadas à identificação, previ-
são e valoração dos impactos, e à análise de alternativas. As conclusões do EIA são apresentadas no Relatório de Impacto
Ambiental (RIMA). Devido ao caráter informal dos garimpos, estas recomendações dificilmente são seguidas. De acordo
com o CPRM, a produção primária brasileira de ouro, provém de dois tipos de mineração: a industrial e a garimpeira, esta
última respondendo por mais de 85% da produção oficial ou por mais de 91% da estimada.

O número de garimpos de ouro no Centro Oeste expandido está na tabela a seguir:

As tabelas a seguir mostram a produção de ouro nos principais garimpos e empresas de mineração do Centro Oeste
expandido:

30
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

São comuns em todo o mundo relatos sobre “corridas do ouro”, deslocamentos de grandes contingentes populacionais
para as regiões de lavra em busca de riqueza. No Mato Grosso, a descoberta de ouro no Rio Jurena, a 30 km de Cuiabá, em
1966, atraiu mais de 3.000 pessoas para o local, muitas vindas das regiões de garimpo do Rio Tapajós, no Pará. A descoberta
de ouro nestes lugares atrai garimpeiros de outras regiões, empresas de mineração e colonos de projetos de colonização
agrícola. Os garimpos de ouro de Poconé iniciam-se em 1982, com 4.500 garimpeiros atuando; o garimpo neste município
atualmente está em uma fase de franca decadência, devido ao esgotamento das lavras. Segundo a cooperativa Matogros-
sense de produtores de ouro, a produção mensal de ouro em Poconé em 1993 era de 500 kg; em 1995, caiu para 150 kg;
apesar da baixa produção, existem atualmente cerca de 60 garimpos na região de Poconé.
Alta Floresta foi um projeto de colonização voltado à agropecuária, mas que se tornou pólo regional devido ao garimpo
de ouro: as descobertas de ouro nas margens do rio Telem Pires estimulou a vinda de garimpeiros do Pará e de Rondônia;
além das altas no preço do ouro, a região norte de Mato Grosso começava a ser dotada de infraestrutura rodoviária, com a
construção da BR 163 (Cuiabá Santarém) e o asfaltamento da BR 364 (Cuiabá- Porto Velho), possibilitando a ocupação em
direção a Rondônia e ao Pará; em 1992 existiam 57 garimpos na região de Alta Floresta. Em Pontes e Lacerda, descobre-se
ouro entre as bacias dos rios Guaporé e Jauru, na década de 80; a cidade se torna então um pólo garimpeiro: segundo o
DNPM, entre 1990 e 1994 a região produziu 5 toneladas de ouro.
No garimpo de ouro, um problema ambiental extremamente preocupante é o uso do mercúrio. O mercúrio é usado
na amalgamação de partículas de ouro, etapa final do processo de beneficiamento do minério. O mercúrio é volátil, e com
a queima do ouro este contamina a atmosfera. Além disso, ocorre contaminação com vapor de mercúrio nos pontos de
comercialização, onde mais uma vez o mercúrio é queimado. BARRETO (2001) cita os garimpos de Poconé, no Mato Grosso,
como exemplo de garimpo predatório: em enormes áreas sem nenhuma vegetação, os rejeitos do garimpo estão sendo
lavrados pela terceira vez; na garimpagem inicial, o ouro era apurado com bateias; depois, os rejeitos da primeira fase eram
britados e reconcentrados em calhas; na terceira fase, os rejeitos das calhas foram moídos e concentrados em concentrado-
res centrífugos; a próxima fase certamente incluirá a cianetação das enormes quantidades de ouro contidas nestes rejeitos.

31
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

A contaminação por mercúrio é especialmente preocupante na região do Pantanal Matogrossense, que produziu
2.539,6 quilos do metal em 1994. A região de Poconé é drenada por rios pertencentes à bacia hidrográfica do rio Paraguai
e é uma das áreas tributárias de água e sedimentos para o Pantanal Mato-Grossense. Em Poconé existe um lago artificial,
chamado Tanque dos Padres, às margens da Rodovia Transpantaneira, assoreada com mais de 300.0000 m3 de rejeitos
oriundos do garimpo, drenado até as planícies inundadas do pantanal: o CETEM (Centro de Tecnologia Mineral) desenvolve
um programa de desenvolvimento e tecnologia ambiental na região, devido à proximidade com o pantanal, a fim de pre-
venir a contaminação Pantanal Matogrossense por resíduos oriundos do garimpo. Em um estudo recente, LACERDA et al
(1999) constataram que na região de Garimpo de Alta Floresta, no Mato Grosso, ocorre elevada concentração de mercúrio
em lagos e no solo; segundo o levantamento dos autores, nos últimos 20 anos esta região recebeu de 150 a 200 toneladas
de mercúrio. A tabela a seguir mostra os principais impactos ambientais do garimpo, de acordo com o tipo de prospecção
utilizada:

Em Crixás, no Estado de Goiás, recentemente foi instaurado inquérito civil público pelo Ministério Público, em con-
junto com o Ministério Público Federal, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Minerais (Ibama), Agência
Ambiental, Delegacia Estadual do Meio Ambiente, Delegacia Regional do Trabalho e Departamento Nacional de Produção
Mineral. O inquérito visa apurar crimes ambientais cometidos por garimpeiros clandestinos na região que atuam há mais
de vinte anos.
Os promotores de justiça informam que as atividades desenvolvidas pelos garimpos clandestinos em Crixás foram to-
talmente embargadas pelo Ibama e pela Delegacia do Meio Ambiente até a efetiva regularização junto ao órgão ambiental
competente e ao DNPM. Os garimpos de cassiterita têm sido outro grande atrator de garimpeiros para áreas do Centro
Oeste expandido. A cassiterita é óxido de estanho, e é praticamente a única fonte do metal estanho, usado em ligas me-
tálicas. As pesquisas sobre depósitos de cassiterita se intensificaram no Brasil com o crescimento da indústria siderúrgica
brasileira, especialmente após a criação da CSN em Volta Redonda, em 1965; em 1989, o Brasil se tornou auto-suficiente
na produção deste minério .
Na região do Centro Oeste expandido, o garimpo de cassiterita se desenvolveu em Rondônia nos anos 50 e 60; em
1952, foi descoberta no Estado a primeira ocorrência de cassiterita, acidentalmente, em um seringal; em 1959 teve início a
produção garimpeira de cassiterita no Estado, com uma corrida aos domínios hidrográficos dos Rios Machadinho, Maçan-
gana e Alto Candeias; muitos dos garimpeiros que passaram para esta atividade trabalhavam na extração de borracha, o
que levou a uma diminuição desta atividade no Estado. Em Mato Grosso, descobriu-se cassiterita em Aripuanã e na locali-
dade de São Francisco, em 1968; em 1975, a empresa Aripuanã-Paranapanema iniciou a exploração mecanizada desta lavra,
desativando a mina em julho de 1990. Em Goiás existem depósitos de Cassiterita nos municípios de Cavalcante, Minaçu,
Nova Roma, Monte Alegre de Goiás, e São Domingos. A disputa pelos direitos de exploração da cassiterita gerou graves
conflitos entre garimpeiros e empresas de mineração. Um exemplo destes conflitos foram os ocorridos no garimpo de Alto
Paraíso, no município de Ariquemes, em Rondônia: as grandes empresas, temendo um crescimento vertiginoso da produ-
ção garimpeira e queda no preço da cassiterita, pressionaram o governo a proibir os garimpos.

32
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

O governo proíbe a garimpagem de cassiterita a partir de 1971, (Decreto Lei N. 1101, de 30/03/70; Portaria MME/MF n. 195
de 31/03/1970), sob o argumento de que as lavras manuais eram predatórias; as jazidas foram então entregues a grupos capazes
de realizar a extração mecanizada, como as empresas Itaú, Paranapanema, Batiño, Brascan e Dramin. É criada então a Província
Estanífera de Rondônia, com programas sistemáticos de pesquisa mineral pelas empresas detentoras de direitos de pesquisa e
exploração de lavra. Atualmente, o garimpo de Ariquemes, que se concentra numa área de 3.500 ha, apresenta uma série de pro-
blemas: além dos danos ambientais típicos de áreas de garimpo (desmatamento, escavações, deposição de rejeitos, abertura de
estradas, construção de acampamentos, moradias e cavas de lavras), observam-se sérios problemas nas condições de vida dos
garimpeiros, com difusão de trabalho infantil, elevação da criminalidade e deterioração da saúde pública. Além disso, no Garimpo
de Bom Futuro uma grande quantidade de minério é contrabandeada para a Bolívia. Na extração de cassiterita do garimpo de
Bom Futuro uma bomba leva água dos rios até o jigue uma grande batéia mecânica separando o minério da argila, despejando-se
toneladas melechete, uma lama grudenta típica de Rondônia, que vai assorear rios, lagos e igarapés.
A malária é outro grave problema no garimpo de Bom Futuro; entre maio e junho deste ano, o posto da Superintendência de
Campanha da Saúde Pública (Sucam) na entrada do garimpo registrou 1.706 casos da doença. Atualmente existe apenas uma si-
derúrgica que produz estanho em Rondônia, a Estanho Rondônia S/A - ERSA, sediada em Ariquemes, que processa 5.160 ton./ano
de cassiterita para obter 3.000 ton./ano de estanho. Espera-se uma diminuição nos custos de energia a partir do funcionamento do
gasoduto que liga o Estado do Amazonas (Urucu) ao Estado de Rondônia, permitindo um aumento da produção de estanho que
atualmente, apesar da grande produção de cassiterita, alcança apenas 30% do processamento do produto no Estado, deixando
a agregação de valor para outras regiões. Em Tocantins, existe um decreto de lavra, em uma área de 671 ha, no domínio da Serra
Dourada, com reservas de 19.432 t de estanho contido, dentro da província estanífera de Rondônia; nessa área, os direitos da Best
Metais e Soldas foram impedidos, devido a ações judiciais empetradas por garimpeiros. Os garimpos de diamantes da região do
Centro Oeste expandido se encontram nos municípios de Batovi, Jatobá, Teles Pires, Piratininga, Coxim, Poxoréu, São Félix, Alto
Paraguai, Diamantino, Nortelândia, Anápolis, Rio das Garças, Guiratinga, no Estado de Mato Grosso; no Estado do Mato Grosso do
sul existem garimpos de baixa produção, no alto curso do rio Aquidauana, em Aquidauana; em Goiás os garimpos de diamantes
se concentram na região do Alto Araguaia. Um caso de conflito entre garimpeiros de diamantes e empresas formais ocorreu no Es-
tado de Mato Grosso, no município de Juína. Nesta cidade os diamantes foram descobertos em 1976 pela empresa de mineração
Tapetá, que após 10 anos de pesquisa começou a extrair diamantes em 1986, mas saiu da região devido a invasões de garimpeiros;
os direitos sobre a exploração da área foram então cedidos à Cindam Mineração, que trabalha em conjunto com os garimpeiros.
As lavras de diamantes e demais gemas (como a esmeralda) causam os seguintes impactos ambientais: erosão; desmonte de
rochas com acumulação de pilhas de cascalho, suprimindo a vegetação; construção de diques nos riachos e canais de água para
suprir a lavagem de cascalho e assoreamento dos cursos d’água.
Em relação à extração de esmeraldas no Centro Oeste expandido, as maiores áreas de extração são as cidades de Santa Tere-
zinha de Goiás e Campos Verdes, em Goiás. A cidade de Campos Verdes é um dos lugares mais pobres do país. Distante 20 km de
Santa Terezinha, Campos Verdes emancipou-se desta cidade em 1988, sem ser dotada de infraestrutura básica. Além disso, a maio-
ria das minas de Campos Verdes não está legalizada, pois aguardam licenciamento ambiental, operam na clandestinidade e não
pagam impostos à prefeitura. Os municípios do Norte do Mato Grosso (especialmente Peixoto de Azevedo) como um exemplo de
como a estagnação dos garimpos, no final dos anos 80, provocou uma diminuição populacional, com a retomada de atividades
agropecuárias, menos intensivas no uso de mão de obra.
Este fenômeno pode ser observado em outras regiões, especialmente naquelas que atraíram garimpeiros, que com a es-
tagnação da atividade ficam sem alternativas de trabalho, criando sérios problemas para as administrações locais, que além dos
problemas sociais herdam os problemas ambientais gerados pela mineração. Como exemplo de cidades que tem perdido popu-
lações ao longo dos anos 80 e que cresceram apoiados na atividade mineradora, podemos citar, em Goiás, Crixás e Guarinos; em
Mato Grosso, os municípios de Alto Paraguai, Peixoto de Azevedo e Poxoréo; no Mato Grosso do Sul, os municípios de Corguinho
e Rochedo; em Rondônia, Ariquemes. Os dados de a tabela a seguir mostram a diminuição da população nestes municípios:

Texto adaptado de AZEVEDO, A. M. M. D

33
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

Ainda que o objetivo deste artigo não seja apontar uma


2. A RUSGA. “receita” para melhorar a qualidade de ensino dessa dis-
ciplina observamos nos parâmetros curriculares nacionais
elaborados pelo Ministério da Educação, indicações impre-
De acordo com Leandro Karnal, as propostas curricula- teríveis para que os conteúdos de história do ensino funda-
res e a produção didática nos instigam às reflexões sobre o mental e médio sejam articulados e levem em conta a rela-
ensino da História, pois alguns fatores interferem na historio- ção do passado com o presente. Assim, também é relevante
grafia e na construção dos currículos escolares e do mesmo para o profissional enfatizar nas aulas de história o tempo e
modo na formação de profissionais de História. Desse modo, espaço de qualquer grupo social. Como profissional atuante
a ausência do tema Rusga nos livros didáticos, está associada na área de história, percebemos que muitos alunos do ensi-
com o ensino de História em nível regional e nacional e com no fundamental e médio, e mesmo acadêmicos, de univer-
a produção dos materiais didáticos, e daí ser necessário pri- sidades públicas ou privadas, apresentam deficiências ini-
meiramente comentar sobre essas questões. gualáveis, desinformações e noções extremamente vagas,
A disciplina de história surgiu no Brasil no século XIX, en- por vezes desconhecimentos sobre determinados conteú-
quanto ciência, e os objetivos de seus conteúdos era enfati- dos como é o caso da Rusga que parece ser algo exógeno
zar as tradições de um passado homogêneo, com feitos glo- no vocabulário do estudante e do cotidiano escolar.
riosos de célebres personagens históricos. O propósito era Livros didáticos e Rusga
justificar a colonização portuguesa. Esta abordagem
priorizava a historia política factual, e os personagens como Os Parâmetros Curriculares (PCNs) explicitam a necessi-
os escravos, mulheres, trabalhadores pobres ficaram excluí- dade do estudo sobre a história do cotidiano e a identidade
das das páginas da historiografia. No século XX o ensino de do aluno. Conforme consta nos Parâmetros Curriculares: os
história foi substituído em detrimento da disciplina de Estu- estudos da história local conduzem aos estudos dos dife-
dos Sociais, e ainda, na historiografia brasileira, prevaleceu a rentes modos de viver no presente e em outros tempos, que
abordagem marxista, com observações determinantes sobre existem ou que existiram no mesmo espaço. No entanto, o
a estrutura econômica do país. Durante o período militar, as estudo sobre a história local no território mato-grossense é
disciplinas de: Organização Social e Política Brasileira (OSPB) um paradoxo, longe de abranger os objetivos dos Parâme-
e Educação Moral e Cívica misturaram-se com os estudos da tros curriculares.
História e com isso os conteúdos de História e Geografia fi- Segundo Circe Bittencourt é enorme as deficiências
caram descaracterizados. apresentadas nas produções dos livros didáticos do ensino
Somente na década de 1980, com a História Nova, de de História e a História de Mato Grosso sendo ainda silen-
modo geral, houve então uma “revolução” no ensino. Ou ciada nos livros didáticos só reforça o problema da histori-
seja, a partir desses anos, houve um repensar historiográfico, cidade dessa região mais central da América do Sul como
e no campo da pesquisa surgiu o aumento de produções his- algo externo à realidade brasileira.
toriográficas especialmente sobre a região mato-grossense, Nas produções didáticas de História há temas da His-
pois o parâmetro do ensino da história do Brasil até essa dé- tória do Brasil, como os movimentos sociais ocorridos em
cada primava pelas regiões sudeste e sul do país (São Paulo, variadas regiões do país na década de 1830. Entre os movi-
Rio Janeiro e Minas Gerais). A História Nova permitiu tam- mentos constam: a Cabanagem (1832, Pará), a Farroupilha
bém que a história regional/local e as experiências humanas (1835, Rio Grande do Sul), Sabinada (1837, Bahia), a Balaia-
mato-grossenses ausentes das páginas dos livros didáticos da (1838, Maranhão) com exceção da Rusga (1834 Mato
fossem valorizadas. No entanto, mesmo com essas mudan- Grosso). Esses movimentos sociais, inclusive a Rusga, eclo-
ças ocorridas no ensino, pode-se dizer que nos dias atuais a diram nas províncias também durante o período regencial,
problemática em foco ainda tem continuidade, pois a história devido à instabilidade política e formação dos partidos po-
de Mato Grosso e a produção de materiais didáticos volta- líticos que até então não havia ainda no Brasil. Para Ernesto
dos para a história local e regional continuam sendo desafios Cerveira de Sena, os “movimentos provinciais e forças locais
para os professores das escolas públicas, privadas e das insti- já ocorriam em diversas províncias do país, a fronteira oeste
tuições de ensino superior. do império também demonstrava seu potencial que pode-
Entre as deficiências do ensino dessa disciplina, destaca- ria ameaçar a integridade do país que se formava”.
se a carga horária reduzida no ensino médio no território de A necessidade da ordem previa restringir uma maior
Cuiabá, onde consta na matriz curricular de algumas esco- participação das camadas que, desde os tempos coloniais
las públicas e privadas apenas uma aula por semana. Vale estavam alijadas de uma maior participação, efetivamente
lembrar que uma das escolas privadas da mesma localidade institucionalizada na política e nas esferas administrativas,
citada, especializada no Ensino Médio, consta na matriz cur- desde os tempos da colônia. Era a direção da ordem que se
ricular quatro aulas por semana. Já no ensino fundamental de apresentava fundamental num momento em que cresceram
algumas escolas públicas consultadas não consta a disciplina no Império em número as insurreições negras, as disputas
na matriz curricular. Pode-se dizer, que a problemática não se pelas terras, os levantes urbanos, a insubordinação da tropa
resume somente na carga horária minimizada ou na falta de e as diversas rebeliões. De modo geral, mediante insatisfa-
material didático especifico, pois uma reflexão aqui levantada ção social a reação provocou os conflitos com participação
é: de que modo o conteúdo é construído ou repassado para de várias camadas sociais, e não somente envolvia a elite
o aluno? cuiabana, mas homens livres pobres, escravos, pequenos
proprietários de terras.

34
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

Vale lembrar que enquanto a Rusga fica como um fato Breves comentários soabre o fato: 30 de maio de 1834
inexistente na historiografia brasileira, o conteúdo sobre a em Cuiabá
Farroupilha, além de estar nas páginas dos livros didáticos
é um episódio que ganhou visibilidades na mídia há alguns Uma das vertentes historiográficas mato-grossenses
anos atrás por meio de uma minissérie, é também um fato caracteriza a Rusga como um movimento “nativista” ou
comemorado na região Sul do Brasil, uma forma de man- um simples movimento da província de Mato Grosso. Em
ter a identidade e a memória. Observa-se que o problema outras vertentes historiográficas, a Rusga, em linhas gerais,
não reduz apenas a ausência do tema enquanto conteúdo tinha por finalidade eliminar a presença portuguesa do
do ensino de história do Brasil, porém a invisibilidade da território mato-grossense, devido ao monopólio econômi-
história de Mato Grosso, de modo geral, na produção de co que detinham sobre a população no período regencial.
materiais didáticos para o ensino médio e fundamental, ou Desse modo, temos a concepção naturalizada de que, o
seja, faltam materiais didáticos ou paradidáticos. movimento só eclodiu em decorrência do mono- pólio
Na região de Mato Grosso são poucos os autores que dos portugueses. Sobre essa questão cabe uma maior
focalizam o tema e mesmo sobre as produções de mate- atenção.
riais didáticos. Elizabeth Siqueira Madureira e Else Caval- A Rusga, enquanto um fenômeno político brasileiro
cante, além de produzirem outros estudos historiográficos ocorrido em 1834, no Centro-Oeste do Brasil, no período
nas décadas de 1970 e 1980 produziram livros que reú- das regências, situava entre o discurso da centralização e
nem diversos aspectos da historicidade de Mato Grosso descentralização do poder. Esse conflito esteve ligado aos
em diversos tempos históricos. As autoras abarcam fatos partidos políticos que até então estavam emergindo no
históricos do século XVIII ao século XX servindo de supor- país e tais partidos políticos estavam asso- ciados aos “libe-
te para profissionais, que atuam nos Ensinos Médio e Fun- rais e/ou Sociedades dos Zelosos da Independência ”e os
damental. No entanto, muitos profissionais desconhecem conserva- dores e/ou caramurus”. Os dois grupos preten-
suas publicações. Res- salte-se que uma das produções diam obter o controle politico da província. Os liberais ou
acadêmicas específicas e mais recente sobre o tema é de sociedade dos Zelosos da Independência almejavam a ex-
autoria de Ernesto Cerveira de Sena, que trata dos aspec- pulsão dos portugueses e de alguns estrangeiros também
chamados de adotivos. Segundo Ernesto Cerveira de Sena,
tos políticos antes, durante e após a Rusga. Para esse au-
a Sociedade dos Zelosos intencionava derrubar o governo
tor, o tema Rusga permite mostrar a dinâmica política na
da província, nesse caso, o alvo não era os portugueses,
fronteira oeste do Brasil, com destaque para os partidos
pois brasileiros também ocupavam cargos políticos desde
políticos e as facções, bem como a atuação dos persona-
o período colonial e compunham a elite cuiabana. O re-
gens políticos. ferido autor cita o presidente de província Augusto Lever-
Ao desenvolver a pesquisa juntamente com os alunos ger ao afirmar que o número de portugueses existentes na
durante os estágios sobre prática de alguns profissionais província, não passava de centena e meia em toda provín-
que atuam em escolas públicas e privadas no ensino da His- cia estando muitos deles ligados à atividade mercantil e à
tória, observamos que alguns profissionais possuem uma cargos burocráticos. Quanto aos “caramurus ou conserva-
visão mais crítica sobre o problema em questão, elaboram dores” queriam o retorno de D. Pedro I. Elizabeth Siqueira
o material, ou seja, reúnem e organizam os textos, já que Madureira, também defende que a partir dos dois grupos
não existe um material específico. Outros profissionais não políticos eclodiu o conflito. Por sua vez, Else Cavalcante,
possuem material devido à falta de conhecimentos sobre comenta que a Rusga não pode ser considerada uma re-
onde encontrar as ferramentas necessárias, dessa forma volução e sim um movimento social de reivindicação, isso
obtém algumas informações pelos sites da internet sem, porque a província de Mato Grosso passava por crise eco-
contudo, contextualizá-las, tornando ainda mais visível a nômica com pagamentos de salários atrasados, gerando
falha do sistema educacional. Isso significa que os con- ainda mais a miséria social.
teúdos de História de Mato Grosso, por vezes, são ainda Na época em que ocorreu o episódio em 1834, o pre-
repassados como fatos isolados e, portanto, simplificados. sidente de província de Mato Grosso era Poupino Caldas,
O que se observa na prática pedagógica é talvez a neces- membro da Sociedade dos Zelosos da Independência, ad-
sidade de revisar, repensar, sobre o conjunto de saberes ministrou a província entre maio e setembro de 1834. No
que norteiam a comunidade escolar, a começar pela matriz entanto, Ernesto Cerveira de Sena, afirma que não foi esse
curricular. Segundo Marcos Silva, a construção de currícu- o idealizador da Sociedade dos Zelosos, e sim Patrício da
los culturalmente inclusivos incorporam tradições culturais Silva Manso que havia assumido cargo de presidente da
e sociais de grupos específicos, características econômicas província dias antes do movimento em razão do presidente
e culturais das realidades locais e regionais. da província, Antônio Correa da Costa, encontrar-se ausen-
te do cargo.
Para Rubens de Mendonça, a “Rusga”, movimento ar-
mado de 30 de maio de 1834 foi denominada de “a noite
de São Bartolomeu mato-grossense”, em que a massa po-
pular se agitava, o povo reclamava a retirada dos portugue-
ses do solo pátrio:

35
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

O Coronel João Poupino Caldas assumindo o governo no De acordo com os estudos de Siqueira, as cabeças do mo-
dia 26 de maio de 1834, quatro dias depois a 30 de maio, por vimento eram: Pascoal Domingues, Juiz de Direito em Cuiabá,
volta das 11 horas da noite “se ouviu tocar rebate de cornetas Brás P. Mendes, Prof. de Filosofia, José J. Carvalho, Promotor
e caixas de guerras, tiros de arcabuzes, e gritos de morram os Público, Bento Franco de Camargo, Vereador da Câmara de
bicudos. Na escuridão da noite apenas se ouviam barulhos Cuiabá, Caetano Xavier da S. Pereira, bacharel em Direito, Ve-
de machados e alavancas arrombando as portas dos nego- reador da Câmara de Cuiabá e major da Guarda Nacional.
ciantes adotivos ali residentes”. O nome de bicudo era al- Diante do fato o governo mato-grossense estendia um mês
cunha pejorativa que os cuiabanos davam aos portugueses. de prazo para os fugitivos saírem da província, mas os líderes
Conforme Else Cavalcante, esse momento representou exigiam que os bicudos escapos pelo primeiro assalto deixas-
mais uma ocasião encontrada para os pobres usufruírem de sem a província em vinte e quatro horas. De acordo com Vir-
benefícios passageiros e extravasarem anseios e mudanças. gilio Correa Filho:
Para Elizabeth Madureira Siqueira, o movimento foi impul- Requisitavam a remoção de todos os adotivos menores de
sionado não somente pelas elites, mas pelos mulatos e criou- 60 anos para fora da província, por não convir que continuem
los. Esses últimos grupos sociais foram motivados por uma no exercício de seus empregos civis ou militares, visto que pe-
questão racista, pois para Elizabeth Madureira Siqueira eles las provas que tem dado de inimigos declarados das nossas
se sentiam inferiorizados diante da cor branca, a quem cha- instituições se achavam armados em suas casas, esperando a
mavam os brancos de caiados. noticia da restauração do Duque de Bragança neste império.
Os participantes do movimento, também chamados de No relatório do presidente da província Antonio Pedro
“rusguentos” pela historiografia, eram membros da Guarda Alencastro, que havia tomado posse em setembro de 1834,
Nacional, escravos, e segundo Siqueira, entre eles encontra- consta que foram presos os cidadãos de posição sociais res-
vam-se os membros da elite cuiabana. O Caderno de Me- ponsáveis pela desordem social enviado à Corte pela navega-
mória do Legislativo Cuiabano, publicado em 2002, enfatiza ção fluvial de São Paulo. Assim dizia o presidente:
que na noite de 30 de maio uma multidão revoltada e en- Depois do 30 de maio os cabeças de tão horrorosos cri-
raivecida que sob o toque de tambores e cornetas, coman- mes tentaram pela segunda vez levar avante seus nefandos
dadas pela própria Guarda Nacional, percorreu as ruas de desígnios tramando acabar com nosso sistema de governo
Cuiabá, passando a atacar mortalmente os portugueses. Esse monárquico constitucional são estigmatizados, surpreendidos
fato se passou em Cuiabá no campo D’Ourique, atualmente e presos pelos cautos e pacíficos cidadãos que indignados es-
Praça Pascoal Moreira Cabral, onde situa a Câmara Municipal tão e reclamam o seu destino para fora da província.
dos Vereadores. Tal movimento teve durabilidade de aproxi- Como consequência do acontecimento da noite de 30 de
madamente quatro meses. Nessa noite, os participantes do maio, Poupino foi criticado pelos Zelosos, pela conivência com
movimento arrombaram as casas comerciais, saqueando e o governo central. Alguns dos que ha- viam sido presos no Rio
matando os portugueses chamados de “bicudos”. Sobre isso, de Janeiro, conseguiram habeas corpus e acabaram retornan-
Virgilio Correia comenta: do a Cuiabá. Como o presidente de província Antonio Pedro
Pelas ruas até então silenciosas de Cuiabá, propaga-se a Alencastro havia sido deposto, Poupino ficou sem a força po-
anarquia desenfreada, em berreiro macabramente capadoçal, lítica resolvendo partir da região, mas antes de partir foi assas-
em que se misturam o sinal de alarma, o estrondo de portas e sinado no ano de 1836. Segundo Taunay, a vítima ainda pôde
janelas, o hino da desordem, tiros e depredações das vítimas. sacar do bolso uma pistola, mas caiu logo de bruços morto na
Else Cavalcante enfatiza que os saques, roubos e mortes calçada. Como postula Elizabeth Madureira Siqueira:
são explicados mediante um contexto caótico em meio às Vinha Poupino, nas visitas que estava fazendo, de chapéu
crises, social, econômica e política pela qual passava Cuiabá de chile e botas, aliás armado, como sempre andava. Sendo o
e localidades próximas. Os registros documentais também dia de festividade religiosa, segundo uns do Espírito Santo, o
contam que o bispo D. José, com o crucifixo nas mãos, im- estrondear dos foguetes e o repique de sino impediram que
plorava o término da “carnificina”, pois esse movimento se se ouvisse o tino homicida, dando ensanchas ao assassino de
deu em torno da opressão que os portugueses exerciam nas se retirar incólume, depois de negra façanha. Ainda pode a
camadas mais pobres das comunidades. Desse modo, para vitima sacar do bolso uma pistola, mas caiu logo de bruços
conter tal movimento, Poupino promoveu a dissolução da morto na calçada.
Guarda Municipal e reorganização da Guarda Nacional. E Nos relatos de José Joaquim Ferreira Moutinho, cronista
também expediu guarnições a várias localidades da provín- de descendência portuguesa, percebemos outra visão sobre
cia como, Serra Acima, Rio Abaixo e Diamantino onde vários esse fato, pois segundo ele, na época os cuiabanos pouco se
portugueses foram mortos, esposas e filhas violentadas e os afeiçoavam aos estrangeiros, aos portugueses dão nome de
corpos proibidos de ser enterrados, com orelhas cortadas e “bicudos” e aos filhos de outras nações de “carcamanos”:
leva- das para Cuiabá. A carnificina de 1834 é o ponto negro no Céu daquele
De acordo com Sena, Poupino Caldas até então expres- torrão, e o pesadelo ainda de muitos indivíduos, de cujas me-
sava liderança contra os portugueses; porém, no momento mórias o espaço de sete lustros não tem podido afugentar as
da manifestação da Rusga ficou contra os participantes do imagens de suas vítimas. A página em que se escrever a histó-
movimento, aderiu à política central, inclusive prendendo al- ria desse extermínio de portugueses será uma nódoa de san-
guns na vila de Diamantino. Poupino e Pedro Alencastro fize- gue nos anais da província, e jamais o tempo poderá apaga-la.
ram uma parceria para oprimir o movimento e desse modo Não tentaremos descrevê-la; apesar de sermos portugueses,
acabou desagradando os companheiros que até então esta- queimamos muitos documentos que diziam respeito aos ne-
vam apoiando, acusado pelos rusguentos de traidor. gócios de 1834.

36
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

Ainda de acordo com a historiografia mato-grossen-


se, várias foram as críticas sobre o episódio, culminando
em anedotas: Embarca bicudo, embarca canalha vil que os 3 OS QUILOMBOS EM MATO GROSSO.
brasileiros não querem Bicudos no seu Brasil.
Em suma, o foco central deste estudo foi analisar o
silêncio a respeito do episódio que ficou conhecido como Dentre os espaços de resistência utilizados pelos negros/
Rusga na historiografia mato-grossensse; e que ainda as, os quilombos constituem territórios determinantes na ree-
se encontra excluído dos conteúdos dos estudos sobre laboração culturais negros. As comunidades negras no Brasil
a história brasileira, longe dos temas contidos nos livros denominadas de mocambos ou quilombos possuem diversi-
didáticos e, consequentemente, dos ensinos Fundamental dade de origem, ocupação e formação. Ainda que possuam
e Médio. origens diferentes, as mesmas têm ligações com o fator his-
Essa data histórica aqui apresentada, 1834, não é tam- tórico do escravismo e seus impactos políticos, econômicos
bém enfatizada como algo célebre na historiografia mato- e sociais sobre a população negra. Em todas as partes
grossensse, e tampouco como parte de um acontecimento do país, os quilombos remanescentes desses territórios ainda
nacional, de uma concepção de história. De certa forma, a hoje lutam pela posse da terra.Lacert (2013, p. 2) em sua pes-
crítica aqui explicitada, é talvez uma forma de o conteúdo quisa observa que:
adquirir visibilidade já que está silenciado como tema da A história do povo negro no Brasil e a história das comu-
História do Brasil. De acordo com Circe Bittencourt, “cada nidades negras rurais estão imbricadas pelos mesmos con-
data traz um acontecimento muitas vezes invisíveis, pois teúdos desde o seu passado à existência presente, no que diz
nas datas podem surgir outros acontecimentos relaciona- respeito às origens, lutas, fugas, insurgências, religiosidade e
dos a ela, mesmo que algumas não sejam exclusivamente outras formas de resistências. No combate à dominação do
nacionais.” Desse modo, porque não falar do tema em es- opressor, as lutas duraram todo o período histórico escravista
tudo quando são apresentadas as rebeliões (Cabanagem, e continuam até os dias de hoje, apresentando novas confi-
gurações e novas estratégias de resistências. Os quilombos
Sabinada, Balaiada, Farroupilha) já que são movimentos
surgiram enquanto mecanismo de enfrentamento ao sistema
sociais ocorridas no Brasil numa mesma temporalidade?
escravista.
Alguns historiadores argumentam que os fatos históri-
Enquanto espaços de resistência à escravidão e reelabo-
cos são como as pontas do iceberg, pois em cada tempo
ração de uma nova cultura, facilitada pela presença de ne-
histórico pode conter outros acontecimentos invisíveis e gros de diversas etnias e origens, eles puderam livremente
como a Rusga não é e não deve ser um fato acabado no elaborar experiências baseada em princípios culturais africa-
discurso historiográfico, novos questionamentos podem nos. Os quilombos ou mocambos como espaços de refúgio
emergir diante do tema. de escravos e onde as relações estabelecidas são contínuas e
Do exposto sobre as breves considerações feitas so- muitas vezes profundas entre os fugidos e outros grupos so-
bre a Rusga fica a nossa reflexão de que as práticas do ciais. Considera também que as relações estabelecidas entre
processo ensino-aprendizagem precisam ser revisadas quilombolas e cativos iam além das fronteiras, pois envolviam
diante das mudanças historiográficas trazidas pelas novas aspectos econômicos, culturais e sociais, constituindo, em
indagações, inquietações e polêmicas contribuindo para alguns casos, redes de interesses e solidariedades que inte-
o rompimento da naturalização como o silêncio sobre o gravam o quilombo e ampliavam seu campo de possibilida-
conflito. Que elas possam começar a ser intermediadas des. Seguindo essa linha de pensamento, Gomes concebe os
pelas nossas práticas historio- gráficas, pois delas podem escravos como sujeitos complexos, criadores de estratégias
emergir diversas problematizações. Mediante múltiplas inovadoras enquanto sutis avanços de resistência, tornando
produções didáticas que apontam conteúdos do ensino esses agentes protagonistas de sua própria história. Na “obra
de História cujos parâmetros da História do Brasil encon- Da cor do silencio: os significados da liberdade no sudoeste
tram-se voltados apenas para as regiões litorâneas, por- escravista Brasil, séc”. XIX” Mattos (1995) destaca o senti-
tanto, excluindo aspectos sobre a região mato-grossense, do de liberdade para os escravos, a construção de suas
cabe a nós, historiadores, o ofício de quebrar os paradig- identidades, as relações estabelecidas com outros grupos
mas pré-estabelecidos e repensarmos mais na nossa arte sociais e, principalmente, as estratégias de resistência negra
do fazer o ensino da História. Para Selva Guimarães a dis- desenvolvida pelos cativos. Para a autora, as comunidades de
ciplina tem como papel central a formação da consciência quilombos estão se constituindo em lugar de memória, por
histórica dos seres humanos, possibilitando à construção isso o processo de escravidão não deve ser visto somente na
de identidades, a elucidação do vivido, a intervenção so- perspectiva econômica e política, mas também na ótica social
cial e a praxes individuais coletivas. Texto adaptado de e cultural. João José Reis (1996) em seu artigo “Quilombos e
rebelião Escrava no Brasil”, considera que, embora a revolta e
FANAIA, M. D. L
a formação de quilombos não tivessem sido as únicas formas
de resistência coletiva à escravidão, elas foram as mais impor-
tantes. Para ele, a revolta se assemelha a atuações cole-
tivas comuns na história de outros grupos subalternos,
mas o quilombo foi um movimento peculiar dos escravos.

37
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

Esclarece que na escravidão mesmo com o cerceamento da liberdade, ocorriam às organizações de fugas e formação
de quilombos, pois tais episódios integravam o processo de resistência. Reis ressalta ainda que, muitas vezes, os capi-
tães-do-mato, que tinham a tarefa de impedir as fugas ou capturar os fugitivos, eram insuficientes para dar conta das
inúmeras fugas ocorridas nas fazendas. Segundo ele, essa situação ocorria constantemente em todo o território brasilei-
ro, e que na relação de sobrevivência, escravos e índios estabeleciam alianças, resultando em fortalecimento e em troca
de culturas. Essa disponibilidade para mesclar culturas, segundo o autor era um imperativo de sobrevivência, exercício
de sabedoria também refletida na habilidade demonstrada pelos quilombolas de compor alianças sociais, as quais,
inevitavelmente, se traduziam em transformações e interpenetrações culturais.
Para o mesmo autor, os quilombos representaram uma rebeldia com múltiplos significados, uma vez que as revoltas
escravas constituíram a mais direta e evidente forma de resistência coletiva, pois, quando o escravo conspirava uma re-
belião, ele dificilmente contava com a possibilidade de acordo.
Mas nem toda revolta visava à destruição do regime escravocrata, ou mesmo a liberdade dos escravos nela envol-
vidos. Muitas visavam apenas corrigir excessos de tirania, diminuir até um limite tolerável a opressão, reivindicando
benefícios específicos às vezes a reconquista de ganhos perdidos ou punindo feitores particularmente cruéis.
Conforme salienta Carvalho (1997), até bem pouco tempo, o único quilombo referido no Brasil era o de Palmares.
Mas, com o movimento pela titulação das terras tradicionais em áreas remanescentes de quilombos, muitos outros ter-
ritórios começaram a ser discutidos e estudados. Hoje, segundo dados da Fundação Palmares, estima-se que são mais
de 2.500comunidades quilombolas identificadas no Brasil.
O território quilombola, não pode ser entendido como mera exteriorização do direito de propriedade inserida no
campo ou na cidade, mas sim uma especificidade histórica e identitária, uma vez prenhe de diversidade cultural e de
conhecimentos importantes para a história do negro e cultura nacional e local. No estado de Mato Grossovários qui-
lombos são marcados por uma diversidade de formas de ocupação territorial, atualmente muitas dessas comunidades
estão com suas terras divididas com outros grupos, como posseiros, grileiros, assentados, entre outros, configurando,
assim, um quadro conflituoso na busca pela garantia pelo direito à terra. Tentando verificar quantas são essas comuni-
dades e em que situação se encontram, se tituladas ou não, fizemos uma busca na Internet, nos sites oficiais do Estado
brasileiro e, posteriormente, em sites de organizações da sociedade civil. A Fundação Palmares indica, no ―Quadro geral
de comunidades remanescentes de quilombos (CRQs), no período de 2004 à 2015, Mato Grosso tem 68 comunidades
remanescentes de quilombos, com terras tituladas, sendo que a grande maioria é rural.

38
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

A emissão da Certidão de Autodefinição das comunidades quilombolas tem por base legal a Portaria da Fundação Cultural
Palmares nº 98/2007, que instituiu o Cadastro Geral de Remanescentes das Comunidades dos Quilombos da Fundação
Cultural Palmares, para efeito do regulamento que dispõe o Decreto Presidencial nº 4887/2003.
A referida Portaria destaca em seu artigo 2º:Art. 2° Para fins desta Portaria consideram-se remanescentes das comunidades
dos quilombos os grupos étnicos raciais, segundo critérios de auto atribuição, com trajetória histórica própria, dotados de rela-
ções territoriais específicas, com presunção de ancestralidade negra relacionada com formas de resistência à opressão históri-
ca sofrida. (FCP -Portaria 98/2007).Adicionado à citada Portaria, pode-se incluir o Decreto Presidencial nº 4.887/2003,que
regulamentou o procedimento para identificação, reconhecimento, delimitação, demarcação e titulação das terras
ocupadas por remanescentes das comunidades de quilombos, já tratado no art. 68 do Ato das Disposições Constitucionais
Transitórias. Estabelece o mesmo que: Para os fins deste Decreto, a caracterização dos remanescentes das comunidades
dos quilombos será atestada mediante autodefinição da própria comunidade.Art.5oCompete ao Ministério da Cultura, por
meio da Fundação Cultural Palmares, assistir e acompanhar o Ministério do Desenvolvimento Agrário e o INCRA nas ações
de regularização fundiária, para garantir a preservação da identidade cultural dos remanescentes das comunidades dos
quilombos, bem como para subsidiar os trabalhos técnicos quando houver contestação ao procedimento de identificação e
reconhecimento previsto neste Decreto.Art.6º Fica assegurada aos remanescentes das comunidades dos quilombos a partici-
pação em todas as fases do procedimento administrativo, diretamente ou por meio de representantes por eles indicados.
O relatório técnico parcial do IBGE (2007),apesar do título, não contemplar dados sobre a localização de comunidades
remanescentes de quilombos no território nacional, apresenta o quantitativo das populações pretas e pardas nas diferentes
regiões geográficas brasileiras, conforme dados do Censo 2000.Também publicado no ano de 2007 é o Relatório do GT População
Quilombola, Conselho Nacional de Assistência Social do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome: O reconheci-
mento de comunidades quilombolas é um processo ainda inconcluso. No governo federal diversas instituições vêm realizan-
do levantamentos e mantendo arquivos sobre essa comunidade.

39
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

A Fundação Palmares, responsável por emitir certificado reconhecendo a autodefinição de comunidade como remanes-
cente de quilombo, registra oficialmente 743 comunidades. O Ministério de Desenvolvimento Agrário –MDA, a quem cabe a
responsabilidade pela identificação, delimitação, demarcação e titulação das terras ocupadas por comunidades quilombolas,
já identifica 1.300 comunidades. Segundo a Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial –SERPIR, existem
cerca de 2.450 comunidades quilombolas identificadas, estimando-se em 2 milhões a população quilombola no país.
Mais adiante, esse mesmo relatório do GT População Quilombola fez referência à dificuldade de se relacionar as comunida-
des de remanescentes de quilombos no país. ―Há um amplo reconhecimento das dificuldades em mapear as comunidades a
serem assistidas. Tanto os dados como os diagnósticos sobre comunidades remanescentes de quilombos ainda são precários. No
site do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária encontramos um quadro geral de todas as unidades da federação,
segundo o andamento dos processos de regularização da situação fundiária das comunidades quilombolas, já tituladas pela
Fundação Palmares.
Nele, estão referenciadas apenas três comunidades quilombolas mato-grossenses, em processo de regularização: Mata
Cavalo, Lagoinha de Baixo e Campina de Pedra. Nenhuma delas obteve, até o momento, sua regulamentação fundiária, com a
demarcação do território e a desintrução de ocupantes não quilombolas. Esse último passo implica que ―As áreas em posse
de particulares serão desapropriadas e aquelas em posse de entes públicos serão tituladas pelas respectivas instituições. Infeliz-
mente, nem a página do INCRA, nem o quadro geral indicam a data de publicação. Em tabela constante do anexo da Portaria
nº90, do Ministério da Saúde, datada de 17 de janeiro de 2008 e que relaciona os municípios brasileiros onde assentamentos e
comunidades remanescentes de quilombos, Mato Grosso aparece com os seguintes municípios com os respectivos quantitativos
de assentados e de quilombolas, como pode ser visto a seguir. Citamos a portaria e colocamos o quadro, anexo à portaria e
Referente aos Municípios de Mato Grosso, para ilustrar quão poucas informações existem sobre as comunidades remanescentes
de quilombos em Mato Grosso.
São elencados 7 municípios, entretanto, em quatro deles não são registrados quilombolas. Ademais, não aparecem o
nome dos assentamentos ou sua localização dentro do município. O mesmo se repete quanto às informações sobre as comuni-
dades quilombolas. Embora não seja objetivo desse artigo discutir as políticas públicas destinadas às comunidades, sejam
assentados ou quilombolas, chama a atenção a precária informação que o Estado brasileiro detém sobre de cidadãos em
situação tão vulnerável.

O site do Ministério Público Federal noticiou, em21/11/2013, que nenhum território quilombola está regularizado em Mato
Grosso: Atualmente, 68 processos estão em trâmite na Superintendência Regional do Incra em Mato Grosso para regulari-
zação do território de comunidades que já foram certificadas pela Fundação Palmares como remanescentes de escravos.
Dos 68 processos pendentes no Incra de Mato Grosso , 50 deles não têm nem previsão, de acordo com o próprio órgão,
para o inicio dos trabalhos de identificação e delimitação do território.
Em outros seis processos, o Incra informou a previsão do inicio dos trabalhos, mas ainda não comprovou. Para outras
oito comunidades, estão sendo realizadas, a passos lentos, as fases de identificação e delimitação, iniciadas entre 2005 e 2007.
Apenas três comunidades quilombolas já tiveram a etapa de identificação concluída. Existem poucos estudos históricos sobre
os quilombos em Mato Grosso. Pelo que foi possível perceber, existe uma lacuna na historiografia mato-grossense sobre essas
comunidades tradicionais. Em levantamento realizado no banco de teses e dissertações do Portal da CAPES, na busca de estu-
dos que tratam sobre quilombos, comunidades quilombolas ou comunidades negras do Brasil, encontramos 120 dissertações
de mestrado e 31 teses de doutorado, origina das em diversas áreas de conhecimento. No entanto, sobre as comunidades
quilombolas de Mato Grosso encontramos apenas quatro dissertação de mestrado e quatro teses. Dentre esses trabalhos des-
taca-se a pesquisa de Antônio Eustáquio de Moura (2009), Rosana Manfrinate Martendal (2011) e Cristóvão Domingos Almeida
(2012).Moura (2009),em sua pesquisa sobre Quilombo Mata Cavalo, a fênix negra mato-grossense: etnicidade e luta pela
terra no estado de Mato Grosso, buscou estudar sobre o processo de territorialização e etnogênese que levou à formação
da identidade de remanescente de quilombo entre as famílias descendentes de antigos moradores em Mata Cavalo.

40
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

Comunidade Quilombas do Mato Grosso em andamento

Dos estudos de doutoramento em andamento referentes aos quilombos em Mato Grosso, acima citados, buscamos
pesquisar essas comunidades a partir da memória dos quilombolas, que irá trazer indicadores importantes para
auxiliar a compreensão da trajetória do negro no Estado, além de garantir o direito à memória desse importante
grupo social para a formação populacional e cultural de Mato Grosso. Pesquisar sobre essas questões constitui um desafio
enorme, considerando que existem poucos registros a respeito das comunidades quilombolas. As informações iniciais so-
bre a Comunidade Exú, por exemplo, possui título de reconhecimento Quilombola emitido pela Fundação Cultural Palma-
res, desde 2005. Sabe-se que ocorreu um êxodo da maioria das famílias em direção à cidade, diminuindo drasticamente a
presença dos remanescentes quilombolas na localidade. A comunidade está inserida dentro de uma área rica em recursos
naturais, cercada de nascentes e córregos, porém a população tem dificuldade de acesso às políticas públicas universais e
específicas destinadas às comunidades quilombolas.
No que refere à educação, o quilombo não possui escola, o que faz com que crianças e adolescentes se desloquem para
estudar no distrito de Vila Aparecida, a 40 Km, ou para o município de Cáceres, a 80 Km. A mesma, está situada próximo a
BR-MT 343, na estrada vicinal que ligam o município de Cáceres ao de Barra do Bugres. O quilombo Boqueirão dista 25km
da área urbana de Vila Bela, constituindo uma antiga comunidade ocupada por grupos familiares de negros, cujas terras
não foram tituladas e se encontram cercadas por fazendas de gado. Situa-se às margens do Rio Alegre, nagleba Porto
Bananal, composta por 40 famílias. A maioria dos quilombolas possui moradias, tanto nos no campo como na cidade, para
onde se deslocam cotidianamente para atividades diversas, como acesso à escolarização. A comunidade quilombola do
Ribeirão do Mutuca está situado no município Nossa Senhora do Livramento, às margem da rodovia MT 060. É composta
de120famílias, e foi reconhecida pela Fundação Cultural Palmares em 2005. De acordo com o Relatório, as famílias, em
sua maioria, vivem em situações precárias, submetidas às péssimas condições das estradas e a falta de saneamento bási-
co. Dedicam-se à agricultura de subsistência e têm como organização comunitária a Associação de Pequenos Produtores
Mutucas. Não existe escola na comunidade, mas tem ao seu alcance uma escola estadual localizada na proximidade do
Quilombo Mata Cavalo de Baixo, que atende os ensinos fundamental e médio. O quilombo Mata-Cavalo de Cima está situa
dono município de Nossa Senhora do Livramento, integrando o complexo Mata Cavalo/Boa Vida, formado por seis nú-
cleos comunitários. A comunidade é composta de 120 famílias, sendo que a maioria delas vivencia um estado de extrema
pobreza, uma vez que as casas ainda são de paredes de barro ou de madeiras, cobertas com palhas, não existindo
saneamento básico, água tratada e iluminação elétrica.
Vivem sob constante ameaça de expulsão de suas terras por fazendeiros, que, muitas vezes, os impede de construir
roças, por isso produzem apenas o suficiente para a subsistência. E se tratando da educação, há um impacto no processo de
escolarização das crianças e jovens pela ausência da oferta da segunda etapa do ensino fundamental e também do ensino
médio, o que resulta no êxodo dos mais jovens em busca de continuidade dos estudos em escolas nos municípios de
Cuiabá e Várzea Grande. No que refere aos conhecimentos sobre esses quilombos, existe uma carência de pesquisas sobre
quilombos em Mato Grosso. O silenciamento e esquecimento a respeito da história e da memória dos grupos tradicionais,
como os quilombolas, se devem a diferentes formas de marginalização dessa população e desvalorização das mesmas.

41
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

OS QUILOMBOS DO SUDOESTE MATO-GROSSENSE

Silva (2014, p. 43), em seus estudos sobre a fronteira 4 OS PRESIDENTES DE PROVÍNCIA


sudoeste mato-grossense, admite que os quilombos cons- E SUAS REALIZAÇÕES.
tituem um conjunto de lugares apropriados e produzidos
pelos grupos sociais, que vivenciaram tempos e ritmos
diferentes, resultando esses processos em espacialidades
entendidas como apropriações do espaço pelas práticas Se eram poucas as pessoas que faziam parte das eli-
sociais de diferentes grupos para atender necessidades tes políticas seja devido ao grau de parentesco e apadri-
individuais e coletivas de reprodução e identificação. A nhamento, seja devido ao corpus de saberes específicos,
espacialidade é, portanto, produto social no qual os sujeitos seja até mesmo devido à restrição censitária essas pessoas
envolvidos em uma teia de relações criaram lugares, territó- geralmente se agrupavam em duas tendências no perío-
rios e regiões, ambientes e habitats. Em relação à popula- do proposto, não necessariamente institucionalizada
ção quilombola na região sudoeste de Mato Grosso, podem em partido político. Antes da inauguração da Assembléia
ser localizadas, basicamente, em duas cidades (Vila Bela da Legislativa (1835), os blocos políticos formados colo-
Santíssima Trindade e Cáceres), distribuída em nove comu- cavam duas vilas (que compreendiam dois departamentos
nidades. Na cidade de Cáceres estão os quilombos Ponta do administrativos) da capitania como antagônicas. Com um
Morro, Exú, São Gonçalo, Chapadinha, Sant’Ana e Pita Canu- desses lugares saindo vencedor da contenda, Cuiabá, a
do, sendo que em Vila Bela da Santíssima Trindade se elite política desse espaço iria se fragmentar. Eram dessas
concentra um complexo de quilombos organizados nas disputas que posteriormente se formariam os dois partidos
comunidades de Manga, Boqueirão e Bela Cor. Segundo o da província. Assim, se o Mato Grosso aderiu com facilida-
Relatório do Preliminar do Meio Ambiente (2006), as comu- de aos propósitos de rompimento com Portugal, o mesmo
nidades inseridas no território de Cáceres sofrem com o esva- não acontecia sobre o entendimento dos homens públicos
ziamento produzido pela migração de pessoas em busca de em relação à supremacia política na província.
melhoria social. Em geral, os que permanecem nessas comu- Tais disputas desencadeariam na “Rusga”, movimento
nidades, em sua maioria, são as crianças e os mais velhos. As que assinalava o fim do processo de independência na pro-
populações jovens e adultas em idade produtiva costumam víncia, demarcando as composições políticas. Dessa manei-
se deslocar para as cidades próximas, em busca de trabalho ra, os homens públicos mais expressivos da região passa-
remunerado e acesso aos serviços públicos, como saúde e riam a ocupar lugar na recém-criada Assembleia Legislativa,
educação. Vila Bela da Santíssima Trindade foi o palco da or- lugar destinado para o exercício político institucional dos
ganização quilombola mais famosa, o quilombo do Piolho homens públicos locais. O exercício político nessa casa le-
ou Quariterê, assumido por Tereza de Benguela, no séc. XVIII, gislativa era marcado, inicialmente, pelo confronto entre o
após a morte de seu marido, José Piolho. Esse Quilombo executivo (nomeado pela Corte) e a Assembleia provincial,
situava-se às margens do Rio Guaporé-Vila Bela, próximo à numa época de reconhecimento de espaços de atuações.
fronteira de Mato Grosso com a Bolívia, na época, território
espanhol conquistado pelos portugueses. O referido quilom- Cuiabá: cabeça de província
bo foi um dos mais importantes na história de Mato Groso,
visto que, além de grande número de aquilombados, possuía Quando se deu a independência política do Brasil, em
uma organização diferente dos demais do país, em forma 1822, os homens bons de Mato Grosso que poderiam ocu-
de reinado. Por ocasião da sua primeira destruição, era ele par os assentos das câmaras de seus municípios, tinham
governado pela então, Rainha Teresa de Benguela o quilom- diante de si um problema que vinha dos últimos anos de
bo do Quariterê ou Piolho, Antes de ser abatido pelas forças colônia. Qual seria a capital de Mato Grosso. A antiga ca-
de Luiz Pinto de Souza Coutinho em 1770, o quilombo do pital, Vila Bela da Santíssima Trindade, sofria a contestação
Piolho, conhecido também como quilombo do Quariterê (ou dos homens envolvidos na política e no comércio da bai-
Quariterê, tendo por referência outro nome do mesmo rio) xada Cuiabana.
foi, segundo os pesquisadores matogrossenses, o maior e Essa luta pela transferência da sede política-administra-
mais significativo da região de Vila Bela (na Chapada e tiva, nos anos 20, encabeçada pela elite política de Cuiabá
no vale do Guaporé), não só pela sua população mas colocava do mesmo lado homens públicos que, nos anos
também pela organização social e fartura das suas roças, ten- 30, teriam destinos e posições diversas, como Poupino Cal-
do sido encontradas ali até mesmo duas tendas de ferreiro. das, de um lado, e André Gaudie Ley e Antônio Corrêa da
Hoje, os quilombos de Mato Grosso ainda continuam Costa, de outro. Eram militares da antiga estrutura colonial,
enfrentando as mesmas problemáticas em relação à falta de comerciantes e proprietários de terras, assim como homens
acesso às políticas públicas. Todas essas comunidades se en-
pertencentes ao quadro da Igreja que eram os políticos
contram identificadas e reconhecidas pela Fundação Palma-
mais representativos da pequena elite da baixada cuiabana.
res, mas nenhuma delas possuem título definitivo da terra.
Dessa maneira, também compunham essa elite as persona-
Conjuntamente, amargam a falta de acesso às políticas públi-
gens Jerônimo Joaquim Nunes, Tenete-coronel da Tropa de
cas básicas, configurando um retrato amargo e desrespeitoso
1ª Linha e dono de fazendas de gado; Antônio Navarro de
para com uma importante parcela da população mato-gros-
Abreu, Tenente-coronel de milícias e abastado comerciante;
sense. Texto adaptado de MULLER. A. L. R; SANTOS, M. D;
Padre José da Silva Guimarães, Comissário da Bula.
MOREIRA, N. L. D. M

42
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

Esse grupo buscava as benesses de sua vila tornar-se a grande mortandade entre os silvícolas, não era muito raro
sede do governo, pois Cuiabá, além de passar a contar com famílias inteiras de chacareiros, próximas às minas, serem
maior fluxo de verbas governamentais, seria definitivamen- massacradas pelos índios. Não menos, as tropas que trans-
te o centro das atuações políticas na capitania, podendo portavam mercadorias e até mesmo povoados inteiros co-
inclusive ter maiores chances de participação nos cargos nheceram a ira dos ataques dos gentios.
administrativos. A seu favor contava o maior desenvolvi- A conquista sobre território indígena trouxe outras difi-
mento econômico da baixada cuiabana, pois era lugar de culdades além das acima referidas. A região, de acordo com
entroncamento comercial e onde as pessoas mais abasta- o Tratado de Tordesilhas, pertencia aos espanhóis. Sendo
das da província mantinham residência. assim, coube à população local a defesa contra os hispano
Já Vila Bela sofria por muitas décadas a penúria dos ne- -americanos. Segundo Luíza Volpato, a belicosidade entre
gócios. Desde quando a extração de minérios declinou no portugueses e espanhóis, na fronteira mato-grossense, es-
vale do Guaporé, não houve mais atrativos na capital para teve sempre vinculada à política externa européia. Durante
evitar-se a acentuada diminuição da população. Acrescen- o século XVIII e início do XIX, Portugal e Espanha sempre
tava-se a isso os vários reclames de governantes sobre a estiveram em campos opostos, estendendo aos domínios
insalubridade que reinava no vale. coloniais as diretrizes definidas em Lisboa ou Madri. Con-
Vila Bela foi construída como parte da estratégia do tudo, apesar da fronteira oeste não ser a principal área de
governo português para assegurar um território que co- conflito, não pôde ser desprezada como zona de tensão.
meçara a ser conquistado a espanhóis e índios nas primei- A criação da capitania de Mato Grosso tinha como um
ras décadas dos Setecentos. Foi uma conquista motivada de seus objetivos a caracterização da posse da região. Não
principalmente pela descoberta e exploração das minas de foi coincidência, portanto, a implantação da capitania an-
ouro. teceder em apenas dois anos a assinatura do Tratado de
A quantidade de minério inicialmente encontrada nas Madri (1750). Esta assinatura, no entanto, não garantiria a
áreas ao oeste das colônias portuguesas, no início do sécu- posse da terra para o reino português. A nova região ad-
lo XVIII, manteve povoamento nos novos espaços incorpo- ministrativa deveria organizar a defesa não só para con-
rados ao governo da metrópole. Depois do ouro encontra- ter qualquer possível avanço espanhol, mas também para
do pela bandeira de Moreira Cabral, na baixada cuiabana, ocupar áreas não habitadas pelo estrangeiro.
novas lavras foram descobertas pela comitiva de Miguel Foi, então, desenvolvida uma política de incentivo à fi-
Sutil em um córrego do rio Cuiabá. Foi aí que se formou o xação do povoamento no vale do Guaporé com isenções e
povoamento mais denso dando origem à Vila de Cuiabá, reduções de impostos e o franqueamento da navegação na
em 1727. via Madeira-Guaporé, ligando Belém a Vila Bela, capital da
Já era delineado esgotamento das minas nos anos nova capitania. Portugal, nesse intuito, criou a Companhia
quarenta do século XVIII e confirmada na década seguin- Geral de Comércio do Grão-Pará e Maranhão, que iria pro-
te. Isto fez com que boa parte da população abandonasse mover as trocas com a região guaporeana.
a vila de Cuiabá e a capitania. Outros, porém, passaram à A população, que havia migrado para essa área de
conquista de novas áreas, através de expedições, em bus- fronteira, tinha o ônus da defesa de Mato Grosso. Nas oca-
ca de novas jazidas. Cuiabá seria o posto de apoio dessas siões em que havia ameaça, os homens das camadas
aventuras. mais humildes da sociedade viam como verdadeira desgra-
Essas expedições encontraram outros veios de ouro. ça sua convocação, pois teriam que abandonar suas famí-
Os mais promissores, pelo menos à primeira vista, situa- lias e suas plantações, deixando-as vulneráveis aos ataques
vam-se no vale do rio Guaporé, na bacia amazônica. Apesar de índios. Outros teriam que paralisar suas atividades de
de a região ser considerada de difíceis condições para a mineração, que certamente significaria mais prejuízo para
fixação de povoamento, o fluxo migratório para essas suas parcas possibilidades.
lavras foi intenso, com pessoas vindas principalmente de Na capitania, nem todos os povos indígenas eram con-
Cuiabá, Goiás e das Minas Gerais. siderados inimigos dos portugueses. Muitas vezes tinham
A Coroa portuguesa, preocupando-se com o crescente os espanhóis como seus oponentes, e assim se aliavam aos
êxodo da baixada cuiabana, pois confiava na presença de colonos de origem lusa. Foi graças à paz estabelecida com
colonos para tentar assegurar a posse do vasto território os Guaicuru que os colonos puderam expandir a criação de
conquistado ao reino, resolveu, então, desmembrar as mi- gado bovino pelo pantanal, no fim do século XVIII.
nas dessas novas áreas da capitania de São Paulo. A sede A partir daí foi crescente o número de solicitações de
do governo da nova capitania seria instalada em ponto es- sesmarias para a criação de gado no sul da capitania. No
tratégica, no vale do Guaporé. entanto, a produção de carne não foi suficiente para abas-
A exploração de ouro, desenvolvida com baixo nível tecer a região. A população da capitania iniciou então um
técnico, procurava se utilizar do braço negro escravo, mas comércio internacional, recorrendo ao contrabando com
que por uma série de razões, desde a mortandade, fugas e os colonos espanhóis, fornecendo o principal produto de
alto valor na capitania, fizeram com que os mineiros pro- exportação da região, o ouro, em troca dos derivados de
curassem resolver o problema de mão-de-obra com a es- gado. Outras vezes adquiriam esses produtos dos Guaicuru
cravização do índio. Este, consequentemente, promovia que saqueavam as fazendas dos hispano-americanos68.
guerras constantes contra os colonos. Assim como ocorria

43
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

Com a crise do sistema colonial, os governos de Portu- Segundo Elizabeth Siqueira, assim como muitos portu-
gal e de Espanha deixaram de lado as contendas na raia gueses vinham ao Brasil com a intenção de enriquecer em
de Mato Grosso, na tentativa de superação dos proble- pouco tempo para logo retornar a Portugal, também Ma-
mas internos. A população de Mato Grosso havia consegui- gessi estava no mesmo intento. Para isso, o capitão-general
do defender e ampliar os domínios devassados pelos ban- adquiriu uma fazenda na baixada cuiabana onde passou a
deirantes. Ficaram as povoações, vilas e fortes construídos produzir gêneros alimentícios em larga escala. Sua esposa
nas áreas conquistadas demarcando fronteiras. Apesar da foi testa- de-ferro num contrato que estabelecia a sua fazen-
reduzida população, o território era do império português. da como fornecedora de alimentos para a guarnição militar
de Mato Grosso. No entanto, o período do capitão-general
Devido à mineração em Mato Grosso, estabeleceram-
em MatonbGrosso estava perto de terminar, devido às re-
se, além de comerciantes, cultivadores de cana-de-açúcar,
percussões dos acontecimentos em sua terra natal.
milho, algodão, mandioca, fumo e outros. Com a deca-
dência da mineração essas culturas não declinaram, pelo Das Juntas para a Assembléia
contrário, algumas, como a cana-de-açúcar e a criação de
gado, até prosperaram. Com a notícia da “Revolução Liberal”, em Portugal, veio
Assim, alguns proprietários de fazenda de gado ou a designação de que os capitães-generais devessem jurar a
açúcar e comerciantes abastados, que muitas vezes eram nova constituição portuguesa. Magessi, então, reuniu repre-
também oficiais de milícia ou de tropa de linha, tornaram- sentantes de várias camadas da população de Cuiabá e fez
se o núcleo econômico privilegiado que não deixaria de o ato solene.
influenciar ou tentar influenciar nas diretrizes políticas no Para os grandes proprietários e comerciantes da baixada
Mato Grosso. Estes senhores de cabedais moravam prin- cuiabana, a proximidade do centro das decisões políticas e
cipalmente na baixada cuiabana. Enquanto para Vila Bela, administrativas da capitania representava uma maior possi-
em 1820, havia uma estimativa de que possuía 6.000 ha- bilidade de influência no poder institucionalizado. Contudo,
bitantes aproximadamente, a região central da Capitania havia um descontentamento com o governo de Magessi que
(Cuiabá, Poconé, SantoAntônio do Rio Abaixo, Rosário do se mostrou decisivo com a notícia de que em outras capi-
Rio Acima) estava em torno de 20.000 habitantes. tanias, os capitães-generais estavam sendo depostos. Con-
Dessa maneira, a elite cuiabana reivindicava a trans- ta-se que foi o rico cmerciante Antônio Navarro de Abreu
quem chegou de viagem entusiasmada com as novidades,
ferência da capital para Cuiabá, que por determinação ré-
em 18 de agosto de 1821. Prontamente, os fazendeiros e
gia ganhava foros de cidade, como também Vila Bela, que
negociantes mais ricos da baixada cuiabana se articularam
passava a se chamar cidade de Mato Grosso. Os cuiabanos
com setores da área militar e o clero para a deposição do
argumentavam que sua terra era a principal cidade mato- governante. Dois dias depois “Tropa, Clero, Nobreza e
grossense, com maior população e comércio, enquanto a Povo” consideram Magessi deposto e escolhem uma Junta
cidade de Mato Grosso era acusada de possuir alto índice governativa, tal qual se formavam em várias partes do Brasil.
de mortalidade devido à insalubridade da região guapo- Na verdade, a deposição do capitão-general e a forma-
reana. Reforçavam esse argumento as mortes de autorida- ção de Junta governativa correspondiam aos desígnios das
des no vale do Guaporé. Cortes reunidas em Portugal. Era o movimento vintista im-
Dom Luiz de Melo Pereira e Cáceres, depois de gover- buído de um sentido liberal, pois queriam que o monarca
nar por mais de 6 anos, morreu de febre, em 1796. Um de jurasse uma Constituição que estava sendo gestada. Era a
seus sucessores, Manoel de Abreu e Menezes, pediu à Me- defesa do fim do Antigo Regime, em que a sociedade deve-
trópole a transferência da capital para Cuiabá, em 1804. O ria se fazer representada, assim como os direitos do cidadão,
pedido não foi aceito e Abreu e Menezes também morreu da liberdade de expressão, de imprensa, de associações e
de sezões no ano seguinte, em Vila Bela. O capitão-general de reuniões. Várias regiões do Brasil aderiram prontamente
que o sucedeu, João d’Oeynhausen e Gravenberg, não con- ao chamado das Cortes seduzidas pela sua pregação liberal
seguiu transferir a capital, mas mudou vários órgãos admi- e constitucional. Contudo, os deputados portugueses es-
nistrativos para a baixada e passou a governar de lá, até o tavam mais preocupados com a regeneração de Portugal,
o que logo veio a tornar incompatíveis as pretensões por-
fim de sua administração em 1819.
tuguesas com os anseios dos representantes da colônia na
Em seguida foi nomeado Francisco de Paula Mages-
América.
si, que começou governando em Cuiabá. De acordo com
Em uma de suas medidas, as Cortes decidiram acabar
vários pesquisadores, Magessi, ao contrário de seus ante- com as capitanias nas colônias, passando a formar pro-
cessores, era bastante impopular. O pagamento de soldos víncias, onde os homens locais as governariam através de
de oficiais militares e o salário dos funcionários públicos “Juntas”. Assim, tentavam uma relação direta das localidades
chegaram a atrasar muitos meses. Para resolver a situa- com Portugal, dispensando a interferência do Rio de Janeiro
ção de penúria dos cofres, o capitão-general aumentou os nos negócios públicos, que havia crescido constantemente
impostos e passou a cobrar novas taxas, trazendo grande desde quando a Corte havia se instalado no Brasil, em 1808.
descontentamento para os moradores da capitania. Contudo, ao contrário dessas diretrizes emanadas das Cor-
tes portuguesas, os colonos acabaram por se fazer represen-
tar por D. Pedro frente a Portugal, diante da intransigência
das Cortes em aceitar a autonomia das províncias brasileiras.

44
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

Em Cuiabá, ainda correspondendo às medidas das Cor- No entanto, com a morte do presidente da Junta, D.
tes, fizeram parte da Junta governativa os representantes Castro Pereira, foram convocadas novas eleições para com-
da pequena elite política de Cuiabá, com a provisória au- por o governo. O presidente da nova junta, formada em
sência de Antônio Corrêa da Costa e de Poupino Caldas. agosto de 1822, era Antônio José de Carvalho Chaves, ou-
Dessa maneira estava coligação como representante do vidor da província, cuja presença reforçava Cuiabá como
clero: D. Luiz de Castro Pereira, Bispo de Cuiabá; o vigário sede de Mato Grosso. Foi eleito novamente para o gover-
Geral de Cuiabá, Agostinho Luiz Goulart Pereira e o padre no Jerônimo Joaquim Nunes, Joaquim Gaudie Ley, Antônio
José da Silva Guimarães. A presença do clero era funda- Navarro de Abreu e Félix Merme. Além desses, passaram a
mental numa população marcada pelo catolicismo. A no-
compor a cúpula política/administrativa Antônio Corrêa da
breza era representada pelo proprietário Jerônimo Joa-
Costa e Poupino Caldas.
quim Nunes e pelo negociante e também proprietário
Quando parecia ter-se consolidado a posição de Cuia-
André Gaudie Ley81 . A tropa era encabeçada pelo capitão
Luiz D’Alincourt, seguido pelo capitão Félix Merme e pelo bá como capital da província, D. Pedro determinou que o
tenente-coronel Antônio Navarro de Abreu. Eles represen- presidente da Junta fosse exercer suas funções na cidade
tavam o descontentamento do oficialato com o governo. de Mato Grosso. Prontamente foi organizado um abaixo
Juntos com Jerônimo Joaquim Nunes conseguiram a ade- -assinado e enviado ao príncipe regente pedindo que re-
são (ou a não reação) das milícias e das tropas de linha. O considerasse sua última determinação. Antes de obterem
capitão João José Guimarães e Silva, funcionário do fisco da a resposta, chegou em Cuiabá, a 5 de janeiro de 1823, a
antiga capitania, era o representante do povo. notícia do rompimento com as Cortes de Portugal. Prova-
As primeiras medidas para consolidar o novo governo, velmente houve festa de comemoração que simbolizava a
além das iniciativas relacionadas aos comandos militares, adesão ao novo imperador, como aconteceu em várias vilas
foram garantir a saída da província do capitão- general, do Brasil88 . Nenhum povoado da província se mostrou re-
assegurando-lhe a sua integridade física, e comunicar aos lutante ao novo estatuto político da ex-colônia, como ocor-
principais povoados de Mato Grosso a instalação de outra reu em alguns lugares.
administração. Com a notícia do rompimento, foi enviado em seguida
Ao receber a notícia da deposição de Magessi, os po- um representante de Cuiabá para demonstrar adesão ao
líticos da região do Guaporé não discordaram da retirada príncipe regente. Os homens públicos da baixada cuiabana
do capitão-general. Contudo, não reconheceram a “Junta
não se deram por vencidos e continuaram rogando para
Governativa” instalada em Cuiabá. Via-se como a legítima
si o direito de ser capital de fato e de direito. O mesmo
capital. Em atitude de franca contestação criou sua própria
enviado que demonstraria adesão também procuraria con-
Junta, presidida pelo vigário Antônio de Assunção Batista.
A cidade de Mato Grosso sabia da força política de vencer as autoridades da pertinência de Cuiabá ser a sede
Cuiabá naquele momento. Era aí onde os últimos capitães- administrativa e política da capitania.
generais escolheram para morar e governar. A elite políti- Com a convocação da constituinte, as câmaras de Cuia-
ca da baixada era composta por pessoas economicamente bá, Diamantino e Poconé (essas, além da cidade de Mato
fortes na província. Frente a este poder de Cuiabá, Vila Bela Grosso, eram as únicas vilas e cidades, ou seja, povoações
procurou ganhar a adesão de forças populares com me- que possuíam câmaras) desafiaram a lei e mandaram um
didas consideradas extremadas: estabeleceram a abolição deputa do como representante de Mato Grosso. Era Na-
da escravatura em toda a Capitania; e mais, seria extinta a varro de Abreu, já acostumado com as viagens para o Rio,
fidelidade conjugal, assim como a castidade das donzelas devido ao seu ofício de comerciante.
deixaria de ser obrigatória. A cidade do vale do Guaporé, por sua vez, elegeu Luiz
Desta forma, pretendiam minar algumas das bases em Thomaz Navarros de Campos, dois meses depois da esco-
que se sustentavam os senhores de cabedal, quais sejam; lha de Navarro de Abreu. O representante desta cidade era
a moral e a propriedade sobre as pessoas . Não se tem um funcionário do fisco e residente do Rio de Janeiro.
notícia se tais medidas surtiram algum efeito direto, tais Chegando ao Rio, Navarro de Abreu foi impedido de
como manifestações de apoio à cidade de Mato Grosso tomar assento na Câmara dos Deputados. Os constituintes
por populares ou sublevações. O espaço da disputa
alegavam que ele não representava a província. Depois de
política recebido mercês de alguma ordem, como cavaleiro
negociação ficou acordado que ele participaria da Consti-
de Avis, por exemplo. No império a nobreza será inequívo-
tuinte contanto que houvesse também um representante
ca. Do quadro nobiliárquico somente os titulares do impé-
rio, como barão, visconde, conde, marquês e duque, e não da cidade de Mato Grosso. Quando o deputado eleito do
mais condecorados com títulos de ordem. Ver “Como ser vale do Guaporé se preparava para assumir os trabalhos
nobre no Brasil” in SCHWARCZ, Lilia M. As barbas do Impe- constituintes, a assembléia foi dissolvida.
rador. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. Enquanto isso, a Corte procurava resolver o problema
A cidade de Mato Grosso ficou isolada politicamente. da dubiedade de governo em Mato Grosso. Ordenou que
Além do mais, foram dificultadas, fisicamente, as comuni- iria existir somente uma junta governativa, com sete mem-
cações que se fizessem por Cuiabá, vedando a via fluvial bros, e que se procedessem as eleições para esse fim. Tam-
para barcos que se destinassem ou proviessem do Guaporé. bém confirmava a cidade de Mato Grosso como a sede do
Para chegarem ao litoral teriam que seguir pelos rios do governo 91.
Pará, cujas linhas de comércio estavam desativadas 86.

45
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

O presidente dessa nova junta (que passava a se chamar Entretanto, um presidente de província outsider não
Governo Provisório) foi Manuel Alves da Cunha, um cônego pôde tirar a província de Mato Grosso da penúria orçamen-
de Poconé. Cuiabá conseguiu somente dois representantes, tária. Ao final da série de juntas governativas o déficit com
o tenente-coronel Félix Merme e Poupino Caldas. Os ou- os salários do funcionalismo público e os soldos chegava ao
tros quatro eram moradores da antiga Vila Bela. Em atitude montante de 800 contos (a receita da província era entre 30
de contestação, Poupino Caldas e Félix Merme se recusa- e 40 contos anuais). Os salários somente eram resgatados
ram a tomar posse de seus cargos no governo instalado no com um desconto que chegava a 95% do valor. Segundo Vir-
Guaporé, que começou a funcionar mesmo sem os mem- gílio Corrêa, coube ao governo de Saturnino somente a aus-
bros ausentes. O tenente-coronel Jerônimo Joaquim Nunes teridade. A companhia de mineração, por exemplo, criada
acabou por ir no lugar de Poupino, em comum acordo entre na época de Oyenhausen para tentar reverter o abatimento
ambos. que passava a extração de minérios, foi definitivamente fe-
O presidente do Governo Provisório, no entanto, fre- chada, depois de comprovada ser mais dispendiosa do que
quentemente expedia ofício à Corte pedindo que enviassem lucrativa. No entanto, demonstrando estar antenado com a
para Mato Grosso um governante que não fosse da provín- ciência em voga, Saturnino encomendou um quadro classi-
cia. Depois de pouco mais de dois anos, em setembro de ficatório de Lineu, para catalogar as plantas da ainda muito
1825, é dissolvida a “Junta mista”, com a chegada em Mato desconhecida natureza dessa parte do império. Nesse mes-
Grosso do primeiro presidente de província, o tenente-coro- mo intento, procurou criar um jardim botânico. Deixou para
nel José Saturnino da Costa Pereira. cuidar das obras e fazer a manutenção do jardim botânico o
Desde a queda de Magessi, o último representante do médico Patrício da Silva Manso. Tal lugar não se concretizou,
antigo Estado colonial, em agosto de 1821, Mato Grosso foi mas Patrício da Silva Manso logo se tornaria um dos líderes
governado somente por elementos escolhidos dentro das da política em Mato Grosso.
próprias elites locais. O governo imperial, sediado no Rio de Saturnino deixou o cargo em 1827, depois de dois anos
Janeiro, no entanto, não chegava a ser considerado alheio e 8 meses de governo, para assumir uma cadeira no senado,
às disputas na região. Mesmo havendo largo espaço para sendo o primeiro representante de Mato Grosso na Câmara
as ações locais, as determinações do centro político do
Alta. Jerônimo Joaquim Nunes o substitui como era previsto.
novo iImpério não eram inteiramente negligenciadas, pelo
De acordo com as normas do conselho, Joaquim Nunes ter-
menos formalmente.
minou seu mandato em 31 de dezembro de 183098 . Se o
A escolha da capital de Mato Grosso - o exemplo maior
fazer política era principalmente ocupar cargos na adminis-
de disputas e de tomada de decisões das elites mato-gros-
tração e preencher os cargos eletivos, a política estava cada
senses - acabava por necessitar, acima de tudo, do reconhe-
vez mais restrita aos homens públicos da baixada cuiabana.
cimento do Rio de Janeiro. Por sua vez, a Corte, tentando
André Gaudie Ley era o conselheiro mais votado, e assim de-
afirmar sua soberania frente ao exterior, ao mesmo tempo
em que passava pelo processo de montagem de um Estado veria substituir Joaquim Nunes, em novo mandato, como de
e de uma burocracia que deveria se espalhar por fato aconteceu. A posse de Gaudie Ley era a sedimentação
todo o território, do estabelecimento de direções para o da idéia de que a política deveria ser exercida não somente
novo país, não se aventurava a desagradar frontalmente um por pessoas de posse, pelos cidadãos ativos , mas também
dos grupos políticos da fronteira do Império. No entanto, pelos moradores da cidade considerada como a principal da
um dos dois lugares haveria de ser a capital. Se legalmente província.
era a cidade de Mato Grosso, os argumentos em favor de O bispado de Mato Grosso, criado em 1826, também se
Cuiabá acabaram por ter maior peso para a decisão do novo transferira da antiga Vila Bela para Cuiabá, em 1833, por in-
governo da província ser sediado na baixada. termédio do novo bispo Dom José Antônio dos Reis. Já esta-
O novo presidente de província, José da Costa Saturni- vam em Cuiabá, portanto, as principais instituições públicas.
no, escolheu gove rnar o Mato Grosso a partir de Cuiabá. Tal Segundo Virgílio Corrêa, Gaudie Ley era de “espírito
decisão já havia sido tomada quando ainda estava no Rio de conservador”, mantinha-se fiel ao imperador e não comun-
Janeiro, e era uma condição estabelecida pelo próprio gava com as idéias liberais como as de Evaristo da Veiga, do
Saturnino para governar . A contestação da antiga Vila Bela, Rio, de Bernardo Pereira de Vasconcelos , de Minas, ou de
no momento da posse de Saturnino, se re stringiu em não Feijó, de São Paulo 100. Com a abdicação de D. Pedro I, e as-
mandar comitiva para recebê- lo. Contudo, Manuel Alves da sumindo um governo regencial de tendência liberal, Gaudie
Cunha foi a Cuiabá passar o cargo para o novo governante. Ley foi logo substituído por determinação do governo
Os guaporeanos prosseguiram reivindicando sua lo- central. O seu substituto foi Antônio Corrêa da Costa, desig-
calidade para voltar a ser a capital de fato. Fizeram peti- nado como presidente de província.
ções que enviaram para a Câmara dos Deputados e para o Entretanto, Antônio Corrêa da Costa não se mostrava
Ministério do Império, mas que não lograram êxito. Tentati- defensor de nenhuma das facções liberais em voga no Rio
vas de revolta armada não passaram de ameaça. A elite de Janeiro, Minas e São Paulo. Era um político provin-
cuiabana contava com o apoio do novo governante. Pro- ciano preocupado em resolver os problemas imediatos no
curando sedimentar as posições dos cuiabanos, foi esco- âmbito de sua província, como a falta de numerário. Pode-
lhido para presidente do conselho da província Jerônimo se dizer que não existia na província uma notória pes-
Joaquim Nunes. Na ocasião em que o governante deixasse soa liga da aos grupos que assumiram a Regência. Antônio
Mato Grosso, quem assumiria o governo, na qualidade Corrêa da Costa, a princípio, mesmo não sendo um “liberal”,
de vice-presidente, seria o presidente do conselho. como os que atuavam na Corte, não seria um agitador ou

46
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

um intransigente defensor de D. Pedro. Como sugere Joa- em Cuiabá, muitos soldados se aglomeraram em frente ao
quim Nabuco, o principal trabalho dos líderes liberais nos prédio onde o conselho de governo se reunia e exigiram a
primeiros anos da regência, como Diogo Feijó, Pereira saída dos portugueses dos cargos de governo, principal-
de Vasconcelos e Evaristo da Veiga, não era exatamente o mente do comando de armas, que estava sob a chefia de
que eles fizeram pelo liberalismo, a grande reputação deles Joaquim Nunes. É nesse momento que começa a ficar clar a
foi “a resistência que opuseram à anarquia”. A glória de “Fei- a divisão dentro da elite política cuiabana; Poupino Caldas
jó é ter firmado a supremacia do governo civil; a de Evaristo deixou o recinto onde estava reunido o Conselho para ou-
é ter salvado o princípio monárquico; a de Vasconcelos é ter vir as queixas das tropas. Ao retornar anunciou que além
reconstruído a autoridade.” Dessa forma, o nome de Corrêa da retirada dos lusitanos, queriam que ele assumisse o co-
da Costa para presidir a província era antes apostar em uma mando de armas. Joaquim Nunes aceita e se retira do co-
pessoa moderada, proprietária de nascimento, com espaço mando. Poupino é festejado pela soldadesca como o novo
político considerável desde o tempo de colônia, do que comandante de armas. Outros portugueses de nascimento
em qualquer pessoa que houvesse lutado obstinadamente também se retiram dos seus cargos debaixo da pressão.
contra o jugo português e o Império de D. Pedro I, que esti- Ora, do principal grupo político cuiabano que nos re-
vesse abrindo espaço político com os novos acontecimentos. ferimos anteriormente, somente Joaquim Nunes era portu-
O que não seria o caso de Gaudie ley. O vice -presidente guês de nascimento, mas na ocasião em que era coman-
que governava anteriormente, não representava uma pessoa dante de armas, já passara a maior parte de sua vida em
que se opusesse a Corrêa da Costa. Pelo contrário, estavam
Mato Grosso, onde era conhecido como “devassador dos
do mesmo lado nas diversas mudanças e disputas políticas.
sertões”105. O número de portugueses, segundo uma
Contudo, era interessante para a Regência trocar de gover-
estimativa de Leverger, não era grande, passando de pou-
nante na província, o que demonstraria, no mínimo, que ela
co mais de uma centena e meia em toda a província. Com a
estava em seus cálculos.
decadência da mineração, já no século XVIII, a maior parte
Além do mais, a troca de governante em Mato Grosso,
deles se retirou da antiga capitania. No entanto, a maioria
demonstraria que a Regência governava. Sendo tal substi-
dos portugueses no tempo inicial de província era ligada
tuição respeitada, seja por pessoas aliadas ou não do novo
à atividade mercantil, e vários deles ocupavam cargos na
presidente, representava, no mínimo, que a distante e
fronteiriça província continuava fazendo parte do Império burocracia de Mato Grosso, principalmente no segundo es-
num momento em que havia acentuada mudança de rumos calão, desde os tempos coloniais.
no novo país. O governo regencial, ao saber da deposição dos ado-
Não obstante, os principais representantes da elite po- tivos de seus cargos, ordeno u que eles voltassem aos
lítica cuiabana, tendo vencido aquerela contra a cidade de seus antigos postos, mas que isso acontecesse com a
Mato Grosso, logo passariam a se dividir, formando dois maior prudência possível, para que não inflamasse os espí-
grupos antagônicos, que almejavam o controle político da ritos contestadores. A volta aos cargos se deu sem nenhum
província. incidente imediato.
Mas, alguns meses depois, em 1832, os soldados se re-
Cisão intra -elite belaram no forte do Príncipe da Beira, e também em outros
dois comandos da província, depondo seus comandantes.
Foi na época da Regência que a elite política de Cuia- Depois do presidente destacar duas companhias da
bá passaria a ser questionada e seria contundentemente recém-criada Guarda Nacional, as revoltas foram contidas.
fraturada. Se se acentuava por várias partes do Brasil um Como medida de segurança, Corrêa da Costa passou a ficar
xenofobismo, que vinha desde a independência, sob escolta da Guarda Nacional. O presidente de provín-
fundamentado na oposição aos portugueses, em Mato cia também criou uma guarda municipal composta de 60
Grosso também floresceu um sentimento de hostilida- homens para tentar neutralizar qualquer tentativa de
de aos “adotivos” (como eram chamados os portugueses derrubada de governo .
que moravam no Brasil). Nessa disputa, a figura do militar, Corrêa da Costa acabou por se retirar, por motivo
comerciante e membro do Conselho de Governo Poupino de saúde, da presidência da província, em abril de 1833.
Caldas impõe sua liderança como chefe de uma facção po- Assume, então, o presidente do Conselho André Gaudie
lítica, se opondo ao antigo grupo do qual antes fazia parte. Ley. Mas as hostilidades contra os portugueses
Aproveitou-se das insatisfações populares e tornou-se um continuam, assumindo inclusive forma institucional. É
dos cabeças do movimento anti- lusitano e anti-governo criada a “Sociedade dos Zelosos da Independência” de
provincial. Mato Grosso. Assim dizia o primeiro e principal artigo do
Virgílio Corrêa e Seckinger afirmam que o primeiro si- estatuto dos zelosos:
nal de rivalidade contra os portugueses partiu da antiga Art. 1º O fim desta Sociedade é procurar ligar pelos
capital, a cidade de Mato Grosso, em 1831, quando mais estreitos laços os verdadeiros Brasileiros, habitantes
endereçaram uma carta ao presidente Antônio Corrêa da da Província de Matto- Grosso, por meio da instrução nos
Costa exigindo a retirada dos cargos públicos de todos os seus deveres; o de mutua coadjuvação para segurar a
nascidos em Portugal. Corrêa da Costa engavetou o pe- Independência do Brasil, e fazer resistência legal à tira-
dido. Mas a soldadesca começou a relacionar o atraso dos nia onde quer que esta se achar.
salários e as más condições de vida aos lusitanos. Assim,

47
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

Essa sociedade se espelhava em várias outras que esta- Os zelosos também obtiveram três dos quatro comandos
vam sendo criadas pelo país, como a Sociedade dos Zelo- de batalhões da Guarda Nacional. Contudo, a presidência ain-
sos da Independência Nacional fundada no Rio de Janeiro, da estava em mãos dos partidários da Sociedade Filantrôpica,
e a maior de todas, Sociedade Defensora da Liberdade ou seja, da antiga elite, cujos membros, fossem eles nascidos
e da Independência Nacional, também do Rio de Janei- em Portugal ou no Brasil, eram chamados de caramurus e
ro. Essas sociedades, como o próprio nome sugere, tinham constantemente insultados em pasquins.
por objetivo principal resguardar a separação de Portugal Continuavam os protestos direcionados especialmente
e afastar o fantasma da restauração, possível ainda, para os aos portugueses que ainda faziam parte tanto da administra-
zelosos e defensores, através do retorno de D. Pedro I. ção pública quanto do oficialato militar.
Em Mato Grosso, a Sociedade dos Zelosos preconizava Poupino, em reunião do Conselho de Governo, fez a pro-
antes de tudo a derrubada do governo da província. O alvo posta de que tod os os portugueses fossem exilados, e que
não era exatamente os portugueses. Ora, desde os tempos deixassem seu dinheiro na província. Em seguida, no dia 4 de
coloniais eram as mesmas pessoas de Mato Grosso que maio de 1834, ele reuniu mais de 200 pessoas na praça prin-
ocupavam os principais cargos políticos, e eram elas as que cipal para protestar contra os cargos ocupados por adotivos,
tinham as melhores oportunidades de comércio além de notadamente o de procurador fiscal, ocupado pelo português
serem as detentores da maior parte das terras valorizadas. José Joaquim Vaz de Guimarães. O governo da província não
O ódio aos portugueses, então, também recaia nos brasi- cedeu.
leiros que compunham a elite política cuiabana. Poupino, Logo, porém, chegou a notícia para o governo de que ha-
desde 1831, quando assumiu o comando das armas por veria uma grande rebelião comandada pelos zelosos para por
clamor dos soldados, começou a se posicionar francamente fim de vez aos portugueses na província. Ao mesmo tempo,
contra a elite da qual fazia parte. O Pompeu Cuibano112 , percorria pelo Mato Grosso um boato de que não seria crime
antes de tudo, se mostrava anti-português, e assim procu- o matar e roubar por dois meses, segundo ordem regencial.
rava ser o líder dos que hostilizavam o governo provincial. Seja como for, a data do levante tinha dia marcado, seria
Contudo, não foi Poupino quem idealizou a Sociedade 30 de maio. O presidente Corrêa da Costa junto com o conse-
lho de governo resolveram fazer uma manobra para neutrali-
dos Zelosos. Na verdade ela abrigava em sua maio ria
zar o ataque. Passaram o comando da província para Poupino
pessoas do extrato médio e alto que se viam excluídos do
Caldas, na qualidade de 2º vice-presidente, quando faltavam
principal grupo político na província. Entre seus membros
apenas 2 dias para a data da rebelião.
havia o juiz de fora, na ocasião, e depois juiz de direito, Pas-
Mas tal medida não surtiu o efeito esperado. O governo
coal Domingues de Miranda; o tenente-coronel da Guarda
fez a proposta de um mês para que os portugueses saíssem
Nacional Caetano da Silva Albuquerque, que também já
de Mato Grosso. Os insurretos disseram que seriam apenas
havia sido eleito juiz de paz; Caetano Xavier da Silva Perei-
24 horas, apesar de Poupino ser o governante. No dia 30 de
ra, comerciante e sargento-mor da Guarda Nacional; Brás maio, o dia marcado, e 24 horas depois do prazo dado, es-
Pereira Mendes, professor de lógica e comerciante; Eu- tavam reunidos na praça principal muitos guardas nacio-
sébio de Brito, professor de primeiras letras e ajudante nais, militares e populares. Os saques explodiram pela capital.
da guarda nacional; e José Alves Ribeiro, fazendeiro Poupino nomeia para os postos de comando os cabeças
e comerciante de Poconé. Poupino era o vice-presidente, do levante, ou seja, os principais membros dos zelosos. Em
mas o presidente e idealizador da sociedade era Patrício seguida são expedidas guarnições para vários pontos da pro-
da Silva Manso. víncia, como Serra Acima, Rio Baixo e Diamantino. Essas ex-
Manso era mulato, nascido em Santos, no ano de 1788. pedições conseguem alcançar vários portugueses que foram
Se habilitou como cirurgião em São Paulo e chegou a Cuia- mortos em seguida. Suas esposas e filhas foram violentadas
bá em 1822. Foi enviado ao Mato Grosso como major- ci- e os corpos dos portugueses proibidos de serem enterrados.
rurgião. Rivalizava com Poupino na popularidade. As orelhas foram cortadas e levadas para Cuiabá como tro-
Em oposição à sociedade presidida por Manso, féus. Joaquim José Vaz de Guimarães, depois de morto, teve
foi criada pelos tradicionais detentores do poder a os dois olhos perfurados com bastões.
“Sociedade Filantrópica de Mato Grosso”, congregando Segundo Seckinger, Poupino, por escolha ou por coerção,
os portugueses da província, mas encabeçada por Antônio cooperou completamente com os nativistas. Além de expedir
Corrêa da Costa. Em meio a temores de sublevações, Cor- tropas para caçar os portugueses, também instruiu as autori-
rêa da Costa volta ao cargo de presidente de província e dades judiciais para confiscar a propriedade de todos aqueles
tenta estabelecer diálogos apaziguadores com os líderes que fugiram. No final do mês de agosto, porém, comandou
dos zelosos. uma tropa, junto com José Alves Ribeiro, ex-zeloso, para acal-
No entanto, o grupo de Manso e Poupino prosseguia mar os ânimos em Diamantino. Um mês depois chegava um
firmando o antagonismo à antiga nata política e conse- novo presidente de província, o coronel Antônio Pedro de
guindo postos significativos. Os zelosos conseguiram ele- Alencastro, designado pela Corte.
ger a maioria da câmara de Cuiabá, em 1833. Também ele- O resultado imediato do movimento de “30 de maio”,
geram Manso o representante de Mato Grosso na Câmara (que ficou sendo chamado posteriormente de Rusga), foram
Geral na Corte. A eleição deste foi contestada, alegaram assassinados 44 portugues es e três brasileiros 124. Muitas
fraude na apuração, até que em fevereiro de 1834, ele foi propriedades foram destruídas e várias famílias seviciadas
declarado vencedor pela Regência. Seguiu imediatamente . Além disso, a antiga nata política parecia que não voltaria
para a Corte. mais para suas atividades na província.

48
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

Depois da Rusga, os representantes da pequena elite Nesse sentido, Poupino Caldas escreveu para o minis-
cuiabana, que vinha atuando politicamente desde os anos tro dos negócios do império, Antônio Pinto Chinchorro da
20, seguem destinos diferentes. Navarro de Abreu havia Gama, demonstrando não somente adesão à regência mas
morrido ainda na década de 1820. Corrêa da Costa, André também procurando indicar quais seriam os responsá-
Gaudie Ley e Joaquim Nunes fugiram de Cuiabá antes do veis pela “anarquia” acontecida a alguns dias atrás:
desencadeamento das agressões, no dia 30 de maio. O cô- Depois dos acontecimentos que tiveram lugar na noite
nego Silva Guimarães se absteve das disputas políticas de 30 de maio (...) não tem havido alteração alguma nesta
nos momentos mais conflituosos. Poupino era o úni- província, por se ter evadido dela todos os adotivos dissi-
co remanescente dos principais antigos políticos, nos dentes da ordem, por isso que achando-se já tranquilo os
meses que se seguiram ao “30 de maio”, pois conseguiu, ânimos, unicamente anseiam pela chegada do presidente
momentaneamente, com que os seus rivais se afastassem despachado, que se supõe estar já em Goiás.
tanto do comércio quanto da política exercida na baixada Poupino Caldas, portanto, representava para a Corte a
cuiabana. Uma nova situação política começa a ser delinea- versão de que os adotivos eram os “dissidentes da ordem”,
da. Agora o discurso da ordem toma maior relevo ainda e e graças à saída desses da província, a região não estava
passa a direcionar quase que exclusivamente as ações go- em rusgas.
vernamentais. O governo regencial já havia designado novo gover-
nante para a província, antes mesmo de Poupino Caldas
O princípio da ordem assumir. Em treze anos, desde o último representante
do governo português, apenas um governante o tenente-
Se em várias partes do novo país os governos provin- coronel José Saturnino havia sido de outro lugar que não
ciais e central eram desafiados por forças locais, a fron- do próprio Mato Grosso. As elites locais, de certa maneira,
teira oeste do Império também demonstrava o seu eram acostumadas a resolver boa parte de seus problemas
potencial explosivo que poderia ameaçar a integridade do na sua própria terra. Contudo, isso não significava de forma
país que se formava. nenhuma uma independência ao governo central.
No entanto, depois que os portugueses e os mem-
O novo governante, o Coronel Antônio Pedro de Alen-
bros da antiga elite com a exceção clara de Poupino
castro, que assumiu o cargo em 29 de setembro de 1834,
Caldas, que tomou as rédeas da província foram afastados
também formulou sua descrição de quem seriam os dissi-
à força dos principais cargos públicos, assim como de suas
dentes da ordem, e os que comungavam com ela.
atividades econômicas, mesmo que momentaneamente, a
Tem-se [a província] conservada em grande sossego,
atitude do novo governo provincial foi de transigência com
prometendo duradoira tranquilidade, por existir em lugar
o poder central. O ex- líder dos zelosos procurou equili-
de três partidos, unicamente o dos moderados, obedien-
brar-se na delicada situação, do pós-30 de maio, com o
apoio de um novo presidente de província. tes a Lei, ao Governo e às autoridades legitimamente cons-
Poupino Caldas, procurando demonstrar que governa- tituídas.
va a província nos princípios da ordem - o que significava Na visão de Alencastro, as facções políticas em Mato
sobretudo não desafiar o governo central, assim como não Grosso tinham analogia com as das partes proeminentes
comungar com insurretos -, comandou uma excursão do império. Ou seja, além dos moderados, existiam tam-
à vila de Diamantino, prendeu 14 participantes do “30 de bém os restauradores e os exaltados. Como Poupino,
maio” e suspendeu o comandante das armas, o coronel percebia que os adotivos, normalmente agrupados como
Joaquim José de Almeida. Dessa forma, escreveu ao Minis- restauradores, eram provocadores da desordem. Mas era
tério do Império contando seus feitos como governante e notório que os portugueses, e os que os apoiavam e os
participava que a província estava tranquila, graças às suas defendiam, eram os que foram perseguidos, saqueados,
medidas. expulsos ou mortos. Mas seriam causadores da desordem
Não obstante, expressava votos de adesão à Regên- na medida em que fossem possíveis restauradores, ou seja,
cia e à monarquia . O que soava estranho, contudo, era que fossem desejosos do retorno de Pedro I para governar
o vice-presidente em exercício, Poupino, ter sido um dos no lugar da regência. Mas, certamente, foram desordei-
líderes na campanha contra os portugueses, e agora pro- ros principalmente por ainda ocuparem posições chaves
curava transparecer subordinação ao governo central e à na província.
lei estabelecida. Da mesma maneira, o governante procurava diferen-
Após a abdicação de Pedro I, a regência imprime ênfa- ciar entre os que lhe hipotecaram apoio e os que ainda
se no poder legislativo, e se dispõe a promover reformas na poderiam se rebelar. Assim estavam apartadas as pessoas
constituição de 1824. Contudo, tais tendências liberais pre- que antes estavam juntas na perseguição aos portugueses
viam a necessidade de ordem, tanto para garantir a unida- e às antigas lideranças. Eram separadas, classificadas, umas
de do novo país, quanto para restringir a possibilidade de de exaltadas, e moderadas outras.
ascensão de camadas que desde os tempos coloniais eram De fato, quando o presidente de província Alencastro
alijadas de qualquer participação política e administrativa. chegou em Mato Grosso, contou com a pronta sustentação
Era a direção da ordem que se apresentava fundamental de Poulpino Caldas. Ora, Poupino, além de se apresentar
num momento em que cresceram no império “em número como a força vencedora da última contenda e por isso ainda
as insurreições negras, as disputas pelas terras, os levantes tinha vários seguidores armados – já havia demonstrado pro-
urbanos, a insubordinação da tropa e as diversas rebeliões.” curar refrear os insurretos, como fez em Diamantino.

49
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

Assim, era importante para um designado da Corte ter Para o comando das armas, contudo, Alencastro escolheu
apoio dos locais, como foi Poupino, mesmo que esse fosse o coronel José Joaquim de Almeida. O coronel havia se re-
pessoa suspeita de ter promovido fatídicas desordens. Por conciliado com Poupino Caldas e acabou sendo um dos que
outro lado, o presidente de província representava o apoiavam Alencastro.
poder imperial. Era delegado da regência. Poupino, então, Em outubro de 1834, depois de saber que os antigos
ao demonstrar adesão ao novo governante que o sucedia, zelosos estavam tramando nova insurreição, Alencastro se
também poderia conquistar apoio das autoridades legi- moveu efetivamente contra eles. Os principais conspiradores,
timamente constituídas . Assim, possivelmente, também Pascoal Domingues de Miranda, José Alves Ribeiro, Ben-
percebia essa aliança como o caminho mais seguro depois to Franco de Camargo, Braz Pereira Mendes e José Jacinto
da aventura contra a antiga elite e os adotivos. de Carvalho foram presos e mandados para o Rio de Janeiro.
Pessoas ligadas aos portugueses mortos ou molesta- Caetano Xavier da Silva Pereira e Caetano da Silva Albuquer-
dos que ainda permaneciam na província, assim como os que conseguiram escapar. Todos esses, e ainda Patrício da Sil-
va Manso que estava em sua deputação na Corte foram acu-
insurretos que, depois de liderados por Poupino, foram ali-
sados formalmente por terem liderado a rebelião de “30 de
jados ou mesmo sofreram repressão, transformaram-se
maio”. Enquanto isso, outras pessoas, de menor expressão
em vingadores em potencial. Poupino Caldas era um
na província, mas que participaram da rebelião eram presas e
alvo certo, principalmente depois de ter denunciado ao
processadas em Cuiabá. Contudo, dos líderes enviados para o
presidente seus antigos companheiros da Sociedade dos Rio de Janeiro, assim como Silva Manso, nenhum chegou a
Zelosos, como os promotores dos assassinatos do dia 30 cumprir pena.
de maio. Assim, cabia ao ex-líder dos zelosos e seus Manso, depois que terminou seu mandato, foi morar em
camaradas o papel de moderados, aos olhos do presiden- São Paulo e não mais retornou para Mato Grosso.140 Algo
te. E aos demais que desafiaram o governo, havia o lugar semelhante também aconteceu com Domingues de Miran-
de exaltados. da. Depois de solto no Rio de Janeiro, estabeleceu residência
Dessa maneira, o vice-presidente Poupino Caldas e em Minas Gerais. Não se tem notícia de que retornara. Al-
alguns de seus seguidores passaram a morar no quartel guns anos depois do “30 de maio”, o presidente de província
da cidade, como medida de segurança, pois havia a notícia Pimenta Bueno expediu ofício ao presidente da província de
de que “os malvados sediciosos” estavam nos arredores de Minas avisando que os vencimentos de juiz de direito, cargo
Cuiabá. Mas mesmo dentro da cidade, pessoas que com- que Domingues de Miranda ocupava em Mato Grosso, esta-
punham os corpos armados apresentavam um potencial vam suspensos. O presidente, inclusive, estava providencian-
para participar de rebeliões, ou ao menos para se abster do o cancelamento definitivo da nomeação de Domingues de
de reprimir qualquer desordem. A Guarda Nacional, mes- Miranda como juiz de direito na província. Para isso, se funda-
mo contendo “alguns elementos probos”, foi dissolvida por mentava no não exercício do cargo sem o pedido de licença.
tempo indeterminado. Dos 4 batalhões, o único que conti- Outros retomaram a Mato Grosso como José Alves
nuou a funcionar foi o da “Cidade de Mato Grosso, que não Ribeiro, José Jacinto de Carvalho e Caetano Xavier da Silva
teve parte no alarma e sedição no 30 de maio. Pereira. José Alves Ribeiro e José Jacinto de Carvalho estavam
Para Alencastro, a Guarda Nacional fora criada para em Mato Grosso, um ano depois de serem libertos. A
feitos de “valor e de fidelidade” à “Nação e às Instituições presença deles causou enorme preocupação a Alencastro que
que ela reconhecera”, mas que em Mato Grosso, “pelo con- os queria debaixo do maior cuidado possível, pois eram “ho-
trário, quase a maioria dos guardas nacionais, desde a sua mens inteiramente perigosos acerca dos quais dev[ria] haver
organização, procederam sempre com apatia, e foram os o mais escrupuloso cuidado na indagação de sua existência
nesta cidade e de seus distritos, e em todos os mais da Provín-
agressores dos mais horrorosos crimes e atentados que se
cia, para que [fossem] descobertos e presos . Somente depois
tem visto aparecer e perpetrar em nossos dias.”
que Alencastro foi removido da província, foi quando os
antigos “rusguentos conseguiram maio participação na po-
Outro corpo armado no qual o presidente de pro-
lítica de Mato Grosso.
víncia interveio foi a Guarda Municipal. Este corpo tinha Contudo, Alencastro se desentendeu mesmo foi com a
sido criado em 1831, por Antônio Corrêa da Costa quando nova Assembleia da Província de Mato Grosso. O presi-
presidia a província. Esta nova guarda visava ser uma dente criticava a escolha dos vice-presidentes da província.
força para contrabalançar as possíveis insurreições anti- lu- Tal escolha era uma prerrogativa dos poderes da nova casa
sitanas da força de linha, assim como de alguns políticos inaugurada em 3 de julho de 1835 Normalmente entre os
que começavam a demonstrar forte oposição ao governo. mais votados eram escolhidos o presidente da Assembleia e
Durante a “Rusga”, esse corpo ficou praticamente iner- também os vice-presidentes da província. Eram seis vice-pre-
te, inclusive ocorrendo a participação de alguns de seus sidentes. Ou seja, eram eles os que assumiriam o governo,
membros nos saques. Alencastro decidiu, então, dissolver por ordem de escolha pela Assembleia, quando o titular se
essa guarda, achando fundamento para tal ação na própria afastasse temporariamente ou definitivamente, como o
lei que criou essa milícia. A guarda deveria ser compos- caso de ser designado para outro lugar do Império. Numa
ta de “homens retos” para a “defesa do município”, o que província distante do centro político, como Mato Grosso, o
não havia acontecido no “30 de maio”. Acabou por recriar governo de um vice-presidente poderia durar alguns meses,
o corpo armado, com o mesmo nome, mas com elementos o tempo entre o presidente demitido e a chegada do novo
escolhidos por ele. presidente.

50
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

O presidente da primeira Assembleia era o cônego Para Alencastro, a Assembléia Legislativa “sempre
José da Silva Guimarães. Ele também foi escolhido como o exorbitou de suas atribuições”, e dessa maneira prosseguia
1º vice-presidente da província. O 2º vice era Antônio Cor- “dando lugar a um decreto único, que me parece ter ilegal-
rêa da Costa e em terceiro Antônio José da Silva. O quarto, mente expedido para a suspensão do atual juiz de paz do
o quinto e o sexto vice-presidentes escolhidos pela primei- 1º Distrito nesta cidade”. Segundo o presidente, os fatos
ra sessão da Assembléia Legislativa eram José Leite Gomes, mostravam “claramente que a maioria da Assembléia
José Gomes Monteiro e Albano de Souza Osório. Ou seja, obrou com espírito de partido, e má fé neste particular,
pelo menos o segundo, o terceiro e o sexto vice-presidente arrastada pelo intrigante deputado Antônio
eram pessoas antagônicas a Poupino Caldas, líder do grupo Corrêa da Costa, aquele mesmo, que expôs a província
em que Alencastro procurou sua sustentação na província. ao saque, ao degoladoiro. Contudo, com menos de um
Em correspondência ao Ministério do Império, Alen- ano e três meses de governo, chegava a ordem de exone-
castro se referia aos vice- presidentes escolhidos pela As- ração de Ale ncastro. Logo o grupo de Poupino Caldas pro-
sembléia, em especial ao segundo e ao sexto, como não testou com abaixo-assinado e algumas cartas endereçadas
probos e indignos para o cargo que ocupavam. Antônio à Corte. Defendiam que Alencastro fez “acabrunhar o calo
Corrêa da Costa tendo já servido como “presidente de pro- anárquico”, e que a província continuava ameaçada por
víncia foi sempre frouxo, e conivente com os principais ca- “novas catástrofes. Entre as pessoas que encabeçavam o
beças dos anarquistas, deixando de efetivar e cumprir abaixo assinado, de 62 nomes, além de Poupino, e Joaquim
algumas ordens superiores do Ministério, deu lugar José de Almeida, estavam Joaquim Vaz Ferreira, que era um
ao hediondo colo da anarquia que se ergueu nesta dos rebeldes do “30 de maio”, mas que encontrou proteção
capital ” causando “tantos males à província”. Albano de em Poupino, o juiz de paz José de Mello Vasconcelos, o de-
Souza Osório, o sexto vice-presidente, era “homem loquaz putado provincial Francisco Xavier da Silva e o capitão do
e temerário, que possuidor de uma extraordinária filáucia, exército João José Guimarães Silva, irmão do cônego Sil-
e com justiça tido na opinião do vulgo por doido, o que va Guimarães, já renomado político de Mato Grosso. Esses
indispôs os ânimos dos celerados para mais depressa apa- eram os principais do grupo do Pompeu Cuiabano, que
recer a sedição de 30 de maio do ano passado. tinha contra si o ódio das vítimas sobreviventes do “30
Era muito difícil o sexto vice-presidente chegar a as- de maio”, o despeito da antiga elite cuiabana, e a vontade
sumir o comando da província. Tinha que contar com o de vingança dos que se sentiram traídos por ele quando
impedimento de outros cinco vices, além do presidente começou a caça aos rusguentos. A saída de Alencastro en-
de província. Mas, como veremos mais adiante, era cargo fraquecia e poderia ser fatal para o ex- líder dos zelosos.
cobiçado pelos políticos qualquer vice-presidência, mesmo Alencastro não esperou uma possível resposta da
a última delas. Significava, no mínimo, que o detentor do Corte aos pedidos para permanecer no cargo. Deixou
cargo era escolhido entre vários homens públicos para uma Cuiabá no início de fevereiro de 1836. Em seu lugar, para
possível direção da província. Era um reconhecimento do seu desgosto, assumiu Antônio Corrêa da Costa, o segundo
prestígio do homem público pelos seus pares. Daí o vice-presidente, já que o primeiro, por algum motivo, ficou
presidente de província se incomodar bastante com o se- impedido. Mas Corrêa da Costa não ficou a frente do go-
gundo e o sexto vice-presidente, mesmo não sendo ne- verno mais do que 23 dias. Receoso de novas atribulações
nhum desses o imediato para assumir a administração passou o cargo para o outro vice- presidente, o capitão
de Mato Grosso. Sem embargo, era quase certo que o Antônio José da Silva, também possuidor de largas glebas.
primeiro vice-presidente, escolhido pela assembléia local, Era uma ocasião extremamente perigosa, notadamente
exerceria o primeiro cargo administrativo da província. para os que estavam à frente do governo. A instabilidade
Percebendo essa animosidade entre o presidente de política estava latente. Não seria surpresa se houvesse no-
província e os dirigentes eleitos pela Assembléia, o juiz vas deposições e tumultos. Nesse quadro, um novo grupo
de direito na ocasião acusou o presidente de ter recebi- de políticos estava prestes a substituir as antigas lideranças.
do carta de sua exoneração, mas que não queria sair da A ORDEM DISPUTADA
administração, promovendo, desta maneira, desordem em
Mato Grosso, já que ia contra as ordens regenciais. Acusa- Os momentos posteriores à Rusga foram delicados. De
va o presidente de ir contra a Regência também por man- 1834 a 1850, os governos não eram considerados comple-
ter Poupino Caldas como Inspetor do Tesouro, já que seu tamente estáveis, podendo irromper, a qualquer momen-
nome havia sido negado pelo governo regente. to, algum movimento de contestação ao governante no-
Não obstante, o ponto de mais forte desentendimen- meado pela Coroa. Se nesse período é assinalado o fim da
to entre o presidente de província e a Assembléia foi um atuação do conturbado Poupino Caldas, foi aí também que
decreto da casa legislativa que suspendia de suas funções se destacou a figura de Manoel Alves Ribeiro, fazendeiro
o juiz de paz José de Mello Vasconcelos considerado de Poconé, como o principal líder do grupo que veio a se
um dos mais exaltados partidários de Poupino Caldas –, chamar de “liberal”. O governo central tendia a não enfren-
devido a irregularidades em seu exercício, como a negação tá- lo diretamente, concedendo a seu grupo inclusive al-
de fiança ao antigo inspetor da tesouraria João Luiz Airosa. guns benefícios, apesar de sua conduta condenável pelos
Alencastro vetou tal resolução, apoiando o juiz. representantes do Império na província.

51
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

Marcam também esse período as diversas manobras o perigo dos restauradores, que viram sua bandeira min-
relacionadas aos corpos armados. Forças policiais são guar junto com a morte de Pedro I em 1834 . Embora o
criadas e desfeitas. A Guarda Nacional é reformada ile- presidente Alencastro classificasse os políticos na pro-
galmente com a ajuda dos deputados provinciais. Era um víncia como “moderados” e “exaltados” não era comum tal
momento em que as relações entre o Executivo e o Legis- classificação entre as lideranças provinciais.
lativo provincial caracterizavam-se por numerosos desen- Não obstante, as pessoas sabiam, ou procuravam sa-
tendimentos, deixando sempre a possibilidade do sossego ber, quem formava os grupos. Assim, o capitão da Guarda
público ser atacado. Assim, a ordem era barganhada pelos Nacional, Antônio José da Silva, buscou não atiçar nem um
políticos. Sendo factível o advento da desordem, os dos “partidos, apesar de ser mais ligado aos antigos
seguidores de Ribeiro obtinham vários ganhos políticos. fazendeiros e comerciantes da província. Sua direção era
interina, e esperava a chegada do novo presidente nomea-
“Não pode existir [liberdade] sem subordinação” do, Antônio Pimenta Bueno, o quanto antes.
Na abertura da segunda sessão ordinária da Assem-
Após a abdicação de Pedro I, o retorno do príncipe re- bléia Legislativa, em 1836, coube ao vice-presidente An-
gente a Portugal poderia reconciliar a nação “com a verda- tônio José da Silva lembrar o que deveria significar o
deira liberdade. No entanto, tais tendências liberais pre- movimento que culminou no “30 de maio”, ao mesmo tem-
viam antes a necessidade de ordem. Como dizia o ministro po em que constatava a ausência de conflitos explícitos:
da fazenda, em exposição à Assembléia Geral: “A sedição é “Parece-me que a província se acha em sossego, depois da
um crime, qualquer que seja o pretexto com que se revis- terrível tempestade que ameaçava internamente um futuro
ta; crime também é a violência, porque ela dá princípio à desastroso.”Contudo, o medo de uma nova “terrível tem-
perturbação da ordem que só um governo fraco e as insu- pestade” não iria se esvair em pouco tempo. Na verdade,
ficiências das leis podem tolerar.” tinha-se notícia de que desentendimentos entre o
Essa verdadeira liberdade, que poderia ser alcançada legislativo provincial e o presidente já desencadearam
depois da renúncia de Pedro I, tinha correspondência com guerras em outras províncias, e diagnosticava-se que o res-
a liberdade que as elites políticas - do que veio a ser peito às leis e às autoridades constituídas era fundamental
chamado Império do Brasil - apregoavam durante o pro- para a preservação territorial e política do novo país. Nes-
cesso de independência. Ou seja, era uma cultura política se sentido, Antônio José da Silva tinha a recordação
cujos valores assentava-se na monarquia constitucional, da desavença entre a Assembléia Legislativa e o último
em que a liberdade estava ligada à ordem, descartando-se, presidente, Alencastro.
portanto, qualquer revolução. Esse ideal liberal foi incor- Mas, como terceiro vice- presidente – ou seja, era
porado, segundo Pereira Neves, sem grandes dificulda- proveniente da deputação provincial, a primeira –, tam-
des pelas elites política e intelectual brasilienses. bém trazia consigo a consideração de que a Assembléia
Boa parte destes tinha uma formação ilustrada fora criada para legislar, isto é, promover leis, e que ao go-
portuguesa, facilitada por uma numerosa publicação de verno caberia executar o que essa mesma casa estabelecia
panfletos, jornais e livros que apregoavam o liberalismo. como norma, dentro da sua competência. Essa divisão de
Era a “liberdade” contra a “monarquia despótica” no início poderes incluía a competência do Legislativo em eleger os
dos anos 20. Imbuídos de noções reformadoras, o liberal vice-presidentes, o que havia gerado conflitos com Alen-
aparecia como aquele que “ama sua pátria”, era “amigo da castro.
ordem e das leis”. O liberal defendia o direito de opinião e Dessa forma, Antônio José da Silva destacou em seu
se concebia com o direito de influir na administração do discurso que, com a recém- criada casa legislativa provin-
governo. No entanto, isso não tinha a ver com a “de- cial, esperava-se que o governo desse “a devida execução
mocracia” que poderia desembocar na “anarquia. das Leis consultando [os] novos meios de promover a feli-
O caráter centralizador do Primeiro Reinado corro- cidade dos nossos concidadãos, tarefa honrosa que nos foi
borava essa necessidade de ordem . O monarca era cons- confiada e de que devemos dar boa conta às gerações pre-
titucional, mesmo tendo a Carta Magna sido outorgada, sentes e futuras. Dever-se- ia inculcar os diferentes papeis
em vez de promulgada pela Assembléia Geral. Durante o dos diferentes poderes. Isto deveria ser bastante claro para
período das Regências, a liberdade residia principalmente as pessoas coevas, o que poderia afastar riscos de confli-
no parlamento, que representaria o povo. tos sangrentos para os que abraçassem a carreira política,
Nesse período, pregava-se a “liberdade”, lembrando-se inclusive no porvir.
por vezes o contraponto exemplar do ex-soberano, que, No entanto, a preocupação não se restringiria à divisão
no entanto, já havia sido promotor da liberdade quando dos poderes, ia além. O fator principal e mais abrangente
do rompimento com as Cortes portuguesas. “Liberdade”, era o reconhecimento das autoridades pelos vários mora-
entretanto, não deixava de ser pronunciada como prática dores diferentes da província. Assim, o principal papel, seja
fundamentada na “ordem”. do Executivo, seja do Legislativo provincial, no momento,
Quando o fazendeiro mato-grossense Antônio José da era fazer com que as pessoas reconhecessem as autorida-
Silva, em substituição a Alencastro, assume o governo des estabelecidas, a supremacia das leis, comungando
da província, em 1835, os liberais “moderados” dessa maneira para a ausência de embates mortais, o
predominavam na Corte do Rio de Janeiro, mas se viam que deveria ser visto como um grande triunfo para a
em confronto com a facção dos “exaltados”, que chegavam sociedade que construíam. Dessa forma, dizia o vice-pre-
mesmo a defender a república, embora não houvesse mais sidente Antônio José da Silva aos deputados provinciais:

52
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

O primeiro de nossos deveres [ é ]persuadi-los ao res- Formado no liberalismo capitaneado por Feijó e Vas-
peito às autoridades constituídas, que mandam em nome da concelos, José Antônio Pimenta Bueno, o futuro visconde
lei, ponderando- lhes que o repouso público é o maior de São Vicente, assumiu a presidência de Mato Grosso em
dos bens e as dissensões intestinas o mais terrível dos males. agosto de 1836. Mas antes de começar a sua nova função
Restava ainda ao vice-presidente frisar as fragilidades já conheceu Poupino Caldas. Este, valendo-se de seus ca-
claramente visíveis da província, como a falta de cadeias apro- maradas, tentou evitar a posse do promissor bacharel. O
priadas e a perambulação de pessoas “ociosas que andam contra-ataque ficou por conta de Antônio José da Silva que
pela província francamente armadas” sem expressar receio da mobilizou forças policiais e garantiu o início dos trabalhos
justiça. Contra tal sorte de coisas pedia que a Assembléia diri- do novo governante.
gisse esforços para a criação de uma guarda rural. Era necessário conhecer o melhor possível onde esta-
Um maior policiamento por si não bastava. Acreditava o va, para além das informações que obtivera da Corte, para
capitão que faltavam costumes: “Sem costumes não pode ha- melhor poder governar. No entanto, em seus primeiros afa-
ver liberdade. Ao vice-presidente coube expressar, emblema- zeres na província, Pimenta Bueno logo deparou-se com
ticamente, o que se deveria entender por liberdade, e o um problema – além, claro, das forças comandadas por
papel que deveria ter a instrução para fornecer costumes: A Poupino Caldas, que interferia nas suas avaliações e inicia-
instrução deveria ser o “suficiente a convencer a mocidade de tivas em Mato Grosso. Era a falta de organização admi-
que a verdadeira liberdade não é inimiga de toda a sujeição, nistrativa, que refletia no descaso com os documen-
de toda a dependência, que não pode existir aquela sem tos oficiais. Muitos estavam se deteriorando, devido a má
subordinação, sem respeito às autoridades e sem obediência conservação. Outros tantos simplesmente sumiram. Além
e submissão às leis” . A liberdade mal entendida levaria à ruína, das correspondências com os ministérios relativos aos anos
“convém pois apartar da mocidade a ociosidade, sempre com- 1804-1807, “muitos mapas topográficos, memórias sobre
panheira do vício que quebra todas as almas.” vários assuntos, descrições botânicas e outros escritos
A vida profissional e política de Antônio José da Silva era também acham-se extraviados constatando que ali exis-
restrita ao Mato Grosso. Contudo, vivendo em momento con- tiam somente pelos índices que acompanham alguns dos
turbado caracterizado por fortes conflitos armados em várias
maços dos documentos”.
partes do país, e presenciado ao menos um relevante
Escritos, mapas, memórias eram necessários para
deles em Mato Grosso, mostrava em seu discurso a neces-
um presidente, depois de meses de viagem, conhecer
sidade de dar significados à liberdade e a devida atenção aos
o terreno por onde poderia permanecer por um ano, ou
costumes. Demonstrava também estar com “as vistas” da Cor-
mais, e assim poder traçar diretrizes para além do estabe-
te imperial que procurava preservar a configuração territorial
lecimento imediato da ordem. Sua permanência implicava
do Brasil e promover a construção de uma nação com pessoas
em governar, o que significava saber com quem e com o
de costumes.
Em carta felicitando a eleição de Feijó para a Regência, quê teria que lidar: eram pessoas, objetos, plantas, merca-
o cônego José da Silva Guimarães, presidente da Assembléia dorias, climas, águas. Seriam as “potencialidades naturais”,
Legislativa, em 1836, também demonstrava a necessidade de as “indústrias”, os gentios, os ribeirinhos, e os homens da
conjugar a liberdade com a ordem. Elas seriam decorrência política local.
da “razão e da eterna justiça”, princípios que Feijó prometera Sem parte material da memória produzida pela (e para)
seguir, e “que sós podem fazer a felicidade do povos.” Assim a própria burocracia governamental, o governante sentia-
“liberdade e ordem, são as primeiras necessidades da Nação; e se em desvantagem nas batalhas que certamente travaria.
a fiel e exata observância de tão saudáveis princípios não Contudo, ele próprio, como os demais chefes do Executivo
podem deixar de manter esta e conservar aquela.” na província, tinha o dever de produzir outras memórias,
Ou seja, as pessoas que estavam em cargos de proa, como em conformidade com as necessidades, e que ajudariam
o comando da província e a presidência da Assembléia, de- nas direções imprimidas seja pelos próximos governos pro-
monstravam não só estar atentas aos debates que ocorriam vinciais, seja pelo governo imperial.
na Corte, mas incorporavam a missão de estabelecer e reforçar A memória, portanto, era urdida, tramada, construída
os significados e direção para palavras já conhecidas, liberdade nos principais documentos dos presidentes de província: os
e ordem. seus relatórios, mensagens e discursos anuais. Esses docu-
mentos eram apresentados aos deputados da Assembléia
O Bacharel e o Pompeu Cuiabano Provincia l e algumas cópias destes eram enviadas para a
Corte. Neles, além de apontar a direção em que a província
A vinda de outro presidente de província para substituir deveria seguir, também lembravam do passado como
Alencastro, poderia colocar em risco a posição de Poupino Cal- maneira não apenas de justificar atitudes governamen-
das na província. Ficou patente que o nome do ex- líder dos tais do momento, mas como uma pedagogia do agir e por-
zelosos estava longe de harmonizar com a “ordem”. A tar-se para se formar a nação que eles imaginavam.
tentativa de Poupino em continuar como o principal político Os relatórios presidenciais começaram a ser produzidos
de Mato Grosso provocou conflito direto entre este e o novo em julho de 1835, quase 14 meses depois do movimento co-
presidente de província, o bacharel Antônio Pimenta Bueno. nhecido por “Rusga”, como exigência das novas leis que esta-
O Pompeu Cuiabano não conseguiu se impor ao bacharel. O beleciam as assembléias provinc iais. Uma das preocupações
presidente demonstrava que para governar era preciso intervir dos chefes do Executivo, na segunda metade dos anos 30, era
nos corpos armados. justamente mostrar como deveria ser lembrando os aconte-

53
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

cimentos que envolveram o “30 de maio”. Assim Antônio José Ao longo de seu mandato, Pimenta Bueno, que no
da Silva dizia que, em tempo anterior, havia “desvairado este início pretendia acabar com aGuarda Municipal, percebeu
povo, bandeado pela intriga”, o que poderia ter sido a ruína que não poderia prescindir de um corpo armado em Cuia-
completa da província . Alencastro, quando presidente, bá. A solução foi criar em seu lugar a Força Policial com 40
dizia lhe “ser sobremodo doloroso” trazer a lembrança do homens, sendo o comandante de sua confiança, ficando
“fatal 30 de maio. Já Pimenta Bueno percebia que vivia o sediada na capital, mas com soldos mais baixos do que a
“legado enfadonho que nos deixou o funesto 30 de maio. guarda anterior. Pimenta Bueno acreditava, dessa maneira,
Apesar das diversas prisões e julgamentos acontecidos melhorar um pouco a “nada lisonjeira finanças da provín-
no período de Alencastro, o principal promotor de desordem cia”, como dizia no início de sua administração. Procurava
estava solto em Cuiabá, e pronto para atentar, a qualquer diminuir os gastos dos cofres provinciais, ao mesmo tempo
momento, contra o sossego público, quando a oportuni- em que os corpos armados eram revigorados.
dade surgisse. E mesmo com a hostilidade inicial, Pimenta Se os soldos do novo corpo eram baixos, o que fazia
Bueno ainda não se sentia com forças para investir con- um presidente, Estevão de Rezende, pedir à Assembléia
tra Poupino Caldas. que se revissem as gratificações da Força Policial, os outros
Assim, o presidente procurou na própria reorganização corpos armados, quais sejam, as tropas de linha e a Guarda
da Guarda Nacional enfraquecer a liderança de Poupino Nacional, quase não apresentavam dispêndio algum para
Caldas que tivera o apoio do Coronel Alencastro. Afas- a província. O Exército ficava a cargo do governo central e
tou do cargo de Comandante de Armas o Cel. Joaquim José a Guarda Nacional era formada por elementos que serviam
de Almeida, substituindo- o pelo antigo político Jerônimo gratuitamente, tendo seus custos sido arcados praticamen-
Joaquim Nunes. Promoveu a reforma de outros oficiais mais te por seus participantes.
graduados, denunciando a culpa em motins via documen- Em plena reformulação dos corpos armados, Pou-
tação de vários militares, e solicitou a vinda de outros, mais pino Caldas lançou como candidato para deputado geral
confiáveis, para reorganizar a força militar em franca decom- o seu sobrinho Antônio Navarro de Abreu, o filho. Ele era
posição. As tropas de 1ª linha ficaram formadas praticamente filho do comerciante de mesmo nome e tinha o Pompeu
só por recrutas.
Cuiabano como seu padrinho. Navarro de Abreu, o fi-
Nesse sentido, também procurou extinguir a Guarda
lho, formou-se na faculdade de direito de São Paulo,
Municipal, reformulada em setembro de 1835 por Alen-
sendo o primeiro mato-grossense a se bacharelar nessa
castro, que continha homens de Poupino. Pimenta Bueno
instituição, em 1835. Em franca oposição a Pimenta Bue-
argumentava que, além dela ter-se mostrado indisciplinada
no, Poupino Caldas consegue eleger seu afilhado, com 25
nos momentos turbulentos, era paga pelo cofre provincial,
anos, em janeiro de 1837. Não seria pela mera lembrança
mesmo sendo “Municipal”. O orçamento da província não
de seu pai – que havia sido também deputado na Corte –
poderia arcar com essa despesa, composta pelo soldo de 90
homens. Quando fora criada, no governo de Corrêa da que o jovem bacharel conquistaria seus votos. Navarro de
Costa, ela era composta por 40 praças. Dessa forma, Abreu, o filho, havia concorrido para deputado provincial
propôs pagamento somente às “melhores praças”, que eram em 1835, e obteve somente 1 voto. A sua eleição demons-
poucas, o que faria que muitos abandonassem a corporação. trava que Poupino Caldas controlava consideravelmente os
Inicialmente, calculava em extinguir a Guarda Municipal mecanismos políticos.
por completo assim que conseguisse aumentar os efetivos Segundo Richard Graham, os presidentes de provín-
do Exército e quando a Guarda Nacional estivesse organiza- cia, durante o período imperial, procuravam determinar as
da. De fato, no final de seu mandato, os corpos do Exér- eleições. Eles mobilizavam as forças governamentais e de
cito ganharam novos efetivos e a Guarda Nacional estava seus aliados para fazer seus candidatos vencedores181. No
aparentemente reativada. Esta ficou dividida em batalhões e entanto, em Mato Grosso da segunda metade dos anos 30
companhias, formando uma única legião, distribuída entre os e da década de 40, os presidentes de província perdiam
4 municípios que existiam na província; Cuiabá, Diamantino, frequentemente e leições para os chefes locais que lhes fa-
Poconé e Mato Grosso. Era o maior corpo armado da provín- ziam oposição. Assim era o caso de Pimenta Bueno, que
cia, com 1553 homens em 1840. Mas os oficiais não eram amargou a derrota nas urnas para Poupino Caldas.
mais necessariamente escolhidos por votação entre os cida- O futuro visconde de São Vicente ainda teve que
dãos, eram também nomeados pelo governo, assim como despender, a contra gosto, a 1:400$000 réis dos cofres
os comandantes tinham que ser referendados pelo governo provincia is para pagar a viagem de ida de Navarro de
imperial. Abreu para a Corte. O candidato vencedor, segundo o pre-
Essas mudanças na Guarda Nacional, que indicavam uma sidente, ainda ousou lhe pedir um cargo de juiz de direito
maior interferência do governo na localidade, fez com que na província:
um presidente imaginasse haver “muito mais entusias- Este cidadão não se havia postado com a circunspec-
mo” entre os seus membros, e que “a disciplina ção que devia nas eleições para obter sua nomeação, con-
faz[ia] honrar os seus comandantes”. 173 Somente em correu mesmo a formar nesta Capital um certo partido
1850 foi promulgada uma lei, na Corte, que regulamentava de oposição a este Governo, Mesmo assim, requereu-
a escolha dos oficiais da Guarda Nacional pelo governo me posteriormente o lugar de Juiz de direito de Mato
central. Mas, na prática, os governos provincial e central já Grosso, que deneguei- lhe, pediu-me pessoalmente que
procuravam escolher os oficiais e comandantes há mais de lhe mandasse abonar ajuda de custos de viagem para re-
uma década. colher-se a essa Corte.

54
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

Apesar da demonstração de domínio eleitoral por par- Responder ao pé da letra as leis que regulavam as as-
te de Poupino nas eleições, seus poderes não foram o su- sembléias era um exercício não praticado. De acordo com
ficiente para conseguir depor à força o presidente Pimenta o Ato Adicional de 1834, a primeira sessão deveria ser na
Bueno. O ex-líder dos zelosos tentou outro golpe para der- capital da província, que por direito ainda era a cidade
rubar o presidente. Para isso insuflou o quartel de Cuiabá de Mato Grosso. No entanto, a sede escolhida para a
para se amotinar, mas sem resultados. Assembléia foi em Cuiabá. Assim, em agosto de 1835, os
O presidente bacharel, então, ameaçou Poupino Cal- deputados provinciais votaram lei que transferia definitiva-
das de procurar todos os meios de processá-lo por todos mente a capital para a baixada cuiabana. 186
os crimes cometidos, se ele não deixasse a província em A criação das assembléias era decorrência da direção
pouco tempo. Não se sabe por qual motivo, mas o ex-líder imprimida pela Regência que apontava para uma maior
dos zelosos concordou com o exílio. Talvez por achar-se autonomia das províncias do Império. As assembléias pro-
sem condições de se proteger, jurídica e fisicamen- vinciais substituíram os antigos Conselhos de Províncias
te, dos seus numerosos inimigos que havia feito em sua e passaram a contar com várias prerrogativas, como a
conturbada carreira política. Seja como for, pouco antes de criação de empregos, de impostos, deliberavam sobre as
deixar a província, enquanto ia de uma casa a outra para se despesas e receitas provinciais, votavam inclusive o ano
despedir, ele é baleado e morto na rua, no dia 9 de maio de fiscal dos municípios, legislavam sobre a instrução e a se-
1837. Nunca se soube ao certo quem o matou. gurança. As novas casas legislativas forneceram à província
maior independência em relação ao governo central, mas,
A Assembléia e as novas configurações políticas principalmente, retiraram atribuições que antes eram dos
municípios.
A primeira eleição para os vinte deputados da Assem- As elites locais passaram a ver nas assembléias
bleia foi em abril de 1835. Em julho desse ano, houve a legislativas um espaço para defenderem seus interesses
primeira reunião parlamentar. Na abertura do encontro, sociais e/ ou econômicos, um lugar para figurar suas lide-
querendo lembrar a necessária e (se possível) salutar ranças locais, enfim, uma casa para confirmar suas posi-
convivência entre os poderes Executivo e Legislativo pro- ções de destaque e para exercitarem a política provinciana.
vinciais, era reservada a leitura do relatório do presidente Dessa maneira, a primeira eleição para a Assembléia
de província aos deputados. Essa praxe procurava apontar Legislativa de Mato Grosso aconteceria em pouco menos
os problemas e as potencialidades da região, norteando de um ano depois da “noite do 30 de maio”. Seria o mo-
os trabalhos do legislativo. Aí também cabia um discurso mento para demonstrar quem continuava com prestígio e
de saudação ao novo corpo de deputados. Ora, o destaque força na província, e quem havia perdido espaço. Mas antes
desse novo poder era o grande símbolo do liberalismo, o de tudo, a eleição era uma novidade que despertou o in-
qual os dirigentes do país acreditavam estar iniciando. As- teresse de 1.185 eleitores que votaram em 161 pessoas
sim, o presidente deveria dar as “boas vindas” e reforçar o diferentes. Eram quase 7 eleitores para cada candidato.
“avanço rumo à civilização”, que consistia em promover leis O presidente de província na ocasião era Antônio Pe-
pertinentes ao seu local, assim como uma maior represen- dro de Alencastro, que com Poupino Caldas representavam
tação dos homens não escravos e proprietários que não a força em destaque na província. Mas tal força não foi o
compactuavam com a tirania na província: suficiente para impedir que uma liderança da então opo-
Se a promulgação da Lei das reformas constitucionais, sição, o fazendeiro Antônio Corrêa da Costa, fosse o mais
que outrora vimos aparecer, e brilhar no nosso horizon- votado para a nova casa legislativa, com 50 votos. O se-
te, como um Luzeiro guiado pela Providência, exultou gundo colocado, com um voto a menos, foi o prestigiado
os Cuiabanos, não são certamente menos os louvores, padre José da Silva Guimarães. Poupino Caldas ficou em
e os aplausos com que fez mais evidente a sua glória terceiro com 37 votos e o tenente-coronel Albano de Sou-
a instalação da Assembleia Legislativa Provincial, de za Osório com 35. Não houve o predomínio absoluto
cujo ato reconhecem, a par de um importante aperfeiçoa- de uma facção sobre a outra nas 20 vagas da Assembléia.
mento de nossas Instituições políticas, um instrumento Políticos ligados à antiga e tradicional elite conseguiram
poderoso de civilização, que não pode deixar de ser fe- seus lugares como Antônio José da Silva. Outros, ligados
cundo de benefícios; principiando a Província a exercer a aos antigos rebelados da Rusga, como Joaquim de Almeida
indispensável atribuição de prover aos seus peculiares inte- Falcão - cuja casa era ponto de encontro, outrora, dos Ze-
resses por meio de Leis Justas, e adequadas, que há muito losos da Independência- e José da Costa Leite de Almeida,
eram reclamadas pelo voto dos Brasileiros livres e sensatos. que também não fazia parte da antiga elite cuiabana tam-
Alencastro, em seu discurso, clamava pelos cuiabanos. bém tiveram seu espaço.
Esperava dos deputados uma civilidade, que adviria do Do antigo grupo tradicional da política cuiabana, que
aperfeiçoamento da nova instituição política. Mas, além de nomeamos anteriormente, dois não figuraram na primeira
Alencastro não ter maioria na Assembléia, a considerava legislatura, além de Navarro de Abreu que já havia morrido:
como uma instituição que exorbitava dos seus poderes. Jerônimo Joaquim Nunes e André Gaudie Ley. O primeiro
De fato, as delimitações do que pertencia ou não pertencia nem sequer se candidatou 190 . Na verdade tinha se retira-
ao foro das assembléias eram um tanto vagos. Somente nos do para sua fazenda desde quando correu risco de vida com
anos 50, depois de uma série de reformas, as assembléias e a perseguição aos portugueses na Rusga. Não se atreve-
o Executivo terão seus papeis melhor definidos. ria a voltar a Cuiabá enquanto Poupino Caldas estivesse

55
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

em posição privilegiada na capital. Quando Pimenta Bueno É certo que os poucos documentos preservados das
assumiu a presidência e se mostrou antagônico a Poupino reuniões da Assembléia Legislativa não revelam muita coi-
Caldas, Jerônimo Joaquim Nunes foi convidado para assumir sa. Havia uma preocupação mais burocrática do que a de
novamente o comando das armas da província. Na segunda mostrar as opiniões divergentes ou convergentes. Assim os
eleição para a Assembleia foi eleito para deputado provin- registros limitaram-se a dizer que tal lei foi aprovada, quase
cial. Mas logo adoeceu e morreu no final de 1837. sempre sem mencionar quem votou a favor ou contra, e
Já o sargento-mor André Gaudie Ley recebeu votos nas sem as discussões da pauta. Contudo, pode-se perceber
duas eleições. Mas seu desempenho foi decepcionante. pela documentação existente, não necessariamente as
Conseguiu apenas 2 votos na primeira eleição para a As- atas de sessão, que não foram poucas as contendas entre
sembléia . Provavelmente se desgastou com a forte oposição o legislativo e os presidentes de província. Mesmo com o
que sofrera quando dirigia a província. Talvez, também, não predomínio libe ral na Assembléia, a partir da legislatura de
tenha se interessado mais em se esforçar para receber votos 1837, e com a nomeação de vários presidentes de província
nas eleições. Em 1837, ele recebeu somente 1 voto 194. Seja por gabinete também liberal, não deixaram de haver vá-
como for, seu filho Joaquim Gaudie Ley continuou na política rias contendas entre o Executivo e o Legislativo provincial.
assumindo posições de destaque no partido Conservador. Quando o presidente era designado por um governo
No entanto, a primeira legislatura ainda era marcada pe- conservador, então, os problemas de relacionamento
las antigas lideranças, mas outros políticos começaram a (incluindo aí a interpretação e votação de leis provinciais)
despontar na província do pós “30 de maio ”, como o entre as duas instâncias poderiam ser conflituosos desde o
fazendeiro Antônio José da Silva, na facção que apoiava início do mandato do chefe do Executivo.
Antônio Corrêa da Costa, e Joaquim de Almeida Falcão,
homem ligado até então a Poupino Caldas. Vice-presidentes e a “falibilidade das eleições”
O futuro Visconde de São Vicente, durante sua pre-
sidência, procurou formar o nascente partido liberal em Com o fim da regência de Diogo Feijó, em 1837,
Mato Grosso, com a maior parte de seus membros forma- uma força conservadora encabeçada por Araújo Lima,
da por pessoas não ligadas à antiga elite de Cuiabá. Algu-
com o peso do apoio de Bernardo Pereira de Vasconcelos
mas dessas, que antes compunham a facção de Poupino,
- que abandonava as fileiras liberais -, assumiu o governo
começaram a se agrupar em torno dos políticos de Poco-
propondo o regresso. Logo então substituíram o presiden-
né, como os irmãos Manuel e José Alves Ribeiro. Também
te de Mato Grosso por um bacharel afeito aos novos rumos
contava com o apoio do prestigiado cônego José da Silva
da Regência. Era Estevão Ribeiro de Rezende, que antes
Guimarães. Poupino Caldas era águas passadas e Joaquim
servia como magistrado em Goiás, vindo a tomar posse em
José de Almeida se juntou ao novo grupo que se formava,
Cuiabá no dia 16 de setembro de 1838.
assim como Joaquim de Almeida Falcão, antigos partidários
do Pompeu Cuiabano. Quando a Assembléia Legislativa se reuniu na sessão
Navarro de Abreu, o filho, que poderia ser o herdeiro do de 1839, começaram a se explicitar as diferenças entre o
capital político do ex líder dos zelosos, nunca mais voltou ao presidente enviado pela Corte e o legislativo provincial. A
Mato Grosso. Chegou a ser designado juiz de direito no ter- casa legislativa, como era até então de sua competência e
mo de Cuiabá - graças ao seu grupo político no Rio -, para dever, escolheu novamente os vice-presidentes. O segun-
lhe servir de abrigo, caso nova eleição falhasse, como real- do e o terceiro vices escolhidos eram pessoas em quem o
mente veio a acontecer. Mas tomou posse por procuração e presidente Rezende depositava confiança, dois homens
permaneceu no Rio de Janeiro até sua morte prematura em públicos já bem conhecidos, Antônio Corrêa da Costa e
um asilo de alienados . Antônio José da Silva. No entanto, o primeiro vice era o cô-
Antônio Corrêa da Costa continuou a ser eleito para nego Silva Guimarães, a quem o presidente desqualificava
várias legislaturas na Assembléia. Chegou mesmo a assumir completamente para exercer tal cargo, mesmo tendo sido
a direção da província, como vice-presidente, em outubro de eleito pela Assembléia. Para Rezende a escolha do cônego
1840, permanecendo no cargo por dois dias, passando logo era “bem longe de ser isso devido a merecimentos seu, só
a vaga para o 2º vice; e também no final de 1842, quando di- e unicamente o é [devido] à falibilidade das eleições”. Con-
rigiu a província por 5 meses. Mas seu grupo não conseguia tinuando em seus argumentos, o cônego era detentor de
mais fazer frente aos que se chamavam liberais. Somente “uma revoltante imbecilidade, reúne a mais escandalosa de-
em 1849, foi quando os que se agregavam sob a denomina- safeição a atual ordem das coisas, uma vida eminentemente
ção de conservadores, conseguiram derrotar os liberais nas imoral e precedente bem desonrosa à sua reputação”.
eleições para a Assembléia provincial. Os outros três cidadãos eleitos para a vice-pre-
Um dos poucos trabalhos específicos sobre o poder sidência, o alferes Manoel Alves Ribeiro,o 1º tenente de
Legislativo em Mato Grosso, considera que o período que Engenheiros José Joaquim de Carvalho, e o capitão José
nos interessa, de 1835 a 1870, como caracterizado por qua- Mariano de Campos, segundo Rezende, “por seus sen-
se completa inatividade da Assembléia de Mato Grosso. Se- timentos anárquicos nem uma capacidade intelectual,
gundo o autor dessa pesquisa, nos dois meses em que e falta de meios para viverem com independência, ou ao
os deputados se reuniam em sessão, cujas reuniões menos com decência, são por este governo considerados
beiravam o marasmo, os deputados se restringiam a votar indignos da confiança do Governo Imperial e prejudi-
o orçamento e a ratificar as leis e decretos encaminhados ciais a ordem pública”. Manoel Alves Ribeiro, inclusive, já
pelos presidentes de província. o teriam “mandado recolher a essa Corte em meados do

56
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

ano próximo passado, onde se acha por sua perigosa con- Depois de vetados por Rezende, os dois projetos
duta militar e civil”. No entanto, para o chefe do Executivo, voltaram para discussão no plenário, como era prescrito,
esses três sujeitos eram desordeiros principalmente por se e teriam que ser aprovados por 2/3 dos votos, para nova-
enganarem em relação ao padre, eram “incautos iludidos mente serem encaminhados para a assinatura final do
pelas péssimas doutrinas daquele cônego Guimarães”. presidente. Dos dezessete deputados presentes, onze vo-
Já em 1839, o presidente Rezende escrevia ao taram a favor. O presidente dizia que não caberia mais a ele
ministro do Império, Bernardo Pereira de Vasconcelos, sancionar ou não. Defendia que a votação não tinha dado
dizendo que não gostaria de sair da província deixando o os dois terços necessários . O confronto entre o chefe do
Executivo e vários dos deputados se intensificou criando
governo para tal sorte de políticos: “Permita-me V. Exa., que
um clima de instabilidade.
eu observe, que mesmo receio deste Cuiabá sob o gover-
O chefe do Executivo acabou por pedir sua exo-
no de vice-presidentes.” Contudo, essas referências aos
neração do cargo, em carta ao ministério do Império.
vice- presidentes não marcavam ainda um antagonismo Argumentava que sua saúde já não resistia há dois anos
definitivo entre o presidente e os parlamentares provin- nos confins do Brasil:
ciais. Essas considerações eram uma das tarefas do aqui me acho nestes confins do Brasil há quase dois
chefe do Executivo, relatar sua opinião sobre as pessoas anos; sinto minha saúde arruinadíssima, de dia em dia
escolhidas para governar o Mato Grosso, em substituição mais se aumentam os meus incômodos, e sofrimentos,
ao titular. Segundo o presidente, o antagonismo entre eles e de certo que sendo eles provenientes em grande parte
começou de fato quando não sancionou dois projetos de da insalubridade do País [província], terei de arriscar minha
lei enviados pela Assembléia. Depois de sua recusa, co- existência, se em tempo não curar do meu restabelecimen-
meçaram as hostilidades que “consistiram as primeiras em to em um clima mais benigno.
diatribes contra o governo, e na mais rústica e revoltante Nestas circunstâncias pois eu mui respeitosamente
censura de todos os meus atos.” rogo a V. Exa a graça de dispensar-me da penosa adminis-
A Assembléia havia mandado dois projetos de lei para tração desta província.
que Rezende sancio nasse, como de praxe. O presidente Os problemas de saúde coincidiam com os confrontos
se negou a isso por considerá-las fora das atribuições da com a Assembléia. Mesmo assim, não deixou de mandar
Assembléia Legislativa. A primeira delas, o projeto de lei nº seu parecer sobre a política local, em que faltava civilidade
e ilustração. Seu desgosto era tanto que, contra tais pes-
4, revogava a lei provincial nº4 de 22 de dezembro de 1836.
soas, seria lícito praticar atos de barbaridade, não fossem
Essa lei instituía os “delegados do governo provincial” com
os preceitos constitucionais:
o objetivo de fiscalizar a ordem. Foi um projeto do tempo
A classe política da província são ainda sem ilustração,
de Alencastro que, se não dava poder de polícia para esses e [não tem] mesmo educação alguma, e infelizmente
delegados, dispunha o chefe do Executivo de vários fun- dominada por um pugilo de celerados, cuja malvadez pa-
cionários pelo Mato Grosso, mantendo-o informado de rece, Ex Snr., que desafia, e até justificaria barbaridades, e
qualquer perigo ao sossego público. excessos condenados por máximas constitucionais que
O segundo projeto de lei, o nº 10, previa uma cumpre respeitar.
certa imunidade aos deputados. Nenhum deputado pro- A bancada de oposição, em represália ao presidente,
vincial seria constrangido a sair da província, por pretexto usava do instrumento de obstrução. Conseguiu impedir a
algum, durante a legislatura, nem mesmo aquele que tiver votação da lei orçamentária. Essa lei era fundamental para
sido eleito para a legislatura seguinte. Dizia também que a administração fiscal do ano seguinte.
não seria “constrangido a aceitar emprego, ou comissão, A maioria legislativa também fez uma representa-
ainda mesmo para o interior da província, uma vez que o ção contra o presidente Ribeiro de Rezende, pedindo sua
impossibilite de comparecer nas sessões da respectiva le- “pronta demissão”. Dizia a representação que ele fomen-
gislatura”. tava os partidos e a intriga, e que também era dominado
Ambos os projetos retiravam força do presidente de por uma letargia, despertando dela “de quando em quan-
província. O nº 4 procurava suprimir algumas ligações do” somente para se aproveitar das páginas de um perió-
dico, e parecer que estava em ação. A lei orçamentária não
que o presidente tinha com o interior. O nº 10, se-
havia sido votada por culpa dele, já que perseguia deputa-
gundo Rezende, tinha por objetivo “inibir o presidente de
dos, mandando dois deles, que eram militares, para o Rio
província de poder empregar dentro e fora dela”. Na ver-
de Janeiro, assim como conseguiu a invalidação do diplo-
dade, o que os deputados argumentavam era que o che- ma de um outro parlamentar.
fe do Executivo usava dos empregos dos deputados para Assinaram essa representação deputados de diferentes
os transferir para longe de Cuiabá, diminuindo a força da facções: do grupo ligado ao cônego José da Silva Guima-
bancada que poderia fazer oposição a ele. Dessa maneira, rães, além do próprio, estavam Ayres Augusto de Araújo,
mandou dois militares, que eram deputados, para irem à Manoel Alves Ribeiro, José Pinto de Siqueira, José Alves
Corte, prestar esclarecimentos, antes de começar a sessão Ribeiro, Joaquim de Almeida Falcão, José Mariano de Cam-
de 1840. Boa parte da Assembléia Legislativa não entendeu pos e Manoel Ignácio de Faria. Do grupo ligado a Antônio
isso como contingência do emprego. Corrêa da Costa, assinavam José da Costa Leite Falcão
e Antônio José da Silva.208 Isso mostra que não era rígida
a formação de bancadas e parcerias.

57
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

A Câmara Municipal da vila de Poconé, afinada com o Eram as disputas políticas que, para o cônego Guima-
seu conterrâneo que mais despontava na política provincial rães, colocavam os interesses pessoais de alguns acima
nesse momento, Manoel Alves Ribeiro, também mandou das necessidades da província. Tal disputa inviabilizou o
representação para a Corte contra Rezende. A representa- trabalho legislativo de “aqueles que mais trabalham pelos
ção dizia que o presidente havia nomeado somente pessoas melhoramentos materiais da” província. Esses, que mais
“desafetas ao município” poconeano. Segundo essa câmara, “trabalhavam pelos melhoramentos” eram deputados que
era o presidente de província quem semeava a discórdia, antes apoiavam o presidente anterior que ele havia comba-
chegando a deportar cidadãos probos, “somente por intriga tido, ou seja, deputados como José Gomes Monteiro e José
e vingança de paixões”. Finalizava dizendo que o presidente Pereira Gomes, pertencentes ao grupo de Corrêa da Costa.
Rezende “nunca gozou entre nós a menor confiança”. Ao mesmo tempo, a ala que começava a fazer
Apesar das desavenças entre o chefe do Executivo e oposição cerrada ao cônego Guimarães era justamente
vários políticos da província, foi convocada sessão extraor- a que antes estava junto a ele na contenda contra Estevão
dinária em que os orçamentos foram votados. Não obstan-
Ribeiro de Rezende. Essa oposição agora era liderada por
te, os deputados provinciais mandaram uma enxurrada de
Manoel Alves Ribeiro e José Mariano de Campos. Alguns
ofícios para a presidência, em curto espaço de tempo, pe-
como José Leite Falcão e Joaquim de Almeida Falcão conti-
dindo, por exemplo, listagem dos empregados provinciais,
nuavam junto ao cônego; o primeiro como chefe de polícia,
coleções de leis da província, quantidade de litros de tipo
que existia na tipografia, de como se achava a exploração além de deputado provincial, o segundo como empreiteiro
de tal parte da província, de quanto o gado foi tarifado nos de obras provinciais, mas dessa vez sem mandato.
anos anteriores, informações detalhadas sobre a carreira O medo de ver caminho livre para Ribeiro foi quando
do Pará, etc. Era uma grande quantidade de requisições na sessão de 1842, vários deputados, como Corrêa da Cos-
que se não fossem respondidas em tempo hábil, poderia ta e Antônio José da Silva, deixaram seus mandatos para
ser uma contundente prova da ineficiência do chefe do suplentes (os suplentes eram os posteriores mais vo-
Executivo. Mas o tempo do presidente não era longo, e os tados). Da mesma maneira, da legislatura iniciada em
liberais que formaram o gabinete da maioridade logo pro- 1840 – em que Guimarães era um dos principais líderes
videnciaram a substituição de Rezende. parlamentar e presidente da Assembléia – para a de 1842,
Em substituição a esse presidente, o escolhido foi nin- houve uma renovação de quase 60% de deputados. Nesse
guém menos do que o cônego Guimarães. Assumiu o Exe- momento, Ribeiro já era o líder inconteste da maioria dos
cutivo com o status de presidente de província. Ninguém novos parlamentares que ingressavam na Assembléia e dos
no Mato Grosso, naquele momento, representava melhor o que continuavam.
partido liberal do que o cônego. Parecia que as referências Mesmo com uma grande oposição, o cônego Guima-
que o antigo presidente havia feito dele, só o fizeram ser rães candidatou-se a deputado geral. Os partidários do fa-
mais merecedor do cargo para os liberais da Corte. Ele zendeiro de Poconé, em oposição, lançaram José Joaquim
vai ser o único cidadão da própria província, em treze de Carvalho, um proprietário de terras que nunca havia
anos, a ser empossado como o principal delegado do Im- sido político de expressão na província. Também foi lan-
pério em Mato Grosso. çado candidato novamente Navarro de Abreu, o filho, mas
Contudo, o governo do cônego Guimarães marca a as- que já não contava com nenhum apoio expressivo dentro
censão e a supremacia de um outro político: o fazendeiro de Mato Grosso.
de Poconé, Manoel Alves Ribeiro. Durante a presidência de Segundo o grupo de Manuel Alves Ribeiro, o cônego
Guimarães, Ribeiro passa a liderar a Assembléia forman- usou todo o aparato governamental nas eleições. As tenta-
do uma forte oposição ao presidente, mesmo ambos tivas de influenciar no “voto livre” começavam pelo dinhei-
sendo, a priori, do mesmo partido. O poconeano tornou-se
ro público para aliciar os militares:
o grande chefe da facção dominante da política local.
A tesouraria geral da província é para os militares dela
Um dos primeiros desentendimentos do presidente
um fecundo manancial de soldos adiantados por ordens
Guimarães com parte dos deputados da Assembléia foi
do presidente, quando nos tempos de eleições eles se tor-
quando se encerrou a sessão ordinária de 1841. O cône-
go criticou os rumos que a sessão tinha tomado, votando nam doces instrumentos para as suas cabalas, patronato
apenas três projetos de lei nos dois meses de reunião, este que não só deixa exaustos os cofres mas também por
sem votar, para desespero do Executivo, a lei orçamen- muitas vezes priva dos soldos os militares destacados nas
tária para o próximo ano financeiro. Isso havia acontecido, mais longínquas fronteiras da província, os quais nunca
segundo o cônego, por desavenças entre alguns dos seus andam pagos em dia!
membros, que desejosos de preponderarem sobre os ne- Da mesma maneira, os empregados provinciais, “se
gócios públicos a fim de ocuparem os lugares de impor- prestam aos acenos do mesmo presidente para tratarem
tância administrativa e eletivas, para assim dirigirem de eleições.” Os funcionários públicos “que vencendo
a seu bel prazer os destinos da Província, fizeram des- um ordenado, que apenas chegará para satisfazer as pri-
gostar a aqueles que mais trabalham pelos melhoramentos meiras necessidades da vida,” e sem terem outros meios
materiais da mesma, para lhes deixar o campo livre, e de subsistência, que não seja a mensalidade do ordenado,
então obrarem como aspiram em relação a seus interesses “apresentam um luxo igual aos dos maiores capitalistas da
particulares. província”.

58
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

Os empregados estariam desviados de suas fun- Longe de queixar-me a V. Exa. deste irregular procedi-
ções. Entre esses, estava Bento Franco de Camargo, que mento da mesa da Assembléia Legislativa de Mato Grosso,
depois de receber “ordenado adiantado” teria ido a Brotas a minha intenção é somente a de fazer contar ao Governo
“com missão eleitoral”. Esse cidadão, nos anos 50 e 60, de S. M. O imperador quanto ela foi este ano anárquica,
viria a se firmar na política como deputado provincial. bem como a razão que me assiste para não convocá-la já
Denunciava ainda que o chefe de polícia, bacharel José para a conclusão da Lei do Orçamento, e mesmo para dei-
da Costa Leite Falcão, que antes das eleições ameaçava os xá -la de convocar este ano, e esperar pela reunião ordinária
votantes com “processo e prisão”, os que não assinassem da legislatura futura, se assim me aconselhar o maior bem
conforme a lista do presidente de província, no dia do plei- da Província.
to estava dentro da catedral “já então audaz e insolente” Entretanto, não era somente nesse ano, como queria
pela proteção da força armada acompanhado de “seus se- dar a entender Guimarães, que a Assembléia se desenten-
dia com o delegado imperial. Como vimos anteriormen-
quazes, que eram pela maior parte empregados públicos.
te, esse mesmo presidente já se queixava da Assembléia
Como presidente de província, certamente, o cô-
desde a legislatura de 1841.
nego Guimarães poderia fazer muitas mobilizações em
Não obstante, o desacordo entre o Executivo provincial
favor de sua candidatura. Mesmo assim, o deputado geral e a Assembléia mostrou-se contundente na indicação dos
eleito foi o do grupo de Ribeiro, José Joaquim de Carvalho. vice-presidentes pelo próprio Guimarães. Se os anos 40
Depois dessa derrota, o cônego, que havia sido presidente foram marcados por leis centralizadoras, uma delas, dada
da Assembléia Legislativa desde 1835 até 1841, não mais pouca importância pela historiografia, mas fundamental
conseguiu se eleger para nenhuma deputação. Ficou ex- para o jogo político na província, era a escolha dos vice-pre-
cluído dos esquemas partidários. De um lado, não era mais sidentes, que deixou de ser feita pelas assembléias provin-
aceito entre os chama dos liberais; de outro, os conserva- ciais e passou a ser por nomeação via decreto imperial, a
dores já tinham seus candidatos, não havendo espaço para partir de setembro de 1841. Era mais uma clara interferência
o ex- líder liberal ser incorporado. do governo central nas disputas políticas locais, principal-
Apesar da derrota de Guimarães, em 1842, no ano se- mente em uma província como Mato Grosso, onde o vi-
guinte, o grupo do fazendeiro de Poconé, Manuel Alves Ri- ce-presidente poderia assumir o governo por meses, pois
beiro, continuava em contendas, com o cônego que ainda poderia somar ao tempo de uma nova nomeação, o prazo
permanecia presidente. Dessa maneira, onze deputados de uma considerável viagem.
provinciais ainda fizeram questão de mandar uma repre- Apesar dessa interferência, a Corte procurava não
sentação contra Guimarães, para apressar sua demissão. principiar conflito com as lideranças locais. Ou melhor,
precisava delas para governar nos longínquos sertões. Daí
Dos deputados que assinaram essa representação, dois ti-
os vice-presidentes continuarem sendo escolhidos entre os
nham também participado do abaixo - assinado contra o
locais, mesmo com a designação sendo competência do
presidente Rezende em 1840. Eram Manoel Alves Ribeiro
governo imperial. Para essa escolha, a Corte pedia indica-
e José Mariano de Campos. Dos outros nove deputados ções e pareceres dos presidentes de província sobre os ho-
signatários, quase todos eram estreantes na Assembléia mens locais. Mas não necessariamente os vice-presidentes
Legislativa, exceção feita a Salvador Corrêa da Costa, que seriam escolhidos entre os indicados pelo governo provin-
era da Assembléia desde 1838. Apesar de filho de Antônio cial.
Corrêa da Costa, estava junto ao grupo que queria a depo- Dessa maneira, foi pedido ao cônego Guimarães juízo
sição do presidente Guimarães. sobre quais pessoas deveriam ser nomeadas vice-presiden-
Em 1843, a legislatura provincial continuava a não se tes. Seus preferidos eram o bispo de Cuiabá, D. José Reis, o
entender com o presidente Guimarães, que permanecia coronel Peixoto de Azevedo, o capitão- mor André Gaudie
no governo, apesar de novo gabinete conservador desde Ley, os fazendeiros José Gomes da Silva e José Leite Perei-
1842, quando a troca de comando no ministério fez os ra Gomes e o tenente coronel Manoel da Costa e Arruda.
liberais de Minas e São Paulo se insurgirem. Opinou que todos tinham “amor à sagrada pessoa de Sua
Para o cônego Guimarães, os rebeldes de Minas e São Majestade e à ordem pública. Somente um, contudo, per-
Paulo tinham seus “apóstolos ocultos que guardam o ense- tencia nesse momento à Assembléia, que era o deputado
jo da irresponsabilidade da tribuna”. Dessa maneira, nova- José Leite Pereira Gomes. Isso demonstrava a pouca em-
mente os parlamentares não tinham votado dentro do tem- patia entre o cônego e os seus ex-colegas do legislativo.
Ao indicar nomes como André Gaudie Ley e José Gomes da
po das reuniões ordinárias a lei orçamentária. Novamente o
Silva, sinalizava que figuras da facção que ele rivalizava an-
cônego dizia que a Assembleia havia perdido o tempo dos
teriormente, com uma tendência mais “conservadora”, eram
dois meses de sessão em “arguições caprichosas e discus-
as que mais confiava para entrar na fila de sua substituição.
sões fúteis”. Mas desta vez o presidente não se dispunha a Sua exoneração chegou anunciada pela mesma carta
convocar extraordinariamente os deputados. Considerava imperial que designava os vice- presidentes pela Corte. Para
que o procedimento da mesa em não colocar em votação o desgosto do cônego Guimarães, o primeiro e o terceiro
era mais uma manifestação de que ela era “anárquica”, ou substitutos do chefe do Executivo eram os líderes dos con-
seja, de que se conflitava com a presidência: flitos da Assembléia com o presidente: Manoel Alves Ribeiro
e José Mariano de Campos.

59
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

Na falta da nomeação e da chegada do governante ti- A barganha da ordem


tular, Manoel Alves Ribeiro assumiu imediatamente como
1º vice-presidente. O gabinete que promove u as trocas Era fundamental para os presidentes de província pro-
de cargos em Mato Grosso era conservador, mas a política moverem e manterem a ordem em Mato Grosso, e assim,
imperial relativa à província demonstrava querer governar corresponderem “às vistas” do governo imperial. Aprovei-
com os líderes locais que despontavam no momento. Ape- tando- se disso, a ordem poderia ser barganhada pelos
sar de ser egresso das fileiras liberais, de ser conside- políticos locais, a ponto de conseguirem a substituição de
rado “anárquico” por presidentes anteriores, isso parecia presidente de província. O governo central certamente tinha
não pesar no momento dessa escolha. O principal líder era em mente as sedições em Minas e São Paulo de 1842. Por
Manoel Alves Ribeiro, e isso certamente era o maior outro lado, os homens públicos - que tinham à frente o
quesito para que fosse escolhido vice - presidente pelo fazendeiro de Poconé, Manuel Alves Ribeiro faziam leis
governo central . e reformas que acentuavam seu poderio na província, mas
Assim que o fazendeiro de Poconé recebeu a surpreen- que colidiam com normas do governo central. Este último
dente nomeação, em demonstração de firme fidelidade, não poderia enfrentar direta e contundentemente os
logo escreveu à Corte, na tentativa de afastar qualquer sus- políticos da extensa e distante província fronteiriça.
peição de que pudesse ser problema ao governo central: Manuel Alves Ribeiro, que tornara-se o principal líder
Os mais puros e cordiais sentimentos de minha grati- dos liberais em Mato Grosso, assumiu a direção da adminis-
dão, amor e fidelidade para com a sua Sagrada Pessoa; e tração, na qualidade de vice-presidente, em agosto de 1843.
sendo a honra que acabo de receber da singular Mu- Sabia que a permanência de um vice não era muito demora-
nificência de S. M. I um irrefragável testemunho de sua da. Seria até a chegada do titular na longínqua capital. Dessa
confiança em mim, protesto por isso, que ela será também maneira, Manuel Alves Ribeiro convocou extraordinariamen-
um religioso motivo de minha maior adesão e mais firme te a Assembléia Legislativa e aprovou a lei orçamentária que
lealdade para com Ele, se maior adesão e mais firme leal- estava pendente. Também apressou-se em aprovar uma lei
dade podem caber em meu coração, que foi sempre, na Assembléia que facultava ao governante da província de-
e será enquanto vivo, todo dedicado ao Monarca.
mitir, incorporar e promover oficiais da Guarda Nacional.
A Câmara de Poconé, reduto político de Ribeiro, ficou
Tal lei ia contra o Ato Adicional que estabelecia a Corte
duplamente satisfeita. O cônego fora exonerado e o co-
como instância para resolver questões atinentes a essa milí-
mando da província ficara nas mãos do líder poconeano.
cia. Não obstante, Ribeiro fez uma lista de pessoas que
Em apoio ao vice-presidente e em concordância com a
não seriam mais dessa corporação. Outros tantos foram in-
demissão do cônego Guimarães, a Câmara de Poconé es-
corporados a ela, de acordo com a vontade do líder liberal.
creveu à Corte dizendo que a sua vila estava “cheia do mais
Mas o fazendeiro de Poconé não ficou no comando da
puro prazer e contentamento pelo benefício” de terem reti-
rado o cônego da presidência. Pois este “já comprometido província até chegar o titular. Antes de encaminharem um
na província com os que o coadjuvaram nas violências para novo presidente de província, em maio de 1843, já havia
alcançar o cargo de representante da Nação que não pôde sido assinado um decreto que passava o comando de Mato
obter”, não deveria continuar no comando da província. Grosso para o 2º vice -presidente, Manoel Pereira da Silva
As atitudes do cônego como presidente, segundo os Coelho, que era deputado provincial nesse momento, do
poconeanos, eram pautadas na vingança daqueles que grupo conservador, que não tinha participado da contenda
“arredaram seu nome das urnas eleitorais.” Assim, sua de- nem contra Rezende, nem contra Guimarães. Contudo, esse
missão fora tão acertada quanto a escolha do vice-presi- deputado, por algum motivo, não assumiu o comando
dente Manoel Alves Ribeiro . da província. Em seu lugar tomou as rédeas de Mato
Da mesma maneira, também demonstrando contenta- Grosso o 3º vice-presidente, José Mariano de Campos .
mento com a nomeação do vice e com a demissão do Manoel Alves Ribeiro havia sido escolhido o 1º vice-pre-
delegado imperial, o presidente e os secretários da As- sidente, certamente, para satisfazer a sua facção local. Mas
sembléia Legislativa mandaram carta ao imperador, via o que o qualificou para substituir o presidente Guimarães,
Ministério do Império, felicitando tais atitudes, que livra- parecia não ter mais validade para o gabinete na situação.
vam “da opressão os seus súditos. Provavelmente as modificações na Guarda Nacional que
Assim, Manoel Alves Ribeiro e os seus seguidores fa- demonstrava uma certa autonomia local , aliadas a antigas
ziam uma representação de que o fazendeiro de Poconé queixas tenham tido algum efeito. Mas isso não fazia com
era leal à monarquia, fiel ao imperador, e de que como po- que o governo central chegasse a mudar a lista dos substitu-
lítico contrastava com a opressão do ex-presidente Guima- tos locais do chefe do Executivo. O governo central, portan-
rães. O alvo dessa representação era o governo central, já to, procurava não se chocar contundentemente com a fac-
que vários cargos na província dependiam de decisão ção liberal de Mato Grosso, ao mesmo tempo em que pro-
imperial, ao mesmo tempo em que demonstravam querer curava retirar algum poder da oposição. De qualquer forma,
governar com as instâncias governamentais superiores. mesmo sendo o líder poconeano substituído, o seu grupo
Manoel Alves Ribeiro chegava ao comando do go- conseguiu com que o exercício da vice - presidência re-
verno, com o apoio da Assembléia. Isto facilitava suas caísse em outro de seu partido. Isso, contudo, era enquanto
ações na tentativa de encastelar seu grupo nas posições- o novo presidente, designado pelo partido conservador, não
chave, no mesmo momento em que procurava alcançar chegasse à província, o que aconteceu ainda em outubro, 19
maiores patamares políticos. dias depois do 3º vice-presidente assumir.

60
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

O novo delegado do Império na província era Contudo, o presidente de província não se aventurou
o coronel do Exército Zeferino Pimentel Moreira Freire, em tentar organizar a Guarda Nacional, e colocá-la em pa-
que teve que se deparar com uma Guarda Nacional, que rada, ou seja, em faze-la reunir -se com seus oficiais de
na sua concepção, estava totalmente irregular. Assim, dizia direito. A Assembléia de Mato Grosso, por seu turno, tam-
ele para os parlamentares provinciais que “devido a uma bém não revogou, nesse momento, a lei provincial.
lei provincial de 23 de setembro de 1843”, a guarda na- Outro governante, em 1847, com cuidado nas palavras,
cional se achava “sem organização, sem armamento, sem pedia à Assembléia que tornasse nula a lei provincial: “Acho
disciplina”. Precisava de reforma urgente em seu pessoal: conveniente que revogueis a resolução provincial nº 11 de
“Se mal estávamos, pior ficamos, criando embaraços para 23 de setembro de 1843”227. Era o presidente João Cris-
a administração”. Dizia para os deputados “que alguns ar- piniano Soares, advogado, que apesar de sugerir que não
tigos estão fora da órbita dos poderes da Assembléia, e o se legislassem sobre a Guarda Nacional, desde o início fez
simples fato desta lei ser sancionada pelo meu antecessor, vistas grossas para várias outras irregularidades do grupo
Manuel Alves Ribeiro não me obriga a cumpri- la”. Dessa
de Manoel Alves Ribeiro.
forma, suspendeu as promoções que estavam em curso.
Uma dessas irregularidades havia sido o sequestro do
Argumentou que muitos se apresentavam como oficiais,
médico Francisco Sabino Álvares da Rocha Vieira. Mais
mas poucos eram habilitados para os cargos. Procurando
conhecido por doutor Sabino, foi um dos líderes da
demonstrar que não era rixa partidária, disse que iria en-
caminhar o caso para a Corte, e que depois se decidiria Sabinada, revolta contra o governo acontecida na Bahia,
conclusivamente. em 1837. Enquanto vários dos líderes desse movimento
Ora, os presidentes tinham que procurar ter o maior ganharam a anistia, particularmente em 1840, Sabino foi
controle possível sobre os corpos armados, notadamente mandado para cumprir prisão em Goiás. Depois de muitos
sobre a Guarda Nacional que abrigava as elites locais, assim apelos do presidente dessa província, o doutor foi trans-
como vigiar de perto iniciativas autonomistas. Foram elites ferido para o Mato Grosso. Iria ficar no forte Príncipe da
armadas que comandaram uma forte rebelião em 1842 na Beira, no vale do Guaporé. Contudo, sua escolta foi atacada
província paulista e na mineira. Essa possibilidade drástica e o médico foi levado para Poconé. O presidente de então,
estava sempre em destaque no pensamento dos presiden- Gomes Jardim, chegou a enviar patrulha para prendê-lo.
tes, também nessa década de 1840. Mas não havia como tirá-lo do meio dos poconeanos, que
O substituto imediato do coronel Moreira Freire foi argumentavam faltar um médico na localidade. O doutor
o tenente-coronel Ricardo Gomes Jardim, em 26 de setem- Sabino acabou sendo levado para a fazenda Jacobina, tida
bro de 1844, nomeado já por gabinete liberal. Dessa vez, a como a mais rica da região, de propriedade dos Pereira
Corte fez a substituição direta, ou seja, sem o intervalo para Leite, nessa época família aliada de Ribeiro. Assim, passa-
o exercício do vice -presidente, que ainda era Manoel Alves vam-se os presidentes sem que se conseguissem colocar o
Ribeiro. Moreira Freire não deixou a capital até a posse de médico sob o poder judicial.
seu substituto, não abrindo, dessa maneira, espaço para os Crispiniano Soares não somente não se importava com
políticos locais imprimirem alguma medida em nome do essas irregularidades, como apoiou efetivamente o partido
governo. de Ribeiro. Devido a isso, conseguiu sair eleito deputado
Gomes Jardim, como o presidente anterior, não geral para o Rio de Janeiro pela província. Com exceção de
entendia como correta a forma como estava a Guarda Pimenta Bueno, ainda no final dos anos 30, até 1850, ne-
Nacional e a lei provincial que a estaria regendo. Dessa ma- nhum presidente conseguiu ter uma relação sem conflitos
neira, afirmou que não daria consecução à tal dispositivo: com a Assembléia como foi a de João Crispiniano Soares.
“Não tenho continuado a execução, apenas começada, da Não obstante, a Guarda Nacional também não se
resolução Provincial n. 11 de 23 de setembro de 1843”.
reuniu com esse chefe do Executivo. Foi somente em
Entendia o presidente que “a observância desta resolução
1849 que o presidente Joaquim José de Oliveira, sucessor
importa manifesta infração de vários artigos das leis orgâ-
de Crispiniano, conseguiu reunir uma parte da Guarda Na-
nicas da mesma Guarda Nacional”. Preferia deixar tudo
cional e promover alguma rotina nessa fração da milícia.
como estava “até decisão do Governo Imperial, a quem
consultei sobre este objeto, logo que entrei para a admi- Segundo Leverger, desde a década de trinta que a guarda
nistração. não se reunia de maneira regular. Mas essa rotina promo-
No ano seguinte, em 1846, o presidente Gomes Jardim vida pela presidência não foi com o apoio da Assembléia.
já tinha as disposições legais para informar a irregularidade Pelo contrário, o presidente Oliveira sofreu forte oposição
da lei provincial: “Um Aviso da Secretaria de Estado dos Ne- da facção liberal que dominava o legislativo desde 1837.
gócios do Império advertiu a Presidência que a Assembléia Os corpos armados eram importantes elementos
Provincial nada podia legislar ou reformar sobre a Guar- não só para a segurança da província, mas também nas
da Nacional”, por não ser dos objetos da sua competên- estratégias políticas. Se os presidentes de província deve-
cia “especificados nos arts. 10 e 11 do Ato Adicional; e por riam procurar ter o maior controle possível sobre esses ho-
outro Aviso da Repartição dos Negócios da Justiça de 21 mens armados, deveriam também se assegurar de que as
de abril de 1845, em solução as minhas dúvidas e do meu contendas com os políticos locais não se transformassem
antecessor, a respeito da observância da referida Resolução em franco conflito.
Provincial.

61
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

Nesse sentido, uma situação difícil para os presidentes foi Mas tal destacamento não foi dissolvido. Antes com ele,
quando a Assembléia provincial, em 1840, simplesmente ex- do que sem corpo policia algum. Outro presidente de provín-
tinguiu a dotação orçamentária para a força de policia, que cia, o advogado João Crispiniano Soares também designado
servia na capital. O presidente na época, Ribeiro de Rezende, pelo gabinete liberal já não tinha esperanças de que a
se opôs veementemente a tal medida. Mas a lei que extinguia Assembléia restabelecesse uma nova força policial: “Bem
a guarda acabou sendo sancionada pela presidência, talvez longe estou de propor-vos a criação de semelhante força,
pela justificativa da falta de recursos, mas certamente pelo re- que chamaria consigo uma despesa superior às possibilidades
ceio de causar maiores conflitos com a Assembléia Legislativa dos cofres provinciais”, embora assinalasse a sua necessidade.
dominada pelos liberais. Acontecia que uma guarda policial, debaixo das or-
Em substituição, foi criada uma força formada por 30 pra- dens imediatas do governo, poderia ser uma força pode-
ças do corpo de 1ª linha (Exército). Ou seja, não apresentavam rosa nas eleições. Por outro lado, os soldados do Exé rcito
gasto nenhum para a província, tal como pensara alguns anos (força de 1ª linha) tinham toda uma cultura de subordinação
antes o presidente Pimenta Bueno. Para distinguir essa nova primeira aos seus oficiais, daí não estando diretamente liga-
força policial das praças do Exército, o chefe do Executivo co- dos ao presidente de província. Mesmo em ocasião em
ronel Zeferino Moreira Freire pedia ao menos uma pequena que a maioria da Assembléia tinha como aliado o principal
gratificação para esses soldados. Segundo sua ava liação, qual- delegado do Império, como no caso de Crispiniano Soares,
quer policial teria que receber soldo maior do que o de praça os deputados continuavam se negando em criar uma força
de 1ª linha . policial, pois sabiam que um chefe do Executivo lhes
Essa força policial, no entanto, não fazia o presidente de dando apoio poderia ser somente momentâneo, haja visto
província Ricardo Gomes Jardim sentir a segurança da provín- a grande rotatividade de governantes.
cia em estado satisfatório. Ele era tenente-coronel designado Se a falta de uma corporação policial, composta por pes-
pelo partido liberal, mas desconfiava da eficácia da medida soas que não fossem praças do exército, poderia ser jus-
adotada pela Assembléia luzia. Assim, Gomes Jardim reclama- tificada pelas dificuldades financeiras, as demissões e
va que faltava ao governo e às autoridades policiais “todos os promoções na Guarda Nacional tinham caráter fran-
camente político, pois eram direcionadas para o fortaleci-
meios de prevenção, e quase todos os de repressão, principa
mento de uma das facções da província. Eram manobras que
lmente desde que na Lei Provincial nº 6 de 27 de junho de
colocavam à prova os políticos locais e o delegado imperial.
1840 234, e nos orçamentos seguintes, foi suprimida” a força
pública. Dizia, ironicamente, não saber “por que motivo, toda
O “arbitrário” e o “Partido de Camapuã”
despesa com a força policial” havia sido cancelada. Ora,
a força policial paga pelos cofres provinciais era diretamente
O maior embate entre um presidente de província e uma
subordinada ao presidente. Uma força composta com solda-
facção local, entre 1835 e 1870, foi durante o governo de Oli-
dos de linha, teria toda a influência dos militares locais de alta veira. Não apenas os relatórios demonstram isso, mas tam-
patente. bém outras documentações reforçam essa afirmação.
Gomes Jardim pedia, então, que se criasse corpo policial Cabe aqui um comentário sobre os relatórios de presi-
que não fosse de soldados de 1ª linha, devendo ter no mínimo dentes de província. Os dois do major Joaquim José de Oli-
40 homens. Acreditava que as praças do Exército eram “distraí- veira, principalmente o segundo, eram os mais francamente
das do serviço militar para que são pagas, e essencialmen- políticos. Isto é, o chefe do Executivo falava abertamente os
te destinadas pelo Ministério da Guerra.”. Se não fosse possí- nomes das pessoas com quem se relacionava, positiva ou
vel, que se dessem pequenas gratificaç ões ao “empregados negativamente. São dezenas de nomes que o presidente fez
neste indispensável serviço, como justa indenização do maior questão de atribuir comentários sobre seus procedimentos.
uso e consumo que eles dão ao pouco fardamento e calça- Por outro lado, há relatórios quase sem se referir ao nome de
do que vencem pelas administrações dos corpos. Além dos pessoas locais, como o de Pimenta Bueno, em 1836, e o de
soldados estarem exercendo funções para as quais não Leverger, em 1851. A maior parte desses documentos procu-
foram designados pelo governo, seria o serviço de polícia rava ser impessoal, algumas vezes citando somente o cargo
que deveria cuidar das posturas municipais. sem o acompanhamento de quem o ocupava. Na maioria das
Gomes Jardim deveria ter em mente que servir no Exército vezes citava-se o nome somente quando a pessoa desem-
era concebido muitas vezes como verdadeira punição. O ex- penhava algum papel digno de louvor. Nomear para atribuir
pediente da violência para recrutar era usual. Daí desconfiar da irregularidades, era muito menos frequente. Contudo, Ma-
qualidade de tais homens para policiar a capital, e mais ainda nuel Alves Ribeiro foi o campeão de citações negativas pelos
para vigiar posturas. Acima de tudo, percebia-se na formação presidentes de província, contribuindo bastante para isso os
de um corpo policial formado por praças do Exército como documentos produzidos pelo major Oliveira.
um possível perigo de insubordinação. Dessa maneira, Na verdade, vários conflitos que existiam desde quando
o presidente procurava justificar o seu pedido, baseando-se a facção de Ribeiro se configurara acabaram por se tornar
em possíveis direções do governo imperial. Argumentava que mais agudos na presidência de Oliveira. Pois, este procurou
conservar essa espécie de destacamento de 1ª linha “não tenazmente, segundo ele mesmo, enfrentar o estado em que
deve mais continuar em vista de um Aviso da Secretaria a província se achava, a qual era tratada como uma “con-
de Estado dos Negócios da Guerra à presidência do Piauí”, quista” dos “anarquizadores”, em que “os dinheiros do cofre
que declarava “tais destacamentos contrários à disciplina mili- públicos, os bens das fazendas nacionais, os direitos dos pa-
tar, como de fato a experiência o mostra a todos.” cíficos habitantes, tudo estava à mercê dos conquistadores.

62
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

Joaquim José de Oliveira tomou posse em 27 de Também com a tropa de linha o presidente não podia
setembro de 1848, mas foi nomeado por carta imperial contar. Os oficiais eram adeptos à facção do fazendeiro
de 28 de março do mesmo ano. Ou seja, sua nomeação foi de Poconé, “os quais por sua proverbial corrupção
ainda durante um gabine te liberal. Com a queda do encontram naturalmente simpatias nesse partido.” Como
ministério, e a ascensão dos conservadores, o que aju- dizia o presidente, em seu relatório de 1849, lembrando
dou aos liberais praieiros de Pernambuco se insurgirem, quando chegara ao Mato Grosso, que uma facção contro-
o presidente de província não foi trocado imediatamente lava quase tudo: “os funcionários públicos desde os
de seu cargo. vice-presidentes da província até os contínuos das re-
Como delegado do Império, Oliveira queria demons- partições, desde os deputados até os votantes qualificados,
trar independência aos partidos políticos, sendo um ser- desde o chefe de polícia até os inspetores de quarteirão,
vidor do seu país. Assim, quando pedia aprovação de seus eram, com raras exceções, da mesma grei.
atos para o governo imperial, dizia que não sou Luzia nem Como um intelectual pertencente à burocracia do Im-
pério, fazia seu diagnostico sobre as causas do estado em
Saquarema, nem simpatizo com estas qualificações. Amo
que a província se achava: “Penso que se pode atribuir ao
sinceramente o meu País, e não tenho atualmente
pouco desenvolvimento dos diferentes ramos da indús-
outro credo em política. Consistindo a minha maior am-
tria, de onde resulta a escassez dos meios de subsistência”.
bição em entregar a administração da Província respeita-
Dizia que a propensão dos “brasileiros [era] para viverem
dos os direitos do Império nas suas Fronteiras, e mantidas à custa dos cofres públicos”. Os partidos, dessa maneira,
no interior a segurança e tranquilidade públicas. existiam para o “fim de satisfazer essa tendência. Ou seja,
Procurava mostrar-se apartidário, mas ao chegar à o presidente de província percebia antes uma luta por car-
província, encontrou logo de início um “partido bastante gos do que por qualquer outro objetivo, diferentemente
pronunciado” que se prontificava em fazer oposição. O dele, que procurava passar a idéia de que servia ao seu país
presidente escrevia para o ministério do Império, lembran- como um administrador apartidário.
do que esse mesmo partido já havia sido classificado pelo Contudo, essa “vocação para o emprego público”, nos
Conselho de Estado do Império, em sessão de 1846, como dizeres de Nabuco, que o presidente também percebia, era
um “partido audaz, que procura manter-se na gover- acentuada em Mato Grosso devido à ruína da mineração:
nança da terra, não poupando meio algum”. Este grupo “Ora, a exploração das minas de ouro, e de diamantes, que
era conhecido na província como o “partido de Camapuã”, constituía quase toda a indústria da Província, se acha
cujo chefe era Manoel Alves Ribeiro. Essa denominação aniquilada”. E a “indústria agrícola” continuava “aca-
de “partido de Camapuã” era um estigma que os adver- nhada, e continuará enquanto a província não tiver livre
sários de Ribeiro procuraram colocar na facção liberal. Ca- navegação do Paraguai ao Prata”. Dessa maneira, não era
mapuã era o nome de uma fazenda que fora apropriada de se admirar um “partido audaz”, como o de Camapuã,
por Ribeiro e na qual os seus opositores apontavam querendo “por todos os modos viver à custa dos cofres
várias irregularidades na sua posse. Apesar do pensa- públicos”. Somava-se a isso a extensa fronteira, por onde
mento do Conselho de Estado, os vice-presidentes eram bastava a qualquer “malfeitor transpor um rio para se achar
todos da facção de Ribeiro, a começar pelo próprio fazen- exilado nas repúblicas vizinhas”.
deiro de Poconé que era o primeiro substituto imediato do Oliveira sentia que não havia segurança para si e
presidente de província. Segundo o major Oliveira, todos para sua administração na província. A “grei” que domina-
eles tinham sido nomeados com base em informações de va os principais postos se mostrou hostil a ele quando mal
Crispiniano Soares. chegara em Cuiabá. Espalharam panfletos com insultos a
Não somente os vice-presidentes demonstravam o pessoa do presidente. E a todo momento lembravam ao
major Oliveira que ele havia recebido a província em per-
predomínio do partido de Ribeiro. Dizia o delegado im-
feita tranquilidade pública. Se alguma coisa mudasse, era
perial que “pertencem também ao partido de Camapuã os
culpa dele.
empregados de nomeação do governo provincial e os de
O presidente de província procurou, então, apoio no
nomeação do governo geral”. Os que não o eram, pouco
governo central. Escreveu para o ministério do Império di-
antes de sua chegada, foram suspensos pelo vice-presi- zendo que era urgente que se mudassem logo os nomes
dente Nunes da Cunha, como foi o caso do inspetor da dos vice - presidentes. Como estava, acreditava que corria
tesouraria que foi substituído por um contador “camapuã- perigo de vida. E com a sua morte, o grupo de Ribeiro as-
nista exaltado”. sumiria novamente a província: “o punhal de um assassino
Os postos da Guarda Nacional também estavam preen- pode pôr de novo nas mãos de uma facção audaz o admi-
chidos na sua totalidade com gente do partido Camapuã. nistrador da província.
Da mesma maneira, foi perto de sua chegada que foi pro- Os novos vice-presidentes, claro, deveriam ser pessoas
movida a mudança nos postos que ainda se achavam va- de “reconhecida probidade”. Listou seis nomes para a
gas por lei provincial. Essa mesma lei, feita pelos deputa- vice-presidência, a começar pelo bispo Dom José Reis. Na
dos ligados à Ribeiro, prescrevia que os oficiais da Guarda seqüência, indicava os outros cinco, que eram Antônio José
Nacional não poderiam ser demitidos no espaço de quatro da Silva, Henrique José Vieira, José Mariano de Campos,
anos. E o chefe da referida guarda era ninguém menos do José Gomes da Silva e Antônio Peixoto de Azevedo. Com
que Manoel Alves Ribeiro. exceção de Henrique José Vieira, todos os outros eram ou

63
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

já passaram pela Assembléia Legislativa. Suas indicações o seu engenho que ficava no termo de Cuiabá, e não mais
mostravam sua aproximação com os conservadores da exercia suas funções. Contudo, era membro seguidamente da
província, tais como Antônio José da Silva, que já havia sido Assembléia Legislativa, de 1837 a 1847.
vice-presidente, e Antônio Peixoto de Azevedo, que já havia O major Oliveira também pedia que se man-
sido chefe de legião da Guarda Nacional. A indicação de Ma- dassem oficiais “instruídos e morigerados”. Dizia que a
riano de Campos demonstrava que este havia saído do “par- “imperícia e a prevaricação” dos oficiais de tropa de linha da
tido de Camapuã”, depois de com ele ter enfrentado vários província tinham sido reconhecidas por todos seus anteces-
governantes em Mato Grosso. Certamente era um apoio sores, “sem excetuar o próprio Crispiniano”.
considerável para o presidente. Com a troca dos vice-presidentes, o envio de juízes e ofi-
O caso do bispo D. José Reis também demonstra uma ciais confiáveis, medidas que dependiam do governo central,
perda de apoio para o grupo do fazendeiro de Poconé. O aliadas às atitudes que poderia tomar no âmbito da legislação
bispo concorria desde 1835 para a Assembléia Provincial. já existente, o presidente dizia ter “meios para defender nas
Mas muitas vezes não ficava entre os vinte eleitos. Quando fronteiras os direitos da nação, manter no interior a tranqui-
ingressou na Assembléia, logo foi escolhido para presidente lidade pública, e conceder a todo o cidadão a proteção que
da mesa diretora, como aconteceu em 1842 e 1843. Durante lhe é devida.”
a presidência da mesa, sendo aliado de Ribeiro, não encami- Em matéria de legislação, poderia fazer quase nada. Era
nhou a lei orçamentária, prejudicando a administração do pa- minoria na casa legislativa.
dre Guimarães. Dessa maneira, quando Manuel Alves Ribeiro A Assembléia continuou a vetar verba destinada para
assumiu pela primeira vez o comando da província, também à força policial. Dessa forma, contando com apoio dentro
em 1843, o bispo diocesano correspondeu com entusiasmo a da própria capital decidiu criar provisoriamente a “Guarda de
tal acontecimento: Segurança Pública”. A criação dessa guarda foi feita através de
Entregue o ofício em data de ontem, pelo qual dignou-se uma proclamação pública:
V. Exa. comunicar-me achar-se empossado da admin istra-
ção desta Província como 1º vice-presidente dela, asseguran- Proclamação aos Cuiabanos.
do-me que em V. Exa. acharei eu sempre em decidido zelo
O Governo da Província carece de forças para manter a
para tudo quanto for tendente ao serviço, e esplendor da
segurança e tranquilidade públicas.
Religião, tenho a honra de responder a V. Exa. que excessivo
Vos não podeis de deixar de recordar-vos do lutuoso
e extremo foi o prazer vendo a V. Exa encarregado do Go-
30 de maio de 1834, nem também dos assassinatos, que pos-
verno desta província, pois tendo por fiadores a sua honra,
teriormente se tentaram contra a 1ª autoridade da Província.
o seu caráter firme e probo, e mais do que tudo o seu amor
A Tropa de Linha acha-se disseminada pelos pontos
e respeito à Religião, conto de certo com a prosperidade
da Fronteira. A Guarda Nacional acha -se desorganizada, e
pública, porque de certo só governará a virtude e a justiça.
os seus oficiais, feitas as devidas exceções não podem mere-
E se alguma coisa puder a minha fraqueza e limitadíssima, e cer a confiança do governo. Cumpre pois fazer um apelo ao
muito imperfeito préstimo servir a V. Exa. todo me ofereço as vosso Patriotismo, a fim de que formeis uma Guarda Provisó-
ordens de V. Exa. Deus Guarde e Abençoe a V. Exa. para sem- ria para manutenção da Segurança pública.
pre Quando Ribeiro assumiu o governo da província pela se- Convido-vos para que com este fim vos rumais comigo
gunda vez, em abril de 1848, o bispo respondeu à notícia sem na frente do Palácio da Presidência pela uma hora da tarde
o “excessivo e extremo” prazer d antes. Da mesma maneira do dia de hoje.
poupou qualificações à pessoa do vice-presidente, como ha- Cuiabano, conto com a vossa adesão às Augustas Pes-
via feito em 1843: Agradeço a V. Exa a comunicação, que em soas de Sua Majestade o Imperador, e sua excelsa família, as
seu ofício de 6 do corrente se dignou fazer-me de estar V. instituições do país e aos princípios de segurança, ordem, e
Exa no exercício do cargo de vice-presidente desta província, confio que o meu apelo não será feito em vão.
e que muito folgará se por ventura tiver ocasião de prestar O presidente fazia a representação para os cuiabanos
sua cooperação sobre qualquer negócio que respeite ao de que a ordem estabelecida corria perigo. Ele era o dele-
serviço da Religião, ou da Igreja desta Província. gado do monarca, e dessa maneira falava em nome de Sua
Com a chegada de Oliveira, em setembro de 1848, o bis- Majestade e do I mpério. Não podia dispor dos aparatos de
po hipotecou apoio ao novo presidente. Certamente o chefe segurança já existentes, como os soldados do Exército e a
espiritual gozava de prestígio entre os mato-grossenses, e a Guarda Nacional. O grupo que desafiava a ordem era
indicação como 1º vice-presidente cabia então de maneira representado como o mesmo que promoveu o “lutuoso 30 de
justa para Oliveira. maio”, há 14 anos atrás.
Além das mudanças urgentes nos nomes dos vice-pre- Segundo o presidente, esse mesmo grupo teria amea-
sidentes, o chefe do Executivo também pedia juizes “in- çado de morte os governantes Estevão Ribeiro de Rezende
teligentes, probos e imparciais” para as duas comarcas e Ricardo Gomes Jardim. Agora era ele o ameaçado. Assim
da província. O juiz da primeira comarca, o bacharel Joaquim escrevia para o ministério da Justiça dizendo que havia desco-
Fernando da Fonseca, mesmo tendo tomado posse por berto um plano concreto para assassiná-lo e em seguida iria
procuração, nunca compareceu à província para fazer o assumir o cunhado de Ribeiro, o vice-presidente Nunes da
seu trabalho. O juiz da segunda comarca, que ficava na cidade Cunha. Seria como no dia 30 de maio, em que se apoderariam
de Mato Grosso, morava na província. Era o bacharel Manoel do armamento do arsenal de guerra. Daí ter criado a Guarda
Pereira da Silva Coelho. Mas havia 2 anos que se retirar a para de Segurança.

64
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

Para Oliveira, “a melhor gente” que acompanhava Ma- tos. Suspendeu o diretor do Arsenal de Guerra, o major
noel Alves Ribeiro o fazia por temor ou prudência, e “outros Antônio Bernardo de Oliveira, que desde 1841 votava na
iludidos” pela ostentação que ele faz de “grande influência Assembléia junto com o fazendeiro de Poconé. O Arsenal
na Corte”. Ostentação, segundo o presidente, que não era de Guerra poderia ser peça-chave para levantes e motins.
sem fundamento, “visto achar-se com a condecoração da Também suspendeu o promotor público José Delfino de
Rosa, ter tido a nomeação de primeiro vice-presidente,” e Almeida, um dos mais “exaltados” seguidores de Ribeiro.
que até aquele momento seu cunhado era o atual substitu- Justificava essas demissões, juntamente com os dos chefes
to do presidente, mesmo sendo “imbecil vaqueiro. de polícia, para o ministério do Império, como atos “recla-
Contudo, Oliveira conseguiu reunir ex-simpatizantes e mados tanto pelo zelo do serviço, como pela segurança e
ex-aliados de Ribeiro, tais quais eram o bispo de Cuiabá e tranquilidade pública.
o fazendeiro Mariano de Campos, além das pessoas que Na verdade, além de aprovação dos seus atos, o pre-
já eram agrupadas em oposição ao partido de Camapuã, sidente queria mostrar para o ministro da Justiça que pro-
como os Gaudie Ley e Antônio Peixoto de Azevedo. Es- movia as suspensões não por perseguição política, mas por
ses apoios ficaram patentes tanto num abaixo-assinado dever da ordem. Ou seja, respeitava o estado de direito.
de sustentação a Oliveira, quanto no sucesso da Guarda de Assim, dizia que o oficial- maior da secretaria da presi-
Segurança. O abaixo -assinado enviado para a Corte era dência espiava seus atos para “referi-los aos chefes do
encabeçado pelo velho André Gaudie Ley, e seguido por partido de Camapuã”. Também o administrador do correio
outros nomes, a maior parte se qualificando como proprie- de Cuiabá “abre os meus ofícios, e mostra- os a mesma
tário, fazendeiro ou negociante. gente, obrigando-me por isso a remeter” por meio próprio
as correspondências. Contudo, o chefe do Executivo dizia
Dessa maneira, a guarda voluntária foi formada em que não tinha demitido ainda o oficial- maior e o adminis-
seis companhias. No comando de cada uma delas cidadãos trador do correio. Argumentava que não tinha também
de projeção, como Henrique José Vieira, “um dos maiores demitido “ainda um só subdelegado, apesar de serem
capitalistas da província”; André Gaudie Ley Júnior, ne- todos exaltados camapuanistas.”
gociante de tradicional família; Joaquim José das Neves, Segundo o presidente, o acusavam de promover mui-
também negociante; Bento Franco de Camargo, militar; tas demissões, prisões e deportações. Mostrava então que
José da Costa Leite Falcão, bacharel em leis e João Gualber- não era verdade. Se não respeitasse “muito os direitos civis
to de Matos, ex-capitão da Guarda Nacional, que também e políticos” dos concidadãos, “Manoel Alves Ribeiro cami-
tinha o ofício de negociante. nharia a esta hora escoltado para a Corte.
Outra medida que estava ao alcance do presidente Na verdade, Oliveira procurou afastar tantos camapua-
era mudar o mais brevemente possível o chefe de polícia. nistas quanto fosse possível.
Quando chegou à província, o chefe de polícia era o ba- Dessa maneira, sem poder confiar no serviço de cor-
charel Ayres Augusto de Araújo, que também era juiz mu- reio, logo pediu para o governo imperial a substituição do
nicipal do termo de Cuiabá. Claramente percebeu que o administrador, pois não era de sua alçada a mudança no
bacharel era partidário de Ribeiro. Trocou este por outro cargo.
magistrado (mas que não exercia suas funções), Manoel da As mudanças no comando da Guarda Nacional,
Silva Coelho . Mas Oliveira não o conhecia. no Arsenal de Guerra, na promotoria e na polícia deixa-
Coelho estava há alguns anos fora da capital, em sua ram o presidente confiante para anular as últimas eleições
fazenda. Com a chegada de Oliveira, o bacharel Manoel para juizes de paz e para vereadores da câmara municipal
da Silva Coelho se ofereceu para lhe prestar serviços. Eram de Cuiabá.
raros os bacharéis em Mato Grosso, e havia uma recomen- Com temor de que o presidente fizesse o mesmo no
dação para que se nomeassem formados em direito para a município de Diamantino, os partidários do líder liberal
chefia de polícia. Concordou, então, com a oferta. No en- logo se prontificaram a resistir. Dessa maneira, um morador
tanto, o presidente, desconfiando de seu novo auxiliar, de Diamantino escrevia para outro de Cuiabá, dizendo que
investigou suas correspondências. Essas cartas, memoran- se o presidente quisesse promover novas eleições na sua
dos e circulares, dizia Oliveira, “concorriam para fazer crer vila, iria enfrentar o comandante da Guarda Nacional do
que o processo sobre o assassinato do juiz municipal, que lugar. A carta dizia que o comandante estava “seduzindo
ele organizava, ia se tornando um meio de negociações os guardas nacionais a se levantarem contra o governo”.
eleitorais”, como o fora em outro processo, “em que Ma- O diamantinense finalizava a carta dizendo que um novo
nuel Alves Ribeiro se achava pronunciado, e que o mesmo presidente já estava a caminho, e que Oliveira não duraria
magistrado inutilizara. Colocou, então, no posto de chefe mais do que três meses.2
de polícia Joaquim Gaudie Ley, que era juiz de direito subs- Na verdade, o principal interesse do presidente era
tituto da comarca de Cuiabá, mas que não era bacharel. Cuiabá. Aí, desde o início de seu mandato, já havia en-
Sentido-se com mais força, o presidente tomou a ini- contrado aliados contra os camapunistas. Procurar in-
ciativa de demitir Manoel Alves Ribeiro do comando da terferir no interior, ainda nos primeiros meses de governo,
Guarda Nacional e nomeou em seu lugar o coronel Peixo- poderia ser imprudência. Os municípios que não fossem a
to de Azevedo261 , que já havia ocupado o mesmo posto capital eram lugares de maior controle do grupo de Ribei-
na época dos presidentes Rezende e Jardim. Logo afastou ro. Mesmo assim, procurou fazer novas eleições também
outros seguidores do fazendeiro de Poconé de seus pos- no município de Poconé, onde encontrou irregular idades.

65
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

Contudo, o presidente Oliveira não estava demissioná- É certo que as câmaras municipais perderam fun-
rio como queria acreditar o morador de Diamantino. Ainda ções e importâncias durante o Império, principalmente
permaneceria por mais algum tempo tentando desfazer o a partir das leis regenciais, que transferiram várias de
encastelamento de Ribeiro e montando seu próprio aparato. suas atribuições e competências para a esfera provincial.
O grupo do líder liberal, como visto, tinha aprova- No entanto, a Câmara da capital ainda possuía “importan-
do leis como a da Guarda Nacional que poderia vir a tes funções”. Ela era a responsável, por exemplo, pela
influir nas eleições. Outra lei que o grupo camapuense apuração das eleições para deputado provincial, depu-
conseguiu aprovar, em 1847, que era diretamente rela- tado geral, assim como para senador. Muitas circulares
cionada às eleições, foi a que transferia as freguesias de e avisos expedidos pela Corte eram enviados à Câmara de
Nossa Senhora d a Conceição de Albuquerque, de Nossa Cuiabá para que ela as transferisse aos outros municípios
Senhora do Carmo de Miranda e de Santana do Paranaíba da província e para que também os divulgasse entre os ha-
para o município de Poconé, com a sanção do então pre- bitantes do termo da capital. Além do mais, a Câmara de
sidente de província Crispiniano Soares. Essas freguesias Cuiabá era um grande passo para quem desejava chegar
pertenciam, anteriormente, ao município da capital. à deputação provincial. Não era raro políticos de outros
O que acontecia era que Cuiabá representava uma re- municípios se candidatarem a vereador, ou mesmo a juiz de
sistência ao predomínio dos chamados liberais. A Câmara paz, em Cuiabá, como passo para saltos maiores.
de Cuiabá tinha, frequentemente, a maioria de conserva- De qualquer forma, as câmaras municipais eram, no
dores. Retirar essas freguesias da capital, era retirar núcleos mínimo, lugar para os locais exercerem política e angaria-
que votavam tradicionalmente nas antigas lideranças de rem prestígio ou desgosto. Um cidadão que tinha a preten-
Cuiabá, ou nos seus herdeiros. Assim, os liberais pensavam são de ser um político profissional, ficar sem um cargo era
poder derrotar os conservadores no seu lugar mais forte. E quase a morte de suas aspirações.
para os cidadãos dessas freguesias não pesarem no pleito Assim, a Assembléia Legislativa, em 1838, votou uma
municipal de Poconé, simplesmente não fizeram as elei- lei que reduzia a vereação de 4 para 2 anos. Essa lei aca-
ções nas novas áreas anexadas. O presidente Oliveira, en- bou sendo revogada, em 1845, por determinação imperial,
tão, expediu ofício para a Câmara de Poconé, exigindo que pois feria o Regulamento das Câmaras. Possivelmente
se fizessem eleições nessas freguesias recém-anexadas. Os com ironia, um presidente mostrava desconhecer as
Poconeanos não só não fizeram novas eleições, como não causas que estimularam fazer tal lei sobre a duração dos
mandaram nenhuma resposta para o presidente. mandatos, mas afirmava a sua consequência: “Se ela teve
O presidente, então, recorreu ao Rio de Janeiro. Foi de- em vistas corrigir os defeitos das más eleições, ou se so-
clarado nulo o último pleito eleitoral de Poconé, ainda em mente repartir o ônus da vereação por entre os munícipes”,
1848. Mas ficava em exercício a câmara do quadriênio contudo, continuava o presidente, “tenho por evidente que
passado, o que não mudava muito a situação. esta redução de tempo veio agravar uma das principais
O partido de Camapuã, com as transferências de fre- causas da impotência das câmaras, a falta de unidade de
guesias, tinha vencido também em Cuiabá. Além das mu- pensamento e de ação, e acabar de restringi-las à simples
danças, o pleito foi faturadas por meio de outras fraudes, vida de expediente.
explícitas o suficiente para a eleição ser posteriormente Não obstante, além de recuperar o espaço perdido da
anulada. Quando Oliveira tomou posse, logo se ateve ao Câmara para os conservadores, o presidente se concentrou
caso. Com o aval do Rio de janeiro, procederam com no- em outras duas “conquistas dos anarquisadores”. A primei-
vas eleições em substituição a do período em que Nunes ra delas era a tipografia provincial. Ela foi adquirida por
da Cunha estava à frente da província. Os conservadores meio de uma subscrição dos moradores, principalmente
ganharam. dos de Cuiabá. O maquinário funcionava regularmente, até
Para o major, em 1849, a “nova Câmara,” era “composta que em 1845 parou suas atividades por causa da não desti-
de mui distintos cidadãos da capital, tem-se feito criadora nação de verba, pela Assembleia provincial, para a compra
de louvores do governo da província, e do reconhecimento de material de expediente e pagamento dos ordenados
dos seus concidadãos pelo seu espírito de justiça e dos funcionários responsáveis. Era para se lamentar, pois
ordem, e pelo seu patriotismo e dedicação no exercício segundo os cálculos de um presidente, sairia mais caro
de suas importantes funções.” mandar fazer as impressões em Goiás, como acontecia, do
Entre outros, fazia parte da nova câmara eleita os que funcionar a tipografia provincial.
vereadores Antônio Luiz Brandão, Luiz da Silva Prado, os
padres Antônio da Silva Rondon e Francisco Pereira de Mo- Quando Crispiniano Soares assumiu em 1847, a Assem-
raes Jardim. Todos esses citados serão deputados provin- bleia que era simpática ao presidente voltou a incluir a ti-
ciais nos anos 50. A câmara era presidida por José Gomes pografia no orçamento. Assim, logo tornaram-se regulares
da Silva, fazendeiro da região, que havia sido deputado as suas publicações. Contudo, os deputados provinciais
na Assembléia provincial na primeira legislatura e juiz subs- votaram lei autorizando o presidente a tomar providências
tituto em Cuiabá. Era um dos homens de confiança na em- para avaliar e arrematar a tipografia. O maquinário foi ava-
preitada contra Ribeiro. Seu filho, Joaquim José Gomes da liado em 800$000. Crispiniano Soares saiu antes de con-
Silva, nos anos 60, será um dos poucos habitantes de Mato cluir o processo. O 2º vice - presidente em exercício, Nunes
Grosso a receber título de nobreza do Império, passando a da Cunha, que era primo de Ribeiro, vendeu a tipografia por
ser chamado de Barão de Vila Maria. 810$000. Os arrematantes pagaram com “as quantias de que

66
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

eram credores do cofre provincial”. Ou seja, foram deduzi- Ciente dos propósitos da viagem de Ribeiro, a Câmara
dos débitos que a província tinha com algumas pessoas. de Cuiabá promoveu um novo abaixo-assinado em apoio
Em seguida, um cidadão chamado José Leite Penteado se ao presidente de província. O documento ressaltava em
apresentou como o dono da tipografia. A presidência fechou seu texto que a administração anterior havia tirado pessoas
um acordo com ele, no qual pagaria 1:200$000 por ano para qualificadas de seus empregos para colocar somente as
o maquinário fazer a impressão dos atos oficiais . de um partido. Elogiava o presidente Oliveira, dizendo
O presidente Oliveira tentou invalidar o negócio. Dizia ter que o seu governo era “ilustrado, justo e imparcial”. Por
o apoio dos cidadãos que participaram da subscrição, e esta- fim, agradecia a escolha do major Oliveira para presidente
vam protestando pelo destino da tipografia. O major, então, da província de Mato Grosso.
ordenou que pelos meios legais se anulasse a venda. Achou Enquanto isso, o presidente colocava o chefe de po-
um dispositivo jurídico para isso. Segundo a legislação, lícia para vigiar de perto as ações dos demais integrantes
não podia acontecer “encontro de dívidas” para a arre- da facção de “Camapuã”. Consideravam a ida de Ribeiro
matação de um bem público. Ou seja, não se poderia deduzir para a Corte como uma “fuga”. Desde que o fazendeiro
uma dívida para pagar outra, com o intuito de adquirir bens de Poconé partira, o chefe de polícia Joaquim Gaudie Ley
públicos. O encontro de dívidas só era possível no caso de dizia que os deputados liberais tinham ficado “acéfalos”.
impostos. No entanto, o chefe de polícia tinha recebido informa-
Enquanto buscava -se reaver o maquinário, ele sumiu. O ção de reunião noturna com 8 deputados provinciais
chefe de polícia Joaquim Gaudie Ley, dessa maneira, foi in- na casa de Delfino de Almeida. Foi então surpreender os
terrogar o então proprietário, José Leite Penteado. Este disse deputados reunidos. Achou 4, que eram além do próprio
a Gaudie Ley que “tinha disposto da tipografia”. Ela estava Delfino, os deputados Antônio de Oliveira, Manoel Felipe
em Poconé e o novo proprietário agora era Manuel Alves Ri- Fernandes Cuiabano e João Batista Prudêncio. Eram depu-
beiro. Simplesmente não existia na província quem tivesse a tados que começaram a aparecer na vida pública no rastro
ousadia de ir resgatar a tipografia em uma das fazendas do de Ribeiro, na metade dos anos 40. Sem maiores atritos, o
grande chefe de Poconé. chefe de polícia encaminhou os 4 deputados para o quar-
Outra “conquista” que a burocracia provincial transfor- tel, onde os interrogou “sobre o que estavam a tramar”
mou em contenda contra Ribeiro foi a fazenda Camapuã. antes de serem surpreendidos. Disseram que conversavam
Em 1839, aproveitando-se do seu poderio que crescia, Ribei- sobre o recrutamento em Diamantino. Foi pedido, então,
ro resolveu tomar para si essa fazenda. Era lugar de parada que assinassem termos de bem- viver. Contudo, para
quase obrigatória para os que viajavam de barco pelo interior, Joaquim Gaudie Ley a reunião deveria “ter por fim tramar
ou seja, pela antiga rota de navegação nos rios que ligavam alguma coisa” contra Oliveira. “É certo o ressentimento, o
Mato Grosso a São Paulo. Esse percurso já havia caído em de- ódio, que eles de há muito nutrem contra” o presidente de
suso, mas a fazenda ainda apresentava suas potencialidades. província. Constava para ele que Bento Franco de Camargo
O major Oliveira resolveu investir contra a posse havia chegado de sua fazenda, para Cuiabá, com o propó-
da fazenda, incentivando e apoiando o juiz José Joaquim sito de redigir uma “representação ao Governo Supremo”
Graciano de Pina a questionar a legitimidade do proprietário. combatendo o major.
Não tardou muito, e homens de Ribeiro dispararam contra o É interessante notar que Bento Franco de Camargo
juiz, quando ele estava em sua casa. Assim, Ribeiro foi indicia- foi uma das pessoas designadas para chefiar a nova po-
do também por tentativa de assassinato. lícia criada pelo presidente de província. Seria, então, uma
Camapuã era fazenda formada, ainda nos tempos de defecção para o grupo que havia se reunido para desafiar
colônia, pela Coroa portuguesa, para facilitar as rotas de co- Ribeiro.
mércio. Quando Ribeiro se apossou dela, ela continha ainda O presidente procurava presumir os passos do partido
vários escravos. Em 1844, Ribeiro vendeu mais de 100 negros, de Camapuã. Assim, em um dos ofícios que frequentemen-
entre eles, alguns libertos. te tinha que mandar para a Corte, falando sobre o esta-
Assim, Moreira Freire expediu ordem de prisão contra do da tranquilidade pública, aproveitou para dizer que os
Ribeiro, em 1844, pelo crime inafiançável de reduzir pessoa camapuanistas esperavam a morte do atual senador pela
livre à escravidão. Também era denunciado por vender pro- província, José Saturnino da Costa Pereira, para elegerem a
priedade de terceiros, no caso, os escravos da fazenda. Nada Pimenta Bueno. De fato, Saturnino era senador desde 1827.
aconteceu a Ribeiro, pois se escudou em imunidade parla- Veio a falecer naturalmente em 1852, o que provocou no-
mentar. Contudo, os escravos da fazenda de Camapuã volta- vas eleições pouco tempo depois.
ram a ser propriedade da Fazenda Nacional. No afã de perceber os passos do fazendeiro de Po-
Ribeiro se sentia perdendo terreno. Era cada vez mais coné, os comandados do presid ente Oliveira consegui-
pressionado. O presidente de província enfrentava -o em ram interceptar uma carta de Ribeiro para o coronel Severo
diversos âmbitos. Com a aproximação das eleições para de Souza Lima, quando estava em São Paulo, a caminho
a Câmara dos Deputados, o fazendeiro de Poconé resolveu para o Rio de Janeiro. Na carta tratava o coronel por com-
empreender uma viagem até a Corte, e lá fazer pessoalmente padre e dizia que depois de cinqüenta e nove dias de via-
esforços para a derrubada do presidente, junto aos conserva- gem, iria partir para Santos, onde pegaria uma barca para
dores que dominavam o gabinete. Como as coisas estavam, a o destino final. Dizia também que tinha sido bem tratado
próxima eleição poderia ser um desastre para o grupo de Ca- pelos correligionários paulistas, mas que “o estado políti-
mapuã, que dominava a política local há mais de uma década. co parece não prometer resultado algum de utilidade”

67
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

. Acontecia que os liberais de Pernambuco haviam se Sendo provocação ou não, Oliveira interpretou como
rebelado contra o governo. Os liberais de São Paulo que ameaça à ordem, pois dois oficiais graduados haviam parti-
haviam se revoltado em 1842, dessa vez estavam fora de cipado das festas: o coronel Souza Lima, que era compadre
qualquer insurreição contra o gabinete. Na verdade, havia de Ribeiro, e o major Gabriel Alves Fernandes. É de se notar
uma expectativa quanto ao posicionamento de São que os dois haviam sido deputados provinciais por Mato
Paulo e Minas depois de eclodir a praieira. A definição Grosso. Dessa maneira, o presidente conseguiu interferir na
dessas duas províncias era acompanhada de perto pe- oficialidade da força de linha. Para isto, escreveu ao minis-
los mato - grossenses. Era pedido pelo governo atenção tro da Guerra contando que os dois oficiais estavam em
expressa, por exemplo, quando o bacharel Antônio Corrêa orgias anárquicas comemorando a “proximidade do rom-
do Couto chegou a Cuiabá levando a notícia de que teria pimento de Minas e São Paulo”, e deram “saúdes e vivas ao
entrado muitas armas e munições nas províncias de Mi- ministério de 2 de fevereiro”291 (que era o ministério libe-
nas e São Paulo, o que o chefe de polícia logo considerou ral que havia caído em 1848). Dizia que os oficiais, pelas
como boato. Mesmo não percebendo nenhum espírito suas relações, não poderiam ser motivos para constante
de desavença dos liberais paulistas com o governo impe- desconfiança do governo provincial. Daí, apoiando-se
rial, Ribeiro dizia para Souza Lima que continuava firme no em uma circular do Ministério da Guerra, de 1839 – que
seu propósito de “obter remédio a remover os obstáculos” prescrevia que os militares suspeitos de poder provocar
que os oprimiam na província. desordem deveriam se apresentar ao ministro –, o presi-
Essa carta interceptada foi mandada para a Corte como dente enviou para a Corte o coronel Sousa Lima e o major
prova do envolvimento do coronel Souza Lima com Ribei- Gabriel Fernandes.
ro. Isso somente por si não incriminaria o coronel não fosse Outra vitória do presidente, mesmo que parcial, foi
o fato do perigo que o líder liberal representava para o a chegada da notícia com novas nomeações para vice
presidente de província. -presidente, que ele tanto pedira. Alguns nomes do
Juntava-se a essa carta o fato dos partidários de Ribei- partido de “Camapuã” continuavam, mas as novas colo-
ro terem promovido duas festas, uma no dia 27 de maio, cações eram favoráveis aos conservadores. Para primeiro
para o Espírito Santo, e outra no dia 30 de maio, o dia em
vice-presidente, o escolhido era o presidente da câ-
que aconteceu a Rusga. O chefe de polícia foi pessoalmen-
mara municipal José Gomes da Silva, que já tinha sido
te investigar tais eventos, especialmente a do 30 de maio,
indicado na época do presidente Silva Guimarães, visto
numa data em que normalmente seria caracterizada por
como homem capaz de fazer frente a Ribeiro, e agora era
tristes lembranças. O chefe de polícia presumiu que a festa
um dos indicados do próprio major. O segundo vice-pre-
do Espírito Santo era marcadamente política. O festeiro era
sidente era o coronel Antônio Peixoto de Azevedo. Como
do partido liberal, e a maneira como ela ocorreu, parecia
José Gomes da Silva, era um dos homens fortes do partido
ser mais uma marcação de posicionamento político:
conservador, nesse momento, e também tinha sido indica-
A festa do Espírito Santo tomou o caráter de devoção
do pelo cônego Guimarães. Em terceiro e quarto lugares,
especial de um partido, que in totum a ela concorreu,
mediante rigoroso convite tanto para os atos da cerimônia continuavam os homens da facção camapuanense; Severo
religiosa, como para os mais festins de uso, respirando de Souza Lima e Antônio Nunes da Cunha. A permanência
expressiva exclusão de convidar-se pessoas do lado do Go- desses dois na lista dos seis vice-presidentes certamente
verno: ora, este fato, insignificante em si, destacadamente seria para não desagradar completamente os liberais da
não mostra mais que a indocilidade de seus autores, província, pelo menos por algum tempo. O quinto e o sex-
mas combinado com as esperanças que cruzam de pro- to vice-presidente escolhidos foram Joaquim Gaudie Ley e
babilidades de rompimento em Minas e S. Paulo, inculca Luiz da Silva Prado. Eram pessoas que atuavam ao lado de
mais alguma cousa, pelo menos, aptidão para de pronto Oliveira e que começaram a despontar para a política pro-
aderirem à ele e nos mimosear com a repercussão por aqui. vincial desde então, passand o a serem eleitos deputados
A comemoração do dia 30 de maio, por sua vez, foi para a Assembléia Legislativa nos anos seguintes ao térmi-
considerada pelo chefe de polícia como “propriamente no do mandato do major.
uma orgia, e não um divertimento”, tendo em vista Em junho de 1849, chegava na Câmara Municipal de
“a qualidade do pessoal que nela se achava”. O principal Cuiabá uma carta imperial exonerando do cargo de quarto
promotor dessa festa era José Delfino de Almeida quem vice-presidente Nunes da Cunha, satisfazendo ainda mais
se “atreveu a festejar o aniversário desse dia que a piedade o presidente de província.
pública e cristã comemora com dobres de sino, missas e Quando Oliveira deixa o cargo de governante de Mato
mais cerimônias religiosas!”. As pessoas que compareceram Grosso, o titular seguinte assume sem que se passasse
ao evento “foram escrupulosamente escolhidos segundo pelo posto nenhum vice-presidente. Isso acontecia não
seus antecedentes e preconceito, com títulos para terem somente para evitar qualquer atitude dos locais conside-
ingresso”. Contudo, o chefe de polícia percebia em tal festa rada contraproducente pelo governo central, mas, prin-
também uma provocação. Era porque o presidente na con- cipalmente, para o major exercer o seu mandato pelo
vocação para formar o corpo de segurança havia lembrado maior tempo possível.
dos “horrores do dia 30 de maio de 1834”, e dessa maneira,
“acintemente houve um sarau no aniversário” da Rusga.

68
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

Antes de Oliveira sair da província, contudo, encarou Da mesma maneira, houve uma mudança na rotina de
uma prova de fogo contra a facção de Ribeiro. Era a eleição escolha do deputado geral. Nos anos 30, o grupo liderado
para deputado na Assembléia Geral da Corte, em que os por Poupino Caldas, que se opunha aos políticos tradicio-
principais candidatos eram o próprio presidente e o líder nais da capital, elegia frequentemente seus deputados para
dos “camapuanenses”. Havia ainda outros dois candidatos, a Corte. Com a formação de um outro grupo, que também
José Joaquim de Carvalho e Martin Francisco de Andrade. se opunha aos homens públicos tradicionais de Cuiabá que
José Joaquim de Carvalho já havia sido eleito deputado ge- veio formar o partido Liberal-, foi mantida a hegemonia nas
ral três vezes. Primeiramente, ele serviu na legislatura de eleições. Esse grupo, até então, além de eleger o deputado
1842, que foi logo dissolvida. Em seguida, foi eleito para os geral também fazia a maioria na Assembléia, a despeito da
anos de 1843 e 1844. A Câmara foi novamente dissolvida oposição de qualquer presidente de província e dos
nesse último ano. Por último, deputou nos anos de 1845 homens que procuravam ser os herdeiros dos antigos po-
a 1847. Todas suas eleições tinham sido com o apoio do líticos como Antônio Corrêa da Costa e André Gaudie Ley,
grupo do fazendeiro de Poconé. Agora, em 1849, concorria que dominaram a vida pública até 1834. Os sucessores des-
sem ser mais o candidato da facção de Camapuã. ses antigos políticos, que formariam o partido Conservador
Martin Francisco de Andrade era bacharel em leis, mas da província, eram, entre outros, o comerciante Joaquim
não tinha a menor expressão na política provincia na, ape- Gaudie Ley, o bacharel José da Costa Leite Falcão, o militar
sar de ser nome da Corte. Depois dessa eleição para uma Peixoto de Azevedo e o negociante Silva Prado. Apesar de
vaga na Câmara dos Deputados, não figurou mais entre se candidatarem a cargos eletivos desde o início da década
candidatos em Mato Grosso. de 40, chegaram à Assembléia para fazer a primeira maioria
A disputa acirrada era entre o presidente de província conservadora somente em 1850.
e Manoel Alves Ribeiro. Este fez uma “entrada triunfal” em No entanto, essa vitória dos saquaremas da província
Cuiabá, quando retornou da Corte, nos próprios dizeres do não havia sido completa. Depois das eleições, a Câmara
presidente de província. O fazendeiro de Poconé che- dos Deputados resolveu abrir mais uma vaga de parlamen-
gou à capital de Mato Grosso dizendo que havia feito tar para a província de Mato Grosso, passando ela a contar
acordo com os conservadores da Corte. O presidente de com dois representantes. Assim, procedeu-se à eleição no
província iria ser demitido. O próprio Oliveira reconheceu início de 1850 298 . Dessa vez, sem a forte presença do
a eficácia da viagem de Ribeiro que tinha o intuito de de- major Oliveira, que já estava rumando para a capital do Im-
pô-lo: “Partiu para o Rio de Janeiro donde logo escrevera pério como parlamentar, saiu vencedor do pleito o fazen-
assegurando a minha demissão”, o que realmente veio a deiro de Poconé. Assim, Oliveira e Ribeiro serviram como
acontecer. Assim, reclamava dos estadistas, “a que a força deputados gerais de 1850 a 1852.
moral do governo e dos seus delegados deve ser um De fato, Ribeiro e sua facção detiveram o controle da
dos elementos indispensáveis para bem governar.” província até 1849/1850. O poder político se traduzia, no
Contudo, dessa vez, a distância do “centro” do Im- mínimo, em dividendos pecuniários, passando pelo pres-
pério favoreceu o chefe do Executivo provincial. A inten- tígio dos postos que ocupavam. Para o contro le político
ção de Ribeiro era que o major saísse da presidência antes na província, os assentos na Assembléia provincial conti-
das eleições para deputado não só para a Câmara dos De- nuavam como os principais cargos, apesar da contínua in-
putados - ou Assembléia Geral mas também para a Assem- terferência do governo central, intensificada a partir de
bléia Legislativa, que seriam em datas próximas. O novo 1837. Os delegados do governo imperial chegavam
presidente, entretanto, somente chegou a Cuiabá no dia 7 a conseguir obstaculizar algumas medidas, mas o tempo
de setembro, um dia depois das eleições para a Assembléia que demoravam para a reversão (em alguns casos) de cer-
Legislativa e dois dias depois da eleição de deputado geral. tas matérias, mostrava uma larga autonomia dos políticos
Nesse intervalo, o presidente não passou o cargo para o provinciais, principalmente nos anos 30 e 40, não obstante
vice. Dessa forma, Oliveira pode usar do arsenal que dispu- várias leis centralizadoras serem promulgadas desde o fim
nha um governante nas eleições, fazendo frente ao aparato da Regência.
dos liberais, mesmo já com a presença do novo presidente De qualquer forma, pode-se dizer que foi surpreen-
na capital, João José da Costa Pimentel. Acabou havendo dente a vitória dos conservadores em 1849, pois o grupo
acusações de irregularidades dos dois lados. de Ribeiro já havia derrotado várias vezes o apara-
A apuração geral dos votos foi já na presidência do to que um presidente poderia dispor. Nessas ocasiões
novo governante, mas que não colaborou com a facção de ganhavam as eleições com folga nos municípios do
Ribeiro. O resultado foi a vitória de Oliveira, com 29 vo- interior e conseguiam votos suficientes na capital para lhes
tos. Manoel Alves Ribeiro obteve 24 votos. José Joaquim garantir o predomínio político . Quando esse grupo se
de Carvalho ficou com 6. Finalmente, Martin Francisco de opunha francamente ao presidente de província, a Corte
Andrade recebeu apenas 1 voto. não interferia incisivamente em apoio a este, nem cedia por
As eleições provinciais também foram favoráveis aos completo para o grupo liberal local. Certamente o governo
conservadores. Desde 1837, os que poderiam ser conside- central tinha medo de sedições nessa parte considerada
rados liberais dominavam a Assembléia Legislativa, devi- longínqua do Império. A facção de Ribeiro sabia bem desse
do principalmente ao seu grau de organização visando as receio, mas eram bastante cautelosos em se apresentarem
eleições. como ameaçadores da ordem.

69
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

Dessa maneira, é ilustrativa uma carta dos deputados CONCILIAÇÕES CONSERVADORAS


provinciais derrotados nas últimas eleições, em 1849, logo
depois do pleito, escrita para D. Pedro II, via ministério do A partir do novo presidente, o coronel João José da
Império. Esse ofício demonstrava o descontentamento dos Costa Pimentel, deixou de haver a forte oposição entre a
parlamentares provinciais nãosó com a eleição de Oliveira, Assembléia Legislativa e o Executivo provincial. É certo que
mas também com a sua estadia em Mato Grosso. Vale a contribuiu para isso, num primeiro momento, o predomí-
pena mostrar alguns trechos dessa carta: nio relativo dos conservadores da província na casa legis-
A Assembléia Legislativa da Província de Mato Grosso, lativa de Mato Grosso; mas somente isso não bastava,
possuída do mais vivo prazer, parabeniza V.M.I e expressa os parlamentares liberais também mudaram sua postura
sua gratidão pelo considerável bem que acaba de receber aguerrida, assim como os chefes do executivo, na maioria
esta Província com a demissão do Major Joaquim José das vezes, procuraram não desafiar os herdeiros da po-
de Oliveira do cargo de presidente dela e a nomeação lítica de Ribeiro, notadamente o pr esidente de provín-
do Coronel João José da Costa Pimentel. cia Augusto Leverger, em seu primeiro mandato. Os anos
Grave e assustadora, Senhor, era por certo a situação cinqüenta eram um novo tempo, em que a “ordem pública”
desta Província pelo acervo de materiais inflamáveis que não deixou de subsistir como preocupação dos gover-
lhe depositara em seu seio uma administração desregrada nantes, mas passou a ser época em que o paradigma
e febril, cheia de atos irrefletidos e arbitrários, como a que da civilização tornou-se cada vez mais acentuado. Em
desenvolveu o Major Joaquim José de Oliveira; e se tão de vez da contundente oposição entre um presidente e uma
pronto não viesse em socorro dela o Coronel João José da das facções, o delegado imperial procurará se postar como
Costa Pimentel a assumir as rédeas da administração, me- um conciliador, como se fosse a melhor maneira de se
donha explosão teria aparecido, e a dor e o pranto de promover o “progresso material e moral” da região.
muitas vítimas enlutariam hoje o paternal coração de No entanto, depois de naufragar a política de “Con-
V.M.I. ciliação” na Corte, na província de Mato Grosso também
[Muitos] meses, Senhor, perdidos para o progresso de se desfazem as relações amistosas que antes contentavam
todos os melhoramentos, que sempre foram o objeto da a ambos os partidos. Um lado se sente mais prejudicado
do que outro. Mas a ordem política e institucional pare-
maior solicitude do Governo de V.M.I, foram empregados
cia não correr mais tanto perigo, como acontecia nos anos
pelo Presidente em preparar terreno para vencer na eleição
30 e 40. Alguns princípios da “Conciliação” permaneceram,
geral, e se fazer deputado por esta
afastando, em certa medida, a ameaça da anarquia.
província, afetando perigos, que nunca existiram, Ape-
sar de louvarem a ida de um novo presidente de província
Arrefecendo as facções
– o Coronel Pimentel a maior parte dos deputados provin-
ciais estava saindo da casa legislativa, onde até então fazia
Se os anos 50 marcam um abrandamento das relações
a maioria liberal. No entanto, pela carta acima, percebe-se
entre o Executivo e o Legislativo provincial, essa década
que a ordem na província era questão a ser barganhada começa também com os conservadores assegurando posi-
com a Corte. Quando os deputados de província escreve- ções em Mato Grosso, em detrimento dos liberais.
ram dizendo que o presidente anterior poderia ter causado O presidente coronel João José da Costa Pimentel -
uma “medonha explosão”, não só procuravam atribuir uma que assumiu a província em setembro de 1849 - juntamen-
culpa para o delegado do Império, mas também mostra- te com os parlamentares da nova legislatura da Assem-
vam (ou lembravam) o potencial explosivo da província. Era bléia de 1850, impuseram medidas que mudavam partes
o medo de uma sedição que fazia o governo imperial ce- da legislação provincial, pela qual os luzia de Mato Grosso
der a Ribeiro, como foi no caso da demissão do presidente tinham se beneficiado nos anos anteriores. Assim, revoga-
Oliveira. ram a lei que conferia imunidade parla mentar aos deputa-
Por outro lado, a Corte sabia muito bem quem era o dos da Assembléia Legislativa. Era com base na lei de imu-
chefe dos liberais. Depois que Crispiniano Soares deixou nidades, por exemplo, que o fazendeiro de Poconé, Manoel
a presidência, em abril de 1848, para ser investido como Alves Ribeiro, havia conseguido se esquivar dos processos
parlamentar na Câmara dos Deputados, assumiu o governo movidos contra ele.
da província o chefe de Poconé, por ser 1º vice-presiden- Outra ação imediata dos conservadores foi retornar os
te. Contudo, em menos de dois meses de cargo, chegava distritos de Albuquerque, Miranda e Santana do Paranaíba
uma carta do governo imperial exonerando Ribeiro e para o termo de Cuiabá, pela Lei nº 2 de 1850 304 . Como
ordenando para que assumisse o 2º vice- presidente. E visto anteriormente, quando esses distritos ficaram perten-
assim se procedeu. Assumiu Antônio Nunes da Cunha. Era centes ao termo de Poconé, os conservadores da capital
liberal, era fazendeiro de Poconé, e era primo de Ribeiro; ficaram ainda mais enfraquecidos ante aos liberais. Dois
mas não era o próprio Ribeiro quem estava no comando anos depois dessa lei, o deputado Silva França, proveniente
da província. Se a Corte demonstrava suas prevenções em do distrito de Diamantino, exercendo sua primeira legis-
relação ao líder de Camapuã, também não tomava medidas latura provincial, enviou projeto na Assembléia com a
em que indicassem afrontamento contra a facção liberal intenção de revogar essa prescrição, retornando aquelas
em Mato Grosso. freguesias para a esfera de Poconé. O projeto foi rejeitado
pela própria Assembléia.

70
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

Entretanto, a casa legislativa não se configurava mais Uma das maiores preocupações de Leverger, como
como antes. Ou seja, não existiam dois blocos bastan- governante, seria como as facções se comportariam, nota-
te definidos, fundamentados no apoio ou na rejeição damente na Assembléia Legislativa, que durante muitos anos
ao presidente de província. Isso não queria dizer que os havia demonstrado grande disposição para se conflitar com os
desentendimentos entre os deputados tinham cessado. presidentes de província. A seu favor contava com um parla-
Joaquim Gaudie Ley, por exemplo, em uma sessão da As- mento de feitio conservador, o que não acontecia antes. Mas
sembléia de 1851, requeria que a ata desse dia se tornas- mesmo assim, a facção liberal poderia se manifestar contra os
se secreta, visto ter sido desafiado para brigar na rua com desígnios presidenciais. O presidente tinha de levar em consi-
o deputado Timóteo Ribeiro, de Poconé. Este considerou deração que apesar dos luzias de Mato Grosso não terem ven-
Gaudie Ley ter entendido mal um aparte seu, e que mesmo cido as últimas eleições, não era comum os vinte deputados
assim estava pronto para repelir verbalmente as agressões eleitos comparecerem às sessões. Ela normalmente funcionava
que também havia sofrido, tanto na “casa quanto na rua”. com onze, doze, no máximo quinze deputados. Com alguma
Para evitar maiores conflitos, o deputado poconeano aca-
organização, os liberais poderiam fazer maioria em determi-
bou retirando uma expressão utilizada, que havia ins-
nados momentos. E mesmo estando como minoria, poderiam
tigado o parlamentar conservador para uma briga física.
obstaculizar projetos de lei de interesse do governo.
Timóteo era o deputado provincial mais votado do interior,
Contudo, tal bloco oposicionista na Assembléia Le-
e entrava na política provinciana no momento em que
seu primo, Manoel Alves Ribeiro, estava longe da província, gislativa não se formou, refletindo a debilidade dos liberais
morando na Corte. também na Assembléia Geral. Talvez os liberais da província ti-
No entanto, essas pequenas desavenças não chegavam vessem recebido orientações do Rio de Janeiro para não serem
a estimular uma oposição formando um bloco. Pelo con- mais aguerridos. Seja como for, em vez de bloco oposicionista,
trário, os deputados liberais, que poderiam francamente se aconteceu o contrário. O deputado Delfino de Almeida, um
opor a um presidente designado por gabinete conservador, dos homens mais próximos do líder Ribeiro, que havia obsta-
passaram a tomar mais atitudes de aproximação do que de do o corpo policial com o fim de enfraquecer os presidentes
oposição. Isso se dá principalmente a partir da designação de província nos anos 40, acabou por apresentar um projeto
do capitão da Marinha Augusto Leverger para presidente autorizando a criação de uma companhia de policiais. Ou seja,
de província, em fevereiro de 1851. fazia um projeto que era do interesse de um presidente desig-
Desde 1843 que um morador da própria região não era nado por gabinete conservador.
nomeado para chefe do Executivo de Mato Grosso. Mas Outro projeto do interesse do governo era constituir jun-
se um governante habitante do próprio lugar parecia ser tas de cobrança de impostos nos distritos da província. Esses
uma exceção nos cálculos do governo imperial, Leveger impostos recairiam principalmente sobre o gado e a lavou-
governou sua província por mais de 7 anos, distribuídos ra. O deputado que assinava e encaminhava a proposta de
em quatro oportunidades diferentes. Foi a pessoa que mais lei era João Batista Prudêncio, que havia sido deputado do
tempo esteve à frente do governo provincial, passando por lado “camapuense” de 1844 a 1849, e agora, em 1852, voltava
vários gabinetes. Era um acontecimento raro no Império do para a Assembléia. Delfino de Almeida se opôs a tal proposta,
Brasil. Semelhante a Leverger somente Francisco do Rego mesmo sendo, a priori, ambos do mesmo partido.
Barros - que depois veio a ser o conde de Boa Vista-, que Pode-se aventar a hipótese de que Prudêncio tenha mu-
ficou na direção do governo de Pernambuco também por 7 dado de lado. Mas o certo era que os liberais não agiam mais
anos, indo de 1837 a 1844. Sua qualidade principal era a de como um bloco coeso. Da mesma maneira acontecia com os
reter os ânimos dos políticos da Praia, assim como os dos deputados conservadores. O deputado Joaquim Pires da Silva,
conservadores, o que provavelmente contribuiu para que a
por exemplo, apresentou, em 1854, um projeto que aumentava
rebelião de 1842 não se estendesse para o norte .
a taxação sobre a aguardente. Joaquim Pires da Silva tinha sido
Certamente, o que levou Leverger a ficar tanto tempo
oficial da tesouraria provincial no governo do major Oliveira.
no governo provincial foi não deixar uma facção dominar
Também foi um dos que assumiram um dos comandos da
completamente os postos da província, mesmo sendo no-
meado por gabinete conservador e identificado como tal “Guarda de Segurança” criada pelo mesmo presidente. Com o
pelos liberais. Procurava ser conciliador, o que não o impe- respaldo de Oliveira iniciou a carreira parlamentar, sendo eleito
dia de por vezes ser parcial ou se desentender com algum em 1849 para a legislatura de 1850-1851. Era, portanto,
líder político oposicionista em determinado momento. um deputado conservador preocupado em aumentar as
O capitão Leverger recebeu a notícia de sua primeira receitas provinciais. No entanto, Joaquim Gaudie Ley, um
nomeação quando estava a serviço na fronteira do baixo dos principais líderes dos saquaremas na província, pronun-
Paraguai308 . Tão logo recebeu a notificação rumou para ciou-se contra a nova taxação 312. Gaudie Ley havia estreado
a capital da província. Chegando a Cuiabá, mandou ofício na deputação provincial na mesma eleição que Silva Pires, va-
para o ministério do Império dizendo que já estava em lendo-se do obstinado esforço do major Oliveira em derrubar
exercício, afirmando que iria redobrar o zelo no “serviço os liberais da Assembléia. Contudo, no momento da votação
de Sua Majestade e do país”. Contudo, dizia achar-se sem sobre a aguardente, ele se posicionava como um dono de en-
os predicativos para exercer a contento o elevado cargo de genho na Chapada, que produzia e comercializava derivados
presidente de província. Sendo assim, dizia que “desde já” da cana -de-açúcar. Sua liderança de nada valeu para barrar o
vinha “solicitar a [sua] exoneração”. Exoneração essa que, projeto, que era de interesse governamental. O presidente de
apesar de seu pedido, não ocorreu tão cedo. província, Augusto Leverger, acabou por sancionar a nova lei.

71
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

Outro projeto que causou polêmica entre os depu- José Gomes da Silva, que era o primeiro vice-presiden-
tados foi o que autorizava o governo a construir cemité- te da província, havia pedido exoneração do seu cargo por
rios laicos. Chegava na província, novamente, a notificação se achar muito doente. O governo imperial não concordou
de que os enterros nas igrejas eram insalubres para os fre- com tal pedido, devendo ele permanecer no posto, e assim,
quentadores dos templos. Era uma época que demanda- podendo assumir o governo a qualquer momento. Con-
va campos somente para os cadáveres serem enterrados. tudo, Gomes da Silva morreu em 1º de fevereiro de
Assim, foi um dos líderes do partido liberal, o deputado 1852, “depois de longa enfermidade.
liberal Delfino de Almeida, quem fez o projeto de lei, que Leverger, então, aproveitou o momento em que
era do interesse do governo. Houve a requisição para que fez a comunicação desse falecimento para sugerir um
a votação do projeto fosse nominal, um procedimento nome para o lugar de Gomes da Silva. Considerando que
bastante raro. A favor votaram deputados conservado- o próprio governo central iria pedir para que o presidente
res e liberais, como o padre Pereira de Moraes Jardim, que indicasse alguém para o cargo, o capitão dizia que já se
no momento era conservador, e Albano de Souza Osório, antecipava, fazendo seu parecer, pois as correspondências
conhecido por ser do partido liberal. Contra o projeto es- eram muito demoradas. Assim, sugeriu o nome do doutor
tavam vários conservadores, como José Gomes da Silva, Silvério Fernandes de Araújo, “de cuja inteireza e ilustrado
Joaquim Pires e Silva Prado. A lei acabou sendo aprovada. zelo” era testemunha. Essa nomeação não poderia “recair
Essa contenda mostra que as elites não eram coesas em em pessoa mais digna e idônea”. Silvério Fernandes de
um “projeto modernizador” de enterramentos, ao contrário Araújo era juiz de direito da comarca de Cuiabá e chefe de
do que defende Maria de Barros Rocha como se as elites polícia de Leverger. Até então, não fazia parte do círculo
agissem em bloco contra toda uma população que, por sua formal de políticos da província. Tinha vindo de outro lugar
vez, desejava autenticamente a permanência de sepulturas para assumir a magistratura em Mato Grosso.
dentro da igreja. Dessa maneira, em setembro, chegava carta im-
Entretanto, o que marca esse novo período é a apre- perial nomeando o bacharel Fernandes de Araújo para
sentação e votação de projetos independentes da filiação 1º vice-presidente da província 325 , demonstrando a con-
partidária. Dessa maneira, não seria de admirar que, em fiança que o governo tinha na indicação do presidente. Mas
1853, o deputado liberal Delfino de Almeida, antes um fer- o magistrado não ficaria por muito tempo no novo posto.
renho guerreiro camapuanista, era quem proporia para a Nas eleições para deputado geral de 1852, Fernandes de
Assembléia Legislativa a confecção de um ofício felicitando Araújo acabou sendo o candidato dos conservadores e ga-
o presidente pela sua “retidão e imparcialidade com que nhou uma das vagas. A necessária postura de neutralidade
tem administrado a província”. do magistrado não o eximia de entrar na política já por um
Da mesma maneira, no ano seguinte, o deputado João cargo elevado por Mato Grosso. Note-se que a nomeação
Batista de Oliveira, - que seria logo conhecido como o do magistrado passava antes pelo crivo do gabinete em
chefe do partido liberal em Mato Grosso, pouco depois da exercício, o que certamente já tinha uma conotação po-
morte de Manuel Alves Ribeiro-, requeria que fosse consti- lítica. Mas um juiz não deixava de ter uma certa aura de
tuída uma comissão de três membros para, em nome da isenção, ainda que minguada.
Assembléia, novamente felicitar o presidente Augusto Leverger gostou da experiência do 1º vice-presiden-
Leverger, por seus “desvelos e solicitude”318. Como te. Com a saída de Silvério Fernandes, o marinheiro então
tal medida não contrariava os deputados conservado- escreveu para a Corte pedindo pessoas para ocupar postos
res, pelo contrário, entraram na comissão os parlamentares vagos e sugeria novos nomes e condições profissionais.
Gaudie Ley, Silva Prado e Franco de Camargo, todos gover- Entre eles, um magistrado que pudesse ser também vice
nistas da primeira hora. -presidente, como havia sido o juiz anterior. O presidente
O capitão Leverger, claro, não deixava de passava a idéia de que seria uma pessoa isenta em relação
agradecer as manifestações de felicitações, que eram, às manobras e pressões políticas locais.
na verdade, demonstrações de adesão. O presidente, des- Ora, a escolha de um primeiro vice que não fosse da
sa maneira, assegurava aos deputados que faria tudo política local era uma solução e segurança que Leverger via
“quanto puder para não desmerecer” as cordialidades. dos próprios problemas que a província havia apresenta-
Foi sobretudo na indicação dos vice-presidentes do em relação à substituição de governança. Isso porque
que o capitão Augusto Leverger assinalava sua aproxima- poderiam surgir ações ou boatos de que haveria movimen-
ção com os luzias da província. No entanto, o capitão não tações para depor um presidente, e em seu lugar gover-
deixaria de propor ao governo imperial que a escolha de naria um vice que antes lhe fazia oposição; possibilidades
um provável governante – como eram os vice-presiden- como essa sacudiu o governo provincial nos anos 30 e 40.
tes – recaísse primeiramente em pessoa que não estivesse Ou seja, o sentido da governabilidade passava pelo exercí-
diretamente ligada à política provincial, como um juiz cio em postos oficiais, reconhecidos pelo governo central,
designado pela Corte, vindo de outro lugar. Vamos mesmo que o governo local fosse alcançado de maneira
acompanhar o processo de escolha dos vice-presidentes, irregular. Dessa maneira, não sendo o 1º vice um político
que eram elementos indicativos do jogo político, nesse pe- enraizado nas disputas locais, tais movimentos suspeitos
ríodo de Leverger . não teriam fundamentos.

72
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

Se Leverger percebia até então como amistosa a rela- Transações


ção com os homens públicos de Mato Grosso, não dei-
xava de se precaver. Assim, o capitão escreveu para Na verdade, Leverger estava vivendo o momento da
a Corte solicitando que se mandassem logo um bacha- “Conciliação”, na qual não deixava de prevalecer a centra-
rel para servir de juiz de direito na comarca de Cuiabá. O lização política-administrativa. A proposta da centralização
bacharel seria naturalmente também seu chefe de polícia. era apresentada como a única forma de manter a unidade
Mas principalmente deveria chegar em Cuiabá já com do país, e o exclusivo meio de se promover a civilização no
uma carta imperial designando-o como 1º vice- presi- extenso território nacional. Os atritos dos locais contra
dente. os governantes provinciais, portanto, significariam in-
Isso, porém, não queria dizer que o marinheiro pres- submissão ao regime, já que os presidentes eram os
cindisse dos políticos locais. Pelo contrário. Na sua inten- delegados do governo imperial, e um dos elementos pri-
ção de evitar conflitos, e mais ainda, de se aproximar dos mordiais da concentração de poder no Executivo. A “Con-
liberais, como já vinha acontecendo, Leverger pedia tam- ciliação”, portanto, procurava diminuir os riscos de embates
bém que fossem nomeados para 2º e 3º vice-presidentes entre as facções.
dois fortes membros que despontavam no partido Liberal: A política de conciliação era anunciada desde 1843 .
Albano de Sousa Osório e João Batista de Oliveira. O pre- Mas somente nos anos 50 pôde se iniciar formalmente.
sidente os requisitava em substituição ao coronel Severo Com os elementos radicais isolados depois da Praieira, as-
José de Sousa Lima e a Antônio Nunes da Cunha. Sousa sim como um maior desenvolvimento econômico do Im-
Lima havia sido enviado para a Corte e nunca mais voltara. pério, liberais e conservadores - sobressaindo suas origens
Antônio Nunes da Cunha tinha sido exonerado do cargo comuns e uma relativa homogeneidade na forma de pen-
desde 1849, mas ainda não tinham nomeado ninguém para sar-, começaram a estabelecer acordos que “preservassem
ocupar o seu lugar. a prosperidade” assim como “favorecessem a grande pro-
As propostas de Leverger foram acolhidas em parte, priedade”. A estabilidade política no Prata, conseguida com
pois não foi mandado um magistrado para a vaga de pri- a vitória sobre o líder portenho Manoel Rosas em 1852, as-
meiro vice-presidente. No entanto, Batista de Oliveira e sim como uma nova lei de terras conjugada com um maior
Sousa Osório ganharam suas vagas e assumiram, algumas incremento da migração de estrangeiros para o país, pare-
vezes, o governo de Mato Grosso na qualidade de 1º e 2º cia mostrar que o Brasil caminhava rumo à prosperidade,
vice-presidente. O governo central continuou com sua po- mantendo os homens da política ligados à principal indús-
lítica de nomear vice-presidentes os políticos locais, quase tria do país - que era a agricultura apresentando-se mais
sempre por intermédio dos pareceres dos presidentes de concordantes do que discordantes em relação aos rumos
província. do Império.
Certamente as indicações de Sousa Osório e Batista de Dessa maneira, um ano antes da política formal de
Oliveira aproximavam o presidente de uma facção que po- “Conciliação”, D. Pedro II discursava em comemoração aos
deria ser problemática, como fora em outros tempos sob a 30 anos da independência, fazendo destacar que fora a es-
liderança de Ribeiro. Era em observação a essas dificul- tabilidade das instituições que conseguira fazer figurar
dades impostas aos antigos presidentes de província que o Império entre os povos civilizados, assim como res-
Leverger escreveu para a Corte: saltava a importância do “amor ao trabalho” aliado
Apresso-me em exprimir a opinião que levo exposta, à religiosidade, como condições para a riqueza da nação:
antes que se manifeste alguma indisposição que porven- À sombra de nossas instituições conseguimos colocar-
tura me não deixe encarar as coisas com a imparcialidade nos na lista dos povos independentes e civilizados. Elas
com que julgo tê-las visto até agora, pois, não obstante a nos têm dado o sossego e a prosperidade de que
retidão das minhas intenções e o desejo que me anima gozamos. Conto pois que, voltando a vossos domicí-
de corresponder às vistas do Governo Imperial, não te- lios, procureis torná-los cada vez mais respeitados; e que,
nho a vaidosa esperança de contentar a todos e ficar isento empenhando-vos em extinguir de todo as dissensões polí-
das contrariedades que sofreram meus antecessores. ticas e as divisões intestinas, ensinareis ao mesmo tempo a
Se Leverger não tinha a vaidosa esperança de con- vossos comprovincianos que o cumprimento dos deveres
tentar a todos, logo percebeu que satisfazia os líderes da religiosos, o respeito às leis e o amor do trabalho são os
facção que poderia lhe fazer oposição. Notando o sucesso mais seguros elementos da grandeza e felicidade dos Im-
da política de aproximação e participação dos liberais, périos. Contudo, como política ministerial, a “Conciliação”
Leverger logo defenderia a imagem dos políticos de surgiu somente em 1853, no 12º gabinete, sob a batuta do
Mato Grosso. conservador Honório Carneiro Leão, então visconde do
Os governos anteriores tinham espalhado versão des- Paraná, que logo viria a ser promovido a marquês do Impé-
favorável aos políticos locais que os hostilizavam, na qual rio. A “Conciliação” permitiu uma maior participação de
os apresentavam como insubmissos ao regime e à centrali- políticos conservadores que procuravam se diferenciar
zação Era como se houvesse esquecido completamente da trindade saquarema, ou seja, dos líderes de ferro,
o período da Rusga até 1849, quando as disputas com a Paulino de Souza, o visconde do Uruguai, Joaquim José
principal autoridade na província , os presidentes de pro- Rodrigues, o visconde de Itaboraí, e Eusébio de Queirós.
víncia, eram uma constante, assim como várias ações reve- Por outro lado, agradava em geral aos liberais, fazendo
lavam um desafio à ordem política e institucional. com que Sales Torres Homem, um jornalista e político que

73
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

escrevera o Libelo do Povo, um panfleto famoso, com gran- um mundo que os separava e os distinguia da massa da
de repercussão na época, atacando a política conservadora população. Ao mesmo tempo, esse mundo deveria garantir
do Império, passasse a usar a sua escrita em favor da Con- as diferenciações dentro da sociedade. Era uma diferen-
ciliação. Segundo Joaquim Nabuco, a imprensa, pela maior ciação que era vivenciada e naturalizada cotidianamente.
parte, recebeu muito bem a idéia de Conciliação . Dessa Como dizia um fazendeiro dos últimos decênios do Impé-
maneira dizia o jornalista Sales Torres Homem rio, “cada um sabia mais ou menos o seu lugar.
As nações novas, que, como o Brasil, ainda não firma- Aos liberais cabia saber que dentro do “mundo do go-
ram de todo os alicerces de sua civilização, necessitam mais verno” também havia uma distinção, uma hierarquia, que
que outras dessas paradas, e não podem desperdiçar colocava os saquaremas como os vencedores na disputa
suas forças vivias em lutas incessantes e estéreis sem pela direção do Império. Eram os luzias que procurariam
exporem-se aos efeitos de uma caducidade prematura. estar parecidos com os saquaremas justamente para pre-
Para Nabuco de Araújo, então político conservador, servar o “mundo do governo” entre os políticos defensores
mas que cada vez mais se afastava do partido, princi- da proeminência da “boa sociedade”. A “ordem”, por-
palmente de seu núcleo, o “espírito da conciliação” era o tanto, deveria prevalecer entre a população de tal ma-
da conservação, sem “governo com idéias extremas”, pois a neira que o exercício político não colocasse em perigo as
“conservação pura” tornaria o país estático, enquanto, por instituições imperiais, e, consequentemente, seus notáveis
outro lado, poderia levar o país à “ruína” o liberalismo rei- representantes, assim como as diferenças no interior dessa
vindicado em 1848. “Obedecendo ao espírito do tempo mesma sociedade.
e da civilização,” a Conciliação era o “progresso justifi- A própria defesa do direito de insurreição dos liberais,
cado pela experiência”. feita alguns anos antes da
A “Conciliação”, segundo Paraná, era uma políti- “Conciliação”, ilustra bem o discernimento que deveria
ca em que os partidários não precisavam sair dos seus cravar os diversos seguimentos. Sales Torres Homem que
partidos para aderirem. Contudo, o ministério formado ti- foi contundente defensor da Conciliação antes, porém, na
nha expressivo número de ministros que acabavam de sair ocasião do fim da Praieira escreveu um panfleto sob o
do partido Liberal para ingressar no partido Conservador. pseudônimo de Timandro, defendendo o direito de insur-
Limpo de Abreu, Pedreira e Paranhos eram os que haviam reição dos liberais, tanto nos movimentos de 1842 como
mudado de agremiação, mas não de “crença”, como ressal- no de 1848. Ao contrário dos movimentos que explodiram
tava Joaquim Nabuco, porque entre os dois partidos não no Brasil na época das regências, nos quais se envolveram
havia diferença sensível. Daí o sucesso da frase de Holanda fortemente a “escória” da população, aquelas dos anos 40
Cavalcante, de que não havia nada mais parecido com um “era a flor da sociedade brasileira, tudo que as províncias
saquarema do que um luzia no poder. contavam de mais honroso e eminente em ilustração, em
Contudo, as defecções logo começaram a aparecer. moralidade e riqueza”. Assim, a “Revolução” era legítima
O deputado Ferraz, que inicialmente apoiara a política não somente pela qualidade das pessoas envolvidas, como
da “Conciliação”, logo pronunciou forte discurso contra o era o próprio governo e a instituição monárquica que pro-
gabinete. Dizia que a nova política não passava de uma vocavam a “desordem”. A opressão que o monarca fazia
compra de adesões, e transformara antigos conservadores, em relação ao “partido da Liberdade”, de forma alguma
como era ele, em “meros cargueiros de pastas. era em nome do princípio da “segurança social. Pelo
Em seguida, tanto vozes liberais quanto conservadoras contrário, a “sanha” e o “orgulho” do imperador eram o que
acusavam a nova política de “matar os partidos”. Contudo, desestabilizavaa nação:
o programa de “Conciliação” permaneceu firme, com pou- A nação! Ah! se ela tivesse o direito de querer alguma
cas trocas de ministros, e com o gabinete conseguindo coisa, seria simplesmente a continuação da ordem, que é
a maioria no parlamento, sendo a principal bancada a condição única e suprema de toda felicidade, e além da
de conservadores. qual nada há mais que desejar.
No entanto, se não existia nada tão parecido com um Dessa maneira, a “ordem, a liberdade e o repouso do
saquarema do que um luzia no poder, havia uma hierarquia Brasil” caíram quando caiu também o gabinete liberal em 7
entre os dois, já podendo ser percebida na disposição da de setembro de 1848.
própria frase337 ; era o luzia que se parecia com o saqua- A “Conciliação”, por outro lado, como visto acima,
rema, e não o contrário. Segundo a análise arguta de Ilmar era apresentada como o momento em que as paixões
Mattos, os conservadores impuseram uma derrota aos li- partidárias deveriam ceder lugar para a sustentação de
berais não somente no campo de batalha, nos anos de um governo que viabilizasse a paz e o progresso da na-
1842 e 1848. Eles também venceram ao imporem suas ção. Justiniano José da Rocha, um parlamentar, professor e
concepções. jornalista a serviço do conservadorimo, chamou esse mo-
O Império deveria existir e funcionar de tal maneira mento, que começaria em 1852, de Transação. Em seu tex-
que a “liberdade” jamais poderia trazer a associação to Ação; Reação; Transação. Duas palavras acerca da atua-
com uma “igualdade”. As disputas acirradas entre os dois lidade, apresentava um “estudo refletido da história” que
partidos poderiam enfraquecer o sistema e fazer com que distinguia três movimentos básicos das ações humanas em
a “plebe” reivindicasse direitos e posições. Assim, os liberais sociedade. Desses movimentos, ele explicava a história do
proeminentes deveriam perceber que também faziam parte Brasil, de sua independência aos dias coevos, os quais me-
do “mundo do governo”, como os conservadores. Era reciam especial atenção.

74
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

Segundo Justiniano, a Ação, que buscaria a liberdade Assim, a “Conciliação” tinha um fundamento histó-
contra a tirania, predominaria de 1822 até 1836. Dentro rico para se realizar. Mas a direção era a apontada pelo
desse período, existia a fase da Luta (1822-1831), ou seja, princípio conservador. Não houve uma redefinição dos po-
até a abdicação de D. Pedro I, e a do Triunfo ( 1831-1836), deres das Assembléias Legislativas, não voltaram a delegar
sendo que esse último ano marcava as articulações para poder de polícia para o juiz de paz eleito na localidade,
o Regresso. No tempo da Ação a Câmara dos Depu- não passaram a aceitar vice-presidentes de província
tados era o “Conselho Diretor” do país, “tudo era ela”. eleitos pelo legislativo local, muito menos a escolha dos
O Poder Legislativo estava “senhora do governo. Nesse presidentes de província pelos eleitores do lugar.
período prevaleceria o sentimento “anti-português” e “an- Não obstante, a “liberdade” defendida pe los liberais
ti-monárquico”, fazendo com que fosse quase impossível nos anos 30 e 40 havia se tornada confusa até mesmo para
se governar o Império; “a ordem se fez no caos. os próprios liberais. Os conservadores requalificaram a pa-
Dessa ordem constantemente ameaçada surgiu a lavra “liberdade”; seria inequívoca, não deveria mais
Reação. Aí se fez destacar a “autoridade” frente aos possibilitar a idéia de uma “igualdade” . Ao mesmo
perigos advindos da descentralização. A reação também se tempo, o exercício político estava assegurado, sem revol-
dividia em duas fases, a da Luta (1836-1840) e a do Triunfo tas, sem revoluções, com a proeminência da “boa socie-
Monárquico (1840-1852). A Luta seria marcada pela toma- dade” garantida em sua localidade. As disputas partidárias
da do poder pelos regressistas e o Triunfo Monárquico era seriam dentro do jogo institucional da monarquia.
indicado principalmente pelo coroamento de D. Pedro II e Em Mato Grosso, Leverger era a pessoa designada pelo
pelas leis centralizadoras. Foi o medo da anarquia que fez governo central para ser encarregada dessa transação, na
acentuar a reação monárquica: missão de arrefecer os sentimentos que traziam perigosos
A reação monárquica se havia operado nos espíritos, conflitos. Tal transação, como visto nas atitudes dos depu-
não tanto pela eficaz propaganda das doutrinas, como tados na Assembléia, foi também assimilada pelos líderes
pela lição prática da anarquia, pelo desejo de evitar o liberais, seja propondo projetos de interesse do gover-
calamitoso porvir das ex-colônias espanholas que o patrio- no, seja promovendo cartas de apoio ao presidente. Cer-
tismo já eminente.
tamente os homens públicos da província estavam antena-
Mas não somente os espíritos se tornariam conserva-
dos, para não dizer comprometidos, com a “Conciliação”
dores, as mudanças práticas acompanharam as doutrinas
que se tramava na Corte.
do conservadorismo. A força de linha e a marinha foram
O presidente Leverger demonstrava aproximação com
reestruturadas, o judiciário reformulado, o poder de polícia
os liberais provinciais, não somente recomendando-os para
passou a ser ligado diretamente ao ministro da Justiça, os
a vice-presidência, como resolvendo outras pendências. A
vice-presidentes nomeados pelas assembléias passaram
venda da tipografia, por exemplo, que tanta disputa causa-
a ser escolhidos pela Corte. Para Justiniano, na sociedade
ra nos anos 40, acabou sendo aceita, sem contestação, pelo
organizada pela Reação tinha acabado a influência local;
governo provincial.
“tudo partiu do governo, tudo ao governo se ligou, o go-
vernou foi tudo”. A “Conciliação” fazia seus efeitos em Mato Grosso. Isso
Dessa forma, a Reação já deveria ser entendida como significava principalmente a ausência de ameaça ao go-
concluída. Segundo Justiniano José da Rocha, a Reação verno provincial, que por sua vez não restringiria as ações
não pararia por si mesmo, o “poder” tenderia a se expandir do partido “perdedor” pela perseguição e pela exclusão. O
se outras forças não o detivessem; “Se vai por diante, ajuste das partes seria demonstrada inclusive nas eleições.
irá despertar novas lutas”. Se continuasse a reação, viria Mas a Conciliação que se operava não era exatamente a
em contrapartida uma nova luta pela liberdade. Transação esperada por Justiniano José da Rocha, ou seja,
Era, pois, chegado o momento da Transação, que ha- tendo como fator principal o progresso da nação. A ocu-
via começado em 1852. Na teoria da História do professor pação de cargos era o principal, não havendo uma
e jornalista Justiniano, depois dos períodos da Ação e da mudança no que se relacionava a maiores poderes para
Reação viria a grande época da Transação. São nos perío- os locais, - antiga reivindicação liberal. Pelo contrário,
dos de Transação que se “realiza o progresso do espírito a necessidade de saber o que se passava na dis-
humano, e se firma a conquista da civilização”. Era necessá- tância província, conhecê-la melhor, e assim poder mais
rio que os partidos aproveitassem esse momento. “de perto” governá-la se faziam constantes para o gover-
É claro que para Justiniano não interessava se os que no central. A reunião anual da Assembléia provincial, por
participaram da “Luta ” na época da independência eram exemplo, não deixava de trazer preocupações para os go-
completamente diferentes dos que “triunfaram” na época vernos, tanto provincial quanto central. Era o momento em
da Regência, possuindo idéias políticas diversas. Contudo, que se percebia se poderia haver grandes obstáculos e
a teoria da História do jornalista e professor foi amplamen- oposições para a administração. Dessa forma, Augusto
te utilizada por políticos para explicar o que vinha aconte- Leverger participava para o ministro do Império que havia
cendo com o Brasil, principalmente pelos adeptos da encerrado os trabalhos ordinários da Assembléia Legislati-
“Conciliação”, como também por Joaquim Nabuco, ao va, “não tendo havido incidente algum de que deva fazer
fornecer uma visão retrospectiva do Império, já no tempo especial menção”.
de República.

75
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

Se era importante comunicar à Corte sobre não ocor- O tempo que iria passar em Coimbra era indetermi-
rer fatos inconvenientes na Assembléia, melhor ainda seria nado. Não era uma simples viagem de inspeção. Então,
relatar ao ministério do Império que não só tinha o apoio o capitão Leverger se viu obrigado a tomar providências
dos deputados provinciais, como não havia perigo algum excepcionais relacionadas à sua ausência da capital. Nor-
de perder sustentação. Dessa forma, Leverger dizia para o malmente, ao ter que se entregar a outras atividades se
ministro do Império que “teve lugar a abertura da sessão afastando da sede da província, sem data para voltar, o pre-
ordinária da Assembléia Legislativa Provincial. Não tenho o sidente poderia passar o cargo para o 1º vice-presidente.
menor receio de que esta nova legislatura retire o apoio à No entanto, o capitão resolveu transferir a sede do governo
minha administração”. Essa sustentação era percebida an- para o forte de Coimbra e de lá passaria a governar. Assim
tes mesmo do início dos trabalhos legislativos, mesmo com explicava ao ministro do Império:
a nova legislatura composta por vários liberais, como Leo- Ocorreu-me, como era natural, dar a mencionada in-
poldino Lino de Farias e Antônio da Silva Rondon, além dos cumbência [a de assumir a província] ao 1º vice-presi-
líderes Albano de Sousa Osório e João Batista de Oliveira. dente Albano de Souza Osório, pessoa de cuja honradez
A “Conciliação” era promovida com eficácia na fron- faço o melhor conceito; falta-lhe porém experiência e prá-
teiriça província. Leverger assumia um papel fundamen- tica dos negócios públicos, e além disso, ainda não está
tal para que os conflitos – fossem eles entre Legislativo completamente restabelecido de uma enfermidade que,
e Executivo, fossem entre as próprias facções locais – não se tornasse a agravar-se, poderia frustrar os fins que
assumissem proporções que colocassem a ordem política me proponho.
em perigo. Não era somente a alegada “falta de experiência e prá-
Um exemplo da eficácia de Leverger foi em uma tica dos negócios públicos” que desqualificavam o 1º vi-
eleição para deputado geral. Conta-se que se posicio- ce-presidente. Ele também não era a pessoa confiada para
nando os dois partidos antagonicamente, o marinheiro chefiar o estafe do governo encarregado inclusive das cor-
fez um entendimento entre os chefes das facções locais. respondências, como seria o caso se assumisse a direção
Iriam formar uma chapa única, na qual tanto conservadores da província. As várias cartas que chegavam, entre elas or-
quanto liberais vota riam nos mesmos candidatos, elegen- dens do Tesouro, Decretos e decisões do governo imperial,
do, assim, um deputado de cada partido nas duas vagas. demoravam aproximadamente três meses do emissor ao
Para garantir o acordo, cada lado depositaria 10 contos destino. Iria tardar ainda mais 15 dias até chegar ao forte,
de réis, que ficariam com o deputado que perdesse as elei- e mais vários outros dias até que o presidente despachasse
ções. Dizem que os chefes riram e concordaram. sobre o que lhe foi enviado e retornasse à capital. Assim,
Não houve mais conflitos no grau que existia nos anos o presidente incumbiu o bispo de Cuiabá para receber as
30 e 40. Claro que desentendimentos e disputas não deixa- correspondências e as reenviasse para os órgãos respon-
ram de acontecer. Mas nada que pudesse ser tão contun- sáveis; para que desse publicidade às comunicações que
dente quanto aos anos que antecederam a “Conciliação”. assim fosse exigidas; que selecionasse as que não deveria
Mesmo depois desse período, as disputas políticas não ser de conhecimento de pessoa além do presidente; e que
chegaram a colocar a ordem institucional em xeque, tal finalmente enviasse ao forte de Coimbra cópia de todos os
como na década de 40, em que o presidente de província ofícios que chegassem. Interessante notar que o secretário
dizia correr perigo de vida. da província, que normalmente fazia essa seleção, era parte
da comitiva que iria ao baixo Paraguai junto com Leverger.
Governando à distância com a “valiosíssima adesão” Sobre essas medidas, que o presidente considerava
“excepcionais”, perguntava ao ministro do Império se
Não obstante, Leverger, ainda em seu primeiro man- havia alguma irregularidade, se o governo imperial
dato, não deixava de demonstrar desconfiança em relação as desaprovava. Ao que tudo indica, o governo imperial
ao líder liberal, Albano de Sousa Osório, que poderia entrar não se importou com a instalação provisória da sede do
em exercício, já que este havia sido designado como 1º governo de Mato Grosso no baixo Paraguai, nem com as
vice-presidente. Ao mesmo tempo, o marinheiro também demais medidas, pois o marinheiro ficou um tempo consi-
não se via com a possibilidade de perder apoio da Assem- derável longe da capital.
bléia Legislativa, ou o que vale dizer, que pudesse haver Ter a sede da província e o chefe do Executivo provin-
relevantes conflitos com os políticos locais. Essa situação cial em lugar que demoraria dias de viagem até a capital
política se mostrou quando Leverger teve que partir para a poderia trazer problemas para a administração, assim como
fronteira e posicionar guardas armados. para o jogo político. Uma das preocupações dessa distância
Acontecia que o governo imperial estava pressionando era justamente o funcionamento da Assembléia Legislati-
a república guarani para assinar um acordo de livre nave- va. Fazia-se necessário, por lei, a presença do presidente
gação pelo rio Paraguai. Tal navegação era vista com muito de província para iniciar os trabalhos legislativos na aber-
apreço pelo Império, pois facilitaria as comunicações tura de sessão em cada ano. Normalmente a Assembléia
com as partes de sua porção ocidental, sendo estratégico era instalada no início de maio. Percebendo que a data se
para sua política no Prata. Nas tentativas de negociação, o aproximava, o marinheiro presidente marcou a abertura da
governo imperial designou Leverger, que presidia a provín- Assembléia para o dia 1º de agosto. Depois adiou segui-
cia, para ficar aquartelado no forte de Coimbra, na fronteira damente para os dias 1º de outubro e 15 de novembro de
do baixo Paraguai, junto com um destacamento reforçado. 1855. Contudo, não contava muito em cumprir a nova data:

76
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

Tenho porém pouca esperança de que se verifique a Soube que soldados designados para o forte que partiram
instalação no dia designado, pois que, embora não me da Corte, em agosto de 1855, chegaram somente no dia 22
conste que seja ameaçada esta fronteira, basta que o go- de julho de 1856, “ao cabo de onze meses!”. Ao chegarem
verno imperial assim o receie para que não me retire dela os praças, reclamou de sua qualidade e quantidade. Obser-
sem ordem ou insinuação do mesmo governo. vava que eram quase todos “recrutas sem disciplina e que a
Notando novamente que não seria dispensado de seus metade delas haviam desertado no caminho.”
trabalhos na fronteira para que chegasse na data marcada, Leverger mostrava que estava sendo bastante ignora-
postergou a data para o último dia do ano. Ou seja, todo do pelo governo imperial. De fevereiro até outubro de 1855
esse tempo a província ficava sem a reunião dos deputa- havia recebido apenas uma carta relativa às operações na
dos. Mas o dia 31 de dezembro de 1855 parecia ser a data bacia do Prata. Somente soube que o presidente do Para-
limite, pois, para cumprir a lei, a Assembléia deveria vo- guai tivera audiência com um chefe de esquadra brasileira
tar no ano anterior o ano financeiro seguinte. O presidente através de um semanário de Assunção, de 17 de mar-
já havia escrito sobre tal problema para o governo imperial. ço, que conseguiu com dois desertores paraguaios. Em ju-
O governo, porém, ordenou que permanecesse no mesmo lho, havia chegado um pequeno vapor de salineiros no for-
lugar, que não se ausentasse por nenhum instante. te, no qual os tripulantes alegaram que em breve o tratado
A solução dada para esse impasse foi reeditar a lei or- entre os dois países estaria feito. Eram as únicas notícias,
çamentária do ano anterior. Leverger, que havia chegado naquele momento, que tinha acerca do Paraguai: “Por
ao forte no dia 12 de fevereiro de 1855, adentrava o ano de plausíveis que sejam não minoram a perplexidade em que
1856 no baixo Paraguai. Por outras vezes adiou novamen- me achava”, dizia o presidente, “pois ficava sempre inex-
te a instalação da Assembléia, sem saber ao certo quando plicada a falta absoluta de qualquer comunicação a mim
poderia voltar. Em 1856 era uma nova Assembléia eleita, dirigida por via de Assunção.”
mas o presidente somente pôde estar na capital nos últi- Em setembro de 1856 obteve notícia, através do Jornal
mos meses desse ano. do Comércio, de 27 de maio, de que a divisão militar que
Enquanto estava no forte de Coimbra, Leverger pas- se achava na foz do rio Paraguai havia sido dispersada, e
sava para o governo imperial tranquilidade em relação à que ela se encontrava em Buenos Aires, rumo à Corte. Ou
política de conciliação, apesar de que ela já ia se tornando seja, uma divisão estava a par do que acontecia e ainda era
palavra gasta na Corte. As eleições de 1856 na província, dispensada de seu serviço na fronteira, enquanto a guarni-
por exemplo, segundo o capitão, haviam sido “tranquilas”. ção em Mato Grosso parecia ser esquecida. O que também
Mas, principalmente, confiava novamente numa boa rela- atormentava o capitão era não saber exatamente o que fa-
ção com a nova deputação eleita: “tenho toda a razão zia no baixo Paraguai, com uma guarnição destacada. Seria
de persuadir- me que, entre a futura Assembléia e a presi- para defesa de uma possível invasão paraguaia, ou esse
dência haverá a perfeita harmonia que desde há bastantes reforço militar tinha outros objetivos? Poderia ser para um
anos não há sido perturbada.” provável ataque?
Não obstante, a certeza de que não haveria conflitos Não tendo a menor idéia de quais sejam as inten-
políticos na capital, Leverger pedia para ser exonerado da ções do Governo, nem dos motivos que tem para recear
presidência. Dizia que possuía “deficiência de habilitação a invasão do nosso território, não me animo a retirar-me
para desempenhar tão elevado cargo”. Contudo, afirmava desta fronteira, sem que alguma comunicação oficial
que não iria insistir em tal pedido. revogue, pelo menos implicitamente, a ordem do Sr.
Sua permanência na fronteira era- lhe desgastante não Ministro da Guerra.
somente por achar-se sem condições para tal empreendi- Não obstante, o presidente acusava estar com suas
mento. Dizia temer que sua ausência da capital, “se ressinta “forças terminando”. Além da demonstrada aflição, agra-
dela a administração civil da província”, e que se aumentas- vava a situação o fato do secretário e os ajudantes de or-
sem os inconvenientes por uma falta tão prolongada. Ape- dem terem deixado o forte e retornado para Cuiabá, por
sar de assegurar que não receava a perda de controle so- terem ficado doentes. Dizia que, dessa maneira, escrevia de
bre os governados: “Ainda bem que não tenho motivo de despachos à simples requisições com o próprio punho. No
temer que se perturbe a ordem e a tranqüilidade pública.” que se concernia ao serviço militar, era muitas vezes força-
Além disso, as “angústias” e “inquietações” por que vi- do a intervir minuciosamente “nos maispequenos detalhes.
nha passando Leverger na fronteira eram também por vá- O desejo de Leverger em voltar para a capital se tornou
rios problemas de comunicação, que o fazia sentir-se isola- mais forte ao saber que sua mulher e sua filha estavam
do em relação aos acontecimentos no Prata, à sua própria adoentadas. Contudo, o marinheiro somente largaria seu
participação nessa operação, assim como por não se achar posto quando houvesse ordens para isso.
bem assistido em matéria de provimentos e guarnição. O Em maio de 1856 chegou comunicação do ministério do
ministério da Guerra havia informado, no início de 1855, Império dispensando a guarnição de seu posicionamento na
que enviaria para o forte em que estava equipamentos de fronteira. Mas a alegria do “Bretão Cuiabano” não se fez cumprir
guerra, gente e dinheiro “de que havia grande falta”. Con- de imediato. Chegou quase ao mesmo tempo uma designação
tudo Leverger exclamava “acabou o ano sem que se rece- do ministério da Guerra dizendo que o comandante deveria
besse coisa alguma!”. Mas em janeiro de 1856 chegou uma permanecer no forte até a chegada de um oficial, que sairia da
remessa com munição e palamentos. Os canhões, reclama- Corte, para substituí- lo.Isso significaria mais alguns meses
va o marinheiro, permaneciam na província de São Paulo. no baixo Paraguai para o líder da Conciliação na província de

77
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

Mato Grosso. Apesar de Leverger escrever para o ministério Da mesma forma, o aparato burocrático continuou com
do Império sobre que ordem seguir, se a do ministério do seu expediente normalizado. A Assembléia Legislativa re-
Império ou a da Guerra, a possível ausência de resposta gistrava que era ciente da “ordem e regularidade com que
lhe assinalaria para que permanecesse onde estava. as repartições públicas funcionaram durante a ausência” do
Durante o ano de 1856 houve um pouco mais de corres- presidente de província, e que isto se devia, “assim como
pondências entre a Corte e a sede provisória do governo de tudo o mais, principalmente à perspicácia e às normas”
Mato Grosso, se comparada com o ano anterior. Mas mesmo de Leverger.
assim eram bastante espaçadas, continuando a deixar o co- O homenageado respondeu às felicitações, em texto
mandante angustiado. Reclamava Leverger, em ofício escrito breve, demonstrando a usual modéstia, mas dizendo que as
em agosto desse ano, que daquele dia até a última data de felicitações pelos seus serviços faziam justiça “aos meus bons
correspondência da Corte fazia o tempo de 173 dias. Dizia desejos e amor que atribuo ao País”. E que a “valiosíssima
também temer que acontecessem “graves males” à província adesão” da Assembléia assegurava que a ad ministração
se não retornasse logo. Ou seja, pedia para que não ficasse da província estivesse conforme “a vontade de nosso
esquecido num lugar considerado mais isolado ainda do que Augusto Soberano.
a capital, onde certamente era privado de conforto, de assis- Ou seja, Leverger, quando tinha oportunidade, declarava
tência e dos seus entes. Como dizia em ofício anterior: “todos sua lealdade ao imperador e os seus sentimentos pela sua
sabem os trabalhos e privações que sofro neste lugar”. pátria adotada já há algumas décadas. Mostrava que estava
Finalmente, o tenente coronel Caetano Manoel de Faria a serviço do Império, e para isso frisava o quanto era impor-
Albuquerque chegou ao forte de Coimbra para ficar em seu tante a adesão da Assembléia.
comando. Leverger partiu da fronteira, no dia 19 de outubro, Assim, todos estariam seguindo as vistas do gover-
chegando à sua cidade no dia 17 de novembro de 1856. En- no imperial, principalmente nesse momento em que alguns
tretanto, passados alguns dias, acusaria estar fortemente ainda entendiam como Conciliação, já outros, na Corte, não.
enfermo, faltando-lhe condições físicas e mentaispara estar Apesar das precauções de Leverger, quem assumiu a provín-
na gerência da província. cia foi Albano de Sousa Osório, como 1º vice-presidente. No
Antes de passar o cargo para o vice-presidente, Leverger entanto, não passado muito tempo, o marinheiro seria no-
ainda abriu a sessão legislativa de 1856. Na ocasião, o capitão meado 1º vice-presidente380, cargo que permaneceria até
pedia desculpas por não ter o conhecimento preciso sobre 1866. Sua carta de nomeação chegou quase junto com o
a província, pois ficara quase dois anos afastado da capital. novo governante, Joaquim Raimundo de Lamare.
Mas o assunto do momento era a abertura da navegação Note-se, apesar de Leverger, quando presidente, não re-
pelo rio Paraguai: comendar um dos líderes dos liberais para ser o seu substi-
Folgo de poder dar-vos a notícia oficial de acha- tuto imediato, que no caso era Albano de Sousa Osório, o
rem-se enfim removidos os obstáculos políticos, que nos capitão de fragata não deixava de ter boas relações formais
vedavam o trânsito dos rios Paraguai e Paraná em toda a com o reformulado Partido Liberal da província. Pelo contrá-
sua extensão. As vantagens que podemos esperar da franca rio, Albano de Sousa Osório, como os demais políticos que
navegação dos ditos rios foram-nos facultadas por um Tra- estavam na Assembléia Legislativa, demonstraram ter o ca-
tado de amizade, comércio e navegação, concluído entre os pitão, pelo menos formalmente, em alta conta. Leverger era
plenipotenciários do Governo Imperial e da República do referência para os principais políticos locais. Assim, ao felicitar
Paraguai em 6 de abril deste ano, e cujas ratificações foram a posse de Albano de Sousa Osório, em nome da Assembléia,
trocadas em 13 de junho último. uma comissão formada por deputados provinciais esperava
A Assembléia Legislativa, muito satisfeita com esse novo que o vice-presidente continuasse a promover “o progres-
fato, logo formou uma comissão para felicitar o presidente so material e moral encetado e desenvolvido” pelo capitão
de província. A abertura da navegação era apresentada como francês, “que por motivo de moléstia” havia passado “as
um feito do “bretão cuiabanizado, contribuindo para a rédeas do governo. Em resposta, Albano agradecia o apoio
imagem heróica que começava a se construir sobre Leverger. da Assembléia, assim como dizia que iria levar avante, “como
Então, a comissão parabenizava com muitos vivas o presiden- me seja possível”, o progresso material e moral da província,
te de província “pelo fato da realização daquela grandiosa “tão habilmente desenvolvido pelo Exmo. Presidente”, seu
obra, sem o sacrifício de uma só gota de sangue, na constân- antecessor.
cia da administração de V. Ex., e com o pujante concurso (que O vice-presidente Albano de Sousa Osório assumiu a
se não pode negar sem injustiça) da preciosa pessoa de V. Ex., administração em abril de 1857 sob a responsabilidade de
e dos seus esforços por este lado do Império.” não reverter o quadro pacífico no qual Le verger era aponta-
Os parlamentares também congratulavam o presidente do como o grande responsável. De fato, o líder dos liberais
pelo estado de ordem em que se manteve a província, apesar cumpria o que lhe era proposto. Não promoveu notável mu-
de sua ausência de Cuiabá. A “continuação da paz e da tran- dança de cargos, não removeu batalhões ou recriou corpos
qüilidade pública, da união e da harmonia em toda a provín- armados; fez o trivial, que era esperar o próximo presidente
cia” eram graças ao discernimento de Leverger. O presidente de província nomeado pela Corte chegar a Cuiabá. Esse sim,
honrou os principais políticos locais “delegando- nos o seu era quem deveria imprimir o ritmo da administração pública
alvedrio, para que em seu nome reiterarmos a V. Exa., e fazer os maiores arranjos políticos. Era quem deveria ligar a
com o acento dos sentimentos de gratidão que compar- política da Corte com a da distante província.
timos. Assim, a paz se fez presente devido “à pacífica, mas
vigorosa administração” do marinheiro. “Relações e conveniências locais”

78
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

A primeira “política de conciliação” somente demons- do de Lamare para Marquês de Olinda, ministro do Impé-
trou seu fim, em Mato Grosso, no início dos anos 60. rio. Cuiabá, 10 de março de 1858. Provavelmente o retorno
Antes disso, e desde 1850, os que governaram a pro- de remessas do governo imperial para a província tenha
víncia procuraram manter a idéia de pacto entre as facções, se dado devido à abertura do rio Paraguai. A província de
ou seja, sem que se digladiassem pública e contundente- fronteira deveria se fortalecer não somente militarmente,
mente. mas em seu aspecto geral para fazer frente às repúblicas
Depois da administração do vice-presidente Sousa vizinhas. Acrescente-se a isso uma melhor condição finan-
Osório, assumiu a direção provincial o almirante Joaquim ceira do tesouro imperial, se comparada às décadas de 1830
Raimundo de Lamare, em fevereiro de 1858. Tinha expe- e 1840.
riência de ter sido ministro da Marinha no gabinete do O almirante chamou ambas as facções para a tarefa
marquês de Olinda, em 1852. Possuía alguma ligação com de ajudá-lo na administração da capital. A escolha de uma
Mato Grosso (pelo menos nominalmente), já que havia comissão para combater a carestia, por exemplo, contem-
representado a província em uma comissão na Câmara em plava os liberais. Acontecia que, nesse momento, em todo
1856. Depois seria novamente deputado geral pelo Mato o Império prevalecia uma alta de preços. O presidente no-
Grosso em 1861, e no ano de 1880 seria eleito senador tava que a distante província sofria mais intensamente esse
pela mesma província, em lugar de Paranhos, o visconde efeito. Assim, conseguiu uma verba extra com o governo
do Rio Branco. geral, 10 contos de réis, para que fossem compra-
Raimundo de Lamare havia sido indicado pelo gabine- dos gêneros alimentícios “em primeira mão” e revendidos
te de Olinda, formado em 1856, que procurava prolongar a preço de custo para a população mais carente. Para fazer
a Conciliação. Assim, buscou fazer uma administração que esse trabalho, designou os cidadãos João Batista de Olivei-
não suscitasse grandes divergências. Tanto os de- ra, Leopoldino Lino de Farias (ambos liberais) e José Pinto
nominados liberais quanto os conservadores da As- Gomes (provável parente de um dos políticos de expressão).
sembléia Legislativa demonstraram boa aceitação em Certamente, participar de uma comissão como essa, traria
relação ao presidente. A administração de Lamare foi faci- alguma popularidade para os participantes, assim como de-
litada pela remessa extra de 20 contos de réis, para serem monstraria certa confiança do presidente aos designados.
aplicados em obras e mais 10 contos para a instrução pú- Na necessidade de construção de uma cadeia públi-
blica. Desde os anos 40 o governo geral havia cessado de ca na capital, o almirante nomeava também uma comissão
enviar recursos para tais finalidades na província. composta de 3 cidadãos, para a compra de materiais, para
O que poderia ser uma divergência inconciliável entre a contratação de pessoal e para fazer o acompanhamento
o presidente de província e a casa legislativa era a eleição da obra. Eram essas pessoas Antônio Cerqueira, Henrique
de Albano de Sousa Osório para a Assembléia Provincial, José Vieira e Moreira Serra, todas ligadas aos con-
em 1857. Durante o pleito, Sousa Osório estava como vice servadores (Moreira Serra era o principal pagador de im-
-presidente em exercício. Assim, por lei, não poderia parti- postos da província, mas não entrava na política ocupando
cipar de eleição. Mas concorreu e foi eleito. Lamare levou ou disputando cargos, tais como o de deputado provincial).
o caso ao governo geral, como era de seu deve. Contudo, Tal forma de agir, ou seja, procurando governar com
a situação não foi revertida. Logo, porém, uma comissão as diferentes facções, fazia com que o presidente se sen-
da Assembléia escreveria agradecendo “sinceramente pela tisse à vontade para relatar que reinava a paz na província
escolha” do almirante para presidente da província. e assim poderia melhor cumprir seus demais objetivos de
Tudo parecia convergir para que continuasse a conci- governante. Em seus relatórios, Lamare praticamente não
liação em Mato Grosso. Dessa maneira, Lamare escrevia abordava assuntos considerados diretamente políticos,
ao governo dizendo que a Assembléia havia encerrado com exceção da redivisão dos colégios eleitorais, que havia
seus trabalhos do ano sem que nada de extraordinário ti- sido ordenado pelo governo central para todo o Império.
vesse ocorrido. A boa relação parecia interessar a todos, A paz, apontada como realizável graças à coadjuvação da
ou seja, aos principais políticos da província e ao chefe do Assembléia e dos homens públicos locais, deveria continuar
Executivo. reinando na distante província, que necessitaria de estar em
Continuava a contribuir para isso as indicações para freqüente contato com o governo central.
postos e as ocupações de cargos. Assim, Lamare, intentan- Se o almirante Lamare escrevia para a Corte informando
do promover um equilíbrio entre os políticos locais, sugeria sobre o “estado de tranqüilidade” na província no momento
para a Corte o nome de Batista de Oliveira para 2º do encerramento dos trabalhos da Assembléia, os ofícios
vice-presidente, representando os liberais. Por outro lado, relacionados ao “sossego público” foram se tornando cada
indicava Manoel Antunes de Barros para o lugar de 4º vice- vez menos freqüentes. Antes, nos anos 30 e 40, as cartas re-
presidente, que estava vago, por ser “pessoa prudente, latando o “estado de tranqüilidade pública” eram emitidas
de bons serviços e belas qualidades.”Antunes de Barros continuadamente. Houve períodos em que eram enviadas
era coronel comandante superior da Guarda Nacional e li- de 10 em 10 dias, não obstante o tempo que levassem para
gado ao grupo dos conservadores. Tinha assumido o chegar ao destino. No período de Lamare, esses tipos de
alto posto na guarda durante a presidência de Leverger. ofícios já haviam passado a ser escritos somente em
Da mesma maneira, cargos como o de inspetor-geral de ocasiões específicas, como a abertura e o fechamento dos
instrução continuava com o conservador Gaudie Ley, desde trabalhos legislativos, assim como pela ocasião da saída e
1850, passando incólume pelos mais de Joaquim Raimun- chegada de viagens pela província.

79
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

Não obstante, além de sustentar a Conciliação, o almi- província. Mas a maior parte, claro, era da sua facção. De
rante tinha que fazer várias incursões pela província, levan- acordo com as correspondênc ias do presidente Lamare, a
do em conta a recém-aberta navegação pelo rio Paraguai, Corte negou a lista feita por Sousa Osório. O novo presi-
assim como possíveis conflitos com os vizinhos, notada- dente deveria fazer outra. Também era recomendado que
mente os da bacia do Prata. Se no tempo em que Leverger Lamare tomasse ciência da lista feita pelo vice-presiden-
estava na fronteira, o presidente não sabia exatamente o te, mesmo que não fosse mais válida. No entanto, dizia o
porquê de estar ali, o almirante Lamare provavelmente então presidente que não havia cópia da relação feita por
sabia que apesar do Tratado de Paz e Navegação com Osório na secretaria da província. Possivelmente esse su-
o Paraguai, uma guerra poderia surgir em breve. O Brasil miço se deu para que o vice Osório não se comprometesse
havia conseguido esse acordo na base da coação aos com os outros senhores da “boa sociedade”. Seja como for,
paraguaios. O Paraguai, por seu turno, continuou a Lamare parecia compreender perfeitamente a negação da
dificultar a passagem de embarcações brasileiras que ru- Corte em relação à classificação feita pelo seu antecessor:
mavam para Mato Grosso, por meio de complicados regu- E como na escolha das pessoas assim classificadas, de-
lamentos. Carlos López, o presidente paraguaio, temia que veria, naturalmente, achar-se o vice-presidente em emba-
a livre navegação fortalecesse militarmente essa província, raços, atenta a sua interinidade, relações e conveniências
e assim ameaçasse seu país. locais, me parece que o Governo Imperial entendeu não
Ser presidente de província de Mato Grosso, portanto, dever por isso tomá-la em consideração.
não era ser um funcionário somente de gabinete e palá- Aproximadamente um ano depois, o almirante tinha
cios. Talvez por isso predominassem os militares como sua relação de notáveis que deveriam receber mercês da
presidente da fronteiriça província. Assim, Lamare fez duas Coroa. A nova lista continha 21 nomes de cidadãos, ou seja,
viagens em direção ao sul de Mato Grosso, em seus pouco a metade da anterior. Nela continuava contendo nomes
mais de 19 meses de governo. Nessas viagens, demorando como os de Batista de Oliveira e de
60 dias aproximadamente em cada uma delas, o presidente Cerqueira Caldas, líderes das diferentes facções. Conti-
foi conferir a criação das colônias militares de Miranda e nha inclusive o de Sousa Osório e de seu irmão, João de
Dourados. Revistou o forte de Coimbra. Conferiu a remo- Sousa Osório. Leverger, que estava de fora da outra,
delagem do lugar chamado Corumbá, que futuramente de- aparecia em primeiro lugar.
veria ser importante ponto de comércio. Nas suas viagens Leververger não somente tinha indicação para mercê,
mas, dessa vez, era recomendado para a carta de Conse-
observou as condições físicas de navegabilidade dos rios.
lheiro de Estado. O “Bretão Cuiabano” não foi içado para tal
Certamente para uma melhor segurança dessas incursões,
posto, mas continuou por um bom tempo, dentro dos cál-
dever-se- ia ter como condição uma boa relação com os
culos do governo imperial como pessoa fundamental para
políticos locais, podendo assim o presidente ausentar-se da
a política local. Texto adaptado de APARECIDA, G. D
capital e empreender as tarefas de organização de defesa e
de viabilização do comérc io com mais segurança.
Contudo, o cargo de presidente e o de vice-pre-
sidente deveriam ser vistos de maneira diferente, apesar 5 A GUERRA DA TRÍPLICE ALIANÇA
de a ambos caber a administração da província. O presi- CONTRA O PARAGUAI E A PARTICIPAÇÃO DE
dente, que na maior parte das vezes vinha de outro lugar, MATO GROSSO.
era apresentado como “isento” das paixões locais. O vice
-presidente, por seu turno, era sempre um político da re-
gião. Sendo assim, suas atitudes poderiam ser suspeitas de A malquerença antiga da América chamada espanhola
favorecer seus partidários e amigos. contra os descendentes de portugueses, agravadas pelas
Dessa maneira, apesar de Lamare não deixar de prevenções que sugeriam suas instituições características
promover a conciliação na província, argumentava à Cor- – a monarquia e o trabalho escravo – poderia ter conse-
te que determinadas atitudes de seu antecessor, Albano qüências imprevisíveis. A hostilidade contra o Brasil, mani-
de Sousa Osório, continham faltas de imparcialidade. Foi o festada desde a última intervenção no Uruguai, e agravada,
caso da lista de pessoas que receberiam mercês do governo principalmente nos Estados do Pacífico, ao serem divulga-
imperial. O governo central havia pedido à administração dos os termos do Tratado da Tríplice Aliança, não poderia
provincial que mandasse uma lista com os nomes das pes- senão diluir-se e amenizar-se com o fato de não se achar
soas dignas de receberem mercês. Quem estava no gover- ele só na campanha contra o ditador de Assunção”.
no e preparou a lista foi o líder dos liberais em Mato Gros- Sérgio Buarque de Holanda, em Do Império à Repú-
so, Sousa Osório. Nela figuravam 42 pessoas, não somente blica, 1972 EM NOVEMBRO DE 1864 o Paraguai declarou
de Cuiabá, mas de vários distritos da província. Interessante guerra ao Brasil, invadindo a região de Mato Grosso, zona
notar que não havia o nome de Leverger nessa relação. Se de disputa entre colonos e seus respectivos governos há
o marinheiro não recomendava Sousa Osório para assumir mais de 200 anos. Portanto, o tema deste colóquio envolve
a província, ele também não era indicado pelo líder dos mais de três séculos de História e solicita a discussão de
liberais para mercês. Contudo, Albano de Sousa modelos de colonização, de reflexões sobre o colonialismo
Osório recomendava “opositores” tais como Antônio de e o neocolonialismo na América Latina, sobre regimes de
Cerqueira Caldas, líder dos conservadores, e Antônio José governo, sobre “civilização e barbárie” (Sarmiento) e sobre
da Silva, prestigiado fazendeiro ligado aos “saquaremas” da as questões geopolíticas que marcaram a época.

80
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

A rigor, não seria permitido pensar que foi nessa con- utilizo-me da aguda percepção do editor italiano: “O fim do
juntura que a idéia de América Latina se adensou? Afinal, tirano Solano López, a defesa extremada dos paraguaios e
contemporâneos da Guerra da Tríplice Aliança também seu extermínio teriam merecido, sem dúvida, as cores de
foram o fuzilamento do arquiduque Maximiliano de Áus- um Plutarco e de um Tito Lívio: a periferia em que viveram,
tria, no México, em 1867, e a posse do ditador-presidente em troca, lhes valeu nosso esquecimento absoluto”(2).
Juarez. No Peru, a tomada de poder pelo general Prado,
em 1865, contra a Espanha (depois fazendo a Guerra do Reavaliação da Guerra Grande
Pacífico, ou Salitrera, contra o Chile e a Bolívia). Foi nessa
mesma altura que começou a ação de José Marti, em Cuba, Com efeito, uma reavaliação merece lugar passados
desdobrando-se nos anos 70 em Cuba, Espanha, Cuba no- 130 anos do início da Guerra Grande (como também ela
vamente, Estados Unidos e Cuba outra vez... é conhecida e como a denomina um dos personagens do
Ampliemos o foco: aquela foi também uma época de notável escritor paraguaio Augusto Roa Basto). Revisitá-la
consolidações, como a da República dos Estados Unidos sobretudo neste contexto em que novas Formas de inte-
da Venezuela em 1864. No ano seguinte, 1865, as Cortes gração e identidade – termos ambíguos e batidos – desta
Espanholas são obrigadas a reconhecer a independência região das Américas parecem querer emergir. Dentre elas,
de Santo Domingo e o governo de José Maria Cabral. Fato o Mercosul, para cuja implantação não se pode dispensar
contemporâneo ainda o grito de independência de Lares, o conhecimento das historicidades dos quadros mentais e
em Porto Rico, quando se constitui um governo republi- dos padrões civilizatórios dominantes na região. Mas para
cano presidido por Francisco Ramirez. Nesse tempo Santo dobrar esta página da História, torna-se necessário conhe-
Domingo, Porto Rico, Panamá e Haiti começam a entrar na cê-la. Revisitá-la.
esfera de ação direta dos Estados Unidos. A historiografia mais recente já consolidou a idéia de
Esse foi ainda o período em que ocorreram pesados que a Guerra marca um momento de integração da bacia
investimentos de capitais estrangeiros na América Latina, do rio da Prata na economia mundial sob a preeminência
sobretudo em infra-estrutura, como estradas de ferro, por- inglesa. A Argentina, o Brasil e o Uruguai opuseram-se à
tos e serviços públicos. Tem início a imigração européia em autosuficiência do Paraguai. Como analisou Hobsbawn, o
massa, direcionada à Cuba, ao Brasil e, sobretudo, à região Paraguai foi a única área da América Latina onde os índios
de clima temperado do estuário do rio da Prata. Os núme- resistiram ao estabelecimento dos brancos de forma efeti-
ros são altos: entre 1855 e 1874 cerca de 250 mil europeus va, em larga medida graças à organização jesuíta anterior.
ao Brasil e de 800 mil à Argentina e ao Uruguai. Com efeito, as nações da região organizaram-se dentro
A guerra do Paraguai, ou a Guerra da Tríplice Aliança, de parâmetros das potências hegemônicas. Não se pode
ou mais propriamente a Guerra contra o Paraguai marca in- saber o que teria acontecido por seus meios próprios, mas
delevelmente a História contemporânea da América Latina. o fato é que, ainda quem nota é Hobsbawn, o Paraguai,
Foi a maior guerra da História da América do Sul. Pode ser quando por uma vez tentou cair fora da esfera do mercado
comparada – em violência, em extensão, mas não em seus foi massacrado e obrigado a nele reingressar.
resultados – à Guerra Civil que à mesma época viveram os Ao examinarmos – ainda que por alto – a Guerra em
Estados Unidos da América do Norte, com seus números suas repercussões político-culturais, sócio-econômicas e
assustadores: a Guerra Civil mobilizou cerca de 2,5 milhões diplomáticas para a região e para as nações envolvidas, fa-
de homens numa população de 33 milhões de habitantes. çamos notar primeiramente que, para o Brasil, ela produziu
Todavia, “os mortos que importam têm que reunir certos fortes efeitos. A única monarquia americana mergulharia
requisitos”, como escreveu o editor italiano Franco Maria depois no processo que desembocará na abolição da es-
Ricci, na apresentação de uma belíssima obra sobre as cravatura (1888) e na instalação da República (1889). Mas
pinturas de Cándido López, o principal documentarista da também transformou a Argentina, que finalmente se unifi-
guerra contra o Paraguai. Com efeito, nem todos os mortos cou sob o general Bartolomé Mitre, o primeiro presidente
são iguais. (1862-68) e pai da Argentina moderna, em cuja obra de
Conversando com Jorge Luiz Borges, Ricci descobriu historiador a Nação – la Nación Argentina – é elevada a
a sanguinolência dessa guerra. A mais sangrenta do sécu- protagonista única do processo histórico (5). Mas também
lo XIX. E que, como sabem os leitores de diários, os mor- é de se notar, em contrapartida, que a impopularidade da
tos que importam verdadeiramente têm que reunir certos guerra foi alta na Argentina: as simpatias das províncias es-
requisitos: “Os mortos do hemisfério sul importam certa- tavam com os paraguaios. O recrutamento das tropas foi
mente menos que os do hemisfério norte”. difícil, quando se constatava que se combateria a favor do
A dramaticidade do conflito, em que se envolveram Brasil. Além disso, os federalistas sempre esperaram que
povos e regimes extremamente diversos, marca – inclusive o brigadeiro José Urquiza, primeiro presidente constitucio-
pelo silêncio a que as historiografías oficiais, sobretudo a nal da Confederação Argentina (1854-1860), se sublevas-
brasileira, o condenaram – a nossa difícil inserção na His- se contra Mitre, o que não ocorreu. A impopularidade da
tória Contemporânea. Qualquer que seja a perspectiva, a guerra também provocou levantes no interior, como o de
guerra da Tríplice Aliança foi um marco. Um acontecimento Felipe Varela, e deserções pesadas, como a do Exército de
histórico de pesadas conseqüências, que daria nova dimen- Vanguarda, de soldados de Entre Rios, açulados por inimi-
são à história desta parte do planeta. Para sugerir a neces- gos de Mitre. A guerra teve seu fim durante a presidência
sidade de uma urgente rotação de perspectivas, ainda aqui de Domingo Faustino Sarmiento, sucessor de Mitre.

81
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

O Brasil, como a Argentina apressou-se na disputa pela o país fica assim destinado a manter sua principal vincula-
posse dos territórios dos vencidos, invocando o artigo 16 do ção econômica com a Argentina, para onde se dirige a maior
Tratado da Tríplice Aliança. Como se sabe, o ministro Mariano parte de suas exportações, e de cujo sistema de navegação
Varela, da Argentina, reagiu advertindo que a vitória não dava fluvial depende em sua comunicação com o ultramar”.
o direito às nações aliadas para declararem sozinhas as novas Daí a oportunidade do encontro no Rio de Janeiro com
fronteiras. Define-se então, ante o perigo de novos rompi- especialistas dos países e culturas envolvidas.
mentos, um sistema de consultas. Mitre, favorável à posição
brasileira, vai ao Rio de Janeiro em busca de entendimento. Dimensões da Guerra
A Argentina submete a questão dos territórios em disputa à
arbitragem dos Estados Unidos: em 1878, o presidente Hayer Comecemos pelo começo. Os lugares da memória são
arbitra a favor do Paraguai. Afinal, a Argentina sempre pen- bem-delineados, e sugerem que na história dos vencedores,
deu mais para a Inglaterra... nas ruas de suas cidades, só há espaço para nomes como
Para o Uruguai, a Guerra trouxe um fato novo, para além Cerro Cora, Paisandu, Humaitá, Riachuelo e os nem sempre
das incursões riograndenses e dos levantes colorados que bem-preparados Voluntários da Pátria. Nomes sonoros, mui-
tanto marcaram o campo antes da crise econômica de 1873. tos indígenas, mas que curiosamente não permitem enxergar
Surge a figura de um militar profissional, Lorenzo Latorre, o substrato guarani que animava um exército de 64.000 ho-
que governa em nome do Exército, o que na Argentina cor- mens. A história desses silêncios precisa ser escrita, e revisita-
responderia a Rosas e Roca. Não era mais um caudilho rural, da a historiografia oficial que inundou os manuais do império
porém tinha o apoio dos hacendados, dos comerciantes ex- e também os republicanos. De Taunay a Sérgio Buarque de
portadores e oferecia a força do Estado para vencer a resis- Holanda há um abismo: a análise da crise do regime imperial
tência da população camponesa, ou seja, monta um sistema efetuada por este último, em seu notável capítulo Política e
de trabalho forçado nas estâncias. Paralelamente, o ensino guerra, sugere o quanto ainda temos que caminhar para a
elementar foi implantado, ultrapassando a Igreja e a velha construção dessa outra memória .
tradição liberal. A exportação de couro e lãs crescia vertigino- Por outro lado, como deixar de indicar, do ângulo da
samente. Sob Latorre, o Uruguai tinha sido disciplinado para História e da historiografia brasileiras, a Guerra do Paraguai
“novos governos militares, que dominariam de fato na etapa como um trauma, uma chacina em larga escala, uma heca-
seguinte; essa terra da liberdade indômita parecia momenta- tombe demográfica, um genocídio, inclusive no final, com o
neamente convertida a uma versão peculiar do novo credo a que restou do exército paraguaio cheio de crianças, um ca-
um só tempo autoritário e progressista”. taclisma que desequilibrou o Império? Certamente aí reside
Para o Paraguai (e contra o Paraguai), a guerra articulou uma das chaves para o estudo do movimento republicano
as forças do Império brasileiro, da Argentina e do Uruguai. e abolicionista no Brasil: em perspectiva ampla, a Guerra, a
Um acordo secreto entre o Brasil e a Argentina previa a dis- Abolição, a proclamação da República e a implantação da or-
tribuição de territórios em litígio que correspondiam a mais dem neocolonial definem uma nova configuração histórica.
da metade do Paraguai. O surpreendente foi a reação heróica Os números elevados de mortos, em escala nunca an-
da população paraguaia. Em cinco anos de guerra, perdeu-se tes imaginada, o despreparo das forças da Tríplice Aliança,
quase todo seu contingente masculino. os conflitos de poder militar no bojo do Império, uma nova
Mas não se atribua tudo apenas à resistência paraguaia. expressão da opinião popular, tudo sugere a mudança do
Também devem ser consideradas a fraqueza e a desorgani- teor da vida, um abalo nos quadros mentais que transbordou
zação das tropas inimigas. Além disso, a unidade interna ar- e se traduziu nas obras dos principais intelectuais e artistas
gentina devida a Mitre era mais aparente do que efetiva (o do período, de Machado de Assis e Juan Bautista Alberdi a
levante federalista de 1866-67 abalou o interior). O Império Domingo Faustino Sarmiento e Cándido López.
brasileiro, com sua máquina pesada e custosa, agia lenta e A guerra obrigou a uma reconsideração do tempo e do
prudentemente. Os paraguaios, em compensação, tinham espaço. Grandes deslocamentos de tropas avultadas, toda
sido expulsos na primeira fase da guerra das terras conquis- a estratégia de ataques e retiradas, a guerra fluvial, abriram
tadas na Argentina e no Rio Grande do Sul: defenderiam na nova página da polemologia latino-americana. O reforço da
segunda fase, com todo vigor, Humaitá, a fortaleza construí- idéia de Estado-Nação abre caminho para uma nova concep-
da por López no rio Paraguai. De derrota em derrota, e até ção do papel das forças armadas na vida nacional. A cria-
mesmo após o final da guerra, os paraguaios conseguiram ção da Escola Superior de Guerra, pelo tenente-general Luís
lidar com as contradições e divisões entre seus vencedores. Maria Campos, é um dos frutos; a disseminação das teorias
Creio que uma das melhores sínteses sobre o desfecho positivistas, que colaboraram na destruição do sistema escra-
foi realizada pelo argentino Tulio Halperín Donghi: “A Argen- vagista, é outro.
tina protegia no Paraguai os antigos desterrados; o Brasil, As várias dimensões da guerra, abordadas pelos his-
além de fazer-se ceder os territórios em disputa, avalizava toriadores, professores, diplomatas e estudiosos convida-
um governo dominado por antigos generais de López, que dos, sugerem a complexidade daqueles momentos em que
mantinha suas posições contra as exigências territoriais ar- interesses estrangeiros – ingleses, principalmente, fortale-
gentinas. Assim se afirmou a hegemonia brasileira, enquanto cendo sua malha imperial – se entrelaçavam com formas de
os novos governantes presidiam uma alegre liquidação de expansionismo e de conflitos locais. Pode-se falar também,
terras do Estado; a reconstrução do Paraguai se fez sob o sig- quero crer, de um subimperialismo brasileiro com relação
no da grande propriedade privada, e de maneira muito lenta; à nação paraguaia.

82
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

O problema mesmo da origem da guerra e da nature- Do ponto de vista (por assim dizer) do Paraguai, o choque
za dos expansionismos regionais também deve ser posto agravava-se pela crença generalizada de que as nações vizi-
desde logo. Por outro lado, em que pese o caráter de ge- nhas seriam responsáveis pela estagnação do país, condenado
nocídio bárbaro, de hecatombe demográfica, que a guerra a viver dentro de fronteiras mal delimitadas, sem saída para o
assumiu contra o Paraguai, impõe-se sejam reestudados os mar (um problema, aliás, atual, também para a Bolívia). Não
componentes e a história da nação paraguaia em sua devi- é de se estranhar nessa perspectiva que as lutas na região do
da dimensão. Tal abordagem nos conduz desde logo para Prata tenham sido contínuas durante o século XIX. Vale lem-
a análise da inserção das nações envolvidas – Argentina, brar que, já em 1825, o Brasil entrara em guerra com a Argen-
Brasil, Uruguai e Paraguai – no quadro dos imperialismos tina pela questão da Banda Oriental (região aproximadamente
europeus da segunda metade do século passado. correspondente ao atual Uruguai). A paz, efetivada em 1828,
A Argentina e o Brasil vinculavam-se intensamente com a mediação da Inglaterra, resultou nessa nova nação, o
à Europa, em particular à Inglaterra. O Paraguai, por seu Uruguai, livre e por assim dizer autônomo.
lado, manteve-se isolado. A longa ditadura do doutor Fran- Quanto ao ponto de vista da Argentina, o ditador Rosas
cia (1814-1840) isolou aquele país, ao cortar relações di- negava-se a reconhecer a independência do Paraguai, visando
plomáticas e comerciais com os outros, exceção feita ao a fazer daquele país uma província argentina. De 1845 a 1852,
Brasil. Proibiu a imigração e a emigração, tentou certa au- Carlos Antonio López resistiu. Finalmente, declarou guerra à
to-suficiência baseada na agricultura e na indústria artesa- Argentina e penetrou em Comentes, fazendo recuar as tropas
nal. Os dois ditadores que lhe sucederam no poder, Carlos de Rosas.
Antonio López (1840-1862) e seu filho, Francisco Solano Com a queda de Rosas, toma o poder o general Urquiza
López (1862-1870), abriram o país ao comércio exterior e (1800-1870), da província de Corrientes, que tinha por desafio
trouxeram imigrantes e técnicos estrangeiros. Aqui temos a reincorporação da província de Buenos Aires à Confederação
uma das origens da grande conflagração. Quando o Para- Argentina. Urquiza, simpatizante da causa paraguaia, reconhe-
guai ensaiou uma abertura para sua integração no comér- ce a independência do Paraguai em 1852 e assina um tratado
cio mundial, o ditador argentino Juan Manuel Rosas impôs de navegação e limites. A guerra poderia ter aí terminado, e
o bloqueio econômico ao país vizinho. Os problemas de não teríamos talvez necessidade deste colóquio...
fronteira se sucedem e Carlos López dedica-se à criação
de um bem-adestrado exército, preparado por oficiais ale-
mães e equipado com armamentos europeus.
A Argentina, por seu lado, cindia-se até 1853 em duas
tendências políticas básicas, ou se se quiser, em duas cor-
rentes históricas de opinião: centralistas e federalistas. A
Inglaterra pressionava os cientistas, em busca de segurança
para o mercado de seus produtos. Os federalistas lutavam
pela produção de seus tecidos – de algodão, de linho e de
lã – e também de açúcar e vinho, ameaçados pela concor-
rência inglesa. Aqui se estabeleceu uma aliança dos federa-
listas com os paraguaios, contra o perigo de absorção pelo
imperialismo inglês.
O Brasil, como se sabe, estava vinculado historicamen-
te à Inglaterra, sobretudo após os Tratados de 1810. Os
setores exportadores e os segmentos intermediários be-
neficiavam-se daquilo que Graham denominou, em análise
clássica, “the onset of modernization in Brazil” (10). E o his-
toriador carioca José Honório Rodrigues chegou a afirmar
que o Brasil era um autêntico protetorado inglês. Alguns
de nossos notáveis advogados da segunda metade do XIX,
como Rui Barbosa e o senador Dantas eram, em sua época,
denominados, com um grão de ironia, os nossos ingleses...
Importa pois situar a guerra em seu quadro próprio e
num longo processo histórico de definições e redefinições
da geografia política e econômica sul-americana. Está-se
então em face de uma somatória de interesses novos, nas-
cidos após o período de consolidação das Independências
com relação às metrópoles ibéricas dos anos 1820. Inúme-
ras questões de fronteira, problemas de navegação nos Mas, a essa altura, entra em cena novamente o Brasil. Tam-
dois grandes rios da região (Paraná e Paraguai), abertura ao bém por questões de fronteiras, o Paraguai já se vira forçado a
comércio exterior, migrações, caudilhismo e coronelismo, expulsar brasileiros: o presidente da província do Mato Grosso
regimes escravagistas (aberto no Brasil; semi-escravagista já invadira terras paraguaias e se recusara a abandonar suas
nos outros países), confrontos étnicos e culturais, tudo se posições. Mais: o Paraguai tentava estabelecer uma coligação
misturava nesse meado de século, naquela região. com o Uruguai e com as províncias de Comentes e Entre-Rios.

83
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

A eclosão da guerra. O problema das origens. na América Latina acentuavam-se as diferenças regionais:
na Argentina, por exemplo, afirmava-se a presença de uma
Há certo consenso: uma das causas próximas da eclo- oligarquia capaz de controlar as atividades produtivas di-
são da guerra foi a intervenção político-militar do Brasil no nâmicas, ao contrário das repúblicas centro-americanas. A
Uruguai em 1864, há cento e trinta anos, no momento em imigração massiva de mão-de-obra européia para o Cone
que o Paraguai tentava articular uma nova configuração Sul e para o Brasil, estimulada ou, quando menos, aceita
geopolítica na América do Sul. por essas oligarquias, mudariam tal panorama.
O Uruguai, governado por Atanasio Aguirre (1804- Em suma, a guerra contra o Paraguai sinaliza nesta
1875), do partido blanco, era hostilizado pelo governo im- região do planeta o “casamento de uma descolonização
perial brasileiro, sob o argumento de que os blancos não prolongada, seletiva e parcial com a dominação imperia-
tomavam providências em favor dos brasileiros ali residen- lista”, para utilizarmos a concisa formulação de Florestan
tes, alegando que estes sofriam prejuízos e eram despoja- Fernandes.
dos de seus bens. O Paraguai termina a guerra exaurido. O comando
A Argentina não logrou ser intermediária no conflito e aliado ocupou o governo e incumbiu o ministro das Rela-
o governo brasileiro anunciou que suas tropas, estaciona- ções Exteriores, visconde do Rio Branco, de reorganizar o
das na fronteira, agiram em represália contra os uruguaios. país. O governo provisório instalado em Assunção decreta
O presidente paraguaio Francisco Solano López protestou a abolição dos escravos, a pedido do conde d’Eu. Grande
contra a intervenção brasileira, qualificando-a como “aten- parte da população masculina perecera durante a guerra.
tatória ao equilíbrio dos Estados do Prata, que interessa Com a economia devastada – sem empréstimos para ree-
à República do Paraguai como garantia de sua segurança, quipamento durante todo o período – e com subnutrição
paz e prosperidade”. Aí se localiza o estopim da guerra. e epidemias de toda sorte, o Paraguai tornara-se um país
Em síntese, e no plano dos acontecimentos, pode-se de sobreviventes.
dizer que a conflagração se deve inicialmente à firme de- Mas o Brasil também sofreu os efeitos da guerra, e a
terminação do presidente paraguaio Solano López de “blo- inflação foi um deles. Empréstimos da Inglaterra e emissão
quear o esforço expansionista brasileiro”. De fato, desde de papel-moeda elevaram o custo de vida, com descon-
1855 o Império do Brasil vinha pressionando o Paraguai a tentamento popular que, aliás, já fora observado durante a
assinar tratados de limites e de navegação, os quais nem luta custosa no território paraguaio (para muitos, a simples
Carlos A. López nem seu filho Solano López estavam dis- expulsão dos paraguaios já teria bastado). Contra a Tríplice
postos a firmar. Aliança também manifestaram-se outros países da América
Enfatize-se mais uma vez, finalmente, o interesse da In- Latina, como o Peru, a Colômbia e o Chile.
glaterra em obter a abertura de seu comércio ao Paraguai. Finalmente, no Brasil, ocorreu uma profunda mudan-
ça no Estado, com a emergência ulterior do Exército como
A guerra: um nó histórico, político e ideológico força organizada e ideologicamente marcada por idéias
republicanas. Nascia então um novo tipo de oficial militar
Os leitores naturalmente irão analisar, em ângulos di- caracterizado por um autoritarismo progressista, defensor
versos, a problemática do processo, seus desdobramentos da abolição da escravidão.
e suas implicações para a História e para o futuro da sub Na perspectiva de uma História contemporânea da
-região. Pode-se dizer que nesse processo houve a consoli- América Latina que contemple a historicidade específica
dação da ordem neocolonial. Desde as Independências, no do subcontinente em sua longa duração, a revista a esse
processo das afirmações nacionais e regionais, as lideran- momento-chave de nossas histórias torna-se fundamental.
ças sempre tiveram que se definir em suas associações ou Consolida-se então a própria idéia de América Latina.
contraposições com relação aos interesses das potências Nessa encruzilhada reside o nó histórico de nosso pas-
em fase de desenvolvimento. sado comum e traumático que espera por mais estudos e
A guerra marca uma inflexão, em que os Estados Uni- reflexões. Um nó histórico-ideológico que, uma vez desa-
dos passam a compor o leque de interesses e forças exter- tado, permitirá talvez o arranque para um futuro crítico e
nas atuando na região. Na nova organização de pós-guer- democrático, no qual as disputas sejam equacionadas em
ra, nos anos 80 do século passado – período que denomi- fóruns internacionais legítimos, abertos e modernos. Não
namos da passagem da, descolonização ao imperialismo –, por acaso os Estados de Seguridad Nacional proibiam que
assiste-se a novo impacto europeu-ocidental, seguido da se tocasse em certos temas-tabus, dentre eles a Guerra do
presença norte-americana. Paraguai ou que se examinassem figuras como Caxias ou
No plano mais geral da América Latina, a consciên- Tamandaré fora da ótica oficial, sobretudo em momentos
cia-limite foi dada pelo pensamento de José Martí, com de construção de hidrelétricas como Itaipu, em que a mão-
suas teorias sobre nuestra America. É um novo momento de-obra paraguaia – e também brasileira – foi mais uma
de inversões de capitais, com expansão das economias de vez utilizada a preço vil. Texto adaptado de MOTA, C. G.
exportação e com a europeização das elites. Como ob-
servou Luís A. Romero, o positivismo chegou a constituir
uma verdadeira ideologia transnacional. Apesar de tudo,

84
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

A importância sócio-econômica e política do Sul de


Mato Grosso acentuam-se, na medida em que ocorre a
6 A ECONOMIA MATO-GROSSENSE sistematização da criação do gado, a posse da terra e a
APÓS A GUERRA DA TRÍPLICE ALIANÇA formação de vilas e de cidades, concomitante a esses fato-
CONTRA O PARAGUAI. res ocorre a instalação da Companhia Mate- Laranjeira e a
ligação ferroviária entre o Sul de Mato Grosso e São Paulo,
Após a Guerra do Paraguai, Tomás Laranjeira come- fortalecendo também, econômica e politicamente alguns
çou o extrativismo de erva-mate no extremo sul de Mato dos grandes proprietários rurais da região. Tais aconteci-
Grosso, vindo a fundar a companhia Mate Laranjeira. mentos marcaram a origem do movimento divisionista.
• Ipecacuanha – erva rasteira e lenhosa. Este pode ser compreendido em quatro grandes fases que
acompanham a evolução histórica do Estado no período
DIVISIONISMO DE MATO GROSSO DO SUL: republicano.

Os governos dos períodos denominados República Primeira Fase (1889-1930):


Velha (1889-1930) e República Nova (1930-1945) foram
bastante agitados em Mato Grosso (inclusive na década de Marcada pela formação das oligarquias sul mato-gros-
1950). Diversos fatores contribuíam para essa situação, en- senses que lutam pelo reconhecimento da posse da terra
tre os quais podemos citar: fazendo oposição aos privilégios da Companhia Mate-La-
ranjeira. Nessas lutas políticas, nos ervais e Campos de Va-
• a pobreza geral do território mato-grossense, caria, se manifesta a idéia divisionista. As oligarquias suli-
que, mesmo apresentando uma recuperação notória nos nas uniram-se, nas primeiras décadas da República Velha
últimos anos do às de Cuiabá, adversárias da Companhia Mate-Laranjeira,
século XIX, ainda tinha uma economia bastante atra- pois tinham interesses nos ervais. Através dessa aliança, as
sada, baseada na pecuária e no extrativismo de erva-mate; oligarquias sul- mato-grossenses fizeram oposição armada
• a falta de infra-estrutura e a morosa ligação com ao governo estadual e à referida companhia. Inicialmente,
os principais o movimento divisionista não tinha um plano, um progra-
centros econômicos e políticos do país, o eixo Rio-São ma político definido e seus objetivos quase sempre se
Paulo – nesse sentido, mais tarde, com os esforços de al- confundiam com os interesses pessoais do coronel.
guns governadores, seriam construídas ferrovias e estradas Em 1921, transfere-se de Corumbá para Campo Gran-
de acesso a Mato Grosso, além do árduo trabalho executa- de a sede da Circunscrição Militar, hoje Comando Militar
do pela missão chefiada por Cândido Rondon para instalar do Oeste. Na ocasião Pandiá Calógeras, então Ministro da
o telégrafo na região; Guerra do governo de Epitácio Pessoa, transformou Cam-
• as disputas políticas, especialmente durante a po Grande em sentinela da paz e do progresso, ou seja,
República Velha, entre os diversos grupos regionais, tornou-a uma capital militar. Com a transferência e com o
guiados pelos chefes políticos, comumente denominados aumento do contingente militar no Sul de Mato Grosso, as
de “coronéis” grandes latifundiários ávidos pelo poder. oligarquias sulinas, decepcionadas com as antigas alianças,
• uma forte presença de oficiais militares ocu- unem-se aos militares que trazem consigo uma vivência
pando cargos públicos, como o de governador do estado, política diferente, grandemente marcada pelo movimento
gerava com mais facilidade a eclosão de movimentos ar- tenentista que influencia o Movimento Divisionista, embo-
mados. ra a presença dos mesmos objetivasse manter a ordem e a
O Movimento Divisionista caracterizou-se por aspec- disciplina no Sul de Mato Grosso, além de coibir manifesta-
tos socioeconômicos, políticos e culturais, que visavam a ções divisionistas. A este fato é somada a regularização das
emancipação político-administrativa do Sul de Mato Gros- viagens ferroviárias, que propiciam a chegada de novos mi-
so. A criação do Estado de Mato Grosso do Sul é resulta- grantes e a dinamização da economia sul-mato-grossense.
do de um longo movimento com essas características, que Outro reflexo das viagens ferroviárias é a vinculação do Sul
permearam sua formação histórica recente. de Mato Grosso com a economia paulista e o consequente
A forma como se desenrola o processo do divisionismo desenvolvimento das cidades exportadoras de gado, parti-
assume, em cada período histórico, uma conotação distinta cularmente Campo Grande, que se torna o centro do eixo
que é uma das peculiaridades que entremeiam a história econômico no Estado. Tal crescimento possibilita a forma-
de Mato Grosso do Sul. ção de novas lideranças políticas ligadas ao comércio e a
O Movimento divisionista tem sua origem em 1889, outras atividades profissionais e um crescimento demográ-
quando alguns políticos corumbaenses divulgaram um fico na região sul- mato-grossense. Esse quadro de novos
manifesto no qual propunham a transferência da capital de fatores de ordem sócio- econômica e política trazem sig-
Mato Grosso para Corumbá. A atitude desses políticos não nificativas mudanças no movimento divisionista, que extra-
foi vitoriosa, mas mostrou que essa tímida ação permitia pola os ervais e atinge as cidades exportadoras de gado,
marcar o início de uma longa história de luta. especialmente Campo Grande. É o início da urbanização
do movimento.

85
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

Segunda Fase (1930-1945): Terceira Fase (1945-1964):

É o período em que o movimento começa a se organi- Após a deposição de Getúlio Vargas, com a ascensão
zar e gradativamente as lutas armadas são substituídas por de Eurico Gaspar Dutra (cuiabano), em 1946, os sul-mato-
pressões políticas junto ao Governo Federal. grossenses tentam a transferência da capital de Cuiabá para
As oligarquias sulinas que eram dissidentes no Esta- Campo Grande. Ele adota uma postura de redemocratiza-
do passam a apoiar a “Revolução de 1930” – liderada por ção do País, que reforça a política de integração nacional,
Getúlio Vargas, e, posteriormente a Revolução Constitucio- incentivadora da manutenção da unidade estadual.
nalista de 1932, como intuito de obter apoio para o mo- Em 1946, após a promulgação da Constituição, o Governo
vimento de divisão no Estado. No decorrer da Revolução
Constitucionalista, o General Bertoldo Klinger, comandante Federal extingue o Território de Ponta Porá, reintegran-
militar do então Mato Grosso rompe com o Governo Fede- do a região ao Estado de Mato Grosso.
Novamente frustrados, devido à fraca representativi-
ral e institui o Estado de Maracajú, nomeando Vespasiano
dade política em âmbito estadual e federal, os sul-mato-
Martins para governador. Campo Grande é elevado à ca-
grossenses, mantêm-se fiéis ao seu objetivo: transformar
tegoria de capital político-administrativa do novo Estado.
Campo Grande em uma capital, haja vista a prosperidade
Entretanto, após três meses, os constitucionalistas são der-
da mesma em relação à Cuiabá.
rotados, o Estado de Maracajú é extinto e Campo Grande
perde o “status” de capital político-administrativa. Quarta Fase (1964-1977):
Dois anos depois, em 1934, o Congresso Nacional re-
unia-se para elaborar uma nova Constituição. Jovens es- Com o golpe militar (1964), as oligarquias ligadas ao
tudantes fundam a Liga Sul-Mato-Grossense, que, inicial- movimento divisionista aproximam-se dos militares, to-
mente, objetivava angariar apoio dos sul-mato-grossenses mando parte de algumas comissões que estudavam (secre-
para o manifesto que seria encaminhado ao presidente do tamente) as potencialidades econômicas do Estado, bem
Congresso Nacional Constituinte. A Liga coleta treze mil como as dificuldades políticas que impediam a divisão. Os
assinaturas, com o propósito de sensibilizar o Governo Fe- militares, buscando um maior controle dos problemas da
deral, particularmente os constitucionalistas, para que eles sociedade, adotam a política do desenvolvimento com se-
aprovassem a divisão do Estado de Mato Grosso, quando gurança, que tornou possível a criação de programas que
da elaboração da nova Constituição. Após a sua promulga- atenderam a alguns Estados, entre eles Mato Grosso. Após
ção, os divisionistas são derrotados e Getúlio Vargas adota vários estudos, negociações e acordos políticos, o Presiden-
a política nacionalista “Marcha para o Oeste”, que visava, te Ernesto da Silva Geisel assina, em 11 de outubro de 1977,
entre outras coisas, a segurança das fronteiras. Assim, em a Lei Complementar Nº 31/77, criando o Estado de Mato
1934, Getúlio Vargas manda instalar novas unidades milita- Grosso do Sul. Nessa fase, a Companhia Mate-Laranjeira
res no sul de Mato Grosso com o intuito de manter a ordem mantinha apenas algumas fazendas de gado, visto que o
e o progresso na região e também providenciar para que seu principal interesse econômico de outrora, a erva-mate,
seja sufocado o movimento divisionista. agora era explorado por ervateiros autônomos.
Os sul-mato-grossenses são envolvidos pela política Na divisão, Mato Grosso ficou com trinta e oito municí-
de Getúlio Vargas; a Companhia Mate-Laranjeira adapta-se pios e com uma população estimada de 900.000 habitantes
a ela e altera sua estratégia em relação à unidade estadual, em 1977, distribuído em 881.000 km². Mato Grosso do Sul
pois os ervais estavam devastados e a política do Insti- passava a compreender cinqüenta e cinco municípios, com
tuto Brasileiro do Mate, criado por Vargas, não lhe possi- uma população estimada (1977) de 1.400.000 habitantes,
numa área de cerca de 350.000 km². (WEINGÄRTNER, Ali-
bilitava grandes lucros. Por isso, ela permite que o governo
solete).
estadual regularize as posses de terras dos moradores dos
A população do Mato Grosso é de 3 001 692
ervais, em troca de indenizações sobre arrendamentos.
habitantes, segundo a estimativa populacional de
Em 1943, Getúlio Vargas, em nome da segurança das
2009, com dados coletados pelo IBGE. Mato Grosso é o
fronteiras, cria o Território de Ponta Porá e o Território de décimo-nono Estado mais populoso do Brasil e concen-
Guaporé (hoje Rondônia), que deixa Campo Grande, a tra 1,47% da população brasileira. Do total da população
principal cidade autônoma, de fora da nova unidade. A do estado em 2000, 1.217.166 habitantes são mulheres e
criação desse território não atendeu aos interesses divi- 1.287.187 habitantes são homens. Possui uma densidade
sionistas, não satisfez a política da Companhia de Mate- demográfica de 2,6 hab/km².
Laranjeira e também não agradou ao Governo do Estado
de Mato Grosso. Nesse período, o Sul de Mato Grosso é Mato Grosso possui 141 municípios (dados 2010).
marcado por grande prosperidade, mas não o suficiente
para equilibrar as finanças no Estado. Percebe-se ainda, a Mato Grosso do Sul é uma das 27 unidades federa-
formação de novas oligarquias e a Companhia de Mate-La- tivas do Brasil. Está localizado ao sul da região Centro-Oes-
ranjeira, aos poucos, retira-se dos ervais. te. Tem como limites os estados de Goiás a nordeste, Minas
Gerais a leste, Mato Grosso (norte), Paraná (sul) e São Paulo
(sudeste), além da Bolívia (oeste) e o Paraguai (oeste e sul).

86
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

Possui uma área de 358.124,962 km², sendo ligeiramen- Dr. Wilson Barbosa Martins, também pela segunda vez,
te maior que a Alemanha, Portugal e Japão. Sua população assumiu o governo em 1º de janeiro de 1995 e, teve um pe-
estimada em 2009 é de 2.360.498 habitantes, conferindo ríodo de governo muito tumultuado por greves em todos
ao estado a 21ª população. Sua capital e maior cidade é os setores da administração pública; foram implantadas em
Campo Grande, e outros municípios de importantes são seu governo as privatizações de órgãos estatais e também,
Dourados, Três Lagoas, Corumbá, Ponta Porã, Aquidaua- o PDV – Plano de Demissão Voluntária do funcionalismo
na, Nova Andradina e Naviraí. Total de municípios – 79. estadual, para enxugamento da máquina administrativa.
Encerrou o seu mandato em 1 de janeiro de 1999.
Os Governos de MS: José Orcírio Miranda dos Santos, acadêmico de Direito
na FUCMT e ex-deputado estadual pelo Partido dos Tra-
A mais nova unidade da federação, criado em 11 de balhadores – PT, por duas legislaturas consecutivas. Tendo
outubro de assumido em 1 de janeiro de 1999. Foi reeleito em 2002 e
1977, somente foi efetivamente instalada no dia 1º de assumiu o segundo mandato consecutivo a partir de 1 de
janeiro de 1979, com a posse do Dr. Harry Amorim Costa, janeiro de 2003.
engenheiro gaúcho e ex- presidente do Departamento Em 2001, o Estado ganhou o certificado internacional
Nacional de Obras e Saneamento (DNOS), nomeado pelo de área livre de febre aftosa com vacinação. O Go-
Presidente da República para instalar e governar o novo vernador José Orcírio Miranda dos Santos, o Zeca do PT,
Estado de Mato Grosso do Sul. conseguiu aprovar na Assembléia Legislativa o Fundo de
Por ser um “estranho no ninho”, isto é, por ser natural Desenvolvimento Rodoviário de Mato Grosso do Sul (Fun-
de outro Estado, os líderes políticos sul-mato-grossenses dersul), o qual é constituído com recursos obtidos com a
fizeram tamanha pressão junto ao Governo Federal (João cobrança por cabeça de gado abatido. Essa verba deverá
Batista de Oliveira Figueiredo) que, resultou na exoneração ser utilizada para melhorias na rede rodoviária do Estado
do Dr. Harry Amorim Costa no dia 12 de junho de 1979, de Mato Grosso do Sul.
ficando no poder por apenas cinco meses e doze dias. Em 2006 foi eleito André Puccinelli. Assumiu em 01 de
Londres Machado, deputado estadual e, Presidente da janeiro de
Assembléia Legislativa, assumiu o governo como substitu- 2007. Reeleito em 2010. Segundo mandato
to interino no período de 12 de junho até 29 de junho, isto (01/01/2011-31/12/2014).
é, por dezenove dias. O Estado de Mato Grosso do Sul, como todos os outros
Dr. Marcelo Miranda Soares, engenheiro, nomeado Estados, possui seus símbolos oficiais: a bandeira, o brasão
e empossado como governador em 29 de junho de 1979, de armas e o hino estadual.
sofreu também, muitas pressões políticas, acabando por A bandeira do estado de Mato Grosso do Sul foi dese-
ser exonerado em 30 de outubro de 1980, governando o nhada por Mauro Miguel Munhoz. De formato retangular,
Estado por um ano e quatro meses. tem na parte superior esquerda um triângulo de cor verde,
Londres Machado mais uma vez, assume o governo in- separado por uma faixa branca, em diagonal e, na parte
terinamente no período de 30 de outubro até 7 de novem- inferior direita, um trapézio de cor azul com uma estrela
bro de 1980, isto é, por nove dias. dourada de cinco pontas.
Dr. Pedro Pedrossian, engenheiro civil, ex-governador
do Estado de Mato Grosso-uno, no período de 31 de janei- As cores na bandeira significam:
ro de 1966 a 31 de janeiro de 1971 e quando da criação do
Estado de Mato Grosso do Sul era Senador da República; • verde: riqueza das matas e campos;
sendo nomeado e empossado no governo deste Estado 7 • branco: paz e amizade;
de novembro de 1980, conduzindo a sua administração até • azul: céu de esperança;
15 de março de 1983. • amarelo: riqueza produzida pelo trabalho.
Dr. Wilson Barbosa Martins, advogado, ex-prefeito de
Campo Grande (31/01/59 a 7/08/62), ex-deputado federal, O brasão de armas do estado de Mato Grosso do Sul é
foi o primeiro governador eleito pelo voto popular do Esta- representado por um escudo contendo uma estrela e uma
do de Mato Grosso do Sul, assumindo em 15 de março de onça- pintada.
1983 e, licenciando-se em 15 de maio de 1986 para candi- Emoldurando o escudo, aparecem as estrelas que re-
datar-se a uma vaga no Senado Federal. presentam os municípios do Estado. Em torno do es-
Dr. Ramez Tebet, promotor público, sendo o vice-go- cudo podemos observar ramos de café e erva-mate, que
vernador do Dr. Wilson, assume o governo em 15 de maio simbolizam a cultura do Estado.
de 1986 e, conclui o mandato em 15 de março de 1987. Na parte superior, representando o Sol, aparecem dez
Dr. Marcelo Miranda Soares, desta feita, eleito pelo raios. A fita azul, abaixo do brasão contém a data da criação
voto popular assume o governo em 15 de março de do Estado de Mato Grosso do Sul: 11 de outubro de 1977.
1987, encerrando o seu mandato em 15 de março 1991. O brasão de armas foi criado por José Luiz de Moura
Dr. Pedro Pedrossian, pela segunda vez no governo sul Leite. É usado em repartições oficiais do estado, nos do-
-mato- grossense, tomou posse em 15 de março de 1991 e, cumentos expedidos pelo governador, nas escolas e nos
encerrou o seu mandato em 1º de janeiro de 1995. quartéis.

87
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

O hino de Mato Grosso do Sul foi escolhido por meio As questões platinas e a Guerra do Paraguai
de concurso. A letra é de Jorge Antônio Siufi e Otávio Gon-
çalves Gomes, e a música é do maestro Radamés Gnatalli. Ao longo do II Reinado, o Brasil se envolveu em con­
“Os celeiros de farturas, Sob um céu de puro azul, Re- flitos armados com seus vizinhos: Argentina, Uruguai e Pa-
forçaram em Mato Grosso do Sul Uma gente audaz. raguai.
Por essas razões, o Brasil acabou-se envolvendo direta-
Tuas matas e teus campos, O esplendor do Pantanal, mente em seus conflitos internos, aproveitando­-se de vio-
E teus rios são tão ricos lações do território brasileiro (nas províncias do Sul) pelos
Que não há igual. uruguaios
A pujança e a grandeza de fertilidades mil, ..... Estribilho Na verdade, o grande interesse do governo brasilei­ro
São o orgulho e a certeza Do futuro do Brasil. Moldu- era impedir o controle exclusivo da Bacia Platina por esses
rados pelas serras, Campos grandes: Vacaria, Rememoram países e garantir a livre navegação no Rio da Prata, já que o
desbravadores, Heróis, tanta galhardia! Vespasiano, Camisão Rio Paraguai era a principal via de aces­so ao Mato Grosso.
E o tenente Antonio João, Guaicurus, Ricardo Franco, Entre 1864-1870 desenrolou-se o mais longo e vio­
Glória e tradição! lento dos conflitos na América do Sul - a Guerra do Para-
A pujança e a grandeza guai. Para entendê-Io melhor e precise conhecer um pouco
De fertilidades mil, ..... Estribilho da trajetória política do Paraguai.
São o orgulho e a certeza
Do futuro do Brasil.” Após sua independência política, em 1811, o Paraguai
procurou conquistar também sua inde­pendência econô-
Não esqueça! mica. Para isso, seus governantes, embora ditadores, pro-
moveram uma política de desenvolvimento voltada para os
• Após a Guerra do Paraguai (1864-1870), Tomás interesses internos do pais.
Laranjeira começou o extrativismo de erva-mate no extre- Em meados do século XIX, o Paraguai era um país
mo Sul de Mato Grosso, vindo a fundar a Companhia de singular no contexto latino-americano: possuía um setor
Mate-Laranjeira. Na verdade, em 25 de julho de 1883, o industrial desenvolvido e independente do capital estran-
Banco Rio, Mato Grosso e os “irmãos” Murtinho associa- geiro, uma estrutura agrária baseada em propriedade pro-
ram-se a Tomás Laranjeira para construírem a Companhia. dutivas, uma população totalmente alfabetizada, ou seja,
O crescimento dessa atividade e a necessidade de expor- era uma nação cuja estrutura socioeconômica aten­ dia
tar o mate por vias fluviais levaram à instalação de Porto plenamente aos interesses da população. Dessa maneira,
Murtinho. A companhia extraía a erva-mate no Brasil e a constituiu-se numa exceção den­tro da America Latina: uma
vendia para Francisco Mendes Gonçalves, em Buenos Aires nação próspera e in­dependente, em meio as demais, sub-
na Argentina. metidas economicamente a Inglaterra.
• Em 1905, o Marechal Cândido Mariano da Sil- O crescimento econômico do Paraguai implicava uma
va Rondon cruzou o território do Sul de Mato Grosso para maior vinculação com o mercado externo. Para isso, seria
levar os cabos telegráficos de São Paulo até a Amazônia. necessário buscar uma saída direta para o mar, pois os co-
Texto adaptado de PINGUIM, L. F. merciantes argentinas e uruguaios, controla­dores do es-
tuário do Prata, cobravam altas taxas para permitir a saída
dos navios paraguaios.
7 O FIM DO IMPÉRIO EM MATO GROSSO. O governo pa­raguaio após a morte de seu pai, deu iní-
cio a uma polí­tica expansionista, que previa a conquista de
territórios do Brasil, Argentina e Uruguai.
A ofensiva paraguaia levou os governos desses três
A partir da década de 1870, ‘puderam-se perceber os países a assinarem o Tratado da Tríplice Aliança: Brasil, Ar-
primeiros sinais de crise do regime monárquico. O surgi- gentina e Uruguai uniram-se na guerra contra o Para­guai.
mento e o crescimento do Partido Republicano, o desgaste O sangrento conflito que ocorreu na América do Sul,
político do Imperador decorrente de conflitos com o Exér- na segunda metade do século XIX, envolvendo essas na-
cito, de atritos com a Igreja e de tensões com a elite agrária ções, tem sido um tema inesgotável de pesquisas e, conse-
são algumas das principais evidencias de que a monarquia quentemente, de polêmicas.
brasileira estava com os seus dias contados. Há uns quarenta anos, o líder paraguaio Solano López
Contudo, para entendermos o processo de desagre­ era considerado um vilão, um ditador, cujo sonho era do-
gação do regime monárquico, torna-se necessário ana­lisar minar a América Latina para construir o “Paraguai Maior”.
o que Boris Fausto chama de “razões de fundo”, ou seja, o O Brasil, a Argentina e o Uruguai eram as vítimas, que se
impacto das transformações socioeconômicas verificadas uniram, formando a Tríplice Aliança, para, através de bravas
no pais a partir de 1850, além das implicações da vitoria e heroicas batalhas, derrotar o ditador e salvar a América.
brasileira na Guerra do Paraguai.

88
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

Já na década de sessenta, surgiu uma nova versão ex- A causa republicana


tremamente revolucionaria se comparada a primeira, que
expôs o lado cruel e sangrento do conflito, destruin­do al- O ideal republicano não era uma novidade no Bra­sil.
guns mitos e, de certa forma, criando outros. O líder para- Desde o período colonial (conjurações coloniais), passando
guaio Solano Lopez teve o seu caráter ditatorial amenizado pelo processo de independência e pelo pe­ríodo regencial,
em função de seus objetivos nacionalistas, assim como sua apontava-se a republica como o regime ideal.
política expansionista, que passou a ser justificada como O Partido Republicano surgiu de uma facção pro­
necessária a sobrevivência da pe­quena potencia latino-a- gressista do partido Liberal, interessada em promover mu-
mericana em que o Paraguai havia se transformado, em danças mais profundas no pais.
meados do século XIX. Em 1868, quando o imperador substituiu o gabine-
Os países da Tríplice Aliança passaram a ser consi­ te liberal, liderado por Zacarias de Góis, por um gabinete
derados os agentes do imperialismo inglês, que foram usa- conservador, essa facção reagiu, provocando a divisão do
dos para destruir a ameaça paraguaia e garantir o domínio Partido Liberal. Essa ala progressista deu origem ao Partido
da Inglaterra na América Latina. Essa é a visão enfocada por Liberal Radical que, pouco tempo depois, veio a se tornar o
quase todos os livros didáticos atuais. Partido Republicano.
O historiador Bóris Fausto, em recente obra, publi­cada O primeiro ato formal do novo partido foi o lança­mento
em 1995, cita uma nova versão sobre essa guerra: embo- de um manifesto a nação, no qual sintetizava suas propostas.
ra não descarte os interesses imperialistas ingle­ses, não os
coloca como a razão básica do conflito. É a voz de um partido a que se alga hoje para falar ao
Nessa visão, a guerra é analisada como o resultado da pais. Como homens livres e essencialmente subordinados
formação das nações latino-americanas e da luta entre elas aos interesses da nos­sa pátria, não é nossa intenção con-
pela posição hegemônica no continente. vulsionar a sociedade em que vivemos. Nosso intuito é es-
Independentemente de qualquer uma dessas visões, clarecê-Ia.
o importante e analisarmos os reais efeitos desse confli­to No Brasil, antes mesmo da ideia democráti­ca, encar-
regou-se a natureza de estabelecer o princípio federativo.
para os países envolvidos e, especificamente no caso do
A topografia do nosso terri­tório, as zonas diversas em que
Brasil, suas implicações para a sociedade brasileira.
ele se divide, os climas vários e as produções diferentes, as
O Paraguai foi derrotado e saiu completamente ar­
cor­dilheiras e as águas estavam indicando a necessidade de
rasado do conflito: perdeu territ6rios para o Brasil e para a
modelar a administração e o governo local acompanhando e
Argentina, sua população foi reduzida a metade, a maioria
respeitando as próprias divisões criadas pela natureza física
eram mulheres e velhos, e sua economia res­tringiu-se a ex-
e impostas pela imensa superfície do nosso território.
portação de gêneros de pequena impor­tância. Os países
A autonomia das províncias é pois para nós mais do que
da Tríplice Aliança, teoricamente vito­riosos, tiveram suas um interesse imposto pela solidari­edade dos direitos e das
economias abaladas em função dos prejuízos da guerra, relações provinciais, é um princípio cardeal e solene que ins-
das perdas humanas e dos em­préstimos contraídos junto crevemos na nossa bandeira.
a Inglaterra. Fortalecidos, pois, pelo nosso direito e pela nossa cons-
Para o Brasil, além dos fatores citados, a guerra teve ciência, apresentamo-nos perante os nossos concidadãos,
outras implicações. O Exército fortaleceu-se como cor­ arvorando resolutamente a bandeira do partido republicano
poração e consolidou-se como uma importante institui­ção federativo.
do país, levando oficiais brasileiros a exigirem do gover- Somos da América e queremos ser americanos.
no imperial o direito a participação política. Além disso, o Em linhas gerais, o Manifesto Republicano estabele­
maior contato com as republicas vizinhas e a influência do cia críticas ao caráter centralizador e autoritário do regi­me
positivismo favoreceram a adesão de mui­tos militares a monárquico, embora não propusesse uma contesta­ção vio-
causa republicana. lenta, nem a ruptura brusca com a monarquia. O Manifesto
O positivismo, conjunto de princípios e ideias filosó­ defendia a adoção do regime republicano como forma de
ficas formuladas pelo francês Augusto Comte, no século retirar o Brasil do isolamento político em que se encontrava
XIX, propunha a organização do Estado sob a forma de no contexto americano e como fator de pro­gresso da nação.
uma republica ditatorial, como meio de garantir, simulta­ O princípio cardeal e solene defendido pelo partido era, sem
neamente, a ordem e o progresso da nação. Essas idei­as duvida, o federalismo.
foram amplamente divulgadas nas escolas militares, tendo O federalismo é um sistema político-administrativo ca-
como maior expoente, Benjamin Constant. A pro­posta de racterizado pela autonomia das unidades da federa­ção - as
uma ditadura militar como solução para a mo­dernização províncias. Essa autonomia permite as provín­cias o gerencia-
do país começou a ganhar corpo. mento de suas rendas, o controle da imi­gração e da políti-
O fim da guerra contribuiu também para o fortaleci­ ca bancária. Esse modelo atendia, sobretudo, aos interesses
mento do ideal abolicionista. Muitos dos soldados bra­ dos republicanos paulistas. São Paulo destacava-se como o
sileiros haviam sido recrutados entre a escravaria, com a maior produtor de ri­queza do país, mas ressentia-se do fato
promessa de alforria ao final do conflito. A volta dos “sol- de não possuir prestígio político correspondente e não rece-
dados libertos” intensificou a campanha abolicionista em ber os be­nefícios proporcionais a sua importância econômi-
todo o país, descontentando a elite tradicional, base social ca. Para os paulistas, a “causa republicana” confundia-se com
de apoio a monarquia. a “causa federalista”.

89
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

A fundação do Partido Republicano, no Rio de Ja­neiro, Mas será que apenas esses fatores explicam o fim da
estimulou a organização de clubes republicanos em varias monarquia?
outras províncias do país. A queda da monarquia, em 1889, foi resultado de uma
Em 1873, realizou-se em Itu (SP), a primeira con­venção crise que se instalou nos mais diversos setores do país. Essa
republicana na qual foi criado o PRP (Partido Republicano crise refletiu-se nas chamadas questões im­periais, que levaram
Paulista). Depois dele, outros partidos re­publicanos de ca- o Império a perder o apoio de im­portantes setores da socie-
ráter estadual foram criados: o PRM (Partido Republicano dade brasileira: o Exército, a Igreja e a elite agrária tradicional.
Mineiro), o PRF (Partido Republi­cano Fluminense), entre Questão Militar: conflitos envolvendo o Exército e o go-
verno imperial, que culminaram na punição de oficiais milita-
outros.
res, devido a pronunciamentos po­líticos. O Exército, descon-
A partir dos jornais e clubes republicanos, a campa­nha
tente, reage retirando seu apoio a monarquia.
intensificou-se. Questão Religiosa: atritos envolvendo o governo imperial
Os setores republicanos e os bispos do Pará e Olinda. Devido a vigência do Beneplácito
(direito do imperador de decidir na aplicação ou não das de-
Para identificarmos os setores sociais interessados na terminações canônicas da Santa Fé), o imperador não atendeu
proclamação da república, remontaremos as trans­formações as determinações da Bula Sylabus (Papa Pio IX), que impunha
socioeconômicas ocorridas no país a partir de 1850. uma série de medidas contra a ma­çonaria. A Igreja retira seu
Ao final do século XIX, a modernização do pais era apoio a monarquia, de­sejando a separação Igreja / Estado.
evidente: as relações capitalistas eram predominantes em Questão Abolicionista: insatisfação da elite agrá­ria tradi-
vários setores da economia, principalmente na área ca- cional com a abolição da escravidão feita sem a indenização
feeira do Oeste Paulista; o mercado interne dinami­zou-se, que reivindicavam do governo imperial. A aristocracia agrá-
oferecendo novas opções de investimentos; as indústrias ria retira seu apoio a monarquia, dando origem a um grupo
espalharam-se pelos grandes centros urba­nos do país e o denomina­do “republicanos de 13 de maio”.
setor de transportes ampliou-se através da expansão das Percebendo a situação difícil em que se encontrava, o go-
ferrovias. verno imperial ainda tentou recuperar seu prestígio. Enviou a
Ao mesmo tempo, a sociedade também passou por Câmara um projeto de reformas políticas, visando a moderniza-
mudanças: a burguesia cafeeira (elite agrária de men­ ção do país, que propunha, dentre outras coisas, a autonomia
administrativa e a liberdade de fé religiosa. Porem, era tarde
talidade empresarial) tornou-se a classe social mais impor-
demais. A 15 de no­vembro de 1889, os militares, chefiados·pelo
tante face a decadente aristocracia tradicional; as camadas
Marechal Deodoro da Fonseca e apoiados pelos diversos seto-
medias urbanas cresceram, ganhando maior representação res republicanos do país, deram um golpe que pôs fim a mo-
social, e os militares tiveram seu prestí­gio aumentado, de- narquia. Na mesma noite, foi organizado um governo provisó-
vido a participação na Guerra do Pa­raguai. rio para a recém-criada Republica dos Estados Unidos do Brasil.
Essas transformações implicariam, necessariamen­ te,
a alteração do quadro político. A monarquia não aten­dia
mais aos interesses do país. PERÍODO REPUBLICANO.
Para a burguesia cafeeira, o unitarismo impedia a auto-
nomia administrativa e econômica das províncias, levando
as áreas mais dinâmicas do país (São Paulo, Minas Gerais, Pouco mais de um ano depois da abolição da escravatura
Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul) a sus­tentar as mais po- (13 de maio de 1888), no dia 15 de novembro de 1889, o
bres. Além disso, não permitia que seus problemas mais governo imperial também se extinguia, sendo substituído por
urgentes, tais como a abolição da es­cravidão, a imigração e um regime republicano.
a construção de ferrovias fos­sem resolvidos de forma autô- Apesar das transformações sociais ocorridas, sobretudo,
noma. Também criticavam as instituições monárquicas, por na segunda metade do século XIX (como a expansão da la-
não se adequarem mais a nova realidade do país. voura cafeeira, o fim do tráfico negreiro, a imigração, o cres-
O Parlamento era dominado pela aristocracia agrá­ria cimento das cidades, a expansão dos transportes, etc.), no
(senhores de terras e escravos), impedindo, assim, o con- plano político, o governo continuava sob o controle das
trole do poder pelas lideranças mais dinâmicas do país. tradicionais famílias de proprietários escravistas, que impe-
Para as camadas médias urbanas, o sistema eleito­ral, diam as mudanças políticas necessárias para atender às novas
baseado no voto indireto e censitário, era o grande obs- necessidades, criadas com as grandes transformações econô-
táculo para a concretização de seu desejo: partici­par das micas e sociais no Brasil daquele período.
decisões políticas do país. Cafeicultores das áreas mais novas do Oeste Paulista, e
outros setores sociais como os industriais e as classes médias
Para os militares, o direito de participação política era
urbanas, também desejavam participar mais efetivamente das
negado pelo governo imperial. O prestígio conseguido
decisões políticas do país, dessa maneira, apenas para uma pe-
com a Guerra do Paraguai não foi suficiente para par fim ao quena parcela da sociedade, que detinha grandes privilégios,
“descaso do governo em relação ao Exército”. é que a monarquia interessava. Esse pequeno grupo era for-
Como você pode perceber, a burguesia cafeeira, as mado por proprietários que controlavam os altos cargos polí-
classes medias e o Exército eram os setores do país mais ticos (ministérios, Senado e Câmara), e conseguiam impedir as
descontentes com a monarquia. Para eles, a repú­blica apa- mudanças que contrariavam seus interesses mais imediatos.
recia como uma “solução natural”.

90
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

Como consequência disso há o aumento na oposição Marechal Deodoro da Fonseca que, por nutrir uma amiza-
ao governo imperial, e uma pressão cada vez maior pela de e respeito pelo imperador, inicialmente estava indeciso
substituição da monarquia por um regime republicano. É o quanto ao seu apoio à república. A decisão final de aderir
momento em que temos no Brasil um Império decadente e de fato ao apelo dos republicanos veio quando soube que
com muito pouco prestígio e o início da organização de par- D. Pedro II pretendia formar um novo ministério, chefiado
tidos republicanos. por seu maior inimigo.
Agora, no final do Segundo Império, o princípio básico
que os adeptos ao republicanismo defendiam era o fede- Embora pensada por diferentes grupos, a proclamação
ralismo, isto é, uma forma de governo republicano em que da república aconteceu de maneira semelhante ao processo
as províncias tivessem bastante autonomia para elaborar de Independência do Brasil em 1822, praticamente sem
suas leis e tomar as medidas correspondentes aos interesses participação das camadas populares.
locais. O ideal federalista ganhava defensores especialmente
em São Paulo, que era uma das regiões economicamente
mais importantes do país, a ponto de alguns grupos locais
defenderem, inclusive, a ideia de fazer de São Paulo um país
independente do resto do Brasil.

Escreveu-se então um manifesto, instaurando um go-


verno republicano provisório, e o imperador foi “convi-
dado” a deixar o país, juntamente com a família imperial.
Saíram de madrugada, embarcando num navio que zarpou
para Lisboa na noite de1 7 de novembro.

Temos o início da Primeira República.


Também os militares se opuseram ao governo imperial.
O Exército havia crescido com a guerra do Paraguai e voltara
O GOVERNO PROVISÓRIO: (1889-1891)
valorizado dos campos de batalha. Contudo, quando a guer-
ra terminou, o governo reduziu o número de seus efetivos
de 19 mil (1871) para 13.500 (1886). O interesse do governo
era reforçar a velha Guarda Nacional, que fielmente defendia
a aristocracia escravista. Os militares desejavam, por sua vez,
um tratamento mais digno e começaram a se opor ao gover-
no imperial. Benjamin Constant, professor na escola militar,
influenciava os jovens oficiais com a ideia de que o Exército
tinha uma importante missão a cumprir: se opor aos políticos,
considerados corruptos e impatrióticos. Os seguidores das
ideias de Benjamin passaram a acreditar que os militares
tinham a missão honrosa de “salvar a pátria”, levando-a pelos
caminhos do progresso e da ordem.
O movimento republicano ganhava terreno dia a dia. Mas
numa tentativa extrema para salvar a Coroa, o último ministro
do Império, Visconde de Ouro Preto, apresentou um projeto
de reformas profundas, que atendiam em parte às propostas
dos republicanos. Mas a Câmara, dominada pela aristocracia
mais tradicional, considerou que o projeto era um absurdo e
que o ministério não era digno de confiança.
Isso só aumentou a tensão já existente: Marechal Deodoro da Fonseca e a Proclamação da
A Guarda Nacional foi reforçada e reorganizada, aumen- República
tou-se o número de policiais, e criou-se a chamada Guarda
Negra, composta de negros ex-escravos, que defendiam a Após o fim da monarquia, militares e representantes
monarquia, porque consideravam a princesa Isabel como da aristocracia cafeeira entraram em confronto de interesses:
heroína de sua causa. Do outro lado, os republicanos or- Militares: Desejavam a formação de um governo com um
questravam o golpe final contra a monarquia, apoiados pelo poder Executivo forte, que comandasse os demais poderes.

91
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

Cafeicultores: Desejavam uma república Federativa, A CONSTITUIÇÃO DE 1891:


que preservasse a autonomia dos estados.
Deodoro assumiu provisoriamente o poder com o ob- Uma vez convocada a Assembleia Constituinte por M.
jetivo de organizar o novo regime. Durante esse governo Deodoro, passa-se então à elaboração de uma nova Cons-
provisório o Marechal governou por decreto lei (atos le- tituição Nacional, promulgada em 24 de fevereiro de 1891.
gislativos do Poder Executivo) até que fosse promulgada a Um ponto importante dessa Assembleia é que a
nova constituição, pois a de 1824 (ligada à monarquia) maioria dos deputados eleitos era de civis partidários da
não valia mais. república federativa, o que acabou fazendo dessa reunião
um cenário de oposição ao governo militar.
Principais medidas de Deodoro durante o governo A nova Constituição inspirou-se no modelo norte-a-
provisório: mericano, ao contrário da Constituição Imperial, inspirada
no modelo francês. Dentre os pontos mais importantes da
Escolheu a república Federativa como regime político; nova constituição estavam previstos:
Transformou Províncias em Estados;
Dissolveu as Assembleias Provinciais e Câmaras Muni- A igualdade de todos perante a lei e o reconhecimento
cipais e nomeou governadores para os Estados e intenden- dos direitos do cidadão (liberdade, propriedade, segurança);
tes para os Municípios;
Ofereceu cidadania brasileira aos estrangeiros aqui Eleições diretas com voto não secreto para maiores
residentes; de 21 anos (exceto analfabetos, mendigos, militares sem
Declarou a separação entre Igreja e Estado, instituiu o patente, religiosos e mulheres);
casamento civil, e a secularização dos cemitérios;
Reformou o código penal, extinguindo a pena de mor- Separação entre Estado e Igreja, sendo garantida a
te em tempos de paz; liberdade de culto.
Convocou a Assembleia Constituinte;
O estabelecimento de três poderes independentes:
Executivo (presidente, vice- presidente e ministros), Legis-
Essas medidas, adotadas no final de 1889 e durante o
lativo (Senado e Câmara Federal, que formam o Congresso
ano de 1890, foram acompanhadas de várias crises políti-
Nacional), e Judiciário ( juízes e Tribunais Federais). (Dife-
cas, devido principalmente às disputas de interesses entre
rente dos 4 poderes do período monárquico).
as forças representadas no governo.
O fim do Senado Vitalício, a criação de cartórios civis e
a secularização dos cemitérios.
Ainda segundo a Constituição, o nosso país dividia-se
agora em vinte estados (antigas províncias) e um Distrito
Federal (ex-município neutro). Cada estado era governado
por um “presidente”. Declarava também que o Brasil era uma
República Representativa, Federalista e Presidencialista.

Bandeira Provisória do Brasil Pós Proclamação, cujo


modelo foi rejeitado por Marechal Deodoro.

Eis o primeiro ministério da República:

• Interior: Aristides da Silveira Lobo;


• Relações Exteriores: Quintino Bocaiuva; Bandeira do Brasil adotada a partir de 19 de novembro
• Fazenda: Rui Barbosa; de 1889.
• Guerra: tenente-coronel Benjamin Constant;
• Marinha: Eduardo Wandenkolk; Federalismo: Os estados seriam praticamente autôno-
• Agricultura, Comércio e Obras Públicas: Demétrio Nu- mos, cabia-lhes elaborar suas próprias leis, desde que não
nes Ribeiro; entrassem em conflito com as estabelecidas pela Constitui-
• Justiça: Manuel Ferraz de Campos Sales. ção Federal. Podiam contrair empréstimos, manter Forças
Públicas Estaduais, cobrar e criar impostos.

92
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

Os três poderes da República: Legislativo, com A REPÚBLICA DA ESPADA (1889-1894):


duas casas temporárias Câmara dos Deputados e Senado
Federal que, reunidos, formavam o Congresso Nacional. DEODORO DA FONSECA: (1891)

Executivo, exercido pelo Presidente da República, elei- Promulgada a Constituição, Deodoro foi eleito pelo
to por voto direto, por quatro anos, com um vice-presiden- Congresso Nacional numa votação marcada por ameaças
te, que assumiria a presidência no afastamento do titular, de intervenção militar. No entanto, neste episódio percebe-
efetivando-se, sem nova eleição, no caso de afastamento se que o próprio exército não era uma força coesa, pois
definitivo depois de dois anos de exercício. o Marechal Floriano concorreu a Vice-presidente apoiando
o candidato das oligarquias, Prudente de Moraes. Apesar
Judiciário, com o Supremo Tribunal Federal, como da derrota de Prudente, o marechal Floriano foi eleito vi-
órgão máximo. ce-presidente. (Pela Constituição de 1891 a eleição para
presidente e vice era separada e podiam ser eleitos candi-
O ENCILHAMENTO: datos de chapas diferentes).
Durante o governo Deodoro a crise política agravou-se
Ainda durante o governo provisório, numa tentativa e foi marcada de um lado pelo autoritarismo e pelo cen-
de promover o desenvolvimento industrial e a formação tralismo de Deodoro, e por outro, pela oposição exercida
de um mercado interno forte, Rui Barbosa (o então Mi- pelos grandes fazendeiros através do Congresso Nacional,
nistro da Fazenda), elaborou uma política financeira de apoiados por parte do exército.
emissão de papel- moeda, facilidades e crédito e aumen- A situação política do presidente era muito difícil. Frente
to das tarifas alfandegárias. à luta entre os industrialistas e os representantes da lavou-
ra, Deodoro optou pelos últimos e as forças políticas mais
R. Barbosa permitiu que certos bancos emitissem tí- progressistas, inclusive militares, passaram para a oposição.
tulos de crédito não cobertos por depósitos em dinheiro. Diante de uma situação de insatisfação e instabilidade
política, sendo permanentemente hostilizado pelo Congres-
Com essa medida, os bancos passaram a conceder créditos
so, Deodoro resolve dissolvê-lo e proclama um estado de
a qualquer empresário que apresentasse um plano para
sítio. Essa atitude caracterizava um golpe de estado: bus-
abrir um estabelecimento comercial, industrial ou agrícola
cava neutralizar qualquer reação e tentar reformar a Cons-
(As quatro regiões autorizadas eram: Bahia, Rio de Janeiro,
tituição, no sentido de conferir mais poderes ao Executivo.
São Paulo e Rio Grande do Sul).
Porém, o golpe fracassou. As oposições, tanto civis
Para financiar o grande volume de créditos, o governo
como militares, cresceram e culminaram com a rebelião
viu-se obrigado a fazer vultosas emissões de moeda, o que
do contra-almirante Custódio de Melo, que ameaçou bom-
provocou acelerada inflação. No entanto, os créditos con-
bardear o Rio de Janeiro com os navios sob seu comando.
cedidos nem sempre eram usados para montar empresas
Deodoro renunciou, assumindo em seu lugar Floriano Pei-
realmente produtivas. xoto.
Inúmeros estabelecimentos comerciais e industriais, FLORIANO PEIXOTO: (1891-94)
sem base econômica, fracassaram em pouco tempo. Po-
rém, as ações dessas empresas, que tinham sido apenas A ascensão de Floriano foi considerada como o retor-
projetadas ou destinadas ao fracasso, eram vendidas e re- no à legalidade. As Forças Armadas, Exército, Marinha e o
vendidas na Bolsa de Valores, com enormes lucros, numa Partido Republicano Paulista apoiaram o novo governo.
especulação financeira sem precedentes. É por associa- Os primeiros atos de Floriano foram:
ção com esse jogo de ações na Bolsa que o conjunto de fe-
nômenos econômicos do período de inflação, especulação A anulação do decreto que dissolveu o Congresso;
financeira e desvalorização da moeda foi designado pelo
termo encilhamento. Este era o nome do local do hipódro- A derrubada dos governos estaduais que haviam
mo onde se faziam as apostas, nas corridas de cavalos. apoiado Deodoro;
A emissão de papel moeda aumentou o dinheiro circu-
lante, e reativou os negócios, mas como a produção interna O controle da especulação financeira e da especulação
não cresceu nas mesmas proporções, e a inflação também com gêneros alimentícios, através de seu tabelamento.
aumentou. O Ministro avaliou mal a situação sócio-econô-
mica brasileira no início da República. Esqueceu-se que se Com Floriano os republicanos radicais, assumiram o po-
tratava de um país recém saído do escravismo; que nosso der e tentaram, mesmo sem muitas condições, reformular as
mercado interno era insuficiente para acompanhar um ver- estruturas sociais e econômicas do país, a classe média e a
dadeiro processo de industrialização. Além disso, subesti- burguesia que ocupam o poder com o “Marechal de Ferro”.
mou a força dos países industrializados, que pressionariam A adoção de uma política de empréstimos, protecionis-
para não perderem seus mercados consumidores e as mos, e melhoras sociais, entretanto só teria êxito com a derrota
remessas de divisas para o exterior. dos grupos opositores a esta política, formados por repre-
sentantes do comércio importador e das Oligarquias Rurais.

93
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

Apesar das pressões, os florianistas conseguiram seu A Revolução Federalista.


objetivo. Conscientes de que a indústria brasileira era mui-
to inferior à estrangeira, e só poderia sobreviver e desen- No Rio Grande do Sul, desde 1892, uma grave dissen-
volver-se se recebesse proteção, o grupo concedeu são política conduzira o Partido Republicano Gaúcho e o
empréstimos, e isentou a importação de máquinas, equipa- Federalista ao confronto armado. Os partidários do
mentos e matérias primas. primeiro, conhecidos como “pica-paus” eram apoiados por
Floriano, e os do segundo, chamados de “maragatos”, ade-
Ainda no governo de Floriano, são adotadas medidas riram à rebelião de Custódio de Melo.
radicais contra a especulação e emissão de papel moeda
por bancos particulares. A emissão passava a ser como hoje A SUCESSÃO DE FLORIANO: Havia um grande medo
um privilégio do Governo Federal. da elite agrária de que os militares quisessem se perpetuar
no poder, mas chegando ao período de convocar as elei-
Outras medidas foram tomadas para um maior alcance ções, o Marechal de Ferro garantiu a realização do proces-
das camadas populares: so eleitoral. O Presidente eleito praticamente sem oposi-
ção foi Prudente de Moraes que representava o poder das
Redução do aluguel das casas dos operários; oligarquias rurais e a consolidação do regime republicano.
Redução do preço da carne e pescado;
Melhoria no abastecimento de gêneros alimentícios (RJ); A CONSOLIDAÇÃO DA REPÚBLICA: Existe uma ten-
Leis para construção de casas para populares e operários; dência de se considerar que “os militares” proclamaram a
República, ou que, sem os militares, não haveria
PRINCIPAIS REBELIÕES: república.
De fato, para muitos, era preciso convocar rapidamente Primeiro é importante lembrar que havia nas camadas
uma nova eleição presidencial, conforme estabelecia o arti- urbanas uma forte disposição a favor do movimento re-
go 42 da Constituição, no qual se lia:
publicano; segundo, que havia um forte partido político,
representando a nova elite agrária, disposta a chegar ao
Art. 42 - Se, no caso de vaga, por qualquer causa, da
poder, mesmo de forma moderada; terceiro, é necessário
presidência ou vice-presidência, não houverem ainda decor-
lembrar que, apesar de existir o “espírito de corpo” entre
rido dois anos do período presidencial, proceder-se-á a nova
os militares e que a ideologia positivista era cada vez mais
eleição.
forte dentro do exército, este se encontrava dividido e exis-
Floriano não convocou nova eleição e permaneceu no
tiam as disputas internas no mesmo.
firme propósito de concluir o mandato do presidente re-
Os militares, de uma forma geral, rechaçavam os políti-
nunciante. A alegação de Floriano era de que a lei só se
cos civis, porém perceberam que era necessária uma alian-
aplicava aos presidentes eleitos diretamente pelo povo.
Ora, como a eleição do primeiro presidente fora indireta, ça com os evolucionistas, pois garantiriam dessa maneira o
feita pelo Congresso, Floriano simplesmente ignorou a lei. fim da monarquia, e a manutenção da “ordem”.
O governo de Floriano Peixoto foi marcado pelo apoio
Isso gerou algumas das principais rebeliões do perío- do Congresso Nacional ao Presidente, que, apesar de cen-
do: tralizador e autoritário, governou para fazer valer a Consti-
tuição recém promulgada e consolidar a República.
O manifesto dos treze generais. Contra as preten- Do ponto de vista econômico herdou a inflação provo-
sões de Floriano, treze oficiais (generais e almirantes) lan- cada pelo encilhamento e executou timidamente medidas
çaram um manifesto em abril de 1892, exigindo a ime- protecionistas em relação à indústria, assim como a
diata realização das eleições presidenciais, como mandava facilitação ao crédito, com a preocupação de controlar a
a Constituição. A reação de Floriano foi simples: afastou especulação.
os oficiais da ativa, reformando-os. Do ponto de vista político, reprimiu as principais re-
voltas que ocorreram no país e foram apresentadas como
A Revolta da Armada. subversivas ou monarquistas: a Revolta da Armada e a Re-
volução Federalista no Rio Grande do Sul.
Essa inabalável firmeza de Floriano frustrou os sonhos O fato de ser encarado como responsável por conso-
do contra-almirante Custódio de Melo, que ambicionava lidar a República não significa que seu governo tenha sido
a presidência. Levadas por razões de lealdade pessoal, as marcado pela estabilidade. Ao contrário, várias manifesta-
Forças Armadas se dividiram. Custódio de Melo liderou ções contrárias ao governo ocorreram.
a revolta da Armada estacionada na baía de Guanabara
(1893). Essa rebelião foi imediatamente apoiada pelo con-
tra-almirante Saldanha da Gama, diretor da Escola Naval,
conhecido por sua posição monarquista.

94
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

Para Entender: A POLÍTICA DOS GOVERNADORES:

Os republicanos e o positivismo:

O republicanismo brasileiro, especialmente aquele liga-


do ao grupo dos militares, sofreu forte influência do positi-
vismo – forma de pensamento desenvolvida no século XIX,
que entendia a sociedade como um organismo formado
por diversas partes, e cada parte teria a função de agir pelo
bom funcionamento do todo. Os positivistas no Brasil pen-
savam a formação de um Estado nacional centralizado e
desvinculado da Igreja (Laico), além da conciliação entre as
classes, pois conflitos sociais traziam desordem, e isso atra-
palharia o funcionamento do todo. Sua maior influência
está registrada no lema de nossa bandeira, com os dizeres:
“Ordem e Progresso”.

A REPÚBLICA DAS OLIGARQUIAS (1894-1930):


Criada por Campos Sales (1898-1902), a “política
ESTRUTURA POLÍTICA DA REPÚBLICA VELHA: dos governadores” consistia no seguinte: o Presidente da
República apoiava, com todos os meios ao seu alcance, os
Vimos anteriormente que a República tornou-se pos- Governadores estaduais e seus aliados (oligarquia estadual
sível, em grande parte, graças à aliança entre militares e dominante) e, em troca, os Governadores garantiriam a
fazendeiros de café. Esses dois grupos tinham, entretanto, eleição, para o Congresso, dos candidatos oficiais. Desse
dois projetos distintos em relação à forma de organi-
modo, o poder Legislativo, constituído por deputados e
zação do novo regime: os primeiros eram centralistas e os
senadores aliados do Presidente poder Executivo -, apro-
segundos, federalistas.
vava as leis de seu interesse. Estava afastado assim o confli-
Os militares não eram suficientemente poderosos
to entre os dois poderes.
para impor o seu projeto nem contavam com aliados que
Em cada estado existia, portanto, uma minoria (oligar-
pudessem lhes dar o poder de que precisavam. Os cafeicul-
quia) dominante, que, aliando-se ao governo federal, se
tores, ao contrário, contavam com um amplo arco de alia-
perpetuava no poder. Existia também uma oligarquia que
dos potenciais e compunham, economicamente, o setor
dominava o poder federal, representada pelos políticos
mais poderoso da sociedade.
A partir de Prudente de Morais, que, em 1894, paulistas e mineiros. Essa aliança entre São Paulo e Minas
sucedeu o Marechal Floriano, o poder passou das mãos - que eram os estados mais poderosos -, cujos líderes polí-
dos Militares para o poder Civil, e consequentemente, para ticos passaram a se revezar na presidência, ficou conhecida
esses grandes fazendeiros. como a “política do café com leite”.
Entretanto, com a ampliação da participação popular Desta forma, a República Velha vai ter como carac-
nas eleições (conforme reforma eleitoral de 1891), era ne- terística a política feita de cima para baixo, com pouca
cessário conceber uma nova forma de dominação ou ma- participação popular, em que os membros da elite eram os
nipulação dos eleitores, para garantir a vitória da elite agrí- responsáveis “por decidir” quem seria eleito, obrigando a
cola no resultado das eleições. Foi no governo de Campos população a votar nesses candidatos.
Sales (1898-1902) que essa fórmula política duradoura de
dominação foi finalmente elaborada: a “política dos gover- CORONELISMO, VOTO DE CABRESTO E COMISSÃO VE-
nadores”. RIFICADORA:
É importante lembrar que não só a população bran-
ca podia participar das eleições, a Abolição tinha transfor- As peças para o funcionamento dessa máquina eleito-
mado todos os escravos negros em homens livres e, ral conhecida por “política dos governadores” foram, basi-
portanto em possíveis trabalhadores, sendo necessário o camente, a Comissão de Verificação ou Comissão Verifi-
reestabelecimento de novas relações entre proprietários cadora e o Coronelismo. As eleições na República Velha
de terras e seus trabalhadores. não eram, como hoje, garantidas por uma justiça
Os partidos políticos tiveram pouca expressão durante eleitoral. A aceitação dos resultados de um pleito era feita
toda a República Velha, sem grandes posições ideológicas pelo poder Legislativo, através da Comissão de Verificação.
que defendessem determinados projetos de desenvolvi- Essa comissão, formada por deputados, é que oficializava
mento do país. A Constituição de 1891 tinha dado grande os resultados das eleições.
poder as elites locais (Os Coronéis) que se aproveitaram O presidente da República podia, portanto, através do
para engrandecer as elites agrícolas e os estados mais ricos controle que tinha sobre a Comissão de Verificação, lega-
da federação. lizar qualquer resultado que conviesse aos seus interesses,
mesmo no caso de fraudes, que, aliás, eram comuns.

95
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

O coronelismo: O título de “coronel”, recebido ou Foram os lucros obtidos com a exportação do café que
comprado, era uma patente da Guarda Nacional, criada permitiram o desenvolvimento de atividades industriais
durante a Regência. Geralmente, o termo era utilizado no Brasil, principalmente em: São Paulo, Rio de Janeiro e na
para designar os fazendeiros ou comerciantes mais ricos. Zona da Mata Mineira, além de garantir a vinda de milhões
Durante o Segundo Reinado, os localismos haviam sido de imigrantes.
sufocados pela política centralizadora do imperador, mas
renasceram às vésperas da República. O CONVÊNIO DE TAUBATÉ: (1906)
Com a proclamação e a adoção do federalismo, os co-
ronéis passaram a ser as figuras dominantes do cenário po- Para recuperar a economia brasileira em crise desde
lítico dos municípios. a década de 1890, o governo de Campos Sales ne-
gociou com os banqueiros internacionais um acordo onde
o Brasil declarava moratória negociada: uma impossibi-
lidade de pegar suas dívidas pelo prazo de 15 anos. Com
isso, novos empréstimos eram concedidos, buscando-se
com isso a estabilidade financeira. Dentre outras coisas
estes empréstimos permitiram as Reformas Urbanas no Rio
de Janeiro, e a Política de valorização do café dos anos se-
guintes.
A fim de garantir o cumprimento dessa parte do
trato, os banqueiros ingleses periodicamente envia-
vam fiscais ao Brasil, para acompanhar o andamento das
reformas econômicas, como o controle sobre a emissão de
papel-moeda e o superávit da balança comercial.
Após o primeiro Funding Loan, muitos bancos na-
cionais faliram e a posição dos estrangeiros ficou mais
forte. O maior banco inglês, o London and Brazilian Bank,
tinha muito mais recursos do que o Banco do Brasil.

Curiosidade: Por conta desse acordo o Brasil renego-


ciou sua dívida externa por mais 63 anos!
Em torno dos coronéis giravam os membros das oli-
O CAFÉ:
garquias locais e regionais. O seu poder residia no controle
que exerciam sobre os eleitores. Todos eles tinham o seu Contudo, desde 1895, a economia cafeeira não andava
“curral” eleitoral, isto é, eleitores cativos que votavam sem- bem. Enquanto a produção do café crescia em ritmo acele-
pre nos candidatos por eles indicados, em geral através rado, o mercado consumidor europeu e norte- americano
de troca de favores fundados na relação de compadrio. não se expandia no mesmo ritmo. Consequentemente, a
Assim, os votos despejados nos candidatos dos coro- oferta era maior que a procura, e o preço do café come-
néis ficaram conhecidos como “votos de cabresto”. Porém, çou a despencar no mercado internacional, trazendo sé-
quando a vontade dos coronéis não era atendida, eles a rios riscos para os fazendeiros.
impunham com seus bandos armados - os jagunços -, que Para solucionar o problema, os governadores de São
garantiam a eleição de seus candidatos pela violência. Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro reuniam-se na cidade
A importância do coronel media-se, portanto, por sua de Taubaté, no interior de São Paulo. Decidiu-se então que,
capacidade de controlar o maior número de votos, dan- a fim de evitar a queda de preços, os governos estaduais
do-lhe prestígio fora de seu domínio local. Dessa forma, interessados deveriam contrair empréstimos no exterior
ele conseguia obter favores dos governantes estaduais ou para adquirir parte da produção que excedesse o con-
federais, o que, por sua vez, lhe dava condições para pre- sumo do mercado internacional.
servar o seu domínio. Dessa maneira, a oferta ficaria regulada e o preço po-
deria se manter. Teoricamente, o café estocado deveria ser
ECONOMIA DA REPÚBLICA VELHA liberado quando a produção, num dado ano, fosse
insuficiente. Ao lado disso, decidiu-se desencorajar
O FUNDING LOAN (Financiamento de Empréstimo): o plantio de novos cafezais mediante a cobrança de altos
impostos e a desvalorização cambial para garantir lucros
A cultura do café se firmou ao longo da República em um cenário de queda dos preços. Estabelecia-se, assim,
Velha como nosso principal produto de exportação, cor- a primeira política de valorização do café.
respondendo até a 70% de nossa balança comercial. Este O governo federal foi contra o acordo, mas a solução
crescimento esteve ligado principalmente à expansão da do Convênio de Taubaté acabou se impondo. De 1906 a
cafeicultura pelo Oeste Paulista chegando até mesmo ao 1910, quando terminou o acordo, perto de 8.500.000 sacas
Paraná. de café haviam sido retiradas de circulação.

96
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

O acordo não foi propriamente uma solução, mas A insatisfação da população ganhará novas propor-
um simples paliativo. E o futuro da economia cafeeira con- ções, e o caminho estará traçado para a Revolução de
tinuou incerto. 1930 que trará fim a Primeira República.

O SURTO DA BORRACHA: OS MOVIMENTOS SOCIAIS INTRODUÇÃO:

A partir da década de 1890 vai se configurar na Ama- O período da República Velha foi marcado por uma
zônia o “Surto da Borracha”. A exploração já era realizada série de conflitos sociais, frutos das mudanças que ocor-
desde 1770, mas com o desenvolvimento da indústria au-
riam na sociedade. Esses conflitos foram resultado de dis-
tomotiva, a borracha se tornou um dos principais produtos
putas entre a tentativa de manutenção da ordem elitista
de exportação, chegando em 1912 a representar 40% da
agrícola e as tentativas de grupos menos abastados da
exportação do país.
Este desenvolvimento significou um grande crescimen- sociedade de conseguir melhorias sociais.
to da ocupação do Norte que praticamente dobrou sua po- Suas origens são bastante diversificadas, ocorrendo
pulação em 15 anos. Milhares de brasileiros, principalmente não só no campo, mas também nas cidades, evidencian-
nordestinos se dirigem a região, a maioria vai trabalhar de do as causas da tradicional marginalização da sociedade
seringueiro onde acaba recebendo muito pouco e em brasileira: o aumento da opressão, da miséria, as conse-
condições de trabalho semelhantes aos antigos escravos. quências da abolição da escravidão e da imigração intensa.
A partir de 1912 ocorre uma grande decadência da re- A sociedade tornava-se mais complexa, com cresci-
gião, ocasionada pelo baixo índice de produção e a concor- mento dos grandes centros urbanos, crescimento da gran-
rência do látex inglês cultivado na Malásia. de propriedade, crescimento da classe média e o despon-
tar de movimentos operários.
A INDUSTRIALIZAÇÃO:
OS CONFLITOS NO CAMPO:
Já no intenso processo de modernização da economia
o numero de estabelecimentos comercias vai crescer consi- Como já visto anteriormente, os efeitos da abolição
deravelmente durante a República Velha, ocasionado prin- da escravidão provocaram uma reestruturação das rela-
cipalmente por:
ções entre trabalhadores rurais e os grandes proprietários
de terra. Ao mesmo tempo, os latifundiários passaram a
Rendas da lavoura cafeeira (RJ, MG, SP) que eram rein-
aumentar seus domínios, expulsando pequenos proprietá-
vestidas na diversificação da produção;
Investimentos estrangeiros durante as expansões impe- rios e contribuindo assim para o aumento da miséria.
rialistas; O Coronelismo através de sua dominação política
Grande imigração que facilitava a contratação de mostrava sua face de violência de violência e opressão so-
mão de obra; bre a população rural.
Iª Guerra Mundial, com as substituições de Foi desta forma, que milhares de sertanejos, colonos,
importações; meeiros, parceiros, e habitantes das vilas e cidades do in-
Política de desvalorização da moeda nacional que enca- terior, vão conhecer aspectos negativos da “Democracia”
recia os produtos importados aqui comercializados; instaurada com a Proclamação da República.

O principal centro desta expansão será o estado de São O CANGAÇO: (1870-1940)


Paulo, principal produtor que também concentrará grande
parte da migração no período. Após a mineração, o nordeste tornou- se tradicional-
A industrialização ocorria nos espaços criados pela mente uma região de grandes latifúndios com limites
agricultura de exportação, não se constituindo como centro não tão bem definidos. Nesta região era muito comum
econômico da República Velha. Somente a partir da crise de conflitos entre fazendeiros rivais, disputas de terras, rou-
1929, que a indústria se tornará um setor mais dinâmi-
bos e etc. Os Coronéis que procuravam exercer controle
co de nossa economia, inclusive concentrando esforços do
sobre a população local através de seu poder econômico e
Estado no processo de industrialização efetiva.
prestígio político, organizam bandos armados para mon-
A CRISE DA ECONOMIA: tar seus “exércitos” particulares para defender seus limites
e muitas vezes impor suas decisões.
Durante a década de 20 o governo foi obrigado a inter- Essas milícias privadas eram compostas por parentes,
vir para manter o preço mínimo do café. A concorrência ex- afilhados e de jagunços, que se tornavam seguranças do
terna, as “super safras”, e as expansões da lavoura, geraram Coronel e dos agricultores que habitavam suas terras (es-
um quadro grave de superprodução. tes também muitas vezes pegavam em armas para
Com os efeitos da crise de 1929 na economia brasileira, defender o Coronel e suas terras).
as exportações serão praticamente paralisadas. O Governo
não terá como fazer uma intervenção desta proporção o
que levará a crise até os cafeicultores.

97
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

O Cangaço tem suas origens destes bandos armados


e das próprias questões sociais e fundiárias do Nordeste
brasileiro, que vão se desligando dos coronéis e passam
a defender questões pessoais. As ações caracterizam-se
por ações violentas de grupos ou indivíduos isolados: as-
saltavam fazendas, sequestravam coroneis e saqueavam
comboios e armazéns. Não tinham moradia fixa viviam
perambulando pelo Sertão, praticando tais crimes, fugin-
do e se escondendo.
O Cangaço pode ser dividido em três subgrupos: os
que prestavam serviços esporádicos para os latifundiários;
os “políticos”, expressão de poder dos grandes fazendei-
ros; e os cangaceiros independentes, com características
de banditismo.
Os cangaceiros conheciam a caatinga e o território
nordestino muito bem, e por isso, era tão difícil serem Conselheiro era filho de pequenos proprietários de
capturados pelas autoridades. Estavam sempre prepara- terras do Ceará e havia sofrido uma vida dura no sertão:
dos para enfrentar todo o tipo de situação. Conheciam estudara para ser padre, mas as necessidades e dificulda-
as plantas medicinais, as fontes de água, locais com des econômicas de sua família obrigaram-no a se tornar
alimento, rotas de fuga e lugares de difícil acesso. O pri- comerciante. Na década de 1860 sua mulher o abandona e
meiro bando de cangaceiros que se tem conhecimento ela passa a vagar pelo sertão como beato e místico religio-
so, misturava elementos do catolicismo e
foi o de Jesuíno Alves de Melo Calado, “Jesuíno Brilhante”,
Milhares de pessoas começam a abandonar tudo e a
que agiu por volta de 1870. E o último foi de “Corisco”
segui-lo. A população extremante religiosa vê nesse novo
(Cristino Gomes da Silva Cleto),que foi assassinado em líder, a salvação para problemas como seca, miséria, fome,
25 de maio de 1940. falta de terras e violência de cangaceiros e coronéis.
O cangaceiro mais famoso foi, Virgulino Ferreira No final da década de 1890 fundou em uma antiga ses-
da Silva, o “Lampião”, denominado o “Senhor do Sertão” maria abandonada, o Arraial de Belo Monte ou Canudos,
e também “O Rei do Cangaço”. Atuou durante as como ficaria conhecido. A localidade vai chegar a ter apro-
décadas de 20 e 30 em praticamente todos os estados ximadamente 25.000 moradores que viviam basicamente
do Nordeste brasileiro. Por parte das autoridades Lam- da agricultura de subsistência, na caça e criação de cabras
pião simbolizava a brutalidade, o mal, uma doença que e gado. As terras eram de toda a comunidade e os que
precisava ser cortada. Para uma parte da população do iam chegando construíam seus barracos em volta da
sertão ele encarnou valores como a bravura, o heroísmo igreja do arraial e trabalhavam conforme podiam. Apesar
e o senso da honra. de pobre, Canudos não havia Coronéis, Impostos, Prefeitos,
O Cangaço teve o seu fim a partir da decisão do Pre- Juízes, o que significava de certo modo Liberdade para a
sidente da República, então Getúlio Vargas, que de- população.
terminou eliminar todos e quaisquer focos de desordem Depois de diversos incidentes com autoridades próxi-
sobre o território nacional. O regime denominado Estado mas, Canudos vai começar a despertar a ira da elite baiana
Novo incluiu Lampião e seus cangaceiros na categoria de e dos proprietários de terras. Oferecendo oportunidades
de terras e trabalho, os trabalhadores abandonavam as ter-
extremistas. A sentença passou a ser matar todos os can-
ras dos Coronéis. O misticismo de Conselheiro também
gaceiros que não se rendessem. Neste mesmo período,
não se encaixava na visão da Igreja Católica que temia a
o crescimento da industrialização e o êxodo nos campos perda de fiéis com o crescimento do movimento.
ajudaram a diminuir as tensões no nordeste. Com o passar do tempo, as idéias iniciais se difundi-
ram com tanta velocidade, que os jagunços passaram a
CANUDOS: (1897) utilizar-se das mesmas para justificar seus roubos. Devido
a enorme proporção que este movimento adquiriu, o go-
A Guerra de Canudos aconteceu no final do século verno da Bahia não conseguiu por si só segurar a grande
XIX e foi responsável pela morte de milhares de ser- revolta que acontecia em seu estado, por esta razão,
tanejos que viviam se reunindo no norte da Bahia, numa pediu a interferência da República. Esta, por sua vez, tam-
comunidade de caráter messiânico e fatalista (Atitude ou bém encontrou muitas dificuldades para conter os faná-
doutrina que admite que os cursos dos acontecimentos ticos. Somente no quarto combate, onde as forças da Re-
estejam previamente fixados, nada podendo alterá-lo), pública já estavam mais bem equipadas e organizadas, os
seu líder Antônio Alves Mendes Maciel, ou simples- incansáveis guerreiros foram vencidos pelo cerco que os
mente Antônio Conselheiro. impediam de sair do local no qual se encontravam para
buscar qualquer tipo de alimento e muitos morreram de
fome. O massacre foi tamanho que não escaparam idosos,
mulheres e crianças.

98
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

Pode-se dizer que este acontecimento histórico repre- de 700 soldados atacaram o arraial de Taquaruçu, matando
sentou a luta pela libertação dos pobres que viviam na zona dezenas de pessoas. De março a maio outras expedições fo-
rural, e, também, que a resistência mostrada durante todas ram realizadas, porém sem sucesso. A organização
as batalhas ressaltou o potencial do sertanejo na luta por das Irmandades continuou a se desenvolver e os sertanejos
seus ideais. Euclides da Cunha, em seu livro Os Sertões, passaram a ter uma atitude mais ofensiva.
eternizou este movimento que evidenciou a importância A partir de dezembro de 1914 iniciou- se o ataque final,
da luta social na história de nosso país. comandado pelo General Setembrino de Carvalho, mandado
do Rio de Janeiro a frente das tropas federais, ampliada por
CONTESTADO: (1912-1916) soldados do Paraná e de Santa Catarina. O cerco à região de
Santa Maria determinou grande mortalidade causada pela
Guerra do Contestado - A região denominada “Con- fome e pela epidemia de tifo, forçando parte dos sertanejos
testado” abrangia cerca de 40.000 Km² entre os atuais esta- a renderem-se.
dos de Santa Catarina e Paraná, disputada por ambos, uma
vez que até o início deste século a fronteira não havia sido O MESSIANISMO DE PADRE CÍCERO:
demarcada. As cidades desta região foram palco de um
dos mais importantes movimentos sociais do país.
Formação da Região - No século XIX algumas poucas
cidades haviam se desenvolvido, principalmente por gru-
pos provenientes do Rio Grande, após a Guerra dos Farra-
pos, dando origem a uma sociedade baseada no latifúndio,
no apadrinhamento e na violência.
Em 1908 a empresa norte americana Brazil Railway
Company recebeu do governo federal uma faixa de terra
de 30Km de largura, cortando os 4 estados do sul do país,
para a construção de uma ferrovia que ligaria o Rio Grande
do Sul a São Paulo e ao mesmo tempo, a outra empresa
O padre Cícero Romão Batista, ou “Padim Ciço” foi um
coligada passaria a explorar e comercializar a madeira da
grande líder religioso e político da região nordestina e que
região, com o direito de revender as terras desapropriadas
atuou basicamente durante a República Velha.
ao longo da ferrovia.
Chegando em Juazeiro (CE) por volta de 1880, a fama de
A Situação Social - Enquanto os latifundiários e as
milagreiro rapidamente se espalhou pela população do ser-
empresas norte americanas passaram a controlar a
tão que dirigia- se para a cidade em busca da solução para
economia local, formou-se uma camada composta por seus problemas.
trabalhadores braçais, caracterizada pela extrema pobreza, Aproveitando-se deste apoio popular, Padre Cícero tor-
agravada ainda mais com o final da construção da ferro- nou-se poderoso Coronel local, sendo inclusive eleito como
via em 1910, elevando o nível de desemprego e de margi- Prefeito de Juazeiro em 1911 e assinando o Pacto dos Coro-
nalidade social. Essa camada prendia-se cada vez mais ao néis, onde fazendeiros mais importantes do estado se com-
mandonismo dos coronéis e da rígida estrutura fundiária, prometiam a sustentar a oligarquia frente a Política Salvacio-
que não alimentava nenhuma perspectiva de alteração da nista impetrada pelo então presidente Hermes da Fonseca.
situação vigente. Esses elementos, somados a ignorância,
determinaram o desenvolvimento de grande religiosidade, Padre Cícero morreu excomungado pela Igreja em 1934,
misticismo e messianismo. mas dono de várias terras, respeitado e temido pelos polí-
ticos, e admirado pela população do Nordeste como verda-
O Confronto (1912-16) deiro “Santo”.

Ao iniciar a Segunda década do século, o país OS CONFLITOS URBANOS:


era governado pelo Marechal Hermes da Fonseca, respon-
sável pela “Política das Salvações”, caracterizada pelas in- Durante a República Velha o país assistira um desenvol-
tervenções político- militares em diversos estados do país, vimento dos setores e atividades urbanas. A industrialização
pretendendo eliminar seus adversários políticos. Além da começará a acelerar, bem como as cidades que vão se urba-
postura autoritária e repressiva do Estado, encontramos nizar e crescer.
outros elementos contrários ao messianismo, como os in- O resultado será uma série de revoltas por parte da po-
teresses locais dos coronéis e a postura da Igreja Católica pulação que aspira por uma maior participação política, ou
no sentido de combater os líderes “fanáticos”. contras medidas repressivas adotadas pelos governos.
O primeiro conflito armado ocorreu na região de Irani, A entrada de imigrantes introduzirá novas teorias sociais
ao sul de Palmas, quando foi morto José Maria, apesar de as (Socialismo, Anarquismo) que vão ter grande influência na or-
tropas estaduais terem sido derrotadas pelos caboclos. No ganização de movimentos operários.
final de 1913 um novo ataque foi realizado, contando com Ao mesmo tempo as medidas saneadoras tomadas na
tropas federais e estaduais que, derrotadas, deixaram para Capital da República (RJ), vão provocar a insatisfação em
trás armas e munição. Em fevereiro do ano seguinte, mais grande parte da população.

99
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

A REVOLTA DA VACINA: (1904) A REVOLTA DA CHIBATA: (1910)

No início do século XX, a cidade do Rio de Janeiro, era Ainda que a Abolição da escravatura tenha ocorrido
a capital da República e, apesar de possuir belos palacetes e em 1888, as antigas práticas de punição dos coronéis aos
casarões, enfrentava graves problemas urbanos: rede insufi- escravos se perpetuaram ao longo dos tempos, metamor-
ciente de água e esgoto, coleta de lixo precária e cortiços su- foseadas em outras esferas da sociedade. A violência apa-
per povoados. Nesse ambiente proliferavam muitas doenças, rece como uma tentativa de impor força, de supostamente
como a tuberculose, o sarampo, o tifo e a hanseníase. Alas- mostrar quem tem o poder frente ao outro. Uma das
travam-se, sobretudo, grandes epidemias de febre amarela,
instituições na qual o comportamento violento de seus su-
varíola e peste bubônica.
periores mais se evidenciava era a marinha de Guerra
Decidido a sanear e modernizar a cidade , o então presi-
do Brasil.
dente da República Rodrigo Alves (1902-1906) deu plenos
poderes ao prefeito Pereira Passos e ao médico Dr.Oswal- O uso do açoite como medida disciplinar continuou
do Cruz para executarem um grande projeto sanitário de sendo aplicado nos marinheiros, como no tempo em que
“higienização da cidade”. O prefeito pôs em prática uma am- existia o pelourinho. Todos os marinheiros, na sua esma-
pla reforma urbana, que ficou conhecida como Bota Abaixo, gadora maioria negros, continuavam a ser açoitados às
em razão das demolições dos velhos prédios e cortiços, que vistas dos companheiros, por determinação da oficialidade
deram lugar a grandes avenidas, edifícios e jardins. Milhares branca. Os demais marujos eram obrigados a assistir à cena
de pessoas pobres foram desalojadas à força, sendo obri- infame no convéns das embarcações. Com isto, criaram- se
gadas a morar nos morros e na periferia, expandindo assim condições de revolta em meio aos marujos. Os seus mem-
as favelas. bros não aceitavam mais passivamente esse tipo de castigo.
Oswaldo Cruz, convidado a assumir a Direção Geral da Chefiados por Francisco Dias, João Cândido e outros
Saúde Pública, criou as Brigadas Mata Mosquitos, grupos tripulantes do Minas Gerais, (embarcação na qual trabalha-
de funcionários do Serviço Sanitário que invadiam as ca- vam), os marinheiros organizaram-se contra a situação
sas para desinfecção e extermínio dos mosquitos trans- humilhante da qual eram vítimas. Nos outros navios
missores da febre amarela. Iniciou também a campanha outros marujos também se organizavam: o cabo Gregó-
de extermínio de ratos considerados os principais transmis- rio conspirava no São Paulo, e no Deodoro havia o cabo
sores da peste bubônica, espalhando raticídas pela cidade e
André Avelino.
mandando o povo recolher o lixo.
No dia 22 de novembro de 1910, primeira semana de
Para erradicar a varíola, o sanitarista convenceu o Con-
governo do novo presidente, o militar, marechal Hermes
gresso a aprovar a Lei da Vacina Obrigatória (31 de Outubro
de 1904), que permitia que brigadas sanitárias, acompanha- da Fonseca, chegava a informação de que a esquadra, si-
das por policiais, entrassem nas casas para aplicar a vacina à tuada na Baía de Guanabara, se sublevara! O movimento
força. que vinha sendo articulado pelos marinheiros foi anteci-
A população estava confusa e descontente. A cidade pado em face da indignação dos mesmos contra o espan-
parecia em ruínas, muitos perdiam suas casas e outros tan- camento de mais um companheiro: o marinheiro negro
tos tiveram seus lares invadidos pelos mata- mosquitos, que Marcelino, que recebeu 250 chibatadas aos olhos de toda
agiam acompanhados por policiais. Jornais da oposição a tripulação, formada no convés do Minas Gerais.
criticavam a ação do governo e falavam de supostos Os marinheiros, tendo João Cândido como líder, re-
perigos causados pela vacina. Além disso, o boato de que a solveram sublevar-se imediatamente. Num golpe rápi-
vacina teria de ser aplicada nas “partes íntimas” do corpo do, apoderaram-se dos principais navios da Marinha de
(as mulheres teriam que se despir diante dos vacinadores) Guerra brasileira e se aproximaram da cidade do Rio de
agravou a ira da população, que se rebelou. Janeiro. Em seguida mandaram mensagem ao presidente
A aprovação da Lei da Vacina foi o estopim da revolta: no da República e ao ministro da Marinha exigindo a
dia 5 de Novembro, a oposição criava a Liga contra a Vacina extinção do uso da chibata, além de outras reivindicações
Obrigatória. Entre os dias 10 e 16 de novembro, a como aumento do soldo (salário), e o fim do precon-
cidade virou um campo de guerra. A população exaltada
ceito contra militares negros, que nunca alcançavam as
depredou lojas, virou e incendiou bondes, fez barricadas, ar-
altas patentes, muitas das vezes perdendo as promoções
rancou trilhos, quebrou postes e atacou as forças da polícia
para outros, menos competentes, mas escolhidos por se-
com pedras, paus e pedaços de ferro. No dia 14, os cade-
tes da Escola Militar da Praia Vermelha também se subleva- rem brancos.
ram contra as medidas baixadas pelo Governo Federal. O governo ficou estarrecido. Supôs tratar-se de um
A reação popular levou o governo a suspender a obri- golpe político das forças inimigas. O pânico apoderou-se
gatoriedade da vacina e a declarar estado de sítio (16 de de grande parte da população da cidade. Muitas pessoas
Novembro). A rebelião foi contida, deixando 30 mortos e 110 fugiram por conta das ameaças dos navios em bombardear
feridos. Centenas de pessoas foram presas e, muitas delas, a cidade. Somente em um dia correram 12 composi-
deportadas para o Acre. ções especiais para Petrópolis, levando 3 000 pessoas.
Ao reassumir o controle da situação, o processo de va- Todos os navios amotinados hastearam bandeiras verme-
cinação foi reiniciado, tendo a varíola, em pouco tempo sido lhas. Alguns navios fiéis ao governo ainda tentaram duelar
erradicada da capital. com os revoltosos, mas foram logo silenciados.

100
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

Com isto os marujos acabaram criando um impasse João Cândido, que não embarca no Satélite, juntamente
institucional: de um lado a Marinha, que queria a punição com alguns companheiros foi recolhido a uma masmorra da
dos revoltosos em consequência da morte de alguns ofi- ilha das Cobras, onde viviam como animais. Dos 18 recolhi-
ciais da armada. Do outro, o governo e os políticos, que dos ali, 16 morreram. Uns fuzilados sem julgamento, outros
sabiam não ter forças para satisfazer essa exigência, em em consequência das péssimas condições em que viviam
vista dos marinheiros estarem fortemente armados, apre- enclausurados. João Cândido enlouqueceu, sendo inter-
sentando um risco para a cidade. Os revoltosos naquele nado no Hospital dos Alienados. Tuberculoso e na miséria,
momento detinham mais força bélica do que o comando consegue, contudo, restabelecer-se física e psicologicamen-
da Marinha de Guerra, pois comandavam, praticamente, te. Perseguido constantemente, morre como vendedor no
a armada inteira e tinham os canhões das embarcações Entreposto de Peixes da cidade do Rio de Janeiro, sem pa-
apontados para a capital da República. tente, sem aposentadoria e até sem nome, este herói que
Depois de muitas reuniões políticas para tentar resolver um dia foi chamado, com mérito, de Almirante Negro.
o impasse, Rui Barbosa apresentou ao Senado um projeto
de lei que concedia anistia aos amotinados; em motivo de
urgência, o projeto foi aprovado. Com isto, os marinheiros
desceram as bandeiras vermelhas dos mastros dos seus
navios. A revolta havia durado cinco dias e terminava vito-
riosa, desaparecia, assim, o uso da chibata como norma de
punição disciplinar na Marinha de Guerra do Brasil.
As forças militares, não-conformadas com a solução
política encontrada para a crise, apertam o cerco con-
tra os marinheiros. João Cândido, sentindo o perigo, ainda
tenta reunir o Comitê Geral da revolução, inutilmente.
Procuram Rui Barbosa e Severino Vieira, que defenderam a João Cândido lê o decreto de anistia, em novembro de
anistia em favor deles, mas sequer são recebidos por esses 1910.
dois políticos. Naquele momento políticos Civis e Militares
haviam se unido elaborando um decreto pelo qual qual- O MOVIMENTO TENENTISTA
quer marinheiro podia ser sumariamente demitido. A anis-
tia fora uma farsa para desarmá-los. É necessário entender o movimento tenentista num
São acusados de conspiradores, espalham boatos de contexto maior, de transição eleitoral. O evento considera-
que haveria uma outra sublevação. Finalmente, afirmam do o estopim para a revolta teve origem na disputa eleito-
que a guarnição da ilha das Cobras havia se sublevado. Pre- ral de 1922 para o cargo de presidente da república.
texto para que a repressão se desencadeasse violentamen- Durante o período, cartas ofensivas ao Exército e
te sobre os marinheiros negros. O presidente Hermes da ao Marechal Hermes da Fonseca, supostamente assinadas
Fonseca necessitava de um pretexto para decretar o estado pelo candidato Arthur Bernardes, que era representante
de sítio, a fim de sufocar os movimentos democráticos que da situação, tornaram-se públicas. A candidatura de Arthur
se organizavam. As oligarquias regionais tinham interesse Bernardes naquele momento signifcava para a oposição a
em um governo forte. Os poucos sublevados daquela ilha manutenção do sistema oligarquico que controlava o país
propõem rendição incondicional, o que não é aceito. Se- naquele momento e que concentrava o poder nos estados
gue-se uma verdadeira chacina. A ilha é bombardeada de Minas Gerais e São Paulo ( a chamada política do café-
até ser arrasada. Estava “restaurada” a honra da Marinha. com-leite).
João Cândido e os seus companheiros de revolta são Os tenentistas pregavam a moralização da política,
presos e se tornam incomunicáveis, e o governo e a Mari- o fim do voto de cabresto, e a adoção do voto secreto,
nha resolvem exterminar fisicamente os marinheiros. Em- o fortalecimento do poder da República sobre os poderes
barca-os no navio Satélite rumo ao Amazonas. estaduais, e tinham um projeto nacionalista. É necessário
Os 66 marujos que se encontrava em uma masmorra que se entenda que eles não buscavam a democracia, não
do Quartel do Exército e mais 31, que se encontravam no defendiam a igualdade social, apenas buscavam ampliar o
Quartel do 1º Regimento de Infantaria, são embarcados espaço da política nacional, então sob controle da oligar-
junto com assassinos, ladrões e marginais para serem quia cafeeira, a fim de permitir a participação de outros
descarregados nas selvas amazônicas. Os marinheiros, po- grupos, inclusive os próprios militares. Criticavam dura-
rém, tinham destino diferente dos demais embarcados. Ao mente a corrupção, as fraudes eleitorais, a subserviência
lado dos muitos nomes da lista entregue ao comandante do ao capital internacional e os baixos soldos a que
navio, havia uma cruz vermelha, feita a tinta, o que significa- estavam submetidos.
va a sua sentença de morte. Esses marinheiros foram sendo
assassinados: fuzilados sumariamente e jogados ao mar.

101
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

Propunham o fim da república oligárquica, a valo- Pontos importantes sobre as Eleições de 1922:
rização das Forças Armadas e uma ação nacionalista de
recuperação da economia e da sociedade brasileira. Um aspecto fundamental que devemos ter em mente
ao falar das eleições durante a Primeira República é que elas
Para pressionar o governo, os tenentes promoveram ocorriam de maneira bem diferente do processo eleitoral
várias rebeliões, uma delas ficou conhecida como “Os 18 atual. Em primeiro lugar o voto deveria ser feito de manei-
do Forte”. Essa rebelião ocorreu em decorrência de um ra aberta, cada eleitor deveria se manifestar publicamente
levante no Forte de Copacabana, no Rio de Janeiro, em sobre qual candidato iria votar. Como o voto não era
resposta à prisão do Marechal Hermes da Fonseca, deter- secreto, a fraude eleitoral era muito comum, os coronéis
minada pelo então presidente Epitácio Pessoa (1919-1922). obrigavam as pessoas a votarem em determinado candida-
Esse levante no Forte, foi rapidamente controlado pelas to. Com isso, tornava-se impossível determinar exatamente
tropas leais ao presidente. Diante do fracasso, 18 amoti- os resultados corretos. A pratica de imposição dos coro-
nados – que ficaram conhecidos com os 18 do Forte – saí- néis ficou conhecida por “Voto de Cabresto”.
ram caminhando armados pelas ruas de Copacabana, em Em segundo lugar, nas eleições havia a votação tan-
direção a uma tropa de cerca de 300 soldados leais ao to para o Presidente quanto para o Vice. Dessa maneira
governo. No confronto morreram oito dos militares o vice- presidente não era atrelado ao Presidente como é
rebelados, e mais um civil que decidiu os acompanhar hoje. Poderiam ser eleitos Presidentes e vices de partidos e
no meio do caminho. grupos distintos, e além disso os candidatos à Presidência
A Revolta dos Dezoito do Forte e o movimento Tenen- poderiam também se candidatar à vice-presidência. Assim,
tista, que eram numa primeira leitura ligados às forças se um candidato “A” perdesse o pleito para presidente, ele
armadas, representavam também a insatisfação de outros poderia ainda assumir a vice-presidência caso fosse eleito.
estados como Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Pernam- Outro aspecto importante é entender o movimento tenen-
buco e Bahia com a divisão política existente. Assim, tista nos anos de 1922 e 1924 como um conjunto de reações
durante o processo eleitoral, para concorrer contra militares ao momento político conturbado do período,
exigindo maior participação no processo político e mudan-
Arthur Bernardes foi lançada a candidatura do candidato
ças no mesmo. Assim conseguimos entender o apoio dos
fluminense Nilo Peçanha.
militares à oposição civil da época que não queria outro
Ao final do longo processo eleitoral, as tentativas em
presidente do eixo Minas- São Paulo no cargo, também de-
barrar Arthur Bernardes não surtiram efeito, assim, ele foi
sejando uma maior participação dos outros estados.
eleito presidente e Estácio Coimbra (substituto de Urbano
Santos no pleito) foi eleito vice.
A SEMANA DE ARTE MODERNA DE 1922:
Mesmo com a eleição de Bernardes o movimento não
teve fim. Em 1924 as contradições políticas entre tenen-
tistas e governo chegaram ao seu limite. Em São Paulo
ocorre uma nova rebelião tenentista que ocupou um quar-
tel no bairro de Santana, e tentou avançar por outros pon-
tos da cidade. Os militares envolvidos acreditavam que
teriam a adesão dos operários, também descontentes om
a política do governo federal. Mas não foi o que ocorreu,
a população abandonou suas casas, e os tenentes não ti-
veram o apoio esperado. Assim, as forças ligadas ao pre-
sidente contra-atacaram, sitiando São Paulo. Os soldados
que haviam ocupado a cidade saíram em direção ao Rio
Paraná. Essa marcha, conhecida como Coluna Paulista, se-
guiu por vários meses até se encontrar em Foz do Iguaçu
com a Coluna Gaúcha, comandada por Luís Carlos Prestes.
Da união desses grupos formou-se a Coluna Prestes,
com aprox. 1.500 soldados que, por dois anos, manteve
pelo interior do país uma guerrilha armada comandada por
Prestes que exigia, entre outras coisas, o fim da república
oligárquica.
Apesar de o movimento tenentista ter envolvido ape- Catálogo da Exposição da Semana de Arte Moderna de
nas uma fração dos militares nas revoltas, suas reivindica- 1922, com ilustração de capa feita por Di Cavalcanti.
ções eram bem vistas pelo conjunto das Forças Armadas. Em meio a esse período conturbado da política brasi-
Com o passar do tempo os ideais tenentistas se tornaram leira dos anos 1920, sobretudo em 1922, ocorre em São
hegemônicos. Os governantes oligárquicos cada vez me- Paulo no período entre 11 e 18 de fevereiro, no Teatro Mu-
nos tinham controle sobre as Forças Armadas, culminando nicipal da cidade, a Semana de Arte Moderna. Durante os
posteriormente, em 1930, no apoio quase unânime dos mi- sete dias foi realizada uma exposição modernista no Teatro,
litares ao golpe que derrubou definitivamente o café-com e nas noites dos dias 13, 15 e 17 ocorreram apresentações
-leite do poder: A Revolução de 1930. de poesia, música e palestras sobre a modernidade.

102
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

O evento representou uma verdadeira renovação da lin- Referindo-se especialmente à obra de Eul-soo Pang
guagem, na busca de experimentação, na liberdade criadora (1979), Vítor Nunes insiste na especificidade de sua aborda-
e na ruptura com o passado. E marcou época ao apresentar gem do coronelismo em relação à concepção dominante.
novas ideias e conceitos artísticos. A nova poesia através da Para ele, o coronelismo se apresenta como um sistema políti-
declamação. A nova música por meio de concertos. A nova co, uma complexa rede de relações que permeia todos os
arte plástica exibida em telas, esculturas e maquetes de ar- níveis de atuação política, e não apenas como mando-
quitetura. O adjetivo “novo”, marcando todas estas mani- nismo local. O mandonismo não define o coronelismo, assim
festações, propunha algo a ser recebido com curiosidade ou como não o caracteriza o clientelismo. Mais que isto, o coro-
interesse. nelismo, como sistema surgido na Primeira República, implica
A Semana de Arte Moderna, representou a ebulição de para Vítor Nunes a decadência do poder do coronel, o enfra-
novas ideias que tinham o futuro em mente. Ideias nacionalis- quecimento do mandonismo. Desta decadência é que surge
tas que buscavam uma maneira de expressar uma identida- a necessidade do compromisso com o governo estadual, elo
de própria, autenticamente brasileira, um conjunto de expres- inicial da rede que envolveria o sistema como um todo.
sões culturais que pudessem representar o “autenticamente Boa parte da literatura mais recente ainda insiste no as-
brasileiro”, o nacional. Uma tentativa de se enxergar o país com pecto do mandonismo, mesmo aquela que confessadamen-
outros olhos, não mais como um “cachorro morto”, mas sim te busca inspiração em Coronelismo, enxada e voto. Sua
como um país rico culturalmente, capaz de se expressar de maior contribuição reside no levantamento mais pormeno-
forma independente. rizado dos vários aspectos — econômicos, políticos, sociais
Não se tinha, porém, um programa definido: sentia-se e psicológicos — que caracterizam o mando dos coronéis, e
muito mais um desejo de experimentar diferentes caminhos das adaptações por que vem passando ao longo do tempo
do que de definir um único ideal moderno. o domínio privado da política local. Da visão simplificada do
coronel como o grande latifundiário, cercado pela parentela,
isolado em seus domínios, senhor absoluto de coisas e gen-
tes, emerge agora panorama mais diversificado em que se
fala de tipos ou graus de coronelismo (Eul-Soo Pang e Maria
Isaura Pereira de Queirós). Assim como há o coronel gran-
de proprietário rural, pode haver também, segundo os novos
estudos, mandões que constroem seu poder através da
atividade comercial, da indústria, ou mesmo do exercício
da profissão liberal e do sacerdócio. O isolamento também é
questionado, especialmente no caso dos coronéis comercian-
tes e industriais. Alguns coronéis baianos envolviam-se dire-
tamente no comércio de exportação, tendo seu poder afeta-
do por acontecimentos internacionais como a descoberta de
diamantes na África do Sul. A truculência, revela-se, é às vezes
substituída por método mais civilizado de controle. Ao lado
do áspero guerreiro Horácio de Matos, aparece Veremundo
Soares, prático de Medicina, parteiro, botânico amador, dono
de pequena biblioteca (Eul-Soo Pang, Zaide Machado Neto,
Artistas Participantes da Semana de 1922. M. Auxiliadora Ferraz de Sá, Celson José da Silva, Marcos Viní-
cius Vilaça e Francisco Itami Campos).
Com o sentido de mandonismo, o coronelismo torna-se
1. O CORONELISMO EM MATO GROSSO. algo muito vago, amplo e indeterminado no tempo. Pode ser
traçado em contínuo que se estende dos tempos coloniais até
os dias de hoje, como mostram alguns ensaios (Nestor Duarte
e Maria Isaura Pereira de Queirós). A linha mestra ao longo da
Enquanto a realidade do coronelismo se torna cada vez
qual evolui o contínuo é a capacidade que possuem os chefes
mais uma coisa do passado, continua e se renova a discussão
locais de controlar a população a seu redor. Absoluta no início,
acadêmica em torno do tema. Trabalhos recentes têm contri-
fruto do monopólio sobre os recursos econômicos, sociais e
buído não apenas para produzir novas evidências sobre a na-
políticos, ela se vai alterando aos poucos na amplitude e nos
tureza e o funcionamento do coronelismo, mas também para
fundamentos, adquirindo ao final características clientelísticas
recolocar problemas mais profundos de análise política em-
e semicontratuais. O que alguns chamam de neocoronelismo,
butidos na literatura anterior. Dada a inegável influência ainda
por exemplo, contém apenas elementos de relações pes-
exercida pelo texto clássico de Vítor Nunes Leal Coronelismo,
soais da natureza tradicional sobrevivendo em contexto urba-
enxada e voto, de 1948, torna-se adequado tomá-lo como
no (Fábio Wanderley Reis). De modo particular, o acoplamento
ponto de referência para a avaliação do presente estado do
do conceito de coronelismo ao de clientelismo garante ao pri-
debate. A tarefa se vê facilitada pelo fato de este autor, após
meiro longa sobrevida. Geert A. Banck encontra, por exemplo,
longo silêncio, ter voltado recentemente ao assunto (“O coro-
na política de Vila Velha (ES), um coronelismo sem coronéis, e
nelismo e o coronelismo de cada um”, Dados, 1980) para res-
Paul Cammack vê a época áurea do clientelismo surgir exata-
ponder a alguns críticos e reafirmar o sentido do texto original.
mente após 1964 com o início dos governos militares.

103
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

Visto como a evolução do mandonismo, o estudo do Permaneciam apenas aspectos secundários do fenô-
coronelismo passa a ser a história da formação da cidada- meno coronelista, como a presença de parentelas e leal-
nia. Não há nada de errado nisto e é uma história que pode dade política reforçada pela exacerbação do faccionismo.
ser feita. Mas fica-se na impossibilidade de precisar as fases A idéia de compromisso como definidora do coronelis-
do processo, e mesmo seu ponto final, de vez que algum mo apresenta, no entanto, dificuldades, como foi recente-
tipo de clientelismo, de controle eleitoral através da distri- mente apontado por Paul Cammack, talvez o mais veemen-
buição de bens públicos ou privados, dificilmente deixará te e agudo crítico de Vítor Nunes. Uma delas tem a ver com
de existir em país que se caracteriza pela pobreza da po- a contrapartida dos coronéis em termos de votos. Vítor
pulação e pela escassez de empregos, como bem observou Nunes e os que o seguem exageram, segundo Cammack,
Banck. Daí ser mais útil delimitar o conceito no sentido de tanto a capacidade do coronel de controlar o voto de seus
restringir-se a um momento do processo, como faz Vítor dependentes como o valor do voto como mercadoria na
Nunes, embora não sem problemas, como se verá a seguir. República Velha. A evidência disponível não justifica a
Para Vítor Nunes, o coronelismo surge na confluência crítica quanto ao primeiro ponto. O controle do voto era
de um fato político e de uma tendência econômica, a saber, grande e freqüentemente calculado com precisão numéri-
a constituição dos governos estaduais como importantes ca. Mas Cammack tem razão em minimizar a importância
unidades de decisão política e a decadência socio-econô- política do voto e, portanto, de seu controle. Em primeiro
mica dos senhores rurais. Emerge, portanto, em momento lugar, porque a participação eleitoral durante o período
de enfraquecimento do mandonismo e de expansão do foi sempre mantida em níveis baixíssimos. Nunca houve
poder estatal. Daí vem o compromisso em que o Estado na realidade o tantas vezes alegado e nunca demonstra-
entra emprestando ao coronel seu poder e prestígio, e o do grande aumento de eleitores após a proclamação da
coronel comparece com os votos necessários à manuten- República. Na última eleição desta fase histórica, até 1930,
ção da política do governador. Sem alongar a exposição apenas 5,6% da população compareceram para votar. Se
da natureza da barganha, amplamente conhecida, pode- tomarmos o número de votantes nas eleições indiretas do
se dizer logo que nela estão embutidas duas importantes Império, veremos que o nível de participação existente, por
distinções: a primeira entre coronelismo e mandonismo, exemplo em 1872, só foi superado nas eleições de 1945,
a segunda entre coronelismo e clientelismo. Quanto à após o Estado Novo.
primeira, o coronelismo passa a representar apenas Em segundo lugar, e está aqui o ponto mais impor-
uma instância do mandonismo, uma fase de sua evolução, tante, a votação pouco valia na época. Estão abundan-
aquela em que ele começa a ter dificuldades de susten- temente documentadas as escandalosas fraudes que
tar-se exclusivamente em suas bases econômicas e procura acompanhavam as eleições em todas as suas fases. O co-
apoio mais acima na estrutura do poder do estado. ronel podia controlar a eleição e a feitura da ata, mas não
Pode ser discutível a premissa fatual da decadência dos podia fazer o mesmo com a apuração e menos ainda com
proprietários rurais durante a Primeira República, embora o reconhecimento dos eleitos. Não raro era o resultado da
a queda nos preços internacionais do café nos primeiros votação original invertido na apuração final. Testemunha
anos tenha gerado dificuldades reais. Mas o argumento visual do processo de reconhecimento na Câmara em 1909
ainda poderia se manter, se em vez de decadência fosse observa: “Os reconhecimentos de Goiás, Rio de Janeiro e
lembrada a crescente integração da agricultura aos mer- Distrito Federal só se farão quando os chefes chegarem a
cados nacional e internacional, tanto no que se refere ao acordo. Para o caso as eleições nada estão valendo” (José
produto como à mão-de-obra. Tal fenômeno tornaria rele- Vieira). Paradoxalmente, como observa Cammack (1892),
vantes e necessárias para os produtores rurais medidas que só depois de 1945 é que foram criadas as condições ade-
só poderiam ser tomadas em nível do estado-membro quadas para o uso do voto como recurso político. Só então
ou da Federação, exigindo, portanto, entendimentos houve grande expansão do voto, ao mesmo tempo em que
e cooperação. a fraude era reduzida pela ação da Justiça Eleitoral.
No que se refere ao clientelismo, ele só adquire relevân- A crítica de Cammack resulta em negar uma das pre-
cia mais tarde, quando o desequilíbrio entre os poderes do missas do compromisso, isto é, a fraqueza do governo, sua
governo e do coronel se acentua em favor do segundo. De dependência do coronel para a produção de votos. Ela é
início, e é a marca do coronelismo, o que se dá é a fusão do procedente se os coronéis forem tomados isoladamente
público e do privado em que ao coronel é permitido o con- em suas relações com os governadores. Mesmo aí ha-
trole patrimonial dos cargos públicos. Na medida em que o veria exceções, pois certos coronéis, como Horácio de
controle se vai tornando a principal fonte de poder, o coro- Matos, podiam enfrentar o governo do estado até no ter-
nel vai desaparecendo como tal, tornando-se um simples in- reno militar. Mas deixemos de lado as exceções. A idéia de
termediário entre o Estado e seus dependentes. Neste caso, compromisso pode, a meu ver, ser resgatada sem que se dê
o poder residiria exatamente na intermediação, como bem ao voto peso decisivo. Se era verdade que os governadores
apontou Antônio Otávio Cintra (1974). Uma situação quase podiam prescindir da cooperação dos coronéis tomados
limite de clientelismo, como a encontrada em Barbacena na isoladamente, o mesmo não se dava quando considera-
década de 1960 (José Murilo de Carvalho), já nada teria, se- dos em conjunto. A estabilidade do sistema como um todo
gundo a distinção que vem sendo feita, de coronelística. exigia que pelo menos boa parte dos coronéis apoiasse o
Lá o poder dos chefes locais era derivado da apropriação governo, embora esta parte pudesse ser eventualmente
da mediação através da manipulação do emprego público. trocada. As fraudes resultavam sempre em benefício de um

104
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

grupo contra outro e tinham um custo político. Quando te o político do econômico. Como já foi dito, no coronelismo
entravam em conflito com grupos importantes de coronéis, no sentido mais restrito, quando se tratava de cargos públicos
os governadores se viam em posição insustentável. Basta o aspecto de dominação, de controle, era mais importante do
mencionar os casos da Bahia, Ceará, Goiás, Mato Grosso. São que o de empreguismo. Em segundo lugar, embora seja corre-
conhecidos também os casos de duplicatas de assembléias to que os interesses dos coronéis extrapolavam os limites dos
estaduais, e até mesmo de governadores. Tais situações eram municípios, eram raros os momentos em que a política eco-
no mínimo embaraçosas para os executivos estaduais e nômica se tornava objeto de disputa direta. Em geral isto se
tendiam a provocar a intervenção federal. Para um mínimo dava quase só nos momentos em que havia tentativas de in-
de estabilidade do sistema era indispensável que houvesse troduzir ou aumentar impostos dentro dos estados, ou tarifas
algum tipo de entendimento com os coronéis, ou parte de- interestaduais. Os interesses mais amplos dos coronéis como
les, sendo de importância secundária que a contrapartida do classe eram raramente, se o eram, desafiados pelo governo,
coronel se exprimisse em voto. Se o fosse, aliás, seria de se pois estava ainda na agricultura a base da economia nacional.
esperar muito maior participação eleitoral, pois as lutas Não se colocava em questão o domínio dos produtores rurais
constantes em que se envolviam políticos e coronéis teriam como classe. Esta é uma premissa que perpassa toda a argu-
tornado a mercadoria-voto muito escassa. Como foi visto não mentação de Vítor Nunes e de fato a torna inteligível.
se deu grande expansão no volume de votos. Por outro lado, é correta a crítica de Cammack no que
Outras críticas levantadas por Cammack são que Vítor Nu- se refere à divisão horizontal dos conflitos. Sem dúvida
nes não leva em conta o coronel (e seus dependentes) como a divisão político-administrativa dava aos municípios cer-
produtor; que ele elimina do poder público todo conteúdo tos elementos para atuação política diferenciada. Mas está na
socioeconômico; que, enfim, estabelece clivagens horizontais própria lógica da abordagem do coronelismo como sistema
separando o município do estado e da Federação, quando na e, mais ainda, está em grande parte da evidência empírica,
realidade as clivagens deveriam ser verticais, cortando de alto a existência de crescente vinculação entre a política munici-
a baixo as divisões político-administrativas. São questões bá- pal e as políticas estadual e federal. O isolamento que muitos
sicas e vale a pena explorá-las por um momento para avaliar autores ainda incluem como característica do coronelismo é
sua justeza e as possíveis contribuições que possam trazer ao quase sempre desmentido pela evidência que eles próprios
avanço do debate. apresentam (por exemplo, Zaide Machado Neto). Na Primeira
Quanto à primeira crítica, é necessário distinguir. A visão República, não lutava o município como unidade contra o es-
dos coronéis como grupo econômico, como classe dominan-
tado-membro, nem este, como unidade, contra a Federação.
te, está claramente presente no livro de Vítor Nunes. Para ele é
As lutas municipais vinculavam-se rapidamente a confli-
exatamente a decadência da agricultura como atividade eco-
tos estaduais e federais, se não eram por eles incentivadas ou
nômica que está na base do enfraquecimento dos coro-
mesmo precipitadas. Em casos extremos, como o da Bahia, o
néis. É a perda relativa do poder econômico que leva o co-
presidente da República chegou a negociar diretamente com
ronel a buscar no poder público o apoio para manter-se como
os coronéis, passando por cima do governador. O sistema
poder econômico e político, isto é, como classe dominante.
funcionava como uma rede de coalizões necessárias mas flu-
As perguntas a serem feitas então seriam por que os inte-
tuantes e instáveis que percorriam de alto a baixo a pirâmide
resses econômicos não aparecem explicitamente nos termos
do arranjo coronelista que se apresenta como um jogo polí- do poder.
tico e patrimonial de trocas de votos pelo controle de cargos Nestas circunstâncias, a distinção entre poder público e
públicos? E esses interesses, particularmente os dos coronéis poder privado se tornava problemática. O texto de Vítor Nu-
envolvidos na agricultura de exportação, não extrapolariam as nes não é claro quanto a este ponto, pois ao mesmo tempo
fronteiras do município e não se confundiriam com os interes- em que postula um conflito entre os dois poderes, o público
ses dos políticos e dos governos em nível estadual e federal? representado pelo governo, o privado pelos coronéis, afirma
Parece correto dizer que Vítor Nunes realmente não in- que o governo reforça o poder decadente do coronel e retar-
corporava em seu modelo, de maneira explícita, o lado eco- da o fim de sua influência. A ambigüidade da teoria reflete
nômico. O compromisso coronelista toma de fato forma ex- uma ambigüidade real. A entrada do Estado no domínio do
clusivamente política. Mas, novamente, a falha parece an- fazendeiro altera sem dúvida a natureza do poder que este
tes formal do que substantiva. Por duas razões. Em primeiro exerce, na medida em que o força a conviver com certa regu-
lugar, é evidente que a entrega do controle de cargos públicos lamentação externa e portanto menos privada do exercício do
aos coronéis tem sentido que vai muito além do meramente mando. Por outro lado, a interferência do governo não pre-
político. Não é preciso demonstrar, por exemplo, que as tare- cisa ser, e freqüentemente não é, antagônica aos interesses
fas de um delegado de polícia ou de um coletor de impostos econômicos dos coronéis. Inicia-se na realidade um
têm tudo a ver com a sustentação dos interesses econômicos processo de nacionalização do exercício do domínio que é
dos donos de terra. A função do delegado está estreitamente paralelo, embora de maneira não rígida, à nacionalização dos
ligada ao controle da mão-de- obra e à competição com fa- mercados, especialmente do mercado da mão-de-obra.
zendeiros rivais. O coletor, de seu lado, pode por sua ação, ou Este constante jogar para cima do exercício do domínio cor-
inação, afetar diretamente a margem de lucros dos que estão responde ao que em geral é chamado de desprivatização do
dentro de sua jurisdição. Até mesmo a professora era impor- poder. Mas será sempre arbitrário traçar uma linha divisória
tante para manter submissa a população rural. Ignorar este que diga com clareza onde começa o público e onde termina
aspecto dos cargos públicos é que seria separar artificialmen- o privado.

105
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

Em conclusão, o conceito de coronelismo parece mais No século XIX, a poaia era escoada para a Europa através
útil se limitado àquela fase do processo político brasilei- da Bacia Platina, sendo que a mão de obra utilizada para sua
ro em que a classe alta rural se viu puxada para dentro extração era assalariada, mas baseada na produção e os tra-
do sistema pela transformação das antigas províncias em balhadores recebiam tratamento escravista.
estados federados. Foi no período compreendido entre
1889 e 1930 que se deu o equilíbrio precário gerado pelas CANA DE AÇÚCAR
tentativas do Estado, expandido na diástole federalista, de
processar a incorporação num sistema nacional de poder, Em relação à cana de açúcar na História de Mato Gros-
dos donos de terra que ainda tinham em sua força econô- so podemos descrevê-la em dois momentos. Primeiramente
mica e no controle social sobre a população rural os no século XVIII, quando o governo português interessado na
elementos capazes de afetar a estabilidade do regime. A mineração, proibiu a instalação dos engenhos. O governo
Revolução de 1930 veio desequilibrar a situação em favor alegou que a produção de aguardente trazia efeitos prejudi-
do Estado. O coronelismo teve sua morte simbólica com a ciais aos escravos, e que ao invés de minerar só queriam se
prisão dos coronéis baianos em 1930 e com o assassinato dedicar à fabricação dela.
de Horácio de Matos em 1931. Com a queda de Flores da Os engenhos eram movidos por tração animal ou atra-
Cunha e o advento do Estado Novo, ambos em 1937, po- vés de uma roda d’água, sendo encontrados em pequenas
de-se dizer que o coronelismo como sistema estava morto, propriedades, e voltados para abastecer o mercado interno,
restando apenas sobrevivências isoladas, tornadas objetos como por exemplo, as Minas de Cuiabá.
mais de curiosidade histórica do que de relevância política. Os engenhos se localizavam na região da Chapada (Serra
O próprio Vítor Nunes parece fugir à coerência com acima) e nas margens do Rio Cuiabá (Santo Antonio do Rio
suas posições anteriores ao ver um esforço do coronelismo abaixo). Os engenhos produziam rapadura, melado, açúcar
nas tentativas dos governos militares pós-1964 de passar e cachaça. No século XIX, temos o advento da Revolução
por cima dos governadores e buscar apoio diretamente nos Industrial e o surgimento das máquinas, os proprietários de
municípios. A nova situação tem muito pouco a ver com a terras importaram máquinas e instalaram as primeiras usinas.
Essas usinas se localizavam as margens do Rio Paraguai,
que ele descreveu em sua obra clássica. A se querer manter
sendo a que mais se destacou foi a Usina Ressaca, e nas mar-
algum paralelo com a terminologia anterior, seria talvez o
gens do Rio Cuiabá (na região de Santo Antonio) sendo as
caso de caracterizar a nova fase de “generalismo”, um coro-
que mais de destacaram foram as Usinas Itaicí, maravilha,
nelismo promovido de posto e transferido da Guarda Na-
Conceição.
cional para o Exército, de uma organização patrimonial mu-
As usinas se localizavam as margens dos rios devido a
nicipal para outra burocrática nacional. O novo termo teria
fertilidade do solo e a facilidade do escoamento da produ-
a vantagem de sugerir ao mesmo tempo um aumento nos
ção, pois nesse período a produção era escoada pela Bacia
graus de modernização, de burocratização, de estatização Platina e seu mercado consumidor era tanto o mercado in-
e de coerção. Texto adaptado de CARVALHO, J. M. terno como os países da América do Sul e outras províncias
brasileiras.
A mão de obra utilizada nas Usinas era assalariada, ba-
2. ECONOMIA DE MATO GROSSO seado na produção e com tratamento escravista.
NA PRIMEIRA REPÚBLICA: Os proprietários das usinas eram conhecidos como “Co-
USINAS DE AÇÚCAR E CRIAÇÃO DE GADO. ronel” e as pessoas que trabalhavam nesta atividade eram
chamados de “Camaradas”.
A usina mais importante com certeza foi a de “Itaicí”. Era
de propriedade de Totó Paes de Barros, e chegou a pagar os
Também conhecida como Ipéca ou Ipecacuanha esta seus trabalhadores com a sua própria moeda. Essa moeda
planta com o formato de um arbusto de aproximadamente era feita de cobre e recebia o nome de “Tarefa”. Esse fato de-
45 cm de altura, tem a sua raiz utilizada devidos as suas monstra a força política de seu proprietário, considerado um
propriedades medicinais. dos maiores coronéis da região, e chegou a ocupar o cargo
A poaia destacou-se na economia de Mato Grosso, a de Presidente do Estado de Mato Grosso.
partir de 1860, logo na segunda metade do século XIX pe- Os camaradas de Itaicí chegavam a trabalhar até 19 ho-
ríodo em que ocorreu a Revolução Industrial na Europa. ras por dia no período das safras e eram castigados, humilha-
dos pelo patrão. Na década de 30, com ascensão de Vargas, a
A extração se dava na região oeste de Mato Grosso
sorte dos usineiros começou a mudar.
onde ela é nativa. Através do arrendamento de terras de-
Getúlio Vargas empreendeu uma série de medidas que
volutas para empresários nacionais e estrangeiros extraiam
visavam destruir o poder destes coronéis. Uma destas medi-
a sua raiz sempre no período das chuvas. A seguir, esse
das foi a criação do I.A.A. (Instituto do Álcool e do Açúcar).
produto do extrativismo vegetal era destinado ao merca-
Com o objetivo de financiar a produção das usinas, o gover-
do externo, mais especificamente a Europa, para atender as
no federal estabeleceu que somente os grandes produtores
necessidades das indústrias farmacêuticas. Já no Brasil, esta
receberiam financiamento, e como Mato Grosso tinha uma
raiz passou a ser consumida somente a partir da década pequena produção, os usineiros de MT faliram. Outra medida
de 40, com o desenvolvimento industrial promovido pelo que enfraqueceu mais ainda o poder destes produtores de
governo Vargas. açúcar foi a cobrança das leis trabalhistas.

106
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

PECUÁRIA No final do século XIX e início do século XX levas de mi-


grantes gaúchos começam a chegar ao sul do Mato Grosso,
A pecuária no século XVIII abastecia o mercado interno. “alguns em consequência de desavenças políticas no seu
O gado era criado solto, consequentemente era uma econo- Estado, [...]. Outros vinham atraídos pela semelhança da re-
mia de baixa produtividade. A região que mais se destacou gião de Ponta Porã com os campos de suas querências8”,
na criação do gado foi Vila Maria de Cáceres. Uma das fazen- que com clima ameno permitia-lhes exercer a criação de
das mais importantes desse período foi a Fazenda Jacobina. gado. Assim os rio-grandenses se estabelecem nos ervais
No século XIX, com a Revolução Industrial na Vila Maria da Companhia, aliando-se, inicialmente, a seus dirigentes,
de Cáceres esta começou a se destacar pelo surgimento das porém com a chegada contínua dos migrantes, surgiram
usinas de charque, sendo a mais importante a de Descalva- as primeiras divergências com os arrendatários da terra, “as
do. Descalvado, localizada as margens do Rio Paraguai era complexas relações sócio-econômicas e políticas entre pro-
uma saladeiro que foi construído com o capital belga e pos- prietários e não proprietários fortalecem, politicamente al-
teriormente foi vendido aos argentinos. guns grupos de famílias, dando origem à formação das oli-
O escoamento do charque era feito através da Bacia Pla- garquias sulinas desvinculadas das já existentes no Norte.”
tina, e a mão de obra utilizada era assalariada. No entanto, o À Matte Larangeira, nunca interessou a divisão do Esta-
pagamento feito ao peão geralmente era em gado. do, pois a porção sul praticamente já lhe pertencia e caso
Durante o século XX, na Primeira República, com a cons- a divisão ocorresse a Companhia teria de partilhar com os
trução da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, a pecuária posseiros as terras de seus ervais e o seu monopólio
floresceu principalmente na região sul de Mato Grosso. O sobre a exploração da erva mate.
gado era criado em MT e transportado pel estrada de ferro Considerando-se a influência das migrações, sobretudo
até Bauru e Uberaba, onde era abatido e beneficiado. gaúchas e mineiras, surgem neste período ideais separatis-
Com a pecuária, Corumbá se tornou local de instalação tas, os idealizadores da causa são nominados por Alisole-
de grandes casas comerciais, em sua grande maioria es- te Antônia como “coronéis guerreiros”, por defenderem os
trangeiras. Ocorreu a valorização das terras nesse região, o ideais da divisão através da luta armada.
aparecimento de cidades como Águas Claras e Três Lagoas,
Para Marisa Bittar, “o regionalismo dos sulistas consis-
além do crescimento e desenvolvimento da região de Cam-
te na causa mais remota da divisão, [...] os sulistas trans-
po Grande, que passou a ambicionar o stratus de capital.
formaram o seu regionalismo em divisionismo” 10, sendo
Texto adaptado MORAES, E.
assim quase um século antes da criação de fato do Estado
Durante a Primeira República (1889-1930) a pecuária
do Mato Grosso do Sul teve início a trajetória divisionista.
figurou como uma das maiores riquezas do sul de Mato
Ainda segundo a autora as ideias separatistas sugiram em
Grosso atraindo brasileiros e estrangeiros interessados nessa
1892 nos confrontos armados entre coronéis sulistas e nor-
indústria pastoril, tendo seu desenvolvimento impulsio-
nado pela proximidade com os grandes mercados con- tistas. A partir dos êxitos obtidos, sobretudo com a pecuá-
sumidores. Assim, o sul do Mato Grosso despontava como ria, as oligarquias sul-mato-grossenses, se fizeram política e
uma economia disponível substitutiva da antiga e devastada economicamente tão importantes ao desenvolvimento do
economia mineradora do norte de Mato Grosso. A despeito Estado quanto às do norte.
da crise econômica, Cuiabá permanece como centro político Nos últimos anos da segunda década do século XIX ini-
e administrativo estadual. cia-se no sul do Estado, de forma mais pontual, a penetra-
A importância sócio-econômica e política do Sul de ção de compradores paulistas do gado pantaneiro o que,
Mato Grosso acentua-se, na medida em que ocorre a siste- aliado à decadência das atividades dos saladeiros mato-
matização da criação do gado, a posse da terra e a formação grossenses, possibilita aos fazendeiros sul- mato-grossen-
de vilas e cidades, concomitante a esses fatores ocorre a ins- ses negociar diretamente com os compradores paulistas,
talação da Companhia Matte Larangeira e a ligação ferroviá- fortalecendo ainda mais os vínculos entre a economia de
ria entre o Sul de Mato Grosso e São Paulo. ambas as regiões.
A Companhia ervateira “Matte Larangeira”5, fundada Em 1901, Barros Cassal e Joaão Caetano Muzzi,
em 1891 por Thomaz Larangeira, com sede inicial em Con- líder do recém-criado Partido Autonomista – partido
cepción no Paraguai, exerce até 1930 a maior influência po- de oposição ao Partido Republicano local – levantaram a
lítica e econômica do Estado do Mato Grosso, tendo alcan- bandeira separatista. Nesta primeira fase do movimen-
çado seu apogeu por volta de 1920. A Matte possibilitou o to, os interesses particulares das oligarquias dominantes
povoamento de uma extensa região, porém adquiriu tama- confundiam-se com as disputas e objetivos políticos entre
nha visibilidade a ponto de “constituir um verdadeiro Estado aqueles que pretendiam o poder estadual. O fracasso
no Estado.” 6 Em 1918, a empresa instalou-se no extremo e consequente aniquilamento das forças autonomistas
sul do Mato Grosso na Fazenda Campanário, que se tornou exterminou, aparentemente, o ideal divisionista do território
sede da Companhia, posteriormente transferida para Porto sul-mato-grossense.
Murtinho (também região sul), espraiando ainda mais seus A construção da estrada de ferro Noroeste do Brasil em
domínios sobre o Estado. A área de atuação da companhia 1914 ligou “São Paulo a Corumbá, na fronteira com a Bolívia,
era praticamente um “latifúndio correspondendo a área de [...] atravessando todo o Sul do Estado” 11, Campo Grande
vários países da Europa” 7, porém as terras não lhe perten- gradativamente centralizou no sul do Mato Grosso as prin-
ciam, eram terras devolutas pertencentes ao Estado e arren- cipais atividades políticas e econômicas de então, passando
dadas à Matte. de entreposto comercial à condição de pólo irradiador de

107
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

ideias. A futura capital do Estado de Mato Grosso do Sul teve Na conjuntura destes acontecimentos, a causa separa-
seu desenvolvimento facilitado por situar-se fora da área de tista ganhou força, no entanto os manifestos da Liga e da
controle da Matte Larangeira e ainda por sua localização Mocidade surtiram pouco efeito, a despeito disso a luta
que proporcionava à ferrovia o atendimento de seus pela divisão persistiu. A este tempo Cuiabá também mani-
objetivos econômicos e estratégicos, transformando-se na festava-se procurando abafar as movimentações e estraté-
capital econômica do sul de Mato Grosso. Proporcionando gias da Liga Sul-mato-grossense, para tanto as autoridades
ao sul-mato-grossense a interação dos acontecimentos po- centristas passaram a taxar como subversivas as aspirações
líticos, seja pelas viagens mais rápidas ou pelos jornais do sulistas pela separação e as delegacias de Cuiabá passaram
eixo Rio-São Paulo que chegavam com maior frequência. A a receber ordens de se exercer rigorosa vigilância contra
influência de São Paulo ultrapassa os limites da economia e os movimentos divisionistas. No entanto, durante o cha-
se expressa também na constituição dos núcleos familiares mado “Estado Novo” (1937-1945), a luta divisionista atraiu
da porção sul que se fizeram quase que independentes dos a simpatia de diversos políticos, alguns até mesmo ligados
formados no norte do Estado. ao governo de Getúlio. Texto adaptado de CORREA, L. A.
Esse trânsito de influências entre o sul do Mato Grosso
e São Paulo, gera, sobretudo, nos anos de 1919-1925, pros-
peridade econômica para as cidades sul-mato-grossenses 3 RELAÇÕES DE TRABALHO EM
e proporciona a propagação do movimento divisionista MATO GROSSO NA PRIMEIRA REPÚBLICA.
também nos centros urbanos. Assim a causa extrapola o
limite dos ervais nos anos 20 e atinge as cidades criado-
ras de gado, com destaque para Campo Grande. Pode-se
afirmar que a ideia divisionista esteve amplamente relacio- Ao iniciarmos uma análise da trajetória do ensino pro-
nada às diversas correntes migratórias que compõe o sul fissionalizante do jovem negro1 em Mato Grosso, entre os
do Estado, à expansão pecuarista gerada a partir destes séculos XIX a XXI, postulamos um primeiro olhar sob
habitantes, ao regionalismo que marcou estes movimentos a perspectiva do que vinha acontecendo no Império
escravista.
- resultando na formação das oligarquias- ao desenvolvi-
De acordo com FRAGOSO (1990)2, a tradicional abor-
mento das cidades, a interação entre sul-mato-grossenses
dagem da historiografia brasileira nos faz concluir que a
e militares constantemente remanejados e a implantação
economia do Brasil ao longo do séc. XIX mantém traços
da ferrovia.
básicos de uma economia escravista voltada para o merca-
A partir de 1930 o movimento divisionista tornou-se
do internacional.
mais organizado com a participação de outros grupos so-
Entre 1819 e 1872, verifica-se a transferência do eixo
ciais que se aliaram aos políticos sulinos exercendo pressão
econômico do Nordeste açucareiro para o Sudeste cafeei-
sobre o governo federal, a causa então se expande e ganha ro. Em 1819, a primeira região detinha 51,2% dos cativos
forma tendo ainda o respaldo de grupos econômicos não no país; 61 anos depois, o sudeste aparecia com 59% desta
ligados à Matte Larangeira. Em julho de 1932 eclode, em população.
São Paulo, a chamada Revolução Constitucionalista , além Entre 1831-40, as rendas de exportação do café ultra-
das fronteiras paulistas, o sul do Mato Grosso foi o único passam as do açúcar, fato que demonstra um deslocamen-
a aderir o movimento revolucionário e, evidenciando mais to do eixo econômico, e com ele a transferência da con-
uma vez o distanciamento das regiões, o norte permane- centração de escravos. Contudo, a economia continuaria
ceu legalista alinhando-se ao poder central. escravista e dependente das flutuações externas.
...Mato Grosso é um prolongamento de São Paulo. As Esta interpretação pode nos levar a outras informa-
nossas principais e mais antigas famílias vieram da brava ções, em 1819, de uma população de 3.596.132 habitantes,
gente paulista, dos bandeirantes que fizeram os limites do 69,2% era de homens livres; em 1872 – período final da
Brasil. Foram os paulistas que levantaram as nossas princi- escravidão – esse número subiria para 84,7%. Ou seja, além
pais cidades. Fomos uma parte de São Paulo. de senhores de escravos encontramos outras categorias
As forças revolucionárias situadas no sul do Estado e sociais, outras formas sociais de produção (como a cam-
as estabelecidas em São Paulo, porém, foram vencidas pelo ponesa, com o uso adicional ou não de trabalho cativo) e
Governo da União, Vespasiano Martins (líder da Revolução mesmo outras formas sociais de extorsão de sobre traba-
no Estado) e outros membros do governo tiveram de se lho (a exemplo da pecuária extensiva do RS e de GO).
exilar no Paraguai. O movimento não alcançou seus obje- Novos elementos, a partir dos anos de 1850 demons-
tivos, entretanto os esforços dos revoltosos não foram em tram que a sociedade brasileira estava passando por trans-
vão, criou-se em fins de 1932 a Liga Sul-mato-grossense formações. Uma delas era a Lei de Terras (1850) – legislação
que auxiliaria os divisionistas na organização e planeja- criada por uma elite escravista para administrar a supera-
mento de atividades em prol da causa separatista. A di- ção da escravidão – teria um papel fundamental, pois
visão do Mato Grosso passou a ser defendida por escrito essa lei previa o registro de todas as terras efetivamen-
através de vários documentos. Os proponentes da Liga cla- te ocupadas e impedia a aquisição daquelas públicas a não
mavam às autoridades competentes que se promovesse o ser por compra – a terra era transformada em mercadoria
desmembramento do sul de Mato Grosso e a formação de corrente (o que não implica a inexistência cabal de um mer-
outro Estado ou Território Federal, explicitando a desagra- cado de terras anterior a essa lei), referendando-se o seu
do com a vigência do governo estadual. controle por parte dos grupos dominantes do país.

108
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

O resultado disso foi o fato de contribuir para a trans- balho (agregado ou camarada – indivíduos da propriedade
formação ou confirmação do trabalhador, livre ou ex-es- de terra) era remunerado pela cessão de um lote de terra
cravo, como produtor de sobretrabalho para outros, garan- de que retirava a sua subsistência; quando o produtor se
tindo a modificação do regime de trabalho sem grandes empregava na condição de camarada, recebia um peque-
perturbações para as estruturas preexistentes. no pagamento monetário. Na pecuária encontramos o
Na virada do séc. XIX para o XX, a economia apresen- “sistema de quarta”, pelo qual o vaqueiro recebia um quar-
tava uma precária divisão social do trabalho e uma limitada to das crias do gado que estivesse sob os seus cuidados.
circulação de mercadorias, em contrapartida ocorria o cres- Como este artigo se presta a trazer ao leitor uma visão
cimento da população urbana e os primeiros passos para a da trajetória profissional do negro, não poderíamos deixar
industrialização, com a formação de seu capital industrial e de pensar nas questões que cercam as categorias de “clas-
de sua classe operária. se e raça” e discriminação racial, “a distância social mais
Nesse sentido, a substituição da mão-de-obra escrava espantosa do Brasil é a que separa e opõe os pobres dos
viria a ser feita pela mão- de-obra europeia. Observa-se, ricos. A ela se soma, porém, a discriminação que pesa sobre
assim, o crescimento das migrações da população negra e negros, mulatos e índios, sobretudo os primeiros.”
parda para as áreas de fronteira aberta do agro fluminense, Além da luta contra a escravidão, no passado, a luta
regiões onde o acesso a terra era mais fácil. Houve a trans- mais árdua enfrentada pelos negros e seus descendentes
formação do ex-escravo em pequeno produtor, baseado foi, e ainda é, a conquista de um lugar e de um participante
nas meias e no trabalho familiar. legítimo na sociedade brasileira. Acredita-se que mais de
No que tange ao escravo liberto, vejamos agora como 12 milhões de negros, degastados como principal força de
se organizava o trabalho juridicamente livre no interior dos trabalho, tenha constituído uma das maiores massas ne-
engenhos. É importante frisar que traços das formas de tra- gras do mundo moderno.
balho livre que irão substituir a cativa já existiam antes da Com o término da escravidão, os ex-escravos aban-
abolição. donam as fazendas em que labutavam e saem à procura
Um dos sistemas mais antigos, e que abarcavam o de terras em que pudessem viver livres, plantando milho
maior contingente de trabalhadores livres presentes nos e mandioca para comer. Muitos foram largados à miséria,
engenhos, era o de morador-agregado. Por esse siste- pois cada vez que encontravam uma terra eram obrigados
a se retirar a mando dos proprietários.
ma, o trabalhador (morador) recebia um lote de terra, do
Assim, muitos chegaram às cidades, o negro rural teve
qual retirava a maior parte de sua subsistência (roças de
então, que aprender a lidar com os modos de vida urbana,
alimentos) e, em troca, prestava ao senhor uma série de
onde não se pode plantar. Constroem uma cultura própria,
obrigações, entre elas a de trabalhar para o engenho.
na qual expressam alto grau de criatividade, representados
Existiam dois tipos de morador-agregado, o condiceiro
como sentimentos musicais, ritmos e religiosidade.
(era aquele que trabalhava para o proprietário dois ou
“A característica distintiva do racismo brasileiro é que
três dias por semana; caso trabalhasse mais recebia uma
ele não incide sobre a origem racial das pessoas, mas sobre
remuneração monetária) e o foreiro (era o trabalhador que a cor de sua pele.”
deveria fornecer o cambão, ou seja, 20 ou 30 dias de traba- Ao tratarmos do assunto “profissionalização do negro”
lho gratuito por ano ao senhor da fazenda). e no que tange à discriminação racial, não há como dei-
Além disso, o foreiro, por receber uma parcela de terra su- xarmos de lado as questões que cercam o modo como o
perior ao condiceiro, tinha de pagar um foro ao proprietário. homem/trabalhador negro era visto e tratado pelos seus
Ainda havia o corte da tarefa, o trato de uma área de senhores. Para exemplificar esse pensamento, lembramos
625 braças que o morador recebia para trabalhar. o que diz Luiza R. R. Volpato (1993, p. 11)6 em sua obra
Até aqui, apresentamos uma visão geral no que con- „Cativos do Sertão‟
cerne ao trabalho do homem livre no Brasil. No que diz res- [...] procura pensar o cativo como ser humano no es-
peito à região Centro-Oeste, podemos falar de formas de paço do seu dia-a- dia, considerando que mesmo aquele
trabalho livre não-assalariado. Para tal, FRAGOSO (1990)3 que não fugia, não se suicidava, não participava de rebe-
nos apresenta o seguinte: liões, também lutava para ser uma pessoa. Esta luta podia
O declínio da demografia escrava no Centro-Oeste se dar no espaço da transgressão, quando o escravo
prende-se à crise da atividade mineradora e ao definha- roubava, quando atuava como receptor e vendedor
mento econômico que se abate sobre a região em finais do de objetos roubados; podia se dar no espaço da justi-
séc. XVIII. Por sua vez, a transição para o trabalho livre (no ça, quando ele denunciava e movia processo contra seu
séc. XIX) se faz acompanhar pelo avanço da agricultura de senhor; podia se dar ainda de uma forma imensamente
alimentos, da agropecuária, e particularmente, de uma pe- variada, quando ele transitava pelo terreno fluido que se
cuária extensiva voltada para o abastecimento interno, em colocava entre aquilo que o senhor considerava certo e o
especial dos mercados do Sudeste. Na verdade, assistimos que considerava errado, quando, sem infringir seu código
no Centro-Oeste à transição do trabalho escravo para for- disciplinar – mas atuando no seu limiar –, tomava atitudes
mas de produção assentadas em outras relações não-capi- próprias do indivíduo e lutava contra a sua coisificação. Em
talistas. A lavoura de alimentos se baseava principalmente sua luta cotidiana para interferir em seu próprio destino, o
no trabalho familiar, assumindo, portanto, um caráter cam- escravo teve que enfrentar os mais diversos mecanismos
ponês. A agropecuária, da mesma maneira, não se fundava de pressão que atuavam no sentido de reduzi-lo à mais
no assalariamento, mas em tipos de relação em que o tra- absoluta passividade.

109
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

No tocante à economia cuiabana e à forma de trabalho As elites dirigentes concentraram esforços para in-
que se servia da escravidão: corporar um conjunto de valores e referências no interior
A partir da crise da mineração, a economia cuiabana se da sociedade brasileira, a exemplo das ideias de progresso
organizou de tal forma que seus pólos mais dinâmicos se que foram, aos poucos, incorporadas na sociedade.
tornaram as fazendas de gado estabelecidas nas cabeceiras No final da primeira metade do século XIX, a partir do
do Pantanal Mato-grossense e os engenhos de açúcar situa- governo central, com a criação do Arsenal de Guerra, foi
dos na região de Serra Acima e nas margens do rio Cuiabá. estabelecida em seu interior a Companhia de Aprendizes
Uma economia pouco dinâmica, com relações sem grande e Artífices, onde eram ofertadas aulas de primeiras letras e
intensidade com o mercado externo, à espera de remessa ofícios, como carpinteiro, ferreiro, seleiro, funileiro, sapatei-
de recursos do Governo Central para solucionar a maioria ro, alfaiate, latoeiro, torneiro, armeiro, espingardeiro, co-
de seus problemas. Essas eram algumas características da ronheiro e tanoeiro. Essa formação era oferecida a crianças
província de Mato Grosso, em especial de sua capital, que, e jovens de 8 a 14 anos, órfãos e menores abandonados.
à semelhança das outras regiões mineradoras do Brasil, Entre 1857 e 1878, a Companhia de Aprendizes e Artífices
reordenara-se após a crise da mineração, visando à do Arsenal da Marinha de Mato Grosso ofertava o ensino
produção de gêneros de abastecimento, e enfraquecera sua profissional à população livre e pobre.
relação com o mercado externo. Mesmo assim, a forma de Nesse cenário, levando-se em conta o processo de in-
exploração de trabalho preponderante em Mato Grosso era dustrialização nacional, o ensino profissionalizante passou
a escravidão. a ser atribuição do recém-criado Ministério da Agricultura,
No tocante a essas questões, estava claro que o país Indústria e Comércio. Em 23 de setembro de 1909, por ini-
passava por transformações e a escravidão foi posta em xe- ciativa de Nilo Peçanha, foi assinado o Decreto nº 7566,
que em Mato Grosso, não configurando mais uma forma de criando 19 Escolas de Aprendizes e Artífices (EAA), institui-
trabalho, a mão-de-obra escrava deveria ser substituída pelo ções destinadas aos “pobres e desvalidos”, que ofereciam
trabalhador livre – o europeu – agente de progresso e de ensino gratuito.
civilização. Também no final do séc. XIX os salesianos chegaram
A mesma autora trata do discurso do progresso da se- ao Brasil e com eles trouxeram a pedagogia dombosquina
guinte maneira: que tinha como meta a educação e formação profissional
Pouco espaço dedicou o discurso do progresso das classes mais populares, fundaram o Lyceu de Artes
à questão da escravidão. Os textos elaborados em Mato e Ofícios São Gonçalo. Nesta época, Mato Grosso possuía
Grosso até a década de 1860 que se referem ao trabalho não uma população rarefeita e mal distribuída no território, de-
envolvem o escravo. O colono era apontado como o traba- tentora de hábitos simples e composta, majoritariamente,
lhador ideal, mas nenhuma referência era feita à forma de por mestiços e negros (pobres e desvalidos), além de ser
trabalho que era empregada na sociedade no momento em palco de acirradas disputas políticas.
que ela estava sendo analisada. Para alguns, a escravidão Estas duas escolas, então, proporcionavam ensino gra-
era relacionada com tudo o que havia de mais atrasado na tuito e profissionalizante à classe mais pobre da sociedade
Província[...] cuiabana que em sua maioria era composta por negros e
Do que foi apresentado entendemos que a superação mestiços.
do escravismo era algo crescente e o fim da escravidão trou- Müller alerta para o fato de que apesar de ser obriga-
xe implicações tanto para a produção da Província quanto tório o registro da cor nos registros civis, isso muitas vezes
para a vida urbana cuiabana. não acontecia, pois a noção de cor que nos foi herdada
Pois, dentro das fazendas trabalhavam homens, mulhe- do período colonial acabou por definir lugares sociais,
res e cr ianças que tinham suas tarefas definidas de acor- onde a etnia e a condição estavam intimamente liga-
do com idade e sexo, formando uma mão -de-obra, muitas das à cor. Um fato importante apontado pela autora
vezes qualificada, tais como: lavoura, carpinteiro, pedreiro e é a questão da designação “preto” ou “negro” que estavam
ferreiro. associadas ao cativo, assim libertado ou alforriado, tratava
Mas, faz-se necessário frisar que a qualificação do escra- logo de mudar de registro para “pardo”. Nos registros de
vo não era uma decisão dele, mas sim, do senhor, do feitor nascimento ou nas carteiras de vacina, muitas vezes
ou do encarregado que definia quem iria receber determina- o registro de cor não era preenchido, o que segundo
do tipo de aprendizado e quem não iria. a autora só foi mais recorrente nos registros pesquisados
Tomando o raciocínio de que o negro liberto buscava de 1920 e 1921, além do que o registro ou preenchimento
um lugar na sociedade em que pudesse ter uma função, do item cor dependia muito de quem estava solicitando
uma profissão, uma ocupação remunerada, dado que após a o documento. Também havia os registros de batismo
libertação muitos ficaram jogados à própria sorte. que poderiam conter o item cor como “pardo” ou “branco”,
Nesse sentido, buscamos focalizar nossa leitura no en- preenchidos pelo pároco.
sino profissionalizante do negro em Mato Grosso, em fins Todas essas informações são importantes para de-
do séc. XIX e início do séc. XX. Assim, MARQUES nos aponta monstrar o fato de que já havia uma gama de profissionais
para o fato de que “No final do séc. XIX e início do séc. XX, “negros” ou “pardos” que se inscreviam a cargos públicos,
diversas mudanças ocorreram na sociedade brasileira, pois, como professores, escrivães, militares. Nesse sentido, po-
com a implantação do regime republicano as elites nacionais demos inferir que já havia também profissionais “negros”
intensificaram os debates sobre o destino da nação e sobre ou “pardos” qualificados e que ocupavam uma classe social
o povo brasileiro, evidentes desde meados do século XIX.” de prestígio, antes ocupadas somente por brancos.

110
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

Na foto4, temos alunos da escola, dentre os quais po- Essas instituições atingem de forma abrangente, com
demos perceber, em sua maioria, a presença de alunos ne- seu alunado, os setores econômicos dos segmentos agrá-
gros e pardos. A autora aponta para o fato de que muitas rio, industrial e tecnológico, de forma a ofertar cursos de
das vezes foi difícil coletar informações a respeito da cor do acordo com as necessidades do Estado, privilegiando o
aluno matriculado na Escola de Aprendizes e Artífices, pois mecanismo de inclusão social, promovendo a cultura, o
não constava tal referência à cor ou mesmo ao item raça empreendedorismo e a geração de emprego para o merca-
no registro de matrícula da escola, o que levou a autora a do de trabalho mato-grossense.
buscar registros visuais, ou seja, fotos em que se pudesse Atualmente, o governo federal oferece ensino profissio-
certificar a presença de alunos negros ou pardos na escola. nalizante através de um programa intitulado PRONATEC –
A respeito da população negra nos projetos de Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego
organização do mercado de mão-de-obra assalariada, na que foi criado pelo Governo Federal, em 2011, com o obje-
tivo de ampliar a oferta de cursos de educação profissional
cidade de Cuiabá, DELAMÔNICA (2006) aborda aspectos
e tecnológica.
interessantes sobre os trabalhadores afro-mato-grossen-
No PRONATEC são oferecidos cursos gratuitos nas es-
ses, ao evidenciar que os trabalhadores negros de Cuiabá
colas públicas federais, estaduais e municipais, nas unidades
que viviam nos bairros do Caixão, Baú, Araés e Lixeira,
de ensino do SENAI, do SENAC, do SENAR e do SENAT, em
passaram por dificuldades enfrentadas em relação ao instituições privadas de ensino superior e de educação pro-
trabalho, por não terem condições de abrir o próprio ne- fissional técnica de nível médio.
gócio, ficando submetidos à vigilância de capangas, rece-
bendo castigos físicos e multas, enfrentando a carestia e os São três tipos de curso:
baixos salários. Percebe-se que as condições de trabalho
desse segmento eram análogas a dos negros cativos, ape- Técnico para quem concluiu o ensino médio, com
sar de serem livres e de já haver sido abolida a escravidão. duração mínima de um ano;
Nesta época, foram detectadas cerca de 30 categorias Técnico para quem está matriculado no ensino mé-
profissionais diferentes ocupadas por trabalhadores ne- dio, com duração mínima de um ano;
gros, chamadas atividades de ofício, tais como: jor- Formação Inicial e Continuada ou qualificação profissio-
naleiros (do mercado, em geral), motorneiros, chofer, mar- nal, para trabalhadores, estudantes de ensino médio e be-
ceneiros, “planeiros”, pedreiros, trabalhadoras domésticas, neficiários de programas federais de transferência de renda,
costureiras, engomadeiras, padeiros, sapateiros, lancheiros, com duração mínima de dois meses.
coletores de garrafas, operários de fábricas, pescadores,
peixeiros, cozinheiros, vendedores de leite, vendedores Objetivos do PRONATEC:
de cereais, trabalhadores de dragas, operários de oficinas,
empregados de Alfândega, catraieiros, marítimos, policiais, expandir, interiorizar e democratizar a oferta de cur-
taberneiros, carreteiros e mata-mosquitos. Todas essas ca- sos de educação profissional técnica de nível médio e de
tegorias eram consideradas depreciativas, pois estavam li- cursos de formação inicial e continuada ou qualificação pro-
gadas à percepção do ignorante e do incapaz. fissional presencial e a distância;
Concepções que legaram ao trabalhador negro o des- construir, reformar e ampliar as escolas que ofertam
caso, o desrespeito à sua capacidade profissional e produ- educação profissional e tecnológica nas redes estaduais;
tiva no mercado de trabalho. aumentar as oportunidades educacionais aos traba-
No que se refere à educação agrícola e ao mercado de lhadores por meio de cursos de formação inicial e continua-
da ou qualificação profissional;
trabalho “Educação profissional e trajetória profissional de
aumentar a quantidade de recursos pedagógicos
jovens negros em Mato Grosso” nos apresenta o seguinte
para apoiar a oferta de educação profissional e tecnológica;
apontamento: “A partir da segunda metade do séc. XX, os
melhorar a qualidade do ensino médio.
dirigentes nacionais perceberam que o setor agropecuário
precisava de um pouco mais de atenção, pois o país en- Hoje, não podemos deixar de pensar na era digital.
frentava dificuldades com a falta de tecnologia nocampo.” [...] não se trata de fé ingênua no poder da técnica: a am-
Assim, o estado de Mato Grosso foi beneficiado com a pliação das oportunidades de oferecer bens e serviços a par-
criação e instalação, através do governo federal, do Apren- tir da cooperação direta entre as pessoas (e cada vez menos,
dizado Agrícola “Gustavo Dutra”, em 14 de abril de 1943, do mercado) depende do fortalecimento da sociedade civil
hoje Campus São Vicente do Instituto Federal de Educação, e esbarra na gigantesca força dos interesses que procuram
Ciência e Tecnologia (IFMT), criado com a integração sempre limitar o alcance dos bens comuns (os commons, em
do Centro Federal de Educação Tecnológica de Cuia- inglês). Mas, diferentemente de qualquer época precedente,
bá, do Centro Federal de Educação Tecnológica de Mato a produção e o uso de bens comuns conta agora com dis-
Grosso, da Escola Agrotécnica Federal de Cáceres e de suas positivos cada vez mais poderosos. É nessa unidade entre a
respectivas unidades de ensino descentralizadas (Campo cooperação social e as mídias digitais que está a base para
Novo do Parecís, Bela Vista e Pontes e Lacerda), uma sociedade moderna, inovadora, colaborativa e descen-
transformadas em campi do IFMT. tralizada, funcionamento que não se apoia nem nos merca-
dos, nem na busca individual do lucro.

111
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

O mesmo autor afirma que: Nesta mesma linha, Villela & Suzigan (1973) também desta-
cam o caráter de continuidade deste período. Em uma análi-
Aquilo que hoje se encontra gratuitamente no YouTube e se das políticas econômicas implantas no período de 1889 e
na Wikipedia só podia ser oferecido, duas décadas atrás, por 1945, estes autores concluíram que as mesmas sempre foram
uma típica economia da escassez: o consumidor era obrigado pautadas “por uma linha tradicional: equilíbrio orçamentário,
a comprar um disco, pagar pela leitura do jornal ou adquirir estabilidade monetária e valorização cambial”.
uma enciclopédia para obter utilidades hoje disponíveis de A argumentação diferente para retratar este primeiro pe-
graça. A própria educação é e será cada vez mais apoiada em ríodo do governo Vargas. Sua clássica análise em Formação
mídias digitais, como já mostram os seis milhões de Econômica do Brasil, principalmente nos capítulos 30 a 33,
estudantes, de todo o mundo, inscritos em cursos abertos, parte da política cambial, com a desvalorização do mil-réis,
on-line, das melhores universidades americanas. como instrumento utilizado para enfrentar a crise do setor
Dados de pesquisa têm revelado que crianças e jovens exportador e o estrangulamento externo, mas que, ao mes-
negros começam a trabalhar cedo e que ainda há disparida- mo tempo, encarecia as importações, criando indiretamente
des em relação ao salário entre negros e brancos, com espe- e inconscientemente uma política protecionista a favor da
cial atenção às mulheres negras que, em algumas regiões do indústria nacional.Além disso, a crise reduzia a arrecadação
país, chegam a receber menos que um salário mínimo. de impostos, forçando o governo a utilizar uma política mo-
Pesquisas têm demonstrado que a discriminação racial netária expansionista como forma de manutenção dos gastos
no mercado de trabalho é uma constante, interferindo em to- públicos de sustentação do preço do café. Ora, a associação
dos os espaços sociais. de uma política cambial favorável à industrial nacional (im-
Iniciativas governamentais têm tentado suprir essa dis- portação cara) com a política monetária (juros baixos) e fiscal
paridade, uma delas é relativa aos cursos técnicos que (demanda estável) acabou favorecendo o crescimento de um
tiveram, no ano de 2012, 788.979 matrículas no primeiro setor industrial nacional. Este, portanto, foi verdadeiro sub-
período, superando as vagas previstas, com destaque para a produto da política econômica de defesa das exportações, já
rede federal, que tinha previstas 151.560 vagas e matriculou que seu objetivo principal era o equilíbrio orçamentário e o
balanço de pagamentos. Por conseguinte, Furtado afirma a
252.716 estudantes. Os cursos de formação inicial e continua-
importância do processo de industrialização, mas nega a sua
da registraram 1.732.439 matrículas – 548.626 por meio do
intencionalidade. Em suas palavras: “a recuperação da econo-
programa Bolsa-Formação Trabalhador e 1.183.813 resultan-
26 mia brasileira, que se manifesta a partir de 1933, não se deve
tes de acordos de gratuidade com o Sistema S.
a nenhum fator externo e sim à política de fomento seguida
No que se refere ao ensino profissionalizante, disposto
inconscientemente no país e que era subproduto da defesa
neste artigo, nospautamos
dos interesses cafeeiros”.
no que está disposto na Lei Nº 9.394, DE 20 DE DE- Este artigo não tem por objetivo reconstituir es-
ZEMBRO DE 1996. (Vide Adin 3324-7, de 2005)(Vide De- ses debates, já amplamente conhecidos, mas contribuir
creto nº 3.860, de 2001)(Vide Lei nº 10.870, de 2004)(Vide Lei para a interpretação segundo a qual o governo Vargas, em
nº 12.061, de 2009) que estabelece as diretrizes e bases da seu primeiro período, teria se voltado conscientemente para a
educação nacional, na Seção IV-A. construção da indústria no Brasil. Neste sentido, foi inovador
Compreendemos, então, que a educação para o trabalho ao criar as condições necessárias para que um novo projeto
contribui com o eixo da política da igualdade como princípio de desenvolvimento encontrasse no Brasil o ambiente bási-
orientador da educação profissional. (LDB/96). Texto adapta- co para sua reprodução e, de certa forma, revolucionário, ao
do de LIMA, C. A. O. S. propor não pequenas adaptações da economia brasileira às
condições econômicas internacionais da época, mas grandes
mudanças (principalmente institucionais) com poder de alte-
4. MATO GROSSO DURANTE A ERA rar a antiga forma de gerir a economia e direcionar investi-
VARGAS: POLÍTICA E ECONOMIA. mentos, em favor de novo e dinâmico sistema.
Por conseguinte, este artigo tem por objetivo analisar o
governo Vargas sob a visão schumpeteriana de desenvolvi-
mento econômico, defendendo a hipótese de que a atuação
A atuação do 1º governo Vargas (1930-1945) como im- do governo, ao propor uma nova forma na circulação da
pulsionador do desenvolvimento econômico tem propiciado renda, é um exemplo claro de desenvolvimento econômico
vários pontos polêmicos na análise deste período da formação baseado no processo de destruição criadora de Schumpeter.
econômica do Brasil. De um lado, existe a posição defendida Para alcançar este objetivo, nas próximas seções, apresentar-
por Peláez (1972) e Villela & Suzigan (1973), que apresentam se-á sinteticamente a teoria schumpeteriana de desenvolvi-
a política do governo federal como sendo basicamente as- mento econômico dividida em duas fases distintas: o Schum-
sentada nos postulados econômicos voltados à austeridade peter de formação neoclássica, baseado no fluxo circular
nas contas públicas e ao controle da emissão de moeda, bem da renda e, o “velho” Schumpeter do mundo não concorren-
como na condução de uma política cambial favorável ao setor cial. Em seguida, mostra-se que o governo de Vargas pode ser
exportador de produtos agrícolas. Assim, para Peláez (1972), a visto como um governo responsável pelo rompimento com
política econômica na década de 1930 poderia ser caracteriza- o fluxo circular da renda e, portanto, com a economia con-
da por sua continuidade com a praticada na República Velha, correncial, para implantar (ou pelo menos, construir as bases
sendo o desenvolvimento industrial uma conseqüência das necessárias) o novo e dinâmico mundo dos complexos indus-
políticas ortodoxas mantidas no primeiro governo de Vargas. triais, da interdependência tecnológica e da competição.

112
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

A Evolução do Pensamento Schumpeteriano

Joseph A. Schumpeter (1883-1950) tornou-se pioneiro na análise do desenvolvimento do progresso técnico e de seus efeitos
na economia, contribuindo de forma significativa para a melhor compreensão do desenvolvimento econômico e de sua evolução
ao longo do tempo.
A teoria schumpeteriana do desenvolvimento econômico não está totalmente desenvolvida em seu primeiro livro, “A Teoria
do desenvolvimento Capitalista”4, de 1912. Foi amadurecendo durante trinta anos, até a publicação de “Capitalismo, Socialismo e
Democracia”, em 1942, que Schumpeter desenvolveu de forma clara a idéia de um sistema econômico cuja principal característica
de evolução residia no incessante processo de inovação. Durante este processo de amadurecimento intelectual, Schumpeter pas-
sou de sua fase neoclássica para outra, chamada por alguns de “evolucionista”, na qual o desenvolvimento explicitamente é tido
como endógeno, algo que nenhuma concepção teórica ainda concebera de forma consciente.
De formação neoclássica, o jovem Schumpeter de 1912 tratou o funcionamento da economia baseado na noção de equilíbrio.
Existiria um ponto de equilíbrio que, uma vez alcançado, não ofereceria razão, salvo a necessidade de adaptação às condições
prevalecentes em cada período do tempo, para que os agentes econômicos dele se desviassem. Neste sentido, um fluxo circular
dominaria todas as relações na economia, tal qual no equilíbrio estático walrasiano. Este momento representaria o funcionamento
“normal” - a rotina - da economia, a qual percorre “essencialmente pelos mesmos canais, ano após ano”, de forma similar à circu-
lação de sangue no organismo de um animal.
Porém, Schumpeter avançou naquilo que não podia ser explicado pelo sistema walrasiano: a existência da atividade individual
de um empreendedor. Esta atividade especial levaria, justamente, ao rompimento do fluxo circular. A partir daí, iniciou sua incursão
no complexo mundo da dinâmica do sistema econômico, utilizando como ponto de partida o sistema de equilíbrio walrasiano,
mas completando-o em vez de negá-lo5. Para ele, a ação excepcional deste empreendedor, ou seja, um “empresário inovador”,
levaria por intermédio de novos processos, novos produtos, novas fontes de recursos, novos mercados, dentre outros fatores, todo
o sistema a uma nova rotina de funcionamento. Esta mudança de rotina caracterizaria, em suma, o desenvolvimento econômico.
Para Schumpeter, o empresário inovador não seria, necessariamente, o proprietário dos meios de produção, nem possuiria
como pré-requisito a posse dos recursos necessários para a realização dos investimentos na busca das novas combinações de
insumos. Esta distinção entre as figuras do capitalista e do empresário inovador levou-o a dar especial importância à presença do
crédito bancário, o qual teria a específica função de tornar esse agente com propriedades especiais em efetivamente empreende-
dor. É a existência de um pacote de inovações tecnológicas que ainda não foram postas em prática e de linhas de crédito de longo
prazo que possibilitam a transformação da moeda em novos métodos de produção e/ou em novos produtos, base da impulsão
para o desenvolvimento econômico.
A figura a seguir representa os dois instantes do sistema econômico apresentados pelo jovem Schumpeter em 1912. O pri-
meiro momento corresponde ao estado walrasiano estacionário (fluxo circular), enquanto o segundo é representado pela inovação
e desenvolvimento que levam a um novo fluxo circular econômico, foi fortemente influenciado, pelo menos nesta primeira fase,
pela análise walrasiana.

113
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

Com a introdução de uma inovação no sistema econômi- de novos fatores de produção devessem ser assumidas por
co, o empresário inovador obtém um lucro extraordinário, algo uma organização (ou por um conjunto delas) impessoal, racio-
inédito para a rotina do sistema. A existência deste lucro, além nal e composta por agentes tecnicamente preparados para a
de caracterizar a saída do fluxo circular, onde o lucro é zero, execução de tais tarefas.
representa uma situação temporária. Ao sinalizar a existência No Brasil, tudo sugere que Vargas – ou melhor, seu
de ganhos diferenciados, é possível notar o deslocamento dos governo -, foi este “comandante” por assumir a responsa-
investimentos dos demais produtores na busca deste ganho bilidade pelo rompimento com o fluxo circular da renda
obtido, até então, de forma inédita e exclusiva pelo empresário e com a criação de diversos órgãos e institutos6 que no
inovador. seu conjunto iriam formar o “Estado Inovador” responsável
Para internalizar o desenvolvimento econômico à rotina
pelo desenvolvimento capitalista no Brasil.
do sistema capitalista, a própria evolução do pensamento de
Schumpeter necessitava a eliminação do empresário inovador.
A Ruptura de Vargas com o Fluxo Circular
Este tipo especial de empresário, com suas características pes-
soais de criatividade e coragem, seria incapaz de assegurar a
existência de um processo contínuo de busca e aplicação de A economia brasileira no início da década de 1930
novas soluções economicamente viáveis. passou por uma profunda crise que atingiu diretamente a
Ao realizar esta “eliminação” do empresário inovador, renda gerada no setor cafeeiro, principal produto de ex-
Schumpeter manteve a importância do investimento em no- portação do Brasil, responsável por mais de 70% do valor
vas combinações de fatores de produção como ingredientes gerado pelas exportações brasileiras no final dos anos 20
básicos para o desenvolvimento econômico, sendo que o res- (Fonseca, 1989, p.150). Com esta importante participa-
ponsável deixa de ser o “empresário schumpeteriano”, para ser ção na Renda Nacional, a dinâmica do setor cafeeiro de-
um conjunto de instituições impessoais, integradas e pragmá- terminava a própria dinâmica do conjunto da economia,
ticas, que caracterizam o que se poderia denominar de uma até então baseada na produção e exportação de produtos
“economia schumpeteriana”. agrícolas, cuja rotina de produção era passada de pai para
Nestas condições, o desenvolvimento econômico ultra- filho, com quase total ausência de mudanças na forma de
passa as fronteiras do eventual, para se tornar um processo produção, estando a renda gerada neste setor a percorrer
dinâmico, evolutivo e, acima de tudo, destruidor. Segundo o os mesmos canais, ano após ano, de forma semelhante à
próprio Schumpeter, passa haver um “processo de mutação descrição de Schumpeter sobre o funcionamento de uma
industrial - se é que podemos usar esse termo biológico, que
economia no seu fluxo circular, vale lembrar: walrasiano,
revoluciona a estrutura econômica a partir de dentro, destruin-
estático e concorrencial.
do incessantemente o antigo e criando elementos novos. É
Conforme Schumpeter, a ruptura deste fluxo circular
dele que se constitui o capitalismo e a ele deve se adaptar toda
a empresa capitalista para sobreviver” . estaria a cargo da atividade individual de um empreende-
Com isso, a organização da produção, a combinação de dor, de um líder, que levaria por intermédio de sua inter-
novos insumos e a busca constante por novos produtos pas- venção a uma mudança nos canais pelos quais as relações
sam a ser fundamentais para geração de desenvolvimento econômicas se determinam, alterando as antigas relações
econômico. Estas seriam funções próprias não exclusivamente e, o mesmo tempo, propondo o novo que, em suma, levaria
do empresário inovador, mas de uma rede de órgãos e insti- ao desenvolvimento econômico.
tuições que seriam criadas com o objetivo principal de inserir A atuação de Vargas no combate à crise do setor ca-
no sistema econômico os incentivos necessários para que as feeiro no início da década de 1930, ao não ficar restrita à
empresas se lançassem continuamente na busca do novo, do adoção de uma política econômica voltada à proteção da
desenvolvimento, não por decisões pessoais, mas por ques- renda do setor cafeicultor, pode ser analisada como uma
tão de sobrevivência. Neste momento, surge na vi- saída do fluxo circular baseado na renda do café, em dire-
são schumpeteriana de desenvolvimento econômico um ção da implementação de um projeto desenvolvimentista
dos importantes papéis assumidos pelo Estado: a criação de industrializante. O governo, ao seguir a antiga fórmula
órgãos e institutos que incentivem o investimento industrial de buscar empréstimos externos para financiar o ex-
ao contribuir com a indústria privada na tarefa de planejar, es- cedente da produção de café, até por sua impossibilidade
timular e promover de forma organizada o desenvolvimento
diante da crise, voltou-se à implantação de um conjunto de
econômico nacional.
políticas que já sinalizava para a ruptura com este modelo.
Em termos gerais, a atuação do governo federal pode ser
O Governo Vargas sob a ótica schumpeteriana
sintetizada pela adoção de câmbio desvalorizado que man-
Da análise apresentada na seção anterior, está im- tinha, no curto prazo, certa estabilidade na renda nominal
plícita a existência de um “comandante”, um agente capaz dos cafeicultores, pela taxação das exportações de café em
de realizar com eficiência a tarefa de organização do sistema 20% (pagas em espécie) e pela criação de um imposto de
de produção e distribuição capitalista. Na primeira fase de mil réis, cobrado sobre cada novo cafeeiro plantado no es-
Schumpeter (a “neoclássica”), esta figura é representada pelo tado de São Paulo. Enfim, uma política econômica que ga-
empresário inovador. Porém, o próprio Schumpeter (1942) rantia a sustentação da renda nacional interna e, no longo
percebe as limitações deste modelo ao propor que a organiza- prazo, desestimulava o aumento da oferta de café, reduzin-
ção da produção, a busca de novos insumos e as combinações do o hiato entre produção e consumo.

114
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

Embora sustentasse o nível das exportações no curto “Na época em que os fins sociais são preponderante-
prazo, o governo, ao realizar tal política de desestímulo à mente econômicos, em que se organiza de maneira cien-
produção cafeeira no longo prazo, afastava-se dos inte- tífica a produção e o pragmatismo industrial é elevado
resses da cafeicultora, aproximando-se de outros grupos a limites extremos, assinala -se a função do Estado, antes,
sociais (membros da classe média urbana, tenentes e até e acima de tudo, como elemento coordenador desses múl-
mesmo de setores da burguesia agrária não-exportadora), tiplos esforços, devendo sofrer, por isso, modificações de-
passando a costurar um projeto desenvolvimentista indus- cisivas”.
trializante. A existência deste projeto, que passa a buscar A partir deste momento, o governo de Vargas passou a
o desenvolvimento do país não mais numa base agroex- investir na modernização da economia brasileira, via revisão
portadora, mas na construção de uma indústria nacional das legislações que regiam tanto as relações sociais como
voltada ao mercado doméstico, caracteriza a ruptura com as econômicas e, na criação de novos órgãos que tinham
o antigo fluxo circular. Em certo sentido, é a ruptura que por objetivo planejar e concretizar as políticas públicas de
a economia brasileira faz com o modelo de concorrência planejamento da produção e distribuição. Agindo assim,
inicial mencionado por Schumpeter, por exemplo, aban- criavam-se as tão necessárias instituições que “azeitariam”
donando o estático e entrando no complicado mundo da as engrenagens sociais para o desenvolvimento econômi-
economia industrial dinâmica, oligopolizada e constante- co do Brasil, de tal forma que, dado o impulso inicial, o
mente recriadora, enfim, capitalista. próprio funcionamento destas instituições contribuiria para
construção de um processo contínuo de desenvolvimento,
A Construção do “Estado Inovador” separando a figura pessoal de Vargas, bem como de seu
governo, do processo nacional desenvolvimentista. Em ou-
A evolução do pensamento schumpeteriano basea- tras palavras, substitui-se o “comandante” por instituições,
do no investimento em novas formas de produção como evitando-se que a própria perda do líder pudesse ser moti-
ingrediente básico para o desenvolvimento econômico vo para estancar todo o processo de desenvolvimento.
transfere a atenção central na figura pessoal do empresário É claro que, se por um lado as ações do governo na
inovador para um conjunto de instituições e órgãos com economia assumiam uma forte dose de antiliberalismo,
características impessoais, integradas e pragmáticas capa- por outro lado, principalmente na década de 1930, este
zes de sustentar a dinâmica de desenvolvimento econômi- intervencionismo estatal procurava justificar-se perante
co requerida pelo sistema capitalista. Ao fazer isto, Schum- a sociedade pela busca de eficiência e pela promessa de
peter evoluiu de um conceito de desenvolvimento carac- relações impessoais entre governo e sociedade. Eficiên-
terizado pela eventualidade, pelo acaso e, de certa forma, cia, porque a criação de novas instituições possibilitaria o
exógeno ao sistema capitalista, para um desenvolvimento planejamento econômico, a adoção de critérios científicos
tratado como um fenômeno interno, endógeno ao siste- na tomada de decisões e no aperfeiçoamento das técnicas
ma, agora baseado em instituições que possam garantir a gerenciais, contribuindo para eliminar o uso de soluções
existência de desenvolvimento como sendo rotina e não políticas, falcatruas, promessas demagógicas das eleições e
exceção ao fluxo da renda. o coronelismo no meio rural. Impessoalidade, pois se trata-
Para que isto pudesse ser concretizado no Brasil dos va de pensar um Estado integrado, centralizado em órgãos
anos 30, dada a ausência de capacidade empresarial habili- nacionais, com objetivos acima das questões eleitorais e
tada e disposta a pôr em prática um conjunto de mudanças partidárias, sempre que possível livre das influências dos
de vulto, o Estado Nacional assumiu a responsabilidade de líderes locais e, preocupado com a organização do governo
formar, dentro do sistema existente, não só uma rede de de forma a garantir o cumprimento das metas de desen-
órgãos com o objetivo de acelerar o desenvolvimento eco- volvimento do país. Não resta dúvida de que este processo
nômico brasileiro, mas inclusive tentando transformar-se de mudança só foi possível politicamente com forte auto-
num Estado empresário, inovador e, em menor intensida- ritarismo. Mais tarde, já ao final do Estado Novo, a retórica
de, banqueiro. Isto não significa que o Estado tenha em si populista, propondo melhor distribuição de renda e com
substituído o empresário, nem que a classe empresarial te- apelos nacionalistas, também podem ser associadas à bus-
nha sido passiva, mas que sua atuação, ao criar instituições ca de coesão às ações de intervenção governamental em
e tomar a si a responsabilidade crescente pelas decisões prol do desenvolvimento econômico.
econômicas, foi fundamental para a mudança de rumo Como exemplo, entre 1930 a 1937, foram criados os
que a economia brasileira conheceu a partir de 1930. Nes- seguintes órgãos ligados a um projeto de desenvolvimento
te sentido, o qual resgata a importância das organizações industrial: Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, em
empresariais e sua influência nas decisões governamentais 1930; o Departamento Nacional do Trabalho, em 1931; o
deste período. Conselho Federal do Comércio Exterior, em 1934; o Plano
Assim, o governo de Vargas logo percebeu a necessi- Geral de Viação Nacional e a Comissão de Similares, em
dade de transformação nas ações estatais, entendendo que 1934; e o Conselho Técnico de Economia e Finanças, em
a ampliação da complexidade das relações econômicas ne- 1937, todos eles com a função de pensar a organização e o
cessitava a presença no Estado de uma função coordena- desenvolvimento da indústria nacional.
dora, como fica claro na passagem abaixo:

115
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

O processo de inovação estaria a cargo de instituições formadas por técnicos capacitados a desenvolverem atividades
que levassem a descobertas de novas formas de combinação de insumos, ao aperfeiçoamento das técnicas de produção,
a racionalização do processo produtivo e a uma distribuição eficiente do produto no mercado interno brasileiro. Para isto,
foram criados diversos institutos e órgãos de pesquisa e empresas: entre 1930 e
1936 foram criados o Instituto Geológico e Mineralógico do Brasil, a Estação Experimental de Combustível e Minérios,
o Instituto de Química, o Instituto Biológico Federal, o Laboratório Central e Indústria Mineral e, posteriormente, o Instituto
Nacional do Sal (1940), Conselho Nacional do Petróleo (1938), Fábrica Nacional de Motores (1940), Conselho Nacional de
Ferrovias (1941), Usina Siderúrgica de Volta Redonda (1943) e do Conselho Nacional de política Industrial (1944) e a Comis-
são de Planejamento Econômico (1944).
A preocupação de Vargas em coordenar os diversos setores produtivos da economia brasileira, interligando-os, vai na
direção de instaurar e consolidar novo processo de acumulação, afastando-se do monótono mundo do fluxo circular wal-
rasiano e aproximando- se do mundo dinâmico evolutivo que, conforme Schumpeter (1942), revoluciona constantemente a
estrutura econômica a partir de dentro, constituindo-se na essência do capitalismo. A Figura 2 apresenta o funcionamento
deste “estado inovador” que rompe com o fluxo circular.

Esta ação do governo voltada a organizar e a desenvolver a economia brasileira não esqueceu a questão do crédito
bancário. A ação do Estado inovador (em substituição ao empresário inovador) apresenta-se importante não somente por
promover a aplicação de novas técnicas de produção ou por promover o aparecimento de novos setores industriais, o que
resulta em novas oportunidades de investimento e de ganho, mas também em possibilitar o acesso das iniciativas de in-
vestimento privadas ao capital necessário para a concretização da intenção de investir. Já antes de assumir a Presidência da
República , Vargas afirmava que o “desenvolvimento econômico deve ter por objetivo tornar a riqueza abundante”, e que
se “o dinheiro metálico é a medida dos valores, ele, no conceito corrente dos economistas, pela escassez de seu volume (...)
já não satisfaz à exigência do progresso econômico”. Assim, por “imposição da própria necessidade, surgiu um elemento
imaterial destinado a atingir os limites da flexibilidade, que é o crédito”.

116
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

Após 1930, essa consciência sobre o papel do crédito Nosso texto constitucional explicita, de maneira geral, os
materializou-se com a criação, em 1937, a Carteira de Crédito mecanismos de efetivação das políticas agrícolas e fundiárias,
Agrícola do Banco do Brasil, que concedia empréstimo a ju- bem como as linhas gerais de como deve se basear a reforma
ros baixos para aquisição de máquinas e equipamentos. Não agrária, sempre na busca da democratização da terra.
se trata ainda de um banco de desenvolvimento, junto com a É indubitável que o presente estudo vem acalentar os co-
criação de empresas estatais, como instrumento de ação direta rações de toda a população brasileira, ansiosa por mudanças
necessário para caracterizar uma política deliberada de desen- no quadro fundiário atual, inclusive, com sua participação efe-
volvimento, mas não deixa de ser um embrião de uma nova tiva em muitos movimentos sociais no campo, demonstrando
relação entre o Estado e o empresariado nacional, já que insti- que a sociedade não está receosa frente às mudanças, ela vi-
tucionaliza o crédito em uma carteira específica, teoricamente rão, e é certo que para melhor.
seletiva por critérios técnicos, diferente da forma pessoal com
que se concedia crédito até então. EVOLUÇÃO DA QUESTÃO AGRÁRIA
Este texto lançou mão de uma abordagem para analisar
o período correspondente ao 1º governo de Getúlio Vargas O problema fundiário do país não é recente, ele re-
sob. Assim, procurou-se mostrar que, ao contrário do que é monta a 1530, com a criação das capitanias hereditárias
defendido por alguns autores, o processo de industrialização e do sistema de sesmarias – grandes glebas distribuídas
brasileira neste período não pode ser considerado como mero pela Coroa portuguesa a quem se dispusesse a cultivá-las,
“subproduto” da defesa da economia cafeeira, mas como fa- em troca de uma parte da produção. Dessa forma, nascia
zendo parte de um plano consciente de ruptura com o passa- o latifúndio.
do agroexportador, preparando a estrutura produtiva brasilei- A Independência, em 1822, piorou o quadro, na me-
ra para se inserir em novo contexto que se configurara com as dida em que tornava inevitável a troca de donos das ter-
profundas transformações na economia internacional. ras, que se deu sob a lei do mais forte, em meio à grande
Pode-se aproximar a ação do governo Vargas entre 1930 violência. Os conflitos não envolviam trabalhadores rurais
a 1945 com a evolução do pensamento schumpeteriano: pri- (quase todos escravos), mas proprietários e grileiros apoia-
meiro rompendo com o fluxo circular da renda, por meio da dos por bandos armados. Só em 1850 o Império tentou
ação pessoal de um líder ou de um governo, para depois cons- colocar ordem no campo, editando a Lei das Terras.
truir um sistema impessoal, racional e endógeno responsável A Lei de Terras do Brasil (Lei nº. 601) disciplinava as
pela condução da economia no processo de desenvolvimento. questões da terra e do trabalho rural, estabelecendo que
Através desta metodologia, em que variáveis institucionais são as terras devolutas somente poderiam ser adquiridas por
incorporadas para se entender o desenvolvimento industrial, compra. Tal lei, sem dúvida, constituiu-se num entrave ao
considera-se plausível a hipótese de desenvolvimento cons- crescimento da pequena propriedade destinada à agricul-
ciente e intencional para explicar as atitudes e ações do tura para produção de alimentos, ao mesmo tempo em que
governo brasileiro no período analisado. Afinal, dificilmente favoreceu o grande proprietário rural, pois somente ele ti-
nha recursos financeiros para efetuar a compra de grandes
criam-se instituições, principalmente com a envergadura das
áreas. O simples colono e o escravo não possuíam dinheiro.
que emergiram neste período, sem uma atitude determinada
O advento da República, em 1889, um ano e meio após
e consciência de propósitos.
a libertação dos escravos, tampouco fez melhorar o perfil
da distribuição de terras. O poder político continuou nas
mãos dos latifundiários, também chamados de coronéis.
5. POLÍTICA FUNDIÁRIA E AS TENSÕES Apenas no final dos anos 50 e início dos anos 60, com a
SOCIAIS NO CAMPO. industrialização do país, é que a questão fundiária come-
çou a ser debatida pela sociedade, que se urbanizava rapi-
damente.
Através do presente trabalho, busca-se um conhecimento Contraditoriamente, logo no início do regime militar
maior a respeito da questão agrária no Brasil, tanto em relação foi dado o primeiro passo para a realização da reforma
à sua evolução quanto seu posicionamento na atualidade. Tal agrária no país, com a elaboração do Estatuto da Terra (Lei
matéria sempre foi muito pouco explorada pelos doutrinado- nº. 4.504, de 1964) e de outros Institutos que tinham por
res e possui jurisprudência ainda em formação. objetivo o desenvolvimento agrário e a reforma agrária.
Devido ao problema agrário que o nosso País enfrenta, Contudo, esta experiência não foi bem sucedida, tendo
principalmente no que diz respeito à grande concentração de em vista que os projetos que foram implantados durante
terras e renda, a Constituição Federal separa todo um capítulo este período não foram capazes de satisfazer as necessida-
para seu estudo e direcionamento de suas principais políticas, des agrícolas. Em vez de dividir a propriedade, o capitalis-
buscando assim, uma maior valorização do trabalho e do tra- mo impulsionado pelo regime militar brasileiro promoveu
balhador do campo. a modernização do latifúndio, por meio do crédito rural
Dessa forma, é traçado um paralelo, em nosso presente fortemente subsidiado e abundante. O dinheiro farto e ba-
estudo, a respeito do direito de propriedade com a função so- rato, aliado ao estímulo à cultura de soja – para gerar gran-
cial da mesma, na busca de se conseguir equilibrar o sistema des excedentes exportáveis – propiciou a incorporação das
fundiário brasileiro com os interesses dos trabalhadores, dos pequenas propriedades rurais pelas médias e grandes.
proprietários e do próprio Estado.

117
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

Nesse período, toda a economia brasileira cresceu com Então, o princípio da função social da propriedade na
vigor – eram os tempos do “milagre brasileiro”, o país urbani- zona rural corresponde à idéia, já assente na doutrina jurídico
zou-se e industrializou-se em alta velocidade, sem ter que de- -agrária, de correta utilização econômica da terra e sua justa
mocratizar a posse da terra, nem precisar do mercado interno distribuição, de modo a atender ao bem-estar da coletivida-
rural. O projeto de reforma agrária foi esquecido e a herança de, mediante o aumento da produtividade e da promoção da
da concentração da terra e da renda permaneceu intocada. justiça social.
Somente em 1984, com a redemocratização, voltou à
tona o tema da reforma agrária. De grande fomento foi sua REFORMA AGRÁRIA
vinculação ao Ministério do Desenvolvimento Agrário, ao qual
imediatamente se incorporou o INCRA. Desde então, a refor- De acordo com o §1º, do art. 1º, da Lei 4.504/64 (Es-
ma agrária tem recebido grandes estímulos, com dotações or- tatuto da Terra), “considera-se reforma agrária o conjunto
çamentárias crescentes e importantes alterações legislativas. de medidas que visem a promover melhor distribuição da
É de se ressaltar aqui, a importância dos movimentos terra, mediante modificações no regime de sua posse e
sociais pró-reforma agrária, como o MST (Movimento dos uso, a fim de atender aos princípios de justiça social e ao
Trabalhadores Rurais Sem-Terra), cujas reivindicações se deli- aumento de produtividade”.
neiam num panorama de mudanças político-sociais da ordem Dessa forma, a reforma agrária deve ser entendida
estrutural, enfatizando os valores da ética e da moral, através como o conjunto de notas e planejamentos estatais me-
de uma democracia participativa. diante intervenção do Estado na economia agrícola com a
finalidade de promover a repartição da propriedade e ren-
Quanto à legitimidade do MST para tanto, veja-se enten- da fundiária.
dimento jurisprudencial do STJ: O art. 184 da Constituição da República determina que
a sanção para o imóvel rural que não esteja cumprindo
“Reforma Agrária. Movimento Sem-Terra. Movimento po- sua função social é a desapropriação por interesse social,
pular visando a implantar a reforma agrária não caracteriza para fins de reforma agrária, mediante prévia e justa inde-
crime contra o patrimônio. Configura direito coletivo, expres-
nização em títulos da dívida agrária, com cláusula de pre-
são da cidadania, visando a implantar programa constante da
servação de seu valor real, resgatáveis no prazo de até 20
Constituição da República. A pressão popular é própria do
(vinte) anos, a partir do segundo ano de sua emissão, em
Estado de Direito Democrático” (HC nº. 5.574/SP – 6ª T. – Rel.
percentual proporcional ao prazo, de acordo com os crité-
Min. Luiz Vicente Cernicchiaro, j. 8-4-97).
rios estabelecidos nos incisos I a V, § 3º, do art. 5º da Lei
nº. 8.629/93. Entretanto, as benfeitorias úteis e necessárias
A QUESTÃO AGRÁRIA NA CONSTITUIÇÃO DE 1988
serão indenizadas em dinheiro.
A Constituição brasileira de 1988 apresenta-se progres- O Decreto que declarar o imóvel rural como de interes-
sista no plano agrário, porém com traços conservadores de- se social, para efeito de reforma agrária, autoriza a União
vido à herança cultural privada do país. Os institutos básicos (competência exclusiva) a propor a ação de desapropriação.
de direito agrário (o direito de propriedade e a posse da terra As operações de transferência de imóveis desapropriados
rural) são disciplinados e o direito de propriedade é garantido para fins de reforma agrária bem como a transferência ao
como direito fundamental, previsto no art. 5º, XXII, da atual beneficiário do programa, serão isentas (imunes) de impos-
Lei Magna. tos federais, estaduais e municipais (art. 26, Lei n. 8.629/93;
O texto constitucional garante o direito de propriedade, §5º, do art. 184, da CF/88).
porém, este direito encontra-se mitigado, na medida em que Para evitar o desvirtuamento dos objetivos da reforma
a propriedade terá que atender a sua função social (art. 5º, agrária, o art. 189 da CF determina que “os beneficiários da
XXIII), sob pena de o proprietário ficar sujeito à desapropria- distribuição de imóveis rurais pela reforma agrária recebe-
ção para fins de reforma agrária. Além disso, a propriedade rão títulos de domínio ou de concessão de uso, inegociá-
volta a ser incluída entre os princípios da ordem econômica, veis pelo prazo de 10 anos”.
que têm por fim ”assegurar a todos existência digna, confor- A Constituição do Brasil indica como pressupostos da
me os ditames da justiça social” (art. 170, III). desapropriação, a necessidade pública, a utilidade pública
De acordo com José Afonso da Silva, lembrando Fernan- e o interesse social.
do Pereira Sodero, “o regime jurídico da terra fundamenta-se “Ocorre interesse social quando o Estado esteja diante
na doutrina da função social da propriedade, pela qual toda dos chamados interesses sociais, isto é, daqueles direta-
a riqueza produtiva tem uma finalidade social e econômica, e mente atinentes às camadas mais pobres da população e à
quem a detém deve fazê-la frutificar, em benefício próprio e massa do povo em geral, concernentes à melhoria nas con-
da comunidade em que vive”. dições de vida, à mais eqüitativa distribuição de riqueza, à
De acordo com a Magna Carta, em seu art. 186, para que a atenuação das desigualdades em sociedade.
propriedade rural cumpra sua função social, ela tem que aten- O orçamento da União fixará, anualmente, o volume de
der, simultaneamente, a cinco requisitos: aproveitamento ra- títulos da dívida agrária e dos recursos destinados, no exer-
cional e adequado; utilização adequada dos recursos naturais cício, ao atendimento do Programa de Reforma Agrária;
disponíveis; preservação do meio ambiente; observância das devendo constar estes recursos do orçamento do Minis-
disposições que regulam as relações de trabalho; e exploração tério responsável por sua implementação e do órgão exe-
que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores. cutor da política de colonização e reforma agrária (INCRA).

118
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

De acordo com o art. 185 da Constituição Federal, são in- que nela trabalham, eliminar grandes desigualdades e impedir
suscetíveis de desapropriação para fins de reforma agrária: a o êxodo rural, fixando o homem no campo –, a reforma agrária
pequena e média propriedade rural, desde que seu proprietá- tem objetivos econômicos: desconcentrar a renda e elevar a
rio não possua outra; e a propriedade produtiva. produção e a produtividade do trabalho na agricultura.
Este artigo apresenta justificativa, tendo em vista que de As medidas abaixo expostas cobrem quatro setores di-
nada adianta desapropriar uma pequena ou média proprieda- versos e cada um constitui uma reforma parcial. Ao conjun-
de de uma pessoa para passar à outra, porque não resolve o to dessas reformas é que se atribui o nome reforma agrária.
problema agrário do País e gera um desgaste político conside-
rável; por outro lado, de nada adianta, e nem justo é, se tirar a 1º - Reforma fundiária: processo de redistribuição da
grande propriedade de quem produz, só porque é grande, e propriedade fundiária promovido pelo Estado, sobretudo
passar para quem, talvez, nunca tenha produzido e nem saiba em áreas de agricultura tradicional e pouco produtiva. A
fazê-lo. redistribuição dos direitos de propriedade é feita por meio
Não ficou ao arbítrio da Administração Pública definir o da expropriação ou desapropriação e divisão dos latifún-
que sejam propriedade rural, pequena propriedade, proprie- dios e grandes fazendas, improdutivas em geral, com en-
dade produtiva, nem as hipóteses em que se consideram aten- trega de títulos de propriedade aos arrendatários, parceiros
didos os requisitos da função social da propriedade. Todos es- e posseiros. Essa medida visa uma distribuição mais justa
ses conceitos estão contidos na Lei nº. 8.629/93, que dispõe da propriedade do solo, portanto, o governo deve incluir
sobre a regulamentação dos dispositivos constitucionais rela- nessa operação as terras de sua propriedade, ou seja: terras
tivos à reforma agrária, previstos na Constituição. devolutas, terras da Federação, dos Estados e Municípios.
A desapropriação não é feita somente de acordo com o
art. 184 da Carta Maior, há também previsão constitucional no Terras devolutas são bens de natureza dominical, vale
art. 5º, XXIV, que diz que “a lei estabelecerá o procedimento dizer, integram o patrimônio de pessoa jurídica de direito
para desapropriação por necessidade ou utilidade pública, ou público, embora não destinadas a uso público nem con-
por interesse social, mediante justa e prévia indenização em cedidas a particulares. São terras vagas, não aproveitadas,
que podem ser alienadas ou concedidas a particulares.
dinheiro”.
“Com pertinência às terras devolutas, outra dificuldade
se apresenta: a relativa ao ônus da prova de o serem ou de
Dessa forma, as vedações contidas no art. 185 da Consti-
o não serem. É praticamente impossível fixar-se uma con-
tuição de 1988 fazem referência somente ao processo de re-
ceituação jurídica positiva de terras devolutas, a partir da
forma agrária constante do art. 184, e não ao poder geral de
legislação existente: a definição só se pode fazer por exclu-
desapropriação do art. 5º, XXIV.
são, e a sua característica é a da inexistência de titulação”.
Enfim, pode-se dizer que, sendo para fins de necessidade,
Terras devolutas são bens públicos patrimoniais ain-
utilidade pública, bem como interesse social, desde que não da não utilizados pelos respectivos proprietários, conceito
atrelado à reforma agrária, qualquer imóvel, produtivo ou im- dado pela Lei Imperial 601, de 18/9/1850 e tem sido aceito
produtivo, rural ou urbano, pequeno, grande ou médio, único uniformemente pelos civilistas.
do proprietário ou apenas um entre muitos, pode ser desa-
propriado, mas a indenização deverá ser paga a vista e em 2º - Reforma agrícola: compreende um conjunto de
dinheiro. Se, porém, a desapropriação se fundar em interesse medidas destinadas a aumentar a produtividade de terras
social, para fins de reforma agrária, não há como incidir sobre e mão-de-obra agrícola, como: iniciação de técnicas avan-
qualquer propriedade produtiva, e nem tampouco sobre a pe- çadas de cultivo e assistência técnica; crédito fácil e acessí-
quena e a média, produtiva ou não, desde que seja a única de vel; facilidades para o escoamento dos produtos a preços
que disponha o proprietário. compensatórios; e escolas e serviços médico-hospitalares
Em relação às pequenas e médias propriedades, impor- locais.
tante destacar que o Supremo Tribunal Federal, por maioria
de votos (6 x 5), concedeu mandado de segurança impetrado 3º - Reforma rural: entende-se pelo termo a reforma da
contra decreto presidencial que declarou de interesse social empresa rural. Nem 10% dos trabalhadores no campo são
para fins de reforma agrária imóvel rural que houvera se trans- proprietários das terras que cultivam. A maior parte deles
formado em média-propriedade somente após sua vistoria trabalha em regime de assalariamento, parceiros ou arren-
para fins expropriatórios. O STF considerou lícita a argumenta- datários. Para certos tipos de cultura extensiva, a grande
ção de tratar-se de média propriedade e, portanto, insuscetível empresa rural pode oferecer condições e melhorar a utili-
de reforma agrária. O tribunal entendeu ser direito do proprie- zação da terra, pelas suas maiores possibilidades de atingir
tário do imóvel repartir sua propriedade, mesmo após a visto- grandes mercados e de renovar seus métodos e equipa-
ria do imóvel para fins de reforma agrária, devendo eventual mentos. Mas a pequena propriedade rural, que garante um
divisão fraudulenta ser examinada em ação própria e jamais teor de vida digno e identifica na mesma pessoa as figuras
em sede de mandado de segurança. do operário e do proprietário, é a mais sólida base da pros-
Assim, em outras palavras, podemos caracterizar a refor- peridade agrícola de um país. A implantação de um novo
ma agrária como um conjunto sistemático de medidas des- sistema de produção, com a integração dessas proprieda-
tinadas a melhorar as condições do homem do campo, por des em cooperativas pode apresentar o regime rural ideal,
meio da utilização mais racional da terra. Além dos objetivos porque atinge as vantagens econômicas da grande empre-
políticos sociais – permitir acesso à propriedade da terra aos sa, com vantagens sociais que estas não podem oferecer.

119
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

4º - Regime das relações de Poder: os trabalhadores A Constituição Federal criou o chamado “usucapião
do campo necessitam, assim como os proprietários urba- constitucional” ou “pro labore”, em favor daquele que,
nos, de mecanismos de defesa legal. Reformar as relações não sendo proprietário de imóvel urbano ou rural, pos-
de poder é conferir ao trabalhador do campo os recursos sua como seu, por cinco anos ininterruptos, sem oposição,
legais para reivindicar os seus direitos. Esses recursos são, área de terra, em zona rural, não superior a 50 hectares,
principalmente, a organização do sindicalismo rural e da tornando-a produtiva por seu trabalho ou de sua família
justiça agrária. e tendo nela sua moradia, terá adquirido sua propriedade.
Em contrapartida, vedou qualquer possibilidade de usuca-
POLÍTICA AGRÍCOLA E FUNDIÁRIA
pião em imóveis públicos.
Em conclusão, podemos asseverar que as políticas
Não se deve confundir reforma agrária com política
governamentais de acesso à terra no Brasil não conse-
agrícola, na medida em que esta é a política que orienta, no
interesse da economia rural, a atividade agropecuária, tra- guem promover um pacto político de sustentação para
çando planos, com a finalidade de harmonizá-la com o pro- um projeto de redistribuição de terras, apesar de possuir
cesso de industrialização do país e de melhorar a utilização um dos mais belos diplomas sobre a questão agrária (Lei
da terra, implementando a produção, o aproveitamento da nº. 4.504/64).
mão-de-obra rural e a colonização oficial e rural, atualizan- Essa crônica incapacidade de articulação tem sido
do a legislação e adaptando-a aos planos e programas de responsável por uma histórica criação de expectativas,
ação governamental, e ainda, elevando o nível de vida rural. seguida de frustrações, com projetos de colonização que
A política agrícola pode ser entendida como ação pró- nascem e morrem no papel. Na raiz desse processo há um
pria do Poder Público que consiste na escolha de meios poderoso jogo de interesses bancado no século passado
adequados para influir na estrutura e na atividade agrária, a por fazendeiros que começaram a amealhar fortuna como
fim de obter um ordenamento satisfatório da conduta das posseiros de grandes áreas públicas, hoje sucedidos por
pessoas que delas participam ou a ela se vinculam, com o grupos empresariais proprietários de fazendas altamente
escopo de conseguir o desenvolvimento e o bem estar da mecanizadas.
comunidade Reforma agrária não consiste apenas na entrega da
Tal política deve ser planejada e executada na forma terra a quem não a tem e a quer, precisamos sim de uma
da lei, exigindo a participação efetiva do setor de produ-
reforma acoplada à política agrícola, que responda aos an-
ção, envolvendo simultaneamente produtores e trabalha-
seios do homem sem terra.
dores rurais, bem como os setores de comercialização, de
A participação efetiva do público alvo na execução
armazenamento e de transportes. Deverá levar em conta
sobretudo: os instrumentos creditícios e fiscais; os preços dos programas de regularização fundiária é vital não só
compatíveis com os custos de produção e a garantia de co- para adequá-las às expectativas da população, mas tam-
mercialização; incentivo à pesquisa e à tecnologia; a assis- bém para que os ocupantes destas terras exercitem a sua
tência técnica e a extensão rural; o seguro agrícola; o coo- cidadania.
perativismo; a eletrificação rural e a irrigação; e a habitação Na definição dos instrumentos legais para a regulari-
para o trabalhador rural. zação fundiária deve-se adotar a negociação como forma
A Lei nº. 8.171/91, que dispõe sobre a política agrícola, de relação entre planejadores, executores e ocupantes,
regula que “entende-se por atividade agrícola a produção, o evitando imposições e incentivando a discussão de princí-
processamento e a comercialização dos produtos, subpro- pios e práticas que favoreçam a melhoria da qualidade de
dutos e derivados, serviços e insumos agrícolas, pecuários, vida e fortalecimento da cidadania.
pesqueiros e florestais”. Por tudo isso, a importância da reforma agrária é de-
Dispõe ainda o art. 8° que o planejamento agrícola será cisiva porque permite e consolida a estabilidade econô-
feito em consonância com o que dispõe o art. 174 da Cons- mico-financeira de um país. Nenhuma nação poderá ser
tituição, de forma democrática e participativa, através de próspera enquanto seu trabalhador rural estiver na miséria
planos nacionais de desenvolvimento agrícola plurianuais, social-econômica. Daí a necessidade premente da “liber-
planos de safras e planos operativos anuais, observadas as
tação” destes trabalhadores, numa base econômica de
definições constantes da referida lei.
aliança harmônica entre o proprietário e os trabalhadores
A política fundiária, por sua vez, difere da política agrí-
rurais.
cola, sendo um capítulo, uma parte especial desta, tendo
em vista o disciplinamento da posse da terra e de seu uso A reforma agrária não é contra a propriedade privada
adequado (função social da propriedade). Nesse contexto, no campo. Ao contrário, descentraliza-a democraticamen-
a política fundiária deve visar e promover o acesso à terra te, favorecendo as massas e beneficiando o conjunto da
daqueles que saibam produzir, dentro de uma sistemática nacionalidade. É um imperativo da realidade social atual,
moderna, especializada e profissionalizada. devendo atender a função social da propriedade, evitan-
Mas a Constituição, nas lições de José Afonso da Silva, do-se assim, as tensões sociais e conflitos no campo. Uma
amparou mais a política agrícola do que a reforma agrária. reforma agrária no País, moderada e sábia, será uma das
“Enquanto a esta se opuseram inúmeros obstáculos, àquela causas principais do progresso nacional.
tudo ocorre liso e natural, porque aí o beneficiário é a classe
dominante no campo”.

120
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

A POLÍTICA DO ENCILHAMENTO
6 OS GOVERNADORES ESTADUAIS E SUAS A chamada “Política do Encilhamento” foi uma ampla
REALIZAÇÕES. emissão de papel-moeda, usando como lastro os títulos da
dívida federal em substituição ao lastro-ouro. Esta medi-
da, tomada pelo então ministro da Fazenda, Rui Barbosa,
visava fortalecer a classe média (pelo aumento da circula-
REPÚBLICA DA ESPADA (1889-1894) ção de moeda) e incentivar uma diversificação econômica,
através da criação de sociedades anônimas (empresas de
Foi o período em que o país foi governado por mili- capital aberto com ações negociadas na Bolsa de Valores),
tares. destinada a industrializar o país. Acontece que apenas uma
pequena parte foi aplicada em setores produtivos, enquan-
GOVERNO PROVISÓRIO (1889-1891) to que o restante foi utilizado em especulações financeiras
e na criação de empresas fantasmas que conduziram o país
Era natural que o líder do Golpe Militar-Oligárquico a uma inflação galopante e a uma enorme recessão eco-
que encerrou a Monarquia, o marechal Deodoro da Fon- nômica.
seca, fosse posto como chefe do Governo Provisório, uma OBS. É importante destacar que esta crise econômica
espécie de ditadura consentida, para fazer a transição para tem suas origens ainda no período imperial.
a República e evitar um possível contragolpe monárquico.
Destacam-se três projetos políticos principais: CONSTITUIÇÃO DE 1891

OS POSITIVISTAS: Defendiam uma ditadura, centrada Foi inspirada na Constituição dos Estados Unidos e tem
nos militares, pois somente a ordem traria o progresso. entre suas características principais:
Inspiravam-se no Positivismo do filósofo francês Auguste - República Federativa Presidencialista.
Comte. - Os Estados da Federação possuíam bastante auto-
nomia, podendo, por exemplo, contrair empréstimos no
OS FEDERALISTAS: Defendiam o regime federativo, que
exterior sem consultar o governo central e manter Forças
daria autonomia para os estados e era formado, principal-
Armadas próprias (as Forças Públicas estaduais), além de
mente, pelos cafeicultores de São Paulo e se inspiravam no
autonomia jurídica, administrativa e fiscal (impostos sobre
modelo dos Estados Unidos.
exportação). Porém, se submetiam à União Federal, que
OS JACOBINOS: Defendiam uma ditadura inspirada no controlava a política externa, a política econômica, a defesa
período dos jacobinos na Revolução Francesa e era forma- nacional e a cobrança da maioria dos impostos. Além disso,
do, principalmente, por intelectuais da classe média urba- a autonomia jurídica dos estados era limitada pelo fato de
na, cujo palco mais importante era o Rio de Janeiro. o governo federal ser o responsável pela elaboração dos
Códigos Civil e Penal.
PRINCIPAIS REALIZAÇÕES: - O Congresso Nacional dividido em Câmara dos De-
putados e Senado Federal (Bicameral).
- Decreto de banimento perpétuo da família imperial. - O Presidente da República seria eleito pelo povo e
- Instalação da República dos Estados Unidos do Brasil, teria mandato de quatro anos e sem direito à reeleição.
adoção do Hino Nacional e da Bandeira Republicana. - Divisão em três poderes autônomos e harmônicos:
- Suspensão da Constituição de 1824 e fechamento do Executivo, Legislativo e Judiciário.
Congresso Imperial, das Assembleias Provinciais e das Câ- - Igualdade de todos os cidadãos perante a lei e con-
maras Municipais. sagração dos direitos individuais dos cidadãos, tais como,
- Extinção do senado vitalício. a liberdade, a segurança individual (garantia de vida) e a
- Separação entre o Estado e a Igreja (fim do padroado propriedade privada.
e do beneplácito) e instituição dos registros de casamento - Incorporou todas as medidas jurídicas tomadas pelo
e de nascimento civis, além dos atestados de óbito. Governo Provisório.
- Fim do voto censitário e implantação do voto aberto OBS. Nas “disposições transitórias” foi determinado
e universal masculino, excluindo os menores de 21 anos, os que o primeiro Presidente da República após a promulga-
analfabetos, os mendigos, os membros de ordens religio- ção desta Constituição, excepcionalmente, não seria elei-
sas e os praças de pré (sargentos, cabos e soldados). to por eleição direta, mas pela própria Assembleia Cons-
- Nomeação de governadores para os estados (antigas tituinte. Assim sendo, foram eleitos o marechal Deodoro
províncias). da Fonseca, para a Presidência da República, e o marechal
- Ocorreu a naturalização dos estrangeiros residentes
Floriano Peixoto, para a Vice-Presidência.
no país (a grande naturalização).
- Convocação de eleições para uma Assembleia Cons-
tituinte.

121
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

GOVERNO CONSITUCIONAL DE DEODORO DA FONSE- REPÚBLICA OLIGÁRQUICA OU REPÚBLICA DOS FA-


CA (DE MARÇO A NOVEMBRO DE 1891) ZENDEIROS (1894-1930)

O governo constitucional de Deodoro da Fonseca foi cur- Foi o período da implantação e consolidação da políti-
to e tumultuado. Sua administração foi dificultada, desde o ca oligárquica, controlada por grupos político-econômicos,
início, pelas constantes divergências com o Congresso Nacio- principalmente os cafeicultores de São Paulo e os criadores
nal, o que já era visível desde a eleição indireta do presidente. de gado de Minas Gerais, colocando o Estado brasileiro a
Além disso, a nomeação de notórios monarquistas, como por serviço de seus interesses.
exemplo, Henrique Pereira de Lucena (Barão de Lucena), para
o ministério, aumentou mais ainda a crise institucional, que GOVERNO PRUDENTE DE MORAIS (1894-1898)
atingiu seu apogeu em 3 de novembro, quando Deodoro de-
cretou Estado de Sítio e fechou o Congresso Nacional. Os go- - Seu governo se deu em meio aos efeitos devastado-
vernadores que se opuseram ao Golpe de 3 Novembro foram res da crise econômica herdada dos governos anteriores.
depostos e presos. Ocorreu a Revolta da Armada, comandada - Foram resolvidos problemas de fronteiras: Questão
pelo contra-almirante Custódio José de Melo, cujo objetivo da Ilha da Trindade, com a Inglaterra; Questão de Palmas
era obrigar Deodoro a renunciar. Embora pudesse contar com (ou das Missões), com a Argentina.
elementos para resistir, Deodoro, alegando não querer ser - Fim da Revolta Federalista (1895).
responsável por um derramamento inútil de sangue, renun- - Ocorreu a morte de Floriano Peixoto (1895), o que
ciou e passou o cargo ao vice-presidente Floriano Peixoto. provocou um afastamento, ainda que temporário, dos mi-
litares do poder.
GOVERNO FLORIANO PEIXOTO (1891-1894) - Entre novembro de 1896 e março de 1897, Prudente
de Morais se afastou do cargo para tratamento de saúde.
- Revogação do Estado de Sítio, reabertura do Congresso Neste período o país foi governado pelo vice-presidente
Nacional e punição aos governadores que apoiaram o golpe Manuel Vitorino.
de Deodoro. - Ocorreu a Guerra de Canudos (1896-1897):
- Nos primeiros dias de governo, Floriano tomou uma A situação de miséria e descaso político fez nascer no
série de medidas paternalistas: redução dos preços dos alu- sertão nordestino, no final do século XIX, um movimento
guéis, construção de casas populares, demolição de cortiços, messiânico de grande importância. Liderado pelo cearen-
reduziu impostos para diminuir o preço da carne, etc. Todas se Antonio Vicente Mendes Maciel, mais conhecido como
estas medidas se limitaram ao Rio de Janeiro, onde Floriano “beato” Antônio Conselheiro, o grupo de miseráveis fun-
se tornou, sem dúvida alguma, muito popular, entretanto, era dou um arraial às margens do rio Vaza Barris, no interior
um completo desconhecido no restante do país. da Bahia. Este, longe do poder dos políticos, representou
- Com a intenção de estimular e proteger a ainda inci- uma ameaça à ordem estabelecida pela recém inaugurada
piente, porém crescente, indústria brasileira, foi criada uma República. Logo, os canudenses foram atacados com toda
linha de crédito de cem mil contos de réis e uma lei alfande- força pelas tropas do governo. As duas primeiras expedi-
gária protecionista. ções enviadas pelo governo baiano contra o arraial entre
- A Constituição de 1891 determinava que em caso de 1896 e 1897 fracassam completamente. De março a outu-
morte ou afastamento do presidente antes de completar bro de 1897, outras duas expedições enviadas pelo gover-
metade de seu mandato, o vice-presidente deveria assumir, no federal e organizadas pelo Exército, a última com 6 mil
marcar novas eleições e entregar o cargo a quem fosse eleito. homens e artilharia pesada, conseguem finalmente tomar
Floriano se recusou a cumprir as normas constitucionais. e destruir Canudos. Junto com o Conselheiro morrem mi-
- O Manifesto dos 13 generais: exigia o afastamento de lhares de combatentes e restam cerca de 400 prisioneiros,
Floriano da Presidência e a imediata realização de eleições, entre velhos, mulheres e crianças. No retorno das tropas
cumprindo as determinações constitucionais. Os oficiais en- vitoriosas ao Rio de Janeiro, o soldado Marcelino Bispo de
volvidos no caso foram afastados e presos, sendo substituídos Melo, na tentativa de assassinar o presidente Prudente de
por militares de confiança do presidente. Morais, acabou por matar o ministro da Guerra, marechal
- Ocorreu a Segunda Revolta da Armada, liderada pelo Carlos Bittencourt.
almirante Saldanha da Gama e pelo contra-almirante Custó-
dio de Melo, que exigia o cumprimento das determinações GOVERNO CAMPOS SALES (1898-1902)
constitucionais. Floriano reagiu com a violência necessária
para derrotar os revoltosos e ainda obteve novos navios de - Foi resolvida a Questão do Amapá pelo Barão do Rio
guerra, principalmente dos Estados Unidos. Branco.
- Ocorreu a Revolta Federalista (1893-1895), no Rio Gran- - Ocorreu o “saneamento das finanças”, através do
de do Sul e que atingiu, mais tarde, Santa Catarina. Era uma Funding Loan, idealizado pelo ministro das Finanças, Joa-
luta política gaúcha (os federalistas ou maragatos, liderados quim Murtinho: novos empréstimos foram obtidos junto
por Gaspar Silveira Martins, contra os castilhistas, liderados aos Rothschild, tradicional grupo britânico, para pagar a dí-
pelo governador Júlio de Castilhos) e que se tornou uma vidas anteriores; foi obtida uma moratória em acordo com
guerra com a participação decisiva do Exército Federal, que os credores; corte drástico nos gastos públicos; incinera-
apoiou o governador gaúcho. O final do conflito só vai ocor- ção do excesso de papel-moeda, que havia sido emitido na
rer no governo do próximo presidente. época do encilhamento.

122
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

- Teve início a POLÍTICA DOS GOVERNADORES: com o ob- GOVERNO NILO PEÇANHA (1909-1910)
jetivo de fortalecer a posição do governo federal no Congres-
so Nacional e receber apoio do mesmo à sua drástica política - Criação, por influência do marechal Rondon, do Ser-
econômica, Campos Sales garantiu aos presidentes (governa- viço de Proteção ao Índio (SPI).
dores) dos estados o reconhecimento dos deputados por eles - Ocorreu a “Campanha Civilista”, primeira eleição pre-
apoiados, através da Comissão de Verificação dos Poderes. sidencial duramente disputada, pois São Paulo e Minas
Este acordo, respaldado pelo “coronelismo” e pelo “voto-de- Gerais se desentenderam e a política “do café-com-leite”
cabresto”, desmontou a frágil organização partidária, deu à foi interrompida pela primeira vez desde sua criação. Os
representação nacional uma aparente estabilidade e vai desa-
candidatos foram: marechal Hermes da Fonseca (apoiado
guar, posteriormente, na chamada “política do café-com-leite”.
pelo Rio Grande do Sul e por Minas Gerais, entre outros)
e Rui Barbosa (apoiado por São Paulo e pela Bahia, entre
GOVERNO RODRIGUES ALVES (1902-1906)
outros). Hermes da Fonseca foi vitorioso, em grande parte,
- Rodrigues Alves encontrou as finanças em ordem, di- pela ação do senador gaúcho Pinheiro Machado, que se
nheiro em caixa e crédito externo revigorado. tornou a figura política mais influente do país.
- Ocorreu o auge do ciclo da borracha.
- Foi assinado o Tratado de Petrópolis (1903) com a Bo- GOVERNO HERMES DA FONSECA (1910-1914)
lívia, pondo fim à Questão do Acre: o Acre (cerca de 147 mil
km) foi incorporado ao Brasil em troca do pagamento de - A influência do senador Pinheiro Machado era tão
2 milhões de Libras Esterlinas e da construção da Ferrovia grande sobre o presidente Hermes da Fonseca, que se dizia
Madeira-Mamoré. que o senador era o “presidente de fato”.
- Foi resolvida a Questão do Pirara com a Inglaterra. - Ocorreu a REVOLTA DA CHIBATA: Foi uma rebelião
- Seguindo a moda lançada pelo Barão Hausmann, dos marinheiros contra os baixos salários e os atrasos no
que urbanizou Paris no século XIX, Rodrigues Alves decidiu pagamento, a péssima alimentação e, principalmente, con-
sanear e urbanizar o Rio de Janeiro, contanto, para tanto, tra os castigos corporais. A revolta foi liderada por João
com a ação do sanitarista Oswaldo Cruz (combateu a peste Cândido, conhecido como “almirante negro”. Para obter o
bubônica, a malária, a febre amarela, o dengue, a varíola, fim da rebelião, o governo federal concedeu anistia, desde
inclusive com a implantação da vacina obrigatória) e do
que os marinheiros libertassem os oficiais e se rendessem,
prefeito Pereira Passos (derrubou os cortiços, saneou a ci-
mas acabou prendendo os principais líderes.
dade, construiu praças e largas avenidas).
- A Política das Salvações: Foi uma campanha antioli-
- Ocorreu a Revolta da Vacina (1904): esta revolta, ocor-
rida entre 10 e 18 de novembro de 1904, foi ocasionada gárquica estimulada pelos jovens oficiais do Exército, cujo
pela conjugação de uma profunda insatisfação popular objetivo era abater as velhas oligarquias estaduais que do-
com a política econômica iniciada no governo Campos minavam os estados através da fraude eleitoral e do voto-
Sales, com a perda de moradias populares no centro do de-cabresto. Essas intervenções militares ocorreram, mui-
Rio de Janeiro devido à reforma urbana e com a falta de tas vezes, contra oligarquias que haviam apoiado a eleição
orientação do povo sobre a vacinação, além das insatisfa- de Hermes da Fonseca, como por exemplo, Pernambuco,
ções da Escola Militar (positivista) e as pretensões políticas Ceará, Amazonas, etc. A população das capitais aplaudia
do senador Lauro Sodré. Apesar do apoio da população, o essas intervenções militares, chamando-as de “salvações”.
movimento foi rápida e violentamente reprimido. Muitos coronéis se rebelaram contra o governo federal,
- Para combater a crise da desvalorização do café, foi as- dando muito trabalho às forças militares, e até obtendo o
sinado o Acordo de Taubaté, que consistia em proteger o café retorno da oligarquia, como foi o caso do padre Cícero, no
através da retenção de parte da produção, pelos governos es- Ceará.
taduais e, mais tarde, pelo próprio governo federal, colocan- - A Guerra do Contestado ou Guerra dos Pelados
do no mercado internacional uma pequena quantidade para (1912-1916):
provocar a elevação e, posteriormente, a estabilidade dos Ocorreu na região de fronteira disputada entre os es-
preços do produto. Foi a chamada “socialização das perdas”.
tados de Paraná e Santa Catarina, pois não havia sido deli-
mitada ainda. Foi um movimento messiânico, pois o misti-
GOVERNO AFONSO PENA (1906-1909)
cismo era muito forte, com a presença de “monges”, como
- Política de valorização do Café, com a participação José Maria e João Maria, que influenciavam os camponeses
efetiva e decisiva do governo federal no Convênio de miseráveis a invadir as fazendas. A revolta só foi dominada
Taubaté. no governo seguinte, quando uma tropa de 6 mil homens,
- Estimulou a vinda de milhares de imigrantes, inclusive inclusive com a participação de aviões, comandada pelo
os primeiros japoneses. general Setembrino de Carvalho, destruiu os arraiais em
- Reformou ferrovias e porto. que se encontravam os rebelados.
- Comemoração do Centenário da Abertura dos Portos
(1908).
- Faleceu em 1909, portanto antes do final de seu man-
dato, sendo substituído pelo vice-presidente Nilo Peçanha.

123
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

GOVERNO VENCESLAU BRÁS (1914-1918) - Surge o Tenentismo: movimento militar da baixa ofi-
cialidade do Exército, com ideologia política difusa e que
- A eleição de Venceslau Brás foi fruto do retorno da levou seus participantes a se considerarem responsáveis
aliança entre as principais oligarquias, ou seja, a volta da po- pela salvação nacional.
lítica do café-com-leite. - Revolta dos 18 do Forte de Copacabana (05/07/1922):
- Ocorreu o assassinato do senador Pinheiro Machado primeira revolta tenentista, cujo objetivo era impedir a
(1915). posse do presidente Artur Bernardes, já que os “tenentes”
- Fim da Guerra do Contestado. haviam apoiado a candidatura de Nilo Peçanha. No final,
- Promulgação do Código Civil Brasileiro (1916).
17 militares e um civil, os famosos 18 do Forte de Copa-
- Declaração de guerra à Alemanha (26/10/1917).
cabana, decidiram se sacrificar para servir de exemplo, e
- A Primeira Guerra Mundial (1914-1918) contribuiu para
marcharam contra as forças legalistas. Apenas dois sobre-
o desenvolvimento industrial brasileiro pela necessidade de
substituição de importações. viveram: Eduardo Gomes e Siqueira Campos.
- Com o crescimento industrial, aumenta o número de
operários e, consequentemente, crescem as manifestações GOVERNO ARTUR BERNARDES (1922-1926)
por melhores salários e pela garantia de seus direitos, como
atestam as greves de 1917 e 1919, em São Paulo e outras - Bernardes assumiu o cargo em meio a uma forte agi-
cidades. É bom destacar que as correntes políticas presen- tação política: os militares contestavam o poder, os ope-
tes no movimento operário brasileiro foram várias, tais como, rários promoviam greves e crescia o descontentamento
anarquistas e, a partir da década de 1920, a disputa entre contra as elites e o governo. Assim sendo, ele governou
socialistas e comunistas. por todo o seu mandato em estado de sítio.
- Nas eleições de 1918, foi eleito Rodrigues Alves, que já - Fundou a Escola Superior de Agricultura e Veterinária
havia sido presidente entre 1902 e 1906, porém, ele faleceu (ESAV), atual Universidade Federal de Viçosa (MG).
antes de tomar posse, devido à gripe espanhola. Assumiu, - Retirou o Brasil da Liga das Nações (1926).
então, o vice-presidente Delfim Moreira. - Ocorreu a Revolução de 1923 no Rio grande do Sul: o
governador Borges de Medeiros (Partido Republicano) foi
GOVERNO DELFIM MOREIRA (1918-1919) reeleito, derrotando Assis Brasil (Partido Libertador), que
acusou fraude nas eleições e desencadeou uma verdadei-
- Delfim Moreira cumpriu a Constituição e marcou elei-
ra guerra civil, a qual só terminou com o Pacto de Pedras
ções para o próximo presidente.
Altas, que proibiu a reeleição do governador.
- O Brasil participou da Conferência de Paz, em Versalhes
e foi representado pelo advogado paraibano Epitácio Pessoa. - Revolta Tenentista em São Paulo (05/07/1924): Li-
- Concorreram às eleições presidenciais Rui Barbosa e derada pelo general Isidoro Dias Lopes, esta revolta teve
Epitácio Pessoa, com vitória deste último. grande apoio popular e durou quase um mês. Sem chance
de vitória, os rebeldes fugiram de São Paulo, formaram a
GOVERNO EPITÁCIO PESSOA (1919-1922) Coluna Paulista e entraram pelo interior.
- Revolta de Santo Ângelo, no Rio Grande do Sul
- Construção de mais de duzentos açudes no Nordeste. (1924): os militares foram liderados pelo capitão Luiz Car-
- Construção de mais de mil km de ferrovias no Sul. los Prestes e formaram a Coluna Gaúcha que, mais tarde,
- Nomeação de dois civis para os ministérios militares. vai se unir à Coluna Paulista, formando a famosa Coluna
- Substituição da Libra pelo Dólar, como lastro monetário. Prestes-Miguel Costa.
- Criação da Universidade do Brasil (1920), atual UFRJ. - Coluna Prestes - Miguel Costa: Foi um movimento
- Para combater as greves operárias foi criada a Lei de político-militar de origem tenentista, que entre 1925 e
Repressão ao Anarquismo (1921). 1927, se deslocou pelo interior do país pregando refor-
- Primeira transmissão de rádio no Brasil, realizada por mas políticas e sociais e combatendo o governo do en-
Roquete Pinto. tão presidente Arthur Bernardes e, posteriormente, de
- Aconteceu, em São Paulo, a Semana de Arte Moderna
Washington Luís. Sua insatisfação com a República Velha
(1922), que pretendia construir uma identidade nacional, mas
leva-os a requerem voto secreto e um maior centralismo
sem desprezar as influências culturais do passado e, mais tar-
político. Ademais, exigem ensino público para facilitar o
de, com o Movimento Antropofágico, pretendia também uma
apropriação crítica das ideias estrangeiras, principalmente das acesso às informações por parte da população carente.
vanguardas europeias, para ajudar a constituir uma cultura São idealistas, porém elitistas. Golpistas, mas reformistas.
nacional. Destacaram-se Mário de Andrade, Oswald de An- Cumpre realçar que a maior parte do movimento era com-
drade, Tarsila do Amaral, Villa-Lobos, Victor Brecheret, Anita posto por capitães e tenentes da classe média, de onde
Malfatti, Di Cavalcanti, Cândido Portinari, entre outros. se originou o ideal de “soldado cidadão”. Sempre com as
- Comemoração do Centenário da Independência (1922), forças federais no seu encalço, a coluna de 1 500 homens
inclusive com a revogação do banimento da família imperial percorreu cerca de 25 mil km até cruzar a fronteira com a
brasileira. Bolívia, em fevereiro de 1927. Sem jamais ser vencida, a
- Fundação do Partido Comunista Brasileiro (PCB), em coluna enfrentou as tropas regulares do Exército ao lado
1922, que logo foi colocado na clandestinidade. de forças policiais dos estados e tropas de jagunços, esti-

124
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

mulados por promessas oficiais de anistia. Acredita-se que A REVOLUÇÃO DE 1930


até o cangaceiro Lampião foi convocado para derrotar os
rebelados. A coluna poucas vezes enfrentou grandes efe- Com a derrota eleitoral, os velhos políticos da Alian­ça
tivos do governo. Em geral, eram utilizadas táticas de des- Liberal - como Borges de Medeiros - pretenderam com-
pistamento para confundir as tropas legalistas. Ataques de por-se com os vitoriosos, como geralmente acontecia na
cangaceiros à Coluna também reforçam o caráter lendário República Velha. Mas existia na Aliança uma ala de políticos
da marcha, mas não há registros desses embates. Nas ci- jovens (Maurício Cardoso, Osvaldo Aranha, Lin­dolfo Col-
dades e nos vilarejos do sertão, os rebeldes promoveram lor, João Neves, Flores da Cunha, Virgílio de Melo Franco e
comícios e divulgaram manifestos contra o regime oligár- Francisco Campos) que não se conforma­va com uma situa-
quico da República Velha. Os homens liderados por Luís ção na qual sua ascensão política per­manecia dependente.
Carlos Prestes (que ainda não era marxista) e Miguel Costa Portanto, optaram eles pela via ar­mada e, para isso, aproxi-
não conseguiram derrubar o governo, mas aumentaram o maram-se dos tenentes, como Juarez Távora, e João Alber-
to. A conspiração sofreu várias oscilações por causa da po-
prestígio político do tenentismo e reforçaram suas críticas
sição conciliatória dos velhos oligarcas da Aliança Li­beral,
às oligarquias e ajudaram a abalar ainda mais os alicerces
inclusive do próprio Getúlio Vargas, o que provo­cou seu es-
da República Velha.
friamento. Porém, foi alentada pela “degola” de deputados
federais eleitos por Minas Gerais e Paraíba (maio de 1930),
GOVERNO WASHINGTON LUÍS (1926-1930) quebrando a Política dos Governadores e pelo assassinato
de João Pessoa ( julho de 1930) em Re­cife, por motivos li-
- O slogan deste governo era “governar é abrir estra- gados a problemas locais, mas que foi ex­plorado politica-
das”. Foram construídas as rodovias Rio - São Paulo e Rio mente, diga-se de passagem, pelo grupo de conspiradores.
- Petrópolis. Os tenentes foram aproveitados por sua experiência revo-
- O ministério das Finanças, sob a liderança do gaúcho lucionária, mas a chefia militar coube ao tenente-co­ronel
Getúlio Vargas, pretendeu fazer uma reforma econômica, Góis Monteiro, elemento de total confiança por parte dos
inclusive com a proposta de criação de uma nova moeda, políticos gaúchos. No dia 3 de outubro eclodiu a revolta
mas que não passou das boas intenções. no Rio Grande do Sul, e no dia seguinte, sob a chefia de
- Foi criada a Lei Celerada (1927) que censurava a im- Juarez Távora, no Nordeste. Dela participavam tropas das
prensa e reprimia qualquer manifestação contrária ao go- milícias estaduais e forças arregimentadas por “coronéis”.
verno. Das tropas do Exército, várias aderiram ao movimento, al-
- Em 1928 foi fundado, por militantes comunistas, gumas se mantiveram neutras, e poucas resistiram. Em vá-
socialistas, anarquistas e ativistas independentes, o Blo- rios Estados os governantes puseram-se em fuga. Quando
co Operário Camponês. O BOC era uma frente política de se esperava um choque de grandes proporções entre as
atuação pública e defendia bandeiras, como, o voto secre- tropas que vinham do Sul e as de São Paulo, o presidente
to, redução do custo de vida, anistia para presos políticos Washington Luís foi deposto, no dia 24 de outubro, por um
e o combate às oligarquias e ao imperialismo. Nas eleições grupo de altos oficiais das Forças Armadas, que tinham a
de 1928 elege alguns deputados e vereadores e, em 1930, intenção de exercer um papel moderador. Formou-se uma
lança candidato próprio à Presidência: o marmorista e ve- Junta Governativa Provisória, intitulada Junta Pacificadora,
reador Minervino de Oliveira. Seu desempenho eleitoral é integrada pelos generais Mena Barreto e Tasso Fragoso, e
inexpressivo. pelo almirante Isaías de Noronha.
- Ocorreu a Crise Econômica de 1929, que atingiu o Após algumas hesitações, no dia 3 de novembro, a Jun-
Brasil em cheio, pois o café, principal produto na balan- ta passou o poder para Getúlio Vargas, que irá governar
por 15 anos.
ça de exportações, perdeu mercados e valor. Como o país
vinha comprando a produção e estocando desde o Con-
vênio de Taubaté, havia, portanto, estoques enormes, ge-
rando dois trágicos efeitos: o aumento da oferta e a queda
da procura.
- A crise econômica provocou também a crise políti-
ca, pois Washington Luís apoiou a candidatura do paulista
Júlio Prestes em detrimento do mineiro Antonio Carlos de
Andrada. Isto dividiu as oligarquias: a candidatura oficial
de Júlio Prestes e Vital Barbosa, apoiada pelo presidente e
pela maioria das oligarquias estaduais; e a Aliança Liberal,
de Getúlio Vargas e João Pessoa, apoiada pelo Rio Grande
do Sul, Minas Gerais, Paraíba, pelo Partido Libertador (RS),
pelo Partido Democrático (SP) e setores da classe média
urbana das grandes cidades. A vitória coube a Júlio Prestes.

125
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

O esquema de corrupção no setor de Energia e Gás da


Diretoria de Engenharia da Petrobras foi detalhado por re-
7. TÓPICOS RELEVANTES E ATUAIS DE presentantes do MPF, da Polícia Federal (PF) e da Receita Fe-
POLÍTICA, ECONOMIA, SOCIEDADE, deral, em entrevista coletiva, nesta manhã (4), em Curitiba.
EDUCAÇÃO, TECNOLOGIA, ENERGIA, Segundo as investigações, o ex-gerente da Petrobras
RELAÇÕES INTERNACIONAIS, Marcio de Almeida Ferreira, preso nesta manhã no Rio de
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL, Janeiro, usou a repatriação para “esquentar” cerca de R$ 48
SEGURANÇA, ECOLOGIA milhões proveniente de propinas que estavam depositados
E SUAS VINCULAÇÕES HISTÓRICAS em contas nas Bahamas.
O procurador Diogo Castor de Mattos, integrante da
força-tarefa da Lava Jato no MPF, disse que Ferreira fez a
regularização dos recursos ilícitos no final do ano passado.
POLÍTICA “Ele declarou que esses valores, em tese, teriam sido anga-
riados da venda de um imóvel, pagou tributo de cerca de
Comissão da OAB-RJ aprova pedido de impeachment R$ 14 milhões e, dessa forma, ‘esquentou’ o dinheiro que,
de Pezão certamente, tem origem em propina proveniente da Petro-
bras”, contou Mattos. O MPF não descarta que a prática
A Comissão de Direito Constitucional da Ordem dos Ad- tenha sido replicada por outros agentes criminosos.
vogados do Brasil seção Rio de Janeiro (OAB-RJ) aprovou “Eles usaram a legislação para lavar dinheiro. Isso é usar
hoje (4) o pedido de impeachment do governador Luiz Fer- a lei para legalizar corrupção. Precisamos combater essa prá-
nando Pezão e encaminhou a matéria ao conselho da insti- tica e abrir a caixa-preta da Lei de Repatriação”, afirmou o
tuição para decisão final. procurador da República Carlos Fernando dos Santos Lima.
O presidente da OAB-RJ, Felipe Santa Cruz, disse que a Ele também destacou a “ousadia” dos criminosos, que rece-
questão foi encaminhada ao conselho porque existem alter- beram pagamentos de propina até meados de 2016, em ple-
nativas ao impeachment, que devem ser consideradas. Se- no andamento da Operação Lava Jato.
gundo Santa Cruz, alguns conselheiros defendem interven- As investigações contabilizaram ao menos 15 contratos
ção federal e outros, uma ação de improbidade que afastaria usados para pagamento de propina envolvendo as empresas
tanto o governador quanto o vice, Francisco Dornelles. “O de consultoria Liderrol e Arxo, que também foram alvos da
conselho, agora politicamente, vai tomar a decisão.” operação de hoje. A PF afirmou que estes contratos foram
De acordo com Santa Cruz, a Comissão de Direito Cons- revelados durante a delação premiada de Edison Krumme-
nauer, ex-gerente de Empreendimentos da área de Gás e
titucional apenas mostrou que, tecnicamente, existem ele-
Energia da Petrobras.
mentos que justificam o pedido de impedimento.
“Estes contratos foram minuciosamente detalhados pelo
No próximo dia 12, a OAB-RJ reunirá o que Santa Cruz
colaborador. Contratos em que ele afirma que recebeu pro-
chamou de “conselhão da sociedade civil”, para discutir a
pina para agilizar procedimentos, aprovar aditivos, ou seja,
situação de calamidade no estado do Rio. “Não adianta o
o modus operandi que a gente já viu no curso da Operação
governo federal e o governo estadual ficarem nesse jogo de
Lava Jato”, afirmou a delegada da Polícia Federal Renata da
empurra, com medidas ofensivas até, como foi o envio de Silva Rordigues.
apenas 100 soldados para o Rio de Janeiro nesta semana. A Além de Marcio de Almeida Ferreira, foram presos ex-
sociedade civil vai dizer o seu basta”, afirmou o advogado. gerente da Petrobras, Maurício de Oliveira Guedes, e dois
No dia 18, o conselho seccional da Ordem se reunirá para representantes das empresas Liderrol e Arxo, Marivaldo do
definir o melhor encaminhamento político-jurídico para o caso. Rozário Escalfoni e Paulo Roberto Gomes Fernandes. A PF in-
Caso o conselho aprove o pedido de impeachment, este formou que os quatro serão levados a Curitiba ainda nesta
será encaminhado à Assembleia Legislativa, explicou Santa quinta-feira.
Cruz. Se o conselho optar pelo pedido de intervenção fe- O nome desta nova fase da Operação Lava Jato - Asfixia
deral, o tema será levado a exame da Procuradoria-Geral da - é referência à tentativa de cessar as fraudes e o desvio de
República. No caso de ação de improbidade, esta será ajui- recursos públicos em áreas da estatal destinadas à produção,
zada no Poder Judiciário. distribuição e comercialização de gás combustível.
Fonte: Terra.com.br/ Acessado em 05/2017 Fonte: terra.com.br/ acessado em 05/2017

Alvo da operação usou Lei de Repatriação para lavar Maia cria comissão para PEC que pode acabar com co-
dinheiro ligações

Pelo menos um dos alvos da Operação Asfixia, 40ª fase Um dia após ter a admissibilidade aprovada na Comissão
da Operação Lava Jato, deflagrada hoje (4) no Rio de Janeiro, de Constituição e Justiça (CCJ), o presidente da Câmara, Ro-
em São Paulo e em Minas Gerais, usou a Lei de Repatriação drigo Maia (DEM-RJ), criou uma comissão especial para ana-
para lavar dinheiro de propina, segundo o Ministério Público lisar o mérito da Proposta da Emenda à Constituição (PEC)
Federal (MPF). A lei foi sancionada em janeiro do ano passa- 282/16, que acaba com as coligações proporcionais nas elei-
do e permite que cidadãos com valores não-declarados no ções federal e estadual do ano que vem e para vereador a
exterior regularizem estes recursos junto ao Fisco. partir de 2020 e institui a cláusula de barreira a partir de 2018.

126
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

O ato criando a comissão foi lido hoje (4) pelo vice-pre- Qualquer partido poderá deixar a federação antes do
sidente da Casa, deputado Fábio Ramalho (PMDB-MG), término de sua vigência, por decisão do respectivo diretório
que ocupa a presidência da casa legislativa enquanto Maia nacional, mas a saída implicará o cancelamento dos repas-
está em viagem oficial ao Líbano. A comissão especial terá ses do fundo partidário e impedimento do acesso gratuito
35 membros titulares e igual número de suplentes. Os lí- partidário e eleitoral ao rádio e à televisão, os quais serão
deres partidários têm 48 horas para indicar os integrantes. redistribuídos proporcionalmente entre todos os partidos
Aprovada no ano passado pelos senadores, a proposta com funcionamento parlamentar.
recebeu parecer pela aprovação do relator na CCJ, depu- Fonte: terra.com.br/Acessado em 05/2017
tado Betinho Gomes (PSDB-PE). Ele também recomendou
a aprovação de duas PECs (84/11 e 22/15), que tramitam CCJ aprova reconhecimento da união de pessoas do mesmo
apensadas à 282. sexo
Pela proposta, a cláusula de barreira estabelece que
nas eleições de 2018 apenas os partidos que obtiverem 2% A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado
dos votos válidos em pelo menos 14 estados, com no mí- aprovou hoje (3), em turno suplementar, projeto de lei que al-
nimo 2% de votos válidos em cada um deles, terão direito tera o Código Civil para reconhecer a união estável entre pes-
aos recursos do Fundo Partidário, ao acesso gratuito parti- soas do mesmo sexo e possibilitar a conversão dessa união
dário e eleitoral ao rádio e à televisão e ao uso da estrutura em casamento.
própria e funcional nas casas legislativas. Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado apro-
A partir de 2022, a cláusula de barreira sobe para 3% vou hoje (3), em turno suplementar, projeto de lei que altera
dos votos válidos, distribuídos em pelo menos 14 estados, o Código Civil para reconhecer a união estável entre pessoas
com um mínimo de 2% dos votos válidos em cada um deles. do mesmo sexo e possibilitar a conversão dessa união em ca-
samento.
Federação O texto, que tem a relatoria do senador Roberto Re-
quião (PMDB-RR), havia sido aprovado na CCJ em março,
No caso das coligações, em seu lugar, a PEC deter-
mas ainda era preciso passar pela votação suplementar.
mina que os partidos políticos com afinidade ideológica
Hoje, a proposta foi aprovada em votação simbólica, sem a
e programática poderão se juntar em federação que terá
contagem de votos.
os mesmos direitos e atribuições regimentais dos partidos
nas casas legislativas e deverá atuar com identidade políti- O Código Civil reconhece como entidade familiar “a
ca única, resguardada a autonomia estatutária dos partidos união estável entre o homem e a mulher, configurada na
que a compõem. convivência pública, contínua e duradoura e estabelecida
Para integrar a federação, os partidos terão que re- com o objetivo de constituição de família”. O projeto esta-
gistrar a deliberação do diretório nacional nesse sentido belece que a lei seja alterada para estabelecer como família
no Tribunal Superior Eleitoral até a véspera do último dia “a união estável entre duas pessoas”, mantendo o restante
do prazo para filiação partidária para concorrer às eleições do texto do artigo.
federais. Após o registro, os partidos terão que se reunir O projeto é de autoria da senadora Marta Suplicy (PM-
para a escolha do presidente, do nome da federação e dos DB-SP). Para ela, a aprovação na CCJ foi um “avanço ex-
candidatos. traordinário”. “Desde 2008 tentamos aprovar o casamento
“Após aprovada pela maioria absoluta dos integrantes homoafetivo, primeiro na Câmara, passou pelas comissões
das convenções nacionais dos partidos que a compõem, a e está até hoje no plenário. Hoje conseguimos aprovar o
federação será reproduzida no Senado Federal, na Câmara projeto com relatório do senador Requião que dá um pas-
dos Deputados, nas Assembleias Legislativas e na Câmara so muito grande em relação à situação que hoje vivem as
Legislativa do Distrito Federal”, diz a PEC. pessoas do mesmo sexo que desejam ter uma união sacra-
A vigência da união valerá até a véspera da data inicial mentada, um casamento, na verdade”, disse.
do prazo para a realização das convenções para as elei- Em 2011, o Supremo Tribunal Federal reconheceu, por
ções federais subsequentes. O fundo partidário será pro- unanimidade, a união estável entre casais do mesmo sexo
porcional ao quociente de votos válidos obtidos por cada como entidade familiar. Na prática, a decisão significou que
um dos partidos para a Câmara dos Deputados e o tempo as regras que valem para relações estáveis entre homens e
de propaganda eleitoral será proporcional ao número de mulheres serão aplicadas aos casais gays.
deputados federais eleitos pela federação. No relatório que acompanha o substitutivo, o relator
Câmaras municipais Roberto Requião citou a decisão do Supremo e registrou
No caso das câmaras municipais, a federação só terá
que é responsabilidade do Legislativo adequar a lei em vi-
validade a partir do primeiro dia do prazo para a realização
gor ao entendimento consagrado pelo STF.
das convenções para as eleições municipais subsequentes.
Em 2013, em função das divergências de interpretação
Contudo, a reprodução da federação não será automática,
sobre o tema, o Conselho Nacional de Justiça aprovou re-
pois os partidos poderão decidir pela não reprodução da
federação nas eleições municipais até a véspera do último solução que obriga os cartórios a celebrar o casamento ci-
dia do prazo para filiação partidária para concorrer às res- vil e converter a união estável homoafetiva em casamento.
pectivas eleições. Fonte: terra.com.br/Acessado em 05/2017

127
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

TSE desaprova contas do PSDB de 2011; sanção é de Outro fator que estimula a aprovação do fundo público de
R$ 10 mi campanha é o discurso de criminalização do caixa 1 por integrantes
da força-tarefa. “Como você vai arrecadar em larga escala se mesmo
Em um de seus últimos atos como ministro do Tribunal a doação legal pode ser tomada como prova de crime? Só que eles
Superior Eleitoral (TSE), o jurista Henrique Neves não apro- (deputados) estão pegando um sistema altamente inflacionário, de
vou, no último dia 11 de abril, as contas do PSDB referentes campanhas anteriores caríssimas, porque estão sendo impedidos
ao ano de 2011. de arrecadar pela jurisprudência”, afirmou Bruno Reis, da Universi-
Neves determinou que o partido devolva cerca de R$ dade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Para o procurador regional da Lava Jato Carlos Fernando
4 milhões ao erário, bem como que deixe de receber uma
dos Santos Lima, não cabe à operação apontar soluções, mas
das doze parcelas mensais do fundo partidário referentes
“uma democracia de coalizão baseada em um sistema eleitoral
a 2017 o que, no caso do PSDB, corresponde a R$ 6,6 mi-
criminógeno, em uma divisão de cargos que não leva em consi-
lhões. O diretório tucano também deverá destinar R$ 2,1 deração o mérito, mas a indicação política, em um controle frágil
milhões para o incentivo à participação de mulheres na pela Justiça Eleitoral das prestações de contas, em um sistema de
política. financiamento ilegal que revela um capitalismo de compadrio,
Entre as principais irregularidades identificadas pelo somente pode chegar aonde chegou”, disse ao Estado.
ministro do TSE estão: despesas com passagens aéreas Reis vê como ingenuidade a percepção da Lava Jato de que
sem a comprovação de utilização dos bilhetes, despesas há uma sociedade virtuosa maculada por “forças do mal”. “Não
dos diretórios estaduais sem comprovação da prestação é isso. Como nossa legislação dá poder ao grande financiador, o
de serviços e da vinculação com atividade partidária, não plenário acaba representando antes os interesses desses financia-
apresentação de notas fiscais de hospedagem e pagamen- dores. Quando você faz acordos de leniência com o doador para
to de hospedagem sem utilização de diária, entre outros. pegar o deputado, você está fazendo acordo com Dom Corleone
A decisão monocrática do ministro Henrique Neves não para pegar o gângster da esquina”, disse.
precisou ser referendada pelo plenário do TSE, pois uma re- Lista fechada. O professor Leonardo Avritzer, também da
solução aprovada recentemente pelo tribunal autorizou que, UFMG, acredita que o combate à corrupção não deve ser a “úni-
em determinados casos, a reprovação das contas seja decidida ca preocupação” da reforma política. Ele aponta a força que tem
individualmente pelo relator. adquirido com os desdobramentos da Lava Jato, por exemplo, a
lista fechada, sistema em que o eleitor vota no partido. Em tese,
O mandato de Henrique Neves como ministro do TSE ter-
esse modelo poderia abrigar políticos com pendências na Jus-
minou no último dia 16 de abril. Ele foi substituído pelo jurista
tiça.
Admar Gonzaga.
“Hoje ela está sendo discutida em termos de se vai servir
Por email, o PSDB disse que seus advogados já apresen- para dar foro privilegiado, o que me parece uma distorção da
taram recurso contra a decisão, que, para o partido, “deixa de própria ideia de reforma política”, disse. A Lava Jato não é fa-
cumprir uma etapa importante da análise das contas do PSDB, vorável à lista aberta hoje em vigor. “Questionamentos como o
conforme determina a própria resolução do TSE”. O partido excesso de partidos, a onerosidade do sistema eleitoral de listas
não esclareceu qual etapa de análise teria sido descumprida. abertas, entre outros, foram levantados em diversas palestras e
Fonte: terra.com.br/Acessado em 05/2017 artigos pelos próprios membros da força-tarefa”, lembrou o pro-
curador.
Lava Jato ‘distorce’ a reforma políticaPesquisadores afir- O relator da comissão, deputado Vicente Cândido (PT-SP),
mam que desdobramentos da operação refletem nos debates no entanto, diz que se fosse verdade que a Lava Jato altera os
do Congresso ligados a financiamento e sistema eleitoral debates do colegiado, “teríamos 500 votos no plenário hoje, e
não temos”. “Não é a Lava Jato que vai mover o Congresso para
A Operação Lava Jato provoca impactos no debate atual fazer a reforma”, afirmou.
da reforma política em pelo menos dois temas: financiamento Como não há consenso, como diz Cândido, em torno das
de campanha e sistema eleitoral. O que deveria ser moderniza- várias propostas da comissão, talvez não seja o momento de
do por necessidade política acaba por representar oportunis- colocá-las em votação, segundo os acadêmicos. “A reforma é
necessária, mas não é conveniente fazê-la agora. Dada a circuns-
mo dos envolvidos hoje investigados pelo Supremo Tribunal
tância em jogo relacionada com a Lava Jato, com vários parla-
Federal (STF). É o que concluem cientistas políticas ouvidos
mentares investigados, ministros arrolados nas denúncias, cria-
pelo Estado.
se uma inconveniência política e moral agora”, destacou Aldo
A partir do momento em que Marcelo Odebrecht assume Fornazieri, professor da Fundação Escola de Sociologia e Política
à Justiça não haver campanha eleitoral no País sem caixa 2, a de São Paulo.
tese de financiamento público de campanha da Comissão da Se por um lado a Lava Jato impulsiona a comissão em dire-
Reforma Política na Câmara ganha ainda mais fôlego do que ção ao dinheiro e blindagem, por outro, mais otimista, provoca
aquele obtido após a decisão do Supremo de proibir doações uma revisão do papel dos partidos. “O que temos, por enquanto,
empresariais aos candidatos, em 2015. O colegiado acredita é a aprovação da cláusula de barreira (restrição de atuação par-
que R$ 4 bilhões seriam suficientes para financiar partidos e lamentar e de acesso ao fundo partidário e tempo de TV) pelo
candidatos a partir de 2018. Para isso, terá de combater a im- Senado, mas a Câmara dá sinais de ir nessa direção”, disse José
popularidade da ideia agravada pelo descrédito dos partidos Álvaro Moisés, da USP.
perante os eleitores. Fonte: Estadao.com.br/Acessado em 05/2017

128
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

Previdência: relator vê ‘mudança considerável’ no ‘senti- Os economistas do mercado financeiro reduziram sua
mento’ da Câmara previsão de inflação e passaram a estimar um crescimento
maior do Produto Interno Bruto (PIB) em 2017.
Para Arthur Maia (PPS-BA), proposta inicial do governo As expectativas dos analistas do mercado financeiro
foi ‘profundamente’ modificada por deputados. Relator parti- foram coletadas pelo Banco Central na semana passada e
cipou de reunião com Temer e ministros neste domingo. divulgadas nesta segunda-feira (8) por meio do relatório
O relator da reforma da Previdência na Câmara, Arthur de mercado, também conhecido como Focus. Mais de cem
Maia (PPS-BA), disse neste domingo (7) que, após a aprova- instituições financeiras foram ouvidas.
ção do texto-base da reforma da Previdência na comissão es- Para o comportamento do Índice Nacional de Preços
pecial que analisa o tema, houve uma “mudança considerável ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2017, a “inflação oficial”
no sentimento” dos deputados. do país, o mercado baixou sua previsão de 4,03% para
Para Maia, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 4,01%. Foi a nona redução seguida do indicador.
Com isso, manteve a expectativa de que a inflação des-
que altera as regras de aposentadoria inicialmente enviada
te ano ficará abaixo da meta central, que é de 4,5%. A meta
pelo governo federal foi “profundamente” modificada pelos
de inflação é fixada pelo Conselho Monetário Nacional
parlamentares e o texto-base foi “construído pela sociedade”.
(CMN) e deve ser perseguida pelo Banco Central, que para
A declaração foi dada depois de reunião no Palácio da isso eleva ou reduz a taxa de juros (Selic).
Alvorda da qual participaram, além de Maia, o presidente A meta central de inflação não é atingida no Brasil des-
da República, Michel Temer, os ministros Henrique Meirelles de 2009. Naquele momento, o país ainda sentia os efeitos
(Fazenda), Moreira Franco (Secretaria-Geral da Previdência) e da crise financeira internacional de forma mais intensa, que
Antonio Imbassahy (Secretaria de Governo). O deputado Dar- acabou se espalhando pelo mundo.
císio Perondi (PMDB-RS) também compareceu ao encontro. Pelo sistema vigente no Brasil, a meta de inflação é con-
“Posso dizer que tivemos uma mudança considerável no siderada formalmente cumprida quando o IPCA fica dentro
sentimento da Casa depois da aprovação que tivemos na se- do intervalo de tolerância também fixado pelo CMN. Para
mana passada lá na comissão especial. Porque ficou provado 2017, esse intervalo é de 1,5 ponto percentual para baixo ou
que o projeto foi profundamente modificado. Hoje nós temos para cima do centro da meta. Assim, o BC terá cumprido a
um projeto que já não é mais aquele enviado pelo governo. É meta se o IPCA terminar este ano entre 3% e 6%.
um projeto que foi construído pela sociedade brasileira”, de- No ano passado, a inflação ficou acima da meta central,
clarou o relator. mas dentro do intervalo definido pelo CMN. Já em 2015, a
VEJA OS PRINCIPAIS PONTOS DA REFORMA meta foi descumprida pelo BC - naquele ano, a inflação su-
Maia afirmou também que o plenário da Câmara é so- perou a barreira dos 10%.
berano para a votação dos dez destaques (sugestões de mu- Para 2018, porém, a previsão do mercado financeiro
danças ao texto) que ainda precisam ser analisados e que o para a inflação subiu de 4,30% para 4,39%. Mesmo assim, o
governo não tem interferido nessa questão. índice está abaixo da meta central de inflação para o período
Com relação à proposta de incluir os agentes peniten- (4,5%) e também do teto de 6% fixado para o ano que vem.
ciários federais na categoria que teria direito a aposentado-
ria especial, assim como os policiais federais, que poderão se Produto Interno Bruto
aposentar aos 55 anos de idade, Maia afirmou que essa não é Para o Produto Interno Bruto (PIB) de 2017, o mercado
uma “questão nuclear”. Segundo ele, nuclear é, por exemplo, financeiro elevou sua estimativa de crescimento de 0,46%
a fixação de uma idade mínima para aposentadoria e tempo para 0,47%.
de contribuição. O PIB é a soma de todos os bens e serviços feitos no país,
Votação no plenário independentemente da nacionalidade de quem os produz, e
O ministro da Secretaria de Governo, Antonio Imbassahy, serve para medir o comportamento da economia brasileira.
afirmou que o governo não tem uma previsão de quando o Em 2016, o PIB brasileiro caiu pelo segundo ano segui-
projeto da reforma da Previdência será levado para votação do e confirmou a pior recessão da história do país, segundo
no Plenário da Câmara. Imbassahy afirmou que “quando o dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Es-
governo tiver a avaliação de que o projeto tem condição para tatística (IBGE).
ir a plenário acontecerá a votação”. Para 2018, os economistas das instituições financeiras
“Não podemos precisar quando será essa dada, porque é mantiveram sua estimativa de expansão do PIB estável em
uma data que depende de uma avaliação permanente e cons- 2,50%.
tante dos parlamentares”, disse Imbassahy. Taxa de juros
Fonte: g1.com/ Acessado em 05/2017 O mercado financeiro manteve sua previsão para a taxa
básica de juros da economia, a Selic, em 8,5% ao ano no
ECONOMIA fechamento de 2017. Ou seja, os analistas continuam esti-
mando novas reduções de juros neste ano. Atualmente, a
Mercado baixa estimativa de inflação para 2017 e vê Selic está em 11,25% ao ano.
PIB maior Para o fechamento de 2018, a estimativa dos economis-
Expectativa dos economistas de bancos, divulgada nesta tas dos bancos para a taxa Selic continuou em 8,5% ao ano.
segunda (8) pelo Banco Central, é de inflação em 4,01% e alta Com isso, estimaram que os juros ficarão estáveis no ano
do PIB de 0,47% neste ano. que vem.

129
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

A taxa básica de juros é o principal instrumento do BC Lucro líquido ajustado da BB Seguridade cresce 3,7%
para tentar conter pressões inflacionárias. A instituição tem no 1º tri, a R$ 992,8 milhões
de calibrar os juros para atingir índices pré-determinados
pelo sistema de metas de inflação brasileiro. Volume total de prêmios de seguros emitidos, contri-
As taxas mais altas tendem a reduzir o consumo e o buições de previdência e arrecadação com títulos de capi-
crédito, o que pode contribuir para o controle dos preços. talização somou R$ 14,8 bilhões no período.
Entretanto, também prejudicam a economia e geram de- A BB Seguridade, que reúne as participações do Ban-
semprego. co do Brasil em seguros e previdência, teve lucro líquido
Câmbio, balança e investimentos ajustado de R$ 992,8 milhões no primeiro trimestre, alta
Na edição desta semana do relatório Focus, a projeção de 3,7% sobre o mesmo período de 2016 e em linha com
do mercado financeiro para a taxa de câmbio no fim de 2017 a projeção de 1 a 5% de crescimento estipulada pela com-
permaneceu em R$ 3,23. Para o fechamento de 2018, a pre- panhia.
Conforme material de divulgação do balanço, o de-
visão dos economistas para o dólar subiu de R$ 3,38 para
sempenho no período é explicado pela alta de 11% do
R$ 3,40.
resultado operacional não decorrente de juros, o que com-
A projeção do relatório Focus para o resultado da ba-
pensou a queda de 10,4% do resultado financeiro em meio
lança comercial (resultado do total de exportações menos
à queda da taxa Selic.
as importações) em 2017 subiu de US$ 53,15 bilhões para O retorno anualizado sobre patrimônio líquido médio
US$ 53,3 bilhões de resultado positivo. Para o próximo ano, foi de 47,3% nos três primeiros meses do ano, queda de 2,6
a estimativa dos especialistas do mercado para o superávit pontos percentuais na comparação anual. Já as despesas
avançou de US$ 41,1 bilhões para US$ 42,3 bilhões. gerais e administrativas encolheram 23,7% na mesma base,
A projeção do relatório para a entrada de investimen- para R$ 15,257 milhões.
tos estrangeiros diretos no Brasil em 2017 recuou de US$ O volume total de prêmios de seguros emitidos, con-
78 bilhões para US$ 76 bilhões. Para 2018, a estimativa dos tribuições de previdência e arrecadação com títulos de ca-
analistas caiu de US$ 80 bilhões para US$ 75 bilhões. pitalização somou R$ 14,8 bilhões entre janeiro e março,
Fonte: g1.com/ Acessado em 05/2017 superando em 17,2% o montante apurado em igual perío-
do de 2016.
Dólar opera em alta, aguardando a reforma da Previ- Por segmento, a área de seguros de vida, habitação e
dência rural, chamada pela BB Seguridade de SH1, teve lucro lí-
quido ajustado de R$ 391,5 milhões no primeiro trimestre,
Na sexta-feira (5), a moeda fechou em queda de 0,24%,
alta anual de 3,2%. Os prêmios emitidos somaram R$ 1,6
cotada a R$ 3,17. bilhão, um volume 9,1% maior sobre um ano atrás.
Já a divisão de automóvel e patrimônio (SH2) teve pre-
O dólar opera em alta ante o real nesta segunda-feira juízo líquido ajustado de R$ 4,6 milhões nos três primeiros
(8), com o mercado acompanhando a valorização da moe- meses de 2017, ante resultado positivo de R$ 50,5 milhões
da norte-americana no exterior em dia de fraqueza das no mesmo intervalo de 2016. Enquanto isso, os prêmios
commodities e em compasso de espera em torno da trami- emitidos aumentaram 1,7% na mesma comparação, para
tação da reforma da Previdência no Congresso, segundo a 2,2 R$ bilhões.
agência Reuters. Em previdência, o lucro líquido ajustado entre janei-
Às 9h07, a moeda norte-americana subia 0,53% vendi- ro e março cresceu 11,5% ano a ano, atingindo R$ 248,4
da a R$ 3,1917. Veja a cotação. milhões, beneficiado pelo aumento de receitas com taxas
de gestão em função da expansão do volume de recursos
Na terça-feira (9), os destaques ao projeto de reforma
administrados e da melhora no índice de eficiência.
da Previdência deverão ser votados em comissão especial O volume de contribuições de previdência subiu 26,7%
da Câmara, que na semana passada aprovou o texto-base. no primeiro trimestre, enquanto a captação líquida totali-
Em seguida, a proposta será encaminhada para tramitação zou R$ 4,5 bilhões, evolução de 19,9% ante um ano atrás.
em plenário. Fonte: g1.com/Acessado em 05/2017
O Banco Central não anunciou qualquer intervenção
para o mercado de câmbio para esta sessão, por ora. Em ju- Governo parte para vale-tudo para aprovar reforma da
nho, vencem US$ 4,4 bilhões em swap cambial tradicional, Previdência
equivalente à venda futura de dólares
Na sexta-feira (5), a moeda fechou em queda de 0,24%, O presidente Michel Temer se prepara para a principal
batalha na reforma da Previdência: a aprovação da propos-
cotada a R$ 3,17, com o mercado aliviado após os dados
ta no plenário da Câmara dos Deputados, com o apoio de
sobre emprego nos Estados Unidos não endossarem apos- pelo menos 308 deputados. O governo ainda não tem es-
tas de altas adicionais de juros no país, avalia a Reuters. ses votos, mas já traçou os movimentos que fará daqui para
No mês, o dólar tem alta de R$1,98%. No ano, a moeda a frente para conquistar a vantagem necessária. Para isso, o
acumula queda de 2,30%. Palácio do Planalto vai partir para o “vale-tudo” na articula-
Fonte: g1.com/Acessado em 05/2017 ção política, lançando mão de agrados à base aliada, além
de melhorar a estratégia de comunicação.

130
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

As concessões no texto, porém, estão no limite, na ava- No BTG, a plataforma digital começou a ser gestada
liação do governo. A ordem agora é barrar movimentos de em 2014 e passou a ser testada no ano passado por fun-
novas categorias que tentem obter direito a aposentadoria cionários e familiares do banco. No fim de 2016, foi aberto
especial, como os guardas municipais. A margem de nego- a todos, que podem investir em fundos de investimentos
ciação no plenário prevê a inclusão dos agentes penitenciá- de, no mínimo, R$ 3 mil, disse Marcelo Flora, sócio do BTG
rios na regra que permite idade mínima menor, de 55 anos, e responsável pelo projeto.
e a revisão das exigências para que servidores públicos que
ingressaram até 2003 se aposentem com salário integral. Os
A meta é abocanhar, em até cinco anos, 10% do mer-
dois pontos devem ser aprovados separadamente, em vota-
ção dos chamados destaques. cado de alta renda, que hoje soma cerca de R$ 700 bilhões.
O governo pretende ainda melhorar a comunicação com Se atingir o objetivo, o segmento será tão importante
os parlamentares e a população ao longo da semana, depois quanto sua área de gestão de fortunas, que hoje soma R$
de reconhecer que enfrenta problemas na área. Segundo um 80 bilhões. “A tecnologia permitiu ter grande escala e ofe-
interlocutor da área política, a previsão é veicular propagan- recer produtos que antes eram só para o segmento ‘wealth
das em defesa da reforma em cerca de 4 mil rádios de todo manegement’ (grandes fortunas)”, disse Flora.
o Brasil que possuem cadastro na Secretaria de Comunicação O Banco Original, da holding J&F (dona da Friboi),
da Presidência. Uma nova cartilha será distribuída aos deputa- também quer avançar nesse segmento e oferece opção de
dos, explicando as mudanças ponto a ponto. Para evitar con- investimentos a partir de R$ 1 mil. Segundo a executiva
fusão, o documento trará apenas as novas regras segundo o Sinara Polycarpo, do Original, o fato de não ter uma estru-
texto aprovado na comissão especial, sem incluir como é hoje. tura de agência, faz com que o banco, que já nasceu digital,
possa oferecer taxas administrativas mais atraentes.
Agrados Percebendo o movimento de instituições independen-
tes, os bancos de varejo têm revisto suas estratégias. Antes,
Integrantes da base também começam nesta semana
os gigantes só ofereciam seus próprios fundos. Agora, co-
a montar um mapa de votos. O trabalho será coordenado
meçam a se abrir para opções de terceiros.
pelo deputado Beto Mansur (PRB-SP) e pelo ministro-chefe
O Itaú, por exemplo, criou a plataforma digital Inves-
da Casa Civil, Eliseu Padilha. A ideia é identificar a posição
de cada deputado para saber com quem é preciso negociar. timento 360, destinada aos clientes Personnalité e que
O governo só vai colocar a reforma em votação no plenário oferece fundos de outras instituições. Essa plataforma foi
quando contabilizar mais de 320 votos favoráveis. lançada como uma campanha de marketing agressiva no
mercado.
Dificuldade Já o Bradesco afirma que passou a oferecer uma asses-
soria financeira “mais proativa”, com consultores de investi-
O Placar da Previdência feito pelo Grupo Estado já mostra mentos a todos os clientes de alta renda. Até 2016, era mais
que o desafio será grande. Até a noite de sexta-feira, havia restrito. Fundos de outras instituições, porém, são oferta-
232 votos “não”, contra 87 votos a favor. Com esse cenário, o dos a clientes do chamado private banking, que exige cifras
governo sabe que terá de atuar firme no campo político, com maiores. O diretor executivo do Bradesco, Cassiano Scar-
liberação de recursos de emendas parlamentares, nomeação pelli, afirma que remunerar bem é um desafio para o setor.
de cargos para aliados e atendimento a demandas que vão Em um evento, Sérgio Rial, presidente do Santander,
além da reforma, como o parcelamento de dívidas previden- afirmou que o setor está em uma transformação cultural
ciárias do setor rural. e a plataforma digital vem para eliminar a fricção huma-
As mudanças no texto feitas em plenário integram a ação na que ele considera desnecessária, mas não é apenas um
de convencimento dos deputados, que se viram pressionados “software”. Procurados, Itaú, Caixa e Banco do Brasil não
por categorias como juízes e procuradores por alterações na retornaram os pedidos de entrevista.
transição dos servidores. No dia da aprovação do texto na Para Luis Miguel Santacreu, da Austin Rating, a inves-
comissão especial, o relator, deputado Arthur Oliveira Maia tida dos grandes bancos nas plataformas abertas não se
(PPS-BA), disse que é preciso deixar os parlamentares “mais trata de uma reação ao avanço de corretoras, mas do en-
confortáveis” para votar. As informações são do jornal O Es- tendimento que a variedade de opções pode ser uma op-
tado de S. Paulo. ção rentável de negócio. Segundo uma fonte, no entanto, o
Fonte: atarde.uol.com.br/Acessado em 05/2017 trabalho dos bancos nessas plataformas traz risco de “cani-
balização”. Isso porque a oferta de fundos de terceiros, por
Mercado disputa clientes ‘premium’ de grandes bancos
vezes com menores taxas de administração, é uma ameaça
aos fundos próprios dos bancos.
O banco BTG Pactual, a exemplo das corretoras, também
entrou na disputa pelo cliente de alta renda que hoje está
na carteira “premium” das grandes instituições financeiras. O Diversificação de receita
cliente-alvo dos bancos são as pessoas físicas com renda su- Após 15 anos de trabalho com educação financeira
perior a R$ 10 mil. para tentar atrair investimentos de clientes, a corretora XP
começa a mudar de foco e avança em diferentes frentes
para diversificar sua receita.

131
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

A empresa espera licença do Banco Central para poder A empresa destacou que a campanha será voltada para
atuar como banco na área de empréstimos para pessoas fí- o público formador de opinião e vai ao ar no ano em que a
sicas. No segmento institucional, a corretora já participou, Vale completa 75 anos.
neste ano, da coordenação do IPO (oferta pública de ações, Fonte: g1.com.br/ Acessado em 05/2017
na sigla em inglês) da locadora de veículos Movida e começa
a trabalhar com emissões de títulos de dívida para empre- Conexão entre o Rio e o Ceará busca democratizar a dança
sas. Procurada pela reportagem, a companhia não quis falar
sobre o assunto. A democratização da dança e a troca de experiências
Fonte: atarde.com.br/acessado em 05/2017
entre profissionais de dois estados é o objetivo do projeto
de ocupação Conexão Dança Ceará/Rio de Janeiro, que até
Vale prevê economia de mais de US$ 70 milhões com
novo sistema até 2020 o próximo dia 14 toma conta do Teatro Cacilda Becker, es-
Desenvolvimento começou em 2014, e implantação paço da Fundação Nacional de Arte (Funarte) no bairro do
teve início em 2016. Catete, zona sul do Rio.
A programação, aberta na quarta-feira (3), conta com
A mineradora Vale prevê economizar mais de US$ 70 oficinas, palestras e debates gratuitos, além de espetácu-
milhões até 2020 com a implantação de um novo sistema los a preços populares, todos por iniciativa da Associação
de gestão das unidades de minério de ferro e manganês, Dança Cariri, criada em Juazeiro do Norte (CE), em parceria
chamado de Gestão da Produção Vale - Mineração (GPV-M), com a Funarte.
que substitui outros 17 sistemas que vinham sendo usados. No Cariri, região onde o grupo tem sede, o intercâmbio
A empresa afirmou nesta sexta-feira (5) que serão 38 já ocorre por meio da Semana Dança Cariri, que realizou
minas, plantas e entrepostos com o novo sistema, e que a
em abril sua oitava edição. É a primeira vez que o projeto
implantação já foi concluída em 20 unidades de Minas Ge-
chega ao Rio de Janeiro, reunindo companhias de dança e
rais, Maranhão e Pará.
bailarinos dos dois estados.
Com o início do desenvolvimento em 2014 - pelas áreas
de Tecnologia da Informação (TI) e Ferrosos em parceria com De acordo com o cearense Alysson Amâncio, idealiza-
a empresa Chemtech - o novo sistema da Vale começou a dor do projeto, o Rio mantém uma relação estreita com a
ser implantado em outubro de 2016. dança cearense desde os anos 70, quando os bailarinos e
O GPV-M faz parte da plataforma tecnológica única de coreógrafos Dennis Gray e Jane Blauth se mudaram da ca-
gestão da cadeia de valor do negócio de ferrosos, composta pital fluminense para Fortaleza e implantaram a Escola de
por mina, ferrovia e porto, e engloba todo o processo de Dança do Sesi. “Muitos bailarinos do Ceará mudaram para
produção, desde a mina e o beneficiamento até a expedição o Rio em busca de uma formação mais aprimorada, bem
do produto. como muitos professores e grupos cariocas estiveram pelo
A economia, segundo a Vale, vem da redução do custo Ceará para ministrar oficinas e realizar espetáculos”, conta.
de TI, com a manutenção e evolução de diferentes sistemas São três espetáculos cariocas – Delicadeza, da Cia da
e plataformas, e com a redução de impactos operacionais Ideia, Sobre cisnes, de Giselda Fernandes, e O céu de Bas-
causados por indisponibilidade do sistema. quiat, da Marcio Cunha Cia de Dança Contemporânea – e
Além disso, segundo a mineradora, “são esperados ga- dois cearenses – Mulata, da Cia Dita, e Manga com Leite, da
nhos relevantes com maior produtividade de mão de obra e Cia Alysson Amâncio – com apresentações de quarta-feira
redução de horas improdutivas dos ativos, suportados pela a domingo, sempre às 20h, até o final do evento.
melhor usabilidade do sistema e maior disponibilidade de Em O Céu de Basquiat, o intérprete e criador Márcio
informações para tomada de decisão”.
Cunha apresenta um espetáculo que trata de discrimina-
O GPV-M é capaz de processar 1,2 terabyte de informa-
ção, preconceito e sociedade, inspirado no universo insti-
ções em tempo real e atender a mil usuários simultâneos.
gante das obras do pintor neo-expressionista norte-ameri-
Desde que começou a ser implantado o sistema já foi utili-
zado por 1 mil usuários diferentes, com acessos simultâneos cano Jean Michel Basquiat (1960-1988).
de 150 usuários. Já o espetáculo Mulata marca as comemorações dos
Nova campanha 50 anos de vida e 40 de dança da bailarina cearense Wile-
O anúncio foi feito pela Vale nesta sexta-feira, juntamen- mara Barros e ganha narrativa com o corpo e a voz da artis-
te com o lançamento de uma campanha no ambiente digi- ta. Ainda na programação, serão realizadas oficinas de balé
tal, que tem como tema a inovação e a evolução da empresa. clássico e dinâmica muscular, aula de dança contemporâ-
O primeiro passo foi a publicação de um vídeo manifesto nea, e no último dia (14), às 16h, um debate sobre políticas
chamado “O caminho é evoluir”. e micropolíticas de circulação da dança no Brasil, com co-
“Na segunda etapa da campanha, os vídeos contarão reógrafos convidados.
histórias reais relacionadas ao papel da mineração na vida Fonte: JornaldoBrasil.com.br/ Acessado em 05/2017
e no dia a dia das pessoas e mostrarão inovações que só
foram possíveis na nossa sociedade graças à atividade de
mineração”, disse a Vale.

132
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

Aos 95 anos, príncipe Philip abandona vida pública Perder-se na rua pode ser um dos primeiros sinais do
Alzheimer, indicam cientistas
Aos 95 anos de idade, o príncipe Philip, marido da ra-
inha Elizabeth II da Inglaterra, abandonará a vida pública e RIO - Perder a habilidade de se localizar ou até mesmo
os compromissos oficiais da realeza, de acordo com anún- se desencontrar em um ambiente que seja familiar podem
cio feito nesta quinta-feira (4) pelo Palácio de Buckingham. ser sinais de que o mal Alzheimer poderá chegar na terceira
“O duque de Edimburgo decidiu não participar mais de idade. Estas resultados preliminares são fruto de um estudo
compromissos públicos a partir do outono [no Hemisfé- de longo prazo sobre a doença que está sendo desenvol-
rio Norte] deste ano”, informou um comunicado da família vido por pesquisadores da Universidade de Edimburgo, na
real. O príncipe cumprirá sua agenda até agosto e, depois, Escócia, e deverão ser publicados em breve.
não aceitará mais convites para eventos, em um espécie de
“aposentadoria”. Por sua vez, Elizabeth II, que está com 91 O estudo, que tem o nome “Projeto Prevenção” e conta
anos, manterá seus compromissos oficiais.
também com a parceria de cientistas ingleses, visa mapear
A notícia foi divulgada após uma reunião de emergên-
de que forma o Alzheimer age inicialmente no cérebro. Por
cia no Palácio de Buckingham convocada nesta manhã com
isso, adultos com menos de 60 anos estão sendo acompa-
todos os funcionários do local, o que gerou curiosidade
nhados — é somente depois das seis décadas de vida que
e especulações na imprensa. Conhecido por seu senso de
humor e por sua lealdade à rainha, Philip é o príncipe con- o sintomas mais consistentes da doença começam a apare-
sorte mais longevo da história britânica e vai completar 96 cer, quando o cérebro já está consideravelmente danificado
anos em junho. pelo Alzheimer.
O que o “Projeto Prevenção” vem indicando é que, para
além da memória — que leva a “fama” como a habilidade
Aos 95 anos de idade, o príncipe Philip, marido da ra- mais afetada pelo Alzheimer —, a capacidade de se locali-
inha Elizabeth II da Inglaterra, abandonará a vida pública e zar espacialmente é também um ponto importante para se
os compromissos oficiais da realeza, de acordo com anún- entender a doença.
cio feito nesta quinta-feira (4) pelo Palácio de Buckingham. “O Alzheimer é considerado uma doença da memória,
“O duque de Edimburgo decidiu não participar mais de mas nós agora vemos, a partir de trabalhos anteriores, que
compromissos públicos a partir do outono [no Hemisfé- a dificuldade que as pessoas estão realmente tendo — ao
rio Norte] deste ano”, informou um comunicado da família menos para começar — não tem a ver com o declínio da
real. O príncipe cumprirá sua agenda até agosto e, depois, memória, mas com a decadência da habilidade de visuali-
não aceitará mais convites para eventos, em um espécie de zar a localização das coisas e delas mesmas”, disse uma das
“aposentadoria”. Por sua vez, Elizabeth II, que está com 91 pesquisadoras do grupo, Karen Ritchie, ao jornal britânico
anos, manterá seus compromissos oficiais. “The Guardian”. “É a perda da habilidade de navegação”.
A notícia foi divulgada após uma reunião de emergên- O projeto, financiado pela Sociedade do Alzheimer, en-
cia no Palácio de Buckingham convocada nesta manhã com volve o estudo de dois grupos. O primeiro é de pessoas
todos os funcionários do local, o que gerou curiosidade com idades entre 41e 59 anos com parentes próximos que
e especulações na imprensa. Conhecido por seu senso de desenvolveram a doença e têm alto risco de serem afeta-
humor e por sua lealdade à rainha, Philip é o príncipe con- das por ela. O segundo consiste em indivíduos cujas vidas
sorte mais longevo da história britânica e vai completar 96 nunca foram afetadas pelo Alzheimer.
anos em junho. Fonte: oglobo.com/Acessado em 05/2017
Príncipe Philip da Grécia e da Dinamarca é bisneto da
rainha Victoria, assim como a própria Elizabeth II. Porém,
Novo encontro definirá metas contra mudanças climá-
em 1922, sua família teve de se exilar.
ticas
Ingressou na Marinha britânica, participou da Segun-
Países começarão a delinear operações para limitar o
da Guerra Mundial e se casou com Elizabeth em 1947. Em
1952, quando a esposa assumiu o trono, Philip deixou sua aquecimento global
carreira para apoiar a rainha.
Em vários momentos, Philip foi criticado por fazer co- As negociações sobre mudanças climáticas iniciadas
mentários inadequados e até racistas em compromissos em 2015, com o Acordo de Paris, serão retomadas esta
oficiais da monarca. segunda-feira em Bonn, na Alemanha. A reunião dos 196
Em 1986, na China, ele recomendou que estudantes países que participaram da elaboração do documento
não ficassem muito tempo no país para não terminarem ocorrerá em meio à ameaça do governo americano de
com “os olhos rasgados”. retirar-se do pacto internacional, cujo objetivo é limitar o
Em 2002, na Austrália, ele perguntou a um aborígene aquecimento do planeta.
se “ainda disparava feclas”. Gafe- A notícia da aposentado-
ria do príncipe gerou uma gafe no tabloide “The Sun”. Em Área de Mata Atlântica no Rio: bioma é um dos que
vez de informar o afastamento de Philip, o jornal noticiou pesquisa aponta que crescimento e absorção de carbono
sua morte. Aparentemente, o texto publicado era uma pá- vão aumentar junto com alta na temperatura e chuva
gina pronta sobre o falecimento do marido da rainha. Mudanças climáticas podem fomentar crescimento de
Fonte: Jornaldobrasil.com.br/Acessado em 05/2017 florestas tropicais

133
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

— Precisamos definir as operações do Acordo de Paris “Existem alguns pontos de estrangulamento. Interrup-
antes da próxima Conferência do Clima (COP-23), que será ções no atendimento a essa mulher vítima. A partir de uma
realizada no fim do ano — alerta David Levai, investigador unificação de procedimentos, poderemos ter uma continui-
do Instituto de Desenvolvimento Sustentável e de Relações dade salutar entre os diversos serviços aos quais a mulher
Internacionais. deve recorrer em caso de violência, tornando o atendimento
Na COP-21, em Paris, 195 países e a União Europeia con- mais acolhedor e mais eficaz”, explica a coordenadora Esta-
cordaram em limitar o aumento da temperatura global a, no dual de Políticas para as Mulheres da Seidh, Edivaneide Paes.
máximo, 2 graus Celsius. A Palestina anunciou a adesão ao O evento contará com a palestrante Jane Curbani, que vai
acordo depois. Para não ultrapassar esta marca, será neces- falar sobre “Redes Intersetoriais: encontros possíveis”, desta-
sária, entre outras medidas, uma radical transição energética, cando a importância do trabalho em rede para garantir a pro-
que substitua os combustíveis fósseis (carvão e petróleo) por teção e o acolhimento da mulher vítima de violência. Com a
fontes renováveis (biomassa, solar, eólica). juíza coordenadora da Mulher do Tribunal de Justiça de Sergi-
Fonte: oglobo.com/Acessado em 05/2017 pe, Isabela Sampaio, que vai apresentar o fluxograma da rede,
contendo os diversos caminhos que a mulher pode percorrer
VIOLÊNCIA a partir das diferentes portas de entrada, incluindo o acesso
através de denúncia pelo disque 180, 190 e 181. A delegada
Onda de violência em Florianópolis assusta moradores Thais Lemos Santiago também participa com a palestra “De-
Guerras de traficantes e tiroteios nas comunidades vira- nunciei: o que fazer?”, sobre o atendimento à mulher vítima
ram rotina em uma cidade conhecida pelas belezas naturais e de violência no DAGV.
pela tranquilidade. Fonte: g1.com/ Acessado em 2017
Uma onda de assassinatos tem assustado os moradores Governos e ONU denunciam ‘violência generalizada’
de Florianópolis. Guerras de traficantes e tiroteios nas comu- no Brasil
nidades viraram rotina em uma cidade conhecida pelas bele- Brasil anuncia meta de redução de 10% da população
zas naturais e pela tranquilidade carcerária, mas não diz como isso será feito; ongs acusam
Só nesta semana três homens morreram durante uma ‘demagogia’
troca de tiros entre facções criminosas no meio de uma co-
munidade. A violência no Brasil, nos centros urbanos, no campo
Esse clima de insegurança não é de hoje. No mês pas- ou dentro das prisões, é o maior desafio de direitos huma-
sado, um homem foi morto a tiros, à luz do dia, em frente nos do País e se transformou em um fenômeno generali-
ao Mercado Público, um dos lugares mais movimentados do zado. Esse foi o resultado da sabatina realizada pela ONU
Centro de Florianópolis. sobre a situação no Brasil e que levou governos de todo
O número de roubos também não para de crescer. De o mundo a soar o alerta para o aumento da violência nos
janeiro a março deste ano foram 868, quase 100 a mais que últimos anos no País e pedir medidas concretas para lidar
nos três primeiros meses do ano passado. com o fenômeno.
A polícia e especialistas em segurança não têm dúvidas Pressionado, o governo brasileiro sinalizou na quinta-
de que a escalada da violência em Santa Catarina está dire- feira, 4, em Genebra, que irá reduzir em 10% a população
tamente ligada à guerra entre grupos rivais, que disputam carcerária do País até 2019, cerca de 70 mil pessoas. Mas
pontos de venda de drogas. Na capital, só este ano, foram não explicou como isso ocorreria, levando ongs brasileiras
57 homicídios. O número é quase três vezes maior do que o e internacionais a acusar o governo de fazer “demagogia”.
registrado no mesmo período do ano passado. Durante o debate, países cobraram explicações e medi-
Fonte: g1.com/ Acessado em 05/2017 da por parte do Brasil para lidar com a violência da polícia,
intolerância, assassinatos, violência nas prisões, contra mu-
Enfrentamento à violência contra a mulher é tema de se- lheres, negros, crianças, gays, defensores de direitos huma-
minário nos e jornalistas, além de indígenas. Por todos critérios apre-
Evento é gratuito e as inscrições podem ser feitas no local. sentados, a taxa de violência hoje é mais alta que em 2012,
Ação ocorre em Aracaju (SE) e celebra o Dia Internacional ano da última vez que o Brasil foi examinado pela ONU.
da Mulher. Não por acaso, relatores das Nações Unidas alertam
que existe uma “violência generalizada” e respostas insu-
Nesta quarta-feira (8), Dia Internacional da Mulher, ocor- ficientes, levando o país a regredir na defesa dos direitos
re o 1º Seminário “Conhecendo a Rede de Enfrentamento à humanos. O governo brasileiro, porém, foi à sabatina sem
Violência contra a Mulher” a partir das 9h, no auditório do sequer um representante do Ministério da Justiça, o que
Palácio da Justiça Tobias Barreto de Menezes, localizado na deixou delegações e ativistas surpresos.
Praça Fausto Cardoso, 112, Centro de Aracaju (SE). O evento Durante o encontro oficial, pelo menos 17 recomen-
é gratuito e as inscrições podem ser feitas no local. dações sobre as condições do sistema prisional e acesso
O seminário é uma promoção da Secretaria de Estado da à Justiça foram feitas ao Brasil por países como Estados
Mulher, Inclusão e Assistência Social, do Trabalho e dos Direi- Unidos, Espanha, Itália, Tailândia, Japão, África do Sul, Sué-
tos Humanos (Seidh) em parceria com o Tribunal de Justiça de cia, Reino Unido e Dinamarca. Citando dados da ONU, a
Sergipe (TJ/SE) sendo uma ação de fortalecimento e integra- Alemanha chegou a indicar em documentos que existe um
ção das entidades que atuam no atendimento e proteção à “retrocesso” na garantia do direito à vida de determinados
mulher vítima de violência. grupos minoritários.

134
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

As autoridades da República Checa, da Namíbia e Sérvia Com a ONU usando dados do IPEA que apontam para
foram alguns dos que criticaram a superlotação das prisões. 5 mil mulheres assassinadas por ano no Brasil e 500 mil
Segundo os suecos, a população carcerária é o dobro da ca- tentativas de estupros, a violência contra a mulher também
pacidade hoje das detenções. A representante do governo chamou a atenção. O tema foi levantado por governos
americano, Michelle Roulbet, chegou a atacar a “corrupção como Rússia e Itália. A Espanha, por exemplo, pediu “medi-
nas prisões” e a necessidade de se buscar penas alternativas. das concretas”. Essa violência, segundo a Suécia, continua
A Casa Branca também recomendou o Brasil a acelerar julga-
na prisão, onde existe apenas uma ginecologista para cada
mentos, diante de 40% de seus detentos ainda aguardarem
900 detentas no País.
julgamento.
A Alemanha, por exemplo, recomendou que o gover- Críticas. O discurso brasileiro e a falta de medidas con-
no amplie o programa de audiências de custódia através da cretas foi duramente criticado pelas entidades da socieda-
aprovação do projeto de lei 554/11 e demandou que juízes e de civil. Renata Neder, da Anistia Internacional, alertou que,
promotores que atuam nessas audiências passem por treina- desde a última sabatina em 2012 na ONU, o que se viu foi
mento específico para combater a tortura. “um grande aumento da violência e violações de direitos
humanos no Brasil”. “Não foi um período de avanços. Mas
Polícia. Outra preocupação é a violência policial. Dados um período de retrocesso no campo e nas cidades”, disse.
da Anistia Internacional apontam que, entre a última sabatina “Os homicídios aumentaram, inclusive pela polícia. O Es-
do Brasil na ONU em 2012 e hoje, as mortes por policiais au- tado brasileiro não agiu. Não há um plano de redução de
mentaram de 419 casos no Rio de Janeiro para 920 em 2016. homicídios”, insistiu.
Por isso, o governo do Reino Unido quer que a polícia Para a entidade Conectas, o que o governo sugere não
brasileira seja treinada e que, em quatro anos, as mortes basta. “Essa promessa não dialoga com o tamanho dos de-
ocorridas pelas forças de ordem sejam reduzidas em 10%. safios do sistema prisional. O Brasil prende cerca de 40 mil
Mesmo a Guatemala, um dos países mais violentos do mun-
pessoas por ano, ou seja, quando a ‘meta’ anunciada for
do, usou seu discurso para dizer que estava “preocupada
com o aumento de violência no Brasil”. cumprida, o país já terá prendido outras 120 mil”, afirma
Em seu discurso, a ministra brasileira indicou que tem Camila Asano, coordenadora do programa de Política Ex-
“investido na qualificação das forças policiais, na garantia do terna da Conectas.
acesso à justiça, no fortalecimento das Defensorias Públicas, “Da maneira como foi apresentado, o compromisso é
e no combate à impunidade nos casos de uso excessivo da demagógico. Não há nada que indique que a política atual
força policial”. “Cabe ressaltar nesse sentido um conjunto de esteja mudando. Ao contrário: o Plano Nacional de Segu-
iniciativas, tanto do Ministério Público, quanto das Forças Po- rança apresentado pela ministra Valois como um ‘sucesso’
liciais no sentido de abolir os ‘autos de resistência’ e de con- apenas reforça a militarização que está na base do encarce-
duzir com prioridade inquéritos que envolvam mortes por ramento massivo de jovens pobres e negros das periferias”,
oposição à ação policial”, garantiu. completa.
Sobre as prisões, a ministra insistiu na meta de reduzir Fonte: estadão.com/Acessado em 05/2017
a população carcerária em 10% em dois anos. Mas apenas
indicou que “a situação do sistema penitenciário é reflexo
INTERNACIONAL
também dos desafios em matéria de segurança pública”. “É
Eleições na França: cinco razões para entender a vitória
preciso reduzir a superpopulação carcerária e humanizar os
presídios”, defendeu, sem explicar como isso seria feito. de Macron
“O Departamento Penitenciário Nacional tem promovido
a adoção de penas alternativas para crimes de baixa gravi- Há um ano, ele integrava o gabinete de um dos presi-
dade como forma de reverter a preocupante tendência de dentes mais impopulares da história recente do país.
aumento das taxas de encarceramento no país, além de for- Quem é Emmanuel Macron, o novo presidente eleito
ças tarefas, em coordenação com a Defensoria Pública, para da França
verificar a situação de presos que podem postular seu retor- Agora, aos 39 anos, venceu a eleição presidencial, der-
no ao convívio familiar”, disse. “Outro avanço positivo foi o rotando primeiramente a centro-esquerda e a centro-direi-
Programa de Promoção de Audiências de Custódia, que le- ta que predominavam no país, e depois a extrema direita.
vou, segundo estudos, a uma redução de 50% nas detenções Ele teve sorte
provisórias e que contribui para o combate às detenções ar- Não há dúvida: os ventos da sorte sopraram para Ma-
bitrárias”, completou.
cron e impulsionaram seu triunfo eleitoral.
Ativistas. Outro tema recorrente foi o ataque contra ati-
Um escândalo de nepotismo derrubou as chances do
vistas de direitos humanos, assunto tratado pelo governo
dos EUA, Holanda, Noruega, Eslováquia e outros. Os Esta- favorito no começo da disputa, o candidato da centro-di-
dos Unidos, por exemplo, pediram investigação dos casos reita François Fillon. E o candidato do Partido Socialista
de execuções extrajudiciais. A Eslováquia recomendou que a (centro-esquerda), Benoît Hamon, de ala mais à esquerda
polícia brasileira adote um código de conduta sobre uso da dentro do próprio partido, sofreu com o abandono de elei-
força em protestos, enquanto os relatores da ONU indicaram tores mais tradicionais, que buscaram outros nomes.
em seus informes que o número de assassinatos tem aumen- “Ele foi muito sortudo, porque encontrou uma situa-
tado. Em 2016, foram 61 casos e, para muitos governos, isso ção totalmente inesperada”, afirmou Marc-Olivier Padis, do
seria um sinal da impunidade. centro de estudos Terra Nova, de Paris.

135
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

Ele foi esperto a sorte não explica toda a história. Ma- O suposto plano, segundo um comunicado norte-co-
cron poderia ter tentado a candidatura dentro do Partido reano, seria executado por um homem identificado apenas
Socialista, mas percebeu, após anos de poder e popularida- como “Kim”, também norte-coreano, contratado pelos paí-
de baixa da gestão, que seria muito difícil fazer com que o ses “inimigos” para fazer o serviço.
público ouvisse a voz do partido. O ataque seria feito com “substâncias bioquímicas”,
“Ele conseguiu ver uma oportunidade onde ninguém mas foi “frustrado” antes de ser executado, diz a Coreia do
viu”, afirma Padis. Norte. Não se sabe, porém, o paradeiro do homem chama-
Macron analisou movimentos políticos que tinham sur- do “Kim”.
gido pela Europa - como o Podemos na Espanha e o Cinco Até agora, nem a CIA, agência de inteligência america-
Estrelas na Itália - e viu que não havia na França nenhuma na, nem a Coreia do Sul se pronunciaram sobre o assunto.
força semelhante com possibilidade de embaralhar a luta Mas analistas dizem que uma operação desse nível se-
pelo poder. ria muito difícil de planejar e executar, considerando-se o
Em abril de 2016, ele lançou o seu movimento En Mar-
forte esquema de segurança em torno do líder coreano.
che! (Em Marcha) e quatro meses depois deixou a gestão do
O plano
presidente François Hollande.
O governo norte-coreano não forneceu provas das
Ele tentou algo novo na França
acusações nem detalhes sobre como o plano teria sido
Após a fundação do En Marche, Macron seguiu as pistas
da campanha de 2008 do ex-presidente americano Barack descoberto.
Mas, em comunicado divulgado pelo Ministério de Se-
Obama e apostou na ajuda de voluntários, diz a jornalista
gurança de Estado, diz que a CIA e a inteligência da Coreia
freelancer baseada em Paris Emily Schultheis.
do Sul elaboraram um “plano perverso para ferir o líder su-
A primeira grande ação do movimento foi a Grande
premo (como os norte-coreanos se referem a Kim Jong-un)
Marche (Grande Marcha), quando mobilizou um crescente
da República Democrática da Coreia do Norte”.
contingente de ativistas inexperientes mas cheios de ener-
O texto alega que seria usada uma “bomba terrorista”
gia.
para alvejar o líder supremo durante um desfile militar ou
“A campanha usou algoritmos de uma empresa de con-
em um evento no Palácio Kumsusan do Sol, o mausoléu de
sultoria política com a qual trabalharam - e que já tinha sido Kim II-sung, o fundador do regime norte-coreano.
voluntária na campanha de Obama em 2008 - para identifi- Segundo o comunicado, “Kim” teria recebido a orien-
car distritos e setores mais representativos da França como tação de que o melhor método seria “usar substâncias
um todo”, afirma Schultheis. bioquímicas, incluindo substâncias radioativas e nanosubs-
“Eles enviaram pessoas para bater em 300 mil portas.” tâncias venenosas, cujos resultados apareceriam depois de
Esses voluntários não só entregaram panfletos - eles seis a 12 meses”.
conduziram 25 mil entrevistas em profundidade de cerca de “Apenas a CIA poderia fazer algo desse tipo”, diz o co-
15 minutos com eleitores de todo o país. Essas informações municado, acrescentando que a Coreia do Sul teria ajudado
foram incluídas em um amplo banco de dados que subsidiou a financiar o plano. Ainda de acordo com o ministério, o
a definição de prioridades e propostas para a campanha. homem norte-coreano contratado foi recrutado pelas inte-
“Foi uma enorme pesquisa qualitativa para medir a tem- ligências americana e sul-coreana enquanto trabalhava na
peratura do país, mas também possibilitou que as pessoas Rússia, em 2014.
logo tivessem contato com seu movimento. Foi um treina- O ministério diz que foram feitos dois pagamentos a
mento que preparou o terreno para o que ele fez neste ano”, “Kim”, de US$ 20 mil, e mais outros dois de US$ 100 mil
diz a jornalista. como “suborno” e para pagar os equipamentos. O comu-
Ele tinha uma mensagem positiva nicado também menciona outros US$ 50 mil, mas não fica
A imagem política de Macron parece cheia de contra- claro se foram adicionais ao que já havia sido combinado.
dições. Ao voltar para a Coreia do Norte, o homem teria sido
O “novato” que era protegido do presidente Hollande e instruído a providenciar informações detalhadas sobre um
depois seu ministro da Economia, o ex-alto funcionário de possível local onde o atentado poderia ser realizado.
banco liderando um movimento popular, o centrista com O ministério disse que as “organizações de inteligência
um programa radical de reforma do setor público. e de conspiração dos imperialistas dos EUA e seus fanto-
Era a munição perfeita para sua rival no segundo turno, ches” seriam “varridas”.
Marine Le Pen, que afirma que ele foi o candidato da elite, e Fonte: bbc.com/ Acessado em 05/2017
não o iniciante que dizia ser.
Fonte: bbc.com/Acessado em 05/2017 Policiais israelenses matam palestina que tentou ata-
cá-los com faca
Kim contra Kim? O que diz o ‘plano’ para matar líder que Jovem foi identificada como Fatima Hajiji, de 16 anos,
a Coreia do Norte alega ter descoberto originária de Qarawat Beni Zeid, ao norte de Ramallah.

A escalada nas tensões entre Estados Unidos e Coreia do Policiais israelenses mataram neste domingo (7) uma
Norte ganhou um novo capítulo nesta sexta-feira, quando o palestina de 16 anos que tentou atacá-los com uma faca
governo norte-coreano acusou os EUA e a Coreia do Sul de em uma entrada da Cidade Velha de Jerusalém, informou
orquestrarem um “plano” para matar o líder Kim Jong-un. a polícia de Israel.

136
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

A mulher “brandiu uma faca em direção aos policiais no “Se a eleição tivesse acontecido no dia 27 de outubro,
Portão de Damasco”, uma das principais entradas da Cidade eu teria sido presidente”, disse.
Velha, indicou a polícia em um comunicado. Em 7 de outubro, um mês antes das eleições, o site
Os policiais atiraram e a mulher morreu devido aos feri- WikiLeaks vazou mensagens do presidente da equipe de
mentos, acrescentou. campanha de Hillary, John Podesta, menos de uma hora
O ministro palestino da Saúde identificou a jovem como depois de a imprensa divulgar um vídeo de 2005, no qual
Fatima Hajiji, de 16 anos, originária de Qarawat Beni Zeid, ao Donald Trump falava de mulheres em um tom grosseiro.
norte de Ramallah. “Que coincidência”, ironizou Hillary Clinton, sugerindo
Onda de violência que Wikileaks e Rusia agiram para atenuar o impacto do
Desde 1º de outubro de 2015, uma onda de violência vídeo de Trump.
em Israel e nos Territórios Palestinos ocupados causou a Semanas depois, em 27 de outubro, James Comey
morte de 262 palestinos, 41 israelenses, dois americanos, um anunciou ao Congresso que agentes do FBI (a Polícia Fe-
jordaniano, um eritreu, um sudanês e um britânico, segundo deral americana) haviam encontrado novas mensagens
um balanço de AFP. que justificavam reabrir as investigações sobre os e-mails
A maioria dos palestinos mortos eram autores ou su- apagados pela democrata na época em que utilizava um
postos autores de ataques contra israelenses, cometidos servidor privado quando era secretária de Estado.
muitas vezes com armas brancas.
Fonte: g1.com/Acessado em 05/2017 O FBI não encontrou, porém, qualquer dado incrimina-
Trump sanciona lei sobre gastos e evita paralisação do tório nos e-mails de Hillary Clinton e arquivou as investiga-
governo dos EUA ções dois dias antes das eleições de 8 de novembro.
Lei prevê orçamento de US$ 1,2 trilhão, e ocorreu após “Cometi erros? Por Deus, sim”, acrescentou Hillary.
acordo que tirou do orçamento recursos para a construção “Mas a razão, pela qual perdemos, está nos acontecimen-
do muro na fronteira com o México. tos dos dez últimos dias” da campanha, disse a ex-candida-
ta, insistindo em que os votos antecipados e as pesquisas
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, san- lhe davam a vitória.
cionou nesta sexta-feira (5) uma lei de gastos de US$ 1,2 Seguindo as conclusões do governo de Barack Obama,
trilhão aprovada pelo Congresso, evitando uma paralisação
ela acusou o presidente russo, Vladimir Putin, de ter opera-
do governo que começaria à meia-noite.
do contra ela pelo ódio que sentia desde 2011. Na época,
A porta-voz da Casa Branca Sarah Huckabee Sanders
a então chefe da diplomacia americana criticou as eleições
confirmou durante briefing à imprensa que o presidente ha-
via sancionado a lei. na Rússia.
No início da semana, líderes do Congresso apresenta- “Quando se observa meu adversário e as declarações
ram um acordo para dotar o governo federal de um orça- de sua equipe de campanha, vê-se que estavam bastante
mento que mantém o plano da Casa Branca para a defesa, coordenados com os objetivos do líder, cujo nome não di-
mas não inclui no orçamento recursos para a construção do rei”, afirmou, referindo-se a Putin.
muro na fronteira com o México. “Tive três milhões de votos a mais do que meu adver-
O acordo alcançado é o resultado de semanas de ne- sário”, lembrou a democrata. Trump perdeu pelo sufrágio
gociações entre legisladores republicanos e democratas e popular, mas ganhou pelo voto indireto.
permite financiar o funcionamento federal pelo menos até “Sou outra vez uma cidadã ativa, membro da resistên-
30 de setembro sem o risco de uma paralisação do governo cia”, anunciou Hillary, somando-se ao movimento informal
por falta de orçamento. de resistência ao presidente republicano.
Fonte: g1.com/ Acessado em 05/2017 Fonte: g1.com/Acessado em 05/2017

Hillary Clinton diz que Rússia, WikiLeaks e FBI contribuí- Papa Francisco envergonhado com a “mãe de todas as
ram para sua derrota nas eleições bombas”
‘Razão pela qual perdemos está nos acontecimentos dos
10 últimos dias de campanha’, diz ex-candidata presidencial.
O Papa Francisco criticou a chamada “mãe de todas as
bombas”, o explosivo mais potente do arsenal não-nuclear
A ex-candidata presidencial Hillary Clinton afirmou nes-
ta terça-feira (2) que teria sido eleita presidente dos Esta- dos Estados Unidos, lançada no Afeganistão no último mês
dos Unidos, se não fosse pela intervenção do WikiLeaks e de abril. Um vídeo mostra poder de destruição do engenho
da Rússia e pelo diretor do FBI, James Comey, nas últimas que matou 36 combatentes do grupo Estado Islâmico. A
semanas da campanha. declaração foi feita, sábado, num encontro com jovens no
“Estava no caminho para a vitória até que a carta de Jim Vaticano, durante o qual o líder da Igreja Católica respon-
Comey de 28 de outubro e o WikiLeaks russo geraram dúvi- deu a perguntas sobre diversos assuntos.
das na cabeça das pessoas que se inclinavam a meu favor e “Fiquei envergonhado pelo nome de uma bomba, cha-
que acabaram ficando com medo”, declarou a ex-candidata mada “mãe de todas as bombas”. Mas a mãe dá a vida, e
democrata à Casa Branca em Nova York, ao ser entrevistada essa dá a morte, e chamamos mãe a esse artefato, o que
por um jornalista durante uma atividade da ONG Women for está a acontecer?
Women International.

137
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

Em momento algum o Sumo Pontífice mencionou os Viu o escândalo bater-lhe à porta quando escreveu que,
EUA, mas referia-se ao armamento conhecido pelo acrô- em 2005, teria dado um pó afrodisíaco a um amigo que lhe
nimo “Maob”, que significa, em inglês, “Munição Maciça terá confessado a intenção de violar uma colega.
de Destruição Aérea” ou “Mãe de Todas as Bombas”. O Afirmações como “os homens têm trabalho para ho-
explosivo foi lançado pela primeira vez em abril passado, mens e as mulheres têm o trabalho próprio de mulheres” ou
na província de Nangarhar, no leste do Afeganistão, para “lavar pratos é trabalho de mulheres” não fizeram crescer a
atingir alvos do grupo terrorista Estado Islâmico (EI). Se- popularidade do candidato.
gundo o governo afegão, cerca de 80 jihadistas morreram Fonte: euronews.com/Acessado em 05/2017
no ataque.
Este poderá ser um dos temas a ser invocados durante Oposição venezuelana diz que não participará de Cons-
o encontro, no próximo dia 24 de maio, entre o Papa e tituinte convocada por Maduro
o presidente Donald Trump recebido no Vaticano, no que Poder eleitoral deu nesta semana aval para uma Assem-
será o primeiro encontro entre os dois líderes. bleia Constituinte, em meio a uma onda de protestos co-
Fonte: euronews.com/Acessado em 05/2017 mandados pela oposição.

Coreia do Sul vota em eleições presidenciais antecipadas A oposição venezuelana disse neste domingo (07) que
não participará da Assembleia Nacional Constituinte con-
Depois do escândalo que resultou na destituição de Park vocada pelo presidente Nicolás Maduro, que buscará rees-
Geun-hye enquanto Presidente da República da Coreia – a crever a Constituição, por considerar que ela se trata de
primeira a figurar na história do país – a votação para eleger uma “fraude”.
um novo Presidente está em jogo na terça feira, 9 de maio. O poder eleitoral venezuelano deu nesta semana aval
Os 3 principais candidatos para que Maduro convoque uma Assembleia Constituinte,
Moon Jae-in pode ser o primeiro Presidente liberal da em meio a uma onda de protestos comandados pela opo-
Coreia do Sul em 9 anos, se vencer as eleições presidenciais sição nos quais já morreram 37 pessoas em pouco mais de
antecipadas na Coreia do Sul, esta terça feira. Tudo aponta um mês.
para que isso aconteça. “Essa não é uma Constituinte, nós não poderíamos
Apresenta-se pelo Partido Democrático, de oposição, e participar de um processo absolutamente fraudulento, não
as últimas sondagens davam-lhe 40% dos votos. Concorreu vamos fazer com que os venezuelanos sejam parte de uma
nas presidenciais de 2012, mas Geun-hye obteve a vitória. fraude”, disse o líder da coalizão de oposição Mesa da Uni-
Moon Jae-in quer mais bombeiros, professores e polícia, dade Democrática (MUD), Henrique Capriles.
mas o objectivo principal é proteger a frágil recuperação da MAIS: Mais um ferido em protesto morre na Venezuela;
quarta maior economia asiática. Tem um conservador ao seu número de mortos sobe para 37
lado para a área de economia, Kim Kwang-doo, que os me- “Esses personagens que não querem se submeter ao
dia apontam como provável primeiro-ministro. escrutínio popular inventaram um processo que não está
Defende negociações com a Coreia do Norte em vez de na Constituição, porque eleições setoriais não existem”,
persistir nas agressões mútuas e já apelou a alguma conten- adicionou Capriles.
ção por parte de Donald Trump quanto a Pyongyang, mani- O governo socialista de Maduro insiste que a Consti-
festando-se contra um primeiro ataque americano, para além tuinte buscará criar “condições” de normalidade que per-
de exprimir preocupação quanto ao massivo sistema defensi- mitam realizar processos eleitorais normais que estão em
vo Thaad, dos Estados Unidos, instalado no sul do país. andamento, como as eleições presidenciais de 2018.
É um defensor dos direitos humanos. Mas a oposição sustenta que a intenção do processo é
Já Ahn Cheol-so, ex líder do Partido do Povo, é visto adiar duas eleições regionais previstas para este ano e as
como o único candidato a poder fazer frente a Moon Jae-in, presidenciais, no que chamam de um auto-golpe de Estado
mas as sondagens davam-lhe apenas 20% dos votos. Por ve- promovido por Maduro para perpetuar-se no poder.
zes comparado a Bernie Sanders, quer reformar educação, Fonte: g1.com/Acessado em 05/2017
saúde e economia e desnuclearizar a península coreana,
para além de querer reduzir o poderio económico controla- MEIO-AMBIENTE
do por algumas famílias sul-coreanas.
Nas presidenciais de 2012 desistiu da candidatura a fa- Com 90 milhões de anos, raro fóssil de réptil marinho é
vor de Moon para poder consolidar votos contra Park Geun encontrado na França
-hye, objetivo gorado. Ossos fossilizados pertencem à família dos plesiossau-
Hong Joon-pyo, do Partido Liberdade da Coreia, emer- ros e foram descobertos em 2013; eles foram apresentados
gido do Partido conservador depois do escândalo que des-
nesta quinta no Museu de Ciências Naturais de Angers.
tituiu a presidente Park Geun-hye, é leal à ex-Presidente que
vai ser agora julgada por suborno, coerção e abuso de poder
O fóssil de um grande réptil marinho de 90 milhões de
entre outras acusações.
anos, encontrado em uma caverna no centro da França, foi
Segundo as projeções, encontra-se ombro a ombro com
apresentado como uma “rara descoberta” nesta quinta-fei-
o segundo candidato e cerca de 20% de intenção de voto.
ra (4) no Museu de Ciências Naturais de Angers.

138
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

Os ossos fossilizados desse predador pertencem à fa- Além disso, o Ministério do Meio Ambiente também in-
mília dos plesiossauros, grandes répteis que viveram na formou que “nenhuma dessas tarefas [que estão previstas no
época dos dinossauros nos mares e oceanos, e foram des- novo edital] se sobrepõe aos trabalhos realizados pelo Inpe,
cobertos em 2013, conta Benoît Mellier, responsável pelo que continuará a produzir os dados oficiais do desmatamen-
acervo do museu de Angers. to da Amazônia e outros relacionados às suas competências
Os fósseis foram extraídos e levados para o museu em institucionais.”
fevereiro, e serão submetidos a um estudo paleontológico Dependência de serviço terceirizado
aprofundado antes de serem expostos ao público. Tasso Azevedo, coordenador do Sistema de Estimativa de
Emissões de Gases de Efeito Estufa do Observatório do Clima
Foram encontrados um fêmur de 51 cm de extensão,
(SEEG), observa que a contratação de uma empresa para rea-
“peças de um punho ou de um pé”, uma série de “peque-
lizar as atividades descritas no edital do MMA pode tornar o
nos ossos da mão”, e uma mandíbula completa de um me- ministério dependente de um serviço terceirizado muito caro
tro de comprimento. e de formato antiquado.
A descoberta desse exemplar, que provavelmente me- “Tecnologias novas permitem gerar plataformas que usam
dia de cinco a seis metros de comprimento, representa algo inteligência artificial e algoritimos de classificação automática
“excepcional, e será interessante para todos os pesquisado- que permitem fazer interpretação de imagens de satélite em
res que trabalham com répteis marinhos no mundo”, disse escala maior, mais rápida e barata”, diz Azevedo. Investir em
Peggy Vincent, paleontóloga do Museu de História Natural uma plataforma do tipo seria uma alternativa mais razoável ao
de Paris. formato previsto pelo MMA, segundo o pesquisador, já que
“Esse animal foi achado em níveis que datam de quase permitiria que analistas entrassem na plataforma e gerassem
90 milhões de anos atrás. Não sabíamos nada sobre o gru- as informações no momento em que necessitassem, em vez
po dos plesiossauros dessa idade em território europeu, a de depender de análises geradas por uma empresa.
não ser pequenos elementos isolados, mas nada tão signi- “É importante lembrar que temos no Brasil hoje, já im-
ficativo e completo”, complementou. plantadas, as melhores tecnologias de monitoramento de co-
Fósseis de répteis marinhos dessa idade já tinham sido bertura e uso do solo no mundo. O Brasil é referência por tra-
encontrados no norte da África e nos Estados Unidos. “Sa- balhos feitos tanto por órgãos públicos, como o Inpe, quanto
ber que existiam na Europa muda muitas coisas. (...) Não pela sociedade civil e instituições de pesquisa. Com tantas
coisas disponíveis, seria importante investir nessas iniciativas”,
é certo, mas é provável que seja uma nova espécie. Se for
conclui Azevedo.
uma espécie que já existe, significa que houve imigrações”,
Fonte: g1.com/Acessado em 05/2017
concluiu Vincent.
Fonte: g1.com/Acessado em 05/2017 Levantamento mostra que Brasil perdeu 20% dos man-
guezais em 17 anos
Pregão para contratar monitoramento por satélite na Observatório do Clima divulgou mapeamento dos bio-
Amazônia e outras regiões é suspenso mas brasileiros feito em parceria com outras entidades. 70 a
Licitação é alvo de polêmica porque edital previa moni- 80% dos peixes, crustáceos e moluscos que a população con-
toramento da região amazônica, que já é monitorada pelo some precisam do mangue em alguma fase da vida.
Inpe. Novas datas serão anunciadas em breve.
O Brasil perdeu 20% de sua área de manguezais em 17
Um pregão eletrônico do Ministério do Meio Ambiente anos, em parte destruídos pela expansão urbana. O dado faz
(MMA) para contratar serviços de monitoramento ambien- parte da segunda coleção de mapas do Projeto de Mapea-
tal por imagens de satélite foi suspenso nesta quinta-feira mento Anual da Cobertura e Uso do Solo no Brasil (MapBio-
(4), conforme aviso da pregoeira Simone Marcia Borges mas), feito pelo Observatório do Clima em colaboração com
publicado no site da pasta. O documento diz que haverá 18 instituições.
ajustes no termo de referência da licitação e que em breve Universidades, organizações não governamentais e em-
serão anunciadas novas datas para sua realização. presas de tecnologia contribuíram para o trabalho, considera-
do o maior levantamento sobre a cobertura vegetal do Brasil.
O processo de R$ 78,5 milhões estava gerando polê-
A mais recente radiografia dos biomas brasileiros comparou
mica porque, entre os diversos serviços previstos no edital
imagens de satélite nos últimos 17 anos.
da licitação, há o monitoramento ambiental na região da A pesquisa mostra que, no Paraná, os manguezais dimi-
Amazônia, algo que o Instituto Nacional de Pesquisas Es- nuíram 23%. Na Bahia, a redução foi 21%, enquanto em Ala-
paciais (Inpe), ligado ao Ministério de Ciência, Tecnologia goas foi de 14%. A redução da área de mangue é ligada a uma
e Inovações e Comunicações (MCTIC), já faz há mais de 20 série de fatores, mas a expansão urbana se destaca.
anos por meio dos projetos Prodes e Deter, que vigiam o “Principalmente ocupação imobiliária, tanto causada pelo
desmatamento na região. O ministério, no entanto, afirma crescimento do turismo, a instalação de novos resorts, hotéis,
que os novos serviços contratados serão complementares pousadas como também pela ocupação também das comu-
aos do Inpe. nidades. Algumas comunidades vulneráveis acabam sendo
Em nota, o MMA disse que “pretende aumentar a efi- pressionadas e ocupando as margens dos manguezais, cons-
ciência e capacidade da gestão ambiental, auxiliando a exe- truindo suas casas com a madeira do mangue, inclusive”, ex-
cução e avaliação das políticas públicas ambientais, com plica José Ulisses Santos, analista ambiental e chefe substituto
maior transparência e padronização dos procedimentos”. da área de Proteção Ambiental Costa dos Corais AL/PE.

139
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

O mangue é o berçário da inúmeras espécies marinhas: Desde então ele afirmou estar aberto a continuar no
70 a 80% dos peixes, crustáceos e moluscos que a popula- acordo se Washington tiver termos melhores, e dezenas de
ção consome precisam do bioma em alguma fase da vida. grandes empresas norte-americanas e vários parlamentares
“Tem diversos peixes que utilizam a área de reprodução e de- de seu partido o exortaram a manter a filiação como forma
pois voltam pro mar, espécies economicamente importantes. de proteger os interesses industriais de seu país no exterior.
Então você acaba afetando não só a biodiversidade como a Trump, que completa 100 dias no cargo no sábado, dis-
própria economia”, explica Fernanda Niemeyer, veterinária do se à Reuters em uma entrevista que irá anunciar sua deci-
Centro de Pesquisas do Nordeste (Cepene). são “em cerca de duas semanas”, mas reclamou que China,
Sem o mangue, várias espécies correm o risco de desa- Índia, Rússia e outros países estão pagando muito pouco
parecer do planeta. Entre elas está o peixe-boi, que frequenta para ajudar nações mais pobres a combaterem a mudança
o mangue pra procriar, se alimentar e beber água doce. O climática nos termos do Fundo Clima Verde.
peixe-boi é o mamífero marinho mais ameaçado de extinção “Não é uma situação justa porque eles não estão pa-
do país e o manguezal é o seu principal refúgio. gando virtualmente nada, e nós estamos pagando quanti-
“Se não forem tomadas medidas urgentes, essas espécies dades enormes de dinheiro.”
que vivem diretamente em volta do mangue elas podem ser Instado a dar uma dica sobre sua decisão, ele respon-
totalmente afetadas, inclusive vir a se extinguir algumas espé- deu: “Posso dizer isto: queremos ser tratados justamente.”
cies ou acabar, ou quase acabar com outras que possam estar Mais cedo, uma fonte do governo disse à Reuters que
dependendo deste ambiente”, alerta a veterinária. autoridades da gestão Trump provavelmente irão se reunir
As fazendas de produção de camarão, a construção de em maio para decidir se mantêm os EUA no acordo climá-
estradas e o assoreamento dos estuários - braços de mar que tico. Eles já fizeram uma reunião inicial na quinta-feira na
encontram os rios - também estão devastando os mangue- Casa Branca.
zais. O grupo de conselheiros, que inclui o secretário de Es-
A regeneração do mangue pode demorar décadas, aler- tado, Rex Tillerson, o secretário de Energia, Rick Perry, e o
tam os especialistas. “São árvores jovens, não muito velhas, conselheiro de Segurança Nacional, H.R. McMaster, deve
duram até 60, 70 anos, mas em 30 anos, até no máximo 20, 30
tomar uma decisão antes da cúpula do G7 em 26 de maio,
anos a gente pode ter uma floresta de mangue com a sua fau-
segundo a fonte.
na associada”, aponta o oceanógrafo e biólogo da Universida-
Tillerson, ex-diretor da petroleira Exxon Mobil Corp, e
de de Pernambuco (UPE), professor Clemente Coelho Junior.
Perry disseram que os EUA deveriam permanecer no acor-
Esperança
do, e McMaster compartilha essa opinião, disse uma fonte
Por outro lado, a volta gradual da floresta atlântica é um
de fora do governo.
exemplo de que é possível reverter o processo. O bioma, que
Entre os opositores do pacto estão o diretor da Agência
teve sua cobertura original reduzida a 12,5%, cresceu de 276
mil quilômetros quadrados em 2001 para 301 mil quilômetros de Proteção Ambiental, Scott Pruitt –ex-procurador-geral
quadrados em 2015. de Oklahoma, Estado produtor de petróleo–, e o estrategis-
No Paraná, houve um crescimento de 5 mil quilômetros ta-chefe da Casa Branca, Steve Bannon.
quadrados de mata, principalmente por recuperação de áreas Fonte:g1.com/Acessado em 05/2017
de preservação permanente, como margens de rios. Em re-
lação à área total, o Rio de Janeiro teve 17,8% de florestas a CIÊNCIAS E TECNOLOGIA
mais em 2015 em comparação com 2001, um crescimento de
10 mil para 12 mil quilômetros quadrados. Um adolescente mexicano diz ter criado um sutiã que
Fonte: g1.com/Acessado em 05/2017 consegue, em até 90 minutos, detectar o câncer de mama
em mulheres.
Trump diz que EUA querem tratamento justo em acordo Com um protótipo do sutiã Eva, Julian Rios Cantu, de 18
climático anos, e três amigos, arrecadaram dinheiro para dar começar
Presidente americano disse que vai anunciar decisão os testes e ganharam o primeiro prêmio do Global Student
sobre permanência do EUA no pacto em duas semanas. Em Entrepreneur Awards - uma premiação internacional para
campanha, Trump prometeu que iria retirar os EUA do pacto universitários empreendedores.
de Paris. A empresa dos mexicanos, Higia Technologies, ganhou
US$ 20 mil para desenvolver comercialmente o produto.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, quei- Mas como um sutiã que detecta câncer funcionaria?
xou-se na quinta-feira (27) de que seu país está recebendo Tumores malignos podem aumentar a temperatura da
um tratamento injusto no Acordo Climático de Paris e disse à pele por causa de um aumento no fluxo de sangue para a
Reuters que vai anunciar uma decisão em cerca de duas se- região onde estão. Biossensores colocados no sutiã Eva to-
manas sobre a permanência dos EUA no pacto. mariam medidas de temperatura periódicas da mulher que
O republicano Trump, eleito em novembro, prometeu du- seriam registradas em um aplicativo de celular.
rante a campanha que iria retirar os EUA do pacto de Paris até O aplicativo, por sua vez, alerta a usuária caso os sen-
100 dias depois de assumir a Presidência, parte de um plano sores detectem mudanças de temperatura que possam ser
mais amplo para revogar as proteções ambientais do governo preocupantes.
de seu antecessor, Barack Obama, que ele disse estarem pre- Seria necessário usar o sutiã por 60 a 90 minutos para
judicando a economia. ter medições precisas.

140
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

Ressalvas A instituição indicou em um artigo publicado em seu


Julian afirmou que a ideia de colocar os sensores den- site que os cientistas encontraram em amostras de sangue
tro de um sutiã pode melhorar a precisão das medições, já coletadas de pessoas do México e do Brasil anticorpos em
que os seios da mulher estariam na mesma posição a cada formas de proteínas produzidas pelo sistema imunológico
vez que sua temperatura for medida. que previnem que o vírus se desenvolva.
Mas, como o protótipo ainda não foi testado, especia- Esses anticorpos, segundo a pesquisa, teriam sido ge-
listas têm ressalvas em relação a sua edicácia para detectar rados inicialmente em uma resposta a uma infecção ante-
o câncer. rior do vírus, indica o texto.
“Sabemos que tumores costumam ter um sistema “Em futuro próximo, esses anticorpos poderiam ser
anormal de vasos sanguíneos, mas também sabemos que o muito úteis. Poderíamos, por exemplo, administrá-los de
aumento do fluxo sanguíneo para uma região não é neces- forma segura para prevenir o zika em mulheres grávidas ou
sariamente um indicativo confiável de câncer”, disse à BBC em outras pessoas sob risco de contrair a doença”, explicou
Anna Perman, do instituto de pesquisa Cancer Research UK. o pesquisador Davide Robbiani.
“É ótimo ver jovens como Julian se envolvendo com Além disso, a equipe de cientistas descobriu que os
ciência e tendo ideias que podem ajudar no diagnóstico, anticorpos podem ser usados na produção de uma vacina.
mas uma parte importante da ciência são os testes rigoro- Os pesquisadores da Universidade Rockefeller tiveram
sos para garantir que uma inovação realmente beneficiará acesso a amostras de sangue de mais de 400 pessoas atra-
os pacientes.” vés de colaboradores no Brasil e no México.
Julian quase perdeu a mãe para o câncer de mama Uma análise profunda mostrou que cinco delas conti-
quando tinha 13 anos de idade, porque a doença foi diag- nham anticorpos praticamente idênticos e que sugeriram
nosticada tardiamente. que essas moléculas eram especialmente efetivas na luta
O médico que a acompanhava disse que os caroços contra o vírus da zika.
encontrados em seu seio não eram malignos, mas ele es- Os anticorpos, batizados como Z004, foram inseridos
tava errado. Seis meses depois, uma segunda mamografia em ratos de laboratório que desenvolveram uma proteção
contra uma infecção séria da doença. Eles também parece-
revelou o câncer. A mãe de Julian teve ambos os seios re-
ram ser efetivos na luta contra a dengue, um vírus muito
movidos.
parecido com o da zika.
Depois de pesquisar sobre a doença e seus atuais mé-
Fonte: g1.com/Acessado em 05/2017
todos de diagnósticos, o adolescente teve a ideia, registrou
a patente e pediu a ajuda de amigos para administrar a em-
Mar do Caribe invadiu Amazônia duas vezes há mi-
presa. Eles esperam poder vender o sutiã no fim de 2018.
lhões de anos
Sinais
Estudo foi publicado na revista “Science Advances”
De acordo com Perman, detectar o câncer de mama
em seu estágio inicial pode aumentar muito as chances de Mar do Caribe invadiu Amazônia duas vezes há mi-
sobreviver à doença. lhões de anos
“Nosso conselho é que a pessoa conheça seu corpo, Estudo foi publicado na revista “Science Advances”
saiba o que é normal para ela e, se vir algo incomum, pro- Agência ANSA
cure um clínico geral”, diz. Partes da Floresta Amazônica na Colômbia e no Bra-
Alguns dos primeiros sinais de câncer de mama são: sil foram inundadas pela água do Mar do Caribe em dois
- Caroços na área do peito ou das axilas; momentos no período Mioceno, cerca de 23 milhões de
- Mudanças no tamanho, no formato ou na sensação anos atrás, revelou um estudo publicado pela revista Scien-
do seio; ce Advances.
- Vazamento de fluido pelo bico do seio, que não seja De acordo com a pesquisa divulgada nesta quarta-feira
leite materno. (3), a descoberta foi possível graças a 933 tipos de evidên-
Fonte:g1.com/Acessado em 05/2017 cias que incluem um minúsculo dente de tubarão, partes
de camarões, pólen e diversos organismos marinhos.
Universidade dos EUA descobre anticorpo que pode O estudo foi realizado por cientistas do Instituto de
virar vacina contra a zika Pesquisa Tropical Smithsonian, com sede no Panamá, e li-
Cientistas usaram amostras de sangue de mais de 400 derado pelo geólogo colombiano Carlos Jaramillo. O grupo
pessoas do Brasil e do México. Cinco delas continham an- examinou sedimentos da bacia Llanos, no leste da Colôm-
ticorpos praticamente idênticos gerados em um contato bia, e a bacia do Amazonas e Solimões, no Noroeste do
anterior com vírus da zika. Brasil.
De acordo com o pesquisador, as inundações foram
Uma equipe de pesquisadores da Universidade Rocke- “rápidas”, com duração de menos de um milhão de anos
feller de Nova York afirmou ter identificado uma possível cada uma. A questão é um tema de debate entre os cien-
nova forma de lutar contra o vírus da zika e que também tistas por se tratar de um terreno que continua sendo difícil
pode resultar no desenvolvimento de uma vacina contra a de estudar, e os dados consistentes são poucos.
doença. Fonte: jb.com.br/Acessado em 05/2017

141
HISTÓRIA POLÍTICA E ECONÔMICA DE MATO GROSSO

Hackers usam e-mails falsos para acessar dados de


usuários do Google ANOTAÇÕES
Empresa informou que já trabalha na resolução do pro-
blema. Criminosos enviavam links do Google Docs para ter ___________________________________________________
acesso a contas de usuários.
Google alertou seus usuários para que tomem cuidado ___________________________________________________
com e-mails de contatos conhecidos pedindo-lhes para cli-
car em um link do Google Docs, após um grande número ___________________________________________________
de pessoas reclamar nas redes sociais de terem suas contas ___________________________________________________
hackeadas.
A empresa informou nesta quarta-feira (3) que tomou ___________________________________________________
medidas para proteger os usuários dos ataques: desativou
contas ofensivas e removeu páginas mal-intencionadas. ___________________________________________________
“Nossa equipe está trabalhando para evitar que este
tipo de fraude aconteça novamente”, informou a empresa ___________________________________________________
em um e-mail.
___________________________________________________
Segundo especialistas em segurança que analisaram
o esquema, usuários recebem por e-mail um pedido para ___________________________________________________
clicar em um link para visualizar um documento do Google
Docs e, sem saber, fornecem aos hackers acesso ao conteú- ___________________________________________________
do de suas contas do Google, incluindo o correio de e-mail,
contatos e documentos online. ___________________________________________________
“Esta é uma situação muito séria para quem está infec-
___________________________________________________
tado porque as vítimas têm suas contas controladas por
alguém mal-intencionado”, disse Justin Cappos, professor ___________________________________________________
de segurança cibernética da Tandon School of Engineering
da Universidade de Nova York. ___________________________________________________
Cappos afirmou que recebeu sete desses e-mails mali-
ciosos em três horas na tarde de quarta-feira, uma indica- ___________________________________________________
ção de que os hackers estavam usando um sistema auto-
___________________________________________________
matizado para realizar os ataques.
Ele disse não saber o objetivo do golpe, mas ressaltou ___________________________________________________
que as contas comprometidas podem ser usadas para re-
definir senhas de contas de bancos online ou dar acesso a ___________________________________________________
informações financeiras.
Fonte: g1.com/Acessado em 05/2017 ___________________________________________________

___________________________________________________
Questões
___________________________________________________
01) Sobre as investigações da chamada “Lava-Jato”,
analise as seguintes afirmativas. ___________________________________________________

I. O promotor público Sergio Moro é um dos principais ___________________________________________________


agentes no que se refere ao andamento das investigações,
o que fez com que ele ficasse conhecido nacionalmente. ___________________________________________________
II. Até o momento, diversos políticos e representantes ___________________________________________________
de empreiteiras foram denunciados, sendo que alguns já
foram presos. ___________________________________________________
III. A denominação dada à operação é proveniente de
uma investigação semelhante ocorrida em postos de gaso- ___________________________________________________
lina nos Estados Unidos nos anos 90.
Está correto o que se afirma em: ___________________________________________________
a) I, somente. ___________________________________________________
b) I e II, somente.
c) I e III, somente. ___________________________________________________
d) II, somente.
e) todas. ___________________________________________________

Resposta : D ___________________________________________________

142
GEOGRAFIA DE MATO GROSSO

1. Mato Grosso e a região Centro-Oeste,....................................................................................................................................................... 01


2. Geopolítica de Mato Grosso,........................................................................................................................................................................... 10
3. Ocupação do território,..................................................................................................................................................................................... 23
4. Aspectos físicos e domínios naturais do espaço mato-grossense................................................................................................... 29
5. Aspectos político-administrativos,................................................................................................................................................................ 32
6. Aspectos socioeconômicos de Mato Grosso,........................................................................................................................................... 34
7. Formação étnica,.................................................................................................................................................................................................. 37
8. Programas governamentais e fronteira agrícola mato-grossense,.................................................................................................. 41
9. A economia do Estado no contexto nacional,.......................................................................................................................................... 44
10. A urbanização do Estado................................................................................................................................................................................ 47
GEOGRAFIA DE MATO GROSSO

- Esperança de vida 73,7 anos (10º)


1 MATO GROSSO E A REGIÃO - Mortalidade infantil 19,2‰ nasc. (12º)
CENTRO-OESTE. - Analfabetismo 10,2% (15º)
- IDH (2005) 0,796 (11º) – médio

Governador: Silval da Cunha Barbosa (2.011/2.015)


O ESTADO DE MATO GROSSO
Deputados Federais (8):

1 - WELLINGTON FAGUNDES
2 - HOMERO PEREIRA
3 - VALTENIR
4 - CARLOS BEZERRA
5 - SAGUAS
6 - JULIO CAMPOS
7 - NILSON LEITÃO
8 - ELIENE LIMA

Deputados Estaduais: 24

RIVA PP 93.594
SÉRGIO RICARDO PR 87.407
SEBASTIÃO REZENDE PR 51.552
MAURO SAVI PR 47.663
WAGNER RAMOS PR 32.270
ROMOALDO JUNIOR PMDB 29.507
BAIANO FILHO PMDB 28.407
EZEQUIEL FONSECA PP 26.443
ZE DOMINGOS DEM 26.431
PERCIVAL MUNIZ PPS 26.178
O Mato Grosso é uma das 27 unidades federativas do
GUILHERME MALUF PSDB 26.156
Brasil. Está localizado na região Centro-Oeste. Tem a por-
DR. WALACE PMDB 25.129
ção norte de seu território ocupada pela Amazônia Legal,
NILSON SANTOS PMDB 24.638
sendo o sul do estado pertencente ao Centro-Sul do Brasil. ADEMIR BRUNETTO PT 23.693
Tem como limites: Amazonas, Pará (N); Tocantins, Goiás JOÃO MALHEIROS PR 23.551
(L); Mato Grosso do Sul (S); Rondônia e Bolívia (O). Ocupa TETÉ BEZERRA PMDB 22.964
uma área de 903.357 km², pouco menor que a Venezuela. J. BARRETO PR 22.825
Sua capital é Cuiabá. DILMAR DAL BOSCO DEM 22.284
As cidades mais importantes são Cuiabá, Várzea Gran- LUIZ MARINHO PTB 20.094
de, Rondonópolis, Barra do Garças, Sinop, Tangará da Serra, PORTUGUÊS PP 19.712
Cáceres, Comodoro, Primavera do Leste, Sapezal, Alta Flo- WALER RABELO PP 18696
resta e Sorriso. Extensas planícies e amplos planaltos domi- DR. ANTONIO AZAMBUJA PP 18.485
nam a área, a maior parte (74%) se encontra abaixo dos ZECA VIANA PDT 16.695
600 metros de altitude. Juruena, Teles Pires, Xingu, Ara-
guaia, Paraguai, Rio Guaporé, Piqueri, São Lourenço, das Senadores:02
Mortes e Cuiabá são os rios principais.
Blairo Maggi - 997.090 votos 36%
ESTADOS LIMÍTROFES: Pedro Taques - 673.052- 24%

Ao norte: Amazonas e Pará; A leste: Tocantins e Goiás; MATO GROSSO


Ao Sul: Mato Grosso do Sul e a Oeste: Rondônia e Bolívia.
O estado de Mato Grosso foi ocupado durante o pe-
Total de Municípios: 141 ríodo de colonização do Brasil por meio das expedições
dos Bandeirantes, sendo reconhecido como brasileiro pelo
Capital: Cuiabá Tratado de Madri de 1751.
O que hoje conhecemos como Mato Grosso já foi ter-
Área Total: 903 357,908 km² (3º) População: 3 001 692 ritório espanhol, levando-se em conta os limites estabele-
hab. (19º) Densidade: 3,32 hab./km² (25º) Clima: Equatorial cidos pelo Tratado de Tordesilhas - pelo qual o Brasil teria
e Tropical menos que 30% de seu atual território. As primeiras in-
cursões no território do Mato Grosso datam de 1525,

1
GEOGRAFIA DE MATO GROSSO

quando Pedro Aleixo Garcia vai em direção à Bolívia, se- 02. João Pedro Câmara de 1765 a 1769,
guindo as águas dos rios Paraná e Paraguai. Posteriormen-
te, portugueses e espanhóis são atraídos à região, devido 03. Luís Pinto de Sousa Coutinho de 1769 a 1772, ex-
aos rumores de que haveria muita riqueza naquelas terras pulsou os jesuítas e fundou vários fortes e povoados.
ainda não devidamente exploradas. Também vieram jesuí-
tas espanhóis, que criaram Missões entre os rios Paraná e 04. LuísdeAlbuquerquedeMeloPereiraeCáceres de
Paraguai, com o objetivo de assegurar os limites de Portu- 1772 a 1789.
gal, já que as terras estavam nos limites da Espanha.
Em 1718, o bandeirante Pascoal Moreira Cabral Leme 05. João de Albuquerque de Melo Pereira e
subiu pelo rio Coxipó e descobriu enormes jazidas de ouro, Cáceres de 1789 a 1796.
dando início à corrida do ouro, fato que ajudou a povoar
a região. No ano seguinte foi fundado o Arraial de Cuia- 06. Caetano Pinto de Miranda Montenegro de 1796 a
bá. Em 1726, o Arraial de Cuiabá recebeu novo nome: Vila 1802.
Real do Senhor Bom Jesus de Cuiabá. Em 1748, foi criada
a capitania de Cuiabá, concedendo a coroa portuguesa 07. Manuel Carlos de Abreu e Meneses de 1802 a
isenções e privilégios a quem aliquisesse se instalar. Foram 1807.
feitas diversas expedições, entre elas entradas e bandei-
ras. As entradas eram financiadas por Portugal partiam de 08. João Carlos Augusto d’Oeynhausen e
qualquer lugar do Brasil e não ultrapassavam o Tratado de Gravembourg (Marquês de Aracati) de 1807 a 1819,
Tordesilhas. As bandeiras foram financiadas pelos paulis- iniciou a transferência da capital de Vila Bela para Cuiabá.
tas. Somente eles foram ao oeste, ultrapassando a linha de
Tordesilhas. 09. Francisco de Paula Magessi de Carvalho (Barão de
Os motivos pelos quais ocorreram as expedições para Vila Bela) de 1819 e 1821.
oeste do Brasil são diversos. A coroa portuguesa precisa-
va ocupar as terras a oeste para se defender da ocupação A mudança da capital foi por motivos de distância e
espanhola de oeste para leste e preservar o Tratado de dificuldade de comunicação com os grandes centros
Tordesilhas. As expedições feitas pelos paulistas foram de do Brasil, o processo de transferência foi iniciada no gover-
carater principal econômico como a procura por indígenas no de João Carlos Augusto d’Oeynhausen e Gravembourg
que era uma mão-de-obra mais barata que a escrava e grande parte da administração foi transferida no governo
ocorridas em 1718 e 1719, a mineração em de Francisco de Paula Magessi de Carvalho que por difi-
1719 com o propósito de exploração de ouro e pedras culdades na administração, a capital retornou a Vila Bela,
preciosas. As monções em 1722 foram realizadas a fim somente em 1825 por um decreto de Dom Pedro I a
de estabelecer a troca de mercadoria de consumo com o capital ficou definitivamente em Cuiabá.
ouro nas áreas de mineração.
Durante as bandeiras, uma expedição chegou ao Rio PROVÍNCIA DE MATO GROSSO
Coxipó em busca dos índios Coxiponés e logo descobriram
ouro nas margens do rio, alterando assim o objetivo da Um ano antes da proclamação de Independência do
expedição. Em 08 de abril de Brasil todas as capitanias se tornaram províncias. O primei-
1719 foi fundado o Arraial da Forquilha as margens do ro acontecimento político da época foi a Rusga, em que os
rio do Peixes, Coxipo e Mutuca, sendo que o nome for- grupos políticos liberais e conservadores queriam reformas
quilha vem justamente pelo fato de que neste ponto de políticas, sociais e administrativas. Em 1864 inicia a Guer-
encontro destes dois rios cria o formato de uma forquilha ra do Paraguai, Paraguai fazia fronteira com Mato Grosso
formando o primeiro grupo de população organizado na (atual Mato Grosso do Sul), Mato Grosso participou com
região (atual cidade de Cuiabá). A região de Mato Grosso soldados e protegendo as fronteiras do Estado.
era subordinada a Capitania de São Paulo governada por
Rodrigo César de Meneses, para intensificar a fiscalização A DIVISÃO DO ESTADO
da exploração do ouro e a renda ida para Portugal, o go-
vernador da capitania muda-se para o Arraial e logo a eleva Depois de uma pequena divisão do estado durante a
à categoria de vila chamando de Vila Real do Bom Jesus de revolta Constitucionalista onde o sul aproveitou a situação
Cuiabá. e formou um pequeno governo durante 90 dias, em 1977
o governo federal decretou a divisão do Estado de Mato
A partir de 1748, Mato Grosso e Goiás são des- Grosso, formando então Mato Grosso e Mato Grosso do
membradas da capitania de São Paulo, criada então a capi- Sul devido a “dificuldade em desenvolver a região diante
tania de Mato Grosso e os seguintes governantes: da grande extensão e diversidade”.
Em 1943 a área localizada a noroeste, com
01. Antônio Rolim de Moura de 1751 a 1765, fundou a pequena área do estado do Amazonas às margens do rio
primeira capital Vila Bela da Santíssima Trindade. Madeira, passou a constituir o território do Guaporé, que
atualmente constitui o estado de Rondônia.

2
GEOGRAFIA DE MATO GROSSO

Além disso, do mesmo ano de 1943 a 1946, uma pe- é a maior parte do estado, de acordo com a organização
quena porção do território matogrossense a localizada a Internacional Conservation 58% do cerrado foi substituído
sudoeste, constituiu o território de Ponta Porã. pela agricultura com soja e algodão. O complexo do Panta-
nal é a maior área alagada do mundo e a maior diversidade
animal e vegetal na parte sul de Mato Grosso, em 2001 foi
reconhecido pela UNESCO como Patrimônio Natural da
Humanidade.

GEOGRAFIA DE MATO GROSSO

Mato Grosso ocupa uma área de 906.806 Km2 den- HIDROGRAFIA


tro do Brasil, localiza-se a oeste do Meridiano de Greenwi-
ch e a sul da Linha do Equador e com fuso horário -4 ho- O estado faz parte de três bacias hidrográficas, a bacia
ras em relação a hora mundial GMT. No Brasil, o estado amazônica é a predominante no Estado, grande parte da
faz parte da região Centro-Oeste pela divisão do IBGE, e região norte com vários rios a margem direita do RioAma-
pela divisão geoeconômica faz parte da Região geoeconô- zonas entre os principais rios são Rio Xingu, Rio Guaporé
mica Amazônica do Brasil, ao centro-norte, e também da e Rio Teles Pires. A bacia Tocantins-Araguaia com o Rio
região geoeconômica centro-sul, ao centro-sul. O estado Araguaia corta toda a parte a fronteira leste entre Mato
de Mato grosso faz fronteiras com os estados de Mato Grosso e Goiás com 2.115 km formando a maior ilha fluvial
Grosso do Sul, Tocantins, Goiás, Pará, Amazonas, Rondônia do mundo a ilhadobananal. Fazem parte da bacia platina o
e um país, a Bolívia. rio Paraguai que é o principal responsável pelo abaste-
cimento do Pantanal, outros rios da bacia platina são o Rio
CLIMA Cuiabá, Rio São Lourenço e Rio Taquari. A navegação pelos
rios da bacia Amazônia é mínima, pois são áreas cristalinas
Em Mato Grosso como também no Brasil há di- com sedimentares e com isso se formam muitas cachoei-
versos tipos de climas, devido a variações de latitude e al- ras, os principais rios navegáveis são o Rio Paraguai e Rio
titude, com grande influência na temperatura, as chuvas, Araguaia.
principalmente as frontais, continentalidade e massa de ar,
agindo no estado as massas Equatorial Continenal, Tropical DEMOGRAFIA
Continental e Polar Atlântica. A variação de temperatura é
pouca e as chuvas acontecem principalmente no período Mato Grosso tem uma população de 3.001. 692 hab.
de dezembro a fevereiro.E tem como o clima predominan- (19º) segundo IBGE de 2009, com uma densidade demo-
te o clima tenperado,e no sul do estado o clima predomi- gráfica de 3,32 hab./km² (25º)
nante é o clima seco e chuvas e a cada ano que se passa o Pelas características encontradas no Estado o predo-
clima seco do sul vai subindo até que um dia ele vai chegar mínio é de pessoas adultas e com um índice de declínio
ao extremo norte do estado. para jovens e aumento de idosos. Segundo censo IBGE de
2000 há um predomínio de pessoas que se designam de
VEGETAÇÃO cor pardas. Pela média do Estado há um predomínio de
homens devido a emigração dos outros Estados para Mato
A vegetação do estado faz parte da vegetação da Flo- Grosso, contudo, na grande Cuiabá há predomínio de mu-
resta Amazônica, Cerrado e faixas de transição como o lheres, semelhante a média brasileira. Mato Grosso ocupa o
Pantanal, Xingu e Cachimbo. A vegetação amazônica é a IDH 0,796 (11º) – médio entre os Estados do Brasil.
maior floresta do mundo cobrindo parte de 8 países, co-
brindo também a região norte do estado, chamada tam-
bém de Amazônia Legal, suas principais características são
as árvores grandes e o solo florestal pobre, sobrevivendo
do húmus das folhas. A região com vegetação de cerrado

3
GEOGRAFIA DE MATO GROSSO

ECONOMIA DE MATO GROSSO A do planalto arenito-basáltico, localizada no sul,


simples parcela do planalto meridional;
Durante o período colonial do Brasil, a capitania de São Parte do Pantanal Mato-Grossense, baixada da
Paulo (atualmente Mato Grosso) todo o comércio era porção centro-ocidental. Ao sul do planalto brasileiro,
o monopólio da capitania para a Metrópole, Portugal. Os situa-se o divisor de águas entre as bacias dos rios
principais sistemas produtivos eram a mineração, cana- Paraguai e Amazonas, constituído em parte pela chapada
-de-açúcar, erva-mate, poaia, borracha e pecuária. dos Parecis. A maior parte da área é drenada pelos rios da
A mineração foi o principal motivo do sustento dos bacia amazônica.
habitantes na região durante as expedições Bandeirantes A planície aluvial do médio Araguaia situa-se na região
no séculoXVIII. A mão-de-obra era de escravos negros e limítrofe entre Mato Grosso e Goiás. Tem natureza seme-
lhante à da planície do Pantanal: ampla, está sujeita a
índios e a fiscalização muito rígida ordenada pela coroa
inundações anuais e deposição periódica de aluviões.
em Portugal. A pirâmide social baseava-se somente em mi-
Pouco depois dela, para oeste, ficam os contrafortes da
neradores e escravos.
serra do Roncador.
A cana-de-açúcar foi trazida do litoral do Brasil e divi-
diu-se em duas etapas, os engenhos no século XVIII e sé- CIDADES DE MATO GROSSO
culo XIX e as usinas no século XIX e século XX. A diferença
entre as duas épocas são a mão-de-obra nos engenhos 01. CUIABÁ
era escrava e nas usinas eram escrava e também livres, o
consumo nos engenhos eram internos e nas usinas eram Cuiabá, a cidade verde é a capital do Estado.
internos e externos com a abertura de vias de escoação
pelos rios, a produção chegava a outras partes do Brasil. O município está situado na margem esquerda do rio
A erva-mate durou aproximadamente de 1882 a de mesmo nome e forma uma conurbação com o municí-
1947 com o pioneirismo de Tomás Laranjeira como consta pio de VárzeaGrande. Segundo a estimativa realizada para
no decreto de 1879 do Marechal Deodoroda Fonseca dan- 2009 pelo IBGE, a população de Cuiabá é de 550.562 ha-
do a permissão para o cultivo. No início vários imigran- bitantes, enquanto que a população da conurbação ultra-
tes de áreas ervatais do Paraguai vieram a Mato Grosso passa os 780 mil habitantes; a sua região metropoli-
mas as condições para a produção eram muito desfavorá- tana possui 823.966 habitantes.
veis, não havia infra-estrutura causando muitas doenças. A Fundada em 1719, ficou praticamente estagnada des-
produção na década de 1920 alcançou seu ápice e devido de o fim das jazidas de ouro até o início do século XX.
ao cancelamento do decreto a partir de 1937 até o fim das Desde então, apresentou um crescimento populacional
ervas em 1947. acima da média nacional, atingindo seu auge nas déca-
A poaia foi um dos principais produtos de das de 1970 e 1980.Nos últimos 15 anos, o crescimento
exportação para Europa durante o século XIX para a fabri- diminuiu, acompanhando a queda que ocorreu na maior
cação de remédios. Seu nome científico é Cephaeles Ipe- parte do país. Hoje, além das funções político- administra-
capuanha. tivas, é o pólo industrial, comercial e de serviços do estado.
A borracha era extraída da mangabeira nas matas às É conhecida como “cidade verde”, por causa da grande ar-
borização.
margens das baias do Paraguai e Amazonas. O látex, ex-
traído das árvores, era exportado e para consumo interno.
ETIMOLOGIA
ECONOMIA ATUAL Há várias versões para a origem do nome “Cuiabá”.
Uma delas diz que o nome tem origem na palavra Bororo
O Mato Grosso teve o maior crescimento do Brasil de ikuiapá, que significa “lugar da ikuia” (ikuia: flecha-arpão,
1985 até 2002. flecha para pescar, feita de uma espécie de cana brava; pá:
A pecuária e a agricultura foram os principais sistemas lugar). O nome designa uma localidade onde os bororos
comerciais de Mato Grosso do Século XX e Século XXI. De- costumavam caçar e pescar com essa flecha, no córrego da
vido o crescimento econômico com as exportações, Mato Prainha, afluente da esquerda do rio Cuiabá. Outra
Grosso é o 2º maior exportador na pauta do agronegó- explicação possível é a de que Cuiabá seria uma aglutina-
cio do país. Suas exportações detém 65% de tudo que o ção de kyyaverá (que em guarani significa “rio da lontra
centro-oeste exporta. brilhante”) em cuyaverá, depois cuiavá e finalmente cuiabá.
Uma terceira hipótese diz que a origem da palavra está
RELEVO no fato de existirem árvores produtoras de cuia à beira do
rio, e que “Cuiabá” seria “rio criador de vasilha” (cuia: va-
Com altitudes modestas, o relevo apresenta gran- silha e abá: criador). Martius traduz o vocábulo como “fa-
des superfícies aplainadas, talhadas em rochas sedimenta- bricante ou fazedor de cuias”. Teodoro Sampaio interpreta,
res. Abrange três regiões distintas: duvidando da origem tupi, como “homem da farinha”, o
Na porção centro-norte do estado, a dos chapadões farinheiro. De cuy: farinha e abá: homem. Há ainda outras
sedimentares e planaltos cristalinos (com altitudes entre versões menos embasadas historicamente, que mais se
400 e 800m), que integram o planalto central brasileiro; aproximam de lenda do que de fatos. O certo é que até
hoje não se sabe com certeza a origem do nome.

4
GEOGRAFIA DE MATO GROSSO

HISTÓRIA Somente após a Guerra do Paraguai e o retorno da


navegação pelas bacias dos rios Paraguai, Cuiabá e Para-
Os primeiros indícios de bandeirantes paulistas na re- ná é que o município se desenvolveu economicamente.
gião onde hoje fica a cidade se situam entre 1673 e 1682, A economia esteve, nesse período, baseada na produção
quando da passagem de Manoel de Campos Bicudo da cana-de-açúcar e no extrativismo. Esse momento
pela região. Ele fundou o primeiro povoado da região, onde produtivo não duraria muito e o município voltou a ficar
o rio Coxipó deságua no Cuiabá, batizado de São Gonçalo. estagnado, desta vez até 1930. A partir desta época, o iso-
Em 1718, chegou ao local, já abandonado, a bandeira lamento foi quebrado com as ligações rodoviárias com
do sorocabano Pascoal Moreira Cabral. Em busca de indí- Goiás e São Paulo e a aviação comercial. A explosão
genas, Moreira Cabral subiu pelo Coxipó, onde travou uma no crescimento deu-se depois da década de 1950, com
batalha, perdida, com os índios coxiponés. Com o ocorrido, a transferência da Capital Federal e o programa de povoa-
voltaram e, no caminho, encontraram ouro, deixando, en- mento do interior do país.
tão, a captura de índios para se dedicar ao garimpo. Nas décadas de 1970 e 1980, o município cresceu mui-
to, mas os serviços e a infraestrutura não se expandiram
Em 1719, Pascoal Moreira foi eleito, em uma eleição
com a mesma rapidez. O agronegócio expandiu-se pelo
direta em plena selva, comandante da região de Cuiabá.
estado e o município começou a modernizar-se e a indus-
Em 8 de abril de 1719, Pascoal assinou a ata da funda-
trializar-se. Depois de 1990, a taxa de crescimento popu-
ção de Cuiabá no local conhecido como Forquilha, às mar-
lacional diminuiu e o turismo começou a ser visto como
gens do Coxipó, de forma a garan-tir os direitos pela des- fonte de rendimentos. Com quase 530 mil habitantes, o
coberta à Capitania de São Paulo. A notícia da descoberta município convive com o trânsito tumultuado, a violência
se espalhou e a imigração para a região tornou-se intensa. crescente, a falta de saneamento básico e a miséria.
Praça em homenagem a Pascoal Moreira Cabral. Em
outubro de 1722, índios escravos de Miguel GEOGRAFIA
Sutil, também bandeirante sorocabano, descobriram
às margens do córrego da Prainha grande quantidade de Cuiabá faz limite com os municípios de Chapada dos
ouro, maior que a encontrada anteriormente na Forquilha. Guimarães, Campo Verde, Santo Antônio do Leverger, Vár-
O afluxo de pessoas tornou-se grande e até a população zea Grande, Jangada e Acorizal. É um entroncamento ro-
da Forquilha se mudou para perto desse novo achado. Em doviário-aéreo- fluvial e o centro geodésico da América do
1723, já estava erguida a igreja matriz dedicada ao Senhor Sul, nas coordenadas 15°35’56”,80 de latitude sul e
Bom Jesus de Cuiabá, onde hoje é a basílica. 56°06’05”,55 de longitude oeste. Situado na atual pra-
Já em 1726, chegou o capitão-general governador da ça Pascoal Moreira Cabral, foi determinado por Marechal
Capitania de São Paulo, Rodrigo César de Menezes, como Cândido Rondon, em 1909 (o correto ponto do cen-
representante do Reino de Portugal. No 1º de janei- tro geodésico já foi contestado, mas cálculos feitos pelo
ro de 1727, Cuiabá foi elevada à categoria de vila, com o Exército Brasileiro confirmaram as coordenadas do marco
nome de Vila Real do Senhor Bom Jesus de Cuiabá. calculadas por Rondon). O município é cercado por
Tem-se confundido muito a fundação do arraial da For- três grandes
quilha por questões ideológicas. Estudos historiográficos ecossistemas: a Amazônia, o cerrado e o pantanal; está
há muito já traçaram a diferença entre uma e outra funda- próximo da Chapada dos Guimarães e ainda é considera-
ção, alegando-se que o 1° de janeiro seria a data de eleva- do a porta de entrada da floresta amazônica. A vegetação
ção do arraial da Forquilha à categoria de vila, o que é um predominante no município é o cerrado, desde suas va-
contra- senso, pois não se pode fundar um município num riantes mais arbustivas até as matas mais densas à beira
lugar que só viria a ser descoberto anos depois. dos cursos d’água.
Cuiabá é abastecida pelo rio Cuiabá, afluente do Rio
Porém, a data de 8 de abril se firmou como data do
Paraguai e limite entre a capital e Várzea Grande. O muni-
município, desejosa de ser a primeira do oeste brasileiro.
cípio se encontra no divisor de águas das bacias Amazô-
Logo, contudo, as lavras se mostraram menores que o es-
nica e Platina e é banhado também pelos rios Coxipó-Açu,
perado, o que acarretou um abandono de parte da popu-
Pari, Mutuca, Claro, Coxipó, Aricá, Manso, São Lourenço,
lação. das Mortes, Cumbuca, Suspiro, Coluene, Jangada, Casca,
Cuiabá foi elevada à condição de cidade em 17 de se- Cachoeirinha e Aricazinho, além de córregos e ribeirões.
tembro de 1818, tornando-se a capital da então província
de Mato Grosso em 28 de agosto de 1835 (antes a capital CLIMA E RELEVO
era Vila Bela da Santíssima Trindade). Mas, mesmo a mu-
dança da capital para o município não foi suficiente para Cuiabá é famosa pelo seu forte calor, apesar de a tem-
impulsionar o desenvolvimento. Com a Guerra do Paraguai, peratura no inverno poder chegar esporadicamente aos
Mato Grosso foi invadido. Várias cidades foram atacadas, 10 graus, fato atípico, causado pelas frentes frias que
mas as batalhas não chegaram à capital. A maior baixa se vem do sul, e que pode durar apenas um ou dois dias con-
deu com uma epidemia de varíola trazida pelos soldados secutivos, para logo em seguida voltar ao calor habitual. A
que retomaram dos paraguaios o município de Corumbá. temperatura média em Cuiabá gira em torno de 26 graus.
Metade dos cerca de 12 mil habitantes morreu infectada. O clima é tropical e úmido. As chuvas se concentram de

5
GEOGRAFIA DE MATO GROSSO

setembro a maio, enquanto que no resto do ano as massas Nos restaurantes das cidades, ganham toques de gour-
de ar seco sobre o centro do Brasil inibem as formações mets e conquistam os mais exigentes e sofisticados pala-
chuvosas. As frentes frias quando se dissipam, o calor, as- dares.
sociado à fumaça produzida pelas constantes queimadas E tem ainda a maria isabel, a original farofa de banana
nessa época, faz a umidade relativa do ar cair a níveis muito da terra, prato exclusivo da culinária local, a paçoca de
baixos, às vezes abaixo dos 15%, aumentando os casos de pilão feita com carne de charque e farinha de mandioca
doenças respiratórias. A precipitação média anual é de temperada, o furumdu, doce preparado com mamão verde,
1.469,4 mm, com intensidade máxima em janeiro, feverei- rapadura e canela, o pixé elaborado com milho torrado e
ro e março. [10] A temperatura máxima média chega aos socado com canela e açúcar, o bolo de arroz cuiabano, o
35°C, mas as máximas absolutas podem chegar aos 40ºC francisquito, os doces de caju e manga, o inigualável licor
nos meses mais quentes e abafados; em dias chuvosos, a de pequi e o afrodisíaco guaraná de ralar que substitui, nas
temperatura máxima não passa de 20 graus.[10] A mínima famílias mais tradicionais cuiabana o cafezinho brasileiro.
média em julho, o mês mais frio, é de 9,0°C.[10] Segundo o Pratos doces e salgados, típicos da culinária Cuiabana.
INMET (1961-1990), a menor temperatura registrada foi de
1,3°C em 18 de julho de 1997 e a maior de 33,1°C, em 16 TURISMO
de outubro de 2009.
Cuiabá tem diversos atrativos turísticos por estar situa-
CULTURA da em uma região de variadas paisagens naturais, como
a Chapada dos Guimarães e o Pantanal, e por ser um
Boa parte das tradições cuiabanas se deveu, em parte, município muito antigo, com um patrimônio histórico im-
ao isolamento sofrido pelo município com a decadência portante. O turismo de eventos também é crescente no
econômica. Outro fator que explica parte das característi- município.
cas das manifestações culturais é o convívio de várias cul- A arquitetura da área urbana inicial de Cuiabá,
turas desde a fundação de Cuiabá, como os índios que ali como em outras cidades históricas brasileiras, é tipicamen-
viviam, os bandeirantes paulistas e os negros levados para te colonial, com modificações e adaptações a outros es-
tilos (como o neoclássico e o eclético) com o tempo. Ela
lá como escravos. Todos esses fatores se refletem na gas-
foi bem preservada até meados do século XX, mas, depois
tronomia, nas danças, no modo de falar e nos artesanatos.
dessa época, o crescimento demográfico e o desenvolvi-
Ainda hoje permanecem traços característicos da culi-
mento econômico afetaram o patrimônio arquitetônico e
nária tradicional, cuja base são os peixes, pescados nos rios
paisagístico do centro histórico. Vários prédios foram
da região (pacu, pintado, caxara, dourado e outros) e
demolidos, entre eles a antiga igreja matriz, demolida em
consumidos de várias maneiras, acompanhados de fa-
1968 para dar lugar à atual.
rinha de mandioca, abóbora e banana, em pratos como a
Somente na década de 1980 ações para a preserva-
maria isabel, a farofa de banana e o pirão. Talvez o mais
ção desse patrimônio foram tomadas. Em 1987, o centro
típico prato local seja a mujica, prato à base de peixe.A culi- foi tombado provisoriamente como patrimônio histórico
nária cuiabana assim como a brasileira, tem suas raízes nacional pelo IPHAN e, em 1992, esse tombamento foi
nas cozinhas indígenas, portuguesa espanhola e africana. homologado pelo Ministério da Cultura do Brasil. Desde
A diferença está na incorporação de ingredientes da flora então vários prédios foram restaurados, entre os quais
e da fauna nativas, nas combinações e modo s de preparo estão as Igrejas do Rosário e São Benedito, do Bom Des-
originais que lhe asseguram sabores, cheiros, e aspectos pacho e do Nosso Senhor dos Passos, o Palácio da
inesquecíveis e sedutores ao paladar, ao olfato e aos olhos. Instrução (hoje museu histórico e biblioteca), o antigo Ar-
Aqui frutos como exótico e saboroso pequi – de sabor senal da Guerra (hoje centro cultural mantido pelo SESC),
e aroma peculiares – dão cor e enriquecem pratos a base o mercado de peixes (atualmente Museu do Rio Cuiabá) e
de arroz e frango, a mandioca, a manga e o caju, o char- um sobrado onde hoje funciona o Museu da Imagem e do
que, peixes frescos ou secos, são ricamente combinados Som de Cuiabá (o MISC). A área tombada pelo IPHAN é a
pelas mãos hábeis e criativas de tradicionais quituteiras que mais preserva as feições originais. As antigas ruas de
em suas residências, peixarias ou restaurante especializado Baixo, do Meio e de Cima (hoje, respectivamente, as ruas
em comida típica. Galdino Pimentel, Ricardo Franco e Pedro Celestino) e suas
Situadas nas bordas do Pantanal, onde a prodigalidade travessas ainda mantêm bem preservadas as características
em seus peixes nobres faz analogias á fé cristã no milagre arquitetônicas das casas e sobrados.
da multiplicação, as cidades de Cuiabá e Várzea-Grande Além dos locais já citados, há vários outros para se vi-
têm como referenciais gastronômicos mais marcantes ou sitar, como o zoológico, o Museu Rondon (com artefatos
pratos à base de pescado. Pacu assado, piraputanga na indígenas) e o Museu de Arte e Cultura Popular, no cam-
brasa, mojica de pintado, arroz com pacu seco, moqueca pus da Universidade Federal de Mato Grosso, o obelisco e
cuiabana, caldo de piranha, ventrecha de pacu frita, dou- o marco do centro geodésico da América do Sul, a atual
rado ou piraputanga na folha de bananeira e caldeirada Catedral Metropolitana, a Igreja de São Gonçalo no bairro
de bagre, são pratos nascidos nas barrancas do rio Cuiabá do Porto, a Mesquita de Cuiabá, os parques Mãe Bonifácia,
e nas baias do Pantanal por obra da inventividade dos ri- Massairo Okamura, Zé Bolo Flô e o Parque Urbano da Vila
beirinhos. Militar, com áreas para exercícios físicos e pistas de cami-

6
GEOGRAFIA DE MATO GROSSO

nhada e ciclismo, o Horto Florestal, na confluência do rio CASA DO ARTESÃO


Cuiabá com o Coxipó e o Estádio José Fragelli, conhecido
como Verdão. A Casa do Artesão tem uma bela amostra da cul-
É possível também visitar as comunidades ribeirinhas, tura mato-grossense . Há um Museu do Artesanato com
onde se pode conhecer o modo de vida da população local exposição permanente de peças caboclas e indígena. O tu-
e os artesanatos fabricados por eles, bem como os rios e rista pode comprar souvenirs.
baías frequentados para banho e pesca.
PARQUE ESTADUAL MÃE BONIFÁCIA
CENTRO HISTÓRICO
77 hectares de área verde e diversas espécies da flora e
Fundada em 1719, com a descoberta de ouro em vegetação típica do cerrado, com diversas pistas para ca-
abundância, Cuiabá transformou-se na maior cidade do minhada. Localizado na Av Miguel Sutil - Zona Oeste - a
10 minutos do Centro de Cuiabá.
Brasil em menos de duas décadas. Mas, passada a corrida
do ouro, a verde capital do velho oeste brasileiro teve que
PARQUE MASSAIRO OKAMURA
resistir a longos anos de solidão nesses sertões. Rua do
meio, de baixo, beco do candeeiro... Cuiabá guarda em
7 hectares de área verde, vegetação e flora típica do
suas ruelas muitas relíquias do período colonial. No centro cerrado, com diversas pistas para caminhada. Localizado na
histórico também se situa os famosos calçadões que a Av Historiador Rubens de Mendonça - CPA - Zona Leste.
exemplo da cidade de Curitiba ha projetos para revitaliza-
ção e funcionamento 24H. PARQUE ZÉ BOLO FLÔ

CENTRO GEODÉSICO DA AMÉRICA DO SUL Áreas verdes, com vegetação e flora típica do cerrado
Localizado no Coxipó da Ponte, Zona Sul - Coophema,
Demarcado pela Comissão Rondon , em 1909 , o cen- acesso pela Av. Fernando Correia.
tro geodésico da América do Sul fica no antigo campo do
Ourique - hoje a praça Moreira Cabral, onde também fica PARQUE ZOOLÓGICO
a Assembleia Legislativa de Mato Grosso. O local já foi
uma praça de enforcamento de condenados e também um Localizado na universidade de Mato grosso, possui
campo de touradas!!! animais típicos da fauna mato-grossenses e do pantanal.
situada na Av. Fernando Correa da Costa.
ARSENAL DE GUERRA
Águas Termais Parque Tia Nair Horto Florestar
Foi criado em 1818, por ordem de Dom João IV. Foi Parque Morro da Luz
construído para ser “ um estabelecimento militar para con- Parque Aquático Sesi Park.
serto e fabricação de armas “, conforme definiu a carta-
-régia. MUSEUS

CATEDRAL METROPOLITANA Cine Teatro de Cuiabá e Museu do Cinema


Museu Morro da Caixa D’Água Museu da Imagem e
Inaugurada em 1973, a atual catedral foi construída so- Som de Cuiabá Museu do Rio Cuiabá e Aquário Municipal
Museu da Educação
bre os escombros da antiga, uma jóia do período colonial
Museu de Arte Sacra de Cuiabá Museu da História do
que foi demolida num episódio até hoje não esclarecido
Mato Grosso Museu Marechal Rondon
Museu Couto Magalhães
IGREJA DO BOM DESPACHO
Museu das Pedras
Museu de Antropologia Mato-grossense
A “ Notre Dame Cuiabana “ é, ao menos externamente, Museu do Índio Museu do Coxipó Museu do Ouro
a mais bela igreja da cidade. Seu estilo gótico, inédito em Museu Barão de Melgaço
boa parte do país, foi definido por um arquiteto francês Museu do Pantanal
que teve toda a liberdade para ousar. Inaugurada em 1919,
a igreja ainda está inacabada. IGREJAS

IGREJA DO ROSÁRIO E CAPELA DE SÃO BENEDITO A cidade possui uma diversidade muito grande de igre-
jas antigas tombadas pelo patrimônio histórico e cultural.
Esta é a única igreja barroca de Cuiabá. Foi fundada
por escravos em 1764. É local da tradicional festa de IGREJA NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO E CAPELA DE
São Benedito que acontece sempre no mês de julho. SÃO BENEDITO (PADROEIRO DA CIDADE);

7
GEOGRAFIA DE MATO GROSSO

1ª IGREJA PRESBITERIANA DO CENTRO-OESTE BRASI- A Bandeira foi criada pelo Sr. Nilton Benedito de Santa-
LEIRO; na, que contou com o apoio do jornalista Pedro Rocha
Jucá, e oficializada pelo prefeito José Villanova Torres, atra-
IGREJA NOSSA SENHORA DA GUADALUPE (“FABRI- vés do Decreto nº 241, de 29 de Dezembro de 1972, que
CADA” NA FRANÇA E DOADA PELO GOVERNO FRANCÊS. diz no Artigo 1º: “Fica oficializada a Bandeira Municipal de
VINDA EM BLOCOS DE NAVIO E “MONTADA” EM CUIABÁ); Cuiabá, com as seguintes características: a- um retângulo
verde e branco; b- em primeiro plano, com as bordaduras
IGREJA NOSSA SENHORA DO BOM DESPACHO (RÉPLI- ou círculo na cor amarelo ouro, com a inscrição em letras
CA DA NOTRE DAME DE PARIS); vermelhas: “VILA REAL DO BOM JESUS DE CUIABÁ - 1719”.
c- no centro o marco estereotipado na cor verde, represen-
IGREJA SÃO GONÇALO; tando o centro geográfico da América do Sul: logo abaixo,
geometricamente triangulado, os vértices do marco repre-
BASÍLICA CATEDRAL METROPOLITANA SENHOR BOM sentando um monte de ouro, símbolo da riqueza mineral
JESUS DE CUIABÁ; de Cuiabá”.

MESQUITA ISLÂMICA DE CUIABÁ;

IGREJA NOSSA SENHORA MARIA AUXILIADORA;

IGREJA NOSSA SENHORA DA BOA MORTE;

IGREJA NOSSA SENHORA DA GUIA;

IGREJA SENHOR DOS PASSOS;

IGREJA NOSSA SENHORA DA BOA ESPERANÇA;

SÍMBOLOS

Cuiabá possui três símbolos oficiais: brasão, bandeira


e hino.
O Brasão foi oficializado pela Lei N.º 592, de 13de Se- O Hino foi oficializado pela Lei N.º 633, de 10 de Abril
tembro de 1961, assinada pelo prefeito Aecim Tocantins, de 1962. O seu artigo segundo, que nem sempre é cum-
a partir do original, criado em Lisboa quando da sua fun- prido, diz: “Será obrigatório em todas as solenidades da
dação em 1º de janeiro de 1727. Segue inscrição extraída Prefeitura Municipal que houver participação musical,
da Ata de Fundação do município: “declarou que sejam as quando o encerramento se der com o toque do Hino de
Armas, de que usasse, um escudo dentro com campo verde Cuiabá”.
e nele um morro ou monte todo salpicado com folhetos e
granetos de ouro; e, por timbre, em cima do escudo, uma ESPORTE
fênix…”.
Cuiabá possui dois estádios, o Estádio José Fragelli (Es-
tádio Verdão), e o estadio de futebol presidente Dutra o
Dutrinha.
A capital mato-grossense foi escolhida pela FIFA para
ser uma das sub-sedes da Copa do Mundo de 2014, que
será realizada no Brasil, devendo sediar três a quatro jogos
de alguns dos grupos do evento futebolístico.
Para tal, não somente Cuiabá, mas também toda a re-
gião, terá de receber uma grande quantidade de investi-
mentos para se adequar aos requisitos da Copa, que in-
cluem criar centros de treinamento na Chapada dos Gui-
marães, em Várzea Grande, além da própria Cuiabá. Estão
previstas obras como a reconstrução do atual Estádio
José Fragelli (Verdão), a revitalização do centro histó-
rico da cidade, construção, duplicação e prolongamento
de avenidas, a modernização do Aeroporto Internacional
Marechal Rondon, a duplicação das rodovias que ligam
a capital a Rondonópolis e à Chapada dos Guimarães, a
construção de um novo hospital e melhorias no sistema de

8
GEOGRAFIA DE MATO GROSSO

segurança pública de toda a grande Cuiabá, muitas dessas Localizado no município vizinho de Várzea Grande,
obras ja iniciaram como a construção do novo estádio e Cuiabá usufrui do Aeroporto Internacional Marechal Ron-
obras de desbloqueio viários este ano será licitado as don que foi recentemente modernizado, e no ano de
obras de mobilidade urbana da capital que tem suas obras 2009 teve fluxo de 1.671.704 de passageiros.
com previsão de inicio no primeiro semestre de 2011. Hou- Atualmente, o complexo conta com um terminal de
ve, ainda, uma discussão na Assembleia Legislativa de passageiros, com dois pisos, praça de alimentação, lojas,
Mato Grosso sobre a construção de uma rede de metrô juizado de menores, câmbio, terraço panorâmico, Correios,
de superfície interligando pontos de toda a área urbana, locadoras, lanchonetes, elevadores, escadas rolantes e cli-
mas tal projeto foi descartado. No atletismo a cidade conta matização. Há também o terminal de logística de carga, o
com a Corrida de Reis, uma corrida de rua com percurso de TECA, que movimentou cerca de 5.111.304 toneladas em
10 km entre Cuiabá e Várzea Grande, sempre no primeiro 2009. Grande parte deve ao grande fluxo de turistas
domingo após o Dia de Reis Magos (6 de Janeiro). É homo- que visitam as belezas naturais e culturais da capital e
logada pela Confederação Brasileira de Atletismo e faz do estado.
parte do calendário de atletas do Brasil e do mundo como Apesar de recentemente modernizado, o Aeroporto
uma das principais corridas do Brasil. Conta com uma das Internacional Marechal Rondon ainda padece de muitas
maiores premiações nacionais, premiando com um carro deficiências para que possa suportar o fluxo de passageiros
popular novo os ganhadores das duas principais catego- previsto durante a realização da CopadoMundodeFutebol-
rias, e também as categorias por faixa etária e categoria de2014 - para a qual a cidade foi escolhida para ser uma
especial, atletas com deficiência física, o que atrai a partici- das sub-sedes. A primeira parte que foi entregue já está
pação de competidores de renome internacional. saturada, há projetos para que até 2014 o aeroporto tenha
Corrida de Reis é um belo cartão postal. Atualmente a capacidade para 2.6 milhões de passageiros. Há um projeto
Capital possui em seu calendário oficial 16 competições, do governo do estado para que seja construído outro ter-
que são realizadas ao longo do ano, entre elas, Dante de minal na mesma área.
Oliveira, Bom Jesus de Cuiabá, e do Dia das Crianças, Mini
Maratona do Sesc, novembro, da Igualdade Racial e Se- EDUCAÇÃO
letiva da São Silvestre, em dezembro, do Industriário e a
corrida das Torres, Mini Maratoninha da Caixa Econômica Cuiabá é um importante centro educacional de nível
Federal, a Centenário da Chegada da Família Real ao Brasil médio e superior do estado do Mato Grosso. A cidade é
e Infante, ambos promovido pelo Exército Brasileiro, corri- sede do IFMT (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tec-
da do Carteiro, parceria com o Correio do Brasil. nologia de Mato Grosso), que oferece cursos tecnólogos
(superior), técnicos e de nível médio, e da UFMT (Universi-
TRANSPORTE dade Federal de Mato Grosso).

O transporte público é feito por ônibus coletivos e tá- INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR
xis, além de micro-ônibus e moto-táxi, já regulamentados
pela Câmara Municipal. A cidade conta com uma frota IFMT - Instituto Federal de Educação, Ciência e
de cerca de 400 ônibus e 80 micros e no seu aglomerado Tecnologia de Mato Grosso.
urbano junto com Várzea grande dá em torno de 600 ôni-
bus onde 60% deles possuem ar condicionado e rampa de UFMT - Universidade Federal de Mato Grosso
acessibilidade, além de vários ônibus com motorização tra-
seira que eleva ainda mais a qualidade do transporte. A ci- UNIRONDON - Centro Universitário Cândido
dade ainda não dispõe de ônibus articulado, mas recente- Rondon
mente fizeram testes em Cuiabá com um modelo que sera
implantado na cidade no novo sistema de transporte, UNIC - Universidade de Cuiabá
serão duas linhas de BRT, uma ligando o aeroporto ate a
região do CPA, numa extensão de 15km e outra ligando o UNOPAR - Universidade do Norte do Paraná
a região do Coxipó ate o Centro, numa extensão de 7km
podendo ser ampliado até o Distrito Industrial, obras essa FAC - Faculdade Católica Dom Aquino
que tem previsão de inicio em 2011.
Segundo o Detran do MT, a frota de Cuiabá e Vár- FAUC - Faculdade de Cuiabá
zea Grande é composta por um total de 284.498 veículos
(195.053 e 89.445 respectivamente), sendo que 183.252 ICEC - Instituto Cuiabano de Ensino e Cultura
são automóveis (141.807 e 41.445 respectivamente) e
77.274 são motocicletas/motonetas (53.246 e 24.028 res- ICE - Instituto Cuiabano de Ensino.
pectivamente) (est. 2009).Ficam de fora as caminhonetes
que se somados as duas cidade dão um total de 30.925 Texto adaptado de LIRA, G.
caminhonetes, 23.630 e 7.295 respectivamente, que soma-
dos ao total de veículos é de aproximadamente 315.423
veículos.

9
GEOGRAFIA DE MATO GROSSO

regional. Esses produtos são exportados principalmente


2 GEOPOLÍTICA DE MATO GROSSO. para os estados das regiões Sul e Sudeste do Brasil e para
os países da comunidade europeia, Estados Unidos, China,
Rússia, etc.
Deve-se ainda considerar que o território mato-gros-
GEOPOLITICA DE MATO GROSSO sense partilha vasta área de fronteira interna com vários es-
tados brasileiros e externa com a Bolívia. Embora só tenha
1- LOCALIZAÇÃO E DIVISÃO POLÍTICA DE MATO recebido atenção há pouco tempo, essa área de fronteira
GROSSO internacional ocupa lugar potencialmente estratégico no
espaço econômico latino-americano e sua integração, seja
O Estado de Mato Grosso faz parte da Região Centro- nas articulações com o Mercosul, seja em possíveis vias de
-Oeste do Brasil, localizado na parte sul do continente escoamento pelo pacífico.
americano. Possui superfície de 903.357,91 km2, limita- Partindo-se de uma visão geral sobre o território mato-
-se ao Norte com os Estado do Pará e Amazonas, ao Sul -grossense, pode-se identificar seus desdobramentos par-
com Mato Grosso do Sul, a Leste com Goiás e Tocantins e ticulares nas distintas frações do seu espaço em seus tem-
a Oeste com Rondônia e Bolívia. FUSO HORÁRIO Devido à pos respectivos, os principais vetores da expansão recente
grande extensão Leste--Oeste, o território brasileiro abran- e as implicações no redesenho de sua estrutura espacial.
ge quatro fusos horários situados a Oeste de Greenwich. O Efetivamente no século XVIII inicia-se a ocupação do Esta-
Estado de Mato Grosso abrange um fuso horário (o fuso do de Mato Grosso, através das incursões dos bandeirantes
quatro negativo), correspondendo ao quarto fuso horário. à região, em busca de ouro e na captura e aprisionamento
Apresenta, portanto, 4 horas a menos, tendo como referên- de mão-de-obra indígena, mercadoria que viabilizou, du-
cia Londres, o horário GMT (Greenwich). rante longo tempo, a economia da colônia de povoamento
de São Vicente, (atualmente estado de São Paulo).
REGIÕES DE PLANEJAMENTO DO ESTADO DE MATO Durante todo o século XVIII, mesmo após a descober-
GROSSO ta de ouro na região de Cuiabá, o espaço mato-grossense
permaneceu “vazio” dado que as atividades econômicas
Mato Grosso possui 141 municípios, agrupados em implementadas na região de Cuiabá, basicamente minera-
22 microrregiões político-administrativas, que fazem parte ção do ouro e de diamantes, fundavam-se num sistema co-
de 5 mesorregiões definidas pelo IBGE. Em 2001, através mumente designado como o de pilhagem do período co-
de estudos produzidos pela Seplan-MT, foi realizada uma lonial e num povoamento temporário e itinerante. (DSEE/
nova regionalização do Estado e foram definidas 12 Re- ZSEE – Relatório sobre o Processo de Ocupação do Estado
giões de Planejamento. Atualmente Mato Grosso possui 75 de Mato Grosso. Cuiabá: Seplan, 1997).
terras indígenas e 19 unidades de conservação federais, 42 Sob a lógica da expansão capitalista, de concentração-
estaduais e 44 municipais distribuídas entre reservas, par- -centralização do capital e da dominação-subordinação no
ques, bosques, estações, ecológicas e RPPN (Reserva Parti- que diz respeito às suas relações sociais e de produção,
cular do Patrimônio Nacional). o desenvolvimento econômico brasileiro, em termos espa-
ciais, pode ser visto como um processo de articulação e
2- FORMAÇÃO E OCUPAÇÃO DO ESPAÇO MATO integração nacional que se desenvolveu, de forma desigual
GROSSENSE e combinada, segundo três fases distintas: a do isolamento
das regiões; a da articulação comercial e a de integração
O território mato-grossense compreende aproxima- produtiva.
damente 10%do território nacional e abriga, em contra- Diante disso, contextualiza-se também a formação his-
partida, aproximadamente 1,53% da população do país tórica de Mato Grosso, caracterizando-se:
(3.033.991 habitantes) (IBGE/Seplan 2010).
Constitui exemplo de região que caminha rumo à con- 1. O período da ocupação do território e da constitui-
solidação de uma área de moderna produção agroindus- ção da região, ainda sob uma longa fase de isolamento,
trial, após a transformação de sua base produtiva, impul- que perdura até as primeiras décadas do século XX;
sionada por forte ação estatal.
Como característica preliminar, pode-se dizer que essa 2. O da diversificação da base produtiva incipiente e
área vem-se afirmando, nas últimas décadas, como uma sua articulação comercial com centros produtores-consu-
economia baseada predominantemente na pecuária exten- midores nacionais e internacionais; O da criação das con-
siva de corte e de leite, e, principalmente, na produção in- dições materiais e não materiais (década de 1970) para a
tensiva de milho, algodão e soja, afora experiência isolada efetiva integração produtiva da região (década de 1980) ao
de indústrias madeireiras. movimento de produção/reprodução do capital hegemô-
Esses sistemas produtivos têm sido responsáveis pela nico nacional, quando este, concretamente, apropria-se do
produção de matérias-primas para a agroindústria e algu- espaço, via instrumento jurídico da propriedade da terra,
mas mercadorias processadas, em geral destinadas à ex- subordinando à sua lógica de desenvolvimento os proces-
portação como grãos, carnes e algodão e, portanto, desen- sos de trabalho e de produção existentes em quase todos
cadeadores do próprio processo de agroindustrialização os segmentos da economia regional.

10
GEOGRAFIA DE MATO GROSSO

3. Assim, para melhor compreensão sobre o processo somente na organização de um setor primário dinâmico,
de ocupação do estado de Mato Grosso, uma vez que ele baseado numa gama variada de produtos (extrativos ve-
será apresentado de uma forma sintética, achou-se melhor getais, agrícolas, pecuários, etc.), mas também num leque
dividir essa abordagem em sete fases. de impactos socioeconômicos e ambientais de natureza e
A primeira fase de ocupação do território mato-gros- intensidade diversas.
sense tem seu início nos séculos XVII-XVIII, com a penetra- De maneira geral, a agricultura empresarial localizou-
ção portuguesa em terras de Mato Grosso promovida pelas -se nas áreas planas dos cerrados, cujos solos são poten-
incursões de bandeirantes paulistas. A partir de então, o cialmente de boa qualidade. A pecuária, além de estar
avanço bandeirante em direção ao oeste intensificou-se também nesse tipo de ambiente, tende a ocupar áreas
cada vez mais, na medida em que o aprisionamento de mais antigas, anteriormente exploradas pela agricultura
índios para o trabalho escravo na Província de São Paulo tradicional, ou expande-se para a região de fronteira de
constituía-se numa atividade bastante lucrativa. ocupação, em áreas onde as condições ecológicas e/ou o
O final dessa fase encerra-se quando o ouro de Mato fator distância (fretes) são desfavoráveis à grande empre-
Grosso, que tinha proporcionado grande riqueza ao final sa de exploração agrícola. (DSEE/ZSEE – Relatório sobre o
do século XVIII à Coroa Portuguesa, começa a dar sinais de Processo de Ocupação do Estado de Mato Grosso. Cuia-
esgotamento, disso resultando o esvaziamento dos princi- bá: Seplan, 1997). Em linhas gerais, o modelo de ocupação
pais núcleos populacionais ligados à mineração. pautado na agricultura “moderna” mantém-se ancorado
A segunda fase de ocupação do território mato-gros- no modelo agroexportador de contexto “maior” (nacional/
sense acontece nos séculos XIX-XX. Ela mostra que os nú- internacional) e nas políticas agrícolas nacionais (crédito e
cleos portuários mais antigos como Cuiabá, Corumbá e financiamento).
Cáceres convivem com uma intensa atividade econômico- Esse modelo de ocupação, na medida em que privi-
comercial. legia a agropecuária de caráter empresarial e as cadeias
Cáceres firma-se como centro exportador da poaia, agroindustriais associadas aos produtos de mercado exter-
cuja extração e comercialização gerou grande movimento no (soja, cana-de-açúcar, carnes, milho, madeira) tende a
agrícola e comercial nas cidades de Barra do Bugres, Vila adequar-se às normas e padrões determinados pelos mer-
Bela da Santíssima Trindade e Cuiabá, e também através da cados nacionais e internacionais, inclusive quanto à mitiga-
exportação da seringa (látex), extraída na Bacia Amazônica. ção dos impactos ambientais derivados.
A terceira fase de ocupação é marcada pela “Marcha para o
Oeste” (1930-1950), cujo fator principal foi uma política de 3- DEMOGRAFIA
interiorização da economia e de incorporação das regiões
Centro-Oeste e Norte ao processo de reprodução do capi- O estado de Mato Grosso, de acordo com dados do
tal hegemônico nacional. Enquanto área de fronteira, a ne- IBGE, possuía em 1940, 192.531 habitantes, já em 2010,
cessidade de legitimar os limites estabelecidos, através de aproximadamente 70 anos depois, este número subiu para
uma ocupação efetiva do território, foi uma constante em 3.033.991 habitantes. Vivem na zona urbana 81,9% da po-
toda a formação histórica de Mato Grosso. A quarta fase pulação, contra 18,1% da zona rural. O número de homens
de ocupação do território mato-grossense é marcada com corresponde a 51,05% da população, sendo ligeiramente
a construção de Brasília (final da década de 1950 a 1960). superior ao das mulheres, que representa 48,95%.
A quinta fase (final da década de 1960 a 1970) foi in- A área geográfica corresponde a 903.357,9 km2 e con-
titulada como sendo a da implementação dos primeiros templa uma densidade demográfica de 3,36 hab./km2. En-
programas de desenvolvimento da região Centro-Oeste, tre 1940 e 1970, Mato Grosso passou por um lento processo
corporificados, em grande parte, no I e II PND (Programa de crescimento populacional. O Programa Federal “Marcha
Nacional de Desenvolvimento), e com a intensificação do para o Oeste” no período 1930/1950, que objetivava dar
fluxo migratório dirigido a essa região. início ao processo de integração dessa área ao território
A sexta fase de ocupação compreendeu os programas nacional, através de políticas de integração e garantia dos
de desenvolvimento, pós década de 1970, como o Polo- limites territoriais nas áreas de fronteiras, pouco contribuiu
centro, o Polonoroeste e o Prodeagro. Somente a partir para o incremento populacional e, consequentemente, fi-
dessa década e fruto de uma intervenção do Estado Na- xação do homem à terra.
cional, planejada e dirigida à ocupação do Centro-Oeste e Foi com a construção de Brasília que começou efeti-
Amazônia, é que se criam, na região, as condições efetivas vamente o processo de ocupação e integração da região
para a apropriação do espaço pelo capital e, além disso, CentroOeste ao território nacional, sobretudo devido aos
para sua transformação em espaço econômico integrado reforços de investimentos governamentais em infraestru-
ao movimento dominante da produção/reprodução do ca- tura viária na região, cujo processo contava com uma po-
pital, tanto nacional como internacional. (SIQUEIRA, 1990). lítica nacional com forte apoio na mobilização de recursos
A sétima fase é a atual, ou seja, os avanços recentes da destinados ao financiamento das empresas e nas obras
fronteira agrícola do território rumo à “consolidação”. Dessa de infraestrutura, com destaque à rodovia Belém-Brasília,
forma, as frentes de expansão fizeram surgir um conjunto abertura das BRs-364 e 163 e implementação de progra-
variado de formas de apropriação do espaço agrário, que mas de ocupação e colonização na região. Ainda assim,
se tornou também responsável pela transformação da pai- essa ocupação e expansão populacional, em nível da re-
sagem natural do Estado. Essa transformação implicou não gião Centro-Oeste, não se deu uniformemente no espaço

11
GEOGRAFIA DE MATO GROSSO

e tempo, sendo inicialmente, no Estado de Goiás (até 1970, por serviços típicos de uma população mais velha, uma vez
detinha 50% da população regional) e em Mato Grosso do que a tendência dessa população é crescente, o que afetará
Sul, e a partir da década de 1960 também no Estado de o consumo, a transferência de capital e propriedades, im-
Mato Grosso. (Polonoroeste, 1991). postos, pensões, mercado de trabalho, saúde e assistência
A partir de 1970, a expansão se revigora na porção nor- médica, composição e organização da família.
te de Mato Grosso e na região Norte do país por força dos
incentivos à ocupação de terras e estímulos ao desenvolvi- 4- ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO HUMANO
mento regional. Na década correspondente a 1970/1980, a
população de Mato Grosso obteve um crescimento anual O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é uma
de 6,62% contra 2,98% do Centro-Oeste e 2,49% do Brasil. medida comparativa de riqueza, alfabetização, educação,
No período correspondente entre 1980 e 1991, Mato esperança de vida, natalidade e outros fatores para medir o
Grosso apresentou um crescimento populacional anual na nível de desenvolvimento humano dos diversos países do
ordem de 5,38%, bem superior à taxa do Brasil que foi de mundo. É uma maneira padronizada de avaliação e medida
1,93%. Continuava essa década igual à anterior, mostran- do bem-estar de uma população, especialmente bem-estar
do forte crescimento populacional alicerçado fundamen- infantil.
talmente pela migração, pois se tratava de uma área de O índice foi desenvolvido em 1990 pelo economista
fronteira recente. paquistanês Mahbub ul Haq, e vem sendo usado desde
A partir de 1991 começa a retração do crescimento po- 1993 pelo Programa das Nações Unidas para o Desen-
pulacional no estado de Mato Grosso, isto sendo válido até volvimento em seu relatório anual. Não abrange todos os
a data atual, com taxa de crescimento anual em torno de aspectos de desenvolvimento e não é uma representação
2%. Em primeiro lugar, pode-se dizer que a principal causa da “felicidade” das pessoas, nem indica “o melhor lugar no
do desaceleramento nas taxas de crescimento populacio- mundo para se viver”.
nal nos períodos mais recentes foi a drástica diminuição O objetivo da elaboração desse índice é oferecer um
dos fluxos migratórios dirigidos para Mato Grosso, ocasio- contraponto a outro indicador muito utilizado, o Produto
nados principalmente pelo “fechamento da fronteira”. Interno Bruto (PIB) per capita, que considera apenas a di-
Outro fato é a queda generalizada das taxas de fe-
mensão econômica do desenvolvimento.
cundidade em todo o país, refletindo sobre o crescimento
Os critérios para a sua elaboração levam em conta três
demográfico. Grande parte do território de Mato Grosso
indicadores, ou seja, Educação, longevidade e o PIB per ca-
não se constitui mais numa área de fronteira, pois, segundo
pita, depois de corrigido pelo poder de compra da moeda
alguns estudiosos, trata-se de um território já consolida-
de cada país. Para avaliar a dimensão da educação, o cál-
do. No entanto, alguns estudos apontam para a existência
culo do IDH considera dois indicadores. O primeiro é a taxa
de uma área localizada no noroeste do Estado que ainda
de alfabetização, considerando o percentual de pessoas
pode ser considerada como fronteira agrícola, mas que
acima de 15 anos de idade; esse indicador tem peso dois.
com certeza não deverá atrair para o território um fluxo
populacional considerável, uma vez que o seu processo de O Ministério da Educação indica que se a criança não
ocupação é diferente daquele ocorrido no passado. Diante se atrasar na escola ela termina o principal ciclo de estudos
disto, resta-nos entender o processo da evolução da po- (Ensino Fundamental) aos 14 anos de idade. Por isso, a me-
pulação através do crescimento vegetativo, uma vez que o dição do analfabetismo se dá a partir dos 15 anos.
processo da dinâmica demográfica é de suma importância O segundo indicador é o somatório das pessoas, in-
para a proposição de políticas públicas. dependentemente da idade, que frequentam algum curso,
Dessa forma, com o declínio rápido e generalizado da seja ele fundamental, médio ou superior, dividido pelo total
fecundidade no Brasil, como também está acontecendo de pessoas entre 7 e 22 anos da localidade. Também en-
nos países desenvolvidos e em alguns do terceiro mundo, tram na contagem os alunos de cursos supletivos, de clas-
é bastante realista supor que ao final da segunda década ses de aceleração e de pós-graduação.
do próximo século a população do país deverá apresentar O sistema de equivalências Rvcc ou Crvcc está igual-
níveis de fecundidade e mortalidade que, no longo prazo, mente incluído na contagem, mas as classes especiais de
lhe garantam taxas de crescimento em torno de zero (Car- alfabetização são descartadas para efeito do cálculo. O
valho, J. A. Magno, 2004). item longevidade é avaliado considerando a esperança de
Com base na afirmação do referido autor, pode-se vida ao nascer. Esse indicador mostra a quantidade de anos
também prever para o estado de Mato Grosso um cenário que uma pessoa nascida em uma localidade, em um ano de
próximo da realidade brasileira, o que acarretará em no- referência, deve viver.
vos desafios por parte do poder público. Uma população Ocultamente, há uma sintetização das condições de
com crescimento bem inferior ao que vinha acontecendo saúde e de salubridade no local, já que a expectativa de
em décadas passadas, com baixo índice de mortalidade in- vida é diretamente proporcional e diretamente relacionada
fantil e fecundidade, influenciará diretamente a estrutura ao número de mortes precoces. A renda é calculada tendo
socioeconômica da população. Se por um lado desafogará como base o PIB per capita do país ou município. Como
o sistema escolar, diminuindo, inclusive, a pressão sobre a existem diferenças entre o custo de vida de um país para o
educação de jovens e adultos, devido ao declínio da popu- outro, a renda medida pelo IDH é em dólar PPC (Paridade
lação mais jovem, por outro deverá haver maior demanda do Poder de Compra), que elimina essas diferenças.

12
GEOGRAFIA DE MATO GROSSO

O Brasil está na 70ª colocação no ranking do IDH de REDUZIU A OCUPAÇÃO E O RENDIMENTO DO TRA-
2008 (179 países no total), com um índice de 0,807 (alto de- BALHO
senvolvimento humano). Desde 1990, já subiu 14 posições.
De acordo com o PNUD, a melhora do indicador brasileiro A crise de 2009 afetou o mercado de trabalho. Entre
pode ser creditada aos avanços no aumento de sua taxa 2008 e 2009, a taxa de desemprego aumentou 0,4 pontos
de alfabetização, uma vez que o aumento da expectativa percentuais, de 5,8% para 6,2%; e a população desocupada
de vida e do PIB per capita foram pequenos. O Estado de aumentou em 9,5%, de 94 mil para 103 mil pessoas. Apesar
Mato Grosso, no ano de 2000, foi considerado o 9º Estado disso, o desemprego alcançado em 2009 está abaixo da
brasileiro em IDH, atrás do Distrito federal, São Paulo, Rio média verificada no período 2001-2008 (6,9%). Outra ob-
de Janeiro, Paraná, Rio grande do Sul, Santa Catarina, Mato servação importante é que a taxa de desemprego no Esta-
grosso do Sul e Goiás. Mas, em 30 anos da sua mensura- do tem ficado sistematicamente abaixo da média nacional:
ção, Mato Grosso vem melhorando esse índice. 6,8% contra 8,7% (média do período 2001-2009).
Em 1970, seu IDH era 0,458, sendo considerado bai- O rendimento médio do trabalho alcançou a marca de
xo. No decorrer desses 30 anos, seu crescimento aumen- R$ 1.006,00 em setembro de 2009, segundo a Pnad/IBGE.
tou consideravelmente, atingindo um índice de 0,767 no Esse valor só foi superado, em termos reais, pelo verificado
ano 2000, índice esse superior à média do Brasil, que foi de em 2008 (R$ 1.128,00), ano de forte expansão da atividade
0,766 naquele ano. Quanto ao IDH dos municípios de Mato econômica. A crise econômica de 2009 afetou com mais
Grosso, Sorriso foi o que apresentou a melhor evolução, intensidade os estratos mais ricos. Os 10% mais ricos tive-
passando do 6º lugar em 1991 para o 1º lugar em 2000. ram uma perda real de 21,7% em seus rendimentos; o 9º
Cuiabá também galgou uma posição melhor, passando do decil (segundo decil mais rico) teve uma perda de 5,1%;
3º lugar para 2º lugar; já Sinop retroagiu do 1º lugar em entre o 2º e o 7º decil (60% dos trabalhadores) a tendência
1991, para o 7º lugar em 2000. Vale mencionar que no ano foi de aumento do rendimento real. Aparentemente, a crise
2000 nenhum município de Mato Grosso foi classificado na afetou também os 10% mais pobres, que perderam 1,36%
categoria de índice baixo, (inferior a 0,500). (uma variação insuficiente para ter significado estatístico).
Se à primeira vista essa situação parece ser muito boa Como os 10% mais ricos se apropriam de 38,9% da renda
para o Estado, dando a impressão do bom desenvolvimen- total do trabalho (2009), a perda de renda desse estrato
to humano da população dos municípios, por outro, essa afetou de forma significativa o rendimento médio global.
classificação não mostra com fidelidade a verdadeira reali-
dade socioeconômica. Esse fato é explicado pela metodo- 5.2- DESIGUALDADE NA RENDA DO TRABALHO VOLTA
logia adotada para o seu cálculo, onde existem apenas três A CAIR EM 2009
classes, – alto, médio e baixo. Desta forma, os intervalos
entre cada uma dessas classes é muito grande, mascarando Em 2008, o índice de Gini (que mede a desigualdade
essa classificação. Como exemplo, pode-se citar a classifi- da concentração de renda) dos rendimentos do trabalho
cação média, onde os intervalos variam de 0,500 a 0,799. chegou a 0,5308, marcando uma ruptura na tendência de
Em nível municipal, o ideal seria aumentar as classes redução ocorrida nos anos anteriores. Em 2009, o achata-
para cinco, pois assim diminuiriam os intervalos entre cada mento das rendas mais elevadas por conta da crise reduziu
uma delas. o índice para 0,4762, valor mais baixo da série 1996 e 2002-
2009. A desigualdade permanece muito elevada: a renda
5- TRABALHO E RENDA média dos 40% mais pobres equivale a 9,2% da renda mé-
dia dos 10% mais ricos
A população economicamente ativa (PEA) do Estado
de Mato Grosso (uma medida da população que está à dis- 5.3- TRABALHO FORMAL
posição do mercado de trabalho) era de 1,66 milhões de
pessoas em 2009, o que representava 54,4% da população Entre 2004 e 2009 o total de postos de trabalho no
residente ou 65,5% da população em idade ativa (PIA, for- mercado formal em Mato Grosso cresceu 31,7%, de 472.6
mada pelas pessoas de 10 anos ou mais). mil para 622,4 mil. No mesmo período, a população econo-
Entre 2000 e 2009, a taxa de atividade média do Es- micamente ativa (PEA) e a população residente cresceram
tado, medida pela relação percentual entre a PEA e a PIA 10,5% e 9,3%, respectivamente. Portanto, o mercado for-
evoluiu de 57,6% para 65,5%. Os dados mostram que a taxa mal de trabalho cresceu três vezes acima do crescimento
de atividade é relativamente estável entre os homens (em populacional.
torno de 76,5%) e crescente entre as mulheres. Em termos relativos, o setor de atividade que mais ex-
De fato, a PEA feminina cresceu 40% de 2001 a 2009, pandiu o emprego formal foi a construção civil. Neste setor,
enquanto a população em idade ativa (PIA) feminina au- o total de postos de trabalho cresceu 76,1%, passando de
mentou apenas 26,4% no período. Com isso, a taxa de ati- 15,8 mil para 27,9 mil (entre 2004 e 2009). Com isso, a par-
vidade entre as mulheres aumentou de 49,1% para 54,4%. ticipação relativa da construção civil no total de postos de
Ainda assim, para se aproximar da taxa de atividade verifi- trabalho aumentou de 3,35% para 4,48%.
cada entre os homens, outras 274,7 mil mulheres deveriam
se incorporar à força de trabalho 40% a PEA feminina atual.
5.1- CRISE DE 2009

13
GEOGRAFIA DE MATO GROSSO

5.4- EMPREGO FORMAL NA PNAD área colhida, passando de 42.259 há para 357.543 ha, mos-
trando um incremento de 746,07%, bem como também na
O avanço do emprego formal pode ser constatado sua produção, que passou de 78.376 (t) para 1.415.921 (t),
em outra fonte estatística, a Pnad (Pesquisa Nacional por enquanto sua produtividade passou de 1.854 Kg/ha para
Amostra de Domicílios). Os dados da Pnad são obtidos por 3.960 Kg/ ha, obtendo um crescimento de 113,59%.
amostragem e referem-se ao mês de setembro. Diversa- Esta cultura tem a sua dominância de plantio e de sua
mente, os dados da Rais/Caged são baseados em regis- produção nos municípios de Campo Verde, Sapezal, Prima-
tros administrativos e referem-se ao mês de dezembro. De vera do Leste, Pedra Preta, e em quinto lugar o municí-
acordo com a Pnad, em 2001 os empregados com carteira, pio de Diamantino. Porém, há de se ressaltar que a área
os militares e os funcionários públicos somavam 373 mil colhida dessa cultura em 2009 foi a menor verificada nos
pessoas, ou 52,5% do total de empregados. últimos seis anos. No entanto, a produtividade manteve-se
Em 2009, essas categorias somavam 605 mil pessoas e no mesmo patamar dos anos anteriores, isto em função das
representam 67,7% do total de empregados. Inversamente, tecnologias adotadas, bem como também pelas condições
os empregados sem carteira tiveram sua participação redu-
climáticas favoráveis. A cultura da soja de 1997 a 2009 teve
zida de 47,4% para 32,35%, entre 2001 e 2009. O grau de
um crescimento considerável tanto na área colhida, pas-
formalização do mercado de trabalho vem aumentando a
sando de 2.192.514 ha para 5.831.468 ha, mostrando um
um ritmo médio de 1,7% ao ano.
incremento de 165,97%, bem como também na sua produ-
6- ASPECTOS ECONÔMICOS AGROPECUÁRIA ção, que passou de 6.060.882 (t) para 17.962.819 (t), mos-
trando aumento de aproximadamente 196%, e também
João Benedito Pereira Leite Sobrinho1 O Estado de sua produtividade que passou de 2.764 Kg/ha para 3.080
Mato Grosso está localizado no Centro-Oeste Brasileiro e Kg/ha. Esta cultura tem a sua dominância de plantio e de
tem o privilégio de ser contemplado pelos biomas Floresta, produção nos municípios de Sorriso, Nova Mutum, Sape-
Cerrado e o Pantanal, mostrando, assim, a imensa diversi- zal, Campo Novo do Parecis, e em quinto lugar o município
dade de ambiente existente na área. Mato Grosso apresen- de Diamantino.
ta grandes extensões de terra com características favorá- A cultura do milho de 1997 a 2009 teve crescimento
veis à mecanização, solos planos e profundos. Associados tanto na sua área colhida, passando de 573.276 há para
ao clima (temperatura, luminosidade e chuva), tais fatores 1.662.920 ha, apresentando incremento de 190,07%, bem
proporcionam ao Estado um lugar de vocação natural para como também na sua produção, que passou de 1.520.695
a agropecuária e todos os negócios de sua cadeia produ- (t) para 8.181.984 (t), mostrando aumento de 438,04%, e
tiva, favorecendo em muito o setor na produção de grãos, sua produtividade passou de 2.652 Kg/ha para 4.920 Kg/ha,
frutas, e também carne, leite, ovos dentre outros para abas- obtendo um crescimento de 85,52%.Esta cultura tem a sua
tecer o mercado interno e especialmente o mercado exter- dominância de plantio e de sua produção nos municípios
no, gerando, assim, divisas para o Estado. de Sorriso, Lucas de Rio Verde, Campo Novo do Parecis, Sa-
Nos últimos anos, observou-se um crescente aumen- pezal, em quinto lugar o município de Primavera do Leste.
to na produção do setor agropecuário, em especial para A cultura do feijão de 1997 a 2009 teve crescimento tanto
sua produtividade. Tal fato foi impulsionado principalmen- na sua área colhida, passando de 28.572 ha para 153.283
te pelas inovações tecnológicas decorrentes das pesquisas ha, apresentando incremento de 436,47%, bem como
adotadas nas diversas áreas, uso intensivo do solo, através também na sua produção, que passou de 19.988 (t) para
do plantio direto, emprego de novos implementos e má- 190.128 (t), mostrando aumento de 851,21%, e sua produ-
quinas, correções e adubações adequadas. Pode-se dizer tividade passou de 699 Kg/ ha para 1.240 Kg/ha, obtendo
também que o uso de sementes selecionadas e fiscaliza- um crescimento de 77,40%.
das, manejos de solos e pragas integradas, melhoramento
Esta Cultura tem a sua dominância de plantio e de sua
genético do gado, inseminação artificial são técnicas que
produção nos municípios de Primavera do Leste, Campos
uma vez adotadas e implementadas proporcionou o gran-
de Júlio, Sapezal, e em quinto lugar o município de Campo
de salto na produção deste setor nos últimos anos.
Verde. No que se refere à área plantada de grãos, oleagi-
O Estado destaca-se no cenário nacional e interna-
cional como grande exportador, apresentando uma pauta nosas e fibras em Mato Grosso, na safra 1996/1997 a área
de exportação agrícola diversificada, na qual os principais plantada foi de 3.253.190 ha, passando para 8.454.070 ha
produtos são algodão, milho, açúcar, carne bovina, suína e na safra 2008/2009, portanto, obtendo um incremento na
aves, entre outros. No que tange ao setor agrícola, pode- ordem de 159,87%. Com relação a sua produção, conside-
-se dizer que ele vem se destacando, obtendo crescimento rando o mesmo período, passou de 8.491.530 toneladas
considerável principalmente na produção e na produtivida- para 28.312.743 toneladas, mostrando um crescimento de
de, em decorrência do melhoramento genético, introdução 233,42%. O Estado atingiu seu ápice de produção no ano
de novas cultivares, correções, adubações e tratos culturais de 2005, onde ficou em primeiro lugar no ranking, manten-
adequados. Tudo isto permitiu elevar os rendimentos de do-se nos anos de 2006/2007 e 2008 sempre em segundo
algumas culturas, em especial as de Algodão, Soja, Feijão, lugar quando comparado sua participação com outros es-
Milho e cana-de-açúcar. A Cultura de Algodão no ano de tados, e em relação ao Centro-Oeste teve participação em
1997 a 2009 teve um crescimento substancial, tanto na sua torno de 55,31% no ano de 2008.

14
GEOGRAFIA DE MATO GROSSO

A Pecuária, assim como a Agricultura, é uma atividade mazônia). Ao se analisar os dados relativos a atividade in-
muito importante para a economia do estado, uma vez que dustrial de Mato Grosso se observa o crescente aumento
grande parte de sua produção é direcionada para abaste- deste segmento, sendo que em 2007 havia 2.405 unidades
cer o mercado interno e em especial para ser exportada a locais, e 2.559 em 2008 (IBGE, 2010).
outros países. A Pecuária, embora com menor intensidade, Em 2007 este segmento já ocupava 82.543 trabalhado-
registrou também crescimentos. De 1998 a 2009, o reba- res, sendo 85.183 em 2008 (IBGE, 2010), o que equivale a
nho bovino aumentou 63,31%. De 2004 a 2009, o Estado um aumento de 3,2% em comparação ao ano anterior. Este
ostentou sempre o primeiro lugar no ranking dos maiores pequeno aumento é um fator importante, pois mesmo com
produtores de bovinos do Brasil, atingindo em 2008 um to- a falência de várias instituições financeiras multinacionais
tal de 26.018.216 cabeças, participando com aproximada- no final de 2008, os investimentos industriais no Brasil não
mente 13% do rebanho nacional e quase 38% do rebanho diminuíram, devido ao maior controle que o Estado Brasi-
do Centro-Oeste. leiro tem sobre o sistema financeiro nacional, e também ao
A produção de carne bovina, que era de 592 mil to- aumento do consumo interno. Entre os vários setores da
neladas em 2002, saltou para 1.010.482,77 toneladas em atividade industrial em 2008 no Estado, a indústria de pro-
2009, registrando um crescimento de 70,69%, em torno de dutos alimentícios era responsável pela ocupação de 48%
10% ao ano. O índice de volume acumulado da atividade da mão de obra, enquanto que a indústria de produtos da
pecuária referente aos anos de 2002 a 2008 foi de 113,60, o madeira ocupava 17%, e 6% era ocupado na fabricação de
que equivale a uma taxa geométrica de crescimento médio produtos de minerais não metálicos.
anual de 2,15 ao ano. No ranking dos maiores produtores Estes três segmentos respondiam por 71% do pessoal
de bovinos por municípios do Estado de Mato Grosso no empregado na indústria no ano de 2008. Enquanto que em
ano de 2009, conforme, destaque para os municípios de 2007 esse percentual era de 46%, 19% e 6% respectivamen-
Juara, Alta Floresta, Vila Bela da Santíssima Trindade e Cá- te. Considerando o custo das operações industriais, se ve-
ceres, respectivamente ocupando o 1º, 2º, 3º e 4º lugares. rificou que houve um aumento de 20% entre 2007 e 2008,
São municípios que apresentam características próprias enquanto que o valor bruto da produção industrial aumen-
para este tipo de atividade. O Estado de Mato Grosso, no tou 25,6% no mesmo período, e o valor da transformação
ranking dos maiores produtores de bovinos do Brasil, os- industrial cresceu 40,6%. Dentre as atividades industriais, a
tenta desde 2004 o primeiro lugar, chegando neste último indústria de produtos alimentícios contribui com 58% do
ano (2009) com 27.357.089 cabeças, registrando uma par- valor de transformação industrial, seguido pela indústria
ticipação de aproximadamente 13% no contexto brasileiro, de produtos de madeira e de produtos químicos, com 9%
superando Mato Grosso do Sul e Minas Gerais. A produção cada. Outro fator importante é que houve uma queda de
de carne suína, que era de 21.367,5 toneladas em 2002, 5% na relação entre os custos das operações industriais e
atingiu em 2009 mais de 132 mil toneladas, registrando um o valor bruto da transformação industrial de produtos ali-
crescimento de aproximadamente 518%, ou 74% ao ano. mentícios entre 2007 e 2008.
No setor avícola (Tabela 23), que era de 97.202,9 toneladas Estes resultados indicam a importância da produção
em 2002, saltou para quase 349.197,9 toneladas em 2009, agropecuária na industrialização recente do Estado de
registrando um crescimento considerável de 259,2%, ou Mato Grosso. Tendo em vista o aquecimento recente da
37,03% ao ano. economia brasileira onde a construção civil é um impor-
tante termômetro de medição, a produção e o consumo
7- INDÚSTRIA de cimento são variáveis importantes. Assim, se verificou
que em 2008 o Estado de Mato Grosso representou 1,9%
Rodrigo Marques1 No cenário nacional, o estado de do consumo nacional de cimento e 1,7% da sua produção.
Mato Grosso é conhecido pela grande produção agrícola Comparando o período entre 2003 e 2008, houve um au-
e rebanho bovino. Entretanto, passou por um processo de mento de 47,8% no consumo de cimento no país, saltando
industrialização nos últimos anos, sobretudo na industria- de 34,884 milhões de toneladas em 2003 para 51,571 mi-
lização de alimentos, beneficiando grãos e carne produzi- lhões de toneladas em 2008. No mesmo período, o esta-
dos no próprio estado e agregando valor à produção local. do de Mato Grosso apresentou uma evolução de 49% no
As primeiras indústrias no estado de Mato Grosso datam consumo, saltando de 668 mil toneladas em 2003 para 995
do século XIX, sendo as usinas de produção de açúcar e mil toneladas em 2008, representando 18,9% do consumo
aguardente muito importantes, estando localizadas em sua na região Centro-Oeste em 2003 e 18,2% em 2008 (SNIC,
maioria no atual município de Santo Antônio de Leverger. 2010).
Também era importante a produção de charque na região Um grande entrave para o maior desenvolvimento do
de Cáceres. Após o Programa de Integração Nacional (PIN) estado tem sido a logística de transporte, o que de um lado
na década de 1970, houve grandes mudanças na estrutura pode facilitar a instalação de novas unidades industriais,
de Mato Grosso (Romancini, 2001). mas também facilitar a saída da produção agropecuária in
Assim, este projeto se preocupou com a criação de es- natura. Os desafios ambientais também precisam de uma
tradas indispensáveis para a região, bem como em promo- atuação mais forte do estado, uma vez que a maior preocu-
ver uma política de estímulos para a formação de polos pação que existe em relação ao setor industrial é no que se
agrícolas e industriais em Mato Grosso (criando-se projetos refere aos resíduos gerados e quais tratamentos e destinos
como o Proterra, Prodoeste, Probor, Polocentro e o Pola- esses recebem. A importância do setor industrial se deve

15
GEOGRAFIA DE MATO GROSSO

ao fato de agregar valor à produção e ao PIB estadual, bem comércio de Mato Grosso frente a 2007. O total de pessoal
como exige mão de obra qualificada, o que faz aumen- ocupado passou de 142,6 mil em 2007 para 153,9 mil em
tar a escolaridade dos trabalhadores. E assim, os tributos 2008. O segmento de veículos e peças com a contratação
gerados pelo aumento do valor da produção, se usados de 4.762 pessoas teve o melhor desempenho (23,83%), se-
corretamente, refletirá em mais recursos para o desenvol- guido pelo comércio atacadista com 20,18% ou 4.648 pes-
vimento de políticas públicas que atendam as demandas soas contratadas. No mesmo período, o varejo contratou
da sociedade. 1.958 pessoas ou 1,97% de incremento. O varejo empregou
em 2008 70% dos trabalhadores do comércio, o atacado
8- COMÉRCIO 16% e veículos e peças 14%. Observa-se que, de maneira
geral, o varejo foi a categoria do comércio que obteve o
Eduardo Matsubara1 Os dados da Pesquisa Anual de pior desempenho em 2008, influenciando o resultado glo-
Comércio – PAC revelam que no ano de 2008, a atividade bal do setor. Esse desempenho ainda reflete a forte crise
comercial começou a recuperar-se dos efeitos da crise vi- vivida no agronegócio em 2006.
vida em 2006 pelo agronegócio estadual. Dentre os Esta-
dos do Centro-Oeste, Mato Grosso teve o segundo melhor 9- MERCADO EXTERNO
desempenho em receita bruta de revenda e em número
de estabelecimentos comerciais. A margem de comercia- Eduardo Matsubara1 O Estado de Mato Grosso expor-
lização, as remunerações pagas e o número de pessoal tou US$ 7,81 bilhões em 2008, o que representou um cres-
ocupado no comércio tiveram o terceiro desempenho do cimento de 52,26% em relação ao valor do ano anterior. O
Centro-Oeste. A receita bruta de revenda em valores no- saldo comercial gerado foi de US$ 6,5 bilhões, valor 35,4%
minais passou de R$ 27,3 bilhões em 2007, para R$ 33,7 superior ao saldo de 2007 e correspondente a 26,3% do
bilhões em 2008, em termos percentuais o crescimento foi saldo comercial brasileiro. A União Europeia foi o principal
de 23,52%, enquanto que em nível regional a média foi destino dos embarques estaduais em 2008, somando US$
20,97% e a nacional foi 20,09%. O segmento do comércio 3,14 bilhões, ou 42,42% de participação. A Ásia participou
de veículos e peças apresentou o maior crescimento com com a compra de 35% das exportações do Estado, ou US$
47,24%. Este segmento tem peso de 13,4% no comércio 2,73 bilhões. Este valor representou um crescimento de
estadual total. O comércio varejista, que representa 31% do 88,7% sobre o ano anterior. A soja e seus derivados, com
comércio total cresceu 21,7% no mesmo período. O menor US$ 5,49 bilhões, foram responsáveis por aproximada-
percentual de crescimento coube ao comércio por atacado mente 70% da pauta de exportação mato-grossense. Em
com 19,85%, com peso equivalente a 55,5% do comércio seguida, as exportações de carnes totalizaram US$ 941,6
total. Quando comparamos a margem de comercialização, milhões, ou 12% de participação, o milho US$ 566,4 mi-
verificamos que o Estado teve um desempenho abaixo da lhões (7,25%) e o algodão US$ 435,7 milhões (5,56%). Em
média, tanto do Centro-Oeste quanto do Brasil. O per- 2009, as exportações brasileiras caíram 22,7% em relação
centual de crescimento de Mato Grosso foi de 16,99%, o a 2008. Em direção contrária, Mato Grosso apresentou um
Brasil foi de 18,66% e o Centro-Oeste de 24,4%. A mar- crescimento no valor exportado de 8,74% sobre o ano an-
gem estadual passou de R$ 5,16 bilhões em 2007 para R$ terior e contabilizou US$ 8,49 bilhões. Porém, na análise
6,04 bilhões em 2008. A revenda de veículos e peças com da quantidade física exportada, percebe-se que o cresci-
39,10% teve o maior percentual da atividade. O comércio mento foi de 29,5% no mesmo período. Isso significa di-
atacadista apresentou 19,47% e o varejo 8,58%. O atacado zer que houve queda no preço internacional dos produtos
é responsável por 43,7% da margem comercial do esta- exportados comparados ao preço do ano anterior e, con-
do, seguido pelo varejo com 41,7% e veículo e peças com sequentemente, uma diminuição na renda líquida do pro-
14,6%. No entanto, a melhor margem de comercialização dutor. As importações de Mato Grosso recuaram 38% em
quando comparada a receita bruta é a do varejo com 24%, 2009, totalizando US$ 792 milhões contra US$ 1,3 bilhões
veículos e peças vem em seguida com 19,5% e por último, no ano anterior. Isto contribuiu para que seu saldo comer-
o atacado com 14,1%. Na análise das remunerações pagas cial fosse ampliado em 18% e atingisse US$ 7,7 bilhões,
pelas empresas comerciais em 2008 em comparação ao ou 30% do saldo comercial do Brasil. A Ásia, com US$ 3,83
ano anterior, notou-se que o segmento de veículos e pe- bilhões, tornou-se o principal destino das exportações de
ças teve o maior incremento (48,67%), comércio atacadista Mato Grosso com 45% dos embarques. Praticamente não
(32,62%) teve o desempenho intermediário e o varejista sofreu com a crise internacional, e neste ano ampliaram
(8,77%) ficou com o pior aumento. Entretanto, o varejo tem em 40% suas importações do estado quando comparado
a maior participação nas remunerações pagas com 56,9% com 2008. A União Europeia, fortemente atingida pela cri-
do valor pago pelo comércio, ou R$ 850,6 milhões. O ata- se mundial, apresentou queda de 15,3% nas importações
cado com R$ 378,8 milhões representou 25,3% e a reven- mato-grossenses e neste ano participou com 33%, ou US$
da de veículos e peças participou com 17,8%, ou R$ 266,5 2,8 bilhões em compras. Com crescimento de 9,5% no va-
milhões. O total das remunerações do comércio de Mato lor, a soja e derivados somaram US$ 6 bilhões em 2009
Grosso cresceu 19,97% em 2008 frente a 2007, porém este e representaram 70,74% do total exportado. O milho com
percentual foi inferior ao do Centro-Oeste (22,46%), porém US$ 830 milhões apresentou um incremento de 46,6% nes-
foi superior ao do Brasil (18,77%). Houve em 2008 um au- te ano e participou com 9,77%. Em seguida, carnes com
mento na ordem de 8% no número de pessoal ocupado no US$ 821 milhões tiveram um decréscimo de 12,77% e sua

16
GEOGRAFIA DE MATO GROSSO

participação caiu para 9,69%. A principal responsável pela 10.2- INDÚSTRIA


queda nas exportações de carnes foi a carne bovina, que
teve diminuição de seu valor exportado em 24,26%. Em A Indústria mato-grossense cresceu 5,4% A Indústria,
2009 exportou US$ 528 milhões contra US$ 698 milhões composta de transformação, construção civil, extrativismo
no ano anterior. Sua participação nas exportações de car- mineral e eletricidade tem sido o segundo setor de susten-
nes passou de 74,1 % em 2008 para 64,34% em 2009. As tação da economia do Estado nos últimos anos. Em 2008,
aves tiveram um acréscimo de 11,54% e registraram US$ cresceu 5,39% sobre 2007. A indústria de transformação,
224 milhões no mesmo período. A avicultura elevou sua com a maior participação na indústria mato-grossense
participação de 21,3% para 27,2% em 2009. O maior au- (50,3%), teve queda de 1,4%. Este resultado foi puxado
mento percentual coube à carne suína com 73,4%, o que pelos segmentos que registraram taxas negativas como a
equivaleu a US$ 63,8 milhões em valor exportado. Como indústria do álcool (-34,5%,), do vestuário (16,4%), artefatos
consequência, a sua participação quase que dobrou em de couro e calçados (-15%), minerais não metálicos (-3,6%)
2009 (7,76%) comparado a 2008 (3,91%). e celulose e produtos de papel (-2,0%). Em contraparti-
da, as demais atividades obtiveram crescimentos nos se-
10- CONTAS REGIONAIS guintes gêneros: indústria de alimentos e bebidas (13,5%),
produtos têxteis (11,5%), produtos químicos (43,7%), e de
Marilde Brito PANORAMA ECONÔMICO RECENTE DA
máquinas e produtos das indústrias (10,5%). Outro ramo
ECONOMIA MATO-GROSSENSE – 2008 Mediante o cená-
importante para a indústria do estado é o da construção
rio macroeconômico brasileiro favorável, em 2008, a eco-
nomia mato-grossense registrou um crescimento no PIB a civil, que a partir de 2006 inicia u m processo de recupera-
preço real de 7,9%, superior à média brasileira (5,2%) e do ção. Esse segmento fechou o ano de 2008 com uma taxa
Centro-Oeste (6,0%). Em valores, o PIB de Mato Grosso a positiva de 17,3%. O resultado é explicado, em parte, pelo
preço de mercado foi de aproximadamente R$ 53 bilhões aumento de obras privadas, associado à redução da taxa de
contra R$ 42,7 bilhões em 2007, mantendo-se na 14ª po- juros Selic, maior disponibilidade de recursos para finan-
sição, participando com 1,7% do PIB nacional em 2008, ciar a aquisição de imóveis à população através de vários
contra 1,6% em 2007. O volume acumulado foi de 46% na programas do governo Federal (Minha Casa, minha vida)
série (2002-2008) e 128,4% no período 1995-2008. Nesse e Estadual, (FETHAB), Casa Fácil, além da recuperação na
último ano, o PIB matogrossense apresentou o 4º melhor renda pessoal que influenciou positivamente as pequenas
desempenho do Brasil. Em 2008, apresentou PIB per capita construções e reformas em residências, que têm peso no
de R$ 17.927,00 contra R$ 14.953,58 em 2007, ultrapassan- segmento. A produção e distribuição de eletricidade e gás,
do o estado do Paraná e ocupando a 7ª posição. O Valor água e esgoto e limpeza urbana apresentaram crescimento
Adicionado, sem incidência dos impostos, rendeu em 2008 de 15,1%.
R$ 47,2 bilhões, o que significou um crescimento de 7,1%
como resultado da produção da agropecuária, que teve 10.3- SERVIÇOS
uma taxa positiva de 7,5%, a indústria de 5,5% e os serviços
com expansão de 7,5%. Os serviços participam com 55,2% da economia ma-
to-grossense Os serviços têm incrementado a economia
10.1 - AGROPECUÁRIA mato-grossense com uma participação de 55,2%. Em 2008,
os serviços cresceram 7,7% sobre 2007. Os principais re-
Safra recorde de grãos em Mato Grosso provocou um sultados deste setor originaram-se das principais ativida-
crescimento significativo na Agricultura de 8,9% A agricul- des econômicas cujo crescimento foi de 9,2% do comércio;
tura mato-grossense em 2008 foi responsável por 10,4% 11,7% do transporte; 18,5% da intermediação finance e
de toda produção gerada no setor do país. Encontra-se na 38,9% dos serviços prestados às famílias
4ª posição no ranking nacional, com um valor agregado de
R$ 10.838 milhões e crescimento real de 8,9% em relação
10.4- COMÉRCIO
ao ano anterior, constituindo- se assim, no sustentáculo da
economia do Estado. A pecuária, responsável por apenas
5,8% do valor adicionado do Brasil, encontra-se também na O comércio varejista mostrou--se, nos últimos anos,
4ª posição no ranking nacional, com um valor agregado de ser o maior responsável pelo desempenho do comércio
R$ 2,8 bilhões, registrando um crescimento real de apenas geral em Mato Grosso Segundo dados do IBGE, o estoque
1,0% em relação ao ano anterior. Este setor tem experimen- de pessoal ocupado em 31/12 nas empresas comerciais va-
tado resultados satisfatórios nos últimos anos, registrando rejistas e atacadistas de Mato Grosso, aponta que em 2008
safras recordes de grãos. Esses resultados estão amparados os gastos com salários e remunerações pagos ao pessoal
em novas tecnologias adaptadas à realidade do cerrado, o ocupado do comércio varejista foram 74% maiores que os
que vem proporcionando incrementos em sua produtivi- gastos com o pessoal do comércio atacadista. Vários fa-
dade, além de sementes selecionadas distribuídas aos agri- tores contribuíram para o desempenho do comércio vare-
cultores mato-grossenses. Vale lembrar também a implan- jista. Destacaram-se no setor a retomada do crescimento
tação de agropólos que tem dinamizado as economias das do mercado interno a partir de 2006 como a melhora do
regiões beneficiadas, por meio do agronegócio. A safra de consumo interno, a recuperação da renda do trabalhador e
grãos de 2008 foi 15,7% maior que a de 2007, perfazendo uma maior facilidade na concessão de crédito. Tais fatores
1.145.558 toneladas. foram os principais responsáveis pelo resultado positivo do

17
GEOGRAFIA DE MATO GROSSO

comércio, apesar da taxa básica de juros, referencial para lho, isto em relação a dezembro do ano anterior. (Tabela
o crédito a varejo, se encontrar, ainda, em patamar alto. 4). Os empregos formais de Mato grosso em 2008 foram
O comércio externo tem contribuído positivamente para o gerados pelas atividades de serviços (128.058 postos de
crescimento do PIB estadual. No entanto, ainda é muito in- trabalho); comércio (136.260 postos de trabalho); indústria
cipiente nas exportações de produtos industrializados e se- de transformação (89.060 postos de trabalho) e agrope-
mi-industrializados, uma vez que em 2008 as exportações cuária (79.058 postos de trabalho). A menor contribuição
de produtos industrializados participaram com apenas veio da atividade extrativa mineral, com apenas 2.213 pos-
11,77% contra 88,23% dos produtos básicos. Esse resultado tos de trabalho formais.
sugere que o governo deve investir em programas de po-
líticas públicas, propiciando a expansão da agroindústria, 11- INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTE
com o fim de agregação de valores no Estado, possibilitan-
do geração de renda e emprego para a população. Através Luis Carlos Dorileo Mato Grosso está inserido no co-
da Tabela 2, pode-se observar que em 2004 a participação mércio mundial, mercado este que necessita cada vez mais
das exportações de produtos industrializados chegou a de excedentes de produção. Na gestão do Governo Blairo
17,42%. Contudo, essa participação vem decaindo a cada Maggi, priorizou-se junto às comunidades produtoras, Es-
ano, chegando em 2008 com uma participação de apenas tado (Sinfra) e Governo Federal o desafio do desenho de
11,77%. É de esperar que os investimentos industriais em um novo mapa com novas rodovias troncos e vicinais que
Mato Grosso, nos próximos anos, venha a aumentar sua possibilitem a utilização e interligação a um novo modal
participação através da presença forte das agroindústrias de transporte, cuja função será o transporte de cargas da
que estão sendo instaladas nos municípios do Estado origem da mercadoria até o transbordo para o modal mais
como: os frigoríficos de Lucas do Rio Verde, Tangará, Nova eficiente a cada região do Estado.
Mutum, Primavera do Leste e outros. As novas rotas garantirão infraestruturas logísticas e
Em termos de produtos, as exportações do complexo alternativas multimodais (rodoviário, aquaviário e ferroviá-
soja continuam liderando a pauta das exportações totais rio) existentes e a serem implementadas, que polarizarão, a
de Mato Grosso Em 2008, o Estado foi o maior exporta- médio e longo prazo, a intermodalidade no fluxo de cargas,
dor do Centro-Oeste, alcançando cifras de U$ 7,8 bilhões, possibilitando melhor escoamento da produção agrope-
com variação no período 2007/2008 de 52,3%. Com isto, cuária a preço competitivo e com melhores índices socioe-
a balança comercial do Estado manteve a sua posição de conômicos e ambientais a cada região, visto que o meio de
décimo lugar no ranking das exportações brasileiras. As transporte rodoviário a grandes distâncias está completa-
exportações estaduais representaram 55,16% do total do mente esgotado para otimizar custos e atender a produção
Centro-Oeste, cujo valor exportado da região alcançou U$ agropecuária cada vez mais superlativa do Estado de Mato
14,2 bilhões. Entretanto, observando através do saldo da Grosso.
balança comercial, Mato Grosso participa com 26,18% do Mato Grosso caminha para utilização das potenciali-
saldo da balança brasileira e 128,81% do Centro-Oeste, uma dades subutilizadas dos quatro corredores multimodais de
vez que vários estados apresentaram déficit. A importância exportação (Noroeste, Centro-Norte, Centro-Nordeste e
do comércio externo pode ser constatada pelo seu peso Sul) com as construções de MTs e incremento em obras de
na economia, cujo valor no ano de 2008 foi equivalente a rodovias troncos Federais, intermodais trafegáveis o ano
21,5% do PIB do Estado. O fluxo do comércio internacio- todo, que favorecerão em termos competitivos o escoa-
nal, que sintetiza o somatório de todas as transações com mento da produção rumo aos países importadores.
as exportações e importações, alcançou, em 2008, o valor Os corredores a serem consolidados e que deveriam
de US$ 9,089 bilhões, graças à diversidade de sua pauta estar funcionando a pleno vapor em nosso Estado restrin-
de produtos exportados e à conquista de novos mercados. gem-se às bacias amazônica e platina, e à ferrovia no sul
Ressalte-se que em 2008 foram exportados mais de 100 do estado. Os corredores são quatro (Noroeste, Sudeste,
produtos para mais de 40 países. Esses resultados coloca- Centro-Norte e Centro Nordeste). Pelo Corredor Noroeste
ram o Estado na 10ª posição no ranking brasileiro e na 1ª as BRs 174, 070, 364 e MTs 010, 170, 242, 358, 235, 343,
colocação dentre os estados do Centro-Oeste. Os maiores 325, 246, 249, 220 são rodovias com trechos pavimentados
parceiros comerciais de Mato Grosso, em termos de expor- que interligam ao terminal de Cáceres, no sudoeste do MT,
tações, continuam sendo os países baixos (Holanda), China, permitindo acesso e vantagem competitiva que deverá se
Suíça, Espanha, Bolívia e a Índia. acentuar com a plena utilização da hidrovia do rio Para-
guai, que estende do terminal de Morrinho até Corumbá,
10.5- MERCADO DE TRABALHO seguindo até Nova Palmira no Uruguai, desempenhando
importante rota de integração comercial com o sudeste e
O ritmo de crescimento da economia de Mato Grosso sul do Brasil e com a maioria dos países do Mercosul. Tam-
tem determinado uma expansão no mercado de trabalho bém dá acesso utilizando a BR-364 ao vizinho estado de
formal O número de empregos formais no Estado alcan- Rondônia (Porto do Rio Madeira) e deste ao porto exporta-
çou 590.538 em dezembro de 2008, correspondendo a um dor de Itacoatiara no Amazonas.
crescimento de 3,31% em relação ao estoque de emprego O Corredor Centro-Norte tem como maior represen-
de dezembro de 2007. Em valores absolutos, esse aumento tante a BR-163 (Cuiabá/Santarém), que dá acesso aos por-
correspondeu à criação de 18.933 novos postos de traba- tos de Miritituba em Santarém, no Estado do Pará. A con-

18
GEOGRAFIA DE MATO GROSSO

solidação dessa rota alternativa de exportação pelos portos ruas, o que beneficiou a maioria dos municípios do Estado,
da região norte depende da pavimentação do trecho da totalizando ao longo dos 7 anos de Governo um incremen-
rodovia no Estado do Pará, bem como do PAC, que é a to de 4.335,28 km em novas rodovias e de vias urbanas
duplicação da BR-163/364 de Rondonópolis até o posto pavimentadas em níveis estadual e municipal. As rodovias
Gil, no Município de Diamantino, projetando-se como um não pavimentadas, apesar do avanço na gestão do gover-
dos sistemas de transportes regionais estratégicos ao mo- no do Estado em novas rodovias asfaltadas, ainda repre-
vimento pró-logística à navegabilidade da Hidrovia Teles sentam quase 80% do total de MTs do Estado. Nos últimos
Pires-Tapajós. 7 anos foram restaurados e conservados com revestimento
Corredor Centro-Nordeste segue a BR-158 até a ferro- primário 27.943,40 km e patrolados 142.993,80 km de ro-
via Carajás e por ela ao Porto de Itaqui, no Maranhão Esse dovias não pavimentadas. Entre os projetos para ampliar e
corredor desponta como vetor de expansão da pecuária e melhorar a nossa infraestrutura estão a federalização e pa-
da soja para exportação da vasta região produtora do Baixo vimentação das MTs-242 e 100, o que está contido no pro-
Araguaia até Vila Rica, com a pavimentação da BR-158, que grama (PAC) do Governo Federal. Há também a mudança
consta de obras prioritárias do Plano de Aceleração Cresci- no traçado da BR-174, cuja rota, após várias reivindicações,
mento (PAC) do Governo Federal. E por último o Corredor passou a incluir as cidades de Cáceres, Pontes e Lacerda,
Sudeste, que é integrado pelas BRs 163 e 364 e pela Fer- Comodoro, Juína, Castanheira Juruena, Aripuanã e Colniza.
ronorte, que dá acesso aos Portos de Santos e Paranaguá. O corredor Leste-Oeste, as MTs- 235, 249, 242 e 449
A logística básica mato-grossense está concentrada viabilizarão os municípios mais a Noroeste do Estado, ao
nas seguintes rodovias troncos: federais BR-070, BR-158, interligarem os municípios de Juína, Brasnorte, Itanhangá,
BR-174, BR-163, BR-364, BR- 242 e BR-251 e as principais Ipiranga do Norte, Sorriso, Gaúcha do Norte e também o
MTs, que auxiliam a ligação aos eixos estruturantes Fede- MédioNorte do Estado que vai de Comodoro, Sapezal e
rais: MT- 010, MT-040, MT-060, MT-100, MT-130, MT-140, Nova Mutum a Ribeirão Cascalheira no extremo Leste de
MT-170, MT-175, MT-220, MT- 225 MT-235, MT-240 MT- Mato Grosso. Finalmente, serão realizadas obras de cons-
trução da ferrovia, fazendo chegar às cidades de Rondonó-
246, MT-249, MT-270, MT-320, MT-326, MT-336, MT-338,
polis e Cuiabá, além da consolidação das hidrovias
MT-343, MT-344, MT-358, MT-322, MT-423, MT-246, MT-
370, MT-419, MT-440, MT-448, MT-451, MT-465, MT-469,
ENERGIA
MT-480, MT-486. Estas rodovias são alternativas que o Es-
tado tem para o reordenamento econômico das regiões,
A energia é considerada hoje, muito apropriadamente,
com trechos asfaltados, trafegáveis o ano todo, sendo as
como um bem imprescindível não apenas para o desenvol-
mais importantes rotas de ligações com os transportes vimento de indústrias, como foi vista por um bom tempo,
modais (ferrovias e hidrovias), no sentido de estimular a mas, sobretudo, ao desenvolvimento do ser humano que
efetivação de uma matriz multimodal, mais dinâmica no deve ser, indubitavelmente, o objeto de maior preocupação
transporte integrado de carga no Estado de Mato Grosso. e de cuidado dos gestores das políticas públicas, em qual-
Mato Grosso possui uma das maiores malhas viárias esta- quer parte do mundo, visando lhe oferecer uma condição
duais do país, onde predomina a modalidade rodoviária, de qualidade de vida que lhe permita uma sobrevivência
segundo a Sinfra. digna.
O Estado conta com uma malha de 34.510,58 km de ro- Mormente no campo da tecnologia e, por trás disto
dovias, sendo que mais de 28.000 km são estaduais e 6.478,3 o crescimento populacional somado com as mais diver-
km são rodovias estruturais troncos federais que cortam o sas exigências da própria sociedade como um todo, tem
Estado. Deste total, apenas 7.549,50 km são pavimentados, apresentado uma demanda de energia crescente a cada
com 4.094,70 km de rodovias Estaduais e 3.454,80 km sob ano que passa, e não há nenhum estudo que conteste
a jurisdição Federal. Como pode ser observado, apesar de este crescimento. Pelo contrário, todas as projeções de
esforços dos governos Federal e Estadual, nos períodos curto, médio ou longo prazos podem até divergir. Toda-
2003-2009, Mato Grosso ainda tem pouca participação no via, esta divergência se restringe apenas ao percentual de
total das malhas viárias com rodovias pavimentadas, visto crescimento da demanda. Isto, sem dúvidas, exige dos es-
que apenas 21,83% de nossas rodovias são asfaltadas, sen- tudiosos dessa área a busca de outras fontes alternativas
do que a maioria arrasadora das rodovias é constituída de para atender tais demandas, até porque a fonte da matriz
rodovias implantadas e em leitos naturais. energética que ainda predomina em nível mundial é a pro-
O Estado conseguiu cumprir metas do Programa Es- veniente de carbono fóssil, na seguinte ordem: petróleo,
tradeiro, bem como as ações de Estado aplicando com carvão e gás natural.
seriedade os recursos do Fethab. O programa Estradeiro E, principalmente, com relação ao petróleo há uma
em parceria com produtores, as chamadas PPP- Parceria realidade inconteste que é o inevitável esgotamento das
Público-Privada, pavimentou 1.699,99 km de rodovias nos reservas mundiais que, por sinal, não lhe reserva uma gran-
períodos de 2003 até o primeiro trimestre de 2010. Com de longevidade. A Bristish Petroleum, em seu estudo “Re-
recurso estadual, pavimentou 1.204,38 km, perfazendo um visão Estatística de Energia Mundial, de 2004”, afirma que
total de 2.904,37 km de novas rodovias, além de conservar atualmente as reservas mundiais de petróleo durariam em
e restaurar 6.153,31 km de rodovias pavimentadas, número torno de 41 anos, as de gás 18 natural 67 anos e as reservas
este por serem realizadas obras de manutenção por mais brasileiras de petróleo 18 anos. Tal estudo conclui que “há
de uma vez no mesmo trecho. Também foram asfaltados necessidade de se fazer mudanças radicais e urgentes na
1.430,90 km de vias urbanas e restaurados 764,10 km de Matriz Energética Mundial”.

19
GEOGRAFIA DE MATO GROSSO

É óbvio que se trata de previsão, com data de 2004. ENERGIA RENOVÁVEL


Como se sabe, de lá para cá algumas coisas já foram
modificadas. Todavia, não deixa de ser um alerta para que Positivos: baixas emissões de gases de efeito estufa e
os cuidados sejam redobrados. Há que se considerar que sustentabilidade. · Negativos: custos altos; fontes intermi-
o Brasil tem destaque entre as economias industrializadas tentes; distribuição desigual e estágio tecnológico inferior
exatamente em função da considerável participação das às demais fontes em uso.
fontes renováveis em sua matriz energética. Na verdade,
tal situação decorre de dois fatores. EÓLICA
O primeiro é pelo fato do Brasil ser contemplado pela
natureza com uma bacia hidrográfica que contém vários Positivos: energia limpa; grande tempo de duração do
rios de planalto, que, como se sabe, são de suma impor- sistema com custo de manutenção de moderado a baixo. ·
tância na produção de eletricidade. O segundo é por ser Negativos: há poucos lugares de implantação, pois neces-
o maior país tropical do mundo, o que contribui positiva- sita de intensidade de ventos durante todo o ano, além de
mente para a produção de energia de biomassa. Nos últi- requerer um estudo apurado durante alguns anos antes de
mos tempos, as discussões têm se aprofundado bastante sua implementação; custo moderadamente elevado para
com relação ao maior ou menor impacto que as principais implementação do sistema; demora para retorno do inves-
fontes de energia provocam ao meio ambiente. Em razão timento inicial.
de tal situação, e até porque os sites http://br.answers.ya-
hoo.com/question/index e www.biodieselbr.com/energia/ HIDROELÉTRICA
agr-energia.htm trazem os aspectos positivos e negativos
das mesmas, houve por bem, apenas a título de ilustração, Positivos: energia limpa; possibilidade de construção
apresentar: de grandes usinas produzindo uma fábula de energia; re-
torno a médio prazo do investimento inicial. · Negativos:
CARVÃO grande impacto ambiental numa região devido à constru-
ção da barragem e de grandes lagos; dependência do regi-
Positivos: abundante, economicamente acessível, uso me de chuvas para manter a capacidade de geração.
seguro, fácil de transportar e de armazenar e amplamente
distribuído. · Negativos: pela alta emissão de gases de efei- TERMOELÉTRICA
to estufa, (GEE) necessita portentosos investimentos para
desenvolvimento de tecnologias que reduzam tais emis- Positivos: facilidade de implantação; possibilidade de
sões em níveis aceitáveis e extração perigosa. uso de várias fontes de combustível; alternativa energética
para se complementar a redução da geração por Hidroe-
PETRÓLEO létricas em épocas de escassez de chuvas; possibilidade de
produção de grande quantidade de energia. · Negativos:
Positivos: conveniente; alta densidade energética; fácil emissão de poluentes como CO, CO2, SO2, SO3 e outros;
de transportar e de armazenar; coevolução da fonte ener- devido à emissão de CO2 agrava-se o efeito estufa.
gética com os equipamentos para seu uso. · Negativos: for-
temente poluidor da atmosfera; preços voláteis; concentra- GEOTÉRMICA
ção geográfica das jazidas; produto cartelizado e mercado
manipulável; vulnerabilidade de interrupção de oferta e Positivos: facilidade de implantação e manutenção;
instabilidade geopolítica; riscos de transporte e armazena- energia limpa, pois aproveita o calor de vulcões. · Nega-
mento; reservas em esgotamento. tivos: poucos lugares para implantação, pois é necessário
se ter atividade vulcânica e algumas outras condições pe-
GÁS culiares.

Positivos: eficiente e conveniente; combustível multiu- SOLAR


so e alta densidade energética. · Negativos: produto emis-
sor de gases de efeito estufa; transporte e armazenamento Positivos: energia limpa; grandes áreas com potencial
caro e arriscado; requer infraestrutura cara, própria e infle- para uso desta energia no Mundo, especialmente no Brasil;
xível; volatilidade de preços; jazidas concentradas geografi- alternativa para substituição e/ou complementação de ou-
camente; produto cartelizado e mercado manipulável. tras fontes de energia; possibilidade de instalação em resi-
dências e pequenas empresas. · Negativos: necessidade de
ENERGIA NUCLEAR grande quantidade de células fotoeletrovoltaicas; baterias
e capacitores para uma possibilidade de geração significa-
Positivos: não há emissões de gases de efeito estufa; tiva; custo de moderado a alto de implementação do siste-
poucas limitações de recursos e alta densidade energéti- ma; demora para retorno do investimento inicial, mas nos
ca. · Negativos: baixa aceitação da sociedade; sem solução últimos anos estas desvantagens vêm sendo minimizadas.
para eliminação dos resíduos; operação arriscada e perigo- Voltando agora para se falar especificamente na ex-
sa; muito intensivo em capital. pansão do consumo de energia elétrica nas diversas classes

20
GEOGRAFIA DE MATO GROSSO

de consumidores no Estado de Mato Grosso, que é o prin- A classe comercial foi a que apresentou o menor de-
cipal objetivo dessas considerações, é necessário tecer ain- sempenho no período considerado, ou seja, 49,66%. Já a
da, em nível de Brasil, alguns comentários acerca dos dois classe residencial foi de 70,09% e outros de 79,94%. Por ou-
maiores programas do Governo Federal. Tais programas, tro lado, as classes industrial e rural apresentaram 162,85%
sem sombra de dúvidas, são de extrema relevância, porque e 380,91%, respectivamente, sendo esta última com um
buscam a plena universalização da energia elétrica em todo crescimento de 18,39% em 2009 relativamente a 2008.
o País, independente de classe. Trata-se do Programa Luz No que diz respeito ao consumo de energia elétrica,
no Campo e Luz Para Todos, que incontestavelmente trou- o comportamento também não foi, nem poderia deixar
xeram para o meio rural um novo ambiente, principalmente de ser, bastante relevante, uma vez que partiu de uma
uma melhor qualidade de vida no campo que, sem dúvida, base em 1999 onde se consumia 2.853.648.304 KWh para
era o objetivo precípuo. 4.978.332.075 KWh em 2009. Portanto, ocorreu um cres-
O primeiro, Luz no Campo, lançado em 1999, ocorreu cimento em termos percentuais de 74,45%. Vale ressaltar
num momento em que se buscava a reestruturação do se- que no tange ao consumo os percentuais apresentados no
tor e teve como um dos principais, talvez o principal obstá- período foram de 34,40% no segmento residencial, 82,76%
culo, a obrigatoriedade de participação financeira daqueles no industrial, 78,37% no comercial, 321,85% no rural e
que almejavam ter o benefício. Lógico que havia financia- 82,82% em outros segmentos.
mento que variava de cinco a dez anos, dependendo da re- O crescimento total e por classe ano a ano em relação
gião. Todavia, muitos deixaram de solicitar o benefício em ao consumo encontra-se na Tabela 3, razão pela qual não
função desses custos. se tecerá maiores considerações. Vale ressaltar que essa
O segundo, por outro lado, o Luz para Todos, como grande desempenho apresentada pela classe rural, tanto
bem abordou Fabiana Gama Viana no seu artigo técnico: em número de consumidores como de consumo, indubi-
“Luz no Campo e Luz para Todos, duas experiências em tavelmente continua sendo fruto dos dois grandes progra-
busca da plena universalização dos serviços de energia elé- mas do Governo Federal que já foram citados (Luz no Cam-
trica no Brasil”, surgiu em um ambiente bem mais favorável po e Luz para Todos) e que, como se sabe, buscam a plena
à universalização. O programa foi lançado depois da pro- universalização desse serviço público.
mulgação e regulamentação da Lei nº 10.438/2002, con-
Nunca é demais lembrar que essa universalização esta-
siderada o marco legal da universalização no Brasil e uma
va prevista a princípio para se concluir em 2008, depois de
quebra de paradigma, pois ela permitiu o acesso irrestrito
perceber que era impossível para esse ano, passou-se para
e sem ônus ao serviço de energia elétrica. Lançado sob a
2010 e já se fala que provavelmente se conclua só em 2011.
bandeira da inclusão social, o programa prioriza o atendi-
Por essa razão, certamente essa classe continuará sendo a
mento das populações de baixa renda em função do IDH
vedete tanto no número de consumidores como de consu-
de cada localidade, sem deixar de lado a necessidade de se
mo nesses próximos dois anos.
criar condições econômicas para que estas populações se
tornem autossustentáveis. Vale destacar também que o Luz Talvez a própria dimensão de um país como o Brasil
para Todos não se limitou apenas ao atendimento conven- e seus mais diversos problemas muitas vezes escapem da
cional via extensão de rede, abrindo espaço para as fontes percepção dos planejadores. Todavia, o mais importante é
renováveis e alternativas. Hoje, esses dois grandes progra- que hoje existe um programa para colocar um serviço pú-
mas se deparam com alguns conflitos exatamente porque blico imprescindível no mundo atual à disposição de todos
o primeiro dava acesso ao serviço de energia elétrica com os brasileiros.
a participação financeira do solicitante e o segundo acesso
irrestrito sem nenhum ônus. TURISMO
Os que contrataram o Luz no Campo se acham dupla-
mente prejudicados, uma vez que além de terem que con- O turismo é a atividade econômica que tem maior ca-
tinuar pagando o financiamento, ainda têm que ceder sua pacidade multiplicadora na economia, isto por gerar efei-
estrutura de forma gratuita aos que necessitarem passar tos tangíveis em várias áreas e por apresentar resultados
pelo mesmo trajeto onde está instalada sua rede. Este im- imediatos em razão da horizontalidade da suas atividades
passe ainda não tem solução prevista, apesar de já estar em com contribuição significativa para o aumento do PIB.
tramitação no Congresso o Projeto de Lei 661/2007, que O mercado turístico abrange um conjunto de relações
trata do perdão das dívidas contraídas com o Programa de dentro de um espaço geográfico que envolve consumido-
Eletrificação Rural, Luz no Campo. res reais ou potenciais, empresas, organizações, produtos
No Estado de Mato Grosso, o comportamento do setor e serviços. Considerando viagens de negócio, férias, lazer,
elétrico nessa última década com relação ao número de exposições e conferências, entre outros, o turismo é a ativi-
consumidores total teve um crescimento bastante expres- dade com maior dinamismo econômico.
sivo, ou seja, 84,05%, de onde se infere uma média de 8,4% É responsável pela geração de 6% a 8% do total de
ao ano. É importante ressaltar que em 2009 em relação a empregos no mundo, segundo a Organização Mundial do
2008 o crescimento foi de apenas 5,57%. É notório que ao Turismo. Assim, o turismo é um fator de desenvolvimento,
considerar esse crescimento do ponto de vista das classes sobretudo em regiões onde a economia é pouco
de consumidores pode-se observar que algumas tiveram competitiva. De olho nesse mercado em expansão, o
um desempenho aquém daquele verificado no número de Ministério do Turismo criou o Plano Nacional de Turismo-
consumidores total. PNT 2007/2010, uma viagem de inclusão.

21
GEOGRAFIA DE MATO GROSSO

Este plano apresenta uma série de estratégias e medi- Floresta Amazônica, abriga uma das maiores biodiversida-
das, estabelece políticas de estímulo ao desenvolvimento des do planeta protegidas por áreas de preservação como
do turismo no mercado interno, criando como metas o au- o Parque Estadual do Cristalino e o Parque Nacional do
mento das viagens domésticas, a qualificação dos destinos Xingu.
turísticos, o crescimento do emprego, a melhor distribuição Apresenta grande potencial para o desenvolvimento
de rendas e a consequente inclusão social. As metas físi- do turismo sustentável, com destaque para o complexo de
cas do PNT 2007/2010 são promover a realização de 217 Ecoturismo do Cristalino, que conta com o hotel de sel-
milhões de viagens no mercado interno; criar 1,7 milhão va Cristalino Jungle Lodge, que recebe turistas de várias
de novos empregos e ocupações; estruturar 65 destinos partes do mundo. Na região do Cerrado mato-grossense
turísticos com padrão de qualidade internacional; gerar encontra-se o Parque Nacional de Chapada dos Guimarães,
7,7 bilhões de dólares em divisas. A gestão do turismo em considerada uma zona prioritária no contexto do turismo
Mato Grosso está a cargo da Sedtur-MT – Secretaria de De- nacional. Esta região é marcada pela grande biodiversida-
senvolvimento do Turismo, responsável pela formulação, de do cerrado, presença de paredões abruptos, serras, rios,
implementação, avaliação e fiscalização de políticas, pro- grutas e cachoeiras. Ainda na região do Cerrado, o muni-
gramas e projetos relativos ao desenvolvimento do turis- cípio de Jaciara, banhado pelo rio Tenente Amaral, vem se
mo aliando a preservação ambiental com a manutenção de consolidando na área de esportes radicais como o rapel,
aspectos históricos e culturais. rafting e canoagem.
Segundo a Sedtur-MT, o grande desafio é consolidar Na parte leste do Estado está a região do Araguaia
a atividade turística em nosso Estado para que o mesmo com belas praias, aldeias indígenas, grutas, animais exó-
possa integrar de forma competitiva o roteiro do turismo ticos e a presença da ilha do bananal, a maior ilha fluvial
em escalas nacional e internacional. Assim, dentro da visão do mundo. A região do Pantanal mato-grossense, principal
de descentralizar e municipalizar o turismo, a estrutura da atrativo natural do Estado, tem como porta de entrada os
gestão pública estadual deste segmento conta atualmente municípios de Cáceres, Barão de Melgaço e Poconé, onde
com o Fórum Estadual de Turismo e o Conselho Estadual se pratica principalmente atividades relacionadas à obser-
de Turismo. vação da flora e fauna, cavalgadas, passeios de barco, safári
A importância do turismo como atividade econômica fotográfico e trilhas ecológicas.
está relacionada ao processo de incorporação de Mato Segundo a Sedtur-MT, o Estado de Mato Grosso con-
Grosso aos sistemas produtivos nacional e internacional, ta com 3.629 unidades habitacionais (hotéis e congêneres)
através da expansão da fronteira agrícola a partir da dé- que disponibilizavam 10.887 leitos em 2009. O município
cada de 1970. Portanto, o desenvolvimento do turismo, de Cuiabá dispõe de 2.355 unidades habitacionais com
principalmente na área de negócios, é um processo recente 4.325 leitos disponíveis. Com o evento da Copa da Fifa
que vem crescendo e se estruturando na esteira do elevado 2014, está previsto o aumento de 60% de leitos disponí-
crescimento econômico do Estado, acima da média nacio- veis em hotéis de três, quatro e cinco estrelas na cidade de
nal na última década. Cuiabá, através da ampliação de hotéis já existentes, bem
Mato Grosso oferece uma incrível variedade de roteiros como pela chegada de novas redes de hotéis internacio-
turísticos por apresentar regiões naturais como áreas da nais, além do resort cinco estrelas no entorno do Parque
Amazônia, Cerrado, Pantanal e Araguaia, além de patrimô- Nacional de Chapada dos Guimarães.
nios históricos e culturais que possibilitam uma infinidade O Anuário Estatístico do Turismo 2009 registra o cresci-
de oportunidades. Assim, várias formas podem ser explo- mento da atividade em Mato Grosso, como comprovam as
radas como o turismo rural (cavalgadas, manejo de gado, informações apresentadas para o período 2006/2008, refe-
ordenha, cultivo de pomares, caminhadas ecológicas), de rentes a agências de turismo, meios de hospedagem, trans-
contemplação (fauna e flora), cultural (gastronomia, igre- portadoras turísticas, organizadoras de eventos (congres-
jas, museus, sítios arqueológicos, manifestações de ritmos, sos, convenções e congêneres), prestadoras de serviços
danças), pesca esportiva (Festival Internacional de Pesca especializados para organização de eventos, profissionais
de Cáceres) e ecoturismo. A cidade de Cuiabá, com qua- como bacharéis em turismo e guias de turismos cadastra-
se 300 anos, apresenta inúmeros imóveis tombados pelo dos, além da presença de parques temáticos no Estado de
Patrimônio Público Federal e Estadual, como o Palácio da Mato Grosso.
Instrução, Igreja do Bom Despacho, Igreja de São Benedito, Outro indicador que evidencia a expansão do turismo
monumentos como o dos Bandeirantes, marco geodésico no Estado de Mato Grosso é o crescimento do número de
da América do Sul, Museu do Rio, Casa do Artesão, além embarques e desembarques no Aeroporto Internacional
de infraestrutura para realização de eventos e negócios Marechal Rondon nos últimos anos. Segundo o Ministé-
como o Centro de Eventos do Pantanal, cuja capacidade é rio do Turismo, no período de janeiro a agosto de 2010 o
de abrigar até cinco mil pessoas simultaneamente. movimento no Aeroporto teve um incremento de 31,01%,
O aglomerado urbano Cuiabá/ Várzea Grande conta superior à média nacional que foi de 23%, evidenciando a
com a maior infraestrutura de apoio ao turismo, como a procura pelo Estado como destino, principalmente do tu-
rodoviária Cássio Veiga de Sá, o Aeroporto Internacional rismo de pesca e de ecoturismo.
Marechal Rondon, constituindo-se no centro receptor e re- A realização da Copa do Mundo no Brasil em 2014 e a
distribuidor de fluxos turísticos no Estado de Mato Grosso. escolha de Cuiabá como uma das sedes deste evento deve-
A porção norte do Estado, coberta em grande parte pela rão impulsionar o turismo em Mato Grosso, tendo em vista

22
GEOGRAFIA DE MATO GROSSO

o grande volume de investimentos previstos para a cidade de Cuiabá e seu entorno. Assim, os investimentos na qualificação
de profissionais que lidam direta e indiretamente com o turismo, na mobilidade urbana e transporte público (construção de
corredores exclusivos para ônibus, pontes, viadutos, avenidas na região de Cuiabá e Várzea Grande), a revitalização do Par-
que Nacional de Chapada dos Guimarães, a reforma do Aeroporto Marechal Rondon, a construção da Arena Multiuso com
capacidade para 43 mil pessoas, entre outros, dotará a cidade de Cuiabá e seu entorno de uma infraestrutura que poderá
consolidar o Estado de Mato Grosso como uma das principais rotas do turismo nacional e internacional.

3 OCUPAÇÃO DO TERRITÓRIO.

O conceito de “vazio demográfico” está diretamente relacionado à noção de “fronteira”, enquanto terras livres. Este
conceito foi bastante utilizado pelo governo militar para justificar uma série de ações, que, em um regime democrático,
teriam que passar antes pelo crivo do Poder Legislativo.
A Amazônia e o Centro-Oeste, especialmente a partir da década de 1970, foram representados como a “nova fronteira
agrícola”, cuja ocupação talvez evitasse o recrudescimento de conflitos sociais na região Sudeste e, sobretudo, na região
Sul do país. Em 1938, no entanto, Getúlio Vargas, ao anunciar a Marcha para o Oeste, já apresentava o sintoma das preo-
cupações do governo em ocupar “grandes vazios”. A intenção à época era não apenas manter a unidade política do Brasil,
mas também preencher os espaços vazios entre as ilhas econômicas que formavam o país.
A migração para as cidades ocorreu de forma semelhante em todo Mato Grosso. Em quatro décadas houve a inversão
da predominância rural para a urbana na maior parte dos municípios. Em 1960, Cuiabá mostrava uma população urbana
maior por ser capital, oferecer postos de trabalho e ocupações diferenciadas do restante do estado, enquanto outras cida-
des possuíam dominância numérica da população rural.
As tabelas a seguir proporcionam uma visão sobre a intensa transformação social pela qual passou Mato Grosso a partir
dos anos sessenta, e que vem sendo potencializada a partir da segunda década dos anos 2000. A alteração no perfil social
da população foi caracterizada pela forte urbanização e pelo crescimento demográfico, duas variáveis que foram muito
influenciadas pelos fluxos migratórios oriundos de diversas regiões do país.

Tabela 1. Processo de urbanização em Mato Grosso - 2010 a 2015.

2010 (Real) 2015 (Estimada)


Município
Cuiabá 551.098 580.489
Rondonópolis 195.476 215.320
Vila Bela da Santíssima Trindade 14.493 15.274
Cáceres 87.942 90.518

Fonte: IBGE - Censo Demográfico 2010

Tabela 2. Crescimento da população em Mato Grosso.

Ano População Fonte


1900 118.025 Corrêa Filho (1969)
1920 246.612 Corrêa Filho (1969)
1950 522.044 Brasil (1952)
1960 889.539 Mato Grosso (2002)
1980 1.135.012 Brasil (1982)
2000 2.505.244 Brasil (s.d.a.)
2010 3.035.122 Censo Demográfico - IBGE (2010)
2014 3.224.357 Estimativa da população - IBGE (2014)

Fonte: Brasil (1961) e IBGE.

23
GEOGRAFIA DE MATO GROSSO

A origem dos migrantes brasileiros em Mato Gros- contra com a Transamazônica (BR 230), e segue até chegar
so fornece importantes elementos para a compreensão da ao Porto de Santarém, por onde escoa boa parte da produ-
cultura híbrida ainda em formação no Estado, fator que terá ção de grãos produzida na região.
grande repercussão sobre a identidade do mato-grossen- A BR 163 começou a ser construída em 1971, no Go-
se. No início da década de 1970, Mato Grosso apresentava verno Médici, e em 1976 foi entregue oficialmente ao trá-
32,65% de sua população nascidos em outros estados da fego, pelo presidente Ernesto Geisel. Sua construção foi
Federação. Os migrantes da região Sudeste (54,59%) eram executada pelo 9º Batalhão de Engenharia e Construção (9º
maioria, sendo São Paulo e Minas Gerais os estados com os BEC), sob o comando do Coronel Meireles, como parte do
maiores contingentes. A segunda região em número de mi- Programa de Integração Nacional (PIN). Antes da constru-
grantes era o Nordeste (29,80%) com fluxo significativo, ção desta rodovia, a forma de acesso era através dos rios
havendo predomínio de indivíduos da Bahia, Pernambuco, Arinos e Teles Pires ou de estradas (picadas) utilizadas por
Ceará e Alagoas. As regiões Sul e Centro-Oeste (excluindo seringalistas e seringueiros. Dentro desta perspectiva, qual
Mato Grosso) perfaziam mais de 7% cada uma, sendo que teria sido a razão preponderante para o regime militar tra-
o fluxo sulista já caracterizava um “deslocamento” de exce- zer milhares de migrantes do Sul do país para Mato Grosso,
dentes populacionais. implementando grandes projetos de colonização?
Um dos grandes atrativos para o influxo migratório ao No Brasil, no período entre as décadas 1870 e 1930, a
Mato Grosso foram os projetos de colonização no estado, chegada de imigrantes europeus às lavouras de café em
executados tanto pela iniciativa privada como pelo gover- São Paulo, ou como pequenos proprietários rurais para os
no de Mato Grosso (colonização oficial). Mato Grosso es- núcleos coloniais no Sul do Brasil, recebeu o apoio do go-
pecialmente, é o estado que mais contou com a presença verno Imperial e de grandes produtores rurais. Na região
de projetos de colonização privada no Brasil, na segunda Sul do Brasil, a partir do início das décadas de 1960 e 1970,
metade do século XX, pontua Berta Becker. prevaleceu, inclusive, o modelo de agricultura familiar. Ao
Os projetos de colonização no estado executados pela passo que a geração de filhos tornava-se adulta formando
iniciativa privada ou pelo governo eram categorias distintas suas próprias famílias, no entanto, passavam a necessitar
de projetos, mas que convergem para a mesma política go- áreas adicionais de terra. Nas áreas de minifúndios de seus
vernamental de ocupação. Um dos principais instrumentos pais, a subsistência era dificultosa, já que com a divisão por
para a ocupação e integração nacional foi o Plano de Inte- herança a área do minifúndio se fracionava, e tornava-se
gração Nacional (PIN), instituído pelo decreto lei nº 1.106 insuficiente para a reprodução das práticas da agricultura
de junho de 1970 durante o governo do presidente Gal. familiar.
Emílio Garrastazu Médici. O presidente Médici, ao pro- Alfredo da Mota Meneses aponta que no início dos
por a construção da Rodovia Transamazônica, afirmara anos setenta crescia o descontentamento agrário e social
que esta serviria para levar os “homens sem-terra para a no Sul do Brasil, pois alguém que possuísse um pequeno
terra sem homens” da Amazônia. lote de terra teria que dividi-lo com muitos filhos. Para-
O PIN compreendia a construção de rodovias na Ama- lelamente a este fenômeno que causava tensão social, a
zônia, com destaque para a Transamazônica e a BR 163, adoção de tecnologia aplicada às atividades rurais também
ligando Cuiabá, em Mato Grosso à cidade de Santarém, no impulsionou o aumento das taxas de desemprego na-
Pará. Através do Plano de Integração Nacional, foram fi- quela região do Brasil. Começaram, assim, os movi-
nanciados projetos de obras de infraestrutura nas áreas mentos de sedição e pedidos de terras. Na região Sul até
de atuação da SUDAM e da SUDENE, com o objetivo haveria meios de resolver a situação, se o regime militar
de se promover a mais rápida integração das regiões decidisse realizar desapropriações em grandes proprieda-
Norte e Nordeste do Brasil à economia nacional. des. No entanto, não era esse o caminho que os militares
Desta forma, enquanto no Paraná, e principalmente tomariam no Brasil, ou em toda a América Latina. Primeiro,
em São Paulo, algumas cidades surgiram no eixo ferro- os militares resolveram levar camponeses do Nordeste para
viário, em Mato Grosso diversas cidades da segunda me- a Transamazônica, um empreendimento que não deu certo.
tade do século vinte surgiram na esteira do processo de Enfim voltaram os olhos para o Mato Grosso:
expansão das rodovias federais e estaduais. A construção Tentavam matar dois coelhos com uma pancada só.
de rodovias indicava, assim, uma nova etapa na formação e Uma seria tirar o problema agrário do Sul ao levar gentes
desenvolvimento das atividades econômicas, sociais e polí- para o enorme vazio demográfico no norte do estado. O
ticas para a Amazônia e para o Centro-Oeste. A construção outro seria a conquista da Amazônia pelo Sul. Os militares
da rodovia Cuiabá-Santarém (BR 163) representa um mar- tinham obsessão pela integração. Para cá, diferente do que
co importante na história da colonização de Mato Grosso, ocorreu na Transamazônica, trouxeram pessoas do Sul do
uma vez que viabilizou o acesso ao Norte do estado. país. Do Rio Grande e também os chamados ‘gaúchos can-
A BR 163 é rota por onde escoa toda a produção sados ‘, aqueles que migraram antes do Rio Grande para
da região. o Paraná. No Rio Grande já havia colonização com estran-
(...) atravessa o Norte/Nordeste mato-grossense, ser- geiros, lá se acreditava que eles tinham mais aptidão e
vindo diretamente aos municípios de Nova Mutum, Lucas conhecimento para trabalhar a terra. Serão os esco-
do Rio Verde, Sorriso, Sinop, Colíder e Guarantã do Norte lhidos para vir para cá. Presidentes da República, como
em Mato Grosso. Ultrapassada a divisa com o Estado do os generais Médici (1969- 74) e Geisel (1974-79) são do Rio
Pará, passa por Novo Progresso e Rurópolis, onde se en- Grande do Sul e descendentes de imigrantes estrangeiros.

24
GEOGRAFIA DE MATO GROSSO

Até o general Figueiredo (1979-65) também andou pelo gradas ao modo capitalista de produção. A partir do mo-
Rio Grande, foi do estado maior do Exército naquele esta- mento em que as políticas de assentamento passaram a
do. Vários ministros do governo, incluindo da agricultu- fomentar a venda de propriedades aos agricultores do Sul
ra e transporte, vieram também daquele estado. É possível do Brasil com propostas de terra a baixo custo, incluindo
arguir que os EUA ajudaram na empreitada de trazer os moradia, financiamentos atraentes (juros baixos e longos
migrantes. A Bolívia ir para a esquerda na região era uma prazos de pagamento), saneamento básico, infraestrutura,
coisa, o Brasil outra bem diferente. O país é fronteira com serviço de saúde, escolas e estradas, etc., em pouco tempo
quase toda a América do Sul e não esquecer que o mundo as áreas até então consideradas anecúmenas pelos proje-
vivia a Guerra Fria. Momento que a região estava indócil, tos estaduais e federais, se transformaram em uma espécie
buscando novos rumos políticos e econômicos, como já de “Novo Eldorado”.
ocorrera em Cuba. Os EUA não dão nada de graça, mas De 1970 em diante, difundiu-se através de peças
facilitaram que o Banco Mundial e o BID emprestassem publicitárias do Governo Federal, a ideia de que a Ama-
grandes quantias para o governo brasileiro para estradas e zônia era a nova “terra de riquezas” e chegou, inclusive, a
telecomunicação. Como é que o regime militar sozinho ser considerada por periódicos da época como a “Canaã
ia ter tanto dinheiro para trazer telecomunicação para MT brasileira”.
e fazer os asfaltos para Rondônia, Sinop, Campo Grande e A cidade de Nova Canaã do Norte é um exemplo in-
Brasília num prazo de uns dez anos? Os sulistas também teressante desta representação. Começou a ser colonizada
tiveram créditos fáceis e subsidiados. Podiam derrubar até em meados de 1970, e o nome foi sugerido pelo bispo de
50% de suas terras. Aliás, quem não derrubasse não recebia Sinop, D. Henrique Froehlich. A proposta era disseminar
financiamento. Os incentivos fiscais criados para a Amazô- para aqueles que desejassem desbravar Mato Grosso, que
nia, através da Sudam, fizeram com que grandes grupos esta seria uma terra que, além de conter grandes oportuni-
comprassem terras aqui. Outro detalhe interessante é que dades, era também uma região abençoada: a “terra prome-
em Mato Grosso, diferente do que ocorreu na Transama- tida”. O conjunto de notícias sobre a região Centro-Oeste,
zônica, a colonização foi feita pela iniciativa privada, com especificamente Mato Grosso, contribuía para que se for-
nomes como Ênio Pepino e Ariosto da Riva, e não pelo go- masse o conceito de esta era uma região de “espetacular
verno. Deu certo. progresso”.
Ao direcionar o fluxo migratório para a Amazônia e A integração da Amazônia às regiões Sudeste e Cen-
tro-Oeste, portanto, trazia consigo a intenção de ampliar as
para o Centro-Oeste, o Governo Federal “solucionava” a
fronteiras: “integrar para não entregar”, era o famoso bor-
questão da falta de terras para os agricultores, aliviando as
dão para a ocupação das regiões remotas do país. O gover-
tensões sociais na região Sul. Por outro lado, permitia que
no militar ao povoar a Amazônia manteria a sua imanência
perdurasse nestas mesmas áreas, altos níveis de concen-
ao território nacional, e assim, a ampliação das fronteiras
tração fundiária, preservando assim a estrutura vigente. A
como estratégia de estruturação/ocupação da Amazônia
modernização agrícola no campo, na região Sul e Sudeste
estaria sendo executada.
do país, foi, com efeito, a principal responsável pela libera-
O “propósito de reorientar as tensões sociais para as
ção de um grande contingente de migrantes para a nova porções fronteiriças do país”, fazia parte do próprio concei-
fronteira agrícola que se tornou a Amazônia a partir do fi- to que os militares tinham sobre a “fronteira”: “(...) a frontei-
nal da década de 1960. Ianni converge para a ideia de ra é reputada como devendo oferecer ao país inteiro novas
que ao direcionar os fluxos migratórios para a Amazônia perspectivas de crescimento econômico, soluções de
e Centro-Oeste, o Governo Federal solucionava a questão problemas sociais, domínio do território”.
da falta de terras para os agricultores, aliviando as tensões O Estado brasileiro, ao prometer oportunidades iguais
sociais na região Sul, no entanto, permitia que fossem na fronteira longínqua, dava à população uma resposta
reproduzidas nestas mesmas áreas, uma acentuada con- quanto aos problemas sociais que vivenciava, ainda que
centração fundiária. Várias cidades mato-grossenses surgi- esta solução fosse incompleta e demagógica, perpetuando
ram neste contexto de forte acumulação fundiária, Sorriso outros problemas que apenas mudavam de lugar. Auber-
foi uma delas: tin considera que esta doutrina de ocupação, em realidade
Sorriso e outras cidades que despontaram no norte de “(...) prega um autoritarismo teórico (...) é uma concretiza-
Mato Grosso a partir do início da década de 1970, surgiram ção da utopia pioneira, podendo assim, desengajar- se dos
num contexto bem específico de expansão do capitalismo conflitos centrais”. Rosana Lia Ravache explica que quando
no Brasil. Grupos sociais diversos de trabalhadores pobres, a ditadura militar se valeu do slogan “terra sem homens
homens e mulheres que, em busca de terra, de um lugar para homens sem terra”, cometeu duas veleidades. Uma
ou de um teto, buscaram um local onde pudessem criar foi ignorar a população de autóctones e caboclos que, ape-
novos espaços, sobretudo, a partir da segunda metade do sar da baixa densidade demográfica, vivia nas regiões Nor-
século vinte. te e Centro-Oeste.
As populações da região Norte de Mato Grosso, mes- A outra foi imaginar que resolveria a questão da refor-
mo tendo aderido aos programas de ocupação espacial ma agrária no Rio Grande do Sul e Santa Catarina, simples-
propostos pela administração federal para a região ama- mente deslocando aquelas pessoas para o meio da selva,
zônica entre as décadas de 1970 e 1990, não tiveram por em condições precárias de sobrevivência, esperando que
parte do governo o adequado amparo, uma vez que as elas transformassem e urbanizassem, sem qualquer apoio,
unidades firmadas a partir da ocupação não estavam inte- as áreas para as quais foram destinadas.

25
GEOGRAFIA DE MATO GROSSO

Nos Estados Unidos o maior nome das teorias das fron- te, capacidade de organização em torno de cooperativas
teiras foi Frederick Jackson Turner (1861-1932), cuja teoria que viabilizaram a rápida ocupação territorial.
foi amplamente aceita pelos intelectuais brasileiros, entre Na literatura especializada, um conjunto de pesquisas
os quais o historiador Sérgio Buarque de Holanda (1902- acadêmicas recentes aponta para a existência de uma forte
1982). Efetivamente, a comparação entre as experiências relação entre o fenômeno migratório e o desenvolvimento
dos Estados Unidos e do Brasil quanto ao tema “fronteiras” em Mato Grosso, mas é importante notar que a relação
é recorrente na historiografia nacional. Wegner afirma que migração/desenvolvimento também acarretou consequên-
nos Estados Unidos, o termo inglês “frontier”, foi populari- cias sociais adversas.
zado por Turner no século XIX, que o utilizou em sua aná- Os estudos demonstram que o fenômeno migratório
lise da expansão territorial norte-americana e a partir de alcançou grande vigor e atingiu o seu ápice ao mes-
então, o mesmo termo foi estendido para a América Latina. mo tempo em que o Mato Grosso, impulsionado pela
Assim como no pensamento social brasileiro, Weg- região Norte, assumia lugar de destaque no cenário eco-
ner coloca, a partir do pensamento do intelectual Geor- nômico nacional. Através do emprego de alta tecnologia,
ge H. Williams em Wilderness and Paradise in Christian investimentos em pesquisa e desenvolvimento e parcerias
Thought, que a noção sertão/deserto dos Estados Unidos, público-privada, Mato Grosso se consolidou como o polo
expressa na concepção de wilderness, também possui uma nacional do agronegócio.
ambivalência de valorações positivas e negativas no âmbi- Ao final dos anos 1970, os projetos direcionados de co-
to do pensamento judaico cristão: adotando como pressu- lonização adquiriram características próprias em razão da
posto exemplar o êxodo dos israelitas do Egito e sua pere- ação direta do Estado e do padrão de ocupação proposto/
grinação pelo deserto, o sertão/deserto incorpora tanto a imposto. Regiane Cristina Custódio, com base em pesquisa
ideia de abrigo e lugar de meditação ou terra inóspita, feita no município de Sorriso/MT, considera que em Mato
devastada. Grosso, os projetos de colonização geraram ocupação de-
A ideia central do conceito de fronteira desenvolvida sordenada, que acarretou graves consequências sociais,
por Turner está na existência das “free lands” (áreas livres/ que ainda hoje, quatro décadas após a implantação dos
desabitadas), prontas a serem ocupadas pelos “pioneiros”, primeiros projetos de colonização ainda podem ser identi-
essencialmente “brancos e de origem ocidental europeia” ficadas. Para Regiane Custódio, “[...] é possível constatar a
que nelas vivenciariam seus ideais de liberdade e indivi- diversidade e a complexidade das relações sociais consti-
dualidade, num espaço de oportunidades ilimitadas. tuídas nos espaços que deram origem a vários municípios,
A fronteira permitiria, assim, que os colonos buscas- destacando-se especialmente aqueles cuja base da econo-
sem novas condições de vida nas “terras livres”, o que seria mia é a produção agrícola com alto grau de modernização
um incentivo para o espírito empreendedor, dando vazão e mecanização”. A expansão da fronteira é explicada por
a inciativas para as quais haveria igualdade de oportunida- Regiane Custódio como um reflexo da colonização, que, no
des. Robert Wegner menciona o conceito de safety valve entanto, ocorreu de forma desorganizada.
ou “válvula de segurança”, desenvolvido por Sérgio Buar- A colonização planejada oficial ou particular, con-
que de Holanda com base em análises feitas na dinâmica tribuiu para a expansão da fronteira, em seu significado
de populações na vila de São Paulo, no planalto paulista mais amplo. A política desenvolvida para executá-la (como
do Seiscentos. Sérgio Buarque de Holanda demonstrou a os organismos e programas criados a partir do início da
relação entre a saturação populacional do núcleo primitivo década de 70 do século XX), deveria servir de estratégia
e a fuga para novos núcleos. Para Wegner, em relação às de controle para se evitar uma colonização maciçamente
“válvulas de segurança” (safety valves), estas teriam “o pa- espontânea. Apesar disso, em Mato Grosso, os projetos de
pel de desafogar os centros mais industrializados, evi- colonização geraram ocupação desordenada, intensa
tando assim, o acirramento de conflitos sociais e degradação ambiental, expulsão e extermínio de grupos
econômicos”. indígenas, expropriação de comunidades de seringueiros,
Desta forma, no curso deste grande influxo migratório posseiros e imposição da grande propriedade. Em Sorriso
para a região Norte do país, o espaço fronteiriço da re- como na maior parte das áreas com agricultura mecaniza-
gião amazônica alterou-se definitivamente com a atuação da (modernizada) em Mato Grosso, mais de 50% da área
de empresas colonizadoras, ancoradas em programas go- está apropriada por estabelecimentos com mais de 1000
vernamentais que “vendiam” sonhos. Numerosos grupos hectares.
de migrantes sulistas, ávidos por novas possibilidades de Na segunda metade da década de 1970 o governo fe-
crescimento e desenvolvimento, empreenderam esta traje- deral instituiu e implementou um conjunto de ações para
tória de lutas e conquistas, um caminho que já havia sido acelerar o desenvolvimento nos estados de Goiás, Minas
percorrido pelos seus antepassados europeus que aporta- Gerais, Mato Grosso e no Distrito Federal. Programas de
ram o Brasil ao longo de todo o século XIX e XX em uma financiamento à produção foram criados para a construção
situação bastante semelhante. de estradas, escolas, silos e armazéns, pesquisa agrope-
No caso de Mato Grosso o que se observa é que uma cuária, assistência técnica e extensão rural, financiamentos
significativa parcela das cidades emergentes no norte ma- para incorporação de novas áreas ao processo de produ-
to-grossense são fruto de projetos de colonização viabiliza- ção e utilização de calcário e fosfato. Além de crédito para
dos pelo Estado através da apropriação de terras devolutas investimentos, custeio e comercialização foram estabeleci-
(ou não) por segmentos que detêm capital e, principalmen- dos preços mínimos e seguro agrícola.

26
GEOGRAFIA DE MATO GROSSO

A Embrapa Cerrados foi criada no bojo da política Estes programas integravam o Plano Nacional de De-
governamental para o desenvolvimento do Centro-Oeste senvolvimento (I e II PND) e impulsionaram a “moderniza-
com o objetivo de desenvolver sistemas agrícolas viáveis ção da agricultura” unindo a expansão da fronteira agrícola
para o Cerrado, bem como, difundi-los para os produtores e a ocupação dos denominados “espaços vazios” com o di-
rurais. A pesquisa agropecuária estabeleceu como missão recionamento e intensificação dos fluxos migratórios para
o desenvolvimento de tecnologias para viabilizar a ocupa- a região. Há que se notar, portanto, uma estreita relação
ção do Cerrado. Depois de realizar um amplo diagnósti- de causa- efeito entre migração e desenvolvimento no
co das principais limitações ao seu uso agrícola, pesqui- estado de Mato Grosso nos anos setenta, especialmen-
sadores constataram a existência (...) grandes problemas te após a sua divisão em 1977 na porção meridional da
na região. a) as informações existentes sobre os recursos Amazônia Legal. O intenso crescimento populacional em
naturais eram bastante generalizadas e insuficientes para Mato Grosso, por sua vez, coincide com o intenso fluxo mi-
dar suporte a um programa de desenvolvimento regional; gratório especialmente entre 1960-1980, período em que
b) (...) as chuvas, embora, quantitativamente satisfatórias, se observa índices superiores aos registrados no mesmo
eram mal distribuídas e com ocorrência de veranicos du- período no Centro-Oeste e Brasil. A partir da década de
rante a fase reprodutiva dos cultivos; c) a baixa fertilidade 1990 ocorre um decréscimo expressivo dos índices, muito
dos solos era outro fator limitante, (...) estes apresentavam embora continuem a registrar taxas superiores às do país.
fração argila com baixa atividade química e troca de cá- A análise da evolução da população de Mato Grosso
demonstra que, no período 1950/2000, ela mais que quin-
tions, elevada saturação de alumínio e carência generali-
tuplicou. Evoluiu de 522.044 para 2.504.353 habitantes,
zada de cálcio, magnésio, potássio e fósforo; d) o quarto
em decorrência das elevadas taxas anuais de crescimento,
problema era o manejo deficiente, pois o cultivo por méto-
sempre superiores à média brasileira. Porém, ao longo des-
dos inadequados conduziria à rápida degradação do solo.
te período, estas, apesar de positivas, mostram-se decli-
A expansão das fronteiras agrícolas ocorreu com a nantes: 6,62% no período 1970/1980, 5,38% no período de
fundação de cidades e o fluxo migratório tornou-se mais 1980/1991, 2,31% no período 1991/2000.
“planejado” ao passo que empreendimentos agropecuários Uma das razões para a evolução decrescente na taxa de
que representassem investimentos de longo prazo em tec- crescimento de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, segun-
nologia e produção passaram a ser estimulados. Maria do do avaliação de Max Murtinho, seria resultado de trans-
Socorro Bezerra de Lima explica que o “boom” da expan- formações estruturais na sociedade que resultou em
são e produção da sojicultura em Mato Grosso está direta- declínio da taxa de natalidade ocorrida nesse período.
mente relacionado a este processo de forte investimento Essa tendência não era apenas um fenômeno registrado no
em tecnologia de produção (LIMA, 2008). A tabela abaixo estado de Mato Grosso, pois, na época, não só no Brasil,
ilustra a evolução surpreendente da produção da soja entre mas também na América Latina já havia uma busca pela
1980 e 2015. conscientização da sociedade quanto à necessidade da
Projetos particulares de colonização resultaram em redução da taxa de natalidade como meio para elevação
vários polos produtivos na região Norte mato-grossense, do desenvolvimento da sociedade como um todo. Essa po-
área onde houve concentração deste tipo de colonização, lítica há algum tempo, vem sendo adotada de forma radical
especialmente ao longo da rodovia BR 163 para onde o go- em países super habitados como China, Índia e Japão.
verno brasileiro direcionou programas como PRODECER
– Programa de Cooperação Nipo-Brasileira de Desenvol-
vimento dos Cerrados (1974) e o POLOCENTRO – Programa
de Desenvolvimento dos Cerrados (1975).
A quebra da safra de grãos ocorrida em âmbito mun-
dial, em 1973, despertou no Japão a necessidade da diver-
sificação de fornecedores, principalmente de soja. O Brasil
desejava aumentar a produção de grãos pelo desenvolvi-
mento da agricultura na Região dos Cerrados, considera-
da, até então, imprópria para agricultura; desta forma
as atenções se voltaram para a extensa área do Cerrado
Brasileiro. Com o objetivo de tornar a área mais produti-
va aproveitando todo seu potencial e fomentar a migração
racional, foi criado o Programa de Cooperação Nipo-Brasi-
leira para o Desenvolvimento dos Cerrados – PRODECER. O
programa teve início cm um comunicado conjunto firmado
em setembro de
1974 pelo primeiro-ministro japonês Kakuei Tanaka,
e pelo então Presidente do Brasil
Ernesto Geisel definindo a relação entre os dois países
sobre o desenvolvimento agrícola.

27
GEOGRAFIA DE MATO GROSSO

Gráfico 1. Percentual da população Urbana e Rural no Censo Demográfico por situação do domicílio em Mato Grosso
(1960 e 2010).

Fonte: IBGE - Censo Demográfico.

O elevado crescimento populacional nas décadas de 1960/70/80 pode ser explicado pelo avanço das fronteiras
de desenvolvimento. A partir da década de 1960, estratégias governamentais motivaram aplicações de elevados montan-
tes de capital, com financiamentos de projetos agropecuários e implantações de infraestrutura. Essas ações tiveram
como resultados imediatos a elevação de fluxos migratórios para ocupar espaços no Centro-Oeste, e, em particular, em
Mato Grosso. Assim, a partir de 1970, intensificou-se a expansão demográfica na porção Norte de Mato Grosso, por força
dos incentivos a ocupações de terras e estímulos ao desenvolvimento regional. No entanto, na década de 1990, a fronteira
agrícola começou a consolidar-se e, consequentemente, essa região, no que se refere à migração, deixou de ser um atrativo.
Não há registros sobre programa governamental implementado em Mato Grosso objetivando uma “política de efetivo
controle de natalidade”. A efetiva redução da taxa de crescimento populacional no estado ocorreu, portanto, por outras
razões. O fenômeno, que pode ser observado em todo o Brasil, demonstra que de alguma forma parte da população to-
mou conhecimento sobre as formas de “planejamento familiar através de métodos contraceptivos”, principalmente com o
propósito de reduzir o custo familiar, proporcionando um melhor padrão de vida para os familiares como um todo.
Quanto ao crescimento demográfico, portanto, o componente “migração”, sobretudo nas décadas de 1960/70/80, teve
desempenho relevante na conformação do atual perfil demográfico do estado de Mato Grosso: nestas décadas o movi-
mento migratório para o Estado de Mato Grosso era eminentemente interestadual. A partir de 1990 este quadro se altera:
A partir da década de 1990, além da drástica redução do fluxo migratório dirigido ao estado de Mato Grosso, pode-se
dizer que a migração passou a ser dominantemente de natureza inter-regional. De acordo com o Censo Demográfico de
2010, 42,75% das pessoas domiciliadas no município são nascidas no próprio município, contra
57,25% não nascidas no município. Quanto a pessoas provenientes de outros estados brasileiros, o censo aponta que
62,31% são naturais de Mato Grosso e 37,69% vieram de outros estados.
Para o economista Antônio Abutakka, “o desenvolvimento econômico brasileiro (tal qual o mato-grossense), em termos
espaciais, pode ser visto como um processo de articulação e integração nacional que se desenvolveu, de forma desi-
gual e combinada, segundo três fases distintas: a do isolamento das regiões; a da articulação comercial e a de integração
produtiva”.
Com efeito, a formação histórica moderna de Mato Grosso tem início com um período marcado pela ocupação do terri-
tório e constituição da região, rompendo, assim, com uma longa fase de isolamento que perdurou até às primeiras décadas
do século XX. Em seguida verifica-se a diversificação da incipiente base produtiva e sua articulação comercial com centros
produtores-consumidores nacionais e internacionais. Já na década de 1970 são criadas as condições (técnicas/tecnológi-
cas, infra estruturais e financeiras) para a efetiva integração produtiva da região, isto é, foram implementados os primeiros
programas de desenvolvimento do Centro-Oeste, consubstanciados, em grande medida, no I e II PND (Programa Nacional
de Desenvolvimento). Estes programas tiveram o condão de intensificar e viabilizar o fluxo migratório dirigido a essa região.
Finalmente, na década de 1980 é definido o movimento de produção/reprodução do capital hegemônico nacional
quando este, concretamente, apropria-se do espaço subordinando à sua lógica de desenvolvimento. A ocupação pós déca-
da de 1970 compreendeu os programas de desenvolvimento como o POLOCENTRO, o POLONOROESTE e o PRODEAGRO.
A partir dessa década e através de uma intervenção planejada e direcionada do Estado Nacional à ocupação do Centro-
-Oeste e Amazônia, é que se formam em Mato Grosso as condições efetivas para a “apropriação do espaço pelo capital e
sua transformação em espaço econômico”.

28
GEOGRAFIA DE MATO GROSSO

O agronegócio, as grandes levas migratórias e o cresci- buídos à região Norte do estado já não se sustentavam
mento demográfico de Mato Grosso, registrados a partir perante a diversidade social que se formou com a chegada
da segunda metade dos anos sessenta, são fenômenos dos novos mato-grossenses, enfim, Mato Grosso transfor-
correlacionados. Representam as variáveis de uma equação mou-se a partir da transformação de sua sociedade. Texto
que resulta na sociedade mato- grossense do século XXI. adaptado de MACEDO, D. A.
No imaginário dos migrantes, a fronteira reservava novas
e promissoras oportunidades de vida nas “terras livres”, o
que serviu como um enorme atrativo para o espírito dos 4 ASPECTOS FÍSICOS E DOMÍNIOS
sulistas, naturalmente inclinado à conquista e ao empreen- NATURAIS DO ESPAÇO MATO-GROSSENSE.
dedorismo.
Ao chegarem aos milhares em Mato Grosso, os mi-
grantes não somente impulsionaram a principal atividade
econômica do estado, o agronegócio, como também con- ASPECTOS FISICOS
tribuíram para o crescimento populacional, sobretudo nas
décadas de 1960/70/80, conformando o atual perfil demo- RELEVO. O relevo brasileiro já foi bastante estudado e
gráfico do estado de Mato Grosso. A análise da evolução dividido de diferentes formas. Nas divisões estabelecidas
por Aroldo de Azevedo e Aziz Ab’Saber, Mato Grosso apre-
da população de Mato Grosso demonstra que, no período
sentava apenas duas unidades de relevo: o planalto central
1950/2000, ela mais que quintuplicou, em razão das eleva-
e a planície do pantanal.
das taxas anuais de crescimento, sempre superiores à mé-
O mais completo estudo do relevo brasileiro foi pu-
dia brasileira. blicado em 1995. é de autoria do Professor Jurandyr Ross,
Um dos grandes chamarizes para a vinda dos migran- da Geomorfologia da USP, que pesquisou e trabalhou nos
tes ao Mato Grosso foram os projetos de colonização no levantamentos e mapeamentos aerofotogramétricos reali-
estado, executados tanto pela iniciativa privada como pelo zados pelo projeto Radambrasil (1970-1985).
governo de Mato Grosso (colonização oficial). Um dos prin- Graças ao projeto Radambrasil, que fotografou minun-
cipais instrumentos para a ocupação e integração nacional ciosamente cada palmo do espaço territorial brasileiro o
foi o Plano de Integração Nacional (PIN). Em que pese ter Professor Jurandyr nos apresenta uma nova divisão do re-
ocorrido de forma desigual em muitas localidades, onde os levo brasileiro, com 28 unidades (11 planaltos, 11 depres-
projetos de colonização geraram ocupação desordenada, sões e 6 planícies).
acarretando graves consequências sociais que ainda Essas formas de relevo, por sua vez, podem ser agrupa-
hoje podem ser identificadas, a colonização de Mato das em unidades de relevo, conforme suas características.
Grosso foi um processo que resultou em desenvol-
vimento social. Em Mato Grosso destacam-se 11 unidades:
Os mato-grossenses, recém atingidos pela efetivação
da divisão em 1977, foram desafiados pelas novas re- -Planalto e Chapada dos Parecis;
ferências identitárias dos migrantes que aportam o
estado, não apenas trazendo consigo a força de sua cultu- -Planaltos e Chapadas da Bacia do Paraná;
ra, mas, sobretudo, eles próprios se tornando mato-gros-
senses. Com razão, a origem dos migrantes brasileiros em -Planaltos e Serras Residuais do Alto Paraguai;
Mato Grosso fornece importantes elementos para a com-
preensão da cultura híbrida ainda em formação no Estado, -Planaltos Residuais Sul-Amazônicos;
um fator que seguirá exercendo grande repercussão sobre
a identidade do mato-grossense. -Depressão do Araguaia-Tocantins;
Em relação à divisão de Mato Grosso, as ondas de mi-
-Depressão Cuiabana;
grantes que chegaram e se fixaram no estado foram
decisivas para que esta página da história fosse
-Depressões do Alto Paraguai-Guaporé/
virada. Primeiramente em razão do novo período histórico
que este fenômeno inaugurou, uma fase de desafios re- -Depressão Sul-Amazônica;
novados, muito relacionados ao agronegócio, uma gran-
diosa atividade econômica que se tornava, paulatinamente, -Planície do Rio Araguaia;
o referencial imediato para Mato Grosso. Ademais, os mi-
grantes incorporaram novas identidades à matriz cultural -Planície e Pantanal do Rio Guaporé;
mato-grossense, causando perplexidade e um certo esva-
ziamento das concepções etnocêntricas que sempre per- -Planície e Pantanal Mato-grossense.
mearam os debates pela divisão do estado. O mato-gros-
sense já não poderia mais ser enquadrado em uma única Os planaltos são superfícies irregulares com altitudes
moldura cultural e receber um determinado rótulo segun- superiores a 300 metros, resultantes da erosão sobre ro-
do este estereótipo construído; com os influxos migratórios chas cristalinas ou sedimentares, podendo conter serras,
a sociedade mato-grossense tornara-se ainda mais plural elevações ou escarpas íngremes de topos aplainados cha-
e multifacetada. Os estigmas que eram comumente atri- mados chapadas.

29
GEOGRAFIA DE MATO GROSSO

Planalto e Chapada dos Parecis: é o mais extenso do- Depressão Cuiabana: está embutida entre os Planaltos
mínio geomorfológico de Mato Grosso, apresentando to- e Serras Residuais do Alto Paraguai e os Planaltos e Cha-
pografia favorável à práticas agrícolas mecanizadas. É for- padas da Bacia do Paraná. Sua altitude varia de 150 a 400
mado principalmente por terrenos sedimentares (arenito) metros, e as formas de relevo são arredondadas.
do Mesozóico. Constitui o divisor de águas da Bacia do
Amazonas e do Paraguai. Suas altitudes mais elevadas, em Depressões do Alto Paraguai-Guaporé: ficam entre o
torno de 800 metros, são encontradas no trecho sudoeste, Planalto e Chapada dos Parecis e os Planaltos e Serras Resi-
mas a altitude predominante varia de 450 e 650 metros. As duais do Alto Paraguai. Essa unidade de relevo consiste no
formas de relevo são bastante suaves e apresentam duas agrupamento de duas depressões que se unem. Tem altitu-
feições bem distintas: as de topos planos, que são predo- des baixas, variando entre 150 e 200 metros. Esse conjunto
minantes, e as ligeiramente arredondadas, que são teste- está localizado a oeste de Mato Grosso.
munho do relevo que existia no local. As serras do Ronca-
dor, do Daniel e de Tapirapuã são as principais desse pla- Depressão Sul-Amazônica: apresenta topos levemen-
nalto e correspondem a escarpas com o aspecto de cuecas. te convexos, além de relevos residuais compostos por ro-
chas sedimentares e granitos. Sua fronteira limita-se com o
Planaltos e Chapadas da Bacia do Paraná: abrangem Planalto e Chapada dos Parecis ao sul, e a leste tem conti-
superfícies das regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste. Em nuidade com as Depressões do Araguaia-Tocantins.
Mato Grosso aparece na região sudeste do estado e é cha-
mada de Planalto dos Guimarães, sendo dividida em três As planícies são superfícies muito planas, com altitudes
subunidades: Chapada dos Guimarães, com topos planos, inferiores a 100 metros, formadas por acumulação de se-
delimitados por escarpas; Planalto da Casca, com feições dimentos através das águas do mar, dos rios ou de lagos.
geomórficas tabulares e convexas; e Planalto do Alcantila-
dos, apresentando um conjunto de relevo complexo com Planície do Rio Araguaia: situa-se no centro da De-
bordas e escarpas alcantiladas, com reverso em rampas re- pressão do Araguaia-Tocantins, e nela está situada a ilha do
siduais de topo plano. Bananal. No território mato-grossense corresponde a uma
pequena faixa à margem esquerda do rio Araguaia.
Planaltos e Serras Residuais do Alto Paraguai: apa-
recem em duas áreas uma de menor extensão, ao sul do Planície e Pantanal do Rio Guaporé: estende-se por
Pantanal Mato-grossense e uma ao norte do Pantanal. Cor- território boliviano e une-se ao Pantanal Mato-grossense,
respondem a formas de dobramentos em rochas sedimen- sendo igualmente drenada pelo rio Paraguai.
tares (arenitos e calcários) ocorridos na era Pré-Cambriana
e que sofreram erosão intensa, gerando formas de relevo Planície e Pantanal Mato-grossense: localiza-se nos
em suaves cristas assimétricas e mais ou menos paralelas estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Correspon-
umas às outras. As altitudes variam entre 600 e 800 metros. de a uma significativa área de deposição de sedimentos
Nessa unidade de relevo destacam-se a Serra das Araras, recentes trazidos pelos rios da bacia do rio Paraguai, que
a Serra do Tombador e a Serra Azul, localizadas na parte avança em direção à Bolívia e ao Paraguai. É composta de
norte do Pantanal; a Serra de Bodoquena e o Maciço de sedimentos ardilosos e arenosos.
Urucum, situados na parte sul do Pantanal e conhecidos
por suas riquezas minerais.

Planaltos Residuais Sul-Amazônicos: caracterizam-


-se pela presença de inúmeros blocos de relevo residuais,
ou seja, originários de intenso processo erosivo. Esculpidos
em arenitos e rochas magmáticas datados da era Pré-Cam-
briana, esses blocos estão totalmente distribuídos ao norte
de Mato Grosso. Nessa região encontram-se importantes
serras, como a dos Apiacás, do Cachimbo, dos Caiabis, do
Norte, das Onças, Formosa e do Roncador.

As depressões são superfícies com suaves inclinações,


com altitudes entre 100 e 500 metros, produzidas por lon-
gos processos de erosão.

Depressão do Araguaia-Tocantins: localiza-se na


porção leste do estado e acompanha os vales dos rios Ara-
guaia e das Martes. O relevo é quase plano, com altitudes
que variam de 200 a 400 metros. Atravessa formações cris-
talinas e sedimentares.

30
GEOGRAFIA DE MATO GROSSO

OS PONTOS MAIS ALTOS DE MATO GROSSO

Clima.

Mato Grosso encontra-se totalmente localizado na zona tropical do planeta, próximo à linha do Equador. Um outro
fator que influencia o clima no estado é a continentalidade, ou seja, estamos localizados no interior da América do Sul, área
com reduzida influência marítima.
Ao longo do dia, a diferença entre a temperatura máxima e a mínima pode ser de mais de 10ºC, em média. Essa varia-
ção, denominada amplitude térmica, também é conseqüências da continentalidade, pois nas áreas situadas perto do mar,
a amplitude térmica é menor.
As variações de temperatura ao longo de um dia podem ser maiores ainda quando há a penetração de uma massa de
ar fria de origem polar, nos meses de junho e julho.
As médias anuais de chuva no estado variam de 1.250 milímetros, no Pantanal, a 2.750 milímetros na região norte.
Os tipos de clima de Mato Grosso são o equatorial, ao norte, e o tropical continental, no sul e leste do estado.
O clima equatorial corresponde à Amazônia Mato-grossense. É quente e úmido. As médias térmicas mensais são eleva-
das (entre 24°C e 28°C) e praticamente não há inverno. Sofre influência da massa equatorial continental, caracterizada por
altas temperaturas, baixas pressões atmosféricas, forte evaporação e intensas precipitações.
Apenas em alguns curtos períodos, quando a frente fria oriunda do sul do continente consegue atingir a parte aci-
dental da Amazônia, a temperatura desce 16°C ou 18°C. As chuvas são abundantes (entre 1.600 e 2.500 mm por ano),
concentrando-se mais de dezembro a maio.
O clima tropical continental caracteriza-se por apresentar inverno seco e verão úmido, sendo portanto um clima quente
e semi-úmido. As médias térmicas mensais ficam entre 20°C e 28°C e os índices de chuva situam-se próximo de 1.500 mm
por ano. No verão, sofre influência da massa equatorial continental. No inverno a massa tropical atlântica se instala na re-
gião. Tendo altas pressões, essa massa de ar impede a chegada de ventos úmidos, ocasionando a estiagem.
A vegetação original característica desse tipo de clima é o cerrado, uma mistura de vegetação arbórea, mais rara, com
plantas herbáceas, mais abundantes. O cerrado já está muito devastado pela ocupação humana.

Hidrografia.

A hidrografia mato-grossense destaca-se no cenário nacional por apresentar centros divisores de água, onde nascem
rios de três importantes bacias hidrográficas brasileiras: a Amazônica, a Platina e a do Tocantins-Araguaia. Estas nascentes
estão localizadas em região de planalto.
O norte do Mato Grosso é drenado pelos rios que são afluentes da margem direita do rio Amazonas, como o rio Xingu,
ou por formadores de afluentes, como os rios Teles Pires e Juruena, que formam o rio Tapajós. Esses rios tomam a direção
sul-norte.
É nesta bacia hidrográfica que encotra-se a Cachoeira do Galerinha, a mais alta de Mato Grosso, com 180 m de queda
livre.
O mais importante rio desta bacia hidrográfica em Mato Grosso é o Xingu. Ele nasce na Chapada dos Parecis, entre os
municípios de Paranatinga e Canarana. Seus principais afluentes são o Culuene, o Ronuro e o Batovi.
Outros rios mato-grossenses desta bacia que merecem destaque são:

-o Teles Pires, que também recebe a denominação de São Manoel. Sua nascente está localizada na Serra Azul.

-o Juruena, que é considerado o rio mais extenso de Mato Grosso. Sua nascente está localizada na Chapada dos Parecis.

-o Aripuanã, que nasce na Serra do Norte e deságua no rio Madeira.

31
GEOGRAFIA DE MATO GROSSO

-o Guaporé, em cujas margens foi construída a primei- é eleito para um mandato de quatro anos, com direito à
ra capital de Mato Grosso, Vila da Santíssima Tridande. Sua reeleição. Por se tratar de regime presidencialista, referen-
nascente está localizada na Chapada dos Parecis. dado em plebiscito realizado em 21 de abril de 1993, o
presidente não depende da confiança do Legislativo para
O rio Paraguai é formador da Bacia Platina e atravessa permanecer no cargo. As eleições presidenciais são realiza-
o Pantanal mato-grossense. Nasce na Chapada dos Parecis, das em dois turnos, caso um dos candidatos não obtenha
nas proximidades da cidade de Diamantino, e toma o sen- no primeiro pleito, 50% dos votos válidos mais um. O atual
tido norte-sul. Na época das cheias, o rio Paraguai inunda Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, foi
uma vasta área formando um verdadeiro lago. Trata-se de eleito em primeiro turno de eleições diretas realizadas no
um dos maiores rios de planície do Brasil, superado apenas dia 3 de outubro de 1994.
pelo Amazonas. Poder Executivo - O Poder Executivo é composto por
Ministérios, por Secretarias Especiais e pelas Forças Arma-
O principal tributário do rio Paraguai é o Cuiabá, cuja das. Os Ministérios têm a atribuição de elaborar e execu-
nascente está localizada na Serra Azul, no município de Ro- tar políticas públicas em suas respectivas áreas de atuação,
sário Oeste. Os principais afluentes do rio Cuiabá são o São que correspondem aos Ministérios da Fazenda; do Planeja-
Lourenço, o Piquiri, o Manso, o Aricá Açu e o Aricá Mirim. mento e Orçamento; das Relações Exteriores; da Justiça; da
Educação; das Minas e Energia; das Comunicações; da Agri-
Os rios da bacia Platina tomam o sentido norte-sul. cultura; dos Transportes; da Indústria, Comércio e Turismo;
Outros importantes rios desta bacia hidrográfica em Mato do Meio Ambiente dos Recursos Hídricos e da Amazônia
Grosso são o Sepotuba, o Cabaçal e o Jauru, todos com Legal; da Ciência e Tecnologia; do Trabalho; da Saúde; da
nascentes na Chapada dos Parecis. Previdência; da Cultura; e da Administração Federal. As Se-
cretarias Especiais são órgãos auxiliares da Presidência da
O rio Araguaia é o principal tributário do rio Tocantins. República e seus ocupantes têm status de ministro. Existem
Sua nascente está localizada na Serra dos Caiapós, numa a Secretaria de Comunicação Social, de Assuntos Estratégi-
altitude de 850 metros, divisa de Mato Grosso com Goiás. cos e os gabinetes Civil e Militar, que funcionam como uma
Constitui-se na divisa natural entre Mato Grosso e Goiás e coordenação de todos os ministérios existentes. No que
Mato Grosso e Tocantins. tange às Forças Armadas, consideradas pela Constituição
como essenciais à defesa da pátria, à garantia dos poderes
Os rios desta bacia hidrográfica tomam o sentido sul- constitucionais e, por iniciativa de qualqer dos poderes, à
-norte. Os principais afluentes do rio Araguaia em Mato defesa da lei e da ordem, elas se compõem do Ministério
Grosso são o rio das Garças e o das Mortes. O primeiro tem da Marinha, da Aeronáutica e do Exército, os quais se su-
suas nascentes na Serra das Saudades, em Alto Garças, e o bordinam ao Estado Maior das Forças Armadas (EMFA) e
segundo, na Serra de São Vicente, em Cuiabá. têm como autoridade suprema o Presidente da República.
Cabe ao Executivo exercer as funções de chefia de Estado e
Uma das característica da hidrografia regional é o fenô- de Governo, administrando
meno denominado “águas emendadas”. Onde a topografia a coisa pública, aplicando as leis existentes e propondo
do relevo é predominantemente plana, é comum o encon- outras que sejam da sua competência.
tro de rios que pertencem a bacias hidrográficas diferentes. As ações desenvolvidas pelo governo dependem da
Por exemplo, as águas do rio Alegre, que faz parte da bacia orientação política do presidente da República e sua equi-
Amazônica, se unem às do rio Aguapeí, da Bacia Platina. pe. Tal orientação é expressa em programa político divul-
gado durante a campanha eleitoral, o que permite aos elei-
tores optarem pelo tipo de ação política que apoiam para
5 ASPECTOS POLÍTICO- determinada gestão, especialmente no que se refere às
ADMINISTRATIVOS. políticas econômica e social. No caso do atual Presidente
da República, sua campanha foi centrada no plano de esta-
bilização da economia e seu programa de governo baseou-
-se numa série de providências que estão sendo tomadas
O Brasil é uma República Federativa de regime presi- em relação cinco questões: saúde, educação, economia,
dencialista, dividida administrativamente em 26 estados e infra-estrutura e agricultura. Comprometeu-se ainda com
um Distrito Federal, com um total de 5.024 municípios dis- o fortalecimento do papel do Estado como coordenador,
tribuídos nos estados. O Governo do Estado é exercido pela regulador e planejador do processo de desenvolvimento e
ação de três poderes constituídos: Executivo, Legislativo e com a promoção de uma reforma no setor público.
Judiciário. Os membros dos poderes Executivo e Legislativo Poder Legislativo - Vigora no país o pluripartidarismo,
são eleitos diretamente pela população e os membros do com um Poder Legislativo bicameral, composto pelo Sena-
Judiciário nomeados segundo procedimentos específicos, do, com 81 membros, e pela Câmara dos Deputados, com
expressos na Constituição. 513 membros. Todos são eleitos por voto direto, para man-
Pela Constituição em vigor, promulgada a 5 de outubro datos de 8 e 4 anos respectivamente. Existem 20 partidos
de 1988, a sétima desde a Independência do país em 1822, políticos registrados no Tribunal Superior Eleitoral. Entre os
o Presidente da República, chefe de Estado e de Governo, principais partidos políticos brasileiros incluem-se o Parti-

32
GEOGRAFIA DE MATO GROSSO

do do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), o Parti- - a Justiça do Trabalho, responsável pela resolução de
do dos Trabalhadores (PT), o Partido da Frente Liberal (PFL), questões trabalhistas, e constituída pelo Tribunal Superior
o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), o Partido do Trabalho (TST), pelos Tribunais Regionais do Trabalho
Democrático Trabalhista (PDT), o Partido Socialista Brasi- (TRTs) e pelas Juntas de Conciliação e Julgamento;
leiro (PSB), o Partido Popular Socialista (PPS) e o Partido
Popular Renovador (PPR). A reforma partidária é um dos - a Justiça Eleitoral, constituída pelo Tribunal Superior
temas a serem abordados na revisão constitucional que Eleitoral (TSE), os tribunais regionais eleitorais (TREs), os
já se iniciou. Entre as principais propostas a serem apre- juízes eleitorais e juntas eleitorais, responsável pelo enca-
sentadas para a reforma partidária, que visa a diminuir a
minhamento, coordenação e fiscalização das eleições e do
distância entre cidadãos e seus representantes, incluem-se
processo de formação e registro dos partidos políticos;
a volta da fidelidade partidária, a alteração do sistema de
representação e a criação de mecamismos para a fiscaliza-
ção da vida interna dos partidos, a fim de evitar legendas - a Justiça Militar, responsável pelo processo e julga-
de aluguel e garantir o controle dos cidadãos sobre seus mento de crimes militares, e constituída pelo Superior Tri-
representantes. bunal Militar (STM), juízes e tribunais militares e ainda os
Conselhos de Justiça Militar.
Poder Judiciário - O Poder Judiciário é o árbitro que
julga os conflitos de interesse existentes na sociedade, uma Organização da Sociedade
vez que cabe ao Estado decidir quem tem razão nos casos
em que tais conflitos não sejam superados por negocia- Paralelamente à organização político-partidária exis-
ções e acordos diretos entre as partes envolvidas. As deci- tem outras formas de organização da sociedade brasileira,
sões são tomadas através de processos judiciais embasa- entre as quais destacam-se as organizações comunitárias,
dos na Constituição, nas leis, normas e costumes, adaptan- as organizações sindicais e as organizações não-governa-
do regras genéricas às situações específicas e atribuindo o
mentais (ONGs). As primeiras são geralmente formadas por
direito a quem julgar que merece. O Poder Judiciário está
organizado nos âmbitos federal e estadual. Os municípios moradores de determinada região, que decidem unir-se em
não têm Justiça própria, podendo recorrer, em certos ca- torno de um conjunto de reivindicações comuns, que vão
sos, à Justiça dos Estados ou da União. Os cargos no Poder do direito à habitação até à melhoria das condições de vida
Judiciário são ocupados por concurso público e os juízes urbana, relacionadas ao transporte, água, saneamento e
têm cargo vitalício, não podendo ser destituídos por de- segurança pública. As entidades criadas por local de mora-
cisão administrativa. São proibidos de exercer outro cargo dia constituem uma das formas mais comuns e difundidas
ou função a não ser o magistério, não podendo também de organização da população urbana e representam a luta
dedicar-se a atividades político-partidárias. pela ampliação da cidadania, a partir de direitos individuais
e coletivos garantidos na Constituição.
Integram o Poder Judiciário os seguintes órgãos:
As organizações sindicais representam categorias pro-
- Supremo Tribunal Federal, responsável pela aplicação fissionais na defesa de seus interesses corporativos, nas ne-
e interpretação da Constituição e formado por 11 ministros
gociações salariais e frente ao governo. A estrutura sindical
escolhidos e nomeados pelo Presidente da República, após
brasileira baseia-se na Consolidação das Leis do Trabalho
ter o Senado aprovado a escolha, por maioria absoluta;
(CLT), editada em 1943. É formalmente igual para trabalha-
- o Superior Tribunal de Justiça, que julga as questões dores e empregadores, com uma articulação vertical en-
infraconstitucionais e é responsável pela uniformidade da tre sindicatos organizados em nível municipal, federações
interpretação da lei federal em todo o país, sendo consti- estaduais e confederações nacionais. Dados do censo de
tuído por, no mínimo, 33 ministros nomeados pelo Presi- 1990 da Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Esta-
dente da República, após aprovação do Senado; tística (IBGE), registram a existência de 10.075 sindicatos no
país, dos quais 56,3% são urbanos e 43,7% são rurais. Entre
- a Justiça Federal, responsável pelas causas que en- os sindicatos urbanos, 1.566 (27,5%) são de empregadores
volvem a União, autarquias ou empresas públicas federais e 3.367 (59,3%) são de empregados. Os demais são de tra-
e composta pelos Tribunais Regionais Federais (TRFs) dos balhadores autônomos e de profissionais liberais.
Estados e pelos juízes federais; Há quatro centrais sindicais no País, sendo a Central
Única dos Trabalhadores (CUT) a que conta com maior nú-
- a Justiça Estadual, formada pelos tribunais de Justiça
mero de sindicatos filiados. De acordo com dados forne-
e juízes de direito, que constituem foros para as ações de
inconstitucionalidade das leis ou atos normativos estaduais cidos pelas próprias centrais sindicais, com base em seus
e municipais para as ações criminais, civis e comerciais que respectivos cadastros de contribuintes, a CUT possui 2.041
não envolvam a União ou pessoas no exercício de cargos sindicatos filiados; a Força Sindical, segunda maior central
públicos federais. Ligados ainda às Justiças Estaduais exis- sindical do País, tem um total de 978 sindicatos filiados; a
tem os Tribunais de Pequenas Causas, criados para resolver Central Geral dos Trabalhadores possui 811; e a Confedera-
demandas judiciais de primeira, para solução imediata; ção Geral dos Trabalhadores tem 128 sindicatos filiados em

33
GEOGRAFIA DE MATO GROSSO

todo o país. A organização das centrais sindicais não está Como recorte geográfico para analisar o desenvolvi-
prevista na CLT, tendo se tornado um complemento da es- mento territorial, optou-se pelo Estado de Mato Grosso,
trutura sindical existente, a partir do processo de abertura que possui aproximadamente 903.329,700 Km² de exten-
política iniciado no final da década de 70. A filiação de um são, uma população estimada em 2013 de 3.182.113 habi-
sindicato a uma central sindical não é obrigatória no Brasil, tantes e 141 municípios (IBGE, s.d.), sendo um significan-
como o é a sua filiação à federação estadual e à confedera- te expoente no cenário agrícola tanto pelas condições de
ção da categoria em nível nacional. clima e solo que facilitam a exploração de commodities,
As organizações não-governamentais começaram a como pela considerável inserção de incentivos concedi-
surgir na década de 80, tendo aumentado muito sua im- dos pelo governo do estado. Essas condições têm contri-
portância no país durante a década de 90. São entidades buído para a migração de muitos cidadãos em direção às
de direito civil, sem fins lucrativos ou vínculos com sindi- regiões Norte e Sul, onde se concentram as maiores in-
catos, partidos políticos ou com o governo, embora pos- dústrias, assim como as grandes plantações de grãos. Essa
sam receber financiamentos de fundos governamentais e atração de grandes indústrias e agricutores de uma forma
de outras entidades brasileiras e estrangeiras. Embora não geral, tem propiciado o crescimento econômico regional e
tenham caráter associativo e representativo, as ONGs tam- garantido ao estado o maior PIB agropecuário do país.
bém se dedicam a lutar pela defesa de direitos específicos Entretanto o crescimento expressivo da economia, co-
da população. Calcula-se que existam mais de 3 mil enti- mumente representado pelo PIB, nem sempre representa
dades desse tipo no Brasil, que empregam cerca de 80 mil desenvolvimento econômico. O desenvolvimento econô-
pessoas. Pesquisa realizada pelo Instituto Superior de Estu- mico é um conceito mais qualitativo, incluindo alterações
dos Religiosos (ISER) junto a 132 ONGs brasileiras concluiu da composição do produto e a alo- cação dos recursos pe-
que 40% dessas instituições tratam da causa ecológica, los diferentes setores da economia, de forma a melhorar
embora muitas também se dediquem a temas específicos os indicadores de bem-estar econômico e social (pobreza,
ligados aos direitos da mulher, da criança carente e à ques- desemprego, desigualdade, condições de saúde, alimenta-
tão racial. ção, educação e moradia) da população.
É com base nesse contexto, sinteticamente apresentado,
que se propõe responder à seguinte questão norteadora
6 ASPECTOS SOCIOECONÔMICOS deste estudo: as ações públicas realizadas nos Territórios
DE MATO GROSSO. da Cidadania estão promovendo o desenvolvimento
local? Para responder ao questiona- mento proposto,
estabeleceu-se como objetivo geral deste trabalho verificar
os avanços e/ ou retrocessos nas condições de qualidade
A industrialização e o desenvolvimento nos estados
de vida das populações de cada Território da Cidadania
brasileiros transcorreram por ro- tas de desigualdades
do estado de Mato Grosso. Para isso foram utilizados os
intrínsecas, tornando-se preocupações permanentes dos
seguintes indicadores socioeconômicos referentes ao
organismos governamentais que buscam integrar e gerir
período 2005 a 2011: Emprego e Renda; Educação; Saúde.
políticas públicas que promovam o desenvolvimento eco-
Para embasar estas reflexões o artigo está estruturado da
nômico sustentável local. A abordagem de programas ter-
seguinte forma: inicialmente, é apresentado o referencial
ritoriais surge nesse contexto, articulando uma nova forma
teórico que aborda as relações entre reforma do Estado,
de arranjo que aglomera e organiza os municípios territo-
rialmente com certo grau de homogeneidade dentro de Políticas Públicas e Sociais; posteriormente, realiza-se uma
um mesmo Estado, visando diminuir as fronteiras restritivas breve contextualização a res- peito do programa Territórios
e alavancar as potencialidades através da intensificação de da Cidadania e da metodologia embasada na utilização
ações que conduzam a promoção e a garantia do bem- do Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal (IFDM);
-estar social. Nesse intuito, o Governo Federal lançou, em na sequência, apresentam-se os resultados e discussões e
2008, a política pública “Territórios da Cidadania”, que bus- encerra-se com as considerações finais.
ca desenvolver os direitos sociais pautado na participação
social e na integração de ações envolvendo municípios e REFORMA DO ESTADO
estados.
A análise das diretrizes dessa política pública retrata No percurso do Estado moderno, duas reformas admi-
um claro exemplo da tutela exercida pelo Estado acerca nistrativas se destacaram: “reforma burocrática: [...] trata-se
dos direitos dos indivíduos que vivem em determinado do processo de transição do Estado patrimonial para o Es-
terri- tório. Assim, pressupõe-se que essa política, ao re- tado burocrático weberiano; [e] reforma da gestão pública:
conhecer a pluralidade das diferenças regionais e trabalhar orienta a transição do Estado burocrático para o Estado
arduamente para pro- mover e atender as necessidades gerencial”.
básicas da população, se encontra intrinsecamente ligada Os tipos de ad- ministração pública podem ser loca-
a um dos pilares da cidadania: os direitos sociais. Esses di- lizados no tempo e no espaço em diferentes lugares do
reitos compreendem o gerenciamento eficaz e eficiente da mundo. Historicamente, pode-se considerar a existência de
saúde, educação, remuneração digna, aposentadoria, mer- três tipos básicos de administração pública ou três formas
cado de trabalho, dentre outros que fornecem subsídios de administrar o Estado: Administração Patrimonialista,
para se reduzir a desigualdade social e econômica. Administração Burocrática; Administração Gerencial.

34
GEOGRAFIA DE MATO GROSSO

O patrimonialismo significa a incapacidade ou relutân- Essa nova fase de institucionalização da gestão públi-
cia de o príncipe distinguir entre o patrimônio público e ca se encontra, fundamental- mente, vinculada à eficiência
seus bens privados. Nesse sentido, podem-se considerar administrativa e no foco no cidadão beneficiário dos servi-
algumas características básicas, quais sejam: caráter perso- ços públicos. Entre as bases teóricas da nova Administração
nalista do poder; ausência de uma esfera pública contra- Pública, está o pensamento neoliberal, no qual o Estado
posta à privada; lógica subjetiva e casuística do sistema ju- deveria ser estruturado para cumprir, basicamente, quatro
rídico, irracionalidade fiscal; tendência à corrupção do qua- objetivos: proteger os cidadãos dos potenciais inimigos;
dro administrativo; relações de lealdade pessoal; ausência garantir que cada cidadão seja autossuficiente para seu de-
de limites entre os bens e recursos públicos e privados; senvolvimento; manter uma estrutura que possibilite uma
clientelismo, corrupção e nepotismo; a função do Estado e competição e uma cooperação eficientes entre os homens,
do serviço público é dar emprego e favorecer aliados. viabilizando o bom funcionamento do livre mercado; e criar
Por outro lado, a administração pública burocrática um ambiente seguro para os cidadãos, garantindo não a
apresenta as seguintes características básicas: distribuição igualdade material, mas as condições de competição, ou
de atividades e poderes que visa à execução regular e con- seja, o acesso aos recursos de que todos necessitam para
tínua de certos fins; hierarquia de cargos e instâncias que competir. Ainda, O neoliberalismo se espalhou propondo
ordena o sistema de mando e subordinação; registros sob respostas à crise do Estado de Bem Estar Social. No entan-
a forma de documentos escritos; administração dos fun- to o neoliberalismo foi fortemente criticado no início dos
cionários segundo regras que podem ser aprendidas; im- anos 90, década na qual surgiram novas tendências políti-
pessoalidade nas relações entre as pessoas (WEBER, 1999). cas como a “Terceira Via” proposta por Anthony Giddens, e
Sua introdução em vários países, inclusive no Brasil, teve que influenciou a reforma do Estado no Brasil.
a finalidade de superar as mazelas do patrimonialismo, A política de Terceira Via é uma corrente que surgiu
no sentido de acabar ou minimizar as práticas clientelís- com o objetivo auxiliar os cidadãos a desbravar caminhos
ticas. Porém, no Brasil, o modelo burocrático tradicional por meio das mais importantes revoluções que envolviam
funcionou de forma limitada, sem dar conta da superação a globalização, transformações na vida pessoal e o rela-
do patrimonialismo e reforçou traços de autoritarismo nos cionamento com a natureza. Alguns valores que compõem
cargos públicos, por meio da hierarquia e do controle, via- a política de Terceira Via como: igualdade, proteção aos
bilizando o poder de uma elite burocrática, aspectos que vulneráveis, liberdade como autonomia, na qual não há
estão relacionados com a nossa formação histórica.
direitos sem responsabilidades e não há autoridade sem
Os grandes intérpretes da realidade brasileira têm
democracia.
salientado que as raízes do nosso atraso, subdesenvolvi-
Assim, a nova proposta política baseia-se na integração
mento, dependência, modernização periférica ou inserção
entre o setor público e o setor privado ao justificar a dinâ-
pouco competitiva no mundo globalizado estão plantadas
mica do mercado com o propósito de um bem-estar social.
na formação histórica brasileira, gerando uma série de de-
A reforma do Estado deveria ser um princípio orientador
terminantes que condicionam o sistema político, o Estado
básico da política de Terceira Via, um processo de apro-
e suas relações com a sociedade e a economia. Essas pe-
fundamento e ampliação da democracia. Considera que o
culiaridades constituem modo de ser, proceder ou pensar
governo pode agir em parceria com instituições da socie-
que caracterizam nossas instituições, relações sociais e re-
presentantes do mundo social e político. dade civil para fomentar a renovação e o desenvolvimen-
No sentido de superar os entraves burocráticos e pa- to da comunidade, cuja base econômica é defendida pelo
trimonialistas da gestão pública, “[...] preparar a nossa ad- autor como “a nova economia mista”. Para ele, se, por um
ministração para a superação dos modelos burocráticos lado, os neoliberais querem encolher o Estado, por outro,
do passado, de forma a incorporar técnicas gerenciais que os socialistas buscam expandi-lo, e a Terceira Via se propõe
introduzam na cultura do trabalho público as noções in- a reconstruí-lo.
dispensáveis de qualidade, produtividade, resultados, res- Todavia há um vazio entre a reforma do Estado no Bra-
ponsabilidade dos funcionários, entre outras”. A tarefa de sil e a participação cívica da população nos espaços públi-
reformar o Estado consiste, por um lado, em equipá-lo com cos. É nesse ambiente em que gestão social adquire grande
instrumentos para uma intervenção efetiva e, por outro, em relevância, pois esta busca um gerenciamento participativo
criar incentivos para que os funcionários públicos atuem de e dialógico, envolvendo diferentes sujeitos sociais no pro-
modo a satisfazer o interesse público”. cesso decisório da ação pública. Ainda conforme esse au-
O resultado dos esforços de superação do patrimonia- tor, a ação dialógica desenvolve-se segundo pressupostos
lismo e das mazelas burocráticas foi a emergência da ad- do agir comunicativo, ou seja, agrega o acordo alcançado
ministração pública gerencial ou nova gestão pública, que por meio da discussão crítica e da apreciação intersubjeti-
se fundamenta em valores de eficiência, eficácia e compe- va. Principalmente, com base no conceito de cidadania de-
titividade. O governo, nesse cenário, é tido como: catali- liberativa e na Teoria da Ação Comunicativa. A esfera públi-
sador, pertencente à comunidade, competitivo, orientado ca é “um princípio organizacional de nosso ordenamento
para missões, de resultados, para clientes, empreendedor, político”, na qual se destaca o Estado como “poder público”
preventivo, descentralizado, orientado para o mercado e pela tarefa que assume de promover o bem público, o bem
reinventado. comum a todos os cidadãos.

35
GEOGRAFIA DE MATO GROSSO

O fato de a esfera pública ser um espaço de relações Para esclarecer tais (des.) entendimentos sobre políti-
sociopolíticas e culturais implica que ela é também um es- cas sociais, que destaca três horizontes nesse campo: po-
paço de explicitação de interesses – que podem ser simila- líticas assistenciais, que não devem ser confundidas com
res ou contrastantes, envolvendo, portanto, interesses con- o assistencialismo, pois “[...] enquanto o assistencialismo
sensuais e/ou em conflito; um espaço de confronto, emba- é estratégia de manutenção das desigualdades sociais, a
tes, criação de consensos e de alianças entre projetos so- assistência corresponde a um direito humano.” Em um se-
ciopolíticos diferenciados, segundo as matrizes valorativas/ gundo horizonte, destacam-se as políticas socioeconômi-
culturais dos grupos de interesses que eles representam; cas, tais como: políticas de emprego, de apoio às formas
para se chegar a um consenso, há negociações variadas en- de microprodução, de profissionalização, habitação, saúde,
volvendo estratégias políticas, busca de reconhecimento, previdência, transporte, urbanização, de fundos sociais. Por
culturas e práticas político/valorativas, disputas pela dire- último, as políticas participativas que agregam as políticas
ção e hegemonia dos coletivos etc. educacionais, culturais, comunicação, de defesa da cidada-
Assim, a política pública Territórios da Cidadania, ao si- nia, conquista de direitos, organização da sociedade civil,
nalizar a adoção da gestão social no seu processo de ope- partidárias, sindicais, de justiça e de segurança pública.
racionalização nos territórios, busca superar o “vazio” entre A abordagem territorial tem ganhado espaço na gestão
de políticas públicas sociais nos estados brasileiros, pois tal
a ação do Estado e a participação da sociedade.
abordagem prioriza ações que estimulam os processos de
desenvolvimento local sustentável, envolvendo municípios
POLÍTICAS PÚBLICAS DE DESENVOLVIMENTO TERRI-
e regiões, bem como focaliza a aplicação dos direitos so-
TORIAL E TERRITÓRIOS DA CIDADANIA
ciais garantidos pela Constituição Federal de 1988:
O foco no Território permite compreender a unidade
Em termos gerais, política pública significa o Estado em complexa constituída pelos espaços urbano e rural e pelos
ação. Em todo caso, a realização da política pública, dos âmbitos municipal e supra- municipal. Ela favorece a emer-
objetivos do Estado, é a tarefa que na realidade executam gência de temas relacionados com pobreza, desigualdade
conjuntamente os cidadãos, os par- tidos políticos, as asso- social, meio ambiente e outras questões que passam a ser
ciações, os parlamentos, ou tribunais, os órgãos da opinião tratados com uma ótica de desenvolvi- mento rural (antes,
pública, os grupos de interesses econômicos, os funcioná- desenvolvimento rural era sinônimo de desenvolvi- mento
rios do Poder Executivo e outros agentes. (grifo do autor). da produção agrícola).
Por outro lado, em se tratando de políticas públicas de Assim, as políticas públicas territoriais têm favorecido
desenvolvimento territorial, “O desafio fundamental das a solidariedade e a cooperação com a diversidade de ato-
políticas públicas de desenvolvimento territorial é melho- res sociais, melhora- do a articulação dos serviços públicos,
rar as capacidades produtivas e as condições de acesso aos organizando melhor o acesso ao mercado interno, além de
mercados dos empreendedores de pequeno porte”. contribuir para a construção de uma identidade própria
Desse modo, a abordagem territorial ultrapassa a es- que forneça uma sólida base para a coesão social territorial,
cala dos municípios, envolve as relações entre Estado e verdadeiros alicerces para o exercício da cidadania.
Sociedade intermedia- da pela participação ativa da esfe- A política pública Territórios da Cidadania é parte do
ra pública. “[...] Dificilmente uma cidade isoladamente tem esforço conjunto do Governo Federal, por meio do Minis-
força política para deter- minar a estratégia de investimen- tério do Desenvolvimento Agrário (MDA), em parceria com
to e gestão dessas infraestruturas”. E complementando, [...] municípios, estados e a sociedade civil, com objetivo de
a ideia de políticas públicas associa-se a um conjunto de superar a pobreza e as desigualdades sociais através do
ações articuladas com recursos próprios (especialmente fi- desenvolvimento territorial sustentável. Essa política busca,
nanceiros, mas podendo também incluir humanos), numa a partir do planejamento territorial, a integração das di-
dimensão temporal (duração) e com alguma capacidade versas ações públicas voltadas para a cidadania. As linhas
de impacto. Ela não pode ser reduzida à implantação de de ação da política são três: a primeira, de apoio à ativi-
dade produtiva, focada em ações públicas voltadas à ge-
serviços, pois engloba projetos de natureza ética e política,
ração de renda e inclusão social na atividade produtiva de
além da compreensão de níveis diversos de relações entre
acordo com a potencialidade do território. A segunda linha
o Estado e a sociedade civil na sua constituição.
de ação refere-se ao acesso aos direitos e fortalecimento
A partir dessa premissa, esclarece que políticas sociais
de apoio institucional que visa assegurar a condição bási-
são “[...] as ações que determinam o padrão de proteção ca de cidadania às populações dos territórios delimitados
social implementado pelo Estado, volta- das, em princípio, pela política. A última linha de ação é de qualificação da
para a redistribuição dos benefícios sociais visando á di- infraestrutura.
minuição das desigualdades sociais estruturais produzidas Essa política pública é gerida pelos comitês de gestão
pelo desenvolvimento socioeconômico”, na outra ponta nacional, articulação estadual e por um colegiado territo-
está o entendimento sobre política social [...] é uma ges- rial. O comitê gestor nacional é composto por Secretários
tão estatal da força de trabalho, articulando as pressões Executivos ou Secretários Nacionais de todos os Ministé-
e movimentos sociais dos trabalha- dores com as formas rios, tendo as seguintes atribuições: aprovar diretrizes; or-
de reprodução exigidas pela valorização do capital e pela ganizar as ações federais; adotar medidas para execução e
manutenção da ordem social. avaliação do programa; mobilizar atores federativos (Pacto

36
GEOGRAFIA DE MATO GROSSO

Federativo); definir novos territórios. O comitê de articula-


ção estadual é de caráter consultivo e propositivo tendo 7 FORMAÇÃO ÉTNICA.
como atribuições: apoiar a organização e mobilização dos
Colegiados; apresentar e/ ou articular ações; acompanhar
a execução; fomentar a integração das diversas políticas
públicas nos territórios; apresentar sugestões de novos ter- OS ÍNDIOS
ritórios; auxiliar na divulgação do Programa. O colegiado
territorial é composto por representantes das três esferas As comunidades indígenas ou pré-cabralinas oscila-
de governo e da sociedade em cada território, tendo como vam entre 3 e 5 milhões de pessoas e se dividiam em três
atribuições: elaborar ou aperfeiçoar o Plano de Desenvol- grupos principais:
vimento do Território; promover a interação entre gestores Os Tupis (Tupis-Guaranis), no litoral;
públicos e conselhos setoriais; contribuir para qualificação Os Tapuias (Jês), no Brasil Central;
e integração de ações; ajudar na execução das ações e Os Aruaks (Nuaruaques), na Amazônia.
identificar ações para serem priorizadas no atendimento; De uma maneira geral, pode se afirmar que não havia
exercer o controle social; dar ampla divulgação sobre as homogeneidade cultural entre os índios, pois existiam mui-
ações do programa. tas diferenças, mas também muitas semelhanças:
No estado de Mato Grosso, foram cria- dos quatro - Desconheciam a organização sob a forma de Estado;
territórios, sendo eles: Baixada Cuiabana; Baixo Araguaia; - Não possuíam escrita;
Noroeste e Portal da Amazônia. O Território da Cidadania - Desconheciam a fundição de metais;
Baixada Cuiabana abrange uma área de 85.369,70 Km² e é - Eram politeístas;
composto por 14 municípios1. A população total do ter- - Não havia classes sociais e nem propriedade privada;
ritório é de 976.064 habitantes, dos quais 77.147 vivem - A divisão do trabalho era sexual e etária; os homens
na área rural, o que corresponde a 7,90% do total. Possui eram responsáveis pela caça, pesca, coivara e guerra; as
10.260 agricultores familiares, mulheres eram responsáveis pela agricultura, pela comida,
Porto Alegre do Norte, Querência, Ribeirão Cascalheira, etc.
Santa Terezinha, São Félix do Araguaia, São José do Xingu, - Alguns praticavam a poligamia e outros praticavam a
Alto Boa Vista, Canabrava do Norte, Novo Santo Antônio, monogamia;
Santa Cruz do Xingu, Serra Nova Dourada, Vila Rica e Bom - Alguns praticavam o canibalismo (antropofagia).
Jesus do Araguaia). A população total do território é de OBS.
125.127 habitantes, dos quais 51.355 vivem na área rural, 1- Grande quantidade de índios ficou sob responsabi-
o que corresponde a 41.04% do total. Possui 7.387 agricul- lidade dos jesuítas, que os mantinham em Missões ou Re-
tores familiares, 16.271 famílias assentadas e 11 terras indí- duções, catequizando-os e promovendo sua aculturação.
genas. O Território da Cidadania do Noroeste abrange uma 2- A colonização, a escravidão, as guerras e as doenças
reduziram rapidamente a população indígena.
área de 149.223,50 Km² e é composto por 7 municípios3
(Aripuanã, Juína, Juruena, Rondolândia, Castanheira,
OS BRANCOS
Cotriguaçu e Colniza). A população total do território é de
122.256 habitantes, dos quais 44.798 vivem na área rural, o
A população de brancos no Período Colonial, apesar
que corresponde a 36,64% do total. Possui 9.692 agricultores
de ser reduzida, impôs sua língua, sua religião, sua cultura
familiares, 6.416 famílias assentadas e 10 terras indígenas.
artística e científica, seu padrão econômico e sua estrutura
O Território da Cidadania Portal da Amazônia abrange uma
político-jurídico-administrativa. Era composta, basicamen-
área de 111.167,50 Km² e é composto por 16 municípios4 te, por:
(Alta Floresta, Apiacás, Carlinda, Colíder, Guarantã do Norte, Fidalgos e Militares: Ligados à Coroa Portuguesa, ti-
Marcelândia, Matupá, Nova Bandeirantes, Nova Canaã do nham preferência na concessão de terras e privilégios.
Norte, Nova Guarita, Nova Monte verde, Novo Mundo, Sacerdotes: Encarregados da educação e da orientação
Paranaíta, Peixoto de Azevedo, Terra Nova do Norte e Nova moral da sociedade colonial. Os jesuítas formavam o grupo
Santa Helena). A população total do território é de 258.013 principal.
habitantes, dos quais 85.035 vivem na área rural, o que Lavradores, Artífices e Artesãos: Vieram de livre e es-
corresponde a 32,96% do total. Possui 20.062 agricultores pontânea vontade para exercer suas atividades e procurar
familiares, 20.647 famílias assentadas e 14 terras indígenas. melhorar suas vidas.
As ações nos territórios são organizadas em três eixos Criminosos e Degredados: Elementos que vieram para
(apoio a atividades produtivas; cidadania e direitos, infraes- o Brasil fugindo ao cumprimento de penas em Portugal, ou
trutura) e sete temas (direitos e desenvolvimento social; que foram condenados ao degredo, por crimes políticos,
organização sustentável da produção; saúde, saneamento religiosos ou comuns.
e acesso à água; educação e cultura; infraestrutura; apoio
à gestão territorial; e ações fundiárias). Texto adaptado de OS NEGROS
CÓCARO, H.; CARDOSO, R. F.; PEREIRA, J. R.
A substituição da escravidão indígena pela africana se
deveu, principalmente, ao valor do tráfico negreiro, tanto
para a burguesia, quanto para o Estado português. Os pri-

37
GEOGRAFIA DE MATO GROSSO

meiros escravos negros chegaram ao Brasil com a expedi- sua naturalidade, a mesma através de carro de boi fazia
ção de Martim Afonso de Sousa e estima-se que, ao longo compras em Cuiabá e no município vizinho de Poxoréu, seu
do período escravagista, o número de africanos que aqui falecimento foi registrado em 1955.
chegaram, oscilou entre 4 e 5 milhões de pessoas e a maio- A “Revolução Verde” ou o plantio da soja trouxe no-
ria era de homens jovens. Eles eram trazidos da África em vas perspectivas de ocupações e sobre o desenvolvimento
navios negreiros (tumbeiros). econômico na região leste do Mato Grosso. Entre os diver-
Os três grupos principais foram: sos grupos étnicos/culturais destacaremos em Primavera
Sudaneses: Formados, principalmente, por Nagôs, do Leste: os indígenas, nordestinos, sulistas e uma colônia
Daomeanos e Tanti-Achanti. Russa. Ao analisar um conjunto de aspectos que compõem
Sudaneses Islamizados (Hausás ou Malês): Compostos, as especificidades desta cidade percebemos que a maio-
principalmente, por Mandingas e Fulas. ria faz referencias as práticas sulistas (pioneiros/proprie-
Bantos: Eram originários de Angola, Cabinda, Congo e tários) e silenciam as demais, como exemplo, identificamos
Moçambique. a predominância nos nomes das ruas, estabelecimentos
A principal forma de reação dos negros contra a escra- comerciais, festividades e alimentos da cultura sulista. Os
vidão era a fuga e a formação de quilombos (comunidades nomes dos bairros estão relacionados aos nomes dos pri-
onde procuravam viver como nas aldeias africanas, falando meiros proprietários dos loteamentos e a santos católicos
seus dialetos e praticando sua religião). O principal quilom- em decorrência da participação da Igreja Católica.
bo foi o de Palmares, que resistiu por quase 100 anos (1590 O termo “não lugar” enquanto lugar de passa-
– 1694) e teve como principais líderes Ganga Zumba e gem ou de transitoriedade de Certeau (1982:245) ganha
Zumbi, até ser destruído pelo bandeirante Domingos Jorge sentido aqui, pois além de ser uma cidade extremamente
Velho em 1694. O dia da morte de Zumbi, em 20/11/1695, nova, através de uma justaposição dos elementos étnicos/
é celebrado como dia da Consciência Negra. culturais promove o sentimento de não pertencimento em
parte de seus habitantes que não são representados nos
SEGUNDO IBGE (2010) eventos públicos, pois as manifestações culturais desses
são escamoteadas a ponto de serem pouco documenta-
O Estado do Mato Grosso, área km 903.329,700, com das nos acervos da cidade. Outro elemento que demonstra
população de 3.035.122, atualmente com 141 municípios, tamanha transitoriedade está presente nos dados do IBGE
teve entre as décadas 1970 e 1980 a criação de mais de (2009), em que quase 60% dos moradores não são naturais
cem municípios novos, apresenta diversas formas de ocu- dos municípios de Mato Grosso.
pação, seja nos territórios indígenas, não indígenas, de an-
Figura 8
tigos segmentos sociais a coexistência de conflitos étnicos
e culturais, diferenciados. Entre as populações naturais do
Mato Grosso é grande a quantidade de grupos indígenas
e de quilombolas.
Em relação á migração no estado de Mato Grosso após
a década de 1980, conforme foi elencado no texto, temos
os seguintes quadros sobre os não naturais por município
e estado. Os dados divulgados pelo IBGE coloca o Mato
Grosso entre os estados de maior número de não naturais
do Brasil, aspectos condizentes as políticas de sua ocupa-
ção e colonização privada por meio de loteamentos. É nes-
te contexto que se apresenta o município de Primavera do Vista aérea Primavera do Leste (Anos 80).
Leste, área de 5.471,654 km2, região sudeste matogrossen- Fonte: Câmara Municipal de Primavera do Leste.
se, população de 52.066 de habitantes, á 240 km da capital
Cuiabá. Figura 9
Primavera do Leste apresenta no nome o sentido de
sua mocidade, mas bem anterior a sua criação, em 13 de
maio de 1986, já recebia seu primeiro traçado em 1912 por
meio da demarcação da primeira rede telegráfica na região,
cumprida pelo Marechal Candido Mariano da Silva Rondon,
o qual ligava Vilhena (Rondônia) a Cuiabá (Mato Grosso) e
que resultou na linha telegráfica que perpassou de Cuiabá
á Barra do Garças, atravessando o local onde décadas de-
pois formou-se a atual cidade de Primavera do Leste.
Segundo o Instituto Memorial Professora Nívea Denar-
di, órgão da Câmara municipal de Primavera do Leste, a
primeira moradora da cidade, velha Joana, residiu em uma
chácara, atual Parque Eldorado, por cerca de 30 anos, onde Vista aérea Primavera do Leste (2010).
ainda há vestígios. Contudo não há informações sobre a Fonte: Câmara Municipal de Primavera do Leste.

38
GEOGRAFIA DE MATO GROSSO

Primavera do Leste era chamada de “Bela Vista das Pla- Figura 12


cas” em razão da sua localização estar na Rodovia 070, MT
130, em 1976 iniciava-se a primeira escola municipal Mon-
teiro Lobato, no parque Castelândia, com 14 alunos e ao
longo de sua existência contou com 5 professores.

Figura 10

Aldeia Sangradouro, 2006.


Fonte: Instituto Memorial Profª Nívea Denardi, Prima-
vera do Leste.

Desse modo podemos visualizar pelas ruas, casas e es-


colas de Primavera do Leste pessoas tomando chimarrão,
dançando vanerão, o sucesso da tapioca na feira municipal,
“composições” indígenas nas escolas, a dança típica siriri
e cururu nos projetos escolares, expressões verbais e cul-
turais diversificadas entre educadores e alunos, aspectos
Desfile cívico das escolas em Primavera do Leste na dé- que nos encaminham para o espaço escolar, no intuito de
cada de 1990.
percebermos as suas identidades e memórias.
Fonte:Instituto Memorial professora Nívea Denardi
Juntamente ao cenário matogrossense, aos movimen-
tos migratórios na região, precisamos considerar suas con-
A implantação do projeto Cidade de Primavera iniciou-
sequências na (re)construção das identidades e memórias
-se em 26 de setembro de
que transitam nas E. E. João Ribeiro Vilela e E. E. Getúlio
1979, um projeto da construtora do paulista Edgarg
Dorneles Vargas no município de Primavera do Leste, com-
Consantino. Em 1981 Primavera do Leste tornou-se Distrito
posta pela diversidade étnica, uma especificidade que po-
do município de Poxoréu, em 1984 surgia a comissão Pró
derá contribuir nas múltiplas percepções de Patrimônio
emancipação do distrito, que se reunia no salão paroquial,
com apoio do Rotary Club de Primavera. No dia 13 de maio Cultural na escola.
de 1986 o governador do Mato Grosso, Júlio Campos assi- Ao alavancarmos o registro de expressões culturais
nou a Lei estadual nº 5.012 que oficializou a criação do mu- surgem conceitos essenciais na compreensão do patrimô-
nicípio de Primavera do Leste, juntamente com outras 23 nio brasileiro, como o de identidade e memória. Ao
cidades no estado. Segundo o governador, em entrevista falar sobre identidade implica em visualizar juntamente se-
do acervo do Instituto memória Professora Nívea Denardi, melhanças, diferenças e poder, aspectos que apresentam
Primavera do Leste não tinha os requisitos exigidos para hierarquias sociais, classificações, exploradas nos conflitos
sua criação, no entanto aproveitou-se o momento político étnicos, culturais e políticos. A dinâmica sócio-cultural, a
e econômico, sendo assim seu nome aprovado. Após 26 interação entre as sociedades também compõe a constru-
anos o quadro populacional apresentou um crescimento ção e reconstrução da identidade, pensar em perda ou em
vertiginoso, em 1991 eram 12.523 habitantes, e em 2007 resgate são objetivos equivocados, enquanto identificar e
esse número subiu para 44.719. analisar sua historicidade propõe um desafio na compreen-
No entorno da cidade de Primavera do Leste existem são do fenômeno, o qual perpassa por necessidades e rela-
terras indígenas, destacamos os Xavantes, os quais migra- ções com o presente.
ram para a mesma região na década de 1950, sua reser- O processo intercultural nas instituições, em que coe-
va Sangradouro foi criada em 1973 e atualmente abrigam xiste conflito e a negociação, onde:
1600 indígenas, por conta da proximidade e da infraestru- As identidades se constituem não só no conflito bipo-
tura, constantemente, parte deles transitam os espaços ur- lar entre classes, mas também em contextos institucionais
banos do município. de ação – uma fábrica, um hospital, uma escola – cujo fun-
cionamento se torna possível na medida em que todos os
seus participantes hegemônicos ou subalternos, os conce-
bem como uma “ordem negociada.
Para dialogar com tais proposições, articulamos o con-
ceito de memória, em que utilizaremos como referencial
Pollak, para pensarmos a função da memória e sua relação
aos pontos de referencia na sociedade:

39
GEOGRAFIA DE MATO GROSSO

A memória, essa operação dos acontecimentos e das O ensino nesse campo visa tratar os estudantes e a po-
interpretações do passado que se quer salvaguardar, se in- pulação como agentes histórico-sociais e como produtores
tegra, como vimos, em tentativas mais ou menos conscien- de cultura. Para isso valoriza os artesanatos locais, os cos-
tes de definir e de reforçar sentimentos de pertencimento e tumes tradicionais, as expressões de linguagem regional, a
fronteiras sociais entre coletividades de tamanhos diferen- gastronomia, as festas, os modos das diversas etnias vive-
tes: partidos, sindicatos, igrejas, aldeias, regiões, clãs, famí- rem e se relacionarem com o meio e com as outras culturas
lias, nações etc. A referencia ao passado serve para manter que deram origem à sociedade atual.
a coesão dos grupos e das instituições que compõem uma O seu exercício via percepção dentro das escolas em
sociedade, para definir seu lugar respectivo, sua comple- parceria com diversas esferas institucionais trouxeram a
mentariedade, mas também as oposições irredutíveis. perspectiva de reconhecimento e compartilhamento dos
Utilizaremos aqui um relato de uma educadora Glei- seus bens culturais na e com a comunidade local, as quais
biane David Rech Silva, oriunda de Caiapônia/Goiás, a qual fornecem sentido ao Patrimônio Cultural, tornando-o visi-
atuou nos anos de 1996 até 2008 como professora de Ciên- velmente representativo, valorizado e consequentemente
cias Biológicas, na E. E. João Ribeiro Vilela para alunos de preservado.
EJA, em seu relato sobre a percepção de Patrimônio Cultu- Gusmão argumenta sobre a necessidade de falarmos
ral na referida escola ela diz: da escola na escola, comumente as disciplinas problema-
O aluno trás experiências do seu dia a dia para esco- tizam outros lugares e inserções sociais, discutem história
la (...) por exemplo, senhor Antonio e senhor Jarismar do bairro, dos marginalizados, dentre outros, no entanto:
trouxeram todo conhecimento passado pelos pais sobre “(...) sem refletir a historicidade de suas práticas, o
as plantas do cerrado e esse conhecimento eles utilizaram sentido e o significado de seu trabalho diário e de atos
para desenvolver um projeto na escola, e ganharam até um aparentemente banais, tais como escrever na lousa, fazer
prêmio. chamada, ler, analisar (...). O quadro negro fixado na parede
A experiência familiar do aluno somada ao conheci- a transmitir lições comuns a toda a sala generalizou-se há
mento escolar são elementos do cotidiano que passaram a pouco mais de cem anos, em substituição às pedras indivi-
duais de ardósia, para consolidar metodologias de ensino
ser reconhecidos como “patrimônio vivo”, pela educadora,
capazes de fazer com que todos os alunos aprendam as
onde as práticas, a recepção e manipulação do saber são
mesmas coisas a um só tempo.
transformadas.
Segundo Fernandes a escola está composta pelo en-
Tais experiências, apresentam um conjunto de fontes
quadramento material da ação escolar e pelo tecido de re-
orais, reconhecida como história viva, que permite captar
lações interpessoais que sustentam a mesma ação, além do
diferentes histórias, formulação de consciência comuni-
seu formato e localização que delimitam comportamentos
tária. Entre elas o gênero de História Oral Temática é
e valores.
uma metodologia que segue em entrevistas que esclare- Os rituais das escolas repercutem por vezes na esfera
cem situações contraditórias, assim, os pontos específicos dos equipamentos. Desde logo no vestuário de professo-
da vida pessoal do narrador devem estar ligados á temática res e alunos: fardas, bibes, batas brancas, ostentando, por
central desta pesquisa. vezes, emblemas bordados, que reproduziam ou duplica-
O Patrimônio é um espaço em construção, campo de vam insígnias e bandeiras, ao lado de instrumentos musi-
combate, de educação, pois para que se preserve é preciso cais destinados a bandas ou orquestras, a grupos corais, a
conhecer. Desse modo um bem cultural amplia-se para um equipas desportivas. O universo escolar pode representar
bem social, com usos que delineiam significado ao patri- todo um mundo numa rede de documentos que descre-
mônio para o presente e futuro. vem toda uma rede paralela de significações.
Através da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacio- A escola apresenta outra face, além do material, um
nal (1996), e posteriormente nos Parâmetros Curriculares mundo de pessoas, histórias de vida, fotografias que evo-
Nacionais (2005) que almejavam valorizar a cultura regional cam muitas narrativas. Felgueiras sublinha o significado da
trouxeram algumas perspectivas voltadas para questões cultura material na escola e a importância da sua preserva-
sobre patrimônio: ção, para isso:
Importa registrar, no entanto, que a educação é uma Na abordagem da materialidade das culturas escolares,
prática sócio-cultural. Nesse sentido é que se pode falar partimos das noções de recordação, memória e passado
no caráter indissociável da educação e da cultura ou ainda no que elas estruturam e limitam a visão que os actores
na inseparabilidade entre educação e patrimônio. Não há sempre têm da realidade vivida, desejada, justificada. Em
hipótese de se pensar e de se praticar a educação fora do simultâneo com a identificação dos espólios das escolas
campo do patrimônio ou pelo menos de um determinado procuramos resgatar recordações do passado, quer através
entendimento de patrimônio. de histórias de vida, quer pela recolha de lembranças da
De forma prática as questões patrimoniais devem pro- infância. (...) Nos trabalhos que temos desenvolvido, consi-
mover além de uma visão crítica, uma maior participação deramos as memórias individuais na sua interacção com as
na realidade, adquirida como estratégia na transmissão dos memórias histórica e colectiva. Valorizamos as informações
valores que permeiam os bens culturais. Sua eficiência con- recolhidas e os significados que os actores Ihes atribuem,
cretiza-se no desenvolvimento de formação e informação como parte de um património imaterial da escola, indis-
que reúne identidades plurais, reflexões sobre a História e pensável à compreensão não só dos artefactos, mas tam-
ações de preservação patrimonial. bém da própria sociedade que os produziu.

40
GEOGRAFIA DE MATO GROSSO

Para Felgueiras falar sobre patrimônio ou herança edu- Em uma trintena de anos, o Mato Grosso tornou-se
cativa remete a refletir sobre as ressignificações, atribuídas uma das regiões agrícolas das mais produtivas do Brasil.
pelas comunidades, na criação de laços afetivos no âmbito Neste Estado, as atividades agrícolas se mantiveram, por
escolar material e imaterial. longo período de tempo, em níveis insignificantes e re-
Na herança educativa incluímos, assim, tanto os edifí- servadas a uma demanda local pouco importante. A
cios, o mobiliário, os materiais didácticos, os materiais dos expansão da frente pioneira agrícola e a colonização de
alunos, os elementos decorativos e simbólicos presentes vastos espaços do centro-oeste, a partir dos anos 1970,
nas escolas, quanto as práticas de ensino, as tácticas dos modificaram profundamente o mapa da localização das
alunos, as brincadeiras e as canções no recreio, as recorda- áreas de produção, atendendo a um conjunto de objetivos,
ções do quotidiano escolar, que as memórias de professo- entre os quais, levar o Mato Grosso à posição de maior
res e alunos podem revelar. Da cantina ao gabinete médico, produtor de grãos do Brasil, uma ambição dos sucessivos
à actividade administrativa, pretende-se ver a escola como governos do Mato Grosso. No início do século XXI, este
lugar de interacções em que professores, alunos, funcio- objetivo parece ter sido alcançado, em vista das cifras ab-
nários e famílias construíram e constroem um espaço re- solutas de produção [6]. Em 2001, o Mato Grosso tornou-se
lacional (...). o primeiro Estado brasileiro produtor de algodão com 58%
Tais aspectos nos levam a pensar a escola como um da produção nacional, aproximadamente. É, igualmente,
espaço simbolizado, mais que uma peça do sistema, ela o primeiro Estado na produção de soja com 9,5 milhões
é viva, partilha de outras instituições, que regulam sua de toneladas produzidas em 2001, ou seja, ¼ da produção
funcionalidade, pesquisar seu Patrimônio Cultural implica nacional. É, também, o segundo Estado produtor de sorgo
em pensa-la na sua complexidade, na comunidade que a com cerca de 200.000 toneladas produzidas, ou seja, 1/5
envolve, relacionada a outras sociedades e aos sentidos da produção brasileira. Enfim, o Mato Grosso produz, tam-
que lhe são apontados, um bem cultural, repleto de me- bém, mais de 11% do arroz brasileiro.
mórias. A localização das áreas de produção agrícola no Estado
do Mato Grosso (Figura 1) destaca três pólos principais: A
região de Primavera do Leste, Campo Verde e Rondonópo-
lis, onde o algodão e o milho têm uma posição predomi-
8 PROGRAMAS GOVERNAMENTAIS E nante (Figuras 1c e 1d).
FRONTEIRA AGRÍCOLA MATO-GROSSENSE. A região de Sorriso que se estende até Nova Mutun
(sul) e Sinop (norte) ao longo da BR-163 (Cuiabá-Santa-
rém). A Soja e o milho constituem aqui o essencial das ati-
vidades agrícolas, mas o lugar importante ocupado pelo
As regiões pioneiras da Amazônia meridional conhe-
arroz (Figura 1f) sugere que numerosas áreas estão ain-
ceram um formidável crescimento das produções agrícolas da em curso de abertura. É comum que os agricultores
a partir dos anos 1970. Esta dinâmica espacial é acompa- plantem arroz durante os dois anos imediatamente após o
nhada de uma forte migração de colonos provenientes desmatamento da floresta ou do cerrado.
do sul do Brasil e da implantação de infraestruturas A região da Chapada dos Parecis, enfim, que corres-
necessárias ao desenvolvimento de uma economia cada ponde aos municípios de Tangará da Serra, Diamantino,
vez mais voltada para os mercados internacionais. As su- Campo Novo do Parecis e Sapezal. Esta região, se associa-
cessivas vagas de colonização agrícola, apoiadas pelos da aos municípios vizinhos de Nova Olímpia e Barra do
programas governamentais, assim como as fases mais
Bugres, aparece mais diversificada com uma percentagem
ou menos violentas em função dos conflitos pela posse
importante da produção nacional de cana-de-açúcar (Figu-
da terra, geraram um mosaico de situações
ra 1a, foto 1), de soja e de sorgo.
territoriais e de estruturas de produções. A região da
A região apreendida no quadro desse estudo corres-
Chapada dos Parecis (municípios de Tangará da Serra, Dia-
ponde, pois, a um dos pólos mais significativos da produ-
mantino e Campo Novo do Parecis), no centro-oeste do
ção do Estado do Mato Grosso. Esta região da Chapada dos
Mato Grosso, é particularmente reveladora dessa justapo-
Parecis aparece como o modelo da grande cultura mecani-
sição de tipos de colonização e de paisagens rurais presen-
tes no arco de desmatamento da Amazônia. Ao lado da pe- zada (foto 2), predominantemente destinada à exportação.
quena policultura familiar, coabitam gigantescas fazendas Instaladas sobre uma topografia plana e sobre solos bem
de pecuária extensiva e, igualmente, explotações agrícolas, drenados, as culturas de soja apresentam rendimentos su-
notadamente a soja, geralmente destinada à exportação. periores a 25 sacas por hectare (para uma média de 23 no
Como explicar as evoluções rápidas e diversificadas dessa Mato Grosso e 19 para o Brasil). Os solos ácidos do cerrado
parcela do front pioneiro e quais são os fatores mais deter- são facilmente corrigidos pelo calcário disponível a relati-
minantes da diversificação regional num contexto de fortes va proximidade (minas de calcário de Tangará da Serra e
fluxos de migração? Nós vamos mostrar como a aborda- de Nobres): estas calagens, praticadas em grande escala,
gem geográfica, combinando as pesquisas e observações são monitoradas quer pelos engenheiros agrônomos das
de campo com os recursos das imagens de satélite, permite fazendas quer pelos técnicos da EMBRAPA1 e da EMPAER2.
descrever e interpretar as fases sucessivas da colonização Após30 anos, a região conhece uma formidável evolução
agrícola e de compreender a lógica da organização espa- para um sistema agro-industrial orientado para a expor-
cial atual das unidades de paisagens. tação.

41
GEOGRAFIA DE MATO GROSSO

As etapas da organização e da conquista pioneira É neste contexto que se instalam as grandes fazendas
Até o século XVIII, a região de Tangará da Ser- e as grandes sociedades na Chapada dos Parecis. O
ra era ocupada unicamente por índios das tribos Parecis desenvolvimento dos serviços e a abertura de filiais de
e Nhambiquaras. Até então, os rios Paraguai e Sepetuba grandes empresas estimulam a produção e dinamizam o
eram utilizados como via de penetração para as minas de pólo urbano de Tangará da Serra, que é emancipado em
ouro e diamante da região de Diamantino, cidade fundada 1976. Sobre o planalto, os grandes produtores organizam,
em 1728. Após o declínio das minas nos anos 1880, esta em 1981, um novo centro urbano que recebe o nome de
parte do Mato Grosso é explorada por atividades ex- «Campo Novo». A implantação da usina e destilaria de
trativistas, notadamente da Ipecacuanhas (espécie vegetal álcool Coprodia e do comércio favorecem o progresso da
cujo extrato, a poaia, tinha efeitos medicinais e era exporta- cidade nova que é elevada à categoria de município em
do, inclusive, para a Europa). No século XIX, se de- 1988: rapidamente Campo Novo torna-se, após Tangará,
senvolve a explotação do látex da hévea sp, cuja produção uma etapa importante sobre o avanço da frente pioneira
estava concentrada em Barra do Bugres durante a estação na direção ao norte do Mato Grosso. O desenvolvimento
seca, enquanto que a explotação da poaia era realizada ao das atividades agrícolas sobre a Chapada é acompanhada
longo da estação chuvosa. Em 1950, o município de Barra de uma transformação radical das paisagens: o cerrado
do Bugres (que correspondia, então, aos atuais municípios cede lugar às vastas parcelas geométricas. As imagens de
da região de Tangará, segundo dados do IBGE) contava satélites permitem retratar as etapas dessa mise en valeur.
com apenas 3 500 habitantes. A frente pioneira se desloca progressivamente de su-
A colonização agrícola tem início nos anos 1950. Em deste (dos núcleos de povoamento históricos de Diaman-
1955, os primeiros pioneiros se fixam nas proximidades da tino e de Barra do Bugres) para a região de Tangará e pos-
atual cidade de Tangará da Serra. Estes colonos se instalam teriormente sobre o planalto na direção de Campo Novo.
nos minifúndios e plantam 3 a 4 milhões de pés de café
(aproximadamente 3.000 hectares divididos em 500 pro- A organização territorial atual: contrastes sociais e es-
priedades). Em 1960, Joaquim Oléas e Wanderley Martinez paciais
criam a SITA (Sociedade Imobiliária Tupã para Agricultura)
O município de Tangará da Serra conta com 60.000 ha-
e fundam o núcleo urbano de Tangará. O nome de Tangará
bitantes em 2001, dos quais, 45.000 vivem na cidade que
é uma referência a um pássaro reconhecido por sua beleza:
tende a se firmar como pólo regional, concentrando os
segundo a lenda, desde que ele começa a cantar, os outros
serviços (hospital, universidade) e o comércio atacadista e
pássaros ficam em silêncio...; a escolha do nome Tangará
varejista. A maior parte das grandes fazendas e de nume-
corresponde ao desejo de criar um lugar admirado por
rosos proprietários da região opta, respectivamente, por
todos”.
instalar suas sedes administrativas e por viver em Tangará.
O essencial da valorização agrícola e do povoamen-
O progresso espetacular de Campo Novo do Parecis se re-
to dessa região data dos anos 1970. O centro-oeste flete no aumento da sua população: 18.000 habitantes no
do Brasil é, então, considerado pelos poderes públicos ano de 2001, a grande maioria residindo no núcleo urbano.
como uma região apropriada para resolver a maioria dos Este crescimento rápido das cidades das frentes pioneiras
problemas do país. O território pouco povoado, a dispo- é uma constante cultural e política da colonização brasi-
nibilidade de terras, a possibilidade de avançar para oes- leira: os projetos de colonização privada estão todos con-
te, entre outras variáveis, motivam o avanço da fronteira centrados em torno de um núcleo urbano principal, cujo
agrícola. O Plano de Integração Nacional – PIN – (1970) desenvolvimento é freqüentemente assegurado pela distri-
atribui uma importância primordial ao desenvolvimento buição de um lote urbano para cada aquisição de um lote
da “Nova Amazônia” a partir de uma política de estímulo rural. Ademais, o centro urbano abriga os escritórios das
à formação de pólos agrícolas. O projeto POLOCENTRO, principais instituições (INCRA, prefeitura, bancos, EMPAER,
concebe os cerrados e notadamente a Chapada dos Pa- receita federal etc.), e os investimentos destinados ao
recis, apesar da baixa fertilidade dos solos, como região melhoramento (eletricidade, rede de água, hospitais, co-
favorável ao desenvolvimento de uma agricultura meca- légios...). Assim, os serviços urbanos atraem as popu-
nizada, notadamente em função da topografia plana lações rurais que buscam melhorar a qualidade de vida.
e do clima com duas estações – chuvosa e seca – bem As paisagens rurais em torno de Tangará da Serra são
definidas. Este plano de desenvolvimento da região o reflexo da evolução da colonização agrícola. Distancian-
centro-oeste aplica uma política de facilidades de crédito do-se da cidade, se encontram sucessivamente os sitios e
para os agricultores desejosos de melhorar a sua terra e, chácaras, as fazendas de gado e os assentamentos rurais,
ao mesmo tempo, investe na abertura e conservação das enfim, mais além, sobre a Chapada, em direção de Cam-
vias de comunicação (a rodovia MT-170, ligando Tangará po Novo e à parte ocidental do município de Diamantino,
a Campo do Parecis, é aberta e asfaltada em meados dos situa-se a cultura mecanizada de soja nas grandes fazen-
anos 1980), no prolongamento das linhas de transmissão das; para sudeste, uma lógica comparável se estabelece
de eletricidade e implanta novas e significativas unidades em torno das cidades de Nova Olímpia e de Denise, com a
de armazenamento. Os cerrados atraem os “sulistas”, que monocultura da cana-de-açúcar. Esta mise en valeur não é
se dedicam, notadamente, à cultura da soja, carro-chefe da permitida nas extensas reservas indígenas o que, geral-
agroindústria exportadora. mente, motiva conflitos com os fazendeiros. Estas reservas,

42
GEOGRAFIA DE MATO GROSSO

e notadamente aquela dos índios Parecis, representam 50% ram as plantações em 1996 e 1997. A fazenda Santa Isabel
da superfície do município de Tangará: esta situação provo- (6.950 ha) após 16 anos de soja, entrou em dificuldades
ca a cobiça dos proprietários rurais que não admitem que financeiras e foi obrigada a alugar suas terras para outras
tal superfície seja “subtraída” à produção agrícola. fazendas que se dedicam à pecuária (“plante soja que o
Em torno de Tangará, os sítios e chácaras ocupam a boi garante”)4 Para muitas fazendas, a margem de lucro
periferia próxima do centro. é muito baixa e elas são muito dependentes vis-à-vis dos
O melhoramento dos transportes rodoviários para grandes grupos.
Cuiabá, a baixa dos preços e a ausência de estruturas de Custo muito elevado das produções (sementes, insu-
produções adequadas contribuíram para o rápido declí- mos, parque de máquinas, financiamentos/juros, mão-de-
nio do café em benefício das -obra) por hectare:
pastagens. Os pequenos produtores não tinham 300 $ para a soja, 450 $ para o milho, 1 200 $ para
capacidades o algodão, 1 500 $ para a cana-de-açúcar, segundo da-
financeiras suficientes para resistir às oscilações dos dos obtidos nas principais fazendas da região no ano de
preços das culturas perenes ou para superar as dificulda- 2001. Assim, em 2001, para uma produção estimada em
des motivadas pelas colheitas negativas. Nos anos de pre- 30 sacas por hectare, o preço da soja deveria ser superior a
ços baixos do café, era mais vantajoso que a mão-de-obra 0,10 U$$/kg para dar lucro ao produtor: a rentabilidade da
familiar se deslocasse para trabalhar como assalariados produção depende diretamente do mercado internacional
nas fazendas ou na colheita da cana-de-açúcar do que que sofre oscilações constantes (preços e câmbio) e, então,
se dedicar à sua própria produção. O café foi sendo pro- cabe se interrogar sobre as conseqüências de uma baixa
gressivamente abandonado: a maioria dos lotes (40 ha em prolongada do preço da soja.
geral) mudou muitas vezes de proprietários que, finalmen- Distanciamento dos mercados e dos centros de trans-
te, passaram a se dedicar à produção de alimentos para formação: esta região é ainda muito mal servida por vias
abastecimento da cidade (leite, frangos, frutas, legumes). de comunicação modernas; as produções devem ser trans-
As chácaras seguiram uma dupla evolução: algumas prati- portadas por rodovia até Porto Velho (depois por barcos
cam a policultura de subsistência, muitas se transformaram via rio Amazonas até o Porto da Cargill, em Santarém/PA)
em residências de fim-de-semana. ou para os grandes portos do Sul e do Sudeste (Santos,
As fazendas de gado ocupam as porções do território Paranaguá). Mesmo que o Estado e a Federação invistam
mais distanciadas da cidade. É o caso da Gleba Triângulo, o suficiente para melhorar os serviços rodoviários, a dete-
localizada a 30 km de Tangará. Este setor foi igualmente co- rioração dessas estradas (devido as fortes chuvas tropicais
lonizado nos anos 1960 pelos produtores de café vindos do e ao intenso tráfico de carretas), aliada às grandes
Paraná. Uma das conseqüências do avanço das pastagens distâncias até os referidos portos marítimos, com-
foi a agregação dos pequenos lotes para a constituição das parecem como limites significativos no momento atual.
médias fazendas, malgrado as tentativas de ocupação dos Os riscos pluviométricos: a produtividade da soja varia
camponeses sem terra, em 1985. A pecuarização regional de 32 sacas/ha nos bons anos a 28 em 1997 (el niño). É
motivou a instalação de frigoríficos em Tangará da Serra bom lembrar que a variabilidade é ainda mais forte para a
e nas proximidades da Chapada dos Parecis. Atualmente, safrinha de milho (2ª cultura plantada em fevereiro e colhi-
uma boa parcela dos colonos desse setor se dedica à cria, da em maio-junho): a produtividade média é de 18 sacas/
ou seja, à produção de bezerros, para a formação do reba- ha (contra 16 para a colheita principal), e até 40 sacas nos
nho da fazenda do grupo Carrefour. anos chuvosos.
A grande cultura mecanizada (soja, algodão, cana) Problemas de relacionamento com as reservas indíge-
ocupa vastos espaços na Chapada dos Parecis (figura 4). A nas e com o MST – Movimento dos Sem-Terra
constituição da grande propriedade foi realizada nos anos –; toda terra insuficientemente aproveitada é susceptível
1970 pela multiplicação das compras de terra, às vezes, sob de ser invadida e desapropriada em benefício da reforma
nomes fictícios. As superfícies dessas fazendas puderam agrária. Normalmente a mise en valeur inicial se faz sobre
ser adquiridas em uma única fase, frequentemente com as terras mais distanciadas da sede da fazenda de maneira
objetivo especulativo, ou por compras sucessivas de ter- a marcar o território.
ras. Em todos os casos, os proprietários adquiriram Lembramos enfim os problemas ambientais: a utiliza-
superfícies explotáveis bem mais importantes que no sul- ção em grande escala de produtos tóxicos é fonte de
-sudeste do Brasil: o proprietário da fazenda São Benedito graves contaminações dos rios; a monocultura, a chuva, o
vendeu uma de suas fazendas de 400 ha no Paraná para calor são fatores de propagação de doenças (“ferrugem
comprar 4.000 ha no Mato Grosso e constituir um domínio asiática”).
de 11 000 ha de terras em 1982. A partir dos anos 1970 o centro-oeste do Mato Grosso
Estas grandes explotações do tipo capitalista dos cer- foi escolhido como terra de colonização agrícola, onde as
rados são igualmente a ilustração da fragilidade do modelo culturas e as pastagens substituíram a floresta e o cerrado.
brasileiro de desenvolvimento dos cerrados: A região de Tangará da Serra e da Chapada dos Parecis co-
Sensibilidade aos movimentos especulativos e nheceu uma transformação espetacular de suas paisagens
escolha das culturas em função dos preços de mercado ou que lhe permite figurar atualmente como um dos principais
das ajudas do Estado. Assim, para a fazenda São Benedito, pólos de produção de soja, algodão e cana- de-açúcar do
a forte inflação de 1994-5 e as dívidas acumuladas impedi- Brasil. A escala das transformações e a rapidez com as quais

43
GEOGRAFIA DE MATO GROSSO

elas se desenvolvem justificam a utilização das imagens de período, o PIB brasileiro aumentou 312%, segundo dados
satélite que, por si só, permite um inventário completo das do IBGE. Grande parte deste desempenho positivo veio do
mudanças na utilização dos solos ressaltando as configu- campo. Atualmente, o estado Mato Grosso lidera a produ-
rações espaciais (parcelas, redes) atuais e herdadas. ção de soja no país, com estimativa de 28,14 milhões de
As pesquisas de campo realizadas como complemento toneladas para a safra 2014/2015. Também está à frente
permite compreender como, nestas zonas novas de na produção de algodão em pluma – 856.184 toneladas
povoamento fortemente urbanizadas, algumas cidades, para 2014/2015 – e rebanho bovino, com 28,41 milhões
como Tangará da Serra, são içadas ao papel de pólo regio- de cabeças. De acordo com o Instituto Mato-Grossense de
nal de desenvolvimento. Economia Agropecuária (Imea), o agronegócio representa
Na região da Chapada dos Parecis, o sucesso incontes- 50,5% do PIB do estado.
tável em termo de produção agrícola não deve entretan- Com o agronegócio consolidado, Mato Grosso é ter-
to ocultar as dificuldades sociais (conflitos ligados à terra, reno fértil para as indústrias que atuam antes e depois da
reservas indígenas), econômicos (fragilidade financeira das porteira. Até 2013, segundo a Federação das Indústrias
explotações e dependência vis-à-vis dos preços e das gran- no Estado de Mato Grosso (Fiemt), o estado tinha 11.398
des trades) e ambientais. Nestas condições, as estratégias unidades industriais em operação, com 166 mil empregos
de conquistas de novas terras e a busca de novas oportu- gerados.
nidades econômicas, em função dos mercados nacio- Ainda assim, é preciso agregar mais valor ao produto
nais e internacionais, se perpetuam e a frente pioneira que sai de Mato Grosso. Da porteira para dentro há poten-
progride ainda atualmente para mais longe em direção ao cial para as empresas que abastecem os produtores com
norte do Estado: o Mato Grosso se mantém profundamen- adubo, defensivo e maquinário, entre outros produtos. Da
te marcado pelo avanço da fronteira agrícola e pelo mito porteira para fora, as empresas de beneficiamento, como a
do sucesso econômico que ele deslumbra. Texto adaptado têxtil e de etanol.
de PASSOS, M. M.
Pesquisa e tecnologia

9 A ECONOMIA DO ESTADO NO O que poucos sabem é que Mato Grosso, além de


CONTEXTO NACIONAL. grãos, é o maior produtor de pescado de água doce do
país, responsável por 20% da produção do Brasil, com
75,629 mil toneladas (IBGE 2013). E esse mercado tem mui-
to a crescer. O potencial está na abundância de rios e lagos
O estado de Mato Grosso é conhecido como o celeiro em território mato-grossense.
do país, campeão na produção de soja, milho, algodão e Atualmente, 72% do pescado produzido no estado
de rebanho bovino, e agora quer alcançar novos títulos do são destinados ao consumo interno, de acordo com dados
lado de fora da porteira das fazendas. Com crescimento de 2014 do Imea. O segundo maior consumidor do peixe
“chinês” de seu Produto Interno Bruto, o estado iniciou um produzido no estado é o Pará (9,71%), seguido do Tocan-
planejamento para atacar diversas frentes com potenciali- tins (2,35%). O plano do Governo do Estado é estimular o
dades até então adormecidas. A estratégia vai permitir que aumento da produção e atrair empresas de beneficiamento
sua produção seja diversificada para agregar valor a tudo do peixe para exportá-lo para outros estados.
aquilo que é produzido em terras mato-grossenses e que A Empresa Mato-grossense de Pesquisa, Assistência e
acaba abastecendo o Brasil e o mundo. Extensão Rural (Empaer) é uma das que investe no setor,
O governado do Estado, por meio da Secretaria de tanto em pesquisa quanto na produção. A instituição man-
Desenvolvimento Econômico (Sedec), está planejando um tém no município de Nossa Senhora do Livramento uma
conjunto de ações para atrair investidores para Mato Gros- estação de piscicultura onde são produzidos e comerciali-
so. Cinco eixos prioritários para esta transformação foram zados alevinos de espécies como pacu, tambacu e tamba-
definidos pela secretaria. A partir de agora serão realizados tinga. A meta da instituição é fechar o primeiro quadrimes-
estudos para reformular as políticas tributária, de atração tre de 2015 com uma produção de 800 mil alevinos.
de investimentos, logística e mão de obra. Para isso a Empaer conta com 39 tanques de repro-
Os cinco setores com grande potencial de crescimen- dução com capacidade para produzir um milhão de ale-
to na região e que terão atenção especial do estado são vinos – sendo 12 tanques de pesquisa e 27 para recria. A
agroindústria, turismo, piscicultura, economia criativa e instituição também oferece cursos para produtores rurais
pólo joalheiro. Para isso, o estado pretende reformular o e técnicos agrícolas sobre noções básicas de piscicultura.
Programa de Desenvolvimento Industrial e Comercial de A borracha natural é outro foco da política de incenti-
Mato Grosso (Prodeic) e o sistema tributário estadual. vos desenvolvida pelo Governo de Mato Grosso, que quer
agregar valor à borracha produzida no estado, com bene-
Agronegócio ficiamento e industrialização. O estado é o segundo maior
produtor de borracha natural do país, com 40 mil hectares
Em pouco mais de uma década, o PIB estadual pas- de área plantada e 25 mil famílias envolvidas na atividade,
sou de R$ 12,3 bilhões (1999) para R$ 80,8 bilhões (2012), conforme dados da Empaer.
representando um crescimento de 554%. Neste mesmo

44
GEOGRAFIA DE MATO GROSSO

Pioneira no estado em produção e pesquisa da serin- to-grossense e até então pouco exploradas. Para estruturar
gueira, a empresa possui um campo experimental no mu- o mercado, avalia, é necessário criar uma política voltada
nicípio de Rosário Oeste (128 km ao Norte de Cuiabá) com para o ramo, desde a extração até o produto final.
jardim clonal e viveiro para atender a agricultura familiar. “Temos condições de montar uma cadeia produtiva e
Os produtores contam com o apoio do Programa Nacional nos tornar referência no setor”, garante a designer, lem-
de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf Eco), que brando que matéria-prima atrai não apenas joalheiros, mas
disponibiliza uma linha de crédito com prazo de 20 anos também indústrias de semi joias e bijuterias.
para pagamento e oito de carência.
Paralelamente, a Secretaria de Ciência e Tecnologia Paraíso do ecoturismo
(Secitec) investe em inovação e qualificação de mão de
obra com a criação do primeiro parque tecnológico de Cachoeiras, safaris, trilhas ecológicas, observação de
Mato Grosso, além de negociação com centros europeus pássaros, mergulho em aquários naturais. Seja no Panta-
para cooperações na área de tecnologia. nal, no Cerrado ou no Araguaia, Mato Grosso é o destino
Energia também não falta para mover esta máquina. certo para quem gosta de ecoturismo e para quem planeja
Superavitário no setor energético, Mato Grosso alcançou investir no segmento que mais cresce no setor de turismo.
em 2014 a produção de 14 milhões/MWh. Desse montante, Dados da Organização Mundial de Turismo (OMT)
consumiu 9 milhões/MWh e exportou 5 milhões/MWh via apontam que o ecoturismo cresce em média 20% ao ano,
o Sistema Interligado Nacional (SIN). enquanto o turismo convencional apresenta uma taxa de
aumento anual de 7,5%, conforme divulgado pelo Minis-
Do ouro às pedras coradas tério do Turismo em 2014. A organização estima ainda
que pelo menos 10% dos turistas em todo o mundo sejam
Se durante a colonização Mato Grosso foi reconhecido adeptos do turismo ecológico.
pelo ouro, hoje é um mercado potencial para a fabricação Como belezas naturais não faltam em Mato Grosso, os
de joias e semi joias a partir de pedras preciosas. Além de governos Federal e Estadual têm investido em infraestru-
ser o maior produtor de diamante do Brasil – com 88% do tura de acesso a paraísos naturais mato-grossenses, como
total da produção brasileira, segundo o Departamento Na- o Pantanal. Exemplo disso é o projeto de substituição de
cional de Produção Mineral (DNPM) –, o estado também pontes de madeira ao longo da rodovia Transpantaneira –
se destaca pelas pedras coradas, como a ametista, o quart- que liga a cidade de Poconé até a localidade de Porto Jofre,
zo rosa, a ágata e a turmalina. cortando a planície alagável. Ao todo serão construídas 31
A atividade mineral no Estado é histórica. Não há como pontes de concreto.
falar da povoação de Mato Grosso sem falar da extração do Chapada dos Guimarães é outro ponto prioritário para
ouro e diamante. Era 1719, quando o ouro foi descoberto a Sedec quando o assunto é infraestrutura. No município,
por bandeirantes às margens do Rio Coxipó. Já o diamante que atrai visitantes adeptos do turismo de contemplação
começou a ser explorado no fim do século XVIII nas regiões e de esporte de aventura, será executada a conclusão do
de Coité, Poxoréu e Diamantino. Complexo Turístico da Salgadeira e a pavimentação da MT-
Atualmente, conforme dados da Companhia Mato- 060 e MT-020. O Governo do Estado também retomou o
-grossense de Mineração (Metamat), as pedras coradas diálogo com o Instituto Chico Mendes de Conservação da
se concentram nas regiões noroeste, centro sul e leste de Biodiversidade (ICMBio) para o andamento das obras do
Mato Grosso. A granada, o zircão e o diopsídio em geral Portão do Inferno e da entrada da Cachoeira Véu de Noiva,
são encontrados associados ao diamante, nas regiões de os dois principais pontos de contemplação do Parque Na-
Paranatinga e de Juína. cional de Chapada.
Nas proximidades de Rondolândia existe um depósito
de quartzo rosa e as turmalinas são encontradas próximas Participação do Estado na Economia
a Cotriguaçu, enquanto as ametistas estão concentradas
próximas aos municípios de Aripuanã (noroeste) e Pontes Para que um sistema tributário seja considerado ideal
e Lacerda (oeste). e, por inferência, eficiente ele deve seguir algumas prer-
rogativas que delimitem o seu campo de ação, dentro da
Economia criativa concepção de Estado da classe dominante que, em últi-
ma análise, acaba por dar direção ao governo. Destarte
A política de incentivo do Governo do Estado para o para que o sistema tributário seja considerado como tal
setor inclui o estímulo a pequenos empresários do ramo ele deve conseguir arrecadar as receitas públicas suficien-
joalheiro, dentro do programa de Economia Criativa que tes para manter a estrutura do Estado. De forma que este
vem sendo desenvolvido pela Secretaria de Estado de De- preste os serviços considerados essenciais à maioria da po-
senvolvimento Econômico (Sedec), que abrange setores pulação.
como moda, design, artes e gastronomia. Todavia delimitar quais funções são essenciais e, em
Há 30 anos no mercado de joias em Cuiabá, Carmem conseqüência, quais o Estado deve realizar se constitui uma
D’Lamonica vê Mato Grosso como um futuro pólo joalheiro tarefa árdua. Isto porque, sendo diferentes, os indivíduos
pela abundância de pedras coradas existentes no solo ma- ocupam lugares díspares no corpo social e, por isto, aca-

45
GEOGRAFIA DE MATO GROSSO

bam por ler de maneira dualista, ou pluralista, a sociedade. “... o esforço para melhorar a sua própria condição,
Assim devido as diferentes posições na estrutura de clas- quando se permite exercê-la com liberdade e segurança é,
ses os indivíduos analisarão de forma, segundo matizes a princípio, tão poderoso que ele, sozinho, e sem nenhum
ideológicos, diferente quais bens o Estado deve fornecer auxílio, não somente é capaz de conduzir a sociedade a
e de qual maneira atuar. Sendo assim, se o indivíduo tiver riqueza e a prosperidade, mas de superar uma centena de
inspiração liberal, o campo de ação do governo será bas- obstáculos inoportunos, colocados muito freqüentemen-
tante exíguo. Em contrário senso, se os indivíduos se po- te pela loucura das leis humanas para dificultar as suas
sicionarem mais à esquerda, ou se tiverem inspiração so- ações...”
cialista ou keynesiana, eles acabarão, fatalmente, legando Assim a intervenção humana através do Estado de-
ao Estado uma maior gama de atribuições. Dentro deste veria se periférica em relação à dinâmica social, onde as
contexto o sistema tributário é de suma importância, pois empresas atuariam livremente no mercado. Isto se deve ao
fato de ver no egoísmo natural dos indivíduos a mola pro-
são as despesas previstas pelo Governo é que, em última
pulsora da sociedade. Em decorrência disto seria necessá-
análise, definem o montante de recursos a ser arrecada-
rio que deixasse o mercado sob a atuação da mão-invisível
do pelo sistema tributário. Logo se a inspiração for a do
que, por sua vez, acabaria por alocar de forma satisfatória
liberalismo o Estado interferirá o mínimo necessário. Desta os fatores de produção, conduzindo a um a maior ganho
forma os gastos do Estado seriam diminutos não havendo, para um maior número de pessoas.
assim, necessidade de se arrecadar um grande montante Seguindo este posicionamento alguns liberais tende-
de recursos e, por isto, se exigiria pouco do sistema tri- ram a ver as disparidades econômicas entre as nações
butário. No entanto se a inspiração for mais a esquerda, como sendo decorrentes das características naturais do
socialista ou keynesiana, se exigirá uma maior atuação do comportamento dos indivíduos na coletividade. Como o
sistema tributário, visto que o Estado, nestes casos é mais egoísmo mais desejo individual de ganho levariam a uma
dispendioso. maior prosperidade para todos, alguns liberais tenderam a
Dentro destas perspectivas o Estado é visto sob duas propugnar que a pobreza e a riqueza das estavam vincula-
óticas distintas : a dos liberais e dos que pregam a interven- das ao caráter coletivista do país, “...o progresso nacional
ção, de forma acentuada, do Estado na economia. Para os é a soma da diligência e da integridade individual, assim
primeiros é o princípio do mercado livre e auto-regulador como a decadência nacional é a soma do egoísmo e da
que dá o norte a seguir. Assim as funções do Estado devem imoralidade individual...”. Tal perspectiva liberal se torna
ser tais que não interfiram na livre alocação dos recursos bastante vulnerável, visto que atribuir às diferenças nacio-
que, sejam eles Capital ou trabalho, na ausência de quais- nais um determinismo moral é, pelo menos ignorar as con-
quer barreiras seriam eficientes. Deste modo o Estado para dições históricas que determinaram a evolução do capita-
corresponder ao ideal liberal “...não deve apenas proteger lismo. Este, por sua vez tende à acumulação de capital por
a propriedade privada, mas deve, também, ser constituído determinados indivíduos em detrimento de outros, o que
de tal forma que o curso suave e pacífico de seu desenvol- também ocorre a nível supranacional. Aliás a desigualdade
vimento nunca seja interrompido por guerras civis, revolu- inerente ao capitalismo advém da apropriação da mais va-
ções ou insurreições...” lia por parte dos capitalistas.
Pode-se notar que os estado liberal se conforma com a Conseqüência de tal teoria seria um Estado barato que
manutenção do status quo, mesmo que tal posicionamento deveria se sustentar com uma quantidade mínima de recur-
implique em uma condição social precedente, onde pode sos para que não onere de maneira substancial o setor pri-
haver uma desigualdade substancial entre os membros do vado. Também decorre daí que a atuação do Estado como
corpo social. Reduzi-la não seria atribuição do Governo. empreendedor se tornaria prejudicial à concorrência sob a
À esta visão se compatibilizaria um sistema tributário que
égide a da mão invisível de Smith. Destarte um estado para
sofresse forte influência do princípio do benefício, onde
existiriam poucos impostos e, em contrapartida, o finan- corresponder ao ideal liberal deveria ser barato e deixar
ciamento dos serviços públicos seria feito por via de taxas, que o mercado livre cuide da distribuição da riqueza.
onde quem realmente usasse os serviços os financiariam e Apesar das críticas o Estado vem desempenhando um
não a sociedade como um todo. papel cada vez maior na economia, o que, por sua vez faz
Seguindo-se a perspectiva liberal torna-se evidente com que ele exija cada vez mais recursos para sustentar
que o principio da livre atuação das empresas no mercado os seus gastos. Entretanto em vários períodos foi o Estado
seria a forma mais racional de se conduzir uma sociedade que garantiu, através de seus gastos, o desenvolvimento
ao desenvolvimento. Deste modo a atuação do Estado na econômico, e do próprio capitalismo, alocando recursos
economia seria subsidiaria à atuação privada dos indiví- em atividades que não eram vistas como lucrativas pelo
duos que, na busca por ganhos , lucros e congêneres le-
setor privado, mas que eram de suma importância para o
varia a sociedade a um devir constante. Entretanto como e
ínsito à própria natureza das mudanças sócio-econômicas desenvolvimento da economia de mercado. Demonstra-se
há avanços e retrocessos. Em contrapartida o Estado deve- desta maneira que, em determinados períodos, inobstante
ria intervir somente para, no dizer liberal, refrear as paixões as críticas liberais, a participação do Estado como agente
humanas e, desta maneira, garantir a manutenção da pro- econômico é essencial.
priedade privada. Isto posto a teoria liberal conduz a um À visão liberal do Estado mínimo se impõe a perspectiva
individualismo e a uma luta constante por lucros e, desta de um Estado voltado ao bem estar social, ou seja, a um
forma Estado que permita o fornecimento de bens e serviços,

46
GEOGRAFIA DE MATO GROSSO

mesmo que de forma gratuita. Isto posto todos teriam,


em tese, acesso aos bens e serviços públicos considerados 10 A URBANIZAÇÃO DO ESTADO.
essenciais. Seguindo esta orientação foi concebido o
Estado-Providência que se difundiu de maneira acentuada
no período do pós-guerra. Tal forma de Estado tem como
escopo de o bem-estar social e, por isto, busca garantir à 1 A fragmentação do território
classe proletária algumas conquistas sociais. Desta maneira
Desde o início de sua ocupação no período colonial, o
o Estado de bem-estar social “...designa o financiamento
espaço mato-grossense esteve à mercê das ações de pla-
público das despesas consagradas ao ensino, aos serviços
nejamento – da Coroa Portuguesa até os dias atuais. Mas
de saúde, às pensões, às indenizações de desemprego...” , é com os programas de desenvolvimento implementados
em suma a uma ampla proteção social. pelos governos militares, através de suas Superintendên-
Se averigua que o Estado-Providência impõe uma cias de Desenvolvimento, que Mato Grosso inicia processo
maior intervenção na economia com o intuito de garantir acelerado de urbanização (Abreu, 2001; Souza&Bonfanti,
o fornecimento de bens e serviços públicos. Entre estes es- 2003).
tão a segurança nacional, a educação, saúde, policiamen- Contudo, o processo de urbanização de Mato Grosso
to, regulação econômica, distribuição da renda, justiça e – a partir da década de 1970 – não está ligado à indus-
assistência aos desempregados. Desta maneira as formas trialização – considerado como elemento fundamental
de gerir o Governo moldam o Estado. Este sendo de ins- neste processo – mas à ocupação do campo, cuja atividade
piração socialista ou intervencionista preconizará vultosos principal é agrícola, utilizando-se de todo o aparato tec-
gastos com o serviço social e com a política econômica. nológico existente e desenvolvido posteriormente e, com
Já sob o prisma liberal se constituem em funções indis- isso, ocorre o surgimento e expansão de pequenos núcleos
pensáveis ao governo “...as relacionadas com a proteção à urbanos, mais tarde transformadas em (pequenas) cidades:
vida, à liberdade, à propriedade e à saúde, não se devendo os municípios mato-grossenses.
aumentá-las ao ponto de atingirem proporções monstruo- Em Mato Grosso, muitos núcleos são constituídos a
sas...”. Contudo fica evidente que sob a ótica liberal a pro- partir deste momento. De apenas 38 municípios – quando
da divisão do estado em 1977 – salta para 53 no final desta
teção social fica relegada a segundo plano, como também
década e, no encerramento de 1980, já são 96 municípios.
a educação e, em alguns casos, a saúde. Seguindo estri-
No último censo de 2000 são catalogados 142 municípios.
tamente a lógica liberal tais problemas adicionados ao da Considera-se que a uniformização de “cidade” e “vila”
distribuição da renda ficariam a cargo do mercado. O que como espaços urbanos, sem considerar seus aspectos es-
se constitui uma incoerência, visto que a lógica de mercado truturais ou funcionais, tem se apresentado como uma das
privilegia o lucro e a acumulação de capital. situações responsáveis pelas emancipações indiscrimina-
A configuração do Estado, sob a égide da doutrina li- das que acontecem no território brasileiro. Essa situação
beral, buscaria uma sistema tributário baseado no princípio reflete, entre outras coisas, um processo de fragmentação
do benefício e da neutralidade e, deste modo do território por interesses políticos – divisão de poder
“...o velho laissez-faire encontra uma sofisticada justifi- – ou mesmo por interesses empresariais, conseguindo,
cação moderna. A neutralidade econômica do Estado, que assim, autonomia para administrar determinada porção do
deve limitar-se a fazer respeitar as regras gerais do jogo território.
garantindo a ordem social e a segurança da propriedade Gonçalves&Costa abordam sobre uma confusão con-
pano de fundo do livre funcionamento dos mercados...” ( ceitual e a utilização de dados meramente estatísticos
BRUNHOFF, 1991, p.40 ). para se analisar os pequenos núcleos urbanos com graves
Assim o Estado só deveria intervir para garantir a liber- problemas sociais. Situação comum na realidade brasilei-
dade das empresas no mercado e segurança dos agentes ra, uma vez que “a produção de conhecimento sobre as
econômicos. Em contrário senso tem-se as correntes que pequenas cidades esteve dificultada tanto à nível empíri-
pregam um maior intervencionismo estatal e, portanto, co, quanto (e sobretudo), à nível teórico”, configurando-
buscam conceber o Estado de forma a garantir maiores -se uma delimitação real do seu caráter urbano que de-
dispêndios sociais. Para atender a demanda desta forma de veriam, também, considerar as dimensões continentais e
Estado o sistema tributário teria como substrato essencial as diferentes dinâmicas regionais. O caso de Mato Grosso,
o princípio da capacidade de pagamento, haja vista a sua inclusive, apesar da atividade predominante abrigada pelos
característica de tornar possível a imposição de um maior
seus municípios ser a agrícola, alardeia-se a presença de
ônus tributário às classes mais abastadas. Mas a progres-
um caráter urbano em suas cidades.
sividade decorrente do princípio da capacidade de paga-
Mesmo em áreas onde a principal ativida-
mento tem que se adequar aos demais princípios inerentes
de econômica é a agropecuária, a cidade detém a
a um sistema tributário eficiente sob pena de desvirtuá-lo.
hegemonia dos serviços que sustentam a atividade. Desde
Texto adaptado de RIBEIRO, S.
o fornecimento de sementes, insumos, maquinários até a
armazenagem, estocagem e comercialização/negociação
dos produtos. Assim torna-se um centro que irradia ações
em escala local, regional, nacional e global. Também mere-

47
GEOGRAFIA DE MATO GROSSO

ce destaque o uso da tecnologia no campo, fazendo com prescindível à sustentação do núcleo urbano e à atividade
que o excedente de trabalhadores, os “despreparados” e econômica predominante: a agricultura modernizada, o
os “excluídos” se desloquem para os centros urbanos. extrativismo vegetal ou mineral. Desse modo, o campo
Por meio dos programas de incentivos regionais foram é que passa a comandar a vida econômica e social do sis-
construídas rodovias que permitiram a existência dos va- tema urbano.
riados fluxos – dos migrantes, das mercadorias - para Muitos são os sinais da modernidade no campo, sem-
abastecer o estado de Mato Grosso ou os compromissos pre ressaltando essa complementaridade entre urbano e
de exportação com o mercado externo. Deste modo, é a rural, pois cada uma carrega os elementos da outra. O es-
paço urbano exibe as instalações agroindustriais (silos,
aliança entre o Estado com incentivos fiscais e ações de
armazéns, etc...), as lojas voltadas para os produtos agrí-
planejamento – que visavam atingir objetivos geopolíticos colas (defensivos, tratores) abrigam os espaços das feiras
e sociais – e o capital nacional e internacional que incre- agro-pecuárias e, toda a tecnologia que possa facilitar e
menta os empreendimentos de colonização – em sua imprimir um novo modo de vida rural (tratores, computa-
maioria privados – no Centro-Oeste, atraindo população dores, antenas parabólicas).
de outras regiões brasileiras. Desde o processo inicial de produção espacial na fron-
Nas décadas de 70/80,[...] apresentou crescimento po- teira agrícola, existe uma inter relação entre o mundo rural
pulacional significativo, em decorrência da implantação de e o mundo urbano, caracterizado por cidades que abrigam
núcleos de colonização dirigida (oficiais e principalmente, atividades diretamente ligadas às atividades agrícolas cir-
privados), para os quais acorreram intensos fluxos migra- cundantes e que dependem, segundo graus diversos, des-
tórios, originários em grande parte da Região Sul do país. sas atividades. As remodelações que se impõem, tanto no
Portanto, observa-se existência de um sistema urbano ain- meio rural, quanto no meio urbano, não se fazem de forma
da em formação, cujos principais centros constituem ex- diferente quanto a esses três dados: ciência, tecnologia e
informação.
-núcleos de colonização da década de 70, que registraram
O espaço rural mato-grossense, que já nasce diferen-
acelerado crescimento econômico e populacional, tendo
ciado, sente os efeitos do agronegócio: “Tal realidade faz
em vista o papel desempenhado no apoio às atividades com que exista um grande efeito multiplicador do
produtivas e na prestação de serviços básicos às popula- crescimento da renda no campo sobre a indústria e os
ções de sua área de influência imediata . serviços, refletindo em novas espacialidades na cidade. Por
Várias microrregiões do estado se destacam pelo cres- exemplo, alicerçado no agronegócio, o PIB de Sorriso, uma
cimento decorrente destas políticas, sendo mais represen- das cidades ”novas” que compõem o Norte Mato-grossen-
tativa toda a porção do médio-norte, dirigindo-se mais ao se, cresceu em 32% em 2001”.
norte. Pequenos núcleos de colonização privada como SI- Mas o agronégocio também leva à degradação am-
NOP, Vera, Sorriso, Alta Floresta, Tangará da Serra, Sapezal, biental, tanto com a utilização de monoculturas e de quí-
Campo Novo do Parecis, entre muitos outros municípios2 micas para a correção da acidez do solo, característico do
, alguns despontando como pólos de sua região. Deste cerrado, como com o uso dos defensivos agrícolas. Além
modo, o processo de urbanização no estado é oficialmente disso, a estrutura fundiária, baseada na grande proprieda-
de, leva a uma concentração de terras pelas classes domi-
estimulado, como estratégia de ocupação, controle e in-
nantes.
corporação da fronteira nesse espaço, que
Pode-se citar, como exemplo, o caso de Sapezal, cida-
[...] não é só para cultivo, venda ou aluguel, mas tam- de constituída pelo capital privado – Grupo Maggi – ligada
bém usado para a construção de núcleos urbanos. Nesse diretamente à ordem global mas totalmente excludente,
contexto, os espaços são simulados, e os territórios apro- impedindo a “entrada dos problemas sociais” (Silva, 2003:
priados e transformados. Viabilizadas pela técnica e poder, 199-205).
as cidades são inventadas, fabricadas e seus espaços co- Nestes breves exemplos, verifica-se a dinâmica social
mercializados. A nova ordem instalada nesses espa- estabelecida no território mato-grossense. Alimentadas
ços, considerados como fronteira agrícola mato-grossense anteriormente por intensas políticas públicas territoriais
agressiva, incorporando fatores econômicos modernos, de que orientaram os investimentos na produção agrícola do
essência capitalista, terminou por gerar o seu próprio mo- estado, baseadas no uso de grandes propriedades e de
delo de cidades, com as qualidades e defeitos sob os quais avançadas tecnologias, proporcionam não apenas uma re-
elas foram cunhadas. configuração da imagem do espaço rural, como interferem
As cidades, algumas resultado de núcleos de coloniza- diretamente na produção do espaço urbano.
ção, registram os mais altos índices de crescimento popu- Observa-se, na profusão de acontecimentos que ocor-
lacional e econômico, desempenhando papel de apoio às rem em Mato Grosso, que tanto o espaço rural quanto o
atividades produtivas e serviços básicos à população. espaço urbano apresentam-se de forma diferenciada da
As cidades são produzidas para serem locus da regu- conhecida em tempo anterior e, assim, torna-se pre-
lação do que faz no campo, assegurando a nova ordem mente ponderar conceitualmente sobre estes espaços.
imposta pelo novo modelo de divisão do trabalho agrícola,
e já nascendo com um conteúdo e uma finalidade eco- Construção de um juízo – o Espaço Rural e o Espaço
nômica: prestadoras de serviços, concentradoras da Urbano
renda fundiária e constituinte de uma mão-de-obra im-

48
GEOGRAFIA DE MATO GROSSO

O espaço rural, com sua base espacial na paisagem a decadência. Lócus dos vícios (ambição, devassidão, rou-
natural, apresentou-se, secularmente, como uma relação balheira), dos problemas sociais (desigualdades e miséria)
complementar, de contraposição ou até mesmo simbiótica e ambientais (poluição sonora, atmosférica e hídrica).
com o espaço urbano. É em busca de entender o espaço Todavia, a partir da década de 1950, o desenvolvimen-
rural, comumente relacionado apenas à produção agrária, to tecnológico atinge o campo, imprimindo mudanças no
relegando suas outras características, que retomamos a espaço rural.
pesquisa de João Ferrão com a seguinte reflexão: A industrialização da agricultura, final da 2ª Guerra
Historicamente, o mundo rural destaca-se por se orga- Mundial, veio introduzir uma nova inflexão importante -
nizar em torno de uma tetralogia de aspectos bem conhe- o mundo rural moderno e o mundo rural tradicional. Pela
cida: uma função principal: a produção de alimentos; uma primeira vez na história da humanidade, a oposição rural-
atividade econômica dominante: a agricultura; um grupo -urbano começa a não ser vista como a mais decisiva, na
social de referência: a família camponesa, com modos de medida em que a modernidade deixa de constituir um ex-
vida, valores e comportamentos próprios; um tipo de clusivo das áreas urbanas.
Deste modo, encontramos o mundo moderno tanto no
paisagem que reflete a conquista de equilíbrios entre as
urbano-industrial quanto no rural, assim como o mundo
características naturais e o tipo de atividades humanas de-
arcaico que continua ligado a alguns espaços rurais, tam-
senvolvidas.
bém existem em determinados contextos urbanos. Além
Várias foram as etapas de entendimento do espaço do mais, existe a invenção de nova realidade para o mundo
rural e, consequentemente, do urbano. Na história, muitas rural e a flexibilização de suas características – a sua função
vezes o campo e a cidade estiveram em pólos extremos, principal não é somente a produção de alimentos, e a ativi-
seja como um espaço que representava o atraso, ou dade predominante deixa de ser a agrícola.
onde se encontrava a “salvação da humanidade”, conser- Ferrão continua sua análise, entendendo que “a
vando valores naturais e se contrapondo à imagem artificial valorização da dimensão não agrícola do mundo rural
da cidade. é socialmente construída a partir da idéia de patrimônio”.
[...] Afirmou-se as qualidades do campo para ne- Com isso, verificam-se três tendências que convergem para
gar as da cidade. Negou-se as qualidades da cidade para um único sentido: 1 - o movimento de “renaturalização”,
afirmar as do campo. A cidade era o centro, o novo e baseado na conservação e proteção da natureza, na esfera
a liberdade, porque o campo significava o passado, o do debate sobre os processos de desenvolvimento susten-
velho e a prisão a valores arcaicos. O campo representava tável; 2 - procura de autenticidade, buscando a conserva-
a harmonia, a tranqüilidade e a inocência, porque a cida- ção e a proteção dos patrimônios históricos e culturais; 3
de significava o caos, o barulho e a perversidade. Comple- - a mercantilização das paisagens, “[...] como resposta à
mentavam-se, pois funcionavam como fugas para ambas rápida expansão de novas práticas de consumo decor-
realidades. A monotonia e o atraso do campo poderia rentes do aumento dos tempos livres (sic), da melhoria do
ser vencido pelo contato com a cidade, da mesma forma nível de vida de importantes segmentos da população e,
que caos (sic) das cidades seria solucionado pela fuga ao como conseqüência, da valorização das atividades de tu-
campo. rismo e lazer”.
Mas, como tanto o campo quanto a cidade são cons- Numa outra visão discutida sobre os espaços rurais,
truções humanas e se inserem respectivamente no espaço nas novas práticas encontradas neste espaço – “oportu-
rural e no urbano, não são imutáveis e homogêneos. nidades de trabalho não somente no setor primário, mas
As mudanças que ocorrem nestes espaços ocorrem apenas como prestadores de serviços, no âmbito do turismo eco-
lógico, chácaras de lazer, pesque e pague, entre outras, que
em escalas diferentes de tempo – e o tempo lento do cam-
estão se constituindo em alternativas viáveis para o futuro
po que, da imagem ligada ao atraso no modo de produção
do rural”.
feudal se estabelece, posteriormente, como o refúgio da
A relação Urbano/Rural hoje
agitação das cidades e, atualmente, como o locus onde se
observa a utilização de grandes inovações tecnológicas. A
Os atritos com relação aos critérios brasileiros para se
mesma cidade – com seu tempo rápido - tornou-se “re-
classificar seus espaços em rural ou em urbano são seve-
presentante da criação emancipadora, do novo, do futuro”.
ramente questionados – se quantitativos, se qualitativos.
Da Revolução Industrial, no século XVIII, emerge uma Contudo, as relações rural-urbano estão cambiando – de
nova sociedade urbano- industrial e, conseqüentemente, forma geral – mesmo em nossas políticas, embora essas
as áreas rurais perdem a centralidade econômica, social e mudanças não se reflitam de forma clara.
simbólica, identificadas como atrasadas em comparação Atualmente os espaços integrados às áreas de influên-
com o progresso que se encontra nas cidades – o urbano. cia das grandes cidades não coincidem com a “dicotomia
É também durante a mesma Revolução que a urbano-rural”, os espaços urbanos incluem desde as áreas
problemática das cidades acontece com a incapacidade de estritamente urbanas às rurais não agrícolas, mas todos
implantação de infra-estrutura para receber este grande articulados “sistematicamente” entre si – de maneira con-
contingente populacional vindo do campo. flituosa, prejudicando patrimônios urbanos, por exemplo,
[...] O modo de vida rural passou a ser visto ou de forma cooperativa, recuperando os espaços verdes
como sinônimo de harmonia, de intrínseca relação entre ou construídos de modo tradicional, “recuperando-se, nes-
homem e natureza. Lócus das virtudes. Em contraposição, tes últimos, algumas componentes da complementaridade
a vida nas cidades foi relacionada ao caos, a degradação e que caracterizou a relação tradicional urbano-rural”.

49
GEOGRAFIA DE MATO GROSSO

Já nos espaços rurais, com as iniciativas do turis- [...] os engenhos concentravam praticamente todas as
mo (rural ou ecológico), a população, que depende da atividades de produção e subsistência. As vilas existiam
pluriatividade para complementar sua renda e até mesmo apenas para intermediar a exportação do açúcar, e por isso
possibilitar sua permanência no campo, vê o seu destino mesmo ficavam a maior parte do tempo vazias. [...] Como
ser traçado nas discussões na “sede urbana”. “[...] Se contra estabelecer neste caso uma relação urbano- rural, se ha-
fatos não há argumentos, então a questão a colocar parece via uma produção agrícola intensa e inexistiam núcleos ur-
ser a seguinte: como gerir a procura e a oferta urbanas a banos importantes? A resposta para isso só é possível se
favor dos vários mundos rurais?”. for estabelecida a ligação com a rede urbana européia. O
Quiçá sejam nas reflexões de Marta Inez Medeiros Brasil era uma espécie de retaguarda rural das cidades
Marques que se possa encontrar algum norte para respon- da Europa. A produção agrícola daqui era destinada às
der a esta indagação, pois sugere que se deve pessoas que habitavam os núcleos urbanos europeus. Isto
[...] pensar o espaço rural não apenas a partir de sua deixa bem clara a necessidade de se tratar a sociedade no
funcionalidade econômica à sociedade urbana hoje estru-
seu conjunto.
turada, mas a partir de um esforço no sentido de identificar
Este período da história brasileira termina ao se separar
a contribuição que um “novo” rural possa dar para a trans-
o reino de Portugal do reino da Espanha. O Brasil, que de-
formação de nossa sociedade. [...]
sempenha o papel de espaço rural da metrópole, recebe o
A discussão sobre a construção de um “novo” espaço
rural é uma condição fundamental para que se possa re- influxo da política centralizadora portuguesa, desenvolvida
pensar o nosso urbano, na medida em que o significado a posteriori, principalmente pelos pensamentos iluministas
proposto para a ruralidade deve comportar uma crítica à do Marquês de Pombal. A partir de então, há um investi-
sociedade que transformou o homem e a terra em mer- mento maior na colônia, sobretudo nas cidades, que agora
cadorias e, portanto, ao processo de alienação que lhe é abrigam, inclusive, representantes do Poder Real, tanto que,
subjacente. [...] pela atuação de um novo tipo de profissionais e pela
E assim, as considerações da pesquisadora Ana Fani a concentração das pessoas nas cidades, com o conseqüente
qual acredita que no Brasil, a sociedade urbana não trans- aumento do controle político, bem como da arrecadação de
forma o campo em cidade, mas redefine a antiga contra- impostos. O Brasil deixa de ser exclusivamente uma reta-
dição, articulando o rural ao urbano de um “outro modo”. guarda rural, passando a incorporar uma incipiente so-
Acrescenta, ainda que o “[...] processo de urbanização não ciedade urbana, formada entre outros por gente de ofícios,
se mede por indicadores referentes ou derivados do au- comerciantes e funcionários públicos.
mento da taxa anual de crescimento da população urbana, Com a descoberta das minas no interior do país, para
e muito menos pela estrita delimitação do que seria “ur- elas foram atraídas tanto os portugueses como a popula-
bano ou rural” [...]”, e por isso, é necessário entender qual ção da costa brasileira. Deste modo, a Coroa, deste modo,
“o conteúdo do processo de urbanização, hoje, e quais as reavalia o potencial da colônia, desenvolvendo ações de
estratégias que apóiam o processo de reprodução conti- controle, com destaque para de criação de novos núcleos
nuada da cidade e do campo – nos planos econômico, po- urbanos ou até mesmo a aceitação de núcleos que surgiram
lítico, e social.”. das ações dos bandeirantes e da exploração mineral. Nas
áreas de mineração
Em busca de um conteúdo: o processo de urbanização [...] os novos núcleos urbanos têm uma forma de vida
muito diferente da existente nas vilas e cidades do período
Este processo de urbanização é entendido como um anterior. Agora tudo gira em torno da mineração, e como
fenômeno mundial antigo, próximo dos dez mil anos, pois
praticamente nada é produzido no local, surgem novos pro-
é no momento em que uma aglomeração deixa de pro-
blemas a resolver, como os suprimentos e os transportes.
duzir diretamente o seu próprio alimento, desenvolvendo
É neste momento que Mato Grosso – durante o período
outras tarefas, que surge um núcleo urbano.
colonial – inicia a sua ocupação. Inicialmente, Cuiabá, com
A partir deste momento, a relação urbana e rural evi-
as suas minas de ouro e abastecida pelos caminhos fluviais
dencia-se e várias cidades surgem com suas peculiaridades
– navegação do Rio Paraguai até o Rio Tietê em São Paulo
em momentos históricos diferentes. Primeiro, as cidades
gregas – continuidade entre o rural e o urbano, onde seus – e terrestre, através da ligação por Goiás. Mais tarde, a
moradores tinham residência tanto no espaço urbano – ci- Coroa Portuguesa projetaria e implantaria Vila Bela da
vitas - como no espaço rural – rural . Depois, as cidades Santíssima Trindade, em contraposição com a desordenada
medievo-renascentistas – com a contraposição dos espaços Cuiabá mas, antes disso,
urbano e rural, representado pelo espaço político medieval, [...] Cuiabá era a única aglomeração urbana de toda
dentro da ordem feudal. região oeste. Nessas condições, os portugueses enfrenta-
Assim, as cidades européias vão se desenvolvendo e vam um dilema complicado: ou a diminuta aglomeração de
consolidando a sua rede urbana. Neste período do Renas- Cuiabá deveria ser reconhecida como centro administrati-
cimento, houve as descobertas das terras do continente vo, ou então seria preciso construir uma nova vila. Como a
americano – destaca-se o caso do Brasil como uma grande coroa estava desejosa de controlar o fluxo de ouro dessa
retaguarda rural para o continente europeu, com o forneci- zona recém-aberta, e como o custo da constituição e apa-
mento de madeira de lei e, posteriormente, a produção de relhamento de uma equipe para construir uma nova co-
açúcar. munidade nessa região remota teria sido exorbitante, os

50
GEOGRAFIA DE MATO GROSSO

portugueses viram-se obrigados a aceitar a urbanização [...] sobre urbanização partindo de sua caracterização
nas condições dos bandeirantes, finalmente elevando devi- como processo social, por um lado estávamos partindo do
damente o povoado à condição de vila. conceito de social como abrangente, isto é, incluindo o po-
No Império, deixa de existir uma “política urbaniza- lítico, econômico, ideológico etc. e, por outro, vendo no
dora centralizada”. O tráfego negreiro vinha se esvaindo, espaço a atualização deste processo.
e o capital utilizado para este fim é redirecionado em ati- Para se compreender o processo de urbanização
vidades urbanas. Os proprietários rurais investem no café deve-se considerá-lo em sua totalidade, inclusive enten-
e avançam a fronteira agrícola. Surgem novos núcleos e se dendo seus espaços rurais e, pela peculiaridade do caso
aumenta a intensidade da vida urbana. mat grossense, não se acredita que apenas considerando
Desta maneira, criam-se as condições para a passagem os pontos (núcleos urbanos) e suas ligações, conseguiria-
política da Monarquia para a República – com um pro- -se uma leitura real. Desta maneira, em uma análise regio-
cesso de urbanização que se caracteriza pela concen- nal, deve-se considerar os interstícios desta rede - no caso,
tração populacional e da produção em algumas cidades. os espaços rurais, pois se torna possível verificar as interfe-
Inicia-se, no país, o êxodo rural para os centros urbanos, e rências destes no espaço urbano.
os fluxos migratórios estrangeiros (europeus). Neste cená- Desde o início do percurso para o entendimento da
rio, na década de 1930, estabelece-se que toda sede mu- Rede Urbana Mato-grossense percebe-se que este deve
nicipal (cidade) e distrital (vila) são consideradas urbanas e abordar certas questões, destacando-se o processo de ur-
se inicia uma avaliação meramente quantitativa no Brasil. banização, aqui entendido como um processo social refle-
Contudo, o processo de urbanização acontece no contexto tido no espaço e que, devido às particularidades de ocupa-
geral da sociedade e não apenas em dados estatísticos. ção do espaço de Mato Grosso, especialmente a partir da
Entretanto, é no final da década de 1960 – no regime década de 1970, para uma melhor compreensão, também
militar – com as políticas desenvolvimentistas, que o país deve ser analisado a partir das relações entre o espaço ur-
sente os efeitos de três movimentos: 1- a explosão bano e o espaço rural.
demográfica; 2 – a explosão urbana e, 3 – a explosão me- Deste modo, faz-se necessário evitar os equívocos
tropolitana. Assim, destaca-se que “o processo de urbani- no estudo do processo de urbanização, muitas vezes
zação não é linear, pelo contrário, em geral há inúmeros combinados com os processos quantitativos adotados pe-
movimentos simultâneos, que são o resultado do projeto
los Órgãos oficiais e pela ausência de reflexões mais quali-
de diferentes grupos sociais[...]”.
tativas. Inúmeras questões estão em curso em Mato Grosso
As mudanças são sentidas na escala do território bra-
e a tentativa de entendê-las para se poder atuar no territó-
sileiro – uma inversão de população predominantemente
rio exige uma reflexão sobre seu processo de urbanização,
rural para a urbana, da abertura de frentes pioneiras nas
pelo entendimento, dentre as muitas relações possíveis,
regiões Norte e Centro-Oeste do país, com a utilização de
das existentes entre suas cidades, mesmo que pequenas,
tecnologias avançadas no campo (máquinas, insumos, pes-
– representando o espaço urbano – e o seu espaço rural.
quisas que conseguem inverter as condições inóspitas de
algumas extensões de terra), fatos acompanhados de gra- Nesta ordem, o processo de urbanização de Mato
ves problemas sociais, como conflitos de terra, ampliação Grosso está em pauta, podendo ser lido através da re-
das disparidades sociais, degradação ambiental. lação entre espaço urbano e rural, considerando as
Por meio desta sucinta passagem pela história brasi- mudanças ocorridas nas características seculares deste
leira, enfocamos alguns importantes aspectos que contri- último, transformações que também se refletem no ur-
buem para a concepção de urbanização como um processo, bano. Portanto, considerar conceitos rígidos não permi-
o qual se organiza no território (aqui incluída a sociedade), tiria entender a dinâmica do processo de urbanização que
abrangendo toda a complexidade das relações sociais com acontece no estado de Mato Grosso, o qual deve ser visto
o espaço. Do mesmo modo, urbano e cidade (entendidos e revisto à luz de suas peculiaridades locais.
no contexto da urbanização) não são apenas conceitos que
se restringem aos “limites administrativos”, pois estes não
refletem a realidade tecnológica e social. Portanto: QUESTÕES

A urbanização é um processo que apresenta caracte- Questão 1


rísticas peculiares: Indique as alternativas corretas (C) e incorretas (I):

1- historicamente resultou do ápice das possibilidades a) A palavra moralidade vem do latim “mos” ou “moris”
de adaptação humana em termos de população, meio, tec- e significa “costumes”.
nologia e especialmente de organização social; 2- só pode b) As palavras “ética” e “moralidade” são sinônimas e
ser entendida em termos globais, isto é, a partir da rede correspondem à mesma ideia.
urbana internacional que estrutura de modo assimétrico, c) As normas morais não variam a depender da cultura
variado e cambiante, núcleos e redes, áreas rurais e áreas e do período histórico.
urbanas, obedecendo a lógicas estabelecidas em função d) A palavra “ética” vem do grego éthikos e significa mo-
dos processos de mando subjacentes à divisão internacio- dos de ser.
nal do trabalho em cada conjuntura histórica e obedecendo
à lógica e aos limites dos diferentes modos de produção.

51
GEOGRAFIA DE MATO GROSSO

Questão 2 “Os homens fazem sua própria história, mas não a fa-
“As normas morais variam a depender da cultura e do zem como querem; não a fazem como circunstâncias de sua
período histórico. Também podem ser questionadas e des- escolha e sim sob aquelas com que se defrontam diretamen-
tituídas”. Isso significa que: te, legadas e transmitidas pelo passado”. Karl Marx

a) Nós não podemos pensar sobre as normas morais a) Enquanto Sartre defende que há determinismo,
que são impostas; Marx defende que o homem é livre independente das cir-
b) Nós temos que concordar com as normas morais cunstâncias.
porque são as normas da nossa cultura; b) Sartre defende que não há determinismo e Marx es-
c) A moral é um conjunto de valores pelos quais as pes- tabelece um meio termo entre o determinismo e a total
soas guiam seus comportamentos e, por isso, está sujeita a liberdade do homem;
mudanças a depender do país e do momento histórico em c) Quando Sartre afirma “o homem está condenado a
que as pessoas estão inseridas. ser livre”, diz o mesmo que Marx quando defende que “os
d) Não agimos de forma “moral” se obedecermos às homens fazem sua própria história, mas não a fazem como
regras que a sociedade estabelece. querem”.
d) Sartre diz que o homem está limitado pela sua pró-
Questão 3 pria existência, enquanto Marx afirma que o homem está
Como podemos diferenciar “moral” e “ética”? limitado pelas condições históricas.

a) Não podemos diferenciar, são palavras sinônimas. Questão 6


b) Moral é um conjunto de valores, e Ética é a reflexão Quem é filósofo?
sobre esses valores.
c) Moral é a prática da Ética no nosso dia a dia. (A) Todos aqueles que indagam, buscam respostas e
d) Moral é sinônimo de “ética aplicada”. soluções para os problemas.
(B) Os filósofos profissionais.
Questão 4 (C) Os cientistas.
(UNIC) A História de Mato Grosso registra movimentos (D) Os pesquisadores.
sociais e disputas políticas de grande relevância. Analise as (E) Ninguém é capaz de ser filósofo.
afirmações:
I- Tanque Novo- movimento ocorrido em 1933 no mu- Questão 7
nicípio de que resultou em perseguições por questões po- [Soldado-CBM-MS/2010-Fund. Escola Gov.].(Q.51)
líticas e no julgamento de Doninha. Mato Grosso do Sul possui posição geográfica privilegiada:
II- Rusga- rebelião ocorrida em Cuiabá durante a Re- ao sul faz fronteira com e a oeste com ,
gência, objetivando a retirada do poder político das mãos posicionando-se estrategicamente entre mercados poten-
dos conservadores para cedê-lo aos liberais. ciais de países do bloco do (a) , que se constitui
III- Caetanada - luta política travada por dois chefes em fator extremamente favorável ao desenvolvimento de
políticos locais das zonas de garimpo no oeste mato-gros- atividades agroindustriais e de expansão do intercâmbio
sense. comercial. Este fato explica a facilidade existente por parte
destes países em comercializar com o estado.
a) se somente a I estiver correta. Assinale a alternativa que completa corretamente o
b) se somente a II estiver correta. texto.
c) se somente a III estiver correta.
d) se somente a I e II estiverem corretas. a) a Venezuela, o Chile e NAFTA.
e) se somente a II e a III estiverem corretas. b) a Colômbia, o Peru e ALCA.
c) o Paraguai, a Bolívia e MERCOSUL.
Questão 5. d) o Uruguai, o Suriname e NAFTA.
Leia os dois fragmentos abaixo: e) o Equador, o Chile e MERCOSUL.
“... Por outras palavras, não há determinismo, o homem
é livre, o homem é liberdade. […] Não encontramos diante Questão 8
de nós valores ou imposições que nos legitimem o compor- O que caracteriza a filosofia?
tamento. Assim, não temos nem atrás de nós nem diante
de nós, no domínio luminoso dos valores, justificações ou a) a busca da sabedoria.
desculpas. Estamos sós e sem desculpas. É o que traduzirei b) um esforço para vencer obstáculos.
dizendo que o homem está condenado a ser livre. Condena- c) um caminho inútil.
do porque não criou a si próprio; e, no entanto, livre porque, d) responde as exigências morais.
uma vez lançado ao mundo, é responsável por tudo o que e) um saber infalível
fizer.” Jean-Paul Sartre

52
GEOGRAFIA DE MATO GROSSO

Questão 9 Questão 12
(UFMT) Em Mato Grosso, a partir de 1970, o governo A ética são discursos morais, bem como critérios de es-
federal coordenou projetos oficiais ao lado de outros da colha para valorar e padronizar as condutas. Estes estão dis-
iniciativa privada estimulando um fluxo migratório aberto seminados:
pelas possibilidades daquele momento. Sobre o assunto,
assinale a afirmativa incorreta. a) na família, empresa e sociedade.
b) nos juízos éticos
a) Foi construída a rodovia BR-364 (Cuiabá- Porto Ve- c) na política
lho), ao longo da qual surgiram vários núcleos populacio- d) nos argumentos
nais. e) nas condutas imorais
b) POLOCENTRO e POLONOROESTE são exemplos de Questão 13
programas federais de colonização implementados à época. (UFMT) A respeito do regime republicano implantado
c) A ocupação da nova fronteira agrícola no estado de no Brasil em 1889, julgue os itens:
Mato Grosso foi predominantemente feita por migrantes das ( ) Do ponto de vista político, o novo regime não sig-
regiões sul e sudeste. nificou uma profunda transformação, especial mente na
d) A lógica geopolítica do regime militar respaldou a de- perspectiva da população rural.
cisão federal de promover a ocupação da região norte de ( ) A primeira constituição republicana (1891), ao ga-
Mato Grosso. rantir o federalismo, liberou as elites regionais das limita-
e) Para a exportação da produção agrícola, foi propiciada ções impostas pela centralização monárquica, nesse senti-
a abertura da navegação do rio Paraguai do a “política dos governadores” de Campos Sales consa-
grou o princípio da independência das oligarquias frente
Questão 10 ao poder central.
A palavra ética ( ) Os mato-grossenses, a exemplo do que aconteceu
com a maioria dos brasileiros, ficaram surpresos com a pro-
a) vem do grego ethos clamação da Republica, embora as idéias republicanas já
b) vem do grego geo fossem veiculadas, no mínimo, desde a Rusga, em 1834.
c) vem do grego mores
d) vem do grego bio Questão 14
e) vem do latim ethos A ética garante o bem-estar da sociedade daí dizer que

Questão 11 a)é a forma que o homem tem para se comportar no


[Oficial-CBM-MS/2010-Fund. Escola Gov.].(Q.46) Leia as meio social.
assertivas a seguir b) é a manutenção do bem-estar do indivíduo
c) que o homem não necessita entende-la
I – Está localizada no centro do Estado e eqüidistante dos d) que o homem não necessita reconhece-la
extremos norte, sul, leste e oeste de Mato Grosso do Sul, fator e) que é dado ao homem segui-la por coação física
que facilitou a construção das primeiras estradas da região,
contribuindo para que se tornasse a grande encruzilhada ou Questão 15
pólo de desenvolvimento de uma vasta área. [Soldado da PM-MS/2008-Fund. Escola Gov.].(Q.49) De
II – É considerado o mais importante centro catalisador acordo com a divisão política de Mato Grosso do Sul – Po-
de toda a atividade econômica e social do estado, posicio- lítica de Desenvolvimento Regional – os municípios de Três
nando-se como o de maior expressão e influência cultural, Lagoas e Campo Grande pertencem, respectiva- mente, às
sendo também o pólo mais importante de toda a região do regiões:
antigo estado.
III – A cidade foi planejada em meio a uma vasta área a) Alto Pantanal e Central e Norte.
verde, com ruas e avenidas largas. b) Norte e Leste.
c) Sudoeste e Grande Dourados.
Relativamente arborizada e com diversos jardins por en- d) Sul Fronteira e Leste.
tre as suas vias, apresenta, ainda nos dias de hoje, forte rela- e) Bolsão e Central.
ção com a cultura indígena e suas raízes históricas.
Questão 16
As assertivas I, II e III referem-se à cidade de: Ética e Moral significam respeitar e valorizar a vida e
diz respeito
a) Dourados.
b) Aquidauana. a) aos valores do homem livre
c) Amabai. b) aos valores do cidadão
d) Campo Grande. c) aos fins éticos e antiéticos
e) Mundo Novo. d) às exigências da racionalidade
e) à religião

53
GEOGRAFIA DE MATO GROSSO

Questão 17 Questão 21
(UFMT) Entre os projetos propostos por Getulio Vargas (UFMT) Ao ocorrer o movimento de março de 1964, o
durante a sua administração, de 1930 a 1945, encontra-se governo de Mato Grosso era exercido por:
a Marcha para o Oeste. Em relação a este projeto, julgue
os itens. a) Fernando Correa da Costa.
( ) A ocupação e a colonização da Amazônia Legal por b) José Manuel Fragelli.
meio da reforma agrária eram propostas desse projeto. c) José Pedrossian.
( ) Um importante objetivo era transformar o território d) João Ponce de Arruda.
brasileiro em um bloco homogêneo. e) José Marcelo Moreira.
( ) Pretendia garantir a modernização do país com um Questão 22
agressivo plano de estímulo à industrialização nos estados (UFMS) Quanto à Região Centro-Oeste do Brasil, é cor-
mais distantes da capital federal. ( ) A expedição Roosevelt, reto afirmar que:
financiada com capital multinacional, demonstrou a ambi-
güidade do projeto. (01) é a mais extensa, menos populosa e menos povoa-
da das regiões brasileiras.
Questão 18 (02) é formada por quatro unidades: Mato Grosso,
Para que os fins propostos pela consciência sejam al- Mato Grosso do Sul, Goiás e o Distrito Federal.
cançados é necessário que o ato moral tenha (04) sua principal ativiadade econômica é a pecuária
extensiva.
a) um caráter voluntário e consciente. (08) o grande pólo econômico de industrialização de
b) sido cometido sem consciência. carne e couro dessa região é Goiânia. (16) seus centros ur-
c) sido cometido por coerção interna. banos mais populosos são Cuiabá, Campo Grande e Ron-
d) um significado relacionado à moral vigente. donópolis.
e) sido feito involuntariamente
Questão 23
Questão 19 (UFMT) Em relação ao predomínio político das oligar-
(UFMS) A respeito do Pantanal Matogrossense, é falso quias no Brasil durante a Primeira Republica (1889-1930) e
afirmar: à ação dos chamados coronéis, julgue os itens :
( ) Em Mato Grosso a disputa política ocorria entre a
a) os garimpos, o assoreamento dos rios, a pesca pre- oligarquia do norte composta pelos senhores de engenho,
datória e o projeto de construção de uma hidrovia amea- depois usineiros e a oligarquia do sul composta por gran-
çam o equilíbrio ambiental no Pantanal. des pecuaristas e comerciantes.
b) a pecuária extensiva foi à única atividade econô- ( ) O coronelismo entendido enquanto um sistema de
mica que conseguiu viabilizar-se no Pantanal e conviver troca eleitoral, proteção e favores de um lado, e voto de
relativamente em paz com a natureza. outro, possuí um caráter sempre pacífico.
c) é a maior planície alagável do planeta e constitui ( ) O coronelismo tinha base familiar e rural; o coro-
uma bacia sedimentar formado por detritos provenientes nel era ao mesmo tempo um grande latifundiário e chefe
de planaltos e montanhas vizinhas, depositado durante mi- patriarcal.
lhões de anos.
d) o turismo ecológico é a atividade econômica mais Questão 24
promissora da região pantaneira, que fascina os turistas A conduta humana moral está sempre sujeita a aprova-
com sua fauna silvestre e vegetação diversificada. ção ou a reprovação dos
e) localiza-se na porção oriental da América do Sul. demais membros do grupo social, pois são atos que
É rodeado a Oeste pelo Chaco paraguaio e boliviano, ao possuem impacto sobre os demais
Norte pela floresta Atlântica, ao Sul e a Leste pelos pampas. membros do grupo social. Qual a função social da or-
denação regulada das relações entre
Questão 20 os homens?
O Campo ético é constituído por valores e obrigações
que formam o conteúdo das condutas morais (virtudes), a) O intuito é de proporcionar uma nova ordem social,
que são realizadas pelo sujeito moral. Assinale qual das op- preservando a sociedade, bem como a integridade de um
ções abaixo não corresponde as condições do sujeito ético grupo social.
ou moral: b) O intuito é de sustentar ou transformar uma deter-
minada ordem social, preservando
a) Ser passivo. a sociedade, bem como a integridade de um grupo
b) Ser livre. social.
c) Ser consciente. c) O intuito é de permitir pequenas transformações
d) Ser ativo. que possam ocorrer fazendo que haja mudança de classe
e) Ser responsável social.

54
GEOGRAFIA DE MATO GROSSO

d) O intuito é fazer com que cada indivíduo do grupo Questão 27


possa ser sua própria natureza. (UEMS) Localize-se no espaço em que você está in-
e) Não há uma função social que regule as relações serido e responda à proposição verdadeira, sobre o estado
entre os homens. de Mato Groulsso :
a) está ocupando uma área que faz limites ao norte
Questão 25 com os estados de Minas Gerais, Mato Grosso e Goiás. b)
Na organização agrária Região Centro-Oeste: está ocupando uma área que limita-se ao sul com os esta-
dos de São Paulo, Paraná e com o Paraguai.
a) predomina minifúndio de área abaixo de 5 hecta- c) está ocupando uma área que limita-se ao norte com
res, representando um dos grandes problemas da posse o estado de Mato Grosso e ao Sul com Paraguai e Paraná.
da terra; d) está ocupando uma área que limita-se a oeste com
b) encontramos elevados índices de área de lavou- Paraguai, ao norte com Minas Gerais e Mato Grosso e ao
ra ocupando terras não cultivadas numa das proporções sul com o Paraná.
mais baixas do país; e) está ocupando uma área que limita-se ao norte com
c) desenvolve-se um sistema agrícola que con- Mato Grosso, a oeste com São Paulo, ao Sul com Paraguai
centra no mesmo espaço culturas especializadas em e a noroeste com a Bolívia.
extensas propriedades;
d) é alta a proporção de estabelecimentos com mais
Questão 28
de 10.000 hectares, onde dominam principalmente ativi-
(UFMT) Na década de 70, o norte de Mato Grosso se
dades pecuárias;
e) nota-se grande diferença na estrutura fundiária, constituía no “paraíso privado” das empresas colonizadoras
havendo um equilíbrio na área ocupada pelos médios do país. Avalie os itens abaixo:
e pequenos proprietários; a) O processo de ocupação do norte de Mato Grosso
foi dirigido pela colonização particular e acentuou milhares
Questão 26 de colonos conhecidos como “sem terra”.
(UNIC) São representadas citações que caracterizam deter- b) A construção da Rodovia Cuiabá-Santarém estimu-
minadas lutas políticas armadas em Mato Grosso. Analise-as: lou a ocupação do norte de Mato Grosso, e recebeu um
I-“Em 1916, Caetano de Albuquerque, governador do enorme contingente de colonos vindos do sul do país.
Estado, eleito pelo Partido Republicano Conservador, recu- c) A colonização dirigida, sob o controle do INCRA, re-
sou-se a submeter as injunções da política dos chefes dos cebeu o total apoio político e econômico do governo mili-
partidos. A partir de então, passou a sofrer ferrenha opo- tar, sendo por isso considerada como bem sucedida.
sição dos partidários do coronel Azevedo (chefe maior da d) A ocupação da Amazônia, e em especial a do norte
agremiação). Isso levou o governador a ingressar no Parti- do Mato Grosso, foi estimulada por discussões governa-
do Republicano Mato –Grosssense. Iniciou-se assim a luta mentais que privilegiaram os interesses dos pequenos pro-
armada.” (Alves, Louremberg. Qualquer semelhança não é prietários rurais.
mera coincidência. Diário de Cuiabá, 7 de janeiro, 1977, A5) e) Os incentivos fiscais e créditos oficiais para os pro-
II- “Paralelamente á luta armada, ocorreu o embate jetos agropecuários da Amazônia não beneficiaram os em-
jurídico. È que os deputados estaduais oposicionista...de- presários que investiram na região norte de Mato Grosso.
cretaram a cassação do mandato de Caetano de Albuquer-
que e ao mesmo tempo, empossaram Manuel Escolástico Questão 29
Virgínio no cargo de governador. A partir de então, Mato (UFMT) Os itens referem-se ao Mato Grosso republi-
Grosso passou a contar com dois governadores.” (Alves, cano, julgue-os:
Louremberg. Qualquer semelhança é mera coincidência. ( )A política de colonização empreendida por Getulio
Diário de Cuiabá, 7 de janeiro, 1977, A5.)
Vargas, conhecida como “Marcha para o Oeste”promoveu,
III-“Frente a este clima de convulsão a que passava o
inclusive, a montagem de Colônias Agrícolas, entre elas a
Estado, vítima da fortíssima oposição desencadeada pelos
de Dourados, hoje no Mato Grosso do Sul.
membros do Partido Republicano, o governador Antonio
Pedro criou a “Divisão Patriótica” com a finalidade de que ( ) Desde o final do século XIX, o conceito de moder-
a mesma pudesse garantir a tranqüilidade de Mato Grosso, nidade assimilado pela elite brasileira incorporava a idéia
e conseqüentemente, o sucesso das medidas previstas no de que entre as nações não deveria existir diferenças nem
novo programa do governo de Campos Sales. Coube a Totó barreiras. Com esse objetivo, Candido Rondon Assumiu a
Paes comandar essa divisão que principiou seus trabalhos tarefa da construção das linhas telegráficas.
com a perseguição às forças oposicionistas.” (Madureira, resposta: V,V
Elizabeth, Processo Histórico de Mato Grosso). Assinale a
alternativa que faz referencia a Caetanada: Questão 30
(UFMT) Sobre a colonização de Mato Grosso no século
a) Somente a I XX, assinale a alternativa incorreta:
b)somente a III. a) Getulio Vargas implantou a “Marcha para o Oeste”,
c)Somente as citações I e II. que visava instalar em Mato Grosso os sulistas.
d)somente as citações I e III. b) A Colônia De Dourados foi um projeto de coloniza-
e)Todas as citações se referem a Caetanada. ção que instalou os sulistas em Mato Grosso.

55
GEOGRAFIA DE MATO GROSSO

c) Na década de sessenta ocorreu um crescimento II- O Estado Novo para se legitimar perante a opinião
populacional em Mato Grosso, em função da colonização publica criou o DIP, que ficou encarregado de cuidar da
particular. propaganda do governo, da censura e de organizar come-
d) SUDAM e SUDECO foram projetos governamentais morações oficiais.
que instalaram o pequeno produtor em Mato Grosso. III- Durante a ditadura, Vargas nomeou para gover-
e) Em Mato Grosso, a colonização dirigida pelas em- nar os Estados, os interventores federais. Para Mato Gros-
presas particulares fez surgir várias cidades no Estado. so indicou Julio Muller, que promoveu na sua administra-
ção transformações no espaço urbano de Cuiabá criando
Questão 31 a Casa dos Governadores, o Liceu Cuiabano, a Academia
(UEMS) Sabe-se que o Trópico de Capricórnio passa Mato-grossense de Letras e a Avenida Getulio Vargas. IV-
pelo Chile. Se pudéssemos caminhar andando “sobre” essa Na década de 50, demonstrando uma de suas principais
linha. No sentido leste, ao sair do território Chileno passar- características, o nacionalismo, Vargas criou a Petrobrás
-se-ia até chegar ao Oceano Atlântico, em ordem, pelos garantindo ao governo brasileiro a pesquisa e exploração
seguintes países e estados brasileiros: do petróleo.

a) Argentina, Paraguai, Mato Grosso do Sul, Paraná e a) I,II,III,IV são corretas.


São Paulo. b) Paraguai, Mato Grosso do Sul e São Paulo. b) I,II e III são corretas.
c) Argentina, Paraguai, Paraná e São Paulo. c) I, II e IV são corretas.
d) Argentina, Paraguai, Uruguai, Mato Grosso do Sul e d) I e II são corretas.
Chile. e) Bolívia, Paraguai, Paraná e São Paulo. e) II e IV são corretas.
Questão 32
Questão 34
(Concurso da Secretaria de Segurança Pública) O go-
(Simulado- Gazeta) “Quem vive ao longo da linha Ron-
verno federal não resistindo ao secular anseio divisionista
don facilmente se julgaria na Lua. Imagine-se um território
da população e das lideranças políticas do sul, através da
do tamanho da França, três quartos inexplorados; percor-
Lei Complementar Nº31 de 11 de outubro de 1977, divide
o território mato-grossense e criou o Estado de Mato Gros- rido somente por pequenos bandos de nômades e atra-
so do sul. Assinale a opção que apresenta o presidente da vessado de ponta a ponta por uma linha de telegráfica.”
Republica que assinou a lei e o governador de Mato Grosso (Lévi-Strauss, Claude. Tristes Trópicos.) A citação acima faz
no momento da divisão e o primeiro governador de Mato alusão as linhas telegráficas construídas durante a Primeira
Grosso após a divisão. República e que teve a frente de sua direção Candido Ma-
riano Rondon. Sobre a Comissão Rondon e as linhas tele-
a) General João Batista Figueiredo, José Garcia Neto e gráficas, podemos considerar como incorreta a alternativa:
José Fontanilhas Fragelli.
b) General Ernesto Geisel, José Garcia Neto, José Fon- a) No inicio do século XX, o Mato Grosso e o Amazonas
tanilhas Fragelli. ainda eram vistos como regiões atrasadas e vazias.
c) General João Batista Figueiredo, Frederico Carlos b) Para o governo republicano, a construção das linhas
soares de Campos e José Garcia Neto. d) General João Ba- telegráficas representava a ocupação e integração do oeste
tista Figueiredo, José Garcia Neto e Frederico Soares de brasileiro.
Campos. c) As idéias positivistas marcaram a ação da Comissão
e) General Ernesto Geisel, José Garcia Neto e Frederico Rondon.
Carlos Soares de Campos. d) Foi nesse contexto, que o governo republicano deu
inicio a uma política voltada para o índio, criando o Serviço
Questão 33 de Proteção ao Índio(SPI).
(Simulado Gazeta) Em 1937, através de um golpe de e) O trabalho na Comissão Rondon foi desempenhado
Estado, Getúlio Vargas implantou uma ditadura no país. exclusivamente pelos índios, sob o comando de Rondon.
Com a intenção de reforçar o poder de Vargas, a ditadu-
ra estadonovista investiu na propaganda propiciando para Questão 35
que o mito Vargas chegasse ao seu apogeu. Em 1954, o (UNIVAG) Na década de 70 e 80, o governo ditato-
suicídio de Vargas parou o país, imobilizou os seus inimigos rial iniciou uma política de expansão agrícola, que tinham
e reforçou mais ainda Getulio como um grande mito polí-
como um dos seus objetivos a retomada do desenvolvi-
tico. Decorridos cinqüenta anos de sua morte, observamos
mento da região Centro-Oeste e Norte. A respeito deste
que esse acontecimento continua a ser relembrado e re-
contexto histórico é incorreto afirmar que:
forçado pelos inúmeros mecanismos da memória. Baseado
a) os projetos de colonização estavam inseridos no Pla-
em seus conhecimentos sobre o período getulista, assinale
a alternativa correta. I- Getulio Vargas inaugurou no Brasil no de Integração Nacional.
um novo tipo de dominação política, isto é, o populismo, b) Para a expansão da fronteira agrícola, o governo
que consistiu no aliciamento e manipulação das massas federal criou linhas de credito nas instituições financeiras
populares. federais.

56
GEOGRAFIA DE MATO GROSSO

c) Os colonizados eram provenientes principalmente a) Massacre da Baía do Garcez.


da região sul do país. b) Caetanada.
d) A construção de rodovias na região centro-oeste e c) Morbeck e Carvalhino.
norte eram vitais para o sucesso dos projetos de coloniza- d) Tanque Novo.
ção. e) revolta de 1892
e) A colonização do norte de Mato Grosso amenizou
os conflitos sociais no campo, uma vez que esses projetos Questão 40
favoreciam a distribuição de pequenos lotes de terra. Assinale a alternativa incorreta a respeito do governo
Questão 36 de Totó Paes de Barros:
(UNIVAG) Ao final do século XIX, a dimensão territorial
de Mato Grosso já representava um empecilho aos seus a) Foi responsável por levar os produtos mato-gros-
administradores. Ao entrarmos no século XX, o anseio pela senses a Exposição Internacional de Saint-Louis.
divisão do Estado cresceu no sul de Mato Grosso. No pe- b) Tinha como base de sustentação política Joaquim
ríodo Vargas, durante a Revolução Constitucionalista, o sul Murtinho.
de Mato Grosso chegou a se separar adotando o nome de c) Editou a revista O Archivo na qual há a reconstituição
Estado do Maracaju, entretanto a vitória das forças getulis- histórica de Mato Grosso.
tas abafou os ideais de separação, que voltariam intensa- d) Estimulou o comercio dos produtos do extrativismo
mente no governo ditatorial. Assim a divisão do Estado de vegetal produzidos no Estado, como a erva-mate, a poaia
Mato Grosso foi concretizada pelo presidente: e a borracha. e)A sua decadência política aconteceu na Re-
volta de 1906.
a) Figueiredo
b) Castelo Branco. Questão 41
c) Médici. A respeito da Comissão Rondon, assinale al alternativa
d) José Sarney.
correta:
e) Ernesto Geisel.
I- A Comissão Rondon tinha como objetivo interligar
o território brasileiro através da construção das linhas te-
Questão 37
legráficas.
A respeito do período republicano em mato Grosso,
II- O Sistema adotado pela Comissão era do telegrafo
é valido afirmar que: I- O Partido Republicano foi funda-
a fio, transmitido através do Código Morse.
do oficialmente em Mato Grosso em agosto de 1888. Seus
III- Para realizar a construção do telegrafo, a expedição
partidários chegaram a fundar o jornal A República que
Rondon contou com a participação de botânicos, médicos,
teve uma curta duração. II- Antonio Maria Coelho foi no-
meado como o primeiro governador do Estado de Mato engenheiros, sanitaristas, fotógrafos, presos civis e índios.
Grosso. III- Os primeiros anos da republica em Mato Grosso
foi marcado pela tranqüilidade política. Na verdade, a opo- a) Todas as afirmações são corretas.
sição política iria surgir somente a partir da década de 20. b) Somente a II está correta.
c) Somente a I e III estão corretas.
a) Somente a I está correta. d) Somente a II e a III estão corretas. e) Somente a III
b) Somente a I e II estão corretas. está correta.
c) Somente a II e III estão corretas.
d) Somente a I e III estão corretas. Questão 42
e) Somente a II é correta. Nos primeiros anos da década de 30 aconteceu em
Poconé, o movimento social chamado de Tanque Novo.
Questão 38 A respeito deste movimento social, é errado afirmar que:
Em 1891 foi promulgada a primeira Constituição de
Mato Grosso. A seguir, a Assembléia Constituinte elegeu a) Teve a frente Laurinda Lacerda Cintra que era conhe-
para conduzir o governo do Estado: cida em toda a região por Doninha.
a) Antonio Correa da Costa. b) Doninha e sua gente foi perseguida pelo interventor
b) Generoso Paes Leme de Souza. federal Antonio Mena Gonçalves.
c) Manuel José Murtinho. c) Foi um movimento político e estava relacionado as
d) Pedro Celestino. eleições para a Assembléia Constituinte em 1933.
e) Delfino Augusto de Figueiredo. d) Esteve intimamente associado a Vargas. e) Doninha
fazia oposição a Vargas em Poconé.
Questão 39
No inicio do governo oligárquico ocorreu um movi- Questão 43
mento social que expressa claramente a disputa política Em 1945 com a deposição de Vargas chegava ao fim o
entre os coronéis da região e que representou a “política Estado Novo. Ao mesmo tempo, a democracia retornava
dos governadores” em Mato Grosso. Estamos nos referin- ao país. Sobre esse contexto histórico, assinale a alternativa
do a que movimento social? correta:

57
GEOGRAFIA DE MATO GROSSO

a) A UDN representação os anseios da burocracia es- GABARITO


tadonovista e tinha no Dr. Agrícola Paes de Barros um dos
seus principais representantes. 1 A\B   24 A
b) O PTB foi fundado em Mato Grosso por Vespasiano
Martins e contou com a adesão maciça da massa operaria. 2 C   25 C
c) O PCB se destacou em Cuiabá ao receber o apoio 3 B   26 C
dos grêmios estudantis. 4 D   27 C
d) Nesse período observa-se o crescimento político do
sul do Estado. 5 B   28 B
e) A entrada em um regime democrático foi favorecido 6 A   29 V, V
pelo fim do poder das oligarquias.
7 D   30 D
Questão 44 8 A   31 A
Com o fim da ditadura tomou posse no governo do 9 E   32 E
Estado o desembargador Olegário Moreira de Barros que
conduziu as eleições. Para o governo do Estado foi eleito 10 A   33 C
Arnaldo Estevão de Figueiredo. A respeito da sua adminis- 11 D   34 E
tração, todas as afirmações estão corretas, exceto: 12 A   35 E
a) Foi eleito pela coligação partidária PSD/PTB. 13 V, F, V   36 E
b) No seu governo foi estimulada a colonização de 14 A   37 B
Mato Grosso. 15 E   38 C
c) Patrocinou a construção de varias estradas criando a
Comissão Estadual de Estradas de Rodagem (CER). 16 A   39 A
d) Estimulou a construção no sul do estado da Ferrovia 17 F,V,F,V   40 B
Noroeste do Brasil.
18 A   41 A
Questão 45 19 E   42 B
O primeiro governador de Mato Grosso eleito pelo 20 A   43 D
voto direto ao final do governo militar foi:
21 A   44 D
a) Frederico Campos. 22 2, 4   45 B
b) Julio José de Campos. 23 V,F,V   46 V,V,V,V
c) José Garcia Neto.
d) Dante de Oliveira.
e) Fernando Correa da Costa

Questão 46
Avalie os itens abaixo:
( ) O rasqueado é uma dança de origem africana e é
dançada com freqüência nas regiões de cultivo de cana-
-de-açúcar como Santo Antonio do rio Abaixo.
( ) Em Vila Bela, a Dança do Congo ou Dança do Cho-
rado é uma oferenda aos santos negros.
( ) As touradas eram realizadas no Campo do Ourique,
na cidade de Cuiabá e consistia em uma homenagem ao
Divino Espírito Santo.
( )Nas Cavalhadas seus participantes representam a
luta travada entre os cristãos e os mouros na Península Ibé-
rica. São apresentadas em Cáceres e Poconé.

58
GEOGRAFIA DE MATO GROSSO

EXERCÍCIOS COMPLEMENTARES A) permanece a disputa de poder entre leste e oes-


SOBRE: GEOGRAFIA te, conheci- da como “guerra fria”.
B) o muro de Berlim ainda está de pé, marcando a
divisão entre ocidente e oriente, capitalismo e socialis-
1. (PM/SP – SOLDADO DE POLICIA MILITAR – mo.
VUNESP/2013) - Os países conhecidos como BRICS já C) a união soviética é parte do G20 – o grupo de 20
deixaram para trás o status de economias emergentes países mais poderosos do mundo.
e precisam ser vistos como uma categoria à parte. Dois D) as questões ambientais já estão no centro da
BRICS, China e Brasil, já estão entre as sete maiores eco- agenda mundial e seduziram novas gerações.
nomias do planeta, com outros dois muito próximos na E) os direitos humanos mostraram-se “privilégios
lista. de bandidos”.
(http://economia.uol.com.br. Adaptado)
A Conferência das Nações Unidas sobre Desen-
Sobre os BRICS, é correto afirmar que volvimento Sustentável(CNUDS), conhecida também
A) a Índia e a Rússia são dois componentes dos como Rio+20, foi uma conferência realizada entre os dias
BRICS que se destacam mundialmente pelo crescimen- 13 e 22 de junho de 2012 na cidade Brasileira do Rio de
to econômico e elevado PIB (produto interno bruto). Janeiro, cujo objetivo era discutir sobre a renovação do
B) o poder econômico desse bloco permite que seus compromisso político com o desenvolvimento sustentável.
membros deixassem de fazer parte de outros blocos, a Considerado o maior evento já realizado pela Nações
Unidas, o Rio+20 contou com a participação de chefes de
exemplo do Brasil que está se retirando do MERCOSUL.
estados de cento e noventa nações que propuseram mu-
C) a África do sul e a indonésia, antigos países for-
danças, sobretudo, no modo como estão sendo usados os
madores do bloco, foram substituídas por China e Rús-
recursos naturais do planeta.Além de questões ambientais,
sia que apresentam crescimento econômico mais rápi-
foram discutidos, durante a CNUDS, aspectos relacionados
do.
a questões sociais como a falta de moradia e outros.
D) a capacidade econômica dos BRICS já tem produ-
O evento ocorreu em dez locais, tendo o Riocen-
zido transformações no mundo capitalista, entre elas, a
tro como principal local de debates e discussões; entre
reforma do FMI (fundo monetário internacional).
os outros locais, figuram o Aterro do Flamengo e oMuseu
E) os quatro países que o compõem possuem eleva- de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Além disso, viraram o
da população, um dos fatores determinantes do forte centro da agenda mundial, seduzindo novas gerações para
crescimento econômico que apresentam. a consciência ecológica. Nessa parte da história, assuntos
O  BRICS  é um agrupamento econômico atualmente como “Guerra Fria” e “União Soviética” já haviam sido es-
composto por cinco países: Brasil,  Rússia,  Índia,  China e quecidos.
África do Sul. Não se trata de um bloco econômico ou uma
instituição internacional, mas de um mecanismo interna- RESPOSTA: “D”.
cional na forma de um agrupamento informal, ou seja, não
registrado burocraticamente com estatuto e carta de prin- 3.(UERJ – VESTIBULAR – UERJ/2013) –
cípios. Durante a V Cúpula do BRICS, em 27 de Março de
2013, os países do eixo decidiram pela criação de um Banco
Internacional do grupo, o que desagradou profundamente
os Estados Unidos e a Inglaterra, países responsáveis pelo
FMI e Banco Mundial, respectivamente. A decisão sobre
o banco do BRICS ainda não foi oficializada, mas deve se
concretizar nos próximos anos. A ideia é fomentar e garan-
tir o desenvolvimento da economia dos países-membros
do BRICS e de demais nações subdesenvolvidas ou em de-
senvolvimento.

RESPOSTA: “D”.

2.(PM/SP – OFICIAL DE POLICIA MILITAR – VU-


NESP/2012) - A ECO-92 trouxe de inédito a emergên-
cia de uma vigorosa sociedade civil e de organizações
não governamentais em torno da criação de uma nova
consciência ecológica. Nessa frente de luta, temas O gasto militar é um dos indicadores do poder dos
como a Guerra Fria foram substituídos pelas preocu- países no cenário internacional em um dado contexto
pações ambientais e pela defesa dos Direitos Humanos. histórico. Com base na análise dos dois gráficos, pode-
20 anos depois, durante a Rio+20, notou-se que -se projetar a seguinte alteração na atual ordem geo-
política mundial:

59
GEOGRAFIA DE MATO GROSSO

A) eliminação de conflitos atômicos enunciado sobre Pequim. Por fim, deve-se esclarecer que
B) declínio da supremacia europeia o Himalaia fica muito distante de Pequim, a mais de 3000
C) superação da unipolaridade bélica quilômetros, não tendo influência sobre os problemas de
D) padronização de tecnologias de defesa poluição da capital chinesa.

O fato de haver mais de um país detentor de bomba RESPOSTA: “D”.


atômica não nos permite eliminar a possibilidade de con- 5.(IF/SP – VESTIBULAR – IF/2013) –
flitos atômicos, mesmo em tempos de paz. Nos dias atuais,
países como Estados Unidos, França, China e Israel pos-
suem bombas atômicas. A alternativa (A) está incorreta.
A alternativa (B) está incorreta, pois, em termos de gas-
tos militares, a Europa já está bem atrás dos Estados Uni-
dos há bastante tempo. Por isso, alguns defendem que a Sobre as cidades globais é correto afirmar que
segunda metade do século XX foi de unipolaridade bélica. A) tornam-se cada vez mais autossuficientes, prin-
Ainda assim, cinco dos países mostrados no gráfico são cipalmente no que se refere ao abastecimento alimen-
europeus e a importância política e econômica da Europa tar de seus habitantes.
ainda é bastante significativa.  B) estão associadas a uma grande capacidade eco-
A alternativa (C) está correta, pois, com a ascensão da nômica e financeira que lhes permite polarizar espaços
China como possível potência bélica, respaldada pelos gas- nacionais e internacionais.
tos militares crescentes, os Estados Unidos deixariam de C) possuem forte dinamismo político e econômico,
ser o único país com excesso de poder em termos militares, o que lhes garante inclusão social, fato que não se repe-
comparativamente aos demais Estados do mundo. te nas megalópoles e megacidades.
A alternativa (D) está incorreta, pois o fato de a China D) apresentam uma organização das atividades
estar se aproximando dos Estados Unidos em termos de produtivas voltadas, principalmente, aos interesses
gastos militares não significa necessariamente uma padro- econômicos da região em que se localizam.
nização da tecnologia de defesa.  E) concentram elevado grau de tecnologia em di-
ferentes setores científicos, o que as torna isentas de
RESPOSTA: “C”. problemas naturais ou ambientais.

4.(IF/SP – VESTIBULAR – IF/2013) – Em janeiro de Apesar de as cidades globais serem espaços onde se
2013, Pequim, a capital da China, viveu uma das mais pode encontrar praticamente tudo em termos de serviços
sérias crises de poluição já registradas no país e no e produtos, elas geralmente não são autossuficientes em
mundo. Contribuiu para esse elevado nível de poluição relação ao abastecimento alimentar de seus habitantes,
A) o forte crescimento da cidade, que já ultrapas- dependendo do fornecimento de alimentos de produtores
sou os 30 milhões de habitantes. agropecuários, os quais, em regra, não se situam nessas
B) a proximidade com o Himalaia, que dificulta a cidades, mas em zonas rurais ou cidades menores. A alter-
circulação do ar atmosférico. nativa (A) está incorreta.
C) o predomínio do transporte individual, movido a A alternativa (B) está correta, pois as cidades globais
combustíveis fósseis. são, de fato, caracterizadas por grande capacidade econô-
D) a queima de carvão mineral nas termelétricas, a mica e financeira, ligando-as a outras cidades globais do
principal fonte de energia do país. mundo. A presença de grandes bancos, empresas e bolsa
E) a ocorrência de furacões que transportam areia de valores nessas cidades ilustram o que foi dito na afir-
das áreas desérticas ao oeste do país. mativa.
A alternativa (C) está incorreta porque a questão do
O fato de uma cidade ter população muito grande cola- dinamismo político é questionável, uma vez que existem
bora para o aumento da poluição, mas, no caso de Pequim, cidades globais em países ditatoriais onde não há grande
o maior problema se refere à matriz energética usada no dinamismo político. Além disso, é incorreto afirmar que,
país com mais intensidade: termelétrica. Esse tipo de fonte nessas cidades, há inclusão social de maneira ampla. Em
de energia é considerado sujo justamente porque tem o quase todas as cidades globais, existem camadas da so-
condão de gerar muita poluição atmosférica, uma vez que ciedade que são desfavorecidas econômica e socialmente.
a energia é gerada por meio da combustão/queima de car- A alternativa (D) está errada, pois, como o próprio
vão mineral ou outros recursos naturais fósseis, o que se nome revela, as cidades são globais e, portanto, apresen-
transforma em uma fumaça poluente e tóxica para os seres tam interesses econômicos globais, e não limitados à re-
vivos. Até 2010, aproximadamente 90% da matriz energé- gião onde se localizam.
tica do país era poluente, baseada em carvão ou petróleo. A alternativa (E) está incorreta, pois o fato de concen-
Nos dias atuais, a China tem se esforçado para limpar sua trarem alto grau de tecnologia em diversas áreas não isen-
matriz energética, por meio de investimentos em fontes de ta as cidades globais de problemas naturais ou ambientais.
energia renováveis, mas a maior parte de sua energia ainda Pelo contrário, por serem espaços drasticamente modifi-
é bastante poluente, o que explica a situação exposta no cados pelo homem, vários problemas costumam ocorrer,

60
GEOGRAFIA DE MATO GROSSO

como alto nível de poluição do ar, do mar e dos rios locais, Geralmente não existe política específica para a cons-
enchentes pela impermeabilização artificial do solo com trução de habitações para absorver a população oriunda
asfalto, dentre outros.  da zona rural e, mesmo que houvesse, isso pode ser feito
em cidades de qualquer porte, e não somente em metró-
RESPOSTA: “B”. poles. Ademais, a presença desse tipo de construção não
é uma das características da metrópole.  A alternativa (A)
6.(CESPE – VESTIBULAR – UNB/2013) – está incorreta.
A alternativa (B) está incorreta, pois metrópoles costu-
mam ter grandes avenidas perimetrais e radiais, mas essa
não é uma condição para que uma cidade seja considerada
metrópole.
A alternativa (C) está correta. Uma das principais ca-
racterísticas de uma metrópole é o fato de ela exercer in-
fluência em sua região e nas cidades localizadas no seu
entorno. Para que essa influência seja efetiva, a metrópole
precisa contar com infraestrutura complexa (ser ligada a
grandes rodovias, possuir aeroporto e outras infraestrutu-
O modelo de geração de energia do mundo atual ras relacionadas a outros modais de transporte). Além dis-
é dependente de recursos energéticos não renováveis, so, é fundamental que uma metrópole ofereça uma gama
como o petróleo, o carvão mineral e o gás natural, uti- variada de serviços (saúde, educação, finanças, lazer, etc.),
lizados, em larga escala, na geração de energia elétrica pois é isso que faz com que a metrópole atraia populações
e de combustíveis. A dependência de fontes de energia de outras localidades.  
tradicionais gera a crise energética global, que é tam- A alternativa (D) está incorreta, pois a revitalização de
bém uma crise do conceito de desenvolvimento adota- centros históricos e do sítio urbano pode ser feita em cida-
do a partir da Revolução Industrial. des de qualquer porte. Tiradentes e Ouro Preto, em Minas
A respeito do assunto tratado acima, julgue os itens Gerais, por exemplo, são cidades pequenas e perfeitamen-
a seguir. te passíveis de passarem por processos de revitalização ou
Em bolsas de mercadorias internacionais, petróleo, conservação, uma vez que são cidades históricas.  
carvão mineral e gás natural são commodities.
A) Certo RESPOSTA: “C”.
B) Errado
8.(PM/MG – SOLDADO DA POLICIA MILITAR –
O termo commodity é utilizado para designar produtos CRSP/2013) - A ideia de desenvolvimento sustentável
homogêneos, que não são diferenciados de acordo com tem sido cada vez mais discutida junto às questões que
o produtor. Eletrodomésticos, carros, bebidas são produ- se referem ao crescimento econômico.” De acordo com
tos diferenciados por marca, meio de produção, tecnologia esse conceito, marque a alternativa CORRETA que ca-
empregada, além de diversos outros fatores. No caso das racteriza a ideia de desenvolvimento sustentável.
commodities, não há essa diferenciação, de modo que o A) são as riquezas acumuladas nos países ricos em
preço dos produtos é dado de forma homogênea e cos- prejuízo das antigas colônias, durante a expansão colo-
tuma valer para todos os países inseridos na economia de nial, que devem, hoje, sustentar o crescimento econô-
mercado. Exemplo de commodities são o petróleo, a soja, mico dos povos.
minério de ferro, dentre outros. B) o meio ambiente é fundamental para a vida hu-
mana e, portanto, deve ser intocável.
RESPOSTA: “A”. C) os países subdesenvolvidos são os únicos que
praticam esta ideia, pois, por sua baixa industrializa-
7.(PM/MG – SOLDADO DA POLICIA MILITAR – ção, preservam melhor o seu meio ambiente do que os
CRSP/2013) - A metrópole é o lugar em que se dão su- países ricos.
cessivas adaptações do espaço urbano com o objetivo D) se deve buscar uma forma de progresso socioe-
de atender às exigências do mundo moderno, o que a conômico que não comprometa o meio ambiente sem
distingue de quaisquer outras cidades. que, com isso, deixemos de utilizar os recursos nele dis-
Marque a alternativa CORRETA que identifica a dis- poníveis.
tinção entre as metrópoles e as outras cidades.
A) construção de habitações para absorver a popu- Em 1987, surgiu o termo desenvolvimento sustentá-
lação oriunda da zona rural. vel, no Relatório Brundtland, que passou a ser conhecido e
B) construção de grandes avenidas perimetrais e ra- usado frequentemente a partir Conferência ambiental Eco
diais que cruzam a cidade. 92, ocorrida no Rio de Janeiro em 1992. Segundo esse re-
C) implantação de infraestruturas e serviços que in- latório, desenvolvimento sustentável é conceituado como
terligam e polarizam vários centros urbanos. “o desenvolvimento que procura satisfazer as necessidades
D) revitalização do sítio urbano e dos centros histó- da geração atual, sem comprometer a capacidade das ge-
ricos para preservar a memória urbana. rações futuras de satisfazerem as suas próprias necessida-

61
GEOGRAFIA DE MATO GROSSO

des, significa possibilitar que as pessoas, agora e no futuro, B) pelo aumento do consumo de energia em todo
atinjam um nível satisfatório de desenvolvimento social e os país nos meses de inverno, época em que as pessoas
econômico e de realização humana e cultural, fazendo, ao ficam mais em suas residências.
mesmo tempo, um uso razoável dos recursos da terra e C) pelas constantes interrupções no sistema nuclear
preservando as espécies e os habitat naturais”.  de angra i e ii, em virtude da falta de investimentos em
tecnologia para o setor.
RESPOSTA: “D”. D) pelas descoberta das jazidas de petróleo da ca-
mada do pré-sal que, exploradas economicamente, po-
9.(PM/MG – SOLDADO DA POLICIA MILITAR – derão abastecer de óleo as termoelétricas do sudeste.
CRSP/2013) - “A revolução tecnológica dos meios de A maior parte da energia Brasileira é proveniente de
transporte ocasionou o chamado “encolhimento do matriz hidrelétrica (cerca de 85%), que é considerada uma
mundo”. Marque a alternativa CORRETA que exempli- fonte limpa e ecologicamente correta, sobretudo no que
fica a frase “encolhimento do mundo”. tange ao aspecto de emissões de gases de efeito estufa.
A) as possibilidades de comunicação entre as na- Entretanto, as hidrelétricas necessitam, como se pode infe-
ções facilitaram os acordos comerciais e financeiros que rir do nome, de água para seu funcionamento. Dessa forma,
reduziram as diferenças econômicas entre os países. quando há estiagem prolongada e diminuição expressiva
B) a abolição de barreiras espaciais permitiu o livre dos reservatórios de água das usinas hidrelétricas, a pro-
fluxo de populações, sobretudo em função do acesso dução de energia fica comprometida. Em 2010, houve uma
ao mercado de trabalho, em diferentes regiões do pla- estiagem muito forte, o que obrigou a operadora nacional
neta. do sistema de energia requerer a elevação da produção
C) a ampliação do intercâmbio de informações en- de energia nas usinas termelétricas, que não dependem de
tre diferentes povos e regiões do planeta promoveu água para gerar energia. Esse tipo de matriz é mais caro e
uma única e homogênea aldeia global de trocas igua- mais poluente, mas, na situação em que o país se encon-
litárias. trava em 2010, não houve alternativa. Em tempos normais,
D) a redução do tempo de deslocamento entre os aproximadamente 13% da energia gerada no Brasil é de
lugares foi fundamental para a expansão planetária da matriz termelétrica.
produção e circulação das mercadorias sob a égide do
capitalismo. RESPOSTA: “A”.

“Encolhimento do mundo” não significa que o planeta 12.(COMPERVE – VESTIBULAR – UFRN/2012)-Os


se tornou, efetivamente, menor do que era. Essa expressão países localizados na região denominada África do
significa que, com o desenvolvimento de tecnologias que Norte apresentam características que os diferenciam
permitem o transporte e a comunicação entre os mais di- dos países situados na África Subsaariana.
versos lugares do mundo de forma eficaz e rápida, as dis- Entre as características dos países da África do Nor-
tâncias diminuíram. Uma viagem da Europa ao Brasil no te, destaca-se a
início do século XX, por exemplo, poderia levar mais de A) existência dos mais baixos indicadores socioeco-
um mês. Nos dias de hoje, contudo, a viagem leva algu- nômicos do continente.
mas horas. Nesse sentido, mesmo que as distâncias físicas B) economia em que prevalece a exportação de
mantenham-se iguais, o tempo para percorrê-las diminuiu produtos agrícolas.
significativamente, o que levou ao desenvolvimento da C) diversidade étnica e predomínio de religiões que
produção e do comércio mundiais.  cultuam a natureza.
D) predominância da população árabe e adepta da
RESPOSTA: “D”. religião islâmica.

10.(PM/RJ – OFICIAL DE POLICIA MILITAR – A ocorrência dos mais baixos indicadores socioeco-
IBFC/2012) – A ONS (Operador do Sistema Nacional de nômicos do continente africano é na África subsaariana, e
energia) manda triplicar geração de usinas termelétri- não no Norte da África. A alternativa (A) está incorreta. A
cas” A partir de amanhã, o sistema elétrico Brasileiro alternativa (B) está incorreta, uma vez que a exploração de
voltará a gerar mais energia de termelétricas – mais po- hidrocarbonetos, como petróleo, e da mineração constitui
luente e com um custo mais alto, que é repassado para uma das principais atividades da região, especialmente de
as contas de luz dos consumidores (...) A produção pas- países como a Argélia e a Líbia. A alternativa (C) está in-
sará de 700 MW para 2.000 MW. (...) O uso das térmi- correta. A etnia é predominantemente árabe e a religião é
cas que estava concentrado no Nordeste será estendido majoritariamente muçulmana, e não religiões que cultuam
para o Sul e para o Sudeste.” a natureza. A alternativa (D) está correta, como foi visto
Fonte: O Globo, 04 de junho de 2010. na explicação acima. A população negra, comumente as-
A justificativa da elevação da produção de energia sociada ao continente africano, localiza-se predominante
em termoelétricas por parte do operador nacional do nos países da região subsaariana, e não no Norte da África,
sistema se justifica: onde a influência árabe predomina desde o início da ex-
A) pela estiagem que pode diminuir os reservató- pansão islâmica, ainda no século VIII.
rios das hidroelétricas para o verão comprometendo a
produção. RESPOSTA: “D”.

62
Secretaria de Estado de Educação, Esporte e Lazer
Do Estado de Mato Grosso

SEDUC-MT
Técnico Administrativo Educacional
Volume II
Edital Nº 01/2017 - 03 de Julho de 2017
JL018-B-2017
DADOS DA OBRA

Título da obra: Secretaria de Estado de Educação, Esporte e Lazer do Estado de Mato Grosso
- SEDUC-MT

Cargo: Técnico Administrativo Educacional

(Baseado no Edital Nº 01/2017 - 03 de Julho de 2017)

Volume I
• Língua Portuguesa
• Noções de Informática
• Legislação Básica
• História do Estado do Mato Grosso
• Geografia do Estado do Mato Grosso

Volume II
• Noções de Administração Pública
• Noções de Ética e Filosofia
• Políticas Públicas da Educação
• Redação Oficial
• Noções Básicas de Arquivo
• Raciocínio Lógico e Matemático
• Relações Interpessoais
• Estatística Básica

Gestão de Conteúdos
Emanuela Amaral de Souza

Produção Editorial/Revisão
Elaine Cristina
Igor de Oliveira
Camila Lopes
Suelen Domenica Pereira

Capa
Natália Maio

Editoração Eletrônica
Marlene Moreno

Gerente de Projetos
Bruno Fernandes
APRESENTAÇÃO

PARABÉNS! ESTE É O PASSAPORTE PARA SUA APROVAÇÃO.

A Nova Concursos tem um único propósito: mudar a vida das pessoas.


Vamos ajudar você a alcançar o tão desejado cargo público.
Nossos livros são elaborados por professores que atuam na área de Concursos Públicos. Assim a
matéria é organizada de forma que otimize o tempo do candidato. Afinal corremos contra o tempo,
por isso a preparação é muito importante.
Aproveitando, convidamos você para conhecer nossa linha de produtos “Cursos online”, conteúdos
preparatórios e por edital, ministrados pelos melhores professores do mercado.
Estar à frente é nosso objetivo, sempre.
Contamos com índice de aprovação de 87%*.
O que nos motiva é a busca da excelência. Aumentar este índice é nossa meta.
Acesse www.novaconcursos.com.br e conheça todos os nossos produtos.
Oferecemos uma solução completa com foco na sua aprovação, como: apostilas, livros, cursos on-
line, questões comentadas e treinamentos com simulados online.
Desejamos-lhe muito sucesso nesta nova etapa da sua vida!
Obrigado e bons estudos!

*Índice de aprovação baseado em ferramentas internas de medição.

CURSO ONLINE

PASSO 1
Acesse:
www.novaconcursos.com.br/passaporte

PASSO 2
Digite o código do produto no campo indicado no
site.
O código encontra-se no verso da capa da apostila.
*Utilize sempre os 8 primeiros dígitos.
Ex: FV054-17

PASSO 3
Pronto!
Você já pode acessar os conteúdos online.
SUMÁRIO

Noções de Administração Pública

1. Estado, governo e administração pública: conceitos, elementos, poderes e organização; natureza, fins e princípios. ....... 01
2. Organização administrativa do Estado. ..................................................................................................................................................... 02
3. Administração direta e indireta. .................................................................................................................................................................... 03
4. Agentes públicos: espécies e classificação, poderes, deveres e prerrogativas cargo, emprego e função públicos. ... 05
5. Poderes administrativos. .................................................................................................................................................................................. 09
6. Atos administrativos: conceitos, requisitos, atributos, classificação, espécies e invalidação. ............................................... 11
7. Controle e responsabilização da administração: controle administrativo, controle judicial, controle legislativo, respon-
sabilidade civil do Estado...................................................................................................................................................................................... 13

Noções de Ética e Filosofia

1. Fundamentos da Filosofia................................................................................................................................................................................ 01
2. Filosofia moral: Ética ou filosofia moral...................................................................................................................................................... 05
3. Consciência crítica e filosofia.......................................................................................................................................................................... 08
4. A relação entre os valores éticos ou morais e a cultura....................................................................................................................... 09
5. Juízos de fato ou de realidade e juízos de valor..................................................................................................................................... 11
6. Ética e cidadania................................................................................................................................................................................................... 11
7. Racionalismo ético.............................................................................................................................................................................................. 13
8. Ética e liberdade................................................................................................................................................................................................... 15

Noções Públicas da Educação

1. Políticas públicas no contexto de uma sociedade. ................................................................................................................................ 01


1.1 Políticas públicas no contexto educacional. ..................................................................................................................................... 01
2. Papel da escola como formadora de valores e da ética social. ........................................................................................................ 03
3. As políticas para o currículo nacional. ........................................................................................................................................................ 09
4. Políticas educacionais como políticas públicas de natureza social. ................................................................................................ 16
5. Reformas neoliberais para a educação. ..................................................................................................................................................... 19
5.1 Implicações das políticas públicas para a organização do trabalho escolar. ...................................................................... 19
6. A História da educação no Brasil: fundamentos históricos. ............................................................................................................... 29
7. Educação, história e cultura afro-brasileira. ............................................................................................................................................. 31
8. Educação no mundo contemporâneo: desafios, compromissos e tendências da sociedade, do conhecimento e as
exigências de um novo perfil de cidadão. ..................................................................................................................................................... 49
9. A escola e a pluralidade cultural. .................................................................................................................................................................. 52
10. Currículo: elaboração e prática. .................................................................................................................................................................. 54
11. O desenvolvimento do projeto político pedagógico da escola. Educação inclusiva: fundamentos legais, conceito e
princípios, adaptações curriculares, a escola inclusiva.............................................................................................................................. 57

Redação Oficial

Normas estabelecidas no Manual de Redação da Presidência da República,.................................................................................. 01

Noções Básicas de Arquivo

1. Lei nº 8.159, de 8 de janeiro de 1991 - Dispõe sobre a política nacional de arquivos públicos e privados e dá outras
providências................................................................................................................................................................................................................ 01
2. Gestão de Documentos..................................................................................................................................................................................... 02
3. Arquivo Intermediário........................................................................................................................................................................................ 50
4. Arquivo Permanente........................................................................................................................................................................................... 50
SUMÁRIO

Raciocínio Lógico e Matemático

Resolução de problemas envolvendo frações, conjuntos, porcentagens, sequência (com números, com figuras, de pala-
vras)................................................................................................................................................................................................................................ 01
Raciocínio logico-matemático: proposições, conectivos equivalências e implicação lógica, argumentos validos........... 38

Relações Interpessoais

1. Relações Humanas/interpessoal;................................................................................................................................................................... 01
2. Comunicação Interpessoal;.............................................................................................................................................................................. 02
3. Característica de um bom atendimento;.................................................................................................................................................... 05
4. Postura Profissional;............................................................................................................................................................................................ 05
5. Integração;.............................................................................................................................................................................................................. 05
6. Empatia;................................................................................................................................................................................................................... 05
7. Capacidade de ouvir;.......................................................................................................................................................................................... 05
8. Argumentação Flexível...................................................................................................................................................................................... 05

Estatística Básica

1. Conceito de Estatística..............................................................................................................................................................................01
2. Fenômenos aleatórios. .............................................................................................................................................................................01
3. População e amostra. ...............................................................................................................................................................................01
4. Distribuição de frequência.......................................................................................................................................................................01
5. Variáveis discretas e variáveis contínuas. ...........................................................................................................................................01
6. Séries estatísticas e gráficos. ..................................................................................................................................................................01
7. Medidas de posição. .................................................................................................................................................................................01
8. Medidas de Dispersão...............................................................................................................................................................................01
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

1. Estado, governo e administração pública: conceitos, elementos, poderes e organização; natureza, fins e princípios. ....... 01
2. Organização administrativa do Estado. ..................................................................................................................................................... 02
3. Administração direta e indireta. .................................................................................................................................................................... 03
4. Agentes públicos: espécies e classificação, poderes, deveres e prerrogativas cargo, emprego e função públicos. ... 05
5. Poderes administrativos. .................................................................................................................................................................................. 09
6. Atos administrativos: conceitos, requisitos, atributos, classificação, espécies e invalidação. ............................................... 11
7. Controle e responsabilização da administração: controle administrativo, controle judicial, controle legislativo, respon-
sabilidade civil do Estado...................................................................................................................................................................................... 13
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

empregos e funções em seu quadro. Logo, pode-se dizer


1. ESTADO, GOVERNO E ADMINISTRAÇÃO que o Estado é uma ficção, eis que não existe em si, mas sim
PÚBLICA: CONCEITOS, ELEMENTOS, como uma estrutura organizada pelos próprios homens.
PODERES E ORGANIZAÇÃO; NATUREZA, FINS É de direito público porque administra interesses que
pertencem a toda sociedade e a ela respondem por des-
E PRINCÍPIOS.
vios na conduta administrativa, de modo que se sujeita a um
regime jurídico próprio, que é objeto de estudo do direito
administrativo.
“O conceito de Estado varia segundo o ângulo em que Em face da organização do Estado, e pelo fato deste as-
é considerado. Do ponto de vista sociológico, é corporação sumir funções primordiais à coletividade, no interesse desta,
territorial dotada de um poder de mando originário; sob o fez-se necessário criar e aperfeiçoar um sistema jurídico que
aspecto político, é comunidade de homens, fixada sobre um fosse capaz de regrar e viabilizar a execução de tais funções,
território, com potestade superior de ação, de mando e de buscando atingir da melhor maneira possível o interesse
coerção; sob o prisma constitucional, é pessoa jurídica ter- público visado. A execução de funções exclusivamente ad-
ritorial soberana; na conceituação do nosso Código Civil, é ministrativas constitui, assim, o objeto do Direito Adminis-
pessoa jurídica de Direito Público Interno (art. 14, I). Como trativo, ramo do Direito Público. A função administrativa é
ente personalizado, o Estado tanto pode atuar no campo toda atividade desenvolvida pela Administração (Estado) re-
do Direito Público como no do Direito Privado, mantendo presentando os interesses de terceiros, ou seja, os interesses
sempre sua única personalidade de Direito Público, pois a da coletividade.
teoria da dupla personalidade do Estado acha-se definitiva- Devido à natureza desses interesses, são conferidos à
mente superada. O Estado é constituído de três elementos Administração direitos e obrigações que não se estendem
originários e indissociáveis: Povo, Território e Governo sobe- aos particulares. Logo, a Administração encontra-se numa
rano. Povo é o componente humano do Estado; Território, a posição de superioridade em relação a estes.
sua base física; Governo soberano, o elemento condutor do Se, por um lado, o Estado é uno, até mesmo por se le-
Estado, que detém e exerce o poder absoluto de autode- gitimar na soberania popular; por outro lado, é necessária a
terminação e auto-organização emanado do Povo. Não há divisão de funções das atividades estatais de maneira equi-
nem pode haver Estado independente sem Soberania, isto é, librada, o que se faz pela divisão de Poderes, a qual resta
sem esse poder absoluto, indivisível e incontrastável de or- assegurada no artigo 2º da Constituição Federal. A função
ganizar-se e de conduzir-se segundo a vontade livre de seu típica de administrar – gerir a coisa pública e aplicar a lei – é
Povo e de fazer cumprir as suas decisões inclusive pela força, do Poder Executivo; cabendo ao Poder Legislativo a função
se necessário. A vontade estatal apresenta-se e se manifesta típica de legislar e ao Poder Judiciário a função típica de jul-
através dos denominados Poderes de Estado. Os Poderes de gar. Em situações específicas, será possível que no exercício
Estado, na clássica tripartição de Montesquieu, até hoje ado- de funções atípicas o Legislativo e o Judiciário exerçam ad-
tada nos Estados de Direito, são o Legislativo, o Executivo e ministração.
o judiciário, independentes e harmônicos entre si e com suas Destaca-se o artigo 41 do Código Civil:
funções reciprocamente indelegáveis (CF, art. 2º). A organi-
zação do Estado é matéria constitucional no que concerne Art. 41. São pessoas jurídicas de direito público interno:
à divisão política do território nacional, a estruturação dos I - a União;
Poderes, à forma de Governo, ao modo de investidura dos II - os Estados, o Distrito Federal e os Territórios;
governantes, aos direitos e garantias dos governados. Após III - os Municípios;
as disposições constitucionais que moldam a organização IV - as autarquias;
política do Estado soberano, surgem, através da legislação V - as demais entidades de caráter público criadas por
complementar e ordinária, e organização administrativa das lei.
entidades estatais, de suas autarquias e entidades paraesta- Parágrafo único. Salvo disposição em contrário, as pes-
tais instituídas para a execução desconcentrada e descentra- soas jurídicas de direito público, a que se tenha dado estru-
lizada de serviços públicos e outras atividades de interesse tura de direito privado, regem-se, no que couber, quanto ao
coletivo, objeto do Direito Administrativo e das modernas seu funcionamento, pelas normas deste Código.
técnicas de administração” .
Com efeito, o Estado é uma organização dotada de per- Nestes moldes, o Estado é pessoa jurídica de direito
sonalidade jurídica que é composta por povo, território e público interno. Mas há características peculiares distintivas
soberania. Logo, possui homens situados em determinada que fazem com que afirmá-lo apenas como pessoa jurídica
localização e sobre eles e em nome deles exerce poder. É de direito público interno seja correto, mas não suficiente.
dotado de personalidade jurídica, isto é, possui a aptidão Pela peculiaridade da função que desempenha, o Estado é
genérica para adquirir direitos e contrair deveres. Nestes verdadeira pessoa administrativa, eis que concentra para si o
moldes, o Estado tem natureza de pessoa jurídica de direito exercício das atividades de administração pública.
público. A expressão pessoa administrativa também pode ser
Trata-se de pessoa jurídica, e não física, porque o Estado colocada em sentido estrito, segundo o qual seriam pes-
não é uma pessoa natural determinada, mas uma estrutura soas administrativas aquelas pessoas jurídicas que integram
organizada e administrada por pessoas que ocupam cargos, a administração pública sem dispor de autonomia política

1
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

(capacidade de auto-organização). Em contraponto, pessoas Concentrar, ao inverso, significa exercer atribuições pri-
políticas seriam as pessoas jurídicas de direito público inter- vativas da Administração pública direta no âmbito mais cen-
no – União, Estados, Distrito Federal e Municípios. tral possível, isto é, diretamente pelo chefe do Poder Execu-
tivo, seja porque não são atribuições delegáveis, seja porque
se optou por não delegar.

2. ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA DO Artigo 84, CF. Compete privativamente ao Presidente da


ESTADO. República:
I - nomear e exonerar os Ministros de Estado;
II - exercer, com o auxílio dos Ministros de Estado, a di-
reção superior da administração federal;
Em linhas gerais, descentralização significa transferir a III - iniciar o processo legislativo, na forma e nos casos
execução de um serviço público para terceiros que não se previstos nesta Constituição;
confundem com a Administração direta; centralização signi- IV - sancionar, promulgar e fazer publicar as leis, bem
fica situar na Administração direta atividades que, em tese, como expedir decretos e regulamentos para sua fiel execução;
poderiam ser exercidas por entidades de fora dela; descon- V - vetar projetos de lei, total ou parcialmente;
centração significa transferir a execução de um serviço pú- VI - dispor, mediante decreto, sobre:
blico de um órgão para o outro dentro da própria Adminis- a) organização e funcionamento da administração fede-
tração; concentração significa manter a execução central ao ral, quando não implicar aumento de despesa nem criação
chefe do Executivo em vez de atribui-la a outra autoridade ou extinção de órgãos públicos;
da Administração direta. b) extinção de funções ou cargos públicos, quando va-
Passemos a esmiuçar estes conceitos: gos;
Desconcentração implica no exercício, pelo chefe do VII - manter relações com Estados estrangeiros e acredi-
Executivo, do poder de delegar certas atribuições que são de tar seus representantes diplomáticos;
sua competência privativa. Neste sentido, o previsto na CF: VIII - celebrar tratados, convenções e atos internacio-
nais, sujeitos a referendo do Congresso Nacional;
Artigo 84, parágrafo único, CF. O Presidente da Repú-
IX - decretar o estado de defesa e o estado de sítio;
blica poderá delegar as atribuições mencionadas nos inci-
X - decretar e executar a intervenção federal;
sos VI, XII e XXV, primeira parte, aos Ministros de Estado,
XI - remeter mensagem e plano de governo ao Congres-
ao Procurador-Geral da República ou ao Advogado-Geral da
so Nacional por ocasião da abertura da sessão legislativa,
União, que observarão os limites traçados nas respectivas
expondo a situação do País e solicitando as providências que
delegações.
julgar necessárias;
XII - conceder indulto e comutar penas, com audiência,
Neste sentido:
se necessário, dos órgãos instituídos em lei;
Artigo 84, VI, CF. dispor, mediante decreto, sobre: XIII - exercer o comando supremo das Forças Armadas,
a) organização e funcionamento da administração fede- nomear os Comandantes da Marinha, do Exército e da Ae-
ral, quando não implicar aumento de despesa nem criação ronáutica, promover seus oficiais-generais e nomeá-los para
ou extinção de órgãos públicos; os cargos que lhes são privativos;
b) extinção de funções ou cargos públicos, quando va- XIV - nomear, após aprovação pelo Senado Federal, os
gos; Ministros do Supremo Tribunal Federal e dos Tribunais Su-
Artigo 84, XII, CF. conceder indulto e comutar penas, periores, os Governadores de Territórios, o Procurador-Geral
com audiência, se necessário, dos órgãos instituídos em lei; da República, o presidente e os diretores do banco central e
Artigo 84, XXV, CF. prover e extinguir os cargos públicos outros servidores, quando determinado em lei;
federais, na forma da lei; (apenas o provimento é delegável, XV - nomear, observado o disposto no art. 73, os Minis-
não a extinção) tros do Tribunal de Contas da União;
Com efeito, o chefe do Poder Executivo federal tem op- XVI - nomear os magistrados, nos casos previstos nesta
ções de delegar parte de suas atribuições privativas para os Constituição, e o Advogado-Geral da União;
Ministros de Estado, o Procurador-Geral da República ou o XVII - nomear membros do Conselho da República, nos
Advogado-Geral da União. O Presidente irá delegar com re- termos do art. 89, VII;
lação de hierarquia cada uma destas essencialidades dentro XVIII - convocar e presidir o Conselho da República e o
da estrutura organizada do Estado. Reforça-se, desconcen- Conselho de Defesa Nacional;
trar significa delegar com hierarquia, pois há uma relação XIX - declarar guerra, no caso de agressão estrangeira,
de subordinação dentro de uma estrutura centralizada, isto autorizado pelo Congresso Nacional ou referendado por ele,
é, os Ministros de Estado, o Procurador-Geral da República quando ocorrida no intervalo das sessões legislativas, e, nas
e o Advogado-Geral da União respondem diretamente ao mesmas condições, decretar, total ou parcialmente, a mobi-
Presidente da República e, por isso, não possuem plena dis- lização nacional;
cricionariedade na prática dos atos administrativos que lhe XX - celebrar a paz, autorizado ou com o referendo do
foram delegados. Congresso Nacional;

2
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

XXI - conferir condecorações e distinções honoríficas;


XXII - permitir, nos casos previstos em lei complementar, 3. ADMINISTRAÇÃO DIRETA E INDIRETA
que forças estrangeiras transitem pelo território nacional ou
nele permaneçam temporariamente;
XXIII - enviar ao Congresso Nacional o plano plurianual,
o projeto de lei de diretrizes orçamentárias e as propostas Administração Pública Direta
de orçamento previstos nesta Constituição; Administração Pública direta é aquela formada pelos
XXIV - prestar, anualmente, ao Congresso Nacional, entes integrantes da federação e seus respectivos órgãos.
dentro de sessenta dias após a abertura da sessão legislati- Os entes políticos são a União, os Estados, o Distrito Federal
va, as contas referentes ao exercício anterior; e os Municípios. À exceção da União, que é dotada de sobe-
XXV - prover e extinguir os cargos públicos federais, na rania, todos os demais são dotados de autonomia.
forma da lei; A administração direta é formada por um conjunto de
núcleos de competências administrativas, os quais já foram
XXVI - editar medidas provisórias com força de lei, nos
tidos como representantes do poder central (teoria da re-
termos do art. 62;
presentação) e como mandatários do poder central (teoria
XXVII - exercer outras atribuições previstas nesta Cons- do mandato). Hoje, adota-se a teoria do órgão, de Otto
tituição. Giërke, segundo a qual os órgãos são apenas núcleos ad-
Descentralizar envolve a delegação de interesses esta- ministrativos criados e extintos exclusivamente por lei, mas
tais para fora da estrutura da Administração direta, o que que podem ser organizados por decretos autônomos do
é possível porque não se refere a essencialidades, ou seja, Executivo (art. 84, VI, CF), sendo desprovidos de personali-
a atos administrativos que somente possam ser praticados dade jurídica própria.
pela Administração direta porque se referem a interesses es- Assim, os órgãos da Administração direta não possuem
tatais diversos previstos ou não na CF. Descentralizar é uma patrimônio próprio; e não assumem obrigações em nome
delegação sem relação de hierarquia, pois é uma delegação próprio e nem direitos em nome próprio (não podem ser au-
de um ente para outro (não há subordinação nem mesmo tor nem réu em ações judiciais, exceto para fins de mandado
quanto ao chefe do Executivo, há apenas uma espécie de de segurança – tanto como impetrante como quanto impe-
tutela ou supervisão por parte dos Ministérios – se trata de trado). Já que não possuem personalidade, atuam apenas no
vínculo e não de subordinação). cumprimento da lei, não atuando por vontade própria. Logo,
Basicamente, se está diante de um conjunto de pessoas órgãos e agentes públicos são impessoais quando agem no
jurídicas estatais criadas ou autorizadas por lei para presta- estrito cumprimento de seus deveres, não respondendo di-
rem serviços de interesse do Estado. Possuem patrimônio retamente por seus atos e danos.
Esta impossibilidade de se imputar diretamente a res-
próprio e são unidades orçamentárias autônomas. Ainda,
ponsabilidade a agentes públicos ou órgãos públicos que
exercem em nome próprio direitos e obrigações, respon-
estejam exercendo atribuições da Administração direta é de-
dendo pessoalmente por seus atos e danos. nominada teoria da imputação objetiva, de Otto Giërke, que
Existem duas formas pelas quais o Estado pode efetuar a institui o princípio da impessoalidade.
descentralização administrativa: outorga e delegação. Quanto se faz desconcentração da autoridade central –
A outorga se dá quando o Estado cria uma entidade e a chefe do Executivo – para os seus órgãos, se depara com
ela transfere, através de previsão em lei, determinado servi- diversos níveis de órgãos, que podem ser classificados em
ço público e é conferida, em regra, por prazo indeterminado. simples ou complexos (simples se possuem apenas uma
Isso é o que acontece quanto às entidades da Administração estrutura administrativa, complexos se possuem uma rede
Indireta prestadoras de serviços públicos. Neste sentido, o de estruturas administrativas) e em unitários ou colegiados
Estado descentraliza a prestação dos serviços, outorgan- (unitário se o poder de decisão se concentra em uma pes-
do-os a outras entidades criadas para prestá-los, as quais soa, colegiado se as decisões são tomadas em conjunto e
podem tomar a forma de autarquias, empresas públicas, so- prevalece a vontade da maioria):
ciedades de economia mista e fundações públicas. a) Órgãos independentes – encabeçam o poder ou es-
A delegação ocorre quando o Estado transfere, por con- trutura do Estado, gozando de independência para agir e
trato ou ato unilateral, apenas a execução do serviço, para não se submetendo a outros órgãos. Cabe a eles definir as
que o ente delegado o preste ao público em seu próprio políticas que serão implementadas. É o caso da Presidên-
nome e por sua conta e risco, sob fiscalização do Estado. A cia da República, órgão complexo composto pelo gabinete,
pela Advocacia-Geral da União, pelo Conselho da República,
delegação é geralmente efetivada por prazo determinado.
pelo Conselho de Defesa, e unitário (pois o Presidente da
Ela se dá, por exemplo, nos contratos de concessão ou nos
República é o único que toma as decisões).
atos de permissão, pelos quais o Estado transfere aos con- b) Órgãos autônomos – estão no primeiro escalão do poder,
cessionários e aos permissionários apenas a execução tem- com autonomia funcional, porém subordinados politicamente
porária de determinado serviço. aos independentes. É o caso de todos os ministérios de Estado.
Centralizar envolve manter na estrutura da Adminis- c) Órgãos superiores – são desprovidos de autonomia
tração direta o desempenho de funções administrativas ou independência, sendo plenamente vinculados aos órgãos
de interesses não essenciais do Estado, que poderiam ser autônomos. Ex.: Delegacia Regional do Trabalho, vinculada
atribuídos a entes de fora da Administração por outorga ou ao Ministério do Trabalho e Emprego; Departamento da Po-
delegação. lícia Federal, vinculado ao Ministério da Justiça.

3
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

d) Órgãos subalternos – são vinculados a todos acima criam. Contam com patrimônio próprio, constituído a par-
deles com plena subordinação administrativa. Ex.: órgãos tir de transferência pela entidade estatal a que se vinculam,
que executam trabalho de campo, policiais federais, fiscais portanto, capital exclusivamente público. Logo, as autarquias
do MTE. são regidas integralmente pelo regime jurídico de direito
ATENÇÃO: O Ministério Público, os Tribunais de Contas público, podendo, tão-somente, ser prestadoras de serviços
e as Defensorias Públicas não se encaixam nesta estrutura, públicos, contando com capital oriundo da Administração
sendo órgãos independentes constitucionais. Em verdade, direta. A título de exemplo, citamos as seguintes autarquias:
para Canotilho e outros constitucionalistas, estes órgãos não Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra),
pertencem nem mesmo aos três poderes. Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), Departamento
Administração Pública Indireta Nacional de Estradas de Rodagem (DNER), Conselho Admi-
A Administração Pública indireta pode ser definida como nistrativo de Defesa Econômica (CADE), Departamento na-
um grupo de pessoas jurídicas de direito público ou privado, cional de Registro do Comércio (DNRC), Instituto Nacional
criadas ou instituídas a partir de lei específica, que atuam da Propriedade Industrial (INPI), Instituto Brasileiro do Meio
paralelamente à Administração direta na prestação de servi- Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Ban-
ços públicos ou na exploração de atividades econômicas. Em co Central do Brasil (Bacen).
que pese haver entendimento diverso registrado em nossa
doutrina, integram a Administração indireta do Estado qua- Fundações
tro espécies de pessoa jurídica, a saber: as Autarquias, as As Fundações são pessoas jurídicas compostas por um
Fundações, as Sociedades de Economia Mista e as Empresas patrimônio personalizado, destacado pelo seu instituidor
Públicas. Ao lado destas, podemos encontrar ainda entes para atingir uma finalidade específica, denominadas, em la-
que prestam serviços públicos por delegação, embora não tim, universitas bonorum.
integrem os quadros da Administração, quais sejam, os per- Essa definição serve para qualquer fundação, inclusive
missionários, os concessionários e os autorizados. para aquelas que não integram a Administração indireta
Essas quatro pessoas integrantes da Administração indi- (não-governamentais). No caso das fundações que integram
reta serão criadas para a prestação de serviços públicos ou, a Administração indireta (governamentais), quando forem
ainda, para a exploração de atividades econômicas, como dotadas de personalidade de direito público, serão regidas
no caso das empresas públicas e sociedades de economia
integralmente por regras de direito público. Quando forem
mista, e atuam com o objetivo de aumentar o grau de es-
dotadas de personalidade de direito privado, serão regidas
pecialidade e eficiência da prestação do serviço público ou,
por regras de direito público e direito privado.
quando exploradoras de atividades econômicas, visando
atender a relevante interesse coletivo e imperativos da se-
Sociedades de economia mista
gurança nacional.
As sociedades de economia mista são pessoas jurídicas
Com efeito, de acordo com as regras constantes do ar-
de Direito Privado criadas para a prestação de serviços pú-
tigo 173 da Constituição Federal, o Poder Público só poderá
explorar atividade econômica a título de exceção, em duas blicos ou para a exploração de atividade econômica, con-
situações, conforme se colhe do caput do referido artigo, a tando com capital misto e constituídas somente sob a forma
seguir reproduzido: empresarial de S/A.
Artigo 173. Ressalvados os casos previstos nesta Cons- As sociedades de economia mista são: pessoas jurídicas
tituição, a exploração direta de atividade econômica pelo de Direito Privado, exploradoras de atividade econômica ou
Estado só será permitida quando necessária aos imperativos prestadoras de serviços públicos, empresas de capital misto,
de segurança nacional ou a relevante interesse coletivo, con- constituídas sob forma empresarial de S/A.
forme definidos em lei. Alguns exemplos de sociedade mista:
Cumpre esclarecer que, de acordo com as regras consti- - Exploradoras de atividade econômica: Banco do Brasil
tucionais e em razão dos fins desejados pelo Estado, ao Po- e Banespa.
der Público não cumpre produzir lucro, tarefa esta deferida - Prestadora de serviços públicos: Petrobrás, Sabesp,
ao setor privado. Assim, apenas explora atividades econô- Metrô, CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional
micas nas situações indicadas no artigo 173 do Texto Cons- Urbano) e CPOS (Companhia Paulista de Obras e Serviços,
titucional. Quando atuar na economia, concorre em grau empresa responsável pelo gerenciamento da execução de
de igualdade com os particulares, e sob o regime do artigo contratos que envolvem obras e serviços públicos no Estado
170 da Constituição, inclusive quanto à livre concorrência, de São Paulo).
submetendo-se ainda a todas as obrigações constantes do Empresas públicas
regime jurídico de direito privado, inclusive no tocante às Empresas públicas são pessoas jurídicas de Direito Pri-
obrigações civis, comerciais, trabalhistas e tributárias. vado, criadas para a prestação de serviços públicos ou para
a exploração de atividades econômicas, que contam com
Autarquias, fundações, empresas públicas e sociedades capital exclusivamente público, e são constituídas por qual-
de economia mista quer modalidade empresarial, após autorização legislativa
Autarquias do ente federativo criador.
As autarquias são pessoas jurídicas de direito público, Sendo a empresa pública uma prestadora de serviços
de natureza administrativa, criadas para a execução de servi- públicos, estará submetida a regime jurídico público, ainda
ços públicos, antes prestados pelas entidades estatais que as que constituída segundo o modelo imposto pelo Direito

4
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Privado. Se a empresa pública é exploradora de atividade


econômica, estará submetida a regime jurídico denomina- 4. AGENTES PÚBLICOS: ESPÉCIES E
do pela doutrina como semi público, ante a necessidade de CLASSIFICAÇÃO, PODERES, DEVERES E
observância, ao menos em suas relações com os adminis- PRERROGATIVAS CARGO, EMPREGO E
trados, das regras atinentes ao regime da Administração, a FUNÇÃO PÚBLICOS.
exemplo dos princípios expressos no “caput” do artigo 37 da
Constituição Federal.
Podemos citar, a título de exemplo, algumas empre-
sas públicas, nas mais variadas esferas de governo, como
o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social Para este tópico traremos os ensinamentos do professor
(BNDES); a Empresa Municipal de Urbanização de São Paulo Marco Antonio Praxedes de Moraes Filho, no qual conceitua
(EMURB); a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT); agente público como sendo: é uma terminologia genérica
a Caixa Econômica Federal (CEF). que representa a existência de um vínculo jurídico-profissio-
nal entre qualquer pessoa física e o Poder Público. Desta for-
ma, toda pessoa física que, a qualquer título, exerça funções
Agências reguladoras
públicas é considerada agente público.
São figuras muito recentes em nosso ordenamento ju-
rídico. Possuem natureza jurídica de autarquias de regime
Agentes Políticos
especial, são pessoas jurídicas de Direito Público com ca-
São os componentes do Governo nos seus primeiros
pacidade administrativa, aplicando-se a elas todas as regras escalões, investidos de cargos, funções, mandatos ou comis-
das autarquias. sões, por nomeação, eleição, designação ou delegação para
Possuem como objetivo regular e fiscalizar a execução o exercício das atribuições constitucionais.
de serviços públicos. Elas não executam o serviço propria- São eles:
mente, elas o fiscalizam. - Chefes do Executivo (Presidente da República, Gover-
nador dos Estados e Distrito Federal e Prefeitos Municipais),
Entidades Paraestatais seus auxiliares diretos (Ministros de Estado, Secretários de
Entidades paraestatais “são aquelas pessoas jurídicas Estado e Secretários Municipais);
que atuam ao lado e em colaboração com o Estado. [...] Há - Membros do Poder Legislativo (Senadores da Repú-
juristas que entendem serem entidades paraestatais aque- blica, Deputados Federais, Deputados Estaduais, Deputados
las que, tendo personalidade jurídica de direito privado (não Distritais e Vereadores);
incluídas, pois, as autarquias), recebem amparo oficial do - Membros do Poder Judiciário (Magistrados);
Poder Público, como as empresas públicas, as sociedades - Membros do Ministério Público (Procuradores da Re-
de economia mista, as fundações públicas e as entidades de pública, Procuradores de Justiça e Promotores de Justiça);
cooperação governamental (ou serviços sociais autônomos), - Membros dos Tribunais de Contas (Ministros e Con-
como o SESI, SENAI, SESC, SENAC etc. Outros pensam exa- selheiros);
tamente o contrário: entidades paraestatais seriam as autar- - Representantes Diplomáticos.
quias. Alguns, a seu turno, só enquadram nessa categoria as
pessoas colaboradoras que não se preordena a fins lucrati- Servidores Públicos Civis
vos, estando excluídas, assim, as empresas públicas e as so- São aqueles incumbidos do exercício da função admi-
ciedades de economia mista. Para outros, ainda, paraestatais nistrativa civil (não militar), regidos pelas normas do art. 39
seriam as pessoas de direito privado integrantes da Adminis- da Constituição Federal, sujeitos ao regime estatutário.
tração Indireta, excluindo-se, por conseguinte, as autarquias,
as fundações de direito público e os serviços sociais autôno- Servidores Públicos Militares
São aqueles que integram as carreiras militares dos Es-
mos. Por fim, já se considerou que na categoria se incluem
tados, do Distrito Federal e Territórios e das Forças Armadas
além dos serviços sociais autônomos até mesmo as escolas
(art. 42, CF; art. 142, § 3°, CF).
oficializadas, os partidos políticos e os sindicatos, excluindo-
Estados / DFT Polícia Militar e Corpo de Bombeiros Mi-
se a administração indireta. Na prática, tem-se encontrado,
litar
com frequência, o emprego da expressão empresas estatais, Forças Armadas Exército, Marinha e Aeronáutica
sendo nelas enquadradas as sociedades de economia mista
e as empresas públicas. Há também autores que adotam o Empregados Públicos
referido sentido” . Para o autor que se toma como referencial São aqueles ocupantes de emprego público, remunera-
teórico, “deveria abranger toda pessoa jurídica que tivesse dos por salários e sujeitos às regras da Consolidação das Leis
vínculo institucional com a pessoa federativa, de forma a re- do Trabalho (CLT). Em regra, são os vinculados às Empresas
ceber desta os mecanismos estatais de controle. Estariam, Estatais (Empresas Públicas e Sociedade de Economia Mista).
pois, enquadradas como entidades paraestatais as pessoas
da administração indireta e os serviços sociais autônomos” . Servidores Temporários
São aqueles contratados para atender a situações tran-
sitórias e excepcionais (art. 37, IX, CF).

5
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

CF/88 Estabilidade
Art. 37. (...) Para os agentes públicos em geral, são estáveis após
IX – a lei estabelecerá os casos de contratação por tem- três anos de efetivo exercício os servidores nomeados para
po determinado para atender a necessidade temporária de cargo de provimento efetivo em virtude de concurso público
excepcional interesse público; (art. 41, caput, CF).
Lei n° 8.745/93 Todavia, para os Magistrados e Membros do Ministério
Dispõe sobre a contratação por tempo determinado Público a estabilidade recebe o nome especial de vitalicie-
para atender a necessidade temporária de excepcional in- dade, sendo adquirida após dois anos de exercício (art. 95, I,
teresse público. CF; art. 128, § 1°, I,CF).
Responsabilidade
Os cargos, empregos e funções públicas são acessíveis
A prática de ato ilícito pelo agente público no exercício
aos brasileiros que preencham os requisitos estabelecidos
de suas funções pode ensejar a responsabilidade civil, crimi-
em lei, assim como aos estrangeiros na forma da lei (art. 37, nal e administrativa.
I, CF). A regra é a independência/autonomia entre as três esfe-
A investidura em cargos ou empregos públicos depende ras. Todavia, se o agente público for absolvido criminalmen-
de aprovação prévia em concurso público de provas ou de te por duas situações especiais também deverá ser absolvi-
provas e títulos, de acordo com a natureza e a complexida- do nas demais esferas.
de do cargo ou emprego. Excepcionalmente, as nomeações Conforme artigo científico de Hálisson Rodrigo Lopes
para cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação três são as modalidades de aposentadoria, conforme dis-
e exoneração, não exige aprovação em concurso público posto nos incisos I a III, do art. 40 da Constituição Federal,
(art. 37, II, CF, com redação dada pela Emenda Constitucio- abaixo explicitadas:
nal nº 19, de 1998). Aposentadoria por invalidez permanente, sendo os pro-
CF/88 ventos proporcionais ao tempo de contribuição, exceto se
Art. 37.(...) decorrente de acidente em serviço, moléstia profissional ou
II -a investidura em cargo ou emprego público depende doença grave, contagiosa ou incurável, na forma da lei. Tais
de aprovação prévia em concurso público de provas ou de condições decorrem de fato mórbido que impede o servidor
provas e títulos, de acordo com a natureza e a complexidade de desempenhar as funções previstas para o cargo provido.
do cargo ou emprego, na forma prevista em lei, ressalvadas No caso das exceções acima, “os proventos serão inte-
grais, sendo absolutamente irrelevante a idade do servidor
as nomeações para cargo em comissão declarado em lei de
e o seu tempo de contribuição.” (GASPARINI, 2008, p. 206)
livre nomeação e exoneração; A Lei nº 8.112, de 11 de dezembro 1990, que dispõe so-
O prazo de validade do concurso público será de até bre o regime jurídico dos servidores públicos civis da União,
dois anos, prorrogáveis uma vez, por igual período (art. 37, das autarquias e das fundações públicas federais, informa
III, CF). A prorrogação da validade do concurso é um ato no art. 186, § 1º, quais as doenças que justificam a invali-
discricionário da Administração Pública. dez permanente, visando à aposentadoria, senão vejamos:
As nomeações observarão a ordem de classificação (art. tuberculose ativa, alienação mental, esclerose múltipla, neo-
37, IV, CF). Regra geral, o aprovado em concurso público plasia maligna, cegueira posterior ao ingresso no serviço
tem apenas expectativa de direito quanto a investidura no público, hanseníase, cardiopatia grave, doença de Parkinson,
cargo, ficando a critério da Administração Pública realizar as paralisia irreversível e incapacitante, espondiloartrose an-
nomeações. Porém, há diversos julgamentos do STF relatan- quilosante, nefropatia grave, estados avançados do mal de
do certas situações ocorridas no mundo dos fatos conce- Paget (osteíte deformante), Síndrome de Imunodeficiência
dendo direito adquirido aos aprovados em concurso público. Adquirida - AIDS, e outras que a lei indicar, com base na
Ex. aprovado dentro do número de vagas. medicina especializada.
A necessidade da realização de exame psicotécnico em Já no art. 212, da legislação supracitada, salienta
concursos públicos precisa estar previamente estabelecida e que: configura acidente em serviço o dano físico ou mental
lei e deverá ser pautada e critérios objetivos. sofrido pelo servidor, que se relacione, mediata ou imedia-
tamente, com as atribuições do cargo exercido, equiparando
Súmula 686, STF
ao acidente em serviço o dano decorrente de agressão sofri-
Só por lei se pode sujeitar a exame psicotécnico a habi-
da e não provocada pelo servidor no exercício do cargo; so-
litação de candidato a cargo público. frido no percurso da residência para o trabalho e vice-versa.
A lei deverá reservar percentual dos cargos e empregos Outra modalidade de aposentadoria é a compulsória,
públicos para as pessoas portadoras de deficiência e definirá com proventos proporcionais ao tempo de serviço, quan-
os critérios de sua admissão (art. 37, VIII, CF). Ex. O art. 5° da do o servidor completar setenta anos de idade, “proventos
Lei n° 8.112/90 reserva em até 20% das vagas para portado- estes que, não obstante, poderá atingir aritmeticamente a
res de deficiência. remuneração integral da ativa se já houver atingido o ser-
vidor o referido tempo máximo de contribuição.” (ARAÚJO,
Acumulações 2010, p. 329)
É vedada a acumulação remunerada de cargos públicos Alexandre de Moraes (2011, p.395) destaca que “o Su-
(art. 37, XVI, CF). premo Tribunal Federal alterou seu posicionamento anterior,
- REGRA pacificando a inaplicabilidade das regras da aposentadoria
Acumulação Proibida compulsória em virtude de idade aos notários referidos no
- EXCEÇÃO art. 236 da Constituição Federal.”

6
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Por fim, a aposentadoria voluntária, desde que cum- estabelecida com o Estado, pela qual se incumbe e se habi-
prido tempo mínimo de dez anos de efetivo exercício no lita ao exercício de determinadas funções, mas, como não
serviço público e cinco anos no cargo efetivo em que se têm uma relação estatutária, não ocupam cargos.
dará a aposentadoria, observadas as seguintes condições: Utilizaremos a classificação do referido autor para a ex-
a) sessenta anos de idade e trinta e cinco de contribuição, plicação e diferenciação de cargo, emprego e função públi-
se homem, e cinquenta e cinco anos de idade e trinta de ca, conforme segue:
contribuição, se mulher. Os requisitos de idade e de tem- Classificação dos cargos públicos
po de contribuição serão reduzidos em cinco anos, para o Tendo em vista a situação dos cargos diante do quadro
professor que comprove exclusivamente tempo de efetivo funcional, já vimos no tópico anterior que há os cargos de
exercício das funções de magistério na educação infantil e carreira e os cargos isolados.
no ensino fundamental e médio; b) sessenta e cinco anos de Sob o prisma das garantias de permanência nos cargos,
idade, se homem, e sessenta anos de idade, se mulher, com eles podem agrupar-se em três categorias: 1) vitalícios; 2)
proventos proporcionais ao tempo de contribuição. efetivos; e 3) em comissão.
Por sua vez, Alexandre Mazza (2011, p.450) adverte que 1) Cargos vitalícios
“em relação aos servidores que cumpriram todos os requi- São os cargos que oferecem maior garantia de perma-
sitos até a data de promulgação da Emenda nº 42/2003, a nência aos seus ocupantes, já que, após adquirida a vitalicie-
aposentadoria será calculada, integral e proporcionalmente, dade, só podem perder o cargo mediante decisão judicial
de acordo com a legislação vigente antes da emenda. Entre- transitada em julgado. Dirige-se a servidores públicos pre-
tanto, quanto aos demais servidores públicos, não há mais vistos constitucionalmente que exercem elevadas funções
possibilidade de aposentadoria com proventos integrais, de controle, e que, por isso, devem ter garantida de forma
passando seu valor a sujeitar-se aos patamares do regime reforçada a sua independência.
geral de previdência”. A vitaliciedade é de previsão constitucional expressa. Na
vigente ordem constitucional, são vitalícios os cargos dos
Cargo, Emprego e Função Pública magistrados (art. 95, I), dos membros do Ministério Público
(art. 128, § 5º, I, a) e dos Tribunais de Contas (art. 73, § 3º).
Doutrinadores conceituam quadro funcional como sen-
Via de regra, a vitaliciedade é adquirida após dois anos
do o conjunto de carreiras, cargos isolados e funções públi-
de exercício do cargo, mas, nos casos em que a nomeação
cas de uma mesma pessoa jurídica. Desta forma podemos
não se dá por concurso, é adquirida desde o início do exer-
afirmar que Cargo é uma pequena parte da organização
cício (ex.: Ministros do STF e do TCU).
funcional da Administração, o menor centro de compe-
2) Cargos efetivos
tência, ocupada por servidor público estatutário, ao qual é
São os cargos que possuem caráter de permanência,
atribuído um conjunto de atribuições previstas em lei, que
mas um pouco menos forte que a existente nos cargos vi-
constituirá a sua competência (cf. definição, ligeiramente di- talícios. São a grande maioria dos cargos dos quadros fun-
ferente, da Lei n. 8.112/90, art. 2º). cionais.
O professor Aragão afirma que: um dos elementos mais Os ocupantes de tais cargos, após três anos de efetivo
importantes dos quadros funcionais são as carreiras: carreira exercício, adquirem estabilidade, em razão da qual só pode-
é o conjunto de classes funcionais, por sua vez composta de rão perder o cargo pelas causas taxativamente previstas na
cargos, cujos ocupantes têm a possibilidade de ir galgando Constituição. A estabilidade é o direito de o servidor esta-
de uma classe para a outra, o que constitui a progressão tutário, investido em cargo efetivo, permanecer no serviço
funcional (ex.: na carreira há três classes, cada uma delas público após três anos de efetivo exercício e desempenho
com um número de cargos. A nomeação do concursado se avaliado positivamente por Comissão (art. 41), ou seja, não
dá na 3ª classe e, atendendo a determinadas condições, ele basta o decurso do tempo, devendo haver também o juízo
vai sendo promovido para os cargos de 2ª e de 1ª classes positivo expresso da comissão de avaliação do estágio pro-
sucessivamente). batório.
Para ele; os cargos que integram classes funcionais Mas, mesmo durante o estágio probatório, o servidor
são chamados sucessivamente cargos de carreira. Mas há não pode ser exonerado ou demitido sem inquérito ou sem
também os chamados cargos isolados que, apesar de inte- as formalidades legais de apuração de suas capacidades, in-
grarem o quadro funcional geral do ente, não pertencem a clusive com ampla defesa (Súmula n. 21, STF, e art. 5º, IV, CF).
qualquer carreira, não ensejando, consequentemente, pro- Apesar de terem muitas conexões, o instituto da efeti-
gressão funcional. São cargos de natureza estanque (ex.: Mi- vidade não se confunde com o da estabilidade. O empos-
nistro do TCU). sado em cargo efetivo de pronto já tem efetividade, que é
Desta forma todo cargo é composto de funções pró- concernente à natureza do cargo que ocupa, mas só terá
prias, mas nem toda função pública pressupõe a existência estabilidade após três anos. A efetividade do cargo é um dos
de um cargo na qual deva estar alocada. Nos ensina o auto principais requisitos para a obtenção da estabilidade.
que: há funções públicas sem cargo: as funções gratificadas, Até a Reforma Administrativa, da EC n. 19/1998, o prazo
pelas quais o servidor com vínculo permanente percebe re- para a aquisição de estabilidade era o mesmo da vitalicieda-
muneração pelo desempenho da atividade (art. 37, V); e as de – dois anos.
funções temporárias (art. 37, IX). Os empregados públicos As causas taxativamente previstas na CF como enseja-
também exercem função pública sem ocupar cargos, pos- doras da perda do cargo pelo servidor estável são as se-
suindo emprego público, que é a relação jurídica trabalhista guintes:

7
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

(a) Decisão judicial transitada em julgado, prevista no confiança podem ser exercidos por pessoas “extraquadros”,
art. 41, §1º, I (única hipótese, como vimos acima, que tam- respeitados apenas os percentuais mínimos previstos em lei
bém é de perda do cargo vitalício); destinados obrigatoriamente a servidores efetivos. Em ou-
(b) Decisão em processo administrativo com ampla de- tras palavras, “os cargos em comissão representam as mais
fesa e contraditório (art. 41, §1º, II); elevadas responsabilidades a serem exercidas sob a fidúcia
(c) Avaliação periódica de desempenho, conforme pre- da autoridade nomeante e, em linha de princípio, podem
visto em lei complementar de cada ente e assegurado o recair sobre quaisquer destinatários, servidores ou não, des-
contraditório. O art. 41, §1º, III, que prevê essa hipótese de de que preencham as condições legais ou regulamentares
perda do cargo pelo servidor estável, é, portanto, norma de preestabelecidas pelo Poder Público. Por outro lado, a le-
eficácia limitada, ou seja, cuja eficácia está condicionada à gislação infraconstitucional deverá contemplar uma reserva
edição da lei complementar nela referida. CELSO ANTÔNIO de tais cargos para os servidores organizados em carreira
BANDEIRA DE MELLO sustenta que esta hipótese deve ser (CF/88, art. 37, V). As funções de confiança, de outra banda,
entendida como apenas os casos em que a insuficiência já aparecem na estrutura administrativa escalonadas imediata-
seria de tal monta que de qualquer forma já ensejaria a de- mente abaixo dos cargos em comissão e são exclusivas dos
missão prevista no inciso II; servidores ocupantes de cargos efetivos de qualquer esfera
(d) Necessidade de redução de despesas para cumpri- governamental”. Inerente às funções de confiança e aos car-
mento do percentual de 60% da receita corrente líquida com gos em comissão está o grau de fidúcia esperado de ocu-
despesas de pessoal, na forma do art. 169 c/c o art. 247, pante de ambos, sendo necessária uma relação de confiança
CF, art. 33 da Emenda Constitucional n. 19/98, regulamenta- qualificada, superior àquela ordinariamente já exigida.
do pelos arts. 18 e 20 da Lei de Responsabilidade Fiscal (Lei Com efeito, há de existir na criação de cargos em comis-
Complementar n. 101/00) e pela Lei n. 9.801/99. são uma fidúcia pessoal diferente daquela que é exigível de
O servidor estável que perder o cargo por essa razão, todo indivíduo que ocupe uma posição no organograma da
de cunho financeiro-orçamentário, terá direito a indenização Administração, seja por determinação do regime estatutário
na forma do § 5º do art. 169, CF (um mês de remuneração que lhe seja aplicável, seja pelas normas da legislação tra-
por ano de serviço). O seu cargo é definitivamente extinto, balhista que determinam ao empregado agir de forma leal
e ele nem ficará em disponibilidade (ver conceito adiante), com o empregador.
desligando-se, outrossim, definitivamente do serviço públi- O art. 37, V, in fine, reafirmando posição doutrinária já
co (169, § 6º). existente, dispõe que não é qualquer cargo que a Lei pode
Quanto à diferença entre a vitaliciedade e estabilidade, considerar de confiança, mas apenas os de direção, chefia e
diz HELY LOPES MEIRELLES que a vitaliciedade é no cargo e a assessoramento. Para EDMIR NETTO DE ARAUJO, a elas de-
estabilidade, no serviço público. CARMEN LÚCIA ANTUNES veriam ser acrescentadas as funções de “consultoria e assis-
DA ROCHA entende que esta distinção, apesar de tradicio- tência”, que não foram contempladas, ou por uma omissão
nalmente repetida, não é procedente, já que não há vínculo do Constituinte, ou ainda por poderem ser implicitamente
genérico com o serviço público, mas sim com determinado retiradas da terminologia “assessoramento”, o que, entre-
cargo. Neste sentido, caracteriza a vitaliciedade simples- tanto, não seria tecnicamente preciso.
mente como uma “estabilidade especial”, mais fácil (dois em A exigência constitucional de que os cargos comissio-
vez de três anos) de ser adquirida e revestida de maiores nados sejam reservados a situações de direção, chefia e as-
proteções (perda só com decisão transitada em julgado). sessoramento demonstra que somente posições com uma
Como a Constituição Federal, ao tratar da estabilidade carga de responsabilidade e fidúcia reforçadas justificam a
(art. 41), refere-se apenas à nomeação (não a contratação) exceção ao dever de realizar concurso público para o preen-
e a cargos (não a empregos), não há de se falar da estabi- chimento de vagas na Administração Pública.
lidade para os servidores trabalhistas, ressalvadas algumas Vale nesse sentido comentar uma importante decisão
restrições à sua dispensa, já que o fato de os empregados do STF sobre a criação de cargos em comissão, matéria que,
públicos não terem estabilidade não quer dizer que a sua embora permeadas por alto grau de discricionariedade le-
dispensa possa ser arbitrária, desmotivada ou desrespeitosa gislativa, foi sindicada pelo Poder Judiciário: na ADI n. 3.233,
dos princípios da Administração Pública. Não que seja ad- o Pleno declarou a inconstitucionalidade, por violação ao art.
missível apenas a sua dispensa com justa causa, mas devem 37, II, da Constituição Federal, do art. 1º, caput e incisos I e II,
ser adotados critérios motivados, razoáveis e igualitários na da Lei n.6.600/98; do art. 5º da Lei Complementar n. 57/03 e
definição de quais empregados serão dispensados e quais das Leis n. 7.679/04 e n. 7.696/04, todas do Estado da Paraí-
não o serão. O art. 3º da Lei n. 9.962/00 adotou esta dou- ba, que criaram funções de confiança denominadas “agente
trina. judiciário de vigilância”, posteriormente denominadas “as-
3) Cargos em comissão sessor de segurança”. Entendeu que referidas funções não
Os cargos em comissão, também chamados de cargos exigiam habilidade profissional específica, também não sen-
de confiança, ao contrário dos anteriores, não possuem do funções dotadas de poder de comando, e, portanto, não
qualquer caráter de permanência, sendo de livre nomeação poderiam ser consideradas, ainda que por Lei “funções de
(independem de concurso público) e exoneração (despida confiança”, a serem preenchidas sob a forma de cargos em
de qualquer formalidade ou condição) – art. 37, II, in fine. comissão, e, por conseguinte, sem concurso público.
O art. 37, V, tratou de forma distinta as funções de Apesar de a expressão “função de confiança” ser real-
confiança e os cargos de confiança: aquelas só podem ser mente um conceito jurídico indeterminado, é possível a sua
exercidas por ocupantes de cargo efetivo; e os cargos de sindicabilidade à luz das normas constitucionais, sobretudo

8
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

em hipóteses como a acima aventada, que claramente não des de Economia Mista que desempenham atividades eco-
se enquadrava no referido conceito – ou seja, encontrava-se nômicas só é cabível por meio de lei e, ao mesmo tempo,
na zona de certeza negativa do conceito, que “destina-se nestas mesmas Sociedades, houve por bem não submeter à
apenas às atribuições de direção, chefia e assessoramen- lei a criação de empregos públicos (...).”
to” (art. 37, V, CF). Não basta obviamente a lei apenas dar o Fora do Poder Executivo, possuem iniciativa legislativa
nome de “assessor”. privativa para criar posições funcionais no âmbito de suas
Por fim, dentro da espécie dos cargos de confiança, respectivas estruturas funcionais o Poder Judiciário (art. 96,
poderíamos também incluir os cargos de provimento por II, b), os Tribunais de Contas e o Ministério Público (art. 127,
prazo determinado, vedada a exoneração ad nutum (ex.: § 2º).
os dirigentes das agências reguladoras, Chefes dos Mi- No que concerne ao próprio Poder Legislativo, a matéria
nistérios Públicos e os reitores de universidades públicas). não é regulamentada por lei, o que exigiria a sanção presi-
ODETE MEDAUAR os denomina de “cargos ocupados por dencial, atenuando sua própria autonomia de maneira que
mandato”. Pelo entendimento do STF (ADI n. 1.949), não há os seus cargos podem ser criados, transformados ou extin-
propriamente uma “estabilidade temporária”, mas sim uma tos por Resolução Legislativa (arts. 51, IV, e 52, XIII). Apenas a
limitação legal do poder de exoneração às hipóteses de fal- fixação da remuneração é que, após a Emenda Constitucio-
ta grave, após prévio contraditório. Não se exige, natural- nal n. 19/98, ficou dependendo de lei, de iniciativa privativa
mente, fatos da mesma gravidade que os necessários para da Câmara ou do Senado, dependendo do quadro funcional
demitir servidores estáveis. O vínculo não é tão forte, e, por respectivo.
exemplo, a demonstração objetiva da ineficiência do servi-
dor ocupante de cargo em comissão por prazo determinado
seria suficiente para levar à sua exoneração.
A criação é a formação de novos cargos, empregos ou 5. PODERES ADMINISTRATIVOS.
funções públicas no quadro funcional. Na extinção, eles são
suprimidos, não precisando ser feita diretamente pela lei,
mas pelo Chefe do Poder Executivo desde que o cargo este-
ja vago (art. 84, VI). Os poderes conferidos à administração surgem como
Já pela transformação, dá-se a extinção e criação conco- instrumentos para a preservação dos interesses da coleti-
mitante de cargos, funções ou empregos públicos. Uma po- vidade. Caso a administração se utilize destes poderes para
sição desaparece para dar lugar a outra(s) posição(s) nova(s). fins diversos de preservação dos interesses da sociedade,
Como o art. 61, § 1º, II, a, se refere à lei de iniciativa do estará cometendo abuso de poder, ou seja, incidindo em ile-
Chefe do Poder Executivo apenas para a criação de cargos, galidade. Neste caso, o Poder Judiciário poderá efetuar con-
funções e empregos públicos na Administração Direta e nas trole dos atos administrativos que impliquem em excesso ou
autarquias, não se referindo às entidades de direito privado abuso de poder.
da Administração Indireta, os empregos nessas entidades Quanto aos poderes administrativos, eles podem ser
podem ser criados sem lei, atendidas as normas de supervi- colocados como prerrogativas de direito público conferidas
são ministerial e os seus orçamentos. aos agentes públicos, com vistas a permitir que o Estado al-
Assim, a ausência de menção às estatais no referido dis- cance os seus fins. Evidentemente, em contrapartida a estes
positivo constitucional demonstra que o Constituinte, atento poderes, surgem deveres ao administrador.
à natureza empresarial dessas entidades, dispensou-as da “O poder administrativo representa uma prerrogativa
necessidade de lei para criação e extinção de empregos pú- especial de direito público
blicos. outorgada aos agentes do Estado. Cada um desses terá
Para SÉRGIO DE ANDRÉA FERREIRA, “se, para a admi- a seu cargo a execução de certas
nistração pública direta e autárquica, há necessidade de lei, funções. Ora, se tais funções foram por lei cometidas aos
para a caracterização dos cargos em comissão ou empregos agentes, devem eles exercê-las, pois que seu exercício é vol-
de confiança, o mesmo não ocorre com as entidades admi- tado para beneficiar a coletividade. Ao fazê-lo, dentro
nistrativas de direito privado, nas quais isto se faz, ora por dos limites que a lei traçou, pode dizer-se que usaram
decreto, no caso de certas fundações públicas; ou por atos normalmente os seus poderes.
internos dos próprios entes”. Uso do poder, portanto, é a utilização normal, pelos
O Tribunal de Contas da União firmou entendimento agentes públicos, das prerrogativas que a lei lhes confere” .
neste sentido a partir da Decisão n.158/02, em caso refe- Neste sentido, “os poderes administrativos são outorga-
rente ao Banco do Brasil S/A: “Ora, a criação de empregos dos aos agentes do Poder Público para lhes permitir atuação
públicos em Sociedades de Economia Mista que desenvol- voltada aos interesses da coletividade. Sendo assim, deles
vem atividades econômicas não necessita ser realizada por emanam duas ordens de consequência: 1ª) são eles irrenun-
intermédio de lei. É indiscutível, também, que o regime ju- ciáveis; e 2ª) devem ser obrigatoriamente exercidos pelos
rídico das pessoas estatais que desenvolvem tais atividades titulares. Desse modo, as prerrogativas públicas, ao mesmo
é o privado – onde vigora a livre criação de empregos –, tempo em que constituem poderes para o administrador
apenas derrogado excepcionalmente pela Carta Magna. público, impõem-lhe o seu exercício e lhe vedam a inércia,
Ante isto, seria um contrassenso imaginar que o Legislador porque o reflexo desta atinge, em última instância, a coleti-
decidiu que a criação de cargos em comissão em Socieda- vidade, esta a real destinatária de tais poderes. Esse aspec-

9
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

to dúplice do poder administrativo é que se denomina de 3) Poder hierárquico: trata-se do poder conferido à
poder-dever de agir” . Percebe-se que, diferentemente dos administração de fixar campos de competência quanto às
particulares aos quais, quando conferido um poder, podem figuras que compõem sua estrutura. É um poder de auto-or-
optar por exercê-lo ou não, a Administração não tem facul- ganização. É exercido tanto na distribuição de competências
dade de agir, afinal, sua atuação se dá dentro de objetos de entre os órgãos quanto na divisão de deveres entre os servi-
interesse público. Logo, a abstenção não pode ser aceita, o dores que o compõem.
que transforma o poder de agir também num dever de fa- 4) Poder disciplinar: é o poder conferido à administra-
zê-lo: daí se afirmar um poder-dever. Com efeito, o agente ção para aplicar sanções aos seus servidores que pratiquem
omisso poderá ser responsabilizado. infrações disciplinares. Estas sanções aplicadas são apenas
Havendo poderes, naturalmente será possível o abuso as que possuem natureza administrativa, não envolvendo
deles: “A conduta abusiva dos administradores pode decor- sanções civis ou penais. Entre as penas que podem ser apli-
rer de duas causas: 1ª) o agente atua fora dos limites de sua cadas, destacam-se a de advertência, suspensão, demissão
competência; e 2ª) o agente, embora dentro de sua compe- e cassação de aposentadoria. Evidentemente que tais puni-
tência, afasta-se do interesse público que deve nortear todo ções não podem ser aplicadas sem alguns requisitos, como
o desempenho administrativo. No primeiro caso, diz-se que a abertura de sindicância ou processo disciplinar em que se
o agente atuou com ‘excesso de poder’ e no segundo, com garanta o contraditório e a ampla defesa (obs.: existem car-
‘desvio de poder’” . Basicamente, havendo abuso de poder gos que somente são passíveis de demissão por sentença
é possível que se caracterize excesso de poder ou desvio de judicial, que são os vitalícios, como os de magistrado e pro-
poder. No excesso de poder, o agente nem teria competên- motor de justiça).
cia para agir naquela questão e o faz. No abuso de poder, o 5) Poder regulamentar: é o poder conferido à adminis-
agente possui competência para agir naquela questão, mas tração de elaborar decretos e regulamentos. Tanto os de-
não o faz em respeito ao interesse público, ou seja, desvir- cretos quanto os regulamentos podem ser autônomos ou
tua-se do fim que deveria atingir o seu ato, por isso o des- de execução. O regulamento autônomo pode ser editado
vio de poder também é denominado desvio de finalidade. independentemente da existência de lei anterior, se encon-
A conduta abusiva é passível de controle, inclusive judicial. trando no mesmo patamar hierárquico que a lei – por isso, é
passível de controle de constitucionalidade. Os regulamen-
“Pela própria natureza do fato em si, todo abuso de po-
tos de execução dependem da existência de lei anterior para
der se configura como ilegalidade. Não se pode conceber
que possam ser editados e devem obedecer aos seus limites,
que a conduta de um agente, fora dos limites de sua com-
sob pena de ilegalidade – deste modo, se sujeitam a contro-
petência ou despida da finalidade da lei, possa compatibili-
le de legalidade.
zar-se com a legalidade. É certo que nem toda ilegalidade
Nos termos do artigo 84, IV, CF, compete privativamente
decorre de conduta abusiva; mas todo abuso se reveste de
ao Presidente da República expedir decretos e regulamen-
ilegalidade e, como tal, sujeita-se à revisão administrativa ou
tos para a fiel execução da lei, atividade que não pode ser
judicial” . delegada, nos termos do parágrafo único. Em razão disso,
Se é possível o excesso ou o abuso de poder, é claro que há quem entenda que não existem decretos autônomos no
a legislação não apenas confere poderes ao administrador, Brasil. Contudo, o próprio STF já reconheceu decretos autô-
mas também estabelece deveres. nomos como válidos em situações excepcionais.
Os poderes da Administração se dividem em: vinculado, 6) Poder de polícia: é o poder conferido à administra-
discricionário, hierárquico, disciplinar, regulamentar e de po- ção para limitar, disciplinar, restringir e condicionar direitos e
lícia, cujo estudo será aprofundado adiante. atividades particulares para a preservação dos interesses da
1) Poder vinculado: o administrador se encontra diante coletividade. É ainda, fato gerador de tributo, notadamente,
de situações que comportam solução única anteriormente a taxa (artigo 145, II, CF).
prevista por lei. Portanto, não há espaço para que o admi- Além de poderes, os agentes administrativos, obvia-
nistrador faça um juízo discricionário, de conveniência e mente, detêm deveres, em razão das atribuições que exer-
oportunidade. Ele é obrigado a praticar o ato daquela for- cem. Dentre os principais, podem ser citados os seguintes,
ma, porque a lei assim prevê. Ex.: pedido de aposentadoria conforme aponta doutrina a respeito do assunto:
compulsória por servidor que já completou 70 anos; pedido - Dever de probidade: trata-se de um dos deveres mais
de licença para prestar serviço militar obrigatório. relevantes, correspondendo à obrigação do agente público
2) Poder discricionário: é aquele em que o administrador de agir de forma honesta e reta, respeitando a moralidade
não está diante de situações que comportam solução única. administrativa e o interesse público. A violação deste dever
Possui espaço para exercer um juízo de valores de conve- caracteriza ato de improbidade, punível, conforme artigo 37,
niência e oportunidade. Há quem diga que, por haver tal §4º, CF e Lei nº 8.429/92.
liberdade, não existe o dever de motivação, mas isso não - Dever de Prestar Contas: como o que é gerido pelo
está correto: aqui, mais que nunca, o dever de motivar se administrador não lhe pertence, é seu dever prestar contas
faz presente, demonstrando que não houve arbítrio na deci- do que realizou à coletividade, isto é, informar em detalhes
são tomada pelo administrador. Basicamente, não é porque qual o destino dado às verbas e aos bens sob sua gestão.
o administrador tem liberdade para decidir de outra forma Este dever abrange não só aqueles que são agentes públi-
que o fará sem cometer arbitrariedades e, caso o faça, inci- cos, mas a todos que tenham sob sua responsabilidade di-
dirá em ilicitude. O ato discricionário que ofenda os parâme- nheiros, bens ou interesses públicos, independentemente de
tros da razoabilidade é atentatório à lei. serem ou não administradores públicos.

10
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

- Dever de Eficiência: a atividade administrativa deve ser particulares. O regime jurídico será o de direito privado. Ex.:
célere e técnica, mesclando qualidade e quantidade. contrato de aluguel de imóveis, compra de bens de consu-
- Dever de Agir: o administrador possui um poder-dever mo, contratação de água/luz/internet. Basicamente, envolve
de agir, o qual é irrenunciável. Logo, poderá ser responsa- os interesses particulares da Administração, que são secun-
bilizado por omissão ou silêncio, abrindo possibilidade de dários, para que ela possa atender aos interesses primários
obter o ato não realizado por via judicial, notadamente, por – no âmbito destes interesses primários (interesses públicos,
intermédio de mandado de segurança, quando ferir direito difusos e coletivos) é que surgem os atos administrativos,
líquido e certo do interessado. que são atos públicos da Administração, sujeitos a regime
jurídico de direito público.

Atos da Administração ≠ Atos administrativos.


6. ATOS ADMINISTRATIVOS: CONCEITOS,
Atos privados da Administração = atos da Adminis-
REQUISITOS, ATRIBUTOS, CLASSIFICAÇÃO, tração → regime jurídico de direito privado.
ESPÉCIES E INVALIDAÇÃO. Atos públicos da Administração = atos administrati-
vos → regime jurídico de direito público.
Os atos administrativos se situam num plano superior
Ato administrativo: conceito; requisitos; atributos; classi- de direitos e obrigações, eis que visam atender aos interes-
ficação; espécies; anulação; revogação; convalidação; discri- ses públicos primários, denominados difusos e coletivos.
cionariedade e vinculação Logo, são atos de regime público, sujeitos a pressupostos
O ato administrativo é uma espécie de fato administra- de existência e validade diversos dos estabelecidos para os
tivo e é em torno dele que se estrutura a base teórica do atos jurídicos no Código Civil, e sim previstos na Lei de Ação
direito administrativo. Popular e na Lei de Processo Administrativo Federal. Ao in-
Fato administrativo é a “atividade material no exercí- vés de autonomia da vontade, haverá a obrigatoriedade do
cio da função administrativa, que visa a efeitos de ordem cumprimento da lei e, portanto, a administração só poderá
prática para a Administração. [...] Os fatos administrativos agir nestas hipóteses desde que esteja expressa e previa-
podem ser voluntários e naturais. Os fatos administrativos mente autorizada por lei3.
voluntários se materializam de duas maneiras: 1ª) por atos
administrativos, que formalizam a providência desejada Atributos do ato administrativo
pelo administrador através da manifestação da vontade; 1) Imperatividade: em regra, a Administração decreta e
2ª) por condutas administrativas, que refletem os comporta- executa unilateralmente seus atos, não dependendo da par-
mentos e as ações administrativas, sejam ou não precedidas ticipação e nem da concordância do particular. Do poder de
de ato administrativo formal. Já os fatos administrativos na- império ou extroverso, que regula a forma unilateral e coer-
turais são aqueles que se originam de fenômenos da nature- citiva de agir da Administração, se extrai a imperatividade
za, cujos efeitos se refletem na órbita administrativa. Assim, dos atos administrativos.
quando se fizer referência a fato administrativo, deverá estar 2) Auto executoriedade: em regra, a Administração
presente unicamente a noção de que ocorreu um evento di- pode concretamente executar seus atos independente da
nâmico da Administração”1. manifestação do Poder Judiciário, mesmo quando estes afe-
Por seu turno, “a expressão atos da Administração tam diretamente a esfera jurídica de particulares.
traduz sentido amplo e indica todo e qualquer ato que se 3) Presunção de veracidade: todo ato editado ou pu-
origine dos inúmeros órgãos que compõem o sistema ad- blicado pela Administração é presumivelmente verdadeiro,
ministrativo em qualquer dos Poderes. [...] Na verdade, entre seja na forma, seja no conteúdo, o que se denomina “fé pú-
os atos da Administração se enquadram atos que não blica”. Evidente que tal presunção é relativa (juris tantum),
se caracterizam propriamente como atos administra- mas é muito difícil de ser ilidida. Só pode ser quebrada me-
tivos, como é o caso dos atos privados da Administração. diante ação declaratória de falsidade, que irá argumentar
Exemplo: os contratos regidos pelo direito privado, como a que houve uma falsidade material (violação física do docu-
compra e venda, a locação etc. No mesmo plano estão os mento que traz o ato) ou uma falsidade ideológica (docu-
atos materiais, que correspondem aos fatos administrativos, mento que expressa uma inverdade).
noção vista acima: são eles atos da Administração, mas não 4) Presunção de legitimidade: Sempre que a Adminis-
configuram atos administrativos típicos. Alguns autores alu- tração agir se presume que o fez conforme a lei. Tal presun-
dem também aos atos políticos ou de governo”2. ção é relativa (juris tantum), podendo contudo ser ilidida por
Com efeito, a expressão atos da Administração é mais qualquer meio de prova.
ampla. Envolve, também, os atos privados da Administração, Obs.: Todo ato administrativo tem presunção de veraci-
referentes às ações da Administração no atendimento de dade e de legitimidade, mas nem todo ato administrativo é
seus interesses e necessidades operacionais e instrumentais imperativo (pode precisar da concordância do particular, a
agindo no mesmo plano de direitos e obrigações que os exemplo dos atos negociais).
1 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito ad-
ministrativo. 28. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris, 2015.
Elementos
2 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito ad- 3 BALDACCI, Roberto Geists. Direito administrativo. São
ministrativo. 28. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris, 2015. Paulo: Prima Cursos Preparatórios, 2004.

11
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

1) Competência: é o poder-dever atribuído a determi- 3) P + inválido = ineficaz. O ato perfeito e inválido é,


nado agente público para praticar certo ato administrativo. em regra, ineficaz.
A pessoa jurídica, o órgão e o agente público devem estar 4) P + inválido = eficaz. O ato perfeito e inválido pode
revestidos de competência. A competência é sempre fixada ser eficaz se já tiver gerado efeitos próprios e for relevante
por lei. para a segurança jurídica manter tais efeitos.
2) Finalidade: é a razão jurídica pela qual um ato admi- 5) Imperfeito = inválido + ineficaz. O ato imperfeito
nistrativo foi abstratamente criado pela ordem jurídica. A lei não é válido e nem eficaz.
estabelece que os atos administrativos devem ser praticados 6) Imperfeito = inválido + eficaz. O ato imperfeito
visando a um fim, notadamente, a satisfação do interesse pode gerar efeitos impróprios, que não dependem da exe-
público. Contudo, embora os atos administrativos sempre cução do ato, como o efeito impróprio reflexo (repercussão
tenham por objeto a satisfação do interesse público, esse em outros atos ou situações jurídicas) e o efeito impróprio
interesse é variável de acordo com a situação. Se a autorida- prodrômico (efeito de natureza procedimental que implica
de administrativa praticar um ato fora da finalidade genérica numa providência ou etapa necessária para aperfeiçoamen-
ou fora da finalidade específica, estará praticando um ato to do ato, como a manifestação de um segundo agente ou
viciado que é chamado “desvio de poder ou desvio de fina- órgão).
lidade”. 7) Imperfeito = válido + ineficaz. O ato imperfeito
3) Forma: é a maneira pela qual o ato se revela no mun- pode preencher os requisitos de validade, mas se lhe faltar
do jurídico. Usualmente, adota-se a forma escrita. Eventual- um pressuposto especial será imperfeito e, logo, ineficaz.
mente, pode ser praticado por sinais ou gestos (ex: trânsito).
A forma é sempre fixada por lei. Espécies5
4) Motivo (vontade): vontade é o querer do ato admi- a) Atos normativos: são atos gerais e abstratos visando
nistrativo e dela se extrai o motivo, que é o acontecimento a correta aplicação da lei. É o caso dos decretos, regulamen-
real que autoriza/determina a prática do ato administrativo. tos, regimentos, resoluções, deliberações.
É o ato baseado em fatos e circunstâncias, que o administra- b) Atos ordinatórios: disciplinam o funcionamento da
dor por escolher, mas deve respeitar os limites e intenções Administração e a conduta de seus agentes. É o caso de ins-
da lei. Nem sempre os atos administrativos possuem motivo truções, circulares, avisos, portarias, ofícios, despachos ad-
legal. Nos casos em que o motivo legal não está descrito
ministrativos, decisões administrativas.
na norma, a lei deu competência discricionária para que o
c) Atos negociais: são aqueles estabelecidos entre Ad-
sujeito escolha o motivo legal (o motivo deve ser oportuno
ministração e administrado em consenso. É o caso de licen-
e conveniente). A teoria dos Motivos Determinantes afirma
ças, autorizações, permissões, aprovações, vistos, dispensa,
que os motivos alegados para a prática de um ato admi-
homologação, renúncia.
nistrativo ficam a ele vinculados de tal modo que a prática
d) Atos enunciativos: são aqueles em que a Administra-
de um ato administrativo mediante a alegação de motivos
ção certifica ou atesta um fato sem vincular ao seu conteú-
falsos ou inexistentes determina a sua invalidade.
5) Objeto (conteúdo): é o que o ato afirma ou declara, do. É o caso de atestados, certidões, pareceres.
manifestando a vontade do Estado. A lei não fixa qual deve e) Atos punitivos: são aqueles que emanam punições
ser o conteúdo ou objeto de um ato administrativo, restan- aos particulares e servidores.
do ao administrador preencher o vazio nestas situações. O
ato é branco/indefinido. No entanto, deve se demonstrar Classificação6
que a prática do ato é oportuna e conveniente. a) Quanto ao seu regramento:
Obs.: Quando se diz que a escolha do motivo e do ob- 1) Atos vinculados: são os que possuem todos os pres-
jeto do ato é discricionária não significa que seja arbitrária, supostos e elementos necessários para sua prática e perfei-
pois deve se demonstrar a oportunidade e a conveniência. ção previamente estabelecidos em lei que autoriza a práti-
Mérito = oportunidade + conveniência ca daquele ato. O administrador é um “mero cumpridor de
leis”. Também se denomina ato de exercício obrigatório.
Perfeição e validade 2) Atos discricionários: são os atos que possuem parte
Destaca-se esquemática trazida por Baldacci4: de seus pressupostos e elementos previamente fixados pela
- Quando todos os pressupostos especiais exigidos por lei autorizadora. No mínimo, a competência, a finalidade e a
lei estiverem presentes, falamos que o ato é perfeito (P). forma estão previamente fixados na lei – são os pressupos-
- Quanto estes pressupostos preenchidos respeitarem o tos vinculados. Aquilo que está em branco ou indefinido na
que a lei exige, falamos que é válido (V). lei será preenchido pelo administrador. Tal preenchimento
- Quanto está apto a surtir seus efeitos próprios falamos deve ser feito motivadamente com base em fatos e circuns-
que é eficaz (E). tâncias que somente o administrador pode escolher. Contu-
1) P + V = E. Os atos perfeitos e válidos são eficazes do, tal escolha não é livre, os fatos e circunstâncias devem
em regra. ser adequados (razoáveis e proporcionais) aos limites e in-
2) P + V = ineficaz. Os atos perfeitos e válidos podem tenções da lei.
não ser eficazes se estiver pendente o implemento de con-
5 BARBOSA, Carlos. Atos administrativos. Disponível em:
dição. <http://www.stf.jus.br/>. Acesso em: 06 mar. 2016.
4 BALDACCI, Roberto Geists. Direito administrativo. São 6 BARBOSA, Carlos. Atos administrativos. Disponível em:
Paulo: Prima Cursos Preparatórios, 2004. <http://www.stf.jus.br/>. Acesso em: 06 mar. 2016.

12
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

b) Quanto ao destinatário: retirada do ato administrativo em decorrência de ter sobre-


1) Atos gerais: dirigidos à coletividade em geral, com vindo norma superior que torna incompatível a manutenção
finalidade normativa, atingindo uma gama de pessoas que do ato com a nova realidade jurídica instaurada.
estejam na mesma situação jurídica nele estabelecida. O par- 4) Renúncia: É a extinção do ato administrativo eficaz
ticular não pode impugnar, pois os efeitos são para todos. em virtude de seu beneficiário não mais desejar a sua conti-
2) Atos individuais: dirigidos a pessoa certa e deter- nuidade. A renúncia só tem cabimento em atos que conce-
minada, criando situações jurídicas individuais. O particular dem privilégios e prerrogativas.
atingido pode impugnar. 5) Recusa: É a extinção do ato administrativo ineficaz
c) Quanto ao seu alcance: em decorrência do seu futuro beneficiário não manifestar
1) Atos internos: praticados no âmbito interno da Ad- concordância, tida como indispensável para que o ato pu-
ministração, incidindo sobre órgãos e agentes administra- desse projetar regularmente seus efeitos. Se o futuro bene-
tivos. ficiário recusa a possibilidade da eficácia do ato, esse será
2) Atos externos: praticados no âmbito externo da extinto.
Administração, atingindo administrados e contratados. São
obrigatórios a partir da publicação. Convalidação do Ato Administrativo
d) Quanto ao seu objeto: É o ato administrativo que, com efeitos retroativos, sana
1) Atos de império: praticados com supremacia em vício de ato antecedente, de modo a torná-lo válido desde
relação ao particular e servidor, impondo o seu obrigatório o seu nascimento, ou seja, é um ato posterior que sana um
cumprimento. vício de um ato anterior, transformando-o em válido desde
2) Atos de gestão: praticados em igualdade de condi- o momento em que foi praticado.
ção com o particular, ou seja, sem usar de suas prerrogativas Há alguns autores que não aceitam a convalidação dos
sobre o destinatário. atos, sustentando que os atos administrativos somente po-
3) Atos de expediente: praticados para dar andamento dem ser nulos. Os únicos atos que se ajustariam à convalida-
a processos e papéis que tramitam internamente na admi- ção seriam os atos anuláveis.
nistração pública. São atos de rotina administrativa. Existem três formas de convalidação:
e) Quanto a formação (processo de elaboração): - Ratificação: é a convalidação feita pela própria autori-
1) Ato simples: nasce por meio da manifestação de dade que praticou o ato;
vontade de um órgão (unipessoal ou colegiado) ou agente - Confirmação: é a convalidação feita por autoridade su-
da Administração. perior àquela que praticou o ato;
2) Ato complexo: nasce da manifestação de vontade de - Saneamento: é a convalidação feita por ato de terceiro,
mais de um órgão ou agente administrativo. ou seja, não é feita nem por quem praticou o ato nem por
3) Ato composto: nasce da manifestação de vontade autoridade superior.
de um órgão ou agente, mas depende de outra vontade que Não se deve confundir a convalidação com a conversão
o ratifique para produzir efeitos e tornar-se exequível. do ato administrativo. Há um ato viciado e, para regularizar
a situação, ele é transformado em outro, de diferente tipolo-
Extinção gia. O ato nulo, embora não possa ser convalidado, poderá
Pode se dar nas seguintes situações: ser convertido, transformando-se em ato válido.
1) Cumprimento dos seus Efeitos: Cumprindo todos
os seus efeitos, não terá mais razão de existir sob o ponto
de vista jurídico.
2) Desaparecimento do Sujeito ou do Objeto do Ato: 7. CONTROLE E RESPONSABILIZAÇÃO
Se o sujeito ou o objeto perecer, o ato será considerado ex- DA ADMINISTRAÇÃO: CONTROLE
tinto.
ADMINISTRATIVO, CONTROLE
3) Retirada: Ocorre a edição de outro ato jurídico que
JUDICIAL, CONTROLE LEGISLATIVO,
elimina o ato. Pode se dar por anulação, que é a retirada do
ato administrativo em decorrência de sua invalidade, reco- RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO.
nhecida judicial ou administrativamente, preservando-se os
direitos dos terceiros de boa-fé; por revogação, que é a re-
tirada do ato administrativo em decorrência da sua inconve-
niência ou inoportunidade em face dos interesses públicos, O servidor público sujeita-se à responsabilidade civil,
sendo o ato válido e praticado dentro da Lei, efetuando-se penal e administrativa decorrente do exercício do cargo,
a revogação na via administrativa; cassação, que é a retira- emprego ou função . Por outras palavras, ele pode praticar
da do ato administrativo em decorrência do beneficiário ter atos ilícitos no âmbito civil, penal e administrativo. Isto é o
descumprido condição tida como indispensável para a ma- que nos ensina a professora Maria Sylvia Zanella Di Pietro,
nutenção do ato; contraposição ou derrubada, que é a re- conforme segue:
tirada do ato administrativo em decorrência de ser expedido A responsabilidade civil é de ordem patrimonial e de-
outro ato fundado em competência diversa da do primeiro, corre do artigo 186 do Código Civil, que consagra a regra,
mas que projeta efeitos antagônicos ao daquele, de modo aceita universalmente, segundo a qual todo aquele que cau-
a inibir a continuidade da sua eficácia; caducidade, que é a sa dano a outrem é obrigado a repará-lo.

13
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Analisando-se aquele dispositivo, verifica-se que, para Os meios de apuração previstos nas leis estatutárias são
configurar-se o ilícito civil, exige-se: os sumários, compreendendo a verdade sabida e a sindicân-
1. ação ou omissão antijurídica; cia, e o processo administrativo disciplinar, impropriamente
2. culpa o u dolo; com relação a este elemento, à s vezes denominado inquérito administrativo.
de difícil comprovação, a lei admite alguns casos de respon- Comprovada a infração, o servidor fica sujeito a penas
sabilidade objetiva (sem culpa) e também de culpa presumi- disciplinares.
da; uma e outra constituem exceções à regra geral de res- Na esfera federal, a Lei nº 8.112/90 prevê, no artigo 127,
ponsabilidade subjetiva, somente sendo cabíveis diante de as penas de advertência, destituição de cargo em comissão,
norma legal expressa; destituição de função comissionada, suspensão, demissão e
3. relação de causalidade entre a ação ou omissão e o cassação de aposentadoria; e define, nos artigos subsequen-
dano verificado; tes, as hipóteses de cabimento de cada uma delas.
4. ocorrência de um dano material ou moral. Não há, com relação ao ilícito administrativo, a mesma
Quando o dano é causado por servidor público, é neces- tipicidade que caracteriza o ilícito penal. A maior parte das
sário distinguir duas hipóteses: infrações não é definida com precisão, limitando-se a lei, em
1. dano causado ao Estado;
regra, a falar em falta de cumprimento dos deveres, falta de
2. dano causado a terceiros.
exação no cumprimento do dever, insubordinação grave,
No primeiro caso, a sua responsabilidade é apurada pela
procedimento irregular, incontinência pública; poucas são as
própria Administração, por meio de processo administrativo
cercado de todas as garantias de defesa do servidor. As leis infrações definidas, como o abandono de cargo ou os ilícitos
estatutárias em geral estabelecem procedimentos autoexe- que correspondem a crimes ou contravenções.
cutórios (não dependentes de autorização judicial) , pelos Isso significa que a Administração dispõe de certa mar-
quais a Administração desconta dos vencimentos do servi- gem de apreciação no enquadramento da falta dentre os
dor a importância necessária ao ressarcimento dos prejuízos, ilícitos previstos na lei, o que não significa possibilidade de
respeitado o limite mensal fixado em lei, com vistas à preser- decisão arbitrária, já que são previstos critérios a serem ob-
vação do caráter alimentar dos estipêndios. servados obrigatoriamente; é que a lei (artigos 128 da Lei
Quando o servidor é contratado pela legislação traba- Federal e 256 do Estatuto Paulista) determina que na aplica-
lhista, o artigo 462, § 1º, da CLT s ó permite o desconto com ção das penas disciplinares serão consideradas a natureza e
a concordância d o empregado ou em caso de dolo. O des- a gravidade da infração e os danos que dela provierem para
conto dos vencimentos, desde que previsto em lei, é perfei- o serviço público.
tamente válido e independe do consentimento do servidor, É precisamente essa margem de apreciação e ou discri-
inserindo-se entre as hipóteses de autoexecutoriedade dos cionariedade limitada pelos critérios previstos em lei) que
atos administrativos. Isto não subtrai a medida ao controle exige a precisa motivação da penalidade imposta, para de-
judicial, que sempre pode ser exercido mediante provoca- monstrar a adequação entre a infração e a pena escolhida
ção do interessado, quer como medida cautelar que suste a e impedir o arbítrio da Administração. Normalmente essa
decisão administrativa, quer a título de indenização, quando motivação consta do relatório da comissão ou servidor que
o desconto já se concretizou. realizou o procedimento; outras vezes, consta de pareceres
Em caso de crime de que resulte prejuízo para a Fazenda proferidos por órgãos jurídicos preopinantes aos quais se
Pública ou enriquecimento ilícito do servidor, ele ficará sujei- remete a autoridade julgadora; se esta não acatar as ma-
to a sequestro e perdimento de bens, porém com interven- nifestações anteriores, deverá expressamente motivar a sua
ção do Poder Judiciário, na forma do Decreto-lei nº 3.240, de decisão.
8-5-41, e Lei nº 8.429, de 2-6-92 (arts. 16 a 18). Esta última lei Como medidas preventivas, a Lei nº 8.112/90, no arti-
dispõe sobre as sanções aplicáveis aos agentes públicos nos go 147, estabelece o afastamento preventivo por 60 dias,
casos de enriquecimento ilícito no exercício do mandato,
prorrogáveis por igual período, quando o afastamento for
cargo, emprego ou função na Administração Pública Direta,
necessário para que o funcionário não venha a influir na
Indireta ou Fundacional. É a chamada lei de improbidade ad-
apuração da falta cometida. Isto sem falar no sequestro e
ministrativa, que disciplina o artigo 37, §4º, da Constituição.
Quando se trata de dano causado a terceiros, aplica-se perdimento de bens, já referidos.
a norma do artigo 37, § 6º, da Constituição Federal, em de- O servidor responde penalmente quando pratica crime
corrência da qual o Estado responde objetivamente, ou seja, ou contravenção. Existem, no ilícito penal, os mesmos ele-
independentemente de culpa ou dolo, mas fica com o direi- mentos caracterizadores dos demais tipos de atos ilícitos,
to de regresso contra o servidor que causou o dano, desde porém com algumas peculiaridades:
que este tenha agido com culpa ou dolo. 1. a ação ou omissão deve ser antijurídica e típica, o u
O servidor responde administrativamente pelos ilícitos seja, corresponder ao tipo, ao modelo de conduta definido
administrativos definidos na legislação estatutária e que na lei penal como crime ou contravenção;
apresentam os mesmos elementos básicos do ilícito civil: 2. dolo ou culpa, sem possibilidade de haver hipóteses d
ação ou omissão contrária à lei, culpa ou dolo e dano. e responsabilidade objetiva;
Nesse caso, a infração será apurada pela própria Admi- 3. relação de causalidade;
nistração Pública, que deverá instaurar procedimento ade- 4. dano ou perigo de dano: nem sempre é necessário
quado a esse fim, assegurando ao servidor o contraditório e que o dano se concretize; basta haver o risco de dano, como
a ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes, nos ocorre na tentativa e em determinados tipos de crime que
termos do artigo 52, inciso LV, da Constituição. põem em risco a incolumidade pública.

14
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Para fins criminais, o conceito de servidor público é am- 4) Absolvição penal por ausência de prova: não produz
plo, mais se aproximando do conceito de agente público. O efeitos tanto no cível como no administrativo, já que as pro-
artigo 327 do Código Penal, com a redação dada pela Lei nº vas, nestes, menos rígidos, podem ser suficientes para confi-
9.983, de 13-7-00, considera “funcionário público, para os gurar o que a Súmula n. 18 do STF denomina “falta residual”.
efeitos penais, quem, embora transitoriamente ou sem re- Em relação à Responsabilidade Civil do Estado no Di-
muneração, exerce cargo, emprego ou função pública”. O § reito Brasileiro iremos trazer os ensinamentos do professor
1 º equipara a funcionário “quem exerce cargo, emprego ou Alexandre Santos de Aragão que defende que a responsa-
função em entidade paraestatal, e quem trabalha para em- bilidade civil do Estado: possui contornos próprios e, histo-
presa prestadora de serviço contratada ou conveniada para ricamente, tem evoluído no sentido da sua maior amplitude
a execução de atividade típica da Administração Pública”. O e publicização: desde a impossibilidade de o Estado ser ci-
sentido da expressão entidade paraestatal, nesse dispositi- vilmente responsabilizado (the king can do no wrong), pas-
vo, tem sido objeto de divergências doutrinárias, alguns en- sando pela responsabilidade por culpa em diversas moda-
tendendo que só abrange as autarquias, outros incluindo as lidades (ex.: culpa presumida), até a atual responsabilidade
empresas públicas e sociedades de economia mista. Razão objetiva (independentemente de culpa ou ilícito), por risco
assiste aos que defendem este último entendimento, pois, administrativo ou até mesmo por risco integral, casos ex-
se o empregado de entidade privada é considerado fun- cepcionais esses (de risco integral) em que se prescinde até
cionário público, para fins criminais, pelo fato de a mesma mesmo do nexo de causalidade entre o dano sofrido pelo
prestar atividade típica da Administração Pública, com muito particular e o Estado.
mais razão o empregado das sociedades de economia mista, O autor nos ensina que: estágio atual de evolução em
empresas públicas e demais entidades sob controle direto nosso Direito Positivo é, desde a Constituição de 1946, o da
ou indireto do poder público. responsabilidade objetiva por risco administrativo, decor-
O fato de o Estado ser primariamente responsável pelos rência de os danos causados pelo Estado advirem de ativi-
danos causados pelos seus comportamentos não quer di- dade do interesse de toda a coletividade. É o que dispõe o
zer que os agentes públicos que materialmente executaram art. 37, §6º, da Constituição Federal: “O Estado responderá
tais comportamentos também não possam sê-lo, mas dessa pelos danos que seus agentes, nesta qualidade, causarem
responsabilidade se exigirá a ilicitude. Ou seja, os agentes a terceiros”, independentemente de dolo ou culpa, os quais
públicos só são responsáveis pelos danos que, nessa quali-
somente terão importância para se estabelecer o direito de
dade, causarem, se tiverem culpa ou dolo (responsabilidade
regresso do ente contra o seu funcionário ou empregado.
subjetiva).
Para ele o caráter objetivo da responsabilidade pela
O direito de regresso pode ser satisfeito através de ação
prestação de serviços públicos em sentido estrito (não qual-
judicial ou por acordo. Fora disso, é muito questionável a
quer atividade administrativa) pode fundamentar-se, hoje,
possibilidade de o Estado exercer este direito descontando
não apenas no art. 37, § 6º, CF, mas também, pelo simples
em folha, coativa e unilateralmente, os valores do regresso,
fato de serem serviços, no art. 12 do CDC (responsabilidade
já que, sem a autorização do servidor, este desconto em fo-
lha consistiria em uma autoexecutoriedade de valores pe- pelo fato do produto e do serviço) e no art. 927, parágrafo
cuniários. único, do Código Civil (responsabilidade objetiva das ativi-
Por derradeiro, assinalamos que, como se trata de direi- dades de risco).
to patrimonial, o Estado poderá exercer o direito de regresso A existência de tantas normas aptas a justificar a indeni-
contra os sucessores do servidor que causou o ilícito que zação fortalece a posição jurídica dos particulares – usuários
gerou a despesa pública de indenização do terceiro lesado. ou terceiros prejudicados pelo serviço público –, uma vez
As diversas instâncias de responsabilização dos agentes que, em caso de eventual conflito entre elas, o que, todavia,
públicos são autônomas, mas, para evitar contradições entre nos parece difícil de ocorrer diante da semelhança das suas
atos estatais, são parcialmente inter-relacionadas, já que em hipóteses de incidência, poderá invocar a que for capaz de
tese os agentes públicos estão sujeitos concomitantemente melhor embasar a sua pretensão.
às esferas civil, administrativa e penal de responsabilização O art. 37, § 6º, CF, disciplina a responsabilidade do Esta-
(ex.: em caso de tortura praticada em delegacia policial). do por qualquer de suas atividades, não apenas pelos seus
Normalmente a relação se dá entre as esferas civil e ad- serviços públicos em sentido técnico estrito. A única exceção
ministrativa, de um lado, e a penal, de outro, já que esta, que faríamos são as atividades econômicas que o Estado ex-
em face da gravidade de suas potenciais sanções, é a que plorar em concorrência com a iniciativa privada, pois, à luz
possui o procedimento dotado de maior teor garantístico. do que vimos no capítulo referente à Organização Adminis-
Diante dela, podemos estar diante de quatro situações (arg trativa, a responsabilidade objetiva dessas estatais as coloca-
ex art.935, CC): riam em desvantagem diante de seus concorrentes privados
1) Condenação penal: leva à culpa também no processo (art. 173, § 1º, CF).
cível e no administrativo; A ação ou omissão estatal que gerar prejuízo a terceiros
2) Absolvição penal pela negativa do fato ou da autoria: (particulares ou mesmo outra entidade pública) engendra
também produz efeitos no cível e no administrativo; responsabilidade civil objetiva (independentemente de cul-
3) Absolvição penal por ausência de ilicitude (legítima pa ou ilicitude, bastando o nexo causal) dos entes da Fede-
defesa, estado de necessidade, estrito cumprimento de de- ração, das pessoas jurídicas de direito público da Adminis-
ver legal e exercício regular de direito): produz efeito no cível tração Indireta, das pessoas jurídicas de direito privado da
e no administrativo (art. 65, CPP); Administração Indireta que não exerçam atividades econô-

15
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

micas stricto sensu em concorrência com a iniciativa privada relevante para esse efeito a execução meramente material
(art. 173, § 1º, CF) e dos delegatários privados de serviços pelo concessionário das determinações estatais. O conces-
públicos (ex.: concessionários de serviços públicos). sionário é, nesses casos, mera longa manus do Poder conce-
Especificamente em relação à responsabilidade civil dente ou do regulador, sem atitude volitiva própria.
das delegatárias de serviços públicos, em caso de acidente O ponto extremo da responsabilidade civil estatal é a
de trânsito, o STF adotou posição em caso isolado (RE n. teoria do risco social ou risco integral, em que o Estado é
302622/MG), já em vias de superação, de que essas entida- responsável até por danos não imputáveis ao seu compor-
des são objetivamente responsáveis, nos termos do art. 37, tamento independentemente até mesmo de nexo de causa-
§ 6º, CF, apenas pelos danos que causarem aos usuários dos lidade, sem possibilidade de causas de exclusão (caso for-
serviços públicos delegados, não a terceiros que não os es- tuito, força maior, culpa de terceiros, da própria vítima etc.).
tejam utilizando (no caso o proprietário do veículo particular Além da responsabilidade por danos nucleares (art. 21, XXIII,
com o qual o ônibus da concessionária colidiu). d, CF, regulamentado pela Lei n.6.453/77), outro exemplo
Apesar da grande perplexidade gerada pela decisão, ela dessa espécie de obrigação pecuniária do Estado, mais de
tem, embora não citada expressamente pelo acórdão, apoio seguridade social que de responsabilidade civil propriamen-
em alguma doutrina, como a de FRANCIS-PAUL BÉNOIT, que te dita, é a instituída pela Lei n.10.744, de 09 de outubro de
distingue o fundamento da responsabilidade da Administra- 2003, que, adotando a Teoria do Risco Integral, propicia à
ção Pública conforme se trate de usuário do serviço público União arcar com os prejuízos que venham a ser causados
ou de terceiro. Em relação àqueles o seu fundamento seria o por atos terroristas.
direito que possuem ao bom funcionamento do serviço; ao O entendimento do referido autor segue no sentido de
passo que para terceiros o fundamento seria mais genérico, que são condutas geradoras da responsabilidade:
consubstanciado no direito a não sofrer nenhum dano anor- - Ação do Estado
mal por fatos produzidos pela Administração Pública. Nesta hipótese, o dano é causado diretamente pelo
Pois bem, no Recurso Extraordinário n. 459.749, no qual próprio Estado, que terá responsabilidade objetiva, ou seja,
se discutiu acórdão do Tribunal de Justiça do Estado de Per- independente de culpa e da ilicitude do ato.
nambuco que condenara empresa privada concessionária Mesmo que o Estado sem culpa e licitamente cause dano
de serviço público de transporte ao pagamento de inde- a outrem, deverá indenizá-lo com fundamento no princípio
nização por dano moral a terceiro não usuário, atropelado
da solidariedade social, conforme vimos ao analisarmos os
por veículo da empresa, os quatro votos até então proferi-
fundamentos da responsabilidade civil do Estado. Não é
dos – Ministro Relator JOAQUIM BARBOSA, Ministra CÁR-
porque uma conduta do Estado é lícita que um indivíduo
MEN LÚCIA, Ministro RICARDO LEWANDOWSKI e Ministro
pode sofrer sem qualquer espécie de proteção um prejuízo
CARLOS BRITTO – afirmaram a responsabilidade objetiva
em prol de toda a coletividade, observados os requisitos do
das prestadoras de serviços públicos também relativamen-
dano que veremos no tópico XIX.
te aos terceiros não usuários de serviços públicos. Em seu
A responsabilidade por ato ou fato lícito é um dos dados
voto, o relator reputou indevido diferenciar a sistemática de
responsabilidade aplicável conforme a qualidade da vítima, distintivos da responsabilidade objetiva em relação à subje-
uma vez que a responsabilidade objetiva do art. 37, § 6º, tiva ou por culpa. Se a sociedade teve os proveitos, também
da Constituição Federal decorre, tão somente, da natureza deve arcar com os ônus sofridos especialmente por um(s)
da atividade administrativa, não fazendo qualquer distinção dos seus membros (art. 37, § 6º, CF).
quanto ao lesado. É lógico que, muitas vezes, o comportamento comissivo
O julgamento em questão havia sido suspenso em virtu- lesivo será ilícito. Mas este aspecto é irrelevante para a res-
de de pedido de vista formulado pelo Ministro EROS GRAU ponsabilização do Estado, sendo de se considerar apenas a
e constitui uma esperança de que o entendimento esposa- responsabilidade objetiva. Em outras palavras, mesmo que
do no primeiro caso acima mencionado seja definitivamente o ato estatal tenha sido ilícito, o particular, para deflagrar
sepultado pela Corte. Deveremos, no entanto, aguardar mais a responsabilidade do Estado, não precisa provar tal ilicitu-
um pouco para que isso seja consolidado, já que, segundo de, bastando demonstrar o nexo de causalidade. Apenas a
o site do STF, as partes chegaram a um acordo, requerendo responsabilidade pessoal do próprio agente público exige
a sua homologação e a consequente extinção do processo. aquela comprovação.
Outra possível exclusão da aplicação do art. 37, § 6º, Resumindo a responsabilidade comissiva do Estado,
CF, às delegatárias de serviços públicos se deve ao fato de sempre objetiva, pode se dar tanto nos casos de atos jurí-
que muitos dos comportamentos dessas empresas não po- dicos lícitos (ex.: proibição do trânsito em rua em que até
dem ser considerados oriundos de decisões próprias, mas então funcionava um edifício-garagem privado, que natu-
sim de determinações do Poder concedente. Nesses casos, ralmente não terá mais como subsistir); atos materiais líci-
se ocasionarem prejuízos a particulares, a responsabilidade tos (ex.: nivelamento de rua, em que as janelas das casas
do Estado (ou de eventual autarquia reguladora) não será possam ficar abaixo do nível da rua); atos jurídicos ilícitos
meramente subsidiária (apenas em caso de insolvência da (ex.: apreensão de jornais contrariamente ao direito de li-
prestadora privada de serviço público), como é a regra, mas vre expressão) e atos materiais ilícitos (ex.: espancamento de
direta e exclusiva. prisioneiro pelo carcereiro).
A assertiva se deve ao fato de, em casos tais, o nexo de - Omissão do Estado
causalidade existir diretamente entre o prejuízo do particular Quanto aos atos comissivos (ação estatal), objeto do
e a atuação ou omissão do Poder concedente, não sendo subtópico anterior, o ordenamento pátrio claramente ado-

16
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

tou a teoria objetiva da responsabilidade, sob a modalidade Não é suficiente apenas haver relação entre um dano
do risco criado, emergindo o dever de indenizar o dano cau- não evitado com o qual estaríamos adotando a Teoria do
sado pela atividade estatal, seja ela lícita ou ilícita. Risco Integral ou Social (ex.: todos os assaltos seriam indeni-
Todavia, em relação à responsabilidade do Estado por záveis pelo Estado), exigindo-se também a falha do serviço
omissão, a doutrina e a jurisprudência dominantes exigem a do Estado.
presença do elemento culpa, sendo suficiente para caracte- Como expõe CELSO ANTÔNIO BANDEIRA DE MELLO,
rizá-la provar que a situação impunha um dever de agir ao deve se ter em vista mais especificamente o padrão “normal”
Estado, e esse quedou inerte por dolo, desídia ou negligên- do serviço, conceito subjetivo, mas aferível por elementos
cia, ainda que anônima do serviço (sem identificação de um como o nível de expectativa comum da sociedade, a atuação
servidor concretamente culpado). do Estado em situações análogas e a expectativa do próprio
Realmente, a imputação de um dano decorrente de Estado em relação aos seus serviços, inferida, principalmen-
omissão estatal não pode ser realizada de forma imediata, te, da legislação (ex.: o Estado é civilmente responsável pelo
uma vez que a inércia não é a causa direta do dano, mas
assalto que tenha sido realizado em frente a uma cabine da
sim um fato da natureza, da própria vítima ou de terceiros,
Polícia Militar; morte de pessoa em incêndio em razão de
não evitado pelo Estado (ex.: um assalto não evitado; uma
o Estado não possuir escada magirus com altura suficiente
enchente que levou à perda total de carros).
Como não temos nesses casos uma ação do Estado, lo- para efetuar o salvamento, apesar de ter licenciado a cons-
gicamente não foi ele o autor direto do dano. O dano adveio trução naquele gabarito; ambulância que demora horas para
de força humana ou natural, mas o Estado será responsável chegar; inundação conjugada com a má manutenção das
se, naquele caso concreto, tinha o dever jurídico de evitar o galerias pluviais; prejuízo causado por um particular a outro
dano. por omissão do poder de polícia mesmo tendo a ação do
Sendo assim, a omissão que pode ensejar a responsabi- Estado sido solicitada diversas vezes sem nada acontecer;
lidade do Estado é sempre ilícita, ao contrário do que se dá danos advindos de protestos populares quando fosse razoa-
com a ação, que pode ser lícita ou ilícita para responsabilizar velmente possível ao Estado prevê-los etc.).
o Estado. A responsabilização por omissão terá lugar apenas Advém muitas vezes a responsabilidade civil do Estado
se o Estado tinha o dever de agir, ou seja, se estava legal- por omissão de uma combinação da proteção da confiança
mente obrigado a impedir a ocorrência do evento danoso, legítima dos cidadãos em relação à atuação do Estado com
e se omitiu. a proteção da sua dignidade humana e da efetividade de
Esta “culpa” pela omissão a que a doutrina alude, que direitos fundamentais, inclusive de natureza prestacional, a
seria mais bem traduzida (faute du service) como “falta”, que façam jus. Se, observados os requisitos da teoria dos
pode consistir em um não funcionamento do serviço, um direitos fundamentais como a reserva do possível e o nú-
funcionamento tardio ou um funcionamento ineficiente. cleo essencial, o Estado não atender o cidadão nessa esfera,
Não se refere necessariamente a um agente público deter- estará sujeito, não apenas à imposição judicial da obrigação
minado, mas ao aparato estatal como um todo. Em alguns de fazê-lo, como também a indenizar o cidadão pelo direito
casos, por disposição legal (cf. v.g. presunções probatórias fundamental não adimplido.
estabelecidas pelo Código de Defesa do Consumidor) ou Eventual incúria do Estado em ajustar-se aos padrões
por questões práticas concernentes ao ônus da prova (ex.: civilizatórios não ilide a sua responsabilidade. Não se pode
dificuldade de prova negativa), poderá haver uma presun- dizer que o serviço é realmente ruim, mas que sempre foi
ção relativa da culpa do Estado. assim e que todos já sabiam disso. Haverá a responsabilida-
A tese da responsabilidade subjetiva do Estado para as de do Estado por omissão, portanto, se descumpriu o dever
omissões decorre também de o art. 43 do Código Civil apli-
jurídico de agir, ou se agiu, mas atuou abaixo dos padrões
car-se apenas aos atos comissivos e de, no sistema do Có-
a que estava obrigado, surgindo assim o necessário nexo
digo, a responsabilidade objetiva somente ter lugar quando
de causalidade. Pouco importa se esta culpa é específica de
expressamente prevista (art. 927, parágrafo único), sendo
que não haveria norma determinando a responsabilidade algum agente individualmente considerado ou se é a cha-
objetiva estatal em casos de omissão, nem mesmo o art. 37, mada “culpa” anônima do serviço.
§ 6º, da Constituição Federal, cuja redação pressupõe uma - Situação de risco criada pelo Estado
causalidade comissiva (“causarem a terceiros”). Nesses casos, não há ação, ou mesmo omissão culposa,
Em nossa opinião não há como se objetivar uma res- do Estado, que tenha causado o dano, que ocorreu direta-
ponsabilidade civil por omissão, na qual inexiste um ato que mente por força natural ou humana alheia.
possa representar o elemento primordial do nexo de causa- Nos casos objeto do presente subtópico – riscos criados
lidade. Se a omissão do prestador do serviço público fosse pelo Estado –, como em nosso Direito não é adotada a Teo-
objetivamente considerada como fato gerador de respon- ria do Risco Integral, o Estado só será responsável na hipóte-
sabilidade civil, o Estado seria um segurador universal dos se em que, em prol de toda a coletividade, comissivamente
membros da coletividade, arcando com todos os prejuízos constituiu uma situação de risco que propiciou, somado ao
que não conseguisse evitar. fato humano ou da natureza, o dano.
Portanto, a omissão, quando caracterizar um ilícito ad- Com esses aspectos (aspecto comissivo na criação da
ministrativo e gerar danos – individuais, coletivos ou difusos situação de risco e igualdade na repartição dos ônus sociais),
–, desencadeará, além naturalmente do dever de agir para os danos decorrentes de situações de risco equivalem aos
suprir a omissão, a responsabilidade civil da pessoa pública decorrentes da própria ação do Estado, aplicando-se-lhes
que não cumpriu o seu dever. a responsabilidade objetiva. Exemplo: fuga de preso ou de

17
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

doente mental que causa danos nas imediações do presídio Os caracteres jurídico e certo do dano serão suficientes
ou do manicômio; raio que cai sobre depósito de munições para fazer surgir a responsabilidade do Estado por compor-
do exército; assassinato de um presidiário por outro etc.) tamentos ilícitos, sejam eles comissivos ou omissivos (estes,
Os casos mais comuns são realmente os danos oriundos para poder gerar a responsabilidade do Estado, são, segun-
da guarda de coisas ou pessoas perigosas, mas há também do nosso entendimento, sempre ilícitos, como visto acima).
outras hipóteses em que o Poder Público tem que em prol Nos casos de responsabilidade do Estado por atos lícitos
da sociedade criar situações que coloca terceiros em risco (só verificada se por ação ou situação de risco), o dano, além
(ex.: acidente decorrente de sinal de trânsito quebrado por de jurídico e certo, também deverá ser ainda (c) especial,
ter um defeito imprevisível no semáforo; bala perdida em isto é, não pode ser genérico, disseminado em toda a so-
confronto da polícia com bandidos etc.). ciedade (ex.: medida econômica que reduz o poder aquisi-
Há de se ter uma relação de causalidade direta do dano tivo da moeda não gera indenização) e (d) anormal, ou seja,
com o risco suscitado pelo Estado. Do contrário, o Estado não inerente às próprias condições incômodas, mas naturais
não será responsável (ex.: não haverá a responsabilidade do ao convívio social (ex.: poeira de obra que suja a pintura de
Estado por risco criado se os presidiários foragidos vierem muro; interdição por poucas horas da rua, fazendo com que
a causar danos longe da fonte de risco que é o presídio; ou seus moradores tenham que pôr seus carros em garagem
por detento que morre no presídio em razão de raio). Nesses paga, fora da rua, não gera direito a ressarcimento (obra que
casos, não haverá a responsabilidade objetiva por situação atrapalha o comércio não gera dano indenizável, mas se o
de risco criada pelo Estado, mas até poderemos ter a res- interditar totalmente, gerará); abordagens policiais normais
ponsabilidade por faute du service (ex.: se o assalto cometido não causam dano moral etc.).
pelo foragido foi em frente a cabine policial), se os requisitos Constata-se que esses dois últimos requisitos do dano
da responsabilidade por omissão estiverem presentes. para gerar a responsabilidade do Estado por atos lícitos
identificam-se com os requisitos da indenizabilidade de cer-
Requisitos da indenizabilidade do dano tas limitações administrativas e da caracterização de deter-
Continua nos ensinado Aragão: há duas exigências ge- minadas intervenções regulatórias na liberdade econômica
rais (dano jurídico e certo) e duas exigências aplicáveis ape- e na propriedade como desapropriações indiretas. E nada
nas à responsabilidade civil do Estado por comportamentos
mais natural, pois, na verdade, como concluímos nos res-
lícitos (danos especiais e anormais).
pectivos capítulos, cuja remissão se faz essencial, essas duas
Em primeiro lugar, portanto, o dano há de sempre ser
nada mais são do que exemplos de atos lícitos capazes de
(a) jurídico. Se a lesão for econômica, mas não for jurídica,
gerar a responsabilidade civil do Estado.
isto é, se, apesar de haver prejuízo, não houver gravame em
um direito, não eclodirá a responsabilidade civil. Deve haver
Excludentes da Responsabilidade
lesão a algo que a ordem jurídica reconhece como garantido
em favor do sujeito. De acordo com o referido autor a responsabilidade ob-
Não se considera dano em seu sentido jurídico, por jetiva do Estado não exige a presença de comportamentos
exemplo, as limitações administrativas, que apenas definem ilícitos, contentando-se com a relação de causa e efeito en-
o conteúdo do próprio direito; o fechamento de escola pú- tre o comportamento estatal e o dano sofrido pelo terceiro.
blica que gerará prejuízos ao dono da lanchonete em fren- Ele nos ensina quer: toda excludente da responsabili-
te a ela etc. Muito relevante para a caracterização do dano dade civil do Estado será, substancialmente, então, uma ex-
como jurídico são as eventuais expectativas legítimas criadas cludente do nexo de causalidade entre o comportamento
pelo Estado para o particular. Assim, se, no exemplo da lan- estatal e o dano, advertindo-se que uma visão muito ampla
chonete em frente à escola pública, o Estado incentivou o de “nexo de causalidade” pode acabar levando à Teoria do
particular a instalar uma lanchonete naquele local para aten- Risco Integral na responsabilidade civil do Estado enquanto
der os alunos e deixar a área menos deserta e logo depois o art. 37, § 6º, CF, adota a responsabilidade sem culpa, mas
fecha a escola, será cogitável a sua responsabilidade objetiva não sem causa.
por ação lícita. Surgiram, ao longo da história, inúmeras teorias que
A responsabilidade do Estado pode se dar por um ato pretendiam explicar o que se entende por causa do dano
lícito, mas este ato tem de retirar algo da esfera jurídica do em geral. Entre nós foi o próprio Legislador que se ocupou
particular. Substancialmente, trata-se da mesma distinção de solucionar a questão, atestando, pela primeira vez, no art.
que vimos entre as limitações administrativas ordinárias ou 1.060 do Código Civil de 1916, que, “ainda que a inexecução
não indenizáveis e as indenizáveis; é uma questão de grau: resulte de dolo do devedor, as perdas e danos só incluem os
apesar de ambas poderem gerar diminuição no valor do pa- prejuízos efetivos e os lucros cessantes por efeito dela direto e
trimônio das pessoas, esta tem maior intensidade, e anor- imediato” – regra mantida, com redação praticamente inal-
malidade, já que, sendo o patrimônio um conceito jurídico, terada, pelo art. 403 do novo Código Civil.
na verdade toda diminuição patrimonial seria uma diminui- No Brasil, portanto, independentemente da espécie de
ção na esfera jurídica do seu titular. responsabilidade (contratual ou extracontratual, objetiva
O dano para ser indenizável também tem de ser (b) cer- ou subjetiva), somente são indenizáveis os danos que se-
to, ainda que atual ou futuro (ex.: verba que a vítima terá de jam consequência direta e imediata da conduta do agente.
despender ainda por muitos anos com fisioterapia). O dano Tal entendimento assentou-se, no acórdão da 1ª Turma do
não pode é ser meramente eventual (ex.: lucro cessante da Supremo Tribunal Federal, no RE n. 130764/PR. Na ocasião,
empresa que a pessoa teria aberto se não tivesse sofrido o afirmou-se: “(…) Em nosso sistema jurídico, como resulta
acidente). do disposto no art. 1.060 do Código Civil, a teoria adotada

18
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

quanto ao nexo de causalidade é a teoria do dano direto trens; criança que morre afogada em ilha deserta, onde não
e imediato, também denominada teoria da interrupção do se poderia esperar que o Estado dispusesse de um salva-vi-
nexo causal. Não obstante aquele dispositivo da codificação das; assalto cometido em zona erma, de madrugada; dano
civil diga respeito à impropriamente denominada respon- sofrido por uma lavoura ou acidente automobilístico ocor-
sabilidade contratual, aplica-se ele também à responsabili- rido em razão de geada). O nexo de causalidade se dá, ou-
dade extracontratual, inclusive a objetiva, até por ser aquela trossim, com o fato da vítima, de terceiro ou da natureza.
que, sem quaisquer considerações de ordem subjetiva, afas- O Estado terá, no entanto, responsabilidade parcial (ha-
ta os inconvenientes das outras duas teorias existentes: a da verá uma causa de exclusão parcial da sua responsabilidade)
equivalência das condições e a da causalidade adequada.” se o seu comportamento for causa concorrente do dano, ou
Os vocábulos “direto” e “imediato” devem ser interpre- seja, se ele se somar à culpa da vítima, de terceiro, ou à força
tados “em conjunto”, conforme leciona GISELA SAMPAIO DA maior (ex.: se durante tiroteio em favela o cidadão delibera-
CRUZ. A expressão utilizada pela codificação tem, assim, o damente decide não se resguardar).
sentido de necessário, isto é, somente são indenizáveis os YUSSEF SAHID CAHALI, louvando-se nas lições de THE-
danos necessariamente decorrentes da atividade ou do ato MISTOCLES CAVALCANTI, sustenta que o caso fortuito, ao
ilícito. contrário da força maior, por ele conectada a eventos da na-
GUSTAVO TEPEDINO salienta que, para explicar a teo- tureza, não constitui causa de exclusão da responsabilidade
ria do “nexo causal direto e imediato”, adotada entre nós, civil do Estado. Isso se deve ao fato de que este, ao contrário
surgiu a “subteoria da necessariedade da causa”, segundo a da força maior, é interno, inerente à própria atividade do Es-
qual “o dever de reparar surge quando o evento danoso é tado que ocasionou o dano (ex.: trem público que, por caso
efeito necessário de certa causa”, ou seja, “uma consequên- fortuito, descarrilha).
cia certa do ato ilícito”. Esta é, conclui, a tendência jurispru- O instituto da responsabilidade civil é parte integrante
dencial brasileira, com esteio no art. 403 do Código Civil e do direito obrigacional, uma vez que a principal consequên-
na orientação do Pretório Excelso: a “busca de um liame de cia da prática de um ato ilícito é a obrigação que gera para
necessariedade entre causa e efeito, de modo que o resulta- o seu auto de reparar o dano, mediante o pagamento de
do danoso seja consequência direta do fato lesivo”. indenização que se refere às perdas e danos. Afinal, quem
Isto porque o Legislador “se recusou a sujeitar o autor do pratica um ato ou incorre em omissão que gere dano deve
dano a todas as nefastas consequências do seu ato, quando suportar as consequências jurídicas decorrentes, restauran-
já não ligadas a ele diretamente”, o que possibilita que o do-se o equilíbrio social.
nexo causal cumpra “dupla função” no âmbito da respon- A responsabilidade civil, assim, difere-se da penal, po-
sabilidade civil: “Por um lado, permite determinar a quem se dendo recair sobre os herdeiros do autor do ilícito até os
deve atribuir um resultado danoso, por outro, é indispensá- limites da herança, embora existam reflexos na ação que
vel na verificação da extensão do dano a se indenizar.” apure a responsabilidade civil conforme o resultado na es-
É evidente, pois, que se excluem do dever de indenizar fera penal (por exemplo, uma absolvição por negativa de
os chamados danos par ricochet ou reflexos, isto é, os danos autoria impede a condenação na esfera cível, ao passo que
decorrentes de outros danos, infligidos sobre pessoa diversa uma absolvição por falta de provas não o faz).
do lesado. A “regra no direito brasileiro é a indenização do A responsabilidade civil do Estado acompanha o racio-
dano direto e imediato, assim entendido o dano derivado cínio de que a principal consequência da prática de um ato
necessariamente da conduta do ofensor. Por conta disso, no ilícito é a obrigação que gera para o seu auto de reparar
comum dos casos, é a vítima imediata do dano a pessoa le- o dano, mediante o pagamento de indenização que se re-
gitimada a pleitear indenização. Exceção a esta regra ocorre, fere às perdas e danos. Todos os cidadãos se sujeitam às
no Brasil, na chamada responsabilidade por dano-morte ou regras da responsabilidade civil, tanto podendo buscar o
por homicídio, em que se indeniza não o falecido, mas as ressarcimento do dano que sofreu quanto respondendo por
pessoas atingidas pela morte da vítima, e, portanto, apenas aqueles danos que causar. Da mesma forma, o Estado tem
indiretamente pelo evento que lhe deu causa. Assim é que o dever de indenizar os membros da sociedade pelos danos
os danos indiretos, reflexamente causados a terceiros (‘da- que seus agentes causem durante a prestação do serviço,
nos por ricochete’), sem qualquer violação à relação contra- inclusive se tais danos caracterizarem uma violação aos di-
tual ou extracontratual, não encontram guarida no ordena- reitos humanos reconhecidos.
mento jurídico brasileiro justamente porque não decorrem Trata-se de responsabilidade extracontratual porque
direta e imediatamente do ato ilícito”. não depende de ajuste prévio, basta a caracterização de ele-
Postos esses limites à noção de nexo de causalidade, te- mentos genéricos pré-determinados, que perpassam pela
remos que verificar se o dano sofrido pela pessoa tem como leitura concomitante do Código Civil (artigos 186, 187 e 927)
causa a sua própria culpa, de terceiros, ou de fatos da natu- com a Constituição Federal (artigo 37, §6°).
reza (força maior). Genericamente, os elementos da responsabilidade civil
Mais correto tecnicamente nesses casos do que dizer se encontram no art. 186 do Código Civil:
que a culpa da vítima, de terceiros ou a força maior excluem
a responsabilidade civil do Estado seria dizer que excluída Artigo 186, CC. Aquele que, por ação ou omissão vo-
ela está pela falta de nexo causal entre a ação estatal e o luntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar
dano (ex.: acidente sofrido pelos ditos “surfistas de trem”, dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato
usuários que pela emoção preferem viajar sobre o teto dos ilícito.

19
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Este é o artigo central do instituto da responsabilidade lidade penal e da responsabilidade administrativa aciona-se
civil, que tem como elementos: ação ou omissão voluntária o agente público que praticou o ato. Destaca-se a indepen-
(agir como não se deve ou deixar de agir como se deve), dência entre as esferas civil, penal e administrativa no que
culpa ou dolo do agente (dolo é a vontade de cometer uma tange à responsabilização do agente público que cometa
violação de direito e culpa é a falta de diligência), nexo cau- ato ilícito.
sal (relação de causa e efeito entre a ação/omissão e o dano Tomadas as exigências de características dos danos aci-
causado) e dano (dano é o prejuízo sofrido pelo agente, que ma colacionadas, notadamente a anormalidade, considera-
pode ser individual ou coletivo, moral ou material, econômi- se que para o Estado ser responsabilizado por um dano, ele
co e não econômico). deve exceder expectativas cotidianas, isto é, não cabe exigir
É preciso lembrar que não é o Estado em si que viola do Estado uma excepcional vigilância da sociedade e a plena
os direitos, porque o Estado é uma ficção formada por um cobertura de todas as fatalidades que possam acontecer em
grupo de pessoas que desempenham as atividades estatais território nacional.
diversas. Assim, viola direitos o agente que o representa, fa- Diante de tal premissa, entende-se que a responsabili-
zendo com que o próprio Estado seja responsabilizado por dade civil do Estado será objetiva apenas no caso de ações,
isso civilmente, pagando pela indenização (reparação dos mas subjetiva no caso de omissões. Em outras palavras, ve-
danos materiais e morais). Sem prejuízo, com relação a eles, rifica-se se o Estado se omitiu tendo plenas condições de
caberá ação de regresso se agiram com dolo ou culpa. não ter se omitido, isto é, ter deixado de agir quando tinha
Prevê o artigo 37, §6° da Constituição Federal: plenas condições de fazê-lo, acarretando em prejuízo dentro
de sua previsibilidade.
Artigo 37, §6º, CF. As pessoas jurídicas de direito público São casos nos quais se reconheceu a responsabilidade
e as de direito privado prestadoras de serviços públicos res- omissiva do Estado: morte de filho menor em creche mu-
ponderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, nicipal, buracos não sinalizados na via pública, tentativa de
causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso con- assalto a um usuário do metrô resultando em morte, danos
tra o responsável nos casos de dolo ou culpa. provocados por enchentes e escoamento de águas pluviais
quando o Estado sabia da problemática e não tomou provi-
Este artigo deixa clara a formação de uma relação jurídi-
dência para evitá-las, morte de detento em prisão, incêndio
ca autônoma entre o Estado e o agente público que causou
em casa de shows fiscalizada com negligência, etc.
o dano no desempenho de suas funções. Nesta relação, a
responsabilidade civil será subjetiva, ou seja, caberá ao Es-
Requisitos para a demonstração da responsabilidade do
tado provar a culpa do agente pelo dano causado, ao qual
Estado
foi anteriormente condenado a reparar. Direito de regresso
1) Dano - somente é indenizável o dano certo, espe-
é justamente o direito de acionar o causador direto do dano
cial e anormal. Certo é o dano real, existente. Especial é o
para obter de volta aquilo que pagou à vítima, considerada
a existência de uma relação obrigacional que se forma entre dano específico, individualizado, que atinge determinada ou
a vítima e a instituição que o agente compõe. determinadas pessoas. Anormal é o dano que ultrapassa os
Assim, o Estado responde pelos danos que seu agen- problemas comuns da vida em sociedade (por exemplo, in-
te causar aos membros da sociedade, mas se este agente felizmente os assaltos são comuns e o Estado não responde
agiu com dolo ou culpa deverá ressarcir o Estado do que foi por todo assalto que ocorra, a não ser que na circunstância
pago à vítima. O agente causará danos ao praticar condutas específica possuía o dever de impedir o assalto, como no
incompatíveis com o comportamento ético dele esperado. caso de uma viatura presente no local - muito embora o
A responsabilidade civil do servidor exige prévio proces- direito à segurança pessoal seja um direito humano reco-
so administrativo disciplinar no qual seja assegurado con- nhecido).
traditório e ampla defesa. Trata-se de responsabilidade civil 2) Agentes públicos - é toda pessoa que trabalhe dentro
subjetiva ou com culpa. Havendo ação ou omissão com cul- da administração pública, tenha ingressado ou não por con-
pa do servidor que gere dano ao erário (Administração) ou a curso, possua cargo, emprego ou função. Envolve os agen-
terceiro (administrado), o servidor terá o dever de indenizar. tes políticos, os servidores públicos em geral (funcionários,
Não obstante, agentes públicos que pratiquem atos viola- empregados ou temporários) e os particulares em colabora-
dores de direitos humanos se sujeitam à responsabilidade ção (por exemplo, jurado ou mesário).
penal e à responsabilidade administrativa, todas autônomas 3) Dano causado quando o agente estava agindo nesta
uma com relação à outra e à já mencionada responsabilida- qualidade - é preciso que o agente esteja lançando mão das
de civil. Neste sentido, o artigo 125 da Lei nº 8.112/90: prerrogativas do cargo, não agindo como um particular.
Sem estes três requisitos, não será possível acionar o Es-
Artigo 125, Lei nº 8.112/1990. As sanções civis, penais e tado para responsabilizá-lo civilmente pelo dano, por mais
administrativas poderão cumular-se, sendo independentes relevante que tenha sido a esfera de direitos atingida. As-
entre si. sim, não é qualquer dano que permite a responsabilização
civil do Estado, mas somente aquele que é causado por um
Com efeito, no caso da responsabilidade civil, o Estado agente público no exercício de suas funções e que exceda as
é diretamente acionado e responde pelos atos de seus ser- expectativas do lesado quanto à atuação do Estado.
vidores que violem direitos, cabendo eventualmente ação Causas excludentes e atenuantes da responsabilidade
de regresso contra ele. Contudo, nos casos da responsabi- do Estado

20
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Não é sempre que o Estado será responsabilizado. Há 2) O princípio da legalidade explicita a subordinação da
excludentes da responsabilidade estatal, aprofundadas abai- Administração Pública à lei. Tal princípio deriva:
xo, notadamente: a) caso fortuito (fato de terceiro) ou força a) do controle administrativo de seus próprios atos.
maior (fato da natureza) fora dos alcances da previsibilidade b) do controle judicial dos atos administrativos.
do dano; b) culpa exclusiva da vítima. c) da indisponibilidade do interesse público.
Todas estas excludentes geram a exclusão do elemento d) do princípio da hierarquia.
nexo causal, que é o liame subjetivo entre a ação/omissão e
o dano, não do elemento culpa, que envolve o aspecto vo- 3) De acordo com o princípio da especialidade:
litivo da ação/omissão. Afinal, em regra, a responsabilidade a) as entidades estatais podem abandonar, alterar ou
civil do Estado é objetiva, de modo que a ausência de culpa modificar os objetivos para os quais foram constituídas.
ainda caracteriza a responsabilidade. Logo, caso se esteja b) a administração poderá rever seus próprios atos.
diante de uma hipótese de responsabilidade civil do Estado c) as entidades estatais não podem abandonar, alterar
subjetiva por omissão, também a ausência de culpa excluirá ou modificar os objetivos para os quais foram constituídas.
o dever de indenizar. d) Nenhuma alternativa está correta.

a) Fortuito 4) O dever da Administração de justificar seus atos,


Hoje, fortuito e força maior são sinônimos. Trata-se de apontando-lhes os fatos e fundamentos jurídicos do ato de-
fato externo à conduta do agente de natureza inevitável corre, especificamente, do princípio:
(externabilidade + inevitabilidade), conforme artigo 393, pa- a) da legalidade.
rágrafo único, CC. Imprevisibilidade não é atributo de caso b) da motivação.
fortuito (ex.: terremoto no Japão é previsível, mas é externo c) da publicidade.
e inevitável, logo, o caso é fortuito). d) da moralidade.
Fortuito interno é diferente de fortuito externo. Fortuito
interno se relaciona com a atividade ordinária do causador 5) Em Direito Administrativo vigora o princípio da publi-
do dano – há responsabilidade, por exemplo, falha dos freios cidade. Assinale a situação abaixo que permite o sigilo dos
atos administrativos.
gerando acidente de ônibus. O fortuito externo não é in-
a) conveniência para o agente praticante do ato admi-
troduzido pelo agente, por exemplo, assalto, infarto, chuva
nistrativo.
forte. No fortuito interno o risco é de dentro pra fora, no
b) atos administrativos praticados em desamparo legal.
fortuito externo é de fora pra dentro. Apenas no primeiro
c) quando for imprescindível à segurança da Sociedade
há dever de indenizar, isto é, mostra-se necessário o vínculo
e do Estado.
com a atividade.
d) Todas as alternativas estão corretas.
Ex.: Para o STF, o banco tem o dever de dar segurança,
tudo o que ocorre nele é fortuito interno. Inclusive, o STJ diz 6) Com relação aos princípios que regem a Administra-
que fazem parte do risco da instituição financeira os golpes ção Pública é CORRETO afirmar:
que possa sofrer, por exemplo, subtração fraudulenta dos a) o princípio da legalidade comporta exceção no caso
cofres em sua guarda (Informativo nº 468, STJ). de ato discricionário.
b) Fato exclusivo da vítima b) o desvio de finalidade implica em ofensa ao princípio
Quem provocou o dano foi a própria vítima. da publicidade.
Fato concorrente – Fenômeno da causalidade múltipla c) a inobservância ao princípio da proporcionalidade,
ou autoria plural – 2 condutas concorrentes para produzir acarreta também a ofensa ao princípio da razoabilidade.
um único dano. Somente reduz o montante de danos. d) os princípios administrativos aplicam-se apenas às
c) Fato de terceiro esferas Estaduais do Poder Executivo.
São casos em que a causa necessária para o dano não
foi nem o comportamento do agente e nem o da vítima. O 7) São princípios constitucionais controladores da atua-
agente, na contestação, fará nomeação à autoria – gerando ção na Administração Pública:
exclusão, não o futuro regresso da denunciação da lide. a) legalidade, impessoalidade, eficiência e conveniência.
Terceiro não identificado – o agente não se responsa- b) moralidade, revogabilidade, pessoalidade, publicida-
biliza, pois não teve um comportamento – act of God (do de e motivação.
inglês, ato de Deus) – fortuito externo. c) legalidade, moralidade, publicidade, impessoalidade
e conveniência.
Exercícios d) Nenhuma das opções é correta.

1) A Administração tem que exercer a atividade adminis- 8) A atuação administrativa não pode contrariar, além
trativa de acordo com os objetivos legais. Aqui, estão repre- da lei, a moral, os bons costumes, a honestidade, os deveres
sentados os princípios: de boa administração, sob pena de ofensa ao princípio da:
a) da legalidade e da finalidade. a) moralidade.
b) da moralidade e da publicidade. b) publicidade.
c) da eficiência e da impessoalidade. c) impessoalidade.
d) da finalidade e da oficialidade. d) Nenhuma das alternativas está correta.

21
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

9) A ideia de que a Administração tem que tratar a to- dade de interesse público a que estão atreladas. Atos cujos
dos os administrados sem discriminações, benéficas ou de- conteúdos ultrapassem o necessário para alcançar o objeti-
trimentosas, é referente ao princípio da: vo que justifica o uso da competência ficam maculados de
a) impessoalidade. ilegitimidade. Ferindo o princípio da proporcionalidade fere-
b) publicidade. se, também, o princípio da razoabilidade, por ser derivado
c) moralidade. deste.
d) eficiência.
7) D
10) Pelo princípio do devido processo legal: Comentário: A conveniência e a revogabilidade não são
a) permite-se à Administração Pública que proceda con- princípios controladores da atuação da Administração Pú-
tra certa pessoa passando diretamente à decisão que repute blica.
cabível.
b) são assegurados o contraditório e a ampla defesa aos 8) A
administrados. Comentário: A atuação administrativa não pode contra-
c) é assegurada a não desapropriação de seus bens. riar, além da lei, a moral, os bons costumes, a honestidade,
d) Todas as respostas estão corretas. os deveres de boa administração, sob pena de ofensa ao
princípio da moralidade.
GABARITO
1) A 9) A
Comentário: Só se cumpre a legalidade quando se aten- Comentário: A ideia de que a Administração tem que
de à sua finalidade. Atividade administrativa desencontrada tratar a todos os administrados sem discriminações, bené-
com o fim legal é inválida e por isso juridicamente censurá- ficas ou detrimentosas, é referente ao princípio da impes-
vel. soalidade.

2) C 10) B
Comentário: Os interesses públicos são qualificados Comentário: Dispõe o art. 5º, LIV e LV, da CF: “Ninguém
como próprios da coletividade – internos ao setor público, será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido
não se encontram à livre disposição de quem quer que seja, processo legal; aos litigantes, em processo judicial ou admi-
por serem inapropriáveis. O próprio órgão administrativo nistrativo, e aos acusados em geral são assegurados o con-
que os representa não tem disponibilidade (princípio da in- traditório e a ampla defesa, com os meios e recursos a ela
disponibilidade) sobre eles, no sentido de que lhe incumbe inerentes”.
apenas curá-los – o que é também um dever – na estrita
conformidade do que predispuser a intentio legis (princípio
da legalidade).

3) C
Comentário: Em razão do princípio da especialidade, as
entidades estatais não podem abandonar, alterar ou modifi-
car os objetivos para os quais foram constituídas.

4) B
Comentário: O princípio da motivação é reclamado quer
como afirmação do direito político dos cidadãos ao esclare-
cimento do “porquê” das ações de quem gere negócios que
lhes dizem respeito por serem titulares últimos do poder,
quer como direito individual a não se assujeitarem a deci-
sões arbitrárias, pois só têm que se conformar às que forem
ajustadas às leis.

5) C
Comentário: Na esfera administrativa o sigilo é permiti-
do quando “imprescindível à segurança da Sociedade e do
Estado” (art. 5º, XXXIII, CF).

6) C
Comentário: Pelo princípio da proporcionalidade as
competências administrativas só podem ser validamente
exercidas na extensão e intensidade proporcionais ao que
sejam realmente demandados para cumprimento da finali-

22
NOÇÕES DE ÉTICA E FILOSOFIA

1. Fundamentos da Filosofia................................................................................................................................................................................ 01
2. Filosofia moral: Ética ou filosofia moral...................................................................................................................................................... 05
3. Consciência crítica e filosofia.......................................................................................................................................................................... 08
4. A relação entre os valores éticos ou morais e a cultura....................................................................................................................... 09
5. Juízos de fato ou de realidade e juízos de valor..................................................................................................................................... 11
6. Ética e cidadania................................................................................................................................................................................................... 11
7. Racionalismo ético.............................................................................................................................................................................................. 13
8. Ética e liberdade................................................................................................................................................................................................... 15
NOÇÕES DE ÉTICA E FILOSOFIA

PROF. MA. BRUNA PINOTTI GARCIA. O saber filosófico é apenas uma entre as muitas espé-
cies de saberes, que não merecem ser desmerecidos. Quer
Advogada e pesquisadora. Doutoranda em Direito, Es- dizer, o ser humano pode obter diversas espécies de co-
tado e Constituição pela Universidade de Brasília – UNB. nhecimento, destacando-se: a) conhecimento empírico ou
Mestre em Teoria do Direito e do Estado pelo Centro Uni- sensorial, que se dá pelos sentidos, pela percepção física
versitário Eurípides de Marília (UNIVEM) – bolsista CAPES. dos objetos materiais; b) conhecimento lógico ou intelec-
Professora de curso preparatório para concursos e univer- tual, que se obtém pelo raciocínio, no sentido de que a
sitária (Universidade Federal de Goiás – UFG e Faculdade combinação dos dados permite analisar, comparar, articu-
do Noroeste de Minas – FINOM). Autora de diversos traba- lar e unir, gerando conceitos, definições e leis indispensá-
lhos científicos publicados em revistas qualificadas, anais veis ao entendimento da realidade (predominantemente, é
de eventos e livros, notadamente na área do direito ele-
este o tipo de conhecimento buscado pelos filósofos, em-
trônico, dos direitos humanos e do direito constitucional.
bora alguns tenham se valido do conhecimento empírico);
c) conhecimento de fé, que se dá pela crença3. Descartes e
filósofos como Galileu Galilei colocaram em dúvida as ver-
1. FUNDAMENTOS DA FILOSOFIA.
dades absolutas de cada uma destas espécies de conheci-
mento. A partir daí passou a ser necessário testar a verda-
de dos conhecimentos, o que somente seria possível pela
Etimologicamente, a palavra “filosofia” é formada pe- correção do raciocínio. Neste sentido, é correto o raciocínio
las palavras gregas philos e sophia, que significam “amor à que expressa um juízo positivo ou negativo racionalmente
sabedoria”. Filósofo é o amante da sabedoria. Porém, este válido.
significado, dura na história pouco tempo. Em Heródoto, Por sua vez, o raciocínio pode ser: a) indutivo, que par-
em Tucídides, talvez nos pré-socráticos, uma ou outra vez, te de casos particulares para concluir uma verdade geral ou
durante pouco tempo, tem este significado primitivo de universal (ex: ferro, ouro, cobre e prata conduzem eletrici-
amor à sabedoria. Imediatamente, passa a ter outro signifi- dade, logo, metais conduzem eletricidade), muito utilizado
cado: significa a própria sabedoria. Assim, já nos primeiros nas ciências experimentais; b) dedutivo, que parte de uma
tempos da autêntica cultura grega, filosofia significa, não o lei universal considerada válida para um certo conjunta
simples afã ou o simples amor à sabedoria, mas a própria aplicando-a a casos particulares desse conjunto (ex: todo
sabedoria. homem é mortal, Sócrates é homem, Sócrates é mortal). A
O verbo filosofar pode ser usado com significados dis-
verdade da conclusão do raciocínio baseia-se na verdade
tintos: a) mero sinônimo de pensar, significado bastante
contida nas proposições e nas premissas: se elas forem fal-
amplo para os fins deste estudo; b) sinônimo de saber viver
conforme a virtude, isto é, filosofar é viver com sabedoria, sas (denominadas falácias), a conclusão será falsa.
ideia que se aproxima mais do que será focado; c) filosofia Estabelecidas estas premissas, parte-se para um estu-
propriamente dita, originária com mais força na Grécia em do histórico-filosófico apto a nos fazer compreender algu-
torno dos séculos VI a V a.C., quando se começou a re- mas das premissas da filosofia:
pensar a natureza, o ser humano e as divindades sob uma “Durante um longo período da história grega, a mito-
perspectiva crítica1. logia constituiu a fonte exclusiva de explicação para a exis-
A profundidade das discussões filosóficas fica bem tência do homem e da organização do mundo. As interpre-
compreendida no início da obra O Mundo de Sofia, de tações imaginárias criadas por ela foram adquirindo autori-
Josteein Gaarder: “O melhor meio de se aproximar da filo- dade pelo fato de serem antigas. As divindades constituíam
sofia é fazer perguntas filosóficas: como o mundo foi cria- as personagens que, pelas divergências, intrigas, amizades
do? Será que existe sentido por detrás do que ocorre? Há e desejos de justiça, explicavam tanto a natureza huma-
vida depois da morte? Como podemos responder a estas na como os resultados das guerras e os valores culturais.
perguntas? E, principalmente: como devemos viver? Essas Nesse sentido, a linguagem do mito esconde interesses
perguntas têm sido feitas pelas pessoas de todas as épo- de classes e pode ser manipulada por aqueles que detêm
cas. Não conhecemos nenhuma cultura que não tenha per- o poder. Ela impõe comportamentos morais à comunida-
guntado quem é o ser humano e de onde veio o mundo. de e uma hierarquia de punições para aqueles que não o
Basicamente, não há muitas perguntas filosóficas para se
seguem”4. Quando o mito se tornou insuficiente para ex-
fazer. Já fizemos algumas das mais importantes. Mas a his-
plicar os fenômenos sociais, surge a necessidade de novos
tória nos mostra diferentes respostas para cada uma des-
sas perguntas que estamos fazendo. É mais fácil, portanto, conceitos culturais, os quais devem ser baseados na razão.
fazer perguntas filosóficas do que respondê-las. Da mesma Assim, a filosofia vem para permitir o uso da razão para
forma, hoje em dia cada um de nós deve encontrar a sua que se compreendesse a verdade universal, questionando-
resposta para estas perguntas. [...] Mesmo que seja difícil -se os paradigmas postos e quebrando a insegurança e o
responder a uma pergunta, isto não significa que ela não temor que era incutido na humanidade pelos mitos.
tenha uma - e só uma - resposta certa”2.
3 SANTOS, Antônio Raimundo dos. Conhecer ou não
1 CARDI, Cassiano. O que é filosofar? Do mito à razão. In: conhecer, eis a diferença. In: CARDI, Cassiano; et. al. Para filosofar.
CARDI, Cassiano; et. al. Para filosofar. São Paulo: Scipione, 2000. São Paulo: Scipione, 2000.
2 GAARDER, Jostein. O Mundo de Sofia. Tradução João 4 CARDI, Cassiano. O que é filosofar? Do mito à razão. In:
Azenha Jr. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. CARDI, Cassiano; et. al. Para filosofar. São Paulo: Scipione, 2000.

1
NOÇÕES DE ÉTICA E FILOSOFIA

Justamente pela força que o aspecto mítico tinha na discussões públicas”9. A partir deste momento, a maioria
vida em sociedade que nas premissas da filosofia se voltou dos filósofos passou a se concentrar na natureza huma-
atenção aos fenômenos naturais. Pelo mito, cada fenôme- na, não na natureza das coisas. O primeiro grande filósofo
no natural era a manifestação da ira divina ou de sua satis- desta nova fase foi Sócrates, que foi professor de Platão, o
fação. A filosofia despe-se de tais interpretações culturais e qual, por sua vez, ensinou Aristóteles.
manifesta-se com autonomia e por suas próprias leis, dei- Embora Sócrates nunca tenha escrito uma linha com
xando a natureza falar por si mesma5. seus pensamentos, ficou marcado como uma das maiores
Assim, os primeiros filósofos que surgiram podem ser influências filosóficas do mundo e é conhecido mesmo pe-
chamados de filósofos da natureza, os quais acreditavam los que pouco sabem de filosofia, principalmente por seu
que por trás de toda transformação da natureza estaria fim trágico (foi condenado à morte por seus pensamentos).
uma substância básica, pensamento este defendido na Sócrates não queria ensinar às pessoas o que ele pensava,
tentativa de compreender a natureza sem a necessidade mas queria ensiná-las a pensar: daí sua máxima “só sei que
dos mitos6. nada sei”. Sócrates impulsionava as pessoas a utilizarem
Os primeiros filósofos da natureza são conhecidos a razão, logo, foi um racionalista convicto. Acreditava na
como filósofos de Mileto, uma colônia grega na Ásia Me-
consciência humana guiada por esta razão, levando as pes-
nor. Tales considerava que a água era a origem das coisas;
soas a agirem corretamente10.
Aneximandro acreditava que o mundo era apenas um dos
Platão, inspirado por seu mestre Sócrates, transpôs ao
muitos mundos que surgem de alguma coisa e se dissol-
papel diversos de seus pensamentos, mas também elabo-
vem de alguma coisa chamada infinito (não era uma subs-
rou suas próprias ideias. Em destaque, investigou a relação
tância determinada); Anaxímenes tinha a crença de que o
entre eterno e imutável, tanto na natureza quando na mo-
ar ou o sopro de ar era a substância básica de todas7.
Após, Parmênides defendeu que tudo sempre existiu, ral humana. No mundo material, defendeu a fruição das
que nada pode surgir do nada e que nada poderia ser di- coisas (tudo flui) e a propagação destas coisas pela nature-
ferente do que é (rejeitava a transformação). Na mesma za humana depende de uma ideia pré-estabelecida: “Platão
época, Heráclito confiava que tudo está em movimento acreditava numa realidade autônoma por trás do mundo
e nada dura para sempre (não se pode entrar duas vezes dos sentidos. A esta realidade deu o nome de mundo das
no mesmo rio). Logo, pensavam de maneira oposta, pois ideias. Nele estão as imagens padrão, as imagens primor-
o primeiro não confiava nos sentidos, o segundo sim; o diais, eternas e imutáveis, que encontramos na natureza.
primeiro não acreditava na transformação, o segundo sim. Esta notável concepção é chamada por nós de a teoria das
Para resolver o impasse, Empédocles propôs que não se ideias de Platão”11. No aspecto moral, Platão defendeu a
podia defender que há um único elemento primordial que imortalidade da alma, que seria a morada da razão.
origina as coisas da natureza, defendendo que nela se fa- Aristóteles, por mais que fosse discípulo de Platão,
ziam presentes quatro elementos básicos (terra, ar, fogo mudou seu pensamento em muitos aspectos. Enquanto
e água). Também buscando solucionar os impasses desta cientista, saiu ao encontro da natureza e a estudou, acre-
discussão, Anaxágoras defendeu a presença de uma infi- ditando que seus sentidos poderiam lhe fornecer uma per-
nidade de partículas minúsculas na natureza. Os últimos cepção do conhecimento, questionando a teoria das ideias
dois filósofos acreditavam também em elementos de liga- de Platão e fornecendo com base em critérios lógicos uma
ção entre os elementos naturais, que seriam sentimentos: nova concepção do mundo natural (inclusive com a clás-
Para Empédocles, o amor; para Anaxágoras, a inteligência. sica divisão animal, vegetal e mineral). Enquanto filósofo,
O último filósofo da natureza, Demócrito, concordava com pode ser colocado como um dos principais filósofos morais
a transformação constante da natureza e supôs que todas da história da humanidade, razão pela qual voltará a ser
as coisas eram constituídas por uma infinidade de micro- estudado no tópico 4. Além do aspecto moral, Aristóteles
substâncias, cada qual eterna e imutável, chamando-as de colocava o homem enquanto ser político, tanto que de-
átomos (o pensador se aproximou do que se descobriu fendeu a concepção de dimensões de justiça (estudada a
posteriormente, do que conhecemos hoje); mas também título introdutório no tópico anterior).
acreditava que a alma humana era composta de átomos, A partir de movimentos como o helenismo e, princi-
isto é, a própria consciência do homem, não sendo então palmente, o estoicismo, a filosofia saiu das fronteiras gre-
imortal8. gas e adquiriu um caráter global. Inicialmente, passou para
“Com o surgimento da política democrática nas cida- Roma, onde Cícero despontou como um dos principais
des-estados, a filosofia passa a ser praticada não como pensadores. Influenciado pela própria estrutura do Impé-
procura da verdade, mas como um ensino útil para os lí- rio Romano, Cícero trabalhou sua filosofia no modelo da
deres políticos fazerem valer os seus pontos de vista nas República, estudando o que seria o governante ideal. Logo,
também foi um filósofo moral, pois ao estabelecer o con-
5 CARDI, Cassiano. O que é filosofar? Do mito à razão. In: ceito de governante ideal traçou as principais virtudes que
CARDI, Cassiano; et. al. Para filosofar. São Paulo: Scipione, 2000. um homem deveria possuir.
6 GAARDER, Jostein. O Mundo de Sofia. Tradução João 9 CARDI, Cassiano. O que é filosofar? Do mito à razão. In:
Azenha Jr. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. CARDI, Cassiano; et. al. Para filosofar. São Paulo: Scipione, 2000.
7 GAARDER, Jostein. O Mundo de Sofia. Tradução João 10 GAARDER, Jostein. O Mundo de Sofia. Tradução João
Azenha Jr. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. Azenha Jr. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
8 GAARDER, Jostein. O Mundo de Sofia. Tradução João 11 GAARDER, Jostein. O Mundo de Sofia. Tradução João
Azenha Jr. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. Azenha Jr. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

2
NOÇÕES DE ÉTICA E FILOSOFIA

O Império Romano ruiu e abriu espaço para o início da Mais adiante no processo histórico, o Iluminismo,
Idade Média, na qual o pensamento filosófico predominan- como o próprio nome diz, veio conceder luzes ao pensa-
te foi o cristianismo. O primeiro pensador deste período foi mento filosófico com seus diversos pensadores. Todos eles,
Santo Agostinho, que “explicava que Deus havia criado o acima de tudo, questionavam a estrutura político-social do
mundo a partir do nada, e este é um ensinamento da Bíblia. absolutismo e focavam seu pensamento numa estrutura
[...] Para Agostinho, antes de Deus ter criado o mundo, as mais justa de Estado, explicando também os fenômenos
ideias já existiam dentro de Sua cabeça. Ele atribuiu a Deus sociológicos que cercam a sua formação.
as ideias eternas e com isto salvou a concepção platônica Como marcos, o Iluminismo têm: a revolta contra as
das ideias eternas. [...] Isto também mostra que Agostinho autoridades, o racionalismo, o pensamento do Iluminismo,
e muitos outros membros do clero se esforçavam ao má- o otimismo cultural, o retorno à natureza, o cristianismo
ximo parra conciliar o pensamento grego com o judeu”. humanista e os direitos humanos. “Os filósofos iluministas
Agostinho também dividiu os homens em dois grupos, os diziam que somente quando a razão e o conhecimento se
redimidos e os condenados, conforme a vontade divina tivessem difundido entre todos é que a humanidade faria
no julgamento das ações humana (assim, o homem seria grandes progressos. Era apenas uma questão de tempo
para que desaparecessem a irracionalidade e a ignorância
responsável por seus atos)12. O segundo pensador deste
e surgisse uma humanidade iluminada, esclarecida. Este
período foi Santo Tomás de Aquino, que em sua Suma
pensamento dominou a Europa ocidental até há poucas
Teológica desenvolveu um amplo estudo do pensamento
décadas. Hoje não estamos assim tão convencidos de que
cristianista e assim discutiu premissas filosóficas tradicio-
o progresso do conhecimento leva necessariamente a me-
nais como as virtudes morais, os fundamentos do Direito, a lhores condições de vida. Mas esta crítica da ‘civilização’ já
consciência humana, a ação racional, etc. tinha sido feita pelos próprios filósofos do Iluminismo”15.
O movimento que se seguiu com o fim da Idade Mé- Inúmeros foram os filósofos relevantes em cada um
dia foi o Renascimento. Os cidadãos da época do Renasci- destes movimentos históricos, mas para os fins desta pro-
mento começaram a se libertar dos senhores feudais e do posta de estudo, devemos depreender: filosofia não é a
poder da Igreja, ao mesmo tempo em que redescobriram discussão isolada e unânime de aspectos determinados,
a cultura grega. O renascimento visou propiciar uma nova mas sim um complexo de discussões que se propagam no
visão do homem e de seu valor, de forma que o homem curso da história, adquirindo novas perspectivas, as quais
passa a ser visto como algo infinitamente grande e pode- repousam sobre as questões mais essenciais da existência
roso. Logo, a marca do Renascimento é um antropocentris- humana: como deve ser visto o espaço em que o homem
mo individualista. No Renascimento surgiram as premissas vive, tanto o social quanto o natural; como a existência do
de toda uma evolução tecnológica, com pensadores como homem deve ser encarada; o que impulsiona o homem a
Galileu, Copérnico e Isaac Newton. Em meio a tantas novas ser quem é; qual o tipo de sociedade deve ser construída
teorias e descobertas, o Renascimento trouxe uma nova para que o homem viva adequadamente. Enfim, são in-
concepção de Deus muito diferente da defendida na Idade contáveis as controvérsias postas nos debates filosóficos e
Média13. Após o Renascimento, veio a Reforma. até hoje é difícil defender concepções únicas ou unânimes.
A Revolução Luterana, nomenclatura mais adequada Contudo, filosofia é mais do que fornecer respostas: é pro-
que a usual, que é de Reforma, eis que Lutero alterou em mover discussões. Questionar, assim, é mais importante do
sua tese a totalidade das raízes do cristianismo, notada- que responder.
mente as já afirmadas por Santo Tomás de Aquino e Aris- Estudadas as premissas da filosofia geral, isto é, com-
tóteles, em especial a de que a fé seria um ato do intelecto, preendidos os principais aspectos de seu fundamento, vale
logo, associada à filosofia, pois para Lutero a fé associa-se encerrar este tópico com o estudo dos fundamentos da fi-
somente à teologia, não à filosofia. Ela se deu em 1518, losofia do direito, que é uma das principais áreas de filoso-
quando acontece a famosa “Disputa de Heidelberg”, na fia aplicada a um campo específico.
A área da filosofia do direito que estuda a ética é co-
qual Lutero apresenta 28 teses para corroborar as outras
nhecida como axiologia, do grego άξιος “valor” + λόγος
95 publicadas no ano anterior. Ao Lutero afirmar que a ra-
“estudo, tratado”. Por isso, a axiologia também é chama-
zão filosófica e o Magistério são falíveis e, possivelmente,
da de teoria dos valores. Daí valores e princípios serem
errados, abre-se as portas para um novo processo de inter-
componentes da ética sob o aspecto da exteriorização de
pretação da teologia cristã14. À Reforma seguiu a Contra- suas diretrizes. Em outras palavras, a mensagem que a ética
-Reforma, buscando restaurar premissas da Idade Média e pretende passar se encontra consubstanciada num conjun-
recolocar a Igreja no centro do Poder. to de valores, para cada qual corresponde um postulado
chamado princípio.
12 GAARDER, Jostein. O Mundo de Sofia. Tradução João De uma maneira geral, a axiologia proporciona um
Azenha Jr. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
estudo dos padrões de valores dominantes na sociedade,
13 GAARDER, Jostein. O Mundo de Sofia. Tradução João
que revelam princípios básicos. Valores e princípios, por
Azenha Jr. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
serem elementos que permitem a compreensão da ética,
14 PADRE PAULO RICARDO. Introdução ao Método Teológico:
Aulas 1 a 7. Padrepauloricardo.org, 10 set. 2012 a 16 out. 2012. também se encontram presentes no estudo do Direito,
Disponível em: <http://padrepauloricardo.org/cursos/introducao-ao- 15 GAARDER, Jostein. O Mundo de Sofia. Tradução João
metodo-teologico>. Acesso em 31 jul. 2013. Azenha Jr. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

3
NOÇÕES DE ÉTICA E FILOSOFIA

notadamente desde que a posição dos juristas passou a O Direito natural, na sua formulação clássica, não é um
ser mais humanista e menos positivista (se preocupar mais conjunto de normas paralelas e semelhantes às do Direito po-
com os valores inerentes à dignidade da pessoa humana sitivo. Mas é o fundamento do Direito positivo. É constituído
do que com o que a lei específica determina). por aquelas normas que servem de fundamento a este, tais
Os juristas, descontentes com uma concepção posi- como: “deve se fazer o bem”, “dar a cada um o que lhe é devi-
tivista, estadística e formalista do Direito, insistem na im- do”, “a vida social deve ser conservada”, “os contratos devem
portância do elemento moral em seu funcionamento, no ser observados” etc., normas essas que são de outra natureza e
de estrutura diferente das do Direito positivo, mas cujo conte-
papel que nele desempenham a boa e a má-fé, a intenção
údo é a ele transposto, notadamente na Constituição Federal.19
maldosa, os bons costumes e tantas outras noções cujo
Importa fundamentalmente ao Direito que, nas relações
aspecto ético não pode ser desprezado. Algumas dessas sociais, uma ordem seja observada: que seja assegurada a
regras foram promovidas à categoria de princípios gerais cada um aquilo que lhe é devido, isto é, que a justiça seja reali-
do direito e alguns juristas não hesitam em considerá-las zada. Podemos dizer que o objeto formal, isto é, o valor essen-
obrigatórias, mesmo na ausência de uma legislação que cial, do direito é a justiça.
lhes concedesse o estatuto formal de lei positiva, tal como No sistema jurídico brasileiro, estes princípios jurídicos
o princípio que afirma os direitos da defesa. No entanto, a fundamentais de cunho ético estão instituídos no sistema
Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro é expres- constitucional, isto é, firmados no texto da Constituição Fe-
sa no sentido de aceitar a aplicação dos princípios gerais deral. São os princípios constitucionais os mais importantes
do Direito (artigo 4°).16 do arcabouço jurídico nacional, muitos deles se referindo de
É inegável que o Direito possui forte cunho axiológico, forma específica à ética no setor público. O mais relevante
diante da existência de valores éticos e morais como dire- princípio da ordem jurídica brasileira é o da dignidade da pes-
trizes do ordenamento jurídico, e até mesmo como meio soa humana, que embasa todos os demais princípios jurídico-
de aplicação da norma. Assim, perante a Axiologia, o Direi- -constitucionais (artigo 1°, III, CF).
to não deve ser interpretado somente sob uma concepção Claro, o Direito não é composto exclusivamente por pos-
formalista e positivista, sob pena de provocar violações ao tulados éticos, já que muitas de suas normas não possuem
qualquer cunho valorativo (por exemplo, uma norma que es-
princípio que justifica a sua criação e estruturação: a jus-
tabelece um prazo de 10 ou 15 dias não tem um valor que a
tiça.
acoberta). Contudo, o é em boa parte.
Neste sentido, Montoro17 entende que o Direito é uma A Moral é composta por diversos valores - bom, correto,
ciência normativa ética: “A finalidade do direito é dirigir prudente, razoável, temperante, enfim, todas as qualidades es-
a conduta humana na vida social. É ordenar a convivên- peradas daqueles que possam se dizer cumpridores da moral.
cia de pessoas humanas. É dar normas ao agir, para que É impossível esgotar um rol de valores morais, mas nem ao
cada pessoa tenha o que lhe é devido. É, em suma, dirigir menos é preciso: basta um olhar subjetivo para compreender
a liberdade, no sentido da justiça. Insere-se, portanto, na o que se espera, num caso concreto, para que se consolide o
categoria das ciências normativas do agir, também deno- agir moral - bom senso que todos os homens possuem (mes-
minadas ciências éticas ou morais, em sentido amplo. Mas mo o corrupto sabe que está contrariando o agir esperado
o Direito se ocupa dessa matéria sob um aspecto especial: pela sociedade, tanto que esconde e nega sua conduta, geral-
o da justiça”. mente). Todos estes valores morais se consolidam em princí-
A formação da ordem jurídica, visando a conservação pios, isto é, princípios são postulados determinantes dos valo-
e o progresso da sociedade, se dá à luz de postulados éti- res morais consagrados.
cos. O Direito criado não apenas é irradiação de princípios Segundo Rizzatto Nunes20, “a importância da existência
morais como também força aliciada para a propagação e e do cumprimento de imperativos morais está relacionada a
respeitos desses princípios. duas questões: a) a de que tais imperativos buscam sempre
Um dos principais conceitos que tradicionalmente se a realização do Bem - ou da Justiça, da Verdade etc., enfim
valores positivos; b) a possibilidade de transformação do ser
relaciona à dimensão do justo no Direito é o de lei natu-
- comportamento repetido e durável, aceito amplamente por
ral. Lei natural é aquela inerente à humanidade, indepen-
todos (consenso) - em dever ser, pela verificação de certa ten-
dentemente da norma imposta, e que deve ser respeitada dência normativa do real”.
acima de tudo. O conceito de lei natural foi fundamental Quando se fala em Direito, notadamente no direito cons-
para a estruturação dos direitos dos homens, ficando reco- titucional e nas normas ordinárias que disciplinam as atitudes
nhecido que a pessoa humana possui direitos inalienáveis esperadas da pessoa humana, percebem-se os principais va-
e imprescritíveis, válidos em qualquer tempo e lugar, que lores morais consolidados, na forma de princípios e regras ex-
devem ser respeitados por todos os Estados e membros da pressos. Por exemplo, quando eu proíbo que um funcionário
sociedade.18 público receba uma vantagem indevida para deixar de pra-
ticar um ato de interesse do Estado, consolido os valores
16 PERELMAN, Chaïm. Ética e Direito. Tradução Maria
Ermantina Galvão. São Paulo: Martins Fontes, 2000. morais da bondade, da justiça e do respeito ao bem co-
17 MONTORO, André Franco. Introdução à ciência do mum, prescrevendo a respectiva norma.
Direito. 26. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005. 19 MONTORO, André Franco. Introdução à ciência do
18 LAFER, Celso. A reconstrução dos direitos humanos: um Direito. 26. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005.
diálogo com o pensamento de Hannah Arendt. São Paulo: Cia. das 20 NUNES, Luiz Antonio Rizzatto. Manual de introdução ao
Letras, 2009. estudo do direito. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2006.

4
NOÇÕES DE ÉTICA E FILOSOFIA

Uma norma, conforme seu conteúdo mais ou menos


amplo, pode refletir um valor moral por meio de um prin- 2. FILOSOFIA MORAL: ÉTICA OU FILOSOFIA
cípio ou de uma regra. Quando digo que “todos são iguais MORAL
perante a lei [...]” (art. 5°, caput, CF) exteriorizo o valor moral
do tratamento digno a todos os homens, na forma de um
princípio constitucional (princípio da igualdade). Por sua
vez, quando proíbo um servidor público de “Solicitar ou A ética é composta por valores reais e presentes na
receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, sociedade, a partir do momento em que, por mais que às
ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em vezes tais valores apareçam deturpados no contexto so-
razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal
cial, não é possível falar em convivência humana se esses
vantagem” (art. 317, CP), estabeleço uma regra que traduz
forem desconsiderados. Entre tais valores, destacam-se os
os valores morais da solidariedade e do respeito ao inte-
preceitos da Moral e o valor do justo (componente ético
resse coletivo. No entanto, sempre por trás de uma regra
infraconstitucional haverá um princípio constitucional, no do Direito).
caso do exemplo do art. 317 do CP, pode-se mencionar o Se, por um lado, podemos constatar que as bruscas
princípio do bem comum (objetivo da República segundo transformações sofridas pela sociedade através dos tem-
o art. 3º, IV, CF - “promover o bem de todos, sem precon- pos provocaram uma variação no conceito de ética, por
ceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras outro, não é possível negar que as questões que envolvem
formas de discriminação) e o princípio da moralidade (art. o agir ético sempre estiveram presentes no pensamento
37, caput, CF, no que tange à Administração Pública). filosófico e social.
Conforme Alexy21, a distinção entre regras e princípios Aliás, um marco da ética é a sua imutabilidade: a
é uma distinção entre dois tipos de normas, fornecendo ju- mesma ética de séculos atrás está vigente hoje, por exem-
ízos concretos para o dever ser. A diferença essencial é que plo, respeitar ao próximo nunca será considerada uma ati-
princípios são normas de otimização, ao passo que regras tude antiética. Outra característica da ética é a sua vali-
são normas que são sempre satisfeitas ou não. Se as regras dade universal, no sentido de delimitar a diretriz do agir
se conflitam, uma será válida e outra não. Se princípios coli- humano para todos os que vivem no mundo. Não há uma
dem, um deles deve ceder, embora não perca sua validade ética conforme cada época, cultura ou civilização: a ética é
e nem exista fundamento em uma cláusula de exceção, ou uma só, válida para todos eternamente, de forma imutável
seja, haverá razões suficientes para que em um juízo de so- e definitiva, por mais que possam surgir novas perspectivas
pesamento (ponderação) um princípio prevaleça. Enquanto
a respeito de sua aplicação prática.
adepto da adoção de tal critério de equiparação normativa
É possível dizer que as leis éticas dirigem o comporta-
entre regras e princípios, o jurista alemão Robert Alexy é
colocado entre os nomes do pós-positivismo. mento humano e delimitam os abusos à liberdade, estabe-
Em resumo, valor é a característica genérica que com- lecendo deveres e direitos de ordem moral, sendo exem-
põe de alguma forma a ética (bondade, solidariedade, plos destas leis o respeito à dignidade das pessoas e aos
respeito...) ao passo que princípio é a diretiva de ação es- princípios do direito natural, a exigência de solidariedade e
perada daquele que atende certo valor ético (p. ex., não a prática da justiça22.
fazer ao outro o que não gostaria que fosse feito a você Outras definições contribuem para compreender o que
é um postulado que exterioriza o valor do respeito; tratar significa ética:
a todos igualmente na medida de sua igualdade é o pos- - Ética é a ciência do comportamento adequado dos
tulado do princípio da igualdade que reflete os valores da homens em sociedade, em consonância com a virtude.
solidariedade e da justiça social). Por sua vez, virtude é a - A ética é uma disciplina normativa, não por criar
característica que a pessoa possui coligada a algum valor normas, mas por descobri-las e elucidá-las. Seu conteúdo
ético, ou seja, é a aptidão para agir conforme algum dos mostra às pessoas os valores e princípios que devem nor-
valores morais (ser bondoso, ser solidário, ser temperante, tear sua existência.
ser magnânimo). - Ética é a doutrina do valor do bem e da conduta hu-
Ética, Moral, Direito, princípios, virtudes e valores são mana que tem por objetivo realizar este valor.
elementos constantemente correlatos, que se complemen- - A ética é justamente saber discernir entre o devido e
tam e estruturam, delimitando o modo de agir esperado
o indevido, o bom e o mau, o bem e o mal, o correto e o
de todas as pessoas na vida social, bem como preconizan-
incorreto, o certo e o errado.
do quais os nortes para a atuação das instituições públicas
e privadas. Basicamente, a ética é composta pela Moral e - A ética nos fornece as regras fundamentais da condu-
pelo Direito (ao menos em sua parte principal), sendo que ta humana. Delimita o exercício da atividade livre. Fixa os
virtudes são características que aqueles que agem confor- usos e abusos da liberdade.
me a ética (notadamente sob o aspecto Moral) possuem, - Ética é a doutrina do valor do bem e da conduta hu-
as quais exteriorizam valores éticos, a partir dos quais é mana que o visa realizar.
possível extrair postulados que são princípios.
21 ALEXY, Robert. Teoria dos direitos fundamentais. 22 MONTORO, André Franco. Introdução à ciência do
Tradução Virgílio Afonso da Silva. 2. ed. São Paulo: Malheiros, 2011. Direito. 26. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005.

5
NOÇÕES DE ÉTICA E FILOSOFIA

“Em seu sentido de maior amplitude, a Ética tem sido está ligada à virtude; b) crença na bondade humana e na
entendida como a ciência da conduta humana perante o prevalência da virtude sobre o apetite; c) reconhecimento
ser e seus semelhantes. Envolve, pois, os estudos de apro- da possibilidade de aquisição das virtudes pela experiência
vação ou desaprovação da ação dos homens e a conside- e pelo hábito, isto é, pela prática constante; d) afastamento
ração de valor como equivalente de uma medição do que é da ideia de que um fim pudesse ser bom se utilizado um
real e voluntarioso no campo das ações virtuosas”23. meio ruim.
É difícil estabelecer um único significado para a pa- Já na Idade Média, os ideais éticos se identificaram
lavra ética, mas os conceitos acima contribuem para uma com os religiosos. O homem viveria para conhecer, amar
compreensão geral de seus fundamentos, de seu objeto e servir a Deus, diretamente e em seus irmãos. Santo To-
de estudo. más de Aquino26, um dos principais filósofos do período,
Quanto à etimologia da palavra ética: No grego exis- lançou bases que até hoje são invocadas quanto o tópi-
tem duas vogais para pronunciar e grafar a vogal e, uma co em questão é a Ética: a) consideração do hábito como
breve, chamada epsílon, e uma longa, denominada eta. uma qualidade que deverá determinar as potências para o
Éthos, escrita com a vogal longa, significa costume; porém, bem; b) estabelecimento da virtude como um hábito que
se escrita com a vogal breve, éthos, significa caráter, índole sozinho é capaz de produzir a potência perfeita, podendo
natural, temperamento, conjunto das disposições físicas e ser intelectual, moral ou teologal - três virtudes que se re-
psíquicas de uma pessoa. Nesse segundo sentido, éthos se lacionam porque não basta possuir uma virtude intelectual,
refere às características pessoais de cada um, as quais de- capaz de levar ao conhecimento do bem, sem que exista
terminam que virtudes e que vícios cada indivíduo é capaz a virtude moral, que irá controlar a faculdade apetitiva e
de praticar (aquele que possuir todas as virtudes possuirá quebrar a resistência para que se obedeça à razão (da mes-
uma virtude plena, agindo estritamente de maneira confor- ma forma que somente existirá plenitude virtuosa com a
me à moral)24. existência das virtudes teologais); c) presença da mediania
A ética passa por certa evolução natural através da his- como critério de determinação do agir virtuoso; d) crença
tória, mas uma breve observação do ideário de alguns pen- na existência de quatro virtudes cardeais - a prudência, a
sadores do passado permite perceber que ela é composta justiça, a temperança e a fortaleza.
por valores comuns desde sempre consagrados. No Iluminismo, Kant27 definiu a lei fundamental da ra-
Entre os elementos que compõem a Ética, destacam- zão pura prática, que se resume no seguinte postulado:
-se a Moral e o Direito. Assim, a Moral não é a Ética, mas “age de tal modo que a máxima de tua vontade possa va-
apenas parte dela. Neste sentido, Moral vem do grego Mos ler-te sempre como princípio de uma legislação universal”.
ou Morus, referindo-se exclusivamente ao regramento que Mais do que não fazer ao outro o que não gostaria que fos-
determina a ação do indivíduo. se feito a você, a máxima prescreve que o homem deve agir
Assim, Moral e Ética não são sinônimos, não apenas de tal modo que cada uma de suas atitudes reflita aquilo
pela Moral ser apenas uma parte da Ética, mas principal- que se espera de todas as pessoas que vivem em socie-
mente porque enquanto a Moral é entendida como a práti- dade. Claro, o filósofo não nega que o homem poderá ter
ca, como a realização efetiva e cotidiana dos valores; a Ética alguma vontade ruim, mas defende que ele racionalmente
é entendida como uma “filosofia moral”, ou seja, como a irá agir bem, pela prevalência de uma lei prática máxima
reflexão sobre a moral. Moral é ação, Ética é reflexão. da razão que é o imperativo categórico. Por isso, o prazer
Em resumo: ou a dor, fatores geralmente relacionados ao apetite, não
- Ética - mais ampla - filosofia moral - reflexão são aptos para determinar uma lei prática, mas apenas uma
- Moral - parte da Ética - realização efetiva e coti- máxima, de modo que é a razão pura prática que deter-
diana dos valores - ação mina o agir ético. Ou seja, se a razão prevalecer, a escolha
No início do pensamento filosófico não prevalecia real ética sempre será algo natural.
distinção entre Direito e Moral, as discussões sobre o agir Quando acabou a Segunda Guerra Mundial, conside-
ético envolviam essencialmente as noções de virtude e de radas suas graves consequências, o pensamento filosófico
justiça, constituindo esta uma das dimensões da virtude. ganhou novos rumos, retomando aspectos do passado,
Por exemplo, na Grécia antiga, berço do pensamento filo- mas reforçando a dimensão coletiva da ética. Maritain28,
sófico, embora com variações de abordagem, o conceito um dos redatores da Declaração Universal de Direitos Hu-
de ética aparece sempre ligado ao de virtude. manos de 1948, defendeu que o homem ético é aquele que
Aristóteles25, um dos principais filósofos deste momen- compõe a sociedade e busca torná-la mais justa e adequa-
to histórico, concentra seus pensamentos em algumas ba- da ao ideário cristão; assim, a atitude ética deve ser con-
ses: a) definição do bem supremo como sendo a felicidade,
que necessariamente ocorrerá por uma atividade da alma 26 AQUINO, Santo Tomás de. Suma teológica. Tradução
Aldo Vannucchi e Outros. Direção Gabriel C. Galache e Fidel García
que leva ao princípio racional, de modo que a felicidade Rodríguez. Coordenação Geral Carlos-Josaphat Pinto de Oliveira.
23 SÁ, Antônio Lopes de. Ética profissional. 9. ed. São Paulo: Edição Joaquim Pereira. São Paulo: Loyola, 2005. v. IV, parte II, seção I,
Atlas, 2010. questões 49 a 114.
24 CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia. 13. ed. São Paulo: 27 KANT, Immanuel. Crítica da razão prática. Tradução Paulo
Ática, 2005. Barrera. São Paulo: Ícone, 2005.
25 ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Tradução Pietro Nassetti. 28 MARITAIN, Jacques. Humanismo integral. Tradução
São Paulo: Martin Claret, 2006. Afrânio Coutinho. 4. ed. São Paulo: Dominus Editora S/A, 1962.

6
NOÇÕES DE ÉTICA E FILOSOFIA

siderada de maneira coletiva, como impulsora da sociedade Atualmente, entretanto, é quase universal a retomada
justa, embora partindo da pessoa humana individualmente dos estudos e exigências da ética na vida pública e na vida
considerada como um ser capaz de agir conforme os valores privada, na administração e nos negócios, nas empresas e na
morais. escola, no esporte, na política, na justiça, na comunicação.
Já a discussão sobre o conceito de justiça, intrínseca na Neste contexto, é relevante destacar que ainda há uma divi-
do conceito de ética, embora sempre tenha estado presente, são entre a Moral e o Direito, que constituem dimensões do
com maior ou menor intensidade dependendo do momen- conceito de Ética, embora a tendência seja que cada vez mais
to, possuiu diversos enfoques ao longo dos tempos. Pode-se estas dimensões se juntem, caminhando lado a lado.
considerar que do pensamento grego até o Renascimento a Dentro desta distinção pode-se dizer que alguns autores,
justiça foi vista como uma virtude, não como uma característi- entre eles Radbruch e Del Vechio são partidários de uma di-
ca do Direito. Por sua vez, no Renascimento, o conceito de Éti- cotomia rigorosa, na qual a Ética abrange apenas a Moral e o
ca foi bifurcado, remetendo-se a Moral para o espaço privado Direito. Contudo, para autores como Miguel Reale, as normas
dos costumes e da etiqueta compõem a dimensão ética, não
e remanescendo a justiça como elemento ético do espaço
possuindo apenas caráter secundário por existirem de forma
público, no entanto, como se denota pela teoria de Maquia-
autônoma, já que fazem parte do nosso viver comum.32
vel29, o justo naquele tempo era tido como o que o soberano
Em resumo:
impunha (o rei poderia fazer o que bem entendesse e utilizar - Posição 1 - Radbruch e Del Vechio - Ética = Moral +
quaisquer meios, desde que visasse um único fim, qual seja Direito
o da manutenção do poder). Posteriormente, no Iluminismo, - Posição 2 - Miguel Reale - Ética = Moral + Direito +
retomou-se a discussão da justiça como um elemento similar Costumes
à Moral, mas inerente ao Direito, por exemplo, Kant30 defen- Para os fins da presente exposição, basta atentar para
deu que a ciência do direito justo é aquela que se preocupa o binômio Moral-Direito como fator pacífico de compo-
com o conhecimento da legislação e com o contexto social sição da Ética. Assim, nas duas posições adotadas, uma das
em que ela está inserida, sendo que sob o aspecto do conteú- vertentes da Ética é a Moral, e a outra é o Direito.
do seria inconcebível que o Direito prescrevesse algo contrá- Tradicionalmente, os estudos consagrados às relações
rio ao imperativo categórico da Moral kantiana; sem falar em entre o Direito e a Moral se esforçam em distingui-los, nos
Locke, Montesquieu e Rousseau, que em comum defendiam seguintes termos: o direito rege o comportamento exterior, a
que o Estado era um mal necessário, mas que o soberano moral enfatiza a intenção; o direito estabelece uma correlação
não possuía poder divino/absoluto, sendo suas ações limita- entre os direitos e as obrigações, a moral prescreve deveres
das pelos direitos dos cidadãos submetidos ao regime estatal. que não dão origem a direitos subjetivos; o direito estabelece
Tais pensamentos iluministas não foram plenamente segui- obrigações sancionadas pelo Poder, a moral escapa às san-
dos, de forma que firmou-se a teoria jurídica do positivismo, ções organizadas. Assim, as principais notas que distinguem
pela qual Direito é apenas o que a lei impõe (de modo que se a Moral do Direito não se referem propriamente ao conte-
uma lei for injusta nem por isso será inválida), que somente foi údo, pois é comum que diretrizes morais sejam disciplinadas
abalada após o fim trágico da 2ª Guerra Mundial e a conso- como normas jurídicas.33
lidação de um sistema global de proteção de direitos huma- Com efeito, a partir da segunda metade do século XX
nos (criação da ONU + declaração universal de 1948). Com o (pós-guerra), a razão jurídica é uma razão ética, fundada
ideário humanista consolidou-se o Pós-positivismo, que junto na garantia da intangibilidade da dignidade da pessoa huma-
consigo trouxe uma valorização das normas principiológicas na, na aquisição da igualdade entre as pessoas, na busca da
do ordenamento jurídico, conferindo-as normatividade. efetiva liberdade, na realização da justiça e na construção de
uma consciência que preserve integralmente esses princípios.
Assim, a concepção de uma base ética objetiva no com-
Assim, as principais notas que distinguem Moral e Direito
portamento das pessoas e nas múltiplas modalidades da vida
são:
social foi esquecida ou contestada por fortes correntes do
a) Exterioridade: Direito - comportamento exterior, Mo-
pensamento moderno. Concepções de inspiração positivista, ral - comportamento interior (intenção);
relativista ou cética e políticas voltadas para o homo economi- b) Exigibilidade: Direito - a cada Direito pode se exigir
cus passaram a desconsiderar a importância e a validade das uma obrigação, Moral - agir conforme a moralidade não ga-
normas de ordem ética no campo da ciência e do comporta- rante direitos (não posso exigir que alguém aja moralmente
mento dos homens, da sociedade da economia e do Estado. porque também agi);
No campo do Direito, as teorias positivistas que prevale- c) Coação: Direito - sanções aplicadas pelo Estado; Moral
ceram a partir do final do século XIX sustentavam que só é di- - sanções não organizadas (ex: exclusão de um grupo social).
reito aquilo que o poder dominante determina. Ética, valores Em outras palavras, o Direito exerce sua pressão social a par-
humanos, justiça são considerados elementos estranhos ao tir do centro ativo do Poder, a moral pressiona pelo grupo
Direito, extrajurídicos. Pensavam com isso construir uma ci- social não organizado. ATENÇÃO: tanto no Direito quando
ência pura do direito e garantir a segurança das sociedades.31 na Moral existem sanções, elas somente são aplicadas de
29 MAQUIAVEL, Nicolau. O príncipe. Tradução Pietro Nassetti. forma diversa, sendo que somente o Direito aceita a coa-
São Paulo: Martin Claret, 2007. ção, que é a sanção aplicada pelo Estado.
30 KANT, Immanuel. Doutrina do Direito. Tradução Edson 32 REALE, Miguel. Filosofia do direito. 19. ed. São Paulo:
Bini. São Paulo: Ícone, 1993. Saraiva, 2002.
31 KELSEN, Hans. Teoria pura do Direito. 6. ed. Tradução João 33 PERELMAN, Chaïm. Ética e Direito. Tradução Maria
Baptista Machado. São Paulo: Martins Fontes, 2003. Ermantina Galvão. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

7
NOÇÕES DE ÉTICA E FILOSOFIA

O descumprimento das diretivas morais gera sanção, e aparências;possui também uma tendência a considerar que o
caso ele se encontre transposto para uma norma jurídica, gera passado foi melhor e olha ao novo com maus olhos; tende a
coação (espécie de sanção aplicada pelo Estado). Assim, violar aceitar formas pré-estabelecida de comportamento, inclusive
uma lei ética não significa excluir a sua validade. Por exemplo, beirando uma consciência fanática; subestima o homem sim-
matar alguém não torna matar uma ação correta, apenas gera ples e não dá atenção às suas explicações; pretende ganhar
a punição daquele que cometeu a violação. Neste sentido, ex- a discussão com argumentos frágeis, gota de ser polêmico e
plica Reale34: “No plano das normas éticas, a contradição dos não pretende esclarecer suas posições, as quais são formadas
fatos não anula a validez dos preceitos: ao contrário, exata- mais de emoções do que de críticas; pode cair no fanatismo
mente porque a normatividade não se compreende sem fins ou intolerância; rejeita mudanças sociais.
de validez objetiva e estes têm sua fonte na liberdade espi- A consciência crítica é uma forma de relação com o mun-
ritual, os insucessos e as violações das normas conduzem à do que busca compreendê-lo de modo concreto, para além
responsabilidade e à sanção, ou seja, à concreta afirmação da das aparências. O indivíduo dotado de consciência crítica re-
ordenação normativa”. jeita as interpretações subjetivas, fantasiosas, enganosas, mís-
Como se percebe, Ética e Moral são conceitos interliga- ticas e outras formas ilusórias de encobrir a verdade. Por meio
dos, mas a primeira é mais abrangente que a segunda, por- da observação, ele busca as causas de todo o que observa e
que pode abarcar outros elementos, como o Direito e os cos- se interessa pelos fundamentos mais profundos dos proble-
tumes. Todas as regras éticas são passíveis de alguma sanção, mas que visualiza nesta observação.
sendo que as incorporadas pelo Direito aceitam a coação, que A consciência crítica observa, experimenta, problematiza
é a sanção aplicada pelo Estado. Sob o aspecto do conteú- e critica os fatos. Pensar de modo crítico é, então, derrubar as
do, muitas das regras jurídicas são compostas por postulados mentiras, as falsas imagens, as suposições levianas, as crenças
morais, isto é, envolvem os mesmos valores e exteriorizam os alienantes, as ideias preconceituosas, para poder estabelecer
mesmos princípios. a razão, as causas e o sentido das coisas.
Como é possível extrair desta introdução, a ciência e a filo-
sofia são dois produtos da consciência crítica, porque elas se
3. CONSCIÊNCIA CRÍTICA E FILOSOFIA. fundam na racionalidade, na observação, na experimentação e
na análise do mundo. E são muitas as questões que exigem tal
análise, uma vez que tudo o que é criado é incompleto, é rela-
tivo, é precário, é histórico, possui vazios a serem preenchidos.
Consciência crítica consiste na existência de raciocínios e Sim, comprometido com a sua responsabilidade de “ser his-
na formação de pensamentos que levam uma pessoa a es- tórico”, de gente de mudança do mundo. Enquanto o indivíduo de
tabelecer soluções e reflexões racionais sobre determinado consciência ingênua aceita o que vê, o de consciência crítica pro-
aspecto. Pode-se afirmar que o filósofo possui consciência blematiza o que vê; isto é, ao passo que o primeiro é um ser “cas-
crítica, pois o raciocínio filosófico em si exige que se dispa do trado” mentalmente, sem projetos de futuro, o segundo é um ser
senso comum e que se faça um raciocínio lógico sobre fatos que incorpora que faz seu o compromisso da luta pela mudança o
da vida humana. compromisso com o futuro. Logo, aquele que possui consciência
Assim, opõe-se à consciência crítica o senso comum, que crítica, naturalmente, é um melhor cidadão, pois está preocupado
vem de experiências passadas, mas nem sempre ilumina a re- e ciente dos problemas sociais que merecem solução.
alidade. Na filosofia, o senso comum (ou conhecimento vul- “À medida que se pensa e se representa o convívio pátrio,
gar) é a primeira suposta compreensão do mundo resultante vão-se conhecendo, explicando e justificando as condições
da herança fecunda de um grupo social e das experiências dessa convivência, inclusive a participação na vida política do
atuais que continuam sendo efetuadas. O senso comum des- país. Vemos que ideologia é um fenômeno social cheio de su-
creve as crenças e proposições que aparecem como normal, tilezas. Mais que ideias que se impõem a ideologia tem uma
sem depender de uma investigação detalhada para alcançar dimensão prática, pois ideias impulsionam os homens à ação
verdades mais profundas como as científicas. Um tipo de co- e a própria ação altera as ideias que não têm autossustenta-
nhecimento que se acumula no nosso cotidiano e é chamado ção. Esse é um processo histórico, recíproco, que ocorre ao
de senso comum, baseado na tentativa e no erro. O senso nos associarmos para garantir a reprodução da vida biológica
comum que nos permite sentir uma realidade menos detalha- e cultural”35. Ter consciência crítica é mais do que ter mera
da, menos profunda e imediata e vai do hábito de realizar um ideologia, é se preocupar em agir por uma sociedade melhor
comportamento até a tradição que, quando instalada, passa porque se está ciente dos problemas dela.
de geração para geração. “A pátria é um fenômeno vivido em um tempo e espaço de-
Quando o senso comum é usado para o mau, sem a von- terminados, mas generalizado em sua concepção. É mediante
tade de verificar se o conhecimento é correto ou se evoluiu, opiniões cristalizadas pela cultura sobre diferentes situações
origina-se a chamada consciência ingênua, que se caracteri- sociais que pensamos ter uma participação social plena”36.
za nos seguintes termos: evidencia certa simplicidade, ten- Muitas vezes somos iludidos com a política do pão e circo
dente a interpretar e encarar os problemas e desafios de para não enxergarmos os maiores problemas sociais. Aqueles
maneira simples; não busca um aprofundamento na obser- munidos de consciência crítica ficam isentos de tais práticas e
vação de relações de causalidade, nem se preocupa com enxergam a sociedade em que vivem com mais clareza.
a investigação complexa dos fatos, satisfazendo-se com 35 ARAÚJO, Silvia Maria de. As várias faces da ideologia. In:
CARDI, Cassiano; et. al. Para filosofar. São Paulo: Scipione, 2000.
34 REALE, Miguel. Filosofia do direito. 19. ed. São Paulo: 36 ARAÚJO, Silvia Maria de. As várias faces da ideologia. In:
Saraiva, 2002. CARDI, Cassiano; et. al. Para filosofar. São Paulo: Scipione, 2000.

8
NOÇÕES DE ÉTICA E FILOSOFIA

A ação do homem só tem sentido se for compromissada “Como um sistema social de regulamentação, a função
com a realidade, uma vez que, diferente do animal, o ser hu- da moral é garantir o funcionamento, a estabilidade da vida
mano é capaz de reflexão. O homem existe. Está inserido no em sociedade e a possibilidade de melhorá-la. Ora, como as
mundo. Toma conhecimento deste mundo, sendo até capaz de necessidades sociais variam no tempo e no espaço, as normas
modificá-lo. Esta ação modificadora, entretanto, torna-se im- morais também sofrem mudanças. [...] Explica-se o relativismo
possível, se ele estiver imerso e acomodado a este mundo e for das normas morais em função das diferentes e específicas si-
incapaz de distanciar-se dele para admirá-lo e perceber o seu tuações em que são praticadas. Em outras palavras, a moral se
conjunto. A partir da visão crítica de realidade, que o homem se encarna no contexto histórico-social de cada povo, tomando
torna capaz de modificar o mundo em que vive. Ao contrário, uma forma específica. O relativismo moral pode acarretar um
a consciência ingênua leva a uma visão distorcida da realidade. descrédito da própria moral. [...] Embora a concepção daqui-
São características da consciência crítica: anseio de pro- lo que é bom ou mau, permitido ou proibido, varie de uma
fundidade na análise de problemas, isto é, busca-se um co- época (ou sociedade) para outra, a existência de regras mo-
nhecimento detalhado de cada problema visualizado não se rais é uma constante na história humana. Portanto, a moral
contentando apenas com o que está às vistas claras, com o constitui uma característica essencial do homem em socieda-
que é aparente; há consciência de que por vezes não existirão de, um valor imprescindível que perpassa toda a história da
meios para análise dos problemas e de que a realidade é mu- humanidade”37.
tável, mas isto não impede o processo de reflexão; coloca no A moral existe, assim, para melhorar a vida social, para
lugar de situações ou explicações mágicas princípios autênti- tornar o convívio em sociedade mais agradável às pessoas.
cos de causalidade, os quais explicam uma relação de causa Qualquer coisa que fuja a isto não é moral, mas mero mora-
e efeito nos fenômenos observados, permitindo descobertas lismo. Respeitar os preceitos morais não significa adotar uma
que sempre poderão ser revistas (afinal, a verdade é mutá- posição conservadora de apego a valores do passado.
vel); quando se visualiza um fato, livra-se dos preconceitos Por exemplo, nas origens da filosofia era totalmente re-
ao examiná-lo e ao propor soluções; rejeita posições quietas, jeitada a ideia de que uma mulher pudesse pensar. E, como já
repele o comodismo, sendo intensamente inquieta pois é jus- estudamos, os pensamentos filosóficos daquela época eram
tamente na inquietude que o processo de reflexão crítica se muito evoluídos e influenciam a sociedade até hoje. Então,
intensifica; sabe-se que nem tudo é o que parece, razão pela o machismo é uma postura adequada? De forma alguma,
qual é preciso refletir sobre tudo, buscando a sua essência, pois por mais que os valores éticos permaneçam os mesmos
no que se encontra a autenticidade; rejeita toda transferência a interpretação do significado deles evolui conforme as no-
de responsabilidade e de autoridade e aceita a delegação das vas necessidades sociais. Neste sentido, se quando na Grécia
mesmas (no caso do cidadão, ele exerce todos os meios pos- se dizia que determinados homens poderiam ser cidadãos e
síveis de participação no processo democrático); é indagado- eram dotados de racionalidade; na contemporaneidade se
ra, investiga, força, choca, nutre-se do diálogo; nunca ignora percebeu que esta característica deveria ser atribuída a toda
nenhum argumento possível, por isso, ao mesmo tempo em pessoa capaz, num respeito mais amplo à noção de igualda-
que não teme o novo, sempre olha para o velho com cuidado de. Logo, a sociedade evolui e, com isso, a interpretação dos
e dentro de um processo reflexivo. valores éticos evolui.
Da consciência crítica que se origina a chamada consciên- É possível afirmar, então, que a interpretação dos valores
cia social, que vai sendo adquirida depois que a pessoa des- morais está aliada com o aspecto dos costumes: conforme
cobre que é sujeito de sua história e passa ter maior interesse o costume de uma época ou de uma localidade surge uma
pelas coisas da sociedade. Ela deixa de pensar somente nela nova interpretação de qual seria o conteúdo destes valores
ou em seu grupo e passa a ver e viver o social. A consciência morais.
neste momento é reflexiva, amadurecida e crítica. A pessoa “Os costumes mudam e o que ontem era considerado
percebe que o mundo é uma construção do homem e está errado hoje pode ser aceito, assim como o que é aceito entre
sempre passando por transformações. Descobre que tudo se os índios do Xingu pode ser rejeitado em outros lugares, do
transforma a realidade pessoal, comunitária e social. A cons- mesmo país até. A ética não seria então uma simples listagem
trução de um mundo novo, justo e fraterno é missão de todos das convenções sociais provisórias?. [...] Não seria exagerado
e não apenas de alguns. dizer que o esforço de teorização no campo da ética se deba-
te com o problema da variação dos costumes. E os grandes
pensadores éticos sempre buscaram formulações que expli-
4. A RELAÇÃO ENTRE OS VALORES ÉTICOS cassem, a partir de alguns princípios mais universais, tanto a
OU MORAIS E A CULTURA. igualdade do gênero humano no que há de mais fundamen-
tal, quanto as próprias variações. Uma boa teoria ética deveria
atender À pretensão de universalidade, ainda que simultanea-
mente capaz de explicar as variações de comportamento, ca-
A sociedade está passando por constantes mudanças e a racterísticas das diferentes formações culturais e históricas”38.
cada dia nos é questionado como tais mudanças devem ser Mas atenção, não significa que a ética não seja eterna e
recepcionadas. Seria contrário à própria proposta da filo- imutável: a imutabilidade é característica da ética e, de fato,
sofia supor que, uma vez respondido um problema social, se pararmos para pensar, os valores morais não mudam.
jamais se questionasse tal resposta. Conforme a sociedade 37 BÓRIO, Elizabeth Maia. A moral nossa de cada dia. In:
muda, as perspectivas que cercam os valores éticos adqui- CARDI, Cassiano; et. al. Para filosofar. São Paulo: Scipione, 2000.
rem nova interpretação. 38 VALLS, Álvaro L. M. O Que é Ética. 9. ed. São Paulo:
Brasiliense, 1998.

9
NOÇÕES DE ÉTICA E FILOSOFIA

Não existe um tempo ou um lugar do mundo em que ser As teorias que defendem o universalismo dos direitos
mau, desrespeitar o próximo ou ser egoísta foram conside- humanos se contrapõem ao relativismo cultural, que afirma
rados comportamentos éticos esperados do homem: sempre a validez de todos os sistemas culturais e a impossibilidade
se defendeu que devem se fazer presentes os valores morais de qualquer valorização absoluta desde um marco externo,
da temperança, do bom senso, do respeito ao próximo, da que, neste caso, seriam os direitos humanos universais.
busca de bem comum, da magnanimidade. O que muda, em A respeito, Camargo e Melo Neto41 entendem:
verdade, é a limitação do que significa cada um destes valores “A Declaração Universal dos Direitos Humanos adota-
morais e também dos sujeitos que deverão priorizar isto com da em 10 de dezembro de 1948 consolida a afirmação de
maior ou menor intensidade nas suas ações. uma ética universal, ao consagrar um consenso sobre va-
“O comportamento dos indivíduos é, pois, condiciona- lores de cunho universal a serem seguidos pelos Estados.
do pela cultura em que convive. O processo de assimilação Para que os direitos humanos se internacionalizassem era
da cultura recebe o nome de socialização. É em virtude da necessário que eles passassem a ser tratados como ques-
socialização que nós, ocidentais, comemos de garfo e faca, tão de legítimo interesse internacional e para isso foi im-
e as mulheres podem se dar o luxo de chorar em público e prescindível a redefinição quanto ao âmbito e o alcance do
aos homens não se permite que manifestem suas emoções. tradicional conceito de soberania estatal. Assim como tam-
Socialização é o permanente aprendizado das relações que os bém foi necessário rever o status do indivíduo no cenário
homens estabelecem entre si”39. internacional, para que se tornasse verdadeiro sujeito do
O aspecto social influencia intensamente na interpreta- direito internacional. Não é consenso que o processo de in-
ção dos valores morais em cada ponto do mundo. Se pensar- ternacionalização dos direitos humanos e a criação de um
mos em culturas isoladas, tal aspecto fica ainda mais evidente. sistema internacional de proteção dos mesmos consistam
Basta observar as notícias de práticas em comunidades indí- em um avanço ou mesmo em algo positivo e benéfico. Os
genas, tribos africanas, países do Oriente Médio. Muitas ati- críticos do alcance universal dos direitos humanos afirmam
tudes praticadas são consideradas por nós como contrárias a que a pretensa universalidade dos mesmos esconde o seu
valores morais, ao passo que para eles significam justamente caráter marcadamente europeu e cristão e simboliza a ar-
o respeito a estes valores. rogância do imperialismo cultural do mundo ocidental, que
A questão se complica quando o Direito se depara com tenta universalizar as suas próprias crenças. Sendo assim, o
este relativismo cultural que gera uma interpretação multifa- universalismo induz à destruição da diversidade cultural. A
cetada da ética. “Essa concepção de uma base ética objetiva essa crítica, os universalistas se defendem alegando que a
no comportamento das pessoas e nas múltiplas modalidades existência de normas universais relativas ao valor da dig-
da vida social foi esquecida ou contestada por fortes correntes nidade humana é uma exigência do mundo atual, e que
do pensamento moderno. Concepções de inspiração positi- os diversos Estados que ratificaram instrumentos interna-
vista, relativista ou cética e políticas voltadas para o homo eco- cionais de proteção aos direitos humanos, consentiram em
nomicus passaram a desconsiderar a importância e a validade respeitar tais direitos. Desta feita, não podem se isentar do
das normas de ordem ética no campo da ciência e do compor- controle da comunidade internacional, na hipótese de vio-
tamento dos homens, da sociedade da economia e do Estado. lação desses direitos, e, portanto, de descumprimento de
Neste final de século, entretanto, é quase universal a retomada obrigações internacionais”.
dos estudos e exigências da ética na vida pública e na vida Entre duas posturas extremas - favoráveis ao univer-
privada, na administração e nos negócios, nas empresas e na salismo e contrárias ao universalismo - situa-se uma gama
escola, no esporte, na política, na justiça, na comunicação. No de posições intermediárias. Muitas declarações de direitos
campo do Direito, as teorias positivistas que prevaleceram a humanos emitidas por organizações internacionais regio-
partir do final do século XIX sustentavam que só é direito aqui- nais põem um acento maior ou menor no aspecto cultural
lo que o poder dominante determina. Ética, valores humanos, e dão mais importância a determinados direitos de acordo
justiça são considerados elementos estranhos ao direito, ex- com sua trajetória histórica. 
trajurídicos. Pensavam com isso construir uma ciência pura do Na verdade, a criação de sistemas regionais de pro-
direito e garantir a segurança das sociedades”40. teção de direitos humanos são uma tentativa do sistema
Relacionando-se diretamente com a temática posta, te- internacional global de proteção de direitos humanos de
mos a questão da universalidade contraposta ao relativis- instituir um conceito de direitos humanos universais que
mo dos direitos humanos. Ora, são nos chamados direitos se equilibrem com as particularidades, sociais, econômicas
humanos que repousa a segurança jurídica de respeito aos e culturais de cada Estado. Neste sentido, uniformizar não
valores éticos consolidados no decorrer da história da huma- significa desrespeitar as particularidades culturais, mas en-
nidade. Seria simples se em todas culturas tais direitos fossem contrar um ponto de equilíbrio que permita a garantia mí-
vistos e interpretados da mesma forma, mas não o são. nima de certos direitos humanos. Aponta Reis42:
Quando se fala que direitos humanos são universais
estabelece-se que eles são válidos para todas as pessoas 41 CAMARGO, Raquel Peixoto do Amaral; MELO NETO, José
do mundo, independentemente de onde elas sejam. Assim, Baptista de. A proteção internacional dos direitos humanos face
ao relativismo cultural. UFPB, X encontro de iniciação à docência.
basta ser pessoa para ter os direitos humanos reconheci-
Disponível em: <http://www.prac.ufpb.br/anais/IXEnex/iniciacao/
dos internacionalmente. documentos/anais/3.DIREITOSHUMANOS/3CCJDDPUMT01.pdf>.
39 ARAÚJO, Silvia Maria de. O indivíduo e a sociedade. In: Acesso em: 04 jun. 2013.
CARDI, Cassiano; et. al. Para filosofar. São Paulo: Scipione, 2000. 42 REIS, Marcus Vinícius. Multiculturalismo e direitos
40 MONTORO, André Franco. Introdução à ciência do humanos. Disponível em: <www.senado.gov.br/senado/spol/pdf/
Direito. 26. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005. ReisMulticulturalismo.pdf‎>. Acesso em: 04 jul. 2013.

10
NOÇÕES DE ÉTICA E FILOSOFIA

“Universalizar, ao contrário do que pensam alguns auto- Juízos de valor, por sua vez, são normativos e se referem
res, não é uniformizar as ideias, criar um pensamento único. ao que algo deve ser, como devem ser os bons sentimentos,
Trata de levar a todo o planeta um marco mínimo de respeito as boas intenções, as boas ações, os comportamentos corre-
entre as mais diversas culturas, para que haja diálogo entre tos, as decisões adequadas, etc.44
elas. Esse diálogo deve ser produtivo, ao contrário do que Aqui, os juízos de valor não tratam de objetos materiais,
ocorreria com o relativismo, pois não haveria como chegar a mas sim de questões relacionadas às ações humanas, ou seja,
um mínimo de entendimento. A partir deste marco, que são às questões morais e éticas. São reflexões acerca de como
os direitos fundamentais, cada povo tem a máxima liberdade deve ser o bem proceder das pessoas. Não obstante, os juízos
de expressar suas tradições e crenças. de valor podem recair sobre objetos materiais, verificando o
É verdade que a universalidade dos direitos humanos tem aspecto qualitativo.
sido utilizada no curso da história para justificar intervenções Ex.: a lua é bela; discussões são ruins; os políticos são
imperialistas de alguns Estados em outros povos, como ocor- corruptos; o livro é interessante; furtar é errado; ajudar uma
reu no colonialismo e no neo-colonialismo, assim como, mais pessoa é correto.
recentemente, na invasão americana ao Estado soberano do
Iraque. Apesar disso, essas manipulações do Direito devem Veja bem: a principal marca dos juízos de valores é uma
ser vistas como patologias e não como o próprio Direito, pois certa subjetividade. Quer dizer, nem toda pessoa que olha para
este tem como meta a convivência pacífica entre os povos, a lua precisa achá-la bela; há quem entenda que discutir é a
com a proibição de excessos na seara internacional. melhor forma de resolver problemas; existem políticos que não
Confesso que se existisse a possibilidade de um diálogo são corruptos, então seria errado generalizar; um livro que é
entre culturas em um marco relativista, eu seria relativista. Isso aclamado por alguns críticos é menosprezado por outros; aju-
poderia acontecer se eu acreditasse no caráter bom e pacífi- dar uma pessoa só é certo se esta pessoa estiver bem inten-
co do ser humano, o que não é verdade. Se não houvesse a cionada (por exemplo, ajudar a assaltar um banco não é uma
possibilidade de que determinado povo fizesse o mal a ou- atitude correta). A percepção dos juízos de valor é algo com-
tro grupo ou indivíduo, não necessitaríamos de um catálogo plexo e que pode gerar discussões, principalmente quando o
estabelecimento destes se referir a comportamentos humanos.
mínimo de direitos, pois a base já estaria pronta – respeito
Então, os juízos de valor não dizem respeito às proprie-
à dignidade humana. Entretanto, não é isso que temos visto
dades reais da coisa, do objeto, mas sim de como julgamos
na história do homem. Ao contrário, mecanismos artificiais de
a presença, a existência, a ação de tal coisa. Por outro lado,
contenção do homem têm sido desenvolvidos desde o seu
os juízos de fato dizem sim as propriedades reais, intrínsecas
aparecimento no planeta, por intermédio da religião, da filo-
na realidade do objeto, ou seja, diz que coisas que podemos
sofia, da ciência e, mais recentemente, do Direito”.
perceber de fato em algo.

5. JUÍZOS DE FATO OU DE REALIDADE E 6. ÉTICA E CIDADANIA .


JUÍZOS DE VALOR.

Ética e Cidadania
O homem, pelo seu intelecto e sua experiência, forma juí- As instituições sociais e políticas têm uma história. É impos-
zos acerca da realidade, acerca das coisas. Em outras palavras, sível não reconhecer o seu desenvolvimento e o seu progresso
constantemente, o homem está julgando tudo o que está à em muitos aspectos, pelo menos do ponto de vista formal.
sua volta com base em seu conhecimento e em suas experi- A escravidão era legal no Brasil até 120 anos atrás.
ências. Julgar algo, ou formar um juízo, é equivale a afirmar, As mulheres brasileiras conquistaram o direito de votar
negar, juntar, separar propriedades de um objeto. Os juízos apenas há 60 anos e os analfabetos apenas há alguns anos.
podem ser e dois tipos, de fato e de valor. Chamamos isso de ampliação da cidadania (MARTINS, 2008).
Juízos de fato são aqueles que dizem que algo é ou exis- Existem direitos formais (civis, políticos e sociais) que nem
te, e que dizem o que as coisas são, como são e por que são43. sempre se realizam como direitos reais. A cidadania nem sem-
Em outras palavras, juízos de fato são proposições que forma- pre é uma realidade efetiva e nem sempre é para todos. A
mos com base no material da realidade, ou seja, coisas que efetivação da cidadania e a consciência coletiva dessa con-
julgamos a respeito do que está posto ao nosso redor, das dição são indicadores do desenvolvimento moral e ético de
coisas que existem, dos objetos materiais. uma sociedade.
Ex: O ouro é um metal; o oxigênio é um elemento quí- Para a ética, não basta que exista um elenco de princípios
mico; esta porta é de madeira; esta cadeira tem rodas; o livro fundamentais e direitos definidos nas Constituições. O de-
possui páginas... safio ético para uma nação é o de universalizar os direitos
Nota-se que a observação feita num juízo de fato ou de reais, permitido a todos cidadania plena, cotidiana e ativa.
realidade é perceptível por qualquer pessoa que olhe o ob- É preciso fundar a responsabilidade individual numa
jeto. Todos falariam a mesma coisa. Por isso mesmo que ética construída e instituída tendo em mira o bem comum,
o juízo é de realidade, é o que realmente se vê, de forma visando à formação do sujeito ético. Desse modo, será pos-
clara e unânime.
43 CHAUÍ, Marilena. Filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 44 CHAUÍ, Marilena. Filosofia. São Paulo: Martins Fontes,
2001. 2001.

11
NOÇÕES DE ÉTICA E FILOSOFIA

sível a síntese entre ética e cidadania, na qual possa preva- O principal problema do meio ambiente é que a popu-
lecer muito mais uma ética de princípios do que uma ética lação da Terra aumenta, mas os recursos naturais continu-
do dever. A responsabilidade individual deverá ser porta- am os mesmos, com a ressalva de que, cada vez, produzi-
dora de princípios e não de interesses particulares. mos mais alimentos. Em contrapartida, também consumi-
Componentes Éticos e Cidadania mos mais, gerando enormes quantidades de detritos que
A tendência da maioria é pensar que o funcionamen- se voltam contra nós.
to da cidadania depende dos outros: prefeitos, vereadores, Como seres humanos responsáveis, é necessário difun-
deputados, enfim, do governo. Uma pessoa exemplar com- dir o hábito de poupar água, energia, reciclar o lixo, usar
porta-se como se tudo dependesse do seu procedimento fontes alternativas de energia e controlar a natalidade.
pessoal e não do próximo. Transportes
Por outro lado, é preciso admitir que nenhum país é O automóvel, por seu avanço tecnológico, impulsionou
subdesenvolvido por acaso, devido a uma série de coinci- o desenvolvimento da indústria automobilística e outros
dências nefastas que acabaram prejudicando a nação ao setores ligados direta ou indiretamente a ela. As grandes
longo do tempo, sem culpa de ninguém. A miséria é fruto cidades renderam-se aos carros, gerando o transporte indi-
da omissão e do descaso sistemáticos, da cobiça e da ga- vidual e, com isso, reformaram-se as ruas, criaram-se aveni-
nância de alguns, durante séculos. das, tudo em função da sua circulação com maior rapidez.
A recuperação do tempo perdido exige uma mudança O pedestre foi esquecido e também o ciclista. O trans-
radical, a partir da consideração dos seguintes itens: porte público passou a um segundo plano. Resultado: o
mundo ficou refém do automóvel.
Impostos Em um engarrafamento qualquer, os motoristas perce-
O primeiro dever do cidadão responsável é colaborar bem que estão parados, a maioria deles a sós, espremidos
financeiramente no custeio das despesas comuns, como entre quatro latas, querendo ir todos ao mesmo lugar, mas
por exemplo: pagar o Imposto Territorial Urbano, a Segu- sem sucesso. Além de inviabilizar ou complicar os deslo-
ridade Social e todos os tributos embutidos em serviços e camentos, o trânsito rodado enerva as pessoas, produz
inúmeros acidentes, polui o ambiente e empobrece muitos
alimentos. Pedir a nota fiscal ao efetuar qualquer compra.
usuários, que perdem grandes somas de dinheiro cada vez
Infelizmente, nem sempre os governantes se compor-
que decidem trocar de carro - tudo isso em nome do pres-
tam de modo isento na hora de estabelecer a carga tributá-
tígio, da privacidade e de um ilusório conforto individual.
ria ou o emprego dos recursos arrecadados. Alguns tribu-
O homem esclarecido prefere o transporte público, só
tos, criados com determinado fim, mudam de destinação
se senta ao volante sóbrio, partilha sua condução com ami-
ao longo dos anos; outros, temporários na sua implanta-
gos, conhecidos ou colegas de trabalho.
ção, eternizam-se inexplicavelmente; certos impostos inci-
dem sobre outros, punindo desnecessariamente a popu- Segurança
lação. Por tudo isso, um cidadão responsável: mantém-se No mundo em que vivemos, ninguém está livre de as-
sempre vigilante; fiscaliza o poder executivo diretamente saltos. Pedestres, usuários de transportes coletivos e pro-
ou por intermédio do seu representante na Câmara, As- prietários de veículos correm perigos semelhantes. Os la-
sembleia ou Congresso; nega o voto aos políticos ineficien- drões são, via de regra, inteligentes e preguiçosos. Alguns
tes ou corruptos, nas eleições. escolhem suas vítimas pacientemente após um período de
observação. Alguns são mais rápidos e agem intuitivamen-
Solidariedade te. Mulheres e pessoas idosas correm mais riscos. A pes-
As organizações empregam grande parte dos tributos soa circunspecta (que denota seriedade) toma distância de
recolhidos para minimizar problemas sociais, os quais, por pessoas envolvidas com drogas, veste-se de modo discre-
sua vez, não são tão graves quanto os dos povos subde- to, evita lugares isolados, estacionamentos vazios ou terre-
senvolvidos. Em países emergentes, como o Brasil, o Es- nos baldios. Antes de estacionar ou parar, dá uma olhada
tado deve atender a tantas necessidades e os problemas em volta do carro.
são tão numerosos que sempre ficam enormes lacunas por
preencher. Cabe aos cidadãos esclarecidos desdobrar-se Saúde Pública
para ajudar os marginalizados do sistema. Além dos tribu- O zelo pela saúde individual tem sua dimensão social,
tos obrigatórios, tais organizações - como ONGs, hospitais, pois, cada vez que um cidadão adoece, a sociedade como
instituições civis e religiosas, orfanatos, escolas especiais, um todo fica prejudicada.
creches, movimentos ou associações de pessoas portado- O cidadão ético evita que a água se acumule em qual-
ras de deficiência - tentam diversas fórmulas para canalizar quer tipo de recipiente, para combater doenças parasitá-
ajuda. rias, dá passagem imediata a veículos de emergência (am-
Elas não só ajudam, mas fiscalizam as despesas, con- bulância, polícia, bombeiros), dentre outras atitudes.
trolam contas e decidem, na medida do possível, sobre
aplicações de recursos arrecadados. Serviços Públicos
Delegacias, hospitais, escolas públicas e telefones so-
Meio Ambiente frem terríveis desgastes nas mãos da população. Paredes,
Encontramos enormes problemas em nossa sociedade objetos e móveis são arranhados, riscados, pichados, quan-
que devem ser resolvidos, porém o homem nunca viveu do não arrancados do seu devido lugar, como é o caso do
tanto, nem teve tanta saúde como agora. telefone público.

12
NOÇÕES DE ÉTICA E FILOSOFIA

Um cidadão que se preza usa com cuidado os bens co- de fato, a razão é a condição de todo o pensamento teóri-


muns; colabora com as escolas públicas; ao sair com o animal co. A filosofia constitui-se pelo reconhecimento da razão como
de estimação para passear, limpa os detritos e excrementos a faculdade do conhecimento das coisas e do domínio em si.
deixados por este no percorrer do passeio. O racionalismo muda de aspeto conforme se opõe a cada
Texto adaptado de: http://ftp.comprasnet.se.gov.br/ filosofia. Opõe-se ao pensamento arcaico pelo seu estilo, já
sead/licitacoes/Pregoes2011/PE091/Anexos/servi%E7o_pu- que está atento à ideia e visa uma coerência inteligível. Opõe-
blico_modulo_I/Apostila%20Etica%20no%20Servi%E7o%20 -se ao empirismo, tornando-se metódico, armando-se com a
P%FAblico/Etica%20e%20Cidadania%20no%20Setor%20 lógica e a matemática.
P%FAblico.pdf Toda a doutrina da razão se apoia em dois pilares: a ex-
periência que nos é dada pelos sentidos é insuficiente para
7. RACIONALISMO ÉTICO. se poder atingir o conhecimento; o pensamento através da
razão é capaz de atingir a verdade absoluta, pois as suas leis
são também as leis que regem os objetos do conhecimento,
tal como Hegel descrevia: “Tudo o que é racional é real e tudo
Racionalismo é a corrente central no pensamento liberal o que é real é racional”.
que se ocupa em procurar, estabelecer e propor caminhos Descartes é o criador e impulsionador do racionalismo
para alcançar determinados fins. Tais fins são postulados em moderno. Ele preocupa-se com a investigação prévia do co-
nome do interesse coletivo (common wealth), base do próprio nhecimento. A dúvida corresponde a uma exigência da fun-
liberalismo e que se torna assim, a base também do raciona- damentação das possibilidades do conhecimento.
lismo. O racionalismo, por sua vez, fica à base do planejamen- Há uma vastidão imensa de ideias inatas (intuição). Estas
to da organização econômica e espacial da reprodução social. são isentas de dúvidas. Descartes não recusa a existência de
O postulado do interesse coletivo elimina os conflitos de informações vindas pelos sentidos mas não pode ter por elas
interesses (de classe, entre uma classe e seus membros e até caráter de evidência pois são obscuras e confusas. Descar-
de simples grupos de interesse) existentes em uma socieda- tes admite nos seres humanos a existência de ideias factícias
de, seja em nome do princípio de funcionamento do merca- (imaginação). É classificado de racionalista inatista pois só as
do, seja como princípio orientador da ação do Estado. Abre ideias inatas são garantia de certeza. No racionalismo, o edi-
espaço para soluções racionais a problemas econômicos (de fício do saber constrói-se por dedução a partir das ideias ina-
alocação de recursos) ou urbanos (de infraestrutura, da habi- tas. Tem, como modelo, a matemática, que é raiz do modelo
tação, ou do meio ambiente) com base em soluções técnicas do funcionamento do conhecimento no ser humano.
e eficazes. Acima de tudo, nota-se que para o racionalismo ético a
Uma ideologia difere do mundo concreto não naquilo prioridade é a utilização da razão para a resolução dos pro-
que afirma, senão no que cala (discurso lacunar) - não nega, blemas sociais, rejeitando questões sensitivas: a razão, sozi-
apenas escamoteia a existência conflitos na sociedade. Um nha, é capaz de a tudo responder.
apelo à razão é um convite a esquecer a existência de confli- Enfim, na epistemologia, racionalismo é a visão que re-
tos sociais. laciona a razão como chefe da busca e do teste do conheci-
O racionalismo é a corrente filosófica que se iniciou com mento ou qualquer visão apelando para a razão como recurso
a definição do raciocínio como uma operação mental, discur- de conhecimento ou justificação. Mais formalmente, raciona-
siva e lógica que usa uma ou mais proposições para extrair lismo é definido como um método ou uma teoria na qual o
conclusões - se uma ou outra proposição é verdadeira, falsa critério da verdade não é sensorial, mas intelectual e deduti-
ou provável. Essa era a ideia central comum ao conjunto de vo. Racionalistas acreditam que a realidade tem uma lógica
doutrinas conhecidas tradicionalmente como racionalismo. estrutural intrínseca. Por isso, racionalistas argumentam que
O racionalismo afirma que tudo o que existe tem uma certas verdades existem e que o intelecto pode diretamente
causa inteligível, mesmo que essa causa não possa ser de- compreendê-las. Assim dizendo, racionalistas afirmam que
monstrada empiricamente - tal como a causa da origem do certos princípios racionais existem na lógica, na matemática,
Universo. Privilegia a razão em detrimento da experiência do na ética e na metafísica, sendo eles fundamentalmente tão
mundo sensível como via de acesso ao conhecimento. Con- verdadeiros que negá-los geraria uma contradição. Racio-
sidera a dedução como o método superior de investigação nalistas tem uma confiança tão alta na razão que provas e
filosófica. evidências físicas são desnecessárias para assimilar a verdade,
O racionalismo é baseado nos princípios da busca da isto é, existem modos significantes nos quais nossos concei-
certeza e da demonstração, sustentados, segundo Kant, pelo tos e conhecimentos são adquiridos independentemente de
conhecimento a priori, ou seja o conhecimento que não é senso de experiência. Por causa desta crença, o empirismo
inato nem decorre da experiência sensível mas é produzido é um dos maiores rivais do racionalismo, sendo que para o
somente pela razão. Kant admite que as formas a priori de empirismo tudo deve ser testado na prática, num constante
todo o conhecimento limitam as possibilidades da razão e exercício de experiência45.
distingue as duas fontes de conhecimento, sensibilidade e O racionalismo é muitas vezes comparado com o em-
entendimento, em que a sensibilidade é limitada pelas in- pirismo. Tomadas de forma muito ampla essas visões não
tuições puras. são excludentes , uma vez que um filósofo pode ser tanto
O  racionalismo  consiste  em  acreditar  nas  ideias  ina- racionalista quanto empirista. Levadas ao extremo, a visão
tas  e  no  raciocínio  lógico através da razão. É,  de  cer- empirista afirma que todas as ideias vêm até nós a posterio-
to  modo,  a  própria  filosofia  desde  a  sua  origem pois, ri, isto é , através da experiência, através os sentidos exter-
45 http://en.wikipedia.org/wiki/Rationalism

13
NOÇÕES DE ÉTICA E FILOSOFIA

nos ou através de tais sensações internas como dor e satisfa- obtidas sem qualquer experiência sensorial, segundo Descar-
ção. O empirista acredita essencialmente que o conhecimen- tes. Verdades que são atingidas pela razão são divididas em
to é baseado em ou derivado diretamente da experiência. O elementos que a intuição pode compreender que, através de
racionalista acredita que chegamos ao conhecimento a priori um processo puramente dedutivo, resultará em verdades cla-
- por meio do uso da lógica - e é , portanto, independente ras sobre a realidade47.
da experiência sensorial. Entre ambas as filosofias, o assunto Portanto Descartes discutiu, como um resultado do seu
em questão é a fonte fundamental do conhecimento humano método, essa razão determinada pelo conhecimento, a qual
e as técnicas adequadas para verificar o que nós pensamos poderia ser alcançada independentemente dos sentidos. Por
que sabemos. Considerando que ambas as filosofias estão exemplo, o seu famoso ditado, penso, logo existo é uma con-
sob o guarda-chuva da epistemologia, seu argumento está clusão a priori, isto é, antes de qualquer tipo de experiência
na compreensão do mandado, que está sob o guarda-chuva sobre o assunto. O significado simples é que a dúvida sua
epistêmico mais amplo da teoria da justificação. existência, por si só, prova que um eu existe para fazer o pen-
Diferentes graus de ênfase sobre métodos ou teorias ra- samento. Em outras palavras, duvidar de sua própria dúvida
cionalistas lideram uma gama de pontos de vista, da posição seria um absurdo48.
moderada de que a razão predomina sobre outros modos de Descartes postulava um dualismo metafísico, a distin-
adquirir conhecimento para a mais extrema posição que a ra- ção entre as substâncias do corpo humano (res extensa) e da
zão é o único caminho para o conhecimento. Conferindo um mente ou da alma (res cogitans). Esta distinção fundamental
entendimento pré-moderno da razão, racionalismo é idêntico seria deixada em aberto e baseia o que é conhecido como o
à filosofia, à vida socrática de inquérito, ou à zetética (cética) problema do corpo-mente, uma vez que as duas substâncias
interpretação clara de autoridade (aberto à causa subjacente no sistema cartesiano são independentes uma das outras e
ou essencial das coisas como elas aparecem ao nosso senso irredutíveis49.
de certeza). Racionalismo não se confunde com racionalidade
nem com racionalização46. b) Baruch Spinoza
O racionalismo é também uma forte teoria política, re- A filosofia de Baruch Spinoza é uma sistemática, lógica,
forçando uma política da razão baseada numa escolha racio- filosofia racional desenvolvida na Europa do século XVII. A
nal. Na sociedade brasileira o superprivilegiamento da elite filosofia de Spinoza é um sistema de ideias construídas em
e o constante entravamento do desenvolvimento entra em cima de blocos de construção básicos com uma consistência
contradição flagrante com a ideia do interesse coletivo e o interna com a qual ele tentou responder a grandes questões
racionalismo perde sua base material, originando também o da vida e na qual ele propôs que Deus só existe filosoficamen-
caráter incongruente da ideologia da elite. Nessas condições te. Ele foi fortemente influenciado por pensadores como Des-
se gesta um derivado curioso do interesse coletivo, a saber, o cartes, Euclides e Thomas Hobbes, bem como teólogos da
consenso. Sendo fraca a figura do interesse coletivo, esse fica tradição filosófica judaica, como Maimonides. Mas seu traba-
substituído por seu suposto resultado: o consenso - a saber, lho era, em muitos aspectos, uma partida da tradição judaico-
entre os membros da elite ou entre seus representantes no -cristã. Muitas das ideias de Spinoza continuar a influenciar
âmbito político. O enfraquecimento da base do racionalismo pensadores hoje e muitos de seus princípios, especialmente
se reflete também no planejamento e na ação do Estado, que em relação às emoções, têm implicações para as abordagens
adquire um caráter errático e não-explícito. modernas da psicologia. Mesmo os maiores pensadores vi-
Vale trazer o cerne do pensamento dos principais filóso- ram o método geométrico de Spinoza como difícil de se com-
fos do racionalismo moderno: preender, mas ainda assim atraiu seguidores, como Einstein50.
a) René Descartes
Descartes é o primeiro dos racionalistas modernos e foi c) Gottfried Leibniz
apelidado de Pai da Filosofia Moderna. Descartes pensava Leibniz foi o último dos grandes racionalistas que contri-
que o conhecimento das verdades eternas - incluindo as ver- buíram fortemente para outros campos, como a metafísica, a
dades da matemática e as bases epistemológicas e metafísi- epistemologia, a lógica, a matemática, a física, a jurisprudên-
cas das ciências - só poderia ser alcançado pela razão; outro cia e a filosofia da religião. Ele não desenvolveu seu sistema,
conhecimento, o conhecimento da física, a experiência ne- no entanto, independentemente desses avanços. Leibniz re-
cessária do mundo, seria alcançado metodicamente pela co- jeitou o dualismo cartesiano e negou a existência de um mun-
munidade científica. Ele também argumentou que embora os do material. Na visão de Leibniz , existem infinitas substâncias
sonhos parecessem tão reais quanto a experiência dos senti- simples, que ele chamou de mônadas51.
dos, eles não podem fornecer às pessoas com conhecimento. Leibniz desenvolveu sua teoria das mônadas em resposta
Além disso, como experiência sensorial consciente, pode ser tanto a Descartes quanto a Spinoza. Ao rejeitar essa resposta
a causa de ilusões. Então, a experiência sensorial em si pode ele foi forçado a chegar a sua própria solução. Mônada é a
ser duvidosa. Como resultado, Descartes deduziu que a busca unidade fundamental da realidade, de acordo com Leibniz,
racional da verdade deve duvidar de todas as crenças sobre constituindo tanto as coisas inanimadas quanto as anima-
a realidade. Ele elaborou essas crenças em obras como O das. Estas unidades da realidade representam o universo ,
Discurso do Método, Meditações sobre a Filosofia Primeira
e Princípios da Filosofia. Descartes desenvolveu um mé- 47 http://en.wikipedia.org/wiki/Rationalism
todo para atingir verdades segundo o qual nada que não 48 http://en.wikipedia.org/wiki/Rationalism
possa ser reconhecido pelo intelecto (ou razão) pode ser 49 http://en.wikipedia.org/wiki/Rationalism
classificado como do conhecimento. Estas verdades são 50 http://en.wikipedia.org/wiki/Rationalism
46 http://en.wikipedia.org/wiki/Rationalism 51 http://en.wikipedia.org/wiki/Rationalism

14
NOÇÕES DE ÉTICA E FILOSOFIA

embora não estejam sujeitas às leis da causalidade ou no A liberdade de pensamento, qual seja, a liberdade de
espaço (que ele chamou de fenômenos bem fundamenta- adotar determinado direcionamento intelectual ou não,
dos). Leibniz, portanto, apresenta o seu princípio de harmo- formando suas opiniões e tomando suas decisões, é a li-
nia pré-estabelecida para contabilizar causalidade aparen- berdade primária de todas as liberdades. Por isso mesmo,
te no mundo52. sua menção nos documentos internacionais aparece asso-
ciada a estas outras espécies de liberdades.
d) Immanuel Kant O artigo XVIII da Declaração Universal de 1948 prevê
Kant é uma das figuras centrais da filosofia moderna que “toda pessoa tem direito à liberdade de pensamento,
e definiu os termos pelos quais todos os pensadores pos- consciência e religião [...]”, prosseguindo ao explicitar o que
teriores se ativeram. Ele argumentou que as estruturas da a liberdade de religião e a de crença abrangem. Já o artigo
percepção humana originam-se das leis naturais e que a XIX do mesmo diploma traz que “toda pessoa tem direito à
razão é a fonte da moralidade. Seu pensamento continua a liberdade de opinião e expressão [...]”, delimitando que tal
ter uma grande influência no pensamento contemporâneo, direito inclui ter opiniões, o que se relaciona puramente à
especialmente em campos como a metafísica, a epistemo- liberdade de pensamento, e de manifestá-las e buscá-las,
logia, a ética, a filosofia política e a estética53. o que corresponde respectivamente à liberdade de expres-
Kant chamou o seu ramo da epistemologia de Idea- são e à liberdade de informação.
lismo Transcendental e colocou em primeiro lugar estes O que ocorre no artigo XVIII da Declaração Universal
pontos de vista em sua famosa obra Crítica da Razão Pura. dos Direitos Humanos se repete no artigo 18 do Pacto In-
Nela, ele argumentou que houve problemas fundamentais ternacional de Direitos Civis e Políticos; sendo que o artigo
tanto com o dogma racionalista quanto com o empirista. 19 do Pacto traz a impossibilidade de violar as opiniões
Para os racionalistas, argumentou, em geral, a razão pura alheias, aprofundando-se no direito à liberdade de expres-
é falha quando vai além de seus limites e créditos de saber são.
as coisas que são, necessariamente, para além do domí- No âmbito interamericano, o artigo 12 da Convenção
nio de toda a experiência possível (a existência de Deus, Americana sobre Direitos Humanos trata da liberdade de
o livre arbítrio e a imortalidade da alma do ser humano). consciência, logo, de pensamento, associada à liberdade
religiosa; ao passo que o artigo 13 traz a liberdade de pen-
Kant se refere a esses objetos como a coisa em si e passa
samento coligada à liberdade de expressão.
a argumentar que sua condição de objetos além de toda a
O importante é ter em mente que se uma pessoa não
experiência possível, por definição, significa que não po-
está apta a pensar e a adotar posturas intelectuais torna-
demos conhecê-los. Para o empirista, ele argumentou que,
-se impossível a ela exercer liberdades conexas. Quer dizer,
embora seja correto que a experiência é fundamentalmen-
só pode se dizer o que pensa ao se pensar (liberdade de
te necessária para o conhecimento humano, a razão é ne-
expressão), só se pode buscar uma informação quando se
cessária para processar essa experiência em pensamento
tem uma noção do que se pretende conhecer (liberdade de
coerente. Portanto, ele conclui que a razão e a experiência
informação), só pode se professar uma crença ao adotá-la
são necessárias para o conhecimento humano. Da mesma intelectualmente (liberdade de religião), só se pode asso-
forma, Kant também argumentou que era errado conside- ciar ou reunir em defesa de uma causa ao crer nela em sua
rar o pensamento como mera análise. Em vista de Kant, mente (liberdade de associação e de reunião), só se pode
conceitos a priori não existem, mas se quiserem levar para escolher um ofício e exercê-lo livremente ao se conhecer
a ampliação do conhecimento, eles devem ser postos em as habilidades para seu bom desempenho (liberdade de
relação com dados empíricos54. trabalho), só se pode decidir para onde ir ao ter noções de
espaço e localização (liberdade de locomoção). Enquanto
ser racional, o homem é uma entidade pensante, em cons-
8. ÉTICA E LIBERDADE. tante exercício de sua liberdade de pensamento e de cons-
ciência.
A liberdade de expressão encontra previsão no artigo
XIX da Declaração Universal dos Direitos Humanos: “Toda
Silva55 explica que “o homem se torna cada vez mais pessoa tem direito à liberdade de opinião e expressão;
livre na medida em que amplia seu domínio sobre a natu- este direito inclui a liberdade de, sem interferência, ter
reza”, ou seja, com a evolução da sociedade, a tendência é opiniões e de procurar, receber e transmitir informações
que o círculo que delimita a esfera da liberdade se amplie. e ideias por quaisquer meios e independentemente de
Entretanto, o direito à liberdade nunca foi assegurado de fronteiras”. O direito à liberdade de expressão precisa ser
forma irrestrita, internacional ou constitucionalmente, as- limitado porque o pensamento de um pode atingir a es-
sim como nunca se defendeu no campo da Moral que al- fera de direitos de outrem, ofendendo-o em sua honra e
guém pudesse exercê-lo sem limites. imagem, ou caracterizando invasão de sua vida privada ou
intimidade.
52 http://en.wikipedia.org/wiki/Rationalism
A liberdade de informação também encontra previsão
53 http://en.wikipedia.org/wiki/Rationalism
no artigo XIX da Declaração Universal dos Direitos Hu-
54 http://en.wikipedia.org/wiki/Rationalism
manos: “Toda pessoa tem direito à liberdade de opinião
55 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional e expressão; este direito inclui a liberdade de, sem inter-
positivo. 25. ed. São Paulo: Malheiros, 2006.

15
NOÇÕES DE ÉTICA E FILOSOFIA

ferência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir que viabilizam a coordenação livre da criação, expressão e
informações e ideias por quaisquer meios e indepen- difusão da informação e do pensamento. Contudo, a ma-
dentemente de fronteiras”. nifestação do pensamento não pode ocorrer de forma ili-
O artigo XVIII da Declaração Universal de Direitos Hu- mitada. Afinal, os direitos humanos fundamentais “não po-
manos trata da liberdade de religião ao prever: “toda pes- dem ser utilizados como um verdadeiro escudo protetivo
soa tem direito à liberdade de pensamento, consciência e da prática de atividades ilícitas, tampouco como argumen-
religião; este direito inclui a liberdade de mudar de re-
to para afastamento ou diminuição da responsabilidade
ligião ou crença e a liberdade de manifestar essa reli-
civil ou penal por atos criminosos”59
gião ou crença, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pela
observância, isolada ou coletivamente, em público ou em Nos permitem compreender a grandeza do sentido fi-
particular”. losófico da liberdade a observância de duas obras literárias,
Por fim, tem-se a liberdade de associação e de reunião, quais sejam, 1984, de George Orwell, e Admirável Mundo
que é a liberdade de reunir-se em grupo, manifestando em Novo, de Huxley. Apenas a título de localização, destaca-se
conjunto um pensamento ou ideário, ou mesmo defenden- que a primeira obra é um relato de uma sociedade global
do interesses em comum. Nos termos do artigo XX da De- sem liberdade, na qual se instaurou um regime político di-
claração Universal de 1948, “1. Toda pessoa tem direito à tatorial e inamovível, na qual a plena vigilância do cidadão
liberdade de reunião e associação pacíficas. 2. Ninguém proibia não só a manifestação do pensamento, mas o pen-
pode ser obrigado a fazer parte de uma associação”. samento em si; ao passo que o relato de Huxley mostra
A observância das normas de direitos humanos permi- uma sociedade na qual transformações biológicas criaram
tem concluir que a liberdade possui diversas dimensões, seres humanos próximos a máquinas, livres de qualquer
mas também encontram limites éticos e jurídicos ao seu complexidade ética, mas também livres da possibilidade de
exercício.
pensar livremente devido à programação biológica.
Na esfera filosófica, percebe-se que o direito à liber-
dade é inerente ao homem, possibilitando o seu desenvol- A marca da obra de Orwell consiste na defesa de que
vimento enquanto pessoa humana. Vale lembrar que agir a liberdade deve ser garantida na vida social, sob pena de
conforme a virtude não é algo que possa ser forçado, de se acabar com o indivíduo. Perturbado, o protagonista de
forma que ninguém será de fato ético se não respeitar es- Orwell60 define liberdade: “liberdade é a liberdade de dizer
pontaneamente, de forma livre, os postulados morais - em- que dois mais dois são quatro. Se isso for admitido, tudo o
bora a lei seja um instrumento para punir aqueles que vio- mais é decorrência”.
lem certos ditames éticos. É preciso garantir espaço para Era tão consolidada a questão da perda de liberdade
se deliberar a respeito do fim correto, vedando-se abusos, que os cidadãos eram incitados a odiar aqueles que um dia
que nem ao menos ocorrerão se o homem seguir estrita- a defenderam. Gerando histeria nos presentes, o vídeo dos
mente sua racionalidade. Aliás, a filosofia kantiana toma a dois minutos de ódio, reunião diária obrigatória na qual
liberdade como base das leis morais, somente podendo ser todos odiavam um inimigo invisível contrário ao Partido,
verdadeiramente exercida com o respeito à lei fundamen- as falas deste favoráveis à liberdade são motivo de revolta:
tal da razão pura prática - é a autonomia da vontade, que
“Goldstein atacava o Grande Irmão, denunciava a ditadura
se difere da heteronomia do livre-arbítrio.
Silva56 aponta que a liberdade de pensamento, que do Partido, exigia a imediata celebração da paz com a Eu-
também pode ser chamada de liberdade de opinião, é con- rásia, defendia a liberdade de expressão, a liberdade de im-
siderada pela doutrina como a liberdade primária, eis que prensa, a liberdade de reunião, a liberdade de pensamento,
é ponto de partida de todas as outras, e deve ser entendida gritava histericamente que a revolução fora traída”61.
como a liberdade da pessoa adotar determinada atitude Poucos, ou quase nenhum, percebiam que o medo era
intelectual ou não, de tomar a opinião pública que crê ver- a marca desta nova sociedade, não o medo de agir contra
dadeira. o Partido manifestando sua revolta, mas o simples medo
“Na verdade, o ser humano, através dos processos in- de pensar contra a massa. Quando Winston, protagonista da
ternos de reflexão, formula juízos de valor. Estes exteriori- obra, começa a escrever um diário criticando o Partido, já sabe
zam nada mais do que a opinião de seu emitente. Assim, que será morto em pouco tempo, apenas por pensar de ma-
a regra constitucional, ao consagrar a livre manifestação neira diferente dos demais: “não fazia a menor diferença levar
do pensamento, imprime a existência jurídica ao chamado o diário adiante ou não. de toda maneira, a Polícia das Ideias
direito de opinião”57. haveria de apanhá-lo. Cometera - e teria cometido, mesmo
Por sua vez, conforme Silva58, a liberdade de expressão que jamais houvesse aproximado a pena do papel - o crime
pode ser vista sob diversos enfoques, como o da liberdade essencial que englobava todos os outros. Pensamento-crime,
de comunicação, ou liberdade de informação, que consiste eles o chamavam”62.
em um conjunto de direitos, formas, processos e veículos 59 BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. 26.
ed. São Paulo: Malheiros, 2011.
56 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional 60 ORWELL, George. 1984. Tradução Alexandre Hubner e
positivo. 25. ed. São Paulo: Malheiros, 2006. Heloísa Jahn. São Paulo: Companhia das letras, 2009.
57 ARAÚJO, Luiz Alberto David; NUNES JÚNIOR, Vidal Serrano. 61 ORWELL, George. 1984. Tradução Alexandre Hubner e
Curso de direito constitucional. 10. ed. São Paulo: Saraiva, 2006. Heloísa Jahn. São Paulo: Companhia das letras, 2009.
58 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional 62 ORWELL, George. 1984. Tradução Alexandre Hubner e
positivo. 25. ed. São Paulo: Malheiros, 2006. Heloísa Jahn. São Paulo: Companhia das letras, 2009.

16
NOÇÕES DE ÉTICA E FILOSOFIA

Liberdade é mais do que apenas se expressar, liberdade é mem é realmente livre, ou pode sê-lo. [...] Pois a norma nos
ser. Para alguém se dizer uma pessoa, deve ter liberdade para diz como devemos agir. E se devemos agir de tal modo,
pensar como quiser, algo essencial até mesmo para a manu- é porque (ao menos teoricamente) também podemos não
tenção da sanidade mental. Sabendo disso, Winston escreveu agir deste modo. Isto é: se devemos obedecer, é porque
em seu diário: “não era fazendo-se ouvir, mas mantendo a sa- podemos desobedecer, somos capazes de desobedecer à
nidade mental que a pessoa transmitia sua herança humana. norma ou ao preceito. [...] Também não tem sentido falar
Voltou para a mesa, molhou a pena da caneta e escreveu: ‘ao de responsabilidade, palavra que deriva de resposta, se o
futuro ou ao passado, a um tempo em que os homens sejam condicionamento ou o determinismo é tão completo que a
diferentes uns dos outros, em que não vivam sós - a um tempo
resposta aparece como mecânica ou automática”67.
em que a verdade exista e em que o que for feito não possa
Com efeito, as regras éticas delimitam o convívio so-
ser desfeito: Da era de uniformidade, da era da solidão, da era
do Grande Irmão, da era do duplipensamento - saudações!’”63. cial, no entanto: a) elas não são fechadas a ponto de exigi-
A liberdade de pensamento proporciona a construção da rem apenas um comportamento humano padrão, pois os
individualidade, da autonomia pessoal. O desejo de ser indi- homens são diferentes, possuem personalidade e liberda-
víduo deve fazer parte do ideário humano, de modo que o de para agirem nos limites da ética; b) independentemente
corpo social nunca seja superior à pessoa humana, mas ape- dos limites éticos, é sempre possível ir contra eles, pois se
nas sustentáculo ao seu desenvolvimento livre. Em Huxley64, existisse algum fator no homem que controlasse plena-
Bernard, um dos protagonistas, expressa o desejo incomum mente seus impulsos dentro de um padrão nem ao menos
de ser mais indivíduo e menos parte do todo: “mas eu quero faria sentido se falar em liberdade de escolha - o que se
[...] Isso me dá a sensação [...] de ser mais eu, se é que você exige é que cada um arque com as consequências do exer-
compreende o que quero dizer. De agir mais por mim mesmo, cício de sua liberdade, isto é, que exerça a liberdade com
e não tão completamente como parte de alguma outra coisa. responsabilidade.
De não ser simplesmente uma célula do corpo social. Você não “O termo responsabilidade pode ser sinônimo de
tem a mesma sensação, Lenina?” ‘cumprimento de dever. Assim, é responsável quem cum-
Ao ser questionado por Lenina, outra protagonista, sobre pre seus deveres. Em filosofia, responsabilidade constitui a
esta vontade de não ser parte do corpo social, Bernard con- consequência necessária - o corolário - da liberdade. O ato
tinua fazendo um complexo questionamento sobre o condi- livre é necessariamente um ato pelo qual se deve respon-
cionamento social, pensando como seria se ele não estivesse
der. Porque sou livre, tenho de assumir as consequências
escravizado pelo que o Estado incutiu nele. Trata-se de clara
de minhas ações e omissões. Já os animais irracionais, por
defesa da liberdade de pensamento, sem a qual não há au-
tonomia ou individualidade: “como posso? Não, o verdadeiro não serem livres, não são responsáveis pelo que fazem ou
problema é este: como é que não posso, ou antes - porque deixam de fazer. Ninguém pode condenar um cavalo que
eu sei perfeitamente por que é que não posso - o que sentiria lhe deu um coice. Só o homem comete crime e só ele pode
eu se pudesse, se fosse livre, se não estivesse escravizado pelo ser julgado. O homem, racional e livre, tanto constrói como
meu condicionamento?”65. destrói; tanto ergue escolas e hospitais como inventa bom-
De tudo o exposto neste tópico, percebe-se que a liber- bas capazes de destruir o planeta; tanto ama como odeia;
dade é condição imanente do homem, sem a qual ele nem ao tanto salva como mata. [...] Não há como não se espantar
menos é. Assim, é a liberdade que permite a construção de diante do incrível poder que a liberdade confere ao ho-
individualidades. Mas, para exercer a liberdade, o homem mem: para o bem e para o mal. [...] É a própria liberdade
tem que estar apto a refletir sobre suas ações. Neste senti- que nos oferece a possibilidade de corrigir o mau uso que
do, liberdade pressupõe consciência. se faz dela. Não resolve ficar lamentando a má sorte da vida
“Para decidir, escolher, enfim para exercer sua liberda- ou o que os outros fizeram de nós e do mundo; importa,
de, o homem precisa estar consciente. Não há, pois, liber- antes, reagir com as forças e as armas que nos sobram”68.
dade sem consciência. Enquanto a consciência psicológica Um dos principais conceitos associados à liberdade é o
possibilita ao homem escolher, a consciência moral, com de autonomia, que nada mais é do que a etapa mais elevada
seus valores, normas e prescrições, orienta a escolha”, sen- do comportamento moral consistente na consciência de que
tido em que os três componentes fundamentais da vida sua individualidade encontra limites na individualidade do
moral seriam consciência, liberdade e responsabilidade66. outro, de que nem todos os atos que podem ser livremente
“Falar em ética significa falar da liberdade. Num primei- praticados são socialmente ou moralmente aceitos.
ro momento, a ética nos lembra as normas e a responsabi- O Estado possui um papel essencial em garantir que os
lidade. Mas não tem sentido falar de norma ou de respon- indivíduos exerçam suas liberdades individuais com respon-
sabilidade se a gente não parte da suposição de que o ho- sabilidade. Por isso, os indivíduos possuem liberdade, mas se
sujeitam às leis, que possuem o seu conteúdo ético e que são
63 ORWELL, George. 1984. Tradução Alexandre Hubner e resguardadas pelo Estado, inclusive cabendo o uso da coação.
Heloísa Jahn. São Paulo: Companhia das letras, 2009. Exatamente por desempenhar um papel tão relevante
64 HUXLEY, Aldous. Admirável mundo novo. 24. ed. São que o Estado em si tem o seu valor ético. O paradigma da
Paulo: Globo, 1998. Ética Pública parte da noção de liberdade social, envolta nos
65 HUXLEY, Aldous. Admirável mundo novo. 24. ed. São 67 VALLS, Álvaro L. M. O Que é Ética. 9. ed. São Paulo:
Paulo: Globo, 1998. Brasiliense, 1998.
66 BÓRIO, Elizabeth Maia. A moral nossa de cada dia. In: 68 CORREA, Avelino Antônio. O desafio da liberdade. In:
CARDI, Cassiano; et. al. Para filosofar. São Paulo: Scipione, 2000. CARDI, Cassiano; et. al. Para filosofar. São Paulo: Scipione, 2000.

17
NOÇÕES DE ÉTICA E FILOSOFIA

valores da segurança, igualdade e solidariedade. Neste senti- R: D. Platão, diferente de Aristóteles, acreditava que as
do, cada pessoa deve ter espaço para exercer individualmente sensações tinham um papel ilusório. Assim cabia se prender
sua liberdade moral, cabendo à ética pública garantir que os exclusivamente à razão. Sua teoria das ideias compreende o
indivíduos que vivem em sociedade realizem projetos morais mundo da natureza como um mundo das ideias, de forma
individuais. que a cada coisa da natureza corresponde uma ideia de coisa
A Ética Pública pode ser vista sob o aspecto da morali- eterna e imutável.
dade crítica e sob o aspecto da moralidade legalizada: quan-
do estuda-se a lei posta ou a ausência de lei e questiona-se 2. (INEP - 2012 - ENEM - Exame Nacional do Ensino Mé-
a falta de justiça, há uma moralidade crítica; quando a regra dio - Primeiro e Segundo Dia) “Nossa cultura lipofóbica muito
justa é incorporada ao Direito, há moralidade legalizada ou contribui para a distorção da imagem corporal, gerando gor-
positivada. dos que se veem magros e magros que se veem gordos, numa
Sobre a Ética Pública, explica Nalini69: “Ética é sempre éti- quase unanimidade de que todos se sentem ou se veem ‘dis-
ca, poder-se-ia afirmar. Ser ético é obrigação de todos. Seja torcidos’. Engordamos quando somos gulosos. É o pecado da
no exercício de alguma atividade estatal, seja no comporta- gula que controla a relação do homem com a balança. Todo
mento individual. Mas pode-se falar em ética realçada quan- obeso declarou, um dia, guerra à balança. Para emagrecer é
do se atua num universo mais amplo, de interesse de todos. preciso fazer as pazes com a dita cuja, visando adequar-se às
Existe, pois, uma Ética Pública, e apura-se o seu sentido em necessidades para as quais ela aponta”. (FREIRE, D. S. Obesi-
contraposição com o de Ética Privada. Um nome pelo qual a dade não pode ser pré-requisito. Disponível em: http://gnt.
Ética Pública tem sido conhecida é o da justiça”. globo.com. Acesso em: 3 abr. 2012).
Assim, Ética Pública seria a moral incorporada ao Direito, O texto apresenta um discurso de disciplinarização dos
consolidando o valor do justo. Diante da relevância social de corpos, que tem como consequência
que a Ética se faça presente no exercício das atividades públi- a) a ampliação dos tratamentos médicos alternativos, re-
cas, as regras éticas para a vida pública são mais do que regras duzindo os gastos com remédios.
morais, são regras jurídicas estabelecidas em diversos diplomas b) a democratização do padrão de beleza, tornando-o
acessível pelo esforço individual.
do ordenamento, possibilitando a coação em caso de infração
c) o controle do consumo, impulsionando uma crise eco-
por parte daqueles que desempenham a função pública.
nômica na indústria de alimentos.
Quando uma pessoa se candidata a uma vaga no serviço
d) a culpabilização individual, associando obesidade à
público e é selecionada, deve ter consciência de que passa
fraqueza de caráter.
a ser extensão do Estado e, nesta posição e dentro de suas
e) o aumento da longevidade, resultando no crescimento
competências, zelará pelo exercício das liberdades individu-
populacional.
ais com responsabilidade, ou seja, preservará as liberdades R: C. Uma das maiores críticas à sociedade contempo-
daqueles que agirem conforme as leis, os ditames éticos da rânea é a da imposição de um padrão de beleza quase ina-
sociedade. tingível para a maioria das pessoas. As revistas apontam um
padrão e quem não o atinge deve se sentir envergonhado. As
EXERCÍCIOS pessoas se enxergam feias e nunca estão satisfeitas consigo
mesmas. E os gordinhos, gordos e obesos são vistos como
1. (INEP - 2012 - ENEM - Exame Nacional do Ensino Mé- preguiçosos e sem caráter. A filosofia deve se procupar em
dio - Primeiro e Segundo Dia) “Para Platão, o que havia de resolver questões tão complexas e que afetam tanto a vida
verdadeiro em Parmênides era que o objeto de conhecimento humana.
é um objeto de razão, não de sensação, e era preciso estabe-
lecer uma relação entre objeto racional e objeto sensível ou 3. (INEP - 2012 - ENEM - Exame Nacional do Ensino Mé-
material que privilegiasse o primeiro em detrimento do se- dio - Primeiro e Segundo Dia)
gundo. Lenta, mas irresistivelmente, a Doutrina das Ideias Texto I
formava-se em sua mente” (ZIGANO, M. Platão e Aristóte- “Anaxímenes de Mileto disse que o ar é o elemento ori-
les: o fascínio da filosofia. São Paulo: Odysseus, 2012). ginário de tudo o que existe, existiu e existirá, e que outras
O texto faz referência à relação entre razão e sensação, coisas provêm de sua descendência. Quando o ar as dilata,
um aspecto essencial da Doutrina das Ideias de Platão (427 transforma-se em fogo, ao passo que os ventos são ar con-
a.C.-346 a.C.). De acordo com o texto, como Platão se situa densado. As nuvens formam-se a partir do ar por feltragem
diante dessa relação? e, ainda mais condensadas, transformam-se em água. A água,
a) Estabelecendo um abismo intransponível entre as duas. quando mais condensada, transforma-se em terra, e quando
b) Privilegiando os sentidos e subordinando o conheci- condensada ao máximo possível, transforma-se em pedras”.
mento a eles. (BURNET, J. A aurora da filosofia grega. Rio de Janeiro: PUC-
c) Atendo-se à posição de Parmênides de que razão e -Rio, 2006).
sensação são inseparáveis. Texto II
d) Afirmando que a razão é capaz de gerar conhecimen- “Basílio Magno, filósofo medieval, escreveu: “Deus, como
to, mas a sensação não. criador de todas as coisas, está no princípio do mundo e dos
e) Rejeitando a posição de Parmênides de que a sensação tempos. Quão parcas de conteúdo se nos apresentam, em
é superior à razão. face desta concepção, as especulações contraditórias dos fi-
69 NALINI, José Renato. Ética geral e profissional. 8. ed. São lósofos, para os quais o mundo se origina, ou de algum dos
Paulo: Revista dos Tribunais, 2011. quatro elemenos, como ensinam os Jônios, ou dos átomos,

18
NOÇÕES DE ÉTICA E FILOSOFIA

como julga Demócrito. Na verdade, dão a impressão de que- a) A distribuição equilibrada do poder.
rerem ancorar o mundo, numa teia de aranha”. (GILSON, E.; b) O impedimento da participação popular.
BOEHNER, P. História da filosofia cristã. São Paulo: Vozes, c) O controle das decisões por uma minoria.
1991). d) A valorização das opiniões mais competentes.
Filósofos dos diversos tempos históricos desenvolveram e) A sistematização dos processos decisórios.
teses para explicar a origem do universo, a partir de uma ex- R: C. O texto remonta à falha dos processos democrá-
plicação racional. As teses de Anaxímenes, filósofo grego an- ticos na atualidade. A democracia existe, mas muito parece
tigo, e de Basílio, filósofo medieval, têm em comum na sua com uma democracia formal, não verdadeira. As pessoas
fundamentação teorias que não sabem ao certo sobre o que decidem e não acessam
a) eram baseadas nas ciências da natureza. corretamente os meios de participação popular. Em outras
b) refutavam as teorias de filósofos da religião. palavras, na prática, as decisões políticas acabam sendo to-
c) tinham origem nos mitos das civilizações antigas. madas por uma minoria.
d) postulavam um princípio originário para o mundo.
e) defendiam que Deus é o princípio de todas as coisas.
6. (INEP - 2010 - ENEM - Exame Nacional do Ensino
R: D. Na busca de quebrar a força dos mitos, os filósofos
Médio - Azul - Primeiro Dia) “O príncipe, portanto, não
da natureza pretenderam estabelecer uma origem substancial
para as formas da natureza. Para Tales, a origem de tudo esta- deve se incomodar com a reputação de cruel, se seu
va no ar. Para Demócrito, a origem de tudo estava no átomo. propósito é manter o povo unido e leal. De fato, com
uns poucos exemplos duros poderá ser mais clemente
4. (INEP - 2012 - ENEM - Exame Nacional do Ensino Mé- do que outros que, por muita piedade, permitem os dis-
dio - Primeiro e Segundo Dia) “Não ignoro a opinião antiga e túrbios que levem ao assassínio e ao roubo”. (MAQUIAVEL,
muito difundida de que o que acontece no mundo é decidido N. O Príncipe. São Paulo: Martin Claret, 2009).
por Deus e pelo acaso. Essa opinião é muito aceita em nos- No século XVI, Maquiavel escreveu O Príncipe, re-
sos dias, devido às grandes transformações ocorridas, e que flexão sobre a Monarquia e a função do governante.
ocorrem diariamente, as quais escapam à conjectura humana. A manutenção da ordem social, segundo esse autor,
Não obstante, para não ignorar inteiramente o nosso livre- baseava-se na
-arbítrio, creio que se pode aceitar que a sorte decida metade a) inércia do julgamento de crimes polêmicos.
dos nossos atos, mas [o livre-arbítrio] nos permite o controle b) bondade em relação ao comportamento dos mer-
sobre a outra metade”. (MAQUIAVEL, N. O príncipe. Brasília: cenários.
EdUnB, 1979). c) compaixão quanto à condenação de transgressões
Em O Príncipe, Maquiavel refletiu sobre o exercício do religiosas.
poder em seu tempo. No trecho citado, o autor demonstra d) neutralidade diante da condenação dos servos.
o vínculo entre o seu pensamento político e o humanismo e) conveniência entre o poder tirânico e a moral do
renascentista ao príncipe.
a) valorizar a interferência divina nos acontecimentos de- R: E. O relativismo moral, numa tolerância às atitudes
finidores do seu tempo. do príncipe por mais tirânicas que fossem desde que bené-
b) rejeitar a intervenção do acaso nos processos políticos. ficas ao Estado, é uma das principais marcas da filosofia de
c) afirmar a confiança na razão autônoma como funda- Maquiavel, para o qual os fins justificam os meios.
mento da ação humana.
d) romper com a tradição que valorizava o passado como 7. (CESPE - 2010 - Caixa - Advogado) A respeito das
fonte de aprendizagem.
classificações da ética como campo de estudo, assinale a
e) redefinir a ação política com base na unidade entre fé
opção correta.
e razão.
a) Na abordagem da ética absoluta, toda ação humana
R: C. Como todo filósofo do Renascimento, Maquiavel
adota uma concepção antropocentrista, confiante no elemen- é boa e, consequentemente, um dever, pois se fundamenta
to racional do homem como centro de toda a sociedade. Con- em um valor.
tudo, Maquiavel não ignora que existem coisas que estão fora b) De acordo com a ética formal, não existem valores
do alcance do homem, ao que dá o nome da acaso ou sorte. universais, objetivos, mas estes são convencionais, condi-
5. (INEP - 2010 - ENEM - Exame Nacional do Ensino cionados ao tempo e ao espaço.
Médio - Azul - Primeiro Dia) “A política foi, inicialmen- c) Segundo a ética empírica, a distinção entre o certo
te, a arte de impedir as pessoas de se ocuparem do que e o errado ocorre por meio da experiência, do resultado
lhes diz respeito. Posteriormente, passou a ser a arte de do procedimento, da observação sensorial do que de fato
compelir as pessoas a decidirem sobre aquilo de que nada ocorre no mundo.
entendem”. (VALÉRY, P. Cadernos. Apud BENEVIDES, M.V. d) Quanto ao aspecto histórico, a ética empírica possui
M. A cidadania ativa. São Paulo: Ática, 1996). a razão como enfoque para explicar o mundo, na medida
Nessa definição, o autor entende que a história da polí- em que ela constrói a teoria explicativa e vai ao mundo
tica está dividida em dois momentos principais: um primei- para ver sua adequação.
ro, marcado pelo autoritarismo excludente, e um segundo, e) Em todas as classificações da ética, ela se torna equi-
caracterizado por uma democracia incompleta. Conside- valente à moral porque direciona o comportamento huma-
rando o texto, qual é o elemento comum a esses dois mo-
no para ações consideradas positivas para um grupo social.
mentos da história política?

19
NOÇÕES DE ÉTICA E FILOSOFIA

R: C. Empirismo é a observação prática de um fenô- R: A. O termo ética passa por diversas interpretações
meno. Enquanto que numa ética teórica bastaria a reflexão no decorrer da história, mas é possível notar que alguns de
para conhecer o certo e o errado, por uma ética empírica é seus elementos, guardadas as devidas particularidades, são
preciso vivenciar o contato direto com situações que per- reincidentes na formação deste conceito.
mitam compreender estes valores.
10. (ASPERH - 2010 -  Professor auxiliar ética profissio-
nal) Sobre moral e ética é incorreto afirmar:
8. (CESPE - 2010 - Caixa - Advogado) A respeito das
a) A moral é a regulação dos valores e comportamen-
classificações da ética como campo de estudo, assinale a tos considerados legítimos por uma determinada socieda-
opção correta. de, um povo, uma religião, uma certa tradição cultural etc.
a) Na abordagem da ética absoluta, toda ação humana b)  Uma moral é um fenômeno social particular, que
é boa e, consequentemente, um dever, pois se fundamenta tem compromisso com a universalidade, isto é, com o que
em um valor. é válido e de direito para todos os homens. Exceto quando
b) De acordo com a ética formal, não existem valores atacada: justifica-se  se dizendo universal, supostamente
universais, objetivos, mas estes são convencionais, condi- válida para todos.
cionados ao tempo e ao espaço. c)  A ética á uma reflexão crítica sobre a moralidade.
c) Segundo a ética empírica, a distinção entre o certo Mas ela não é puramente teoria. A ética é um conjunto
de princípios e disposições voltados para a ação, histori-
e o errado ocorre por meio da experiência, do resultado
camente produzidos, cujo objetivo é balizar as ações hu-
do procedimento, da observação sensorial do que de fato manas.
ocorre no mundo. d) A moral é um conjunto de regras de conduta adota-
d) Quanto ao aspecto histórico, a ética empírica possui das pelos indivíduos de um grupo social e tem a finalidade
a razão como enfoque para explicar o mundo, na medida de organizar as relações interpessoais segundo os valores
em que ela constrói a teoria explicativa e vai ao mundo do bem e do mal.
para ver sua adequação. e) A moral é a aplicação da ética no cotidiano, é a prá-
e) Em todas as classificações da ética, ela se torna equi- tica concreta.
valente à moral porque direciona o comportamento huma- R: B. A Moral, embora seja mais subjetiva que a Ética,
no para ações consideradas positivas para um grupo social. reflete o seu conteúdo, logo, também possui universalida-
R: C. Na filosofia, empirismo é um movimento que de. O sentimento moral é uno e repousa no seio social,
sendo assim universal. Logo, a Moral é válida para todos,
acredita nas experiências como únicas (ou principais) for-
não supostamente válida.
madoras das ideias, discordando, portanto, da noção de
ideias inatas, havendo também uma vertente no campo de 11. (ASPERH - 2010 -  Professor auxiliar ética profissio-
estudo da ética. nal) Sobre moralidade administrativa e a constituição fede-
rativa é incorreto afirmar:
9. (CESPE - 2010 - Caixa - Advogado) Acerca da relação a) A carta magna faz menção em diversas oportunida-
entre ética e moral, assinale a opção correta. des ao princípio da moralidade. Uma delas, prevista no art.
a) O entendimento ético discorre filosoficamente, em 5º, LXXIII, trata da ação popular contra ato lesivo à morali-
épocas diferentes e por vários pensadores, dando concei- dade administrativa
tos e formas de alusão ao termo ética. b) Em outra, o constituinte determinou a punição mais
b) Durante as Idades Média e Moderna, a ética era con- rigorosa da imoralidade qualificada pela improbidade (art.
37, §4º)
siderada uma ciência, portanto, era ensinada como discipli-
c) Há ainda o art. 14, §9º, onde se visa proteger a pro-
na escolar. Na Idade Contemporânea, a ética assumiu uma bidade e moralidade no exercício de mandato, e o art. 85,
nova conotação, desvinculando-se da ciência e da filosofia V, que considera a improbidade administrativa como crime
e sendo vinculada às práticas sociais. de atividade administrativa
c) A simples existência da moral significa a presença d) O princípio da moralidade, com o advento da Car-
explícita de uma ética, entendida como filosofia moral, isto ta Constitucional de 1988 foi alçado, pela vez primeira em
é, uma reflexão que discute, problematiza e interpreta o nosso direito positivo a princípio constitucional, nos ter-
significado dos valores morais. mos do artigo 37, caput, o qual estabelece diretrizes à ad-
d) A ética não tem por objetivo procurar o fundamento ministração pública
do valor que norteia o comportamento, tendo em vista a e)  Também o artigo 5º, inciso LXXIII, da Constituição
historicidade presente nos valores. Federal, prevê a possibilidade de anulação de atos lesivos à
e) O conhecimento do dever está desvinculado da no- moralidade administrativa
R: C. Embora o artigo 85, V faça referência à probidade
ção de ética, pois este é consequência da percepção, pelo
administrativa como um dos objetos de violação, caracteri-
sujeito, de que ele é um ser racional e, portanto, está obri-
zando crime de responsabilidade pelo Presidente da Repú-
gado a obedecer ao imperativo categórico: a necessidade
blica, o ato de improbidade administrativa praticado pelos
de se respeitar todos os seres racionais na qualidade de servidores em geral tem natureza cível e está regulado na
fins em si mesmos. Lei nº 8.429/92.

20
NOÇÕES DE ÉTICA E FILOSOFIA

12. (ASPERH - 2010 -   Professor auxiliar ética profis- Este texto indica a existência de uma lei moral natu-
sional) Referente a principio constitucional da moralidade ral - universal no tempo e no espaço, imutável, inscrita no
administrativa e administração publica é incorreto afirmar: coração dos homens, indicando em seu íntimo o bem e o
a) O principio constitucional da moralidade administra- mal, irrevogável pelas leis humanas - foi expressa de uma
tiva configura um vigoroso instrumento à função de con- maneira poética na tragédia grega Antígona:
trole de legalidade, legitimidade e economicidade dos atos a) de Aristóteles
administrativos dos quais resultam despesas públicas b) de Platão
b)  O principio atua positivamente, impondo à Admi- c) de Sócrates
nistração Publica o dever de bem gerir e aumentando os d) de Sófocles
demais deveres de conduta administrativa, tais como os e) de Xenofonte
de agir impessoalmente, garantir a ampla publicidade de R: D. O autor da tragédia grega Antigona, que marcou
seus atos, pautar-se com razoabilidade, motivar seus atos e a distinção entre lei natural e lei positiva, é Sófocles.
decisões, agir com eficiência e observar a compatibilidade
entre o objetivo de suas ações e o ato praticado para ope- 14. (CONSULPLAN - 2008 - Correios - Agente de Cor-
racionalizar tal objetivo ou finalidade. Bem assim, configura reios - Atendente Comercial) Pode-se afirmar que a ética
cânone de interpretação e integração de norma jurídicas e/ tem como objeto de estudo:
ou atos administrativos a) O ato humano (voluntário e livre) que é o ato com
c) O princípio atua negativamente, impondo limites ao vontade racional, permeado por inteligência e reflexão pré-
exercício da discricionariedade e permitindo a correção dos via.
atos praticados em desvio de finalidade, mediante o seu b) A distinção entre o existir e o agir, solenemente.
expurgo do mundo jurídico através da invalidação c) A tradução dos costumes aceitos pela sociedade
d)  O princípio geralmente ‘”aplicável” isoladamente, emergente.
compondo-se e articulando-se, algumas vezes, com outros d) O conceito de moralidade dos povos segregados.
princípio jurídicos e) N.R.A.
e)  O princípio consubstancia “norma jurídica” e, por- R: A. O principal objeto de estudo da ética é a ação
tanto, ao utilizá-lo no exercício das funções constitucionais humana, num sentido de refletir sobre ela. De forma estrita,
de controle dos atos administrativos que geram despesas a moral, parte da ética, estuda a ação humana enquanto
públicas sob os prismas de legalidade e da legitimidade, ação propriamente dita. De qualquer maneira, no âmbito
não desborda o Tribunal de Contas de sua competência da ética é feito um estudo da ação humana baseada na
constitucional razão, na vontade racional.
R: D. O princípio da moralidade administrativa deve
sempre ser lido em conjunto com os demais princípios 15. (FCC - 2011 - NOSSA CAIXA DESENVOLVIMENTO
constitucionais, notadamente os aplicáveis à Administra- - Contador) A respeito dos conceitos de ética, moral e vir-
ção Pública: legalidade, impessoalidade, publicidade e efi- tude, é correto afirmar:
ciência. a) A vida ética realiza-se no modo de viver daqueles
indivíduos que não mantêm relações interpessoais.
13. (ASPERH - 2010 -  Professor auxiliar ética profissio- b) Etimologicamente, a palavra moral deriva do grego
nal) Antígona, por razões de Estado, havia sido proibida de mos e significa comportamento, modo de ser, caráter.
dar sepultura a seu irmão. No entanto, mesmo correndo c) Virtude deriva do latim virtus, que significa uma
o risco de ser condenado à morte por haver descumprido qualidade própria da natureza humana; significa, de modo
essa proibição legal, resolve piedosamente enterrar seus geral, praticar o bem usando a liberdade com responsabili-
parente, e é então indagada pela autoridade civil (Creonte): dade constantemente.
Creonte: - ...Confessas ou negas ter feito o que ele diz? d) A moral é influenciada por vários fatores como, so-
Antígona: - Confesso o que fiz! Confesso-o claramente! ciais e históricos; todavia, não há diferença entre os concei-
Creonte: - Sabias que, por uma proclamação, eu havia tos morais de um grupo para outro.
proibido o que fizeste? e) Compete à moral chegar, por meio de investigações
Antígona: -Sim, eu sabia! Por acaso poderia ignorar, se científicas, à explicação de determinadas realidades sociais,
era uma coisa pública? ou seja, ela investiga o sentido que o homem dá a suas
Creonte: -E, apesar disso, tiveste a audácia de desobe- ações para ser verdadeiramente feliz.
decer a essa determinação? R: C. Virtude é uma qualidade da natureza humana re-
Antígona: - Sim, porque não foi Júpiter que a promul- lacionada a um valor ético. A ação que seja virtuosa será
gou; e a Justiça... jamais estabeleceu tal decreto entre os voltada sempre ao bem e praticada com responsabilidade
humanos; nem eu creio que teu édito tenha força bastante e razoabilidade, sem o que perderia tal caráter. Vale desta-
para conferir a um mortal o poder de infringir as leis divi- car que a alternativa d está incorreta porque embora a éti-
nas, que nunca foram escritas, mas são irrevogáveis, não ca seja imutável, preceitos morais podem sofrer pequenas
são escritas a partir de ontem ou de hoje, são eternas, sim” variações de um grupo social para outro sem que se perca
E ninguém sabe desde quando elas vigoram. - Tais decre- a essência ética.
tos, eu, que não temo o poder de homem algum, posso
violar sem que por isso me venham punir os deuses!...”

21
NOÇÕES DE ÉTICA E FILOSOFIA

16. (ASPERH - 2010 -  Professor auxiliar ética profissio- época de Galileu Galilei foi marcada por inúmeras diatribes
nal) Sobre a ética, moral e direito é incorreto afirmar: com a Igreja Católica e pelo surgimento de uma nova ma-
a) Tanto a moral como o direito baseiam-se em regras neira de pensar. A frase “o livro da natureza está escrito em
que visam estabelecer uma certa previsibilidade para as linguagem matemática” sintetiza
ações humanas. Ambas, porém, se diferenciam. a) o desprezo de Galileu por Deus e por qualquer ex-
b)  O direito busca estabelecer o regramento de uma plicação de caráter metafísico embasada em entidades su-
sociedade delimitada pelas fronteiras do Estado. pranaturais.
c) As leis têm uma base territorial, elas valem apenas b) a defesa do heliocentrismo, tese introduzida por
para aquela área geográfica onde uma determinada popu- Nicolau Copérnico.
lação ou seus delegados vivem. c) a superação da filosofia platônica com seu apreço
d) Alguns autores afirmam que o direito é um subcon- excessivo pela construção lógica.
junto da ética. Esta perspectiva pode gerar a conclusão de d) a inversão entre religião e ciência com relação à
que toda a lei é moralmente aceitável. Inúmeras situações prioridade sobre a enunciação da verdade.
demonstram a existência de conflitos entre a ética e o di- R: D. Se, por um lado, o livro de Deus, a bíblia, está
reito. escrito em inúmeras histórias e parábolas; por outro, o li-
e)  A desobediência civil ocorre quando argumentos vro da natureza, como chamado por Galileu, é muito mais
morais impedem que uma pessoa acate uma determinada pragmático e lógico, sendo escrito matematicamente. Não
lei. Este é um exemplo de que a moral e o direito, apesar significa que Galileu desprezasse a Igreja, ele apenas era
de referirem-se a uma mesma sociedade, podem ter pers- contrário a uma visão sem lógica e ciência do mundo em
pectivas discordantes. prol do fortalecimento da religião.
R: D. O Direito é um subconjunto da Ética e, por isso
mesmo, suas normas devem refletir o conteúdo ético sem- 19. (CESPE - 2011 - SAEB-BA - Professor - Filosofia)
pre que possível, o que ocorre pela presença do valor do Kant desenvolve sua filosofia moral em torno do chamado
justo. Tomar como correta a afirmativa d seria entender imperativo categórico, segundo o qual uma ação deve ser
que o Direito pode não ser justo e ainda assim ser válido, considerada moralmente boa se for possível estendê-la a
premissa positivista refutada no contexto pós-guerra. todas as pessoas sem que, com isso, a ação torne-se in-
concebível ou impraticável. Considerando esse princípio, é
17. (CESPE - 2011 - SAEB-BA - Professor - Filosofia) O correto identificar a moral kantiana a uma perspectiva
florescimento da filosofia ocorre a partir das realizações dos a) formal, em que os elementos contextuais são irre-
chamados filósofos pré-socráticos, como Tales de Mileto, levantes.
Anaxágoras, Anaxímenes, entre outros. Essa nova maneira b) segundo a qual os resultados de uma ação determi-
de pensar conflitava em muitos aspectos com a maneira de nam a moralidade dessa ação.
pensar expressa nos mitos ou nas narrativas mitológicas c) formal, em que elementos contextuais devem ser le-
desenvolvidas na Grécia Arcaica por aedos como Hesíodo vados em conta.
e Homero. d) segundo a qual as intenções dos agentes determi-
Uma diferença entre a forma de pensamento da filoso- nam a moralidade da ação.
fia pré- socrática e a fundamentada nos mitos é R: A. A teoria kantiana é marcada por sua pureza. No-
a) a preocupação com a explicação dos fenômenos na- tadamente, a defesa do imperativo categórico se encontra
turais. na obra Crítica da Razão Prática, que traz uma explicação
b) a visão animista com base na qual se explicam os prática da obra Crítica da Razão Pura. Kant é contrário às
fenômenos naturais. expectativas externas como determinantes da boa ação. A
c) a preocupação dos pré-socráticos com questões éti- ação conforme o imperativo categórico se dá pela razão
cas ou morais. prática, superior a qualquer outro fator, posto que guiada
d) a sistematização do conhecimento sobre o mundo pela autonomia da vontade.
mediante a busca de princípios sintéticos.
R: D. Os pré-socráticos, também chamados natura- 20. (CESPE - 2011 - SAEB-BA - Professor - Filosofia) Um
listas ou filósofos da physis (natureza - entendendo-se argumento lógico
este termo não em seu sentido corriqueiro, mas como a) é considerado válido se sua conclusão for verdadei-
realidade primeira, originária e fundamental, ou o que é ra.
primário,fundamental e persistente, em oposição ao que b) admite uma conclusão válida a partir de premissas
é secundário, derivado e transitório), tinham como escopo inválidas.
especulativo o problema cosmológico, ou cosmo-ontoló- c) é considerado válido se a verdade da conclusão de-
gico, e buscavam o princípio (ou arché) das coisas, sendo correr necessariamente da verdade das premissas.
assim, procuravam um princípio fundamental único (noção d) admite que se conclua uma falsidade de premissas
de princípios sintéticos). verdadeiras, desde que o argumento seja válido.
R: C. Premissas inválidas geram uma conclusão inválida
18. (CESPE - 2011 - SAEB-BA - Professor - Filosofia) e premissas verdadeiras podem gerar ou não conclusões
Certos pensadores foram capazes de sintetizar grande par- válidas (desde que corretamente interpretadas).
te do pensamento de um período em uma única frase. A

22
POLÍTICAS PÚBLICAS DA EDUCAÇÃO

1. Políticas públicas no contexto de uma sociedade. ................................................................................................................................ 01


1.1 Políticas públicas no contexto educacional. ..................................................................................................................................... 01
2. Papel da escola como formadora de valores e da ética social. ........................................................................................................ 03
3. As políticas para o currículo nacional. ........................................................................................................................................................ 09
4. Políticas educacionais como políticas públicas de natureza social. ................................................................................................ 16
5. Reformas neoliberais para a educação. ..................................................................................................................................................... 19
5.1 Implicações das políticas públicas para a organização do trabalho escolar. ...................................................................... 19
6. A História da educação no Brasil: fundamentos históricos. ............................................................................................................... 29
7. Educação, história e cultura afro-brasileira. ............................................................................................................................................. 31
8. Educação no mundo contemporâneo: desafios, compromissos e tendências da sociedade, do conhecimento e as
exigências de um novo perfil de cidadão. ..................................................................................................................................................... 49
9. A escola e a pluralidade cultural. .................................................................................................................................................................. 52
10. Currículo: elaboração e prática. .................................................................................................................................................................. 54
11. O desenvolvimento do projeto político pedagógico da escola. Educação inclusiva: fundamentos legais, conceito e
princípios, adaptações curriculares, a escola inclusiva.............................................................................................................................. 57
POLÍTICAS PÚBLICAS DA EDUCAÇÃO

exercício, Azevedo (2003, p. 38) definiu que “política pú-


1. POLÍTICAS PÚBLICAS NO CONTEXTO DE blica é tudo o que um governo faz e deixa de fazer, com
UMA SOCIEDADE. todos os impactos de suas ações e de suas omissões”.
1.1 POLÍTICAS PÚBLICAS NO CONTEXTO O primeiro destaque a se fazer com relação a essa de-
finição dada por Azevedo é de que política pública é coisa
EDUCACIONAL.
para o governo. A sua definição é clara nesse sentido. Isso
quer dizer que a sociedade civil, ou melhor, o povo, não é
responsável direto e nem agente implementador de po-
líticas públicas. No entanto, a sociedade civil, o povo, faz
POLÍTICAS PÚBLICAS E POLÍTICAS EDUCACIONAIS política.
Percebe-se então que existe uma distinção entre po-
Política pública é uma expressão que visa definir uma lítica e política pública. Mas como definir a primeira ex-
situação específica da política. A melhor forma de com- pressão? O filósofo e historiador Michel Foucault (1979)
preendermos essa definição é partirmos do que cada pa- afirmou que todas as pessoas fazem política, todos os dias,
lavra, separadamente, significa. Política é uma palavra de e até consigo mesmas! Isso seria possível na medida em
origem grega, politikó, que exprime a condição de partici- que, diante de conflitos, as pessoas precisam decidir, sejam
pação da pessoa que é livre nas decisões sobre os rumos esses conflitos de caráter social ou pessoal, subjetivo. So-
da cidade, a polis. Já a palavra pública é de origem latina, cialmente, a política, ou seja, a decisão mediante o choque
publica, e significa povo, do povo. de interesses desenha as formas de organização dos gru-
Assim, política pública, do ponto de vista etimológi- pos, sejam eles econômicos, étnicos, de gênero, culturais,
co, refere-se à participação do povo nas decisões da cida- religiosos, etc. A organização social é fundamental para
de, do território. Porém, historicamente essa participação que decisões coletivas sejam favoráveis aos interesses do
assumiu feições distintas, no tempo e no lugar, podendo grupo.
ter acontecido de forma direta ou indireta (por represen- Por fim, é importante dizer que os grupos de interesse,
tação). De todo modo, um agente sempre foi fundamental organizados socialmente, traçam estratégias políticas para
no acontecimento da política pública: o Estado. pressionaram o governo a fim de que políticas públicas se-
Por isso, vejamos qual é o sentido contemporâneo para jam tomadas em seu favor.
o termo política pública.
Tipos de Políticas Públicas
Conceito de Políticas Públicas
Desenvolvendo a leitura de Lowi (1966), Azevedo
A discussão acerca das políticas públicas tomou nas (2003) apontou a existência de três tipos de políticas públi-
últimas décadas uma dimensão muito ampla, haja vista o cas: as redistributivas, as distributivas e as regulatórias. As
avanço das condições democráticas em todos os recantos políticas públicas redistributivas consistem em redistribui-
do mundo e a gama de arranjos institucionais de governos, ção de “renda na forma de recursos e/ou de financiamento
que se tornou necessário para se fazer a governabilidade. de equipamentos e serviços públicos”. São exemplos de
Entende-se por governabilidade as condições adequadas políticas públicas redistributivas os programas de bolsa-es-
para que os governos se mantenham estáveis. São essas cola, bolsa-universitária, cesta básica, renda cidadã, isenção
condições adequadas, enquanto atitudes de governos (se- de IPTU e de taxas de energia e/ou água para famílias ca-
jam eles de âmbito nacional, regional/estadual ou munici- rentes, dentre outros.
pal), que caracterizam as políticas. Do ponto de vista da justiça social o seu financiamen-
Campo do conhecimento que busca, ao mesmo tem- to deveria ser feito pelos estratos sociais de maior poder
po, “colocar o governo em ação” e/ou analisar essa ação aquisitivo, de modo que se pudesse ocorrer, portanto, a
(variável independente) e, quando necessário, propor mu- redução das desigualdades sociais. No entanto, por conta
danças no rumo ou curso dessas ações e ou entender por do poder de organização e pressão desses estratos sociais,
que o como as ações tomaram certo rumo em lugar de o financiamento dessas políticas acaba sendo feito pelo or-
outro (variável dependente). Em outras palavras, o proces- çamento geral do ente estatal (união, estado federado ou
so de formulação de política pública é aquele através do município).
qual os governos traduzem seus propósitos em programas As políticas públicas distributivas implicam nas ações
e ações, que produzirão resultados ou as mudanças dese- cotidianas que todo e qualquer governo precisa fazer. Elas
jadas no mundo real. dizem respeito à oferta de equipamentos e serviços pú-
blicos, mas sempre feita de forma pontual ou setorial, de
A distinção entre Política e Políticas Públicas acordo com a demanda social ou a pressão dos grupos de
interesse. São exemplos de políticas públicas distributivas
Apesar da importante contribuição de Souza para a as podas de árvores, os reparos em uma creche, a imple-
definição de políticas públicas, entende-se que o melhor mentação de um projeto de educação ambiental ou a lim-
termo que o define, por conta de seu caráter didático, é peza de um córrego, dentre outros. O seu financiamento é
o desenvolvido por Azevedo (2003) a partir da articulação feito pela sociedade como um todo através do orçamento
entre as compreensões de Dye (1984) e Lowi (1966). Neste geral de um estado.

1
POLÍTICAS PÚBLICAS DA EDUCAÇÃO

Por último, há as políticas públicas regulatórias. Elas Globalização, neoliberalismo e educação


consistem na elaboração das leis que autorizarão os gover-
nos a fazerem ou não determinada política pública redis- A escola como se conhece hoje, lugar de ensino para
tributiva ou distributiva. Se estas duas implicam no campo todos os grupos sociais, garantida em suas condições míni-
de ação do poder executivo, a política pública regulatória é, mas de existência pelo Estado, reprodutora da cultura uni-
essencialmente, campo de ação do poder legislativo. versal acumulada pela experiência humana sobre a Terra
Como conclusão, ressaltamos ainda que esse tipo de e disseminada em todos os países do planeta, não possui
política possui importância fundamental, pois é por ela que mais do que 150 anos, ou seja, um século e meio. É uma
os recursos públicos são liberados para a implementação experiência educacional do final do século XIX, momento
das outras políticas. Contudo, o seu resultado não é ime- em que as relações capitalistas de produção, amadurecidas
diato, pois enquanto lei ela não possui a materialidade dos pelo ritmo da industrialização (mecanização da produção)
equipamentos e serviços que atendem diariamente a po- e visando a mais-valia, demandavam, por um lado, conhe-
pulação. Assim, os grupos sociais tendem a ignorá-la e a cimento técnico padronizado da mão-de-obra e, por outro,
não acompanhar o seu desenvolvimento, permitindo que controle ideológico das massas de trabalhadores.
os grupos econômicos, principalmente, mais organizados e Assim surgiu a escola moderna, encerrando, desde sua
articulados, façam pressão sobre os seus gestores (no caso fundação, uma grande contradição: ser ao mesmo tempo
do Brasil, vereadores, deputados estaduais, deputados fe- espaço de superação, de criação, de práxis e, na contramão
derais e senadores). dessa feita, espaço de reprodução e controle ideológicos.
Na nossa primeira aula trabalhamos os conceitos de É com essa característica contraditória, dialética, dual que
política e de políticas públicas. Nesta aula veremos o que a escola se desenvolveu nos últimos 150 anos, tempo em
de fato significa políticas públicas educacionais, quais são que a cultura humana passou por suas mais profundas
as suas dinâmicas atuais e quais são os fenômenos que in- transformações em 1,5 milhões de anos de existência da
fluenciam na sua decisão. Pretendemos, com a sua com- humanidade. A revolução tecnológica desse período exi-
preensão, aproximar a sua ideia à de educação ambiental. giu um conjunto significativo de novos saberes, pois esse
Por isso, é importante que você fique atento (a) a essa período representou uma sucessão de saltos que partiram
discussão. da Revolução Industrial à automação da produção (proces-
sos automáticos, baseados na microeletrônica e na infor-
O que são Políticas Públicas Educacionais mática), conformando o mundo dos meios de transporte
velozes, da telemática, da conquista do espaço sideral, dos
Se “políticas públicas” é tudo aquilo que um governo satélites artificiais, da teleconferência, da financeirização
faz ou deixa de fazer, políticas públicas educacionais é tudo das relações econômicas (venda de dinheiro pelos bancos),
aquilo que um governo faz ou deixa de fazer em educação. da urbanização, etc.
Porém, educação é um conceito muito amplo para se tra- Não obstante, ao mesmo tempo em que tais transfor-
tar das políticas educacionais. Isso quer dizer que políticas mações significaram um grande avanço da humanidade no
educacionais é um foco mais específico do tratamento da controle e na previsão da natureza, elas também serviram
educação, que em geral se aplica às questões escolares. Em para unificar o mundo na dinâmica produtiva do capita-
outras palavras, pode-se dizer que políticas públicas edu- lismo. A ampliação das desigualdades sociais resultantes
cacionais dizem respeito à educação escolar. desse processo (visível na divisão do planeta entre hemis-
Por que é importante fazer essa observação? Porque fério norte e hemisfério sul, na divisão dos países entre o
educação é algo que vai além do ambiente escolar. Tudo urbano e o rural, na divisão do espaço urbano entre o cen-
o que se aprende socialmente – na família, na igreja, na tro e a periferia) e a degradação da natureza em função
escola, no trabalho, na rua, no teatro, etc. –, resultado do dos modelos de produção predatórios marcaram o final
ensino, da observação, da repetição, reprodução, inculca- do século XX e produziram a face do fenômeno designado
ção, é educação. Porém, a educação só é escolar quando como globalização.
ela for passível de delimitação por um sistema que é fruto Entende-se por globalização o fenômeno da unificação
de políticas públicas. dos países do mundo numa mesma agenda econômica, de
Nesse sistema, é imprescindível a existência de um certo modo imposta a estes pelo controle que um grupo
ambiente próprio do fazer educacional, que é a escola, limitado de países (o G-8) exerce sobre o mercado inter-
que funciona como uma comunidade, articulando partes nacional. O que torna os países do G-8 fortes e os permite
distintas de um processo complexo: alunos, professores, influenciar as decisões políticas dos demais países é o fato
servidores, pais, vizinhança e Estado (enquanto sociedade de que todos são muito ricos, concentram sítios produtivos
política que define o sistema através de políticas públicas). de altíssima tecnologia (portanto, com produção de alto
Portanto, políticas públicas educacionais dizem respeito às valor agregado), dominam as maiores potências bélicas do
decisões do governo que têm incidência no ambiente es- planeta e têm como instrumento para propagação de suas
colar enquanto ambiente de ensino-aprendizagem. decisões a ONU.
Tais decisões envolvem questões como: construção A globalização, portanto, ao mudar o desenho políti-
do prédio, contratação de profissionais, formação docente, co e econômico do mundo, exigiu também a incorporação
carreira, valorização profissional, matriz curricular, gestão de novas preocupações e tecnologias na educação. Uma
escolar, etc. dessas preocupações diz respeito à questão ambiental, for-

2
POLÍTICAS PÚBLICAS DA EDUCAÇÃO

temente impactada pela degradação e esgotamento dos ras experiências do liberalismo e a atualidade do fim do
recursos naturais, pela alteração de paisagens e a destrui- século XX. Daí que os arranjos na política liberal, adequan-
ção de faunas e floras e pelo aviltamento das condições do-a para a era da globalização, tornaram-na conhecida
subnormais de vida de milhares de pessoas, em particular como neoliberalismo.
nas áreas urbanas. Isso fez surgir, especialmente no último Vale ressaltar que enquanto política liberalizante do
quartel do século XX (pós-1975), uma forte demanda pela mercado, que advoga a não intervenção do Estado nas re-
educação ambiental. lações econômicas e a reinversão da prioridade de investi-
A integração do mundo inteiro a uma mesma agenda mentos públicos das áreas sociais para as áreas produtivas,
econômica foi possível pela política neoliberal. Neolibera- o neoliberalismo teve um forte impacto sobre a educação.
lismo é uma expressão derivada de liberalismo, doutrina Isso porque as políticas educacionais, enquanto políticas
de política econômica fundada nos séculos XVIII e XIX que sociais, perderam recursos onde o neoliberalismo foi im-
teve como orientação básica a não intervenção do Estado plantado, agravando as condições de seu financiamento.
nas relações econômicas, garantindo total liberdade para Contudo, pelo exposto, percebe-se que há um conjun-
que os grupos econômicos (proprietários dos meios de to de conceitos de políticas públicas, sendo que Sérgio de
produção; burguesia, usando uma definição marxista) pu- Azevedo (2003) construiu um conceito didático para a sua
dessem investir a seu modo os seus bens. compreensão: tudo aquilo que um governo faz ou deixa
Na perspectiva liberal, o Estado deixa de regular a re- de fazer, bem como os impactos de sua ação ou omissão.
lação entre empregador e trabalhador, entre patrão e em- Assim, se um governo não faz nada em relação a alguma
pregado, entre burguesia e proletariado. Isso fatalmente coisa emergente isso também é uma política pública, pois
conduz as relações de produção a uma situação de com- envolveu uma decisão.
pleta exploração da classe proprietária sobre a classe des- O que distingue política pública da política, de um
possuída. modo geral, é que esta também é praticada pela socieda-
O liberalismo saiu de cena enquanto política econô- de civil, e não apenas pelo governo. Isso quer dizer que
mica em meados do século XX, em função das crises que política pública é condição exclusiva do governo, no que
se repetiram nas relações internacionais de mercado e que se refere a toda a sua extensão (formulação, deliberação,
levaram as nações europeias, particularmente, às duas implementação e monitoramento).
grandes guerras mundiais. Por isso, entre as décadas de Entende-se por políticas públicas educacionais aquelas
1940 e de 1970 o mundo do capitalismo de ponta (Europa, que regulam e orientam os sistemas de ensino, instituindo
EUA e Japão) ensaiou outras formas de políticas econômi- a educação escolar. Essa educação orientada (escolar) mo-
cas, visando a superação das crises cíclicas e o espanto das derna, massificada, remonta à segunda metade do século
ideias socialistas (em voga principalmente na Europa por XIX. Ela se desenvolveu acompanhando o desenvolvimento
causa da participação decisiva da URSS na Segunda Guerra do próprio capitalismo, e chegou na era da globalização
Mundial). resguardando um caráter mais reprodutivo, haja vista a re-
O resultado disso foi a implantação, na Europa, da So- dução de recursos investidos nesse sistema que tenden-
cialdemocracia e do Welfare State (Estado do Bem-estar) cialmente acontece nos países que implantam os ajustes
e, nos EUA, do New Deal (Novo Acordo), que consistiram neoliberais.
em políticas de garantias sociais, mediante direitos nos
campos da seguridade social, saúde, educação, trabalho Referência:
etc., financiadas pela tributação das elites econômicas. Por OLIVEIRA, A. F. de. POLÍTICAS PÚBLICAS EDUCACIO-
elas, os grupos de trabalhadores nesses territórios tiveram NAIS: conceito e contextualização numa perspectiva didá-
uma sensação de “bem-estar”, o que, em certa medida, tica
contribuiu para arrefecer a organização e a luta sindical e
partidária. Por outro lado, para as elites econômicas essas
políticas significaram uma redução acentuada nas margens
de lucro, apesar de que houve um grande investimento na
2. PAPEL DA ESCOLA COMO FORMADORA
mudança do padrão tecnológico visando, dentre outas coi-
DE VALORES E DA ÉTICA SOCIAL.
sas, a superação da classe operária e, como consequência,
de sua organização - o que afastaria as chances de lutas e
revoluções socialistas.
A reestruturação produtiva que ocorreu na década de O homem vive em sociedade, convive com outros ho-
1960, através da automação, conhecida inicialmente como mens e, portanto, cabe-lhe pensar e responder à seguinte
toyotismo, garantiu essa condição e abriu possibilidades pergunta: “Como devo agir perante os outros?”. Trata-se de
para que o liberalismo pudesse ser novamente implantado uma pergunta fácil de ser formulada, mas difícil de ser res-
como política econômica. As evidências de que a URSS en- pondida. Ora, esta é a questão central da Moral e da Ética.
trava em crise, por sua crescente dependência do mercado Moral e ética, às vezes, são palavras empregadas como
internacional, estimulou os líderes do capitalismo de ponta sinônimos: conjunto de princípios ou padrões de conduta.
a arquitetarem, na década de 1970, o retorno à ortodoxia Ética pode também significar Filosofia da Moral, portan-
liberal. Porém, isso ocorreu considerando-se uma série de to, um pensamento reflexivo sobre os valores e as normas
elementos históricos que se interpuseram entre as primei- que regem as condutas humanas. Em outro sentido, ética

3
POLÍTICAS PÚBLICAS DA EDUCAÇÃO

pode referir-se a um conjunto de princípios e normas que digno corresponde a um valor moral. Segundo esse valor,
um grupo estabelece para seu exercício profissional (por a pergunta de como agir perante os outros recebe uma
exemplo, os códigos de ética dos médicos, dos advogados, resposta precisa: agir sempre de modo a respeitar a dig-
dos psicólogos, etc.). nidade, sem humilhações ou discriminações em relação a
Em outro sentido, ainda, pode referir-se a uma distin- sexo ou etnia. O pluralismo político, embora refira-se a um
ção entre princípios que dão rumo ao pensar sem, de ante- nível específico (a política), também pressupõe um valor
mão, prescrever formas precisas de conduta (ética) e regras moral: os homens têm direito de ter suas opiniões, de ex-
precisas e fechadas (moral). pressá-las, de organizar-se em torno delas. Não se deve,
Finalmente, deve-se chamar a atenção para o fato de portanto, obrigá-los a silenciar ou a esconder seus pontos
a palavra “moral” ter, para muitos, adquirido sentido pe- de vista; vale dizer, são livres. E, naturalmente, esses dois
jorativo, associado a “moralismo”. Assim, muitos preferem fundamentos (e os outros) devem ser pensados em con-
associar à palavra ética os valores e regras que prezam, junto. No art. 5o, vê-se que é um princípio constitucional
querendo assim marcar diferenças com os “moralistas”. o repúdio ao racismo, repúdio esse coerente com o valor
Como o objetivo é o de propor atividades que levem o dignidade humana, que limita ações e discursos, que limi-
aluno a pensar sobre sua conduta e a dos outros a partir de ta a liberdade às suas expressões e, justamente, garante a
princípios, e não de receitas prontas, batizou-se o tema de referida dignidade.
Ética, embora frequentemente se assuma, aqui, a sinonímia Devem ser abordados outros trechos da Constituição
entre as palavras ética e moral e se empregue a expressão que remetem a questões morais. No art. 3o, lê-se que cons-
clássica na área de educação de “educação moral”. Parte-se tituem objetivos fundamentais da República Federativa do
do pressuposto que é preciso possuir critérios, valores, e, Brasil (entre outros): I) construir uma sociedade livre, justa
mais ainda, estabelecer relações e hierarquias entre esses e solidária; III) erradicar a pobreza e a marginalização e re-
valores para nortear as ações em sociedade. Situações dile- duzir as desigualdades sociais e regionais; IV) promover o
máticas da vida colocam claramente essa necessidade. Por bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor,
exemplo, é ou não ético roubar um remédio, cujo preço idade e quaisquer outras formas de discriminação. Não é
é inacessível, para salvar alguém que, sem ele, morreria? difícil identificar valores morais em tais objetivos, que falam
Colocado de outra forma: deve-se privilegiar o valor “vida” em justiça, igualdade, solidariedade, e sua coerência com
(salvar alguém da morte) ou o valor “propriedade privada” os outros fundamentos apontados. No título II, art. 5o, mais
(no sentido de não roubar)? itens esclarecem as bases morais escolhidas pela sociedade
Seria um erro pensar que, desde sempre, os homens brasileira: I) homens e mulheres são iguais em direitos e
têm as mesmas respostas para questões desse tipo. Com obrigações; (...) III) ninguém será submetido à tortura nem
o passar do tempo, as sociedades mudam e também mu- a tratamento desumano ou degradante; (...) VI) é inviolável
dam os homens que as compõem. Na Grécia antiga, por a liberdade de consciência e de crença (...); X) são inviolá-
exemplo, a existência de escravos era perfeitamente legíti- veis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das
ma: as pessoas não eram consideradas iguais entre si, e o pessoas (...).
fato de umas não terem liberdade era considerado normal. Tais valores representam ótima base para a escolha de
Outro exemplo: até pouco tempo atrás, as mulheres eram conteúdos do tema Ética. Porém, aqui, três pontos devem
consideradas seres inferiores aos homens, e, portanto, não ser devidamente enfatizados.
merecedoras de direitos iguais (deviam obedecer a seus O primeiro refere-se ao que se poderia chamar de
maridos). Outro exemplo ainda: na Idade Média, a tortura “núcleo” moral de uma sociedade, ou seja, valores eleitos
era considerada prática legítima, seja para a extorsão de como necessários ao convívio entre os membros dessa so-
confissões, seja como castigo. Hoje, tal prática indigna a ciedade. A partir deles, nega-se qualquer perspectiva de
maioria das pessoas e é considerada imoral. “relativismo moral”, entendido como “cada um é livre para
Portanto, a moralidade humana deve ser enfocada no eleger todos os valores que quer”. Por exemplo, na socie-
contexto histórico e social. Por consequência, um currículo dade brasileira não é permitido agir de forma preconcei-
escolar sobre a ética pede uma reflexão sobre a sociedade tuosa, presumindo a inferioridade de alguns (em razão de
contemporânea na qual está inserida a escola; no caso, o etnia, raça, sexo ou cor), sustentar e promover a desigual-
Brasil do século XX. dade, humilhar, etc. Trata-se de um consenso mínimo, de
Tal reflexão poderia ser feita de maneira antropológica um conjunto central de valores, indispensável à sociedade
e sociológica: conhecer a diversidade de valores presentes democrática: sem esse conjunto central, cai-se na anomia,
na sociedade brasileira. No entanto, por se tratar de uma entendida seja como ausência de regras, seja como total
referência curricular nacional que objetiva o exercício da relativização delas (cada um tem as suas, e faz o que bem
cidadania, é imperativa a remissão à referência nacional entender); ou seja, sem ele, destrói-se a democracia, ou, no
brasileira: a Constituição da República Federativa do Brasil, caso do Brasil, impede-se a construção e o fortalecimento
promulgada em 1988. Nela, encontram-se elementos que do país.
identificam questões morais. O segundo ponto diz respeito justamente ao caráter
Por exemplo, o art. 1o traz, entre outros, como funda- democrático da sociedade brasileira. A democracia é um
mentos da República Federativa do Brasil a dignidade da regime político e também um modo de sociabilidade que
pessoa humana e o pluralismo político. A ideia segundo a permite a expressão das diferenças, a expressão de confli-
qual todo ser humano, sem distinção, merece tratamento tos, em uma palavra, a pluralidade. Portanto, para além do

4
POLÍTICAS PÚBLICAS DA EDUCAÇÃO

que se chama de conjunto central de valores, deve valer a convívio com outras pessoas tenham influência marcante
liberdade, a tolerância, a sabedoria de conviver com o dife- no comportamento da criança. E, naturalmente, a escola
rente, com a diversidade (seja do ponto de vista de valores, também tem. É preciso deixar claro que ela não deve ser
como de costumes, crenças religiosas, expressões artísticas, considerada onipotente, única instituição social capaz de
etc.). Tal valorização da liberdade não está em contradição educar moralmente as novas gerações. Também não se
com a presença de um conjunto central de valores. Pelo pode pensar que a escola garanta total sucesso em seu
contrário, o conjunto garante, justamente, a possibilidade trabalho de formação. Na verdade, seu poder é limitado.
da liberdade humana, coloca-lhe fronteiras precisas para Todavia, tal diagnóstico não justifica uma deserção. Mesmo
que todos possam usufruir dela, para que todos possam com limitações, a escola participa da formação moral de
preservá-la. seus alunos. Valores e regras são transmitidos pelos pro-
O terceiro ponto refere-se ao caráter abstrato dos va- fessores, pelos livros didáticos, pela organização institu-
lores abordados. Ética trata de princípios e não de manda- cional, pelas formas de avaliação, pelos comportamentos
mentos. Supõe que o homem deva ser justo. Porém, como dos próprios alunos, e assim por diante. Então, ao invés de
ser justo? Ou como agir de forma a garantir o bem de to- deixá-las ocultas, é melhor que tais questões recebam tra-
dos? Não há resposta predefinida. É preciso, portanto, ter tamento explícito. Isso significa que essas questões devem
claro que não existem normas acabadas, regras definitiva- ser objeto de reflexão da escola como um todo, ao invés
mente consagradas. A ética é um eterno pensar, refletir, de cada professor tomar isoladamente suas decisões. Daí a
construir. E a escola deve educar seus alunos para que pos- proposta de que se inclua o tema Ética nas preocupações
sam tomar parte nessa construção, serem livres e autôno- oficiais da educação.
mos para pensarem e julgarem. Acrescente-se ainda que, se os valores morais que
Mas será que cabe à escola empenhar-se nessa for- subjazem aos ideais da Constituição brasileira não forem
mação? Na história educacional brasileira, a resposta foi, intimamente legitimados1 pelos indivíduos que compõem
em várias épocas, positiva. Em 1826, o primeiro projeto de este país, o próprio exercício da cidadania será seriamente
ensino público apresentado à Câmara dos Deputados pre- prejudicado, para não dizer, impossível. É tarefa de toda
via que o aluno deveria ter “conhecimentos morais, cívicos sociedade fazer com que esses valores vivam e se desen-
e econômicos”.
volvam. E, decorrentemente, é também tarefa da escola.
Não se tratava de conteúdos, pois não havia ainda
Para saber como educar moralmente é preciso, num
um currículo nacional com elenco de matérias. Quando tal
primeiro momento, saber o que a Ciência Psicológica tem
elenco foi criado (em 1909), a educação moral não apare-
a dizer sobre os processos de legitimação, por parte do
ceu como conteúdo, mas havia essa preocupação quando
indivíduo, de valores e regras morais.
se tratou das finalidades do ensino. Em 1942, a Lei Orgâ-
nica do Ensino Secundário falava em “formação da per-
Legitimação dos Valores e Regras Morais
sonalidade integral do adolescente” e em acentuação e
elevação da “formação espiritual, consciência patriótica e
consciência humanista” do aluno. Em 1961, a Lei de Diretri- Diz-se que uma pessoa possui um valor e legitima as
zes e Bases do Ensino Nacional colocava entre suas normas normas decorrentes quando, sem controle externo, pauta
a “formação moral e cívica do aluno”. Em 1971, pela Lei n. sua conduta por elas. Por exemplo, alguém que não rouba
5.692/71, institui-se a Educação Moral e Cívica como área por medo de ser preso não legitima a norma “não roubar”:
da educação escolar no Brasil. apenas a segue por medo do castigo e, na certeza da im-
Porém, o fato de, historicamente, verificar-se a presen- punidade, não a seguirá. Em compensação, diz-se que uma
ça da preocupação com a formação moral do aluno ainda pessoa legitima a regra em questão ao segui-la indepen-
não é argumento bastante forte. De fato, alguns poderão dentemente de ser surpreendida, ou seja, se estiver inti-
pensar que a escola, por várias razões, nunca será capaz de mamente convicta de que essa regra representa um bem
dar uma formação moral aceitável e, portanto, deve abster- moral.
se dessa empreitada. Outros poderão responder que o ob- Mas o que leva alguém a pautar suas condutas segun-
jetivo da escola é o de ensinar conhecimentos acumulados do certas regras? Como alguns valores tornam-se tradu-
pela humanidade e não se preocupar com uma formação ções de um ideal de Bem, gerando deveres?
mais ampla de seus alunos. Outros ainda, apesar de simpá- Seria mentir por omissão não dizer que falta consen-
ticos à ideia de uma educação moral, poderão permanecer so entre os especialistas a respeito de como um indivíduo
desconfiados ao lembrar a malfadada tentativa de se im- chega a legitimar determinadas regras e conduzir-se coe-
plantar aulas de Moral e Cívica no currículo. rentemente com elas.
Mesmo reconhecendo tratar-se de uma questão po- Para uns, trata-se de simples costume: o hábito de cer-
lêmica, a resposta dada por estes Parâmetros Curriculares tas condutas validam-nas. Para outros, a equação deveria
Nacionais é afirmativa: cabe à escola empenhar-se na for- ser invertida: determinadas condutas são consideradas
mação moral de seus alunos. Por isso, apresenta-se uma boas, portanto, devem ser praticadas; neste caso, o juízo
proposta diametralmente diferente das antigas aulas de seria o carro-chefe da legitimação das regras. Para outros
Moral e Cívica e explica-se o porquê. ainda, processos inconscientes (portanto, ignorados do
As pessoas não nascem boas ou ruins; é a socieda- próprio sujeito, e, em geral, constituídos durante a infân-
de, quer queira, quer não, que educa moralmente seus cia) seriam os determinantes da conduta moral. E há outras
membros, embora a família, os meios de comunicação e o teorias mais.

5
POLÍTICAS PÚBLICAS DA EDUCAÇÃO

Serão apresentadas a seguir algumas considerações que cada um tem várias facetas e não se resume a uma só
norteadoras para o entendimento dos processos psicoló- dimensão. Ora, as imagens que cada um tem de si estão
gicos presentes na legitimação de regras morais: a afetivi- intimamente associadas a valores. Raramente são meras
dade e a racionalidade. constatações neutras do que se é ou não se é. Na grande
maioria das vezes, as imagens são vistas como positivas ou
Afetividade negativas. Vale dizer que é inevitável cada um pensar em si
mesmo como um valor. E, evidentemente, cada um procura
Toda regra moral legitimada aparece sob a forma de ter imagens boas de si, ou seja, ver-se como valor positivo.
uma obrigação, de um imperativo: deve-se fazer tal coi- Em uma palavra, cada um procura se respeitar como pes-
sa, não se deve fazer tal outra. Como essa obrigatoriedade soa que merece apreciação.
pode se instalar na consciência? Ora, é preciso que os con- É por essa razão que o autorrespeito, por ser um bem
teúdos desses imperativos toquem, em alguma medida, a essencial, está presente nos projetos de bem-estar psico-
sensibilidade da pessoa; vale dizer, que apareçam como lógico, nos projetos de felicidade, como parte integrante.
desejáveis. Portanto, para que um indivíduo se incline a le- Ninguém se sente feliz se não merecer mínima admiração,
gitimar um determinado conjunto de regras, é necessário mínimo respeito aos próprios olhos.
que o veja como traduzindo algo de bom para si, como O êxito na busca e construção do autorrespeito é fe-
dizendo respeito a seu bem-estar psicológico, ao que se nômeno complexo. Quatro aspectos complementares são
poderia chamar de seu “projeto de felicidade”. Se vir nas essenciais.
regras aspectos contraditórios ou estranhos ao seu bem O primeiro diz respeito ao êxito dos projetos de vida
-estar psicológico pessoal e ao seu projeto de felicidade, que cada pessoa determina para si. Os projetos variam
esse indivíduo simplesmente não legitimará os valores muito de pessoa para pessoa, vão dos mais modestos em-
subjacentes a elas e, por conseguinte, não legitimará as preendimentos até os mais ousados. Mas, seja qual for o
próprias regras. Poderá, às vezes, comportar-se como se projeto escolhido, o mínimo êxito na sua execução é essen-
as legitimasse, mas será apenas por medo do castigo. Na cial ao autorrespeito. Raramente se está “de bem consigo
certeza de não ser castigado, seja porque ninguém toma- mesmo” quando há fracassos repetidos. A vergonha decor-
rá conhecimento de sua conduta, seja porque não haverá
rente, assim como a frustração, podem levar à depressão
algum poder que possa puni-lo, se comportará segundo
ou à cólera.
seus próprios desejos. Em resumo, as regras morais devem
O segundo aspecto refere-se à esfera moral. Cada um
apontar para uma possibilidade de realização de uma “vida
tem inclinação a legitimar os valores e normas morais que
boa”; do contrário, serão ignoradas.
permitam, justamente, o êxito dos projetos de vida e o de-
Porém, fica uma pergunta: sendo que os projetos de
corrente autorrespeito.
felicidade são variados, que dependem inclusive dos dife-
E, naturalmente, tenderá a não legitimar aqueles que
rentes traços de personalidade, e sendo também que as re-
representarem um obstáculo; aqueles que forem contradi-
gras morais devem valer para todos (se cada um tiver a sua,
a própria moral desaparece), como despertar o sentimento tórios com a busca e manutenção do autorrespeito. Assim,
de desejabilidade para determinadas regras e valores, de é sensato pensar que as regras que organizem a convivên-
forma que não se traduza em mero individualismo? cia social de forma justa, respeitosa e solidária têm grandes
De fato, as condições de bem-estar e os projetos de chances de serem seguidas. De fato, a justiça permite que
felicidade são variados. Para alguns, por exemplo, o ver- as oportunidades sejam iguais para todos, sem privilégios
dadeiro bem-estar nunca será usufruído na terra, mas sim que, de partida ou no meio do caminho, favoreçam alguns
alhures, após a morte. Tais pessoas legitimam determinadas em detrimento de outros. Se as regras forem vistas como
regras de conduta, inspiradas por certas religiões, como as injustas, dificilmente serão legitimadas.
de origem cristã, porque, justamente, correspondem a um O terceiro aspecto refere-se ao papel do juízo alheio na
projeto de felicidade: ficar ao lado de Deus para a eterni- imagem que cada um tem de si.
dade. Aqui na terra, podem até aceitar viver distantes dos Pode-se afirmar o seguinte: a imagem e o respeito que
prazeres materiais, pois seu bem-estar psicológico está em uma pessoa tem de si mesma estão, naturalmente, refe-
se preparar para uma “vida” melhor, após a morte física do renciados em parte nos juízos que os outros fazem dela.
corpo. Algumas podem ser extremamente dependentes dos juí-
Outros, pelo contrário, pensam que a felicidade deve zos alheios para julgar a si próprias; outras menos. Porém,
acontecer durante a vida terrena, e consequentemente não ninguém é totalmente indiferente a esses juízos. São de
aceitam a ideia de que devam privar-se. E assim por dian- extrema importância, pois alguém que nunca ouça a crítica
te. Verifica-se, portanto, que as formas de desejabilidade, alheia — positiva ou negativa — corre o risco de enganar-
derivadas de seus conteúdos, são variadas. No entanto, há se sobre si mesmo. Então, a crítica é necessária. Todavia,
um desejo que parece valer para todos e estar presente nos há uma dimensão moral nesses juízos: é o reconhecimento
diversos projetos de felicidade: o autorrespeito. do valor de qualquer pessoa humana, que não pode ser
A ideia básica é bastante simples. Cada pessoa tem humilhada, violentada, espoliada, etc. Portanto, o respeito
consciência da própria existência, tem consciência de si. Tal próprio depende também do fato de ser respeitado pelos
consciência traduz-se, entre outras coisas, por uma ima- outros. A humilhação — forma não rara de relação humana
gem de si, ou melhor, imagens de si — no plural, uma vez — frequentemente leva a vítima a não legitimar qualquer

6
POLÍTICAS PÚBLICAS DA EDUCAÇÃO

outra pessoa como juiz e a agir sem consideração pelas • Ao lado do trabalho de ensino, o convívio dentro da
pessoas em geral. As crianças conhecem esse mecanismo escola deve ser organizado de maneira que os conceitos de
psicológico. justiça, respeito e solidariedade sejam vivificados e com-
Uma delas, perguntada a respeito dos efeitos da humi- preendidos pelos alunos como aliados à perspectiva de
lhação, afirmou que um aluno assim castigado teria mais uma “vida boa”.
chances de reincidir no erro, pois pensaria: “Já estou dana- Dessa forma, não somente os alunos perceberão que
do mesmo, posso fazer o que eu quiser”. Em resumo, serão esses valores e as regras decorrentes são coerentes com
legitimadas as regras morais que garantirem que cada um seus projetos de felicidade como serão integrados às suas
desenvolva o respeito próprio, e este está vinculado a ser personalidades: se respeitarão pelo fato de respeitá-los.
respeitado pelos outros.
O quarto e último aspecto refere-se à realização dos Racionalidade
projetos de vida de forma puramente egoísta. A valoriza-
ção do sucesso profissional, coroado com gordos benefí- Se é verdade que não há legitimação das regras morais
cios financeiros, o status social elevado, a beleza física, a sem um investimento afetivo, é também verdade que tal
atenção da mídia, etc., são valores puramente individuais legitimação não existe sem a racionalidade, sem o juízo e a
(em geral relacionados à glória), que, para uma minoria, reflexão sobre valores e regras. E isso por três razões, pelo
podem ser concretizados pela obtenção de privilégios (por menos.
exemplo, conhecer as pessoas certas que fornecem empre- A primeira: a moral pressupõe a responsabilidade, e
go ou acesso a instituições importantes), pela manipulação esta pressupõe a liberdade e o juízo.
de outras pessoas (por exemplo, mentir e trapacear para Somente há responsabilidade por atos se houver a li-
passar na frente dos outros), e pela completa indiferença berdade de realizá-los ou não. Cabem, portanto, o pensa-
pelos outros membros da sociedade. Diz-se que se trata de mento, a reflexão, o julgamento para, então, a ação. Em re-
uma minoria, pois é mero sonho pensar que todos podem sumo, agir segundo critérios e regras morais implica fazer
ter carro importado, sua imagem na televisão, acesso aos uma escolha. E como escolher implica, por sua vez, adotar
corredores do poder político, etc. Mas o fato é que a valori- critérios, a racionalidade é condição necessária à vida mo-
zação desse tipo de sucesso é traço marcante da sociedade ral.
atual (não só no Brasil, mas no Ocidente todo) e tende a A segunda: a racionalidade e o juízo também compa-
fazer com que as pessoas o procurem mesmo que o preço recem no processo de legitimação das regras, pois dificil-
a ser pago seja o de passar por cima dos outros, das formas
mente tais valores ou regras serão legítimos se parecerem
mais desonestas e até mesmo violentas. Resultado prático:
contraditórios entre si ou ilógicos, se não sensibilizarem a
a pessoa perderá o respeito próprio se não for bem-suce-
inteligência. É por essa razão que a moral pode ser dis-
dida nos seus planos pessoais, mas não se, por exemplo,
cutida, debatida, que argumentos podem ser empregados
mentir, roubar, desprezar o vizinho, etc.
para justificar ou descartar certos valores. E, muitas vezes, é
Ora, para que as regras morais sejam efetivamente le-
por falta dessa apreensão racional dos valores que alguns
gitimadas, é preciso que sejam partes integrantes do res-
agem de forma impensada.
peito próprio, ou seja, que o autorrespeito dependa, além
dos diversos êxitos na realização dos projetos de vida, do Se tivessem refletido um pouco, teriam mudado de
respeito pelos valores e regras morais. Assim, a pessoa que ideia e agido diferentemente. Após melhor juízo, arrepen-
integrar o respeito pelas regras morais à sua identidade dem-se do que fizeram. É preciso também sublinhar o fato
pessoal, à imagem positiva de si, com grande probabilida- de que pensar sobre a moralidade não é tarefa simples: são
de agirá conforme tais regras. necessárias muita abstração, muita generalização e muita
Em resumo, a dimensão afetiva da legitimação dos dedução.
valores e regras morais passa, de um lado, por identificá Tomando-se o exemplo da mentira, verifica-se que
-los como coerentes com a realização de diversos projetos poucas pessoas pensaram de fato sobre o que é a mentira.
de vida e, de outro, pela absorção desses valores e regras A maioria limita-se a dizer que ela corresponde a não di-
como valor pessoal que se procura resguardar para perma- zer, intencionalmente, a verdade. Na realidade, mentir, no
necer respeitando a si próprio. sentido ético, significa não dar uma informação a alguém
Assim, o autorrespeito articula, no âmago de cada um, que tenha o direito de obtê-la. Com essa definição, po-
a busca da realização do projetos de vida pessoais e o res- de-se concluir que mentir por omissão não significa trair a
peito pelas regras coerentes com tal realização. verdade, mas não revelá-la a quem tem direito de sabê-la.
Na busca de maior clareza desta exposição, podem ser Portanto, pensar, apropriar-se dos valores morais com
estabelecidas desde já duas decorrências centrais para a o máximo de racionalidade é condição necessária, tanto à
educação moral. São elas: legitimação das regras e ao emprego justo e ponderado
• A escola deve ser um lugar onde cada aluno encontre delas, como à construção de novas regras.
a possibilidade de se instrumentalizar para a realização de Finalmente, há uma terceira razão para se valorizar a
seus projetos; por isso, a qualidade do ensino é condição presença da racionalidade na esfera moral: ter a capaci-
necessária à formação moral de seus alunos. Se não pro- dade de dialogar, essencial à convivência democrática. De
move um ensino de boa qualidade, a escola condena seus fato, viver em democracia significa explicitar e, se possível,
alunos a sérias dificuldades futuras na vida e, decorrente- resolver conflitos por meio da palavra, da comunicação, do
mente, a que vejam seus projetos de vida frustrados. diálogo. Significa trocar argumentos, negociar. Ora, para

7
POLÍTICAS PÚBLICAS DA EDUCAÇÃO

que o diálogo seja profícuo, para que possa gerar resulta- ze anos (correspondente ao fim do ensino fundamental),
dos, a racionalidade é condição necessária. Os interlocuto- poderão já estar claramente equacionados. Portanto, o res-
res precisam expressar-se com clareza — o que pressupõe peito próprio começa a ser baseado não apenas em suces-
a clareza de suas próprias convicções — e serem capazes sos momentâneos, mas sim em perspectivas referentes ao
de entender os diferentes pontos de vista. Essas capaci- que é ser um homem ou uma mulher de valor.
dades são essencialmente racionais, dependem do pleno Os juízos e condutas morais também se desenvolvem
exercício da inteligência. com a idade, já que estão assentados na afetividade e na
Aqui também são estabelecidas duas consequências racionalidade.
centrais para a educação: A primeira etapa do desenvolvimento moral da criança
• A escola deve ser um lugar onde os valores morais é chamada de heteronomia. Começa por volta dos três ou
são pensados, refletidos, e não meramente impostos ou quatro anos e vai até oito anos em média. Nessa fase, a
frutos do hábito. criança legitima as regras porque provêm de pessoas com
• A escola deve ser o lugar onde os alunos desenvol- prestígio e força: os pais (ou quem desempenha esse pa-
vam a arte do diálogo. pel).
Por um lado, se os pais são vistos como protetores e
Desenvolvimento Moral e Socialização bons, a criança, por medo de perder seu amor, respeita
seus mandamentos; se, por outro, são vistos como podero-
Tanto a afetividade como a racionalidade desenvol- sos, seres imensamente mais fortes e sábios que ela, seus
vem-se a partir das interações sociais, desde a infância e ditames são aceitos incondicionalmente. Vale dizer que a
durante a vida toda. Como representam a base da moral, criança não procura o valor intrínseco das regras: basta-lhe
esta também se desenvolve. saber que quem as dita é uma pessoa “poderosa”.
Quanto ao respeito próprio, sua necessidade está pre- É neste sentido que se fala de moral heterônoma: a
sente em crianças ainda bem pequenas. Uma criança que validade das regras é exterior a elas, está associada à fonte
passa por violências, por constantes humilhações, estará de onde provêm. Quatro características complementares
inclinada a se desvalorizar, a ter muito pouca confiança da moral da criança são decorrência dessa heteronomia.
em si mesma; vale dizer que sua afetividade será prova- A primeira é julgar um ato não pela intencionalidade que
velmente muito marcada por essas experiências negativas. o presidiu, mas pelas suas consequências. Por exemplo, a
Vários autores já apontaram as desastrosas consequências criança julgará mais culpado alguém que tenha quebrado
dos sentimentos de humilhação e vergonha para o equilí- dez copos sem querer do que outra pessoa que quebrou
brio psicológico. Isso não significa que sempre se devam um só num ato proposital. O tamanho do dano material, no
fazer avaliações positivas das condutas das crianças. Pelo caso, é, para ela, critério superior às razões de por que os
contrário. Se a criança perceber que, seja qual for sua rea- copos foram quebrados. A segunda característica é a de a
lização, ela recebe elogios, chegará facilmente à conclusão criança interpretar as regras ao pé da letra, e não no seu es-
que tais elogios são falsos, sem valor. E pior ainda: acabará pírito. Assim, se uma regra afirma que não se deve mentir,
justamente por atribuir pouco valor a si mesma por pensar sempre condenará qualquer traição à verdade, sem levar
que os elogios representam uma forma de consolá-la por em conta que, no espírito dessa regra, é o respeito pelo
seus fracassos reais. Portanto, não se trata em absoluto de, bem-estar da outra pessoa que está em jogo, e não o ato
a todo o momento, dar sinais de admiração à criança, ou verbal em si. A terceira característica refere-se às condutas
de induzi-la a pensar que é perfeita. A crítica de suas ações morais: embora a criança, quando ouvida a respeito, de-
é necessária. fenda o valor absoluto das regras morais, frequentemente
Trata-se, isto sim, de dar-lhe todas as possibilidades de comporta-se de forma diferente e até contraditória a elas.
ter êxito no que empreender, e demonstrar interesse por Esse fato provém do não-entendimento da verdadeira ra-
esses empreendimentos, ajudando-a a realizá-los. zão de ser das regras; às vezes, sem saber, age de forma es-
Embora o respeito próprio represente uma necessi- tranha a elas, mas pensando que as está seguindo. A quarta
dade psicológica constante, ele se traduz de formas dife- e última característica é o fato de a criança não conceber a
rentes nas diversas idades. Em linhas gerais, pode-se dizer si própria como pessoa legítima para criar e propor novas
que, entre oito e onze ou doze anos de idade, ele se traduz regras (caberia a ela apenas conhecer e obedecer a aquelas
por pequenas realizações concretas. Não existe ainda um que já existem). Em uma palavra, todas as características
projeto de vida (ser ou fazer tal coisa quando crescer) que desta primeira fase do desenvolvimento moral decorrem
justificaria um paciente trabalho de preparação. Os obje- da não-apropriação racional dos valores e das regras. A
tivos são mais imediatos, seu êxito deve ser rapidamente criança as aceita porque provêm dos pais “todo-podero-
verificado. Pode-se dizer da criança que ela “é o que faz”, sos”, e não procura descobrir-lhes a razão de ser. Ora, será
ou seja, a imagem que ela tem de si mesma está intima- justamente o que procurará fazer na próxima fase de seu
mente relacionada com suas ações. Sua autoconfiança de- desenvolvimento moral, a da autonomia.
pende do êxito de suas ações. A partir dos onze ou doze Nesta etapa — a partir de oito anos em média — a
anos, o respeito próprio torna-se mais abstrato: começa a criança inicia um processo no qual pode cada vez mais
basear-se nos traços de sua personalidade, traços que não julgar os atos levando em conta essencialmente a inten-
necessariamente se traduzem em ações concretas. Projetos cionalidade que os motivou, começar a compreender as
de vida começam a ser vislumbrados, e, por volta dos quin- regras pelo seu espírito (não mais ao pé da letra) e legi-

8
POLÍTICAS PÚBLICAS DA EDUCAÇÃO

timá-las não mais porque provêm de seres prestigiados e Se o objetivo é formar um indivíduo que se solidarize com
poderosos, mas porque se convence racionalmente de sua os outros, deverá poder experienciar o convívio organizado
validade. O respeito que antes era unilateral — no sentido em função desse valor. Se o objetivo é formar um indivíduo
de respeitar as “autoridades”, mas sem exigir a recíproca democrático, é necessário proporcionar-lhe oportunidades
— torna-se mútuo: respeitar e ser respeitado. O medo da de praticar a democracia, de falar o que pensa e de subme-
punição e da perda do amor, que inspirava as condutas ter suas ideias e propostas ao juízo de outros. Se o objetivo
na fase heterônoma, é substituído pelo medo de perder é que o respeito próprio seja conquistado pelo aluno, de-
a estima dos outros, perder o respeito dos outros, e per- ve-se acolhê-lo num ambiente em que se sinta valorizado e
der o respeito próprio, moralmente falando. Finalmente, a respeitado. Em relação ao desenvolvimento da racionalida-
criança se concebe como tendo legitimidade para construir de, deve-se acolhê-lo num ambiente em que tal faculdade
novas regras, e colocá-las à apreciação de seus pares. seja estimulada. A escola pode ser esse lugar. Deve sê-lo.
A conquista da autonomia não é imediata. Durante um
tempo, o raio de ação dessa autonomia ainda está limi- Fonte: BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais.
tado ao grupo de amigos e pessoas mais próximas; mais Ética. 1997
tarde a criança passa a perceber-se como membro de uma
sociedade mais ampla, com suas leis e instituições. É en-
tão, nessa época, que poderá refletir sobre os princípios
que organizam um sistema moral humano (portanto, mais
3. AS POLÍTICAS PARA O CURRÍCULO
amplo que sua comunidade, como o grupo de amigos e
NACIONAL.
conhecidos). No entanto, é preciso que fique claro que um
sujeito, ao alcançar a possibilidade de exercer a autonomia
moral, não necessariamente torna-se autônomo em todas
as situações da vida. Os contextos sociais e afetivos em que Sistema Nacional de Educação
está inserido podem contribuir ou mesmo impedir a auto-
nomia moral. O Sistema Nacional de Educação é tema que vem sus-
Assim, é importante refletir sobre o que faz uma crian- citando o aprofundamento da compreensão sobre sistema,
ça passar de um estado de heteronomia moral, característi- no contexto da história da educação, nesta Nação tão di-
co da infância, para um estado de autonomia moral. versa geográfica, econômica, social e culturalmente. O que
Durante muito tempo, pensou-se que educação moral a proposta de organização do Sistema Nacional de Educa-
deveria ocorrer pela associação entre discursos normati- ção enfrenta é, fundamentalmente, o desafio de superar
zadores, modelos edificantes a serem copiados, repressão, a fragmentação das políticas públicas e a desarticulação
interdição e castigo. institucional dos sistemas de ensino entre si, diante do im-
Hoje, sabe-se que o desenvolvimento depende essen- pacto na estrutura do financiamento, comprometendo a
cialmente de experiências de vida que o favoreçam e esti- conquista da qualidade social das aprendizagens, median-
mulem. No que se refere à moralidade, o mesmo fenôme- te conquista de uma articulação orgânica.
no acontece. Por exemplo, na racionalidade: uma criança a Os debates sobre o Sistema Nacional de Educação, em
quem nunca se dá a possibilidade de pensar, de argumen- vários momentos, abordaram o tema das diretrizes para
tar, de discutir, acaba frequentemente por ter seu desen- a Educação Básica. Ambas as questões foram objeto de
volvimento intelectual embotado, nunca ousando pensar análise em interface, durante as diferentes etapas prepa-
por si mesma, sempre refém das “autoridades” que tudo ratórias da Conferência Nacional de Educação (CONAE) de
sabem por ela. Em relação ao autorrespeito: uma criança a 2009, uma vez que são temas que se vinculam a um ob-
quem nunca se dê a possibilidade de se afirmar, de ter êxi- jetivo comum: articular e fortalecer o sistema nacional de
to nos seus menores empreendimentos, uma criança sem- educação em regime de colaboração.
pre humilhada, dificilmente desenvolverá alguma forma de Para Saviani, o sistema é a unidade de vários elementos
respeito próprio. Ora, sendo que o desenvolvimento moral intencionalmente reunidos de modo a formar um conjunto
depende da afetividade, notadamente do respeito próprio, coerente e operante (2009, p. 38). Caracterizam, portanto,
e da racionalidade, e sendo que a qualidade das relações a noção de sistema: a intencionalidade humana; a unidade
sociais tem forte influência sobre estas, a socialização tam- e variedade dos múltiplos elementos que se articulam; a
bém tem íntima relação com o desenvolvimento moral. coerência interna articulada com a externa.
Sendo que as relações sociais efetivamente vividas, Alinhado com essa conceituação, este Parecer adota o
experienciadas, têm influência decisiva no processo de le- entendimento de que sistema resulta da atividade inten-
gitimação das regras, se o objetivo é formar um indivíduo cional e organicamente concebida, que se justifica pela
respeitoso das diferenças entre pessoas, não bastam belos realização de atividades voltadas para as mesmas finalida-
discursos sobre esse valor: é necessário que ele possa expe- des ou para a concretização dos mesmos objetivos.
rienciar, no seu cotidiano, esse respeito, ser ele mesmo res- Nessa perspectiva, e no contexto da estrutura fede-
peitado no que tem de peculiar em relação aos outros. Se rativa brasileira, em que convivem sistemas educacionais
o objetivo é formar alguém que procure resolver conflitos autônomos, faz-se necessária a institucionalização de um
pelo diálogo, deve-se proporcionar um ambiente social em regime de colaboração que dê efetividade ao projeto de
que tal possibilidade exista, onde possa, de fato, praticá-lo. educação nacional. União, Estados, Distrito Federal e Mu-

9
POLÍTICAS PÚBLICAS DA EDUCAÇÃO

nicípios, cada qual com suas peculiares competências, são a) às instituições produtoras do conhecimento científi-
chamados a colaborar para transformar a Educação Bási- co (universidades e centros de pesquisa);
ca em um conjunto orgânico, sequencial, articulado, assim b) ao mundo do trabalho;
como planejado sistemicamente, que responda às exigên- c) aos desenvolvimentos tecnológicos;
cias dos estudantes, de suas aprendizagens nas diversas d) às atividades desportivas e corporais;
fases do desenvolvimento físico, intelectual, emocional e e) à produção artística;
social. f) ao campo da saúde;
Atende-se à dimensão orgânica quando são observa- g) às formas diversas de exercício da cidadania;
das as especificidades e as diferenças de cada uma das três h) aos movimentos sociais.
etapas de escolarização da Educação Básica e das fases que
Daí entenderem que toda política curricular é uma
as compõem, sem perda do que lhes é comum: as seme-
política cultural, pois o currículo é fruto de uma seleção e
lhanças, as identidades inerentes à condição humana em
suas determinações históricas e não apenas do ponto de produção de saberes: campo conflituoso de produção de
vista da qualidade da sua estrutura e organização. Cada cultura, de embate entre pessoas concretas, concepções
etapa do processo de escolarização constitui-se em unida- de conhecimento e aprendizagem, formas de imaginar e
de, que se articula organicamente com as demais de ma- perceber o mundo. Assim, as políticas curriculares não se
neira complexa e intrincada, permanecendo todas elas, em resumem apenas a propostas e práticas enquanto docu-
suas diferentes modalidades, individualizadas, ao logo do mentos escritos, mas incluem os processos de planejamen-
percurso do escolar, apesar das mudanças por que passam to, vivenciados e reconstruídos em múltiplos espaços e por
por força da singularidade de cada uma, bem assim a dos múltiplas singularidades no corpo social da educação. Para
sujeitos que lhes dão vida. Lopes (2004, p. 112), mesmo sendo produções para além
Atende-se à dimensão sequencial quando os proces- das instâncias governamentais, não significa desconsiderar
sos educativos acompanham as exigências de aprendi- o poder privilegiado que a esfera governamental possui na
zagem definidas em cada etapa da trajetória escolar da produção de sentidos nas políticas, pois as práticas e pro-
Educação Básica (Educação Infantil, Ensino Fundamental e postas desenvolvidas nas escolas também são produtoras
Médio), até a Educação Superior. São processos educativos de sentidos para as políticas curriculares.
que, embora se constituam em diferentes e insubstituíveis Os efeitos das políticas curriculares, no contexto da
momentos da vida dos estudantes, inscritos em tempos e prática, são condicionados por questões institucionais e
espaços educativos próprios a cada etapa do desenvolvi-
disciplinares que, por sua vez, têm diferentes histórias, con-
mento humano, inscrevem-se em trajetória que deve ser
cepções pedagógicas e formas de organização, expressas
contínua e progressiva.
em diferentes publicações. As políticas estão sempre em
Organização curricular: conceito, limites, possibili- processo de vir-a-ser, sendo múltiplas as leituras possíveis
dades de serem realizadas por múltiplos leitores, em um constan-
No texto “Currículo, conhecimento e cultura”, Moreira te processo de interpretação das interpretações.
e Candau (2006) apresentam diversas definições atribuídas As fronteiras são demarcadas quando se admite tão
a currículo, a partir da concepção de cultura como práti- somente a ideia de currículo formal. Mas as reflexões teó-
ca social, ou seja, como algo que, em vez de apresentar ricas sobre currículo têm como referência os princípios
significados intrínsecos, como ocorre, por exemplo, com educacionais garantidos à educação formal. Estes estão
as manifestações artísticas, a cultura expressa significados orientados pela liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e
atribuídos a partir da linguagem. Em poucas palavras, essa divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o conhecimento
concepção é definida como “experiências escolares que se científico, além do pluralismo de ideias e de concepções
desdobram em torno do conhecimento, permeadas pelas pedagógicas, assim como a valorização da experiência ex-
relações sociais, buscando articular vivências e saberes dos traescolar, e a vinculação entre a educação escolar, o traba-
alunos com os conhecimentos historicamente acumulados lho e as práticas sociais.
e contribuindo para construir as identidades dos estudan- Assim, e tendo como base o teor do artigo 27 da LDB,
tes” (idem, p. 22). Uma vez delimitada a ideia sobre cultura, pode-se entender que o processo didático em que se reali-
os autores definem currículo como: conjunto de práticas
zam as aprendizagens fundamenta-se na diretriz que assim
que proporcionam a produção, a circulação e o consumo
delimita o conhecimento para o conjunto de atividades:
de significados no espaço social e que contribuem, inten-
samente, para a construção de identidades sociais e cul- Os conteúdos curriculares da Educação Básica obser-
turais. O currículo é, por consequência, um dispositivo de varão, ainda, as seguintes diretrizes:
grande efeito no processo de construção da identidade do I – a difusão de valores fundamentais ao interesse so-
(a) estudante (p. 27). Currículo refere-se, portanto, a cria- cial, aos direitos e deveres dos cidadãos, de respeito ao
ção, recriação, contestação e transgressão (Moreira e Silva, bem comum e à ordem democrática;
1994). II – consideração das condições de escolaridade dos
Nesse sentido, a fonte em que residem os conheci- estudantes em cada estabelecimento;
mentos escolares são as práticas socialmente construídas. III – orientação para o trabalho;
Segundo os autores, essas práticas se constituem em “âm- IV – promoção do desporto educacional e apoio às
bitos de referência dos currículos” que correspondem: práticas desportivas não-formais.

10
POLÍTICAS PÚBLICAS DA EDUCAÇÃO

Desse modo, os valores sociais, bem como os direitos mente, as características de seus estudantes requerem ou-
e deveres dos cidadãos, relacionam-se com o bem comum tros processos e procedimentos, em que aprender, ensinar,
e com a ordem democrática. Estes são conceitos que re- pesquisar, investigar, avaliar ocorrem de modo indissociá-
querem a atenção da comunidade escolar para efeito de vel. Os estudantes, entre outras características, aprendem a
organização curricular, cuja discussão tem como alvo e receber informação com rapidez, gostam do processo pa-
motivação a temática da construção de identidades sociais ralelo, de realizar várias tarefas ao mesmo tempo, preferem
e culturais. A problematização sobre essa temática contri- fazer seus gráficos antes de ler o texto, enquanto os docen-
bui para que se possa compreender, coletivamente, que tes creem que acompanham a era digital apenas porque
educação cidadã consiste na interação entre os sujeitos, digitam e imprimem textos, têm e-mail, não percebendo
preparando-os por meio das atividades desenvolvidas na que os estudantes nasceram na era digital.
escola, individualmente e em equipe, para se tornarem ap- As tecnologias da informação e comunicação consti-
tos a contribuir para a construção de uma sociedade mais tuem uma parte de um contínuo desenvolvimento de tec-
solidária, em que se exerça a liberdade, a autonomia e a nologias, a começar pelo giz e os livros, todos podendo
responsabilidade.
apoiar e enriquecer as aprendizagens. Como qualquer fer-
Nessa perspectiva, cabe à instituição escolar com-
ramenta, devem ser usadas e adaptadas para servir a fins
preender como o conhecimento é produzido e socialmente
educacionais e como tecnologia assistiva; desenvolvidas de
valorizado e como deve ela responder a isso. É nesse sen-
tido que as instâncias gestoras devem se fortalecer instau- forma a possibilitar que a interatividade virtual se desen-
rando um processo participativo organizado formalmente, volva de modo mais intenso, inclusive na produção de lin-
por meio de colegiados, da organização estudantil e dos guagens. Assim, a infraestrutura tecnológica, como apoio
movimentos sociais. pedagógico às atividades escolares, deve também garantir
A escola de Educação Básica é espaço coletivo de con- acesso dos estudantes à biblioteca, ao rádio, à televisão, à
vívio, onde são privilegiadas trocas, acolhimento e acon- internet aberta às possibilidades da convergência digital.
chego para garantir o bem-estar de crianças, adolescentes, Essa distância necessita ser superada, mediante apro-
jovens e adultos, no relacionamento entre si e com as de- ximação dos recursos tecnológicos de informação e comu-
mais pessoas. É uma instância em que se aprende a valo- nicação, estimulando a criação de novos métodos didáti-
rizar a riqueza das raízes culturais próprias das diferentes co-pedagógicos, para que tais recursos e métodos sejam
regiões do País que, juntas, formam a Nação. Nela se res- inseridos no cotidiano escolar. Isto porque o conhecimento
significa e recria a cultura herdada, reconstruindo as iden- científico, nos tempos atuais, exige da escola o exercício da
tidades culturais, em que se aprende a valorizar as raízes compreensão, valorização da ciência e da tecnologia desde
próprias das diferentes regiões do País. a infância e ao longo de toda a vida, em busca da am-
Essa concepção de escola exige a superação do rito es- pliação do domínio do conhecimento científico: uma das
colar, desde a construção do currículo até os critérios que condições para o exercício da cidadania. O conhecimento
orientam a organização do trabalho escolar em sua mul- científico e as novas tecnologias constituem-se, cada vez
tidimensionalidade, privilegia trocas, acolhimento e acon- mais, condição para que a pessoa saiba se posicionar frente
chego, para garantir o bem-estar de crianças, adolescentes, a processos e inovações que a afetam. Não se pode, pois,
jovens e adultos, no relacionamento interpessoal entre to- ignorar que se vive: o avanço do uso da energia nuclear;
das as pessoas. da nanotecnologia; a conquista da produção de alimentos
Cabe, pois, à escola, diante dessa sua natureza, assumir geneticamente modificados; a clonagem biológica. Nesse
diferentes papéis, no exercício da sua missão essencial, que contexto, tanto o docente quanto o estudante e o gestor
é a de construir uma cultura de direitos humanos para pre- requerem uma escola em que a cultura, a arte, a ciência e a
parar cidadãos plenos. A educação destina-se a múltiplos
tecnologia estejam presentes no cotidiano escolar, desde o
sujeitos e tem como objetivo a troca de saberes, a sociali-
início da Educação Básica.
zação e o confronto do conhecimento, segundo diferentes
Tendo em vista a amplitude do papel socioeducativo
abordagens, exercidas por pessoas de diferentes condições
físicas, sensoriais, intelectuais e emocionais, classes sociais, atribuído ao conjunto orgânico da Educação Básica, cabe
crenças, etnias, gêneros, origens, contextos socioculturais, aos sistemas educacionais, em geral, definir o programa
e da cidade, do campo e de aldeias. Por isso, é preciso fa- de escolas de tempo parcial diurno (matutino e/ou ves-
zer da escola a instituição acolhedora, inclusiva, pois essa é pertino), tempo parcial noturno e tempo integral (turno
uma opção “transgressora”, porque rompe com a ilusão da e contraturno ou turno único com jornada escolar de 7
homogeneidade e provoca, quase sempre, uma espécie de horas, no mínimo , durante todo o período letivo), o que
crise de identidade institucional. requer outra e diversa organização e gestão do trabalho
A escola é, ainda, espaço em que se abrigam desen- pedagógico, contemplando as diferentes redes de ensino,
contros de expectativas, mas também acordos solidários, a partir do pressuposto de que compete a todas elas o de-
norteados por princípios e valores educativos pactuados senvolvimento integral de suas demandas, numa tentativa
por meio do projeto político- pedagógico concebido se- de superação das desigualdades de natureza sociocultural,
gundo as demandas sociais e aprovado pela comunidade socioeconômica e outras.
educativa. Há alguns anos, se tem constatado a necessidade de
Por outro lado, enquanto a escola se prende às carac- a criança, o adolescente e o jovem, particularmente aque-
terísticas de metodologias tradicionais, com relação ao en- les das classes sociais trabalhadoras, permanecerem mais
sino e à aprendizagem como ações concebidas separada- tempo na escola.

11
POLÍTICAS PÚBLICAS DA EDUCAÇÃO

Tem-se defendido que o estudante poderia beneficiar- se restringindo às aulas das várias disciplinas. O percurso
se da ampliação da jornada escolar, no espaço único da es- formativo deve, nesse sentido, ser aberto e contextualizado,
cola ou diferentes espaços educativos, nos quais a perma- incluindo não só os componentes curriculares centrais obri-
nência do estudante se liga tanto à quantidade e qualidade gatórios, previstos na legislação e nas normas educacionais,
do tempo diário de escolarização, quanto à diversidade de mas, também, conforme cada projeto escolar estabelecer,
atividades de aprendizagens. outros componentes flexíveis e variáveis que possibilitem
Assim, a qualidade da permanência em tempo integral percursos formativos que atendam aos inúmeros interesses,
do estudante nesses espaços implica a necessidade da in- necessidades e características dos educandos.
corporação efetiva e orgânica no currículo de atividades e Quanto à concepção e à organização do espaço cur-
estudos pedagogicamente planejados e acompanhados ao ricular e físico, se imbricam e se alargam, por incluir no
longo de toda a jornada. desenvolvimento curricular ambientes físicos, didático-pe-
No projeto nacional de educação, tanto a escola de dagógicos e equipamentos que não se reduzem às salas
tempo integral quanto a de tempo parcial, diante da sua de aula, incluindo outros espaços da escola e de outras
responsabilidade educativa, social e legal, assumem a instituições escolares, bem como os socioculturais e espor-
aprendizagem compreendendo- a como ação coletiva co- tivo-recreativos do entorno, da cidade e mesmo da região.
nectada com a vida, com as necessidades, possibilidades e Essa ampliação e diversificação dos tempos e espaços
interesses das crianças, dos jovens e dos adultos. O direito curriculares pressupõe profissionais da educação dispostos
de aprender é, portanto, intrínseco ao direito à dignidade a reinventar e construir essa escola, numa responsabilidade
humana, à liberdade, à inserção social, ao acesso aos bens compartilhada com as demais autoridades encarregadas
sociais, artísticos e culturais, significando direito à saúde da gestão dos órgãos do poder público, na busca de par-
em todas as suas implicações, ao lazer, ao esporte, ao res- cerias possíveis e necessárias, até porque educar é respon-
peito, à integração familiar e comunitária. sabilidade da família, do Estado e da sociedade.
Conforme o artigo 34 da LDB, o Ensino Fundamental A escola precisa acolher diferentes saberes, diferentes
incluirá, pelo menos, quatro horas de trabalho efetivo em manifestações culturais e diferentes óticas, empenhar-se
sala de aula, sendo progressivamente ampliado o período para se constituir, ao mesmo tempo, em um espaço de
de permanência na escola, até que venha a ser ministrado
heterogeneidade e pluralidade, situada na diversidade em
em tempo integral (§ 2º). Essa disposição, obviamente, só
movimento, no processo tornado possível por meio de re-
é factível para os cursos do período diurno, tanto é que o §
lações intersubjetivas, fundamentada no princípio eman-
1º ressalva os casos do ensino noturno.
cipador. Cabe, nesse sentido, às escolas desempenhar o
Os cursos em tempo parcial noturno, na sua maioria,
papel socioeducativo, artístico, cultural, ambiental, fun-
são de Educação de Jovens e Adultos (EJA) destinados,
damentadas no pressuposto do respeito e da valorização
mormente, a estudantes trabalhadores, com maior matu-
das diferenças, entre outras, de condição física, sensorial e
ridade e experiência de vida. São poucos, porém, os cursos
regulares noturnos destinados a adolescentes e jovens de socioemocional, origem, etnia, gênero, classe social, con-
15 a 18 anos ou pouco mais, os quais são compelidos ao texto sociocultural, que dão sentido às ações educativas,
estudo nesse turno por motivos de defasagem escolar e/ou enriquecendo-as, visando à superação das desigualdades
de inadaptação aos métodos adotados e ao convívio com de natureza sociocultural e socioeconômica.
colegas de idades menores. A regra tem sido induzi-los a Contemplar essas dimensões significa a revisão dos ritos
cursos de EJA, quando o necessário são cursos regulares, escolares e o alargamento do papel da instituição escolar e dos
com programas adequados à sua faixa etária, como, aliás, educadores, adotando medidas proativas e ações preventivas.
é claramente prescrito no inciso VI do artigo 4º da LDB: Na organização e gestão do currículo, as abordagens
oferta de ensino noturno regular, adequado às condições disciplinares, pluridisciplinar, interdisciplinar e transdisci-
do educando. plinar requerem a atenção criteriosa da instituição escolar,
porque revelam a visão de mundo que orienta as práticas
Formas para a organização curricular pedagógicas dos educadores e organizam o trabalho do
estudante. Perpassam todos os aspectos da organização
Retoma-se aqui o entendimento de que currículo é o escolar, desde o planejamento do trabalho pedagógico,
conjunto de valores e práticas que proporcionam a pro- a gestão administrativo-acadêmica, até a organização do
dução e a socialização de significados no espaço social e tempo e do espaço físico e a seleção, disposição e utiliza-
que contribuem, intensamente, para a construção de iden- ção dos equipamentos e mobiliário da instituição, ou seja,
tidades sociais e culturais dos estudantes. E reitera-se que todo o conjunto das atividades que se realizam no espaço
deve difundir os valores fundamentais do interesse social, escolar, em seus diferentes âmbitos. As abordagens multi-
dos direitos e deveres dos cidadãos, do respeito ao bem disciplinar, pluridisciplinar e interdisciplinar fundamentam-
comum e à ordem democrática, bem como considerar as se nas mesmas bases, que são as disciplinas, ou seja, o re-
condições de escolaridade dos estudantes em cada esta- corte do conhecimento.
belecimento, a orientação para o trabalho, a promoção de Para Basarab Nicolescu (2000, p. 17), em seu artigo
práticas educativas formais e não-formais. “Um novo tipo de conhecimento: transdisciplinaridade”, a
Na Educação Básica, a organização do tempo curricular disciplinaridade, a pluridisciplinaridade, a transdisciplinari-
deve ser construída em função das peculiaridades de seu dade e a interdisciplinaridade são as quatro flechas de um
meio e das características próprias dos seus estudantes, não único e mesmo arco: o do conhecimento.

12
POLÍTICAS PÚBLICAS DA EDUCAÇÃO

Enquanto a multidisciplinaridade expressa frações do agentes da arte de problematizar e interrogar, e buscam


conhecimento e o hierarquiza, a pluridisciplinaridade es- procedimentos interdisciplinares capazes de acender a
tuda um objeto de uma disciplina pelo ângulo de várias chama do diálogo entre diferentes sujeitos, ciências, sabe-
outras ao mesmo tempo. Segundo Nicolescu, a pesquisa res e temas.
pluridisciplinar traz algo a mais a uma disciplina, mas res- A prática interdisciplinar é, portanto, uma abordagem
tringe-se a ela, está a serviço dela. que facilita o exercício da transversalidade, constituindo-se
A transdisciplinaridade refere-se ao conhecimento pró- em caminhos facilitadores da integração do processo for-
prio da disciplina, mas está para além dela. O conhecimen- mativo dos estudantes, pois ainda permite a sua participa-
to situa-se na disciplina, nas diferentes disciplinas e além ção na escolha dos temas prioritários. Desse ponto de vis-
delas, tanto no espaço quanto no tempo. Busca a unidade ta, a interdisciplinaridade e o exercício da transversalidade
do conhecimento na relação entre a parte e o todo, entre ou do trabalho pedagógico centrado em eixos temáticos,
o todo e a parte. Adota atitude de abertura sobre as cultu- organizados em redes de conhecimento, contribuem para
ras do presente e do passado, uma assimilação da cultura que a escola dê conta de tornar os seus sujeitos conscientes
e da arte. O desenvolvimento da capacidade de articular de seus direitos e deveres e da possibilidade de se torna-
diferentes referências de dimensões da pessoa humana, de rem aptos a aprender a criar novos direitos, coletivamente.
seus direitos, e do mundo é fundamento básico da trans- De qualquer forma, esse percurso é promovido a partir da
disciplinaridade. De acordo com Nicolescu (p. 15), para os seleção de temas entre eles o tema dos direitos humanos,
adeptos da transdisciplinaridade, o pensamento clássico é recomendados para serem abordados ao longo do de-
o seu campo de aplicação, por isso é complementar à pes- senvolvimento de componentes curriculares com os quais
quisa pluri e interdisciplinar. A interdisciplinaridade pres- guardam intensa ou relativa relação temática, em função
supõe a transferência de métodos de uma disciplina para de prescrição definida pelos órgãos do sistema educativo
outra. ou pela comunidade educacional, respeitadas as caracterís-
Ultrapassa-as, mas sua finalidade inscreve-se no es- ticas próprias da etapa da Educação Básica que a justifica.
tudo disciplinar. Pela abordagem interdisciplinar ocorre Conceber a gestão do conhecimento escolar enrique-
a transversalidade do conhecimento constitutivo de dife- cida pela adoção de temas a serem tratados sob a pers-
rentes disciplinas, por meio da ação didáticopedagógica pectiva transversal exige da comunidade educativa clareza
mediada pela pedagogia dos projetos temáticos. Estes quanto aos princípios e às finalidades da educação, além
facilitam a organização coletiva e cooperativa do trabalho de conhecimento da realidade contextual, em que as esco-
pedagógico, embora sejam ainda recursos que vêm sen- las, representadas por todos os seus sujeitos e a sociedade,
do utilizados de modo restrito e, às vezes, equivocados. se acham inseridas. Para isso, o planejamento das ações
A interdisciplinaridade é, portanto, entendida aqui como pedagógicas pactuadas de modo sistemático e integrado é
abordagem teóricometodológica em que a ênfase incide pré-requisito indispensável à organicidade, sequencialida-
sobre o trabalho de integração das diferentes áreas do co- de e articulação do conjunto das aprendizagens perspecti-
nhecimento, um real trabalho de cooperação e troca, aber- vadas, o que requer a participação de todos. Parte-se, pois,
to ao diálogo e ao planejamento (Nogueira, 2001, p. 27). do pressuposto de que, para ser tratada transversalmente,
Essa orientação deve ser enriquecida, por meio de propos- a temática atravessa, estabelece elos, enriquece, comple-
ta temática trabalhada transversalmente ou em redes de menta temas e/ou atividades tratadas por disciplinas, eixos
conhecimento e de aprendizagem, e se expressa por meio ou áreas do conhecimento.
de uma atitude que pressupõe planejamento sistemático e Nessa perspectiva, cada sistema pode conferir à comu-
integrado e disposição para o diálogo. nidade escolar autonomia para seleção dos temas e deli-
A transversalidade é entendida como uma forma de mitação dos espaços curriculares a eles destinados, bem
organizar o trabalho didáticopedagógico em que temas, como a forma de tratamento que será conferido à transver-
eixos temáticos são integrados às disciplinas, às áreas di- salidade. Para que sejam implantadas com sucesso, é fun-
tas convencionais de forma a estarem presentes em todas damental que as ações interdisciplinares sejam previstas no
elas. A transversalidade difere-se da interdisciplinaridade e projeto político-pedagógico, mediante pacto estabelecido
complementam-se; ambas rejeitam a concepção de conhe- entre os profissionais da educação, responsabilizando-se
cimento que toma a realidade como algo estável, pronto pela concepção e implantação do projeto interdisciplinar
e acabado. A primeira se refere à dimensão didáticopeda- na escola, planejando, avaliando as etapas programadas e
gógica e a segunda, à abordagem epistemológica dos ob- replanejando-as, ou seja, reorientando o trabalho de todos,
jetos de conhecimento. A transversalidade orienta para a em estreito laço com as famílias, a comunidade, os órgãos
necessidade de se instituir, na prática educativa, uma ana- responsáveis pela observância do disposto em lei, princi-
logia entre aprender conhecimentos teoricamente sistema- palmente, no ECA.
tizados (aprender sobre a realidade) e as questões da vida Com a implantação e implementação da LDB, a expres-
real (aprender na realidade e da realidade). Dentro de uma são “matriz” foi adotada formalmente pelos diferentes sis-
compreensão interdisciplinar do conhecimento, a transver- temas educativos, mas ainda não conseguiu provocar am-
salidade tem significado, sendo uma proposta didática que pla e aprofundada discussão pela comunidade educacio-
possibilita o tratamento dos conhecimentos escolares de nal. O que se pode constatar é que a matriz foi entendida e
forma integrada. Assim, nessa abordagem, a gestão do co- assumida carregando as mesmas características da “grade”
nhecimento parte do pressuposto de que os sujeitos são burocraticamente estabelecida. Em sua história, esta rece-

13
POLÍTICAS PÚBLICAS DA EDUCAÇÃO

beu conceitos a partir dos quais não se pode considerar recursos tradicionais e por práticas de aprendizagem de-
que matriz e grade sejam sinônimas. Mas o que é matriz? E senvolvidas em ambiente virtual. Pressupõe compreender
como deve ser entendida a expressão “curricular”, se forem que se trata de aprender em rede e não de ensinar na rede,
consideradas as orientações para a educação nacional, pe- exigindo que o ambiente de aprendizagem seja dinamiza-
los atos legais e normas vigentes? do e compartilhado por todos os sujeitos do processo edu-
Se o termo matriz for concebido tendo como referên- cativo. Esses são procedimentos que não se confundem.
cia o discurso das ciências econômicas, pode ser apreendi- Por isso, as redes de aprendizagem constituem-se em
da como correlata de grade. Se for considerada a partir de ferramenta didáticopedagógica relevante também nos
sua origem etimológica, será entendida como útero (lugar programas de formação inicial e continuada de profissio-
onde o feto de desenvolve), ou seja, lugar onde algo é con- nais da educação.
cebido, gerado e/ou criado (como a pepita vinda da matriz) Esta opção requer planejamento sistemático integra-
ou, segundo Antônio Houaiss (2001, p. 1870), aquilo que é do, estabelecido entre sistemas educativos docentes como
fonte ou origem, ou ainda, segundo o mesmo autor, a casa infraestrutura favorável, prática por projetos, respeito ao
paterna ou materna, espaço de referência dos filhos, mes- tempo escolar, avaliação planejada, perfil do professor,
mo após casados. Admitindo a acepção de matriz como perfil e papel da direção escolar, formação do corpo do-
lugar onde algo é concebido, gerado ou criado ou como cente, valorização da leitura, atenção individual ao estu-
aquilo que é fonte ou origem, não se admite equivalên- dante, atividades complementares e parcerias.
cia de sentido, menos ainda como desenho simbólico ou Mas inclui outros aspectos como interação com as fa-
instrumental da matriz curricular com o mesmo formato mílias e a comunidade, valorização docente e outras medi-
e emprego atribuído historicamente à grade curricular. A das, entre as quais a instituição de plano de carreira, cargos
matriz curricular deve, portanto, ser entendida como algo e salários.
que funciona assegurando movimento, dinamismo, vida As experiências em andamento têm revelado êxitos e
curricular e educacional na sua multidimensionalidade, de desafios vividos pelas redes na busca da qualidade da edu-
tal modo que os diferentes campos do conhecimento pos- cação. Os desafios centram-se, predominantemente, nos
sam se coadunar com o conjunto de atividades educativas obstáculos para a gestão participativa, a qualificação dos
e instigar, estimular o despertar de necessidades e desejos funcionários, a integração entre instituições escolares de
nos sujeitos que dão vida à escola como um todo. A matriz diferentes sistemas educativos (estadual e municipal, por
curricular constitui-se no espaço em que se delimita o co- exemplo) e a inclusão de estudantes com deficiência. São
nhecimento e representa, além de alternativa operacional ressaltados, como pontos positivos, o intercâmbio de infor-
que subsidia a gestão de determinado currículo escolar, mações; a agilidade dos fluxos; os recursos que alimentam
subsídio para a gestão da escola (organização do tempo e relações e aprendizagens coletivas, orientadas por um pro-
espaço curricular; distribuição e controle da carga horária pósito comum: a garantia do direito de aprender.
docente) e primeiro passo para a conquista de outra forma Entre as vantagens, podem ser destacadas aquelas
de gestão do conhecimento pelos sujeitos que dão vida que se referem à multiplicação de aulas de transmissão em
ao cotidiano escolar, traduzida como gestão centrada na tempo real por meio de tele aulas, com elevado grau de
abordagem interdisciplinar. Neste sentido, a matriz curricu- qualidade e amplas possibilidades de acesso, em telessalas
lar deve se organizar por “eixos temáticos”, definidos pela ou em qualquer outro lugar, previamente preparado, para
unidade escolar ou pelo sistema educativo. acesso pelos sujeitos da aprendizagem; aulas simultâneas
Para a definição de eixos temáticos norteadores da para várias salas (e várias unidades escolares) com um pro-
organização e desenvolvimento curricular, parte-se do fessor principal e professores assistentes locais, combina-
entendimento de que o programa de estudo aglutina in- das com atividades on-line em plataformas digitais; aulas
vestigações e pesquisas sob diferentes enfoques. O eixo gravadas e acessadas a qualquer tempo e de qualquer
temático organiza a estrutura do trabalho pedagógico, li- lugar por meio da internet ou da TV digital, tratando de
mita a dispersão temática e fornece o cenário no qual são conteúdo, compreensão e avaliação dessa compreensão;
construídos os objetos de estudo. O trabalho com eixos e oferta de esclarecimentos de dúvidas em determinados
temáticos permite a concretização da proposta de trabalho momentos do processo didáticopedagógico.
pedagógico centrada na visão interdisciplinar, pois facilita
a organização dos assuntos, de forma ampla e abrangente, Formação básica comum e parte diversificada
a problematização e o encadeamento lógico dos conteú-
dos e a abordagem selecionada para a análise e/ou des- A LDB definiu princípios e objetivos curriculares gerais
crição dos temas. O recurso dos eixos temáticos propicia para o Ensino Fundamental e Médio, sob os aspectos:
o trabalho em equipe, além de contribuir para a supera- I – duração: anos, dias letivos e carga horária mínimos;
ção do isolamento das pessoas e de conteúdos fixos. Os II – uma base nacional comum;
professores com os estudantes têm liberdade de escolher III – uma parte diversificada.
temas, assuntos que desejam estudar, contextualizando-os Entende-se por base nacional comum, na Educação
em interface com outros. Básica, os conhecimentos, saberes e valores produzidos
Incide sobre a aprendizagem, subsidiada pela cons- culturalmente, expressos nas políticas públicas e que são
ciência de que o processo de comunicação entre estu- gerados nas instituições produtoras do conhecimento
dantes e professores é efetivado por meio de práticas e científico e tecnológico; no mundo do trabalho; no de-

14
POLÍTICAS PÚBLICAS DA EDUCAÇÃO

senvolvimento das linguagens; nas atividades desportivas Correspondendo à base nacional comum, ao longo do
e corporais; na produção artística; nas formas diversas e processo básico de escolarização, a criança, o adolescente,
exercício da cidadania; nos movimentos sociais, definidos o jovem e o adulto devem ter oportunidade de desenvol-
no texto dessa Lei, artigos 26 e 33 , que assim se traduzem: ver, no mínimo, habilidades segundo as especificidades de
I – na Língua Portuguesa; cada etapa do desenvolvimento humano, privilegiando- se
II – na Matemática; os aspectos intelectuais, afetivos, sociais e políticos que se
III – no conhecimento do mundo físico, natural, da rea- desenvolvem de forma entrelaçada, na unidade do proces-
lidade social e política, especialmente do Brasil, incluindo- so didático.
se o estudo da História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena, Organicamente articuladas, a base comum nacional e a
IV – na Arte em suas diferentes formas de expressão,
parte diversificada são organizadas e geridas de tal modo
incluindo-se a música;
que também as tecnologias de informação e comunicação
V – na Educação Física;
perpassem transversalmente a proposta curricular desde a
VI – no Ensino Religioso.
Tais componentes curriculares são organizados pelos Educação Infantil até o Ensino Médio, imprimindo direção
sistemas educativos, em forma de áreas de conhecimento, aos projetos político-pedagógicos. Ambas possuem como
disciplinas, eixos temáticos, preservando-se a especifici- referência geral o compromisso com saberes de dimensão
dade dos diferentes campos do conhecimento, por meio planetária para que, ao cuidar e educar, seja possível à es-
dos quais se desenvolvem as habilidades indispensáveis ao cola conseguir:
exercício da cidadania, em ritmo compatível com as etapas I – ampliar a compreensão sobre as relações entre o
do desenvolvimento integral do cidadão. indivíduo, o trabalho, a sociedade e a espécie humana,
A parte diversificada enriquece e complementa a base seus limites e suas potencialidades, em outras palavras, sua
nacional comum, prevendo o estudo das características re- identidade terrena;
gionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e II – adotar estratégias para que seja possível, ao longo
da comunidade escolar. Perpassa todos os tempos e es- da Educação Básica, desenvolver o letramento emocional,
paços curriculares constituintes do Ensino Fundamental e social e ecológico; o conhecimento científico pertinente
do Médio, independentemente do ciclo da vida no qual os aos diferentes tempos, espaços e sentidos; a compreensão
sujeitos tenham acesso à escola. É organizada em temas do significado das ciências, das letras, das artes, do esporte
gerais, em forma de áreas do conhecimento, disciplinas, e do lazer;
eixos temáticos, selecionados pelos sistemas educativos e
III – ensinar a compreender o que é ciência, qual a sua
pela unidade escolar, colegiadamente, para serem desen-
história e a quem ela se destina;
volvidos de forma transversal. A base nacional comum e a
IV – viver situações práticas a partir das quais seja
parte diversificada não podem se constituir em dois blocos
distintos, com disciplinas específicas para cada uma dessas possível perceber que não há uma única visão de mundo,
partes. portanto, um fenômeno, um problema, uma experiência
A compreensão sobre base nacional comum, nas suas podem ser descritos e analisados segundo diferentes pers-
relações com a parte diversificada, foi objeto de vários pa- pectivas e correntes de pensamento, que variam no tempo,
receres emitidos pelo CNE, cuja síntese se encontra no Pa- no espaço, na intencionalidade;
recer CNE/CEB nº 14/2000, da lavra da conselheira Edla de V – compreender os efeitos da “infoera”, sabendo que
Araújo Lira Soares. Após retomar o texto dos artigos 26 e estes atuam, cada vez mais, na vida das crianças, dos ado-
27 da LDB, a conselheira assim se pronuncia: lescentes e adultos, para que se reconheçam, de um lado,
(…) a base nacional comum interage com a parte di- os estudantes, de outro, os profissionais da educação e a
versificada, no âmago do processo de constituição de família, mas reconhecendo que os recursos midiáticos de-
conhecimentos e valores das crianças, jovens e adultos, vem permear todas as atividades de aprendizagem.
evidenciando a importância da participação de todos os Na organização da matriz curricular, serão observados
segmentos da escola no processo de elaboração da pro- os critérios:
posta da instituição que deve nos termos da lei, utilizar a I – de organização e programação de todos os tempos
parte diversificada para enriquecer e complementar a base (carga horária) e espaços curriculares (componentes), em
nacional comum.
forma de eixos, módulos ou projetos, tanto no que se re-
(…) tanto a base nacional comum quanto a parte diver-
fere à base nacional comum, quanto à parte diversificada,
sificada são fundamentais para que o currículo faça sentido
sendo que a definição de tais eixos, módulos ou projetos
como um todo.
Cabe aos órgãos normativos dos sistemas de ensino deve resultar de amplo e verticalizado debate entre os ato-
expedir orientações quanto aos estudos e às atividades cor- res sociais atuantes nas diferentes instâncias educativas;
respondentes à parte diversificada do Ensino Fundamental II – de duração mínima anual de 200 (duzentos) dias
e do Médio, de acordo com a legislação vigente. Segundo letivos, com o total de, no mínimo, 800 (oitocentas) horas,
a LDB, os currículos do ensino médio incluirão, obrigatoria- recomendada a sua ampliação, na perspectiva do tempo
mente, o estudo da língua inglesa e poderão ofertar outras integral, sabendo-se que as atividades escolares devem ser
línguas estrangeiras, em caráter optativo, preferencialmen- programadas articulada e integradamente, a partir da base
te o espanhol, de acordo com a disponibilidade de oferta, nacional comum enriquecida e complementada pela parte
locais e horários definidos pelos sistemas de ensino. diversificada, ambas formando um todo;

15
POLÍTICAS PÚBLICAS DA EDUCAÇÃO

III – da interdisciplinaridade e da contextualização, que


devem ser constantes em todo o currículo, propiciando a 4. POLÍTICAS EDUCACIONAIS COMO
interlocução entre os diferentes campos do conhecimen- POLÍTICAS PÚBLICAS DE NATUREZA SOCIAL.
to e a transversalidade do conhecimento de diferentes
disciplinas, bem como o estudo e o desenvolvimento de
projetos referidos a temas concretos da realidade dos es-
tudantes; Políticas educacionais e Direito à Educação
IV – da destinação de, pelo menos, 20% do total da
carga horária anual ao conjunto de programas e projetos Da forma que modernamente se configurou, o direi-
interdisciplinares eletivos criados pela escola, previstos no to à educação pode ser traduzido basicamente em dois
projeto pedagógico, de modo que os sujeitos do Ensino aspectos: a oportunidade de acesso e a possibilidade de
Fundamental e Médio possam escolher aqueles com que permanência na escola, mediante educação com nível de
se identifiquem e que lhes permitam melhor lidar com o qualidade semelhante para todos. O direito à educação
conhecimento e a experiência. Tais programas e projetos traz uma potencialidade emancipadora do ponto de vista
devem ser desenvolvidos de modo dinâmico, criativo e fle- individual e igualitária do ponto de vista social, visto que
xível, em articulação com a comunidade em que a escola
a sua afirmação parte do pressuposto que a escolarização
esteja inserida;
é niveladora das desigualdades do ponto de partida. Com
V – da abordagem interdisciplinar na organização e
base nisso, a partir de 1917, a escolarização foi transforma-
gestão do currículo, viabilizada pelo trabalho desenvolvido
coletivamente, planejado previamente, de modo integrado da em responsabilidade estatal e social pela maioria dos
e pactuado com a comunidade educativa; países mediante inscrição em textos constitucionais.
VI – de adoção, nos cursos noturnos do Ensino Funda- Contudo, não se pode confundir a existência de esco-
mental e do Médio, da metodologia didáticopedagógica las públicas com o direito à educação. O direito à educa-
pertinente às características dos sujeitos das aprendiza- ção pressupõe o papel ativo e responsável do Estado tanto
gens, na maioria trabalhadores, e, se necessário, sendo al- na formulação de políticas públicas para a sua efetivação,
terada a duração do curso, tendo como referência o míni- quanto na obrigatoriedade de oferecer ensino com iguais
mo correspondente à base nacional comum, de modo que possibilidades para todos. Quando o Estado generaliza a
tais cursos não fiquem prejudicados; oferta de escolas de ensino fundamental, tem o poder de
VII – do entendimento de que, na proposta curricular, responsabilizar os indivíduos e/ou seus pais pela frequência.
as características dos jovens e adultos trabalhadores das Portanto, o direito à educação, diferentemente dos de-
turmas do período noturno devem ser consideradas como mais direitos sociais, está estreitamente vinculado à obri-
subsídios importantes para garantir o acesso ao Ensino gatoriedade escolar. Isso porque, enquanto os cidadãos
Fundamental e ao Ensino Médio, a permanência e o suces- podem escolher entre fazer uso ou não dos demais direitos
so nas últimas séries, seja em curso de tempo regular, seja sociais, a educação é obrigatória porque se entende que
em curso na modalidade de Educação de Jovens e Adultos, as crianças não se encontram em condições de negociar se
tendo em vista o direito à frequência a uma escola que lhes querem ou não recebê-la e de que forma. Paradoxalmen-
dê uma formação adequada ao desenvolvimento de sua te, a educação é ao mesmo um direito e uma obrigação.
cidadania; Assim, o direito de não fazer uso dos serviços educacio-
VIII – da oferta de atendimento educacional especia- nais não está colocado como possibilidade e a perspectiva
lizado, complementar ou suplementar à formação dos es- emancipadora não está colocada como ponto de partida e,
tudantes público-alvo da Educação Especial, previsto no sim, como ponto de chegada. Daí a relação estreita entre
projeto político-pedagógico da escola. direito à educação e educação obrigatória.
A organização curricular assim concebida supõe ou-
No Brasil o processo de afirmação dos direitos de cida-
tra forma de trabalho na escola, que consiste na seleção
dania (ainda inconcluso) irá conferir um grau maior de am-
adequada de conteúdos e atividades de aprendizagem, de
biguidade nas medidas de proclamação e de implementa-
métodos, procedimentos, técnicas e recursos didático-pe-
dagógicos. A perspectiva da articulação interdisciplinar é ção do direito à educação, uma vez que apenas a partir de
voltada para o desenvolvimento não apenas de conheci- 1988 uma concepção universalista dos direitos sociais foi
mentos, mas também de habilidades, valores e práticas. incorporada ao sistema normativo brasileiro e que o pro-
Considera, ainda, que o avanço da qualidade na edu- cesso de afirmação dos direitos no país foi assinalado pela
cação brasileira depende, fundamentalmente, do compro- defasagem entre os princípios igualitários proclamados na
misso político, dos gestores educacionais das diferentes lei e a realidade de desigualdade e de exclusão.
instâncias da educação, do respeito às diversidades dos Essa introdução tardia da concepção universalista dos
estudantes, da competência dos professores e demais direitos sociais guarda relação com a não institucionaliza-
profissionais da educação, da garantia da autonomia res- ção de uma esfera pública democrática, pois os ideais de
ponsável das instituições escolares na formulação de seu igualdade e justiça eram e ainda são introduzidos numa so-
projeto político-pedagógico que contemple uma proposta ciedade marcada por relações verticalizadas e autoritárias
consistente da organização do trabalho. e, portanto, fraturada internamente por suas contradições.
Além disso, o ideal emancipador e igualitário do di-
Fonte: BRASIL. Diretrizes Curriculares Nacionais Da reito à educação também foi mitigado pelas próprias rela-
Educação Básica, 2013. ções que se estabeleceram na dinâmica interna da escola,

16
POLÍTICAS PÚBLICAS DA EDUCAÇÃO

já muitas vezes denunciadas como reprodutoras das desi- à forma quanto em relação ao conteúdo. Também é inegável
gualdades sociais e como inculcadoras dos valores e inte- que o Brasil acompanhou a tendência mundial pela demanda
resses das classes sociais que detêm o poder econômico e por educação a partir da década de 1940 com processo sig-
político. As práticas curriculares, avaliativas e de gestão das nificativo de expansão das oportunidades de escolarização.
escolas brasileiras vêm, ao longo da história, corroborando Apesar disso, no sistema normativo brasileiro, o direito
um contexto de exclusão de um enorme contingente de à educação correspondeu à obrigatoriedade escolar como
brasileiros da plenitude de significado do direito à educa- imposição ao indivíduo e não como responsabilidade es-
ção composto pelo acesso, pela permanência e pela quali- tatal. Mesmo, quando se tornou responsabilidade estatal
dade para todos. não havia uma concepção universalista que lhe servisse de
Primeiramente pela dificuldade de acesso, quando não base. Só a partir de 1988, ao direito à educação por parte
havia acesso à educação obrigatória para a maioria dos do indivíduo, correspondeu à obrigatoriedade de oferecer
brasileiros; depois, quando houve a ampliação do aces- educação por parte do Estado e só muito recentemente o
so por volta dos anos 1970, pelos mecanismos que leva- Brasil atingiu índices de escolarização obrigatória alcança-
vam à reprovação de grande contingente de alunos que dos por muitos países europeus desde o início da segunda
superavam a barreira do ingresso na etapa obrigatória de metade do século XX.
escolarização e; atualmente, com a quase universalização Assim, após mais de um século de história constitucio-
da oferta da etapa obrigatória de escolarização, o direito nal, é que o país terá, no nível dos valores proclamados, o
à educação vem sendo mitigado com a baixa qualidade direito à educação inscrita a partir de uma lógica mais uni-
do ensino oferecido pelas escolas, que faz com que mui- versalista, fazendo frente ao longo trajeto de iniquidades
tos alunos percorram todas as séries do ensino fundamen- e privilégios na oferta da instrução elementar. De 1824 até
tal, mas não se apropriem do instrumental mínimo para o 1988, as inscrições do direito à educação nos textos cons-
exercício da cidadania num contexto em que o letramento titucionais eram assinaladas por uma concepção de que o
é condição mínima para inserção social. mínimo era o bastante.
Se, no Brasil, não podemos falar de direitos como nor- Dessa forma, se o direito pode ser definido como ti-
mas de civilidade nas relações sociais mediante os pressu- pificação e definição de responsabilidade, bem como por
postos da igualdade e da reciprocidade, podemos afirmar relações sociais pautadas pela igualdade e pela reciproci-
que esse ideal sempre esteve no horizonte político como dade, na educação brasileira só houve ruptura na racionali-
campo de referência para as lutas pela cidadania. dade jurídica a partir de 1988.
Apesar de os direitos sociais terem sido inscritos no Apesar de essa ruptura na racionalidade jurídica cons-
sistema normativo brasileiro desde a década de 1930, essa tituir grande avanço no campo do direito à educação, o
inscrição se deu desde uma perspectiva classista no contex- desafio que está colocado é a ruptura na racionalidade po-
to do Estado corporativo inaugurado por Getúlio Vargas. lítica da sociedade em geral e dos trabalhadores em edu-
Disso resulta a íntima relação entre os direitos sociais e o cação, uma vez que até mesmo nas instituições de ensino a
mundo do trabalho regulado e a exclusão de amplos con- educação não se configurou como direito entendido como
tingentes da população brasileira (empregadas domésticas medida que opera a passagem para a igualdade no plano
e trabalhadores rurais, por exemplo) das garantias sociais. das relações sociais.
E é justamente esse campo de referência do possível Com efeito, ao lado do tardio surgimento de uma con-
que nos coloca o problema complexo da relação entre cepção mais universalista do direito à educação nos textos
o projeto brasileiro de modernização e os princípios da constitucionais, a dinâmica de expansão da escolarização
igualdade e da responsabilidade social como chaves de obrigatória foi refreada, até a década de 1960, por meca-
compreensão para a questão da cidadania no Brasil e, mais nismos de seleção nas instituições escolares. Mantínhamos
ainda, nos desafia a entender “se” e “como” circulam so- uma escola “de” e “para” as elites que tinham objetivos
cialmente os direitos conquistados nos embates travados convergentes com os da escola: buscava-se prestígio, in-
nesses campos nas últimas décadas, como é o caso das ga- serção no mercado de trabalho e ascensão social. Dessa
rantias constitucionais de 1988, ou mais especificamente, forma, o acesso à educação era fator de diferenciação so-
“se” e “como” o direito tem se configurado como mediação cial, pois mediante rigorosos mecanismos de seleção e en-
jurídica e política nas relações sociais. sino propedêutico voltado para o acesso a níveis superio-
De início, é preciso destacar que a expansão das opor- res de educação ou para postos mais elevados no mercado
tunidades de escolarização no Brasil foi assinalada por uma de trabalho eram “eleitos” aqueles que seriam incluídos
ambiguidade fundamental: ao mesmo tempo em que havia nos demais direitos de cidadania.
um reconhecimento, no nível do discurso, da educação es- O crescimento da população urbana e a industrializa-
colar como fator importante para o desenvolvimento eco- ção do país a partir da década de 1940 contribuíram para
nômico e social, ou seja, como projeto civilizador, o direito o aumento das pressões sociais por expansão das oportu-
ao acesso e à permanência na escola elementar era negado nidades de escolarização. Essas demandas por ampliação
tanto pelo sistema normativo, quanto pelos mecanismos das oportunidades de escolarização, ainda que atendidas
de seleção intra e extraescolares. de forma precária nos marcos do populismo, interferiram
É inegável que, pelo menos desde 1934, o sistema nor- na ação estatal no sentido da efetivação do princípio da
mativo brasileiro inscreveu a educação como direito e que igualdade de oportunidade para o acesso nas décadas se-
os avanços dessa inscrição foram notáveis tanto em relação guintes.

17
POLÍTICAS PÚBLICAS DA EDUCAÇÃO

Contudo, foi entre as décadas de 1970 e 1990 que NÍVEL DO ESPAÇO SOCIAL: A DIMENSÃO SOCIOE-
houve um aumento expressivo no número de matrículas na CONÔMICA E CULTURAL DOS ENTES ENVOLVIDOS
etapa obrigatória de escolarização. Mas outras formas de
exclusão assumiram a posição central no processo de esco- Uma compreensão mais aprofundada da ideia de uma
larização nas décadas de 1970 e 1980: os próprios procedi- escola de qualidade não pode perder de vista o nível do
mentos internos da escola, sua estrutura e funcionamento, espaço social, ou melhor, a dimensão socioeconômica e
que conduziam à elitização do ensino, não mais por falta de cultural, uma vez que o ato educativo escolar se dá em um
vagas ou mecanismos de seleção, mas mediante a produção contexto de posições e disposições no espaço social (em
conformidade com o acúmulo de capital econômico, social
do fracasso escolar (repetência, evasão) como fator de dife-
e cultural dos sujeitos-usuários da escola), de heteroge-
renciação entre os merecedores e os não merecedores do
neidade e pluralidade sociocultural, de problemas sociais
acesso ao saber historicamente construído.
refletidos na escola, tais como: fracasso escolar, desvalori-
Na década de 1990 assistimos a um processo de ex- zação social dos segmentos menos favorecidos, incluindo
pansão das oportunidades de escolarização, em que esses a autoestima dos alunos etc.
mecanismos internos de exclusão por parte da escola foram Pesquisas e estudos do campo educacional eviden-
amenizados (democraticamente ou não) por políticas de ciam o peso de variáveis como: capital econômico, social e
regularização do fluxo (ciclos, progressão continuada, ace- cultural (das famílias e dos alunos) na aprendizagem esco-
leração da aprendizagem). Porém, novamente, “estratégias” lar e na trajetória escolar e profissional dos estudantes. De
de exclusão foram criadas pela dinâmica interna da escola: modo geral, pode-se afirmar que o nível de renda, o acesso
os alunos percorrem todas as séries ou todos os ciclos do a bens culturais e tecnológicos, como a Internet, a escola-
ensino fundamental sem se apropriar de um instrumental rização dos pais, os hábitos de leitura dos pais, o ambiente
mínimo necessário para a inserção social. familiar, a participação dos pais na vida escolar do aluno, a
imagem de sucesso ou fracasso projetada no estudante, as
Esses mecanismos internos de exclusão forjados no in- atividades extracurriculares, dentre outras, interferem sig-
terior das práticas educativas precisam ser superados para a nificativamente no desempenho escolar e no sucesso dos
ruptura da racionalidade política dos trabalhadores em edu- alunos.
cação, uma vez que a defesa da educação como direito não Em muitas situações, os determinantes sócio-econômi-
significa a sua consolidação no campo das representações co-culturais são naturalizados em nome da ideologia das
capacidades e dons naturais, o que reforça uma visão de
sociais. Do lado da sociedade, a ruptura da racionalidade po-
que a trajetória do aluno, em termos de sucesso ou fracas-
lítica, deve passar, necessariamente, pela aceitação, circula-
so, decorre das suas potencialidades naturais. Essa visão
ção social e defesa nos fóruns apropriados dos mecanismos social é, muitas vezes, reforçada na escola e, sobretudo,
jurídicos que assegurem não só vagas, mas também quali- na sala de aula, ampliando o processo de exclusão dos já
dade de ensino nas escolas públicas, além da superação da excluídos socialmente, seja pela etnia, raça, classe social,
resistência aos direitos assegurados no Estatuto da Criança capital econômico, social e cultural, religião, dentre outros.
e do Adolescente, tido, muitas vezes por professores e pais Estudos mostram que até mesmo a visão que se tem
como um instrumento que elimina a autoridade paterna ou da escola na comunidade e no sistema educativo, e que
docente, ao proibir o trabalho infantil ou ao proteger o alu- leva os usuários à escolha da escola e mantém motivações
no das relações de poder estabelecidas na dinâmica interna para sua permanência, influencia na aprendizagem e na
das práticas escolares. produção de uma escola de qualidade social para todos.
Se por um lado, hoje a educação é proclamada como Isso também acaba contribuindo na expectativa de apren-
direito do cidadão e dever do Estado e estamos, segundo o dizagem na escola pelos professores, pais e alunos, que
discurso oficial, muito próximos da universalização do aces- aceitam como normal e natural um determinado padrão de
so no ensino fundamental, por outro lado, as representações aprendizagem para parte dos estudantes.
sociais estão muito distantes das promessas de emancipa- De modo geral, a criação de condições, dimensões e
ção e de igualdade que estão na base do direito à educação. fatores para a oferta de um ensino de qualidade social tam-
Dessa forma, a ruptura dessa racionalidade política ex- bém esbarram em uma realidade marcada pela desigual-
dade sócio-econômica-cultural das regiões, localidades,
cludente é o grande desafio histórico para esse século no
segmentos sociais e dos sujeitos envolvidos, sobretudo
que diz respeito à educação obrigatória e, se temos a defi-
dos atuais sujeitos-usuários da escola pública, o que exige
nição jurídica da questão da responsabilidade social com a
o reconhecimento de que a qualidade da escola seja uma
educação, ainda há um longo percurso quanto às represen- qualidade social, uma qualidade capaz de promover uma
tações sociais sobre os valores do direito, da igualdade e da atualização histórico-cultural em termos de uma formação
inclusão. sólida, crítica, ética e solidária, articulada com políticas pú-
blicas de inclusão e de resgate social.
Referência: Portanto, a produção de qualidade da educação, sob o
ARAUJO, G. C. Estado, política educacional e direito à ponto de vista extraescolar, implica, por um lado, em po-
educação no Brasil. Educar em Revista, Curitiba, Brasil, n. 39, líticas públicas, programas compensatórios e projetos es-
p. 279-292, jan./abr. 2011. Editora UFPR colares e extraescolares para enfrentamento de questões

18
POLÍTICAS PÚBLICAS DA EDUCAÇÃO

como: fome, violência, drogas, sexualidade, desestrutura- O neoliberalismo defende a não participação do esta-
ção familiar, trabalho infantil, racismo, transporte escolar, do na economia. No discurso neoliberal a educação como
acesso à cultura, saúde e lazer, dentre outros, consideran- um todo passa a ingressar no mercado capitalista funcio-
do-se as especificidades de cada país e sistema educacio- nando logo a sua semelhança, deixando-se assim de ser
nal. Por outro lado, implica em efetivar uma visão demo- parte do campo social e político, os conteúdos políticos
crática da educação como direito e bem social, que deve da cidadania, foi substituído pelos direitos do consumidor.
expressar-se por meio de um trato escolar pedagógico que Daí a visão neoliberal de que os pais e alunos são consu-
ao considerar a heterogeneidade sociocultural dos sujeitos midores.
-alunos seja capaz de implementar processos formativos Sonia Marrach (1996) explica que a retórica neoliberal,
emancipatórios. atribui um papel estratégico para a educação com três ob-
Tão perspectiva, na direção do enfretamento dos pro- jetivos basicamente; preparação para o trabalho atrelado
blemas advindos do espaço social, deve materializar-se, a educação escolar e a pesquisa acadêmica ao imperati-
por um lado, no projeto da escola por intermédio da cla- vo do mercado. Assegura que o mundo empresarial tem
ra definição dos fins da educação escolar, da identificação interesse na educação por que deseja uma mão de obra
de conteúdos e conceitos relevantes no processo ensi- qualificada, apta para a competição no mercado. Valoriza
no-aprendizagem, da avaliação processual voltada para a as técnicas de organização, capacidade de trabalho coope-
correção de problemas que obstacularizam uma aprendi- rativo e o raciocínio de dimensão estratégica.
zagem significativa, da utilização intensa e adequada dos O que está em questão é a adequação da escola a ideo-
recursos pedagógicos, do envolvimento da comunidade logia dominante, afirma Marrach (1996) que torna a escola
escolar e, sobretudo, do investimento na qualificação e va- um meio de transmissão de seus princípios doutrinários, e
lorização da força de trabalho docente, seja por meio da cita ainda que a realidade simbólica ela é de fato constituí-
formação inicial seja por meio da formação continuada. da pelos meios de comunicação de massas e que a escola
Por outro lado, faz-se necessário implementar políti- também é responsável pela expansão da ideologia oficial.
cas públicas e, dentre essas, políticas sociais ou progra- No neoliberalismo pais e alunos são consumidores da
mas compensatórios que possam colaborar efetivamente educação, dessa forma ocorrerá uma competição para a
no enfrentamento dos problemas sócioeconômico-cultu- melhor oferta educacional entre as escolas. Marrach afir-
rais que adentram a escola pública. Nessa perspectiva, a ma também que o banco mundial recomenda que se re-
melhoria da qualidade do processo ensino-aprendizagem duzam os investimentos na educação pública, para que os
deve envolver os diferentes setores a partir de uma con- pais procurem escolas privadas que possam garantir um
cepção ampla de educação envolvendo cultura, esporte e bom ensino para seus filhos, aproximando assim a ideia de
lazer, ciência e tecnologia. Ou seja, é necessário avançar escola como uma empresa. Outro ponto que é nítido é a
para uma dimensão de uma sociedade educadora, onde a transformação dos problemas educacionais em problemas
escola cumpre a sua tarefa em estreita conexão com ou- mercadológicos.
tros espaços de socialização e de formação do indivíduo Com a participação do banco mundial na política edu-
garantindo condições econômicas, sociais e culturais, bem cacional foi proposto aos países em desenvolvimento in-
como financiamento adequado à socialização dos proces- clusive o Brasil um pacote de reformas educativas, também
sos de acesso e de permanência de todos os segmentos foi propalado soluções consideradas cabíveis no que diz
a educação básica (de zero a 17 anos), entendida como respeito a educação para os países em desenvolvimento
direito social. pelos organismos internacionais, além do Banco Mundial
foram os: fundo monetário internacional(FMI), banco inter-
Referência: nacional de reconstrução e desenvolvimento (BIRD), ban-
Disponível em: http://escoladegestores.virtual.ufc.br/ co interamericano de desenvolvimento ( BID),organização
PDF/sala4_leitura2.pdf mundial do comercio (OMC), programa para as nações
unidas para o desenvolvimento (PNUD), comissão eco-
nômica para a América latina Caribe (CEPAL), associação
5. REFORMAS NEOLIBERAIS PARA latino americana para o desenvolvimento industrial e social
A EDUCAÇÃO. 5.1 IMPLICAÇÕES (ALADIS).
A partir desses organismos internacionais, em uma
DAS POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A
conferência mundial de educação para todos (1990), foi
ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO ESCOLAR. acordado que a educação básica de qualidade seria prio-
ridade.
Para essas organizações, a educação básica deveria
A INFLUÊNCIA NEOLIBERAL NA EDUCAÇÃO BRASI- dar conta de atender as necessidades básicas da educação.
LEIRA Logo visando com isso as seguintes questões; a redução da
pobreza, ao aumento da produtividade de trabalhadores,
Como podemos analisar, a influência neoliberal tem melhoria da saúde, redução da fecundidade. Ou seja, com
sido muito forte no Brasil, consequentemente a educação a educação básica pretendida contribuiria para a formação
foi e ainda é um alvo de extrema importância para a disse- do sujeito mais adaptável a nova demanda de mercado
minação em massa desses ideais neoliberais. globalizado.

19
POLÍTICAS PÚBLICAS DA EDUCAÇÃO

Doravante é notório observar paulatinamente que a A lei de diretrizes e bases da educação nacional, foi
intervenção nas políticas educacionais por esses organis- sancionada pelo presidente da república em 20 de de-
mos evidencia de forma clara a expansão das políticas mais zembro de 1996 (lei 9.394) e publicada no diário oficial da
convenientes aos interesses do capital internacional. Sen- união, uma nova lei de educação que objetivou a aquisição
do assim a educação na sociedade neoliberal tem como de novas competências e habilidades pelos indivíduos.
principal o papel de reproduzir a força de trabalho para Bianchetti (2005) afirma que o primeiro ponto crucial
o capital, formando individuo ideologicamente conforme é a descentralização de poderes e da responsabilidade
os interesses do mesmo, sendo explorado comercialmente atribuídas, onde a lei aponta que o ensino fundamental é
pelo setor privado. prioridade de responsabilidade do estado e municípios. E
A modernização em curso pretende reformar o es- a educação infantil como responsabilidade dos municípios,
tado para transformá-la em estado mínimo desenvolver a supondo dessa forma que as escolas tornar-se-iam mais
economia, fazer a reforma educacional e aumentar o poder sensíveis à dinâmica do mercado.
da iniciativa privada.
No Brasil, a modernização neoliberal assim como as O desaparecimento de um poder centralizador per-
mitia que a maioria das atividades de serviços do governo
anteriores não toca na estrutura piramidal da sociedade.
poderia ser delegada vantajosamente a autoridades regio-
Apenas amplia sua verticalidade, que se nota pelo aumento
nais ou locais, totalmente limitadas em seus poderes coer-
do número de desempregados, de moradores de rua, de
citivos pelas regras ditadas por uma autoridade legislativa
mendigo e etc..., em outras palavras, a pirâmide social se
superior.
mantém e as desigualdades sociais crescem. Para a edu- Doravante esta autonomia é apenas administrativa, as
cação o discurso neoliberal parece propor um tecnicismo avaliações, os livros didáticos, os currículos, os programas,
reformado. Os problemas sociais, econômicos, políticos e os conteúdos, os cursos de formação e fiscalização conti-
culturais da educação se convertem em problemas admi- nuam sendo centralizados, porém se torna também des-
nistrativos, técnicos de reengenharia. A escola ideal deve centralizado quando se refere a questão financeira.
ter gestão eficiente para competir no mercado. O aluno Essa estratégia de des-responsabilizaçao do estado
se transforma em consumidor do ensino e o professor um para com a educação, esta cada vez mais contribuindo para
funcionário treinado e competente para preparar seus alu- a redução da ofertas dos serviços educacionais ao povo
nos para o mercado de trabalho e para fazer pesquisas prá- brasileiro.
ticas e utilitárias a curto prazo. Neste contexto, a proposta educativa referendada pela
A partir das colocações de Marrach (1996), Podemos lei máxima da educação em nosso país tem provocado a
entender que, além de querer diminuir a responsabilidade desestrutura do sistema educativo público e estimulando
do estado, o neoliberalismo mantém um caráter meritocrá- assim a privatização do ensino de forma competitiva.
tico no ensino, por trás da ideia de competitividade e livre Uma vez que ao ser transferida para a esfera do merca-
escolha entre as várias opções de mercado. do, a educação deixa de ser direito universal e passa a ser
As propostas neoliberais com relação a educação se- condição de privilegio, tornando-se seletiva e excludente.
guem a lógica de mercado, restringindo a ação do estado Quando o estado começa a compartilhar as responsa-
a garantia da educação básica e deixando os outros níveis bilidades pela educação com a iniciativa privada, ela rea-
sujeitos as leis de oferta e procura. firma que a educação é uma questão pública, mas não é
Os sinais da influência neoliberal na educação, foram necessariamente estatal.
mais evidenciadas a partir da década de 60, pois deu iní-
cio ao processo de privatização da educação com a cola- Lei federal n◦ 9.394/ 1996 lei de diretrizes e bases da
boração dos agentes do golpe de 64 cujo tinham afinida- educação nacional.
des ideológicas com os grupos que defenderam a LDB de
Art.2◦ A educação, dever da família e do estado, inspi-
orientação privatista e que deram origem a lei n◦ 4.024/61.
rada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidarieda-
Após 64 o ensino privado cresceu teve uma expansão
de humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do
considerável. A primeira LDB favorecia os interesses priva-
educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua
dos onde permitia que em níveis federais e estaduais os
qualificação para o trabalho.
empresários da educação ocupassem cargos nos conselhos Art 7◦ O ensino é livre a iniciativa privada, atendidas as
da educação. seguintes condições:
Com o esgotamento do regime militar e a crise da dé- I- Cumprimento das normas gerais da educação na-
cada de 80 a ideologia privatista ganha força, o privado cional e do respectivo sistema de ensino;
inclui na lógica neoliberal a administração do ensino, tra- II- Autorização de funcionamento e avaliação de qua-
çando com alternativas o recebimento de subsídios gover- lidade pelo poder público;
namentais para o seu empreendimento. III- Capacidade de autofinanciamento ressalvado e
Cabe neste momento de discussão nos perguntarmos; previsto no art.213 da constituição federal.
a ideias neoliberais na LDB? A resposta é sim, pode-se per- Art 19◦ As instituições de ensino dos diferentes níveis
ceber de forma muito clara essa influência, alguns pontos classificam-se nas seguintes categorias administrativas: (re-
são relevantes quando nos dispomos a analisar a LDB. gulamento)

20
POLÍTICAS PÚBLICAS DA EDUCAÇÃO

I- Publicas, assim entendidas as criadas ou incorpora- A criação da educação a distância, a instalação de apa-
das, mantidas e administrada pelo poder público; relhos de tv em cada escola, 58 milhões de livros didáti-
II- Privadas, assim entendidas as mantidas e adminis- cos distribuídos anualmente para as escolas, a reforma do
tradas por pessoas físicas ou jurídicas de direito privado. currículo e a avaliação das escolas por meio de testes com
premiação à aquela com maior desempenho, são medidas
Essas entre outras leis fazem parte da organização que pretendem adequar o Brasil a nova ordem.
educacional com ideias neoliberais para com a sua formu- O art. 21 da LDB cria uma nova estrutura para a educa-
lação. Como pudemos analisar a questão do privado como ção escolar, constituída de dois níveis de escolarização, que
parte a substituir as responsabilidades do estado. é a educação básica e a educação superior, e a formação do
Podemos neste momento também discutir a organi- professor também sofre alterações com essas mudanças.
zação do currículo escolar uma vez que ele é organizado Segundo o art. 62 da LDB, toda a formação de docen-
conforme os critérios da LDB cujo é elaborado com ideais tes para todos os níveis da educação deverá ser feita em
neoliberais. nível superior com licenciatura plena em universidades e
Antes de qualquer coisa devemos perceber que o cur- institutos de educação. Logo podemos perceber que es-
rículo não é um elemento neutro e inocente, com desin- tas mudanças expressam uma concepção organizativa da
teresse na transmissão do conhecimento social. Ele não é educação superior fundadas em diagnostico de crise des-
mais meramente técnico, ele esta guiado agora por ques- te nível. Cabe então perguntar: até que ponto as diretrizes
tões políticas sociológicas e epistemológicas. Logo pode- para a formação de professores levam a autonomia ou a
mos afirmar que o currículo está moldado para as suas adaptação do sistema em funcionamento?
determinações sociais, na transmissão de ideologias inte- Para Gadotti (1974), o papel do professor é fundamen-
ressantes a elite burguesa da sociedade, O currículo logo tal e sua formação assume uma função central nas políti-
esta implicado nas relações de poder uma arena política. cas educacionais. Esse profissional precisa ser preparado
O currículo sob o olhar da LDB, busca ser feita criterio- para contribuir com os ajustes da educação as exigências
samente, pois é um instrumento para alcançar a cidadania do capital, desta forma quem irá determinar os conteúdos
alvo, ou seja, pretendida. de ensino e atribuir sentido prático aos educadores será o
No entanto essas diretrizes formuladas e impostas de-
mundo econômico. Podendo servir na realidade, submeter
vem ser garantidas a fim de manter a ideologia dominante
a formação a racionalidade que facilita uma dominação,
como já pudemos discutir e entender anteriormente. Tendo
com a quebra de toda resistência por meio da formação de
com isso uma visão mais crítica e minuciosa das questões
indivíduos que respondam as exigências do mercado, mas
que norteiam a educação brasileira, dentro da política neo-
que não tenham desenvolvido as capacidades críticas que
liberal.
contribuam para buscar a utilização dos conhecimentos
como uma forma de emancipação.
Os currículos devem ter uma base nacional comum a
todas as instituições seja ela privada ou publica, ajustando Segundo Moacir Gadotti (2001), os educadores na con-
apenas ao público de cada local, assim determina a LDB. temporaneidade têm a necessidade de dar uma especial
Segundo a LDB os currículos obrigatoriamente devem atenção às necessidades da nossa sociedade que é a ne-
abranger, o estudo da língua portuguesa e da matemática, cessidade do povo. O autor cita o exemplo da formação
o conhecimento do mundo físico e natural e da realidade do pedagogo no Brasil que por sua vez deixou de ser “A
social e política. tomada de consciência dos problemas educacionais” e tor-
Também estabelece a lei como diretriz para o ensino nou-se uma formação voltada para várias habilitações di-
médio o domínio do conhecimento de filosofia e sociolo- ferenciadas (supervisão, orientação, administração, inspe-
gia. ção e planejamento), cita mais que “nenhuma pedagogia é
Ou seja, dessa forma é corporificado um conhecimento neutra, toda pedagogia é política”.
com pontos de vista de grupos que socialmente dominan- Afirma ainda que a formação do educador sempre es-
tes. Valerão apenas os conhecimentos institucionalizados teve voltada para a reprodução do individualismo, o verda-
seguidos de uma cultura imposta como única, padronizada deiro papel da educação como transformadora e conscien-
para tal fim com objetivos concretos e lógicos para a ma- tizadora vem se esvaziando ao longo do tempo.
nutenção do sistema capitalista. Para tanto como se pode transformar a educação qual
Neste âmbito nota-se que o currículo transforma a es- a possibilidade de corromper com aquilo que reproduz?
cola em um espaço que produz e legitima os interesses Moacir propõe uma educação libertadora onde o educador
econômicos e políticos das elites empresariais, a sala de se posicione e não seja de forma alguma omisso as gran-
aula passa a ser um local exclusivo de reprodução dos va- des questões que norteiam e consequentemente reprimem
lores, das atitudes e dos comportamentos da classe média severamente a sociedade, e também lutem contra a educa-
alta, interferindo assim na subjetividade do aluno. ção dominante que é totalmente imposta juntamente com
O neoliberalismo, também influencia na formação do a ideologia e a legitimação do “status quo” dos sistemas
professor na atualidade. As mudanças que ocorreram na educacionais. O professor comprometido com a educação
estrutura da sociedade, no processo de trabalho com a in- segundo Moacir deve ser um político em luta constante.
trodução de novas tecnologias e com o esgotamento do Enquanto a educação reproduz a sociedade, a con-
fordismo, passaram-se então a exigir a formação de um tradição e o conflito não são tão manifestos porque a
outro trabalhador, mais flexível eficiente e polivalente. reprodução é dominante: a educação faz o que a classe

21
POLÍTICAS PÚBLICAS DA EDUCAÇÃO

dominante lhe pede, nesse contexto, o que poderíamos o exterior caracterizando assim o indivíduo pela bagagem
chamar de pedagogia transformadora? Certamente aquela socialmente herdada, dessa forma o destino escolar de in-
pedagogia que não tenta esconder as contradições exis- divíduos com capital social teria maior definição.
tentes na sociedade, mas tenta mostrá-las: a contradição,
por exemplo, de uma escola que se diz igual para todos e A partir desta analise, Bourdieu afirma que as crianças
a seletividade escolar. que são oriundas de meios favorecidos terão maior facili-
dade de aprendizado escolar, diferentemente das crianças
O educador deve, no entanto ser crítico, e enfrentar os oriundas dos meios menos favorecidos que ao passar pelo
desafios que lhe são colocados para uma educação liberta- mesmo processo de educação não terá tanto significado,
dora, pois a educação é sem dúvida um grande espaço de pois são coisas extremamente distantes de sua realidade.
luta. Por isso não devemos nos acomodar e muito menos Ele observa ainda que a avaliação escolar vai muito
fazer vista grossa aos problemas da sociedade em especial além de uma simples verificação da aprendizagem, incluin-
na educação. do um verdadeiro julgamento cultural e até mesmo moral
Uma pedagogia do conflito deve estar presente em dos alunos. Cobram-se que os alunos tenham um estilo
cada um de nós enquanto educadores, na esperança de elegante de falar, escrever e até mesmo de se comportar,
um futuro melhor para a educação brasileira. que sejam intelectualmente curiosos, interessados e disci-
Ao novo educador compete refazer a educação, rein- plinados que saibam cumprir adequadamente as regras da
ventá-la e criar condições para que possibilite que a educa- “boa educação” para que se mantenha essa regra, o neo-
ção seja realmente democrática criar alternativas para que liberalismo reforça paulatinamente a sua ideologia domi-
se formem um novo tipo de pessoas, pessoas mais soli- nante.
dárias com o intuito de superar o individualismo que fora Bourdieu afirma que as exigências impostas pela es-
criado pela grande exploração do trabalho. cola só poderão ser concretizadas se o indivíduo for so-
Todavia esses e novos projetos e novas alternativas não cializado na família previamente. O capital cultural é, no
poderão jamais ser elaborados pelos tecnoburocratas da entanto, um fator importantíssimo na sociedade neolibe-
educação. Essa reeducação dos educadores já começou ral, observa ainda que o título escolar é avaliado confor-
sendo ela extremamente necessária e possível afirma Moa- me a sua quantidade de ofertas e a desvalorização desse
cir Gadotti. título ocorre quando o seu acesso é facilitado. Ele faz uma
Pierre Bourdieu (2002) também discute a questão da análise da credibilidade do ensino nas diferentes classes:
educação na sociedade, Bourdieu faz uma análise sobre a populares, medias e elites concluindo que, as classes po-
origem social do educando na sociedade, afirmando que, pulares que são pobres em capital cultural, social e econô-
o desempenho escolar do indivíduo não depende apenas mico, investem muito menos na educação dos seus filhos
dos dons individuais, mas sim também dos fatores como; isso se deve a alguns fatores, tais como a chance reduzida
classe, etnia, sexo, local de moradia entre outros. de sucesso, a consciência de que com a falta dos capitais
Bourdieu (2002) afirma ainda que a massificação do necessários para um bom desempenho escolar o retorno
ensino na década de 60 trouxe a desvalorização dos títulos do investimento será totalmente incerto e mínimo uma vez
escolares, e com isso também à elevada frustração dos jo- que é preciso ter posse de algum capital para o crescimen-
vens das classes média e populares. to intelectual do indivíduo, Bourdieu chama esse tipo de
A educação na percepção de Bourdieu perde seu papel adoção de “liberalismo” onde a trajetória escolar dos filhos
de transformadora e democratizadora passando a ser uma da classe popular não teria um acompanhamento regulado
instituição que legitima os privilégios sociais, uma vez que e nem uma cobrança dos pais para a obtenção do sucesso
a escola ao definir seu currículo seu método e sua avaliação escolar, mas sim apenas o necessário para a sua própria
passa com isso a reproduzir as desigualdades sociais. manutenção dentro da sociedade.
A questão do âmbito familiar no processo de apren- As classes medias, ao contrário das populares tendem
dizagem do indivíduo, é um fator observado por Bourdieu a investir maciçamente na educação dos seus filhos, as fa-
no intuito de discutir e analisar a bagagem cultural e o su- mílias desse grupo possuem capitais mais elevados e ra-
cesso escolar, Burdieu chama essa bagagem cultural de ba- zoáveis, que os permitem investir na educação, Bourdieu
gagem socialmente herdada. Dentro desta bagagem estão afirma ainda que a classe média geralmente é originaria da
tais fatores; capital econômico, capital social, capital cultu- classe popular que conseguiram por meio da educação as-
ral institucionalizado. O capital econômico é aquele onde cenderem socialmente e chegar a classe média. Dessa for-
o indivíduo tem acesso aos bens e serviços a partir desse ma os levam a acreditar com esperanças que a educação é
capital, capital social, são os conjuntos de influencias que a melhor forma de ascensão dos seus filhos a uma classe
são mantidas pelos familiares e o capital cultural institucio- ainda superior à dos pais, Bourdieu chama essa conduta da
nalizado, são aqueles que podem ser obtidos nos centros classe média de “ascetismo” onde a classe média renuncia
educacionais ou seja por títulos escolares. os seus prazeres imediatos tais como; compras, passeios
Doravante, Bourdieu observa que o verdadeiro e o e etc. para garantir a boa educação aos filhos com a va-
maior centro de desenvolvimento do educando é a família, lorização da disciplina, autocontrole e educação intensiva
a partir da herança cultural familiar que se é formado a es- nos estudos. Cita ainda o “malthusianismo” como forma de
trutura social de uma sociedade, logo a formação inicial do controle da fecundidade, como estratégia de concentração
indivíduo se dá de dentro para fora, do seio familiar para de investimentos.

22
POLÍTICAS PÚBLICAS DA EDUCAÇÃO

As elites no mesmo âmbito tendem a investir forte- Desde a instalação do programa neoliberal, outro fator
mente na educação da prole, porém de uma forma “laxis- que mais prejudica o cidadão é o desemprego. É alarmante
ta” como diz Burdieu, pois não será necessário um esforço o número de desempregados no país atualmente. As esta-
muito grande uma vez que o sucesso escolar dos filhos da tísticas governamentais buscam, no entanto sempre ocul-
elite ocorre de forma natural, o fracasso seria algo impro- tar essa realidade comum na sociedade.
vável uma vez que esse indivíduo terá condições de um O trabalho hoje na informalidade e até mesmo na ile-
bom desempenho escolar, mediante a obtenção do volu- galidade se tornou a saída para as pessoas que se encon-
me dos capitais acumulados. tram desempregadas e que não possuem a qualificação
Bourdieu chama essas características da escolarização mínima exigida pelo mercado de trabalho afirma Comblim.
dos filhos de “habitus familiar” sendo criticado por vários Segundo Comblim José as razoes para o desemprego
teóricos acerca desse tema. seria a competitividade onde as razoes sociais desaparecem
ou não existem prevalecendo apenas as razoes econômicas.
Muitos desempregados entram na categoria dos ex-
Por mais que se democratize o acesso ao ensino por
cluídos e merecem essa designação. Perdem estímulo, or-
meio da escola pública e gratuita, continuará existindo uma
gulho, dignidade pessoal, praticam a auto destruição. A
forte correlação entre as desigualdades ou hierarquias in-
mesma coisa acontece com tantos jovens que não acham
ternas ao sistema de ensino. Essa correlação só pode ser
trabalho e já estudaram tudo o que podiam estudar. Vão
explicada, na perspectiva de Burdieu, quando se considera junta-se aos que, desde o início, pertenceram a economia
que a escola dissimuladamente valoriza e exige dos alunos informal porque sempre souberam que nunca haveria em-
determinadas qualidades que são desigualmente distribuí- prego para eles. Frequentemente, os excluídos chegam a
das entre as classes sociais, notadamente, o capital cultural perder até uma casa. Não podem mais pagar aluguel. Ou
e uma certa neutralidade no trato com a cultura e o saber vivem com parentes ou constroem uma favela. Os piores
que apenas aqueles que foram desde a infância socializa- vivem na rua. A classe dos excluídos cresce, o sistema vai
dos na cultura legitima podem ter. gerando levas e levas de excluídos: estes já não participam
Pode se concluir então que a escola é o processo de re- mais da vida social ficam revoltados, desencantados. Mui-
produção das desigualdades sociais que busca legitimar a tas vezes tornam-se violentos ou cedem aos vícios: não é
dominação exercida pelas classes dominantes, sendo assim sem razão que as drogas são os sinais mais evidentes da
o seu currículo é moldado conforme o interesse da classe presença de uma sociedade neoliberal.
dominante. No entanto também é preciso ainda mais in-
vestigar e analisar a estrutura social e o processo de apren- No trecho citado acima o autor deixa muito claro que
dizagem na sociedade em que estamos inseridos. o desemprego é um fator de extrema catástrofe na vida
de uma pessoa tanto no campo emocional como no fami-
Critica a influência neoliberal na educação liar, ele remete também a questão dos excluídos de onde
ele faz um levantamento muito significativo, que seria o
Para começarmos este capitulo, não poderíamos deixar fato de muitos escolarizados estarem também passando
de falar dos efeitos sociais que o neoliberalismo trouxe e pelo mesmo problema de desemprego e logo partirem
que permanecem até os dias de hoje, prejudicando a vida pelo mesmo caminho da informalidade. Driblar as másca-
dos cidadãos na sociedade. ras neoliberais é, no entanto uma tarefa árdua e difícil pois
O primeiro grande efeito social é o aumento significa- suas ideologias são massacrantes e fazem se tornar legiti-
tivo da desigualdade que nos últimos anos se tornou cres- mas diante da sociedade.
cente e muito preocupante em todo o país, até mesmo no Na questão educacional como não poderíamos deixar
de discutir nesta presente monografia, o neoliberalismo
Chile aumentou o índice de desigualdade, o Chile que era o
afeta com abrangência e utiliza-se de suas ideologias para
único país que mostrava uma diminuição na proporção de
os rumos educacionais onde a cultura do mercado se faz
pobres na população tem agora um aumento nesta mesma
valer que é o de comprar e consumir.
proporção segundo o autor Comblim José.
Doravante o sentido real no neoliberalismo da arte
A desigualdade manifesta-se, por exemplo, na distân- esta no valor do quadro da escultura, na música a quanti-
cia entre as rendas dos mais ricos e dos mais pobres. Nos dade de dvds e cds que são vendidos, na invenção cientifi-
Estados Unidos a quinta parte rica da população recebia ca seria a quantidade em milhões que serão economizados
50% do produto nacional em 1995, no início do governo com tais invenções e até mesmo a valor da natureza se
Reagan, recebiam 41% e, no fim, 44%, na Alemanha ou Itá- resultaria na quantidade de visitantes turistas e os dólares
lia 40%, na Holanda Suécia e Noruega, 37%. No Chile, 62% deixados no local, no esporte também não é diferente os
frente a isto, no Chile, os 25% mais pobres recebem 3,5% ingressos vendidos da partida que diz qual é o seu valor
do produto. real na economia.
A desigualdade é tão grande que a democracia não se Partindo desse princípio é notório observar que tudo
torna compatível, pois se é necessário uma certa igualdade na cultura tem o seu valor girando assim no preço das
para que haja uma democracia no país. Contudo com o ní- coisas se o produto não rende logo ele não será válido.
vel de pobreza elevadíssimo, o cidadão logo não participa Com essa forte ideologia neoliberal podemos perceber as
e nem participara da democracia. influencias e os reflexos tão negativos na educação.

23
POLÍTICAS PÚBLICAS DA EDUCAÇÃO

Não é somente o dinheiro ou bens materiais que fi- Paulo Freire (2000) em seu trabalho pedagogia da
cam nas mãos de poucos mas também o conhecimento autonomia, afirma que a educação seja ela bem ou mal
e tecnologias, a sociedade é levada a acreditar no sistema ensinados e ou aprendidos, serve como base para a pura
neoliberal, que essa relação é uma condição natural e que reprodução da ideologia dominante ou para o seu desmas-
apenas a minoria devem gozar de muitos privilégios e a caramento. A educação não é neutra a reprodução ou a
grande maioria nada ter pois não podem pagar por eles. contestação da ideologia, Freire afirma que para a elite do-
Neste contexto, a educação de qualidade logo será minante a educação deve ser uma pratica “imobilizadora e
concedida à aqueles que realmente possuem meios para ocultadora de verdades” neutra.
assegurá-las e não como diz a lei de diretrizes e bases que A ideia de aproximação crítica da realidade esta visivel-
a educação é um direito de todos, a educação de qualidade mente fundada na concepção de educação quando Freire
não é e nem, será direcionada a classe dos excluídos, pois o afirma que a educação transformadora e humanizadora,
poder público não garante essa qualidade para os mesmos. logo deve ser aquela que de uma forma ou de outra cons-
Tendo este fator vigente da falta de políticas públicas nos cientize o homem para que com isso possa ele ter atitudes
críticas em torno daquilo que o circunda e não aceite de
campos educacionais, faz com que segundo Gentilli (1996),
forma estanque os problemas sociais em que se encontra a
que o neoliberalismo logo trate de transferir a educação
sociedade com o modelo neoliberal. Diz ainda que o neoli-
para a esfera mercadológica. Consomem aqueles que por
beralismo desconsidera os interesses humanos favorecen-
ela podem pagar da mesma forma que compra um utensí- do os interesses do mercado, citando o exemplo do em-
lio doméstico de alto valor. presário e do operário, onde o empresário não concordaria
que o seu operário comece a discutir os problemas sociais
A grande operação estratégica do neoliberalismo con- tais como; “o desemprego no mundo é uma fatalidade do
siste em transferir a educação da esfera política para a es- fim deste século”. E por que fazer a reforma agrária não é
fera do mercado, questionando assim seu caráter de direito também uma fatalidade? E por que acabar com a fome e a
e reduzindo-a a sua condição de propriedade. É neste qua- miséria não são igualmente fatalidades de que não se pode
dro que se reconceitualiza a noção de cidadania, através de fugir? “ou seja esse tipo de discussão não cabe nos progra-
uma revalorização da ação do indivíduo enquanto proprie- mas de aperfeiçoamento técnico ou de alfabetização ofe-
tário, enquanto indivíduo que luta por conquistar (com- recidos pelo empresário, ele apenas estimula e patrocina o
prar) propriedades mercadorias de diversa índole, sendo a aperfeiçoamento técnico e recusa a formação que discuta
educação uma delas. O modelo de homem neoliberal é o a presença do homem no mundo.
cidadão privatizado, o interpreneur, o consumidor. Freire conclui ainda que, muito mais sério ainda é a fa-
cilidade que temos em aceitar o que nos vemos e ouvimos,
Segundo Gentilli (1996), o neoliberalismo busca mo- a capacidade de nos escondermos da realidade, manter-
nopolizar o poder e está presente no âmbito educacional, mos-nos na obscuridade na verdade nos cegar mediante
logo a educação ela é moldada de acordo com os interesses as verdades distorcidas. Essa ideologia de amaciamento do
da classe dirigente na economia. Se o interesse neoliberal neoliberalismo, nos leva de forma lenta e sempre, a acre-
é lucratividade logo o interesse deles é qualificar a mão de ditar que as coisas existem por elas mesmas não sofreram
obra no intuito de servir as necessidades do mercado para interferências das elites, como por exemplo a globalização
lhes garantir a lucratividade, transformar o indivíduo em da economia. A globalização ela é tida como algo natural
um ser pensante as realidades que os cercam esta fora de na ideologia neoliberal e não como uma produção históri-
cogitação, pois não seria interessante formar pensadores, ca. Freire critica com toda a sua força o modelo neoliberal
mas sim mão de obra barata. e como ele mesmo diz a malvadeza que o capitalismo tem
em aumentar a riqueza de alguns poucos e de forma cruel
Segundo Paulo Freire (2000), não deveríamos ter uma
verticalizar a pobreza e a miséria de milhões de pessoas. A
educação que qualifica o homem somente para o mercado,
ideologia como já vimos tem esse grande poder de per-
mas também uma educação que humanize o sujeito tor-
suasão, ela nos anestesia, e consegue com muita facilidade
nando-o um cidadão que seja crítico-reflexivo e que atue distorcer a percepção que temos dos fatos, das coisas e
na sociedade. Freire afirma que a educação sozinha não dos acontecimentos.
forma o cidadão ela é limitada, não contribuído desta for- Para Gaudêncio Frigotto (2001), a escola é um porto
ma para a formação do sujeito ético e preparado também seguro para os ataques neoliberais, a partir do momento
para com seu próximo conviver. em que os poderes dos organismos internacionais como
o FMI, Banco mundial, organização mundial de comercio
Não é possível pensar os seres humanos longe, sequer, (OMC) passam a participar das reformas educacionais, re-
da ética, quanto mais fora dela. Estar longe, ou pior, fora da forçando a educação como um bem de consumo com valor
ética, entre nós, homens e mulheres, é uma transgressão. É previamente estipulado.
por isso que transformar a experiência educativa em puro Estes por sua vez para alcançar com total plenitude o
treinamento técnico é amesquinhar o que há de funda- sucesso de seus objetivos, utilizam-se de ideologias e fa-
mentalmente humano no exercício educativo: o seu caráter cetas consistentes para tentar passar a ideia de que as in-
formador. Se respeita a natureza do ser humano, o ensino tenções são as melhores possíveis e que podem com elas
dos conteúdos não pode dar-se alheio à formação moral solucionar as crises do modelo capitalista, dentre elas a
do educando. Educar é substantivamente formar. crise educacional.

24
POLÍTICAS PÚBLICAS DA EDUCAÇÃO

A partir desta analise podemos identificar que o pro- remuneração para o profissional, o cumprimento de outros
jeto neoliberal de educação trata a educação como “coisi- cargos na educação ou não, sem sair da sala de aula, uma
ficadora” ou seja, uma educação que por sua vez manipula necessidade de capacitação frente as tecnologias educa-
o educando a se moldar aos padrões de mercado, como já cionais crescentes.
vimos anteriormente, tornando assim o conhecimento em No entanto os resultados deste processo não pode-
um objeto comercial. riam de forma alguma ser diferente e o trabalho docente
Não podemos também nesta presente monografia está cada dia mais se desconfigurando.
deixar de citar as condições de trabalho e de vida dos tra- Na escola privada os professores possuem menos au-
balhadores da educação no sistema neoliberal. tonomia ainda para a organização do seu material de es-
Os professores e os demais funcionários da educação tudo, são obrigados a utilizar os materiais determinados e
vivem hoje em situações de baixa remuneração, as condi- impostos pelas escolas com moldes empresariais.
ções de trabalho péssimas ou inadequadas e além disso O professor é um proletário sujeito a todas as mudan-
tudo o grande desprestigio do trabalho docente junto aos ças do mercado de trabalho. Se a lógica neoliberal é lucrar
governos. e o investimento em mão de obra ser o mínimo, logo a
Para Henrique Paro (1999), o trabalho do professor vai desqualificação do profissional da educação é uma ótima
muito além da sala de aula, isso se deve a grande agitação condição para a manutenção do sistema.
do trabalho semanal em que o atual professor se encontra, Dessa forma o sistema neoliberal passa a empregar a
trabalhando em várias escolas e com baixa remuneração força de trabalho sem qualificação, aumentando a compe-
o educador fica sem tempo para dar conta de tudo com a titividade e reduzindo os salários.
qualidade devida, acaba por levando o seu trabalho para As condições de trabalho as quais os professores estão
casa e utilizando até mesmo o seu final de semana devido à sendo submetidos, e a instabilidade do corpo docente e
enorme quantidade de trabalho, os seus dias de descanso, técnico impedem a construção de qualquer tipo de projeto
os finais de semana e feriados estão sendo ocupados pelo a ser realizado no âmbito educacional.
trabalho acumulado este sem nenhuma remuneração. As políticas públicas deveriam sem dúvida criar meca-
O professor por sua vez acaba com isso aplicando as nismos para assegurar a estabilidade dos educadores, isso
mesmas aulas planejadas sem tempo para atualizá-las, o implica em melhores salários, condições de trabalho digno
que demonstra a rotinização do trabalho e também uma
e a valorização dos educadores.
transmissão mecânica dos conteúdos.
Para Henrique Paro (1999) o educador não deve de
Na intenção de maximizar o seu tempo de trabalho o
forma alguma ser expropriado do saber e muito menos
professor acaba por optar por esse tipo de transmissão o
alienado as questões sociais para que ele possa ter uma
sistema não valoriza seu trabalho logo não oferece o mí-
relação educador-educando na existência do saber.
nimo de condições para a realização de sua tarefa educa-
Para a tal valorização que esperamos para os profissio-
cional.
nais da educação faz se necessário uma mudança imediata
Na indústria, a desqualificação do operário deu-se por
força da divisão pormenorizada do trabalho, que visava a do modelo econômico vigente, e fazendo-se necessário
maior produtividade. Na escola, embora não se possa me- implantar um novo modelo para que possamos construir
nosprezar a divisão do trabalho como fator de desqualifi- um sistema educacional único, público e laico que, integre
cação profissional, não se deve desprezar também outros as massas populares ao mundo da ciência e da cultura e
aspectos específicos da realidade escolar. Neste contexto, também que contribua, no entanto para o crescimento e a
é justo afirmar que o ponto de partida dessa desqualifica- independência tecnológica e cientifica.
ção não foi a preocupação com a eficiência da escola, mas Para tal fator devemos unir lutas com demais lutas dos
precisamente a desatenção para com a degradação de seu trabalhadores, contra esse modelo capitalista neoliberal.
produto. Como acontece em qualquer processo de produ- Florestan Fernandes (1986) em seu trabalho sobre a
ção, na medida em que o bem ou serviço a ser produzido formação política e o trabalho do professor faz uma discus-
pode ser de qualidade bastante inferior, passa-se utilizar, são em torno da formação atual do professor, a figura do
em sua elaboração, meios de produção e mão de obra de professor enquanto cidadão e seu papel decisivo na socie-
qualidade também inferior, os quais estão disponíveis, ge- dade bem como a sua aceitação de condição de assalaria-
ralmente, em maior quantidade e a preços mais baixos. No do que logo proletariza sua consciência dentro do sistema.
processo de degradação das atividades profissionais do Ele é uma pessoa que esta em tensão política perma-
educador escolar, com a consequente desqualificação de nente com a realidade e só pode atuar sobre essa realida-
seu trabalho e o aviltamento de seus salários, deu-se algo de se for capaz de perceber isso politicamente. Portanto a
de semelhante: na medida em que não interessava à classe disjunção da pedagogia ou da filosofia e das ciências ou da
detentora do poder político e econômico, pelo menos no arte, com relação à política, seria um meio suicida de reagir.
que diz respeito à generalização para as massas trabalha- É algo inconcebível e é retrogrado. O professor precisa se
doras, mais que um ensino de baixíssima qualidade, o es- colocar na situação de um cidadão de uma sociedade capi-
tado, como porta voz dos interesses dessa classe, passou a talista subdesenvolvida e com problemas especiais e, nesse
dar cada vez menor importância a educação pública. quadro, reconhecer que tem um amplo conjunto de poten-
A ideia de desqualificação está logo ligado a intensifi- cialidades, que só poderão ser dinamizadas se ele agir poli-
cação maçante do trabalho, e o que leva a este fenômeno ticamente, se conjugar uma pratica pedagógica eficiente a
não é de forma alguma difícil de se perceber, que é, a baixa uma ação da mesma qualidade.

25
POLÍTICAS PÚBLICAS DA EDUCAÇÃO

Florestan (1986), discute ainda que o professor precisa A transição para o Ensino Médio apresenta contornos
ter uma consciência política para lutar em prol dos interes- bastante diferentes dos anteriormente referidos, uma vez
ses da classe e por uma revalorização econômica da cate- que, ao ingressarem no Ensino Médio, os jovens já trazem
goria dentro do sistema. maior experiência com o ambiente escolar e suas rotinas;
Estar ciente que estamos sendo submetidos a um sis- além disso, a dependência dos adolescentes em relação às
tema elitista e excludente, se faz necessário para encarar suas famílias é quantitativamente menor e qualitativamen-
os problemas sociais de forma crítica e reflexiva peran- te diferente. Mas, certamente, isso não significa que não
te o sistema, logo o professor não pode estar alheio aos se criem tensões, que derivam, principalmente, das novas
acontecimentos, se ele quer alguma mudança deve tentar expectativas familiares e sociais que envolvem o jovem. Tais
expectativas giram em torno de três variáveis principais
realizá-los nos dois níveis dentro e fora da escola e unir o
conforme o estrato sociocultural em que se produzem: a)
seu papel de cidadão ao seu papel de educador para que
os “conflitos da adolescência”;
possa ele pensar politicamente, que é uma coisa que não b) a maior ou menor aproximação ao mundo do traba-
se aprende fora da prática. lho; c) a crescente aproximação aos rituais da passagem da
Educação Básica para a Educação Superior.
Fonte: SILVA, S. D. da. A influência neoliberal na edu- Em resumo, o conjunto da Educação Básica deve se
cação. constituir em um processo orgânico, sequencial e articula-
do, que assegure à criança, ao adolescente, ao jovem e ao
IMPLICAÇÕES DAS POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A adulto de qualquer condição e região do País a formação
ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO ESCOLAR comum para o pleno exercício da cidadania, oferecendo as
condições necessárias para o seu desenvolvimento integral.
A articulação das dimensões orgânica e sequencial das Estas são finalidades de todas as etapas constitutivas da
etapas e modalidades da Educação Básica, e destas com Educação Básica, acrescentando-se os meios para que pos-
a Educação Superior, implica a ação coordenada e inte- sa progredir no mundo do trabalho e acessar a Educação
gradora do seu conjunto; o exercício efetivo do regime de Superior. São referências conceituais e legais, bem como
colaboração entre os entes federados, cujos sistemas de desafio para as diferentes instâncias responsáveis pela con-
ensino gozam de autonomia constitucionalmente reco- cepção, aprovação e execução das políticas educacionais.
nhecida. Isso pressupõe o estabelecimento de regras de
Acesso e permanência para a conquista da qualida-
equivalência entre as funções distributiva, supletiva, de re-
de social
gulação normativa, de supervisão e avaliação da educação
A qualidade social da educação brasileira é uma con-
nacional, respeitada a autonomia dos sistemas e valoriza- quista a ser construída de forma negociada, pois significa
das as diferenças regionais. Sem essa articulação, o projeto algo que se concretiza a partir da qualidade da relação en-
educacional – e, por conseguinte, o projeto nacional – cor- tre todos os sujeitos que nela atuam direta e indiretamen-
re o perigo de comprometer a unidade e a qualidade pre- te. Significa compreender que a educação é um processo
tendida, inclusive quanto ao disposto no artigo 22 da LDB: de socialização da cultura da vida, no qual se constroem,
desenvolver o educando, assegurar-lhe a formação comum se mantêm e se transformam conhecimentos e valores.
indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhe Socializar a cultura inclui garantir a presença dos sujeitos
meios para progredir no trabalho e em estudos posterio- das aprendizagens na escola. Assim, a qualidade social da
res, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de educação escolar supõe a sua permanência, não só com a
solidariedade humana. redução da evasão, mas também da repetência e da distor-
Mais concretamente, há de se prever que a transição ção idade/ano/série.
entre Pré-Escola e Ensino Fundamental pode se dar no in- Para assegurar o acesso ao Ensino Fundamental, como
terior de uma mesma instituição, requerendo formas de direito público subjetivo, no seu artigo 5º, a LDB instituiu
articulação das dimensões orgânica e sequencial entre medidas que se interpenetram ou complementam, estabe-
os docentes de ambos os segmentos que assegurem às lecendo que, para exigir o cumprimento pelo Estado desse
crianças a continuidade de seus processos peculiares de ensino obrigatório, qualquer cidadão, grupo de cidadãos,
associação comunitária, organização sindical, entidade de
aprendizagem e desenvolvimento. Quando a transição se
classe ou outra legalmente constituída e, ainda, o Ministé-
dá entre instituições diferentes, essa articulação deve ser
rio Público, podem acionar o poder público.
especialmente cuidadosa, garantida por instrumentos de Esta medida se complementa com a obrigatoriedade
registro – portfólios, relatórios que permitam, aos docentes atribuída aos Estados e aos Municípios, em regime de co-
do Ensino Fundamental de uma outra escola, conhecer os laboração, e com a assistência da União, de recensear a
processos de desenvolvimento e aprendizagem vivencia- população em idade escolar para o Ensino Fundamental, e
dos pela criança na Educação Infantil da escola anterior. os jovens e adultos que a ele não tiveram acesso, para que
Mesmo no interior do Ensino Fundamental, há de se cuidar seja efetuada a chamada pública correspondente.
da fluência da transição da fase dos anos iniciais para a fase Quanto à família, os pais ou responsáveis são obriga-
dos anos finais, quando a criança passa a ter diversos do- dos a matricular a criança no Ensino Fundamental, a partir
centes, que conduzem diferentes componentes e ativida- dos 6 anos de idade, sendo que é prevista sanção a esses
des, tornando-se mais complexas a sistemática de estudos e/ou ao poder público, caso descumpram essa obrigação
e a relação com os professores. de garantia dessa etapa escolar.

26
POLÍTICAS PÚBLICAS DA EDUCAÇÃO

Quanto à obrigatoriedade de permanência do estu- União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, a for-
dante na escola, principalmente no Ensino Fundamental, mação inicial e continuada dos profissionais do magistério
há, na mesma Lei, exigências que se centram nas relações para as redes públicas da educação (Decreto nº 6.755, de
entre a escola, os pais ou responsáveis, e a comunidade, de 29 de janeiro de 2009);
tal modo que a escola e os sistemas de ensino tornam-se II – ampliação da visão política expressa por meio de
responsáveis por: habilidades inovadoras, fundamentadas na capacidade
- zelar, junto aos pais ou responsáveis, pela frequência para aplicar técnicas e tecnologias orientadas pela ética e
à escola; pela estética;
- articular-se com as famílias e a comunidade, criando III – responsabilidade social, princípio educacional que
processos de integração da sociedade com a escola; norteia o conjunto de sujeitos comprometidos com o pro-
- informar os pais e responsáveis sobre a frequência e jeto que definem e assumem como expressão e busca da
o rendimento dos estudantes, bem como sobre a execução qualidade da escola, fruto do empenho de todos.
de sua proposta pedagógica; Construir a qualidade social pressupõe conhecimento
- notificar ao Conselho Tutelar do Município, ao juiz dos interesses sociais da comunidade escolar para que seja
competente da Comarca e ao respectivo representante do possível educar e cuidar mediante interação efetivada en-
Ministério Público a relação dos estudantes que apresen- tre princípios e finalidades educacionais, objetivos, conhe-
tem quantidade de faltas acima de cinquenta por cento do cimento e concepções curriculares. Isso abarca mais que
percentual permitido em lei. o exercício político-pedagógico que se viabiliza mediante
No Ensino Fundamental e, nas demais etapas da Edu- atuação de todos os sujeitos da comunidade educativa. Ou
cação Básica, a qualidade não tem sido tão estimulada seja, efetiva-se não apenas mediante participação de to-
quanto à quantidade. Depositar atenção central sobre a dos os sujeitos da escola – estudante, professor, técnico,
quantidade, visando à universalização do acesso à escola, funcionário, coordenador – mas também mediante aqui-
é uma medida necessária, mas que não assegura a per- sição e utilização adequada dos objetos e espaços (labo-
manência, essencial para compor a qualidade. Em outras ratórios, equipamentos, mobiliário, salas-ambiente, biblio-
palavras, a oportunidade de acesso, por si só, é destituída
teca, videoteca etc.) requeridos para responder ao projeto
de condições suficientes para inserção no mundo do co-
político-pedagógico pactuado, vinculados às condições/
nhecimento.
disponibilidades mínimas para se instaurar a primazia da
O conceito de qualidade na escola, numa perspectiva
aquisição e do desenvolvimento de hábitos investigatórios
ampla e basilar, remete a uma determinada ideia de quali-
para construção do conhecimento.
dade de vida na sociedade e no planeta Terra. Inclui tanto
A escola de qualidade social adota como centralidade o
a qualidade pedagógica quanto a qualidade política, uma
diálogo, a colaboração, os sujeitos e as aprendizagens, o que
vez que requer compromisso com a permanência do es-
tudante na escola, com sucesso e valorização dos profis- pressupõe, sem dúvida, atendimento a requisitos tais como:
sionais da educação. Trata-se da exigência de se conceber I – revisão das referências conceituais quanto aos dife-
a qualidade na escola como qualidade social, que se con- rentes espaços e tempos educativos, abrangendo espaços
quista por meio de acordo coletivo. Ambas as qualidades sociais na escola e fora dela;
– pedagógica e política – abrangem diversos modos avalia- II – consideração sobre a inclusão, a valorização das
tivos comprometidos com a aprendizagem do estudante, diferenças e o atendimento à pluralidade e à diversidade
interpretados como indicações que se interpenetram ao cultural, resgatando e respeitando os direitos humanos,
longo do processo didático-pedagógico, o qual tem como individuais e coletivos e as várias manifestações de cada
alvo o desenvolvimento do conhecimento e dos saberes comunidade;
construídos histórica e socialmente. III – foco no projeto político-pedagógico, no gosto pela
O compromisso com a permanência do estudante na aprendizagem, e na avaliação das aprendizagens como ins-
escola é, portanto, um desafio a ser assumido por todos, trumento de contínua progressão dos estudantes;
porque, além das determinações sociopolíticas e culturais, IV – inter-relação entre organização do currículo, do
das diferenças individuais e da organização escolar vigen- trabalho pedagógico e da jornada de trabalho do profes-
te, há algo que supera a política reguladora dos processos sor, tendo como foco a aprendizagem do estudante;
educacionais: há os fluxos migratórios, além de outras va- V – preparação dos profissionais da educação, gesto-
riáveis que se refletem no processo educativo. Essa é uma res, professores, especialistas, técnicos, monitores e outros;
variável externa que compromete a gestão macro da edu- VI – compatibilidade entre a proposta curricular e a in-
cação, em todas as esferas, e, portanto, reforça a premên- fraestrutura entendida como espaço formativo dotado de
cia de se criarem processos gerenciais que proporcionem a efetiva disponibilidade de tempos para a sua utilização e
efetivação do disposto no artigo 5º e no inciso VIII do arti- acessibilidade;
go 12 da LDB, quanto ao direito ao acesso e à permanência VII – integração dos profissionais da educação, os estu-
na escola de qualidade. dantes, as famílias, os agentes da comunidade interessados
Assim entendida, a qualidade na escola exige de todos na educação;
os sujeitos do processo educativo: VIII – valorização dos profissionais da educação, com
I – a instituição da Política Nacional de Formação de programa de formação continuada, critérios de acesso,
Profissionais do Magistério da Educação Básica, com a fi- permanência, remuneração compatível com a jornada de
nalidade de organizar, em regime de colaboração entre a trabalho definida no projeto político-pedagógico;

27
POLÍTICAS PÚBLICAS DA EDUCAÇÃO

IX – realização de parceria com órgãos, tais como os Organização da Educação Básica


de assistência social, desenvolvimento e direitos humanos,
cidadania, ciência e tecnologia, esporte, turismo, cultura e Em suas singularidades, os sujeitos da Educação Básica,
arte, saúde, meio ambiente. em seus diferentes ciclos de desenvolvimento, são ativos,
No documento “Indicadores de Qualidade na Educa- social e culturalmente, porque aprendem e interagem; são
ção” (Ação Educativa, 2004), a qualidade é vista com um cidadãos de direito e deveres em construção; copartícipes
caráter dinâmico, porque cada escola tem autonomia para do processo de produção de cultura, ciência, esporte e arte,
refletir, propor e agir na busca da qualidade do seu traba- compartilhando saberes, ao longo de seu desenvolvimento
lho, de acordo com os contextos socioculturais locais. físico, cognitivo, socioafetivo, emocional, tanto do ponto de
Segundo o autor, os indicadores de qualidade são si- vista ético, quanto político e estético, na sua relação com
nais adotados para que se possa qualificar algo, a partir a escola, com a família e com a sociedade em movimento.
dos critérios e das prioridades institucionais. Destaque-se Ao se identificarem esses sujeitos, é importante considerar
que os referenciais e indicadores de avaliação são compo- os dizeres de Narodowski (1998). Ele entende, apropriada-
nentes curriculares, porque tê-los em mira facilita a apro- mente, que a escola convive hoje com estudantes de uma
ximação entre a escola que se tem e aquela que se quer, infância, de uma juventude (des) realizada, que estão nas
traduzida no projeto político-pedagógico, para além do ruas, em situação de risco e exploração, e aqueles de uma
que fica disposto no inciso IX do artigo 4º da LDB: defi- infância e juventude (hiper) realizada com pleno domínio
nição de padrões mínimos de qualidade de ensino, como tecnológico da internet, do orkut, dos chats. Não há mais
a variedade e quantidade mínimas, por estudante, de in- como tratar: os estudantes como se fossem homogêneos,
sumos indispensáveis ao desenvolvimento do processo de submissos, sem voz; os pais e a comunidade escolar como
ensino-aprendizagem. objetos. Eles são sujeitos plenos de possibilidades de diá-
Essa exigência legal traduz a necessidade de se reco- logo, de interlocução e de intervenção. Exige-se, portanto,
nhecer que a avaliação da qualidade associa-se à ação pla- da escola, a busca de um efetivo pacto em torno do projeto
nejada, coletivamente, pelos sujeitos da escola e supõe que educativo escolar, que considere os sujeitos-estudantes jo-
vens, crianças, adultos como parte ativa de seus processos
tais sujeitos tenham clareza quanto:
de formação, sem minimizar a importância da autoridade
I – aos princípios e às finalidades da educação, além do
adulta.
reconhecimento e análise dos dados indicados pelo IDEB
e/ou outros indicadores, que complementem ou substi-
Na organização curricular da Educação Básica, devem-
tuam estes;
se observar as diretrizes comuns a todas as suas etapas,
II – à relevância de um projeto político-pedagógico
modalidades e orientações temáticas, respeitadas suas es-
concebido e assumido coletivamente pela comunidade
pecificidades e as dos sujeitos a que se destinam. Cada eta-
educacional, respeitadas as múltiplas diversidades e a plu-
pa é delimitada por sua finalidade, princípio e/ou por seus
ralidade cultural;
objetivos ou por suas diretrizes educacionais, claramente
III – à riqueza da valorização das diferenças manifesta- dispostos no texto da Lei nº 9.394/96, fundamentando-se
das pelos sujeitos do processo educativo, em seus diversos na inseparabilidade dos conceitos referenciais: cuidar e
segmentos, respeitados o tempo e o contexto sociocultu- educar, pois esta é uma concepção norteadora do projeto
ral; político-pedagógico concebido e executado 35 pela comu-
IV – aos padrões mínimos de qualidade (Custo Aluno nidade educacional. Mas vão além disso quando, no pro-
Qualidade inicial – CAQi7 ), que apontam para quanto deve cesso educativo, educadores e estudantes se defrontarem
ser investido por estudante de cada etapa e modalidade da com a complexidade e a tensão em que se circunscreve
Educação Básica, para que o País ofereça uma educação de o processo no qual se dá a formação do humano em sua
qualidade a todos os estudantes. multidimensionalidade.
Para se estabelecer uma educação com um padrão mí-
nimo de qualidade, é necessário investimento com valor Na Educação Básica, o respeito aos estudantes e a seus
calculado a partir das despesas essenciais ao desenvolvi- tempos mentais, socioemocionais, culturais, identitários, é
mento dos processos e procedimentos formativos, que le- um princípio orientador de toda a ação educativa. É res-
vem, gradualmente, a uma educação integral, dotada de ponsabilidade dos sistemas educativos responderem pela
qualidade social: creches e escolas possuindo condições de criação de condições para que crianças, adolescentes, jo-
infraestrutura e de adequados equipamentos e de acessibi- vens e adultos, com sua diversidade (diferentes condições
lidade; professores qualificados com remuneração adequa- físicas, sensoriais e socioemocionais, origens, etnias, gêne-
da e compatível com a de outros profissionais com igual ro, crenças, classes sociais, contexto sociocultural), tenham
nível de formação, em regime de trabalho de 40 horas em a oportunidade de receber a formação que corresponda à
tempo integral em uma mesma escola; definição de uma idade própria do percurso escolar, da Educação Infantil, ao
relação adequada entre o número de estudantes por turma Ensino Fundamental e ao Médio.
e por professor, que assegure aprendizagens relevantes; Adicionalmente, na oferta de cada etapa pode corres-
pessoal de apoio técnico e administrativo que garanta o ponder uma ou mais das modalidades de ensino: Educa-
bom funcionamento da escola. ção Especial, Educação de Jovens e Adultos, Educação do

28
POLÍTICAS PÚBLICAS DA EDUCAÇÃO

Campo, Educação Escolar Indígena, Educação Profissional e


Tecnológica, Educação a Distância, a educação nos estabe- 6. A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO NO BRASIL:
lecimentos penais e a educação quilombola. FUNDAMENTOS HISTÓRICOS.
Assim referenciadas, estas Diretrizes compreendem
orientações para a elaboração das diretrizes específicas
para cada etapa e modalidade da Educação Básica, tendo
como centro e motivação os que justificam a existência da HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO NO BRASIL
instituição escolar: os estudantes em desenvolvimento. Re-
conhecidos como sujeitos do processo de aprendizagens, Contexto Histórico
têm sua identidade cultural e humana respeitada, desen-
volvida nas suas relações com os demais que compõem o A formação do Brasil implica necessariamente na es-
coletivo da unidade escolar, em elo com outras unidades truturação de nosso modelo de ensino porque desde os
escolares e com a sociedade, na perspectiva da inclusão primeiros anos de nossa descoberta sofremos da falta de
social exercitada em compromisso com a equidade e a estrutura e investimento nessa área. Contudo, além do
qualidade. É nesse sentido que se deve pensar e conceber componente histórico que parece ser de comum aceitação,
o projeto político-pedagógico, a relação com a família, o aparece o problema do modelo pedagógico adotado. Nes-
Estado, a escola e tudo o que é nela realizado. Sem isso, é te aspecto ocorre uma polarização e até uma divisão tripla
difícil consolidar políticas que efetivem o processo de inte- se quisermos englobar a escola técnica (anos 70). Ou seja,
gração entre as etapas e modalidades da Educação Básica as posturas mais adotadas em nosso país são justamente
e garanta ao estudante o acesso, a inclusão, a permanên- a pedagogia tradicional (método fonético) e a escola nova
cia, o sucesso e a conclusão de etapa, e a continuidade de (construtivismo).
seus estudos. Diante desse entendimento, a aprovação das Segundo Xavier, de um lado está a escola tradicional,
Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação aquela que dirige que modela, que é ‘comprometida’; de
Básica e a revisão e a atualização das diretrizes específicas outro está a escola nova, a verdadeira escola, a que não di-
de cada etapa e modalidade devem ocorrer mediante diá- rige, mas abre ao humano todas as suas possibilidades de
logo vertical e horizontal, de modo simultâneo e indisso- ser. É, portanto, ‘descompromissada’. É o produzir contra
ciável, para que se possa assegurar a necessária coesão dos o deixar ser; é a escola escravizadora contra a escola liber-
fundamentos que as norteiam. tadora; é o compromisso dos tradicionais que deve ceder
lugar à neutralidade dos jovens educadores esclarecidos.
Etapas da Educação Básica Aparentemente temos a impressão de que o grande
problema de nossa deficiência educacional se resume a o
Quanto às etapas correspondentes aos diferentes mo- problema da rigidez do modelo tradicional de ensino, mas
mentos constitutivos do desenvolvimento educacional, a ao aprofundarmos nossa investigação constáramos que a
Educação Básica compreende: péssima qualidade de ensino presente nas escolas do Brasil
I – a Educação Infantil, que compreende: a Creche, acontece devido, em parte tanto a falta de estrutura edu-
englobando as diferentes etapas do desenvolvimento da cacional adequada como pela desestruturação das poucas
criança até 3 (três) anos e 11 (onze) meses; e a Pré-Escola, bases presentes na pedagogia tradicional, causada pela críti-
com duração de 2 (dois) anos. ca dos escolanovistas, que acreditavam piamente que pura-
II – o Ensino Fundamental, obrigatório e gratuito, com mente pela crítica se atingiria uma melhoria no aprendizado.
duração de 9 (nove) anos, é organizado e tratado em duas No entender de SAVIANI a escola tradicional procura-
fases: a dos 5 (cinco) anos iniciais e a dos 4 (quatro) anos va ensinar e transmitia conhecimento, a escola nova estava
finais; preocupada em apenas considerara o aprender a aprender.
III – o Ensino Médio, com duração mínima de 3 (três) E posteriormente a escola técnica detinha-se em simples-
anos. mente considerar necessário o ensino da técnica. Até o iní-
Estas etapas e fases têm previsão de idades próprias, cio do século XX a educação no Brasil esteve praticamente
as quais, no entanto, são diversas quando se atenta para abandonada, no entender de Romanelli: a economia co-
alguns pontos como atraso na matrícula e/ou no percurso lonial brasileira fundada na grande propriedade e não na
escolar, repetência, retenção, retorno de quem havia aban- mão-de-obra escrava teve implicações de ordem social e
donado os estudos, estudantes com deficiência, jovens e política bastante profundas. Ela favorece o aparecimento
adultos sem escolarização ou com esta incompleta, habi- da unidade básica do sistema de produção, de vida social
tantes de zonas rurais, indígenas e quilombolas, adoles- e do sistema de poder representado pela família patriarcal.
centes em regime de acolhimento ou internação, jovens e Assim, a educação no Brasil caminhou por veredas tor-
adultos em situação de privação de liberdade nos estabe- tuosas desde o início, reservada a uma elite dominante e
lecimentos penais. totalmente exploradora, sempre esteve voltada a estrati-
ficação e dominação social. Esteve arraigada por diversos
Fonte: BRASIL. Diretrizes Curriculares Nacionais Da séculos em nossa sociedade a concepção de dominação
Educação Básica, 2013. cultural de uma parte minúscula da mesma, configurando-
se na ideia básica de que o ensino era apenas para alguns,
e por isso os demais não precisariam aprender.

29
POLÍTICAS PÚBLICAS DA EDUCAÇÃO

As oligarquias do período colonial e monárquico es- A superação dessa distorção far-se-ia por intermédio da
tavam profundamente fundamentadas na dominação via educação. Tendo por função “reforçar os laços sociais, pro-
controle do saber. Caracterizou-se nesse período colonial, mover a coesão e garantir a integração de todos os indiví-
bem como no monárquico, um modelo de importação de duos no corpo social”, permitindo a superação da marginali-
pensamento, principalmente da Europa e consequente- dade. Por outro lado, os que defendem uma postura crítica
mente a matriz de aprendizagem escolar fora introduzida entendem que a sociedade como sendo essencialmente
no mesmo momento. Nas palavras de Romanelli, foi a fa- marcada pela divisão entre grupos ou classes antagônicas
mília patriarcal que favoreceu, pela natural receptividade, a que se relacionam à base da força, a qual se manifesta fun-
importação de formas de pensamento e ideias dominantes damentalmente nas condições de produção da vida mate-
na cultura medieval europeia, feita através da obra dos Je- rial. Nesse quadro a marginalidade é entendida como um
suítas”. fenômeno inerente à própria estrutura da sociedade.
Assim, a classe dominante tinha de ser detentora dos Assim, a educação assume um papel de produtora da
meios de conhecimento e de ensino. Isso implicou no mo- marginalização, porque produz a marginalidade cultural e
delo aristocrático de vida presente em nossa sociedade co- de maneira especifica a escolar. No entender de Saviani
lonial e posteriormente na corte de D. Pedro. Existiram dois existem três modalidades diferentes de configurar os mo-
fatores fundamentais na formação do modelo educacional delos educacionais expressos pelas duas teorias expressas
brasileiro, ou seja, “a organização social (...) e o conteúdo anteriormente, isto é, a tradicional, fundada na relação en-
cultural que foi transportado para a colônia, através da for- sino aprendizagem e na relação professor aluno; a escola
mação dos padres da companhia de Jesus”. nova, que entende como fundamental a necessidade de
No primeiro fator aparece com mais intensidade a pre- aprender a aprender e na função de acompanhar o desen-
dominância de uma minoria de donos de terra e senhores volvimento individual do estudante por parte do professor;
de engenho sobre uma massa de agregados e escravos. e por último aparece a concepção técnica que se funda no
Apenas àqueles cabia o direito à educação e, mesmo assim, fazer e elimina totalmente a relação professor aluno.
em número restrito, porquanto deveriam estar excluídos Segundo Saviani a concepção crítica não apresenta ne-
dessa minoria as mulheres e os filho primogênitos. Limita- nhuma proposta para substituir a pedagogia tradicional e
va-se o ensino a uma determinada classe da população, ou por isso não permite ser pensada como uma solução do
seja, apenas a classe dominante. Surge claramente um dos problema da relação entre escola e marginalidade social.
fundamentos da baixa escolaridade de nossa população e Ao apresentar uma solução possível para a questão Saviani
da falta de recursos para a eliminação das diferenças entre aponta para a definição de prioridades políticas fundadas
as classes. no princípio aristotélico de animal político, tudo englobaria
A segunda contribuição para a formação de nosso o ato de educar.
sistema educacional deficitário é justamente o conteúdo Assim, a educação sempre possui uma dimensão políti-
do ensino dos Jesuíta, “caracterizado sobretudo por uma ca tenhamos ou não consciência disso, portanto assume-se
enérgica reação contra o pensamento crítico”, contudo, a um caráter educativo e político para a educação e este só
maneira como os Jesuítas cultivavam as letras permitiu al- cumpre seu papel quando permite a formação integral do
gum alvorecer em nossa literatura. indivíduo. Mas o desafio permanece, como podemos falar
em educação global se vivemos em uma sociedade frag-
O conflito entre as diferentes posturas de ensino mentada, imbuída de diferentes conceitos de razão, edu-
A relação entre escola e democracia depende de dife- cação, ética, política, marginalidade, sociedade e cultura?
rentes aspectos presentes na sociedade. Contudo, parece No entender de Saviani existem onze teses acerca
que o problema aparece realmente nas teorias de edu- da educação que precisam ser consideradas como funda-
cação. Isso se expressa pelo elevado índice de analfabe- mentais no engajamento político. Isto é, o agir educativo
tismo funcional, configurando uma marginalidade desses sempre cumpre um papel fundamental na estruturação da
indivíduos analfabetos. Por outro lado, “no segundo grupo, sociedade. O modelo tortuoso e desorganizado de nosso
estão as teorias que entendem ser a educação um instru- sistema educacional gera aberrações como as que vemos
mento de discriminação social, logo, um fator de margina- nas instituições de ensino público superior. Ou seja, os que
lização” (SAVIANI, 2003). deveriam ter acesso as escolas públicas superiores não
Deste modo, podemos constatar que ambos os gru- conseguem e os que podem pagar adentram as portas das
pos explicam a questão da marginalidade a partir de uma universidades públicas.
determinada concepção da relação entre educação e so-
ciedade. Assim, ambos os grupos destoam partindo de um A teoria da complexidade e sua relação com a educação
mesmo referencial, com isso, para os não-críticos (primeiro contemporânea
grupo) Segundo MORIN a sociedade contemporânea possui
A sociedade é concebida como essencialmente harmo- elementos diversificados e complexos, isto significa que o
niosa, tendendo a integração de seus membros. A margi- ensino precisa estar atento a complexidade da vida con-
nalidade é, pois, um fenômeno acidental que afeta indivi- temporânea.
dualmente um número maior ou menor de seus membros, Desta forma, a incorporação dos sete saberes como
o que, no entanto, constitui um desvio, uma distorção que fundamentos para desenvolver o homem moderno. Dentro
não pode como deve ser corrigida. deste cenário a sociedade se preocupa cada vez mais com

30
POLÍTICAS PÚBLICAS DA EDUCAÇÃO

a realidade escolar e com a formação dos indivíduos, so- ca ainda é profundamente marcada pela desigualdade no
bretudo precisa-se de criatividade para mudar a realidade quesito da qualidade e é possível constatar que o direito
brasileira. Contudo, “O conhecimento disciplinar, e conse- de aprender ainda não está garantido para todas as nos-
quentemente a educação, têm priorizado a defesa de sabe- sas crianças, adolescentes, jovens e mesmo para os adul-
res concluídos, inibindo a criação de novos saberes e deter- tos que retornaram aos bancos escolares. Uma das mais
minando um comportamento social a eles subordinado”. importantes marcas dessa desigualdade está expressa no
Por isso a interdisciplinaridade entre os diferentes sa- aspecto racial. Estudos realizados no campo das relações
beres seria essencial para resolver esse problema. Morin raciais e educação explicitam em suas séries históricas que
entende que o conhecimento na complexidade a população afrodescendente está entre aquelas que mais
É a viagem em busca de um modo de pensamento ca- enfrentam cotidianamente as diferentes facetas do pre-
paz de respeitar a multidimensionalidade, a riqueza, o mis- conceito, do racismo e da discriminação que marcam, nem
tério do real; e de saber que as determinações – cerebral, sempre silenciosamente, a sociedade brasileira.
cultural, social, histórica – que impõem a todo o pensa- O acesso às séries iniciais do Ensino Fundamental, pra-
mento, co-determinam sempre o objeto de conhecimento. ticamente universalizado no país, não se concretiza, para
É isto que eu designo por pensamento complexo. negros e negras, nas séries finais da educação básica. Há
Trata-se de um pensamento desprovido de certezas evidências de que processos discriminatórios operam nos
e verdades científicas, que considera a diversidade e a in- sistemas de ensino, penalizando crianças, adolescentes, jo-
compatibilidade de ideias, crenças e percepções, integran- vens e adultos negros, levando-os à evasão e ao fracasso,
do-as à sua complementaridade. “A consciência nunca tem resultando no reduzido número de negros e negras que
a certeza de transpor a ambiguidade e a incerteza”. Morin chegam ao ensino superior, cerca de 10% da população
refere-se ao princípio da incerteza tal como formulado por universitária do país. Sabe-se hoje que há correlação entre
Werner Heisenberg, físico, um dos precursores da mecâni- pertencimento étnicorracial e sucesso escolar, indicando
ca quântica. Esse princípio baseia-se na falibilidade lógica, portanto que é necessária firme determinação para que
no surgimento da contradição presente na realidade física a diversidade cultural brasileira passe a integrar o ideário
e na indeterminabilidade da verdade científica. Assim, o educacional não como um problema, mas como um rico
conceito de lógica tradicional fundado em Aristóteles não acervo de valores, posturas e práticas que devem conduzir
pode mais responder aos anseios da sociedade moderna, ao melhor acolhimento e maior valorização dessa diversi-
a lógica da complexidade assume novas probabilidades e dade no ambiente escolar.
possibilidades. A Lei 10639, de X janeiro de 2003, é um marco históri-
Com efeito, promover, pois, a qualidade ética em edu- co. Ela simboliza, simultaneamente, um ponto de chegada
cação, componente indispensável da qualidade total, e re- das lutas antirracistas no Brasil e um ponto de partida para
formular o modo de se relacionar de todos os atores na a renovação da qualidade social da educação brasileira.
escola, educadores e educandos, de acordo com as dife- Ciente desses desafios, o Conselho Nacional de Educação,
rentes características do agir humano radicado na liberda- já em 2004, dedicou-se ao tema e, em diálogo com rei-
de e voltado para o bem. Portanto, a complexidade como vindicações históricas dos movimentos sociais, em especial
teoria de ação precisa levar em conta a ética na conduta do movimento negro, elaborou parecer e exarou resolu-
pratica do profissional da educação. ção, homologada pelo Ministro da Educação, no sentido
de orientar os sistemas de ensino e as instituições dedi-
Referência: cadas à educação, para que dediquem cuidadosa atenção
STIGAR, R.; SCHUCK, N: Refletindo sobre a História da à incorporação da diversidade etnicorracial da sociedade
Educação no Brasil. brasileira nas práticas escolares, como propõe a Lei 10639.
Importante destacar a luta dos movimentos sociais ao
criar um conjunto de estratégias por meio das quais os seg-
mentos populacionais considerados diferentes passaram
7. EDUCAÇÃO, HISTÓRIA E CULTURA AFRO- cada vez mais a destacar politicamente as suas singulari-
dades, cobrando que estas sejam tratadas de forma justa
BRASILEIRA.
e igualitária, exigindo que o elogio à diversidade seja mais
do que um discurso sobre a variedade do gênero humano.
Nesse sentido, é na escola onde as diferentes presenças se
encontram e é nas discussões sobre currículo onde estão
PLANO ETNICO-RACIAL os debates sobre os conhecimentos escolares, os proce-
dimentos pedagógicos, as relações sociais, os valores e as
São inegáveis os avanços que a educação brasileira identidades dos alunos e alunas. Na política educacional,
vem conquistando nas décadas mais recentes. Consideran- a implementação da Lei 10639/2003, uma das primeiras
do as dimensões do acesso, da qualidade e da equidade, leis sancionadas, significa estabelecer novas diretrizes e
no entanto, pode-se verificar que as conquistas ainda estão práticas pedagógicas que reconheçam a importância dos
restritas ao primeiro aspecto e que as dimensões de qua- africanos e afrobrasileiros no processo de formação nacio-
lidade e equidade constituem os maiores desafios a serem nal. Para além do impacto positivo junto à população e da
enfrentados neste início do século XXI. A educação bási- republicanização da escola brasileira, essa lei deve ser en-

31
POLÍTICAS PÚBLICAS DA EDUCAÇÃO

carada como parte fundamental do conjunto das políticas ciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira
que visam à educação de qualidade como um direito de e Africana – Lei 10639/2003, documento ora apresentado
todos e todas. é resultado das solicitações advindas dos anseios regio-
As alterações propostas na Lei de Diretrizes e Bases da nais, consubstanciada pelo documento Contribuições para
Educação 9394/1996 pela Lei 10639/2003, geraram uma a Implementação da Lei 10639/2003: Proposta de Plano
série de ações do governo brasileiro para sua implemen- Nacional de Implementação das Diretrizes Curriculares Na-
tação, visando inicialmente contextualizar o texto da Lei. cionais da Educação das Relações Étnico-raciais e para o
Nesse sentido, o Conselho Nacional de Educação aprovou Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana – Lei
as Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação das Re- 10639/2003, fruto de seis encontros denominados Diálo-
lações Etnicorraciais e para o Ensino de História e Cultu- gos Regionais sobre a Implementação da Lei 10639/03, do
ra Afrobrasileira e Africana (Parecer CNE/CP nº. 03 de 10 conjunto de ações que o MEC desenvolve, principalmente
de março de 2004), onde são estabelecidas orientações a partir da fundação da SECAD em 2004, documentos e
de conteúdos a serem incluídos e trabalhados e também textos legais sobre o assunto. Cabe aqui registrar e agra-
as necessárias modificações nos currículos escolares, em decer à UNESCO, aos técnicos do MEC e da SEPPIR, aos
todos os níveis e modalidades de ensino. A Resolução movimentos sociais e ao movimento negro, ao CONSED e
CNE/CP nº 01, publicada em 17 de junho de 2004, deta- à UNDIME, além de intelectuais e militantes da causa antir-
lha os direitos e obrigações dos entes federados frente à racista pelo forte empenho com que se dedicaram à tarefa
implementação da Lei 10639/2003. A esse respeito, cabe de avaliar e propor estratégias que garantam a mais ampla
ressaltar a qualidade do Parecer nº 03/2004 emitido pelo e efetiva implementação das diretrizes contidas nos docu-
Conselho Nacional de Educação, que, além de tratar com mentos legais já citados.
clareza o processo de implementação da Lei, abordou a O Plano tem como finalidade intrínseca a institucio-
questão com lucidez e sensibilidade, reafirmando o fato de nalização da implementação da Educação das Relações
que a educação deve concorrer para a formação de cida- Etnicorraciais, maximizando a atuação dos diferentes ato-
dãos orgulhosos de seu pertencimento etnicorracial, qual- res por meio da compreensão e do cumprimento das Leis
quer que seja este, cujos direitos devem ser garantidos e 10639/2003 e 11645/08, da Resolução CNE/CP 01/2004 e
cujas identidades devem ser valorizadas. Posteriormente, do Parecer CNE/CP 03/2004. O Plano não acrescenta ne-
a edição da Lei 11645/2008 veio corroborar este entendi- nhuma imposição às orientações contidas na legislação
mento, reconhecendo que indígenas e negros convivem citada, antes busca sistematizar essas orientações, focali-
com problemas de mesma natureza, embora em diferentes zando competências e responsabilidades dos sistemas de
proporções. ensino, instituições educacionais, níveis e modalidades. O
Assim, os preceitos enunciados na nova legislação texto do Plano Nacional foi construído como um docu-
trouxeram para o Ministério da Educação o desafio de mento pedagógico que possa orientar e balizar os sistemas
constituir em parceria com os sistemas de ensino, para to- de ensino e as instituições educacionais na implementa-
dos os níveis e modalidades, uma Educação para as Rela- ção das Leis 10639/2003 e 11645/2008. A introdução traça
ções Etnicorraciais, orientada para a divulgação e produção um breve histórico do caminho percorrido até aqui pela
de conhecimentos, bem como atitudes, posturas e valores temática etnicorracial na educação e as ações executadas
que eduquem cidadãos quanto à pluralidade etnicorracial, para atendimento da pauta; a primeira parte é constituída
tornando-os capazes de interagir e de negociar objetivos pelas atribuições específicas a cada um dos atores para a
comuns que garantam, a todos, respeito aos direitos le- operacionalização colaborativa na implementação das Leis
gais e valorização de identidade, na busca da consolidação 10639/03 e 11645/08; a segunda parte é composta por
da democracia brasileira. Por este motivo, a compreensão orientações gerais referentes aos níveis e modalidades de
trazida pela Lei 11645/2008, sempre que possível, está ex- ensino. A terceira parte foi construída com recomenda-
pressa neste Plano Nacional. O Ministério da Educação, ções para as áreas de remanescentes de quilombos, pois
seguindo a linha de construção do processo democrático entendemos que os negros brasileiros que aí residem são
de acesso à educação e garantia de oportunidades educa- públicos específico e demandam ações diferenciadas para
tivas para todas as pessoas, entende que a implementação implementação da Lei e a conquista plena do direito de
ordenada e institucionalizada das Diretrizes Curriculares aprender.
Nacionais de Educação para a Diversidade Etnicorracial é
também uma questão de equidade, pertinência, relevância, À SECAD, como órgão responsável no MEC pelos te-
eficácia e eficiência (UNESCO/OREALC, 2007). mas da diversidade, coube uma decisão complexa: a Lei
10639, de 2003, contou com a lúcida contribuição do Con-
Portanto, com a regulamentação da alteração da LDB selho Nacional de Educação para sua regulamentação, ex-
Lei n. 9.394/1996, trazida inicialmente pela Lei 10639/03, e pressa no Parecer e na Resolução já amplamente citados. O
posteriormente pela Lei 11645/08, buscou cumprir o esta- mesmo não ocorreu, todavia, com a Lei 11645 de 2008 que
belecido na Constituição Federal de 1988, que prevê a obri- igualmente altera a LDB nos mesmos artigos. No entanto,
gatoriedade de políticas universais comprometidas com a o CNE, em sua manifestação, já antevia, com clareza, que
garantia do direito à educação de qualidade para todos e o tema do preconceito, do racismo e da discriminação, se
todas. O Plano Nacional de Implementação das Diretrizes por um lado atinge mais forte e amplamente a população
Curriculares Nacionais da Educação das Relações Étnico-ra- negra, também se volta contra outras formas da diversida-

32
POLÍTICAS PÚBLICAS DA EDUCAÇÃO

de e o Parecer, em diversas passagens, alerta para a neces- A SEPPIR é responsável pela formulação, coordenação
sidade de contemplar a temática indígena em particular, e articulação de políticas e diretrizes para a promoção da
quando se tratar da educação para as relações etnicorra- igualdade racial e proteção dos direitos dos grupos raciais
ciais. Face a esta orientação do espírito do Parecer, a SE- e étnicos discriminados, com ênfase na população negra.
CAD optou por incluir referências à Lei 11645, sempre que No planejamento governamental, à pauta da inclusão so-
couber, de modo a fazer deste Plano uma ação orientada cial foi incorporada a dimensão Etnicorracial e, ao mesmo
para o combate a todas as formas de preconceito, racismo tempo, a meta da diminuição das desigualdades raciais
e discriminação que porventura venham a se manifestar no como um dos desafios de gestão.
ambiente escolar. O Plano de Desenvolvimento da Educa-
ção, lançado pelo Presidente Luiz Inácio Lula da Silva e pelo O papel indutor do Ministério da Educação Em feverei-
Ministro da Educação Fernando Haddad, contempla um ro de 2004, o Ministério da Educação, na perspectiva de es-
amplo conjunto de ações que, apoiado na visão sistêmica tabelecer uma arquitetura institucional capaz de enfrentar
da educação, busca articular, da creche à pós- graduação, as múltiplas dimensões da desigualdade educacional do
políticas voltadas para garantir o acesso, a qualidade e a país, criou a Secretaria de Educação Continuada, Alfabeti-
equidade na educação brasileira, em todos os seus níveis zação e Diversidade (SECAD). Essa Secretaria surge com o
e modalidades. O PDE, na medida em enxerga a educação desafio de desenvolver e implementar políticas de inclusão
como um todo, cria as condições necessárias para ampliar educacional, considerando as especificidades das desigual-
a qualidade social do ensino oferecido a nossas crianças, dades brasileiras e assegurando o respeito e valorização
adolescentes, jovens e adultos. Já foi dito, com razão, que dos múltiplos contornos de nossa diversidade Etnicorracial,
as lutas de libertação libertam também os opressores. Já cultural, de gênero, social, ambiental e regional. A institui-
foi constatado que as manifestações do preconceito estão ção da SEPPIR e da SECAD, e a profícua parceria entre estas
amparadas em visões equivocadas de superioridade entre duas Secretarias está dada em diversas ações e programas
diferentes, transformando diferenças em desigualdades. e traduzem uma ampla conjugação de esforços em todo o
Por tudo isso, incluir a temática da Lei 11645 neste Pla- país para implementação de políticas públicas de combate
no faz justiça às lutas dos movimentos negros no Brasil que à desigualdade.
desde há muito alertam a sociedade brasileira para o que, Participam também de sua formulação e desenvolvi-
infelizmente existe e não é reconhecido: há racismo em mento, a SPM e a SEDH, e assim, face os diversos níveis de
nossa sociedade e ele deve ser combatido firmemente, seja abordagens para o desenvolvimento da democracia parti-
qual for o grupo que sofra a discriminação e o preconceito. cipativa, com o fortalecimento dos importantes segmen-
A sociedade brasileira deve ao movimento negro um tribu- tos da sociedade organizada e de instituições outras que
to por sua coragem em se empenhar, com determinação e representam gestores educacionais, o Estado estabelece
persistência, pela construção de uma sociedade nova, onde as bases para que políticas públicas de educação para a
a diferença seja vista como uma riqueza e não como um diversidade se tornem uma realidade no país e fomenta
pretexto para justificar as desigualdades. A expectativa da sua continuidade, construindo colaborativamente com os
SEPPIR, da SECAD/MEC e de todos os parceiros envolvidos mais diversos setores as linhas de ação que anteveem sua
na construção deste Plano é que ele seja um instrumento maior abrangência e benefício dos cidadãos historicamen-
para a construção de uma escola plural, democrática, de te mais vulneráveis. Sintonizada com este pressuposto, a
qualidade, que combata o preconceito, o racismo e todas Resolução CNE/CP nº 1/2004, publicada no Diário Oficial
as formas de discriminação, respeitando e valorizando as da União (DOU) em 22/6/2004, instituiu as Diretrizes Curri-
diferenças que fazem a riqueza de nossa cultura e de nossa culares Nacionais para a educação das relações Etnicorra-
sociedade. ciais e para o ensino de história e cultura afro- brasileira e
africana. O Parecer CNE/CP nº 003/2004, homologado em
I – Introdução 19 de maio de 2004 pelo Ministro da Educação, expressa
Nos últimos anos, em especial a partir da Conferência em seu texto que as políticas de ações afirmativas, no cam-
Mundial contra o racismo, discriminação racial, Xenofobia po educacional, buscam garantir o direito de negros e ne-
e Intolerâncias Correlatas, realizada em Durban, África do gras e de todos os cidadãos brasileiros ao acesso em todos
Sul, em 2001, observa-se um avanço das discussões acerca os níveis e modalidades de ensino, em ambiente escolar
da dinâmica das relações raciais no Brasil, em especial, das com infraestrutura adequada, professores e profissionais
diversas formas de discriminação racial vivenciadas pela da educação qualificados para as demandas contempo-
população negra. Em consequência, na primeira gestão râneas da sociedade brasileira, e em especial capacitados
do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com a criação, em para identificar e superar as manifestações de preconcei-
2003, da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da tos, racismos e discriminações, produzindo na escola uma
Igualdade Racial (SEPPIR) – que representa a materializa- nova relação entre os diferentes grupos etnicorraciais, que
ção de uma histórica reivindicação do movimento negro propicie efetiva mudança comportamental na busca de
em âmbito nacional e internacional - a questão racial é in- uma sociedade democrática e plural.
cluída como prioridade na pauta de políticas públicas do O parecer procura oferecer uma resposta, entre outras,
País. É uma demonstração do tratamento que a temática na área da educação, à demanda da população afrodes-
racial passaria a receber dos órgãos governamentais a par- cendente, no sentido de políticas de ações afirmativas,
tir daquele momento. isto é, de políticas de reparações, e de reconhecimento e

33
POLÍTICAS PÚBLICAS DA EDUCAÇÃO

valorização de sua história, cultura, identidade. Trata, ele, sica, a criação do Grupo Interministerial para a realização
de política curricular, fundada em dimensões históricas, da proposta do Plano Nacional de Implementação da Lei
sociais, antropológicas oriundas da realidade brasileira, e 10639/03, participação orçamentária e elaborativa no Pro-
busca combater o racismo e as discriminações que atin- grama Brasil Quilombola, como também na Agenda Social
gem particularmente os negros. Nesta perspectiva, propõe Quilombola, participação na Rede de Educação Quilombo-
à divulgação e produção de conhecimentos, a formação de la, além de assistência técnica a Estados e Municípios para
atitudes, posturas e valores que eduquem cidadãos orgu- a implementação das Leis 10639/2003 e 11645/2008.
lhosos de seu pertencimento Etnicorracial - descendentes
de africanos, povos indígenas, descendentes de europeus, Em 2005, um milhão de exemplares da cartilha das
de asiáticos – para interagirem na construção de uma na- DCNs da Educação das Relações Etnicorraciais foram publi-
ção democrática, em que todos, igualmente, tenham seus cados e distribuídos pelo MEC a todos os sistemas de ensi-
direitos garantidos e sua identidade valorizada. (Parecer no no território nacional. Seu texto foi disponibilizado em
CNE/CP nº 03/2004) domínio público e inserido em outras publicações, como
no livro Orientações e Ações para Educação das Relações
O MEC ampliou e criou ações afirmativas voltadas para Etnicorraciais, publicado pelo MEC/SECAD em 2006, tam-
promoção do acesso e permanência à educação superior bém com larga distribuição. O Programa Diversidade na
como o PROUNI, dirigido aos estudantes egressos do en- Universidade, uma cooperação internacional entre o MEC e
sino médio da rede pública ou da rede particular na con- o BID com gestão da UNESCO instituído pela Lei nº 10.558,
dição de bolsistas integrais, com renda per capita familiar de 13 de novembro de 2002, tinha como objetivo defender
máxima de três salários mínimos. Já atendeu, desde 2004, a inclusão social e o combate à exclusão social, étnica e
ano de sua criação, cerca de 500 mil alunos, sendo 70% racial. Isso significou melhorar as condições e as oportuni-
deles com bolsa integral. O Programa Universidade para dades de ingresso no ensino superior para jovens e adul-
Todos, somado à expansão das Universidades Federais e ao tos de grupos socialmente desfavorecidos, especialmente
Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão de populações afro-descendentes e povos indígenas. Os
das Universidades Federais - REUNI, ampliam significativa- Projetos Inovadores de Curso (PICs) representaram cerca
mente o número de vagas na educação superior, contri- de 65% dos recursos financeiros do programa, no apoio
buindo para o cumprimento de uma das metas do Plano aos cursos preparatórios para vestibulares populares e co-
Nacional de Educação, que prevê a oferta de educação su- munitários voltados para afro-brasileiros e indígenas, assim
perior até 2011 para, pelo menos, 30% dos jovens de 18 a como programas de fortalecimento de negros e negras no
24 anos. O Programa Conexões de Saberes realiza perma- Ensino Médio. Foram também garantidos auxílios a estu-
nência com sucesso de alunos de origem popular, ligado as dantes universitários por meio de bolsas para permanên-
Pró-reitorias de Extensão das IFES, e atendeu, desde 2005, cia de alunos egressos dos PICs. No ano de 2007, 36 PICS
cerca de 5 mil estudantes. O debate sobre as ações afir- foram financiados diretamente pela SECAD/MEC. Outra
mativas ganhou corpo e instituiu uma agenda de políticas ação desenvolvida pelo Programa, as oficinas de Cartogra-
públicas e institucionais para a promoção da igualdade ra- fia sobre Geografia Afro-brasileira e Africana, beneficiou
cial na sociedade brasileira.1 Em conjunto a SEPPIR, e com 4.000 educadores, em 7 estados da federação, 214 alunos
outros órgãos da Administração Federal, o MEC tem par- de universidades estaduais e federais e 10.647 professores
ticipado ativamente, com elaboração de pareceres, forne- até 2006. O Programa Cultura Afro, entre 2005 e 2006, teve
cimento de dados, presença em audiências públicas, entre como objetivo prestar assistência financeira para formação
outras ações para a aprovação do Projeto da Lei de Cotas, de professores e material didático na temática no âmbito
no Congresso Nacional. A política de reserva de vagas no da Educação Básica (Ensino Fundamental), com orçamento
ensino superior público brasileiro, que atinge 52 institui- no valor de R$ 3 milhões. Foram contemplados os municí-
ções no ano de 2009, revela a legitimidade e a legalidade pios das capitais brasileiras, Distrito Federal e os municípios
das ações afirmativas. Todo esse contexto favorável impul- que possuíam Órgãos de Promoção de Igualdade Racial
sionou o trabalho da SECAD/MEC na promoção da edu- (FIPPIR), reconhecidos pela SEPPIR.
cação das relações etnicorraciais. Na formulação de uma
política educacional de implementação da Lei 10639/03, o Em 2004/2005, foram realizados eventos regionais
MEC executou uma série de ações das quais podemos citar: e estaduais com a proposta de manter um diálogo entre
formação continuada presencial e a distância de professo- poder público e sociedade civil, com o objetivo de divul-
res na temática da diversidade Etnicorracial em todo o país, gar e discutir as DCN’s para a Educação das Relações Etni-
publicação de material didático, realização de pesquisas na corraciais, resultando na criação de 16 (dezesseis) Fóruns
temática, fortalecimento dos Núcleos de Estudos Afrobra- Estaduais de Educação e Diversidade Etnicorracial. Essa
sileiros (NEAB`s) constituídos nas Instituições Públicas de indução proporcionou a criação, no âmbito de secretarias
Ensino, através do Programa UNIAFRO (SECAD/SESU), os de educação de estados e municípios, de Núcleos, Coorde-
Fóruns Estaduais e Municipais de Educação e Diversidade nações, Departamentos ou outros organismos destinados
Etnicorracial, a implementação, as publicações específicas ao desenvolvimento de ações para educação e diversidade.
sobre a Lei dentro da Coleção Educação Para Todos, a in- A formação continuada presencial de professores e educa-
serção da discussão inclusão e diversidade como um dos dores foi desenvolvida por meio do Programa UNIAFRO,
eixos temáticos da Conferência Nacional da Educação Bá- coordenado pelos Núcleos de Estudos Afro-Brasileiros; Em

34
POLÍTICAS PÚBLICAS DA EDUCAÇÃO

2007 e 2008 o programa promoveu 1.245 Especializações; Essas ações e a realização desse Plano Nacional mos-
1.470 Aperfeiçoamentos e Extensões. O Programa UNIA- tram todo o empenho do governo brasileiro, na área
FRO de 2005 a 2008 recebeu investimento do MEC de mais educacional, para a implementação da Educação para as
de R$ 5 milhões, e também desenvolveu ações de pesqui- Relações Etnicorraciais. O Parecer CNE/CP 03/2004 preo-
sa, seminários e publicações acadêmicas, cerca de 90 títu- cupou-se também em fornecer definições conceituais
los, voltadas para a Lei 10639. Nos anos de 2006 e 2007 a importantes para aqueles que trabalham com a temática,
formação continuada de professores a distância foi reali- sendo relações etnicorraciais um conceito basilar de toda
zada no curso Educação-Africanidades-Brasil, desenvolvido a política proposta. O sucesso das políticas públicas de
pela UNB, e História da Cultura Afrobrasileira e Africana, Estado, institucionais e pedagógicas, [...] em outras pala-
executado pela Ágere, beneficiando mais de 10.000 pro- vras, todos os alunos negros e não negros, bem como seus
fessores da rede pública. A partir do ano de 2008, a for- professores, precisam sentir-se valorizados e apoiados.
mação a distância para a temática está a cargo da Rede Depende também, de maneira decisiva, da reeducação das
de Educação para a Diversidade, que funciona dentro da relações entre negros e brancos, o que aqui estamos de-
rede Universidade Aberta do Brasil (UAB/MEC), cujo ofere- signando como relações Etnicorraciais. Depende, ainda, de
cimento de vagas chegou próximo a 3000, na sua primeira trabalho conjunto, de articulação entre processos educati-
edição. Foram produzidos e distribuídos, entre os anos de vos escolares, políticas públicas, movimentos sociais, visto
2005 e 2007, 29 títulos da Coleção Educação para Todos que as mudanças éticas, culturais, pedagógicas e políticas
(SECAD/UNESCO), dos quais seis se referem diretamente nas relações Etnicorraciais não se limitam à escola. É impor-
à implementação da Lei 10639/2003, numa tiragem total tante, também, explicar que o emprego do termo étnico,
de 223.900 exemplares. Em parceria com Fundação Rober- na expressão Etnicorracial, serve para marcar que essas re-
to Marinho, houve a produção de 1000 kits do material A lações tensas devidas a diferenças na cor da pele e traços
Cor da Cultura (2005), capacitando 3.000 educadores. Em fisionômicos o são também devido à raiz cultural plantada
2009, 18750 kits serão reproduzidos e distribuídos a todas na ancestralidade africana, que difere em visão de mun-
as Secretarias Estaduais e Municipais de Educação no Bra- do, valores e princípios das de origem indígena, europeia e
sil. Os livros Orientações e Ações para a implementação da asiática. (Parecer CNE/CP nº 03/2004)
Educação das Relações Etnicorraciais, 54.000 exemplares, e
“Superando o Racismo na Escola”, 10.000 exemplares, or- Em 2007, avaliações realizadas pela SECAD/MEC veri-
ganizado pelo Professor Kabenguele Munanga, foram dis- ficaram que a implementação das DCN’s da Educação das
tribuídos para as Secretarias de Educação e em cursos de Relações Etnicorraciais precisava ganhar mais amplitude e
formação continuada para a Lei 10639, para os professores, escala, tendo em vista o crescimento geométrico da de-
público ao qual se dirigem as obras. manda por formação de profissionais da educação e de
material didático voltado para a temática. Para corroborar
Em dezembro de 2007, a SECAD/MEC descentralizou e socializar essas constatações iniciais, em novembro de
recursos para a tradução e atualização dos 8 volumes da 2007, o MEC, em parceria com a UNESCO, realizou oficina
coleção História Geral da África, produzida pela UNESCO, para avaliar a implementação da Lei 10639/03, resultando
e que possuía apenas 4 volumes traduzidos no Brasil, na em documento entregue ao Ministro Fernando Haddad no
década de 1980. Em 2008, foram publicados pela SECAD/ dia 18 de dezembro de 2007. O resultado imediato foi a ins-
MEC dois materiais didáticos específicos para a utilização tituição, por meio da Portaria Interministerial nº 605 MEC/
nas escolas brasileiras com objetivo de implementação da MJ/SEPPIR de 20 de Maio de 2008, do Grupo de Trabalho
Lei 10639/2003: o livro Estórias Quilombolas e o jogo Yoté, Interministerial – GTI – com o objetivo de elaborar o Docu-
distribuído inicialmente nas escolas quilombolas. Também mento Referência que serviria de base para o Plano Nacio-
ao longo de 2008, no âmbito das discussões sobre a políti- nal de Implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais
ca nacional de formação de professores, a SECAD encami- para Educação das Relações Etnicorraciais. O Documento
nhou proposições relativas às temáticas de educação para Referência foi submetido à consulta e contribuição popular
as relações etnicorraciais, o que foi plenamente acolhido em 06 (seis) agendas de trabalho conhecidas como Diá-
pelo Comitê Técnico-científico de Educação Básica da CA- logos Regionais sobre a Implementação da Lei 10639/03,
PES e encontra-se consubstanciado no Decreto 6755/2009, realizados nas 5 (cinco) Regiões do Brasil, sendo duas no
de 29/01/2009, que institui a Política Nacional de Forma- Nordeste. As cidades que sediaram os Diálogos foram: Be-
ção de Profissionais do Magistério da Educação Básica. A lém/PA; Cuiabá/MT; Vitória/ES; Curitiba/PR; São Luís/MA e
Pesquisa Práticas Pedagógicas de trabalho com relações Aracaju/SE. O resultado consubstanciou-se no documento
etnicorraciais na escola na perspectiva da Lei 10639, ainda Contribuições para a Implementação da Lei 10639/2003:
em curso, financiada pela SECAD/MEC e desenvolvida pela Proposta de Plano Nacional de Implementação das Dire-
Universidade Federal de Minas Gerais, Faculdade de Edu- trizes Curriculares Nacionais da Educação das Relações Et-
cação – FAE, Programa Ações Afirmativas na UFMG, tem nicorraciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Bra-
como objetivo mapear e analisar as práticas pedagógicas sileira e Africana – Lei 10639/2003, entregue ao Ministro
desenvolvidas pelas escolas públicas de acordo com a Lei da Educação por representantes do GTI, em 20 de novem-
10639/03, a fim de subsidiar e induzir políticas e práticas de bro de 2008. O documento das Contribuições é basilar na
implementação desta Lei em nível nacional em consonân- construção desse plano, pois norteou os eixos temáticos
cia com este Plano Nacional. que orientaram todas as discussões dos Diálogos Regio-

35
POLÍTICAS PÚBLICAS DA EDUCAÇÃO

nais, e aqui estão também orientando ações e metas. Os tantes da sociedade civil, movimento negro, NEABs, Fóruns
atores referidos neste documento, fundamentais parceiros Estaduais de Educação e Diversidade Etnicorracial, ABPN,
no estabelecimento do processo contínuo de implementa- especialistas da temática distribuídos pelos níveis e moda-
ção da Lei 10639/03 são: Ministério da Educação; Conselho lidades de ensino. A Comissão tem papel fundamental de
Nacional de Educação; CAPES; INEP; FNDE; SEPPIR; FIPPIR; ‘colaborar com o MEC na formulação de políticas para a
Fundação Cultural Palmares; CADARA; Movimento negro temática etnicorracial, com a elaboração de propostas de
brasileiro; Secretarias de Educação Estaduais e Municipais; ações afirmativas, de implementação da Lei e de acompa-
Conselhos Estaduais e Municipais de Educação; Ministérios nhamento das ações deste Plano Nacional. A necessidade
Públicos Estaduais e Municipais; Fóruns de Educação e Di- de ampliação do diálogo para implementação da Educação
versidade; CONSED; UNDIME; UNCME; unidades escolares; para as Relações Etnicorraciais foi dada também pela edição
Instituições de Ensino Superior públicas e privadas. da Lei 11645/2008, que tornou a modificar o mesmo dispo-
sitivo da LDB alterado pela Lei 10639/2003, estendendo a
Diálogo ampliado para a implementação da Educação obrigatoriedade do “estudo da história e cultura afro-bra-
das Relações Etnicorraciais As dificuldades inerentes à im- sileira e indígena” em todos os estabelecimentos de ensino
plementação de uma lei no âmbito da Federação brasileira fundamental e de ensino médio, públicos e privados. Uma
também alcançaram a Lei 10639/03. A relação entre os en- vez que a Lei 11645/08 ainda não recebeu a sistematiza-
tes federativos (municípios, estados, União e Distrito Fede- ção que foi objeto a Lei 10639/03, este Plano, sempre que
ral) é uma variável bastante complexa e exige um esforço couber, orienta os sistemas e as instituições a adotar os
constante na implementação de políticas educacionais. Isso procedimentos adequados para sua implementação, visto
não foi diferente em relação à implementação das Diretri- que a Lei mais recente conjuga da mesma preocupação de
zes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações combater o racismo, desta feita contra os indígenas, e afir-
Etnicorraciais, se considerarmos os papéis complementares mar os valores inestimáveis de sua contribuição, passada e
dos diversos atores necessários à implementação da Lei. presente, para a criação da nação brasileira.
Deve ficar explícito que estamos aqui falando de processo
de implementação da Lei, correspondendo a ações estrutu- Objetivos do Plano Nacional
rantes que pretendemos que sejam orquestradas por esse O presente Plano Nacional tem como objetivo central
Plano, pois todos os atores envolvidos necessitam articu- colaborar para que todo o sistema de ensino e as institui-
lar-se e desenvolvê-las de forma equânime. ções educacionais cumpram as determinações legais com
Isso significa incluir a temática no Projeto Político Pe- vistas a enfrentar todas as formas de preconceito, racis-
dagógico da Escola, ação que depende de uma série de mo e discriminação para garantir o direito de aprender e
outras, como, por exemplo, o domínio conceitual do que a equidade educacional a fim de promover uma sociedade
está expresso nas DCNs da Educação para as Relações Et- mais justa e solidária. São objetivos específicos do Plano
nicorraciais, a regulamentação da Lei pelo respectivo Con- Nacional;
selho de Educação, as ações de pesquisa, formação de pro- - Cumprir e institucionalizar a implementação das Di-
fessores, profissionais da educação e equipes pedagógicas, retrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Rela-
aquisição e produção de material didático pelas Secretarias ções Etnicorraciais e para o Ensino de História e Cultura
de Educação, participação social da gestão escolar, en- Afrobrasileira e Africana, conjunto formado pelo texto da
tre outras. Com o propósito de ampliar o diálogo entre o Lei 10639/03, Resolução CNE/CP 01/2004 e Parecer CNE/
MEC e os atores responsáveis pela implementação da Lei CP 03/2004, e, onde couber, da Lei 11645/08.
10639/03, a partir do ano de 2007, a Coordenação-Geral - Desenvolver ações estratégicas no âmbito da política
de Diversidade/DEDI/SECAD/MEC desenvolveu ações de de formação de professores, a fim de proporcionar o co-
reestruturação e ampliação dos Fóruns de Educação e Di- nhecimento e a valorização da história dos povos africanos
versidade, resultando atualmente em 26 Fóruns Estaduais e da cultura Afrobrasileira e da diversidade na construção
e 05 Fóruns Municipais de Educação e Diversidade, com histórica e cultural do país;
função estratégica de acompanhamento e monitoramento - Colaborar e construir com os sistemas de ensino, ins-
da implementação da Lei 10639/03. Os Fóruns são com- tituições, conselhos de educação, coordenações pedagógi-
postos por representações de todos os atores necessários cas, gestores educacionais, professores e demais segmen-
à implementação da Lei. tos afins, políticas públicas e processos pedagógicos para a
implementação das Leis 10639/03 e 11645/08;
A colaboração, o espírito de diálogo e solidariedade - Promover o desenvolvimento de pesquisas e produ-
no fortalecimento da temática deve nortear os Fóruns para ção de materiais didáticos e paradidáticos que valorizem,
que eles possam tecer parcerias, propor caminhos e polí- nacional e regionalmente, a cultura Afrobrasileira e a di-
ticas, acompanhar, auxiliar e congregar todos aqueles que versidade;
são indispensáveis à implementação da temática das rela- - Colaborar na construção de indicadores que permi-
ções etnicorraciais. A CADARA, Comissão Técnico-Científica tam o necessário acompanhamento, pelos poderes públi-
de assessoramento do MEC para assuntos relacionados aos cos e pela sociedade civil, da efetiva implementação das
afrobrasileiros e a implementação da Lei 10639/2003, foi Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Re-
recentemente reconstituída, contemplando, além das Se- lações Etnicorraciais e para o Ensino da História e Cultura
cretarias do MEC, a SEPPIR, CONSED, UNDIME, represen- Afrobrasileira e Africana;

36
POLÍTICAS PÚBLICAS DA EDUCAÇÃO

- Criar e consolidar agendas propositivas junto aos princípios e critérios estabelecidos no PNLD definem que,
diversos atores do Plano Nacional para disseminar as Leis quanto à construção de uma sociedade democrática, os li-
10639/03 e 11645/08, junto a gestores e técnicos, no âm- vros didáticos deverão promover positivamente a imagem
bito federal e nas gestões educacionais estaduais e mu- de afro-descendentes e, também, a cultura afro-brasileira,
nicipais, garantindo condições adequadas para seu pleno dando visibilidade aos seus valores, tradições, organizações
desenvolvimento como política de Estado. e saberes sociocientíficos. Para tanto, os livros destinados a
professores(as) e alunos(as) devem abordar a temática das
Eixos fundamentais do plano relações Etnicorraciais, do preconceito, da discriminação
O Plano Nacional de Implementação das Diretrizes racial e violências correlatas, visando à construção de uma
Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Etni- sociedade anti-racista, justa e igualitária (Edital do PNLD,
corraciais e para ensino de História e Cultura Afrobrasileira 2010). O eixo 4- Gestão democrática e mecanismos de
e Africana tem como base estruturante os seis Eixos Es- participação social reflete a necessidade de fortalecer pro-
tratégicos propostos no documento “Contribuições para a cessos, instâncias e mecanismos de controle e participação
Implementação da Lei 10639/03”, a saber: social, para a implantação das Leis 10639/03 e 11645/08.
O pressuposto é que tal participação é ponto fundamental
1) Fortalecimento do marco legal; para o aprimoramento das políticas e concretização como
2) Política de formação para gestores e profissionais de política de Estado. A União, por meio do MEC, desempenha
educação; papel fundamental na coordenação do processo de desen-
3) Política de material didático e paradidático; volvimento da política nacional de educação, articulando
4) Gestão democrática e mecanismos de participação os diferentes níveis e sistemas e exercendo função norma-
social; tiva, redistributiva e supletiva, em relação às demais instân-
5) Avaliação e Monitoramento e cias educacionais (conforme o art. 8º da LDB).
6) Condições institucionais. A mesma lei estabelece normas para a gestão demo-
crática do ensino público, assegurando dessa forma a par-
O Plano pretende transformar as ações e programas ticipação da sociedade como fator primordial na garantia
de promoção da diversidade e de combate à desigualdade da qualidade e no controle social dos seus impactos. O eixo
racial na educação em políticas públicas de Estado, para 5 – Avaliação e Monitoramento aponta para a construção
além da gestão atual do MEC. Nesse sentido, o Eixo 1 - de indicadores que permitam o monitoramento da imple-
Fortalecimento do Marco Legal tem contribuição estrutu- mentação das Leis 10639/03 e 11645/08 pela União, esta-
rante na institucionalização da temática. Isso significa, em dos, DF e municípios, e que contribuam para a avaliação e
termos gerais, que é urgente a regulamentação das Leis o aprimoramento das políticas públicas de enfrentamento
10639/03 e 11645/06 no âmbito de estados, municípios e da desigualdade racial na educação. Nestes indicadores
Distrito Federal e a inclusão da temática no Plano Nacional incluem-se aqueles monitoráveis por intermédio do acom-
de Educação (PNE). Os eixos 2 - Política de formação inicial panhamento da execução das ações contidas no Plano de
e continuada e 3 - Política de materiais didáticos e para- Ações Articuladas (PAR) implementado pelo MEC. O eixo
didáticos constituem as principais ações operacionais do 6 - Condições Institucionais indica os mecanismos institu-
Plano, devidamente articulados à revisão da política cur- cionais e rubricas orçamentárias necessárias para que a Lei
ricular, para garantir qualidade e continuidade no proces- seja implementada. Reafirma a necessidade da criação de
so de implementação. Tal revisão deve assumir como um setores específicos para a temática etnicorracial e diversi-
dos seus pilares as Diretrizes Curriculares Nacionais para dade nas secretarias estaduais e municipais de educação.
a Educação das relações Etnicorraciais e para o ensino de
história e cultura afro-brasileira e africana. Todo o esforço Atribuições dos sistemas de ensino
de elaboração do Plano foi no sentido de que o MEC possa As exigências legais conferidas aos sistemas de ensino
estimular e induzir a implementação das Leis 10639/03 e pelas Leis 10639 e 11645, Resolução CNE/CP 01/2004 e Pa-
11645/08 por meio da Política Nacional de Formação Inicial recer CNE/CP 003/2004 compartilham e atribuem respon-
e Continuada de Profissionais da Educação, instituída pelo sabilidades entre os diferentes atores da educação brasilei-
Decreto 6755/2009, e de programas como o Programa Na- ra. Compõem essa segunda parte as atribuições, por ente
cional do Livro Didático (PNLD), o Programa Nacional do federativo, sistemas educacionais e instituições envolvidas,
Livro Didático para o Ensino Médio (PNLEM) e o Programa necessárias à implementação de uma educação adequada
Nacional de Bibliotecas Escolares (PNBE). às relações Etnicorraciais.

A formação deve habilitar à compreensão da dinâmica Ações do sistema de ensino da educação brasileira
sociocultural da sociedade brasileira, visando a construção
de representações sociais positivas que encarem as dife- Segundo o art. 8º da LDB, a educação formal brasileira
rentes origens culturais de nossa população como um valor é integrada por sistemas de ensino de responsabilidade da
e, ao mesmo tempo, a criação de um ambiente escolar que União, Estados, Distrito Federal e municípios e dotados de
permita que nossa diversidade se manifeste de forma cria- autonomia. A Resolução CNE/CP Nº 01/2004 compartilha
tiva e transformadora na superação dos preconceitos e dis- responsabilidades e atribui ações específicas para a conse-
criminações Etnicorraciais (Parecer CNE/CP n. 03/2004). Os cução das leis.

37
POLÍTICAS PÚBLICAS DA EDUCAÇÃO

No art 1º da Resolução, é atribuído aos sistemas de h) Divulgar amplamente as Diretrizes Curriculares Na-
ensino a consecução de “condições materiais e financei- cionais para Educação das Relações etnicorraciais e para
ras” assim como prover as escolas, professores e alunos de o Ensino de História e Cultura Afrobrasileira e Africana e
materiais adequados à educação para as relações etnicor- de seu significado para a garantia do direito à educação
raciais. Deve ser dada especial atenção à necessidade de de qualidade e para o combate ao preconceito, racismo e
articulação entre a formação de professores e a produção discriminação na sociedade, assim como a Lei 11645/2008;
de material didático, ações que se encontram articuladas i) Divulgar experiências exemplares e as ações estraté-
no planejamento estabelecido pelo Ministério da Educa- gicas que já vêm sendo desenvolvidas pelas Secretarias de
ção, no Plano de Ações Articuladas. Nesse sentido, faz-se Educação e Instituições de Ensino;
necessário: j) Fomentar pesquisas, desenvolvimento e inovações
a) Incorporar os conteúdos previstos nas Diretrizes tecnológicas na temática das relações etnicorraciais, na
Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Etni- CAPES, CNPq e nas Fundações Estaduais de Amparo à Pes-
corraciais e para o Ensino de História e Cultura Afrobrasi- quisa e estimular a criação e a divulgação de editais de
bolsas de pós-graduação stricto sensu em Educação das
leira e Africana em todos os níveis, etapas e modalidades
Relações Etnicorraciais criados e dirigidos aos profissionais
de todos os sistemas de ensino e das metas deste Plano na
que atuam na educação básica, educação profissional e en-
revisão do atual Plano Nacional de Educação (2001-2011),
sino superior das instituições públicas de ensino.
na construção do futuro PNE (2012-2022), como também
na construção e revisão dos Planos Estaduais e Municipais Ações do governo federal
de Educação;
b) Criar Programas de Formação Continuada Presen- O Plano Nacional de Implementação das Diretrizes
cial e à distância de Profissionais da Educação, com base Curriculares Nacionais para Educação das Relações Etnicor-
nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das raciais e para o Ensino de História e Cultura Afrobrasileira
Relações Etnicorraciais e para o Ensino da História e Cultura e Africana atende a Lei 9394/96, no que tange como tarefa
Afro-Brasileira e Africana, com as seguintes características: da “União a coordenação da política nacional da educa-
I - A estrutura curricular dos referidos programas de forma- ção”, articulando-se com os sistemas, conforme já ocorre
ção deverá ter como base as Diretrizes Curriculares Nacio- com o PNE.
nais para Educação das Relações etnicorraciais e História O Art. 9º da LDB incumbe à União missão, dentre ou-
da África e Cultura Afro-Brasileira e Africana, conforme o tras, de “prestar assistência técnica e financeira aos Esta-
Parecer CNE/CP nº 03/2004; II – Os cursos deverão ser de- dos, ao Distrito Federal e aos Municípios”; estabelecer, em
senvolvidos na graduação e também dentro das modali- colaboração com os Estados, o Distrito Federal e os Muni-
dades de extensão, aperfeiçoamento e especialização, em cípios, competências e diretrizes para a educação infantil,
instituições legalmente reconhecidas e que possam emitir o ensino fundamental e o ensino médio, que nortearão os
certificações. III - Os cursos de formação de professores currículos; baixar normas gerais sobre cursos de graduação
devem ter conteúdos voltados para contemplar a necessi- e pós- graduação”.
dade de reestruturação curricular e incorporação da temá- A LDB, no Art. 16, compreende que o sistema federal
tica nos Projetos Político- Pedagógicos das escolas, assim de ensino é formado por: I - as instituições de ensino man-
como preparação e análise de material didático a ser utili- tidas pela União; II - as instituições de educação superior
zado contemplando questões nacionais e regionais. criadas e mantidas pela iniciativa privada; III - os órgãos
c) Realizar levantamento, no âmbito de cada sistema, federais de educação. Este Plano deve ser compreendido
da presença de conteúdos de Educação das Relações Etni- como uma proposta estruturante para a implementação
da temática, do ponto de vista do sistema federal, na sen-
corraciais e o Ensino de História e Cultura Afrobrasileira e
sibilização e informação dos ajustes e procedimentos ne-
Africana, como estabelece a Resolução CNE/CP n º 01/2004;
cessários por parte das instituições de ensino superior pú-
d) Fomentar a produção de materiais didáticos e pa-
blicas e particulares devidamente autorizadas a funcionar
radidáticos que atendam ao disposto pelas Diretrizes Cur- pelo Ministério da Educação ou, quando for o caso, pelo
riculares Nacionais para a Educação das Relações Etnicor- Conselho Nacional de Educação. Aos órgãos federais de
raciais e para o Ensino de História e Cultura Afrobrasileira educação, colégios de aplicação, rede federal profissional
e Africana e às especificidades regionais para a temática; e tecnológica e demais entes dessa rede, o Plano Nacio-
e) Adequar as estratégias para distribuição dos novos nal de Implementação das DCNs da Educação Etnicorracial
materiais didáticos regionais de forma a contemplar ampla deve ser objeto das discussões dos colegiados de cursos e
circulação e divulgação nos sistemas de ensino; coordenações de planejamentos para o cumprimento de-
f) Realizar Avaliação diagnóstica sobre a abrangência vido no que dizem respeito à sua esfera de competência e
e a qualidade da implementação das Leis 10639/2003 e nos termos aqui levantados.
11645/2008 na educação básica; o
g) Elaborar agenda propositiva em conjuntos com os Principais ações para o Governo Federal:
Fóruns Estaduais e Municipais de Educação e Diversidade
Etnicorracial e sociedade civil para elaboração, acompa- a) Incluir as Diretrizes Curriculares Nacionais para Edu-
nhamento e avaliação da implementação desse Plano e cação das Relações Etnicorraciais e Ensino de História e
consequentemente das Leis 10639/2003 e 11645/2008; Cultura Afro-Brasileira e Africana e os conteúdos propostos

38
POLÍTICAS PÚBLICAS DA EDUCAÇÃO

na Lei 11645/2008 nos programas de formação de funcio- analisar e avaliar políticas públicas educacionais, voltadas
nários, gestores e outros (programa de formação de con- para o fiel cumprimento do disposto nas Leis 10639/2003
selheiros, de fortalecimento dos conselhos escolares e de e 11645/2008, visando a valorização e o respeito à diver-
formação de gestores); sidade etnicorracial, bem como a promoção da igualdade
b) Incluir na Política Nacional de Formação dos Profis- etnicorracial no âmbito do MEC.
sionais do Magistério da Educação Básica, sob a coorde-
nação da CAPES, as Diretrizes Curriculares Nacionais para Ações do governo estadual
Educação das Relações Etnicorraciais e História da África
e Cultura Afro- Brasileira e Africana, com base no Parecer O Art. 10 da LDB incumbe os Estados de, entre outras
CNE/CP n. 03/2004 e Resolução CNE/CP n. 01/2004 e a Lei atribuições: “organizar, manter e desenvolver os órgãos e
11645/08; instituições oficiais dos seus sistemas de ensino; elaborar e
c) Incluir como critério para autorização, reconheci- executar políticas e planos educacionais, em consonância
mento e renovação de cursos superiores, o cumprimen- com as diretrizes e planos nacionais de educação, integran-
to do disposto no Art. 1º, § 1º da Resolução CNE/CP nº do e coordenando as suas ações e as dos seus Municípios;
01/2004; autorizar, reconhecer, credenciar, supervisionar e avaliar,
d) Reforçar junto às comissões avaliadoras e analistas respectivamente, os cursos das instituições de educação
dos programas do livro didático a inclusão dos conteúdos superior e os estabelecimentos do seu sistema de ensino;
referentes à Educação das Relações etnicorraciais e à histó- baixar normas complementares para o seu sistema de en-
ria da cultura afro-brasileira e africana, assim como a temá- sino”. No Art. 17 da LDB diz que aos “sistemas de ensino
tica indígena, nas obras a serem avaliadas; dos Estados e do Distrito Federal” pertencem: “I - as insti-
e) Apoiar e divulgar a Ouvidoria da SEPPIR para ques- tuições de ensino mantidas, respectivamente, pelo Poder
tões Etnicorraciais, na área de educação; Público estadual e pelo Distrito Federal; II - as instituições
f) Encaminhar o Parecer CNE/CP nº 3/2004, a Resolu- de educação superior mantidas pelo Poder Público muni-
ção CNE/CP nº 01/2004, a Lei 11645/08 e este Plano aos cipal; III - as instituições de ensino fundamental e médio
conselhos universitários, sublinhando a necessidade do criadas e mantidas pela iniciativa privada; IV - os órgãos
cumprimento dos preceitos e orientações neles contidos; de educação estaduais e do Distrito Federal, respectiva-
mente.” sendo que “No Distrito Federal, as instituições de
g) Incluir questões no Censo Escolar sobre a imple-
educação infantil, criadas e mantidas pela iniciativa privada,
mentação das Leis 10639/2003 e 11645/2008 e aplicação
integram seu sistema de ensino”. Para o Plano Nacional de
das Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação das Re-
Implementação das DCNs da Educação para as Relações
lações Etnicorraciais em todos os níveis e modalidades de
etnicorraciais, os Estados, o Distrito Federal e seus siste-
ensino da educação básica;
mas de ensino têm como objetivo aplicar as formulações
h) Desagregar os dados relativos aos resultados das
aqui explicitadas, assim como suas instituições privadas ou
avaliações sistêmicas (Prova Brasil, ENEM, ENADE), assim
superiores públicas, como reza o conteúdo da Resolução
como as informações do Censo Escolar sobre fluxo esco- CNE/CP 01/2004 e do presente Plano.
lar (evasão, aprovação, distorção idade/série/ciclo e con-
cluintes acima de 15 anos de idade) por escola, município Principais ações para o Sistema de Ensino Estadual:
e estado a partir de recortes por perfis socioeconômicos,
etnicorraciais e de gênero; a) Apoiar as escolas para implementação das Leis
i) Divulgar os dados coletados e analisados (escolas e 10639/2003 e 11645/2008, através de ações colaborativas
estruturas gerenciais das secretarias estaduais e munici- com os Fóruns de Educação para a Diversidade Etnicorra-
pais, MEC), de forma a colaborar com o debate e a formu- cial, conselhos escolares, equipes pedagógicas e sociedade
lação de políticas de equidade; civil;
j) Promover ações de comunicação sobre as relações b) Orientar as equipes gestoras e técnicas das Secreta-
etnicorraciais com destaque para realização de campanhas rias de Educação para a implementação da lei 10639/03 e
e peças publicitárias de divulgação das Leis 10639/2003 e Lei 11645/08;
11645/2008 e de combate ao preconceito, racismo e discri- c) Promover formação para os quadros funcionais do
minação nos meios de comunicação, em todas as dimen- sistema educacional, de forma sistêmica e regular, mobi-
sões; lizando de forma colaborativa atores como os Fóruns de
k) Promover, de forma colaborativa, com estados, mu- Educação, Instituições de Ensino Superior, NEABs, SECAD/
nicípios, Instituições de Ensino Superior e Entidades sem MEC, sociedade civil, movimento negro, entre outros que
fins lucrativos a Formação de Professores e produção de possuam conhecimento da temática;
Material Didático para atendimento das Leis 10639/2003 d) Produzir e distribuir regionalmente materiais didáti-
e 11645/2008; cos e paradidáticos que atendam e valorizem as especifici-
l) Criar mecanismos de supervisão, monitoramen- dades (artísticas, culturais e religiosas) locais/regionais da
to e avaliação do Plano, conforme Resolução CNE/CP nº população e do ambiente, visando ao ensino e à aprendi-
01/2004; zagem das Relações Etnicorraciais;
m) Instituir e manter comissão técnica nacional de e) Articular com CONSED e o Fórum Nacional dos Con-
diversidade para assuntos relacionados à educação dos selhos Estaduais de Educação o apoio para a construção
afro-brasileiros, com o objetivo de elaborar, acompanhar, participativa de planos estaduais e municipais de educação

39
POLÍTICAS PÚBLICAS DA EDUCAÇÃO

que contemplem a implementação das Diretrizes Curricu- Instituições de Ensino Superior, NEABs, SECAD/MEC, socie-
lares Nacionais para a Educação das Relações etnicorraciais dade civil, movimento negro, entre outros que possuam
e para o Ensino de História e Cultura Afrobrasileira e Afri- conhecimento da temática;
cana e da lei 11645/08; d) Produzir e distribuir regionalmente materiais didáti-
f) Elaborar consulta às escolas sobre a implementação cos e paradidáticos que atendam e valorizem as especifici-
das Leis 10639/03 e 11645/2008, e construir relatórios e dades (artísticas, culturais e religiosas) locais/regionais da
avaliações do levantamento realizado; população e do ambiente, visando ao ensino e à aprendi-
g) Desenvolver cultura de autoavaliação das escolas e zagem das Relações Etnicorraciais;
na gestão dos sistemas de ensino por meio de guias orien- e) Articular com a UNDIME e a UNCME apoio para a
tadores com base em indicadores socioeconômicos, étni- construção participativa de planos municipais de educação
corraciais e de gênero produzidos pelo INEP; que contemplem a implementação das Diretrizes Curricu-
h) Instituir nas secretarias estaduais de educação equi- lares Nacionais para a Educação das Relações etnicorraciais
pes técnicas para os assuntos relacionados à diversidade, e para o Ensino de História e Cultura Afrobrasileira e Afri-
incluindo a educação das relações etnicorraciais, dotadas cana e da Lei 11645/08;
de condições institucionais e recursos orçamentários para f) Realizar consultas junto às escolas, gerando relatório
o atendimento das recomendações propostas neste Plano; anual a respeito das ações de implementação das Diretri-
i) Participar dos Fóruns de Educação e Diversidade Et- zes Curriculares Nacionais para Educação das Relações Et-
nicorraciais. nicorraciais e para o Ensino de História e Cultura Afrobra-
sileira e Africana.
Ações do governo municipal g) Desenvolver cultura de autoavaliação das escolas e
na gestão dos sistemas de ensino por meio de guias orien-
O Art. 11 da LDB diz que os Municípios se incumbem, tadores com base em indicadores socioeconômicos, Etni-
dentre outras coisas, de: “organizar, manter e desenvolver corraciais e de gênero produzidos pelo INEP;
os órgãos e instituições oficiais dos seus sistemas de en- h) Instituir nas secretarias municipais de educação
sino, integrando-os às políticas e planos educacionais da equipes técnicas permanentes para os assuntos relaciona-
União e dos Estados; baixar normas complementares para dos à diversidade, incluindo a educação das relações etni-
o seu sistema de ensino; autorizar, credenciar e supervisio- corraciais, dotadas de condições institucionais e recursos
nar os estabelecimentos do seu sistema de ensino; oferecer orçamentários para o atendimento das recomendações
a educação infantil em creches e pré-escolas, e, com prio- propostas neste Plano;
ridade, o ensino fundamental, permitida a atuação em ou- i) Participar dos Fóruns de Educação e Diversidade Et-
tros níveis de ensino somente quando estiverem atendidas nicorracial.
plenamente as necessidades de sua área de competência
e com recursos acima dos percentuais mínimos vinculados Atribuições dos conselhos de educação
pela Constituição Federal à manutenção e desenvolvimento
do ensino.” Podem ainda, compor um sistema único com o Os Conselhos de Educação têm papel fundamental na
estado ou ser parte do sistema deste, caso opte. Possuindo regulamentação e institucionalização das Leis 10639/2003
sistema próprio, pertencem a esse sistema municipal, pelo e 11645/2008. O trabalho realizado pelo Conselho Nacio-
Art. 18 da LDB: “I - as instituições do ensino fundamental, nal de Educação na produção das DNCs da Educação para
médio e de educação infantil mantidas pelo Poder Público as Relações Etnicorraciais, e a preocupação em instituí-las
municipal; II - as instituições de educação infantil criadas e através da Resolução nº. 01/ 2004, mostra a responsabili-
mantidas pela iniciativa privada; III - os órgãos municipais dade em adequar a Lei de Diretrizes e Bases às transfor-
de educação”. Portanto, o presente Plano, recomenda, no mações que vem sendo estabelecidas em Lei nos últimos
espírito da legislação vigente, que os municípios em seus anos. Sabemos que a importância da temática requer sen-
sistemas cumpram e façam cumprir o disposto da Reso- sibilidade e ação colaborativa entre os Conselhos, os Siste-
lução CNE/CP 01/2004 inclusive observando à sua rede mas Educacionais, os Fóruns de Educação, os pesquisado-
privada a necessidade de obediência a LDB, alterada pelas res da temática nas Instituições de Ensino Superior, assim
Leis 10639/2003 e 11645/2008. como a larga experiência do movimento negro brasileiro,
Principais ações para o Sistema de Ensino Municipal: para a consolidação das ações que são traduzidas pelos
a) Apoiar as escolas para implementação das Leis marcos legais. Assim a Lei de Diretrizes e Bases 9394/1996,
10639/2003 e 11645/2008, através de ações colaborativas ao definir a formação básica comum estabelecia: a) o res-
com os Fóruns de Educação para a Diversidade Etnicorra- peito aos valores culturais como princípio constitucional da
cial, conselhos escolares, equipes pedagógicas e sociedade educação, tanto quanto da dignidade da pessoa humana;
civil; b) a garantia da promoção do bem de todos, sem precon-
b) Orientar as equipes gestoras e técnicas das Secreta- ceitos; c) a prevalência dos direitos humanos e o repúdio
rias de Educação para a implementação da lei 10639/03 e ao racismo; d) a vinculação da educação com a prática so-
Lei 11645/08; cial; Os Conselhos de Educação não só regulamentam a Lei,
c) Promover formação dos quadros funcionais do siste- mas são órgãos que zelam, através de seus instrumentos
ma educacional, de forma sistêmica e regular, mobilizando próprios, pelo cumprimento das mesmas. O § 3º do Artigo
de forma colaborativa atores como os Fóruns de Educação, 2º da Resolução CNE/CP 01/2004, estabelece que “caberá

40
POLÍTICAS PÚBLICAS DA EDUCAÇÃO

aos conselhos de Educação dos Estados, do Distrito Fede- elaborar e executar sua proposta pedagógica; zelar pelo
ral e dos Municípios desenvolver as Diretrizes Curriculares cumprimento do plano de trabalho de cada docente; arti-
Nacionais instituídas por esta Resolução dentro do regime cular-se com as famílias e a comunidade, criando proces-
de colaboração e da autonomia de entes federativos e seus sos de integração da sociedade com a escola. Segundo
respectivos sistemas”. a Resolução CNE/CP 01/2004, caberá às escolas incluírem
Principais ações para os Conselhos de Educação: no contexto de seus estudos e atividades cotidianas, tan-
to a contribuição histórico-cultural dos povos indígenas e
a) Articular ações e instrumentos que permitam aos dos descendentes de asiáticos, quanto às contribuições de
conselhos nacional, estaduais, municipais e distrital de raiz africana e europeia. É preciso ter clareza de que o Art.
educação o acompanhamento da implementação das Di- 26A, acrescido à Lei nº. 9.394/96, impõe bem mais do que
retrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Rela- a inclusão de novos conteúdos, mas exige que se repense
ções Etnicorraciais e para o Ensino de História e Cultura um conjunto de questões: as relações Etnicorraciais, sociais
Afrobrasileira e Africana; e pedagógicas; os procedimentos de ensino; as condições
b) Articular com a UNCME e Fórum Nacional dos Con- oferecidas para aprendizagem; e os objetivos da educação
selhos Estaduais de Educação para ampliar a divulgação e proporcionada pelas escolas.
orientação que permita o acompanhamento da implemen-
tação das Leis 10639/03 e 11645/08 pelos conselhos esta- O Plano Nacional de Implementação das DCNs da
duais e municipais de educação; Educação para as Relações Etnicorraciais, está dirigido
c) Assegurar que em sua composição haja represen- formalmente para que, s sistemas e instituições de ensi-
tação da diversidade etnicorracial brasileira comprometida no cumpram o estabelecido nas leis 10639/03 e 11645/08.
com a implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais Assim, as instituições devem realizar revisão curricular para
para a Educação das Relações Etnicorraciais e para o Ensino a implantação da temática, quer nas gestões dos Projetos
de História e Cultura Afro- Brasileira e Africana, assim como Políticos Pedagógicos, quer nas Coordenações pedagógi-
da Lei 11645/08, quando couber; cas e colegiados, uma vez que possuem a liberdade para
d) Orientar as escolas na reorganização de suas pro- ajustar seus conteúdos e contribuir no necessário processo
postas curriculares e pedagógicas fundamentando-as com de democratização da escola, da ampliação do direito de
as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das todos e todas à educação, e do reconhecimento de outras
Relações Etnicorraciais e para o Ensino de História e Cultu- matrizes de saberes da sociedade brasileira.
ra Afro-Brasileira e Africana estabelecidas no Parecer CNE/
CEB n º 03/2004; Art. 3° A Educação das Relações Etnicorraciais e o estu-
e) Recomendar às instituições de ensino públicas e do de História e Cultura Afro-Brasileira, e História e Cultura
privadas a observância da Interdisciplinaridade tendo pre- Africana será desenvolvida por meio de conteúdos, com-
sente que: I. os conteúdos referentes à História e Cultu- petências, atitudes e valores, a serem estabelecidos pelas
ra Afro-Brasileira serão ministrados no âmbito de todo o Instituições de ensino e seus professores, com o apoio e
currículo escolar, em especial nas áreas de Educação Ar- supervisão dos sistemas de ensino, entidades mantenedo-
tística, de Literatura, História Brasileiras e de Geografia; II. ras e coordenações pedagógicas, atendidas as indicações,
O ensino deve ir além da descrição dos fatos e procurar recomendações e diretrizes explicitadas no Parecer CNE/CP
constituir nos alunos a capacidade de reconhecer e valo- 003/2004. (Resolução CNE/CP nº 01/2004)
rizar a história, a cultura, a identidade e as contribuições
dos afrodescendentes e da diversidade na construção, no Da rede pública e particular de ensino
desenvolvimento e na economia da Nação Brasileira; III. Os
conteúdos programáticos devem estar fundados em di- Assim, as exigências legais contidas nas Leis 10639 e
mensões históricas, sociais e antropológicas referentes à 11645, a Resolução CNE/CP 01/2004 e o Parecer CNE/CP
realidade brasileira, com vistas a combater o preconceito, 003/2004 recomendam às instituições: a) Reformular ou
o racismo e as discriminações que atingem a nossa socie- formular junto à comunidade escolar o seu Projeto Político
dade. IV. a pesquisa, a leitura, os estudos e a reflexão sobre Pedagógico adequando seu currículo ao ensino de histó-
este tema introduzido pelas Leis nºs 9.394/96, 10639/03 e ria e cultura da Afrobrasileira e africana, conforme Parecer
11645/2008, têm por meta adotar Políticas de Reconheci- CNE/CP 03/2004 e as regulamentações dos seus conse-
mento e Valorização de Ações Afirmativas que impliquem lhos de educação, assim como os conteúdos propostos na
justiça e iguais direitos sociais, civis, culturais e econômi- Lei 11645/08; b) Garantir no Planejamento de Curso dos
cos, bem como valorização da diversidade. professores a existência da temática das relações etnicor-
raciais, de acordo sua área de conhecimento e o Parecer
Atribuições das instituições de ensino CNE/CP 03/2004; c) Responder em tempo hábil as pesqui-
sas e levantamentos sobre a temática da Educação para
A LDB classifica as instituições de ensino dos diferen- as Relações etnicorraciais; d) Estimular estudos sobre Edu-
tes níveis públicas e privadas. O Art. 12 da LDB diz que cação das Relações Étnicorraciais e história e cultura afri-
os estabelecimentos de ensino, respeitando as normas do cana e Afrobrasileira, proporcionando condições para que
seu sistema de ensino (Federal, Estadual, Municipal ou do professores, gestores e funcionários de apoio participem
Distrito Federal), terão a incumbência, entre outras, de: de atividades de formação continuada e/ou formem gru-

41
POLÍTICAS PÚBLICAS DA EDUCAÇÃO

pos de estudos sobre a temática; e) Encaminhar solicitação ção das Relações Etnicorraciais e para o Ensino de História
ao órgão de gestão educacional ao qual esteja vinculada e Cultura Afro-brasileira e Africanas e com a temática da
para a realização de formação continuada para o desen- Lei 11645/08; e) Fomentar pesquisas, desenvolvimento e
volvimento da temática; f) Encaminhar solicitação ao órgão inovações tecnológicas na temática das relações etnicorra-
superior da gestão educacional ao qual a escola estiver su- ciais, contribuindo com a construção de uma escola plural
bordinada, para fornecimento de material didático e pa- e republicana; f) Estimular e contribuir para a criação e a
radidático com intuito de manter acervo específico para o divulgação de bolsas de iniciação científica na temática da
ensino da temática das relações etnicorraciais; g) Detectar Educação para as Relações Etnicorraciais; g) Divulgar junto
e combater com medidas socioeducativas casos de racismo às secretarias estaduais e municipais de educação a exis-
e preconceito e discriminação nas dependências escolares. tência de programas institucionais que possam contribuir
com a disseminação e pesquisa da temática em associação
Art. 6° Os órgãos colegiados dos estabelecimentos de com a educação básica.
ensino, em suas finalidades, responsabilidades e tarefas, in-
cluirão o previsto o exame e encaminhamento de solução Atribuições das coordenações pedagógicas
para situações de discriminação, buscando-se criar situa-
ções educativas para o reconhecimento, valorização e res- As coordenações pedagógicas no âmbito das institui-
peito da diversidade. (Resolução CNE/CP nº 01/2004) ções de ensino são as que maiores interfaces possuem en-
tre o trabalho docente, por meio do Planejamento de Cur-
Instituições de ensino superior so/aula e do Projeto Político-Pedagógico. Ignorar essa im-
portante função é não ter a garantia de que as tecnologias
Como Instituições de Ensino Superior, compreende-se educacionais, as políticas de educação que visam melhoria
qualquer instituição que se incumba de formação em nível na qualidade de ensino e melhoria do desempenho educa-
superior de caráter público ou privado. Essas instituições cional tenham êxito. As coordenações pedagógicas não só
têm seu funcionamento ligado aos documentos legais que devem ser valorizadas como, também, devem fazer parte
normatizam a Política Educacional Brasileira, quais sejam: dos planejamentos de cursos de aprimoramento, aperfei-
Lei 9394/96 de Diretrizes e Bases da Educação Nacional; çoamento e de gestão educacionais. A LDB, no Art. 13 diz
PNE – Plano Nacional de Educação e Diretrizes Curricula- que os docentes têm a incumbência de “participar da ela-
res Nacionais que, a rigor, compreendem resoluções do boração da proposta pedagógica do estabelecimento de
Conselho Nacional de Educação e demais organizações ensino; elaborar e cumprir plano de trabalho, segundo a
da educação brasileira. A Resolução CNE/CP 01/2004 em proposta pedagógica do estabelecimento de ensino; ze-
seu Artigo 1º dispõe que as Diretrizes tema deste Plano lar pela aprendizagem dos alunos; estabelecer estratégias
devem ser “observadas pelas instituições de ensino, que de recuperação para os alunos de menor rendimento; mi-
atuam nos níveis e modalidades da Educação Brasileira e, nistrar os dias letivos e horas-aula estabelecidos, além de
em especial, aquelas que mantém programas de formação participar integralmente dos períodos dedicados ao pla-
inicial e continuada de professores”. No § 1º deste artigo, nejamento, à avaliação e ao desenvolvimento profissional;
estabelece que “As Instituições de Ensino Superior incluirão colaborar com as atividades de articulação da escola com
nos conteúdos de disciplinas e atividades curriculares dos as famílias e a comunidade”. A Resolução CNE/CP 01/2004,
cursos que ministram, a Educação das Relações Etnicorra- no Artigo 3º, § 2º estabelece que “As coordenações peda-
ciais, bem como o tratamento de questões e temáticas que gógicas promoverão o aprofundamento de estudos, para
dizem respeito aos afrodescendentes, nos termos explicita- que os professores concebam e desenvolvam unidades de
dos no Parecer CNE/CP 3/2004”. estudos, projetos e programas, abrangendo os diferentes
Principais Ações das Instituições de Ensino Superior componentes curriculares”. Portando, o presente Plano re-
a) Incluir conteúdos e disciplinas curriculares relaciona- comenda que os sistemas e as instituições de ensino orien-
dos à Educação para as Relações Etnicorraciais nos cursos tem os coordenadores pedagógicos para aplicação desse
de graduação do Ensino Superior, conforme expresso no Plano no âmbito escolar.
§1° do art. 1°, da Resolução CNE /CP n. 01/2004; Principais Ações das Coordenações Pedagógicas
b) Desenvolver atividades acadêmicas, encontros, jor- a) Conhecer e divulgar o conteúdo do Parecer CNE/CP
nadas e seminários de promoção das relações étnicorra- 03/2004 e a Resolução CNE/CP 01/2004 e da Lei 11645/08
ciais positivas para seus estudantes. c) Dedicar especial em todo o âmbito escolar;
atenção aos cursos de licenciatura e formação de professo- b) Colaborar para que os Planejamentos de Curso in-
res, garantindo formação adequada aos professores sobre cluam conteúdo e atividades adequadas para a educação
História e Cultura Afro-Brasileira e Africana e os conteúdos das relações etnicorraciais e o ensino de história e cultura
propostos na Lei 11645/2008; d) Desenvolver nos estudan- afro-brasileira e africana de acordo com cada nível e mo-
tes de seus cursos de licenciatura e formação de professo- dalidade de ensino;
res as habilidades e atitudes que os permitam contribuir c) Promover junto às docentes reuniões pedagógicas
para a educação das relações etnicorraciais com destaque com o fim de orientar para a necessidade de constante
para a capacitação dos mesmos na produção e análise críti- combate ao racismo, ao preconceito, e à discriminação,
ca do livro, materiais didáticos e paradidáticos que estejam elaborando em conjunto estratégias de intervenção e edu-
em consonância com as Diretrizes Curriculares para Educa- cação;

42
POLÍTICAS PÚBLICAS DA EDUCAÇÃO

d) Estimular a interdisciplinaridade para disseminação b) Elaborar Material Didático específico para uso em
da temática no âmbito escolar, construindo junto com pro- sala de aula, sobre Educação das relações Etnicorraciais e
fessores e profissionais da educação processos educativos história e cultura afro-brasileira e africana que atenda ao
que possam culminar seus resultados na Semana de Cons- disposto na Resolução CNE/CP 01/2004 e no Parecer CNE/
ciência Negra e/ou no período que compreende o Dia da CP nº 03/2004.
Consciência Negra (20 de novembro). c) Mobilizar recursos para a implementação da temáti-
e) Encaminhar ao Gestor escolar e/ou aos responsá- ca de modo a atender às necessidades de formação conti-
veis da Gestão Municipal ou Estadual de Ensino, situações nuada de professores e produção de material didático das
de preconceito, racismo e discriminação identificados na Secretarias municipais e estaduais de educação ou/e pes-
escola. quisas relacionadas ao desenvolvimento de tecnologias de
educação que atendam à temática;
Atribuições dos grupos colegiados e núcleos de es- d) Divulgar e disponibilizar estudos, pesquisas, mate-
tudo riais didáticos e atividades de formação continuada aos ór-
gãos de comunicação dos Sistemas de Educação;
O exercício democrático pressupõe que a sociedade e) Manter permanente diálogo com os Fóruns de Edu-
participe, de diferentes formas, dos processos que visam cação e Diversidade Etnicorracial, os Sistemas de Educação,
atender às demandas sociais. Assim, a política pública é Conselhos de Educação, sociedade civil e todos as instan-
entendida como uma construção coletiva onde a socieda- cias e entidades que necessitem de ajuda especializada na
de tem importante papel propositor e de monitoramento, temática;
considerando a capilaridade social e seu alcance. Essa par- f) Atender e orientar as Secretarias de Educação quan-
ticipação social organiza-se por si mesma ou por indução to às abordagens na temática das relações etnicorraciais,
dos agentes públicos e instituições com diferentes nature- auxiliando na construção de metodologias de pesquisa que
zas, campos de atuação e interesses. No caso da educação contribuam para a implementação e monitoramento das
para as relações etnicorraciais essa participação e controle Leis 10639/2003 e 11645/08, quando couber;
social não são somente desejáveis, mas fundamentais. É
necessário que existam grupos que monitorem, auxiliem, Fóruns de educação e diversidade etnicorracial
proponham, estudem e pesquisem os objetos de trabalho
deste plano para que sua atualização permaneça dinâmica Os Fóruns de Educação de Diversidade Etnicorracial,
e se autoajustem às necessidades do aluno, da escola e da formados por representantes do poder público e da socie-
sociedade brasileira. Os Fóruns de Educação e Diversidade dade civil, organizados por meio de Regimento Interno, são
Etnicorracial, os NEAB’s e os Grupos de Trabalho e Comitês grupos constituídos para acompanhar o desenvolvimento
possuem, normalmente, a capilaridade para inserção da te- das políticas públicas de educação para diversidade Etni-
mática em grupos diferenciados de interesses, por isso, a corracial, propondo, discutindo, sugerindo, estimulando
importância desses órgãos para a implementação do Plano e auxiliando a implementação das Diretrizes Curriculares
Nacional. Nacionais e, por consequência, também, este Plano. Sua
existência se respalda no princípio disposto no inciso II do
Núcleos de estudos afrobrasileiros e grupos corre- Art. 14 da LDB
latos “participação das comunidades escolar e local em con-
selhos escolares ou equivalentes”, e no Art. 4º da Resolução
Os Núcleos de Estudos Afrobrasileiros - NEAB’s e Gru- CNE/CP nº 01/2004: “os sistemas e os estabelecimentos de
pos correlatos, instituídos em Instituições de Ensino Su- ensino poderão estabelecer canais de comunicação com
perior representam um importante braço de pesquisa e grupos do Movimento Negro, grupos culturais negros, ins-
elaboração de material e de formatação de cursos dentro tituições formadoras de professores, núcleos de estudos e
das temáticas abordadas por este Plano. O Art. 3º, § 4º da pesquisas, como os Núcleos de Estudos Afro-Brasileiros,
Resolução 01/2004 do Conselho Nacional de Educação diz com a finalidade de buscar subsídios e trocar experiências
que “Os sistemas de ensino incentivarão pesquisas sobre para planos institucionais, planos pedagógicos e projetos
processos educativos orientados por valores, visões de de ensino”. Sendo instrumentos estabelecidos pelos siste-
mundo, conhecimentos afro-brasileiros, ao lado de pesqui- mas, é recomendável que existam estruturas semelhantes
sas de mesma natureza junto aos povos indígenas, com o induzidas em nível estadual, municipal e federal.
objetivo de ampliação e fortalecimento de bases temáticas Principais ações para os Fóruns de Educação e Diversi-
para a educação brasileira”. dade Etnicorracial
Principais Ações Para os Núcleos de Estudos e Grupos a) Manter permanente diálogo com instituições de en-
correlatos sino, gestores educacionais, movimento negro e socieda-
a) Colaborar com a Formação Inicial e Continuada de de civil organizada para a implementação das Leis 10639
Professores e graduandos em educação das relações Et- e 11645;
nicorraciais e ensino de história e cultura afro-brasileira b) Colaborar com a implementação das DCNs das Re-
e africana, de acordo com o disposto na Resolução CNE/ lações étnicorraciais na sua localidade, orientando gestores
CP 01/2004 e no Parecer CNE/CP nº 03/2004, e da Lei educacionais sobre a temática das relações raciais quando
11645/08, quando couber. solicitados;

43
POLÍTICAS PÚBLICAS DA EDUCAÇÃO

c) Colaborar com os sistemas de ensino na coleta de Educação infantil


informações sobre a implementação da lei nas redes priva-
da e pública de ensino, para atendimento ao Artigo 8º da Em 2006, segundo os dados estatísticos, apenas 13,8%
Resolução CNE/CP nº. 01/2004; das crianças declaradas como negras estavam matriculadas
d) Divulgar atividades de implementação da Lei em creches; entre as crianças brancas esse número é igual a
10639/03, assim como suas reuniões e ações para toda a 17,6%. Na pré-escola, a diferença é menor, mas da mesma
sociedade local e regional; forma desigual: na população infantil branca 65,3% estão
e) Acompanhar e solicitar providências dos órgãos matriculados na pré-escola, enquanto na população infan-
competentes onde se insira quando da constatação de til negra esse número representa 60,6% do total da popu-
ações discriminatórias ou do descumprimento da Lei lação infantil. Esses números revelam o tamanho dos desa-
10639/03; fios que se apresentam para a Política de Educação Infantil
f) Verificar e acompanhar nos estados e municípios as no que se refere à educação das relações Etnicorraciais. O
ações de cumprimento do presente Plano, assim como a papel da educação infantil é significativo para o desenvol-
aplicação de recursos para implementação da Educação vimento humano, a formação da personalidade, a constru-
das Relações Etnicorraciais;
ção da inteligência e a aprendizagem. Os espaços coletivos
educacionais, nos primeiros anos de vida, são espaços pri-
Níveis de ensino
vilegiados para promover a eliminação de qualquer forma
A educação brasileira organiza-se por níveis e modali- de preconceito, racismo e discriminação, fazendo com que
dades de ensino, expressos na Lei de Diretrizes e Bases da as crianças, desde muito pequenas, compreendam e se en-
Educação. Os níveis compreendem educação básica – com- volvam conscientemente em ações que conheçam, reco-
posto por educação infantil, ensino fundamental e ensino nheçam e valorizem a importância dos diferentes grupos
médio – e educação superior. Para qualquer nível de ensino, etnicorraciais para a história e a cultura brasileiras.
os dados revelam significativas diferenças de acesso e per- O acolhimento da criança implica o respeito à sua cul-
manência quando analisados sob o aspecto das distinções tura, corporeidade, estética e presença no mundo(...) Nessa
entre brancos e negros. No espírito da Lei 10639/2003, que perspectiva, a dimensão do cuidar e educar deve ser am-
pretendeu explicitar a preocupação com o acesso e o su- pliada e incorporada nos processos de formação dos pro-
cesso escolar da população negra, a Resolução CNE/CP nº fissionais para os cuidados embasados em valores éticos,
01/2004 dispôs, em seu Art. 5º, que “os sistemas de ensino nos quais atitudes racistas e preconceituosas não poder ser
tomarão providências no sentido de garantir o direito de admitidas. (Orientações e Ações para a Educação das Rela-
alunos afrodescendentes de frequentarem estabelecimen- ções Etnicorraciais – Brasil; MEC)
tos de ensino de qualidade, que contenham instalações e Um destaque especial deve ser dado aos professores
equipamentos sólidos e atualizados, em cursos ministrados que atuam na educação infantil, pois devem desenvolver
por professores competentes no domínio de conteúdos de atividades que possibilitem e favoreçam as relações entre
ensino e comprometidos com a educação de negros e não as crianças na sua diversidade.
negros, sendo capazes de corrigir posturas, atitudes, pala- Ações principais para a Educação Infantil
vras que impliquem desrespeito e discriminação”.
a) Ampliar o acesso e o atendimento seguindo crité-
Educação básica rios de qualidade em EI, possibilitando maior inclusão das
crianças afros-descendentes.
A LDB, em seu Art. 22, determina que: “A educação bá- b) Assegurar formação inicial e continuada aos profes-
sica tem por finalidades desenvolver o educando, assegu- sores e profissionais desse nível de ensino para a incorpo-
rar-lhe a formação comum indispensável para o exercício
ração dos conteúdos da cultura Afrobrasileira e indígena
da cidadania e fornecer-lhe meios para progredir no traba-
e o desenvolvimento de uma educação para as relações
lho e em estudos posteriores”. Nessa fase o risco de eva-
etnicorraciais.
são, os problemas sociais e familiares ficam evidentes na
grande maioria dos educandos. No bojo desses conflitos c) Explicitar nas Diretrizes Curriculares Nacionais de
estão as manifestações de racismo, preconceitos religiosos, Educação Infantil a importância da implementação de prá-
de gênero, entre outros despertos à medida que o aluno ticas que valorizem a diversidade étnica, religiosa, de gê-
progride no conhecimento da sociedade multiétnica e plu- nero e de pessoas com deficiências pelas redes de ensino.
ricultural a que pertence. As desigualdades percebidas nas d) Implementar nos Programas Nacionais do Livro Di-
trajetórias educacionais das crianças e dos jovens negros dático e Programa Nacional Biblioteca na Escola ações vol-
nos diferentes níveis de ensino, bem como as práticas ins- tadas para as instituições de educação infantil, incluindo
titucionais discriminatórias e preconceituosas determinam livros que possibilitem aos sistemas de ensino trabalhar
percursos educativo muito distintos entre negros e bran- com referenciais de diferentes culturas, especialmente as
cos. As Leis 10639/03 e 11645/09 alteram a LDB especifica- negras e indígena.
mente no que diz respeito aos conteúdos obrigatórios para e) Implementar ações de pesquisa, desenvolvimento e
este nível de ensino, pois determina a obrigatoriedade do aquisição de materiais didático- pedagógicos que respei-
ensino de História e Cultura Afro-brasileira, Africana e in- tem e promovam a diversidade, tais como: brinquedos, jo-
dígena na perspectiva de construir uma positiva educação gos, especialmente bonecas/os com diferentes caracterís-
para as relações etnicorraciais. ticas Etnicorraciais, de gênero e portadoras de deficiência.

44
POLÍTICAS PÚBLICAS DA EDUCAÇÃO

f) Desenvolver ações articuladas junto ao INEP, IBGE e c) Prover as bibliotecas e as salas de leitura de mate-
IPEA para produção de dados relacionados à situação da riais didáticos e paradidáticos sobre a temática Etnicorracial
criança de 0 a 5 anos no que tange à diversidade e ga- adequados à faixa etária e à região geográfica das crianças.
rantir o aperfeiçoamento na coleta de dados do INEP, na d) Incentivar e garantir a participação dos pais e res-
perspectiva de melhorar a visualização do cenário e a com- ponsáveis pela criança na construção do projeto político
preensão da situação da criança afrodescendente na edu- pedagógico e na discussão sobre a temática etnicorracial.
cação infantil. e) Abordar a temática etnicorracial como conteúdo
g) Garantir apoio técnico aos municípios para que im- multidisciplinar e interdisciplinar durante todo o ano letivo,
plementem ações ou políticas de promoção da igualdade buscando construir projetos pedagógicos que valorizem
racial na educação infantil. os saberes comunitários e a oralidade, como instrumentos
construtores de processos de aprendizagem.
Ensino fundamental f) Construir coletivamente alternativas pedagógicas
com suporte de recursos didáticos adequados e utilizar
O Ensino fundamental obrigatório e gratuito, dever da materiais paradidáticos sobre a temática.
família e do estado, direito público subjetivo, é definido g) Propiciar, nas coordenações pedagógicas, o resgate
pela LDB como a etapa educacional em que se dá a for- e acesso a referências históricas, culturais, geográficas, lin-
mação básica do cidadão, mediante, entre outros fatores, guísticas e científicas nas temáticas da diversidade.
“a compreensão do ambiente natural e social, do sistema h) Apoiar a organização de um trabalho pedagógico
político, da tecnologia, das artes e dos valores em que se que contribua para a formação e fortalecimento da autoes-
fundamenta a sociedade” (Art 32). A partir da análise dos tima dos jovens, dos(as) docentes e demais profissionais
indicadores educacionais recentes, ao efetuarmos um cor- da educação.
te étnico/racial, a desigualdade educacional demonstra-se
perversa. Segundo o censo escolar de 2007 a distorção ida- Ensino médio
de-série de brancos é de 33,1% na 1ª série e 54,7% na 8ª,
enquanto a distorção idade-série de negros é de 52,3% na O Ensino Médio é a etapa final da Educação Básica. É
1ª série e 78,7% na 8ª. Entre os jovens brancos de 16 anos, nesta fase em que o indivíduo consolida as informações e
70% haviam concluído o ensino fundamental obrigatório, conhecimentos necessários para o exercício da cidadania.
enquanto que dos negros, apenas 30%. Entre as crianças É também essa a fase que antecede, para poucos jovens, o
brancas de 8 e 9 anos na escola, encontramos uma taxa de ingresso na Educação Superior e em que muitos jovens se
analfabetismo da ordem de 8%, enquanto que dentre as preparam para o mercado de trabalho. Contudo, esse é um
negras essa taxa é de 16% (PNAD/IBGE 2007). No Ensino dos níveis de ensino com menor cobertura e maior desi-
Fundamental, o ato de educar implica uma estreita relação gualdade entre negros e brancos. Em 2007, 62% dos jovens
entre as crianças, adolescentes e os adultos. Esta relação brancos de 15 a 17 anos frequentavam a escola, enquanto
precisa estar pautada em tratamentos igualitários, consi- que o percentual de negros era de apenas 31%. Se o recor-
derando a singularidade de cada sujeito em suas dimen- te etário for 19 anos, os brancos apresentam uma taxa de
sões culturais, familiares e sociais. Nesse sentido, a educa- conclusão do ensino médio de 55%, já os negros apenas
ção das relações etnicorraciais deve ser um dos elementos 33% (PNAD/IBGE 2007). Acreditamos que a educação das
estruturantes do projeto político pedagógico das escolas. relações etnicorraciais pode contribuir para a ampliação do
Respeitando a autonomia dos sistemas e estabelecimentos acesso e permanência de jovens negros e negras no Ensino
de ensino para compor os projetos pedagógicos e o currí- Médio e possibilitar o diálogo com os saberes e valores da
culo dos estados e municípios para o cumprimento das Leis diversidade.
10639/03 e 11645/08, é imprescindível a colaboração das
comunidades em que a escola está inserida e a comunica- Ações principais para o Ensino Médio
ção com estudiosos e movimentos sociais para que subsi- a) Ampliar a oferta e a expansão do atendimento, pos-
diem as discussões e construam novos saberes, atitudes, sibilitando maior acesso dos jovens afro-descendentes;
valores e posturas. b) Assegurar formação inicial e continuada aos profes-
sores desse nível de ensino para a incorporação dos con-
Ações Principais para o Ensino Fundamental teúdos da cultura Afrobrasileira e indígena e o desenvol-
a) Assegurar formação inicial e continuada aos profes- vimento de uma educação para as relações etnicorraciais;
sores e profissionais desse nível de ensino para a incorpo- c) Contribuir para o desenvolvimento de práticas pe-
ração dos conteúdos da cultura Afrobrasileira e indígena dagógicas reflexivas, participativas e interdisciplinares, que
e o desenvolvimento de uma educação para as relações possibilitem ao educando o entendimento de nossa estru-
etnicorraciais. tura social desigual;
b) Implementar ações, inclusive dos próprios educan- d) Implementar ações, inclusive dos próprios educan-
dos, de pesquisa, desenvolvimento e aquisição de materiais dos, de pesquisa, desenvolvimento e aquisição de materiais
didático-pedagógicos que respeitem, valorizem e promo- didático diversos que respeitem, valorizem e promovam a
vam a diversidade a fim de subsidiar práticas pedagógicas diversidade cultural a fim de subsidiar práticas pedagógi-
adequadas a educação para as relações etnicorraciais. cas adequadas a educação para as relações etnicorraciais.

45
POLÍTICAS PÚBLICAS DA EDUCAÇÃO

e) Prover as bibliotecas e as salas de leitura de mate- d) Implementar as orientações do Parecer nº 03/2004


riais didáticos e paradidáticos sobre a temática Etnicorracial e da Resolução nº 01/2004, no que se refere à inserção da
adequados à faixa etária e à região geográfica do jovem. educação das relações Etnicorraciais e temáticas que dizem
f) Distribuir e divulgar as DCN’s sobre a Educação das respeito aos afro-brasileiros entre as IES que oferecem cur-
relações etnicorraciais entre as escolas que possuem edu- sos de licenciatura;
cação em nível médio, para que as mesmas incluam em e) Construir, identificar, publicar e distribuir material
seus currículos os conteúdos e disciplinas que versam so- didático e bibliográfico sobre as questões relativas à edu-
bre esta temática; cação das relações ético-raciais para todos os cursos de
g) Incluir a temática de história e cultura africana, Afro- graduação;
brasileira e indígena entre os conteúdos avaliados pelo f) Incluir os conteúdos referentes à educação das rela-
ENEM; ções Etnicorraciais nos instrumentos de avaliação institucio-
h) Inserir a temática da Educação das Relações Etnicor- nal, docente e discente e articular cada uma delas à pesqui-
raciais na pauta das reuniões do Fórum dos Coordenadores sa e à extensão, de acordo com as características das IES.
do Ensino Médio, assim como manter grupo de discussão
Modalidades de ensino
sobre a temática no Fórum Virtual dos Coordenadores do
Ensino Médio;
-Educação de jovens e adultos
i) Incluir, nas ações de revisão dos currículos, discussão
Analisando os dados das desigualdades raciais no país,
da questão racial e da história e cultura africana, Afrobrasi- identificamos que adolescentes negros são precocemente
leira e indígena como parte integrante da matriz curricular. absorvidos pelo mercado de trabalho informal e “expulsos”
do sistema de ensino regular. Pesquisas recentes apontam,
Educação superior ainda, que jovens negros são maioria entre os desempre-
gados, demandando maior atenção para a escolarização
De acordo com o Parecer CNE/CP 03/2004, as institui- dessa população e uma formação mais adequada para sua
ções de educação superior devem elaborar uma pedago- inserção profissional. Os resultados do Censo 2008 indicam
gia anti-racista e antidiscriminatória e construir estratégias a matrícula de 4,9 milhões na modalidade EJA, sendo 3,3
educacionais orientadas pelo princípio de igualdade básica milhões no ensino fundamental e 1,6 milhões no médio.
da pessoa humana como sujeito de direitos, bem como Esse número é muito inferior ao necessário para cumpri-
se posicionar formalmente contra toda e qualquer forma mento do preceito constitucional que estabelece o ensino
de discriminação. Segundo o IPEA, da população branca fundamental como obrigatório – temos 65 milhões de jo-
acima de 25 anos, 12,6% detém diploma de curso supe- vens e adultos sem os 8 anos de escolaridade. Conside-
rior. Dentre os negros a taxa é de 3,9%. Em 2007, os dados rando que jovens e adultos negros representam a maioria
coletados pelo censo do ensino superior indicavam a fre- entre aqueles que não tiveram acesso ou foram excluídos
quência de 19,9% de jovens entre 18 e 24 anos no ensino da escola, é essencial observar o proposto nas Diretrizes
superior. Já para os negros, o percentual é de apenas 7%. Curriculares que regulamentam a Lei 10639/2003, como
As IES são as instituições fundamentais e responsáveis pela possibilidade de ampliar o acesso e permanência desta po-
elaboração, execução e avaliação dos cursos e programas pulação no sistema educacional, promovendo o desenvol-
que oferecem, assim como de seus projetos institucionais, vimento social, cultural e econômico, individual e coletivo.
projetos pedagógicos dos cursos e planos de ensino arti- Ações principais para a Educação de Jovens e Adultos
culados à temática Etnicorracial. a) Ampliar a cobertura de EJA em todos os sistemas de
É importante que se opere a distribuição e divulgação ensino e modalidades, para ampliação do acesso da popu-
sistematizada deste Plano entre as IES para que as mes- lação afrodescendente;
b) Assegurar à EJA vinculação com o mundo do traba-
mas, respeitando o princípio da autonomia universitária,
lho por meio de fomento a ações e projetos que pautem a
incluam em seus currículos os conteúdos e disciplinas que
multiplicidade do tripé espaço-tempo-concepção e o res-
versam sobre a educação das relações Etnicorraciais.
peito a educação das relações etnicorraciais;
c) Incluir quesito cor/raça nos diagnósticos e progra-
Ações principais para a Educação Superior mas de EJA;
a) Adotar a políticas de cotas raciais e outras ações d) Implementar ações de pesquisa, desenvolvimento e
afirmativas para o ingresso de negros, negras e estudantes aquisição de materiais didático- pedagógicos que respei-
indígenas ao ensino superior; tem, valorizem e promovam a diversidade, a fim de subsi-
b) Ampliar a oferta de vagas na educação superior, diar práticas pedagógicas adequadas à educação das rela-
possibilitando maior acesso dos jovens, em especial dos ções etnicorraciais;
afro-descendentes, a este nível de ensino; e) Incluir na formação de educadores de EJA a temática
c) Fomentar o Apoio Técnico para a formação de pro- da promoção da igualdade Etnicorracial e o combate ao
fessores e outros profissionais de ensino que atuam na racismo.
escola de educação básica, considerando todos os níveis f) Estimular as organizações parceiras formadoras de
e modalidades de ensino, para a educação das relações Et- EJA, para articulação com organizações do movimento ne-
nicorraciais; gro local, com experiência na formação de professores.

46
POLÍTICAS PÚBLICAS DA EDUCAÇÃO

- Educação tecnológica e formação profissional f) A SETEC, em parceria com a SECAD e os Institutos Fe-
Segundo a LDB, alterada pela lei 11.741/2008, “A edu- derais, contribuirá com a sua rede e os demais sistemas de
cação profissional e tecnológica, no cumprimento dos ensino pesquisando e publicando materiais de referência
objetivos da educação nacional, integra-se aos diferentes para professores e materiais didáticos para seus alunos na
níveis e modalidades de educação e às dimensões do tra- temática da educação das relações etnicorraciais.
balho, da ciência e da tecnologia” (art. 39). O chamado - Educação em áreas remanescentes de quilombos
“Sistema S” (SENAI, SENAC, SENAR, SEST/SENAT, SEBRAE, No Brasil estão identificadas, segundo dados da Fun-
entre outros), que é o conjunto de organizações das en- dação Cultural Palmares, 1.305 (mil trezentas e cincos)
tidades corporativas empresariais voltadas para o treina- comunidades remanescentes de quilombos localizadas
mento profissional, assistência social, consultoria, pesquisa nas diferentes regiões brasileiras. Fato este que justificou
a criação de um Grupo Interministerial, em 2003, com a
e assistência técnica, têm raízes comuns e características
função de discutir e redefinir o artigo 68 do ADCT, conside-
organizacionais similares, e compõe a educação profis-
rando tanto os questionamentos postos, (“O que se pode
sional e tecnológica atingindo uma parcela expressiva da entender por remanescente de quilombo? O que significa
população nas suas ações educacionais. Assim compreen- ocupando suas terras? Há necessidade do efetivo exercício
demos que as organizações do Sistema S que atuam nessa da terra?”), quanto os pensamentos expressos pelas comu-
modalidade educacional são parceiros importantes a se- nidades quilombolas. Como fruto do trabalho desse Gru-
rem incorporados nas ações de implementação das DCNs po Interministerial foi instituído o Decreto nº 4.887, no dia
para Educação das Relações Etnicorraciais. Essa reflexão 20 de novembro de 2003, que transfere a competência de
se aplica também a toda a rede privada que desenvolve identificação, reconhecimento, delimitação, demarcação,
a educação profissional e tecnológica. Em 2008, a SETEC titulação das áreas remanescentes de quilombos, ao Mi-
publicou o livro “Implementação das Diretrizes Curriculares nistério do Desenvolvimento Agrário, por meio do Instituto
para a Educação das Relações Etnicorraciais e o Ensino de Nacional de Colonização e Reforma Agrária – INCRA.
História e Cultura Afro-Brasileira e Nas comunidades remanescentes de quilombos,
Africana da Educação Profissional e Tecnológica”, re- o acesso à escola para as crianças é difícil, os meios de
sultado de oficinas desenvolvidas com a SECAD, com uma transporte são insuficientes e inadequados, e o currículo
série de artigos sobre a relação entre a Educação Profis- escolar está longe da realidade destes meninos e meninas.
sional e Tecnológica e a Lei 10639/2003. Os artigos mos- Raramente os alunos quilombolas veem sua história, sua
cultura e as particularidades de sua vida nos programas
tram o que tem sido pensado sobre a implementação da
de aula e nos materiais pedagógicos. Somam-se a essas
lei 10639/2003 no âmbito da Educação Profissional, Cien-
dificuldades o fato de que os(as) professores(as) não são
tífica e Tecnológica, na tentativa de facilitar os trabalhos capacitados adequadamente e o seu número é insuficiente.
dos gestores e professores que atuam nessa modalidade Poucas comunidades possuem unidades educacionais com
de ensino. o Ensino Fundamental completo. Garantir a educação nes-
Principais ações para Educação Tecnológica e Forma- tes territórios onde vive parcela significativa da população
ção Profissional brasileira, respeitando sua história e suas práticas culturais
a) Incrementar os mecanismos de financiamento de é pressuposto fundamental para uma educação anti-racis-
forma a possibilitar a expansão do atendimento, possibi- ta. Assim a implementação da Lei 10639 nas comunidades
litando maior acesso dos jovens, em especial dos afrodes- quilombolas deve considerar as especificidades desses ter-
cendentes, a esta modalidade de ensino. ritórios, para que as ações recomendadas nesse Plano pos-
b) Garantir que nas Escolas Federais, agrícolas, centros, sam ter qualidade e especificidade na sua execução.
institutos e Instituições Estaduais de Educação Profissional, Principais ações para Educação em Áreas de Remanes-
existam Núcleos destinados ao acompanhamento, estudo centes de Quilombos
e desenvolvimento da Educação das Relações Etnicorraciais a) Apoiar a capacitação de gestores locais para o ade-
e Políticas de Ação Afirmativa; quado atendimento da educação nas áreas de quilombos;
c) Manter diálogo permanente entre os Fóruns de Edu- b) Mapear as condições estruturais e práticas pedagó-
cação e Diversidade e as instituições das Redes de Educa- gicas das escolas localizadas em áreas de remanescentes
de quilombos e sobre o grau de inserção das crianças, jo-
ção Profissional e Tecnológica;
vens e adultos no sistema escolar;
d) Inserir nos manuais editados pela Secretaria de
c) Garantir direito à educação básica para crianças e
Educação Profissional e Tecnológica as diretrizes e demais adolescentes das comunidades remanescentes de quilom-
documentos norteadores de currículos e posturas, os con- bos, assim como as modalidades de EJA e AJA;
ceitos, abordagens e metas descritos nos documentos des- d) Ampliar e melhorar a rede física escolar por meio de
te Plano, no que se refere as ações para Ensino Médio e construção, ampliação, reforma e equipamento de unida-
Ensino Superior. des escolares;
e) Os Institutos Federais, Fundações Estaduais de Edu- e) Promover formação continuada de professores da
cação Profissional e instituições afins, deverão incentivar educação básica que atuam em escolas localizadas em co-
o estabelecimento de programas de pós-graduação e de munidades remanescentes de quilombos, atendendo ao
formação continuada em Educação das Relações Etnicor- que dispõe o Parecer 03/2004 do CNE e considerando o
raciais para seus servidores e educadores da região de sua processo histórico das comunidades e seu patrimônio cul-
abrangência; tural;

47
POLÍTICAS PÚBLICAS DA EDUCAÇÃO

f) Editar e distribuir materiais didáticos conforme o que dãos quanto à pluralidade étnico-racial, tornando-os ca-
dispõe o Parecer CNE/CP nº 03/2004 e considerando o pro- pazes de interagir e de negociar objetivos comuns que ga-
cesso histórico das comunidades e seu patrimônio cultural; rantam, a todos, respeito aos direitos legais e valorização
g) Produzir materiais didáticos específicos para EJA em de identidade, na busca da consolidação da democracia
Comunidades Quilombolas; brasileira.
h) Incentivar a relação escola/comunidade no intuito § 2º O Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e
de proporcionar maior interação da população com a edu- Africana tem por objetivo o reconhecimento e valorização
cação, fazendo com que o espaço escolar passe a ser fator da identidade, história e cultura dos afro-brasileiros, bem
de integração comunitária; como a garantia de reconhecimento e igualdade de valori-
i) Aumentar a oferta de Ensino Médio das comunida- zação das raízes africanas da nação brasileira, ao lado das
des quilombolas para que possamos possibilitar a forma- indígenas, européias, asiáticas.
ção de gestores e profissionais da educação das próprias § 3º Caberá aos conselhos de Educação dos Estados,
comunidades. do Distrito Federal e dos Municípios desenvolver as Dire-
trizes Curriculares Nacionais instituídas por esta Resolução,
dentro do regime de colaboração e da autonomia de entes
CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO
federativos e seus respectivos sistemas.
CONSELHO PLENO
Art. 3° A Educação das Relações Étnico-Raciais e o es-
RESOLUÇÃO Nº 1, DE 17 DE JUNHO DE 2004. tudo de História e Cultura AfroBrasileira, e História e Cultu-
ra Africana será desenvolvida por meio de conteúdos, com-
Institui Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educa- petências, atitudes e valores, a serem estabelecidos pelas
ção das Relações ÉtnicoRaciais e para o Ensino de História e Instituições de ensino e seus professores, com o apoio e
Cultura Afro-Brasileira e Africana. supervisão dos sistemas de ensino, entidades mantenedo-
ras e coordenações pedagógicas, atendidas as indicações,
O Presidente do Conselho Nacional de Educação, ten- recomendações e diretrizes explicitadas no Parecer CNE/
do em vista o disposto no art. 9º, § 2º, alínea “c”, da Lei nº CP 003/2004.
9.131, publicada em 25 de novembro de 1995, e com fun- § 1° Os sistemas de ensino e as entidades mantenedo-
damentação no Parecer CNE/CP 3/2004, de 10 de março ras incentivarão e criarão condições materiais e financeiras,
de 2004, homologado pelo Ministro da Educação em 19 de assim como proverão as escolas, professores e alunos, de
maio de 2004, e que a este se integra, resolve: material bibliográfico e de outros materiais didáticos ne-
cessários para a educação tratada no “caput” deste artigo.
Art. 1° A presente Resolução institui Diretrizes Curricu- § 2° As coordenações pedagógicas promoverão o
lares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Ra- aprofundamento de estudos, para que os professores
ciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e concebam e desenvolvam unidades de estudos, projetos
Africana, a serem observadas pelas Instituições de ensino, e programas, abrangendo os diferentes componentes cur-
que atuam nos níveis e modalidades da Educação Brasileira riculares.
e, em especial, por Instituições que desenvolvem progra- § 3° O ensino sistemático de História e Cultura Afro
mas de formação inicial e continuada de professores. -Brasileira e Africana na Educação Básica, nos termos da
§ 1° As Instituições de Ensino Superior incluirão nos Lei 10639/2003, refere-se, em especial, aos componentes
conteúdos de disciplinas e atividades curriculares dos cur- curriculares de Educação Artística, Literatura e História do
Brasil.
sos que ministram, a Educação das Relações Étnico-Raciais,
§ 4° Os sistemas de ensino incentivarão pesquisas so-
bem como o tratamento de questões e temáticas que di-
bre processos educativos orientados por valores, visões de
zem respeito aos afrodescendentes, nos termos explicita-
mundo, conhecimentos afro-brasileiros, ao lado de pesqui-
dos no Parecer CNE/CP 3/2004. sas de mesma natureza junto aos povos indígenas, com o
§ 2° O cumprimento das referidas Diretrizes Curricula- objetivo de ampliação e fortalecimento de bases teóricas
res, por parte das instituições de ensino, será considerado para a educação brasileira.
na avaliação das condições de funcionamento do estabe-
lecimento. Art. 4° Os sistemas e os estabelecimentos de ensino
poderão estabelecer canais de comunicação com grupos
Art. 2° As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Edu- do Movimento Negro, grupos culturais negros, instituições
cação das Relações ÉtnicoRaciais e para o Ensino de Histó- formadoras de professores, núcleos de estudos e pesqui-
ria e Cultura Afro-Brasileira e Africanas constituem-se de sas, como os Núcleos de Estudos Afro-Brasileiros, com a
orientações, princípios e fundamentos para o planejamen- finalidade de buscar subsídios e trocar experiências para
to, execução e avaliação da Educação, e têm por meta, pro- planos institucionais, planos pedagógicos e projetos de
mover a educação de cidadãos atuantes e conscientes no ensino.
seio da sociedade multicultural e pluriétnica do Brasil, bus-
cando relações étnico-sociais positivas, rumo à construção Art. 5º Os sistemas de ensino tomarão providências no
de nação democrática. sentido de garantir o direito de alunos afrodescendentes
§ 1° A Educação das Relações Étnico-Raciais tem por de freqüentarem estabelecimentos de ensino de qualida-
objetivo a divulgação e produção de conhecimentos, bem de, que contenham instalações e equipamentos sólidos e
como de atitudes, posturas e valores que eduquem cida- atualizados, em cursos ministrados por professores com-

48
POLÍTICAS PÚBLICAS DA EDUCAÇÃO

petentes no domínio de conteúdos de ensino e compro- O sonho do mundo moderno terminou por desabar
metidos com a educação de negros e não negros, sendo sobre nossas cabeças, em forma de violência, aquecimen-
capazes de corrigir posturas, atitudes, palavras que impli- to global, fome. A sociedade moderna, com seus projetos
quem desrespeito e discriminação. de futuro, acabou não beneficiando de fato ninguém, e
se desmorona em consequência de sua própria exaustão:
Art. 6° Os órgãos colegiados dos estabelecimentos de diante da violência em grande escala e da iminência de de-
ensino, em suas finalidades, responsabilidades e tarefas, sastres ecológicos, todos somos iguais.
incluirão o previsto o exame e encaminhamento de solu- Mas o simples fracasso deste modelo moderno de
ção para situações de discriminação, buscando-se criar si- sociedade, que nos prometeu um futuro ordenado pela
tuações educativas para o reconhecimento, valorização e ciência, não significa que resultará uma sociedade menos
respeito da diversidade. desigual e mais justa. Mas, como a tecnologia produziu ra-
§ Único: Os casos que caracterizem racismo serão tra- chaduras irreversíveis no modo como a sociedade se or-
tados como crimes imprescritíveis e inafiançáveis, confor- ganizava, uma brecha sem dúvida se abriu, um ponto de
me prevê o Art. 5º, XLII da Constituição Federal de 1988.
vazão, capaz de fazer ruir relações e conceitos opressivos,
permitindo uma nova configuração de forças e gerando
Art. 7º Os sistemas de ensino orientarão e supervisio-
novos acordos. Mas, para isso, precisamos ter coragem de
narão a elaboração e edição de livros e outros materiais
didáticos, em atendimento ao disposto no Parecer CNE/ rever valores e modelos, e o mais difícil talvez seja encarar
CP 003/2004. o quanto obsoletos estão nossos saberes. Precisamos rever
o modo como estruturamos nosso conhecimento, nosso
Art. 8º Os sistemas de ensino promoverão ampla di- pensamento, nossa educação.
vulgação do Parecer CNE/CP 003/2004 e dessa Resolução, É lugar comum, em nossos dias, apontar a educação
em atividades periódicas, com a participação das redes das como a saída para os impasses que vivemos. Mas será que
escolas públicas e privadas, de exposição, avaliação e divul- a educação pode mesmo dar conta desta enorme expec-
gação dos êxitos e dificuldades do ensino e aprendizagens tativa? Segundo o cientista da educação Rui Canário, da
de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana e da Educa- Universidade de Lisboa, a imaturidade política e social que
ção das Relações Étnico-Raciais. nos caracteriza é proporcional ao grau de escolarização de
§ 1° Os resultados obtidos com as atividades mencio- nossa sociedade. Quanto mais uma sociedade se escolari-
nadas no caput deste artigo serão comunicados de forma za, quanto mais coloca suas crianças na escola, mais esta
detalhada ao Ministério da Educação, à Secretaria Especial sociedade produz imaturos políticos e sociais, e os respon-
de Promoção da Igualdade Racial, ao Conselho Nacional de sáveis por isso são, entre outras coisas, a excessiva frag-
Educação e aos respectivos Conselhos Estaduais e Munici- mentação dos saberes e o isolamento da escola.
pais de Educação, para que encaminhem providências, que Influenciada, por um lado, pela industrialização que
forem requeridas. chegava e, por outro, pelo regime militar que passou a
vigorar no Brasil, nossa escola foi se estruturando como
Art. 9º Esta resolução entra em vigor na data de sua uma linha de montagem, um modo de produção que frag-
publicação, revogadas as disposições em contrário. mentou o trabalho humano, tendo em vista o aumento
da produtividade. A hiper-especialidade, o ensino voltado
Roberto Cláudio Frota Bezerra ao “científico”, movido pela euforia tecnicista, as inúmeras
Presidente do Conselho Nacional de Educação aulas de 50 minutos, sem conexão entre si, sem contexto,
nos levaram a uma sociedade que desaprendeu o valor do
todo, do global, do complexo.
8. EDUCAÇÃO NO MUNDO E nos tornamos especialistas cada vez mais fragmenta-
dos, desvinculados das grandes questões humanas, sociais,
CONTEMPORÂNEO: DESAFIOS,
planetárias. E vamos vivendo acoplados a uma parcela tão
COMPROMISSOS E TENDÊNCIAS DA pequena da realidade que chegamos a esquecer quem so-
SOCIEDADE, DO CONHECIMENTO E AS mos, o que buscamos. Se, por um lado, a fragmentação do
EXIGÊNCIAS DE UM NOVO PERFIL DE ensino respondia à necessidade de produzir uma educação
CIDADÃO. “em massa”, por outro, atendia à fundamentação ideoló-
gica do novo regime, avesso à reflexão e à crítica, como
mostram as denominações que ainda hoje usamos: grade
EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA curricular, disciplina, prova.
Com tudo isso, fomos formando pessoas cada vez mais
A modernidade nos deixou como herança um enorme segmentadas, incapazes de responder às grandes ques-
desenvolvimento tecnológico, possivelmente em função tões, e que hoje vivem em um mundo que as obriga a dar
do investimento tecnicista dirigido aos alunos que apre- conta de temas cada vez mais complexos, como o destino
sentavam alto desempenho, mas nos deixou também um do planeta, a internet, a globalização.
absurdo caos social, que deve resultar, entre outras coisas, “Há, por um lado, uma inadequação cada vez mais
do descaso com relação aos distraídos, desobedientes, im- ampla, profunda e grave entre os saberes separados, frag-
pulsivos, mal vestidos. mentados, compartimentados entre disciplinas, e, por ou-

49
POLÍTICAS PÚBLICAS DA EDUCAÇÃO

tro, realidades ou problemas cada vez mais transversais, Saviani (2003), ao defender uma pedagogia crítico-
multidimensionais, transnacionais, globais, planetários.” social dos conteúdos na qual professor e alunos se en-
Edgard Morin contram numa relação social específica – que é a relação
Assistimos ao nascimento de um novo modelo de mun- de ensino - com o objetivo de estudar os conhecimentos
do, sem grandes valores fixos e eixos centrais, mas funda- acumulados historicamente, a fim de construir e aprimorar
do em diversas conexões, formando uma imensa rede sem novas elaborações do conhecimento, aponta que o ponto
centro, composta de uma infinidade de jogos e saberes, de partida da ação pedagógica não seria a preparação dos
que se aglutinam e se afastam, que se estendem. Na era alunos, cuja iniciativa é do professor (Pedagogia Tradicional
tecnológica, a verdade, a certeza, a estabilidade, o princí- ) nem a atividade, que é de iniciativa dos alunos (Pedago-
pio, a causa, tão caros à ciência, se tornaram sinônimo de
gia Nova ), mas seria a prática social comum a professor e
nada, perderam o valor, mas, se estes grandes valores, que
alunos, considerando que do ponto de vista pedagógico
tanto já nos oprimiram, desabaram, talvez a urgência seja
exatamente de um novo olhar, um novo posicionamento há uma diferença essencial em que professor, de um lado,
com relação ao mundo, nascido de uma nova correlação e os alunos de outro, encontram-se em níveis diferentes
de forças, de novas avaliações e novos valores. E isto exige de compreensão (conhecimento e experiências) da prática
pessoas inteiras, capazes de olhar o mundo, as situações, social.
como um todo, ao mesmo tempo que são capazes de neles Assim sendo, Fontana (2000) afirma que é preciso que
se localizar de forma singular, própria. o adulto assuma o seu papel com o objetivo claro da re-
lação de ensino (que é o de ensinar), levando em conside-
É muito difícil falar sobre este universo que nasce, ten- ração a condição de ambos os lados dessa prática, como
tar imaginar qual será a estrutura gramatical capaz de dar parceiros intelectuais, desiguais em termos de desenvolvi-
conta destes infinitos discursos. Mas precisamos admitir mento psicológico e dos lugares sociais ocupados no pro-
que os meios não são mais os mesmos, hoje vivemos em cesso histórico, mas por isso mesmo, parceiros na relação
rede. A palavra mais pronunciada é, provavelmente, co- contraditória do conhecimento.
nexão, ou link. Mas nós, professores, alunos, pais, conti- É justamente, pensando nessa “prática social” que o
nuamos apertando botões na linha de montagem de uma professor deve estar ciente de que não basta tratar somen-
fábrica em extinção. Torna-se, portanto, urgente recons- te de conteúdos atuais em sala de aula, mas sim, também,
truir o modo como estruturamos nossos saberes. A escola, resgatar conhecimentos mais amplos e históricos, para
começando pela universidade, precisa rever seus mode-
que os alunos possam interpretar suas experiências e suas
los. E, para isto, é imprescindível enfrentar o problema da
fragmentação dos saberes, de uma escola desvinculada do aprendizagens na vida social.
contexto social, ambiental, cultural, político.
A escola deve ser um corpo vivo. E precisa envolver Por isso, como afirma Kramer (1989), para que essa fun-
também os espaços públicos e as festividades, deve ir aos ção se efetive na prática: [...] o trabalho pedagógico precisa
concertos, às exposições de arte, aos museus e bibliotecas, se orientar por uma visão das crianças como seres sociais,
aos centros de pesquisa, às reservas ambientais, enfim, as indivíduos que vivem em sociedade, cidadãs e cidadãos.
escolas devem ir à cidade. E a cidade tem de se preparar Isso exige que levemos em consideração suas diferentes
para recebê-las, construindo espaços de convivência e de características, não só em termos de histórias de vida ou
relação, assumindo seu papel no processo educativo, em de região geográfica, mas também de classe social, etnia
vez de lavar as mãos, enquanto isola jovens e crianças em e sexo. Reconhecer as crianças como seres sociais que são
espaços que mais se parecem a presídios de alunos. E es- implica em não ignorar as diferenças.
pera cidadania quando oferece exclusão. É exatamente nesse sentido que devemos considerar
Torna-se urgente retomarmos a difícil complexidade as experiências sociais acumuladas de cada aluno e seu
que é viver, pensar, criar, conhecer. Todas as coisas se re- contexto social, de modo a construir a partir daí um am-
lacionam, não há nada realmente isolado, cada gesto pro- biente escolar acolhedor em que o aluno se sinta parte do
duz desdobramentos incalculáveis; um saber, uma escola, todo e esteja totalmente aberto a novas aprendizagens.
uma pessoa não existe sem um contexto: talvez este seja
Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (2001),
o aprendizado social, a maturidade política de que preci-
o enfoque social oferecido aos processos de ensino e
samos, para impedir que as coisas, de uma vez por todas,
implodam. aprendizagem traz para a discussão pedagógica aspectos
de excepcional importância, em particular no que se re-
Fonte: fere ao modo como se devem entender as relações entre
MOSÉ, V. A educação e os desafios contemporâneos. desenvolvimento e aprendizagem, à relevância da relação
interpessoal nesse processo, à relação entre educação e
O PAPEL DO PROFESSOR NO ENSINO E APRENDI- cultura e ao papel da ação educativa ajustada às situações
ZAGEM de aprendizagem e às características da atividade mental
NA ATUALIDADE construtiva do aluno em cada momento de sua escolari-
dade. Nesse sentido, o segundo passo ao se discutir uma
Nessa análise, será discutido o papel desempenhado pedagogia crítico-social dos conteúdos, de acordo com
pelo professor e pelos alunos em sala de aula, de modo Saviani (2003), não seria a apresentação de novos conheci-
a destacar, a atuação do professor na interação do aluno mentos pelo professor (Pedagogia Tradicional) nem o pro-
com o conhecimento. blema como um obstáculo que interrompe a atividade dos

50
POLÍTICAS PÚBLICAS DA EDUCAÇÃO

alunos (Pedagogia Nova). Caberia, neste momento, a iden- É neste sentido que consiste a intervenção e o papel do
tificação dos principais problemas postos pela prática so- professor na prática educativa.
cial. E a este segundo passo, Saviani (2003) chama de pro- Sem dúvida, através de suas orientações, intervenções
blematização, através da qual se detectam questões que e mediações, o professor deve provocar e instigar os alu-
precisam ser resolvidas no âmbito da prática social e, em nos a pensarem criticamente e a se colocarem como sujei-
consequência, que conhecimento é necessário dominar. tos de sua própria aprendizagem.
Percebe-se então, a importância do enfoque social na Portanto, como afirmam Fontana e Cruz (1997), o pro-
aprendizagem da criança. É através da problematização des- fessor através de suas perguntas, não nega nem exclui as
se “social” que o conhecimento começa a ser construído indi- definições iniciais das crianças, ao contrário, ele as proble-
vidualmente e socializado através da mediação do professor. matiza e as “empurra” para outro patamar de generaliza-
A aprendizagem escolar tem um vínculo direto com o ção, levando as crianças a considerarem relações que não
meio social que circunscreve não só as condições de vida foram incluídas nas suas primeiras definições, provocando
das crianças, mas também a sua relação com a escola e reelaborações na argumentação desenvolvida por elas.
estudo, sua percepção e compreensão das matérias. A con- Efetivamente, neste momento chegamos ao quarto
solidação dos conhecimentos depende do significado que passo defendido por Saviani (2003), que não é a generali-
eles carregam em relação à experiência social das crianças zação (Pedagogia Tradicional) nem a hipótese (Pedagogia
e jovens na família, no meio social, no trabalho. Nova), trata-se de “catarse”, entendida como: Elaboração
Dessa forma, segundo os Parâmetros Curriculares Na- superior da estrutura em superestrutura na consciência dos
cionais (2001), se potencialmente não podemos mais deixar homens, em que ocorre a efetiva incorporação dos instru-
de ter inquietações com o domínio de conhecimentos for- mentos culturais, transformados agora em elementos ativos
mais para a participação crítica na sociedade, considera-se de transformação social.
também que é indispensável uma adequação pedagógica Nesse processo de entrecruzamento e incorporação
às características de um aluno que pensa, de um professor se fazem presentes e atuantes, como afirmam Fontana e
que sabe e de conteúdos com valor social e formativo. Cruz (1997), as maneiras de dizer e pensar da criança e o
O ensino tem, portanto, de acordo com Libâneo (1994), papel do professor como parceiro social de sua aprendi-
zagem, que considera os saberes trazidos em sala de aula,
como função principal garantir o processo de transmissão
provocando outros significados e sentidos além do que os
e assimilação dos conteúdos do saber escolar e, através
alunos já conhecem, buscando articular conhecimentos e
desse processo, o desenvolvimento das capacidades cog-
chegar ao conhecimento sistematizado.
noscitivas dos alunos, de maneira que, o professor plane-
je, dirija e comande o processo de ensino, tendo em vista
Segundo Libâneo):
estimular e suscitar a atividade própria dos alunos para a
O trabalho docente é atividade que dá unidade ao bi-
aprendizagem.
nômio ensino-aprendizagem, pelo processo de transmis-
É justamente o que defende Saviani (2003) como tercei- são-assimilação ativa de conhecimentos, realizando a ta-
ro passo no processo de ensino, que não coincide com assi- refa de mediação na relação cognitiva entre o aluno e as
milação de conteúdos transmitidos pelo professor por com- matérias de estudo.
paração com conhecimentos anteriores (Pedagogia Tradi- Desse modo, percebemos uma interrelação entre dois
cional) nem com a coleta de dados (Pedagogia Nova), ainda momentos do processo de ensino – transmissão e assimi-
que por certo envolva transmissão e assimilação de conheci- lação ativa – que supõe o confronto entre os conteúdos
mentos podendo, eventualmente, envolver levantamento de sistematizados, trazidos pelo professor, e a experiência
dados. Trata-se de uma instrumentalização, da apropriação sociocultural do aluno e por suas forças cognoscitivas,
pelas camadas populares das ferramentas culturais produzi- enfrentando as situações escolares de aprendizagem por
das socialmente e preservados historicamente de modo que meio da orientação do professor.
a sua apropriação pelos alunos está na dependência de sua Finalmente então, chega-se ao quinto passo, no qual
transmissão direta ou indireta pelo professor. Saviani (2003) nos coloca que não será a aplicação (Pedago-
Essencialmente, é o que nos coloca Fontana e Cruz ao gia Tradicional) nem a experimentação (Pedagogia Nova),
afirmarem que “deixa-se de esperar das crianças a postura mas o ponto de chegada que será a própria prática social,
de ouvinte valorizando-se sua ação e sua expressão. Pos- compreendida agora não mais em termos sincréticos pelos
sibilitar à criança situações em que ela possa agir e ouvi-la alunos. Neste momento, ocorre uma elevação dos alunos
expressar suas elaborações passam a ser princípios básicos ao nível do professor, posto que em consequência de todo
da atuação do professor”. o processo, manifesta-se nos alunos a competência de ex-
De fato, a criança precisa ser ouvida para que através pressarem um entendimento da prática em termos tão ela-
de suas palavras e da problematização feita a partir delas, borados quanto era possível ao professor.
ocorra uma aprendizagem ativa e crítica. Dessa forma, observa-se uma desigualdade no ponto
Desse modo, segundo Fontana e Cruz (1997), pensar de partida (primeiro passo) e uma igualdade no ponto de
sobre o modo como a criança utiliza a palavra, é pensar em chegada. Através da ação pedagógica é possível formar
uma atividade intelectual nova e complexa. Assim, o que a sujeitos sociais críticos e ativos numa sociedade pensante.
professora faz é levar as crianças a desenvolverem um tipo A teoria em si [...] não transforma o mundo. Pode con-
de atividade intelectual que elas ainda não realizam por si tribuir para sua transformação, mas para isso tem que sair
mesmas. de si mesma, e, em primeiro lugar tem que ser assimilada

51
POLÍTICAS PÚBLICAS DA EDUCAÇÃO

pelos que vão ocasionar, com seus atos reais, efetivos, tal
transformação. Entre a teoria e a atividade prática trans- 9. A ESCOLA E A PLURALIDADE CULTURAL.
formadora se insere um trabalho de educação das cons-
ciências, de organização dos meios materiais e planos con-
cretos de ação; tudo isso como passagem indispensável
para desenvolver ações reais, efetivas. Nesse sentido, uma ENSINO E APRENDIZAG EM NA
teoria é prática na medida em que materializa, através de PERSPECTIVA DA PLURALIDADE CULTURAL
uma série de mediações, o que antes só existia idealmente,
como conhecimento da realidade ou antecipação ideal de O tema Pluralidade Cultural propõe que sejam revistas
sua transformação. e transformadas práticas arraigadas, inaceitáveis e incons-
É justamente, pela formação de sujeitos autônomos e titucionais, enquanto se ampliam conhecimentos acerca
produtivos que a educação deve se destacar, pois por meio das gentes do Brasil, suas histórias, trajetórias em território
dela, professores e alunos, reciprocamente aprendem, de nacional, valores e vidas. O trabalho volta-se para a elimi-
modo que assim ambos possam inserir-se criticamente em nação de causas de sofrimento, de constrangimento e, no
seu processo histórico e na sociedade. limite, de exclusão social da criança e do adolescente. Além
disso, o tema traz oportunidades pedagogicamente muito
Contudo, consideramos, neste trabalho, que cabe ao interessantes, motivadoras, que entrelaçam escola, comu-
professor, mediar o chamado “saber elaborado” acumu- nidade local e sociedade: ampliando questões do cotidia-
lado historicamente pela sociedade com as vivências do no para o âmbito cosmopolita e vice-versa, colocando-se
aluno possibilitando uma aprendizagem crítica para sua assim, simultaneamente, como objetivo e como meio do
atuação como sujeito na sociedade, enfocando o ensino processo educacional.
dos conhecimentos do passado, da tradição, para o enten- Para os alunos, o tema da Pluralidade Cultural ofere-
dimento das situações presentes e formas de se redefinir ce oportunidades de conhecimento de suas origens como
brasileiro e como participante de grupos culturais especí-
as ações futuras.
ficos. Ao valorizar as diversas culturas que estão presentes
Portanto, a ação pedagógica no processo de ensino
no Brasil, propicia ao aluno a compreensão de seu próprio
consiste, basicamente, na “prática social”. De modo que,
valor, promovendo sua autoestima como ser humano ple-
inicialmente cabe ao educador, mediar conhecimentos
no de dignidade, cooperando na formação de autodefesas
historicamente acumulados bem como os conhecimentos
a expectativas indevidas que lhe poderiam ser prejudiciais.
atuais, possibilitando, ao fim de todo o processo, que o
Por meio do convívio escolar possibilita conhecimentos e
educando tenha a capacidade de reelaborar o conheci-
vivências que cooperam para que se apure sua percepção
mento e de expressar uma compreensão da prática em
de injustiças e manifestações de preconceito e discrimina-
termos tão elaborados quanto era possível ao educador. ção que recaiam sobre si mesmo, ou que venha a testemu-
nhar — e para que desenvolva atitudes de repúdio a essas
Percebe-se então, que tal prática social só pôde ser práticas.
alcançada através de uma ação pedagógica mediadora e No âmbito instrumental, o tema permite a explicita-
problematizadora dos conteúdos sistematizados, das vi- ção dos direitos da criança e do adolescente referentes
vências dos alunos e dos acontecimentos da sociedade ao respeito e à valorização de suas origens culturais, sem
atual. qualquer discriminação. Exige do professor atitudes com-
Assim sendo, na relação de ensino estabelecida na sala patíveis com uma postura ética que valoriza a dignidade, a
de aula, o professor precisa ter o entendimento de que en- justiça, a igualdade e a liberdade. Exige, também, a com-
sinar não é simplesmente transferir conhecimento, mas, ao preensão de que o pleno exercício da cidadania envolve
contrário, é possibilitar ao aluno momentos de reelabora- direitos e responsabilidades de cada um para consigo mes-
ção do saber dividido, permitindo o seu acesso critico a mo e para com os demais, assim como direitos e deveres
esses saberes e contribuindo para sua atuação como ser coletivos. Traz, para os conteúdos relevantes no conheci-
ativo e crítico no processo históricocultural da sociedade. mento do Brasil, aquilo que diz respeito à complexidade
da sociedade brasileira: sua riqueza cultural e suas contra-
De fato, este é o verdadeiro papel do professor media- dições sociais.
dor que almeja através da sua ação pedagógica ensinar os Ao mostrar as diversas formas de organização social
conhecimentos construídos e elaborados pela humanidade desenvolvidas por diferentes comunidades étnicas e dife-
ao longo da história e assim contribuir na formação de uma rentes grupos sociais, explicita que a pluralidade é fator de
sociedade pensante. fortalecimento da democracia pelo adensamento do tecido
social que se dá, pelo fortalecimento das culturas e pelo
Referência: entrelaçamento das diversas formas de organização social
BULGRAEN, V. C. O papel do professor e sua media- de diferentes grupos.
ção nos processos de elaboração do conhecimento. Revis- Esse tema necessita, portanto, que a escola, como
ta Conteúdo, Capivari, v.1, n.4, ago./dez. 2010. instituição voltada para a constituição de sujeitos sociais
e ao afirmar um compromisso com a cidadania, coloque
em análise suas relações, suas práticas, as informações e os

52
POLÍTICAS PÚBLICAS DA EDUCAÇÃO

valores que veicula. Assim, a temática da Pluralidade Cul- permite a constatação de que são todos diferentes traz a
tural contribuirá para a vinculação efetiva da escola a uma consciência de que cada pessoa é única e, exatamente por
sociedade democrática. essa singularidade, insubstituível.
O simples fato de os alunos serem provenientes de
Ensinar Pluralidade Cultural ou viver Pluralidade diferentes famílias, diferentes origens, assim como cada
Cultural? professor ter, ele próprio, uma origem pessoal, e os outros
auxiliares do trabalho escolar terem também, cada qual,
Pela educação pode-se combater, no plano das ati- diferentes histórias, permite desenvolver uma experiência
tudes, a discriminação manifestada em gestos, compor- de interação “entre diferentes”, na qual cada um aprende e
tamentos e palavras, que afasta e estigmatiza grupos so- cada um ensina. O convívio, aqui, é explicitação de apren-
ciais. Contudo, ao mesmo tempo em que não se aceita que dizagem a cada momento: o que um gosta e o outro não,
permaneça a atual situação, em que a escola é cúmplice, o que um aprecia e o outro, talvez, despreze.
ainda que só por omissão, não se pode esquecer que esses Aprender a posicionar-se de forma a compreender a
problemas não são essencialmente do âmbito comporta- relatividade de opiniões, preferências, gostos, escolhas, é
mental, individual, mas das relações sociais, e como elas aprender o respeito ao outro. Ensinar suas próprias práti-
têm história e permanência. O que se coloca, portanto, é o cas, histórias, gestos, tradições, é fazer-se respeitar ao dar-
desafio de a escola se constituir um espaço de resistência, se a conhecer.
isto é, de criação de outras formas de relação social e in- Para o aluno, importa ter segurança da aceitação de
terpessoal mediante a interação entre o trabalho educativo suas características, ter disponível a abertura para que pos-
escolar e as questões sociais, posicionando-se crítica e res- sa dar-se a conhecer naquelas que sejam experiências par-
ponsavelmente perante elas. ticulares suas ou do grupo humano a que se vincule e re-
Assim, cabe à escola buscar construir relações de con- ceber incentivo para partilhar com seus colegas a vivência
fiança para que a criança possa perceber-se e viver, antes que tenha fora do mundo da escola, mas que possa ali ser
de mais nada, como ser em formação, e para que a mani- referida, como contribuição sua ao processo de aprendiza-
festação de características culturais que partilhe com seu gem. Resumindo, trata-se de oferecer à criança, e construir
grupo de origem possa ser trabalhada como parte de suas junto com ela, um ambiente de respeito, pela aceitação; de
circunstâncias de vida, que não seja impeditiva do desen- interesse, pelo apoio à sua expressão; de valorização, pela
volvimento de suas potencialidades pessoais. incorporação das contribuições que venha a trazer.
É possível identificar no cotidiano as muitas manifes- É claro que aquilo que se apresenta para o aluno é
tações que permitem o trabalho sobre pluralidade: os fa- idêntico ao que se apresenta para o professor e demais
tos da comunidade ou comunidades do entorno escolar, funcionários da escola: uma organização escolar que sai-
as notícias de jornal, rádio e TV, as festas das localidades, ba estar atenta às singularidades dos profissionais que ali
estratégias de intercâmbio entre escolas de diferentes re- atuam, respeitando suas características próprias, entenden-
giões do Brasil, e de diferentes municípios de um mesmo do que esse respeito é a base para a atuação profissional,
Estado. e tal respeito não é incompatível com o respeito às normas
A escola deve trabalhar atenta às limitações éticas. institucionais, embora possa, às vezes, exigir flexibilidade
Assim, quando se fala de alguma comunidade, é preciso em sua aplicação (por exemplo, os feriados religiosos).
ter certeza de que se referem a conhecimentos reconhe- Tal atuação não é simples e exige por parte do profes-
cidos por essas comunidades como verdadeiros. Então, sor a consciência de que ele mesmo estará aprendendo,
como conseguir informações? Nesse sentido, a prática de uma vez que nessa área a prática do acobertamento é mui-
intercâmbio escolar e da consulta a órgãos comunitários to mais frequente que a prática do desvelamento.
e de imprensa, inclusive das próprias comunidades, é ins- A prática do acobertamento é a mais usual, porque
trumento pedagógico privilegiado. Com isso, será possível assim se estabeleceu no campo social. Vive-se numa rea-
transformar a possibilidade de obter informações das co- lidade na qual a simples menção da palavra discriminação
munidades em fator de corresponsabilização social pelos assusta, uma vez que se convencionou aceitar sem discus-
rumos da discussão, da formação de crianças e adolescen- sões a ideia de que no Brasil todos se entendem e são cor-
tes. diais e pacíficos (o “mito da democracia racial”). Mais ainda,
É importante abrir espaço para que a criança e o ado- muitas vezes a ideia de aceitar que o preconceito existe
lescente possam manifestar-se. Viver o direito à voz é ex- gera tanto o medo de ser acusado de ser preconceituoso
periência pessoal e intransferível, que permite um oportu- como o medo de ser vítima de preconceito. Essa atitude é
no e rico trabalho de Língua Portuguesa. Assim também o o que se chama, popularmente, de “política de avestruz”,
exercício efetivo do diálogo, voltado para a troca de infor- na qual, por se fazer de conta que um problema não existe,
mações sobre vivências culturais e esclarecimentos acerca tem-se a expectativa de que ele deixe, de fato, de existir.
de eventuais preconceitos e estereótipos é componente Na escola, a prática do acobertamento se dá quando se
fortalecedor do convívio democrático. procura diluir as evidências de comportamento discrimina-
tório, com desculpas muitas vezes evasivas. Um professor
O cotidiano da escola permite viver algo da beleza da pode ter tratado um aluno mal “porque estava nervoso”,
criação cultural humana em sua diversidade e multiplici- ou a ofensa de uma criança contra outra é tratada como se
dade. Partilhar um cotidiano onde o simples “olhar-se” fosse um simples descuido, uma distração.

53
POLÍTICAS PÚBLICAS DA EDUCAÇÃO

A prática do desvelamento, que é decisiva na superação Essa informação deve ser buscada de maneira inten-
da discriminação, exige do professor informação, discerni- cional e pode se fazer de maneira lúdica: conhecer os can-
mento diante de situações indesejáveis, sensibilidade ao sen- tos, as lendas, as danças, as peculiaridades nas quais uma
timento do outro e intencionalidade definida na direção de criança pode ensinar a outra aquilo que é característico do
colaborar na superação do preconceito e da discriminação. grupo humano do qual participa.
A informação deverá permitir um repertório básico re- Esse conhecimento recíproco respeitoso é mais que
ferente à pluralidade étnica suficiente tanto para identificar verbal. Deverá incluir linguagens diversificadas, bem como
o que é relevante para a situação escolar como para buscar a possibilidade de o aluno assumir o papel de educador
outras informações que se façam necessárias. naquilo que lhe seja próprio. Nesse sentido, o professor
O discernimento é indispensável, de maneira particu- deverá cooperar, ao mesmo tempo em que aprende com o
lar, quando ocorrem situações de discriminação no coti- restante da classe. Observe-se que essa vivência, em si, será
diano da escola. Enfrentar adequadamente o ocorrido, sig- extremamente importante, por trazer para o aluno a pos-
nifica tanto não escapar para evasivas quanto não resvalar sibilidade de constatar que a sociedade se apresenta, em
para o tom de acusação. Se o professor se cala, ou trata do sua complexidade, como um constante objeto de estudo e
ocorrido de maneira ambígua, estará reforçando o proble- aprendizagem, onde todos sempre têm a aprender.
ma social; se acusa, pode criar sofrimento, rancor e ressen- Assim, a problemática que envolve a discriminação ét-
timento. Assim, discernir o ocorrido, no convívio, é tratar nica, cultural e religiosa, ao invés de se manter em uma
com firmeza a ação discriminatória, esclarecendo o que é o zona de sombra que leva à proliferação da ambiguidade
respeito mútuo, como se pratica a solidariedade, buscando nas falas e nas atitudes, alimentando com isso o preconcei-
alguma atividade que possa exemplificar o que diz, com to, pode ser trazida à luz, como elemento de aprendizagem
algo que faça, junto com seus alunos. e crescimento do grupo escolar como um todo.
Aqui se coloca a sensibilidade em relação ao outro.
Compreender que aquele que é alvo da discriminação so- Ensinar a pluralidade ou viver a pluralidade?
fre de fato, e de maneira profunda, é condição para que o Sem dúvida, pluralidade vive-se, ensina-se e aprende-
professor, em sala de aula, possa escutar até mesmo o que se. É trabalho de construção, no qual o envolvimento de
não foi dito. Como a história do preconceito é muito antiga, todos se dá pelo respeito e pela própria constatação de
muitos dos grupos vítimas de discriminação desenvolveram que, sem o outro, nada se sabe sobre ele, a não ser o que a
um medo profundo e uma cautela permanente como rea- própria imaginação fornece.
ção. O professor precisa saber que a dor do grito silencia-
do é mais forte do que a dor pronunciada. Poder expressar
o que sentiu diante da discriminação significa a chance de
ser resgatado da humilhação, e de partilhar com colegas
10. CURRÍCULO: ELABORAÇÃO E PRÁTICA.
seus sentimentos. Ou seja, trata-se de ensinar a dialogar so-
bre o respeito mútuo, num gesto que pode transformar o
significado do sofrimento, ao fazer do ocorrido ocasião de CURRÍCULO E SUAS DEFINIÇÕES
aprendizagem. A sensibilidade, aqui, exige a atenção para
a reação que a criança esteja apresentando, para sua maior O debate sobre Currículo e sua conceituação é neces-
ou menor disposição para tratar do assunto exatamente no sário para que saibamos defini-lo e para conhecer quais as
momento ocorrido, ou em situação posterior. teorias que o sustentam na educação. Um Currículo não é
A intencionalidade se faz necessária como produto de um conjunto de conteúdos dispostos em um sumário ou
uma reflexão que permita ao professor perceber o papel índice. Pelo contrário, a construção de um Currículo de-
que desempenha nessa questão. É também a capacidade manda:
de perceber que tem o que trabalhar em si mesmo, e isso a) uma ou mais teorias acerca do conhecimento escolar;
não o impede de trilhar, junto com seus alunos, o caminho b) a compreensão de que o Currículo é produto de um
da superação do preconceito e da discriminação. Trata-se processo de conflitos culturais dos diferentes grupos de edu-
de ter a certeza de que cada um de seus gestos pode fazer cadores que o elaboram;
a diferença entre o reforço de atitudes inadequadas e a c) conhecer os processos de escolha de um conteúdo e
chance de abrir novas possibilidades de diálogo, respeito não de outro (disputa de poder pelos grupos) (LOPES, 2006).
e solidariedade.
Para iniciar o debate vamos apresentar algumas defi-
A prática do desvelamento exige perspicácia para res- nições de currículo para compreender as teorias que cir-
ponder adequadamente a diferentes situações que serão, culam entre nós, educadores. De acordo com Lopes (2006,
na maioria das vezes, imprevisíveis. Devido a essa imprevi- contra capa):
sibilidade, a forma de desenvolver tal perspicácia é prepa- [...] o currículo se tece em cada escola com a carga de
rando-se com leituras, buscando informações e vivências, seus participantes, que trazem para cada ação pedagógica
estando atento aos gestos do cotidiano, explicitando va- de sua cultura e de sua memória de outras escolas e de ou-
lores, refletindo coletivamente na equipe de professores. tros cotidianos nos quais vive. É nessa grande rede cotidia-
Desenvolve-se, assim, como uma forma de procurar enten- na, formada de múltiplas redes de subjetividade, que cada
der a complexidade da vida e do comportamento humano. um de nós traçamos nossas histórias de aluno/aluna e de

54
POLÍTICAS PÚBLICAS DA EDUCAÇÃO

professor/professora. O grande tapete que é o currículo de Teorias Críticas: (enfatizam) ideologia- reprodução cul-
cada escola, também sabemos todos, nos enreda com os tural e social- poder- classe social- capitalismo- relações
outros formando tramas diferentes e mais belas ou menos sociais de produção- conscientização- emancipação- currí-
belas, de acordo com as relações culturais que mantemos e culo oculto- resistência.
do tipo de memória que nós temos de escola [...]. Teorias Pós-Críticas: (enfatizam) identidade – alterida-
Essa concepção converge com a de Tomaz Tadeu da de – diferença subjetividade - significação e discurso- saber
Silva (2005, p.15): e poder- representação- cultura- gênero- raça- etnia- se-
O currículo é sempre resultado de uma seleção: de um xualidade- multiculturalismo.
universo mais amplo de conhecimentos e saberes selecio-
na-se aquela parte que vai constituir, precisamente o cur- As teorias tradicionais consideram–se neutras, cientí-
rículo. ficas e desinteressadas, as críticas argumentam que não
As definições de currículo de Lopes (2006) e Silva existem teorias neutras, científicas e desinteressadas, toda
(2005) são aquelas de Sacristán (2003): e qualquer teoria está implicada em relações de poder.
[...] conjunto de conhecimentos ou matérias a serem su- As pós-críticas começam a se destacar no cenário na-
peradas pelo aluno dentro de um ciclo-nível educativo ou cional, os currículos existentes abordam poucas questões
modalidade de ensino; o currículo como experiência recria- que as representam. Encontramos estas que dimensões
da nos alunos por meio da qual podem desenvolver-se; o nos PCNS, temas transversais (ética, saúde, orientação
currículo como tarefa e habilidade a serem dominadas; o sexual, meio ambiente, trabalho, consumo e pluralidade
currículo como programa que proporciona conteúdos e va- cultural) e em algumas produções literárias no campo do
lores para que os alunos melhorem a sociedade em relação multiculturalismo.
à reconstrução da mesma [...] O que é essencial para qualquer teoria é saber qual
Lopes (2006), Silva (2005) e Sacristán (2000) afirmam conhecimento deve ser ensinado e justificar o porquê des-
que o Currículo não é uma listagem de conteúdos. O cur- ses conhecimentos e não outros devem ser ensinados, de
rículo é processo constituído por um encontro cultural, sa- acordo com os conceitos que enfatizam.
beres, conhecimentos escolares na prática da sala de aula, Quantas vezes em nosso cotidiano escolar paramos
locais de interação professor e aluno. para refletir sobre Teorias do currículo e o Currículo? Quan-
Essas reflexões devem orientar a ação dos profissionais do organizamos um planejamento bimestral, anual pensa-
da educação quanto ao Currículo, além de estimular o valor mos sobre aquela distribuição de conteúdo de forma crí-
formativo do conhecimento pedagógico para os professo- tica? Discute-se que determinado conteúdo é importante
res, o que realmente nos importa como docentes. porque é fundamento para a compreensão daquele que o
Conhecer as teorias sobre o Currículo nos leva a refle- sucederá no bimestre posterior ou no ano que vem. Alega-
tir sobre para que serve, a quem serve e que política peda- mos que se o aluno não tiver acesso a determinado con-
gógica elabora o Currículo. teúdo não conseguirá entender o seguinte. Somos capazes
de perceber em nossas atitudes (na prática docente), na
TEORIAS DO CURRÍCULO forma como abordamos os conteúdos selecionados, um
posicionamento tradicional ou crítico? E por que adotamos
Para Silva (2005) é importante entender o significado tal atitude?
de teoria como discurso ou texto político. Uma proposta Precisamos entender os vínculos entre o currículo e
curricular é um texto ou discurso político sobre o currículo a sociedade, e saber como os professores/as, a escola, o
porque tem intenções estabelecidas por um determinado currículo e os materiais didáticos tenderão a reproduzir a
grupo social. De acordo com esse autor, uma Teoria do cultura hegemônica e favorecer mais uns do que outros.
Currículo ou um discurso sobre o Currículo, mesmo que Também é certo que essa função pode ser aceita com pas-
pretenda apenas descrevê-lo tal como é, o que efetivamen- sividade ou pode aproveitar espaços relativos de autono-
te faz é produzir uma noção de currículo. Como sabemos mia, que sempre existem, para exercer a contra-hegemo-
as chamadas “teorias do currículo”, assim como as teorias nia, como afirma Apple. Essa autonomia pode se refletir
educacionais mais amplas, estão recheadas de afirmações nos conteúdos selecionados, mas principalmente se define
sobre como as coisas devem ser (SILVA, 2005). na forma como os conteúdos são abordados no ensino.
É preciso entender o que as teorias do currículo pro- A forma como trabalhamos os conteúdos em sala de
duzem nas propostas curriculares e como interferem em aula indica nosso entendimento dos conhecimentos esco-
nossa prática. Uma teoria define-se pelos conceitos que lares. Demonstra nossa autonomia diante da escolha.
utiliza para conceber a realidade. Os conceitos de uma SARUP (apud SACRISTÁN, 2000) distingue a perspecti-
teoria dirigem nossa atenção para certas coisas que sem va crítica da tradicional da seguinte forma:
elas não veríamos. Os conceitos de uma teoria organizam A finalidade do currículo crítico é o inverso do currículo
e estruturam nossa forma de ver a realidade (SILVA, 2005). tradicional; este último tende a “naturalizar” os aconteci-
Para Silva (2005) as teorias do currículo se caracterizam mentos; aquele tenta obrigar os alunos/a a que questione
pelos conceitos que enfatizam. São elas: as atitudes e comportamentos que considera “naturais “.
Teorias Tradicionais: (enfatizam) ensino - aprendiza- O currículo crítico oferece uma visão da realidade como
gem-avaliação – metodologia- didática-organização – pla- processo mutante contínuo, cujo agentes são os seres hu-
nejamento- eficiência- objetivos. manos, os quais, portanto, estão em condição de realizar

55
POLÍTICAS PÚBLICAS DA EDUCAÇÃO

sua transformação. A função do currículo não é “refletir enfim, teorias tradicionais, críticas e pós-críticas disputam
“uma realidade fixa, mas pensar sobre a realidade social; esse espaço cheio de conflitos, Como afirma Silva (2005), o
é demonstrar que o conhecimento e os fatos sociais são Currículo é um território político contestado.
produtos históricos e, consequentemente, que poderiam Diante desse complexo mundo educacional de ten-
ter sido diferentes (e que ainda podem sê-lo). dências, teorias, ideologias e práticas diversas, cabe-nos
É por isso que Albuquerque /Kunzle (2006) perguntam: estudar para conhecê-las, podendo assim assumir uma
Quando pensamos o currículo tomamos a ideia de conduta crítica na ação docente.
caminho: que caminho vamos percorrer ao longo deste
tempo escolar? Que seleções vamos fazer? Que seleções William Pinar (apud LOPES, 2006), estudioso do campo
temos feito? E mais: em que medida nós, professoras/es do currículo, afirma:
e pedagogas/os interferimos nesta seleção? Qual é o co- [...] estudar teoria de currículo, é importante na medida
nhecimento com que a escola deve trabalhar? Quando es- em que oferece aos professores de escolas públicas, a com-
colhemos um livro didático, ele traz desenhado o currículo preensão dos diversos mundos em que habitamos e, espe-
oficial: o saber legitimado, o saber reconhecido que deve cialmente a retórica política que cerca as propostas educa-
ser passado ás novas gerações. Porque isso é que o cur- cionais e os conteúdos curriculares. Os professores de escolas
rículo faz: uma seleção dentro da cultura daquilo que se (norte americanas) têm dificuldades em resistir a modismos
considera relevante que as novas gerações aprendam. educacionais passageiros, porque, em parte não lembram
Esses questionamentos dizem respeito aos conteúdos das teorias e da história do currículo, porque muito frequen-
escolares. Na escola aprendemos a fazer listagens de con- temente não as estudaram [...]
teúdos e julgamos que eles vão explicar o mundo para os Essa também é a realidade brasileira. Precisamos es-
alunos. No entanto, não estamos conseguindo articular es- tudar nossas propostas curriculares, bem como as teorias
ses conteúdos com a vida dos nossos alunos. Ultimamente do currículo e tendências pedagógicas para que possamos
utilizamos de temas transversais, projetos especiais e há entender nossa prática e suas consequências aos alunos e
até sugestões de criar novas disciplinas, como direito do docentes.
consumidor, educação fiscal, ecologia, para dar conta desta Acerca disso, Eisner (apud SACRISTÁN, 2000), pontua
realidade imediata. que:
Temos dificuldades de assumirmos estas discussões [...] que o ensino é o conjunto de atividades que trans-
curriculares devido a uma tradição que designava a outros formam o currículo na prática para produzir a aprendiza-
seguimentos da educação as decisões pedagógicas ou pela gem, é uma característica marcante do pensamento curri-
falta de tempo, devido as condições do trabalho docente cular atual, interar o plano curricular a prática de ensiná-lo
ou pela falta de conhecimento das propostas políticas-pe- não apenas o torna realidade em termos de aprendizagem,
dagógicas implantadas pelo Governo. mas que na própria atividade podem se modificar as pri-
Todavia, diante do desafio de ser professor, cabe-nos meiras intenções e surgir novos fins [...]
entender quais os saberes socialmente relevantes, quais os A sala de aula é o espaço onde se concretiza o currí-
critérios de hierarquização entre esses saberes/disciplinas, culo e deve acontecer o processo ensino e aprendizagem.
as concepções de educação, de sociedade, de homem que Este processo acontece não só por meio da transferência
sustentam as propostas curriculares implantadas. Quem de conteúdos, mas, também pela influência das diversas
são os sujeitos que poderão definir e organizar o currículo? relações e interações desse espaço escolar, na sala de aula
E quais os pressupostos que defendemos? e na relação professor-aluno.
O estudo das teorias do currículo não é a garantia de Concordamos que o eixo central do Currículo é diver-
se encontrar as respostas a todos os nossos questionamen- sos conhecimentos. Para defini-lo se faz necessário discutir
tos, é uma forma de recuperarmos as discussões curricula- a serviço de quem a escola está. Defendemos que o traba-
res no ambiente escolar e conhecer os diferentes discur- lho escolar defina seu Currículo a partir da cultura do aluno,
sos pedagógicos que orientam as decisões em torno dos respeitando-a, mas sem perder a ênfase no conhecimento
conteúdos até a “racionalização dos meios para obtê-los e clássico das disciplinas que compõem a grade curricular.
comprovar seu sucesso” (SACRISTÁN, 2000). Alguns autores afirmam que o ponto de partida é o
aluno concreto. Outros questionam o que sabemos so-
Para nós, professores, os estudos sobre as teorias do bre esse aluno concreto, se realmente partimos dele. E ao
poderão responder aos questionamentos da comunidade questionarem afirmam que “a cultura popular é, assim, um
escolar como: a valorização dos professoras/es, o baixo conhecimento que deve, legitimamente, fazer parte do
rendimento escolar, dificuldades de aprendizagem, desin- Currículo, pois toda cultura é fruto do trabalho humano”.
teresse, indisciplina e outras dimensões. Poderão, sobre- O conhecimento científico é o que dá as explicações
tudo, mostrar que os Currículos não são neutros. Eles são mais objetivas para a realidade e este é o objetivo principal
elaborados com orientações políticas e pedagógicas. Ou da escola. No entanto, é preciso questionar, o que determi-
seja, é produto de grupos sociais que disputam o poder. na a legitimidade de um conhecimento.
As reformulações curriculares atuais promovem discus-
sões entre posições diferentes, há os que defendem os cur- Fonte:
rículos por competências, os científicos, os que enfatizam SABAINI, S. M. G; BELLINI, L. M. Porque estudar currí-
a cultura, a diversidade, os mais críticos à ciência moderna, culo e teorias de currículo.

56
POLÍTICAS PÚBLICAS DA EDUCAÇÃO

Bibliografia possível. É antever um futuro diferente do presente. Nas


ALBUQUERQUE, Janeslei A; KUNZLE, Maria Rosa. O palavras de Gadotti: Todo projeto supõe rupturas com o
currículo e suas dimensões, multirracial e multicultural. In: presente e promessas para o futuro. Projetar significa tentar
Caderno Pedagógico nº 4, APP-SINDICATO 60 ANOS. 2007. quebrar um estado confortável para arriscar-se, atravessar
LOPES, Alice C. Pensamento e política curricular – en- um período de instabilidade e buscar uma nova estabilidade
trevista com William Pinar. In: Políticas de currículo em múl- em função da promessa que cada projeto contém de estado
tiplos contextos. São Paulo: Cortez, 2006. melhor do que o presente. Um projeto educativo pode ser
SACRISTÁN J. G.; PÉREZ GÓMEZ A. I. Compreender e tomado como promessa frente a determinadas rupturas. As
transformar o ensino. Porto Alegre: ArtMed, 2000. promessas tornam visíveis os campos de ação possível, com-
SILVA, Tomaz Tadeu. Documentos de Identidade: uma prometendo seus atores e autores.
introdução às teorias do currículo. Belo Horizonte: Autên- Nessa perspectiva, o projeto políticopedagógico vai
tica, 2005. além de um simples agrupamento de planos de ensino e
de atividades diversas. O projeto não é algo que é construí-
do e em seguida arquivado ou encaminhado às autorida-
des educacionais como prova do cumprimento de tarefas
11. O DESENVOLVIMENTO DO PROJETO burocráticas. Ele é construído e vivenciado em todos os
POLÍTICO PEDAGÓGICO DA ESCOLA. momentos, por todos os envolvidos com o processo edu-
EDUCAÇÃO INCLUSIVA: FUNDAMENTOS cativo da escola.
LEGAIS, CONCEITO E PRINCÍPIOS, O projeto busca um rumo, uma direção. É uma ação
intencional, com um sentido explícito, com um compromis-
ADAPTAÇÕES CURRICULARES, A ESCOLA
so definido coletivamente. Por isso, todo projeto pedagó-
INCLUSIVA. gico da escola é, também, um projeto político por estar
intimamente articulado ao compromisso sociopolítico com
os interesses reais e coletivos da população majoritária. E
político no sentido de compromisso com a formação do
Para Veiga e colegas, o projeto políticopedagógico tem cidadão para um tipo de sociedade. “A dimensão política
sido objeto de estudos para professores, pesquisadores e se cumpre na medida em que ela se realiza enquanto práti-
instituições educacionais em níveis nacional, estadual e ca especificamente pedagógica”. Na dimensão pedagógica
municipal, em busca da melhoria da qualidade do ensino. reside a possibilidade da efetivação da intencionalidade da
O presente estudo tem a intenção de refletir acerca escola, que é a formação do cidadão participativo, respon-
da construção do projeto políticopedagógico, entendido sável, compromissado, crítico e criativo. É pedagógico no
como a própria organização do trabalho pedagógico de sentido de definir as ações educativas e as características
toda a escola. necessárias às escolas para cumprir seus propósitos e sua
A escola é o lugar de concepção, realização e avaliação intencionalidade.
de seu projeto educativo, uma vez que necessita organizar Político e pedagógico têm, assim, uma significação in-
seu trabalho pedagógico com base em seus alunos. Nessa dissociável. Nesse sentido é que se deve considerar o pro-
perspectiva, é fundamental que ela assuma suas respon- jeto políticopedagógico como um processo permanente
sabilidades, sem esperar que as esferas administrativas de reflexão e discussão dos problemas da escola, na busca
superiores tomem essa iniciativa, mas que lhe deem as de alternativas viáveis à efetivação de sua intencionalidade,
condições necessárias para levá-la adiante. Para tanto, é que “não é descritiva ou constatativa, mas é constitutiva”.
importante que se fortaleçam as relações entre escola e Por outro lado, propicia a vivência democrática necessária
sistema de ensino. para a participação de todos os membros da comunidade
Para isso, começaremos conceituando projeto político- escolar e o exercício da cidadania. Pode parecer complica-
pedagógico. Em seguida, trataremos de trazer nossas re- do, mas se trata de uma relação recíproca entre a dimensão
flexões para a análise dos princípios norteadores. Finaliza- política e a dimensão pedagógica da escola.
remos discutindo os elementos básicos da organização do O projeto políticopedagógico, ao se constituir em pro-
trabalho pedagógico, necessários à construção do projeto cesso democrático de decisões, preocupa-se em instaurar
políticopedagógico. uma forma de organização do trabalho pedagógico que
supere os conflitos, buscando eliminar as relações compe-
O que é projeto políticopedagógico? titivas, corporativas e autoritárias, rompendo com a rotina
do mando impessoal e racionalizado da burocracia que
No sentido etimológico, o termo projeto vem do latim permeia as relações no interior da escola, diminuindo os
projectu, participio passado do verbo projicere, que signi- efeitos fragmentários da divisão do trabalho que reforça as
fica lançar para diante. Plano, intento, designio. Empresa, diferenças e hierarquiza os poderes de decisão.
empreendimento. Redação provisoria de lei. Plano geral de Desse modo, o projeto políticopedagógico tem a ver
edificação. com a organização do trabalho pedagógico em dois níveis:
Ao construirmos os projetos de nossas escolas, plane- como organização de toda a escola e como organização
jamos o que temos intenção de fazer, de realizar. Lança- da sala de aula, incluindo sua relação com o contexto so-
mo-nos para diante, com base no que temos, buscando o cial imediato, procurando preservar a visão de totalidade.

57
POLÍTICAS PÚBLICAS DA EDUCAÇÃO

Nesta caminhada será importante ressaltar que o projeto Do exposto, o projeto políticopedagógico não visa
políticopedagógico busca a organização do trabalho peda- simplesmente a um rearranjo formal da escola, mas a uma
gógico da escola na sua globalidade. qualidade em todo o processo vivido. Vale acrescentar, ain-
A principal possibilidade de construção do projeto po- da, que a organização do trabalho pedagógico da escola
líticopedagógico passa pela relativa autonomia da escola, tem a ver com a organização da sociedade. A escola nessa
de sua capacidade de delinear sua própria identidade. Isso perspectiva é vista como uma instituição social, inserida na
significa resgatar a escola como espaço público, como lugar sociedade capitalista, que reflete no seu interior as deter-
de debate, do diálogo fundado na reflexão coletiva. Por- minações e contradições dessa sociedade.
tanto, é preciso entender que o projeto políticopedagógi-
co da escola dará indicações necessárias à organização do Princípios norteadores do projeto políticopedagó-
trabalho pedagógico que inclui o trabalho do professor na gico
dinâmica interna da sala de aula, ressaltado anteriormente.
Buscar uma nova organização para a escola constitui A abordagem do projeto políticopedagógico, como
uma ousadia para educadores, pais, alunos e funcionários. organização do trabalho de toda a escola, está fundada
Para enfrentarmos essa ousadia, necessitamos de um re- nos princípios que deverão nortear a escola democrática,
ferencial que fundamente a construção do projeto políti- pública e gratuita:
copedagógico. A questão é, pois, saber a qual referencial a) Igualdade de condições para acesso e permanência
temos que recorrer para a compreensão de nossa prática na escola. Saviani alerta-nos para o fato de que há uma de-
pedagógica. Nesse sentido, temos que nos alicerçar nos sigualdade no ponto de partida, mas a igualdade no ponto
pressupostos de uma teoria pedagógica crítica viável, que de chegada deve ser garantida pela mediação da escola.
parta da prática social e esteja compromissada em solucio- O autor destaca que “só é possível considerar o processo
nar os problemas da educação e do ensino de nossa esco- educativo em seu conjunto sob a condição de se distinguir
la; uma teoria que subsidie o projeto políticopedagógico. a democracia como possibilidade no ponto de partida e
Por sua vez, a prática pedagógica que ali se processa deve democracia como realidade no ponto de chegada”.
estar ligada aos interesses da maioria da população. Faz-
se necessário, também, o domínio das bases teóricometo-
Igualdade de oportunidades requer, portanto, mais
dológicas indispensáveis à concretização das concepções
que a expansão quantitativa de ofertas; requer ampliação
assumidas coletivamente. Mais do que isso, afirma Freitas,
do atendimento com simultânea manutenção de qualida-
(...) as novas formas têm que ser pensadas em um contexto
de.
de luta, de correlações de força - às vezes favoráveis, às
b) Qualidade que não pode ser privilégio de minorias
vezes desfavoráveis. Terão que nascer no próprio “chão da
econômicas e sociais. O desafio que se coloca ao projeto
escola”, com apoio dos professores e pesquisadores. Não
políticopedagógico da escola é o de propiciar uma quali-
poderão ser inventadas por alguém, longe da escola e da
luta da escola. dade para todos.
Isso significa uma enorme mudança na concepção do A qualidade que se busca implica duas dimensões in-
projeto políticopedagógico e na própria postura da admi- dissociáveis: a formal ou técnica e a política. Uma não está
nistração central. Se a escola se nutre da vivência cotidiana subordinada à outra; cada uma delas tem perspectivas pró-
de cada um de seus membros, coparticipantes de sua or- prias.
ganização do trabalho pedagógico à administração central, A primeira enfatiza os instrumentos e os métodos, a
seja o Ministério da Educação, a Secretaria de Educação Es- técnica. A qualidade formal não está afeita, necessaria-
tadual ou Municipal, não compete a eles definir um modelo mente, a conteúdos determinados. Demo afirma que a
pronto e acabado, mas sim estimular inovações e coorde- qualidade formal “significa a habilidade de manejar meios,
nar as ações pedagógicas planejadas e organizadas pela instrumentos, formas, técnicas, procedimentos diante dos
própria escola. Em outras palavras, as escolas necessitam desafios do desenvolvimento”.
receber assistência técnica e financeira decidida em con- A qualidade política é condição imprescindível da par-
junto com as instâncias superiores do sistema de ensino. ticipação. Está voltada para os fins, valores e conteúdos.
Isso pode exigir, também, mudanças na própria lógica Quer dizer “a competência humana do sujeito em termos
de organização das instâncias superiores, implicando uma de se fazer e de fazer história, diante dos fins históricos da
mudança substancial na sua prática. sociedade humana”.
Para que a construção do projeto políticopedagógico Nessa perspectiva, o autor chama atenção para o fato
seja possível não é necessário convencer os professores, a de que a qualidade se centra no desafio de manejar os ins-
equipe escolar e os funcionários a trabalhar mais, ou mobi- trumentos adequados para fazer a história humana. A qua-
lizá-los de forma espontânea, mas propiciar situações que lidade formal está relacionada com a qualidade política e
lhes permitam aprender a pensar e a realizar o fazer peda- esta depende da competência dos meios.
gógico de forma coerente. A escola de qualidade tem obrigação de evitar de to-
O ponto que nos interessa reforçar é que a escola não das as maneiras possíveis a repetência e a evasão. Tem que
tem mais possibilidade de ser dirigida de cima para baixo e garantir a meta qualitativa do desempenho satisfatório de
na ótica do poder centralizador que dita as normas e exer- todos. Qualidade para todos, portanto, vai além da meta
ce o controle técnico burocrático. A luta da escola é para a quantitativa de acesso global, no sentido de que as crian-
descentralização em busca de sua autonomia e qualidade. ças em idade escolar entrem na escola. É preciso garantir

58
POLÍTICAS PÚBLICAS DA EDUCAÇÃO

a permanência dos que nela ingressarem. Em síntese, qua- com os outros, não apesar dos outros”. Se pensamos na
lidade “implica consciência crítica e capacidade de ação, liberdade na escola, devemos pensá-la na relação entre
saber e mudar”. administradores, professores, funcionários e alunos que aí
O projeto políticopedagógico, ao mesmo tempo em assumem sua parte de responsabilidade na construção do
que exige de educadores, funcionários, alunos e pais a projeto políticopedagógico e na relação destes com o con-
definição clara do tipo de escola que intentam, requer a texto social mais amplo.
definição de fins. Assim, todos deverão definir o tipo de
sociedade e o tipo de cidadão que pretendem formar. As Heller afirma que:
ações específicas para a obtenção desses fins são meios. A liberdade é sempre liberdade para algo e não ape-
Essa distinção clara entre fins e meios é essencial para a nas liberdade de algo. Se interpretarmos a liberdade apenas
construção do projeto políticopedagógico. como o fato de sermos livres de alguma coisa, encontramo-
c) Gestão democrática é um princípio consagrado pela nos no estado de arbítrio, definimo-nos de modo negativo. A
Constituição vigente e abrange as dimensões pedagógica, liberdade é uma relação e, como tal, deve ser continuamente
administrativa e financeira. Ela exige uma ruptura histórica ampliada. O próprio conceito de liberdade contém o con-
na prática administrativa da escola, com o enfrentamento ceito de regra, de reconhecimento, de intervenção recíproca.
das questões de exclusão e reprovação e da não-perma- Com efeito, ninguém pode ser livre se, em volta dele, há ou-
nência do aluno na sala de aula, o que vem provocando tros que não o são!
a marginalização das classes populares. Esse compromisso
implica a construção coletiva de um projeto políticopeda- Por isso, a liberdade deve ser considerada, também,
gógico ligado à educação das classes populares. como liberdade para aprender, ensinar, pesquisar e divul-
A gestão democrática exige a compreensão em pro- gar a arte e o saber direcionados para uma intencionalida-
fundidade dos problemas postos pela prática pedagógica. de definida coletivamente.
Ela visa romper com a separação entre concepção e execu- e) Valorização do magistério é um princípio central na
ção, entre o pensar e o fazer, entre teoria e prática. Busca discussão do projeto políticopedagógico.
resgatar o controle do processo e do produto do trabalho
A qualidade do ensino ministrado na escola e seu su-
pelos educadores.
cesso na tarefa de formar cidadãos capazes de participar
A gestão democrática implica principalmente o repen-
da vida socioeconómica, política e cultural do país relacio-
sar da estrutura de poder da escola, tendo em vista sua
nam-se estreitamente a formação (inicial e continuada),
socialização. A socialização do poder propicia a prática da
condições de trabalho (recursos didáticos, recursos físicos
participação coletiva, que atenua o individualismo; da reci-
e materiais, dedicação integral à escola, redução do núme-
procidade, que elimina a exploração; da solidariedade, que
ro de alunos na sala de aula etc), remuneração, elementos
supera a opressão; da autonomia, que anula a dependência
de órgãos intermediários que elaboram políticas educacio- esses indispensáveis à profissionalização do magistério.
nais das quais a escola é mera executora. A melhoria da qualidade da formação profissional e a
A busca da gestão democrática inclui, necessariamen- valorização do trabalho pedagógico requerem a articula-
te, a ampla participação dos representantes dos diferentes ção entre instituições formadoras, no caso as instituições
segmentos da escola nas decisões/ações administrativo de ensino superior e a Escola Normal, e as agências em-
-pedagógicas ali desenvolvidas. Nas palavras de Marques: pregadoras, ou seja, a própria rede de ensino. A formação
“A participação ampla assegura a transparência das deci- profissional implica, também, a indissociabilidade entre a
sões, fortalece as pressões para que sejam elas legítimas, formação inicial e a formação continuada.
garante o controle sobre os acordos estabelecidos e, so- O reforço à valorização dos profissionais da educação,
bretudo, contribui para que sejam contempladas questões garantindo-lhes o direito ao aperfeiçoamento profissional
que de outra forma não entrariam em cogitação”. permanente, significa “valorizar a experiência e o conheci-
Nesse sentido, fica claro entender que a gestão demo- mento que os professores têm a partir de sua prática pe-
crática, no interior da escola, não é um princípio fácil de ser dagógica”.
consolidado, pois se trata da participação crítica na cons- A formação continuada é um direito de todos os pro-
trução do projeto políticopedagógico e na sua gestão. fissionais que trabalham na escola, uma vez que ela não só
d) Liberdade é outro princípio constitucional. O princípio possibilita a progressão funcional baseada na titulação, na
da liberdade está sempre associado à ideia de autonomia. qualificação e na competência dos profissionais, mas tam-
O que é necessário, portanto, como ponto de partida, é bém propicia, fundamentalmente, o desenvolvimento pro-
o resgate do sentido dos conceitos de autonomia e liber- fissional dos professores articulado com as escolas e seus
dade. A autonomia e a liberdade fazem parte da própria projetos.
natureza do ato pedagógico. O significado de autonomia A formação continuada deve estar centrada na escola e
remete-nos para regras e orientações criadas pelos pró- fazer parte do projeto políticopedagógico. Assim, compete
prios sujeitos da ação educativa, sem imposições externas. à escola: a) proceder ao levantamento de necessidades de
Para Rios, a escola tem uma autonomia relativa e a li- formação continuada de seus profissionais; b) elaborar seu
berdade é algo que se experimenta em situação e esta é programa de formação, contando com a participação e o
uma articulação de limites e possibilidades. Para a autora, apoio dos órgãos centrais, no sentido de fortalecer seu pa-
a liberdade é uma experiência de educadores e constrói-se pel na concepção, na execução e na avaliação do referido
na vivência coletiva, interpessoal. Portanto, “somos livres programa.

59
POLÍTICAS PÚBLICAS DA EDUCAÇÃO

Assim, a formação continuada dos profissionais da es- efeitos de sua divisão do trabalho, de sua fragmentação
cola compromissada com a construção do projeto político- e do controle hierárquico. Nessa perspectiva, a construção
pedagógico não deve se limitar aos conteúdos curriculares, do projeto políticopedagógico é um instrumento de luta,
mas se estender à discussão da escola de maneira geral e é uma forma de contrapor-se à fragmentação do trabalho
de suas relações com a sociedade. Daí, passarem a fazer pedagógico e sua rotinização, à dependência e aos efeitos
parte dos programas de formação continuada questões negativos do poder autoritário e centralizador dos órgãos
como cidadania, gestão democrática, avaliação, metodo- da administração central.
logia de pesquisa e ensino, novas tecnologias de ensino, A construção do projeto políticopedagógico, para ges-
entre outras. tar uma nova organização do trabalho pedagógico, passa
Veiga e Carvalho afirmam que “o grande desafio da pela reflexão anteriormente feita sobre os princípios. Acre-
escola, ao construir sua autonomia, deixando de lado seu ditamos que a análise dos elementos constitutivos da or-
papel de mera ‘repetidora’ de programas de ‘treinamento’, ganização trará contribuições relevantes para a construção
é ousar assumir o papel predominante na formação dos do projeto políticopedagógico.
profissionais”. Pelo menos sete elementos básicos podem ser apon-
Inicialmente, convém alertar para o fato de que essa tados: a) as finalidades da escola; b) a estrutura organiza-
tomada de consciência dos princípios norteadores do pro- cional; c) o currículo; d) o tempo escolar; e) o processo de
jeto políticopedagógico não pode ter o sentido esponta- decisão; f) as relações de trabalho; g) a avaliação.
neísta de cruzar os braços diante da atual organização da
escola, inibidora da participação de educadores, funcioná- a) As finalidades da escola
rios e alunos no processo de gestão. A escola persegue finalidades. É importante ressaltar
É preciso ter consciência de que a dominação no in- que os educadores precisam ter clareza das finalidades de
terior da escola efetiva-se por meio das relações de poder sua escola. Para tanto, há necessidade de refletir sobre a
que se expressam nas práticas autoritárias e conservadoras ação educativa que a escola desenvolve com base nas fi-
dos diferentes profissionais, distribuídos hierarquicamen- nalidades e nos objetivos que ela define. As finalidades da
te, bem como por meio das formas de controle existentes escola referem-se aos efeitos intencionalmente pretendi-
no interior da organização escolar. Como resultante des- dos e almejados.
sa organização, a escola pode ser descaracterizada como - Das finalidades estabelecidas na legislação em vigor,
instituição histórica e socialmente determinada, instância o que a escola persegue, com maior ou menor ênfase?
privilegiada da produção e da apropriação do saber. As - Como é perseguida sua finalidade cultural, ou seja, a
instituições escolares representam «armas de contestação de preparar culturalmente os indivíduos para uma melhor
e luta entre grupos culturais e econômicos que têm dife- compreensão da sociedade em que vivem?
rentes graus de poder». Por outro lado, a escola é local de - Como a escola procura atingir sua finalidade política
desenvolvimento da consciência crítica da realidade. e social, ao formar o indivíduo para a participação política
Acreditamos que os princípios analisados e o apro- que implica direitos e deveres da cidadania?
fundamento dos estudos sobre a organização do trabalho - Como a escola atinge sua finalidade de formação pro-
pedagógico trarão contribuições relevantes para a com- fissional, ou melhor, como ela possibilita a compreensão
preensão dos limites e das possibilidades dos projetos po- do papel do trabalho na formação profissional do aluno?
lítico-pedagógicos voltados para os interesses das cama- - Como a escola analisa sua finalidade humanística, ao
das menos favorecidas. procurar promover o desenvolvimento integral da pessoa?
Veiga acrescenta, ainda, que “a importância desses As questões levantadas geram respostas e novas inda-
princípios está em garantir sua operacionalização nas es- gações por parte da direção, de professores, funcionários,
truturas escolares, pois uma coisa é estar no papel, na le- alunos e pais. O esforço analítico de todos possibilitará a
gislação, na proposta, no currículo, e outra é estar ocor- identificação de quais finalidades precisam ser reforçadas,
rendo na dinâmica interna da escola, no real, no concreto”. quais as que estão relegadas e como elas poderão ser deta-
lhadas de acordo com as áreas do conhecimento, das dife-
Construindo o projeto políticopedagógico rentes disciplinas curriculares, do conteúdo programático.
É necessário decidir, coletivamente, o que se quer re-
O projeto políticopedagógico é entendido, neste es- forçar dentro da escola e como detalhar as finalidades para
tudo, como a própria organização do trabalho pedagógi- atingir a almejada cidadania.
co da escola. A construção do projeto políticopedagógico Alves afirma que é preciso saber se a escola dispõe de
parte dos princípios de igualdade, qualidade, liberdade, alguma autonomia na determinação das finalidades e dos
gestão democrática e valorização do magistério. A escola objetivos específicos. O autor enfatiza: “Interessará reter se
é concebida como espaço social marcado pela manifesta- as finalidades são impostas por entidades exteriores ou se
ção de práticas contraditórias, que apontam para a luta e/ são definidas no interior do ‘território social’ e se são de-
ou acomodação de todos os envolvidos na organização do finidas por consenso ou por conflito ou até se são matéria
trabalho pedagógico. ambígua, imprecisa ou marginal” (p. 19).
O que pretendemos enfatizar é que devemos analisar Essa colocação está sustentada na ideia de que a es-
e compreender a organização do trabalho pedagógico, no cola deve assumir, como uma de suas principais tarefas, o
sentido de gestar uma nova organização que reduza os trabalho de refletir sobre sua intencionalidade educativa.

60
POLÍTICAS PÚBLICAS DA EDUCAÇÃO

Nesse sentido, ela procura alicerçar o conceito de autono- ou a modificar a realidade social. Para poderem realizar um
mia, enfatizando a responsabilidade de todos, sem deixar ensino de qualidade e cumprir suas finalidades, as escolas
de lado os outros níveis da esfera administrativa educacio- têm que romper com a atual forma de organização buro-
nal. Nóvoa nos diz que a autonomia é importante para “a crática que regula o trabalho pedagógico - pela conformi-
criação de uma identidade da escola, de um ethos científi- dade às regras fixadas, pela obediência a leis e diretrizes
co e diferenciador, que facilite a adesão dos diversos atores emanadas do poder central e pela cisão entre os que pen-
e a elaboração de um projeto próprio” (1992, p. 26). sam e executam -, que conduz à fragmentação e ao con-
A ideia de autonomia está ligada à concepção eman- sequente controle hierárquico que enfatiza três aspectos
cipadora da educação. Para ser autônoma, a escola não inter-relacionados: o tempo, a ordem e a disciplina.
pode depender dos órgãos centrais e intermediários que Nessa trajetória, ao analisar a estrutura organizacional,
definem a política da qual ela não passa de executora. Ela ao avaliar os pressupostos teóricos, ao situar os obstáculos
concebe seu projeto políticopedagógico e tem autonomia e vislumbrar as possibilidades, os educadores vão desve-
para executá-lo e avaliá-lo ao assumir uma nova atitude lando a realidade escolar, estabelecendo relações, definin-
de liderança, no sentido de refletir sobre suas finalidades do finalidades comuns e configurando novas formas de
sociopolíticas e culturais. organizar as estruturas administrativas e pedagógicas para
a melhoria do trabalho de toda a escola na direção do que
b) A estrutura organizacional se pretende. Assim, considerando o contexto, os limites, os
recursos disponíveis (humanos, materiais e financeiros) e
A escola, de forma geral, dispõe basicamente de duas a realidade escolar, cada instituição educativa assume sua
estruturas: as administrativas e as pedagógicas. As primei- marca, tecendo, no coletivo, seu projeto políticopedagógi-
ras asseguram, praticamente, a locação e a gestão de re- co, propiciando consequentemente a construção de uma
cursos humanos, físicos e financeiros. Fazem parte, ainda, nova forma de organização.
das estruturas administrativas todos os elementos que têm
uma forma material, como, por exemplo, a arquitetura do c) O currículo
edifício escolar e a maneira como ele se apresenta do pon-
Currículo é um importante elemento constitutivo da
to de vista de sua imagem: equipamentos e materiais didá-
organização escolar. Currículo implica, necessariamente, a
ticos, mobiliário, distribuição das dependências escolares e
interação entre sujeitos que têm um mesmo objetivo e a
espaços livres, cores, limpeza e saneamento básico (água,
opção por um referencial teórico que o sustente.
esgoto, lixo e energia elétrica).
Currículo é uma construção social do conhecimento,
As pedagógicas, que, teoricamente, determinam a
pressupondo a sistematização dos meios para que essa
ação das administrativas, “organizam as funções educati-
construção se efetive; é a transmissão dos conhecimentos
vas para que a escola atinja de forma eficiente e eficaz as
historicamente produzidos e as formas de assimilá-los; por-
suas finalidades”.
As estruturas pedagógicas referem-se, fundamental- tanto, produção, transmissão e assimilação são processos
mente, às interações políticas, às questões de ensino e que compõem uma metodologia de construção coletiva do
aprendizagem e às de currículo. Nas estruturas pedagógi- conhecimento escolar, ou seja, o currículo propriamente
cas incluem-se todos os setores necessários ao desenvolvi- dito. Nesse sentido, o currículo refere-se à organização do
mento do trabalho pedagógico. conhecimento escolar.
A análise da estrutura organizacional da escola visa O conhecimento escolar é dinâmico e não uma mera
identificar quais estruturas são valorizadas e por quem, ve- simplificação do conhecimento científico, que se adequaria
rificando as relações funcionais entre elas. É preciso ficar à faixa etária e aos interesses dos alunos. Daí a necessidade
claro que a escola é uma organização orientada por fina- de promover, na escola, uma reflexão aprofundada sobre o
lidades, controlada e permeada pelas questões do poder. processo de produção do conhecimento escolar, uma vez
A análise e a compreensão da estrutura organizacio- que ele é, ao mesmo tempo, processo e produto. A análise
nal da escola significam indagar sobre suas características, e a compreensão do processo de produção do conheci-
seus polos de poder, seus conflitos - O que sabemos da mento escolar ampliam a compreensão sobre as questões
estrutura pedagógica? Que tipo de gestão está sendo pra- curriculares.
ticada? O que queremos e precisamos mudar na nossa es- Na organização curricular é preciso considerar alguns
cola? Qual é o organograma previsto? Quem o constitui e pontos básicos. O primeiro é o de que o currículo não é
qual é a lógica interna? Quais as funções educativas predo- um instrumento neutro. O currículo passa ideologia, e a
minantes? Como são vistas a constituição e a distribuição escola precisa identificar e desvelar os componentes ideo-
do poder? Quais os fundamentos regimentais? -, enfim, ca- lógicos do conhecimento escolar que a classe dominante
racterizar do modo mais preciso possível a estrutura orga- utiliza para a manutenção de privilégios. A determinação
nizacional da escola e os problemas que afetam o processo do conhecimento escolar, portanto, implica uma análise in-
de ensino e aprendizagem, de modo a favorecer a tomada terpretativa e crítica, tanto da cultura dominante, quanto
de decisões realistas e exequíveis. da cultura popular. O currículo expressa uma cultura.
Avaliar a estrutura organizacional significa questionar O segundo ponto é o de que o currículo não pode ser
os pressupostos que embasam a estrutura burocrática da separado do contexto social, uma vez que ele é historica-
escola que inviabiliza a formação de cidadãos aptos a criar mente situado e culturalmente determinado.

61
POLÍTICAS PÚBLICAS DA EDUCAÇÃO

O terceiro ponto diz respeito ao tipo de organização d) O tempo escolar


curricular que a escola deve adotar. Em geral, nossas insti- O tempo é um dos elementos constitutivos da organi-
tuições têm sido orientadas para a organização hierárqui- zação do trabalho pedagógico. O calendário escolar orde-
ca e fragmentada do conhecimento escolar. Com base em na o tempo: determina o início e o fim do ano, prevendo
Bernstein (1989), chamo a atenção para o fato de que a os dias letivos, as férias, os períodos escolares em que o
escola deve buscar novas formas de organização curricu- ano se divide, os feriados cívicos e religiosos, as datas re-
lar, em que o conhecimento escolar (conteúdo) estabeleça servadas à avaliação, os períodos para reuniões técnicas,
uma relação aberta e inter-relacione-se em torno de uma cursos etc.
ideia integradora. Esse tipo de organização curricular, o au- O horário escolar, que fixa o número de horas por se-
tor denomina de currículo-integração. O currículo integra- mana e que varia em razão das disciplinas constantes na
ção, portanto, visa reduzir o isolamento entre as diferentes grade curricular, estipula também o número de aulas por
disciplinas curriculares, procurando agrupá-las num todo professor. Tal como afirma Enguita: “Às matérias tornam-se
mais amplo. equivalentes porque ocupam o mesmo número de horas
Como alertaram Domingos et al., “cada conteúdo deixa por semana, e são vistas como tendo menor prestígio se
de ter significado por si só, para assumir uma importância ocupam menos tempo que as demais”.
relativa e passar a ter uma função bem determinada e ex- A organização do tempo do conhecimento escolar é
plícita dentro do todo de que faz parte”. marcada pela segmentação do dia letivo, e o currículo é,
O quarto ponto refere-se à questão do controle social, consequentemente, organizado em períodos fixos de tem-
já que o currículo formal (conteúdos curriculares, metodo- po para disciplinas supostamente separadas. O controle
logia e recursos de ensino, avaliação e relação pedagógica) hierárquico utiliza o tempo que muitas vezes é desperdiça-
implica controle. Por outro lado, o controle social é instru- do e controlado pela administração e pelo professor.
mentalizado pelo currículo oculto, entendido este como as Em resumo, quanto mais compartimentado for o tem-
“mensagens transmitidas pela sala de aula e pelo ambien- po, mais hierarquizadas e ritualizadas serão as relações
te escolar”. Assim, toda a gama de visões do mundo, as sociais, reduzindo, também, as possibilidades de se institu-
normas e os valores dominantes são passados aos alunos cionalizar o currículo-integração que conduz a um ensino
no ambiente escolar, no material didático e mais especi-
em extensão.
ficamente por intermédio dos livros didáticos, na relação
Enguita, ao discutir a questão de como a escola contri-
pedagógica, nas rotinas escolares. Os resultados do currí-
bui para a inculcação da precisão temporal nas atividades
culo oculto “estimulam a conformidade a ideais nacionais
escolares, assim se expressa:
e convenções sociais ao mesmo tempo que mantêm desi-
A sucessão de períodos muito breves - sempre de me-
gualdades socioeconómicas e culturais”.
nos de uma hora -dedicados a matérias muito diferentes
Moreira (1992), ao examinar as teorias de controle so-
entre si, sem necessidade de sequência lógica entre elas,
cial que têm permeado as principais tendências do pensa-
mento curricular, procurou defender o ponto de vista de sem atender à melhor ou à pior adequação de seu conteú-
que controle social não envolve, necessariamente, orien- do a períodos mais longos ou mais curtos e sem prestar
tações conservadoras, coercitivas e de conformidade com- nenhuma atenção à cadência do interesse e do trabalho
portamental. De acordo com o autor, subjacente ao dis- dos estudantes; em suma, a organização habitual do horá-
curso curricular crítico, encontra-se uma noção de controle rio escolar ensina ao estudante que o importante não é a
social orientada para a emancipação. Faz sentido, então, qualidade precisa de seu trabalho, a que o dedica, mas sua
falar em controle social comprometido com fins de liberda- duração. A escola é o primeiro cenário em que a criança e
de que deem ao estudante uma voz ativa e crítica. o jovem presenciam, aceitam e sofrem a redução de seu
Com base em Aronowitz e Giroux (1985), o autor cha- trabalho a trabalho abstrato.
ma a atenção para o fato de que a noção crítica de controle Para alterar a qualidade do trabalho pedagógico torna-
social não pode deixar de discutir “o contexto apropriado se necessário que a escola reformule seu tempo, estabele-
ao desenvolvimento de práticas curriculares que favoreçam cendo períodos de estudo e reflexão de equipes de educa-
o bom rendimento e a autonomia dos estudantes e, em dores, fortalecendo a escola como instância de educação
particular, que reduzam os elevados índices de evasão e continuada.
repetência de nossa escola de primeiro grau”. É preciso tempo para que os educadores aprofundem
A noção de controle social na teoria curricular crítica é seu conhecimento sobre os alunos e sobre o que estão
mais um instrumento de contestação e resistência à ideo- aprendendo. E preciso tempo para acompanhar e avaliar o
logia veiculada por intermédio dos currículos, tanto do for- projeto políticopedagógico em ação. É preciso tempo para
mal quanto do oculto. os estudantes se organizarem e criarem seus espaços para
Orientar a organização curricular para fins emancipa- além da sala de aula.
tórios implica, inicialmente, desvelar as visões simplificadas
de sociedade, concebida como um todo homogêneo, e de e) O processo de decisão
ser humano, como alguém que tende a aceitar papéis ne- Na organização formal de nossa escola, o fluxo das ta-
cessários à sua adaptação ao contexto em que vive. Con- refas, das ações e principalmente das decisões é orientado
trole social, na visão crítica, é uma contribuição e uma aju- por procedimentos formalizados, prevalecendo as relações
da para a contestação e a resistência à ideologia veiculada hierárquicas de mando e submissão, de poder autoritário
por intermédio dos currículos escolares. e centralizador.

62
POLÍTICAS PÚBLICAS DA EDUCAÇÃO

Uma estrutura administrativa da escola, adequada à Considerando a avaliação dessa forma, é possível sa-
realização de objetivos educacionais, de acordo com os lientar dois pontos importantes. Primeiro, a avaliação é um
interesses da população, deve prever mecanismos que es- ato dinâmico que qualifica e oferece subsídios ao projeto
timulem a participação de todos no processo de decisão. políticopedagógico. Segundo, ela imprime uma direção às
Isso requer uma revisão das atribuições específicas e ge- ações dos educadores e dos educandos.
rais, bem como da distribuição do poder e da descentrali- O processo de avaliação envolve três momentos: a
zação do processo de decisão. Para que isso seja possível descrição e a problematização da realidade escolar, a com-
é necessário que se instalem mecanismos institucionais vi- preensão crítica da realidade descrita e problematizada e
sando à participação política de todos os envolvidos com a proposição de alternativas de ação, momento de criação
o processo educativo da escola. Paro (1993, p. 34) sugere a coletiva.
instalação de processos eletivos de escolha de dirigentes, A avaliação, do ponto de vista crítico, não pode ser ins-
colegiados com representação de alunos, pais, associação trumento de exclusão dos alunos provenientes das clas-
de pais e professores, grêmio estudantil, processos coleti- ses trabalhadoras. Portanto, deve ser democrática, deve
vos de avaliação continuada dos serviços escolares etc. favorecer o desenvolvimento da capacidade do aluno de
apropriar-se de conhecimentos científicos, sociais e tecno-
f) As relações de trabalho lógicos produzidos historicamente e deve ser resultante de
E importante reiterar que, quando se busca uma nova um processo coletivo de avaliação diagnostica.
organização do trabalho pedagógico, está se considerando
que as relações de trabalho, no interior da escola, deverão Gestão educacional decorrente da concepção do
estar calcadas nas atitudes de solidariedade, de reciproci- projeto políticopedagógico
dade e de participação coletiva, em contraposição à orga-
nização regida pelos princípios da divisão do trabalho, da A escola, para se desvencilhar da divisão do trabalho,
fragmentação e do controle hierárquico. É nesse movimen- de sua fragmentação e do controle hierárquico, precisa
to que se verifica o confronto de interesses no interior da criar condições para gerar uma outra forma de organização
escola. Por isso, todo esforço de gestar uma nova organiza- do trabalho pedagógico.
ção deve levar em conta as condições concretas presentes A reorganização da escola deverá ser buscada de den-
na escola. Há uma correlação de forças e é nesse embate tro para fora. O fulcro para a realização dessa tarefa será o
que se originam os conflitos, as tensões, as rupturas, propi- empenho coletivo na construção de um projeto político-
ciando a construção de novas formas de relações de traba- pedagógico, e isso implica fazer rupturas com o existente
lho, com espaços abertos à reflexão coletiva que favoreçam para avançar.
o diálogo, a comunicação horizontal entre os diferentes É preciso entender o projeto políticopedagógico da
segmentos envolvidos com o processo educativo, a des- escola como uma reflexão de seu cotidiano. Para tanto, ela
centralização do poder. A esse respeito, Machado assume precisa de um tempo razoável de reflexão e ação necessá-
a seguinte posição: “O processo de luta é visto como uma rio à consolidação de sua proposta.
forma de contrapor-se à dominação, o que pode contribuir A construção do projeto políticopedagógico requer
para a articulação de práticas emancipatórias”. continuidade das ações, descentralização, democratização
A partir disso, novas relações de poder poderão ser do processo de tomada de decisões e instalação de um
construídas na dinâmica interna da sala de aula e da escola. processo coletivo de avaliação de cunho emancipatório.
Finalmente, é importante destacar que o movimento
g) A avaliação de luta e resistência dos educadores é indispensável para
Acompanhar e avaliar as atividades leva-nos à refle- ampliar as possibilidades e apressar as mudanças que se
xão, com base em dados concretos sobre como a escola se fazem necessárias dentro e fora dos muros da escola.
organiza para colocar em ação seu projeto políticopeda-
gógico. A avaliação do projeto políticopedagógico, numa Referência:
visão crítica, parte da necessidade de conhecer a realidade VEIGA, Ilma Passos Alencastro. (Org.) Projeto político-
escolar, busca explicar e compreender criticamente as cau- pedagógico da escola: uma construção possível. Papirus,
sas da existência de problemas, bem como suas relações, 2002.
suas mudanças e se esforça para propor ações alternativas
(criação coletiva). Esse caráter criador é conferido pela au- EDUCAÇÃO INCLUSIVA: FUNDAMENTOS LEGAIS,
tocrítica. CONCEITO E PRINCÍPIOS, ADAPTAÇÕES CURRICULA-
Avaliadores que conjugam as ideias de uma visão glo- RES, A ESCOLA INCLUSIVA
bal analisam o projeto políticopedagógico não como algo
estanque, desvinculado dos aspectos políticos e sociais; Política Nacional de Educação Especial na Perspec-
não rejeitam as contradições e os conflitos. A avaliação tem tiva da Educação Inclusiva
um compromisso mais amplo do que a mera eficiência e
eficácia das propostas conservadoras. Portanto, acompa- Documento elaborado pelo Grupo de Trabalho nomea-
nhar e avaliar o projeto políticopedagógico é avaliar os re- do pela Portaria Ministerial nº 555, de 5 de junho de 2007,
sultados da própria organização do trabalho pedagógico. prorrogada pela Portaria nº 948, de 09 de outubro de 2007.

63
POLÍTICAS PÚBLICAS DA EDUCAÇÃO

Introdução de instituições especializadas, escolas especiais e classes


especiais. Essa organização, fundamentada no conceito de
O movimento mundial pela educação inclusiva é uma normalidade/anormalidade, determina formas de atendi-
ação política, cultural, social e pedagógica, desencadea- mento clínico-terapêuticos fortemente ancorados nos tes-
da em defesa do direito de todos os alunos de estarem tes psicométricos que, por meio de diagnósticos, definem
juntos, aprendendo e participando, sem nenhum tipo de as práticas escolares para os alunos com deficiência.
discriminação. A educação inclusiva constitui um paradig- No Brasil, o atendimento às pessoas com deficiência
ma educacional fundamentado na concepção de direitos teve início na época do Império, com a criação de duas
humanos, que conjuga igualdade e diferença como valores instituições: o Imperial Instituto dos Meninos Cegos, em
indissociáveis, e que avança em relação à ideia de equida- 1854, atual Instituto Benjamin Constant – IBC, e o Instituto
de formal ao contextualizar as circunstâncias históricas da dos Surdos Mudos, em 1857, hoje denominado Instituto
produção da exclusão dentro e fora da escola. Nacional da Educação dos Surdos – INES, ambos no Rio
Ao reconhecer que as dificuldades enfrentadas nos sis- de Janeiro. No início do século XX é fundado o Instituto
Pestalozzi (1926), instituição especializada no atendimento
temas de ensino evidenciam a necessidade de confrontar
às pessoas com deficiência mental; em 1954, é fundada a
as práticas discriminatórias e criar alternativas para superá
primeira Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais –
-las, a educação inclusiva assume espaço central no debate
APAE; e, em 1945, é criado o primeiro atendimento edu-
acerca da sociedade contemporânea e do papel da escola
cacional especializado às pessoas com superdotação na
na superação da lógica da exclusão. A partir dos referen- Sociedade Pestalozzi, por Helena Antipoff.
ciais para a construção de sistemas educacionais inclusivos, Em 1961, o atendimento educacional às pessoas com
a organização de escolas e classes especiais passa a ser deficiência passa a ser fundamentado pelas disposições da
repensada, implicando uma mudança estrutural e cultural Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDBEN,
da escola para que todos os alunos tenham suas especifi- Lei nº 4.024/61, que aponta o direito dos “excepcionais” à
cidades atendidas. educação, preferencialmente dentro do sistema geral de
Nesta perspectiva, o Ministério da Educação/Secreta- ensino.
ria de Educação Especial apresenta a Política Nacional de A Lei nº 5.692/71, que altera a LDBEN de 1961, ao defi-
Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, nir “tratamento especial” para os alunos com “deficiências
que acompanha os avanços do conhecimento e das lutas físicas, mentais, os que se encontram em atraso conside-
sociais, visando constituir políticas públicas promotoras de rável quanto à idade regular de matrícula e os superdota-
uma educação de qualidade para todos os alunos. dos”, não promove a organização de um sistema de ensino
capaz de atender às necessidades educacionais especiais e
Marcos históricos e normativos acaba reforçando o encaminhamento dos alunos para as
classes e escolas especiais.
A escola historicamente se caracterizou pela visão da Em 1973, o MEC cria o Centro Nacional de Educação
educação que delimita a escolarização como privilégio de Especial – CENESP, responsável pela gerência da educação
um grupo, uma exclusão que foi legitimada nas políticas especial no Brasil, que, sob a égide integracionista, impul-
e práticas educacionais reprodutoras da ordem social. A sionou ações educacionais voltadas às pessoas com defi-
partir do processo de democratização da escola, eviden- ciência e às pessoas com superdotação, mas ainda confi-
cia-se o paradoxo inclusão/exclusão quando os sistemas guradas por campanhas assistenciais e iniciativas isoladas
de ensino universalizam o acesso, mas continuam excluin- do Estado.
do indivíduos e grupos considerados fora dos padrões ho- Nesse período, não se efetiva uma política pública de
mogeneizadores da escola. Assim, sob formas distintas, a acesso universal à educação, permanecendo a concepção
de “políticas especiais” para tratar da educação de alunos
exclusão tem apresentado características comuns nos pro-
com deficiência. No que se refere aos alunos com super-
cessos de segregação e integração, que pressupõem a se-
dotação, apesar do acesso ao ensino regular, não é organi-
leção, naturalizando o fracasso escolar.
zado um atendimento especializado que considere as suas
A partir da visão dos direitos humanos e do conceito
singularidades de aprendizagem.
de cidadania fundamentado no reconhecimento das dife- A Constituição Federal de 1988 traz como um dos seus
renças e na participação dos sujeitos, decorre uma identifi- objetivos fundamentais “promover o bem de todos, sem
cação dos mecanismos e processos de hierarquização que preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer
operam na regulação e produção das desigualdades. Essa outras formas de discriminação” (art.3º, inciso IV). Define,
problematização explicita os processos normativos de dis- no artigo 205, a educação como um direito de todos, ga-
tinção dos alunos em razão de características intelectuais, rantindo o pleno desenvolvimento da pessoa, o exercício
físicas, culturais, sociais e linguísticas, entre outras, estrutu- da cidadania e a qualificação para o trabalho. No seu arti-
rantes do modelo tradicional de educação escolar. go 206, inciso I, estabelece a “igualdade de condições de
A educação especial se organizou tradicionalmente acesso e permanência na escola” como um dos princípios
como atendimento educacional especializado substituti- para o ensino e garante, como dever do Estado, a oferta do
vo ao ensino comum, evidenciando diferentes compreen- atendimento educacional especializado, preferencialmente
sões, terminologias e modalidades que levaram à criação na rede regular de ensino (art. 208).

64
POLÍTICAS PÚBLICAS DA EDUCAÇÃO

O Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, Lei nº O Plano Nacional de Educação – PNE, Lei nº
8.069/90, no artigo 55, reforça os dispositivos legais supra- 10.172/2001, destaca que “o grande avanço que a década
citados ao determinar que “os pais ou responsáveis têm da educação deveria produzir seria a construção de uma
a obrigação de matricular seus filhos ou pupilos na rede escola inclusiva que garanta o atendimento à diversidade
regular de ensino”. Também nessa década, documentos humana”. Ao estabelecer objetivos e metas para que os sis-
como a Declaração Mundial de Educação para Todos (1990) temas de ensino favoreçam o atendimento às necessidades
e a Declaração de Salamanca (1994) passam a influenciar a educacionais especiais dos alunos, aponta um déficit refe-
formulação das políticas públicas da educação inclusiva. rente à oferta de matrículas para alunos com deficiência
Em 1994, é publicada a Política Nacional de Educação nas classes comuns do ensino regular, à formação docente,
Especial, orientando o processo de “integração instrucio- à acessibilidade física e ao atendimento educacional espe-
nal” que condiciona o acesso às classes comuns do ensino cializado.
regular àqueles que “(...) possuem condições de acompa-
A Convenção da Guatemala (1999), promulgada no
nhar e desenvolver as atividades curriculares programadas
Brasil pelo Decreto nº 3.956/2001, afirma que as pessoas
do ensino comum, no mesmo ritmo que os alunos ditos
com deficiência têm os mesmos direitos humanos e li-
normais” (p.19). Ao reafirmar os pressupostos construídos
berdades fundamentais que as demais pessoas, definindo
a partir de padrões homogêneos de participação e apren-
como discriminação com base na deficiência toda diferen-
dizagem, a Política não provoca uma reformulação das ciação ou exclusão que possa impedir ou anular o exercício
práticas educacionais de maneira que sejam valorizados os dos direitos humanos e de suas liberdades fundamentais.
diferentes potenciais de aprendizagem no ensino comum, Este Decreto tem importante repercussão na educação,
mas mantendo a responsabilidade da educação desses alu- exigindo uma reinterpretação da educação especial, com-
nos exclusivamente no âmbito da educação especial. preendida no contexto da diferenciação, adotado para pro-
A atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, mover a eliminação das barreiras que impedem o acesso à
Lei nº 9.394/96, no artigo 59, preconiza que os sistemas escolarização.
de ensino devem assegurar aos alunos currículo, métodos, Na perspectiva da educação inclusiva, a Resolução
recursos e organização específicos para atender às suas CNE/CP nº 1/2002, que estabelece as Diretrizes Curricula-
necessidades; assegura a terminalidade específica àque- res Nacionais para a Formação de Professores da Educação
les que não atingiram o nível exigido para a conclusão Básica, define que as instituições de ensino superior devem
do ensino fundamental, em virtude de suas deficiências; e prever, em sua organização curricular, formação docente
assegura a aceleração de estudos aos superdotados para voltada para a atenção à diversidade e que contemple co-
conclusão do programa escolar. Também define, dentre as nhecimentos sobre as especificidades dos alunos com ne-
normas para a organização da educação básica, a “possibi- cessidades educacionais especiais.
lidade de avanço nos cursos e nas séries mediante verifica- A Lei nº 10.436/02 reconhece a Língua Brasileira de Si-
ção do aprendizado” (art. 24, inciso V) e “[...] oportunidades nais – Libras como meio legal de comunicação e expressão,
educacionais apropriadas, consideradas as características determinando que sejam garantidas formas institucionali-
do alunado, seus interesses, condições de vida e de traba- zadas de apoiar seu uso e difusão, bem como a inclusão da
lho, mediante cursos e exames” (art. 37). disciplina de Libras como parte integrante do currículo nos
Em 1999, o Decreto nº 3.298, que regulamenta a Lei nº cursos de formação de professores e de fonoaudiologia.
7.853/89, ao dispor sobre a Política Nacional para a Inte- A Portaria nº 2.678/02 do MEC aprova diretrizes e nor-
gração da Pessoa Portadora de Deficiência, define a edu- mas para o uso, o ensino, a produção e a difusão do siste-
cação especial como uma modalidade transversal a todos ma Braille em todas as modalidades de ensino, compreen-
dendo o projeto da Grafia Braille para a Língua Portuguesa
os níveis e modalidades de ensino, enfatizando a atuação
e a recomendação para o seu uso em todo o território na-
complementar da educação especial ao ensino regular.
cional.
Acompanhando o processo de mudança, as Diretrizes
Em 2003, é implementado pelo MEC o Programa Edu-
Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica,
cação Inclusiva: direito à diversidade, com vistas a apoiar a
Resolução CNE/CEB nº 2/2001, no artigo 2º, determinam transformação dos sistemas de ensino em sistemas educa-
que: cionais inclusivos, promovendo um amplo processo de for-
“Os sistemas de ensino devem matricular todos os mação de gestores e educadores nos municípios brasileiros
alunos, cabendo às escolas organizarem-se para o aten- para a garantia do direito de acesso de todos à escolariza-
dimento aos educandos com necessidades educacionais ção, à oferta do atendimento educacional especializado e à
especiais, assegurando as condições necessárias para uma garantia da acessibilidade.
educação de qualidade para todos.” Em 2004, o Ministério Público Federal publica o docu-
As Diretrizes ampliam o caráter da educação especial mento O Acesso de Alunos com Deficiência às Escolas e
para realizar o atendimento educacional especializado Classes Comuns da Rede Regular, com o objetivo de dis-
complementar ou suplementar à escolarização, porém, ao seminar os conceitos e diretrizes mundiais para a inclusão,
admitir a possibilidade de substituir o ensino regular, não reafirmando o direito e os benefícios da escolarização de
potencializam a adoção de uma política de educação inclu- alunos com e sem deficiência nas turmas comuns do ensi-
siva na rede pública de ensino, prevista no seu artigo 2º. no regular.

65
POLÍTICAS PÚBLICAS DA EDUCAÇÃO

Impulsionando a inclusão educacional e social, o De- No documento do MEC, Plano de Desenvolvimento da


creto nº 5.296/04 regulamentou as Leis nº 10.048/00 e nº Educação: razões, princípios e programas é reafirmada a
10.098/00, estabelecendo normas e critérios para a promo- visão que busca superar a oposição entre educação regular
ção da acessibilidade às pessoas com deficiência ou com e educação especial.
mobilidade reduzida. Nesse contexto, o Contrariando a concepção sistêmica da transversali-
Programa Brasil Acessível, do Ministério das Cidades, é dade da educação especial nos diferentes níveis, etapas e
desenvolvido com o objetivo de promover a acessibilidade modalidades de ensino, a educação não se estruturou na
urbana e apoiar ações que garantam o acesso universal aos perspectiva da inclusão e do atendimento às necessidades
espaços públicos. educacionais especiais, limitando, o cumprimento do prin-
O Decreto nº 5.626/05, que regulamenta a Lei nº cípio constitucional que prevê a igualdade de condições
10.436/2002, visando ao acesso à escola dos alunos surdos, para o acesso e permanência na escola e a continuidade
dispõe sobre a inclusão da Libras como disciplina curricu- nos níveis mais elevados de ensino (2007, p. 09).
lar, a formação e a certificação de professor, instrutor e tra- Para a implementação do PDE é publicado o Decreto nº
dutor/intérprete de Libras, o ensino da Língua Portuguesa 6.094/2007, que estabelece nas diretrizes do Compromisso
como segunda língua para alunos surdos e a organização Todos pela Educação, a garantia do acesso e permanência
da educação bilíngue no ensino regular. no ensino regular e o atendimento às necessidades educa-
Em 2005, com a implantação dos Núcleos de Atividades cionais especiais dos alunos, fortalecendo seu ingresso nas
de Altas Habilidades/Superdotação – NAAH/S em todos os escolas públicas.
estados e no Distrito Federal, são organizados centros de
referência na área das altas habilidades/superdotação para Diagnóstico da Educação Especial
o atendimento educacional especializado, para a orienta-
ção às famílias e a formação continuada dos professores, O Censo Escolar/MEC/INEP, realizado anualmente em
constituindo a organização da política de educação inclu- todas as escolas de educação básica, possibilita o acompa-
siva de forma a garantir esse atendimento aos alunos da nhamento dos indicadores da educação especial: acesso à
rede pública de ensino. educação básica, matrícula na rede pública, ingresso nas
A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Defi- classes comuns, oferta do atendimento educacional espe-
ciência, aprovada pela ONU em 2006 e da qual o Brasil é cializado, acessibilidade nos prédios escolares, municípios
signatário, estabelece que os Estados-Partes devem asse- com matrícula de alunos com necessidades educacionais
gurar um sistema de educação inclusiva em todos os níveis especiais, escolas com acesso ao ensino regular e formação
de ensino, em ambientes que maximizem o desenvolvi- docente para o atendimento às necessidades educacionais
mento acadêmico e social compatível com a meta da plena especiais dos alunos.
participação e inclusão, adotando medidas para garantir Para compor esses indicadores no âmbito da educação
que: especial, o Censo Escolar/MEC/INEP coleta dados referen-
a) As pessoas com deficiência não sejam excluídas tes ao número geral de matrículas; à oferta da matrícula
do sistema educacional geral sob alegação de deficiência nas escolas públicas, escolas privadas e privadas sem fins
e que as crianças com deficiência não sejam excluídas do lucrativos; às matrículas em classes especiais, escola es-
ensino fundamental gratuito e compulsório, sob alegação pecial e classes comuns de ensino regular; ao número de
de deficiência; alunos do ensino regular com atendimento educacional
b) As pessoas com deficiência possam ter acesso ao especializado; às matrículas, conforme tipos de deficiência,
ensino fundamental inclusivo, de qualidade e gratuito, em transtornos do desenvolvimento e altas habilidades/super-
igualdade de condições com as demais pessoas na comu- dotação; à infraestrutura das escolas quanto à acessibilida-
nidade em que vivem (Art.24). de arquitetônica, à sala de recursos ou aos equipamentos
Neste mesmo ano, a Secretaria Especial dos Direitos específicos; e à formação dos professores que atuam no
Humanos, os Ministérios da Educação e da Justiça, junta- atendimento educacional especializado.
mente com a Organização das Nações Unidas para a Edu- A partir de 2004, são efetivadas mudanças no instru-
cação, a Ciência e a Cultura – UNESCO, lançam o Plano mento de pesquisa do Censo, que passa a registrar a sé-
Nacional de Educação em Direitos Humanos, que objetiva, rie ou ciclo escolar dos alunos identificados no campo da
dentre as suas ações, contemplar, no currículo da educa- educação especial, possibilitando monitorar o percurso
ção básica, temáticas relativas às pessoas com deficiência escolar. Em 2007, o formulário impresso do Censo Escolar
e desenvolver ações afirmativas que possibilitem acesso e foi transformado em um sistema de informações on-line,
permanência na educação superior. o Censo Web, que qualifica o processo de manipulação e
Em 2007, é lançado o Plano de Desenvolvimento da tratamento das informações, permite atualização dos da-
Educação – PDE, reafirmado pela Agenda Social, tendo dos dentro do mesmo ano escolar, bem como possibilita o
como eixos a formação de professores para a educação es- cruzamento com outros bancos de dados, tais como os das
pecial, a implantação de salas de recursos multifuncionais, áreas de saúde, assistência e previdência social. Também
a acessibilidade arquitetônica dos prédios escolares, aces- são realizadas alterações que ampliam o universo da pes-
so e a permanência das pessoas com deficiência na edu- quisa, agregando informações individualizadas dos alunos,
cação superior e o monitoramento do acesso à escola dos das turmas, dos professores e da escola.
favorecidos pelo Benefício de Prestação Continuada – BPC. Com relação aos dados da educação especial, o Censo

66
POLÍTICAS PÚBLICAS DA EDUCAÇÃO

Escolar registra uma evolução nas matrículas, de 337.326 Objetivo da Política Nacional de Educação Especial
em 1998 para 700.624 em 2006, expressando um cresci- na Perspectiva da Educação Inclusiva
mento de 107%. No que se refere ao ingresso em classes
comuns do ensino regular, verifica-se um crescimento de A Política Nacional de Educação Especial na Perspec-
640%, passando de 43.923 alunos em 1998 para 325.316 tiva da Educação Inclusiva tem como objetivo o acesso, a
em 2006. participação e a aprendizagem dos alunos com deficiência,
Quanto à distribuição dessas matrículas nas esferas transtornos globais do desenvolvimento e altas habilida-
pública e privada, em 1998 registra-se 179.364 (53,2%) alu- des/superdotação nas escolas regulares, orientando os sis-
nos na rede pública e 157.962 (46,8%) nas escolas privadas, temas de ensino para promover respostas às necessidades
principalmente em instituições especializadas filantrópicas. educacionais especiais, garantindo:
Com o desenvolvimento das ações e políticas de educação - Transversalidade da educação especial desde a edu-
inclusiva nesse período, evidencia-se um crescimento de cação infantil até a educação superior;
146% das matrículas nas escolas públicas, que alcançaram - Atendimento educacional especializado;
441.155 (63%) alunos em 2006. - Continuidade da escolarização nos níveis mais eleva-
Com relação à distribuição das matrículas por etapa de dos do ensino;
ensino em 2006: 112.988 (16%) estão na educação infan- - Formação de professores para o atendimento edu-
til, 466.155 (66,5%) no ensino fundamental, 14.150 (2%) no cacional especializado e demais profissionais da educação
ensino médio, 58.420 (8,3%) na educação de jovens e adul- para a inclusão escolar;
tos, e 48.911 (6,3%) na educação profissional. No âmbito - Participação da família e da comunidade;
da educação infantil, há uma concentração de matrículas - Acessibilidade urbanística, arquitetônica, nos mobi-
nas escolas e classes especiais, com o registro de 89.083 liários e equipamentos, nos transportes, na comunicação e
alunos, enquanto apenas 24.005 estão matriculados em informação; e
turmas comuns. - Articulação intersetorial na implementação das polí-
O Censo da Educação Especial na educação superior ticas públicas.
registra que, entre 2003 e 2005, o número de alunos pas-
Alunos atendidos pela Educação Especial
sou de 5.078 para 11.999 alunos, representando um cres-
cimento de 136%. A evolução das ações referentes à edu-
Por muito tempo perdurou o entendimento de que a
cação especial nos últimos anos é expressa no crescimento
educação especial, organizada de forma paralela à educa-
de 81% do número de municípios com matrículas, que em
ção comum, seria a forma mais apropriada para o atendi-
1998 registra 2.738 municípios (49,7%) e, em 2006 alcança
mento de alunos que apresentavam deficiência ou que não
4.953 municípios (89%).
se adequassem à estrutura rígida dos sistemas de ensino.
Essa concepção exerceu impacto duradouro na história
Aponta também o aumento do número de escolas da educação especial, resultando em práticas que enfati-
com matrícula, que em 1998 registra apenas 6.557 esco- zavam os aspectos relacionados à deficiência, em contra-
las e, em 2006 passa a registrar 54.412, representando um posição à sua dimensão pedagógica. O desenvolvimento
crescimento de 730%. Das escolas com matrícula em 2006, de estudos no campo da educação e dos direitos humanos
2.724 são escolas especiais, 4.325 são escolas comuns com vêm modificando os conceitos, as legislações, as práticas
classe especial e 50.259 são escolas de ensino regular com educacionais e de gestão, indicando a necessidade de se
matrículas nas turmas comuns. promover uma reestruturação das escolas de ensino regu-
O indicador de acessibilidade arquitetônica em prédios lar e da educação especial.
escolares, em 1998, aponta que 14% dos 6.557 estabele- Em 1994, a Declaração de Salamanca proclama que as
cimentos de ensino com matrícula de alunos com neces- escolas regulares com orientação inclusiva constituem os
sidades educacionais especiais possuíam sanitários com meios mais eficazes de combater atitudes discriminatórias
acessibilidade. Em 2006, das 54.412 escolas com matrículas e que alunos com necessidades educacionais especiais
de alunos atendidos pela educação especial, 23,3% pos- devem ter acesso à escola regular, tendo como princípio
suíam sanitários com acessibilidade e 16,3% registraram orientador que “as escolas deveriam acomodar todas as
ter dependências e vias adequadas (dado não coletado em crianças independentemente de suas condições físicas, in-
1998). No âmbito geral das escolas de educação básica, o telectuais, sociais, emocionais, linguísticas ou outras”.
índice de acessibilidade dos prédios, em 2006, é de apenas O conceito de necessidades educacionais especiais,
12%. que passa a ser amplamente disseminado a partir dessa
Com relação à formação inicial dos professores que Declaração, ressalta a interação das características indi-
atuam na educação especial, o Censo de 1998, indica que viduais dos alunos com o ambiente educacional e social.
3,2% possui ensino fundamental, 51% ensino médio e No entanto, mesmo com uma perspectiva conceitual que
45,7% ensino superior. Em 2006, dos 54.625 professores aponte para a organização de sistemas educacionais inclu-
nessa função, 0,62% registram ensino fundamental, 24% sivos, que garanta o acesso de todos os alunos e os apoios
ensino médio e 75,2% ensino superior. Nesse mesmo ano, necessários para sua participação e aprendizagem, as po-
77,8% desses professores, declararam ter curso específico líticas implementadas pelos sistemas de ensino não alcan-
nessa área de conhecimento. çaram esse objetivo.

67
POLÍTICAS PÚBLICAS DA EDUCAÇÃO

Na perspectiva da educação inclusiva, a educação es- dades específicas. As atividades desenvolvidas no atendi-
pecial passa a integrar a proposta pedagógica da escola mento educacional especializado diferenciam-se daquelas
regular, promovendo o atendimento às necessidades edu- realizadas na sala de aula comum, não sendo substitutivas
cacionais especiais de alunos com deficiência, transtornos à escolarização. Esse atendimento complementa e/ou su-
globais de desenvolvimento e altas habilidades/superdo- plementa a formação dos alunos com vistas à autonomia e
tação. Nestes casos e outros, que implicam em transtornos independência na escola e fora dela.
funcionais específicos, a educação especial atua de forma Dentre as atividades de atendimento educacional es-
articulada com o ensino comum, orientando para o aten- pecializado são disponibilizados programas de enriqueci-
dimento às necessidades educacionais especiais desses mento curricular, o ensino de linguagens e códigos espe-
alunos. cíficos de comunicação e sinalização e tecnologia assistiva.
Ao longo de todo o processo de escolarização esse aten-
A educação especial direciona suas ações para o aten- dimento deve estar articulado com a proposta pedagógica
dimento às especificidades desses alunos no processo do ensino comum. O atendimento educacional especializa-
educacional e, no âmbito de uma atuação mais ampla na do é acompanhado por meio de instrumentos que possi-
escola, orienta a organização de redes de apoio, a forma- bilitem monitoramento e avaliação da oferta realizada nas
ção continuada, a identificação de recursos, serviços e o escolas da rede pública e nos centros de atendimento edu-
desenvolvimento de práticas colaborativas. cacional especializados públicos ou conveniados.
Os estudos mais recentes no campo da educação es- O acesso à educação tem início na educação infantil,
pecial enfatizam que as definições e uso de classificações na qual se desenvolvem as bases necessárias para a cons-
devem ser contextualizados, não se esgotando na mera trução do conhecimento e desenvolvimento global do alu-
especificação ou categorização atribuída a um quadro de no. Nessa etapa, o lúdico, o acesso às formas diferencia-
deficiência, transtorno, distúrbio, síndrome ou aptidão. das de comunicação, a riqueza de estímulos nos aspectos
Considera-se que as pessoas se modificam continuamente, físicos, emocionais, cognitivos, psicomotores e sociais e a
transformando o contexto no qual se inserem. Esse dina- convivência com as diferenças favorecem as relações inter-
mismo exige uma atuação pedagógica voltada para alterar pessoais, o respeito e a valorização da criança.
a situação de exclusão, reforçando a importância dos am- Do nascimento aos três anos, o atendimento educa-
bientes heterogêneos para a promoção da aprendizagem cional especializado se expressa por meio de serviços de
de todos os alunos. estimulação precoce, que objetivam otimizar o processo
A partir dessa conceituação, considera-se pessoa com de desenvolvimento e aprendizagem em interface com os
deficiência aquela que tem impedimentos de longo prazo, serviços de saúde e assistência social. Em todas as etapas
de natureza física, mental ou sensorial que, em interação e modalidades da educação básica, o atendimento edu-
com diversas barreiras, podem ter restringida sua partici- cacional especializado é organizado para apoiar o desen-
pação plena e efetiva na escola e na sociedade. Os alunos volvimento dos alunos, constituindo oferta obrigatória dos
com transtornos globais do desenvolvimento são aqueles sistemas de ensino. Deve ser realizado no turno inverso ao
que apresentam alterações qualitativas das interações so- da classe comum, na própria escola ou centro especializa-
ciais recíprocas e na comunicação, um repertório de inte- do que realize esse serviço educacional.
resses e atividades restrito, estereotipado e repetitivo. In- Desse modo, na modalidade de educação de jovens
cluem-se nesse grupo alunos com autismo, síndromes do e adultos e educação profissional, as ações da educação
espectro do autismo e psicose infantil. Alunos com altas especial possibilitam a ampliação de oportunidades de es-
habilidades/superdotação demonstram potencial elevado colarização, formação para ingresso no mundo do trabalho
em qualquer uma das seguintes áreas, isoladas ou combi- e efetiva participação social.
nadas: intelectual, acadêmica, liderança, psicomotricidade A interface da educação especial na educação indí-
e artes, além de apresentar grande criatividade, envolvi- gena, do campo e quilombola deve assegurar que os re-
mento na aprendizagem e realização de tarefas em áreas cursos, serviços e atendimento educacional especializado
de seu interesse. estejam presentes nos projetos pedagógicos construídos
com base nas diferenças socioculturais desses grupos.
Diretrizes da Política Nacional de Educação Especial
na Perspectiva da Educação Inclusiva Na educação superior, a educação especial se efetiva
por meio de ações que promovam o acesso, a permanência
A educação especial é uma modalidade de ensino que e a participação dos alunos. Estas ações envolvem o plane-
perpassa todos os níveis, etapas e modalidades, realiza o jamento e a organização de recursos e serviços para a pro-
atendimento educacional especializado, disponibiliza os moção da acessibilidade arquitetônica, nas comunicações,
recursos e serviços e orienta quanto a sua utilização no nos sistemas de informação, nos materiais didáticos e pe-
processo de ensino e aprendizagem nas turmas comuns dagógicos, que devem ser disponibilizados nos processos
do ensino regular. seletivos e no desenvolvimento de todas as atividades que
O atendimento educacional especializado tem como envolvam o ensino, a pesquisa e a extensão.
função identificar, elaborar e organizar recursos pedagó- Para o ingresso dos alunos surdos nas escolas comuns,
gicos e de acessibilidade que eliminem as barreiras para a a educação bilíngue – Língua Portuguesa/Libras desenvol-
plena participação dos alunos, considerando suas necessi- ve o ensino escolar na Língua Portuguesa e na língua de

68
POLÍTICAS PÚBLICAS DA EDUCAÇÃO

sinais, o ensino da Língua Portuguesa como segunda lín- Os sistemas de ensino devem organizar as condições
gua na modalidade escrita para alunos surdos, os serviços de acesso aos espaços, aos recursos pedagógicos e à co-
de tradutor/intérprete de Libras e Língua Portuguesa e o municação que favoreçam a promoção da aprendizagem e
ensino da Libras para os demais alunos da escola. O atendi- a valorização das diferenças, de forma a atender as neces-
mento educacional especializado para esses alunos é ofer- sidades educacionais de todos os alunos. A acessibilidade
tado tanto na modalidade oral e escrita quanto na língua deve ser assegurada mediante a eliminação de barreiras
de sinais. Devido à diferença linguística, orienta-se que o arquitetônicas, urbanísticas, na edificação – incluindo ins-
aluno surdo esteja com outros surdos em turmas comuns talações, equipamentos e mobiliários – e nos transportes
na escola regular. escolares, bem como as barreiras nas comunicações e in-
O atendimento educacional especializado é realizado formações.
mediante a atuação de profissionais com conhecimentos
específicos no ensino da Língua Brasileira de Sinais, da Lín- Referência:
gua Portuguesa na modalidade escrita como segunda lín- http://peei.mec.gov.br/arquivos/politica_nacional_
gua, do sistema Braille, do Soroban, da orientação e mobi- educacao_especial.pdf
lidade, das atividades de vida autônoma, da comunicação
alternativa, do desenvolvimento dos processos mentais PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DAS ESCOLAS IN-
superiores, dos programas de enriquecimento curricular, CLUSIVAS
da adequação e produção de materiais didáticos e peda-
gógicos, da utilização de recursos ópticos e não ópticos, da Nesse texto, atenção especial é dada à teoria de Vy-
tecnologia assistiva e outros. gotsky e suas implicações para o debate sobre inclusão nos
A avaliação pedagógica como processo dinâmico campos da educação na escola e na sociedade. O artigo fo-
considera tanto o conhecimento prévio e o nível atual de caliza também as relações que definem a política inclusiva
desenvolvimento do aluno quanto às possibilidades de e a complexidade que caracteriza este processo.
aprendizagem futura, configurando uma ação pedagógica Segundo a educadora Mantoan (2005) afirma que na
processual e formativa que analisa o desempenho do aluno escola inclusiva professores e alunos aprendem uma lição
em relação ao seu progresso individual, prevalecendo na que a vida dificilmente ensina: respeitar as diferenças. Res-
avaliação os aspectos qualitativos que indiquem as inter- salta ainda, que a inclusão é a nossa capacidade de reco-
venções pedagógicas do professor. No processo de ava- nhecer o outro e ter o privilégio de conviver com pessoas
liação, o professor deve criar estratégias considerando que diferentes. Diferentemente do que muitos possam pensar,
alguns alunos podem demandar ampliação do tempo para inclusão é mais do que rampas e banheiros adaptados.
a realização dos trabalhos e o uso da língua de sinais, de Na perspectiva de Mantoan, um professor sem capa-
textos em Braille, de informática ou de tecnologia assistiva citação pode ensinar alunos com deficiência. O papel do
como uma prática cotidiana. professor é ser regente de classe e não especialista em de-
Cabe aos sistemas de ensino, ao organizar a educação ficiência, essa responsabilidade é da equipe de atendimen-
especial na perspectiva da educação inclusiva, disponibi- to especializado, uma criança surda, por exemplo, aprende
lizar as funções de instrutor, tradutor/intérprete de Libras com especialista em libras e leitura labial.
e guia intérprete, bem como de monitor ou cuidador dos Questionam-se os valores e padrões pré-estabeleci-
alunos com necessidade de apoio nas atividades de higie- dos, os critérios de avaliação e discriminação que prejudi-
ne, alimentação, locomoção, entre outras, que exijam auxí- cam o desenvolvimento e a aprendizagem das habilidades
lio constante no cotidiano escolar. e a independência destas crianças.
Para atuar na educação especial, o professor deve ter Neste sentido, observamos que Vygotsky, psicólogo
como base da sua formação, inicial e continuada, conhe- russo e estudioso do tema desenvolvimento e aprendiza-
cimentos gerais para o exercício da docência e conheci- gem, ao falar sobre deficiências educacionalmente consi-
mentos específicos da área. Essa formação possibilita a sua deradas como uma das necessidades educacionais espe-
atuação no atendimento educacional especializado, apro- ciais mostra a interação existente entre as características
funda o caráter interativo e interdisciplinar da atuação nas biológicas e as relações sociais para o desenvolvimento da
salas comuns do ensino regular, nas salas de recursos, nos pessoa. Segundo Vygotsky o conceito de Zona de Desen-
centros de atendimento educacional especializado, nos nú- volvimento proximal, conhecida como ZDP, que é a distân-
cleos de acessibilidade das instituições de educação supe- cia entre o desenvolvimento real e o potencial.
rior, nas classes hospitalares e nos ambientes domiciliares, Abordando mais especificamente as questões da edu-
para a oferta dos serviços e recursos de educação especial. cação inclusiva temos um histórico amplo de várias signifi-
Para assegurar a intersetorialidade na implementação cações no decorrer da história, que assinala registros de re-
das políticas públicas a formação deve contemplar conhe- sistência à aceitação social dos portadores de necessidades
cimentos de gestão de sistema educacional inclusivo, ten- educativas especiais. Práticas executadas como abandono,
do em vista o desenvolvimento de projetos em parceria afogamentos, sacrifícios eram comuns até meados do sé-
com outras áreas, visando à acessibilidade arquitetônica, culo XVIII, quando o atendimento passa das famílias e da
aos atendimentos de saúde, à promoção de ações de assis- igreja, para a ciência, passando das instituições residenciais
tência social, trabalho e justiça. às classes especiais no século XX.

69
POLÍTICAS PÚBLICAS DA EDUCAÇÃO

Conforme Cardoso (2003) os médicos passaram a de- que não passava de uma prisão sem qualquer tipo de trata-
dicar-se ao estudo dos deficientes, nomenclatura adotada. mento especializado. No entanto a partir do século XX, os
Com esta institucionalização especializada dá se início o portadores de deficiências começaram a ser considerados
período de segregação, onde a política era separar, isolar cidadãos com direitos e deveres da participação da socie-
e proteger a sociedade do convívio social, do contato com dade, mas com a Declaração Universal dos Direitos Huma-
estas pessoas anormais, inválidas, incapazes de exercer nos começaram a surgir os movimentos organizadores por
qualquer atividade. familiares com críticas à discriminação, para a melhorias de
Espera-se que a escola tenha um papel complementar vida para os mutilados na guerra em 1970 só então começa
ao desempenhado pela família no processo de socializa- a mudar a visão da sociedade nos anos 80, 90 onde passam
ção das crianças com necessidades educacionais especiais. a defender a inclusão.
É uma tarefa difícil e delicada, que envolve boas doses de Segundo Silva (1987): anomalias físicas ou mentais, de-
atitudes pessoais e coletivas, caracterizadas principalmente formações congênitas, amputações traumáticas, doenças
pelo diálogo, pela compreensão, pelo respeito às diferen- graves e de consequências incapacitantes, sejam elas de
ças e necessidades individuais, pelo compromisso e pela natureza transitória ou permanente, são tão antigas quanto
ação. à própria humanidade.
As escolas inclusivas, portanto, propõem a constituição Nas escolas de Anatomia da cidade de Alexandria, Se-
de um sistema educacional que considera as necessidades gundo a afirmação de Silva (1987) existiu no período de
de todos os alunos e que é estruturado em razão dessas 300 a. C, nela ficam registro da medicina egípcia utilizada
necessidades. A inclusão gera uma mudança de perspectiva para o tratamento de males que afetavam os ossos e os
educacional, pois não se limita a ajudar somente os alunos olhos das pessoas adulas. Pois havia passagem histórica
que apresentam dificuldades na escola; mas apoia a todos: sobre os cegos do Egito que faziam atividades artesanais.
professores, alunos e pessoal administrativo para que ob- Gugel (2008) expõe que na era primitiva, as pessoas
tenham sucesso na escola convencional (MANTOAN, 1997). com deficiência não sobreviviam, devido ao ambiente des-
Na inclusão, as escolas devem reconhecer e responder favorável. Afinal, para seu sustento, o homem primitivo ti-
às diversas necessidades de seus alunos, considerando tan- nha que caçar e colher frutos, além de produzir vestuário
to os estilos como ritmos diferentes de aprendizagem e as- com peles de animais. Com as mudanças climáticas, os ho-
segurando uma educação de qualidade a todos, por meio
mens começam a se agrupar e juntos irem à busca de sus-
de currículo apropriado, de modificações organizacionais,
tento e vestimenta. No entanto, somente os mais fortes re-
de estratégias de ensino, de uso de recursos e de parcerias
sistiam e segundo pesquisadores, era comum nesta época
com a comunidade.
desfazerem de crianças com deficiência, pois representava
Os dois modelos de escola regular e especial podem
um fardo para o grupo.
ter características inclusivas e ser o melhor para determi-
Segundo Gugel (2008), no Egito Antigo, as múmias e
nado aluno, o processo de avaliação é que vai identificar a
os túmulos nos mostram que a pessoa com deficiência in-
melhor intervenção, o mais importante salientar que mui-
teragia com toda sociedade. Já na Grécia, as deficiências
tos alunos têm passagens rápidas e eficientes pela escola
eram tratadas pelo termo “disformes.” Devido à necessida-
especial, o que acaba garantindo uma entrada tranquila
e bem assessorada no ensino fundamental convencional, de de manter um exército forte, os gregos eliminavam as
evitando uma série de transtornos para o aluno, para os pessoas com deficiências.
pais e para a escola. As famosas múmias do Egito, que permitiam a conser-
Segundo Coll (1995) a igualdade educacional não pode vação dos corpos por muitos anos, possibilitaram o estudo
ser obtida quando se oferece o mesmo cardápio a todos os dos restos mortais de faraós e nobres do Egito que apre-
alunos; a integração escolar das crianças com deficiências sentavam distrofias e limitações físicas, como Sipthah (séc.
torna-se possível quando se oferece a cada aluno aquilo de XIII a.C.) e Amon (séc. XI a.C.).
que ele necessita. A construção da escola inclusiva exige mudanças
nessa cultura e nas suas consequentes práticas. Segundo
Deficiência Perrenoud (2000) aponta alguns fatores que dificultam a
construção de um coletivo, no contexto educacional, na
As crianças no século XV portadores de deficiência limitação histórica da autonomia política e alternativa do
eram deformadas e atiradas nos esgotos de Roma na Ida- profissional da educação.
de Média. Porém os portadores de deficiências eram abri- O significado da inclusão escolar e que ela vem se de-
gados nas igrejas e passaram a ganhar a função de bobo senvolvendo em todos os setores sociais, não somente na
da corte. Segundo Martinho Lutero, as pessoas com defi- escola, mas em todos âmbitos sociais:
ciências eram seres diabólicos que mereciam castigos para - Educação como direito de todos;
serem purificados. - Igualdade de oportunidades;
- Convívio social;
A partir do século XVI e XIX as pessoas com deficiên- - Cidadania;
cias continuavam isoladas em asilos, conventos albergues, - Valorização da Diversidade;
ou até mesmo em hospitais psiquiátricos como na Europa - Transformação Social.

70
POLÍTICAS PÚBLICAS DA EDUCAÇÃO

As mudanças da Inclusão a partir do século XXI tento e vestimenta. No entanto, somente os mais fortes re-
sistiam e segundo pesquisadores, era comum nesta época
No Brasil a parir do ano 2000 Segundo os dados do desfazerem de crianças com deficiência, pois representava
Censo realizado pelo IBGE existem cerca de 25 milhões de um fardo para o grupo.
pessoas portadoras de algum tipo de deficiência. Premida Segundo Gugel (2008), no Egito Antigo, as múmias e
pela urgência de garantir o exercício pleno da cidadania a os túmulos nos mostram que a pessoa com deficiência in-
essa imensa população, a sociedade brasileira vai ganhan- teragia com toda sociedade. Já na Grécia, as deficiências
do, pouco a pouco, a sensibilidade requerida para tratar do eram tratadas pelo termo “disformes” e devido à necessi-
tema, ainda que seja bastante longo o caminho a percorrer. dade de se manter um exército forte os gregos eliminavam
A Constituição de 1988 dedicou vários artigos às pes- as pessoas com deficiências.
soas com deficiência, de que é exemplo o artigo 7º, XXXI;
artigo 23, II; artigo 24, XIV; artigo 37, VIII; artigo 203, V; Considerações Finais
artigo 227, p. 2º e o artigo 244. Eles tratam de pontos tão
variados como a proibição da discriminação no tocante a
O Brasil é hoje uma referência mundial na reparação
salários e a admissão ao trabalho, saúde e assistência pú-
de vítimas da hanseníase que foram segregadas do conví-
blica, proteção e integração social, o acesso a cargos e
vio social no passado. E aprovou em 2008 a Convenção da
empregos públicos, garantia de salário mínimo mensal à
pessoa com deficiência carente de recursos financeiros e a ONU sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, pela
adaptação de logradouros, edifícios e veículos para trans- primeira vez com força de preceito constitucional, fato que
porte coletivo. balizará toda a discussão em torno de um possível estatuto
O primeiro documento que merece menção é o decre- dos direitos da pessoa com deficiência.
to n. 3298, de 20 de dezembro de 1999. Ele regulamentou O termo deficiência para denominar pessoas com defi-
a Lei n. 7853, de 24 de outubro de 1989, que consolidou as ciência tem sido considerado por algumas ONGs e cientis-
regras de proteção à pessoa portadora de deficiência. Se- tas sociais inadequados, pois o termo leva consegue uma
gundo a Secretária de Direitos Humanos da Presidência da carga negativa depreciativa da pessoa, fato que foi ao lon-
República - SDH/PR Secretaria Nacional de Promoção dos go dos anos se tornando cada vez mais rejeitado pelos es-
Direitos da Pessoa com Deficiência - SNPD. pecialistas da área e em especial pelos próprios indivíduos
Art. 17. O Poder Público promoverá a eliminação de bar- a quem se refira. Muitos, entretanto, consideram que essa
reiras na comunicação e estabelecerá mecanismos e alter- tendência politicamente correta tende a levar as pessoas
nativas técnicas que tornem acessíveis os sistemas de comu- com deficiência a uma negação de sua própria situação e a
nicação e sinalização às pessoas portadoras de deficiência sociedade ao não respeito da diferença.
sensorial e com dificuldade de comunicação, para garantir- Atualmente, porém, esta palavra está voltando a ser
lhes o direito de acesso à informação, à comunicação, ao utilizada, visto que a rejeição do termo, por si só, caracteri-
trabalho, à educação, ao transporte, à cultura, ao esporte e za um preconceito de estigmatizarão contra a condição do
ao lazer. indivíduo revertida pelo uso de um eufemismo, o que pode
Art. 18. O Poder Público programará a formação de ser observado em sites voltados aos “deficientes” é que o
profissionais intérpretes de escrita em braile, linguagem de termo deficiente é utilizado de maneira não pejorativa.
sinais e de guias-intérpretes, para facilitar qualquer tipo de
comunicação direta à pessoa portadora de deficiência senso- Referência:
rial e com dificuldade de comunicação. NOQUELE, A.; SILVA, A. P. da. SILVA, R. Educação Inclu-
Art. 19. Os serviços de radiodifusão sonora e de sons e siva e o Processo de Ensino-Aprendizagem.
imagens adotarão plano de medidas técnicas com o objetivo
de permitir o uso da linguagem de sinais ou outra subtitula-
DIRETRIZES NACIONAIS PARA A EDUCAÇÃO ESPE-
ção, para garantir o direito de acesso à informação às pes-
CIAL NA EDUCAÇÃO BÁSICA
soas portadoras de deficiência auditiva, na forma e no prazo
previsto em regulamento.
Para se ter a dimensão do entendimento que a so- A resolução nº 2, de 11 de setembro de 2001, institui as
ciedade tem sobre o indivíduo deficiente precisamos nos diretrizes nacionais para a educação especial na educação
reportar ao passado, e localizar nas diferenças épocas, o básica homologada pelo Ministro da Educação em 15 de
retrato que se fixou, culturalmente, sobre a ideia das dife- agosto de 2001.
renças individuais e que se converteu no atual modelo de Institui as diretrizes nacionais para a educação de alu-
atendimento a este sujeito nas várias instituições, principal- nos que apresentem necessidades educacionais especiais,
mente no ensino regular. (ROCHA, 2000). na educação básica que terá início na educação infantil, as-
Gugel (2008) expõe que na era primitiva, as pessoas segurando-lhes os serviços de educação especial sempre
com deficiência não sobreviviam, devido ao ambiente des- que forem necessários, os sistemas devem matricular to-
favorável. Afinal, para seu sustento, o homem primitivo ti- dos os alunos inclusive os com necessidades educacionais
nha que caçar e colher frutos, além de produzir vestuário especiais assegurando as condições necessárias para uma
com peles de animais. Com as mudanças climáticas, os ho- educação de qualidade para todos, garantindo a qualidade
mens começam a se agrupar e juntos irem à busca de sus- do processo formativo desses alunos.

71
POLÍTICAS PÚBLICAS DA EDUCAÇÃO

Educação especial num processo educacional defini- As escolas podem criar classes especiais com referên-
do por uma proposta pedagógica que assegure recursos e cias e parâmetros curriculares de atendimento em caráter
serviços especiais para apoiar, complementar, suplementar transitório aos alunos que apresentem dificuldades de
e substituir os serviços educacionais comuns para garantir aprendizagem e demandem de ajudas e apoios intensos e
a educação escolar promovendo o desenvolvimento das contínuos, nessas classes os professores devem desenvol-
potencialidades dos educandos com algum tipo de neces- ver o currículo, adaptando quando necessário dependendo
sidades educacionais especiais. do desenvolvimento apresentado pelo aluno.
Devem constituir um setor responsável pela educação Os alunos com necessidades educacionais especiais
especial, com todos os recursos necessários, materiais e fi- que requeiram de atenção individualizada podem ser aten-
nanceiros que deem sustentação ao processo de constru- didos em escolas especiais complementando o atendimen-
ção da educação inclusiva. to das escolas de classes comuns. As escolas especiais de-
A educação especial considerará os perfis dos estudan- vem cumprir as exigências legais quanto ao processo de
tes, as características biopsicossociais, faixas etárias, e se credenciamento e autorização dos cursos, nessas escolas
pautará princípios éticos, políticos e estéticos para assegu- os currículos devem ser construídos de acordo as condi-
rar: a dignidade e o direito do aluno realizar seus projetos ções do aluno como diz no cap. II LDBEN, a escola especial
de estudo, trabalho e inserção na vida social, a identidade, e a famílias decidem quanto à transferência para escola re-
o reconhecimento e a valorização das diferenças e poten- gular de ensino em condições de realizar o atendimento
cialidades, e também suas necessidades educacionais es- educacional, com base em avaliação pedagógica.
peciais no processo de ensino e aprendizagem, constituin- Recomenda-se as escolas a constituição de parcerias
do e ampliando os valores, atitudes, conhecimentos, habili- com instituições de ensino superior para a realização de
dades e competências, o desenvolvimento com o exercício pesquisas com relação ao processo de ensino e aprendiza-
da cidadania, participação social, política e econômica, me- gem dos alunos com necessidades especiais. Nos termos
diante o comprimento do dever usufruindo seus direitos. da lei 10.098/2000 e da lei 10.172/2001 devem assegurar
Consideram com necessidades educacionais especiais a acessibilidade aos alunos que apresentem necessida-
os alunos que apresentem algum tipo de dificuldades de des educacionais especiais, eliminando barreiras nos pré-
aprendizagem ou com limitações no processo de desen- dios, incluindo instalações equipamentos e mobiliário, nos
volvimento e no acompanhamento das atividades curricu- transportes escolares e comunicação, adaptando as escolas
lares, com algumas disfunções, limitações ou deficiências, existentes e construindo novas escolas, acessibilizando os
dificuldades de comunicações, com altas habilidades e su- conteúdos curriculares, utilizando linguagens alternativas
perdotação.
como Braille e a língua de sinais (libras), sem prejuízo no
A identificação das necessidades educacionais espe-
aprendizado da língua portuguesa.
ciais deve ser realizada pela escola com ajuda de profis-
Devem organizar o atendimento educacional especia-
sionais especializados e técnicos, avaliando o aluno no seu
lizado a alunos que não possam frequentar as aulas por
processo de aprendizagem, contando com os professores
vários motivos ou precisem de atendimento em domicilio
e todo corpo docente da escola, e contando com a partici-
por um longo tempo, devem dar continuidade ao processo
pação da família.
de desenvolvimento de aprendizagem de educação básica
O atendimento aos alunos com necessidades educa-
cionais especiais deve ser realizado em classes comuns para o retorno e reintegração ao grupo escolar, com um
do ensino regular, onde as escolas devem organizar suas currículo flexibilizado com crianças, jovens e adultos facili-
classes, com professores das classes comuns junto com os tando seu acesso à escola regular.
especializados, com a distribuição dos alunos de acordo Os sistemas públicos serão responsáveis pela identifi-
com suas necessidades por várias classe comuns para que cação, analise avaliação da qualidade de escolas, públicas
se beneficiem das diferenças e ampliem as experiências ou privadas observados os princípios da educação inclu-
dentro do princípio educar para a diversidade, flexibiliza- siva, organizando currículos de competência e responsa-
ções e adaptações no currículo, usando uma metodologia bilidade as escolas constando no seu PPP, respeitadas as
de ensino diferenciando os processos dando avaliações etapas e modalidades da Educação Básica.
adequadas ao desenvolvimento, respeitando a frequên- Não sendo obrigatórias as instituições de ensino via-
cia obrigatória, serviços de apoio pedagógico nas classes bilizar ao aluno com deficiência mental grave ou múltiplas,
comuns, por professores, intérpretes e outro profissionais, que não apresente resultados na escolarização, certificados
apoio esse necessários a aprendizagem, locomoção e co- de conclusão de escolaridade.
municação. Para que o professor realize a complementação Em consonância com princípios da educação inclusiva
ou suplementação curricular. Elaboração e articulação de as escolas regulares e de educação profissional, pública ou
experiências pedagógica, contando com instituições de en- privada, devem atender todos os alunos com necessidades
sino superior e de pesquisa, sustentabilidade do processo educacionais especiais, a captação de recursos humanos, a
inclusivo, temporalidade flexível do ano letivo atendendo flexibilização e adaptação do currículo o encaminhamento
assim as necessidades dos alunos com deficiência mental para o trabalho.
ou com deficiências múltiplas, atividades que favoreçam o As escolas de educação profissional podem realizar
aluno que apresente altas habilidades e superdotação in- parcerias com escolas especiais para construir competên-
clusive para conclusão em menor tempo da série ou etapa cias necessárias a inclusão, e podem avaliar competências
escolar. das pessoas encaminhando-as para o mundo de trabalho.

72
POLÍTICAS PÚBLICAS DA EDUCAÇÃO

Cabe aos Sistemas de ensino estabelecer normas para Parágrafo único. Os sistemas de ensino devem co-
o bom funcionamento das escolas para que tenham con- nhecer a demanda real de atendimento a alunos com ne-
dições suficientes para elaborar o PPP, contando com os cessidades educacionais especiais, mediante a criação de
professores capacitados e especializados, para a formação sistemas de informação e o estabelecimento de interface
de docentes na educação infantil, anos iniciais, ensino fun- com os órgãos governamentais responsáveis pelo Censo
damental, nível médio e em nível superior, licenciatura de Escolar e pelo Censo Demográfico, para atender a todas
graduação plena as variáveis implícitas à qualidade do processo formativo
Professores capacitados são considerados os que com- desses alunos.
provem a formação de nível médio ou superior, incluídos
conteúdos sobre educação especial, que percebam as ne- Art. 3º Por educação especial, modalidade da educação
cessidades educacionais especiais dos alunos e valorizem a
escolar, entende-se um processo educacional definido por
educação inclusiva, flexibilizem a ação pedagógica em di-
uma proposta pedagógica que assegure recursos e servi-
ferentes áreas de conhecimentos, avaliem continuamente a
eficácia do processo educativo, atuem em equipe. ços educacionais especiais, organizados institucionalmente
Professores capacitados em educação especial são para apoiar, complementar, suplementar e, em alguns ca-
aqueles que desenvolvem competências para identificar as sos, substituir os serviços educacionais comuns, de modo a
necessidades educacionais especiais, liderem e apoiem a garantir a educação escolar e promover o desenvolvimento
implementação de estratégias de flexibilização, adaptação das potencialidades dos educandos que apresentam ne-
curricular. E deverão comprovar a formação em cursos de cessidades educacionais especiais, em todas as etapas e
licenciatura em educação especial, complementação de es- modalidades da educação básica.
tudos ou pós-graduação nas áreas especifica da educação Parágrafo único. Os sistemas de ensino devem consti-
especial e que tenham uma formação continuada. tuir e fazer funcionar um setor responsável pela educação
As diretrizes curriculares nacionais estendem-se para a especial, dotado de recursos humanos, materiais e finan-
educação especial, assim como se estendem para a educa- ceiros que viabilizem e deem sustentação ao processo de
ção básica em todas as modalidades e etapas da educação construção da educação inclusiva.
básica, caberá as instâncias educacionais da União, Esta-
dos, municípios a implementação destas diretrizes pelos Art. 4º Como modalidade da Educação Básica, a edu-
sistemas de ensinos. cação especial considerará as situações singulares, os perfis
dos estudantes, as características biopsicossociais dos alu-
RESOLUÇÃO CNE/CEB Nº 2, DE 11 DE SETEMBRO
nos e suas faixas etárias e se pautará em princípios éticos,
DE 2001
políticos e estéticos de modo a assegurar:
Institui Diretrizes Nacionais para a Educação Especial I- a dignidade humana e a observância do direito de
na Educação Básica. cada aluno de realizar seus projetos de estudo, de trabalho
e de inserção na vida social;
O Presidente da Câmara de Educação Básica do Con- II- a busca da identidade própria de cada educando,
selho Nacional de Educação, de conformidade com o dis- o reconhecimento e a valorização das suas diferenças e
posto no Art. 9o, § 1o, alínea “c”, da Lei 4.024, de 20 de potencialidades, bem como de suas necessidades educa-
dezembro de 1961, com a redação dada pela Lei 9.131, de cionais especiais no processo de ensino e aprendizagem,
25 de novembro de 1995, nos Capítulos I, II e III do Título como base para a constituição e ampliação de valores, ati-
V e nos Artigos 58 a 60 da Lei 9.394, de 20 de dezembro tudes, conhecimentos, habilidades e competências;
de 1996, e com fundamento no Parecer CNE/CEB 17/2001, III- o desenvolvimento para o exercício da cidadania,
homologado pelo Senhor Ministro de Estado da Educação da capacidade de participação social, política e econômica
em 15 de agosto de 2001, RESOLVE: e sua ampliação, mediante o cumprimento de seus deveres
e o usufruto de seus direitos.
Art. 1º A presente Resolução institui as Diretrizes Na-
cionais para a educação de alunos que apresentem neces- Art. 5º Consideram-se educandos com necessidades
sidades educacionais especiais, na Educação Básica, em
educacionais especiais os que, durante o processo educa-
todas as suas etapas e modalidades.
cional, apresentarem:
Parágrafo único. O atendimento escolar desses alunos
terá início na educação infantil, nas creches e pré-escolas, I- dificuldades acentuadas de aprendizagem ou limi-
assegurando-lhes os serviços de educação especial sem- tações no processo de desenvolvimento que dificultem o
pre que se evidencie, mediante avaliação e interação com acompanhamento das atividades curriculares, compreen-
a família e a comunidade, a necessidade de atendimento didas em dois grupos:
educacional especializado. a) aquelas não vinculadas a uma causa orgânica espe-
cífica;
Art. 2º Os sistemas de ensino devem matricular todos b) aquelas relacionadas a condições, disfunções, limita-
os alunos, cabendo às escolas organizar-se para o aten- ções ou deficiências;
dimento aos educandos com necessidades educacionais II– dificuldades de comunicação e sinalização diferen-
especiais, assegurando as condições necessárias para uma ciadas dos demais alunos, demandando a utilização de lin-
educação de qualidade para todos. guagens e códigos aplicáveis;

73
POLÍTICAS PÚBLICAS DA EDUCAÇÃO

III- altas habilidades/superdotação, grande facilidade des/possibilidades surgidas na relação pedagógica, inclu-
de aprendizagem que os leve a dominar rapidamente con- sive por meio de colaboração com instituições de ensino
ceitos, procedimentos e atitudes. superior e de pesquisa;
VII– sustentabilidade do processo inclusivo, mediante
Art. 6 Para a identificação das necessidades educacio- aprendizagem cooperativa em sala de aula, trabalho de
nais especiais dos alunos e a tomada de decisões quanto equipe na escola e constituição de redes de apoio, com a
ao atendimento necessário, a escola deve realizar, com as- participação da família no processo educativo, bem como
sessoramento técnico, avaliação do aluno no processo de de outros agentes e recursos da comunidade;
ensino e aprendizagem, contando, para tal, com: VIII– temporalidade flexível do ano letivo, para aten-
I- a experiência de seu corpo docente, seus diretores, der às necessidades educacionais especiais de alunos com
coordenadores, orientadores e supervisores educacionais; deficiência mental ou com graves deficiências múltiplas,
II- o setor responsável pela educação especial do res- de forma que possam concluir em tempo maior o currícu-
pectivo sistema; lo previsto para a série/etapa escolar, principalmente nos
III– a colaboração da família e a cooperação dos servi- anos finais do ensino fundamental, conforme estabelecido
ços de Saúde, Assistência Social, Trabalho, Justiça e Espor- por normas dos sistemas de ensino, procurando-se evitar
te, bem como do Ministério Público, quando necessário. grande defasagem idade/série;
IX– atividades que favoreçam, ao aluno que apresente
Art. 7º O atendimento aos alunos com necessidades altas habilidades/superdotação, o aprofundamento e en-
educacionais especiais deve ser realizado em classes co- riquecimento de aspectos curriculares, mediante desafios
muns do ensino regular, em qualquer etapa ou modalidade suplementares nas classes comuns, em sala de recursos ou
da Educação Básica. em outros espaços definidos pelos sistemas de ensino, in-
clusive para conclusão, em menor tempo, da série ou etapa
Art. 8° As escolas da rede regular de ensino devem pre- escolar, nos termos do Artigo 24, V, “c”, da Lei 9.394/96.
ver e prover na organização de suas classes comuns:
Art. 9° As escolas podem criar, extraordinariamente,
I- professores das classes comuns e da educação es-
classes especiais, cuja organização fundamente-se no Ca-
pecial capacitados e especializados, respectivamente, para
pítulo II da LDBEN, nas diretrizes curriculares nacionais para
o atendimento às necessidades educacionais dos alunos;
a Educação Básica, bem como nos referenciais e parâme-
II- distribuição dos alunos com necessidades educacio-
tros curriculares nacionais, para atendimento, em caráter
nais especiais pelas várias classes do ano escolar em que
transitório, a alunos que apresentem dificuldades acen-
forem classificados, de modo que essas classes comuns se
tuadas de aprendizagem ou condições de comunicação e
beneficiem das diferenças e ampliem positivamente as ex-
sinalização diferenciadas dos demais alunos e demandem
periências de todos os alunos, dentro do princípio de edu-
ajudas e apoios intensos e contínuos.
car para a diversidade; §1° Nas classes especiais, o professor deve desenvolver
III– flexibilizações e adaptações curriculares que con- o currículo, mediante adaptações, e, quando necessário,
siderem o significado prático e instrumental dos conteú- atividades da vida autônoma e social no turno inverso.
dos básicos, metodologias de ensino e recursos didáticos §2° A partir do desenvolvimento apresentado pelo alu-
diferenciados e processos de avaliação adequados ao de- no e das condições para o atendimento inclusivo, a equipe
senvolvimento dos alunos que apresentam necessidades pedagógica da escola e a família devem decidir conjunta-
educacionais especiais, em consonância com o projeto mente, com base em avaliação pedagógica, quanto ao seu
pedagógico da escola, respeitada a frequência obrigatória; retorno à classe comum.
IV – serviços de apoio pedagógico especializado, reali-
zado, nas classes comuns, mediante: Art. 10. Os alunos que apresentem necessidades edu-
a) atuação colaborativa de professor especializado em cacionais especiais e requeiram atenção individualizada
educação especial; nas atividades da vida autônoma e social, recursos, ajudas
b) atuação de professores-intérpretes das linguagens e e apoios intensos e contínuos, bem como adaptações cur-
códigos aplicáveis; riculares tão significativas que a escola comum não consi-
c) atuação de professores e outros profissionais itine- ga prover, podem ser atendidos, em caráter extraordinário,
rantes intra e interinstitucionalmente; em escolas especiais, públicas ou privadas, atendimento
d) disponibilização de outros apoios necessários à esse complementado, sempre que necessário e de maneira
aprendizagem, à locomoção e à comunicação. articulada, por serviços das áreas de Saúde, Trabalho e As-
V– serviços de apoio pedagógico especializado em sistência Social.
salas de recursos, nas quais o professor especializado em §1º As escolas especiais, públicas e privadas, devem
educação especial realize a complementação ou suplemen- cumprir as exigências legais similares às de qualquer escola
tação curricular, utilizando procedimentos, equipamentos quanto ao seu processo de credenciamento e autorização
e materiais específicos; de funcionamento de cursos e posterior reconhecimento.
VI– condições para reflexão e elaboração teórica da §2º Nas escolas especiais, os currículos devem ajustar-
educação inclusiva, com protagonismo dos professores, se às condições do educando e ao disposto no Capítulo II
articulando experiência e conhecimento com as necessida- da LDBEN.

74
POLÍTICAS PÚBLICAS DA EDUCAÇÃO

§3° A partir do desenvolvimento apresentado pelo ou serviços, públicos ou privados, com os quais estabele-
aluno, a equipe pedagógica da escola especial e a família cerão convênios ou parcerias para garantir o atendimento
devem decidir conjuntamente quanto à transferência do às necessidades educacionais especiais de seus alunos, ob-
aluno para escola da rede regular de ensino, com base em servados os princípios da educação inclusiva.
avaliação pedagógica e na indicação, por parte do setor
responsável pela educação especial do sistema de ensino, Art. 15. A organização e a operacionalização dos cur-
de escolas regulares em condição de realizar seu atendi- rículos escolares são de competência e responsabilidade
mento educacional. dos estabelecimentos de ensino, devendo constar de seus
projetos pedagógicos as disposições necessárias para o
Art. 11. Recomenda-se às escolas e aos sistemas de en- atendimento às necessidades educacionais especiais de
sino a constituição de parcerias com instituições de ensino alunos, respeitadas, além das diretrizes curriculares nacio-
superior para a realização de pesquisas e estudos de caso nais de todas as etapas e modalidades da Educação Básica,
relativos ao processo de ensino e aprendizagem de alunos
as normas dos respectivos sistemas de ensino.
com necessidades educacionais especiais, visando ao aper-
feiçoamento desse processo educativo.
Art. 16. É facultado às instituições de ensino, esgotadas
as possibilidades pontuadas nos Artigos 24 e 26 da LDBEN,
Art. 12. Os sistemas de ensino, nos termos da Lei
10.098/2000 e da Lei 10.172/2001, devem assegurar a aces- viabilizar ao aluno com grave deficiência mental ou múlti-
sibilidade aos alunos que apresentem necessidades edu- pla, que não apresentar resultados de escolarização previs-
cacionais especiais, mediante a eliminação de barreiras ar- tos no Inciso I do Artigo 32 da mesma Lei, terminalidade
quitetônicas urbanísticas, na edificação – incluindo instala- específica do ensino fundamental, por meio da certificação
ções, equipamentos e mobiliário – e nos transportes esco- de conclusão de escolaridade, com histórico escolar que
lares, bem como de barreiras nas comunicações, provendo apresente, de forma descritiva, as competências desenvol-
as escolas dos recursos humanos e materiais necessários. vidas pelo educando, bem como o encaminhamento devi-
§1° Para atender aos padrões mínimos estabelecidos do para a educação de jovens e adultos e para a educação
com respeito à acessibilidade, deve ser realizada a adapta- profissional.
ção das escolas existentes e condicionada a autorização de
construção e funcionamento de novas escolas ao preenchi- Art. 17. Em consonância com os princípios da educa-
mento dos requisitos de infraestrutura definidos. ção inclusiva, as escolas das redes regulares de educação
§2° Deve ser assegurada, no processo educativo de profissional, públicas e privadas, devem atender alunos que
alunos que apresentam dificuldades de comunicação e si- apresentem necessidades educacionais especiais, median-
nalização diferenciadas dos demais educandos, a acessibi- te a promoção das condições de acessibilidade, a capacita-
lidade aos conteúdos curriculares, mediante a utilização de ção de recursos humanos, a flexibilização e adaptação do
linguagens e códigos aplicáveis, como o sistema Braille e currículo e o encaminhamento para o trabalho, contando,
a língua de sinais, sem prejuízo do aprendizado da língua para tal, com a colaboração do setor responsável pela edu-
portuguesa, facultando-lhes e às suas famílias a opção pela cação especial do respectivo sistema de ensino.
abordagem pedagógica que julgarem adequada, ouvidos §1° As escolas de educação profissional podem realizar
os profissionais especializados em cada caso. parcerias com escolas especiais, públicas ou privadas, tanto
para construir competências necessárias à inclusão de alu-
Art. 13. Os sistemas de ensino, mediante ação integra- nos em seus cursos quanto para prestar assistência técnica
da com os sistemas de saúde, devem organizar o atendi-
e convalidar cursos profissionalizantes realizados por essas
mento educacional especializado a alunos impossibilitados
escolas especiais.
de frequentar as aulas em razão de tratamento de saúde
§ 2° As escolas das redes de educação profissional po-
que implique internação hospitalar, atendimento ambula-
dem avaliar e certificar competências laborais de pessoas
torial ou permanência prolongada em domicílio.
§1° As classes hospitalares e o atendimento em am- com necessidades especiais não matriculadas em seus cur-
biente domiciliar devem dar continuidade ao processo de sos, encaminhando-as, a partir desses procedimentos, para
desenvolvimento e ao processo de aprendizagem de alu- o mundo do trabalho.
nos matriculados em escolas da Educação Básica, contri-
buindo para seu retorno e reintegração ao grupo escolar, Art. 18. Cabe aos sistemas de ensino estabelecer nor-
e desenvolver currículo flexibilizado com crianças, jovens mas para o funcionamento de suas escolas, a fim de que
e adultos não matriculados no sistema educacional local, essas tenham as suficientes condições para elaborar seu
facilitando seu posterior acesso à escola regular. projeto pedagógico e possam contar com professores ca-
§ 2° Nos casos de que trata este Artigo, a certificação pacitados e especializados, conforme previsto no Artigo 59
de frequência deve ser realizada com base no relatório ela- da LDBEN e com base nas Diretrizes Curriculares Nacionais
borado pelo professor especializado que atende o aluno. para a Formação de Docentes da Educação Infantil e dos
Anos Iniciais do Ensino Fundamental, em nível médio, na
Art. 14. Os sistemas públicos de ensino serão respon- modalidade Normal, e nas Diretrizes Curriculares Nacionais
sáveis pela identificação, análise, avaliação da qualidade e para a Formação de Professores da Educação Básica, em
da idoneidade, bem como pelo credenciamento de escolas nível superior, curso de licenciatura de graduação plena.

75
POLÍTICAS PÚBLICAS DA EDUCAÇÃO

§1º São considerados professores capacitados para Art. 22. Esta Resolução entra em vigor na data de sua
atuar em classes comuns com alunos que apresentam ne- publicação e revoga as disposições em contrário.
cessidades educacionais especiais aqueles que comprovem
que, em sua formação, de nível médio ou superior, foram FRANCISCO APARECIDO CORDÃO
incluídos conteúdos sobre educação especial adequados Presidente da Câmara de Educação Básica
ao desenvolvimento de competências e valores para:
I– perceber as necessidades educacionais especiais dos Questões
alunos e valorizar a educação inclusiva;
II- flexibilizar a ação pedagógica nas diferentes áreas 01. (MOURA MELO/2015) Com relação à Educação
de conhecimento de modo adequado às necessidades es- para a Cidadania, podemos afirmar, exceto:
peciais de aprendizagem; a) Estimula o desenvolvimento de competência.
III- avaliar continuamente a eficácia do processo edu- b) Não se atém à abordagem de temas transversais.
cativo para o atendimento de necessidades educacionais c) Valoriza o desenvolvimento do espírito crítico.
especiais; d) Preocupa-se com o apreço pelos valores democrá-
IV - atuar em equipe, inclusive com professores es- ticos.
pecializados em educação especial.
§2º São considerados professores especializados em 02. (MOURA MELO/2015) Para que o conhecimento
educação especial aqueles que desenvolveram competên- seja pertinente, a educação deverá tornar certos fatores
cias para identificar as necessidades educacionais especiais evidentes. São eles, exceto:
para definir, implementar, liderar e apoiar a implementação
a) O global.
de estratégias de flexibilização, adaptação curricular, pro-
b) O complexo.
cedimentos didáticos pedagógicos e práticas alternativas,
c) O contexto.
adequados ao atendimentos das mesmas, bem como tra-
d) O unidimensional.
balhar em equipe, assistindo o professor de classe comum
nas práticas que são necessárias para promover a inclusão
03. (MOURA MELO/2015) O acesso ao ensino fun-
dos alunos com necessidades educacionais especiais.
damental é direito:
§ 3º Os professores especializados em educação espe-
a) Privado objetivo.
cial deverão comprovar:
I- formação em cursos de licenciatura em educação b) Privado subjetivo.
especial ou em uma de suas áreas, preferencialmente de c) Público objetivo.
modo concomitante e associado à licenciatura para educa- d) Público subjetivo.
ção infantil ou para os anos iniciais do ensino fundamental;
II- complementação de estudos ou pós-graduação em 04. (FGV/2014) As opções a seguir apresentam dire-
áreas específicas da educação especial, posterior à licencia- trizes sobre a avaliação no Ensino Fundamental à exceção
tura nas diferentes áreas de conhecimento, para atuação de uma. Assinale-a.
nos anos finais do ensino fundamental e no ensino médio; a) Deve promover, facultativamente, períodos de re-
§4º Aos professores que já estão exercendo o magisté- cuperação, de preferência paralelos ao período letivo
rio devem ser oferecidas oportunidades de formação con- b) Deve utilizar instrumentos e procedimentos ade-
tinuada, inclusive em nível de especialização, pelas instân- quados à faixa etária e ao desenvolvimento do aluno.
cias educacionais da União, dos Estados, do Distrito Federal c) Deve possibilitar a aceleração de estudos para os
e dos Municípios. alunos com defasagem entre a idade e a série
d) Deve assumir um caráter processual, formativo e
Art. 19. As diretrizes curriculares nacionais de todas as participativo.
etapas e modalidades da Educação Básica estendem-se e) Deve subsidiar decisões sobre a utilização de estra-
para a educação especial, assim como estas Diretrizes Na- tégias a abordagens pedagógicas.
cionais para a Educação Especial estendem-se para todas
as etapas e modalidades da Educação Básica. 05. (CETRO - 2014) As Diretrizes Curriculares Nacio-
nais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para
Art. 20. No processo de implantação destas Diretrizes o Ensino de História e Culturas Afro-Brasileira e Africana
pelos sistemas de ensino, caberá às instâncias educacionais constituem-se de orientações, princípios e fundamentos
da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, para o planejamento, execução e avaliação da Educação e
em regime de colaboração, o estabelecimento de referen- a) têm por meta promover a educação de cidadãos
ciais, normas complementares e políticas educacionais. atuantes e conscientes no seio da sociedade multicultural
e pluriétnica do Brasil, buscando relações étnico-sociais
Art. 21. A implementação das presentes Diretrizes Na- positivas, rumo à construção de uma nação democrática.
cionais para a Educação Especial na Educação Básica será b) devem ser observadas pelas instituições de ensino
obrigatória a partir de 2002, sendo facultativa no período que atuam na educação básica, ficando a critério das ins-
de transição compreendido entre a publicação desta Reso- tituições de Ensino Superior incluí-las, ou não, nos con-
lução e o dia 31 de dezembro de 2001. teúdos das disciplinas dos cursos que ministram.

76
POLÍTICAS PÚBLICAS DA EDUCAÇÃO

c) preveem o ensino sistemático de História e Cultu- (C) Não tem condições de garantir a continuidade da
ras Afro-Brasileira e Africana na educação básica, especi- escolarização nos níveis mais elevados do ensino.
ficamente como conteúdo do componente curricular de (D) Requer a formação de professores para o atendi-
História do Brasil. mento educacional especializado e demais profissionais
d) definem que os estabelecimentos de ensino esta- da educação para a inclusão escolar.
beleçam canais de comunicação com grupos do Movi- (E) Restringe a participação da família e da comuni-
mento Negro, para que estes forneçam as bases do pro- dade, pois não possuem formação apropriada para lidar
jeto pedagógico da escola. com as demandas do aluno.
e) alertam os órgãos colegiados dos estabelecimen-
tos de ensino para evitar o exame dos casos de discri- 09. (IBFC/2015) A Educação Inclusiva não deve ser
minação, pois caracterizados como racismo, devem ser confundida como Educação Especial, porém, a segunda
tratados como crimes, conforme prevê a Constituição Fe- esta inclusa na primeira. Em outras palavras, a Educação
deral em vigor. Inclusiva é a forma de:
(A) Promover a aprendizagem e o desenvolvimento
06. (CONSULPLAN/2014) O currículo tem um papel de todos.
tanto de conservação quanto de transformação e cons- (B) Inclusão de jovens e adultos no ensino médio.
trução dos conhecimentos historicamente acumulados. A (C) Promover a aprendizagem de crianças somente na
perspectiva teórica que trata o currículo como um campo educação infantil.
de disputa e tensões, pois o vê implicado com questões (D) Inclusão de crianças no ensino fundamental.
ideológicos e de poder, denomina-se
(A) tecnicista. 10. (AOCP/2016) De acordo com a Política Nacional
(B) crítica. de Educação Especial, na Perspectiva da Educação Inclusi-
(C) tradicional. va, NÃO podemos afirmar que
(D) pós-crítica.
(A) na perspectiva da educação inclusiva, a educação
07. (SEDUC-AM/2014) A respeito da formação de
especial passa a integrar a proposta pedagógica da esco-
professores para a Educação Especial, assinale a afirma-
la regular, promovendo o atendimento às necessidades
tiva incorreta.
educacionais especiais de alunos com deficiência, trans-
tornos globais de desenvolvimento e altas habilidades/
(A) A proposta inclusiva envolve uma escola cujos
superdotação.
professores tenham um perfil compatível com os princí-
(B) constitui um paradigma educacional fundamen-
pios educacionais humanistas.
tado na concepção de direitos humanos, que conjuga
(B) Os professores estão continuamente atualizando-
igualdade e diferença como valores indissociáveis, e que
se, para conhecer cada vez mais de perto os seus alunos,
promover a interação entre as disciplinas escolares, reu- avança em relação à ideia de equidade formal ao contex-
nir os pais, a comunidade, a escola em que exercem suas tualizar as circunstâncias históricas da produção da exclu-
funções, em torno de um projeto educacional que esta- são dentro e fora da escola.
beleceram juntos. (C) o atendimento educacional especializado tem
(C) A formação continuada dos professores é, antes como função identificar, elaborar e organizar recursos pe-
de tudo, uma auto formação, pois acontece no interior dagógicos e de acessibilidade que eliminem as barreiras
das escolas e a partir do que eles estão buscando para para a plena participação dos alunos, considerando suas
aprimorar suas práticas. necessidades específicas.
(D) As habilitações dos cursos de Pedagogia para for- (D) tem como objetivo o acesso, a participação e a
mação de professores de alunos com deficiência ainda aprendizagem dos alunos com deficiência, transtornos
existem em diversos estados brasileiros. globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdo-
(E) A inclusão diz respeito a uma escola cujos profes- tação nas escolas regulares, orientando os sistemas de
sores tenham uma formação que se esgota na graduação ensino para promover respostas às necessidades educa-
ou nos cursos de pós-graduação em que se diplomaram. cionais especiais.
(E) para atuar na educação especial, o professor deve
08. (ESAF/2016) Considerando a Política Nacional de ter como base da sua formação, inicial e continuada, co-
Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, nhecimentos gerais para o exercício da docência, bem
assinale a opção correta. como conhecimentos gerais da área.

(A) A transversalidade da educação especial é uma 11. (SEDUC-AM- FGV/2014) De acordo com o do-
exigência da educação básica. cumento “Política Nacional de Educação Especial na pers-
(B) Não requer atendimento educacional especializa- pectiva da Educação Inclusiva”, a respeito da formação
do, pois o aluno deve inserir-se no contexto regular de do professor para atuar na Educação Especial, assinale a
ensino. afirmativa correta.

77
POLÍTICAS PÚBLICAS DA EDUCAÇÃO

(A) O professor deve ter, como base da sua formação,


conhecimentos gerais para o exercício da docência, sem ANOTAÇÕES
necessidade de conhecimentos específicos da área.
(B) A formação não deve possibilitar a sua atuação no
atendimento educacional especializado. ___________________________________________________
(C) A formação deve aprofundar o caráter interativo
e interdisciplinar da atuação nas salas comuns do ensino ___________________________________________________
regular para a oferta dos serviços e recursos de educação
especial. ___________________________________________________
(D) A formação não precisa contemplar conhecimen- ___________________________________________________
tos de gestão de sistema educacional inclusivo.
(E) A formação deve favorecer conhecimentos de ges- ___________________________________________________
tão de sistema educacional inclusivo, mas sem precisar
considerar o desenvolvimento de projetos em parceria ___________________________________________________
com outras áreas.
___________________________________________________
12. (SEDUC/AM-FGV/2014) A respeito da Política
___________________________________________________
Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educa-
ção Inclusiva, assinale V para a afirmativa verdadeira e F ___________________________________________________
para a falsa.
( ) Na perspectiva da educação inclusiva, a educação ___________________________________________________
especial passa a integrar a proposta pedagógica da esco-
la regular, promovendo o atendimento às necessidades ___________________________________________________
educacionais especiais de alunos com deficiência, trans-
___________________________________________________
tornos globais de desenvolvimento e altas habilidades/
superdotação. ___________________________________________________
( ) A educação especial direciona suas ações para o
atendimento às especificidades desses alunos no proces- ___________________________________________________
so educacional e, no âmbito de uma atuação mais ampla
na escola, orienta a organização de redes de apoio, a for- ___________________________________________________
mação continuada, a identificação de recursos, serviços e ___________________________________________________
o desenvolvimento de práticas colaborativas.
( ) A atuação pedagógica deve ser direcionada a man- ___________________________________________________
ter a situação de exclusão, reforçando a importância dos
ambientes homogêneos para a promoção da aprendiza- ___________________________________________________
gem de todos os alunos.
___________________________________________________
As afirmativas são, respectivamente, ___________________________________________________
(A) V, V e V. ___________________________________________________
(B) V, V e F.
(C) V, F e V. ___________________________________________________
(D) F, F e V.
___________________________________________________
(E) F, V e F.
___________________________________________________

Respostas ___________________________________________________

01-B/ 02- D/ 03- D/ 04- A ___________________________________________________


05 – A/ 06- B/ 07. E/ 08. D/ ___________________________________________________
09. A/ 10. E/ 11. C/ 12. B
___________________________________________________

___________________________________________________

___________________________________________________

___________________________________________________

___________________________________________________

78
REDAÇÃO OFICIAL (FEDERAL)

Normas estabelecidas no Manual de Redação da Presidência da República,.................................................................................. 01


REDAÇÃO OFICIAL (FEDERAL)

Não cabem também, nos textos oficiais, coloquialis‑


NORMAS ESTABELECIDAS NO MANUAL DE mos, neologismos, regionalismos, bordões da fala e da lin‑
REDAÇÃO DA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA, guagem oral, bem como as abreviações e imagens sígnicas
comuns na comunicação eletrônica.
Diferentemente dos textos escolares, epistolares, jor‑
nalísticos ou artísticos, a Redação Oficial não visa ao efeito
Conceito estético nem à originalidade. Ao contrário, impõe unifor‑
midade, sobriedade, clareza, objetividade, no sentido de
Entende‑se por Redação Oficial o conjunto de normas se obter a maior compreensão possível com o mínimo de
e práticas que devem reger a emissão dos atos normativos recursos expressivos necessários. Portarias lavradas sob
e comunicações do poder público, entre seus diversos or‑ forma poética, sentenças e despachos escritos em versos
ganismos ou nas relações dos órgãos públicos com as enti‑ rimados pertencem ao “folclore” jurídico‑administrativo e
dades e os cidadãos. são práticas inaceitáveis nos textos oficiais. São também
A Redação Oficial inscreve‑se na confluência de dois inaceitáveis nos textos oficiais os vícios de linguagem, pro‑
universos distintos: a forma rege‑se pelas ciências da lin‑ vocados por descuido ou ignorância, que constituem des‑
guagem (morfologia, sintaxe, semântica, estilística etc.); o vios das normas da língua‑padrão. Enumeram‑se, a seguir,
conteúdo submete‑se aos princípios jurídico‑administrati‑ alguns desses vícios:
vos impostos à União, aos Estados e aos Municípios, nas
esferas dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. - Barbarismos: São desvios:
Pertencente ao campo da linguagem escrita, a Redação - da ortografia: “ advinhar” em vez de adivinhar; “exces‑
Oficial deve ter as qualidades e características exigidas do são” em vez de exceção.
texto escrito destinado à comunicação impessoal, objetiva, - da pronúncia: “rúbrica” em vez de rubrica.
clara, correta e eficaz. - da morfologia: “interviu” em vez de interveio.
Por ser “oficial”, expressão verbal dos atos do poder - da semântica: desapercebido (sem recursos) em vez
público, essa modalidade de redação ou de texto subordi‑ de despercebido (não percebido, sem ser notado).
na‑se aos princípios constitucionais e administrativos apli‑ - pela utilização de estrangeirismos: galicismo (do fran‑
cáveis a todos os atos da administração pública, conforme cês): “mise‑en‑scène” em vez de encenação; anglicismo (do
estabelece o artigo 37 da Constituição Federal: inglês): “delivery” em vez de entrega em domicílio.
“A administração pública direta e indireta de qualquer - Arcaísmos: Utilização de palavras ou expressões
dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos anacrônicas, fora de uso. Ex.: “asinha” em vez de ligeira,
Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoa‑ depressa.
lidade, moralidade, publicidade e eficiência ( ... )”.
- Neologismos: Palavras novas que, apesar de forma‑
A forma e o conteúdo da Redação Oficial devem con‑
das de acordo com o sistema morfológico da língua, ainda
vergir na produção dos textos dessa natureza, razão pela
não foram incorporadas pelo idioma. Ex.: “imexível” em vez
qual, muitas vezes, não há como separar uma do outro. In‑
de imóvel, que não se pode mexer; “talqualmente” em vez
dicam‑se, a seguir, alguns pressupostos de como devem ser
redigidos os textos oficiais. de igualmente.

Padrão culto do idioma - Solecismos: São os erros de sintaxe e podem ser:


- de concordância: “sobrou” muitas vagas em vez de
A redação oficial deve observar o padrão culto do idio‑ sobraram.
ma quanto ao léxico (seleção vocabular), à sintaxe (estrutura - de regência: os comerciantes visam apenas “o
gramatical das orações) e à morfologia (ortografia, acentua‑ lucro” em vez de ao lucro.
ção gráfica etc.). - de colocação: “não tratava‑se” de um problema sério
Por padrão culto do idioma deve‑se entender a língua em vez de não se tratava.
referendada pelos bons gramáticos e pelo uso nas situações
formais de comunicação. Devem‑se excluir da Redagão Ofi‑ - Ambiguidade: Duplo sentido não intencional. Ex.: O
cial a erudição minuciosa e os preciosismos vocabulares que desconhecido falou‑me de sua mãe. (Mãe de quem? Do
criam entraves inúteis à compreensão do significado. Não desconhecido? Do interlocutor?)
faz sentido usar “perfunctório” em lugar de “superficial” ou
“doesto” em vez de “acusação” ou “calúnia”. São descabidos - Cacófato: Som desagradável, resultante da junção
também as citações em língua estrangeira e os latinismos, de duas ou mais palavras da cadeia da frase. Ex.: Darei um
tão ao gosto da linguagem forense. Os manuais de Redação prêmio por cada eleitor que votar em mim (por cada e
Oficial, que vários órgãos têm feito publicar, são unânimes porcada).
em desaconselhar a utilização de certas formas sacramen‑
tais, protocolares e de anacronismos que ainda se leem em - Pleonasmo: Informação desnecessariamente redun‑
documentos oficiais, como: “No dia 20 de maio, do ano de dante. Exemplos: As pessoas pobres, que não têm dinheiro,
2011 do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo”, que vivem na miséria; Os moralistas, que se preocupam com a
permanecem nos registros cartorários antigos. moral, vivem vigiando as outras pessoas.

1
REDAÇÃO OFICIAL (FEDERAL)

A Redação Oficial supõe, como receptor, um operador Reafirma‑se que a intermediação entre o emissor e o
linguístico dotado de um repertório vocabular e de uma receptor nas Redações Oficiais é o código linguístico, den‑
articulação verbal minimamente compatíveis com o regis‑ tro do padrão culto do idioma; uma linguagem “neutra”,
tro médio da linguagem. Nesse sentido, deve ser um texto referendada pelas gramáticas, dicionários e pelo uso em
neutro, sem facilitações que intentem suprir as deficiências situações formais, acima das diferenças individuais, regio‑
cognitivas de leitores precariamente alfabetizados. nais, de classes sociais e de níveis de escolaridade.
Como exceção, citam‑se as campanhas e comunicados
destinados a públicos específicos, que fazem uma aproxi‑ Formalidade e Padronização
mação com o registro linguístico do público‑alvo. Mas esse
é um campo que refoge aos objetivos deste material, para As comunicações oficiais impõem um tratamento poli‑
se inserir nos domínios e técnicas da propaganda e da per‑ do e respeitoso. Na tradição ibero‑americana, afeita a títu‑
suasão. los e a tratamentos reverentes, a autoridade pública revela
Se o texto oficial não pode e não deve baixar ao ní‑ sua posição hierárquica por meio de formas e de pronomes
vel de compreensão de leitores precariamente equipados de tratamento sacramentais. “Excelentíssimo”, “Ilustríssi‑
quanto à linguagem, fica evidente o falo de que a alfabe‑ mo”, “Meritíssimo”, “Reverendíssimo” são vocativos que,
tização e a capacidade de apreensão de enunciados são em algumas instâncias do poder, tornaram‑se inevitáveis.
condições inerentes à cidadania. Ninguém é verdadeira‑ Entenda­-se que essa solenidade tem por consideração o
cargo, a função pública, e não a pessoa de seu exercente.
mente cidadão se não consegue ler e compreender o que
Vale lembrar que os pronomes de tratamento são obri‑
leu. O domínio do idioma é equipamento indispensável à
gatoriamente regidos pela terceira pessoa. São erros muito
vida em sociedade.
comuns construções como “Vossa Excelência sois bondo‑
so(a)”; o correto é “Vossa Excelência é bondoso(a)”.
Impessoalidade e Objetividade A utilização da segunda pessoa do plural (vós), com
que os textos oficiais procuravam revestir‑se de um tom
Ainda que possam ser subscritos por um ente público solene e cerimonioso no passado, é hoje incomum, anacrô‑
(funcionário, servidor etc.), os textos oficiais são expressão nica e pedante, salvo em algumas peças oratórias envol‑
do poder público e é em nome dele que o emissor se co‑ vendo tribunais ou juizes, herdeiras, no Brasil, da tradição
munica, sempre nos termos da lei e sobre atos nela funda‑ retórica de Rui Barbosa e seus seguidores.
mentados. Outro aspecto das formalidades requeridas na Reda‑
Não cabe na Redação Oficial, portanto, a presença do ção Oficial é a necessidade prática de padronização dos
“eu” enunciador, de suas impressões subjetivas, sentimen‑ expedientes. Assim, as prescrições quanto à diagramação,
tos ou opiniões. Mesmo quando o agente público mani‑ espaçamento, caracteres tipográficos etc., os modelos ine‑
festa‑se em primeira pessoa, em formas verbais comuns vitáveis de ofício, requerimento, memorando, aviso e ou‑
como: declaro, resolvo, determino, nomeio, exonero etc., é tros, além de facilitar a legibilidade, servem para agilizar o
nos termos da lei que ele o faz e é em função do cargo que andamento burocrático, os despachos e o arquivamento.
exerce que se identifica e se manifesta. É também por essa razão que quase todos os órgãos
O que interessa é aquilo que se comunica, é o con‑ públicos editam manuais com os modelos dos expedientes
teúdo, o objeto da informação. A impessoalidade contribui que integram sua rotina burocrática. A Presidência da Re‑
para a necessária padronização, reduzindo a variabilidade pública, a Câmara dos Deputados, o Senado, os Tribunais
da linguagem a certos padrões, sem o que cada texto seria Superiores, enfim, os poderes Executivo, Legislativo e Ju‑
suscetível de inúmeras interpretações. diciário têm os próprios ritos na elaboração dos textos e
Por isso, a Redação Oficial não admite adjetivação. O documentos que lhes são pertinentes.
adjetivo, ao qualificar, exprime opinião e evidencia um juí‑
zo de valor pessoal do emissor. São inaceitáveis também a Concisão e Clareza
pontuação expressiva, que amplia a significação (! ... ), ou
Houve um tempo em que escrever bem era escrever
o emprego de interjeições (Oh! Ah!), que funcionam como
“difícil”. Períodos longos, subordinações sucessivas, vocá‑
índices do envolvimento emocional do redator com aquilo
bulos raros, inversões sintáticas, adjetivação intensiva, enu‑
que está escrevendo.
merações, gradações, repetições enfáticas já foram consi‑
Se nos trabalhos artísticos, jornalísticos e escolares o
derados virtudes estilísticas. Atualmente, a velocidade que
estilo individual é estimulado e serve como diferencial das se impõe a tudo o que se faz, inclusive ao escrever e ao
qualidades autorais, a função pública impõe a despersona‑ ler, tornou esses recursos quase sempre obsoletos. Hoje, a
lização do sujeito, do agente público que emite a comuni‑ concisão, a economia vocabular, a precisão lexical, ou seja,
cação. São inadmissíveis, portanto, as marcas individualiza‑ a eficácia do discurso, são pressupostos não só da Redação
doras, as ousadias estilísticas, a linguagem metafórica ou a Oficial, mas da própria literatura. Basta observar o estilo
elíptica e alusiva. A Redação Oficial prima pela denotação, “enxuto” de Graciliano Ramos, de Carios Drummond de
pela sintaxe clara e pela economia vocabular, ainda que Andrade, de João Cabral de Melo Neto, de Dalton Trevisan,
essa regularidade imponha certa “monotonia burocrática” mestres da linguagem altamente concentrada.
ao discurso.

2
REDAÇÃO OFICIAL (FEDERAL)

Não têm mais sentido os imensos “prolegômenos” e Concordância nominal:


“exórdios” que se repetiam como ladainhas nos textos ofi‑ Os adjetivos devem concordar com o sexo da pessoa a
ciais, como o exemplo risível e caricato que segue: que se refere o pronome de tratamento.
Vossa Excelência ficou confuso. (para homem)
“Preliminarmente, antes de mais nada, indispensável Vossa Excelência ficou confusa. (para mulher)
se faz que nos valhamos do ensejo para congratularmo‑nos Vossa Senhoria está ocupado. (para homem)
com Vossa Excelência pela oportunidade da medida propos‑ Vossa Senhoria está ocupada. (para mulher)
ta à apreciação de seus nobres pares. Mas, quem sou eu, hu‑
milde servidor público, para abordar questões de tamanha Sua Excelência - de quem se fala (ele/ela).
complexidade, a respeito das quais divergem os hermeneu‑ Vossa Excelência - com quem se fala (você)
tas e exegetas.
Entrementes, numa análise ainda que perfunctória das Emprego dos Pronomes de Tratamento
causas primeiras, que fundamentaram a proposição tempes‑
tivamente encaminhada por Vossa Excelência, indispensável As normas a seguir fazem parte do Manual de Redação
se faz uma abordagem preliminar dos antecedentes imedia‑ da Presidência da República.
tos, posto que estes antecedentes necessariamente antece‑
dem os consequentes”. Vossa Excelência: É o tratamento empregado para as
seguintes autoridades:
Observe que absolutamente nada foi dito ou informa‑
do. - Do Poder Executivo - Presidente da República; Vi‑
ce-presidenIe da República; Ministros de Estado; Governa‑
As Comunicações Oficiais dores e vice‑governadores de Estado e do Distrito Fede‑
ral; Oficiais generais das Forças Armadas; Embaixadores;
A redação das comunicações oficiais obedece a pre‑ Secretários‑executivos de Ministérios e demais ocupantes
ceitos de objetividade, concisão, clareza, impessoalidade, de cargos de natureza especial; Secretários de Estado dos
formalidade, padronização e correção gramatical. Governos Estaduais; Prefeitos Municipais.
Além dessas, há outras características comuns à comu‑ - Do Poder Legislativo - Deputados Federais e Sena‑
nicação oficial, como o emprego de pronomes de trata‑ dores; Ministro do Tribunal de Contas da União; Deputados
mento, o tipo de fecho (encerramento) de uma correspon‑ Estaduais e Distritais; Conselheiros dos Tribunais de Contas
dência e a forma de identificação do signatário, conforme Estaduais; Presidentes das Câmaras Legislativas Municipais.
define o Manual de Redação da Presidência da República. - Do Poder Judiciário - Ministros dos Tribunais Supe‑
Outros órgãos e instituições do poder público também riores; Membros de Tribunais; Juizes; Auditores da Justiça
possuem manual de redação próprio, como a Câmara dos Militar.
Deputados, o Senado Federal, o Ministério das Relações Vocativos
Exteriores, diversos governos estaduais, órgãos do Judiciá‑
rio etc. O vocativo a ser empregado em comunicações dirigi‑
das aos chefes de poder é Excelentíssimo Senhor, seguido
Pronomes de Tratamento do cargo respectivo: Excelentíssimo Senhor Presidente da
República; Excelentíssimo Senhor Presidente do Congresso
A regra diz que toda comunicação oficial deve ser for‑ Nacional; Excelentíssimo Senhor Presidente do Supremo
mal e polida, isto é, ajustada não apenas às normas gra‑ Tribunal Federal.
maticais, como também às normas de educação e corte‑ As demais autoridades devem ser tratadas com o vo‑
sia. Para isso, é fundamental o emprego de pronomes de cativo Senhor ou Senhora, seguido do respectivo cargo:
tratamento, que devem ser utilizados de forma correta, de Senhor Senador / Senhora Senadora; Senhor Juiz/ Senhora
acordo com o destinatário e as regras gramaticais. Juiza; Senhor Ministro / Senhora Ministra; Senhor Governa‑
Embora os pronomes de tratamento se refiram à se‑ dor / Senhora Governadora.
gunda pessoa (Vossa Excelência, Vossa Senhoria), a concor‑
dância é feita em terceira pessoa. Endereçamento

Concordância verbal: De acordo com o Manual de Redação da Presidência,


Vossa Senhoria falou muito bem. no envelope, o endereçamento das comunicações dirigi‑
Vossa Excelência vai esclarecer o tema. das às autoridades tratadas por Vossa Excelência, deve ter
Vossa Majestade sabe que respeitamos sua opinião. a seguinte forma:

Concordância pronominal: A Sua Excelência o Senhor


Pronomes de tratamento concordam com pronomes Fulano de Tal
possessivos na terceira pessoa. Ministro de Estado da Justiça
Vossa Excelência escolheu seu candidato. (e não “vos‑ 70064‑900 ‑ Brasília. DF
so...”).

3
REDAÇÃO OFICIAL (FEDERAL)

A Sua Excelência o Senhor Fechos para Comunicações


Senador Fulano de Tal
Senado Federal De acordo com o Manual da Presidência, o fecho das
70165‑900 ‑ Brasília. DF comunicações oficiais “possui, além da finalidade óbvia de
arrematar o texto, a de saudar o destinatário”, ou seja, o
A Sua Excelência o Senhor fecho é a maneira de quem expede a comunicação despe‑
Fulano de Tal dir‑se de seu destinatário.
Juiz de Direito da l0ª Vara Cível Até 1991, quando foi publicada a primeira edição do
Rua ABC, nº 123 atual Manual de Redação da Presidência da República, havia
15 padrões de fechos para comunicações oficiais. O Manual
01010‑000 ‑ São Paulo. SP
simplificou a lista e reduziu­-os a apenas dois para todas as
modalidades de comunicação oficial. São eles:
Conforme o Manual de Redação da Presidência, “em
comunicações oficiais, está abolido o uso do tratamento Respeitosamente: para autoridades superiores, inclusi‑
digníssimo (DD) às autoridades na lista anterior. A dignida‑ ve o presidente da República.
de é pressuposto para que se ocupe qualquer cargo públi‑ Atenciosamente: para autoridades de mesma hierar‑
co, sendo desnecessária sua repetida evocação”. quia ou de hierarquia inferior.
Vossa Senhoria: É o pronome de tratamento emprega‑ “Ficam excluídas dessa fórmula as comunicações diri‑
do para as demais autoridades e para particulares. O vo‑ gidas a autoridades estrangeiras, que atenderem a rito e
cativo adequado é: Senhor Fulano de Tal / Senhora Fulana tradição próprios, devidamente disciplinados no Manual de
de Tal. Redação do Ministério das Relações Exteriores”, diz o Ma‑
nual de Redação da Presidência da República.
No envelope, deve constar do endereçamento: A utilização dos fechos “Respeitosamente” e “Atencio‑
Ao Senhor samente” é recomendada para os mesmos casos pelo Ma‑
Fulano de Tal nual de Redação da Câmara dos Deputados e por outros
Rua ABC, nº 123 manuais oficiais. Já os fechos para as cartas particulares ou
70123-000 – Curitiba.PR informais ficam a critério do remetente, com preferência
para a expressão “Cordialmente”, para encerrar a corres‑
Conforme o Manual de Redação da Presidência, em co‑ pondência de forma polida e sucinta.
municações oficiais “fica dispensado o emprego do super‑
lativo Ilustríssimo para as autoridades que recebem o tra‑ Identificação do Signatário
tamento de Vossa Senhoria e para particulares. É suficiente
o uso do pronome de tratamento Senhor. O Manual tam‑ Conforme o Manual de Redação da Presidência do Re‑
bém esclarece que “doutor não é forma de tratamento, e pública, com exceção das comunicações assinadas pelo
sim título acadêmico”. Por isso, recomenda-se empregá-lo presidente da República, em todas as comunicações oficiais
devem constar o nome e o cargo da autoridade que as ex‑
apenas em comunicações dirigidas a pessoas que tenham
pede, abaixo de sua assinatura. A forma da identificação
concluído curso de doutorado. No entanto, ressalva-se que
deve ser a seguinte:
“é costume designar por doutor os bacharéis, especialmen‑
te os bacharéis em Direito e em Medicina”. (espaço para assinatura)
Vossa Magnificência: É o pronome de tratamento dirigi‑ Nome
do a reitores de universidade. Corresponde‑lhe o vocativo: Chefe da Secretaria‑Geral da Presidência da República
Magnífico Reitor.
Vossa Santidade: É o pronome de tratamento emprega‑ (espaço para assinatura)
do em comunicações dirigidas ao Papa. O vocativo corres‑ Nome
pondente é: Santíssimo Padre. Ministro de Estado da Justiça

Vossa Eminência ou Vossa Eminência Reverendíssima: “Para evitar equívocos, recomenda-se não deixar a assi‑
São os pronomes empregados em comunicações dirigidas natura em página isolada do expediente. Transfira para essa
a cardeais. Os vocativos correspondentes são: Eminentís‑ página ao menos a última frase anterior ao fecho”, alerta o
simo Senhor Cardeal, ou Eminentíssimo e Reverendíssimo Manual.
Senhor Cardeal.
Padrões e Modelos
Nas comunicações oficiais para as demais autoridades
eclesiásticas são usados: Vossa Excelência Reverendíssima O Padrão Ofício
(para arcebispos e bispos); Vossa Reverendíssima ou Vos‑ O Manual de Redação da Presidência da República lista
sa Senhoria Reverendíssima (para monsenhores, cônegos e três tipos de expediente que, embora tenham finalidades
superiores religiosos); Vossa Reverência (para sacerdotes, diferentes, possuem formas semelhantes: Ofício, Aviso e
clérigos e demais religiosos). Memorando. A diagramação proposta para esses expe‑
dientes é denominada padrão ofício.

4
REDAÇÃO OFICIAL (FEDERAL)

O Ofício, o Aviso e o Memorando devem conter as se‑ ou


guintes partes:
“Encaminho, para exame e pronunciamento, a anexa
- Tipo e número do expediente, seguido da sigla do cópia do telegrama nº 112, de 11 de fevereiro de 2011, do
órgão que o expede. Exemplos: Presidente da Confederação Nacional de Agricultura, a res‑
peito de projeto de modernização de técnicas agrícolas na
Of. 123/2002-MME região Nordeste.”
Aviso 123/2002-SG
Mem. 123/2002-MF Desenvolvimento: se o autor da comunicação dese‑
jar fazer algum comentário a respeito do documento que
- Local e data. Devem vir por extenso com alinhamen‑ encaminha, poderá acrescentar parágrafos de desenvolvi‑
to à direita. Exemplo: mento; em caso contrário, não há parágrafos de desenvol‑
vimento em aviso ou ofício de mero encaminhamento.
Brasília, 20 de maio de 2011
- Fecho.
- Assunto. Resumo do teor do documento. Exemplos: - Assinatura.
- Identificação do Signatário
Assunto: Produtividade do órgão em 2010.
Assunto: Necessidade de aquisição de novos computa‑ Forma de Diagramação
dores.
Os documentos do padrão ofício devem obedecer à se‑
- Destinatário. O nome e o cargo da pessoa a quem é guinte forma de apresentação:
dirigida a comunicação. No caso do ofício, deve ser incluí‑
do também o endereço. - deve ser utilizada fonte do tipo Times New Roman de
corpo 12 no texto em geral, 11 nas citações, e 10 nas notas
de rodapé;
- Texto. Nos casos em que não for de mero encami‑
- para símbolos não existentes na fonte Times New Ro‑
nhamento de documentos, o expediente deve conter a se‑
man, poder‑se‑ão utilizar as fontes symbol e Wíngdings;
guinte estrutura:
- é obrigatório constar a partir da segunda página o
Introdução: que se confunde com o parágrafo de
número da página;
abertura, na qual é apresentado o assunto que motiva a
- os ofícios, memorandos e anexos destes poderão ser
comunicação. Evite o uso das formas: “Tenho a honra de”,
impressos em ambas as faces do papel. Neste caso, as mar‑
“Tenho o prazer de”, “Cumpre‑me informar que”,empregue gens esquerda e direita terão as distâncias invertidas nas
a forma direta; páginas pares (“margem espelho”);
Desenvolvimento: no qual o assunto é detalhado; se - o início de cada parágrafo do texto deve ter 2,5 cm de
o texto contiver mais de uma ideia sobre o assunto, elas distância da margem esquerda;
devem ser tratadas em parágrafos distintos, o que confere - o campo destinado à margem lateral esquerda terá,
maior clareza à exposição; no mínimo 3,0 cm de largura;
Conclusão: em que é reafirmada ou simplesmente rea‑ - o campo destinado à margem lateral direita terá 1,5
presentada a posição recomendada sobre o assunto. cm;
- deve ser utilizado espaçamento simples entre as li‑
Os parágrafos do texto devem ser numerados, exceto nhas e de 6 pontos após cada parágrafo, ou, se o editor
nos casos em que estes estejam organizados em itens ou de texto utilizado não comportar tal recurso, de uma linha
títulos e subtítulos. em branco;
- não deve haver abuso no uso de negrito, itálico, subli‑
Quando se tratar de mero encaminhamento de docu‑ nhado, letras maiúsculas, sombreado, sombra, relevo, bor‑
mentos, a estrutura deve ser a seguinte: das ou qualquer outra forma de formatação que afete a
Introdução: deve iniciar com referência ao expedien‑ elegância e a sobriedade do documento;
te que solicitou o encaminhamento. Se a remessa do do‑ - a impressão dos textos deve ser feita na cor preta em
cumento não tiver sido solicitada, deve iniciar com a in‑ papel branco. A impressão colorida deve ser usada apenas
formação do motivo da comunicação, que é encaminhar, para gráficos e ilustrações;
indicando a seguir os dados completos do documento en‑ - todos os tipos de documento do padrão ofício devem
caminhado (tipo, data, origem ou signatário, e assunto de ser impressos em papel de tamanho A‑4, ou seja, 29,7 x
que trata), e a razão pela qual está sendo encaminhado, 21,0 cm;
segundo a seguinte fórmula: - deve ser utilizado, preferencialmente, o formato de
arquivo Rich Text nos documentos de texto;
“Em resposta ao Aviso nº 112, de 10 de fevereiro de - dentro do possível, todos os documentos elabora‑
2011, encaminho, anexa, cópia do Ofício nº 34, de 3 de abril dos devem ter o arquivo de texto preservado para consulta
de 2010, do Departamento Geral de Administração, que tra‑ posterior ou aproveitamento de trechos para casos análo‑
ta da requisição do servidor Fulano de Tal.” gos;

5
REDAÇÃO OFICIAL (FEDERAL)

- para facilitar a localização, os nomes dos arquivos de‑ Ao Sr. Chefe do Departamento de Administração
vem ser formados da seguinte maneira: tipo do documento Ao Sr. Subchefe para Assuntos Jurídicos.
+ número do documento + palavras‑chave do conteúdo.
Exemplo: Obs: Modelo no final da matéria.

“Of. 123 ‑ relatório produtivi‑ Exposição de Motivos


dade ano 2010”
É o expediente dirigido ao presidente da República ou
Aviso e Ofício (Comunicação Externa) ao vice-presidente para:
- informá-lo de determinado assunto;
São modalidades de comunicação oficial praticamen‑ - propor alguma medida; ou
te idênticas. A única diferença entre eles é que o aviso é - submeter a sua consideração projeto de ato norma‑
expedido exclusivamente por Ministros de Estado, para tivo.
autoridades de mesma hierarquia, ao passo que o ofício
é expedido para e pelas demais autoridades. Ambos têm Em regra, a exposição de motivos é dirigida ao Presi‑
como finalidade o tratamento de assuntos oficiais pelos ór‑ dente da República por um Ministro de Estado. Nos casos
gãos da Administração Pública entre si e, no caso do ofício, em que o assunto tratado envolva mais de um Ministério,
também com particulares. a exposição de motivos deverá ser assinada por todos os
Quanto a sua forma, Aviso e Ofício seguem o modelo Ministros envolvidos, sendo, por essa razão, chamada de
do padrão ofício, com acréscimo do vocativo, que invoca o interministerial.
destinatário, seguido de vírgula. Exemplos: Formalmente a exposição de motivos tem a apresenta‑
ção do padrão ofício. De acordo com sua finalidade, apre‑
Excelentíssimo Senhor Presidente da República, senta duas formas básicas de estrutura: uma para aquela
Senhora Ministra, que tenha caráter exclusivamente informativo e outra para
Senhor Chefe de Gabinete, a que proponha alguma medida ou submeta projeto de
ato normativo.
No primeiro caso, o da exposição de motivos que sim‑
Devem constar do cabeçalho ou do rodapé do ofício as
plesmente leva algum assunto ao conhecimento do Presi‑
seguintes informações do remetente:
dente da República, sua estrutura segue o modelo antes
- nome do órgão ou setor;
referido para o padrão ofício.
- endereço postal;
Já a exposição de motivos que submeta à consideração
- telefone e endereço de correio eletrônico.
do Presidente da República a sugestão de alguma medida
a ser adotada ou a que lhe apresente projeto de ato nor‑
Obs: Modelo no final da matéria. mativo, embora sigam também a estrutura do padrão ofí‑
cio, além de outros comentários julgados pertinentes por
Memorando ou Comunicação Interna seu autor, devem, obrigatoriamente, apontar:
- na introdução: o problema que está a reclamar a
O Memorando é a modalidade de comunicação entre adoção da medida ou do ato normativo proposto;
unidades administrativas de um mesmo órgão, que podem - no desenvolvimento: o porquê de ser aquela me‑
estar hierarquicamente em mesmo nível ou em nível dife‑ dida ou aquele ato normativo o ideal para se solucionar
rente. Trata‑se, portanto, de uma forma de comunicação o problema, e eventuais alternativas existentes para equa‑
eminentemente interna. cioná‑lo;
Pode ter caráter meramente administrativo, ou ser em‑ - na conclusão, novamente, qual medida deve ser to‑
pregado para a exposição de projetos, ideias, diretrizes etc. mada, ou qual ato normativo deve ser editado para solu‑
a serem adotados por determinado setor do serviço pú‑ cionar o problema.
blico.
Sua característica principal é a agilidade. A tramitação Deve, ainda, trazer apenso o formulário de anexo à ex‑
do memorando em qualquer órgão deve pautar-­se pela ra‑ posição de motivos, devidamente preenchido, de acordo
pidez e pela simplicidade de procedimentos burocráticos. com o seguinte modelo previsto no Anexo II do Decreto nº
Para evitar desnecessário aumento do número de comu‑ 4.1760, de 28 de março de 2010.
nicações, os despachos ao memorando devem ser dados Anexo à exposição de motivos do (indicar nome do
no próprio documento e, no caso de falta de espaço, em Ministério ou órgão equivalente) nº ______, de ____ de
folha de continuação. Esse procedimento permite formar ______________ de 201_.
uma espécie de processo simplificado, assegurando maior
transparência a tomada de decisões, e permitindo que se - Síntese do problema ou da situação que reclama pro‑
historie o andamento da matéria tratada no memorando. vidências;
Quanto a sua forma, o memorando segue o modelo - Soluções e providências contidas no ato normativo
do padrão ofício, com a diferença de que seu destinatário ou na medida proposta;
deve ser mencionado pelo cargo que ocupa. Exemplos: - Alternativas existentes às medidas propostas. Men‑
cionar:

6
REDAÇÃO OFICIAL (FEDERAL)

- se há outro projeto do Executivo sobre a matéria; condução, remoção, exoneração, demissão, dispensa, dis‑
- se há projetos sobre a matéria no Legislativo; ponibilidade, aposentadoria), não é necessário o encami‑
- outras possibilidades de resolução do problema. nhamento do formulário de anexo à exposição de motivos.
- Custos. Mencionar: Ressalte-se que:
- se a despesa decorrente da medida está prevista na - a síntese do parecer do órgão de assessoramento ju‑
lei orçamentária anual; se não, quais as alternativas para rídico não dispensa o encaminhamento do parecer com‑
custeá‑la; pleto;
- se a despesa decorrente da medida está prevista na - o tamanho dos campos do anexo à exposição de mo‑
lei orçamentária anual; se não, quais as alternativas para tivos pode ser alterado de acordo com a maior ou menor
custeá‑la; extensão dos comentários a serem alí incluídos.
- valor a ser despendido em moeda corrente;
- Razões que justificam a urgência (a ser preenchido Ao elaborar uma exposição de motivos, tenha presente
somente se o ato proposto for medida provisória ou proje‑ que a atenção aos requisitos básicos da Redação Oficial
to de lei que deva tramitar em regime de urgência). Men‑ (clareza, concisão, impessoalidade, formalidade, padroni‑
cionar: zação e uso do padrão culto de linguagem) deve ser redo‑
- se o problema configura calamidade pública; brada. A exposição de motivos é a principal modalidade
- por que é indispensável a vigência imediata; de comunicação dirigida ao Presidente da República pelos
- se se trata de problema cuja causa ou agravamento Ministros. Além disso, pode, em certos casos, ser encami‑
não tenham sido previstos; nhada cópia ao Congresso Nacional ou ao Poder Judiciário
- se se trata de desenvolvimento extraordinário de si‑ ou, ainda, ser publicada no Diário Oficial da União, no todo
tuação já prevista. ou em parte.
- Impacto sobre o meio ambiente (somente que o ato
ou medida proposta possa vir a tê-lo) Mensagem
- Alterações propostas. Texto atual, Texto proposto;
- Síntese do parecer do órgão jurídico. É o instrumento de comunicação oficial entre os Che‑
fes dos Poderes Públicos, notadamente as mensagens en‑
Com base em avaliação do ato normativo ou da medi‑ viadas pelo Chefe do Poder Executivo ao Poder Legislativo
da proposa à luz das questões levantadas no ítem 10.4.3. para informar sobre fato da Administração Pública; expor o
A falta ou insuficiência das informações prestadas pode plano de governo por ocasião da abertura de sessão legis‑
acarretar, a critério da Subchefia para Assuntos Jurídicos da lativa; submeter ao Congresso Nacional matérias que de‑
Casa Civil, a devolução do projeto de ato normativo para pendem de deliberação de suas Casas; apresentar veto; en‑
que se complete o exame ou se reformule a proposta. fim, fazer e agradecer comunicações de tudo quanto seja
O preenchimento obrigatório do anexo para as expo‑ de interesse dos poderes públicos e da Nação.
sições de motivos que proponham a adoção de alguma Minuta de mensagem pode ser encaminhada pelos
medida ou a edição de ato normativo tem como finalidade: Ministérios à Presidência da República, a cujas assessorias
- permitir a adequada reflexão sobre o problema que caberá a redação final.
se busca resolver; As mensagens mais usuais do Poder Executivo ao Con‑
- ensejar mais profunda avaliação das diversas causas gresso Nacional têm as seguintes finalidades:
do problema e dos defeitos que pode ter a adoção da me‑
dida ou a edição do ato, em consonância com as questões - Encaminhamento de projeto de lei ordinária, com-
que devem ser analisadas na elaboração de proposições plementar ou financeira: Os projetos de lei ordinária ou
normativas no âmbito do Poder Executivo (v. 10.4.3.) complementar são enviados em regime normal (Constitui‑
- conferir perfeita transparência aos atos propostos. ção, art. 61) ou de urgência (Constituição, art. 64, §§ 1º a
4º). Cabe lembrar que o projeto pode ser encaminhado sob
Dessa forma, ao atender às questões que devem ser o regime normal e mais tarde ser objeto de nova mensa‑
analisadas na elaboração de atos normativos no âmbito do gem, com solicitação de urgência.
Poder Executivo, o texto da exposição de motivos e seu Em ambos os casos, a mensagem se dirige aos Mem‑
anexo complementam-se e formam um todo coeso: no bros do Congresso Nacional, mas é encaminhada com avi‑
anexo, encontramos uma avaliação profunda e direta de so do Chefe da Casa Civil da Presidência da República ao
toda a situação que está a reclamar a adoção de certa pro‑ Primeiro Secretário da Câmara dos Deputados, para que
vidência ou a edição de um ato normativo; o problema a tenha início sua tramitação (Constituição, art. 64, caput).
ser enfrentado e suas causas; a solução que se propõe, seus Quanto aos projetos de lei financeira (que compreen‑
efeitos e seus custos; e as alternativas existentes. O texto da dem plano plurianual, diretrizes orçamentárias, orçamen‑
exposição de motivos fica, assim, reservado à demonstra‑ tos anuais e créditos adicionais), as mensagens de encami‑
ção da necessidade da providência proposta: por que deve nhamento dirigem‑se aos membros do Congresso Nacio‑
ser adotada e como resolverá o problema. nal, e os respectivos avisos são endereçados ao Primeiro
Nos casos em que o ato proposto for questão de Secretário do Senado Federal. A razão é que o art. 166 da
pessoal (nomeação, promoção, ascenção, transferência, Constituição impõe a deliberação congressual sobre as leis
readaptação, reversão, aproveitamento, reintegração, re‑ financeiras em sessão conjunta, mais precisamente, “na for‑

7
REDAÇÃO OFICIAL (FEDERAL)

ma do regimento comum”. E à frente da Mesa do Congres‑ cício anterior (Constituição, art. 84, XXIV), para exame e
so Nacional está o Presidente do Senado Federal (Consti‑ parecer da Comissão Mista permanente (Constituição, art.
tuição, art. 57, § 5º), que comanda as sessões conjuntas. 166, § 1º), sob pena de a Câmara dos Deputados realizar
As mensagens aqui tratadas coroam o processo desen‑ a tomada de contas (Constituição, art. 51, II), em procedi‑
volvido no âmbito do Poder Executivo, que abrange minu‑ mento disciplinado no art. 215 do seu Regimento Interno.
cioso exame técnico, jurídico e econômico‑financeiro das - Mensagem de abertura da sessão legislativa: Ela
matérias objeto das proposições por elas encaminhadas. deve conter o plano de governo, exposição sobre a situa‑
Tais exames materializam‑se em pareceres dos diver‑ ção do País e solicitação de providências que julgar neces‑
sos órgãos interessados no assunto das proposições, entre sárias (Constituição, art. 84, XI).
eles o da Advocacia Geral da União. Mas, na origem das O portador da mensagem é o Chefe da Casa Civil da
propostas, as análises necessárias constam da exposição de Presidência da República. Esta mensagem difere das de‑
motivos do órgão onde se geraram, exposição que acom‑ mais porque vai encadernada e é distribuída a todos os
panhará, por cópia, a mensagem de encaminhamento ao congressistas em forma de livro.
Congresso.
- Comunicação de sanção (com restituição de au-
- Encaminhamento de medida provisória: Para dar tógrafos): Esta mensagem é dirigida aos membros do
cumprimento ao disposto no art. 62 da Constituição, o Pre‑ Congresso Nacional, encaminhada por Aviso ao Primeiro
sidente da República encaminha mensagem ao Congresso, ­Secretário da Casa onde se originaram os autógrafos. Nela
dirigida a seus membros, com aviso para o Primeiro Secre‑ se informa o número que tomou a lei e se restituem dois
tário do Senado Federal, juntando cópia da medida provi‑ exemplares dos três autógrafos recebidos, nos quais o Pre‑
sória, autenticada pela Coordenação de Documentação da sidente da República terá aposto o despacho de sanção.
Presidência da República.
- Comunicação de veto: Dirigida ao Presidente do
- Indicação de autoridades: As mensagens que sub‑ Senado Federal (Constituição, art. 66, § 1º), a mensagem
metem ao Senado Federal a indicação de pessoas para informa sobre a decisão de vetar, se o veto é parcial, quais
ocuparem determinados cargos (magistrados dos Tribu‑ as disposições vetadas, e as razões do veto. Seu texto vai
nais Superiores, Ministros do TCU, Presidentes e diretores
publicado na íntegra no Diário Oficial da União, ao contrá‑
do Banco Central, Procurador‑Geral da República, Chefes
rio das demais mensagens, cuja publicação se restringe à
de Missão Diplomática etc.) têm em vista que a Constitui‑
notícia do seu envio ao Poder Legislativo.
ção, no seu art. 52, incisos III e IV, atribui àquela Casa do
Congresso Nacional competência privativa para aprovar a
- Outras mensagens: Também são remetidas ao Legis‑
indicação. O currículum vitae do indicado, devidamente as‑
lativo com regular frequência mensagens com:
sinado, acompanha a mensagem.
- encaminhamento de atos internacionais que acarre‑
- Pedido de autorização para o presidente ou o vi- tam encargos ou compromissos gravosos (Constituição,
ce‑presidente da República se ausentarem do País por art. 49, I);
mais de 15 dias: Trata‑se de exigência constitucional - pedido de estabelecimento de alíquolas aplicáveis
(Constituição, art. 49, III, e 83), e a autorização é da compe‑ às operações e prestações interestaduais e de exportação
tência privativa do Congresso Nacional. (Constituição, art. 155, § 2º, IV);
O presidente da República, tradicionalmente, por cor‑ - proposta de fixação de limites globais para o mon‑
tesia, quando a ausência é por prazo inferior a 15 dias, tante da dívida consolidada (Constituição, art. 52, VI);
faz uma comunicação a cada Casa do Congresso, envian‑ - pedido de autorização para operações financeiras ex‑
do‑lhes mensagens idênticas. ternas (Constituição, art. 52, V); e outros.

- Encaminhamento de atos de concessão e renova- Entre as mensagens menos comuns estão as de:
ção de concessão de emissoras de rádio e TV: A obri‑ - convocação extraordinária do Congresso Nacional
gação de submeter tais atos à apreciagão do Congresso (Constituição, art. 57, § 6º);
Nacional consta no inciso XII do artigo 49 da Constituição. - pedido de autorização para exonerar o Procura‑
Somente produzirão efeitos legais a outorga ou renova‑ dor‑Geral da República (art. 52, XI, e 128, § 2º);
ção da concessão após deliberação do Congresso Nacional - pedido de autorização para declarar guerra e decretar
(Constituição, art. 223, § 3º). Descabe pedir na mensagem a mobilização nacional (Constituição, art. 84, XIX);
urgência prevista no art. 64 da Constituição, porquanto o § - pedido de autorização ou referendo para celebrara
1º do art. 223 já define o prazo da tramitação. paz (Constituição, art. 84, XX);
Além do ato de outorga ou renovação, acompanha a - justificativa para decretação do estado de defesa ou
mensagem o correspondente processo administrativo. de sua prorrogação (Constituição, art. 136, § 4º);
- pedido de autorização para decretar o estado de sítio
- Encaminhamento das contas referentes ao exer- (Constituição, art. 137);
cício anterior: O Presidente da República tem o prazo de - relato das medidas praticadas na vigência do esta‑
sessenta dias após a abertura da sessão legislativa para en‑ do de sítio ou de defesa (Constituição, art. 141, parágrafo
viar ao Congresso Nacional as contas referentes ao exer‑ único);

8
REDAÇÃO OFICIAL (FEDERAL)

- proposta de modificação de projetas de leis financei‑ Os documentos enviados por fax mantêm a forma e
ras (Constituição, art. 166, § 5º); a estrutura que lhes são inerentes. É conveniente o envio,
- pedido de autorização para utilizar recursos que fi‑ juntamente com o documento principal, de folha de rosto,
carem sem despesas correspondentes, em decorrência de isto é, de pequeno formulário com os dados de identifica‑
veto, emenda ou rejeição do projeto de lei orçamentária ção da mensagem a ser enviada.
anual (Constituição, art. 166, § 8º);
- pedido de autorização para alienar ou conceder ter‑ Correio Eletrônico
ras públicas com área superior a 2.500 ha (Constituição, art.
188, § 1º); etc. O correio eletrônico (“e‑mail”), por seu baixo custo e
As mensagens contêm:
celeridade, transformou‑se na principal forma de comuni‑
- a indicação do tipo de expediente e de seu número,
cação para transmissão de documentos.
horizontalmente, no início da margem esquerda:
Um dos atrativos de comunicação por correio eletrô‑
Mensagem nº nico é sua flexibilidade. Assim, não interessa definir forma
rígida para sua estrutura. Entretanto, deve‑se evitar o uso
- vocativo, de acordo com o pronome de tratamento e de linguagem incompatível com uma comunicação oficial.
o cargo do destinatário, horizontalmente, no início da mar‑ O campo assunto do formulário de correio eletrôni‑
gem esquerda: co mensagem deve ser preenchido de modo a facilitar a
organização documental tanto do destinatário quanto do
Excelentíssimo Senhor Presidente do Senado Federal, remetente.
Para os arquivos anexados à mensagem deve ser utili‑
- o texto, iniciando a 2 cm do vocativo; zado, preferencialmente, o formato Rich Text. A mensagem
- o local e a data, verticalmente a 2 cm do final do que encaminha algum arquivo deve trazer informações mí‑
texto, e horizontalmente fazendo coincidir seu final com a nimas sobre seu conteúdo.
margem direita. A mensagem, como os demais atos assi‑
Sempre que disponível, deve‑se utilizar recurso de con‑
nados pelo Presidente da República, não traz identificação
de seu signatário. firmação de leitura. Caso não seja disponível, deve constar
da mensagem pedido de confirmação de recebimento.
Obs: Modelo no final da matéria. Nos termos da legislação em vigor, para que a mensa‑
gem de correio eletrônico tenha valor documental, isto é,
Telegrama para que possa ser aceita como documento original, é ne‑
cessário existir certificação digital que ateste a identidade
Com o fito de uniformizar a terminologia e simplificar do remetente, na forma estabelecida em lei.
os procedimentos burocráticos, passa a receber o título de
telegrama toda comunicação oficial expedida por meio de Apostila
telegrafia, telex etc. Por se tratar de forma de comunicação
dispendiosa aos cofres públicos e tecnologicamente supe‑ É o aditamento que se faz a um documento com o
rada, deve restringir‑se o uso do telegrama apenas àquelas objetivo de retificação, atualização, esclarecimento ou fi‑
situações que não seja possível o uso de correio eletrônico
xar vantagens, evitando‑se assim a expedição de um novo
ou fax e que a urgência justifique sua utilização e, também
em razão de seu custo elevado, esta forma de comunicação título ou documento. Estrutura:
deve pautar‑se pela concisão. - Título: APOSTILA, centralizado.
Não há padrão rígido, devendo‑se seguir a forma e - Texto: exposição sucinta da retificação, esclarecimen‑
a estrutura dos formulários disponíveis nas agências dos to, atualização ou fixação da vantagem, com a menção, se
Correios e em seu sítio na Internet. for o caso, onde o documento foi publicado.
- Local e data.
Obs: Modelo no final da matéria. - Assinatura: nome e função ou cargo da autoridade
que constatou a necessidade de efetuar a apostila.
Fax
Não deve receber numeração, sendo que, em caso de
O fax (forma abreviada já consagrada de fac‑símile) é documento arquivado, a apostila deve ser feita abaixo dos
uma forma de comunicação que está sendo menos usada textos ou no verso do documento.
devido ao desenvolvimento da Internet. É utilizado para a
Em caso de publicação do ato administrativo originá‑
transmissão de mensagens urgentes e para o envio ante‑
rio, a apostila deve ser publicada com a menção expressa
cipado de documentos, de cujo conhecimento há premên‑
cia, quando não há condições de envio do documento por do ato, número, dia, página e no mesmo meio de comuni‑
meio eletrônico. Quando necessário o original, ele segue caçao oficial no qual o ato administrativo foi originalmente
posteriormente pela via e na forma de praxe. publicado, a fim de que se preserve a data de validade.
Se necessário o arquivamento, deve‑se fazê‑lo com có‑
pia xerox do fax e não com o próprio fax, cujo papel, em Obs: Modelo no final da matéria.
certos modelos, se deteriora rapidamente.

9
REDAÇÃO OFICIAL (FEDERAL)

ATA Declaração

É o instrumento utilizado para o registro expositivo dos É o documento em que se informa, sob responsabilida‑
fatos e deliberações ocorridos em uma reunião, sessão ou de, algo sobre pessoa ou acontecimento. Estrutura:
assembleia. Estrutura: - Título: DECLARAÇÃO, centralizado.
- Título ‑ ATA. Em se tratando de atas elaboradas se‑ - Texto: exposição do fato ou situação declarada, com
quencialmente, indicar o respectivo número da reunião ou finalidade, nome do interessado em destaque (em maiús‑
sessão, em caixa‑alta. culas) e sua relação com a Câmara nos casos mais formais.
- Texto, incluindo: Preâmbulo ‑ registro da situação - Local e data.
espacial e temporal e participantes; Registro dos assuntos - Assinatura: nome da pessoa que declara e, no caso de
abordados e de suas decisões, com indicação das persona‑ autoridade, função ou cargo.
lidades envolvidas, se for o caso; Fecho ‑ termo de encerra‑
mento com indicação, se necessário, do redator, do horário A declaração documenta uma informação prestada por
de encerramento, de convocação de nova reunião etc.
autoridade ou particular. No caso de autoridade, a com‑
A ATA será assinada e/ou rubricada portodos os pre‑
provação do fato ou o conhecimento da situação declarada
sentes à reunião ou apenas pelo presidente e relator, de‑
deve serem razão do cargo que ocupa ou da função que
pendendo das exigências regimentais do órgão.
A fim de se evitarem rasuras nas atas manuscritas, de‑ exerce.
ve‑se, em caso de erro, utilizar o termo “digo”, seguido da Declarações que possuam características específicas
informação correta a ser registrada. No caso de omissão podem receber uma qualificação, a exemplo da “declara‑
de informações ou de erros constatados após a redação, ção funcional”.
usa‑se a expressão “Em tempo” ao final da ATA, com o re‑
gistro das informações corretas. Obs: Modelo no final da matéria.
Despacho
Obs: Modelo no final da matéria.
É o pronunciamento de autoridade administrativa em
Carta petição que lhe é dirigida, ou ato relativo ao andamento
do processo. Pode ter caráter decisório ou apenas de expe‑
É a forma de correspondência emitida por particular, diente. Estrutura:
ou autoridade com objetivo particular, não se confundindo - Nome do órgão principal e secundário.
com o memorando (correspondência interna) ou o ofício - Número do processo.
(correspondência externa), nos quais a autoridade que as‑ - Data.
sina expressa uma opinião ou dá uma informação não sua, - Texto.
mas, sim, do órgão pelo qual responde. Em grande parte - Assinatura e função ou cargo da autoridade.
dos casos da correspondência enviada por deputados, de‑
ve‑se usar a carta, não o memorando ou ofício, por estar O despacho pode constituir‑se de uma palavra, de uma
o parlamentar emitindo parecer, opinião ou informação de expressão ou de um texto mais longo.
sua responsabilidade, e não especificamente da Câmara
dos Deputados. O parlamentar deverá assinar memorando Obs: Modelo no final da matéria.
ou ofício apenas como titular de função oficial específica
(presidente de comissão ou membro da Mesa, por exem‑ Ordem de Serviço
plo). Estrutura:
- Local e data.
É o instrumento que encerra orientações detalhadas e/
- Endereçamento, com forma de tratamento, destina‑
ou pontuais para a execução de serviços por órgãos subor‑
tário, cargo e endereço.
- Vocativo. dinados da Administração. Estrutura:
- Texto. - Título: ORDEM DE SERVIÇO, numeração e data.
- Fecho. - Preâmbulo e fundamentação: denominação da au‑
- Assinatura: nome e, quando necessário, função ou toridade que expede o ato (em maiúsculas) e citação da
cargo. legislação pertinente ou por força das prerrogativas do car‑
go, seguida da palavra “resolve”.
Se o gabinete usar cartas com frequência, poderá nu‑ - Texto: desenvolvimento do assunto, que pode ser di‑
merá‑las. Nesse caso, a numeração poderá apoiar­-se no vidido em itens, incisos, alíneas etc.
padrão básico de diagramação. - Assinatura: nome da autoridade competente e indi‑
O fecho da carta segue, em geral, o padrão da cor‑ cação da função.
respondência oficial, mas outros fechos podem ser usados,
a exemplo de “Cordialmente”, quando se deseja indicar A Ordem de Serviço se assemelha à Portaria, porém
relação de proximidade ou igualdade de posição entre os possui caráter mais específico e detalhista. Objetiva, essen‑
correspondentes. cialmente, a otimização e a racionalização de serviços.

Obs: Modelo no final da matéria. Obs: Modelo no final da matéria.

10
REDAÇÃO OFICIAL (FEDERAL)

Parecer - Texto ‑ registro em tópicos das principais atividades


desenvolvidas, podendo ser indicados os resultados par‑
É a opinião fundamentada, emitida em nome pessoal ciais e totais, com destaque, se for o caso, para os aspectos
ou de órgão administrativo, sobre tema que lhe haja sido positivos e negativos do período abrangido. O cronogra‑
submetido para análise e competente pronunciamento. ma de trabalho a ser desenvolvido, os quadros, os dados
Visa fornecer subsídios para tomada de decisão. Estrutura: estatísticos e as tabelas poderão ser apresentados como
- Número de ordem (quando necessário). anexos.
- Número do processo de origem. - Local e data.
- Ementa (resumo do assunto). - Assinatura e função ou cargo do(s) funcionário(s) re‑
- Texto, compreendendo: Histórico ou relatório (intro‑ lator(es).
dução); Parecer (desenvolvimento com razões e justificati‑
vas); Fecho opinativo (conclusão). No caso de Relatório de Viagem, aconselha‑se regis‑
- Local e data. trar uma descrição sucinta da participação do servidor no
- Assinatura, nome e função ou cargo do parecerista. evento (seminário, curso, missão oficial e outras), indicando
o período e o trecho compreendido. Sempre que possível,
Além do Parecer Administrativo, acima conceituado, o Relatório de Viagem deverá ser elaborado com vistas ao
existe o Parecer Legislativo, que é uma proposição, e, como aproveitamento efetivo das informações tratadas no even‑
tal, definido no art. 126 do Regimento Interno da Câmara to para os trabalhos legislativos e administrativos da Casa.
dos Deputados. Quanto à elaboração de Relatório de Atividades, de‑
O desenvolvimento do parecer pode ser dividido em ve‑se atentar para os seguintes procedimentos:
tantos itens (e estes intitulados) quantos bastem ao pare‑ - abster‑se de transcrever a competência formal das
cerista para o fim de melhor organizar o assunto, imprimin‑ unidades administrativas já descritas nas normas internas;
do‑lhe clareza e didatismo. - relatar apenas as principais atividades do órgão;
- evitar o detalhamento excessivo das tarefas execu‑
Obs: Modelo no final da matéria. tadas pelas unidades administrativas que lhe são subordi‑
Portaria nadas;
- priorizar a apresentação de dados agregados, gran‑
É o ato administrativo pelo qual a autoridade estabe‑ des metas realizadas e problemas abrangentes que foram
lece regras, baixa instruções para aplicação de leis ou trata solucionados;
da organização e do funcionamento de serviços dentro de - destacar propostas que não puderam ser concreti‑
sua esfera de competência. Estrutura: zadas, identificando as causas e indicando as prioridades
- Título: PORTARIA, numeração e data. para os próximos anos;
- Ementa: síntese do assunto. - gerar um relatório final consolidado, limitado, se pos‑
- Preâmbulo e fundamentação: denominação da auto‑ sível, ao máximo de dez páginas para o conjunto da Dire‑
ridade que expede o ato e citação da legislação pertinente, toria, Departamento ou unidade equivalente.
seguida da palavra “resolve”.
- Texto: desenvolvimento do assunto, que pode ser di‑ Obs: Modelo no final da matéria.
vidido em artigos, parágrafos, incisos, alíneas e itens. Requerimento (Petição)
- Assinatura: nome da autoridade competente e indi‑
cação do cargo. É o instrumento por meio do qual o interessado requer
a uma autoridade administrativa um direito do qual se jul‑
Certas portarias contêm considerandos, com as razões ga detentor. Estrutura:
que justificam o ato. Neste caso, a palavra “resolve” vem - Vocativo, cargo ou função (e nome do destinatário),
depois deles. ou seja, da autoridade competente.
A ementa justifica‑se em portarias de natureza norma‑ - Texto incluindo: Preâmbulo, contendo nome do re‑
tiva. querente (grafado em letras maiúsculas) e respectiva qua‑
Em portarias de matéria rotineira, como nos casos de lificação: nacionalidade, estado civil, profissão, documen‑
nomeação e exoneração, por exemplo, suprime­-se a emen‑ to de identidade, idade (se maior de 60 anos, para fins
ta. de preferência na tramitação do processo, segundo a Lei
10.741/03), e domicílio (caso o requerente seja servidor
Obs: Modelo no final da matéria. da Câmara dos Deputados, precedendo à qualificação civil
deve ser colocado o número do registro funcional e a lo‑
Relatório tação); Exposição do pedido, de preferência indicando os
fundamentos legais do requerimento e os elementos pro‑
É o relato exposilivo, detalhado ou não, do funciona‑ batórios de natureza fática.
mento de uma instituição, do exercício de atividades ou - Fecho: “Nestes termos, Pede deferimento”.
acerca do desenvolvimento de serviços específicos num - Local e data.
determinado período. Estrutura: - Assinatura e, se for o caso de servidor, função ou car‑
- Título ‑ RELATÓRIO ou RELATÓRIO DE... go.

11
REDAÇÃO OFICIAL (FEDERAL)

Quando mais de uma pessoa fizer uma solicitação, reivindicação ou manifestação, o documento utilizado será um abai‑
xo‑assinado, com estrutura semelhante à do requerimento, devendo haver identificação das assinaturas.
A Constituição Federal assegura a todos, independentemente do pagamento de taxas, o direito de petição aos Poderes
Públicos em defesa de direitos ou contra ilegalidade ou abuso de poder (art. 51, XXXIV, “a”), sendo que o exercício desse
direito se instrumentaliza por meio de requerimento. No que concerne especificamente aos servidores públicos, a lei que
institui o Regime único estabelece que o requerimento deve ser dirigido à autoridade competente para decidi‑lo e encami‑
nhado por intermédio daquela a que estiver imediatamente subordinado o requerente (Lei nº 8.112/90, art. 105).

Obs: Modelo no final da matéria.

Protocolo

O registro de protocolo (ou simplesmente “o protocolo“) é o livro (ou, mais atualmente, o suporte informático) em que
são transcritos progressivamente os documentos e os atos em entrada e em saída de um sujeito ou entidade (público ou
privado). Este registro, se obedecerem a normas legais, têm fé pública, ou seja, tem valor probatório em casos de contro‑
vérsia jurídica.
O termo protocolo tem um significado bastante amplo, identificando-se diretamente com o próprio procedimento. Por
extensão de sentido, “protocolo” significa também um trâmite a ser seguido para alcançar determinado objetivo (“seguir
o protocolo”).
A gestão do protocolo é normalmente confiada a uma repartição determinada, que recebe o material documentário do
sujeito que o produz em saída e em entrada e os anota num registro (atualmente em programas informáticos), atruibuindo-
lhes um número e também uma posição de arquivo de acordo com suas características.
O registro tem quatro elementos necessários e obrigatórios:
- Número progressivo.
- Data de recebimento ou de saída.
- Remetente ou destinatário.
- Regesto, ou seja, breve resumo do conteúdo da correspondência

12
REDAÇÃO OFICIAL (FEDERAL)

Exemplo de Ofício

(Ministério)
(Secretaria/Departamento/Setor/Entidade)
(Endereço para correspondência)
(Endereço – continuação)
(Telefone e Endereço de Correio Eletrônico)

Ofício nº 524/1991/SG-PR

Brasília, 20 de maio de 2011

A Sua Excelência o Senhor


Deputado (Nome)
Câmara dos Deputados
70160-900 – Brasília – DF
3 cm 297 mm
1,5 cm
Assunto: Demarcação de terras indígenas

Senhor Deputado,

1. Em complemento às observações transmitidas pelo telegrama nº 154, de


24 de abril último, informo Vossa Excelência de que as medidas mencionadas em
sua carta nº 6708, dirigida ao Senhor Presidente da República, estão amparadas
pelo procedimento administrativo de demarcação de terras indígenas instituído
pelo Decreto nº 22, de 4 de fevereiro de 1991 (cópia anexa).
2. Em sua comunicação, Vossa Excelência ressalva a necessidade de que –
na definição e demarcação das terras indígenas – fossem levadas em consideração
as características sócio-econômicas regionais.
3. Nos termos do Decreto nº 22, a demarcação de terras indígenas
deverá ser precedida de estudos e levantamentos técnicos que atendam ao disposto
no art. 231, § 1º, da Constituição Federal. Os estudos deverão incluir os aspectos
etno-históricos, sociológicos, cartográficos e fundiários. O exame deste último
aspecto deverá ser feito conjuntamente com o órgão federal ou estadual
competente.
4. Os órgãos públicos federais, estaduais e municipais deverão
encaminhas as informações que julgarem pertinentes sobre a área em estudo. É
igualmente assegurada a manifestação de entidades representativas da sociedade
civil.
5. Os estudos técnicos elaborados pelo órgão federal de proteção ao índio
serão publicados juntamente com as informações recebidas dos órgãos públicos e
das entidades civis acima mencionadas.
6. Como Vossa Excelência pode verificar, o procedimento estabelecido
assegura que a decisão a ser baixada pelo Ministro de Estado da Justiça sobre os
limites e a demarcação de terras indígenas seja informada de todos os elementos
necessários, inclusive daqueles assinalados em sua carta, com a necessária
transparência e agilidade.

Atenciosamente,

(Nome)
(cargo)

210 mm

13
REDAÇÃO OFICIAL (FEDERAL)

Exemplo de Aviso

Aviso nº 45/SCT-PR

Brasília, 27 de fevereiro de 2011

A Sua Excelência o Senhor


(Nome e cargo)
297 mm

3 cm
1,5 cm
Assunto: Seminário sobre o uso de energia no setor público

Senhor Ministro,

Convido Vossa Excelência a participar da sessão de abertura do Primeiro


Seminário Regional sobre o Uso Eficiente de Energia no Setor Público, a ser
realizado em 5 de março próximo, às 9 horas, no auditório da Escola Nacional de
Administração Pública – ENAP, localizada no Setor de Áreas Isoladas, nesta
capital.
O Seminário mencionado inclui-se nas atividades do Programa Nacional das
Comissões Internas de Conservação de Energia em Órgãos Públicos, instituído
pelo Decreto nº 99.656, de 26 de outubro de 1990.

Atenciosamente,

(Nome do signatário)
(cargo do signatário)

210 mm

14
REDAÇÃO OFICIAL (FEDERAL)

Exemplo de Memorando

Mem. 118/DJ

Em 12 de abril de 2011

Ao Sr. Chefe do Departamento de Administração

297 mm
Assunto: Administração, Instalação de microcomputadores
1,5 cm

1. Nos termos do Plano Geral de Informatização, solicito a Vossa


Senhoria verificar a possibilidade de que sejam instalados três microcomputadores
neste Departamento.
2. Sem descer a maiores detalhes técnicos, acrescento, apenas, que o ideal
seria que o equipamento fosse dotado de disco rígido e de monitor padrão EGA.
Quanto a programas, haveria necessidade de dois tipos: um processador de textos
e outro gerenciador de banco de dados.
3. O treinamento de pessoal para operação dos micros poderia ficar a cargo
da Seção de Treinamento do Departamento de Modernização, cuja chefia já
manifestou seu acordo a respeito.
4. Devo mencionar, por fim, que a informatização dos trabalhos deste
Departa-mento ensejará racional distribuição de tarefas entre os servidores e,
sobretudo, uma melhoria na qualidade dos serviços prestados.

Atenciosamente,

(Nome do signatário)

210 mm

15
REDAÇÃO OFICIAL (FEDERAL)

Exemplo de Mensagem

5 cm

Mensagem nº 118

4 cm

297 mm

Excelentíssimo Senhor Presidente do Senado Federal,

2 cm 1,5 cm

3 cm
Comunico a Vossa Excelência o recebimento das mensagens SM nºs
106 a 110, de 1991, nas quais informo a promulgação dos Decretos Legislativos
nºs 93 a 97, de 1991, relativos à exploração de serviços de radiodifusão.

Brasília, 28 de março de 2011

210 mm

16
REDAÇÃO OFICIAL (FEDERAL)

Exemplo de Telegrama

[órgão Expedidorl
[setor do órgão expedidor]
[endereço do órgão expedidor]

Destinatário: _________________________________________________________
Nº do fax de destino: _________________________________ Data: ___/___/_____
Remetente: __________________________________________________________
Tel. p/ contato: ____________________Fax/correio eletrônico: ________________
Nº de páginas: esta + ______Nº do documento: _____________________________
Observações: _________________________________________________________
_____________________________________________________________________


Exemplo de Apostila

APOSTILA

A Diretora da Coordenação de Secretariado Parlamentar do Departamento de Pessoal declara que


o servidor José da Silva, nomeado pela Portaria CDCC-RQ001/2004, publicada no Suplemento ao Boletim
Administrativo de 30 de março de 2004, teve sua situação funcional alterada, de Secretário Parlamentar
Requisitado, ponto n. 123, para Secretário Parlamentar sem vínculo efetivo com o serviço público, ponto n.
105.123, a partir de 11 de abril de 2004, em face de decisão contida no Processo n. 25.001/2004.

Brasília, em 26/5/2011

Maria da Silva
Diretora

Exemplo de ATA
CAMARA DOS DEPUTADOS
CENTRO DE DOCUMENTAÇÃO E INFORMAÇÃO
Coordenação de Publicações

ATA

As 10h15min, do dia 24 de maio de 2011, na Sala de Reunião do Cedi, a Sra. Maria da Silva, Diretora
da Coordenação, deu início aos trabalhos com a leitura da ala da reunião anterior, que foi aprovada, sem
alterações. Em prosseguimento, apresentou a pauta da reunião, com a inclusão do item “Projetos Concluídos”,
sendo aprovada sem o acréscimo de novos itens. Tomou a palavra o Sr. José da Silva, Chefe da Seção de
Marketing, que apresentou um breve relato das atividades desenvolvidas no trimestre, incluindo o lançamento
dos novos produtos. Em seguida, o Sr. Mário dos Santos, Chefe da Tipografia, ressaltou que nos últimos
meses os trabalhos enviados para publicação estavam de acordo com as normas estabelecidas, parabenizando
a todos pelos resultados alcançados. Com relação aos projeXos concluídos, a Diretora esclareceu que todos
mantiveram-se dentro do cronograma de trabalho preestabelecido e que serao encaminhados à gráfica na
próxima semana. Às 11h45min a Diretora encerrou os trabalhos, antes convocando reunião para o dia 2 de
junho, quarta-feira, às 10 horas, no mesmo local. Nada mais havendo a tratar, a reunião foi encerrada, e eu,
Ana de Souza, lavrei a presente ata que vai assinada por mim e pela Diretora.

Diretora

Secretária

17
REDAÇÃO OFICIAL (FEDERAL)

Exemplo de Despacho

CÂMARA DOS DEPUTADOS


PRIMEIRASECRETARIA

Processo n . .........
Em .... / .... /200 ...

Ao Senhor Presidente da Câmara dos Deputados, por força do disposto no inciso I do art. 70 do Regimento
do Cefor, c/c o art. 95, da Lei n. 8.112/90, com parecer favorável desta Secretaria, nos termos das informações e
manifestações dos órgãos técnicos da Casa.

Deputado José da Silva


PrimeiroSecretário

Exemplo de Ordem de Serviço

CÂMARA DOS DEPUTADOS


CONSULTORIA TÉCNICA

ORDEM DE SERVIÇO N. 3, DE 6/6/2010

O DIRETOR DA CONSULTORIA TÉCNICA DA CÂMARA DOS DEPUTADOS, no uso de suas


atribuições, resolve:
1. As salas 3 e 4 da Consultoria Técnica ficam destinadas a reuniões de trabalho com deputados,
consultores e servidores dos setores de apoio da Consultoria Técnica.
2. As reuniões de trabalho serão agendadas previamente pela Diretoria da Coordenação de Serviços
Gerais.
................................................................................................................................
6. Havendo mais de uma solicitação de uso para o mesmo horário, será adotada a seguinte ordem de
preferência:
1 reuniões de trabalho com a participação de deputados;
11 reuniões de trabalho da diretoria;
111 reuniões de trabalho dos consultores;
IV . ..................................................................................................................................
V . ....................................................................................................................................
7. O cancelamento de reunião deverá ser imediatamente comunicado à Diretoría da Coordenação de
Serviços Gerais.

José da Silva
Diretor

18
REDAÇÃO OFICIAL (FEDERAL)

Exemplo de Parecer

PARECER JURÍDICO

De: Departamento Jurídico


Para: Gerente Administrativo

Senhor Gerente,

Com relação à questão sobre a estabilidade provisória por gestação, ou não, da empregada Fulana de Tal, passamos
a analisar o assunto.
O artigo 10, letra “b”, do ADCT, assegura estabilidade à empregada gestante, desde a confirmação da gravidez até
cinco meses após o parto.
Nesta hipótese, existe responsabilidade objetiva do empregador pela manutenção do emprego, ou seja, basta
comprovar a gravidez no curso do contrato para que haja incidência da regra que assegura a estabilidade provisória no
emprego. O fundamento jurídico desta estabilidade é a proteção à maternidade e à infância, ou seja, proteger a gestante e o
nascituro, assegurando a dignidade da pessoa humana.
A confirmação da gravidez, expressão utilizada na Constituição, refere-se à afirmativa médica do estado gestacional
da empregada e não exige que o empregador tenha ciência prévia da situação da gravidez. Neste sentido tem sido as
reiteradas decisões do C. TST, culminando com a edição da Súmula n. 244, que assim disciplina a questão:
I - O desconhecimento do estado gravídico pelo empregador não afasta o direito ao pagamento da indenização
decorrente da estabilidade. (art. 10, II, “b” do ADCT). (ex-OJ nº 88 – DJ 16.04.2004).
II - A garantia de emprego à gestante só autoriza a reintegração se esta se der durante o período de estabilidade. Do
contrário, a garantia restringe-se aos salários e demais direitos correspondentes ao período de estabilidade. (ex-Súmula nº
244 – Res 121/2003, DJ 19.11.2003).
III - Não há direito da empregada gestante à estabilidade provisória na hipótese de admissão mediante contrato de
experiência, visto que a extinção da relação de emprego, em face do término do prazo, não constitui dispensa arbitrária ou
sem justa causa. (ex-OJ nº 196 - Inserida em 08.11.2000).
No caso colocado em análise, percebe-se que não havia confirmação da gestação antes da dispensa. Ao contrário,
diante da suspeita de gravidez, a empresa teve o cuidado de pedir a realização de exame laboratorial, o que foi feito, não
tendo sido confirmada a gravidez. A empresa só dispensou a empregada depois que lhe foi apresentado o resultado negativo
do teste de gravidez. A confirmação do estado gestacional só veio após a dispensa.
Assim, para solução da questão, importante indagar se gravidez confirmada no curso aviso prévio indenizado
garante ou não a estabilidade.
O TST tem decidido (Súmula 371), que a projeção do contrato de trabalho para o futuro, pela concessão de aviso
prévio indenizado, tem efeitos limitados às vantagens econômicas obtidas no período de pré-aviso. Este entendimento
exclui a estabilidade provisória da gestante, quando a gravidez ocorre após a rescisão contratual.
A gravidez superveniente à dispensa, durante o aviso prévio indenizado, não assegura a estabilidade. Contudo, na
hipótese dos autos, embora a gravidez tenha sido confirmada no curso do aviso prévio indenizado, certo é que a empregada
já estava grávida antes da dispensa, como atestam os exames trazidos aos autos. A conclusão da ultrossonografia obstétrica
afirma que em 30 de julho de 2009 a idade gestacional ecografica era de pouco mais de 13 semanais, portanto, na data do
afastamento a reclamante já contava com mais de 01 mês de gravidez.
Em face do exposto, considerando os fundamentos jurídicos do instituto da estabilidade da gestante, considerando
que a responsabilidade do empregador pela manutenção do emprego é objetiva e considerando que o desconhecimento do
estado gravídico não impede o reconhecimento da gravidez, conclui-se que:
a) não existe estabilidade quando a gravidez ocorre na vigência do aviso prévio indenizado;
b) fica assegurada a estabilidade quando, embora confirmada no período do aviso prévio indenizado, a gravidez
ocorre antes da dispensa.
De acordo com tais conclusões, entendemos que a empresa deve proceder a reintegração da empregada diante da
estabilidade provisória decorrente da gestação.
É o parecer.

(localidade), (dia) de (mês) de (ano).


(assinatura)
(nome)
(cargo)

19
REDAÇÃO OFICIAL (FEDERAL)

Exemplo de Portaría

CÂMARA DOS DEPUTADOS


DIRETORIAGERAL

PORTARIA N. 1, de 13/1/2010

Disciplina a utilização da chancela eletrônica nas requisições de


passagens aéreas e diárias de viagens, autorizadasem processos
administrativos no âmbito da Câmara dos Deputados e assinadas
pelo DiretorGeral.

O DIRETORGERAL DA CÂMARA DOS DEPUTADOS, no uso das atribuições que lhe confere o
artigo 147, item XV, da Resolução n. 20, de 30 de novembro de 1971, resolve:
Art. 11 Fica instituído o uso da chancela eletrônica nas requisições de passagens aéreas e diárias de
viagens, autorizadas em processos administrativos pela autoridade competente e assinadas pelo DiretorGeral, para
parlamentar, servidor ou convidado, no âmbito da Câmara dos Deputados.
Art. 21 A chancela eletrônica, de acesso restrito, será válida se autenticada mediante código de segurança
e acompanhada do atesto do Chefe de Gabinete da DiretoriaGeral ou do seu primeiro substituto.
Art. 31 Esta portaria entra em vigor na data de sua publicação.

Sérgio Sampaio Contreiras de Almeida


DiretorGeral

Modelo de Relatório
CÂMARA DOS DEPUTADOS
ÓRGÃO PRINCIPAL
órgão Secundário

RELATÓRIO

Introdução
Apresentar um breve resumo das temáticas a serem abordadas. Em se tratando de relatório de viagem,
indicar a denominação do evento, local e período compreendido.

Tópico 1
Atribuir uma temática para o relato a ser apresentado.
........................................................................................................................

Tópico 1.1
Havendo subdivisões, os assuntos subseqüentes serão apresentados hierarquizados à temática geral.
.................................................................................. ....

Tópico 2
Atribuir uma temática para o relato a ser apresentado.
.........................................................................................................................

3. Considerações finais
.........................................................................................................................

Brasília, ............................ de de 201...

Nome
Função ou Cargo

20
REDAÇÃO OFICIAL (FEDERAL)

Modelo de Requerimento

CÂMARA DOS DEPUTADOS


ÓRGÃO PRINCIPAL
Órgão Secundário

(Vocativo)
(Cargo ou função e nome do destinatário)

.................................... (nome do requerente, em maiúsculas) ..........................


.......................................................... (demais dados de qualificação), requer .................
............................................................................................................................................

Nestes termos,
Pede deferimento.

Brasília, ....... de .................. ���������������������������������������������������������� de 201.....

Nome
Cargo ou Função

Questões
01. Analise:
1. Atendendo à solicitação contida no expediente acima referido, vimos encaminhar a V. Sª. as informações referentes ao
andamento dos serviços sob responsabilidade deste setor.
2. Esclarecemos que estão sendo tomadas todas as medidas necessárias para o cumprimento dos prazos estipulados e o
atingimento das metas estabelecidas.

A redação do documento acima indica tratar-se


(A) do encaminhamento de uma ata.
(B) do início de um requerimento.
(C) de trecho do corpo de um ofício.
(D) da introdução de um relatório.
(E) do fecho de um memorando.

02. A redação inteiramente apropriada e correta de um documento oficial é:


(A) Estamos encaminhando à Vossa Senhoria algumas reivindicações, e esperamos poder estar sendo recebidos em
vosso gabinete para discutir nossos problemas salariais.
(B) O texto ora aprovado em sessão extraordinária prevê a redistribuição de pessoal especializado em serviços gerais
para os departamentos que foram recentemente criados.
(C) Estou encaminhando a presença de V. Sª. este jovem, muito inteligente e esperto, que lhe vai resolver os problemas
do sistema de informatização de seu gabinete.

21
REDAÇÃO OFICIAL (FEDERAL)

(D) Quando se procurou resolver os problemas de pes‑


soal aqui neste departamento, faltaram um número grande ANOTAÇÕES
de servidores para os andamentos do serviço.
(E) Do nosso ponto de vista pessoal, fica difícil vos in‑
formar de quais providências vão ser tomadas para resol‑ __________________________________________________
ver essa confusão que foi criado pelos manifestantes.
___________________________________________________
03. A frase cuja redação está inteiramente correta e
apropriada para uma correspondência oficial é: ___________________________________________________
(A) É com muito prazer que encaminho à V. Exª. Os
___________________________________________________
convites para a reunião de gala deste Conselho, em que
se fará homenagens a todos os ilustres membros dessa di‑ ___________________________________________________
retoria, importantíssima na execução dos nossos serviços.
(B) Por determinação hoje de nosso Excelentíssimo ___________________________________________________
Chefe do Setor, nos dirigimos a todos os de vosso gabine‑
te, para informar de que as medidas de austeridade reco‑ ___________________________________________________
mendadas por V. Sa. já está sendo tomadas, para evitar-se
os atrasos dos prazos. ___________________________________________________
(C) Estamos encaminhando a V. Sa. os resultados a que ___________________________________________________
chegaram nossos analistas sobre as condições de funcio‑
namento deste setor, bem como as providências a serem ___________________________________________________
tomadas para a consecução dos serviços e o cumprimento
dos prazos estipulados. ___________________________________________________
(D) As ordens expressas a todos os funcionários é de
que se possa estar tomando as medidas mais do que im‑ ___________________________________________________
portantes para tornar nosso departamento mais eficiente,
na agilização dos trâmites legais dos documentos que pas‑ ___________________________________________________
sam por aqui. ___________________________________________________
(E) Peço com todo o respeito a V. Exª., que tomeis pro‑
vidências cabíveis para vir novos funcionários para esse ___________________________________________________
nosso setor, que se encontra em condições difíceis de agi‑
lizar todos os documentos que precisamos enviar. ___________________________________________________

04. A respeito dos padrões de redação de um ofício, é ___________________________________________________


INCORRETO afirmar que:
___________________________________________________
(A) Deve conter o número do expediente, seguido da
sigla do órgão que o expede. ___________________________________________________
(B) Deve conter, no início, com alinhamento à direita,
o local de onde é expedido e a data em que foi assinado. ___________________________________________________
(C) Deverá constar, resumidamente, o teor do assunto
do documento. ___________________________________________________
(D) O texto deve ser redigido em linguagem clara e
direta, respeitando-se a formalidade que deve haver nos ___________________________________________________
expedientes oficiais.
___________________________________________________
(E) O fecho deverá caracterizar-se pela polidez, como
por exemplo: Agradeço a V. Sª. a atenção dispensada. ___________________________________________________
05. Haveria coerência com as ideias do texto e respei‑ ___________________________________________________
taria as normas de redação de documentos oficiais se o
texto apresentado fosse incluído como parágrafo inicial em ___________________________________________________
um ofício complementado pelo parágrafo final e os fechos
apresentados a seguir. ___________________________________________________

___________________________________________________
Solicita-se, portanto, a divulgação desses dados junto
aos órgãos competentes. ___________________________________________________
Atenciosamente,
Pedro Santos ___________________________________________________

Pedro Santos ___________________________________________________


Secretário do Conselho
Resposta 01-C / 02-B / 03-C / 04-E / 05-C (correta) ___________________________________________________

22
NOÇÕES BÁSICAS DE ARQUIVO

1. Lei nº 8.159, de 8 de janeiro de 1991 - Dispõe sobre a política nacional de arquivos públicos e privados e dá outras
providências................................................................................................................................................................................................................ 01
2. Gestão de Documentos..................................................................................................................................................................................... 02
3. Arquivo Intermediário........................................................................................................................................................................................ 50
4. Arquivo Permanente........................................................................................................................................................................................... 50
NOÇÕES BÁSICAS DE ARQUIVO

§ 1º - São também públicos os conjuntos de documen-


1. LEI Nº 8.159, DE 8 DE JANEIRO DE 1991 - tos produzidos e recebidos por instituições de caráter pú-
DISPÕE SOBRE A POLÍTICA NACIONAL DE blico, por entidades privadas encarregadas da gestão de
serviços públicos no exercício de suas atividades.
ARQUIVOS PÚBLICOS E PRIVADOS E DÁ
§ 2º - A cessação de atividades de instituições públicas
OUTRAS PROVIDÊNCIAS.
e de caráter público implica o recolhimento de sua docu-
mentação à instituição arquivística pública ou a sua trans-
ferência à instituição sucessora.
LEI No 8.159, DE 8 DE JANEIRO DE 1991. Art. 8º - Os documentos públicos são identificados
como correntes, intermediários e permanentes.
Dispõe sobre a política nacional de arquivos públicos e § 1º - Consideram-se documentos correntes aqueles
privados e dá outras providências. em curso ou que, mesmo sem movimentação, constituam
objeto de consultas freqüentes.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, faço saber que o § 2º - Consideram-se documentos intermediários
Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: aqueles que, não sendo de uso corrente nos órgãos produ-
tores, por razões de interesse administrativo, aguardam a
CAPÍTULO I sua eliminação ou recolhimento para guarda permanente.
DISPOSIÇÕES GERAIS § 3º - Consideram-se permanentes os conjuntos de do-
cumentos de valor histórico, probatório e informativo que
Art. 1º - É dever do Poder Público a gestão documen- devem ser definitivamente preservados.
tal e a proteção especial a documentos de arquivos, como Art. 9º - A eliminação de documentos produzidos por
instrumento de apoio à administração, à cultura, ao desen- instituições públicas e de caráter público será realizada
volvimento científico e como elementos de prova e infor- mediante autorização da instituição arquivística pública, na
mação. sua específica esfera de competência.
Art. 2º - Consideram-se arquivos, para os fins desta Lei, Art. 10º - Os documentos de valor permanente são ina-
os conjuntos de documentos produzidos e recebidos por lienáveis e imprescritíveis.
órgãos públicos, instituições de caráter público e entidades
privadas, em decorrência do exercício de atividades espe- CAPÍTULO III
cíficas, bem como por pessoa física, qualquer que seja o DOS ARQUIVOS PRIVADOS
suporte da informação ou a natureza dos documentos.
Art. 3º - Considera-se gestão de documentos o conjun- Art. 11 - Consideram-se arquivos privados os conjuntos
to de procedimentos e operações técnicas referentes à sua de documentos produzidos ou recebidos por pessoas físi-
produção, tramitação, uso, avaliação e arquivamento em cas ou jurídicas, em decorrência de suas atividades.      Re-
fase corrente e intermediária, visando a sua eliminação ou gulamento
recolhimento para guarda permanente. Art. 12 - Os arquivos privados podem ser identifica-
Art. 4º - Todos têm direito a receber dos órgãos públi- dos pelo Poder Público como de interesse público e social,
cos informações de seu interesse particular ou de interesse desde que sejam considerados como conjuntos de fontes
coletivo ou geral, contidas em documentos de arquivos, relevantes para a história e desenvolvimento científico na-
que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de respon- cional.     Regulamento
sabilidade, ressalvadas aquelas cujos sigilo seja imprescin- Art. 13 - Os arquivos privados identificados como de
dível à segurança da sociedade e do Estado, bem como à interesse público e social não poderão ser alienados com
inviolabilidade da intimidade, da vida privada, da honra e dispersão ou perda da unidade documental, nem transferi-
da imagem das pessoas. dos para o exterior.     Regulamento
Art. 5º - A Administração Pública franqueará a consulta Parágrafo único - Na alienação desses arquivos o Poder
aos documentos públicos na forma desta Lei. Público exercerá preferência na aquisição.
Art. 6º - Fica resguardado o direito de indenização pelo Art. 14 - O acesso aos documentos de arquivos priva-
dano material ou moral decorrente da violação do sigilo, dos identificados como de interesse público e social pode-
sem prejuízo das ações penal, civil e administrativa. rá ser franqueado mediante autorização de seu proprietá-
rio ou possuidor.     Regulamento
CAPÍTULO II Art. 15 - Os arquivos privados identificados como de
DOS ARQUIVOS PÚBLICOS interesse público e social poderão ser depositados a títu-
lo revogável, ou doados a instituições arquivísticas públi-
Art. 7º - Os arquivos públicos são os conjuntos de do- cas.     Regulamento
cumentos produzidos e recebidos, no exercício de suas ati- Art. 16 - Os registros civis de arquivos de entidades
vidades, por órgãos públicos de âmbito federal, estadual, religiosas produzidos anteriormente à vigência do Código
do Distrito Federal e municipal em decorrência de suas Civil ficam identificados como de interesse público e so-
funções administrativas, legislativas e judiciárias. Regula- cial.     Regulamento
mento

1
NOÇÕES BÁSICAS DE ARQUIVO

CAPÍTULO IV § 2º - A estrutura e funcionamento do conselho criado


DA ORGANIZAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO DE INS- neste artigo serão estabelecidos em regulamento.
TITUIÇÕES ARQUIVÍSTICAS PÚBLICAS Art. 27 - Esta Lei entra em vigor na data de sua publi-
cação.
Art. 17 - A administração da documentação pública ou Art. 28 -  Revogam-se as disposições em contrário.
de caráter público compete às instituições arquivísticas fe- Brasília, 8 de janeiro de 1991; 170º da Independência e
derais, estaduais, do Distrito Federal e municipais. 103º da República.
§ 1º - São Arquivos Federais o Arquivo Nacional os do FERNANDO COLLOR
Poder Executivo, e os arquivos do Poder Legislativo e do Jarbas Passarinho
Poder Judiciário. São considerados, também, do Poder Exe- Este texto não substitui o publicado no DOU de
cutivo os arquivos do Ministério da Marinha, do Ministério
9.1.1991 e retificado em 28.1.1991
das Relações Exteriores, do Ministério do Exército e do Mi-
nistério da Aeronáutica.
§ 2º - São Arquivos Estaduais os arquivos do Poder Exe-
cutivo, o arquivo do Poder Legislativo e o arquivo do Poder 2. GESTÃO DE DOCUMENTOS.
Judiciário.
§ 3º - São Arquivos do Distrito Federal o arquivo do
Poder Executivo, o Arquivo do Poder Legislativo e o arquivo
do Poder Judiciário. MANUAL DE GERENCIAMENTO DE DOCUMENTOS E
§ 4º - São Arquivos Municipais o arquivo do Poder Exe- UTILIZAÇÃO DO CPROD. NET DO MINISTÉRIO DO PLANE-
cutivo e o arquivo do Poder Legislativo. JAMENTO, ORÇAMENTO E GESTÃO.
§ 5º - Os arquivos públicos dos Territórios são organi-
zados de acordo com sua estrutura político-jurídica. 1. INSTRUÇÕES QUANTO AOS PROCEDIMENTOS RELA-
Art. 18 - Compete ao Arquivo Nacional a gestão e o re- TIVOS AO RECEBIMENTO, DISTRIBUIÇÃO, REGISTRO, TRA-
colhimento dos documentos produzidos e recebidos pelo MITAÇÃO, FORMALIZAÇÃO DE PROCESSOS E EXPEDIÇÃO
Poder Executivo Federal, bem como preservar e facultar o 1.1 Procedimentos de Recebimento, Registro e Expe-
acesso aos documentos sob sua guarda, e acompanhar e dição.
implementar a política nacional de arquivos. A correspondência oficial recebida ou a ser expedida,
Parágrafo único - Para o pleno exercício de suas fun- deverá ser encaminhada pelo Protocolo Geral à Unidade
ções, o Arquivo Nacional poderá criar unidades regionais. Protocolizadora, lacrada para registro e encaminhamento
Art. 19 - Competem aos arquivos do Poder Legislativo aos destinatários.
Federal a gestão e o recolhimento dos documentos produ- Toda correspondência oficial expedida deverá conter,
zidos e recebidos pelo Poder Legislativo Federal no exer- para a sua identificação, a espécie do documento, o órgão
cício das suas funções, bem como preservar e facultar o emissor seguido da sigla da unidade, do número de ordem,
acesso aos documentos sob sua guarda. o destinatário, o assunto e data da emissão.
Art. 20 - Competem aos arquivos do Poder Judiciário A expedição de correspondências caberá à respectiva
Federal a gestão e o recolhimento dos documentos produ- Unidade Protocolizadora, responsável pela numeração dos
zidos e recebidos pelo Poder Judiciário Federal no exercício
mesmos, a qual deverá ser sequencial, numérico-cronoló-
de suas funções, tramitados em juízo e oriundos de cartó-
gica e iniciada a cada ano.
rios e secretarias, bem como preservar e facultar o acesso
A correspondência oficial, encaminhada para destina-
aos documentos sob sua guarda.
Art. 21 - Legislação estadual, do Distrito Federal e mu- tário que não ocupe mais o cargo, não deverá ser devol-
nicipal definirá os critérios de organização e vinculação dos vida, e sim aberta, pois faz referência ao cargo e não ao
arquivos estaduais e municipais, bem como a gestão e o ocupante.
acesso aos documentos, observado o disposto na Consti- Se o destinatário não for localizado, a Unidade Proto-
tuição Federal e nesta Lei. colizadora deverá devolver o documento ao Protocolo Ge-
ral, carimbado e assinado, justificando a devolução.
DISPOSIÇÕES FINAIS

Art. 25 - Ficará sujeito à responsabilidade penal, civil e


administrativa, na forma da legislação em vigor, aquele que
desfigurar ou destruir documentos de valor permanente ou
considerado como de interesse público e social.
Art. 26 - Fica criado o Conselho Nacional de Arquivos
(CONARQ), órgão vinculado ao Arquivo Nacional, que de-
finirá a política nacional de arquivos, como órgão central
de um Sistema Nacional de Arquivos (SINAR).
§ 1º - O Conselho Nacional de Arquivos será presidi-
do pelo Diretor-Geral do Arquivo Nacional e integrado por
representantes de instituições arquivísticas e acadêmicas,
públicas e privadas.

2
NOÇÕES BÁSICAS DE ARQUIVO

As correspondências produzidas, recebidas e expedidas deverão ser registradas no CPROD.


Os envelopes das correspondências oficiais deverão conter, no canto inferior esquerdo, os dados do remetente, no ver-
so e no canto superior esquerdo os dados do destinatário com identificação do conteúdo, conforme modelo a baixo. Exce-
ção para os envelopes que contiverem processo, pois deverão ser entregues abertos e devidamente tramitados no CPROD.

1.2 Autuações de Processos e Registro de Documentos

1.2.1 Formalização
A formalização de processo e documentos será executada diretamente pela Unidade Protocolizadora interessada,
devendo ser registrada no CPROD.
Os documentos que devem formar processo são aqueles cujo conteúdo esteja relacionado à ação jurídica, de pessoal
e contábil-financeira.

O processo só poderá ser formado a partir de:


a) Originais de documentos;

b) Cópias de documentos, quando requerida pela autoridade competente, desde que autenticada em conferência com
original.

NOTA: Os processos ou documentos deverão ser registrados no Sistema, na sua produção ou recebimento.

Os processos formalizados serão encapados na cor branca, obedecendo a Portaria MP nº 171, de 28.12.1999.
O documento que possuir uma grande quantidade de páginas também deverá receber capa da mesma forma que o
processo.
Na capa do processo constará, além do número do protocolo, o tipo e o número do documento que o originou, nome
do interessado, procedência e solicitante, bem como resumo do assunto.

3
NOÇÕES BÁSICAS DE ARQUIVO

Na primeira página do documento cadastrado será posta etiqueta no canto superior direito conforme modelo abaixo:

4
NOÇÕES BÁSICAS DE ARQUIVO

Caso o documento possua cópia, deverá ser aposta etiqueta no canto superior direito da primeira folha, conforme
modelo abaixo:

1.2.2. Numeração
As folhas do processo deverão ser numeradas e rubricadas no canto superior direito, utilizando-se, para esse fim, ca-
rimbo próprio da Unidade Protocolizadora.
A folha número 1 (um) do processo corresponderá à primeira folha do documento que o originou.

Os documentos incluídos posteriormente no processo deverão ser numerados e rubricados pela Unidade Protocoliza-
dora responsável pela inclusão.
Quando, por erro ou omissão, se verificar a necessidade de correção de numeração de qualquer folha dos autos, inuti-
lizar-se-á a anterior, renumerando-se as folhas seguintes, sem rasuras, certificando-se a ocorrência.

Será mantida a numeração original das folhas nos processos oriundos de outras Instituições, prosseguindo-se a se-
quência numérica existente.
No caso de verificação de erro em processos provenientes de outras Instituições, certificar-se-á a ocorrência e, se pos-
sível, corrigir-se-á a numeração, quando se referir às últimas folhas.

1.2.3 Despacho
Qualquer solicitação ou informação inerente ao processo deverá ser feita através de despacho no próprio documento
ou, caso não seja possível, em folha (s) de despacho, a ser(em) incluída (s) no processo. Deverá ser utilizada somente a
frente da folha de despacho, não sendo permitida a inclusão de novas folhas até seu total aproveitamento.
No caso de inserção de novos documentos no processo, inutiliza-se o espaço em branco da última folha de despacho
( com traço ou “X”, conforme o modelo a seguir).

5
NOÇÕES BÁSICAS DE ARQUIVO

1.2.4 Encerramento e Abertura de Volumes


Os autos não deverão exceder a 200 folhas em cada volume, e a fixação dos grampos observará a distância, na margem
esquerda, de cerca de 2 cm.
Quando a peça processual contiver número de folhas excedente ao limite fixado neste documento, com ela se formarão
outros volumes.
Não é permitido desmembrar documento, e se ocorrer a inclusão de um documento que exceda as 200 folhas, este
deverá iniciar um novo volume.
Ex.: No caso de processo contendo 180 folhas ao qual será incluído um documento contendo 50, encerrar o volume
com 180 e abrir novo volume com o documento de 50 folhas.
O encerramento e a abertura de novos volumes serão executados pelas Unidades Protocolizadoras, mediante determi-
nação de seu dirigente, em despacho. A Unidade Protocolizadora deverá providenciar o preenchimento de nova capa e a
lavratura dos Termos de Encerramento e Abertura de Volumes fornecidos pelo CPROD.
No volume anterior, após a última folha do processo, incluir-se-á o Termo de Encerramento de Volume, devidamente
numerado.

No novo volume, logo após a capa, incluir-se-á Termo de Abertura de volume, devidamente numerado, obedecendo-
se à sequência do volume anterior.

6
NOÇÕES BÁSICAS DE ARQUIVO

Os volumes deverão ser informados, com a seguinte inscrição:1º volume, 2º volume etc.
Documento encadernado ou em brochura, bem como os de grande volume, serão apensados ao processo com a co-
locação da etiqueta de anexo contendo o número do processo e a palavra “anexo”.
1.2.5 Juntada, Desapensação e Desentranhamento
1.2.5.1 Juntada
É a inserção no processo ou documento de um novo documento protocolado, e deverá ser executada diretamente pela
Unidade Protocolizadora interessada mediante determinação, por despacho, de seu dirigente.
A juntada de processos poderá ocorrer por anexação ou apensação.
• anexação é a juntada definitiva de um processo a outro, passando ambos a constituírem um só documento, obe-
decendo a numeração do mais antigo e será executada pela área administrativa interessada, mediante determinação, por
despacho, de seu dirigente.
A Unidade Protocolizadora responsável pela anexação deverá:
a) Renumerar todas as folhas do processo que está sendo juntado;
b) Registrar no CPROD-NET a anexação na mesma opção de juntada de documento;
c) Incluir, após a última folha do processo, a certidão de juntada por anexação;
• apensação é a juntada provisória de um processo a outro, com a finalidade de propiciar estudos, opiniões, informa-
ções e decisões, permanecendo cada processo com o seu respectivo número e será executada diretamente pela
Unidade Protocolizadora interessada, mediante determinação, por despacho, de seu dirigente.
A Unidade Protocolizadora responsável pela apensação deverá:
a) Incluir após a última folha do processo principal (aquele que contém a determinação da apensação) a certidão de
juntada por apensação;
b) Registrar no CPROD-NET a apensação na mesma opção de juntada de documento.
1.2.5.2 Desapensação
É a separação dos processos, após apensados, quando sua finalidade for atingida.
Será executada a desapensação pela Unidade Protocolizadora interessada, mediante determinação, por despacho, de
seu dirigente. A Unidade deverá:
a) Incluir após a última folha do procedimento principal a certidão de desapensação;
b) Registrar a desapensação no CPROD na mesma opção de juntada de documento.
1.2.5.3 Desentranhamento
É a retirada de folhas do processo.
Quando forem desentranhadas peças dos autos, não se procederá a nova numeração das folhas, certificando-se, entre-
tanto, em outra folha, os desentranhamentos que foram autorizados pela autoridade competente.
Será executado pela Unidade Protocolizadora interessada e deverá ser certificado por seu dirigente, citando-se as fo-
lhas e o motivo que determinou o ato.
1.2.6 Encerramento
Dar-se-á o encerramento de um processo:
a) Por indeferimento do pleito;
b) Pelo atendimento da solicitação e cumprimento dos compromissos arbitrados ou dela decorrentes; e
c) Pela expressa desistência do interessado.
1.2.7 Tramitação
A tramitação do processo ou documento deverá ser objeto de rigoroso controle por parte de todas as Unidades
Protocolizadoras, que deverão manter o CPROD devidamente atualizado, responsabilizando-se pelo eventual extravio do
documento.
O controle da tramitação do processo ou documento será feito diretamente no CPROD, pela Unidade Protocolizadora
interessada, que deverá:

7
NOÇÕES BÁSICAS DE ARQUIVO

a) Atualizar a tramitação realizada;


b) Quando julgar necessário, encaminhar o processo ou documento, juntamente com o relatório de tramitado e entre-
gue à Unidade Protocolizadora destinatária, para a coleta da assinatura do responsável;
c) Tramitar via CPROD, para a Unidade Protocolizadora de destino com informações resumidas do despacho, no campo
específico. A carga do processo ou documento só será passada para a Unidade Protocolizadora destinatária, após o seu
recebimento físico e sua imediata confirmação no Sistema;
d) Quando uma Unidade Protocolizadora receber um documento já registrado no Sistema, e for necessário efetuar sua
conversão em processo, ficará a cargo da mesma proceder esta conversão utilizando o CPROD, selecionando na barra de
menu o item atividade-conversão.
NOTA:
• O processo é uma unidade orgânica, constituído por um ou mais volumes, devendo, portanto tramitar juntos.
• Nenhuma Unidade Protocolizadora poderá movimentar o processo ou documento sem que as folhas do mesmo
estejam regularmente numeradas e rubricadas.
1.3 Classificação, Avaliação, Eliminação, Transferência e Recolhimento de Documentos
1.3.1 Classificação
Toda a documentação produzida ou recebida no Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão que reflete o exer-
cício de suas funções e atividades, deverá ser classificada no ato de sua produção, recebimento, ou de seu arquivamento
na Unidade Protocolizadora, aplicando-se o Código de Classificação de Documentos por Assunto (Resolução AN nº04 de
28 de março de 1996).
A classificação por assunto é utilizada com o objetivo de agrupar os documentos sob um mesmo tema, como forma de
agilizar sua recuperação e facilitar as tarefas arquivísticas relacionadas com a avaliação, seleção, eliminação, transferência,
recolhimento e acesso a esses documentos.
No Código de Classificação, os assuntos encontram-se hierarquicamente distribuídos, conforme a atuação específica
da Instituição, ou seja, atividade meio ou atividade fim.
Atividade - fim: atividade que uma instituição leva a efeito para o desempenho de suas atribuições específicas (códigos
de 100 a 800 e suas subdivisões)
Área Fim
100 – Planejamento e investimentos estratégicos
200 – Administração de Recursos Humanos
300 – Orçamento Federal, Finanças Públicas Gestão Fiscal
400 – Administração do Patrimônio da União
500 – Logística e Tecnologia da Informação
600 – Administração das Empresas Estatais
700 – Extinção de entidades da Administração Pública Federal Direta, Autárquica e Fundacional. Liquidação de Empresa
Pública e Sociedade de Economia Mista
800 – Gestão Reforma e Modernização do Estado
Atividade - meio: atividade que uma instituição leva a efeito para o desempenho de atribuições decorrentes das ativi-
dades fim. Tem como característica auxiliar e viabilizar a atividade - fim (códigos 000 e 900 e suas subdivisões).
Área Meio
000 – Administração Geral
010 – organização e funcionamento
020 – pessoal
030 – material
040 – patrimônio
050 – orçamento e finanças
060 – documentação e informação
070 – Comunicações
080 – Vaga
090 – outros assuntos referentes à administração gera
Nota-se que é um encadeamento lógico que subordina cada classe. O código 022.221 só tem significado quando per-
cebemos que cada número tem sua importância, pode-se dizer que:

8
NOÇÕES BÁSICAS DE ARQUIVO

Deve-se observar as subdivisões das classes, pois assim Decorridos 45 dias subsequentes à data da publicação
estaremos proporcionando o maior nível de detalhamento do edital, caso não haja nenhum pronunciamento contra
possível. a eliminação dos documentos devidamente registrado no
Exemplo: Termo de Eliminação de Documentos, o Arquivo Central
• Processo 1258/80 procederá a trituração dos mesmos, conforme o estabe-
• assunto: penalidades disciplinares lecido pelo Arquivo Nacional na Resolução nº 7, de 20 de
•·Código 025.12 maio de 1997.
•·Conclusão do processo: 04/10/2001 [Arquivo Setorial: unidade responsável pelo arqui-
•·Arquivamento na unidade: 05/10/2001 vamento de documentos vinculados aos fins imediatos
•·Prazo de guarda 05 anos corrente: 05/10/2006 para os quais foram produzidos ou recebidos. O Arquivo
NOTA: Para maiores detalhes quanto a classificação e Setorial está subordinado a Unidade Protocolizadora que
avaliação de documentos, consultar o Plano de Classifica- compete desempenhar atividades de arquivo e controle de
ção e a Tabela de Temporalidade de documentos, que es- documentos (Portaria SAG Nº 2, de 18.01.1993).]
tão à disposição no Arquivo Central e na Intranet. 1.3.3 Transferência
Após o encerramento do trâmite, os processos e os do- É a passagem do documento da fase corrente para a
cumentos deverão ser arquivados e classificados na Unida- intermediária, ou seja, transferência do Arquivo Setorial
de Protocolizadora. Deverão ser seguidas as etapas abaixo para o Arquivo Central.
descritas: Quando a documentação do Arquivo Setorial tiver seu
a) Ler o documento, identificando o assunto principal; prazo de guarda corrente expirado, a Unidade Protocoliza-
b) Identificar se o assunto refere-se a atividade - meio dora emitirá por meio do CPROD uma Guia de Transferên-
ou a atividade – fim; cia de Documentos, e a encaminhará ao Arquivo Central
c) Anotar a lápis no canto superior direito do documen- juntamente com a documentação. Após a emissão da Guia
to ou processo o código referente ao assunto identificado; de Transferência o CPROD atualizará a tramitação dos do-
d) informar ao CPROD o código ou a palavra chave cumentos, ficando a carga dos mesmos sob a responsabili-
que listará as opções de assuntos específicos para a correta dade do Arquivo Central.
classificação do assunto desejado. Os documentos ou processos a serem transferidos ao
A partir do momento que o documento é classificado, Arquivo Central deverão ser preparados pela Unidade Pro-
o CPROD fará todo o controle da sua avaliação (destina- tocolizadora transferidora, da seguinte forma:
ção), emitindo relatórios de eliminação e/ou transferência a) Classificada de acordo com o Código de Classifica-
de documentos, conforme solicitação do usuário. ção de Documentos por Assunto;
NOTA : A classificação deverá ser criteriosa e conscien- b) Fisicamente a documentação deverá ser armazena-
te, pois um erro poderá acarretar na eliminação indevida da em caixas- arquivo de papelão, ordenadas pelo código/
de documentos. No caso de dúvidas consultar a equipe assunto, e dentro de cada assunto, em sequência cronoló-
técnica do Arquivo Central. gica (do mais antigo até o mais recente);
1.3.2 Avaliação c) Não misturar o assunto da área-meio com o da área-
É a definição dos prazos de guarda e estabelecimento fim.
da destinação final dos documentos: eliminação ou trans- d) As etiquetas de identificação das caixas, deverão
ferência ao Arquivo Central, com base na Tabela de Tempo- conter os seguintes dados: unidade, data-limite, série, pra-
ralidade de Documentos. zo de guarda e o número da caixa, conforme modelo abai-
Após a classificação o CPROD efetua a avaliação auto- xo:
maticamente, devendo ser emitidos os relatórios de trans-
ferência e eliminação de documentos, e encaminhados ao
Arquivo Central para análise e aprovação.
A eliminação é o descarte de documentos que já tive-
ram os seus prazos de guarda expirados.
Quando a documentação do Arquivo Setorial tiver sua
vida útil expirada, a Unidade Protocolizadora emitirá por
meio do CPROD (menu atividade, opção eliminar protoco-
lo) a Listagem de Eliminação de Documentos, que deverá
ser encaminhada ao Arquivo Central, juntamente com a
documentação para que se proceda a eliminação.
NOTA: Caso sejam detectados erros de classificação ou
avaliação, o Arquivo Central devolverá à Unidade Protoco-
lizadora, a documentação para as devidas correções.
O Arquivo Central, juntamente com a Comissão Perma-
nente de Avaliação de Documentos (Portaria SPOA Nº 204,
de 05.09.2000) encaminhará o Edital de Ciência de Elimina-
ção de Documentos junto com a Listagem de Eliminação
para publicação no Diário Oficial.

9
NOÇÕES BÁSICAS DE ARQUIVO

NOTA: O Arquivo Central não receberá a documentação que não esteja classificada e listada conforme estabelecido
acima.
2. REGRAS GERAIS PARA ENTRADA DE DADOS NO CPROD
A descrição de um documento ou processo é quase inteiramente uma transcrição dos elementos principais que apa-
recem nos documentos.
As palavras devem ser digitadas em caixa alta, não podendo ser abreviadas.
O assunto deve ser descrito de forma resumida, clara, precisa e concisa, de maneira que expresse com exatidão o con-
teúdo do processo ou documento.
O uso de sinais diacríticos (acento agudo, acento grave, acento circunflexo, trema, til, apóstrofo e hífen), bem como o
espaço entre as palavras, devem seguir as regras de cada língua.
Ex.: SAINT - CLAIR DE SOUSA SILVA
2.1 Números do Protocolo
No caso de processo ou documento formalizado, deve-se transcrever o número encontrado no próprio processo ou
documento. No caso de processo ou documento novo a Unidade Protocolizadora deverá seguir a sua numeração sequen-
cial, conforme a Portaria MP nº 171 de 28.12.1999.
2.2 Interessados, Procedência e Solicitante
Interessado: é a pessoa física ou jurídica a quem se refere o processo ou documento.
Procedência: é a pessoa física ou jurídica que enviou, ou de onde se originou o processo ou documento.
Solicitante: é a pessoa física ou jurídica que intercede em favor do interessado do processo ou documento.
NOTA 1: Pode ocorrer do interessado ser também a procedência, neste caso, não deverá ser cadastrado o nome da
cidade onde o interessado reside.
NOTA 2: A procedência e/ou interessado, quando se tratar de pessoa jurídica, sempre será o nome do setor, empresa
ou instituição e jamais o cargo ou o nome do ocupante do cargo.
Quanto à procedência/ interessado e solicitante do documento de origem, escolher se é pessoa física ou jurídica e
verificar a existência do nome da pessoa ou da entidade na tabela; caso exista selecionar o nome.
Se não existir o nome da pessoa ou entidade na tabela, deve-se incluir o nome completo da pessoa ou da entidade
conforme aparece no documento, não abreviando palavras e conservando, quando existir, as preposições ou conjunções,
obedecendo às regras abaixo descritas.
Caso haja mais de um interessado/solicitante deve-se transcrever o nome do primeiro, em seguida o nome dos demais.
Quando ultrapassar o total de 03 (três) interessados, o usuário poderá fazer uso da expressão “e outros” que será cadastra-
da como se fosse outro interessado, e não junto com o nome dos demais.
Ex.:

Correto
Maria Izabel Pimentel Araújo
Cristiane Basques da Cunha Silva
Lânia Márcia de Almeida
E outros

Errado
Maria Izabel Pimentel Araújo e outros
2.2.1 Casos Específicos
As letras, símbolos ou números que compõem o nome não deverão ser separados por vírgula ou ponto deixando ape-
nas um espaço após o conjunto de letras. Não usar nenhum outro sinal: (-, _ .), podendo repetir as letras no campo sigla
para facilitar e agilizar a consulta.

NOTA: quando a palavra for escrita com a letra “ç” ou “c”, utilizar como tal, pois o sistema distingue uma da outra.
Instituições que tenham representações em diversos municípios deverão ser inseridas no campo município do CPROD.

10
NOÇÕES BÁSICAS DE ARQUIVO

Correto
BANCO DO BRASIL
UF: BAHIA
MUNICÍPIO: SANTARÉM

Errado
BANCO DO BRASIL EM SANTARÉM/BA
Nomes de pessoas e de entidades não podem ser abreviados e nem completadas com palavras. As preposições ou
conjunções não devem ser acrescentadas como fatores de ligação entre os elementos, mas são conservados quando apa-
recem no documento.
2.2.1.1 Órgãos Públicos
2.2.1.1.1 Poder Executivo
Utilizar o órgão principal e autarquias vinculadas que têm autonomia. Não utilizar coordenações, serviços, secretarias
internas, gabinetes, dentre outras Unidades subordinadas, com exceção de Secretarias que possuam autonomia adminis-
trativa, como a Secretaria de Controle Interno – CISET.

2.2.1.1.2 Poder Judiciário


No caso de documentos da Justiça Federal, considerar as seções judiciárias e suas respectivas varas.
Ex.:

Correto
SEÇÃO JUDICIÁRIA DO DISTRITO FEDERAL 16ª VARA

Errado
JUSTIÇA FEDERAL DO DISTRITO FEDERAL 16AVARA
2.2.1.2 Siglas
As siglas serão transcritas em caixa alta, sem ponto e sem espaço entre as letras, no seu campo específico- SIGLA.
No caso de siglas de órgãos em diversos estados, deve-se informar a Unidade da Federação no seu campo específico
-UF.

No caso de órgão/autarquia que têm representações em cidades, utilizar o nome completo do órgão, colocando esta-
do e município nos campos específicos do CPROD (UF/Município).

Correto
INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL
UF: SÃO PAULO
MUNICÍPIO: CAMPINAS

11
NOÇÕES BÁSICAS DE ARQUIVO

Errado
INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL/CAMPINAS

2.2.1.3 Abreviaturas
Evitar abreviações.

2.2.1.4 Numeral
Sempre que aparecer a expressão “primeira(o)”, “segunda(o)”, etc., usar numerais ordinais.

Ex.:

1º ENCONTRO DE ARQUIVOS E BIBLIOTECAS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA FEDERAL DIRETA

2º CONGRESSO BRASILEIRO DE MEDICINA NUCLEAR

2.3 Assunto
Descrever o assunto do documento de origem de forma resumida, clara e precisa, de modo que expresse com exatidão
o conteúdo do processo ou documento.
As Unidades Protocolizadoras que tiverem interesse poderão criar assuntos pré estabelecidos para que todos insiram
os dados de forma uniforme.

2.4 Assunto (Complemento)


Informações complementares de interesse do setor responsável pelo trâmite do processo ou documento. Este campo
poderá ser utilizado para acrescentar as informações do campo assunto.

2.5 Prazo de Conclusão e Resposta


Prazo de resposta: data para resposta do assunto pela Unidade Protocolizadora de destino.
Prazo de conclusão: data prevista para a conclusão do processo ou documento, sendo de Responsabilidade de quem
fará a análise.

2.6 Despacho
É a ementa do parecer do processo/documento dado pela Unidade Protocolizadora responsável pela análise do mes-
mo. Deve-se descrever a ementa de forma resumida, mas completa, de modo que em consulta possa-se ter clara a ideia do
despacho dado ao processo ou documento.

3. NORMAS DE UTILIZAÇÃO DO SISTEMA CPROD (CONTROLE DE PROCESSOS E DOCUMENTOS)

3.1 COMO DISPONIBILIZAR NA ESTAÇÃO


A partir da tela do Internet Explorer, digitar o endereço http://icprodweb para acesso interno ao Ministério do Planeja-
mento Orçamento e Gestão; ou http://cprodweb.planejamento.gov.br para acesso externo (via internet).

12
NOÇÕES BÁSICAS DE ARQUIVO

3.2 LOGIN E SENHA


Apresenta uma tela onde serão requeridos o login e a senha do usuário para acesso ao sistema.

13
NOÇÕES BÁSICAS DE ARQUIVO

1. Login: Login do Usuário.


2. Senha: A senha indica a autorização e o perfil do usuário para acesso ao sistema.
O usuário deverá digitar a senha e clicar no botão “OK”, para que apareça a tela Principal do CPROD.
3.3 TELA PRINCIPAL

Ao acessar o sistema, logo na primeira tela serão disponibilizadas ao usuário quatro informações importantes para o
gerenciamento de suas atividades, no que diz respeito à gestão dos Processos e Documentos da sua unidade:
- Pendentes Recebidos: Será informada a quantidade de Processos/Documentos recebidos, e que estejam pendentes,
com o “Prazo de Resposta” expirado. Ao clicar em cima da opção “Pendentes Recebidos”, será apresentada a relação de
Protocolos que encontram-se nessa situação.
- Pendentes Enviados: Será informada a quantidade de Protocolos enviados à outras unidades, e que estejam penden-
tes, com o “Prazo de Resposta” expirado.
Ao clicar em cima da opção “Pendentes Enviados”, será apresentada a relação de Protocolos que encontram-se nessa
situação.
- Recebimento Protocolo: Será informada a quantidade de Protocolos tramitados para a unidade de lotação do usuário
que está acessando o sistema, e que ainda não foram atestados como recebidos. Ao clicar em cima da opção “Recebimento
Protocolo”, será apresentada a relação de Processos/Documentos que se encontram nessa situação. Para realizar a confir-
mação do recebimento de um Processo/Documento, basta clicar no quadrado localizado à esquerda do número deste, e
posteriormente clicar na opção “Receber”. Será apresentada a mensagem “Protocolo(s) recebido(s) com sucesso!”.
- Destinação Protocolo: Será informada a quantidade de Processos/Documentos a serem transferidos para o Arquivo
Central, ou a serem eliminados, levando-se em consideração as temporalidades dos mesmos.
Esta tela apresenta também o menu contendo as opções Registro e Trâmite, Recebimento de Protocolo, Atividade,
Consulta, Relatório, Empréstimo, Alterar Senha, Fale Conosco e Ajuda.

14
NOÇÕES BÁSICAS DE ARQUIVO

3.4 Estrutura de Menu

15
NOÇÕES BÁSICAS DE ARQUIVO

3.5 Registro e Trâmite


3.5.1 Cadastro
3.5.1.1 Protocolo

Esta tela possibilita o cadastramento e a atualização dos dados dos Processos/Documentos.


Para o cadastramento de Protocolos proceda da seguinte forma:
• Clique no botão “Novo”, e informe se o cadastramento é para processo ou documento.
• Preencha os demais campos:
1. Número do Protocolo (campo obrigatório):
- Cinco dígitos para identificar a Unidade Protocolizadora; seis para o Seqüencial do Protocolo; quatro para o ano e dois
para o Digito Verificador (DV fornecido pelo sistema);
2. Número do Documento:
- Número do documento de origem, sem o zero a esquerda e sem barras.
3. Espécie do Documento (campo obrigatório):
- Tipo do documento de origem. Ex: Ação Extraordinária, Voto, Ata, etc.
4. Data Documento:
- Data do documento de origem. Este campo será apresentado inicialmente com a data corrente. Caso necessário,
altere-a para a data desejada.
5. Procedência:
- Identifique o Tipo de Pessoa clicando em “Pessoa Física” ou “Pessoa Jurídica” (campo obrigatório).

5.1 Países: País de origem do documento.

16
NOÇÕES BÁSICAS DE ARQUIVO

5.2 UF: UF de origem do documento.


5.3 Municípios: Município de origem do documento.
5.4 Datas Recebimento (campo obrigatório): Data de recebimento do Protocolo.
Este campo será apresentado inicialmente com a data corrente. Caso necessário, altere-a para a data desejada.
5.5 Horas Recebimento (campo obrigatório): Hora de recebimento do Protocolo.
Este campo será apresentado inicialmente com o horário corrente. Caso necessário, altere-o para o horário desejado.
6. Assunto (campo obrigatório): Resumo do assunto a ser tratado no Processo/Documento.
7. Assunto (Complemento): Preencher o campo com informações complementares, de maior interesse ao setor respon-
sável pelo Processo/Documento.
Obs.: Nos campos “Assunto” e “Assunto(Complemento)” está disponibilizada a “Ferramenta Corretor Ortográfico”, lo-
calizada no canto superior direito de ambos.
Para utilizá-la basta clicar no botão ABC.
Obs.: O corretor ortográfico não é padronizado, pois utiliza um recurso do Microsoft Word e portanto a sua abrangên-
cia dependerá da versão instalada no equipamento a ser utilizado.
8. Atividade (Meio ou Fim): Atividade referente à classificação do Protocolo por assunto.
9. Classificação: Classificação do Protocolo por assunto.
10. Temporalidade (prazo referente à fase Corrente, Intermediária e Destinação Final).
- Fases:
• Corrente – prazo mínimo de arquivamento do Protocolo no arquivo corrente.
• Intermediaria – prazo mínimo de arquivamento do Protocolo no arquivo central.
• Destinação Final – Destino Final do Protocolo (Guarda Permanente ou Eliminação).
Obs.: A classificação do Protocolo é obrigatória, devendo ser realizada no ato do cadastramento ou no arquivamento
do mesmo.
Para concluir o cadastramento das informações constantes nesta tela, clique no botão gravar (localizado no canto
superior esquerdo do menu) e será mostrada a mensagem “Protocolo adicionado com sucesso”. Neste momento serão
habilitados os botões para cadastramento do “Interessado”, “Solicitante” e “Tramitação Original”, no canto superior direito
da tela, e o sistema será redirecionado para o cadastramento de Interessado.
Botões:

OBSERVAÇÕES IMPORTANTES:
• Alteração de Processos/Documentos:
Para alteração ou inclusão de uma nova informação, em um Processo/Documento já registrado pelo Sistema, o usuário
deverá proceder da seguinte maneira:
- Informe o tipo (processo ou documento) e o número do mesmo.
- Clique no botão Buscar.
- Os dados existentes aparecerão na tela. O usuário poderá então, proceder a alteração (somente para os usuários que
pertençam a mesma unidade de quem efetuou o cadastramento).
- Clique no botão “Gravar”.
• Procedência:
- Pessoa Física: ao gravar os dados de um Protocolo, se o nome da Procedência não constar na tabela, o sistema irá
incluí-lo automaticamente.
- Pessoa Jurídica: o sistema não permitirá a inclusão de um Protocolo cuja
Procedência não conste na tabela. A inclusão de Pessoas Jurídicas só poderá ser realizada pelo gestor (Coordenação de
Documentação e Informação - CODIN/SPOA) do CPROD. NET.
• ASSUNTO:
O assunto deve ser digitado de forma resumida, de modo que na consulta possa-se ter a clara ideia do que trata o
processo ou documento, estando sempre relacionado ao interessado.

17
NOÇÕES BÁSICAS DE ARQUIVO

3.5.1.2 Interessado

É obrigatório o cadastramento de pelo menos 1(um) Interessado.

1. Tipo de Pessoa (campo obrigatório): Identifique o Tipo de Pessoa clicando em Física ou Jurídica.

3. Atributo: Atributo do Interessado pelo assunto do Protocolo. Ex: Deputado, Governador, etc.

4. CPF/CGC: CPF ou CGC do Interessado.

5. País: País do Interessado.

6. UF: UF do Interessado.

7. Município: Município do Interessado.

Para concluir o cadastramento do Interessado, clique no botão gravar (localizado no canto superior esquerdo do menu)
e será mostrada a mensagem “Interessado adicionado com sucesso”. Serão habilitados os botões para emissão da Etiqueta
de Protocolo (no canto superior direito da tela), a ser utilizada na capa do mesmo.

18
NOÇÕES BÁSICAS DE ARQUIVO

Caso deseje imprimi-la, informe o local para impressão, clicando em um destes botões:

Para cadastrar o(s) solicitante(s) ou realizar a primeira tramitação do Processo/Documento, clique nos seus respectivos
botões:

3.5.1.3 Solicitante

19
NOÇÕES BÁSICAS DE ARQUIVO

O cadastramento do Solicitante não é obrigatório. Solicitante é a pessoa ou órgão que intercede em favor de um in-
teressado.
Ex.: Ofício do Senado Federal, assinado pelo Senador João Tadeu, que intercede em nome de João da Silva.

COMO CADASTRAR?
Procedência = Senado Federal.
Interessado = João da Silva.
Solicitante = João Tadeu.
Atributo do Solicitante = Senador.

1. Tipo de Pessoa (campo obrigatório): Identifique o tipo clicando em “Pessoa Física” ou “Pessoa Jurídica”.

3. Atributo: Atributo do Solicitante pelo Protocolo. Ex: Deputado, Governador, etc.

4. CPF/CGC: CPF ou CGC do Solicitante.

5. País: País do Solicitante.

6. UF: UF do Solicitante.

7. Município: Município do Solicitante.

Para concluir o cadastramento do solicitante, clique no botão gravar (localizado no canto superior esquerdo do menu)
e será mostrada a mensagem “Solicitante adicionado com sucesso”.

3.5.2 Trâmite Original

Realiza trâmites de Processos/Documentos para as Unidades destinatárias internas ou externas ao Ministério do Pla-
nejamento, Orçamento e Gestão.

Para a realização de uma tramitação original existem duas possibilidades: a primeira no ato do cadastramento de um
Protocolo (apenas para a primeira tramitação). E a segunda, a partir das funções Registro e Trâmite Þ Cadastro Þ Tramitação
Original.

20
NOÇÕES BÁSICAS DE ARQUIVO

• Identifique se a Tramitação é para processo ou documento (campo obrigatório).

1. Número do Protocolo (campo obrigatório): após preenchido o campo clique no botão buscar.

2. Data do Trâmite: Este campo será apresentado inicialmente com a data corrente.

3. Prazo de Resposta: Data limite de resposta do assunto, a ser providenciada pela unidade de destino (referente ao
trâmite em questão).

4. Prazo de Conclusão: Data prevista para conclusão do Processo/Documento. O preenchimento desta é de responsa-
bilidade de quem fará a análise do Protocolo.

5. Unidade de Destino:
- Tipo: Interna ou Externa.

6. Tramite: Número de trâmites realizados até o momento, deste processo.

21
NOÇÕES BÁSICAS DE ARQUIVO

7. Total de Cópias: Número de cópias tramitadas deste processo.

Obs.: O técnico deverá pertencer a Unidade de Destino informada anteriormente.


10. Número de Volumes: Quantidade de volumes que compõe o Processo/Documento.
11. Número da Última Página: Número da última página, do último volume do Processo/Documento.
12. Situação: Situação do Processo/Documento. Ex.: Em Trâmite, em Análise, Arquivado, etc.
13. Despacho: Ementa do parecer dado pela Unidade Responsável pela análise do Processo/Documento.
Para concluir a tramitação, clique no botão “Gravar” (localizado no campo superior direito do menu), e serão apresen-
tadas as seguintes mensagens:
- Trâmite realizado com sucesso!
- Deseja emitir o(s) relatório(s) “Tramitado e Entregue” e/ou “Ficha de Acompanhamento”. Caso deseje, selecione o(s)
relatório(s) e clique no botão “OK”.
Observação Importante:
Ao tramitar o processo principal (“Processo Cabeça/Mãe”), no caso de haver apensação/anexação, os demais (proces-
sos apensos/anexos) serão tramitados automaticamente.
3.5.3 Tramite Cópia
Realiza trâmites de cópias de Processos/Documentos para as Unidades destinatárias internas ou externas ao Ministério
do Planejamento, Orçamento e Gestão.

22
NOÇÕES BÁSICAS DE ARQUIVO

• Identifique se a Tramitação é para processo ou documento (campo obrigatório).


1. Número do Protocolo (campo obrigatório):
2. Cópia Nº (campo obrigatório): informar o número da cópia a ser tramitada, ou clicar na seta à direita deste campo
para selecionar o item “Nova”.
O preenchimento dos campos referentes a Unidade de Destino, Nome do Técnico, Número de Volumes, Número da Úl-
tima Página, Situação e Despacho deverá ser realizado conforme o descrito no Módulo de Tramitação Original, pág 34 e 35.
Para concluir a tramitação, clique no botão “Gravar” (localizado no canto superior direito do menu), e serão apresenta-
das as seguintes mensagens:
- Trâmite da Cópia realizado com sucesso!
- Deseja emitir o relatório “Tramitado e Entregue”. Caso deseje, selecione o relatório e clique no botão “OK”.
3.6 Recebimento Protocolo

Este módulo disponibiliza as opções:


1. Atualizar: Realizar nova pesquisa, e apresentar a listagem atualizada de Protocolos a serem recebidos.

2. Receber: Atestar o recebimento dos Protocolos com carga para a unidade de lotação do usuário que está acessando
o Sistema. Para tal, basta clicar dentro do quadrado à esquerda do(s) número(s) do(s) Protocolo(s) desejado(s), e posterior-
mente clicar em “Receber” (localizado no canto superior direito do menu),.

Será apresentada a mensagem “Protocolo(s) recebido(s) com sucesso!”

OBS: Na Lista de Protocolo a serem recebidos os que possuem a numeração em vermelho indicam que são cópias de
Protocolo.

23
NOÇÕES BÁSICAS DE ARQUIVO

3.7 Atividades
3.7.1 Anexar Documento
Este módulo possibilita a anexação de Documentos a Protocolos.

• Informe o tipo de Protocolo ao qual o Documento será anexado (campo obrigatório).

1. Número do Protocolo (campo obrigatório):

2. Data (campo obrigatório):: Este campo será apresentado inicialmente com a data corrente.

3. Número do Documento (campo obrigatório): Número do documento a ser anexado ao Protocolo.

Para concluir a Anexação do documento, clique no botão gravar (localizado no canto superior esquerdo do menu) e
será mostrada a mensagem “Anexação realizada com sucesso”.

Observação Importante:
- Após a anexação de um documento, o mesmo não mais poderá ser desanexado.
- A ação de anexação deverá estar registrada fisicamente (documentada) no Protocolo, conforme o formulário espe-
cífico.

24
NOÇÕES BÁSICAS DE ARQUIVO

3.7.2 Arquivar Protocolo

Este módulo possibilita o arquivamento ou desarquivamento de Protocolos.


• Informe o tipo de Protocolo a ser Arquivado/Desarquivado (campo obrigatório).
1. Data (campo obrigatório): Este campo será apresentado inicialmente com a data corrente. Caso necessário, altere-a
para a data de arquivamento/desarquivamento desejada.
2. Número do Protocolo (campo obrigatório):
3. Localização: Unidade onde se encontra o Protocolo (a ser preenchido pelo sistema).
4. Endereço: Endereço de arquivamento. Ex.: Bloco K, Bloco C, SOF, etc.
5. Local: Complementação do endereço (Galpão ou Sala).
6. Nº. Sala: Número da sala.
7. Tipo: Tipo de arquivo. Ex.: Armário de aço, prateleira, caixa, etc.
8. Número: Número associado ao tipo de arquivo.
9. Ano: Ano do arquivamento/desarquivamento (a ser preenchido pelo sistema). Caso necessário, altere-o para o ano
desejado.
10. Atividade (Meio ou Fim): Atividade referente a funções ou atividades geral ou especificas da instituição.
11. Classificação: Classificação do Processo/Documento por assunto, que reflete as funções ou atividades da Instituição.
12. Temporalidade (prazo referente à fase Corrente, Intermediária e Destinação Final).
- Fases:
• Corrente – prazo mínimo de arquivamento do Protocolo no Arquivo Corrente.
• Intermediaria – prazo mínimo de arquivamento do Protocolo no Arquivo Central.
• Destinação Final – Destino Final do Processo/Documento (no Arquivo Corrente ou Arquivo Central).
Para concluir o arquivamento/desarquivamento clique no botão “Gravar”, e será apresentada a mensagem “Arquiva-
mento realizado com sucesso”
Observação Importante:
- A classificação do Processo/Documento é obrigatória, devendo ser realizada no ato do cadastramento ou no arqui-
vamento do mesmo.
- O despacho de arquivamento/desarquivamento deve estar documentado no Processo ou Documento

25
NOÇÕES BÁSICAS DE ARQUIVO

3.7.3 Juntar Processo

Este módulo é composto pelas funções Anexação, Apensação e Desapensação.

Obs.: Após a anexação de um processo, o mesmo não mais poderá ser desanexado.

1. Número do Processo (campo obrigatório): Número do processo ao qual será feita a “Juntada” (Processo Cabeça).

2. Data (campo obrigatório): Este campo será apresentado inicialmente com a data corrente. Caso necessário, altere-a
para a data de “Juntada” desejada.

3. Nº do Processo (campo obrigatório): Número do processo que será “Juntado” ao Processo Cabeça.

4. Status (campo obrigatório): Informe o tipo de “Juntada” a ser realizada, clicando em uma das três opções (Apensado,
Anexado ou Desapensado).

Para concluir a “Juntada de Processos”, clique no botão gravar (localizado no canto superior esquerdo do menu) e será
mostrada a mensagem “Juntada realizada com sucesso”.

A ação de anexação deverá estar registrada fisicamente conforme o formulário específico.

26
NOÇÕES BÁSICAS DE ARQUIVO

3.7.4 Transferir Protocolo

Este módulo disponibiliza as seguintes funções:

- Lista: Apresenta (em tela) a relação dos Protocolos a serem transferidos (por Mês/Ano), de acordo com a temporali-
dade dos mesmos. Para realizar a transferência dos Protocolos, selecione-os clicando no quadrado localizado à esquerda
do número de cada Protocolo desejado, e posteriormente clique no botão “Transferir”.

- Relatório: Emite um relatório contendo a relação dos Protocolos a serem transferidos (por Mês/Ano), de acordo com
a temporalidade dos mesmos.

1. Data, Mês/Ano (campo obrigatório): Informe o mês e o ano a serem considerados para a geração da lista ou relatório.

2. Clique em uma das opções (lista ou relatório).

27
NOÇÕES BÁSICAS DE ARQUIVO

3.7.5 Eliminar Protocolo

Este módulo disponibiliza as seguintes funções:

- Lista: Apresenta (em tela) a relação dos Protocolos a serem eliminados (por Mês/Ano), de acordo com a temporali-
dade dos mesmos. Para realizar a eliminação dos Protocolos, selecione-os clicando no quadrado localizado à esquerda do
número de cada Protocolo desejado, e posteriormente clique no botão “Eliminar”.

- Relatório: Emite um relatório contendo a relação dos Protocolos a serem eliminados (por Mês/Ano), de acordo com
a temporalidade dos mesmos.

1. Data, Mês/Ano (campo obrigatório): Informe o mês e o ano a serem considerados para a geração da lista ou relatório.

2. Clique em uma das opções (lista ou relatório).

28
NOÇÕES BÁSICAS DE ARQUIVO

3.7.6 Gerenciamento de Etiquetas

Este módulo possibilita o controle da numeração das etiquetas (pequenas) a serem utilizadas dentro dos Protocolos.
Geralmente é utilizado para retroceder o número da próxima etiqueta a ser impressa, por motivo da ocorrência de proble-
mas no momento da emissão das mesmas.

1. Unidade Protocolizadora (campo obrigatório): Unidade de lotação do usuário solicitante da alteração das etiquetas.

2. Número da próxima etiqueta a ser impressa (campo obrigatório).

3. Justificativa (campo obrigatório).

- Selecione a Justificativa pela alteração da numeração, clicando em uma das opções apresentadas; clique no botão
“Gravar” e será apresentada a mensagem “Número de etiqueta alterado com sucesso”

29
NOÇÕES BÁSICAS DE ARQUIVO

3.7.7 Converter Documento

Este módulo possibilita a Conversão de documentos em processos. Após a realização da conversão, a mesma não mais
poderá ser desfeita.

1. Número do Documento (campo obrigatório):

- Informe o número do documento a ser convertido e clique no botão “Buscar”.

Após a apresentação dos seus dados, clique no botão “Converter” para concluir a operação e será apresentada a men-
sagem “Documento convertido com sucesso”

Obs.: Os campos Data de Abertura, Número do Documento, Espécie do Documento, Data do Documento e Assunto/
Complemento serão preenchidos pelo sistema.

30
NOÇÕES BÁSICAS DE ARQUIVO

3.8 Consulta
3.8.1 Protocolo

Realiza a pesquisa (busca) aos Protocolos, a partir do cruzamento de informações fornecidas pelo usuário. Esta tela é
composta pelos seguintes campos, que deverão ser preenchidos conforme o descrito no módulo Cadastramento de Pro-
cesso/Documento (pág. 27, 28 e 29).

1. Tipo de Protocolo (Processo, Documento ou Ambos).


2. Numero do Protocolo.
3. Data de abertura.
4. Espécie do Documento.
5. Número do Documento.
6. Data do Documento.
7. País (Procedência).
8. UF (Procedência).
9. Municípios (Procedência).
10. Nome (Procedência).
11. País (Interessado/Solicitante).
12. UF (Interessado/Solicitante).
13. Município (Interessado/Solicitante).
14. Atributo (Interessado/Solicitante).
15. Nome (Interessado/Solicitante).
16. Assunto/Complemento.
17. Classificação.

31
NOÇÕES BÁSICAS DE ARQUIVO

Para efetivar a pesquisa clique no botão “Buscar” e o sistema irá apresentar o resultado da mesma.

Nesta relação os processos estarão identificados por um “(P)” à esquerda do número e os documentos por um “(D)”.
Caso deseje visualizar os dados de determinado Protocolo, clique em cima do respectivo número.
OBSERVAÇÕES IMPORTANTES:
• Nº DO DOCUMENTO – ex.: ofício nº 0137/98 (consulte apenas 137).
• PROCEDÊNCIA – digite siglas, nomes ou partes do nome, procurando sempre diminuir o “universo” de registros pos-
sivelmente existentes.
Ex.: UFBA - Universidade Federal da Bahia.
Consulte: UFBA, ou UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA, ou parte do nome.
Obs.: note que se consultar apenas UNIVERSIDADE FEDERAL (nome incompleto) irá surgir o “universo” de todas as
Universidade Federais.
• INTERESSADO – faça como na “procedência”, mas lembre-se que neste campo é importante observar a quantidade
enorme de nomes que, por suas características, podem gerar cadastramento e/ou informações conflitantes.
Ex.1: ANTONIO CARLOS DE SOUSA (neste caso pode ter tido o cadastramento e/ou informação como sendo SOUZA);
Ex.2: Existem nomes abreviados, por não ter sido possível o cadastramento correto, devido à informação inicial estar
incompleta.
JOÃO DE O SILVA (como foi cadastrado)
JOÃO DE OLIVEIRA SILVA (informação correta)
Verifique que neste caso será difícil encontrar o nome na consulta, pois não se sabe precisamente como este foi ca-
dastrado.
Pode-se então, consultar por partes:
Ex.: JOÃO DE O (aparecerão todos os “JOÃO DE O. ...”);
JOÃO DE OLIVEIRA DA SILVA
NOTA: Estes cuidados devem ser observados, não pensando apenas em algum erro de digitação (cadastramento), mas
também pelas informações que nem sempre são precisas. Pode ocorrer numa primeira situação (quando do cadastramen-
to) a informação de nomes incompletos ou errados.

32
NOÇÕES BÁSICAS DE ARQUIVO

• OBSERVAÇÃO FINAL – na consulta não é obrigatório o preenchimento de todos os campos. Deve-se consultar se-
gundo o que for possível, e vale salientar que, quanto mais campos forem preenchidos, mais rápida será a pesquisa, que a
partir do cruzamento das informações fornecerá dados mais precisos.

3.8.2 Conformidade Documental

Realiza a pesquisa (busca) aos Protocolos referentes aos assuntos financeiros já concluídos, sob a gerência da Coorde-
nação Geral de Planejamento, Orçamento e Finanças – CGPOF/SPOA. Esta tela é composta pelos seguintes campos:
Tipo de Protocolo - Processo, Documento ou Ambos (campo obrigatório).
Número do Protocolo.
Data de Conformidade.
Modalidade (Concorrência, Convite, etc.)
Ordem Bancária: Número da Ordem Bancária.
Nota de Empenho: Número da Nota de Empenho.
Data de Emissão.

Para efetivar a pesquisa clique no botão “Buscar” e o sistema irá apresentar o resultado da mesma.

Nesta relação os processos estarão identificados por um “(P)” à esquerda do número e os documentos por um “(D)”.
Caso deseje visualizar os dados de determinado Protocolo, clique em cima do respectivo número.

33
NOÇÕES BÁSICAS DE ARQUIVO

3.8.3 Textual

A Consulta Textual poderá ser realizada a partir dos seguintes campos:

1. Período: Datas inicial e final (abertura do Protocolo) a serem consideradas na pesquisa.

2. Número do Documento;

3. Espécie (Abaixo Assinado, Ata, Aviso Circular, etc.).

4. Palavra Chave de Pesquisa (campo obrigatório): Preencher com uma, parte de palavras ou com mais de uma palavra
a serem verificadas nos campos

Procedência, Assunto, Assunto (Complemento), Interessado e Solicitante.

Para efetivar a pesquisa clique no botão “Buscar” e o sistema irá apresentar o resultado da mesma.

Nesta relação os processos estarão identificados por um “(P)” à esquerda do número e os documentos por um “(D)”.
Caso deseje visualizar os dados de determinado Protocolo, clique em cima do respectivo número.

34
NOÇÕES BÁSICAS DE ARQUIVO

3.9 Relatório
3.9.1 Certidão/Termo
3.9.1.1 Ficha de Acompanhamento

Este módulo possibilita a impressão da ficha de acompanhamento de Protocolos cadastrados/tramitados e entregues.

1. Número do Protocolo (campo obrigatório):

2. Informe o tipo de Protocolo – Processo/Documento (campo obrigatório).

35
NOÇÕES BÁSICAS DE ARQUIVO

3.9.1.2 Certidão de Juntada de Processo

36
NOÇÕES BÁSICAS DE ARQUIVO

3.9.1.3 Termo de Abertura e Fechamento

37
NOÇÕES BÁSICAS DE ARQUIVO

3.9.1.4 Certidão de Desentranhamento

3.9.2 Etiqueta
3.9.2.1 Número de Etiqueta
Este módulo permite a impressão de etiquetas (pequenas) a serem utilizadas dentro do Processo/Documento.
1. Unidade Protocolizadora (campo obrigatório): Unidade de lotação do usuário solicitante da emissão de etiquetas.

38
NOÇÕES BÁSICAS DE ARQUIVO

3.9.2.2 Número de Etiqueta para Cópia

39
NOÇÕES BÁSICAS DE ARQUIVO

3.9.2.3 Etiqueta de Protocolo

1. Informe o tipo de Protocolo (campo obrigatório), clicando em Processo ou Documento.


2. Número do Protocolo (campo obrigatório):
3. Nº da Etiqueta: Informe o local para impressão, clicando em uma das seguintes opções:
- 1 Etiqueta localizada na parte superior da folha.
- 2 Etiqueta localizada no meio da folha.
- 3 Etiqueta localizada na parte inferior da folha.

40
NOÇÕES BÁSICAS DE ARQUIVO

3.9.3 Geral
3.9.3.1 Protocolo

Realiza a pesquisa aos Protocolos, a partir do cruzamento das informações fornecidas pelo usuário. Esta tela é com-
posta pelos seguintes campos, que deverão ser preenchidos conforme o descrito no módulo Cadastramento de Processo/
Documento (pág 27, 28 E 29).
1. Tipo de Protocolo - Processo, Documento ou Ambos (campo obrigatório).
2. Número do Protocolo.
3. Data de Abertura (Datas Inicial e Final).
4. Espécie do Documento.
5. Número do Documento.
6. Data do Documento.
7. Procedência.
8. Interessado.
9. Solicitante.
10. Assunto.
11. Classificação.

OBS: Na solicitação deste relatório não é obrigatório o preenchimento de todos os campos. Vale salientar que, quanto
mais campos forem preenchidos, mais rápido será o resultado, que a partir do cruzamento das informações fornecerá da-
dos mais precisos.

41
NOÇÕES BÁSICAS DE ARQUIVO

3.9.3.2 Tramitado e Entregue

1. Informe o tipo de Protocolo – Processo, Documento ou Ambos (campo obrigatório).

2. Número do Protocolo (campo obrigatório):

3. Período: Datas inicial e final (abertura do Protocolo) a serem consideradas na pesquisa.

4. Unidade de Destino (campo obrigatório): Unidade do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, onde se
encontra o Processo/Documento.

42
NOÇÕES BÁSICAS DE ARQUIVO

3.9.3.3 Protocolos Pendentes

1. Informe o tipo de Protocolo (campo obrigatório): Processo, Documento ou Ambos.

2. Selecione uma das situações:


- Em Trâmite (todos os Protocolos).
- Com Prazo (somente os Protocolos com prazo de resposta).

3. Selecione uma das opções:


- Específica (Unidade Específica): Serão selecionados os Protocolos com carga para esta unidade. O campo seguinte
deverá ser preenchido com a sigla ou o nome da mesma.
- Subordinada (Unidade Específica e Subordinadas): Serão selecionados os
Protocolos com carga para estas unidades. O campo seguinte deverá ser preenchido com o nome da Unidade Principal.
- Técnico: Serão selecionados os Protocolos com carga para um determinado técnico. O campo seguinte deverá ser
preenchido com o nome deste.

4. Período: Datas inicial e final (abertura do Protocolo) a serem consideradas na pesquisa.

43
NOÇÕES BÁSICAS DE ARQUIVO

3.9.3.4 Protocolos Arquivados

1. Informe o tipo de Protocolo (campo obrigatório): Processo, Documento ou Ambos

2. Selecione uma das opções:


- Específica (Unidade Específica): Serão selecionados os Protocolos com carga para esta unidade. O campo seguinte
deverá ser preenchido com a sigla ou o nome da mesma.
- Subordinada (Unidade Específica e Subordinadas): Serão selecionados os Protocolos com carga para estas unidades.
O campo seguinte deverá ser preenchido com o nome da Unidade Principal.

3. Unidade (campo obrigatório): Unidade do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, onde o Processo/Do-
cumento encontra-se arquivado.

44
NOÇÕES BÁSICAS DE ARQUIVO

3.9.3.5 Cadastro por Unidade

1. Informe o tipo de Protocolo (campo obrigatório): Processo, Documento ou Ambos.

2. Selecione uma das opções:


- Quantitativos (quantitativos de Protocolos cadastrados, ordenados pelas Unidades solicitadas).
- Relação de Protocolos (relação de Protocolos cadastrados, ordenada pelas unidades solicitadas).

4. Selecione uma das situações, referente à Unidade de Origem:


- Específica (Unidade Específica): Serão selecionados os Protocolos cadastrados por esta unidade.
- Subordinada (Unidade Específica e Subordinadas): Serão selecionados os Protocolos cadastrados por estas unidades.

5. Unidade de Origem: Nome da unidade do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, onde o Processo/Do-
cumento foi cadastrado.
6. Selecione uma das situações, referente à Unidade de Destino:
- Específica (Unidade Específica): Serão selecionados os Protocolos com carga para esta unidade.
- Subordinada (Unidade Específica e Subordinadas): Serão selecionados os Protocolos com carga para estas unidades.

7. Unidade de Destino: Nome da unidade do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, onde o Processo/Do-
cumento encontra-se.

8. Assunto (campo obrigatório): Resumo do assunto a ser tratado no Processo/Documento.

9. Período: Datas inicial e final (abertura do Protocolo) a serem consideradas na pesquisa.

45
NOÇÕES BÁSICAS DE ARQUIVO

3.9.3.6 Protocolos Tramitados entre Unidade

1. Informe o tipo de Protocolo (campo obrigatório): Processo, Documento ou Ambos.


2. Selecione uma das opções:
- Última Tramitação (será considerada na pesquisa somente a última tramitação de cada protocolo).
- Todas as Tramitações (serão consideradas na pesquisa todas as tramitações de cada protocolo).
3. Selecione uma das opções:
- Quantitativos (quantitativos de Protocolos tramitados, ordenados pelas Unidades solicitadas).
- Relação de Protocolos (relação de Protocolos tramitados, ordenada pelas unidades solicitadas).
4. Selecione uma das situações, referente à Unidade de Origem:
- Específica (Unidade Específica): Serão selecionados os Protocolos tramitados por esta unidade.
- Subordinada (Unidade Específica e Subordinadas): Serão selecionados os Protocolos tramitados por estas unidades.
5. Unidade de Origem: Nome da unidade do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, que realizou a trami-
tação.
6. Selecione uma das situações, referente à Unidade de Destino:
- Específica (Unidade Específica): Serão selecionados os Protocolos recebidos por esta unidade.
- Subordinada (Unidade Específica e Subordinadas): Serão selecionados os Protocolos recebidos por estas unidades.
7. Unidade de Destino: Nome da unidade do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, que recebeu o Proto-
colo.
8. Assunto (campo obrigatório): Resumo do assunto a ser tratado no Processo/Documento.
9. Período: Datas inicial e final (abertura do Protocolo) a serem consideradas na pesquisa

46
NOÇÕES BÁSICAS DE ARQUIVO

3.10 Empréstimo
3.10.1 Empréstimo

Este Módulo possibilita o controle do empréstimo de Protocolos que encontram-se no Arquivo Central.

1. Informe o tipo de Protocolo (campo obrigatório): Processo ou Documento.

2. Número do Protocolo (campo obrigatório): Número do Protocolo a ser emprestado.

3. Data Empréstimo: Este campo será apresentado inicialmente com a data corrente. Caso necessário, altere-a para a
data desejada.

4. Usuário: Nome do usuário solicitante do empréstimo.

47
NOÇÕES BÁSICAS DE ARQUIVO

3.10.2 Consulta Empréstimo

1. Informe o tipo de Protocolo (campo obrigatório): Processo, Documento ou Ambos.

2. Número do Protocolo: Número do Protocolo emprestado.

3. Histórico: Marque está opção caso deseje imprimir o histórico de empréstimo dos Protocolos.

4. Selecione uma das situações:


- Pendente (Protocolos que ainda não foram devolvidos).
- Não Pendente (Protocolos já devolvidos).
- Todos.

5. Período de Empréstimo: Datas inicial e final a serem consideradas na pesquisa.

6. Selecione uma das opções:


- Usuário (Usuário solicitante do empréstimo). O próximo campo deverá ser preenchido com o nome deste.
- Unidade (Unidade solicitante do empréstimo). O próximo campo deverá ser preenchido com a sigla ou o nome desta.

48
NOÇÕES BÁSICAS DE ARQUIVO

3.1.1 Gerais
3.1.1.1 Altera Senha

Este módulo permite que o usuário altere a sua própria senha de acesso ao CPROD. NET.

1. Senha Atual: Senha atual do usuário.

2. Nova Senha: Nova senha, definida pelo usuário.

3. Confirmar Nova Senha: Digitar novamente a “Nova Senha”.

Para concluir esta alteração, clique no botão “Gravar”, e será apresentada a mensagem “Senha alterada com sucesso”.

49
NOÇÕES BÁSICAS DE ARQUIVO

3.1.1.2 Ajuda

Este módulo permite que o usuário retire dúvidas referentes ao sistema através de sistema de busca baseado em títulos
e subtítulos do menu do CPROD. NET.

Ex.: Como disponibilizar na estação.

Para realizar uma busca pode-se digitar qualquer uma destas palavras e o Ajuda irá listar os tópicos referentes à palavra
chave de pesquisa.

3. ARQUIVO INTERMEDIÁRIO.
4. ARQUIVO PERMANENTE.

A arquivística ou arquivologia é uma ciência que estuda as funções do arquivo, e também os princípios e técnicas a
serem observados durante a atuação de um arquivista sobre os arquivos. É a Ciência e disciplina que objetiva gerenciar
todas as informações que possam ser registradas em documentos de arquivos. Para tanto, utiliza-se de princípios, normas,
técnicas e procedimentos diversos, que são aplicados nos processos de composição, coleta, análise, identificação, organi-
zação, processamento, desenvolvimento, utilização, publicação, fornecimento, circulação, armazenamento e recuperação
de informações.
O arquivista é um profissional de nível superior, com formação em arquivologia ou experiência reconhecida pelo Es-
tado. Ele pode trabalhar em instituições públicas ou privadas, centros de documentação, arquivos privados ou públicos,
instituições culturais etc. É o responsável pelo gerenciamento da informação, gestão documental, conservação, preservação
e disseminação da informação contida nos documentos. Também tem por função a preservação do patrimônio documental
de um pessoa (física ou jurídica), instituição e, em última instância, da sociedade como um todo. Ocupa-se, ainda, da re-
cuperação da informação e da elaboração de instrumentos de pesquisa, observando as três idades dos arquivos: corrente,
intermediária e permanente.

50
NOÇÕES BÁSICAS DE ARQUIVO

O arquivista atua desenvolvendo planejamentos, estu- Princípio da Unicidade: Não obstante, forma, gênero,
dos e técnicas de organização sistemática e conservação tipo ou suporte, os documentos de arquivo conservam seu
de arquivos, na elaboração de projetos e na implantação caráter único, em função do contexto em que foram pro-
de instituições e sistemas arquivísticos, no gerenciamen- duzidos.
to da informação e na programação e organização de ati-
vidades culturais que envolvam informação documental Princípio da Indivisibilidade ou integridade: Os
produzida pelos arquivos públicos e privados. Uma grande fundos de arquivo devem ser preservados sem dispersão,
dificuldade é que muitas organizações não se preocupam mutilação, alienação, destruição não autorizada ou adição
com seus arquivos, desconhecendo ou desqualificando o indevida.
trabalho deste profissional, delegando a outros profissio-
nais as atividades específicas do arquivista. Isto provoca Princípio da Cumulatividade: O arquivo é uma for-
problemas quanto à qualidade do serviço e de tudo o que, mação progressiva, natural e orgânica.
direta ou indiretamente, depende dela.
Arquivo é um conjunto de documentos criados ou re- Classificação
cebidos por uma organização, firma ou indivíduo, que os A escolha da forma de ordenação depende muito da
mantém ordenadamente como fonte de informação para natureza dos documentos. Vejam os métodos básicos:
a execução de suas atividades. Os documentos preserva- Ordenação Alfabética: disposição dos documentos ou
dos pelo arquivo podem ser de vários tipos e em vários pastas de acordo com a sequência das letras do alfabeto.
suportes. As entidades mantenedoras de arquivos podem Pode ser classificada em enciclopédico e dicionário quando
ser públicas (Federal, Estadual Distrital, Municipal), institu- se trata de assuntos.
cionais, comerciais e pessoais. Ordenação Cronológica: disposição dos documentos
Um documento (do latim documentum, derivado de ou pastas de acordo com a sucessão temporal.
docere “ensinar, demonstrar”) é qualquer meio, sobretudo Ordenação Geográfica: disposição de acordo com as
gráfico, que comprove a existência de um fato, a exatidão unidades territoriais (países, estados, municípios, distritos,
ou a verdade de uma afirmação etc. No meio jurídico, do- bairros e outras).
Ordenação Temática: disposição de acordo com temas
cumentos são frequentemente sinônimos de atos, cartas
ou assuntos.
ou escritos que carregam um valor probatório.
Ordenação Numérica: disposição de acordo com a se-
Documento arquivísticos: Informação registrada, inde-
quência numérica atribuída aos documentos. Depende de
pendente da forma ou do suporte, produzida ou recebida
um índice auxiliar para busca de dados.
no decorrer da atividade de uma instituição ou pessoa e
que possui conteúdo, contexto e estrutura suficientes para
Ex.: Na pasta MANUTENÇÃO PRÉDIO você poderá ar-
servir de prova dessa atividade.
quivar os documentos em ordem cronológica, assim sendo
Desde o desenvolvimento da Arquivologia como dis- teríamos: primeiro o Memorando pedindo o conserto, de-
ciplina, a partir da segunda metade do século XIX, talvez pois a resposta do ESTEC solicitando a compra de torneira
nada tenha sido tão revolucionário quanto o desenvolvi- nova, em seguida a Informação de que já foi adquirida a
mento da concepção teórica e dos desdobramentos prá- torneira, e por último a Informação do ESTEC que o serviço
ticos da gestão. foi concluído.
É importante no Arquivo que os documentos de uma
PRINCÍPIOS: mesma função sejam guardados juntos, para que se perce-
Os princípios arquivísticos constituem o marco principal ba como começou a ação e como terminou, formando as-
da diferença entre a arquivística e as outras “ciências” do- sim os dossiês de fácil compreensão para quem pesquisa.
cumentárias. São eles: Arquivamento: guarde os documentos dentro das pas-
tas e das caixas já contidas no setor ou monte-as de acordo
Princípio da Proveniência: Fixa a identidade do do- com o plano de classificação.
cumento, relativamente a seu produtor. Por este princípio, Nesse último caso faça as etiquetas indicando o código
os arquivos devem ser organizados em obediência à com- da atividade correspondente. Não se esqueça de anotar no
petência e às atividades da instituição ou pessoa legitima- canto superior esquerdo da pasta os códigos da Unidade/
mente responsável pela produção, acumulação ou guarda Órgão/área respectivos.
dos documentos. Arquivos originários de uma instituição Empréstimo de Documentos: para se controlar melhor
ou de uma pessoa devem manter a respectiva individuali- os documentos que saem do arquivo e para garantir a inte-
dade, dentro de seu contexto orgânico de produção, não gridade do mesmo, é interessante que se adote um sistema
devendo ser mesclados a outros de origem distinta. de controle de empréstimo de documentos.
Você pode criar um formulário de Requisição de Docu-
Princípio da Organicidade: As relações administra- mentos com os seguintes dados:
tivas orgânicas se refletem nos conjuntos documentais. A
organicidade é a qualidade segundo a qual os arquivos es- - a) Identificação do documento.
pelham a estrutura, funções e atividades da entidade pro- - b) Classificação ou pasta a qual ele pertence.
dutora/acumuladora em suas relações internas e externas. - c) O nome do requisitante e o setor.
- d) Assinatura e datas de empréstimo e devolução.

51
NOÇÕES BÁSICAS DE ARQUIVO

Lembre-se: “O arquivamento correto e a localização Este sistema parte da análise de um assunto e divide-o
imediata dos documentos, depende, em grande parte, da em grupos e subgrupos com características cada vez mais
precisão e cuidado com que são executadas cada uma des- particulares e restritas exigindo um certo controlo e disci-
sas operações.”. plina devido à grande variedade de palavras com significa-
dos análogo.
Classificação Cronológica Para aplicar este sistema é necessário elaborar um
A classificação cronológica tem por base a possibilida- instrumento de trabalho que sirva de orientação para a
de em agrupar determinado número de documentos de classificação de assuntos nos arquivos e que se designa
acordo com as divisões naturais do tempo: anos, meses, normalmente por classificador ou listagem por assuntos.
semanas, dias e horas. Este sistema, como se pode obser- O classificador deve ser elaborado respeitando um deter-
var, é muito semelhante ao sistema numérico simples e minado número de regras, tais como, evitar as abstrações
utiliza-se, muitas das vezes, em combinação com outros (por abrangerem matérias demasiado vastas) e afastar a
sistemas classificativos, sobretudo, o alfabético. utilização de palavras com significados análogos, colocan-
A localização de um documento classificado cronolo- do-se na lista uma remissiva para a palavra-chave que está
gicamente requer um conhecimento perfeito da data exata a ser utilizada.
(ano, mês ou dia) sem a qual não será possível localizá-lo. Para que o nosso trabalho fique completo deve-se sub-
Este tipo de classificação não oferece especiais dificuldades meter à listagem a uma cuidadosa avaliação pelos utentes
quando se procede a incorporação de novos documentos. do arquivo, de forma a poder introduzir os melhoramentos
Quando se pretende localizar e recuperar os documentos é necessário que permitam a recuperação dos documentos
necessário elaborar fichas remissivas alfabéticas, por exem- arquivados Este instrumento deve ser periodicamente re-
plo, de assuntos, que possibilitam a indicação da data do visto e atualizado, e deve refletir a estrutura interna do or-
documento. ganismo.
As conservatórias do Registro Civil, por exemplo, são As principais vantagens atribuídas a este sistema clas-
serviços onde a ordenação e pesquisa de documentos é sificativo resultam do fato de se poder ter uma visão global
elaborada mediante recurso às datas de nascimento, ca- dos assuntos que são abordados na documentação, permi-
samento, morte e de outros assuntos. Este tipo de classi- tir o agrupamento dos documentos de acordo com o seu
ficação é aplicado em arquivos de documentos de origem conteúdo, ser extensível até ao infinito e de ser altamente
contabilística: faturas, pagamentos de contribuições, orde- flexível.
nados e outros assuntos relacionados com esta e em Ar- A técnica que se costuma aplicar na divisão dos assun-
quivos Históricos e Etnográficos, uma vez que proporciona tos é a seguinte:
a ligação do passado ao presente e nos mostrando-nos a Divisão do assunto em capítulos
evolução das instituições ao longo da história. Divisão de cada capítulo em famílias
Divisão de cada família em grupos, representando as-
Classificação Geográfica suntos especializados
Este sistema utiliza um método idêntico ao cronológi- Divisão eventual de cada grupo em subgrupos, indi-
co com a diferença de que os documentos são classifica- cando uma divisão particular
dos e agrupados com base nas divisões geográficas/admi-
nistrativas do globo: países, regiões, províncias, distritos, Classificação Decimal
conselhos, cidades, vilas, aldeias, bairros, freguesias, ruas e O sistema de classificação decimal pode ser conside-
outros critérios geográficos e de localização. rado um critério classificativo resultante da combinação da
Este sistema é combinado com outros sistemas classi- classificação numérica com a ideológica.
ficativos, como por exemplo; o alfabético, o numérico ou o Este método classificativo foi idealizado pelo bibliote-
decimal, com vista a um melhor acondicionamento e loca- cário norte-americano Mevil Dewey que a definia, na es-
lização dos documentos e a sua informação. sência, como uma classificação de assuntos relacionados
O sistema de classificação geográfica resulta do fato de a um índice relativo. Não só foi criada para a arrumação
haver necessidade de localizar fato ou pessoas num espaço dos livros nas prateleiras mas também para indicações nos
geográfico determinado, como por exemplo; as coleções catálogos, recortes notas, manuscritos e de um modo ge-
ou séries filatélicas que normalmente são agrupadas por ral, todo material literário de qualquer espécie. Foi aplicado
localidades, países, regiões e outros critérios relacionados pela primeira vez a partir de 1851, na biblioteca de Amhrest
com estes. É muito utilizado em museus etnográficos e de College de Massachussets, nos Estado Unidos da América e
arte popular. com bons resultados.
A classificação decimal consiste, essencialmente, na di-
Classificação Ideológica visão dos assuntos ou matérias em 10 grupos de primeira
A classificação ideológica, também designada como ordem ou categoria (0 a 9) que por sua vez se podem sub-
ideográfica, metódica ou analítica baseia-se, fundamental- dividir em grupos de segunda ordem e assim sucessiva-
mente, na divisão de assuntos, ideias, conceitos e outras mente. Assim, por exemplo, ao grupo de primeira categoria
divisões, sendo os documentos referentes a um mesmo as- ou principal é atribuída a seguinte numeração:
sunto ou objeto de conhecimento, ordenados segundo um 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
conceito chave ou ideia de agrupamento, colocando-se a Sendo as divisões de segunda categoria e derivadas do
seguir, de forma alfabética. grupo 5 as seguintes:

52
NOÇÕES BÁSICAS DE ARQUIVO

50 51 52 53 54 55 56 57 58 59 Este sistema é mais utilizado em bibliotecas e serviços


Ainda se pode subdividir o grupo de segunda categoria de documentação para a elaboração de ficheiros por as-
o nº 55 noutro de terceira categoria: suntos ou matérias e posterior catalogação e arrumação do
550 551 552 553 554 555 556 557 558 559 material bibliográfico. Em Portugal, o uso deste sistema de
Com este sistema pretendia-se abranger a totalidade classificação é generalizado, tanto nas Bibliotecas Universi-
dos assuntos ou matérias que iriam ser objeto de classifica- tárias, como nas Bibliotecas Públicas e Escolares.
ção, baseando-se no principio de que a formação dos nú- A CDU tem vindo a ser continuamente ampliada e mo-
meros decimais é ilimitada e entre dois números decimais, dificada para fazer face ao surgimento de novos concei-
consecutivos da mesma ordem, podem intercalar-se outros tos e conhecimentos do saber humano, principalmente, na
dez da ordem imediatamente inferior. área da ciência e tecnologia.
Exemplo: A CDU é composta por:
51. Expediente e arquivo Uma tabela principal de matérias, que enumera hierar-
510. Expediente e arquivo em geral quicamente o conhecimento, nas referidas 10 classes. As
511. Arquivo divisões principais são:
512. Seleção documental
513. Reprografia 0 Generalidades
514. Entrada e saída de correspondência 1 Filosofia. Psicologia
5140. Entrada de correspondência 2 Religião. Teologia
5141. Saída de correspondência 3 Ciências Sociais
515. Serviços auxiliares 4 Classe atualmente não usada
5150. Serviços auxiliares em geral 5 Ciências Exatas. Ciências naturais
5151. Transportes pelas cantinas 6 Ciências Aplicadas. Medicina. Tecnologia
516. Telefone 7 Arte. Arquitetura. Recreação e Desporto
517. Viaturas 8 Linguística. Língua. Literatura
Apesar deste sistema de classificação ter imensos sim- 9 Geografia. Biografia. História
patizantes devido à sua aparente simplicidade acontece,
porém, que enferma de alguns inconvenientes, entre os Cada classe principal subdivide-se decimalmente em
quais, a rigidez que impõe na divisão dos vários ramos do subclasses que por sua vez também se subdividem em
conhecimento humano; é um sistema relativamente moro- áreas cada vez mais especializadas.
so, quer na sua construção, quer na sua aplicação à organi- As tabelas auxiliares, que representam não assuntos,
zação espacial do arquivo e posterior localização, exigindo mas formas de os especificar (por lugar, tempo, forma, lín-
pessoal especializado. gua, etc.), flexibilizando muito mais a representação dos
conceitos.
Classificação Decimal Universal (CDU) Um índice, lista alfabética de conceitos. A cada con-
A classificação Decimal Universal (CDU) é um esquema ceito corresponde uma notação que serve de guia na con-
de classificação uniformizado e normalizado, amplamente sulta da tabela principal, para mais fácil e rapidamente se
usado nacional e internacionalmente, que visa cobrir e or- localizar a notação adequada ao assunto que se pretende
ganizar a totalidade do conhecimento humano. pesquisar.
Henri Lafontaine e Paul Otlet publicaram, em 1905, a Uma das principais vantagens desta classificação resi-
primeira edição do que viria a ser a Classificação Decimal de na sua dimensão universal e internacional, dada a sua
Universal. Esta primeira edição do Manuel du Repertoire independência face a todas as expressões idiomáticas, o
Bibliografique Universal é um desenvolvimento do esque- que facilita enormemente a pesquisa e a troca de informa-
ma base utilizado por Dewey que distribui a totalidade do ção ao nível internacional.
conhecimento em dez grandes classes, que por sua vez, No seguimento do exemplo anterior, tal significa que a
são divididas em dez subclasses que se dividem em dez notação 37 e o conceito que lhe está associado, é igual em
grupos. Cada conceito é traduzido por uma notação nu- todas as bibliotecas do mundo que adotem este sistema
mérica ou alfanumérica por exemplo, ao conceito geral de de classificação.
educação corresponde a notação numérica 37. O seu grande inconveniente resulta da sua aplicação
A CDU baseia-se em três princípios fundamentais os que exige pessoal altamente especializado dado que é um
quais são: grande risco classificar matérias diferentes com o mesmo
Classificação: por ser uma classificação no sentido res- número.
trito da palavra agrupa ideias nos seus aspectos concor-
dantes. Classificação Automática
Universalidade: inclui cada um dos ramos do conheci- As operações de classificação podem ser objeto de
mento humano, encarando-os sob os vários aspectos. uma automatização em moldes parciais, já que a inteligên-
Decimalidade: a totalidade do conhecimento humano cia humana continua a ser indispensável para selecionar o
é dividida em dez classes, cada uma das quais, por sua vez, assunto principal e determinar as informações secundárias.
se subdivide de novo decimalmente, pela adição de cifras Atualmente a sua aplicação é feita a título experimental em
decimais. algumas bibliotecas.

53
NOÇÕES BÁSICAS DE ARQUIVO

A classificação automática assenta no seguinte princí- PRAZO DE ARQUIVAMENTO: O tempo de guarda dos
pio geral: ao caracterizar diversos objetos de uma coleção documentos está relacionado ao seu ciclo de vida. Aos ar-
organizando-os por séries de atributos (data, forma, lín- quivos setoriais interessa ter acesso aos documentos que
gua, domínio, e outros), é possível comparar, agrupando, estão sujeitos a consulta diariamente. O prazo de arquiva-
de dois em dois e contar para cada par o número de atribu- mento não deve exceder a cinco anos, incorrendo no risco
tos comuns. O resultado conduz à colocação em conjunto de acumular documentos desnecessários ao uso corrente e
dos objetos que possuem características frequentes, cons- dificultar o acesso.
tituindo classes não à priori mas sim à posteriori. A documentação que cumpriu sua função imediata,
O interesse que desperta a classificação automática mas contém informações de caráter probatório, deve ser
situa-se ao nível da pesquisa documental. Ela permanece transferida para o arquivo intermediário do órgão. Docu-
sem utilidade em organizações que já possuem a classi- mentos com longo período de valor probatório poderão
ficação física das obras, sendo incapaz de recriar auto- ser transferidos à Divisão de Documentação Intermediária
maticamente um esquema classificatório. A concepção e do Arquivo Público do Estado. O terceiro estágio prevê o
desenvolvimento de uma linguagem classificatória e a sua recolhimento da documentação produzida pelos órgãos
aplicação a um determinado fundo documental são de públicos que tem informações sobre o desempenho de sua
competência exclusiva do domínio do homem. função junto à sociedade. Esta produção documental de
A Associação Internacional para a Classificação situada
valor permanente receberá um tratamento arquivístico que
na Alemanha publica sob o patrocínio da FID (Federação
contempla sua conservação, arranjo e descrição para estar
Internacional de Documentação, a revista International
disponível à pesquisa.
Classification onde se apresentam estudos sobre a teoria
dos conceitos, a terminologia sistemática e a organização
do saber. Estas organizações e outras interessam-se pelos COMO UTILIZAR A TABELA DE TEMPORALIDADE
métodos matemáticos aplicáveis neste domínio. A Tabela de Temporalidade de Documentos deve ser
utilizada no momento de classificação e avaliação da docu-
Tabela de temporalidade de documentos de arqui- mentação. Proceder da seguinte forma:
vo. ƒ verificar se os documentos estão classificados de
A Tabela de Temporalidade de Documentos é o instru- acordo com os assuntos do Código de Classificação de Do-
mento resultante da avaliação documental, aprovado por cumentos; ƒ documentos que se referem a dois ou mais
autoridade competente, que define prazos de guarda e a assuntos, deverão ser classificados e agrupados ao con-
destinação de cada série documental. junto documental (dossiê, processo ou pasta) que possui
A efetiva implementação de tais instrumentos objetiva maior prazo de arquivamento ou que tenha sido destinado
a simplificação e racionalização dos procedimentos de ges- à guarda permanente; ƒ o prazo de arquivamento deve se
tão dos documentos e das informações, ou seja, permitirá contar a partir do primeiro dia útil do exercício seguinte
uma considerável redução da massa documental acumula- ao do arquivamento do documento, exceto aqueles que
da, eliminando enormes volumes de documentos rotinei- originam despesas, cujo prazo de arquivamento é contado
ros e desprovidos de valor que justifique a sua guarda, com a partir da aprovação das contas pelo Tribunal de Contas;
consequente otimização do espaço físico e racionalização ƒ eliminar as cópias e vias, quando o documento original
de custos, e sobretudo garantirá a preservação dos docu- estiver no conjunto documental (dossiê, processo ou pas-
mentos de guarda permanente, de relevante valor informa- ta); ƒ proceder ao registro dos documentos a serem eli-
tivo e probatório. minados; ƒ elaborar listagem dos documentos destinados
A Tabela de Temporalidade é o registro esquemático à transferência para o arquivo intermediário do órgão ou
do ciclo de vida dos documentos, determinando os prazos entidade, ou para a Divisão de Documentação Intermediá-
de guarda no arquivo corrente ou setorial, sua transferên- ria do Arquivo Público do Estado;
cia para o arquivo intermediário ou geral, a eliminação ou
recolhimento para a Divisão de Documentação Permanen- OBS. Quando houver processo judicial os prazos de
te do Arquivo Público do Estado.
arquivamento devem ser suspensos até a conclusão do
A Tabela é um instrumento da gestão documental e
mesmo.
passível de alterações na medida em que a produção de
documentos se altera, devido a mudanças sociais, admi-
PROTOCOLO:
nistrativas e jurídicas. No entanto, alterações de qualquer
natureza devem partir do órgão regulador da política de É conhecimento da grande maioria que os arquivos
arquivos. possuem hoje uma notoriedade muito melhor do que já se
viu há algum tempo. Contudo, esse reconhecimento ainda
ASSUNTO/TIPO DOCUMENTAL: Os assuntos/tipos do- não é o desejado. Para que os arquivos alcancem um nível
cumentais relacionados na Tabela correspondem aos docu- de importância ainda maior, é necessário que sejam geri-
mentos produzidos pelas atividades-meio dos órgãos. São dos da forma correta, a fim de evitar o acúmulo de massas
tipos documentais já consagrados pelo uso e alguns iden- documentais desnecessárias, de agilizarem ações dentro
tificados na legislação que regula as atividades do setor. de uma instituição, enfim, que cumpram a sua função, seja
desde o valor probatório até o cultural.

54
NOÇÕES BÁSICAS DE ARQUIVO

Considera-se gestão de documentos o conjunto de Tomar conhecimento das correspondências de caráter


procedimentos e operações técnicas referentes à sua pro- ostensivo por meio da leitura, requisitando a existência de
dução, tramitação, uso, avaliação e arquivamento em fase antecedentes, se existirem;
corrente e intermediária, visando a sua eliminação ou reco- Classificar o documento de acordo com o método da
lhimento para a guarda permanente. instituição; carimbando-o em seguida;
Protocolo é a denominação geralmente atribuída a se- Elaborar um resumo e encaminhar os documentos ao
tores encarregados do recebimento, registro, distribuição protocolo.
e movimentação dos documentos em curso; denominação Preparar a ficha de protocolo, em duas vias, anexando
atribuída ao próprio número de registro dado ao docu- a segunda via da ficha ao documento;
mento; Livro de registro de documentos recebidos e/ou Rearquivar as fichas de procedência e assunto, agora
expedidos. com os dados das fichas de protocolo;
É de conhecimento comum o grande avanço que a
humanidade teve nos últimos anos. Dentre tais avanços, Arquivar as fichas de protocolo.
incluem-se as áreas que vão desde a política até a tecno- A tramitação de um documento dentro de uma ins-
lógica. Tais avanços contribuíram para o aumento da pro- tituição depende diretamente se as etapas anteriores fo-
dução de documentos. Cabe ressaltar que tal aumento ram feitas da forma correta. Se feitas, fica mais fácil, com
teve sua importância para a área da arquivística, no sen- o auxílio do protocolo, saber sua exata localização, seus
tido de ter despertado nas pessoas a importância dos ar- dados principais, como data de entrada, setores por que
quivos. Entretanto, seja por descaso ou mesmo por falta já passou, enfim, acompanhar o desenrolar de suas fun-
de conhecimento, a acumulação de massas documentais ções dentro da instituição. Isso agiliza as ações dentro da
desnecessárias foi um problema que foi surgindo. Essas instituição, acelerando assim, processos que anteriormente
massas acabam por inviabilizar que os arquivos cumpram encontravam dificuldades, como a não localização de do-
suas funções fundamentais. Para tentar sanar esse e outros cumentos, não se podendo assim, usá-los no sentido de
problemas, que é recomendável o uso de um sistema de valor probatório, por exemplo.
protocolo. Após cumprirem suas respectivas funções, os docu-
É sabido que durante a sua tramitação, os arquivos cor- mentos devem ter seu destino decidido, seja este a sua eli-
rentes podem exercer funções de protocolo (recebimento, minação ou recolhimento. É nesta etapa que a expedição
registro, distribuição, movimentação e expedição de do- de documentos torna-se importante, pois por meio dela,
cumentos), daí a denominação comum de alguns órgãos fica mais fácil fazer uma avaliação do documento, poden-
como Protocolo e Arquivo. E é neste ponto que os proble- do-se assim decidir de uma forma mais confiável, o destino
mas têm seu início. Geralmente, as pessoas que lidam com do documento. Dentre as recomendações com relação a
o recebimento de documentos não sabem, ou mesmo não expedição de documentos, destacam-se:
foram orientadas sobre como proceder para o documento Receber a correspondência, verificando a falta de ane-
cumpra a sua função na instituição. Para que este proble- xos e completando dados;
ma inicial seja resolvido, a implantação de um sistema de Separar as cópias, expedindo o original;
base de dados, de preferência simples e descentralizado, Encaminhar as cópias ao Arquivo.
permitindo que, tão logo cheguem às instituições, os docu- É válido ressaltar que as rotinas acima descritas não
mentos fossem registrados, pelas devidas pessoas, no seu valem como regras, visto que cada instituição possui suas
próprio setor de trabalho seria uma ótima alternativa. Tal tipologias documentais, seus métodos de classificação,
ação diminuiria o montante de documentos que chegam enfim, surgem situações diversas. Servem apenas como
as instituições, cumprem suas funções, mas sequer tiveram exemplos para a elaboração de rotinas em cada instituição.
sua tramitação ou destinação registrada.
Algumas rotinas devem ser adotadas no registro do- CLASSIFICAÇÃO DE DOCUMENTOS DE ARQUIVO.
cumental, afim de que não se perca o controle, bem como Desde o desenvolvimento da arquivologia como disci-
surjam problemas que facilmente poderiam ser evitados plina, a partir da segunda metade do século XIX, talvez nada
(como o preenchimento do campo Assunto, de muita im- a tenha revolucionado tanto quanto concepção teórica e
portância, mas que na maioria das vezes é feito de forma os desdobramentos práticos da gestão ou a administra-
errônea). Dentre as recomendações de recebimento e re- ção de documentos estabelecidos após a Segunda Guerra
gistro, destaca-se: Mundial. Para alguns, trata-se de um conceito emergente,
Receber as correspondências, separando as de caráter alvo de controvérsias e ainda restrito, como experiência, a
oficial da de caráter particular, distribuindo as de caráter poucos países.
particular a seus destinatários. Segundo o historiador norte americano Lawrence Bur-
Após essa etapa, os documentos devem seguir seu cur- net, a gestão de documentos é uma operação arquivística
so, a fim de cumprirem suas funções. Para que isto ocorra, “o processo de reduzir seletivamente a proporções mani-
devem ser distribuídos e classificados da forma correta, ou puláveis a massa de documentos, que é característica da ci-
seja, chegar ao seu destinatário Para isto, recomenda-se: vilização moderna, de forma a conservar permanentemen-
Separar as correspondências de caráter ostensivo das te os que têm um valor cultural futuro sem menosprezar a
de caráter sigiloso, encaminhado as de caráter sigiloso aos integridade substantiva da massa documental para efeitos
seus respectivos destinatários; de pesquisa”.

55
NOÇÕES BÁSICAS DE ARQUIVO

Por outro lado, alguns concebem a gestão de docu- No código de classificação, as funções, atividades, es-
mentos como a aplicação da administração científica com fins pécies e tipos documentais genericamente denominados
de eficiência e economia, sendo os benefícios para os futuros assuntos, encontram-se hierarquicamente distribuídos de
pesquisadores considerados apenas meros subprodutos. Si- acordo com as funções e atividades desempenhadas pelo
tuando-se entre esses dois extremos, a legislação norte ameri- órgão. Em outras palavras, os assuntos recebem códigos
cana estabelece a seguinte definição: numéricos, os quais refletem a hierarquia funcional do ór-
O planejamento, o controle, a direção, a organização, a ca- gão, definida através de classes, subclasses, grupos e sub-
pacitação, a promoção e outras atividades gerenciais relacionadas grupos, partindo-se sempre do geral para o particular.
com a criação de documentos, sua manutenção, uso e eliminação, A classificação deve ser realizada por servidores treina-
incluindo o manejo de correspondência, formulários, diretrizes, dos, de acordo com as seguintes operações.
informes, documentos informáticos, microformas, recuperação de a) ESTUDO: consiste na leitura de cada documento, a
informação, fichários, correios, documentos vitais, equipamentos e fim de verificar sob que assunto deverá ser classificado e
materiais, máquinas reprográficas, técnicas de automação e ela- quais as referências cruzadas que lhe corresponderão. A
boração de dados, preservação e centros de arquivamento inter- referência cruzada é um mecanismo adotado quando o
mediários ou outras instalações para armazenagem. conteúdo do documento se refere a dois ou mais assuntos.
Sob tal perspectiva, a gestão cobre todo o ciclo de exis- b) CODIFICAÇÃO: consiste na atribuição do código cor-
tência dos documentos desde sua produção até serem elimi- respondente ao assunto de que trata o documento.
nados ou recolhidos para arquivamento permanente, ou seja,
trata-se de todas as atividades inerentes às idades corrente e ROTINAS CORRESPONDENTES ÀS OPERAÇÕES DE
intermediária. CLASSIFICAÇÃO
De acordo com o Dicionário de Terminologia Arquivística, 1. Receber o documento para classificação;
do Conselho Internacional de Arquivos, a gestão de documen- 2. Ler o documento, identificando o assunto principal e
tos diz respeito a uma área da administração geral relacionada o(s) secundário(s) de.
com a busca de economia e eficácia na produção, manutenção, Acordo com seu conteúdo;
uso e destinação final dos mesmos. 3. Localizar o(s) assunto(s) no Código de classificação
Por meio do Ramp/PGI, a Unesco procurou também abor- de documentos de arquivo, utilizando o índice, quando ne-
dar o tema conforme trabalho de James Rhoads. A função da cessário;
gestão de documentos e arquivos nos sistemas nacionais de 4. Anotar o código na primeira folha do documento;
informação, segundo o qual um programa geral de gestão de 5. Preencher a(s) folha(s) de referência, para os assun-
documentos, para alcançar economia e eficácia, envolve as se- tos secundários.
guintes fases:
Produção: concepção e gestão de formulários, preparação A avaliação constitui-se em atividade essencial do ci-
e gestão de correspondência, gestão de informes e diretrizes, clo de vida documental arquivísticos, na medida em que
fomento de sistemas de gestão da informação e aplicação de define quais documentos serão preservados para fins ad-
tecnologias modernas a esses processos; ministrativos ou de pesquisa e em que momento poderão
Utilização e conservação: criação e melhoramento dos ser eliminados ou destinados aos arquivos intermediário
sistemas de arquivos e de recuperação de dados, gestão de e permanente, segundo o valor e o potencial de uso que
correio e telecomunicações, seleção e uso de equipamento apresentam para a administração que os gerou e para a
reprográfico, análise de sistemas, produção e manutenção de sociedade.
programas de documentos vitais e uso de automação e repro- Os primeiros atos legais destinados a disciplinar a ava-
grafia nestes processos; liação de documentos no serviço público datam do final do
Destinação: a identificação e descrição das séries docu- século passado, em países da Europa, nos Estados Unidos
mentais, estabelecimento de programas de avaliação e des- e no Canadá. No Brasil, a preocupação com a avaliação de
tinação de documentos, arquivamento intermediário, elimina- documentos públicos não é recente, mas o primeiro passo
ção e recolhimento dos documentos de valor permanente às para sua regulamentação ocorreu efetivamente com a lei
instituições arquivísticas. federal nº 8.159, de 8 de janeiro de 1991, que em seu artigo
9º dispõe que “a eliminação de documentos produzidos
O código de classificação de documentos de arquivo é por instituições públicas e de caráter público será realizada
um instrumento de trabalho utilizado para classificar todo e mediante autorização de instituição arquivística pública, na
qualquer documento produzido ou recebido por um órgão no sua específica esfera de competência”.
exercício de suas funções e atividades. A classificação por as- O Arquivo Nacional publicou em 1985 manual técni-
suntos é utilizada com o objetivo de agrupar os documentos co sob o título Orientação para avaliação e arquivamento
sob um mesmo tema, como forma de agilizar sua recuperação intermediário em arquivos públicos, do qual constam dire-
e facilitar as tarefas arquivísticas relacionadas com a avaliação, trizes gerais para a realização da avaliação e para a elabo-
seleção, eliminação, transferência, recolhimento e acesso a es- ração de tabelas de temporalidade. Em 1986, iniciaram-se
ses documentos, uma vez que o trabalho arquivísticos é rea- as primeiras atividades de avaliação dos acervos de caráter
lizado com base no conteúdo do documento, o qual reflete intermediário sob a guarda da então Divisão de Pré Ar-
a atividade que o gerou e determina o uso da informação quivo do Arquivo Nacional, desta vez com a preocupação
nele contida. A classificação define, portanto, a organiza- de estabelecer prazos de guarda com vista à eliminação
ção física dos documentos arquivados, constituindo-se em e, consequentemente, à redução do volume documental e
referencial básico para sua recuperação. racionalização do espaço físico.

56
NOÇÕES BÁSICAS DE ARQUIVO

A metodologia adotada à época envolveu pesquisas Apresentam-se a seguir diretrizes para a correta utiliza-
na legislação que regula a prescrição de documentos ad- ção do instrumento:
ministrativos, e entrevistas com historiadores e servidores 1. Assunto: Neste campo são apresentados os con-
responsáveis pela execução das atividades nos órgãos pú- juntos documentais produzidos e recebidos, hierarquica-
blicos, que forneceram as informações relativas aos valores mente distribuídos de acordo com as funções e atividades
primário e secundário dos documentos, isto é, ao seu po- desempenhadas pela instituição. Para possibilitar melhor
tencial de uso para fins administrativos e de pesquisa, res- identificação do conteúdo da informação, foram emprega-
pectivamente. Concluídos os trabalhos, ainda que restrito à das funções, atividades, espécies e tipos documentais, ge-
documentação já depositada no arquivo intermediário do nericamente denominados assuntos, agrupados segundo
Arquivo Nacional foi constituída, em 1993, uma Comissão um código de classificação, cujos conjuntos constituem o
Interna de Avaliação que referendou os prazos de guarda e referencial para o arquivamento dos documentos.
destinação propostos. Como instrumento auxiliar, pode ser utilizado o índice,
Com o objetivo de elaborar uma tabela de temporalida- que contém os conjuntos documentais ordenados alfabeti-
de para documentos da então Secretaria de Planejamento, camente para agilizar a sua localização na tabela.
Orçamento e Coordenação (SEPLAN), foi criado, em 1993, 2. Prazos de guarda: Referem-se ao tempo necessário
um grupo de trabalho composto por técnicos do Arquivo para arquivamento dos documentos nas fases corrente
Nacional e daquela secretaria, cujos resultados, relativos as e intermediária, visando atender exclusivamente às ne-
atividades-meio, serviriam de subsídio ao estabelecimen- cessidades da administração que os gerou, mencionado,
to de prazos de guarda e destinação para os documentos preferencialmente, em anos. Excepcionalmente, pode ser
da administração pública federal. A tabela, elaborada com expresso a partir de uma ação concreta que deverá neces-
base nas experiências já desenvolvidas pelos dois órgãos, sariamente ocorrer em relação a um determinado conjunto
foi encaminhada, em 1994, à Direção Geral do Arquivo Na- documental. Entretanto, deve ser objetivo e direto na de-
cional para aprovação. finição da ação – exemplos: até aprovação das contas; até
Com a instalação do Conselho Nacional de Arquivos homologação da aposentadoria; e até quitação da dívida.
(Conarq), em novembro de 1994, foi criada, dentre outras, O prazo estabelecido para a fase corrente relaciona-se ao
a Câmara Técnica de Avaliação de Documentos (Ctad) para período em que o documento é frequentemente consul-
tado, exigindo sua permanência junto às unidades orga-
dar suporte às atividades do conselho. Sua primeira tarefa
nizacionais. A fase intermediária relaciona-se ao período
foi analisar e discutir a tabela de temporalidade elabora-
em que o documento ainda é necessário à administração,
da pelo grupo de trabalho Arquivo Nacional/SEPLAN, com
porém com menor frequência de uso, podendo ser trans-
o objetivo de torná-la aplicável também aos documentos
ferido para depósito em outro local, embora à disposição
produzidos pelos órgãos públicos nas esferas estadual e
desta.
municipal, servindo como orientação a todos os órgãos
A realidade arquivística no Brasil aponta para variadas
participantes do Sistema Nacional de Arquivos (Sinar).
formas de concentração dos arquivos, seja ao nível da ad-
O modelo ora apresentado constitui-se em instrumen- ministração (fases corrente e intermediária), seja no âmbito
to básico para elaboração de tabelas referentes as ativi- dos arquivos públicos (permanentes ou históricos). Assim,
dades-meio do serviço público, podendo ser adaptado de a distribuição dos prazos de guarda nas fases corrente e
acordo com os conjuntos documentais produzidos e rece- intermediária foi definida a partir das seguintes variáveis:
bidos. Vale ressaltar que a aplicação da tabela deverá estar I – Órgãos que possuem arquivo central e contam com
condicionada à aprovação por instituição arquivística pú- serviços de arquivamento intermediário:
blica na sua específica esfera de competência. Para os órgãos federais, estaduais e municipais que se
A tabela de temporalidade deverá contemplar as ativi- enquadram nesta variável, há necessidade de redistribui-
dades meio e atividades-fim de cada órgão público. Desta ção dos prazos, considerando-se as características de cada
forma, caberá aos mesmos definir a temporalidade e des- fase, desde que o prazo total de guarda não seja alterado,
tinação dos documentos relativos às suas atividades espe- de forma a contemplar os seguintes setores arquivísticos:
cíficas, complementando a tabela básica. Posteriormente, - arquivo setorial (fase corrente, que corresponde ao
esta deverá ser encaminhada à instituição arquivística pú- arquivo da unidade organizacional);
blica para aprovação e divulgação, por meio de ato legal - arquivo central (fase intermediária I, que corresponde
que lhe confira legitimidade. ao setor de arquivo geral/central da instituição);
A tabela de temporalidade é um instrumento arquivís- - arquivo intermediário (fase intermediária II, que cor-
tico resultante de avaliação, que tem por objetivos definir responde ao depósito de arquivamento intermediário, ge-
prazos de guarda e destinação de documentos, com vista ralmente subordinado à instituição arquivística pública nas
a garantir o acesso à informação a quantos dela necessi- esferas federal, estadual e municipal).
tem. Sua estrutura básica deve necessariamente contem- II – Órgãos que possuem arquivo central e não contam
plar os conjuntos documentais produzidos e recebidos por com serviços de arquivamento intermediário: Nos órgãos
uma instituição no exercício de suas atividades, os prazos situados nesta variável, as unidades organizacionais são
de guarda nas fases corrente e intermediária, a destinação responsáveis pelo arquivamento corrente e o arquivo cen-
final – eliminação ou guarda permanente –, além de um tral funciona como arquivo intermediário, obedecendo aos
campo para observações necessárias à sua compreensão prazos previstos para esta fase e efetuando o recolhimento
e aplicação. ao arquivo permanente.

57
NOÇÕES BÁSICAS DE ARQUIVO

III – Órgãos que não possuem arquivo central e contam Método alfabético: É o sistema mais simples, fácil, lógi-
com serviços de arquivamento intermediário: Nesta variá- co e prático, porque obedecendo à ordem alfabética pode-
vel, as unidades organizacionais também funcionam como se logo imaginar que não apresentará grandes dificuldades
arquivo corrente, transferindo os documentos – depois de nem para a execução do trabalho de arquivamento, nem
cessado o prazo previsto para esta fase – para o arquivo para a procura do documento desejado, pois a consulta é
intermediário, que promoverá o recolhimento ao arquivo direta.
permanente.
IV – Órgãos que não possuem arquivo central nem Método numérico simples: Consiste em numerar as
contam com serviços de arquivamento intermediário: pastas em ordem da entrada do correspondente ou as-
Quanto aos órgãos situados nesta variável, as unidades sunto, sem nenhuma consideração à ordem alfabética dos
organizacionais são igualmente responsáveis pelo arquiva- mesmos, dispensando assim qualquer planejamento ante-
mento corrente, ficando a guarda intermediária a cargo das rior do arquivo. Para o bom êxito deste método, devemos
mesmas ou do arquivo público, o qual deverá assumir tais organizar dois índices em fichas; numas fichas serão arqui-
funções. vadas alfabeticamente, para que se saiba que numero rece-
3. Destinação final: Neste campo é registrada a desti- beu o correspondente ou assunto desejado, e no outro são
nação estabelecida que possa ser a eliminação, quando o arquivadas numericamente, de acordo com o numero que
documento não apresenta valor secundário (probatório ou recebeu o cliente ou o assunto, ao entrar para o arquivo.
informativo) ou a guarda permanente, quando as informa- Este último índice pode ser considerado tombo (registro)
ções contidas no documento são consideradas importan- de pastas ocupadas e, graças a ele, sabemos qual é o ul-
tes para fins de prova, informação e pesquisa. timo numero preenchido e assim destinaremos o numero
A guarda permanente será sempre nas instituições ar- seguinte a qualquer novo cliente que seja registrado.
quivísticas públicas (Arquivo Nacional e arquivos públicos Método alfabético numérico: Como se pode deduzir
estaduais, do Distrito Federal e municipais), responsáveis pelo seu nome, é um método que procurou reunir as van-
pela preservação dos documentos e pelo acesso às infor- tagens dos métodos alfabéticos simples e numérico sim-
mações neles contidas. Outras instituições poderão manter
ples, tendo alcançado seu objetivo, pois desta combinação
seus arquivos permanentes, seguindo orientação técnica
resultou um método que apresenta ao mesmo tempo a
dos arquivos públicos, garantindo o intercâmbio de infor-
simplicidade de um e a exatidão e rapidez, no arquivamen-
mações sobre os respectivos acervos.
to, do outro. É conhecido também pelo nome de numeralfa
4. Observações: Neste campo são registradas informa-
e alfanumérico.
ções complementares e justificativas, necessárias à correta
aplicação da tabela. Incluem-se, ainda, orientações quanto
Método geográfico: Este método é muito aconselhá-
à alteração do suporte da informação e aspectos elucidati-
vel quando desejamos ordenar a documentação de acordo
vos quanto à destinação dos documentos, segundo a par-
com a divisão geográfica, isto é, de acordo com os países,
ticularidade dos conjuntos documentais avaliados.
A necessidade de comunicação é tão antiga como a estados, cidades, municípios etc. Nos departamentos de
formação da sociedade humana, o homem, talvez na ânsia vendas, por exemplo, é de especial utilidade para agrupar
de se perpetuar, teve sempre a preocupação de registrar os correspondentes de acordo com as praças onde operam
suas observações, seu pensamento, para legá-los às gera- ou residem.
ções futuras.
Assim começou a escrita. Na sua essência. Isto nada Método específico ou por assunto: Indiscutivelmente
mais é do que registrar e guardar. Por sua vez, no seu sen- o método especifico, representado por palavras dispostas
tido mais simples, guardar é arquivar. alfabeticamente, é um dos mais difíceis processos de ar-
Por muito tempo reinou uma completa confusão sobre quivamento, pois, consistindo em agrupar as pastas por
o verdadeiro sentido da biblioteca, museu e arquivo. Indis- assunto, apresenta a dificuldade de se escolher o melhor
cutivelmente, por anos e anos, estas instituições tiveram termo ou expressão que defina o assunto. Temos o voca-
mais ou menos o mesmo objetivo. Eram elas depósitos de bulário todo da língua à nossa disposição e justamente o
tudo o que se produzira a mente humana, isto é, do resul- fato de ser tão amplo o campo da escolha nos dificulta a
tado do trabalho intelectual e espiritual do homem. seleção acertada, além do que entra muito o ponto de vista
O arquivo, quando bem organizado, transmite ordens, pessoal do arquivista, nesta seleção.
evita repetição desnecessárias de experiências, diminui a Método decimal: Este método foi inspirado no Sistema
duplicidade de documentos, revela o que está por ser feito, Decimal de Melvil Dewey. Dewey organizou um sistema de
o que já foi feito e os resultados obtidos. Constitui fonte de classificação para bibliotecas, muito interessante, o qual
pesquisa para todos os ramos administrativos e auxilia o conseguiu um grande sucesso; fora publicado em 1876.
administrador a tomada de decisões. Dividiu ele os conhecimentos humanos em dez classes,
as quais, por sua vez, se subdividiram em outras dez, e as-
Os principais Sistemas ou Tipos de classificação utiliza- sim por diante, sendo infinita essa possibilidade de subdi-
dos em arquivos são: visão, graças à sua base decimal.

58
NOÇÕES BÁSICAS DE ARQUIVO

Método simplificado: Este a rigor não deveria ser consi- No Brasil, o Arquivo Nacional a partir de 1981, implan-
derado propriamente um método, pois, na realidade, nada tou o Programa de Modernização Institucional-Administra-
mais é do que a utilização de vários métodos ao mesmo tiva, o qual era constituído de vários projetos, sendo que
tempo, com a finalidade de reunir num só móvel as vanta- um deles previa a identificação e controle dos conjuntos
gens de todos eles. documentais recolhidos. A atividade da identificação ad-
quiriu uma importância maior e foi definida como uma das
Tipologia metas no tratamento dos conjuntos
Tipologia documental é a denominação que se dá Com o término desses trabalhos, foi publicado o ma-
quando reunimos determinada espécie à função ou ativi- nual de procedimentos para a identificação de documen-
dade que o documento irá exercer. Ex.: Declaração de Im- tos em arquivos públicos e o manual de levantamento da
produção documental em 1985 e 1986, respectivamente.
posto de Renda, Certidão de nascimento.
Naquele momento, a metodologia da identificação
apresentava um enfoque para o tratamento de massas do-
Exemplo: Espécie e Tipologia documental
cumentais acumuladas nos arquivos, e a discussão propos-
ta pelo Arquivo Nacional não chegou ao nível da identifi-
Espécie Tipologia cação da tipologia documental, ou seja, passou longe da
Contrato Contrato de locação discussão sobre as características do documento, focando
apenas o nível do fundo.
Alvará Alvará de funcionamento Atualmente, a metodologia de identificação tipológica
Certidão Certidão de nascimento é realizada no tratamento documental, porém, é parcial-
mente reconhecida na área. Mesmo estando presente na
A fase de identificação pressupõe o reconhecimento literatura, há uma variação na designação do termo, este
de elementos que caracterizam os documentos, seja em é encontrado como: tarefa, levantamento de dados, diag-
fase de produção ou de acumulação nos arquivos, em ins- nóstico de problemas documentais, análise de produção,
trumentos de coleta de dados. É uma fase que busca o co- análise dos documentos, análise do fluxo documental; do
nhecimento dos procedimentos e rotinas de produção de órgão produtor ou da instituição produtora; estudo da es-
documentos no órgão, cujo resultado final é a definição trutura organizacional, entre outros.
das séries documentais. A “fase do tratamento arquivístico consiste na investi-
O estudo do contexto de produção das tipologias iden- gação e sistematização das categorias administrativas em
que se sustenta à estrutura de um fundo”. É considerada a
tificadas pressupõe o levantamento de elementos, que ver-
primeira fase da metodologia arquivística, por apresentar
sem a sua criação, estrutura e desenvolvimento do órgão,
um caráter intelectual e investigativo, o qual visa o reco-
sendo esta a primeira tarefa da identificação. A segunda é nhecimento do órgão produtor e das tipologias documen-
a identificação do tipo documental, a qual está baseada no tais existentes, cujo objetivo final é a definição das séries
método diplomático, que é utilizado para extrair e registrar que se configuram como conjuntos de tipos documentais
os elementos constitutivos do documento, visando enten- que tem produção seriada. São nas séries que encontramos
der e conhecer o seu processo de criação. O registro desses a identidade do órgão produtor, as funções, as competên-
elementos nessa fase é imprescindível para a análise reali- cias e a definição do tipo documental.
zada na fase da avaliação, função arquivística, que tem por Diante da escassa literatura e da ausência de estudos
finalidade atribuir valores para os documentos, definindo sobre essa fase metodológica no campo da arquivística, os
prazos para sua guarda, objetivando e racionalização dos dicionários publicados no país refletem tal problema.
arquivos como meio de proporcionar a eficiência adminis- Vale ressaltar que o Dicionário de Terminologia Arqui-
trativa. vística publicado pela Associação de Arquivistas Brasileiros
Neste sentido, a fase de identificação assume um papel em 1996, não apresenta o termo. Entretanto, o Dicionário
relevante no processo de continuidade do fazer arquivísti- Brasileiro de Terminologia Arquivística publicado pelo Ar-
cos, fornecendo dados, que serão utilizados no processo quivo Nacional, em 2005, faz referência e define a identi-
da avaliação. ficação como um “processo de reconhecimento, sistemati-
O histórico da identificação inicia-se nas primeiras Jor- zação e registro de informações sobre arquivos, com vistas
ao seu controle físico e/ou intelectual”.
nadas de Identificação e Avaliação de Fundos Documentais
Definição esta voltada para os arquivos enquanto fun-
das Administrações Públicas, realizadas em 1991, em Ma-
dos, mas que pelo menos registra o conceito, sendo uma
drid na Espanha, na qual a identificação foi reconhecida abertura para o conhecimento da identificação como parte
como uma fase da metodologia arquivística. da metodologia, primeira referência à história do conceito
Este reconhecimento definiu qual é o momento arqui- da identificação no Brasil.
vístico para o desenvolvimento desta fase e como aplicar Com base na proposta metodológica da fase de iden-
esta metodologia. A identificação passa a ser considerada tificação de Martín-Palomino Benito e Torre Merino, que
como a primeira fase do trabalho arquivístico, e o seu cor- contemplam a identificação do órgão produtor, enquanto
po metodológico se divide em três etapas: “identificação fundo e o tipo documental em seu menor nível, são defini-
do órgão produtor, identificação do elemento funcional e dos três momentos para a realização deste procedimento
a identificação do tipo documental”. metodológico:

59
NOÇÕES BÁSICAS DE ARQUIVO

1) Identificação do órgão produtor; A Tipologia também cuida da reunião de documen-


2) Identificação do elemento funcional e tos de forma automatizada. Também cabe ao seu âmbito
3) Identificação do tipo documental a preservação, conservação e restauração de documentos.
Para os autores a fase de identificação, deve se iniciar
pela identificação do órgão produtor, sendo seguida pela MICROFILMAGEM: é um processo realizado mediante
identificação do elemento funcional. Entretanto, serão as- captação da imagem por meio fotográfico ou eletrônico,
sociadas em uma mesma etapa e/ou procedimento, pois tendo como objetivos principais reduzir o tamanho do
são tarefas afins, as quais se complementam em um mes- acervo e preservar os documentos originais (estima-se que
mo estudo, e são realizadas a partir de entrevistas e/ou um microfilme preservado em condições ambientais ade-
aplicação de questionário, pelo estudo da legislação, com quadas tenha a durabilidade média de 500 anos).
especial atenção aos itens que tratam das funções e com- A partir da microfilmagem – salvo raras exceções – o
petências, razão pela qual não há necessidade de separá documento estará disponível para consulta apenas atra-
-las neste estudo. Nesta perspectiva, podemos afirmar que vés do rolo de microfilme, preservando-se, dessa forma, o
a fase da identificação se constitui de dois momentos, e original. Para que possua valor legal, a microfilmagem só
não três: a identificação do órgão produtor, considerando pode ser realizada por cartórios ou empresas devidamente
os elementos funcionais que o caracterizam internamente, registradas e autorizadas pelo Ministério da Justiça.
e a identificação do tipo documental. Devido ao valor legal do microfilme, existe uma legis-
Na fase de identificação, a primeira etapa será o le- lação específica que deve ser seguida pelas instituições en-
vantamento do contexto de produção, que versa sobre o volvidas em sua produção. Nesse sentido, a Lei nº 5.433/68,
elemento orgânico e o órgão produtor da documentação regulamentada pelo Decreto nº 1799/66, que disciplina
gerada como consequência do exercício de suas funções. toda produção de microfilme, estabelece que:
Dessa forma, compreende-se como órgão produtor toda § 1º Os microfilmes de que trata esta Lei, assim como
instituição, empresa e/ou organização de pequeno, médio as certidões, os traslados e as cópias fotográficas obtidas
ou grande porte que exerce atividades e tem como reflexo diretamente dos filmes produzirão os mesmos efeitos le-
gais dos documentos originais em juízo ou fora dele.
dessas, a produção de documentos, com o fim de atingir
É importante destacar que não são todos os documen-
seus objetivos sociais, comerciais e/ou governamentais.
tos de um arquivo que devem ser microfilmados.
Portanto, é quem cria o conjunto documental. Então, como
fazer essa identificação e quais os procedimentos que de-
AUTOMAÇÃO (Digitalização): Quando falamos em au-
vem ser realizados?
tomação de documentos estamos basicamente fazendo
Identificar o contexto de produção é conhecer toda
referência à transposição do suporte inicial do documen-
vida do órgão, significa investigar a história administrativa, to (papel, fita magnética etc.) para um suporte digital (CD,
sua origem, seu funcionamento, a hierarquia de competên- DVD etc.) por meio de computadores. As duas formas mais
cias e funções desempenhadas. Isso possibilita encontrar comuns de automatizar (digitalizar) um documento são:
as falhas do órgão, que serão analisadas para se chegar a 1. Através da transferência da informação para um CD
possíveis soluções e para gerar eficiência no desenvolvi- ou mesmo para o meio virtual (ex: disco virtual) realizado
mento das metodologias arquivísticas a serem aplicadas. pelo processo de “scanneamento” de um documento em
Martín-Palomino Benito e Torre Merino demonstram papel;
um estudo sistematizado, que versa sobre: órgão produtor, 2. Gravando as informações de uma fita magnética,
organogramas e legislação. Neste estudo os autores apre- disco de vinil etc. para um CD ou DVD, por exemplo.
sentam vários elementos, para a elaboração do índice do A digitalização de documentos é uma política de arqui-
órgão produtor. Conforme os autores, se deve diagnosticar vo baseada em quatro fundamentos principais:
o nome, a origem, as datas e textos normativos que indi- 1. Diminuição do tamanho do acervo;
quem mudanças na estrutura do órgão, as subordinações a 2. Preservação dos documentos;
outros órgãos e os documentos mais produzidos. 3. Possibilidade de acesso ao mesmo documento por
No repertório de organograma, o arquivista deverá várias pessoas ao mesmo tempo;
partir dos dados coletados, que propiciem análises, prin- 4. Maior agilidade (ao menos em tese) na busca e recu-
cipalmente, das diversas estruturas que o órgão apresenta. peração da informação.
Já no índice legislativo serão produzidas fichas, com infor-
mações sobre a legislação que afeta o órgão, definindo sua Principais diferenças entre os documentos microfilma-
data de aprovação e publicação resumo da norma. dos e os digitalizados:
Nota-se que os procedimentos adotados para esta 1. O microfilme possui valor legal. O documento digital
identificação estarão baseados em coletas de dados. Su- não possui valor legal. Assim, caso o documento tenha va-
bentende-se por coleta de dados e informações “o regis- lor jurídico, ele poderá ser eliminado se houver sido micro-
tro sistemático do conjunto de elementos que se associa filmado, mas o mesmo não poderá ser feito caso ele tenha
ao comportamento de um fenômeno, de um sistema ou sido scanneado.
de um conjunto desses dois” e para diagnosticar tais con- 2. Alguns estudos demonstram que o tempo de vida
juntos, existem três técnicas: a entrevista, o questionário e útil (considera-se a integridade da informação) de um CD,
a observação pessoal ou direta, que se elaboradas e apli- em condições de armazenamento e ambiente adequados,
cadas de forma imperfeita comprometerá o planejamento gira em torno de 200 anos. O microfilme tem um prazo
final. estipulado em 500 anos.

60
NOÇÕES BÁSICAS DE ARQUIVO

3. O CD pode ser guardado em condições ambientais Sobre todo legado histórico que se traduza como bem
“mais flexíveis”, enquanto que o microfilme, devido à com- cultural, na medida em que representa material de valor
posição química da fotografia, precisa de cuidados muito presente e futuro para a humanidade, a inexorável possi-
mais especiais. bilidade de degradação atinge proporções de extrema res-
ponsabilidade.
O propósito do acondicionamento é o de guardar, pro- É cientificamente provado que o papel degrada-se ra-
teger e facilitar o manuseio do material que compõe um pidamente se fabricado e, ou acondicionado sob critérios
acervo ou uma reserva técnica. Pelo fato de cada instituição indevidos. Por mais de um século tem-se fabricado papel
possuir uma política financeira, uma proposta de tratamen- destinado à impressão de livro com alto teor de acidez.
to, além de objetos de materiais, tamanhos e dimensões Sabemos perfeitamente que a acidez é uma das maiores
díspares que devem ser preservados, não há uma receita causas da degradação dos papéis. Na mesma medida, o
pronta para o acondicionamento perfeito, cada caso deve acondicionamento de obras em ambientes quente e úmido
ser analisado isoladamente, para se alcançar o objetivo de gera efeitos danosos, tais como: reações que se processam
proteger o material. a nível químico e que geralmente enfraquecem as cadeias
É necessário, então, conhecer profundamente o acervo: moleculares de celulose, fragilizando o papel. Esse fato
• a localização do prédio; concorre para que todos os acervos bibliográficos estabe-
• o espaço que abriga a reserva técnica; leçam controles ambientais próprios dentro de parâmetros
• o objeto a ser preservado. precisos.
A verificação antecipada de todos os pontos, acima Há um consenso entre os conservadores, no sentido de
relacionados, é de suma importância para a escolha apro- que tanto a permanência referente à estabilidade química,
priada para a resolução do trabalho a ser realizado, bem ao grau de resistência de um material à deterioração todo o
como avaliar cuidadosamente cada objeto da reserva téc- tempo, mesmo quando não está em uso quanto à durabili-
nica ou do acervo é primordial para a elaboração de uma dade referente à resistência física, ou seja, à capacidade de
embalagem, uma vez que cada um desses objetos possui resistir à ação mecânica sobre livros e documentos, estão
um comportamento específico diante de mudanças de diretamente relacionados com as condições ambientais em
temperatura e de umidade, apresentando, portanto, um que esses materiais são acondicionados. Esses dois fatores
estado de conservação diferente. Dessa forma, pensar, an- estão de tal forma interligados que materiais de origem
tecipadamente, em acondicionamento é ser um profissio- orgânica quando se deterioram quimicamente perdem
nal precavido em relação a possíveis fatores que possam também sua resistência física. Em outras palavras, há uma
acelerar o processo de degradação dos documentos, obje- estreita relação entre a longevidade dos suportes da escri-
tos ou das obras que devem ser preservados. ta, quer sejam em papel, pergaminho ou outros materiais,
e as condições climáticas do ambiente onde se encontram.
CONSERVAÇÃO: É um conceito amplo e pode ser pen- O controle racional e sistemático de condições am-
sado como termo que abrange pelo menos três (3) ideias: bientais não reduz apenas os problemas de degradação,
preservação, proteção e manutenção. mas também e principalmente evita seu agravamento.
Conservar bens culturais (livros, documentos, objetos A política moderna de conservação a longo prazo
de arte, etc.) é defendê-lo da ação dos agentes físicos, quí- orienta-se pela luta contra as causas de deterioração, na
micos e biológicos que os atacam. busca do maior prolongamento possível da vida útil de li-
O principal objetivo portanto da conservação é o de vros e documentos. Dentro desta perspectiva, padrões de
estender a vida útil dos materiais, dando aos mesmos o conduta devem ser adotados, tais como:
tratamento correto. Para isso é necessário permanente fis- • Formular um diagnóstico do estado geral de con-
calização das condições ambientais, manuseio e armaze- servação da obra e uma proposta quanto aos métodos e
namento. materiais que poderão ser utilizados durante o tratamento;
A preservação ocupa-se diretamente com o patrimô- • Documentar todos os registros históricos porventura
nio cultural consistindo na conservação desses patrimô- encontrados, sem destruí-los, falsificá-los ou removê-los.
nios em seus estados atuais. Por isso, devem ser impedidos • Aplicar um tratamento de conservação dentro do li-
quaisquer danos e destruição causadas pela umidade, por mite do necessário e orientar-se pelo absoluto respeito à
agentes químicos e por todos os tipos de pragas e de mi- integridade estética, histórica e material de uma obra;
crorganismo. A manutenção, a limpeza periódica é a base • Adotar a princípio de reversibilidade, que é o leitmo-
da prevenção. tiv atual do desenvolvimento e aplicação do método de
Os acervos das bibliotecas são basicamente constituí- conservação em livros e documentos, pois é importante
dos por materiais orgânicos e, como tal, estão sujeitos a ter sempre em mente que um procedimento técnico, assim
um contínuo processo de deterioração. como determinados materiais, são sempre alvo de cons-
A conservação, enquanto matéria interdisciplinar, não tantes pesquisas e que isto propicia um futuro técnico-
pode simplesmente suspender um processo de degrada- científico mais promissor à segurança de uma obra.
ção, já instalado. Fumigação é um tipo de controle de pragas através do
Pode, sim, utilizar-se de métodos técnico-científicos, tratamento químico realizado com compostos químicos ou
numa perspectiva interdisciplinar, que reduzam o ritmo formulações pesticidas (os chamados fumigantes) voláteis
tanto quanto possível deste processo. (no estado de vapor ou gás) em um sistema hermético, vi-

61
NOÇÕES BÁSICAS DE ARQUIVO

sando a desinfestação de materiais, objetos e instalações 4. ambientais:


que não possam ser submetidas à outras formas de trata- Ventilação - é um outro fator a considerar como ele-
mento. Essa técnica causa dano ao documento, não deven- mento que favorece o desenvolvimento dos agentes bioló-
do ser utilizada. gicos, quando há pouca aeração.
Poeira - um outro fator que pode favorecer o desen-
RESTAURAÇÃO: A restauração preventiva tem por ob- volvimento dos agentes biológicos sobre os materiais grá-
jetivo revitalizar a concepção original, ou seja, a legibilida- ficos, é a presença de pó.
de do objeto. Em uma restauração nenhum fator pode ser
negligenciado, é preciso levantar a história, revelar a tecno- 5. humanos: O Homem, ao lado dos insetos e micror-
logia empregada na fabricação ou a técnica de impressão ganismos é um outro inimigo dos livros e documentos,
utilizada e traçar um plano de acondicionamento do objeto embora devêssemos imaginar que ele seria ser o mais cui-
restaurado de modo que não volte a sofrer efeitos de dete- dadoso guardião dos mesmos.
rioração do futuro. Podemos dizer que é melhor: Conservar
e preservar para não restaurar. PRESERVAÇÃO: É uma política adotada nas empresas
Agentes exteriores que danificam os documentos: para a conservação dos documentos. Essa técnica é pro-
veniente das áreas de Arquivologia, da biblioteconomia e
1. físicos museologia preocupado com a manutenção ou a restaura-
Luminosidade - a luz é um dos fatores mais agravantes ção do acesso a artefatos, documentos e registros através
no processo de degradação dos materiais bibliográficos. do estudo, diagnóstico, tratamento e prevenção de danos
Temperatura - o papel se deteriora com o tempo mes- e da deterioração. Deve ser distinguida da conservação,
mo que as condições de conservação sejam boas. O papel que se refere ao tratamento e reparo de itens individuais
fica com sua cor original alterada e se torna frágil e isto se sob a ação de degradação lenta ou à restauração de sua
chama envelhecimento natural. usabilidade.
Umidade - o excesso de umidade estraga muito mais o
papel que a deficiência de água.
FATORES DE DETERIORAÇÃO EM ACERVOS DE AR-
2. químicos
QUIVOS
Acidez do Papel - Os papéis brasileiros apresentam
Conhecendo-se a natureza dos materiais componen-
um índice de acidez elevado (pH 5 em média) e portanto
tes dos acervos e seu comportamento diante dos fatores
uma permanência duvidosa. Somemos ao elevado índice
aos quais estão expostos, torna-se bastante fácil detectar
de acidez, o efeito das altas temperaturas predominante
elementos nocivos e traçar políticas de conservação para
nos países tropicais e subtropicais e uma variação da umi-
minimizá-los.
dade relativa, teremos um quadro bastante desfavorável na
Os acervos de bibliotecas e arquivos são em geral
conservação de documentos em papel. Dentre as causas de
constituídos de livros, mapas, fotografias, obras de arte,
degradação do papel, podemos citar as de origem intrínse-
ca e as de origem extrínsecas. revistas, manuscritos etc., que utilizam, em grande parte,
Poluição Atmosférica - A celulose é atacada pelos áci- o papel como suporte da informação, além de tintas das
dos, ainda que nas condições de conservação mais favorá- mais diversas composições.
veis. A poluição atmosférica é uma das principais causas da O papel, por mais variada que possa ser sua com posi-
degradação química. ção, é formado basicamente por fibras de celulose prove-
Tintas - a tinta é um dos compostos mais importantes nientes de diferentes origens.
na documentação. Foi e é usada para escrever em papéis, Cabe-nos, portanto, encontrar soluções que permitam
pergaminhos e materiais similares, desde que o homem oferecer o melhor conforto e estabilidade ao suporte da
sentiu necessidade de registrar seu avanço técnico e cul- maioria dos documentos, que é o papel.
tural, e é ainda indispensável para a criação de registros e A degradação da celulose ocorre quando agentes no-
para atividades relacionadas aos interesses de vida diária. civos atacam as ligações celulósicas, rompendo-as ou fa-
zendo com que se agreguem a elas novos componentes
3. biológicos que, uma vez instalados na molécula, desencadeiam rea-
Insetos - o ataque de insetos tem provocado graves ções químicas que levam ao rompimento das cadeias ce-
danos a arquivos e bibliotecas, destruindo coleções e do- lulósicas.
cumentos preciosos. Os principais insetos são: A acidez e a oxidação são os maiores processos de
Anobiídeos (brocas ou carunchos) deterioração química da celulose. Também há os agentes
Thysanura (traça) físicos de deterioração, responsáveis pelos danos mecâni-
Blatta orientalis (barata) cos dos documentos. Os mais frequentes são os insetos, os
Fungos - atuam decompondo a celulose, grande parte roedores e o próprio homem.
deles produzem pigmentos que mancham o papel. Por isso, considera-se agentes de deterioração dos
Roedores - A luta contra ratos é mais difícil que a pre- acervos de bibliotecas e arquivos aqueles que levam os do-
venção contra os insetos. Eles podem provocar desgastes cumentos a um estado de instabilidade física ou química,
de até 20% do total do documento. com comprometimento de sua integridade e existência.

62
NOÇÕES BÁSICAS DE ARQUIVO

Embora, com muita frequência, não possamos elimi- O monitoramento, que nos dá as diretrizes para qual-
nar totalmente as causas do processo de deterioração dos quer projeto de mudança, é feito através do termo higrô-
documentos, com certeza podemos diminuir consideravel- metro (aparelho medidor da umidade e temperatura simul-
mente seu ritmo, através de cuidados com o ambiente, o taneamente).
manuseio, as intervenções e a higiene, entre outros. A circulação do ar ambiente representa um fator bas-
Antes de citar os principais fatores de degradação, tor- tante importante para amenizar os efeitos da temperatura
na-se indispensável dizer que existe estreita ligação entre e umidade relativa elevada.
eles, o que faz com que o processo de deterioração tome
proporções devastadoras. 1.2 Radiação da luz
Para facilitar a compreensão dos efeitos nocivos nos Toda fonte de luz, seja ela natural ou artificial, emite
acervos podemos classificar os agentes de deterioração radiação nociva aos materiais de acervos, provocando con-
em Fatores Ambientais, Fatores Biológicos, Intervenções sideráveis danos através da oxidação.
Impróprias, Agentes Biológicos, Furtos e Vandalismo. O papel se torna frágil, quebradiço, amarelecido, escu-
recido. As tintas desbotam ou mudam de cor, alterando a
1. Fatores ambientais legibilidade dos documentos textuais, dos iconográficos e
Os agentes ambientais são exatamente aqueles que das encadernações.
existem no ambiente físico do acervo: Temperatura, Umi- O componente da luz que mais merece atenção é a ra-
dade Relativa do Ar, Radiação da Luz, Qualidade do Ar. diação ultravioleta (UV). Qualquer exposição à luz, mesmo
Num levantamento cuidadoso das condições de con- que por pouco tempo, é nociva e o dano é cumulativo e
servação dos documentos de um acervo, é possível iden- irreversível. A luz pode ser de origem natural (sol) e artifi-
tificar facilmente as consequências desses fatores, quando cial, proveniente de lâmpadas incandescentes (tungstênio)
não controlados dentro de uma margem de valores acei- e fluorescentes (vapor de mercúrio). Deve-se evitar a luz
tável. natural e as lâmpadas fluorescentes, que são fontes gera-
Todos fazem parte do ambiente e atuam em conjunto. doras de UV. A intensidade da luz é medida através de um
Sem a pretensão de aprofundar as explicações cien- aparelho denominado luxímetro ou fotômetro.
tíficas de tais fatores, podemos resumir suas ações da se- Algumas medidas podem ser tomadas para proteção
guinte forma: dos acervos:
- As janelas devem ser protegidas por cortinas ou per-
1.1 Temperatura e umidade relativa: O calor e a umi- sianas que bloqueiem totalmente o sol; essa medida tam-
dade contribuem significativamente para a destruição dos bém ajuda no controle de temperatura, minimizando a ge-
documentos, principalmente quando em suporte papel. O ração de calor durante o dia.
desequilíbrio de um interfere no equilíbrio do outro. O ca- - Filtros feitos de filmes especiais também ajudam no
lor acelera a deterioração. A velocidade de muitas reações controle da radiação UV, tanto nos vidros de janelas quan-
químicas, inclusive as de deterioração, é dobrada a cada to em lâmpadas fluorescentes (esses filmes têm prazo de
aumento de 10°C. A umidade relativa alta proporciona as vida limitado).
condições necessárias para desencadear intensas reações - Cuidados especiais devem ser considerados em ex-
químicas nos materiais. Evidências de temperatura e umi- posições de curto, médio e longo tempo:
dade relativa alta são detectadas com a presença de co- - não expor um objeto valioso por muito tempo;
lônias de fungos nos documentos, sejam estes em papel, - manter o nível de luz o mais baixo possível;
couro, tecido ou outros materiais. - não colocar lâmpadas dentro de vitrines;
Umidade relativa do ar e temperatura muito baixa - proteger objetos com filtros especiais;
transparece em documentos distorcidos e ressecados. - certificar-se de que as vitrines sejam feitas de mate-
As flutuações de temperatura e umidade relativa do ar riais que não danifiquem os documentos.
são muito mais nocivas do que os índices superiores aos
considerados ideais, desde que estáveis e constantes. To- 1.3 Qualidades do ar
dos os materiais encontrados nos acervos são higroscópi- O controle da qualidade do ar é essencial num progra-
cos, isto é, absorvem e liberam umidade muito facilmente ma de conservação de acervos. Os poluentes contribuem
e, portanto, se expandem e se contraem com as variações pesadamente para a deterioração de materiais de biblio-
de temperatura e umidade relativa do ar. tecas e arquivos.
Essas variações dimensionais aceleram o processo de Há dois tipos de poluentes – os gases e as partículas
deterioração e provocam danos visíveis aos documentos, sólidas – que podem ter duas origens: os que vêm do am-
ocasionando o craquelamento de tintas, ondulações nos biente externo e os gerados no próprio ambiente.
papéis e nos materiais de revestimento de livros, danos nas Os poluentes externos são principalmente o dióxido de
emulsões de fotos etc.. enxofre (SO2), óxidos de nitrogênio (NO e NO2) e o Ozô-
O mais recomendado é manter a temperatura o mais nio (O3). São gases que provocam reações químicas, com
próximo possível de 20°C e a umidade relativa de 45% a formação de ácidos que causam danos sérios e irreversí-
50%, evitando-se de todas as formas as oscilações de 3°C veis aos materiais. O papel fica quebradiço e descolorido; o
de temperatura e 10% de umidade relativa. couro perde a pele e deteriora.

63
NOÇÕES BÁSICAS DE ARQUIVO

As partículas sólidas, além de carregarem gases poluen- - praticar a higienização tanto do local quanto dos do-
tes, agem como abrasivos e desfiguram os documentos. cumentos, com metodologia e técnicas adequadas;
Agentes poluentes podem ter origem no próprio am- - instruir o usuário e os funcionários com relação ao
biente do acervo, como no caso de aplicação de vernizes, manuseio dos documentos e regras de higiene do local;
madeiras, adesivos, tintas etc., que podem liberar gases pre- - manter vigilância constante dos documentos con-
judiciais à conservação de todos os materiais. tra acidentes com água, secando-os imediatamente caso
ocorram.
2. Agentes biológicos Observações importantes:
Os agentes biológicos de deterioração de acervos são, - O uso de fungicidas não é recomendado; os danos
entre outros, os insetos (baratas, brocas, cupins), os roedores causados superam em muito a eficiência dos produtos so-
e os fungos, cuja presença depende quase que exclusiva- bre os documentos.
mente das condições ambientais reinantes nas dependên- - Caso se detecte situação de infestação, chamar pro-
cias onde se encontram os documentos. fissionais especializados em conservação de acervos.
Para que atuem sobre os documentos e proliferem, ne- - Não limpar o ambiente com água, pois esta, ao secar,
cessitam de conforto ambiental e alimentação. O conforto eleva a umidade relativa do ar, favorecendo a proliferação
ambiental para praticamente todos os seres vivos está basi- de colônias de fungos.
camente na temperatura e umidade relativa elevadas, pouca - Na higienização do ambiente, é recomendado o uso
circulação de ar, falta de higiene etc. de aspirador.
Alguns conselhos para limpeza de material com fun-
2.1 Fungos gos:
Os fungos representam um grupo grande de organis- - Usar proteção pessoal: luvas de látex, máscaras, aven-
mos. São conhecidos mais de 100.000 tipos que atuam em tais, toucas e óculos de proteção (nos casos de sensibilida-
diferentes ambientes, atacando diversos substratos. No caso de alérgica).
dos acervos de bibliotecas e arquivos, são mais comuns - Luvas, toucas e máscaras devem ser descartáveis.
aqueles que vivem dos nutrientes encontrados nos docu-
mentos.
2.2 Roedores
Os fungos são organismos que se reproduzem através
A presença de roedores em recintos de bibliotecas e
de esporos e de forma muito intensa e rápida dentro de de-
arquivos ocorre pelos mesmos motivos citados acima. Ten-
terminadas condições. Como qualquer outro ser vivo, ne-
tar obstruir as possíveis entradas para os ambientes dos
cessitam de alimento e umidade para sobreviver e proliferar.
acervos é um começo. As iscas são válidas, mas para que
O alimento provém dos papéis, amidos (colas), couros, pig-
surtam efeito devem ser definidas por especialistas em
mentos, tecidos etc. A umidade é fator indispensável para
o metabolismo dos nutrientes e para sua proliferação. Essa zoonose. O produto deve ser eficiente, desde que não pro-
umidade é encontrada na atmosfera local, nos materiais ata- voque a morte dos roedores no recinto. A profilaxia se nos
cados e na própria colônia de fungos. Além da umidade e faz mesmos moldes citados acima: temperatura e umidade
nutrientes, outras condições contribuem para o crescimento relativa controladas, além de higiene periódica.
das colônias: temperatura elevada, falta de circulação de ar
e falta de higiene. 2.3 Ataques de insetos
Os fungos, além de atacarem o substrato, fragilizando o Baratas – Esses insetos atacam tanto papel quanto re-
suporte, causam manchas de coloração diversas e intensas vestimentos. A variedade também é grande. O ataque tem
de difícil remoção. A proliferação se dá através dos esporos características bem próprias, revelando-se principalmente
que, em circunstâncias propícias, se reproduzem de forma por perdas de superfície e manchas de excrementos. As
abundante e rápida. baratas se reproduzem no próprio local e se tornam infes-
Se as condições, entretanto, forem adversas, esses es- tação muito rapidamente, caso não sejam combatidas. São
poros se tornam “dormentes”. A dormência ocorre quando atraídas pelos mesmos fatores já mencionados: tempera-
as condições ambientais se tornam desfavoráveis, como, por tura e umidade elevadas, resíduos de alimentos, falta de
exemplo, a umidade relativa do ar com índices baixos. higiene no ambiente e no acervo.
Quando dormentes, os esporos ficam inativos e, portan- Existem iscas para combater as baratas, mas, uma vez
to, não se reproduzem nem atacam os documentos. Esse instalada a infestação, devemos buscar a orientação de
estado, porém, é reversível; se as condições forem ideais, os profissionais.
esporos revivem e voltam a crescer e agir, mesmo que te- Brocas (Anobídios) – São insetos que causam danos
nham sido submetidos a congelamento ou secagem. imensos em acervos, principalmente em livros.
Os esporos ativos ou dormentes estão presentes em to- A sua presença se dá principalmente por falta de pro-
dos os lugares, em todas as salas, em cada peça do acervo e grama de higienização das coleções e do ambiente e ocor-
em todas as pessoas, mas não é tão difícil controlá-los. re muitas vezes por contato com material contaminado,
As medidas a serem adotadas para manter os acervos cujo ingresso no acervo não foi objeto de controle. Exigem
sob controle de infestação de fungos são: vigilância constante, devido ao tipo de ataque que exer-
- estabelecer política de controle ambiental, principal- cem. Os sintomas desse ataque são claros e inconfundíveis.
mente temperatura, umidade relativa e ar circulante, man- Para combatê-lo se torna necessário conhecer sua natureza
tendo os índices o mais próximo possível do ideal e evitan- e comportamento. As brocas têm um ciclo de vida em qua-
do oscilações acentuadas; tro fases: ovos – larva – pupa – adulta.

64
NOÇÕES BÁSICAS DE ARQUIVO

A fase de ataque ao acervo é a de larva. Esse inseto se Com muita frequência, quando os cupins atacam o
reproduz por acasalamento, que ocorre no próprio acervo. acervo, já estão instalados em todo o prédio. Da mesma for-
Uma vez instalado, ataca não só o papel e seus derivados, ma que os outros agentes citados anteriormente, os cupins
como também a madeira do mobiliário, portas, pisos e to- se instalam em ambientes com índices de temperatura e
dos os materiais à base de celulose. umidade relativa elevados, ausência de boa circulação de ar,
O ataque causa perda de suporte. A larva digere os falta de higienização e pouco manuseio dos documentos.
materiais para chegar à fase adulta. Na fase adulta, acasala No caso de ataque de cupim, não há como solucionar
e põe ovos. Os ovos eclodem e o ciclo se repete. o problema sozinho. O ideal é buscar auxílio com um pro-
As brocas precisam encontrar condições especiais que, fissional especializado na área de conservação de acervos
como todos os outros agentes biológicos, são temperatura para cuidar dos documentos atacados e outro profissional
capacitado para cuidar do extermínio dos cupins que estão
e umidade relativa elevadas, falta de ar circulante e falta de
na parte física do prédio. O tratamento recomendado para
higienização periódica no local e no acervo.
o extermínio dos cupins ou para prevenção contra novos
A característica do ataque é o pó que se encontra na ataques é feito mediante barreiras químicas adequadamen-
estante em contato com o documento. te projetadas.
Este pó contém saliva, excrementos, ovos e resíduos
de cola, papel etc. Em geral as brocas vão em busca do 3. Intervenções inadequadas nos acervos
adesivo de amido, instalando-se nos papelões das capas, Chamamos de intervenções inadequadas todos os pro-
no miolo e no suporte do miolo dos livros. As perdas são cedimentos de conservação que realizamos em um con-
em forma de orifícios bem redondinhos. junto de documentos com o objetivo de interromper ou
A higienização metódica é a única forma de se fazer o melhorar seu estado de degradação. Muitas vezes, com a
controle das condições de conservação dos documentos e, boa intenção de protegê-los, fazemos intervenções que re-
assim, detectar a presença dos insetos. Uma medida que sultam em danos ainda maiores.
deve ser obedecida sempre é a higienização e separação Nos acervos formados por livros, fotografias, documen-
de todo exemplar que for incorporado ao acervo, seja ele tos impressos, documentos manuscritos, mapas, plantas de
originário de doação, aquisição ou recolhimento. arquitetura, obras de arte etc., é preciso ver que, segundo
Quando o ataque se torna uma infestação, é preciso sua natureza, cada um apresenta suportes, tintas, pigmen-
buscar a ajuda de um profissional especializado. tos, estruturas etc. completamente diferentes.
A providência a ser tomada é identificar o documento Qualquer tratamento que se queira aplicar exige um co-
nhecimento das características individuais dos documentos
atacado e, se possível, isolá-lo até tratamento. A higieniza-
e dos materiais a serem empregados no processo de con-
ção de infestados por brocas deve ser feita em lugar dis-
servação. Todos os profissionais de bibliotecas e arquivos
tante, devido ao risco de espalhar ovos ou muitas larvas devem ter noções básicas de conservação dos documentos
pelo ambiente. com que lidam, seja para efetivamente executá-la, seja para
Estes insetos precisam ser muito bem controlados: por escolher os técnicos capazes de fazê-lo, controlando seu
mais que se higienize o ambiente e se removam as larvas trabalho. Os conhecimentos de conservação ajudam a man-
e resíduos, corre-se o risco de não eliminar totalmente os ter equipes de controle ambiental, controle de infestações,
ovos. Portanto, após a higienização, os documentos devem higienização do ambiente e dos documentos, melhorando
ser revistos de tempos em tempos. as condições do acervo.
Todo tratamento mais agressivo deve ser feito por pro- Pequenos reparos e acondicionamentos simples po-
fissionais especializados, pois o uso de qualquer produto dem ser realizados por aqueles que tenham sido treinados
químico pode acarretar danos intensos aos documentos. nas técnicas e critérios básicos de intervenção.
Cupins (Térmitas) – Os cupins representam risco não só
para as coleções como para o prédio em si. 4. Problemas no manuseio de livros e documentos
Vivem em sociedades muito bem organizadas, repro- O manuseio inadequado dos documentos é um fator de
duzem-se em ninhos e a ação é devastadora onde quer degradação muito frequente em qualquer tipo de acervo.
que ataquem. Na grande maioria das vezes, sua presença O manuseio abrange todas as ações de tocar no do-
só é detectada depois de terem causado grandes danos. cumento, sejam elas durante a higienização pelos funcio-
nários da instituição, na remoção das estantes ou arquivos
Os cupins percorrem áreas internas de alvenaria, tubu-
para uso do pesquisador, nas foto reproduções, na pesqui-
lações, conduítes de instalações elétricas, rodapés, baten-
sa pelo usuário etc. O suporte papel tem uma resistência
tes de portas e janelas etc., muitas vezes fora do alcance determinada pelo seu estado de conservação. Os critérios
dos nossos olhos. para higienização, por exemplo, devem ser formulados me-
Chegam aos acervos em ataques massivos, através de diante avaliação do estado de degradação do documento.
estantes coladas às paredes, caixas de interruptores de luz, Os limites devem ser obedecidos. Há documentos que, por
assoalhos etc. mais que necessitem de limpeza, não podem ser manipu-
Os ninhos não precisam obrigatoriamente estar dentro lados durante um procedimento de higienização, porque o
dos edifícios das bibliotecas e arquivos. tratamento seria muito mais nocivo à sua integridade, que
Podem estar a muitos metros de distância, inclusive na é o item mais importante a preservar, do que a eliminação
base de árvores ou outros prédios. da sujidade.

65
NOÇÕES BÁSICAS DE ARQUIVO

4.1 Furto e vandalismo Estabilizar um documento é, portanto, interromper


Um volume muito grande de documentos em nossos um processo que esteja deteriorando o suporte e/ou seus
acervos é vítima de furtos e vandalismo. agregados, através de procedimentos mínimos de inter-
A falta de segurança e nenhuma política de controle venção. Por exemplo: estabilizar por higienização significa
são a causa desse desastre. que uma limpeza mecânica corrige o processo de deterio-
Além do furto, o vandalismo é muito frequente. A ração. No capítulo anterior, vimos os fatores de deteriora-
quantidade de documentos mutilados aumenta dia a dia. ção e seus efeitos nos documentos. O segundo passo será
Esse é o tipo de dano que, muitas vezes, só se constata a intervenção nesse processo de deterioração, através de
muito tempo depois. É necessário implantar uma política estabilização dos documentos danificados.
de proteção, mesmo que seja através de um sistema de Para se fazer qualquer intervenção, deve-se obedecer
segurança simples. a critérios de prioridade estabelecidos no tratamento dos
Durante o período de fechamento das instituições, a acervos: de coleções gerais ou de obras raras, no caso de
melhor proteção é feita com alarmes e detectores internos. bibliotecas, de documentos antigos ou mais recentes, no
O problema é durante o horário de funcionamento, que é caso de arquivos.
quando os fatos acontecem. Antes de qualquer intervenção, a primeira avaliação é
O recomendado é que se tenha uma só porta de entra- se nós somos capazes de executá-la.
da e saída das instalações onde se encontra o acervo, para Alguns de nós seremos capazes e muitos outros não.
ser usada tanto pelos consulentes/pesquisadores quanto Esse é o primeiro critério a seguir.
pelos funcionários. Caso não nos julguemos com conhecimentos necessá-
As janelas devem ser mantidas fechadas e trancadas. rios, a solução é buscar algum especialista da área ou acon-
Nas áreas destinadas aos usuários, o encarregado precisa
dicionar o documento enquanto aguardamos o momento
ter uma visão de todas as mesas, permanecendo no local
oportuno de intervir.
durante todo o horário de funcionamento. As chaves das
salas de acervo e o acesso a elas devem estar disponíveis
6. Características gerais dos materiais empregados
apenas a um número restrito de funcionários.
em conservação
Na devolução dos documentos, é preciso que o funcio-
Nos projetos de conservação/preservação de acervos
nário faça uma vistoria geral em cada um.
de bibliotecas, arquivos e museus, é recomendado apenas
o uso de materiais de qualidade

Você também pode gostar