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Resumo “O método comparativo em Antropologia Social” – Radcliffe-Brown

Na obra, “O método Comparativo em Antropologia Social”, podemos notar que o autor


não tem como foco responder algumas questões, mas sim descobrir o que se deve
perguntar para conhecer o mundo nativo. Para Brown um bom observador deve
compreender certos problemas teóricos quando escolhe em sua pesquisa aspectos que
julga relevante.

Radcliffe-Brown fundou uma abordagem teórica antropológica conhecida


como estrutural-funcionalismo. Cada sociedade estudada era considerada como uma
‘totalidade’, como um organismo cujas partes eram integradas e funcionavam de um
modo mecânico para manter a estabilidade social. Como estrutural-funcionalista, as
preocupações de Radcliffe-Brown estavam ligadas à descoberta de princípios comuns
entre as diversas estruturas sociais, o significado dos rituais e mitos e suas funções
exercidas na manutenção da sociedade. A abordagem foi fortemente influenciada por
Durkheim.

Radcliffe-Brown adota como método os estudos comparativos, e observa semelhanças


nas formas de representação de divisões sociais, notando que vários povos, de lugares
distintos e sem contato histórico, usam como simbologia pássaros, para explicar o
mundo e as relações existentes. Por conseguinte, o autor focaliza seus estudos nas
estruturas sociais, que segundo ele, ocupavam de maneira consistente os fenômenos
sociais, dessa forma acreditava ser possível decifrar uma realidade concreta. Para o
autor a antropologia social teria como tarefa a investigação da natureza das instituições
sociais.

De acordo com o autor, o método comparativo ajuda o antropólogo a conhecer as


semelhanças e as diferenças das estruturas de cada sociedade, além disso, o método
comparativo não necessita da quantidade e qualidade do material coletado em campo,
mas também, de investigações e hipóteses que orientam as investigações.

O método comparativo de Radcliffe-Brown se baseia nos estudos e na observação de


diversas formas de vida social e na teorização das mesmas. O autor retoma algumas
ideias de Boas quando este pretende reconstruir a história de regiões e povos
particulares a fim de compará-los quanto a alguns costumes e ideias semelhantes,
mesmo sem nenhuma ligação histórica entre os povos ou origem comum.

Para Boas a etnologia teria como missão desvendar, como leis semelhantes operam
mundos nativos diferentes. A ocorrência de fenômenos similares em lugares culturais
sem contato histórico podem sugerir resultados importantes ao serem analisados, já que
existem leis que atuam na mente humana nos mesmos moldes, e em toda a parte. Desta
forma, Boas evoca que a antropologia social deve estudar as regularidades encontradas
no seio de cada sociedade primitiva.
A crítica que Radcliffe-Brown faz aos primeiros estudiosos da metodologia
comparativa, está no método dos “antropólogos de gabinete” e devido a isso, denuncia a
antropologia de gabinete de Frazer. Para o autor, além o gabinete não deve ser
abandonado ou negligenciado, mas é preciso combinar os estudos comparativos com a
experiência de campo para fazer uma pesquisa etnográfica próxima do real.

Radcliffe-Brown explana sua pesquisa com diferentes tribos do interior da Nova Gales
do Sul na Austrália. Percebe que em todas as tribos australianas há um dualismo que
divide a população em espécies, tribo do gavião real (kilpara) e a tribo do corvo
(makxara), por exemplo. O autor questiona o motivo das dicotomias quase sempre
serem identificadas em espécies de aves e entende que a importância de entender essa
divisão das tribos australianas deve-se ao fato de que tal divisão abrange uma divisão
social bastantes complexa, e essa divisão está relacionada com as várias gerações
alternadas, com as metades exogâmicas.

Segundo o autor, o método comparativo permitiu que a partir de um fenômeno


particular pudesse chegar a problemas gerais, por exemplo, a partir da percepção da
dicotomia social o levou a estudar os motivos aos quais as tribos se identificavam com
objetos, símbolos, emblemas, bem como o modo que os animais estão representados na
classificação social. A compreensão desses princípios nos conduz a penetrar na lógica
nativa, aprender o que eles pensam da divisão binária como parte estruturadora da
sociedade.

Radcliffe-Brown começou a interpretar como os aborígenes entendiam esses animais e a


partir de contos e lendas percebeu que os animais eram antagônicos. “As semelhanças e
as diferenças entre as espécies animais são traduzidas em termos de amizade e conflito,
de solidariedade e oposição. O mundo da vida animal é representado em termos de
relações sociais similares aquelas da sociedade humana”. (Brown, 1978, p.49)

A concepção australiana do que chamamos de oposição é uma categoria particular da


associação por contrariedade, que é uma característica universal do pensamento
humano, visto que nosso raciocínio se baseia por pares de opostos: o branco e o preto, o
forte e o fraco, o bem o mal, a noite e o dia, etc. O pensamento australiano carrega
consigo par de contrários combinados com um par de oponentes; nos contos sobre o
gavião e o corvo, os dois pássaros são oponentes no sentido de serem antagonistas, da
mesma forma que são contrários devido as suas diferenças de caráter.

O autor afirma que após fazer uma pesquisa comparativa é capaz de estabelecer uma lei
geral para qualquer lugar do mundo, seja na Austrália na América ou na Melanésia. Sua
ideia é que existe sempre uma estrutura social de metades exogâmicas, e as metades são
pensadas de uma forma relacional uma como a outra, e acabamos denominando-as
como pares de oposição, no entanto, não há hostilidade entre as mesmas, há conflitos
relacionados a comportamento que pouco se relaciona com o antagonismo das tribos.
Os pares de opostos são encontrados de formas variadas em diferentes sociedades, e tem
por função manter uma relação contínua entre os grupos e as pessoas, de hostilidade ou
antagonismo aparente, mas, sobretudo artificial. Toma como exemplo o casamento entre
as tribos primitivas, em que há uma espécie de teatro, a qual um homem de metade
diferente da mulher a toma como sua esposa, causando hostilidade à família da noiva.

Radcliffe Brown pretende interpretar o costume do casamento por troca, na verdade


quando um grupo ou parentes de uma mulher a perdem, eles recebem outra no lugar em
compensação da perda, e ela torna-se esposa de um deles. Nas tribos da Austrália
quando um homem toma uma mulher como esposa, ele deve dar a sua irmã para outro
homem. Assim, o sistema de metades exogâmicas prevê um sistema de generalização de
casamento por troca, os casamentos são incidentes contínuos pelo qual homens tomam
as mulheres de metade oposta da sua.

A relação entre os pares contrários separa, mas também une, demonstrando um tipo
especial de integração social. Devido a isso, Radcliffe-Brown pensa que o termo
“oposição” não seria o correto, pois não dá conta de todas as relações, mas utiliza-o por
não achar um termo melhor e pensa que tal termo acentua apenas o lado da separação e
da diferença. Desta forma, o termo mais coerente seria a “união de opostos”.

Para o autor a mais completa elaboração dessa ideia está representada na filosofia Yin-
Yang, da China antiga, a frase em que ela se define é: um yin-yang fazem a ordem, em
que o yin seria o princípio feminino e o yang o masculino, compondo um “todo
ordenado”. O homem e a mulher constituem a unidade de um casal, do mesmo modo
que um dia (yang) e a noite (yin) fazem um todo unificado, ou que um verão (yang) e
um inverno (yin) fazem a unidade do ano. Logo, essa ideia de unidades de opostos
abrange inúmeras extensões, para a filosofia chinesa todo o universo é interpretado
como uma ordem que se baseia em um todo ordenado.

A filosofia Yin-Yang é uma elaboração sistemática que também define a estrutura social
de metades nas tribos australianas, já que os pares de metades são como uma unidade de
grupos opostos, os dois grupos oponentes tem uma relação amistosa, há uma integração
social. Nas tribos australianas, as estruturas sociais possuem três tipos principais de
relação entre as pessoas e grupos: há relações de inimizade e luta entre grupos opostos;
relações de solidariedade simples, entre irmãos e pessoas do mesmo grupo; relação de
oposição, sendo uma combinação de acordos e desacordos, leis de solidariedade e
diferença.

Ademais, em referência a Franz Boas, Radcliffe-Brown defende a utilização do método


histórico a fim de explicar fenômenos particulares como resultantes de uma sequência
de eventos além do método comparativo que visa compreender e não explicar
determinado aspecto e relacioná-lo com uma tendência geral, ou universal nas
sociedades humanas (entendidas por alguns como leis). Radcliffe-Brown defende que a
combinação dos dois métodos nos dará a chance de alcançar uma real compreensão do
desenvolvimento social humano. Ademais, de acordo com a teoria funcionalista, certas
formas sociais são indispensáveis para que algumas funções possam desempenhar-se.

O método funcionalista de Radcliffe Brown foi bastante criticado, em razão de sua


pesquisa classificar aspectos particulares e especificidades humanas como fatos
globalizantes e totalizadores. No entanto, a de convir que Brown pertença a uma
corrente antropológica longínqua da contemporaneidade, e que seu método acaba
fazendo parte de uma dada temporalidade histórica e antropológica.

Resumo “Sobre o conceito de função em Ciências Sociais” e “Sobre as estruturas


Sociais” in “Estrutura e função nas sociedades primitivas” de Radcliffe Brown

Segundo Radcliffe-Brown, o conceito de função aplicado às sociedades humanas


baseia-se na analogia entre vida social e vida orgânica. Ele fala que o reconhecimento
desta analogia não é uma tática nova, pois já vem sendo usada desde antes, sendo o
primeiro a usar tal analogia, foi Emile Durkheim, em 1895 em Règles de la Méthode
Sociologique.
Para explicar função ele começa com o termo que Durkheim usa: a "função" de uma
instituição social é a correspondência entre ela e as necessidades da organização social.
Porém ele diz que deve haver precauções com a frase, e troca o termo "necessidades"
para "condições necessárias de existência", e tudo isto implica que, há condições
necessárias de existência para as sociedades humanas, do mesmo jeito que há para
organismos animais.
Para ele, todo organismo tem sua estrutura, e a estrutura deve, pois, ser definida como
uma série de relações entre entidades.

Portanto a vida social da comunidade é definida aqui como "funcionamento" da


estrutura social. A função de qualquer atividade periódica, tal como a punição de um
crime, ou uma cerimônia fúnebre, é a parte que ela desempenha na vida social como um
todo, e, portanto, a contribuição que faz para a manutenção da continuidade estrutural.
Radcliffe-Brow fala das patologias sociais que Durkheim muito citava. Segundo ele as
doenças ameaçam a vida dos animais e organismos, porém na realidade social, as
sociedades não morrem como animais, mas sim alteram sua estrutura. Por conseguinte,
não pode definir disnomia como perturbação das atividades usuais de um tipo social,
assim como Durkheim tentou fazer.

O autor trás duas observações, onde diz que uma hipótese é que nem tudo na vida social
nos grupos possuem função, mas sim que é algo interessante e que podemos buscar os
resultados a qual procuramos. Outra é o que parece ser o mesmo costume social em
duas sociedades pode ter funções diferentes nas duas, e ele dá o exemplo do celibato na
Igreja Católica de hoje, e diz que o mesmo costume não é que era diferente do antigo,
mas apresentava uma função diferente da Igreja Cristã Primitiva. É necessário não
apenas observar a forma de costume, mas também sua função.
O ponto de vista "funcionalista" apresentando por Radcliffe-Brow implica, portanto,
que tenhamos de investigar o mais completamente possível todos os aspectos da vida
social, considerando-os uns em relação com os outros, e que parte fundamental da tarefa
é a investigação do indivíduo e do modo pelo qual é modelado pela vida social ou
ajustado a ela. Ou seja, temos que investigar mais completamente os aspectos da vida
social e de que forma o indivíduo é modelado por ela.

Radcliffe-Brow olha as teorias contra o funcionalismo à época, onde dizem que os


traços culturais, porém de acidentes históricos, e ele diz que a "explicação" de
determinado sistema social será sua história, se soubermos o relato minucioso de como
e aonde ele veio a ser o que é.

No segundo texto, o autor inicia com notas de explicação pessoal onde faz alguns
esclarecimentos. Posteriormente define a antropologia como sendo “a ciência teórico
natural da sociedade humana, isto é, a investigação dos fenômenos sociais por métodos
essencialmente semelhantes aos empregados nas ciências físicas e biológicas.” E
esclarece que o mais importante é o assunto, não nome, pois a mesma pode ser chamada
de sociologia comparada e alguns a definem como o estudo da cultura.
O autor define estrutura social como sendo a rede de relações realmente existente e
afirma que ela é parte fundamental da antropologia social. As relações que compõem a
sociedade, não os indivíduos, e as instituições são o conjunto das relações. Os
fenômenos sociais são consequência da estrutura social.
O autor esclarece que “a escolha dos termos e suas definições é questão de conveniência
cientifica”.

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