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10 pontos para entender o vazamento de barragem de mineradora que contamina Barcarena, no PA

Alto índice de chumbo e outros metais contaminam a região.

O município de Barcarena, nordeste do Pará, enfrenta uma contaminação de alcance ainda não
determinado provocado pelo vazamento de rejeitos de bauxita vindos da barragem da mineradora Hydro,
empresa norueguesa instalada na região.
Após a denúncia da população e diversas negativas da mineradora e de fiscalizações da Secretaria de
Meio Ambiente do Pará, um laudo do Instituto Evandro Chagas constatou o vazamento de rejeitos e a
presença de diversos metais pesados, inclusive de chumbo, em comunidades ribeirinhas. Para o Governo
do Estado, o vazamento ocorreu devido às fortes chuvas do período. Já para o procurador da República
Bruno Valente, a mineradora tem histórico de crimes ambientais na região e nunca pagou indenizações às
famílias afetadas.

Veja abaixo os principais pontos:

1. Como tudo começou

No sábado (17), o MPPA recebeu denúncias de moradores de Barcarena de que a água da chuva que se
acumulou em diferentes pontos da cidade estava em tom vermelho em razão de um suposto vazamento
de bauxita das operações da Hydro Alunorte, que atua na região desde 1995. A bauxita é uma rocha de
coloração avermelhada e é matéria-prima para a produção da alumina. Com as fortes chuvas dos últimos
dias 16 e 17, houve alagamentos em Barcarena e águas de coloração avermelhada atingiram
comunidades da região.
2. Primeira vistoria

No domingo (18), fiscais da Secretaria de Meio Ambiente do Estado (Sesma) inspecionaram a mineradora
e informaram que não houve vazamento. A secretaria também não constatou o transbordamento de
dejetos, mas notificou a empresa por verificar falhas no sistema de drenagem pluvial. O Instituto Evandro
Chagas (IEC) foi acionado pelo Ministério Público do Estado e pelo Ministério Público Federal e coletou
amostragens de águas e efluentes. A Hydro informou que, apesar do grande volume de chuva no fim de
semana, não houve transtorno nos depósitos de resíduos sólidos da refinaria. Segundo a empresa, a água
da chuva foi canalizada para as bacias de sedimentação e direcionada, depois, para as estações de
tratamento, em seguida sendo lançada no rio Pará.

3. Caso começa a ser investigado

No dia 21, a Câmara dos Deputados criou uma comissão externa, composta por quatro deputados
federais, para averiguar o possível rompimento da barragem. O Ministério do Meio Ambiente disponibilizou
a experiência do Núcleo de Prevenção e Atendimentos a Emergências Ambientais do Instituto Brasileito de
Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) para acompanhar as investigações.

4. Laudo confirma desastre ambiental

Na quinta-feira (22), o Instituto Evandro Chagas (IEC) divulgou o resultado do laudo, confirmando a
contaminação em diversas áreas de Barcarena provocada pelo vazamento das barragens da Hydro. A
perícia flagrou um duto clandestino na mineradora que conduzia resíduos poluentes para o igarapé da
região. Contaminando o meio ambiente e chegando às comunidades na vila Bom Futuro, os índices de
sódio, nitrato e alumínio estavam acima do permitido, além do PH estar no nível 10 - extremamente
abrasivo e nocivo aos seres vivos. De acordo com o laudo do IEC, a análise revela um nível alto de
chumbo, que, com o consumo contínuo, pode gerar câncer. "Essa contaminação é nociva às comunidades
que utilizam os igarapés e rios em busca de alimento e lazer", alertou o pesquisador do IEC, Marcelo de
Oliveira Lima.
Segundo a perícia, a empresa não tem capacidade de tratar os seus efluentes e deve reduzir ou
suspender a produção, sob o risco iminente de novos vazamentos, agravados pelas fortes chuvas. "Outro
fator que detectamos foi que não há um plano de alarme emergencial da empresa para a comunidade
caso haja algum rompimento ou desastre", frisou Lima.

5. O que disse a mineradora


Em uma primeira entrevista ao G1, a Hydro negou vazamento de barragem de rejeitos em Barcarena. De
acordo com Domingos Campos, diretor de Meio Ambiente, Saúde, Segurança e Responsabilidade Social
da Hydro, mesmo com a chuva forte, “a barragem se manteve firme, intacta e sem vazamentos”. Sobre a
coloração da água que tomou conta das ruas de comunidades da região, Domingos Campos alegou que
“o solo da área é composto pelo mesmo elemento químico presente nas barragens de rejeitos, o que teria
causado a preocupação dos moradores com a mistura envolvendo chuva e alagamento”.

6. Fiscalização sob suspeita

O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil Seção Pará (OAB-PA) Alberto Antônio Campos e o
conselheiro de Meio Ambiente Ubirajaba Bentes decidiram pedir à Justiça do Pará a intervenção judicial na
Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Pará (Semas), com o afastamento do secretário de
Meio Ambiente, Thales Belo, e do secretário adjunto de Mineração. Eles pedirão ainda a prisão dos fiscais
do órgão que atestaram inexistir irregularidades na empresa norueguesa. “Causou indignação especial a
constatação pelos pesquisadores do IEC da existência de um dreno „clandestino‟, por onde a empresa,
com a aquiescência da Semas, drenava rejeitos quando as chuvas se intensificavam”, diz a nota da OAB-
PA.“A OAB Pará irá requerer judicialmente, haja vista que ela tem legitimidade para isso. Mas antes de
fazer o pedido, vamos aguardar o resultado da Câmara dos Deputados”, disse Ubirajara Bentes de Souza
Filho.

7. Histórico
Em 2009, o Ibama multou a mineradora Hydro, pelo mesmo motivo que vem sendo acusada atualmente:
vazamento de rejeitos. As multas somam 17,1 milhões de reais e não foram pagas até hoje. A empresa
recorreu e informou que acompanha os processos. Segundo o Ibama, em 2009, o vazamento colocou a
população local em risco e gerou mortandade de peixes e destruição significativa da biodiversidade. O
órgão aplicou três autos de infração à empresa em decorrência de poluição pelo lançamento de bauxita no
rio Murucupi. Desde 2006 o Ministério Público Federal exigiu que a Albras e a Hydro Alunorte, ao lado de
outras quatro mineradoras do polo industrial de Barcarena, forneçam "em caráter emergencial" dois litros
diários de água potável por morador e "indenizem os danos ambientais e à população afetada pela
contaminação".
A Procuradoria da República afirma que emissões destas empresas, em conjunto com as demais
empresas da região, seriam responsáveis pela contaminação da área.
"O histórico de acidentes ambientais em Barcarena é impressionante, uma média de um por ano", disse à
BBC Brasil o procurador da República Bruno Valente, que assina uma ação civil pública movida em 2016.
"O transbordamento de lama da bacia de rejeitos da Hydro afetou uma série de comunidades em 2009 e
até hoje nunca houve uma compensação ou pagamento de multa", afirmou.

8. Embargo imediato
Ministério Público do Estado do Pará (MPPA) e o Ministério Público Federal (MPF) recomendaram nesta
sexta-feira (23) o embargo imediato de uma das bacias de rejeitos da Hydro, em Barcarena. Os órgãos
também recomendaram o fornecimento de água para as comunidades diretamente afetadas pelo
vazamento. O documento tem mais de 40 itens e será encaminhado às autoridades competentes e à
mineradora.

9. Chuva tem culpa


Em coletiva de imprensa nesta sexta-feira (23), o governador do estado Simão Janete afirmou que a chuva
foi um dos principais fatores para a ocorrência do desastre ambiental em Barcarena. “Vale ressaltar que no
mês de fevereiro choveu 696mm e, no período de 16 à 22 de fevereiro, 453mm. O que isso significa?
Significa que choveu bem mais que a média para o período nos últimos 30 anos, que foi de 370".

10. Atendimento à população

O governador do Pará anunciou que vai distribuir água potável às comunidades e vai notificar a
mineradora para criar um fundo financeiro específico para este evento e eventuais incidentes futuros.
"O governo também irá determinar que a empresa tome todas as medidas emergenciais para que à altura
das bacias fiquem dentro da margem de segurança em 48h”, ratificou o governador.
Fonte: G1 Pará
https://g1.globo.com/pa/para/noticia/10-pontos-para-entender-o-vazamento-de-barragem-de-mineradora-
que-contamina-barcarena-no-pa.ghtml

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