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SCRIPTURA
A Doutrina
R e f o r m a d a das E s c r i t u r a s
PAULO ANGLADA
i
KNOX
SOLA
SCRIPTURA
A Doutrina
R e f o r m a d a das E s c r i t u r a s
II Edição Atualizada
PAUL O A N G L A D A
Sola Scriptura: A Doutrina Reformada das Escrituras
de Paulo Roberto Batista Anglada C 2013
Knox Publicações. Todos os direitos reservados.
Revisão
Anna Layse Davis
Layse Anglada
Editoração e Capa
Paulus Anglada
ISBN: 978-85-61184-08-7
KNOX PUBLICAÇÕES
Estrada do Caixa Pará, 49 - Levilândia
CEP: 67015-520 / Ananindeua - PA
Fone: ( II) 3042-9930
contato@knoxpublicacoes.com.br
w w w. k nox pu b 1ic a c o e s .c o m . br
A minlia querida esposa,
Layse,
filhos,
Karis <£• Lucas, Paulus &Lídia e Anua Layse & Ma/lorv,
e netos,
Jonathan, Jim, Maggie, Annie, Emma,
Lidi, ElIa e Calvin
PREFÁCIO
1 Harold Lindsell, The Battle for lhe fíihle (G. Rapids: Zondervan. 1976).
106-21. Este livro traz um excelente tratamento sobre a diluição do conceito da sufici
ência e integridade das Escrituras, no seio dos evangélicos norte-americanos.
10 SOIA SCRIPTURA
PREFÁCIO 7
INTRODUÇÃO 17
Assunto do Livro 18
Apresentação do Assunto 18
Importância de uma Sà Bibliologia 19
CAPÍTULO 1: SÍMBOLOS DE FÉ 21
Inevitabilidade dos Símbolos de Fé 22
Propósitos dos Símbolos de Fé 23
Bases Bíblicas para os Símbolos de Fé 27
Autoridade dos Símbolos de Fé 29
CAPÍTULO 2: DOUTRINA DA REVELAÇÃO 31
Divisão do Assunto 32
Revelação Natural 32
Louca Cegueira Humana 34
Insuficiência da Revelação Natural 35
Revelação Especial 36
Revelação Escrita 37
Necessidade das Escrituras 38
CAPÍTULO 3: CÂNON DAS ESCRITURAS 41
O Canon Protestante do Antigo Testamento 42
O Canon Católico-Romano do Antigo Testamento 46
O Canon do Novo Testamento 50
14 SOLA SCRIPTU RA
ASSUNTO DO LIVRO
O título deste livro, Sola Scriptura: A Doutrina Reformada
das Escrituras, indica o seu escopo: trata-se de uma exposição da
doutrina protestante histórica sobre as Escrituras Sagradas. E um
estudo teológico confessional do primeiro capítulo da Confissão
de Fé de Westminster.1
Estes estudos foram originalmente proferidos na Igreja
Presbiteriana Central do Pará. no primeiro semestre de 1995, com
o propósito de resgatar as doutrinas reformadas relacionadas às
Escrituras, expondo-as de modo acessível à igreja. Sua base é a
Confissão de Fé de Westminster, contudo, outros símbolos de fé
e obras representativas da teologia reformada foram pesquisados
e são frequentemente citados.
Não se trata de um trabalho acadêmico, escrito para eruditos,
nem demasiadamente superficial, que não contribua para a amplia
ção do horizonte intelectual dos leitores. Trata-se de uma obra para
crentes desejosos de conhecer melhor o fundamento da sua fé, e de
alcançar uma compreensão teológica mais sistemática e profunda
da doutrina protestante histórica acerca das Escrituras.
APRESENTAÇÃO DO ASSUNTO
O primeiro capítulo desta obra é introdutório. Trata da
natureza dos símbolos de fé, lidando com questões tais como:
necessidade, propósitos, bases bíblicas e autoridade dos símbo
los confessionais.1
Propósito Apologético
Os símbolos de fé também têm sido empregados para
distinguir e defender a verdade contra os falsos ensinos e here
sias. Desde o início, a igreja se viu obrigada a definir e registrar,
de modo ordenado, a legítima interpretação da verdade cristã,
em oposição aos falsos mestres, os quais, em todas as épocas,
insistem em corromper o significado das Escrituras. Não se
pode negar a tendência da natureza humana corrompida de
corromper a verdade de Deus (Rm 1:18ss). É sabido que toda
heresia reivindica base bíblica.
Pois bem. os símbolos de fé têm servido para definir, defen
der e preservar a fé ortodoxa (a sã doutrina) das perversões dos
falsos mestres. Na condição de declarações oficiais da fé cristã,
os credos, confissões, catecismos e cânones são importantes
CAPÍTULO 1: SÍMBOLOS DE FÉ 25
Propósito Didático
Outro propósito dos símbolos de fé consiste em auxiliar na
instrução da igreja. Credos, confissões e especialmente catecis
mos sempre foram empregados como instrumentos de ensino das
verdades bíblicas - principalmente às crianças. Esses símbolos
de fé, por representarem o ensino oficial da igreja e o fazerem de
forma resumida, organizada e sistemática, são preciosos mate
riais didáticos para a instrução do povo de Deus.
É interessante observar que a pregação baseada exclusi
vamente em textos esparsos - como acontece com frequência
hoje - tem falhado em produzir uma compreensão mais madura,
sólida e profunda como a que caracterizou a igreja quando ela
lançou mão do ensino sistemático das doutrinas bíblicas. A
prática do sermão expositivo sequencial e do ensino sistemático
dos símbolos de fé pelas igrejas reformadas e puritanas, sem
dúvida, produziu crentes com compreensão mais profunda e
abrangente das doutrinas bíblicas. Eles não apenas conheciam
verdades isoladas, mas sabiam como relacioná-las umas com as
outras e como aplicá-las, nas proporções devidas, às diversas
circunstâncias da vida.
Propósito Eclesiástico
O último - mas não menos importante - propósito dos
símbolos de fé é proporcionar uma base doutrinária, litúrgica e
prática para a comunhão eclesiástica. União, como costumava
6 Samuel T. Logan .Ir., "The Context and Work ofthe Assembly”. em To Glorify
and Enjov God: A Commemnralion qf the 350tli Anniversary of lhe Westminster
Assembly. eds. John L. Carson e David W. Hall (Edinburgh e Carlisle, PA: The Banner
ofTruth Trust. 1994), 32.
26 SOI A SCRIPTURA
DIVISÃO DO ASSUNTO
As seguintes doutrinas são abordadas neste capítulo da
Confissão de Fé:
Doutrina da Revelação (parágrafo I)
O Canon e a Inspiração das Escrituras (parágrafos II e III)
Autoridade das Escrituras (parágrafos IV e V)
Suficiência das Escrituras (parágrafo VI)
Clareza das Escrituras (parágrafo VII)
Preservação e Tradução das Escrituras (parágrafo VIII)
Interpretação das Escrituras (parágrafo IX)
O Juiz Supremo das Controvérsias Religiosas (parágrafo X)
REVELAÇÃO NATURAL
A Confissão de Fé de Westminster começa professando a
doutrina da revelação natural: Deus se revela por meio das obras
que foram criadas e da própria consciência do homem, na qual
está impregnado um padrão moral, ainda que imperfeito por
causa da queda.
Biblicamente falando, o universo físico é uma pregação.
O cosmo proclama os atributos de Deus. O maerocosmo (as
estrelas, os planetas, os satélites, com sua imensidão, grandeza
e leis), o cosmo (a terra, os mares, as montanhas, os vegetais,
os animais, o homem), e o microcosmo (os microorganismos,
a constituição dos elementos, etc.) revelam muitas verdades a
respeito da pessoa e da obra de Deus. O Autor de tal obra tem de
ser infinitamente sábio e poderoso.
CAPITULO 2: DOUTRINA DA REVELAÇAO 33
Quando, pois, os gentios, que não têm lei, procedem, por natureza,
de conformidade com a lei, não tendo lei, servem eles de lei para si
mesmos. Estes mostram a norma da lei gravada nos seus corações,
testemunhando-lhes também a consciência e os seus pensamentos,
mutuamente acusando-se ou defendendo-se (Rm 2:14-15).
REVELAÇÃO ESPECIAL
Não sendo a revelação natural suficiente para salvar o
homem, por causa da cegueira produzida pela queda, aprouve a
Deus revelar-se diretamente à igreja.
Consequentemente, ele preparou um povo, Israel, na antiga
aliança, e a igreja, na nova aliança, para revelar-lhe diretamente o
conhecimento necessário à salvação. De modo direto e sobrena
tural. por meio do seu Espírito, através de revelação direta, teofa-
nias, anjos, sonhos, visões, pela inspiração de pessoas escolhidas
e pelo seu próprio Filho, Deus comunicou progressivamente à
igreja, no curso dos séculos, as verdades necessárias à salvação,
as quais, de outro modo, seriam inacessíveis ao homem.
Assim, Deus revelou-se a Noé, a Abraão, a Moisés, aos
profetas, a Davi. a Salomão, aos seus apóstolos e, especial
mente, revelou-se em Cristo. E a isso que o autor da Epístola aos
Hebreus se refere, quando afirma que: “havendo Deus, outrora,
falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profe
tas, nestes últimos dias, nos falou pelo Filho, a quem constituiu
herdeiro de todas as coisas, pelo qual também fez o universo”
(Hb 1:1-2). Cristo é a revelação final de Deus.
E dessa revelação que o apóstolo Paulo fala. na sua carta
endereçada aos gálatas: “Faço-vos, porém, saber, irmãos, que o
evangelho por mim anunciado não é segundo o homem; porque
eu não o recebi, nem o aprendi de homem algum, mas mediante
revelação de Jesus Cristo” (G1 1:11-12).
CAPÍTULO 2: DOUTRINA DA REVELAÇÃO 37
REVELAÇÃO ESCRITA
Tendo em vista a insuficiência da revelação natural e a abso
luta necessidade da revelação especial, aprouve a Deus ordenar
que essa revelação fosse toda escrita, a fim de que pudesse ser
preservada e permanecesse disponível, para a consecução dos
seus propósitos eternos. Deus conhece perfeitamente a natureza
humana corrompida. Ele conhece também a malícia de Satanás,
bem como a perversão do mundo. Ele sabe que revelar a sua
vontade à igreja não seria suficiente, pois ela seria fatalmente
corrompida e deturpada. Basta observar as tradições religiosas,
mesmo as ditas cristãs - como tendem inexoravelmente ao erro!
Por isso. Deus fez com que todas as verdades necessárias à
salvação, à santificação, ao culto, ao serviço e à vida do homem,
fossem escritas e preservadas, para que pudessem ser conheci
das, cridas e obedecidas. Com esses propósitos, o próprio Deus,
por meio do seu Espírito, inspirou os autores bíblicos, a fim de
que pudessem registrar a revelação especial sem erro algum.
Toda Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repre
ensão. para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o
homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa
obra (2 Tm 3:16).
O CÂNON PROTESTANTE
DO ANTIGO TESTAMENTO
Origem
O cânon protestante do Antigo Testamento (composto pelos
trinta e nove livros relacionados acima) é exatamente igual ao
cânon hebraico massorético. O cânon massorético é a Bíblia
hebraica em sua forma definitiva, vocalizada e acentuada pelos
massoretas. A ordem dos livros na Bíblia protestante, entretanto,
segue a da Vulgata e da Septuaginta.
Os Massoretas
Os massoretas eram judeus estudiosos que se dedicavam
à tarefa de guardar a tradição oral (massora) da vocalização e
acentuação correta do texto. A medida que um sistema de voca
lização foi sendo desenvolvido, entre 500 e 950 A D, o texto
O Canon Massorético
Embora o conteúdo do cânon protestante seja o mesmo do
cânon hebraico, a divisão e a ordem dos livros são diferentes. Eis
a divisão e ordem do cânon hebraico:
O Pentateuco (Torá): Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e
Deuteronômio.
Os Profetas (N eviim ):
Anteriores: Josué, Juizes, 1 e 2 Samuel, 1 e 2 Reis.
Posteriores: Isaias, Jeremias, Ezequiel e Profetas Menores.
Os Escritos (K êtuvim ):
Poesia e Sabedoria: Salmos, Provérbios e Jó.
Rolos ou Megilloth (lidos no ano litúrgico): Cantares (na
páscoa), Rute (no pentecostes), Lamentações (no quinto mês),
Eclesiastes (na festa dos tabernáculos) e Ester (na festa de
purim).
Históricos: Daniel. Esdras, Neemias e 1 e 2 Crônicas.
3 Ordem dos escribas que se originou com Esdras. e que se estendeu até 200 A D.
cuja função era preservar puro o texto bíblico.
4 As massoras funcionavam mais ou menos como os modernos dígitos veri
ficadores usados por programas de computadores para evitar erros em informações
importantes como número de contas bancárias, CPF, CGC, etc.
44 SOI A SCRIPTURA
O Canon Consonantal
A divisão e a ordem dos livros no cânon hebraico consonan
tal, anterior ao massorético, era a mesma. O número de livros,
entretanto, era diferente. O conteúdo era o mesmo, mas agrupado
de modo a formar apenas vinte e quatro livros. Os livros de 1 e
2 Samuel, 1 e 2 Reis e 1 e 2 Crônicas eram unidos, formando
apenas um livro cada (o que implica em três livros a menos em
relação ao nosso cânon). Os doze profetas menores eram agru
pados em um só livro (menos onze livros). Esdras e Neemias
formavam um só livro: o Livro de Esdras (menos um livro).
5 Ele menciona vinte e dois. ao invés de vinte e quatro, porque com certeza,
originalmente, Rute era agrupado com Juizes e Lamentações com Jeremias.
6 Capítulo primeiro.
CAPITULO 3: CANON DAS ESCRITURAS 45
século I,° nos manuscritos mais antigos, não contém nenhum dos
apócrifos.
O CÂNON CATÓLICO-ROMANO
DO ANTIGO TESTAMENTO
Origem
O cânon católico-romano, composto pelos trinta e nove
livros encontrados no cânon protestante, acrescido das adições
a Daniel e Ester, e dos livros de Baruque, Carta de Jeremias,
1-2 Macabeus, Judite, Tobias, Eclesiástico e Sabedoria - 3 e
4 Esdras e a Oração de Manassés são acrescentadas depois do
NT - origina-se da Vulgata latina, que por sua vez, provém da
Septuaginta.
A Septuaginta
A Septuaginta é uma tradução dos livros judaicos para
o grego, feita possivelmente durante o reinado de Ptolomeu
Filadelfo (285-245 AC) ou até meados do século 1 AC, para a
biblioteca de Alexandria, no Egito." Os tradutores não se limi
taram a traduzir os livros considerados canônicos pelos judeus.
Eles traduziram os demais livros judaicos disponíveis. E, a julgar
pelos manuscritos existentes, deram um arranjo tópico à biblio
teca judaica, na seguinte ordem:
Livros da Lei: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio.
Livros de História: Josué, Juizes, Rute, 1-2 Samuel, 1-2 Reis
(chamados 1-2-3-4 reinados), 1-2 Crônicas, 1-2 Esdras (o primeiro
apócrifo), Neemias, Tobias. Judite e Ester.
A Vulgata
Como já foi mencionado, ao traduzir a Vulgata, Jerônimo
também incluiu alguns livros apócrifos. Nào o fez, contudo, por
considerá-los canônicos, mas apenas por considerá-los úteis,
como fontes de informação sobre a história do povo judeu.
Na Idade Média, a versão francamente usada pela igreja foi a
Vulgata latina. A partir dela e da Septuaginta também foram feitas
outras traduções. Ora. multiplicando-se o erro, e afastando-se cada
CAPÍTULO 3: CÂNON DAS ESCRITURAS 49
Conclusão
Por ironia da história, a Vulgata de Jerônimo, o qual não
considerava canônicos os livros apócrifos,12134 veio a ser a prin-
15
Bentzen, Introdução ao Antigo Testamento, 49
CAPÍTULO 3: CANON DAS ESCRITURAS 51
1(1 A Epístola aos Gálatas foi escrita por volta de 48 a 50 e o Livro de Apocalipse
entre 81 a 96.
52 SOLA SCRIPTURA
Os Livros Disputados
Como já mencionado, alguns pais da igreja tiveram dúvi
das quanto à canonicidade de alguns livros do NT. Enquanto a
maioria dos livros praticamente nunca teve a sua canonicidade
disputada pela igreja, outros sofreram alguma resistência, embora
parcial, para serem aceitos como canônicos. Os principais foram:
Hebreus, Tiago, 2 Pedro, 2 e 3 João, Judas e Apocalipse.
Não é difícil compreender as razões dessa relutância, pois
cada um desses livros apresenta uma ou outra característica que,
de certo modo, justificava o zelo por parte da igreja em averi
guar mais cuidadosamente a canonicidade deles. Afinal, existiam
outros livros cristãos, de conteúdo fiel e ortodoxo, que poderíam
ser confundidos, se não houvesse zelo por parte da igreja; a
exemplo do que ocorreu com os apócrifos do Antigo Testamento,
pela Igreja Católica.
Não é muito difícil compreender os motivos que levaram
os referidos livros a terem a sua canonicidade disputada. No easo
58 SOLA SCRIPTURA
Conclusão
Sejam quais forem os critérios que mais influenciaram os
pais da igreja no reconhecimento dos livros do Novo Testamento,
e apesar da relutância de alguns em aceitar todos os vinte e sete
livros, e não obstante o grande número de livros apócrifos que
surgiram nos primeiros séculos, o verdadeiro cânon teria que
prevalecer. E prevaleceu. Inspirados que eram, tinham poder espi
ritual inerente. E esse poder manifestou-se de tal modo que todos
os ramos do Cristianismo alcançaram unanimidade espantosa, de
modo que desde pelo menos Atanásio, o primeiro a apresentar uma
lista completa do cânon do NT, até os nossos dias, não tem havido
nenhuma objeção realmente séria, nos três principais ramos do
Cristianismo, quanto à canonicidade do Novo Testamento.
Como bem observa Bavinck:
Em Cristo, a revelação de Deus foi completada. Do mesmo modo, a
mensagem da salvação está contida completamente na Escritura. Ela
constitui uma unidade... Ela termina onde começa... Ela começa com
a criação dos céus e da terra e termina com a recriação dos céus e da
terra.
DEFINIÇÃO DA DOUTRINA
O que queremos dizer quando nos referimos à inspiração
das Escrituras? - Que as Escrituras são de origem divina; que,
embora a Bíblia tenha sido escrita por cerca de quarenta pessoas,
essas pessoas a escreveram movidas e dirigidas pelo Espírito
Santo, de tal modo que tudo o que foi registrado por elas nas
Escrituras constitui-se em revelação autoritativa de Deus. Não
somente as idéias gerais ou fatos revelados foram registrados,
mas as próprias palavras empregadas foram escolhidas pelo
Espírito Santo, pela livre instrumentalidade dos escritores. “O
que os teólogos [de Westminster] queriam dizer com inspiração”,
resume Derek Thomas, “é que homens escreveram precisamente
o que Deus queria”.78Desse modo, a Bíblia se distingue de todos
os demais escritos humanos, pois cada palavra sua é a própria
Palavra de Deus; e, portanto, infalível e inerrante. A definição de
Warfield abaixo é representativa da doutrina reformada:
Inspiração é aquela influência extraordinária e sobrenatural (ou. passi
vamente, o seu resultado) exercida pelo Espírito Santo sobre os autores
dos livros Sagrados, pela qual as palavras deles são também as palavras
de Deus, e, portanto, perfeitamente infalíveis?
Ensino de Jesus
Não pode haver dúvida razoável quanto à reverência do
próprio Senhor Jesus com relação às Escrituras. Em Mateus
5:17,18, referindo-se aos livros do Antigo Testamento, ele afirma
que nem um / ou til passará da Lei, até que tudo se cumpra (cf.
também Lc 16:17). Em João 10:35, ele declara que a “Escritura
não pode falhar” (ver Lc 24:44). Em Mateus 5:17, ele afirma que
não veio “para revogar a Lei ou os Profetas; não vim para revo
ltar, vim para cumprir”. Várias vezes, Jesus apela para a autori
dade das Escrituras, dizendo “está escrito” (Mt 4:4ss; 11:10; Lc
10:26; Jo 6:45; 8:47) e atribui às Escrituras, autoria divina (Mt
15:4; 22:43; Mc 12:26,36). Conforme observa Bavinck:
Jesus e os apóstolos nunca adotam uma postura crítica para com o
conteúdo do AT, mas o aceitam totalmente e sem reservas. Eles aceitam
incondicionalmente as Escrituras do AT como verdadeira e divina em
todas as suas partes, não apenas nos seus pronunciamentos ético-religio-
sos. ou em passagens nas quais o próprio Deus fala, mas também nos
seus componentes históricos... para Jesus e os apóstolos o AT é funda
mento da doutrina, a lonte de solução, e o fim de todo argumento."1
Fórmulas proféticas
Os próprios profetas do Antigo Testamento tinham consci
ência de que recebiam revelações divinas e de que o próprio Deus
falava por intermédio deles (Êx 4:12,15; Dt 18:18; 2 Sm 23:1-2;
1 Re 22:26; Os 1:2; He 2:1; Zc 1:9; 13; etc.)- Eles reivindicam
falar palavras de Deus. É por isso que frequentemente introdu
zem suas profecias com as expressões: “Assim diz o Senhor”,
ouvi a palavra do Senhor”, ou palavra que “veio da parte do
Senhor Muitas vezes, o que eles falam é explieitamente atri
buído ao próprio Deus (Js 24:2; Is 1:1-2; 8:1.11; Jr 1:2,4,11 Ez
1:3; 2:1; J1 1:1; Am 2:1; etc.).
Citações do Antigo Testamento
Várias passagens do Antigo Testamento sào citadas, sendo
atribuídas a Deus ou ao Espírito Santo. Exemplo: “Assim diz o
Espírito Santo...” (Hb 3:7ss).';’
Referências Explícitas
Os apóstolos Paulo e Pedro ensinam explicitamente a doutrina
da Inspiração das Escrituras nas duas passagens consideradas
clássicas sobre o assunto. Em 2 Timóteo 3:16, Paulo assevera, de
modo claro, que “toda a Escritura é inspirada por Deus”. A forma
da palavra grega aqui usada, Gç ó t t u ç u o t o ç apesar de poder ser
usada passivamente (inspirada) e ativamente (inspiradora), aqui
ela deve ser entendida no primeiro sentido: inspirada,12134
NATUREZA DA INSPIRAÇÃO
Qual é a real natureza da inspiração? Como se relacionam os
autores Primário e secundários das Escrituras? Como se explica
a ação do Espírito Santo, pela qual foram inspirados os autores
bíblicos? Bavinck está certo ao afirmar que, “a visão correta de
inspiração depende... de colocar o autor primário e os autores
secundários em relação correta, um para com os outros".15
Inspiração Mecânica.
Ao se afirmar que toda Escritura é inspirada por Deus, não
se quer dizer com isso que cada palavra foi ditada pelo Espírito
Santo, de modo a anular a mente e a personalidade daqueles
que a registraram. Os autores bíblicos não escreveram meca
nicamente. As Escrituras não foram psicografadas, ou melhor,
“pneumagrafadas".
Talvez, em alguns casos, os autores nem tivessem consci
ência de que estavam escrevendo inspirados pelo Espírito Santo.
Em outros, os autores bíblicos não foram muito mais do que
copistas, visto que apenas transcreveram as palavras de Deus,
como acontece, por exemplo, em Gênesis 22:15-18; Êxodo
20:1-17; e Isaías 43.
Não obstante, os diversos livros da Bíblia revelam clara
mente as características culturais, intelectuais, estilísticas e
circunstanciais dos seus vários autores. Paulo não escreve como
Inspiração Dinâmica
O extremo oposto do conceito de inspiração mecânica é o
que se convencionou chamar de inspiração dinâmica. Trata-se
de um conceito racionalista que influenciou o método histórico-
crítico de interpretação, e que reduz a inspiração a mera ilumi
nação. Segundo esse conceito, os autores bíblicos foram apenas
homens iluminados. A excelência dos seus escritos deve ser
atribuída à influência santificadora no caráter, mente e palavras
deles, devido à comunhão profunda com Deus ou pela convivên
cia com Jesus, e não a uma ação sobrenatural e ímpar do Espírito
Santo. “Bannerman descreve essa visão como a iluminação da
consciência racional ou espiritual de um homem, de modo que da
plenitude do seu próprio entendimento e sentimento ele pode falar
ou escrever o produto da sua própria vida e crença religiosa”.16
Tal concepção reduz as Escrituras à mesma categoria dos
livros judaico-cristàos ordinários, distinguindo-se desses mera
mente quanto ao grau de iluminação. Tal doutrina despoja a
Bíblia do seu caráter sobrenatural e autoritativo. Torna-a falível e
admite a possibilidade de erros no seu conteúdo.
Inspiração Orgânica
E esta a concepção bíblica e reformada quanto à natureza da
inspiração, conforme podemos apreender do ensino da própria
Escritura e dos símbolos de fé reformados. O Espírito Santo, o
autor primário das Escrituras, dirigiu, guiou e supervisionou os
autores secundários, a fim de garantir que tudo quanto escre
16
C ita d o e m S m ith , Systematic TheoIog\\ 86.
70 SOLA SCRIPTURA
EXTENSÃO DA INSPIRAÇÃO
A extensão da inspiração das Escrituras diz respeito ao
conteúdo da Palavra de Deus. Modemamente, a questão tem
sido colocada nestes termos: as Escrituras contêm ou são a
Palavra de Deus?
Inspiração Parcial
Aqueles que respondem que as Escrituras contêm a Palavra
de Deus defendem a doutrina da inspiração parcial das Escrituras.
Afirmam que nem todo o conteúdo do cânon é inspirado. Essa
c a posição dos teólogos liberais, influenciados pelo deísmo e
pelo racionalismo dos séculos XVIII e XIX. Contudo, não se
pode atribuir esse erro apenas aos modernos teólogos liberais.
Marcião, no segundo século de nossa era, e todos os que rejeita
ram o cânon incorreram em erro semelhante.
O mais grave é que, atribuindo a si próprios o direito de
delimitar as porções inspiradas nas Escrituras, os defensores
da inspiração parcial, se colocam como juizes sobre a Palavra
de Deus. Contudo, a fragilidade de tais juizes se evidencia na
hora de determinarem que partes das Escrituras são inspiradas.
Para uns, só as porções doutrinárias. Para outros, só o Novo
1estamento. Outros, só reconhecem a inspiração das palavras de
Jesus. Ao mesmo tempo, há os que rejeitam passagens sobrenatu
rais. Existem alguns, ainda, que chegam a aceitar como inspirado
somente o Sermão do Monte.
Conforme observou Gerhard Maier, de Tübingen: depois de
cerca de duzentos anos de pesquisas, a escola histórico-crítica
obviamente não conseguiu definir, afinal, qual seria o suposto
Inspiração Mental
A doutrina da inspiração mental das Escrituras é uma tenta
tiva de conciliar a doutrina da inspiração com a suposta falibili
dade das Escrituras. E uma vã tentativa de conciliar incredulidade
e fé. Para os que pensam assim, a afirmativa bíblica de que toda
Escritura foi inspirada por Deus significa apenas que os pensa
mentos foram inspirados, não o registro desses pensamentos.
Desse modo, é possível continuar a afirmar que toda a Escritura
é inspirada por Deus - os pensamentos por detrás do texto - e ao
mesmo tempo admitir a existência de erros no seu registro.
Atitude similar adotam os que querem conciliar o criacio-
nismo bíblico com o evolucionismo “científico,” ensinando o
evolucionismo bíblico, através do qual Deus teria criado formas
preliminares de vida, as quais teriam posteriormente evoluído,
conforme a teoria evolucionista. E, sem dúvida, desesperadora a
situação daqueles que, por incredulidade, rejeitam a doutrina da
inspiração verbal das Escrituras, e tentam inutilmente construir
outra rocha na qual possam sustentar-se.
Inspiração Verbal
A doutrina da inspiração verbal das Escrituras equivale à
expressão inspiração plenária, usada pelos teólogos reformados
de Princeton, como Charles e Alexander Hodge, os quais afir
mam com isso que as Escrituras são plena ou completamente21
CONCLUSÃO
As Escrituras têm natureza divino-humana: são a Palavra de
Deus escrita em linguagem humana, por pessoas em pleno uso de
P e lo te s te m u n h o da Ig re ja p o d e m o s s e r m o v id o s e in c ita d o s a u m a lto
e re v e re n te a p re ç o p e la E s c rit u r a Sa g ra d a ; a s u p re m a e x c e lê n c ia do
se u c o n te ú d o , a e fic á c ia da su a d o u trin a , a m a je sta d e d o se u e s t ilo ,
a h a rm o n ia de to d a s a s s u a s p a rte s, o e sc o p o d o se u to d o (q u e é d a r
a D e u s toda a g ló ria ), a p le n a re v e la ç ã o q u e fa z d o ú n ic o m e io de
s a lv a r-s e o h o m e m , as su a s m u it a s o u tra s e x c e lê n c ia s in c o m p a rá v e is
e c o m p le ta p e rfe iç ã o são a rg u m e n to s p e lo s q u a is a b u n d a n te m e n te se
e v id e n c ia s e r ela a P a la v ra de D e u s ; c o n tu d o , a n o s sa p le n a p e rs u a
sã o e c e rte za da su a in f a lív e l v e rd a d e e d iv in a a u to rid a d e p ro v é m da
o p e ra ç ã o in te rn a do E s p ír it o S a n to q ue, p e la P a la v ra e c o m a P a la v ra ,
te stific a em n o s s o s c o ra ç õ e s (parágrafos IV e V).
DEFINIÇÃO
Como escreve Bavinck: “autoridade é o fundamento da
estrutura inteira da sociedade humana... Nós vivemos sob auto
ridade em todas as áreas da vida. Na família, na sociedade, e no
Estado, nascemos e somos criados debaixo de autoridade”.2 Na
esfera da religião e da teologia, explica Bavinck:
Autoridade não é menos, mas muito mais necessária... Aqui, ela é uma
necessidade vital. Sem autoridade e té, religião e teologia não podem
existir por um momento sequer. Entretanto, a autoridade em questão
aqui possui um caráter completamente único. Pela própria natureza do
caso, ela tem que ser uma autoridade divina... pois religião não é uma
relação de um inferior para com o seu superior, mas de uma criatura
para com o seu Criador...3
EVIDÊNCIAS BÍBLICAS
Atestado de Jesus
Jesus atesta a autoridade das Escrituras do Antigo
Testamento: (1) Pelo modo como ele próprio a usa para dirimir
qualquer controvérsia: “Está escrito”4 (Exemplos: Mt 4:4,6,7.10
Autoridade Apostólica
O apóstolo Paulo afirma a autoridade do Novo Testamento
ao agradecer a Deus pelos tessalonicenses terem recebido as suas
palavras “não como palavra de homens, e sim, como, em verdade
é, a palavra de Deus, a qual, com efeito, está operando eficaz
mente em vós, os que credes” (1 Ts 2:13).
O apóstolo Pedro, por sua vez, reconhece que os escritos
de Paulo tinham a mesma autoridade das demais Escrituras, ao
escrever:
O nosso amado irmão Paulo vos escreveu, segundo a sabedoria que lhe
foi dada, ao falar acerca destes assuntos, como, de fato, costuma fazer
em todas as suas epístolas, nas quais há certas cousas difíceis de enten
der, que os ignorantes e instáveis deturpam, como tombem deturpam as
demais Escrituras (2 Pe 3:15.16).
NATUREZA DA AUTORIDADE
DAS ESCRITURAS
A autoridade da Escritura é inerente. Ela não depende
de homem ou mesmo do testemunho da igreja. “Para os
Reformadores, a Escritura era auto-autenticada”.5 As Escrituras
são autoritativas porque são a Palavra de Deus. A sua autoridade
resulta, portanto, da doutrina da inspiração.
A história da Igreja expõe três outras fontes de autoridade,
as quais sempre tendem a usurpar a autoridade das Escrituras:
a tradição, degenerada em tradicionalismo, geralmente resul
tando no clericalismo; a emoção, degenerada em emocionalismo,
frequentemente produzindo misticismo; e a razão, degenerada
em racionalismo, originando o materialismo. Sempre que um
desses elementos é indevidamente valorizado, a autoridade das
Escrituras é questionada, diminuída ou mesmo suplantada.
TESTEMUNHO DA IGREJA
Embora a autoridade das Escrituras não se fundamente ou
decorra da autoridade da igreja, a excelência das Escrituras é
demonstrada pelo testemunho da igreja. Isso é legítimo. Cabe à
igreja demonstrar e ensinar as evidências abundantes da autoridade
divina da Palavra de Deus. Cabe a ela anunciar a excelência do seu
conteúdo, a eficácia das suas doutrinas, sua extraordinária unidade
e harmonia de todas as suas partes. Embora a igreja não seja o
fundamento da fé, a fé reformada reconhece que “o testemunho da
igreja é um incentivo para a fé”.10O suficiente já foi dito sobre esse
assunto no estudo anterior sobre a doutrina da inspiração.
Contudo, podemos mencionar ainda o cumprimento das
profecias bíblicas e a veracidade das Escrituras (ausência de
erros) como duas outras fortes evidências a favor da sua autori
dade divina.
Profecias Cumpridas
Deve-se ressaltar que aquilo que os profetas anteciparam,
movidos pelo Espírito Santo, foi cumprido detalhadamente. O
Senhor Deus muitas vezes se antecipou em revelar fatos impor
tantes, na história do povo de Israel e das nações circunvizinhas.
Quantas profecias encontramos no Antigo Testamento, especial
mente acerca de Jesus! Aquelas que ainda não foram cumpridas
é porque terão sua realização no futuro. As centenas que já foram
cumpridas, entretanto, são a garantia da realização das demais.
CONCLUSÃO
Em última instância, a questão da autoridade é uma questão
de fé. Os reformados aceitam a autoridade das Escrituras porque
88 SOLA SCRIPTURA
Não Exaustivas
Isso não significa que as Escrituras sejam exaustivas. As
Escrituras não contem toda a vontade de Deus. O conhecimento
a itspeito de Deus e da sua obra são ilimitados. Muitas coisas
a respeito do ser de Deus, dos seus atributos, da criação, do
homem e dos propósitos eternos de Deus não foram reveladas.
As próprias Escrituras afirmam que “as coisas encobertas perten
cem ao Senhor, nosso Deus, porém as reveladas nos pertencem,
a nós e a nossos filhos para sempre, para que cumpramos todas
as palavras desta lei" (Dt 29:29).
E evidente que as Escrituras não contêm todas as informa
ções a respeito da criação, da natureza, do universo, ou mesmo da
história. As Escrituras não são um livro de ciências ou de história.
Os milhares e milhares de livros escritos no decurso dos séculos
estão longe de exaurir o conhecimento da criação. Quanto mais a
ciência e a pesquisa se desenvolvem, mais se manifestam as suas
limitações e a superficialidade do seu conhecimento.
Nas Escrituras também não nos são fornecidas todas as
informações concernentes à vida e ao ministério de Jesus na
terra. Na realidade, elas não registram quase nada sobre os
primeiros tiinta anos da sua vida. O apóstolo João encerra o seu
Evangelho testificando quanto á veracidade do seu conteúdo,
mas reconhecendo:
Há, porém, ainda muitas outras coisas que Jesus tez. Se todas elas fossem
relatadas uma por uma. creio eu que nem no mundo inteiro caberíam os
livros que seriam escritos (Jo 21:25)93
3 Cf. João 20:30; 1 Corintios 11:2, 23 e 2 Tessalonicenses 2:5, 15; 3:6, 10.
C A P Í T U L O 6: S U F IC IÊ N C I A D A S E S C R I T U R A S 93
Porém Suficientes
Significa, sim, que nas Escrituras encontra-se registrado - ou
dela pode ser logicamente inferido - tudo o que aprouve a Deus
revelar à igreja em matéria de té e prática; tudo o que o homem
deve crer e o que Deus dele requer. Nelas, o homem encontia
tudo o que deve saber e tudo o que deve fazer a fim de que venha
a ser salvo, viva de modo agradável a Deus, o sirva e o adore. A
Bíblia é adequada para governar cada área da nossa vida 3
As palavras do apóstolo João, ainda que referindo-se espe
cificamente ao seu Evangelho, elucidam o sentido da doutrina da
suficiência das Escrituras:
Na verdade, fez Jesus diante dos discípulos muitos outros sinais que
não estão escritos neste livro. Estes, porém, foram registrados para que
creiais que Jesus é o Cristo, o f ilho de Deus, e para que. crendo, tenhais
vida em seu nome (Jo 20:30-31).
João não registrou tudo o que Jesus fez. mas o que registrou
é suficiente para o propósito de Deus com esse livro: levar as
pessoas a crer na divindade de C risto e a alcançar a vida eterna.
Escrevendo a Timóteo, o apóstolo Paulo afirma que nos últi
mos dias sobreviríam tempos difíceis, marcados por toda sorte de
IMPLICAÇÃO LÓGICA
A implicação lógica e bíblica dessa importante doutrina
reformada é óbvia. Se as Escrituras sào suficientes, nada mais
precisa lhes ser acrescentado - nem por novas revelações do
Espírito, nem por tradição humana.
Tradições Humanas
Com relação às tradições humanas como acréscimo às reve
lações bíblicas, o suficiente talvez já tenha sido dito, quando se
tratou da doutrina da autoridade das Escrituras. Resta apenas
lembrar que esse tem sido um dos principais erros da Igreja
Católico-Romana. A grande maioria dos seus desvios doutriná
rios, práticos e litúrgicos procede desse erro fundamental: acres
cer tradições humanas às revelações das Escrituras. O sacerdócio,
o papado, a adoração à Maria, o sacrifício da missa, o purgatório,
a oração pelos mortos, a infalibilidade papal, a prática de indul
gência, o celibato obrigatório e o ritualismo romano são apenas
alguns exemplos de doutrinas e práticas fundamentadas em tradi
ções religiosas.
Não se trata de uma crítica protestante infundada. Essa é
a doutrina oficial da Igreja Católica. O Concilio de Trento, um
dos seus concílios mais autoritativos, legitima o uso das tradições
orais como base de doutrina e prática, nos seguintes termos:
E. vendo claramente que esta verdade e disciplina estão contidas nos
livros escritos, e nas tradições não escritas, as quais, recebidas pelos após
tolos da boca do próprio Cristo, ou dos próprios apóstolos ditadas pelo
Espírito Santo, nos foram transmitidas como que de mão em mão.8
8 Sessão iv.
9 Artigo II.
10 Tais como Belarmino (1542-1621). Citado em Loraine Boettner, Ronum
Catholicism (Phillipsburg, NJ: Presbyterian and Refonned Publishimi Company,
1980), 79.
CAPÍTULO 6: SUFICIÊNCIA DAS ESCRITURAS 97
Conclusão
Outras razões deveríam refrear o homem no sentido de
conceber qualquer acréscimo à revelação das Escrituras.
A primeira é antropológica: a nossa natureza pecaminosa,
a corrupção do coração, da mente e dos sentimentos humanos.
Não se pode esquecer que o coração humano é enganoso, que
sua mente é pervertida e seus sentimentos falhos. Deus mesmo,
através do profeta Jeremias, alerta: “Enganoso é o coração, mais
do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto; quem o
conhecerá?” (Jr 17:9).1
ILUMINAÇÃO DO ESPÍRITO
A doutrina da suficiência das Escrituras pressupõe a neces
sidade da iluminação do Espírito. Entretanto, é preciso distinguir
conceitos, para que não haja confusão quanto à natureza de obras
distintas do Espírito Santo. Revelação é a comunicação de novas
verdades de Deus ao homem. Inspiração é a ação do Espírito
pela qual é garantida a inerrância do registro dessa revelação. E
Iluminação é a ação do Espírito que consiste em abrir os olhos
espirituais para que se possa compreender as Escrituras.
Segundo o ensino bíblico, a mente humana está em trevas
por causa do pecado. O homem natural está espiritualmente cego.
E o que o apóstolo Paulo declara explicitamente em 2 Coríntios:
Mas, se o nosso evangelho ainda está encoberto, é para os que se perdem
que está encoberto, nos quais o deus deste século cegou os entendimen
tos dos incrédulos, para que lhes nào resplandeça a luz do evangelho da
glória de Cristo, o qual é a imagem de Deus (4:3-4)
Na Vida Pessoal
O que acaba de ser dito aplica-se ao casamento, ao trabalho,
à alimentação, ao vestuário, à educação de filhos, etc. Há deta
lhes com relação a todas essas áreas da vida individual que não
são explicitamente encontrados nas Escrituras. Porém, os princí
pios gerais, sim. Exemplo: um jovem crente não vai encontrar na
Bíblia resposta específica sobre quem deve escolher para esposa
ou marido (nome, cor, altura, tipo físico, nacionalidade, nível
social, etc.). Entretanto, os princípios gerais se encontram lá, e
devem ser observados.
O mesmo se aplica às demais áreas mencionadas (trabalho,
alimentação, vestuário, criação de filhos, etc.). Não são neces
sárias novas revelações do Espírito para que se definam essas
coisas. A aplicação dos princípios gerais e exemplos bíblicos às
circunstâncias específicas da vida diária podem definir perfeita-
mente essas questões.
O Espírito Santo produz paz no coração daqueles que
obedecem a sua vontade. Ele convence o homem da veracidade
da Palavra de Deus. Ele ilumina a mente do crente, habilitando-o
CAPITULO 6: SUFICIÊNCIA DAS ESCRITURAS 101
Na Vida da Igreja
Há detalhes com relação à forma de governo, princípios
de disciplina, circunstâncias de culto, pregação e mesmo de
doutrina, que não são explicitamente encontrados nas Escrituras.
Entretanto, os princípios gerais e exemplos com base nos quais
essas questões deverão ser estabelecidas estão ensinados ali.
E nesse princípio, por exemplo, que se legitima a prega
ção. O que é pregação? E a exposição dos princípios, doutrinas,
práticas, promessas e exortações diretamente encontrados nas
Escrituras ou legitimamente inferidos dos seus ensinos gerais e
exemplos. As Escrituras não determinam um esboço homilético
específico, não delimitam o tempo da pregação, etc. As Escrituras
não são um manual homilético completo. Mas a pregação, para
ser fidedigna, tem que ser prudente e legitimamente inferida dos
seus ensinos e exemplos, tanto na forma quanto no conteúdo, por
meio de oração e exegese apropriada.
Cabe lembrar ainda que algumas práticas, tanto com relação
à vida pessoal quanto com relação à vida da igreja são contex-
tuais, dependem da época, do país e da cultura, e não podem ser
diretamente aplicadas à outra época e contexto. A Confissão de
Fé reconhece que é preciso prudência e bom senso cristãos para
se agir de conformidade com a luz da natureza e as regras gerais
da Palavra.
Há questões relacionadas, por exemplo, ao vestuário
(tais como o uso de túnica/paletó. calça comprida, véu, corte
de cabelo), às saudações (a paz do Senhor, o ósculo santo), às
manifestações de alegria (palmas, dança), à postura na oração
(mãos para cima, rosto prostrado no chão), etc., que dependem
do contexto histórico e social. E é a prudência e sobriedade cris
tãs, fundamentadas nos princípios bíblicos, que determinarão a
102 SOLA SCRIPTURA
CONCLUSÃO
A fé reformada ensina que as Escrituras constituem-se em
regra completa de fé e prática. Elas não são exaustivas, mas
são suficientes. Consequentemente, nada precisa ser acrescido
às Escrituras, nem por novas revelações do Espírito, nem por
tradições humanas. Reconhece, entretanto, que a iluminação do
Espírito é necessária para a compreensão da Bíblia, mas isso não
deve ser confundido com novas revelações. Admite, finalmente,
que a Escritura não fornece detalhes sobre tudo, mas fornece os
princípios, ensinos gerais e exemplos, com base nos quais se
pode, lógica e prudentemente, inferir todos os detalhes necessá
rios à fé, ao culto e à vida cristã.
CAPÍTULO 7
CLAREZA DAS ESCRITURAS
Na Escritura não são todas as coisas igualmente claras em si, nem do mesmo
modo evidentes a todos; contudo, as coisas que precisam ser obedecidas,
cridas e observadas para a salvação, em uma ou outra passagem da Escritura
são tão claramente expostas e aplicadas, que não só os doutos, mas ainda os
indoutos, no devido uso dos meios ordinários, podem alcançar uma suficiente
compreensão delas (parágrafo VII).
A Corrupção do Homem
Além disso, os seres humanos, para quem as Escrituras
são dirigidas, não são apenas finitos e limitados. São também
pecadores. A queda corrompeu tanto o coração como a mente
humana. Não se pode negar que nem mesmo as Escrituras inspi
radas podem eliminar completamente o abismo existente entre
um ser infinito, ilimitado, eterno esanto, de suas criaturas finitas,
limitadas, temporais epecadoras.
O homem natural, como já foi visto, encontra-se totalmente
incapacitado para compreender as Escrituras à parte da ação
iluminadora do Espírito Santo no seu coração e mente.4 Mesmo
o homem regenerado precisa contínua e progressivamente dessa
ação iluminadora do Espírito Santo para compreender as verda
des bíblicas.
O ESSENCIAL É CLARO
PELA ILUMINAÇÃO DO ESPÍRITO
Os intérpretes reformados reconhecem, portanto, que
há passagens mais difíceis de serem compreendidas, e que as
CAPITULO 7: CLAREZA DAS ESCRITURAS 107
Lâmpada para os meus pés é a tua palavra, e luz para os meus cami
nhos... A revelação das tuas palavras esclarece, e dá entendimento aos
simples (SI 119:105. 130).
CONCLUSÃO
Resumindo, os herdeiros da reforma professam crer na
clareza intrínseca e substancial da Bíblia. Nào que todo o seu
conteúdo seja igualmente claro, nem que seja claro para todos.
Há dificuldades provenientes da natureza do seu conteúdo, da
corrupção do homem, e das próprias características literárias e
históricas das Escrituras. As próprias Escrituras admitem que há
nelas “coisas difíceis de entender”. Apesar disso, todos os que
sincera e diligentemente procurarem, por meio delas, o caminho
da salvação e instruções para viverem de modo agradável a Deus
encontrarão o suficiente para tal. E isso, sem que seja imprescin
dível a intermediação da igreja, ainda que tal pessoa não tenha
erudição; desde que, é claro, seja iluminada pelo Espírito Santo.
Como escreveu Gregório, as Escrituras são um rio, “no qual o
elefante pode nadar e o cordeiro andar”.13
As implicações dessa doutrina são de extrema importância:
Primeiro, não somente é legítimo ou permitido, mas dese
jável e mesmo necessário que cada crente tenha acesso, por si
mesmo, ás Escrituras; que ele possa lê-las, estudá-las, ensiná-las
a seus filhos e comunicar a sua mensagem a outros.
Segundo, um crente piedoso, ainda que sem maiores quali
ficações acadêmicas, pode compreender melhor o sentido e o
significado de passagens da Bíblia que são obscuras para pessoas
de maior erudição. Admite-se, contudo, que o estudo diligente
da língua e contexto histórico das Escrituras auxilia considera
velmente na compreensão de passagens mais difíceis. Quando
esses dois fatores essenciais (piedade e erudição) se juntam, o
resultado inevitável será uma compreensão mais perfeita, mais
abrangente e profunda da Palavra de Deus.
Terceiro, já que a Escritura é intrinsecamente clara, ela se
auto-interpreta (as Escrituras interpretam as próprias Escrituras).
DEFINIÇÃO DA DOUTRINA
O que professa a doutrina da preservação das Escrituras?
Que o texto bíblico, revelado e inspirado por Deus para garantir o
seu fiel registro nas Escrituras, tem sido cuidadosamente por Ele
preservado no decorrer dos séculos, de modo a garantir que aquilo
que foi revelado e inspirado continue disponível a todas as gerações
subsequentes. Essa doutrina é sustentada pela Confissão de Fé de
Westminster, ao afirmar que “o Velho Testamento em hebraico... e
o Novo Testamento em grego..., sendo inspirados imediatamente
por Deus e, pelo seu singular cuidado e providência, consentidos
puros cm todos os séculos; são por isso autênticos".
F.u. a todo aquele que ouve as palavras da profecia deste livro, testi
fico: Se alguém lhes fizer qualquer acréscimo, Deus lhe acrescentará
os flagelos escritos neste livro; e, se alguém tirar qualquer coisa das
palavras do livro desta profecia. Deus tirará a sua parte da árvore da
vida. da cidade santa, e das coisas que se acham escritas neste livro
(Ap 22:18-19).
Para sempre, ó Senhor, está firmada a tua palavra no céu (SI 119:89).
Seca-se a erva, e cai a sua flor. mas a palavra de nosso Deus pennanece
etemamente (Is 40:8).
É mais fácil passar o céu e a terra do que cair um til sequer da Lei
(Lc 16:17).
3 Bruce M. Metzger, The Text ojthe New Testament: Its Transmission, Comtplion,
andRestoration (New York e Oxford: Oxford University Press. 1968), 32-33.
CAPÍTULO 8: PRESERVAÇÃO DAS ESCRITURAS 117
Ihos esses dois manuscritos diferem bem mais de 3.000 vezes, e que este
número não inclui erros menores tais como ortografia, nem variantes
entre certos sinônimos.6
EVIDÊNCIAS DA PRESERVAÇÃO DO NT
NA HISTÓRIA E QUALIDADE DO TEXTO
}. van Bruggen. The Ancient Tc.xt o f the New Testament (Winnipeg: Premicr
Printing. 1976), 26.
A Extensão da Preservação do NT
A maneira como alguns tratam a questão da preservação
das Escrituras parece transparecer que se dão por satisfeitos com
uma preservação limitada ao primeiro século. Isto é. se preo
cupam apenas com o registro da revelação - a inspiração - não
se preocupando muito com a preservação do que foi escrito no
decorrer dos séculos.
Outros parecem crer em uma preservação variada, isto é.
que as diferentes variações que o texto teria sofrido, nas diversas
épocas de sua história, seriam igualmente inspiradas. Isto equi
vale a crer na inspiração das variantes. Não faz muita diferença
qual das leituras usar, qual das leituras estava no texto original
mente inspirado, desde que essa leitura seja encontrada em algum
manuscrito antigo!
Outros, ainda, parecem dar-se por satisfeitos com o que
poderiamos chamar de preservação dinâmica, isto é, apenas o
sentido geral do que foi inspirado, não se importando com as
palavras em si. Desde que o sentido tenha preservado, não há
problema quanto às palavras. Os estudiosos ortodoxos dificil
126
SOLA SCRIPTURA
(parágrafo VIII).
RAZÕES PARAA
TRADUÇÃO DAS ESCRITURAS
Por que isso deveria ser feito? Por que é não somente legí
timo como necessário traduzir as Escrituras? Eis algumas razões:
Mandamento Divino
Deus ordena ensinar as Escrituras a todos os povos. E o
que se lê na grande comissão: “Ide, portanto, fazei discípulos
de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho,
e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que
vos tenho ordenado" (Mt 28:19-20). E em Atos 1:8: ”e sereis
minhas testemunhas, tanto em Jerusalém, como em toda a Judéia
e Samaria, e até aos confins da terra”.
Babel
Por causa da evidente diversidade de línguas e dialetos
existentes, em decorrência da soberba humana (Gn 11: 1-9).3
Conclusão
O mandamento divino de ensinar a sua vontade a todos
os povos, a diversidade linguística, a natureza histórica das
Escrituras, a limitação do homem, e a doutrina da clareza das
Escrituras tornam evidente a necessidade da tradução da Bíblia
para os idiomas modernos.
EVIDÊNCIAS HISTÓRICAS
A fé reformada não apenas afirma essa necessidade, mas a
história a demonstra. Trata-se de uma prática antiga. Tão logo as
pessoas a quem se destinavam as Escrituras passaram a não mais
compreendê-la na língua original, esta passou a ser traduzida.
falada no Egito, nos séc. 111 e IV; góticas, pelo próprio inventor
do alfabeto gótico. Bispo Ulfilas, o apóstolo dos góticos; armê
nias, também pelo inventor do alfabeto, Mesrop, e pelo Patriarca
Sahak. no séc. V; geórgica, língua falada na região entre o Mar
Negro e o Mar Cáspio; etíope (séc. V.); arábicas (muitas versões,
provavelmente a partir do séc. VI ou VII). etc.6789
Traduções da Reforma
Uma das principais consequências da Reforma Protestante
do Século XVI foi o surgimento de traduções das Escrituras. A
Igreja Católica havia se dado por satisfeita com a versão latina de
Jerônimo e não estimulava a sua tradução para outros idiomas,
por considerar as Escrituras um livro obscuro e não apropriado
para ser lido por leigos. Os reformadores, entretanto, não poupa
ram esforços no sentido de verter as Escrituras para os idiomas
dos seus respectivos países. Alguns, como Tyndale, foram até
martirizados em consequência dessa determinação.
Lutero traduziu as Escrituras para o alemão. Tyndale
(1525)' e outros para o inglês, culminando com a revisão que
resultou na Versão King James, a Versão Autorizada de 1611,
traduzida por mais de cinquenta teólogos.s A Bíblia Holandesa
foi traduzida por decisão do Sínodo de Dort em 1618, havendo
quem afirme ser esta Lio fruto mais maduro da obra de tradução
da Reforma na Europa”.1'
b Mais informações sobre versões antigas das Escrituras podem ser encontradas
em Metzer. “Ancient Versions”, 749-760; The Early Versions ofThe Xew Testument:
Their Origin, Transmission andLimitation, do mesmo autor; e “Medieval and Modem
(Non-English) Versions", em The Jnterpreters Dictionary ofthe fíible, vol 4. 771-72,
também de Metzger.
7 A versão de Tyndale foi a primeira tradução inglesa feita diretamente dos
textos originais. Outras versões inglesas antigas são: The Cloverdale Bible (1535).
Matthews Bible (1537), The Great Bible (1539;. The Geneva Bible (1560) e The
Bishops Bible (1568).
8 A primeira versão inglesa completa foi a de John Wycliff, produzida em 1382.
9 J. van Bruggen. The Future qf The Bible (Nashville: Thomas Nelson, 1978). 51.
CAPITULO 9: TRADUÇÃO DAS ESCRITURAS 133
Traduções Portuguesas
Muitas outras traduções se seguiram. A primeira versão
das Escrituras para a nossa língua foi feita pelo português João
Ferreira de Almeida, nascido em Torre de Tavares, em Portugal,
em 1628. Ele se converteu ao Evangelho na Batávia, capital da ilha
de Java, como fruto da Missão Portuguesa da Igreja Reformada
da Holanda. Almeida fez sua pública profissão de fé em 1642 e,
posteriormente, tornou-se pastor reformado, sendo ordenado em
16 de outubro de 1654. Ele serviu como missionário em vários
países onde se falava a língua portuguesa, inclusive no Ceilão
(atual Sri Lanka), no sul da índia.
A tradução de Almeida do Novo Testamento foi concluída em
1670, sendo a décima terceira tradução do NT em língua moderna
depois da Reforma. O texto grego empregado foi a segunda edição
do Textus Receptus, preparada pelos irmãos Elzevir, publicada
em 1633. A primeira edição do Novo Testamento em português
foi publicada em 1681, em Amsterdã, por ordem da Companhia
da Índia Orientai com o conhecimento da Classe de Amsterdã.
Uma segunda edição do NT revisada por Almeida foi publi
cada em 1693, na Batávia, pelo editor João de Vries. Ferreira
de Almeida não concluiu a tradução do AT. Quando morreu, em
1691, estava traduzindo o livro de Ezequiel. A Bíblia toda em
Português só foi publicada em 1753. Sucessivas revisões foram
efetuadas na versão de Almeida ao longo dos anos. Algumas das
mais importantes foram as de 1712 (3a), 1773 (4a), 1875 (para ser
impressa pela primeira vez no Brasil, em 1879), 1894, 1942 (pela
Casa Publicadora Batista, adaptando o NT aos textos gregos de
Nestle e Westcott-Hort).10
Outra tradução portuguesa conhecida é a versão do clérigo
católico-romano Antônio Pereira de Figueiredo. O Novo Testa
Traduções Modernas
De 1881 em diante, muitas revisões e novas traduções têm
surgido, nos principais idiomas. O que ocorre com a Bíblia em
Inglês é representativo e influencia bastante as outras línguas. Eis
algumas das principais versões inglesas, e suas tendências:
D a ta V e rs ã o O b se rv a ç ã o
TRADUÇÕES REFORMADAS
E MODERNAS DAS ESCRITURAS
As traduções das Escrituras feitas durante a Reforma
Protestante do século XVI apresentavam características comuns.
As traduções modernas (de 1881 até hoje), de modo geral, cami
nham em direção oposta. As principais tendências ou caracte
rísticas que esses dois grupos de tradução apresentam são as
seguintes:
Características Metodológicas
As versões reformadas buscavam uma tradução mais lite
ral e com o mínimo de intervenção humana possível. Quando a
tradução literal não era possível, as modificações eram indicadas
em notas marginais, como acontece na Versão Holandesa; ou
mesmo no texto, mudando-se o tipo para indicar acréscimos de
palavras necessárias para dar sentido ao texto, como ocorre na
Versão Autorizada (conhecida como King James Version).
Outra característica metodológica das traduções reforma
das era a interdependência entre as versões. As versões que iam
sendo feitas para outras línguas não eram totalmente novas, mas
levavam em consideração as boas versões anteriores.
A metodologia ou mesmo a filosofia de tradução das versões
modernas caminha em direção oposta à metodologia de tradução
dos reformadores. A precisão não é mais a meta ou fator deter
minante nas traduções. A ênfase não recai mais na fidelidade
ao texto original, mas na inteligibilidade dos leitores. O impor
tante não é o que traduzir, mas para quem traduzir. As traduções
tomam-se cada vez mais livres, interpretativas, idiomáticas e1
11 Não se quer dizer eom isso. como já foi mencionado, que os termos Textus
Receptus e texto majoritário sejam equivalentes, e, sim, que os textos gregos empre
gados pelos reformadores eram a melhor expressão do texto majoritário na época (ver
capítulo sobre a preservação das Escrituras).
CAPITULO 9: TRADUÇÃO DAS ESCRITURAS 137
Especialização e Seleção
A ênfase nas peculiaridades dos leitores em detrimento
da fidelidade ao texto original tem sido de tal ordem que as
Sociedades Bíblicas Unidas estão atualmente priorizando a
diversificação das traduções. Ou seja. traduções especializadas de
CAPITULO 9: TRADUÇAO DAS ESCRITURAS 139
Institucionalização e Monopólio
As traduções reformadas foram produto da igreja, não de
instituições. Tão logo as igrejas reformadas se organizaram, as
traduções foram realizadas por membros da igreja, por incentivo,
determinação e/ou supervisão da igreja, ou por concílios repre
sentativos da igreja, como ocorreu com a Versão Autorizada e a
Versão Holandesa.
Resultado
As versões reformadas eram traduções respeitadas, confiá
veis e duradouras (foram amplamente empregadas, e por sécu
los, utilizadas). Tornaram-se versões padrões e oficialmente
empregadas. A King James, por exemplo, reinou absoluta no
mundo de fala inglesa desde o início da sua publicação em 1611,
até o final do século passado, e ainda hoje é amplamente usada.
O mesmo dificilmente pode ser dito com relação à maioria das
versões modernas.
Precisão
A tradução das Escrituras tem que ser precisa. Deve ser
confiável. Deve refletir ao máximo possível a autoridade do texto
original. Para isso. precisa apresentar as seguintes qualidades:
/. Fidelidade ao Texto Original
O texto representado na grande maioria dos manuscritos,
também evidenciado em documentos antigos, e empregado
pela igreja cristã de um modo geral, por dezenove séculos, não
pode ser abandonado com base em teorias subjetivas por causa
de uns poucos manuscritos não representativos. A igreja não
pode se deixar influenciar tão facilmente pelas teorias seculares.
Isso implica, especialmente, na rejeição dos modernos textos
ecléticos, artificialmente construídos, com base na maioria dos
votos de um comitê que atribui valor exagerado a alguns poucos
manuscritos discrepantes. Contudo, não implica na sacralização
do Textus Receptus, como se o texto representado nessas edições
não pudesse ser melhorado com o estudo do enorme acúmulo de
evidências encontradas desde então.
Fidelidade aos textos originais significa fidelidade ao texto
massorético hebraico e aramaico do Antigo Testamento e ao texto
majoritário do Novo Testamento.19
2. Fidelidade à Forma do Texto e ao Estilo do Autor
Não se deve sacrificar o conteúdo em função da inteligibi
lidade. Não é legítimo reestruturar o texto a ser traduzido, alte
rando sua forma original, estrutura ou mesmo o estilo do autor,
sem necessidade.
Profecias, cânticos, cartas, narrativas, parábolas, bem como
parágrafos, sentenças, formas gramaticais, etc., não devem ser
alteradas desnecessariamente. A tradução das Escrituras deve ser
tão literal quanto possível. A intervenção do tradutor deve ser
somente a necessária, nem mais, nem menos.
19
Ver o capítulo sobre a doutrina da preservação das Escrituras.
CAPÍTULO 9: TRADUÇÃO DAS ESCRITURAS 143
20
Luther. An Open Letteron Tramlation.
144 SOLA SCRIPTURA
rentes: uma para carnal idade e corpo humano (flesh) e outra para
carne comestível (meai).
Expressões idiomáticas normalmente não podem ser tradu
zidas literalmente, pois adquiriram um sentido próprio, frequente
mente comunicado por uma expressão diferente em outra língua.
Estruturas sintáticas e formas gramaticais que não têm
correspondente similar em outro idioma têm que ser alteradas e
adaptadas à língua em que se está traduzindo.
Este autor repudia, portanto, a ênfase na clareza em detri
mento da precisão, mas também rejeita o tradicionalismo ou
arcaísmo em detrimento da clareza. O fato de uma palavra ou
expressão sempre ter sido utilizada não significa que seja a
melhor. Por outro lado, ela não deve ser substituída, a não ser
que outra expresse mais precisamente o sentido original.
Contudo, deve-se ter em mente que mesmo o texto original
não foi escrito de modo igualmente claro ou em linguagem igual
mente popular. Há livros do Novo Testamento escritos em grego
bem elementar, enquanto outros são escritos quase que em grego
clássico. Será que isso não deve ser levado em consideração?
Por mais fiel e clara que seja a tradução das Escrituras, é preciso
reconhecer que se o Espírito Santo não iluminar a mente e o
coração do leitor, ela continuará ininteligível, por mais simples e
clara que seja a tradução.21
4. Inteireza
Na medida do possível, as Escrituras devem ser traduzidas e
publicadas na sua totalidade. O propósito, a meta, o alvo é tradu
zir todo o conselho de Deus e não apenas partes selecionadas.
A Bíblia tem vários autores secundários, mas um só autor
primário. As Escrituras não são uma mera coleção de livros,
elas são um livro só. Quem poderá determinar qual porção das
Escrituras é necessária para determinada pessoa ou classe de
21
Cf. Lucas 24:45: Atos 16:14; 1 Coríntios 2:6-16 e 2 Coríntios 4:3-6.
145
CAPÍTULO 9: TRADUÇÃO DAS ESCRITURAS
pessoas? Além disso, como compreender uma das suas partes sem
as demais, se as Escrituras interpretam as próprias Escrituras? As
Escrituras devem ser traduzidas e publicadas por inteiro, e não em
partes selecionadas, especialmente traduzidas para determinados
urupos de pessoas. Sem dúvida, é melhor traduzir uma pequena
parte do que nada. Entretanto, isso se justifica pela necessidade,
não por filosofia de tradução.
5. Historícidade ou Continuidade
Finalmente, uma tradução das Escrituras não deve desconsi
derar as traduções anteriores. Rejeitar todas as demais traduções
e arrogar-se a tarefa de produzir uma nova versão das Escrituras,
independente das anteriores, indica, no mínimo, imprudência.
Qualquer nova tradução da Bíblia, embora deva basear-se nos
textos originais, deve tomar a forma de uma revisão das tradu
ções consagradas pela história da igreja nos seus melhores perí
odos. Uma versão que demonstre apreço pelas antigas traduções
reformadas certamente será bem mais fiel do que uma tradução
independente.
CAPÍTULO 10
INTERPRETAÇÃO DAS
ESCRITURAS
NECESSIDADE DE INTERPRETAÇÃO
DAS ESCRITURAS
A Confissão de Fé de Westminster e os reformadores reco
nheciam. portanto, a necessidade da interpretação da Bíblia com
vistas à elucidação da sua mensagem. Essa necessidade decorre
do fato de que ler não implica necessariamente em entender.
Como já foi considerado, as Escrituras são substancialmente,
mas não completamente claras. As verdades básicas necessárias
à salvação, serviço e vida cristã são evidentes em uma ou outra
passagem bíblica, mas nem todas as passagens das Escrituras são
igualmente claras. Daí, a necessidade de interpretação consciente
da Palavra de Deus. Como explica Ramm, a interpretação é
necessária “quando algo obstrui a sua compreensão espontânea”.
Nesse caso, existe um vazio entre o texto a ser compreendido e
o leitor, que “necessita da formulação de normas para preencher
esse vazio”.8
Por ser um livro divino-humano - inspirado por Deus, mas
escrito por homens - a fé reformada admite que existem dificulda
des de ordem espiritual e de ordem humana para a compreensão
das Escrituras. O apóstolo Pedro reconhece essa dificuldade com
relação a algumas porções dos escritos do apóstolo Paulo, dizendo
que “há nelas coisas difíceis de entender...” (2 Pe 3:16). Isso signi
fica que a compreensão da Escritura Sagrada nem sempre é auto
mática e espontânea. E, sim, por um lado, o resultado da ação
iluminadora do Espírito Santo, e, por outro, do estudo diligente da
língua e do contexto histórico em que ela foi escrita.
O aspecto espiritual envolvido na interpretação da Bíblia é
verificado claramente em muitas passagens, tais como 1 Coríntios
2:14 e 2 Coríntios 4:4-6 (já consideradas). Entretanto, há outras.
Em 2 Coríntios 3:14-15, o apóstolo Paulo explica que os judeus
tinham como que um véu embotando seus olhos espirituais, de
Por esta causa, me ponho de joelhos diante do Pai... para que, segundo
a riqueza da sua glória, vos conceda que sejais fortalecidos com poder,
mediante o seu Espírito no homem interior; e. assim, habite Cristo no
vosso coração, pela fé, estando vós arraigados e alicerçados em amor,
a fim de poderdes compreender, com todos os santos, qual é a largura,
e o comprimento, e a altura, e a profundidade, e conhecer o amor de
Cristo, que excede todo entendimento, para que sejais tomados de toda
a plenitude de Deus (Ef 3:14-19).
CORRENTES DE INTERPRETAÇÃO
DAS ESCRITURAS
Observando-se as diferentes ênfases, tendências, princípios
e práticas de interpretação das Escrituras adotados no curso da
história da igreja, é possível perceber três correntes principais:
Corrente Espiritualista
Muitos grupos na história da interpretação se caracteriza
ram por superenfatizar o caráter espiritual e místico da Bíblia,
em detrimento do seu caráter humano. Esses grupos se distin
guem especialmente pela insatisfação generalizada que expres
sam com o sentido natural, literal, das Escrituras. A passagem
explorada pelos partidários dessa corrente é 2 Coríntios 3:6:
"A letra mata, mas o Espírito vivifíca”. O seu maior perigo é o
subjetivismo, que conduz ao misticismo. Entre estes, podem ser
incluídos:
A Hermenêutica Alegórica
Trata-se de um dos métodos de interpretação mais antigos.
Fortemente influenciados pelo platonismo e pelo alegorismo
judaico, os defensores desse método de interpretação atribuem
vários sentidos ao texto das Escrituras, enfatizando o sentido
chamado de alegórico. Clemente de Alexandria (t215)1213 e
Orígenes (t254)'-' são os dois principais nomes da escola alegó
rica de Alexandria no Egito.
12 Clemente identificava cinco sentidos para um dado texto das Escrituras: (1)
sentido histórico; (2) doutrinário; (3) profético; (4) filosófico e (5) místico.
13 Com seus três níveis de sentidos: (11 literal, ao nível do coipo; (2) o moral, ao
nível da alma; e (3) o alegórico, ao nível do espírito.
154 SOLA SCRIPTURA
A Hermenêutica Intuitiva
Os defensores da interpretação intuitiva ou devocional,
também chamados de impressionistas,14 identificam a mensa
gem do texto com os pensamentos que lhe vêm à mente ao lê-lo.
Aqui, podem ser incluídos também os místicos, tais como os
assim chamados reformadores radicais, com sua ênfase na ilumi
nação interior. Uma versão moderna do método de interpretação
intuitiva pode ser verificada na prática de abrir as Escrituras
ao acaso para pregar, ou encontrar uma mensagem para uma
ocasião específica, sem o devido estudo do texto e consideração
do contexto.
A Hermenêutica Existencialista
Algumas escolas contemporâneas de interpretação das
Escrituras superenfatizam o conhecimento subjetivo em detri
mento do seu sentido gramatical e histórico. Para tais intérpre
tes, o importante não é a intenção do autor, nem o que o texto
falou aos leitores originais, mas o que fala a nós, hoje, no nosso
contexto: esse, para eles, é o sentido do texto. O texto em si não
é tão importante, mas o que está por trás dele. Não interessa tanto
o que o texto diz, mas o que ele quer dizer. Consequentemente,
as Escrituras só são realmente interpretadas, se elas forem lidas
existencialmente e experimentadas. As Escrituras não são obje
tivamente a Palavra de Deus, elas se tomam Palavra de Deus,
quando nos falam subjetivamente.
Essa corrente de interpretação bíblica costuma rejeitar
o sobrenatural e subjetivar o conceito de Palavra de Deus. Ela
esvazia a mensagem bíblica, abrindo espaço para todo tipo de
“eisegese".15
Corrente Racionalista
No extremo oposto da corrente espiritualista, encontra-se a
corrente aqui chamada de racionalista, que enfatiza demasiada
mente o caráter humano das Escrituras. Esta corrente caracteri
za-se pela aversão ao caráter sobrenatural da Bíblia. A sua ênfase
é no método, na técnica, nos aspectos literários ou históricos
das Escrituras, em detrimento do seu caráter divino, espiritual e
sobrenatural. Entre estes, pode-se incluir:
Os Saduceus
Os saduceus, com o seu repúdio à doutrina da ressurreição
e descrença na existência de seres angelicais, podem ser conside
rados precursores dessa corrente de interpretação das Escrituras.
Pouco se sabe sobre a origem desse partido judaico, mas eles
parecem haver adotado uma posição secular-pragmática de
interpretação das Escrituras.16 Ao negarem verdades básicas da
Escritura, os saduceus podem ser considerados como os moder
nistas ou liberais da época.17
O Humanismo Renascentista
Os humanistas renascentistas com seu interesse meramente
literário e acadêmico nas Escrituras e sua ênfase na moral também
podem ser incluídos nesta corrente de interpretação bíblica.
Alguns se dedicaram ao estudo das Escrituras, outros chegaram
a editar textos bíblicos na língua original. Entretanto, o interesse
deles era meramente acadêmico, linguístico, literário e histórico.
Eles estavam interessados na Bíblia mais por sua antiguidade do
que por ser a Palavra de Deus.
A Escola Crítica
A escola mais característica e influente da corrente raciona
lista de interpretação bíblica é a escola crítica dos séculos XIX e
Corrente Reformada
A corrente reformada de interpretação das Escrituras posi-
ciona-se entre essas duas correntes extremas. Ela se caracteriza
pelo equilíbrio decorrente de reconhecer o caráter divino-humano
da Escritura Sagrada. Ela reconhece a necessidade da iluminação
do Espírito falando através da própria Palavra, ao mesmo tempo
em que admite a legitimidade da interpretação gramatical e histó
rica da Bíblia. A interpretação reformada rejeita, por um lado,
a alegorização bíblica, e, por outro, repudia uma postura crítica
com relação aos escritos sagrados.
O método de interpretação adotado e praticado pela corrente
reformada ou protestante histórica é conhecido pelo nome
gramático-histórico; “o método de interpretação honrado pelo
tempo,” no dizer de Martyn Lloyd-Jones. Trata-se de um método
fundamentado em pressuposições bíblicas quanto à própria natu
CAPÍTULO 10: INTERPRETAÇÃO DAS ESCRITURAS 157
Pressuposições Teológicas
A hermenêutica reformada tem sido depreciada pela herme
nêutica racionalista por ser confessional, isto é, por ser funda
mentada em pressuposições teológicas. E é verdade. A corrente
reformada de interpretação das Escrituras de fato parte de pres
supostos teológicos fundamentais e confessionais na sua prática
exegética. Para os reformados, “o emprego do método gramá
tico-histórico é ditado não somente pelo bom senso, mas pela
doutrina da inspiração...”19 Contudo, isso não é razão para que a
hermenêutica reformada seja depreciada - muito pelo contrário!
- pelas seguintes razões:
Primeiro, porque interpretação sem pressuposição é pura
ficção. E virtualmente impossível interpretar qualquer livro, prin
cipalmente as Escrituras, sem que se parta de pressuposições de
caráter religioso, filosófico ou mesmo ideológico. É evidente que
mesmo os liberais interpretam a Bíblia partindo das suas pres
suposições racionalistas, segundo as quais ela não passa de um
livro humano, devendo, portanto, ser estudada como tal. Exigir
uma hermenêutica sem pressuposição é defender uma interpreta
ção que parta da mais absoluta ignorância.2"
34
Conhecidas como cmaE Xeycónerag.
170 SOLA SCRIPTURA
3> Exemplos: amor (àyomTi. <jx\ía, èpoç), novo (kouuóç, véoç), pecado (ápap-
Tta, àatfjfia, àrogía, TrapánTojpa), etc.
36 Questões históricas introdutórias, tais como: pano de fundo. data. destinatários,
integridade e, especialmente, autoria, são discutidas resumidamente em Donald Guthrie,
"Questions o f Introduction”, em New Testament lnterpivtation: Essays on Principies
andMethod, ed. 1. H. Marshall (Exeter: The Patemoster Press. 1979): 105-16.
CAPITULO 10: INTERPRETAÇÃO DAS ESCRITURAS 171
O Juiz Supremo, pelo qual todas as controvérsias religiosas têm de ser deter
minadas, e por quem serão examinados todos os decretos de cuncílios, todas
as opiniões dos antigos escritores, todas as doutrinas de homens e opiniões
particulares, o Juiz Supremo, em cuja sentença nos devemos firmar, não pode
ser outro senão o Esp írito Santo falando nas Escrituras (parágrafo X).
TENDÊNCIA GERAL
O ensino da Confissão de Westminster sobre o assunto
continua importante e atual. Hoje, como no passado, nos depa
ramos com a mesma tendência geral de limitar a autoridade das
Escrituras. E isso ocorre de duas maneiras:
Fontes Suplementares de Autoridade
Por um lado, observa-se a tendência de limitar a autoridade
das Escrituras, admitindo-se fontes adicionais ou suplementares1
CONCLUSÃO
A fé reformada admite que o propósito especial das
Escrituras não é histórico, moral ou científico, mas salvífico,
e que é nelas que deve ser determinada toda controvérsia reli
1 Como tem sido observado por alguns defensores da inerrância das Escrituras,
tais como James Montgomery Boice, "O Pregador e a Palavra de Deus”, em O Alicerce
da Autoridade Bíblica, 156.
180 SOLA SCRIPTURA
ERROS DE TRANSMISSÃO
Uma das objeções levantadas - talvez a mais sincera, e com
relação à qual a ortodoxia não tem dado uma resposta realmente
satisfatória - tem a ver com a preservação das Escrituras. De
que adianta falar em inspiração verbal e inerrância da Bíblia, se
o texto original não teria sido preservado, mas sim corrompido
no decorrer dos anos, com milhares de erros introduzidos pelos
copistas, a tal ponto que nos é virtualmente impossível determi
nar com segurança as palavras originais?
Não é necessário nos determos para analisar essa objeção,
visto que a questão já foi tratada quando do estudo da doutrina
da preserv ação. Aqui, basta lembrar que o problema não está no
texto, mas nas teorias modernas da crítica textual que rejeitaram
o texto preservado nos milhares de manuscritos que apresen
tam o texto majoritário. Não há nada de errado, portanto, com a
doutrina da inspiração ou da preservação das Escrituras. Há sim,
com a metodologia crítica atualmente empregada no estudo dos
manuscritos bíblicos.
ERROS CIENTÍFICOS
Fala-se muito a respeito dos erros científicos que as
Escrituras apresentariam. Afirma-se que os fatos e relatos escri-
ERROS HISTÓRICOS
Fala-se, também, em erros históricos. Relatos bíblicos em
desacordo com a história secular. A história não menciona relatos
CONTRADIÇÕES INTERNAS
A objeção mais séria levantada contra a inspiração e iner-
rância das Escrituras é a alegação de que há contradições inter
nas nos seus relatos.
fica que haja erros no Antigo Testamento, assim como nós não
negamos a inerrância dos textos originais das Escrituras, por
fazermos uso de uma determinada versão. Seja qual for a versão
usada pelos autores do Novo Testamente, uma vez utilizada, as
suas citações são inspiradas e, consequentemente, canônicas.
Finalmente, visto que estavam sendo dirigidos pelo Espírito
Santo, os autores do Novo Testamento podiam legitimamente
aplicar um texto do Antigo Testamento em outro contexto ou
em outro sentido, ou até mesmo modificar o texto do Antigo
Testamento para adaptá-lo ao seu atual propósito.s
OUTRAS OBJEÇÕES
Outras objeções são ainda levantadas contra as doutrinas da
inspiração, autoridade e inerrância das Escrituras. Estas, contudo,
são ainda mais frágeis. Exemplos:
Objeções Teológicas. Exemplo: Tiago contradiz Romanos
(fé e obras). A diferença é apenas de ênfase: Tiago enfatiza que a
fé genuína é evidenciada por meio das obras.
Objeções Morais. Exemplo: Se a Bíblia é inspirada, como
é que ela registra poligamias, adultérios e escravidão? O lato da
Bíblia não ocultar esses acontecimentos é mais uma evidência
em seu favor.
Objeções Materialistas. Eventos contrários às leis da natu
reza. tais como andar sobre o mar, transformar água em vinho,
multiplicar pães, fazer o sol parar, acalmar tempestades e ressus
citar mortos. Os que levantam essas objeções revelam apenas sua
pressuposição materialista. O Deus que a Bíblia apresenta é o
Criador Onipotente de todas as coisas, o qual tem poder e autori-8
8 Para uma explicação mais detalhada sobre a maneira como o Novo Testamento
cita o Antigo, ver Roger Nicole, "Citas dei Antiguo Testamento en el Nuevo Testamento”,
em Dicionário dc Io Teologia Prático'. Hermenêutico, 27-34. Para uma análise porme
norizada das citações do Antigo Testamento no Novo Testamento. \er G. K. Beale e D.
A. Carson, eds., Convnentarv on lhe New Testonient Use oj the Old Testoment (Grand
Rapids: Baker e Nottingham: Apollos, 2007; segunda impressão: 2008).
186 SOIA SCRIPTURA
CONCLUSÃO
Não quero sugerir, com os exemplos mencionados, que
podemos explicar todas as dificuldades encontradas na Bíblia.
Volto a ressaltar que a doutrina reformada reivindica uma clareza
substancial, mas não total das Escrituras. O que afirmamos é
que as contradições são apenas aparentes, decorrentes do caráter
humano ou mesmo divino da Palavra de Deus. De fato, é mesmo
de se esperar que criaturas finitas, limitadas e pecaminosas como
nós tenham reais dificuldades em compreender e harmonizar toda
a revelação bíblica. Pode nos faltar informações ou compreensão
adequada do texto bíblico, mas isso não implica, de modo algum,
na falibilidade ou errância das Escrituras.
O certo é que a doutrina reformada das Escrituras é bíblica.
Para Jesus e os apóstolos, a autoridade das Escrituras era defini
tiva, e as expressões “está escrito", “assim dizem as Escrituras",
etc., determinavam qualquer questão. Longe de fazer distinção
entre mito e fato, ou entre conteúdo salvífico e contexto salvífico,
Jesus aceitou como verdadeiros os fatos históricos ou científicos
considerados inaceitáveis pelos críticos modernos das Escrituras,
tais como a historicidade de nossos primeiros pais (Mt 19:4-5),
o dilúvio (Mt 24:38-39) e o fato de Jonas ter passado três dias
no ventre de um peixe (Mt 12:40). Como observa Archer, Jesus
“colocou a sua crucificação e ressurreição no mesmo plano
histórico'"' daquilo que aconteceu com Jonas.
As afirmativas de Jesus e dos apóstolos quanto à inerrân-
cia das Escrituras são explícitas e inequívocas: “A Escritura não
pode falhar" (Jo 10:35). “E não pensemos que a palavra de Deus
haja falhado" (Rm 9:6). “Seja Deus verdadeiro, e mentiroso todo
homem” (Rm 3:4).
DA DOUTRINA DA REVELAÇÃO
Resumo: Deus se revela na criação, de modo que o homem
é indesculpável. Entretanto, essa revelação natural não é sufi
ciente para salvá-lo. Por isso aprouve a Deus revelar-se de modo
especial à igreja e mandar escrever essa revelação.
Aplicações: (1) Visto que Deus se revela na natureza, deve
mos contemplar e estudar a criação como obra das suas mãos,
de modo que possamos reconhecê-lo nela sem contundi-lo com
ela, e ser-lhe grato e glorificá-lo, cultuá-lo e servi-lo. (2) Visto
que as Escrituras são a única revelação salvífica, e que à igreja
foram confiados esses oráculos de Deus, sua função primordial
(da igreja) é preservar, proclamar, ensinar e vivenciar fielmente a
sua mensagem, como coluna e baluarte da verdade.
INTRODUÇÃO
A carta de Tiago é a mais prática de todas as cartas do Novo
Testamento. Trata-se de um manual resumido de conduta cristã,
em certo sentido comparável ao livro de Provérbios no Antigo
Testamento. Seu autor, Tiago, o irmão de Jesus, segundo os pais
da igreja, era o líder da igreja de Jerusalém (At 15:13 e G1 2:9,
12), e tomou-se conhecido como o apóstolo das obras.
194 SOLA SCRIPTURA
ACOLHENDO A PALAVRA
Com esses conceitos em mente, podemos extrair algumas
lições desta porção da revelação bíblica. A essência do texto está
em dois imperativos. O primeiro se encontra no verso 21: acolhei
(8éÇoCT0e), isto é: recebei, recebei favoravelmente, dai ouvidos,
abraçai, aprovai.
O que acolher? A palavra em vós implantada (ou plantada,
semeada)} Trata-se de uma figura, pela qual a palavra de Deus
é comparada a uma muda ou semente plantada em nós. Jesus
mesmo comparou a sua palavra a uma semente, na parábola do
semeador, em Mateus 13, para demonstrar que a mesma palavra1
1 O termo grego aqui empregado (epóuToç) ocorre esta única vez no NT. Mas
o substantivo (farreia é usado em Mateus 15:13 e significa planta. E o verbo <t>iTéu»
aparece diversas vezes (Mateus 15:13.21:33; etc.) com o sentido dcplantar uma árvore.
Paulo emprega a palavra no sentido figurado em 1 Coríntios 3:6-8. “Eu plantei, Apoio
regou; mas o crescimento veio de Deus”.
196 SOLA SCRIPTURA
PRATICANDO A PALAVRA
A segunda exortação de Tiago encontra-se no verso 22:
tornai- vos praticantes.
No que implica esta exortação? Praticantes (uoir|Tai) signi-
fica fazedores, observadores, pessoas que colocam em prática a
CAPITULO 14: PRATICANTES DA PALAVRA 197
A RELIGIÃO DA PALAVRA
Pode-se dizer que, em certo sentido, nos versos 26 e 27,
encontramos o tema geral da carta de Tiago. Sua conclusão do
que acabou de dizer é a seguinte: na prática sincera e diligente
da Palavra de Deus, em nós implantada, consiste a verdadeira
religião.
Ele ilustra a religião pura com três exemplos práticos (não
poderia ser de outro modo): dominar a língua, acudir aos neces
sitados e nào se deixar contaminar pelo mundo. A luz da analogia
da fé (com base no ensino geral das Escrituras), é evidente que
Tiago está apenas dando alguns exemplos práticos particulares,
200 SOLA SCR1PTURA
3 Cf. Atos 6:3: “escolhei dentre vós sete homens de boa reputação, cheios do
Espírito e de sabedoria”; Mebreus 2:6: “Que é o homem, que dele te lembres? Ou
o filho do homem, que o visites". Observar também a palavra derivada èmcjKOTTOç
(supervisor, bispo).
CAPÍTULO 14: PRATICANTES DA PALAVRA 201
CONCLUSÃO
Esses exemplos práticos da verdadeira religião são frutos
da Palavra implantada, acolhida e praticada. Fé, sem obras, no
sentido bíblico geral, é hipocrisia; mas obras sem fé são trapos
de imundícia (Is 64:6).
Essas coisas andam necessariamente juntas. Obras de mise
ricórdia realizadas por maledicentes ou impuros não têm o menor
valor diante de Deus; são-lhe abominações. Por outro lado, não
há nada mais incoerente do que professar a autoridade suprema
das Escrituras e ser um ouvinte negligente do seu ensino. Não há
nada mais inconsistente do que declarar crer na inspiração, preser
vação, necessidade e suficiência da Escritura, e não se empenhar
em lê-la, investigá-la, entendê-la e praticá-la, com a graça de
Deus, para a promoção do seu reino e para a Sua glória.
I g r e ja P r im itiv a
(Universal)
Ig r e ja R o m a n a Ig r e ja G r e g a
(Ocidental) (Oriental Ortodoxa)
R e f o r m a P r o te s ta n te
I g r e ja s L u t e r a n a s I g r e ja s C a lv in is ta s
I g r e ja s In d e |> e n d e n te s
P r e s b ite r ia n a s R efo rm a d a s A n g lic a n a (Independentes.
(EscóciaEUA) 1 (Contin. Europeu) (Inglaterra) Batistas, etc.)
I g r e ja M e to d is ta I g r e ja s P e n te c o s ta is J
204 SOLA SCRIPTURs\
CREDOS ANTIGOS
Os símbolos de fé mais antigos sào os credos. Eles resumem
as verdades mais fundamentais do Cristianismo. Constituem-se, por
assim dizer, na herança comum da fé cristã, visto que os principais
ramos do Cristianismoos subscrevem.10 conteúdo deles é a doutrina
da Trindade, em especial, a pessoa divino-humana de Cristo.
Credo Apostólico
O Credo Apostólico, o mais conhecido dos credos, é atribu
ído pela tradição aos doze apóstolos.12 Entretanto, os estudiosos
acreditam que ele foi desenvolvido a partir de pequenas confis
sões batismais empregadas nas igrejas dos primeiros séculos.
Embora os seus artigos sejam de origem bem antiga, acredita-se
atualmente que o credo apostólico só alcançou sua forma defini
tiva por volta do sexto século,3 quando são encontrados registros
do seu emprego na liturgia oficial da igreja ocidental. De um
modo ou de outro, parece evidente a sua conexão com outros
credos antigos menores, como os seguintes:
Creio em Deus Pai Todo-poderoso, e em Jesus Cristo, seu único Filho,
nosso Senhor. E no Espírito Santo, na santa Igreja, na ressurreição da
came.
Kcu e is XpioTÒi' lr|aoí)i\ Ttòr aírroü tòv gouoyetâi, tòu Kúpiou ppwt’.
O Credo Niceno
O Credo Niceno deriva-se do credo de Nicéia (composto
pelo Concilio de Nicéia (325 AD). com pequenas modificações
efetuadas pelo Concilio de Calcedônia (451 AD) e pelo Concilio
de Toledo (Espanha, 589 AD). Esse credo expressa mais precisa
mente a doutrina da Trindade, contra o arianismo.7 Segue o texto
do Credo de Nicéia, conforme aceito por católicos e protestantes:
Creio em um Deus, o Pai Todo-poderoso, Criador do céu e da tema. e
de todas as coisas visíveis e invisíveis: e em um Senhor Jesus Cristo, o
unigênito Filho de Deus. gerado pelo Pai antes de todos os séculos. Deus
de Deus. Luz da Luz, verdadeiro Deus de verdadeiro Deus, gerado não
feito, de uma só substância com o Pai; pelo qual todas as coisas foram
feitas; o qual por nós homens e por nossa salvação, desceu dos céus.
foi feito carne pelo Espírito Santo da Virgem Maria, e foi feito homem;
e foi crucificado por nós sob o poder de Pôncio Pilatos. Ele padeceu e
foi sepultado; e no terceiro dia ressuscitou conforme as Escrituras; e
subiu ao céu e assentou-se à mão direita do Pai. F. de novo há de vir
com glória para julgar os vivos e os mortos, cujo reino não terá fim. E
creio no Espírito Santo, Senhor e Vivifieador. que procede do Pai e do
Filho\ que com o Pai e o Filho conjuntamente é adorado e glorifieado.
que falou através dos profetas. Creio em uma Igreja, católica e apostó
lica, reconheço um só batismo para remissão dos pecados; e aguardo a
ressurreição dos mortos e da vida do mundo vindouro.1’
O Credo de Atanásio
O Credo de Atanásio é outro credo antigo importante, subs
crito pelos três principais ramos da Igreja Cristã. E geralmente
atribuído a Atanásio, Bispo de Alexandria (século IV), mas estu
diosos do assunto conferem a ele data posterior (século V), sendo
7 Doutrina de Ario (primeira metade do século IV). segundo a qual Cristo não
é eterno, mas o primeiro e mais perfeito ser criado.
x F.sta frase (tradução do termo latino filioquc) foi adicionada pelo Concilio de
Toledo (da igreja ocidental).
** Traduzido de Schaft, Creeds oj Christeudom (citado em Hodge. Outlincs
ofTheology, 116-17) e Epifànio, Ancoratus e. 374 AD. 118. Citado em H. Bettenson.
Documentos da Igreja Cristã (São Paulo; ASTE. 1967). 56.
APÊNDICE I: PRINCIPAIS SÍMBOLOS DE FÉ 207
que sua forma final teria sido alcançada apenas no século VIII.
O texto grego mais antigo desse credo provém de um sermão de
Cesário, no início do século VI.
O Credo de Atanásio é um tanto longo (com 40 artigos),
mas convém ser transcrito aqui, por ser considerado “um majes
toso e único monumento da fé imutável de toda a igreja quanto
aos grandes mistérios da divindade, da Trindade de pessoas em
um só Deus e da dualidade de naturezas de um único Cristo”.101
1. Todo aquele que quiser ser salvo, é necessário acima de tudo. que
sustente a íé universal.1! 2. A qual. a menos que cada um preserv e perfeita
e inviolável, certamente perecerá para sempre. 3. Mas a fé universal
é esta. que adoremos um único Deus em Trindade, e a Trindade em
unidade. 4. Não confundindo as pessoas, nem dividindo a substância. 5.
Porque a pessoa do Pai é uma, a do Filho é outra, e a do Espírito Santo,
outra. 6. Mas no Pai. no Filho e no Espírito Santo há uma mesma divin
dade. igual em glória e co-eterna majestade. 7. O que o Pai é. o mesmo
é o Filho, e o Espírito Santo. 8. O Pai é não criado, o Filho é não criado,
o Espírito Santo é não criado. 9. O Pai é imenso, o Filho é imenso, o
Espírito Santo é imenso. 10. O Pai é eterno, o Filho é eterno, o Espírito
Santo é eterno. 11. Contudo, não há três eternos, mas um eterno. 12.
Portanto não há três (seres) não criados, nem três imensos, mas um não
criado e um imenso. 13. Do mesmo modo. o Pai é onipotente, o Filho
é onipotente, o Espírito Santo é onipotente. 14. Contudo, não há três
onipotentes, mas um só onipotente. 15. Assim, o Pai é Deus, o Filho é
Deus, o Espírito Santo ê Deus. 16. Contudo, não há três Deuses, mas
um só Deus. 17. Portanto o Pai é Senhor, o Filho é Senhor, e o Espírito
Santo é Senhor. 18. Contudo, não há três Senhores, mas um só Senhor.
19. Porque, assim como compelidos pela verdade cristã a confessar cada
pessoa separadamente como Deus e Senhor; assim também somos proi
bidos pela religião universal de dizer que há trés Deuses ou Senhores.
20. O Pai não foi feito de ninguém, nem criado, nem gerado. 2 1 . 0
Filho procede do Pai somente, nem feito, nem criado, mas gerado. 22.
O Espírito Santo procede do Pai e do Filho, não feito, nem criado, nem
gerado, mas procedente. 23. Portanto, há um só Pai. não três Pais, um
Filho, não três Filhos, um Espírito Santo, não três Espíritos Santos. 24.
Catecismos dc Lutero
São dois os catecismos de Lutero. O Catecismo Maior,
escrito em 1528, é dividido em três partes, e contém uma exposi
ção dos Dez Mandamentos, do Credo Apostólico e ensinos sobre
os sacramentos. Foi escrito para uso de pregadores e mestres.1213
O Catecismo Breve, escrito em 1529, trata dos mesmos assuntos
Confissão de Augsburgo
A Confissão de Augsburgo foi preparada por Lutero e
Melanchthon e apresentada na dieta de Augsburgo em 1530. É a
mais antiga confissão de fé protestante e a única aceita por todas
as igrejas luteranas. Ela tem 28 artigos, divididos em duas partes:
os vinte e um primeiros são positivos, resumindo as doutrinas
luteranas; os sete últimos são negativos, condenando os princi
pais erros do papado relacionados à ceia, à confissão e absolvição
de pecados, ao celibato, governo hierárquico, etc.
Fórmula da Concórdia
A Fórmula da Concórdia foi preparada em 1577 pelos prin
cipais teólogos luteranos da época14 com o propósito de harmo
nizar as posições teológicas divergentes quanto à natureza da
presença de Cristo na ceia do Senhor. O documento foi aceito
por 35 cidades e subscrito por cerca de oito mil pastores lutera
nos. Seus doze artigos tratam do pecado original, da escravidão
da vontade, da justificação, das boas obras, da distinção entre a
Lei e o Evangelho, da necessidade da pregação da Lei, da ceia do
Senhor, da pessoa de Cristo, da descida de Cristo ao Hades, das
adiáforas,15 da predestinação, e de várias heresias.16
SÍMBOLOS DE FÉ CALVINISTAS
Os principais símbolos de fé das igrejas calvinistas ou
reformadas, abrangendo a Igreja Reformada do continente euro
peu, Igreja Anglicana e Igreja Presbiteriana, são o Catecismo e
a Confissão de Fé de Genebra, a Confissão de Fé Gaulesa ou
Confissão de Fé Escocesa
A primeira Confissão de Fé Escocesa foi escrita por John
Knox e outros cinco Johns22*em apenas quatro dias. Aprovada
pelo Parlamento da Escócia em 1560, ela só pôde ser oficial
mente adotada sete anos depois, após a deposição da rainha Maria
Stuart, que se recusou a ratificar a decisão do Parlamento. Essa
Confissão foi adotada como símbolo de fé da igreja Reformada
da Escócia por quase cem anos, até ser substituída, em 1647, pela
Confissão de Fé e Catecismos de Westminster.2'
A Confissão de Fé Escocesa é breve e em perfeito acordo
com os demais símbolos de fé reformados. Em seus vinte e
cinco capítulos, trata dos seguintes assuntos: Deus, a criação e o
homem, o pecado original, a revelação da promessa, a continui
dade e preservação da igreja, a pessoa e a obra de Cristo, a fé e o
Espírito Santo, as boas obras, a perfeição da lei e a imperfeição
Catecismo de Heidelberg
O Catecismo de Heidelberg foi preparado por membros do
corpo docente da Faculdade de Teologia do Collegium Sapientiae,
em Heidelberg,28 a pedido do Eleitor Frederico III, o Piedoso.29
O catecismo, com prefácio de Frederico III, foi adotado pelo
sínodo em Heidelberg, em 1563, para ser usado como manual
de instrução nas escolas e servir de orientação para pregadores e
candidatos à profissão de fé. Posteriormente, foi endossado pelo
Sínodo de Doil e adotado como símbolo de fé das igrejas refor
madas em vários países. Ele é composto de 129 perguntas, dividi
das em três partes, de acordo com o livro de Romanos: a miséria
do homem (perguntas 1-11); a redenção do homem (perguntas
12-85); e a gratidão do homem (perguntas 86-129).
0 Esta confissão foi publicada em 1991. pela Editora Fiel, com o título Fé Para
Iloje: Confissão cie Fé Batista de 1689.
C om poucas alterações, editada pela American Baptist Publication Societ}’.
4’ A Declaração da Mensagem de Fé Batista, da Convensão Batista do Sul dos
Estados Unidos.
43 Iambém da Convenção Batista do Sul dos Estados Unidos.
44 Declaração Doutrinária da Convenção Batista Brasileira (Rio de Janeiro:
JUERP, 1987).
4> M. A. Noll. Confissão de Nova Hampshire". em Enciclopédia llistórico-
Teológica da Igreja Cristã, vol. 1, pp. 333-34.
218 SOIA SCR1PTURA
A PRIMEIRA CONFISSÃO
DE FÉ DO NOVO MUNDO
No dia 7 de março de 1557 ehegou à Guanabara (atual Rio
de Janeiro) um grupo de huguenotes (calvinistas franceses) com
o propósito de ajudar a estabelecer um refúgio para os calvinistas
perseguidos na França. Perseguidos também na Guanabara em
virtude de sua fé reformada, alguns conseguiram escapar; outros,
foram condenados à morte por Villegaignon, foram enforcados
e seus corpos atirados de um despenhadeiro, em 1558. Antes de
morrer, entretanto, foram obrigados a professar por escrito sua fé,
no prazo de doze horas, respondendo a uma série de perguntas
que lhes foram entregues. Eles assim o fizeram, e escreveram a
primeira confissão de fé na América (ver Apêndice 2), sabendo
que com ela estavam assinando a própria sentença de morte.46
dos profetas, sugerindo todas as coisas que foram ditas por nosso
Senhor Jesus Cristo aos apóstolos. Este é o único Consolador em
aflição, dando constância e perseverança em todo bem.
Cremos que é mister somente adorar e perfeitamente amar,
rogar e invocar a majestade de Deus em fé ou particularmente.
II. Adorando nosso Senhor Jesus Cristo, não separamos
uma natureza da outra, confessando as duas naturezas, a saber,
divina e humana, nele inseparáveis.
III. Cremos, quanto ao Filho de Deus e ao Santo Espírito,
o que a Palavra de Deus e a doutrina apostólica, e o símbolo,2
nos ensinam.
IV. Cremos que nosso Senhor Jesus Cristo virá julgar os
vivos e os mortos, em forma visível e humana como subiu ao céu,
executando tal juízo na forma em que nos predisse no capítulo
vinte e cinco de Mateus, tendo todo o poder de julgar, a ele dado
pelo Pai, sendo homem.
E, quanto ao que dizemos em nossas orações, que o Pai
aparecerá enfim na pessoa do Filho, entendemos por isso que o
poder do Pai, dado ao Filho, será manifestado no dito juízo, não
todavia, que queiramos confundir as pessoas, sabendo que elas
são realmente distintas uma da outra.
V. Cremos que no santíssimo sacramento da ceia, com as
figuras corporais do pão e do vinho, as almas fiéis são realmente
e de fato alimentadas com a própria substância do nosso Senhor
Jesus, como nossos corpos são alimentados de alimentos, e assim
não entendemos dizer que o pão e o vinho sejam transformados
ou transubstanciados no seu corpo e sangue, porque o pão conti
nua em sua natureza e substância, semelhantemente o vinho, e
não há mudança ou alteração.
Distinguimos, todavia, este pão e vinho do outro pão que
é dedicado ao uso comum, sendo que este nos é um sinal sacra
2 O Credo Apostólico.
APENDICE 2: A CONFISSÃO DA GUANABARA 221
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O Rcv. Paulo Anglada é ministro
presbiteriano há mais de trinta anos. Ele é
casado com Layse Gueiros e tem três Filhos:
Karis Beatriz, Paulus Roberto e Anna Layse.
Sua formação teológica inclui: bacharelado
em Teologia pelo Seminário Presbiteriano
do Norte, mestrado em Teologia pela
Potchefstroom University for Christian
Higher Education e doutorado em
Ministério pelo Westminster Theological
Seminary in Califórnia.
O Rev. Anglada foi por vários anos pastor
efetivo da Igreja Presbiteriana Central do
Pará, professor de Novo Testamento e
Hermenêutica na Faculdade Teológica Batista
Equatorial e membro da Junta de Educação
Teológica do Supremo Concilio da IPB.
Atualmente ele é pastor emérito da Igreja
Presbiteriana Central do Pará, presidente da
Associação Reformada Palavra da Verdade e
professor de Novo Testamento, Teologia
Sistemática e Pregação no International
Reformed Theological College.
Entre as suas obras publicadas, estão os livros:
Calvinismo: As Antigas Doutrinas da Graça
(1996, 2000, 2009), Spurgeon e o
Evangelicalismo Moderno (1996), O Princípio
Regulador no Culto (1998), Refortna: Solução
Divina para a Crise (1999), Introdução à
Pregação Reformada: Uma Investigação
Histórica sobre o Modelo Bíblico-Reformado
de Pregação (2005), Introdução à
Hermenêutica Reformada: Correntes
Históricas, Pressuposições, Princípios e
Métodos Lingüísticos (2006), Soli Deo
Gloria: O Ser e Obras de Deus (2007),
Imago Dei: Antropologia Bíblico-Reformada
(2013), além de artigos em obras coletivas
e revistas teológicas Brasileiras.
Martin Lloyd-Jones nos indica "que a maior lição que a Reforma
Protestante tem a nos ensinar é justamente que o segredo do sucesso, na
esfera da Igreja e das coisas do Espírito, é olhar para trás". Lutero e
Calvino, diz ele, "foram descobrindo que estiveram redescobrindo o
que Agostinho já tinha descoberto e que e que já havia sido esquecido".
Por ocasião da Reforma, a tradição da igreja já havia se
incorporado aos padrões determinantes de comportamento e
doutrina e, na realidade, já havia superado as prescrições das
Escrituras. A Bíblia era conservada longe e afastada da compreensão
dos devotos. Era considerada um livro só para os entendidos, obscuro
e até perigoso para a massa. Os reformadores redescobriram e
levantaram bem alto o único padrão de fé e prática: a Palavra de Deus,
e por este padrão, aferiram tanto as autoridades como as práticas
religiosas em vigor.
A um mundo que está sem padrão, e à própria igreja evangélica,
que está voltando a enterrar o seu padrão em meio a um entulho místico
pseudo-espiritual, a mensagem da Reforma, sobre a suficiência e
integridade das Escrituras, continua necessária. Esse livro traz o brado de
Sola Scriptura, com veemência e clareza, como antídoto ao veneno
contemporâneo do subjetivismo e existencialismo do homem sem
Deus, que teima em se infiltrar nos ensinamentos da Igreja Cristã. A
própria Confissão de Fé de Westminster em seu Capítulo 1°, refletindo
os ensinamentos da Reforma do Século XVI, descreve a Bíblia como
sendo a "... única regra infalível de fé e de prática". Essa é a mensagem
deste livro e aquela que precisa ser pregada, com ousadia, à igreja
contemporânea.
ISBN 978-856118408-7
K n o x Publicações
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