RESUMO. O uso da fitoterapia tem aumentado consideravelmente. Muitas vezes, estudos não científicos e
a experiência popular são valorizados em preferência aos ensaios clínicos, que servem como suporte para
as informações sobre indicações de uso, eficácia e segurança dos medicamentos fitoterápicos. A fitoterapia
baseada em evidências permite uma avaliação crítica do seu emprego, maximizando seus benefícios e mi-
nimizando seus riscos. Através dessa ferramenta, verificou-se que as evidências disponíveis, até o momen-
to, são fracas para justificar o uso da alcachofra no tratamento da hipercolesterolemia e que a castanha-
da-índia é uma alternativa promissora no tratamento da insuficiência venosa crônica. As evidências do
ginseng e do maracujá são insuficientes para justificar sua utilização na prática clínica
SUMMARY. “Evidence-based Herbal Medicine. Part 2. Phytopharmaceuticals elaborated with Artichoke, Horse
chestnut, Ginseng and Passion Flower”. Interest in the use of herbal products has grown significantly in Western
World. Many times non-scientific studies and traditional experiences of use are given more credit than clinical
assays. The former may be considered as a support to obtain information about uses, efficacy and safety of phy-
topharmaceuticals. Evidence-based herbal medicine allows a critical evaluation of its use as a therapeutic alterna-
tive, maximizing its benefits and minimizing its risks. The evidence available shows that the use the artichoke in
the treatment of hypercholesterolemia is not justified and that the horse chestnut is a promising alternative in the
symptomatic treatment of chronic venous insufficiency. The evidences available about ginseng and passion flow-
er are not enough to justify their safe use in clinical practice.
Tabela 1. Resultados da pesquisa bibliográfica sobre as evidências de eficácia e segurança do uso de medica-
mentos fitoterápicos à base dos extratos padronizados de alcachofra (Cynara scolymus L.).
Interações medicamentosas Não foi encontrada documentação sobre possíveis interações medicamentosas.
Tabela 2. Informações sobre indicação terapêutica, posologia, efeitos adversos, contra-indicações e interações
medicamentosas de medicamentos fitoterápicos à base dos extratos padronizados de alcachofra (Cynara scoly-
mus L.).
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ALEXANDRE R.F., GARCIA F.N. & SIMÕES C.M.O.
Tabela 3. Resultados da pesquisa bibliográfica sobre as evidências de eficácia e segurança do uso de medica-
mentos fitoterápicos à base dos extratos padronizados de castanha-da-índia (Aesculus hippocastanum L.).
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acta farmacéutica bonaerense - vol. 24 n° 2 - año 2005
Tabela 6. Informações sobre indicação terapêutica, posologia, efeitos adversos, contra-indicações e interações
medicamentosas de medicamentos fitoterápicos à base dos extratos padronizados de ginseng (Panax ginseng C.
A. Mey.).
adulterações e a quantidade das substâncias ati- Os ensaios clínicos conduzidos com medica-
vas presentes). Com base nesses dados, fica cla- mentos elaborados com associação de plantas
ra a necessidade da condução de novos ensaios medicinais 17-19 não contribuem para o aumento
clínicos para aumentar o corpo de evidências do grau de evidências clínicas de eficácia e se-
clínicas de eficácia e segurança dos medicamen- gurança de medicamentos elaborados com P.
tos à base de ginseng 12. incarnata, pois é difícil concluir sobre a eficácia
clínica dessa espécie em separado 15,16. Por
Maracujá exemplo, os resultados positivos, relatados por
Os primeiros ensaios clínicos realizados com Bourin e colaboradores (1997) 19, não podem
maracujá (Passiflora incarnata) foram desenvol- ser relacionados somente com P. incarnata, vis-
vidos com medicamentos fitoterápicos elabora- to que V. officinalis também possui atividade
dos em combinação com outras plantas medici- ansiolítica 22,23. Além disso, a associação de
nais, tais como Valeriana officinalis e Melissa plantas utilizada parece ser irracional, visto que
officinalis 17, Crataegus monogyna 18, Crataegus Paullinia cupana e Cola nitida são plantas esti-
oxyacantha, Ballota foetida, Valeriana officina- mulantes do sistema nervoso central 24. Da mes-
lis, Cola nitida e Paullinia cupana 19. Posterior- ma forma, os medicamentos utilizados nestes
mente, outros dois ensaios clínicos foram con- ensaios clínicos foram elaborados com extratos
duzidos usando um medicamento fitoterápico não padronizados, o que dificulta qualquer ex-
elaborado somente com Passiflora incarnata trapolação dos resultados.
para avaliação de sua eficácia como ansiolítico Na literatura consultada, foram encontrados
20 e como uma alternativa para o tratamento da apenas dois ensaios clínicos conduzidos com
síndrome de abstinência em pacientes depen- medicamentos fitoterápicos elaborados como
dentes de opióides 21. monopreparações de P. incarnata 20,21. Os re-
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ALEXANDRE R.F., GARCIA F.N. & SIMÕES C.M.O.
sultados foram inconsistentes e, além disso, al- 3. Sparreboom, A., M.C. Cox, M.R. Acharya &
guns problemas foram detectados nestes dois W.D. Figg (2004) J. Clin. Oncol. 22: 2489-503.
estudos: (a) não foram explicitadas as caracterís- 4. Blumenthal, M., A. Goldberg & J. Brinckmann
ticas do medicamento fitoterápico testado, con- (2000) “Herbal Medicine: Expanded Commis-
seqüentemente, não se conhece a quantidade sion E monographs”. American Botanical
dos constituintes ativos na dose estabelecida; Council, Austin.
(b) foi avaliado um número muito reduzido de 5. ESCOP (1997) “Monographs on the medicinal
pacientes; (c) foram avaliados pacientes com uses of plant drugs” . Exeter, UK.
diagnósticos diferentes. Desta forma, pode-se 6. World Health Organization (1999) “WHO mo-
nographs selected medicinal plants”. Geneva:
concluir que os dois ensaios clínicos conduzidos
WHO.
com medicamentos fitoterápicos à base de P.
7. Pittler M.H. & E. Ernst (1998) Perfusion. 11:
incarnata como monoterapia são insuficientes
338-40.
para garantir a eficácia e a segurança do mara-
8. Englisch W., C. Beckers, M. Unkauf, M. Ruepp
cujá como alternativa no tratamento da ansieda- & V. Zinserling (2000) Arzneim-Forsch/Drug.
de. Res. 50: 260-5.
Esses resultados têm pouco significado práti- 9. Pittler, M.H. & E. Ernst (1998) Arch. Dermatol.
co e, com isso, os dados disponíveis são insufi- 134: 1356-60.
cientes para gerar um corpo de evidências que 10. Pittler, M.H. & E. Ernst (2002) In: The Cochra-
justifique a utilização de medicamentos fitoterá- ne Library, Issue 1. Oxford: Update Software.
picos à base de maracujá na prática clínica co- 11. Siebert, U., M. Brach, G. Sroczynki & K. Überla
mo uma alternativa para o tratamento dos dis- (2002) Int. Angiol. 21: 305-15.
túrbios de ansiedade. 12. Vogler, B.K., M.H. Pittler & E. Ernst (1999)
Eur. J. Clin. Pharmacol. 55: 567-75.
CONCLUSÃO 13. Bahrke, M.S. & W.P. Morgan (2000) Sports
A fitoterapia baseada em evidências enfatiza Med. 29: 113-33.
a necessidade da avaliação crítica das infor- 14. Coleman, C.I., J.H. Hebert & P. Reddy (2003) J.
mações sobre medicamentos fitoterápicos. Esta Clin. Pharm. Ther. 28: 5-15.
revisão bibliográfica avaliou e sistematizou as 15. Ernst, E., M.H. Pittler, C. Stevinson & A. White
melhores evidências externas obtidas na literatu- (2001) “The desktop guide to complementary
ra sobre a eficácia e a segurança dos medica- and alternative medicine”, Ed. Mosby, Lon-
mentos fitoterápicos elaborados com alcachofra, don.
castanha-da-índia, ginseng e maracujá. As 16. Rotblatt, M. & I. Ziment (2002) “Evidence-ba-
sed herbal medicine”, Hanley & Belfus, Phila-
evidências são fracas para justificar o uso clínico
delphia.
da alcachofra no tratamento da hipercolesterole-
17. Gerhard, U., V. Hobi, R. Kocher & C. Konig
mia, indicando a necessidade da condução de
(1991) Schweiz. Rundsch. Med. Prax. 80: 1481-
novos estudos. De acordo com os dados dispo- 6.
níveis sobre eficácia e segurança, a castanha-da- 18. Von Eiff, M., H. Brunner, A. Haegeli, U. Kreu-
índia é uma alternativa promissora no tratamen- ter, B. Martina, B. Meier & W. Scaffner (1994)
to da insuficiência venosa crônica. No entanto, Acta. Ther. 20: 47-66.
as evidências disponíveis para o ginseng e para 19. Bourin, M., T. Bougerol, B. Guitton & E. Brou-
o maracujá são insuficientes para justificar sua tin (1997) Fundam. Clin. Pharmacol. 11: 127-
utilização na prática clínica. 32.
20. Akhondazeh, S., H.R. Naghavi, M. Vazirian, A.
Agradecimentos. O primeiro autor agradece à CA- Shayeganpour, H. Rashidi & M. Khani (2001) J.
PES/MEC pela concessão da bolsa de Mestrado. Clin. Pharm. Ther. 26: 363-7.
F.N.Garcia é Bolsista de Iniciação Científica do Progra- 21. Akhondazeh, S., L. Kashani, M. Mobaseri, S.H.
ma PIBIC/CNPq/UFSC. C.M.O.Simões é Bolsista de Hosseini, S. Nikzad & M. Khani (2001) J. Clin.
Produtividade em Pesquisa (1C) do CNPq/MCT, Brasil. Pharm. Ther. 26: 369-73.
22. Stevinson, C & E. Ernst (2000) Sleep Med. 1:
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2. Alexandre, R.F. (2004) Dissertação de Mestra- 24. Roberts, H.R. & J.J. Barone (1983) Food. Tech-
do apresentada ao Programa de Pós-Gra- nol. 37: 33-9.
duação em Farmácia/Universidade Federal de
Santa Catarina, Brasil.
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