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História Da Educação Brasileira PDF
História Da Educação Brasileira PDF
É fácil perceber que para cada um dos objetivos apontados É possível fazer novas conexões (sinapses) para o resto de
acima existem estratégias educacionais mais adequadas no que se nossas vidas, só que de uma forma mais difícil do que durante os
refere à dimensão cultural, embora não sejam necessariamente primeiros anos de formação.
excludentes. Mas de modo geral poderíamos classificá-las da seguinte Na verdade, todas as descobertas da ciência devem ser
forma: encaradas como instrumentos que ajudem a formar indivíduos
• Estratégia de Integração - deve ser aplicada principalmente equilibrados, com espírito crítico e aptos a lidar consigo e com o mundo
nas ações e programas educacionais voltados para os no-
Um ambiente rico e diverso, que estimula os cinco sentidos e o A aquisição de esquemas e a automação são os fatores
aspecto emocional, é fundamental na tarefa de estimulação. principais no desempenho de habilidades e na aprendizagem, porém o
ensino raramente é estruturado tendo isto em mente.
A teoria construtiva de Jean Piaget baseia-se na premissa de que
a inteligência é construída a partir das relações recíprocas do homem Segundo Gardner em sua teoria de inteligências múltiplas, o
com o meio. cerne da teoria é a valorização das diferenças individuais. Gardner
chama de inteligência muitas outras competências além da lógica,
Existem dentro de teorias de aprendizagem os aprioristas que
matemática e a linguística, medidas pelos testes de QI. Para ele há
acreditavam que a origem do conhecimento está no próprio sujeito e os
pelo menos mais cinco: musical, espacial, corporal, sinestésica,
empiristas que acreditavam que as bases do conhecimento estão nos
interpessoal e intrapessoal.
objetos.
O conhecimento é a representação mental da experiência
As teorias de Piaget fundem esses 2 paradigmas e têm 3
adquirida, normalmente registrado na memória através das impressões
conceitos fundamentais: interação/assimilação e acomodação.
emitidas pelo corpo associados ao processo cognitivo ocorrido no
O construtivismo é um novo modo de ver o universo, a vida e o cérebro. São imagens mentais ligadas intrinsecamente à sensações,
mundo das relações sociais. emoções e sentimentos, que, quando revividos ativam todo complexo
A busca de novos meios é parte do processo de tomada de relativo aquela experiência.
consciência. A Noção de “rede” gerada pelo emaranhado de neurônios é
A inteligência no seu conjunto é que estrutura as formas de semelhante à rede virtual da Internet.
representação (Piaget). A 4ª geração da Educação está baseada no computador e
A linguagem e a função semiótica permitem a comunicação. fundamentada nas teorias construtivistas da aprendizagem.
Segundo Piaget as interações sociais se desenvolvem em torno A aprendizagem cooperativa envolve problemas, para
e partir das relações entre 3 aspectos: as normas, a estrutura de vida desenvolver novos hábitos de cooperação e de comunicação,
social, os valores e os sinais. As interações podem ocorrer na forma de mudanças culturais e novas estratégias cognitivas.
coação, autonomia ou anomia. A cognição é anterior ao conjunto de formas simbólicas. A
As relações cooperativas implicam em 3 condições inerentes nos atividade cognitiva representa sons especificamente humanos de
processos operatórios: inteligência como a inteligência pré-verbal e a interiorização da imitação
em representações.
1º) Os interlocutores estejam de posse de uma escala comum de
valores. Com o desenvolvimento da tecnologia foram criados novos
ambientes de aprendizagem nas escolas.
2º) Igualdade geral dos valores.
É também nas escolas que as crianças aprimoram sua
3º) Possibilidade de retornar às validades reconhecidas desenvoltura, social e intelectual.
anteriormente.
Os cenários educacionais baseados em hipertecnologias
Segundo Morgan C. T. a aprendizagem apresenta 2 tipos representam experiências cooperativas.
básicos: o condicionamento clássico e o condicionamento operante.
O construtivismo foi um movimento determinante na história da
A capacidade para aprender depende do aprendiz, do método de cultura, cujo legado se faz sentir até hoje.
aprendizagem e do tipo de material utilizado para a aprendizagem.
O construtivismo refletia as alterações provocadas pela
O aprendiz depende do nível de inteligência, de idade, do Revolução Industrial na vida cotidiana e artística. Hoje sentimos e
estímulo e ansiedade e de transferência de aprendizagem anterior. falamos em construtivismo, assunto em voga na vida cultural porque
As estratégias de aprendizagem envolvem o dilema: prática assistimos a transformação profunda da sociedade por efeito da
maciça x espaçada; feedbacks, aprendizagem de todo ou interferência das novas tecnologias em nosso modo de viver: a
aprendizagem de partes e os programas de aprendizagem. revolução eletrônica que se opera sobre a era industrial nessa
passagem para o terceiro milênio.
O material de aprendizagem tem que apresentar: distinção
perceptiva, significado associativo, semelhanças conceituais, hierarquia Os processos de assimilação da realidade são adaptados ao
conceitual, hierarquia associativa. ambiente com o qual o indivíduo interage.
O primeiro plano de interação pelo ambiente hipertextual é o Fundamentalmente, Durkheim parte do ponto de vista que o
relativo às relações sujeito-objeto que se expressam no uso de homem é egoísta, que necessita ser preparado para sua vida na
ferramentas individuais e cooperativas de editoração. sociedade. Este processo é mediatizado pela família e também pelas
escolas e universidades:
Os mapas conceituais são representações gráficas semelhantes
a diagramas, que indicam relações entre conceitos ligados por A ação exercida pelas gerações adultas sobre as que ainda não
palavras. Os mapas conceituais podem ser descritos sob diversas estãomaduras para a vida social, tem por objetivo suscitar e
formas: perspectiva abstrata, perspectiva de visualização, perspectiva desenvolver na criança determinados números de estados físicos,
de conversação. intelectuais e morais que dele reclamam, por um lado, a sociedade
política em seu conjunto, e por outro, o meio especifico ao qual está
Os mapas conceituais podem ser úteis para a elaboração do
destinado. (DURKHEIM, 1973:44)
material didático em hipermídia. Os mapas conceituais se destinam a
hierarquização e a organização. Para Durkheim, o objeto da sociologia é o fato social, e a
educação é considerada como o fato social, isto é, se impõe,
A educação do século XXI deverá preparar os alunos para se
coercitivamente, como uma norma jurídica ou como uma lei. Desta
integrarem em uma economia globalizada, baseada em conhecimento,
maneira a ação educativa permitirá uma maior integração do indivíduo
no qual o conhecimento será o recurso mais crítico para o
e também permitirá uma forte identificação com o sistema social.
desenvolvimento social e econômico.
Durkheim rejeita a posição psicologista. Para ele, os conteúdos
O aluno deverá “aprender a aprender”.
da educação são independentes das vontades individuais, são as
Existem três elementos fundamentais para o sucesso do ensino normas e os valores desenvolvidos por uma sociedade o grupo social
à distância: projeto, tecnologia e suporte. em determinados momentos históricos, que adquirem certa
A primeira forma de ensino à distância foram os cursos por generalidade e com isso uma natureza própria, tornando-se assim
correspondência. Atualmente vídeo e tecnologias computacionais são “coisas exteriores aos indivíduos”:
os meios mais empregados. A criança só pode conhecer o dever através de seus pais e
Existe o Netmeeting que são ambientes de aprendizagem que mestres. É preciso que estes sejam para ela a encarnação e a
proporcionam encontros virtuais entre usuários o sistema. personificação do dever. Isto é, que a autoridade moral seja a qualidade
fundamental do educador. A autoridade não é violenta, ela consiste em
Em um processo de educação construtivista a avaliação é um certa ascendência moral. Liberdade e autoridade não são termos
elemento indispensável para a reorientação dos desvios ocorridos excludentes, eles se implicam. A liberdade é filha da autoridade
durante o processo e para gerar novos desafios ao aprendiz. bem compreendida. Pois, ser livre não consiste em fazer
Segundo Rodrigues avaliar é verificar como o conhecimento está aquilo que se tem vontade, e sim em se ser dono de si próprio, em
se incorporando no educando, e como modificar a sua compreensão de saber agir segundo a razão e cumprir com o dever. E justamente a
mundo e elevar sua capacidade de participar onde está vivendo. autoridade de mestre deve ser empregada em dotar a criança desse
domínio sobre si mesma (DURKHEIM, 1973:47).
Nos ambientes construtivistas destacam-se a observação, a
testagem e a auto-avaliação como as principais técnicas de avaliação. Talcott Parsons (1964), sociólogo americano, divulgador da obra
de Durkheim, observa que a educação, entendida como socialização, é
Nos ambientes construtivistas virtuais, as técnicas de avaliação
o mecanismo básico de constituição dos sistemas sociais e de
são as mesmas.
manutenção e perpetuação dos mesmos, em formas de sociedades, e
Nos últimos anos houve uma mudança significativa na pirâmide destaca que sem a socialização, o sistema social é ineficaz de manter-
populacional brasileira. O Brasil deixou de ser um país apenas de se integrado, de preservar sua ordem, seu equilíbrio e conservar seus
jovens. O envelhecimento da população brasileira é um fato. limites.
Pretendo viver bastante e com qualidade; o que será que vou O equilíbrio é o fator fundamental do sistema social e para que
encontrar daqui a alguns anos? este sobreviva é necessário que os indivíduos que nele ingressam
assimilem e internalizem os valores e as normas que regem seu
A sala de aula tradicional behavionista?
funcionamento.
A sala de aula construtivista.?
A educação não é preparação nem conformidade. Educação é Se o atributo escolaridade passa a fazer diferença, qual
vida, é viver, é desenvolver, é crescer. (DEWEY, 1971:29). escolaridade faz mais diferença, se tomarmos como parâmetro as
mudanças na organização do trabalho, em função dos avanços
Para Dewey, a escola é definida como uma micro-
tecnológicos? Como organizar a aprendizagem para que os alunos
comunidade democrática. Seria o esboço da “socialização
ganhem melhores condições de inserção na sociedade e no trabalho?
democrática”, ponto de partida para reforçar a democratização da
Esta é a nossa questão.
sociedade.
2. A CRISE DO CAPITALISMO E DA IDEOLOGIA LIBERAL De maneira mais conjuntural as principais características são as
seguintes:
O atual contexto traz algumas novidades e um conjunto de
elementos já presentes há muito tempo no capitalismo, ambos tentando a) crise do trabalho assalariado, com acentuada precarização
se articular coerentemente, embora as contradições estejam cada vez nas relações de trabalho;
mais explícitas. Em termos de estrutura social, vigora a manutenção da
b) mito da irreversibilidade da globalização, com forte carga
sociedade burguesa, com suas características básicas:
de fatalismo;
a) trabalho como mercadoria;
c) mundo unitário sem identidade, trazendo à tona a fragmen-
b) propriedade privada; tação, também no que se refere ao conhecimento;
a) garantir governabilidade (condições para o desenvolvimen- 9- Aumento de matrículas, como jogo de marketing (são feitas
to dos negócios) e segurança países “perdedores”; apenas mais inscrições, pois não há estrutura efetiva para novas
vagas);
b) quebrar a inércia que mantém o atraso nos países do cha-
mado “Terceiro Mundo”; 10- A sociedade civil deve adotar os “órfãos” do Estado (por
exemplo, o programa “Amigos da Escola”). Se as pessoas não tiverem
c) construir um caráter internacionalista das políticas públicas
acesso à escola a culpa é colocada na sociedade que “não se
com a ação direta e o controle dos Estados Unidos;
organizou”, isentando, assim, o governo de sua responsabilidade com a
d) estabelecer um corte significativo na produção do conheci- educação;
mento nesses países;
11- O Ensino Médio dividido entre educação regular e
e) incentivar a exclusão de disciplinas científicas, priorizando profissionalizante, com a tendência de priorizar este último: “mais
o ensino elementar e profissionalizante. ‘mão-de-obra’ e menos consciência crítica”;.
Mas, é evidente que parte do resultado esperado por parte de 12- A autonomia é apenas administrativa. As avaliações, livros
quem encaminha as políticas educacionais de forma global fica didáticos, currículos, programas, conteúdos, cursos de formação,
frustrada por que sua eficácia depende muito da aceitação ou não de critérios de “controle” e fiscalização, continuam dirigidos e
lideranças políticas locais e, principalmente, dos educadores. A centralizados. Mas, no que se refere à parte financeira (como infra-
interferência de oposições locais ao projeto neoliberal na educação é o estrutura, merenda, transporte), passa a ser descentralizada;
que de mais decisivo se possui na atual conjuntura em termos de
13- Produtividade e eficiência empresarial (máximo resultado
resistência e, se a crítica for consistente, este será um passo
com o menor custo): não interessa o conhecimento crítico;
significativo em direção à construção de um outro rumo, apesar do
“massacre ideológico” a que os trabalhadores têm sido submetidos 14- Nova linguagem, com a utilização de termos neoliberais na
durante a última década. educação;
Em função dessa conjuntura política desfavorável, podemos 15 - Modismo da qualidade total (no estilo das empresas
afirmar que, em termos genéricos, as maiores alterações que privadas) na escola pública, a partir de 1980;
ultimamente tem sido previstas estão chegando às escolas e, muitas
16- Os PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais) são ambíguos
vezes, tem sido aceitas sem maiores discussões a seu respeito,
(possuem 2 visões contraditórias), pois se, por um lado, aparece uma
impedindo uma efetiva contraposição. Por isso, vamos apresentar, em
preocupação com as questões sociais, com a presença dos temas
grandes eixos, o que mais claramente podemos apontar como
transversais como proposta pedagógica e a participação de intelectuais
consequências do neoliberalismo na educação:
progressistas, por outro, há todo um caráter de adequação ao sistema
1- Menos recursos, por dois motivos principais: de qualidade total e a retirada do Estado. É importante recordar que os
PCNs surgiram já no início do 1º. mandato de FHC, quando foi reunido
um grupo de intelectuais da Espanha, Chile, Argentina, Bolívia e outros
17- Mudança do termo “igualdade social” para “equidade social”, Entre nós, estamos ainda na fase inicial. O problema
ou seja, não há mais a preocupação com a igualdade como direito de dominantemente quantitativo. Mais escolas, maior matrícula. Todavia,
todos, mas somente a “amenização” da desigualdade; os tempos são outros, e já não podemos limitar-nos ao tranquilo esforço
de ensinar a ler, escrever e contar, multiplicando rotineiramente as
18 - Privatização das Universidades;
escolas. Temos de realizar a tarefa que as demais nações realizaram
19 – Nova LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional) nos relativos sossegos do passado, em pleno maelstrom moderno, tudo
determinando as competências da federação, transferindo criando de novo, em condições mais difíceis que as do passado, e
responsabilidades aos Estados e Municípios; obrigados a acompanhar métodos e técnicas para que faltam as
condições sociais adequadas e o próprio conhecimento e saber
20 - Parcerias com a sociedade civil (empresas privadas e
necessário para aplicá-las.
organizações sociais).
O problema fez-se tão difícil e atordoante, que não são de
Diante da análise anterior, a atuação coerente e socialmente
admirar a confusão, o desnorteamento e o extraordinário desperdício e
comprometida na educação parece cada vez mais difícil, tendo em vista
amontoado de erros com que vamos conduzindo nosso esforço
que a causa dos problemas está longe e, ao mesmo tempo, dispersa
educativo. Para nos equilibrarmos no turbilhão das forças e projetos
em ações locais. A tarefa de educar, em nosso tempo, implica em
desencadeados, apegamo-nos à simplificação da “educação para o
conseguir pensar e agir localmente e globalmente, o que carece da
desenvolvimento”, tentando limitar o problema ao treino generalizado
interação coletiva dos educadores e, segundo Philippe Perrenoud, da
para a vocação e o trabalho. Mas também este não é algo simples
Universidade de Genebra, “o professor que não se preparar para
como o rotineiro trabalho antigo, mas conjunto de técnicas e
intervir na discussão global, não é um ator coletivo”. Além disso, a
habilitações complexas, difíceis e especializadas, em permanente
produção teórica só tem sentido se for feita sobre a prática, com vistas
transformação e a exigir desenvolvimento mental muito maior do que o
a transformá-la. Portanto, para que haja condições efetivas de construir
do velho artesanato.
uma escola transformadora, numa sociedade transformadora, é
necessária a predisposição dos educadores também pela
transformação de sua ação educativa e “a prática reflexiva deve deixar
O GOVERNO BRASILEIRO E A POLÍTICA EDUCACIONAL
de ser um mero discurso ou tema de seminário, ela objetiva a tomada
de consciência e organização da prática”. Embora não administre diretamente a educação básica, o
governo federal tem tido papel importante neste nível pela redistribuição
de recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Educacional -
A POLÍTICA DA EDUCAÇÃO DE FNDE. O FNDE foi criado como fonte adicional ao financiamento do
CADA UM E DA EDUCAÇÃO PARA O FUTURO ensino: é uma contribuição patronal (2,5% da folha de pagamento das
empresas) destinada ao financiamento do ensino de primeiro grau,
Presentemente, nos países desenvolvidos, entramos em nova
suplementando os recursos públicos orçamentários regulares. Esta
fase: a ênfase está agora na educação individualizada, em educar não
contribuição chama-se de salário-educação e constitui um fundo que
apenas todas as crianças, mas cada uma; e não para simples
tem recursos consideráveis: cerca de 1,5 bilhões de dólares por ano 1/3
adaptação ao passado, mas visando prepará-la para o futuro. Opera-
dos quais constitui a quota federal, (cerca de 500 milhões de dólares) e
se, por isso mesmo, verdadeira revolução nos métodos e técnicas do
é utilizado pelo Ministério da Educação, que pode repassá-lo a
ensino propriamente dito, e a atenção se volta para medir-se e apurar-
municípios, estados e até a entidades privadas, devidamente
se o que realmente se está conseguindo. O aluno continua a ser o
credenciadas. Nos estados mais pobres, a quota federal é muito
problema central, constituindo-se a educação processo individual e
superior à estadual, e portanto decisiva para a manutenção e melhoria
único de cada aluno, e o seu desenvolvimento e auto-realização, a
do ensino fundamental. O Ministério da Educação tem, assim, um
indagação maior e absorvente. A organização da escola fez-se
instrumento potencialmente poderoso para focalizar os recursos aonde
complexa e fluida, compreendendo o estudo individual da criança e de
eles são mais necessários.
seu desenvolvimento; o estudo da cultura em que está imersa e de sua
transformação constante; o estudo da herança histórica para incorporá- É com estes recursos, tanto da quota estadual quanto da
la a este presente em transição; e tudo isso, com as vistas voltadas Federal, que se constroem e reformam escolas, se compra
dominantemente para os prospectos do futuro. equipamento escolar e se treinam os professores. É com os recursos
do FNDE que se constroem por ano cerca de 10 mil salas de aula, o
Toda a velha tranquilidade da escola, como instituição devotada
que corresponde ao crescimento necessário para absorver o aumento
ao passado, desapareceu, e a escola é hoje uma perturbada fronteira
Em contraposição, desenvolvem estudos sobre política curricular Após cerca de 15 anos de silêncio na política educacional
e a partir de então mostram que a forma como o processo político brasileira para a formação docente, volta-se a viver um intenso debate
ocorre, resulta da combinação entre métodos administrativos, sobre a legislação que regulamentará a formação dos profissionais da
condicionantes históricos e manobras políticas implicando o Estado, a educação no país. Apesar da carência de novas leis para a preparação
burocracia estatal e os conflitos políticos contínuos ao acesso desse dos educadores nesse período, a formação de professores tornou-se
processo político. tema recorrente nas discussões acadêmicas dos últimos 30 anos. Com
a criação das faculdades ou centros de educação nas universidades
Desses estudos concluem, ainda, que a política curricular não é
brasileiras, em 1968, a formação docente constitui-se em objeto
imposta, uma vez que seus textos são constantemente
Além disso, o contato com a realidade escolar continua Como consequência, diminui significativamente a carga horária
acontecendo, com mais frequência, apenas nos momentos finais dos dos cursos de formação inicial de professores, o que, obviamente, não
cursos e de maneira pouco integrada com a formação teórica prévia é desejável e representa um imenso retrocesso em termos da
(Pereira 1998). preparação desses profissionais.
Nas demais instituições de Ensino Superior, em especial nas Do mesmo modo, o descuido com o embasamento teórico na
particulares e nas faculdades isoladas, é a racionalidade técnica que, formação de professores, indispensável no preparo desses
igualmente, predomina nos programas de preparação de professores, profissionais, é extremamente prejudicial aos cursos de licenciatura. O
apesar de essas instituições oferecerem, na maioria das vezes, apenas rompimento com o modelo que prioriza a teoria em detrimento da
a licenciatura e, consequentemente, de a formação docente ser prática não pode significar a adoção de esquemas que supervalorizem
realizada desde o primeiro ano. Trata-se de uma licenciatura inspirada a prática e minimizem o papel da formação teórica. Assim como não
em um curso de bacharelado, em que o ensino do conteúdo específico basta o domínio de conteúdos específicos ou pedagógicos para alguém
prevalece sobre o pedagógico e a formação prática assume, por sua se tornar um bom professor, também não é suficiente estar em contato
vez, um papel secundário. apenas com a prática para se garantir uma formação docente de
qualidade. Sabe-se que a prática pedagógica não é isenta de
Um modelo alternativo de formação de professores que vem
conhecimentos teóricos e que estes, por sua vez, ganham novos
conquistando um espaço cada vez maior na literatura especializada é o
significados quando diante da realidade escolar.
chamado modelo da racionalidade prática. Nesse modelo, o professor é
considerado um profissional autônomo, que reflete, toma decisões e Além disso, ainda de acordo com a lógica da improvisação,
cria durante sua ação pedagógica, a qual é entendida como um profissionais de diferentes áreas são transformados em professores
fenômeno complexo, singular, instável e carregado de incertezas e mediante uma complementação pedagógica de, no mínimo, 540 horas
conflitos de valores. (LDB, art. 63, inciso I; Parecer CNE no 04/97). Desse total, 300 horas
devem ser de prática de ensino (LDB, art. 65) e podem ser
De acordo com essa concepção, a prática não é apenas locus da
contabilizadas mediante capacitação em serviço (LDB, art. 61, inciso I).
aplicação de um conhecimento científico e pedagógico, mas espaço de
Ou seja, a legislação atual permite que profissionais egressos de outras
criação e reflexão, em que novos conhecimentos são, constantemente,
áreas, em exercício no magistério, tornem-se professores valendo-se
gerados e modificados.
de um curso de formação docente de 240 horas! O que parece
Com base na crítica ao modelo da racionalidade técnica e inconcebível em outros campos profissionais – como, por exemplo,
orientadas pelo modelo da racionalidade prática, definem-se outras direito, medicina e engenharia – é possível para o magistério,
maneiras de representar a formação docente. As atuais políticas para contrariando a própria denominação do Título VI da LDB, “Dos
preparo dos profissionais da educação, no país, parecem consoantes profissionais da educação”. Diante dessa situação preocupante,
com esse outro modo de conceber tal formação. As propostas perguntar-se-ia: A mesma urgência que justificou, na década de 1970,
curriculares elaboradas desde então rompem com o modelo anterior, no Brasil, a criação dos cursos de licenciatura de curta duração está
revelando um esquema em que a prática é entendida como eixo dessa presente nas atuais proposições sobre formação docente? São os
preparação. programas de formação pedagógica para portadores de diplomas de
Por essa via, o contato com a prática docente deve aparecer educação superior uma reedição atualizada dos desastrosos cursos de
desde os primeiros momentos do curso de formação. Desse licenciatura curta?
envolvimento com a realidade prática originam-se problemas e Esse esquema é uma infeliz legitimação do “bico” na profissão
questões que devem ser levados para discussão nas disciplinas docente, uma vez que profissionais egressos de outras áreas, que não
optaram, de início, pela carreira de magistério, provavelmente, só estão
Professor Pedagogo 19 A Opção Certa Para a Sua Realização
APOSTILAS OPÇÃO A Sua Melhor Opção em Concursos Públicos
na profissão enquanto não conseguem algo melhor para fazer. É subsequentes (de 5ª a 8ª série). A realidade, porém, apresenta enormes
inquestionável, portanto, que as atuais mudanças na estrutura jurídico- dificuldades para a articulação desses dois momentos, tanto pela
legal da educação brasileira tornam manifesta a necessidade da estrutura diferenciada quanto pelo tipo de professor que atende a cada
criação de um projeto pedagógico para a formação e a uma dessas etapas do Ensino Fundamental. Essa diferenciação, ainda
profissionalização de professores nas universidades e demais carregada de características do antigo modelo do “primário” e do
instituições de Ensino Superior brasileiras. Esse novo projeto “ginásio”, cria uma fragmentação muito significativa nas práticas
pedagógico deve estar em consonância com as modificações escolares e nas vivências dos alunos.
pretendidas na educação básica. No entanto, uma leitura mais crítica
Em relação aos profissionais, por exemplo, lembre-se que as
do contexto permite afirmar que, nas recentes políticas educacionais, a
professoras das séries iniciais se caracterizam por um perfil mais
formação de professores corre sérios riscos de improvisação,
generalista e os professores do segundo segmento, por uma formação
aligeiramento e desregulamentação.
mais específica.
Se, por um lado, é possível admitir-se que a concepção de É interessante conceber um profissional que, ao assumir seu
educação básica se tornou mais avançada na legislação atual, por trabalho com alunos adolescentes, por exemplo, possa compreender
outro, quanto à obrigatoriedade desse nível da educação escolar, os questões da infância e da fase adulta, pois, apesar de agir em um
progressos ainda são pequenos, pois o Ensino Fundamental é o único momento específico da escolarização, essa etapa faz parte de um
assegurado pelo Estado (LDB, art. 32). A Educação Infantil e o Ensino conjunto maior: a educação básica.
Médio, ainda que desejáveis para o conjunto da população, continuam É importante, ainda, pensar a formação de um professor que
sendo facultativos para uma grande maioria. compreenda os fundamentos das ciências e revele uma visão ampla
Segundo o art. 32 da LDB, a educação fundamental passa a ter dos saberes.
duração mínima de oito anos e está voltada para a formação básica do Segundo um grupo de professores da Universidade de Brasília –
cidadão. UnB, em um documento sobre formação docente, as “licenciaturas
Esse nível de ensino escolar pode organizar-se de diferentes estão condenadas à interdisciplinaridade”. Para tanto, ao contrário do
modos e, com isso, superar a clássica separação entre as quatro que se pensa, o profissional deve realizar estudos aprofundados em
primeiras séries do Ensino Fundamental e seus quatro anos uma área específica do conhecimento e, paralelamente, contemplar as
3. A tradição republicana e constitucional consagrou a federação 12. Aliás, no caso brasileiro, a educação nacional nunca foi, a
brasileira, mas a questão central da Federação, isto é, a repartição das rigor, um monopólio do Estado Federal, pelo menos, estruturalmente, o
competências dos entes federativos e o estabelecimento de suas que não quer dizer, no entanto, que não tenha tido iniciativa de projeto
fronteiras legislativas sempre foram o nó górdio do nosso federalismo. de lei no campo educacional.
4. Assim, dizer que a organização político-administrativa da 13. Na estrutura de poder em que a educação fosse monopólio
República Federativa do Brasil compreende as quatro entidades do Estado, o caráter de abrangência repercutiria no conjunto de
federativas é uma espécie de sentença jurídica, mas seu dogma é, Ministérios, no Legislativo e no Judiciário. Destaquemos que o ensino
historicamente, destituído de sentido. Há, ainda, um processo de superior, em que pese ter sido, historicamente, priorizado pela União,
construção do modelo de Estado Federal efetivamente federativo e não caracterizou monopólio estatal posto que os Estados ofertaram, no
democrático. âmbito de sua autonomia, o ensino superior estadual.
5. Claro, no fundo, os constitucionalistas acabam por aceitar 14. Entre as constituições nacionais, a de 1988 foi a única a
todas as intenções e manifestações do modelo federativo tomar deliberadamente a Educação, enquanto dispositivo
historicamente imposto e, juridicamente posto, na evolução
Credenciamento de faculdades integradas, faculdades, institutos Dispõe sobre a constituição de comissões e procedimentos de
superiores ou escolas superiores:Portaria n.º 641, de 13 de maio de avaliação e verificação de cursos superiores.Portaria nº 1679 de 02 de
1997. dezembro de 1999:
Autorização de novos cursos em faculdades integradas, Dispõe sobre requisitos de acessibilidade de pessoas portadoras
faculdades, institutos superiores ou escolas superiores em de deficiências, para instruir os processos de autorização e de reco-
funcionamento:Portaria n.º 752, de 2 de julho de 1997. nhecimento de cursos, e de credenciamento de instituições.
A Conferência Municipal de Educação conta com representação A obtenção destes resultados, no entanto, depende da vontade
da prefeitura, Legislativo Municipal, grêmios estudantis, associações de política da administração de ampliar os espaços de participação da
pais, organizações não-governamentais, sindicatos e associações. sociedade na gestão municipal. Depende, também, da adoção de
Como tem caráter deliberativo, é responsável pela formulação das outras medidas visando a democratização do ensino. Um governo que
diretrizes para a política educacional e a avaliação dos resultados da não se preocupar com estes dois pontos dificilmente conseguirá
sua implementação. As diretrizes, formuladas a partir de propostas de implantar um verdadeiro sistema de gestão democrática da educação.
todos os atores envolvidos, são sistematizadas pelos técnicos da
prefeitura. A primeira Conferência, realizada em outubro de 1993,
empreendeu uma discussão estratégica sobre a melhoria da qualidade A AVALIAÇÃO DO PLANO DE GESTÃO ESCOLAR E
do ensino da rede pública municipal, aberta a todos os interessados. DO PROJETO PEDAGÓGICO
O Conselho Municipal de Educação é constituído por uma A avaliação do Plano de Gestão Escolar deve ser tarefa coletiva
representação paritária dos Poderes Públicos e da sociedade civil. É da direção, equipe técnica, professores, alunos e comunidade,
responsável pela aprovação, em primeira instância, do Plano Municipal representada, principalmente, pelos pais.
de Educação, elaborado pela Secretaria Municipal de Educação, a Para avaliar, é necessário elaborar indicadores, o que também
partir das conclusões da Conferência Municipal de Educação. pode ser feito coletivamente. Os resultados positivos e negativos
Responsabiliza-se também por estabelecer critérios para a destinação devem subsidiar a formulação de novas propostas.
de recursos e pela avaliação dos serviços prestados pelo Sistema
Municipal de Educação. A aprovação final do Plano Municipal de Como avaliar o Plano de Gestão Escolar e o Projeto Pedagógico
Educação cabe à Câmara Municipal. em todas as suas etapas ?
A formulação do sistema de gestão democrática da educação de A avaliação do Plano de Gestão Escolar e do Projeto
Recife contou com a participação de entidades da sociedade civil. Este Pedagógico deve abranger três aspectos centrais:
procedimento confere maior representatividade às instâncias criadas. - a avaliação do processo de elaboração;
Para divulgar as modificações implantadas, a prefeitura lançou - a avaliação dos efeitos diretos na aprendizagem dos alu-
os “Cadernos de Educação”, esclarecendo a proposta junto à nos;
população.
- a avaliação dos efeitos indiretos na aprendizagem dos alu-
A democratização da gestão - especialmente quando se dá nos e no desenvolvimento da escola.
através de ações estruturadas - permite que os setores interessados
É importante avaliar:
participem da elaboração da política municipal de educação. São
gerados, assim, ganhos em qualidade das decisões, pois estas podem - a articulação entre o Plano de Gestão Escolar e o Projeto
refletir a pluralidade de interesses e visões que existem entre os Pedagógico;
- a adequação dos objetivos e das ações desenvolvidas. - se as competências, conhecimentos e os métodos corres-
pondem ao diagnóstico realizado;
Destacar:
- se os professores elaboram coletivamente as ações, pro-
- as ações, programas e projetos que apresentaram conse-
gramas e/ou projetos;
quências positivas;
- se os professores experimentam novos materiais e se inte-
- as ações, programas e projetos que apresentaram dificul-
ressam por experiências bem-sucedidas;
dades no desenvolvimento para alunos e professores;
- se os professores introduziram mudanças na prática peda-
- as consequências do Plano de Gestão Escolar na relação
gógica;
entre a escola e a comunidade; direção, professores e alu-
nos, e entre os alunos; - se a seleção de materiais e estratégias mostrou-se ade-
quada aos objetivos propostos.
- as consequências do Plano de Gestão Escolar na relação
entre a escola e demais parceiros. A avaliação da participação dos alunos deve verificar:
A avaliação dos efeitos do Plano de Gestão Escolar e do Projeto - se os alunos demonstram maior interesse pelas (e nas) au-
Pedagógico na aprendizagem dos alunos, implica verificar: las;
- a melhoria de aprendizagem dos alunos da escola e, em - se os alunos estão alcançando os objetivos propostos nos
particular, dos grupos que receberam tratamento diferenci- Planos Pedagógicos.
ado;
A avaliação da etapa final do Projeto Pedagógico deve:
- o nível de envolvimento dos professores, alunos e comuni-
- identificar as ações que tiveram efeito positivo;
dade com as propostas desenvolvidas;
- analisar os indicadores de desempenho dos alunos para
- o progresso de cada aluno e, particularmente, o dos alunos
verificar em que aspectos apresentam melhora;
que apresentavam dificuldades por meio de trabalhos e
produções individuais; dos exercícios, situações-problema’’, - analisar os indicadores de desempenho dos alunos para
tarefas realizadas; da observação da evolução do compor- verificar as dificuldades que persistem;
tamento no que se refere à participação de cada aluno nas - identificar os obstáculos que se colocaram durante o de-
atividades em classe e em outros ambientes. senvolvimento do Projeto Pedagógico.
A avaliação dos efeitos do Plano de Gestão Escolar e do Projeto Considerando que Gestão Escolar Democrática implica:
Pedagógico sobre a equipe escolar e os professores e analisa como
eles contribuíram para a formação continuada dos professores e como a) a utilização, racional e eficaz, dos recursos humanos, mate-
se pode aperfeiçoar ambos os processos de gestão, no que se refere: riais e financeiros destinados à realização da ação instituci-
onal;
- à disposição para utilizar plenamente o tempo, os espaços
educativos e os materiais; b) a necessidade de erradicar as práticas hierarquizadas, au-
toritárias e excessivamente burocráticas do sistema educa-
- à coordenação das atividades e à divisão de tarefas; cional;
- à qualidade e à compreensão das informações sobre o c) democratizar as práticas de gestão administrativa, financei-
Plano de Gestão Escolar e o Projeto Pedagógico; ra e pedagógica da escola;
- ao aperfeiçoamento dos Conselhos de Classe e dos pro-
cedimentos de avaliação, usados pelos professores;
FICAM ESTABELECIDOS, ENTÃO OS SEGUINTES PRINCÍPIOS DE
- ao envolvimento da comunidade; GESTÃO ESCOLAR DEMOCRÁTICA:
- ao envolvimento dos alunos; 1 A Democracia tem que ser um exercício de cidadania na prática
- à melhoria do relacionamento da equipe escolar, técnicos, da escola cidadã, e deverá ser revista periodicamente por meio de
professores e comunidade; avaliação do trabalho gestor e do Conselho Escolar, além de outras
atitudes e métodos democráticos.
- ao aperfeiçoamento da prática docente;
2 A autonomia em uma gestão escolar democrática deve ser
- à aquisição de conhecimentos teóricos e pedagógicos pe-
garantida a partir da eleição direta para diretor e vice-diretor,
los professores por meio de esforço pessoal, do trabalho
reconhecendo-se que a escola faz parte de um sistema educacional
em equipe ou da formação continuada.
7.1 A escola cidadã precisa criar e programar estratégias para 16 A gestão deve incentivar e viabilizar a formação permanente
conscientizar aos pais sobre os problemas reais da escola e sobre a dos vários segmentos da comunidade escolar, articulando-se
atuação dos mesmos no Conselho Escolar. politicamente com a Secretaria Municipal de Educação, de modo a
possibilitar a realização de estudos e outros espaços coletivos para a
8 A gestão democrática da escola deve, além de valorizar,
reflexão e o debate político-pedagógico e científico, sempre que
incentivar e fazer acontecer o trabalho em equipe na escola, garantir a
possível.
abertura de espaços de integração da comunidade, que contribuam
para a construção da gestão democrática. 17 O Conselho Escolar deve participar nas decisões
administrativas, pedagógicas e financeiras que envolvem a vida da
9 A gestão deve valorizar os projetos condizentes com a
escola, contribuindo democraticamente para legitimação das mesmas.
realidade da escola, buscando consenso em torno das propostas que
sejam comuns e representem, em primeira instância, as necessidades 18 Na Gestão democrática a ética, tal como caracterizada nos
da maioria. princípios de convivência, é fundamental no sentido de estabelecer a
humanização, o respeito, a valorização profissional e o compromisso
10 A gestão escolar democrática deve ser transparente nas suas
com a educação.
ações administrativa, pedagógica e financeira, socializando as
informações. Neste sentido: 19 O gestor da escola, juntamente com os órgãos municipais
competentes, devem oferecer condições para que o processo de
10.1 A comunidade deve ser incentivada a conhecer as leis que
inclusão da criança portadora de necessidades especiais na escola
regem a administração pública escolar;
esteja alicerçado com recursos humanos especializados na área em
10.2 devem ser criadas estratégias no sentido de oferecer questão, assim como recursos materiais e físicos para um melhor
condições e horários adequados à comunidade escolar, dentro da carga atendimento.
horária do professor, para que possam participar dos processos de
20 A gestão democrática deve buscar a melhoria da qualidade do
tomadas de decisões, onde o diálogo e a busca de consenso devem
ensino onde o conhecimento seja instrumento para a compreensão e
nortear as discussões;
intervenção na realidade. Um espaço efetivo do crescimento humano,
O alcance desses objetivos não é tarefa apenas da escola, mas A equipe escolar depende dos pais de alunos para ter sucesso,
dos diferentes atores sociais diretamente conectados com ela: assim como os pais de alunos dependem da equipe escolar para que
educadores, pais, associações, empresas etc. Descentralizar as seus filhos tenham uma experiência satisfatória de convívio com
decisões de forma que a escola tenha maior autonomia implica, por um crianças e adultos fora do circulo familiar e para que desenvolvam a
lado, permitir a interpretação e operacionalização local das políticas curiosidade e a capacidade de aprender. O sucesso da escola depende
centrais e, por outro, levar em conta a multiplicidade dos atores e do clima institucional, da competência didático-pedagógica da escola e
interesses presentes. da resposta dos alunos. Mas a verdade é que todos esses três fatores
estão condicionados ao entrosamento entre escola e famílias.
Para lograr isso, o projeto da escola que visa uma efetiva gestão
participativa busca coerência entre as diferentes instâncias: A autonomia melhora muito as condições de integração dessas
duas metades da educação porque institui a gestão participativa, que
• no interior da própria escola, entre os diferentes atores,
submete os processos decisórios às diferentes perspectivas dos
respeitando identidades e valores, de modo a desenvolver
professores, dirigentes, funcionários e pais de alunos. Com isso, ela
o trabalho coletivo em torno de objetivos comuns;
não só aumenta a sintonia entre as varias partes, como melhora a
• entre a escola e a comunidade, incluindo pais, lideranças, qualidade das decisões.
políticos, empresas etc.; e
A gestão participativa abrange diferentes níveis e áreas da
• entre as demandas em nível local, regional e nacional. administração escolar. O nível mais alto tem estatura equivalente à da
O projeto de escola dá coerência às atividades em todos os Diretoria da escola e é o do Colegiado Escolar (também chamado de
níveis e possibilita aos diferentes atores e grupos de trabalho agirem na Conselho de Escola, Associação de Pais e Mestres, Círculo de Pais e
mesma direção. Ele implica um conjunto de consensos, a abertura Professores, ou outras denominações). Este é o tema central deste
para a comunidade e a agregação de diferentes parceiros, fornecendo módulo. Outros dois colegiados são os Conselhos de Classe, que
os meios para que estes conheçam o sentido da ação comum a ser acompanham as atividades pedagógicas da escola, e os Conselhos
conduzida. Na verdade, implica a gestão participativa. Fiscal e Deliberativo da Unidade Executora, responsável pela
administração dos recursos financeiros da escola. Além deles, há as
Para delinear tal projeto, é fundamental conhecer as expectativas Assembleias Gerais onde se definem as candidaturas aos postos
dessa comunidade, suas necessidades, formas de sobrevivência, eletivos e se aprovam regimentos e estatutos ou as revisões desses
valores, costumes, manifestações culturais e artísticas. documentos.
É através desse conhecimento que a escola pode atender a Nada impede que a escola crie outros órgãos coletivos para
comunidade e auxiliá-la a ampliar seu instrumental de compreensão e funções consultivas e/ou deliberativas, temporárias ou permanentes
transformação do mundo. (por exemplo, uma comissão para melhorar e supervisionar a qualidade
e valor nutritivo da merenda escolar, ou um colegiado que supervisione
• Os suplentes são portanto escolhidos dentro do mesmo Os membros-titulares e suplentes do Colegiado têm uma grande
segmento que elegeu os titulares. Eles podem estar pre- responsabilidade. São eleitos em uma Assembleia Geral e devem
sente nas reuniões do Colegiado e manifestar suas opini- representar, nas reuniões, o segmento que os elegeu, sem perder
ões, mas não têm direito de voto, quando o titular estiver nunca de vista o interesse maior da escola que é o de atender às
presente. necessidades de seus alunos. Para isso, devem se preparar para as
reuniões e consultar os seus “pares” (o segmento que os elegeu) antes
• O Vice-Diretor é o suplente do Diretor na Presidência do
e depois das reuniões. Além disso, é fundamental que conheçam
Colegiado e não pode representar nenhum segmento da
profundamente a escola e seus usuários - os alunos e suas famílias.
escola.
Devem consultar a legislação e outros textos que sirvam de orientação
• Quando o Colegiado perde definitivamente um membro titu- do que é exigido; devem estar informados sobre outras escolas e a
lar, o suplente assume o cargo de membro-titular em cará- Secretaria Municipal de Educação.
ter definitivo e o Colegiado preenche a vaga com o candi-
É muito importante que o Diretor entregue a pauta das reuniões
dato que obteve mais votos entre os que não chegaram a
com bastante antecedência para que haja tempo de os membros se
assumir nenhuma suplência ou, se não houver excedentes,
prepararem e convocarem uma reunião prévia com os seus respectivos
convoca eleição no segmento para eleger o suplente.
segmentos. A Direção da escola deve oferecer o espaço para essas
• Como medida preventiva, os resultados completos da elei- reuniões.
ção devem ser registrados na Ata da 1a Assembleia do ano.
Quais são os textos legais mais importantes?
Todos os candidatos devem estar listados com o número
de votos obtidos, de modo a que se possa recorrer a esta Todas as ações escolares devem ser condizentes com os
relação em caso de necessidade de substituição. seguintes textos legais:
• a Constituição Estadual,
Há algumas situações concretas que merecem comentário. Por • as normas do Conselho Nacional de Educação
exemplo, se a escola só possui um especialista, ele deve ser
• as normas do Conselho Estadual da Educação
automaticamente incorporado como membro do Colegiado. Se um
funcionário for também pai de aluno, ele deve buscar se eleger pelo • o Estatuto da Criança e do Adolescente
segmento dos funcionários para permitir que os representantes dos • a Constituição Federal;
pais tragam perspectivas de fora da escola.
• a política (resoluções, portarias, programas) da Secretaria
O Colegiado só existe quando está reunido. Ele não possui de Estado de Educação e/ou da Secretaria Municipal da
funções executivas ou administrativas permanentes. Por isso, todos os Educação
seus membros têm a mesma função e o mesmo direito de participação.
Todos esses textos devem estar arquivados para consulta do
Colegiado e outros membros da comunidade interna e externa da
Todas as unidades escolares deverão encaminhar às Diretorias Quem escolhe os representantes dos alunos no Conselho de
de Ensino, a composição do Conselho de Escola até 31 de março de Escola são os próprios alunos, através de eleição entre os seus pares.
cada ano letivo. Para participar do Conselho de Escola não é necessário
O Conselho de Escola é presidido pelo Diretor da Escola e terá contribuir com a APM. Lembramos que a contribuição para a APM é
um total mínimo de 20 (vinte) e máximo de 40 (quarenta) componentes. sempre voluntária.
• a organização e funcionamento de escola, de acordo com A APM, instituição auxiliar da escola, é uma associação civil, com
as orientações da SME sobre: personalidade jurídica própria e, portanto, responsável pelos seus atos.
É representada pelo seu Diretor Executivo. Este responde pela
a. o atendimento e acomodação da demanda, turnos, distribuição de
Associação, até mesmo em Juízo.
séries e classes, utilização do espaço físico;
A APM não se confunde com o Diretor de Escola. Entretanto,
b. a fixação de critérios para ocupação do prédio e suas instalações,
este é o presidente nato do seu Conselho Deliberativo e, nessa
condições para sua preservação, cessão para outras atividades
qualidade, bem como na qualidade de diretor da escola, tem o dever de
que não de ensino e de interesse da comunidade; e
zelar pelo bom andamento dos trabalhos da associação, observando
c. a análise, aprovação e acompanhamento de projetos propostos seus funcionários, orientando seus membros e prestando colaboração,
pelos professores. sem, porém, assumir, sozinho, as funções de seus membros.
O Conselho de Escola dá parecer sobre: Portanto, nem pode alienar-se e nem pode, assumir, sozinho,
• a ampliação e reformas no prédio; funções que não lhe competem.
• os problemas entre o corpo docente, entre alunos, entre Se forem constatadas fraudes nas atividades da APM, o Diretor
funcionários que estejam prejudicando o projeto pedagógi- poderá pedir, aos órgãos competentes, a intervenção na APM. Esse
co da unidade; processo será desenvolvido pelo Grupo de Verificação e Controle das
Atividades Administrativas e Pedagógicas da Secretaria da Educação.
• as posturas individuais de qualquer segmento que colo-
quem em risco as diretrizes e metas deliberadas; e Quem determina a intervenção é o Secretário da Educação.
• as penalidades a que são sujeitos funcionários, alunos, A APM precisa ser registrada. Portanto, verificar se a Associação
sem prejuízo de recorrência a outras instâncias. e, também, a ata da eleição, foram registradas em cartório de títulos e
documentos.
O Conselho de Escola, ainda:
O documento que indica como cadastrar a APM no Programa de
• elabora, conjuntamente com a equipe de educadores, o ca- Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental é a Resolução
lendário escolar e projeto pedagógico da unidade, observa- 5 de 06/04/98 do Conselho Deliberativo da FNDE.
das as normas oficiais;
A APM é obrigada a expor seus balanços e balancetes, na
• aprecia os relatórios anuais da Unidade; e escola, em local de fácil acesso à comunidade.
• acompanha o desenvolvimento do projeto pedagógico. Esses balanços deverão estar devidamente verificados e
Como se organizam as reuniões do conselho de escola assinados pelos membros do Conselho Fiscal, pelo Diretor Executivo,
Diretor Financeiro, Diretor de Escola. Ao final do mandato da Diretoria
Com relação ao seu tipo: Há dois tipos de reunião de Conselho
Executiva, que é de um ano, a prestação de contas deverá ser feita
de Escola: ordinárias e extraordinárias:
diretamente em Assembleia Geral (após a apreciação do Conselho
As reuniões ordinárias ocorrem de dois em dois meses (com Fiscal).
datas marcadas no ato da posse); e
Manter funcionário sem registro em carteira é um
As reuniões extraordinárias ocorrem quando necessário, por descumprimento das leis trabalhistas, do que advirá, em algum
convocação da direção ou de 1/3 dos membros. momento, multas em eventuais fiscalizações. Por outro lado, a
dispensa de funcionários, sem registro em carteira, mesmo quando a
Com relação ao funcionamento das reuniões:
APM tenha pago todos os direitos, poderá gerar reclamações
• Em todas as reuniões deverá ter pauta, aprovada no início, trabalhistas, obrigando a instituição a pagar pesadas indenizações.
e redigida a ata que será afixada em lugar visível na unida-
de;
Pais de ex-alunos, ex-alunos maiores de 18 anos, ex- IV - colaborar na programação do uso do prédio da escola pela
professores, demais membros da comunidade, podem ser sócios da comunidade, inclusive nos períodos ociosos, ampliando-se o conceito
APM na categoria de sócios admitidos. de escola como “Casa de Ensino” para “Centro de Atividades
Comunitárias”;
Um Conselheiro da APM poderá ser reconduzido por duas vezes,
além do primeiro mandato. Ou seja, ele poderá ser eleito conselheiro V - favorecer o entrosamento entre pais e professores
por três mandatos consecutivos. possibilitando:
Cada Diretor só poderá ser reconduzido uma vez, para o mesmo a)- aos pais, informações relativas tanto aos objetivos
cargo. educacionais, métodos e processos de ensino, quanto ao
aproveitamento escolar de seus filhos;
O membro da Diretoria perderá o mandato se faltar a 3 (três)
reuniões consecutivas, sem causa justificada (art. 33, § 1°). b)- aos professores, maior visão das condições ambientais dos
alunos e de sua vida no lar.
O CNPJ (ex-CGC) para a APM poderá ser obtido da seguinte
forma: leva-se ao órgão da Receita Federal a ata de eleição da 3 - RECURSOS
diretoria, com firma reconhecida e registrada em Cartório de Registro
Os meios e recursos para atender os objetivos da APM, serão
de Títulos e Documentos, anexando cópia do Estatuto Padrão da APM.
obtidos através de:
A APM pode cobrar mensalidade dos alunos?
I - contribuição dos associados (Contribuições facultativa de
Compulsoriamente, não. Pode solicitar, no entanto, a matriculas e sua renovação) - O caráter facultativo das contribuições
contribuição espontânea, desde que não a vincule à matrícula ou não isenta os associados do dever moral de, dentro de suas
frequência dos alunos. possibilidades, cooperar para a constituição do fundo financeiro da
Associação.
O cargo de Diretor Financeiro será sempre ocupado por pai de
aluno. II – convênios (com outras associações, por exemplo)
Resumo do Estatuto Padrão das Associações de Pais e Mestres III - subvenções diversas;
(APM)
IV – doações ( de instituições públicas e de pessoas físicas ou
1 - MISSÃO DA APM jurídicas);
A APM, instituição auxiliar da escola, terá por finalidade colaborar V - promoções diversas ( festas etc);
no aprimoramento do processo educacional, na assistência ao escolar
4 - DOS ASSOCIADOS
e na integração família-escola-comunidade. Como entidade com
objetivos sociais e educativos, não terá caráter político, racial ou O quadro social da APM, constituído por número ilimitado de
religioso e nem finalidades lucrativas. associados, será composto de:
1. É vedado aos Conselheiros e Diretores da APM: 2) escolha dos membros da diretoria e seus suplentes;
Em primeiro lugar, discute o que é filosofia, articulando-a, A Filosofia deve propiciar um modo coerente de agir, já que parte
posteriormente, com a educação. de uma forma coerente de interpretar o mundo.
Aspectos Filosóficos da Educação “A Filosofia se manifesta ao ser humano como uma forma de
entendimento que tanto propicia a compreensão da sua existência, em
LUCKESI, Cipriano (1990). Filosofia da Educação. São Paulo: Cortez.
termos de significado, como lhe oferece um direcionamento para a sua
FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO ação, um rumo para seguir ou, ao menos, para lutar por ele. Ela
Este livro foi elaborado com o propósito de servir como material estabelece um quadro organizado e coerente de “visão de mundo”
de apoio para cursos de formação do magistério. O autor objetivou sustentando, consequentemente, uma proposição organizada e
discutir a Filosofia da Educação vinculada diretamente com a prática coerente para o agir. Nós não “agimos por agir”. Agimos, sim, por uma
docente, refletindo-a e buscando ter clareza do seu significado, certa finalidade, que pode ser mais ampla ou mais restrita. As
discutindo a didática como um elemento articulador dos aspectos finalidades restrita são aquelas que se referem à obtenção de
teóricos e filosóficos da educação com o exercício docente. benefícios imediatos, tais como: comprar um carro, assumir um cargo.
Segundo Anísio Teixeira (p.31), abordando filosofia como forma Educação e Sociedade: redenção, reprodução e transformação
de vida de um povo, “muito antes que as filosofias viessem Para que possamos entender que sentido devemos dar à
expressamente a ser formuladas em sistemas, já a educação, como educação dentro de uma sociedade, num primeiro momento, devemos
processo de perpetuação da cultura, nada mais era do que o meio de buscar compreendê-la bem como ao seu direcionamento.
se transmitir a visão do mundo e do homem, que a respectiva
sociedade honrasse e cultivasse.” São três as tendências filosófico-políticas da educação
necessárias a nossa compreensão: a educação como redenção, como
Percebemos uma preocupação com o aspecto educacional desde reprodução e como transformação da sociedade. Filosóficas, porque
os pré-socráticos. Citamos os sofistas, que foram educadores, e os compreendem o seu sentido, e políticas porque constituem um
primeiros a receberem uma remuneração para ensinar. O próprio direcionamento para sua ação.
Sócrates morreu em função do seu ideal de educar e estabelecer uma
moralização grego-ateniense. 1 - Educação como redenção da sociedade
Tanto a Filosofia como a Educação estão presentes em todas as Esta tendência concebe a sociedade como composta por
sociedades, de forma sistematizada ou não, a primeira refletindo as indivíduos que convivem em um todo orgânico e harmonioso, ocorrendo
aspirações humanas e a outra como instrumento veiculador dessa alguns desvios, sejam eles grupais ou individuais. Para a manutenção
reflexão. desta sociedade, deve-se integrar os indivíduos novos (novas
gerações) ou que estão a sua margem, adaptando-os aos seus
Luckesi (p. 32) releva que “a Filosofia fornece à educação uma parâmetros.
reflexão sobre a sociedade na qual está situada, sobre o educando, o
educador e para onde esses elementos podem caminhar. O papel da educação seria o de redentora da sociedade, sendo
quase que exterior a ela, tendo como finalidade a (re) integração
Nas relações entre Filosofia e educação só existem realmente harmônica do indivíduo ao seu meio, ou seja, no todo social. Deve,
duas opções: ou se pensa e se reflete sobre o que se faz e assim se segundo referência do autor a Saviani (p. 38) ”reforçar os laços sociais,
realiza uma ação educativa consciente; ou não se reflete criticamente e promover a coesão social e garantir a integração de todos os indivíduos
se executa uma ação pedagógica a partir de uma concepção mais ou no corpo social.”.
menos obscura e opaca existente na cultura vivida do dia-a-dia - e
assim se realiza uma ação educativa com baixo nível de consciência.
A aprendizagem na concepção , pode assim ser entendida como Não há, na concepção ambientalista, preocupação em explicar os
o processo pelo qual o comportamento é modificado com resultado da processos através dos quais a criança raciocina e que estariam
experiência. Além das condições já mencionadas para que a presentes na forma como ela se apropria de conhecimentos.
aprendizagem se dê - estabelecimento de associações entre um
1.3 A Concepção Interacionista: Piaget e Vygotski
estímulo e uma resposta e entre uma resposta e um reforçador - é
importante que se leve em conta o estado fisiológico e psicológico do Para os psicólogos interacionistas o organismo e o meio exercem
organismo. ação recíproca. Um influencia o outro e essa interação acarreta
mudanças sobre o indivíduo. É, pois, na interação da criança com o
Para que a aprendizagem ocorra é preciso, portanto, que se
mundo físico e social que as características e peculiaridades desse
considere a natureza dos estímulos presentes na situação, tipo de
mundo vão sendo conhecidas. Para cada criança, a construção desse
resposta que se espera obter e o estado físico e psicológico do
conhecimento exige elaboração , ou seja, uma ação sobre o mundo.
organismo. É ainda importante aquilo que resultará da própria
aprendizagem: mais conhecimento , elogios, prestígios , notas altas etc. A concepção interacionista de desenvolvimento apoia-se ,
portanto, na ideia de interação entre organismo e meio e vê a aquisição
Na visão ambientalista, a ênfase está em propiciar novas
de conhecimento como um processo construído pelo indivíduo durante
aprendizagens, por meio da manipulação dos estímulos que atendem e
toda a sua vida, não estando pronto ao nascer nem sendo adquirido
sucedem o comportamento. Para tanto, é preciso uma análise rigorosa
passivamente graças às pressões do meio.
da forma como indivíduos atuam em seu ambiente, identificando os
estímulos que provocam o aparecimento do comportamento-alvo e as Tomaremos duas correntes teóricas no interacionismo: a
consequências que o mantém. A esta análise dá-se o nome de análise elaborada por Piaget e seus seguidores e a defendida por teóricos
funcional do comportamento. Nela defende-se o planejamento das soviéticos, em especial por Vygotski. Estas duas correntes serão
condições ambientais para a aprendizagem de determinados brevemente analisadas, apontando-se suas semelhanças e diferenças.
comportamentos. A Teoria de Jean Piaget
A introdução de teorias ambientalistas na sala de aula teve o Jean Piaget ( 1896-1980) é o mais conhecido dos teóricos que
mérito de chamar a atenção dos educadores para a importância do defendem a visão interacionista de desenvolvimento. Formado em
planejamento de ensino. A organização das condições para que a biologia e Filosofia, dedicou-se a investigar cientificamente como se
aprendizagem ocorra exige clareza a respeito dos objetivos que se quer forma o conhecimento. Ele considerou que se estudasse cuidadosa e
alcançar, a estipulação da sequência de atividades que levarão ao profundamente a maneira pela qual as crianças constroem as noções
objetivo proposto e a especificação dos reforçadores que serão fundamentais de conhecimento lógico - tais como as de tempo, espaço,
utilizados. A concepção ambientalista da educação valoriza o papel do objeto, causalidade, etc. - poderia compreender a gênese ( ou seja, o
professor, cuja importância havia sido minimizada na abordagem nascimento ) e a evolução do conhecimento humano.
inatista . Coloca em suas mãos a responsabilidade de planejar,
organizar e executar - com sucesso - as situações de aprendizagem. Inicialmente, Piaget trabalhou com dois psicólogos franceses,
Binet e Simon, que, por volta de 1905, tentavam elaborar um
Por outro lado, as teorias ambientalistas tiveram também efeitos instrumento para medir a inteligência das crianças que frequentavam as
nocivos na prática pedagógica. A educação foi sendo entendida como escolas francesas. Tal instrumento - o teste de inteligência Binet-Simon
tecnologia, ficando de lado a reflexão filosófica sobre a sua prática. A - foi o primeiro teste destinado a fornecer a idade mental de um
ênfase na tecnologia educacional exigia do professor um profundo indivíduo e é o primeiro teste destinado a fornecer a idade mental de
conhecimento dos fatores a serem considerados numa programação um indivíduo, e é até hoje utilizado, depois de ter sofrido sucessivas
de ensino, contudo tal conhecimento não era transmitido a eles. adaptações. Ao analisar as respostas das crianças do teste, Piaget
Programar o ensino deixou de ser uma atividade cognitiva de pesquisar começou a se interessar pelas respostas erradas das crianças,
condições de aprendizagem para se tornar uma atividade meramente salientando que estas só “erravam” porque as respostas eram
formal de colocar os projetos de aula numa fórmula-padrão. analisadas a partir de um ponto de vista do adulto.
A principal crítica que se faz ao ambientalismo é quanto à própria Na verdade as respostas infantis seguiam uma lógica própria.
visão de homem adotada: a seres humanos como criaturas passivas
face ao ambiente, que podem ser manipuladas e controladas pela Piaget concebeu, então, que a criança possui uma lógica de
simples alteração das situações em que se encontram. Nesta funcionamento mental que difere - qualitativamente - da lógica do
concepção , não há lugar para a criação de novos comportamentos. funcionamento mental do adulto. Propôs-se consequentemente a
investigar como, através de quais mecanismos, a lógica infantil se
Na sala de aula , ela acarretou um excessivo diretivismo por parte transforma em lógica adulta. Nessa investigação, Piaget partiu de uma
dos adultos. Deixou-se de valorizar e fazer uso de situações onde a
Ao reconhecer a imensa diversidade nas condições histórico- Para Vygotski, o processo de desenvolvimento nada mais é do
sociais em que as crianças vivem, Vygotski não aceita a possibilidade que a apropriação ativa do conhecimento disponível na sociedade em
de existir uma sequência universal de estágios cognitivos, como que a criança nasceu. É preciso que ela aprenda e integre em sua
propões Piaget. Para Vygotski, os fatores biológicos preponderam maneira de pensar o conhecimento da sua cultura. O funcionamento
sobre os sociais apenas no início da vida das crianças e as intelectual mais complexo desenvolve-se graças a regulações
oportunidades que se abrem para cada uma delas são muitas e realizadas por outras pessoas que, gradualmente, são substituídas por
variadas, adquirindo destaque, em sua teoria, as formas pelas quais as auto-regulações. Em especial, a fala é apresentada, repetida e refinada,
condições e as interações humanas afetam o pensamento e o acabando por ser internalizada, permitindo à criança processar
raciocínio. informações de uma forma mais elaborada.
Para Vygotski, o processo de formação de pensamento é, Do ponto de vista de DAVIS, C. e OLIVEIRA, Z. (1997), tanto
portanto, despertado e acentuado pela vida social e pela constante Piaget com o Vygotski concebem a criança como um ser ativo, atento,
comunicação que se estabelece entre crianças e adultos, a qual que constantemente cria hipóteses sobre o seu ambiente. Há, no
permite a assimilação da experiência de muitas gerações. entanto, grandes diferenças na maneira de conceber o processo de
desenvolvimento. As principais delas, em resumo, são as seguintes:
Como foi citado por DAVIS, C. e OLIVEIRA, Z. (1997), a
linguagem segundo Vygotski intervém no processo de desenvolvimento a) Quanto ao papel dos fatores internos e externos no
intelectual da criança praticamente já desde o nascimento. Quando os desenvolvimento
adultos nomeiam objetos, indicando para a criança as várias relações
Piaget privilegia a maturação biológica; Vygotski, o ambiente
que estes mantêm entre si ela constrói formas mais complexas e
social. Piaget, por aceitar que o fatores internos preponderam sobre os
sofisticadas de conceber a realidade. Sozinha, não seria capaz de
externos, postula que o desenvolvimento segue uma sequência fixa e
adquirir aquilo que obtém por intermédio de sua interação com os
universal de estágios. Vygotski, ao salientar o ambiente social em que a
adultos e com as outras crianças, num processo em que a linguagem é
criança nasceu, reconhece que, em se variando esse ambiente, o
fundamental.
desenvolvimento também variará. Neste sentido, para este autor, não
Desenvolvimento e aprendizagem se pode aceitar uma visão única, universal, de desenvolvimento
humano.
Vygotski considera três teorias principais que discute a relação
entre desenvolvimento e aprendizagem. Na primeira, desenvolvimento b) Quanto à construção real
é encarado como um processo maturacional que ocorre antes da
Piaget acredita que os conhecimentos são elaborados
aprendizagem, criando condições para que esta se dê. É preciso haver
espontaneamente pela criança, de acordo com o estágio de
um determinado nível de desenvolvimento para que certos tipos de
desenvolvimento em que esta se encontra. A visão particular e peculiar
aprendizagem sejam possíveis. Esta é, em essência, a posição
(egocêntrica) que as crianças mantêm sobre o mundo vai,
defendida por Piaget. Na segunda teoria, a comportamentalista ou
progressivamente, aproximando-se da concepção dos adultos; torna-se
behaviorista, a aprendizagem é desenvolvimento, entendido como
socializada, objetiva. Vygotski discorda de que a construção do
acúmulo de respostas aprendidas. Nessa concepção, o
conhecimento proceda do individual para o social. Em seu entender a
desenvolvimento ocorre simultaneamente à aprendizagem, ao invés de
criança já nasce num mundo social e, desde o nascimento, vai
precedê-la. O terceiro modelo teórico sugere que desenvolvimento e
formando uma visão desse mundo através da interação com adultos ou
aprendizagem são processos independentes que interagem, afetando-
crianças mais experientes. A construção do real é, então, mediada pelo
se mutuamente: aprendizagem causa desenvolvimento e vice-versa.
interpessoal antes de ser internalizada pela criança. Desta forma,
Para Vygotski, no entanto, nenhuma das propostas acima é procede-se do social para o individual, ao longo do desenvolvimento.
satisfatório, muito embora ele reconheça que aprendizagem e
c) Quanto ao papel da aprendizagem
desenvolvimento sejam fenômenos distintos e interdependentes, cada
um tornando o outro possível. Questionando a interação entre estes Piaget acredita que a aprendizagem subordina-se ao
dois processos, Vygotski aponta o papel da capacidade do homem de desenvolvimento e tem pouco impacto sobre ele. Com isso, ele
entender e utilizar a linguagem. minimiza o papel da interação social. Vygotski, ao contrário, postula que
desenvolvimento e aprendizagem são processos que se influenciam
Assim vê a inteligência como habilidade para aprender,
reciprocamente, de modo que, quanto mais aprendizagem, mas
desprezando teorias que concebem a inteligência como resultado de
desenvolvimento.
aprendizagens prévias, já realizadas. Para ele, as medidas tradicionais
de desenvolvimento, que se utilizam de testes psicológicos
Segundo Piaget, o pensamento aparece antes da linguagem, que Na criança, as possibilidades de crescimento existem como
apenas é uma das formas de expressão. A formação do pensamento capacidade biopsicológicas potenciais. Dessa maneira, a realização
depende, basicamente, da coordenação dos esquemas efetiva dessas capacidades depende das condições sócio-culturais
sensoriomotores e não da linguagem. Esta só pode ocorrer depois que disponíveis. É diferente se a mesma criança for colocada para viver
a criança já alcançou um determinado nível de habilidades mentais, num ambiente com boa alimentação e condições sanitárias adequadas,
subordinando-se, pois aos processos de pensamento. A linguagem onde existem oportunidades para viver situações de trabalho e de
possibilita à criança evocar um objeto ou acontecimento ausente na prática de esportes, ou em outro ambiente onde estas características
comunicação de conceitos. Piaget, todavia, estabeleceu uma clara não se encontram presentes.
separação entre as informações que podem ser passadas por meio da
É importante salientar que um menino ou menina desnutrida, por
linguagem e os processos que não parecem sofrer qualquer influência
sofrer uma diminuição sensível em seu tônus muscular, apresentem
dela. Este é o caso das operações cognitivas que não podem ser
características tais como apatia, menor capacidade de concentração e
trabalhadas por meio de treinamento específico feito com o auxílio da
de atenção etc. Como consequência, o padrão de interação
linguagem. Por exemplo, não se pode ensinar, apenas usando
estabelecido com ele/ela é menos estimulante do que aquele que se
palavras, a classificar, a seriar, a pensar com reversibilidade.
mantém com uma criança robusta, alerta e atenta. Com isto, as trocas
Já para Vygotski, pensamento e linguagem são processos cognitivas e efetivas que a criança desnutrida poderia ter com seu
interdependentes, desde o início da vida. A aquisição da linguagem pela ambiente empobrecem-se, perdem o vigor.
criança modifica suas funções mentais superiores: ela dá uma forma
Por isso é possível considerar que o crescimento e o
definida ao pensamento, possibilita o aparecimento da imaginação, o
desenvolvimento são processos praticamente inseparáveis, ainda que
uso da memória e o planejamento da ação. Neste sentido, a linguagem,
distintos. A curva do crescimento nem sempre coincide com o do
diferentemente daquilo que Piaget postula, sistematiza a experiência
desenvolvimento. A primeira tende a atingir seu ponto mais alto quando
direta das crianças e por isso adquire uma função central no
a maturação biológica é alcançada. A curva do desenvolvimento, por
desenvolvimento cognitivo, reorganizando os processos que nele estão
outro lado, é contínua, acompanhando o homem durante toda a sua
em andamento.
vida.
2. Crescimento e desenvolvimento: o biológico em interação com
O processo de crescimento culmina com o aparecimento de um
o psicológico e o social
tipo de adulto previsto geneticamente. Já o processo de
Peter Pan (O menino que não queria crescer), sabia que crescer desenvolvimento propicia a construção do padrão de individualidade
significava tornar-se adulto, implicava ter que mudar sua aparência que caracteriza cada sociedade. Ambos os processos produzem, no
física e assumir novos papéis. Por isso Peter Pan queria continuar indivíduo, mudanças físicas, mentais, emocionais e sociais.
menino. Essa era a maneira de não enfrentar as mudanças que Compreender o crescimento e o desenvolvimento humano exige, assim
necessariamente viriam com o crescimento. Ora, quando se fala em que se pense no homem - e em si mesmo - não apenas do ponto de
crescimento, em geral as pessoas estão se referindo ao aspecto vista biológico mas, principalmente, como alguém que é historicamente
quantitativo da evolução humana. determinado.
As razões que provocam o crescimento e ocasionam tantas 3. Questionando o caráter inato da aptidão, prontidão e
modificações não são de todos conhecidas. Até hoje, por exemplo, não inteligência
há consenso entre os biólogos a respeito de por que as células
A teoria da aptidão é amplamente defendida pela ideologia das
crescem e se organizam. No entanto toda matéria viva tem
diferenças individuais. A aptidão é vista como um “dom”, uma certa
necessidade de manter um equilíbrio entre meio interno e meio externo,
habilidade inata, que se refere a um estado específico presente no ser
o crescimento pode ser entendido como uma das consequências das
humano. Todavia, muito embora seja verdade que existem diferenças
trocas entre organismo e meio. A alimentação, a luz, a temperatura e a
no potencial biológico dos indivíduos, não se pode aceitar a noção de
composição química do meio contribuem para a dinâmica de
que aptidão seja uma “disposição natural”, inata e herdade.
crescimento. De igual maneira, também os hormônios são importantes
para o equilíbrio dos diferentes órgãos e tecidos. Na verdade, se os educadores adotarem essa visão, estarão
prejudicando as crianças e adolescentes que frequentam a escola
O crescimento humano não é, desta maneira, mera manifestação
numa sociedade desigual como é a brasileira, onde as oportunidades
do biológico, mas também expressão da condições existentes no
de se desenvolver através da educação escolar não são uniformes.
mundo social, em especial, dos avanços técnicos e das conquistas
Justificar o fracasso ou o sucesso dos alunos através da teoria da
culturais.
aptidão - da crença de que uns são mais capazes do que outros para o
O crescimento humano ocorre dentro de um espaço em contínua estudo - é desconsiderar o grande peso exercido pelas condições de
transformação pela ação social. Nele, o psíquico e o biológico estão em vida da família e pela própria instituição escolar sobre a aprendizagem.
A linguagem também tem outra importante função: ela organiza, O fato de existirem diferentes formas de se registrar o
articula e orienta o pensamento. Quando a criança começa a designar pensamento indica que este pode ser representado, armazenado e
objetos e eventos do mundo exterior com palavras isoladas ou transmitido de várias maneiras. A forma de pensar que acaba por se
combinação de palavras, está descriminando esses objetos, esta impor ao longo do desenvolvimento intelectual da criança depende das
prestando atenção em suas características , podendo guardá-las na condições oferecidas pelo mundo ‘a sua volta: as atividades culturais
memória. Com isso, a criança está livre do aqui-e-agora: pode, com a disponíveis no ambiente, os interesses da família e da escola, os bens
ajuda da linguagem, relembrar situações passadas e prever eventos materiais aos quais se tem aceso e o papel desempenhado por adultos
futuros. Pode lidar com objetos , pessoas e fenômenos do ambiente, e professores. Aos poucos, o aprendiz vai construindo os conteúdos do
mesmo quando eles não se encontram presentes. A linguagem permite, seu pensamento e desenvolvendo uma forma de pensar que nada mais
assim, que o ser humano se distancie da experiência imediata, fato que é do que o produto da ação conjunta de todos estes fatores.
assegura o aparecimento da imaginação e do ato criativo.
Dessa forma o pensamento, enquanto busca constante de
Um outro aspecto essencial da linguagem é a palavra. significados e que permeia, contribui e dá forma a todas as atividades
humanas, pode se amparar em diferentes linguagens. Nota-se, no
As palavras não servem apenas para representar coisas e
entanto, que, qualquer que seja ela, os conteúdos do pensamento e
eventos. Na verdade, atuam no sentido de abstrair as propriedades e
sua forma de se expressar não constituem meros reflexos do mundo
características fundamentais das coisas e eventos a quais referem.
que rodeia a criança.
Com isso, tornam possível relacionar elementos semelhantes entre si e
agrupá-los em categorias. Dessa forma, propicia processos de A apreensão de novos conhecimentos requer, sobretudo, apoio
abstração e generalização que são muito importantes para o raciocínio. em estruturas e processos internos já desenvolvidos . Sobre esta base ,
noções e relações novas entrelaçam-se com relações e noções
A linguagem pode ser também considerada como um elemento
antigas, num processo ativo e dinâmico. Nesse sentido, todas as
central no processo de regulação do comportamento humano. Mas logo
modalidades de linguagem utilizadas pelo pensamento são importantes,
ela aprende a organizar e controlar seu próprio comportamento e a
na medida em que se promovem sua organização, orientação e
prever as consequências da sua ação futura, analisando-a à luz da
comunicação, ao longo da interação social.
experiência anterior, seja ela transmitida ou vivida. Desta forma, na
base do comportamento voluntário, encontra-se sempre a palavra, A linguagem na escola
ainda que não manifesta, evocando eventos passados e regulando
A linguagem , tanto oral quanto escrita, é fundamental na escola.
ações futuras.
Em especial, o ensino destinado aos meninos e meninas das camadas
Tal teoria da “deficiência” linguística deve ser criticada. Em No processo de conhecimento é preciso considerar a presença
primeiro lugar, ela não procura as causas do fracasso escolar nas de alguém que conhece - o sujeito - e de algo a ser conhecido - o
relações que se estabelecem entre educação e sociedade no sistema objeto. Entre o sujeito e o objeto do conhecimento estabelecem-se
capitalista. relações que requerem um elemento mediador. Esta ideia fica mais
clara quando fazemos uma comparação entre trabalho material e o
Nele, a função da escola não é a de eliminar as diferenças
trabalho intelectual.
sociais, mas adaptar os alunos às mesmas. Em segundo lugar, admitir
a existência de uma deficiência cultural nas populações de baixa renda Ambos exigem, para a sua realização, o emprego de
significa acreditar que elas possuem uma cultura inferior, fato já instrumentos que atuem como mediadores na relação sujeito/objeto .
bastante contestado pela Antropologia: todas as culturas possuem No trabalho material realizado sobre a natureza, a enxada, o serrote, o
integridade e coerência , não sendo possível, portanto, estabelecer torno, o tear são instrumentos “físicos” que permitem ao sujeito (
comparações( negativas ou positivas) de umas em relação a outras. lavrador , marceneiro, ceramista e tecelão) atuar sobre a matéria-prima.
Finalmente, todas as línguas atendem às necessidades e No trabalho intelectual, os principais instrumentos são os conceitos, ou
características da cultura a que servem, constituindo instrumentos seja, propriedades abstratas apreendidas a partir da interação com
efetivos de comunicação social. Assim, não há por que considerar que objetos ou eventos, em situações variadas.
existam linguagens “deficientes”.
A partir da aquisição da linguagem pela criança, os conceitos se
Uma outra teoria - a da “diferença” linguística - surge para se expressam através das palavras, que representam generalizações de
contrapor àquela que se acabou de expor. Nesta nova abordagem a objetos, eventos ou fenômenos. A palavra “gato” pôr exemplo, refere-se
linguagem das crianças das classes sociais desfavorecidas é a diferentes raças , cada uma com as suas peculiaridades, as quais são
reconhecida como diferente daquela empregada pelas crianças das abstraídas e resumidas no conceito “gato” , que é expresso pôr essa
classes privilegiadas , mas não como deficiente. Diferenças palavra. Entretanto, à medida que as crianças se desenvolvem, os
encontradas em testes de linguagem realizados com crianças dos dois conceitos expressos pelas palavras vão aos poucos ganhando graus
grupos sociais não se explicariam, nessa nova ótica, pôr inferioridade cada vez maiores de abstração e, consequentemente , de
linguística dos mais pobres. O problema estaria na forma como eles generalização. Isto significa que o sujeito aprende sempre novas
encaravam a situação de testarem. As crianças das famílias propriedades ou características do objeto, evento ou fenômeno,
trabalhadoras tenderiam a senti-la como uma ameaça e pôr isso se aumentando o seu conhecimento sobre ele e, em razão disso,
retrairiam. expandindo o alcance do conceito que exprime tal conhecimento. Gato,
mamífero, vertebrado, animal, ser vivo, constituem uma sequência de
Há ainda uma terceira teoria para explicar a questão, do “capital”
palavras que partindo do objeto concreto “gato”, adquirem cada vez
linguístico. Essa nova proposta questiona os pressupostos das teorias
maior abrangência, dependendo do grau de abstração e generalização
anteriores, segundo os quais a escola poderia ajudar a superar as
oferecido pelo conceito. Por exemplo, “ser vivo”, por ser mais abstrato e
diferenças sociais. Para ela, tanto a teoria da deficiência quanto a da
diferença linguística pecam por não investigarem as causas estruturais
Na escola, diferentemente das situações de experiência direta da Especialistas afirmam que o bebê humano nasce com uma
criança, a relação entre cada conceito e o objeto, fenômeno ou evento predisposição para interagir. Ele dispõe de certas estruturas orgânicas
a que se refere, se dará sempre mediante outros conceitos. A criança que o levam a privilegiar certos estímulos na sua relação com o meio.
aprende, por exemplo, que “a Terra é um planeta que gira em trono do Com isso, o bebê responde, sobretudo, a estímulos associados a
Sol”. Esta definição implica conceitos de “planeta” e de “movimento de outros seres humanos, como a face e as vozes. Assim é que desde
translação” que não são providos pela vivência imediata da criança . cedo, o recém-nascido distingue a voz humana do conjunto de sons
Como tais conceitos científicos se relacionam formando um sistema presentes no ambiente e rapidamente orienta-se para os traços do
conceitual, é a possibilidade de serem apreendidos como algo rosto humano colocado à sua frente. Suas estruturas perceptuais, por
integrado que lhes confere corpo, consistência e sistematicidade. Isso outro lado, são ativadas pelas ações dos adultos ao lhe responderem,
significa que a formação desse sistema conceitual está em estreita estabelecendo assim uma interdependência comportamental, desde o
dependência da aprendizagem de conceitos científicos veiculados na início, entre adulto e bebê.
escola, estendendo-se , só posteriormente, aos conceitos espontâneos A presença do adulto dá à criança condições físicas e
adquiridos na vida cotidiana. emocionais que a levam a explorar mais o ambiente e, portanto, a
Devemos considerar, que esses dois tipos de conceitos ( aprender. Por outro lado, a interação humana envolve também a
espontâneos e científicos) , emborca distintos, são mutuamente afetividade, a emoção, como elemento básico. Assim, é através da
relacionados. Os conceitos científicos possuem maior sistematicidade, interação com os indivíduos mais experientes do seu meio social que a
mas faltam-lhes a riqueza e diversidade de detalhes advindos da criança constrói as suas funções mentais superiores, como afirma
experiência pessoal. Os conceitos espontâneos, por sua vez, embora Vygotski, ou forma a sua personalidade, como defende Freud.
sejam plenos de significados , carecem de consciência e, portanto, de A teoria de Freud
poder ser empregados voluntariamente. A despeito, pois, de
desenvolverem-se em sentidos opostos, os conceitos científicos e Sigmund Freud (1856 -1939) foi um neuropsiquiatra austríaco
espontâneos se encontram intimamente relacionados. De fato, é que estudou o desenvolvimento emocional humano, criando um método
possível entender que os conceitos espontâneos da criança se de tratar os distúrbios psíquicos, chamado Psicanálise.
desenvolvem “de baixo para cima”( em direção a níveis cada vez mais Segundo Freud o bebê e a criança tem pouco controle sobre as
abstratos), enquanto os científicos o fazem “de cima para baixo” (em poderosas forças biológicas e sociais que agem sobre eles. É somente
direção a níveis cada vez mais concretos). através da experiência que eles vão aprendendo a lidar com elas,
Finalizando , os conceitos espontâneos e científicos influenciam- formando a sua personalidade.
se mutuamente, um dependendo para se desenvolverem na Na teoria freudiana, o que leva o indivíduo a agir é sua excitação
consciência da criança. energética, os seus instintos. A energia biológica, ou seja, o instinto -
4- O desenvolvimento afetivo fonte de todos os impulsos básicos do indivíduo - é o aspecto que se
encontra na base de todos os comportamentos, motivos e
Algumas crianças enfrentam sérias dificuldades em seu pensamentos. Todos eles seriam governados a partir de três fontes
desenvolvimento cognitivo e emocional. Não lhes é fácil abstrair e energéticas: a sexualidade ( libido) , os impulsos de autoconservação e
generalizar, sofrem inúmeros medos e problemas de relacionamento a agressão.
com outras crianças e adultos. É prudente, todavia, não se concluir que
todas as crianças com problemas de aprendizagem escolar são
Uma das alternativas mais ricas com que os adultos contam para O termo liberal não tem o sentido de “avançado”, “democrático”,
amparar e orientar as gerações mais novas é o trabalho supervisionado “aberto”, como costuma ser usado. A doutrina liberal apareceu como
em grupo, onde as diferentes crianças e jovens interagem em busca de justificação do sistema capitalista que, ao defender a predominância da
um objetivo comum, dividindo e compartilhando esforços. Durante as liberdade e dos interesses individuais da sociedade, estabeleceu uma
horas que passam juntos - tentando montar uma peça de teatro, forma de organização social baseada na propriedade privada dos meios
observar e descrever um experimento científico, organizar um jornal da de produção, também denominada sociedade de classes. A pedagogia
comunidade - os alunos se tornam mais conscientes de si mesmos, liberal, portanto, é uma manifestação própria desse tipo de sociedade.
Papel da escola – Num sistema social harmônico, orgânico e O essencial da tecnologia educacional é a programação por
funcional, a escola funciona como modeladora do comportamento passos sequenciais empregada na instrução programada, nas técnicas
humano, através de técnicas específicas. À educação escolar compete de microensino, multimeios, módulos etc. O emprego da tecnologia
organizar o processo de aquisição de habilidades, atitudes e instrucional na escola pública aparece nas formas de: planejamento em
conhecimentos específicos, úteis e necessários para que os indivíduos moldes sistêmicos, concepção de aprendizagem como mudança de
se integrem na máquina do sistema social global. Tal sistema social é comportamento, operacionalização de objetivos, uso de procedimentos
regido por leis naturais (há na sociedade a mesma regularidade e as científicos (instrução programada, audiovisuais, avaliação etc., inclusive
mesmas relações funcionais observáveis entre os fenômenos da a programação de livros didáticos).
natureza), cientificamente descobertas. Basta aplicá-las. A atividade da
Relacionamento professor-aluno – São relações estruturadas e
“descoberta” é função da educação, mas deve ser restrita aos
obje-tivas, com papéis bem definidos: o professor administra as
Conteúdos de ensino – As matérias são colocadas à disposição Pressupostos de aprendizagem – As formas burocráticas das
do aluno, mas não são exigidas. São um instrumento a mais, porque instituições existentes, por seu traço de impessoalidade, comprometem
importante é o conhecimento que resulta das experiências vividas pelo o crescimento pessoal. A ênfase na aprendizagem informal, via grupo, e
grupo, especialmente a vivência de mecanismos de participação crítica. a negação de toda forma de repressão visam favorecer o
“Conhecimento” aqui não é a investigação cognitiva do real, para extrair desenvolvimento de pessoas mais livres. A motivação está, portanto, no
dele um sistema de representações mentais, mas a descoberta de interesse em crescer dentro da vivência grupal, pois supõe-se que o
respostas às necessidades e às exigências da vida social. Assim, os grupo devolva a cada um de seus membros a satisfação de suas
conteúdos propriamente ditos são os que resultam de necessidades e aspirações e necessidades.
interesses manifestos pelo grupo e que não são, necessária nem
Somente o vivido, o experimentado é incorporado e utilizável em
indispensavelmente, as matérias de estudo.
situações novas. Assim, o critério de relevância do saber sistematizado
Método de ensino – É na vivência grupal, na forma de é seu possível uso prático. Por isso mesmo, não faz sentido qualquer
autogestão, que os alunos buscarão encontrar as bases mais tentativa de avaliação da aprendizagem, ao menos em termos de
satisfatórias de sua própria “instituição”, graças à sua própria iniciativa e conteúdo.
sem qualquer forma de poder. Trata-se de “colocar nas mãos dos
Outras tendências pedagógicas correlatas – A pedagogia
alunos tudo o que for possível: o conjunto da vida, as atividades e a
libertária abrange quase todas as tendências antiautoritárias em
organização do trabalho no interior da escola (menos a elaboração dos
educação, entre elas, a anarquista, a psicanalista, a dos sociólogos, e
programas e a decisão dos exames que não dependem nem dos
também a dos professores progressistas. Embora Neill e Rogers não
docentes, nem dos alunos)”. Os alunos têm liberdade de trabalhar ou
possam ser considerados progressistas (conforme entendemos aqui),
não, ficando o interesse pedagógico na dependência de suas
não deixam de influenciar alguns libertários, como Lobrot. Entre os
necessidades ou das do grupo.
estrangeiros devemos citar Vasquez e Oury entre os mais recentes,
O progresso da autonomia, excluída qualquer direção de fora do Ferrer y Guardia entre os mais antigos. Particularmente significativo é o
grupo, se dá num “crescendo”: primeiramente a oportunidade de trabalho de C. Freinet, que tem sido muito estudado entre nós, existindo
contatos, aberturas, relações informais entre os alunos. Em seguida, o inclusive algumas escolas aplicando seu método.
grupo começa a se organizar, de modo que todos possam participar de
Entre os estudiosos e divulgadores da tendência libertária pode-
discussões, “cooperativas, assembleias, isto é, diversas formas de
se citar Maurício Tragtenberg, apesar da tônica de seus trabalhos não
participação e expressão pela palavra; quem quiser fazer outra coisa,
ser propriamente pedagógica, mas de crítica das instituições em favor
ou entra em acordo com o grupo, ou se retira. No terceiro momento, o
de um projeto autogestionário.
grupo se organiza de forma mais efetiva e, finalmente, no quarto
momento, parte para a execução do trabalho. 2.3 TENDÊNCIA PROGRESSISTA
“CRÍTICO-SOCIAL DOS CONTEÚDOS”
Relação professor-aluno – A pedagogia institucional visa “em
primeiro lugar, transformar a relação professor-aluno no sentido da não- Papel da escola – A difusão de conteúdos é a tarefa primordial.
diretividade, isto é, considerar desde o início a ineficácia e a nocividade Não conteúdos abstratos, mas vivos, concretos e, portanto,
de todos os métodos à base de obrigações e ameaças”. Embora indissociáveis das realidades sociais. A valorização da escola como
professor e aluno sejam desiguais e diferentes, nada impede que o instrumento de apropriação do saber é o melhor serviço que se presta
professor se ponha a serviço do aluno, sem impor suas concepções e aos interesses populares, já que a própria escola pode contribuir para
ideias, sem transformar o aluno em “objeto”. O professor é um eliminar a seletividade social e torná-la democrática. Se a escola é
orientador e um catalisador, ele se mistura ao grupo para uma reflexão parte integrante do todo social, agir dentro dela é também agir no rumo
em comum. da transformação da sociedade. Se o que define uma pedagogia crítica
é a consciência de seus condicionantes histórico-sociais, a função da
Se os alunos são livres frente ao professor, também este o é em
pedagogia “dos conteúdos” é dar um passo à frente no papel
relação aos alunos (ele pode, por exemplo, recusar-se a responder uma
transformador da escola, mas a partir das condições existentes. Assim,
pergunta, permanecendo em silêncio). Entretanto, essa liberdade de
a condição para que a escola sirva aos interesses populares é garantir
decisão tem um sentido bastante claro: se um aluno resolve não
a todos um bom ensino, isto é, a apropriação dos conteúdos escolares
participar, o faz porque não se sente integrado, mas o grupo tem
básicos que tenham ressonância na vida dos alunos. Entendida nesse
responsabilidade sobre este fato e vai se colocar a questão; quando o
sentido, a educação é “uma atividade mediadora no seio da prática
professor se cala diante de uma pergunta, seu silêncio tem um
social global”, ou seja, uma das mediações pela qual o aluno, pela
significado educativo que pode, por exemplo, ser uma ajuda para que o
intervenção do professor e por sua própria participação ativa, passa de
grupo assuma a resposta ou a situação criada. No mais, ao professor
Professor Pedagogo 79 A Opção Certa Para a Sua Realização
APOSTILAS OPÇÃO A Sua Melhor Opção em Concursos Públicos
uma experiência inicialmente confusa e fragmentada (sincrética) a uma Os métodos de uma pedagogia crítico-social dos conteúdos não
visão sintética, mais organizada e unificada. partem, então, de um saber artificial, depositado a partir de fora, nem
do saber espontâneo, mas de uma relação direta com a experiência do
Em síntese, a atuação da escola consiste na preparação do
aluno, confrontada com o saber trazido de fora. O trabalho docente
aluno para o mundo adulto e suas contradições, fornecendo-lhe um
relaciona a prática vivida pelos alunos com os conteúdos propostos
instrumental, por meio da aquisição de conteúdos e da socialização,
pelo professor, momento em que se dará a “ruptura” em relação à
para uma participação organizada e ativa na democratização da
experiência pouco elaborada. Tal ruptura apenas é possível com a
sociedade.
introdução explícita, pelo professor, dos elementos novos de análise a
Conteúdos de ensino – São os conteúdos culturais universais serem aplicados criticamente à prática do aluno. Em outras palavras,
que se constituíram em domínios de conhecimento relativamente uma aula começa pela constatação da prática real, havendo, em
autônomos, incorporados pela humanidade, mas permanentemente seguida, a consciência dessa prática no sentido de referi-la aos termos
reavaliados face às realidades sociais. Embora se aceite que os do conteúdo proposto, na forma de um confronto entre a experiência e
conteúdos são realidades exteriores ao aluno, que devem ser a explicação do professor. Vale dizer: vai-se da ação à compreensão e
assimilados e não simplesmente reinventados, eles não são fechados e da compreensão à anão, até a síntese, o que não é outra coisa senão a
refratários às realidades sociais. Não basta que os conteúdos sejam unidade entre a teoria e a prática.
apenas ensinados, ainda que bem ensinados; é preciso que se liguem,
Relação professor-aluno – Se, como mostramos anteriormente, o
de forma indissociável, à sua significação humana e social.
conhecimento resulta de trocas que se estabelecem na interação entre
Essa maneira de conceber os conteúdos do saber não o meio (natural, social, cultural) e o sujeito, sendo o professor o
estabelece oposição entre cultura erudita e cultura popular, ou mediador, então a relação pedagógica consiste no provimento das
espontânea, mas uma relação de continuidade em que, condições em que professores e alunos possam colaborar para fazer
progressivamente, se passa da experiência imediata e desorganizada progredir essas trocas. O papel do adulto é insubstituível, mas acentua-
ao conhecimento sistematizado. Não que a primeira apreensão da se também a participação do aluno no processo. Ou seja, o aluno, com
realidade seja errada, mas é necessária a ascensão a uma forma de sua experiência imediata num contexto cultural, participa na busca da
elaboração superior, conseguida pelo próprio aluno, com a intervenção verdade, ao confrontá-la com os conteúdos e modelos expressos pelo
do professor. professor. Mas esse esforço do professor em orientar, em abrir
A postura da pedagogia “dos conteúdos” – Ao admitir um perspectivas a partir dos conteúdos, implica um envolvimento com o
conhecimento relativamente autônomo – assume o saber como tendo estilo de vida dos alunos, tendo consciência inclusive dos contrastes
um conteúdo relativamente objetivo, mas, ao mesmo tempo, introduz a entre sua própria cultura e a do aluno. Não se contentará, entretanto,
possibilidade de uma reavaliação crítica frente a esse conteúdo. Como em satisfazer apenas as necessidades e carências; buscará despertar
sintetiza Snyders, ao mencionar o papel do professor, trata-se, de um outras necessidades, acelerar e disciplinar os métodos de estudo, exigir
lado, de obter o acesso do aluno aos conteúdos, ligando-os com a o esforço do aluno, propor conteúdos e modelos compatíveis com suas
experiência concreta dele – a continuidade; mas, de outro, de experiências vividas, para que o aluno se mobilize para uma
proporcionar elementos de análise crítica que ajudem o aluno a participação ativa.
ultrapassar a experiência, os estereótipos, as pressões difusas da Evidentemente o papel de mediação exercido em torno da
ideologia dominante – é a ruptura. análise dos conteúdos exclui a não-diretividade como forma de
Dessas considerações resulta claro que se pode ir do saber ao orientação do trabalho escolar, porque o diálogo adulto-aluno é
engajamento político, mas não o inverso, sob o risco de se afetar a desigual. O adulto tem mais experiência acerca das realidades sociais,
própria especificidade do saber e até cair-se numa forma de pedagogia dispõe de uma formação (ao menos deve dispor) para ensinar, possui
ideológica, que é o que se critica na pedagogia tradicional e na conhecimentos e a ele cabe fazer a análise dos conteúdos em
pedagogia nova. confronto com as realidades sociais. A não-diretividade abandona os
alunos a seus próprios desejos, como se eles tivessem uma tendência
Métodos de ensino – A questão dos métodos se subordina à dos espontânea a alcançar os objetivos esperados da educação. Sabemos
conteúdos: se o objetivo é privilegiar a aquisição do saber, e de um que as tendências espontâneas e naturais não são “naturais”, antes são
saber vinculado às realidades sociais, é preciso que os métodos tributárias das condições de vida e do meio. Não são suficientes o
favoreçam a correspondência dos conteúdos com os interesses dos amor, a aceitação, para que os filhos dos trabalhadores adquiram o
alunos, e que estes possam reconhecer nos conteúdos o auxilio ao seu desejo de estudar mais, de progredir: é necessária a intervenção do
esforço de compreensão da realidade,prática social). Assim, nem se professor para levar o aluno a acreditar nas suas possibilidades, a ir
trata dos métodos dogmáticos de transmissão do saber da pedagogia mais longe, a prolongar a experiência vivida.
tradicional, nem da sua substituição pela descoberta, investigação ou
livre expressão das opiniões, como se o saber pudesse ser inventado Pressupostos de aprendizagem – Por um esforço próprio, o
pela criança, na concepção da pedagogia renovada. aluno se reconhece nos conteúdos e modelos sociais apresentados
pelo professor; assim, pode ampliar sua própria experiência. O
Conteúdos: São as informações, princípios e leis, numa Pressupostos: Aprendizagem informal, relevância ao que tem uso
sequência lógica e psicológica por especialistas. O material instrucional prático. Tendência anti-autoritária. Crescer dentro da vivência grupal.
encontra-se sistematizado nos manuais, nos livros didáticos, etc...
Prática Escolar: Trabalhos não pedagógicos mas de crítica as
Métodos: Consistem o método de transmissão, recepção de instituições. Relevância do saber sistematizado.
informações. A tecnologia educacional é a aplicação sistemática de
princípios, utilizando um sistema mais abrangente.
TENDÊNCIA “CRÍTICA-SOCIAL DOS CONTEÚDOS”
Professor x Aluno: A comunicação professor x aluno tem um
sentido exclusivamente técnico, eficácia da transmissão e Papel da Escola: É a tarefa primordial. Conteúdos abstratos, mas
conhecimento. Debates, discussões são desnecessárias. vivos, concretos. A escola é a parte integrante de todo social, a função
é “uma atividade mediadora no seio da prática social e global”. Consiste
Pressupostos: As teorias de aprendizagem que fundamentam a
para o mundo adulto.
pedagogia tecnicista dizem que aprender é uma questão de
modificação do desempenho. Trata-se de um ensino diretivo. Conteúdos: São os conteúdos culturais universais que se
constituíram em domínios de conhecimento relativamente autônomos,
Prática Escolar: Remonta a 2a. metade dos anos 50 (Programa
não basta que eles sejam apenas ensinados, é preciso que se liguem
Brasileiro-Americano de Auxílio ao Ensino Elementar). É quando a
de forma indissociável.
orientação escolanovista cede lugar a tendência tecnicista pelo menos
no nível oficial. A Postura da Pedagogia dos Conteúdos: assume o saber como
tendo um conteúdo relativamente objetivo, mas ao mesmo tempo
“introduz” a possibilidade de uma reavaliação crítica frente a este
TENDÊNCIA PROGRESSISTA LIBERTADORA conteúdo.
Papel da Escola: Atuação não formal. Consciência da realidade Método: É preciso que os métodos favoreçam a correspondência
para transformação social. Questionar a realidade. Educação crítica. dos conteúdos com os interesses dos alunos.
Conteúdos: Geradores são extraídos da prática, da vida dos Professor x Aluno: Consiste no movimento das condições em que
educandos. Caráter político. professor e alunos possam colaborar para fazer progredir essas trocas.
O esforço de elaboração de uma pedagogia dos conteúdos está em
Método: Predomina o diálogo entre professor e aluno. O
propor ensinos voltados para a interação “conteúdos x realidades
professor é um animador que por princípio deve descer ao nível dos
sociais”.
alunos.
Pressupostos: O aluno se reconhece nos conteúdos e modelos
Professor x Aluno: Relação horizontal. Ambos são sujeitos do ato
sociais apresentados pelo professor. O conhecimento novo se apoia
do conhecimento. Sem relação de autoridade.
numa estrutura cognitiva já existente.
Pressupostos: Educação problematizadora. Educação se dá a
partir da codificação da situação problema. Conhecimento da realidade.
Processo de reflexão e crítica. CONCEPÇÕES E TEORIAS CURRICULARES.
Prática Escolar: A pedagogia libertadora tem como inspirador
ORGANIZAÇÃO CURRICULAR
Paulo Freire. Movimentos populares: sindicatos, formações teóricas
A BASE NACIONAL COMUM
indicam educação para adultos, muitos professores vêm tentando
colocar em prática todos os graus de ensino formal. É no contexto de Educação Básica que a lei 9394/96 determina a
construção do currículo, no ensino fundamental e médio, com uma base
nacional comum, a ser complementada, em cada sistema de ensino e
TENDÊNCIA PROGRESSISTA LIBERTÁRIA estabelecimento escolar, por uma parte diversificada, exigida pelas
características regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia
Papel da Escola: Transformação na personalidade do aluno,
e da clientela ( art.26, da Lei 9394/96).
modificações institucionais à partir dos níveis subalternos.
A base nacional comum contém em si a dimensão de preparação
Conteúdos: Matérias são colocadas à disposição dos alunos,
para o prosseguimento de estudos e, como tal, deve caminhar no
mas não são cobradas. Vai do interesse de cada um.
É importante operar com algoritmos na matemática ou na física, Quando a LDB destaca as diretrizes curriculares específicas do
mas o estudante precisa entender que, frente àquele algoritmo, está de ensino médio, ela se preocupa em apontar para um planejamento e
posse de uma sentença de linguagem, da linguagem matemática, com desenvolvimento do currículo de forma orgânica, superando a
seleção de léxico e com regras de articulação/relações que geram uma organização por disciplinas estanques e revigorando a integração e
significação e que, portanto, é a leitura e escrita da realidade de uma articulação dos conhecimentos num processo permanente de
situação desta. interdisciplinaridade e transdiciplinaridade. Essa proposta de
organicidade está contida no Art.36 .
A base nacional comum traz em si a dimensão de preparação
para o trabalho. Esta dimensão tem que apontar para que este mesmo Art.36...
algoritmo seja um instrumento na solução de um problema concreto,
I — destacará a educação tecnológica básica, a compre-
que pode dar conta da etapa de planejamento, gestão ou produção de
ensão do significado da ciência, das letras e das ar-
um bem. Aponta também que a linguagem verbal se presta à
tes; o processo histórico de transformação da socie-
compreensão ou expressão de um comando ou instrução clara, precisa,
dade e da cultura; a língua portuguesa como instru-
objetiva; que a Biologia lhe dá os fundamentos para a análise do
mento de comunicação, acesso ao conhecimento e
impacto ambiental, de uma solução tecnológica, ou para a prevenção
exercício da cidadania;
de uma doença profissional.
A organicidade dos conhecimentos fica mais evidente ainda,
Enfim, aponta que não há solução tecnológica sem uma base
quando o Art.36, da LDB, estabelece, em seu parágrafo 1º, as
científica e que, por outro lado, soluções tecnológicas podem propiciar
competências que o aluno , ao final do ensino médio deve demonstrar:
a produção de um novo conhecimento científico.
Art.36...
Esta educação geral que permite buscar informação, gerar
informação, usá-las para solucionar problemas concretos na produção § 1º — Os conteúdos, as metodologias e as formas de avali-
de bens ou na gestão e prestação de serviços, é preparação básica ação serão organizados de tal forma que ao final do
para o trabalho. Na verdade, qualquer competência requerida no ensino médio o educando demonstre:
exercício profissional, seja ela psicomotora, sócio-afetiva ou cognitiva é I — domínio dos princípios científicos e tecnológicos
um afinamento das competências básicas. Esta educação geral permite que presidem a produção moderna;
a construção de competências que se manifestarão em habilidades
básicas, técnicas ou de gestão. II — conhecimento das formas contemporâneas de lin-
guagem;
Ressalve-se que uma base curricular nacional organizada por
áreas de conhecimento não implica na desconsideração ou III — domínio dos conhecimentos de Filosofia e de Socio-
esvaziamento dos conteúdos, mas na seleção e na integração dos que logia necessários ao exercício da cidadania” .
são válidos para o desenvolvimento pessoal e para o incremento da
participação social.
A Lei 9394/96 ao estabelecer como fundamentais o domínio dos
Esta concepção curricular não elimina o ensino de conteúdos conhecimentos de Filosofia e de Sociologia não está propondo a
específicos, mas considera que os mesmos devem fazer parte de um inclusão destas ou de quaisquer outras disciplinas mas, indicando, a
processo global com várias dimensões articuladas. importância do desenvolvimento de “referências que permitam a
A base nacional comum destina-se ‘a formação geral do articulação entre os conhecimentos, a cultura, as linguagens e a
educando e deve assegurar que as finalidade propostas em lei, bem experiência dos alunos”. (Favaretto).
como o perfil de saída do educando sejam alcançados de forma a Segundo Favaretto” a Filosofia é antes de mais nada uma
caracterizar que a educação básica seja uma efetiva conquista de cada disciplina cultural, pois a formação que propicia diz respeito à
brasileiro. significação dos processos culturais e históricos” (Ver no documento de
Garantir o desenvolvimento de competências e habilidades Ciências Humanas e suas tecnologias ).
básicas comuns a todos os brasileiros é uma garantia de No que se refere à Sociologia trata-se de orientar o currículo no
democratização. A definição destas competências e habilidades servirá sentido de” contribuir para que o aluno desenvolva sua autonomia
de parâmetro para a avaliação da educação básica em nível nacional. intelectual, de forma a ser capaz de confrontar diferentes interpretações
O Art. 26 da LDB, determina a obrigatoriedade, nessa base e construir sua própria versão do mundo”. (Martins ; ver documento
nacional comum, de “ estudos da Língua portuguesa e da matemática, Ciências Humanas e suas tecnologias )
o conhecimento do mundo físico e natural e da realidade social e
É importante compreender que a base nacional comum não pode A PARTE DIVERSIFICADA E A EDUCAÇÃO PROFISSIONAL
constituir uma camisa de força que tolha a capacidade dos sistemas, A preparação geral para o trabalho decorre das diretrizes
dos estabelecimentos de ensino e do educando de usufruírem da estabelecidas, no Art.27, para os currículos de educação básica:
flexibilidade que a lei não só permite como estimula.
“Art. 27 — Os conteúdos curriculares da educação básica ob-
Essa flexibilidade deve ser assegurada, tanto na organização dos servarão , ainda, as seguintes diretrizes:
conteúdos mencionados em lei, quanto na metodologia a ser
I — ...
desenvolvida no processo ensino-aprendizagem e na avaliação.
II — ...
As considerações gerais sobre legislação indicam a necessidade
de construir novas alternativas de organização curricular III — orientação para o trabalho “
comprometidas, de um lado, com o novo significado do trabalho no
Na seção IV, do capítulo II da Lei nº9394/96, o Art.35 estabelece,
contexto da globalização e, do outro, com o sujeito ativo que se
dentre as finalidades do ensino médio.
apropriará desses conhecimentos para aprimorar-se, como tal, no
mundo do trabalho e na prática social. O fato destes Parâmetros “ Art.35...
Curriculares terem sido organizados em cada uma das áreas por I — ...
disciplinas potenciais não significa que estas são obrigatórias ou
mesmo recomendadas. O que é obrigatório pela LDB ou pela II — a preparação básica para o trabalho e a cidadania do
Resolução nº 03/98, são os conhecimentos que estas disciplinas educando, para continuar aprendendo, de modo a
recortam e as competências e habilidades a eles referidos e ser capaz de se adaptar com flexibilidade a novas
mencionados nos citados documentos. condições de ocupação ou aperfeiçoamento posteri-
ores,”
A PARTE DIVERSIFICADA DO CURRÍCULO
Essa preparação geral para o trabalho faz parte da formação
A parte diversificada do currículo , destina-se, a atender às geral do educando e pode ser desenvolvida no próprio estabelecimento
características regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia de ensino ou em cooperação com instituições especializadas, conforme
e da clientela. (Art.26;Lei9394/96). Complementa a base nacional disposto no §4º, do Art.36, da Lei nº9394/96.
comum e será definida em cada sistema de ensino e estabelecimento
escolar. Numa interpretação do dispositivo legal, o Decreto nº2208, de 17
de abril de 1997, que trata da educação profissional, estabelece:
Do ponto de vista dos sistemas de ensino está representada pela
formulação de uma matriz curricular básica, que desenvolva a base “ Art.5º — A educação profissional de nível técnico terá organi-
nacional comum, considerando as demandas regionais do ponto de zação curricular própria e independente do ensino
vista sócio-cultural, econômico e político. Deve refletir uma concepção médio.
curricular que oriente o ensino médio no seu sistema, significando-o, Parágrafo único. As disciplinas de caráter profissio-
sem impedir, entretanto, a flexibilidade da manifestação dos projetos nalizante, cursadas na parte diversificada do currícu-
curriculares das escolas. lo de ensino médio, até o limite de 25% do total da
• substituição de determinadas palavras por sinônimos, an- Uma nova concepção desta área surge na década de 60, através
tônimos ou até mesmo por outros itens lexicais que repre- dos estudos de Imre Lakatos: a Matemática como processo, como
sentem o todo ou uma parte do termo substituído; construção, integrada às atividades humanas.
• reiteração, que diz respeito à repetição de determinadas Zuringa, no seu discurso de abertura da XII CIAME1 (1991), em
palavras ou à retomada por cognatos; Miami, ressalta este pensamento com muita propriedade:
Professor Pedagogo 86 A Opção Certa Para a Sua Realização
APOSTILAS OPÇÃO A Sua Melhor Opção em Concursos Públicos
...A natureza das matemáticas está mudando, tem-se indícios principalmente duas. Primeiro, a seleção e o tratamento de temas -
disto. A cada dia, mais pessoas questionam o modelo de Matemática como por exemplo “ambiente” ou “água” - sob o enfoque dos diferentes
infalível, absoluta, distanciada da intuição empírica e da realidade campos do conhecimento científico. Segundo, a estruturação dos
terrena que tem dominado até agora. Cada vez mais, se percebe conteúdos da área segundo conceitos reconhecidos no conjunto do
melhor a íntima relação entre a Matemática e a sociedade. conhecimento científico como de interesse geral, tais como
“transformação”, “energia”, “matéria”, “sistema”, “tempo” e “espaço”.
Portanto, os novos paradigmas de ciência e, particularmente, de
matemática estão sendo concebidos para superar a forma de (Brasil, MEC, 1996)
caracterizá-la assim como o seu modo de construção e a sua suposta
Desta forma, pode-se ter uma organização curricular integrando
neutralidade.
ciência-tecnologia-sociedade, em que sejam abordados temas como: a
Embora não se pretenda explicitar o longo caminho percorrido Ciência enquanto instituição, conhecimentos básicos por ela
pela humanidade na produção deste conhecimento, são visíveis e parte produzidos, seus produtos tecnológicos e formas de utilização, o
deste processo dinâmico as contradições, os erros e as crises, as quais processo de produção científica e suas implicações junto à humanidade
sempre foram marcantes nessa tarefa, justificados perfeitamente pela e ao meio ambiente.
ação de falibilidade do homem.
GEOGRAFIA
CIÊNCIAS
Denomina-se Geografia o estudo das dinâmicas da sociedade a
No contexto do Ensino Fundamental, para se considerar a partir da sua dimensão espacial. Assim, entende-se que o objeto de
construção da identidade pessoal do homem enquanto sujeito histórico investigação desta área de conhecimento é o espaço geográfico.
e social e a questão da cultura local e de outras sociedades, é
indispensável pensar na formação do cidadão crítico que tenha um A palavra “espaço” é de uso corrente, sendo utilizada tanto no
mínimo de compreensão do saber científico. dia-a-dia como nas diversas ciências, como a Astronomia (espaço
sideral), a Economia (espaço econômico), a Matemática (espaço
Desde cedo, a criança começa a perceber-se e a perceber que topológico), a Psicologia (espaço pessoal). No entanto, o que dá
há outras pessoas à sua volta – a família, vizinhança, comunidade... há especificidade geográfica à palavra “espaço” é justamente sua
outros seres vivos no meio ambiente – plantas e animais pequenos, manifestação física, sua materialidade: o espaço físico das cidades, dos
médios e grandes, engraçados e estranhos... há terra, água, fogo e ar... campos, das estradas, dos furacões, da pobreza, da riqueza, da
há dias e noites, claro e escuro, o sol, a lua, as estrelas ... o tempo, às poluição, da natureza etc. Essa materialidade é resultante das relações
vezes, é quente, às vezes, frio... há chuva, praia, luz elétrica... há que se processam no interior das sociedades e entre essas e os
muitas coisas da natureza e outras que são feitas pelo homem – casas, demais elementos da natureza.
jardins, parques, barracas, roupas, sapatos, brinquedos, carros,
máquinas etc. Entretanto, muito embora entenda-se que o espaço geográfico
envolve a interação entre a sociedade e a natureza, os próprios
Assim, a sociedade incorpora de tal forma a ciência e a geógrafos têm diferentes formas de ver o espaço e essa relação.
tecnologia que é impossível a compreensão do mundo sem conhecê- Assim, muitas vezes, a expressão espaço geográfico aparece ora
las. associada a uma porção específica da Terra identificada pela natureza
Nos últimos anos, devido à necessidade de levar em conta as (a vertente que privilegia os aspectos físicos), ora pelo modo particular
diferentes classes sociais, a relação escola-sociedade e a problemática como o homem ali imprimiu as suas marcas (a vertente que privilegia
de preservação do meio ambiente, o ensino das Ciências precisou os aspectos sociais e econômicos.), como referência à simples
associar questões de natureza científica, tecnológica, ambiental, de localização.
identidade do ser humano, de cidadania e de cultura. Com isso, Nesta proposta, será adotada a vertente contemporânea, que
emergiu uma redefinição dos seus objetivos, conteúdos e formas de entende que o espaço geográfico é produto histórico, econômico,
trabalho, no intuito de responder às novas características da sociedade social, mas sobretudo cultural de uma sociedade, ou seja, as
moderna e à consequente função que a escola deve desempenhar sociedades, através de suas relações de trabalho, transformam a
nesta sociedade. Assim, o ensino de Ciências configura-se como uma natureza (transformando-se também), resultando na produção de um
compreensão da realidade, desde os limites do cotidiano dos espaço (o espaço geográfico). Esse espaço incorpora e reflete, a partir
estudantes até a totalidade do ambiente terrestre. de sua paisagem (porção visível), a história, a cultura, as contradições
Neste novo contexto, a produção de programas pela justaposição sociais, a forma como os diferentes grupos sociais se relacionam com a
de conteúdos de biologia, física, química e geo-ciências começa a ser natureza.
questionada e é proposto um ensino que integre os diferentes A análise das dinâmicas que constroem, organizam e
conteúdos buscando-se um caráter interdisciplinar, o que tem reorganizam esse espaço constitui o campo de investigação de
representado importante desafio para a didática da área. As propostas geógrafos e professores vinculados à área.
curriculares, encaminhando soluções para este desafio, são
Professor Pedagogo 87 A Opção Certa Para a Sua Realização
APOSTILAS OPÇÃO A Sua Melhor Opção em Concursos Públicos
HISTÓRIA Afinal, há situações, valores e comportamentos que permanecem ou se
modificam com velocidades distintas. Nos Parâmetros Curriculares
O termo “história” compreende três dimensões:
Nacionais, especial atenção foi reservada a esta discussão, pois
• a trajetória humana;
...não basta ensinar ao aluno como dominar o calendário e
• um campo de investigação; memorizar as datas e personagens históricos, acreditando-se que,
• um saber escolar. assim, serão capazes de julgar os acontecimentos numa lógica
temporal e de contextualizá-los historicamente através da relação entre
A TRAJETÓRIA HUMANA eventos...1
Denomina-se História a trajetória dos homens nas sociedades. O conceito de fato histórico é referencial para a seleção e
Deste modo, todas as ações, valores, costumes e instituições organização de conteúdos e atividades didáticas. Atualmente, admite-
construídas pelos homens são históricas e não apenas aquelas se como fatos históricos todos os acontecimentos ocorridos em uma
registradas através da linguagem escrita, mas também as expressas sociedade. Nesta concepção, ampliaram-se as possibilidades de
oralmente, por gestos, músicas e demais formas de representação. discussão histórica, visto que desde manifestações culturais, modos de
Desconsideram-se, assim, a demarcação entre pré-história e história e trabalhar, diversão, deliberações político - institucionais, até estruturas
a exclusão das sociedades que instituem expressões diferentes familiares, relações de gênero2 e assim por diante são passíveis de
daquelas mais presentes no mundo ocidental. serem contemplados nos currículos de Histórica do ensino fundamental.
CAMPO DE INVESTIGAÇÃO O intuito é de inclusão da História das pessoas comuns nas salas de
aula.
As análises desta trajetória constituem o campo de investigação
de pesquisadores e professores vinculados à área. Vale salientar que
tais profissionais não recuperam, não reconstituem o passado, e sim o LÍNGUA ESTRANGEIRA
interpretam a partir de fontes históricas: os registros deixados pelos
homens ao longo do tempo. Ensinar uma língua estrangeira implica, primordialmente, em
compreender o que é linguagem, a partir dos conhecimentos
SABER ESCOLAR necessários para a utilização da língua estrangeira e do uso desses
Também denomina-se História o conhecimento produzido no mesmos conhecimentos para a construção de significados no mundo
espaço escolar a partir das interpretações sobre a trajetória humana e globalizado.
das experiências vivenciadas por professores e alunos. Como saber O uso da linguagem é, marcantemente, determinado pela sua
escolar, o conhecimento histórico equaciona as considerações obtidas natureza sócio-interacional, uma vez que quem a usa considera as
a partir de pesquisas sistemáticas e vivências cotidianas próprias ao pessoas envolvidas no processo de interação, atuando no mundo social
grupo social, à região e às culturas locais. em um determinado momento e espaço.
A investigação e o ensino-aprendizagem da História pressupõem Para que essa sócio-interação seja efetivada, faz-se necessária
a compreensão do que vem a ser sujeito, tempo e fato histórico. a utilização de três tipos de conhecimento:
Denominam-se sujeitos históricos aqueles que promovem as • sistêmico;
mudanças e marcam as permanências próprias à dinâmica histórica.
Na historiografia contemporânea, os protagonistas da história são os • de mundo;
indivíduos, grupos sociais, classes e nações que definem com ações e • da organização textual.
concepções as suas trajetórias no mundo. Neste sentido, reconhece-se
O conhecimento sistêmico, que envolve os níveis da organização
que o curso da História não é definido apenas pelas deliberações de
linguística (léxico-semânticos, morfológicos, sintáticos e fonéticos-
dirigentes políticos e/ou grupos econômicos, mas também pelas
fonológicos), permite que escolhas gramaticalmente adequadas sejam
pessoas comuns. Logo, o ensino-aprendizagem da História permite ao
feitas toda vez que algum enunciado for produzido.
educando reconhecer que cabe a ele reafirmar ou transformar a sua
realidade. O de mundo, organizado na memória em blocos de informação,
refere-se ao conhecimento convencional que as pessoas têm sobre as
A organização dos programas curriculares de História geralmente
coisas, variando de indivíduo para indivíduo, já que reflete as
é orientada por uma concepção de tempo meramente cronológica. Os
experiências e vivências de cada um.
acontecimentos são dispostos numa sequência de dias, anos e séculos.
Na organização dos conteúdos, apenas leva-se em conta a Finalmente, o da organização textual engloba as diversas
proximidade cronológica com o presente. Entretanto, a dinâmica maneiras particulares que as pessoas usam, durante um processo
histórica é percebida através de permanências e mudanças. É preciso intera-cional, para organizar a informação em textos orais e escritos,
considerar a existência de durações temporais diferentes, percebendo a pois cada língua apresenta uma estruturação linguística que lhe é
multiplicidade do tempo histórico, que escapa à mera cronologia. peculiar, fazendo-se necessário que os usuários e/ou aprendizes da
Diante do exposto, é possível perceber que a aprendizagem De acordo com os PCN, historicamente, o ensino de Língua
desta vai além da aquisição de um conjunto de habilidades linguísticas, Estrangeira sempre esteve atrelado à busca do método ideal, o qual era
contribuindo, também, para a formação de uma nova percepção de visto como um modelo pronto e definitivo, mas cada um era descartado
linguagem, através da compreensão do funcionamento da língua sucessivamente para dar lugar a algum outro mais atraente, à medida
estrangeira, assim como da própria língua materna, além de que eram apresentados novos métodos. Apenas no fim da década de
desenvolver a percepção da própria cultura por meio da compreensão 80 é que estes métodos (audiolingual, audiovisual, gramática e
da cultura estrangeira. tradução etc.) passaram a ser criticados e questionados, já que se
apresentavam como uma mera prescrição de expressões e estruturas
A aprendizagem de Língua Estrangeira pode, ainda,
gramaticais e/ou idiomáticas, totalmente descontextualizadas e,
desempenhar uma função interdisciplinar, através da sua relação com
portanto, não demonstrando ao alunado a sua real funcionalidade para
outras áreas de conhecimento, principalmente História, Geografia e
o seu desenvolvimento sócio-cultural.
Arte. Como para se aprender uma língua estrangeira é necessário
entender os aspectos sociais, políticos, econômicos e culturais das
sociedades onde é utilizada, torna-se importante uma compreensão
ARTES –DANÇA
mútua entre estas disciplinas, cujo papel construtivo para a educação
formal envolve um complexo processo de reflexão sobre a realidade. O É notório que a dança, está arraigada em diversas manifestações
conhecimento artístico deve permear todo o processo de ensino da culturais. Pode-se perceber essa efervescência da dança na sociedade:
língua, pois constitui fonte de referência para o entendimento de nos atos religiosos, nas festas populares, nas tradições, na educação,
diversas culturas, ajudando, assim, a compreender a cultura e, na mídia e na própria produção artística, dentre outros.
consequentemente, a função social da língua estrangeira que está Essa faceta da identidade cultural baiana tem contribuído para
sendo aprendida e/ou utilizada. que a dança esteja presente em diversos projetos artísticos-educativos
Embora a aprendizagem de uma língua estrangeira seja um espalhados pela cidade, além de já fazer parte do corpo curricular de
direito de todo cidadão, conforme expresso na Lei de Diretrizes e Bases diversas escolas.
da Educação Nacional (Lei no 9.394), § 5o do art. 26, seção I, capítulo Mesmo com todas essas particularidades encontradas, a dança,
II: em muitas das experiências realizadas nas escolas, não conseguiu
Na parte diversificada do currículo será incluído, ainda interagir de uma forma satisfatória com o currículo, bem como,
obrigatoriamente, a partir da quinta série, o ensino de pelo menos uma muitas vezes, esteve presa a velhos modelos pedagógicos que
língua estrangeira moderna, cuja escolha ficará a cargo da comunidade desvincularam o aluno de sua realidade cultural e social.
escolar, dentro das possibilidades da instituição. De um modo geral, a dança, no âmbito escolar, por força da
O que se observa, usualmente, é que essa área de antiga LDB, foi considerada durante muitos anos como uma atividade
conhecimento vem sendo ministrada, em algumas regiões, em apenas extracurricular e configurou-se, na maioria das vezes, como oficinas
uma ou duas séries do ensino fundamental e, em outras, é vista como que se distanciaram das demais áreas de conhecimento. Em adição,
uma simples atividade, não tendo caráter de promoção ou reprovação. por falta de uma definição do seu papel na escola, as práticas corporais
Pode-se dizer que a dança é um dos possíveis modos que se * do processo e do produto artístico e a experiência estética em
tem para vivenciar a corporeidade. Apesar da dança estar presente em dança;
diferentes instâncias da sociedade, apresentando uma variedade de * das diversas possibilidades de criação de significados que
conceitos e produções, quando fala-se de dança/cultura/educação, foram/são efetivadas na dança com/no corpo e pelo/com o movimento.
pode-se perceber que ainda persistem concepções fechadas sobre o
corpo que dança e onde é possível dançar. É a inter-relação desses aspectos que se torna importante
quando se fala da aprendizagem da dança na escola.
Nesse prisma, é necessário refletir sobre os padrões
hegemônicos presentes na dança, que apontam para concepções
estéticas e artísticas demarcadas e padrões ideais de corpos que ARTES –MÚSICA
podem dançar – seja em relação a gênero, raça, etnia ou mesmo
A música tem sido incluída nos diversos processos educacionais
habilidade física.
pelos mais variados motivos. Poderia ser feito um grande inventário
O contexto da dança, na cultura baiana, apresenta uma sobre todos os motivos que levaram a se incluir a música nos currículos
variedade de formas que vão desde as manifestações populares até as escolares ao longo da história, porém, o que parece ser mais
danças cênicas, do passado e do presente, e trazem, subjacente, importante, é que o espaço que a atividade musical poderá ocupar na
determinadas representações de corpo, estética e dança, que podem cultura escolar vai depender da compreensão que se tem da música e
ser re-significadas, mantidas ou escamoteadas, ao mesmo tempo em da importância que esta possui para a vida do cidadão.
que surgem novas concepções, fato este que pode ser percebido em
O antropólogo Alan Merrian tratou de identificar os usos e
diferentes estilos de dança.
funções da música em diferentes sociedades e sinalizou as que se
Por outro lado, não se deve ignorar que a dança, como as outras seguem: de expressão emocional, de prazer estético, de
artes, também vem sofrendo influência da massificação da indústria entretenimento, de comunicação, de representação simbólica, de
resposta corporal, de conformidade a normas sociais, de validação de
EDUCAÇÃO FÍSICA
ARTES VISUAIS A Educação Física vem apresentando mudanças significativas ao
A atual legislação educacional brasileira reconhece a importância longo da história. Estas mudanças são de ordem conceitual,
da Arte na formação e desenvolvimento de crianças e jovens, incluindo- organizativa e de percepção de seu objeto de estudo, refletindo as
a como componente curricular obrigatório da educação básica. A Arte características das relações entre o homem e a sociedade em
passa a vigorar como área de conhecimento constituída, basicamente, diferentes momentos e lugares, abrangendo as concepções de saúde,
por artes visuais, música, teatro e dança. estética e lazer. Por isso, esta área do conhecimento representou
diferentes papéis e adquiriu diferentes significados, conforme o
As artes visuais, anteriormente denominadas de Artes Plásticas,
momento histórico.
tem como uma de suas características no processo de percepção
exercer um apelo direto sobre os sentidos da visão e do tato. A Educação Física já foi considerada, exclusivamente, um meio
de preparar corpos fortes e saudáveis, prontos para a defesa da nação,
Hoje, com os diferentes modos de interação entre o sujeito e a
ou então, para bater novos recordes esportivos a partir dos mais
obra de arte, este cria significações, utilizando todos os seus canais
talentosos fisicamente, reduzindo-a a uma mera atividade, sem
perceptivos e deste modo, relaciona imagens retidas na memória, sons,
objetivos e conteúdos que justificassem sua permanência nos
odores, sensações táteis promovidas pelos outros sentidos no processo
currículos escolares.
de fruição da obra.
Na atualidade se entende por competente a pessoa que possui Importante também ressaltar, é que não se pode mais esperar
um conjunto de competências, habilidades, conhecimentos e destrezas que os conhecimentos adquiridos durante a escolaridade básica e
e a capacidade de aplicá-las em uma variedade de contextos e profissional, sejam suficientes para o desempenho das funções dos
situações laborais. Supõe conhecimentos razoáveis, já que não há diversos postos de trabalho que hoje o indivíduo tem que passar ao
competência completa se os conhecimentos teóricos não são longo da sua vida, é cada vez mais necessário conceber a formação
acompanhados pelas qualidades e capacidades que permitam executar como um processo contínuo que tem lugar durante toda a carreira
as decisões que aquelas competências sugerem. laboral do indivíduo.
A preocupação pelo ganho e pela obtenção de resultados Em termos de educação, complementarmente à organização de
sempre se constituiu um objetivo da formação, porém hoje, o conceito cursos modulares previsto no Decreto 2.208/97, foi desenvolvida uma
de competências como significado de um novo paradigma, compreende nova concepção com enfoque principalmente na educação profissional,
o desenvolvimento de atitudes da pessoa, em que o indivíduo busca um porém, aplicada também ao ensino médio – o desenvolvimento de
enfoque integrador e coloca em ação desde o seu ser, o seu saber e o competências que promovam o desenvolvimento pessoal, qualifiquem o
seu saber fazer. jovem para o trabalho e para a vida em sociedade – competências que
são as mais necessárias para avançar com sucesso na vida cidadã e
Desta maneira, o conceito de competência passa a constituir-se
nos demais momentos da educação.
em uma ferramenta valiosa para a formação individual, porque permite
desenhar um currículo atendendo de uma melhor forma a complexidade A partir desta ótica, a escola deve pensar a implantação de
do mundo real. novos paradígmas e a superação de outros. Assim, tem-se:
Por outro lado, o processo de construção do conhecimento 2 – Nível operacional: encontram-se as ações coordenadas que
passa, necessariamente, pelo “saber fazer”, portanto, as habilidades pressupõem o estabelecimento de relações entre os objetos. Fazem
são o saber fazer relacionado com a prática do trabalho, transcendendo parte deste nível, os esquemas operatórios que se coordenam em
a mera ação motora, ou seja, as habilidades são atributos relacionados estruturas reversíveis. Estas competências, que em geral, atingem o
não apenas ao saber fazer, mas aos saberes (conhecimentos), ao nível da compreensão e a explicação, mais que o saber fazer, supõe
saber-ser (atitudes) e ao saber-agir (práticas no trabalho). Implicam, alguma tomada de consciência dos instrumentos e procedimentos
pois, dimensões variadas: cognitivas, motoras e atitudinais. utilizados, possibilitando a sua aplicação a outros contextos.
As habilidades, então, decorrem das competências adquiridas e Dentre estas competências podem-se distinguir:
referem-se ao plano imediato do saber fazer. Através das ações e • classificar, seriar, ordenar, conservar, compor e decompor,
operações, as habilidades aperfeiçoam-se e articulam-se, possibilitando fazer antecipações sobre resultados, calcular por estimati-
nova reorganização das competências. va, medir, interpretar, justificar...
O agrupamento das competências específicas dá origem aos • Bases tecnológicas: é um conjunto sistematizado de con-
módulos de formação, que por sua vez podem ser também organizados ceitos, princípios e processos relativos a uma determinada
a partir de disciplinas. As competências, portanto, servem como área produtiva – de bens e serviços – resultante, em geral,
referência para a identificação, seleção de disciplinas e respectivos da aplicação de conhecimentos científicos.
conteúdos.
A base tecnológica será adquirida progressivamente, à medida
Em última instância se pode dizer que as competências em que o aluno for cursando disciplinas específicas da área de
contextualizam e dão significados aos conteúdos. conhecimento. Ela destina-se à integração dos conhecimentos
científicos às inovações advindas do mundo produtivo, das novas
As habilidades voltadas para a competência do trabalhador,
formas de organização do trabalho, enfim, da indústria e dos serviços.
devem buscar o “aprender a aprender” e o “aprender a pensar”, que
permite maior autonomia, maior capacidade de resolver problemas Neste sentido, enquanto a base científica caracteriza-se pela
novos, de adaptação às mudanças, de superação de conflitos, de amplitude do saber, sem que isso signifique uma superficialidade do
comunicação, de trabalho em equipe e decisão ética. conhecimento, a base tecnológica propicia a aplicação desse saber em
função de sua utilidade e eficácia prática.
Considerando que a competência é formada ao longo da vida do
indivíduo, exigindo um processo de educação contínua, as habilidades Não se trata, porém, de uma distinção reducionista dessas
devem seguir a mesma configuração. bases, mas sim do estabelecimento de funções que se complementam,
uma vez que a intersecção nelas existentes é a via formal por que se
As habilidades se configuram sob três aspectos:
busca a unidade teoria-prática.
1 – Habilidades básicas: podem ser entendidas em uma ampla
• Bases instrumentais: são as linguagens e códigos que
escala de atributos, que parte de habilidades mais essenciais, como
permitem uma “leitura” do mundo e comunicação com ele;
ler, interpretar, calcular, até chegar ao desenvolvimento de raciocínios
habilidades mentais, psicomotoras e de relações humanas,
mais elaborados;
gerais e básicas.
O autor acima continua: a definição do modelo de ensino de que A construção destes esquemas de mobilização dos
necessitamos para os próximos anos deve estar assentada sobre três conhecimentos, das emoções e do fazer, é a construção de
eixos básicos: a flexibilidade para atender a diferentes pessoas e competências.
situações e às mudanças permanentes que caracterizam o mundo da Construir um projeto pedagógico que assuma um currículo por
sociedade da informação; a diversidade que garante a atenção às competências, pressupõe a centralidade do aluno, e portanto, da
necessidades de diferentes grupos em diferentes espaços e situações, aprendizagem. Isto implica em uma mudança do papel da escola e,
e a contextualização que, garantindo uma base comum, diversifique os consequentemente, do professor, cujo objetivo é fazer aprender e não
trajetos e permite a constituição dos significados, dê sentido à ensinar; mas também, de um novo ofício do aluno, que precisa ser o
aprendizagem e ao aprendido. agente inegociável da aprendizagem.
Para se pensar um ensino que responda a estas necessidades, Neste sentido, a escola atual, deve propor não apenas a
que eduque para a autonomia e para uma aprendizagem permanente e ministrar o ensino técnico, ou melhor, tecnológico, mas, sobretudo gerar
cotidiana, faz-se necessário pensarmos o papel da aquisição dos conhecimentos científicos e tecnológicos, tendo em vista o
saberes socialmente construídos e dos esquemas de mobilização deste desenvolvimento de competências e habilidades técnico-profissionais
saberes. que ensejem ao indivíduo a compreensão do processo produtivo e do
É preciso superar o falso dilema de centrar a aprendizagem, e meio em que ele vive. O entendimento da forma como funcionam as
portanto o currículo, nos conhecimentos e nas competências. A escola forças produtivas no contexto social é indispensável para uma ação de
deve oferecer os conhecimentos produzidos que sejam significativos interferência na sociedade, com vistas a transformá-la em função dos
para a inclusão de cada grupo de alunos em cada etapa de sua interesses coletivos.
escolarização e de sua vida, os caminhos para ter acesso a esses
conhecimentos e aos que vierem a ser produzidos, e as competências
para mobilizá-los e colocá-los em ação. O PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO -
A construção do conhecimento pressupõe a construção do seu PAPEL E FUNÇÃO DA ESCOLA:
próprio saber, a construção de competências e a aquisição dos saberes CONCEPÇÕES E DIFERENTES
já construídos pela humanidade. Os três processos são operações FORMAS DE ORGANIZAÇÃO DO CONHECIMENTO E
distintas; o primeiro tem por base as experiências vividas, o segundo, a
DO TEMPO NOS CURRÍCULOS ESCOLARES.
mobilização destes conhecimentos, e o terceiro, a apropriação
mediatizada pela transmissão. A construção de um Projeto Político Pedagógico (P.P.P.)
A escola, via de regra, integra-se neste processo como necessita ser em conjunto, entre professores, alunos, pais, funcionários
mediadora na transmissão dos conhecimentos já produzidos, e direção, com base na realidade escolar e da comunidade que a cerca.
cumprindo apenas apenas a terceira daquelas funções. Se não se Essa produção deve ser fruto de um trabalho coletivo, que vivendo num
recupera o processo de conhecimentos extraídos da vivência e o contexto em transformação, decide unir forças no sentido de organizar
articula com o processo de apropriação do conhecimento produzido o Projeto da escola, a qual os sujeitos estão envolvidos. Essa
A escola é muito mais do que um mero processo de ensino. “A A educação neste meio passa a ser questionada: Qual é a
escola é o espaço privilegiado de totalidade do desenvolvimento verdadeira ou específica função da escola hoje? Formar a quem? Para
humano, ela é espaço de socialização, de cultura de saídas quem? E para quê?
pedagógicas, de rituais e celebração”. (GADOTTI, 1993, p. 43).
Dentro desta perspectiva, em meio a conflitos pedagógicos,
O diálogo sobre a prática desenvolvida permitiu uma reflexão no resgatando uma filosofia de trabalho na escola, resignificando-a
sentido de questionar o seguinte: O atual currículo das Escolas atende, mediante a leitura crítica do atual contexto, surge a necessidade de
consegue dar conta do pleno desenvolvimento humano? E a partir sistematizar o P.P.P. por meio de um trabalho coletivo, tornando-se
deste pensamento que se destaca aqui, um movimento coletivo de assim, o desafio de toda comunidade escolar.Organizando a
ação – reflexão sobre os currículos escolares, entendidos como um construção do P.P.P. por encontros pedagógicos: refletindo as
movimento que tem faces diversas, encontra-se vivo e é expresso práticas do cotidiano escolar
cotidianamente na prática, nas relações dos sujeitos neste espaço.
Este movimento de mobilização na escola, buscando uma
Neste processo de construção coletiva, “o currículo menos como um
organização coletiva, no sentido de fazer uma leitura crítica sobre a
programa oficial pronto e acabado, e mais como criação, dinâmica,
realidade social, o currículo da escola e as mudanças que se fazem
movimento, conflito, contradição, um território contestado”. (SILVA,
necessárias na organização da escola como um todo, possibilita a
1990, p. 23).
conquista e garantia de um espaço, o Encontro Pedagógico. Esse
A escola tem muito a refletir sobre sua organização curricular, a momento que aos poucos pode ser evidenciado como um momento de
começar pela compreensão de que a sua ação passa a ser uma avaliação e reflexão das práticas desenvolvidas no cotidiano escolar,
intervenção singular no processo de formação do homem na sociedade sinalizando a necessidade de um repensar sobre a realidade.
atual.
Os encontros pedagógicos na escola podem retratar a
Vivemos um novo período na história da humanidade. O mundo diversidade e a complexidade da escola, tornando-se uns dos
mudou. As pessoas mudaram. A simples constatação da velocidade momentos necessários, permitindo aos professores, alunos, pais,
com que ocorrem transformações em nossa vida cotidiana, já nos funcionários e direção, uma reflexão sobre a necessidade de uma
mostra que estamos diante de uma nova sociedade, uma outra organização maior no que diz respeito à busca de alternativas frente às
realidade que nos envolve e nos desafia. dificuldades encontradas na educação no mundo de hoje, em busca da
formação da cidadania, do sujeito crítico e atuante na sociedade.
A forma linear e progressiva com que compreendíamos a vida e
tudo que acontecia, já não parece ser o que prevalece em nosso meio. O encontro pedagógico pode possibilitar aos poucos umas
Estamos vivendo uma nova era, onde o conhecimento que tínhamos interações maiores deste coletivo, que em sua interação vai construindo
como entendimento de se estar no mundo (algo pronto e acabado), não suas alternativas. Este espaço de conquista no cotidiano escolar
é mais aceito e absorvido pela maioria da humanidade. Isto significa proporciona a concretização de uma relação dialógica no grupo de
que a sociedade está a exigir uma prática pedagógica que garanta a trabalho, levando a uma troca significativa de experiências, bem como,
construção da cidadania, possibilitando a criatividade e criticidade. um movimento em direção a reflexão de nossas práticas. “O diálogo é
em si, criativo e recreativo. O diálogo sela o ato de aprender, que nunca
Estas reais exigências cognitivas e atitudinais requeridas nos
é individual, embora tenha uma dimensão individual”. (FREIRE, 1996,
levam a interrogar o que tem a educação a refletir sobre as relações
p. 13).
sobre estas transformações em curso e a formação do homem.
Nestes momentos de reflexão em conjunto, busca-se evidenciar
A educação e a escola, por sua importância política, merecem
a percepção de todos os envolvidos na escola, como sujeitos de suas
um papel de destaque e uma proposta de reforma. Neste esforço de
práticas, identificar-se na coletividade da escola um grupo que não está
reorganização da vida social e política, velhas instituições e antigos
ali apenas para executar ações, mas, que todos eram responsáveis
conceitos são redefinidos de acordo com essa lógica e com interesses
pelas práticas desenvolvidas e que a reflexão, o pensar sobre suas
e novos conceitos são introduzidos. Portanto, “o que está em jogo não
ações faziam parte da organização pedagógica.O P.P.P. significa este
é apenas uma reestruturação das esferas econômicas, sociais e
movimento de rupturas, de opção, o pensar reflexivo sobre a práxis. Em
O Projeto Político-Pedagógico, como vimos, organiza o trabalho Para que isto ocorra, poderá haver necessidade de mudança na
pedagógico da escola como um todo na busca de melhoria da própria lógica da organização das instâncias superiores (Secretarias de
qualidade do ensino. A base para essa organização da escola são seus Educação), implicando uma mudança substancial nas suas práticas.
alunos, a partir dos quais desenvolvemos a concepção, a realização e a
É essencial que sejam propiciadas condições aos alunos,
avaliação do projeto educativo.
professores e funcionários que lhes permitam aprender a pensar e a
É importante ressaltar que na construção do Projeto estará realizar o fazer pedagógico da forma mais efetiva e crítica.
sempre presente uma relação recíproca entre a dimensão política e a
O Projeto Político-Pedagógico visa à qualidade em todo o
dimensão pedagógica da escola.
processo vivido pela escola. Não é um rearranjo formal da instituição
Quanto à implantação, dentro de um processo democrático de escolar.
decisões, o Projeto considera os seguintes aspectos:
• A organização do trabalho pedagógico da escola tem a ver
1) a análise dos conflitos (abrindo espaço para gerenciá-los, com a organização da sociedade. Nesta perspectiva, a es-
pois são momentos abertos à criatividade); cola é vista como uma instituição social, inserida na socie-
dade refletindo as determinações e contradições dessa so-
2) a eliminação das relações corporativas e autoritárias;
ciedade.
3) o rompimento da burocracia excessiva que permeia as re-
Sabemos que há uma desigualdade no ponto de partida da
lações na escola, tanto as de ordem técnico-administrativa
carreira estudantil. As condições sociais são um mecanismo de
como as de ordem técnico-pedagógica; e
classificação entre os que chegaram às portas da escola.
4) a diminuição dos efeitos fragmentários da divisão do traba-
A seleção reflete um sistema social perverso, no qual existem
lho que reforça as diferenças e hierarquiza os poderes de
mecanismos de exclusão. A escola deve ser uma agência de mediação
decisão.
social que, com qualidade, facilite a igualdade de acesso de todos a
O Projeto Político-Pedagógico organiza o trabalho pedagógico ela.
em dois níveis: o da escola como um todo, sem perder de vista sua
relação com o contexto social imediato; e em particular, em nível da
sala de aula, incluindo as ações do professor na dinâmica da sala de O PROJETO PEDAGÓGICO NA ESCOLA PÚBLICA
aula.
A questão da autonomia escolar e de seu desdobramento num
A construção do Projeto Político-Pedagógico passa pela projeto pedagógico é, como problema, típico da escola pública que, a
autonomia da escola, e de sua capacidade de delinear sua própria não ser em raríssimas exceções, integra uma rede de escolas e, por
identidade. Na sua construção, isso, está sempre sujeita a interferências de órgãos externos
responsáveis pela organização, administração e controle da rede
deve ficar claro que a escola é um espaço público, lugar de
escolar. Essa situação não é, em si mesma, negativa, mas
debate, de diálogo, fundado na reflexão coletiva.
frequentemente acaba sendo, porque órgãos centrais, com maior ou
A construção do Projeto Político-Pedagógico necessita de um menor amplitude, tendem a desconhecer a peculiaridade de distintas
referencial que fundamente a sua construção: situações escolares e decidem e orientam como se todas as unidades
• Os alicerces estão nos pressupostos de uma teoria peda- fossem idênticas ou muito semelhantes. A consequência mais óbvia e
gógica crítica viável, que parta da prática social e esteja indesejável de tentativas de homogeneização daquilo que é
compromissada em solucionar seus problemas institucio- substantivamente heterogêneo é o fato de que as escolas ficam ou
nais. sentem-se desoneradas da responsabilidade pelo êxito de seu próprio
trabalho, já que ele é continuamente objeto de interferências externas,
Há a necessidade, também, do domínio dos aspectos pois ainda que essas interferências sejam bem intencionadas não
metodológicos indispensáveis à concretização das concepções levam em conta que a instituição “escola pública” é uma diversidade e
assumidas coletivamente: não uma unidade.
As novas formas têm que ser pensadas em um contexto de É aí que reside um grave problema da escola pública e é para
tensão, de correlações de forças - às vezes favoráveis, às vezes resolvê-lo que se reivindica a autonomia do estabelecimento na
desfavoráveis. Terão que nascer do próprio “chão da escola”. Compete, elaboração e execução do projeto escolar próprio. Hoje, a própria lei
assim, à administração da escola viabilizar inovações pedagógicas reconhece o problema e indica a solução genérica, mas na sua
planejadas, através de ação de cada membro da escola, pertencentes implementação o problema pode reviver e até se agravar pelo risco de
aos segmentos dos alunos, professores, funcionários e comunidade que órgãos da administração entendam que convém estabelecer
Esses cursos foram organizados com base em uma concepção Na escola de ontem, o professor e seus poucos alunos tinham a
do trabalho docente, como se este consistisse simplesmente em mesma extração social e partilhavam valores e maneiras de viver.
ensinar alguma coisa para alguém. Para realizar com êxito essa tarefa, Cabia aí, talvez, entender, até certo ponto, a função docente à
o futuro professor — um meio especialista em alguma disciplina — semelhança de uma preceptoria. Aliás, numa perspectiva histórica,
aprende algumas noções de didática geral e especial, de psicologia da pode-se dizer que o preceptorado foi a atividade fundadora da docência
aprendizagem e de legislação. A parte prática da formação é, escolar tal como ela se consolidou. Na antiga Grécia, os sofistas foram
supostamente, completada por estágios supervisionados por um na verdade os primeiros professores, no sentido em que até hoje
professor da disciplina em questão. No fundo, essa formação entendemos a profissão. Eles não eram investigadores da verdade,
pressupõe que o professor será um preceptor que deverá ensinar algo mas “homens de ofício, cujo êxito comercial comprovava o valor
a alguém numa relação individualizada. Não se trata de fazer uma intrínseco e a eficácia social” de seu ensino. Mediante um pagamento,
caricatura, mas de propor uma hipótese, a de que nossos cursos de por vezes elevado, eles ensinavam grupos de jovens numa relação de
licenciatura ainda não conseguiram focalizar a relação educativa no “preceptorado coletivo”, conforme a expressão de Marrou.
ambiente em que ela realmente ocorre, isto é, na sala de aula que, por
Essa relação pedagógica preceptoral, desde sua origem, foi uma
sua vez, integra-se numa escola. O chamado “processo ensino-
relação educativa de elite, refluindo a cada expansão da escola onde a
aprendizagem”, por exemplo, é uma abstração. O professor individual
relação era outra. Ao longo dos séculos, cada vez mais, a presença do
que ensina e o aluno individual que aprende são ficções. Seres tão
preceptor foi sendo distintiva de casas reais, nobreza, grande
imaginários como aqueles a que se referem expressões como “homo
burguesia e outros afortunados. No fim do século passado, H. Durand
oeconomicus” ou “aluno médio” ou “sujeito epistêmico” e outras
dizia que o preceptadorado é “um assunto mais vasto do que parece,
semelhantes.
ele diz respeito inteiramente ao problema da escolha entre a educação
Não se trata de pôr em dúvida a necessidade teórica e prática de particular e a educação pública”, isto é, entre educação de elite e
expressões estatísticas ou abstratas, mas da utilidade que elas possam educação popular.
ter para orientar práticas de ensino muito pouco conhecidas que
Hoje, a própria instituição da preceptoria desapareceu como
ocorrem em situações escolares muito diferentes. Por exemplo, é muito
instituição educativa, mas não sem deixar vestígios na pedagogia, nas
frequente ouvir-se que houve uma deterioração da escola pública a
teorias da aprendizagem e na própria concepção do professor. De
partir de sua maciça expansão nos últimos 30 anos. Essa alegação,
qualquer modo, seria ocioso comparar, em termos de eficiência,
aparentemente banal e simples, tem, contudo, uma pressuposição
práticas preceptoriais com práticas escolares. Tratam-se de elementos
altamente discutível e provavelmente falsa. Trata-se da ideia de que
próprios de relações pedagógicas que tiveram origem em situações
havia uma instituição social chamada “escola pública” que cumpria a
sociais distintas nas quais prevaleciam concepções de educação
contento certas funções sociais e que, agora, essa mesma instituição
diferentes. No entanto, até hoje a concepção do professor,
está malogrando com relação a essas mesmas funções. Em resumo:
Por isso, talvez, é que continuamos a insistir numa formação b) Outra pergunta, outro reparo. O que há em comum entre os
docente preceptorial na qual, além do domínio da disciplina a ensinar, professores de uma mesma disciplina, mas de diferentes escolas, que
prevalece uma visão psicológica do educando. Mesmo os elementos são reunidos em dezenas ou centenas para serem aperfeiçoados? O
didáticos que se associam a essa formação são condicionados por simples fato de que lecionam a mesma disciplina não significa que
essa visão. Contudo, sabemos que nisso reside, talvez, uma dificuldade tenham as mesmas dificuldades e que enfrentem os mesmos
séria, para que esse professor, supostamente preparado para um problemas. Na verdade, os esforços de aperfeiçoamento do magistério
trabalho de ensino individualizado, compreenda que a tarefa educativa usualmente repetem e eventualmente agravam os equívocos já
da escola tem desafio que ultrapassa os limites do ensino e presentes na formação acadêmica, ignorando que a entidade a ser
aprendizagem de disciplinas. visada é a escola e não o professor isolado. Voltemos brevemente a
esse ponto. O professor que ensina numa escola é um profissional sui-
Voltando ao ponto de partida: a escola pública é uma instituição
generis.
social muito específica com uma tarefa de ensino eminentemente social
que, por isso mesmo, exigiria um esforço coletivo para enfrentar com Diferentemente de outras situações profissionais, o exercício da
êxito as suas dificuldades porque essas dificuldades são antes profissão de ensinar só é possível no quadro institucional da escola. O
institucionais que de cada professor. Mas, de fato, o que se tem é um fato eventual de que se ensine particularmente fora da escola não é
conjunto de professores preparados, bem ou mal, para um relevante para caracterizar o professor. Qualquer especialista numa
desempenho individualizado e que, por isso, resistem à ideia de que os disciplina poderia fazer isso. No caso do médico ou do advogado, por
próprios objetivos escolares são socioculturais e que até mesmo o êxito exemplo, a situação é diferente. Esses profissionais podem exercer a
no ensino de uma disciplina isolada deve ser aferido em termos da sua profissão tanto particularmente como num quadro institucional, e
função social da escola. essas diferentes perspectivas profissionais são levadas em conta na
respectiva informação.
Esse impasse foi claramente sintetizado por Gusdorf quando
disse que o professor de latim precisa compreender que antes de ser É possível que um professor isolado se aperfeiçoe no
professor de latim ele precisa ser professor, isto é, ele é membro de conhecimento de sua disciplina, mas não enquanto professor de uma
uma comunidade escolar com objetivos e um alcance social que vão dada escola. Neste último caso, o aperfeiçoamento do professor
além do ensino de qualquer disciplina. precisa ocorrer no quadro institucional em que ele trabalha, já que as
dificuldades de seu trabalho de ensino, eventualmente, serão
Tentamos mostrar que, em geral, a formação do licenciado se faz
metodológicas ou didáticas. Não fosse assim, não se compreenderia
a partir da ideia de que o bom professor é aquele capaz de ensinar bem
que o bom professor em uma escola seja mau numa outra ou vice-
a disciplina de sua escolha.
versa. No entanto, isso é frequente.
Como vimos, isso não basta. Não é raro encontrar-se um bom
Enfim, a melhoria do ensino é sempre uma questão institucional
corpo docente numa escola ruim. Contudo, para melhorar as escolas
e uma instituição social, como é a escola, é mais do que a simples
consideradas ruins a Administração Pública, em todos os níveis, tem
reunião de professores, diretor e outros profissionais. A escola, ou
investido substancialmente no aperfeiçoamento do pessoal docente.
melhor, o mundo escolar é uma entidade coletiva situada num certo
a) É claro que essas iniciativas são interessantes porque contexto, com práticas, convicções, saberes que se entrelaçam numa
traduzem uma preocupação com o aperfeiçoamento do magistério e história própria em permanente mudança. Esse mundo é um conjunto
com a melhoria da qualidade do ensino. Contudo, há pontos que de vínculos sociais, fruto da adesão ou da rejeição de uma
merecem alguns reparos. Tentaremos fazer esses reparos pela multiplicidade de valores pessoais e sociais.
proposição de algumas perguntas. Será que o aperfeiçoamento do
A ideia de um projeto pedagógico, visando à melhoria desse
pessoal docente, em exercício, deve ser feito pela frequência a cursos?
mundo com relação às suas práticas específicas, será uma ficção
Na verdade, a resposta a essa questão exige uma qualificação prévia.
burocrática se não for fruto da consciência e do esforço da coletividade
Se os objetivos desses cursos forem a modificação da própria prática
escolar. Por isso, é ela, a escola, que precisa ser assistida e orientada
docente, a resposta mais adequada será, provavelmente, não. Por
sistematicamente e seus membros temporários, que são os
algumas razões. A eventual melhoria das práticas docentes exigiria um
professores, não devem ser aperfeiçoados abstratamente para o ensino
adequado conhecimento dessas próprias práticas e das condições em
de sua disciplina, mas para a tarefa coletiva do projeto escolar.
que elas ocorrem. Porém, esse conhecimento raramente é disponível
para os especialistas que ministram os cursos, simplesmente, porque o
assunto não tem sido objeto de pesquisas sistemáticas e continuadas.
AS PARTES INTEGRANTES DO PROJETO PEDAGÓGICO
Como melhorar práticas que são desconhecidas? É claro que, em
alguns casos, o longo tirocínio do especialista, que ministra o curso, • as competências e habilidades que os alunos precisam de-
poderá permitir suprir precariamente um inexistente conhecimento senvolver
Deve-se, portanto, estar atento ao perigo do descaso político, Tenho trabalhado o significado de inovação e projeto com base
que confunde autonomia com descompromisso do poder público, dando no entendimento possibilitado por Santos, nas obras Um discurso sobre
margem a este de eximir-se de suas obrigações. as ciências (1987), Introdução a uma ciência pós-moderna (1989) e
Pela mão de Alice (1997). Nas reflexões que desenvolvo neste artigo,
Identificar a estratégia do gestor no projeto político-pedagógico é, a) o projeto diz respeito à concepção de escolas socialmente
antes de mais nada, localizar os elementos que propiciam a determinadas e referidas ao campo educativo;
investigaçãoação que exige novas formas de organização, a
b) na fase de reflexão é que a instituição define e assume
combinação e utilização de várias técnicas investigativas. É certo que
uma identidade que se expressa por meio do projeto;
as inovações se desenvolvem na prática cotidiana, ou seja, realizam-se
no processo de construção/implementação dos projetos pedagógicos. c) o projeto serve de referente à ação de todos os agentes
Dessa forma, os resultados da inovação ultrapassam as questões que intervêm no ato educativo;
técnicas sem prescindir delas e opõem-se às orientações da d) o desenvolvimento do projeto implica a existência de um
racionalidade da ciência conservadora (Santos, 1987). conjunto de condições, sem as quais ele poderá estar con-
Em resumo, a inovação emancipatória ou edificante pressupõe denado a tornar-se apenas mais um “formulário administra-
uma ruptura que, acima de tudo, predisponha as pessoas e as tivo”;
instituições para a indagação e para a emancipação. e) a participação só poderá ser assegurada se o projeto per-
Consequentemente, a inovação não vai ser um mero enunciado de seguir os objetivos dos atores e grupos envolvidos no ato
princípios ou de boas intenções... educativo, em sua globalidade.
A inovação emancipatória ou edificante é de natureza ético-social O projeto político-pedagógico dá o norte, o rumo, a direção; “Ele
e cognitivo-instrumental, visando à eficácia dos processos formativos possibilita que as potencialidades sejam equacionadas, deslegitimando
sob a exigência da ética. A inovação é produto da reflexão da realidade as formas instituídas” (Veiga, 2000, p. 192).
interna da instituição referenciada a um contexto social mais amplo.
Sob esta ótica, o projeto político-pedagógico apresenta algumas
Este ponto é de vital importância para se avançar na construção características fundamentais:
de um projeto político-pedagógico que supere a reprodução acrítica, a
rotina, a racionalidade técnica, que considera a prática um campo de a) É um movimento de luta em prol da democratização da es-
aplicação empirista, centrada nos meios. cola que não esconde as dificuldades e os pessimismos da
realidade educacional, mas não se deixa levar por esta,
Organizar as atividades-fim e meio da instituição educativa, por procurando enfrentar o futuro com esperança em busca de
meio do projeto político-pedagógico sob a ótica da inovação novas possibilidades e novos compromissos. É um movi-
emancipatória e edificante, traz consigo a possibilidade de alunos, mento constante para orientar a reflexão e ação da escola.
professores, servidores técnico-administrativos unirem-se e separarem-
se de acordo com as necessidades do processo. b) Está voltado para a inclusão a fim de atender a diversidade
de alunos, sejam quais forem sua procedência social, ne-
O projeto político-pedagógico, na esteira da inovação cessidades e expectativas educacionais (Carbonell, 2002);
emancipatória, enfatiza mais o processo de construção. É a projeta-se em uma utopia cheia de incertezas ao compro-
configuração da singularidade e da particularidade da instituição meter-se com os desafios do tratamento das desigualdades
educativa. Bicudo afirma que a importância do projeto reside “no seu educacionais e do êxito e fracasso escolar.
poder articulador, evitando que as diferentes atividades se anulem ou
enfraqueçam a unidade da instituição” (2001, p. 16). Inovação e projeto c) Por ser coletivo e integrador, o projeto, quando elaborado,
político-pedagógico estão articulados, integrando o processo com o executado e avaliado, requer o desenvolvimento de um
produto porque o resultado final não é só um processo consolidado de clima de confiança que favoreça o diálogo, a cooperação, a
inovação metodológica no interior de um projeto político-pedagógico negociação e o direito das pessoas de intervirem na toma-
construído, desenvolvido e avaliado coletivamente, mas é um produto da de decisões que afetam a vida da instituição educativa e
inovador que provocará também rupturas epistemológicas. de comprometerem-se com a ação.
Não podemos separar processo de produto. O projeto não é apenas perpassado por sentimentos, emoções e
valores. Um processo de construção coletiva fundada no princípio da
Sob esta ótica, o projeto é um meio de engajamento coletivo para gestão democrática reúne diferentes vozes, dando margem para a
integrar ações dispersas, criar sinergias no sentido de buscar soluções construção da hegemonia da vontade comum. A gestão democrática
alternativas para diferentes momentos do trabalho pedagógico- nada tem a ver com a proposta burocrática, fragmentada e excludente;
administrativo, desenvolver o sentimento de pertença, mobilizar os ao contrário, a construção coletiva do projeto político-pedagógico
protagonistas para a explicitação de objetivos comuns definindo o norte inovador procura ultrapassar as práticas sociais alicerçadas na
das ações a serem desencadeadas, fortalecer a construção de uma exclusão, na discriminação, que inviabilizam a construção histórico-
coerência comum, mas indispensável, para que a ação coletiva produza social dos sujeitos.
seus efeitos.
1. APRESENTAÇÃO
INOVAÇÕES E PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO.
1.1. Identificação: Nome da Instituição, endereço, contatos,
Nesta perspectiva, o projeto pedagógico inovador amplia a fundação, mantenedora etc.
autonomia da escola e esta? “nunca é empreendida a partir do
1.2. Breve histórico: para que o professor, aluno ou cooperado
isolamento e do saudosismo, mas a partir do intercâmbio e da
que estão ingressando conheçam o contexto do nascimento e
cooperação permanente como fonte de contraste e enriquecimento”
desenvolvimento de sua cooperativa educacional.
(Carbonell, 2002, p. 21).
1.3. Projeto Político-Pedagógico:
É preciso entender que o projeto pedagógico é caracterizado 1.3.3. Como foi construído - Processo
como ação consciente e organizada. O projeto deve romper com o
1.3.4. Como está constituído - suas partes e a integração entre
isolamento dos diferentes segmentos da instituição educativa e com a
elas.
visão burocrática, atribuindo-lhes a capacidade de problematizar e
compreender as questões postas pela prática pedagógica.
2.1.2. Grandes princípios e valores humanos 4.6. Disciplina (regras de convivência) - geralmente estão em
regimento ou regulamento anexo, mas que deve ser coerente com o
2.1.3. Princípios do cooperativismo
PPP, pois este é a Constituição da Escola (sugestão: que o regimento
2.1.4. Lembrar-se dos autores mais caros ao cooperativismo disciplinar seja revisto tão logo seja concluída a elaboração do PPP).
educacional: Freinet e Paulo Freire
4.7. Sistema de Avaliação do Rendimento dos alunos e controle
de frequência (não é demais lembrar que deve haver coerência entre
2.2. MARCO REFERENCIAL ESPECÍFICO DA EDUCAÇÃO este sistema e a Teoria de Aprendizagem adotada)
FORTALECER O PODER E A AUTONOMIA A escola trabalha com o conhecimento: isso significa reconhecer
a escola como local de ingresso dos estudantes numa modalidade
Para tanto, é preciso não omitir problemas e contrastes sociais,
especial desse processo humano que não começa na escola e se
para poder explicar o presente em sua complexidade e refletir sobre
prolonga pela vida afora. 0 processo de conhecimento, mesmo em sua
alternativas de transformação social. Citando Santos e Moreira (1995,
modalidade escolar, implica um movimento de relações recíprocas
Professor Pedagogo 111 A Opção Certa Para a Sua Realização
APOSTILAS OPÇÃO A Sua Melhor Opção em Concursos Públicos
entre o sujeito conhecedor e o universo a ser conhecido. A ARTICULAÇÃO
escolarização deve portanto possibilitar que os alunos adquiram chaves
Articular o ensino e a aprendizagem implica articular conteúdo e
conceituais de compreensão de seu mundo e de seu tempo, permitindo
forma, tornando cada vez mais o ensino favorável à ocorrência da
também que tomem consciência das operações mobilizadas durante a
aprendizagem. Isso exige riqueza de situações, experiências e
aprendizagem, para que prossigam com autonomia nesse processo de
recursos, para favorecer o processo múltiplo, complexo e relacional de
conhecimento. Assim, diante do recorte organizado de saberes que
conhecer e incorporar dados novos ao repertório de significados,
constituem o currículo, não se pode pensar em simplesmente entregar
utilizando-os na compreensão orgânica dos fenômenos, no
informações prontas a sujeitos que as recebam e assimilem. É na
entendimento da prática social.
relação dos estudantes com o conhecimento produzido que este será
transformado em ferramenta de compreensão do real, em parte
indissociável do conhecimento-processo, ou seja, da ação humana do A ORGANIZAÇÃO CURRICULAR
buscar significados, elucidar o real, constituindo o objeto e se
constituindo como sujeito. A organização curricular da escola básica de uma maneira geral
vem sendo alvo de numerosas críticas, tanto de educadores de renome
nacional, como da parte de educadores com atuação internacional.
O CONHECIMENTO-PRODUTO NÃO SURGE COMO ALGO DADO Nóvoa (1998), por exemplo, afirma que as atividades da escola
Essa abordagem do conhecimento considerado como processo e desenvolvidas”numa pedagogia centrada essencialmente na sala de
produto é detalhada e aprofundada por Leite (1995), que discute aula (com) horários escolares rigidamente estabelecidos que põem em
concepções de conhecimento e o processo complexo de sua produção, prática um controlo social do tempo escolar, saberes organizados em
em que intervêm a determinação histórica imediata, mas também a disciplinas escolares que são as referências estruturantes do ensino e
concepção de mundo que perpassa as ações humanas, e relações do trabalho pedagógico” (p. 22),contribuem de forma acentuada para
sociais específicas; o conhecimento-produto não surge como algo aumentar as dificuldades de aprendizagens das crianças.
dado, acabado e neutro, mas carrega, mesmo como resultado pronto, Para o autor e demais críticos da organização curricular que tem
as marcas do processo inacabado, provisória e histórico de sua como base o regime seriado, é necessária uma reorganização que
construção. permita uma melhor administração do tempo da escola; é necessário
trabalhar com novas formas de organização curricular, bem como
redimensionar a forma como os professores(as) trabalham com os
SUJEITOS INTERAGEM ENTRE SI E
conteúdos, a fim de que a escola básica possa melhorar seu
COM LINGUAGENS E SABERES
desempenho.
O conhecimento é então compreendido como construção social,
No Brasil, diversos estudos (Krug e Azevedo, 2000; Azevedo,
segundo os principais autores da Sociologia do Currículo. Santos e
1999, 2000; Arroyo, 1999) têm trazido críticas à organização curricular
Moreira (1995, p.51) comentam que ele é “produto de concordância e
vigente nas escolas de ensino fundamental.
consentimento de indivíduos que vivem determinadas relações sociais
(por exemplo, de classe, raça e gênero) em determinados momentos”. As críticas ressaltam que nas escolas que adotam o regime
Essa construção, portanto, ocorre pela interação social e depende do seriado, os tempos e os espaços da escola, do professor(a) e do
contexto social e cultural, de um referencial comum; sujeitos interagem aluno(a) ficam subordinados, principalmente, aos conteúdos
entre si e com linguagens e saberes, trazendo para a relação sua programáticos a serem”ensinados” e “aprendidos”; que ao serem
cultura e seus significados. colocados como elemento central do regime seriado, conteúdos
passaram a constituir o eixo da organização dos graus, das séries, das
disciplinas, das grades curriculares, das avaliações, das recuperações,
AS MUDANÇAS CULTURAIS CHEGAM ÀS ESCOLAS das aprovações e das reprovações; que como eixo da organização
ATRAVÉS DOS CURRÍCULOS curricular, os conteúdos institucionalizaram o caráter precedente e
acumulativo de sua transmissão e apreensão, fazendo com que a
Processo e produto do conhecimento estão presentes na
criança tenha dificuldades na aprendizagem, o que geralmente
construção do conhecimento escolar. Assim, vai se tornando claro que
concorre para a reprovação e/ou evasão escolar, principalmente das
selecionar conteúdos não é apenas fazer uma lista de conhecimentos
crianças que em virtude de sua condição socioeconômica não
que se transmitem num modelo escolhido a priori, mas que o currículo
conseguem ter outros meios suficientemente significativos para
emerge das condições reais em que se dá o trabalho com o
aprender.
conhecimento. É nesse sentido que entendemos a afirmação de
Gimeno Sacristán (1996, p.37), em seu estudo sobre escolarização e As dificuldades de aprendizagem dessas crianças, ainda
cultura: “As mudanças culturais chegam às escolas através dos segundo os autores mencionados,são consequências de um ensino em
currículos, mas apenas na medida em que se plasmam em práticas aulas estanques, com ênfase nos rituais de transmissão, de avaliação,
concretas”. de reprovação, de repetência, etc., que instaurou a predefinição do
• métodos (como e com o que ensinar e aprender?); Um ponto que necessita ficar bastante claro é que o livro didático
é um dos meios de comunicação no processo de ensinar e aprender.
• tempo e espaço da educação escolar (quando e onde ensi- Como tal, ele faz parte do método e da metodologia de trabalho do
nar e aprender?); professor, os quais, por sua vez, estão ligados ao conteúdo que está
• avaliação (corno e o que foi efetivamente ensinado e sendo trabalhado, tendo em vista o atingimento de determinados
aprendido?). objetivos educacionais (pontos de chegada).
O fundamental não é decidir se o plano será redigido no O livro didático é apenas um dos instrumentos comunicacionais
formulário x ou y, mas assumir que a ação pedagógica necessita de um do professor no processo de educação escolar, tanto na Pré-escola,
mínimo de preparo, mesmo tendo o livro didático como um dos como no 1 °, 2° ou 3°- Grau’. Isto significa que a capacidade do
instrumentos comunicacionais no trabalho escolar em sala de aula. professor deve ser mais abrangente, não se limitando ao mero recorrer
ao livro didático. Um livro de categoria média, nas mãos de um bom
A ausência de um processo de planejamento do ensino nas
professor, pode tornar-se um excelente meio de comunicação, pois a
escolas, aliada às demais dificuldades enfrentadas pelos docentes no
capacidade do docente está além do livro e de seus limites. Já um bom
exercício do seu trabalho, tem levado a uma contínua improvisação
livro nas mãos de um profissional pouco capacitado acaba muitas
pedagógica nas aulas. Em outras palavras, aquilo que deveria ser uma
vezes reduzindo-se à função de um “pseudodocente”. Em outras
prática eventual acaba sendo uma “regra”, prejudicando, assim, a
palavras, o livro didático acaba sendo considerado o “professor”, o que
aprendizagem dos alunos e o próprio trabalho escolar como um todo.
não deve ocorrer, tendo em vista a especificidade comunicacional
E é aí que entra o trabalho do Pedagogo: sugerir que os escolar de transmissão/assimilação, de interação ligada aos conteúdos
docentes discutam a questão da “forma” e do “Conteúdo” no processo de ensino e aprendizagem, que deve expressar-se entre o docente e
de planejamento e elaboração de planos de ensino, buscando seus alunos, mediada metodicamente por livros e outros meios de
alternativas para superar as dicotomias entre fazer e pensar, teoria e comunicação, nas aulas, para atingir os objetivos educacionais
prática, tão presentes no cotidiano do trabalho dos nossos professores. escolares.
Na atual conjuntura problemática em que se encontra a escola, o Para vivenciar o processo de planejamento, incluindo o trabalho
pedagogo deve estimular os professores a prepararem as suas aulas, com planos de ensino, de acordo com as necessidades de um bom
garantindo, deste modo, um trabalho mais competente e produtivo no trabalho pedagógico, é preciso que o grupo de educadores da escola
processo ensino-aprendizagem, no qual o professor seja um bom sinta e assuma a necessidade de transformar a realidade da escola-
mediador entre os alunos (com suas características e necessidades) e sociedade e conceba o planejamento como um dos meios a serem
os conteúdos do ensino. utilizados para efetivar esta transformação.
Três aspectos necessitam ser considerados quando se fala em Vale insistir que o trabalho de planejamento e,
transformação da realidade do planejamento do ensino nas escolas: consequentemente, a tarefa de preparar (pensar e redigir), vivenciar,
acompanhar e avaliar planos de ensino são ações e reflexões que
• Transformações nas condições objetivas de trabalho do
devem ser vivenciadas pelo grupo de professores e não apenas por
professor na escola, garantindo espaços nos quais os docentes
alguns deles.
possam-se reunir e discutir o próprio trabalho, problematizando-o, como
um meio para o seu próprio aperfeiçoamento. É praticamente Um segundo aspecto refere-se à necessidade de o grupo de
impossível falar em processo de planejamento para docentes que educadores ter uma clara percepção dos problemas básicos da sua
permanecem 40 horas dentro da sala de aula. E isto é uma conquista escola, curso, disciplina e, principalmente, das suas aulas.
que a categoria dos profissionais da Educação deve conseguir do
Os problemas devem ser identificados, caracterizados, tendo em
Estado, garantindo, é claro, que as “horas-atividades” sejam cumpridas
vista a sua superação.
na escola, nas quais as reuniões, discussões e ações de capacitação
deverão ocorrer, numa articulação interessante com a prática social Os educadores escolares necessitam, pois, desenvolver a
pedagógica cotidiana dos docentes. atitude-habilidade-conhecimento de perceber as “pontas dos
problemas” (manifestações) e, a partir delas, buscar as suas causas
• Transformações sérias nos cursos que formam educadores -
(raízes). O processo de buscar as raízes dos problemas representa o
Magistério, Pedagogia e Licenciaturas -, procurando garantir uma
esforço para caracterizá-los, identificando todos os aspectos que
formação profissional competente e crítica, na qual conhecimentos,
compõem a situação-problema que deve ser superada.
atitudes e habilidades sejam trabalhados de forma articulada e
coerente, visando formar um educador comprometido com a A caracterização do problema é fundamental para a tomada de
democratização da escola e da sociedade brasileira. decisão sobre qual a melhor maneira de superá-lo. E a teoria é um
recurso muito importante neste processo. Ela, nessa perspectiva,
• A categoria dos profissionais da Educação deve conquistar e
funciona como uma espécie de “lupa”, através da qual a realidade é
propor uma política para a formação dos educadores em serviço, de
analisada e a própria teoria, questionada.
acordo com as necessidades da prática docente, como um processo
efetivo de permanente aperfeiçoamento profissional. Portanto, diante de manifestações de problemas escolares como
evasão, retenção, indisciplina, desinteresse, faltas, atrasos e tantos
Concomitantemente ao processo de conquista de
outros, os educadores necessitam identificar suas causas, tendo em
transformações nas condições de trabalho, formação do educador e
vista a sua superação.
capacitação do educador em serviço, alguns pontos podem ser
sugeridos para o aperfeiçoamento do trabalho por meio de planos de O conhecimento e a análise crítica do contexto no qual os
ensino. problemas se manifestam são muito importantes para identificar suas
causas, que poderão ser encontradas no interior da própria escola, na
Elaborar, executar e avaliar planos de ensino exige que o
estrutura da sociedade e na interação entre a escola e o contexto social
professor tenha clareza (crítica): da função da educação escolar na
global.
sociedade brasileira; da função político-pedagógica dos educadores
escolares (diretor, professores, funcionários, conselho de escola. .); dos É bastante comum os educadores escolares apresentarem
objetivos gerais da educação escolar (em termos de país, estado, propostas para superar uma situação-problema, pautados apenas em
município, escola, áreas de estudo e disciplinas), efetivamente sua manifestação, sem a devida clareza de quais são as suas origens.
comprometida com a formação da cidadania do homem brasileiro; do Este engano termina por frustrá-los, pois eles selecionaram e aplicaram
valor dos conteúdos como meios para a formação do cidadão
Dentro desse processo, de fazer garantir a cidadania na sociedade 2 - A marginalidade social transforma-se em marginalidade
brasileira, ressaltando o papel da educação como um dos escolar no âmbito e com a interferência da escola (pública) a partir do
viabilizadores, ética e moralidade, felizmente, passam a fazer parte do momento da alfabetização.
cenário existencial dos brasileiros. 3 - A desvalorização e descaracterização profissional do
São conceitos que estão sendo conquistados com muita luta e professor tecem sua origem no aparente engrandecimento da sua
sacrifício. Mas, principalmente, pelos ensinamentos que estamos tarefa, pelo tão difundido refrão: “o magistério é um sacerdócio”.
retirando das sucessivas derrotas na luta contra as práticas que - A preocupação com a educação integral desfigurou a
colocam de “joelhos” a nação brasileira. especificidade profissional do professor e levou-se a descompromissar-
São inúmeras as variantes dos conceitos de ética e da moralidade. se e descuidar do serviço que a sociedade reinvidica a esses
A principal, entretanto, está na conquista da cidadania, algo inacessível profissionais: ensinar e bem os conteúdos escolares.
quanto inatingível, até bem, pouco tempo. - O despreparo para lidar com a clientela real (e não ideal) da
Tanto inacessível quanto inatingível, diante um quadro-político escola (pública), levou a adjetivação “carente e incapaz” tornar-se
institucional desorganizado e, acima de tudo, planejado para servir a substantiva (de aluno carente, incapaz, a simplesmente carente e
poucos o patrimônio de muitos. incapaz) e ocultar a criança real e as próprias condições de despreparo
profissional deste professor para enfrentar a complexa tarefa de
A cidadania institucional, ditada pelas regras da lei maior, é meia alfabetizar e ensinar alunos, cujas famílias não podem, pelas condições
conquista, meia verdade. Mas é o início de um caminho, um longo concretas de vida a que são submetidas suprir as deficiências da
caminho em direção à luz do conhecimento, da sabedoria. escola e que nelas depositaram tantas esperanças.
E não se compreende um processo de construção verdadeira de - Esses alunos e essas famílias, cujas condições precárias de vida
cidadania, sem o correspondente desenvolvimento cultural, resultam de uma estrutura de sociedade injusta, não fazem parte dos
educacional, político, econômico e social. cursos, livros e teorias das nossa escolas de formação de professores,
A existência de um processo cultural distorcido, dominado pela senão por uma ótica distorcida de “privação cultural” e “carências” que
contra-cultura, pelas prática política clientelistas e pela secundarização nega (porque desconhece) qualquer valor positivo à sua socialização
dos conceitos de civismo e nacionalismo, inviabiliza qualquer processo familiar, base indispensável para reverter a expectativa de fracassso,
desenvolvimentista no Brasil. Torna o país incompetente e desajustado por parte dos professores e da instituição escolar, e possibilitar
às necessidades de evolução sociedades humanas e faz do condições de sucesso escolar para as camadas populares através de
subdesenvolvimento uma atitude permanente. uma prática pedagógica que parta da afirmação (o que são, o que
fazem, o que conhecem).
As questões sociais, tais como habitação, subnutrição, 3. Desenvolve-se na escola, toma forma e corpo na prática peda-
subemprego, etc., continuam sendo o argumento mais a mão, para gógica:
acobertar quer os interesses espúrios ao campo da educação, que
movem sua administração, quer a indiferença de muitos de nós, a) o currículo formal b) o projeto educacional
professores e pesquisadores, encoberta por uma posição fatalista c) o trabalho pedagógico d) o currículo real
frente ao fracasso generalizado das crianças mais pobres que
frequentam nossas escolas públicas.
4. A relação entre educação e política é considerada:
Nas universidades, nas revistas especializadas em educação, nos
a) intrínseca b) objetiva
congressos, simpósios, outras questões tem sido tratadas e retratadas
na tentativa de superar quer os estigmas, quer o imobilismo reforçador c) subjetiva d) sociológica
da desigualdade de tratamento escolar dos diferentes segmentos de
classes sociais; os resultados escolares destes, na maioria das vezes, 5. As propostas pedagógicas das escolas deverão assegurar o
poderiam ser positivos se a escola funcionasse melhor. Mas o melhor tratamento:
funcionamento da escola depende ainda de um trabalho mais decisivo
de aproximação entre a academia (universidade/pesquisadores) e o a) interdisciplinar e contextualizado
mundo da “escola nossa de cada dia”, para que juntos pensem b) disciplinar e interdisciplinar
alternativas para a recuperação da escola.
c) objetivo e subjetivo
É nesse sentido que vemos cada vez mais necessária a relação
d) individual e coletivo
cidadania e educação. Nós não temos ainda a escola pública de que
precisamos, mas já começamos a contar, como nos diz o texto de
Arroyo, com um povo bem mais educado por isso mesmo, bem mais 6. Princípios pedagógicos que passaram a ser adotados como
capaz de exercitar sua cidadania no sentido de fazer funcionar no setor estruturadores para os novos currículos:
público a escola a cidadania de que falamos no início deste texto.
a) identidade b) autonomia
O momento, neste final de década, é o de desprivatizar o estado
c) diversidade d) todos estão corretos
brasileiro através de uma forte mobilização da sociedade civil no
controle do poder público. Cabe aqui realinhar o comportamento político
e uma prática ética, o que permitirá à nossa sociedade ampliar o 7. É elaborado a partir de matérias fixadas a nível nacional, por
espaço público que acolhe igualmente todos os cidadãos. É esta ética uma base comum, e a nível regional, por uma parte diversificada:
que vai nos levar a superar a visão do público, como “o de ninguém”,
a) o currículo real b) o currículo formal
percepção essa que é a causa principal da indiferença e da descrença
nas instituições públicas. Essas, no entanto, são as únicas capazes de c) o currículo pleno d) o currículo social
a) Na tendência tradicional dá-se valor aos processos mentais d) A Tendência Libertadora utiliza-se de uma didática que bus-
e habilidades cognitivas do que a conteúdos organizados ca desenvolver o processo educativo como tarefa que se
racionalmente. dá no interior dos grupos sociais e por isso o professor é
coordenador ou um animador das atividades que se orga-
b) Na maioria das escolas que seguem a tendência tecnicista, nizam pela ação conjunta dele e dos alunos.
acentua-se a importância do trabalho em grupo não apenas
como técnica, mas como condição básica do desenvolvi-
mento mental. 19. Pedagogia que zela pela autoridade do professor e aquisição
c) A Tendência renovada não-diretiva está mais preocupada de conteúdos pelos alunos:
com os problemas psicológicos do que com os pedagógi- a) tecnicista
cos ou sociais.
b) pedagogia da improvisação
d) A Tendência Progressista é orientada para os objetivos de
c) progressista crítico-social dos conteúdos
auto-realização e para as relações interpessoais, torna se-
cundária a transmissão de conteúdos. d) cognitivista
17. Compare as afirmativas que são feitas a respeito das Tendên- 20. A relação entre educação e política é considerada:
cias Tecnicista, Progressista e Liberal e assinale a que estiver
a) intrínseca b) objetiva
correta:
c) subjetiva d) sociológica
a) A Tendência Tecnicista desenvolveu-se no Brasil na década
de 50, à sombra do progressivismo.
b) A Tendência Liberal ganhou autonomia nos anos 60, quando 21. Desenvolve-se na escola, toma forma e corpo na prática peda-
se constituiu como tendência, inspirada na teoria behavio- gógica:
rista da aprendizagem e na abordagem sistêmica do ensi- a) o currículo formal
no.
b) o projeto educacional
c) A Tendência Progressista subordina a educação à socieda-
de. c) o trabalho pedagógico
b) o liberalismo
29. O processo de tomada de decisões deve basear-se em:
c) o neo liberalismo
a) conhecimentos múltiplos
d) o fundamentalismo
b) informações aleatórias
c) informações concretas
24. Na gestão democrática a ideologia da burocracia como um fim
d) aprendizagens sociais
em si mesma é substituída pela de:
a) organização
30. A concepção democrática-participativa de gestão valoriza:
b) planejamento
a) o desenvolvimento pessoal
c) democracia
b) a qualificação profissional
d) didática
c) a competência técnica
d) de lazer
b) a democracia a) na gestão
c) a didática b) na inspeção
35. A base do trabalho do pedagogo deve ser: 41. Para selecionar e organizar os saberes com vistas à transmis-
são e aprendizagem dos alunos é preciso tomar decisões que
a) a orientação educacional
envolvem:
b) a docência
a) interesses e conflitos
c) a assistência à direção da escola
b) posicionamentos e divergências
d) a liberalidade dos educadores
c) sentimentos
d) na realidade do aluno
37. Para favorecer o processo múltiplo, complexo e relacional de
conhecer e incorporar dados novos ao repertório de significados,
utilizando-os na compreensão orgânica dos fenômenos, no enten- 43. A elaboração do projeto político-pedagógico sob a perspectiva
dimento da prática social é necessária a riqueza de: da inovação emancipatória é:
a) interação individual
44. O projeto político pedagógico inovador:
b) construção social
a) limita as atividades dos alunos
c) formação profissional
b) amplia as probabilidades de aprendizagem
d) concordância e consentimento de assimilação
c) amplia as atividades do pedagogo junto à escola
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