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2009
SUMÁRIO
Apresentação ................................................................................... 07
Introdução ....................................................................................... 08
Prefácio ........................................................................................... 14
APRESENTAÇÃO
O autor deste livro, Dr. Rômulo Vieira Telles, tem experiência na aplicação
prática da Psicanálise, tanto na orientação psicanalítica daqueles que o procuram,
como na formação de centenas de psicanalistas pelo Brasil.
Como resultado, o leitor sairá da leitura deste livro muito bem informado.
Contudo, adverte o autor, é pouco provável que essa leitura lhe traga uma revelação
psicanalítica entendida essa expressão não como alguma experiência do caráter
místico, mas sim como um desses momentos privilegiados em que o encontro com o
inconsciente faz ruir de surpresa o edifício de nossas certezas e de nossos hábitos,
pois a teoria psicanalítica não pode ser o meio para tal encontro.
Como toda teoria, ela protege tanto melhor de toda surpresa e de todo o risco,
quanto mais a conhece a fundo, até os seus últimos recônditos. Compete ao leitor
desfrutar do privilégio de ter em suas mãos este precioso livro tão bem escrito pelo Dr.
Rômulo.
O Dr. Rômulo coloca agora à disposição dos leitores esta preciosidade fruto,
de anos de dedicação ao ensino na formação de muitos psicanalistas que estão
atuando no Brasil.
Psicanalista Clínico.
INTRODUÇÃO
Poderíamos iniciar esta introdução com uma pergunta: por que Freud? Antes,
porém, de justificar nossa preferência, gostaríamos de, em mínimas considerações,
dizer alguma coisa sobre alguns dos principais teóricos da psicanálise.
Uma extraordinária dama, mais conhecida como Madame Klein, Melanie Klein,
nasceu em l882 e faleceu em l960. Estudo, Pesquisa e Transmissão da Psicanálise
Kleiniana, editado por um psicanalista sempre em formação, nos faz conhecer
Madame Klein, que não era psicanalista, mas, graças à sua capacidade de
observação, pesquisa e organização do pensamento, criou a psicanálise denominada
psicanálise kleiniana (kleinismo), que não é uma simples corrente psicanalítica. É
muito mais do que isto, pois é reconhecidamente uma das mais importantes escolas,
comparável ao lacanismo. Assim como os lacanianos, os kleinianos também são
freudianos. A característica é que todos se reconhecem na psicanálise enquanto o que
se afasta de Freud não é mais psicanálise. Os que praticam a psicanálise tem, em
comum, conceitos como o inconsciente, a transferência, um certo tipo de tratamento.
Se não se trata mais de psicanálise, então se trata de psicologia, psicoterapia etc.
O sucesso das idéias freudianas na Hungria permitiu que Ferenczi abrisse uma
clínica e, até mesmo, durante a curta duração do governo Bela Kun, possibilitou que
ensinasse psicanálise na Universidadede de Budapest. Porém, a partir de 1923,
começam a surgir divergências entre Freud e Ferenczi, alimentadas pela
complexidade dos vínculos afetivos existentes entre eles.
Jacques Lacan nasceu em l901. Seriam precisos apenas 25 anos para que
começassem a despontar no palco do mundo os efeitos do seu nascimento. Após
1920, Freud introduziu o que irá chamar de segunda tópica: uma tese que torna o “eu”
(ego), uma instância reguladora entre “isso” (id – fontes das pulsões), o supereu
(superego – agente das exigências morais) e a realidade (lugar onde se exerce a
atividade). Pode surgir, no neurótico, um reforço do eu, para “harmonizar” essas
correntes, como uma finalidade de tratamento. Ora, Lacan faz sua entrada no meio
psicanalítico com uma tese completamente diferente: o eu, escreveu ele, constrói-se à
imagem do semelhante e primeiramente da imagem que me é devolvida pelo espelho
– este sou eu.
O termo “Estádio do espelho” teria sido inventado por Henry Wallon. Lacan,
entretanto, o apresentou com uma outra forma. Ele inicia com um mito e apóia-se na
idéia de que o ser humano é um ser prematuro no nascimento com uma
incoordenação motora constitutiva. A idéia é que o bebê só conseguirá encontrar uma
solução para tal estado de desamparo por intermédio de uma “precipitação” pela qual
ele “antecipará” o amadurecimento de seu próprio corpo, graças ao fato de que ele se
projeta na imagem do outro (figura materna) que se encontra como que por milagre
diante dele. Essa precipitação na imagem do outro é que leva o bebê a sair da sua
prematuração neonatal. O movimento de precipitação, neste outro, leva o bebê a uma
alienação. O bebê tem (é obrigado) que se “alienar” para que se constitua um sujeito.
Melanie Klein fala ainda sobre alienação que tem o sentido de que o bebê não
tem uma unificação, e ele se constitui como sujeito devido ao resultado do efeito que
esse outro (mãe) tem no bebê. Nessas condições o bebê (eu, sujeito), é senão a
imagem do outro. É no outro e pelo outro que aquilo que quero me é revelado. Meu
desejo é o desejo do outro. Não sei nada de meu desejo, a não ser o que o outro me
revela. De modo que o objeto de meu desejo é o objeto do desejo do outro. O desejo
é, acima de tudo, uma seqüela dessa constituição do eu no outro. O “sujeito”, que
define a alienação constitutiva do ser, no encontro com o espelho, verifica o “rapto”
que esse outro opera nele. É no espelho que a criança vê seu corpo unificado,
deixando de ser fragmentado. No espelho a criança vê que ele existe e não é o outro
(mãe), existindo duas pessoas distintas. Neste momento identifica a “falta”, a
separação da mãe e não é a constituição do “sujeito falante”.
Freud, suas teorias e sua forma de tratamento com seus pacientes foram
controversos na Viena do século XIX, e continuam a ser muito debatidos hoje. Suas
idéias são frequentemente discutidas e analisadas como obras de literatura e cultura
geral em adição ao contínuo debate ao redor delas no uso como tratamento científico.
Até então percebe-se que a libido é voltada para o próprio ego, ou seja, a
criança sente prazer consigo mesma. O primeiro investimento objetal da libido,
segundo Freud, ocorre no progenitor do sexo oposto. Esta fase caracterizada pelo
investimento libidinal em um dos progenitores chama-se complexo de Édipo. A criança
passa então a amar a mãe e a experienciar um sentimento antagônico de amor e ódio
com relação ao pai. Ela percebe que tanto o amor vivido com a mãe como o ódio
vivido com o pai são proibidos. O complexo de Édipo é então finalizado com o
surgimento do superego, com a desistência da criança com relação à mãe e com a
identificação do menino com o pai.
Por que Freud? Porque de todos os pensadores que nos últimos duzentos
anos modelaram a nossa compressão da natureza humana, sem dúvida Freud se
encontra ao lado de Platão, Newton, Darwin e Karl Marx.
Mas o que dá a Freud tal importância? Simplesmente pelo fato de ele ter
dissociado a psicologia humana do senso religioso comum, que era a teologia cristã,
tendo-a trazido para o ponto de convergência da natureza humana. É lógico que Freud
sofreu a influência do movimento empírico da sua época em que se buscava a razão
do processo do conhecimento, afastando, assim, o estigma religioso.
PREFÁCIO
Este trabalho vem sendo desenvolvido ao longo de muitos anos, exatamente quando
iniciamos nossa formação em psicanálise clínica, em 1978, no CADEP – Centro Acadêmico
de Estudos e Debates em Psicanálise Clínica , passando pela Academia Brasileira de
Psicanálise Clínica e iniciando especialização em Teoria e Clínica Psicanalítica na
Universidade Gama Filho, além de participação em dezenas de congressos, seminários e
conferências no Brasil e no exterior. Portanto, o mérito não é nosso, mas os créditos
pertencem àqueles que de forma direta ou indiretamente contribuíram para transmitir-nos
saber psicanalítico.
Quem adquirir este Curso e desejar realmente fazer sua formação em Psicanálise,
deverá formalizar entrar em contanto conosco para saber das condições exigidas, o longo
caminho a ser percorrido e receber em seu computador as disciplinas específicas
complementares e necessárias à formação, além de vários textos de Freud para serem
interpretados. Ao término deverá apresentar uma monografia, em conformidade com as
exigências da ABNT e suas congêneres internacionais.
Não se preocupe o leitor quando, ao manusear este livro, deparar-se com repetições
de determinados assuntos e temas. São repetições propositais, com abordagens
diferenciadas, que visam a melhorar o aprendizado de assuntos importantíssimos que os
futuros psicanalistas jamais poderão esquecer no exercício de sua prática clínica.
Por fim faz-se necessário advertir que este material deve ser utilizado apenas como
parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus
respectivos autores.
Psicanalista Clínico.
Capítulo 1
Capítulo 2
Fase Oral – os órgãos sexuais principais são a boca, os lábios e a língua. Esta
fase ocorre no primeiro ano e meio de vida, aproximadamente.
Estrutura da Personalidade
Id
Ego
Superego
Capítulo 3
Solicita-se ao paciente que use o máximo de sua capacidade, que tente deixar
as coisas surgirem em sua mente e verbalizá-las sem se importar com a lógica e a
ordem. Mesmo que lhe pareça não terem importância ou até mesmo serem
aparentemente vergonhosas ou indelicadas a serviço do ego e os derivados, do ego
inconsciente, do id e do superego tendem a vir à superfície.
Nunca se deve perder de vista: Freud muitas vezes repetiu que o método
simbólico desempenha em Psicanálise um papel absolutamente secundário. É de
admirar que apesar dos protestos reiterados do mestre de Viena, o público, mesmo
científico, vê na Psicanálise muitas vezes apenas uma chaves dos sonhos.
Esta objeção repousa numa grave confusão, que importa dissipar. Uma
relação de causalidade pode ser conseguida de duas maneiras muito diferentes. No
primeiro caso, a reação de causalidade tem um valor inteligível e impõe-se
diretamente à razão. Basta comparar a marca deixada por um pé humano nu sobre a
areia úmida e a forma desse pé para apreender intuitivamente a relação de
causalidade, mesmo se se dispõe apenas de um único espécime de marca. Vimos
que, em condições favoráveis, o método associativo conduz a uma certeza desse
gênero.
Num segundo caso, a relação de causalidade não é compreensível
diretamente, sua existência só pode ser demonstrada estatisticamente. Assim é que
os médicos gregos reconheceram que a orquite podia ser uma complicação da
cachumba. Ela não acompanha sempre a cachumba, nem apenas a cachumba, mas
sua freqüência nos homens em geral. O redator do Primeiro Livro das Epidemias, da
coleção hipocrática, não fala explicitamente no princípio lógico da comparação das
freqüências, não deixando esse princípio porém de ser o fundamento de sua asserção.
Aqui a causalidade é apreendida graças à lei dos grandes números, mas poder-se-ia
percebe-la com certeza com um único exemplo.
Capítulo 4
REAÇÕES TRANSFERENCIAIS
Contra-transferência
Como abordaremos no item relativo à aliança terapêutica que deve ser uma
evolução da transferência, a própria transferência racional, de certa forma postulamos
o mesmo para a contra-transferência. Neste caso, quando interpretamos, quando
identificamos os motivos dessa afetividade etc., transformamos esse sentimento
intenso no correspondente a aliança terapêutica que chamamos descendente. A
aliança terapêutica descendente, que vem do psicanalista, é igualmente um importante
instrumento do processo, porque liga o psicanalista ao paciente, sem interdependência
em nível de sentimento.
Aliança Terapêutica
Capítulo 5
AS RESISTÊNCIAS
a) consciente;
b) pré-consciente;
c) inconsciente.
Elas podem ser expressas por meio de emoções, atitudes, idéias, impulsos,
pensamentos, fantasias ou ações. A resistência, em essência, é uma força opositora
no paciente, agindo contra os procedimentos e processos analíticos.
Esta é uma variação da situação anterior. Ele não está totalmente silencioso, mas
está cônscio de que não está com vontade de falar. O estado de „não sentir vontade
de falar‟ tem uma ou mais causas. O trabalho do analista consiste em fazer o paciente
trabalhar a respeito destas causas. É, basicamente, tarefa semelhante à investigação
de “alguma coisa” inconsciente que provoca o “nada” inconsciente na mente do
paciente silencioso.
Capítulo 6
PROCEDIMENTO ANALÍTICO
a) Confrontação;
b) Esclarecimento;
c) Interpretação;
d) Elaboração.
a) Confrontação
b) Esclarecimento
c) Interpretação
Capítulo 7
OS MÉTODOS DE EXPLORAÇÃO DO INCONSCIENTE
1) O Método Associativo
a) o desrecalcamento;
b) a interpretação.
b) A hipnose;
Uma doente de Minkowski sonha que alguém lhe faz “uma injeção na gengiva
e ela tem a convicção de que é seu irmão. No dia seguinte ou no outro apresenta um
abscesso dentário” O abscesso dentário explica perfeitamente o aparecimento no
sonho da imagem de uma injeção. Mas de nenhum modo explica a atribuição dessa
injeção ao irmão. Minkowski nos informa que “o conflito com esse irmão atravessa a
vida da paciente como um traço vermelho”. Seria, pois, absolutamente insuficiente
considerar esse sonho como apenas um sinal do terceiro grupo.
Havelock Ellis viu isso muito bem. Ele distingue sonhos presentativos e sonhos
representativos. Ele dá ao “presentativo" o sentido de ligado a uma excitação sensível
no presente imediato, enquanto representativo tem o sentido de ligado por associação
à vida desperta do passado” (Le monde des rèves, p. 31). Estabelecidas essas
definições, enuncia sua conclusão:
Então se é levado a perguntar por que a noção de “expressão psíquica” foi tão
desprezada até Freud. As únicas utilizações feitas antes dele, nesse setor, são os
exames e os testes. Nestes dois tipos de provas há, inevitavelmente, uma expressão
material pela palavra ou pela escrita. Mas ela aqui não nos interessa e podemos
abstraí-la. Esta expressão material atesta a existência de certo conteúdo psíquico. É
desse conteúdo psíquico que nos devemos ocupar.
A lembrança dessa mulher podia, pois, ser considerada sob dois pontos de
vistas. Do ponto de vista do objeto, é um conhecimento verdadeiro do passado; do
ponto de vista do indivíduo, é uma expressão de suas preocupações íntimas. O mau
humor devido à menstruação difícil não criou uma pseudo-lembrança de frutas
vermelhas e de tapetes vermelhos que não teriam existido, mas ele criou uma fixação
e uma conservação da lembrança dos objetos vermelhos, entre as numerosas
minúcias que se podem observar num restaurante.
2) Sentido
Por que se diz que uma palavra tem um sentido? Porque sua enunciação é o
efeito-sinal de uma idéia. A palavra é um sinal do segundo grupo, porque é de ordem
material e seu significado é de ordem psíquica. Não se pode parar aí. A linguagem não
é uma série de átomos sonoros significando átomos conceituais. As relações têm, no
pensamento racional, um papel extremamente importante. Pode-se desconhecê-lo e
este foi o erro dos empiristas clássicos. Mas pode-se também sobreestimá-lo e este é
o erro de um bom número de psicólogos contemporâneos.
De nossa parte, não vemos mais razão para sacrificar o ser à relação como
para sacrificar a relação ao ser. Assim, pensamos que o sentido da linguagem possui
duas gradações: a palavra exprime o conceito e as relações entre as palavras
exprimem as relações entre os conceitos.
Acabamos de explicar com que corretivos poder-se-ia dizer que o sonho tem
um “sentido”, como a linguagem a possui. Infelizmente a palavra “sentido” não serve
somente para designar a propriedade que tem a linguagem de exprimir o pensamento;
serve também para designar a propriedade que o pensamento tem de conhecer o real,
de atingir a verdade, o que é absolutamente diferente. Quando se diz a alguém: “O
que você afirma não tem sentido” não se pretende fazer-lhe uma critica lingüística,
mas uma critica lógica, não se visa a relação de sua linguagem com o seu
pensamento, mas a relação de seu pensamento com o real.
A palavra “sentido” tem, pois, duas acepções diferentes. Ora nem uma nem
outra é aplicável sem corretivo ao sonho ou, de um modo mais geral, aos produtos
derreísticos. A acepção lógica da palavra “sentido” não é aplicável ao sonho que,
propriamente dito, não é conhecimento; a acepção lingüística da palavra “sentido” não
lhe convém melhor, pois o sonho não é algo material. Na realidade, quando Freud
declara que o sonho tem um “sentido” dá a essa palavra uma terceira acepção,
ignorada até por ele. Deve-se recriminá-lo de não ter sido capaz de destrinçar
claramente o alcance de sua inovação.
Freud oscila perpetuamente da acepção lógica para a acepção lingüística e isto
se compreende pois a expressão psíquica é intermediária entre o pensamento e a
linguagem. Por isso sua obra dá a muitos espíritos uma prejudicial impressão de
confusão. Introduzindo uma idéia nova, Freud deveria ter criado um vocábulo novo
para designá-la, ou ao menos servir-se de uma combinação pouco usada de palavras.
É o que fizemos usando a expressão psíquica.
Para apreciar se Freud tem ou não razão de falar em simbolismo dos sonhos,
precisamos partir de exemplos de símbolos aceitos por todos. A linguagem corrente
não hesita em fazer do branco o símbolo da inocência e do preto o símbolo do mal
moral. Vê-se logo que a idéia de uma relação causal direta entre o símbolo e o
simbolizado não é essencial ao simbolismo. Toda semelhança exige uma causa. É
evidente que se o símbolo e o simbolizado não têm relação causal direta, eles
possuem ao menos uma relação causal indireta.
Esta definição mostra bem que certa relação causal é mais ou menos
claramente implícita no sentido primitivo, o sentido forte da palavra “sinal”. Ademais, é
absolutamente característico que o primeiro “símbolo”, seu sentido A é assim definido.
“O que representa outra coisa em virtude de uma correspondência analógica”.
(Lalande, Vocabulaire de Philosophie, artigo “signe”, tomo II, p.768).
Dito isto, esperamos que se concorde sem dificuldades que Freud modificou
completamente o sentido usual da palavra “símbolo”. O simbolismo psicanalítico
constitui a contraposição do simbolismo ordinário. A respeito dos três pontos que
acabamos de considerar, a oposição entre a acepção corrente e acepção freudiana da
palavra “símbolo” é flagrante.
É evidente que Freud errou gravemente aplicando aos sonhos e aos outros
produtos derreístas o qualificativo de símbolos. Isto quer dizer que a pesquisa
psicanalítica é ilegítima e sem finalidade? De nenhum modo. O próprio exemplo do
nascimento de Minerva basta para prová-lo. É absolutamente legítimo interrogar quais
são as representações anteriores que condicionaram a representação da saída de
Minerva do crânio de Júpiter e ninguém poderá contestar que a representação do
nascimento craniano não derive da do nascimento vulvar.
Sonho – “Vejo numa árvore um texugo, que é mais amarelo do que o habitual
nesses animais. Ele desce da árvore. Depois há uma história de peixe, que ele vai
procurar para comer”.
“Ele desce da árvore”] – “não me lembro de ter tido medo durante o sonho, ou
de haver atirado; isto é muito curioso dado meu amor à caça”.
Brill ficou algum tempo surpreso, mas o pseudo-sonho não deixara de revelar-
lhe o que há muito tempo procurava. Tal produção psíquica só podia ser fabricada por
um homossexual e, na verdade, desde o início do tratamento, Brill suspeitava que seu
cliente fosse um invertido. Convidou-o, pois, a continuar suas associações. O doente
protestou afirmando que seu sonho era pura invenção. Brill insistiu, o analisado se
zangou. Finalmente Brill decidiu atacá-lo de frente. “V. é um homossexual e está
apaixonado por X; somente um homem que se identifica com uma mulher é capaz de
imaginar que dá à luz uma criança”. O doente saiu furioso, mas voltou algum tempo
depois para informar que o seu diagnóstico era perfeitamente exato, mas que lhe tinha
sido muito penoso reconhecer que era homossexual (Brill, Fundamental Conceptions
of Psychoanalysis, p. 195-197).
Quando uma imagem onírica evoca uma série de outras imagens, eles
consideram que o simples fato da evocação basta para provar que as imagens
evocadas pelo trabalho associativo entretêm uma relação de causalidade, que pode
ser direta ou indireta, com as imagens a analisar. Diremos que eles consideram o
critério de evocação ou critério extrínseco como suficiente, isoladamente. Tal é a
primeira resposta à questão que examinamos, acerca da constância das ligações
psíquicas. Esta maneira de resolver o problema deixa o flanco aberto a graves
objeções.
As críticas que acabamos de formular – e que são clássicas nos escritos dos
contraditores da Psicanálise – conduzem a propor uma segunda resposta ao problema
da constância das ligações psíquicas. O critério extrínseco ou de evocação sendo
insuficiente, é necessário recorrer ao critério intrínseco ou de semelhança. Os
psicanalistas desprezam muitas vezes mencioná-lo ou, se o indicam, não destacam
sua importância capital. “As associações – escreve, por exemplo, Saussure – trazem
freqüentemente acontecimentos recentes que têm tanta analogia com a imagem
onírica como sendo a hipótese mais provável aquela que liga os dois fatos por um laço
de causalidade”. O critério de semelhança é empregado, fora da Psicanálise,
passando pela Lingüística e nas quais se propõe filiar um índice à sua causa.
Uma interpretação falsa pode produzir um efeito sugestivo, mas não um efeito
catártico. Só a interpretação verdadeira pode ter uma ação psicanalítica, mas importa
notar que ela deve sua eficácia ao fato de ser verdadeira e não ao de ter sido
demonstrada. Uma interpretação correta, cuja exatidão o doente sente intuitivamente,
pode trazer-lhe um alívio considerável. Contudo, para o lógico que olha as coisas de
fora, o critério terapêutico é inaceitável e é preciso reconhecer que seu emprego
abusivo levou a Psicanálise a um impasse científico.
Suponhamos enfim que o produto psíquico a analisar seja ele mesmo efeito de
sugestão. É claro que os nossos critérios permitem filiar à sua causa sugestiva à
imagem ao estudar. Não atinge a verdade de interpretação o fato de o material
submetido à investigação psicanalítica ser ou não devido à sugestão. O trabalho
analítico é tão objetivo, no caso de ascender de um sintoma neurótico ao traumatismo
psíquico da infância como no de partir da realização de uma sugestão pós-hipnótica
para a lembrança esquecida da dita sugestão.
Se, por exemplo, um doente lê durante a cura que muitas vezes o analisado
sonha com o analista e se na noite seguinte tem um sonho desse gênero, ninguém
contestará que interveio a sugestão. Mas, o aparecimento espontâneo do analista nos
sonhos do paciente, que ignora completamente a teoria psicanalítica, se demonstra
uma repercussão psíquica indiscutível. Não é, porém, uma sugestão no sentido exato
da palavra, pois de outro modo se deveria computar como devidos à sugestão todos
os sonhos em que figuram pessoas, que por uma ou outra razão nos interessam.
Para bem apreender o papel exato dos cinco critérios, seria útil examinar com
pormenores a maneira pela qual eles entram em jogo nos dois casos fundamentais,
que sempre separamos: a inconsciência das causas (sempre acompanhada pela das
relações) e a inconsciência limitada às relações. Para simplificar a exposição,
suporemos um efeito único derivando de uma única causa.
Para aprender o vício dessa objeção, basta ter presente que o critério de
evocação só intervém quando um elemento manifesto evoca um elemento latente.
Para que assim seja no caso atual, seria preciso ou que a forma do texugo, figurando
isolada no conteúdo manifesto, evoque sua cor amarela pertencente ao conteúdo
latente ou que a cor amarela, figurando isolada no conteúdo manifesto, evoque a
forma do texugo, pertencente ao conteúdo latente. Quando se filia a forma do texugo
no conteúdo manifesto à sua forma no conteúdo latente e sua cor amarela no
conteúdo manifesto à sua cor amarela no conteúdo latente, em vez de relacionar a
imagem manifesta total do texugo amarelo à imagem latente total do texugo amarelo,
levanta-se o problema do caráter mais ou menos arbitrário da decomposição em
elementos psíquicos de uma representação global. Mas isto de nenhum modo atinge a
distinção do critério de evocação e do critério de semelhança.
Uma outra jovem senhora, que igualmente realizou para mim auto-análises,
confirmou-me as impressões de Mme. X; ela também só podia obter associações
interessantes no momento do despertar. Entre os pacientes que eu mesmo analisei,
vários me assinalaram espontaneamente ter tido consciência de encontrar-se num
estado especial distinto do estado de vigília. Um deles era obrigado a fazer esforço
para continuar a falar, um outro apenas se apercebia de minha presença ao passo que
eu me transformava num personagem semi-onírico. Esse último caso suscita um
problema prático muito sério.
Sonho – “Parece-me uma noite escura. Penetro pelos W. Cs. que estão no
fundo do jardim, não me lembro se são W. Cs. de fossa séptica. Desço pelos buracos
do W. C. Encontro-me diante de uma porta de vidro vermelho ou talvez verde, vejo um
gramado, cercado de uma orla verde escura, formada de ervas que se inclinam para
uma erva central, não excêntrica. A grande erva central se inclina para o meu lado”.
“Era uma grande porta com traves em losango, numa espécie de vestíbulo,
com quadrados em losangos vermelhos e verdes. Não era um jardim, mas antes um
gramado. Ervas ou plantas com flores, sim, de preferência plantas com flores. Uma
muito comprida, muito alta, que me espia, todas as outras viradas para a grande”.
[Encontro-me diante de uma porta] – “Esta porta me faz lembrar duas outras
portas. A porta que se comunicava com o pátio de nossa casa e o interior, igualmente
com cruzetas, com quatro vidros transparentes; várias vezes trabalhei com fotografias
lá dentro. Em meu sonho, a porta tinha três batentes, dois móveis e um fixo, de
madeira envernizada. Tenho uma vaga lembrança da porta da casa da Sra. L., de
vidro transparente, em losangos, não vidro opaco, e losangos transparentes, caneluras
transparentes. Uma outra porta parece-me idêntica e que tinha igualmente três
batentes e uma parte superior mais semelhante à daquela com que sonhei. Lembro-
me de uma porta semelhante em B., numa visita que fiz com minha avó em casa da
Sra. B., diante de uma grande cortina de pérolas de madeira, um grande
encadeamento; fazia muito barulho quando batia. Uma porta com dois lados fixos num
corredor sombrio e a luz que passava através entrava no interior por uma janela de
face.”
[Abro a porta] – “Nada via através da porta antes de abri-la, ela era opaca.
Quando a abria uma onda de luz penetrava, numa rajada de ar fresco. Uma espécie
de impressão. Tenho a impressão de entrar em pleno campo. Música, como um
murmúrio. O vento fazia as plantas ondularem. Um murmúrio doce. A porta tinha uma
maçaneta oval de porcelana, ela rangia como uma porta que havia em minha casa. A
maçaneta tinha uma mola que era idêntica às outras, oscilava sobre um prego que a
fixava ao seu eixo e, quando usada, sacudia. A porta era difícil de abrir, era presa em
cima, fazia um barulho de vidro, quando era aberta, como um vitral que se agita”.
[A erva central] – “Muito grande, quase nua, muito longa, com um ramo de
flores encima, uma espécie de bola, algumas folhas embaixo, lisa como uma espécie
de “coucou” ou de jacinto, parece-me maior do que eu, e as outras tinham trinta
centímetros; aliás, tinha a impressão de ser saudado por essas plantas, muito
lisonjeado por ver a grande planta inclinar-se diante de mim, enquanto as pequenas se
inclinavam diante da grande. Entretanto, quando ia ver as plantas, ela não se movia,
gostaria que ela me olhasse. Penso que gostaria de ter sido aquelas plantas, porque
tinha a impressão de que ali se estava muito bem, que era quente, agradável, tudo
calmo e, ao mesmo tempo, amplo e eu me sentia perdido, apertado apesar de tudo.
Via-me especialmente na vereda da frente, queria ficar ali, ser uma planta do meio.
Vejo o canteiro abaulado, mais alto para o lado da grande flor do lado que eu queria
estar. A vereda era muito larga, e estreitava-se na direção da planta maior; entretanto
o meu lugar era quadrado. A grama em torno era... havia plantas muito chatas, muito
baixas, Parece-me que à direita elas eram baixas e à esquerda eram curvas, não, à
direita mais curvas, lianas que caíam de um muro carcomido, sujo, reboco, pedras
amontoadas a um canto”.
[A erva central] – “Ela tinha o ar de reinar sobre as outras. Invejava meu irmão
como invejava essa planta que me parecia dominar como dominava ela as demais
plantas. Ele era muito forte, mas destro. Contudo eu lhe obedecia. Julgava-o belo,
grande, superior a mim. Nas disputas de corrida de salto ele era também superior a
mim. Era meu irmão mais velho, minhas irmãs lhe obedeciam, e quando não lhe
obedeciam ele batia nelas. Não, não vejo mais nada”.
[A grande erva inclinava-se de meu lado] – “Com uma espécie de respeito ela
estava curvada, como submissa. Quando andava pelo caminhozinho do lado, em que
ela se encontrava, gostaria que ela se virasse para mim, ficava decepcionado, como
quando acreditava que se curvaria diante de mim por respeito. Eu chegara pela frente,
não, eu fiquei e teria vontade de voltar, não voltei, fiquei no caminhozinho do lado,
não, não sei bem. Vejo bem a explicação, vejo que invejava meu irmão, eu queria ser
admirado e como não o era isso me decepcionava”.
Podemos distinguir três partes no sonho; a descida nos W. Cs, a saída dos W.
Cs, a cena da grande erva.
Não proporei interpretação para a descida nos W. Cs, penso que o material
recolhido não permite fazê-la com suficiente certeza. O que é indubitável é a mistura
de atração e de repulsa, a ambivalência da criança, de dez anos em face dos W. Cs.
Pode-se falar de complexo anal sem forçar os fatos. Mas sobre as origens deste
complexo, as associações nada nos informam. Sei perfeitamente que um freudiano
ortodoxo proporia interpretar a descida nos W. Cs como fantasia de volta ao seio
materno, mas meu fim é demonstrar o que se pode tirar desse sonho, aplicando-lhe o
método associativo com espírito estritamente crítico. Da descida aos W. Cs e das
associações relativas a essa imagem, quero concluir apenas a existência no sonhador
de uma curiosidade mais ou menos intensa e contrariada pelas impressões de medo
em face da função de defecação.
É preciso notar que a evocação do irmão pela grande planta foi absolutamente
espontânea. De nenhum modo intervim durante as associações, só fiz dar às palavras
indutoras, que reproduzem as imagens oníricas e uma vez disse: “ Em que V. pensa?”.
É, pois, plausível aceitar que a ligação entre a grande erva e o irmão preexistia no
psiquismo do sonhador. Resta examinar se a sugestão não poderia ter intervindo entre
o sonho e a sessão de análise. O analisado não sabia grande coisa das doutrinas de
Freud e é bem provável que a principal fonte de seus conhecimentos em matéria
psicanalítica fosse a minha conferência sobre os métodos de exploração do
inconsciente.
À guisa de conclusão diremos que a análise deste sonho nos conduz por duas
primeiras partes à verificação de um complexo anal. A terceira parte se interpreta de
modo mais plausível fazendo da grande erva o substituto do irmão mais velho, mas a
prova estrita da exatidão dessa interpretação não foi obtida.
Até aqui os exemplos que demos foram tomados de casos, em que não houve
Psicanálise seguida e regular, seja terapêutica, seja didática, mas somente uma ou
várias sessões com o fim de pesquisa. Agora será preciso que mostremos com uma
longa série de sessões que é possível obter interpretações que escapam a acusações
arbitrárias. Se a transferência é, em certo sentido, aliás, muito limitado, um fenômeno
que se pode qualificar de artificial, a interpretação dos sonhos de transferência pode,
contudo, ser logicamente válida. Ensaiemos mostrá-lo com um exemplo.
Emília é uma mocinha que se apaixonou perdidamente por um funcionário
colonial, que chamaremos Gastão, no período em que ele estava na França. Casado e
com filhos, divertira-se flertando com a mocinha, deixando-a esperançosa com a idéia
que se divorciaria para desposá-la. Ele voltou para o seu posto na África, não tornou a
falar em divórcio e Emília caiu num estado de depressão nervosa, com insônia e
emagrecimento. Após ter assim passado alguns meses, ela decidiu recorrer à
Psicanálise para tentar resolver este caso de amor sem futuro. Uma transferência
ambivalente se manifestou desde o início do tratamento. Emília submeteu-se à análise
com grande resistência. Na trigésima primeira sessão, ela trouxe o seguinte sonho,
excepcionalmente anotado por escrito.
“Não quero mais morrer. Julgo-o bom, oh! Tão bom! E me é indiferente que ele
converse com as outras moças. É muito tarde. Todo mundo foi dormir. Não todos; o
corredor em que estou está cheio de pessoas indiferentes. Eu ficaria toda a noite
saboreando a minha felicidade. Neste momento ele se dirige para mim, olha-me muito
tempo, conversa comigo, depois, num dado instante, sem que isso absolutamente se
impusesse, ele me beija nos lábios, longamente. Impressão estranha, agradável, mas
estranha, muito inesperada. De novo ele recomeça. Chamam-no. Ele vai embora.
Acotovelo-me na balaustrada pensando em Gastão, que amo bruscamente, com
paixão, com doçura, depois que o traí. Mas espero o outro. Era a felicidade intensa de
estar no mesmo navio para ir para o mesmo destino: a África”.
Examinemos agora que papel pôde a sugestão exercer aqui. Pode-se supor,
caso se atribua uma grande eficácia à sugestão, que o conteúdo latente, o amor de
transferência de Emília para o psicanalista, é devido em parte à sugestão. Pode-se
supor que o conteúdo manifesto, a saber, que a aparição no sonho de um personagem
semelhante ao analista, depende igualmente, numa certa medida, da sugestão. Mas
por mais extensas que sejam as concessões feitas à hipótese sugestiva, elas não
poderiam destruir nem o valor do sonho como elemento de diagnóstico e de
prognóstico, nem o caráter natural e inconsciente do trabalho do sonho.
É preciso ir mais longe: este sonho permite prever que Emília continuaria a
destacar-se de Gastão de um modo cada vez mais completo e foi o que sucedeu.
Levando até os últimos limites a hipótese de um papel exercido pela sugestão objetar-
se-á que este destacamento mais acentuado foi devido a novas sugestões posteriores
ao sonho, o que embota o valor deste último como valor prognóstico. A isso pode
responder-se que o sonho indicava com toda certeza uma tendência a
desprendimento mais completo e que toda tendência pode ser ou favorecida ou
contrariada por causas diversas.
A sucessão dessas diversas cenas não ilustra tipicamente a lei enunciada por
Freud: “A necessidade somática se exprime de um modo progressivo e sempre mais
claro”. Ora, esta lei não tinha sido exposta a Emília nas sessões precedentes de
análise; tudo permite crer que ela a ignorasse. Estamos, pois com o direito de pensar
que o dualismo estrutural do sonho de transferência e o desenrolar progressivo das
cenas que o compõem são naturais e não produto artificial.
A exatidão desta lembrança é atestada pela cicatriz em estrela que a irmã tem
na testa. O acidente, além disso, foi confirmado pela mãe.
Outras lembranças, recuperadas pelo paciente não foram confirmadas por sua
mãe. Em particular, algumas das lembranças relativas à curiosidade sexual infantil não
o foram. Um adversário da Psicanálise concluiria disso que se trata de pseudo-
lembranças devidas à sugestão da dogmática freudiana. Um partidário de Freud
responderia que a mãe, imbuída de rigorismo moral – o que, aliás, é exato – recalcou
as histórias em questão. Este desrecalcamento não se podendo demonstrar, o leitor
nos dispensará de comunicar-lhe nossa opinião.
3) O Método Simbólico
Esta objeção repousa numa grave confusão que importa dissipar. Uma relação
de causalidade pode ser conseguida de duas maneiras muito diferentes. Num primeiro
caso, a relação de causalidade tem um valor inteligível e impõe-se diretamente à
razão. Basta comparar a marca deixada por um pé humano nu sobre a areia úmida e a
forma desse pé para aprender intuitivamente a relação de causalidade, mesmo que se
dispuser apenas de um único espécime de marca.
Vimos que, em condições favoráveis, o método associativo conduz a uma
certeza desse gênero. Num segundo caso, a relação de causalidade não é
compreensível diretamente; sua existência só pode ser demonstrada estatisticamente.
Assim é que os médicos gregos reconheceram que a orquite podia ser uma
complicação da cachimba. Ela não acompanha sempre a caxumba, nem apenas a
caxumba, mas sua freqüência nos homens atingidos por esta moléstia era superior à
sua freqüência nos homens em geral. O redator do primeiro livro das Epidemias da
coleção hipocrática não fala explicitamente no principio lógico da comparação das
freqüências, não deixando esse principio, porém de ser o fundamento de sua
asserção. Aqui a causalidade é aprendida graças à lei dos grandes números, e não se
poderia percebê-la com certeza com um único exemplo.
O exame da evolução dos ideogramas que eles iniciaram por cópias muito
vizinhas da realidade e que, por esterilização progressiva, chegam a símbolos seriam
irreconhecíveis, caso se ignorasse sua história. Encontra-se uma elaboração desse
gênero na escrita assíria. Como ela se manifesta para todos os sinais e não é
absolutamente particular aos que designam os objetos sexuais, é claro que não é
devida a um crescente pudor. Ela certamente se explica pela substituição da argila
pela pedra, mas até agora os assiriólogos não chegaram a descobrir as leis da
evolução da escrita cuneiforme. É o caso de relembrar que para o próprio Freud o
simbolismo é um “fator de deformação dos sonhos independentemente da censura”.
Sonho – “Sonhei que meu pai me havia dado uma grande mala, uma mala de
cabine. Ao mesmo tempo me deu uma chave, uma chave muito grande. Parecia a
chave do portão de uma casa. Durante essa fase tive um sentimento de angústia, ao
mesmo tempo admirei-me de a chave ser tão grande, isso não podia estar certo. Em
seguida abri a mala. Então uma serpente pulou dela para minha boca. Dei um grito e
perdi os sentidos.” É claro que Raffenstein escolheu uma paciente ignorando
inteiramente a Psicanálise.
Estabelecer uma lista de símbolos oníricos não basta, é preciso, quando nos
encontramos em face de uma imagem de sonho suscetível de revestir um sentido
simbólico, mostrar que assim é na verdade. Esse problema concreto é muito próximo
do que tratamos ao examinarmos os critérios de interpretação associativa. Para
resolvê-lo, distinguiremos dois casos.
No primeiro caso, os cinco critérios que nós formulamos podem ser utilizados
exatamente como na interpretação associativa clássica.
[Quermesse] – Festa qualquer, vaga lembrança com esta moça, ah! sim!
e NEUROPSES
Perversões sexuais
Pedofilia – É a atração sexual que o adulto tem por crianças. Deseja ter
relações sexuais com elas, e as violenta compulsivamente.
As Neuroses
A noção de histeria deriva dos antigos gregos que aplicavam o termo apenas
a doenças de mulheres, explicadas como devidas ao mau funcionamento do útero
(hysteron). Segundo determinada teoria, o útero constituía um órgão móvel, capaz de
movimentar-se pelo corpo e pressionar outros órgãos; de acordo com outra teoria, a
abstinência sexual conduziria à “inanição do útero” ou a retenção de espíritos animais
não utilizados, que saíam para fora do útero, provocando a perturbação de outros
órgãos. Um dos efeitos da Psicanálise foi demolir as teorias uterinas da causa da
histeria, enquanto retinha a idéia de que, de certa maneira, ela se vincula à
sexualidade. (Para a história do conceito v. Veith, 1965).
ALIANÇA DE TRABALHO
ABRANGÊNCIA DA PSICANÁLISE
Análise de Experiência
RESISTÊNCIA
Resistência quer dizer oposição. Todas aquelas forças dentro do paciente que
se opõem aos procedimentos e processos da análise (...) que impedem a
associação livre, que bloqueiam as tentativas do paciente para recordar, obter e
assimilar a compreensão interna, que agem contra o ego racional do paciente e
contra seu desejo de mudança (...). (Freud, citado por Ralph Greenson)
E ainda:
“(...) parece que você transformou alguma coisa em nada, o que seria”?
Resistências
“(...) o silêncio é uma resistência à análise e tem que ser manejado como tal
(...)”.
Devemos aqui bem interpretar Ralph Greenson, quando diz ser o silencia uma
resistência. O silêncio, como toda resistência, é um elemento importantíssimo para a
análise. A partir das resistências, o psicanalista colherá o conteúdo latente (enquanto
silêncio manifesto), todavia elaborado em silêncio e, se permitida sua elaboração pelo
psicanalista, colherá os resultados dessas elaborações para o aprofundamento
interpretativo e esclarecedor da Psicanálise.
(...) Nossa tarefa é a mesma: investigar por que ou o que é que o paciente
não está com vontade de falar (...). O estado de não sentir vontade de falar, tem uma
causa ou causas e nosso trabalho consiste em fazer o paciente trabalhar nessas
causas (...). É, basicamente, tarefa semelhante à investigação do – alguma coisa –
inconsciente que provoca o – nada – consciente na mente do pacientes silencioso.
(...) Suas observações são secas, insípidas, monótonas e apáticas (...). Tem-
se a impressão de que o paciente está alheio e desligado do que ele está relatando.
Isto é particularmente importante quando a ausência de afeto diz respeito a fatos que
deveriam estar cheios de profunda emoção. Em geral, a inconveniência da emoção é
um sinal bem impressionante de resistência. Há uma qualidade bizarra no que o
paciente diz quando a ideação e a emoção não estão de acordo (...).
Ilustra Greenson com o episódio de um paciente que mesmo relatando haver vivido
sua maior experiência sexual, mantinha um mesmo tom de voz, sem passar nenhuma
emoção. Greenson, ao questionar o aspecto felicidade de seu paciente, comprovou
que tal experiência havia sido frustrante, já que o paciente confessou haver se tratado
de uma despedida, o que justificava seu relato com total ausência de emoção.
A postura do paciente...
Fixação no tempo...
(...) Em geral, quando um paciente está falando com relativa liberdade, haverá
oscilações entre o passado e o presente em suas produções verbais. Quando um
paciente fala, firme e inalteradamente, sobre o passado sem entremear qualquer coisa
sobre o presente ou se, ao contrário, um paciente fala continuadamente sobre o
presente sem mergulhar ocasionalmente no passado, há alguma resistência em ação.
Prender-se a um determinado período de tempo é uma fuga, semelhante à
inalterabilidade no total emocional, postura (...).
Atuação
Quando os segredos são conscientes por parte do paciente, está ele a “evitar”
algo. Cabe ao psicanalista respeitar a reserva do paciente. Se, no entanto, os
segredos forem inconscientes, podem criar reservas na personalidade do paciente,
interferindo inclusive em seu comportamento. Para estes comportamentos, devemos
utilizar um dos passos de aprofundamento investigatório psicanalítico, confrontando e
esclarecendo tais pontos (...).
Capítulo 13
A TEORIA DA RESISTÊNCIA
Segundo Fernichel, citado por Ralph Greenson (p. 83-F), devemos diferenciar
o fato:
Tente imaginar uma bibliotecária que se propõe organizar uma biblioteca onde
diversos alunos não repõem os livros nos seus devidos lugares. Pior ainda é que em
muitas situações psicanalíticas, a reorganização assemelha-se a uma biblioteca
(mente) cujos livros, depois de usados, foram colocados aleatoriamente nas
prateleiras.
As Resistências
Ao contrário das “defesas”, segundo Anna Freud, citada por Ralph Greenson,
as “resistências” não são apenas obstáculos ao tratamento, mas também importantes
fontes de informação sobre as funções do ego em geral. São as “defesas” que vêm à
tona durante o tratamento, como resistência, realizando importantes funções para o
paciente em sua vida externa. Estas defesas também se repetem nas reações
transferenciais.
Greenson cita Anna Freud e Fernichel para bem relacionar os motivos e
mecanismos de defesa com os motivos e mecanismos de resistência, segue: (...) Ao
falar de motivo de defesa, estamos nos referindo àquilo que fez uma defesa ser
ativada, A causa imediata é sempre a fuga de alguma emoção dolorosa como a
ansiedade, a culpa ou a vergonha. A causa mais longínqua é o impulso instintual
subjacente que instigou a ansiedade, culpa ou vergonha.
Medo do Abandono
Medo da Castração
Repetição
“Do ponto de vista técnico, a compulsão à repetição pode ser mais bem
manejada terapeuticamente identificando-a como uma tentativa de domínio atrasado
de uma situação traumática antiga” (p. 88-F).
Resistência e Regressão
Regressão caracteriza-se pelo retorno a uma forma mental mais primitiva e
antiga. (Freud, por Ralph Greenson, p.88-F).
malvadeza;
provocação;
teimosia;
vergonha;
sadomasoquismo;
retenção e retraimento;
ambivalência acentuada;
recriminações obsessivas.
passividade;
introjeção;
identificações;
fantasias de suicídio;
vício em drogas;
anorexia e bulimia;
choro;
fantasias de ser salvo.
Resistência Transferencial
As Histerias
Depressões Neuróticas
Neuroses de Caráter
toda a defesa, sabemos, encobre, protege algo. Logo, os seres convivem com
múltiplos problemas, sendo que alguns necessitam, para sua equação, contar
com fatores outros, que somados, formarão os elos à feliz e ideal resolução;
até que se formem os elos necessários, muitos problemas, são armazenados
em níveis profundos de memória. Tão profundos são que, às vezes, os elos
que os ligam com a consciência se perdem. Centenas de outros problemas
cujas soluções acreditamos possuir são depositadas sob as bases do problema
maior não solucionado;
tamanha é nossa necessidade de encobrir o problema sem solução
momentânea, que construímos um verdadeiro castelo sobre ele, tudo na
expectativa inconsciente de encobri-lo, e às vezes conceitual, à sua definitiva
solução;
tudo quanto é construído sob as bases do problema latente adormecido,
corresponde aos ideais humanos e sua equivalência substituirá os níveis de
tensões irradiados por tal problema;
muitas fortunas são formadas sob bases de tensões inequacionáveis. Todavia,
após a equivalência tensional, a solução pode emergir facilmente;
A Psicanálise preocupa-se em substituir as bases tensionais, oferecendo o
mais próximo, e também o mais sólido elo a sustentar os ideais que
impulsionam o existir daqueles que dela lançam mão para evoluir verto-
horizontalmente;
as defesas encobridoras portanto, desempenham um papel natural e até
mesmo fundamental ao evoluir individual;
é necessário contudo, para a saudável e harmônica “reprogramação”, que
contemos com psicanalistas bem formados, dedicados e sobretudo
responsáveis. Um tijolo retirado de uma estrutura em ruínas, poderá ocasionar
a destruição total daquilo que de bom reste “no ser”;
desmitificar e também desmistificar, sem dúvida, está contido na clinica
psicanalítica, contudo, de forma lenta e gradual, só retirando das bases de
sustentação do ser aquilo que, seguramente, esteja convencido haver sido
completamente isolado e exaustivamente trabalhada sua reformulação
conceitual. Daí a Psicanálise demandar tempo. Este tempo é necessário para
substituir conceitos, medos, traumas e crenças, na memória do paciente,
arraigados há mais de vinte, trinta e até sessenta ou mesmo oitenta anos.
Não houve por parte da médica nenhuma maldade ao criar o quadro de terror
que deverá transformar-se em pesadelos noturnos, acompanhados de sudorese, mal-
estar, elevados pela fobia ali iniciante, base para implicações futuras em distúrbios do
pânico e histerias.
(...) para se analisar uma resistência, o paciente, primeiro, deve estar sabendo
que há uma resistência em ação. A resistência tem que ser demonstrável e o paciente
tem que se defrontar com ela. Em seguida, a variedade especial ou o detalhe preciso
da resistência tem que ser muito bem enfocados. A confrontação e o esclarecimento
são adjuntos necessários à interpretação (...) (p. 106-F).
(...) Estas são as forças que a situação analítica mobiliza no paciente. Quando
se ouve um paciente, convém trazer em mente esta divisão bem simplificada de
forças. (p. 108-Fonte).
Capítulo 17
(...) O analista escuta com atenção flutuante uniforme. Não se faz uma
tentativa consciente para se lembrar. O analista vai se lembrar dos dados importantes
se ele presta atenção e se o paciente não está despertando as reações transferenciais
do próprio analista. A atenção não-seletiva, não-direcionada governará nossas
próprias tendências especiais e permitirá que o analista acompanhe a conduta do
paciente. Dessa atenção flutuante uniforme o analista pode oscilar e fazer misturas
com o que veio de suas associações livres, empatia, intuição introspecção, raciocínio
solucionador, conhecimento teórico (...) (p. 108-109-F).
Anotar tudo quanto o paciente diga é negativo à boa análise. Contudo, são
importantes as anotações, desde que não prejudiquem o fluxo da atenção flutuante do
psicanalista.
Um paciente cujo pai faleceu de infarto tem ele medo de morrer (tanatofobia)
do mesmo mal do pai, com freqüentes sufocações, sudorese e oscilações na pressão
arterial. No momento em que o psicanalista “confronta”, isto é, faz esta associação, é
comum, o paciente dizer: “não, o que eu sinto não tem nada a ver com a morte do meu
pai”. Exatamente aí está uma resistência a ser trabalhada, aprofundada, esclarecida,
interpretadas e sofrer elaboração.
Para se deixar elevar e mesmo evidenciar uma resistência, o psicanalista deve ser
capaz de açular, resistir e suportar. Estes elementos são pré-requisitos indispensáveis
ao bom psicanalista.
Uma jovem de vinte anos, após quarenta e cinco minutos de sessão, sempre
chorando e soluçando, com sérios transtornos oriundos de incompreensões,
desafetos, drogas... Nos últimos cinco minutos, sem saber onde encontrar o ponto
inicial a ser trabalhado, com um mínimo de possibilidade para saber a origem de
tamanha lamúria, coloquei-lhe o seguinte problema: estamos em um navio que está
afundando e você só pode salvar uma pessoa. Quem você salvaria? Perguntou-me: -
“qualquer pessoa, mesmo sem ser da família?” Reforcei - o tempo está se esgotando,
quem você salvaria? – Minha mãe! – Continuei: - sobrou um lugar, quem mais você irá
salvar? Respondeu-me a jovem sem pestanejar: - Obi. Indaguei: - quem é Obi? – “Um
amigo que conheci quando eu tinha onze anos”. Pedi que me falasse sobre ele.
Atendendo-me: “Eu o conheci no enterro de seu pai. Ele chorava muito. Hoje ele tem
vinte e sete anos. É uma pessoa muito problemática. Tem muito problema interior”.
O Esclarecimento da Resistência
Que o paciente pensa que para ser bom paciente, ou melhor, pensando
erroneamente que um bom paciente não tem resistência, fala o tempo todo,
ainda que de banalidades;
O paciente tem, nestes casos, medo de se encontrar com novas resistências,
tendo que enfrentar novos esclarecimentos.
O paciente escolhe o material com que vai começar a sessão, mas nós
selecionamos do seu material aquilo que achamos ser ou que deveria ser sua
preocupação real. Por exemplo: o paciente nos fala de seus prazeres sexuais, mas
nós selecionamos seu embaraço ao falar de sexo. Escolhemos aquilo que
achamos que está realmente preocupando o paciente, embora ele possa estar
inconscientemente desligado disso. Pode fazer-se uma analogia com sonho e
dizer que o paciente escolhe o conteúdo manifesto e nós agarramos o material
latente significante.
Resistências Secundárias
A técnica psicanalítica diferencia-se de todos os demais métodos pelo fato de
analisar as resistências. Contudo, Greenson aconselha a não analisarmos todas as
resistências.
Greenson (p.171 a 180 do livro fonte) define cinco características gerais dos
quadros clínicos, sendo:
1. Inadequação;
2. Intensidade;
3. Ambivalência:
4. Inconstância:
5. Tenacidade.
Elementos de Transferência
3. Transferência e repetição;
4. Transferência e regressão;
5. Transferência e resistência;
6. Neurose de transferência.
Existem dois pontos gerais que devemos ter em mente quanto à regressão na
transferência. No paciente neurótico em tratamento vemos regressões temporárias e
progressões temporárias. O paciente analisável pode regredir e sair dessa regressão.
Os fenômenos regressivos são, em geral, circunscritos e não-generalizados. Por
exemplo, podemos ver uma regressão no id manifestada por impulsos sádico-anais
em relação às figuras com autoridade. Ao mesmo tempo, os impulsos instintuais por
um objeto amoroso podem estar agindo num nível mais elevado, e determinadas
funções do ego podem estar bem evoluídas.
O que parece ser auto-suficiência pode ser uma resistência contra a revelação
de uma dependência subjacente. O desejo de ser amado pode provocar benefícios
terapêuticos superficiais, ao passo que pode encobrir um medo profundamente
enraizado de perda objetal. Em geral, a natureza regressiva das relações
transferenciais se manifesta pela inadequação, pela ambivalência e pelo predomínio
relativo das tendências agressivas.
A regressão das funções do ego que ocorre nas reações transferenciais pode
ser demonstrada de várias maneiras. A própria definição de transferência o mostra. O
deslocamento denota que no presente está sendo parcialmente confundido com um
objeto do passado. Fica temporariamente perdida a função discriminatória do ego, o
teste da realidade. Aparecerão mecanismos mentais primitivos como a projeção, a
introjeção, a divisão e negações.
Denominamos “problema” aquilo para o qual não temos solução ou, ainda,
sabendo existir solução, existem complexidades, particularidades, implicações e
ramificações. Não se encontram definidos e claros todos os “trechos” a serem trilhados
até a equação efetiva da questão.
Capítulo 19
CLASSIFICAÇÃO GERAL DAS REAÇÕES E TRANSFERÊNCIAS
Com o amor conseguimos curas que sem ele tornam-se crônicas e incuráveis.
1. Transferência positiva;
2. Transferência negativa;
3. Transferência objetal;
4. Transferência libidinal;
5. Transferência estrutural;
6. Transferência identificativa;
7. Transferência gratificativa;
8. Transferência defensiva;
9. Transferências generalizadas.
1 – Transferência Positiva – Freud reconheceu muito cedo serem os
fenômenos transferenciais ambivalentes por natureza. No entanto, o rótulo de
transferência positiva e negativa continuou a ser sua forma favorita de nomenclatura.
Ainda que com toda a ambigüidade e erros que este tipo de classificação acarreta,
continuou sendo a designação mais freqüente utilizada entre os psicanalistas
praticantes (p. 248-249-F). A transferência positiva descreve aquelas que são
formadas fundamentalmente de amor, reconhecendo-se suas múltiplas formas,
antecedentes e derivativos.
Não existe um padrão individual para aquilo que um paciente deve sentir, já
que cada indivíduo é diferente. Não há jeito de saber quais sentimentos vivenciarão os
pacientes, em especial, num determinado momento, em suas reações ao analista.
Uma pedrinha recolhida por nós passa a ser diferente das outras e, por ela,
interiorizamos sentimentos, os quais são qualificados e dimensionados em energia
libidinal, assumindo valor catéxico.
Pelas razões supra, e pela fisiologia detalhadamente exposta, o analista vem a formar
sozinho a parede de retorno total do ser, conquistada ao longo de uma existência. A
partir dele conceitos serão validados ou refutados. Ela passa a ser o referencial de
verdade, de real e irreal, de mentira, de medo, de bem- estar, de certo e errado, de
possibilidades concretas...
Análise de Transferência
Mas esta regra deve ser modificada de acordo com nossos conhecimentos
sobre a aliança do trabalho. Só analisamos a resistência transferencial quando um ego
racional, uma aliança de trabalho está presente. Se a resistência à transferência é
importante, mas não demonstrável, nosso primeiro trabalho consiste em nos
assegurarmos que ela se torne demonstrável. Em outras palavras, antes de analisar
devemos ter certeza da presença de um ego racional, de uma aliança de trabalho.
Para agir assim, a técnica utilizada é exatamente a mesma que foi descrita para lidar
com outras resistências.
Os Níveis de Intensidade
Outra regra útil relacionada com a pergunta “Quando é que devemos intervir
na situação transferencial?” – é a seguinte: o analista permitirá que a reação
transferencial evolua até atingir um nível ideal de intensidade. Mas é necessário definir
o que queremos dizer com este termo “nível ideal de intensidade”. Isto não se refere a
uma quantidade delimitada, mas depende do estado do ego do paciente e o que o
analista está tentando alcançar num determinado momento. Basicamente, queremos
que a experiência transferencial seja emocionalmente significativa para o paciente,
mas não que ele seja oprimido por ela. O objetivo é gerar impacto e não trauma.
Algumas vezes pode ser uma experiência significativa para o paciente mostrar
o mais leve traço de um sentimento transferencial. Este será o caso quando, ao lado
de uma reação transferencial moderadamente forte, pudermos detectar um vestígio de
outra, de tonalidade oposta.
Uma compreensão interna nova pode vir à tona enquanto estamos tentando
analisar uma resistência transferencial ou só depois que foi alcançada uma
intensidade ótima.
Afetos Internos
Repetições
O paciente observa tudo por um só prisma, tanto pode ser otimista, fatalista,
negativista, positivista, cientista, místico, crente, casuísta, causualista, casualista,
espiritualista. Este paciente mantém uma linha única de entendimento. Mudam os
personagens e situações, contudo a visão causa e efeito é somente um segundo sua
concepção repetitiva.
Semelhanças
O paciente reage com uma risada rápida e fica em silêncio. Depois de uma
pausa longa, sorri e diz resignadamente: “Bem, nessa você me pegou”. E acrescenta
com um riso engasgado: “Juntos por quase uma hora, nada de conversa, apenas
grunhidos, recusando-se a participar – certo, você realmente parece que acertou em
alguma coisa (...)”, e Greenson lhe responde: “Você foi capaz de demonstrar uma
raiva de verdade pelo seu amigo mas parece incapaz de ficar com raiva de mim pelo
mesmo motivo”. O paciente então parou de sorrir e começou a trabalhar. (p. 326-F).
Simbolismo
A jovem fala dela mesma, cria, contudo, um veículo simbólico para pedir ajuda
ao psicanalista. Não admite ser viciada, mas no simbolismo confessa. Em outro
momento, essa mesma jovem vê um lago, depois, lá no fundo, encontra os Alpes e
uma grande ponte de tabuas falhas ligando grandes penhascos. É uma forma
simbólica de admitir estar entrando ou aprofundando seus sentidos em níveis de
profunda inconsciência para dizer-nos do medo que sente em relação à vida e à
insegurança que sente em relação aos caminhos, aos meios e às diversas instâncias e
possibilidades que a vida oferece.
Associações-chave
Às vezes é uma única associação que nos fornece a pista mais importante
para saber se devemos interpretar a transferência, e qual aspecto dessa transferência
é preciso escolher para ir em frente.
Silêncio e Paciência
O Uso da Evidência
Esclarecimento da Transferência
Uma vez que o paciente reconheceu que está envolvido numa reação
transferencial, estamos prontos, portanto, para o procedimento técnico seguinte, ou
seja, o esclarecimento técnico da transferência. Desejamos, agora, que o paciente
torne mais aguçado, esclareça mais, aprofunde mais e preencha o quadro
transferencial.
A Interpretação da Transferência
É preciso, algumas vezes, fazer com que o paciente enfoque diretamente suas
fantasias, particularmente quando os afetos, impulsos ou objetos transferenciais
parecem vagos, inacessíveis ou improdutivos.
Considerações Teóricas
Procedimentos Técnicos:
A Busca e a Reconstrução
Ele pode agir assim se o paciente mostrar que está trabalhando positivamente
com aquela interpretação;
O psicanalista pode sair em busca de outra variação da transferência se o
material do paciente parece tomar esse rumo;
Ele pode perguntar ao paciente qual é sua opinião sobre as últimas
interpretações. (Isto, se ele, analista, não vê conexões ou derivativos palpáveis
no material do paciente).
“De vez em quando, pude ver pacientes esquizofrênicos que eram analisáveis,
e psiconeuróticos que não o eram” afirma Ralph Greenson (p. 377-F).
Os casos que até um passado próximo eram tidos como intratáveis, passam a
sê-lo com a abertura de um parêntese na Psicanálise, pelo clínico, e a intervenção
psicoterapêutica instrumental para, só então, retomar o método clássico analítico.
Capítulo 20
Compreensão do Inconsciente
(...) A empatia é uma forma de compreender outro ser humano através de uma
identificação parcial e temporária (R. Greenson, p. 425-F)
(...) “A fé nas pequenas coisas são como grãos de areia: com ela removemos
montanhas e construímos nosso próprio caminho, e nem nos damos conta”. (Derivi,
1987, por MC, p. 8, 1992).
Ainda que não queiramos tal visão por parte dos pacientes, devemos estar
conscientes que eles não estão em nosso divã por nossos olhos ou outra razão que
não a sua própria busca pessoal de respostas aos problemas que se os afligem.
Assim, podemos fazer algumas observações tecnicamente bem fundamentadas, mas
nunca inverter os papéis com o paciente.
Quem está ali pagando para programar-se é o paciente. Não podemos fazer
exposições longas ou mesmo médias. Devemos acumular, resistir e suportar a
vontade de transformar a análise em um bate-papo, superficialmente gerado e
superficialmente conduzido. Devemos permitir ao paciente a associação livre,
descomprometida e liberta. Com a total exteriorização das emoções, poderemos estar
ajudando efetivamente os pacientes. É útil lembrá-los de que nos pensamentos onde
aparentemente não existam elementos de análise podem esconder-se grandes elos
com as buscas de uma evolução contínua e crescente.
Logo, ainda que não sejam formas de comunicação com o paciente, podem
sim, determinar o estado médio de estabilidade do paciente. Dessa forma, sempre que
for difícil a abordagem de determinados temas, em níveis e escalonamentos de
estímulos, de euforia e apatia, devemos estar conscientes que estes necessitam de
uma maior elaboração antes de sua confrontação e esclarecimento.
Ainda que observemos, por exemplo, uma jovem senhora que, separada do
marido há três anos, não consiga livrar-se de suas lembranças devido a um relógio
que carrega como uma “algema” em um de seus braços, presente dado pelo ex-
marido, no passado, no dia dos namorados, devemos, nesse momento, acumular,
resistir e suportarmos a vontade de comunicar ao paciente que parte significativa de
suas lembranças estão relacionadas àquele relógio.
O PSICANALISTA
Como o enunciado dos dois pontos fala por si mesmo, não sentimos a
necessidade de aprofundar tais conceitos elementares e básicos, de fácil interpretação
e aplicabilidade na situação psicanalítica.
A HOMOSSEXUALIDADE E AS PSICOTERAPIAS
É preciso de início estender-se sobre o sentido exato da palavra
homossexualidade. Para que haja inversão estrita, três caracteres são requeridos:
Constitui apenas uma prevenção maior e não uma prova absoluta da carência
da excitabilidade heterossexual. Outros índices tirados do comportamento total do
paciente podem, por sua convergência, provar a existência de uma excitabilidade
heterossexual indubitável, mas muito fraca para desencadear reações francamente
genitais.
Kraft Ebing propôs, há muito tempo, uma classificação célebre das diferentes
variedades de homossexualidade. O primeiro grau compreende os casos de
hermafroditismo psicossexual, em que a atração erótica se dirige para o outro sexo. O
segundo grau é a homossexualidade estrita ou uranismo, caracterizada pela inclinação
exclusiva para o mesmo sexo. No terceiro grau, a inversão de inclinação erótica
acompanha-se de inversão caracterológica. No quarto grau, há não só inversão erótica
e inversão caracterológica, mas ainda inversão morfológica. Essa classificação é
certamente muito lógica, mas infelizmente corresponde mal à complexidade dos fatos.
Há, entretanto, uma restrição que jamais poderá ser esquecida: o galo
feminizado e a galinha masculinizada não são aptos à cópula. Ao mesmo tempo, na
verdade, que os condutos sexuais permanecem infantis, como nos capões, os
resíduos dos vestígios que marcam os condutos do sexo oposto não se despertam
pela nova condição hormônica. Isso tem como importante a seqüência que o individuo,
embora amadurecendo os gametas de seu novo sexo – espermatozóides e óvulos –
permanece incapaz de expulsá-lo e de exercer papel reprodutor. São indivíduos que
na aparência têm tudo do outro sexo, mas que não podem realizar sua sexualidade,
por falta de meios, isto é, nada adquiriram daquilo que é o essencial não do
comportamento sexual em geral, mas do comportamento erótico em particular.
Após o que foi dito acima não é difícil mostrar sua pouca solidez. Para que os
sinais em questão tenham um valor comprovador, seria preciso que sua natureza
fosse realmente elucidada. Ora, vimos que na hora atual é o mais das vezes
impossível saber se um caráter somático dado é neutro, ambossexual ou feminóide.
Além disso, a palavra “intersexualidade” tem um sentido absolutamente preciso,
derivando de pesquisas experimentais minuciosas. Ela se aplica limitativamente a
fenômenos bem determinados e não deve ser empregada no sentido vago, como o faz
Marañon. Não é ser severo em demasia concluir que a demonstração do clínico
espanhol deve ser inteiramente retomada em seus fundamentos, caso se queria dar-
lhe valor.
As Psicoterapias da Homossexualidade
A Noutética
O papel do terapeuta é auxiliar o homossexual a compreender a dinâmica de
seu distúrbio. Juntos, podem discutir as condições do estado da pessoa e de seu
ambiente familiar, que lhe causaram este comportamento distorcido. Quando o
homossexual começa a perceber as forças que o levaram a enfraquecer, perdem as
forças até uma total descondensação de seus impulsos anormais. Para complementar
uma inteira compreensão das dinâmicas do desenvolvimento de sua personalidade, o
homossexual precisa ser assistido no sentido de restabelecer atitudes saudáveis com
relação ao sexo e ao casamento. Não tenho a menor dúvida de que, uma discussão
aberta e muito bem colocada a respeito das funções do corpo criado por Deus para a
prática das relações heterossexuais muito auxiliarão o indivíduo.
Nenhum ser, por mais frágil e aparentemente perturbado, está à margem das
reações impostas pelos seus meios de convívio. Os meios de nossas interações são
os pólos irradiadores de todas as nossas dúvidas e convicções.
Todo o ser, direta ou indiretamente, está sob análise, ainda que não técnica e
profissional, mas nos próprios meios onde interage. Ora desempenha o papel do
psicanalista, ouvindo e buscando interpretar seus interlocutores, como assume o papel
de analisado, depositando suas tensões sob ombros “em sua totalidade”
despreparados para suportar tais tensões. E pelo medo ou pela falta de preparo
formativo e técnico, jogam, muitas vezes, seus “confessores” em uma perspectiva sem
retorno, podendo, até mesmo, precipitarem acontecimentos irreversíveis de ordens
máximas existenciais.
REFERÊCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Anexo 1
O Comportamento Interpretativo
1. A Postura-espelho
"Eu solicitei um dia a Freud - conta-nos Kardiner (1978) - que falasse como se
via como analista. 'Estou contente que você tenha-me proposto esta questão; para
falar francamente, os problemas terapêuticos não mais me interessam. Eu sou
atualmente uma pessoa muito impaciente. Eu sofro de uma série de handicaps
que me impedem de ser um grande analista. Entre outras, eu sou
demasiadamente um pai. Em segundo lugar ocupo-me de questões teóricas; nas
ocasiões que se me apresentam para trabalhar eu trato mais de desenvolver minha
teoria que de questões de terapia. Em terceiro lugar eu não tenho paciência de ficar
com uma pessoa por longo tempo. Eu me canso dela e prefiro expandir a minha
influência'." (p. 103). O incógnito fica assim confinado ao exato instante da
interpretação, quando o inconsciente do terapeuta não se deve revelar, e não mais.
Finalmente, mais duas citações: "A única coisa que posso dizer é que em minha
análise com Freud eu me sentia mais na situação de colaborador que de paciente;
sentia-me como o companheiro mais jovem de um explorador experimentado que
embarca no estudo de um território novo e recém descoberto". (Gardiner , 1971, p.
164). "Em todos os momentos parecia estar próximo do que eu estava dizendo. Eu
sentia que ele estava interessado, que estava recebendo o que eu lhe dava. Não havia
esse distanciamento frio que, segundo eu imaginava, era a atitude que um analista
deveria ter". (Blanton,975. p.3). (Trata-se da primeira sessão de Blanton com Freud).
Doolittle (1918), uma analisanda de Freud, reproduz uma fala de seu analista:
"É preciso que eu lhe diga (você foi franca comigo e eu serei com você), eu não gosto
de ser a mãe na transferência. Isto sempre me surpreende e choca um pouco". (p.
65). Esta fala, articulada com aquela anterior, reportada por Kardiner, onde Freud se
declara "demasiadamente um pai", são sugestivas de um elo entre a personalidade
do criador da psicanálise e a postura-espelho. Confrontada com a postura-continente,
evocadora de uma função materna, a postura especular se nos apresenta ligada à
função paterna. A postura-continente não foi desenvolvida por Freud, mas por alguns
de seus discípulos que valorizaram as situações pré-edípicas, aprofundando a sua
compreensão.
2. A Postura-continente
O comportamento co-vivencial
1. A Postura-continente
Farei aqui uma breve recapitulação clarificadora. Fizemos uma viagem pelas
terras da psicanálise dirigindo o nosso olhar para as posturas que o terapeuta adota
em relação ao seu paciente. Falamos das posturas-espelho e continente, as quais se
passam dentro de um comportamento interpretativo, e vamos em seguida examinar
aquelas posturas que ocorrem dentro de um comportamento co-vivencial: a postura-
simbionte, a dialogal e ainda a própria continente, que já havíamos visto dentro do
outro comportamento. A postura-espelho confunde-se com a técnica analítica básica,
aquela que foi desenvolvida por Freud para atender a pacientes neuróticos
(neuroses transferenciais). Vimos que o espelhamento refere-se unicamente ao
momento da interpretação quando se torna importante evitar a interferência indevida
dos conteúdos inconscientes do terapeuta. Falei do mau uso da postura-espelho, que
se presta, aliás, como qualquer outra postura, a ser usada defensivamente.
2. A Postura-simbionte
3. A Postura-dialogal
Maio 1985
Referências
BLANTON, S. Diário da minha análise com Sigmund Freud. São Paulo, Cia.
Editora Nacional, 1975.
KARDINER, A. Mon analyse avec Freud. Paris, Ed. Pierre Belfond, 1978.
LIPTON, S, The advantages of Freud's technique as shown in his analysis of the rat
man. International Journal of Psychoanalysis, 58, 1977.
Anexo 2
• não só essa idéia assoma à mente, mas torna-se ativa, [e produz efeitos].
Se a mulher histérica vomita, o faz graças à idéia de estar grávida, embora ela
não se dê contas disso. Se apresenta os arrancos e movimentos de seu ataque,
também não tem conhecimento do que representam. A análise, não obstante,
demonstra que estavam reproduzindo algum acidente dramático de sua vida.
Podemos, então, distinguir dois tipos de idéias latentes: as que penetram facilmente na
consciência e que são pré-conscientes e outras que não o fazem e que são
inconscientes. O termo inconsciente, que até aqui se usara simplesmente num sentido
descritivo, para abarcar tudo aquilo que era latente, na mente, adquire agora um sentido
dinâmico, referindo-se a idéias que não têm acesso à consciência, apesar de suas
forças.
Com relação à primeira, deve-se dizer que não se pode dar ao termo consciência uma
extensão tão grande que inclua uma consciência da qual seu possuidor não se dê
conta; quanto à segunda, pode-se responder com outros fenômenos mais bem
conhecidos e que ocorrem em pessoas normais, graças á força das idéias que os
sustenta: o lapsus linguae, os erros de memória, de fala, os esquecimentos, etc. [Ou
seja, os atos falhos, de modo geral].
atividade inconsciente: que não pode passar a ela, sem um certo esforço.
Não sabemos se essas ações são idênticas ou diversas desde o início, mas
podemos nos perguntar por que se tornam diferentes no decorrer da ação. As idéias
inconscientes podem se tornar conscientes mediante certos esforços, mas então se
tem a sensação de repulsão e produzimos no sujeito os mais evidentes sinais de
resistência. Assim, chegamos à idéia de que há objeções às idéias inconscientes,
mas não às pré-conscientes. A repulsão é provocada pela essência de tais idéias.
Anexo 3
O analista dispõe de [um] material que não tem [um] correspondente nas
escavações: as repetições, na transferência, de reações que datam da tenra infância.
O escavador lida com objetos destruídos, dos quais grandes partes se perderam.
Pode ser que nenhum esforço leve a uma descoberta e [que] os restos que
permaneceram não possam mais ser unidos. O único recurso que se acha
franqueável a ele é o da reconstrução que, com freqüência, só pode atingir [um] certo
grau de probabilidade. Mas, com o objeto psíquico é diferente. Aqui, os elementos
essenciais estão preservados. Mesmo as coisas que parecem esquecidas estão
presentes e simplesmente foram enterradas e tornadas inacessíveis ao indivíduo.
Nenhuma material psíquico é vítima de destruição total. Depende do trabalho
analítico obtermos sucesso em trazer à luz o que está oculto. Há apenas dois
fatos que pesam contra a vantagem que é desfrutada pela análise. A saber:
II
Portanto, as falas do paciente, depois que lhe foi oferecida uma construção,
fornecem muito poucas provas de acertos ou erros. [Contudo, há outras] formas
indiretas de confirmação. Uma delas é uma forma de expressão utilizada com muito
pequena variação pelas mais diferentes pessoas: „Nunca pensei nisso'. Isso pode ser
traduzido por: 'Sim, o senhor está certo'. Infelizmente, essa fórmula se verifica com [maior]
freqüência depois de interpretações isoladas do que depois de uma construção.
Confirmação igualmente valiosa é aquela em que o paciente responde com uma
associação que contém algo semelhante ou análogo ao conteúdo da construção. Em
vez de extrair um exemplo disso de uma análise, prefiro fornecer um relato de uma
pequena experiência extra-analítica que apresenta uma situação semelhante. Certo
dia, um de meus colegas que me escolhera como consultor em sua clínica médica,
trouxe sua jovem esposa para me ver, pois ela estava causando problemas para ele.
Recusava-se a ter relações sexuais com ele e o que ele esperava de mim era que
expusesse a ela as conseqüências de seu comportamento. Ingressei no assunto e
expliquei-lhe que sua recusa provavelmente teria resultados desafortunados para a
saúde de seu marido, ou o deixaria exposto a tentações que poderiam conduzir ao
rompimento de seu matrimônio. Nesse ponto, ele subitamente me interrompeu com a
observação: 'O inglês que você diagnostico» como sofrendo de um tumor cerebral
morreu também. A princípio, a observação pareceu incompreensível; o 'também' em
sua frase era um mistério, pois não faláramos de ninguém que tivesse morrido. Pouco
depois, porém, compreendi. Evidentemente o homem estava querendo dizer 'Sim,
você certamente tem toda a razão. Seu diagnóstico foi confirmado no caso do outro
paciente também.' Era um paralelo às confirmações que, na análise, obtemos a partir
das associações. Não nego que, postos de lado, havia outros pensamentos que
tinham sua parte na determinação da observação dele.
III
Mal vale a pena ser descrito [de que maneira] essa conjectura nossa se
transforma em convicção do paciente. Apenas um ponto exige explicação: o
caminho que parte da construção do analista deveria terminar na recordação do
paciente, mas nem sempre ele conduz tão longe. Em vez disso, se a análise foi
corretamente efetuada, produzimos nele uma convicção da verdade da construção,
a qual alcança o mesmo resultado terapêutico que uma lembrança.
Essa visão não é nova. A essência [nova] dela é que tanto há método na
loucura, mas também um fragmento de verdade histórica, sendo plausível supor que
a crença que se liga aos delírios derive sua força de fontes infantis desse tipo. Tudo o
que posso produzir em apoio dessa teoria são reminiscências, não impressões
novas. Valeria a pena fazer uma tentativa de estudar o distúrbio em apreço com
base nas hipóteses aqui apresentadas e efetuar seu tratamento segundo essas
linhas. Com isso abandonar-se-ia o vão esforço de convencer o paciente do erro de
seu delírio e reconhecer-se-ia seu núcleo de verdade. Isso permitiria um campo
sobre o qual o trabalho terapêutico poderia desenvolver-se, trabalho que consistiria
em libertar o fragmento de verdade histórica de suas deformações e ligações com o
presente e em conduzi-lo de volta para o passado a que pertence. Essa trans-
posição do passado para o presente ou para uma expectativa de futuro é uma
ocorrência tão habitual nos neuróticos como nos psicóticos. Quando um neurótico é
levado a esperar a ocorrência de algum acontecimento terrível, por um estado de
ansiedade, ele está sob a influência de uma lembrança reprimida; de algo de
terrificante que realmente aconteceu na ocasião da [repressão]. Acredito que
adquiriríamos um valioso conhecimento a partir de um trabalho desse tipo com
psicóticos, mesmo que não conduzisse a qualquer sucesso terapêutico.
Anexo 4
LEGISLAÇÃO PERTINENTE
CBO nº 2515-50
CLASSIFICAÇÃO BRASILEIRA DE OCUPAÇÕES
Escolar
2515 45 – Neuropsicólogo
Descrição sumária
Famílias afins
Formação e experiência
Áreas de Atividades
A - AVALIAR COMPORTAMENTOS INDIVIDUAL, GRUPAL E INSTITUCIONAL
H
H - PARTICIPAR DE ATIVIDADES PARA CONSENSO E DIVULGAÇÃO
PROFISSIONAL
Competências pessoais
1 Manter sigilo
2 Cultivar a ética
5 Trabalhar em equipe
9 Ser psico-analisado
10 Ser psico-terapeutizado
14 Manter-se atualizado
19 Amar a verdade
Recursos de trabalho
* Caixa lúdica
* Testes
* Computador
* Questionários
* Inventários
* Material gráfico
* Escolas
* Softwares específicos
* Divã
* Material lúdico
2516
Psicólogos e psicanalistas
Títulos
2515-45 Neuropsicólogo
Descrição sumária
Consulte
2445 - Psicólogos
2515
A – AVALIAR COMPORTAMENTOS INDIVIDUAL, GRUPAL E INSTITUCIONAL
Triar casos
Entrevistar pessoas
Sistematizar informações
Elaborar diagnósticos
Facilitar grupos
Dar alta
Assessorar instituições
Visitar domicílios
Participar de audiências
Ministrar aulas
Formar psicanalistas
2515
Padronizar testes
Coletar dados
Organizar dados
Compilar dados
Preparar reuniões
Coordenar reuniões
Organizar eventos
Buscar parcerias
Redigir pareceres
Redigir relatórios
Agendar atendimentos
Convocar pessoas
Receber pessoas
Z - DEMONSTRAR COMPETÊNCIAS PESSOAIS
Manter sigilo
Cultivar a ética
Demonstrar ciência sobre código de ética profissional
Demonstrar ciência sobre legislação pertinente
Trabalhar em equipe
Manter imparcialidade e neutralidade
Demonstrar bom senso
Respeitar os limites de atuação
Ser psico-analisado
Ser psico-terapeutizado
Demonstrar continência (Acolhedor)
Demonstrar interesse pela pessoa/ser humano
Ouvir ativamente (saber ouvir)
Manter-se atualizado
Contornar situações adversas
Respeitar valores e crenças dos clientes
Demonstrar capacidade de observação
Demonstrar habilidade de questionar
Amar a verdade
2515
Recursos de Trabalho:
Participantes da Descrição
Especialistas
Bellkiss Wilma Romano
Carmen C. Mion
Carmen Mion
Eva Wongtschowski
Patrícia Pazinato
Instituições
Cramia
Secretaria Social
Tribunal de Justiça
[2]
Segundo François Thureau-Dangin, Recherches sur l‟origene de l'écriture
cuneiforme (1ª parte, p. 5-7, n. 26.).
[3]
DALBIEZ, Roland. O Método Psicanalítico e a Doutrina de Freud, Trad. de José
Leme Lopes, Tomo II – Discussão – . Rio de Janeiro, Agir, 1947, p. 89-139.
[4]
RICROFT, Charles. Dicionário Crítico de Psicanálise. Rio de Janeiro, Imago.