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Arlindo Ugulino Netto – MICROBIOLOGIA – MEDICINA P3 – 2008.

FAMENE
NETTO, Arlindo Ugulino.
MICROBIOLOGIA

ESTREPTOCOCOS
(Professora Socorro Vieira)

Os Streptococcus (do latim, streptus = enla€ados, em cadeia) compreendem um


conjunto heterog•neo de cocos patog•nicos que se dividem num s‚ plano agrupando-se em
cadeias de tamanho variƒvel. Englobam-se no conjunto de cocos Gram-positivos, catalase-
negativos, com uma grande import„ncia em medicina humana e animal. O arranjo celular
caracter…stico † em forma de cadeias, o que deu origem ‡ denomina€ˆo “estreptococos”
(cocos em forma de cadeia), ou aos pares.
Embora esses microorganismos fa€am parte da microbiota normal, muitos deles sˆo
responsƒveis por uma variedade de manifesta€‹es cl…nicas, e sˆo considerados importantes
agentes infecciosos tanto para o homem quanto para os animais. Dentre os mais importantes,
podemos destacar o Streptococcus pyogenes, um dos mais conhecidos pela sua incid•ncia
na popula€ˆo, principalmente em pa…ses tropicais.

M ORFOLOGIA E CARACTER•STICAS GERAIS


Sˆo cocos que se agrupam em colŒnias lineares ou em pares. Com t†cnica Gram, com parede celular grossa e
membrana simples, determinam colora€ˆo roxa (Gram-positivos). Sˆo im‚veis, jƒ que nˆo possuem ‚rgˆos de
locomo€ˆo (como flagelos e c…lios). Nenhum fabrica a enzima catalase, sendo, portanto catalase-negativos, uma
distin€ˆo importante contra os Staphylococcus.
Todos os estreptococos sˆo anaer‚bios facultativos (podem ser cultivadas tanto em aerobiose quanto em
anaerobiose), podendo viver na aus•ncia de oxig•nio (fermentando os nutrientes em ƒcido lƒctico), mas preferindo a sua
presen€a.
Sˆo bact†rias homofermentativas (produzem apenas um produto final durante a fermenta€ˆo) produtoras de
ƒcido lƒtico. Suas c†lulas sˆo esf†ricas ou ovais, medindo 0,5-2,0 μm de diametro e apresentando-se dispostas em
pares ou cadeias. Sˆo im‚veis, nˆo formam esporos e, ‡s vezes, sˆo encapsulados.

CULTURA E CARACTERÍSTICAS DE CRESCIMENTO


Os estreptococos sˆo microrganismos extremamente exigentes com rela€ˆo ao seu crescimento em meio de
cultura. Devem ser adicionadas ao meio onde se deseja obter o crescimento dessas bact†rias substancias como o
sangue ou soro, que sˆo substancias ricas em nutrientes, vitaminas, sais minerais, prote…nas e ferro (fatores de
crescimento).
Quando ‡ sua afinidade ao oxig•nio com rela€ˆo ao seu crescimento, como jƒ vimos, estas bact†rias sˆo
aer‚bias (crescem muito bem na presen€a do oxig•nio) ou at† mesmo microaer‚filas (cresce em pouco teor de
oxig•nio). Crescem com temperatura ideal de 37ŽC (bact†ria mesofila).
Al†m disso, realizam hem‚lise em colŒnias com base de sangue. Os estreptococos sˆo classificados como beta-
hemolíticos (quando causam a lise total das hemƒcias) ou não-beta-hemolíticos (quando causam a lise parcial das
hemƒcias) e gama ou não-hemolíticos.

ESTRUTURA ANTIGÊNICA
Assim como todo microrganismo, os estreptococos apresentam ant…genos (qualquer subst„ncia capaz de induzir
a produ€ˆo de anticorpos) na sua superf…cie (ou na cƒpsula ou na parede celular). Esses ant…genos sˆo de uma
variedade imensa: mais de 80 tipos de substancias antig•nicas podem ser encontradas na sua superf…cie celular.
A partir desse fato, foi poss…vel divid…-los em grupos sorol‚gicos baseados nas suas caracter…sticas antig•nicas.
Tomando por base estes grupos, os estreptococos foram divididos em 20 grupos sorol‚gicos (grupos de Lancefield):
de A – U, recebendo mais import„ncia os enquadrados no grupo A (mais patog•nicos, com patologias de pior
progn‚stico).
Como ant…genos mais importantes, podemos destacar:
 Proteína M: fator de virul•ncia, principalmente para os estreptococos beta-hemol…ticos do grupo A. Estes sˆo
responsƒveis por causarem a febre reumática.
 Substância T: prote…na que serve principalmente para a classifica€ˆo desses estreptococos.
 Nucleoproteínas: ajudam no processo de classifica€ˆo e taxonomia dessas bact†rias.

TOXINAS E ENZIMAS
 Estreptoquinase: toxina com a€ˆo de fibrinolisina que favorece a dissemina€ˆo dos estreptococos,
caracterizados justamente por essa alta capacidade de difusˆo e dissemina€ˆo nos tecidos (principalmente por
parte do Streptococcus pyogenes).
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 Estreptodornase (desoxirribonuclease estreptoc€cica): enzima produzida por estas bact†rias que tem a
capacidade de quebrar a mol†cula de DNA de c†lulas teciduais, facilitando a sua propaga€ˆo.
 Hialuronidase: † um fator de propaga•‚o das bact†rias que quebra o ƒcido hialurŒnico do tecido conjuntivo,
faciltando a dissemina€ˆo das bact†rias pelos tecidos.
 Exotoxinas pirogƒnicas (toxina eritrogƒnica/escarlatase): enterotoxina que alcan€a o centro regulador da
temperatura no hipotƒlamo, gerando febres alt…ssimas nos infectados.
 Hemolisinas: enzimas com capacidade de lisar hemƒcias. Estreptococos β-hemol…ticos, por serem hemolisina-
positivo, t•m a capacidade de causar hem‚lise total onde estas crescem. Os estreptococos α-hemol…ticos
apresentam uma pequena capacidade hemol…tica, enquanto que os γ-hemol…ticos nˆo apresentam nenhuma
capacidade hemol…tica. As hemolisinas que contribuem para essas quebras sˆo: estreptolisina O e
estreptolisina S.
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OBS : A estriptolisina O apresenta propriedades altamente imunog•nicas. Para se diagnosticar a febre reumƒtica, por
exemplo, ou a presen€a de bact†rias produtoras desta hemolisina como agente infeccioso, faz-se a pesquisa do
anticorpo anti-estreptolisina O (ASLO), exame sorol‚gico essencial para diagn‚stico da febre reumˆtica. Entre o
t…tulo de 160 – 200 ui/ml (unidades internacionais/ml), diagnostica-se a presen€a de febre reumƒtica, que † uma
consequ•ncia da infec€ˆo por estreptococos.

CLASSIFICA‚ƒO DOS ESTREPTOCOCOS


Os estreptococos sˆo classificados de acordo com a sua capacidade de provocar lise (morte celular) em
eritr‚citos, em alfa (hem‚lise incompleta), beta (hem‚lise total) ou gama (nenhuma hemolise)-hemol…tico. Tamb†m
podem ser classificados de acordo com os ant…genos nas suas membranas, de acordo com a classifica€ˆo de Lancefield
de 1933 ainda usada.
 Streptococcus pyogenes: enquadrado no Grupo A, † uma bact†ria beta-hemol…tica. • reponsƒvel por causar a
faringite estreptoc‚cia (faringoamidalite), a mais comum forma de faringite. Pode ser agente etiol‚gico de
penumonias raras e graves.
 Streptococcus agalactiae: pode ser beta ou gama-hemol…tico. Causa meningite em neonatos e estƒ associado
‡ sepse neonatal, sendo estas sepses geralmente se demonstra como uma febre resultante de produtos t‚xicos
produzidos por estes microrganismos.
 Enterococcus faecalis: associados a infec€‹es alimentares.
 Streptococcus pneumoniae: principal agente etiol‚gico das pneumonias.
 S. mitis, S. sanguis e S. mutans: estreptococos da cavidade oral. Os dois primeiros sˆo os responsƒveis pela
produ€ˆo do biofilme dental e este ‘ltimo, responsƒvel por fixar-se a este biofilme e gerar as cƒries.
 Sepses streptococcus: bact†rias presentes no intestino grosso que apresentam a anaerobiose como
caracter…stica particular.
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OBS : Estreptococos da cavidade oral. O rec†m-nascido apresenta uma mucosa oral esterilizada. Com 6 horas p‚s-
nascimento, as primeiras bact†rias a colonizarem esta regiˆo sˆo os estreptococos. Os estreptococos orais constituem
um dos mais populosos grupos de bact†rias da boca. Eles estˆo inclusos no grupo de estreptococos viridans, um
conjunto de microrganismos de caracteriza€ˆo menos bem definida e padronizada que os demais estreptococos. Entre
as suas principais caracter…sticas, estƒ o fato de serem α-hemol…ticos. Dentre seus representantes, temos: S. sanguines,
S. mitis, S. sobrinus, S. mutans (sendo este o mais cariog•nico dos estreptococos orais).

PATOGENIA E MANIFESTA‚„ES CL•NICAS


O S. pyogenes † tamb†m conhecida como estreptococo do grupo A. • a principal representante dos
estreptococos beta-hemol…ticos. A esp†cie S. pyogenes tem mostrado, ao longo do tempo, alto poder de adapta€ˆo ao
hospedeiro humano, atuando como importante agente etiol‚gico de uma s†rie de manifesta€‹es cl…nicas, entre as quais
predomina a orofaringite, assim como sequelas nˆo supurativas, representadas pela febre reumˆtica e a
glomerulonefrite aguda p€s-estreptoc€cica.
A partir do momento que este microrganismo invade os tecidos do hospedeiro, ele se dissemina por entre os
mesmos. Para qualquer microrganismo que invade os tecidos, a primeira c†lula de defesa que realiza uma resposta † o
macr‚fago, conduzindo-o pela linfa. Esta desemboca na corrente sangu…nea e leva os microrganismos a se instalarem
em tecidos de sua prefer•ncia. Quando o S. pyogenes se instala na pele, forma a chamada erisipela; quando se instala
no ‘tero, febre puerperal; quando usa feridas cir‘rgicas como porta de entrada, desenvolve a sepse.
Erisipela (linfangite estreptoc€cica): † uma infec€ˆo cut„nea causada geralmente por bact†rias de tipo
Streptococcus do grupo A. Para a sua etiologia, o microrganismo geralmente usa como porta de entrada les‹es
na pr‚pria pele. Cursa usualmente com eritema, edema, bolhas na regiˆo acometida e dor. Na maioria dos
casos tamb†m com febre e leucocitose (significando atingimento sist•mico). Ao exame objetivo † perceptivel
claramente uma linha de demarca€ˆo entre a ƒrea nˆo atingida vs. a ƒrea atingida. Pode ser acompanhada de
linfangite e linfadenite. • uma doen€a altamente contagiosa.
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Faringite estreptocócica: inflamação da faringe causada por S. pyogenes, a área situada entre as tonsilas e a
laringe, que provoca muitas vezes dor, febre e rouquidão. Caracteriza-se por uma infecção localizada (o que é
comum do S. pyogenes) com a presença de pus na região.

Endocardite bacteriana: infecção que atinge parte da membrana que encobre as válvulas cardíacas. Pode
atingir também várias partes do coração. Pode ter origem bacteriana, após uma bacteremia. Essa endocardite
resulta em um processo infeccioso em todo músculo cardíaco e válvulas com a presença de estreptococos que
vão culminar na formação de granulomas. Outro mecanismo etiogênico dessa endocardite consiste em uma
consequência de uma infecção pós-estreptocócica: as pessoas que são hiperssensíveis, ao serem infectadas
por estreptococos (geralmente nos quadros de faringoamigdalite), criam anticorpos que reconhecem proteínas
da cápsula dessas bactérias. O caso é que algumas células das válvulas cardíacas apresentam em sua
membrana proteínas semelhantes às reconhecidas por esses anticorpos, os quais, por uma reação cruzada,
passarão a agredí-las, acarretando nessa patologia. Quanto aos sintomas, podem ocorrer, entre outros, febre,
calafrios, sudorese (suor excessivo), emagrecimento, mal estar, perda de apetite, tosse, dor de cabeça,náuseas
e vômitos.

Piodermite Estreptocócica (Impetigo): infecção superficial da pele. O


estreptococo usa como porta de entrada pequenas lesões na pele e se instala
formando bolhas ou vesículas caracterizadas pela presença de pus. Ocorre
geralmente em crianças de 0 a 2 anos, estando este impertigo associado a
condições de higiene. É uma patologia dérmica altamente contagiosa.

DOENÇAS PÓS-ESTREPTOCÓCICAS

Glomerulonefrite aguda: esta glomerulonefrite aguda é causada por cepas de bactérias etiológicas de impertigo.
Cerca de 14 dias após a manifestação desta doença, a criança começa a se queixar de sintomas renais,
caracterizados, principalmente, por uma síndrome nefrítica (diminuição do débito urinário, hipertensão arterial,
edema, hematúria).

Febre reumática: é uma doença reumática, inflamatória, de origem auto-imune, em resposta do organismo a
infecções pelo estreptococo (Streptococcus pyogenes) do grupo A de Lancefield. O paciente acometido apresenta
poliartrites, febre e endocardite. Esta é causada pelo fato de a parede celular dos estreptococos apresentar
antígenos semelhantes às células cardíacas; estas sofrerão a ação de anticorpos que foram preveamente
produzidos para combater a célula bacteriana, caracterizando uma reação cruzada. A febre reumática deve ser
controlada, quando verificada, por um tratamento profilaxico: a cada 21 dias, o paciente deve tomar uma penicilina
(bezetasil), isso porque a primeira reação causa uma crise de forma leve. Mas a partir desse momento, a cada crise,
as lesões se tornam maiores e mais severas.

DIAGNÓSTICOS LABORATORIAIS
 Amostras: Swab de garganta, amostras de pus ou sangue.
 Esfregaços é corado pelo método de Gram
 O material é empregado em meio de cultura ideal: ágar sangue
 Provas sorológicas : ASLO (pesquisa do anticorpo anti-estreptolisina O).

EPIDEMIOLOGIA, PREVENÇÃO E CONTROLE


 Detecção e tratamento antimicrobiano: única forma de erradicar o microrganismo. Deve ser feito o antibiograma
para avaliar a resistência da cepa, embora haja drogas já caracterizadas (como a penicilina e eritromicina) que
agem muito bem contra estes microrganismos.
 Quimioprofilaxia antiestreptocócica: indicada para a febre reumática, uma vez que as recidivas nas infecções vão
produzir uma gravidade maior.
 Erradicação de estreptococos do grupo A dos portadores:
 Controle da poeira, ventilação e filtração do ar principalmente em clínicas e hospitais.
 Leite pasteurizado: forma de controle, principalmente contra os Streptococcus agalactiae, um dos agentes
etiológicos da mastite bovina.

RESPOSTA IMUNE
A reposta imune desencadeada por esta bactéria é do tipo adaptativa humoral, uma vez que ela irá produzir
toxinas que serão liberadas para o meio sanguíneo. Essas toxinas desencadeam, então, a produção de anticorpos
específicos, principalmente aqueles denominados de anticorpos anti-estreptolisina O.

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Esses anticorpos (produzidos pelo plasmócito, que consiste na diferenciação do próprio linfócito B) são
responsáveis por realizar: a opsonização, ou seja, uma facilitação à fagocitose realizada pelo macrófago; apresentam
um poder bactericida, agindo direto na parede bacteriana; ativam o sistema complemento, conjunto de proteínas
responsáveis por realizar a lise das bactérias, opsonização e participação na resposta inflamatória.

TRATAMENTO
Os estreptococos beta-hemolíticos do grupo A, grupo de bactérias responsáveis pelas infecções de caráter mais
graves e comuns, são sensíveis à Penicilina G e Eritromicina. Lembremo-nos, porém, que o antibiograma é sempre
indispensável antes de se realizar o tratamento.

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