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Educativo - QUEERMUSEU - Versa - o Digital PDF
Educativo - QUEERMUSEU - Versa - o Digital PDF
Sérgio Rial
Presidente
Santander Cultural
Ação Educativa
Santander Cultural
GAUDÊNCIO FIDELIS
Curador
1. Gaudêncio Fidelis, “Em Direção a uma Curadoria Não Heteronormativa: Exposições Queer e Curadoria Olfatória no
Contexto Museológico”, in Escola Experimental de Curadoria, Gaudêncio Fidelis e Marcio Tavares (Orgs.), 10a Bienal do
Mercosul – Mensagens de Uma Nova América, Porto Alegre, RS, 2015, 65.
Esse talvez seja o aspecto mais extraordinário de uma exposição, aquele que
deve ser aproveitado como a melhor das oportunidades que se apresenta para
o exercício da experiência educativa no campo da arte. Podemos concluir que
a dimensão desta experiência e aquela da consciência colidem a cada passo que
se desenvolve o processo de visibilidade através desses objetos. Nesse sentido, a
diversidade é um exercício da aceitação da diferença, da singularidade daquilo
que reside fora da norma − e as obras de arte, como elemento da cultura, re-
metem a essa consciência do mundo como um universo que reflete a dimensão
prototípica da diversidade. Esse momento de confronto com uma realidade
acachapante de nossas limitações, que é visto diante da arte, representa, antes de
tudo, uma dilacerante experiência, na qual o encontro com o outro é inevitável
e na verdade desejável. Porém, esse confronto com a espacialidade transformada
em uma luta de convicções determina, em última análise, nossa capacidade de
nos reposicionar frente ao mundo de maneira mais consciente e, talvez diante
disso, confrontar nossos preconceitos e limitações como uma forma de exas-
peração através do olho de outrem. Esse olhar agora deve tornar-se mais claro,
mediado pela clareza da liberação da racionalidade diante do mundo da arte.
Sim, porque devemos considerar nesse caso o processo de reflexão através do
olhar. É a partir de então que poderemos, quem sabe, observar o desmorona-
mento de determinadas concepções equivocadas de gênero, o entendimento e
a legibilidade de determinadas formas que não compreendemos e de outros fa-
tores concomitantes. Podemos supor que, desse contato entre o eu e os objetos,
a convivência tal como a conhecemos é redimensionada e podemos reinventar
outra relação com o mundo, menos desfigurada e complementar a um patamar
de consciência com o conjunto da diferença de que o mundo é feito.
Exposições como essa possibilitam-nos vivenciar os diversos paralelos
entre a arte, seu potencial criativo e o universo da cultura. Nesse universo,
as obras de arte mostram-nos que a diversidade, expressa na constituição da
2. Ibid, 65.
PROPOSTA 1
Diariamente as pessoas são expostas a diversas formas de violência e atos discri-
minatórios que assumem diversas manifestações, como o machismo, o racismo,
a homofobia e a transfobia, entre outros. O preconceito não se encontra so-
mente nas ruas, mas também no mercado de trabalho, nos hospitais, nas escolas
e inclusive no ambiente doméstico.
Nesta exposição, muitas obras discutem situações de preconceito que vi-
venciamos no cotidiano. Na série de trabalhos do coletivo AVAF (Assume Vivid
Astro Focus), como Abusada São Paulo #4, vemos uma figura feminina com o
corpo semicoberto por padrões geométricos. A imagem poderia ter saído de
anúncios publicitários, que frequentemente são misóginos, muitos dos quais
representam a mulher como um objeto sexualizado, o que nos leva a pensar
sobre a banalização da imagem feminina. Christus Nóbrega, por outro lado, em
sua série Sudários, critica uma norma, instituída nos anos de 1980, que previne
homossexuais de doarem sangue. Nessa obra, realizada através de monotipias
impressas, ele utiliza o próprio sangue.
A partir desse conjunto de obras, estimule uma discussão sobre o precon-
ceito e as discriminações já institucionalizadas, bem como sobre direitos e leis
que promovam qualquer tipo de discriminação.
■ PALAVRAS-CHAVE: arte, discriminação, leis e normas, violência, preconcei-
to, direitos.
■ IMAGEM: obra de AVAF (Assume Vivid Astro Focus) ˗ Abusada São Paulo #4
(2013).
PROPOSTA 2
Como percebemos as relações entre moda e gênero? Ao longo da história,
as vestimentas e roupas são criadas pensando no conforto, no clima, na
moda e, de modo geral, são voltadas para o público masculino ou feminino,
no âmbito de uma relação muitas vezes estritamente binária, consagrada
pela cultura e estabelecida pela normatividade. Sabe-se que as tendências
da moda constituem uma força cultural que determina regras e estabelece
normas, mas fundamentalmente estabelecem o comportamento. O artista
Flávio de Carvalho caminhou pelas ruas de São Paulo vestindo sua roupa
PROPOSTA 3
A obra Cabeça Coletiva (1975), de Lygia Clark, é composta por uma estrutura
de madeira com armação de arame forrada por um tecido na forma de uma
grande “cabeça”. Como proposta original, o público foi convidado a utilizar
esse objeto, bem como contribuir acrescentando-lhe novos e variados elemen-
tos. Ela lembra uma trouxa de roupa, objetos e utensílios que determinados
povos e culturas carregam ou utilizam na cabeça, e apresenta características
materiais e visuais distintas. Podemos dizer que nossa “cabeça” é heterogênea:
composta por ideias, pensamentos e vontades diversas, assim como são diversas
as pessoas, cada qual com suas singularidades.
Proponha para seus alunos a produção de um trabalho coletivo, em que
cada integrante do grupo contribua com algo que lhe diz respeito, com o qual
se identifique de alguma forma ou pelo qual sinta afinidade ou “simpatia”
visual. Considere propor relatos acerca do motivo das escolhas e da possi-
bilidade de incorporá-lo ao trabalho, que pode utilizar diferentes recursos e
linguagens, tais como vídeos, objetos, pintura, graffiti, colagem, etc.
■ PALAVRAS-CHAVE: objeto artístico, coletividade, identidade, diversidade,
participação.
■ IMAGEM: obra de Lygia Clark ˗ Cabeça Coletiva (1975).
PROPOSTA 5
Esta proposta pode ser utilizada como projeto de um trimestre, relacionando
arte, ciências, história e literatura, entre outras disciplinas. Sugira aos alunos
que investiguem as diferenças e semelhanças que encontramos na natureza, ten-
do como foco a área de botânica. Através de imagens fotográficas coletadas no
entorno da escola ou do Santander Cultural, inicie o primeiro processo: a ob-
servação. Em aula, organize uma exposição fotográfica em que todos os aspectos
multidisciplinares possam ser contemplados.
■ PALAVRAS-CHAVE: fotografia, multidisciplinaridade, reprodutibilidade, diferença.
■ IMAGEM: todas as imagens das obras.
PROPOSTA 6
Muitas obras na exposição Queermuseu tratam da igualdade através do res-
peito à diferença, como, por exemplo, as pinturas de Bia Leite. É preciso
compreender e aceitar a diferença do outro como sendo parte da identidade
para combater o bullying, uma das maiores e mais pervasivas fomas de vio-
lência psicológica e física. Proponha um diálogo franco e aberto sobre os
diversos tipos de violência acerca da diferença, ou seja, a partir das caracte-
PROPOSTA 7
Os brinquedos infantis são alvo de inúmeras discussões no que se refere às
questões de gênero que influenciam sua produção. E, muitas vezes, meni-
nos que brincam com brinquedos de meninas são repreendidos – o inverso
também é verdadeiro. Essas situações tidas como fora do “normal”, ou seja,
dentro da normatividade, acabam por gerar violências sutis e veladas, porém
igualmente danosas.
Que tal propor em sala de aula uma visita a uma loja de brinquedos para
observar o que é vendido habitualmente, a partir de uma visão de marketing
destinada a meninos e meninas? Há uma relação de gênero binária, portanto.
Proponha que em grupos os alunos construam protótipos de brinquedos em pa-
pelão, ou outros materiais, invertendo tais conceitos. Aproveite essa visita para
propor uma discussão sobre a equivalência entre a visita a um estabelecimento
comercial (como uma loja de brinquedos) e um museu ou espaço cultural como
o do Santander Cultural. Quais são suas mais significativas diferenças e simila-
ridades? Existem equivalências? Proponha esquemas, desenhos e diagramas que
comparem ou contrastem um com o outro e discuta as diferentes perspectivas
que cada um tem sobre o assunto.
■ PALAVRAS-CHAVE: contemplação, gênero, brinquedo, criação, mercado, nor-
matividade.
■ IMAGENS: obra de Sandro Ka ˗ Reconhecimento (2008).
PROPOSTA 9
A maquiagem é um recurso fascinante, que nos permite criar diversos jogos de apa-
rências e, com ela, podemos modificar os traços naturais do corpo humano ou partes
dele. Nas obras de Marcos Chaves incluídas nesta exposição, por exemplo, o artista
utiliza artifícios de maquiagem para modificar e salientar elementos arquitetônicos.
A maquiagem é instrumental e parte fundamental na construção da identida-
de. Como a maquiagem transforma as características físicas? De que modo a maquia-
gem é influenciada por forças culturais ou tendências da moda? Como a maquiagem
causa impacto na formação da identidade, na expressão de gênero e na sexualidade?
Pesquise exemplos e promova um criativo debate com os alunos sobre o assunto.
■ PALAVRAS-CHAVE: arquitetura, aparência, disfarce, maquiagem, transforma-
ção, identidade.
■ IMAGEM: obra de Marcos Chaves ˗ Sem título, série Ecléticos (2001).
PROPOSTA 10
As religiões de matriz africana chegaram ao Brasil há muito tempo, com os
primeiros povos escravizados, e a religião preservou seus valores, seus idio-
mas, sua cultura e seu conhecimento. As obras de Nelson Faedrich re-
presentam duas divindades das religiões afro-brasileiras: Oxumaré e Exu.
Oxumaré, na mitologia Yorubá, é a junção do feminino e do masculino,
PROPOSTA 11
Em Queermuseu, há um considerável número de obras que utilizam colagem, tais
com as obras de Amorim, Nino Cais, Cintia Ribas e Odires Mlászho. Existem
diversas modalidades de colagem, como aquela feita com materiais planos e pa-
pel, e outras que incorporam formas tridimensionais, estas mais conhecidas como
assemblagem. A colagem é um instrumento acessível e extremamente interessante
para trabalhar com imagens, e pode ser explorada das mais diversas maneiras.
Selecione duas imagens de representação do corpo que aparecem em revistas, e
recorte as imagens em diversas partes; tente reconstruí-las misturando e recriando
uma nova imagem, sejam elas figurativas ou abstratas. Discuta os resultados re-
correndo a uma análise formal, conceitual e criativa dos resultados.
■ PALAVRAS-CHAVE: colagem, assemblagem, imagem, corpo, recorte, fragmen-
to, reconstrução.
■ IMAGEM: obra de Amorim ˗ A morte do homem brasileiro (2017).
PROPOSTA 12
Depois de visitar a exposição, escolha uma obra com a qual mais tenha se iden-
tificado. Por que essa obra chamou mais a sua atenção? Ela fez com que você se
lembrasse de alguma experiência pessoal? Que sensações ela despertou ao obser-
vá-la? Como ela é assimilada pelos diversos sentidos (tato, olfato, olhar, paladar,
audição)? E quais sentidos ela não aciona durante o processo de contemplação?
Nesse processo de observação e reflexão visual, escreva, desenhe, pinte, etc. Tente
traduzir visualmente o motivo de sua identificação e compartilhe com seus colegas.
■ PALAVRAS-CHAVE: exposição, escolha, identificação, imagem.
■ IMAGEM: todas as imagens das obras.
PROPOSTA 14
Quando falamos em violência, segundo dados da Anistia Internacional, mais de
30 mil jovens entre 15 e 29 anos foram assassinados no Brasil em 2012, dos quais
77% eram negros. O racismo está bastante presente nos postos de trabalho, na
discrepância salarial, na violência, na pouca representatividade nos cargos políti-
cos, entre outros âmbitos. Proponha à turma que faça uma pesquisa sobre a cul-
tura negra nas diversas áreas (artes visuais, dança, literatura, música, política). Em
sua obra Amnésia, Flávio Cerqueira apresenta um menino negro derramando um
balde de tinta branca sobre o seu corpo. Trata-se de uma obra que discute, entre
outras questões, a invisibilidade da comunidade afro-brasileira. O que essa figura
sugere para você? Será que ela pretende esconder sua identidade? O título sugere
o esquecimento de algo? Por que esconderíamos quem somos?
Outra obra que trata da “invisibilidade” é Tigre (2017), de Antonio Obá.
Na língua portuguesa, escutamos diversas expressões empregadas de manei-
ra depreciativa: “mercado negro”, “lista negra”, “humor negro”, “denegrir”,
etc. Quando e como essas expressões são utilizadas com sentido depreciativo?
Quando são utilizadas com sentido metafórico? Qual a diferença entre os dois
usos? Um está implicado no outro?
■ PALAVRAS-CHAVE: escultura, cor, racismo, representatividade, pesquisa.
■ IMAGEM: obras de Flávio Cerqueira ˗ Amnésia (2015) e Antonio Obá ˗ Tigre (2017).
PROPOSTA 15
Em algumas obras, Leonilson (1957-1993), usava o bordado como ferramenta
para fazer desenhos ou escritos. Ele costuma trazer elementos de sua vida íntima
PROPOSTA 16
Esta é uma exposição que trata de questões de gênero e diferença, mais
especificamente da expressão de gênero e das relações entre formação da iden-
tidade através da diferença como alteridade. Esse processo envolve a aceitação à
diversidade e o respeito aos direitos humanos (direito à vida, direito de igualda-
de perante a lei, direito à escola, à livre expressão, à crença, à preferência sexual
e muitos outros). Queermuseu é uma exposição baseada na ideia de um museu
ficcional, onde a diversidade de pensamento estético – e, portanto, de ideias – é
a mais ampla possível. É nessa perspectiva que a exposição foi construída, ou
seja, para que refletisse um mundo mais igualitário, embora saibamos que o
mundo fora do espaço de exposições não seja assim.
Proponha aos alunos a construção de diferentes tipos de museus ficcio-
nais: museus de direitos humanos, museus de arte, museus sobre a igualdade,
museus dos mais diversos assuntos e objetos de estudo. Convide seus alunos a
planejá-los em seus mais diferentes níveis, como os objetos a serem exibidos,
de que forma, por quais meios de funcionamento, de financiamento, modos de
interação com o público, suas propostas culturais e filosóficas, etc.
■ PALAVRAS-CHAVE: museu, direitos, inclusão, igualdade, planejamento.
■ IMAGENS: todas as imagens das obras.
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■ As propostas educativas deste caderno foram elaboradas pela equipe de Ação Educativa do Santander Cultural.