Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
SHAW
Departamento de Química da Liverpool Polytechnic
Tradução:
JUERGEN HEINR1CH MAAR
Instituto de Química da Universidade Estadual de Campinas
17. CDD-541.345
75-0331 IS. -541.3451
17. e 18. -541.3453
U N I V E R S I D A D E DE S Ã O P A U L O
direitos reservados
para a língua portuguesa pela
Editora Edgar d Blücher Ltda.
1975
PR EFÁ C IO .................................................................................................... IX
1. O ESTADO CO LO ID A L.......................................................................... 1
Introdução.................................................................................................... 1
Classificação dos sistemas coloidais............................................................ 2
Características estruturais........................................................................... 4
Obtenção e purificação de sistemas coloidais......... .................................. 6
2. PROPRIEDADES CINÉTICAS................................................................ 12
O movimento das partículas em meios líquidos........................................ 12
Movimento browniano e difusão translacional .......................................... 14
A ultracentrífuga ........................................................................................... 20
Pressão osm ótica......................................................................................... 23
Movimento browniano ro tató rio ................................................................ 29
5. A INTERFACE SÓLIDO-GÁS................................................................ 75
Adsorção de gases e vapores sobre sólidos......................... 75
6. A INTERFACE SÓLIDO-LÍQUIDQ...................................................... 90
Ângulos de contato e umedecimento.......................................................... 90
Flotação de m inérios.................................................................................... 94
Detergência................................................................................................... 95
Adsorção em solução................................................................................... 98
7. INTERFACES COM CARGAS ELÉTRICAS........................................ 102
A dupla camada elétrica............................................................................... 102
Fenômenos eletrocinéticos........................................................................... 112
Teoria eletrocinética.................................................................................... 120
Ao preparar a segunda edição deste livro, a sua estrutura básica não foi alterada. Foram
feitas aqui e ali algumas pequenas alterações e atualizações no texto. As principais inovações
são a inclusão do estudo da Adsorção em solução (Cap. 6) e de Espumas (no Cap. 10), e uma
remodelação e ampliação dos Caps. 7 e 8, sobre Interfaces com cargas elétricas e Estabilidade
dos colóides. O texto foi também adaptado ao Sistema Internacional de Unidades (SI) e
a algumas recomendações mais recentes sobre terminologia em Físico-Química.
Liverpool D. J. SHAW
CAPÍTULO 1
0 ESTADO COLOIDAL
INTRODUÇÃO
A ciência dos colóides se ocupa com sistemas nos quais um ou mais dos com
ponentes apresentam pelo menos uma de suas dimensões dentro do intervalo
de 1 nm a 1 //m;* ou seja, ela se refere, essencialmente, a sistemas contendo tanto
moléculas grandes como pequenas partículas. O termo “microeterogêneo” cons
titui uma descrição apropriada para a maior parte dos sistemas coloidais. Não
existe, contudo, uma separação nítida entre sistemas coloidais e sistemas não-
-coloidais, especialmente nas proximidades do limite superior das dimensões
do estado coloidal. Por exemplo, o tamanho das gotículas presentes em emulsões
é normalmente superior a 1 /tm; contudo é conveniente tratar as emulsões como
sistemas coloidais.
Em muitos aspectos, a ciência dos colóides interliga diversos campos das
ciências exatas. Particularmente importante é o emprego de técnicas físico-quí-
micas ao estudo de sistemas naturais, principalmente proteínas. O campo dos
altos polímeros sintéticos constitui outro notável objeto de estudo da ciência
dos colóides. Os fenômenos coloidais são encontrados com freqiiência em processos
industriais — plásticos, borracha, tintas, detergentes, papel, análise do solo, pro
dutos alimentícios, tecidos, precipitação, cromatografia, troca iônica, flotaçâo,
catalise heterogênea são apenas alguns exemplos de materiais e técnicas em que
assumem importância as substâncias de dimensões coloidais. Devido à grande
complexidade dos sistemas coloidais, o assunto não pode, muitas vezes, ser tratado
com a exatidão associada a certos ramos da físico-química; é essa falta de exatidão,
e não uma possível falta de importância, a responsável por uma injustificável
tendência a desprezar-se a ciência dos colóides durante os cursos universitários.
Até as últimas décadas, a ciência dos colóides era algo mais ou menos autô
nomo, um assunto quase inteiramente descritivo, que não se ajustava aparente
mente ao esquema geral da física e da química. O emprego de materiais de com
posição duvidosa, que introduzia considerável incerteza em questões de repro-
dutibilidade e interpretação, era parcialmente responsável por esse estado de
coisas. A tendência atual é trabalhar, sempre que possível, com materiais puros,
que funcionam como modelos para os sistemas reais em estudo. Um exemplo
típico disso é o trabalho de McBain sobre sabões e detergentes. Apesar do grande
número de variáveis que devem freqüentemente ser considerados, pesquisas desse
tipo, associadas aos progressos feitos na compreensão dos princípios fundamentais
da física e da química, tornaram possíveis a formulação de teorias coerentes, e
mesmo prováveis, com respeito a muitos aspectos do comportamento coloidal.
*1 nm = 10~9 m; 1 fim = 10*6 in.
2 Introdução à química dos colóides e de superfícies
Dispersões
As partículas presentes numa dispersão coloidal são suficientemente grandes
para permitirem a existência de superfícies de separação definidas entre as par
tículas e o meio no qual estão dispersas essas partículas. Dispersões coloidais
simples, são, portanto, sistemas de duas fases. As fases são conhecidas pelos termos
fase dispersa (a fase constituída pelas partículas) e meio de dispersão (o meio pelo
qual se distribuem as partículas) — veja Tab. 1.1. A natureza física de uma dis
persão depende evidentemente dos papéis exercidos pelas duas fases constituintes
Tabela 1.1. Tiros de dispersões coloidais
do sistema; por exemplo, uma emulsão de óleo em água (O/A) e uma emulsão
de água em ólêo-(A/0), poderiam ter ambas quase a mesma composição global,
mas suas propriedades físicas seriam bastante diferentes (veja Cap. 10).
Sóis e emulsões são sem dúvida os tipos mais importantes de dispersõçs
coloidais. O termo sol é usado para distinguir suspensões coloidais de suspensões
macroscópicas; evidentemente não existe uma linha de demarcação definida entre
ambas. Se o meio de dispersão for a água, emprega-se geralmente o termo hidrossol.
As espumas são diferentes, pois aqui o meio de dispersão é a fase que apresenta
dimensões coloidais.
A importância da interface
A característica essencial comum a todas as dispersões coloidais é st grande
relação área/volume para as partículas envolvidas. Nas superfícies de separação
(interfaces) entre fase dispersa e meio de dispersão, manifestam-se fenômenos de
superfície característicos, tais como efeitos de adsorção e dupla camada elétrica;
esses fenômenos são de grande importância na determinação das propriedades
físicas do sistema como um todo. Por causa desse fato a química das superfícies
se relaciona intimamente com a ciência dos colóídes.
Os fenômenos de superfície, ou interfaciais, associados a sistemas coloidais
(ais com o emulsões e espumas são estudados muitas vezes por meio de experiências
reali/adas cm superfícies planas artificiais especialmente preparadas para isso e
nao nos próprios sistemas coloidais. Esses métodos levam a uma útil abordagem
indireta dos vários problemas envolvidos.
CARACTERÍSTICAS ESTRUTURAIS
Forma das partículas
A assimetria das partículas é um fator de considerável importância na deter
minação das propriedades dos sistemas coloidais (especialmente das propriedades
de natureza mecânica). De uma maneira rudimentar, as partículas coloidais podem
ser classificadas, de acordo com sua forma ou aspecto, em corpusculares, laminares
e lineares (veja por exemplo, as micrografias eletrônicas da Fig. 3.6). A forma exata
das partículas pode ser complexa, mas, numa primeira abordagem, as partículas
coloidais podem ser freqüentemente tratadas teoricamente à base de modelos
de formas relativamente simples (veja Fig. 1.1).
O modelo que permite o mais fácil tratamento teórico é a esfera, e muitos
sistemas coloidais contêm realmente partículas esféricas ou quase esféricas. Emul
sões, látex (dispersões de substâncias polimerizadas, tais como borracha e plásticos
em água), aerossóis líquidos, etc. contêm partículas esféricas. Algumas moléculas
de proteínas são aproximadamente esféricas. As partículas cristalinas em dis
persões como sóis de ouro são suficientemente simétricas para serem consideradas
como esferas.
Partículas corpusculares que se afastam da forma esférica podem muitas
vezes ser tratadas teoricamente como elipsóides de revolução. Muitas proteínas
se aproximam desse modelo. Um elipsóide de revolução é caracterizado por sua
razão ou relação axial, que é a relação entre o semi-eixo a e o eixo de revolução
b. Essa relação axial é maior do que a unidade no caso de um elipsóide alongado
nos pólos (forma de uma bola de rugby), e menor que a unidade no caso de um
elipsóide achatado nos pólos (forma de disco).
Suspensões de óxido férrico e de argila constituem exemplos de sistemas
contendo partículas em forma de placas.
Elipsóides
de revolução
C
Bastão Disco Espiral ao acaso
Figura 1.1. Modelos representativos de alguma? partículas não-esféricas
' » iv.l.nln cnloida! 5
Nucleação e crescimento
A formação de uma nova fase durante a precipitação envolve dois estágios
distintos — nucleação (a formação de centros iniciais de cristalização) e o cres
cimento dos cristais — e (deixando de lado o problema da estabilidade) são as
velocidades relativas destes processos que determinam o tamanho das partículas
do precipitado assim formadas.18 Obtém-se um elevado grau de dispersão quando
a velocidade de nucleação é elevada e a velocidade de crescimento dos cristais
baixa.
A velocidade inicial de nucleação depende do grau de supersatu' ação que
pode ser alcançado antes de ocorrer a separação das fases, de modo qúe os sóis
coloidais são preparados mais facilmente quando a substância em questão tiver
uma solubilidade muito baixa. No caso de substâncias com solubilidade da ordem
da do carbonato de cálcio, por exemplo, as partículas menores tendem a se redis-
solver (veja p. 43) e rcprecípitar sobre as partículas maiores à medida que a solução
envelhece.
A velocidade de crescimento das partículas depende principalmente dos
seguintes fatores:
1. quantidade de substância disponível;
2. viscosidade do meio, que controla a velocidade de difusão da substância à
superfície das partículas;
3. a facilidade com que a substância adquire orientação correta parà se incor
porar ao retículo cristalino da partícula;
4. ádsorção de impurezas na superfície das partículas, que podem agir como
inibidores de crescimento;
5. agregação partícula-partícula.
Precipitado
Sóis monodispersos
. Métodos de agregação levam geralmente à formação de sóis polidispersos
principalmente por causa da formação de novos núcleos, ao mesmo tempo em que
crescem os núcleos formados anteriormente, o que equivale dizer que as partículas
finais crescem a partir de núcleos formados em tempos diferentes. Contudo, em
experiências elaboradas para testar a validez das teorias sobre colóides, vantagens
óbvias se prendem ao emprego de sistemas monodispersos. A preparação de sis
temas monodispersos requer condições nas quais a nucleação se restringe a um
período relativamente curto no início da formação do sol. Essa situação pode ser
alcançada às vezes semeando uma solução supersaturada com partículas muito
pequenas, ou então em condições que levem a uma nucleação rápida e homogênea,
e de curta duração.
Um exemplo desta técnica de semeadura se baseia no método empregado por
Zsigmondy (1906) para preparar sóis de ouro praticamente monodispersos. Uma
solução aquosa diluída quente de HAuC14 é neutralizada com carbonato de
potássio, e uma parte do soluto é reduzida com pequena quantidade de fósforo
branco, obtendo-se assim um sol de ouro altamente disperso, cujas partículas
apresentam um raio médio de cerca de 1 nm. A parte restante de HAuC14 é então
reduzida lentamente com formaldeído na presença dessas pequenas partículas
de ouro. Uma nucleação subseqüente pode assim ser praticamente evitada, e
todo o ouro liberado nesta segunda etapa se deposita sobre as pequenas partículas
já existentes. Como as diferenças absolutas nos tamanhos das partículas semeadas
não são grandes, obtém-se um sol aproximadamente monodisperso. Controlando
0 estado coloidal 9
Colóicles^macromoleculares
A química das macromoléculas abrange um campo bastante vasto, que inclui
substâncias polimerizadas naturais, tais como proteínas, celulose, borracha natural
e substâncias análogas; derivados industrializados de polímeros naturais, como
carboximetilcelulose sódica, raiom e borracha vulcanizada; e polímeros inteira
mente sintéticos, como politeno (polietileno), teflon (politetrafluoretileno), polies
tireno, polimetilmetacrilato, tergal (terilene ou tereftalato de polietileno) e os
diferentes ''tipos de náilom (poliamidas, por exemplo poliexametileno-adipamida).
Só será possível mencionar brevemente alguns dos aspectos mais gerais da poli-
merização. Textos especializados devem ser consultados para detalhes sobre pre
paração, propriedades e usos destes diferentes produtos.
Esses polímeros contêm moléculas gigantes, constituídas por um grande
número de unidades (os monômeros) semelhantes (mas não necessariamente
idênticas), ligadas entre si por ligações, covalentes. As reações de polimerização
podem ser realizadas ou no seio do proprio material monômero, ou em solução.
Üma outra técnica, a polimerização em emulsão, que permite um maior controle
da reação será discutida no Cap. 10.
Há dois tipos distintos de polimerização, de adição e de condensação.
A polimerização de adição não envolve uma alteração de composição química.
Ocorre, em geral através de um mecanismo em cadeia, uma seqiiência típica de
reações, conforme segue.
1. Formação de radicais livres a partir de um catalisador (iniciador), como um
peróxido, por exemplo.
2. Iniciação; por exemplo, ^
CH2 = CHX+R*-> RCH2-C H X
m onômero vinílico radical livre
10 Introdução à química dos colóidns o de superfícies
3. Propagação
★
RCH2-C H X + C H 2 = CHX -> *
RCH2- C H X - C H 2-C H X , ele.,
ate ★
R(CH2 CHX)„ÇH2-C H X
polímero vinílico
4. Terminação. Esta pode se dar de várias maneiras, como reação da cadeia
ativada com uma impureza, um aditivo ou outras cadeias ativadas, ou através
de desproporcionamento entre duas cadeias ativadas.
Um aumento de temperatura aumenta as velocidades de iniciação e termi
nação, e a velocidade de polimerização aumenta em conseqüência; mas o com
primento médio das cadeias do polímero diminui. O comprimento da cadeia
também pode ser diminuído aumentando-se a concentração do catalisador, pois
dessa forma a iniciação da formação de cadeias se dará em muitos locais através
da mistura em reação.
A polimerização de condensação envolve uma reação química entre grupos
funcionais, com eliminação de moléculas pequenas, geralmente água. Por exemplo
xNH2(CH2)6 4- xCOOH(CH2)4COOH —►
hexamctilcnodiamirut ácido adípico
Diáline
Os papéis de filtro comuns retêm apenas partículas com diâmetros de pelo
menos 1 /tm, e são, portanto, permeáveis a partículas coloidais. O emprego de
membranas para separar partículas de dimensões coloidais é denominado diá-
lise.19 As membranas de uso mais generalizado são preparadas a partir de pro
dutos regenerados de celulose, tais como o “colódio” (uma solução parcialmente
evaporada de nitrato de celulose em álcool e éter), celofane, “Visking”. Existem
no comércio membranas com poros de vários diâmetros, conhecidos com certa
aproximação. Mas não se pode correlacionar devidamente tamanho de partículas
e tamanho dos poros, pois a permeabilidade da membrana também é afetada
por outros fatores, como repulsão elétrica quando membrana e partículas apresen
tam cargas idênticas, e adsorção de partículas sobre o filtro, que pode provocar
obstrução dos poros.
0 estado coloidal 11
PROPRIEDADES CINÉTICAS
Velocidade de sedimentação
Considere a sedimentação de uma partícula sem carga e de massa m e volume
específico v num líquido de densidade p. A força que atua sobre a partícula levan
do-a a precipitar (“força de sedimentação”), que é independente da forma da
partícula e da solvatação, é m (l-vp)g onde g é o valor local da aceleração da
gravidade (ou de um campo centrífugo). O fator (1 - vp) é introduzido devido
à força ascensional do líquido. O meio líquido oferece uma resistência ao movi
mento da partícula, que aumenta com o aumento da velocidade. Desde que a
velocidade não seja muito grande, o que quase sempre ocorre com partículas
coloidais (e um pouco maiores), a resistência do líquido pode ser considerada,
numa primeira aproximação, como sendo proporcional à velocidade da partícula
que sedimenta. Num intervalo de tempo muito curto, atinge-se uma velocidade
final d.\'/df, no instante em que são iguais a força que impede a partícula e a resis
tência oferecida pelo líquido
m(l~vp)g = (2-1)
Razão friccional
O coeficiente friccional de uma molécula assimétrica depende de sua orien
tação. Em velocidades baixas, estas partículas se encontram num estado de
orientação aleatória, variável, devido a perturbações acidentais; a resistência do
líquido ao movimento dessas partículas pode ser expressa em termos de um coe
ficiente friccional médio, que leva em conta todas as orientações possíveis. Para
partículas de volumes iguais, o coeficiente friccional aumenta com o aumento
da assimetria. Isso porque a diminuição da resistência do líquido, quando a par
tícula tem orientação paralela à direção de fluxo, não é suficiente para compensar
o aumento de resistência do líquido quando a partícula tem outra orientação
qualquer; como resultado, haverá um aumento da resistência.
O coeficiente friccional também cresce devido à solvataçâo das partículas
(ou hidratação, em sistemas aquosos).
Uma partícula contendo um dado volume de material seco terá o menor
coeficiente friccional possível, num dado líquido, /„, quando se encontra sob a
forma de esfera dessolvatada. A razão friccional, f / j 0, (isto é, a relação entre o
coeficiente friccional real e o coeficiente da correspondente esfera dessolvatada)
constitui assim uma medida de uma combinação entre assimetria e solvataçâo.
Tendo em vista a aplicação desse conceito a proteínas dissolvidas, Oncley20
calculou razões friccionais para elipsóides de revolução de diferentes graus de
assimetria e hidratação. O diagrama resultante (Fig. 2.1) mostra combinações de
valores para a razão entre os eixos e de valores de hidratação, compatíveis com
razões friccionais conhecidas. As contribuições de assimetria e hidratação isolada
mente não podem ser determinadas, a não ser que se disponha de outras informações
importantes.
14 Introdução à química dos colóides e de superfícies
Hidratação
Massa de água/massa de proteína
Figura 2.1. Valores de razão axial, a/b, e de hidratação, compatíveis com diferentes razões
friccionais (as linhas de contorno representam valores de .///'„I. (Cortesia dos autores20 e
da .Reinhold Publishing Corporation)
x = y ÍD t, (2.4)
I RTt '
X ~ V 3raiaNA *' ’
Perrin (1908) estudou o deslocamento browniano (e o equilíbrio de sedimen
tação sob a ação da gravidade, veja p. 22) em suspensões de mástique* c dc goma-
"-guta**, de partículas de tamanhos conhecidos, e calculou valores para a constante
de Avogadro; encontrou valores entre 5,5 x 1023mol_1 e 8 x IO23 mol 1. Expe
riências análogas posteriores levaram a valores mais próximos de 6,02 x 1023 m o l'1.
Por exemplo, Svedberg (1911) calculou NA = 6,09 x IO23 mol 1, observando o
movimento de sóis de ouro monodispersos de dimensões conhecidas num ultra-
microscópio. A determinação exata da constante de Avogadro a partir de obser
vações sobre o movimento browniano constitui uma comprovação notável da
validez da teoria cinética.
*Mástique — materiais resinosos sólidos segregados por diversas Anacardiáceas, como
a aroeira-da-praia (Pistacia lentiscus L.), nativas sobretudo na região do Mediterrâneo.
Resina transparente, amarela ou esverdeada, insolúvel em água e solúvel em álcool, bastante
empregada em vernizes, estuques e mesmo preparados farmacêuticos. (N. do T.).
**Goma-guta —resinas extraídas de gutíferas do Sudeste asiático, como Garcinia hanburii
(resina.cinza-castanha) ou Garcinia moreiia (resina amarela); formam em água soluções
coloidais e são usadas como pigmento e para fins farmacêuticos. (N. do T.).
16 Introdução à química dos coióides e de superfícies
Tabela 2.1. C o e f ic ie n t e s de d if u s ã o e d e s l o c a m e n t o s b r o w n ia n o s
CALCULADOS PARA ESFERAS SEM CARGA, EM ÁGUA A 20 °C
Raio ^20 °C/m2 S x após 1 hora
10“ 9 m (l nm) 2,1 x IO-10 1,23 x IO '3 m (1,23 mm)
10-8 m (10 nm) 2,1 x 10"11 3,90 x IO-4 m (390 pm)
10“ 7 m (100 nm) 2,1 x IO” 12 1,23 x IO- 4 m (123 pm)
10-6 m (l pm) 2,1 x IO"13 3,90 x 1 0 -5 m (39 /tm)
Difusão translacional
A difusão é a tendência que as moléculas apresentam de migrar de uma região
de concentração elevada para outra região de baixa concentração, e é uma con
seqüência direta do movimento browniano.
A primeira lei de Fick para a difusão (análoga à equação da condução térmica)
diz que a massa de substância dm que difunde segundo a direção x num tempo
dt, através de uma área A, é proporcional ao gradiente de concentração dc/dx
no plano em questão,
dm = - DA — dt. (2.8)
dx
(O sinal menos significa que a difusão se processa no sentido da concentração
decrescente).
A velocidade de alteração de concentração em um ponto qualquer dado é
dada por uma expressão exatamente equivalente, a segunda lei de Fick, isto é
dc d2c
(2.9)
dt ^ dx2
O fator de proporcionalidade D é chamado de coeficiente de difusão. Não se trata
de uma constante no sentido mais correto desse termo, pois depende ligeiramente
da concentração.
As Eqs. (2.4) e (2.5) podem ser deduzidas a partir da expressão para a primeira
lei de Fick, (2.8), como segue.
1. Equação para o deslocamento browniano (2.4) — Considere (Fig. 2.2) um plano
AB através de uma dispersão, separando regiões de concentrações cí e e2, sendo
c1 > c2. O deslocamento Browniano médio de uma dada partícula perpendicular
a AB é x, num tempo í. Para cada partícula, este deslocamento tem iguais proba
bilidades de ocorrer da “esquerda para a direita” e da “direita para a esquerda”.
A massa resultante de partículas deslocadas da esquerda para a direita através
de uma unidade de área de AB num tempo t, é, portanto, dada por:
( c , - c 2)x (c. - c2)x2 A
m — --------------= ---------------- T
2 2x I I
I C1 c2 l
Se x for pequeno, I I
_ B _
<:i " C2 = _ ^ £ -I
x dx Figura 2.2
Propriedades cinéticas 17
e portanto
1 dc ,
m= —-x 2. (2.10)
2 dx
De (2.8) temos
dc
m = —D — t (2.11)
dx
E finalmente, combinando as Eqs. (2.10) e (2.11)
x = J lD t. (2.4)
2. Equação da difusão (2.5) — O trabalho executado movendo uma partícula
segundo uma distância dx, contra uma resistência friccional que se opõe ao movi-
dx
mento, f — > poderá ser equacionado levando em conta a resultante variação de
dt
potencial químico, dada pela equação
dp = kT d ln c,
isto e
dx
/ — dx = kT d In c-
dt
e portanto
dx _ kT d ln e _ kT dc
( 2 . 12)
dt f dx fc dx
Uma vez que
dm dx
Ac — >
dt dí
teremos, combinando essa expressão com a Eq. (2.8),
dx dc
c ~T (2.13)
dt = Ddx '
E finalmente, combinando as Eqs. (2.12) e (2.13)
Df = kT. (2.5)
Para um sistema contendo partículas esféricas, D = RT/6nqaNÁ, ou seja,
D, é proporcional a l/w 1/3, sendo m a massa da partícula. Para sistemas cons
tituídos por partículas assimétricas, o valor de D é menor (veja Tab. 2.3), já que
D = kT /f a razão D/D0 (onde D é o coeficiente de difusão experimental e D0 o
coeficiente de difusão de um sistema contendo as equivalentes esferas dessolva-
tadas) é igual à recíproca da razão friccional f / f 0. Efeitos de cargas serão discutidos
na p. 23.
Figura 2.3. Formação inicial de uma nítida fronteira móvel entre dois líquidos miscíveis
formação de uma sombra que assinala a região em que varia o índice de refração.
É possível montar o dispositivo óptico de tal maneira que a fronteira é fotografada
sob a forma de um pico correspondente ao gradiente dos índices de refração. Como
os aumentos sofridos pelo índice de refração e os aumentos de concentração são
geralmente proporcionais, a forma do pico pode ser registrada diretamente.
As colunas de difusão livre devem ser suficientemente longas para que as
concentrações nos extremos mais afastados da célula permaneçam inalteradas
durante a execução da experiência. Para um sistema monodisperso mantido nessas
condições, pode-se mostrar, resolvendo as equações de Fick, que as curvas que
representam os gradientes de concentração (Fig. 2.4b) adquirem a forma de curvas
de distribuição Gaussiana, representadas pela expressão
A ULTRACENTRÍFUGA
Existem diversas técnicas experimentais (por exemplo, o tubo de Weigner
e a balança de Odén)23,24 que se aproveitam da sedimentação sob ação da gra
vidade para fracionar ou para determinar a distribuição de tamanhos de partículas
em sistemas que contêm material suspenso mais ou menos bruto, como sóis ou
pigmentos. A sedimentação sob ação da gravidade apresenta um limite prático
inferior da ordem de 1 fim. Partículas menores (coloidais) sedimentam tão Ienta-
mente que o efeito da sedimentação é compensado por difusão e convecção, fenô
menos que tendem à misturar novamente as frações.
Contudo, empregando forças centrífugas em lugar da simples ação da gravidade,
a sedimentação pode ser aplicada também ao estudo de sistemas coloidais23"27.
A força q ue atua sobre a molécula ou partícula em suspensão será então m( 1 vp)oj2x,
onde ffléa velocidade angular e i a distância entre a partícula e o eixo de rotação.
Uma ultracentrífuga é uma centrífuga de alta rotação, acoplada a um sistema
óptico adequado (usualmente sehlieren) para registrar o comportamento da sedi
mentação, e provida de dispositivos que eliminam perturbações provenientes de
efeitos de vibração e correntes de convecção. A amostra é colocada numa célula
de forma de setor de esfera, montada num rotor (geralmente com cerca de 18 cm
de diâmetro), o qual gira numa câmara termoestatizada contendo hidrogênio à
pressão reduzida. Muitos dispositivos para acionar o rotor foram investigados
— Svedberg, pioneiro nesse campo, empregou uma turbina a óleo, que foram
substituídas por instrumentos mais simples e menos dispendiosos, elétricos ou a
ar comprimido.
A ultracentrífuga pode ser utilizada de dois modos distintos na investigação
de substâncias em suspensão coloidal. No chamado “método das velocidades”
aplica-se um campo centrífugo muito alto (até cerca de 400 000 g), e mede-se,
em intervalos de tempo apropriados, o deslocamento da separação surgida na
cela por ação da sedimentação das partículas coloidais (Fig. 2.6). No método do
equilíbrio, a solução coloidal é submetida a um campo centrífugo bem mais baixo,
até que as tendências de sedimentação e de difusão se equivalem e compensam,
atingindo-se uma distribuição de equilíbrio de partículas através de toda a amostra.
Tabela 2 .2 . V e l o c id a d e s d e se d im e n t a ç ã o , so b a ç ã o d a
GRAVIDADE, PARA ESEERAS SEM CARGA DE DEN
SIDADE 2 G í M" 3 , EM ÁGUA A 2Ó ° C ; CAL
CULADAS A Pa RTIR DA LEI DE STORES
lh l 5h
2 h 2-5 h
Figura 2.6. Sedimentação de uma amos Figura 2.7. Aspectos essenciais de uma
tra monodispersa de hemocianina de ullracentrífuga a ar comprimido
Limulus, medida pelo método “schlieren”
de Philpot-Svensson (18 000 revoluções
min-1 )28,. (Cortesia da American Che
mical Society)
Velocidade de sedimentação
R elacionando a força que atua sobre uma m acrom olécula num cam po cen
trífugo com a resistência friccional do m eio de suspensão, terem os
.. dx
m(l - vp)m2x = f
dt
e uma vez que Df — kT,
dx inD( I - vp)w2x
dt = kT ’
MD( 1 - vp)oj2x
RT
M ... * Z L _ , (2.16)
/ > ( l- v p )
onde i l í é a massa m olar (partícula não-solvatada) e s o coeficiente de sedim entação
s = d x/d t/co2x.
Integrando
ln x j x x
(2.17)
Das expressões acima, torna-se evidente que para determinar as massas de par
tículas ou moléculas a partir de dados de velocidade de sedimentação, é preciso
medir também o coeficiente de difusão correspondente. Com relação a este fato,
torna-se necessária uma experiência separada, já que o coeficiente de difusão
não pode ser determinado com exatidão in situ, pois haverá um certo afilamento
do pico quando temos o coeficiente de sedimentação aumentando com a con
centração dccrescendo.
Deve-se tomar cuidado para evitar no sistema em investigação qualquer
processo de floculaçâo. Isso é válido para todas as técnicas empregadas para deter
minar massas moleculares ou de partículas. Os valores de s, D e v devem ser
corrigidos em relação a uma temperatura padrão, normalmente 20 °C, e deve ser
feita uma extrapolação a um valor correspondente a uma concentração zero.
No caso de sistemas polidispersos observa-se ou um alargamento da fronteira
(além do alargamento provocado pela difusão), ou a formação de picos distintos
representando as diferentes frações. A sedimentação não é um método inequívoco
para estabelecer a homogeneidade ou não de um sistema coloidal. Por exemplo,
uma mistura de albumina do soro e de hemoglobina apresenta-se homogênea
com relação à velocidade de sedimentação, mas as duas proteínas podem ser
distinguidas facilmente uma da outra por eletroforese.
Conhecendo-se M e v, podemos determinar D0, e portanto a relação DJD
(a razao friccional).
Equilíbrio de sedimentação
Considere o fluxo de moléculas através de uma área seccional A de uma
solução coloidal de concentração c e gradiente de concentração dc/dx. A velo
cidade de fluxo é cA(dx/dt\ devida à sedimentação, e, de acordo com a primeira
lei de Fick, - D,4(dc/dx), devido à difusão. Quando se atinge o equilíbrio de
sedimentação, o fluxo total será nulo, de modo que
dx dc
c— = D—
dt dx
e como
dx MD( 1 - vp)w2x
dt RT
teremos
dc o)2M( 1 - vp)x dx
c RT
Integrando, temos
2RTln c,/c,
M = ( 2 .1 9 )
- vp) (A-2 - .V
w 2( í
Efeitos de carga
A abordagem da sedimentação e da difusão se torna um pouco mais com
plicada quando as partículas a considerar apresentam cargas. Os íons pequenos
com cargas opostas às das partículas coloidais tendem a precipitar com uma velo
cidade menor, em atraso com relação à precipitação das partículas coloidais
(veja Cap. 7). Cria-se assim um potencial, que tende a restaurar a condição inicial
de neutralidade elétrica total, retardando o movimento das partículas coloidais
e acelerando o movimento dos íons menores com carga oposta à das partículas.
À difusão se aplica a situação inversa. Os íons pequenos coexistentes com
as partículas coloidais difundem mais rapidamente que as partículas coloidais,
arrastando-as consigo e aumentando sua velocidade de difusão.
Esses efeitos podem ser evitados empregando soluções eletrolíticas saturadas.
Quaisquer potenciais que possam se formar são então rapidamente dissipados
por um deslocamento muito pequeno de um grande número de íons.
PRESSÃO OSMÓTICA
A medição de uma propriedade coligativa (abaixamento da pressão de vapor,
abaixamento do ponto de congelamento, aumento do ponto de ebulição ou pressão
osmótica) constitui um método tradicional para a determinação da massa mole
cular relativa de uma substância em solução. Destas propriedades, a única que
apresenta importância prática no caso de macromoléculas é a pressão osmótica.
Considere, por exemplo, uma solução de 1 grama de material macromolecular,
de massa molecular relativa igual a 50 000, dissolvido em 100 cm3 de água. Su
pondo comportamento ideal da solução, isto é
abaixamento do ponto de congelamento,
Kf c 1,86 K kg mol“ 1 x IO-2
= = 50 000 x 10“ 3 kg mol“ 1 ’
= 0,0037 K.
Tabela 2.3. D ados moleculares de proteínas e outras substâncias em solução aquosa
Nome S 20 °C ^ 2 0 °C V 2 0 °C
Mr(s) M,(e) Mr(n) ///o
Ponto iso-
10“ 13 s 10“ 11m2 s “ 1 cm3 g ~ 1 elétrico (pH)*
Uréia 129 60
Sacarose 36 342
Ribonuclease 1,85 13,6 0,709 12 700 13 000 1,04
Mioglobina 2,04 11,3 0,741 16 900 17 500 17 000 1,11 7,0
Gliadina 2,1 6,7 0,724 27 500 27 000 1,6
/J-Lactoglobulina 3,1 7,3 0,751 41000 38 000 35 000 1,26 5,2
Albumina do ovo 3,55 7,8 0,749 44 000 40 500 45 000 1,16 4,55
Hemoglobina (cavalo) 4,48 6,3 0,749 68 000 68 000 67 000 1,24 6,9
Albumina do soro (cavalo) 4,46 6,1 0,748 70 000 68 000 73 000 1,27 4,8
Globulina do soro (cavalo) 7,1 4,0 0,745 167 000 150 000 175 000 1,4
Fibrínogênio (bovinos) 8,2 2,0 0,706 330 000 2,3 5,2
Miosina 7,2 0,8 0,74 840000 4,0 5,4
Vírus do nanismo do tomateiro 132 1,15 0,739 10 600 000 1,27 4,1
Vírus do mosaico do tabaco 174 0,3 0,727 59 000 000 2,9
M,.(s) = Massamolecular relativadeterminadaapartirda velocidade de sedimentação
M (e) = Massamolecular relativadeterminadaapartir do equilíbrio de sedimentação
Mr(n) = Massamolecular relativa determinada a partir de medidas da pressão osmótica
*medido a 20 °C, num tampão acetatoou fosfato, e em força iônica de 0,02m olk g_1
Propriedades cinéticas 25
solvente
2) O mesmo polímero num solvente
pouco apropriado
3) Uma proteína globular em meio
aquoso
c
tração da solução. Em sistemas polidispersos mede-se uma massa molecular média
de número.
Interface
solução-tolueno
Solvente
Solução coloidal
Membrana sobre
um suporte
----
Tempo
28 Introdução à química dos colóides e de superfícies
O equilíbrio de Dormem
Surgem certas complicações quando consideramos soluções contendo tanto
espécies iônicas que não sofrem difusão e (inevitavelmente) espécies que sofrem
difusão. Gibbs previu, e Donnan posteriormente demonstrou, que quando os
íons não passíveis de difusão se localizam em um dos lados de uma membrana
semipermeável, a distribuição dos íons que difundem é desigual depois de atingido
o equilíbrio, sendo maior do lado que contém os íons que não sofrem difusão.
Essa distribuição pode ser calculada por considerações termodinâmicas, mas será
suficiente uma abordagem mais simples, cinética.
Considere um exemplo simples, em que volumes iguais de soluções de sal
de sódio de uma proteína e de cloreto de sódio, com concentrações equivalentes
Propriedades cinéticas 29
( 1) ( 2)
Birrefringência de escoamento
A amostra é submetida a um forte gradiente de velocidade — por exemplo,
num viscosímetro de cilindros concêntricos (Fig. 2.14) —e o alinhamento de
partículas ou moléculas, daí resultante, faz com que a solução antes isotrópica se
torne birrefringente (ocorre dupla refração). A intensidade da birrefringência se
relaciona, através de uma teoria mais ou menos complexa, ao coeficiente de difusão
rotacional, e portanto às dimensões das partículas ou moléculas em questão.
Em alguns casos, por exemplo no do sol de hidróxido de ferro III, a birrefrin
gência pode ser provocada pela ação orientadora de campos elétricos ou magnéticos.
Dispersão dielétrica
Quando uma solução contendo moléculas dipolares é colocada entre eletrodos
e submetida a uma corrente alternada, as moléculas tendem a girar em fase com
a corrente, aumentando assim a constante dielétrica da solução. À medida que a
freqüência aumenta, as moléculas dipolares encontram maior dificuldade em
vencer a resistência oferecida pela viscosidade do meio com rapidez suficiente para
poderem permanecer em fase; a constante dielétrica cai de maneira mais ou menos
escalonada. Cada freqüência característica na qual ocorre uma variação apreciável
da constante dielétrica está relacionada ao tempo necessário para que a molécula
gire em torno de um eixo parlicular, e portanto ao coeficiente apropriado de
difusão rotatória.
C A P ÍT U L O 3
PROPRIEDADES ÓPTICAS
ESPALHAMENTO DA LUZ
Quando um feixe de luz atinge uma solução coloidal ou uma dispersão
coloidal, parte da luz poderá ser absorvida (há desenvolvimento dc uma cor
quando luz de certos comprimentos de onda é absorvida seletivamentc), parte
sofre espalhamento, e o restante é transmitido através da solução sem outras
perturbações.
O efeito Tyndall — Turbidez
Todas as substâncias podem provocar o espalhamento da luz, até um certo
grau (efeito Tyndall). O nítido aspecto turvo associado a muitas dispersões coloidais
é uma conseqüência de intenso espalhamento da luz. Um feixe de luz solar pode
muitas vezes ser observado lateralmente por causa da luz espalhada pelas par
tículas de pó. Soluções de certas substâncias macromoleculares podem aparente
mente ser claras, mas na realidade elas são ligeiramente turvas por causa de um
fraco espalhamento da luz. Somente um sistema perfeitamente homogêneo não
provoca espalhamento da luz; por causa disso, mesmo líquidos puros e gases
isentos de partículas de poeira se mostram levemente turvos.
A turbidez de um material é definida pela expressão
l j l 0 = e x p [-r/] (3.1)
onde 70 é intensidade do feixe de luz incidente, /, a intensidade do feixe de luz
transmitida, l o comprimento da amostra atravessada e r a turbidez.
Figura 3.2. Envólucro de radiação para luz espalhada por pequenas partículas. As distâncias
da origem às linhas pontilhada, inlerminpicla, e contínua representam as intensidades rela
tivas da componente polarizada hori/ontalnuailc, da componente polarizada vcrticalmente,
e a luz espalhada total, respectivamente
Propriedades ópticas 33
(3.2)
o
A quantidade Re(l + cos20) é chamada razão de Rayleigh. O termo unitário em
(1 + coS20) se refere à componente da luz espalhada polarizada verticalmente,
e o termo cos2d à componente polarizada horizontalmente.
Uma vez que a intensidade de espalhamento é proporcional a. 1/X4, a luz
azul (X ~ 450 nm) sofrerá espalhamento maior que a luz vermelha (X ~ 650 nm).
Com luz incidente branca, o material que causa o espalhamento tende assim a
mostrar-se azulado quando observado ortogonalmente ao feixe incidente, e aver
melhado quando observado paralelamente. Esse fenômeno é exemplificado pela
cor azul do céu, da fumaça do cigarro, do leite diluído, etc., e pela cor amarelo-
-avermelhada do sol nascente ou poente.
Interferência interpartículas
Se as fontes causadoras do espalhamento em um sistema estiverem próximas
e em intervalos regulares, como num material cristalino, haverá relações regulares
entre as fases (espalhamento coerente) e portanto, interferência destrutiva quase
total entre as ondas de luz espalhada; em outras palavras, a intensidade da luz
espalhada resultante será quase nula. Com fontes de espalhamento dispostas
ao acaso, como ocorre virtualmente em gases, líquidos puros, dispersões ou soluções
diluídas, não haverá relações regulares entre as fases (espalhamento incoerente),
e a interferência destrutiva entre as ondas de luz espalhada não será completa.
Num sistema de fontes de espalhamento independentes (fontes puntuais de
luz espalhada, dispostas ao acaso), as ondas de luz emitidas apresentam proba
bilidades iguais de interferência destrutiva ou construtiva. As amplitudes das ondas
espalhadas se somam e se subtraem aleatoriamente, e como resultado (em analogia
com o deslocamento Browniano, p. 15), a amplitude da luz espalhada total será
proporcional à raiz quadrada do número de partículas que atuam como fontes
de espalhamento. E como a intensidade de uma onda luminosa é proporcional ao
quadrado de sua amplitude, a intensidade total da luz espalhada será proporcional
ao número de partículas.
Massas moleculares relativas a partir de dados de espalhamento da luz
Se as dimensões das partículas que causam o espalhamento forem todas
inferiores a A/20, então as ondas de luz espalhada que emanam das diferentes
partes da partícula não podem estar defasadas mais do que cerca de 2/10, de modo
que suas amplitudes são praticamente aditivas. A amplitude total da luz espalhada
por uma partícula nessas condições é, portanto, proporcional ao número de fontes
individuais de espalhamento existentes na partícula, isto é, proporcional ao seu
volume e também à sua massa; a intensidade total da luz espalhada é propor
cional ao quadrado da massa da partícula. Consequentemente, numa dispersão
aleatória contendo n partículas de massa m, a quantidade total de luz espalhada
é proporcional a nm2 ; e como nm é proporcional à concentração c da fase dispersa
luz total dispersada oc cm.
Uma outra maneira (equivalente) de abordar assunto é a assim chamada teoria
da flutuação, na qual a luz espalhada é tratada como uma consequência das desu-
34 Introdução à química dos colóides e de superfícies
T (3.5)
Partículas grandes
A teoria do espalhamento da luz se torna bem mais complicada quando uma
ou mais dimensões da partícula excedem o valor de aproximadamente 2/20.
Partículas desse tipo não podem mais ser consideradas como fontes puntuais
de luz espalhada, e devemos levar em conta a interferência destrutiva provocada
Propriedades ópticas 35
Feixe (o ) (b)
destrutiva
Figura 3.3. (a) Espalhamenlo em uma partícula relativamente grande. (b) Radiação espalhada
por uma partícula esférica (.v = 0,8. m = 1,25) — veja texto c Fig. 3.2 para explicação
O microscópio eletrônico41'44
Para aumentar o poder de resolução de um microscópio e permitir a obser
vação direta de materiais de dimensões coloidais (e menores), o comprimento de
onda da radiação utilizada deve ser reduzida até valores situados consideravel
mente abaixo do da luz visível. Pode-se produzir feixes de elétrons com com
primentos de onda da ordem de 0,01 nm; esses feixes podem ser focalizados por
campos elétricos ou magnéticos, que atuam como os equivalentes de lentes. A
resolução do microscópio eletrônico não é limitada tão acentuadamente pelo
comprimento de onda, é limitada em escala bem maior pelas dificuldades de ordem
técnica, no que se refere ao estabelecimento de uma fonte de alta tensão e na
correção da aberração da lente. Somente lentes com uma abertura numérica
de menos de 0,01 podem ser usadas presentemente. A melhor resolução conseguida
até agora é de cerca de 0,5 nm, um pouco mais do que as dimensões atômicas.
O uso do microscópio eletrônico no estudo de sistemas coloidais é limitado
pela necessidade de alto vácuo para permitir um movimento desimpedido dos
elétrons; qualquer sistema que apresenta uma pressão de vapor apreciável deve
ser secado cuidadosamente antes de poder ser observado. Esse tratamento prévio
pode levar a uma representação alterada da amostra em observação. Também
a instabilidade da amostra frente a feixes de elétrons pode levar uma representação
alterada.
Uma pequena fração do material a ser estudado é depositada sobre um filme
de plástico transparente aos elétrons (de espessura de 10 nm a 20 nm), apoiado
LílJ Fonte de elétrons
Lente projetora
Imagem final
Figura 3.6. Micrografias eletrônicas, (a) Partículas de látex de poliestireno, sombreadas ( x 50 000). (b) Partículas de cloreto de prata, sombreadas
( x 15 000). (c) Placas de nordstrandita (hidróxido de alumínio) ( x 5 000). (d) Réplica de uma superfície gravada de cobre ( x 5 600)
40 Introdução è química dos coíóides e de superfícies
em uma fina rede de cobre. A amostra provoca o espalhamento dos elétrons para
fora do campo, e a imagem final pode ser visualizada numa tela fluorescente. A
intensidade de .espalhamento. depende da espessura do ...objeto em estudo, e do
número atômico dos átomos que o constituem; substâncias orgânicas são por
tanto relativamente transparentes a elétrons e mostram pouco contraste em relação
ao suporte; materiais contendo átomos de metais pesados são ideais para estudo
ao microscópio eletrônico.
Pará acentuar o contraste, e obter efeitos tridimensionais, é empregada geral
mente a técnica da projeção de sombras. Um metal pesado, como o ouro, é eva
porado a vácuo, e segundo um ângulo conhecido, sobre o objeto em exame,
propiciando assim o surgimento de um efeito de iluminação lateral (veja Fig. 3.6).
A partir do comprimento das sombras projetadas e do ângulo segundo o qual
elas são formadas, é possível construir um modelo tridimensional dos objetos
analisados. Um resultado ainda melhor é obtido projetando-se sombras segundo
duas direções ortogonais.
Uma técnica muito útil para o estudo de estruturas na superfície de objetos
é a formação de réplicas. Um desses métodos consiste em depositar a amostra
numa superfície recente de mica e evaporar sobre ela, a vácuo, carbono (ou, se
desejado, um metal pesado). A fina película resultante, na qual estão localizadas
as partículas de amostra, é removida da mica por ação da água, em cuja superfície
ela vai se depositar. As partículas são dissolvidas por um solvente apropriado
e a ‘'cópia” assim obtida é fixada sobre o retículo de cobre para estudo.
Arco voltaico
'com o fonte luminosa Microscópio
Dispersão
Fenda ajustável coloidal
Objetiva
mente como uma mancha fraca. Para que duas partículas possam ser vistas sepa
radas elas devem estar afastadas uma da outra pela distância de resolução <5. A
microscopia de campo escuro, não obstante, constitui uma técnica útil para o
estudo de dispersões coloidais, fornecendo informações sobre
1. movimento browniano;
2. equilíbrio de sedimentação;
3. mobilidade eletroforética;
4. o decorrer da floculação;
5. Jamanho molecular médio de número (por experiências de contagem de par
tículas, e conhecendo a concentração da fase dispersa);
6. polidispersão (partículas maiores espalham mais luz, e portanto serão visuali
zadas como manchas mais claras);
7. assimetria — partículas assimétricas provocam luminosidades diferentes em
diferentes orientações, por causa da diferente intensidade de espalhamento da
luz segundo essas orientações.
CAPÍTULO 4
Líquido —
Interfaces líquido-gás e líquido-líquido 43
Tabela 4.1. T en sõ es s u p e r f ic ia is e t e n s õ e s in t e r f a c ia is c o n t r a á g ua pa ra l íq u id o s a
20 °C ( e m mN m ')
2r
k*-----
__ (b)
Figura 4.4. Método das placas de Wilhelmy: (a) desprendimento (b) estático
Figura 4.5. Medida da tensão interfacial Figura 4.6. Desprendimento de uma gota
pelo método do anel da extremidade de um tubo estreito
Interfaces líquido-gás e líquido-líquido 47
do anel. Harkins e Jordan46 tabelaram valores de fl, que podem também ser
calculados a partir da equação de Zuidema e Waters47,
1 F
W a)2 (4.9)
R 2 4nR(pl - p2) + C'
onde Pj e p2 são as densidades das fases inferior e superior; a vale 0,7250 e
b = 0,09075 m ~1 s2 para todos os anéis; c = 0,04534 — 1,679 r/R; sendo r o raio
do fio.
4. Métodos baseados em volume e peso da gotícula —Nestes, as gotas de um líquido
se desprendem livremente na extremidade inferior de um tubo estreito, mantido
bem na vertical (Fig. 4.6); as gotas são então pesadas, ou mede-se o seu volume.
No ponto de desprendimento
4>m ___ <l>Vpg
(4.10)
2nr 2nr
onde m é a massa da gota, V o volume da gota, p a densidade do líquido, r o raio
do tubo, e <f> um fator de correção.
O fator de correção cf>torna-se necessário por causa dos seguintes fatos que
ocorrem no desprendimento a) a gota não se desprende completamente do tubo;
b) as forças de tensão superficial raramente são exatamente verticais, cf) depende
da relação r/V 113. Harkins e Brown48'49 determinaram empiricamente valores
de (/). Percebe-se que são mais convenientes valores de r/V 113 compreendidos
entre 0,6 e 1,2 (Fig. 4.7).
A extremidade do tubo deve ser cuidadosamente esmerilhada e lisa; usando
simultaneamente uma bureta micrométrica teremos uma aparelhagem adequada
para a medição tanto de tensões superficiais como de tensões interfaciais. A extre
midade do tubo deve estar completamente umedecida (r = raio externo); também
é possível usar tubos com extremidades afiladas. Para determinações exatas, a
montagem deve estar isenta de vibrações e os últimos 10 por cento da gota devem
formar-se muito lentamente (mais ou menos um minuto).
05 10 15
r /V v3
Figura 4.7. Fator de correção para os métodos do YoLume._daugot3.e do .peso...da.g.ota
48 Introdução à química dos colóides e de superfícies
— — Fase oleosa
Fase vapor ~ (hidrocarboneto)_~_.
Figura 4.8. Adsorção de moléculas tcnso-ativas, formando uma monocamada orientada nas
interfaces ar-água e óleo-água. A parte circular das moléculas representa a parte polar hidro-
fílica, e a parte retangular representa a cadeia carbônica não-polar
Interfaces Itquido-gás e líquido-líquido 49
Concentração/mol dm 3
Figura 4.9. Tensão superficial de soluções aquosas de álcoois a 20 °C
50 Introdução à química dos colóides e de superfícies
Velocidade de adsorção
A formação de uma camada adsorvida numa superfície não é um processo
instantâneo, mas é governada pela velocidade de difusão da substância tenso-
-ativa através da solução, em direção à interface. Podem decorrer vários segundos
até que uma solução de uma substância tenso-ativa atinja sua tensão superficial
dè equilíbrio, especialmente se a solução for diluída e se as moléculas de soluto
forem grandes e assimétricas. Conhecem-se efeitos ainda mais lentos, mas sabe-se
agora que esses se devem a traços de impurezas presentes. Pode-se demonstrar a
existência do fator tempo na adsorção, medindo as tensões superficiais de super
fícies recém-preparadas, por meio de um método dinâmico; por exemplo, as
tensões superficiais de soluções de oleato de sódio medidas pelo método do jato
oscilante se aproximam das da água pura, mas decrescem rapidamente à medida
que a superfície envelhece.
0 1 2 3 4 5
Concentração/mol dm _3
Figura 4.10. Tensão superficial de soluções aquosas de cloreto de. sódio a 20 °C
Inrcrfíices líquido-gás e líquido-líquido 51
Tabela 4 .2 . A g e n t e s t e n s o - a t iv o s
Aniânicos
Bstearato de sódio CH3(CH2)16COO N a +
Oleato de sódio CH ,(CH,)7CH = C H (CH ,),CO O ~Na+
Dodecilsulfato de sódio CH3(CH2)11S 0 4;N a+
Dodecilbenzeno-sulfonato de sódio CH3(CH2)n • C6H4 • SO “ N a+
Catiônicos
Cloridrato de lauriiamina CH 3(CH2) j jN H 3 C P
Brometo de cetiltrimetilamônio CH3(CH2)15N(CH3)J Br~
Não-iônicos
Óxidos de polietileno p. ex. CH3(CH2)7 ■C6H4 •(O ■CH2 • CH2)8OH
Spans (ésteres do sorbitol)
Tweens (ésteres polioxietilênicos do sorbitol)
a
a
A A
Região de
s s S S composição
variável
B B
dy = - £ ^ d / í í = - E r idAli. (4.16)
Para uma solução simples de dois componentes (ou seja, constituída por um
solvente e um só soluto), a Eq. (4.16) passa a ser
dy = - T AàpA- T BdpB.
Como foi explicado acima, concentrações superficiais excessivas são definidas
em relação a uma superfície divisora escolhida arbitrariamente. Uma localização
conveniente (e aparentemente real) para essa superfície, no caso de uma solução
binária, seria aquela em que a concentração superficial em excesso do solvente
( r j é nula. A equação anterior se simplifica então ainda mais,
dy = - r Bd/iB.
As variações de potencial químico se relacionam com as atividades relativas
através da expressão
Pg ” 4- P E ln aB
e por conseguinte
d^tB = R T d ln aB.
Em conseqüência
r = __ ! dy ^ aB dy
(4-17)
B R T d ln a „ R T daB
Interfaces líquido-gás e líquido-líquido 53
r
c,! - dy (4.18)
B R T dcB .
que é a forma usual de exprimir a equação de Gibbs.
ÇOLÓIDES DE ASSOCIAÇÃO
Propriedades físicas de soluções de substâncias tenso-ativas. Formação de micelas
Soluções de substâncias altamente tenso-ativas mostram propriedades físicas
incomuns. Em soluções diluídas, elas atuam como eietrólitos normais, mas em
concentrações razoavelmente definidas ocorrem variações bruscas em diversas
propriedades físicas, como pressão osmótica, condutância, turbidez e tensão super
ficial. A velocidade com que a pressão osmótica cresce com o aumento de con
centração se torna anormalmente baixa, sugerindo a ocorrência de considerável
associação entre particulas; mas a condutância de soluções de substâncias tenso-
54 Introdução à química dos colóides e de superfícies
Concentração/mol dm ~3
Figura 4.12. Propriedades físicas de soluções de dodecilsulfato de sódio a 25 °C
-ativas iônicas continua relativamente elevada, mostrando que ainda existe dis
sociação iônica.
McBain sugeriu que esse comportamento aparentemente anômalo podería
ser explicado em termos de formação de agregados organizados, ou micelas, dos
ions de substâncias tenso-ativas, sendo as cadeias carbônicas lipofilicas orientadas
para o interior da micela, deixando assim os grupos polares em contato com o
meio aquoso. A concentração acima da qual a formação de micelas se torna apre
ciável é chamada de concentração micelar crítica (c.m.c).
A formação de micelas constitui um outro mecanismo, ao lado da adsorção,
que pode diminuir a energia interfacial de uma solução de substâncias tenso-ativas.
Agitação térmica e repulsão eletrostática entre os grupos polares na superfície
da micela se opõem a essa tendência de agregação. Assim sendo, espera-se que
uma c.m.c. baixa seja favorecida pelos fatores que seguem.
1. Aumentando a parte hidrófoba das moléculas de substâncias tenso-ativas
(numa série homóloga, cada novo grupo CH2 reduz a c.m.c. aproximadamente
pela metade).
2. Diminuindo a temperatura.
3. Adicionando sais simples (por exemplo KC1), que reduzem as forças repulsivas
acima descritas, por causa de sua ação (veja Cap. 7) canceladora. Muitas subs
tâncias tenso-ativas não-iônicas também formam micelas, freqüentemcnte em
concentrações muito pequenas (cerca de 10~4 mol • dm“ 3).
(N. do T.).
56 Introdução à química dos colóides e de superfícies
—o
0
O
O
O
OQQQQQQQQ
o
õ
o
0
õooooooooo
Figura 4.13. Representação esquemática de estruturas micelares esférica e lamelar
Comportamento superficial
A Fig. 4.12 mostra como uma substância altamente tenso-ativa, como o
dodecilsulfato de sódio, diminui apreciavelmente a tensão superficial da água,
mesmo em baixas concentrações. A descontinuidade na curva de composição y
é identificada com a c.m.c, além da qual passa a se manifestar um mecanismo
adicional para manter as cadeias carbônicas afastadas da superfície da água; ou
seja, a localização dessas cadeias no interior das micelas. Como as próprias micelas
não são tenso-ativas, a tensão superficial permanece aproximadamente constante
além da c.m.c. O mínimo na curva da Fig. 4.12, correspondente à linha pontilhada,
é típico de medidas feitas com soluções coloidais de eletrólitos, e constitui uma
violação aparente da equação de Gibbs, já que sugere uma dessorção no intervalo
de baixas concentrações, em que dy/àc é positivo. Essa anomalia é atribuída a
traços de impurezas, como dodecanol, adsorvido superficialmente abaixo da
c.m.c. mas solubilizado pelas micelas depois de atingir-se a c.m.c. Mediante uma
purificação eficiente é possível eliminar o mínimo da curva de concentrações y.
Além da c.m.c., onde dy/dc 0, a aplicação da equação de Gibbs podería sugerir
adsorção quase nula; entretanto, dy/da, sendo a a atividade de espécies de subs
tâncias tenso-ativas isoladas, ainda é apreciavelmente negativo; a varia pouco
quando está acima da c.m.c.
Inleríaces líquido-gás e líquido-líquido 57
( tmdutância
A formação de micelas afeta a condutância de soluções de substâncias tenso-
ativas iô nicas, por causa das razões a seguir.
1. A resistência total devida à viscosidade exercida sobre as moléculas de
substâncias tenso-ativas é reduzida pela agregação.
2. Os íons de carga contrária às da micela tornam-se, cineticamente, uma
parte integrante da micela, por causa de sua elevada carga superficial (veja Cap. 7),
reduzindo assim o número de íons disponíveis para o transporte de corrente
elétrica, e reduzindo a carga líquida das micelas.
3. Na agregação, a influência desacelerãdora exercida pelas atmosferas iônicas
de íons não ligados à micela sobre a migração dos íons de substâncias tenso-ativas
é bastante aumentada.
Os dois últimos fatores, que provocam a diminuição da condutividade molar
à medida que a concentração cresce além da c.m.c., normalmente compensam
o primeiro fator, que tem um efeito contrário (veja Fig. 4.12). Quando se fazem
medidas de condutância em campos de intensidade bastante elevada, as atmos
feras iônicas não podem recompor-se de modo suficientemente rápido (efeito
Wien), e alguns dos íons antes ligados à micela são liberados. É interessante obser
var que nessas condições a condutividade molar cresce com o aumento da con
centração para além da c.m.c.
micela; teremos
mX = (X)m
1(1 - a) <Alm '
Aplicando a lei da ação das massas
cx/m
(4.19)
K := R T “x)]™
Para valores moderadamente elevados de m, essa expressão exige que x per
maneça bastante pequeno até um certo valor de c, para então crescer rapidamente.
A descontinuidade será mais ou menos abrupta conforme o valor de m(m = oo
daria uma descontinuidade perfeita). Modificando essa teoria para incluir também
os íons associados com uma micela iônica, a descontinuidade prevista será ainda
mais abrupta que a anterior.
- A outra teoria consiste em encarar a formação de micelas como uma simples
separação da fase constituída pela substância tenso-ativa em forma associada;
a concentração da substância tenso-ativa não-associada permanece praticamente
constante acima da c.m.c.
0 efeito Krafft
Substâncias tenso-ativas formadoras de micelas mostram outro fenômeno
pouco comum: suas solubilidades aumentam rapidamente acima de uma deter
minada temperatura, conhecida como ponto de Krafft. Explica-se esse comporta
mento através da baixa solubilidade das substâncias tenso-ativas não-associadas
comparada com a solubilidade elevada das micelas. Abaixo da temperatura de
Krafft, a solubilidade das substâncias tenso-ativas é insuficiente para dar início
à formação de micelas. À medida que a temperatura aumenta, a solubilidade cresce
lentamente, até atingir-se, na temperatura de Krafft, a c.m.c. Uma quantidade
grande da substância tenso-ativa pode agora ser dispersa sob a forma de micelas,
observando-se em conseqiiência um grande aumento na solubilidade.
ESPALHAMENTO
Adesão e coesão
a. O trabalho de adesão, entre dois líquidos imisciveis é igual ao trabalho
necessário para separar uma unidade de área da interface líquido-líquido, com
formação de duas interfaces separadas líquido-ar (Fig. 4.14a); o trabalho de adesão
S = W ó le o /á s u . - 27,ó l e o / a r (4.23)
7O I A
Ar
7 ArIA Água
7o/a
Figura 4.15. Uma gota de óleo não espalhado sobre uma superfície de água
Ar
Solução saturada
de n-hexanol em água
Figura 4.16. Espalhamento de H-hexanol sobre uma superfície de água
60 Introdução à química dos colóides e de superfícies
Barreira
móvel Flutuador
Figura 4.18. Uma balança de superfície. (Cortesia do Unilever Research Laboratorv, Port
Sunlight)
Interfaces líquido-gás e líquido-líquido 63
(4.25)
Feixe do metal
Filmes gasosos
Os principais requisitos para um filme gasoso ideal são que as moléculas
constituintes devem ter tamanho desprezível, e não deve haver adesão lateral
entre elas. Um filme nessas condições obedecería a uma equação gasosa ideal
bidimensional, nA = kT, isto é, a curva n - A seria uma hipérbole retangular.
Esse estado ideal não pode obviamente ser atingido, mas um certo número de
filmes insolúveis apresenta-se no estado aproximadamente ideal, especialmente
com áreas grandes e pressões superficiais baixas. Monocamadas de materiais
solúveis apresentam-se normalmente gasosas. Se uma solução de substância tenso-
-ativa for suficientemente diluída para podermos desprezar as interações soluto-
-soluto na superfície, a diminuição da tensão superficial com a concentração será
aproximadamente linear, ou
y = 7o~bc (onde b é uma constante).
Portanto
71 = k e dy/dc = - b.
0 1 2 3 4 5
/ nm 2 molécula
A
Figura 4.23. Curvas n - A para brometo de cetiltrimetilamônio, em interfaces- ar-ásua e óleo-
-água, a 20 °C
Filmes condensados
Ácido palmítico, ácido esteárico e outros ácidos graxos de cadeia normal
são exemplos de substâncias que dão, à temperatura ambiente, filmes condensados.
Com áreas grandes de filme, as moléculas do ácido graxo não se separam com
pletamente umas das outras, pois a coesão entre as cadeias carbônicas é suficiente
mente forte para manter as moléculas do filme sob forma de pequenos agregados
sobre a superfície (Fig. 4.24). Por causa dessa forte tendência à coesão, a pressão
superficial permanece muito baixa à medida que o filme é comprimido, passando
a crescer rapidamente quando as moléculas começam a se agrupar firmemente.
Para o caso do ácido esteárico espalhado sobre HC1 diluído, observa-se uma
elevação inicial da pressão a cerca de 0,25 nm2 m o lécu la1, o que corresponde
ao agrupamento inicial das extremidades das moléculas (Fig. 4.25). A curva n - A
cresce abruptamente a cerca de 0,205 nm2 molécula-1 , ponto em que se supõe
haver um empacotamento mais acentuado, por alternação dos grupos terminais
e entrelaçamento das cadeias carbônicas. Observa-se uma área limite de 0,205 nm2
molécula-1 para ácidos graxos de cadeia normal, qualquer que seja o tamanho
da cadeia. O empacotamento das moléculas no filme, nesse ponto, se aproxima
bastante do estado cristalino. A área da seção transversal de moléculas de ácido
esteárico, determinada por difração de raios X, é de 0,185 nm2, à temperatura
normal. Qualquer tentativa de comprimir um filme condensado além de sua área
limitante poderá levar a uma ruptura ou enrugamento do filme.
Filmes expandidos
O ácido oléico dará um filme muito mais expandido que o correspondente
ácido graxo saturado, o ácido esteárico, (Fig. 4.26) isto é, n será maior para qualquer
valor de A. Por causa da presença de uma ligação dupla na molécula, haverá muito
menor coesão entre as cadeias carbônicas, do que no caso do ácido esteárico.
Além disso, em áreas extensas, as moléculas de ácido oléico se separam umas das
outras, pois as cadeias carbônicas tendem a permanecer longitudinalmente sobre
o líquido, independentemente umas das outras, mantendo a ligação dupla hidro-
fílica em contato com a água. A compressão de um filme de ácido oléico força as
ligações duplas para cima da superfície, podendo chegar a orientar as cadeias
carbônicas segundo uma posição vertical (Fig. 4.27). Esse processo ocorre gradual
mente, como é indicado pela forma da curva n - A . De conformidade com esse
A / nm 2 molécula
Figura 4.27
Interfaces líquido-gás e líquido-líquido 69
_ . Cone lensado
Trar sição
Líquido expandido
/ Transição
Gasoso
\
02 0-35 05 8
A /n m 2 molécula _ l
Figura 4.28. Representação esquemática da curva n - A para ácido mirístico espalhado sobre
solução 0,1 moldm"3 de HC1 a 14 °C
*Ácido mirístico: é o ácido graxo saturado de cadeia normal
CH3—(CH2)14—c o o h (N. do T.).
70 Introdução à química dos colóides e de superfícies
—CH—NH—CO—CH—NH—CO—CH—etc.,
contendo até centenas de aminoácidos. Essas cadeias polipeptídicas normalmente
assumem configuração helicoidal, estabilizada principalmente por ligações por
pontes de hidrogênio entre grupos —NH— e —CO— espacialmente próximos.
Ast cadeias polipeptídicas helicoidais de proteínas globulares são por sua vez
dobradas para dar moléculas compactas e às vezes quase esféricas. Essa confi
guração é mantida com ajuda de ligações por ponte de hidrogênio, forças de van
der Waals entre as partes não-polares, ligações dissulfeto, etc.
Qualquer alteração significativa nessa disposição de cadeia polipeptídica,
mas sem afetar a estrutura primária, é chamada de desnaturação. Os agentes mais
comuns para provocar desnaturação devem ser aqueles que possam modificar
ligações por pontes de hidrogênio ou outras ligações fracas estabilizadoras da
estrutura da proteína, tais como ácidos, álcalis, álcool, uréia, aquecimento, luz
ultravioleta e tensão superficial. A desnaturação das proteínas é acompanhada
por uma acentuada perda de solubilidade e constitui geralmente, mas não neces
sariamente, um processo irreversível. As proteínas sofrem adsorção e desnaturação
em interfaces ar-água e óleo-água de alta energia, pois o desdobramento que ocorre
possibilita que as cadeias polipeptídicas se orientem de modo a manter as extre
midades hidrófiias na fase aquosa e as extremidades hidrófobas afastadas da fase
aquosa.
72 Introdução à química dos colóides e de superfícies
0 1 2 3
A / m2 mg"1
Figura 4.29. Curvas n - A e tja - A para uma monocamada de /i-globulina espalhada
numa interface éter de petróleo-água.63 (Cortesia da Faradav Society)
Inimlnces líquido-gás e líquido-líquido 73
A INTERFACE SÓLIDO-GÁS
que a variação de entalpia A//.ul dcvc ser negativa, ou seja, a adsorção de gases
e vapores por uma superfície sólida é sempre um processo exotérmico*. O grau
de adsorção gasosa (em condições de equilíbrio) aumenta pois com a diminuição
da temperatura (veja Fig. 5.1). Os calores de adsorção podem ser medidos direta
mente por métodos calorimétricos. Calores de adsorção isostéricos. (adsorção
constante) podem ser calculados a partir das isotermas de adsorção reversíveis,
por meio da equação de Clausius-Clapeyron
’<?ln P \ = - ÀHads
(5.2)
, ÕT ) v ~R T 2
para gases, e sua pressão medida por um manômetro (veja Fig. 5.4). Todos os
volumes internos do aparelho são calibrados, de modo que quando introduzimos
um gás sobre a amostra de adsorvente, estaremos em condições de calcular a
quantidade adsorvida, simplesmente a partir da leitura da pressão de equilíbrio.
Realizando uma série de experiências, a pressões diferentes, poderemos construir
a isoterma de adsorção.
O método gravimétrico pode ser usado para estudar a adsorção tanto de
gases como de vapores. O adsorvente, isento de gases previamente adsorvidos,
é colocado num pequeno balde, suspenso de uma espiral de quartzo previamente
calibrada (veja Fig. 5.5). Introduz-se na aparelhagem, mantida sob vácuo, o gás
ouAapor purificados; anota-se a pressão, e mede-se diretamente a adsorção, como
o aumento do peso do adsorvente (efetuando as correções necessárias por causa
do empuxo). Realizando experiências em diferentes pressões e a uma dada tem
peratura, poderemos obter a isoterma de adsorção.
também foram encontradas para adsorção física sobre sólidos com estrutura de
poros finíssimos.
Isotermas do tipo II (por exemplo, nitrogênio em sílica-gel a 77K) são bas
tante frequentes e representam adsorção física multimolecular em sólidos não-
-porosos. São chamadas freqüentemente de isotermas sigmóides. Para sólidos
desse tipo, o ponto B representa a formação de uma camada de adsorção mono-
molecular. A adsorção física sobre sólidos microporosos pode dar origem também
a isotermas do tipo IL Nesse caso, o ponto B representa a formação de uma camada
monomolecular sobre a superfície como um todo e a condensação nos poros finos.
A parte restante da curva representa adsorção em multicamadas, como para sólidos
não-porosos.
Isotermas do tipo IV (por exemplo, benzeno sobre gel de óxido férrico a
320K) apresentam u m {nivelamentõNperto da pressão de vapor de saturação;
considera-se que elas refletem condensação capilar em sólidos porosos; os diâ
metros efetivos dos poros estão situados usualmente entre 2 nm e 20 nm. O limite
superior da adsorção é determinado sobretudo pelo volume total dos poros.
Os tipos III (como exemplo, bromo sobre sílica-gel a 352K) e V (como exemplo,
vapor de água sobre carvão a 373K) não mostram uma adsorção inicial rápida
de gás, e ocorrem quando as forças de adsorção da primeira camada monomolecular
são relativamente pequenas. Estas isotermas são raras.
Muitas isotermas de adsorção constituem casos intermediários entre dois
ou mais dos tipos descritos. Além disso, existem algumas isotermas que não se
enquadram na classificação de Brunauer; as mais importantes dessas são as iso
termas escalonadas, como a exemplificada na Fig. 5.7. As isotermas escalonadas
estão geralmente associadas à adsorção sobre superfícies sólidas uniformes; cada
degrau corresponde à formação de uma camada adsorvida monomolecular com
pleta (veja p. 87).
Equações da isoterma
Foram feitas numerosas tentativas no sentido de desenvolver expressões
matemáticas a partir dos mecanismos de adsorção propostos, e que se adaptassem
às diferentes isotermas experimentais. As três equações de isotermas usadas com
mais íreqüência são as equações devidas a Langmuir, a Freundlich, e a Brunauer,
Emmett e .Teller (BET).
1. A isoterma de adsorção de Langmuir — Antes de .1916, as teorias sobre a adsorção
admitiam ou um filme líquido condensado, ou uma camada gasosa comprimida,
cuja densidade decresce à medida que aumenta a distância à superfície. Langmuir
(1916) acreditava que por causa da rapidez com que decresciam as forças inter-
moleculares com o aumento da distância, as camadas adsorvidas dificilmente
teriam espessura superior a uma molécula. Esse ponto de vista é geralmente-aceito
para adsorção química e para adsorção física a pressões baixas e temperaturas
moderadamente elevadas.
A isoterma de adsorção de Langmuir se baseia nas seguintes suposições
características, a) ocorre apenas adsorção monomolecular b) a adsorção é loca
lizada, e c) o calor de adsorção independe da extensão da superfície que é coberta
pela adsorção. Segue-se uma derivação cinética, na qual as velocidades de adsorção
e dessorção são igualadas entre si, para dar origem a uma expressão que represente
tfm equilíbrio de adsorção.
Seja V o volume de gás adsorvido, no equilíbrio, por unidade de massa de
adsorvente, numa pressão p; e Vm o volume de gás necessário para recobrir uma
unidade de massa de adsorvente com uma monocamada completa.
A velocidade de adsorção depende, a) da velocidade com que as moléculas
de gás colidem com a superfície sólida, e que é proporcional à pressão, b) da proba
bilidade de atingir um ponto desocupado (1 —V/Vm), e c), de um termo de ativação,
exp [- E/R l onde E é a energia de ativação para a adsorção.
A velocidade de dessorção depende a) da fração da superfície que é recoberta,
V/Vm, e b) de um termo de ativação, exp [- E'/RT] onde E é a energia de ativação
para a dessorção.
Portanto ao atingir-se o equilíbrio de adsorção, tem-se
p( I - V/VJ exp [ - E/RT] = k(V/VJ exp [- E'/RT],
onde k é uma constante de proporcionalidade, ou seja
p = k exp [A
Figura 5.9. Gráficos de Langmuir para a adsorção de amônia sobre carvão mostrada na
Fig. 5.1. Inclinação --
A interface sólido-gás 85
F= (5.11)
(1 - v) 1 + ( c - l) .\ - c x " +1
onde x = p/pg. Esta equação é na realidade uma equação geral que se reduz à
equação de Langmuir quando n = 1, e à equação BET quando n = oo.
86 Introdução à química dos oolóides e de superfícies
Energias de adsorção
Um aspecto muito importante a ser considerado nos modelos sobre os quais
se baseiam as equações das isotermas de adsorção, como as descritas acima, é
uma suposição característica feita com respeito ao calor de adsorção e fração
da superfície recoberta na adsorção. Vários fatores merecem ser comentados.
Superfícies sólidas são geralmente heterogêneas; e como a adsorção é favo
recida em determinados pontos mais ativos, tanto os calores de adsorção mono-
mplecular física como química devem tornar-se menos exotérmicos à medida que
aumenta a fração da superfície que é recoberta pelo adsorbato; isso é mostrado,
por exemplo, a baixas pressões, nas Figs. 5.1.1a e 5.11b. Isso por sua vez faria com
que a inclinação inicial de uma isoterma de adsorção fosse mais abrupta do que
a inclinação prevista pelas equações de Langmuir ou BET.
Na adsorção química, podemos considerar as moléculas do adsorbato gasoso
como doadoras de elétrons ou como recebedoras de elétrons do adsorvente sólido.
À medida que um ou outro desses processos prosseguem, a adsorção ulterior
. começa a ser mais e mais difícil, e uma cobertura por uma monocamada não é
alcançada tão rapidamente como prevista pela equação de Langmuir. O calor
de adsorção se torna menos exotérmico à medida que nos aproximamos do reco-
brimento completo com uma monocamada. (Fig. 5.11b).
Quando uma molécula de gás é adsorvida sobre a superfície de um sólido
já coberta parcialmente com uma camada monomolecular, além da interação
com o sólido, haverá interação lateral com as moléculas de gás adsorvidas. Po
demos assim esperar que o calor de adsorção se torne mais exotérmico à medida
que aumenta aparte coberta da superfície, como o exemplo mostrado na Fig. 5.11c.
A forma de uma isoterma de adsorção física multimolecular depende da ten
dência de cada camada monomoíecuiar adsorvida (particularmente da primeira)
de se completar antes do início da adsorção de outras camadas. Isso é facilitado
quando a energia de adsorção da camada que está se completando for apreciavel-
mente mais exotérmica que a energia de adsorção das camadas seguintes a se
formarem. Como um exemplo bastante extremo, a Fig. 5.11c mostra esse tipo
de variação de energia de adsorção com a variação da superfície recoberta pela
A interface sólido-gás 87
0 10 20 30
V /V m
Figura 5.1 J. Energia de adsorção e fração da superfície recoberta, (a) Adsorçào física de
nitrogênio sobre rutilo a 85K74. (b) Adsorção química de hidrogênio sobre Uingslênio75.
(c) Adsorção física de criptônio sobre carvão recoberto de grafita72 (veja Fig. 5.7). (Cortesia
de (a) S c i e n c e P r o g r c s s (b) D i s c u s s i o n s o f th e F a r a d a y S o c i e t y , e (c) T h e C a n a d i a n J o u r n a l
o f C h e m is tr y )
Áreas superficiais
A capacidade da camada monomolecular, Vm, é um parâmetro particularmente
útil, uma vez que podemos nos valer dele para calcular a área superficial de um
adsorvente, desde que conheçamos a área efetivamente que cada molécula de
adsorbato ocupa.
Aplicando a equação BET à isoterma de adsorção física multimoleçular,
um gráfico de p/V(p0-p ) contra p/p0 dará uma reta de inclinação (c - 1)/ Vmc, e
coeficiente linear 1/Vmc [interseção da reta com o eixo p/V(p0 - p)]; tem-se
1
V = ---------------------------------------------------- (5.12)
” Coeficiente angular + coeficiente linear
se Introdução à química dos colóides e de superfícies
500 T•
f
O) a
2 400 /
K •
~ 30°
/
£o /
$
200
100 {
A INTERFACE SÓLIDO-LÍQUIDO
(a )
Agentes umectantes
Materiais tenso-ativos são empregados como agentes umectantes em muitos
casos de ordem prática. Por exemplo, em banhos de imersão para ovinos e bovinos,
e na aplicação de inseticidas e outros sprays na horticultura80 ; nessas duas situações,
as superfícies envolvidas apresentam aspecto gorduroso, quase como cera, e por
A interface sólido-iíquido 93
tanto condições desfavoráveis para recobrimento superficial, a não ser que adi
cionemos um agente umectante. Mas nesses casos não se deseja também um excesso
de umedecimento, porque este provoca uma drenagem muito intensa do excesso
de liquido da superfície. Os agentes de umedecimento também encontram apli
cações amplas na indústria têxtil.
Além de provocar um abaixamento de yL/Ar, ® importante que o agente de
umedecimento provoque também um abaixamento de ys/L. Devemos assim esco
lher o agente tenso-ativo que mais se adapta à natureza específica da superfície
sólida em questão (devem ser considerados também efeitos colaterais, como toxi
cidade, formação de espumas, etc.). Agentes tenso-ativos de forma molecular
muito irregular, como por exemplo o di-rc-octilsulfossucinato de sódio* (Aerossol
OT) são freqüentemente bons agentes de umedecimento, já que a formação de
micelas não é favorecida por razões estéricas, permitindo assim elevadas con
centrações de moléculas tenso-ativas não associadas, e em consequência um maior
abaixamento de yL/Ar e ys/L. Substâncias tenso-ativas não-iônicas também são
'bons agentes umectantes.
Repulsão de água
É o inverso do fenômeno descrito no parágrafo anterior; o ângulo de contato
deve assim ser o maior possível. Produtos têxteis são impermeabilizados reves
tindo os fios com um material que tem um elevado ângulo de contato. Atinge-se
uma situação de ação capilar negativa. A pressão necessária para forçar a água
a atravessar o têxtil depende da tensão superficial, e é inversamente proporcional
ao espaçamento entre as fibras, o que torna desejável um tecido de malhas mode
radamente apertadas. A passagem do ar pelo tecido não é impedida.
Entre os exemplos de materiais empregados para repelir água incluem-se
ceras, derivados de petróleo, asfalto, sabões de metais polivalentes e siliconas.
Dimetildiclorossilano é um agente hidrófobo muito bom para superfícies de sílica
e vidro^jeage com os grupos —OH externos do retículo do silicato, dando, com
eliminação de HC1
/
Ar
FLOTAÇÃO- DE M INÉRIOS
Para que uma partícula sólida possa flutuar sobre a superfície de um líquido,
a força ascendente total do menisco que envolve a partícula deve contrabalançar
o peso aparente da partícula; por exemplo, uma agulha recoberta de cera pode
flutuar sobre uma superfície de água (Fig. 6.5) e a seguir afundar mediante a ação
de um detergente. A flotação de um sólido sobre uma superfície líquida é função
do ângulo de contato 0, e como esse ângulo pode rapidamente ser modificado
por fatores como substâncias gordurosas na superfície, materiais tenso-ativos,
etc., torna-se possível também controlar as condições para a flotação81.
Os diferentes constituintes de muitos minérios no estado bruto apresentam
diferentes tendências de flotação sobre uma superfície de água. Essas tendências
podem ser acentuadas mediante adição de certos aditivos conhecidos como “óleos
coletores”, que sofrem forte adsorção sobre a superfície do minério; em con
sequência, 9 aumenta até um valor que torna possível a flotação. Esses óleos cole
tores não sofrem adsorção tão forte em materiais tipo silicato; estes continuam
fortemente umedecidos pela água e não flutuam. Os óleos coletores mais comu-
mente usados são xantatos e tiofosfatos orgânicos.
Na prática, adiciona-se um agente espumante, por exemplo cressol (sabão
é inadequado porque diminui demais o valor de 0) a uma suspensão de minério
moído e óleo coletor em água, e a seguir força-se a passagem de ar através de uma
peneira fina que fecha o fundo do recipiente. As partículas de minério, se prendem
às bolhas de ar e são arrastadas por elas à superfície (Fig. 6.6), onde são recolhidas
sob a forma de uma espuma rica em minério.
Para uma flotação satisfatória são necessários ângulos de contato de pelo
menos 50° a 75°. Para isso basta normalmente um recobrimento superficial de
apenas 5 por cento, de modo que a quantidade de óleo coletor necessária é bas
tante pequena. As vezes o minério deve ser submetido a um tratamento prévio,
para que possa ocorrer adsorção satisfatória do aditivo; por exemplo, sulfeto de
zinco deve ser tratado previamente com uma solução diluída de sulfato de cobre,
que por ação eletroquímica deposita cobre sobre a superfície do minério. Também
Figura 6.6
A interface sóiido-iíquido 95
DETERGÊNCIA
Detergência é a teoria e prática da remoção de impurezas sobre superfícies
sólidas por meios químicos. Durante muitos séculos os sabões foram usados como
detergentes. O sabão é constituído normalmente pelos sais de sódio ou potássio
de diversos ácidos carboxílicos de cadeia longa, e é obtido através da saponificação
de glicerídeos, tanto óleos como gorduras (por exemplo, sebo) por ação dé NaO H
ou KOH; obtém-se glicerol como subproduto, isto é
CH, • COOR' CH, • OH R' • COO Na
I I
CH • COOR" + 3 NaOH = CH • OH + R" • COO Na
I
CH, • COOR'" CH2 ■OH R " ■COO Na
glicerídeo glicerol sabão
Os sabões de potássio são geralmente mais suaves e mais solúveis em água do que
os correspondentes sabões de sódio. Sabões de ácidos graxos insaturados são
mais suaves que sabões de ácidos saturados.
O sabão é um excelente detergente, mas apresenta duas desvantagens prin
cipais, a) o sabão não funciona bem em soluções ácidas, por causa da formação
do ácido graxo insolúvel, e b) o sabão forma precipitados insolúveis, e portanto
uma espuma, com os íons Ca2+ e Mg2+ existentes na água dura. Aditivos tais
como carbonato de sódio, fosfatos, etc., ajudam a eliminar esses defeitos. Nas
últimas décadas o sabão vem sendo parcialmente substituído por detergentes
sintéticos, que não apresentam essas duas desvantagens em grau tão acentuado.
Os mais importantes detergentes sintéticos são talvez os alquilsulfatos. alquila-
rilsulfonatos, e os derivados não-iônicos de óxido de polietileno.
Mecanismos da detergência
Um detergente satisfatório deve apresentar as seguintes propriedades.82
1. Boas qualidades de umedecimento, de modo que possa haver um contato
íntimo entre o mesmo e a superfície a ser limpa.
96 Introdução à química dos colóides e de superfícies
U medecimento
Os melhores agentes de umedecimento não são necessariamente os melhores
detergentes, e vice-versa. Numa série homóloga de detergentes, por exemplo,
sabões, alquilsulfatos e alquilarilsulfonatos, a melhor ação de umedecimento é
apresentada pelas espécies C8, embora as espécies de cadeia mais longa sejam
mais tenso-ativás. A razão disso se encontra provavelmente na difusão mais rápida,
que leva a mais rápida adsorção nas interfaces de interesse. Contudo, a melhor
ação de limpeza é oferecida pelas substâncias tenso-ativas C 14, e para uma melhor
ação global do detergente82 prefere-se uma cadeia C ,2.
Vê-se pelo que foi exposto que as substâncias tenso-ativas que se adsorvem
nas interfaces sólido-água e impureza-água serão os melhores detergentes. A
adsorção na interface ar-água e a conseqüente diminuição da tensão superficial
e formação de espuma não são, portanto, necessariamente uma indicação sobre
a eficiência do detergente; por exemplo, detergentes não-iônicos usualmente mos
tram excelente atividade detergente, mas são agentes de formação de espuma
bastante fracos;/a tendência psicológica do público em correlacionar essas duas
propriedades restringiu sua aceitação.
(o) Ar
(b)i zz -z.-z.-~ - z z S -_ r ~
____ ___ ___ _ Água ___ ____ ___ ___ __
Figura 6.9. Remoção de impurezas de uma superfície sólida, por ação de detergentes e ação
mecânica84
a. Superfície coberta por impurezas oleosas.
b. A água sozinha não consegue remover a impureza, principalmente por causa de sua
elevada tensão superficial e ineficiente umedecimento.
c. Adição de detergente à água. As parcelas hidrófobas das moléculas de detergente se
alinham tanto sobre a superfície da impureza como sobre a superfície do sólido, reduzindo
assim a adesão entre a impureza e o sólido. Agora a impureza pode ser removida meca
nicamente.
d. A impureza é mantida em suspensão na solução, pois as moléculas de detergente formam
uma camada de adsorção sobre a superfície limpa e em torno das partículas de impurezas.
(Cortesia de The Scientific American Inc.)
98 Introdução à química dos colóides e de superfícies
ADSORÇÃO EM SOLUÇÃO86
Para finalizar este capítulo, seriam apropriadas algumas considerações a
respeito da adsorção, sobre superfícies sólidas, de materiais em solução. A adsorção
ern solução é importante em muitas situações práticas, como aquelas em que a
modificação da superfície sólida é objetivo principal (por exemplo, o emprego de
materiais liofilicos na estabilização de dispersões, veja p. 140), e aquelas que
envolvem a remoção, da solução, de materiais indesejáveis (por exemplo, a puri
ficação de soluções de açúcar com carvão ativo). A adsorção de íons em soluções
de eletrólitos e um caso especial de adsorção iônica, a troca iônica, são discutidos
no Cap. 7. Processos de adsorção são obviamente de extrema importância na
cromatoçrafia: contudo não é possível incluir uma apresentação da cromatografia"
A interface sólido-líquido 99
neste livro a) porque outros fenômenos, tais como partição e/ou peneiras mole
culares, estão também envolvidos em grau maior ou menor, dependendo do tipo
de separação cromatográfica, que está sendo considerada, e b) porque a croma-
tografia constitui assunto vasto demais para ser abordado convenientemente no
espaço limitado de que dispomos. Alguns textos sobre métodos cromatográficos
são os indicados pelas referências 87 a 91.
Figura 6.11. Isotermas de adsorção para ácidos graxos; (a) em solução aquosa sobre carvão
e (b) dissolvidos em tolueno, sobre silica-gel
para o ânodo). Essa carga total negativa pode ser explicada em termos de adsorção
negativa de íons. A adição de eletrólitos simples, como NaCl, provoca um aumento
da tensão superficial da água (veja Fig. 4.10) e da tensão interfacial óleo-água.
Isso é interpretado, através da equação de Gibbs (p. 53), em lermos de concen
tração iônica superficial excessiva negativa. A concentração superficial excessiva
dos íons hidrogênio e hidroxila também será negativa. Presumivelmente os cátions
se afastam das interfaces bolha de ar-água e óleo-água mais acentuadamente que
os ânions, permanecendo as unidades cinéticas (que incluirão parte do meio aquoso
das proximidades das interfaces) com cargas totais negativas.
A adsorção preferencial negativa dos íons hidrogênio, em comparação com
os íons hidroxila, se reflete na curva mobilidade eletroforética — pH para gotas
de um óleo tipo hidrocarboneto (veja Fig. 7.7). A magnitude da mobilidade ele
troforética de partículas inertes, como gotículas de hidrocarbonetos (cerca de 0
a - 6 x 10 8 m2 s ~ 1 V 1) é comparável à de íons simples (por exemplo, -7,8 x 10 H
m2 s_1 V 1 para íons Cl em diluição infinita, em solução aquosa a 25°), o que,
em virtude de seu tamanho relativamente grande, reflete uma carga relativamente
elevada.
Superfícies que já apresentam cargas, criadas por exemplo por ionização,
mostram usualmente uma tendência preferencial de adsorver íons de carga oposta
à da superfície, especialmente de carga mais elevada. É possível que essa adsorção
de íons de carga oposta inverta a carga elétrica da superfície.
Na presença de íons de substâncias tenso-ativas, é a adsorção destes que
determina usualmeníe a carga superficial.
Superfícies hidratadas (de proteínas ou poiissacarídeos, por exemplo), adsor-
vem íons menos prontamente do que superfícies hidrófobas (por exemplo lipídeos).
c
o
«CD
O
<0
c
<
O0
c
O
o
0
Distância (x) Distância (x)
Figura 7.1. Representação esquemática da dupla camada elétrica difusa
Interfaces com cargas elétricas 105
= - ~ - ( 'A 0 - > A A
(7.13)
( cz2 Y /2
C, = 2,28 — —— t í - F m 2 para eletrólitos aquosos a 25 °C.
\mol dm /
A capacidade da camada de Stern (Cí = k'/ ó) não depende da concentração de
eletrólito, se não considerarmos a influência desta sobre e'. No caso da interface
iodeto de prata-eletrólito aquoso, foram calculadas capacidades de cerca de
0,1 F m -2 até 0,2 F m -2 para a camada de Stern; considerando á = 5 x 10 10 m,
isso corresponderá a uma constante dielétrica, na camada de Stern, de cerca de
5 a 10; comparado com o valor normal para a água, cerca de 80, esse valor sugere
um ordenamento considerável das moléculas de água na proximidade da superfície.
2. Potenciais de Stern e potenciais eletrocinéticos — O valor de tj/õ pode ser deter
minado a partir de experiências eletrocinéticas. O comportamento eletrocinético
(discutido nos parágrafos seguintes deste capítulo) depende do potencial na super
fície de cisalhamento entre a superfície carregada e a solução de eletrólito. Esse
potencial é chamado de potencial eletrocinético ou potencial zeta (£). A localização
exata do plano de cisalhamento (que é na realidade uma região cuja viscosidade
varia rapidamente) constitui outra incógnita da dupla camada elétrica. Além
dos íons situados na camada de Stern, provavelmente uma certa quantidade de
solvente será também ligada à superfície carregada, participando assim (ia uni
dade eletrocinética. É razoável portanto, supor que o plano de cisalhamento se
situe um pouco mais afastado da superfície que o plano de Stern; e é também
razoável supor que £ será um pouco menor, em magnitude, que i//, (veja Figs. 7.2
e 7.3). Em experimentos que visam comprovar a teoria da dupla camada, é usual
considerar-se idênticos os planos de ij/õ e £, e a grande maioria das evidências
experimentais sugere que o erro introduzido por causa dessa suposição é geral
mente pequeno, especialmente com superfície liófobas. Quaisquer diferenças entre
i//a e £ serão evidentemente mais pronunciadas a potenciais elevados (£ = 0 quando
(//j = 0), e com elevadas concentrações do eletrólito (a compressão da parte difusa
da dupla camada provocará maior proporção de queda de potencial de ij/6 a zero
no plano de cisalhamento.) A adsorção de uma substância tenso-ativa não tônica
fará com que a superfície de cisalhamento se localize a uma distância relativa
mente grande do plano de Stern, e fará com que o potencial zeta seja consideravel
mente menor que ijià.
3. Potenciais superficiais — Para uma interface do tipo iodeto de prata-solução
do eletrólito, a diferença de potencial elétrico entre o interior sólido e o seio da
solução varia de acordo com a equação de Nernst
d 4> -2,303 RT
(= -59 mV a 25 °C).
d(pAg)
110 Introdução à qufmíca dos colóides e de superfícies
Figura 7.4. Potenciais zeta para sóis de iodeto de prata, preparados por simples mistura9’,
í calculado pela equação de Smoluchowski. (Cortesia dc lilscvier Publishing Company)
Interfaces com cargas elétricas 111
Do que até aqui foi exposto, poderemos concluir que o modelo de Stern para
a dupla camada elétrica constitui-se apenas num modelo aproximado de uma
situação real muito mais complicada. Não obstante, esse modelo fornece uma
boa base para a interpretação, ao menos semiquantitativa, da maior parte das
observações experimentais ligadas a fenômenos de dupla camada elétrica. Ele
mostra-se útil principalmente para explicar a magnitude dos potenciais eletrociné-
ticos (raras vezes maiores que 75 mV), comparados a potenciais termodinâmicos
(que podem ser da ordem de várias centenas de milivolts).
Grahame 05 propôs um aperfeiçoamento do modelo de Stern, estabelecendo
uma distinção entre “plano externo de Helmlioltz” para indicar a maior aproxi
mação dos íons hidratados à superfície (ou seja, o plano de Stern), e um “plano
interno de Helmholtz” para indicar o plano dos centros dos íons, particularmente
ânions, desidratados (ao menos na parte dirigida para a superfície).
Para finalizar, devemos dizer que tanto o modelo de Gouy-Chapman para
a dupla camada elétrica, como o de Stern, supõem uma superfície uniformemente
carregada. A carga superficial, porém, não se encontra “espalhada” por toda a
superfície, mas localizada em pontos discretos da superfície. Quando um íon é
adsorvido para dentro do plano interno de Helmholtz, ele provocará uma redis-
tribuição das cargas vizinhas, e fazendo-o, cria uma espécie de potencial “auto-
gerado” ^ (um análogo bidimensional do potencial autogcrado que se desenvolve
na teoria de Debye-Hückel para os eletrólitos fortes). Esse efeito da “carga dis
cretamente distribuída” pode ser incorporado à expressão de Langmuir-Stern
que agora passa a ter a forma
Troca tônica
A troca iônica envolve uma situação de dupla camada elétrica na qual
estão presentes dois tipos de contra-íons (ri e B), situação esta que pode ser
representada por
RA + B = RB + A,
onde R é um sólido poroso com carga elétrica. Os íons ri e B, de carga contrária 1
a de R, competem entre si por um lugar na dupla camada elétrica em torno de R,
sendo de importância fundamental nessa competição a concentração e a carga dos
íons. R pode ser um trocador catiõnico (grupo fixos com carga negativa, tais como
—SO 3 ou —C O O - ), ou um trocador aniônico (grupos fixos com cargas posi
tivas, como —N H j). Conhece-se um grande número de resinas sintéticas altamente
porosas, empregadas para troca catiônica ou aniônica. A porosidade da resina
facilita uma troca iônica razoavelmente rápida.
112 Introdução à química dos colóides e de superfícies
FENÔMENOS ELETROCINÉTICOS
A eletrocinética é a descrição geral aplicada a quatro fenômenos que surgem
quando se tenta remover a parte móvel da dupla camada elétrica de uma super
fície carregada.
Aplicando-se um campo elétrico tangencialmente ao longo de uma superfície
carregada eletricamente, uma força passa a ser exercida em ambas as partes da
dupla camada elétrica. A superfície carregada (inclusive materiais a ela ligados)
tende a mover-se numa direção apropriada, enquanto que os íons na parte móvel
da dupla camada tendem a migrar na direção oposta, arrastando consigo o solvente
e criando um fluxo de solvente. Reciprocamente, criamos um campo elétrico se
movimentarmos a superfície carregada e a parte difusa da dupla camada uma
em relação à outra.
Os quatro fenômenos eletrocinéticos são os que seguem.
1. Eletroforese — o movimento de partículas carregadas mais os materiais ligados
às mesmas (material em suspensão ou solução) em relação a um líquido estacionário
e por efeito de um campo elétrico aplicado.
2. Eletrosmose — o movimento de um líquido em relação a uma superfície car
regada estacionária (por exemplo, um capilar ou uma divisão porosa) por efeito
de um campo elétrico (trata-se pois do complemento da eletroforese). A pressão
necessária para contrabalançar o fluxo eletrosmótico é denominada pressão ele-
trosmótica.
3. Potencial de escoamento — o campo elétrico criado quando um líquido flui
sobre uma superfície carregada estacionária (é o oposto da eletrosmose).
4. Potencial de sedimentação — é o campo elétrico criado quando partículas car
regadas se movimentam em relação a um líquido estacionário (trata-se pois do
oposto da eletroforese).
Desses fenômenos eletrocinéticos, a eletroforese é o que apresenta maior
aplicação prática, e é também o mais extensamente estudado, em suas diferentes
Interfaces com cargas elétricas 113
Eletroforese101
Várias técnicas foram elaboradas para estudar a migração de partículas
coloidais num campo elétrico.
1. Eletroforese de partículas (microscópica) — Se o material em estudo se apresentar
sob a forma de uma suspensão ou emulsão razoavelmente estável, contendo par
tículas ou gotículas visíveis ao microscópio, o comportamento eletroforético
poderá ser observado e medido diretamente. Também é possível obter informações,
com essa técnica, sobre materiais solúveis, desde que a substância em questão
seja adsorvida sobre um transportador, como gotas de óleo ou partículas de sílica.
A célula para eletroforese consiste usualmente de um tubo de vidro horizontal,
de secção retangular ou circular, contendo um eletrodo em cada extremidade, e
por vezes, dispositivos para entrada e saída de material para enchimento e lim
peza do tubo (Fig. 7.5 e 7.6). Para concentrações salinas abaixo de 0,001 mol dm~3
a 0,01moldm~3 podem ser empregados eletrodos de negro de platina; com
outras concentrações devem ser usados eletrodos reversíveis apropriados; como
os C u|C uS04 ou Ag|AgCl, para evitar evolução de gás.
Condensador
Vista de cima
Objetiva de
longo alcance
Escala ocular
calibrada
Figura 7.5. Uma célula plana para microeletroforese, em montagem vertical101. (Cortesia
de Academic Press Inc.)
114 Introdução à química dos colóides e de superfícies
Diâmetro interno: ca . 2 mm
Espessura da parede: ca. 0,05 mm
conta a ação focalizadora do tubo; distorções ópticas podem impedir que a leitura
seja feita no nível estacionário distante. Celas cilíndricas são insatisfatórias se
ocorrer alguma precipitação durante as medidas; adaptando-se uma cela retan
gular para observação horizontal (Fig. 7.5), as partículas em sedimentação per
manecem no foco e não se desviam dos níveis estacionários.
A velocidade eletroforética é determinada medindo o tempo necessário para
uma partícula percorrer uma distância fixa (cerca de 100 qm) numa escala ocular
calibrada. A intensidade do campo é ajustada de modo a dar tempos da ordem
de 10 s — velocidade mais rápida introduz erros na determinação do tempo, e
mais lenta aumenta o inevitável erro devido ao movimento browniano. Fa/.-se
a medida do tempo nos dois níveis estacionários. Alternando o sentido da corrente
podem ser eliminados em grande parte os erros devidos a deslocamentos provo
cados por vazamentos ou por convecção. A velocidade eletroforética é calculada
geralmente a partir da média das recíprocas de cerca de 20 medições do tempo
de trajeto.
O gradiente de potencial E no ponto de observação é usualmente calculado
a partir da corrente /, da área da seção transversal do tubo. A, e da condutividade
da dispersão, k0, determinada separadamente, como
E = I/k„A.
Estudos de eletroforese de partículas mostraram-se úteis na investigação de
modelos para sistemas reais (por exemplo, sóis de haletos de prata e dispersões
de látex de poliestireno) e situações práticas (por exemplo, suspensões de argilas,
purificação da água, e detergência), que envolvam estabilidade de colóides. Ao
determinar as forças repulsivas de duplas camadas entre partículas, supõe-se geral
mente que i//a é o potencial operante e que i//a e £ (calculados a partir das mobili-
dades eletroforéticas) são idênticas.
A eletroforese de partículas é também uma técnica útil para a caracterização
de superfícies de organismos como bactérias, vírus, e células sanguíneas. A natu
reza da carga superficial pode ser investigada estudando como a mobilidade eletro
forética depende de fatores tais como pH, força iônica, adição de íons de carga
contrária, polivalentes especificamente adsorvidos, adição de agentes tenso-ativos
e tratamento com reagentes químicos específicos, particularmente enzimas. A Fig.
7.7 mostra, como exemplo, como a curva mobilidade-pH, em força iônica cons
tante, reflete o caráter ionogênico de superfícies de certas partículas-modelo.
2. Eletroforese de fronteira móvel — Outra técnica eletroforética consiste em estudar
o movimento de uma fronteira formada entre um sol ou solução, e o meio de
dispersão puro. O método de fronteira móvel de Tiselius102 encontrou larga
aplicação, não somente para medir mobilidades eletroforéticas, mas sobretudo
para separar, identificar e avaliar macromoléculas dissolvidas, sobretudo pro
teínas. Contudo, como método analítico, em que não há necessidade de se conhecer
as mobilidades eletroforéticas, a eletroforese de fronteira móvel foi substituída
em grande parte por métodos mais simples e menos dispendiosos de eletroforese
de zona.
A cela de Tiselius consiste de um tubo em U, de seção transversal retangular,
subdividido em vários compartimentos, montados sobre vidro esmerilhado, o que
permite que sejam movimentados lateralmente. A solução de proteína é dialisada
contra um tampão (para evitar subseqüente perturbação da fronteira por fluxos
116 Introdução à química dos colóides e de superfícies
Figura 7.7. Potenciais zeta (calculados a partir de dados da mobilidade eletroforética) rela
tivos a partículas de diferente caráter ionogênico, colocados num gráfico em função do pH.
num tampão acetatoveronal, a força iônica constante de 0,05m oldm - 3 .
a. Gotículas de óleos parafinicos
b. Partículas de látex de poliestireno sulfonado
c. Ácido arábico (polímero carboxilado) adsorvido sobre gotículas de óleo
d. Albumina do soro adsorvida sobre gotículas de óleo
• Fronteira
Seção transversal
horizontal
Eletr osmose
A Fig. 7.11 ilustra um aparelho empregado no estudo de um fluxo eletros-
mótico através de um tampão poroso. Para evitar evolução de gases empregam-se
eletrodos reversíveis. O sistema empregado é um sistema fechado, e a velocidade
do fluxo-eletrosmótico é determinada medindo a velocidade de uma bolha de
ar que se move num capilar (1 mm de diâmetro), que permite o retomo da solução
eletrolítica.
Poderá ser necessário corrigir os dados experimentais, por causa de efeitos
como eletrosmose no tubo capilar em que é feita a medida, e corrente eletrosmótica
de retorno através do tampão poroso.
TEORIA ELETROCINÉTICA
Os fenômenos eletrocinéticos se relacionam diretamente só à natureza da
parte móvel da dupla camada elétrica, e portanto só podem ser interpretados em
termos do potencial zeta ou da densidade de carga na superfície do plano de cisa-
lhamento. Não é possível obter informações diretas sobre os potenciais i//0 e i//á
(embora, como já discutimos, o valor de ( pode ser bastante próximo de ij/ô), ou
sobre a densidade de carga na superfície do material em questão.
A teoria eletrocinética envolve tanto a teoria da dupla camada elétrica, como
a teoria do fluxo de líquidos, sendo assim bastante complicada. Consideraremos
aqui a relação existente entre as quantidades determinadas eletrocineticamente
(particularmente mobilidade eletroforética) é o potencial zeta.
Para superfícies curvas, a forma da dupla camada pode ser descrita em termos
de uma quantidade adimensional “ko”, que é a relação entre o raio da curvatura
e a espessura da dupla camada. Quando o valor de Ka é pequeno, uma partícula
carregada pode ser considerada como carga puntual; quando é grande, a dupla
camada é praticamente plana e poderá ser considerada como tal.
dv dv
Epdx = |^7 -\n
dx dx
_ d_
dx ^ x ' ) dx-
A equação de Henry
Henry 103 desenvolveu uma equação eletroforética de caráter geral, aplicável
a esferas condutoras e não-condutoras, e que se escreve como
n
uE = —;— [1 + 2F(ica)], (7.22)
1,5 q
onde F(rca) varia entre zero, para valores pequenos de ko, e 1,0 para valores grandes
de kü\ 2 = (k0 -/c 1 )/(2 fe0 + kf), onde k0 é a condutividade no seio da solução
eletrolítica e kr a condutividade das partículas. Para valores pequenos de kü é
desprezível o efeito da condutância das partículas. Para valores maiores de kü,
a equação de Henry prevê um valor de 2 se aproximando de -1, e uma mobilidade
eletroforética se aproximando de zero, à medida que a condutividade da partícula
aumenta; mas na maioria das situações práticas, as partículas “condutoras” se
polarizam rapidamente sob ação do campo elétrico aplicado, tornando-se não-
-condutoras em comportamento.
Para partículas não-condutoras (2 = 1/2), a equação de Henry pode ser
escrita sob a forma
(r,
uE = - V - f(/ca), (7.23)
1,5 r\
onde {(ko) varia de 1,0 para tca pequeno (equação de Hückel) e 1,5 para kü grande
(equação de Smoluchowski) (veja Fig. 7.12). Os valores do potencial zeta calculados
através das equações de Hückel (kü = 0,5) e de Smoluchowski (para kü = 300)
diferem em cerca de 1 % dos correspondentes valores do potencial zeta calculados
mediante a equação de Henry.
Um gráfico de 1/Ç0 contra 1/a, deve portanto dar uma linha reta (para Ka grande,
e com ks, k0 e Ç constantes), a qual permite determinar por extrapolação um po
tencial zeta corrigido, o qual leva em conta a condutância de superfície. Desse
modo foram determinados potenciais zeta para gotículas de óleo e partículas de
vidro recobertas com proteínas106.
A importância da condutância de superfície para valores grandes de kü
depende claramente da magnitude de k j(k 0a) em relação à unidade. É possível
calcular a condutividade superficial na parte móvel da dupla camada (esta é con
siderada no tratamento da relaxação, visto no parágrafo seguinte). Condutividades
superficiais determinadas experimentalmente (via de regra não muito exatas)
são geralmente maiores que as condutividades superficiais calculadas para a parte
móvel da dupla camada; para explicar essa discrepância, foi sugerida a possibili
dade de haver uma condutância de superfície dentro do plano de cisalhamento,
especialmente com partículas de superfície porosa.97’ 104 Há, assim, alguma incer
teza a respeito da influência da condutância de superfície no comportamento ele
troforético; contudo, não é provável que essa condutância tenha alguma impor
tância quando a concentração do eletrólito é maior do que 0,01 mol dm ~3.
124 Introdução à química dos colóides e de superfícies
Relaxação
Os íons da parte móvel da dupla camada mostram um movimento no sentido
oposto ao das partículas submetidas à influência do campo elétrico aplicado.
Isso cria um movimento localizado de líquido, que se opõe ao movimento da
partícula, e é conhecido como retardamento eletroforético. A equação de Henry
leva em consideração esse fenômeno.
Como resultado do movimento da partícula em relação à parte móvel da
dupla camada, temos uma distorção da dupla camada, já que se torna necessário
um tempo finito (tempo de relaxação) para restaurar por difusão e condução a
simetria inicial. A resultante parte móvel assimétrica da dupla camada exerce
mais uma força retardadora sobre a partícula, o que se designa efeito de relaxação;
este não é considerado na equação de Henry. A relaxação pode ser seguramente
desprezada quando kü for muito pequeno (< cerca de 0 , 1 ) ou muito grande
(> cerca 300); em valores intermediários de kü, o efeito de relaxação é acentuado,
sobretudo com potenciais elevados, e quando os íons que neutralizam as partículas
dispersas apresentam carga elevada e/ou baixa mobilidade.
Para partículas esféricas, Overbeek107 e Booth 108 desenvolveram equações
que levam em conta retardamento, relaxação e condutância de superfície na parte
móvel da dupla camada; essas equações exprimem a mobilidade eletroforética
em termos de uma série de potências em eijkT. Por causa dc dificuldades mate
máticas, essas equações só foram resolvidas para um número restrito de termos,
e sua validade, quantitativamente, só pode ser admitida para eÇ/kT < 1. Com
potenciais mais elevados, o efeito de relaxação foi superestimado.
Os tratamentos de Overbeek e Booth foram hoje substituídos, tanto no que
se refere ao intervalo de validade como à conveniência e comodidade, pelo trata
mento de Wiersema, Loeb e Overbeek109, em que equações diferenciais apropriadas
foram resolvidas sem aproximações usando um computador eletrônico. As prin
cipais suposições em que se baseia esse tratamento são as seguintes.
1. A partícula é uma esfera rígida não cgndutora, cuja carga se distribui
uniformemente pela superfície.
2 . O comportamento eletroforético da partícula não é influenciado por outras
partículas presentes na dispersão.
3. A permitividade e a viscosidade são constantes através de toda a parte
móvel da dupla camada, descrita pela teoria clássica de Gouy-Chapman.
4. Somente estão presentes na fase móvel da dupla camada um tipo de íon
positivo e um tipo de íon negativo.
As Figs. 7.12 e 7.13 mostram os resultados de alguns desses cálculos.
Investigações sobre o comportamento eletroforético de dispersões mono-
dispersas de látex de poliestireno carboxilado em função do tamanho das par
tículas e concentração eletrolítica, efetuadas por Shaw e Ottewill confirmaram110,
ao menos qualitativamente, a existência dos efeitos provocados por na e relaxação.
Permitividade e viscosidade
Outras dificuldades nos cálculos e interpretação dos potenciais zeta surgem
quando a intensidade do campo elétrico (di/z/dx) próximo ao plano de cisalhamento
for suficientemente elevada para diminuir significativamente o valor de e e/ou
aumentar o de rj, por causa de orientação dipolar. Lyklema e Overbeek1 1 1 exa-
Interfaces com cargas elétricas 125
onde p é a densidade de carga. Com kci elevado, decai o potencial na dupla camada
e em conseqüência a corrente de escoamento se localiza numa região próxima
à parede do capilar, onde x é pequeno comparado com a. Substituindo p (equação
de Poisson, d2\jj/dx2 = -p/s), e dV/dt (desprezando x, em relação a a) teremos
mpa2 d2ij)
1, x dx.
nl J0 dx2
A solução dessa expressão (por integração parcial), levando em conta as con
dições limite (i// = £, a x = 0 ; e \jj = 0 e d\j//dx = 0 , a x = a), é
spAÇ,
Is = (7.26)
E.
m ’
onde k0 é a condutividade da solução eletrolítica. Portanto %
f-PÍ
(7.27)
nK
O valor de k0 pode sofrer uma correção, incluindo um termo relativo à con
dutividade de superfície, ks, o que transforma a Eq. (7.27) em
E .= jp f
(7.28)
2k:
n (k 0 +
Uma derivação de caráter mais geral para o tampão poroso 97 leva igualmente
às Eqs. (7.26) e (7.27). Entretanto, para um tampão poroso, não existe um método
satisfatório de levar em consideração a condutância de superfície e corrigir os
dados de potencial de escoamento. Usando-se a Eq. (7.28), com a igual ao raio
médio dos poros, os potenciais zeta calculados serão demasiadamente baixos.
A importância da condutância de superfície pode ser investigada qualitativamente,
comparando-se a razão das condutividades, para duas substâncias eletrolíticas,
no seio da solução e no tampão poroso. Não é necessário conhecer a condutância
de superfície para correlacionar corrente de escoamento e potencial zeta. A situação
Interfaces com cargas elétricas 127
existente num tampão poroso também se complica, mais do que se entrevê pela
descrição anterior, quando a) a área efetiva do tampão para a corrente de escoa
mento diferir da área efetiva para a corrente de fuga, como conseqüência dos
mecanismos diferentes envolvidos nos dois casos, e b) se o tampão for compressível
e a pressão aplicada afetar o tamanho médio dos poros. A validade dos potenciais
zeta calculados a partir de medidas de escoamento (e também eletrosmóticas)
em tampões porosos é um tanto duvidosa114.
Eletrosmose
O valor medido experimentalmente é o da velocidade de fluxo de um certo
volume. Para um capilar de área transversal A e kci elevado, essa velocidade de
fluxo é dada, de acordo com a equação de Smoluchowski, por
d^É.o. AEaÇ
dt ^ VE.O.
n
e como AE = I/k0 (pela lei de Ohm), onde k0 é a condutividade do líquido e I
a corrente, teremos
dVE.0. elÇ
(7.29)
dt rjk0
ou, introduzindo um termo ks, que leva em conta a condutância de superfícies,
para corrigir k0,
dVBX 8ÍÇ (7.30)
dt
*0 = ^a
ESTABILIDADE DE COLÓIDES
SÓIS LIÓFOBOS
Idealmente falando, os sóis liófobos são estabilizados inteiramente por inte
rações elétricas das duplas camadas; na prática, porém, observa-se sempre uma
certa influência da solvatação sobre a estabilidade dos mesmos.
onde II é a distância mais curta entre esferas de raio a, e B é uma constante igual
a 4,36 x IO20 A - 2 s- 2 ; z a carga do ion oposto, e y é dado por
exp [zÉ'(//l,/2kT]~ 1
(7.5)
exp [ze\j<J2kT~\ + 1
130 Introdução à química dos colóides e de superfícies
2. Forças atrativas de van der Waals — As forças de atração existentes entre molé
culas neutras, quimicamente saturadas, postuladas por van der Waals, também
se originam de interações elétricas. Podemos reconhecer, conforme segue, três
tipos de atração intermolecular.
1. Duas moléculas com dipolos permanentes se orientam mutuamente de
tal maneira que resulta, ao final, uma atração.
2. Moléculas dipolares induzem a formação de dipolos em outras moléculas,
provocando também o surgimento de uma atração.
3. Existem também forças atrativas entre moléculas apoiares, fato que se
torna evidente ao pensarmos na liquefação de hidrogênio, hélio, etc. Essas forças
atrativas universais (conhecidas como forças de dispersão) foram explicadas pela
primeira vez por London (1930), e são devidas à polarização provocada em uma
das moléculas pelas flutuações da distribuição de cargas na outra molécula, e
vice-versa.
Exceto em materiais altamente polares, essas forças de dispersão de London
explicam quase todas as atrações tipo van der Waals realmente operantes. A
energia de atração de London entre duas moléculas tem alcance muito curto,
sendo inversamente proporcional à distância intermolecular elevada ao expoente
6 . Em um conjunto de moléculas, as forças de dispersão são aditivas numa primeira
aproximação, e poderemos calcular a energia de atração entre duas partículas
somando as interações existentes entre todos os pares de moléculas atuantes entre
as partículas.
Os resultados dessas somas prevêem que a energia de atração de London
entre conjuntos de moléculas (por exemplo, entre partículas coloidais), decresce
muito mais rapidamente do que entre moléculas individuais123. Para o caso de
duas esferas idênticas de raio a (in vacuo) com a menor distância H entre as esferas
não mais que 10 nm a 20 nm, e com H a, a energia de atração de London, VA,
será dada pela equação aproximada
-A a
( 8. 2)
V2H
As energias de atração calculadas através dessa equação são facilmente
superestimadas, sobretudo quando a distância H for maior (H > 10 nm) pois
há uma tendência de se desprezar o tempo finito necessário para a propagação
da radiação eletromagnética entre as partículas, do que resulta um enfraquecimento
de VA (conhecido como efeito de retardamento).
Diversos pesquisadores mediram diretamente as forças de atração entre
objetos macroscópicos; por exemplo, na primeira experiência desse tipo, Derjaguin
e Abricossova124 usaram uma balança feedback eletrônica muito sensivel para
medir a atração existente num sistema plano-convexo de quartzo polido. Dessas
experiências difíceis resultaram forças atrativas, medidas diretamente, de mesma
ordem de grandeza que aquelas previstas pela teoria, desde que se faça uma cor
reção para compensar o retardamento e desde que se removam das superfícies
em questão todas as cargas residuais.
O valor da constante A (conhecida como constante de Hamaker) depende
da natureza do material que constitui as partículas (principalmente do número
de átomos por unidade de volume e da polarizabilidade). Seu valor numérico
varia geralmente entre 10“ 20 J e 10' 19 J. A existência, entre as partículas, de um
Estabilidade de colóides 131
meio de dispersão líquido, melhor que vácuo (ou ar), diminui bastante a energia
de atração. A constante A da Eq. (8.2) deve ser substituída por uma constante de
Hamaker efetiva, calculada através da expressão
(8.3)
onde os índices 1 e 2 se referem respectivamente ao meio de dispersão e à partícula.
A atração entre as partículas será mais fraca, como seria de se esperar, quando as
partículas e o meio de dispersão forem quimicamente semelhantes, pois neste
caso Al e A 2 terão valores absolutos semelhantes e A será pequeno em con-
seqüência. Os valores de A j e/ou A1 freqüentemente não são conhecidos com
muita exatidão, especialmente nos casos em que a solvatação concorre para com
plicar a situação. Presentemente os cálculos para as constantes efetivas de Hamaker
são aproximados (especialmente para valores próximos de A t e A2). Entretanto,
mesmo usando a Eq. aproximada (8.2), como ponto de partida, é possível tirar
muitas e úteis conclusões teóricas para o cálculo das forças de atração de van
der Waals entre as partículas de sóis, apesar das dificuldades encontradas nestes
cálculos.
3. Curvas de energia potencial — Obtém-se a energia total de interação somando
as energias de atração e de repulsão, como ilustra, por exemplo, a Fig. 8.1. O
caráter geral da curva resultante energia potencial versus distância pode ser dedu
zido a partir das propriedades das duas forças. A energia de repulsão (Eq. 8.1)
é uma função exponencial da distância que separa as partículas, com um alcance
da ordem da espessura da dupla camada elétrica; e a energia de atração (Eq. 8.2)
decresce inversamente com a distância entre as partículas. Portanto com dis
tâncias pequenas e grandes entre as partículas predominará a atração de van der
3 0 AT
20 Af
10Af
-10AT
20 kT
10kT
AOkT
Figura 8.3. A influência do potencial superficial i//0 sobre a energia potencial de interação
total entre duas partículas esféricas118' 121
a - 1CT7 m T = 298 K
A = 1(T19J s = RJa (R = distância entre os centros das esferas)
k = 108 m ’ 1
de onde
4,415 Bck2T 2y2
Az
f 2e2N cz2\ 2
Substituindo k p o r --------— (Eq. 7.6),
skT
teremos
9,75 B2e3k5T V
c, 6
(8.4)
Estabilidade de colóides 135
Cinética da floculação
A velocidade com que um sol flocula'depende da frequência com que as
partículas se encontram mutuamente, e da probabilidade de terem, nos instantes
em que ocorrem esses choques, uma energia térmica suficiente para ultrapassar
a barreira de energia potencial repulsiva que se opõe à floculação.
A velocidade com que as partículas se agregam é dada por
— = k ,t + — (8.5)
n n0
Durante o decorrer da floculação, o valor de k2 usualmente decresce e às
vezes atinge-se um estado de equilíbrio, com o sol apenas parcialmente floculado.
Isso pode ser uma conseqüência do aumento da intensidade da barreira de energia
de repulsão com o aumento do tamanho da partícula Assim, em testes experi
mentais das teorias de estabilidade é usual restringir as medidas aos primeiros
estágios da floculação (onde se observa um mecanismo de floculação ainda afas
tado do equilíbrio), usando sóis moderadamente diluídos.
A concentração de partículas nos estágios iniciais da floculação pode ser
determinada diretamente, por contagem visual das partículas, ou indiretamente,
por meio de medidas de espalhamento da luz125,126. Se necessário, podemos
interromper a floculação numa alíquota de sol mediante adição de um agente
estabilizante, como gelatina por exemplo, e depois determinar a concentração.
A constante de velocidade k2 será a inclinação da reta obtida num gráfico de 1jn
contra t.
A barreira de energia potencial que se opõe à floculação pode ser reduzida a
zero mediante adição de excesso de um eletrólito, criando uma situação na qual
cada choque entre as partículas resulta em um contato permanente. A teoria da
floculação rápida (controlada pela difusão) foi desenvolvida por Smoluchowski125.
Num sol monodisperso contendo partículas esféricas,
n = ------- ^ ------- . (8 .6 )
(1 + inDan0t)
expressão em que a é o raio efetivo das partículas e D o coeficiente de difusão.
Substituindo D por kT/Gntja (Eq. 2.6) e combinando as Eqs. (8.5) e (8 .6) teremos
4kT
k» (8.7)
3n '
onde k° é a constante de velocidade de floculação controlada por difusão.
Estabilidade de colóides 137
Soluções numéricas dessa integral para valores dados de A e i//a podem fornecer
relações teóricas entre a razão de estabilidade e a concentração de eletrólito. A
Fig. (8.5) mostra o resultado de cálculos feitos para eletrólitos 1-1 e 2-2. Sendo
ij/f constante, prevê-se uma relação linear entre log W e log c em quase toda a
região de floculação lenta.
Uma maneira mais conveniente, mas aproximada, de tratar esse aspecto,
foi apresentada por Reerink e Overbeek122 ; combinando uma forma aproximada
da Eq. (8.9),
m ax
W'. exp
2íca kT
com as Eqs. (8.1) e (8.2), obtiveram uma expressão teórica que também prevê uma
relação linear entre log W e log c, para iji6 constante. Para uma temperatura de
25 °C, e exprimindo o raio das partículas em metros, a equação resultante toma
a forma
log W = Constante-2,06 x 10y [ J log c. (8.10)
De acordo com essa aproximação, o valor de d log W/à log c para o exemplo
a = 10~8m e ij/5 = 3kT/e, escolhido na Fig. 8.5, será igual a 9 para eletrólitos
1-1, e 4,8 para eletrólitos 2-2. Os cálculos mais exatos, através da Eq. (8.9), levam
a inclinações 7 e 4,5 respectivamente116.
As velocidades de floculação foram medidas como função da concentração
de eletrólitos em muitos sóis116, 122> 126, 127 e a prevista relação linear entre log
W e log c na região de floculação lenta parece plenamente confirmada. Além
disso, os valores experimentais de d log W/à log c, embora variem um pouco, tem
a mesma ordem de grandeza que aqueles calculados pela inclinação da reta no
gráfico.
A Fig. 8.6 mostra alguns resultados interessantes obtidos por Fairhurst e
Smith 127 para a floculação de hidrossóis de iodeto de prata em diferentes valores
de pi. A medida que o pl decresce (e o potencial i//„ se torna mais negativo),
aumentam a inclinação de d log W/à log c e a concentração de floculação (que é
a concentração correspondente a um valor baixo de W arbitrariamente escolhido),
tal como esperado, até atingir-se um valor de pl de cerca de 6 . Contudo à medida
que o pl é reduzido abaixo de 6 , d log W/à log c e a concentração de floculação
passam a decrescer. Essa observação aparentemente anômala (e o correspondente
Figura 8.6. Gráficos de log W contra log c, para a floculação de sóis de Agí, em vários valores
de pl, por nitrato de magnésio.127 (Cortesia de Dr. D. Fairhurst e Dr. A. L. Smith)
Estabilidade de colóides 139
máximo na cur\a do potencial /eta. Fig. 7.4) pode ser uma consequência do caráter
discreto (no sentido não-contínuo) do efeito de carga descrito na p. III.
Os dados experimentais geralmente não estão de acordo com as previsões
da Eq. 8.10 relativas a tamanho de partículas1 16,122,126. Por exemplo, Ottewill
e Shaw125 não encontraram nenhuma variação sistemática no valor de d log
Wjd log c, em diferentes dispersões monodispersas de látex de poliestireno car-
boxilado e com partículas de raios entre 30 nm e 200 nm.
Figura 8.7. Volumes de sedimentação para (a) partículas defloculadas e (b) partículas
floculadas
140 Introdução à química dos colóides e de superfícies
o tratamento das terras com agentes floculantes, tais como sais de cálcio (cal ou
gesso) ou polieletrólitos orgânicos (os assim chamados “condicionadores do solo”).
Um extremo exemplo de defloculação do solo ocorre quando terras agrícolas
são inundadas pelo mar. Os íons de cálcio presentes normalmente nas argilas do
solo são substituídos por íons de sódio provenientes da água do mar. A subseqiiente
remoção dos íons de sódio pela água da chuva leva a uma defloculação, e o solo
endurece tornando-se impróprio para o crescimento de plantas. Inversamente a
infiltração exagerada de água proveniente de reservatórios pode ser reduzida
por meio de um prévio alagamento com água do mar.
2. A perfuração de poços de petróleo — Na perfuração de poços de petróleo, usa-se
uma suspensão de argilas (drillmy mud) tipo bentonita* com a finalidade de a)
funcionar como refrigerante; b) para remover do orifício em perfuração os detritos,
e c) para vedar as partes laterais do poço com uma espécie de “filtro” impermeável.
As operações de bombeamento e vedação são executadas com maior eficiência
se essa suspensão de argila estiver defloculada; contudo, um certo grau de rigidez
da argila torna-se necessário para reduzir a sedimentação das aparas, principal
mente durante uma interrupção da circulação. Essas condições opostas são em
parte conciliadas mantendo a suspensão de argila em um estado parcialmente
floculado, tixotrópico (p. I5l). Se a suspensão se tornar muito rígida, uma deflo
culação parcial pode ser provocada pela adição de uma pequena quantidade de
um agente peptizante, como polifosfato. As partículas em forma de placa dc argilas
como a bentonita apresentam-se muitas vezes com faces de carga negativa e arestas
de carga positiva quando em contato com o meio aquoso, e floculam rapidamente
por meio de um mecanismo aresta-face, formando uma estrutura de gel, mesmo
em concentrações moderadamente baixas de argila12X. A principal função do
polifosfato é inverter as cargas positivas nas arestas das partículas dc argila. A
área relativamente pequena ocupada pelas arestas torna esse processo econo
micamente viável.
3. Tintas — As partículas existentes em tintas pigmentadas são, com freqtiência,
suficientemente grandes para se sedimentarem, mesmo quando defloculadas;
portanto, é desejável que estejam parcialmente floculadas, para facilitar a redis-
persão.
Solvatação
Soluções macromoleculares são estabilizadas por uma combinação de sol
vatação e interação das duplas camadas elétricas; ambos os fatores de estabilização
devem ser suficientemente enfraquecidos antes de ocorrer a precipitação. Por
exemplo, gelatina apresenta afinidade suficientemente forte com a água para ser
solúvel (a não ser que a concentração de eletrólito seja muito alta), mesmo no
seu pH isoelétrico, onde não há interação de duplas camadas. A caseína apresenta
caráter hidrofílico mais fraco, e precipita de suspensões aquosas quando o pH
se aproxima do ponto isoelétrico.
Por causa de sua afinidade com a água, colóides hidrofílicos não são afetados
pela adição de pequenas quantidades de eletrólitos, que provocam a floculação,
como vimos, de sóis hidrófobos; mas são muitas vezes precipitados (salted out)
com concentrações elevadas de eletrólitos. Os íons do eletrólito adicionado desidra
tam o colóide hidrofílico, competindo com ele pela água de hidratação. A eficiência
do efeito de salificação (salting out) de um eletrólito depende portanto das ten
dências de hidratação de seus ions. Assim sendo, cátions e ânions podem ser dis
postos segundo as seguintes séries liotrópicas*, em ordem decrescente de eficiência
de salificação (salting out),
Mg2+ > Ca2+ > Sr2+ > Ba2,
> Li+ > N a+ > K + > NH 4 > Rb+ > Cs' .
6 citrato3" > SO_ > C P > NOJ > I~ > CNS~.
O sulfato de amônio, que apresenta elevada solubilidade, é usado freqüentemente
para precipitar proteínas em soluções aquosas.
Os colóides liofílicos podem também ser dessolvatados (e precipitados, se
a interação das duplas camadas elétricas for suficientemente pequena), por meio
da adição de não-eletrólitos, como acetona, ou álcool adicionados a uma solução
aquosa de gelatina, e éter de petróleo a uma solução de borracha em benzeno.
Agentes de proteção
A estabilidade de sóis liófobos pode muitas vezes ser aumentada com ajuda
da adição de substâncias liófilas solúveis, que são adsorvidas sobre a superfície
das partículas. Esses materiais adsorvidos são chamados de agentes de proteção.
O mecanismo da proteção é geralmente complexo, envolvendo uma série de fatores.
1. Se o agente de proteção possuir grupos ionizáveis, a repulsão entre duplas
camadas elétricas das partículas pode sofrer aumento.
2. Camadas adsorvidas de agentes de proteção podem acarretar uma dimi
nuição considerável da constante efetiva de Hamaker, e enfraquecer assim a atração
de van der Waals entre as partículas.
3. Por causa da presença de um filme de adsorção em torno das partículas,
poderá ser necessária uma energia livre de dessorção positiva relativamente forte,
antes que as partículas possam se aproximar suficientemente para se manifestar
o predomínio das atrações de van der Waals.
4. Quando substâncias macromoleculares são adsorvidas sobre as superfícies
das partículas, de modo que as cadeias polímeras possam se estender segundo
uma distância apreciável para o interior do meio de dispersão, então a interação
*Chamadas às vezes de séries de Hofmeister. (N. do T.).
142 Introdução à química dos colóides e de superfícies
Sensibilização
Em certos casos, a adição de pequenas quantidades de substâncias que usadas
em quantidades maiores atuariam como agentes protetores, tornam as dispersões
coloidais mais propensas à precipitação. Muitos fatores contribuem para esse
fenômeno.
1. Se as partículas do sol e as partículas do aditivo tiverem cargas de sinais
opostos, ocorre sensibilização quando a concentração (e a adsorção) forem tais
que as cargas das partículas sofrem neutralização. Adição de quantidades maiores
de aditivo causa proteção, porque ocorre inversão de carga e maior solvatação.
2. Quando em concentrações baixas, aditivos tenso-ativos podem formar
uma primeira camada de adsorção sobre as partículas do sol, com as partes liófobas
das moléculas orientadas para fora, sensibilizando assim o sol. Em concentrações
mais elevadas, uma segunda camada, de orientação oposta, daria origem à
proteção129.
3. Aditivos de cadeia longa, como gelatina, podem por vezes provocar uma
ligeira floculação, por meio de um mecanismo de pontes, isto é, as moléculas de
aditivo são adsorvidas parcialmente sobre duas ou mais partículas ao mesmo
tempo. 1 3 0 , 131 Essa floculação se manifesta normalmente em uma estreita faixa
de concentrações do aditivo; em concentrações maiores, obteremos ação prote
tora, já que a formação de pontes só pode se dar através de colisões entre partículas
em condições nas quais é possível uma ulterior adsorção de aditivo.
C A P ÍT U L O 9
REOLOGIA
INTRODUÇÃO
A reologia é a ciência das deformações e fluxos de matéria, e seu estudo
contribuiu muito para esclarecer idéias a respeito da natureza de sistemas coloidais.
, A reologia é também assunto de grande e crescente importância no campo tecno
lógico — em muitos ramos industriais, como os de borracha, plásticos, alimentos,
produtos têxteis e tintas, a adequabilidade dos produtos envolvidos é avaliada
em grande parte tendo em vista suas propriedades mecânicas.
O comportamento reológico mais direto é mostrado de um lado por fluidos
viscosos newtonianos, e por outro, por sólidos elásticos hookeanos. Muitos mate
riais, entretanto, sobretudo aqueles de natureza coloidal, mostram um comporta
mento mecânico intermediário entre esses dois extremos, evidenciando tanto
características viscosas como elásticas. Esses materiais são chamados de visco-
elásticos.
Existem duas maneiras gerais de estudar aspectos reológicos; a primeira
consiste em desenvolver expressões matemáticas, que possam descrever os fenô
menos reológicos sem fazer maiores referências a suas causas; a segunda, com a
qual se ocupa em essência a discussão que se segue, consiste em correlacionar
o comportamento mecânico observado com a estrutura detalhada do material
em questão. Essa não é uma tarefa fácil. O comportamento reológico de sistemas
coloidais é geralmente muito complicado, refletindo não só características das
partículas individualmente, mas também interações partícula-partícula e partícula-
-solvente. As moléculas ou partículas isoladas podem ligar-se por ligações cruzadas
covalentes (valências primárias) e/ou associar-se por ação de forças de atração
de van der Waals, e/ou associar-se simplesmente por emaranhamento mecânico.
Por causa dessas complicações, nesse aspecto a reologia é ainda em grande parte
uma ciência puramente descritiva. Mas nos últimos anos registrou-se considerável
progresso em relação ao entendimento mais profundo do comportamento reo
lógico, e ao desenvolvimento de uma base quantitativa para seu estudo132.
Por conveniência, esse capítulo foi subdividido em três seções, nas quais se
discutem a viscosidade de soluções e dispersões diluídas, o fluxo não-newtoniano,
e as propriedades viscoelásticas de sistemas semi-sólidos.
VISCOSIDADE
Viscosidade newtoniana
A viscosidade de um liquido mede a resistência interna oferecida ao movi
mento relativo das diferentes partes desse líquido. A viscosidade é chamada de
newtoniana quando a força de cisalhamento por unidade de área, r, entre dois
14 4 Introdução à química dos colóides e de superfícies
Medida da viscosidade
1. Métodos do fluxo capilar — Os métodos empregados com mais freqüência para
a medida de viscosidade se baseiam no fluxo através de um tubo capilar. A pressão
sob cuja ação o líquido passa a fluir fornece o esforço de cisalhamento.
As viscosidades relativas de dois líquidos podem ser medidas usando um
viscosímetro simples de Ostwald (Fig. 9.1). Introduz-se no viscosímetro uma quan
tidade de líquido suficiente para chegar aos níveis B e C. Provoca-se a ascenção
do líquido pelo tubo esquerdo do viscosímetro, até que os níveis de líquido se
situem acima de A, e no fundo do bulbo da direita, respectivamente. Deixa-se o
*Diz-se que um fluido apresenta um fluxo laminar quando a aplicação de forças sobre
esse líquido produz diferenças de velocidade entre camadas (lâminas) adjacentes existentes
no interior desse fluido. (N. do T.).
Reologia 145
\/R l-l/R 2
onde o é a velocidade angular do cilindro externo em rotação, c R x e ü 2 os raios
dos cilindros interno e externo, respectivamente.
Com R í e R 2 não muito diferentes entre si, a velocidade de cisalhamento
através da separação entre os cilindros não é muito grande, e pode ser controlada
através da velocidade de rotação. A expressão acima pode ser simplificada a
dv mR
dr d
onde d é a separação entre os cilindros, e R o raio médio dos dois cilindros.
A resistência da viscosidade sobre o cilindro interno é kdR, onde k é a cons
tante torsional do fio, e 6 a deflexão angular do cilindro. Essa força é exercida
146 Introdução à química dos colóides e de superfícies
variável F ig u ra 9.3. M é to d o d e c o n e e p la c a
sobre uma área 2nRh, onde h é a altura efetiva de líquido em contato com os
cilindros. Portanto
_ kfld
^ 2nhcoR
ou
KO
' = (9'4>
onde K é uma constante do aparelho (obtida usualmente calibrando o aparelho
com um líquido de viscosidade conhecida).
Na prática procede-se ainda usualmente a uma correção final. Se o cilindro
interno tiver sua parte inferior em forma apropriada de cone, o líquido no fundo
do viscosímetro será submetido a cisalhamento com uma velocidade aproximada
mente igual à velocidade de cisalhamento do líquido compreendido entre as
paredes dos cilindros, e a correção final pode ser incluída na calibração do ins
trumento para um dado nível de líquido. A correção final pode também ser
eliminada fazendo duas determinações, enchendo o viscosímetro até diferentes
níveis de líquido; ou, no caso de líquidos moderadamente viscosos, colocando
mercúrio no fundo do viscosímetro e em contato com a extremidade inferior do
cilindro interno.
Instrumentos de cone e placa (veja Fig. 9.3) permitem manter constante por
toda a amostra o gradiente de velocidade, e são particularmente úteis no estudo
de materiais altamente viscosos. Um reômetro de cone e placa muito versátil,
conhecido como reogoniômetro, foi construído por Weissenberg; esse instrumento
Reologia 147
permite medir, por rotação ou oscilação, tanto forças tangenciais como forças
normais (isto é, forças que tendem a levantar o cone verticalmente, veja p. 156).
ao redor das partículas. Para compensar esse efeito, foram propostas muitas
equações133,134, a maioria do tipo
V = »70(1 + a<t> + b<l>2 + • • •).
A mais conhecida é a equação de Guth e Simha135
1/ = rj0(l 4- 2,54> + 14,1 (j>2 + ■■■)
derivada a partir de considerações teóricas. Na prática, os valores de b se situam
geralmente entre 5 e 8 .
3. Solvatação e assimetria — O termo fração volumétrica </> das equações da
viscosidade deve incluir algum solvente, que age, do ponto de vista cinético, como
parte integrante das partículas. Portanto a viscosidade intrínseca é proporcional
ao fator de solvatação (isto é, à razão dos volumes solvatado e não-solvatado da
fase dispersa). De um modo geral, o fator de solvatação aumenta com a diminuição
do tamanho das partículas.
A assimetria das partículas exerce um efeito acentuado sobre a viscosidade;
foram propostas em vista disso muitas expressões complexas que relacionam
viscosidade intrínseca (usualmente extrapolada a gradiente de velocidade zero,
para eliminar influências da orientação) com a relação axial, para partículas em
forma de bastões, elipsóides, cadeias flexíveis, etc.136 Para partículas rígidas,
alongadas, de orientação aleatória, a viscosidade intrínseca é aproximadamente
proporcional ao quadrado da razão axial.
Tanto assimetria como solvatação provocam aumento da viscosidade intrín
seca. Oncley20 calculou as viscosidades intrínsecas para elipsóides de revolução
de vários graus de assimetria e hidratação, tendo em vista sua aplicação a pro
teínas (Fig. 9.4.; cf. Fig. 2.1).
4. Efeitos eletroviscosos137 — Quando dispersões contendo partículas com cargas
são submetidas a cisalhamento, há necessidade de uma energia adicional para
vencer as interações entre os íons nas duplas camadas que envolvem as partículas,
e as cargas elétricas na superfície das partículas; isso leva a um aumento de
viscosidade.
No caso de cadeias flexíveis com cargas elétricas, além do efeito acima (usual
mente pequeno), a natureza da dupla camada influencia a configuração da cadeia.
Em forças iônicas baixas, as repulsões de dupla camada, entre as várias partes da
cadeia flexível, têm um alcance relativamente grande e tendem a comunicar à
cadeia uma configuração distendida; por outro lado, com forças iônicas elevadas,
o alcance das interações da dupla camada é menor, permitindo assim uma con
figuração mais espiralada. Portanto a viscosidade decresce com o aumento da
força iônica, às vezes de maneira bastante acentuada.
5. Massas moleculares relativas de polímeros obtidas de medidas de viscosidade
— Medidas de viscosidade não podem ser empregadas para distinguir entre si
partículas de tamanhos diferentes, mesmo com forma e grau de solvatação iguais.
Porém se os fatores forma e/ou solvatação sofrerem alterações à medida que varia
o tamanho da partícula, será possível valer-se de medidas de viscosidade para
determinar o tamanho de partículas.
Se uma molécula de polímero em solução se mostrar como uma espiral, ao
acaso, a distância média entre suas extremidades será proporcional à raiz quadrada
Reologia 149
Figura 9.4. Valores de relação axial e hidratação compatíveis com as várias viscosidades
intrínsecas (as linhas de contorno representam valores de (Cortesia dos autores20 e
de Reinhold Publishing Corporation)
Sistema K/m3 kg 1 a
Acetato de celulose em acetona (25 "C) 1,49 x 10“ 5 0,82
Poliestireno em tolueno (25 °C) 3,70 x 10“ 5 0,62
Polimetilmetacrilato em benzeno (25 °C) 0,94 x 10“ 5 0,76
Cloreto de polivinila em cicloexanona (25 °C) 0,11 x 10“ 5 1,0
FLUXO NÃO-NEWTON1ANO
Fenômenos de estado estacionário
1. Diminuição da viscosidade com o cisalhamento — A diminuição da viscosidade
com o cisalhamento, como sugere o termo, é caracterizada por um decréscimo
gradual (independente do tempo) da viscosidade aparente, à medida que aumenta
a velocidade de cisalhamento; várias podem ser as causas desse fenômeno.
Se num sistema coloidal ocorrer agregação de partículas, então um aumento
da velocidade de cisalhamento tenderá a provocar um fracionamento dos agre
gados; disso resulta, entre outras coisas, uma diminuição da quantidade de solvente
imobilizado pelas partículas, diminuindo assim a viscosidade aparente do sistema.
A diminuição da viscosidade com o cisalhamento é particularmente comum
em sistemas contendo partículas assimétricas. As partículas assimétricas com
orientação ao acaso e com gradientes de velocidade baixos perturbam as linhas
de fluxo de maneira mais acentuada do que partículas alinhadas com gradientes
de velocidade altos. A interação entre partículas e a imobilização de solvente
também são favorecidos quando prevalece uma orientação ao acaso.
A viscosidade aparente de um sistema, que se mostra decrescente sob efeito
de cisalhamento, é mais suscetível a variações na velocidade de cisalhamento
com valores intermediários, onde existe um certo equilíbrio entre acaso e orien
tação, e entre agregação e dispersão.
2. Plasticidade e valor de escoamento — A plasticidade tem semelhanças com a
diminuição da viscosidade com o cisalhamento, exceto pelo fato do sistema não
mostrar fluxo apreciável até que a força de cisalhamento ultrapasse um certo
valor mínimo. A tensão aplicada correspondente a um grau de deformação pe
queno mas escolhido arbitrariamente é chamada de valor de escoamento (yield
value).
A plasticidade é devida a um retículo estrutural contínuo que comunica uma
certa rigidez à amostra, e que deve ser rompido antes de poder ocorrer algum
fluxo. Muitas vezes é difícil distinguir entre comportamento plástico e comporta
mento de diminuição de viscosidade com o cisalhamento. Como exemplos de
Reologia 151
Fenômenos irreversíveis
O cisalhamento leva muitas vezes a um rompimento irreversível (reodes-
truição) das ligações entre os elementos estruturais de um material, o que ocorre
por exemplo com retículos gelificados de sílica desidratada.
A temperabilidade pode ocorrer como resultado de um emaranhamento mecâ
nico, ou “aperto” dos elementos estruturais durante o cisalhamento; um exemplo
disso é o “estreitamento” e correspondente endurecimento de um bastão de metal
quando submetido a uma tensão de tração. Uma propriedade reológica impor
tante do ponto de vista técnico, ligada ao endurecimento por tração (e a elastici
dade de fluxo) é a ductilidade, isto é, a facilidade com que um material pode ser
transformado em fios.
VISCOELASTICÍDADE
Quando um sólido elástico típico é submetido a uma tração, ele se deforma
imediatamente, proporcionalmente à força aplicada, e mantém constante essa
deformação enquanto permanecer constante a força que a provoca; isto é, ele
obedece à lei de Hooke. Removida a força, a energia elástica armazenada no sólido
é desprendida, e ele imediatamente retorna à forma original. Por outro lado,
Reologia 153
Métodos experimentais
Foram desenvolvidos numerosos instrumentos (plastômetros, penetrômetros
extensiômetros, etc.) e procedimentos para medir o comportamento reológico
de diferentes materiais viscoelásticos. Contudo, os resultados obtidos com a maioria
desses instrumentos são de pouco significado fundamental, pois a força aplicada
não se distribui uniformemente através da amostra; mede-se mais o comporta
mento de um material frente a um determinado instrumento, e não uma pro
priedade fundamental do próprio material. Não obstante, esses instrumentos
empíricos são indispensáveis para testes de controle na indústria; nesses testes
geralmente é suficiente, para caracterizar o material em consideração, termos um
número arbitrário que mantenha alguma relação com a propriedade mecânica
em estudo.
Para medir propriedades elásticas e viscosas características do material em
questão e independentes da natureza do instrumento utilizado, tanto a tensão
aplicada como a deformação produzida devem distribuir-se uniformemente através
de toda a amostra. Métodos de cilindros concêntricos e de cone e placa satisfazem
aproximadamente a esses requisitos. No caso de materiais autoconsistentes, são
ideais, por exemplo, medições do cisalhamento em amostras retangulares.
Medidas de contração envolvem aplicação de uma tensão constante (usual
mente uma tensão de cisalhamento) à amostra, e medição em função do tempo
da deformação da amostra resultante da aplicação dessa tensão. A Fig. 9.7 mostra
uma curva típica de deformação e restauração. Nas medições de tensüo-relaxa-
mento a amostra é submetida a uma deformação instantânea e preestabelecida,
medindo-se em função do tempo a diminuição da tensão dentro da amostra à
medida que os segmentos estruturais da mesma escoam para posições mais livres
de tensão.
A resposta de um material à uma tensão aplicada pode ser medida, após
tempos muito curtos, por métodos dinâmicos; aplica-se à amostra uma tensão
que varia de maneira senoidal. Cria-se entre a deformação e a força aplicada uma
diferença de fase, que depende da natureza viscoelástica do material. Em sólidos
elásticos hookeanos, tensão aplicada e deformação estão em fase, ao passo que
em líquidos puramente viscosos, a deformação apresenta um atraso de 90° em
relação à força aplicada.
154 Introdução à química dos colóides e de superfícies
Elasticidade da borracha141
Materiais semelhantes à borracha (elastômeros) apresentam uma estrutura
baseada em cadeias de polímeros [por exemplo, cadeias de poliisopreno,
—CH 2—C(CH3) = CH—CH2—,
a forma espiralada da mola acentua esse efeito, que aumenta também com o
aumento da temperatura.
Se o grau de ligações cruzadas não for muito grande, como na borracha bruta
não vulcanizada, é possível ocorrer um escoamento viscoso, movendo-se as cadeias
polímeras, permanentemente, para novas posições de equilíbrio. Um excesso de
interligações cruzadas, por outro lado, restringe as possibilidades de variações
nas configurações das cadeias, e a borracha torna-se dura e difícil de ser deformada.
Nos materiais polimerizados pode ocorrer uma cristalização parcial, especial
mente quando esses materiais se encontram esticados e/ou resfriados. De um
ponto de vista mecânico, a introdução de regiões cristalinas num polímero equivale
a um aumento do número de ligações cruzadas, resultando uma perda parcial
da elasticidade.
Os polímeros mostram uma temperatura de transição vítrea, abaixo da qual
as disposições estruturais das cadeias se encontram congeladas. O movimento
térmico não pode mais vencer as forças atrativas entre as cadeias de polímeros,
e a amostra se torna dura e quebradiça.
Viscoelasticidade não-linear
A viscoelasticidade é chamada linear quando a resposta ao cisalhamento
(deformação/tensão), dependente do tempo, do material em questão for indepen
dente da intensidade da tensão aplicada. Todos os materiais apresentam um limite
de linearidade (veja Tab. 9.2).
M a te r ia l T e n s ã o /N m 2 P o r c e n ta g e m d e d e fo r m a ç ã o
O efeito Weissenberg
Um aspecto característico do comportamento viscoelástico é a tendência
de escoamento ou fluxo segundo ângulos retos em relação à força aplicada. A Fig.
9.10 mostra um caso extremo desse comportamento. Quando um bastão em movi-
Reologia 157
Figura 9.10. O efeito Weissenberg, (a) líquido Newtoniano; (b) líquido viscoelástico
mento rotatório é introduzido num líquido newtoniano, o líquido é posto em
rotação no sentido de se afastar do bastão, criando-se em tomo deste uma de
pressão. Quando o bastão em rotação é introduzido num líquido viscoelástico,
o líquido poderá subir pelo bastão. A rotação do bastão provoca no líquido um
cisalhamento circular, e por causa de sua natureza elástica, ela passa a atuar como
se fosse uma tira de elástico esticada, espremendo o líquido para o interior do
recipiente, e fazendo com que o líquido “suba” pelo bastão.
CAPÍTULO 1O
EMULSÕES E ESPUMAS
Água Ôleo
Ôleo Água
( b ) __________________
-------Ôleo--------------
Figura 10.2. Estabilização de emulsões por sólidos finamente divididos, (a) umedecimento
preferencial pela água leva a uma emulsão óleo/água; (b) umedecimento preferencial pelo
óleo leva a uma emulsão de água em óleo
Quebra de emulsões
Em muitos casos é a quebra da emulsão (desemulsificação) o fenômeno que
apresenta interesse prático, como por exemplo a sedimentação, “quebra” e inversão
do leite, para permitir a obtenção da manteiga, e a “quebra” de emulsões A/O.
Muitas técnicas são utilizadas na prática para acelerar a “quebra” de emulsões.
Os métodos mecânicos incluem separação por centrifugação, congelamento, des
tilação e filtração. Outro método se baseia no princípio da ação antagônica; isto
é, a adição de estabilizadores de emulsões O A tende a desestabilizar emulsões
A/O, e vice-versa. A aplicação de campos elétricos intensos também pode romper
uma emulsão; os principais fatores envolvidos nesse caso são a eletroforese no
caso de emulsões O/A e a deformação das gotículas no caso de emulsões A/O.
POLIMERIZAÇÃO EM EMULSÃO
Uma aplicação interessante da técnica de emulsificação é o processo de poli-
merização em emulsão. A não ser que o grau de polimerização sofra alguma limi
tação rigorosa, é bastante difícil, do ponto de vista experimental ou operacional,
controlar um processo de polimerização. As dificuldades se devem principalmente
ao caráter exotérmico das reações de polimerização, e à necessidade de um res
friamento eficiente para evitar os efeitos indesejáveis associados a uma elevada
temperatura de reação (veja p. 10). Mesmo no caso de graus moderados de poli-
merizaçâo, a elevada viscosidade da mistura em reação tornam difíceis a agitação
e a transferência eficiente de calor.
Essas dificuldades na transferência de calor podem ser superadas com o
emprego da técnica de polimerização em emulsão, que leva também a polímeros
de maior massa molecular. O calor de polimerização é dissipado rapidamente
pela fase aquosa, e a viscosidade do sistema varia muito pouco durante a reação.
Uma prescrição típica para a polimerização de monômeros vinílicos6 seria formar
uma emulsão O/A de
Monômero, 1 0 0 g.
Agente emulsionante (sabão de ácido graxo). 2g a 5 g.
Catalisador (persulfato de potássio). 0,1 g à 0,5 g.
Água, 180 g.
As bases da teoria da polimerização em emulsão se devem a Harkins10. O monô-
mero é distribuído através de todo o sistema em emulsão 1 ) como gotículas esta
bilizadas de uma emulsão, 2 ) dissolvido parcialmente na fase aquosa, onde pode
ocorrer a iniciação da reação, e 3) solubilizado em micelas de sabão. A polime
rização não ocorre nas gotículas emulsionadas de monômero, mas nas micelas
de sabão. As gotículas em emulsão do monômero funcionam como reservatórios,
para fornecer reagente, por um mecanismo de difusão através da fase aquosa, aos
locais em que se processa a polimerização. À medida que as micelas crescem, elas
Emulsões e espumas 163
Estabilidade de espumas
Com líquidos puros só é possível formar espumas transitórias (ou transientes);
como no caso de emulsões, é necessário um terceiro componente, tenso-ativo
— um agente espumante — para conseguir um nível razoável de estabilidade.
Bons agentes emulsificantes são em geral também bons agentes espumantes, já
que os fatores que influenciam a estabilidade de emulsões (frente à coalescência
das gotículas) e a estabilidade de espumas (frente à destruição das bolhas) são
até certo ponto semelhantes.
A estabilidade de uma espuma depende de dois fatores principais — a ten
dência dos filmes líquidos de sofrerem uma drenagem e se tornarem mais finos,
e sua tendência à ruptura em conseqüência de perturbações aleatórias. 148 • 149
Por causa de sua elevada área interfacial (e energia livre de superfície), todas
as espumas são instáveis, de acordo com o ponto de vista termodinâmico. E pos
sível, contudo, fazer uma distinção entre estruturas de espumas instáveis e meta-
estáveis. Espumas instáveis são exemplificadas pelas espumas formadas por soluções
aquosas de ácidos ou álcoois saturados de cadeia curta. A presença dessas subs-
*Analogamente, algumas espumas sólidas (por exemplo, espumas de borracha) são
constituídas por bolhas esféricas de gás retidas no interior de um retículo sólido, ao passo
que outras (por exemplo, poliestireno expandido) são constituídas por apenas 1 % de volume
sólido, sendo formadas por células gasosas poliédricas separadas por finas paredes de sólido.
164 Introdução à química dos colóides e de superfícies
Drenagem de espumas
Considere, como uma representação simples do líquido numa espuma, a
drenagem de um filme líquido vertical isolado. Suponha que esse filme foi formado
levantando cuidadosamente uma armação retangular de dentro de uma solução
de sabão, e mantendo-a em atmosfera saturada de umidade para evitar evaporação.
Inicialmente o filme se mostrará relativamente espesso e a drenagem ocorrerá
sobretudo através de fluxos de líquido por todo o filme, sob a ação da força gravita-
cional. Depois de atingida uma espessura de alguns micrômetros, o fluxo gravi-
tacional na parte lamelar do filme passará a se processar com extrema lentidão
(mesmo com líquido de baixa viscosidade), e o mecanismo de drenagem predo
minante passará a ser outro: envolverá a remoção de líquido da região lamelar
central e a formação de colunas relativamente largas de líquido escoando pelas
regiões adjacentes a armadura que sustenta o filme, regiões essas conhecidas como
bordas de Plateau.
Como resultado da drenagem, o filme será mais espesso na parte inferior e
menos espesso na parte superior; aparecerão as cores espectrais em conseqüência
da interferência entre a luz refletida de uma e outra superfície do filme. À medida
que a drenagem prossegue, essas bandas coloridas se moverão para baixo, aumen
tando o espaçamento entre elas até se desenvolver um filme prateado e por fim
preto; esse será suficientemente fino para poder ocorrer interferência construtiva,
para todos os comprimentos de onda visíveis, entre a luz refletida pela superfície
dianteira e pela superfície posterior do filme. Foi possível elaborar e estudar filmes
pretos de sabão, com espessura de cerca de 5 nm (um pouco mais que o compri
mento de duas moléculas de sabão).
A transferência do líquido da parte central da região lamelar para as bordas
de Plateau é governada pela diferença de pressão do líquido nessas duas regiões.
Parece que estão envolvidos pelo menos três fatores, ou seja a) forças de atração
de van der Waals favorecem o adelgaçamento do filme, b) a superposição de duplas
camadas elétricas de cargas de mesmo sinal se opõe ao adelgaçamento do filme
(veja Cap. 8), c) o outro fator importante é a pressão capilar, que favorece o adelga
çamento; esta se desenvolve porque a pressão da fase gasosa adjacente é uniforme
e portanto a pressão do líquido nas bordas de Plateau, onde a interface é curva,
deve ser menor que a pressão na região lamelar do filme. Dependendo do equi
líbrio entre essas forças, um filme pode tornar-se cada vez mais fino, até romper-se,
ou pode atingir uma espessura de equilíbrio. Qualquer estrutura que se propague
no interior do filme afetará significativamente a espessura de equilibrio do mesmo,
determinada pelo equilíbrio entre essas forças mencionadas.
Estudos experimentais em filmes horizontais, que não sofrem drenagem, nos
quais se mede a espessura de equilíbrio do filme em função da força iônica e da
pressão (ou sucção) hidrostática aplicada, constituem um meio de investigar essas
forças anteriormente citadas15,150, l51,152. A Fig. 10.4 mostra um aparelho usado
por Derjaguin e Titijevskaya nesses estudos150. Um filme líquido plano de área
de cerca de 1 mm2 se forma entre os recipientes A e B, interligadas através de um
tubo C para igualar as pressões das bolhas. A pressão nas bolhas é maior do que
a pressão no filme líquido, e essa diferença de pressão é calculada através do valor
lido no manômetro, Ah. Derjaguin dá a essa diferença de pressão o nome de pressão
de separação. Um dispositivo óptico relativamente complicado (não mostrado
na figura) permite medir a espessura da película.
A Fig. 10.5 mostra os resultados de algumas medidas feitas com filmes aquosos
de oleato de sódio. A sensibilidade da espessura de equilíbrio da película, frente
a eletrólitos adicionados, reflete qualitativamente a esperada contribuição positiva
F ig u ra 10.4. A p a re lh a g e m p a ra m e d ir a p re ss ã o de
se p a ra ç ã o de film es livres, em fu n ç ã o de su a e sp es
s u r a 150 (seg u n d o B. V. D e rja g u in e A. S. T itije v sk a y a )
Ruptura da película
A estabilidade da espuma depende não só da drenagem do filme, mas também
da capacidade do filme de resistir a um adelgaçamento progressivo localizado,
e de resistir à ruptura como conseqüência de diversas perturbações ao acaso. Vários
fatores estão envolvidos nesses fenômenos, em maior ou menor grau, dependendo
da natureza da espuma em questão.
1. Efeito da elasticidade superficial de Gibbs-Marangoni — Este é um efeito de
estabilização, importante em espumas formadas a partir de soluções de sabões,
detergentes, etc. Se um filme for submetido a um estiramento localizado, como
conseqüência de alguma perturbação externa, o aumento de área daí resultante
será acompanhado por um decréscimo na concentração superficial de excesso
do agente espumante; surge então um aumento localizado da tensão superficial
(efeito Gibbs). E necessário um certo tempo para que as moléculas do agente
tenso-ativo sofram difusão até essa região da superfície, restaurando-se assim a
tensão superficial inicial (efeito Marangoni); por esse motivo, a tensão superficial
aumentada pode persistir durante um tempo suficiente para que a região do filme,
modificada por uma perturbação, possa restabelecer sua espessura original.
Como uma ampliação do efeito Marangoni, Ewers e Sutherland154 sugeriram
um mecanismo de transporte superficial, no qual o gradiente de tensão superficial
criado pelo adelgaçamento da película faz com que o agente espumante se “espalhe”
pela superfície, arrastando consigo uma parte significativa da solução subjacente,
opondo-se assim ao processo de adelgaçamento.
A razão principal para líquidos puros não formarem espumas é a ausência
do efeito Gibbs-Marangoni. Com relação a esse efeito, é interessante notar que
espumas de soluções de sabões, detergentes, etc., moderadamente concentradas,
são em geral menos estáveis que as espumas formadas por soluções mais diluídas.
Nas soluções mais concentradas, o aumento de tensão superficial, resultante de
um adelgaçamento localizado do filme, é compensado mais rapidamente pela
difusão de moléculas de agente tenso-ativo, provenientes da solução. Em con
seqüência a compensação de variações na espessura da película pelas correspon
dentes variações na tensão superficial será menos eficiente.
2. Reologia das superfícies — As propriedades mecânicas de películas superficiais
(como no caso de emulsões) têm freqüentemente considerável influência sobre a
estabilidade da espuma. Vários aspectos podem estar envolvidos.
Uma viscosidade elevada do líquido simplesmente retarda a velocidade de
colapso ou destruição da espuma. Elevada viscosidade superficial do líquido,
Emulsões e espumas 167
Agentes antiespumantes
Muitas vezes são importantes, do ponto de vista prático, evitar a formação
de espumas ou destruir espumas porventura existentes. Por exemplo, poliamidas
e siliconas são empregadas como inibidoras da formação de espumas na água de
caldeiras. Os agentes antiespumantes atuam contra os diversos fatores que favo
recem a estabilização de espumas (descritos anteriormente), existindo portanto
diversos mecanismos para explicar a ação antiespumante.
Inibidores de espumas são, de um modo geral, substâncias que tendem a
ser adsorvidas mais facilmente que o agente espumante, mas que não apresentam
os requisitos necessários para formar uma espuma estável. Podem atuar em função
de uma rápida adsorção; por exemplo, a adição de tributilfosfato a uma solução
aquosa de oleato de sódio reduz acentuadamente o tempo requerido para atingir
a tensão superficial de equilíbrio155, reduzindo assim o efeito da elasticidade
superficial de Marangoni e a estabilidade da espuma. Podem agir também redu
zindo a repulsão entre as duplas camadas elétricas, ou facilitando a drenagem,
reduzindo as ligações por pontes de hidrogênio entre as películas superficiais e
a solução subjacente.
As espumas podem às vezes ser destruídas espalhando pequenas quantidades
de substâncias como éter e n-octanol. Como conseqüência de sua elevada atividade
superficial, esses antiespumantes aumentam a pressão superficial sobre regiões
pequenas do filme líquido, e se espalham a partir dessas regiões; deslocam o agente
espumante e arrastam consigo parte do liquido subjacente154. Assim sendo, pe
quenas regiões do filme ficam mais delgadas, sem que existam concomitantemente
as propriedades que possibilitem sua resistência à ruptura.
PROBLEMAS
D ados k = 1 ,3 8 0 5 x K T ^ J K ” 1 ;
N Á = 6 ,0 2 2 5 x 1 0 23 m o D 1 ;
R = 8 ,3 1 4 3 J K " 1 m o l ” 1 ;
e = 1 ,6 0 2 1 x 1 0 “ 19 C ;
í:0 = 8 ,8 5 4 2 x 1 0 “ 12 k g " 1 m ” 3 s 4 A 2 ;
g = 9 ,8 0 6 6 m s - 2 .
V o lu m e d e u m g á s id e a l n a s C . N . T , P . (0 ° C e 1 a tm ) = 2 ,2 4 1 4 x 1 0 ~ 2 m 3 m o r 1 ;
1 a t m = 7 6 0 T o r r = 1 ,0 1 3 2 5 x 1 0 5 N m - 2 ;
0 ° C = 2 7 3 ,1 5 K ;
ln 10 = 2 ,3 0 2 6 ;
n = 3 ,1 4 1 5 6 .
1. C a l c u l a r o d e s l o c a m e n t o m é d io p r o v o c a d o p e lo m o v im e n to b ro w n ia n o , em
1 m i n u t o , a o l o n g o d e u m d a d o e ix o , p a r a u m a p a r t í c u l a e s f é r ic a d e r a i o 0,1 /.im,
s u s p e n s a e m á g u a a 2 5 °C . O c o e f ic ie n te d e v i s c o s i d a d e d a á g u a n e s s a t e m p e r a t u r a
é 8 ,9 x 1 0 ~ 4 k g m ~ 1 s ~ 1 .
2. O s c o e f ic ie n te s d e s e d i m e n t a ç ã o e d i f u s ã o p a r a m i o g l o b i n a e m s o l u ç ã o a q u o s a
d ilu íd a a 20 °C são 2 ,0 4 x 1 0 ~ 13 s e 1,13 x 1 0 _ l o m 2 s ~ 1 , r e s p e c ti v a m e n t e . O
v o l u m e e s p e c íf ic o p a r c i a l d a p r o t e í n a é 0 ,7 4 1 c m 3 g ^ 1 , a d e n s i d a d e d a s o l u ç ã o
é l , 0 0 g c m “ 3 , e o c o e f ic ie n te d e v i s c o s i d a d e d a s o l u ç ã o é 1 ,0 0 x 1 0 ~ 3 k g n r 1 s _ 1 .
C a lc u la r a) a m a s s a m o le c u la r r e la tiv a , e b) a r a z ã o f ric c io n a l d e s s a p r o te ín a .
Q u a l s e rá a f o rm a p ro v á v e l d e u m a m o lé c u la d is s o lv id a d e m io g lo b in a ?
3. U m a s o l u ç ã o a q u o s a d e ( f - l a c t o g l o b u l i n a , n a p r e s e n ç a d e e l e t r ó l i t o s u f ic ie n te
p a r a e l i m i n a r e f e ito s d e c a r g a , fo i s u b m e t i d a a c e n t r i f u g a ç ã o a t é a t i n g i r - s e o e q u i
lí b r i o , a 11 0 0 0 r e v o l u ç õ e s p o r m i n u t o e a 2 5 °C . F o r a m m e d i d a s a s s e g u in te s
c o n c e n tra ç õ e s d e e q u ilíb rio :
D i s t â n c i a d o e ix o d e r o t a ç ã o / c m 4 ,9 0 4 ,9 5 5 ,0 0 5 ,0 5 5 ,1 0 5,1 5
C o n c e n tra ç ã o /g d m “ 3 1 ,3 0 1 ,4 6 1 ,6 4 1 ,8 4 2 ,0 6 2,31
O v o lu m e e s p e c íf ic o p a r c i a l d a p r o t e í n a e r a 0 ,7 5 c m 3 g _ 1 , e a d e n s i d a d e d a s o l u ç ã o
( s u p o s ta c o n s t a n t e ) e r a d e l.O g c m - 3 . Calcular a m a s sa m o le c u la r re la tiv a d a
p ro te ín a .
4. A s s e g u in te s p r e s s õ e s o s m ó t i c a s f o r a m m e d i d a s e m s o l u ç õ e s d e u m a a m o s t r a
d e p o liis o b u tile n o e m b e n z e n o a 25 °C :
C a l c u l a r u m a m a s s a m o l e c u l a r r e l a t i v a m é d ia .
170 Introdução à química dos colóides e de superfícies
nitrogênio, nas temperaturas de 90K e 77K, necessárias para uma dada quan
tidade de adsorção.
Quantidade de N 2 adsorvido (V/Vn) 0,4 0,8 1,2
P 90K . l V 7 7K
14,3 17.4 7,8
Calcule o calor isostérico de adsorção para cada valor de VjVm, e comente os
resultados obtidos.
18. Use a equação de Kelvin para calcular o raio do poro que corresponde a uma
condensação capilar de nitrogênio a 77K e uma pressão relativa de 0,75. Leve
em consideração a adsorção de camadas multimoleculares sobre as paredes do
poro, considerando a espessura de uma camada adsorvida num sólido não-poroso
a essa pressão relativa como sendo 0,9 nm. Enumere as suposições feitas nesses
cálculos. O nitrogênio a 77K tem tensão superficial de 8,85 m N m ' 1 e volume
molar de 34,7 cm 3 m o p 1.
20. Partículas esféricas de raio 0,4 fim, suspensas em solução aquosa de NaCl
0,01 mol dm -3 , mostram uma mobilidade eletroforética de 2,5 x 10" 8 m 2 s " 1 V"
a 25 °C. Calcule um valor aproximado para o potencial zeta. De que maneira
as simplificações em que se baseia seu cálculo afetarão a resposta? A 25 °C a
constante dielétrica da água é 78,5 c o coeficiente de viscosidade da água é de
8,9 x 10"4 kgm 1 s 1.
1. 1 7 ,2 /im .
2. M r = 17 0 0 0 ( o u s e ja , M — 1 7 ,0 k g m o r S i
f / f u = 1,11 (o q u e s u g e r e , l e v a n d o e m c o n s i d e r a ç ã o a h i d r a t a ç ã o , q u e a s m o l é
c u la s d i s s o l v i d a s d e m i o g l o b i n a s ã o a p r o x i m a d a m e n t e e s fé r ic a s ) (v e ja
F ig . 2.1).
3. M r — 3 4 0 0 0 (o u s e ja , M = 3 4 ,0 k g m o l ') ( m o n o d is p e r s o ) .
4. M , = 14 3 0 0 0 ( o u s e ja , M = 143 k g m o r 1) ( m é d i a d e n ú m e r o ) .
5. 0,2.
6. M r = 8 5 0 0 0 0 ( o u s e ja , M = 8 5 0 k g m o l - 1 ) ( m é d i a d e m a s s a s ).
7. S u p e r a q u e c i m e n t o d e 0 ,8 K .
m ol dm 3 7 i/m N m 1 r/1 0 6 m ol m 2 d / i o - 20
2 ,0 10,4 4 ,7 4 35,1
4 ,0 2 0 ,2 6 ,4 8 2 5 ,7
6 ,0 27,1 7 ,3 6 2 2 ,6
9. a ) 183 m J m ” 2 ;
. b ) (i) 9 7 0 m J m ~ 2 , (ii) 146 m J m “ 2 ;
c) + 37 m J n r 2 .
10. W a = 5 4 , 0 m J m ~ 2 ;
S = - 9 1 ,5 m J n r 2 .
11. 69 graus.
12. M r = 13 0 0 0 ( s u g e r i n d o d i s s o c ia ç ã o ) .
12 5 p / 1 0 5 N m - 2
13 v = ------ --------------- c
1 + 83 p / 1 0 5 N m " 2
14. 1 5 ,7 m 2 g " 1 .
15. 4 7 x 1 0 ' 2O m 2 .
16. Á r e a = 6 4 m 2 g _ 1 . A c o m p a r a ç ã o c o m o v a l o r d e t e r m i n a d o p o r m i c r o s c o p i a
e l e t r ô n i c a , 4 2 m 2 g ~ 1 , s u g e r e q u e se t r a t a d e u m a a m o s t r a p o r o s a d e c a r v ã o .
17. V / V m 0 ,4 0 ,8 1,2
A /7 ads/ k J m o r 1 - 1 1 ,8 - 1 2 ,7 - 9 ,1
O s v a l o r e s r e f l e t e m u m a a d s o r ç ã o f ís ic a e m v á r i a s c a m a d a s , s o b r e u m a s u p e r
fíc ie s ó l i d a r a z o a v e l m e n t e u n if o r m e .
18. r — 4 ,2 4 n m (s u p o n d o â n g u lo de c o n ta to n u lo , fo rm a c ilín d ric a d o s p o ro s ,
c o n s t â n c i a d e y c o m r, e q u i v a l ê n c i a d a a d s o r ç ã o m ú l t i p l a e m s u p e r f íc ie s p l a n a s
e c u rv a s).
19. 145 x 1 0 “ 2O m 2 .
20. ( = 3 2 m V ( u s a n d o a e q u a ç ã o d e S m o l u c h o w s k i ; kci « 130, p o r t a n t o o v a l o r
c a l c u l a d o d e C s e r á p r o v a v e l m e n t e i n f e r i o r a o r e a l).
2 1. a ) u E = 1,5 x 1 0 ~ 8 m 2 s " 1 V - 1 ;
b ) 3 ,3 p o r c e n t o ;
c) 1 9 ,2 m V ( u s a n d o a e q u a ç ã o d e S m o l u c h o w s k i ; íca » 2 6 0 );
d ) 0 ,0 1 4 C n r 2 ;
Respostas aos problemas 17 5
= 118 0 0 0 ;
( e s p a l h a m e n t o d a lu z , m é d i a d e m a s s a s ) > M r ( v is c o s id a d e ) >
(p re s s ã o o s m ó tic a , m é d ia d e n ú m e ro ).
BIBLIOGRAFIA
OBRAS GERAIS
REFERÊNCIAS
P e r g a m o n (1 9 5 9 ).
150D erjaguin, B. V. e T itijevskaya, A. S., Proc. Second int. Congr. Surface Activity,
B u tte r w o r th s , L o n d r e s, 1, 2 1 0 (1 9 5 7 ).
151O v e r b e e k , J. T h . G .,J. phys. Chem., 64 , 1178 (1 9 6 0 ).
152M ysels, phys. Chem., 6 8 , 3441 (1 9 6 4 ).
K . J., / .
i 53V a n den T empel, M ., J. Colloid Sei., 1 3 , 125 (1 9 5 8 ).
A d e s ã o , 5 8, 9 0 , 9 6 -9 7 , 1 2 8 -1 4 2 C a lo r d e a d s o r ç ã o , 7 5 -7 7 , 83, 8 5 , 8 6 -8 7
A d sorção C a p ila r
d e g a ses e v a p o r e s so b r e s ó lid o s , 7 5 -8 9 c o n d e n s a ç ã o , 4 4 , 8 1 -8 3
d e ío n s , 1 0 2 -1 0 3 , 1 0 6 -1 0 8 , 1 1 1 -1 1 2 , 128, e le v a ç ã o , 4 4 -4 5 , 8 1 , 91
135 v is c o s ím e tr o , 1 4 4 -1 4 5
em s o lu ç ã o , so b r e s ó lid o s , 9 1 -1 0 1 , 102- C a r d ió id e , c o n d e n s a d o r , 40-41
-1 0 4 , 135, 14 1 -1 4 2 C a r g a s, e fe ito d e, d is c r e ta s , 111, 139
e n e rg ia s d e, 7 5 -7 7 , 83, 85 , 8 6 -8 7 C a r g a s, e fe ito s n a d if u s ã o e s e d im e n ta ç ã o ,
e n e rg ia d e a tiv a ç ã o , 7 6 -7 8 23
e q u a ç ã o d e G ib b s, 5 1 -5 3 C ilín d r ic o s c o n c ê n tr ic o s , v is c o s ím e tr o ,
h is te r ese , 82 , 88 1 4 5 -1 4 6
is o te r m a s d e , 7 9 -8 1 , 8 3 -8 9 , 9 9 -101 C in é tic a d a flo c u la ç ã o , 1 3 6 -1 3 9
so b r e su p e r fíc ie s líq u id a s , 4 8 -5 3 , 6 0 -7 4 C la s s ific a ç ã o d o s s is t e m a s c o lo id a is , 2
v e lo c id a d e d e , 5 0 , 7 7 -7 8 C la u s iu s -C la p e y r o n , e q u a ç ã o , 76
A d s o r ç ã o fís ic a d e g a s e s , 7 5 -8 9 C o a g u la ç ã o (v e ja F lo c u la ç ã o ) , 133
A d s o r ç ã o q u ím ic a , 7 5 -7 8 , 7 9 , 83 , 86 C o a le s c é n c ia , 1 5 8 -1 5 9
A e r o s s o l O T , 93 C o e s ã o , 59 , 90
A g e n te s a n tie s p u m a n te s , 167 C o -ío n s , 102
A g e n te s e m u ls io n a n te s , 1 5 8 -1 6 2 C o n c e n tr a ç ã o m ic e la r c rític a , 54, 55, 57,
A g e n te s e sp u m a n te s , 9 4 -9 5 , 97 , 1 6 3 -1 6 7 58
A g e n te s t e n s o -a tiv o s , 4 9 -5 0 , 92, 9 5 -9 8 , C o n d e n s a d a s , m o n o c a m a d a s , 6 5 , 6 7 -6 8 ,
159, 166 7 0 , 159, 161
Á g u a , r e p u ls ã o , 93 C o n d u tâ n c ia , 53, 57
A la r a n ja d o d e x ile n o l, 55 e m s u p e r fíc ie s, 123, 126, 127
Á lc o o l c e t ílic o , 70-71 C o n e e p la c a , v is c o s ím e t r o , 146
A n f íf ílic o s , 48 C o n tr a ç ã o , 153
 n g u lo s d e c o n ta t o , 4 4 -4 6 , 8 1 -8 2 , 9 0 -9 8 , C o n tr a -ío n s, 57, 102, 106, 128
159 C r e s c im e n to d e c r ista is, 7 -9
A r c h ib a ld , té c n ic a d e, 23 C r o m a to g r a fia , 98
A s s im e tr ia , 4 , 13, 14, 30, 36 , 4 1 , 148, 149, C u n h a o r ie n ta d a , t e o r ia d a , 160
150
A s s o c ia ç ã o , c o ló id e s d e , 5 3 -5 8 D e b y e , e q u a ç ã o d e, 3 4 -3 5
A v o g a d r o , c o n s ta n te d e, 15 D e b y e -H ü c k e l, a p r o x im a ç ã o d e, 106, 123
D e s n a t u r a ç ã o d e p r o te ín a s , 7 1 -7 3
B a la n ç a d e s u p e r fíc ie d c L a n g m u ir -A d a m , D e r ja g u in -L a n d a u e V e r w e y -O v e r b e e k ,
6 1 -6 3 te o r ia d e , 1 2 9 -1 3 6
B á r io , s u lfa to , s ó is d e , 7 D e te r g ê n c ia , 9 5 -9 8
B e n to n it a , 140, 152, 160 D iá lis e , 10-11
B E T , e q u a ç ã o da is o le r m a d e a d s o r ç ã o , D ifu s ã o , 16-20, 2 2 -2 4 , 1 3 6 -1 3 7
8 5 , 8 7 -8 9 D ifu s ã o , d u p la c a m a d a , 1 0 3 -1 0 6
B o lt z m a n n -P o is s o n , d is tr ib u iç ã o , 1 0 4 -1 0 6 D is p e r s a , fa s e , 2
B o rn , r e p u ls ã o d e, 77, 132 D is p e r s ã o , m e io d e, 2
B o rr a c h a , e la s tic id a d e , 1 5 5 -1 5 6 D is p e r s ã o d ie ié tr ic a , 3 0
B r o w n ia n o , m o v im e n to , 1 4 -1 6 , 33 , 4 1 , D is p e r s õ e s c o lo id a is , c la s s ific a ç ã o , 2
115, 128, 136-137 p r e p a r a ç ã o , 6 -9 , 11, 1 6 1 -1 6 3
182 Introdução à química dos colóides e de superfícies
Proteínas, 4, 5, 14, 21, 22, 24, 28-29, 71- tensão, 42-50, 51-53, 56, 58-60, 61, 63,
-74, 102-103, 115-118, 140-141, 148, 82, 90-93, 96-98, 166
159 viscosidade, 64, 166-167
Protetores, colóides, 141-142 Superfície
área de sólidos, 87-89, 101
balança de, 61-63
Quebra de emulsões, 162 cisalhamento, 109, 112, 124-125
Qui, potencial, 110
filmes de proteínas, 71-74, 159
Quimissorção, 75-78, 79, 83, 86 reologia de, 64-65, 159, 166-167
Quociente de viscosidade, 147 Supersaturação, 7-9, 44