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Fichamento Teoria Literária Jonathan Culler
Fichamento Teoria Literária Jonathan Culler
UNIDADE DE DOURADOS
CURSO DE LETRAS/ESPANHOL
Turma: 4º ano
Professora: Alda
RGM: 15891
Nos estudos literários e culturais de hoje fala-se muito sobre teoria, no seu
sentido puro e simples.
A “teoria”, nos dizem, mudou radicalmente a natureza dos estudos literários.
Porém há aqueles que acreditam que exista discussão demais sobre questões
não-literárias. Questões gerais cuja relação com a literatura quase não é
evidente, como textos psicanalíticos,
políticos e filosóficos.
Uma teoria deve ser mais que uma hipótese: não pode ser óbvia; envolve
relações complexas de tipo sistemático entre inúmeros fatores; e não é
facilmente confirmada ou refutada.
A teoria, nos estudos literários, é um conjunto de reflexão e escrita cujos limites
são excessivamente difíceis de definir.
Textos de fora do campo dos estudos literários foram adotados por pessoas dos
estudos literários porque suas análises da linguagem, ou da mente, ou da
história, ou da cultura, oferecem explicações novas e persuasivas acerca de
questões textuais e culturais.
O principal efeito da teoria é a discussão do “senso comum”: visões de senso
comum sobre sentido, escrita, literatura, experiência.
A teoria de Foucault, apesar de falar somente de sexo e não de literatura, tem
sido de grande interesse para as pessoas que estudam literatura.
Então, o que é teoria?
A teoria é interdisciplinar, analítica e especulativa, uma crítica ao senso comum,
e uma investigação das categorias que utilizamos ao fazer sentido das coisas (ou
reflexão sobre reflexão).
Admitir a importância da teoria é assumir um compromisso aberto, deixar a si
mesmo numa posição em que há sempre coisas importantes que você não sabe.
A natureza da teoria é desfazer aquilo que você pensou que sabia, de modo que
os efeitos da teoria não são previsíveis.
Essa questão não parece ter muita importância para a teoria literária. Primeiro
porque ela própria mescla várias ideias vindas da filosofia, linguística, história,
psicanálise. Segundo, a distinção não parece central porque as obras de teoria
descobriram o que é mais simplesmente chamado de a “literariedade” dos
fenômenos não-literários. Qualidades como sendo literárias demonstram ser
cruciais também para os discursos e práticas não-literários, tornando complexa a
distinção entre o literário e o não-literário.
Se uma criança pergunta o que é literatura, é fácil responder. Mas se o indagador
é um teórico literário, é mais difícil saber como enfrentar a indagação.
O que é literatura? Poderia também ser uma pergunta sobre as características
distintivas das obras conhecidas como literatura: o que as distingue das obras
não-literárias?
O que diferencia a literatura de outras atividades ou passatempos humanos? Há
algum traço essencial, distintivo, que as obras literárias partilham?
As obras de literatura vêm em todos os formatos e tamanhos e a maioria delas
parece ter mais em comum com obras que não são geralmente chamadas de
literatura do que com algumas obras reconhecidas como literatura.
Mesmo um pouco de perspectiva histórica torna essa questão mais complexa.
Durante vinte e cinco séculos as pessoas escreveram obras que hoje chamamos
de literatura, mas o sentido moderno de literatura mal tem dois séculos.
Antes de 1800, literatura significava “texto escrito” ou “conhecimento de livro”.
Mesmo hoje, um cientista que diz “a literatura sobre evolução é imensa” quer
dizer não que muitos poemas e romances tratam do assunto, mas que se escreveu
muito sobre ele.
E obras que hoje são estudadas como literatura foram tratadas não como um tipo
especial de escrita, mas como belos exemplos do uso da linguagem: discursos,
sermões, história e filosofia. Aos estudantes não se pedia para interpretá-las, eles
as memorizavam, estudavam sua gramática.
Mesmo se nos restringirmos aos últimos dois séculos, a categoria da literatura se
torna escorregadia: obras que hoje contam como literatura – digamos, poemas
que parecem fragmentos de conversas comuns, sem rima ou metro discernível –
se qualificariam como literatura no século XVIII?
A questão do que conta como literatura se torna cada vez mais difícil. É tentador
desistir e concluir que a literatura é o que quer que uma dada sociedade trate
como literatura.
Em vez de perguntar “o que é literatura?” talvez fosse mais apropriado indagar
“o que faz com que nós tratemos algo como literatura?”.
A literatura, poderíamos concluir, é um ato de fala ou evento textual que suscita
certos tipos de atenção.
Na maior parte do tempo, o que leva os leitores a tratar algo como literatura é
que eles a encontram num contexto que a identifica como literatura como, por
exemplo, num livro de poemas.
Às vezes o objeto tem traços que o tornam literário, mas às vezes é o contexto
literário que nos faz tratá-lo como literatura.
Mas linguagem altamente organizada não é necessariamente literatura. Ex: lista
telefônica. E não é qualquer fragmento de linguagem que chamamos de
literatura. Ex: livro de química.
Uma razão por que os leitores atentam para a literatura de modo diferente é que
suas elocuções têm uma relação especial com o mundo – uma relação que
chamamos de “ficcional”.
As obras literárias se referem a indivíduos imaginários e não históricos, mas a
ficcionalidade não se limita a personagens e acontecimentos.
O “eu” que aparece num poema lírico também é ficcional. Refere-se ao falante
do poema, que pode ser bem diferente do indivíduo que o escreveu (Mas pode
ser que haja fortes ligações entre o que acontece com o falante ou narrador do
poema e que aconteceu com o poeta).
Os narradores de romances, os personagens que dizem “eu” quando narram a
história, podem ter experiências e emitir juízos que são bastante diferentes
daqueles de seus autores.
Na ficção, a relação entre o que os falares dizem e o que pensa o autor é sempre
uma questão de interpretação.
O mesmo ocorre com a relação entre os acontecimentos narrados e as situações
no mundo. O discurso não-ficcional geralmente está inserido num contexto que
diz a você como considera-lo: um manual de instrução, uma notícia de jornal,
uma carta de uma instituição de caridade.
O contexto da ficção, entretanto, explicitamente deixa aberta a questão do que
trata realmente a ficção.
A ficcionalidade da literatura separa a linguagem de outros contextos nos quais
poderia ser usada e deixa a relação da obra com o mundo aberta à interpretação.
Teóricos recentes argumentaram que as obras são feitas a partir de outras obras:
tornadas possíveis pelas obras anteriores que elas retomam, repetem, contestam,
transformam.
Ler algo como literatura é considera-lo como um evento linguístico que tem
significado em relação a outros discursos.
Ler um poema como literatura é relacioná-lo a outros poemas, comparar,
contrastar.
Outra noção que é importante na teoria recente é da “auto-reflexividade” da
literatura. Os romances são, em algum nível, sobre os romances, sobre os
problemas e possibilidades de representar e dar forma e sentido a experiência.
Os cinco casos apresentados se referem às propriedades das obras literárias,
traços que as marcam como literatura.
Mas essas qualidades não podem ser reduzidas a propriedades objetivas ou a
consequências de maneiras de enquadrar a linguagem. A linguagem resiste aos
enquadramentos que impomos.
O que aprendemos com os cinco casos é que cada qualidade identificada como
um traço importante da literatura mostra não ser um traço definidor, já que pode
ser encontrada em ação em outros usos da linguagem.
Na Inglaterra do século XIX, a literatura surgiu como uma ideia extremamente
importante, um tipo especial de escrita encarregada de diversas funções.
Ao mesmo tempo ensinava apreciação desinteressada e proporcionava um senso
de grandeza nacional, criando um sentimento de camaradagem entre as classes e,
em última análise, funcionava como um substituto da religião, que parecia não
mais ser capaz de manter a sociedade unida.
A literatura encoraja a consideração de complexidades sem uma corrida ao
julgamento, envolvendo a mente em questões éticas, induzindo os leitores a
examinar a conduta (inclusive a sua própria).
Não surpreende que discussões teóricas recentes tenham criticado essa
concepção de literatura e tenham enfocado, sobretudo, a mistificação que busca
distrair os trabalhadores da desgraça de sua condição oferecendo-lhes acesso a
essa “região mais alta”, atirando aos trabalhadores alguns romances a fim de
evitar que eles montem algumas barricadas, como diz Terry Eagleton.
À literatura foram atribuídas funções diametralmente opostas.
A literatura é um instrumento ideológico: um conjunto de histórias que seduzem
os leitores para que aceitem os arranjos hierárquicos da sociedade? Ou a
literatura é o lugar onde a ideologia é exposta, revelada como algo que pode ser
questionado?
Ambas as asserções são completamente plausíveis: que a literatura é o veículo
de ideologia e que é um instrumento para sua anulação.
Os teóricos sustentam que a literatura encoraja a leitura e as reflexões solidárias
como modo de se ocupar do mundo e, dessa forma, se opõe às atividades sociais
e políticas que poderiam produzir mudança.
O Cânone Literário
Modos de análise
Cap. 06 – Narrativa