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Musculação na Gestação

A prática de atividades físicas por mulheres grávidas sempre se constituiu em um


assunto bastante divergente. Historicamente, muitas dúvidas e questões foram
levantadas sobre o tema, já que as gestantes apresentavam preocupações quanto a
ocorrência de nascimentos prematuros, receios de abortos, baixo desenvolvimento do
feto, lesões musculoesqueléticas, entre outras, em função da prática de exercícios. Hoje
em dia, sabe-se que estas preocupações não devem existir em uma gestação sadia, pois
pesquisas recentes demonstraram que a participação regular de grávidas em um
programa de atividades físicas pode melhorar o condicionamento fisiológico das mães,
restringir o ganho de peso sem comprometer o desenvolvimento do feto e ainda
facilitar a recuperação pós-parto (Artal, Clapp e Vigil, 2000). O presente artigo dará
ênfase sobre o tema "Musculação na gravidez". Nosso objetivo principal será
apresentar, através de uma revisão de literatura, considerações levantadas a respeito da
prática da musculação durante a gestação, com enfoque especial sobre os efeitos
orgânicos na saúde da gestante e no crescimento fetal.

Autor: Allan José Silva da Costa *

Fonte: fernandatoniolo.blogspot.com

Introdução

A prática de atividades físicas por mulheres grávidas sempre se constituiu em um


assunto bastante divergente. Historicamente, muitas dúvidas e questões foram
levantadas sobre o tema, já que as gestantes apresentavam preocupações quanto a
ocorrência de nascimentos prematuros, receios de abortos, baixo desenvolvimento do
feto, lesões musculoesqueléticas, entre outras, em função da prática de exercícios. Hoje
em dia, sabe-se que estas preocupações não devem existir em uma gestação sadia, pois
pesquisas recentes demonstraram que a participação regular de grávidas em um
programa de atividades físicas pode melhorar o condicionamento fisiológico das mães,
restringir o ganho de peso sem comprometer o desenvolvimento do feto e ainda
facilitar a recuperação pós-parto (Artal, Clapp e Vigil, 2000).

Mesmo sabendo dos benefícios que a prática regular de atividades físicas pode trazer à
mulher grávida, alguns cuidados devem ser adotados durante a prescrição dos
exercícios no sentido de promover uma completa adequação as condições específicas
apresentadas pela gestante. Neste contexto, alguns importantes fatores devem ser
considerados. São eles: segurança, meio ambiente e tipo de exercício.
Em relação a segurança, Foss e Keteyian (2000) apontam algumas importantes
recomendações que devem ser adotadas. A primeira delas afirma que os exercícios nas
posições supina (barriga para cima) e pronada (barriga para baixo) devem ser evitados
após o primeiro trimestre de gravidez, pois tais posições estão associadas com uma
possível redução no débito cardíaco na maioria das mulheres. Atividades que resultem
em riscos de perda de equilíbrio, traumatismo abdominal e fadiga física (exaustão
completa) também não são recomendadas. Já em referência ao meio ambiente, Artal,
Clapp e Vigil (2000) destacam a importância de praticar atividades em ambientes que
apresentem temperatura moderada, pois assim evita-se o estresse físico e a perda
excessiva de líquidos corporais. Neste sentido, as mulheres grávidas que se exercitam
devem garantir uma boa dissipação de calor por meio de hidratação adequada e de
vestimentas caracterizadas por roupas leves (Foss e Keteyian, 2000).

O tipo de atividade física talvez seja o fator mais importante a ser considerado na
prescrição de exercícios para gestantes. A escolha da atividade deve ser precedida por
uma avaliação médica, para que somente assim haja a segurança correta. Após a
aprovação do médico especializado, a mulher grávida deve ingressar em atividades que
lhe garantam prazer e bem estar, assim como também em atividades que apresentem
baixo risco. Segundo Matsudo e Matsudo (2000), as atividades físicas para gestantes
podem ser classificadas em três tipos: atividades de baixo risco, atividades de médio
risco e atividades desfavoráveis. O primeiro tipo refere-se aos exercícios mais
convenientes e benéficos para a gestante, pois comportam pequenos riscos tanto para a
mãe quanto para o bebê. Incluem-se neste grupo a caminhada, ciclismo em bicicleta
ergométrica, a natação e a hidroginástica leve. As atividades de médio risco são aquelas
que podem ser praticadas pela mulher grávida, porém quando tomadas certas
precauções; ginástica aeróbia, musculação e os esportes de raquete (tênis, squash)
estão incluídos neste grupo. Por fim, temos as atividades desfavoráveis, que são
totalmente contra indicadas para todas as mulheres em gestação. Neste grupo estão as
atividades de esportes de contato físico ou de grande probabilidade de trauma, entre as
quais podemos destacar o voleibol, basquetebol, esqui aquático, ginástica de alto
impacto e hipismo (Matsudo, 2004).

O presente trabalho dará ênfase sobre uma das atividades citadas anteriormente: a
musculação. Nosso objetivo principal será apresentar, através de uma revisão de
literatura, considerações levantadas a respeito da prática da musculação durante a
gestação, com enfoque especial sobre os efeitos orgânicos na saúde da gestante e no
crescimento fetal.

Para que o objetivo geral acima citado seja atingido, alguns objetivos específicos foram
delimitados. São eles: apresentar as principais adaptações fisiológicas em repouso que
ocorrem com a gravidez, verificar as prescrições de cargas corretas para o trabalho de
musculação com gestantes, analisar as contra indicações da musculação durante a
gravidez e apresentar os principais benefícios biológicos e psicológicos que podem
resultar da prática de musculação para mulheres grávidas.
Ao atingir os objetivos acima propostos, acreditamos estar dando contribuições
significativas para a disseminação do conhecimento metodológico a respeito do tema
"Musculação na gravidez", visto que constatamos existir um número reduzido de
pesquisas científicas na área. Estas contribuições representam, então, a principal
justificativa para a realização de um trabalho acadêmico com a presente temática.

Assim sendo, iniciaremos a seguir nossa explanação abordando a análise conceitual do


estado de gravidez, enfatizando primariamente as principais adaptações fisiológicas
que resultam deste estado físico da mulher.

1. Análise conceitual de gravidez

A gravidez consiste em um fenômeno biológico que compreende todo o período de


gestação da mulher, o qual se inicia no ato da fecundação do óvulo e se encerra nove
meses depois, através do processo de parturição.

Normalmente, a gravidez é dividida em 3 períodos. O primeiro deles compreende os


três meses iniciais de gestação, sendo caracterizado por uma verdadeira "revolução
hormonal" no organismo da mulher, o que leva à ocorrência de enjôos, sonolência,
tontura e humor oscilante. Segundo Guyton (1988), este período também é
fundamental para o crescimento e o desenvolvimento do bebê, pois é onde se
desenvolvem as estruturas básicas de todos os órgãos fetais. Por este motivo, uma dieta
balanceada que atenda as quatro leis nutricionais (quantidade, qualidade, harmonia e
adequação biológica), aliada a hidratação adequada e ao descanso assumem papel
fundamental na vida da gestante e do feto em crescimento. O segundo e terceiro
períodos - 3 a 6 meses e 6 a 9 meses, respectivamente - representam o espaço de tempo
caracterizado pelas modificações significativas no corpo da mulher. De acordo com
Artal, Clapp e Vigil (2000), ocorre ganho de massa corporal localizada na região do
abdômen e da pelve, o que faz alterar a postura e o centro de gravidade da gestante.

Assim, atividades que necessitem do equilíbrio e da agilidade podem se tornar mais


difíceis devido a mudança de distribuição de massa corporal. Nestes períodos a mulher
se sentirá mais disposta e poderá seguir seu programa de exercícios físicos até o fim da
gravidez, desde que respeite seus limites e a prática lhe esteja sendo prazerosa.

Durante a gestação inúmeras adaptações fisiológicas e anatômicas são induzidas pelo


fenômeno da gravidez, e devem ser levadas em conta durante o planejamento e
prescrição das atividades físicas. Segundo Foss e Keteyian (2000), estas adaptações
incluem modificações cardiovasculares, respiratórias, termorreguladoras, metabólicas
hormonais e bioquímicas.

Dentre as alterações metabólicas, podemos destacar como importante para o exercício


físico o aumento do metabolismo em cerca de 5% a 10% que ocorre na grávida em
repouso, sendo que grande parte deste aumento é derivada da maior necessidade
nutricional para o correto desenvolvimento do feto. Portanto, ao programar atividades
físicas, o profissional deverá considerar os efeitos metabólicos da prática,
principalmente em relação aos níveis de glicose sanguínea, pois se sabe que em
exercícios extenuantes e prolongados a gestante pode sofrer hipoglicemia mais
rapidamente, e esta resposta hipoglicêmica observada principalmente no terceiro
trimestre de gravidez pode levar a efeitos potencialmente adversos ao feto (Matsudo e
Matsudo, 2000). Esta é uma das causas que levam à recomendação geral de exercícios
leves e moderados no período de gestação.

Outra justificativa para a prescrição de exercícios de baixa intensidade refere-se as


adaptações cardiovasculares que resultam da gravidez. Estas adaptações incluem o
aumento da freqüência cardíaca de repouso e do volume de ejeção, levando como
conseqüência o aumento no fluxo sanguíneo em direção ao útero e ao feto. Em
atividades de intensidade muito elevada, ocorre redistribuição seletiva de sangue aos
músculos funcionalmente mais utilizados, com redução aos órgãos esplâncnicos, ao
útero e ao feto. Esta redução do fluxo sanguíneo em direção ao feto ocasionada pela
atividade física praticada de forma excessivamente intensa, pode chegar a produzir
hipóxia ou asfixia fetal (idem).

Assim sendo, podemos perceber ser de fundamental importância para o profissional de


Educação Física o conhecimento a respeito de todas as adaptações fisiológicas e
anatômicas que resultam da gravidez, pois são estas modificações orgânicas que
delimitarão as características que o exercício deve apresentar ao ser prescrito.

Abaixo estão representadas resumidamente as principais alterações fisiológicas em


repouso que se manifestam na mulher grávida.

Cardiovasculares
• Aumento no débito cardíaco de repouso de até 50 %• Aumento no volume sanguíneo
circulante• Aumento no tamanho diastólico terminal do ventrículo esquerdo• Aumento
na freqüência cardíaca de repouso e no volume de ejeção• Aumento no fluxo sanguíneo
em direção ao útero

Pulmonares
• Aumento na ventilação-minuto acarretando uma ligeira queda na PCO2 arterial•
Aumento no volume corrente

Outras
• Aumento no VO2 em repouso, aproximando-se no terceiro trimestre de 30% acima
dos valores das mulheres que não estão grávidas• Aumento nos hormônios estrogênios
e relaxina• Aumento no peso corporal total de 10-14 kg• Aumento no dispêndido
energético em repouso em aproximadamente 150 kcal/dia durante o primeiro trimestre
e de aproximadamente 350 kcal/dia durante o segundo e terceiro trimestres.
Quadro 01 - alterações fisiológicas em repouso que se manifestam na mulher
grávida(adaptado de Foss e Keteyian, 2000)

2. Prescrições do trabalho de musculação na gravidez

A musculação pode ser definida como sendo a utilização de exercícios contra resistência
objetivando atuar nos ambientes competitivo, profilático, terapêutico, recreativo,
estético e de preparação física (Bittencourt, 1986). Segundo Santarém (2000b), o
trabalho de musculação pode ser realizado através de dois tipos de sobrecarga:
tensional e metabólica. A sobrecarga tensional representa o grau de tensão que ocorre
nos músculos durante a contração, e do ponto de vista prático é dada pela carga de
trabalho; quanto maior for a carga, maior será a sobrecarga tensional. Já a sobrecarga
metabólica representa a solicitação acentuada dos processos de produção de energia,
principalmente a partir da glicólise anaeróbia. Do ponto de vista prático é dada pelo
alto número de repetições e pelo intervalo curto entre as séries.

O trabalho de musculação na gravidez talvez se constitua no assunto de maior


controvérsia dentro da área de atividades físicas para grupos especiais, já que o número
de pesquisas científicas publicadas ainda é muito pequeno. Batista et al. (2003), por
exemplo, indicam a musculação como uma atividade não recomendada para gestantes,
ao ponto que Artal, Clapp e Vigil (2000) e Matsudo (2004) apontam esta atividade
física como sendo de médio risco, porém podendo ser praticada desde que sejam
adotadas certas precauções.

Em relação aos efeitos da prática de musculação sobre a gestante, as controvérsias


continuam existindo. Batista et al. (2003) indicam a existência de riscos tais como
lesões ósteo-musculares, diminuição do fluxo sanguíneo à placenta e
conseqüentemente ao feto, aumento excessivo da temperatura corporal, entre outros.

Por outro lado, Matsudo e Matsudo (2000) afirmam que a musculação proporciona
fortalecimento muscular à grávida, deixando-a mais hábil para tolerar o seu peso
corporal, realizar as atividades do dia-dia, melhorar a postura e evitar uma das
principais queixas da gravidez: a lombalgia.

Após uma extensa revisão bibliográfica, acreditamos que o trabalho de musculação


para gestantes pode sim ser realizado, porém somente quando é utilizado com objetivos
recreativos, ou seja, quando representa uma forma de lazer através do exercício com
pesos (Bittencourt, 1986). A prática de atividades resistidas que visa o aperfeiçoamento
da preparação física desportiva e da capacidade competitiva deve ser desencorajada
entre as gestantes, já que a gravidez não é o momento apropriado para competições
sérias de alto nível de rendimento.

Assim sendo, a prescrição dos exercícios de musculação para mulheres grávidas,


segundo Matsudo e Matsudo (2000), deve privilegiar o treinamento com número de
repetições em torno de 10, com estimulação de 10-15 grupos musculares, duas vezes
por semana. A recuperação das fontes energéticas entre cada exercício deve ser
completa e a intensidade das cargas deve ser bastante moderada; algo em torno de 1,5 a
2,5 Kg.

Uma forma bastante simples e correta de controlar a intensidade das cargas é através
da escala de percepção de esforço subjetivo proposta por Borg (1998). No trabalho de
musculação com gestantes, os valores devem variar entre 9 e 11 nesta escala, o que
corresponde a atividades com estímulos de carga muito leves e leves, respectivamente
(ver quadro 02).
Tradicionalmente, a escala de Borg vem sendo utilizada somente para a avaliação e
controle da intensidade em exercícios de características aeróbias. Porém, não existe
nada na literatura pesquisada que impeça tal recurso de também ser utilizado em
atividades de força muscular, tais como os exercícios resistidos característicos da
musculação, daí a justificativa para a sua utilização em trabalhos com gestantes.

A seguir, a escala de Borg está representada no quadro 02 para que haja melhor
entendimento sobre o assunto em discussão.

06
07 Extremamente leve
08
09 Muito leve
10
11 Leve
12
13 Moderadamente forte
14
15 Forte
16
17 Muito forte
18
19 Extremamente forte
20

Quadro 02 - escala de percepção de esforço subjetivo(adaptado de Borg, 1998)

Quanto a respiração, o melhor método na prática da musculação para gestantes é o


método continuado, onde a praticante executa o movimento sem se preocupar com os
momentos de inspiração e expiração; ela respira normalmente como se estivesse
fazendo uma atividade rotineira do dia-dia. Já a "Manobra de Valsalva" (apnéia
respiratória) não deve ser realizada pela grávida durante a execução dos exercícios.
3. Situações que contra-indicam a prática da musculação na gravidez

No trabalho de musculação existem algumas situações específicas que devem ser


evitadas quando os exercícios são realizados por uma mulher grávida, sob pena de
colocar a mesma em riscos potencialmente prejudiciais. Estas situações contra-indicam
a prática da musculação na gestação, e por este motivo devem ser estudadas
detalhadamente pelos profissionais de Educação Física que trabalham na área.

A primeira situação refere-se aos tipos de respiração durante a execução dos exercícios
de musculação. Neste contexto, as respirações do tipo bloqueada e combinada não
devem em hipótese alguma ser aplicadas no trabalho com gestantes. O primeiro tipo é
aquele em que a praticante, antes de iniciar o movimento, inspira, realiza os
movimentos concêntrico e excêntrico, e só depois expira o ar, ou seja, ela bloqueia a
circulação de oxigênio durante toda a execução do movimento; já a respiração
combinada é aquela em que a praticante, antes de iniciar o movimento, inspira, realiza
o movimento concêntrico e expira durante a realização do movimento excêntrico. Tanto
uma quanto a outra envolvem a chamada "Manobra de Valsalva", a qual provoca
aumento do percentual isométrico da atividade, o que conduz a uma elevação da
resistência periférica na passagem sanguínea, fazendo com que a pressão arterial
apresente-se mais alta, tendo como conseqüência uma solicitação cardíaca maior e uma
elevação da freqüência cardíaca. Em outras palavras, os tipos de respiração
anteriormente descritos provocam sobrecarga ao coração e problemas de circulação
sanguínea, principalmente no que se refere a obstrução do retorno venoso, sendo,
portanto, não recomendadas para a prática com gestantes, já que estas devem
apresentar uma circulação sanguínea estável para proporcionar um fluxo de sangue
adequado ao feto em desenvolvimento.

Outra situação que contra-indica a musculação na gravidez é a aplicação de altas


sobrecargas tensionais, representadas pelas cargas bastante elevadas. Nesta situação a
praticante corre o risco de ser levada à fadiga e à exaustão, podendo, a partir daí, ser
acometida por lesões musculoesqueléticas, aumento excessivo da temperatura corporal,
diminuição do fluxo sanguíneo à placenta e, conseqüentemente, ao feto, pois o sangue é
redistribuído em direção a musculatura funcional que está sendo mais requisitada no
momento.

Uma terceira situação que podemos apontar como contra-indicante da musculação na


gravidez é a aplicação de exercícios em posições supinada (barriga para cima) e
pronada (barriga para baixo) após o primeiro trimestre de gestação (Artal, Clapp e
Vigil, 2000). Esta situação é contra-indicada porque tais posições estão relacionadas
com uma redução no débito cardíaco e possível obstrução do retorno venoso (Foss e
Keteyian, 2000), dificultando a circulação sanguínea. Deste modo, exercícios como o
supino reto com pés apoiados no chão, crucifixo com pés apoiados no chão, leg press,
entre outros, não são recomendados. Além desta possível dificuldade provocada ao
sistema circulatório, existem também os riscos de acidentes que podem ocorrer devido
ao fato dos implementos (halteres, barras etc) estarem sendo utilizados próximos a
região abdominal, podendo gerar algum tipo de traumatismo sobre a mesma.
Além das situações práticas do dia-dia, existem também algumas situações de saúde
que contra-indicam a prática da musculação na gravidez. Baseados em Artal, Wiswell,
Drinkwater e Jones (1991), podemos dividir estas situações de contra indicações em
dois tipos: absolutas e relativas.
As situações de saúde que contra-indicam de forma absoluta os exercícios de
musculação, e outras atividades físicas, na gestação incluem risco de parto prematuro,
suspeita de estresse fetal, gestação múltipla, doenças miocárdicas, entre outras. Já as
situações de contra-indicação relativa incluem falta de controle pré-natal, diabetes
mellitus, obesidade excessiva ou baixo peso extremo, entre outras.

A seguir estão resumidas as principais situações de saúde que representam contra-


indicações absolutas e relativas para a prática da musculação e de outras atividades
físicas durante a gravidez.

Situações de saúde: contra-indicações absolutas

• Doenças miocárdicas• Suspeita de estresse fetal• Insuficiência cardíaca congestiva•


Enfermidade hipertensiva grave• Enfermidade cardíaca reumática• Macrossomia•
Tromboflebite• Retardo de crescimento intra-uterino• Embolismo pulmonar recente•
Gestação múltipla• Enfermidade infecciosa aguda• Risco de parto prematuro

Situações de saúde: contra-indicações relativas

• Falta de controle pré-natal• Hipertensão arterial essencial• Diabetes mellitus•


Obesidade excessiva ou peso baixo extremo• Anemia e outras alterações sanguíneas
Quadro 03 - situações de saúde que representam contra-indicações absolutas e
relativas para a prática da musculação e de outras atividades físicas durante a
gravidez(adaptado de Artal, Wiswell, Drinkwater e Jones, 1991)
Aliado a estas situações contra-indicantes, o American College of Obstetricians and
Gynecology (2003) indica alguns sintomas que sinalizam para a interrupção imediata
do programa de exercícios. Dentre estes sintomas podemos destacar a perda de líquido
amniótico, dores no peito, contrações uterinas, hemorragia vaginal, enxaqueca,
dispnéia, edema, dores nas costas ou na zona do púbis, fraqueza muscular, tontura e
redução dos movimentos do feto.

4. Benefícios ocasionados pela musculação na gravidez

Assim como qualquer outra atividade física, a musculação proporciona diversos


benefícios à gestante, porém desde que os exercícios sejam prescritos de forma
individualizada e com cargas adequadas. De acordo com Matsudo e Matsudo (2000),
tais benefícios podem ser divididos em dois tipos: biológicos e psicosociais. Os
benefícios biológicos incluem as alterações físicas, fisiológicas, posturais, entre outras,
sendo representados pelos principais efeitos orgânicos dos exercícios sobre a gestante
(O'Toole, 2003). Já os benefícios psicosociais incluem as alterações de comportamento
e sensações, exercendo influência direta sobre as atitudes da mulher grávida durante a
gestação.

Dentre os benefícios biológicos, podemos destacar o que Santarém (2000a) denomina


de independência funcional, ou seja, a capacidade de realizar as atividades desejadas do
dia-dia sem colocar em risco a integridade física do organismo. Como sabemos, a
gestante pode vir a apresentar algumas limitações em virtude das adaptações
fisiológicas resultantes da gravidez. Entretanto, a prática adequada da musculação pode
minimizar os efeitos destas possíveis limitações, pois proporciona o fortalecimento
muscular e deixa a mulher grávida mais hábil para tolerar a sua massa corporal
aumentada, alterar o centro de gravidade e realizar as atividades do dia-dia sem riscos
nenhum para sua integridade e para a integridade do bebê, atingindo um bom nível de
independência funcional e, conseqüentemente, uma boa qualidade de vida.
Outro benefício biológico importante refere-se a redução e prevenção da lombalgia,
talvez a principal queixa da gravidez. Com o fortalecimento muscular proporcionado
pela musculação, a grávida consegue minimizar os efeitos da hiperlordose que
geralmente surge durante a gestação, em função da expansão do útero na cavidade
abdominal e o conseqüente desvio do centro gravitacional (Batista et al, 2003). Nestes
casos, os exercícios de musculação proporcionam alterações que contribuem
significativamente para a adaptação a nova postura física, levando ao aprendizado de
uma boa atitude postural.

Um terceiro benefício biológico que podemos analisar consiste na menor duração da


fase ativa do parto. Neste contexto, Matsudo (2004) indica que os exercícios que
promovem o fortalecimento, alongamento e relaxamento dos músculos que são
utilizados no processo de parturição, podem facilitar a chegada do bebê, auxiliando a
gestante no momento do parto e contribuindo para sua recuperação no período pós-
parto, diminuindo assim os riscos de complicações obstétricas.
Em relação aos benefícios psicosociais, podemos citar como de fundamental
importância o fato de que a musculação, quando praticada no ambiente recreativo,
geralmente envolve atividades em grupo, onde as integrantes apresentam idéias e
sentimentos bastante semelhantes. Isto faz com que a gestante apresente uma
diminuição das sensações de isolamento social e de estresse, o que, conseqüentemente,
também diminui os riscos de depressão durante a gravidez.
Mais um benefício no contexto psicosocial refere-se ao aspecto estético proporcionado
pela musculação. Sabe-se que a gravidez é um período onde ocorre ganho significativo
de massa corporal e adiposidade materna, geralmente acompanhado de uma situação
de flacidez muscular. Ao praticar a musculação, a gestante consegue obter o
desenvolvimento da tonicidade e da mobilidade muscular, além também de conseguir
atingir um menor ganho de massa corporal e adiposidade. Isto faz com que a mulher
grávida apresente melhoria da auto-imagem e auto-estima, o que só faz aumentar sua
sensação de bem estar.
Enfim, os benefícios são múltiplos e mais variados possíveis. Abaixo segue um pequeno
quadro resumindo todos estes benefícios proporcionados pela musculação e demais
atividades físicas, sejam eles biológicos ou psicosociais.
Benefícios biológicos

• Maior nível de independência funcional• Prevenção da lombalgia• Menor duração na


fase ativa do parto• Menor ganho de massa corporal e adiposidade materna•
Diminuição de complicações obstétricas• Melhoria da capacidade física• Diminuição da
incidência de cesárea• Menor tempo de hospitalização• Menor risco de parto prematuro

Benefícios psicosociais

• Melhoria da auto-imagem• Melhoria da auto-estima• Melhoria da sensação de bem


estar• Diminuição da sensação de isolamento social• Diminuição da ansiedade•
Diminuição do estresse• Diminuição do risco de depressão
Quadro 04 - benefícios proporcionados pela musculação e demais atividades
físicas(adaptado de Matsudo, 2004)

Conclusão
O objetivo principal de nosso estudo consistiu na realização, através da revisão
bibliográfica, de uma análise a respeito da prática da musculação durante a gestação,
com enfoque especial sobre os efeitos orgânicos na saúde da gestante e no crescimento
fetal. Acreditamos que tal objetivo tenha sido atingido, do mesmo modo como também
acreditamos que a realização do presente trabalho contribuiu de forma significativa
para a consolidação do aprendizado científico sobre o tema "Musculação na gravidez".
Perante a literatura pesquisada, verificamos que a musculação não se constitui em uma
das atividades físicas mais recomendadas pelos profissionais de saúde durante a
gravidez, sendo classificada como uma prática de médio risco para a gestante. A
hidroginástica, caminhada, natação e outras atividades de características
predominantemente aeróbias, são as atividades priorizadas e normalmente
recomendadas para mulheres grávidas. No entanto, verificamos também que a
musculação, quando ambientada em um contexto recreativo e com prescrições
adequadas de cargas, pode proporcionar importantes benefícios à gestante.
Deste modo, podemos concluir que a prática da musculação, quando prescrita
adequadamente, não modifica a duração da gestação, não prejudica o desenvolvimento
do feto e muito menos induz a ocorrência de abortos espontâneos, como muitas
mulheres temem, o que só vem a ressaltar sua importância na manutenção da saúde
materna e do bem estar do feto. De qualquer modo, devido ao número bastante
limitado de pesquisas científicas publicadas na área, sugerimos que outros estudos
sejam realizados com o objetivo de analisar de forma mais aprofundada os efeitos da
atividade de musculação sobre a mulher em gestação.
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Nota: * Acadêmico de Educação Física pela UFRN
Editor: Allan José Costa - Revista Virtual EFArtigos

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